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SUPLEMENTAÇÃO DE IODO EM GRÁVIDAS E LACTANTES

Islana Santos1, Ianara Nascimento2, Valdemar Neto3, Christianne M. Tinoco Veras4


1
Nutrição/Universidade Federal do Piauí
2
Farmácia/Universidade Federal do Piauí
3
Enfermagem/UNIP
4
Odontologia/Universidade Federal do Piauí
Área temática: Embriologia
islanakezia@ufpi.edu.br

INTRODUÇÃO:
O iodo, um oligoelemento micronutriente essencial para a síntese de hormônios tireoidianos,
desempenha um papel crucial no funcionamento adequado do organismo, regulando a
temperatura corporal e a frequência cardíaca, além de contribuir para o desenvolvimento de
vários órgãos, incluindo o cérebro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que danos
cerebrais poderiam ser evitados com um consumo adequado de iodo. Indivíduos que vivem em
ambientes com deficiência severa de iodo podem apresentar um Quociente de Inteligência (QI)
até 13,6 pontos abaixo do esperado. As perturbações por défice de iodo são facilmente
preveníveis e pouco dispendiosas. Embora a deficiência grave de iodo em gestantes seja rara, a
forma moderada é comum.
O iodo é fundamental para o desenvolvimento e crescimento cerebral durante a vida fetal, a
partir das 20 semanas de gestação, e nos primeiros anos de vida. Sua deficiência pode resultar
em crescimento cognitivo e comportamental inadequado. No entanto, há uma lacuna no
conhecimento sobre a deficiência leve de iodo na gravidez e seu potencial efeito negativo na
criança, uma vez que as pesquisas existentes focam principalmente na iodúria ou na função
tireoidiana, e não em resultados clínicos. Portanto, é urgente uma análise na literatura médica
sobre a suplementação de iodo em resultados clínicos, considerando que a deficiência de iodo
pode afetar o neurodesenvolvimento do indivíduo.

OBJETIVO:
O presente trabalho tem como objetivo avaliar se a suplementação com Iodo durante a gravidez
e para lactente possui um feito positivo no desenvolvimento neurocognitivo, crescimento
infantil e queda do risco de mortalidade dessas crianças, por meio de pesquisas científicas de
melhor qualidade encontrada.

MÉTODOS:
A metodologia de Revisão Baseada na Evidência foi empregada neste estudo, que foi dividido
em dois grupos. O primeiro grupo focou na análise de Normas de Orientação Clínicas (NOC’s),
enquanto o segundo se baseou em revisões sistemáticas, meta-análises e Ensaios Clínicos
Aleatorizados e Controlados (RCT’s). As palavras-chave “iodine” e “pregnancy” foram
utilizadas para refinar a pesquisa, que incluiu publicações de 2000 a 2021 em inglês e português.
Foram excluídos estudos com participantes que possuíam patologia tiroideia ou
comprometimento da função neurocognitiva, bem como fetos com malformações graves. A
estratégia PICO foi utilizada para formular a pergunta de pesquisa e aumentar sua
especificidade. Dos 2322 artigos inicialmente selecionados, apenas 6 RCT’s e 2 NOC’s foram
incluídos após uma análise criteriosa.

RESULTADOS:
Após a análise dos artigos selecionados e a comparação dos dados pertinentes, como as
perturbações causadas pelo déficit de iodo (I) e sua ingestão diária/máxima recomendada por
órgãos como a OMS, constatou-se que as Normas de Orientação Clínica (NOC’s) atuais
concordam em suplementar desde a preconcepção até o aleitamento materno com doses entre
150-200µg por dia. Os resultados demonstraram vários efeitos positivos do iodo, como a
eliminação do cretinismo e o aumento do QI, especialmente em regiões com deficiência severa
do micronutriente. No entanto, as NOC’s investigadas revelaram divergências em relação à
força da recomendação da administração suplementar, dependendo da taxa de deficiência de
cada região. Já as revisões sistemáticas e meta-análises não encontraram diferenças no
desenvolvimento cefálico, cognitivo, motor e da linguagem nos primeiros dois anos de vida
entre os grupos suplementados com iodo e os grupos de controle. Contudo, na deficiência leve
a moderada, observaram-se mudanças benéficas, com um melhor desenvolvimento psicomotor
e comportamental.
A suplementação de iodo durante a gravidez foi associada à diminuição das anomalias
congênitas e ao risco de hipertireoidismo materno pós-parto. No entanto, existem várias
discordâncias entre os estudos analisados, como a eficácia de alguns métodos de avaliação do
neurodesenvolvimento em bebês e crianças, que podem ser afetados por fatores como humor e
quantidade de sono. Além disso, o número reduzido de ensaios clínicos nas meta-análises e a
falta de investigação dos efeitos adversos da suplementação na gravidez em muitos ensaios
tornam a maioria dos dados limitados e de baixa qualidade. Portanto, há uma necessidade
crucial de análises mais completas, dado o desafio em torno da intervenção do iodo antes e
durante a gravidez, que, se feita incorretamente, pode ter efeitos negativos diretos sobre o feto
e a mãe.

CONCLUSÃO:
A escassez de estudos de alta qualidade que demonstram a deficiência de iodo de grau leve a
moderado é notável, especialmente quando se considera a avaliação dos efeitos de sua
suplementação na gestante e no feto, bem como no desenvolvimento neurocognitivo na
primeira infância. Tal lacuna pode ser atribuída à quantidade limitada de ensaios clínicos
disponíveis, incluindo meta-análises, e à validade interna e comparabilidade dos estudos
existentes. Portanto, é imperativo exercer cautela ao formular conclusões e interpretar os dados
disponíveis. Embora os efeitos na saúde materna e infantil não tenham demonstrado relevância
significativa, é importante notar que os estudos conduzidos até o momento são de qualidade
inferior e os dados são limitados. Assim, atualmente, não existem evidências suficientes que
respaldem a recomendação de suplementação para este público em casos de deficiência leve ou
moderada. A necessidade de ensaios clínicos randomizados (RCTs) mais robustos que possam
esclarecer melhor a eficácia da suplementação de iodo é, portanto, evidente.

Palavras-chave: gestação; neurocognitivo; feto.

REFERÊNCIAS:
WHO - World Health Organization.Assessment of iodine deficiency disorders and monitoring their
elimination.A guide for programme managers. Third edition: WHO, 2007. 11-51 p. Disponível em:
https://www.who.int/publications/i/item/9789241595827. Acesso em: 24 nov. 2023.

ALMEIDA, S. Suplementação de iodo na gravidez e impacto no desenvolvimento neurocognitivo. Tese


(Mestrado em Medicina) - Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade do Porto. Porto, p.1-19. 2021.

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