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CÓDIGO:
1432023180
TIPO DE MATERIAL:
E-book
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:
7/2023
Sumário
Temas:................................................................................................................................5
Tema: O CACD...................................................................................................................122
GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS
Volume 2
Temas:
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Volume 2
Artigos:
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O ato inicial do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro foi a publicação da Medida Pro-
visória (MP) n. 870, já no primeiro dia de seu mandato, que estabeleceu mudanças na estru-
tura de alguns órgãos federais da administração direta. O Ministério das Relações Exteriores
(MRE), assim como outros ministérios e órgãos ligados à Presidência da República, sofreram
alterações significativas1.
Não há muitas novidades no texto acima, a não ser a confirmação de uma competência
adquirida no governo do presidente Michel Temer e mantida no atual. Trata-se da vinculação
da Apex-Brasil às atividades de promoção comercial do Itamaraty. Chegou-se a cogitar hipó-
tese, que foi até anunciada publicamente, de que o órgão passaria à administração do novo
Ministério da Economia, mais especificamente à Secretaria Especial de Comércio Exterior e
Assuntos Internacionais. Por ora, no entanto, permanece a situação já existente.
1
O texto da MP n. 870, de 01/01/2019, está disponível no link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Mpv/mpv870.htm.
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Aqui, sim, uma novidade: a Apex-Brasil é considerada, por muitos, um órgão não gover-
namental (eu não faço parte desse grupo). Com isso, a possibilidade de cessão de diploma-
tas para trabalhar na Agência era questionada. Com a nova MP, abre-se nova e interessante
possiblidade de atuação aos diplomatas, especialmente aos que se interessam pela área de
promoção comercial (deste grupo, sim, me considero integrante).
Finalmente, a maior das novidades da MP n. 870 para o Itamaraty está prevista no Art. 71:
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Art. 71. A Lei n. 11.440, de 29 de dezembro de 2006, passa a vigorar com as se-
guintes alterações:
Muito se discutiu na imprensa sobre o significado desse texto. Assim que publicado,
alguns jornalistas o interpretaram como uma abertura à nomeação para cargos em comissão
e funções de chefia no MRE de pessoas que não fazem parte das carreiras do Serviço Exte-
rior brasileiro. O próprio ministro das Relações Exteriores, embaixador Ernesto Araújo, veio a
público desmentir essa possibilidade: "As hipóteses de nomeação para cargos em comissão
e funções de chefia no MRE são rigorosamente idênticas àquelas anteriormente vigentes."
O que se fez foi, com base nos princípios de eficiência administrativa e meritocracia,
otimizar a designação de servidores do Serviço Exterior para cargos em comissão e funções
de chefia.
A alteração do art. 1º da Lei n. 11.440/2006, pela Medida Provisória n. 870/2019, não
altera nem flexibiliza a nomeação, para cargos no MRE, de servidores que não integrem as
carreiras do Serviço Exterior.”
O que se fez, portanto, não foi flexibilizar nomeações, mas a aplicação do princípio da
hierarquia no MRE. Assim, quando escolhidos para ocupar cargos de chefia no Itamaraty, os
servidores do Serviço Exterior não necessariamente serão escolhidos entre os mais antigos
para chefiar os mais modernos, como sempre ocorreu.
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O Gabinete do Ministro de Estado, órgão diretor de todo o MRE conhecido pela sigla G,
é chefiado, obviamente, pelo chanceler. Além de “assistir o ministro de Estado em sua repre-
sentação política e social, ocupar-se das relações públicas e do preparo e do despacho de
seu expediente pessoal”, cabe ao G, entre outras atribuições, “promover a articulação entre
o ministério e os órgãos da Presidência da República”4. Estão subordinadas diretamente ao
Gabinete do MRE as seguintes unidades: Assessoria Especial de Gestão Estratégica; Asses-
soria de Relações Federativas e com o Congresso Nacional; Consultoria Jurídica; e Secre-
taria de Controle Interno.
A Secretaria-Geral das Relações Exteriores (SG) é órgão central de direção do Ita-
maraty, à qual compete, principalmente, assessorar o ministro de Estado na direção e na
execução da política externa do Brasil, na supervisão dos serviços diplomático e consular
e na gestão dos demais negócios afetos ao ministério; orientar, coordenar e supervisionar
os órgãos do ministério no exterior; e dirigir, orientar, coordenar e supervisionar a atuação
das unidades que compõem a Secretaria de Estado das Relações Exteriores, exceto a dos
órgãos de assistência direta e imediata ao ministro de Estado mencionados acima5. Também
a SG tem órgãos diretamente subordinados a sua estrutura, como a Corregedoria, a Inspe-
toria, a Ouvidoria e o Cerimonial.
De acordo com a nova estrutura organizacional, as antigas subsecretarias, unidades de
terceiro escalão do Itamaraty, passam a chamar-se Secretarias. São sete, todas no mesmo
nível hierárquico, mas subordinadas à SG: 1) Secretaria de Negociações Bilaterais e Regio-
nais nas Américas; 2) Secretaria de Negociações Bilaterais no Oriente Médio, Europa e
África; 3) Secretaria de Negociações Bilaterais na Ásia, Oceania e Rússia; 4) Secretaria de
2
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.
3
A nova estrutura ainda se encontra em fase de implantação.
4
CF, Art.3º, I e II.
5
CF, Art. 8º.
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Eventualmente, outras unidades lhe são subordinadas, como coordenações-gerais, ou vinculadas, como a Fundação Alexandres de Gusmão.
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tos externos das políticas públicas relativas à utilização dos recursos energéticos (renováveis
e não renováveis); e trata das negociações internacionais na área geológica, mineral e de
infraestrutura, inclusive acordos para importação e exportação de minérios. Nessa estrutura,
estão apenas duas divisões: Divisão de Promoção de Energia e Divisão de Recursos Mine-
rais e Infraestrutura.
Ao Departamento de Promoção do Agronegócio, novidade da nova gestão do MRE,
compete tratar das negociações relativas à promoção do Agronegócio e dos acordos corres-
pondentes; trabalho que realiza com o apoio igualmente de duas divisões: a Divisão de Pro-
moção do Agronegócio I e a Divisão de Promoção do Agronegócio II.
O último dos departamentos da Secretaria é o Departamento de Promoção de Serviços
e de Indústria, que assumiu boa parte das antigas atribuições do Departamento de Promo-
ção Comercial. Trata “das negociações relativas à promoção dos serviços e indústria e dos
acordos correspondentes”, com o auxílio da Divisão de Promoção de Serviços e da Divisão
de Promoção da Indústria.
Finalmente, “à Agência Brasileira de Cooperação compete coordenar, negociar, apro-
var, acompanhar e avaliar, em âmbito nacional, a cooperação humanitária e técnica para o
desenvolvimento em todas as áreas do conhecimento, recebida de outros países e organis-
mos internacionais e aquela entre o Brasil e países em desenvolvimento”10.
Também conhecida como ABC, a Agência tem certa autonomia administrativa e conta
com diversas coordenações temáticas:
10
Art. 30.
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O nome escolhido para essa Secretaria foi bastante apropriado. Recordo-me, quando
cheguei ao Itamaraty, logo após a aprovação no Concurso de Admissão à Carreira de Diplo-
mata (CACD), fui tomar posse, juntamente com meus colegas de turma, na sala do então
subsecretário do serviço exterior, título da unidade que se ocupava dos temas administrati-
vos do ministério. Sem saber disso, obviamente, um colega perguntou-me em tom de brinca-
deira: “ué, mas eu pensei que o MRE inteiro era responsável pelo Serviço Exterior!”
Três departamentos respondem pelos temas da Secretaria: o Departamento de Admi-
nistração e Logística, o Departamento de Serviço Exterior e o Departamento de Tecnologia
e Gestão da Informação. O primeiro acompanha a contratação de pessoal local no exterior;
planeja e supervisiona as atividades de administração de material e de patrimônio dos órgãos
do ministério, no país e no exterior; coordena o processo de licitações; e supervisiona os
serviços gerais de apoio administrativo. Quatro divisões o apoiam: a Divisão de Licitações, a
Divisão de Acompanhamento e Coordenação Administrativa dos Postos no Exterior, a Divi-
são de Recursos Logísticos I e a Divisão de Recursos Logísticos II.
“Ao Departamento do Serviço Exterior compete planejar, coordenar e supervisionar as
atividades de formulação e execução da política de pessoal, os processos de remoção e
lotação, inclusive em seus aspectos de pagamentos e de assistência médica e social, obser-
vando a orientação do órgão central do SIPEC, ao qual se vincula tecnicamente como órgão
setorial” (artigo 45). Sua estrutura comporta a Divisão do Pessoal, a Divisão de Pagamentos
11
Cf. Texto do Decreto em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.
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engloba toda a administração pública federal, num esforço de coordenação das atividades
de logística pública com vistas a maior eficiência. Trata-se de um entre os vários sistemas de
atividades auxiliares da administração, responsáveis pela execução de atividades de cunho
transversal.
Finalmente, a Lei n. 10.180, de 06 de fevereiro de 200117, organizou e disciplinou os
Sistemas de Planejamento e de Orçamento Federal, de Administração Financeira Federal,
de Contabilidade Federal e de Controle Interno do Poder Executivo Federal. Esses sistemas
compreendem as atividades de elaboração, acompanhamento e avaliação de planos, progra-
mas e orçamentos, e de realização de estudos e pesquisas socioeconômicas.
Suas finalidades são: I – formular o planejamento estratégico nacional; II – formular
planos nacionais, setoriais e regionais de desenvolvimento econômico e social; III – formu-
lar o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anuais; IV – gerenciar o
processo de planejamento e orçamento federal; V – promover a articulação com os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios, visando a compatibilização de normas e tarefas afins aos
diversos Sistemas, nos planos federal, estadual, distrital e municipal.
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10180.htm.
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Nem todo diplomata que deixa o Instituto Rio Branco (IRBr) é aproveitado de cara em
áreas fins do Ministério das Relações Exteriores (MRE), ou seja, em atividades mais relacio-
nadas com as matérias cobradas no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD),
como temas políticos, econômicos, de promoção comercial ou consulares, conforme vimos
em diversos artigos. Por escolha ou necessidade do Itamaraty, muitos diplomatas têm por
responsabilidade funções administrativas, para lidar com recursos humanos ou financeiros.
A Secretaria de Gestão Administrativa é a unidade, dentro da nova estrutura regimen-
tal do MRE (Decreto n. 9.683, de 09/01/2019), encarregada de lidar com os temas dessa
natureza. À Secretaria estão subordinados os seguintes Departamentos: Departamento de
Tecnologia e Gestão da Informação; Departamento de Administração e Logística; e Departa-
mento de Serviço Exterior18. Todas essas seções são chefiadas por diplomatas graduados,
ministros de primeira e segunda classe, que, por sua vez, são assessorados por outros mais
jovens (modernos, na linguagem interna), além de oficiais de chancelaria, assistentes de
chancelaria e demais funcionários e terceirizados.
O Departamento de Administração e Logística é a grande unidade administrativa do
MRE. Essa unidade cuida de temas como patrimônio, processos licitatórios, reformas (proje-
tos que envolvem engenharia e arquitetura), pagamentos no exterior e serviços gerais, como
transporte, telefonia, limpeza e segurança.
Ao Departamento de Tecnologia e Gestão da Informação cabe prover e administrar os
meios e sistemas corporativos para tratamento da informação do Ministério das Relações
Exteriores e gerir os recursos aplicados aos sistemas corporativos de tratamento da informa-
ção no ministério nas áreas de tecnologia da informação, comunicações e gestão documen-
tal. É, ainda, o órgão da Secretaria de Estado que exerce o papel de interface com o Escritó-
rio de Representação no Rio de Janeiro para os assuntos de natureza temática relativos ao
Museu Histórico e Diplomático, à Mapoteca, ao Arquivo Histórico e à Biblioteca.
Já o Departamento de Serviço Exterior planeja, coordena e supervisiona as atividades
de formulação e execução da política de pessoal, os processos de remoção e lotação, inclu-
sive em seus aspectos de pagamentos e de assistência médica e social. Muito simplificada-
mente, comparando esse Departamento com os supracitados, enquanto o primeiro cuida dos
pagamentos e o segundo se ocupa dos papéis (físicos e eletrônicos), o de serviço exterior é
responsável pela administração de pessoas, com exceção da capacitação dos diplomatas,
que está a cargo do IRBr.
O objetivo deste artigo não foi assustar candidatos do Concurso de Admissão à Carreira
de Diplomata (CACD), que a esta altura podem estar preocupados em se dedicar à prepara-
ção a um exame de difícil aprovação para eventualmente ser lotado no futuro em uma área
18
Curiosamente, na estrutura anterior (até janeiro de 2019), essa unidade se chamava Departamento do Serviço Exterior. A preposição “de”, somada a um
artigo definido, causava piadas, como se fosse o único departamento do Ministério.
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administrativa, para cuidar de temas que, na aparência, são menores que outros que trata-
mos em outros artigos.
Meu objetivo ao dividir com você essas informações é reforçar um argumento que utilizo
sempre, que é o da diversidade de temas com os quais pode trabalhar um diplomata. Utilizo,
com frequência, a seguinte frase: o que mais me atraiu, e me atrai até hoje, no Itamaraty, é a
possibilidade de ter diversos empregos em uma única carreira.
Se você, após aprovação do CACD e conclusão do curso de formação do IRBr, vier a
ser aproveitado em uma área administrativa do MRE, saiba que: 1) o patinho não é tão feio
assim; 2) nada será permanente em sua carreira (em pouco tempo, terá a oportunidade de
trabalhar em outra área); e 3) você poderá gostar desse trabalho e até se especializar, como
já ocorreu com muitos e muitos diplomatas.
Comigo mesmo, ocorreu algo parecido: o tema que mais gostei de tratar em minha
carreira foi o da promoção comercial, área pouco cobiçada dentro do Itamaraty. Portanto, é
importante e positivo ter opções profissionais, e isso não falta na carreira diplomática.
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Sexta das Secretarias que analisamos da nova estrutura regimental do Ministério das
Relações Exteriores (MRE), aprovada pelo Decreto n. 9.683, de 09/01/201922, a Secretaria
de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania assessora “o Secretário-Geral das Relações
Exteriores nas questões de política externa relativas a cooperação jurídica internacional,
política imigratória, defesa, desarmamento, ilícitos transnacionais, meio ambiente, direitos
humanos, atividade consular e demais temas no âmbito dos Organismos Internacionais”23.
Trata-se, assim como a Secretaria de Política Externa Comercial e Econômica, de
uma unidade de terceiro escalão (nível DAS 6) de estrutura robusta, composta por seis
departamentos:
1. Departamento de Segurança e Justiça;
2. Departamento de Defesa;
3. Departamento de Nações Unidas;
4. Departamento de Meio Ambiente;
5. Departamento de Direitos Humanos e Cidadania; e
6. Departamento Consular.
22
Cf. Texto do Decreto disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm..
23
CF. Art. 31.
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A depender do cargo que ocupe na SERE, o diplomata poderá viajar ao exterior com
bastante frequência. Eu mesmo já desempenhei atividades que me faziam passar mais tempo
no exterior do que no Brasil. Isso é bastante cansativo, pois viagem a trabalho cansa muito
mais do que a passeio, mas há de se reconhecer que é muito gratificante profissionalmente.
Mas por que afirmei, então, que a vocação de alguém que só deseja viver em Brasília e viajar
eventualmente ao exterior, ainda que seja uma situação possível, deve ser questionada, ou seja,
talvez seja o caso de se avaliar se a carreira diplomática seria uma opção de vida interessante
para essa pessoa? Porque considero que os prejuízos dessa escolha superam os benefícios.
Primeiramente, porque a ascensão profissional (promoção) dentro da carreira diplo-
mática depende do cumprimento de condições, entre as quais está o tempo de serviço no
exterior (permanente ou temporário acima de um ano ininterrupto). Assim, são necessários
os seguintes tempos, de acordo com a promoção almejada:
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O cerimonial
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CF. Texto do Decreto disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm..
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A hierarquia no Itamaraty
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) é conhecido como uma instituição civil com
características militares. Brinca-se que os diplomatas costumam se comportar como “milita-
res de terno” (ou roupa social similar para as mulheres). Há aí, claro, boa dose de exagero,
mas as piadas têm um pouco de verdade. Isso porque se trata de um órgão de longa tradi-
ção, pouca (ou lenta) renovação e estrutura profundamente hierarquizada.
Recentemente, o presidente eleito do Brasil anunciou o nome de um diplomata de car-
reira como futuro ministro das Relações Exteriores (chanceler). É relativamente comum isso
ocorrer, pois, ainda que a escolha do presidente seja livre, os diplomatas têm perfil técnico,
e, como costumam entender de política externa mais do que profissionais de outras carrei-
ras, essa opção é mais fácil, dada a natureza complexa de muitos dos temas internacionais.
Não é comum, e isso foi objeto de questionamento de alguns, que o escolhido seja
jovem e com pouco tempo de promovido a ministro de primeira classe (embaixador). O esco-
lhido do presidente eleito tem exatamente esse perfil, o que não o desqualifica, em absoluto,
para o exercício do cargo. Tampouco é ilegítima a escolha, já que qualquer cidadão brasi-
leiro, mesmo de fora da carreira, poderia exercer o cargo de chanceler.
A hierarquia, portanto, não pode ser argumento para se criticar a legitimidade à desig-
nação de um ministro das Relações Exteriores. A eventual situação foi comparada à de um
general de três estrelas ser nomeado ministro da Defesa. Isso também é possível e legítimo.
Ainda que o escolhido possa ter certa dificuldade entre os pares, seu tempo de carreira mais
curto que outros preteridos não o tornaria menos competente para cumprir a missão que lhe
foi designada.
Do número 2 do MRE para baixo, no entanto, a hierarquia tem maior valor. Tanto o
secretário-geral das Relações Exteriores (que exerce as funções de vice- ministro) como o
subsecretário, que vêm logo abaixo, são sempre escolhidos entre os ministros de primeira
classe mais experientes e antigos que os recém-promovidos.
A categoria seguinte, de Diretores de Departamento, também costuma ser ocupada por
embaixadores, ainda que mais juniores, ou por ministros de segunda classe mais antigos e
candidatos a promoção à última classe da carreira diplomática. Já as Chefias de Divisão, que
estão subordinadas aos Departamentos, costumam ser ocupadas por ministros de segunda
classe recém-promovidos ou por conselheiros mais antigos e assim por diante, ou seja, um
diplomata, para ser chefe de outro, precisa necessariamente ser mais antigo (mais tempo de
classe) e, preferencialmente, ocupar classe superior. Assim, conselheiros são chefes de secre-
tários, ministros chefiam conselheiros e embaixadores ocupam o topo da pirâmide hierárquica.
O mais alto cargo a que pode aspirar um diplomata, em geral quase no fim de sua car-
reira, é o de Secretário-Geral das Relações Exteriores (SG). O cargo de chanceler também
pode ser ocupado por diplomata, mas não é reservado a membros da carreira e tem natureza
mais política. Logo, podemos afirmar que a hierarquia funcional, valor tão preservado no Ita-
maraty, aplica-se, no fundo, do SG para baixo.
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A possibilidade de que não servidores do Itamaraty ocupem cargos no MRE está pre-
vista no artigo 72:
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O Ministério das Relações Exteriores (MRE) foi uma das primeiras instituições do
governo federal a lançar política pública com o objetivo de diminuir desigualdades raciais,
já que o Itamaraty historicamente não conta em seus quadros com número expressivo de
funcionários afrodescendentes. Nesse contexto, em 2002, o Instituto Rio Branco (IRBr) criou
o Programa de Ação Afirmativa (PAA) - Bolsa-Prêmio de Vocação para a Diplomacia, com a
meta de melhorar as condições de ingresso de brasileiros negros na carreira de diplomata e,
com isso, ampliar a diversidade étnica do Serviço Exterior Brasileiro. Ao longo dos últimos 14
anos, foram investidos mais de R$ 15,5 milhões na execução do PAA, por meio do qual foram
concedidas 641 bolsas a 375 candidatos negros35.
Atualmente, diversas instituições atuam como parceiras do MRE/IRBr na concessão
de bolsas-prêmio destinadas ao custeio de estudos preparatórios ao Concurso de Admissão
à Carreira de Diplomata (CACD). São elas: Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
– CNPq); Ministério da Cultura (por meio da Fundação Palmares) e Ministério dos Direitos
Humanos (por meio da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
– SEPPIR).
Segundo a SEPPIR, uma ação afirmativa busca oferecer igualdade de oportunidades a
todos e pode ter três objetivos: 1) reverter a representação negativa dos negros; 2) promover
igualdade de oportunidades; e 3) combater o preconceito e o racismo. Tendo em conta o pio-
neirismo do PAA do IRBr36 e o sucesso de sua implantação há mais de uma década, pode-
mos afirmar que o Programa de Ação Afirmativa do Itamaraty tem cumprido satisfatoriamente
todas essas metas.
A última edição do PAA (2016/2017) teve edital de lançamento publicado em 31 de
agosto passado37 e resultado divulgado em 05/10/2022. Os requisitos para inscrição no Pro-
grama foram os mesmos exigidos dos candidatos ao CACD, além de: a) ser negro (condição
expressa por autodeclaração e confirmada por comissão de heteroidentificação); b) ter sido
aprovado na Primeira Fase do CACD; c) possuir Currículo na Plataforma Lattes; e d) não ter
recebido quatro Bolsas-Prêmio de Vocação para a Diplomacia.
Os 25 candidatos selecionados a receber a Bolsa-Prêmio fazem jus a R$ 30.000,00,
valor a ser utilizado no custeio de material bibliográfico, cursos preparatórios e professo-
res particulares38. A bolsa servirá para custear a preparação para o CACD do ano seguinte,
nesse caso, 2023.
35
Cf. Disponível em: http://www.institutoriobranco.mre.gov.br.
36
Vale lembrar que, apenas em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por unanimidade que as ações afirmativas são constitucionais e políticas
essenciais para a redução de desigualdades e discriminações existentes no país. Naquele ano, o PAA já completava seu décimo Aniversário.
37
Cf. Disponível em: https://sistemas.mre.gov.br/kitweb/datafiles/IRBr/pt-br/file/PAA/2016-17/EDITAL_PAA_FINAL.pdf.
38
Até 30% do valor da bolsa poderá, se autorizado, ser utilizado para despesas de manutenção.
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A classificação, para fins de concessão da bolsa-prêmio do PAA, terá como critério prin-
cipal o desempenho no CACD de 2020, que foi o último certame realizado antes do de 2022.
Assim, por exemplo, os classificados para a terceira fase concorrerão entre si e terão priori-
dade em relação àqueles não aprovados na segunda fase.
Também aos CACDistas que recebam a Bolsa-Prêmio do PAA do IRBr recomenda-se
a preparação pelo Gran. Como o valor da Bolsa cobra com folga o que o candidato bolsista
gastará com o curso, trata-se, sem dúvida, do melhor investimento que se pode fazer para
uma preparação bem-sucedida ao CACD.
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40
Cf. Texto do Decreto em disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.
41
Curiosamente, os russos não se consideram nem europeus nem asiáticos, ainda que o país esteja fisicamente dividido entre esses dois continentes. Até a
revisão da estrutura do MRE, a Rússia era tratada como país europeu.
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SQS significa Superquadra Sul, que são as quadras de apartamentos residenciais da Asa Sul, no Plano Piloto de Brasília.
44
SQN (Superquadra Norte) equivale à SQS, porém essas quadras residenciais localizam-se na Asa Norte, também no Plano Piloto de Brasília.
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45
Isso porque só pode ocupar apartamento funcional servidores que não possuem imóvel no Distrito Federal.
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Ou seja, “provisoriamente” até que chegue um ministro de primeira classe para assumir a chefia do posto.
47
Podem, no entanto, exercer chefia interina como encarregados de negócios, a.i.
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É comum esbarrar com pessoas com a seguinte dúvida: conheci um estrangeiro que se
apresentou como cônsul honorário do Brasil. Como pode, se a carreira diplomática é priva-
tiva de brasileiros natos? A dúvida procede, pois de fato nossa Constituição Federal de 1988
reserva, em seu Artigo 12, § 3º, o exercício de alguns cargos apenas aos brasileiros natos,
como o de Presidência da República, ministro do Supremo Tribunal Federal e diplomatas.
Logo, nenhum estrangeiro ou mesmo brasileiro naturalizado poderá exercê-los. E, sendo a
atividade consular brasileira desempenhada também pelos membros da carreira diplomática,
não seria possível, portanto, a existência de um cônsul do Brasil estrangeiro.
Os consulados honorários, no entanto, representam exceção à regra, por se tratar de
representações temporárias e complementares às atividades de um consulado ou repartição
consular de uma embaixada; essas, sim, representações oficiais do Brasil e chefiadas por
diplomatas de carreira. O objetivo principal das repartições consulares honorárias é a defesa
dos direitos e a assistência, emergencial ou não, aos membros da comunidade brasileira
(residentes ou de passagem) em sua jurisdição.
Os consulados honorários têm as seguintes atribuições:
I – Prestação de assistência a cidadãos brasileiros que dela necessitem, em coordena-
ção com o Posto consular ao qual se subordinam;
II – Visitas aos cidadãos brasileiros em centros de detenção;
III – Apoio para os consulados itinerantes, na sua divulgação, preparação, realização e
identificação de local;
IV – Organização e participação em encontros e outras atividades que envolvam a
comunidade brasileira local;
V – Processamento de matrículas, a serem incorporadas posteriormente ao banco de
dados da repartição consular a que se subordina;
VI – Em coordenação com a repartição consular a que se subordina, fomento ao desen-
volvimento das relações comerciais, econômicas, culturais e científicas do Brasil, inclusive
mediante prestação de apoio a delegações brasileiras;
VII – Atuação como elemento de apoio das Missões Diplomáticas e repartições consula-
res a qual esteja subordinada, particularmente nos países em que o Brasil não tenha embai-
xada e se faça representar cumulativamente.
A escolha do cônsul honorário recai em pessoas que mantêm vínculos com o Brasil
e, sobretudo, com a comunidade brasileira local e que, por seu trânsito nos meios locais,
tenham condições de desempenhar plenamente as funções acima descritas. Os Postos dire-
cionam suas escolhas de candidatos geralmente àqueles que possuem, no mínimo, conheci-
mento básico da língua portuguesa ou que tenham condições de contar com intérpretes cujos
serviços possam ser solicitados tempestivamente.
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Os órgãos no exterior
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Disponível em: planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.
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Ao chegar até este parágrafo, você pode estar desanimado, achando que a carreira
diplomática seria uma opção ruim por prejudicar sua família. O saldo, porém, é muito posi-
tivo. Volto a meu caso para exemplificar o que digo. Vivi com minha família em Buenos Aires
e Washington. Ainda que fossem dois locais de fácil adaptação, minha família teve dificulda-
des. Partiu meu coração quando tirei meus filhos das escolas em que estudavam.
Mas se perguntar a eles hoje o que acharam da experiência, todos adoraram e repeti-
riam a experiência. Minha filha saiu da Argentina falando espanhol como um portenho (meu
filho ainda era muito pequeno). Os dois deixaram os EUA alfabetizados em inglês, idioma
que dominam como nativos.
Costumo brincar que viver no exterior é muito difícil, mas ter vivido é maravilhoso, inclu-
sive para as famílias. Não se faz omeletes sem quebrar ovos. O sacrifício, no final, vale
muito a pena.
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qualquer um dos segurados. As franquias são cobradas pelo ano do contrato, ou seja, de 1º
de abril a 31 de março do ano seguinte, independentemente de quando ocorre a adesão ao
PCAMSE ou seu cancelamento.
Tendo em conta os elevados valores que podem atingir um tratamento de saúde, espe-
cialmente no exterior, percebe-se a importância desse benefício, que deve também ser
levado em conta por potenciais candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplo-
mata (CACD), inclusive como mais um estímulo à preparação para os exames.
56
Os servidores do Plano de Classificação de Cargos (PCC) e do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (PGPE) fazem parte do Quadro de Pessoal do
Ministério das Relações Exteriores, mas não do Serviço Exterior Brasileiro, e podem ser designados a cumprir missões no exterior.
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Atribuições de um consulado
Muitos brasileiros, aliás, a maioria, não sabem que tipos de serviço podem, e até devem,
demandar de nossos consulados no exterior. É comum, inclusive, baterem em embaixadas
para pedirem auxílio e se surpreenderem ao serem encaminhados a uma representação con-
sular, quando não houver um setor consular no local. Alguns poderiam ser mais auxiliados,
outros fazem pedidos que não podem ser atendidos.
Para acabar com essas dúvidas, vamos elencar, de modo simples e direto, quais as
atribuições de um consulado, assim como o que está fora de seu alcance.
Proteção de interesses. Os consulados devem proteger os interesses dos cidadãos
brasileiros no exterior, mas sem desrespeitar os tratados internacionais vigentes, nem a
legislação local. Assim, por exemplo, se um brasileiro for preso no exterior, as autoridades
consulares deverão visitá-lo e certificar-se de que está sendo bem tratado e que não há des-
respeito aos seus direitos, segundo as leis daquele país. Não poderá, entretanto, solicitar sua
liberdade como se fora um advogado de defesa.
Cartório. Os consulados exercem as funções de notário público e de oficial de registro
civil, e, como tal, autenticam documentos, emitem certidões, procurações, declarações, cer-
tificados e atestados aos cidadãos brasileiros. Se uma brasileira dá à luz no exterior, pode
registrar seu filho em um consulado brasileiro.
Expedição de documentos. Os consulados expedem documentos de viagem (pas-
saportes, autorizações de retorno ao Brasil). Se um brasileiro é furtado ou perde seu pas-
saporte em viagem de turismo, pode emitir outro em um consulado. Se também ficou sem
dinheiro ou não tem tempo para essa emissão, pode solicitar uma autorização de retorno ao
Brasil, papel reconhecido pelas autoridades brasileiras que serve apenas para ingresso em
território nacional.
Alistamentos e eleições. Os consulados atuam como órgãos de alistamento militar e
eleitoral. No segundo caso, também realiza regularização eleitoral e conduz os processos
eleitorais em sua jurisdição, ou seja, brasileiros que vivem no exterior podem votar nas elei-
ções para a Presidência da República.
Assistência a desvalidos. Os consulados prestam assistência a cidadãos brasileiros
em situação de desvalimento. Assim, caso algum brasileiro fique sem condições financeiras
para custear seu retorno ao Brasil, o consulado pode, após comprovação do desvalimento,
comprar-lhe o bilhete de regresso.
Comunidade brasileira. Os consulados incentivam a organização e atividades pró-
prias realizadas pela comunidade brasileira residente em sua jurisdição. Com isso, ajudam a
manter o exercício de nossas tradições culturais fora do país.
Vistos. Os consulados também são responsáveis pela concessão de visto brasileiro
para que cidadãos estrangeiros possam ingressar em território nacional. Esse, evidente-
mente, é um serviço prestado ao Estado brasileiro, não a seus cidadãos.
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Os consulados, porém, têm limites de atuação. Nem tudo o que envolve brasileiros no
exterior tem espaço para a atuação consular. Seguem exemplos do que não podem fazer:
• Interferir em pedidos de visto para brasileiros que viajam a outros países e em eventual
denegação de entrada;
• Arcar com despesas médicas, hospitalares, judiciais, além de despesas com sepulta-
mento, cremação, embalsamamento e transporte de restos mortais para o Brasil, ou
quaisquer outras, ainda que emergenciais;
• Representar brasileiro perante a Justiça;
• Efetuar reservas de hotel, compra de passagens, aluguel de veículos, armazenamento
de bagagens;
• Interferir em questões de direito privado, como direitos do consumidor ou questões
familiares;
• Emitir Carteira de Identidade (competência das Secretarias de Segurança Pública de
cada estado), Registro Nacional de Estrangeiro (Polícia Federal), Carteira Nacional de
Habilitação (Detran dos estados ou Denatran) ou atestado de boa saúde. Esses docu-
mentos somente podem ser solicitados no Brasil;
• Emitir atestado de bons antecedentes (somente no Brasil, pessoalmente ou mediante
procurador, junto à Polícia Federal ou Secretarias de Segurança Pública dos Estados;
• Receber inscrições para concursos públicos;
• Receber pagamentos de impostos (como IRPF), taxas, tributos de recolhimento federal,
estadual ou municipal (deverão ser efetuados em território nacional, pessoalmente ou
por procurador).
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Embaixadores políticos
O Ministério das Relações Exteriores (MRE), dizem, é uma instituição quase totalmente
preservada de influências políticas. O argumento principal dos que defendem essa ideia é
que os cargos do ministério são exclusivamente ocupados por integrantes da carreira diplo-
mática. Isso é uma meia verdade, pois há duas exceções: os cargos de ministro das Rela-
ções Exteriores (chanceler) e o de embaixador.
A primeira das exceções é mais comum. Na atualidade, por exemplo, o chanceler não é
membro da carreira diplomática: o Senador Aloysio Nunes. Seu antecessor tampouco era: o
Senador José Serra. A segunda, no entanto, a dos embaixadores políticos, causa mais estra-
nheza por ser menos comum. Não há neste momento um único chefe de posto no exterior
que não seja diplomata de carreira.
O título de embaixador é utilizado, tecnicamente, apenas para designar o ocupante da
Chefia de Missão Diplomática Permanente (embaixada) ou de missão ou delegação per-
manente junto a organismo internacional (como a ONU, a OMC e a OEA57, por exemplo). A
regra geral, segundo o previsto no Art. 41 da Lei n. 11.440, de 29/12/2006 – mais conhecida
como Lei do Serviço Exterior Brasileiro58 –, é que os embaixadores sejam escolhidos entre os
ministros de primeira classe59. Isso explica por que a tradição no Itamaraty é tratar os minis-
tros de primeira classe pelo título de embaixador.
As duas exceções estão previstas no Art. 46 e no parágrafo único do Art. 41 da mesma
Lei. De acordo com a primeira, ministros de segunda classe podem ser comissionados embai-
xadores em postos dos grupos C e D e conselheiros em postos D, desde que tenham conclu-
ído o Curso de Altos Estudos (CAE), além de contar com ao menos quinze anos de carreira,
dos quais sete anos e meio sejam no exterior60.
A segunda exceção é exatamente a dos embaixadores políticos. Diz o mencionado dis-
positivo legal:
“Excepcionalmente, poderá ser designado para exercer a função de Chefe de Missão
Diplomática Permanente brasileiro nato, não pertencente aos quadros do Ministério das Rela-
ções Exteriores, maior de 35 (trinta e cinco) anos, de reconhecido mérito e com relevantes
serviços prestados ao País.”
Felizmente, esse dispositivo foi poucas vezes utilizado com interesse político maior do
que o nacional. Para exercer o cargo de embaixador, é preciso preparo, o que certamente
terá um diplomata de carreira com muitos anos de experiência, mas poucos indicados políti-
cos. Isso não quer dizer, no entanto, que um cidadão experiente em outras áreas distintas da
diplomacia não possam ser bons representantes do Brasil no exterior.
57
Organização das Nações Unidas, Organização Mundial do Comércio e Organização dos Estados Americanos.
58
Esse dispositivo já era previsto nas leis anteriores que disciplinavam o Serviço Exterior brasileiro.
59
Cf. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11440.htm.
60
O tempo de serviço no exterior é contado em dobro nos postos C e em triplo nos de categoria D.
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Você sabia que há mais embaixadores brasileiros nos EUA do que na África?
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Ainda que esse número de “embaixadores” nos EUA seja elevado, é estranho pensar
que, tendo relações diplomáticas com todos os países africanos e com embaixadas resi-
dentes em 37 desses 54 Estados (17 são embaixadas cumulativas), o Brasil tenha na África
menos de 15 embaixadores. Na verdade, do ponto de vista técnico, isso nem seria possível,
pois o número de embaixadores deve necessariamente igualar-se com o número de embai-
xadas residentes (e muitos desses embaixadores são também representantes cumulativos
junto aos países com os quais temos relações diplomáticas, porém não uma embaixada
física no respectivo território).
A explicação é a seguinte: a maior parte das embaixadas do Brasil na África é chefiada
por diplomatas que ainda não atingiram a última classe da carreira, em geral, ministros de
segunda classe. De fato, ao entregarem suas credenciais ao chefe de governo do país em
que nos representam, tornam-se tão embaixadores quanto nosso chefe de missão diplomá-
tica nos EUA, França ou Alemanha. O desafio desses nossos Embaixadores na África não é
menor do que os que estão na Europa, por exemplo, muito pelo contrário, tendo em vista as
dificuldades políticas e econômicas que muitas vezes eles têm de contornar.
E, para completar as curiosidades deste artigo, sugiro visitar o site do Ministério das
Relações Exteriores, no qual consta lista de todos os países com os quais o Brasil tem rela-
ções diplomáticas: https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/relacoes-bilaterais.
Ao clicar no nome do respectivo país, você poderá descobrir se temos aí uma embai-
xada residente ou cumulativa, além de diversas informações sobre nossas relações bilaterais
com esse Estado, bem como referências sobre nossa representação, inclusive o nome do
respectivo embaixador brasileiro.
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Artigos:
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61
Isso é exatamente o estabelecido no art. 51 da referida Lei:
Art. 51. As promoções na Carreira de Diplomata obedecerão aos seguintes critérios:
I – promoção a Ministro de Primeira Classe, Ministro de Segunda Classe, Conselheiro e Primeiro-Secretário, por merecimento; e
II – promoção a Segundo-Secretário, obedecida a antiguidade na classe e a ordem de classificação no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata - CACD,
cumprido o requisito previsto no art. 53 desta Lei.
62
Como há muitas referências às classes da carreira, pede-se a compreensão (e permissão) das candidatas para a utilização dos termos somente no mas-
culino, para evitar a poluição do texto com os respectivos “(as)”.
63
Os cursos do IRBr serão objeto de artigo futuro. Para conhecer o Curso de Formação, sugere-se pesquisa ao endereço:
https://www.gov.br/mre/pt-br/instituto-rio-branco/cursos-do-instituto-rio-branco/curso-de-formacao
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missão junto a algum organismo internacional). Atualmente, o tempo médio para que isso
ocorra tem sido de 6 a 7 anos, incluído o período de curso no IRBr.
Para a promoção de segundo a primeiro-secretário, o diplomata necessita ter conclu-
ído o CAD (Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas)64, ter ao menos dois anos de serviço
prestado no exterior e ter completado três anos de exercício profissional como segundo-se-
cretário, que é o tempo de interstício mínimo entre cada classe da carreira. Como se trata de
uma promoção por merecimento, no entanto, como afirmei, não basta cumprir esses requi-
sitos, pois a escolha é da alta direção do ministério, sendo a última palavra a do presidente
da República, com quem o ministro das Relações Exteriores (chanceler) despacha a lista de
promovidos em todas as classes.
Para ser um dos escolhido a qualquer promoção por merecimento, além de cumprir os
requisitos mínimos de promoção em sua respectiva classe, o diplomata precisa entrar no
chamado Quadro de Acesso (QA). Trata-se de uma lista elaborada a partir de uma votação
de todos os diplomatas sobre quais candidatos à promoção acham que merecem recebê-la.
Os diplomatas votam nos candidatos de sua própria classe (votação horizontal) e das classes
inferiores à sua (votação vertical).
Os resultados das votações são examinados em três diferentes câmaras de avaliação
formadas por Chefes de Divisão, Diretores de Departamento e Secretários. As listas come-
çam maiores na câmara hierarquicamente menor e vão diminuindo na medida em que sobem
para as câmaras mais altas. Após essa triagem, o chanceler decide quem entra no Quadro
de Acesso de cada classe. O número de ingressantes no QA é o mesmo dos promovidos,
que obviamente deixam o Quadro ao mudarem de classe.
As condições para a promoção de diplomatas nas demais classes estão previstas no
artigo 52 da Lei n. 11.440:
Art. 52. Poderão ser promovidos somente os Diplomatas que satisfaçam os se-
guintes requisitos específicos:
I – No caso de promoção a Ministro de Primeira Classe, contar o Ministro de Se-
gunda Classe, no mínimo:
a) 20 (vinte) anos de efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da
classe inicial da carreira, dos quais pelo menos 10 (dez) anos de serviços presta-
dos no exterior; e
b) 3 (três) anos de exercício, como titular, de funções de chefia equivalentes a ní-
vel igual ou superior a DAS-4 ou em posto no exterior, de acordo com o disposto
em regulamento;
II – no caso de promoção a Ministro de Segunda Classe, haver o Conselheiro
concluído o Curso de Altos Estudos – CAE e contar pelo menos 15 (quinze) anos
de efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da classe inicial da
64
Veja: https://www.gov.br/mre/pt-br/instituto-rio-branco/cursos-do-instituto-rio-branco/curso-de-formacao.
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carreira, dos quais um mínimo de 7 (sete) anos e 6 (seis) meses de serviços pres-
tados no exterior;
III – no caso de promoção a Conselheiro, haver o Primeiro-Secretário concluído
o Curso de Atualização em Política Externa - CAP e contar pelo menos 10 (dez)
anos de efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da classe ini-
cial da carreira, dos quais um mínimo de 5 (cinco) anos de serviços prestados
no exterior.
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Por último, como costumo dizer sempre, conheço poucas carreiras nas quais é possível
ter diversos e variados empregos ao longo da vida. Quem, trabalhando na mesma institui-
ção, pode em um dia tratar de temas ambientais em Brasília, no ano seguinte acompanhar
a economia norte-americana em Washington e, três anos mais tarde, negociar acordos do
MERCOSUL em Montevidéu? E se pegarmos apenas a carreira de um diplomata experiente
como exemplo, veremos que cada um de nós guarda recordações que renderiam um inte-
ressante livro de memórias.
Logo chegará o próximo CACD e, como sempre, se iniciará, para muitos, a expectativa
de terminar o ano sentado em uma das cadeiras do Instituto Rio Branco. Se você nutre esse
desejo, conte com o Gran para ajudá-lo a conquistar esse espaço!
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As perguntas que mais ouço sobre a carreira diplomática, especialmente daqueles que
conhecem menos a carreira, dizem respeito à suposta obrigatoriedade de ida a um determi-
nado destino ou ao exterior, em geral. Nada é obrigatório, mas a eventual permanência no
Brasil tem seu preço.
Idealmente, para aqueles que gostam da ideia de viver um tempo fora do Brasil, que
são a maioria no Itamaraty, a melhor opção seria ir de um posto65 a outro sem retornar à
SERE66. Na prática, entretanto, o mais adequado está no meio termo, como quase tudo na
vida. As carreiras mais bem-sucedidas são aquelas que mesclam períodos equilibrados de
permanência em Brasília e no exterior. E quais seriam esses tempos?
Em geral, os prazos ideais variam de dois a cinco anos, dependendo da situação. Pen-
semos em caso concreto, ainda que hipotético. Imagine um diplomata chamado José, que
acabou de ser formar no Instituto Rio Branco (IRBr). Ao deixar os bancos escolares, José
terá sua lotação definida de acordo com as necessidades do Itamaraty e as suas escolhas,
conforme a classificação obtida no final do curso67.
O período dessa primeira lotação varia. Se José estiver satisfeito com o tema de que
trata, normalmente ficará no mesmo local até sua primeira saída para o exterior. Caso con-
trário, depois de um ou dois anos, terá certa liberdade para buscar outra lotação, desde que
isso seja negociado entre os chefes, ainda na SERE.
Quando José começar a pensar em ir para o exterior, suas opções dependerão do
tempo que permaneceu trabalhando em Brasília após o Curso de Formação do IRBr. Para
candidaturas a postos de categoria D, basta um ano de trabalho; 2, para C; 3, para B; e
4, para A.
José poderá esperar mais para sair, ou mesmo não sair, pois não é obrigado a isso.
No curto prazo, nada mudará, já que, se ficar no Brasil por mais de quatro anos depois de
formado, concorrerá a uma remoção para um posto A (ou de qualquer outra categoria) em
igualdade de condições com os colegas que esperaram o tempo mínimo para candidatar-se
a um desses destinos, porém, no médio e longo prazo, pagará um preço. Vejamos.
Digamos que José decida ficar 10 anos em Brasília antes de sua primeira remoção ao
exterior. Ao chegar seu momento de ser promovido de terceiro a segundo-secretário, bastará
ter o tempo de carreira necessário, pois essa promoção é por antiguidade e não exige tempo
de exterior. Seus colegas de turma que saíram, por exemplo, com três ou quatro anos de
SERE, já estarão, a essa altura, no final do segundo posto, caso tenham optado por fazer
dois, respeitando o rodízio entre as categorias A, B, C e D.
65
Posto é qualquer destino (representação brasileira) no exterior: embaixadas, consulados, missões e escritórios.
66
SERE significa Secretaria de Estado, que é a sede do Ministério das Relações Exteriores (MRE) em Brasília.
67
Essa classificação leva em conta não apenas a posição conquistada no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), mas também as notas
obtidas no Curso de Formação do IRBr.
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Com isso, José, que necessitará de dois anos de exterior para ser promovido de segundo
a primeiro-secretário, somente poderá concorrer a essa promoção depois de 12 anos de car-
reira. Além disso, normalmente os promovidos estão trabalhando em Brasília, pois quem está
no Brasil trabalha mais e ganha menos (a remuneração é em real) e, portanto, necessita ser
recompensado.
Assim, José, se for fazer dois postos – e o ideal é que o faça, já que depois, para ser
promovido de primeiro-secretário a conselheiro, necessitará de cinco anos de exterior –, no
fundo só será um candidato forte à promoção após seu retorno a Brasília, quando já terá 16
anos de carreira. A essa altura, seus colegas de turma já disputarão a classe de conselheiro,
enquanto ele estiver disputado acesso à classe de primeiro-secretário.
O inverso também é verdadeiro. Se José optar por sair cedo ao exterior e lá permanecer
10 anos (tempo máximo de permanência, desde que faça ao menos três postos e um deles
seja das categorias C ou D), certamente ganhará mais dinheiro do que os colegas de turma
que optarem por ficar menos tempo no exterior, pois será remunerado em dólar durante
um período maior. No entanto, no exterior, provavelmente não conseguirá ser promovido,
enquanto os que estiverem em Brasília, sim.
E assim seguirá a dinâmica da carreira diplomática para José até que chegue à classe
de ministro de primeira classe, mais conhecida como embaixador. Se seguir os prazos regu-
lares, seu fluxo será o mesmo da maioria. Se optar pela permanência no Brasil ou no exte-
rior por períodos maiores, atrasará sua carreira, mas não será obrigado a sair nem a voltar,
enquanto estiver no tempo de permanência permitido em cada posto.
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Conheça o sistema de classificação de Postos (representações brasileiras no exterior) em: http://blog.vouserdiplomata.com/como-se-define-o-destino-de-
-um-diplomata-no-exterior/.
69
Embaixadores e ministros-conselheiros (o número 2 das embaixadas e outras representações) também têm prazo máximo de cinco anos de permanência
nos Postos A e B.
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porário, normalmente entre 45 dias e um ano, em que o diplomata mantém sua residência em
Brasília, mas vai trabalhar temporariamente no exterior, ganhando em dólar.
Finalmente, a posição é a “opinião” do governo brasileiro no exterior. É o que se anuncia
na imprensa, por exemplo, quando estoura uma crise política no exterior, e a mídia informa o
que o Itamaraty diz a respeito. Também se trata de posição o que decidimos em organismos
ou negociações internacionais. É o caso de nossa tradicional atitude em prol da defesa da
paz quando da eclosão de conflitos entre países.
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ideia normalmente equivocada por não se basear na realidade, mas no que imaginamos, na
ignorância, sobre a questão –, estava enganado e acabei encontrando com essa função, que
nunca mais quis abandonar73.
Ao promover exportações do Brasil aos Estados Unidos, assim como investimentos entre
os dois países, tive a oportunidade de preparar estudos de mercado (avaliação do potencial
comprador norte-americano de certos produtos brasileiros), fazer análise do comércio bila-
teral, dialogar com representantes do governo dos EUA sobre temas de interesse comercial
brasileiro, além de organizar missões de empresários de nosso país a diversas cidades nor-
te-americanas, entre outras funções. Pude realizar um trabalho dinâmico, de comprovação
imediata de seus resultados, além de muito divertido. Por fim, pude conhecer novos locais e
interlocutores com quem não iria interagir se estivesse trabalhando em outras funções.
Veja, portanto, como costuma ser diversificado o trabalho de um diplomata, tanto no
Brasil como no exterior. Quanto maior a representação brasileira, seja embaixada, consulado
ou missão junto a organismo internacional, mais variadas são as atribuições do posto e, logo,
mais possibilidades de tarefas são apresentadas aos diplomatas que lá estejam lotados.
73
Com exceção de um curto período de dois anos, assim que retornei a Brasília, em 2010, quando trabalhei como assessor na Secretaria-Geral das Relações
Exterioes, sempre atuei, desde essa época, com temas relacionados à promoção comercial brasileira.
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Aprovado pela Portaria MRE n. 212, de 30/04/2008, e alterado pela Portaria MRE n. 385, de 09/05/2018, o RISE dispõe sobre a organização administrativa
do Ministério das Relações Exteriores.
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A flexibilidade desse horário depende de cada chefe de posto, mas, em geral, não escapa muito disso.
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Os PCC/PGPE são os servidores dos cargos do Plano de Classificação de Cargos (PCC) e do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (PGPE).
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os colegas e das atividades do ministério, o que muitas vezes o prejudica quando necessitar
de apoio para promoção ou remoção.
Penso, no entanto, que, mesmo que esses argumentos sejam verdadeiros, o saldo final
de uma cessão é positivo para ambos. O MRE e seus funcionários enriquecem seu modo
de agir e pensar com o envio de profissionais a outros órgãos, que costumam funcionar com
dinâmicas completamente diferentes das do Itamaraty. Além disso, a experiência da cessão
facilita a necessária interação com outras instituições.
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Cf. http://blog.vouserdiplomata.com/afastamentos-de-diplomatas-das-atividades-no-itamaraty/.
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A licença extraordinária pode ser concedida a servidor casado, cujo cônjuge, também
integrante do Serviço Exterior, for removido para o exterior ou nele encontrar-se em missão
permanente. A LEX, que não enseja remuneração, só é aplicável a servidor que a desejar
ou se não satisfizer os requisitos do Regulamento do Pessoal do Serviço Exterior para ser
removido para o mesmo posto do cônjuge ou para outro posto na mesma sede em que este
se encontre.
Ou seja, é possível e comum a remoção de casais de diplomatas para o mesmo posto
ou cidade. No entanto, se o cônjuge do servidor for removido do exterior para se apresentar
à Secretaria de Estado, o servidor não pode permanecer em licença extraordinária.
Ausências após o término da licença para a reassunção de funções no Ministério das
Relações Exteriores serão consideradas como faltas injustificadas ao serviço e ensejarão
desconto na remuneração, com possível abertura de sindicância e processo administrativo
disciplinar, nos termos do art. 44, I, e art. 138 da Lei n. 8.112/1990.
A LIP é a licença sem remuneração que poderá ser concedida a servidor público com
estabilidade para tratar de assuntos particulares, a critério da administração, com duração
máxima de até três anos (1095 dias) consecutivos. Não poderá ultrapassar seis anos, consi-
derando toda a vida funcional do servidor, a não ser em casos excepcionais, a serem autori-
zados pelo ministro de Estado das Relações Exteriores.
Se estiver cedido a outro órgão, o servidor deverá retornar ao MRE a fim de solicitar a
licença. Ao entrar em gozo de licença para tratar de interesses particulares, o servidor per-
derá o direito de gozar período de férias e não terá remuneração ou benefícios como a cober-
tura do seguro médico do MRE.
No caso de servidor em gozo de LIP, assim como da LAC e da LEX, não há contagem
de tempo para promoção da carreira ou tempo de SERE para efeitos de remoção. O período
dessas licenças não conta como tempo de serviço e, portanto, não conta para a aposenta-
doria, a não ser que o servidor contribua por conta própria para o PSS (Plano de Seguridade
Social do Servidor).
A LIP poderá ser interrompida a pedido do servidor ou por necessidade do serviço. A
interrupção se dá em dia útil e deve ser solicitada pelo menos 15 dias antes da data dese-
jada. Já o pedido de prorrogação deverá ser apresentado com no mínimo dois meses de
antecedência do término da licença vigente.
Somente haverá nova concessão de LIP após o servidor ter permanecido em exercício
por no mínimo período igual ao que tenha usufruído da licença. Na eventualidade de haver
interesse em solicitar nova concessão, esta deve ser submetida com antecedência de quatro
meses para o trâmite administrativo e o servidor deve aguardar a resposta em exercício, se
for o caso.
Caso não haja interesse em retornar ao MRE ao término da LIP, o servidor deverá for-
malizar pedido de exoneração.
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A pedido de uma leitora de nosso blog, tratarei sobre a experiência profissional que vivi
na cidade de Buenos Aires, onde servi em nossa embaixada no período de 2004 a 2007, e
sobre como tive a sorte de ter esse posto como destino.
Brasemb Buenos Aires80, assim é conhecida internamente no Itamaraty a Embaixada
do Brasil na capital argentina. É considerada um dos principais postos da carreira diplomá-
tica, certamente entre os cinco primeiros. Atualmente, sua classificação é A, e a remoção
para lá é tão disputada quanto nossas representações em países bem mais desenvolvidos,
como EUA, França, Inglaterra ou Espanha, ou mesmo nas missões brasileiras junto a impor-
tantes organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova
Iorque, ou a Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra.
Quando servi em Brasemb Buenos Aires, havia ainda um fator que tornava o posto ainda
mais disputado: sua classificação era B81. Com isso, era possível, em uma mesma movimen-
tação no exterior, sem necessidade de retorno a Brasília, ir para/de Buenos Aires para outro
posto de categoria A. Isso ocorreu comigo, inclusive. Quando eu saí de lá, em 2007, pude
ser removido para a Embaixada do Brasil em Washington, EUA, esta, sim, sempre classifi-
cada como A82.
Exatamente por ser um destino muito disputado, e mais ainda era na época, não saí
do Instituto Rio Branco (IRBr) com Buenos Aires entre meus planos de remoção. Tencionava
entrar na disputa por postos menos concorridos, depois de um período de quatro anos após
a conclusão do Curso de Formação do IRBr. Esse é normalmente o tempo que os terceiros-
-secretários esperam antes de pleitear remoção para postos A. O acaso, no entanto, acabou
me levando para lá sem que eu planejasse.
Ao concluir meu Curso de Formação, fui convidado a trabalhar no próprio Instituto Rio
Branco, local em que assumi o cargo de chefe da secretaria83. Na época, o secretário-geral
das relações exteriores era o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que tinha predileção
por dois assuntos que considerava prioritários: a formação dos diplomatas e as relações do
Brasil com a Argentina. Nesse contexto, queria investir na formação de colegas para virarem
professores do IRBr. Como o curso à época era um mestrado, os professores precisavam
ser doutores. Foi assim que me foi oferecida a oportunidade de remoção para Buenos Aires,
onde além de trabalhar na embaixada, eu iria cursar doutorado para posteriormente estar à
disposição do Instituto como professor.
80
Em Buenos Aires, há dois postos da carreira diplomática: a embaixada (Brasemb) e o consulado-geral (Consbras). Na Argentina, há ainda Consbras, em
Córdoba e Mendoza, e dois vice-consulados de fronteira, em Paso de Los Libres e Puerto Iguazu.
81
A classificação dos postos muda frequentemente, de acordo com a política de movimentação de pessoal do ministério e das condições de vida nas cidades.
Tradicionalmente, tanto a embaixada como o consulado-geral em Buenos Aires são classificados como A, mas houve alguns poucos períodos, como em
2004, que eram classificados como B.
82
A classificação de Buenos Aires mudou de B para A em 2005, enquanto eu ainda servia lá, mas, de acordo com as regras de remoção do Itamaraty, vale a
classificação no momento da chegada.
83
Curiosidade: a Chefia da Secretaria do IRBr não é a lotação dos sonhos de nenhum diplomata, mas, para me inspirar, eu tinha, em minha sala, pendurada
na parede, cópia da portaria de lotação de um ilustre diplomata que havia ocupado a mesma função décadas antes: Guimarães Rosa.
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Assim, passei meu período de três anos na capital argentina entre o curso de doutorado
em Direito Internacional na Universidade de Buenos Aires (UBA) e o trabalho na embaixada,
onde servi no setor político. Poucos postos, e talvez nenhum como Brasemb Buenos Aires,
reúnem as qualidades de estarem em um país cuja parceria seja prioritária para o Brasil e
vice-versa.
Além disso, os diplomatas brincam que, ao escolher uma remoção, precisam estar
atentos a três “Cs”: chefia, clima e câmbio. O embaixador à época era Mauro Vieira, um dos
melhores quadros da carreira, atualmente embaixador do Brasil junto às Nações Unidas e
ex-chanceler do governo Dilma Rousseff. O clima da cidade é um dos melhores entre os
postos A, menos frio que a maioria. O câmbio não costuma ser muito favorável, mas eu tive
a sorte de viver em um período imediatamente posterior à desvalorização do peso argentino,
o que me permitiu ter excelente poder de compra local.
Nem precisaria dizer, portanto, que minha experiência no posto foi a melhor possível, e
tanto eu como minha família toparíamos voltar para lá a qualquer novo momento da carreira.
Ao chegar seu momento, recomendo fortemente considerar Buenos Aires como uma de suas
principais opções de destino para remoção.
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Essa dúvida nos foi apresentada pelo CACDista e leitor de nosso blog Jurandir Ermani.
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Ao servidor em estágio probatório poderá ser concedido o Afastamento para Servir a Organismo Internacional (art. 20, § 4º, da Lei n. 8.112/1990). O estágio
probatório ficará suspenso durante esse período. É necessário que se observe, porém, que não basta apresentar a solicitação de afastamento e esperar
que o processo corra automaticamente para ser aprovado. É preciso que haja, antes da formalização do pedido, uma prévia negociação com as chefias da
Casa (Ministério) para que o pedido não pegue quem tem de aprová-lo de surpresa. Isso envolve também, obviamente, uma consulta informal prévia ao
MRE por parte do órgão internacional que deseja contar com a colaboração do diplomata a ser emprestado.
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Conheça mais dessas carreiras em: http://blog.vouserdiplomata.com/conheca-estrutura-do-itamaraty/.
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Artigos:
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Concórdia é a plataforma de acesso aos atos internacionais firmados pelo Brasil. Pode ser acessada em: https://concordia.itamaraty.gov.br/.
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Após sua assinatura, o ato internacional deverá, conforme o caso, ser submetido à
apreciação parlamentar. O envio do ato ao Congresso Nacional é feito pela Presidência da
República, mediante a expedição de Mensagem aos Membros do Congresso Nacional, cuja
minuta, preparada pelo MRE, é submetida à consideração da Presidência da República por
meio de Exposição de Motivos (emitida apenas pelo MRE) ou Exposição de Motivos Intermi-
nisterial (emitida pelo MRE em conjunto com os demais ministérios envolvidos com o tema).
Encaminhado o ato internacional pela Presidência da República, segue para o Con-
gresso Nacional, pela Câmara dos Deputados. Com base no teor do ato, a Presidência da
Câmara determina quantas e quais comissões precisarão analisá-lo antes da apreciação
pelo Plenário. A rigor, todo ato internacional é submetido, na Câmara, à Comissão de Rela-
ções Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), à Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
– para verificar se há previsão orçamentária –, à Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania (CCJC) e à respectiva comissão ou comissões temáticas, com base na matéria
objeto do ato (educação, esporte, seguridade social etc.).
Os atos referentes ao MERCOSUL têm tramitação inicial diferenciada. Antes de serem
analisados pelas comissões da Câmara, devem ser apreciados pela Comissão Mista do
MERCOSUL, composta pelos Deputados Federais e Senadores que integram a Represen-
tação Brasileira no Parlamento do MERCOSUL. Uma vez aprovados na Comissão Mista,
seguem para a Câmara dos Deputados, para início da tramitação regular, de resto idêntica à
dos demais atos internacionais.
Em cada comissão em que o ato é apreciado, o presidente da comissão designa um
membro como relator do ato naquela comissão, o qual, na qualidade de relator, examinará
a matéria, pelo tempo que julgar necessário, e emitirá relatório, que pode ser pela aprova-
ção ou pela rejeição do ato. Uma vez elaborado o relatório, cabe ao presidente da comissão
colocá-lo em pauta em uma das reuniões da comissão, para apreciação pelo colegiado.
Se for aprovado pelos membros da comissão, o relatório se torna o parecer oficial da pró-
pria comissão.
Uma vez apreciado por todas as comissões cabíveis, o ato internacional, acompanhado
dos pareceres de todas as comissões que o analisaram, é encaminhado ao Plenário da
Câmara, onde cabe ao presidente da Câmara dos Deputados decidir quando (e se) o coloca
em pauta para votação. No caso de atos internacionais, a aprovação não requer votação
nominal. Podem, portanto, ser aprovados em "votação simbólica", desde que nenhum partido
se oponha à sua aprovação automática. Se rejeitado pelo Plenário da Câmara, encerra-se
a apreciação parlamentar do ato internacional. Se aprovado, segue para apreciação pelo
Senado Federal.
No Senado, a tramitação de atos internacionais costuma restringir-se à Comissão de
Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), que aprecia o ato antes de seu encaminha-
mento ao Plenário. Como na Câmara, cabe ao presidente da Comissão de Relações Exte-
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No dia 18 de abril de 1961, a Conferência das Nações Unidas sobre Relações e Imu-
nidades Diplomáticas encerrava-se em Viena, capital da Áustria, com a assinatura de um
histórico tratado que visava codificar o que já se praticava havia séculos no relacionamento
entre os Estados. Ainda que a humanidade vivesse as tensões da Guerra Fria e o temor de
uma terceira guerra mundial, a criação da ONU, o desejo de consolidação da paz mundial e
respeito à soberania estatal – no âmbito da tendência crescente pela descolonização – pare-
ciam falar mais alto.
Os 53 artigos da Convenção, que foram internalizados no direito brasileiro pelo Decre-
to-Lei n. 56.435, de 08/06/1965, não pretendiam elencar todas as regras de relações e imu-
nidade diplomáticas, mas disciplinar o que se considerava mais relevante. Assim, as normas
do Direito Internacional Consuetudinário, conforme afirmado no próprio Preâmbulo da Con-
venção, continuariam a vigorar88.
Muito do jargão utilizado no meio diplomático (e reproduzido na imprensa quando trata
do tema) está definido na Convenção de Viena de 1961. Assim, por exemplo, o art. 4º afirma
que: “O Estado acreditante [aquele que envia um diplomata que vai representá-lo] deverá
certificar-se de que a pessoa que pretende nomear como Chefe da Missão [pessoa encarre-
gada pelo Estado acreditante de agir nessa qualidade] perante o Estado acreditado [aquele
que recebe o diplomata] obteve o Agrément [aceitação] do referido Estado.”
Ou seja, “o estabelecimento de relações diplomáticas entre Estados e o envio de Mis-
sões diplomáticas permanentes efetua-se por consentimento mútuo” (art. 2). Nenhum Estado
pode escolher livremente como será representado em outro, pois depende da concordância
de quem recebe os diplomatas. Essa concordância não é apenas inicial, mas deve ser per-
manente, pois, sem necessidade de justificar sua decisão, o Estado acreditante pode decla-
rar persona non grata, a qualquer momento, um membro do pessoal diplomático de qualquer
missão (representação do Estado acreditado)89.
Os membros do pessoal diplomático deverão ter, em princípio, a mesma nacionalidade
do Estado acreditante, ou seja, a exigência brasileira de que os diplomatas que representam
nosso país sejam brasileiros natos não está no Direito Internacional, mas em nossa Cons-
tituição Federal de 1988. Já o chefe da missão, aquele entre os membros do pessoal diplo-
mático que o Estado acreditante como o responsável maior de seus interesses, poderá estar
em três classes: a) embaixador ou núncio (da Santa Sé); b) enviado, ministro ou internúncio;
e c) encarregado de negócios.
No caso brasileiro, para ser nomeado embaixador, o diplomata precisa pertencer à
classe de MINISTRO DE PRIMEIRA-CLASSE, último degrau da carreira diplomática. Excep-
cionalmente, um ministro de segunda classe pode ser designado embaixador em postos de
88
O Direito Consuetudinário sempre teve maior relevância no Direito Internacional do que no Direito Interno dos Estados. Isso decorre da própria dificuldade
de positivação do Direito no plano internacional.
89
Essa declaração significa a necessidade de retirada imediata do diplomata assim declarado, sob pena de perda da imunidade garantida pela Convenção.
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Curso de Altos Estudos, cuja aprovação é necessária para a promoção entre as classes de conselheiro e ministro de segunda classe.
91
Esse termo foi herdado da época em que o mundo estava em guerra, e, em caso de evacuação do pessoal lotado no posto, era incumbência do oficial de
chancelaria fechar o posto e carregar os arquivos consigo.
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Cf. Art. 49, I, Constituição Federal de 1988.
93
Ibidem, Art. 52, IV.
94
Ibidem, Art. 109, III e X, respectivamente.
95
Eis aí o canal oficial de diálogo sobre política externa com a sociedade civil.
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cadas nos últimos 12 meses, até o dia 1º de junho de cada ano, em seus sites na internet.
Como forma de facilitar o acesso a todos os dados, a CGU faz anualmente um levantamento
das informações publicadas por todos os órgãos/entidades do Executivo Federal98.
A LAI tem preocupação basicamente com a segurança do Estado e da sociedade brasi-
leira. No caso dos temas de responsabilidade do MRE, no entanto, muitas vezes as informa-
ções produzidas não apresentam ameaça à segurança, porém podem afetar os interesses
brasileiros (políticos, econômico-comerciais, culturais etc.) no relacionamento com determi-
nado país. É por isso, por exemplo, que parte das sessões de sabatina de embaixadores no
Senado Federal é fechada ao público.
Os diplomatas necessitam, portanto, ter extremo cuidado no momento de classificar um
documento. Nada do que falam, e principalmente escrevem, é inconsequente. Isso se torna
ainda mais grave quando servem no exterior, pois um diplomata acreditado no exterior será
representante de seu país 24 horas por dia, não apenas durante o período de seu expediente
de trabalho.
98
Cf. http://www.acessoainformacao.gov.br/assuntos/relatorios-dados/informacoes-classificadas/levantamento-de-informacoes-classificadas-2016-2017.xlsx.
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Os vistos e a reciprocidade
Quando se fala em visto, logo vem à cabeça o concedido pelos Estados Unidos, um dos
mais difíceis de ser conseguido, tendo em conta o alto número de estrangeiros que tentam
ingressar ilegalmente em território norte-americano. Esse termo, que surgiu da referência à
expressão “o documento que foi visto”, representa a oficialização emitida por um determi-
nado governo que autoriza um indivíduo a ingressar em um país temporariamente para cum-
prir certas finalidades. Isso não é privilégio dos EUA e funciona na base da reciprocidade.
A concessão de um visto é tarefa dos ministérios das relações exteriores, ou órgãos
equivalentes, dos países. Trata-se de uma atribuição do serviço consular, geralmente, por-
tanto, é emitido por consulados. A maioria dos países, no entanto, tem seus serviços consu-
lares fundidos ao diplomático, e são os mesmos os funcionários que desempenham ambos.
Esse é o caso brasileiro.
O Itamaraty, nosso Ministério das Relações Exteriores (MRE), cumpre a tarefa de auto-
rizar, denegar ou não conceder vistos de acordo com o disposto na legislação brasileira e na
reciprocidade diplomática, ou seja, nossos critérios de avaliação de um pedido de visto de
um estrangeiro seguem também as premissas adotadas pelo governo do solicitante quando
um brasileiro solicita o mesmo documento para ingresso naquele país.
No dia 24/11/2017 entrará em vigor a Lei n. 13.445, de 24/05/201799, que estabelece
novas regras de migração, entre as quais estão os critérios para autorização de visitantes
estrangeiros e imigrantes ao Brasil100. Outros textos legislativos que tratam do tema são o
Decreto n. 86.175, de 10/12/1981101 e algumas resoluções normativas do Conselho Nacional
de Imigração (“CNIg”)102.
Nas relações consulares, a exigência de visto é a regra, sendo a dispensa a exce-
ção. Os brasileiros são dispensados de obter um visto de entrada em um determinado país
quando houver acordo bilateral que autorize essa dispensa. Assim, sempre em respeito à
reciprocidade, o mesmo tratamento deve ser dado aos nacionais dos países signatários. É
por isso, por exemplo, que necessitamos de visto para ingressar nos EUA e no Canadá, mas
não precisamos desse documento para viajar à França ou ao Reino Unido. Em alguns casos,
a dispensa só é aplicada aos portadores de passaporte diplomático ou oficial, dependendo
do que se estabelece no tratado.
A não exigência de um visto não significa que o estrangeiro está livre para permanecer
pelo tempo que quiser e desempenhar qualquer atividade no país que visita. Se um italiano
resolve visitar o Brasil como turista e permanece em território brasileiro por tempo menor do
que o prazo máximo que lhe foi autorizado – 90 dias, por exemplo –, sua situação migratória
aqui será regular. Porém, se, depois de chegar ao país, resolve arrumar um emprego, neces-
99
Cf. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13445.htm#art125.
100
Esse tema foi objeto de algumas de nossas aulas de Direito do curso preparatório do Gran para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata: https://
www.grancursosonline.com.br/concurso/diplomata-cacd.
101
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D86715.htm.
102
Disponível em: http://acesso.mte.gov.br/trab_estrang/resolucoes-normativas.htm.
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sitará de um visto de trabalho. A dispensa de visto serve somente para turismo ou reuniões
de negócios.
Receber um visto não significa ter direito de ingresso em um país. Ao desembarcar em
território da nação que pretende visitar, caso necessite de visto, deve apresentá-lo à autori-
dade do serviço de imigração. O agente que avaliar o passaporte e o visto concedido pelo
serviço exterior tem autoridade, no entanto, para recusar a entrada do estrangeiro, mesmo
que o visto esteja válido e seja legítimo.
O visto, portanto, é apenas uma avaliação prévia de que os documentos que foram
apresentados em um consulado ou setor consular de uma embaixada pareciam válidos e a
autoridade consular considerou que o solicitante dizia a verdade. Porém, se na imigração a
avaliação for distinta, o ingresso do estrangeiro será denegado.
Finalmente, não se deve confundir prazo de validade de visto com prazo de autoriza-
ção de permanência no país. Assim, se o visto do visitante estrangeiro for ainda válido por
um ano, isso não significa que será autorizado a permanecer pelo mesmo período no país
visitado (o prazo máximo costuma ser de 3 a 6 meses). Por outro lado, mesmo que seu visto
vença no dia seguinte à sua chegada ao destino, poderá ser autorizado a permanecer no
país por meses, mesmo com o visto vencido.
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Após sua assinatura, o ato internacional deverá, conforme o caso, ser submetido à
apreciação parlamentar. O envio do ato ao Congresso Nacional é feito pela Presidência da
República, mediante a expedição de Mensagem aos Membros do Congresso Nacional, cuja
minuta, preparada pelo MRE, é submetida à consideração da Presidência da República por
meio de Exposição de Motivos (emitida apenas pelo MRE) ou Exposição de Motivos Intermi-
nisterial (emitida pelo MRE em conjunto com os demais ministérios envolvidos com o tema).
Encaminhado o ato internacional pela Presidência da República, segue para Congresso
Nacional, pela Câmara dos Deputados. Com base no teor do Ato, a Presidência da Câmara
determina quantas e quais Comissões da Câmara precisarão analisá-lo antes da apreciação
pelo Plenário. A rigor, todo ato internacional é submetido, na Câmara, à Comissão de Rela-
ções Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), à Comissão de Finanças e Tributação (CFT)
– para verificar se há previsão orçamentária –, à Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania (CCJC) e à respectiva Comissão ou Comissões temáticas, com base na matéria
objeto do Ato (educação, esporte, seguridade social, etc.).
Os atos referentes ao MERCOSUL têm tramitação inicial diferenciada. Antes de serem
analisados pelas Comissões da Câmara, devem ser apreciados pela Comissão Mista do
MERCOSUL, composta pelos deputados federais e senadores que integram a Represen-
tação Brasileira no Parlamento do MERCOSUL. Uma vez aprovados na Comissão Mista,
seguem para a Câmara dos Deputados, para início da tramitação regular, de resto idêntica à
dos demais atos internacionais.
Em cada comissão em que o ato é apreciado, o presidente da comissão designa um
membro como relator do ato naquela comissão, o qual, na qualidade de relator, examinará
a matéria, pelo tempo que julgar necessário, e emitirá relatório, que pode ser pela aprova-
ção ou pela rejeição do ato. Uma vez elaborado o relatório, cabe ao presidente da comissão
colocá-lo em pauta em uma das reuniões da comissão, para apreciação pelo colegiado.
Se for aprovado pelos membros da comissão, o relatório se torna o parecer oficial da pró-
pria comissão.
Uma vez apreciado por todas as comissões cabíveis, o ato internacional, acompanhado
dos pareceres de todas as comissões que o analisaram, é encaminhado ao Plenário da
Câmara, onde cabe ao presidente da Câmara dos Deputados decidir quando (e se) o coloca
em pauta para votação. No caso de atos internacionais, a aprovação não requer votação
nominal. Podem, portanto, ser aprovados em "votação simbólica", desde que nenhum partido
se oponha à sua aprovação automática. Se rejeitado pelo Plenário da Câmara, encerra-se
a apreciação parlamentar do ato internacional. Se aprovado, segue para apreciação pelo
Senado Federal.
No Senado, a tramitação de atos internacionais costuma restringir-se à Comissão de
Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), que aprecia o ato antes de seu encaminha-
mento ao Plenário. Como na Câmara, cabe ao presidente da Comissão de Relações Exte-
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A frase que intitula este artigo é uma brincadeira que costumo repetir para afirmar algo
que não parece óbvio, especialmente para quem não costuma viajar muito, porém será facil-
mente compreensível a você, depois que ingressar na carreira diplomática e tiver alguma
lotação que lhe exija constantes deslocamentos, em especial para fora do país.
Como se sabe, os diplomatas costumam viajar com bastante frequência, dada a natu-
reza da atividade que exercem. Em algumas áreas do Ministério das Relações Exteriores
(MRE), no entanto, essas viagens são mais recorrentes do que em outras. É o caso, por
exemplo, dos colegas lotados nos Cerimoniais, tanto do Itamaraty, que organiza as cerimô-
nias no Brasil e exterior, de que participam o chanceler e outras autoridades do ministério,
como o Cerimonial da Presidência da República (PR), que se ocupa das atividades do presi-
dente, inclusive em outros países103.
Exatamente por proporcionar numerosas oportunidades de viagens ao exterior, pois
o Ministro das Relações Exteriores mal para no Brasil104, muitos jovens diplomatas sonham
em ser lotados no Cerimonial assim que deixam o Instituto Rio Branco. Boa parte dos que
conseguem, porém, logo percebem que o que parecia uma enorme vantagem (viajar mais
do que colegas de outras áreas) na verdade tem alto custo do ponto de vista pessoal e prin-
cipalmente familiar.
Diz a sabedoria popular que tudo o que é demais enjoa. Outros dizem, ainda, que é
melhor viajar para a cidade vizinha de onde se mora de férias do que a Paris a trabalho.
Quem viaja constantemente por razões profissionais tende a concordar com esses dizeres.
Eu nunca trabalhei em nenhum Cerimonial, mas já ocupei alguns cargos, no MRE e em
outros órgãos para os quais fui cedido, que exigiram de mim realizar algumas viagens que,
para meus amigos, pareciam dos sonhos e eu as enxergava como pesadelos.
Isso porque viajar a trabalho é bastante cansativo e normalmente só se conhece as
cidades que se visita pela janela do carro que te leva de um compromisso a outro. Em geral,
não sobra tempo, ou se sobra é quase nada, para turismo. Até porque, viagens financiadas
por recursos públicos não devem mesmo manter diplomatas fora de suas cedes sem neces-
sidade profissional, ou seja, em geral é consideravelmente frustrante trabalhar em um país
interessante ou que não se conhece e não poder visitar nenhum ponto turístico. É como pas-
sear pela praia de terno e gravata, sem poder ao menos molhar os pés no mar.
Isso sem contar o estresse, que só aumenta com o tempo e as repetições, para se fazer
e desfazer malas, encarar filas de check-in de aeroportos, detectores de metais, longos voos
apertado em classe econômica, noites de sono perdidas, instalação em hotéis, transporte
que não aparece, câmbio de moedas etc. Quando se viaja muito e a maior parte dos desloca-
mentos é para locais distantes, o que não é tão difícil ocorrer se considerarmos que Brasília
103
O Cerimonial da PR é sempre chefiado e composto, em sua maioria, por diplomatas de carreira requisitados pela Presidência.
104
O Cerimonial do Itamaraty se ocupa principalmente das viagens do chanceler, mas também organiza os deslocamentos do Secretário-Geral das Relações
Exteriores (número 2 do MRE) e participa das viagens presidenciais.
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está longe de tudo, há um determinado momento em que você chega à conclusão de que o
melhor lugar do mundo é sua própria casa.
A lembrança que fica das viagens, no entanto, e as diárias que se recebe (quando não é
necessário gastar tudo), é, em geral, muito boa. É o que se chama de bagagem cultural, que
poucas carreiras como a diplomática oferecem. No fundo, temos acesso a lugares, pessoas
e ambientes que normalmente não teríamos com a renda que a carreira nos proporciona. Por
motivos profissionais, conhecemos tudo isso, e a experiência que fica é excelente. Por isso,
repito sempre: ter viajado é melhor do que viajar (a trabalho, claro).
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São muito utilizados também os termos em latim Memorandum (singular) e Memoranda (plural).
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A diplomacia presidencial
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Volume 2
Costumo dizer que a diplomacia é uma profissão em que se pode ter vários empregos
em uma única carreira. Vimos, em diversos artigos, o que faz um diplomata107: ao longo de
30, 40 ou mais anos em que se permanece no Ministério das Relações Exteriores (MRE)
após a aprovação no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), há opções
profissionais das mais diversas, tanto para funções no Brasil como no exterior. É possível,
assim, trabalhar com temas como promoção comercial ou cultural, política ou economia,
meio ambiente ou administração, cerimonial ou assessoria de imprensa e assim por diante.
Porém, se alguém lhe perguntar o que faz um diplomata, pode-se reduzir a resposta a três
verbos: informar, negociar e representar.
Em quaisquer dessas funções que podem ser exercidas por um diplomata no decor-
rer de sua longa carreira, aplica-se sempre pelo menos uma dessas três ações. Assim, por
exemplo, quando esse profissional está no exterior e acompanha a política interna do país
onde vive para relatar ao Itamaraty, informará à Secretaria de Estado (que controla a execu-
ção da política externa brasileira da Capital Federal), por meio de um expediente chamado
telegrama. O telegrama nada mais é do que uma comunicação eletrônica, como um e-mail,
que circula criptografado pela rede de comunicações do MRE. O nome foi herdado do sis-
tema do passado, que tinha por base o envio de telegramas.
Para ter acesso a essas informações, ainda no exemplo supracitado, o diplomata deve
também exercer as duas outras funções básicas. Como um repórter esportivo que acompa-
nha uma partida de futebol dentro do campo, nosso representante no exterior tem acesso a
informações privilegiadas, que não estão disponíveis na imprensa. Para isso, porém, neces-
sita saber representar o Brasil de forma adequada e interagir com interlocutores-chave do
governo e da sociedade local, que são formadores de opinião e tomadores de decisões que
afetam o rumo do desenvolvimento dessa nação e, por tabela, das relações com nosso país.
Porém não basta saber representar e informar, pois o acesso à informação depende
também do poder de negociar. Todo diplomata negocia durante quase todo seu período de
trabalho. Não me refiro apenas à negociação clássica de um acordo internacional, por exem-
plo. Falo igualmente das pequenas negociações. Em uma simples conversa com uma autori-
dade governamental, por exemplo, o diplomata negocia, porque o interlocutor sabe que qual-
quer informação que transmita aos diplomatas será transmitida ao governo que representa.
É preciso, assim, saber como conseguir essa informação e, para esse fim, negociar.
Há, ainda, uma quarta função que alguns atribuem à atividade diplomática, mas que
tecnicamente não faz parte: a tarefa de assistir. Já vimos, no entanto, que a missão de dar
assistência aos nacionais cabe à atividade consular, não à diplomática. Além disso, em última
instância, é possível considerar a atribuição de assistir como parte da responsabilidade de
representar, não o Estado, mas nossos compatriotas.
107
Cf. http://blog.vouserdiplomata.com/categoria/artigos-sobre-diplomacia/.
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Como no caso do MRE as carreiras diplomática e consular são exercidas pelos menos
profissionais selecionados pelo mesmo CACD, não é completamente equivocada a afirma-
ção de que assistir está entre as funções básicas da diplomacia brasileira.
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de manhã, na padaria perto de onde vive, seria conveniente apresentar a frase, ainda que
decorada, que permita se comunicar com o padeiro.
É útil, sem dúvida, a um diplomata falar idiomas estrangeiros, devido inclusive à natu-
reza de suas interlocuções, mas seu impecável domínio servirá apenas como um bônus de
comunicação facilitada. No caso das línguas exóticas, impressiona encontrar um brasileiro
que fale russo, chinês, árabe ou algo do tipo, mas a utilidade desse conhecimento costuma
restringir-se a usos locais nos países onde esses idiomas são oficiais.
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Este artigo faz parte da série de textos sobre os expedientes produzidos ou trocados
com o Ministério das Relações Exteriores (MRE). Faremos análise dos documentos prepara-
dos por diplomatas para reuniões de autoridades brasileiras com estrangeiras, quais sejam:
os pontos de conversação, a ficha-país, a ficha de evento e a ficha resumida.
Pontos de conversação. Trata-se de informação sucinta destinada a subsidiar e orien-
tar a interlocução de autoridade com contrapartes em situação específica, como visita bilate-
ral, café da manhã de trabalho, reunião à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas
etc. Pode centrar-se em um tema que esteja em negociação ou contemplar mais amplamente
vários pontos da agenda com determinado país ou organização internacional.
Os pontos de conversação são escritos em primeira ou terceira pessoa, conforme o
caso, e contemplam todos os temas julgados pertinentes de tratamento pela autoridade.
São redigidos em forma aproximada a como os temas são verbalizados a um interlocutor,
podendo estar, se conveniente, escritos em língua estrangeira. Há casos em que os pontos
de conversação são na verdade “pontos de não conversação”: quando dizem respeito a
temas cuja menção não seja conveniente ao lado brasileiro, mas que podem ser suscita-
dos pelo interlocutor. Nesse caso, os temas deverão trazer a menção “caso suscitado” entre
parênteses.
Os pontos de conversação são geralmente feitos em formato de tópicos e redigidos
com concisão. Os pontos de conversação podem ser acompanhados, quando necessário, de
um texto em fonte menor e em itálico que explica e contextualiza a mensagem a ser dirigida
a um interlocutor. Os pontos devem evitar obviedades e fórmulas usuais de cortesia que se
utilizam em uma conversação diplomática. Sobretudo quando se destinam a maço básico108
que reunirá assuntos variados, os pontos de conversação devem registrar, ao final do texto
e com tabulação à direita, a data da revisão final e a unidade que os elaborou. Em suma, os
pontos de conversação são uma espécie de “cola” de que se serve a autoridade brasileira
para “guiar” a conversa com a autoridade estrangeira.
Ficha-país. Documento para consulta e orientação da participação do presidente da
República, do vice-presidente, do ministro das Relações Exteriores ou do secretário-geral
das Relações Exteriores em reuniões bilaterais no Brasil e no exterior. A ficha-país traz infor-
mações sobre o país e sobre as relações bilaterais e é utilizada como material de consulta
antes da reunião. Deve permitir que a autoridade tenha visão abrangente sobre o país do
interlocutor e sobre os principais temas a serem discutidos. Sua função é operacional: deve,
portanto, ser concisa e apresentar uma linguagem direta e objetiva.
A seção da ficha-país intitulada “Sentido da Visita/Reunião” apresenta, com a maior
especificidade possível, os objetivos a serem atingidos, com uma hierarquia de prioridade
entre eles. Ao explicitar as principais demandas e interesses específicos que o Brasil deseja
108
Saiba mais sobre os maços básicos em: http://blog.vouserdiplomata.com/expedientes-documentos-internos-do-mre/.
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promover, não deve deixar de mencionar eventuais objetivos políticos mais amplos e genéri-
cos. A ficha-país é, portanto, uma espécie de verbete de Wikipédia, porém com informações
aprofundadas, e muitas vezes sensíveis, dos interesses do Brasil com aquele país.
Ficha de evento. Documento utilizado para consulta e orientação da participação do
presidente da República, do vice-presidente, do ministro das Relações Exteriores ou de
embaixador em eventos multilaterais. A ficha traz informações completas sobre o evento,
tratando-se de documento que será consultado pela autoridade brasileira antes da reunião
e durante o seu transcurso. A ficha deve incluir os pontos de intervenção ou o discurso a ser
pronunciado pela autoridade brasileira. É como a ficha-país, porém, em geral, com menor
extensão e focada no evento específico.
Ficha resumida. Finalmente, essa ficha é a versão resumida de uma ficha-país ou de
uma ficha de evento109. É um documento breve, com ênfase nos pontos de conversação,
para orientar a participação do presidente da República, do vice-presidente, do ministro das
Relações Exteriores ou de embaixador em reuniões bilaterais e em eventos multilaterais. A
ficha resumida é o documento a ser manuseado pela autoridade brasileira durante o encontro
com seu interlocutor. Deve, portanto, ser sucinta, de fácil leitura e conter apenas as mensa-
gens principais a serem transmitidas.
109
A extensão será de até quatro páginas, com a possibilidade de extensão máxima de seis páginas, quando justificável.
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A atividade diplomática exige bom senso, muita criatividade e iniciativa para ser desem-
penhada. Além de falar idiomas estrangeiros, os diplomatas necessitam ter conhecimento ou
estudar variados temas para atuar como representantes do Estado brasileiro e seus nacio-
nais. Contatos, conversas e pesquisas são exemplos de necessidade para o exercício dessa
função. A forma escrita de comunicação é, no entanto, o principal instrumento a ser “tocado”
pelos membros da carreira diplomática. Se deixá-lo desafinar, a música fica comprometida.
A escrita não é para os diplomatas apenas uma ferramenta, como um serrote para o
carpinteiro. Prefiro a imagem de um instrumento, não apenas musical, mas o objeto de um
artista que deve produzir algo a ser admirado pelas pessoas, como o pincel para um pintor,
o piano para um pianista ou uma bola de futebol para o Neymar.
Há uma piada muito repetida no Itamaraty que descreve um bom diplomata como alguém
que sabe mandar uma pessoa para o inferno de maneira tão especial que essa pessoa fique
ansiosa para o início da viagem. Mas de nada adianta o talento de saber se relacionar com
pessoas sem que isso seja registrado por escrito. E é exatamente esse o registro que fica
da atividade diplomática. Sem textos, não há decisão oficial, não se formam posições de um
governo e, principalmente, não são seguidas tradições de posicionamento, que é o que dá
prestígio à diplomacia de uma nação.
Quando algum fato político (como um golpe de Estado) ou físico (desastre natural)
ocorre em algum país, a imprensa brasileira imediatamente busca no Ministério das Relações
Exteriores (MRE) qual seria o posicionamento brasileiro sobre o tema. Isso se dá sempre por
escrito, por meio de uma nota à imprensa que reflita o que o governo do Brasil acha ou pre-
tende fazer a respeito do assunto. Cada palavra dessas notas é estudada no Itamaraty com
bastante rigor, pois qualquer termo mal-empregado pode afetar nossas relações externas.
O mesmo se aplica aos textos produzidos internamente no ministério. Toda comunica-
ção entre as unidades da Secretaria de Estado (sede do MRE em Brasília) é feita por inter-
médio de algum tipo de expediente (documento escrito). Esses expedientes servem de base
para o acompanhamento e prosseguimento do assunto. Assim, por exemplo, um terceiro-se-
cretário pode propor alguma iniciativa do governo brasileiro sobre um determinado tema em
sua área de atuação. Propus, então, um texto, que deve ser aprovado por sua chefia ime-
diata, que também o leva a seu superior hierárquico, até que muitas vezes o caso vai parar
nas mãos do chanceler ou até do presidente da República.
O mesmo ocorre na comunicação do MRE em Brasília com seus escritórios de repre-
sentação pelo Brasil ou postos no exterior (embaixadas, consulados, escritórios e missões
junto a organismos internacionais). Tudo é registrado por escrito e fica no sistema para con-
sulta posterior quando o tema voltar a ser debatido ou requerer novas decisões. É o que
chamamos, no Itamaraty, de antecedentes do assunto. A não ser quando se tratar de tema
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Uma das áreas mais fascinantes, atuais e dinâmicas de atuação dentro da carreira
diplomática é a da política externa para a prevenção e o combate aos ilícitos transnacionais
e cooperação em foros bilaterais e multilaterais na matéria. Os diplomatas que acompanham
esses temas no Itamaraty interagem não apenas com interlocutores estrangeiros de gover-
nos e organismos internacionais, mas também com membros de diversos órgãos do governo
brasileiro, especialmente no plano federal.
Dentro da nova estrutura do Ministério das Relações Exteriores (MRE)110, compete ao
Departamento de Segurança e Justiça, e mais especificamente à Divisão de Combate ao
Crime Transnacional, promover e coordenar as atividades de cooperação internacional nas
áreas de prevenção e combate ao crime organizado transnacional, inclusive o tráfico de
drogas ilícitas, de armas, de pessoas, especialmente mulheres e crianças; contrabando de
migrantes; tráfico de órgãos; corrupção, suborno, lavagem de dinheiro, financiamento do
terrorismo; terrorismo internacional; pirataria e roubo armado de cargas marítimas; e crime
cibernético.
O Departamento de Segurança e Justiça está subordinado à Secretaria de Assuntos de
Soberania Nacional e Cidadania, unidade de terceiro escalão do MRE. Os diplomatas lotados
nesse departamento coordenam a participação brasileira em reuniões internacionais, tanto
em foros bilaterais como multilaterais, que tratem da prevenção e combate ao crime organi-
zado transnacional e da cooperação internacional com relação aos delitos supracitados.
A coordenação do Itamaraty com órgãos do governo brasileiro sobre temas relaciona-
dos ao combate a ilícitos transnacionais ocorre, em especial, com os Ministérios da Justiça
e da Defesa, no que tange à intersecção entre as competências do Departamento de Polícia
Federal e das três Forças Singulares na prevenção e no combate aos crimes que ultrapas-
sam as fronteiras nacionais. Além disso, o departamento representa o MRE em diversas
instâncias governamentais colegiadas, como o Conselho Nacional sobre Drogas (CONAD),
o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN); o Conselho de Controle de Atividades Finan-
ceiras (COAF); o Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção da Contro-
ladoria-Geral da União; a Comissão Nacional de Segurança Pública nos Portos, Terminais
e Vias Navegáveis (CONPORTOS); a Comissão Nacional de Segurança da Aviação Civil
(CONSAC), entre outros mecanismos ou grupos formais e informais.
O leque temático do departamento é bem aberto e variado. Essa agenda tem temas
como a prevenção do crime e a segurança pública; o problema mundial das drogas; o tráfico
de pessoas; o terrorismo; o contrabando de migrantes; o tráfico de armas; o combate à cor-
rupção e ao suborno transnacional; o combate à lavagem de dinheiro; a segurança portuária
e aeroportuária; e o combate a crimes cibernéticos.
110
Cf. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.
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O mundo está cada dia mais conectado. Se, de um lado, o avanço da tecnologia faci-
lita as comunicações internacionais e diminui a distância entre os países, de outro, facilita o
cometimento de crimes que desrespeitam fronteiras e o poder dos Estados. Nesse contexto,
a atuação dos diplomatas torna-se imprescindível para facilitar o intercâmbio de informações
entre os governos, com vistas à elaboração de políticas públicas nacionais que combatam
esses ilícitos.
Veja a complexidade do trabalho diplomático escondido sob o guarda-chuva de um
único tema. Não é à toa que muitos defendem que o diplomata, mesmo quando se especia-
liza e dedica boa parte da carreira a uma única área, precisa ser também um bom generalista
e estar sempre preparado para lidar com os mais diversos assuntos.
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Tema: O CACD
Artigos:
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Finalmente, caso esteja certo ou considere que tem chance de que seu nome esteja na
lista dos aprovados para a Segunda Fase do CACD, a necessidade de manter, e até inten-
sificar, o ritmo de estudos deve permanecer. A mensagem, portanto, é sempre a mesma: em
qualquer situação, você está sobre uma bicicleta; não pare de pedalar, senão vai cair!
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Ainda que sejam, supostamente, as provas mais fáceis da Terceira Fase do Concurso
de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), os exames de língua francesa e espanhola
assustam demais a maioria dos candidatos por uma razão muito simples: como não são idio-
mas estudados a fundo na maioria das escolas brasileiras e temos menos contato, pela via
cultural (músicas, filmes etc.), do que com o inglês, há menor familiaridade dos CACDistas
com espanhol e francês do que com as demais matérias cobradas para ingresso no Itamaraty.
Encarado de longe, o monstro parece mesmo assustador. E como fazer para derrotá-
-lo? Há muitas maneiras, claro, inclusive estudar na França, Espanha ou outro país onde o
idioma oficial seja um dos dois. Como poucos têm tempo e recursos para isso, pensemos em
formas mais racionais. Eu diria que, se a criatura parece grande demais, o melhor é tentar
dividi-la em partes menores, mais fáceis de serem absorvidas. Aqui vão pelo menos 4 dicas:
Dica 1: Não superdimensione essas provas. O CACD tem três fases. Na medida em
que os candidatos vão avançando, o rigor das correções passa a ser menor, pois diminui sen-
sivelmente o número de candidatos e há a necessidade de reduzi-los à quantidade de vagas
oferecidas. Assim, em teoria, é mais fácil ser aprovado em uma das provas da Terceira Fase
do que no Teste de Pré-Seleção (exame objetivo da Primeira Fase). Mesmo na última etapa,
em que são aplicadas seis avaliações, as línguas francesa e espanhola compõem um único
exame, ou seja, cada uma tem metade do peso das cinco demais disciplinas.
Dica 2: Estude treinando o formato das provas. Os exames de francês e espanhol
valem juntos, como afirmado, 100 pontos. São quatro questões, cada um vale 25 pontos:
dois resumos e duas versões do português para o respectivo idioma. Como se sabe, para
aprender bem uma língua, é preciso estudar gramática e ampliar vocabulário, mas evite fazer
isso separadamente, fora de um contexto. Enquanto estiver praticando resumos e versões,
você vai se deparar com dúvidas gramaticais e precisará constantemente consultar dicioná-
rios para treinar as versões. É como aprender piano aprendendo a tocar música em vez de
praticar exercícios de escala musical.
Dica 3: Leia a imprensa estrangeira escrita nesses dois idiomas. A leitura não é exa-
tamente uma habilidade cobrada no CACD, já que não existem mais provas orais, porém a
compreensão de texto é fundamental, pois tanto resumos como versões são baseados em
textos a serem apresentados pelos examinadores (serão quatro textos no total). É conve-
niente, portanto, praticar a compreensão textual. Se você fizer isso lendo “Le Monde Diplo-
matique” ou “El País” ou outros veículos similares disponíveis online, além de praticar francês
e espanhol, ampliar seu vocabulário e melhorar sua gramática, você vai estudar, no mínimo,
também para as provas de Política Internacional da Primeira e Terceira Fases.
Dica 4: Procure um curso ou um professor. Nenhuma preparação adequada para o
CACD dispensa a necessidade do estudo individual e solitário, a famosa bunda na cadeira.
No caso dos idiomas, no entanto, não somente francês e espanhol, mas português e inglês,
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ter um professor para consultar é muito importante. Ao seguir as dicas que demos e focar os
estudos em exercícios de simulado das provas, você precisará de um profissional qualificado
para corrigir seus textos.
Desde o ano passado, o Gran oferece curso de preparação para a Segunda Fase do
CACD, com a possibilidade de correção de exercícios (para a Primeira Fase, há aulas gra-
vadas constantemente atualizadas desde as últimas três edições do concurso). A partir de
2022, para o CACD, lançamos também aulas de espanhol e francês, além da possibilidade
de um pacote de correção de exercícios nesses idiomas. Eis, portanto, a dica final, que
resume todas as demais: economize tempo e dinheiro e ainda assim tenha uma excelente
preparação com o Gran!
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cer a carreira, saiba que, com a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Bengala, os
futuros diplomatas só se aposentarão compulsoriamente aos 75 anos de idade!
Finalmente, caso esteja certo ou considere que tem chance de que seu nome esteja na
lista dos aprovados da Segunda Fase do CACD, a necessidade de manter, e até intensificar,
o ritmo de estudos permanece a mesma. A mensagem, portanto, não muda: em qualquer
situação, você está sobre uma bicicleta; não pare de pedalar, senão vai cair!
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• fórum de dúvidas;
• acelerador de vídeos em 1.5x e 2x;
• cronograma de estudos personalizado;
• audioaulas disponíveis para download;
• simulados online com correção em tempo real;
• recurso para anotações prático e moderno;
• certificação gratuita após a conclusão do curso;
• monitor de desempenho com indicadores sobre sua preparação;
• possibilidade de assistir às videoaulas em modo offline por meio do iOS e Android113.
Não fossem todos esses diferenciais exclusivos que valem para todos os cursos pre-
paratórios do Gran, a preparação para o CACD tem um derradeiro e definitivo: a maioria de
nossos professores são jovens diplomatas. Essa vantagem é única, pois esses jovens, além
de especialistas nas disciplinas que ministram, têm na cabeça todo o conteúdo adquirido
para o sucesso no exame. Tudo isso a um custo muito inferior a grande parte dos cursos
concorrentes. Não existe, portanto, melhor custo-benefício para quem sonha com a carreira
diplomática. Essa é uma dica valiosa para os candidatos em reta final de preparação!
113
Saiba mais em: https://www.grancursosonline.com.br/cursos/por-concurso/combo-para-diplomata-cacd-primeira-e-segunda-fases-intensivao.
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verifique com cautela se essa afirmação se pode extrair mesmo da fala do autor, já que na
maioria das vezes trata-se apenas de uma alusão feita por ele ao comentário de outrem.
Muita atenção, portanto! As questões de Língua Portuguesa do Cebraspe são muito simples
e claras, exigindo do candidato apenas leitura atenta tanto do texto quanto dos comandos e
seus subsequentes itens.”
Erro 5: Comparação com outros candidatos. O maior desafio do CACD diz respeito a
você com você mesmo. Diferentemente de outros concursos, seu problema não está relacio-
nado a vagas e, portanto, a ter de buscar desempenho melhor do que seus concorrentes. A
dificuldade que enfrentará está em atingir o nível que se espera de cada candidato, ou seja,
tirar a nota mínima para aprovação exigida em cada prova e a média geral, que é de 60%.
Muitas vezes, o número de aprovados é menor do que o número de vagas oferecidas, e, em
outras, maior. No meu concurso, por exemplo, foram 25 aprovados para apenas 24 vagas.
Todos os aprovados foram nomeados terceiros-secretários. Assim, concentre-se em sua pre-
paração individual e não se abale com estudos alheios.
Note que nenhum desses erros está relacionado com a falta de estudos, que eviden-
temente tiraria da disputa qualquer candidato. Essas dicas, portanto, aplicam-se a candida-
tos que se dedicam a uma preparação intensa, mas que, para ser adequada, precisa evitar
falhas básicas. Não caia nessas armadilhas e conte com nossa equipe do Gran para te
ajudar sempre!
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É meio estranho tratar deste tema durante o Concurso de Admissão à Carreira de Diplo-
mata (CACD). Neste momento, você pode nem saber ainda se estará na Segunda Fase,
porém creio que o que vou dizer servirá para reflexões mesmo após sua eventual aprovação
no concurso. São informações que servem para qualquer pessoa que se interesse pela diplo-
macia, seja já um CACDista ou não.
Costumo dizer que a carreira diplomática é um sacerdócio. A analogia não tem nada
que ver com celibato, mas com o nível de dedicação exigido. A necessidade de deslocamen-
tos e adaptações constantes dificulta a convivência familiar, afasta amigos e dificulta plane-
jamentos e compromissos de longo prazo.
Assim, muitos deixam de lado sonhos simples, como ter uma casa própria, desanima-
dos com a ideia de ter de abandoná-la na remoção seguinte. Outros reclamam que a esposa
ou o marido muitas vezes tem dificuldade de acompanhar ao exterior por conta de sua pró-
pria carreira e necessidade de permanência no Brasil.
Os obstáculos que um diplomata necessita contornar para seguir na carreira são nume-
rosos e constantes. Isso faz com que muitos questionem sua vocação. Não porque achem
que não têm perfil para estar na carreira, mas porque sua profissão exige sacrifícios que não
sabe se compensam a satisfação recebida pelo Itamaraty.
Além de toda dificuldade de ordem pessoal que enfrenta todo diplomata, o próprio
ingresso na carreira é dos mais difíceis do serviço público, algo que você, que lê estas linhas,
deve saber melhor do que eu, que vivi esse drama há mais de 20 anos.
Portanto, o momento de questionar sua vocação é agora, antes de investir em sua pre-
paração para o CACD tudo o que está disposto a dar. Não que depois de aprovado você dei-
xará de fazê-lo. Como eu disse, esse questionamento vocacional vai acompanhá-lo por toda
a vida. Até hoje, em dias ou fases ruins, pergunto o que me levou a investir nesse sonho de
representar o Brasil junto a outros países.
Posso afirmar, do meu ponto de vista, que o saldo continua bastante positivo. Tanto é
assim que não apenas continuo na carreira, mas também estimulo jovens a dedicarem-se
aos estudos para fazer o mesmo. Tenho o dever, porém, de falar do que é bom e do que nem
é tanto nessa vida de sacerdote (ou de sacerdotisa).
Questione-se, avalie com teus próprios valores e interesses se essa vida te interessa.
E se a resposta for sim, como até hoje se mantém para mim, lamento, mas o CACD, neste
momento, e o Itamaraty, depois da aprovação, exigirão de você um esforço que poucos con-
cursos e profissões exigem de seus candidatos e profissionais. É o preço que se paga pelo
desejo de acordar de manhã (muitas vezes sem saber onde está, como já me aconteceu em
períodos de viagens constantes) e começar um dia de trabalho imprevisível, completamente
diferente, mas tão fascinante quanto o vivido ontem. Boa sorte!
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Conforme vimos em artigo publicado no blog Vou Ser Diplomata114, o tema da possibi-
lidade de perda da nacionalidade brasileira costuma despertar debates entre os candidatos
ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), porque a carreira é privativa de
brasileiros natos. Se algum brasileiro perder essa condição, portanto, não poderá mais se
apresentar como candidato ao CACD.
Recentemente, o tema ganhou manchetes na imprensa por conta da repercussão do
caso da carioca Cláudia Cristina Sobral Hoerig, citada como a primeira pessoa a perder a
cidadania brasileira e ser extraditada para o exterior após a promulgação da Constituição
Federal de 1988. Tal extradição gerou debate sobre as circunstâncias em que brasileiros com
outras nacionalidades podem enfrentar a mesma situação.
A senhora Cláudia Hoerig teve sua extradição para os Estados Unidos autorizada pelo
Supremo Tribunal Federal após ter tido a nacionalidade brasileira declarada perdida pelo
Ministério da Justiça, em razão de processo anterior de naturalização norte-americana. Como
consequência, comunidades de brasileiros expatriados que igualmente adquiriram outras
nacionalidades por processo de naturalização voluntária ficaram apreensivas.
Nesse contexto, o Senador Antônio Anastasia apresentou, na Comissão de Constitui-
ção e Justiça do Senado Federal, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n. 6/2018,
com a finalidade de alterar o artigo 12, § 4º, da Constituição Federal de 1988, de forma a per-
mitir que cidadãos brasileiros tenham outra(s) nacionalidade(s), em caráter originário ou por
processo de naturalização, e só possam perder a nacionalidade brasileira por cancelamento
de naturalização mediante sentença judicial, ou por pedido expresso do interessado, ressal-
vadas as situações que possam vir a acarretar apatridia.
Para entrar em vigor, o texto deverá tramitar pelo Senado e pela Câmara dos Deputa-
dos e ser aprovado, em dois turnos de votação, por maioria qualificada dos votos dos par-
lamentares. Entretanto, por força do artigo 60 §, 1º, da Constituição Federal, a proposta só
poderá ser tramitada após cessada a intervenção federal no Rio de Janeiro.
A alteração constitucional em apreço mostra-se oportuna para a adequação do orde-
namento jurídico nacional à nova realidade migratória do país115, que, em especial, a partir
da década de 80, passou a experimentar intenso fluxo emigratório. Neste cenário, tem sido
cada vez mais comum que brasileiros residentes no exterior busquem a naturalização nos
países onde se estabeleceram, visando contar com maior segurança jurídica para o exer-
cício de direitos, sem, no entanto, romperem seus vínculos familiares, afetivos e culturais
com o Brasil.
114
Cf. http://blog.vouserdiplomata.com/nacionalidade-brasileira-possibilidade-de-perda/.
115
Sugiro que os CACDistas fiquem atentos a esse tema, que foi objeto de algumas aulas de Direito Internacional que gravei para o curso de preparação ao
CACD do Gran.
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GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS
Volume 2
Por outro lado, a nova Lei de Migração (Lei n. 13.445/2017), em sintonia com os com-
promissos internacionais de luta contra a impunidade assumidos pelo Estado brasileiro, for-
malmente autorizou, em seu artigo 100, as autoridades brasileiras a realizarem a persecução
criminal de brasileiros, em razão de crimes cometidos no exterior, e que, em razão da veda-
ção constitucional de extradição de nacionais brasileiros, poderiam não responder criminal-
mente por atos realizados fora do território brasileiro.
Eis aí um bom tema que eventualmente poderá ser cobrado no Teste de Pré-Seleção
(TPS) – prova objetiva da Primeira Fase do CACD – ou na prova escrita de Direito da Terceira
Fase do Concurso para a carreira diplomática.
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