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Esporotricose

Data @14/09/2023

Dias 1 dias

Formula @September 15, 2023

Características gerais
É uma micose que afeta animais e humanos causada por fungos do gênero Sporothrix. Causa
úlceras, nódulos e abscessos.
A esporotricose ainda não é objeto de vigilância epidemiológica nacional.

Em Belo Horizonte tornou-se uma doença de interesse municipal a


partir de janeiro de 2017 após um surto ocorrido no ano de 2016 na
Região do Barreiro.

Características epidemiológicas
Forma clássica:

Implantação traumática do fungo no tecido subcutâneo, a partir de qualquer material que


esteja contaminado pelo fungo.

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Foi considerada uma doença ocupacional ou ocasional → era observada mais
comumente em indivíduos que têm contato constante com plantas.

Urbana:

Potencialidade zoonótica de gatos portadores passou a ser considerada.

A elevada proliferação desses animais em praças e terrenos baldios e


ainda, o hábito de pessoas recolherem animais (sadios ou doentes) das
ruas, abrigando-os em casas ou apartamentos, acabam formando
colônias numerosas, sem qualquer controle sanitário.

Contaminação ambiental:

Animais infectados morrem e são jogados na lata de lixo, lotes vagos ou enterrados sem
tratamento prévio.

Agente etiológico
Causada pelo complexo → Sporothrix schenckii, que é composto das seguintes espécies:

Sporothrix albicans,

Sporothrix brasiliensis → principal espécie emergente no Brasil, sendo a mais virulenta


e patogênica, relacionada à esporotricose zoonótica.

Sporothrix globosa,

Sporothrix luriei,

Sporothrix mexicana,

Sporothrix schencki.

São fungos dimórficos que apresentam duas formas:

Filamentosa ou Micelial (hifas)

Presentes na fase saprofítica → ambiente, ou quando cultivadas a 25ºC.

Necessita de elevada umidade relativa ambiental → 95 a 100%, e solo rico em


matéria orgânica.

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Leveduriforme

Presentes em parasitismos ou em cultivo a 35-37ºC.

Formas: Leveduras unicelulares ovaladas, globosas ou em forma de charuto.

Estes fungos em vida livre são considerados saprófitas (se alimentam


de matéria orgânica em decomposição) e são encontrados na superfície
de vegetais vivos ou sobre resto de plantas mortas, feno, madeira,
excremento de animais, etc.

Reservatórios e fontes de infecção


Surtos que envolveram trabalhadores do campo → meios contaminados pelo fungo como:

Tábuas úmidas de madeira;

Solos;

Palhas;

Farpas;

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Espinhos e Vegetais.

O fungo apresenta m crescimento acelerado em detritos de vegetais em


decomposição.

Em ambientes urbanos → o gato infectado (sintomáticos ou não) são os principais


reservatórios da doença.

Possui alta capacidade de transmissão direta para humanos e outros animais devido à alta
carga fúngica presente nas lesões.

Transmite por meio de arranhaduras ou mordeduras.

Animais que podem apresentar sinais clínicos da doença ou sem portadores:

Cavalo;

Cão;

Rato;

Aves (galinha);

Tatus;

Humanos.

Cães e seres humanos podem desenvolver a doença, porém a carga parasitária em lesões
são baixas → baixo potencial como fonte de transmissão.

Modo de transmissão
Infecção Clássica

Contato com fontes ambientais contaminadas pelo fungo → matéria vegetal acumulada e
em decomposição.

Contato com ambientes contaminados → vigas de madeira, troncos e outras superfícies.

Ambiente urbano

Contato direto com lesões ulceradas de animais infectados

Arranhadura e mordedura de felinos domésticos contaminados.

Gatos aparentemente saudáveis podem apresentam fungos nas unhas e cavidade oral
→ baixa taxa de transmissão.

Outras fonte de infecção → contato com secreções contaminadas do gato infectado.

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Período de incubação
Gatos

Média de 21 dias, com variação de 3 a 84 dias.

Humanos

Varia de 3 a 30 dias, tendo uma média de 14 dias podendo se estender por meses.

Tempo é menos quando a fonte de infecção é o gato contaminado e maior quando a


contaminação ocorre pelo contato com vegetais e/ou solo.

Manifestações clínicas
GATOS

As formas clínica graves são comuns em felinos.

Podem apresentar formas subclínicas ou forma clínica disseminada sistêmica.

Normalmente observa-se →

Múltiplas lesões ulceradas na região da cabeça, cauda e patas.

Pode envolver mucosas → especialmente a do trato respiratório (bem como


sintomatologia respiratória).

CÃES

A infecção normalmente restringe à pele e ao tecido subcutâneo sem acometimento


sistêmico.

HUMANOS

Linfocutânea ou cutânea localizada→ apresentação clínica mais comum.

Nódulos que podem evoluir para úlceras associado com acometimento dos vasos
linfáticos adjacentes ao local da inoculação → linfagite nodular.

Dada a virulência aumentada pela maior contração do inoculo do fungo em acidentes


com gatos → maior a chance de manifestações sistêmicas.

Diagnóstico
Atendimentos clínicos e práticas a campo:

Swab → cultura fúngica;

Imprint → exame citopatológico (animais com alta carga fúngica).

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Resultado positivo possibilita início imediato do tratamento.

Em caso negativo é necessário realizar a cultura micológica.

Diagnóstico definitivo (humanos e gatos)

Isolamento do fungo por meio de cultura das lesões ou aspirado de secreção → padrão
ouro!

Coleta da cultura deita com técnica asséptica sendo o material enviado ao laboratório em
solução salina (Soro Fisiológico 0,9%).

GATOS SUSPEITOS:

Animal apresenta lesão única ou múltipla, nodular ou ulcerada;

Lesão com exsudato hemorrágico ou purulento;

Espirros, dispneia e secreção nasal;

Animal que possui acesso a rua;

Tutor relatar que o gato brigou com outro animal.

EPI - RECOMENDO PARA ATENDIMENTO:

Avental de manga longa descartável;

Luvas descartável;

Máscara descartável;

Óculos de proteção;

Touca descartável.

COLETA DE MATERIAL - MÉTODOS

IMPRINT → aspiração por agulha final (somente em ambiente ambulatorial)

Citopatológico.

SWAB com meio Stuart

Cultura Micológica.

BIÓPSIA

Histopatológico.

Positivo:

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Caso os três métodos dê positivo → definir a conduta conforma o programa de
vigilância e controle.

Negativo:

Imprint e Biópsia → realizar a Cultura micólogia;

Swab → caso descartado.

Diagnóstico Diferencial
Doenças infecciosa:

Leishmaniose tegumentar;

Nocardiose;

Micobateriose → principalmente tuberculose cutânea.

Tratamento
Itraconazol → droga de escolha para o tratamento de formas cutâneas e linfocutâneas.

Felinos e Cães: 5-10mg/Kg a cada 12hrs (BID) ou 24hrs (SID).

Humanos: 200 ou 400mg/dia (adultos) e 6-10 mg/Kg/dia (crianças)

Contra indicado em gestantes.

MUNICÍPIOS COM EPIDEMIAS


Necessidade de doses maiores

Felinos acima de 3Kg → 100 mg/Kg (SID)

Felinos entre 1-3Kg → 50mg/kg (SID);

Felinos abaixo de 1Kg → 25mg/Kg (SID).

DURAÇÃO

Tempo de tratamento prolongado e a administração do fármaco deve ser mantida por, no


mínimo, 1 mês após a completa cicatrização as lesões.

Casos severos ou forma nasal → estender para 60 dias após cura clínica.

Iodeto de potássio

Fármaco isolado no tratamento em equinos (1-2 mg/Kg/dia);

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Utilizado em associação ao itraconazol em felinos → iodeto 2,5/kg/dia + itraconazol
100mg/dia.

Vigilância e controle da esporotricose em animais


Estruturação
ESTABELECER GRUPO DE TRABALHO

Definir quais serão os profissionais envolvidos no processo de vigilância e controle


e delimitar a responsabilidade de cada setor e seus recursos humanos.

Equipe mínima recomendada:

1. Agentes de combate à endemias:

Verificar presença de animais domésticos nos domicílios visitados;

Verificar se os animais domiciliados são castrados;

Identificar animais incluídos no grupo de suspeitos;

Notificar animais suspeitos;

Ajudar na contenção de animais suspeitos durante a coleta de amostras;

Conscientizar a população sobre a prevenção e controle da doença;

Identificar possíveis casos humanos suspeitos e notificar.

2. Veterinários

Realizar e receber as notificações de casos suspeitos e confirmados;

Proceder a investigação epidemiológica até o desfecho e conclusão do caso;

Coletar amostras para o diagnóstico de felinos domésticos;

Realizar o acompanhamento e prescrição da medicação → municípios que


ofertam de forma gratuita para gatos;

Realizar a eutanásia dos animais em condições de sofrimento e sem ter


como realizar o tratamento;

Fazer a manutenção do banco de dados dos casos notificados e


investigados;

Monitorar as áreas de risco;

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Mapear e avaliar as ações promovidas no município para o controle e
prevenção da doença;

Encaminhar as carcaças para destino correto.

3. Laboratoriais

Planejar e executar as atividades relacionadas aos exames laboratoriais;

Executar a análise dos resultados laboratoriais e emitir laudos;

REDE DE DIAGNÓSTICO
Estabelecer parcerias com instituições de ensino, laboratórios particulares ou públicos
que possam oferecer o diagnóstico laboratorial.
Treinamento de pessoal qualificado para o diagnóstico citológico no caso de gatos.

MATERIAIS E INSUMO
Fornecer EPI à equipe responsável pela contenção e coleta de material em animais
suspeitos e no indivíduos envolvidos no atendimento de animais doentes.

É fundamental que o município apresente condições de destinar à incineração os


cadáveres de animais com esporotricose

Capacitação
Treinamento dos profissionais de Controle de Zoonoses (Agentes de Combate à
Endemias (ACE) e técnicos)

Identificar as lesões sugestivas em animais e humanos e o encaminhamento necessário;

Contenção de animais;

Coleta de materiais para diagnóstico;

Medidas de prevenção e controle;

Educação em saúde → guarda responsável e manejo de cães e gatos.

Busca ativa
Identificação de casos suspeitos
Sensibilizar os ACE a reconhecer, durante as visitas domiciliares, casos suspeitos.

Após identificação deve ser desenvolvido ações para educação/informação sobre a doença.

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Vigilância passiva
Monitoramento em clínicas

Clínicas veterinárias particulares devem ser sensibilizadas a notificar casos atendidos de


esporotricose ao serviço de vigilância de zoonoses.
Atendimento à demanda espontânea

A partir da demanda da população → municípios com ações de vigilância e controle da


doença irão realizar o diagnóstico e notificar os casos suspeitos a partir dessas notificações.

Notificação
Notificação de casos animais
O município deve estabelecer como prioridade a identificação de casos suspeitos em felinos e
confirmados em animais.

Definição de casos:

Gatos suspeitos → animais que apresentam um dos critérios listados:

Gato confirmado →

Laboratorial;

Clínico epidemiológico → animais vivos (recebendo tratamento antifúngico) ou que


veio a óbito com sinais e histórico compatíveis sem possibilidade de confirmação
laboratorial;

Descarte → suspeito que não se enquadra em nenhuma das situações anteriores ou com
diagnóstico confirmado para outra doença.

Investigação
Vigilância epidemiológica

Todos os casos notificados devem ser investigados. Sendo fundamental investigar casos
humanos associados e comunicar ao Serviço de Vigilância Epidemiológica local.

Medidas de prevenção e controle

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Animais suspeitos e confirmados
Diagnóstico

Os municípios devem priorizar a identificação de gatos suspeitos e a oferta de diagnóstico


adequado e oportuno a esses animais.
Oferta de tratamento

A oferta gratuita do tratamento antifúngico pode ser realizada de acordo com a realidade de
cada município.
Municípios que não apresentam condições de isolamento de animais durante o tratamento não
devem considerar o tratamento de gatos errantes como medida de prevenção → recomenda-se
a eutanásias.
Medidas de manejo da população de gatos

Possibilitam a redução do risco de zoonose;


Promoção da guarda responsável com melhoria da saúde e bem estar dos animais;
Reduzem número de animais soltos;

Previnem danos ambientais e a outros animais.


Castração e restrição à rua
A castração é uma medida recomendada para diminuir ou mesmo inibir comportamentos que
induzem o animal ao risco de contaminação, com a devida atenção de que tal ação deve ser
combinada à restrição de acesso à rua.
Guarda responsável

Tais ações com foco em:

Castração,

Manutenção dos gatos domiciliados;

Tratamento dos animais doentes e vermifugação periódica;

São ações que interferem positivamente na prevenção da esporotricose e vão ao encontro das
cinco liberdades previstas no bem-estar animal.

Intersetorialidade
No contexto da saúde única é imprescindível a realização de ações integradas entre os setores
de saúde, meio ambiente e sociedade civil organizada.

Visando:

Manejo populacional de felinos em áreas urbanas;

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Buscar alternativas para o tratamento dos animais doentes;

Coibir o abandono;

Incentivar a guarda responsável.

Educação em saúde

Essas atividades devem preceder e acompanhar todas as atividades de busca de casos de


esporotricose.
Objetivo → promover atitudes e práticas que modifiquem as condições favorecedoras e
mantenedoras da transmissão da doença, sua prevenção e controle.

Profissionais de vigilância
Equipamento de Proteção Individual (EPI)
Em todo e qualquer procedimento envolvendo a manipulação de gatos suspeitos, é necessária
a utilização, por toda a equipe, de EPIs.

Boas práticas

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Além da utilização das EPIs é necessário uma conduta adequada na manipulação de animais
com suspeita de esporotricose.

Equipamentos utilizados na contenção dos animais a campo

1. Puçá (rede com haste comprida) → captura de animais arredios em domicílio ou gatos
ferais.

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2. Luvas de couro → utilizada durante a manipulação de animais domiciliados que aceitam
contato humano.

3. Colar elizabetano → contenção de gatos para coleta de materiais e utilizado também


durante o tratamento.

a. Previne mordidas;

b. Evita lambedura das lesões para que não ocorra a disseminação do fungo para outras
partes do corpo.

4. Caixa de transporte;

5. Armadilha para captura de gatos em situação de rua→ em casos de animais ferais em


espaços abertos.

Ambientes e fômites
Descontaminação

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Limpeza, desinfecção e/ou esterilização em equipamentos e artigos usados na coleta de
amostras e atendimentos de animais suspeitos.
Destinação de cadáveres

1. Uso de EPI (uniforme, luvas e máscaras) para manipulação dos cadáver;

2. Acondicionar o cadáver em saco branco leitoso com símbolo de risco biológico e


identificar o saco devidamente;

3. Manter o cadáver sob refrigeração (mínimo -18ºC) ate a realização da incineração.

4. Realizar o transporte do cadáver em caixas fechadas para evitar que as unhas do animal
perfurem o saco.

5. Encaminhá-lo para empresa apta a realizar o procedimento de incineração.

Em caso de morte dos animais doentes, não se deve enterrar os


corpos, e sim incinerá-los, para evitar que o fungo se espalhe pelo
solo.

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