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FICHA TÉCNICA DO MATERIAL

grancursosonline.com.br

CÓDIGO:
1432023180

TIPO DE MATERIAL:
E-book

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:
7/2023
Sumário

Temas:................................................................................................................................5

Tema: A estrutura do Ministério das Relações Exteriores (MRE) em Brasília.............6

Tema: A estrutura do Ministério das Relações Exteriores (MRE) no exterior.............41

Tema: A carreira diplomática............................................................................................59

Tema: A atividade diplomática.........................................................................................88

Tema: O CACD...................................................................................................................122
GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS
Volume 2

GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS


VOLUME 2

Prof. Jean Marcel

Temas:

• A estrutura do Ministério das Relações Exteriores (MRE) em Brasília


• A estrutura do Ministério das Relações Exteriores (MRE) no exterior
• A carreira diplomática
• A atividade diplomática
• O Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD)

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Volume 2

Tema: A estrutura do Ministério das Relações Exteriores (MRE) em Brasília

Artigos:

• Alterações na organização básica do Itamaraty


• A nova estrutura regimental do Itamaraty
• Secretaria de Política Externa Comercial e Econômica
• Secretaria de Gestão Administrativa
• Sistemas Federais de Administração e Serviços
• O falso patinho feio do Itamaraty
• Secretaria de Comunicação e Cultura
• Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania
• Atividades diplomáticas no exterior para quem trabalha no Brasil
• Secretaria de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas
• O cerimonial
• A hierarquia no Itamaraty
• Quem pode ocupar cargos no Itamaraty em Brasília?
• O Programa de Ação Afirmativa do IRBr
• Corregedoria, inspetoria e ouvidoria do serviço exterior
• Secretaria de Negociações Bilaterais na Ásia, Oceania e Rússia
• A demarcação e a manutenção dos limites fronteiriços do Brasil
• Os apartamentos funcionais do MRE

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Alterações na organização básica do Itamaraty

O ato inicial do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro foi a publicação da Medida Pro-
visória (MP) n. 870, já no primeiro dia de seu mandato, que estabeleceu mudanças na estru-
tura de alguns órgãos federais da administração direta. O Ministério das Relações Exteriores
(MRE), assim como outros ministérios e órgãos ligados à Presidência da República, sofreram
alterações significativas1.

As competências do Itamaraty estão previstas no Art. 45 da referida MP:

Art. 45. Constitui área de competência do Ministério das Relações Exteriores:


I – assistir direta e imediatamente o Presidente da República nas relações com
Estados estrangeiros e organizações internacionais;
II – política internacional;
III – relações diplomáticas e serviços consulares;
IV – participação em negociações comerciais, econômicas, financeiras, técnicas e
culturais com Estados estrangeiros e organizações internacionais, em articulação
com os demais órgãos competentes;
V – programas de cooperação internacional;
VI – apoio a delegações, comitivas e representações brasileiras em agências e
organismos internacionais e multilaterais;
VII – apoio ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República
no planejamento e coordenação de deslocamentos presidenciais no exterior;
VIII – coordenação das atividades desenvolvidas pelas assessorias internacionais
dos órgãos e das entidades da administração pública federal; e
IX – promoção do comércio exterior, de investimentos e da competitividade inter-
nacional do País, em coordenação com as políticas governamentais de comércio
exterior, incluída a supervisão do Serviço Social Autônomo Agência de Promoção
de Exportações do Brasil - Apex-Brasil e a presidência do Conselho Deliberativo
da Apex-Brasil.

Não há muitas novidades no texto acima, a não ser a confirmação de uma competência
adquirida no governo do presidente Michel Temer e mantida no atual. Trata-se da vinculação
da Apex-Brasil às atividades de promoção comercial do Itamaraty. Chegou-se a cogitar hipó-
tese, que foi até anunciada publicamente, de que o órgão passaria à administração do novo
Ministério da Economia, mais especificamente à Secretaria Especial de Comércio Exterior e
Assuntos Internacionais. Por ora, no entanto, permanece a situação já existente.

1
O texto da MP n. 870, de 01/01/2019, está disponível no link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Mpv/mpv870.htm.

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Em seguida, a estrutura básica:

Art. 46. Integram a estrutura básica do Ministério das Relações Exteriores:


I – a Secretaria-Geral das Relações Exteriores, com até sete Secretarias;
II – o Instituto Rio Branco;
III – a Secretaria de Controle Interno;
IV – o Conselho de Política Externa;
V – as missões diplomáticas permanentes;
VI – as repartições consulares; e
VII – as unidades específicas no exterior.
§ 1º O Conselho de Política Externa será presidido pelo Ministro de Estado das
Relações Exteriores e integrado pelo Secretário-Geral e pelos Secretários da Se-
cretaria-Geral das Relações Exteriores e pelo Chefe de Gabinete do Ministro de
Estado das Relações Exteriores.
§ 2º O Secretário-Geral das Relações Exteriores será nomeado pelo Presidente
da República e deverá ser escolhido dentre os Ministros de Primeira Classe da
Carreira de Diplomata.
§ 3º Os servidores do Ministério das Relações Exteriores, inclusive os integrantes
do Serviço Exterior Brasileiro, poderão ser cedidos, com ônus para o cessionário,
para ter exercício nos cargos de direção, gerência, assessoria e supervisão da
Apex-Brasil.
§ 4º Na hipótese da cessão de que trata o § 3º:
I – será mantida a remuneração do cargo efetivo, acrescida de sessenta por cento
do cargo ou função na Apex-Brasil, respeitado o teto remuneratório da adminis-
tração pública federal, e o período será considerado como de efetivo exercício no
órgão cedente; ou
II – não será mantida a remuneração do cargo efetivo e a remuneração não estará
sujeita a teto remuneratório da administração pública federal, e o período não será
considerado como de efetivo exercício no órgão cedente.

Aqui, sim, uma novidade: a Apex-Brasil é considerada, por muitos, um órgão não gover-
namental (eu não faço parte desse grupo). Com isso, a possibilidade de cessão de diploma-
tas para trabalhar na Agência era questionada. Com a nova MP, abre-se nova e interessante
possiblidade de atuação aos diplomatas, especialmente aos que se interessam pela área de
promoção comercial (deste grupo, sim, me considero integrante).

Finalmente, a maior das novidades da MP n. 870 para o Itamaraty está prevista no Art. 71:

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Art. 71. A Lei n. 11.440, de 29 de dezembro de 2006, passa a vigorar com as se-
guintes alterações:

“Art. 1º O Serviço Exterior Brasileiro, essencial à execução da política exterior da


República Federativa do Brasil, constitui-se do corpo de servidores, ocupantes de
cargos de provimento efetivo, capacitados profissionalmente como agentes do Mi-
nistério das Relações Exteriores, no País e no exterior, organizados em carreiras
definidas e hierarquizadas, ressalvadas as nomeações para cargos em comissão
e funções de chefia, incluídas as atribuições correspondentes, nos termos do dis-
posto em ato do Poder Executivo.”

Muito se discutiu na imprensa sobre o significado desse texto. Assim que publicado,
alguns jornalistas o interpretaram como uma abertura à nomeação para cargos em comissão
e funções de chefia no MRE de pessoas que não fazem parte das carreiras do Serviço Exte-
rior brasileiro. O próprio ministro das Relações Exteriores, embaixador Ernesto Araújo, veio a
público desmentir essa possibilidade: "As hipóteses de nomeação para cargos em comissão
e funções de chefia no MRE são rigorosamente idênticas àquelas anteriormente vigentes."
O que se fez foi, com base nos princípios de eficiência administrativa e meritocracia,
otimizar a designação de servidores do Serviço Exterior para cargos em comissão e funções
de chefia.
A alteração do art. 1º da Lei n. 11.440/2006, pela Medida Provisória n. 870/2019, não
altera nem flexibiliza a nomeação, para cargos no MRE, de servidores que não integrem as
carreiras do Serviço Exterior.”
O que se fez, portanto, não foi flexibilizar nomeações, mas a aplicação do princípio da
hierarquia no MRE. Assim, quando escolhidos para ocupar cargos de chefia no Itamaraty, os
servidores do Serviço Exterior não necessariamente serão escolhidos entre os mais antigos
para chefiar os mais modernos, como sempre ocorreu.

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A nova estrutura regimental do Itamaraty

O Decreto n. 9.683, de 9 de janeiro de 2019, aprovou a Estrutura Regimental e o Quadro


Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Ministério das
Relações Exteriores (MRE). Conhecer essas mudanças é importante aos candidatos do Con-
curso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), pois essa será provavelmente a organi-
zação administrativa que encontrarão ao serem aprovados no processo seletivo.
Segundo o texto do Decreto2, o Itamaraty passa a ter3 as seguintes estruturas organiza-
cionais, nessa ordem hierárquica (maior para menor):
1. Gabinete do Ministro de Estado (G);
2. Secretaria-Geral das Relações Exteriores (SG);
3. Secretarias;
4. Agências, Fundação e unidades descentralizadas.

O Gabinete do Ministro de Estado, órgão diretor de todo o MRE conhecido pela sigla G,
é chefiado, obviamente, pelo chanceler. Além de “assistir o ministro de Estado em sua repre-
sentação política e social, ocupar-se das relações públicas e do preparo e do despacho de
seu expediente pessoal”, cabe ao G, entre outras atribuições, “promover a articulação entre
o ministério e os órgãos da Presidência da República”4. Estão subordinadas diretamente ao
Gabinete do MRE as seguintes unidades: Assessoria Especial de Gestão Estratégica; Asses-
soria de Relações Federativas e com o Congresso Nacional; Consultoria Jurídica; e Secre-
taria de Controle Interno.
A Secretaria-Geral das Relações Exteriores (SG) é órgão central de direção do Ita-
maraty, à qual compete, principalmente, assessorar o ministro de Estado na direção e na
execução da política externa do Brasil, na supervisão dos serviços diplomático e consular
e na gestão dos demais negócios afetos ao ministério; orientar, coordenar e supervisionar
os órgãos do ministério no exterior; e dirigir, orientar, coordenar e supervisionar a atuação
das unidades que compõem a Secretaria de Estado das Relações Exteriores, exceto a dos
órgãos de assistência direta e imediata ao ministro de Estado mencionados acima5. Também
a SG tem órgãos diretamente subordinados a sua estrutura, como a Corregedoria, a Inspe-
toria, a Ouvidoria e o Cerimonial.
De acordo com a nova estrutura organizacional, as antigas subsecretarias, unidades de
terceiro escalão do Itamaraty, passam a chamar-se Secretarias. São sete, todas no mesmo
nível hierárquico, mas subordinadas à SG: 1) Secretaria de Negociações Bilaterais e Regio-
nais nas Américas; 2) Secretaria de Negociações Bilaterais no Oriente Médio, Europa e
África; 3) Secretaria de Negociações Bilaterais na Ásia, Oceania e Rússia; 4) Secretaria de
2
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.
3
A nova estrutura ainda se encontra em fase de implantação.
4
CF, Art.3º, I e II.
5
CF, Art. 8º.

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Política Externa Comercial e Econômica; 5) Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional


e Cidadania; 6) Secretaria de Comunicação e Cultura; Secretaria de Gestão Administrativa.
Cada Secretaria é composta por Departamentos e Divisões6.
Há, ainda, órgãos que fazem parte da estrutura do Ministério das Relações Exteriores,
ou estão vinculados, que não se encaixam perfeitamente no organograma descrito acima. É
o caso das unidades descentralizadas, quais sejam: a) os Escritórios de Representação; e b)
Comissões Brasileiras Demarcadoras de Limites. Os primeiros são as unidades de represen-
tação do MRE em outros estados brasileiros: EREBAHIA (Salvador); EREMA (Manaus para
o Norte); EREMINAS (Belo Horizonte); ERENE (Recife para o Nordeste); EREPAR (Curitiba);
ERERIO (Rio de Janeiro); ERESC (Florianópolis); ERESP (São Paulo); e ERESUL (Porto
Alegre). As Comissões Demarcadoras são duas: Primeira Comissão Brasileira Demarca-
dora de Limites (em Belém) e Segunda Comissão Brasileira Demarcadora de Limites (Rio
de Janeiro).
Finalmente, há unidades que têm autonomia orçamentária, mas estão vinculadas ao
Itamaraty. Esses são os casos da Agência Brasileira de Cooperação (ABC); da Agência Bra-
sileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX-Brasil), da Fundação Alexandre
de Gusmão (FUNAG) e Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI).

6
Eventualmente, outras unidades lhe são subordinadas, como coordenações-gerais, ou vinculadas, como a Fundação Alexandres de Gusmão.

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Secretaria de Política Externa Comercial e Econômica

A nova estrutura regimental do Ministério das Relações Exteriores (MRE), aprovada


pelo Decreto n. 9.683, de 09/01/20197, trouxe mais uma novidade no que se refere à con-
dução da política externa brasileira nas áreas de promoção e negociação comercial. Antes
separados em pelos menos duas subscretarias distintas, esses temas agora são tratados de
forma conjunta, na chamada Secretaria de Política Externa Comercial e Econômica.
Antes de mais nada, vamos entender como diferenciar os dois assuntos. A negociação
comercial diz respeito às normas que regem o comércio exterior brasileiro, nos planos bilate-
ral, regional ou multilateral. Assim, por exemplo, as negociações das regras do MERCOSUL
ou da OMC, ou um acordo bilateral para evitar a dupla tributação com determinado país.
Já a atividade de promoção comercial diz respeito a ações práticas de auxílio a empre-
sas brasileiras que queiram exportar, empresas estrangeiras que queiram importar produtos
brasileiros ou empresas brasileiras e estrangeiras que queiram investir (as primeiras no exte-
rior e as segundas no Brasil).
Os temas da Secretaria de Política Externa Comercial e Econômica são acompanha-
dos por cinco Departamentos subordinados e uma agência: 1. Departamento de Organismos
Econômicos Multilaterais; 2. Departamento de Promoção Tecnológica; 3. Departamento de
Promoção de Energia, Recursos Minerais e Infraestrutura; 4. Departamento de Promoção do
Agronegócio; 5. Departamento de Promoção de Serviços e de Indústria; e 6. Agência Brasi-
leira de Cooperação.
Ao Departamento de Organismos Econômicos Multilaterais compete, entre outras res-
ponsabilidades, “propor diretrizes de política externa no âmbito internacional relativas a nego-
ciações econômicas comerciais internacionais sobre acesso a mercados, defesa comercial
e salvaguardas, agricultura e produtos de base, propriedade intelectual e outros assuntos
internacionais de natureza econômica, inclusive contenciosos comerciais”8.
Possui quatro divisões temáticas: a Divisão de Organizações Econômicas, a Divisão de
Contenciosos Comerciais, a Divisão de Acesso a Mercados e a Divisão de Defesa Comercial
e Salvaguardas. Os títulos indicam a competência de cada uma.
Já o Departamento de Promoção Tecnológica tem entre suas atribuições “propor dire-
trizes da política externa no âmbito das relações bilaterais, regionais e nos foros internacio-
nais relativos à ciência, tecnologia e inovação”9. Com estrutura menor do que o anterior, tem
apenas duas divisões que lhe são subordinadas: a Divisão de Promoção Tecnológica I e a
Divisão de Promoção Tecnológica II.
O Departamento de Promoção de Energia, Recursos Minerais e Infraestrutura cuida
das diretrizes de política externa no âmbito das relações bilaterais, regionais e nos foros
internacionais relativos a recursos energéticos renováveis e não renováveis; negocia aspec-
7
CF. Texto do Decreto disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm..
8
CF, Art. 25.
9
Art. 26.

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tos externos das políticas públicas relativas à utilização dos recursos energéticos (renováveis
e não renováveis); e trata das negociações internacionais na área geológica, mineral e de
infraestrutura, inclusive acordos para importação e exportação de minérios. Nessa estrutura,
estão apenas duas divisões: Divisão de Promoção de Energia e Divisão de Recursos Mine-
rais e Infraestrutura.
Ao Departamento de Promoção do Agronegócio, novidade da nova gestão do MRE,
compete tratar das negociações relativas à promoção do Agronegócio e dos acordos corres-
pondentes; trabalho que realiza com o apoio igualmente de duas divisões: a Divisão de Pro-
moção do Agronegócio I e a Divisão de Promoção do Agronegócio II.
O último dos departamentos da Secretaria é o Departamento de Promoção de Serviços
e de Indústria, que assumiu boa parte das antigas atribuições do Departamento de Promo-
ção Comercial. Trata “das negociações relativas à promoção dos serviços e indústria e dos
acordos correspondentes”, com o auxílio da Divisão de Promoção de Serviços e da Divisão
de Promoção da Indústria.
Finalmente, “à Agência Brasileira de Cooperação compete coordenar, negociar, apro-
var, acompanhar e avaliar, em âmbito nacional, a cooperação humanitária e técnica para o
desenvolvimento em todas as áreas do conhecimento, recebida de outros países e organis-
mos internacionais e aquela entre o Brasil e países em desenvolvimento”10.

Também conhecida como ABC, a Agência tem certa autonomia administrativa e conta
com diversas coordenações temáticas:

• Coordenação-Geral de Cooperação Técnica – África, Ásia e Oceania;


• Coordenação-Geral de Cooperação Técnica – América Latina, Caribe e Europa;
• Coordenação-Geral de Cooperação Técnica Multilateral;
• Coordenação-Geral de Cooperação Técnica e Parcerias com Países Desenvolvidos;
• Coordenação-Geral de Cooperação Humanitária;
• Coordenação-Geral de Planejamento, Administração, Orçamento e Comunicação.

10
Art. 30.

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Secretaria de Gestão Administrativa

A Secretaria de Gestão Administrativa é a última das sete unidades similares da nova


estrutura regimental do Ministério das Relações Exteriores (MRE), aprovada pelo Decreto n.
9.683, de 09/01/201911, que analisamos em artigos publicados no blog “Vou Ser Diplomata”.
Sugerimos, caso ainda não tenha feito, a leitura dos textos anteriores para o entendimento
das diferenças de função entre essas estruturas.

À Secretaria de Gestão Administrativa compete, conforme o disposto no artigo 42 do


referido Decreto:

“I – assessorar o Secretário-Geral das Relações Exteriores em todos os aspectos


administrativos relacionados com a execução da política externa; e
II – exercer o papel de órgão setorial dos Sistemas de Pessoal Civil da Administra-
ção Federal - SIPEC, de Administração dos Recursos de Informação e Informática
- SISP, de Serviços Gerais - SISG, de Planejamento e de Orçamento Federal, de
Contabilidade Federal e de Administração Financeira Federal.”

O nome escolhido para essa Secretaria foi bastante apropriado. Recordo-me, quando
cheguei ao Itamaraty, logo após a aprovação no Concurso de Admissão à Carreira de Diplo-
mata (CACD), fui tomar posse, juntamente com meus colegas de turma, na sala do então
subsecretário do serviço exterior, título da unidade que se ocupava dos temas administrati-
vos do ministério. Sem saber disso, obviamente, um colega perguntou-me em tom de brinca-
deira: “ué, mas eu pensei que o MRE inteiro era responsável pelo Serviço Exterior!”
Três departamentos respondem pelos temas da Secretaria: o Departamento de Admi-
nistração e Logística, o Departamento de Serviço Exterior e o Departamento de Tecnologia
e Gestão da Informação. O primeiro acompanha a contratação de pessoal local no exterior;
planeja e supervisiona as atividades de administração de material e de patrimônio dos órgãos
do ministério, no país e no exterior; coordena o processo de licitações; e supervisiona os
serviços gerais de apoio administrativo. Quatro divisões o apoiam: a Divisão de Licitações, a
Divisão de Acompanhamento e Coordenação Administrativa dos Postos no Exterior, a Divi-
são de Recursos Logísticos I e a Divisão de Recursos Logísticos II.
“Ao Departamento do Serviço Exterior compete planejar, coordenar e supervisionar as
atividades de formulação e execução da política de pessoal, os processos de remoção e
lotação, inclusive em seus aspectos de pagamentos e de assistência médica e social, obser-
vando a orientação do órgão central do SIPEC, ao qual se vincula tecnicamente como órgão
setorial” (artigo 45). Sua estrutura comporta a Divisão do Pessoal, a Divisão de Pagamentos

11
Cf. Texto do Decreto em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.

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e a Divisão de Treinamento e Aperfeiçoamento. A piada de meu colega sobre a atribuição do


serviço exterior ainda se aplicaria a esse Departamento.
Finalmente, o Departamento de Tecnologia e Gestão da Informação é o responsável
por planejar, supervisionar e coordenar as atividades referentes à transmissão, guarda, recu-
peração, circulação e disseminação de informações e documentos, bem como à informatiza-
ção das comunicações, observando a orientação do órgão central do SISP, ao qual se vin-
cula tecnicamente como órgão setorial. A esse Departamento estão subordinadas apenas a
Divisão de Políticas de Tecnologia e Segurança da Informação e a Divisão de Comunicações
e Arquivo.
No próximo artigo, falaremos sobre os sistemas SIPEC, SISP e SISG, mencionados
acima quando tratamos das atribuições da Secretaria de Gestão Administrativa.

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Sistemas federais de administração e serviços

Escaparemos neste artigo um pouco de nossas temáticas usuais. No último artigo,


quando tratamos da Secretaria de Gestão Administrativa, no âmbito da análise maior da nova
estrutura regimental do Ministério das Relações Exteriores (MRE), dissemos que a referida
unidade é a responsável no Itamaraty por “exercer o papel de órgão setorial dos Sistemas
de Pessoal Civil da Administração Federal (SIPEC), de Administração dos Recursos de Infor-
mação e Informática (SISP), de Serviços Gerais (SISG), de Planejamento e de Orçamento
Federal, de Contabilidade Federal e de Administração Financeira Federal”, de acordo com o
inciso II do artigo 42 do Decreto n. 9.683, de 09/01/201912. Vejamos, pois, do que se tratam
esses sistemas.
O Decreto n. 67.326, de 05 de outubro de 197013, determina que as atividades de Admi-
nistração de Pessoal do Serviço Civil do Poder Executivo devem ser organizadas sob a
forma de Sistema, do qual fazem parte todas “as unidades organizacionais, de qualquer grau,
incumbidas especificamente das atividades de administração de pessoal da administração
direta e das autarquias” (art. 1º). Criou-se, assim, o SIPEC.

Suas funções básicas são, conforme o art. 2º14:

I – Classificação e redistribuição de cargos e empregos;


II – Recrutamento e seleção;
III – cadastro e lotação;
IV – Aperfeiçoamento;
V – Legislação de pessoal; e
VI – Atenção à saúde e à segurança do trabalho.

O Sistema de Administração dos Recursos de Informação e Informática foi criado em


21 de janeiro de 1994 pelo Decreto n. 1.048, posteriormente revogado pelo Decreto n. 7.579,
de 11 de outubro de 201115, que lhe deu nova regulamentação. Cabe ao SISP organizar
operação, controle, supervisão e coordenação dos recursos de tecnologia da informação de
toda a administração pública federal direta, autárquica e fundacional, sob a coordenação do
Ministério da Economia.
O Decreto n. 1.094, de 23 de março de 199416, regulamentou os arts. 30 e 31 do Decre-
to-Lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967, e instituiu o Sistema de Serviços Gerais (SISG).
Esse sistema já havia sido objeto do revogado Decreto n. 75.657, de 24 de abril de 1975.
O SISG surgiu, assim, como parte integrante de um sistema administrativo orgânico que
12
Cf. Texto do Decreto em disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.
13
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/D67326.htm.
14
A redação dos incisos desse artigo foi determinada pelo Decreto n. 9.473, de 16/08/2018.
15
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7579.htm.
16
Cf. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D1094.htm.

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engloba toda a administração pública federal, num esforço de coordenação das atividades
de logística pública com vistas a maior eficiência. Trata-se de um entre os vários sistemas de
atividades auxiliares da administração, responsáveis pela execução de atividades de cunho
transversal.
Finalmente, a Lei n. 10.180, de 06 de fevereiro de 200117, organizou e disciplinou os
Sistemas de Planejamento e de Orçamento Federal, de Administração Financeira Federal,
de Contabilidade Federal e de Controle Interno do Poder Executivo Federal. Esses sistemas
compreendem as atividades de elaboração, acompanhamento e avaliação de planos, progra-
mas e orçamentos, e de realização de estudos e pesquisas socioeconômicas.
Suas finalidades são: I – formular o planejamento estratégico nacional; II – formular
planos nacionais, setoriais e regionais de desenvolvimento econômico e social; III – formu-
lar o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anuais; IV – gerenciar o
processo de planejamento e orçamento federal; V – promover a articulação com os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios, visando a compatibilização de normas e tarefas afins aos
diversos Sistemas, nos planos federal, estadual, distrital e municipal.

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10180.htm.

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O falso patinho feio do Itamaraty

Nem todo diplomata que deixa o Instituto Rio Branco (IRBr) é aproveitado de cara em
áreas fins do Ministério das Relações Exteriores (MRE), ou seja, em atividades mais relacio-
nadas com as matérias cobradas no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD),
como temas políticos, econômicos, de promoção comercial ou consulares, conforme vimos
em diversos artigos. Por escolha ou necessidade do Itamaraty, muitos diplomatas têm por
responsabilidade funções administrativas, para lidar com recursos humanos ou financeiros.
A Secretaria de Gestão Administrativa é a unidade, dentro da nova estrutura regimen-
tal do MRE (Decreto n. 9.683, de 09/01/2019), encarregada de lidar com os temas dessa
natureza. À Secretaria estão subordinados os seguintes Departamentos: Departamento de
Tecnologia e Gestão da Informação; Departamento de Administração e Logística; e Departa-
mento de Serviço Exterior18. Todas essas seções são chefiadas por diplomatas graduados,
ministros de primeira e segunda classe, que, por sua vez, são assessorados por outros mais
jovens (modernos, na linguagem interna), além de oficiais de chancelaria, assistentes de
chancelaria e demais funcionários e terceirizados.
O Departamento de Administração e Logística é a grande unidade administrativa do
MRE. Essa unidade cuida de temas como patrimônio, processos licitatórios, reformas (proje-
tos que envolvem engenharia e arquitetura), pagamentos no exterior e serviços gerais, como
transporte, telefonia, limpeza e segurança.
Ao Departamento de Tecnologia e Gestão da Informação cabe prover e administrar os
meios e sistemas corporativos para tratamento da informação do Ministério das Relações
Exteriores e gerir os recursos aplicados aos sistemas corporativos de tratamento da informa-
ção no ministério nas áreas de tecnologia da informação, comunicações e gestão documen-
tal. É, ainda, o órgão da Secretaria de Estado que exerce o papel de interface com o Escritó-
rio de Representação no Rio de Janeiro para os assuntos de natureza temática relativos ao
Museu Histórico e Diplomático, à Mapoteca, ao Arquivo Histórico e à Biblioteca.
Já o Departamento de Serviço Exterior planeja, coordena e supervisiona as atividades
de formulação e execução da política de pessoal, os processos de remoção e lotação, inclu-
sive em seus aspectos de pagamentos e de assistência médica e social. Muito simplificada-
mente, comparando esse Departamento com os supracitados, enquanto o primeiro cuida dos
pagamentos e o segundo se ocupa dos papéis (físicos e eletrônicos), o de serviço exterior é
responsável pela administração de pessoas, com exceção da capacitação dos diplomatas,
que está a cargo do IRBr.
O objetivo deste artigo não foi assustar candidatos do Concurso de Admissão à Carreira
de Diplomata (CACD), que a esta altura podem estar preocupados em se dedicar à prepara-
ção a um exame de difícil aprovação para eventualmente ser lotado no futuro em uma área

18
Curiosamente, na estrutura anterior (até janeiro de 2019), essa unidade se chamava Departamento do Serviço Exterior. A preposição “de”, somada a um
artigo definido, causava piadas, como se fosse o único departamento do Ministério.

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administrativa, para cuidar de temas que, na aparência, são menores que outros que trata-
mos em outros artigos.
Meu objetivo ao dividir com você essas informações é reforçar um argumento que utilizo
sempre, que é o da diversidade de temas com os quais pode trabalhar um diplomata. Utilizo,
com frequência, a seguinte frase: o que mais me atraiu, e me atrai até hoje, no Itamaraty, é a
possibilidade de ter diversos empregos em uma única carreira.
Se você, após aprovação do CACD e conclusão do curso de formação do IRBr, vier a
ser aproveitado em uma área administrativa do MRE, saiba que: 1) o patinho não é tão feio
assim; 2) nada será permanente em sua carreira (em pouco tempo, terá a oportunidade de
trabalhar em outra área); e 3) você poderá gostar desse trabalho e até se especializar, como
já ocorreu com muitos e muitos diplomatas.
Comigo mesmo, ocorreu algo parecido: o tema que mais gostei de tratar em minha
carreira foi o da promoção comercial, área pouco cobiçada dentro do Itamaraty. Portanto, é
importante e positivo ter opções profissionais, e isso não falta na carreira diplomática.

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Secretaria de Comunicação e Cultura

A Secretaria de Comunicação e Cultura – penúltima da série dessas unidades anali-


sadas na nova estrutura regimental do Ministério das Relações Exteriores (MRE), aprovada
pelo Decreto n. 9.683, de 09/01/201919– tem um dos menores organogramas entre as repar-
tições de mesmo nível hierárquico. Tem como responsabilidade “assessorar o Secretário-Ge-
ral das Relações Exteriores nas questões relacionadas com a política educacional e cultural,
à comunicação social e à seleção e formação da carreira diplomática”.
Somente dois departamentos, além do Instituto Rio Branco (IRBr), compõem a Secre-
taria de Comunicação e Cultura:
1. Departamento Educacional e Cultural;
2. Departamento de Comunicação Social; e
3. Instituto Rio Branco;
O Departamento Educacional e Cultural é composto por três divisões: a) Divisão de
Promoção da Cultura Brasileira; b) Divisão de Assuntos Educacionais; e c) Divisão de Ações
Culturais. Entre suas atribuições estão as tarefas de “propor, em coordenação com os depar-
tamentos geográficos, diretrizes de política externa no âmbito das relações culturais e educa-
cionais, promover a língua portuguesa, negociar acordos, difundir externamente informações
sobre a arte e a cultura brasileiras e divulgar o Brasil no exterior”20.
Ao Departamento de Comunicação Social – que conta com o apoio da Divisão de Asses-
soria de Imprensa e da Divisão de Comunicação Institucional –, compete:
I – Promover a articulação entre o ministério e os órgãos de comunicação de massa;
II – Providenciar a publicação oficial e a divulgação das matérias relacionadas com a
área de atuação do ministério;
III – Divulgar notas à imprensa;
IV – Coordenar, em conjunto com a Secretaria de Imprensa da Presidência da Repú-
blica, a cobertura de imprensa em viagens do Presidente da República ao exterior e no terri-
tório nacional, quando relacionadas à política externa, e em eventos no Itamaraty;
V – Coordenar a cobertura de imprensa em viagens do ministro de Estado ao exterior,
no território nacional e em eventos no Itamaraty; e
VI – Tratar do credenciamento de jornalistas e de correspondentes estrangeiros.21
Finalmente, o IRBr, velho conhecido dos CACDistas, perdeu o status de subsecreta-
ria (DAS 6), e agora se equipara, em nível hierárquico, a um Departamento (DAS 5). Como
se sabe, o IRBr tem, no rol de suas atribuições, o recrutamento, a seleção, a formação e o
aperfeiçoamento do pessoal da Carreira de Diplomata. E, como recrutador, é o encarregado
de organizar o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), com o apoio opera-
cional do Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos
(Cebraspe), antigo CESPE/UnB.
19
Cf. Texto do Decreto disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm..
20
Art. 39. No texto desse dispositivo erroneamente consta o termo “Departamento Cultural”, designação que constava na estrutura regimental anterior, mas,
na atual, o correto seria “Departamento Educacional e Cultural”.
21
CF, Art. 40.

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Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania

Sexta das Secretarias que analisamos da nova estrutura regimental do Ministério das
Relações Exteriores (MRE), aprovada pelo Decreto n. 9.683, de 09/01/201922, a Secretaria
de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania assessora “o Secretário-Geral das Relações
Exteriores nas questões de política externa relativas a cooperação jurídica internacional,
política imigratória, defesa, desarmamento, ilícitos transnacionais, meio ambiente, direitos
humanos, atividade consular e demais temas no âmbito dos Organismos Internacionais”23.
Trata-se, assim como a Secretaria de Política Externa Comercial e Econômica, de
uma unidade de terceiro escalão (nível DAS 6) de estrutura robusta, composta por seis
departamentos:
1. Departamento de Segurança e Justiça;
2. Departamento de Defesa;
3. Departamento de Nações Unidas;
4. Departamento de Meio Ambiente;
5. Departamento de Direitos Humanos e Cidadania; e
6. Departamento Consular.

Ao Departamento de Segurança e Justiça, cabe tratar de matérias relativas à coope-


ração judiciária internacional, política imigratória nacional e de diretrizes de política externa
sobre os temas drogas, crime transnacional, corrupção e terrorismo. É assessorado por quatro
divisões (nível FCPE 4): Divisão de Cooperação Jurídica Internacional, Divisão de Atos Inter-
nacionais, Divisão de Controle Imigratório e Divisão de Combate ao Crime Transnacional.
O Departamento de Defesa é o responsável por propor e executar diretrizes de política
externa em temas relacionados à política de defesa e à participação brasileira em reuniões
bilaterais, regionais e multilaterais, relacionadas à Defesa e ao desarmamento e tecnologias
sensíveis; além de cuidar dos assuntos relativos a mar, Antártida e espaço. Conta com o apoio
de quatro divisões: Divisão de Assuntos de Defesa, Divisão de Desarmamento e Tecnologias
Sensíveis, Divisão do Mar, da Antártida e do Espaço e Divisão de Produtos de Defesa.
Ao Departamento de Nações Unidas, compete propor diretrizes de política externa, no
âmbito internacional, relativas a assuntos políticos e a outros assuntos objeto de tratamento
na Organização das Nações Unidas e suas agências especializadas e na Agência Interna-
cional de Energia Atômica; além de representar o Estado brasileiro perante mecanismos
convencionais e extraconvencionais, relacionados à matéria de sua responsabilidade. As
divisões que lhe são subordinadas são a Divisão de Nações Unidas I, Divisão de Nações
Unidas II e Divisão de Nações Unidas III.

22
Cf. Texto do Decreto disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm..
23
CF. Art. 31.

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Já o Departamento de Meio Ambiente propõe diretrizes de política externa no âmbito


internacional relativas ao meio ambiente, ao desenvolvimento sustentável, à proteção da
atmosfera, à Antártida, ao espaço exterior, à ordenação jurídica do mar e seu regime, à uti-
lização econômica dos fundos marinhos e oceânicos e ao regime jurídico da pesca. Com
estrutura mais enxuta, conta com o apoio de apenas duas divisões: Divisão de Meio Ambiente
I e Divisão de Meio Ambiente II.
O Departamento de Direitos Humanos e Cidadania, por sua vez, ocupa-se das diretri-
zes de política externa, no âmbito internacional, relativas aos direitos humanos, aos temas
sociais, à democracia e aos assuntos afins tratados nos foros internacionais especializados,
em especial nos órgãos da Organização das Nações Unidas, da Organização dos Esta-
dos Americanos e do MERCOSUL. Assim como o Departamento de Meio Ambiente, possui
somente duas divisões que lhe são subordinadas: Divisão de Direitos Humanos e Divisão de
Cidadania.
Finalmente, o Departamento Consular é o encarregado da prestação de atendimento
consular em geral e assistência aos nacionais brasileiros que vivem fora do país, tanto consi-
derados individualmente como em termos de coletividade. Também gerencia a rede consular
estrangeira no Brasil; planeja e executa atividades de natureza consular e de assistência a
brasileiros; propõe e executa a política geral do Brasil para as suas comunidades no exterior;
entre outras atribuições. Para realizar todo esse trabalho, é assessorado por três unidades: a
Coordenação-Geral de Administração Consular, a Divisão de Documentos e Atos Consulares
e a Divisão de Assistência Consular.
Como é possível ver, a Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania
reúne temas dos mais interessantes e diversos e, por isso, atrai interesse de muitos diploma-
tas para lotação.

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Atividades diplomáticas no exterior para quem trabalha no Brasil

Realizei recentemente, juntamente com a Professora Cláudia Assaf, um bate-papo ao


vivo, transmitido da sede do Gran, em Brasília, sobre alguns aspectos da carreira diplomá-
tica e do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD). Um dos temas tratados
nessa conversa despertou a atenção de alguns candidatos: a possibilidade de um diplomata
não servir no exterior, ou permanecer no Brasil por períodos mais longos do que o normal
e, enquanto estiver trabalhando na Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE)24,
realizar missões para o exterior.
A Professora Assaf e eu discordamos um pouco sobre as consequências dessa opção,
pois fui radical ao afirmar que, se uma pessoa não deseja viver no exterior, talvez fosse
melhor buscar outra opção de carreira. Ela afirmou que a diplomacia pode, sim, ser uma
opção interessante mesmo para essas pessoas. De fato, isso é viável, ainda que seja discu-
tível os efeitos dessa escolha. Analisemos quais são.
Antes de mais nada, recordemos o que já vimos em artigos anteriores, que é a diferença
entre as missões da carreira diplomática. São basicamente três os tipos: a) missão perma-
nente, b) missão provisória (ou temporária) e c) missão eventual. A primeira é a transferência
de residência do diplomata25 do Brasil para o exterior (ou de um Posto a outro no exterior). A
duração regular é de três anos (em Postos A e B) e dois anos (em Postos C ou D)26. Nesse
caso, a remuneração será em dólar, em valor variável de acordo com o custo de vida local e
do estágio da carreira, depositado em uma conta do Banco do Brasil em Miami.
A missão provisória tem duração variável, normalmente de 45 dias a 1 ano, e serve
para que o diplomata resolva uma carência temporária de lotação de um determinado Posto.
Também, nesse caso, a remuneração é em dólar, no mesmo valor que receberia se a missão
fosse permanente, porém é mantido o vínculo com a SERE, para onde se retorna assim que
se esgota o tempo pré-determinado para o serviço provisório.
E na missão eventual, que diz respeito ao tema deste artigo, há o deslocamento do
diplomata por poucos dias, sem qualquer alteração na folha de pagamentos, pois continua a
receber seu salário em reais, com acréscimo de diárias pagas de acordo com a duração da
viagem. É o caso, por exemplo, de um profissional lotado na Divisão de Nações Unidas que
viaja a Nova Iorque para participar de uma reunião sobre o tema que acompanha em Brasília.
Ao cumprir missão eventual, o diplomata não assume, portanto, um cargo no exterior, já que
mantém suas funções em Brasília e representa o governo brasileiro com o mesmo emprego
que tem no Brasil.
24
Secretaria de Estado das Relações Exteriores, mais conhecida como SERE, é o nome que se dá à “matriz” do Itamaraty, ou seja, a sede do Ministério no
Brasil, que dá instruções de atuação aos Postos no exterior (embaixadas, consulados, escritórios e missões juntos a organismos internacionais), que são
como “filiais” de uma empresa.
25
Tecnicamente, há uma distinção entre residência e domicílio. A primeira é o local onde a pessoa vive em caráter temporário (onde mora, reside), enquanto
o segundo é seu endereço oficial (sede jurídica), lugar onde a pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo. No caso dos diplomatas, enquanto
estão na ativa, o domicílio é Brasília.
26
Exceções: o diplomata pode manifestar o desejo de permanecer em Postos C ou D além dos dois anos regulares (até o limite de quatro anos). No caso de
ministros-conselheiros e embaixadores, o prazo máximo de permanência é de cinco anos.

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A depender do cargo que ocupe na SERE, o diplomata poderá viajar ao exterior com
bastante frequência. Eu mesmo já desempenhei atividades que me faziam passar mais tempo
no exterior do que no Brasil. Isso é bastante cansativo, pois viagem a trabalho cansa muito
mais do que a passeio, mas há de se reconhecer que é muito gratificante profissionalmente.
Mas por que afirmei, então, que a vocação de alguém que só deseja viver em Brasília e viajar
eventualmente ao exterior, ainda que seja uma situação possível, deve ser questionada, ou seja,
talvez seja o caso de se avaliar se a carreira diplomática seria uma opção de vida interessante
para essa pessoa? Porque considero que os prejuízos dessa escolha superam os benefícios.
Primeiramente, porque a ascensão profissional (promoção) dentro da carreira diplo-
mática depende do cumprimento de condições, entre as quais está o tempo de serviço no
exterior (permanente ou temporário acima de um ano ininterrupto). Assim, são necessários
os seguintes tempos, de acordo com a promoção almejada:

• De terceiro para segundo-secretário: 0 (promoção por antiguidade sem a exigência de


tempo de exterior);
• De segundo para primeiro-secretário: dois anos de tempo de exterior;
• De primeiro-secretário a conselheiro: cinco anos de tempo de exterior;
• De conselheiro a ministro de segunda classe: sete anos e meio de tempo de exterior;
• De ministro de segunda classe a ministro de primeira classe (embaixador): dez anos de
tempo de exterior.27

Ou seja, sem viver no exterior, o diplomata ficará estacionado na classe de segundo-


-secretário.
Em segundo lugar, do ponto de vista da experiência profissional, o trabalho no exterior
é bem distinto do realizado em Brasília. Assim, fica difícil ao diplomata avaliar bem as instru-
ções que serão elaboradas na SERE aos Postos, sem conhecer de perto a realidade de sua
execução lá fora.
Em terceiro lugar, do ponto de vista financeiro, é bem melhor a remuneração no exte-
rior. Claro que a riqueza de uma pessoa é o que se guarda, não o que se ganha. Mesmo
ganhando melhor, como o custo de vida costuma ser mais alto do que no Brasil, essa vanta-
gem pode se dissipar, mas pelo menos a oportunidade de se fazer um pequeno pé-de-meia
lhe é dada com essa opção.
Finalmente, a atividade diplomática é essencialmente voltada à interação com interlo-
cutores estrangeiros. Se a resistência a viver no exterior decorre do medo da adaptação a
culturas distintas da nossa, o que sem dúvida é custoso, porém necessário, será difícil ao
diplomata adaptar-se bem à própria carreira.
Agora, se você acha que esses contras são superados pelos prós, poderá, sem dúvi-
das, ser feliz na carreira, mesmo sem nunca viver no exterior.
27
Há um projeto de nova Lei do Serviço Exterior, ainda em discussão, que prevê o aumento desses tempos. Analisaremos esse projeto em artigo futuro.

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Secretaria de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas

Segundo a nova estrutura organizacional do Ministério das Relações Exteriores (MRE),


aprovada pelo Decreto n. 9.683, de 09 de janeiro de 201928, à “Secretaria de Negociações
Bilaterais e Regionais nas Américas compete assessorar o Secretário-Geral das Relações
Exteriores em relação às questões de natureza política e econômica nas Américas, inclusive
no tocante aos temas afetos à integração regional e em foros multilaterais regionais”29. Essa
descrição de competência revela mudança significativa no modo como os assuntos deverão
ser tratados no Itamaraty a partir da nova gestão que acaba de assumir.
Segundo a estrutura anterior, as subsecretarias (substituídas agora por Secretarias,
porém de mesmo nível hierárquico – terceiro escalão) cuidavam de temas de uma única
natureza: política, econômica, cultural, administrativa etc. A partir de agora, haverá uma visão
transversal sobre os assuntos de política externa. No caso da referida Secretaria, quando se
tratar de algo que envolva algum país das Américas, caberá a essa unidade se ocupar.
Quatro Departamentos estarão Subordinados à Secretaria de Negociações Bilaterais e
Regionais nas Américas30:

• Departamento de Estados Unidos da América;


• Departamento de México, Canadá, América Central e Caribe;
• Departamento de América do Sul;
• Departamento de MERCOSUL e Integração Regional.

O Departamento de Estados Unidos da América ficará responsável por “propor diretri-


zes para a política externa do Brasil com os Estados Unidos da América, coordenar e acom-
panhar as relações bilaterais e as iniciativas de cooperação com aquele país”. Supervisio-
nará duas Divisões (nível FCPE 4): a Divisão de Estados Unidos I e a Divisão de Estados
Unidos II.
Já o Departamento de México, Canadá, América Central e Caribe deverá coordenar e
acompanhar as relações bilaterais com o México, com o Canadá e com os países da América
Central e Caribe. Também terá em sua estrutura duas Divisões: a) Divisão de México e de
América Central; b) Divisão de Canadá e de Caribe.
Por sua vez, ao Departamento de América do Sul compete: coordenar e acompanhar
as relações bilaterais com os países de sua respectiva área geográfica, assim como das ati-
vidades dos órgãos da bacia da Prata e da Hidrovia Paraná-Paraguai. Diferentemente dos
Departamentos supracitados, este terá viés mais político sobre os temas sul-americanos.
Finalmente, com competência para lidar com assuntos econômicos e de integração
regional, o Departamento de MERCOSUL e Integração Regional deverá:
28
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.
29
CF. Art. 10.
30
As Secretarias têm nível hierárquico de DAS 6, enquanto os Departamentos, que lhe são subordinados, DAS 5.

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I – Coordenar e acompanhar o desenvolvimento do processo de integração no âmbito


do MERCOSUL;
II – Acompanhar as questões relativas à Associação Latino-Americana de Integração
(ALADI) e às relações econômico-comerciais do Brasil e do MERCOSUL com países e meca-
nismos de integração das Américas do Sul, Central e do Caribe, e com o México;
III – acompanhar as atividades da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica; e
IV – Propor diretrizes para a política externa do Brasil com a Cúpula das Américas e
outros eventos, processos e foros da agenda interamericana, e coordenar e acompanhar a
participação brasileira em tais iniciativas.

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O cerimonial

Diferentemente de tantas áreas do Ministério das Relações Exteriores (MRE), o cerimo-


nial não sofreu significativas alterações na nova estrutura regimental do Itamaraty. O artigo
47 do Decreto n. 9.683, de 09/01/201931, atribui a essa unidade a competência para “assegu-
rar a observância das normas do cerimonial brasileiro e de concessão de privilégios diplomá-
ticos aos agentes diplomáticos estrangeiros e aos funcionários de organismos internacionais
acreditados junto ao governo brasileiro”.
O cerimonial é o último dos “novos” órgãos de assessoria ao Secretário-Geral das Rela-
ções Exteriores previstos no referido Decreto e avaliados em nossos artigos. Mas não é
apenas no MRE que existe unidade como essa, nem tampouco tem a exclusividade de contar
com a colaboração de diplomatas.
O trabalho de cerimonial no Itamaraty – ou em outros órgãos em que essa função
também é exercida por diplomatas, como na Presidência da República – assemelha-se ao
ofício de árbitro de futebol. Quando o juiz de uma partida exerce bem suas tarefas, sem com-
prometer o resultado da partida, nenhum torcedor percebe ou se lembra posteriormente de
sua atuação. Assim ocorre também com a ingrata, e ao mesmo tempo fascinante, atividade
cerimonialista.
Muitos enxergam o cerimonial como um trabalho de pouco valor ou baixa exigência inte-
lectual e caracterizado por funções operacionais menores que não deveriam estar a cargo de
diplomatas. Quem tem essa visão normalmente conhece pouco dessa atividade e vê apenas
sua superfície. No fundo, nos bastidores de cada cerimônia, há muito esforço de planeja-
mento, que exige ampla visão para antecipar possíveis problemas, além de enorme controle
emocional para lidar com o estresse e saber improvisar sem perder o controle da situação.
Assim, por exemplo, imaginemos que o presidente da República esteja em viagem
internacional e decida inaugurar, com outro presidente, uma ponte que ligue o Brasil a um
país vizinho. A cerimônia de inauguração, a ser acompanhada por considerável público,
ocorre em um dia de forte chuva, mas os presidentes decidem realizá-la mesmo assim. As
autoridades locais não providenciam policiais em quantidade suficiente para fazer segurança
adequada, e, minutos antes da inauguração, ninguém sabe onde está a fita a ser cortada.
Esse cenário descrito acima é fictício, mas poderia perfeitamente ocorrer. Muitas situa-
ções similares surgem com frequência na rotina de um diplomata lotado no cerimonial. É fácil
perceber, portanto, a necessidade de que os profissionais que exercem essa função sejam
dotados de considerável equilíbrio emocional e capacidade de improvisação. E a ingratidão
do trabalho está no fato de que, se der tudo certo, ninguém o percebe, mas, se algo aconte-
cer fora do previsto, a culpa recai sobre os organizadores.

31
CF. Texto do Decreto disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm..

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Dentro da nova estrutura do Itamaraty, o cerimonial está subordinado, conforme dito,


diretamente à Secretaria-Geral das Relações Exteriores. O cargo de chefe do cerimonial é
privativo das classes de embaixador, ministro ou conselheiro, auxiliado por número elevado
de diplomatas mais modernos (que entraram na carreira depois). Isso se justifica pela neces-
sidade de organizar diversas cerimônias ou eventos concomitantes ou próximos.
Quando o ministro das Relações Exteriores (chanceler) viaja ao exterior, o que ocorre
com bastante frequência, diplomatas deslocam-se para o destino a ser visitado com antece-
dência para organizar a logística dos encontros a serem realizados. Normalmente, o chance-
ler vai a mais de um país na mesma viagem, e, assim, cada grupo de diplomatas do cerimo-
nial se ocupa de um trecho do percurso. Daí a necessidade de o contingente de profissionais
da área ser considerável.
Ao mesmo tempo, o cerimonial é uma das lotações que mais proporciona viagens aos
diplomatas que lá trabalham, tendo em conta a enorme quantidade de encontros que autori-
dades brasileiras realizam no exterior. No caso do Cerimonial da Presidência da República,
são muito frequentes os deslocamentos de diplomatas por todo o território brasileiro. Por
esse motivo, trata-se de local bastante cobiçado pelos jovens diplomatas ao saírem do Insti-
tuto Rio Branco.

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A hierarquia no Itamaraty

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) é conhecido como uma instituição civil com
características militares. Brinca-se que os diplomatas costumam se comportar como “milita-
res de terno” (ou roupa social similar para as mulheres). Há aí, claro, boa dose de exagero,
mas as piadas têm um pouco de verdade. Isso porque se trata de um órgão de longa tradi-
ção, pouca (ou lenta) renovação e estrutura profundamente hierarquizada.
Recentemente, o presidente eleito do Brasil anunciou o nome de um diplomata de car-
reira como futuro ministro das Relações Exteriores (chanceler). É relativamente comum isso
ocorrer, pois, ainda que a escolha do presidente seja livre, os diplomatas têm perfil técnico,
e, como costumam entender de política externa mais do que profissionais de outras carrei-
ras, essa opção é mais fácil, dada a natureza complexa de muitos dos temas internacionais.
Não é comum, e isso foi objeto de questionamento de alguns, que o escolhido seja
jovem e com pouco tempo de promovido a ministro de primeira classe (embaixador). O esco-
lhido do presidente eleito tem exatamente esse perfil, o que não o desqualifica, em absoluto,
para o exercício do cargo. Tampouco é ilegítima a escolha, já que qualquer cidadão brasi-
leiro, mesmo de fora da carreira, poderia exercer o cargo de chanceler.
A hierarquia, portanto, não pode ser argumento para se criticar a legitimidade à desig-
nação de um ministro das Relações Exteriores. A eventual situação foi comparada à de um
general de três estrelas ser nomeado ministro da Defesa. Isso também é possível e legítimo.
Ainda que o escolhido possa ter certa dificuldade entre os pares, seu tempo de carreira mais
curto que outros preteridos não o tornaria menos competente para cumprir a missão que lhe
foi designada.
Do número 2 do MRE para baixo, no entanto, a hierarquia tem maior valor. Tanto o
secretário-geral das Relações Exteriores (que exerce as funções de vice- ministro) como o
subsecretário, que vêm logo abaixo, são sempre escolhidos entre os ministros de primeira
classe mais experientes e antigos que os recém-promovidos.
A categoria seguinte, de Diretores de Departamento, também costuma ser ocupada por
embaixadores, ainda que mais juniores, ou por ministros de segunda classe mais antigos e
candidatos a promoção à última classe da carreira diplomática. Já as Chefias de Divisão, que
estão subordinadas aos Departamentos, costumam ser ocupadas por ministros de segunda
classe recém-promovidos ou por conselheiros mais antigos e assim por diante, ou seja, um
diplomata, para ser chefe de outro, precisa necessariamente ser mais antigo (mais tempo de
classe) e, preferencialmente, ocupar classe superior. Assim, conselheiros são chefes de secre-
tários, ministros chefiam conselheiros e embaixadores ocupam o topo da pirâmide hierárquica.
O mais alto cargo a que pode aspirar um diplomata, em geral quase no fim de sua car-
reira, é o de Secretário-Geral das Relações Exteriores (SG). O cargo de chanceler também
pode ser ocupado por diplomata, mas não é reservado a membros da carreira e tem natureza
mais política. Logo, podemos afirmar que a hierarquia funcional, valor tão preservado no Ita-
maraty, aplica-se, no fundo, do SG para baixo.

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Quem pode ocupar cargos no Itamaraty em Brasília?

Novos dispositivos legais aprofundaram mudanças na estrutura do Ministério das Rela-


ções Exteriores (MRE) introduzidas pela Medida Provisória (MP) n. 870. Trata-se do Decreto
n. 9.683, de 09 de janeiro de 2019, publicado na seção 1 do Diário Oficial da União de
10/01/2019. O referido texto aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos
Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Itamaraty.
Vamos às novidades. Os temas mais polêmicos do Decreto são os mesmos introduzi-
dos pela MP n. 870: a flexibilização da rigidez hierárquica do MRE e a possiblidade de atua-
ção no Itamaraty de pessoas estranhas ao Serviço Exterior brasileiro. Muito se especulou na
imprensa, após a publicação da MP n. 870, que, a partir desse texto legal, seria permitido a
qualquer um ocupar cargos no MRE e que não haveria mais hierarquia dentro do ministério.
Ambas as especulações foram negadas pelo ministro das Relações Exteriores. O Decreto n.
9.683, no entanto, esclarece como serão tratadas essas questões.
O Capítulo V do Decreto determina quem pode assumir cada tipo de cargo ou função
do Itamaraty. O cargo de maior hierarquia do ministério, o de secretário-geral das relações
exteriores32, número 2 da estrutura do órgão, é reservado aos ministros de primeira classe
(embaixadores)33. As funções seguintes (terceiro escalão) podem ser exercidas tanto por
ministros de primeira classe quanto por ministros de segunda classe:
I – Secretários das Relações Exteriores;
II – Chefe do Gabinete;
III – Chefe de Gabinete do Secretário-Geral;
IV – Corregedor do Serviço Exterior, observado o disposto no Decreto n. 5.480, de 30
de junho de 2005;
V – Diretor-Geral do Rio Branco;
VI – Diretor da Agência Brasileira de Cooperação; e
VII – Secretário de Controle Interno34.
Excepcionalmente, diz o artigo 68 do referido Decreto, “a critério do ministro de Estado
das Relações Exteriores, os cargos indicados no caput poderão ser providos por conselheiro
da carreira de diplomata”. Essa mesma lógica é aplicada para o exercício dos cargos seguin-
tes da hierarquia funcional do MRE.
Os cargos de nível DAS 5 (Chefias do Cerimonial, Assessorias Especiais e Diretorias
de Departamento), assim como alguns DAS 4 mais importantes, serão ocupados por diplo-
matas graduados até o nível de conselheiro e, excepcionalmente, primeiros-secretários. Já
os cargos de assessoria serão privativos dos Secretários.
32
O cargo de ministro das Relações Exteriores (chanceler) obviamente está acima do de secretário-geral, porém se diz que este é o mais alto entre os priva-
tivos da carreira diplomática.
33
A designação de embaixador tecnicamente só deve ser empregada aos ministros de primeira classe que exercem a função de Chefe de Missão Diplomática
Permanente. Na prática, porém, assim são chamados no Itamaraty todos os ministros de primeira classe. Para ser secretário-geral, um ministro de primeira
classe não precisa já ter desempenhado as funções de embaixador.
34
CF. Art. 68 do Decreto n. 9.683/2019.

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A possibilidade de que não servidores do Itamaraty ocupem cargos no MRE está pre-
vista no artigo 72:

Art. 72. Os cargos e funções na Secretaria de Estado das Relações Exteriores


serão ocupados por servidores da carreira de diplomata, ressalvadas as seguintes
hipóteses:
I – O Corregedor-Geral do Serviço Exterior será nomeado dentre os Ministros de
Primeira Classe da Carreira de Diplomata;
II – Os servidores de nível superior pertencentes às carreiras do Serviço Exterior
Brasileiro poderão exercer os seguintes cargos:
a) Chefe do Setor de Legislação de Pessoal;
b) Assistente da Coordenação-Geral de Planejamento e Administração; e
c) Chefe da Divisão de Licitações;
III – os servidores de nível superior pertencentes às carreiras do Serviço Exterior
Brasileiro ou de servidores não pertencentes às carreiras do Serviço Exterior Bra-
sileiro, desde que portadores de habilitação técnica para o desempenho de suas
funções, poderão exercer os seguintes cargos:
a) Gerente da Secretaria de Controle Interno;
b) Assistente da Coordenação-Geral de Orçamento e Finanças;
c) Assistente dos Setores de Infraestrutura, de Desenvolvimento e de Segurança
da Divisão de Políticas de Tecnologia e Segurança da Informação;
d) Chefe do Serviço de Informática;
e) Assessor Técnico da Divisão de Políticas de Tecnologia e Segurança da
Informação;
f) Coordenador da Coordenação Contábil da Coordenação-Geral de Orçamento
e Finanças;
g) Gerente da Coordenação-Geral de Administração e Orçamento;
h) Chefe da Central de Atendimento;
i) Ouvidor do Serviço Exterior; e
j) Assessor Especial do Ministro de Estado;
IV – Os servidores de nível superior pertencentes ao quadro do Ministério ou de
pessoas não pertencentes àquele quadro, desde que portadores de habilitação
técnica para o desempenho de suas funções, poderão exercer os seguintes cargos:
a) Chefe do Setor do Serviço de Assistência Médica e Social;
b) Coordenador de Patrimônio, Arquitetura e Engenharia;
c) Coordenador-Geral de Demarcação de Limites;
d) Assessor Técnico da Coordenador-Geral de Demarcação de Limites;
e) Assistente da Coordenador-Geral de Demarcação de Limites;
f) Coordenador-Geral da Agência Brasileira de Cooperação; e

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g) Gerente da Agência Brasileira de Cooperação;


V – Os cargos de Coordenador-Geral e de Coordenador da Consultoria Jurídica
são privativos de membros da Advocacia-Geral da União; e
VI – O Coordenador-Geral de Orçamento e Finanças pode ser nomeado entre
servidores da Carreira de Diplomata, ou entre servidores ocupantes dos cargos de
Analista de Planejamento e Orçamento, integrante da Carreira de Planejamento e
Orçamento.

Finalmente, também no Gabinete do chanceler, é possível empregar não servidores do


Itamaraty:

Art. 80. Os integrantes do Gabinete do Ministro de Estado, salvo os Assessores Es-


peciais do Ministro de Estado, serão escolhidos entre os servidores do Ministério.

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O Programa de Ação Afirmativa do IRBr

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) foi uma das primeiras instituições do
governo federal a lançar política pública com o objetivo de diminuir desigualdades raciais,
já que o Itamaraty historicamente não conta em seus quadros com número expressivo de
funcionários afrodescendentes. Nesse contexto, em 2002, o Instituto Rio Branco (IRBr) criou
o Programa de Ação Afirmativa (PAA) - Bolsa-Prêmio de Vocação para a Diplomacia, com a
meta de melhorar as condições de ingresso de brasileiros negros na carreira de diplomata e,
com isso, ampliar a diversidade étnica do Serviço Exterior Brasileiro. Ao longo dos últimos 14
anos, foram investidos mais de R$ 15,5 milhões na execução do PAA, por meio do qual foram
concedidas 641 bolsas a 375 candidatos negros35.
Atualmente, diversas instituições atuam como parceiras do MRE/IRBr na concessão
de bolsas-prêmio destinadas ao custeio de estudos preparatórios ao Concurso de Admissão
à Carreira de Diplomata (CACD). São elas: Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
– CNPq); Ministério da Cultura (por meio da Fundação Palmares) e Ministério dos Direitos
Humanos (por meio da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
– SEPPIR).
Segundo a SEPPIR, uma ação afirmativa busca oferecer igualdade de oportunidades a
todos e pode ter três objetivos: 1) reverter a representação negativa dos negros; 2) promover
igualdade de oportunidades; e 3) combater o preconceito e o racismo. Tendo em conta o pio-
neirismo do PAA do IRBr36 e o sucesso de sua implantação há mais de uma década, pode-
mos afirmar que o Programa de Ação Afirmativa do Itamaraty tem cumprido satisfatoriamente
todas essas metas.
A última edição do PAA (2016/2017) teve edital de lançamento publicado em 31 de
agosto passado37 e resultado divulgado em 05/10/2022. Os requisitos para inscrição no Pro-
grama foram os mesmos exigidos dos candidatos ao CACD, além de: a) ser negro (condição
expressa por autodeclaração e confirmada por comissão de heteroidentificação); b) ter sido
aprovado na Primeira Fase do CACD; c) possuir Currículo na Plataforma Lattes; e d) não ter
recebido quatro Bolsas-Prêmio de Vocação para a Diplomacia.
Os 25 candidatos selecionados a receber a Bolsa-Prêmio fazem jus a R$ 30.000,00,
valor a ser utilizado no custeio de material bibliográfico, cursos preparatórios e professo-
res particulares38. A bolsa servirá para custear a preparação para o CACD do ano seguinte,
nesse caso, 2023.

35
Cf. Disponível em: http://www.institutoriobranco.mre.gov.br.
36
Vale lembrar que, apenas em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por unanimidade que as ações afirmativas são constitucionais e políticas
essenciais para a redução de desigualdades e discriminações existentes no país. Naquele ano, o PAA já completava seu décimo Aniversário.
37
Cf. Disponível em: https://sistemas.mre.gov.br/kitweb/datafiles/IRBr/pt-br/file/PAA/2016-17/EDITAL_PAA_FINAL.pdf.
38
Até 30% do valor da bolsa poderá, se autorizado, ser utilizado para despesas de manutenção.

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A classificação, para fins de concessão da bolsa-prêmio do PAA, terá como critério prin-
cipal o desempenho no CACD de 2020, que foi o último certame realizado antes do de 2022.
Assim, por exemplo, os classificados para a terceira fase concorrerão entre si e terão priori-
dade em relação àqueles não aprovados na segunda fase.
Também aos CACDistas que recebam a Bolsa-Prêmio do PAA do IRBr recomenda-se
a preparação pelo Gran. Como o valor da Bolsa cobra com folga o que o candidato bolsista
gastará com o curso, trata-se, sem dúvida, do melhor investimento que se pode fazer para
uma preparação bem-sucedida ao CACD.

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Corregedoria, inspetoria e ouvidoria do serviço exterior

Retomamos a análise da nova estrutura regimental do Ministério das Relações Exterio-


res (MRE), definida pelo Decreto n­­­. 9.683, de 09/01/201939. O tema desse artigo são unida-
des desvinculadas das secretarias e com atribuições próprias e relativamente distintas, mas
que, na reformulação estrutural recentemente promovida, foram colocadas em um mesmo
arranjo institucional. Trata-se da corregedoria, da inspetoria e da ouvidoria do serviço exterior.
Segundo o artigo 46 do mencionado Decreto, à corregedoria, inspetoria e ouvidoria do
serviço exterior compete (note o verbo no singular, porque os três órgãos passam a ser con-
siderados uma só unidade):
I – Fiscalizar as atividades funcionais dos integrantes do Serviço Exterior Brasileiro;
II – Instaurar, de ofício ou por determinação superior, sindicâncias e processos adminis-
trativos contra os integrantes do Serviço Exterior Brasileiro;
III – examinar as questões relativas às condutas dos integrantes do Serviço Exterior
Brasileiro e às condutas dos demais servidores do Ministério das Relações Exteriores, obser-
vada a legislação pertinente;
IV – Supervisionar as atividades de ouvidoria do Ministério das Relações Exteriores,
ressalvadas as competências da Ouvidoria Consular;
V – Desenvolver atividades relativas à:
a) inspeção administrativa; e
b) gestão da integridade e avaliação do desempenho relacionados com os programas
e as ações dos setores político, econômico, comercial, consular, cultural, de cooperação téc-
nica e de cooperação científico-tecnológica das unidades organizacionais na Secretaria de
Estado e no exterior.
O mesmo dispositivo do Decreto prevê, ainda, em seu parágrafo único, que a correge-
doria, inspetoria e ouvidoria do serviço exterior disporá de regimento interno próprio, ainda
não publicado. Recorramos, então, ao que dispõe o Regimento Interno da Secretaria de
Estado (RISE), aprovado pela Portaria MRE n. 212, de 30 de abril de 2008, ainda vigente.
De acordo com o RISE, a Corregedoria do Serviço Exterior zela pela observância do
regime disciplinar estabelecido na legislação aplicável aos servidores públicos civis da União,
bem como das normas relativas aos integrantes do Serviço Exterior Brasileiro. Utiliza como
instrumentos de apuração a investigação preliminar, as sindicâncias investigativa, acusatória
e patrimonial, bem como o processo administrativo disciplinar.
Já a Inspetoria desenvolve atividades relativas à inspeção administrativa, gestão da
integridade e avaliação do desempenho concernentes aos programas e às ações dos seto-
res político, econômico, comercial, consular, cultural, de cooperação técnica e de cooperação
científico-tecnológica das unidades organizacionais na Secretaria de Estado e no exterior. As
inspeções serão realizadas, quando necessárias, com o auxílio de funcionários lotados em
39
Cf. Texto do Decreto disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.

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outras unidades administrativas do MRE, particularmente quando as ações e programas a


serem avaliados pertençam ao âmbito de sua competência.
A Ouvidoria, por fim, divide-se em duas partes: a Ouvidoria do Serviço Exterior e a Ouvi-
doria Consular. A primeira recebe e analisa denúncias, reclamações, solicitações, elogios e
sugestões sobre as ações do ministério e propõe medidas de correção e prevenção de falhas
e omissões na prestação de serviços de seus funcionários. A segunda faz a interlocução
com o público externo, nacional e estrangeiro, e com outros órgãos da sociedade brasileira,
examinando comentários sobre os serviços consulares brasileiros e oferecendo-lhes espaço
para que manifestem agrado ou insatisfação, bem como para que façam sugestões. Toda
reclamação/observação apresentada à Ouvidoria precisa ser respondida pelo funcionário
que gerou a observação do usuário dos serviços prestados pelo Itamaraty.

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Secretaria de Negociações Bilaterais na Ásia, Oceania e Rússia

Tradicionalmente, os países asiáticos e oceânicos não mantêm relações tão próximas


do Brasil como os americanos, europeus e africanos, devido aos óbvios distanciamentos geo-
gráfico e cultural. A nova estrutura regimental do Ministério das Relações Exteriores (MRE),
aprovada pelo Decreto n. 9.683, de 09/01/201940, busca, no entanto, mudar um pouco essa
lógica, ao prever uma Secretaria que se ocupe das relações político-bilaterais com as nações
desses continentes.
Os temas da Secretaria de Negociações Bilaterais na Ásia, Oceania e Rússia são acom-
panhados por quatro Departamentos subordinados: 1. Departamento de China; 2. Departa-
mento de Índia e Ásia Meridional; 3. Departamento de Rússia e Ásia Central; e 4. Departa-
mento de Japão e Pacífico.
Segundo o artigo 20 do referido Decreto, ao “Departamento de China compete propor
diretrizes para a política externa do Brasil com China, coordenar e acompanhar as relações
bilaterais e as iniciativas de cooperação com aquele país”. Sendo a China o principal parceiro
comercial do Brasil da atualidade – principal destino das exportações brasileiras com quase
o dobro do que se exporta ao segundo colocado (Estados Unidos da América) –, é natural
que haja uma unidade para tratar apenas dos temas chineses que nos interessam, trabalho
realizado por duas divisões: Divisão de China I e Divisão de China II.
Já o Departamento de Índia e de Ásia Meridional é o responsável por coordenar e acom-
panhar a política externa do Brasil com a Índia e com cada país ou conjunto de países de sua
respectiva área geográfica. As duas divisões do Departamento (Divisão de Índia e Divisão
de Ásia Meridional) acompanham os assuntos referentes à região do subcontinente indiano.
O restante da Ásia, incluída a Rússia41, é de responsabilidade do Departamento de
Rússia e de Ásia Central, que coordena e acompanha a política externa do Brasil com a
Rússia e com cada país ou conjunto de países de sua respectiva área geográfica. As divisões
subordinadas a esse Departamento são: a) Divisão da Rússia; b) Divisão de Ásia Central.
Finalmente, o último Departamento da Secretaria em análise é o Departamento de
Japão e do Pacífico, ao qual compete coordenar e acompanhar a política externa do Brasil
com o Japão e com cada país ou conjunto de países de sua respectiva área geográfica.
Também, devido à sua importância, uma divisão ocupa-se apenas das relações com a nação
japonesa (Divisão do Japão), enquanto os temas das relações com os demais países da
região são acompanhados pela Divisão do Pacífico.

40
Cf. Texto do Decreto em disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.
41
Curiosamente, os russos não se consideram nem europeus nem asiáticos, ainda que o país esteja fisicamente dividido entre esses dois continentes. Até a
revisão da estrutura do MRE, a Rússia era tratada como país europeu.

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A demarcação e a manutenção dos limites fronteiriços do Brasil

As Comissões Brasileiras Demarcadoras de Limites, juntamente com os Escritórios de


Representação, são definidas como as unidades descentralizadas do Ministério das Rela-
ções Exteriores (MRE), de acordo com a nova estrutura regimental determinada pelo Decreto
n. 9.683, de 09/01/201942.
Segundo o artigo 49 do referido Decreto, às Comissões Brasileiras Demarcadoras de
Limites compete executar os trabalhos de demarcação e caracterização das fronteiras e
incumbir-se da inspeção, da manutenção e da densificação dos marcos de fronteira.
A primeira Comissão foi criada em janeiro de 1928 e era chamada de Comissão de
Limites das fronteiras das Zonas Norte, Oeste e Sul. A estrutura atual é de março de 1973,
quando foram criadas duas: a Primeira (PCDL) e a Segunda (SCDL) Comissões Brasileiras
Demarcadoras de Limites. A PCDL tem sede em Belém do Pará e é encarregada das fron-
teiras brasileiras com o Peru, a Colômbia, a Venezuela, a Guiana Francesa, o Suriname e a
Guiana; enquanto a SCDL, sediada no Rio de Janeiro, é responsável pelas fronteiras com
Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai.
Os trabalhos de demarcação do território brasileiro remontam a épocas anteriores a
seu próprio descobrimento, com o Tratado de Tordesilhas, de 1494. Atualmente, os maiores
esforços das Comissões concentram-se na Região Amazônica, com trabalhos de caracteri-
zação e manutenção dos limites estabelecidos.
As Comissões Brasileiras Demarcadoras de Limites realizam obra extraordinária, sobre-
tudo pela envergadura do empreendimento de consolidação, caracterização e demarcação
dos limites internacionais do Brasil com as Repúblicas irmãs, na comunidade sul-americana,
raramente comparável em todo o mundo. Em um total de 16.886 km de linha divisória contí-
nua, a demarcação de fronteiras, respeitando o princípio do “Uti Possidetis”, consagrado no
Direito Internacional, permitiu a criação das fases territoriais, políticas e jurídicas – um con-
ceito político de que DEMARCAR É APROXIMAR. A fronteira Norte, por sua própria peculia-
ridade regional, tem importância ímpar.
Para cumprir a missão de demarcar limites, as Comissões executam, juntamente com
os delegados das Comissões Estrangeiras correspondentes, os trabalhos de demarcação e
caracterização das Fronteiras. Também a essas unidades incumbe a tarefa de Inspeção e
Densificação dos marcos da Fronteira. Além disso, efetuam, sempre que necessário, reuni-
ões com autoridades estrangeiras correspondentes com o fim de planejar as campanhas a
realizar e de consignar em Ata conjunta os trabalhos executados.
Eis, enfim, o resultado concreto de um trabalho diplomático por excelência. Foi a nego-
ciação dos limites fronteiriços do Brasil que tornou o Barão do Rio Branco o patrono de nossa
diplomacia. As Comissões Brasileiras Demarcadoras de Limites dão continuidade a essa
obra que nos trouxe paz com dez países vizinhos, caso raro no mundo.
42
Disponível em: planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.

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Os apartamentos funcionais do MRE

Um dos maiores diferenciais da carreira diplomática é o auxílio moradia, tanto no exte-


rior como no Brasil. Quando servem em nosso país, os diplomatas têm expectativa de direito
à ocupação de um apartamento funcional, de acordo com a disponibilidade do Ministério das
Relações Exteriores (MRE). Para a maioria dos demais ministérios, com algumas exceções,
como as Forças Armadas (Ministério da Defesa), a regra é distinta, por não disporem de imó-
veis próprios. Nesse caso, apenas os ocupantes de DAS 4 ou superior têm direito a ajuda de
custo para aluguel.
O MRE administra atualmente 525 imóveis funcionais pertencentes à União, o que inclui
a Residência Oficial do Senhor Ministro de Estado. É responsabilidade da Divisão de Ser-
viços Gerais (DSG), por meio do Setor de Moradias Funcionais (SMF), administrar a distri-
buição desses imóveis aos servidores do Serviço Exterior Brasileiro em suas três categorias
(diplomatas, oficiais de chancelaria e assistentes de chancelaria).
Os imóveis estão divididos em cotas para os servidores administrativos e para os servi-
dores diplomáticos, seguindo critérios determinados pela Administração, na Portaria n. 205,
de 27 de abril de 2015. Os atos relacionados às permissões de uso respeitam o princípio da
publicidade. Listas de espera são compostas de acordo com critérios objetivos para determi-
nar a ordem de ocupação dos imóveis.

Existem três listas de espera:


1. Diplomatas recém-chegados do exterior. Embaixadores, ministros, conselheiros, pri-
meiro e segundo secretários podem se candidatar a apartamentos de três ou quatro quartos
nas quadras SQS 213, SQS 216 e SQS 31643. Secretários com três ou mais dependentes
estão aptos a ocupar apartamentos de quatro quartos. Diplomatas com DAS 4, 5 ou 6 têm
prioridade na fila. Os imóveis localizados nas quadras SQS 104, SQS 216, SQS 203, SQS
312 e SQS 316, de quatro quartos, serão destinados exclusivamente a diplomatas, preferen-
cialmente a ministros de primeira classe e a ministros de segunda classe.
2. Diplomatas nunca removidos. Aos terceiros-secretários recém-ingressos no Instituto
Rio Branco são oferecidos apartamentos transitórios, de um quarto, no Bloco H da SQS 411.
Têm prioridade diplomatas com dependentes (filhos) registrados na Divisão de Pessoal.
3. Aos Oficiais de Chancelaria e Assistentes de Chancelaria são oferecidos apartamen-
tos de dois ou três quartos em diversas quadras, como SQS 411, SQN 40244, SQN 112, SQN
307, SQN 106, SQS 205, SQS 210, SQS 307, entre outras. Têm prioridade na fila Chefes
de Setor de Unidade Gestora, Pregoeiros e Servidores com deficiência ou com dependentes
com deficiência.

43
SQS significa Superquadra Sul, que são as quadras de apartamentos residenciais da Asa Sul, no Plano Piloto de Brasília.
44
SQN (Superquadra Norte) equivale à SQS, porém essas quadras residenciais localizam-se na Asa Norte, também no Plano Piloto de Brasília.

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Conforme disponibilidade, o SMF fará contato com os servidores, de acordo com a


ordem na lista de espera. O servidor recebe a chave e terá 72 horas para recolher as chaves
e visitar o apartamento. Caso não esteja em Brasília, o servidor pode indicar procurador, o
qual não precisa ser servidor do MRE. O servidor que não observar o prazo de devolução das
chaves será preterido na oferta das próximas chaves disponíveis.
Ao indicar a unidade funcional de sua escolha, o servidor deverá solicitar Certidão
Negativa de Propriedade de Imóvel no DF45, no cartório do 1º Ofício de Registro de Imóveis,
localizado no shopping Venâncio 2000 (ao lado do Pátio Brasil) e apresentar cópia do pro-
tocolo de solicitação ao SMF. O SMF emitirá documentos para que seja possível religar luz,
água e gás.
Eis aí, portanto, mais um incentivo a candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira
de Diplomata (CACD) que não residem em Brasília. O custo de moradia no Plano Piloto da
cidade é consideravelmente elevado. A possibilidade de ocupação de um imóvel funcional
facilita bastante e barateia o custo de vida na Capital Federal.

45
Isso porque só pode ocupar apartamento funcional servidores que não possuem imóvel no Distrito Federal.

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Tema: A estrutura do Ministério das Relações Exteriores (MRE) no exterior

Artigos:

• Para que serve uma embaixada?


• Cargos e funções de diplomatas no exterior
• Ao passar no CACD, posso virar cônsul honorário?
• Os órgãos no exterior
• Brasil ou exterior? Onde o trabalho é melhor?
• A vida da família dos diplomatas no exterior
• Como funciona o plano de saúde do MRE?
• Atribuições de um consulado
• Embaixadores políticos
• Você sabia que há mais embaixadores brasileiros nos EUA do que na África?

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Para que serve uma embaixada?

Quando se fala em diplomacia, logo vem à mente o trabalho de representação no exte-


rior. Nenhuma pessoa de bom senso pensará em ser diplomata se não achar interessante a
ideia de morar fora do Brasil para representar nosso país. Isso parece óbvio, pois talvez seja
o grande diferencial dessa carreira comparada às demais do serviço público. Mas não é só
isso o que se faz no Ministério das Relações Exteriores (MRE): há outras numerosas funções
desempenhadas também no Brasil, seja em Brasília, sede do Ministério das Relações Exte-
riores, seja em escritórios de representação do Itamaraty em outros Estados, ou mesmo em
casos de cessão (empréstimo) a outros órgãos do governo, ou até em órgãos dos poderes
nos mais diversos níveis (federal, estadual ou municipal). Neste artigo, trataremos especifi-
camente da atividade dos diplomatas em uma embaixada.
A rotina de um profissional da diplomacia em uma embaixada depende do setor em que
atua. Antes, nunca é demais repetir, vamos recordar a diferença entre o trabalho diplomático
e o consular. Em uma embaixada ou em representações (missões) junto a organismos inter-
nacionais como a ONU, os diplomatas representam o Estado brasileiro. Já em um consulado,
a tarefa é dar assistência aos brasileiros no exterior, com incumbências como emitir passa-
portes, visitar presos, realizar casamentos ou registrar nascimentos, entre outras atribuições.
Em uma embaixada, os principais setores são o político, o econômico (dentro do qual
o de promoção comercial), o cultural (inclusive o educacional) e o administrativo. Analise-
mos um a um.
O setor político é responsável pelo acompanhamento das políticas governamentais do
país onde está localizada a embaixada, assim como de outras que represente. Isso porque
não é necessário ter uma representação na capital de um país com o qual se tem relações
diplomáticas. Por exemplo, em Riga, capital da Letônia, não temos representação diplomá-
tica, mas nossa embaixada em Estocolmo responde pelo Brasil na república báltica. Assim,
os diplomatas do setor político de nossa embaixada na capital sueca acompanham a política
interna dos governos das duas nações e se reportam diariamente ao MRE em Brasília sobre
o que se decide lá e interessa a nosso país. Para reunir elementos que os permitam elaborar
esses relatórios, interagem com interlocutores locais e buscam interpretar as decisões do
governo com base em sua experiência de vida no país.
Já o setor econômico faz trabalho semelhante, porém sobre os temas da economia, evi-
dentemente. Um diplomata dessa área na Embaixada do Brasil em Washington, por exemplo,
tentará entender e informar, se possível até antecipar, as decisões do Sistema de Reserva
Federal dos Estados Unidos, mais conhecido como Fed, que é banco central norte-ameri-
cano, responsável pela definição das taxas de juros do país. Esse assunto obviamente inte-
ressa muito ao Brasil, na medida em que o rumo da maior economia do mundo afeta todas
as demais, inclusive a nossa.

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Parte do setor econômico, o setor de promoção comercial, também chamado simples-


mente de SECOM, ocupa-se de promover as exportações brasileiras para aquele mercado,
bem como atrair investimentos dos países onde atua para o Brasil. Se o governo brasileiro
resolve lançar um programa de concessões em infraestrutura, como o atual Programa de
Parcerias de Investimentos (PPI), e quer estimular a participação de fundos e empresas
estrangeiras para investirem no Brasil, os diplomatas dos SECOMs divulgarão os respectivos
editais junto a potenciais interessados em seus locais de atuação.
O setor cultural promove a cultura brasileira no país de representação da embaixada,
assim como eventuais cooperações acadêmicas. Se um artista vai se apresentar em uma
casa de shows no exterior, os diplomatas desse setor da embaixada poderão ajudar a abrir
portas locais para viabilizar a apresentação. Em outros casos, as instalações da represen-
tação brasileira abrigam exposições de pintores brasileiros. Ainda em outros, o cultural pro-
move a vinda de estudantes estrangeiros para estudarem no Brasil.
Finalmente, o setor da administração da embaixada cuida da contabilidade, da contra-
tação de funcionários locais, alocação de recursos, como os veículos oficiais, pagamentos
etc. Uma embaixada precisa ser administrada como uma empresa, talvez ainda com mais
zelo, por lidar com recursos públicos. Ainda que interaja com autoridades do governo e par-
ticipe de eventos que muitos consideram glamorosos, não podemos perder de vista que um
diplomata é, antes de tudo, um funcionário do Estado.

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Cargos e funções de diplomatas no exterior

O Decreto n. 9.683, de 09 de janeiro de 2019, publicado na seção 1 do Diário Oficial da


União de 10/01/2019, aprovou a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos
em Comissão e das Funções de Confiança do Itamaraty, conforme visto em artigo anterior.
Neste, trataremos dos cargos e funções que cabem aos diplomatas (e excepcionalmente a
outros servidores do Itamaraty) no exterior. Esse assunto é objeto do Capítulo VI do referido
texto legal, o qual contém um único, mas extenso artigo, de número 74.
Aos ministros de primeira classe, cargo de mais alta hierarquia da carreira diplomática,
cabe, como regra geral, a função de chefia do posto (representação brasileira no exterior).
Quando se tratar de Missão Diplomática Permanente (embaixada) ou Representação Perma-
nente junto a organismo internacional, terão o título de embaixador; em consulados-gerais,
de cônsul-geral. não são assumem, porém, chefia de consulados ou vice-consulados.
Os ministros de segunda classe podem ser também chefes de posto, desde que de
classificação C ou D, quando se tratar de embaixada ou de consulado-geral de qualquer clas-
sificação. Se houver outro embaixador no posto, exercerão a função de ministro-conselheiro,
que é o subchefe do posto. Se não houver e se tratar de embaixada A ou B, serão Encarre-
gados de Negócios, ad interim (a.i)46. Em consulados-gerais, são nomeados cônsules-gerais.
Os conselheiros também podem, em caráter excepcional, chefiar, com o título de embai-
xador, missões diplomáticas permanentes de categoria D, desde que já tenham sido apro-
vados no Curso de Altos Estudos (CAE), condição para promoção a ministro de segunda
classe. Também podem ser nomeados cônsules ou vice-cônsules em consulados ou vice-
-consulados, mas não podem chefiar consulados-gerais de modo permanente47. Nas embai-
xadas, são designados conselheiros ou ministros-conselheiros comissionados em postos de
categoria C e D ou até B, mais excepcionalmente.
O mais alto cargo a que primeiros-secretários podem aspirar no exterior é o de cônsul
(chefe de consulado). Já os segundo e terceiro secretários só podem ser vice-cônsules. Se
comissionados, os secretários podem exercer um cargo acima de sua classe, em postos C
ou dois acima em postos D. Assim, neste último caso, um primeiro-secretário pode assumir
as funções de ministro-conselheiro, por exemplo. De resto, o título de suas funções no exte-
rior corresponderá ao título de sua classe, ou seja, primeiro, segundo ou terceiro-secretário,
respectivamente.
Conselheiros e secretários costumam igualmente ser designados chefes de setores
de embaixadas, quando não houver diplomata mais antigo para exercer a função. Assim,
é comum que um diplomata se apresente dessa maneira a interlocutores da embaixada:
fulano de tal, primeiro-secretário, chefe do Setor Cultural da Embaixada do Brasil em deter-
minado país.

46
Ou seja, “provisoriamente” até que chegue um ministro de primeira classe para assumir a chefia do posto.
47
Podem, no entanto, exercer chefia interina como encarregados de negócios, a.i.

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Volume 2

Ao passar no CACD, posso virar cônsul honorário?

É comum esbarrar com pessoas com a seguinte dúvida: conheci um estrangeiro que se
apresentou como cônsul honorário do Brasil. Como pode, se a carreira diplomática é priva-
tiva de brasileiros natos? A dúvida procede, pois de fato nossa Constituição Federal de 1988
reserva, em seu Artigo 12, § 3º, o exercício de alguns cargos apenas aos brasileiros natos,
como o de Presidência da República, ministro do Supremo Tribunal Federal e diplomatas.
Logo, nenhum estrangeiro ou mesmo brasileiro naturalizado poderá exercê-los. E, sendo a
atividade consular brasileira desempenhada também pelos membros da carreira diplomática,
não seria possível, portanto, a existência de um cônsul do Brasil estrangeiro.
Os consulados honorários, no entanto, representam exceção à regra, por se tratar de
representações temporárias e complementares às atividades de um consulado ou repartição
consular de uma embaixada; essas, sim, representações oficiais do Brasil e chefiadas por
diplomatas de carreira. O objetivo principal das repartições consulares honorárias é a defesa
dos direitos e a assistência, emergencial ou não, aos membros da comunidade brasileira
(residentes ou de passagem) em sua jurisdição.
Os consulados honorários têm as seguintes atribuições:
I – Prestação de assistência a cidadãos brasileiros que dela necessitem, em coordena-
ção com o Posto consular ao qual se subordinam;
II – Visitas aos cidadãos brasileiros em centros de detenção;
III – Apoio para os consulados itinerantes, na sua divulgação, preparação, realização e
identificação de local;
IV – Organização e participação em encontros e outras atividades que envolvam a
comunidade brasileira local;
V – Processamento de matrículas, a serem incorporadas posteriormente ao banco de
dados da repartição consular a que se subordina;
VI – Em coordenação com a repartição consular a que se subordina, fomento ao desen-
volvimento das relações comerciais, econômicas, culturais e científicas do Brasil, inclusive
mediante prestação de apoio a delegações brasileiras;
VII – Atuação como elemento de apoio das Missões Diplomáticas e repartições consula-
res a qual esteja subordinada, particularmente nos países em que o Brasil não tenha embai-
xada e se faça representar cumulativamente.
A escolha do cônsul honorário recai em pessoas que mantêm vínculos com o Brasil
e, sobretudo, com a comunidade brasileira local e que, por seu trânsito nos meios locais,
tenham condições de desempenhar plenamente as funções acima descritas. Os Postos dire-
cionam suas escolhas de candidatos geralmente àqueles que possuem, no mínimo, conheci-
mento básico da língua portuguesa ou que tenham condições de contar com intérpretes cujos
serviços possam ser solicitados tempestivamente.

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Volume 2

O exercício das funções consulares honorárias é de caráter gracioso, nada percebendo


o cônsul honorário pelos serviços prestados. A critério do Ministério das Relações Exterio-
res (MRE), em coordenação com os Postos a que se subordinam as repartições consulares
honorárias, são definidos mandatos de quatro anos, podendo ser renovados por igual perí-
odo. Eventualmente, há caso em que os mandatos são de menor duração. Ressalte-se que,
anualmente, os Postos encaminham avaliação de desempenho dos titulares dos cônsules
honorários, bem como considerações a respeito da conveniência ou não de que sejam man-
tidos ou substituídos e até mesmo encerradas as atividades de alguma das repartições con-
sulares honorárias.
Para a definição sobre onde deve existir um consulado honorário, em geral, leva-se em
consideração o quantitativo e o afluxo da comunidade brasileira nas regiões, bem como a
distância entre as repartições com serviços consulares, de modo que se possa contemplar o
atendimento ao maior número de nacionais expatriados.
A possibilidade de estabelecimento das repartições consulares honorárias foi instituída
pela Convenção de Viena de Relações Consulares de 1963 (a qual sempre recomendo lei-
tura a todos os candidatos do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata – CACD). As
repartições consulares honorárias brasileiras vêm sendo criadas conforme demandas ava-
liadas pelas representações diplomáticas e repartições consulares, nas regiões que fazem
parte de suas respectivas jurisdições.
Vemos, portanto, que, ainda que os consulados honorários estejam subordinados às
representações de carreira do MRE, não são de repartições de trabalho dos diplomatas, mas
de pessoas com um certo nível de influência em uma determinada localidade que, sem ônus
para o Itamaraty, candidatam-se a cumprir as funções de um cônsul honorário.
Como última nota, a título de curiosidade, caso queira saber da existência de algum
cônsul honorário do Brasil pelo mundo, basta enviar sua dúvida ao endereço eletrônico con-
sulados.honorarios@itamaraty.gov.br.

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Volume 2

Os órgãos no exterior

A estrutura do Ministério das Relações Exteriores (MRE) é, como sabemos, dividida


entre órgãos no Brasil e no exterior. Vimos as diversas unidades do Itamaraty que compõem
a chamada Secretaria de Estado (SERE), ou seja, o conjunto de organizações administrati-
vas que, do Brasil, dirigem a execução da política externa brasileira no exterior. Neste texto,
veremos como se organizam as representações brasileiras sediadas em outros países.
Os órgãos do Brasil no exterior são classificados pelo Decreto n. 9.683, de 09/01/201948
(art. 2º, V) como: a) missões diplomáticas permanentes; b) repartições consulares; e c) uni-
dades específicas, destinadas às atividades administrativas, técnicas, culturais ou de gestão
de recursos financeiros.
As missões diplomáticas permanentes compreendem embaixadas, missões e delega-
ções permanentes junto a organismos internacionais e são criadas e extintas por decreto e
têm natureza e sede fixadas no ato de sua criação. Às embaixadas compete assegurar a
manutenção das relações do Brasil com os governos dos Estados junto aos quais estão acre-
ditadas, cabendo-lhes, dentre outras, as funções de representação, de negociação, de infor-
mação e de proteção dos interesses brasileiros. Às embaixadas, pode ser atribuída também
a representação junto a organismos internacionais.
O chefe de missão diplomática, também chamado de embaixador, é a mais alta autori-
dade brasileira no país, cabendo-lhe coordenar as atividades das repartições brasileiras ali
sediadas, exceto as das Missões e Delegações Permanentes junto a organismos internacio-
nais e as dos órgãos de caráter puramente militar. O embaixador residente em um Estado
pode ser cumulativamente acreditado junto a governos de Estados nos quais o Brasil não
tenha sede de representação diplomática permanente. Encarregados de Negócios ad interim
residentes em cada um dos Estados onde o chefe da missão não tenha sua sede perma-
nente podem igualmente ser designados.
Às Missões e Delegações Permanentes incumbem assegurar representação dos inte-
resses do Brasil nos organismos internacionais junto aos quais estão acreditadas.
As repartições consulares – que podem ser consulados-gerais; consulados; vice-con-
sulados; e consulados honorários – são responsáveis por prestar assistência a brasileiros,
desempenhar funções notariais e outras previstas na Convenção de Viena sobre Relações
Consulares, e, quando contemplado em seu programa de trabalho, exercer atividades de
intercâmbio cultural, cooperação técnica, científica e tecnológica, promoção comercial e de
divulgação da realidade brasileira. Às embaixadas também pode ser atribuída a execução de
serviços consulares, com competência determinada em portaria do ministro de estado das
relações exteriores (chanceler).

48
Disponível em: planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.

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Volume 2

Os consulados-gerais, os consulados e os vice-consulados são criados ou extintos por


decreto, que lhes fixa a categoria e a sede. A criação ou extinção dos consulados honorários
e a fixação da competência dos demais consulados são estabelecidas igualmente em porta-
ria do ministro de Estado. Os consulados-gerais e os consulados subordinam-se diretamente
à Secretaria de Estado (não às embaixadas), cabendo-lhes, entretanto, nos assuntos rele-
vantes para a política externa, coordenar suas atividades com a Missão Diplomática junto ao
governo do país em que tenham sede. Já os vice-consulados e consulados honorários são
subordinados a consulado-geral, consulado ou serviço consular de embaixada.
As Unidades Específicas, finalmente, são destinadas a atividades administrativas, téc-
nicas ou culturais, criadas mediante ato do ministro de Estado, que lhes estabelece a compe-
tência, a sede e a subordinação administrativa. Exemplo de unidade específica é o Escritório
Financeiro do Itamaraty em Nova Iorque, responsável por administrar as finanças do MRE
no exterior.

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Volume 2

Brasil ou exterior? Onde o trabalho é melhor?

Existem diferenças significativas no trabalho realizado pelos diplomatas no Brasil e no


exterior. Em linhas gerais, quando estão fora do país, trabalham menos e ganham mais.
Apenas com essa informação, pode parecer que é sempre mais agradável e fácil optar por
lotações em embaixadas, consulados, missões junto a organismos internacionais e escritó-
rios de representação49. Na prática, no entanto, é diferente. Além disso, as generalizações
costumam levar a erros de avaliação. É preciso ver caso a caso, por diversas razões.
Primeiramente, a permanência em cada Posto e o tempo total que se pode ficar no
exterior são limitados. De acordo com o Regime Jurídico dos Servidores do Serviço Exterior
Brasileiro (Lei n. 11.440, de 29/12/2006), os diplomatas das três classes de Secretário não
podem ultrapassar o prazo máximo de 10 anos fora do Brasil, ainda assim se tiverem servido
ao menos em um Posto C ou D50. Ministros e embaixadores também estão limitados a esse
mesmo período, mas em cada Posto podem ficar até cinco anos, enquanto os Secretários
não podem ultrapassar três anos em Postos A e B, e 4 anos nos de categoria C e D51.
Em segundo lugar, a quantidade de trabalho que cada diplomata tem de realizar no
exterior depende do Posto, de sua lotação e das circunstâncias do momento político daquele
país. Em geral, os Postos maiores têm mais trabalho, pois estão em países ou representa-
ções junto a organismos com os quais o Brasil mantém intensas relações. Em contrapartida,
esses mesmos Postos costumam ter lotação maior (mais diplomatas trabalhando e, portanto,
mais divididos os temas de cada um). E quando há eventos esporádicos em determinado
Estado (troca de governo, por exemplo, ou visitas de altas autoridades brasileiras ao país), o
trabalho aumenta significativamente52.
Finalmente, ter menos trabalho não significa mais qualidade de vida. Em muitos países
cujas relações com o Brasil são menos intensas, os diplomatas brasileiros acompanham
poucos temas de interesse de nosso país e, com isso, são menos demandados do que
os que vivem na Europa Ocidental, América do Sul ou Estados Unidos, por exemplo. No
entanto, baixo nível de desenvolvimento de alguns países traz sacrifícios a esses diplomatas
e, em especial, a suas famílias53.
Conclui-se, pois, que não dá para comparar laranjas com bananas e dizer qual tem o
melhor custo-benefício ou é mais gostosa. São frutas distintas, e cada uma tem seu valor
singular. Isso vale para o trabalho diplomático (ou consular), no Brasil ou no exterior. Na ver-
dade, a maior parte das carreiras mesclam períodos aqui e lá. O mais aconselhável é tentar
viver o melhor de cada momento, já que costumam passar rapidamente, porque a carreira
diplomática é marcada por constantes movimentações54.
49
Como alguns poucos postos, por exemplo nossas representações em Taiwan e Palestina, não podem ser enquadrados na categoria de embaixada, são
denominados escritórios de representação.
50
Cf. Art. 44, § 1º.
51
O prazo de permanência regular em Postos C e D é de dois anos, mas pode ser prorrogado, a cada seis meses, caso haja interesses do chefe do posto e
do diplomata afetado, desde que não se ultrapasse o período máximo de quatro anos.
52
O mesmo raciocínio vale para o trabalho na Secretaria de Estado em Brasília, pois, quando o presidente da República viaja ao exterior, por exemplo, todos
os diplomatas lotados nas áreas que se ocupam da visita (cerimonial, assessoria de imprensa, divisões políticas e econômicas que acompanham o país
visitado etc.) têm suas tarefas incrementadas.
53
Sobre esse tema, sugere-se a leitura do artigo disponível em: http://blog.vouserdiplomata.com/vida-da-familia-dos-diplomatas-no-exterior/.
54
Cf. http://blog.vouserdiplomata.com/a-dinamica-de-ida-e-volta-de-diplomatas-ao-exterior/.

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Volume 2

A vida da família dos diplomatas no exterior

Quando está no Brasil, o diplomata é um funcionário público como outro qualquer, e


a família, portanto, segue rotina normal de estudos e trabalho. No meu caso, por exemplo,
minha esposa é psicóloga especialista em análise do comportamento e atende, em consul-
tório próprio, crianças e adolescentes. Tenho dois filhos que frequentam escola em Brasília.
Ao ser removido ao exterior, no entanto, a vida se transforma, especialmente para os
familiares. Para o diplomata, pouca coisa muda. Continuamos a conversar com os colegas de
embaixada, missão junto a organismo internacional ou consulado em português. Em geral,
quando temos mais tempo de carreira, ao chegar a um Posto, já conhecemos boa parte dos
membros do serviço exterior que ali estão. Outras vezes, quando se repete um destino onde
já se serviu, até os funcionários contratados locais são conhecidos.
O trabalho também é similar em nosso país ou fora. Enquanto em Brasília a Secretaria
de Estado das Relações Exteriores (SERE) define como será executada a política externa
brasileira sob a orientação do presidente da República, no exterior, são cumpridas as instru-
ções que chegam da Capital Federal. A frequente troca de lado, porém, muda pouco nosso
dia a dia.
No entanto, para a família, a situação é bem diferente. Parceiros, filhos e outros depen-
dentes que acompanham o diplomata vivem a vida no exterior com maior intensidade e inte-
ragem mais com a sociedade local. São eles que frequentam escolas, fazem compras em
supermercados com mais frequência, estão em casa quando aparece alguém para fazer um
conserto ou entregar alguma correspondência. Em alguns países, é possível que os depen-
dentes tirem licença de trabalho, mas, além de ser exceção, normalmente desempenham
tarefas distintas de suas profissões no Brasil.
Quanto aos filhos, a necessidade de adaptação é ainda maior. Em alguns poucos desti-
nos, é possível frequentar escolas locais, às vezes públicas e de qualidade, como em muitas
cidades europeias e norte-americanas. Em geral, no entanto, a opção disponível é a das
escolas internacionais, normalmente em língua inglesa ou francesa. É por isso que, ao voltar
ao Brasil, muitos optam por matriculá-los também em escolas internacionais em Brasília,
para manter o currículo que seguiam no exterior.
Além da dificuldade da língua, há o problema do custo elevado. Não foi possível ainda,
mesmo sendo uma reivindicação bem antiga dos diplomatas, viabilizar o chamado auxílio-e-
ducação no exterior. Assim, ao optar por escolas internacionais, que são privadas, é preciso
desembolsar considerável quantia de mensalidade, o que muitas vezes influencia na decisão
de remoção para os que têm filhos em idade escolar. Em alguns casos, quando são muitos
os dependentes nessa situação, alguns postos de língua de difícil aprendizado, como China
e Japão, tornam-se inviáveis opções.

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Volume 2

Ao chegar até este parágrafo, você pode estar desanimado, achando que a carreira
diplomática seria uma opção ruim por prejudicar sua família. O saldo, porém, é muito posi-
tivo. Volto a meu caso para exemplificar o que digo. Vivi com minha família em Buenos Aires
e Washington. Ainda que fossem dois locais de fácil adaptação, minha família teve dificulda-
des. Partiu meu coração quando tirei meus filhos das escolas em que estudavam.
Mas se perguntar a eles hoje o que acharam da experiência, todos adoraram e repeti-
riam a experiência. Minha filha saiu da Argentina falando espanhol como um portenho (meu
filho ainda era muito pequeno). Os dois deixaram os EUA alfabetizados em inglês, idioma
que dominam como nativos.
Costumo brincar que viver no exterior é muito difícil, mas ter vivido é maravilhoso, inclu-
sive para as famílias. Não se faz omeletes sem quebrar ovos. O sacrifício, no final, vale
muito a pena.

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Como funciona o plano de saúde do MRE

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) oferece a seus funcionários (servidores do


Serviço Exterior Brasileiro)55 benefício que considero essencial à boa representatividade do
Brasil no exterior. Trata-se do Plano Complementar de Assistência Médica do Serviço Exte-
rior (PCAMSE), que funciona em qualquer parte do mundo.
Diferentemente da maioria dos planos de saúde brasileiros, o PCAMSE é operado pela
seguradora alemã Allianz e não requer pagamento de mensalidade, pois funciona por meio
de reembolso. Na maioria das cidades brasileiras e no exterior, o segurado pode escolher
qualquer médico, dentista, clínica, hospital, laboratório ou farmácia, utilizar os serviços ou
comprar os medicamentos.
Com o pagamento das despesas, os recibos ou notas fiscais devem ser encaminhados
à Allianz, acompanhados de um formulário de pedido de reembolso devidamente preenchido
e assinado. O formulário pode ser enviado por e-mail, fax, correio para os endereços contidos
em sua folha de rosto. Um único formulário serve para despesas médicas e dentárias, e a
seguradora tem cinco dias úteis para processar os pedidos de reembolso. Alternativamente,
o servidor que dispuser de um smartphone poderá encaminhar seus pedidos por meio do
aplicativo “My health”, cujas instruções de uso são fornecidas pelo próprio programa.
A empresa adota como parâmetro, para fins de reembolso, os custos razoáveis e costu-
meiros, ou seja, os valores normalmente pagos a provedores na cidade onde o procedimento
é realizado. Em Brasília, em São Paulo e no Rio de Janeiro, o PCAMSE oferece Rede Cre-
denciada, que é atualizada periodicamente.
A escolha desses estabelecimentos não dispensa os procedimentos normais de reem-
bolso, mas a utilização de hospitais não credenciados implicará o pagamento, pelo segurado,
de 40% da despesa a título de copagamento, em vez dos 20% habituais. Além disso, o mon-
tante correspondente ao copagamento de despesa efetuada em entidade não credenciada
não será computado no limite máximo anual de desembolso, de 6.500 dólares. O prazo para
solicitar o reembolso é de seis meses após o vencimento do contrato que cobre o período
da despesa.
Para cirurgias e procedimentos que requeiram internação, ainda que na rede creden-
ciada, é obrigatória a apresentação prévia à seguradora do Formulário de Autorização para
Tratamento, que contém uma parte a ser preenchida pelo médico ou prestador de serviços.
Nesses casos, a Allianz fará o pagamento diretamente ao prestador de serviços médicos da
parcela que lhe cabe, e o segurado pagará apenas o valor que faltar para completar a fran-
quia, acrescido da coparticipação.
A franquia anual individual é de 400 dólares. Para apólices com duas pessoas, é des-
contada a franquia de 400 dólares de cada segurado (titular e dependente). Para apólices
com três pessoas ou mais, é descontada franquia familiar, de 800 dólares em despesas de
55
Conheça as carreiras do Serviço Exterior Brasileiro em: http://blog.vouserdiplomata.com/conheca-as-carreiras-do-servico-exterior-brasileiro/.

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Volume 2

qualquer um dos segurados. As franquias são cobradas pelo ano do contrato, ou seja, de 1º
de abril a 31 de março do ano seguinte, independentemente de quando ocorre a adesão ao
PCAMSE ou seu cancelamento.

De acordo com o Decreto n. 99.525/1990, têm direito a inscrever-se no PCAMSE:

• integrantes do Serviço Exterior (diplomatas, oficiais e assistentes de chancelaria);


• ocupantes de DAS, pertencentes ou não ao quadro permanente do MRE;
• servidores do PCC/PGPE56 enquanto em missão no exterior;
• pensionistas de servidores que faziam jus ao PCAMSE permanentemente.

Tendo em conta os elevados valores que podem atingir um tratamento de saúde, espe-
cialmente no exterior, percebe-se a importância desse benefício, que deve também ser
levado em conta por potenciais candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplo-
mata (CACD), inclusive como mais um estímulo à preparação para os exames.

56
Os servidores do Plano de Classificação de Cargos (PCC) e do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (PGPE) fazem parte do Quadro de Pessoal do
Ministério das Relações Exteriores, mas não do Serviço Exterior Brasileiro, e podem ser designados a cumprir missões no exterior.

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Volume 2

Atribuições de um consulado

Muitos brasileiros, aliás, a maioria, não sabem que tipos de serviço podem, e até devem,
demandar de nossos consulados no exterior. É comum, inclusive, baterem em embaixadas
para pedirem auxílio e se surpreenderem ao serem encaminhados a uma representação con-
sular, quando não houver um setor consular no local. Alguns poderiam ser mais auxiliados,
outros fazem pedidos que não podem ser atendidos.
Para acabar com essas dúvidas, vamos elencar, de modo simples e direto, quais as
atribuições de um consulado, assim como o que está fora de seu alcance.
Proteção de interesses. Os consulados devem proteger os interesses dos cidadãos
brasileiros no exterior, mas sem desrespeitar os tratados internacionais vigentes, nem a
legislação local. Assim, por exemplo, se um brasileiro for preso no exterior, as autoridades
consulares deverão visitá-lo e certificar-se de que está sendo bem tratado e que não há des-
respeito aos seus direitos, segundo as leis daquele país. Não poderá, entretanto, solicitar sua
liberdade como se fora um advogado de defesa.
Cartório. Os consulados exercem as funções de notário público e de oficial de registro
civil, e, como tal, autenticam documentos, emitem certidões, procurações, declarações, cer-
tificados e atestados aos cidadãos brasileiros. Se uma brasileira dá à luz no exterior, pode
registrar seu filho em um consulado brasileiro.
Expedição de documentos. Os consulados expedem documentos de viagem (pas-
saportes, autorizações de retorno ao Brasil). Se um brasileiro é furtado ou perde seu pas-
saporte em viagem de turismo, pode emitir outro em um consulado. Se também ficou sem
dinheiro ou não tem tempo para essa emissão, pode solicitar uma autorização de retorno ao
Brasil, papel reconhecido pelas autoridades brasileiras que serve apenas para ingresso em
território nacional.
Alistamentos e eleições. Os consulados atuam como órgãos de alistamento militar e
eleitoral. No segundo caso, também realiza regularização eleitoral e conduz os processos
eleitorais em sua jurisdição, ou seja, brasileiros que vivem no exterior podem votar nas elei-
ções para a Presidência da República.
Assistência a desvalidos. Os consulados prestam assistência a cidadãos brasileiros
em situação de desvalimento. Assim, caso algum brasileiro fique sem condições financeiras
para custear seu retorno ao Brasil, o consulado pode, após comprovação do desvalimento,
comprar-lhe o bilhete de regresso.
Comunidade brasileira. Os consulados incentivam a organização e atividades pró-
prias realizadas pela comunidade brasileira residente em sua jurisdição. Com isso, ajudam a
manter o exercício de nossas tradições culturais fora do país.
Vistos. Os consulados também são responsáveis pela concessão de visto brasileiro
para que cidadãos estrangeiros possam ingressar em território nacional. Esse, evidente-
mente, é um serviço prestado ao Estado brasileiro, não a seus cidadãos.

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Volume 2

Os consulados, porém, têm limites de atuação. Nem tudo o que envolve brasileiros no
exterior tem espaço para a atuação consular. Seguem exemplos do que não podem fazer:

• Interferir em pedidos de visto para brasileiros que viajam a outros países e em eventual
denegação de entrada;
• Arcar com despesas médicas, hospitalares, judiciais, além de despesas com sepulta-
mento, cremação, embalsamamento e transporte de restos mortais para o Brasil, ou
quaisquer outras, ainda que emergenciais;
• Representar brasileiro perante a Justiça;
• Efetuar reservas de hotel, compra de passagens, aluguel de veículos, armazenamento
de bagagens;
• Interferir em questões de direito privado, como direitos do consumidor ou questões
familiares;
• Emitir Carteira de Identidade (competência das Secretarias de Segurança Pública de
cada estado), Registro Nacional de Estrangeiro (Polícia Federal), Carteira Nacional de
Habilitação (Detran dos estados ou Denatran) ou atestado de boa saúde. Esses docu-
mentos somente podem ser solicitados no Brasil;
• Emitir atestado de bons antecedentes (somente no Brasil, pessoalmente ou mediante
procurador, junto à Polícia Federal ou Secretarias de Segurança Pública dos Estados;
• Receber inscrições para concursos públicos;
• Receber pagamentos de impostos (como IRPF), taxas, tributos de recolhimento federal,
estadual ou municipal (deverão ser efetuados em território nacional, pessoalmente ou
por procurador).

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Embaixadores políticos

O Ministério das Relações Exteriores (MRE), dizem, é uma instituição quase totalmente
preservada de influências políticas. O argumento principal dos que defendem essa ideia é
que os cargos do ministério são exclusivamente ocupados por integrantes da carreira diplo-
mática. Isso é uma meia verdade, pois há duas exceções: os cargos de ministro das Rela-
ções Exteriores (chanceler) e o de embaixador.
A primeira das exceções é mais comum. Na atualidade, por exemplo, o chanceler não é
membro da carreira diplomática: o Senador Aloysio Nunes. Seu antecessor tampouco era: o
Senador José Serra. A segunda, no entanto, a dos embaixadores políticos, causa mais estra-
nheza por ser menos comum. Não há neste momento um único chefe de posto no exterior
que não seja diplomata de carreira.
O título de embaixador é utilizado, tecnicamente, apenas para designar o ocupante da
Chefia de Missão Diplomática Permanente (embaixada) ou de missão ou delegação per-
manente junto a organismo internacional (como a ONU, a OMC e a OEA57, por exemplo). A
regra geral, segundo o previsto no Art. 41 da Lei n. 11.440, de 29/12/2006 – mais conhecida
como Lei do Serviço Exterior Brasileiro58 –, é que os embaixadores sejam escolhidos entre os
ministros de primeira classe59. Isso explica por que a tradição no Itamaraty é tratar os minis-
tros de primeira classe pelo título de embaixador.
As duas exceções estão previstas no Art. 46 e no parágrafo único do Art. 41 da mesma
Lei. De acordo com a primeira, ministros de segunda classe podem ser comissionados embai-
xadores em postos dos grupos C e D e conselheiros em postos D, desde que tenham conclu-
ído o Curso de Altos Estudos (CAE), além de contar com ao menos quinze anos de carreira,
dos quais sete anos e meio sejam no exterior60.
A segunda exceção é exatamente a dos embaixadores políticos. Diz o mencionado dis-
positivo legal:
“Excepcionalmente, poderá ser designado para exercer a função de Chefe de Missão
Diplomática Permanente brasileiro nato, não pertencente aos quadros do Ministério das Rela-
ções Exteriores, maior de 35 (trinta e cinco) anos, de reconhecido mérito e com relevantes
serviços prestados ao País.”
Felizmente, esse dispositivo foi poucas vezes utilizado com interesse político maior do
que o nacional. Para exercer o cargo de embaixador, é preciso preparo, o que certamente
terá um diplomata de carreira com muitos anos de experiência, mas poucos indicados políti-
cos. Isso não quer dizer, no entanto, que um cidadão experiente em outras áreas distintas da
diplomacia não possam ser bons representantes do Brasil no exterior.

57
Organização das Nações Unidas, Organização Mundial do Comércio e Organização dos Estados Americanos.
58
Esse dispositivo já era previsto nas leis anteriores que disciplinavam o Serviço Exterior brasileiro.
59
Cf. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11440.htm.
60
O tempo de serviço no exterior é contado em dobro nos postos C e em triplo nos de categoria D.

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Volume 2

Você sabia que há mais embaixadores brasileiros nos EUA do que na África?

Sabe-se que, sendo a embaixada a representação política de um Estado em outro, há


sempre apenas uma de cada país em um determinado território, normalmente na respec-
tiva capital (embaixada residente) ou mesmo em um Estado próximo ou vizinho (embaixada
cumulativa), em geral quando as relações bilaterais ainda não tenham atingido certo grau de
maturidade.
Pois bem, sendo os Estados Unidos da América um único país, como pode, então,
haver em território norte-americano mais de um embaixador brasileiro? Pior ainda: como
esse número pode ser maior do que a quantidade que temos em todo o continente africano,
que comporta 54 Estados e em boa parte deles temos embaixada residente?
Para você entender como isso é possível, vamos recordar outro conceito importante já
tratado em artigos anteriores. No Ministério das Relações Exteriores brasileiro, utilizamos o
termo “embaixador” para designar informalmente um diplomata que tenha atingido o último
degrau da carreira diplomática. Do ponto de vista técnico, no entanto, essa designação está
equivocada.
Embaixador é o nome que deveria ser dado apenas ao representante máximo de um
país em outro ou junto a uma Organização Internacional da qual o país desse representante
seja membro, ou seja, o embaixador do Brasil nos EUA, que tem residência em Washington,
D.C., é o brasileiro que o presidente da República escolheu para ser o nosso representante
em território norte-americano. Esse embaixador necessariamente deve ser aceito (acredi-
tado) pelo governo dos Estados Unidos e pode ser qualquer brasileiro nato, inclusive de fora
da carreira diplomática.
Ocorre, porém, que o presidente da República quase sempre escolhe um ministro de
primeira classe (último cargo da carreira diplomática) para exercer as funções de embaixa-
dor, por ser esse diplomata mais experiente do que os de classes inferiores (ministros de
segunda classe, conselheiros, primeiros-secretários, segundos-secretários e terceiros-secre-
tários) para cumprir esse papel. Por serem normalmente os escolhidos, convencionou-se
chamar os ministros de primeira classe de embaixadores, mesmo que nunca tenham ou não
estejam naquele momento ocupando o cargo de embaixador.
E os demais embaixadores nos EUA, quem são? Há outros dois embaixadores, de fato,
que são nossos representantes máximos junto a dois organismos internacionais com sede
nos Estados Unidos. Um é o embaixador do Brasil junto à Organização das Nações Unidas
(ONU), em Nova Iorque; o outro, o embaixador do Brasil junto à Organização dos Estados
Americanos (OEA), em Washington, D.C. Só aí já são três.
Além desses, há ministros de primeira classe (tratados como embaixadores) na Chefia
do Escritório Financeiro do Itamaraty em Nova Iorque e dos consulados do Brasil em 10 cida-
des dos EUA. Temos aí, portanto,14. E, para completar um número redondo, pois o total é 15,
o Representante Alterno do Brasil na ONU também é sempre um ministro de primeira classe.

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Volume 2

Ainda que esse número de “embaixadores” nos EUA seja elevado, é estranho pensar
que, tendo relações diplomáticas com todos os países africanos e com embaixadas resi-
dentes em 37 desses 54 Estados (17 são embaixadas cumulativas), o Brasil tenha na África
menos de 15 embaixadores. Na verdade, do ponto de vista técnico, isso nem seria possível,
pois o número de embaixadores deve necessariamente igualar-se com o número de embai-
xadas residentes (e muitos desses embaixadores são também representantes cumulativos
junto aos países com os quais temos relações diplomáticas, porém não uma embaixada
física no respectivo território).
A explicação é a seguinte: a maior parte das embaixadas do Brasil na África é chefiada
por diplomatas que ainda não atingiram a última classe da carreira, em geral, ministros de
segunda classe. De fato, ao entregarem suas credenciais ao chefe de governo do país em
que nos representam, tornam-se tão embaixadores quanto nosso chefe de missão diplomá-
tica nos EUA, França ou Alemanha. O desafio desses nossos Embaixadores na África não é
menor do que os que estão na Europa, por exemplo, muito pelo contrário, tendo em vista as
dificuldades políticas e econômicas que muitas vezes eles têm de contornar.
E, para completar as curiosidades deste artigo, sugiro visitar o site do Ministério das
Relações Exteriores, no qual consta lista de todos os países com os quais o Brasil tem rela-
ções diplomáticas: https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/relacoes-bilaterais.
Ao clicar no nome do respectivo país, você poderá descobrir se temos aí uma embai-
xada residente ou cumulativa, além de diversas informações sobre nossas relações bilaterais
com esse Estado, bem como referências sobre nossa representação, inclusive o nome do
respectivo embaixador brasileiro.

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Volume 2

Tema: A carreira diplomática

Artigos:

• A ascensão funcional de um diplomata


• Por que a carreira diplomática é diferenciada?
• A dinâmica de ida e volta de diplomatas ao exterior
• Pode um diplomata nunca ir para o exterior?
• Tudo o que é importante no Itamaraty termina com “ão”
• Minha experiência em Washington, D.C.
• Para que serve o Itamaraty?
• Quer trabalhar 24 horas por dia?
• A tecnologia como possível ameaça à carreira diplomática
• Os limites de idade da carreira diplomática
• Generalista ou especialista: o que deve ser um diplomata?
• O empréstimo de servidores do MRE
• Licenças diversas: deixar o Itamaraty sem deixar a carreira diplomática
• Como fui parar em Buenos Aires
• Afastamentos de diplomatas das atividades no Itamaraty

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Volume 2

A ascensão funcional de um diplomata

Tema recorrente entre os candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata


(CACD), mais conhecidos como CACDistas, é o das promoções. Mesmo antes do ingresso
na carreira, os aspirantes querem saber como e, principalmente, quando chegarão ao topo.
Esse tema está disciplinado pela Lei n. 11.440, de 29 de dezembro de 2006, cujo conteúdo,
aliás, faz parte do programa da prova de Noções de Direito e Direito Internacional Público do
exame de ingresso (primeira e segunda fases).
Todos os CACDistas imaginam-se não apenas como membro do corpo diplomático
brasileiro, mas, em especial, como embaixador do Brasil em Paris, em Washington ou em
alguma embaixada importante. Claro que a pessoa que vai ocupar um desses cargos daqui
a 40 anos, por exemplo, provavelmente ainda não ingressou na carreira, e poderá até ser
você ou algum concorrente seu no CACD deste ano ou do próximo, mas é preciso saber que
o caminho não é fácil, e o funil, apertado. Entendamos como funciona.
As promoções na Carreira de Diplomata obedecem a critérios legais, especialmente os
estabelecidos nas Seções V e VI da Lei n. 11.440/2006, que instituiu o Regime Jurídico dos
Servidores do Serviço Exterior Brasileiro, aí incluídos os diplomatas. Com certeza, como em
toda carreira, nem toda promoção é automática (por antiguidade), assim que obedecidos os
requisitos previstos na lei, aliás, no caso do Itamaraty, apenas a primeira é assim. Das cinco
promoções a que aspiram os diplomatas, as quatro últimas ocorrem também a partir de ava-
liações subjetivas, as chamadas promoção por merecimento61.
A promoção por antiguidade significa que a ascensão funcional ocorre pela ordem de
ingresso na carreira, logo após a aprovação no CACD. Um diplomata sobe o primeiro degrau
de sua trajetória desse modo, ou seja, é promovido de terceiro-secretário62 (classe inicial)
a segundo-secretário. Os aprovados no CACD são dispostos em uma fila, de acordo com
a colocação em que passaram. O primeiro colocado no Concurso será o primeiro da fila, e
assim por diante. Esse primeiro da fila do CACD de 2022 estará logo atrás do último colocado
do CACD de 2020.
Para ser promovido a segundo-secretário, o diplomata não precisa jamais ter servido no
exterior. Como os primeiros anos de exercício profissional ocorrem necessariamente em Bra-
sília, inclusive porque o período do Curso de Formação63 do Instituto Rio Branco (IRBr) obri-
ga-o a morar na capital do país, em geral, essa promoção ocorre antes da primeira missão
permanente ao exterior, ou durante sua estada no primeiro Posto (embaixada, consulado ou

61
Isso é exatamente o estabelecido no art. 51 da referida Lei:
Art. 51. As promoções na Carreira de Diplomata obedecerão aos seguintes critérios:
I – promoção a Ministro de Primeira Classe, Ministro de Segunda Classe, Conselheiro e Primeiro-Secretário, por merecimento; e
II – promoção a Segundo-Secretário, obedecida a antiguidade na classe e a ordem de classificação no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata - CACD,
cumprido o requisito previsto no art. 53 desta Lei.
62
Como há muitas referências às classes da carreira, pede-se a compreensão (e permissão) das candidatas para a utilização dos termos somente no mas-
culino, para evitar a poluição do texto com os respectivos “(as)”.
63
Os cursos do IRBr serão objeto de artigo futuro. Para conhecer o Curso de Formação, sugere-se pesquisa ao endereço:
https://www.gov.br/mre/pt-br/instituto-rio-branco/cursos-do-instituto-rio-branco/curso-de-formacao

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missão junto a algum organismo internacional). Atualmente, o tempo médio para que isso
ocorra tem sido de 6 a 7 anos, incluído o período de curso no IRBr.
Para a promoção de segundo a primeiro-secretário, o diplomata necessita ter conclu-
ído o CAD (Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas)64, ter ao menos dois anos de serviço
prestado no exterior e ter completado três anos de exercício profissional como segundo-se-
cretário, que é o tempo de interstício mínimo entre cada classe da carreira. Como se trata de
uma promoção por merecimento, no entanto, como afirmei, não basta cumprir esses requi-
sitos, pois a escolha é da alta direção do ministério, sendo a última palavra a do presidente
da República, com quem o ministro das Relações Exteriores (chanceler) despacha a lista de
promovidos em todas as classes.
Para ser um dos escolhido a qualquer promoção por merecimento, além de cumprir os
requisitos mínimos de promoção em sua respectiva classe, o diplomata precisa entrar no
chamado Quadro de Acesso (QA). Trata-se de uma lista elaborada a partir de uma votação
de todos os diplomatas sobre quais candidatos à promoção acham que merecem recebê-la.
Os diplomatas votam nos candidatos de sua própria classe (votação horizontal) e das classes
inferiores à sua (votação vertical).
Os resultados das votações são examinados em três diferentes câmaras de avaliação
formadas por Chefes de Divisão, Diretores de Departamento e Secretários. As listas come-
çam maiores na câmara hierarquicamente menor e vão diminuindo na medida em que sobem
para as câmaras mais altas. Após essa triagem, o chanceler decide quem entra no Quadro
de Acesso de cada classe. O número de ingressantes no QA é o mesmo dos promovidos,
que obviamente deixam o Quadro ao mudarem de classe.
As condições para a promoção de diplomatas nas demais classes estão previstas no
artigo 52 da Lei n. 11.440:

Art. 52. Poderão ser promovidos somente os Diplomatas que satisfaçam os se-
guintes requisitos específicos:
I – No caso de promoção a Ministro de Primeira Classe, contar o Ministro de Se-
gunda Classe, no mínimo:
a) 20 (vinte) anos de efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da
classe inicial da carreira, dos quais pelo menos 10 (dez) anos de serviços presta-
dos no exterior; e
b) 3 (três) anos de exercício, como titular, de funções de chefia equivalentes a ní-
vel igual ou superior a DAS-4 ou em posto no exterior, de acordo com o disposto
em regulamento;
II – no caso de promoção a Ministro de Segunda Classe, haver o Conselheiro
concluído o Curso de Altos Estudos – CAE e contar pelo menos 15 (quinze) anos
de efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da classe inicial da
64
Veja: https://www.gov.br/mre/pt-br/instituto-rio-branco/cursos-do-instituto-rio-branco/curso-de-formacao.

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carreira, dos quais um mínimo de 7 (sete) anos e 6 (seis) meses de serviços pres-
tados no exterior;
III – no caso de promoção a Conselheiro, haver o Primeiro-Secretário concluído
o Curso de Atualização em Política Externa - CAP e contar pelo menos 10 (dez)
anos de efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da classe ini-
cial da carreira, dos quais um mínimo de 5 (cinco) anos de serviços prestados
no exterior.

O tempo mínimo de exercício do diplomata no exterior, exigência legal a partir da pro-


moção de segundo a primeiro-secretário, é contado somente quando a missão é permanente
ou transitória ininterrupta de duração igual ou superior a 1 (um) ano. O período de serviço
prestado em postos do grupo D é computado em triplo, e o prestado no grupo C, em dobro.
Com todas essas exigências, a carreira diplomática torna-se, como costumo afirmar,
uma maratona, não uma corrida de 100 metros rasos. Pior: nessa maratona, ao contrário
do que ocorre com a competição olímpica, há barreiras, e muitas. É reconfortante saber, no
entanto, que o tempo pode ser cruel com a promoção de alguns diplomatas no curto prazo,
que muitas vezes não têm seu merecimento reconhecido como acham que deveriam, mas, a
longo prazo, todos os que trabalham bem e seriamente ascendem na carreira. Poucos con-
seguem, no entanto, chegar ao último degrau – o de ministro de primeira classe, chamado
informalmente de embaixador – sem esperar ao menos cerca de 30 anos. É preciso, pois, ter
paciência, trabalhar com seriedade e não achar que a satisfação profissional ocorre somente
quando se chega ao topo da carreira.

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Por que a carreira diplomática é diferenciada?

Às vezes me deparo com a notícia de que um diplomata pediu exoneração. A frequência


com que vi isso ocorrer nos últimos 20 anos (tenho, já, uma certa rodagem) pode ser con-
tada nos dedos das mãos, aliás, de apenas uma delas. Como isso é possível, porém, se a
maioria dos aprovados no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) tem vinte
e poucos ou trinta anos de idade e normalmente espera a expulsória – idade para aposenta-
doria compulsória no serviço público – para deixar os quadros do Itamaraty? Por uma razão
muito simples: os prós superam, e muito os contras. Vejamos.
Não posso dizer, claro, que ninguém tem chateações no Ministério das Relações Exte-
riores, a ponto de questionar a própria decisão de se tornar diplomata. Eu mesmo cansei de
fazer isso, e duvido de qualquer um que afirme nunca ter feito o mesmo. Há momentos em
que tudo parece dar errado, pois um chefe enche o saco, as atribuições são desinteressan-
tes, tomam-se “caronas” (colegas que ingressaram posteriormente na carreira são promo-
vidos antes de você) ou alguém passa na sua frente naquela remoção para Paris ou Nova
Iorque que parecia fechada.
Nessas horas, a tendência é pensar: “por que estudei tanto para virar servidor público,
quando, com preparo semelhante, poderia ganhar muito mais dinheiro e reconhecimento no
setor privado?”. Sim, isso seria possível, assim como os jogadores de futebol que conhece-
mos são ricos, jovens, famosos e cobiçados. Mas são eles a maioria? Qual a probabilidade
de uma criança que queira seguir esse caminho conseguir o mesmo feito, em vez de nadar,
nadar e morrer na praia de um time de várzea?
Pois, no Itamaraty, eu diria que a chance de alguém se aborrecer com frequência é
enorme, mas os benefícios recebidos ao longo do tempo nos fazem relevar boa parte dessas
contrariedades.
Comparada às oportunidades no setor privado, por exemplo, quantos podem dormir à
noite com um belo emprego e salário sem a preocupação de ser demitido no dia seguinte? E
quando são despedidos depois dos 40 ou 50, como conseguir outra ocupação rapidamente
com o mesmo ou maior nível de remuneração? Ou então, como manter um empregado efi-
ciente e muito bem qualificado sem o risco de perdê-lo para a concorrência? A diplomacia,
sendo carreira pública, nos preserva dessa insegurança que ronda permanentemente os que
optam pela iniciativa privada. E se não é possível ficar rico no Itamaraty (ao menos licita-
mente), tampouco cheguei a conhecer alguém que passasse por extremas carências finan-
ceiras, pois há sempre a opção de passar um tempo no exterior, onde se ganha em dólares.
No funcionalismo público, que outra carreira permite “escolher” entre trabalhar no Brasil
ou em outro país? Alguns responderão as Forças Armadas ou a Receita Federal, que têm
adidos em algumas embaixadas, mas essas funções são excepcionais nessas instituições,
pois seguramente a esmagadora maioria cumpre expediente em território nacional, enquanto
no Itamaraty a proporção é de aproximadamente 60% dos profissionais servindo no exterior.

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Volume 2

Por último, como costumo dizer sempre, conheço poucas carreiras nas quais é possível
ter diversos e variados empregos ao longo da vida. Quem, trabalhando na mesma institui-
ção, pode em um dia tratar de temas ambientais em Brasília, no ano seguinte acompanhar
a economia norte-americana em Washington e, três anos mais tarde, negociar acordos do
MERCOSUL em Montevidéu? E se pegarmos apenas a carreira de um diplomata experiente
como exemplo, veremos que cada um de nós guarda recordações que renderiam um inte-
ressante livro de memórias.
Logo chegará o próximo CACD e, como sempre, se iniciará, para muitos, a expectativa
de terminar o ano sentado em uma das cadeiras do Instituto Rio Branco. Se você nutre esse
desejo, conte com o Gran para ajudá-lo a conquistar esse espaço!

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A dinâmica de ida e volta de diplomatas ao exterior

As perguntas que mais ouço sobre a carreira diplomática, especialmente daqueles que
conhecem menos a carreira, dizem respeito à suposta obrigatoriedade de ida a um determi-
nado destino ou ao exterior, em geral. Nada é obrigatório, mas a eventual permanência no
Brasil tem seu preço.
Idealmente, para aqueles que gostam da ideia de viver um tempo fora do Brasil, que
são a maioria no Itamaraty, a melhor opção seria ir de um posto65 a outro sem retornar à
SERE66. Na prática, entretanto, o mais adequado está no meio termo, como quase tudo na
vida. As carreiras mais bem-sucedidas são aquelas que mesclam períodos equilibrados de
permanência em Brasília e no exterior. E quais seriam esses tempos?
Em geral, os prazos ideais variam de dois a cinco anos, dependendo da situação. Pen-
semos em caso concreto, ainda que hipotético. Imagine um diplomata chamado José, que
acabou de ser formar no Instituto Rio Branco (IRBr). Ao deixar os bancos escolares, José
terá sua lotação definida de acordo com as necessidades do Itamaraty e as suas escolhas,
conforme a classificação obtida no final do curso67.
O período dessa primeira lotação varia. Se José estiver satisfeito com o tema de que
trata, normalmente ficará no mesmo local até sua primeira saída para o exterior. Caso con-
trário, depois de um ou dois anos, terá certa liberdade para buscar outra lotação, desde que
isso seja negociado entre os chefes, ainda na SERE.
Quando José começar a pensar em ir para o exterior, suas opções dependerão do
tempo que permaneceu trabalhando em Brasília após o Curso de Formação do IRBr. Para
candidaturas a postos de categoria D, basta um ano de trabalho; 2, para C; 3, para B; e
4, para A.
José poderá esperar mais para sair, ou mesmo não sair, pois não é obrigado a isso.
No curto prazo, nada mudará, já que, se ficar no Brasil por mais de quatro anos depois de
formado, concorrerá a uma remoção para um posto A (ou de qualquer outra categoria) em
igualdade de condições com os colegas que esperaram o tempo mínimo para candidatar-se
a um desses destinos, porém, no médio e longo prazo, pagará um preço. Vejamos.
Digamos que José decida ficar 10 anos em Brasília antes de sua primeira remoção ao
exterior. Ao chegar seu momento de ser promovido de terceiro a segundo-secretário, bastará
ter o tempo de carreira necessário, pois essa promoção é por antiguidade e não exige tempo
de exterior. Seus colegas de turma que saíram, por exemplo, com três ou quatro anos de
SERE, já estarão, a essa altura, no final do segundo posto, caso tenham optado por fazer
dois, respeitando o rodízio entre as categorias A, B, C e D.

65
Posto é qualquer destino (representação brasileira) no exterior: embaixadas, consulados, missões e escritórios.
66
SERE significa Secretaria de Estado, que é a sede do Ministério das Relações Exteriores (MRE) em Brasília.
67
Essa classificação leva em conta não apenas a posição conquistada no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), mas também as notas
obtidas no Curso de Formação do IRBr.

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Com isso, José, que necessitará de dois anos de exterior para ser promovido de segundo
a primeiro-secretário, somente poderá concorrer a essa promoção depois de 12 anos de car-
reira. Além disso, normalmente os promovidos estão trabalhando em Brasília, pois quem está
no Brasil trabalha mais e ganha menos (a remuneração é em real) e, portanto, necessita ser
recompensado.
Assim, José, se for fazer dois postos – e o ideal é que o faça, já que depois, para ser
promovido de primeiro-secretário a conselheiro, necessitará de cinco anos de exterior –, no
fundo só será um candidato forte à promoção após seu retorno a Brasília, quando já terá 16
anos de carreira. A essa altura, seus colegas de turma já disputarão a classe de conselheiro,
enquanto ele estiver disputado acesso à classe de primeiro-secretário.
O inverso também é verdadeiro. Se José optar por sair cedo ao exterior e lá permanecer
10 anos (tempo máximo de permanência, desde que faça ao menos três postos e um deles
seja das categorias C ou D), certamente ganhará mais dinheiro do que os colegas de turma
que optarem por ficar menos tempo no exterior, pois será remunerado em dólar durante
um período maior. No entanto, no exterior, provavelmente não conseguirá ser promovido,
enquanto os que estiverem em Brasília, sim.
E assim seguirá a dinâmica da carreira diplomática para José até que chegue à classe
de ministro de primeira classe, mais conhecida como embaixador. Se seguir os prazos regu-
lares, seu fluxo será o mesmo da maioria. Se optar pela permanência no Brasil ou no exte-
rior por períodos maiores, atrasará sua carreira, mas não será obrigado a sair nem a voltar,
enquanto estiver no tempo de permanência permitido em cada posto.

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Pode um diplomata nunca ir para o exterior?

Quase todos os CACDistas (candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplo-


mata – CACD) sonham com a vida no exterior. Esta, aliás, costuma ser a principal motivação
de ingresso na diplomacia. Há poucos, porém, que não enxergam a possibilidade de viver
fora do Brasil como um atrativo e preferem evitar ao máximo essa experiência. Em minha
opinião, na verdade, escolheram mal a profissão, pois há outras no serviço público que remu-
neram melhor e não exigem a saída do país.
Uma das lendas urbanas que cercam a carreira diplomática diz que os profissionais
são obrigados a se mudar para determinado destino quando isso é definido pelo Itamaraty.
Isso não é verdade. Ninguém é removido (enviado a viver no exterior) a nenhum país sem
concordar com essa decisão. Nem ir morar fora é obrigação dentro da carreira. Isso não quer
dizer, evidentemente, que a decisão de ficar no Brasil ou recusar uma remoção seja isenta
de custo. Há, sim, um preço a se pagar.
Separemos as duas situações. Vamos imaginar, primeiramente, um diplomata que
esteja vivendo em um Posto A e, ao sair, lhe sejam oferecidas opções de remoção para
Postos B, C ou D68. Esse funcionário resolve, então, recusar as ofertas, mas ele precisa sair
do Posto em que se encontra, seja porque se inscreveu no Mecanismo de Remoções – sis-
tema de movimentação de pessoal que ocorre a cada semestre – ou porque venceu seu
prazo no local. Esse prazo é de três anos para diplomatas e cinco anos para oficiais e assis-
tentes de chancelaria69.
Nesse caso específico, o diplomata não teria outra opção a não ser retornar a Brasília.
Se ele já estiver na Capital Federal, sua recusa em ser removido para algum destino que lhe
seja oferecido não terá efeito formal, pois ele terá a inscrição no Mecanismo de Remoções
cancelada e ficará onde está. Na prática, no entanto, essa recusa pega mal, e isso poderá
prejudicar futuras candidaturas a remoção ou promoção na carreira.
A outra situação é a do diplomata que simplesmente opte por permanecer no Brasil,
sem desejo algum de servir no exterior. Nesse caso, ele tampouco será obrigado a sair do
país, mas ficará com a carreira paralisada.
A ascensão profissional na carreira diplomática depende do preenchimento de certos
requisitos formais, entre os quais está o tempo de exterior. Esse tempo será maior na medida
em que o diplomata progride funcionalmente. A única promoção que não exige tempo de exte-
rior é a primeira, de terceiro para segundo-secretário. Esta ocorre por antiguidade (ordem de
ingresso na carreira, de acordo com a classificação no CACD). Para as demais promoções,
é preciso cumprir os seguintes tempos:

68
Conheça o sistema de classificação de Postos (representações brasileiras no exterior) em: http://blog.vouserdiplomata.com/como-se-define-o-destino-de-
-um-diplomata-no-exterior/.
69
Embaixadores e ministros-conselheiros (o número 2 das embaixadas e outras representações) também têm prazo máximo de cinco anos de permanência
nos Postos A e B.

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• De segundo para primeiro-secretário: dois anos;


• De primeiro-secretário para conselheiro: cinco anos;
• De conselheiro para ministro de segunda classe: sete anos e meio;
• De ministro de segunda classe para ministro de primeira classe (ou embaixador): 10 anos.

Esse tempo só é computado em missões permanentes, quando há remoção do Brasil


para o exterior. As missões transitórias (deslocamentos temporários com manutenção da
residência no Brasil) só contam tempo de exterior quando são iguais ou superiores a um ano.
Tempo de serviço em Postos C contam em dobro e, em Postos D, em triplo.
Ou seja, ainda que seja possível a um diplomata simplesmente não servir no exterior,
há um preço a se pagar. E, como afirmei no início, se seu desejo não é viver fora do Brasil,
sugiro optar por outra carreira, já que isso faz parte da essência da carreira diplomática.

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Tudo o que é importante no Itamaraty termina com “ão”

Os diplomatas brincam com frequência que o que há de mais interessante na carreira


são três coisas: promoção, remoção e lotação. Eu ainda acrescentaria outras duas, que são
a missão (eventual, transitória ou permanente) e a posição (do Brasil sobre os mais diversos
temas). Brincadeiras à parte, basicamente tudo o que você fará de importante na profissão,
assim que aprovado no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) e formado
pelo Instituto Rio Branco (IRBr), passará necessariamente por uma dessas palavras.
A promoção é o reconhecimento oficial de seu trabalho e esforço pessoal. Alguns a
consideram o principal objetivo da carreira, mas não deve ser encarada como causa, pois
é consequência. Há duas formas de ser promovido: por antiguidade ou por merecimento. A
ascensão profissional por antiguidade está reservada à mudança de terceiro para segundo-
-secretário. Esse primeiro degrau todos sobem assim. Os seguintes (de segundo para pri-
meiro-secretário e depois para conselheiro, ministro de segunda classe e ministro de primeira
classe – ou embaixador) são por merecimento. Se você for responsável e trabalhar bem, a
promoção é um caminho natural de reconhecimento de seu suor.
A remoção, essa sim, em minha opinião, é o que mais afetará sua vida profissional e
pessoal. Nenhum embaixador ou chefe de posto vai querer receber em seu quadro de pes-
soal em embaixada, consulado ou missão um diplomata que não seja bem avaliado no minis-
tério. E a avaliação positiva evidentemente depende também do bom trabalho realizado.
Uma boa remoção, portanto, é aquela desejada por quem será removido, e o atendimento
desse desejo, por certo, será consequência do mérito. Um bom destino no exterior afetará a
sua vida, mas principalmente a de sua família, que terá de estudar, comprar pão na padaria
e pedi-lo no idioma do país onde viverá.
A lotação diz respeito ao local onde se trabalha (termo especialmente utilizado quando
se está no Brasil). A primeira lotação é definida pela classificação final dos alunos do IRBr,
que também leva em conta seu resultado no CACD (a posição em que foi aprovado no Con-
curso). Depois dessa primeira experiência profissional, as seguintes ocorrem por negocia-
ção. Outra vez, se o seu perfil e reputação profissional forem bons, sua probabilidade de tra-
balhar onde deseja será muito maior. Entre os três “ãos” mais desejados da carreira, minha
ordem de importância sempre foi: remoção, lotação e promoção.
Mas há outros “ãos” igualmente importantes, como mencionei acima. A missão pode ser
eventual, temporária ou permanente. A missão permanente é a remoção, que dura dois anos
nos Postos C e D, e três anos nos Postos A e B. Já a missão eventual é a de curta duração,
quando, por exemplo, um diplomata viaja para participar de uma reunião, seja no exterior,
seja em alguma cidade brasileira fora da capital (quando se está lotado em Brasília). Mantém
seu salário em reais e recebe diárias em dólar, se viaja ao exterior, ou em moeda nacional,
quando não sai do país. A missão transitória está entre as duas. Trata-se de um trabalho tem-

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porário, normalmente entre 45 dias e um ano, em que o diplomata mantém sua residência em
Brasília, mas vai trabalhar temporariamente no exterior, ganhando em dólar.
Finalmente, a posição é a “opinião” do governo brasileiro no exterior. É o que se anuncia
na imprensa, por exemplo, quando estoura uma crise política no exterior, e a mídia informa o
que o Itamaraty diz a respeito. Também se trata de posição o que decidimos em organismos
ou negociações internacionais. É o caso de nossa tradicional atitude em prol da defesa da
paz quando da eclosão de conflitos entre países.

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Minha experiência em Washington, D.C.

A Embaixada do Brasil em Washington, D.C. (a abreviação de “Distrito de Colúmbia”


serve para diferenciar a cidade, que é capital dos EUA, do estado com mesmo nome, na costa
oeste do país) é uma das principais representações brasileiras no exterior. Por estar locali-
zada em território da principal potência mundial – que ao mesmo tempo está entre os mais
importantes parceiros de nosso país em diversas áreas, como política, economia, comércio,
ciência e tecnologia etc. –, Brasemb Washington, como é conhecida no Ministério das Rela-
ções Exteriores (MRE), conta com o maior corpo diplomático do Itamaraty no exterior.
Tive a honra de servir nessa embaixada entre 2007 e 2010, assim que terminei meu perí-
odo, também de três anos, em outra importante embaixada brasileira, em Buenos Aires. Isso
foi possível na época porque a representação do Brasil na Argentina era classificada como
B, enquanto a dos Estados Unidos era e continua sendo A. Como hoje aquela também tem
classificação A, não é mais permitido, sendo as regras do necessário rodízio entre os postos,
já explicadas anteriormente70, realizar essa transferência sem passagem de ao menos quatro
anos em Brasília.
Durante meu período em Washington, D. C., passei por três setores distintos. Ao chegar,
no início da crise financeira provocada pelo setor imobiliário norte-americano, fui escalado
para acompanhar a economia do país, além das políticas das instituições multilaterais finan-
ceiras com sede naquela capital: Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), especialmente em assuntos referentes ao
Brasil, como financiamento de obras pública federais, estaduais e municipais.
Nunca tinha trabalhado com esses temas, nem tenho formação acadêmica na área. Isso
que ocorreu comigo, no entanto, é muito comum na carreira diplomática. Os diplomatas são
frequentemente convocados a cumprir tarefas estranhas a suas experiências e estudos. Daí
a necessidade de adaptação e atualização constante, conforme vimos na semana passada71.
Após alguns meses, iniciou-se outro processo nos EUA que me fez mudar de função
novamente na embaixada, por decisão do embaixador. Tratava-se do começo do período
eleitoral norte-americano, quando pré-candidatos republicanos e democratas à Presidência
da República disputavam a vaga de seus partidos nas primárias realizadas nos cinquenta
estados do país.
Terminado o processo eleitoral, que foi relatado diariamente em comunicações da
embaixada para o Itamaraty em Brasília, chamadas de “telegramas”72, novamente fui trocado
de área. Dessa vez, novamente me escalaram para função que nunca havia exercido, a da
promoção comercial. Confesso que tinha certo preconceito com temas comerciais e nunca
tive a ambição de trabalhar com o assunto. No entanto, como todo preconceito – que é uma
70
Cf. http://blog.vouserdiplomata.com/como-se-define-o-destino-de-um-diplomata-no-exterior/.
71
Sugere-se a leitura do artigo disponível em: http://blog.vouserdiplomata.com/diplomatas-estudam-a-vida-toda/.
72
Telegrama é a designação das comunicações escritas entre as representações do MRE no exterior e a Secretaria de Estado (SERE) em Brasília, que é a
sede do ministério. Atualmente, essas comunicações são eletrônicas, mas antigamente eram realizadas por telegramas cifrados, daí o nome, que perma-
neceu.

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Volume 2

ideia normalmente equivocada por não se basear na realidade, mas no que imaginamos, na
ignorância, sobre a questão –, estava enganado e acabei encontrando com essa função, que
nunca mais quis abandonar73.
Ao promover exportações do Brasil aos Estados Unidos, assim como investimentos entre
os dois países, tive a oportunidade de preparar estudos de mercado (avaliação do potencial
comprador norte-americano de certos produtos brasileiros), fazer análise do comércio bila-
teral, dialogar com representantes do governo dos EUA sobre temas de interesse comercial
brasileiro, além de organizar missões de empresários de nosso país a diversas cidades nor-
te-americanas, entre outras funções. Pude realizar um trabalho dinâmico, de comprovação
imediata de seus resultados, além de muito divertido. Por fim, pude conhecer novos locais e
interlocutores com quem não iria interagir se estivesse trabalhando em outras funções.
Veja, portanto, como costuma ser diversificado o trabalho de um diplomata, tanto no
Brasil como no exterior. Quanto maior a representação brasileira, seja embaixada, consulado
ou missão junto a organismo internacional, mais variadas são as atribuições do posto e, logo,
mais possibilidades de tarefas são apresentadas aos diplomatas que lá estejam lotados.

73
Com exceção de um curto período de dois anos, assim que retornei a Brasília, em 2010, quando trabalhei como assessor na Secretaria-Geral das Relações
Exterioes, sempre atuei, desde essa época, com temas relacionados à promoção comercial brasileira.

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Para que serve o Itamaraty?

Segundo o Regimento Interno da Secretaria de Estado das Relações Exteriores, mais


conhecido no Itamaraty como RISE74, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) é o “órgão
político da administração direta cuja missão institucional é auxiliar o presidente da República
na formulação da política exterior do Brasil, assegurar sua execução, manter relações diplo-
máticas com governos de estados estrangeiros, organismos e organizações internacionais e
promover os interesses do Estado e da sociedade brasileiros no exterior”.
Ou seja, ainda que, na prática, proponham-se ideias que se tornam, em sua maioria, a
própria política externa brasileira, em teoria, cabe apenas ao presidente da República, res-
ponsável último por sua condução, a formulação dessa política de relacionamento com Esta-
dos, organismos e organizações do exterior, sempre, sempre auxiliado pelo MRE.
Na medida em que se tornam mais complexas essas relações, tem crescido igualmente
a participação de outros ministérios no auxílio ao presidente nessa condução. Independen-
temente do tema, no entanto, toda vez que se tratar de tema de política externa, o Itamaraty
pode e deve ser ouvido, já que é o órgão federal encarregado de coordenar, na administração
pública, os assuntos concernentes às relações externas do país.
Nesse contexto, o MRE tem como áreas de competência:
I – Política internacional;
II – Relações diplomáticas e serviços consulares;
III – Participação nas negociações comerciais, econômicas, jurídicas, financeiras, técni-
cas e culturais com governos e entidades estrangeiras;
IV – Programas de cooperação internacional e de promoção comercial; e
V – Apoio a delegações, comitivas e representações brasileiras em agências e organis-
mos internacionais e multilaterais.
Para assegurar a coerência e a unidade da representação e da defesa dos interesses
do Brasil no exterior, o MRE participa da formulação de diretrizes e programas setoriais com
relevância para a política exterior do país; coordena os entendimentos de caráter ou nível
técnico, entre órgãos e entes públicos brasileiros e agências de governos estrangeiros, ou
de organismos internacionais, especialmente nas áreas comercial, econômica, financeira,
científica, técnica e cultural; participa da promoção, da execução e do acompanhamento de
programas que se realizem no Brasil, com a cooperação de governos estrangeiros ou de
organismos internacionais; promove a instituição de comissões e grupos de trabalho intermi-
nisteriais de natureza executiva ou consultiva; e exercita outros poderes funcionais que lhe
sejam, a propósito, deferidos.

74
Aprovado pela Portaria MRE n. 212, de 30/04/2008, e alterado pela Portaria MRE n. 385, de 09/05/2018, o RISE dispõe sobre a organização administrativa
do Ministério das Relações Exteriores.

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Quer trabalhar 24 horas por dia?

Já tratamos das diferenças entre a rotina de um diplomata que trabalha no Brasil e de


um diplomata que trabalha no exterior. Vimos que, em geral, diz-se que fora a vida é melhor,
pois há menos trabalho e a remuneração é melhor (valor em dólares norte-americanos).
Concluímos, no entanto, que a comparação é difícil, pois diz respeito a tarefas de naturezas
distintas, além de o local de lotação na Secretaria de Estado (SERE) e o Posto onde se serve
– e o Setor em que se trabalha nesse Posto – influenciarem bastante a carga de atribuições
a serem desempenhadas.
Neste artigo, vamos avaliar somente o trabalho fora do Brasil, sob a ótica de uma afirma-
ção polêmica: todo diplomata que representa seu país no exterior trabalha 24 horas por dia!
Não estou dizendo, com essa frase, que não existe horário de expediente de trabalho
nas embaixadas, consulados, missões e escritórios. Cada uma dessas representações tem
horário de funcionamento: normalmente de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h75. Até aí,
nada muito diferente do que se faz em Brasília: os diplomatas entram no trabalho às 9h e
saem às 19h, cumprindo duas horas de almoço.
Há, porém, uma diferença fundamental: enquanto na SERE os diplomatas são funcio-
nários públicos como qualquer outro – ou seja, as funções públicas que exercemos limitam-
-se ao período em que estamos trabalhando no Itamaraty –, no exterior, somos representan-
tes do Brasil mesmo quando não estamos cumprindo expediente no Posto.
É por isso, por exemplo, que os chefes de postos moram em residências oficiais (patri-
mônio próprio ou alugadas pelo Estado brasileiro). Também pelo mesmo motivo, qualquer
diplomata acreditado junto a um governo estrangeiro tem imunidade diplomática todo o
tempo, mesmo nos períodos de lazer.
Nenhum de nós, ao servirmos no exterior, podemos alegar que não participaremos de
algum compromisso oficial por ocorrer em fins de semana ou à noite, por exemplo. Aliás,
esse tipo de atividade do chamado “terceiro expediente” (fora do horário comercial) é muito
comum para os que servem em embaixadas de maior atividade, em que o embaixador cos-
tuma oferecer coquetéis na residência, ou em missões junto a organismos internacionais
como a Organização das Nações Unidas. Essas reuniões multilaterais costumam ir até tarde
da noite, ou mesmo varar a madrugada.
Portanto, o comportamento de um diplomata no exterior deve ser condizente com as
funções que desempenha. Se um representante nosso fora do Brasil envolve-se em uma
briga em um bar após se embriagar, por exemplo, esse fato poderá ganhar as manchetes dos
jornais locais com menção ao fato de se tratar de um diplomata brasileiro. Isso, obviamente,
afetará a boa imagem do país nesse local. Logo, mesmo dormindo, os diplomatas no exterior
não tiram o chapéu que levam do Brasil em nosso nome.

75
A flexibilidade desse horário depende de cada chefe de posto, mas, em geral, não escapa muito disso.

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A tecnologia como possível ameaça à carreira diplomática

Quando comecei a me interessar pela carreira diplomática, ainda em minha adolescên-


cia, já lia e ouvia pessoas dizendo que os avanços tecnológicos, especialmente da área das
telecomunicações, iriam transformar ou até mesmo acabar com a atividade dos diplomatas.
Não haveria mais razão em breve, dizem os defensores dessa tese, para os Estados man-
terem pessoas fisicamente os representando no exterior, pois poderiam tratar de seus inte-
resses com os demais de maneira remota ou até mesmo automática, por meios eletrônicos.
Mais de 20 anos se passaram, e o que pude observar nesse tempo foi uma tendência
contrária ao previsto pelos profetas do fim da diplomacia tradicional, ainda que eu continue a
me deparar com os argumentos que ouvia há décadas e que certamente já eram defendidos
bem antes de que eu participasse dessas discussões.
Isso ocorre por uma razão muito simples: as relações humanas não podem ser substitu-
ídas por máquinas. Ao contrário, as facilidades de comunicação aumentam a interação entre
as pessoas, ainda que eventualmente evitem alguns encontros presenciais.
Peguemos o exemplo das teleconferências ou das mais modernas videoconferências.
Outro dia participei de uma dessas, em Brasília, quando temas das relações econômicas
do Brasil com um determinado país foram amplamente discutidos. Foram cerca de 20 par-
ticipantes de cada lado, cada um representando uma instituição distinta de seu respectivo
governo e responsável por certo assunto da pauta bilateral.
Muitos recursos foram certamente economizados nesse encontro, que, se tivesse sido
presencial, acarretaria consideráveis gastos pelo menos para um de nossos cofres públicos
(passagens aéreas e diárias, por exemplo). No entanto, nas três horas de discussão, gastou-
-se apenas energia elétrica, conexão por internet e tempo dos participantes.
Não se pode, porém, avaliar um perfume pelo rótulo. Ao abrirmos esse frasco, encon-
traremos considerável esforço de preparação de cada um dos presentes, especialmente dos
diplomatas, para o levantamento dos antecedentes (informações sobre o andamento daque-
les temas até aquele momento), identificação dos pontos de debate, obtenção de instruções
(da chefia imediata), conteúdo da mensagem a ser transmitida aos interlocutores estran-
geiros etc.
Todo esse trabalho foi feito por humanos. As máquinas foram utilizadas apenas como
instrumentos para o exercício da diplomacia. Além disso, do lado de lá, havia dois diploma-
tas da Embaixada do Brasil naquele país que acompanhavam todos os temas previamente
e seguirão acompanhando de lá. Eles elaboraram um relato da reunião e permanecerão
em contato com os representantes do Estado com o qual mantemos relações diplomáticas,
sempre em defesa dos interesses brasileiros, no caso econômicos, com aquele país.
Isso sem contar, como foi o meu caso, nos desdobramentos que a reunião deverá
ocasionar, inclusive com a necessidade de deslocamentos físicos de uma parte à outra. Dis-
cutiu-se a possibilidade de se realizarem missões nossas àquele país e vice-versa. Prova-

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velmente sem a realização dessa videoconferência, essa(s) missão(ões) não ocorreria(m)


e nossas relações bilaterais seriam menos intensas do que são a partir das facilidades de
comunicação que nos proporciona o avanço tecnológico.
Desistam, portanto, aqueles que querem ver o fim da diplomacia física. Garanto que
essa carreira tão antiga – dizem ser a segunda que surgiu no mundo – permanecerá ainda
por muitos e muitos anos, cada dia mais fortalecida e valorizada!

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Os limites de idade da carreira diplomática

A partir de 1996, o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) deixou de


exigir idade máxima dos candidatos, até então limitada a 35 anos. Já a idade mínima exigida
para apresentar-se às provas, que já havia variado entre 19 e 21 anos, foi fixada, e até hoje
assim permanece, em 18 anos. Como, no entanto, exige-se também curso de graduação
completo para que os aprovados tomem posse no cargo inicial da carreira (terceiro-secretá-
rio), dificilmente alguém teria idade inferior e cumpriria essa condição.
Nesse contexto, muitos candidatos e candidatas questionam se há limites ou algum tipo
de discriminação contra candidatos que, por exemplo, já tenham ultrapassado os 40 anos de
idade. A resposta, definitivamente, é não, porém algumas observações necessitam ser feitas
para evitar eventuais frustrações dos mais experientes.
Antes de mais nada, sugiro leitura da Lei n. 11.440/2006, que instituiu o Regime Jurí-
dico dos Servidores do Serviço Exterior Brasileiro, também chamada de Lei do Serviço Exte-
rior76. A Seção VI dessa lei trata do temido Quadro Especial. Trata-se de algo parecido com a
reserva dos militares, mas os diplomatas que saem da ativa para o Quadro Especial podem
continuar trabalhando, ainda que as perspectivas de progressão na carreira sejam mínimas77.
O artigo 55 da Lei do Serviço Exterior determina as idades máximas de 58 anos para
conselheiros, 60 anos para ministros de segunda classe e 65 anos para ministros de pri-
meira classe, para permanência na ativa. Ao atingir essas respectivas idades, os diplomatas
dessas classes são automaticamente transferidos para o Quadro Especial.
O Quadro especial, conforme afirmado, não significa aposentadoria, mas o diplomata
abre vaga na ativa em sua classe para a promoção de outro da classe inferior. A aposen-
tadoria se dá a partir da solicitação do diplomata (por tempo de serviço, invalidez etc.) ou
compulsoriamente. A aposentadoria compulsória dos servidores públicos era de 70 anos de
idade até 2005, quando foi aprovada a chamada PEC da Bengala, de autoria do Senador
José Serra, que elevou a idade de aposentadoria compulsória para 75 anos.
A PEC da Bengala, que dependia de regulamentação, foi confirmada com a Lei Com-
plementar n. 152, de 03/12/2015, que consolidou a alteração constitucional para todos os
servidores públicos, mas fez ressalva, no parágrafo único do Art. 2º, para os servidores do
Serviço Exterior Brasileiro:

“Aos servidores do Serviço Exterior Brasileiro, regidos pela Lei n. 11.440, de 29


de dezembro de 2006, o disposto neste artigo será aplicado progressivamente à
razão de 1 (um) ano adicional de limite para aposentadoria compulsória ao fim de
cada 2 (dois) anos, a partir da vigência desta Lei Complementar, até o limite de 75
(setenta e cinco) anos previsto no caput.”
76
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11440.htm.
77
É possível, no entanto, a promoção dentro do Quadro Especial, mas são poucas as vagas eventualmente oferecidas: uma, por semestre, para ministros e
conselheiros e duas para secretários.

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Ou seja, estamos em um período de transição para a aposentadoria compulsória da


carreira diplomática, que levará 10 anos, a partir do final de 2015, para chegar aos 75 anos.
Neste momento, está em 73 anos.
Todos esses fatores devem ser levados em consideração pelos CACDistas de idade
mais avançada. Não há qualquer espécie de discriminação contra os experientes que ingres-
sam na carreira, muito pelo contrário, pois sua experiência prévia é de grande valia para o
Itamaraty. Haverá, no entanto, tempo reduzido para a ascensão profissional. Alguém com
menos tempo de carreira poderá ver reduzidas as chances de chegar ao topo da carreira ou
ser transferido para o Quadro Especial antes dos colegas de turma.
Não creio, porém, que isso deva ser um desestímulo para quem pretende ser diplomata.
A valiosa contribuição que essas pessoas podem oferecer à carreira não deve ser colocada
atrás de preconceitos. Se esse for o seu caso e o seu sonho, não desanime!

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Generalista ou especialista: o que deve ser um diplomata?

Médicos, engenheiros, psicólogos: em geral, os profissionais buscam na especializa-


ção um nicho de mercado destinado àquela demanda. Assim, se alguém está com dor nas
costas, não vai buscar um médico qualquer, mas um ortopedista. Quem vai construir uma
casa prefere contratar um engenheiro civil. Se o filho estiver com problemas na escola, pro-
curará uma psicóloga infanto-juvenil.
No caso de um diplomata, porém, a situação é bem distinta. Por se tratar de um pro-
fissional que necessita estar sempre pronto a tratar de qualquer tema relacionado aos inte-
resses do Brasil no exterior, normalmente envereda-se pelo caminho do generalismo. Dizem
que o cúmulo da especialização é saber tudo a respeito de nada. No caso do generalista,
portanto, a meta seria conhecer nada sobre tudo. Eis o diplomata perfeito!
Brincadeiras à parte, essa realidade vem mudando e é cada vez maior o número de
diplomatas que buscam a especialização, ainda que remem contra a maré quando progri-
dem profissionalmente. Isso porque é mais fácil ser especialista no início da carreira do
que no final. Imagine um diplomata que acaba de deixar as salas de aula do Instituto Rio
Branco. Poderá, por exemplo, trabalhar na área política multilateral, na Divisão responsável
por acompanhar o tema do desarmamento e cuidar apenas das posições do Brasil sobre a
proibição de armas químicas.
Esse diplomata provavelmente será aquele que mais entende do tema dentro do Ita-
maraty durante um certo tempo. Digamos que fique nessa mesma divisão por quatro anos e
depois peça remoção para nossa missão junto à Organização das Nações Unidas e lá conti-
nue a acompanhar o assunto. De lá, porém, que é um Posto de categoria A, ele precisará sair
após três anos e escolher uma embaixada ou consulado de categoria B, C ou D, por conta da
necessidade de rodízio entre destinos de categorias distintas. Nesse momento, então, dei-
xará necessariamente de se dedicar ao desarmamento e cuidará de outras questões, como
o acompanhamento da política local, por exemplo.
Em outros casos, é possível até ficar mais do que esses sete anos exemplificados acima
acompanhando o mesmo assunto, quando se tratar de um tema um pouco mais genérico,
como os culturais ou de promoção comercial, que são acompanhados em Brasília e em basi-
camente qualquer representação do Brasil no exterior. Em algum momento, no entanto, por
questões circunstanciais (ausência de outros diplomatas que são responsáveis por outras
questões) ou mesmo por necessidade de chefia, quando o profissional tiver sob sua respon-
sabilidade outros colegas tratando de vários assuntos, esse diplomata precisará aprender a
abrir seu leque de conhecimentos.
Em última instância, se chegar a um cargo de alta chefia no exterior (embaixador ou
cônsul-geral, por exemplo) ou no Brasil (direção de departamento ou subsecretaria), o diplo-
mata necessitará se tornar um generalista, ainda que durante toda sua carreira tenha se
especializado em um único tema ou área (econômica, política, cultural, promoção comercial,
administração, cerimonial etc.). O melhor, portanto, será sempre encontrar o meio-termo,
solução comum na diplomacia, entre a especialização e a generalidade.

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O empréstimo de servidores do MRE

Os candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) imaginam-


-se servindo no Ministério das Relações Exteriores (MRE) em Brasília ou em algum posto
(embaixada, consulado ou missão junto a organismo internacional) no exterior. Isso real-
mente ocorre com a maioria, mas não com todos. É possível que um diplomata trabalhe no
Brasil (ou no exterior) fora do Itamaraty. Tal situação é possível por conta de dois institutos:
a cessão e a requisição.
Cessão é o ato que autoriza o exercício de cargo em comissão ou função de confiança
em outro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios, sem alteração da lotação no órgão de origem. A requisição é ato irrecusável que
implica transferência do exercício do servidor, sem alteração da lotação no órgão de origem.
São, portanto, irrecusáveis os pedidos feitos pela Presidência da República e pela Vice-Pre-
sidência da República, casos em que se aplica a requisição de diplomatas.
A autoridade competente para autorizar a cessão de diplomata para órgão do Poder
Executivo é o ministro de Estado. O chanceler assina a cessão dos servidores da carreira
diplomática, enquanto o Subsecretário-Geral do Serviço Exterior (SGEX) assina o ato para
servidores das carreiras de Oficial de Chancelaria (OC) e Assistente de Chancelaria (AC),
como também os pertencentes ao PCC ou PGPE78. As mesmas regras valem para os casos
de requisição.
Quando se tratar de cessão ou prorrogação de cessão para órgão ou entidade dos
Estados, do Distrito Federal, dos municípios ou de outro Poder da União, quem autoriza é
o secretário-geral das relações exteriores. Diferentemente do afastamento para exercício
em órgãos internacionais, quando o diplomata é cedido ou requisitado, o período em que
estiver afastado será considerado para fins de aposentadoria, tempo de serviço, remoção
e promoção.
A cessão dos servidores da carreira diplomática está prevista no art. 32 da Lei n.
11.890/2008. Já a cessão dos servidores das carreiras de OC e AC está prevista no art. 9º
da Lei n. 12.775/2012.
É bastante comum encontrar, nos ministérios do governo federal, diplomatas lotados
nas assessorias internacionais dos ministros. Quase todos lidam com temas internacionais
em suas áreas e, por isso, lhes é conveniente a presença de profissionais para prestar asses-
soria técnica sobre temas de cooperação, reuniões e missões no exterior etc. Em governos
estaduais e municipais, isso é menos comum, mas também existe esse tipo de cessão.
Muito consideram inconveniente a cessão de diplomatas, tanto do ponto de vista do
MRE como dos próprios profissionais cedidos. Enquanto o Itamaraty perde valiosa mão de
obra, ainda que temporariamente, que não é reposta, o diplomata se afasta do convívio com

78
Os PCC/PGPE são os servidores dos cargos do Plano de Classificação de Cargos (PCC) e do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (PGPE).

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os colegas e das atividades do ministério, o que muitas vezes o prejudica quando necessitar
de apoio para promoção ou remoção.
Penso, no entanto, que, mesmo que esses argumentos sejam verdadeiros, o saldo final
de uma cessão é positivo para ambos. O MRE e seus funcionários enriquecem seu modo
de agir e pensar com o envio de profissionais a outros órgãos, que costumam funcionar com
dinâmicas completamente diferentes das do Itamaraty. Além disso, a experiência da cessão
facilita a necessária interação com outras instituições.

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Licenças diversas: deixar o Itamaraty sem deixar a carreira diplomática

Já vimos os casos de afastamento de diplomatas de suas funções no Itamaraty por


motivo de cessão ou requisição de outros órgãos não vinculados ao Ministério das Relações
Exteriores (MRE)79. Quando o "empréstimo" se destina a um organismo internacional, a car-
reira do diplomata fica congelada até seu retorno. Se for destinado a uma instituição pública
brasileira, não há interrupção do tempo de serviço no MRE.
Neste artigo, trataremos da segunda situação de afastamento temporário (sem exone-
ração) da carreira diplomática, que são as licenças diversas. Toda licença do serviço público
deve ocorrer por motivo previsto em lei. Não há hipótese, portanto, de “jeitinho” nesse caso,
ou seja, um diplomata não pode deixar suas funções sem que haja aprovação formal ampa-
rada na legislação brasileira. As três principais são: Licença por motivo de afastamento do
cônjuge ou companheiro (LAC); Licença extraordinária (LEX); e Licença para tratar de inte-
resses particulares (LIP).
A licença por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro (LAC) pode ser conce-
dida por prazo indeterminado ao servidor que a requeira para acompanhar cônjuge ou com-
panheiro, também servidor público civil ou militar, de qualquer um dos Poderes da União, dos
estados, dos municípios e do Distrito Federal, deslocado para outro ponto do território nacio-
nal, para o exterior ou para exercício de mandato eletivo dos Poderes Executivo e Legislativo.
A LAC pode ser concedida com ou sem remuneração. A possibilidade de remuneração
ocorre quando o servidor pode ou não se enquadrar em exercício provisório de atividade
compatível com a do cargo que ocupa. No entanto, esse exercício provisório é vedado em
unidades administrativas do MRE no exterior para servidor público cônjuge de diplomata, ofi-
cial ou assistente de chancelaria, conforme o art. 69 da Lei n. 11.440/2006.
O exercício provisório do servidor é facultativo e deverá ocorrer em repartição da admi-
nistração federal direta, autárquica ou fundacional na cidade para onde o cônjuge está se
deslocando e para o exercício de atividade compatível com seu cargo. Nesse caso, a LAC
será remunerada. O servidor prestará serviços na nova repartição, porém continuará vincu-
lado a seu órgão de origem.
O servidor em estágio probatório faz jus à LAC, tendo em vista que é dever do Estado
assegurar a convivência familiar. Entretanto, o estágio probatório ficará suspenso durante a
licença e será retomado a partir do término do impedimento.
Os requisitos para a concessão do exercício provisório são:
I – deslocamento do cônjuge do servidor para outro ponto do território nacional, ou para
o exercício de mandato eletivo dos Poderes Executivo e Legislativo;
II – exercício de atividade compatível com o seu cargo;
III – transitoriedade da situação que deu causa ao deslocamento do cônjuge.

79
Cf. http://blog.vouserdiplomata.com/afastamentos-de-diplomatas-das-atividades-no-itamaraty/.

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A licença extraordinária pode ser concedida a servidor casado, cujo cônjuge, também
integrante do Serviço Exterior, for removido para o exterior ou nele encontrar-se em missão
permanente. A LEX, que não enseja remuneração, só é aplicável a servidor que a desejar
ou se não satisfizer os requisitos do Regulamento do Pessoal do Serviço Exterior para ser
removido para o mesmo posto do cônjuge ou para outro posto na mesma sede em que este
se encontre.
Ou seja, é possível e comum a remoção de casais de diplomatas para o mesmo posto
ou cidade. No entanto, se o cônjuge do servidor for removido do exterior para se apresentar
à Secretaria de Estado, o servidor não pode permanecer em licença extraordinária.
Ausências após o término da licença para a reassunção de funções no Ministério das
Relações Exteriores serão consideradas como faltas injustificadas ao serviço e ensejarão
desconto na remuneração, com possível abertura de sindicância e processo administrativo
disciplinar, nos termos do art. 44, I, e art. 138 da Lei n. 8.112/1990.
A LIP é a licença sem remuneração que poderá ser concedida a servidor público com
estabilidade para tratar de assuntos particulares, a critério da administração, com duração
máxima de até três anos (1095 dias) consecutivos. Não poderá ultrapassar seis anos, consi-
derando toda a vida funcional do servidor, a não ser em casos excepcionais, a serem autori-
zados pelo ministro de Estado das Relações Exteriores.
Se estiver cedido a outro órgão, o servidor deverá retornar ao MRE a fim de solicitar a
licença. Ao entrar em gozo de licença para tratar de interesses particulares, o servidor per-
derá o direito de gozar período de férias e não terá remuneração ou benefícios como a cober-
tura do seguro médico do MRE.
No caso de servidor em gozo de LIP, assim como da LAC e da LEX, não há contagem
de tempo para promoção da carreira ou tempo de SERE para efeitos de remoção. O período
dessas licenças não conta como tempo de serviço e, portanto, não conta para a aposenta-
doria, a não ser que o servidor contribua por conta própria para o PSS (Plano de Seguridade
Social do Servidor).
A LIP poderá ser interrompida a pedido do servidor ou por necessidade do serviço. A
interrupção se dá em dia útil e deve ser solicitada pelo menos 15 dias antes da data dese-
jada. Já o pedido de prorrogação deverá ser apresentado com no mínimo dois meses de
antecedência do término da licença vigente.
Somente haverá nova concessão de LIP após o servidor ter permanecido em exercício
por no mínimo período igual ao que tenha usufruído da licença. Na eventualidade de haver
interesse em solicitar nova concessão, esta deve ser submetida com antecedência de quatro
meses para o trâmite administrativo e o servidor deve aguardar a resposta em exercício, se
for o caso.
Caso não haja interesse em retornar ao MRE ao término da LIP, o servidor deverá for-
malizar pedido de exoneração.

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Como fui parar em Buenos Aires

A pedido de uma leitora de nosso blog, tratarei sobre a experiência profissional que vivi
na cidade de Buenos Aires, onde servi em nossa embaixada no período de 2004 a 2007, e
sobre como tive a sorte de ter esse posto como destino.
Brasemb Buenos Aires80, assim é conhecida internamente no Itamaraty a Embaixada
do Brasil na capital argentina. É considerada um dos principais postos da carreira diplomá-
tica, certamente entre os cinco primeiros. Atualmente, sua classificação é A, e a remoção
para lá é tão disputada quanto nossas representações em países bem mais desenvolvidos,
como EUA, França, Inglaterra ou Espanha, ou mesmo nas missões brasileiras junto a impor-
tantes organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova
Iorque, ou a Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra.
Quando servi em Brasemb Buenos Aires, havia ainda um fator que tornava o posto ainda
mais disputado: sua classificação era B81. Com isso, era possível, em uma mesma movimen-
tação no exterior, sem necessidade de retorno a Brasília, ir para/de Buenos Aires para outro
posto de categoria A. Isso ocorreu comigo, inclusive. Quando eu saí de lá, em 2007, pude
ser removido para a Embaixada do Brasil em Washington, EUA, esta, sim, sempre classifi-
cada como A82.
Exatamente por ser um destino muito disputado, e mais ainda era na época, não saí
do Instituto Rio Branco (IRBr) com Buenos Aires entre meus planos de remoção. Tencionava
entrar na disputa por postos menos concorridos, depois de um período de quatro anos após
a conclusão do Curso de Formação do IRBr. Esse é normalmente o tempo que os terceiros-
-secretários esperam antes de pleitear remoção para postos A. O acaso, no entanto, acabou
me levando para lá sem que eu planejasse.
Ao concluir meu Curso de Formação, fui convidado a trabalhar no próprio Instituto Rio
Branco, local em que assumi o cargo de chefe da secretaria83. Na época, o secretário-geral
das relações exteriores era o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que tinha predileção
por dois assuntos que considerava prioritários: a formação dos diplomatas e as relações do
Brasil com a Argentina. Nesse contexto, queria investir na formação de colegas para virarem
professores do IRBr. Como o curso à época era um mestrado, os professores precisavam
ser doutores. Foi assim que me foi oferecida a oportunidade de remoção para Buenos Aires,
onde além de trabalhar na embaixada, eu iria cursar doutorado para posteriormente estar à
disposição do Instituto como professor.

80
Em Buenos Aires, há dois postos da carreira diplomática: a embaixada (Brasemb) e o consulado-geral (Consbras). Na Argentina, há ainda Consbras, em
Córdoba e Mendoza, e dois vice-consulados de fronteira, em Paso de Los Libres e Puerto Iguazu.
81
A classificação dos postos muda frequentemente, de acordo com a política de movimentação de pessoal do ministério e das condições de vida nas cidades.
Tradicionalmente, tanto a embaixada como o consulado-geral em Buenos Aires são classificados como A, mas houve alguns poucos períodos, como em
2004, que eram classificados como B.
82
A classificação de Buenos Aires mudou de B para A em 2005, enquanto eu ainda servia lá, mas, de acordo com as regras de remoção do Itamaraty, vale a
classificação no momento da chegada.
83
Curiosidade: a Chefia da Secretaria do IRBr não é a lotação dos sonhos de nenhum diplomata, mas, para me inspirar, eu tinha, em minha sala, pendurada
na parede, cópia da portaria de lotação de um ilustre diplomata que havia ocupado a mesma função décadas antes: Guimarães Rosa.

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Assim, passei meu período de três anos na capital argentina entre o curso de doutorado
em Direito Internacional na Universidade de Buenos Aires (UBA) e o trabalho na embaixada,
onde servi no setor político. Poucos postos, e talvez nenhum como Brasemb Buenos Aires,
reúnem as qualidades de estarem em um país cuja parceria seja prioritária para o Brasil e
vice-versa.
Além disso, os diplomatas brincam que, ao escolher uma remoção, precisam estar
atentos a três “Cs”: chefia, clima e câmbio. O embaixador à época era Mauro Vieira, um dos
melhores quadros da carreira, atualmente embaixador do Brasil junto às Nações Unidas e
ex-chanceler do governo Dilma Rousseff. O clima da cidade é um dos melhores entre os
postos A, menos frio que a maioria. O câmbio não costuma ser muito favorável, mas eu tive
a sorte de viver em um período imediatamente posterior à desvalorização do peso argentino,
o que me permitiu ter excelente poder de compra local.
Nem precisaria dizer, portanto, que minha experiência no posto foi a melhor possível, e
tanto eu como minha família toparíamos voltar para lá a qualquer novo momento da carreira.
Ao chegar seu momento, recomendo fortemente considerar Buenos Aires como uma de suas
principais opções de destino para remoção.

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Afastamentos de diplomatas das atividades no Itamaraty

A regra para todo diplomata da ativa – desde a aprovação no Concurso de Admissão


à Carreira de Diplomata (CACD) e posse como terceiro-secretário até o momento da dolo-
rosa aposentadoria – é o exercício de suas funções em alguma unidade do Ministério das
Relações Exteriores (MRE), seja no Brasil, na Secretaria de Estado em Brasília ou em algum
escritório de representação regional pelo país, seja em algum posto no exterior (embaixada,
consulado, missão ou escritório).
A exceção à regra ocorre quando o diplomata é afastado de suas funções no Itamaraty,
ou porque foi cedido ou requisitado por órgão não vinculado ao MRE, ou porque licenciou-
-se, podendo ou não ser afastado temporariamente da carreira. Neste artigo, vamos tratar do
caso dos afastamentos, ficando o tema das licenças para outro artigo.
O afastamento pode ser para serviço em órgão ou entidade no exterior ou no Brasil. O
servidor poderá servir em organismo internacional de que o Brasil participe ou com o qual
coopere (Lei n. 8.112/1990, art. 96). O afastamento dar-se-á por tempo indeterminado e com
perda da remuneração (Art. 2º, Decreto n. 201, de 26/08/1991). Considera-se como afasta-
mento o período compreendido entre o dia seguinte ao que o servidor for desligado dos ser-
viços e o de retorno ao exercício do cargo ou emprego (parágrafo único, art. 4º, Decreto n.
201 de 26/08/1991). Esse foi o caso, por exemplo, do embaixador Roberto Azevedo, quando
foi afastado para assumir o cargo de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio84.
Para solicitar o afastamento para exercício em órgão internacional, é necessário que
o pedido seja acompanhado do convite oficial do organismo e do curriculum vitae do ser-
vidor. O pedido é então encaminhado ao Ministro de Estado das Relações Exteriores, que
envia ofício ao Ministério do Planejamento, concordando com o afastamento e solicitando as
providências daquele órgão. São anexados o convite do organismo internacional e demais
documentos pessoais do servidor. A autorização para o afastamento é dada pelo Ministério
do Planejamento, no Diário Oficial da União85.
Concluída a execução dos serviços junto ao organismo internacional, o servidor reas-
sumirá o exercício do respectivo cargo ou emprego no prazo de cento e vinte dias (Art. 3º,
Decreto n. 201 de 26/08/1991). A representação após o término do afastamento ocorre pela
assinatura do Livro de Chegadas no balcão de atendimento da Divisão do Pessoal, na sede
do MRE em Brasília.

84
Essa dúvida nos foi apresentada pelo CACDista e leitor de nosso blog Jurandir Ermani.
85
Ao servidor em estágio probatório poderá ser concedido o Afastamento para Servir a Organismo Internacional (art. 20, § 4º, da Lei n. 8.112/1990). O estágio
probatório ficará suspenso durante esse período. É necessário que se observe, porém, que não basta apresentar a solicitação de afastamento e esperar
que o processo corra automaticamente para ser aprovado. É preciso que haja, antes da formalização do pedido, uma prévia negociação com as chefias da
Casa (Ministério) para que o pedido não pegue quem tem de aprová-lo de surpresa. Isso envolve também, obviamente, uma consulta informal prévia ao
MRE por parte do órgão internacional que deseja contar com a colaboração do diplomata a ser emprestado.

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Ausências após o término da licença para a reassunção de funções no Ministério das


Relações Exteriores serão consideradas como falta injustificada ao serviço e ensejarão des-
conto na remuneração, com possível abertura de sindicância e processo administrativo dis-
ciplinar, nos termos do art. 44, I, e art. 138 da Lei n. 8.112/1990.
O período em afastamento não conta como tempo de serviço e, portanto, para a apo-
sentadoria, a não ser que o servidor contribua por conta própria para o PSS (Plano de Segu-
ridade Social do Servidor), bastando, para tal, o preenchimento do formulário LIC-3, que
deverá ser encaminhado ao Setor de Contabilidade da DPAG (dpag.contabilidade@itama-
raty.gov.br). O período em que o servidor estiver afastado, mesmo contribuindo para a pre-
vidência, será considerado apenas para fins de aposentadoria (enquanto houver a contribui-
ção), mas não como tempo de serviço, para remoção ou para fins de promoção.
Já o afastamento para que o diplomata sirva em outro órgão público no Brasil pode
ocorrer por meio de cessão ou requisição. Cessão é o ato que autoriza o exercício de cargo
em comissão ou função de confiança em outro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios, sem alteração da lotação no órgão de origem.
A requisição é ato irrecusável que implica transferência do exercício do servidor, sem
alteração da lotação no órgão de origem. São, portanto, irrecusáveis os pedidos feitos pela
Presidência da República e pela Vice-Presidência da República, casos em que se aplica a
requisição de diplomatas.
A autoridade competente para autorizar a cessão de diplomata para órgão do Poder
Executivo é Ministro de Estado. O chanceler assina a cessão dos servidores da carreira
diplomática enquanto o Subsecretário-Geral do Serviço Exterior (SGEX) assina o ato para
servidores das carreiras de OC e AC, como também os pertencentes ao PCC ou PGPE86. As
mesmas regras valem para os casos de requisição.
Quando se tratar de cessão ou prorrogação de cessão para órgão ou entidade dos
estados, do Distrito Federal, dos municípios ou de outro Poder da União, quem autoriza é
secretário-geral das relações exteriores.
Diferentemente do afastamento para exercício em órgãos internacionais, quando o
diplomata é cedido ou requisitado, o período em que estiver afastado será considerado para
fins de aposentadoria, tempo de serviço, remoção e promoção.
A cessão dos servidores da carreira diplomática está prevista no art. 32 da Lei n.
11.890/2008. Já a cessão dos servidores das carreiras de OC e AC estão previstas no art. 9º
da Lei n. 12.775/2012.

86
Conheça mais dessas carreiras em: http://blog.vouserdiplomata.com/conheca-estrutura-do-itamaraty/.

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Tema: A atividade diplomática

Artigos:

• As 10 etapas de um ato internacional


• Como se internalizam os compromissos do Brasil no plano internacional?
• Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas
• As Comissões de Relações Exteriores do Legislativo
• O trato de informações no MRE
• Os vistos e a reciprocidade
• Os atos internacionais do Estado brasileiro
• Ter viajado é melhor do que viajar
• Expedientes: documentos internos do MRE
• A diplomacia presidencial
• Informar, negociar e representar
• Diplomata precisa falar idiomas exóticos?
• Expedientes: documentos para reuniões com autoridades estrangeiras
• Escrita: principal instrumento dos diplomatas
• Atuação do Brasil no combate a ilícitos transnacionais

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As 10 etapas de um ato internacional

No artigo sobre os trâmites necessários para que os atos internacionais (formalização


dos compromissos assumidos pelo Estado brasileiro no exterior) tivessem validade, anali-
samos os tipos de acordos existentes, assim como os procedimentos necessários para sua
entrada em vigor (internalização) no ordenamento jurídico brasileiro.
Neste artigo, dividiremos informações sobre o processamento desses atos (etapas) no
âmbito do Ministério das Relações Exteriores (MRE), que diz respeito ao necessário trabalho
administrativo realizado pelos diplomatas para tornar viável o percurso que o acordo seguirá
fora do Itamaraty, conforme vimos no artigo anterior.
Etapa 1: negociação. A área do ministério responsável pela condução substantiva das
negociações deverá fazer o registro das reuniões de coordenação internas do governo bra-
sileiro e das reuniões de negociação internacional, com especial atenção ao registro dos
participantes dos demais órgãos e entidades brasileiras envolvidas, bem como das posições
por eles manifestadas.
Etapa 2: parecer jurídico. A área do Itamaraty responsável pela condução das negocia-
ções deve obrigatoriamente submeter os textos de minutas de tratados, convenções, memo-
randos de entendimento, acordos e demais atos internacionais, bilaterais ou multilaterais, em
fase final de negociação, à análise da Consultoria Jurídica do ministério, para parecer, antes
da sua assinatura.
Etapa 3: assinatura. Atos internacionais somente deverão ser assinados quando sua
negociação com a outra parte e análise pelas áreas competentes do Itamaraty e outros
órgãos brasileiros interessados estiverem completamente concluídas. A área responsável
pela negociação, uma vez que esta esteja definitivamente concluída, deverá encaminhar o
texto final resultante à Divisão de Atos Internacionais (DAI) do MRE.
Etapa 4: celebração por troca de Notas. Sempre que possível, deve-se dar preferência
à celebração de atos internacionais bilaterais em formato convencional, com assinatura do
texto por ambas as partes. A celebração de atos internacionais mediante a troca de Notas
Assinadas reveste-se de grande complexidade e de elevado nível de detalhamento formal,
que, se não for rigorosamente observado, pode vir a acarretar a nulidade do ato. Nessas con-
dições, o formato da troca de Notas Assinadas deve ser reservado para casos específicos,
em que seu uso é consagrado pela prática brasileira ou internacional, tais como os entendi-
mentos recíprocos para isenção de vistos em passaportes comuns.
Etapa 5: plenos poderes. De acordo com o artigo 2º da Convenção de Viena sobre o
Direito dos Tratados, “plenos poderes” significa o documento pelo qual a autoridade compe-
tente de um Estado designa uma pessoa para manifestar o consentimento do Estado em se
obrigar por um tratado ou para praticar qualquer outro ato relativo a um tratado.

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Etapa 6: publicação, apreciação parlamentar e promulgação. Nos casos em que o ato


internacional celebrado entre em vigor na data de sua assinatura, ou após decurso de deter-
minado prazo, não sendo necessária sua apreciação pelo Poder Legislativo, o texto segue
para publicação no Diário Oficial da União. Caso contrário, prepara-se uma Exposição de
Motivos destinada a encaminhar o projeto de mensagem de remessa ao Congresso Nacio-
nal. Aprovado o texto no Parlamento, ocorre sua promulgação.
Etapa 7: ratificação, adesão, acessão e aceitação. Após a conclusão do processo de
exame parlamentar e respectiva publicação, no Diário Oficial da União, do Decreto Legisla-
tivo que aprova a matéria, a DAI, em coordenação com as áreas responsáveis, preparará
e expedirá despacho telegráfico (comunicação à representação brasileira no exterior), ins-
truindo o posto competente a proceder aos trâmites relativos à ratificação de atos bilaterais
ou ao depósito de cartas de ratificação, acessão, adesão ou aceitação de atos multilaterais,
junto ao respectivo depositário, conforme o caso.
Etapa 8: tradução e revisão dos textos. As providências necessárias à tradução do
texto do ato internacional incumbem às áreas do Itamaraty responsáveis por sua negociação,
que deverão proceder à revisão preliminar das traduções (no que tange a textos em idioma
inglês, francês ou espanhol), antes de encaminhar o texto à DAI, que igualmente revisará as
traduções (nos já referidos idiomas).
Etapa 9: notas e emendas. As notas interpretativas ou modificativas, bem como emen-
das a um ato internacional devem ser objeto de parecer da CONJUR antes de serem assina-
das. Devem receber o mesmo tratamento dado ao Ato Internacional a que se refere.
Etapa 10: informação aos postos interessados. Concluídas todas as etapas anteriores,
a DAI informará os postos interessados no ato internacional sobre a evolução de sua tramita-
ção interna, registrando essa evolução em seu sistema de tramitação de atos internacionais
(Concórdia)87.

87
Concórdia é a plataforma de acesso aos atos internacionais firmados pelo Brasil. Pode ser acessada em: https://concordia.itamaraty.gov.br/.

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Como se internalizam os compromissos do Brasil no plano internacional?

Os compromissos assumidos pelo Brasil no plano internacional são concretizados a


partir da celebração de atos internacionais (ou emendas a acordos existentes), os quais,
para terem validade em nosso direito interno, necessitam seguir diversas formalidades. Os
trâmites necessários referem-se ao envio à Secretaria-Geral da Presidência da República
(SG/PR), submissão ao Congresso Nacional, ratificação e publicação do respectivo Decreto
de Promulgação. Façamos, primeiramente, uma análise separada dos ritos que precisam ser
seguidos para os atos bilaterais e os multilaterais.
A primeira fase de um ato bilateral é a da negociação. Durante essa fase, a área do Ita-
maraty em Brasília (Secretaria de Estado das Relações Exteriores – SERE) responsável pelo
acompanhamento da matéria objeto do ato coordenará as conversações com a contraparte.
Deverá, para tanto, coordenar-se com as demais áreas da SERE interessadas (tanto temá-
ticas como geográficas), com o posto competente, bem como com os demais ministérios e
órgãos do governo brasileiro responsáveis pelo tema. Deverá, igualmente, solicitar, antes da
assinatura do instrumento, a análise do texto em negociação pela Divisão de Atos Internacio-
nais do MRE, que examinará seus aspectos formais, e pela Consultoria Jurídica do ministé-
rio, que examinará seus aspectos jurídicos.
Os atos internacionais bilaterais podem adotar diversas denominações (acordos,
memorandos de entendimento, ajustes, protocolos etc.). Podem, igualmente, ser celebrados
em dois formatos básicos: a) assinatura do texto do ato internacional, por ambas as partes;
ou b) troca de notas assinadas.
Independentemente da denominação ou formato que assumam, os trâmites necessá-
rios à sua ratificação e internalização – notadamente no que tange à necessidade de apre-
sentação de plenos poderes pelo signatário e de remessa do ato à apreciação parlamentar
– serão determinados pela natureza de seu objeto, vale dizer, pela matéria de que tratam,
bem como pela obrigatoriedade jurídica de suas disposições.
Sempre que possível, é preferível a adoção do formato convencional, com assinatura
do texto por ambas as partes, para a celebração de atos internacionais bilaterais. Por seu
elevado nível de detalhe e complexidade, o formato de troca de notas assinadas deve ser
reservado para casos específicos, em que seu uso é consagrado pela prática brasileira ou
internacional, ou quando situações excepcionais assim o exijam.
Uma vez concluídas as negociações, havendo ambas as partes alcançado acordo
sobre o texto do ato internacional a ser celebrado, as partes definirão, de comum acordo,
local e data para que se proceda à assinatura do ato. Somente poderão firmar o ato, assu-
mindo compromissos em nome do Estado que representam, as autoridades detentoras de
plenos poderes para tanto, nos termos do artigo 7º da Convenção de Viena sobre o Direito
dos Tratados.

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Após sua assinatura, o ato internacional deverá, conforme o caso, ser submetido à
apreciação parlamentar. O envio do ato ao Congresso Nacional é feito pela Presidência da
República, mediante a expedição de Mensagem aos Membros do Congresso Nacional, cuja
minuta, preparada pelo MRE, é submetida à consideração da Presidência da República por
meio de Exposição de Motivos (emitida apenas pelo MRE) ou Exposição de Motivos Intermi-
nisterial (emitida pelo MRE em conjunto com os demais ministérios envolvidos com o tema).
Encaminhado o ato internacional pela Presidência da República, segue para o Con-
gresso Nacional, pela Câmara dos Deputados. Com base no teor do ato, a Presidência da
Câmara determina quantas e quais comissões precisarão analisá-lo antes da apreciação
pelo Plenário. A rigor, todo ato internacional é submetido, na Câmara, à Comissão de Rela-
ções Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), à Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
– para verificar se há previsão orçamentária –, à Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania (CCJC) e à respectiva comissão ou comissões temáticas, com base na matéria
objeto do ato (educação, esporte, seguridade social etc.).
Os atos referentes ao MERCOSUL têm tramitação inicial diferenciada. Antes de serem
analisados pelas comissões da Câmara, devem ser apreciados pela Comissão Mista do
MERCOSUL, composta pelos Deputados Federais e Senadores que integram a Represen-
tação Brasileira no Parlamento do MERCOSUL. Uma vez aprovados na Comissão Mista,
seguem para a Câmara dos Deputados, para início da tramitação regular, de resto idêntica à
dos demais atos internacionais.
Em cada comissão em que o ato é apreciado, o presidente da comissão designa um
membro como relator do ato naquela comissão, o qual, na qualidade de relator, examinará
a matéria, pelo tempo que julgar necessário, e emitirá relatório, que pode ser pela aprova-
ção ou pela rejeição do ato. Uma vez elaborado o relatório, cabe ao presidente da comissão
colocá-lo em pauta em uma das reuniões da comissão, para apreciação pelo colegiado.
Se for aprovado pelos membros da comissão, o relatório se torna o parecer oficial da pró-
pria comissão.
Uma vez apreciado por todas as comissões cabíveis, o ato internacional, acompanhado
dos pareceres de todas as comissões que o analisaram, é encaminhado ao Plenário da
Câmara, onde cabe ao presidente da Câmara dos Deputados decidir quando (e se) o coloca
em pauta para votação. No caso de atos internacionais, a aprovação não requer votação
nominal. Podem, portanto, ser aprovados em "votação simbólica", desde que nenhum partido
se oponha à sua aprovação automática. Se rejeitado pelo Plenário da Câmara, encerra-se
a apreciação parlamentar do ato internacional. Se aprovado, segue para apreciação pelo
Senado Federal.
No Senado, a tramitação de atos internacionais costuma restringir-se à Comissão de
Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), que aprecia o ato antes de seu encaminha-
mento ao Plenário. Como na Câmara, cabe ao presidente da Comissão de Relações Exte-

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riores do Senado designar um relator e, eventualmente, colocar em pauta a apreciação do


acordo pela comissão.
Uma vez aprovado o ato no Senado Federal, o presidente do Senado envia ofício à SG/
PR comunicando a aprovação legislativa, por meio da qual o Poder Legislativo formalmente
concede ao Poder Executivo autorização para, se desejar, ratificar o referido ato internacional.
Assim que o ato for aprovado pelo Congresso Nacional, e após a publicação, no Diário
Oficial da União, do respectivo decreto legislativo, o Poder Executivo estará apto a, se julgar
oportuno, proceder à ratificação do ato junto à contraparte. A ratificação consiste na notifica-
ção, à outra parte, de que foram cumpridos os requisitos legais internos para a entrada em
vigor (início da vigência) do ato, não devendo ser confundida com a aprovação parlamentar.
A ratificação é prerrogativa do Executivo, que poderá deixar de ratificar o ato caso assim
estime conveniente. A SERE instruirá o posto competente a ratificar o ato internacional junto
à outra parte, mediante a emissão de nota verbal pela qual comunicará, à chancelaria local,
o cumprimento, pelo Brasil, dos requisitos legais internos necessários à entrada em vigor
do ato. A nota verbal de ratificação ressalvará que, em razão do sistema dualista adotado
pelo Brasil, o ato deverá ser, após o início de sua vigência no plano internacional, objeto de
Decreto Presidencial de Promulgação, para que seja incorporado ao ordenamento jurídico
brasileiro, habilitando o Brasil a efetivamente implementar suas disposições.
Ratificado por ambas as partes o ato, sua vigência no plano internacional terá início no
prazo previsto pelo próprio documento. Em razão do sistema dualista adotado pelo Brasil,
a efetiva implementação do ato internacional, no plano interno, estará ainda sujeita à publi-
cação, no Diário Oficial da União, do respectivo Decreto Presidencial de Promulgação, que
incorpora o ato internacional ao ordenamento jurídico nacional, internalizando-o e fornecendo
a base legal necessária ao cumprimento de seus dispositivos no plano interno. Recorda-se,
a respeito, que compete privativamente ao presidente da República sancionar, promulgar e
fazer publicar leis, bem como expedir decretos para sua fiel execução (artigo 84, IV, da Cons-
tituição Federal).
A promulgação somente poderá ocorrer após a entrada em vigor do ato no plano inter-
nacional, mediante a ratificação por ambas as partes.
De modo geral, aplicam-se aos atos multilaterais (convenções, tratados, atas, cartas
etc.) as mesmas disposições relativas aos atos bilaterais, no que tange à sua negociação,
assinatura e apreciação parlamentar.
A assinatura poderá, eventualmente, ser precedida de adoção do texto, por ocasião da
conclusão das negociações do instrumento. É recomendável que, por ocasião da assinatura,
sejam já anunciadas as reservas que se pretende opor ao instrumento, as quais serão reite-
radas por ocasião do depósito do instrumento de ratificação. No que tange à apreciação par-
lamentar, os tratados enviados ao Congresso Nacional segundo o rito do parágrafo terceiro,

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do artigo 5º da Constituição Federal, terão trâmite semelhante ao das Propostas de Emenda


à Constituição (PECs).
No que diz respeito à notificação de cumprimento dos requisitos legais internos, os atos
multilaterais podem prever diversas modalidades de ratificação, sendo as mais comuns o
depósito, junto ao depositário, de Carta de Ratificação (no caso de o Brasil haver assinado
o ato no momento de sua celebração) ou de Carta de Adesão ou Acessão (na hipótese de
o Brasil vir a aderir ao ato em momento posterior à sua celebração). O instrumento de ratifi-
cação deverá conter, quando for o caso, eventuais reservas ao instrumento que está sendo
ratificado.
Os atos internacionais multilaterais somente poderão ser objeto de Decreto Presiden-
cial de Promulgação após sua entrada em vigor no plano internacional, a qual ocorre apenas
quando satisfeitas as condições previstas no texto do próprio ato (comumente, número
mínimo de partes que tenham ratificado). É fortemente recomendável que o hiato temporal
entre a entrada em vigor do instrumento no plano internacional e a sua promulgação seja o
menor possível.

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Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas

No dia 18 de abril de 1961, a Conferência das Nações Unidas sobre Relações e Imu-
nidades Diplomáticas encerrava-se em Viena, capital da Áustria, com a assinatura de um
histórico tratado que visava codificar o que já se praticava havia séculos no relacionamento
entre os Estados. Ainda que a humanidade vivesse as tensões da Guerra Fria e o temor de
uma terceira guerra mundial, a criação da ONU, o desejo de consolidação da paz mundial e
respeito à soberania estatal – no âmbito da tendência crescente pela descolonização – pare-
ciam falar mais alto.
Os 53 artigos da Convenção, que foram internalizados no direito brasileiro pelo Decre-
to-Lei n. 56.435, de 08/06/1965, não pretendiam elencar todas as regras de relações e imu-
nidade diplomáticas, mas disciplinar o que se considerava mais relevante. Assim, as normas
do Direito Internacional Consuetudinário, conforme afirmado no próprio Preâmbulo da Con-
venção, continuariam a vigorar88.
Muito do jargão utilizado no meio diplomático (e reproduzido na imprensa quando trata
do tema) está definido na Convenção de Viena de 1961. Assim, por exemplo, o art. 4º afirma
que: “O Estado acreditante [aquele que envia um diplomata que vai representá-lo] deverá
certificar-se de que a pessoa que pretende nomear como Chefe da Missão [pessoa encarre-
gada pelo Estado acreditante de agir nessa qualidade] perante o Estado acreditado [aquele
que recebe o diplomata] obteve o Agrément [aceitação] do referido Estado.”
Ou seja, “o estabelecimento de relações diplomáticas entre Estados e o envio de Mis-
sões diplomáticas permanentes efetua-se por consentimento mútuo” (art. 2). Nenhum Estado
pode escolher livremente como será representado em outro, pois depende da concordância
de quem recebe os diplomatas. Essa concordância não é apenas inicial, mas deve ser per-
manente, pois, sem necessidade de justificar sua decisão, o Estado acreditante pode decla-
rar persona non grata, a qualquer momento, um membro do pessoal diplomático de qualquer
missão (representação do Estado acreditado)89.
Os membros do pessoal diplomático deverão ter, em princípio, a mesma nacionalidade
do Estado acreditante, ou seja, a exigência brasileira de que os diplomatas que representam
nosso país sejam brasileiros natos não está no Direito Internacional, mas em nossa Cons-
tituição Federal de 1988. Já o chefe da missão, aquele entre os membros do pessoal diplo-
mático que o Estado acreditante como o responsável maior de seus interesses, poderá estar
em três classes: a) embaixador ou núncio (da Santa Sé); b) enviado, ministro ou internúncio;
e c) encarregado de negócios.
No caso brasileiro, para ser nomeado embaixador, o diplomata precisa pertencer à
classe de MINISTRO DE PRIMEIRA-CLASSE, último degrau da carreira diplomática. Excep-
cionalmente, um ministro de segunda classe pode ser designado embaixador em postos de
88
O Direito Consuetudinário sempre teve maior relevância no Direito Internacional do que no Direito Interno dos Estados. Isso decorre da própria dificuldade
de positivação do Direito no plano internacional.
89
Essa declaração significa a necessidade de retirada imediata do diplomata assim declarado, sob pena de perda da imunidade garantida pela Convenção.

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categorias C e D e um conselheiro com tese de CAE90 aprovada, em postos D. Se não houver


um diplomata para responder pelo posto, excepcional e temporariamente um funcionário
administrativo pode exercer as funções de encarregado de arquivos91.
A Convenção de Viena de 1961 também elenca regras de privilégios e imunidades. Em
geral, salvo exceções previstas na própria Convenção, os membros do corpo diplomático e
seus familiares têm imunidade quanto à jurisdição do Estado acreditado. Isso se aplica ao
Direito Penal e a boa parte do Direito Civil, salvo ações que envolvam questões mobiliárias,
sucessórias e de exercício de atividades liberais. Isso não significa, no entanto, isenção da
jurisdição do Estado acreditante, ou seja, se, por exemplo, cometer um crime no país onde
serve, o diplomata será julgado em seu próprio país. É possível, no entanto, que o Estado
acreditante renuncie à imunidade de jurisdição (art. 32).
Os diplomatas também estão isentos de impostos, taxas e direitos aduaneiros. Na prá-
tica, porém, boa parte de seus gastos em território do Estado acreditante onde servem é
taxada, pois os impostos indiretos incluídos nos preços das mercadorias (como nosso ICMS)
só são excluídos quando o Estado acreditante fornece aos diplomatas identificação que o
permita, na compra em alguns locais específicos, apresentá-la para a isenção desses impos-
tos, o que não ocorre com frequência.
O agente diplomático, assim como seus familiares, tampouco pode exercer atividades
profissionais ou comerciais remuneradas. Essa regra, no entanto, é frequentemente flexibi-
lizada quando houver acordo bilateral que permita aos cônjuges de diplomatas trabalharem
no país onde serve seu respectivo parceiro.
Por fim, as regras da Convenção de Viena de 1961 devem ser aplicadas mesmo em
casos de ruptura das relações diplomáticas ou de conflitos armados. Ao ocorrer tal situação,
o Estado acreditado deverá conceder facilidades para que as pessoas que gozem de privilé-
gios e imunidades “possam deixar o seu território o mais depressa possível. Especialmente,
deverá colocar à sua disposição se necessário, os meios de transporte indispensáveis para
tais pessoas e seus bens” (art. 44). O mesmo vale para os locais da missão, que devem ser
respeitados e protegidos. Em casos extremos, como o de conflitos armados, se houver con-
cordância do Estado acreditado, um terceiro Estado acreditante pode assumir a proteção
temporária dos interesses de outro Estado (art. 46).
Recomenda-se fortemente a leitura atenta da Convenção de Viena de 1961, assim
como de outros acordos internacionais emblemáticos, na preparação para o Teste de Pré-
-Seleção (TPS) – prova da Primeira Fase do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata
(CACD) –, assim como para a prova de Direito da Terceira Fase do CACD.

90
Curso de Altos Estudos, cuja aprovação é necessária para a promoção entre as classes de conselheiro e ministro de segunda classe.
91
Esse termo foi herdado da época em que o mundo estava em guerra, e, em caso de evacuação do pessoal lotado no posto, era incumbência do oficial de
chancelaria fechar o posto e carregar os arquivos consigo.

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Volume 2

As Comissões de Relações Exteriores do Legislativo

A política externa brasileira é, como se sabe, atribuição do Poder Executivo, sendo a


autoridade maior o presidente da República. Isso não quer dizer que os Poderes Legislativo
e Judiciário não se envolvam em assuntos que digam respeito às relações do Brasil com
outros países.
No primeiro caso, há competências como a de “resolver definitivamente sobre tratados,
acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patri-
mônio nacional”92 ou a de “aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em sessão
secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de caráter permanente”93.
No segundo caso, compete ao Poder Judiciário, mais especificamente à Justiça Fede-
ral, processar e julgar “as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado
estrangeiro ou organismo internacional” ou “os crimes de ingresso ou permanência irregular
de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o ‘exequatur’, e de sentença estrangeira,
após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e
à naturalização”94.
Quanto às atribuições do Poder Legislativo em temas internacionais, objeto deste artigo,
há duas comissões no Congresso Nacional por onde passam esses assuntos: as Comissões
de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados e do Senado Fede-
ral. Esses órgãos do Parlamento servem não apenas para apreciar as questões de compe-
tência constitucional da respectiva unidade parlamentar, mas também realizar a fiscalização
administrativa da execução da política externa pelo Executivo (inclusive o Ministério das
Relações Exteriores), assim como promover o debate da matéria (audiências públicas) junto
à sociedade civil95.
Além das atribuições comuns elencadas acima, há, ainda, específicas de cada uma das
Comissões de Relações Exteriores. À da Câmara dos Deputados cabe, por exemplo, autori-
zar para o presidente ou o vice-presidente da República ausentar-se do território nacional e
avaliar situações de litígios internacionais, declaração de guerra, condições de armistício ou
de paz, requisições civis e militares em caso de iminente perigo e em tempo de guerra, além
de apreciar matérias referentes às relações diplomáticas e consulares (e de defesa) em geral.
Sobre as atribuições da respectiva Comissão do Senado, compete-lhe exclusivamente,
além das questões internacionais em geral, a indicação de nome para chefe de missão diplo-
mática de caráter permanente junto a governos estrangeiros e das organizações interna-
cionais de que o Brasil faça parte e a avaliação de requerimentos de votos de censura, de
aplauso ou semelhante, quando se refiram a acontecimentos ou atos públicos internacionais.

92
Cf. Art. 49, I, Constituição Federal de 1988.
93
Ibidem, Art. 52, IV.
94
Ibidem, Art. 109, III e X, respectivamente.
95
Eis aí o canal oficial de diálogo sobre política externa com a sociedade civil.

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Volume 2

No Itamaraty, a unidade responsável por acompanhar os assuntos tratados no âmbito


das Comissões de Relações Exteriores da Câmara e do Senado é a Assessoria Especial de
Assuntos Federativos e Parlamentares (AFEPA), subordinada diretamente ao Gabinete do
Ministro de Estado das Relações Exteriores.

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Volume 2

O trato de informações no MRE

Nós, diplomatas, temos acesso a informações consideravelmente sensíveis do ponto


de vista da política externa brasileira. É de nossa responsabilidade, portanto, saber lidar com
essas informações da forma mais adequada. Isso exige bom senso acima de tudo, pois, em
geral, é mais difícil classificar um documento como ostensivo do que sigiloso (reservado,
secreto ou ultrassecreto). Aliás, ter bom senso talvez seja a principal qualidade de um bom
diplomata.
Até maio de 2012, quando entrou em vigor a Lei de Acesso à Informação (LAI – Lei n.
12.527/2011), a classificação sigilosa de documentos produzidos no Ministério das Relações
Exteriores (MRE) era mais frequente, pois não havia necessidade de fundamentar a decisão.
Muitos expedientes eram classificados como sigilosos sem qualquer critério. Alguns diplo-
matas utilizavam esse artifício para chamar a atenção para os textos que produziam96. Além
disso, antes da LAI, era necessário fundamentar pedidos de acesso à informação.
Com a entrada em vigor da LAI, o acesso passou a ser regra, e o sigilo, exceção, ou
seja, os agentes públicos devem agir com a máxima transparência possível, pois qualquer
cidadão pode e deve ter conhecimento de qualquer informação que não prejudique a segu-
rança do Estado ou, no caso de suas relações internacionais, seus interesses no relaciona-
mento com outros países. E, para ter acesso a informações ostensivas, os requerentes não
necessitam explicar por que ou para que as desejam (não exigência de motivação)97.
Já as exceções a essa regra (hipóteses de sigilo) passaram a ser limitadas pela LAI
e legalmente previstas. Ainda assim, o sigilo será mantido apenas por determinado tempo:
cinco anos para as informações reservadas, 15 anos para as secretas e 25 anos (renovável
uma única vez) para as ultrassecretas.
As hipóteses de classificação sigilosa são três: a) quando se tratar de dados pessoais
(informações relacionadas a uma determinada pessoa que possam afetar sua intimidade,
vida privada, honra e imagem, liberdades e garantias individuais); b) informações classifi-
cadas por autoridades como sigilosas; c) informações sigilosas com base em outras leis.
Nos casos b) e c), o agente público ou a própria lei terá como critério possíveis ameaças à
segurança (ou alto interesse) do Estado ou da sociedade caso a informação torne-se pública
antes de um prazo adequado (5 a 50 anos).
Os órgãos estatais, inclusive o Itamaraty, não devem esperar que os cidadãos requei-
ram acesso a informações públicas, pois a divulgação deve ser proativa (transparência ativa),
quando se tratar de informações de interesse coletivo. Além disso, os órgãos e entidades do
Poder Executivo Federal devem divulgar lista das informações classificadas e desclassifi-
96
O ser humano tem a tendência de se interessar por segredos. Como os documentos sigilosos não podem ser lidos por qualquer um, cria-se a impressão
natural de que contêm alguma informação importante. Assim, mesmo que inconscientemente, que a lê também se sente importante.
97
O Decreto 7.724 (art. 13), que regulamenta a LAI no Poder Executivo Federal, também prevê que não serão atendidos pedidos de informação que sejam:
I – genéricos;
II – desproporcionais ou desarrazoados; ou
III – que exijam trabalhos adicionais de análise, interpretação ou consolidação de dados e informações, ou serviço de produção ou tratamento de dados que
não seja de competência do órgão ou entidade.

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Volume 2

cadas nos últimos 12 meses, até o dia 1º de junho de cada ano, em seus sites na internet.
Como forma de facilitar o acesso a todos os dados, a CGU faz anualmente um levantamento
das informações publicadas por todos os órgãos/entidades do Executivo Federal98.
A LAI tem preocupação basicamente com a segurança do Estado e da sociedade brasi-
leira. No caso dos temas de responsabilidade do MRE, no entanto, muitas vezes as informa-
ções produzidas não apresentam ameaça à segurança, porém podem afetar os interesses
brasileiros (políticos, econômico-comerciais, culturais etc.) no relacionamento com determi-
nado país. É por isso, por exemplo, que parte das sessões de sabatina de embaixadores no
Senado Federal é fechada ao público.
Os diplomatas necessitam, portanto, ter extremo cuidado no momento de classificar um
documento. Nada do que falam, e principalmente escrevem, é inconsequente. Isso se torna
ainda mais grave quando servem no exterior, pois um diplomata acreditado no exterior será
representante de seu país 24 horas por dia, não apenas durante o período de seu expediente
de trabalho.

98
Cf. http://www.acessoainformacao.gov.br/assuntos/relatorios-dados/informacoes-classificadas/levantamento-de-informacoes-classificadas-2016-2017.xlsx.

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Os vistos e a reciprocidade

Quando se fala em visto, logo vem à cabeça o concedido pelos Estados Unidos, um dos
mais difíceis de ser conseguido, tendo em conta o alto número de estrangeiros que tentam
ingressar ilegalmente em território norte-americano. Esse termo, que surgiu da referência à
expressão “o documento que foi visto”, representa a oficialização emitida por um determi-
nado governo que autoriza um indivíduo a ingressar em um país temporariamente para cum-
prir certas finalidades. Isso não é privilégio dos EUA e funciona na base da reciprocidade.
A concessão de um visto é tarefa dos ministérios das relações exteriores, ou órgãos
equivalentes, dos países. Trata-se de uma atribuição do serviço consular, geralmente, por-
tanto, é emitido por consulados. A maioria dos países, no entanto, tem seus serviços consu-
lares fundidos ao diplomático, e são os mesmos os funcionários que desempenham ambos.
Esse é o caso brasileiro.
O Itamaraty, nosso Ministério das Relações Exteriores (MRE), cumpre a tarefa de auto-
rizar, denegar ou não conceder vistos de acordo com o disposto na legislação brasileira e na
reciprocidade diplomática, ou seja, nossos critérios de avaliação de um pedido de visto de
um estrangeiro seguem também as premissas adotadas pelo governo do solicitante quando
um brasileiro solicita o mesmo documento para ingresso naquele país.
No dia 24/11/2017 entrará em vigor a Lei n. 13.445, de 24/05/201799, que estabelece
novas regras de migração, entre as quais estão os critérios para autorização de visitantes
estrangeiros e imigrantes ao Brasil100. Outros textos legislativos que tratam do tema são o
Decreto n. 86.175, de 10/12/1981101 e algumas resoluções normativas do Conselho Nacional
de Imigração (“CNIg”)102.
Nas relações consulares, a exigência de visto é a regra, sendo a dispensa a exce-
ção. Os brasileiros são dispensados de obter um visto de entrada em um determinado país
quando houver acordo bilateral que autorize essa dispensa. Assim, sempre em respeito à
reciprocidade, o mesmo tratamento deve ser dado aos nacionais dos países signatários. É
por isso, por exemplo, que necessitamos de visto para ingressar nos EUA e no Canadá, mas
não precisamos desse documento para viajar à França ou ao Reino Unido. Em alguns casos,
a dispensa só é aplicada aos portadores de passaporte diplomático ou oficial, dependendo
do que se estabelece no tratado.
A não exigência de um visto não significa que o estrangeiro está livre para permanecer
pelo tempo que quiser e desempenhar qualquer atividade no país que visita. Se um italiano
resolve visitar o Brasil como turista e permanece em território brasileiro por tempo menor do
que o prazo máximo que lhe foi autorizado – 90 dias, por exemplo –, sua situação migratória
aqui será regular. Porém, se, depois de chegar ao país, resolve arrumar um emprego, neces-
99
Cf. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13445.htm#art125.
100
Esse tema foi objeto de algumas de nossas aulas de Direito do curso preparatório do Gran para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata: https://
www.grancursosonline.com.br/concurso/diplomata-cacd.
101
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D86715.htm.
102
Disponível em: http://acesso.mte.gov.br/trab_estrang/resolucoes-normativas.htm.

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Volume 2

sitará de um visto de trabalho. A dispensa de visto serve somente para turismo ou reuniões
de negócios.
Receber um visto não significa ter direito de ingresso em um país. Ao desembarcar em
território da nação que pretende visitar, caso necessite de visto, deve apresentá-lo à autori-
dade do serviço de imigração. O agente que avaliar o passaporte e o visto concedido pelo
serviço exterior tem autoridade, no entanto, para recusar a entrada do estrangeiro, mesmo
que o visto esteja válido e seja legítimo.
O visto, portanto, é apenas uma avaliação prévia de que os documentos que foram
apresentados em um consulado ou setor consular de uma embaixada pareciam válidos e a
autoridade consular considerou que o solicitante dizia a verdade. Porém, se na imigração a
avaliação for distinta, o ingresso do estrangeiro será denegado.
Finalmente, não se deve confundir prazo de validade de visto com prazo de autoriza-
ção de permanência no país. Assim, se o visto do visitante estrangeiro for ainda válido por
um ano, isso não significa que será autorizado a permanecer pelo mesmo período no país
visitado (o prazo máximo costuma ser de 3 a 6 meses). Por outro lado, mesmo que seu visto
vença no dia seguinte à sua chegada ao destino, poderá ser autorizado a permanecer no
país por meses, mesmo com o visto vencido.

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Os atos internacionais do Estado brasileiro

Os compromissos assumidos pelo Estado brasileiro no plano internacional são con-


cretizados a partir da celebração de atos internacionais (ou emendas a acordos existentes),
os quais, para terem validade em nosso direito interno, necessitam seguir diversas formali-
dades. Os trâmites necessários referem-se ao envio à Casa Civil, submissão ao Congresso
Nacional, ratificação e publicação do respectivo Decreto de Promulgação. Façamos, primei-
ramente, uma análise separada dos ritos que precisam ser seguidos para os atos bilaterais
e os multilaterais.
A primeira fase de um ato bilateral é a da negociação. Durante essa fase, a área do Ita-
maraty em Brasília (Secretaria de Estado das Relações Exteriores – SERE) responsável pelo
acompanhamento da matéria objeto do ato coordenará as conversações com a contraparte.
Deverá, para tanto, coordenar-se com as demais áreas da SERE interessadas (tanto temá-
ticas quanto geográficas), com o posto competente, bem como com os demais ministérios
e órgãos do governo brasileiro responsáveis pelo tema. Deverá, igualmente, solicitar, antes
da assinatura do instrumento, a análise do texto em negociação, tanto pela Divisão de Atos
Internacionais do MRE, que examinará seus aspectos formais, quanto pela Consultoria Jurí-
dica do ministério, que examinará seus aspectos jurídicos.
Os atos internacionais bilaterais podem adotar diversas denominações (Acordos,
Memorandos de Entendimento, Ajustes, Protocolos etc.). Podem, igualmente, ser celebrados
em dois formatos básicos: a) assinatura do texto do ato internacional, por ambas as partes;
ou b) troca de notas assinadas.
Independentemente da denominação ou formato que assumam, os trâmites necessá-
rios à sua ratificação e internalização – notadamente no que tange à necessidade de apre-
sentação de plenos poderes pelo signatário e de remessa do ato à apreciação parlamentar
– serão determinados pela natureza de seu objeto, isto é, pela matéria de que tratam, bem
como pela obrigatoriedade jurídica de suas disposições.
Sempre que possível, é preferível a adoção do formato convencional, com assinatura
do texto por ambas as partes, para a celebração de atos internacionais bilaterais. Por seu
elevado nível de detalhe e complexidade, o formato de troca de notas assinadas deve ser
reservado para casos específicos, em que seu uso é consagrado pela prática brasileira ou
internacional, ou quando situações excepcionais assim o exijam.
Uma vez concluídas as negociações, havendo ambas as partes alcançado acordo
sobre o texto do ato internacional a ser celebrado, as partes definirão, de comum acordo,
local e data para que se proceda à assinatura do ato. Somente poderão firmar o ato, assu-
mindo compromissos em nome do Estado que representam, as autoridades detentoras de
plenos poderes para tanto, nos termos do artigo 7º da Convenção de Viena sobre o Direito
dos Tratados.

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Volume 2

Após sua assinatura, o ato internacional deverá, conforme o caso, ser submetido à
apreciação parlamentar. O envio do ato ao Congresso Nacional é feito pela Presidência da
República, mediante a expedição de Mensagem aos Membros do Congresso Nacional, cuja
minuta, preparada pelo MRE, é submetida à consideração da Presidência da República por
meio de Exposição de Motivos (emitida apenas pelo MRE) ou Exposição de Motivos Intermi-
nisterial (emitida pelo MRE em conjunto com os demais ministérios envolvidos com o tema).
Encaminhado o ato internacional pela Presidência da República, segue para Congresso
Nacional, pela Câmara dos Deputados. Com base no teor do Ato, a Presidência da Câmara
determina quantas e quais Comissões da Câmara precisarão analisá-lo antes da apreciação
pelo Plenário. A rigor, todo ato internacional é submetido, na Câmara, à Comissão de Rela-
ções Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), à Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
– para verificar se há previsão orçamentária –, à Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania (CCJC) e à respectiva Comissão ou Comissões temáticas, com base na matéria
objeto do Ato (educação, esporte, seguridade social, etc.).
Os atos referentes ao MERCOSUL têm tramitação inicial diferenciada. Antes de serem
analisados pelas Comissões da Câmara, devem ser apreciados pela Comissão Mista do
MERCOSUL, composta pelos deputados federais e senadores que integram a Represen-
tação Brasileira no Parlamento do MERCOSUL. Uma vez aprovados na Comissão Mista,
seguem para a Câmara dos Deputados, para início da tramitação regular, de resto idêntica à
dos demais atos internacionais.
Em cada comissão em que o ato é apreciado, o presidente da comissão designa um
membro como relator do ato naquela comissão, o qual, na qualidade de relator, examinará
a matéria, pelo tempo que julgar necessário, e emitirá relatório, que pode ser pela aprova-
ção ou pela rejeição do ato. Uma vez elaborado o relatório, cabe ao presidente da comissão
colocá-lo em pauta em uma das reuniões da comissão, para apreciação pelo colegiado.
Se for aprovado pelos membros da comissão, o relatório se torna o parecer oficial da pró-
pria comissão.
Uma vez apreciado por todas as comissões cabíveis, o ato internacional, acompanhado
dos pareceres de todas as comissões que o analisaram, é encaminhado ao Plenário da
Câmara, onde cabe ao presidente da Câmara dos Deputados decidir quando (e se) o coloca
em pauta para votação. No caso de atos internacionais, a aprovação não requer votação
nominal. Podem, portanto, ser aprovados em "votação simbólica", desde que nenhum partido
se oponha à sua aprovação automática. Se rejeitado pelo Plenário da Câmara, encerra-se
a apreciação parlamentar do ato internacional. Se aprovado, segue para apreciação pelo
Senado Federal.
No Senado, a tramitação de atos internacionais costuma restringir-se à Comissão de
Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), que aprecia o ato antes de seu encaminha-
mento ao Plenário. Como na Câmara, cabe ao presidente da Comissão de Relações Exte-

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Volume 2

riores do Senado designar um relator e, eventualmente, colocar em pauta a apreciação do


acordo pela comissão.
Uma vez aprovado o ato no Senado Federal, o presidente do Senado envia Ofício à
Casa Civil comunicando a aprovação legislativa, por meio da qual o Poder Legislativo for-
malmente concede ao Poder Executivo autorização para, se desejar, ratificar o referido ato
internacional.
Assim que o ato for aprovado pelo Congresso Nacional, e após a publicação, no Diário
Oficial da União, do respectivo Decreto Legislativo, o Poder Executivo estará apto a, se julgar
oportuno, proceder à ratificação do ato junto à contraparte. A ratificação consiste na notifica-
ção, à outra parte, de que foram cumpridos os requisitos legais internos para a entrada em
vigor (início da vigência) do ato, não devendo ser confundida com a aprovação parlamentar.
A ratificação é prerrogativa do Executivo, que poderá deixar de ratificar o ato caso assim
estime conveniente. A SERE instruirá o posto competente a ratificar o ato internacional junto
à outra parte, mediante a emissão de nota verbal pela qual comunicará, à chancelaria local,
o cumprimento, pelo Brasil, dos requisitos legais internos necessários à entrada em vigor
do ato. A nota verbal de ratificação ressalvará que, em razão do sistema dualista adotado
pelo Brasil, o ato deverá ser, após o início de sua vigência no plano internacional, objeto de
Decreto Presidencial de Promulgação, para que seja incorporado ao ordenamento jurídico
brasileiro, habilitando o Brasil a efetivamente implementar suas disposições.
Ratificado por ambas as partes o ato, sua vigência no plano internacional terá início no
prazo previsto pelo próprio documento. Em razão do sistema dualista adotado pelo Brasil,
a efetiva implementação do ato internacional, no plano interno, estará ainda sujeita à publi-
cação, no Diário Oficial da União, do respectivo Decreto Presidencial de Promulgação, que
incorpora o ato internacional ao ordenamento jurídico nacional, internalizando-o e fornecendo
a base legal necessária ao cumprimento de seus dispositivos no plano interno. Recorda-se,
a respeito, que compete privativamente ao presidente da República sancionar, promulgar e
fazer publicar leis, bem como expedir decretos para sua fiel execução (artigo 84, IV, da Cons-
tituição Federal).
A promulgação somente poderá ocorrer após a entrada em vigor do Ato no plano inter-
nacional, mediante a ratificação por ambas as Partes.
De modo geral, aplicam-se aos atos multilaterais (convenções, tratados, atas, cartas
etc.) as mesmas disposições relativas aos atos bilaterais, no que tange à sua negociação,
assinatura e apreciação parlamentar (itens I – "A", "C", "D" e "E" acima).
A assinatura poderá, eventualmente, ser precedida de adoção do texto, por ocasião da
conclusão das negociações do instrumento. É recomendável que, por ocasião da assinatura,
sejam já anunciadas as reservas que se pretende opor ao instrumento, as quais serão rei-
teradas por ocasião do depósito do instrumento de ratificação. No que tange à apreciação
parlamentar, os tratados enviados ao Congresso Nacional, segundo o rito do § 3º do artigo

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5º da Constituição Federal, terão trâmite semelhante ao das Propostas de Emenda à Cons-


tituição (PECs).
No que diz respeito à notificação de cumprimento dos requisitos legais internos, os atos
multilaterais podem prever diversas modalidades de ratificação, sendo as mais comuns o
depósito, junto ao depositário, de Carta de Ratificação (no caso de o Brasil haver assinado
o ato no momento de sua celebração) ou de Carta de Adesão ou Acessão (na hipótese de
o Brasil vir a aderir ao ato em momento posterior à sua celebração). O instrumento de ratifi-
cação deverá conter, quando for o caso, eventuais reservas ao instrumento que está sendo
ratificado.
Os atos internacionais multilaterais somente poderão ser objeto de Decreto Presiden-
cial de Promulgação após sua entrada em vigor no plano internacional, a qual ocorre apenas
quando satisfeitas as condições previstas no texto do próprio ato (comumente, número
mínimo de partes que tenham ratificado). É fortemente recomendável que o hiato temporal
entre a entrada em vigor do instrumento no plano internacional e sua promulgação seja o
menor possível.

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Ter viajado é melhor do que viajar

A frase que intitula este artigo é uma brincadeira que costumo repetir para afirmar algo
que não parece óbvio, especialmente para quem não costuma viajar muito, porém será facil-
mente compreensível a você, depois que ingressar na carreira diplomática e tiver alguma
lotação que lhe exija constantes deslocamentos, em especial para fora do país.
Como se sabe, os diplomatas costumam viajar com bastante frequência, dada a natu-
reza da atividade que exercem. Em algumas áreas do Ministério das Relações Exteriores
(MRE), no entanto, essas viagens são mais recorrentes do que em outras. É o caso, por
exemplo, dos colegas lotados nos Cerimoniais, tanto do Itamaraty, que organiza as cerimô-
nias no Brasil e exterior, de que participam o chanceler e outras autoridades do ministério,
como o Cerimonial da Presidência da República (PR), que se ocupa das atividades do presi-
dente, inclusive em outros países103.
Exatamente por proporcionar numerosas oportunidades de viagens ao exterior, pois
o Ministro das Relações Exteriores mal para no Brasil104, muitos jovens diplomatas sonham
em ser lotados no Cerimonial assim que deixam o Instituto Rio Branco. Boa parte dos que
conseguem, porém, logo percebem que o que parecia uma enorme vantagem (viajar mais
do que colegas de outras áreas) na verdade tem alto custo do ponto de vista pessoal e prin-
cipalmente familiar.
Diz a sabedoria popular que tudo o que é demais enjoa. Outros dizem, ainda, que é
melhor viajar para a cidade vizinha de onde se mora de férias do que a Paris a trabalho.
Quem viaja constantemente por razões profissionais tende a concordar com esses dizeres.
Eu nunca trabalhei em nenhum Cerimonial, mas já ocupei alguns cargos, no MRE e em
outros órgãos para os quais fui cedido, que exigiram de mim realizar algumas viagens que,
para meus amigos, pareciam dos sonhos e eu as enxergava como pesadelos.
Isso porque viajar a trabalho é bastante cansativo e normalmente só se conhece as
cidades que se visita pela janela do carro que te leva de um compromisso a outro. Em geral,
não sobra tempo, ou se sobra é quase nada, para turismo. Até porque, viagens financiadas
por recursos públicos não devem mesmo manter diplomatas fora de suas cedes sem neces-
sidade profissional, ou seja, em geral é consideravelmente frustrante trabalhar em um país
interessante ou que não se conhece e não poder visitar nenhum ponto turístico. É como pas-
sear pela praia de terno e gravata, sem poder ao menos molhar os pés no mar.
Isso sem contar o estresse, que só aumenta com o tempo e as repetições, para se fazer
e desfazer malas, encarar filas de check-in de aeroportos, detectores de metais, longos voos
apertado em classe econômica, noites de sono perdidas, instalação em hotéis, transporte
que não aparece, câmbio de moedas etc. Quando se viaja muito e a maior parte dos desloca-
mentos é para locais distantes, o que não é tão difícil ocorrer se considerarmos que Brasília
103
O Cerimonial da PR é sempre chefiado e composto, em sua maioria, por diplomatas de carreira requisitados pela Presidência.
104
O Cerimonial do Itamaraty se ocupa principalmente das viagens do chanceler, mas também organiza os deslocamentos do Secretário-Geral das Relações
Exteriores (número 2 do MRE) e participa das viagens presidenciais.

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Volume 2

está longe de tudo, há um determinado momento em que você chega à conclusão de que o
melhor lugar do mundo é sua própria casa.
A lembrança que fica das viagens, no entanto, e as diárias que se recebe (quando não é
necessário gastar tudo), é, em geral, muito boa. É o que se chama de bagagem cultural, que
poucas carreiras como a diplomática oferecem. No fundo, temos acesso a lugares, pessoas
e ambientes que normalmente não teríamos com a renda que a carreira nos proporciona. Por
motivos profissionais, conhecemos tudo isso, e a experiência que fica é excelente. Por isso,
repito sempre: ter viajado é melhor do que viajar (a trabalho, claro).

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Expedientes: documentos internos do MRE

Em continuação ao tema das comunicações do Itamaraty, trataremos dos documentos


que oficializam a comunicação interna no Ministério das Relações Exteriores (MRE), ou seja,
os expedientes internos.
A carreira diplomática tem estrutura de considerável rigidez hierárquica, o que às vezes
causa impressão de excesso de burocracia. Depois de um tempo de trabalho no ministério,
ao termos experiência profissional em outros órgãos do governo – seja no âmbito federal,
mas principalmente nos estaduais e municipais –, percebemos o quão importante é a exis-
tência do registro escrito daquilo que é produzido pelo órgão. São os expedientes de circula-
ção interna que registram os antecedentes dos assuntos e possibilitam seu adequado acom-
panhamento e desenvolvimento.
Os mais relevantes temas da política externa brasileira são tratados no Itamaraty em
memorandos105. Tal expediente é uma forma de correspondência assinada pelo chefe da
unidade (ou por seu assessor), que presta informações, faz consultas ou sugestões ou soli-
cita providências. É típica do memorando a sugestão de linha de ação, que é autorizada no
nível adequado. Os memorandos são a memória dos processos decisórios do MRE. Recen-
temente, determinou-se a substituição dos memorandos em papel por uma versão digital, o
que facilita sua localização e resgate futuros. A forma e a estrutura dos memorandos eletrô-
nicos, no entanto, não diferem daquelas dos memorandos em papel.
O memorando tramitará até o nível adequado à tomada de decisão requerida ou até o
nível a que se deseje dar conhecimento da informação nele contida. Assim, por exemplo, o
chefe de uma divisão eleva uma consulta ao diretor de seu departamento, que pode enca-
minhá-lo a outro diretor de departamento ou a seu subsecretário, e este, por sua vez, pode
encaminhá-lo a outro subsecretário ou elevá-lo ao secretário-geral, cabendo a este último a
decisão de elevá-lo ou não à deliberação do gabinete do ministro (das Relações Exteriores).
No caso de memorando que se dirija a unidade de outra subsecretaria, a regra é a
tramitação ser feita por intermédio do subsecretário competente. Sempre que o tema for
complexo e envolver atribuições de distintas subsecretarias, ou parecer da Consultoria Jurí-
dica do ministério, o encaminhamento deve ser feito por intermédio do secretário-geral. Para
casos de rotina, poderá ser adotada tramitação abreviada, a critério do bom senso.
Ao receber o memorando e repassá-lo (a um superior hierárquico, subordinado ou a
alguém de nível equivalente), o destinatário sugere linhas de ação ou dá instruções. Ao
fazê-lo, transforma esse memorando em despacho ao memorando, considerado outro expe-
diente. O documento, assim, passa a ter uma ideia apresentada e uma reação superior à
ideia, que pode requerer outra reação superior, até o chanceler.

105
São muito utilizados também os termos em latim Memorandum (singular) e Memoranda (plural).

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Volume 2

Já a forma mais simplificada de memorando é chamada de minimemo, que encaminha


diretamente de uma unidade a outra assunto de menor relevância. Também, recentemente,
foi substituído por versão eletrônica. É utilizado, por exemplo, para se solicitar uma reserva
de sala para uma reunião no Palácio do Itamaraty.
Chama-se pró-memória – “aide-mémoire”, em francês; “non-paper”, em inglês – a infor-
mação ou relato sucinto sobre tema específico que tenha caráter retrospectivo no contexto
de negociação diplomática e que requeira encaminhamento, providência ou gestão. Sua
característica mais marcante é o fato de não constituir um documento oficial, nem ser assi-
nado. Ainda assim, tem amplo uso e circulação em contextos multilaterais e é ferramenta útil
em negociações diplomáticas.
Em geral, o pró-memória é um pequeno texto com contribuições técnicas para subsidiar
alguma negociação ou gestão. É método costumeiro de registrar o histórico das tratativas
sobre determinado assunto, inclusive no plano bilateral, especialmente quando as negocia-
ções atingem algum ponto de inflexão que requeira providência de uma ou de ambas as
partes. Pode também ser usado para a circulação não oficial de informações. Embora utili-
zado mesmo entre governos (ou entre esses e organismos internacionais), não tem forma
específica, nem caráter oficial.
O pró-memória constitui valioso instrumento para transmitir, de forma sucinta ao inter-
locutor, os principais pontos tratados em uma gestão, facilitar a tomada de notas pela outra
parte e assegurar que dados e informações sejam transmitidos de forma clara e correta.
Recomenda-se, sempre que possível, subsidiar gestões com o uso de pró-memórias.
Quando as informações são mais abrangentes e estruturadas, o documento é denomi-
nado maço básico. Trata-se de um conjunto de informes mais abrangentes sobre um país ou
um assunto, de caráter descritivo e analítico. É algo parecido com um verbete de Wikipédia,
porém apresentado de forma mais profissional e com conteúdo, por vezes, sensível.
No caso de maço de país, contém informações essenciais sobre a história, economia,
política, cultura e demografia e quaisquer outras informações julgadas relevantes no contexto
em que será usado. É também fonte de consulta sobre a evolução e o estado das relações
do Brasil com o país.
No caso de maço temático, contém histórico do tema, com síntese das posições defen-
didas pelo Brasil e pelos principais atores em sua discussão, cronologia das conferências
internacionais sobre o tema e, se for o caso, propostas para seu encaminhamento.

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Volume 2

A diplomacia presidencial

A palavra diplomacia remete aos diplomatas e ao Ministério das Relações Exterio-


res (MRE), por serem os profissionais e instituição responsáveis pela condução da política
externa. Não se pode esquecer, no entanto, como já afirmamos em alguns artigos anteriores,
que o responsável pela definição dessa política, ou seja, a autoridade máxima que toma a
última decisão sobre as posições de um país no relacionamento com os demais é o chefe de
governo (ou de Estado, dependendo da Constituição). No caso brasileiro, trata-se do presi-
dente da República.
Diplomacia presidencial, portanto, é aquela exercida diretamente pelo chefe do Poder
Executivo em contato com seus pares estrangeiros, sem o intermédio de ministros ou diplo-
matas. Isso parece, em princípio, redundante, já que as decisões partem dos próprios inter-
locutores, mas, quando se trata de alguns temas mais sensíveis, é fundamental a participa-
ção dos próprios mandatários. O mesmo se pode dizer sobre os efeitos maiores dessa ação.
Vejamos alguns exemplos.
Uma das atividades de maior destaque hoje da diplomacia é a promoção comercial.
Para facilitar a exportação de nossas empresas ou atrair capital internacional ao Brasil, o
trabalho de nossos diplomatas nos setores comerciais de nossas embaixadas e consula-
dos é extremamente valioso. Assim, são organizados encontros, feiras comerciais ou outras
oportunidades de contatos empresariais ou com governos (empresas públicas, fundos sobe-
ranos etc.).
Quando o presidente da República participa diretamente de um evento empresarial,
entretanto, os resultados são muito mais efetivos. É comum, em suas viagens ao exterior,
nossos maiores mandatários encontrarem-se com representantes do setor produtivo inter-
nacional com negócios no Brasil ou, nos contatos governamentais, referirem-se a negocia-
ções empresariais brasileiras. Nesse caso, a chance de uma exportação ou investimento em
nosso país ser efetivado é muito maior. Ao estabelecer contato direto com o setor privado
estrangeiro, o presidente promove a boa imagem de nossa economia no exterior e incentiva
negócios com o Brasil.
O mesmo se aplica a questões políticas ou de outras áreas. Ao abrir o debate anual
(toda terceira terça-feira de setembro) da Assembleia-Geral da Organização das Nações
Unidas, o presidente brasileiro torna pública à comunidade internacional as diretrizes básicas
(posições) de nossa política externa106. Esse é um exemplo clássico de atuação da diploma-
cia presidencial.
O envolvimento direto do presidente da República em ações diplomáticas não diminui
nem substitui o trabalho dos diplomatas, mas, ao contrário, o fortalece. A diplomacia presi-
dencial abre portas e facilita a diplomacia tradicional. Trata-se, portanto, de atividade que
deve ser incentivada pelos Ministérios de Relações Exteriores.
106
Sobre o tema, cf: http://blog.vouserdiplomata.com/as-atuais-diretrizes-da-politica-externa-brasileira/.

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Volume 2

Informar, negociar e representar

Costumo dizer que a diplomacia é uma profissão em que se pode ter vários empregos
em uma única carreira. Vimos, em diversos artigos, o que faz um diplomata107: ao longo de
30, 40 ou mais anos em que se permanece no Ministério das Relações Exteriores (MRE)
após a aprovação no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), há opções
profissionais das mais diversas, tanto para funções no Brasil como no exterior. É possível,
assim, trabalhar com temas como promoção comercial ou cultural, política ou economia,
meio ambiente ou administração, cerimonial ou assessoria de imprensa e assim por diante.
Porém, se alguém lhe perguntar o que faz um diplomata, pode-se reduzir a resposta a três
verbos: informar, negociar e representar.
Em quaisquer dessas funções que podem ser exercidas por um diplomata no decor-
rer de sua longa carreira, aplica-se sempre pelo menos uma dessas três ações. Assim, por
exemplo, quando esse profissional está no exterior e acompanha a política interna do país
onde vive para relatar ao Itamaraty, informará à Secretaria de Estado (que controla a execu-
ção da política externa brasileira da Capital Federal), por meio de um expediente chamado
telegrama. O telegrama nada mais é do que uma comunicação eletrônica, como um e-mail,
que circula criptografado pela rede de comunicações do MRE. O nome foi herdado do sis-
tema do passado, que tinha por base o envio de telegramas.
Para ter acesso a essas informações, ainda no exemplo supracitado, o diplomata deve
também exercer as duas outras funções básicas. Como um repórter esportivo que acompa-
nha uma partida de futebol dentro do campo, nosso representante no exterior tem acesso a
informações privilegiadas, que não estão disponíveis na imprensa. Para isso, porém, neces-
sita saber representar o Brasil de forma adequada e interagir com interlocutores-chave do
governo e da sociedade local, que são formadores de opinião e tomadores de decisões que
afetam o rumo do desenvolvimento dessa nação e, por tabela, das relações com nosso país.
Porém não basta saber representar e informar, pois o acesso à informação depende
também do poder de negociar. Todo diplomata negocia durante quase todo seu período de
trabalho. Não me refiro apenas à negociação clássica de um acordo internacional, por exem-
plo. Falo igualmente das pequenas negociações. Em uma simples conversa com uma autori-
dade governamental, por exemplo, o diplomata negocia, porque o interlocutor sabe que qual-
quer informação que transmita aos diplomatas será transmitida ao governo que representa.
É preciso, assim, saber como conseguir essa informação e, para esse fim, negociar.
Há, ainda, uma quarta função que alguns atribuem à atividade diplomática, mas que
tecnicamente não faz parte: a tarefa de assistir. Já vimos, no entanto, que a missão de dar
assistência aos nacionais cabe à atividade consular, não à diplomática. Além disso, em última
instância, é possível considerar a atribuição de assistir como parte da responsabilidade de
representar, não o Estado, mas nossos compatriotas.
107
Cf. http://blog.vouserdiplomata.com/categoria/artigos-sobre-diplomacia/.

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Como no caso do MRE as carreiras diplomática e consular são exercidas pelos menos
profissionais selecionados pelo mesmo CACD, não é completamente equivocada a afirma-
ção de que assistir está entre as funções básicas da diplomacia brasileira.

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Diplomata precisa falar idiomas exóticos?

O principal instrumento de que dispõem os diplomatas é a palavra escrita, especial-


mente em língua portuguesa. Já os idiomas estrangeiros não considero instrumentos – como
o piano utilizado pelo maestro João Carlos Martins para encantar plateias –, mas ferramen-
tas, a exemplo do serrote de que se serve o marceneiro que monta uma mesa.
Utilizo-me dessas imagens para diminuir a importância, no meu entendimento superdi-
mensionado, que se costuma atribuir às línguas estrangeiras na carreira diplomática. Menor
ainda é a necessidade do conhecimento de idiomas exóticos. Não estou afirmando que
são inúteis, porém o importante é ter por perto quem os domine, não necessariamente um
diplomata.
É comum a associação da carreira diplomática com a necessidade do domínio de idio-
mas estrangeiros. Costumo deparar-me com bons candidatos ao Concurso de Admissão à
Carreira de Diplomata (CACD) que se sentem desanimados a encarar o desafio por se acha-
rem pouco fluentes em um ou outro idioma exigido no exame.
De fato, é preciso conhecer bem a língua inglesa para aumentar as chances de aprova-
ção no CACD, porém não há deficiência que não possa ser superada com estudo sério reali-
zado no Brasil (não é essencial ter vivido ou ir estudar em país de idioma inglês). Tampouco
o candidato a ser aprovado necessita debruçar-se sobre a obra de Shakespeare ou mesmo
ser capaz de ouvir uma canção inédita do Bruno Mars e entender 100% da letra. No caso de
francês e espanhol, menos ainda, pois o nível cobrado no concurso é elementar.
O que dizer, então, de línguas consideradas exóticas, ou seja, menos comuns na inter-
locução diplomática? Fui procurado por um candidato que queria confirmar a informação de
que até o Instituto Rio Branco (IRBr) estava cobrando esse estudo no Curso de Formação,
aquele a que se submetem os recém-aprovados no CACD. Isso é verdade. Além de estu-
darem inglês, francês e espanhol, o que já é tradição no IRBr, os alunos-diplomatas agora
necessitam optar pelo estudo de um idioma exótico. Entre as opções do momento estão
russo, chinês e árabe.
Isso, no entanto, não me faz mudar de opinião. Conheço poucos diplomatas que vive-
ram em países onde se falam essas três línguas “exóticas” supramencionadas e falavam
bem os idiomas locais. A maioria estudou, claro, a respectiva língua do país onde viveram,
porém poucos se aprofundaram nesse estudo, e nem por isso tiveram desempenho profissio-
nal inferior ao daqueles poucos que, com mais facilidade e dedicação, sabiam se comunicar
melhor no idioma local.
Se um diplomata brasileiro vai negociar algo com um interlocutor checo, a língua de
trabalho provavelmente será inglês, ainda que a reunião seja em Praga, com um diplomata
servindo em nossa embaixada naquela capital. Será preciso, pois, dominar o conteúdo do
assunto a ser discutido, não um idioma (ferramenta para a comunicação) que, mesmo se o
brasileiro conhecesse bem, não seria utilizado em uma reunião formal. Para comprar pão,

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de manhã, na padaria perto de onde vive, seria conveniente apresentar a frase, ainda que
decorada, que permita se comunicar com o padeiro.
É útil, sem dúvida, a um diplomata falar idiomas estrangeiros, devido inclusive à natu-
reza de suas interlocuções, mas seu impecável domínio servirá apenas como um bônus de
comunicação facilitada. No caso das línguas exóticas, impressiona encontrar um brasileiro
que fale russo, chinês, árabe ou algo do tipo, mas a utilidade desse conhecimento costuma
restringir-se a usos locais nos países onde esses idiomas são oficiais.

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Expedientes: documentos para reuniões com autoridades estrangeiras

Este artigo faz parte da série de textos sobre os expedientes produzidos ou trocados
com o Ministério das Relações Exteriores (MRE). Faremos análise dos documentos prepara-
dos por diplomatas para reuniões de autoridades brasileiras com estrangeiras, quais sejam:
os pontos de conversação, a ficha-país, a ficha de evento e a ficha resumida.
Pontos de conversação. Trata-se de informação sucinta destinada a subsidiar e orien-
tar a interlocução de autoridade com contrapartes em situação específica, como visita bilate-
ral, café da manhã de trabalho, reunião à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas
etc. Pode centrar-se em um tema que esteja em negociação ou contemplar mais amplamente
vários pontos da agenda com determinado país ou organização internacional.
Os pontos de conversação são escritos em primeira ou terceira pessoa, conforme o
caso, e contemplam todos os temas julgados pertinentes de tratamento pela autoridade.
São redigidos em forma aproximada a como os temas são verbalizados a um interlocutor,
podendo estar, se conveniente, escritos em língua estrangeira. Há casos em que os pontos
de conversação são na verdade “pontos de não conversação”: quando dizem respeito a
temas cuja menção não seja conveniente ao lado brasileiro, mas que podem ser suscita-
dos pelo interlocutor. Nesse caso, os temas deverão trazer a menção “caso suscitado” entre
parênteses.
Os pontos de conversação são geralmente feitos em formato de tópicos e redigidos
com concisão. Os pontos de conversação podem ser acompanhados, quando necessário, de
um texto em fonte menor e em itálico que explica e contextualiza a mensagem a ser dirigida
a um interlocutor. Os pontos devem evitar obviedades e fórmulas usuais de cortesia que se
utilizam em uma conversação diplomática. Sobretudo quando se destinam a maço básico108
que reunirá assuntos variados, os pontos de conversação devem registrar, ao final do texto
e com tabulação à direita, a data da revisão final e a unidade que os elaborou. Em suma, os
pontos de conversação são uma espécie de “cola” de que se serve a autoridade brasileira
para “guiar” a conversa com a autoridade estrangeira.
Ficha-país. Documento para consulta e orientação da participação do presidente da
República, do vice-presidente, do ministro das Relações Exteriores ou do secretário-geral
das Relações Exteriores em reuniões bilaterais no Brasil e no exterior. A ficha-país traz infor-
mações sobre o país e sobre as relações bilaterais e é utilizada como material de consulta
antes da reunião. Deve permitir que a autoridade tenha visão abrangente sobre o país do
interlocutor e sobre os principais temas a serem discutidos. Sua função é operacional: deve,
portanto, ser concisa e apresentar uma linguagem direta e objetiva.
A seção da ficha-país intitulada “Sentido da Visita/Reunião” apresenta, com a maior
especificidade possível, os objetivos a serem atingidos, com uma hierarquia de prioridade
entre eles. Ao explicitar as principais demandas e interesses específicos que o Brasil deseja
108
Saiba mais sobre os maços básicos em: http://blog.vouserdiplomata.com/expedientes-documentos-internos-do-mre/.

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Volume 2

promover, não deve deixar de mencionar eventuais objetivos políticos mais amplos e genéri-
cos. A ficha-país é, portanto, uma espécie de verbete de Wikipédia, porém com informações
aprofundadas, e muitas vezes sensíveis, dos interesses do Brasil com aquele país.
Ficha de evento. Documento utilizado para consulta e orientação da participação do
presidente da República, do vice-presidente, do ministro das Relações Exteriores ou de
embaixador em eventos multilaterais. A ficha traz informações completas sobre o evento,
tratando-se de documento que será consultado pela autoridade brasileira antes da reunião
e durante o seu transcurso. A ficha deve incluir os pontos de intervenção ou o discurso a ser
pronunciado pela autoridade brasileira. É como a ficha-país, porém, em geral, com menor
extensão e focada no evento específico.
Ficha resumida. Finalmente, essa ficha é a versão resumida de uma ficha-país ou de
uma ficha de evento109. É um documento breve, com ênfase nos pontos de conversação,
para orientar a participação do presidente da República, do vice-presidente, do ministro das
Relações Exteriores ou de embaixador em reuniões bilaterais e em eventos multilaterais. A
ficha resumida é o documento a ser manuseado pela autoridade brasileira durante o encontro
com seu interlocutor. Deve, portanto, ser sucinta, de fácil leitura e conter apenas as mensa-
gens principais a serem transmitidas.

109
A extensão será de até quatro páginas, com a possibilidade de extensão máxima de seis páginas, quando justificável.

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Escrita: principal instrumento dos diplomatas

A atividade diplomática exige bom senso, muita criatividade e iniciativa para ser desem-
penhada. Além de falar idiomas estrangeiros, os diplomatas necessitam ter conhecimento ou
estudar variados temas para atuar como representantes do Estado brasileiro e seus nacio-
nais. Contatos, conversas e pesquisas são exemplos de necessidade para o exercício dessa
função. A forma escrita de comunicação é, no entanto, o principal instrumento a ser “tocado”
pelos membros da carreira diplomática. Se deixá-lo desafinar, a música fica comprometida.
A escrita não é para os diplomatas apenas uma ferramenta, como um serrote para o
carpinteiro. Prefiro a imagem de um instrumento, não apenas musical, mas o objeto de um
artista que deve produzir algo a ser admirado pelas pessoas, como o pincel para um pintor,
o piano para um pianista ou uma bola de futebol para o Neymar.
Há uma piada muito repetida no Itamaraty que descreve um bom diplomata como alguém
que sabe mandar uma pessoa para o inferno de maneira tão especial que essa pessoa fique
ansiosa para o início da viagem. Mas de nada adianta o talento de saber se relacionar com
pessoas sem que isso seja registrado por escrito. E é exatamente esse o registro que fica
da atividade diplomática. Sem textos, não há decisão oficial, não se formam posições de um
governo e, principalmente, não são seguidas tradições de posicionamento, que é o que dá
prestígio à diplomacia de uma nação.
Quando algum fato político (como um golpe de Estado) ou físico (desastre natural)
ocorre em algum país, a imprensa brasileira imediatamente busca no Ministério das Relações
Exteriores (MRE) qual seria o posicionamento brasileiro sobre o tema. Isso se dá sempre por
escrito, por meio de uma nota à imprensa que reflita o que o governo do Brasil acha ou pre-
tende fazer a respeito do assunto. Cada palavra dessas notas é estudada no Itamaraty com
bastante rigor, pois qualquer termo mal-empregado pode afetar nossas relações externas.
O mesmo se aplica aos textos produzidos internamente no ministério. Toda comunica-
ção entre as unidades da Secretaria de Estado (sede do MRE em Brasília) é feita por inter-
médio de algum tipo de expediente (documento escrito). Esses expedientes servem de base
para o acompanhamento e prosseguimento do assunto. Assim, por exemplo, um terceiro-se-
cretário pode propor alguma iniciativa do governo brasileiro sobre um determinado tema em
sua área de atuação. Propus, então, um texto, que deve ser aprovado por sua chefia ime-
diata, que também o leva a seu superior hierárquico, até que muitas vezes o caso vai parar
nas mãos do chanceler ou até do presidente da República.
O mesmo ocorre na comunicação do MRE em Brasília com seus escritórios de repre-
sentação pelo Brasil ou postos no exterior (embaixadas, consulados, escritórios e missões
junto a organismos internacionais). Tudo é registrado por escrito e fica no sistema para con-
sulta posterior quando o tema voltar a ser debatido ou requerer novas decisões. É o que
chamamos, no Itamaraty, de antecedentes do assunto. A não ser quando se tratar de tema

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completamente novo, a primeira iniciativa de um diplomata ao se deparar com uma matéria


é levantar os antecedentes registrados em expedientes.
E é por isso que a mais difícil e principal prova do Concurso de Admissão à Carreira
de Diplomata (CACD) é a Prova Escrita de Língua Portuguesa, da Segunda Fase. Um bom
diplomata precisa, necessariamente, saber expressar-se bem e com clareza por escrito. De
outra forma, seu trabalho fica perdido para a diplomacia. Aperfeiçoando nossa piada interna:
não adianta mandar alguém para o inferno e deixar a pessoa ansiosa para a viagem se não
conseguir emitir o bilhete de partida...

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Atuação do Brasil no combate a ilícitos transnacionais

Uma das áreas mais fascinantes, atuais e dinâmicas de atuação dentro da carreira
diplomática é a da política externa para a prevenção e o combate aos ilícitos transnacionais
e cooperação em foros bilaterais e multilaterais na matéria. Os diplomatas que acompanham
esses temas no Itamaraty interagem não apenas com interlocutores estrangeiros de gover-
nos e organismos internacionais, mas também com membros de diversos órgãos do governo
brasileiro, especialmente no plano federal.
Dentro da nova estrutura do Ministério das Relações Exteriores (MRE)110, compete ao
Departamento de Segurança e Justiça, e mais especificamente à Divisão de Combate ao
Crime Transnacional, promover e coordenar as atividades de cooperação internacional nas
áreas de prevenção e combate ao crime organizado transnacional, inclusive o tráfico de
drogas ilícitas, de armas, de pessoas, especialmente mulheres e crianças; contrabando de
migrantes; tráfico de órgãos; corrupção, suborno, lavagem de dinheiro, financiamento do
terrorismo; terrorismo internacional; pirataria e roubo armado de cargas marítimas; e crime
cibernético.
O Departamento de Segurança e Justiça está subordinado à Secretaria de Assuntos de
Soberania Nacional e Cidadania, unidade de terceiro escalão do MRE. Os diplomatas lotados
nesse departamento coordenam a participação brasileira em reuniões internacionais, tanto
em foros bilaterais como multilaterais, que tratem da prevenção e combate ao crime organi-
zado transnacional e da cooperação internacional com relação aos delitos supracitados.
A coordenação do Itamaraty com órgãos do governo brasileiro sobre temas relaciona-
dos ao combate a ilícitos transnacionais ocorre, em especial, com os Ministérios da Justiça
e da Defesa, no que tange à intersecção entre as competências do Departamento de Polícia
Federal e das três Forças Singulares na prevenção e no combate aos crimes que ultrapas-
sam as fronteiras nacionais. Além disso, o departamento representa o MRE em diversas
instâncias governamentais colegiadas, como o Conselho Nacional sobre Drogas (CONAD),
o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN); o Conselho de Controle de Atividades Finan-
ceiras (COAF); o Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção da Contro-
ladoria-Geral da União; a Comissão Nacional de Segurança Pública nos Portos, Terminais
e Vias Navegáveis (CONPORTOS); a Comissão Nacional de Segurança da Aviação Civil
(CONSAC), entre outros mecanismos ou grupos formais e informais.
O leque temático do departamento é bem aberto e variado. Essa agenda tem temas
como a prevenção do crime e a segurança pública; o problema mundial das drogas; o tráfico
de pessoas; o terrorismo; o contrabando de migrantes; o tráfico de armas; o combate à cor-
rupção e ao suborno transnacional; o combate à lavagem de dinheiro; a segurança portuária
e aeroportuária; e o combate a crimes cibernéticos.

110
Cf. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.

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O mundo está cada dia mais conectado. Se, de um lado, o avanço da tecnologia faci-
lita as comunicações internacionais e diminui a distância entre os países, de outro, facilita o
cometimento de crimes que desrespeitam fronteiras e o poder dos Estados. Nesse contexto,
a atuação dos diplomatas torna-se imprescindível para facilitar o intercâmbio de informações
entre os governos, com vistas à elaboração de políticas públicas nacionais que combatam
esses ilícitos.
Veja a complexidade do trabalho diplomático escondido sob o guarda-chuva de um
único tema. Não é à toa que muitos defendem que o diplomata, mesmo quando se especia-
liza e dedica boa parte da carreira a uma única área, precisa ser também um bom generalista
e estar sempre preparado para lidar com os mais diversos assuntos.

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Tema: O CACD

Artigos:

• Não deixe que uma queda te impeça de continuar caminhando


• 4 dicas para estudar francês e espanhol para o CACD
• Nunca estudei francês, nem espanhol. E agora?
• Nem sempre é na primeira (ou segunda) tentativa
• Candidatos casados com estrangeiros
• Utilidade dos cursos preparatórios para o CACD
• 5 erros capitais ao estudar para o CACD
• Nacionalidade brasileira: possibilidade de perda
• Questione sua vocação antes de tentar o CACD
• Nacionalidade brasileira: PEC sobre a perda

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Não deixe que uma queda te impeça de continuar caminhando

Neste artigo, quero me dirigir a você, que se submeteu ao Concurso de Admissão à


Carreira de Diplomata (CACD) de 2022. A esta altura, talvez nem saiba ainda se tem chance
de passar, se talvez ficou na Primeira Fase ou se foi muito bem ou bastante mal. Não importa.
Quem quer ser diplomata não pode pensar no CACD como bala de prata. A metáfora da
solução simples para um problema complexo, aquele único tipo de munição que serve para
matar um lobisomem ou outra figura lendária, não deve ser aplicada à ideia de aprovação
neste difícil, porém possível concurso.
Passar nessa seleção é custoso, porque muita gente pensa como você e tem o mesmo
objetivo, com razão. As pessoas em geral veem a carreira diplomática com admiração,
mesmo aquelas que não se enxergam com perfil para nela ingressar. Como toda profissão,
a diplomacia impõe muitas dificuldades a seus profissionais, em geral bem acima da média,
mas o saldo final dos prós e contras é bastante positivo para os que gostam do tema.
Sua reprovação em 2022 possivelmente deixará o desânimo te dominar por uns dias,
julgando-se incapaz de alcançar o nível daqueles que tiveram desempenho positivo. Você
começará a diferenciar-se dos demais candidatos, entretanto, quando aprender a pensar de
modo distinto, a distanciar-se do comportamento de manada. Claro que, se isso fosse fácil,
nem perderia meu tempo escrevendo a respeito, mas o caminho do sucesso normalmente
exige doses de esforço contraintuitivo.
Primeiramente, imaginemos os reprovados. Como transformar o sentimento de derrota
em algo positivo? Posso apresentar diversos argumentos: é com os erros que se aprende; os
fracassos tornam os sucessos futuros mais prazerosos; os aprovados precisam, em média,
de três tentativas para passar nesse concurso. Nenhuma justificativa, entretanto, é mais forte
e verdadeira do que esta: se você não chegou lá é porque ainda tem caminho pela frente, não
andou o suficiente, mas já percorreu parte da estrada e está na frente dos que não iniciaram
a mesma trajetória!
Por isso costumo dizer que o CACD é distinto dos demais processos seletivos do ser-
viço público e que a figura da bala de prata não pode ser aplicada a este exame. Quem
prestou o concurso em 2022 percebeu que o formato da prova é o mesmo e se repete anu-
almente, ou seja, isso é vantajoso para os que se preparam a longo prazo.
Assim, se você acha que foi mal, não perca tempo se lamentando, continue a estudar.
E, mesmo que não seja mais tão jovem, pois alguns se sentem pressionados a passar logo
porque acham que a idade está chegando e não terão muito tempo para exercer a carreira,
saiba que, com a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Bengala, os futuros diploma-
tas só se aposentarão compulsoriamente aos 75 anos de idade!

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Finalmente, caso esteja certo ou considere que tem chance de que seu nome esteja na
lista dos aprovados para a Segunda Fase do CACD, a necessidade de manter, e até inten-
sificar, o ritmo de estudos deve permanecer. A mensagem, portanto, é sempre a mesma: em
qualquer situação, você está sobre uma bicicleta; não pare de pedalar, senão vai cair!

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4 dicas para estudar francês e espanhol para o CACD

Ainda que sejam, supostamente, as provas mais fáceis da Terceira Fase do Concurso
de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), os exames de língua francesa e espanhola
assustam demais a maioria dos candidatos por uma razão muito simples: como não são idio-
mas estudados a fundo na maioria das escolas brasileiras e temos menos contato, pela via
cultural (músicas, filmes etc.), do que com o inglês, há menor familiaridade dos CACDistas
com espanhol e francês do que com as demais matérias cobradas para ingresso no Itamaraty.
Encarado de longe, o monstro parece mesmo assustador. E como fazer para derrotá-
-lo? Há muitas maneiras, claro, inclusive estudar na França, Espanha ou outro país onde o
idioma oficial seja um dos dois. Como poucos têm tempo e recursos para isso, pensemos em
formas mais racionais. Eu diria que, se a criatura parece grande demais, o melhor é tentar
dividi-la em partes menores, mais fáceis de serem absorvidas. Aqui vão pelo menos 4 dicas:
Dica 1: Não superdimensione essas provas. O CACD tem três fases. Na medida em
que os candidatos vão avançando, o rigor das correções passa a ser menor, pois diminui sen-
sivelmente o número de candidatos e há a necessidade de reduzi-los à quantidade de vagas
oferecidas. Assim, em teoria, é mais fácil ser aprovado em uma das provas da Terceira Fase
do que no Teste de Pré-Seleção (exame objetivo da Primeira Fase). Mesmo na última etapa,
em que são aplicadas seis avaliações, as línguas francesa e espanhola compõem um único
exame, ou seja, cada uma tem metade do peso das cinco demais disciplinas.
Dica 2: Estude treinando o formato das provas. Os exames de francês e espanhol
valem juntos, como afirmado, 100 pontos. São quatro questões, cada um vale 25 pontos:
dois resumos e duas versões do português para o respectivo idioma. Como se sabe, para
aprender bem uma língua, é preciso estudar gramática e ampliar vocabulário, mas evite fazer
isso separadamente, fora de um contexto. Enquanto estiver praticando resumos e versões,
você vai se deparar com dúvidas gramaticais e precisará constantemente consultar dicioná-
rios para treinar as versões. É como aprender piano aprendendo a tocar música em vez de
praticar exercícios de escala musical.
Dica 3: Leia a imprensa estrangeira escrita nesses dois idiomas. A leitura não é exa-
tamente uma habilidade cobrada no CACD, já que não existem mais provas orais, porém a
compreensão de texto é fundamental, pois tanto resumos como versões são baseados em
textos a serem apresentados pelos examinadores (serão quatro textos no total). É conve-
niente, portanto, praticar a compreensão textual. Se você fizer isso lendo “Le Monde Diplo-
matique” ou “El País” ou outros veículos similares disponíveis online, além de praticar francês
e espanhol, ampliar seu vocabulário e melhorar sua gramática, você vai estudar, no mínimo,
também para as provas de Política Internacional da Primeira e Terceira Fases.
Dica 4: Procure um curso ou um professor. Nenhuma preparação adequada para o
CACD dispensa a necessidade do estudo individual e solitário, a famosa bunda na cadeira.
No caso dos idiomas, no entanto, não somente francês e espanhol, mas português e inglês,

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ter um professor para consultar é muito importante. Ao seguir as dicas que demos e focar os
estudos em exercícios de simulado das provas, você precisará de um profissional qualificado
para corrigir seus textos.
Desde o ano passado, o Gran oferece curso de preparação para a Segunda Fase do
CACD, com a possibilidade de correção de exercícios (para a Primeira Fase, há aulas gra-
vadas constantemente atualizadas desde as últimas três edições do concurso). A partir de
2022, para o CACD, lançamos também aulas de espanhol e francês, além da possibilidade
de um pacote de correção de exercícios nesses idiomas. Eis, portanto, a dica final, que
resume todas as demais: economize tempo e dinheiro e ainda assim tenha uma excelente
preparação com o Gran!

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Nunca estudei francês, nem espanhol. E agora?

Uma das novidades do Edital do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomatas


(CACD) de 2017 é a existência de uma prova escrita de Língua Francesa e de Língua Espa-
nhola na Terceira Fase do Concurso. Quem já se preparava e/ou conhecia as edições ante-
riores do CACD sabe que não se trata exatamente de algo novo, já que esses idiomas foram
cobrados nos últimos anos. Antes, porém, a prova era objetiva; agora, escrita, o que, em
princípio, faz uma enorme diferença.
Só que não! (Como dizem os jovens). Uma prova escrita tende a ser mais difícil do
que uma objetiva, mas isso pode ser mais questão de forma do que de conteúdo. Depende,
obviamente, do que será cobrado. Como ainda não temos parâmetro de comparação, já
que o formato desse exame é novo, tentemos avaliar o que diz o edital e daí tirar algumas
conclusões:
“LÍNGUA ESPANHOLA (Terceira Fase): A prova consistirá de: 1. Elaboração de resumo,
em espanhol, a partir de texto escrito em língua espanhola, em que serão avaliadas a capaci-
dade de síntese e de reelaboração em um registro culto. 2 Versão de um texto do português
para o espanhol, em que serão avaliados a fidelidade ao texto-fonte, o respeito à qualidade
e ao registro do texto-fonte e a correção morfossintática e lexical.”
Não é necessário repetir o que diz o edital sobre a prova de Língua Francesa, pois o
conteúdo é o mesmo, trocando para “francês”, onde se lê “espanhol”, evidentemente.
Em primeiro lugar, avaliemos o peso dessas disciplinas no concurso. As duas matérias
são cobradas em uma única prova, ou seja, cada uma vale 50 pontos. A Terceira Fase tem
seis exames. Para aprovação, o candidato precisa somar 360 pontos (em 600 possíveis).
Consideradas as provas da Segunda Fase (Língua Portuguesa e Língua Inglesa), que valem
200 pontos em conjunto, chegamos à conclusão de que espanhol e francês têm peso de 6%
da etapa classificatória (pois a prova objetiva da Primeira Fase é apenas classificatória). Há,
portanto, para aqueles com maior dificuldade nesses idiomas, plenas condições de se com-
pensar notas baixas com outras mais altas nas demais disciplinas.
Em segundo lugar, a prova escrita permite aos candidatos se expressarem de acordo
com seu próprio vocabulário, o que não é possível em uma prova objetiva, em que é neces-
sário saber a resposta correta, sem espaço para improviso.
Além disso, o fato de terem juntarem as duas disciplinas em uma única prova demons-
tra que os examinadores colocam essas matérias em nível de importância menor do que as
demais, especialmente os outros dois idiomas – Língua Portuguesa e Língua Inglesa –, para
os quais há uma fase específica do concurso, com notas mínimas de aprovação (60 para
português e 50 para inglês), sem possibilidade de compensação, portanto.

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Finalmente, a cobrança de resumo e versão não exigirá dos candidatos capacidade


argumentativa, apenas de compreensão do que será apresentado pelos examinadores. Se
fosse cobrada uma redação, como os casos de português e inglês, haveria também avalia-
ção sobre os argumentos do texto a ser produzido.
Não estou querendo dizer, com esses argumentos, que os CACDistas devem simples-
mente ignorar a existência das provas de Língua Espanhola e Língua Francesa. É preciso,
sim, estudar, especialmente se você nunca tiver tido contato com esses idiomas. O que digo,
sim, é que a ausência de base de estudos dessas disciplinas deva ser fator de desespero ou,
pior, de desistência do concurso e da carreira.
Se você quiser ser diplomata, será preciso um esforço de preparação para essas lín-
guas, assim como para outras que você talvez precise aprender no futuro. Esse esforço não
será maior, no entanto, do que o necessário para estudar História ou Geografia, que, apesar
da base que o ensino regular provavelmente te dará, o grau de exigência é muito maior,
assim como o nível de preparação de seus concorrentes.
Não desanime! E saiba que o Gran está preparando módulos de aulas de francês e
espanhol que certamente lhe serão muito úteis!

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Nem sempre é na primeira (ou segunda) tentativa

Neste artigo, dirijo-me a você, que, em 2022, submeteu-se ao longo e desgastante


Teste de Pré-Seleção (TPS), prova da Primeira Fase do Concurso de Admissão à Carreira
de Diplomata (CACD). Quem quer entrar para o Itamaraty não pode pensar no CACD como
uma bala de prata. A metáfora da solução simples para um problema complexo, aquele único
tipo de munição que serve para matar um lobisomem ou outra figura lendária, não deve ser
aplicada à ideia de aprovação neste difícil, porém possível concurso.
Passar nessa seleção é custoso, porque muita gente bem-preparada pensa como você
e tem o mesmo objetivo. As pessoas em geral veem a carreira diplomática com admiração,
mesmo aquelas que não se enxergam com perfil para nela ingressar. Como toda profissão,
a diplomacia impõe muitas dificuldades a seus profissionais, em geral bem acima da média,
mas o saldo final dos prós e contras é bastante positivo para os que gostam do tema.
E o que isso tem a ver com seu resultado no TPS? Se você passou, sentirá imensa
felicidade misturada com um certo pavor de ter pulado com sucesso o primeiro obstáculo e
tropeçar no seguinte. Caso não seja aprovado, possivelmente deixará o desânimo te domi-
nar por uns dias, julgando-se incapaz de alcançar o nível daqueles que tiveram desempe-
nho positivo.
Esses dois caminhos são naturais, mas não os desejáveis. Você começará a diferen-
ciar-se dos demais candidatos quando aprender a pensar de modo distinto, a distanciar-
-se do comportamento de manada. Claro que, se isso fosse fácil, nem perderia meu tempo
escrevendo a respeito, mas o caminho do sucesso normalmente exige doses de esforço
contraintuitivo.
Primeiramente, imaginemos os reprovados. Como transformar o sentimento de derrota
em algo positivo? Posso dar diversos argumentos: é com os erros que se aprende; os fra-
cassos tornam os sucessos futuros mais prazerosos; os aprovados precisam, em média, de
três tentativas para passar nesse concurso. Nenhuma justificativa, entretanto, é mais forte e
verdadeira do que esta: se você não chegou lá é porque ainda tem caminho pela frente, não
andou o suficiente, mas já percorreu parte da estrada e está na frente dos que não iniciaram
a mesma trajetória!
Por isso costumo dizer que o CACD é distinto dos demais processos seletivos do ser-
viço público e que a figura da bala de prata não pode ser aplicada a este exame. Quem viu
os TPS anteriores e prestou o concurso neste ano percebeu que o formato da prova é o
mesmo e se repete anualmente, mesmo com mudança de governo e troca do Cebraspe para
o IADES, ou seja, isso é vantajoso para os que se preparam a longo prazo.
Assim, se você foi mal em 2022, não perca tempo se lamentando, continue a estudar
como fez até aqui. Mesmo que não seja mais tão jovem, pois alguns se sentem pressionados
a passar logo porque acham que a idade está chegando e não terão muito tempo para exer-

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cer a carreira, saiba que, com a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Bengala, os
futuros diplomatas só se aposentarão compulsoriamente aos 75 anos de idade!
Finalmente, caso esteja certo ou considere que tem chance de que seu nome esteja na
lista dos aprovados da Segunda Fase do CACD, a necessidade de manter, e até intensificar,
o ritmo de estudos permanece a mesma. A mensagem, portanto, não muda: em qualquer
situação, você está sobre uma bicicleta; não pare de pedalar, senão vai cair!

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Candidatos casados com estrangeiros

O Edital de Abertura do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) de


2022 continha a seguinte regra:
“4.1.2.3 O candidato, que tiver cônjuge de nacionalidade estrangeira, será inscrito condi-
cionalmente no concurso, e sua eventual aprovação só será válida se obtiver autorização do
ministro de estado das Relações Exteriores, conforme o art. 33, § 3º, da Lei n. 11.440/2006,
a ser requerida na forma da legislação em vigor. Essa exigência aplica-se também ao can-
didato casado com cônjuge de nacionalidade estrangeira, cuja separação judicial ainda não
tenha transitado em julgado.”
Essa disposição é repetida em todos os editais do CACD e certamente estará também
na edição de 2023, por se tratar de uma determinação legal. Nesse contexto, o casamento
com estrangeiros é tema de interesse dos candidatos nessa situação. Por isso, seguem algu-
mas informações sobre esse assunto.
Casamento realizado no exterior. Os casamentos de brasileiros celebrados por auto-
ridades estrangeiras são considerados válidos pela legislação brasileira. Assim, o brasileiro
que tenha casado no exterior também será considerado casado no Brasil, a partir da data de
celebração do casamento estrangeiro, ou seja, se o CACDista que se encontrar nessa situ-
ação se declarar solteiro, incorrerá em crime de falsidade ideológica e, caso contraia novas
núpcias no Brasil, poderá responder judicialmente pelo crime de bigamia, ambos tipificados
no Código Penal Brasileiro.
Casamento e divórcio realizados no exterior. Os brasileiros que se divorciam no
exterior só passarão a ter o estado civil de divorciado no Brasil após a devida homologação
(confirmação) da sentença estrangeira de divórcio pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Quando se está no exterior, é aconselhável fazer o registro do casamento na repartição
consular brasileira da jurisdição do local do casamento e posteriormente fazer a transcrição
no Brasil. Na certidão consular, constará o regime de bens previsto pela lei local ou, na falta
deste, do regime de bens estabelecido pela legislação brasileira.
Quando se está no Brasil, provavelmente será necessário requerer judicialmente o
registro do casamento, depois de legalizar a certidão estrangeira no consulado brasileiro
responsável pela jurisdição do local de expedição, mandar traduzir, por tradutor juramentado
brasileiro, e ainda comprovar qual o regime de bens previsto pela lei do local do casamento.
Casamento no exterior sem registro de regime de bens. Após o registro do casa-
mento na repartição consular brasileira da jurisdição do local do casamento e posterior trans-
crição no Brasil, na certidão consular constará o regime de bens previsto pela lei local ou, na
falta deste, do regime de bens estabelecido pela legislação brasileira.
Caso já se encontre no Brasil, o interessado deve requerer o registro do casamento.

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Reconhecimento do casamento realizado no exterior. Como afirmado, ainda que


a legislação brasileira já reconheça o casamento celebrado no estrangeiro como válido, é
necessário registrá-lo em repartição consular para que o casamento tenha a devida publici-
dade no território nacional e possa produzir todos os efeitos jurídicos previstos no ordena-
mento jurídico brasileiro, inclusive para efeitos do CACD.
Não é preciso, no entanto, que o tema de casamento com estrangeiros seja algo que
assuste os candidatos que se encontrarem nessa situação. A disposição da Lei n. 11.440/2006
(necessidade de autorização para confirmar a aprovação do candidato) é apenas uma forma-
lidade que apenas prejudicará o interessado se não for cumprida. Ninguém será reprovado
no CACD por causa disso. Não há, pois, uma avaliação da personalidade do cônjuge estran-
geiro, apenas um trâmite de papéis e registro da situação.

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Utilidade dos cursos preparatórios para o CACD

Os cursos preparatórios para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD)


são relativamente recentes, ainda que o exame em si seja bastante antigo111. Isso porque,
em um passado não muito distante, o processo seletivo já era difícil, mas a concorrência
era muito menor. Até a década de 90, não chegava a mil o número de candidatos que se
apresentavam. A maioria dos aprovados estudavam com professores particulares no Rio de
Janeiro, lugar que foi a sede do Ministério das Relações Exteriores (MRE), e do Instituto Rio
Branco (IRBr), até a década de 70112.
Ou seja, durante muito tempo, a preparação para o CACD era bastante custosa, espe-
cialmente para aqueles que não residiam na cidade do Rio de Janeiro. Depois, aos poucos,
foram surgindo os cursinhos, ainda acanhados e com poucos alunos. A maioria estava
também na capital carioca e alguns outros, em São Paulo e Brasília. Ainda assim, quem esti-
vesse longe desses três centros era prejudicado.
Além disso, muitos candidatos questionavam, e aliás alguns ainda questionam, a eficá-
cia desses cursos, já que tradicionalmente os aprovados não os tinham cursado. Muitos, no
entanto, continuavam no esquema das aulas particulares com professores que preparavam
para o CACD havia décadas.
Essa realidade mudou radicalmente nos últimos poucos anos, assim como o próprio
Brasil e consequentemente o Itamaraty. A carreira diplomática já é bem mais acessível do
que era há 30 ou 20 anos. O concurso continua, sim, bastante difícil – talvez até mais do que
no passado, por ser mais concorrido –, mas não é preciso mais investir tantos recursos, nem
tanto tempo, para se conseguir uma preparação adequada, que coloque o candidato com
boas chances de aprovação.
Os cursinhos preparatórios podem ajudar, e muito, ainda que não dispensem a neces-
sidade do estudo individual complementar. A tecnologia barateou esses cursos, por meio das
plataformas online, que permitem o estudo na hora e local de preferência dos alunos. Não é
mais preciso, portanto, pagar um professor particular, nem uma viagem ao Rio de Janeiro.
Tampouco é necessário deixar o trabalho para acompanhar aulas presenciais em horários
indisponíveis.

É nesse contexto que o curso de preparação do Gran se insere e se diferencia. Os dife-


renciais do Gran são exclusivos, pois há:

• garantia de complementação (atualização minuciosa do conteúdo conforme publicação


do edital);
• acesso a um banco com mais de 300 mil questões de concursos, escolhidas por
especialistas;
111
Desde 1945, o Instituto Rio Branco organiza anualmente os exames de ingresso para a carreira diplomática.
112
O Itamaraty demorou para transferir-se em definitivo para Brasília, mesmo depois da inauguração da nova capital federal.

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• fórum de dúvidas;
• acelerador de vídeos em 1.5x e 2x;
• cronograma de estudos personalizado;
• audioaulas disponíveis para download;
• simulados online com correção em tempo real;
• recurso para anotações prático e moderno;
• certificação gratuita após a conclusão do curso;
• monitor de desempenho com indicadores sobre sua preparação;
• possibilidade de assistir às videoaulas em modo offline por meio do iOS e Android113.

Não fossem todos esses diferenciais exclusivos que valem para todos os cursos pre-
paratórios do Gran, a preparação para o CACD tem um derradeiro e definitivo: a maioria de
nossos professores são jovens diplomatas. Essa vantagem é única, pois esses jovens, além
de especialistas nas disciplinas que ministram, têm na cabeça todo o conteúdo adquirido
para o sucesso no exame. Tudo isso a um custo muito inferior a grande parte dos cursos
concorrentes. Não existe, portanto, melhor custo-benefício para quem sonha com a carreira
diplomática. Essa é uma dica valiosa para os candidatos em reta final de preparação!

113
Saiba mais em: https://www.grancursosonline.com.br/cursos/por-concurso/combo-para-diplomata-cacd-primeira-e-segunda-fases-intensivao.

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5 erros capitais ao estudar para o CACD

Ao longo de meus 20 anos de contato com candidatos ao Concurso de Admissão à Car-


reira de Diplomata (CACD), conheci muita gente dedicada aos estudos desistir da carreira
por se achar incapaz de ser bem-sucedido nas provas. Mas, se sabemos que qualquer um
que se dedique a uma boa preparação consegue ler seu nome na lista de aprovados, por
que nem todos obtêm sucesso? Por uma razão muito simples: o problema não está na falta
de capacidade intelectual do candidato, mas em sua estratégia. Certamente, alguns erros
capitais estão sendo cometidos. Identifiquemos cinco dos mais comuns.
Erro 1: Perda do controle emocional. Esse erro é o mais comum e, ao mesmo tempo,
difícil de evitar. Ocorre ao longo da preparação, mas, principalmente, durante as provas. Para
evitá-lo, a melhor dica é tentar olhar os temas, um a um, sem querer enxergar o todo de uma
só vez. Uma melancia só pode ser digerida em pedaços, ninguém consegue comê-la inteira
com uma mordida. Isso parece óbvio, mas não é. Ao encarar um extenso programa de estu-
dos, como o de História Mundial, o pânico pode tomar conta de bons candidatos. Assim, tente
primeiro entender a Revolução Industrial antes de pensar na Paz de Versalhes.
Erro 2: Falta de estratégia. Um dos bons candidatos que conheci que não conseguia
passar no CACD era um dos mais aplicados aos estudos. Não fazia outra coisa a não ser se
preparar para esse concurso. Inteligência não lhe faltava, era muito perspicaz e antenado,
mantinha contato e trocava experiência com diversos concorrentes. Achava, porém, que um
bom diplomata deve ser culto e ir à fundo nos assuntos. Por isso, gastava boa parte de seu
tempo se aprofundando em temas menores e estudando filosofia, ou seja, perdia o foco da
preparação porque não se planejava para estudar de modo sistemático.
Erro 3: Maltrato ao próprio corpo. Tente conhecer seus limites e respeite-os. A pressão
psicológica que os próprios CACDistas se colocam costuma ser enorme, e isso faz com que
quanto mais se estude, mais se queira estudar. Não queira estudar tudo em apenas um dia
ou uma semana. Saiba dosar seu aprendizado, pois seu organismo necessita de descanso
adequado e boa alimentação para funcionar bem e, com isso, render com mais eficiência.
Assim como o primeiro erro mencionado, este prejudica não apenas sua preparação, mas
também seu momento mais importante, que é o de demonstrar seus conhecimentos ao se
submeter às provas.
Erro 4: Falta de atenção. Esse é mais comum durante os exames, especialmente, no
caso do CACD, na Primeira Fase, que é a prova objetiva conhecida como Teste de Pré-Se-
leção (TPS). Veja o que diz, por exemplo, a professora Vânia Araújo, que prepara nossos
candidatos do Gran para as questões de Língua Portuguesa do TPS:
“Recomendo que leiam, com atenção redobrada, as assertivas da banca Cebraspe
para a sua prova: como já constatado, o Cebraspe tem por hábito fazer duas ou três asser-
tivas a cada item e é necessário ir eliminando uma a uma, pois é, muitas vezes, aí que se
encontra a ‘pequena armadilha’. Mas, se o item trouxer a asserção ‘o autor afirma que’,

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verifique com cautela se essa afirmação se pode extrair mesmo da fala do autor, já que na
maioria das vezes trata-se apenas de uma alusão feita por ele ao comentário de outrem.
Muita atenção, portanto! As questões de Língua Portuguesa do Cebraspe são muito simples
e claras, exigindo do candidato apenas leitura atenta tanto do texto quanto dos comandos e
seus subsequentes itens.”
Erro 5: Comparação com outros candidatos. O maior desafio do CACD diz respeito a
você com você mesmo. Diferentemente de outros concursos, seu problema não está relacio-
nado a vagas e, portanto, a ter de buscar desempenho melhor do que seus concorrentes. A
dificuldade que enfrentará está em atingir o nível que se espera de cada candidato, ou seja,
tirar a nota mínima para aprovação exigida em cada prova e a média geral, que é de 60%.
Muitas vezes, o número de aprovados é menor do que o número de vagas oferecidas, e, em
outras, maior. No meu concurso, por exemplo, foram 25 aprovados para apenas 24 vagas.
Todos os aprovados foram nomeados terceiros-secretários. Assim, concentre-se em sua pre-
paração individual e não se abale com estudos alheios.
Note que nenhum desses erros está relacionado com a falta de estudos, que eviden-
temente tiraria da disputa qualquer candidato. Essas dicas, portanto, aplicam-se a candida-
tos que se dedicam a uma preparação intensa, mas que, para ser adequada, precisa evitar
falhas básicas. Não caia nessas armadilhas e conte com nossa equipe do Gran para te
ajudar sempre!

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Nacionalidade brasileira: possibilidade de perda

O tema da nacionalidade costuma interessar muitos CACDistas (candidatos ao Con-


curso de Admissão à Carreira de Diplomata – CACD), não apenas por ser assunto cobrado
nas provas de Noções de Direito e Direito Internacional Público (Primeira e Terceira Fases
do Concurso), mas porque muitos dos postulantes a uma vaga no Itamaraty possuem ou
têm direito a requerer outra nacionalidade além da brasileira e temem que eventual perda os
impeça de prestar o CACD.
Como se sabe, apenas os brasileiros natos podem tornar-se diplomatas, de acordo com
o disposto na Constituição Federal de 1988:

Art. 12, § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:


[…]
V – Da carreira diplomática;
[…]

A “opção” pela nacionalidade brasileira não implica a perda de eventual nacionalidade


estrangeira, nem o contrário. O processo, chamado “opção de nacionalidade”, visa somente
confirmar o desejo de manter a nacionalidade brasileira e não representa renúncia a quais-
quer outras nacionalidades. A necessidade de opção pela nacionalidade brasileira aplica-se
aos filhos de brasileiros nascidos no exterior, cuja certidão de nascimento estrangeira tenha
sido transcrita diretamente em cartório competente no Brasil.
Nos termos do art. 12, I, “c”, da Constituição Federal, esses cidadãos têm a confirma-
ção da nacionalidade brasileira condicionada, após atingida a maioridade, às exigências de
residência no Brasil e opção pela nacionalidade brasileira, a qual deverá ocorrer por meio de
ação a ser ajuizada perante a Justiça Federal. De acordo com o artigo 215, § 1º, do Decreto
n. 9.199/2017, após atingida a maioridade, enquanto não efetuada a referida opção, a nacio-
nalidade brasileira ficará em condição suspensiva.
A Constituição Federal admite a possibilidade de cidadão brasileiro ter dupla ou múlti-
plas nacionalidades em apenas duas hipóteses: quando há o reconhecimento de nacionali-
dade originária pela lei estrangeira (por nascimento em território estrangeiro ou por ascen-
dência estrangeira) ou quando há imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao
brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu territó-
rio ou para o exercício de direitos civis.
Nos termos do artigo 12, § 4º, II, da Constituição Federal de 1988, combinado com os
artigos 249 e 250 do Decreto n. 9.199/2017, o brasileiro que voluntariamente adotar outra
nacionalidade, ou seja, em desacordo com as exceções previstas no texto constitucional,
poderá ser objeto de procedimento administrativo de perda da nacionalidade brasileira. No
curso do processo, instaurado no âmbito do Ministério da Justiça e Segurança Pública, são

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garantidos aos brasileiros nessa situação os princípios do contraditório e da ampla defesa.


Não restando comprovado ter ocorrido umas das hipóteses de exceção permitidas pela Cons-
tituição Federal, a perda da nacionalidade brasileira poderá ser decretada. Não se trata de
processo automático, mas que pode vir a ser instaurado pelas autoridades do Ministério da
Justiça e Segurança Pública.
Já o brasileiro que possuir outra nacionalidade e desejar perder a nacionalidade bra-
sileira poderá fazê-lo por meio de requerimento dirigido ao Ministro da Justiça e Segurança
Pública. No requerimento, o interessado deverá manifestar expressamente sua vontade de
perder a nacionalidade brasileira, apresentando a justificativa do seu ato. Para os brasileiros
residentes no exterior, o pedido de perda da nacionalidade brasileira deverá ser, preferencial-
mente, protocolado junto a uma repartição consular brasileira.
Não é possível, porém, solicitar a perda da nacionalidade brasileira sem a comprova-
ção de que o interessado possui outra nacionalidade, em caráter definitivo. Tal restrição tem
como objetivo evitar a situação de apatridia (ausência de nacionalidade), conforme determina
a Convenção das Nações Unidas, de 1961, para a Redução dos Casos de Apatridia, em vigor
no Brasil. A Convenção estabelece que "se a legislação de um Estado Contratante permitir a
renúncia à nacionalidade, tal renúncia só será válida se o interessado tiver ou adquirir outra
nacionalidade" (artigo 7.1.a), bem como que "os Estados Contratantes não privarão uma
pessoa de sua nacionalidade se essa privação vier a convertê-la em apátrida" (artigo 8.1).
No caso de menor de idade, não é possível solicitar a perda da nacionalidade brasileira.
Em nosso ordenamento jurídico, por ser a nacionalidade um direito personalíssimo, não é
possível a um menor de idade solicitar a sua perda, ainda que por intermédio de seus pais
ou representantes legais. Dessa forma, somente o próprio interessado, depois de atingida a
maioridade (18 anos), poderá solicitar a perda de sua nacionalidade brasileira.
A perda da nacionalidade brasileira surtirá efeitos a partir da publicação da portaria
declaratória do ministro da Justiça e Segurança Pública no Diário Oficial da União. Após a
publicação do ato, o interessado será considerado, para todos os efeitos, estrangeiro perante
o Estado brasileiro.
Ainda assim, no entanto, é possível reaver a nacionalidade brasileira. De acordo com o
artigo 76 da Lei n. 13.445/2017, “o brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do § 4º do
art. 12 da Constituição Federal, houver perdido a nacionalidade, uma vez cessada a causa,
poderá readquiri-la ou ter o ato que declarou a perda revogado, na forma definida pelo órgão
competente do Poder Executivo”, ou seja, a legislação nacional prevê duas formas distintas
de se reaver a cidadania brasileira: pelo processo de reaquisição da nacionalidade ou pelo
processo de revogação do ato que declarou a perda da nacionalidade. As duas formas apli-
cam-se a casos distintos.

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O processo de reaquisição de nacionalidade aplica-se ao indivíduo que houver perdido


a nacionalidade brasileira em função da aquisição voluntária de outra nacionalidade, ou seja,
por processo de naturalização não imposto pela norma estrangeira como condição para per-
manência em seu território ou para o exercício de direitos civis. Tem como condição a renún-
cia à outra nacionalidade, que deve ser comprovada por meio de documentos emitidos pelo
Estado estrangeiro. Para evitar o risco de apatridia (ausência de nacionalidade), ao solici-
tar a reaquisição da nacionalidade brasileira, o indivíduo poderá demonstrar que protocolou
pedido de renúncia da nacionalidade adquirida junto ao governo estrangeiro.
A revogação do ato que declarou a perda da nacionalidade brasileira tem caráter excep-
cional e poderá ser solicitada pelo interessado somente nos casos em que a perda da nacio-
nalidade brasileira tenha acontecido independentemente das exceções previstas no artigo
12, § 4º, II, “a” e “b”, da Constituição Federal. O interessado deve comprovar que a aquisição
de outra nacionalidade se deu por (a) reconhecimento de nacionalidade originária pela lei
estrangeira ou (b) imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro resi-
dente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o
exercício de direitos civis.
Tanto o pedido de reaquisição da nacionalidade brasileira como o de revogação do
ato que declarou a perda da nacionalidade brasileira poderão ser protocolados junto a uma
repartição consular brasileira no exterior ou diretamente junto ao Departamento de Migra-
ções do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

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Questione sua vocação antes de tentar o CACD

É meio estranho tratar deste tema durante o Concurso de Admissão à Carreira de Diplo-
mata (CACD). Neste momento, você pode nem saber ainda se estará na Segunda Fase,
porém creio que o que vou dizer servirá para reflexões mesmo após sua eventual aprovação
no concurso. São informações que servem para qualquer pessoa que se interesse pela diplo-
macia, seja já um CACDista ou não.
Costumo dizer que a carreira diplomática é um sacerdócio. A analogia não tem nada
que ver com celibato, mas com o nível de dedicação exigido. A necessidade de deslocamen-
tos e adaptações constantes dificulta a convivência familiar, afasta amigos e dificulta plane-
jamentos e compromissos de longo prazo.
Assim, muitos deixam de lado sonhos simples, como ter uma casa própria, desanima-
dos com a ideia de ter de abandoná-la na remoção seguinte. Outros reclamam que a esposa
ou o marido muitas vezes tem dificuldade de acompanhar ao exterior por conta de sua pró-
pria carreira e necessidade de permanência no Brasil.
Os obstáculos que um diplomata necessita contornar para seguir na carreira são nume-
rosos e constantes. Isso faz com que muitos questionem sua vocação. Não porque achem
que não têm perfil para estar na carreira, mas porque sua profissão exige sacrifícios que não
sabe se compensam a satisfação recebida pelo Itamaraty.
Além de toda dificuldade de ordem pessoal que enfrenta todo diplomata, o próprio
ingresso na carreira é dos mais difíceis do serviço público, algo que você, que lê estas linhas,
deve saber melhor do que eu, que vivi esse drama há mais de 20 anos.
Portanto, o momento de questionar sua vocação é agora, antes de investir em sua pre-
paração para o CACD tudo o que está disposto a dar. Não que depois de aprovado você dei-
xará de fazê-lo. Como eu disse, esse questionamento vocacional vai acompanhá-lo por toda
a vida. Até hoje, em dias ou fases ruins, pergunto o que me levou a investir nesse sonho de
representar o Brasil junto a outros países.
Posso afirmar, do meu ponto de vista, que o saldo continua bastante positivo. Tanto é
assim que não apenas continuo na carreira, mas também estimulo jovens a dedicarem-se
aos estudos para fazer o mesmo. Tenho o dever, porém, de falar do que é bom e do que nem
é tanto nessa vida de sacerdote (ou de sacerdotisa).
Questione-se, avalie com teus próprios valores e interesses se essa vida te interessa.
E se a resposta for sim, como até hoje se mantém para mim, lamento, mas o CACD, neste
momento, e o Itamaraty, depois da aprovação, exigirão de você um esforço que poucos con-
cursos e profissões exigem de seus candidatos e profissionais. É o preço que se paga pelo
desejo de acordar de manhã (muitas vezes sem saber onde está, como já me aconteceu em
períodos de viagens constantes) e começar um dia de trabalho imprevisível, completamente
diferente, mas tão fascinante quanto o vivido ontem. Boa sorte!

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Nacionalidade brasileira: PEC sobre a perda

Conforme vimos em artigo publicado no blog Vou Ser Diplomata114, o tema da possibi-
lidade de perda da nacionalidade brasileira costuma despertar debates entre os candidatos
ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), porque a carreira é privativa de
brasileiros natos. Se algum brasileiro perder essa condição, portanto, não poderá mais se
apresentar como candidato ao CACD.
Recentemente, o tema ganhou manchetes na imprensa por conta da repercussão do
caso da carioca Cláudia Cristina Sobral Hoerig, citada como a primeira pessoa a perder a
cidadania brasileira e ser extraditada para o exterior após a promulgação da Constituição
Federal de 1988. Tal extradição gerou debate sobre as circunstâncias em que brasileiros com
outras nacionalidades podem enfrentar a mesma situação.
A senhora Cláudia Hoerig teve sua extradição para os Estados Unidos autorizada pelo
Supremo Tribunal Federal após ter tido a nacionalidade brasileira declarada perdida pelo
Ministério da Justiça, em razão de processo anterior de naturalização norte-americana. Como
consequência, comunidades de brasileiros expatriados que igualmente adquiriram outras
nacionalidades por processo de naturalização voluntária ficaram apreensivas.
Nesse contexto, o Senador Antônio Anastasia apresentou, na Comissão de Constitui-
ção e Justiça do Senado Federal, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n. 6/2018,
com a finalidade de alterar o artigo 12, § 4º, da Constituição Federal de 1988, de forma a per-
mitir que cidadãos brasileiros tenham outra(s) nacionalidade(s), em caráter originário ou por
processo de naturalização, e só possam perder a nacionalidade brasileira por cancelamento
de naturalização mediante sentença judicial, ou por pedido expresso do interessado, ressal-
vadas as situações que possam vir a acarretar apatridia.
Para entrar em vigor, o texto deverá tramitar pelo Senado e pela Câmara dos Deputa-
dos e ser aprovado, em dois turnos de votação, por maioria qualificada dos votos dos par-
lamentares. Entretanto, por força do artigo 60 §, 1º, da Constituição Federal, a proposta só
poderá ser tramitada após cessada a intervenção federal no Rio de Janeiro.
A alteração constitucional em apreço mostra-se oportuna para a adequação do orde-
namento jurídico nacional à nova realidade migratória do país115, que, em especial, a partir
da década de 80, passou a experimentar intenso fluxo emigratório. Neste cenário, tem sido
cada vez mais comum que brasileiros residentes no exterior busquem a naturalização nos
países onde se estabeleceram, visando contar com maior segurança jurídica para o exer-
cício de direitos, sem, no entanto, romperem seus vínculos familiares, afetivos e culturais
com o Brasil.

114
Cf. http://blog.vouserdiplomata.com/nacionalidade-brasileira-possibilidade-de-perda/.
115
Sugiro que os CACDistas fiquem atentos a esse tema, que foi objeto de algumas aulas de Direito Internacional que gravei para o curso de preparação ao
CACD do Gran.

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Por outro lado, a nova Lei de Migração (Lei n. 13.445/2017), em sintonia com os com-
promissos internacionais de luta contra a impunidade assumidos pelo Estado brasileiro, for-
malmente autorizou, em seu artigo 100, as autoridades brasileiras a realizarem a persecução
criminal de brasileiros, em razão de crimes cometidos no exterior, e que, em razão da veda-
ção constitucional de extradição de nacionais brasileiros, poderiam não responder criminal-
mente por atos realizados fora do território brasileiro.
Eis aí um bom tema que eventualmente poderá ser cobrado no Teste de Pré-Seleção
(TPS) – prova objetiva da Primeira Fase do CACD – ou na prova escrita de Direito da Terceira
Fase do Concurso para a carreira diplomática.

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