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CULTURA

Os símbolos de Angola: mistérios, significados e


superstições
5 min

Se uns são exclusivos, outros são considerados muito raros, como é o caso dos
baobás ou embondeiros (árvores gigantes retratadas na fotografia). Os símbolos
de Angola, que ajudam a conferir identidade ao país, escondem inúmeras
histórias. Estas são responsáveis pela compilação e perpetuação de alguns dos
traços culturais mais importantes do país (Imagem: Reprodução Wikimedia
Commons)

Se aprofundarmos o significado de emblemas nacionais, chegamos à conclusão de


que estes servem, essencialmente, para unir uma comunidade, através de
representações visuais e verbais. Além disso, ajudam a sintetizar os valores e
objetivos de um povo, bem como a história nacional. São frequentemente
mobilizados em celebrações de patriotismo, nas quais respiram as aspirações
nacionalistas. Cada nação possui os seus e o território angolano não é exceção.
Os símbolos de Angola podem ser encarados como inclusivos e representativos
do (vasto) património cultural.

Graças ao valor que representam, algumas das insígnias são elevadas à categoria
de entidade materna. Umas quantas estão expostas em museus, devido à
relevância histórica que retratam; outras são usadas/mencionadas somente em
cerimónias — fúnebres ou de celebração — e em ocasiões especiais. Ainda assim,
todas sobreviveram ao tempo, alcançando o epíteto de (quase) eternas. Os
símbolos de Angola são sinónimos de raridade e exclusividade. Têm a nobre
tarefa de personificar a essência do território, conferindo-lhe um quê de
singularidade.

Perseguindo o objetivo de os catalogar, reunimos informações sobre alguns dos


ícones mais importantes do país. Todos surgiram em Angola e cumprem a mesma
importante missão: integrar a comunidade etnocultural, através da celebração
da sua representação.

Símbolos de Angola: os nacionalistas

A bandeira

Bandeira oficial de Angola (Imagem: Reprodução Wikimedia Commons)


Este símbolo angolano foi adotado em 1975, durante a proclamação da
independência do território. Apresenta duas cores predominantes, dispostas em
duas faixas horizontais. A superior apresenta uma tonalidade vermelho-rubra, em
representação do sangue do povo angolano, derramado durante a opressão
colonial, a luta de libertação nacional e a defesa da pátria. Já a inferior, de cor
preta, personifica o Continente Africano.

No centro da bandeira, figura uma composição constituída por uma roda


dentada — símbolo da solidariedade internacional e do progresso. Além desta,
estão representadas uma catana e uma estrela — ambas de cor amarela,
simbolizando a riqueza do país.

A insígnia da República de Angola

Insígnia da República de Angola (Imagem: Reprodução Portal oficial do Governo de


Angola)

Formada por uma secção de uma roda dentada e por uma ramagem de milho, café
e algodão, a insígnia da República aparece em representação dos trabalhadores
angolanos, da produção industrial, dos camponeses e da produção agrícola,
respetivamente.

Na base, está um livro aberto — símbolo da cultura e da educação —, bem como


um sol nascente, que significa o surgimento de um novo país.
No centro da insígnia, estão representadas a catana e a enxada, simbolizando o
trabalho e o início da luta armada. Na parte superior, figura uma estrela —
símbolo da solidariedade internacional e do progresso. Na parte inferior, está
presente uma faixa dourada com a inscrição “República de Angola”, que abraça os
restantes elementos.

O hino nacional

Intitulado “Angola Avante!”, o hino nacional foi adaptado em 1975, depois da


conquista da independência do país ao domínio colonial português. A letra é da
autoria de Manuel Rui Monteiro e a música foi composta por Rui Vieira Dias
Mingas.

Refrão:
(…)
Angola, avante!
Revolução, pelo Poder Popular!
Pátria Unida, Liberdade,
Um só povo, uma só Nação!
(…)

Símbolos de Angola: os naturais

A palanca-negra-gigante
A palanca-negra-gigante é subespécie rara de antílope (Imagem:
Reprodução Wikimedia Commons)
É uma subespécie rara de antílope, exclusiva de Angola. Pode ser avistada em
Malanje — de onde é originária —, na Reserva Natural e Integral do Luando e no
Parque Nacional da Cangadala.

A palanca-negra-gigante é muito respeitada pelo povo angolano, que a


considera símbolo de vivacidade, velocidade e beleza. Durante muito tempo,
pensou-se que estava extinta, mas uma recente investigação científica corroborou
a sua existência. Ainda assim, encontra-se catalogada como uma subespécie em
perigo crítico de extinção, integrando a lista vermelha da União Internacional
para a Conservação da Natureza. Foi alvo sucessivo da caça furtiva,
principalmente durante a guerra civil angolana, ficando reduzida a cerca de 100
exemplares.

A sua imagem é utilizada como marca da Transportadora Aérea de Angola


(TAAG). Além disso, batiza a Seleção Angolana de Futebol, frequentemente
apelidada de “palancas-negras”.

A welwitschia mirabilis
Apesar do seu aspeto pouco convencional, a welwitschia possui características
únicas. A longevidade é apenas uma delas — Fotografia: Cláudio Silva (Conexão
Lusófona)
É reconhecida como o “polvo do deserto” devido ao comprimento das suas
folhas, que se assemelham a tentáculos. Apesar do seu aspeto desgrenhado, incolor
e seco, a welwitschia mirabilis é considerada uma planta singular. Além de ser a
mais famosa do território angolano, possui uma característica invejável: a
longevidade. Segundo as informações recolhidas pelos especialistas, pode
ultrapassar os mil anos e o seu único habitat é o vasto deserto do Namibe,
localizado no sul de Angola, que se estende até à Namíbia.

É vista, pelos angolanos, como um símbolo de resistência, tenacidade e


sobrevivência, devido à sua (grande) capacidade de resiliência: aguenta
temperaturas superiores a 60 graus e até cinco anos sem chuva. Por estes motivos,
é também encarada como um emblema que eterniza a força do país.

Os baobás
Baobás (Imagem: Reprodução Wikimedia Commons)
Calabaceiras, imbondeiros ou embondeiros (como são frequentemente
denominados em Angola) e, ainda, baobás são alguns dos nomes mais comuns da
“árvore garrafa” africana. Esta pode armazenar no seu tronco mais de 100 mil litros
de água e, até hoje, continua a servir de inspiração para poesias, ritos e lendas. Na
comunidade angolana, há quem acredite que a alma de uma pessoa que seja
sepultada debaixo desta árvore viverá enquanto esta existir — e existem
exemplares que atingem os seis milénios.

É considerada, segundo alguns estudos científicos, a maior e mais antiga árvore


de fruto do planeta. As suas folhas são ricas em cálcio, ferro e lípidos, podendo
ser utilizadas como medicamento eficaz no combate a febres e a inflamações. O
múcua (ou mukua) — o seu fruto — também pode ser consumido, cru ou
transformado. Em Angola, é frequentemente utilizado na preparação de sumos e
na confeção de gelados.

Até hoje, os baobás são considerados árvores sagradas. Simbolizam a


fertilidade, mas também a resistência dos escravos. Infelizmente, têm desaparecido
de forma assustadora — não só do continente africano, de onde são naturais, como
de outros locais para onde as suas sementes foram transportadas. As alterações
climáticas, provocadas pelo aquecimento global, são apontadas como a principal
causa da sua morte.

Símbolos de Angola: os culturais

“O Pensador”

Escultura em madeira “o pensador” (Imagem: Reprodução P55 )


Esta estátua, originalmente esculpida em madeira ou moldada em barro, é
uma herança deixada pela comunidade Tchokwe (Cokwe). A figura “O
Pensador” surge em representação dos adivinhadores, que se sentavam junto aos
cestos de adivinhações (ngombo) e interpretavam a sorte e o futuro. Retrata a figura
de um ancião ou de uma anciã, de forma intencional — os mais velhos ocupavam
um estatuto privilegiado, simbolizando a sabedoria do povo.

Os primeiros exemplares desta estatueta foram esculpidos nas oficinas do Museu


do Dundo, no final da década de 1940, sob a orientação da Diamang, na época
a Companhia dos Diamantes de Luanda.

Hoje em dia, é um símbolo emblemático de Angola, sendo representado,


inclusivamente, na filigrana das notas de kwanza, a moeda nacional. É considerada
uma obra de arte fidedignamente angolana.

Os bakamas

Bakamas (Imagem: Reprodução Embaixada da República de Angola na Suíça)


São congregações culturais, com seitas próprias, originárias da província de
Cabinda (Angola). Segundo os historiadores, existiam cerca de quatro grupos
de bakamas: Kizo (ou Tchizo), Kinzazi, Susu e Ngoyo — mas alguns destes já se
encontram extintos.

Os bakamas são definidos como uma espécie de organização secreta, de caráter


excecional, reconhecida pelas suas aparições e exibições culturais. As pessoas que
a integram participam em manifestações públicas, mais concretamente em
cerimónias especiais (atos fúnebres, homenagens, festas de purificação,
agradecimentos, etc.). Aparecem totalmente cobertas, utilizando máscaras faciais,
folhas de bananeira secas e restos de pano, sem nunca revelarem a verdadeira
identidade.

Na sua essência, os bakamas são tidos como um dos símbolos históricos dos
povos de Cabinda. Sempre que for necessário julgar, celebrar ou decidir, este
grupo intercede na comunidade. Acredita-se que têm o poder de possibilitar a
interação com os espíritos ocultos dos deuses e dos antepassados, visando a
reconciliação entre os vivos e os mortos.

Marimba

Marimba (instrumento musical angolano) (Imagem: Reprodução Ver Angola)


Além de ter o mesmo nome de um município angolano (da província de Malanje),
este instrumento de percussão — semelhante a um xilofone — produz um som
doce e melodioso. É originário de Angola, mas rapidamente foi difundido para
outros países, por volta do século XVI. É, geralmente, tocado com duas ou seis
baquetas, revestidas de lã ou feltro, mas também pode ser percutido com as mãos.

O nome “marimba” (ou dimba) nasceu da língua quimbunda (kimbundu), falada


nas províncias de Luanda, Catete e Malanje. Hoje, batiza um instrumento musical
que já se difundiu pelo mundo. As suas variantes vão desde os xilofones mais
retos — considerados os mais antigos — aos curvos — que podem ter entre 15 a
19 teclas, correspondendo ao número de câmaras de ressonância, constituídas
(normalmente) por cabaças presas com cavilhas de madeira e cordas.

A marimba é tocada em diferentes cerimónias angolanas: funerais, rituais de


iniciação, casamentos, celebrações, comemorações, etc. Para cada uma destas,
existe uma música/melodia específica, capaz de traduzir sentimentos de alegria,
tristeza ou de infortúnio, variando conforme a ocasião.
É um dos instrumentos tradicionais da música angolana e, até hoje, continua a ser
tocado pelos mestres marimbeiros das comunidades locais.

As danças

A
semba, rebita, kabetula e a kazukuta são algumas das danças populares e
tradicionais de Angola (Imagem: Reprodução Isaiah McClean)
Em Angola, a dança ramifica-se em diversos géneros e significados, variando de
acordo com os contextos sociais e recreativos. É utilizada, essencialmente, como
um veículo de comunicação religiosa, intervenção social, celebração e
ritualista.

É presença assídua no quotidiano angolano e é uma das formas de expressão


artística mais fortes. Pode ser ritmada por instrumentos de percussão,
principalmente por tambores e pela marimba, ao som de cânticos tradicionais. As
coreografias variam conforme o folclore de cada região, mas todas, através dos
passos energéticos, cumprem a missão de representar os costumes da
comunidade local. Em baixo, deixamos-lhe uma compilação de alguns dos
géneros de dança mais populares de Angola.

• Semba: é uma das danças e géneros musicais mais populares do território, mas
que rapidamente se disseminou pelo mundo. Há quem defenda que esteve na
origem do samba brasileiro, do kuduro e kizomba angolanos. Normalmente, é
dançada a pares e os passos são quase todos improvisados, fluindo ao som da
música e da destreza dos pares.

• Rebita: é um género de dança de salão caracterizado pelas coreografias


coordenadas do chefe da roda, que vão executando e gesticulando os passos, ao
sabor do ritmo da música. A ligação dos pares é notória, existindo uma certa
teatralização dos sorrisos e dos olhares, enquanto se dança. Hoje em dia, encontra-
se em risco de se extinguir do território angolano, por falta de bailarinos que a
perpetuem.

• Kabetula: é um género de dança tipicamente carnavalesco, da província do


Bengo. Caracteriza-se pelos saracoteios muito rápidos (ação de mexer os quadris)
e pelos saltos acrobáticos. As vestes dos bailarinos costumam ser brancas,
adornadas por lenços amarrados na cabeça ou nos pulsos. Além disso, o apito é
considerado um dos acessórios indispensáveis, servindo para fazer as marcações
rítmicas do comandante da dança.

• Kazukuta: é um género de dança que se caracteriza pelo sapateado lento, seguido


de oscilações corporais — o bailarino vai intercalando os passos no calcanhar e na
ponta dos pés, apoiando-se sobre uma bengala ou um guarda-chuva.
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