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POLÍTICA

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MOÇAMBICANA
Sexta - feira, 19 de Janeiro de 2024 I Ano VI, n.º 536 I Director: Prof. Adriano Nuvunga I www.cddmoz.org

VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS

Pagamento de cerca de 142 milhões


de dólares aos credores da dívida da
“ProIndicus” é para proteger as elites,
incluindo Filipe Nyusi, em prejuízo do povo
lO Governo moçambicano pagou aos credores cerca de 1421 milhões de dólares no âmbito do acordo
extra-judicial2 com o grupo “Credit Suisse”, recentemente adquirido pelo Grupo UBS, e os demais
membros do sindicato bancário que financiou a dívida de 522 milhões de dólares contraída em nome
da ProIndicus, uma das três empresas envolvidas nas dívidas ocultas que empurraram o país para a
lama, contribuindo para uma acentuada degradação da qualidade de vida dos moçambicanos.

Créditos: EMATUM_Diario Economico

1 https://cartamz.com/index.php/politica/item/15721-mocambique-paga-142-milhoes-de-dolares-para-acabar-com-disputa-de-emprestimo-do-credit-suisse
2 https://opais.co.mz/mocambique-contorna-parte-da-divida-oculta/
2 l Sexta - feira, 19 de Janeiro de 2024

A
s dívidas ocultas foram contraídas
com o aval do Estado para alimen-
tar a corrupção e financiar interesses
particulares das elites dirigentes do Estado,
incluindo o actual Presidente da República,
Filipe Nyusi, que na altura dos factos era mi-
nistro da Defesa e, nessa qualidade, teve um
papel importante para a sua viabilização, o
que lhe rendeu mais de um milhão de dóla-
res em subornos, para além de ter beneficia-
do dos dez milhões de dólares que o partido
Frelimo recebeu do calote para financiar a
campanha eleitoral que o levou ao Palácio da
Ponta Vermelha. Desembolsar 142 milhões
de dólares é proteger as elites que se locu-
pletaram do dinheiro das dívidas, sacrifican-
do o já martirizado povo moçambicano que
não tem o básico para a sua sobrevivência, o
que configura violação de direitos humanos,
tais como o direito à Alimentação, o direito à
Saúde, o direito à Educação, o direito à Habi-
tação, entre outros.
Um relatório do Banco Mundial revela que
as desigualdades permanecem gritantes
em Moçambique, com um rácio de “Gini” de
50,4%, que ilustra que a diferença entre os
rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos
ainda é elevada, apesar de ter registado uma
descida de 5,7%, saindo de 56,1% para 50,4% tem uma dívida6 de 160 milhões de meticais. to de quadros do Serviço de Informação e
entre 2015 e 2020. O consumo médio diário Na altura em que o acordo que permitiu o Segurança do Estado8. O valor foi em viagens,
por pessoa é de 50,8 meticais e o consumo desembolso dos 142 milhões de dólares foi carros de luxo e investido na imobiliária. Os
médio mensal por família é de 11.900 met- anunciado (Outubro de 2023), o ministro da moçambicanos nunca viram um tostão se-
icais. Segundo o relatório de 2023, mais de Economia e Finanças, Max Tonela, disse que quer dos mais de dois mil milhões de dólares
cinco milhões de moçambicanos entraram o mesmo permitiria que as partes se libertas- do calote.
para a situação de pobreza durante o perío- sem mutuamente de quaisquer responsabi- Entrar em acordos milionários é proteger
do em alusão. No mesmo período, o número lidades e reivindicações relacionadas com as as elites que se beneficiaram do calote, in-
de pobres3 em Moçambique aumentou de transacções no contexto do processo cível cluindo Filipe Nyusi9, que, segundo consta
13,1 para 18,9 milhões de moçambicanos e a que o Estado, através da Procuradoria-Geral da planilha de subornos de Jean Boustani10,
taxa de pobreza subiu de 48,4% para 62,8% da República, move desde Fevereiro de 2019 recebeu um milhão de dólares em subornos
em toda a população, mostrando retrocesso em Londres. e beneficiou de dez milhões de dólares que
na redução da pobreza no país. De acordo com um relatório do Fundo Mo- a Frelimo recebeu, primeiro como candidato,
O custo de vida agravou-se4 em mais de 5,3 netário Internacional, citado pela “Bloom- e mais tarde como presidente deste partido.
por cento durante o ano de 2023, com uma berg”, o pagamento compreendeu cerca de Nesse sentido, não é justo que seja o erário
subida de preços nos produtos de primeira 96 milhões de dólares em títulos em moeda público a pagar os milhões de dólares que
necessidade. local e 46 milhões de dólares em dinheiro. estão nos bolsos de Gregório Leão, António
Neste momento, o Governo não consegue Para além do valor despendido no acor- Carlos do Rosário, Cipriano Mutota, Ndambi
pagar horas extras de mais de 13 meses aos do, a aventura do Governo no processo de Guebuza, Ângela Leão, Teófilo Nhangumele,
professores, que já há bastante tempo estão Londres gastou cerca de oitenta7 milhões de Manuel Chang, Isaltina Lucas, Inês Moiane,
numa greve silenciosa. Os médicos e os profis- dólares norte-americanos de despesas com entre outros. Fazer este tipo de acordos, num
sionais da saúde estão insatisfeitos5 devido a advogados da “Peters & Peters”, que represen- contexto em que as contas públicas andam
questões remuneratórias e condições de tra- tam o Estado na acção cível que move con- vazias, é violar direitos, porquanto o Estado
balho. O Governo diz que não tem dinheiro. tra o “Credit Suisse” (antes do acordo), com fica privado de condições para a realização de
Nos hospitais faltam medicamentos. Chega a a “Privinvest” e com outros réus que tiveram direitos humanos. A falta de água, a falta de ali-
faltar um simples paracetamol. envolvimento no caso da emissão de garan- mentação, a falta de cuidados de saúde, a falta
As estradas, incluindo a principal estrada tias para o financiamento das empresas das de transporte que obriga o povo a ser trans-
que liga o país do Rovuma a Ponta Douro e dívidas ocultas, nomeadamente, “ProIndicus”, portado em carrinhas de caixa aberta como
do Zumbo ao Índico (a EN1), estão esbura- EMATUM e Mozambique Asset Management, se de gado se tratasse e a falta de habitação
cadas. Recentemente, a cidade de Maputo, a gasto à margem da lei e para alimentar es- condigna são contra os direitos humanos. O
capital do país, ficou tomada de lixo, porque quemas de corrupção. Governo deve encontrar formas de lidar com
a edilidade não conseguia pagar as empre- Essas dívidas foram contraídas pelo Gover- o assunto sem prejudicar o povo e nem com-
sas que fazem a recolha de lixo, com as quais no de Armando Guebuza com o envolvimen- prometer a realização de direitos humanos.

3
https://torre.news/numero-de-pobres-aumentam-e-desigualdades-permanecem-elevadas-em-mocambique-diz-banco-mundial
4
https://opais.co.mz/custo-de-vida-agravou-se-em-53-em-2023/?fbclid=IwAR02RnumgMls4BqvS9CCV0RLhWomFuCWaHE1ADFK-4fF9mJTi3ivYVH3rwU
5
https://www.voaportugues.com/a/greve-dos-médicos-conflito-de-direitos-deixa-cidadãos-sem-serviços-de-saúde/7230915.html
6
https://torre.news/divida-de-cento-e-sessenta-milhoes-de-meticais-obriga-paralisacao-de-recolha-de-lixo-na-cidade-de-maputo
7
https://canal.co.mz/p/governo-anuncia-acordo-com-ubs-credit-suisse-sem-detalhes-financeiros
8
https://opais.co.mz/divulgada-lista-dos-20-envolvidos-nas-dividas-ocultas/
9
https://www.voaportugues.com/a/dívidas-ocultas-filipe-nyusi-recebeu-um-milhão-de-dólares-diz-jean-boustani/5174964.html
10
https://www.voaportugues.com/a/dívidas-ocultas-boustany-disposto-e-pronto-a-ser-ouvido-no-julgamento/6217700.html
Sexta - feira, 19 de Janeiro de 2024 l 3

Construindo uma sociedade Building a democratic society


democrática that promotes, protects,
que promove, protege e respect human rights &
respeita os Direitos Humanos. transform people’s lives.

INFORMAÇÃO EDITORIAL:

Propriedade: CDD – CENTRO PARA DEMOCRACIA E DIREITOS HUMANOS


Director: Prof. Adriano Nuvunga
Autor: CDD
Layout: CDD

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E-mail: info@cddmoz.org
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