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O Estado

do
Mundo

Carlos Pacheco | Colin Richards | Ghassan Zaqtan


João Barrento | John Frow | Moira Simpson
Paul Gilroy | Peter Sloterdijk | Rosângela Rennó
Santiago Kovadloff | Surendra Munshi | Wang Hui

lisboa:
tinta­‑da­‑china
MMVII
Índice

Apresentação: Emílio Rui Vilar 9


Proposição: António Pinto Ribeiro 11
Tradução:
Colin Richards: Catarina Mira; Ghassan Zaqtan: Catarina Belo;
John Frow: Catarina Mira; Moira Simpson: Catarina Mira;
O Espelho do Abismo, Carlos Pacheco 15
Paul Gilroy: Maria João Cotter; Peter Sloterdijk: João Barrento; Feridas das Descobertas, Colin Richards 25
Surendra Munshi: Maria João Cotter; Wang Hui: Maria João Cotter A Rotina dos Exilados, Ghassan Zaqtan 53
Revisão Científica:
Paul Gilroy/Surendra Munshi/Wang Hui: Rute Costa O Jardim Devastado e o Perfil da Esperança, João Barrento 69
Revisão: À Espera do Anticristo, John Frow 97
Luis Manuel Gaspar
Agradecimentos:
Um Mundo de Museus: Novos Conceitos,
Alexandra Pinho, Felicity Luard, Mahmoud Abu Hashhash Novos Modelos, Moira Simpson 121
Composição: Cultura e Multicultura na Era da Rendição, Paul Gilroy 161
Tinta-da-china
Capa: Os Novos Frutos da Ira: Pós­‑Comunismo,
R2Design Neoliberalismo, Islamismo, Peter Sloterdijk 191
(com adaptação da Tinta-da-china)
O Estado do Mundo para a Série Corpo da Alma,
1.ª edição: Outubro de 2006 (Temas e Debates) 2003­‑2006, Rosângela Rennó 207
2.a edição: Maio de 2007 A Construção do Presente: Feições Filosóficas
ISBN: 978-972­‑8955­‑27-4
Depósito legal: 259035/07 do Conceito de Trauma, Santiago Kovadloff 219
Será o Mundo Plano?, Surendra Munshi 241
Edições tinta­‑da­‑china, Lda.
Rua João de Freitas Branco, 35A
Algumas Reflexões acerca da Explicação Histórica
1500­‑627 Lisboa da China Contemporânea, Wang Hui 269
Tels.: 21 726 90 28/9 | Fax: 21 726 90 30
E­‑mail: tintadachina@netcabo.pt
Biografias 279
Fundação Calouste Gulbenkian
Avenida de Berna, 45­‑A
1067­‑001 Lisboa
www.gulbenkian.pt/estadodomundo
Apresentação

N o conjunto de iniciativas programadas para o 50.o aniversário


da Fundação, pareceu importante e oportuno realizar um fó-
rum que permitisse reflectir e problematizar a produção cultural da
actualidade e, simultaneamente, eleger temas emergentes e lançar
pistas para a acção futura.
Vivemos um tempo rico de experiências mas carregado de in-
certezas e riscos. E também de perplexidade, quando não de relati-
vismo, perante múltiplas contradições, ou mesmo gritantes absur-
dos: a disponibilidade de conhecimento e as práticas que parecem
ignorá­‑lo; a abundância e o desperdício convivendo com a escassez
e a fome; a informação aparentemente homogeneizadora e radicais
reivindicações do direito à diferença.
Ao iniciarmos este Fórum Cultural, com a edição de um livro
contendo dez ensaios, um conjunto de poemas e um portfolio de arte,
todos eles textos e obras inéditos e realizados expressamente para
este projecto, quisemos afirmar quão importante é para a Fundação
Calouste Gulbenkian a reflexão e a criação contemporânea, num
mundo em que, cada dia que passa, são mais as interrogações que a
alegria da criação.
A Fundação Calouste Gulbenkian é mais que um espaço de aco-
lhimento de práticas culturais. É também um lugar de produção de
[10] o estado do mundo

saber, um lugar de discussão pública, um lugar onde nascem ideias,


se concebem teorias, se formulam proposições, se faz acontecer arte.
Este livro reúne a participação de filósofos, escritores, ensaístas, soció-
logos, historiadores, um poeta e uma artista plástica, que tomam o
presente como matéria fundamental da sua reflexão e da sua produ-
ção. Ao lermos estes textos e ao vermos as imagens, congratulamo­‑nos
e estamos gratos pelo investimento intelectual que todos fizeram.
Como cidadãos do mundo que são, a nenhum preocupa a loca-
lidade onde vive, o seu país, a sua casa, a sua religião, o seu prazer Proposição
pessoal. Preocupam­‑se — e alertam­‑nos, caso fosse necessário —,
para as consequências das guerras que estão a acontecer e as que por-
ventura se avizinham, o agravamento das assimetrias, como a parte
mais negativa da globalização, e os vários modos de violência que
surgem no Mundo actual. A todos é comum a denúncia da injustiça
e de que é imperativo que algo mude. Nada poderia estar mais afas-
tado da utopia que este estado de ruínas e, no entanto, estes autores
fazem­‑nos crer que, de entre a desordem, a esperança é a alternativa.
Agradeço aos autores e ao António Pinto Ribeiro, coordenador
A situação global da cultura alterou­‑se radicalmente nas últimas
duas décadas. O movimento independentista que, a partir da
década de 50 do século xx, fez surgir novos países que começaram
deste projecto, e confio que o percurso, que agora se inicia, se desen- a rever as suas histórias — da nação às artes — já produziu expres-
volva e frutifique nas plataformas seguintes, com uma participação sões culturais próprias, algumas das quais circulam globalmente.
alargada e estimulante da descoberta e da intervenção criativa. No final do milénio, a queda do muro de Berlim e o surgimento,
a Leste, de outros países que de certo modo constituem parte
Emílio Rui Vilar do movimento pós­‑colonial, impuseram novas interrogações so-
bre a noção de Europa e sobre o legado da filosofia ocidental.
A emergência no Ocidente de práticas culturais industrializadas
provenientes de países do Oriente como a Índia, o Japão e a
China implicou toda uma revisão de regras de recepção artística
e estética. A violência ditada por dogmas culturais expressa no
11 de Setembro de 2001, produziu um arrefecimento da estratégia
intercultural e produziu a queda de sentidos da negociação cul-
tural em desenvolvimento. A mundialização do mercado das artes
e da cultura, associada à tecnologia da comunicação que acelerou
os processos de informação e de distribuição cultural, são factores
que impõem novas grelhas epistemológicas, exigem uma reflexão
profunda e continuada que ultrapasse os instrumentos de análi-
se da antropologia, da estética, da sociologia e da economia da
[12] o estado do mundo proposição [13]

cultura que, uma década atrás, ainda eram válidos e tinham alguma Para a realização deste livro que agora apresentamos, convidá-
eficácia. mos um conjunto de intelectuais, uma artista e um poeta a quem
O presente Estado do Mundo cultural aparece­‑nos como uma propusemos que, a partir de uma série de «entradas», escrevessem
nebulosa confusa, imprevisível na sua evolução, inapreensível nas textos e produzissem um portfolio que constituísse, por si só, uma
figuras que vai gerando. avaliação autoral do Estado do Mundo. As «entradas» que serviram
Como cidadãos praticantes e actores de várias expressões como temas de reflexão foram: memória e inovação artística; as re-
culturais, temos mais do que uma visão instrumental ou utilitária lações transatlânticas: o atlântico branco e o atlântico negro; novas
da cultura, temos preocupações de natureza ética, não iludindo as expressões de acção política; mitos e heróis de hoje; a autobiografia
opções políticas e ideológicas que condicionam a produção e a aces- e a ficção artística; o internacionalismo artístico; e depois do merca-
sibilidade dos cidadãos à cultura artística, tecnológica e científica do e da democracia? A revisão do conceito de paz à luz dos actuais
e não podemos estar arredados das dinâmicas iniciais de produção conflitos no mundo e das novas semânticas culturais.
destes novos valores culturais, das linguagens artísticas inovadoras, Os autores convidados foram: Carlos Pacheco, Colin Richards,
da produção de massa crítica que esta situação deve provocar. Mercê Ghassan Zaqtan, João Barrento, John Frow, Moira Simpson, Paul
da sua posição geográfica atlântica e mediterrânica, a Fundação Ca- Gil­roy, Peter Sloterdijk, Rosângela Rennó, Santiago Kovadloff,
louste Gulbenkian enquanto fórum de discussão, em particular dos Suren­dra Munshi e Wang Hui.
cidadãos portugueses, decidiu dar um contributo para produzir um O resultado, aqui, expressa a enorme generosidade e investi-
tempo de reflexão. Este tempo de reflexão, que se pretende também mento intelectual e artístico que estes autores tiveram e a quem
um espaço cultural, impõe­‑se que seja mais do que um lugar de consu- muito agradeço. Agora colocado no espaço público, e através de
mo artístico de exposições ou de espectáculos, por mais interessantes uma distribuição internacional em língua inglesa, é nosso desejo e
que possam ser. expectativa que esta obra possa contribuir para se encontrarem so-
Este Estado do Mundo é concebido como um lugar de desafio ao luções no seio de um novo quadro de referentes culturais, de modo
futuro, um lugar de problematização da produção cultural, do que a resgatarmos alguma esperança neste nosso e único mundo.
parece evidente sem o ser, de crítica a uma aceitação passiva do
mercado da cultura num só sentido, um lugar de eleição de temas António Pinto Ribeiro
e de problemas emergentes na actualidade, eventualmente ainda
inomináveis, um lugar de emergência do novo cultural a partir da
discussão, em plataformas, de problemas culturais e da apresentação
de um programa complementar de espectáculos, de exposições e de
cinema como casos exemplares do Estado do Mundo actual.
O Estado do Mundo é um Programa organizado em três platafor-
mas, sendo a primeira constituída pela edição de um livro (em por-
tuguês e em inglês) e por uma Conferência Inaugural; a segunda por
um programa de grandes conferências, lições, espectáculos, ateliês de
artistas, exposições itinerantes, mercado de ideias e de teorias e cine-
ma, espectáculos de ópera, dança e teatro e, a terceira, pela publicação
de um livro de «Conclusões» e de uma Exposição de Artes Visuais.

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