Você está na página 1de 317

CÓD: OP-116JN-24

7908403547661

CNU
CONCURSO NACIONAL UNIFICADO

Bloco 8 - Nível Intermediário:


Técnico em Indigenismo, Técnico em Informações Geográficas e Estatísticas, Agente de
atividades agropecuárias, Agente de inspeção sanitária e industrial de produtos de ori-
gem animal, Técnico de laboratório

EDITAL N. º 08/2024 -
CONCURSO PÚBLICO NACIONAL UNIFICADO, 10 DE JANEIRO DE 2024.
• A Opção não está vinculada às organizadoras de Concurso Público. A aquisição do material não garante sua inscrição ou ingresso na
carreira pública,

• Sua apostila aborda os tópicos do Edital de forma prática e esquematizada,

• Dúvidas sobre matérias podem ser enviadas através do site: www.apostilasopção.com.br/contatos.php, com retorno do professor
no prazo de até 05 dias úteis.,

• É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila, de acordo com o Artigo 184 do Código Penal.

Apostilas Opção, a Opção certa para a sua realização.


ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Compreensão de textos.............................................................................................................................................................. 5
2. A organização textual dos vários modos de organização discursiva........................................................................................... 5
3. Coerência e coesão..................................................................................................................................................................... 6
4. Ortografia.................................................................................................................................................................................... 7
5. Classe, estrutura, formação e significação de vocábulos........................................................................................................... 8
6. Derivação e composição............................................................................................................................................................ 15
7. A oração e seus termos. A estruturação do período.................................................................................................................. 16
8. As classes de palavras: aspectos morfológicos, sintáticos e estilísticos...................................................................................... 21
9. Linguagem figurada.................................................................................................................................................................... 21
10. Pontuação.................................................................................................................................................................................. 24

Noções de Direito
1. I – DIREITO E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: Direitos e deveres individuais e coletivos; direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade; direitos sociais; nacionalidade; cidadania; garantias constitucionais individuais; garantias dos
direitos coletivos, sociais e políticos............................................................................................................................................ 37
2. II – A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: Administração pública (artigos de 37 a 41, da Constituição Federal de 1988)...................... 47
3. III - Direito administrativo: conceito, fontes e princípios............................................................................................................. 53
4. Organização administrativa da União; administração direta e indireta....................................................................................... 56
5. Agentes públicos: poderes, deveres e prerrogativas; cargo, emprego e função públicos; Regime Jurídico Único (Lei nº
8.112/1990 e suas alterações): provimento, vacância, remoção, redistribuição e substituição; direitos e vantagens; regime
disciplinar; responsabilidade civil, criminal e administrativa....................................................................................................... 60
6. Poderes administrativos: poder hierárquico; poder disciplinar; poder regulamentar; poder de polícia; uso e abuso do
poder........................................................................................................................................................................................... 101
7. Ato administrativo: validade, eficácia; atributos; extinção, desfazimento e sanatória; classificação, espécies e exteriorização;
vinculação e discricionariedade................................................................................................................................................... 108
8. Serviços Públicos: conceito, classificação, regulamentação e controle; delegação: concessão, permissão, autorização............ 119
9. Controle e responsabilização da administração: controle administrativo; controle judicial; controle legislativo; responsabili-
dade civil do Estado. Sanções aplicáveis aos atos de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/1992 e suas alterações)......... 131
10. Lei do Processo Administrativo (Lei nº 9.784/1999 e suas alterações)........................................................................................ 151

Matemática
1. Conjuntos numéricos: naturais, inteiros, racionais e reais; múltiplos, divisores, números primos; potências e raízes.............. 165
2. Sistemas de Unidades de Medidas: comprimento, área, volume, massa e tempo................................................................... 172
3. Razão e proporção...................................................................................................................................................................... 174
4. regra de três simples e regra de três composta.......................................................................................................................... 178
5. porcentagem.............................................................................................................................................................................. 180
6. juros simples e juros compostos................................................................................................................................................. 181
7. Equação do 1º grau, equação do 2º grau, sistemas de equações; equações exponenciais e logarítmicas................................ 183
8. Funções: afins, quadráticas, exponenciais, logarítmicas............................................................................................................. 188
9. Progressões aritméticas e geométricas...................................................................................................................................... 201
10. Análise combinatória: princípio fundamental da contagem, permutação, arranjo e combinação............................................ 206
ÍNDICE

11. Probabilidade.............................................................................................................................................................................. 209


12. Estatística básica: leitura e interpretação de dados representados em tabelas e gráficos; medidas de tendência central (mé-
dia, mediana, moda)................................................................................................................................................................... 212
13. Geometria plana: polígonos, circunferência, círculo, teorema de Pitágoras, trigonometria no triângulo retângulo; perímetros
e áreas........................................................................................................................................................................................ 216
14. Geometria espacial: prisma, pirâmide, cilindro, cone e esfera; áreas e volumes....................................................................... 220

Realidade Brasileira
1. Formação do Brasil contemporâneo: Da independência à República........................................................................................ 229
2. Primeira República: elite agrária e a política da economia cafeeira........................................................................................... 230
3. O Estado Getulista. ..................................................................................................................................................................... 236
4. Democracia e rupturas democráticas na segunda metade do século XX................................................................................... 238
5. A redemocratização e a busca pela estabilidade econômica...................................................................................................... 240
6. História dos negros no Brasil: luta antirracista, conquistas legais e desafios atuais................................................................... 241
7. História dos povos indígenas do Brasil: luta por direitos e desafios atuais................................................................................ 244
8. Dinâmica social no Brasil: estratificação, desigualdade e exclusão social................................................................................... 254
9. Manifestações culturais, movimentos sociais e garantia de diretos das minorias...................................................................... 258
10. Desenvolvimento econômico, concentração da renda e riqueza............................................................................................... 260
11. Desenvolvimento sustentável e meio ambiente........................................................................................................................ 279
12. Biomas brasileiros: uso racional, conservação e recuperação................................................................................................... 281
13. Matriz energética: fontes renováveis e não renováveis.............................................................................................................. 285
14. mudança climática...................................................................................................................................................................... 286
15. transição energética.................................................................................................................................................................... 290
16. População: estrutura, composição e dinâmica. ......................................................................................................................... 291
17. Desenvolvimento urbano brasileiro: redes urbanas; metropolização; crescimento das cidades e problemas urbanos............ 294
18. Infraestrutura urbana e segregação socioespacial..................................................................................................................... 295
19. Desenvolvimento rural brasileiro: estrutura e concentração fundiária; sistemas produtivos e relação de trabalho no campo. 295
20. A inserção do Brasil no sistema internacional............................................................................................................................ 301
21. Estado Democrático de Direito: a Constituição de 1988 e a afirmação da cidadania................................................................. 309
LÍNGUA PORTUGUESA

Tipos textuais
COMPREENSÃO DE TEXTOS. A tipologia textual se classifica a partir da estrutura e da finali-
dade do texto, ou seja, está relacionada ao modo como o texto se
Compreender e interpretar textos é essencial para que o obje- apresenta. A partir de sua função, é possível estabelecer um padrão
tivo de comunicação seja alcançado satisfatoriamente. Com isso, é específico para se fazer a enunciação.
importante saber diferenciar os dois conceitos. Vale lembrar que o Veja, no quadro abaixo, os principais tipos e suas características:
texto pode ser verbal ou não-verbal, desde que tenha um sentido
completo.
A compreensão se relaciona ao entendimento de um texto e Apresenta um enredo, com ações
de sua proposta comunicativa, decodificando a mensagem explíci- e relações entre personagens, que
ta. Só depois de compreender o texto que é possível fazer a sua ocorre em determinados espaço e
interpretação. TEXTO NARRATIVO tempo. É contado por um narrador,
A interpretação são as conclusões que chegamos a partir do e se estrutura da seguinte maneira:
conteúdo do texto, isto é, ela se encontra para além daquilo que apresentação > desenvolvimento >
está escrito ou mostrado. Assim, podemos dizer que a interpreta- clímax > desfecho
ção é subjetiva, contando com o conhecimento prévio e do reper- Tem o objetivo de defender
tório do leitor. determinado ponto de vista,
Dessa maneira, para compreender e interpretar bem um texto, TEXTO DISSERTATIVO- persuadindo o leitor a partir do
é necessário fazer a decodificação de códigos linguísticos e/ou vi- ARGUMENTATIVO uso de argumentos sólidos. Sua
suais, isto é, identificar figuras de linguagem, reconhecer o sentido estrutura comum é: introdução >
de conjunções e preposições, por exemplo, bem como identificar desenvolvimento > conclusão.
expressões, gestos e cores quando se trata de imagens.
Procura expor ideias, sem a
necessidade de defender algum
Dicas práticas
ponto de vista. Para isso, usa-
1. Faça um resumo (pode ser uma palavra, uma frase, um con-
TEXTO EXPOSITIVO se comparações, informações,
ceito) sobre o assunto e os argumentos apresentados em cada pa-
definições, conceitualizações
rágrafo, tentando traçar a linha de raciocínio do texto. Se possível,
etc. A estrutura segue a do texto
adicione também pensamentos e inferências próprias às anotações.
dissertativo-argumentativo.
2. Tenha sempre um dicionário ou uma ferramenta de busca
por perto, para poder procurar o significado de palavras desconhe- Expõe acontecimentos, lugares,
cidas. pessoas, de modo que sua finalidade
3. Fique atento aos detalhes oferecidos pelo texto: dados, fon- TEXTO DESCRITIVO é descrever, ou seja, caracterizar algo
te de referências e datas. ou alguém. Com isso, é um texto rico
4. Sublinhe as informações importantes, separando fatos de em adjetivos e em verbos de ligação.
opiniões. Oferece instruções, com o objetivo
5. Perceba o enunciado das questões. De um modo geral, ques- de orientar o leitor. Sua maior
tões que esperam compreensão do texto aparecem com as seguin- TEXTO INJUNTIVO
característica são os verbos no modo
tes expressões: o autor afirma/sugere que...; segundo o texto...; de imperativo.
acordo com o autor... Já as questões que esperam interpretação do
texto aparecem com as seguintes expressões: conclui-se do texto Gêneros textuais
que...; o texto permite deduzir que...; qual é a intenção do autor A classificação dos gêneros textuais se dá a partir do reconhe-
quando afirma que... cimento de certos padrões estruturais que se constituem a partir
da função social do texto. No entanto, sua estrutura e seu estilo
A ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DOS VÁRIOS MODOS DE não são tão limitados e definidos como ocorre na tipologia textual,
ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA podendo se apresentar com uma grande diversidade. Além disso, o
padrão também pode sofrer modificações ao longo do tempo, as-
A partir da estrutura linguística, da função social e da finali- sim como a própria língua e a comunicação, no geral.
dade de um texto, é possível identificar a qual tipo e gênero ele Alguns exemplos de gêneros textuais:
pertence. Antes, é preciso entender a diferença entre essas duas • Artigo
classificações. • Bilhete
• Bula
• Carta

5
LÍNGUA PORTUGUESA

• Conto
• Crônica
• E-mail
• Lista
• Manual
• Notícia
• Poema
• Propaganda
• Receita culinária
• Resenha
• Seminário

Vale lembrar que é comum enquadrar os gêneros textuais em determinados tipos textuais. No entanto, nada impede que um texto
literário seja feito com a estruturação de uma receita culinária, por exemplo. Então, fique atento quanto às características, à finalidade e à
função social de cada texto analisado.

COERÊNCIA E COESÃO

A coerência e a coesão são essenciais na escrita e na interpretação de textos. Ambos se referem à relação adequada entre os compo-
nentes do texto, de modo que são independentes entre si. Isso quer dizer que um texto pode estar coeso, porém incoerente, e vice-versa.
Enquanto a coesão tem foco nas questões gramaticais, ou seja, ligação entre palavras, frases e parágrafos, a coerência diz respeito ao
conteúdo, isto é, uma sequência lógica entre as ideias.

Coesão
A coesão textual ocorre, normalmente, por meio do uso de conectivos (preposições, conjunções, advérbios). Ela pode ser obtida a
partir da anáfora (retoma um componente) e da catáfora (antecipa um componente).
Confira, então, as principais regras que garantem a coesão textual:

REGRA CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS


Pessoal (uso de pronomes pessoais ou possessivos)
– anafórica João e Maria são crianças. Eles são irmãos.
Demonstrativa (uso de pronomes demonstrativos e Fiz todas as tarefas, exceto esta: colonização
REFERÊNCIA
advérbios) – catafórica africana.
Comparativa (uso de comparações por Mais um ano igual aos outros...
semelhanças)
Substituição de um termo por outro, para evitar Maria está triste. A menina está cansada de
SUBSTITUIÇÃO
repetição ficar em casa.
No quarto, apenas quatro ou cinco
ELIPSE Omissão de um termo
convidados. (omissão do verbo “haver”)
Conexão entre duas orações, estabelecendo Eu queria ir ao cinema, mas estamos de
CONJUNÇÃO
relação entre elas quarentena.
Utilização de sinônimos, hiperônimos, nomes
A minha casa é clara. Os quartos, a sala e a
COESÃO LEXICAL genéricos ou palavras que possuem sentido aproximado
cozinha têm janelas grandes.
e pertencente a um mesmo grupo lexical.

Coerência
Nesse caso, é importante conferir se a mensagem e a conexão de ideias fazem sentido, e seguem uma linha clara de raciocínio.
Existem alguns conceitos básicos que ajudam a garantir a coerência. Veja quais são os principais princípios para um texto coerente:
• Princípio da não contradição: não deve haver ideias contraditórias em diferentes partes do texto.
• Princípio da não tautologia: a ideia não deve estar redundante, ainda que seja expressa com palavras diferentes.
• Princípio da relevância: as ideias devem se relacionar entre si, não sendo fragmentadas nem sem propósito para a argumentação.
• Princípio da continuidade temática: é preciso que o assunto tenha um seguimento em relação ao assunto tratado.
• Princípio da progressão semântica: inserir informações novas, que sejam ordenadas de maneira adequada em relação à progressão
de ideias.

6
LÍNGUA PORTUGUESA

Para atender a todos os princípios, alguns fatores são recomendáveis para garantir a coerência textual, como amplo conhecimento
de mundo, isto é, a bagagem de informações que adquirimos ao longo da vida; inferências acerca do conhecimento de mundo do leitor;
e informatividade, ou seja, conhecimentos ricos, interessantes e pouco previsíveis.

ORTOGRAFIA

A ortografia oficial diz respeito às regras gramaticais referentes à escrita correta das palavras. Para melhor entendê-las, é preciso ana-
lisar caso a caso. Lembre-se de que a melhor maneira de memorizar a ortografia correta de uma língua é por meio da leitura, que também
faz aumentar o vocabulário do leitor.
Neste capítulo serão abordadas regras para dúvidas frequentes entre os falantes do português. No entanto, é importante ressaltar que
existem inúmeras exceções para essas regras, portanto, fique atento!

Alfabeto
O primeiro passo para compreender a ortografia oficial é conhecer o alfabeto (os sinais gráficos e seus sons). No português, o alfabeto
se constitui 26 letras, divididas entre vogais (a, e, i, o, u) e consoantes (restante das letras).
Com o Novo Acordo Ortográfico, as consoantes K, W e Y foram reintroduzidas ao alfabeto oficial da língua portuguesa, de modo que
elas são usadas apenas em duas ocorrências: transcrição de nomes próprios e abreviaturas e símbolos de uso internacional.

Uso do “X”
Algumas dicas são relevantes para saber o momento de usar o X no lugar do CH:
• Depois das sílabas iniciais “me” e “en” (ex: mexerica; enxergar)
• Depois de ditongos (ex: caixa)
• Palavras de origem indígena ou africana (ex: abacaxi; orixá)

Uso do “S” ou “Z”


Algumas regras do uso do “S” com som de “Z” podem ser observadas:
• Depois de ditongos (ex: coisa)
• Em palavras derivadas cuja palavra primitiva já se usa o “S” (ex: casa > casinha)
• Nos sufixos “ês” e “esa”, ao indicarem nacionalidade, título ou origem. (ex: portuguesa)
• Nos sufixos formadores de adjetivos “ense”, “oso” e “osa” (ex: populoso)

Uso do “S”, “SS”, “Ç”


• “S” costuma aparecer entre uma vogal e uma consoante (ex: diversão)
• “SS” costuma aparecer entre duas vogais (ex: processo)
• “Ç” costuma aparecer em palavras estrangeiras que passaram pelo processo de aportuguesamento (ex: muçarela)

Os diferentes porquês

POR QUE Usado para fazer perguntas. Pode ser substituído por “por qual motivo”
PORQUE Usado em respostas e explicações. Pode ser substituído por “pois”
O “que” é acentuado quando aparece como a última palavra da frase, antes da pontuação final (interrogação,
POR QUÊ
exclamação, ponto final)
PORQUÊ É um substantivo, portanto costuma vir acompanhado de um artigo, numeral, adjetivo ou pronome

Parônimos e homônimos
As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pronúncia semelhantes, porém com significados distintos.
Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfego (trânsito) X tráfico (comércio ilegal).
Já as palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo
“rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta).

7
LÍNGUA PORTUGUESA

CLASSE, ESTRUTURA, FORMAÇÃO E SIGNIFICAÇÃO DE VOCÁBULOS

Para entender sobre a estrutura das funções sintáticas, é preciso conhecer as classes de palavras, também conhecidas por classes
morfológicas. A gramática tradicional pressupõe 10 classes gramaticais de palavras, sendo elas: adjetivo, advérbio, artigo, conjunção, in-
terjeição, numeral, pronome, preposição, substantivo e verbo.
Veja, a seguir, as características principais de cada uma delas.

CLASSE CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS


Menina inteligente...
Expressar características, qualidades ou estado dos seres Roupa azul-marinho...
ADJETIVO
Sofre variação em número, gênero e grau Brincadeira de criança...
Povo brasileiro...
A ajuda chegou tarde.
Indica circunstância em que ocorre o fato verbal
ADVÉRBIO A mulher trabalha muito.
Não sofre variação
Ele dirigia mal.
Determina os substantivos (de modo definido ou inde- A galinha botou um ovo.
ARTIGO finido) Uma menina deixou a mochila no ôni-
Varia em gênero e número bus.
Liga ideias e sentenças (conhecida também como conec-
Não gosto de refrigerante nem de pizza.
CONJUNÇÃO tivos)
Eu vou para a praia ou para a cachoeira?
Não sofre variação
Exprime reações emotivas e sentimentos Ah! Que calor...
INTERJEIÇÃO
Não sofre variação Escapei por pouco, ufa!
Atribui quantidade e indica posição em alguma sequên-
Gostei muito do primeiro dia de aula.
NUMERAL cia
Três é a metade de seis.
Varia em gênero e número
Posso ajudar, senhora?
Ela me ajudou muito com o meu traba-
Acompanha, substitui ou faz referência ao substantivo
PRONOME lho.
Varia em gênero e número
Esta é a casa onde eu moro.
Que dia é hoje?
Relaciona dois termos de uma mesma oração Espero por você essa noite.
PREPOSIÇÃO
Não sofre variação Lucas gosta de tocar violão.
Nomeia objetos, pessoas, animais, alimentos, lugares
A menina jogou sua boneca no rio.
SUBSTANTIVO etc.
A matilha tinha muita coragem.
Flexionam em gênero, número e grau.
Indica ação, estado ou fenômenos da natureza Ana se exercita pela manhã.
Sofre variação de acordo com suas flexões de modo, Todos parecem meio bobos.
VERBO tempo, número, pessoa e voz. Chove muito em Manaus.
Verbos não significativos são chamados verbos de liga- A cidade é muito bonita quando vista do
ção alto.

Substantivo
Tipos de substantivos
Os substantivos podem ter diferentes classificações, de acordo com os conceitos apresentados abaixo:
• Comum: usado para nomear seres e objetos generalizados. Ex: mulher; gato; cidade...
• Próprio: geralmente escrito com letra maiúscula, serve para especificar e particularizar. Ex: Maria; Garfield; Belo Horizonte...
• Coletivo: é um nome no singular que expressa ideia de plural, para designar grupos e conjuntos de seres ou objetos de uma mesma
espécie. Ex: matilha; enxame; cardume...
• Concreto: nomeia algo que existe de modo independente de outro ser (objetos, pessoas, animais, lugares etc.). Ex: menina; cachor-
ro; praça...
• Abstrato: depende de um ser concreto para existir, designando sentimentos, estados, qualidades, ações etc. Ex: saudade; sede;
imaginação...
• Primitivo: substantivo que dá origem a outras palavras. Ex: livro; água; noite...
• Derivado: formado a partir de outra(s) palavra(s). Ex: pedreiro; livraria; noturno...

8
LÍNGUA PORTUGUESA

• Simples: nomes formados por apenas uma palavra (um radical). Ex: casa; pessoa; cheiro...
• Composto: nomes formados por mais de uma palavra (mais de um radical). Ex: passatempo; guarda-roupa; girassol...

Flexão de gênero
Na língua portuguesa, todo substantivo é flexionado em um dos dois gêneros possíveis: feminino e masculino.
O substantivo biforme é aquele que flexiona entre masculino e feminino, mudando a desinência de gênero, isto é, geralmente o final
da palavra sendo -o ou -a, respectivamente (Ex: menino / menina). Há, ainda, os que se diferenciam por meio da pronúncia / acentuação
(Ex: avô / avó), e aqueles em que há ausência ou presença de desinência (Ex: irmão / irmã; cantor / cantora).
O substantivo uniforme é aquele que possui apenas uma forma, independente do gênero, podendo ser diferenciados quanto ao gêne-
ro a partir da flexão de gênero no artigo ou adjetivo que o acompanha (Ex: a cadeira / o poste). Pode ser classificado em epiceno (refere-se
aos animais), sobrecomum (refere-se a pessoas) e comum de dois gêneros (identificado por meio do artigo).
É preciso ficar atento à mudança semântica que ocorre com alguns substantivos quando usados no masculino ou no feminino, trazen-
do alguma especificidade em relação a ele. No exemplo o fruto X a fruta temos significados diferentes: o primeiro diz respeito ao órgão
que protege a semente dos alimentos, enquanto o segundo é o termo popular para um tipo específico de fruto.

Flexão de número
No português, é possível que o substantivo esteja no singular, usado para designar apenas uma única coisa, pessoa, lugar (Ex: bola;
escada; casa) ou no plural, usado para designar maiores quantidades (Ex: bolas; escadas; casas) — sendo este último representado, geral-
mente, com o acréscimo da letra S ao final da palavra.
Há, também, casos em que o substantivo não se altera, de modo que o plural ou singular devem estar marcados a partir do contexto,
pelo uso do artigo adequado (Ex: o lápis / os lápis).

Variação de grau
Usada para marcar diferença na grandeza de um determinado substantivo, a variação de grau pode ser classificada em aumentativo
e diminutivo.
Quando acompanhados de um substantivo que indica grandeza ou pequenez, é considerado analítico (Ex: menino grande / menino
pequeno).
Quando acrescentados sufixos indicadores de aumento ou diminuição, é considerado sintético (Ex: meninão / menininho).

Novo Acordo Ortográfico


De acordo com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, as letras maiúsculas devem ser usadas em nomes próprios de
pessoas, lugares (cidades, estados, países, rios), animais, acidentes geográficos, instituições, entidades, nomes astronômicos, de festas e
festividades, em títulos de periódicos e em siglas, símbolos ou abreviaturas.
Já as letras minúsculas podem ser usadas em dias de semana, meses, estações do ano e em pontos cardeais.
Existem, ainda, casos em que o uso de maiúscula ou minúscula é facultativo, como em título de livros, nomes de áreas do saber,
disciplinas e matérias, palavras ligadas a alguma religião e em palavras de categorização.
Adjetivo
Os adjetivos podem ser simples (vermelho) ou compostos (mal-educado); primitivos (alegre) ou derivados (tristonho). Eles podem
flexionar entre o feminino (estudiosa) e o masculino (engraçado), e o singular (bonito) e o plural (bonitos).
Há, também, os adjetivos pátrios ou gentílicos, sendo aqueles que indicam o local de origem de uma pessoa, ou seja, sua nacionali-
dade (brasileiro; mineiro).
É possível, ainda, que existam locuções adjetivas, isto é, conjunto de duas ou mais palavras usadas para caracterizar o substantivo. São
formadas, em sua maioria, pela preposição DE + substantivo:
• de criança = infantil
• de mãe = maternal
• de cabelo = capilar

Variação de grau
Os adjetivos podem se encontrar em grau normal (sem ênfases), ou com intensidade, classificando-se entre comparativo e superlativo.
• Normal: A Bruna é inteligente.
• Comparativo de superioridade: A Bruna é mais inteligente que o Lucas.
• Comparativo de inferioridade: O Gustavo é menos inteligente que a Bruna.
• Comparativo de igualdade: A Bruna é tão inteligente quanto a Maria.
• Superlativo relativo de superioridade: A Bruna é a mais inteligente da turma.
• Superlativo relativo de inferioridade: O Gustavo é o menos inteligente da turma.
• Superlativo absoluto analítico: A Bruna é muito inteligente.
• Superlativo absoluto sintético: A Bruna é inteligentíssima.

9
LÍNGUA PORTUGUESA

Adjetivos de relação
São chamados adjetivos de relação aqueles que não podem sofrer variação de grau, uma vez que possui valor semântico objetivo, isto
é, não depende de uma impressão pessoal (subjetiva). Além disso, eles aparecem após o substantivo, sendo formados por sufixação de um
substantivo (Ex: vinho do Chile = vinho chileno).
Advérbio
Os advérbios são palavras que modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio. Eles se classificam de acordo com a tabela
abaixo:

CLASSIFICAÇÃO ADVÉRBIOS LOCUÇÕES ADVERBIAIS


DE MODO bem; mal; assim; melhor; depressa ao contrário; em detalhes
ontem; sempre; afinal; já; agora; doravante; pri- logo mais; em breve; mais tarde, nunca mais,
DE TEMPO
meiramente de noite
Ao redor de; em frente a; à esquerda; por per-
DE LUGAR aqui; acima; embaixo; longe; fora; embaixo; ali
to
DE INTENSIDADE muito; tão; demasiado; imenso; tanto; nada em excesso; de todos; muito menos
DE AFIRMAÇÃO sim, indubitavelmente; certo; decerto; deveras com certeza; de fato; sem dúvidas
DE NEGAÇÃO não; nunca; jamais; tampouco; nem nunca mais; de modo algum; de jeito nenhum
DE DÚVIDA Possivelmente; acaso; será; talvez; quiçá Quem sabe

Advérbios interrogativos
São os advérbios ou locuções adverbiais utilizadas para introduzir perguntas, podendo expressar circunstâncias de:
• Lugar: onde, aonde, de onde
• Tempo: quando
• Modo: como
• Causa: por que, por quê

Grau do advérbio
Os advérbios podem ser comparativos ou superlativos.
• Comparativo de igualdade: tão/tanto + advérbio + quanto
• Comparativo de superioridade: mais + advérbio + (do) que
• Comparativo de inferioridade: menos + advérbio + (do) que
• Superlativo analítico: muito cedo
• Superlativo sintético: cedíssimo

Curiosidades
Na linguagem coloquial, algumas variações do superlativo são aceitas, como o diminutivo (cedinho), o aumentativo (cedão) e o uso
de alguns prefixos (supercedo).
Existem advérbios que exprimem ideia de exclusão (somente; salvo; exclusivamente; apenas), inclusão (também; ainda; mesmo) e
ordem (ultimamente; depois; primeiramente).
Alguns advérbios, além de algumas preposições, aparecem sendo usados como uma palavra denotativa, acrescentando um sentido
próprio ao enunciado, podendo ser elas de inclusão (até, mesmo, inclusive); de exclusão (apenas, senão, salvo); de designação (eis); de
realce (cá, lá, só, é que); de retificação (aliás, ou melhor, isto é) e de situação (afinal, agora, então, e aí).

Pronomes
Os pronomes são palavras que fazem referência aos nomes, isto é, aos substantivos. Assim, dependendo de sua função no enunciado,
ele pode ser classificado da seguinte maneira:
• Pronomes pessoais: indicam as 3 pessoas do discurso, e podem ser retos (eu, tu, ele...) ou oblíquos (mim, me, te, nos, si...).
• Pronomes possessivos: indicam posse (meu, minha, sua, teu, nossos...)
• Pronomes demonstrativos: indicam localização de seres no tempo ou no espaço. (este, isso, essa, aquela, aquilo...)
• Pronomes interrogativos: auxiliam na formação de questionamentos (qual, quem, onde, quando, que, quantas...)
• Pronomes relativos: retomam o substantivo, substituindo-o na oração seguinte (que, quem, onde, cujo, o qual...)
• Pronomes indefinidos: substituem o substantivo de maneira imprecisa (alguma, nenhum, certa, vários, qualquer...)
• Pronomes de tratamento: empregados, geralmente, em situações formais (senhor, Vossa Majestade, Vossa Excelência, você...)

10
LÍNGUA PORTUGUESA

Colocação pronominal
Diz respeito ao conjunto de regras que indicam a posição do pronome oblíquo átono (me, te, se, nos, vos, lhe, lhes, o, a, os, as, lo, la,
no, na...) em relação ao verbo, podendo haver próclise (antes do verbo), ênclise (depois do verbo) ou mesóclise (no meio do verbo).
Veja, então, quais as principais situações para cada um deles:
• Próclise: expressões negativas; conjunções subordinativas; advérbios sem vírgula; pronomes indefinidos, relativos ou demonstrati-
vos; frases exclamativas ou que exprimem desejo; verbos no gerúndio antecedidos por “em”.
Nada me faria mais feliz.

• Ênclise: verbo no imperativo afirmativo; verbo no início da frase (não estando no futuro e nem no pretérito); verbo no gerúndio não
acompanhado por “em”; verbo no infinitivo pessoal.
Inscreveu-se no concurso para tentar realizar um sonho.

• Mesóclise: verbo no futuro iniciando uma oração.


Orgulhar-me-ei de meus alunos.

DICA: o pronome não deve aparecer no início de frases ou orações, nem após ponto-e-vírgula.

Verbos
Os verbos podem ser flexionados em três tempos: pretérito (passado), presente e futuro, de maneira que o pretérito e o futuro pos-
suem subdivisões.
Eles também se dividem em três flexões de modo: indicativo (certeza sobre o que é passado), subjuntivo (incerteza sobre o que é
passado) e imperativo (expressar ordem, pedido, comando).
• Tempos simples do modo indicativo: presente, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do pre-
sente, futuro do pretérito.
• Tempos simples do modo subjuntivo: presente, pretérito imperfeito, futuro.

Os tempos verbais compostos são formados por um verbo auxiliar e um verbo principal, de modo que o verbo auxiliar sofre flexão em
tempo e pessoa, e o verbo principal permanece no particípio. Os verbos auxiliares mais utilizados são “ter” e “haver”.
• Tempos compostos do modo indicativo: pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente, futuro do pretérito.
• Tempos compostos do modo subjuntivo: pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro.
As formas nominais do verbo são o infinitivo (dar, fazerem, aprender), o particípio (dado, feito, aprendido) e o gerúndio (dando, fa-
zendo, aprendendo). Eles podem ter função de verbo ou função de nome, atuando como substantivo (infinitivo), adjetivo (particípio) ou
advérbio (gerúndio).

Tipos de verbos
Os verbos se classificam de acordo com a sua flexão verbal. Desse modo, os verbos se dividem em:
Regulares: possuem regras fixas para a flexão (cantar, amar, vender, abrir...)
• Irregulares: possuem alterações nos radicais e nas terminações quando conjugados (medir, fazer, poder, haver...)
• Anômalos: possuem diferentes radicais quando conjugados (ser, ir...)
• Defectivos: não são conjugados em todas as pessoas verbais (falir, banir, colorir, adequar...)
• Impessoais: não apresentam sujeitos, sendo conjugados sempre na 3ª pessoa do singular (chover, nevar, escurecer, anoitecer...)
• Unipessoais: apesar de apresentarem sujeitos, são sempre conjugados na 3ª pessoa do singular ou do plural (latir, miar, custar,
acontecer...)
• Abundantes: possuem duas formas no particípio, uma regular e outra irregular (aceitar = aceito, aceitado)
• Pronominais: verbos conjugados com pronomes oblíquos átonos, indicando ação reflexiva (suicidar-se, queixar-se, sentar-se, pente-
ar-se...)
• Auxiliares: usados em tempos compostos ou em locuções verbais (ser, estar, ter, haver, ir...)
• Principais: transmitem totalidade da ação verbal por si próprios (comer, dançar, nascer, morrer, sorrir...)
• De ligação: indicam um estado, ligando uma característica ao sujeito (ser, estar, parecer, ficar, continuar...)

Vozes verbais
As vozes verbais indicam se o sujeito pratica ou recebe a ação, podendo ser três tipos diferentes:
• Voz ativa: sujeito é o agente da ação (Vi o pássaro)
• Voz passiva: sujeito sofre a ação (O pássaro foi visto)
• Voz reflexiva: sujeito pratica e sofre a ação (Vi-me no reflexo do lago)

Ao passar um discurso para a voz passiva, é comum utilizar a partícula apassivadora “se”, fazendo com o que o pronome seja equiva-
lente ao verbo “ser”.

11
LÍNGUA PORTUGUESA

Conjugação de verbos
Os tempos verbais são primitivos quando não derivam de outros tempos da língua portuguesa. Já os tempos verbais derivados são
aqueles que se originam a partir de verbos primitivos, de modo que suas conjugações seguem o mesmo padrão do verbo de origem.
• 1ª conjugação: verbos terminados em “-ar” (aproveitar, imaginar, jogar...)
• 2ª conjugação: verbos terminados em “-er” (beber, correr, erguer...)
• 3ª conjugação: verbos terminados em “-ir” (dormir, agir, ouvir...)

Confira os exemplos de conjugação apresentados abaixo:

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-lutar

12
LÍNGUA PORTUGUESA

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-impor

13
LÍNGUA PORTUGUESA

Preposições • Integrantes: usadas para introduzir as orações subordinadas


As preposições são palavras invariáveis que servem para ligar substantivas, definidas pelas palavras que e se.
dois termos da oração numa relação subordinada, e são divididas • Causais: porque, que, como.
entre essenciais (só funcionam como preposição) e acidentais (pa- • Concessivas: embora, ainda que, se bem que.
lavras de outras classes gramaticais que passam a funcionar como • Condicionais: e, caso, desde que.
preposição em determinadas sentenças). • Conformativas: conforme, segundo, consoante.
Preposições essenciais: a, ante, após, de, com, em, contra, • Comparativas: como, tal como, assim como.
para, per, perante, por, até, desde, sobre, sobre, trás, sob, sem, en- • Consecutivas: de forma que, de modo que, de sorte que.
tre. • Finais: a fim de que, para que.
Preposições acidentais: afora, como, conforme, consoante, du- • Proporcionais: à medida que, ao passo que, à proporção que.
rante, exceto, mediante, menos, salvo, segundo, visto etc. • Temporais: quando, enquanto, agora.
Locuções prepositivas: abaixo de, afim de, além de, à custa de,
defronte a, a par de, perto de, por causa de, em que pese a etc. A formação de palavras se dá a partir de processos morfológi-
cos, de modo que as palavras se dividem entre:
Ao conectar os termos das orações, as preposições estabele- • Palavras primitivas: são aquelas que não provêm de outra
cem uma relação semântica entre eles, podendo passar ideia de: palavra. Ex: flor; pedra
• Causa: Morreu de câncer. • Palavras derivadas: são originadas a partir de outras pala-
• Distância: Retorno a 3 quilômetros. vras. Ex: floricultura; pedrada
• Finalidade: A filha retornou para o enterro. • Palavra simples: são aquelas que possuem apenas um radi-
• Instrumento: Ele cortou a foto com uma tesoura. cal (morfema que contém significado básico da palavra). Ex: cabelo;
• Modo: Os rebeldes eram colocados em fila. azeite
• Lugar: O vírus veio de Portugal. • Palavra composta: são aquelas que possuem dois ou mais
• Companhia: Ela saiu com a amiga. radicais. Ex: guarda-roupa; couve-flor
• Posse: O carro de Maria é novo. Entenda como ocorrem os principais processos de formação de
• Meio: Viajou de trem. palavras:

Combinações e contrações Derivação


Algumas preposições podem aparecer combinadas a outras pa- A formação se dá por derivação quando ocorre a partir de uma
lavras de duas maneiras: sem haver perda fonética (combinação) e palavra simples ou de um único radical, juntando-se afixos.
havendo perda fonética (contração). • Derivação prefixal: adiciona-se um afixo anteriormente à pa-
• Combinação: ao, aos, aonde lavra ou radical. Ex: antebraço (ante + braço) / infeliz (in + feliz)
• Contração: de, dum, desta, neste, nisso • Derivação sufixal: adiciona-se um afixo ao final da palavra ou
radical. Ex: friorento (frio + ento) / guloso (gula + oso)
Conjunção • Derivação parassintética: adiciona-se um afixo antes e outro
As conjunções se subdividem de acordo com a relação estabe- depois da palavra ou radical. Ex: esfriar (es + frio + ar) / desgoverna-
lecida entre as ideias e as orações. Por ter esse papel importante do (des + governar + ado)
de conexão, é uma classe de palavras que merece destaque, pois • Derivação regressiva (formação deverbal): reduz-se a pala-
reconhecer o sentido de cada conjunção ajuda na compreensão e vra primitiva. Ex: boteco (botequim) / ataque (verbo “atacar”)
interpretação de textos, além de ser um grande diferencial no mo- • Derivação imprópria (conversão): ocorre mudança na classe
mento de redigir um texto. gramatical, logo, de sentido, da palavra primitiva. Ex: jantar (verbo
Elas se dividem em duas opções: conjunções coordenativas e para substantivo) / Oliveira (substantivo comum para substantivo
conjunções subordinativas. próprio – sobrenomes).

Conjunções coordenativas Composição


As orações coordenadas não apresentam dependência sintáti- A formação por composição ocorre quando uma nova palavra
ca entre si, servindo também para ligar termos que têm a mesma se origina da junção de duas ou mais palavras simples ou radicais.
função gramatical. As conjunções coordenativas se subdividem em • Aglutinação: fusão de duas ou mais palavras simples, de
cinco grupos: modo que ocorre supressão de fonemas, de modo que os elemen-
• Aditivas: e, nem, bem como. tos formadores perdem sua identidade ortográfica e fonológica. Ex:
• Adversativas: mas, porém, contudo. aguardente (água + ardente) / planalto (plano + alto)
• Alternativas: ou, ora…ora, quer…quer. • Justaposição: fusão de duas ou mais palavras simples, man-
• Conclusivas: logo, portanto, assim. tendo a ortografia e a acentuação presente nos elementos forma-
• Explicativas: que, porque, porquanto. dores. Em sua maioria, aparecem conectadas com hífen. Ex: beija-
-flor / passatempo.
Conjunções subordinativas
As orações subordinadas são aquelas em que há uma relação Abreviação
de dependência entre a oração principal e a oração subordinada. Quando a palavra é reduzida para apenas uma parte de sua
Desse modo, a conexão entre elas (bem como o efeito de sentido) totalidade, passando a existir como uma palavra autônoma. Ex: foto
se dá pelo uso da conjunção subordinada adequada. (fotografia) / PUC (Pontifícia Universidade Católica).
Elas podem se classificar de dez maneiras diferentes:

14
LÍNGUA PORTUGUESA

Hibridismo Polissemia e monossemia


Quando há junção de palavras simples ou radicais advindos de As palavras polissêmicas são aquelas que podem apresentar
línguas distintas. Ex: sociologia (socio – latim + logia – grego) / binó- mais de um significado, a depender do contexto em que ocorre a
culo (bi – grego + oculus – latim). frase. Ex: cabeça (parte do corpo humano; líder de um grupo).
Já as palavras monossêmicas são aquelas apresentam apenas
Combinação um significado. Ex: eneágono (polígono de nove ângulos).
Quando ocorre junção de partes de outras palavras simples ou
radicais. Ex: portunhol (português + espanhol) / aborrecente (abor- Denotação e conotação
recer + adolescente). Palavras com sentido denotativo são aquelas que apresentam
um sentido objetivo e literal. Ex: Está fazendo frio. / Pé da mulher.
Intensificação Palavras com sentido conotativo são aquelas que apresentam
Quando há a criação de uma nova palavra a partir do alarga- um sentido simbólico, figurado. Ex: Você me olha com frieza. / Pé
mento do sufixo de uma palavra existente. Normalmente é feita da cadeira.
adicionando o sufixo -izar. Ex: inicializar (em vez de iniciar) / proto-
colizar (em vez de protocolar). Hiperonímia e hiponímia
Esta classificação diz respeito às relações hierárquicas de signi-
Neologismo ficado entre as palavras.
Quando novas palavras surgem devido à necessidade do falan- Desse modo, um hiperônimo é a palavra superior, isto é, que
te em contextos específicos, podendo ser temporárias ou perma- tem um sentido mais abrangente. Ex: Fruta é hiperônimo de limão.
nentes. Existem três tipos principais de neologismos: Já o hipônimo é a palavra que tem o sentido mais restrito, por-
• Neologismo semântico: atribui-se novo significado a uma pa- tanto, inferior, de modo que o hiperônimo engloba o hipônimo. Ex:
lavra já existente. Ex: amarelar (desistir) / mico (vergonha) Limão é hipônimo de fruta.
• Neologismo sintático: ocorre a combinação de elementos já
existentes no léxico da língua. Ex: dar um bolo (não comparecer ao Formas variantes
compromisso) / dar a volta por cima (superar). São as palavras que permitem mais de uma grafia correta, sem
• Neologismo lexical: criação de uma nova palavra, que tem que ocorra mudança no significado. Ex: loiro – louro / enfarte – in-
um novo conceito. Ex: deletar (apagar) / escanear (digitalizar) farto / gatinhar – engatinhar.

Onomatopeia Arcaísmo
Quando uma palavra é formada a partir da reprodução aproxi- São palavras antigas, que perderam o uso frequente ao longo
mada do seu som. Ex: atchim; zum-zum; tique-taque. do tempo, sendo substituídas por outras mais modernas, mas que
ainda podem ser utilizadas. No entanto, ainda podem ser bastante
Este é um estudo da semântica, que pretende classificar os encontradas em livros antigos, principalmente. Ex: botica <—> far-
sentidos das palavras, as suas relações de sentido entre si. Conheça mácia / franquia <—> sinceridade.
as principais relações e suas características:
DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO.
Sinonímia e antonímia
As palavras sinônimas são aquelas que apresentam significado
Na língua portuguesa, o processo de formação de palavras é um
semelhante, estabelecendo relação de proximidade. Ex: inteligente
assunto complexo, uma vez que as palavras surgiram de inúmeras
<—> esperto
formas, com a grande maioria delas surgindo de um radical.1
Já as palavras antônimas são aquelas que apresentam signifi-
cados opostos, estabelecendo uma relação de contrariedade. Ex:
Palavras primitivas
forte <—> fraco
São aquelas que não vieram de outros idiomas e que fazem par-
te de tantas outras e servem como base para a formação de outra.2
Parônimos e homônimos
As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pro-
Exemplo:
núncia semelhantes, porém com significados distintos.
-pedra, raiz;
Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfe-
go (trânsito) X tráfico (comércio ilegal).
Derivação
As palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma
Trata-se do processo de criação de palavras em que a palavra
grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo
primitiva ganha vários tipos de afixos. Esse processo de derivação
“rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta).
pode ser prefixal, sufixal, parassintético, regressivo e impróprio.
As palavras homófonas são aquelas que possuem a mesma
pronúncia, mas com escrita e significado diferentes. Ex: cem (nu-
meral) X sem (falta); conserto (arrumar) X concerto (musical).
As palavras homógrafas são aquelas que possuem escrita igual,
porém som e significado diferentes. Ex: colher (talher) X colher (ver-
bo); acerto (substantivo) X acerto (verbo). 1 https://www.gabarite.com.br/dica-concurso/203-formacao-de-palavras-composi-
cao-derivacao-hibridismo-onomatopeia-e-abreviacao.
2 https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/formacao-das-palavras.htm.

15
LÍNGUA PORTUGUESA

Exemplo: Composição
-pedreira, enraizada. Quando uma palavra é feita de mais de um radical e existem
-inútil = prefixo in + radical útil. dois tipos de composição:

Derivação prefixal Composição por justaposição


É quando o afixo vem antes do radical. Faz-se pela anexação de Quando não é feita nenhuma mudança nas palavras.
prefixo à palavra primitiva.
Exemplo:
Exemplo: -guarda-chuva, lança-perfume pé-de-galinha, passatempo, ca-
-desumano, desfazer, refazer. chorro-quente, girassol.

Derivação sufixal Composição por aglutinação


É quando o afixo vem depois do radical. Faz-se pela anexação de Quando pelo menos uma das palavras passa por mudanças.
sufixo à palavra primitiva.
Exemplo
Exemplo: -planalto = plano + alto, embora= em+boa+hora planalto (plano
-pedregulho, raízes, alegremente, carinhoso. + alto), embora (em + boa + hora).
Os sufixos são divididos em nominais, verbais e adverbiais.
Sufixos nominais são os que derivam substantivos e adjetivos; Hibridismo
Sufixos verbais são os que derivam verbos; Quando uma palavra é formada por dois termos de idiomas di-
Sufixo adverbial é o que deriva advérbio, esse existe apenas um: ferentes.
-mente
Exemplo
Derivação parassintética -tele (grego) visão (latim), automóvel (auto= grego, móvel= la-
É quando o radical recebe o prefixo e o sufixo ao mesmo tem- tim).
po. Faz-se pela anexação simultânea de prefixo e sufixo à palavra
primitiva.

Exemplo
A ORAÇÃO E SEUS TERMOS. A ESTRUTURAÇÃO DO
-apedrejamento, enraizar, desalmado, entristecer.
PERÍODO

Frase
A derivação parassintética só acontece quando os dois morfe-
É todo enunciado capaz de transmitir a outrem tudo aquilo que
mas (prefixo e sufixo) se unem ao radical simultaneamente.
pensamos, queremos ou sentimos.
Derivação regressiva
Exemplos
É quando a palavra perde letras. Faz-se pela redução da palavra
Caía uma chuva.
primitiva.
Dia lindo.
Exemplo
Oração
-trabalho (de trabalhar), choro (de chorar).
É a frase que apresenta estrutura sintática (normalmente, su-
jeito e predicado, ou só o predicado).
O processo de derivação regressiva produz os substantivos de-
verbais, esses são substantivos derivados a partir de verbos.
Exemplos
Ninguém segura este menino. (Ninguém: sujeito; segura este
Derivação imprópria
menino: predicado)
É quando a palavra não passa por nenhum tipo de mudança,
Havia muitos suspeitos. (Oração sem sujeito; havia muitos sus-
exceto em seu contexto em uma frase. Forma-se quando uma pa-
peitos: predicado)
lavra muda de classe gramatical sem que a forma da primitiva seja
alterada.

Exemplos
-Aquele menino é uma BALEIA! (baleia em relação ao peso, que
é grande);
-Só aceito um sim como resposta! ( o sim neste caso vira um
substantivo).
-O infeliz faltou ao serviço hoje. (adjetivo torna-se substantivo).
-Não aceito um não como resposta. (advérbio torna-se substan-
tivo, o artigo um substantiva o advérbio).

16
LÍNGUA PORTUGUESA

Termos da oração

sujeito
1. Termos essenciais
predicado

complemento verbal objeto direto


Termos
2. complemento nominal objeto indireto
integrantes
agente da passiva

Adjunto adnominal
3. Termos acessórios adjunto adverbial
aposto
4. Vocativo

Diz-se que sujeito e predicado são termos “essenciais”, mas note que o termo que realmente é o núcleo da oração é o verbo:
Chove. (Não há referência a sujeito.)
Cansei. (O sujeito e eu, implícito na forma verbal.)
Os termos “acessórios” são assim chamados por serem supostamente dispensáveis, o que nem sempre é verdade.

Sujeito e predicado
Sujeito é o termo da oração com o qual, normalmente, o verbo concorda.

Exemplos
A notícia corria rápida como pólvora. (Corria está no singular concordando com a notícia.)
As notícias corriam rápidas como pólvora. (Corriam, no plural, concordando com as notícias.)

O núcleo do sujeito é a palavra principal do sujeito, que encerra a essência de sua significação. Em torno dela, como que gravitam as
demais.
Exemplo: Os teus lírios brancos embelezam os campos. (Lírios é o núcleo do sujeito.)

Podem exercer a função de núcleo do sujeito o substantivo e palavras de natureza substantiva. Veja:
O medo salvou-lhe a vida. (substantivo)
Os medrosos fugiram. (Adjetivo exercendo papel de substantivo: adjetivo substantivado.)

A definição mais adequada para sujeito é: sujeito é o termo da oração com o qual o verbo normalmente concorda.

Sujeito simples: tem um só núcleo.


Exemplo: As flores morreram.

Sujeito composto: tem mais de um núcleo.


Exemplo: O rapaz e a moça foram encostados ao muro.

Sujeito elíptico (ou oculto): não expresso e que pode ser determinado pela desinência verbal ou pelo contexto.
Exemplo: Viajarei amanhã. (sujeito oculto: eu)

Sujeito indeterminado: é aquele que existe, mas não podemos ou não queremos identificá-lo com precisão.
Ocorre:
- quando o verbo está na 3ª pessoa do plural, sem referência a nenhum substantivo anteriormente expresso.
Exemplo: Batem à porta.

17
LÍNGUA PORTUGUESA

- com verbos intransitivo (VI), transitivo indireto (VTI) ou de li- Exemplo: A população da vila assistia ao embarque. (Núcleo
gação (VL) acompanhados da partícula SE, chamada de índice de do sujeito: população; núcleo do predicado: assistia, verbo transi-
indeterminação do sujeito (IIS). tivo indireto)
Exemplos:
Vive-se bem. (VI) Verbos intransitivos
Precisa-se de pedreiros. (VTI) São verbos que não exigem complemento algum; como a ação
Falava-se baixo. (VI) verbal não passa, não transita para nenhum complemento, rece-
Era-se feliz naquela época. (VL) bem o nome de verbos intransitivos. Podem formar predicado sozi-
nhos ou com adjuntos adverbiais.
Orações sem sujeito Exemplo: Os visitantes retornaram ontem à noite.
São orações cujos verbos são impessoais, com sujeito inexis-
tente. Verbos transitivos
São verbos que, ao declarar alguma coisa a respeito do sujei-
Ocorrem nos seguintes casos: to, exigem um complemento para a perfeita compreensão do que
- com verbos que se referem a fenômenos meteorológicos. se quer dizer. Tais verbos se denominam transitivos e a pessoa ou
Exemplo: Chovia. Ventava durante a noite. coisa para onde se dirige a atividade transitiva do verbo se denomi-
na objeto. Dividem-se em: diretos, indiretos e diretos e indiretos.
- haver no sentido de existir ou quando se refere a tempo de-
corrido. Verbos transitivos diretos: Exigem um objeto direto.
Exemplo: Há duas semanas não o vejo. (= Faz duas semanas) Exemplo: Espero-o no aeroporto.

- fazer referindo-se a fenômenos meteorológicos ou a tempo Verbos transitivos indiretos: Exigem um objeto indireto.
decorrido. Exemplo: Gosto de flores.
Exemplo: Fazia 40° à sombra.
Verbos transitivos diretos e indiretos: Exigem um objeto direto
- ser nas indicações de horas, datas e distâncias. e um objeto indireto.
Exempl: São duas horas. Exemplo: Os ministros informaram a nova política econômi-
ca aos trabalhadores. (VTDI)
Predicado nominal
O núcleo, em torno do qual as demais palavras do predicado Complementos verbais
gravitam e que contém o que de mais importante se comunica a Os complementos verbais são representados pelo objeto direto
respeito do sujeito, e um nome (isto é, um substantivo ou adjetivo, (OD) e pelo objeto indireto (OI).
ou palavra de natureza substantiva). O verbo e de ligação (liga o nú-
cleo ao sujeito) e indica estado (ser, estar, continuar, ficar, perma- Objeto indireto
necer; também andar, com o sentido de estar; virar, com o sentido É o complemento verbal que se liga ao verbo pela preposição
de transformar-se em; e viver, com o sentido de estar sempre). por ele exigida. Nesse caso o verbo pode ser transitivo indireto ou
Exemplo: transitivo direto e indireto. Normalmente, as preposições que ligam
Os príncipes viraram sapos muito feios. (verbo de ligação mais o objeto indireto ao verbo são a, de, em, com, por, contra, para etc.
núcleo substantivo: sapos) Exemplo: Acredito em você.

Verbos de ligação Objeto direto


São aqueles que, sem possuírem significação precisa, ligam um Complemento verbal que se liga ao verbo sem preposição obri-
sujeito a um predicativo. São verbos de ligação: ser, estar, ficar, pa- gatória. Nesse caso o verbo pode ser transitivo direto ou transitivo
recer, permanecer, continuar, tornar-se etc. direto e indireto.
Exemplo: A rua estava calma. Exemplo: Comunicaram o fato aos leitores.

Predicativo do sujeito Objeto direto preposicionado


É o termo da oração que, no predicado, expressa qualificação É aquele que, contrariando sua própria definição e característi-
ou classificação do sujeito. ca, aparece regido de preposição (geralmente preposição a).
Exemplo: Você será engenheiro. O pai dizia aos filhos que adorava a ambos.

- O predicativo do sujeito, além de vir com verbos de liga- Objeto pleonástico


ção, pode também ocorrer com verbos intransitivos ou com ver- É a repetição do objeto (direto ou indireto) por meio de um
bos transitivos. pronome. Essa repetição assume valor enfático (reforço) da noção
contida no objeto direto ou no objeto indireto.
Predicado verbal Exemplos
Ocorre quando o núcleo é um verbo. Logo, não apresenta pre- Ao colega, já lhe perdoei. (objeto indireto pleonástico)
dicativo. E formado por verbos transitivos ou intransitivos. Ao filme, assistimos a ele emocionados. (objeto indireto pleo-
nástico)

18
LÍNGUA PORTUGUESA

Predicado verbo-nominal Período


Esse predicado tem dois núcleos (um verbo e um nome), é for- Enunciado formado de uma ou mais orações, finalizado por:
mado por predicativo com verbo transitivo ou intransitivo. ponto final ( . ), reticencias (...), ponto de exclamação (!) ou ponto
Exemplos: de interrogação (?). De acordo com o número de orações, classifi-
A multidão assistia ao jogo emocionada. (predicativo do sujei- ca-se em:
to com verbo transitivo indireto) Apresenta apenas uma oração que é chamada absoluta.
A riqueza tornou-o orgulhoso. (predicativo do objeto com ver- O período é simples quando só traz uma oração, chamada
bo transitivo direto) absoluta; o período é composto quando traz mais de uma oração.
Exemplo: Comeu toda a refeição. (Período simples, oração absolu-
Predicativo do sujeito ta.); Quero que você leia. (Período composto.)
O predicativo do sujeito, além de vir com verbos de ligação, Uma maneira fácil de saber quantas orações há num período
pode também ocorrer com verbos intransitivos ou transitivos. Nes- é contar os verbos ou locuções verbais. Num período haverá tan-
se caso, o predicado é verbo-nominal. tas orações quantos forem os verbos ou as locuções verbais nele
Exemplo: A criança brincava alegre no parque. existentes.
Há três tipos de período composto: por coordenação, por su-
Predicativo do objeto bordinação e por coordenação e subordinação ao mesmo tempo
Exprime qualidade, estado ou classificação que se referem ao (também chamada de misto).
objeto (direto ou indireto).
Período Composto por Coordenação
Exemplo de predicativo do objeto direto:
O juiz declarou o réu culpado. As três orações que formam esse período têm sentido próprio
Exemplo de predicativo do objeto indireto: e não mantêm entre si nenhuma dependência sintática: são inde-
Gosto de você alegre. pendentes. Há entre elas uma relação de sentido, mas uma não de-
pende da outra sintaticamente.
Adjunto adnominal As orações independentes de um período são chamadas de
É o termo acessório que vem junto ao nome (substantivo), res- orações coordenadas (OC), e o período formado só de orações co-
tringindo-o, qualificando-o, determinando-o (adjunto: “que vem ordenadas é chamado de período composto por coordenação.
junto a”; adnominal: “junto ao nome”). Observe: As orações coordenadas podem ser assindéticas e sindéticas.
Os meus três grandes amigos [amigos: nome substantivo] vie- As orações são coordenadas assindéticas (OCA) quando não
ram me fazer uma visita [visita: nome substantivo] agradável on- vêm introduzidas por conjunção. Exemplo:
tem à noite. Os jogadores correram, / chutaram, / driblaram.
São adjuntos adnominais os (artigo definido), meus (pronome OCA OCA OCA
possessivo adjetivo), três (numeral), grandes (adjetivo), que estão
gravitando em torno do núcleo do sujeito, o substantivo amigos; - As orações são coordenadas sindéticas (OCS) quando vêm in-
o mesmo acontece com uma (artigo indefinido) e agradável (adje- troduzidas por conjunção coordenativa. Exemplo:
tivo), que determinam e qualificam o núcleo do objeto direto, o A mulher saiu do prédio / e entrou no táxi.
substantivo visita. OCA OCS

O adjunto adnominal prende-se diretamente ao substantivo, As orações coordenadas sindéticas se classificam de acordo
ao passo que o predicativo se refere ao substantivo por meio de com o sentido expresso pelas conjunções coordenativas que as in-
um verbo. troduzem. Pode ser:

Complemento nominal - Orações coordenadas sindéticas aditivas: e, nem, não só...


É o termo que completa o sentido de substantivos, adjetivos e mas também, não só... mas ainda.
advérbios porque estes não têm sentido completo. A 2ª oração vem introduzida por uma conjunção que expressa
- Objeto – recebe a atividade transitiva de um verbo. ideia de acréscimo ou adição com referência à oração anterior, ou
- Complemento nominal – recebe a atividade transitiva de um seja, por uma conjunção coordenativa aditiva.
nome.
O complemento nominal é sempre ligado ao nome por prepo- - Orações coordenadas sindéticas adversativas: mas, porém,
sição, tal como o objeto indireto. todavia, contudo, entretanto, no entanto.
Exemplo: Tenho necessidade de dinheiro. A 2ª oração vem introduzida por uma conjunção que expressa
ideia de oposição à oração anterior, ou seja, por uma conjunção
Adjunto adverbial coordenativa adversativa.
É o termo da oração que modifica o verbo ou um adjetivo ou
o próprio advérbio, expressando uma circunstância: lugar, tempo, - Orações coordenadas sindéticas conclusivas: portanto, por
fim, meio, modo, companhia, exclusão, inclusão, negação, afirma- isso, pois, logo.
ção, duvida, concessão, condição etc. A 2ª oração vem introduzida por uma conjunção que expres-
sa ideia de conclusão de um fato enunciado na oração anterior, ou
seja, por uma conjunção coordenativa conclusiva.

19
LÍNGUA PORTUGUESA

- Orações coordenadas sindéticas alternativas: ou, ou... ou, que exerce a função de objeto indireto do verbo da oração princi-
ora... ora, seja... seja, quer... quer. pal. Observe: Preciso de sua ajuda. (objeto indireto)
A 2ª oração vem introduzida por uma conjunção que estabele- - Oração Subordinada Substantiva Subjetiva: É aquela que
ce uma relação de alternância ou escolha com referência à oração exerce a função de sujeito do verbo da oração principal. Observe: É
anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa alternativa. importante sua ajuda. (sujeito)
- Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal: É
- Orações coordenadas sindéticas explicativas: que, porque, aquela que exerce a função de complemento nominal de um ter-
pois, porquanto. mo da oração principal. Observe: Estamos certos de sua inocência.
A 2ª oração é introduzida por uma conjunção que expressa (complemento nominal)
ideia de explicação, de justificativa em relação à oração anterior, ou - Oração Subordinada Substantiva Predicativa: É aquela que
seja, por uma conjunção coordenativa explicativa. exerce a função de predicativo do sujeito da oração principal, vindo
sempre depois do verbo ser. Observe: O principal é sua felicidade.
Período Composto por Subordinação (predicativo)
Nesse período, a segunda oração exerce uma função sintática - Oração Subordinada Substantiva Apositiva: É aquela que
em relação à primeira, sendo subordinada a ela. Quando um perío- exerce a função de aposto de um termo da oração principal. Obser-
do é formado de pelo menos um conjunto de duas orações em que ve: Ela tinha um objetivo: a felicidade de todos. (aposto)
uma delas (a subordinada) depende sintaticamente da outra (prin-
cipal), ele é classificado como período composto por subordinação. Orações Subordinadas Adjetivas
As orações subordinadas são classificadas de acordo com a função Exercem a função de adjunto adnominal de algum termo da
que exercem. oração principal.
As orações subordinadas adjetivas são sempre introduzidas por
Orações Subordinadas Adverbiais um pronome relativo (que, qual, cujo, quem, etc.) e são classifica-
Exercem a função de adjunto adverbial da oração principal das em:
(OP). São classificadas de acordo com a conjunção subordinativa - Subordinadas Adjetivas Restritivas: São restritivas quando
que as introduz: restringem ou especificam o sentido da palavra a que se referem.
- Causais: Expressam a causa do fato enunciado na oração prin- - Subordinadas Adjetivas Explicativas: São explicativas quan-
cipal. Conjunções: porque, que, como (= porque), pois que, visto do apenas acrescentam uma qualidade à palavra a que se referem,
que. esclarecendo um pouco mais seu sentido, mas sem restringi-lo ou
- Condicionais: Expressam hipóteses ou condição para a ocor- especificá-lo.
rência do que foi enunciado na principal. Conjunções: se, contanto
que, a menos que, a não ser que, desde que. Orações Reduzidas
- Concessivas: Expressam ideia ou fato contrário ao da oração São caracterizadas por possuírem o verbo nas formas de gerún-
principal, sem, no entanto, impedir sua realização. Conjunções: em- dio, particípio ou infinitivo. Ao contrário das demais orações subor-
bora, ainda que, apesar de, se bem que, por mais que, mesmo que. dinadas, as orações reduzidas não são ligadas através dos conecti-
- Conformativas: Expressam a conformidade de um fato com vos. Há três tipos de orações reduzidas:
outro. Conjunções: conforme, como (=conforme), segundo.
- Temporais: Acrescentam uma circunstância de tempo ao que - Orações reduzidas de infinitivo:
foi expresso na oração principal. Conjunções: quando, assim que, Infinitivo: terminações –ar, -er, -ir.
logo que, enquanto, sempre que, depois que, mal (=assim que).
- Finais: Expressam a finalidade ou o objetivo do que foi enun- Reduzida: Meu desejo era ganhar na loteria.
ciado na oração principal. Conjunções: para que, a fim de que, por- Desenvolvida: Meu desejo era que eu ganhasse na loteria.
que (=para que), que. (Oração Subordinada Substantiva Predicativa)
- Consecutivas: Expressam a consequência do que foi enuncia-
do na oração principal. Conjunções: porque, que, como (= porque), - Orações Reduzidas de Particípio:
pois que, visto que. Particípio: terminações –ado, -ido.
- Comparativas: Expressam ideia de comparação com referência
à oração principal. Conjunções: como, assim como, tal como, (tão)... Reduzida: A mulher sequestrada foi resgatada.
como, tanto como, tal qual, que (combinado com menos ou mais). Desenvolvida: A mulher que sequestraram foi resgatada. (Ora-
- Proporcionais: Expressam uma ideia que se relaciona pro- ção Subordinada Adjetiva Restritiva)
porcionalmente ao que foi enunciado na principal. Conjunções: à
medida que, à proporção que, ao passo que, quanto mais, quanto - Orações Reduzidas de Gerúndio:
menos. Gerúndio: terminação –ndo.
Orações Subordinadas Substantivas
São aquelas que, num período, exercem funções sintáticas pró- Reduzida: Respeitando as regras, não terão problemas.
prias de substantivos, geralmente são introduzidas pelas conjun- Desenvolvida: Desde que respeitem as regras, não terão pro-
ções integrantes que e se. blemas. (Oração Subordinada Adverbial Condicional)
- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta: É aquela
que exerce a função de objeto direto do verbo da oração principal.
Observe: O filho quer a sua ajuda. (objeto direto)
- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta: É aquela

20
LÍNGUA PORTUGUESA

Antonomásia
AS CLASSES DE PALAVRAS: ASPECTOS MORFOLÓGICOS, Quando substituímos um nome próprio pela qualidade ou ca-
SINTÁTICOS E ESTILÍSTICOS racterística que o distingue. Pode ser utilizada para eliminar repe-
tições e tornar o texto mais rico, devendo apresentar termos que
sejam conhecidos pelo público, para não prejudicar a compreensão.
Prezado Candidato, o tema supracitado, já foi abordado nos tópi- Ex.: O Águia de Haia (= Rui Barbosa)
cos anteriores O Pai da Aviação (= Santos Dumont)

LINGUAGEM FIGURADA.
Epíteto
Também chamadas de Figuras de Estilo. É possível classificá-las Significa “posto ao lado”, “acrescentado”. É um termo que de-
em quatro tipos: signa “apelido” ou “alcunha”, isto é, expressões ou palavras que são
– Figuras de Palavras (ou semânticas); acrescentados a um nome. Epíteto vem do Grego EPÍTHETON, “algo
– Figuras Sonoras; adicionado, apelido”, de EPI-, “sobre”, e TITHENAI, “colocar”.
– Figuras de Construção (ou de sintaxe); Aparece logo após o nome da pessoa, de personagens literários,
– Figuras de Pensamento. da história de militares, de reis e de muitos outros.
Ex.: Nelson Rodrigues: o “Anjo Pornográfico”, por sua obra de
— Figuras de Palavras cunho bastante sexual.
3
São as que dependem do uso de determinada palavra com sen- Augusto Dos Anjos: o “Poeta da Morte”, já que seu principal
tido novo ou com sentido incomum. Vejamos: tema era a morte.

Metáfora Metonímia
É um tipo de comparação (mental) sem uso de conectivos com- Troca-se uma palavra por outra com a qual ela se relaciona.
parativos, com utilização de verbo de ligação explícito na frase. Con- Ocorre quando um único nome é citado para representar um todo
siste em usar uma palavra referente a algo no lugar da característica referente a ele.
propriamente dita, depreendendo uma relação de semelhança que A metonímia ocorre quando substituímos:
pode ser compreendida por conta da flexibilidade da linguagem. – O autor ou criador pela obra. Ex.: Gosto de ler Jorge Amado
Ex.: “Sua boca era um pássaro escarlate.” (Castro Alves) (observe que o nome do autor está sendo usado no lugar de suas
obras).
Catacrese – O efeito pela causa e vice-versa. Ex.: Ganho a vida com o suor
Consiste em transferir a uma palavra o sentido próprio de ou- do meu rosto. (o suor é o efeito ou resultado e está sendo usado no
tra, fazendo uso de formas já incorporadas aos usos da língua. Se lugar da causa, ou seja, o “trabalho”).
a metáfora surpreende pela originalidade da associação de ideias, – O continente pelo conteúdo. Ex.: Ela comeu uma caixa de do-
o mesmo não ocorre com a catacrese, que já não chama a atenção ces. (= doces).
por ser tão repetidamente usada. Toma-se emprestado um termo já – O abstrato pelo concreto e vice-versa. Ex.: A velhice deve ser
existente e o “emprestamos” para outra coisa. respeitada. (= pessoas velhas).
Ex.: Batata da perna; Pé da mesa; Cabeça de alho; Asa da xícara. – O instrumento pela pessoa que o utiliza. Ex.: Ele é bom no
volante. (= piloto ou motorista).
Comparação ou Símile – O lugar pelo produto. Ex.: Gosto muito de tomar um Porto. (=
É a comparação entre dois elementos comuns, semelhantes, de o vinho da cidade do Porto).
forma mais explícita. Como assim? Normalmente se emprega uma – O símbolo ou sinal pela coisa significada. Ex.: Os revolucioná-
conjunção comparativa: como, tal qual, assim como, que nem. rios queriam o trono. (= império, o poder).
Ex.: “Como um anjo caído, fiz questão de esquecer...” (Legião – A parte pelo todo. Ex.: Não há teto para os necessitados. (=
Urbana) a casa).
– O indivíduo pela classe ou espécie. Exemplo: Ele foi o judas
Sinestesia do grupo. (= espécie dos homens traidores).
É a fusão de no mínimo dois dos cinco sentidos físicos, sendo – O singular pelo plural. Ex.: O homem é um animal racional.
bastante utilizada na arte, principalmente em músicas e poesias. (o singular homem está sendo usado no lugar do plural homens).
Ex.: “De amargo e então salgado ficou doce, - Paladar – O gênero ou a qualidade pela espécie. Ex.: Nós mortais, so-
Assim que teu cheiro forte e lento - Olfato mos imperfeitos. (= seres humanos).
Fez casa nos meus braços e ainda leve - Tato – A matéria pelo objeto. Ex.: Ele não tem um níquel. (= moeda).
E forte e cego e tenso fez saber - Visão
Que ainda era muito e muito pouco.” (Legião Urbana) Observação: os últimos 5 casos recebem também o nome de
Sinédoque.

Sinédoque
Significa a troca que ocorre por relação de compreensão e que
consiste no uso do todo, pela parte do plural pelo singular, do gêne-
ro pela espécie, ou vice-versa.
3 https://bit.ly/37nLTfx Ex.: O mundo é violento. (= os homens)

21
LÍNGUA PORTUGUESA

Perífrase Ambiguidade ou Anfibologia


Trata-se da substituição de um nome por uma expressão por Esta é uma figura de linguagem bastante utilizada no meio artís-
alguma característica marcante ou por algum fato que o tenha tor- tico, de forma poética e literária. Entretanto, em textos técnicos e
nado célebre. redações, ela é considerada um vício (e precisa ser evitada). Ocorre
Ex.: O país do futebol acredita no seu povo. (país do futebol = quando uma frase fica com duplo sentido, dificultando sua inter-
Brasil) pretação.
Ex.: A mãe avisou à filha que estava terminando o serviço.
Analogia (Quem terminava o serviço: a mãe ou a filha?)
Trata-se de uma espécie de comparação, contudo, neste caso,
realizada por meio de uma correspondência entre duas entidades Alegoria
diferentes. Utilizada de maneira retórica, com o objetivo de ampliar o signi-
Na escrita, pode ocorrer a analogia quando o autor pretender ficado de uma palavra (ou oração). A alegoria ajuda a transmitir um
estabelecer uma aproximação equivalente entre elementos através (ou mais) sentidos do texto, além do literal.
do sentido figurado e dos conectivos de comparação. Ex.: “Vivemos em uma constante montanha russa: estamos em
Ex.: A árvore é um ser vivo. Tem metabolismo e reproduz-se. alta velocidade e os altos e baixos se revezam de maneira vertigino-
O ser humano também. Nisto são semelhantes. Ora se são seme- sa, sem que possamos pensar direito.” (Aqui, o enunciador propõe
lhantes nestas coisas e a árvore cresce podemos concluir que o ser equalizarmos o cotidiano a uma “montanha russa” e, na sequência,
humano também cresce. cria relações contínuas entre os dias e os movimentos propiciados
pelo mecanismo de brinquedo.)
Hipérbole
É a figura do exagero, a fim de proporcionar uma imagem cho- Simbologia
cante ou emocionante. É a exaltação de uma ideia, visando causar É o uso de simbologias para indicar algo.
maior impacto. Ex.: “A pomba branca simboliza a paz.”
Ex.: “Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo Bilac)
“Estou morta de fome”. Figuras de Harmonia
São as que reproduzem os efeitos de repetição de sons, ou ain-
Eufemismo da quando se busca representa-los. São elas:
Figura que atenua, que dá um tom mais leve a uma expressão.
Ex.: “E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir Aliteração
Deus lhe pague.” (Chico Buarque) Repetição consonantal fonética (som da letra) geralmente no
Paz derradeira = morte início da palavra. Dá ritmo e também pode criar trava-línguas.
“Aquele homem de índole duvidosa apropriou-se (ladrão) inde- Ex.: “O rato roeu a roupa do rei de Roma”;
vidamente dos meus pertences.” (roubou) “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

Disfemismo Assonância
Expressão grosseira em lugar de outra, que poderia ser mais su- Repetição da vogal tônica ou de sílabas com as mesmas conso-
ave, branda. antes e vogais distintas.
Ex.: “Você não passa de um porco ... um pobretão.” Ex.: “É a moda / da menina muda / da menina trombuda / que
muda de modos / e dá medo” (Moda da Menina Trombuda - Cecília
Pleonasmo Meireles)
Repetição da ideia, ou seja, redundância semântica e sintática,
divide-se em: Paronomásia
– Gramatical: com objetos direto ou indireto redundantes, cha- É o uso de palavras iguais ou com sons semelhantes, porém que
mam-nos pleonásticos. possuem sentidos distintos.
Ex.: “Perdoo-te a ti, meu amor.” Ex.: “Berro pelo aterro pelo desterro
“O carro velho, eu o vendi ontem.” Berro por seu berro pelo seu erro” (Caetano Veloso)
– Vicioso: deve ser evitado por não acrescentar informação “Quem casa, quer casa”.
nova ao que já havia sido dito anteriormente.
Ex.: subir para cima; descer para baixo; repetir de novo; hemor- Cacofonia
ragia sanguínea; protagonista principal; monopólio exclusivo. Trata-se da junção de duas palavras (as últimas sílabas de uma
+ as sílabas iniciais da outra), que podem tornar o som diferente e
Anáfora criar um novo significado. A cacofonia é notada ao falar, com o som
É a repetição intencional de palavras, no início de um período, fazendo parecer algo diferente daquilo que realmente foi dito.
frase ou verso. Ex.: A boca dela. (cadela)
Ex.: “Eu quase não saio A prova valia 10 pontos, um por cada acerto. (porcada)
Eu quase não tenho amigo
Eu quase não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado.”
(Gilberto Gil)

22
LÍNGUA PORTUGUESA

Onomatopeia Hipálage
Este é um recurso empregado com a intenção de reproduzir um Inversão de um adjetivo (uma qualidade que pertence a um é
barulho, som ou ruído. É muito usada em histórias em quadrinhos atribuída a outro substantivo).
e na literatura. No exemplo a seguir, o “tic-tac” reproduz o som de Ex.: “A mulher degustava lânguida cigarrilha.”
um relógio. Lânguida = sensual, portanto lânguida é a mulher, e não a cigar-
Ex: “Passa, tempo, tic-tac / Tic-tac, passa, hora / Chega logo, rilha como faz supor.
tic-tac / Tic-tac, e vai-te embora” (O Relógio - Vinícius de Moraes) “Em cada olho um grito castanho de ódio.” (Dalton Trevisan)
Castanhos são os olhos, e não o grito.
Figuras de Construção
Dizem respeito aos desvios de padrão de concordância quer Hipérbato ou Inversão
quanto à ordem, omissões ou excessos. Dão maior fluidez ao texto. É a inversão da ordem direta da frase (sujeito-verbo-objeto-
Dividem-se em: -complementos).
Ex.: “Enquanto manda as ninfas amorosas grinaldas nas cabeças
Assíndeto pôr de rosas.” (Camões)
Ocorre por falta ou supressão de conectivos. Geralmente, é “Enquanto manda as ninfas amorosas pôr grinaldas de rosas na
substituído por vírgula. cabeça.”
Ex.: “Saí, bebi, enfim, vivi.” (Nel de Moraes)
“Meu filho não quer trabalhar, estudar, ser autônomo, ser in- Sínquise
dependente”. Há uma inversão violenta de distantes partes da oração. É um
hipérbato “hiperbólico”.
Polissíndeto Ex.: “...entre vinhedo e sebe
Repetição enfática de conectivos que ligam termos da oração corre uma linfa e ele no seu de faia
ou períodos. Na maioria das vezes, as conjunções coordenativas são de ao pé do Alfeu Tarro escultado bebe.” (Alberto de Oliveira)
repetidas. “Uma linfa corre entre vinhedo e sebe, e ele bebe no seu Tarro
Ex.: “E saber, e crescer, e ser, e haver escultado, de faia, ao pé do Alfeu.”
E perder, e sofrer, e ter horror.”
(Vinícius de Morais) Silepse
Ocorre quando há concordância com uma ideia, e não com uma
Elipse palavra — isto é, é feita com um elemento implícito. Pode aconte-
É a omissão de um termo que não prejudica ou altera o sentido cer nos seguintes âmbitos: de gênero, de número e de pessoa.
da frase. Ex.: “O casal se atrasou, estavam se arrumando”
Ex.: “Queria ser um pássaro dentro da noite.” (omissão de “Eu”) Neste exemplo, há uma silepse de número. Num primeiro mo-
“Quero mais respeito.” (omissão de “Eu” e “receber”) mento, a frase aparenta estar errada — uma vez que o verbo “es-
tar” deveria aparecer no singular, para concordar com “casal” —,
Zeugma porém não se preocupe, essa construção é permitida.
Elipse especial que consiste na supressão de um termo já ex-
presso, anteriormente, no contexto. – De Gênero: masculino e feminino não concordam.
Ex.: “Nós nos desejamos e não nos possuímos.” (supressão de Ex.: “A vítima era lindo e o carrasco estava temerosa quanto à
“nós”) reação da população.”
“Eu prefiro literatura, ele, linguística” (supressão de “prefere”) Perceba que vítima e carrasco não receberam de seus adjetivos
lindo e temerosa a ‘atenção’ devida, por quê? Isso se deve à ideia
Anacoluto de que os substantivos sobrecomuns designam ambos os sexos, e
É uma alteração na estrutura da frase, que é interrompida por não ambos os gêneros, portanto, por questões estilísticas, o autor
algum elemento inserido de maneira “solta”. Há estudiosos que de- do texto preferiu a ideia à regra gramatical rígida que impõe que
fendem que o anacoluto é um erro gramatical. O anacoluto é pare- adjetivos concordem em gênero com o substantivo, não em sexo.
cido com o pleonasmo, ou melhor, na tentativa de um pleonasmo
sintático, muitas vezes, acaba-se por criar a ruptura. – De Pessoa: sujeito e verbo não concordam entre si.
Ex.: “Os meus vizinhos, não confio mais neles.” - a função sintá- Ex.: “A gente não sabemos escolher presidente.”
tica de “os meus vizinhos” é nula; entretanto, se houvesse preposi- “A gente não sabemos tomar conta da gente.” (Ultraje a Rigor)
ção (“Nos meus vizinhos, não confio mais neles”), o termo seria ob- Nos casos de silepse de pessoa há, por parte do autor, uma cla-
jeto indireto, enquanto “neles” seria o objeto indireto pleonástico. ra intromissão, característica do discurso indireto livre, quando, ao
informar, o emissor se coloca como parte da ação.
Anástrofe
Inversão sintática leve. — Figuras de Pensamento
Ex.: “Tão leve estou que já nem sombra tenho.” (ordem inversa) São recursos de linguagem que se referem ao aspecto semânti-
(Mário Quintana) co, ou seja, ao significado dentro de um contexto.
“Estou tão leve que já não tenho sombra.” (ordem direta)
Antítese
É a aproximação de palavras de sentidos contrários, antagôni-
cos.

23
LÍNGUA PORTUGUESA

Ex.: “Onde queres prazer, sou o que dói Alusão


E onde queres tortura, mansidão Este é um recurso usado para fazer referência ou citação, rela-
Onde, queres um lar, Revolução cionando uma ideia a outra — podendo ocorrer de maneira explí-
E onde queres bandido, sou herói.” cita ou não. Ao realizar referência a um acontecimento, pessoas,
(Caetano Veloso) personagens ou outros trabalhos, a alusão ajuda na compreensão
da ideia que se deseja passar.
Paradoxo ou Oximoro Ex.: “Eles estavam apaixonados como Romeu e Julieta.”
É mais que a aproximação antitética; é a própria ideia que se Neste exemplo, a intenção é explicar a grande paixão que uma
contradiz. pessoa sente pela outra.
Ex.: “O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
“Mas tão certo quanto o erro de seu barco a motor é insistir em
PONTUAÇÃO.
usar remos.” (Legião Urbana)
Para a elaboração de um texto escrito, deve-se considerar o uso
Apóstrofe
adequado dos sinais de pontuação como: pontos, vírgula, ponto e
É a evocação, o chamamento. Identifica-se facilmente na função
vírgula, dois pontos, travessão, parênteses, reticências, aspas, etc.
sintática do vocativo.
Tais sinais têm papéis variados no texto escrito e, se utilizados
Ex.: “Minha Nossa Senhora!” (usada quando alguém se espanta
corretamente, facilitam a compreensão e entendimento do texto.
com algo)
— A Importância da Pontuação
Quiasmo
As palavras e orações são organizadas de maneira sintática, se-
4
Cruzamento de palavras que se repetem. Muito utilizado sado
mântica e também melódica e rítmica. Sem o ritmo e a melodia, os
para enfatizar algum feito.
enunciados ficariam confusos e a função comunicativa seria preju-
Ex.: “Tinha uma pedra no meio do meu caminho. / No meio do
dicada.
meu caminho tinha uma pedra.” (C. D. Andrade)
O uso correto dos sinais de pontuação garante à escrita uma
solidariedade sintática e semântica. O uso inadequado dos sinais de
Gradação ou Clímax
pontuação pode causar situações desastrosas, como em:
É uma sequência de palavras ou ideias que servem de intensifi-
– Não podem atirar! (entende-se que atirar está proibido)
cação numa sequência temporal. O clímax é obtido com a gradação
– Não, podem atirar! (entende-se que é permitido atirar)
ascendente, já o anticlímax, é a organização de forma contrária.
Ex.: “Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião, uns cingidos
— Ponto
de luz, outros ensanguentados.” (Ocidentais - Machado de Assis)
Este ponto simples final (.) encerra períodos que terminem por
qualquer tipo de oração que não seja interrogativa direta, a excla-
Ironia
mativa e as reticências.
Consiste em dizer o oposto do que se pensa, com intenção sar-
Outra função do ponto é a da pausa oracional, ao acompanhar
cástica ou depreciativa.
muitas palavras abreviadas, como: p., 2.ª, entre outros.
Ex.: “A excelente Dona lnácia era mestra na arte de judiar de
Se o período, oração ou frase terminar com uma abreviatura,
criança.” (Monteiro Lobato)
o ponto final não é colocado após o ponto abreviativo, já que este,
“Dona Clotilde, o arcanjo do seu filho, quebrou minhas vidra-
quando coincide com aquele, apresenta dupla serventia.
ças.”
Ex.: “O ponto abreviativo põe-se depois das palavras indicadas
abreviadamente por suas iniciais ou por algumas das letras com que
Personificação ou Prosopopeia
se representam, v.g. ; V. S.ª ; Il.mo ; Ex.a ; etc.” (Dr. Ernesto Carneiro
É a atribuição de características humanas e qualidades a objetos
Ribeiro)
inanimados e irracionais.
O ponto, com frequência, se aproxima das funções do ponto e
Ex.: “O vento beija meus cabelos
vírgula e do travessão, que às vezes surgem em seu lugar.
As ondas lambem minhas pernas
O sol abraça o meu corpo.” (Lulu Santos - Nelson Motta)
Obs.: Estilisticamente, pode-se usar o ponto para, em períodos
curtos, empregar dinamicidade, velocidade à leitura do texto: “Era
Reificação
um garoto pobre. Mas tinha vontade de crescer na vida. Estudou.
Consiste em “coisificar” os seres humanos.
Subiu. Foi subindo mais. Hoje é juiz do Supremo.”. É muito utilizado
Ex.: “Tia, já botei os candidatos na lista.”
em narrações em geral.
“Fiquei plantada duas horas no consultório médico.”
— Ponto Parágrafo
Lítotes
Separa-se por ponto um grupo de período formado por orações
Consiste em negar por afirmação ou vice-versa.
que se prendem pelo mesmo centro de interesse. Uma vez que o
Ex.: “Ela até que não é feia.” (logo, é bonita)
centro de interesse é trocado, é imposto o emprego do ponto pa-
“Você está exagerando. Não subestime a sua inteligência.” (por-
rágrafo se iniciando a escrever com a mesma distância da margem
que ela é inteligente)
com que o texto foi iniciado, mas em outra linha.
4 BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2009.

24
LÍNGUA PORTUGUESA

O parágrafo é indicado por ( § ) na linguagem oficial dos artigos As reticências podem aparecer após um ponto de exclamação
de lei. ou interrogação.

— Ponto de Interrogação — Vírgula


É um sinal (?) colocado no final da oração com entonação inter- A vírgula (,) é utilizada:
rogativa ou de incerteza, seja real ou fingida. - Para separar termos coordenados, mesmo quando ligados por
A interrogação conclusa aparece no final do enunciado e requer conjunção (caso haja pausa).
que a palavra seguinte se inicie por maiúscula. Já a interrogação Ex.: “Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado”.
interna (quase sempre fictícia), não requer que a próxima palavra
se inicia com maiúscula. IMPORTANTE!
Ex.: — Você acha que a gramática da Língua Portuguesa é com- Quando há uma série de sujeitos seguidos imediatamente de
plicada? verbo, não se separa do verbo (por vírgula) o ultimo sujeito da série
— Meu padrinho? É o Excelentíssimo Senhor coronel Paulo Vaz .
Lobo Cesar de Andrade e Sousa Rodrigues de Matos. Ex.: Carlos Gomes, Vítor Meireles, Pedro Américo, José de Alen-
car tinham-nas começado.
Assim como outros sinais, o ponto de interrogação não requer
que a oração termine por ponto final, a não ser que seja interna. - Para separar orações coordenadas aditivas, mesmo que estas
Ex.: “Esqueceu alguma cousa? perguntou Marcela de pé, no pa- se iniciem pela conjunção e, proferidas com pausa.
tamar”. Ex.: “Gostava muito das nossas antigas dobras de ouro, e eu le-
vava-lhe quanta podia obter”.
Em diálogos, o ponto de interrogação pode aparecer acompa-
nhando do ponto de exclamação, indicando o estado de dúvida de - Para separar orações coordenadas alternativas (ou, quer, etc.),
um personagem perante diante de um fato. quando forem proferidas com pausa.
Ex.: — “Esteve cá o homem da casa e disse que do próximo mês Ex.: Ele sairá daqui logo, ou eu me desligarei do grupo.
em diante são mais cinquenta...
— ?!...” IMPORTANTE!
Quando ou exprimir retificação, esta mesma regra vigora.
— Ponto de Exclamação Ex.: Teve duas fases a nossa paixão, ou ligação, ou qualquer ou-
Este sinal (!) é colocado no final da oração enunciada com ento- tro nome, que eu de nome não curo.
nação exclamativa. Caso denote equivalência, o ou posto entre os dois termos não
Ex.: “Que gentil que estava a espanhola!” é separado por vírgula.
“Mas, na morte, que diferença! Que liberdade!” Ex.: Solteiro ou solitário se prende ao mesmo termo latino.

Este sinal é colocado após uma interjeição. - Em aposições, a não ser no especificativo.
Ex.: — Olé! exclamei. Ex.: “ora enfim de uma casa que ele meditava construir, para
— Ah! brejeiro! residência própria, casa de feitio moderno...”

As mesmas observações vistas no ponto de interrogação, em re- - Para separar os pleonasmos e as repetições, quando não tive-
lação ao emprego do ponto final e ao uso de maiúscula ou minúscu- rem efeito superlativamente.
la inicial da palavra seguinte, são aplicadas ao ponto de exclamação. Ex.: “Nunca, nunca, meu amor!”
A casa é linda, linda.
— Reticências
As reticências (...) demonstram interrupção ou incompletude de - Para intercalar ou separar vocativos e apostos.
um pensamento. Ex.: Brasileiros, é chegada a hora de buscar o entendimento.
Ex.: — “Ao proferir estas palavras havia um tremor de alegria É aqui, nesta querida escola, que nos encontramos.
na voz de Marcela: e no rosto como que se lhe espraiou uma onda
de ventura...” - Para separar orações adjetivas de valor explicativo.
— “Não imagina o que ela é lá em casa: fala na senhora a todos Ex.: “perguntava a mim mesmo por que não seria melhor depu-
os instantes, e aqui aparece uma pamonha. Ainda ontem... tado e melhor marquês do que o lobo Neves, — eu, que valia mais,
muito mais do que ele, — ...”
Quando colocadas no fim do enunciado, as reticências dispen-
sam o ponto final, como você pode observar nos exemplos acima. - Para separar, na maioria das vezes, orações adjetivas restritiva
As reticências, quando indicarem uma enumeração inconclusa, de certa extensão, ainda mais quando os verbos de duas orações
podem ser substituídas por etc. distintas se juntam.
Ao transcrever um diálogo, elas indicam uma não resposta do Ex.: “No meio da confusão que produzira por toda a parte este
interlocutor. Já em citações, elas podem ser postas no início, no acontecimento inesperado e cujo motivo e circunstâncias inteira-
meio ou no fim, indicando supressão do texto transcrito, em cada mente se ignoravam, ninguém reparou nos dois cavaleiros...”
uma dessas partes.
Quando ocorre a supressão de um trecho de certa extensão,
geralmente utiliza-se uma linha pontilhada.

25
LÍNGUA PORTUGUESA

IMPORTANTE! Ex.: Comprou dois presentes: um livro e uma caneta.


Mesmo separando por vírgula o sujeito expandido pela oração “que (Viegas) padecia de um reumatismo teimoso, de uma
adjetiva, esta pontuação pode acontecer. asma não menos teimosa e de uma lesão de coração: era um hos-
Ex.: Os que falam em matérias que não entendem, parecem fa- pital concentrado”
zer gala da sua própria ignorância. “Queremos governos perfeitos com homens imperfeitos: dispa-
rate”
- Para separar orações intercaladas.
Ex.: “Não lhe posso dizer com certeza, respondi eu” - Em expressões que se seguem aos verbos dizer, retrucar, res-
ponder (e semelhantes) e que dão fim à declaração textual, ou que
- Para separar, geralmente, adjuntos adverbiais que precedem assim julgamos, de outrem.
o verbo e as orações adverbiais que aparecem antes ou no meio da Ex.: “Não me quis dizer o que era: mas, como eu instasse muito:
sua principal. — Creio que o Damião desconfia alguma coisa”
Ex.: “Eu mesmo, até então, tinha-vos em má conta...”
- Em alguns casos, onde a intenção é caracterizar textualmente
- Para separar o nome do lugar em datas. o discurso do interlocutor, a transcrição aparece acompanhada de
Ex.: São Paulo, 14 de janeiro de 2020. aspas, e poucas vezes de travessão.
Ex.: “Ao cabo de alguns anos de peregrinação, atendi às suplicas
- Para separar os partículas e expressões de correção, continua- de meu pai:
ção, explicação, concessão e conclusão. — Vem, dizia ele na última carta; se não vieres depressa acharás
Ex.: “e, não obstante, havia certa lógica, certa dedução” tua mãe morta!”
Sairá amanhã, aliás, depois de amanhã.
Em expressões que, ao serem enunciadas com entonação espe-
- Para separar advérbios e conjunções adversativos (porém, to- cial, o contexto acaba sugerindo causa, consequência ou explicação.
davia, contudo, entretanto), principalmente quando pospostos. Ex.: “Explico-me: o diploma era uma carta de alforria”
Ex.: “A proposta, porém, desdizia tanto das minhas sensações
últimas...” - Em expressões que possuam uma quebra na sequência das
ideias.
- Algumas vezes, para indicar a elipse do verbo. Ex.: Sacudiu o vestido, ainda molhado, e caminhou.
Ex.: Ele sai agora: eu, logo mais. (omitiu o verbo “sairei” após “Não! bradei eu; não hás de entrar... não quero... Ia a lançar-lhe
“eu”; elipse do verbo sair) as mãos: era tarde; ela entrara e fechara-se”

- Omissão por zeugma. — Ponto e Vírgula


Ex.: Na classe, alguns alunos são interessados; outros, (são) re- Sinal (;) que denota pausa mais forte que a vírgula, porém mais
lapsos. (Supressão do verbo “são” antes do vocábulo “relapsos”) fraca que o ponto. É utilizado:

- Para indicar a interrupção de um seguimento natural das ideias - Em trechos longos que já possuam vírgulas, indicando uma
e se intercala um juízo de valor ou uma reflexão subsidiária. pausa mais forte.
Ex.: “Enfim, cheguei-me a Virgília, que estava sentada, e travei-
- Para evitar e desfazer alguma interpretação errônea que pode -lhe da mão; D. Plácida foi à janela”
ocorrer quando os termos estão distribuídos de forma irregular na
oração, a expressão deslocada é separada por vírgula. - Para separar as adversativas onde se deseja ressaltar o con-
Ex.: De todas as revoluções, para o homem, a morte é a maior traste.
e a derradeira. Ex.: “Não se disse mais nada; mas de noite Lobo Neves insistiu
no projeto”
- Em enumerações
sem gradação: Coleciono livros, revistas, jornais, discos. - Em leis, separando os incisos.
com gradação: Não compreendo o ciúme, a saudade, a dor da
despedida. - Enumeração com explicitação.
Ex.: Comprei alguns livros: de matemática, para estudar para
Não se separa por vírgula: o concurso; um romance, para me distrair nas horas vagas; e um
- sujeito de predicado; dicionário, para enriquecer meu vocabulário.
- objeto de verbo;
- adjunto adnominal de nome; - Enumeração com ponto e vírgula, mas sem vírgula, para mar-
- complemento nominal de nome; car distribuição.
- oração principal da subordinada substantiva (desde que esta Ex.: Comprei os produtos no supermercado: farinha para um
não seja apositiva nem apareça na ordem inversa). bolo; tomates para o molho; e pão para o café da manhã.

— Dois Pontos
São utilizados:
- Na enumeração, explicação, notícia subsidiária.

26
LÍNGUA PORTUGUESA

— Travessão - Isolar explicações ou retificações.


É importante não confundir o travessão (—) com o traço de Ex.: Eu expliquei uma vez (ou duas vezes) o motivo de minha
união ou hífen e com o traço de divisão empregado na partição de preocupação.
sílabas.
O uso do travessão pode substituir vírgulas, parênteses, colche- Os parênteses e os colchetes estão ligados pela sua função dis-
tes, indicando uma expressão intercalada: cursiva, mas estes são utilizados quando os parênteses já foram em-
Ex.: “... e eu falava-lhe de mil cousas diferentes — do último bai- pregados, com o objetivo de introduzir uma nova inserção.
le, da discussão das câmaras, berlindas e cavalos, de tudo, menos São utilizados, também, com a finalidade de preencher lacunas
dos seus versos ou prosas” de textos ou para introduzir, em citações principalmente, explica-
ções ou adendos que deixam a compreensão do texto mais simples.
Se a intercalação terminar o texto, o travessão é simples; caso
contrário, se utiliza o travessão duplo. — Aspas
Ex.: “Duas, três vezes por semana, havia de lhe deixar na algi- A forma mais geral do uso das aspas é o sinal (“ ”), entretanto,
beira das calças — umas largas calças de enfiar —, ou na gaveta da há a possibilidade do uso das aspas simples (‘ ’) para diferentes fina-
mesa, ou ao pé do tinteiro, uma barata morta” lidades, como em trabalhos científicos sobre línguas, onde as aspas
simples se referem a significados ou sentidos: amare, lat. ‘amar’
IMPORTANTE! port.
Como é possível observar no exemplo, pode haver vírgula após As aspas podem ser utilizadas, também, para dar uma expres-
o travessão. são de sentido particular, ressaltando uma expressão dentro do
contexto ou indicando uma palavra como estrangeirismo ou uma
O travessão pode, também, denotar uma pausa mais forte. gíria.
Ex.: “... e se estabelece uma cousa que poderemos chamar —, Se a pausa coincidir com o final da sentença ou expressão que
solidariedade do aborrecimento humano” está entre aspas, o competente sinal de pontuação deve ser utili-
zado após elas, se encerrarem somente uma parte da proposição;
Além disso, ainda pode indicar a mudança de interlocutor, na mas se as aspas abarcarem todo o período, frase, expressão ou sen-
transcrição de um diálogo, com ou sem aspas. tença, a respectiva pontuação é abrangida por elas.
Ex.: — Ah! respirou Lobo Neves, sentando-se preguiçosamente Ex.: “Aí temos a lei”, dizia o Florentino. “Mas quem as há de
no sofá. segurar? Ninguém.”
— Cansado? perguntei eu. “Mísera, tivesse eu aquela enorme, aquela Claridade imortal,
— Muito; aturei duas maçadas de primeira ordem (...) que toda a luz resume!”
“Por que não nasce eu um simples vaga-lume?”
Neste caso, pode, ou não, combinar-se com as aspas.
- Delimitam transcrições ou citações textuais.
— Parênteses e Colchetes Ex.: Segundo Rui Barbosa: “A política afina o espírito.”
Estes sinais ( ) [ ] apontam a existência de um isolamento sin-
tático e semântico mais completo dentro de um enunciado, assim — Alínea
como estabelecem uma intimidade maior entre o autor e seu leitor. Apresenta a mesma função do parágrafo, uma vez que denota
Geralmente, o uso do parêntese é marcado por uma entonação es- diferentes centros de assuntos. Como o parágrafo, requer a mudan-
pecial. ça de linha.
Se a pausa coincidir com o início da construção parentética, o De forma geral, aparece em forma de número ou letra seguida
sinal de pontuação deve aparecer após os parênteses, contudo, se de um traço curvo.
a proposição ou frase inteira for encerrada pelos parênteses, a no- Ex.: Os substantivos podem ser:
tação deve aparecer dentro deles. a) próprios
Ex.: “Não, filhos meus (deixai-me experimentar, uma vez que b) comuns
seja, convosco, este suavíssimo nome); não: o coração não é tão
frívolo, tão exterior, tão carnal, quanto se cuida” — Chave
“A imprensa (quem o contesta?) é o mais poderoso meio que Este sinal ({ }) é mais utilizado em obras científicas. Indicam a
se tem inventado para a divulgação do pensamento”. (Carta inserta reunião de diversos itens relacionados que formam um grupo.
nos Anais da Biblioteca Nacional, vol. I) [Carlos de Laet] 5
Ex.: Múltiplos de 5: {0, 5, 10, 15, 20, 25, 30, 35,… }.
Na matemática, as chaves agrupam vários elementos de uma
- Isolar datas. operação, definindo sua ordem de resolução.
Ex.: Refiro-me aos soldados da Primeira Guerra Mundial (1914- Ex.: 30x{40+[30x(84-20x4)]}
1918). Também podem ser utilizadas na linguística, representando
morfemas.
- Isolar siglas. Ex.: O radical da palavra menino é {menin-}.
Ex.: A taxa de desemprego subiu para 5,3% da população eco-
nomicamente ativa (PEA)...

5 https://bit.ly/2RongbC.

27
LÍNGUA PORTUGUESA

— Asterisco eternidade? Nunca. O adocicado do chicle era bonzinho, não podia


Sinal (*) utilizado após ou sobre uma palavra, com a intenção dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a
de se fazer um comentário ou citação a respeito do termo, ou uma escola.
explicação sobre o trecho (neste caso o asterisco se põe no fim do — Acabou-se o docinho. E agora?
período). — Agora mastigue para sempre.
Emprega-se ainda um ou mais asteriscos depois de uma inicial, Assustei-me, não sabia dizer por quê. Comecei a mastigar e em
indicando uma pessoa cujo nome não se quer ou não se pode decli- breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que
nar: o Dr.*, B.**, L.*** não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia con-
trafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem
— Barra de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se
Aplicada nas abreviações das datas e em algumas abreviaturas. tem diante da ideia de eternidade ou de infinito. Eu não quis con-
fessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava afli-
ção. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar. Até
QUESTÕES
que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um
jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
1. CESGRANRIO - TEC CIEN (BASA)/BASA/TECNOLOGIA DA
— Olha só o que me aconteceu!
INFORMAÇÃO/2021
— Disse eu em fingidos espanto e tristeza.
Assunto: Fatos da Língua Portuguesa (porque, por que, porquê
— Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
e por quê; onde, aonde e donde; há e a, etc)
— Já lhe disse, repetiu minha irmã, que ele não acaba nunca.
Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigan-
A frase em que a palavra ou expressão destacada respeita as
do, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama.
regras ortográficas e gramaticais da norma padrão é:
Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
(A) As crianças querem estar aonde a fantasia está.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, en-
(B) Queremos saber por que a ideia de eternidade nos fascina.
vergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra da
(C) O gosto adocicado do chicle mau acaba e queremos outro.
boca por acaso. Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
(D) Nada como balas e chicletes durante uma seção de cinema.
LISPECTOR, Clarice. Medo da eternidade.
(E) A ideia de viver para sempre persegue o homem a séculos.
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, Caderno B, p.2, 6 jun. 1970.
2. CESGRANRIO - TEC CIEN (BASA)/BASA/TECNOLOGIA DA
No texto, foram empregadas as palavras aí e ótimo, ambas
INFORMAÇÃO/2021
acentuadas graficamente.
Assunto: Acentuação
Duas outras palavras corretamente acentuadas pelos mesmos
motivos que aí e ótimo são, respectivamente,
Medo da eternidade
(A) juíz e ébano
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a
(B) Icaraí e rítmo
eternidade. Quando eu era muito pequena ainda não tinha prova-
(C) caquís e incrédulo
do chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia
(D) país e sonâmbulo
bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o di-
(E) abacaxí e econômia
nheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro
eu lucraria não sei quantas balas. Afinal minha irmã juntou dinhei-
3. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021
ro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
Assunto: Uso do Hifen
— Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se
acaba. Dura a vida inteira.
O grupo de palavras que atende às exigências relativas ao em-
— Como não acaba?
prego ou não do hífen, segundo o Vocabulário Ortográfico da Lín-
— Parei um instante na rua, perplexa.
gua Portuguesa, é
— Não acaba nunca, e pronto.
(A) extra-escolar / médico-cirurgião
Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino
(B) bem-educado / vagalume
de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-
(C) portarretratos / dia a dia
-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase
(D) arco-íris / contra-regra
não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às
(E) subutilizar / sub-reitor
vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só
para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de
4. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021
aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do
Assunto: Conjugação. Reconhecimento e emprego dos modos
qual eu já começara a me dar conta. Com delicadeza, terminei afinal
e tempos verbais
pondo o chicle na boca.
— E agora que é que eu faço?
Privacidade digital: quais são os limites
— Perguntei para não errar no ritual que certamente deveria
Atualmente, somos mais de 126,4 milhões de brasileiros usuá-
haver.
rios de internet, representando cerca de 69,8% da população com
— Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só
10 anos ou mais. Ao redor do mundo, cerca de 4 bilhões de pessoas
depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a
usam a rede mundial, sendo que 2,9 bilhões delas fazem isso pelo
vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários. Perder a
smartphone.

28
LÍNGUA PORTUGUESA

Nesse cenário, pensar em privacidade digital é (quase) utópico. guiu vencer os prédios e arrasta seus raios pelo mar, pelas praias,
Uma vez na rede, a informação está registrada para sempre: deixa- por cima das montanhas, longe dali. Não chegou à rua. E, naquele
mos rastros que podem ser descobertos a qualquer momento. trecho, onde as amendoeiras trançam suas copas, ainda é quase
Ainda assim, mesmo diante de tamanha exposição, essa é uma madrugada.
discussão que precisa ser feita. Ela é importante, inclusive, para tra- Mesmo assim, ela já está lá – como se à espera do sol.
zer mais clareza e consciência para os usuários. Vale lembrar, por É uma senhora de cabelos muito brancos, sentada em sua ca-
exemplo, que não são apenas as redes sociais que expõem as pes- deira, na calçada. Na rua tranquila, de pouco movimento, não passa
soas. Infelizmente, basta ter um endereço de e-mail para ser rastre- quase ninguém a essa hora, tão de manhãzinha. Nem carros, nem
ado por diferentes empresas e provedores. pessoas. O que há mais é o movimento dos porteiros e dos pássa-
A questão central não se resume somente à política de privaci- ros. Os primeiros, com suas vassouras e mangueiras, conversando
dade das plataformas X ou Y, mas, sim, ao modo como cada socie- sobre o futebol da véspera. Os segundos, cantando – dentro ou fora
dade vem paulatinamente estruturando a sua política de proteção das gaiolas.
de dados. Mas, mesmo com tão pouco movimento, a senhora já está sen-
A segurança da informação já se transformou em uma área es- tada muito ereta, com seu vestido estampado, de corte simples,
tratégica para qualquer tipo de empresa. Independentemente da suas sandálias. Tem o olhar atento, o sorriso pronto a cumprimentar
demanda de armazenamento de dados de clientes, as organizações quem surja. No braço da cadeira de plástico branco, sua mão repou-
têm um universo de dados institucionais que precisam ser salva- sa, mas também parece pronta a erguer -se num aceno, quando
guardados. alguém passar.
Estamos diante de uma realidade já configurada: a coleta de É uma cena bonita, eu acho. Cena que se repete todos os dias.
informações da internet não para, e esse é um caminho sem vol- Parece coisa de antigamente.
ta. Agora, a questão é: nós, clientes, estamos prontos e dispostos Parece. Não fosse por um detalhe. A senhora, sentada placi-
a definir o limite da privacidade digital? O interesse maior é nosso! damente em sua cadeira na calçada, observando as manhãs, está
Esse limite poderia ser dado pelo próprio consumidor, se ele assim atrás das grades.
quiser? O conteúdo é realmente do usuário? Meu irmão, que foi morar fora do Brasil e ficou 15 anos sem
Se considerarmos a atmosfera das redes sociais, muito possi- vir aqui, ao voltar só teve um choque: as grades. Nada mais o im-
velmente não. Isso porque, embora muitas pessoas não saibam, a pressionou, tudo ele achou normal. Fez comentários vagos sobre
maioria das redes sociais prevê que, a partir do momento em que as árvores crescidas no Aterro, sobre o excesso de gente e carros,
um conteúdo é postado, ele faz parte da rede e não é mais do usu- tudo sem muita ênfase. Mas e essas grades, me perguntou, por que
ário. todas essas grades? E eu, espantada com seu espanto, eu que de
Daí a importância da conscientização. É preciso que tanto clien- certa forma já me acostumara à paisagem gradeada, fiquei sem sa-
tes como empresas busquem mais informação e conteúdo técni- ber o que dizer.
co sobre o tema. Às organizações, cabe o desafio de orientar seus Penso nisso agora, ao passar pela rua e ver aquela senhora.
clientes, já que, na maioria das vezes, eles não sabem quais são os Todos os dias, o porteiro coloca ali a cadeira para que ela se sente,
limites da privacidade digital. junto ao jardim, em frente à portaria, por trás da proteção do gradil
Vivemos em uma época em que todo mundo pode falar per- pintado com tinta cor de cobre. E essa cena tão singela, de sabor tão
manentemente o que quer. Nesse contexto, a informação deixou antigo, se desenrola assim, por trás de barras de ferro, que mesmo
de ser algo confiável e cabe a cada um de nós aprender a ler isso e sendo de alumínio para não enferrujar são de um ferro simbólico,
se proteger. Precisamos de consciência, senso crítico, responsabi- que prende, constrange, restringe.
lidade e cuidado para levar a internet a um outro nível. É fato que Eu, da calçada, vejo-a sempre por entre as tiras verticais de
ela não é segura, a questão, então, é como usá-la de maneira mais metal, sua figura frágil me fazendo lembrar os passarinhos que os
inteligente e contribuir para fortalecer a privacidade digital? Essa é porteiros guardam nas gaiolas, pendurados nas árvores.
uma causa comum a todos os usuários da rede. “E eu, espantada com seu espanto, eu que de certa forma já
No trecho “Esse limite poderia ser dado pelo próprio consumi- me acostumara à paisagem gradeada, fiquei sem saber o que dizer.”
dor, se ele assim quiser?” (parágrafo 6), a forma verbal destacada O uso do verbo em destaque no pretérito mais-que-perfeito
expressa a noção de simples do indicativo estabelece que o fato representado por esse
(A) dever verbo se deu antes de outro fato passado. Esse mesmo significado
(B) certeza é encontrado no que está destacado em:
(C) hipótese (A) Ela já foi uma mulher alegre e jovial.
(D) obrigação (B) A mesma cena se repete ao nascer de cada manhã.
(E) necessidade (C) A velha senhora estava sentada na calçada enquanto ama-
nhecia.
5. CESGRANRIO - TEC CIEN (BASA)/BASA/TECNOLOGIA DA (D) Na última manhã, a velha senhora chegou e o sol já tinha
INFORMAÇÃO/2022 surgido.
Assunto: Locução verbal (E) As grades impressionariam qualquer um que chegasse à
cidade.
Uma cena
É de manhã. Não num lugar qualquer, mas no Rio. E não numa
época qualquer, mas no outono. Outono no Rio. O ar é fino, quase
frio, as pedras portuguesas da calçada estão úmidas. No alto, o céu
já é de um azul escandaloso, mas o sol oblíquo ainda não conse-

29
LÍNGUA PORTUGUESA

6. CESGRANRIO - TEC CIEN (BASA)/BASA/TECNOLOGIA DA (E) Quando as pessoas passam na calçada, aquela senhora tem
INFORMAÇÃO/2022 o sorriso pronto para lhes cumprimentar.
Assunto: Pronomes pessoais
7. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021
Uma cena Assunto: Pronomes relativos
É de manhã. Não num lugar qualquer, mas no Rio. E não numa
época qualquer, mas no outono. Outono no Rio. O ar é fino, quase O período em que a palavra ou a expressão em destaque NÃO
frio, as pedras portuguesas da calçada estão úmidas. No alto, o céu está empregada de acordo com a norma-padrão é:
já é de um azul escandaloso, mas o sol oblíquo ainda não conse- (A) As professoras de que falamos são ótimas.
guiu vencer os prédios e arrasta seus raios pelo mar, pelas praias, (B) A folha em que deve ser feita a prova é essa.
por cima das montanhas, longe dali. Não chegou à rua. E, naquele (C) A argumentação onde é provado o crime foi dele.
trecho, onde as amendoeiras trançam suas copas, ainda é quase (D) O aluno cujo pai chegou é Pedro.
madrugada. (E) As meninas que querem cortar os cabelos são aquelas.
Mesmo assim, ela já está lá – como se à espera do sol.
É uma senhora de cabelos muito brancos, sentada em sua ca- 8. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021
deira, na calçada. Na rua tranquila, de pouco movimento, não passa Assunto: Advérbio
quase ninguém a essa hora, tão de manhãzinha. Nem carros, nem A palavra salário vem mesmo de “sal”?
pessoas. O que há mais é o movimento dos porteiros e dos pássa- Vem. A explicação mais popular diz que os soldados da Roma
ros. Os primeiros, com suas vassouras e mangueiras, conversando Antiga recebiam seu ordenado na forma de sal. Faz sentido. O di-
sobre o futebol da véspera. Os segundos, cantando – dentro ou fora nheiro como o conhecemos surgiu no século 7 a.C., na forma de
das gaiolas. discos de metal precioso (moedas), e só foi adotado em Roma 300
Mas, mesmo com tão pouco movimento, a senhora já está sen- anos depois.
tada muito ereta, com seu vestido estampado, de corte simples, Antes disso, o que fazia o papel de dinheiro eram itens não
suas sandálias. Tem o olhar atento, o sorriso pronto a cumprimentar perecíveis e que tinham demanda garantida: barras de cobre (fun-
quem surja. No braço da cadeira de plástico branco, sua mão repou- damentais para a fabricação de armas), sacas de grãos, pepitas de
sa, mas também parece pronta a erguer -se num aceno, quando ouro (metal favorito para ostentar como enfeite), prata (o ouro de
alguém passar. segunda divisão) e, sim, o sal.
É uma cena bonita, eu acho. Cena que se repete todos os dias. Num mundo sem geladeiras, o cloreto de sódio era o que ga-
Parece coisa de antigamente. rantia a preservação da carne. A demanda por ele, então, tendia ao
Parece. Não fosse por um detalhe. A senhora, sentada placi- infinito. Ter barras de sal em casa funcionava como poupança. Você
damente em sua cadeira na calçada, observando as manhãs, está poderia trocá-las pelo que quisesse, a qualquer momento.
atrás das grades. As moedas, bem mais portáteis, acabariam se tornando o gran-
Meu irmão, que foi morar fora do Brasil e ficou 15 anos sem de meio universal de troca – seja em Roma, seja em qualquer outro
vir aqui, ao voltar só teve um choque: as grades. Nada mais o im- lugar. Mas a palavra “salário” segue viva, como um fóssil etimoló-
pressionou, tudo ele achou normal. Fez comentários vagos sobre gico.
as árvores crescidas no Aterro, sobre o excesso de gente e carros, Só há um detalhe: não há evidência de que soldados romanos
tudo sem muita ênfase. Mas e essas grades, me perguntou, por que recebiam mesmo um ordenado na forma de sal. Roma não tinha
todas essas grades? E eu, espantada com seu espanto, eu que de um exército profissional no século 4 a.C. A força militar da época
certa forma já me acostumara à paisagem gradeada, fiquei sem sa- era formada por cidadãos comuns, que abandonavam seus afaze-
ber o que dizer. res voluntariamente para lutar em tempos de guerra (questão de
Penso nisso agora, ao passar pela rua e ver aquela senhora. sobrevivência).
Todos os dias, o porteiro coloca ali a cadeira para que ela se sente, A ideia de que havia pagamentos na forma de sal vem do his-
junto ao jardim, em frente à portaria, por trás da proteção do gradil toriador Plínio, o Velho (um contemporâneo de Jesus Cristo). Ele
pintado com tinta cor de cobre. E essa cena tão singela, de sabor tão escreveu o seguinte: “Sal era uma das honrarias que os soldados re-
antigo, se desenrola assim, por trás de barras de ferro, que mesmo cebiam após batalhas bem-sucedidas. Daí vem nossa palavra sala-
sendo de alumínio para não enferrujar são de um ferro simbólico, rium.” Ou seja: o sal era um bônus para voluntários, não um salário
que prende, constrange, restringe. para valer. Quando Roma passou a ter uma força militar profissional
Eu, da calçada, vejo-a sempre por entre as tiras verticais de e permanente, no século 3 a.C., o soldo já era mesmo pago na for-
metal, sua figura frágil me fazendo lembrar os passarinhos que os ma de moedas.
porteiros guardam nas gaiolas, pendurados nas árvores. O empre- A palavra destacada em “bem mais portáteis” (parágrafo 4) traz
go do pronome oblíquo em destaque respeita a norma-padrão da para o trecho uma ideia de
língua em: (A) adição
(A) Quando perguntaram sobre as grades, fiquei sem saber o (B) adversidade
que lhes dizer. (C) comparação
(B) O sol oblíquo nasce atrás dos prédios, mas ainda não con- (D) extensão
seguiu vencer-lhes. (E) soma
(C) A velha senhora está sempre lá. Já espero lhe ver quando
saio todas as manhãs.
(D) Ainda demora para o sol nascer, mas, mesmo assim, a velha
senhora já está lá a lhe esperar.

30
LÍNGUA PORTUGUESA

9. CESGRANRIO - TEC CIEN (BASA)/BASA/TECNOLOGIA DA 10. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU-


INFORMAÇÃO/2022 CLEAR/ESPECIALISTA EM PROTEÇÃO RADIOLÓGICA/2022
Assunto: Conjunção Assunto: Conjunção

Uma cena Texto


É de manhã. Não num lugar qualquer, mas no Rio. E não numa Maria José
época qualquer, mas no outono. Outono no Rio. O ar é fino, quase Paulo Mendes Campos
frio, as pedras portuguesas da calçada estão úmidas. No alto, o céu Faz um ano que Maria José morreu. Era meiga quase sempre,
já é de um azul escandaloso, mas o sol oblíquo ainda não conse- violenta quando necessário. Eu era menino e apanhava de um com-
guiu vencer os prédios e arrasta seus raios pelo mar, pelas praias, panheiro maior, quando ela me gritou da sacada se eu não via a
por cima das montanhas, longe dali. Não chegou à rua. E, naquele pedra que marcava o gol. Dei uma pedrada no outro e acabei com
trecho, onde as amendoeiras trançam suas copas, ainda é quase a briga por milagre.
madrugada. Visitava os miseráveis, internava indigentes enfermos, devota-
Mesmo assim, ela já está lá – como se à espera do sol. va-se ao alívio de misérias físicas e morais do próximo, estudava o
É uma senhora de cabelos muito brancos, sentada em sua ca- mistério teológico, exigia sempre o mais difícil de si mesma, comun-
deira, na calçada. Na rua tranquila, de pouco movimento, não passa gava todos os dias, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco.
quase ninguém a essa hora, tão de manhãzinha. Nem carros, nem Mas nunca deixou de ter na gaveta o revólver que havia recebido,
pessoas. O que há mais é o movimento dos porteiros e dos pássa- menina- e-moça, das mãos do pai, e que empunhou no quintal no-
ros. Os primeiros, com suas vassouras e mangueiras, conversando turno, perseguindo um ladrão, para espanto de meus cinco anos.
sobre o futebol da véspera. Os segundos, cantando – dentro ou fora Já perto dos setenta anos, ela explicava para um amigo meu
das gaiolas. que tinha chegado à humildade da velhice; já não se importava com
Mas, mesmo com tão pouco movimento, a senhora já está sen- quem tentasse ofendê-la, mas conservava o revólver para a defesa
tada muito ereta, com seu vestido estampado, de corte simples, dos filhos e dos netos.
suas sandálias. Tem o olhar atento, o sorriso pronto a cumprimentar Tratou-me com a dureza e o carinho que mereciam a rebeldia
quem surja. No braço da cadeira de plástico branco, sua mão repou- e o verdor da minha meninice. Ensinou- me a ler as primeiras sen-
sa, mas também parece pronta a erguer -se num aceno, quando tenças; me falava do Cura d’Ars e nos dois Franciscos, o de Sales e
alguém passar. o de Assis; apresentou-me aos contos de Edgar Poe e aos poemas
É uma cena bonita, eu acho. Cena que se repete todos os dias. de Baudelaire; dizia-me sorrindo versos de Antônio Nobre que ha-
Parece coisa de antigamente. via decorado quando menina; discutia comigo as ideias finais de
Parece. Não fosse por um detalhe. A senhora, sentada placi- Tolstoi; escutava maternalmente meus contos toscos. Quando me
damente em sua cadeira na calçada, observando as manhãs, está desgarrei nos primeiros envolvimentos adolescentes, Maria José,
atrás das grades. com irônico afeto, me repetia a advertência de Drummond: “Paulo,
Meu irmão, que foi morar fora do Brasil e ficou 15 anos sem sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã
vir aqui, ao voltar só teve um choque: as grades. Nada mais o im- não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém
pressionou, tudo ele achou normal. Fez comentários vagos sobre sabe o que será”.
as árvores crescidas no Aterro, sobre o excesso de gente e carros, Logo que me fiz homenzinho, deixou a dureza e se fez minha
tudo sem muita ênfase. Mas e essas grades, me perguntou, por que amiga: nada me perguntava, adivinhava tudo.
todas essas grades? E eu, espantada com seu espanto, eu que de Terna e firme, nunca lhe vi a fraqueza da pieguice. Com o gosto
certa forma já me acostumara à paisagem gradeada, fiquei sem sa- espontâneo da qualidade das coisas, renunciou às vaidades mais
ber o que dizer. singelas. Sensível, alegre, aprendeu a encarar o sofrimento de olhos
Penso nisso agora, ao passar pela rua e ver aquela senhora. lúcidos. Fiel à disciplina religiosa, compreendia celestialmente as al-
Todos os dias, o porteiro coloca ali a cadeira para que ela se sente, mas que perdiam o rumo. Fé, Esperança e Caridade eram para ela a
junto ao jardim, em frente à portaria, por trás da proteção do gradil flecha e o alvo das criaturas.
pintado com tinta cor de cobre. E essa cena tão singela, de sabor tão Tornara-se tão íntima da substância terrestre – a dor – que se
antigo, se desenrola assim, por trás de barras de ferro, que mesmo fazia difícil para o médico saber o que sentia; acabava dizendo que
sendo de alumínio para não enferrujar são de um ferro simbólico, doía um pouco, por delicadeza.
que prende, constrange, restringe. Capaz de longos jejuns e abstinências, já no final da vida, podia
Eu, da calçada, vejo-a sempre por entre as tiras verticais de acompanhar um casal amigo a Copacabana, passar do bar da moda
metal, sua figura frágil me fazendo lembrar os passarinhos que os ao restaurante diferente, beber dois cafés ou três uísques em santa
porteiros guardam nas gaiolas, pendurados nas árvores. serenidade e aceitar com alegria o prato exótico.
No trecho “Nada mais o impressionou, tudo ele achou normal”, Gostava das pessoas erradas, consumidas de paixão, admirava
a relação semântica construída entre as duas orações pode ser ex- São Paulo e Santo Agostinho, acreditava que era preciso se fazer
plicitada pelo conector violência para entrar no reino celeste.
(A) porém Poucas horas antes de morrer, pediu um conhaque e sorriu,
(B) porque destemida e doce, como quem vai partir para o céu. Santificara-se.
(C) entretanto Deus era o dia e a noite de seu coração, o Pai, a piedade, o fogo do
(D) a fim de que espírito. Perdi quem me amava e perdoava, quem me encomen-
(E) apesar de que dava à compaixão do Criador e me defendia contra o mundo de
revólver na mão.

31
LÍNGUA PORTUGUESA

No trecho do parágrafo 3 “já não se importava com quem ten- (C) conformidade
tasse ofendê-la, mas conservava o revólver para a defesa dos filhos (D) causalidade
e netos”, a conjunção mas pode ser substituída, sem alteração de (E) temporalidade
sentido, por
(A) caso 12. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021
(B) portanto Assunto: Conjunção
(C) logo
(D) porque Privacidade digital: quais são os limites
(E) porém Atualmente, somos mais de 126,4 milhões de brasileiros usuá-
rios de internet, representando cerca de 69,8% da população com
11. CESGRANRIO - PNS (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE- 10 anos ou mais. Ao redor do mundo, cerca de 4 bilhões de pessoas
AR/ADMINISTRADOR/2022 usam a rede mundial, sendo que 2,9 bilhões delas fazem isso pelo
Assunto: Conjunção smartphone.
Nesse cenário, pensar em privacidade digital é (quase) utópico.
Texto Uma vez na rede, a informação está registrada para sempre: deixa-
Entulho eletrônico: risco iminente para a saúde e o ambiente mos rastros que podem ser descobertos a qualquer momento.
Os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (lixo eletroele- Ainda assim, mesmo diante de tamanha exposição, essa é uma
trônico) são, por definição, produtos que têm componentes elétri- discussão que precisa ser feita. Ela é importante, inclusive, para tra-
cos e eletrônicos e que, por razões de obsolescência (perspectiva zer mais clareza e consciência para os usuários. Vale lembrar, por
ou programada) e impossibilidade de conserto, são descartados exemplo, que não são apenas as redes sociais que expõem as pes-
pelos consumidores. Os exemplos mais comuns são televisores e soas. Infelizmente, basta ter um endereço de e-mail para ser rastre-
equipamentos de informática e telefonia, mas a lista inclui eletro- ado por diferentes empresas e provedores.
domésticos, equipamentos médicos, brinquedos, sistemas de alar- A questão central não se resume somente à política de privaci-
me, automação e controle. dade das plataformas X ou Y, mas, sim, ao modo como cada socie-
Obsolescência programada é a decisão intencional de fabricar dade vem paulatinamente estruturando a sua política de proteção
um produto que se torne obsoleto ou não funcional após certo tem- de dados.
po, para forçar o consumidor a comprar uma nova geração desse A segurança da informação já se transformou em uma área es-
produto. Já a obsolescência perspectiva é uma forma de reduzir a tratégica para qualquer tipo de empresa. Independentemente da
vida útil de produtos ainda funcionais. Nesse caso, são lançadas no- demanda de armazenamento de dados de clientes, as organizações
vas gerações com aparência inovadora e pequenas mudanças fun- têm um universo de dados institucionais que precisam ser salva-
cionais, dando à geração em uso aspecto de ultrapassada, o que guardados.
induz o consumidor à troca. Estamos diante de uma realidade já configurada: a coleta de
O lixo eletroeletrônico é mais um desafio que se soma aos pro- informações da internet não para, e esse é um caminho sem vol-
blemas ambientais da atualidade. O consumidor raramente reflete ta. Agora, a questão é: nós, clientes, estamos prontos e dispostos
sobre as consequências do consumo crescente desses produtos, a definir o limite da privacidade digital? O interesse maior é nosso!
preocupando- se em satisfazer suas necessidades. Afinal, eletroele- Esse limite poderia ser dado pelo próprio consumidor, se ele assim
trônicos são tidos como sinônimos de melhor qualidade de vida, e a quiser? O conteúdo é realmente do usuário?
explosão da indústria da informação é uma força motriz da socieda- Se considerarmos a atmosfera das redes sociais, muito possi-
de, oferecendo ferramentas para rápidos avanços na economia e no velmente não. Isso porque, embora muitas pessoas não saibam, a
desenvolvimento social. O mundo globalizado impõe uma constan- maioria das redes sociais prevê que, a partir do momento em que
te busca de informações em tempo real, e a sua interação com no- um conteúdo é postado, ele faz parte da rede e não é mais do usu-
vas tecnologias traz maiores oportunidades e benefícios, segundo ário.
estudo da Organização das Nações Unidas (ONU). Tudo isso exerce Daí a importância da conscientização. É preciso que tanto clien-
um fascínio irresistível para os jovens. tes como empresas busquem mais informação e conteúdo técni-
Dois aspectos justificam a inclusão dos eletroeletrônicos entre co sobre o tema. Às organizações, cabe o desafio de orientar seus
as preocupações da ONU: as vendas crescentes, em especial nos clientes, já que, na maioria das vezes, eles não sabem quais são os
mercados emergentes (inclusive o Brasil), e a presença de metais limites da privacidade digital.
e substâncias tóxicas em muitos componentes, trazendo risco à Vivemos em uma época em que todo mundo pode falar per-
saúde e ao meio ambiente. Segundo a ONU, são gerados hoje 150 manentemente o que quer. Nesse contexto, a informação deixou
milhões de toneladas de lixo eletroeletrônico por ano, e esse tipo de ser algo confiável e cabe a cada um de nós aprender a ler isso e
de resíduo cresce a uma velocidade três a cinco vezes maior que a se proteger. Precisamos de consciência, senso crítico, responsabi-
do lixo urbano. lidade e cuidado para levar a internet a um outro nível. É fato que
AFONSO, J. C. Revista Ciência Hoje, n. 314, maio 2014. São Paulo: ela não é segura, a questão, então, é como usá-la de maneira mais
SBPC. Disponível em: https://cienciahoje.periodicos.capes. gov.br/ inteligente e contribuir para fortalecer a privacidade digital? Essa é
storage/acervo/ch/ch_314.pdf. Adaptado. uma causa comum a todos os usuários da rede.
Disponível em: <https://digitalks.com.br/artigos/privacidade-di-
No trecho do 3o parágrafo “segundo estudo da Organização gital
das Nações Unidas”, a palavra destacada expressa ideia de -quais-sao-os-limites>. 7/04/2019. Acesso em: 3 fev. 2021.Adap-
(A) condição tado.
(B) concessão

32
LÍNGUA PORTUGUESA

No trecho “Às organizações, cabe o desafio de orientar seus — Já lhe disse, repetiu minha irmã, que ele não acaba nunca.
clientes, já que, na maioria das vezes, eles não sabem quais são os Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigan-
limites da privacidade digital” (parágrafo 8), a expressão destacada do, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama.
expressa a noção de Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
(A) condição Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, en-
(B) finalidade vergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra da
(C) concessão boca por acaso. Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
(D) causalidade LISPECTOR, Clarice. Medo da eternidade.
(E) comparação
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, Caderno B, p.2, 6 jun. 1970. sim
13. CESGRANRIO - TEC CIEN (BASA)/BASA/TECNOLOGIA DA como no trecho “E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a es-
INFORMAÇÃO/2021 cola.”, a colocação do pronome destacado respeita a norma-padrão
Assunto: Colocação pronominal da língua portuguesa, em:
(A) Pediria-lhes para considerar a possibilidade da eternidade.
Medo da eternidade (B) A curiosidade não leva-nos a atitudes bobas e desproposi-
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a tadas.
eternidade. Quando eu era muito pequena ainda não tinha prova- (C) O prazer que experimenta-se com o sabor dos doces é enor-
do chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia me.
bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o di- (D) Poucos se impressionam com a descoberta da possibilidade
nheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro da eternidade.
eu lucraria não sei quantas balas. Afinal minha irmã juntou dinhei- (E) Nos perguntamos até quando vamos sonhar com uma vida
ro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou: eterna de prazer.
— Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se
acaba. Dura a vida inteira. 14. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021
— Como não acaba? Assunto: Colocação pronominal
— Parei um instante na rua, perplexa. O pronome destacado foi utilizado na posição correta, segundo
— Não acaba nunca, e pronto. as exigências da norma-padrão da língua portuguesa, em:
Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino (A) A associação brasileira de mercados financeiros publicou
de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de- uma diretriz de segurança, na qual mostra-se a necessidade de
-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase adequação de proteção de dados.
não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às (B) A segurança da informação já transformou-se em uma área
vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só estratégica para qualquer tipo de empresa.
para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de (C) Naquele evento, ninguém tinha-se incomodado com o pa-
aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do lestrante no início do debate a respeito de privacidade digital.
qual eu já começara a me dar conta. Com delicadeza, terminei afinal (D) Apesar das dificuldades encontradas, sempre referimo-nos
pondo o chicle na boca. com cuidado aos nossos dados pessoais, como CPF, RG, e-mail,
— E agora que é que eu faço? para proteção da vida privada.
— Perguntei para não errar no ritual que certamente deveria (E) Quando a privacidade dos dados bancários é mantida, como
haver. nos garantem as instituições, ficamos tranquilos.
— Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só
depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a 15. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021
vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários. Perder a Assunto: Colocação pronominal
eternidade? Nunca. O adocicado do chicle era bonzinho, não podia
dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a O que é o QA e por que ele pode ser mais importante que o QI
escola. no mercado de trabalho
— Acabou-se o docinho. E agora? Há algum tempo, se você quisesse avaliar as perspectivas de al-
— Agora mastigue para sempre. guém crescer na carreira, poderia considerar pedir um teste de QI,
Assustei-me, não sabia dizer por quê. Comecei a mastigar e em o quociente de inteligência, que mede indicadores como memória
breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que e habilidade matemática.
não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia con- Mais recentemente, passaram a ser avaliadas outras letrinhas:
trafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem o quociente de inteligência emocional (QE), uma combinação de
de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se habilidades interpessoais, autocontrole e comunicação. Não só no
tem diante da ideia de eternidade ou de infinito. Eu não quis con- mundo do trabalho, o QE é visto como um kit de habilidades que
fessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava afli- pode nos ajudar a ter sucesso em vários aspectos da vida.
ção. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar. Até Tanto o QI quanto o QE são considerados importantes para o
que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um sucesso na carreira. Hoje, porém, à medida que a tecnologia rede-
jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia. fine como trabalhamos, as habilidades necessárias para prosperar
— Olha só o que me aconteceu! no mercado de trabalho também estão mudando. Entra em cena
— Disse eu em fingidos espanto e tristeza.
— Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!

33
LÍNGUA PORTUGUESA

então um novo quociente, o de adaptabilidade (QA), que considera 16. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021
a capacidade de se posicionar e prosperar em um ambiente de mu- Assunto: Colocação pronominal
danças rápidas e frequentes.
O QA não é apenas a capacidade de absorver novas informa- A colocação do pronome oblíquo destacado está de acordo
ções, mas de descobrir o que é relevante, deixar para trás noções com a norma-padrão em:
obsoletas, superar desafios e fazer um esforço consciente para mu- (A) O dinheiro não foi-me bastante.
dar. Esse quociente envolve também características como flexibili- (B) O depósito só estará concretizado, se houver quem validá-
dade, curiosidade, coragem e resiliência. -lo.
Amy Edmondson, professora de Administração da Harvard Bu- (C) Se você pudesse emprestar esse dinheiro, depositaria-o ain-
siness School, diz que é a velocidade vertiginosa das mudanças no da esta semana?
mercado de trabalho que fará o QA vencer o QI. Automatiza-se fa- (D) Explique-me como funciona esse financiamento.
cilmente qualquer função que envolva detectar padrões nos dados (E) Me empreste seu cartão, que eu faço a transação hoje.
(advogados revisando documentos legais ou médicos buscando o
histórico de um paciente, por exemplo), diz Dave Coplin, diretor da 17. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE DE TECNOLO-
The Envisioners, consultoria de tecnologia sediada no Reino Unido. GIA/2021
A tecnologia mudou bastante a forma como alguns trabalhos são Assunto: Colocação pronominal
feitos, e a tendência continuará. Isso ocorre porque um algoritmo
pode executar essas tarefas com mais rapidez e precisão do que um Lições após um ano de ensino remoto na pandemia
humano. No momento em que se tornam ainda mais complexas as dis-
Para evitar a obsolescência, os trabalhadores que cumprem es- cussões sobre a volta às aulas presenciais, o ensino remoto conti-
sas funções precisam desenvolver novas habilidades, como a criati- nua a ser a rotina de muitas famílias, atualmente.
vidade para resolver novos problemas, empatia para se comunicar Mas um ano sem precedentes na história veio acompanhado
melhor e responsabilidade. de lições inéditas para professores, alunos e estudiosos. Diante do
Edmondson diz que toda profissão vai exigir adaptabilidade e pouco acesso a planos de dados ou a dispositivos, a alternativa de
flexibilidade, do setor bancário às artes. Digamos que você é um muitas famílias e professores tem sido se conectar regularmente via
contador. Seu QI o ajuda nas provas pelas quais precisa passar para aplicativos de mensagens.
se qualificar; seu QE contribui na conexão com um recrutador e de- Uma pesquisa apontou que 83% dos professores mantinham
pois no relacionamento com colegas e clientes no emprego. Então, contato com seus alunos por meio dos aplicativos de mensagens,
quando os sistemas mudam ou os aspectos do trabalho são auto- muito mais do que pelas próprias plataformas de aprendizagem.
matizados, você precisa do QA para se acomodar a novos cenários. Esse uso foi uma grande surpresa, mas é porque não temos outras
Ter QI, mas nenhum QA, pode ser um bloqueio para as habili- ferramentas de massificação. A maior parte do ensino foi feita pelo
dades existentes diante de novas maneiras de trabalhar. No mundo celular e, geralmente, por um celular compartilhado (entre vários
corporativo, o QA está sendo cada vez mais buscado na hora da membros da família), o que é algo muito desafiador.
contratação. Uma coisa boa do QA é que, mesmo que seja difícil Outro aspecto a ser considerado é que, felizmente, mensagens
mensurá-lo, especialistas dizem que ele pode ser desenvolvido. direcionadas são uma forma relativamente barata de comunicação.
Como diz Edmondson: “Aprender a aprender é uma missão A importância de cultivar interações entre os estudantes, mesmo
crítica. A capacidade de aprender, mudar, crescer, experimentar se que eles não estejam no mesmo ambiente físico, também é uma
tornará muito mais importante do que o domínio de um assunto.” forma de motivá-los e melhorar seus resultados. Recentemente,
Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/vert- uma pesquisadora afirmou que “Aprendemos que precisamos dos
-cap-50429043>.Acesso em: 9 jul. 2021. (Adaptado) demais: comparar estratégias, falar com alunos, com outros profes-
sores e dar mais oportunidades de trabalho coletivo, mesmo que
A colocação do pronome oblíquo átono destacado está de seja cada um na sua casa. Além disso, a pandemia ressaltou a im-
acordo com o que prevê a norma-padrão da língua portuguesa no portância do vínculo anterior entre escolas e comunidades”.
seguinte período: Embora seja difícil prever exatamente como o fechamento das
(A) Consideraria-se o QA mais importante que o QI há duas dé- escolas vai afetar o desenvolvimento futuro dos alunos, educado-
cadas? res internacionais estimam que estudantes da educação básica já
(B) Se busca investir naquilo que pode fazer a diferença entre a foram impactados. É preciso pensar em como agrupar esses alunos
máquina e o homem. e averiguar os que tiveram ensino mínimo ou nulo e decidir como
(C) As mudanças no mercado de trabalho jamais dar-se-ão sem enfrentar essa ruptura, com aulas ou encontros extras, com anos
investimento no capital humano. (letivos) de transição.
(D) Os candidatos que saem-se melhor nas entrevistas são con- IDOETA, P.A. 8 lições após um ano de ensino remoto na pan
tratados mais rapidamente. demia. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/noticias/ bb-
(E) Alguns se consideram mais preparados para enfrentar ad- c/2021/04/24/8-licoes-apos-um-ano-de-ensino-remoto-na- pandemia.
versidades no trabalho do que em família. htm>. Acesso em: 21 jul. 2021. Adaptado.

O pronome oblíquo átono em destaque está colocado de acor-


do com a norma-padrão em:
(A) No processo ensino-aprendizagem, o objetivo deve ser de-
senvolver aptidões para que os alunos sempre mantenham-se
em dia com os avanços da ciência.

34
LÍNGUA PORTUGUESA

(B) Se reclama muito das dificuldades do ensino remoto devido (D) Aqueles que relacionam-se bem com o dinheiro têm uma
a problemas de conexão. vida mais organizada.
(C) Os profissionais da educação nunca cansam-se de estudar (E) Compreenderia-se melhor o desempenho da empresa, se o
os conteúdos que possam interessar os alunos nas aulas. mercado fosse estudado.
(D) Para garantir o progresso dos estudantes, os professores
sempre dedicam-se a pesquisar novos métodos de ensino. 19. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU-
(E) Quando as escolas se preocuparem em empregar novas CLEAR/ESPECIALISTA EM PROTEÇÃO RADIOLÓGICA/2022
metodologias no ensino-aprendizagem, alcançarão melhores Assunto: Sinônimos e Antônimos
resultados.
Texto
18. CESGRANRIO - TBN (CEF)/CEF/”SEM ÁREA”/2021 Maria José
Assunto: Colocação pronominal Paulo Mendes Campos
Faz um ano que Maria José morreu. Era meiga quase sempre,
Relacionamento com o dinheiro violenta quando necessário. Eu era menino e apanhava de um com-
Desde cedo, começamos a lidar com uma série de situações panheiro maior, quando ela me gritou da sacada se eu não via a
ligadas ao dinheiro. Para tirar melhor proveito do seu dinheiro, é pedra que marcava o gol. Dei uma pedrada no outro e acabei com
muito importante saber como utilizá-lo da forma mais favorável a a briga por milagre.
você. O aprendizado e a aplicação de conhecimentos práticos de Visitava os miseráveis, internava indigentes enfermos, devota-
educação financeira podem contribuir para melhorar a gestão de va-se ao alívio de misérias físicas e morais do próximo, estudava o
nossas finanças pessoais, tornando nossas vidas mais tranquilas e mistério teológico, exigia sempre o mais difícil de si mesma, comun-
equilibradas sob o ponto de vista financeiro. gava todos os dias, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco.
Se pararmos para pensar, estamos sujeitos a um mundo finan- Mas nunca deixou de ter na gaveta o revólver que havia recebido,
ceiro muito mais complexo que o das gerações anteriores. No entan- menina- e-moça, das mãos do pai, e que empunhou no quintal no-
to, o nível de educação financeira da população não acompanhou turno, perseguindo um ladrão, para espanto de meus cinco anos.
esse aumento de complexidade. A ausência de educação financeira, Já perto dos setenta anos, ela explicava para um amigo meu
aliada à facilidade de acesso ao crédito, tem levado muitas pessoas que tinha chegado à humildade da velhice; já não se importava com
ao endividamento excessivo, privando-as de parte de sua renda em quem tentasse ofendê-la, mas conservava o revólver para a defesa
função do pagamento de prestações mensais que reduzem suas ca- dos filhos e dos netos.
pacidades de consumir produtos que lhes trariam satisfação. Tratou-me com a dureza e o carinho que mereciam a rebeldia
Infelizmente, não faz parte do cotidiano da maioria das pesso- e o verdor da minha meninice. Ensinou- me a ler as primeiras sen-
as buscar informações que as auxiliem na gestão de suas finanças. tenças; me falava do Cura d’Ars e nos dois Franciscos, o de Sales e
Para agravar essa situação, não há uma cultura coletiva, ou seja, o de Assis; apresentou-me aos contos de Edgar Poe e aos poemas
uma preocupação da sociedade organizada em torno do tema. Nas de Baudelaire; dizia-me sorrindo versos de Antônio Nobre que ha-
escolas, pouco ou nada é falado sobre o assunto. As empresas, não via decorado quando menina; discutia comigo as ideias finais de
compreendendo a importância de ter seus funcionários alfabeti- Tolstoi; escutava maternalmente meus contos toscos. Quando me
zados financeiramente, também não investem nessa área. Similar desgarrei nos primeiros envolvimentos adolescentes, Maria José,
problema é encontrado nas famílias, nas quais não há o hábito de com irônico afeto, me repetia a advertência de Drummond: “Paulo,
reunir os membros para discutir e elaborar um orçamento familiar. sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã
Igualmente entre os amigos, assuntos ligados à gestão financeira não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém
pessoal muitas vezes são considerados invasão de privacidade e sabe o que será”.
pouco se conversa em torno do tema. Enfim, embora todos lidem Logo que me fiz homenzinho, deixou a dureza e se fez minha
diariamente com dinheiro, poucos se dedicam a gerir melhor seus amiga: nada me perguntava, adivinhava tudo.
recursos. Terna e firme, nunca lhe vi a fraqueza da pieguice. Com o gosto
A educação financeira pode trazer diversos benefícios, entre os espontâneo da qualidade das coisas, renunciou às vaidades mais
quais, possibilitar o equilíbrio das finanças pessoais, preparar para o singelas. Sensível, alegre, aprendeu a encarar o sofrimento de olhos
enfrentamento de imprevistos financeiros e para a aposentadoria, lúcidos. Fiel à disciplina religiosa, compreendia celestialmente as al-
qualificar para o bom uso do sistema financeiro, reduzir a possibi- mas que perdiam o rumo. Fé, Esperança e Caridade eram para ela a
lidade de o indivíduo cair em fraudes, preparar o caminho para a flecha e o alvo das criaturas.
realização de sonhos, enfim, tornar a vida melhor. Tornara-se tão íntima da substância terrestre – a dor – que se
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Caderno de Educação Financeira – fazia difícil para o médico saber o que sentia; acabava dizendo que
Gestão de Finanças Pessoais. Brasília: BCB, 2013. p. 12. Adaptado. doía um pouco, por delicadeza.
Capaz de longos jejuns e abstinências, já no final da vida, podia
A colocação do pronome oblíquo átono está em acordo com a acompanhar um casal amigo a Copacabana, passar do bar da moda
norma-padrão da língua portuguesa em: ao restaurante diferente, beber dois cafés ou três uísques em santa
(A) Poder-se-á levar a educação financeira para as salas de aula, serenidade e aceitar com alegria o prato exótico.
o que será muito proveitoso. Gostava das pessoas erradas, consumidas de paixão, admirava
(B) Nos perguntam sempre sobre como gerir melhor a vida fi- São Paulo e Santo Agostinho, acreditava que era preciso se fazer
nanceira. violência para entrar no reino celeste.
(C) As famílias nunca preocuparam-se com a educação finan-
ceira como parte da formação de seus filhos.

35
LÍNGUA PORTUGUESA

Poucas horas antes de morrer, pediu um conhaque e sorriu, 15 E


destemida e doce, como quem vai partir para o céu. Santificara-se.
Deus era o dia e a noite de seu coração, o Pai, a piedade, o fogo do 16 D
espírito. Perdi quem me amava e perdoava, quem me encomen- 17 E
dava à compaixão do Criador e me defendia contra o mundo de
revólver na mão. 18 A
No texto, Maria José é descrita como alguém que apresenta 19 A
características muitas vezes opostas, o que a faz possuidora de uma
20 D
rica personalidade.
Um adjetivo usado para caracterizar Maria José é “terna”, que,
no texto, se opõe a
(A) violenta
ANOTAÇÕES
(B) alegre
(C) caridosa ______________________________________________________
(D) doce
(E) carinhosa ______________________________________________________

20. CESGRANRIO - PNS (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE- ______________________________________________________


AR/ADMINISTRADOR/2022
Assunto: Homônimos e Parônimos ______________________________________________________
A palavra destacada está adequada ao contexto da frase, de
acordo com o seu significado dicionarizado, em: ______________________________________________________
(A) A despensa dos alunos ocorreu com maior frequência du-
______________________________________________________
rante a pandemia da Covid-19 do que no mês destinado às fé-
rias. ______________________________________________________
(B) A explanação do orador foi recebida com descrição pelos
estudiosos nos seminários sobre a globalização. ______________________________________________________
(C) O tráfego internacional de animais silvestres prejudica a
conservação das espécies, contribuindo para aumentar os que ______________________________________________________
estão em extinção.
(D) Os deputados devem cumprir completamente o mandato ______________________________________________________
durante o tempo estipulado pela legislação eleitoral.
______________________________________________________
(E) Várias personalidades apresentam nomes que são grafados
com apóstrofe, entre elas o marido da Princesa Isabel, o Conde ______________________________________________________
d´Eu.
______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

1 B ______________________________________________________
2 D ______________________________________________________
3 E
______________________________________________________
4 C
5 D ______________________________________________________

6 A ______________________________________________________
7 C
______________________________________________________
8 C
______________________________________________________
9 B
10 E ______________________________________________________
11 C ______________________________________________________
12 D
_____________________________________________________
13 D
14 E _____________________________________________________

______________________________________________________

36
NOÇÕES DE DIREITO

I – DIREITO E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: DIREITOS E Direitos Metaindividuais


DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS; DIREITO À VIDA, À
Natureza Destinatários
LIBERDADE, À IGUALDADE, À SEGURANÇA E À PROPRIE-
DADE; DIREITOS SOCIAIS; NACIONALIDADE; CIDADANIA; Difusos Indivisível Indeterminados
GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INDIVIDUAIS; GARAN- Determináveis
TIAS DOS DIREITOS COLETIVOS, SOCIAIS E POLÍTICOS Coletivos Indivisível ligados por uma relação
jurídica
Distinção entre Direitos e Garantias Fundamentais Determinados
Pode-se dizer que os direitos fundamentais são os bens jurídi- Individuais
Divisível ligados por uma situação
cos em si mesmos considerados, de cunho declaratório, narrados Homogêneos
fática
no texto constitucional. Por sua vez, as garantias fundamentais são
estabelecidas na mesma Constituição Federal como instrumento de Os Direitos Fundamentais de Terceira Geração possuem as se-
proteção dos direitos fundamentais e, como tais, de cunho assecu- guintes características:
ratório. a) surgiram no século XX;
b) estão ligados ao ideal de fraternidade (ou solidariedade),
Evolução dos Direitos e Garantias Fundamentais que deve nortear o convívio dos diferentes povos, em defesa dos
bens da coletividade;
– Direitos Fundamentais de Primeira Geração c) são direitos positivos, a exigir do Estado e dos diferentes
Possuem as seguintes características: povos uma firme atuação no tocante à preservação dos bens de
a) surgiram no final do século XVIII, no contexto da Revolução interesse coletivo;
Francesa, fase inaugural do constitucionalismo moderno, e domina- d) correspondem ao direito de preservação do meio ambiente,
ram todo o século XIX; de autodeterminação dos povos, da paz, do progresso da humani-
b) ganharam relevo no contexto do Estado Liberal, em oposição dade, do patrimônio histórico e cultural, etc.
ao Estado Absoluto;
c) estão ligados ao ideal de liberdade; – Direitos Fundamentais de Quarta Geração
d) são direitos negativos, que exigem uma abstenção do Estado Segundo Paulo Bonavides, a globalização política é o fator his-
em favor das liberdades públicas; tórico que deu origem aos direitos fundamentais de quarta gera-
e) possuíam como destinatários os súditos como forma de pro- ção. Eles estão ligados à democracia, à informação e ao pluralismo.
teção em face da ação opressora do Estado; Também são transindividuais.
f) são os direitos civis e políticos.
– Direitos Fundamentais de Quinta Geração
– Direitos Fundamentais de Segunda Geração Paulo Bonavides defende, ainda, que o direito à paz represen-
Possuem as seguintes características: taria o direito fundamental de quinta geração.
a) surgiram no início do século XX;
b) apareceram no contexto do Estado Social, em oposição ao Características dos Direitos e Garantias Fundamentais
Estado Liberal; São características dos Direitos e Garantias Fundamentais:
c) estão ligados ao ideal de igualdade; a) Historicidade: não nasceram de uma só vez, revelando sua
d) são direitos positivos, que passaram a exigir uma atuação índole evolutiva;
positiva do Estado; b) Universalidade: destinam-se a todos os indivíduos, indepen-
e) correspondem aos direitos sociais, culturais e econômicos. dentemente de características pessoais;
c) Relatividade: não são absolutos, mas sim relativos;
– Direitos Fundamentais de Terceira Geração d) Irrenunciabilidade: não podem ser objeto de renúncia;
Em um próximo momento histórico, foi despertada a preocu- e) Inalienabilidade: são indisponíveis e inalienáveis por não
pação com os bens jurídicos da coletividade, com os denominados possuírem conteúdo econômico-patrimonial;
interesses metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogê- f) Imprescritibilidade: são sempre exercíveis, não desparecen-
neos), nascendo os direitos fundamentais de terceira geração. do pelo decurso do tempo.

Destinatários dos Direitos e Garantias Fundamentais


Todas as pessoas físicas, sem exceção, jurídicas e estatais, são
destinatárias dos direitos e garantias fundamentais, desde que
compatíveis com a sua natureza.

37
NOÇÕES DE DIREITO

Eficácia Horizontal dos Direitos e Garantias Fundamentais A igualdade formal é a identidade de direitos e deveres conce-
Muito embora criados para regular as relações verticais, de su- didos aos membros da coletividade por meio da norma.
bordinação, entre o Estado e seus súditos, passam a ser emprega- Por sua vez, a igualdade material tem por finalidade a busca
dos nas relações provadas, horizontais, de coordenação, envolven- da equiparação dos cidadãos sob todos os aspectos, inclusive o
do pessoas físicas e jurídicas de Direito Privado. jurídico. É a consagração da máxima de Aristóteles, para quem o
princípio da igualdade consistia em tratar igualmente os iguais e
Natureza Relativa dos Direitos e Garantias Fundamentais desigualmente os desiguais na medida em que eles se desigualam.
Encontram limites nos demais direitos constitucionalmente Sob o pálio da igualdade material, caberia ao Estado promover
consagrados, bem como são limitados pela intervenção legislativa a igualdade de oportunidades por meio de políticas públicas e leis
ordinária, nos casos expressamente autorizados pela própria Cons- que, atentos às características dos grupos menos favorecidos, com-
tituição (princípio da reserva legal). pensassem as desigualdades decorrentes do processo histórico da
formação social.
Colisão entre os Direitos e Garantias Fundamentais
O princípio da proporcionalidade sob o seu triplo aspecto (ade- Direito à Privacidade
quação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito) é a Para o estudo do Direito Constitucional, a privacidade é gênero,
ferramenta apta a resolver choques entre os princípios esculpidos do qual são espécies a intimidade, a honra, a vida privada e a ima-
na Carta Política, sopesando a incidência de cada um no caso con- gem. De maneira que, os mesmos são invioláveis e a eles assegura-
creto, preservando ao máximo os direitos e garantias fundamentais -se o direito à indenização pelo dano moral ou material decorrente
constitucionalmente consagrados. de sua violação.

Os quatro status de Jellinek Direito à Honra


a) status passivo ou subjectionis: quando o indivíduo se encon- O direito à honra almeja tutelar o conjunto de atributos perti-
tra em posição de subordinação aos poderes públicos, caracterizan- nentes à reputação do cidadão sujeito de direitos, exatamente por
do-se como detentor de deveres para com o Estado; tal motivo, são previstos no Código Penal.
b) status negativo: caracterizado por um espaço de liberdade
de atuação dos indivíduos sem ingerências dos poderes públicos; Direito de Propriedade
c) status positivo ou status civitatis: posição que coloca o indi- É assegurado o direito de propriedade, contudo, com
víduo em situação de exigir do Estado que atue positivamente em restrições, como por exemplo, de que se atenda à função social da
seu favor; propriedade. Também se enquadram como espécies de restrição do
d) status ativo: situação em que o indivíduo pode influir na for- direito de propriedade, a requisição, a desapropriação, o confisco
mação da vontade estatal, correspondendo ao exercício dos direi- e o usucapião.
tos políticos, manifestados principalmente por meio do voto. Do mesmo modo, é no direito de propriedade que se assegu-
ram a inviolabilidade do domicílio, os direitos autorais (propriedade
Os direitos individuais estão elencados no caput do Artigo 5º intelectual) e os direitos reativos à herança.
da CF. São eles: Destes direitos, emanam todos os incisos do Art. 5º, da CF/88,
conforme veremos abaixo:
Direito à Vida
O direito à vida deve ser observado por dois prismas: o direito TÍTULO II
de permanecer vivo e o direito de uma vida digna. DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
O direito de permanecer vivo pode ser observado, por exemplo,
na vedação à pena de morte (salvo em caso de guerra declarada). CAPÍTULO I
Já o direito à uma vida digna, garante as necessidades vitais DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
básicas, proibindo qualquer tratamento desumano como a tortura,
penas de caráter perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, etc. Artigo 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
Direito à Liberdade residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
O direito à liberdade consiste na afirmação de que ninguém será igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de I- homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
lei. Tal dispositivo representa a consagração da autonomia privada. termos desta Constituição;
Trata-se a liberdade, de direito amplo, já que compreende, II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coi-
dentre outros, as liberdades: de opinião, de pensamento, de loco- sa senão em virtude de lei;
moção, de consciência, de crença, de reunião, de associação e de III- ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desu-
expressão. mano ou degradante;
IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano-
Direito à Igualdade nimato;
A igualdade, princípio fundamental proclamado pela Constitui- V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
ção Federal e base do princípio republicano e da democracia, deve além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
ser encarada sob duas óticas, a igualdade material e a igualdade VI- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
formal. assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na for-
ma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

38
NOÇÕES DE DIREITO

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdei-
VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença re- ros pelo tempo que a lei fixar;
ligiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para XXVIII- são assegurados, nos termos da lei:
eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e
prestação alternativa, fixada em lei; à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
IX - é livre a expressão de atividade intelectual, artística, cientí- desportivas;
fica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a ima- obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intér-
gem das pessoas, assegurado o direito à indenização por dano ma- pretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
terial ou moral decorrente de sua violação; XXIX- a lei assegurará aos autores de inventos industriais privi-
XI- a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo légio temporário para sua utilização, bem como às criações indus-
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagran- triais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros
te delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi-
determinação judicial; mento tecnológico e econômico do País;
XII- é inviolável o sigilo da correspondência e das comunica- XXX- é garantido o direito de herança;
ções telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, XXXI- a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será
no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução pro- brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável à lei pessoal
cessual penal; do de cujus;
XIII- é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, XXXII- o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do con-
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; sumidor;
XIV- é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado XXXIII- todos têm direito a receber dos órgãos públicos informa-
o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; ções de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral,
XV- é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz,
que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permane-
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
cer ou dele sair com seus bens;
sociedade e do Estado;
XVI- todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em lo-
XXXIV- são a todos assegurados, independentemente do paga-
cais abertos ao público, independentemente de autorização, desde
mento de taxas:
que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direi-
mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade com-
tos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
petente;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defe-
XVII- é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada
sa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;
a de caráter paramilitar;
XXXV- a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
XVIII- a criação de associações e, na forma da lei, a de coope-
ou ameaça a direito;
rativas independem de autorização, sendo vedada a interferência
XXXVI- a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
estatal em seu funcionamento;
perfeito e a coisa julgada;
XIX- as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvi-
XXXVII- não haverá juízo ou tribunal de exceção;
das ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-
XXXVIII- é reconhecida a instituição do júri, com a organização
-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
que lhe der a lei, assegurados:
XX- ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a perma-
necer associado; a) a plenitude da defesa;
XXI- as entidades associativas, quando expressamente autori- b) o sigilo das votações;
zadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou c) a soberania dos veredictos;
extrajudicialmente; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra
XXII- é garantido o direito de propriedade; a vida;
XXIII- a propriedade atenderá a sua função social; XXXIX- não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação sem prévia cominação legal;
por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, me- XL- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
diante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos XLI- a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos
previstos nesta Constituição; e liberdades fundamentais;
XXV- no caso de iminente perigo público, a autoridade com- XLII- a prática do racismo constitui crime inafiançável e impres-
petente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao pro- critível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
prietário indenização ulterior, se houver dano; XLIII- a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
XXVI- a pequena propriedade rural, assim definida em lei, des- graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecen-
de que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para tes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hedion-
pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dis- dos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
pondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV- constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de gru-
pos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático;

39
NOÇÕES DE DIREITO

XLV- nenhuma pena passará da pessoa do condenado, poden- LXV- a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autorida-
do a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de de judiciária;
bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles LXVI- ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
XLVI- a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre LXVII- não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável
outras, as seguintes: pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimen-
a) privação ou restrição de liberdade; tícia e a do depositário infiel;
b) perda de bens; LXVIII- conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer
c) multa; ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberda-
d) prestação social alternativa; de de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
e) suspensão ou interdição de direitos; LXIX- conceder-se-á mandado de segurança para proteger di-
XLVII- não haverá penas: reito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habe-
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do as data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder
artigo 84, XIX; for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
b) de caráter perpétuo; atribuições de Poder Público;
c) de trabalhos forçados; LXX- o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
d) de banimento; a) partido político com representação no Congresso Nacional;
e) cruéis; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legal-
XLVIII- a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; defesa dos interesses de seus membros ou associados;
XLIX- é assegurado aos presos o respeito à integridade física e LXXI- conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta
moral; de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
L- às presidiárias serão asseguradas condições para que possam liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionali-
permanecer com seus filhos durante o período de amamentação; dade, à soberania e à cidadania;
LXXII- conceder-se-á habeas data:
LI- nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à
caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de com-
pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados
provado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
de entidades governamentais ou de caráter público;
afins, na forma da lei;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo
LII- não será concedida extradição de estrangeiro por crime po-
por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
lítico ou de opinião;
LXXIII- qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
LIII- ninguém será processado nem sentenciado senão por au-
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
toridade competente; entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
LIV- ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
devido processo legal; autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
LV- aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos da sucumbência;
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, LXXIV- o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita
com os meios e recursos a ela inerentes; aos que comprovarem insuficiência de recursos;
LVI- são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por LXXV- o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, as-
meios ilícitos; sim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;
LVII- ninguém será considerado culpado até o trânsito em julga- LXXVI- são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na for-
do da sentença penal condenatória; ma da lei:
LVIII- o civilmente identificado não será submetido à identifica- a) o registro civil de nascimento;
ção criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; b) a certidão de óbito.
LIX- será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se LXXVII- são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data
esta não for intentada no prazo legal; e, na forma da lei, os atos necessário ao exercício da cidadania;
LX- a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais LXXVIII- a todos, no âmbito judicial e administrativo, são asse-
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; gurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
LXI- ninguém será preso senão em flagrante delito ou por or- celeridade de sua tramitação.
dem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente mi- dados pessoais, inclusive nos meios digitais. (Incluído pela Emenda
litar, definidos em lei; Constitucional nº 115, de 2022)
LXII- a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre §1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família têm aplicação imediata.
ou à pessoa por ele indicada; §2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
LXIII- o preso será informado de seus direitos, entre os quais o excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da famí- adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
lia e de advogado; Federativa do Brasil seja parte.
LXIV- o preso tem direito a identificação dos responsáveis por §3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos
sua prisão ou por seu interrogatório policial; humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos

40
NOÇÕES DE DIREITO

§4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas di-
Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. árias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de
O tratado foi equiparado no ordenamento jurídico brasileiro às horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção
leis ordinárias. Em que pese tenha adquirido este caráter, o men- coletiva de trabalho;
cionado tratado diz respeito a direitos humanos, porém não possui XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos
característica de emenda constitucional, pois entrou em vigor em ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
nosso ordenamento jurídico antes da edição da Emenda Constitu- XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos do-
cional nº 45/04. Para que tal tratado seja equiparado às emendas mingos;
constitucionais deverá passar pelo mesmo rito de aprovação destas XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no míni-
mo, em cinquenta por cento à do normal;
Os direitos sociais são prestações positivas proporcionadas XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas cons- terço a mais do que o salário normal;
titucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário,
fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações so- com a duração de cento e vinte dias;
ciais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
igualdade. Estão previstos na CF nos artigos 6 a 11. Vejamos: XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante in-
centivos específicos, nos termos da lei;
CAPÍTULO II XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no
DOS DIREITOS SOCIAIS mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, normas de saúde, higiene e segurança;
o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ- XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas,
dência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência insalubres ou perigosas, na forma da lei;
aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada XXIV - aposentadoria;
pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015) XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nas-
Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade cimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;
social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de
público em programa permanente de transferência de renda, cujas trabalho;
normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, observa- XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
da a legislação fiscal e orçamentária. (Incluído pela Emenda Consti-
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empre-
tucional nº 114, de 2021)
gador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
incorrer em dolo ou culpa;
outros que visem à melhoria de sua condição social:
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária
trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalha-
ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá
dores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do
indenização compensatória, dentre outros direitos;
contrato de trabalho;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
a) (Revogada).
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, b) (Revogada).
capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua fa- XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de fun-
mília com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, ções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos estado civil;
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário
para qualquer fim; e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e
trabalho; intelectual ou entre os profissionais respectivos;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a
ou acordo coletivo; menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;
percebem remuneração variável; XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral empregatício permanente e o trabalhador avulso.
ou no valor da aposentadoria; Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhado-
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; res domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X,
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII
retenção dolosa; e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a sim-
XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da re- plificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e
muneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empre- acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiarida-
sa, conforme definido em lei; des, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalha- a sua integração à previdência social.
dor de baixa renda nos termos da lei;

41
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado – Princípio do mínimo existencial: é um conjunto de bens e
o seguinte: direitos vitais básicos indispensáveis a uma vida humana digna,
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação intrinsecamente ligado ao fundamento da dignidade da pessoa
de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas humana previsto no Artigo 1º, III, CF. A efetivação do mínimo
ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sin- existencial não se sujeita à reserva do possível, pois tais direitos se
dical; encontram na estrutura dos serviços púbicos essenciais.
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em
qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econô- Os direitos sociais são divididos em:
mica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalha-
dores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à Direitos relativos aos trabalhadores
área de um Município; Direitos relativos ao salário, às condições de trabalho, à liber-
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coleti- dade de instituição sindical, o direito de greve, entre outros (CF, ar-
vos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou tigos 7º a 11).
administrativas;
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratan- Direitos relativos ao homem consumidor
do de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio Direito à saúde, à educação, à segurança social, ao desenvolvi-
do sistema confederativo da representação sindical respectiva, in- mento intelectual, o igual acesso das crianças e adultos à instrução,
dependentemente da contribuição prevista em lei; à cultura e garantia ao desenvolvimento da família, que estariam no
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a título da ordem social.
sindicato;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações Os direitos referentes à nacionalidade estão previstos dos Ar-
coletivas de trabalho; tigos 12 a 13 da CF. Vejamos:
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas
organizações sindicais; CAPÍTULO III
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a par- DA NACIONALIDADE
tir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação
sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do Art. 12. São brasileiros:
mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. I - natos:
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à orga- a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de
nização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu
as condições que a lei estabelecer. país;
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos tra- b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasilei-
balhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os ra, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federa-
interesses que devam por meio dele defender. tiva do Brasil;
§1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe bra-
sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. sileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira com-
§2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas petente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e
da lei. optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e em- nacionalidade brasileira;
pregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus inte- II - naturalizados:
resses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira,
e deliberação. exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas resi-
Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é as- dência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
segurada a eleição de um representante destes com a finalidade b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na
exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empre- República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterrup-
gadores. tos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade
brasileira.
Os direitos sociais regem-se pelos princípios abaixo: §1º Aos portugueses com residência permanente no País, se
– Princípio da proibição do retrocesso: qualifica-se pela impos- houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos
sibilidade de redução do grau de concretização dos direitos sociais os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta
já implementados pelo Estado. Ou seja, uma vez alcançado deter- Constituição.
minado grau de concretização de um direito social, fica o legislador §2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros
proibido de suprimir ou reduzir essa concretização sem que haja natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.
a criação de mecanismos equivalentes chamados de medias com- §3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
pensatórias. I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
– Princípio da reserva do possível: a implementação dos di- II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
reitos e garantias fundamentais de segunda geração esbarram no III - de Presidente do Senado Federal;
óbice do financeiramente possível. IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.

42
NOÇÕES DE DIREITO

VII - de Ministro de Estado da Defesa. O critério ius solis concede a nacionalidade originária aos nas-
§4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: cidos no território de um determinado Estado, sendo irrelevante a
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em nacionalidade dos genitores.
virtude de fraude relacionada ao processo de naturalização ou de A CF/88 adotou o critério ius solis como regra geral, possibili-
atentado contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; tando em alguns casos, a atribuição de nacionalidade primária pau-
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 131, de 2023) tada no ius sanguinis.
II - fizer pedido expresso de perda da nacionalidade brasileira
perante autoridade brasileira competente, ressalvadas situações Portugueses Residentes no Brasil
que acarretem apatridia. (Redação dada pela Emenda Constitucio- O §1º do Artigo 12 da CF confere tratamento diferenciado aos
nal nº 131, de 2023) portugueses residentes no Brasil. Não se trata de hipótese de natu-
a) revogada; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº ralização, mas tão somente forma de atribuição de direitos.
131, de 2023)
b) revogada. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº Portugueses Equiparados
131, de 2023)
§5º A renúncia da nacionalidade, nos termos do inciso II do §4º Igual os Direitos Se 1) Residência permanente no Brasil;
deste artigo, não impede o interessado de readquirir sua nacionali- dos Brasileiros houver 2) Reciprocidade aos brasileiros
dade brasileira originária, nos termos da lei. (Incluído pela Emenda Naturalizados em Portugal.
Constitucional nº 131, de 2023)
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Fe- Distinção entre Brasileiros Natos e Naturalizados
derativa do Brasil. A CF/88 em seu Artigo 12, §2º, prevê que a lei não poderá fa-
§1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, zer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, com exceção às
o hino, as armas e o selo nacionais. seguintes hipóteses:
§2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter Cargos privativos de brasileiros natos → Artigo 12, §3º, CF;
símbolos próprios. Função no Conselho da República → Artigo 89, VII, CF;
Extradição → Artigo 5º, LI, CF; e
A Nacionalidade é o vínculo jurídico-político de Direito Público Direito de propriedade → Artigo 222, CF.
interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da di-
mensão pessoal do Estado (o seu povo). Perda da Nacionalidade
Considera-se povo o conjunto de nacionais, ou seja, os brasilei- O Artigo 12, §4º da CF refere-se à perda da nacionalidade, que
ros natos e naturalizados. apenas poderá ocorrer nas duas hipóteses taxativamente elencadas
na CF, sob pena de manifesta inconstitucionalidade.
Espécies de Nacionalidade
São duas as espécies de nacionalidade: Dupla Nacionalidade
a) Nacionalidade primária, originária, de 1º grau, involuntá- O Artigo 12, §4º, II da CF traz duas hipóteses em que a opção
ria ou nata: é aquela resultante de um fato natural, o nascimento. por outra nacionalidade não ocasiona a perda da brasileira, passan-
Trata-se de aquisição involuntária de nacionalidade, decorrente do do o nacional a possuir dupla nacionalidade (polipátrida).
simples nascimento ligado a um critério estabelecido pelo Estado
na sua Constituição Federal. Descrita no Artigo 12, I, CF/88. Polipátrida → aquele que possui mais de uma nacionalidade.
b) Nacionalidade secundária, adquirida, por aquisição, de 2º
grau, voluntária ou naturalização: é a que se adquire por ato voliti- Heimatlos ou Apátrida → aquele que não possui nenhuma na-
vo, depois do nascimento, somado ao cumprimento dos requisitos cionalidade.
constitucionais. Descrita no Artigo 12, II, CF/88.
Idioma Oficial e Símbolos Nacionais
O quadro abaixo auxilia na memorização das diferenças entre Por fim, o Artigo 13 da CF elenca o Idioma Oficial e os Símbolos
as duas: Nacionais do Brasil.

Os Direitos Políticos têm previsão legal na CF/88, em seus Arti-


Nacionalidade
gos 14 a 16. Seguem abaixo:
Primária Secundária
Nascimento + Requisitos Ato de vontade + Requisitos CAPÍTULO IV
constitucionais constitucionais DOS DIREITOS POLÍTICOS

Brasileiro Nato Brasileiros Naturalizado Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio univer-
sal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos
• Critérios para Adoção de Nacionalidade Primária termos da lei, mediante:
O Estado pode adotar dois critérios para a concessão da nacio- I - plebiscito;
nalidade originária: o de origem sanguínea (ius sanguinis) e o de II - referendo;
origem territorial (ius solis). III - iniciativa popular.
O critério ius sanguinis tem por base questões de hereditarie- §1º O alistamento eleitoral e o voto são:
dade, um vínculo sanguíneo com os ascendentes. I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;

43
NOÇÕES DE DIREITO

II - facultativos para: 90 (noventa) dias antes da data das eleições, observados os limites
a) os analfabetos; operacionais relativos ao número de quesitos. (Incluído pela
b) os maiores de setenta anos; Emenda Constitucional nº 111, de 2021)
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. §13. As manifestações favoráveis e contrárias às questões
§2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, submetidas às consultas populares nos termos do §12 ocorrerão
durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. durante as campanhas eleitorais, sem a utilização de propaganda
§3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: gratuita no rádio e na televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional
I - a nacionalidade brasileira; nº 111, de 2021)
II - o pleno exercício dos direitos políticos; Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou
III - o alistamento eleitoral; suspensão só se dará nos casos de:
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em
V - a filiação partidária; julgado;
VI - a idade mínima de: II - incapacidade civil absoluta;
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da Re- III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto du-
pública e Senador; rarem seus efeitos;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação
do Distrito Federal; alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, §4º.
ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor
d) dezoito anos para Vereador. na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até
§4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. um ano da data de sua vigência.
§5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e
do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou De acordo com José Afonso da Silva, os direitos políticos, rela-
substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um cionados à primeira geração dos direitos e garantias fundamentais,
único período subsequente. consistem no conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo
§6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da de participação no processo político e nos órgãos governamentais.
República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os São instrumentos previstos na Constituição e em normas infra-
Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis constitucionais que permitem o exercício concreto da participação
meses antes do pleito. do povo nos negócios políticos do Estado.
§7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o
cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau Capacidade Eleitoral Ativa
ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Segundo o Artigo 14, §1º da CF, a capacidade eleitoral ativa é
Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os o direito de votar nas eleições, nos plebiscitos ou nos referendos,
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se cuja aquisição se dá com o alistamento eleitoral, que atribui ao na-
já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. cional a condição de cidadão (aptidão para o exercício de direitos
§8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes políticos).
condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se Alistamento Eleitoral e Voto
da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela Obriga- Faculta-
Inalistável – Artigo 14, §2º
autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato tório tivo
da diplomação, para a inatividade. Maio-
§9º Lei complementar estabelecerá outros casos de Estrangeiros (com exceção
res de 16 e
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a aos portugueses equiparados,
Maio- menores de
probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato constantes no Artigo 12, §1º da
res de 18 e 18 anos
considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e CF)
menores de Maiores
legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou Conscritos (aqueles con-
70 anos de 70 anos
o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração vocados para o serviço militar
Analfa-
direta ou indireta. obrigatório)
betos
§10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça
Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída – Características do Voto
a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou O voto no Brasil é direito (como regra), secreto, universal, com
fraude. valor igual para todos, periódico, personalíssimo, obrigatório e livre.
§11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo
de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou Capacidade Eleitoral Passiva
de manifesta má-fé. Também chamada de Elegibilidade, a capacidade eleitoral pas-
§12. Serão realizadas concomitantemente às eleições siva diz respeito ao direito de ser votado, ou seja, de eleger-se para
municipais as consultas populares sobre questões locais aprovadas cargos políticos. Tem previsão legal no Artigo 14, §3º da CF.
pelas Câmaras Municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral até

44
NOÇÕES DE DIREITO

O quadro abaixo facilita a memorização da diferença entre as Privação dos Direitos Políticos
duas espécies de capacidade eleitoral. Vejamos: De acordo com o Artigo 15 da CF, o cidadão pode ser privado
dos seus direitos políticos por prazo indeterminado (perda), sendo
Capacidade Eleitoral Capacidade Eleitoral que, neste caso, o restabelecimento dos direitos políticos depende-
Ativa Passiva rá do exercício de ato de vontade do indivíduo, de um novo alista-
mento eleitoral.
Alistabilidade Elegibilidade Da mesma forma, a privação dos direitos políticos pode se dar
Direito de votar Direito de ser votado por prazo determinado (suspensão), em que o restabelecimento se
dará automaticamente, ou seja, independentemente de manifesta-
Inelegibilidades ção do suspenso, desde que ultrapassado as razões da suspensão.
A inelegibilidade afasta a capacidade eleitoral passiva (direito Vejamos:
de ser votado), constituindo-se impedimento à candidatura a man-
datos eletivos nos Poderes Executivo e Legislativo. Privação dos Direitos Políticos
Perda Suspensão
– Inelegibilidade Absoluta
Com previsão legal no Artigo 14, §4º da CF, a inelegibilidade ab- Privação por prazo Privação por prazo
soluta impede que o cidadão concorra a qualquer mandato eletivo indeterminado determinado
e, em virtude de natureza excepcional, somente pode ser estabele- Restabelecimento dos
cida na Constituição Federal. Restabelecimento
direitos políticos depende
Refere-se aos Inalistáveis e aos Analfabetos. dos direitos políticos se dá
de um novo alistamento
automaticamente
eleitoral
– Inelegibilidade Relativa
Consiste em restrições que recaem à candidatura a determi- A previsão legal dos Partidos Políticos de dá no Artigo 17 da CF.
nados cargos eletivos, em virtude de situações próprias em que se Vejamos:
encontra o cidadão no momento do pleito eleitoral. São elas:
– Vedação ao terceiro mandato sucessivo para os Chefes do Po- CAPÍTULO V
der Executivo (Artigo 14, §5º, CF); DOS PARTIDOS POLÍTICOS
– Desincompatibilização para concorrer a outros cargos, aplica-
da apenas aos Chefes do Poder Executivo (Artigo 14, §6º, CF); Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de
– Inelegibilidade reflexa, ou seja, inelegibilidade relativa por mo- partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime de-
tivos de casamento, parentesco ou afinidade, uma vez que não incide mocrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa
sobre o mandatário, mas sim perante terceiros (Artigo 14, §7º, CF). humana e observados os seguintes preceitos:
I - caráter nacional;
Condição de Militar II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entida-
O militar alistável é elegível, desde que atenda as exigências de ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes;
previstas no §8º do Artigo 14, da CF, a saber: III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
da atividade; §1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir
II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação
autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua
da diplomação, para a inatividade. organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha
Observa-se que a norma restringe a elegibilidade aos militares e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a
alistáveis, logo, os conscritos, que são inalistáveis, são inelegíveis. O sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade
quadro abaixo serve como exemplo: de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual,
distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas
Militares – Exceto os Conscritos de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 97, de 2017)
Registro da candidatura →
Menos de 10 anos §2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade
Inatividade
jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal
Registro da candidatura → Superior Eleitoral.
Agregado §3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e
Mais de 10 anos
Na diplomação → Inativi- acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos
dade políticos que alternativamente: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 97, de 2017)
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no
mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo
menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2%
(dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)

45
NOÇÕES DE DIREITO

II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais dis- Remédios e Garantias Constitucionais
tribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação. (In- As ações constitucionais dispostas no Artigo 5º da CF também
cluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) são conhecidas como remédios constitucionais, porque servem
§4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização para “curar a doença” do descumprimento de direitos fundamen-
paramilitar. tais.
§5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos Em outras palavras, são instrumentos colocados à disposição
previstos no §3º deste artigo é assegurado o mandato e dos indivíduos para garantir o cumprimento dos direitos fundamen-
facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que tais.
os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins
de distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso – Habeas Corpus
gratuito ao tempo de rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda O habeas corpus é a ação constitucional que tutela o direito
Constitucional nº 97, de 2017) fundamental à liberdade ambulatorial, ou seja, o direito de ir, vir e
§6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os estar/permanecer em algum lugar.
Deputados Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido De acordo com o texto constitucional, o habeas corpus pode
pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos ser:
casos de anuência do partido ou de outras hipóteses de justa – Preventivo: “sempre que alguém se achar ameaçado de so-
causa estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso, a frer”;
migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo – Repressivo: “sempre que alguém sofrer”.
partidário ou de outros fundos públicos e de acesso gratuito ao
rádio e à televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 111, Ambos em relação a violência ou coação em sua liberdade de
de 2021) locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
§7º Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco
por cento) dos recursos do fundo partidário na criação e na – Habeas Data
manutenção de programas de promoção e difusão da participação O habeas data é a ação constitucional impetrada por pessoa
política das mulheres, de acordo com os interesses intrapartidários. física ou jurídica, que tenha por objetivo assegurar o conhecimento
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022) de informações sobre si, constantes de registros ou banco de dados
§8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de de entidades governamentais ou de caráter público, ou para retifi-
Campanha e da parcela do fundo partidário destinada a campanhas cação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita no rádio e na judicial ou administrativo.
televisão a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas, Esse remédio constitucional está regulamentado pela Lei
deverão ser de no mínimo 30% (trinta por cento), proporcional 9.507/97, que disciplina o direito de acesso a informações e o rito
ao número de candidatas, e a distribuição deverá ser realizada processual do habeas data.
conforme critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e
pelas normas estatutárias, considerados a autonomia e o interesse – Mandado de Segurança
partidário. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022) O mandado de segurança individual é a ação constitucional im-
petrada por pessoa física ou jurídica, ou ente despersonalizado, que
De acordo com os ensinamentos de José Afonso da Silva, o par- busca a tutela de direito líquido e certo, não amparado por habeas
tido político é uma forma de agremiação de um grupo social que corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
se propõe a organizar, coordenar e instrumentar a vontade popular abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
com o fim de assumir o poder para realizar seu programa de go- no exercício de atribuições do Poder Público.
verno. Observa-se, portanto, que o mandado de segurança tem cabi-
Os partidos são a base do sistema político brasileiro, pois a filia- mento subsidiário. É disciplinado pela Lei 12.016/09.
ção a partido político é uma das condições de elegibilidade.
Trata-se de um privilégio aos ideais políticos, que devem estar – Mandado de Segurança Coletivo
acima das características pessoais do candidato. O mandado de segurança coletivo é a ação constitucional im-
Segundo Dirley da Cunha Júnior, entende-se por partido polí- petrada por partido político com representação no Congresso Na-
tico uma pessoa jurídica de Direito Privado que consiste na união cional, organização sindical, entidade de classe ou associação legal-
ou agremiação voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano (em
políticas, organizada segundo princípios de disciplina e fidelidade. defesa dos interesses de seus membros ou associados), que busca
Tal conceito vai ao encontro das disposições acerca dos parti- a tutela de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus
dos políticos trazidas pelo Artigo 1º da Lei nº 9296/1995, para quem ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso
o partido político, pessoa jurídica de Direito Privado, destina-se a de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do exercício de atribuições do Poder Público.
sistema representativo e a defender os direitos fundamentais defi-
nidos na Constituição Federal. – Mandado de Injunção
A Constituição confere ampla liberdade aos partidos políticos, O mandado de injunção é a ação constitucional impetrada por
uma vez que são instituições indispensáveis para concretização do pessoa física ou jurídica, ou ente despersonalizado, que objetive sa-
Estado democrático de direito, muito embora restrinja a utilização nar a falta de norma regulamentadora que torne inviável o exercício
de organização paramilitar. dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas ineren-
tes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

46
NOÇÕES DE DIREITO

Basicamente, pode-se dizer que o mandado de injunção é ajui- Possível, ainda, apontar-se outros princípios constitucionais do
zado em face das normas de eficácia limitada, que são aquelas que processo justo, como o direito à representação técnica e à paridade
possuem aplicabilidade indireta, mediata e reduzida (não direta, de armas.
não imediata e não integral), pois exigem norma infraconstitucio- O modelo mínimo de processo, no Estado Democrático de Di-
nal, que, até hoje, não existe. reito, portanto, somente pode ser buscado na Constituição. A fiel
É regulado pela Lei 13.300/2016. observância do direito ao processo justo é condição indispensável
para produzir decisões justas, ou seja, trata-se de elemento neces-
– Ação Popular sário, embora não único e suficiente, para se assegurar justiça ao
A ação popular é o remédio constitucional ajuizado por qual- caso concreto.
quer cidadão, que tenha por objetivo anular ato lesivo ao patrimô- O direito ao processo justo, portanto, constitui direito à orga-
nio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralida- nização de um processo justo, tarefa do legislador infraconstitucio-
de administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e nal, do administrador da justiça e do órgão jurisdicional. Assim, a
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas consecução do direito ao processo justo depende de sua própria
judiciais e do ônus da sucumbência. viabilização pelo Estado Democrático de Direito, mediante a edição
A ação popular será regulamentada infraconstitucionalmente de normas, a administração da estrutura judicante e pela própria
pela Lei 4.717/65. atuação jurisdicional.

Direitos Constitucionais-Penais e Garantias Constitucionais do II – A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: ADMINISTRAÇÃO PÚ-


Processo BLICA (ARTIGOS DE 37 A 41, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
DE 1988)
– Direitos Constitucionais Penais
A Constituição Federal de 1988, no capítulo referente aos direi-
tos e deveres individuai e coletivos, definiu vários princípios consti- Disposições gerais e servidores públicos
tucionais penais, garantidores de garantias aos cidadãos quando o A expressão Administração Pública em sentido objetivo traduz
Estado é obrigado a colocar em prática o jus puniendi, para que não a ideia de atividade, tarefa, ação ou função de atendimento ao inte-
existam arbitrariedades e nem regimes de exceção1. São eles: resse coletivo. Já em sentido subjetivo, indica o universo dos órgãos
Dignidade da pessoa humana, Igualdade ou isonomia, Legali- e pessoas que desempenham função pública.
dade e anterioridade, Irretroatividade da lei penal, Personalidade Conjugando os dois sentidos, pode-se conceituar a Administra-
da pena, Individualização da pena, Humanidade, Intervenção míni- ção Pública como sendo o conjunto de pessoas e órgãos que de-
ma, Alteridade, Culpabilidade, Proporcionalidade, Ofensividade ou sempenham uma função de atendimento ao interesse público, ou
lesividade, Insignificância e Adequação social. seja, que estão a serviço da coletividade.
Tais princípios são norteadores da atuação Estatal no campo
penal, para a garantia de um processo imparcial e justo, afastando Princípios da Administração Pública
qualquer punição exacerbada e desmedida quando da aplicação da Nos termos do caput do Artigo 37 da CF, a administração públi-
pena e garantidor do devido processo legal, amparado no contradi- ca direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
tório e na ampla defesa. Fundamentos de um Estado Democrático do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
de Direito. legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Assim, a observância dos princípios constitucionais penais é de As provas de Direito Constitucional exigem com frequência a
suma importância para a garantia dos direitos fundamentais e para memorização de tais princípios. Assim, para facilitar essa memori-
a aplicação da lei penal, sendo, pois, repetido no Código Penal e nas zação, já é de praxe valer-se da clássica expressão mnemônica “LIM-
demais leis, como forma de concretização da Justiça. PE”. Observe o quadro abaixo:

– Garantias Constitucionais do Processo Princípios da Administração Pública


No art. 5º da Constituição da República, entre os direitos fun-
damentais, estão estabelecidos os princípios constitucionais básicos L Legalidade
do processo justo, quais sejam: a garantia de pleno acesso à justiça, I Impessoalidade
a garantia do juiz natural (não haverá juízo ou Tribunal de exceção),
ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade M Moralidade
competente, a garantia do devido processo legal, do contraditório e P Publicidade
da ampla defesa, a vedação das provas ilícitas, a garantia de publici-
E Eficiência
dade dos atos processuais (exigência de fundamentação de todas as
decisões judiciais), o dever de assistência jurídica integral e gratuita LIMPE
a todos que comprovarem insuficiência de recursos, a garantia de
duração razoável do processo e da adoção de meios para assegurar
a celeridade de sua tramitação2.

1 http://iccs.com.br/dos-principios-constitucionais-penais-rodrigo-otavio-dos- processo no Estado liberal aos direitos fundamentais e o processo justo no Estado
-reis-chediak/ Democrático de Direito. Revista da AJURIS – Porto Alegre, v. 42, n. 139, dezem-
2 COSTA, Miguel do Nascimento. Das garantias constitucionais e o devido bro, 2015.

47
NOÇÕES DE DIREITO

Passemos ao conceito de cada um deles: Em decorrência disso, a administração pública está obrigada a
desenvolver mecanismos capazes de propiciar os melhores resul-
– Princípio da Legalidade tados possíveis para os administrados. Portanto, a Administração
De acordo com este princípio, o administrador não pode agir Pública será considerada eficiente sempre que o melhor resultado
ou deixar de agir, senão de acordo com a lei, na forma determinada. for atingido.
O quadro abaixo demonstra suas divisões.
Disposições Gerais na Administração Pública
Princípio da Legalidade O esquema abaixo sintetiza a definição de Administração Pú-
blica:
Em relação à A Administração Pública
Administração Pública somente pode fazer o que a lei
permite → Princípio da Estrita Administração Pública
Legalidade Direta Indireta
Em relação ao Particular O Particular pode fazer tudo Federal Autarquias (podem ser
que a lei não proíbe Estadual qualificadas como agências
Distrital reguladoras)
– Princípio da Impessoalidade Municipal Fundações (autarquias
Em decorrência deste princípio, a Administração Pública deve e fundações podem ser
servir a todos, sem preferências ou aversões pessoais ou partidá- qualificadas como agências
rias, não podendo atuar com vistas a beneficiar ou prejudicar de- executivas)
terminadas pessoas, uma vez que o fundamento para o exercício de Sociedades de economia
sua função é sempre o interesse público. mista
Empresas públicas
– Princípio da Moralidade
Entes Cooperados
Tal princípio caracteriza-se por exigir do administrador público
um comportamento ético de conduta, ligando-se aos conceitos de Não integram a Administração Pública, mas prestam
probidade, honestidade, lealdade, decoro e boa-fé. serviços de interesse público. Exemplos: SESI, SENAC, SENAI,
A moralidade se extrai do senso geral da coletividade represen- ONG’s
tada e não se confunde com a moralidade íntima do administrador
(moral comum) e sim com a profissional (ética profissional). As disposições gerais sobre a Administração Pública estão elen-
O Artigo 37, §4º da CF elenca as consequências possíveis, devi- cadas nos Artigos 37 e 38 da CF. Vejamos:
do a atos de improbidade administrativa:
CAPÍTULO VII
Sanções ao cometimento de atos de improbidade administra- DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
tiva
Suspensão dos direitos políticos (responsabilidade política) SEÇÃO I
Perda da função pública (responsabilidade disciplinar) DISPOSIÇÕES GERAIS
Indisponibilidade dos bens (responsabilidade patrimonial)
Ressarcimento ao erário (responsabilidade patrimonial) Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
– Princípio da Publicidade cípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, mo-
O princípio da publicidade determina que a Administração Pú- ralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
blica tem a obrigação de dar ampla divulgação dos atos que pratica, I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos
salvo a hipótese de sigilo necessário. brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim
A publicidade é a condição de eficácia do ato administrativo e como aos estrangeiros, na forma da lei;
tem por finalidade propiciar seu conhecimento pelo cidadão e pos- II - a investidura em cargo ou emprego público depende de
sibilitar o controle por todos os interessados. aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e
títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou em-
– Princípio da Eficiência prego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para car-
Segundo o princípio da eficiência, a atividade administrativa go em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;
deve ser exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional, III - o prazo de validade do concurso público será de até dois
evitando atuações amadorísticas. anos, prorrogável uma vez, por igual período;
Este princípio impõe à Administração Pública o dever de agir IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convo-
com eficiência real e concreta, aplicando, em cada caso concreto, a cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de pro-
medida, dentre as previstas e autorizadas em lei, que mais satisfaça vas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursa-
o interesse público com o menor ônus possível (dever jurídico de dos para assumir cargo ou emprego, na carreira;
boa administração).

48
NOÇÕES DE DIREITO

V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por ser- XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e fun-
vidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a se- ções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, socieda-
rem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e des de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas,
percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atri- direta ou indiretamente, pelo poder público;
buições de direção, chefia e assessoramento; XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais te-
VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso- rão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência
ciação sindical; sobre os demais setores administrativos, na forma da lei;
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
definidos em lei específica; autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de eco-
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos nomia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste úl-
para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de timo caso, definir as áreas de sua atuação;
sua admissão; XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de- de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim
terminado para atender a necessidade temporária de excepcional como a participação de qualquer delas em empresa privada;
interesse público; XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que serviços, compras e alienações serão contratados mediante pro-
trata o §4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por cesso de licitação pública que assegure igualdade de condições a
lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, asse- todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações
gurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos ter-
de índices; mos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun- técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e obrigações.
fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcio-
mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, namento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específi-
pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativa- cas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades
mente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer ou- e atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento
tra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como li- §1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
mite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo,
Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do informativo ou de orientação social, dela não podendo constar
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal
âmbito do Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do de autoridades ou servidores públicos.
§2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a
Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco cen-
nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos
tésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do
da lei.
Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável
§3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e
administração pública direta e indireta, regulando especialmente:
aos Defensores Públicos;
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder
em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento
Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Execu-
ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade
tivo;
dos serviços;
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es- II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor-
pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X
serviço público; e XXXIII;
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor públi- III - a disciplina da representação contra o exercício negligente
co não serão computados nem acumulados para fins de concessão ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública.
de acréscimos ulteriores; §4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos inci- indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
sos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, §4º, 150, II, 153, III, e 153, gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
§2º, I; §5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de
qualquer caso o disposto no inciso XI: ressarcimento.
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de
saúde, com profissões regulamentadas;

49
NOÇÕES DE DIREITO

§6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito §16. Os órgãos e entidades da administração pública, individual
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos ou conjuntamente, devem realizar avaliação das políticas públicas,
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, inclusive com divulgação do objeto a ser avaliado e dos resultados
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos alcançados, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional
de dolo ou culpa. nº 109, de 2021)
§7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocupante Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica
de cargo ou emprego da administração direta e indireta que e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as se-
possibilite o acesso a informações privilegiadas. guintes disposições:
§8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital,
órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo,
administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remune-
de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei ração;
dispor sobre: III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibili-
I - o prazo de duração do contrato; dade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi- ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não
tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior;
III - a remuneração do pessoal.” IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício
§9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos
sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;
recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência
Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio social, permanecerá filiado a esse regime, no ente federativo de ori-
em geral. gem. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§10. É vedada a percepção simultânea de proventos de
aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a Servidores Públicos
remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os Os servidores públicos são pessoas físicas que prestam serviços
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos à administração pública direta, às autarquias ou fundações públi-
e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e cas, gerando entre as partes um vínculo empregatício ou estatutá-
exoneração. rio. Esses serviços são prestados à União, aos Estados-membros, ao
§11. Não serão computadas, para efeito dos limites Distrito Federal ou aos Municípios.
remuneratórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as
parcelas de caráter indenizatório previstas em lei. As disposições sobre os Servidores Públicos estão elencadas
§12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, dos Artigos 39 a 41 da CF. Vejamos:
fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito,
mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, SEÇÃO II
como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do DOS SERVIDORES PÚBLICOS
respectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte
e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único
parágrafo aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos e planos de carreira para os servidores da administração pública
Vereadores. direta, das autarquias e das fundações públicas.
§13. O servidor público titular de cargo efetivo poderá Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
ser readaptado para exercício de cargo cujas atribuições e instituirão conselho de política de administração e remuneração de
responsabilidades sejam compatíveis com a limitação que pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Po-
tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, enquanto deres.
permanecer nesta condição, desde que possua a habilitação e o §1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais
nível de escolaridade exigidos para o cargo de destino, mantida componentes do sistema remuneratório observará:
a remuneração do cargo de origem. (Incluído pela Emenda I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos
Constitucional nº 103, de 2019) cargos componentes de cada carreira;
§14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo II - os requisitos para a investidura;
de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública, III - as peculiaridades dos cargos.
inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o §2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas
rompimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição. de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos
§15. É vedada a complementação de aposentadorias de requisitos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a
servidores públicos e de pensões por morte a seus dependentes celebração de convênios ou contratos entre os entes federados.
que não seja decorrente do disposto nos §§14 a 16 do art. 40 ou que §3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o
não seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX,
social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados
de admissão quando a natureza do cargo o exigir.

50
NOÇÕES DE DIREITO

§4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os §3º As regras para cálculo de proventos de aposentadoria
Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão serão disciplinadas em lei do respectivo ente federativo. (Redação
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, §4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados
prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, para concessão de benefícios em regime próprio de previdência
obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. social, ressalvado o disposto nos §§4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. (Redação
§5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a menor §4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei complementar
remuneração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição
caso, o disposto no art. 37, XI. diferenciados para aposentadoria de servidores com deficiência,
§6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por
anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e equipe multiprofissional e interdisciplinar. (Incluído pela Emenda
empregos públicos. Constitucional nº 103, de 2019)
§7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos §4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complementar
Municípios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição
provenientes da economia com despesas correntes em cada diferenciados para aposentadoria de ocupantes do cargo de agente
órgão, autarquia e fundação, para aplicação no desenvolvimento penitenciário, de agente socioeducativo ou de policial dos órgãos
de programas de qualidade e produtividade, treinamento e de que tratam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do caput
desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e racionalização do art. 52 e os incisos I a IV do caput do art. 144. (Incluído pela
do serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
produtividade. §4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei complementar
§8º A remuneração dos servidores públicos organizados em do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição
carreira poderá ser fixada nos termos do §4º. diferenciados para aposentadoria de servidores cujas atividades
§9º É vedada a incorporação de vantagens de caráter sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos
e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes,
temporário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou
vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação.
de cargo em comissão à remuneração do cargo efetivo. (Incluído
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade mínima
Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores
reduzida em 5 (cinco) anos em relação às idades decorrentes da
titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário,
aplicação do disposto no inciso III do §1º, desde que comprovem
mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores
tempo de efetivo exercício das funções de magistério na
ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que
educação infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela complementar do respectivo ente federativo. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§1º O servidor abrangido por regime próprio de previdência §6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos
social será aposentado: (Redação dada pela Emenda Constitucional acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção
nº 103, de 2019) de mais de uma aposentadoria à conta de regime próprio de
I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em previdência social, aplicando-se outras vedações, regras e condições
que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese para a acumulação de benefícios previdenciários estabelecidas no
em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para Regime Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda
verificação da continuidade das condições que ensejaram a conces- Constitucional nº 103, de 2019)
são da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federa- §7º Observado o disposto no §2º do art. 201, quando se
tivo; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) tratar da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, o
II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo benefício de pensão por morte será concedido nos termos de lei do
de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta respectivo ente federativo, a qual tratará de forma diferenciada a
e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; hipótese de morte dos servidores de que trata o §4º-B decorrente
III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade, de agressão sofrida no exercício ou em razão da função. (Redação
se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na §8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para
idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Cons- preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme
tituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os critérios estabelecidos em lei.
demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo §9º O tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou
ente federativo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, municipal será contado para fins de aposentadoria, observado
de 2019) o disposto nos §§9º e 9º-A do art. 201, e o tempo de serviço
§2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores correspondente será contado para fins de disponibilidade. (Redação
ao valor mínimo a que se refere o §2º do art. 201 ou superiores dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ao limite máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência §10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem
Social, observado o disposto nos §§14 a 16. (Redação dada pela de tempo de contribuição fictício.
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) §11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total
dos proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes
da acumulação de cargos ou empregos públicos, bem como de

51
NOÇÕES DE DIREITO

outras atividades sujeitas a contribuição para o regime geral e de responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre outros
de previdência social, e ao montante resultante da adição de aspectos, sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de
proventos de inatividade com remuneração de cargo acumulável 2019)
na forma desta Constituição, cargo em comissão declarado em lei I - requisitos para sua extinção e consequente migração para o
de livre nomeação e exoneração, e de cargo eletivo. Regime Geral de Previdência Social; (Incluído pela Emenda Consti-
§12. Além do disposto neste artigo, serão observados, em tucional nº 103, de 2019)
regime próprio de previdência social, no que couber, os requisitos II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utilização dos re-
e critérios fixados para o Regime Geral de Previdência Social. cursos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) III - fiscalização pela União e controle externo e social; (Incluído
§13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; (Incluído pela
exoneração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ou de emprego público, o Regime Geral de Previdência Social. V - condições para instituição do fundo com finalidade previ-
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) denciária de que trata o art. 249 e para vinculação a ele dos recur-
§14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios sos provenientes de contribuições e dos bens, direitos e ativos de
instituirão, por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, qualquer natureza; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de
regime de previdência complementar para servidores públicos 2019)
ocupantes de cargo efetivo, observado o limite máximo dos VI - mecanismos de equacionamento do déficit atuarial; (Inclu-
benefícios do Regime Geral de Previdência Social para o valor das ído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
aposentadorias e das pensões em regime próprio de previdência VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do regime, ob-
social, ressalvado o disposto no §16. (Redação dada pela Emenda servados os princípios relacionados com governança, controle in-
Constitucional nº 103, de 2019) terno e transparência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103,
§15. O regime de previdência complementar de que trata o §14 de 2019)
oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contribuição VIII - condições e hipóteses para responsabilização daqueles
definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por que desempenhem atribuições relacionadas, direta ou indireta-
intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou mente, com a gestão do regime; (Incluído pela Emenda Constitucio-
de entidade aberta de previdência complementar. (Redação dada nal nº 103, de 2019)
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) IX - condições para adesão a consórcio público; (Incluído pela
§16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o disposto Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
nos §§14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressado X - parâmetros para apuração da base de cálculo e definição
no serviço público até a data da publicação do ato de instituição do de alíquota de contribuições ordinárias e extraordinárias. (Incluído
correspondente regime de previdência complementar. pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§17. Todos os valores de remuneração considerados para o Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os ser-
cálculo do benefício previsto no §3° serão devidamente atualizados, vidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de
na forma da lei. concurso público.
§18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentadorias §1º O servidor público estável só perderá o cargo:
e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo que I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegu-
geral de previdência social de que trata o art. 201, com percentual
rada ampla defesa;
igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos.
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desem-
§19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei do
penho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa.
respectivo ente federativo, o servidor titular de cargo efetivo
§2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor
que tenha completado as exigências para a aposentadoria
estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se
voluntária e que opte por permanecer em atividade poderá fazer
estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização,
jus a um abono de permanência equivalente, no máximo, ao
valor da sua contribuição previdenciária, até completar a idade aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com
para aposentadoria compulsória. (Redação dada pela Emenda remuneração proporcional ao tempo de serviço.
Constitucional nº 103, de 2019) §3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor
§20. É vedada a existência de mais de um regime próprio de estável ficará em disponibilidade, com remuneração proporcional
previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em outro
desse regime em cada ente federativo, abrangidos todos os cargo.
poderes, órgãos e entidades autárquicas e fundacionais, que serão §4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é
responsáveis pelo seu financiamento, observados os critérios, os obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão
parâmetros e a natureza jurídica definidos na lei complementar de instituída para essa finalidade.
que trata o §22. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103,
de 2019) – Estabilidade
§21. (Revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional A estabilidade é a garantia que o servidor público possui de
nº 103, de 2019) permanecer no cargo ou emprego público depois de ter sido apro-
§22. Vedada a instituição de novos regimes próprios de vado em estágio probatório.
previdência social, lei complementar federal estabelecerá, para os
que já existam, normas gerais de organização, de funcionamento

52
NOÇÕES DE DIREITO

De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello, a estabilidade poder ser definida como a garantia constitucional de permanência
no serviço público, do servidor público civil nomeado, em razão de concurso público, para titularizar cargo de provimento efetivo, após o
transcurso de estágio probatório.
A estabilidade é assegurada ao servidor após três anos de efetivo exercício, em virtude de nomeação em concurso público. Esse é o
estágio probatório citado pela lei.
Passada a fase do estágio, sendo o servidor público efetivado, ele perderá o cargo somente nas hipóteses elencadas no Artigo 41, §1º
da CF.
Haja vista o tema ser muito cobrado nas provas dos mais variados concursos públicos, segue a tabela explicativa:

ESTABILIDADE DO SERVIDOR
REQUISITOS PARA AQUISI- Cargo de provimento efetivo/ocupado em razão de concurso público
ÇÃO DE ESTABILIDADE 3 anos de efetivo exercício
Avaliação de desempenho por comissão instituída para esta finalidade
HIPÓTESES EM QUE O Em virtude de sentença judicial transitada em julgado
SERVIDOR ESTÁVEL PODE Mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa
PERDER O CARGO Mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar,
assegurada ampla defesa
Em razão de excesso de despesa

III - DIREITO ADMINISTRATIVO: CONCEITO, FONTES E PRINCÍPIOS

Conceito
De início, convém ressaltar que o estudo desse ramo do Direito, denota a distinção entre o Direito Administrativo, bem como entre as
normas e princípios que nele se inserem.
No entanto, o Direito Administrativo, como sistema jurídico de normas e princípios, somente veio a surgir com a instituição do Estado
de Direito, no momento em que o Poder criador do direito passou também a respeitá-lo. Tal fenômeno teve sua origem com os movimentos
constitucionalistas, cujo início se deu no final do século XVIII. Por meio do novo sistema, o Estado passou a ter órgãos específicos para o
exercício da Administração Pública e, por isso, foi necessário a desenvoltura do quadro normativo disciplinante das relações internas da
Administração, bem como das relações entre esta e os administrados. Assim sendo, pode considerar-se que foi a partir do século XIX que
o mundo jurídico abriu os olhos para a existência do Direito Administrativo.
Destaca-se ainda, que o Direito Administrativo foi formado a partir da teoria da separação dos poderes desenvolvida por Montesquieu,
L’Espirit des Lois, 1748, e acolhida de forma universal pelos Estados de Direito. Até esse momento, o absolutismo reinante e a junção
de todos os poderes governamentais nas mãos do Soberano não permitiam o desenvolvimento de quaisquer teorias que visassem a
reconhecer direitos aos súditos, e que se opusessem às ordens do Príncipe. Prevalecia o domínio operante da vontade onipotente do
Monarca.
Conceituar com precisão o Direito Administrativo é tarefa difícil, uma vez que o mesmo é marcado por divergências doutrinárias, o
que ocorre pelo fato de cada autor evidenciar os critérios que considera essenciais para a construção da definição mais apropriada para o
termo jurídico apropriado.
De antemão, ao entrar no fundamento de algumas definições do Direito Administrativo,
Considera-se importante denotar que o Estado desempenha três funções essenciais. São elas: Legislativa, Administrativa e
Jurisdicional.
Pondera-se que os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário são independentes, porém, em tese, harmônicos entre si. Os poderes
foram criados para desempenhar as funções do Estado. Desta forma, verifica-se o seguinte:

Funções do Estado:
– Legislativa
– Administrativa
– Jurisdicional

Poderes criados para desenvolver as funções do estado:


– Legislativo
– Executivo
– Judiciário

53
NOÇÕES DE DIREITO

Infere-se que cada poder exerce, de forma fundamental, uma das funções de Estado, é o que denominamos de FUNÇÃO TÍPICA.

PODER LEGISLATIVO PODER EXERCUTIVO PODER JUDICIÁRIO


Função típica Legislar Administrativa Judiciária
Redigir e organizar Julgar e solucionar conflitos
Administração e
Atribuição o regramento jurídico do por intermédio da interpretação e
gestão estatal
Estado aplicação das leis.

Além do exercício da função típica, cada poder pode ainda exercer as funções destinadas a outro poder, é o que denominamos de
exercício de FUNÇÃO ATÍPICA. Vejamos:

PODER LEGISLATIVO PODER EXERCUTIVO PODER JUDICIÁRIO


tem-se como função atípica tem-se por função tem-se por função atípica
desse poder, por ser típica do atípica desse poder, desse poder, por ser típica do
Poder Judiciário: O por ser típica do Poder Poder Executivo: Fazer licitação
Função atípica
julgamento do Presidente da Legislativo: A edição de para realizar a aquisição de
República Medida Provisória pelo equipamentos utilizados em
por crime de responsabilidade. Chefe do Executivo. regime interno.

Diante da difícil tarefa de conceituar o Direito Administrativo, uma vez que diversos são os conceitos utilizados pelos autores modernos
de Direito Administrativo, sendo que, alguns consideram apenas as atividades administrativas em si mesmas, ao passo que outros, optam
por dar ênfase aos fins desejados pelo Estado, abordaremos alguns dos principais posicionamentos de diferentes e importantes autores.
No entendimento de Carvalho Filho (2010), “o Direito Administrativo, com a evolução que o vem impulsionando contemporaneamente,
há de focar-se em dois tipos fundamentais de relações jurídicas, sendo, uma, de caráter interno, que existe entre as pessoas administrativas
e entre os órgãos que as compõem e, a outra, de caráter externo, que se forma entre o Estado e a coletividade em geral.” (2010, Carvalho
Filho, p. 26).
Como regra geral, o Direito Administrativo é conceituado como o ramo do direito público que cuida de princípios e regras que
disciplinam a função administrativa abrangendo entes, órgãos, agentes e atividades desempenhadas pela Administração Pública na
consecução do interesse público.
Vale lembrar que, como leciona DIEZ, o Direito Administrativo apresenta, ainda, três características principais:
1 – constitui um direito novo, já que se trata de disciplina recente com sistematização científica;
2 – espelha um direito mutável, porque ainda se encontra em contínua transformação;
3 – é um direito em formação, não se tendo, até o momento, concluído todo o seu ciclo de abrangência.

Entretanto, o Direito Administrativo também pode ser conceituado sob os aspectos de diferentes óticas, as quais, no deslindar desse
estudo, iremos abordar as principais e mais importantes para estudo, conhecimento e aplicação.
– Ótica Objetiva: Segundo os parâmetros da ótica objetiva, o Direito Administrativo é conceituado como o acoplado de normas que
regulamentam a atividade da Administração Pública de atendimento ao interesse público.
– Ótica Subjetiva: Sob o ângulo da ótica subjetiva, o Direito Administrativo é conceituado como um conjunto de normas que comandam
as relações internas da Administração Pública e as relações externas que são encadeadas entre elas e os administrados.

Nos moldes do conceito objetivo, o Direito Administrativo é tido como o objeto da relação jurídica travada, não levando em conta os
autores da relação.
O conceito de Direito Administrativo surge também como elemento próprio em um regime jurídico diferenciado, isso ocorre por que
em regra, as relações encadeadas pela Administração Pública ilustram evidente falta de equilíbrio entre as partes.
Para o professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Fernando Correia, o Direito Administrativo é o sistema de
normas jurídicas, diferenciadas das normas do direito privado, que regulam o funcionamento e a organização da Administração Pública,
bem como a função ou atividade administrativa dos órgãos administrativos.
Correia, o intitula como um corpo de normas de Direito Público, no qual os princípios, conceitos e institutos distanciam-se do Direito
Privado, posto que, as peculiaridades das normas de Direito Administrativo são manifestadas no reconhecimento à Administração Pública
de prerrogativas sem equivalente nas relações jurídico-privadas e na imposição, em decorrência do princípio da legalidade, de limitações
de atuação mais exatas do que as que auferem os negócios particulares.
Entende o renomado professor, que apenas com o aparecimento do Estado de Direito acoplado ao acolhimento do princípio da
separação dos poderes, é que seria possível se falar em Direito Administrativo.

54
NOÇÕES DE DIREITO

Oswaldo Aranha Bandeira de Mello aduz, em seu conceito São leis específicas do Direito Administrativo a Lei n. 8.666/1993
analítico, que o Direito Administrativo juridicamente falando, que regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal,
ordena a atividade do Estado quanto à organização, bem como institui normas para licitações e contratos da Administração Pública
quanto aos modos e aos meios da sua ação, quanto à forma da e dá outras providências; a Lei n. 8.112/1990, que dispõe sobre o
sua própria ação, ou seja, legislativa e executiva, por intermédio de regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias
atos jurídicos normativos ou concretos, na consecução do seu fim e das fundações públicas federais; a Lei n. 8.409/1992 que estima
de criação de utilidade pública, na qual participa de forma direta e a receita e fixa a despesa da União para o exercício financeiro de
imediata, e, ainda como das pessoas de direito que façam as vezes 1992 e a Lei n. 9.784/1999 que regula o processo administrativo no
do Estado. âmbito da Administração Pública Federal.
O Direito Administrativo tem importante papel na identificação
Observação importante: Note que os conceitos classificam do seu objeto e o seu próprio conceito e significado foi de grande
o Direito Administrativo como Ramo do Direito Público fazendo importância à época do entendimento do Estado francês em dividir
sempre referência ao interesse público, ao inverso do Direito as ações administrativas e as ações envolvendo o poder judiciário.
Privado, que cuida do regulamento das relações jurídicas entre Destaca-se na França, o sistema do contencioso administrativo
particulares, o Direito Público, tem por foco regular os interesses da com matéria de teor administrativo, sendo decidido no tribunal
sociedade, trabalhando em prol do interesse público. administrativo e transitando em julgado nesse mesmo tribunal.
Definir o objeto do Direito Administrativo é importante no sentido
Por fim, depreende-se que a busca por um conceito completo de compreender quais matérias serão julgadas pelo tribunal
de Direito Administrativo não é recente. Entretanto, a Administração administrativo, e não pelo Tribunal de Justiça.
Pública deve buscar a satisfação do interesse público como um todo, Depreende-se que com o passar do tempo, o objeto de estudo
uma vez que a sua natureza resta amparada a partir do momento do Direito Administrativo sofreu significativa e grande evolução,
que deixa de existir como fim em si mesmo, passando a existir como desde o momento em que era visto como um simples estudo
instrumento de realização do bem comum, visando o interesse das normas administrativas, passando pelo período do serviço
público, independentemente do conceito de Direito Administrativo público, da disciplina do bem público, até os dias contemporâneos,
escolhido. quando se ocupa em estudar e gerenciar os sujeitos e situações
que exercem e sofrem com a atividade do Estado, assim como
Objeto das funções e atividades desempenhadas pela Administração
De acordo com a ilibada autora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a Pública, fato que leva a compreender que o seu objeto de estudo
formação do Direito Administrativo como ramo autônomo, fadado é evolutivo e dinâmico acoplado com a atividade administrativa
de princípios e objeto próprios, teve início a partir do instante em que e o desenvolvimento do Estado. Destarte, em suma, seu objeto
o conceito de Estado de Direito começou a ser desenvolvido, com principal é o desempenho da função administrativa.
ampla estrutura sobre o princípio da legalidade e sobre o princípio
da separação de poderes. O Direito Administrativo Brasileiro não Fontes
surgiu antes do Direito Romano, do Germânico, do Francês e do Fonte significa origem. Neste tópico, iremos estudar a origem
Italiano. Diversos direitos contribuíram para a formação do Direito das regras que regem o Direito Administrativo.
Brasileiro, tais como: o francês, o inglês, o italiano, o alemão e Segundo Alexandre Sanches Cunha, “o termo fonte provém
outros. Isso, de certa forma, contribuiu para que o nosso Direito do latim fons, fontis, que implica o conceito de nascente de água.
pudesse captar os traços positivos desses direitos e reproduzi-los Entende-se por fonte tudo o que dá origem, o início de tudo. Fonte
de acordo com a nossa realidade histórica. do Direito nada mais é do que a origem do Direito, suas raízes
Atualmente, predomina, na definição do objeto do Direito históricas, de onde se cria (fonte material) e como se aplica (fonte
Administrativo, o critério funcional, como sendo o ramo do direito formal), ou seja, o processo de produção das normas. São fontes
que estuda a disciplina normativa da função administrativa, do direito: as leis, costumes, jurisprudência, doutrina, analogia,
independentemente de quem esteja encarregado de exercê-la: princípio geral do direito e equidade.” (CUNHA, 2012, p. 43).
Executivo, Legislativo, Judiciário ou particulares mediante delegação
estatal”, (MAZZA, 2013, p. 33). Fontes do Direito Administrativo:
Sendo o Direito Administrativo um ramo do Direito Público, o
entendimento que predomina no Brasil e na América Latina, ainda A) Lei
que incompleto, é que o objeto de estudo do Direito Administrativo A lei se estende desde a constituição e é a fonte primária e
é a Administração Pública atuante como função administrativa principal do DireitoAdministrativo e se estende desde a Constituição
ou organização administrativa, pessoas jurídicas, ou, ainda, como Federal em seus artigos 37 a 41, alcançando os atos administrativos
órgãos públicos. normativos inferiores. Desta forma, a lei como fonte do Direito
De maneira geral, o Direito é um conjunto de normas, Administrativo significa a lei em sentido amplo, ou seja, a lei
princípios e regras, compostas de coercibilidade disciplinantes da confeccionada pelo Parlamento, bem como os atos normativos
vida social como um todo. Enquanto ramo do Direito Público, o expedidos pela Administração, tais como: decretos, resoluções,
Direito Administrativo, nada mais é que, um conjunto de princípios incluindo tratados internacionais.
e regras que disciplina a função administrativa, as pessoas e os Desta maneira, sendo a Lei a fonte primária, formal e
órgãos que a exercem. Desta forma, considera-se como seu objeto, primordial do Direito Administrativo, acaba por prevalecer sobre
toda a estrutura administrativa, a qual deverá ser voltada para a as demais fontes. E isso, prevalece como regra geral, posto que as
satisfação dos interesses públicos. demais fontes que estudaremos a seguir, são consideradas fontes
secundárias, acessórias ou informais.

55
NOÇÕES DE DIREITO

A Lei pode ser subdividida da seguinte forma: D) Costumes


Costumes são condutas reiteradas. Assim sendo, cada país,
– Lei em sentido amplo Estado, cidade, povoado, comunidade, tribo ou população tem
Refere-se a todas as fontes com conteúdo normativo, tais os seus costumes, que via de regra, são diferentes em diversos
como: a Constituição Federal, lei ordinária, lei complementar, aspectos, porém, em se tratando do ordenamento jurídico, não
medida provisória, tratados internacionais, e atos administrativos poderão ultrapassar e ferir as leis soberanas da Carta Magna que
normativos (decretos, resoluções, regimentos etc.). regem o Estado como um todo.
Como fontes secundárias e atuantes no Direito Administrativo,
– Lei em sentido estrito os costumes administrativos são práticas reiteradas que devem
Refere-se à Lei feita pelo Parlamento, pelo Poder Legislativo por ser observadas pelos agentes públicos diante de determinadas
meio de lei ordinária e lei complementar. Engloba também, outras situações. Os costumes podem exercer influência no Direito
normas no mesmo nível como, por exemplo, a medida provisória Administrativo em decorrência da carência da legislação,
que possui o mesmo nível da lei ordinária. Pondera-se que todos consumando o sistema normativo, costume praeter legem, ou nas
mencionados são reputados como fonte primária (a lei) do Direito situações em que seria impossível legislar sobre todas as situações.
Administrativo. Os costumes não podem se opor à lei (contra legem), pois ela
é a fonte primordial do Direito Administrativo, devendo somente
B) Doutrina auxiliar à exata compreensão e incidência do sistema normativo.
Tem alto poder de influência como teses doutrinadoras nas
decisões administrativas, como no próprio Direito Administrativo. Exemplo:
A Doutrina visa indicar a melhor interpretação possível da norma Ao determinar a CFB/1988 que um concurso terá validade de
administrativa, indicando ainda, as possíveis soluções para até 2 anos, não pode um órgão, de forma alguma, atribuir por efeito
casos determinados e concretos. Auxilia muito o viver diário da de costume, prazo de até 10 anos, porque estaria contrariando
Administração Pública, posto que, muitas vezes é ela que conceitua, disposição expressa na Carta Magna, nossa Lei Maior e Soberana.
interpreta e explica os dispositivos da lei.
Ressalta-se, com veemente importância, que os costumes
Exemplo: podem gerar direitos para os administrados, em decorrência dos
A Lei n. 9.784/1999, aduz que provas protelatórias podem ser princípios da lealdade, boa-fé, moralidade administrativa, dentre
recusadas no processo administrativo. Desta forma, a doutrina outros, uma vez que um certo comportamento repetitivo da
explicará o que é prova protelatória, e a Administração Pública Administração Pública gera uma expectativa em sentido geral de
poderá usar o conceito doutrinário para recusar uma prova no que essa prática deverá ser seguida nas demais situações parecidas
processo administrativo.
– Observação importante: Existe divergência doutrinária
C) Jurisprudência em relação à aceitação dos costumes como fonte do Direito
Trata-se de decisões de um tribunal que estão na mesma Administrativo. No entanto, para concursos, e estudos correlatos,
direção, além de ser a reiteração de julgamentos no mesmo sentido. via de regra, deve ser compreendida como correta a tese no sentido
de que o costume é fonte secundária, acessória, indireta e imediata
Exemplo: do Direito Administrativo, tendo em vista que a fonte primária e
O Superior Tribunal de Justiça (STJ), possui determinada mediata é a Lei.
jurisprudência que afirma que candidato aprovado dentro do
número de vagas previsto no edital tem direito à nomeação, Nota - Sobre Súmulas Vinculantes
aduzindo que existem diversas decisões desse órgão ou tribunal Nos termos do art. 103 - A da Constituição Federal, ‘‘o Supremo
com o mesmo entendimento final. Tribunal Federal poderá, de ofício ou mediante provocação, por
decisão de dois terços de seus membros, após decisões reiteradas
— Observação importante: Por tratar-se de uma orientação aos que versam sobre matéria constitucional, aprovar súmulas que
demais órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública, a terão efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder
jurisprudência não é de seguimento obrigatório. Entretanto, com as Judiciário e à administração pública direta e indireta”.
alterações promovidas desde a CFB/1988, esse sistema orientador
da jurisprudência tem deixado de ser a regra. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA UNIÃO; ADMINIS-
TRAÇÃO DIRETA E INDIRETA
Exemplo:
Os efeitos vinculantes das decisões proferidas pelo Supremo
Tribunal Federal na ação direta de inconstitucionalidade (ADI), Administração direta e indireta
na ação declaratória constitucionalidade (ADC) e na arguição de A princípio, infere-se que Administração Direta é correspondente
descumprimento de preceito fundamental, e, em especial, com as aos órgãos que compõem a estrutura das pessoas federativas que
súmulas vinculantes, a partir da Emenda Constitucional nº. 45/2004. executam a atividade administrativa de maneira centralizada. O
Nesses ocorridos, as decisões do STF acabaram por vincular e obrigar vocábulo “Administração Direta” possui sentido abrangente vindo a
a Administração Pública direta e indireta dos Poderes da União, dos compreender todos os órgãos e agentes dos entes federados, tanto
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos termos dispostos os que fazem parte do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do
no art. 103-A da CF/1988. Poder Judiciário, que são os responsáveis por praticar a atividade
administrativa de maneira centralizada.

56
NOÇÕES DE DIREITO

Já a Administração Indireta, é equivalente às pessoas jurídicas a mais, o presidente da República deverá encaminhar projeto de
criadas pelos entes federados, que possuem ligação com as lei ao Congresso Nacional. Porém, caso esse órgão seja criado, sua
Administrações Diretas, cujo fulcro é praticar a função administrativa estruturação interna deverá ser feita por decreto. Na realidade,
de maneira descentralizada. todos os regimentos internos dos ministérios são realizados por
Tendo o Estado a convicção de que atividades podem ser intermédio de decreto, pelo fato de tal ato se tratar de organização
exercidas de forma mais eficaz por entidade autônoma e com interna do órgão. Vejamos:
personalidade jurídica própria, o Estado transfere tais atribuições – Órgão: é criado por meio de lei.
a particulares e, ainda pode criar outras pessoas jurídicas, de – Organização Interna: pode ser feita por DECRETO, desde
direito público ou de direito privado para esta finalidade. Optando que não provoque aumento de despesas, bem como a criação ou a
pela segunda opção, as novas entidades passarão a compor a extinção de outros órgãos.
Administração Indireta do ente que as criou e, por possuírem – Órgãos De Controle: Trata-se dos prepostos a fiscalizar e
como destino a execução especializado de certas atividades, são controlar a atividade de outros órgãos e agentes”. Exemplo: Tribunal
consideradas como sendo manifestação da descentralização por de Contas da União.
serviço, funcional ou técnica, de modo geral.
Pessoas administrativas
Desconcentração e Descentralização Explicita-se que as entidades administrativas são a própria
Consiste a desconcentração administrativa na distribuição Administração Indireta, composta de forma taxativa pelas
interna de competências, na esfera da mesma pessoa jurídica. Assim autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de
sendo, na desconcentração administrativa, o trabalho é distribuído economia mista.
entre os órgãos que integram a mesma instituição, fato que ocorre De forma contrária às pessoas políticas, tais entidades, nao
de forma diferente na descentralização administrativa, que impõe são reguladas pelo Direito Administrativo, não detendo poder
a distribuição de competência para outra pessoa, física ou jurídica. político e encontram-se vinculadas à entidade política que as criou.
Ocorre a desconcentração administrativa tanto na administração Não existe hierarquia entre as entidades da Administração Pública
direta como na administração indireta de todos os entes federativos indireta e os entes federativos que as criou. Ocorre, nesse sentido,
do Estado. Pode-se citar a título de exemplo de desconcentração uma vinculação administrativa em tais situações, de maneira que os
administrativa no âmbito da Administração Direta da União, os entes federativos somente conseguem manter-se no controle se as
vários ministérios e a Casa Civil da Presidência da República; em entidades da Administração Indireta estiverem desempenhando as
âmbito estadual, o Ministério Público e as secretarias estaduais, funções para as quais foram criadas de forma correta.
dentre outros; no âmbito municipal, as secretarias municipais e
as câmaras municipais; na administração indireta federal, as várias Pessoas políticas
agências do Banco do Brasil que são sociedade de economia mista, As pessoas políticas são os entes federativos previstos na
ou do INSS com localização em todos os Estados da Federação. Constituição Federal. São eles a União, os Estados, o Distrito Federal
Ocorre que a desconcentração enseja a existência de vários e os Municípios. Denota-se que tais pessoas ou entes, são regidos
órgãos, sejam eles órgãos da Administração Direta ou das pessoas pelo Direito Constitucional, vindo a deter uma parcela do poder
jurídicas da Administração Indireta, e devido ao fato desses órgãos político. Por esse motivo, afirma-se que tais entes são autônomos,
estarem dispostos de forma interna, segundo uma relação de vindo a se organizar de forma particular para alcançar as finalidades
subordinação de hierarquia, entende-se que a desconcentração avençadas na Constituição Federal.
administrativa está diretamente relacionada ao princípio da Assim sendo, não se confunde autonomia com soberania, pois,
hierarquia. ao passo que a autonomia consiste na possibilidade de cada um
Registra-se que na descentralização administrativa, ao invés dos entes federativos organizar-se de forma interna, elaborando
de executar suas atividades administrativas por si mesmo, o Estado suas leis e exercendo as competências que a eles são determinadas
transfere a execução dessas atividades para particulares e, ainda a pela Constituição Federal, a soberania nada mais é do que uma
outras pessoas jurídicas, de direito público ou privado. característica que se encontra presente somente no âmbito da
Explicita-se que, mesmo que o ente que se encontre distribuindo República Federativa do Brasil, que é formada pelos referidos entes
suas atribuições e detenha controle sobre as atividades ou serviços federativos.
transferidos, não existe relação de hierarquia entre a pessoa que
transfere e a que acolhe as atribuições. Autarquias
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público interno,
Criação, extinção e capacidade processual dos órgãos públicos criadas por lei específica para a execução de atividades especiais e
Os arts. 48, XI e 61, § 1º da CFB/1988 dispõem que a criação típicas da Administração Pública como um todo. Com as autarquias,
e a extinção de órgãos da administração pública dependem de lei a impressão que se tem, é a de que o Estado veio a descentralizar
de iniciativa privativa do chefe do Executivo a quem compete, de determinadas atividades para entidades eivadas de maior
forma privada, e por meio de decreto, dispor sobre a organização especialização.
e funcionamento desses órgãos públicos, quando não ensejar As autarquias são especializadas em sua área de atuação, dando
aumento de despesas nem criação ou extinção de órgãos públicos a ideia de que os serviços por elas prestados são feitos de forma
(art. 84, VI, b, CF/1988). Desta forma, para que haja a criação e mais eficaz e venham com isso, a atingir de maneira contundente a
extinção de órgãos, existe a necessidade de lei, no entanto, para sua finalidade, que é o bem comum da coletividade como um todo.
dispor sobre a organização e o funcionamento, denota-se que Por esse motivo, aduz-se que as autarquias são um serviço público
poderá ser utilizado ato normativo inferior à lei, que se trata do descentralizado. Assim, devido ao fato de prestarem esse serviço
decreto. Caso o Poder Executivo Federal desejar criar um Ministério público especializado, as autarquias acabam por se assemelhar

57
NOÇÕES DE DIREITO

em tudo o que lhes é possível, ao entidade estatal a que estiverem sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem
servindo. Assim sendo, as autarquias se encontram sujeitas ao atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de
mesmo regime jurídico que o Estado. Nos dizeres de Hely Lopes prestação de serviços, dispondo sobre:
Meirelles, as autarquias são uma “longa manus” do Estado, ou I – sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela
seja, são executoras de ordens determinadas pelo respectivo ente sociedade;
da Federação a que estão vinculadas. II – a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas,
As autarquias são criadas por lei específica, que de forma inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais,
obrigacional deverá ser de iniciativa do Chefe do Poder Executivo trabalhistas e tributários;
do ente federativo a que estiver vinculada. Explicita-se também III – licitação e contratação de obras, serviços, compras e
que a função administrativa, mesmo que esteja sendo exercida alienações, observados os princípios da Administração Pública;
tipicamente pelo Poder Executivo, pode vir a ser desempenhada, IV – a constituição e o funcionamento dos conselhos de
em regime totalmente atípico pelos demais Poderes da República. Administração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários;
Em tais situações, infere-se que é possível que sejam criadas V – os mandatos, a avaliação de desempenho e a
autarquias no âmbito do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, responsabilidade dos administradores
oportunidade na qual a iniciativa para a lei destinada à sua criação,
deverá, obrigatoriamente, segundo os parâmetros legais, ser feita Vejamos em síntese, algumas características em comum das
pelo respectivo Poder. empresas públicas e das sociedades de economia mista:
– Devem realizar concurso público para admissão de seus
— Empresas Públicas empregados;
– Não estão alcançadas pela exigência de obedecer ao teto
Sociedades de Economia Mista constitucional;
São a parte da Administração Indireta mais voltada para o – Estão sujeitas ao controle efetuado pelos Tribunais de Contas,
direito privado, sendo também chamadas pela maioria doutrinária bem como ao controle do Poder Legislativo;
de empresas estatais. – Não estão sujeitas à falência;
Tanto a empresas públicas, quanto as sociedades de economia – Devem obedecer às normas de licitação e contrato
mista, no que se refere à sua área de atuação, podem ser divididas administrativo no que se refere às suas atividades-meio;
entre prestadoras diversas de serviço público e plenamente – Devem obedecer à vedação à acumulação de cargos prevista
atuantes na atividade econômica de modo geral. Assim sendo, constitucionalmente;
obtemos dois tipos de empresas públicas e dois tipos de sociedades – Não podem exigir aprovação prévia, por parte do Poder
de economia mista. Legislativo, para nomeação ou exoneração de seus diretores.
Ressalta-se que ao passo que as empresas estatais exploradoras
de atividade econômica estão sob a égide, no plano constitucional, Fundações e outras entidades privadas delegatárias
pelo art. 173, sendo que a sua atividade se encontra regida pelo Identifica-se no processo de criação das fundações privadas,
direito privado de maneira prioritária, as empresas estatais duas características que se encontram presentes de forma
prestadoras de serviço público são reguladas, pelo mesmo diploma contundente, sendo elas a doação patrimonial por parte de um
legal, pelo art. 175, de maneira que sua atividade é regida de forma instituidor e a impossibilidade de terem finalidade lucrativa.
exclusiva e prioritária pelo direito público. O Decreto 200/1967 e a Constituição Federal Brasileira de
1988 conceituam Fundação Pública como sendo um ente de direito
– Observação importante: todas as empresas estatais, sejam predominantemente de direito privado, sendo que a Constituição
prestadoras de serviços públicos ou exploradoras de atividade Federal dá à Fundação o mesmo tratamento oferecido às Sociedades
econômica, possuem personalidade jurídica de direito privado. de Economia Mista e às Empresas Públicas, que permite autorização
O que diferencia as empresas estatais exploradoras de atividade da criação, por lei e não a criação direta por lei, como no caso das
econômica das empresas estatais prestadoras de serviço público é autarquias.
a atividade que exercem. Assim, sendo ela prestadora de serviço Entretanto, a doutrina majoritária e o STF aduzem que
público, a atividade desempenhada é regida pelo direito público, a Fundação Pública poderá ser criada de forma direta por meio
nos ditames do artigo 175 da Constituição Federal que determina de lei específica, adquirindo, desta forma, personalidade jurídica
que “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente de direito público, vindo a criar uma Autarquia Fundacional ou
ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de Fundação Autárquica.
licitação, a prestação de serviços públicos.” Já se for exploradora – Observação importante: a autarquia é definida como
de atividade econômica, como maneira de evitar que o princípio serviço personificado, ao passo que uma autarquia fundacional é
da livre concorrência reste-se prejudicado, as referidas atividades conceituada como sendo um patrimônio de forma personificada
deverão ser reguladas pelo direito privado, nos ditames do artigo destinado a uma finalidade específica de interesse social.
173 da Constituição Federal, que assim determina:
Vejamos como o Código Civil determina:
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, Art. 41 - São pessoas jurídicas de direito público interno:(...)
a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;
permitida quando necessária aos imperativos da segurança V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em
lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da

58
NOÇÕES DE DIREITO

No condizente à Constituição, denota-se que esta não faz III – promoção gratuita da educação, observando-se a forma
distinção entre as Fundações de direito público ou de direito complementar de participação das organizações de que trata esta
privado. O termo Fundação Pública é utilizado para diferenciar as Lei;
fundações da iniciativa privada, sem que haja qualquer tipo de IV – promoção gratuita da saúde, observando-se a forma
ligação com a Administração Pública. complementar de participação das organizações de que trata esta
No entanto, determinadas distinções poderão ser feitas, como Lei;
por exemplo, a imunidade tributária recíproca que é destinada V – promoção da segurança alimentar e nutricional;
somente às entidades de direito público como um todo. Registra-se VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente
que o foro de ambas é na Justiça Federal. e promoção do desenvolvimento sustentável; VII – promoção do
voluntariado;
— Delegação Social VIII – promoção do desenvolvimento econômico e social e
combate à pobreza;
Organizações sociais IX – experimentação, não lucrativa, de novos modelos
As organizações sociais são entidades privadas que recebem socioprodutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio,
o atributo de Organização Social. Várias são as entidades criadas emprego e crédito;
por particulares sob a forma de associação ou fundação que X – promoção de direitos estabelecidos, construção de novos
desempenham atividades de interesse público sem fins lucrativos. Ao direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;
passo que algumas existem e conseguem se manter sem nenhuma XI – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos
ligação com o Estado, existem outras que buscam se aproximar do humanos, da democracia e de outros valores universais;
Estado com o fito de receber verbas públicas ou bens públicos com XII – estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias
o objetivo de continuarem a desempenhar sua atividade social. Nos alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos
parâmetros da Lei 9.637/1998, o Poder Executivo Federal poderá técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas
constituir como Organizações Sociais pessoas jurídicas de direito neste artigo.
privado, que não sejam de fins lucrativos, cujas atividades sejam A lei das Oscips apresenta um rol de entidades que não podem
dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento
receber a qualificação. Vejamos:
tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à
cultura e à saúde, atendidos os requisitos da lei. Ressalte-se que
Art. 2º Não são passíveis de qualificação como Organizações
as entidades privadas que vierem a atuar nessas áreas poderão
da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem de
receber a qualificação de OSs.
qualquer forma às atividades descritas no art. 3º desta Lei:
Lembremos que a Lei 9.637/1998 teve como fulcro transferir os
I – as sociedades comerciais;
serviços que não são exclusivos do Estado para o setor privado, por
II – os sindicatos, as associações de classe ou de representação
intermédio da absorção de órgãos públicos, vindo a substituí-los por
entidades privadas. Tal fenômeno é conhecido como publicização. de categoria profissional;
Com a publicização, quando um órgão público é extinto, logo, outra III – as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação
entidade de direito privado o substitui no serviço anteriormente de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais;
prestado. Denota-se que o vínculo com o poder público para que IV – as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas
seja feita a qualificação da entidade como organização social é fundações;
estabelecido com a celebração de contrato de gestão. Outrossim, V – as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar
as Organizações Sociais podem receber recursos orçamentários, bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios;
utilização de bens públicos e servidores públicos. VI – as entidades e empresas que comercializam planos de
saúde e assemelhados;
Organizações da sociedade civil de interesse público VII – as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas
São conceituadas como pessoas jurídicas de direito privado, sem mantenedoras;
fins lucrativos, nas quais os objetivos sociais e normas estatutárias VIII – as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não
devem obedecer aos requisitos determinados pelo art. 3º da Lei gratuito e suas mantenedoras;
n. 9.790/1999. Denota-se que a qualificação é de competência do IX – as Organizações Sociais;
Ministério da Justiça e o seu âmbito de atuação é parecido com o da X – as cooperativas;
OS, entretanto, é mais amplo.
Vejamos: Por fim, registre-se que o vínculo de união entre a entidade e o
Estado é denominado termo de parceria e que para a qualificação de
Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em uma entidade como Oscip, é exigido que esta tenha sido constituída
qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no e se encontre em funcionamento regular há, pelo menos, três anos
respectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será nos termos do art. 1º, com redação dada pela Lei n. 13.019/2014. O
conferida às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, Tribunal de Contas da União tem entendido que o vínculo firmado
cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes pelo termo de parceria por órgãos ou entidades da Administração
finalidades: Pública com Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
I – promoção da assistência social; não é demandante de processo de licitação. De acordo com o
II – promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio que preceitua o art. 23 do Decreto n. 3.100/1999, deverá haver a
histórico e artístico; realização de concurso de projetos pelo órgão estatal interessado

59
NOÇÕES DE DIREITO

em construir parceria com Oscips para que venha a obter bens e privado. Acontece que pelo fato de estas gozarem normalmente
serviços para a realização de atividades, eventos, consultorias, de algum incentivo do setor público, também podem lhes ser
cooperação técnica e assessoria. aplicáveis algumas normas de direito público. Esse é o motivo pelo
qual a conceituada professora afirma que o regime jurídico aplicado
Entidades de utilidade pública às entidades que integram o Terceiro Setor é de direito privado,
O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado trouxe podendo ser modificado de maneira parcial por normas de direito
em seu bojo, dentre várias diretrizes, a publicização dos serviços público.
estatais não exclusivos, ou seja, a transferência destes serviços para
o setor público não estatal, o denominado Terceiro Setor. AGENTES PÚBLICOS: PODERES, DEVERES E PRERROGA-
Podemos incluir entre as entidades que compõem o Terceiro TIVAS; CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO PÚBLICOS; REGIME
Setor, aquelas que são declaradas como sendo de utilidade pública, JURÍDICO ÚNICO (LEI Nº 8.112/1990 E SUAS ALTERA-
os serviços sociais autônomos, como SESI, SESC, SENAI, por exemplo, ÇÕES): PROVIMENTO, VACÂNCIA, REMOÇÃO, REDISTRI-
as organizações sociais (OS) e as organizações da sociedade civil de BUIÇÃO E SUBSTITUIÇÃO; DIREITOS E VANTAGENS; REGI-
interesse público (OSCIP). ME DISCIPLINAR; RESPONSABILIDADE CIVIL, CRIMINAL E
É importante explicitar que o crescimento do terceiro setor ADMINISTRATIVA
está diretamente ligado à aplicação do princípio da subsidiariedade
na esfera da Administração Pública. Por meio do princípio da
subsidiariedade, cabe de forma primária aos indivíduos e às Conceito
organizações civis o atendimento dos interesses individuais e A Constituição Federal Brasileira de 1988 trouxe em seu bojo,
coletivos. Assim sendo, o Estado atua apenas de forma subsidiária várias regras de organização do Estado brasileiro, dentre elas, as
nas demandas que, devido à sua própria natureza e complexidade, concernentes à Administração Pública e seus agentes como um
não puderam ser atendidas de maneira primária pela sociedade. todo.
Dessa maneira, o limite de ação do Estado se encontraria na A designação “agente público” tem sentido amplo e serve
autossuficiência da sociedade. para conceituar qualquer pessoa física exercente de função
Em relação ao Terceiro Setor, o Plano Diretor do Aparelho do pública, de forma remunerada ou gratuita, de natureza política ou
Estado previa de forma explícita a publicização de serviços públicos administrativa, com investidura definitiva ou transitória.
estatais que não são exclusivos. A expressão publicização significa
a transferência, do Estado para o Terceiro Setor, ou seja um setor Espécies (classificação)
público não estatal, da execução de serviços que não são exclusivos Maria Sylvia Zanella Di Pietro, entende que quatro são as
do Estado, vindo a estabelecer um sistema de parceria entre o categorias de agentes públicos: agentes políticos, servidores
Estado e a sociedade para o seu financiamento e controle, como um públicos civis, militares e particulares em colaboração com o serviço
todo. Tal parceria foi posteriormente modernizada com as leis que público.
instituíram as organizações sociais e as organizações da sociedade Vejamos cada classificação detalhadamente:
civil de interesse público.
O termo publicização também é atribuído a um segundo sentido – Agentes políticos
adotado por algumas correntes doutrinárias, que corresponde à Exercem atividades típicas de governo e possuem a incumbência
transformação de entidades públicas em entidades privadas sem de propor ou decidir as diretrizes políticas dos entes públicos.
fins lucrativos. Nesse patamar estão inclusos os chefes do Poder Executivo federal,
No que condizente às características das entidades que estadual e municipal e de seus auxiliares diretos, quais sejam,
compõem o Terceiro Setor, a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro os Ministros e Secretários de Governo e os membros do Poder
entende que todas elas possuem os mesmos traços, sendo eles: Legislativo como Senadores, Deputados e Vereadores.
1. Não são criadas pelo Estado, ainda que algumas delas De forma geral, os agentes políticos exercem mandato eletivo,
tenham sido autorizadas por lei; com exceção dos Ministros e Secretários que são ocupantes de
2. Em regra, desempenham atividade privada de interesse cargos comissionados, de livre nomeação e exoneração.
público (serviços sociais não exclusivos do Estado); Autores como Hely Lopes Meirelles, acabaram por enfatizar
3. Recebem algum tipo de incentivo do Poder Público; de forma ampla a categoria de agentes políticos, de forma a
4. Muitas possuem algum vínculo com o Poder Público e, transparecer que os demais agentes que exercem, com alto grau de
por isso, são obrigadas a prestar contas dos recursos públicos à autonomia, categorias da soberania do Estado em decorrência de
Administração previsão constitucional, como é o caso dos membros do Ministério
5. Pública e ao Tribunal de Contas; Público, da Magistratura e dos Tribunais de Contas.
6. Possuem regime jurídico de direito privado, porém derrogado
parcialmente por normas direito público; – Servidores Públicos Civis
De forma geral, servidor público são todas as pessoas físicas
Assim, estas entidades integram o Terceiro Setor pelo fato que prestadoras de serviços às entidades federativas ou as pessoas
de não se enquadrarem inteiramente como entidades privadas e jurídicas da Administração Indireta em função da relação de
também porque não integram a Administração Pública Direta ou trabalho que ocupam e com remuneração ou subsídio pagos pelos
Indireta. cofres públicos, vindo a compor o quadro funcional dessas pessoas
Convém mencionar que, como as entidades do Terceiro Setor jurídicas.
são constituídas sob a forma de pessoa jurídica de direito privado,
seu regime jurídico, normalmente, via regra geral, é de direito

60
NOÇÕES DE DIREITO

Depreende-se que alguns autores dividem os servidores públicos ser cometidas a um servidor”. Via de regra, podemos considerar
em civis e militares. Pelo fato de termos adotado a classificação o cargo como sendo uma posição na estrutura organizacional da
aludida por Maria Sylvia Zanella Di Pietro, trataremos os servidores Administração Pública a ser preenchido por um servidor público.
militares como sendo uma categoria à parte, designando-os apenas Em geral, os cargos públicos somente podem ser criados,
de militares, e, por conseguinte, usando a expressão servidores transformados e extinguidos por força de lei.
públicos para se referir somente aos servidores públicos civis. Ao Poder Legislativo, caberá, mediante sanção do chefe do
De acordo com as regras e normas pelas quais são regidos, Poder Executivo, dispor sobre a criação, transformação e extinção
os servidores públicos civis podem ser subdivididos da seguinte de cargos, empregos e funções públicas.
maneira: Em se tratando de cargos do Poder Legislativo, a criação não
– Servidores estatutários: ocupam cargo público e são regidos depende de temos exatos de lei, mas, sim de uma norma que
pelo regime estatutário. mesmo possuindo hierarquia de lei, não depende de sanção ou
– Servidores ou empregados públicos: são os servidores veto do chefe do Executivo. É o que chamamos de Resoluções, que
contratados sob o regime da CLT e ocupantes de empregos públicos. são leis sem sanção.
– Servidores temporários: são os contratados por determinado A despeito da criação de cargos, vejamos:
período de tempo com o objetivo de atender à necessidade a) Cargos do Poder Executivo: a iniciativa é privativa do chefe
temporária de excepcional interesse público. Exercem funções desse Poder (CF, art. 61, § 1º, II, “a”).
públicas, mas não ocupam cargo ou emprego público. São regidos b) Cargos do Poder Judiciário: dos Tribunais de Contas e
por regime jurídico especial e disciplinado em lei de cada unidade do Ministério Público a lei em questão, partirá de iniciativa dos
federativa. respectivos Tribunais ou Procuradores-Gerais em se tratando da
– Servidores militares: antes do advento da EC 19/1998, os criação de cargos para o Ministério Público.
militares eram tratados como “servidores militares”. Militares são c) Cargos do Legislativo: os cargos serão criados, extintos ou
aqueles que prestam serviços às Forças Armadas como a Marinha, transformados por atos normativos de âmbito interno desse Poder
o Exército e a Aeronáutica, às Polícias Militares ou aos Corpos de (Resoluções), sendo sua iniciativa da respectiva Mesa Diretora.
Bombeiros Militares dos Estados, Distrito Federal e dos territórios,
que estão sob vínculo jurídico estatutário e são remunerados pelos Embora sejam criados por lei, os cargos ou funções públicas, se
cofres públicos. Por estarem submetidos a um regime jurídico estiverem vagos, podem ser extintos por intermédio de lei ou por
estatutário disciplinado em lei por lei, os militares estão submetidos decreto do chefe do Poder Executivo. No entanto, se o cargo estiver
à regras jurídicas diferentes das aplicadas aos servidores civis ocupado, só poderá ser extinto por lei.
estatutários, justificando, desta forma, o enquadramento em uma Os cargos podem ser organizados em carreira ou isolados.
categoria propícia de agentes públicos. Vejamos:
Destaca-se que a Constituição Federal assegurou aos militares – Cargos organizados em carreira: são cargos cujos ocupantes
alguns direitos sociais conferidos aos trabalhadores de forma geral, podem percorrer várias classes ao longo da sua vida funcional, em
são eles: o 13º salário; o salário-família, férias anuais remuneradas razão do regime de progressão do servidor na carreira.
com acréscimo ao menos um terço da remuneração normal; – Cargos isolados: não permitem a progressão funcional de
licença à gestante com a duração de 120 dias; licença paternidade seus titulares.
e assistência gratuita aos filhos e demais dependentes desde o
nascimento até cinco anos de idade em creches e pré-escolas. Em relação às garantias e características especiais que lhe são
Ademais, os servidores militares estão submetidos por força conferidas, os cargos podem ser classificados em vitalícios, efetivos;
da Constituição Federal a determinadas regras próprias dos e comissionados. Vejamos:
servidores públicos civis, como por exemplo: teto remuneratório, – Cargos vitalícios e cargos efetivos: oferecem garantia de
irredutibilidade de vencimentos, dentre outras peculiaridades. permanência aos seus ocupantes. De forma geral, a nomeação
Embora haja tais assimilações, aos militares são aplicadas para esses cargos é dependente de prévia aprovação em concurso
algumas vedações que constituem direito dos demais agentes público.
públicos, como por exemplo, os casos da sindicalização, bem como – Cargos em comissão ou comissionados: de acordo com o
da greve e, quando estiverem em serviço ativo, da filiação a partidos art. 37, V, da CF, os cargos comissionados se destinam apenas às
políticos. atribuições de direção, chefia e assessoramento. São ocupados
de maneira temporária, em função da confiança depositada pela
— Cargo, Emprego e Função Pública autoridade nomeante. A nomeação para esse tipo de cargo não
Para que haja melhor organização na Administração Pública, depende de aprovação em concurso público, podendo a exoneração
os servidores públicos são amparados e organizados a partir de do seu ocupante pode ser feita a qualquer tempo, a critério da
quadros funcionais. Quadro funcional é o acoplado de cargos, autoridade nomeante.
empregos e funções públicas de um mesmo ente federado, de uma
pessoa jurídica da Administração Indireta de ou de seus órgãos Emprego
internos. Os empregos públicos são entidades de atribuições com o fito
de serem ocupadas por servidores regidos sob o regime da CLT, que
Cargo também chamados de celetistas ou empregados públicos.
O art. 3º do Estatuto dos Servidores Civis da União da Lei A diferença entre cargo e emprego público consiste no vínculo
8.112/1990 conceitua cargo público como “o conjunto de atribuições que liga o servidor ao Estado. Ressalta-se que o vínculo jurídico do
e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem empregado público é de natureza contratual, ao passo que o do
servidor titular de cargo público é de natureza estatutária.

61
NOÇÕES DE DIREITO

No âmbito das pessoas de Direito Público como a União, os Entretanto, uma vez realizada a nomeação do candidato, este
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, bem como em suas ato não lhe atribui a qualidade de servidor público, mas apenas
autarquias e fundações públicas de direito público, levando em a garantia de ocupação do referido cargo. Para que se torne
conta a restauração da redação originária do caput do art. 39 da servidor público, o particular deverá assinar o termo de posse, se
CF/1988 (ADIn 2135 MC/DF), afirma-se que o regime a ser adotado submetendo a todas as normas estatuárias da instituição.
é o estatutário. Entretanto, é plenamente possível a convivência O provimento do cargo ocorre com a nomeação, mas a
entre o regime estatutário e o celetista relativo aos entes que, investidura no cargo acontece com a posse nos termos do art. 7°da
anteriormente à concessão da medida cautelar mencionada, Lei 8.112/90.
tenham realizado contratações e admissões no regime de emprego De acordo com a Lei Federal, o prazo máximo para a posse
público. No tocante às pessoas de Direito Privado da Administração é de 30 (trinta) dias, contados a partir da publicação do ato de
Indireta como as empresas públicas, sociedades de economia mista provimento, nos termos do art. 13, §1°, sendo que, desde haja a
e fundações públicas de direito privado, infere-se que somente é devida comprovação, a legislação admite que a posse ocorra por
possível a existência de empregados públicos, nos termos legais. meio de procuração específica, conforme disposto no art. 13, §3°
da lei 8.112/90.
Função Pública Havendo a efetivação da posse dentro do prazo legal, o servidor
Função pública também é uma espécie de ocupação de agente público federal terá o prazo máximo de 15 (dias) dias para iniciar a
público. Denota-se que ao lado dos cargos e empregos públicos exercer as funções do cargo, nos trâmites do art. 15, §1° do Estatuto
existem determinadas atribuições que também são exercidas dos Servidores Públicos da União, das Autarquias e das Fundações
por servidores públicos, mas no entanto, essas funções não Públicas Federais, Lei 8112/90, sendo que não sendo respeitado
compõem a lista de atribuições de determinado cargo ou emprego este prazo, o agente poderá ser exonerado. Vejamos:
público, como por exemplo, das funções exercidas por servidores Art. 15. § 2º - O servidor será exonerado do cargo ou será
contratados temporariamente, em razão de excepcional interesse tornado sem efeito o ato de sua designação para função de
público, com base no art. 37, IX, da CFB/88. confiança, se não entrar em exercício nos prazos previstos neste
Esse tipo de servidor ocupa funções temporárias, artigo, observado o disposto no art. 18. (Redação dada pela Lei n.
desempenhando suas funções sem titularizar cargo ou emprego 9.527, de 10.12.97).
público. Além disso, existem funções de chefia, direção e Ademais, se o candidato for nomeado e não se apresentar para
assessoramento para as quais o legislador não cria o cargo posse, no prazo de determinado por lei, não ocorrerá exoneração,
respectivo, já que serão exercidas com exclusividade por ocupantes tendo em vista ainda não havia sido investido na qualidade de
de cargos efetivos, nos termos do art. 37, V, da CFB/88. servidor. Assim sendo, o ato de nomeação se torna sem efeito, vindo
– Observação importante: nos parâmetros do art. 37, V da a ficar vago o cargo que havia sido ocupado pelo ato de nomeação.
CFB/88, da mesma forma que previsto para os cargos em comissão,
as funções de confiança destinam-se apenas às atribuições de – Provimento Derivado: o cargo público deverá ser entregue a
direção, chefia e assessoramento. um servidor que já tenha uma relação anterior com a Administração
Pública e que se encontra exercendo funções na carreira em que
Regimente Jurídico pretende assumir o novo cargo. Denota-se que provimento derivado
somente será possível de ser concretizado, se o agente provier
– Provimento de outros cargos na mesma carreira em que houve provimento
Provimento é a forma de ocupação do cargo público pelo originário anterior. Não pode haver provimento derivado em outra
servidor. Além disso, é um ato administrativo por intermédio do carreira.
qual ocorre o preenchimento de cargo, por conseguinte, atribuindo Nesses casos, deverá haver a realização de concurso público
as funções a ele específicas e inerentes a uma determinada pessoa. de provas ou de provas e títulos, para que se faça novo provimento
Tanto a doutrina quanto a lei dividem as espécies de provimento de originário. A permissão para que o agente ingresse em nova carreira
cargos públicos em dois grupos. São eles: por meio de provimento derivado violaria os princípios da isonomia
– Provimento originário: é ato administrativo que designa um e da impessoalidade, mediante os benefícios oferecidos de forma
cargo a servidor que antes não integrava o quadro de servidores defesa. Nesse diapasão, vejamos o que estabelece a súmula
daquele órgão, ou seja, o agente está iniciando a carreira pública. vinculante nº 43 do Supremo Tribunal Federal
O provimento originário é a única forma de nomeação
– Súmula 43 do STF: É inconstitucional toda modalidade
reconhecida pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro, isso, é claro,
de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia
ressalte-se, dependendo de prévia habilitação em concurso público
aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em
de provas ou de provas e títulos, obedecidos, nos termos da lei, cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.
a ordem de classificação e o prazo de sua validade. Destaque-
se que o momento da nomeação configura discricionariedade Assim sendo, analisaremos as espécies de provimento derivado
do administrador, na qual devem ser respeitados os prazos do permitidas no ordenamento Jurídico Brasileiro e suas características
concurso público, nos moldes do art. 9° e seguintes da Lei 8112/90, específicas. Vejamos:
devendo, por conseguinte, ainda ser feita uma análise a respeito
dos requisitos para a ocupação do cargo. – Provimento derivado vertical: é a promoção na carreira
ensejando a garantia de o servidor público ocupar cargos mais
altos, na carreira de ingresso, de forma alternada por antiguidade
e merecimento. Para que isso ocorra, é necessário que ele tenha

62
NOÇÕES DE DIREITO

ingressado, mediante aprovação em concurso público no serviço da atividade, que a aposentadoria tenha se dado nos cinco anos
público, bem como mediante assunção de cargo escalonado em anteriores à solicitação e também que haja cargo vago, no momento
carreira. da petição de reversão.
Denota-se que a escolha do servidor a progredir na carreira
deve ser realiza por critérios de antiguidade e merecimento e de b) Reintegração: trata-se de provimento derivado que requer
forma alternada por critérios de antiguidade e merecimento. o retorno do servidor público estável ao cargo que ocupava
Destaque-se que, intermédio de promoção, não será possível anteriormente, em decorrência da anulação do ato de demissão.
assumir um cargo em outra carreira mais elevada. Como por Ocorre a reintegração quando tornada sem validade a
exemplo, ao ser promovido do cargo de técnico do Tribunal para o demissão do servidor estável por decisão judicial ou administrativa,
cargo de analista do mesmo órgão. Isso não é possível, uma vez que ponderando que o reintegrado terá o direito de ser indenizado por
tal situação significaria a possibilidade de mudança de carreira sem tudo que deixou de ganhar em consequência da demissão ilegal.
a realização de concurso público, o que ensejaria a ascensão que foi
abolida pela Constituição Federal de 1988. c) Recondução: conforme dispõe o art. 29, da lei 8.112/90, trata-
se a recondução do retorno do servidor ao cargo anteriormente
– Provimento derivado horizontal: trata-se da readaptação ocupado por ele, podendo ocorrer em duas hipóteses:
disposta no art. 24 da Lei 8112/90. É o aproveitamento do servidor – Inabilitação em estágio probatório relacionado a outro cargo:
em um novo cargo, em decorrência de uma limitação sofrida por quando o servidor público retorna à carreira anterior na qual já
este na capacidade física ou mental. Em ocorrendo esta hipótese, havia adquirido estabilidade, evitando assim, sua exoneração do
o agente deverá ser readaptado vindo a assumir um novo cargo, serviço público.
no qual as funções sejam compatíveis com as limitações que – Reintegração do anterior ocupante: cuida-se de situação
sofreu em sua capacidade laboral, dependendo a verificação desta exposta, na situação prática apresentada anteriormente, através
limitação mediante a apresentação de laudo laboral expedido por da qual, o servidor público ocupa cargo de outro servidor que é
junta médica oficial, que ateste demonstrando detalhadamente posteriormente reintegrado.
a impossibilidade de o agente se manter no exercício de suas – Observação importante: A recondução não gera direito à
atividades de trabalho.
percepção de indenização, em nenhuma das duas hipóteses. Assim,
Na fase de readaptação ficará garantida o recebimento de
o servidor público retornará ao cargo de origem, percebendo a
vencimentos, não podendo haver alteração do subsídio recebido
remuneração deste cargo.
pelo servidor em virtude da readaptação.
d) Aproveitamento: é retorno do servidor público que se
– Observação importante: esta modalidade de provimento
encontra em disponibilidade, para assumir cargo com funções
derivado independe da existência de cargo vago na carreira,
compatíveis com as que anteriormente exercia, antes de ter extinto
porque ainda que este não exista, o servidor sempre terá direito
de ser readaptado e poderá exercer suas funções no novo cargo o cargo que antes ocupava.
como excedente. Caso não haja nenhum cargo na carreira, com Isso ocorre, por que a Carta Magna prevê que havendo a extinção
funções compatíveis, o servidor poderá ser aposentado por ou declaração de desnecessidade de determinado cargo público, o
invalidez. Para que haja readaptação, não há necessidade de a servidor público estável ocupante do cargo não deverá ser demitido
limitação ter ocorrido por causa do exercício do labor ou da função. ou exonerado, mas sim ser removido para a disponibilidade. Nesses
A princípio, independentemente de culpa, o servidor tem direito a casos, o servidor deixará de exercer as funções de forma temporária,
ser readaptado. mantendo o vínculo com a administração pública.

– Provimento derivado por reingresso: ocorre quando o Destaque-se que não há prazo para o término da disponibilidade,
servidor de alguma forma, deixou de atuar no labor das funções porém, por lei, o servidor tem a garantia de que, surgindo novo
de cargo específico e retorna às suas atividades. Esse provimento cargo vago compatível com o que ocupava, seu aproveitamento
pode ocorrer de quatro formas. São elas: será obrigatório.
a) Reversão: nos termos do art. 25 da Lei 8.112/90, é o retorno
do servidor público aposentado ao exercício do cargo público. A – Observação importante: o aproveitamento é obrigatório
reversão pode ocorrer por meio da aposentadoria por invalidez, tanto para o poder público quanto para o agente. Isso ocorre
quando cessarem os motivos da invalidez. Neste caso, por meio de porque a Administração Pública não pode deixar de executar o
laudo médico oficial, o poder público toma conhecimento de que aproveitamento para nomear novos candidatos, da mesma forma
os motivos que ensejaram a aposentadoria do servidor se tornaram que o servidor não poderá optar por ficar em disponibilidade, vindo
insubsistentes, do que resulta a obrigatoriedade de retorno do a recusar o aproveitamento.
servidor ao cargo.
Também pode ocorrer a reversão do servidor aposentado – Vacância
de forma voluntária. Dessa maneira, atendidos os requisitos As situações de vacância são as hipóteses de desocupação do
dispostos em lei, a legislação ordena que havendo interesse da cargo público. Vacância é o termo utilizado para designar cargo
Administração Pública, que o servidor tenha requerido a reversão, público vago. É um fato administrativo que informa que o cargo
que a aposentadoria tenha sido de forma voluntária, que o agente público não está provido e poderá preenchido por novo agente.
público já tivesse, antes, adquirido estabilidade quando no exercício

63
NOÇÕES DE DIREITO

A lei dispõe sete hipóteses de vacância. São elas: fazendo o servidor a opção, após a concessão de prazo de dez dias,
a) Aposentadoria: acontece quando mediante ato praticado por conseguinte, o poder público poderá instaurar, nos termos da
pela Administração Pública, o servidor público passa para a lei, processo administrativo sumário, pugnando na aplicação da
inatividade. No Regime Próprio de Previdência do Servidor Público, penalidade de demissão do servidor.
a aposentadoria pode-se dar voluntariamente, compulsoriamente
ou por invalidez, devendo ser aprovada pelo Tribunal de Contas – Efetividade
para que tenha validade. A aposentadoria pode ocorrer pelas A efetividade não se confunde com a estabilidade. Ao passo
seguintes maneiras: que a estabilidade é a garantia constitucional disposta no art.14,
que garante a permanência no serviço público outorgada ao
– Falecimento servidor que, no ato de nomeação por concurso público para cargo
Quando se tratar de fato administrativo alheio ao interesse de provimento efetivo, tenha transposto o período de estágio
do servidor ou da Administração Pública, torna inevitavelmente probatório e aprovado numa avaliação específica e especial de
inviável a ocupação do cargo. desempenho, a efetividade é a situação jurídica daquele servidor
que ocupa cargo de provimento efetivo.
– Exoneração Os cargos de provimento efetivo são aqueles que só podem ser
Acontece sempre que o desfazimento do vínculo com o poder titularizados por servidores estatutários. Sua nomeação depende
público ocorre por situação prevista em lei, sem penalidades, dando explicitamente da aprovação em concurso público.
fim à relação jurídica funcional que havia tido início com a posse. Ao ingressar no serviço público, o servidor ao ocupar cargo
de provimento efetivo, já é considerado um servidor efetivo.
Ressalte-se que a exoneração pode ocorrer a pedido do Entretanto, o mencionado servidor efetivo só terá garantida sua
servidor, situação na qual, por vontade do agente público, o vínculo permanência no serviço público, a estabilidade, depois de três anos
se restará desfeito e o cargo vago. de exercício, desde que seja aprovado no estágio probatório.
b) Demissão: será cabível todas as vezes em que o servidor
cometer infração funcional, prevista em lei e será punível com a – Criação, transformação e extinção de cargos, empregos e
perda do cargo público. A demissão está disposta na lei 8.112/90 funções
em forma de sanção aplicada ao servidor que cometer. Via de regra, os cargos públicos apenas podem ser criados,
Quaisquer das infrações dispostas no art. 132 que transformados ou extintos por determinação de lei. Cabe ao Poder
são configuradas como condutas consideradas graves. Em Legislativo, com o sancionamento do chefe do Poder Executivo,
determinados casos, definidos pelo legislador, a demissão proporá dispor sobre a criação, transformação e extinção de cargos,
de forma automática a indisponibilidade dos bens do servidor até empregos e funções públicas.Em se tratando de cargos do Poder
que esse faça os devidos ressarcimentos ao erário. Em se tratando Legislativo, o processo de criação não depende apenas de lei,
de situações mais extremas, o legislador vedará por completo a o mas sim de uma norma que mesmo apesar de possuir a mesma
retorno do servidor ao serviço público. hierarquia de lei, não está na dependência de deliberação executiva
A penalidade deverá ser por meio de processo administrativo com sanção ou veto do chefe do Executivo. Referidas normas, em
disciplinar no qual se observe o direito ao contraditório e a ampla geral, são chamadas de Resoluções.
defesa. Denota-se que é a norma criadora do cargo a responsável pela
denominação, as atribuições e a remuneração correspondentes aos
c) Readaptação: é a de investidura do servidor em cargo de cargos públicos, nos termos da lei.
atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que Uma questão de suma relevância, é a iniciativa da lei que cria,
tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, comprovada extingue ou transforma cargos. A despeito da criação de cargos,
em inspeção minuciosamente realizada por junta médica oficial do vejamos:
órgão competente. – Cargos do Poder Executivo: a iniciativa é privativa do chefe
O servidor que for readaptado, assumindo o novo cargo desde desse Poder (CF, art. 61, § 1º, II, “a”).
que seja com funções compatíveis com sua nova situação, deverá – Cargos do Poder Judiciário: dos Tribunais de Contas e
retornar ao cargo anteriormente ocupado. Assim, a readaptação do Ministério Público a lei em questão, partirá de iniciativa dos
ensejará o provimento de um cargo e, por conseguinte, a vacância respectivos Tribunais ou Procuradores-Gerais em se tratando da
de outro, acopladas num só ato. criação de cargos para o Ministério Público.
– Cargos do Legislativo: os cargos serão criados, extintos ou
d) Promoção: ocorre no momento em que o servidor público, transformados por atos normativos de âmbito interno desse Poder
por antiguidade e merecimento, alternadamente, passa a assumir (Resoluções), sendo sua iniciativa da respectiva Mesa Diretora.
cargo mais elevado na carreira de ingresso.
Embora sejam criados por lei, os cargos ou funções públicas, se
e) Posse em cargo inacumulável: todas as vezes que o servidor estiverem vagos, podem ser extintos por intermédio de lei ou por
tomar posse em cargo ou emprego público de carreira nova, decreto do chefe do Poder Executivo. No entanto, se o cargo estiver
mediante aprovação em concurso público de provas ou de provas ocupado, só poderá ser extinto por lei.
e títulos, de forma que o novo cargo não seja acumulável com o
primeiro.
Ocorrendo isso, em decorrência da vedação estabelecida
pela Carta Magna de acumulação de cargos e empregos públicos,
será necessária a vacância do cargo anteriormente ocupado. Não

64
NOÇÕES DE DIREITO

Os cargos podem ser organizados em carreira ou isolados. O termo “subsídio”, o qual o texto do inciso X do art. 3
Vejamos: 7 menciona, é um tipo de remuneração inserida em nosso
– Cargos organizados em carreira: são cargos cujos ocupantes ordenamento jurídico através da EC 19/1998, que é de medida
podem percorrer várias classes ao longo da sua vida funcional, em obrigatória para alguns cargos e facultativa para outros.
razão do regime de progressão do servidor na carreira. Nos parâmetros do § 4.º do art. 39 da Constituição Federal, o
– Cargos isolados: não permitem a progressão funcional de subsídio deverá ser “fixado em parcela única, vedado o acréscimo
seus titulares. de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
representação ou outra espécie remuneratória”. No estudo desse
Em relação às garantias e características especiais que lhe são paramento legal, depreende-se que o subsídio é uma espécie
conferidas, os cargos podem ser classificados em vitalícios, efetivos; remuneração em sentido amplo.
e comissionados. Vejamos: Não obstante, a redação do inciso X do art. 3 7 não tenha
– Cargos vitalícios e cargos efetivos: oferecem garantia de usado o termo “vencimento”, convém anotar que este é usado com
permanência aos seus ocupantes. De forma geral, a nomeação frequência para indicar a remuneração dos servidores estatutários
para esses cargos é dependente de prévia aprovação em concurso que não percebem subsídio.
público. Nesse conceito, os “vencimentos”, também são considerados
um tipo de remuneração em sentido amplo. São compostos pelo
– Cargos em comissão ou comissionados: de acordo com o vencimento normal do cargo com o acréscimo das vantagens
art. 37, V, da CF, os cargos comissionados se destinam apenas às pecuniárias estabelecidas em lei.
atribuições de direção, chefia e assessoramento. São ocupados Portanto, o disposto no inciso X do art. 37 da CFB/88, ao
de maneira temporária, em função da confiança depositada pela determinar “a remuneração dos servidores públicos e o subsídio”,
autoridade nomeante. A nomeação para esse tipo de cargo não está, em síntese, acoplando as duas espécies remuneratórias,
depende de aprovação em concurso público, podendo a exoneração vencimentos e subsídios que os servidores públicos estatutários
do seu ocupante pode ser feita a qualquer tempo, a critério da podem receber.
autoridade nomeante. Pondera-se que o termo “salário” não é alcançado pelo
Ressalte-se que antes da EC 32/2001, os cargos e as funções citado dispositivo, posto que este trata-se do nome usado para
públicas só podiam ser extintos por determinação de lei. Entretanto, o pagamento ou quitação de serviços profissionais prestados em
a mencionada emenda constitucional alterou a redação do art. 84, uma relação de emprego quando a mesma é sujeita ao regime
VI, “b”, da CF, passando a legislar admitindo que o Presidente da trabalhista, que é controlado e direcionado pela Consolidação das
República possa extinguir funções ou cargos públicos por meio de Leis do Trabalho. Assim sendo, entende-se que os empregados
decreto, quando estes se encontrarem vagos. públicos recebem salário.
O resultado disso, é que, ao aplicar o princípio da simetria, Dependerá do cargo conforme o dispositivo de lei que o rege,
a consequência é que os Governadores e Prefeitos, se houver para que a iniciativa privativa das leis que fixem ou alterem as
semelhante previsão nas respectivas Constituições Estaduais ou remunerações e subsídios dos servidores públicos. De acordo com
Leis Orgânicas, também podem extinguir por decreto funções ou a Constituição, atinente às principais hipóteses de iniciativa de leis
cargos públicos vagos nos Estados, Distrito Federal e Municípios. que tratem a respeito da remuneração de cargos públicos, podemos
Assim sendo, em se restando vagos, os cargos ou funções resumir das seguintes formas:
públicas, embora sejam criados por lei, poderão ser extintos por lei
ou por decreto do chefe do Poder Executivo. Entretanto, se o cargo A iniciativa é privativa do
estiver ocupado, só poderá ser extinto através de lei, uma vez que Cargo do Poder Executivo
Presidente da República
não se admite a edição de decreto com essa finalidade. Federal
(CFB, art. 61, § 1.º, II, “a”);
– Remuneração Cargos da Câmara dos a iniciativa é privativa
A Constituição Federal Brasileira aduz no art. 37, inciso X do art. Deputados dessa Casa (CFB, art. 51, IV);
37, a seguinte redação: a iniciativa é privativa
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que Cargos do Senado Federal
dessa Casa (CF, art. 52, XIII);
trata o § 4.º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados
por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, Compete de forma privativa ao Supremo Tribunal Federal, aos
assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder
distinção de índices; Legislativo a respectiva remuneração dos seus serviços auxiliares e
dos juízos que lhes forem vinculados, e, ainda a fixação do subsídio
Infere-se que a alteração mais importante trazida a esse de seus membros e dos Juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
dispositivo por meio da EC 19/1998, foi a exigência de lei específica onde houver (CF, art. 48, XV, e art. 96, II, ‘b ).
para que seja fixada ou que haja alteração na remuneração em Observe-se que a fixação do subsídio dos deputados federais,
sentido amplo de todos os servidores públicos. Isso significa que dos senadores, do Presidente e do Vice-Presidente da República e
cada alteração de remuneração de cargo público deverá ser feita dos Ministros de Estado é da competência exclusiva do Congresso
através da edição de lei ordinária específica para tratar desse Nacional e não se encontra sujeita à sanção ou veto do Presidente
assunto. da República. Nesse sentido específico, em virtude de previsão

65
NOÇÕES DE DIREITO

constitucional, a determinação dos aludidos subsídios não é não se confunde com o que se aplica aos servidores civis, uma vez
realizada por meio de lei, mas sim por intermédio de Decreto que estes têm direitos, garantias, prerrogativas e impedimentos
Legislativo do Congresso Nacional. próprios (RE 570177/MG).
Nesse sentido, em relação entendimento do Supremo Tribunal Consolidando o entendimento, enfatiza-se que a Suprema
Federal, esse órgão entende que a concessão da revisão geral Corte editou a Súmula Vinculante 6, por meio da qual afirma que
anual” a que se refere o inciso X do art. 37 da Constituição deve “não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração
ser efetivada por intermédio de lei de iniciativa privativa do Poder inferior ao salário mínimo para as praças prestadoras de serviço
Executivo de cada Federação. militar inicial”.
O inciso X do art. 37 da Constituição Federal em sua parte final, Referente ao limite máximo, foi estabelecido o teto
garante a” revisão geral anual” da remuneração e do subsídio dos remuneratório pelo art. 37, XI, da CF, com redação dada pela EC
“servidores públicos” sempre na mesma data e sem distinção de índices. 41/2003. Vejamos:
A Constituição da República em seu texto original, usava os
termos “servidor público civil” e “servidor público militar”. No XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos,
entanto, a partir da aprovação da EC 1811998, estas expressões funções e empregos públicos da administração direta, autárquica
deixaram de existir e o texto constitucional passou a se referir aos e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da
servidores civis, apenas como “servidores públicos” e aos servidores União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos
militares, apenas como “militares. detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os
Também em seu texto original e primitivo, a Constituição proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos
Federal de 1988 determinava a obrigatoriedade do uso de índices cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de
de revisão de remuneração idênticos para servidores públicos civis qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal,
e para servidores públicos militares (expressões usadas antes da EC em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-
18/1998). Acontece que no atual inciso X do art. 37, que resultou se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados
da EC 1911998, existe referência apenas a “servidores públicos”, e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito
o que leva a entender que o preceito nele contido não pode ser do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais
aplicado aos militares, uma vez que estes não se englobam mais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores
como espécie do gênero “servidores públicos”. do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco
A remuneração dos servidores públicos passa anualmente por centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos
período revisional. Esse ato também faz parte do contido na EC Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder
19/1998. Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público,
O objetivo da revisão geral anual, ao menos, em tese, possui o aos Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada pela
fulcro de recompor o poder de compra da remuneração do servidor, Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003).
devido a inflação que normalmente está em alta. Por não se tratar
de aumento real da remuneração ou do subsídio, mas somente de O art. 37, § 11, da CFB/88 também regulamenta o assunto
um aumento nominal, por esse motivo, é denominado, às vezes, de ao afirmar que estão submetidos ao teto a remuneração e o
“aumento impróprio”. subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da
Esclarece-se que a revisão geral de remuneração e subsídio que administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de
o dispositivo constitucional em exame menciona, não é implantada qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
mediante a reestruturação de algumas carreiras, posto que as dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais
reestruturações de carreiras não são anuais, nem, tampouco gerais, agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie
pois se limitam a cargos específicos, além de não manterem ligação remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as
com a perda de valor relativo da moeda nacional. Já a revisão geral, vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza. Referente às
de forma adversa das reestruturações de carreiras, tem o condão parcelas de caráter indenizatório, estas não serão computadas para
de alcançar todos os servidores públicos estatutários de todos os efeito de cálculo do teto remuneratório.
Poderes da Federação em que esteja efetuando e deve ocorrer a Perceba que a regra do teto remuneratório também e
cada ano. plenamente aplicável às empresas públicas e às sociedades de
Registre-se que a remuneração do servidor público é submetida economia mista, e suas subsidiárias, que percebem recursos da
aos valores mínimo e máximo. União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para
Em relação ao valor mínimo, a Carta Magna predispõe aos pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral (art.
servidores públicos a mesma garantia que é dada aos trabalhadores 37, § 9º, da CF).No entanto, se essas entidades não vierem a
em geral, qual seja, a de que a remuneração recebida não pode ser receber recursos públicos para a quitação de despesas de custeio
inferior ao salário mínimo. No entanto, tal garantia se refere ao total e de pessoal, seus empregados não estarão submetidos ao teto
da remuneração recebida, e não em relação ao vencimento-base. remuneratório previsto no art. 37, XI, da CF.
Sobre o assunto, o STF deixou regulamentado na Súmula Vinculante Nos trâmites desse dispositivo constitucional, resta-se
16. existente um teto geral remuneratório que deve ser aplicado a
Ressalta-se que a garantia da percepção do salário mínimo todos os Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
não foi assegurada pela Constituição Federal aos militares. Para o sendo este, o subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
STF, a obrigação do Estado quanto aos militares está limitada ao Além disso, referente a esse teto geral, existem tetos específicos
fornecimento das condições materiais para a correta prestação aplicáveis aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
do serviço militar obrigatório nas Forças Armadas. Para tanto,
denota-se que os militares são enquadrados em um sistema que

66
NOÇÕES DE DIREITO

Em se tratando da esfera estadual e distrital, denota-se que O cálculo pecuniário da ajuda de custo é feito sobre a
a remuneração dos servidores públicos não podem exceder o remuneração do servidor, e não pode exceder a importância
subsídio mensal dos Ministros do STF, bem como, ainda, não pode correspondente a três meses de remuneração.
ultrapassar os limites a seguir: Referente a cônjuge ou companheiro do servidor beneficiado
– Na alçada do Poder Executivo: o subsídio do Governador; pela ajuda de custo que também seja servidor e, a qualquer tempo,
– Na alçada do Poder Legislativo: o subsídio dos Deputados passe a ter exercício na mesma sede do seu cônjuge ou companheiro,
Estaduais e Distritais; não é permitido pela legislação que ocorra o pagamento de uma
– Na alçada do Poder Judiciário: o subsídio dos segunda ajuda de custo.
Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado este a 90,25% do Além de receber o valor pago pela ajuda de custo, todas as
subsídio dos Ministros do STF. Infere-se que esse limite também é despesas de transporte do servidor e de sua família, deverão ser
nos termos da Lei, aplicável aos membros do Ministério Público, arcadas pela Administração Pública, compreendendo passagem,
aos Procuradores e aos Defensores Públicos, mesmo que estes não bagagem e bens pessoais.
integrem o Poder Judiciário. Falecendo o servidor estando lotado na nova sede, sua família,
por conseguinte, fará jus à ajuda de custo bem como de transporte
Em relação aos Estados e ao Distrito Federal, a Carta Magna, para retornar à localidade de origem, no prazo de um ano, contado
no art. 37, § 12 com redação incluída pela EC 47/2005, facultou a do óbito.
cada um desses entes fixar, em sua alçada, um limite remuneratório Com o fito de evitar enriquecimento sem causa, a lei determina
local único, sendo ele o subsídio mensal dos Desembargadores do que o servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de custo quando,
respectivo Tribunal de Justiça que é limitado a 90,25% do subsídio sem se justificar, não se apresentar na nova sede no prazo de 30
dos Ministros do STF. Se os Estados ou Distrito Federal desejarem dias.
adotar o subteto único, deverão realizar tal tarefa por meio de
emenda às respectivas Constituições estaduais ou, ainda, à Lei — Observação importante: O STJ entende que a ajuda de custo
Orgânica do Distrito Federal. Entretanto, em consonância com a somente é devida aos servidores que, no interesse da Administração,
Constituição Federal, o limite local único não deve ser aplicado aos forem removidos ex officio, com fundamento no art. 36, parágrafo
subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. único, I, da Lei 8.112/1990. No entanto, quando a remoção ocorrer
Finalizando, em relação à esfera municipal, a remuneração em decorrência de interesse particular do servidor, a ajuda de custo
dos agentes públicos não poder exceder o teto geral e também não é devida. Assim, por exemplo, se o servidor público passar a
não pode exceder o subsídio do Prefeito que cuida-se do subteto ter exercício em nova sede, com mudança de domicílio em caráter
municipal. permanente, por meio de processo seletivo de remoção, não terá
Registre-se ainda, que a Constituição Federal carrega em direito à percepção da verba de ajuda de custo (AgRg no REsp
seu bojo a regra de que “os vencimentos dos cargos do Poder 1.531.494/SC).
Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos
pagos pelo Poder Executivo” (art. 37, XII, da CF). No entanto, esta – Diárias
norma tem sido de pouca aplicação, pelo fato de possuir conteúdo São devidas ao servidor que a serviço, se afastar da sede em
genérico, ao contrário da previsão inserida no art. 37, XI, da CFB/88, caráter eventual ou transitório para outro ponto do território
que explicitamente estabelece limites precisos para os tetos nacional ou para o Exterior, que também fará jus a passagens
remuneratórios. destinadas a indenizar as despesas extraordinárias com pousada,
alimentação e locomoção urbana.
Direitos e deveres As diárias são devidas apenas nas hipóteses de deslocamentos
Adentrando ao tópico dos direitos e deveres dos agentes eventuais ou transitórios. Assim, o servidor não fará jus a diárias se
públicos, com o amparo da Lei 8112/90, que dispõe sobre o regime o deslocamento da sede constituir exigência permanente do cargo
jurídico único dos servidores públicos civis da União, das autarquias (art. 58, § 2º).
e das fundações públicas federais, é importante explanar que além Não terá direito a diárias o servidor que se deslocar dentro da
do vencimento-base, a lei prevê que o servidor federal poderá mesma região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião,
receber vantagens pecuniárias, sendo elas: constituídas por municípios limítrofes e regularmente instituídas,
ou em áreas de controle integrado mantidas com países limítrofes,
– Indenizações cuja jurisdição e competência dos órgãos, entidades e servidores
Têm como objetivo ressarcir aos servidores em razão de brasileiros consideram-se estendidas, salvo se houver pernoite fora
despesas que tenham tido por motivo do exercício de suas funções. da sede, hipóteses em que as diárias pagas serão sempre as fixadas
São previstos por determinação legal, os seguintes tipos de para os afastamentos dentro do território nacional (art. 58, § 3º).
indenizações a serem pagas ao servidor federal: A diária será concedida por dia de afastamento, sendo devida
a) Ajuda de custo: é destinada a compensar as despesas de pela metade quando o deslocamento não exigir pernoite fora da
instalação do servidor que, a trabalho em prol do interesse do sede, ou quando a União custear, por meio diverso, as despesas
serviço público, passar a laborar em nova sede, isso com mudança extraordinárias cobertas por diárias (art. 58, § 1º).
de domicílio em caráter permanente. Além disso, o servidor que receber diárias e porventura, não
A ajuda de custo também será devida àquele agente que, não se afastar da sede, será obrigado a restituí-las em valor integral no
sendo servidor da União, for nomeado para cargo em comissão, prazo de cinco dias.
com mudança de domicílio. Por outro ângulo, não será concedida Da mesma forma, retornando o servidor à sede antes do
ajuda de custo ao servidor que em virtude de mandato eletivo se previsto, também ficará obrigado a devolver as diárias percebidas
afastar do cargo, ou vier a reassumi-lo. em excesso no prazo de cinco dias.

67
NOÇÕES DE DIREITO

a) Indenização de transporte: é devida ao servidor que no a) Retribuição pelo exercício de função de direção, chefia
exercício de serviço de interesse público realizar despesas com e assessoramento: “Ao servidor ocupante de cargo efetivo
a utilização de meio próprio de locomoção para a execução de investido em função de direção, chefia ou assessoramento, cargo
serviços externos, por força das atribuições próprias do cargo (art. de provimento em comissão ou de Natureza Especial é devida
60 da Lei 8.112/90). retribuição pelo seu exercício” (art. 62). O valor dessa retribuição
b) Auxílio-moradia: é o ressarcimento das despesas será fixado por lei específica.
devidamente comprovadas e realizadas pelo servidor público com b) Gratificação natalina: equivale ao 13º salário do trabalhador
aluguel de moradia ou, ainda com outro meio de hospedagem da iniciativa privada, ou pública sendo calculada à razão de 1/12
devidamente administrado por empresa hoteleira, no decurso do da remuneração a que o servidor fizer jus no mês de dezembro,
prazo de um mês após a comprovação da despesa pelo servidor. por mês de exercício no respectivo ano. Para efeito de pagamento
Para fazer jus ao recebimento do auxílio-moradia, o servidor da gratificação natalina, a fração igual ou superior a 15 dias de
deverá atender a alguns requisitos cumulativos previstos na lei (art. exercício será considerada como mês integral.
60-B). Vejamos: c) Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas
Art. 60-B. Conceder-se-á auxílio-moradia ao servidor se ou penosas: O adicional de insalubridade é devido aos servidores
atendidos os seguintes requisitos: (Incluído pela Lei nº 11.355, de que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, que
2006). provocam a deterioração da sua saúde. Em relação ao adicional de
I - não exista imóvel funcional disponível para uso pelo servidor; periculosidade, é devido ao servidor cujas funções que desempenha
(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). habitualmente colocam em risco a sua vida.
II - o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe imóvel d) Adicional pela prestação de serviço extraordinário: é aquele
funcional; (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). exercido além da jornada ordinária de trabalho do servidor.
III - o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja ou tenha Nos termos da Lei 8.112/1990, o serviço extraordinário será
sido proprietário, promitente comprador, cessionário ou promitente remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de
cessionário de imóvel no Município aonde for exercer o cargo, trabalho.
incluída a hipótese de lote edificado sem averbação de construção, (art. 73). No entanto, somente será permitido serviço
nos doze meses que antecederem a sua nomeação; (Incluído pela
extraordinário para atender a situações excepcionais e temporárias,
Lei nº 11.355, de 2006).
respeitado o limite máximo de duas horas por jornada (art. 74).
IV - nenhuma outra pessoa que resida com o servidor receba
e) Adicional noturno: é prestado no horário compreendido
auxílio-moradia; (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006).
entre 22 horas de um dia e cinco horas do dia seguinte. O servidor
V - o servidor tenha se mudado do local de residência para
que exercer serviço noturno terá direito a perceber o adicional
ocupar cargo em comissão ou função de confiança do Grupo-
noturno, cujo valor corresponderá ao acréscimo de 25% sobre
Direção e Assessoramento Superiores - DAS, níveis 4, 5 e 6, de
a hora trabalhada no turno diurno. Além disso, será considerado
Natureza Especial, de Ministro de Estado ou equivalentes; (Incluído
pela Lei nº 11.355, de 2006). como uma hora de serviço noturno o tempo de cinquenta e dois
VI - o Município no qual assuma o cargo em comissão ou função minutos e trinta segundos (art. 75).
de confiança não se enquadre nas hipóteses do art. 58, § 3o, em
relação ao local de residência ou domicílio do servidor; (Incluído f) Adicional de férias: é garantido pela Constituição Federal e
pela Lei nº 11.355, de 2006). disciplinado no art. 76 do estatuto funcional. Independentemente
VII - o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha residido de solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das suas férias,
no Município, nos últimos doze meses, aonde for exercer o cargo um adicional correspondente a 1/3 da remuneração do período
em comissão ou função de confiança, desconsiderando-se prazo das férias. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia
inferior a sessenta dias dentro desse período; e (Incluído pela Lei nº ou assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respectiva
11.355, de 2006). vantagem será considerada no cálculo do adicional de férias.
VIII - o deslocamento não tenha sido por força de alteração h) Gratificação por encargo de curso ou concurso: é direito
de lotação ou nomeação para cargo efetivo. (Incluído pela Lei nº assegurado ao servidor que, em caráter eventual, se encaixar nas
11.355, de 2006). hipóteses do art.76-A, tais como: atuar como instrutor em curso
IX - o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho de 2006. de formação, de desenvolvimento ou de treinamento regularmente
(Incluído pela Lei nº 11.490, de 2007). instituído no âmbito da administração pública federal; participar de
Parágrafo único. Para fins do inciso VII, não será considerado o banca examinadora ou de comissão para exames orais, para análise
prazo no qual o servidor estava ocupando outro cargo em comissão curricular, para correção de provas discursivas, para elaboração de
relacionado no inciso V. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). questões de provas ou para julgamento de recursos intentados por
candidatos; participar da logística de preparação e de realização
– Gratificações de concurso público envolvendo atividades de planejamento,
São vantagens pecuniárias que constituem acréscimos coordenação, supervisão, incluídas entre as suas atribuições
de estipêndio, que acopladas ao vencimento constituem a permanentes e participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas
remuneração do servidor público. de exame vestibular ou de concurso público ou supervisionar essas
Em consonância com o art. 61 da Lei 8.112/1990 depreende-se atividades.
que, além do vencimento e das indenizações, poderão ser deferidas Vale a pena registrar que, em tempos remotos, a lei contemplava
aos servidores as seguintes retribuições em forma de gratificações o pagamento do adicional por tempo de serviço. Entretanto, o
dispositivo legal que previa o mencionado adicional foi revogado.
e adicionais:

68
NOÇÕES DE DIREITO

Contemporaneamente, esta vantagem é paga somente aos 77). Entretanto, o servidor que opera direta em permanência
servidores que à época da revogação restavam munidos de direito constante com equipamentos de raios X ou substâncias radioativas,
adquirido à sua percepção. terá direito ao gozo de 20 dias consecutivos de férias semestrais
de atividade profissional, sendo proibida em qualquer hipótese a
– Adicionais acumulação desses períodos (art. 79).
Adicionais são formas de remuneração do risco à vida e à
saúde dos trabalhadores com caráter transitório, enquanto durar – Observação importante: A lei proíbe que seja levada à conta
a exposição aos riscos de trabalho do servidor. No serviço público, de férias qualquer falta ao serviço (art. 77, § 2º).
podemos resumi-los da seguinte forma: É interessante salientar que no primeiro período aquisitivo de
a) Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas férias serão exigidos 12 meses de exercício (art. 77, § 1º); a partir
ou penosas: O adicional de insalubridade é devido aos servidores daí os períodos aquisitivos de férias são contados por exercício.
que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, que Infere-se que o gozo do período de férias é decisão
provocam a deterioração da sua saúde. Em relação ao adicional de
exclusivamente discricionária da administração, que só o fará se
periculosidade, é devido ao servidor cujas funções que desempenha
compreender que o pedido atende ao interesse público.
habitualmente colocam em risco a sua vida.
No condizente à remuneração das férias, depreende-se que
b) Adicional pela prestação de serviço extraordinário: é aquele
esta será acrescida do adicional que corresponda a 1/3 incidente
exercido além da jornada ordinária de trabalho do servidor.
Nos termos da Lei 8.112/1990, o serviço extraordinário será sobre a remuneração original. Já o pagamento da remuneração de
remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de férias, com o acréscimo do adicional, poderá ser efetuado até dois
trabalho. dias antes do início do respectivo período do gozo (art. 78).
No entanto, somente será permitido serviço extraordinário Havendo parcelamento de gozo do período de férias, o servidor
para atender a situações excepcionais e temporárias, respeitado o receberá o adicional de férias somente após utilizado o primeiro
limite máximo de duas horas por jornada, nos ditames do art.74. período (art. 78, § 5º).
c) Adicional noturno: é prestado no horário compreendido Caso o servidor seja exonerado do cargo efetivo, ou em
entre 22 horas de um dia e cinco horas do dia seguinte. O servidor comissão, terá o direito de receber indenização relativa ao período
que exercer serviço noturno terá direito a perceber o adicional das férias a que tiver direito, bem como ao incompleto, na exata
noturno, cujo valor corresponderá ao acréscimo de 25% sobre proporção de um doze avos por mês de efetivo exercício, ou, ainda
a hora trabalhada no turno diurno. Além disso, será considerado de fração superior a quatorze dias (art. 78, § 3º). Ocorrendo isso, a
como uma hora de serviço noturno o tempo de cinquenta e dois indenização poderá ser calculada com base na remuneração do mês
minutos e trinta segundos (art. 75). em que for publicado o ato exoneratório (art. 78, § 4º).
d) Adicional de férias: é disposto na Constituição Federal e
disciplinado no art. 76 do estatuto funcional. Independentemente – Observação importante: o STJ vem aplicando de forma
de solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das suas férias, pacífica o entendimento de que, ocorrendo vacância, por posse
um adicional correspondente a 1/3 da remuneração do período em outro cargo inacumulável, sem solução de continuidade no
das férias. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia tempo de serviço, o direito à fruição das férias não gozadas nem
ou assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respectiva indenizadas transfere-se para o novo cargo, ainda que este último
vantagem será considerada no cálculo do adicional de férias. tenha remuneração maior (STJ, 5ª Turma, AgRg no Ag 1008567/
e) Adicional de atividade penosa: será devido aos servidores DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 18.09.2008, DJe
que estejam em exercício de suas funções em zonas de fronteira ou 20.10.2008).
em localidades cujas condições de vida o justifiquem, nos termos, Via de regra, as férias dos servidores públicos devem ser
condições e limites fixados em regulamento (art. 71). gozadas sem quaisquer tipos de interrupção. Entretanto, como
exceção, a lei estabelece dispositivo que determina que as férias
– Observação importante: O direito ao adicional de somente poderão ser interrompidas nas seguintes hipóteses art. 80
insalubridade ou periculosidade cessa com a eliminação das da Lei 8112/90:
condições ou dos riscos que deram causa a sua concessão (art. 68, a) calamidade pública;
§ 2º).
b) comoção interna;
O servidor que pelas circunstâncias fizer jus aos adicionais de
c) convocação para júri, serviço militar ou eleitoral; ou
insalubridade e de periculosidade deverá optar por um deles, não
d) por necessidade do serviço declarada pela autoridade
podendo perceber ditas vantagens cumulativamente (art. 68, § 1º).
máxima do órgão ou entidade.
– Férias
– Licenças
De modo geral, podemos afirmar que as férias correspondem
São períodos por meio dos quais o servidor tem direito de se
ao direito do servidor a um período de descanso anual remunerado,
afastar das suas atividades, com ou sem remuneração, de acordo
por meio do qual, para a maioria dos servidores é de trinta dias.
com o tipo de licença.
Esse direito do servidor está garantido pela Constituição Federal,
A Lei 8112/90 prevê várias espécies de licenças, são elas:
porém, a disciplina do seu exercício pelos servidores estatutários
Art. 81.  Conceder-se-á ao servidor licença:
federais está inserida nos arts. 77 a 80 da Lei 8.112/1990.
I - por motivo de doença em pessoa da família;
Normalmente, o servidor fará jus a trinta dias de férias a cada
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro;
ano, que por sua vez, podem ser acumuladas até o máximo de
III - para o serviço militar;
dois períodos, em se tratando de caso de necessidade do serviço,
IV - para atividade política;
com exceção das hipóteses em que haja legislação específica (art.

69
NOÇÕES DE DIREITO

V - para capacitação; Art. 86.   O servidor terá direito a licença, sem remuneração,
VI - para tratar de interesses particulares; durante o período que mediar entre a sua escolha em convenção
VII - para desempenho de mandato classista; partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera do registro
VIII - para tratamento de saúde; de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral.
IX - Licença por acidente em serviço (art. 211); § 1o  O servidor candidato a cargo eletivo na localidade onde
X - Licença à Gestante (art. 207); desempenha suas funções e que exerça cargo de direção, chefia,
XI - Licença à Adotante (art. 210); assessoramento, arrecadação ou fiscalização, dele será afastado, a
XII – Licença Paternidade (art. 208). partir do dia imediato ao do registro de sua candidatura perante a
Nos parâmetros do referido Estatuto, temos a seguinte Justiça Eleitoral, até o décimo dia seguinte ao do pleito.
explanação: § 2o   A partir do registro da candidatura e até o décimo dia
Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de seguinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença, assegurados os
doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padrasto vencimentos do cargo efetivo, somente pelo período de três meses.
ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas e Art. 87.  Após cada quinquênio de efetivo exercício, o servidor
conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação por poderá, no interesse da Administração, afastar-se do exercício do
perícia médica oficial. cargo efetivo, com a respectiva remuneração, por até três meses,
§ 1o  A licença somente será deferida se a assistência direta do para participar de curso de capacitação profissional.
servidor for indispensável e não puder ser prestada simultaneamente Art. 91.  A critério da Administração, poderão ser concedidas
com o exercício do cargo ou mediante compensação de horário, na ao servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não esteja em
forma do disposto no inciso II do art. 44. estágio probatório, licenças para o trato de assuntos particulares
§ 2o A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações, pelo prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração.   
poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes Parágrafo único.  A licença poderá ser interrompida, a qualquer
condições:   tempo, a pedido do servidor ou no interesse do serviço.
I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem
remuneração do servidor; remuneração para o desempenho de mandato em confederação,
II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem federação, associação de classe de âmbito nacional, sindicato
remuneração. representativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão
§ 3o O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a ou, ainda, para participar de gerência ou administração em
partir da data do deferimento da primeira licença concedida.   sociedade cooperativa constituída por servidores públicos para
§ 4o A soma das licenças remuneradas e das licenças não prestar serviços a seus membros, observado o disposto na alínea c do
remuneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas inciso VIII do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento
em um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto e observados os seguintes limites:
no § 3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, 2 (dois)
I e II do § 2o. servidores;
§ 2o A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações, II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 (trinta
poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes mil) associados, 4 (quatro) servidores;
condições: III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) associados,
I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a 8 (oito) servidores.
remuneração do servidor; § 1o Somente poderão ser licenciados os servidores eleitos para
II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem cargos de direção ou de representação nas referidas entidades,
remuneração. desde que cadastradas no órgão competente.
§ 3o O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a § 2o. A licença terá duração igual à do mandato, podendo ser
partir da data do deferimento da primeira licença concedida. renovada, no caso de reeleição.
§ 4o A soma das licenças remuneradas e das licenças não Art. 202.  Será concedida ao servidor licença para tratamento
remuneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas de saúde, a pedido ou de ofício, com base em perícia médica, sem
em um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto prejuízo da remuneração a que fizer jus.
no § 3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos Art. 207.  Será concedida licença à servidora gestante por 120
I e II do § 2o. (cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da remuneração.   
§ 2o  No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou companheiro § 1o . A licença poderá ter início no primeiro dia do nono mês de
também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos gestação, salvo antecipação por prescrição médica.
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, § 2o  No caso de nascimento prematuro, a licença terá início a
poderá haver exercício provisório em órgão ou entidade da partir do parto.
Administração Federal direta, autárquica ou fundacional, desde que § 3o   No caso de natimorto, decorridos 30 (trinta) dias do
para o exercício de atividade compatível com o seu cargo. evento, a servidora será submetida a exame médico, e se julgada
Art. 85.   Ao servidor convocado para o serviço militar será apta, reassumirá o exercício.
concedida licença, na forma e condições previstas na legislação § 4o  No caso de aborto atestado por médico oficial, a servidora
específica. terá direito a 30 (trinta) dias de repouso remunerado.
Parágrafo único.   Concluído o serviço militar, o servidor terá Art. 208.  Pelo nascimento ou adoção de filhos, o servidor terá
até 30 (trinta) dias sem remuneração para reassumir o exercício do direito à licença-paternidade de 5 (cinco) dias consecutivos.
cargo.

70
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 209.  Para amamentar o próprio filho, até a idade de seis filhos, ou enteados do servidor que vivam na sua companhia, bem
meses, a servidora lactante terá direito, durante a jornada de como aos menores sob sua guarda, com autorização judicial” (art.
trabalho, a uma hora de descanso, que poderá ser parcelada em 99, parágrafo único).
dois períodos de meia hora.
Art. 210.  À servidora que adotar ou obtiver guarda judicial de – Direito de petição
criança até 1 (um) ano de idade, serão concedidos 90 (noventa) dias De acordo com o art. 104 da Lei 8.112/1990, é direito do
de licença remunerada.   servidor público, requerer junto aos Poderes Públicos, a defesa de
Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de direito ou interesse legítimo.
criança com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata este O direito de petição pode ser manifestado por intermédio de
artigo será de 30 (trinta) dias. requerimento, pedido de reconsideração ou de recurso.
Art. 211.  Será licenciado, com remuneração integral, o servidor Nos termos da Lei, o requerimento deverá ser dirigido
acidentado em serviço. à autoridade competente para decidi-lo e encaminhado por
intermédio daquela a que estiver imediatamente subordinado o
— Observação importante: a licença-prêmio não faz mais requerente (art. 105).
parte do rol dos direitos dos servidores federais e foi suprimida Além disso, nos trâmites do art. 106, caberá pedido de
pela Lei 9.527/1997. A licença-prêmio permitia que o servidor, reconsideração dirigido à autoridade que houver expedido o ato ou
encerrado cada quinquênio ininterrupto de serviço, pudesse proferido a primeira decisão, não podendo ser renovado.
gozar, como prêmio pela assiduidade de três meses de licença, De acordo com o art. 107 do Estatuto em estudo, caberá
com a remuneração do cargo efetivo. A legislação vigente à época recurso nas seguintes hipóteses: do indeferimento do pedido de
facultava ao servidor gozar a licença ou contar em dobro o período reconsideração e das decisões sobre os recursos sucessivamente
da licença para efeito de aposentadoria (o que atualmente não é interpostos.
mais possível, já que a EC 20/1998 proibiu a contagem de tempo Nos termos do art. 109, o recurso será dirigido à autoridade
de contribuição fictício para aposentadoria). Entretanto, em imediatamente superior à que tiver expedido o ato ou proferido
análise ao caso específico daqueles que adquiriram legitimamente a decisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às demais
o direito antes da supressão legal, o STJ entende pacificamente autoridades, sendo encaminhado por intermédio da autoridade
que “o servidor aposentado tem direito à conversão em pecúnia a que estiver imediatamente subordinado o requerente. Dando
da licença-prêmio não gozada e contada em dobro, sob pena de continuidade, o recurso poderá ser recebido com efeito suspensivo,
enriquecimento sem causa da Administração Pública” (AgRg no a juízo da autoridade competente e em caso de provimento do
AREsp 270.708/RN). pedido de reconsideração ou do recurso, os efeitos da decisão
retroagirão à data do ato impugnado, nos parâmetros do art. 109,
– Concessões parágrafo único da Lei 8112/90.
Três são as espécies de concessão: O prazo para interposição de recurso ou de pedido de
a) Primeira espécie de concessão: permite ao servidor se reconsideração é de 30 dias, a contar da publicação ou da ciência,
ausentar do serviço, sem qualquer prejuízo a sua remuneração, nas pelo interessado, da decisão recorrida (art. 108).
seguintes condições (art. 97): por um dia, para doação de sangue; Já o direito de requerer prescreve, nos termos do art. 110,
por dois dias, para se alistar como eleitor; por oito dias consecutivos em cinco anos, quanto aos atos de demissão e de cassação de
em razão de: casamento; falecimento do cônjuge, companheiro, aposentadoria ou disponibilidade, ou que afetem interesse
pais, madrasta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda ou patrimonial e créditos resultantes das relações de trabalho; em 120
tutela e irmãos. dias, nos demais casos, exceto quando outro prazo for fixado em lei.
b) Segunda espécie de concessão: relacionada à concessão
de horário especial, nas seguintes situações (art. 98): ao servidor Em relação à prescrição, merece também destaque:
estudante, quando comprovada a incompatibilidade entre o Art. 112: a prescrição é de ordem pública, não podendo ser
horário escolar e o da repartição, sendo exigida a compensação de relevada pela administração; o pedido de reconsideração e o
horário; ao servidor portador de deficiência, quando comprovada recurso, quando cabíveis, interrompem a prescrição (art. 111);
a necessidade por junta médica oficial, independentemente de o prazo de prescrição será contado da data da publicação do ato
compensação de horário;ao servidor que tenha cônjuge, filho ou impugnado ou da data da ciência pelo interessado, quando o ato
dependente com deficiência, quando comprovada a necessidade não for publicado (art. 110, parágrafo único da Lei 8112/90).
por junta médica oficial, independentemente da compensação de
horário; ao servidor que atue como instrutor em curso instituído no O procedimento administrativo disciplinar – PAD, é essencial
âmbito da administração pública federal ou que participe de banca para a apuração de infrações que acarretem penalidades mais se-
examinadora de concursos, vinculado à compensação de horário a veras, como demissão, cassação de aposentadoria, disponibilidade
ser efetivada no prazo de até um ano. ou destituição de cargo em comissão, superando a suspensão por
c) Terceira espécie de concessão: cuida dos casos relacionados trinta dias. Ressalta-se que o PAD é conduzido por uma comissão
à matrícula em instituições de ensino. Por amparo legal, “ao servidor composta por três servidores estáveis, designados por meio de por-
estudante que mudar de sede no interesse da administração é taria pela autoridade competente, sendo eles: um presidente e um
assegurada, na localidade da nova residência ou na mais próxima, secretário, nomeado pelo primeiro.
matrícula em instituição de ensino congênere, em qualquer Vale ressaltar que o presidente da comissão deve ocupar cargo
época, independentemente de vaga” (art. 99). Denota-se que esse efetivo superior ou equivalente, ou possuir nível de escolaridade
benefício se estende também “ao cônjuge ou companheiro, aos igual ou superior ao do indiciado.

71
NOÇÕES DE DIREITO

Sobre o tema em estudo, o jurista Carlos Schmidt de Barros Jú- Desta forma, o procedimento tem início com o despacho da
nior (1972:158). aponta três sistemas por meio dos quais é possível autoridade competente, que determina a instauração assim que
fazer a repressão disciplinar. Vejamos: toma conhecimento de alguma irregularidade e a autoridade age
a) Sistema hierárquico: no qual o poder disciplinar é exclusiva- de ofício, baseando-se no princípio da oficialidade.
mente exercido pelo superior hierárquico, onde este é responsável Quando não há elementos suficientes para instaurar o proces-
por investigar a falta, bem como aplicar a penalidade correspon- so disciplinar, a autoridade competente pode determinar previa-
dente. Esse sistema é ocasionalmente utilizado para a apuração de mente a realização de sindicância.
infrações consideradas leves ou na aplicação do princípio da verda- Após a autuação do processo, este é encaminhado à comissão
de sabida. processante, que o instaura por meio de uma portaria que deve
b) Sistema de jurisdição completa: é caracterizado pela deter- conter as seguintes informações:
minação estrita das faltas e penas em lei, com a decisão atribuída a) Os nomes dos servidores envolvidos;
a um órgão de jurisdição que segue procedimentos jurisdicionais b) A infração de que são acusados;
específicos. Esse sistema não está presente no direito brasileiro. No c) Descrição sucinta dos fatos; e
contexto jurídico nacional, a apuração de faltas e a imposição de pe- d) Indicação dos dispositivos legais infringidos.
nalidades são regidas por sistemas específicos, não se enquadrando A elaboração cuidadosa da portaria é crucial para garantir a
no modelo de jurisdição completa. legalidade do processo disciplinar, sendo equivalente à denúncia
c) Sistema misto ou de jurisdicionalização moderada: presen- no processo penal, pois, uma portaria bem elaborada deve conter
te no Brasil em relação aos processos administrativos disciplinares. todos os elementos necessários para que os servidores acusados
Caracteriza-se pela participação de órgãos, geralmente com função compreendam as infrações administrativas imputadas a eles.
opinativa, enquanto a aplicação da pena permanece sob respon- Ademais, se o fato também constituir um ilícito penal, a comis-
sabilidade do superior hierárquico. Além disso, esse sistema man- são processante deve comunicar às autoridades policiais, fornecen-
tém um certo grau de discricionariedade na análise dos fatos e na do os elementos de instrução disponíveis. A fase de instrução segue
escolha da penalidade adequada. Essa abordagem visa equilibrar os princípios da oficialidade e do contraditório, sendo este último
a participação de diferentes instâncias no processo disciplinar, com- essencial para assegurar a ampla defesa.
binando elementos de jurisdição e hierarquia. Com base no princípio da oficialidade, a comissão processante
No contexto jurídico brasileiro, os meios de apuração de ilíci- toma a iniciativa para a coleta de provas, podendo realizar ou de-
tos administrativos abrangem o processo administrativo disciplinar, terminar todas as diligências que julgue necessárias para esse fim.
juntamente com os meios sumários, que englobam a sindicância e Já em conformidade com o princípio do contraditório, a comis-
a verdade sabida. são deve proporcionar ao indiciado a oportunidade de acompanhar
Esses instrumentos são utilizados para investigar e esclarecer a instrução, com ou sem defensor, permitindo que ele conheça e
possíveis infrações cometidas por servidores ou agentes públicos, responda a todas as provas apresentadas contra ele.
proporcionando diferentes abordagens conforme a gravidade e a Após a conclusão da instrução, é garantido o direito de vista
natureza dos casos. do processo, e o indiciado é notificado para apresentar sua defesa.
O processo administrativo disciplinar é compulsório, conforme Todavia, embora essa fase seja denominada de defesa, as normas
estabelecido no artigo 41 da Constituição, para a aplicação de pe- relacionadas à instauração e à instrução do processo já visam pro-
nalidades que resultem na perda do cargo para o servidor estável. porcionar uma ampla defesa ao servidor.
O art. 146 da Lei nº 8.112/90 estipula a necessidade desse pro- Nessa terceira etapa, o indiciado deve apresentar razões escri-
cesso para a imposição de penalidades como suspensão por mais tas, de forma pessoal, ou por meio de um advogado de sua escolha.
de 30 (trinta) dias, demissão, cassação de aposentadoria, disponibi- Havendo ausência de defesa, a comissão designará um funcionário,
lidade e destituição de cargo em comissão. preferencialmente bacharel em direito, para defender o indiciado.
O processo administrativo disciplinar é conduzido por comis- A citação do indiciado deve ocorrer previamente ao início da
sões disciplinares, conhecidas como comissões processantes. Esse instrução, sendo acompanhada da entrega de uma cópia da porta-
sistema apresenta a vantagem de assegurar uma maior imparciali- ria, assegurando, desta forma, que o servidor tenha pleno acesso às
dade na instrução do processo, tendo em vista que a comissão atua informações da denúncia.
como um órgão independente no relacionamento entre o funcioná- Ademais, é facultado ao indiciado assistir ao depoimento das
rio e o superior hierárquico. testemunhas e formular perguntas adicionais por meio da comis-
Com o objetivo de garantir essa imparcialidade, a jurisprudên- são, devendo comparecer à sessão acompanhado de seu defensor.
cia e entendimentos tem defendido que os membros da comissão Ao término da fase de instrução, os autos serão disponibiliza-
devem ser funcionários estáveis, não sujeitos a condições temporá- dos ao indiciado para que ele exerça seu direito de defesa, respei-
rias ou exoneração a qualquer momento. tando integralmente o princípio do contraditório.
O processo administrativo disciplinar percorre diversas fases. Após a apresentação da defesa, a comissão disciplinar elabora-
São elas: rá seu relatório, no qual deve ser proposta a absolvição do indiciado
a) A instauração; ou a aplicação de uma penalidade específica, embasando suas con-
b) A instrução; clusões nas provas coletadas.
c) A defesa;
d) O relatório; e • OBS. Importante: o relatório possui natureza opinativa, não
e) A decisão. vinculando a autoridade julgadora, que tem a prerrogativa de ana-
lisar os autos e formular uma conclusão divergente, se assim julgar
adequado.

72
NOÇÕES DE DIREITO

Em relação à etapa conclusiva do processo administrativo disci- Se durante o período do estágio probatório, a Administração
plinar, denominada fase de decisão, a autoridade competente pode Pública constatar que o servidor não atende aos requisitos necessá-
acatar a recomendação da comissão disciplinar, transformando o rios ou que apresenta desempenho insatisfatório, poderá proceder
relatório em sua motivação. à exoneração que se trata de ato administrativo que coloca fim ao
Caso decida não seguir a sugestão da comissão, é imperativo vínculo do servidor com a Administração Pública, encerrando seu
que a autoridade justifique de maneira apropriada sua decisão, período no estágio probatório.
apontando os elementos do processo que fundamentam seu po- É importante ressaltar que a exoneração durante o estágio pro-
sicionamento, caso queira, buscar orientação em pareceres de ór- batório não exige a instauração de processo administrativo discipli-
gãos jurídicos para embasar sua decisão. nar, pois trata-se de uma medida decorrente da avaliação periódica
Com respaldo no princípio da oficialidade, compete à autorida- do servidor nesse período inicial de sua carreira.
de julgadora realizar uma análise minuciosa do processo, verifican- Contudo, a decisão deve ser motivada e fundamentada, asse-
do sua conformidade com a legalidade. Nesse sentido, a autoridade gurando ao servidor o direito à ampla defesa e ao contraditório.
pode declarar a nulidade do processo, determinar o saneamento de Os critérios para avaliação e a decisão de exoneração devem
eventuais irregularidades ou solicitar novas diligências que julgue estar de acordo com os princípios da legalidade, impessoalidade,
cruciais para a produção de provas. moralidade, publicidade e eficiência, e devem ser observados os
procedimentos estabelecidos na legislação específica que rege o
• OBS. Importante: O princípio da oficialidade confere à autori- quadro de servidores públicos, como a Lei nº 8.112/1990 no âmbito
dade julgadora a iniciativa de promover a regularidade e a legalida- federal, por exemplo.
de do procedimento, assegurando a imparcialidade e a correção na Logo, sobre a exoneração de servidor em fase de estágio proba-
condução do processo administrativo disciplinar. tório, temos o seguinte:

Encerrado o processo, seja com a absolvição do servidor ou • Estágio probatório é o período de avaliação do desempe-
com a aplicação de penalidade, são cabíveis, neste último cenário, nho do servidor recém-ingresso no serviço público;
o pedido de reconsideração e os recursos hierárquicos. Além disso, • Em geral, o estágio probatório tem a duração de três anos;
a legislação estatutária pode prever a possibilidade de revisão do • Durante o estágio probatório, o servidor é avaliado por:
processo. assiduidade, disciplina, capacidade de iniciativa, produtividade e
Esses instrumentos oferecem ao servidor a oportunidade de responsabilidade;
questionar ou contestar as decisões tomadas, buscando a revisão • Não atendendo aos requisitos necessários à permanência
ou a anulação da penalidade aplicada, desde que observados os no cargo, o servidor poderá ser exonerado; e
procedimentos e prazos estabelecidos pela normativa vigente. • A exoneração durante o estágio probatório deve ser moti-
vada e fundamentada, assegurando ao servidor o direito à ampla
Dicas importantes: defesa e ao contraditório.
– O relatório conclusivo da comissão processante é uma mani- • NOTA: Existem cargos em que o estágio probatório é de
festação final quanto à inocência ou responsabilidade do servidor. apenas dois anos. Ex.: Promotores de Justiça.
– A decisão final sobre a aplicação, ou não, de sanção ao servi-
dor não é de responsabilidade da comissão processante, pois, cabe
— Inquérito Administrativo
a esta encaminhar o relatório à autoridade competente, nos termos
Após a fase de instauração, procede-se à fase do Inquérito Ad-
da lei, para que esta realize o julgamento relativo à aplicação da
ministrativo, a qual se subdivide em:
penalidade cabível.
a) Instrução Processual: nesta etapa, a comissão responsável
– A aplicação da pena de demissão a servidores da Administra-
pelo inquérito deve reunir documentos, proporcionando ao interes-
ção Direta da União é de competência exclusiva do Presidente da
sado o acesso a esses documentos. Além disso, é necessário realizar
República, em âmbito federal.
oitivas das testemunhas, garantindo a intimação prévia do notifica-
– De maneira similar, nas demais entidades federativas, a com-
do para acompanhamento das sessões.
petência para demitir servidores da Administração Direta é exclusi-
A comissão também pode solicitar a realização de perícia técni-
va dos Governadores e Prefeitos, por simetria.
ca, elaborando os quesitos necessários. Quando necessário, devem
– O processo disciplinar pode ser revisto a qualquer momento,
ser realizadas diligências para esclarecer situações factuais, incluin-
seja por solicitação expressa ou de ofício, quando surgirem fatos
do o ato crucial de interrogatório do envolvido.
novos ou circunstâncias que possam justificar a inocência do puni-
b) Defesa: durante esta fase, é assegurado ao acusado o direito
do ou a inadequação da penalidade aplicada.
de apresentar sua defesa, podendo contestar as acusações e ofere-
cer elementos de prova em seu favor.
Exoneração de Servidor em Estágio Probatório
c) Relatório Final: após a instrução e a defesa, a comissão ela-
A exoneração de servidor em estágio probatório refere-se à dis-
bora um relatório final que resume os elementos coletados, analisa
pensa do servidor público que está em fase de estágio probatório.
as argumentações apresentadas e, se for o caso, sugere as penali-
O estágio probatório é um período de avaliação do desempenho do
dades cabíveis.
servidor recém-ingresso no serviço público.
Essas etapas garantem um processo disciplinar justo e transpa-
Geralmente, esse estágio tem a duração de três anos, durante
rente, permitindo a participação do interessado e a devida análise
os quais o servidor é avaliado em diversos aspectos, como assidui-
dos fatos.
dade, disciplina, capacidade de iniciativa, produtividade e respon-
sabilidade.

73
NOÇÕES DE DIREITO

Uma vez comprovada, em uma fase de indícios robustos, a in- Ademais, é de extrema importância que o julgador atente para
fração disciplinar, é imperativo redigir um termo devidamente tipi- o disposto no art. 168 do Estatuto, evitando assim a imposição de
ficado e expedir um mandado de citação, concedendo um prazo de penalidades desnecessárias. A Lei não utiliza palavras sem propósi-
10 dias para que o indiciado apresente sua defesa por escrito. No to, e, portanto, se exige a concordância com as conclusões da Co-
caso de dois ou mais indiciados, o prazo para defesa escrita será missão de PAD, há um significado claro nessa disposição legal.
duplicado, ou seja, vinte dias. Logo, infere-se que a Comissão teve contato direto com as
Após a apresentação da defesa, a comissão encarregada deve provas, as testemunhas e o próprio acusado, assemelhando-se ao
analisar ponto a ponto a peça do indiciado, podendo resultar no princípio da identidade física do Juiz, mutatis mutandis, conforme
acatamento total ou parcial das razões apresentadas, ou na rejeição estabelecido no art. 168 da Lei nº 8.112/90.
total dos argumentos defensivos, caso não haja suporte fático-pro-
batório adequado e/ou amparo legal. — Sindicância
A comissão tem um prazo de 60 dias para concluir a instru- A sindicância administrativa é um procedimento apuratório su-
ção do processo, sendo permitida a prorrogação por um período mário, cujo propósito é investigar a autoria ou a ocorrência de irre-
igual, se necessário. Este processo assegura um tratamento justo e gularidades no serviço público, passíveis de resultar na aplicação de
transparente, garantindo que todas as partes envolvidas tenham a penalidades como advertência ou suspensão por até 30 dias.
oportunidade adequada de se manifestar e apresentar suas argu- Sobre o tema. O art. 145 da Lei federal n.º 8.112/1990 deter-
mentações. mina o seguinte:
É relevante destacar que o prazo para a conclusão dos traba- Art. 145. Da sindicância poderá resultar:
lhos da comissão não é rígido, permitindo prorrogação ou recondu- I - Arquivamento do processo;
ção por igual período de tempo. Dessa forma, a extrapolação desse II - Aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até
prazo não acarreta nulidade. 30 (trinta) dias;
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) também se posicionou so- III - Instauração de processo disciplinar.
bre o tema, afirmando que a não conclusão do processo adminis- Parágrafo único. O prazo para conclusão da sindicância não ex-
trativo disciplinar no prazo de 120 dias (compreendendo o prazo cederá 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado por igual período, a
original de 60 dias mais a prorrogação por igual período), conforme critério da autoridade superior.
o art. 152 da Lei nº 8.112/90, não configura nulidade.
Ressalta-se que esse processo de natureza inquisitorial e des-
— Julgamento provido de contraditório, busca apurar a existência de fatos irregu-
A última etapa do Processo Administrativo Disciplinar - PAD, lares na Administração, determinando os responsáveis. Sua seme-
conforme previsto na Lei nº 8.112/90, é o julgamento. Nessa fase, lhança com um inquérito policial reside na natureza investigativa,
que possui um prazo de 20 dias, a autoridade julgadora decide so- servindo como base para a eventual instauração de um processo
bre o arquivamento do processo ou a aplicação de penalidades. A administrativo disciplinar.
autoridade deve seguir o entendimento da comissão processante, a Os trabalhos da comissão têm prioridade sobre outras atribui-
menos que haja incompatibilidade entre a penalidade sugerida e o ções dos seus membros, sendo vedado ao servidor designado para
ilícito administrativo comprovado durante o PAD. integrar a comissão recusar o encargo. A recusa pode acarretar a
Sobre o assunto, vejamos o que determina o art. 167 da Lei abertura de um processo administrativo disciplinar, uma vez que
federal n.º 8.112/1990: configuraria o não atendimento a uma ordem manifestamente legal
emitida por um superior hierárquico.
Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento Quando um administrador toma conhecimento de irregulari-
do processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão. dades na Administração Pública, é seu dever-poder constituir uma
§1o Se a penalidade a ser aplicada exceder a alçada da autori- comissão de sindicância para investigar o fato, especialmente quan-
dade instauradora do processo, este será encaminhado à autorida- do a autoria é desconhecida ou duvidosa. Essa comissão será com-
de competente, que decidirá em igual prazo. posta por três servidores estáveis e terá um prazo inicial de 30 dias
§2o Havendo mais de um indiciado e diversidade de sanções, o úteis, podendo ser prorrogado por igual período, para conduzir a
julgamento caberá à autoridade competente para a imposição da investigação e apresentar um relatório conclusivo sobre a irregula-
pena mais grave. ridade e sua autoria. Após receber a documentação relacionada à
§3o Se a penalidade prevista for a demissão ou cassação de irregularidade a ser apurada, o presidente da comissão deve convo-
aposentadoria ou disponibilidade, o julgamento caberá às autori- car os demais membros para participar de uma espécie de reunião
dades de que trata o inciso I do art. 141. inaugural dos trabalhos.
§4o Reconhecida pela comissão a inocência do servidor, a auto- Na mencionada reunião, o presidente da comissão deve infor-
ridade instauradora do processo determinará o seu arquivamento, mar aos demais membros sobre a irregularidade a ser investigada,
salvo se flagrantemente contrária à prova dos autos. (Incluído pela designar um dos membros como secretário e discutir e estabelecer
Lei nº 9.527, de 10.12.97) um cronograma de reuniões, para o qual todos devem ser devida-
mente intimados.
É importante observar que, embora a lei estabeleça um prazo Cada reunião subsequente deve ser registrada em ata.
de 20 dias para o julgamento, a ultrapassagem desse período não Se houver indícios de autoria, a comissão deve intimar o sus-
acarreta nulidade. A teoria das nulidades no processo disciplinar peito e conduzi-lo a um interrogatório, documentando o procedi-
admite irregularidades apenas quando configuram prejuízo para o mento por meio de um termo. Além disso, a comissão deve buscar
direito de defesa do acusado. ouvir o depoimento de todas as testemunhas disponíveis para es-
clarecer a irregularidade em apuração.

74
NOÇÕES DE DIREITO

— Destaques importantes (Recursos) recimentos ou requerendo a defesa de seus direitos particulares ou


Ao examinarmos as fases pelas quais passa o processo adminis- interesses legítimos. Esse direito está previsto na Lei nº 8.112/1990,
trativo disciplinar, torna-se mais acessível para o intérprete identifi- especialmente nos artigos 104 a 115.
car possíveis nulidades, compreender o princípio da busca pela ver- A essência do direito de petição está em permitir que o admi-
dade real e orientar-se pelos princípios do contraditório e da ampla nistrado se comunique com a administração, buscando uma respos-
defesa, garantidos constitucionalmente aos acusados em processo ta ou providência relacionada aos seus interesses. Essa comunica-
administrativo. ção pode abranger uma ampla gama de questões, desde pedidos de
Cabe salientar que é viável a reabertura de um procedimento esclarecimentos sobre procedimentos administrativos até solicita-
disciplinar após o cumprimento da penalidade pelos mesmos fatos, ções de revisão de decisões.
desde que novas informações, anteriormente desconhecidas pela O artigo 5º, XXXIII e XXXIV, da Constituição Federal, assegura o
Administração Pública, venham à tona por meio de inquérito po- direito de petição aos cidadãos e o direito à obtenção de certidões
licial. em repartições públicas, garantindo a transparência e o acesso à
A Lei nº 8.112/1990 possui dispositivos que regulam a revisão informação.
(ou reexame) de sindicância ou processo administrativo disciplinar Portanto, o direito de petição desempenha um papel importan-
já encerrado, conforme estabelecido nos artigos 174 e seguintes te na relação entre os cidadãos e a administração pública, permitin-
do Estatuto. Esse processo revisor representa a instauração de um do que se estabeleça um canal de comunicação direta para a defesa
novo procedimento, a ser apensado ao processo originário que se de direitos e interesses perante o poder público.
pretende rever, conduzido por uma comissão distinta.
A revisão do processo pode ser solicitada pela parte interessa- Pedido de Reconsideração
da ou realizada de ofício a qualquer momento, fundamentada em O pedido de reconsideração é uma modalidade de recurso
fatos novos ou circunstâncias que justifiquem o abrandamento da administrativo dirigida exclusivamente à autoridade que emitiu a
decisão original. decisão inicial que se pretende reformar, conforme estabelece o
artigo 106 da Lei nº 8.112/1990. Diferentemente de outros recur-
– NOTA: É importante destacar que a revisão não pode resultar sos, o pedido de reconsideração não é encaminhado para instâncias
no agravamento da penalidade imposta. superiores, sendo direcionado à mesma autoridade que proferiu a
decisão questionada.
Ademais, o artigo 54 da Lei nº 9.784/99 deve ser considerado. Este recurso oferece a oportunidade de apresentar argumen-
Sua aplicação, em tese, poderia resultar na reabertura de um pro- tos novos ou, pelo menos, reexaminar a decisão à luz de fatos ou
cesso após a declaração de nulidade do anterior, não se confundin- argumentos que não foram considerados inicialmente. Pode-se
do com a revisão mencionada anteriormente. alegar a existência de novas circunstâncias, trazer à tona fatos não
No âmbito do direito administrativo disciplinar, as vias recur- contemplados anteriormente ou discordar de interpretações jurídi-
sais disponíveis são: cas realizadas.
a) Direito de Petição e Requerimento: o interessado pode É importante ressaltar que o pedido de reconsideração não é
apresentar petições ou requerimentos à autoridade competente, uma via para repetir argumentos já apresentados, mas sim para
solicitando informações, esclarecimentos ou manifestando sua po- oferecer elementos adicionais que possam influenciar a autoridade
sição em relação ao processo. a rever sua decisão. Dessa forma, é uma oportunidade para com-
b) Pedido de Reconsideração: Após a decisão da autoridade plementar a análise da questão em debate.
competente, o interessado pode apresentar pedido de reconside- Cabe destacar que o pedido de reconsideração é uma etapa
ração, buscando a revisão da decisão com base em argumentos ou preliminar ao eventual recurso hierárquico, sendo uma forma de
fatos novos. revisão interna da decisão administrativa antes de buscar instâncias
c) Recurso Hierárquico: caso o pedido de reconsideração seja superiores.
indeferido ou não seja apreciado no prazo legal, o interessado pode
interpor recurso hierárquico, dirigindo-se à autoridade superior Recurso hierárquico
àquela que proferiu a decisão contestada. O recurso hierárquico, também conhecido simplesmente como
d) Revisão Processual: conforme previsto em legislação espe- “recurso”, consiste em uma modalidade de recurso administrativo
cífica, é possível solicitar a revisão do processo administrativo disci- direcionado à autoridade hierarquicamente superior àquela que
plinar, apresentando fatos novos ou circunstâncias que justifiquem proferiu a decisão que se busca reformar. Diferentemente do pedi-
uma nova análise do caso. do de reconsideração, no recurso hierárquico é possível apresentar
Cada uma dessas vias recursais serve como meio para que o argumentos já mencionados anteriormente, não havendo a exigên-
interessado possa questionar, contestar ou buscar a revisão das de- cia de inovação.
cisões tomadas no âmbito do processo administrativo disciplinar. Essa via recursal permite que a autoridade hierarquicamente
Vejamos abaixo, de forma mais aprofundada cada uma das superior reavalie a decisão à luz de novos argumentos ou interpre-
mencionadas vias recursais: tações diferentes, ainda que o conjunto probatório seja o mesmo.
Em outras palavras, outra autoridade, mesmo sem apresentar no-
Direito de Petição e Requerimento vos elementos, pode ter uma visão diversa da situação.
O direito de petição no âmbito administrativo é um instrumen- É importante destacar que, após o indeferimento do recurso
to garantido aos cidadãos e servidores públicos para que possam se hierárquico por uma autoridade superior, não cabe a interposição
dirigir diretamente à administração, solicitando informações, escla- de pedido de reconsideração à mesma autoridade. Assim, a sequ-

75
NOÇÕES DE DIREITO

ência usual é a interposição do recurso hierárquico e, em caso de processo administrativo originário, uma vez que fazem parte da his-
novo indeferimento, a possibilidade de recorrer a instâncias supe- tória desse processo. Isso significa que, mesmo arquivado, o pedido
riores, como o Poder Judiciário. de revisão continua vinculado ao processo original.
A Lei nº 8.112/1990, em seu artigo 109, prevê as disposições No caso de deferimento da revisão, o processo revisor é enca-
gerais sobre o recurso no âmbito do regime jurídico dos servidores minhado à autoridade instauradora competente, que deve designar
públicos civis da União. uma comissão revisora para conduzir o processo. Os requisitos para
os integrantes da comissão revisora são os mesmos estabelecidos
Revisão processual para o rito ordinário, sendo que esta comissão será responsável por
A revisão no âmbito do direito administrativo disciplinar ocor- analisar o mérito do pedido de revisão, considerando as circuns-
re de maneira distinta do pedido de reconsideração e do recurso tâncias apresentadas e os fundamentos apresentados pelo servidor
hierárquico. Enquanto esses dois primeiros acontecem no mesmo interessado.
processo original antes de sua decisão definitiva, a revisão ocorre
contra uma sindicância ou PAD já encerrado. O servidor Público, como pilastra da organização administrativa,
A revisão implica a instauração de um novo processo, que será está sujeito à responsabilidade Civil, Penal e administrativa
apensado ao processo originário que se pretende revisar. Essa nova decorrente do exercício do cargo, emprego ou função.
etapa será conduzida por uma comissão diferente daquela que ana- A responsabilidade civil do servidor público diz respeito ao
lisou o processo original. ressarcimento dos prejuízos causados à Administração Pública ou a
Vale ressaltar que, apesar da literalidade da lei, por questões terceiros em decorrência de ato omissivo ou comissivo, doloso ou
de simplificação formal e conciliação com registros informatizados, culposo, no exercício de suas atribuições (art. 122 da Lei nº 8.112/90
durante o processo de revisão, pode-se inverter a relação, conside- e art. 37, §6º, da Constituição Federal). A responsabilidade Civil é
rando como principal o processo revisor e como apensado o proces- de ordem patrimonial e decorre do art. 186 do CC, segundo a qual
so originário, ajustando-se após a decisão final. todo aquele que causa dano a outrem é obrigado a repará-lo.
A revisão está prevista no Título V, Seção III da lei federal n.º Para se configurar o ilícito exige-se do Servidor Público a ação
8.112/1990, específico para o rito administrativo disciplinar. Impor- ou omissão antijurídica; culpa ou dolo; relação de causalidade
tante destacar que a revisão independe do exercício ou não das vias entre a ação ou omissão e o dano verificado; ocorrência de um
recursais no processo originário, ou seja, não está condicionada à dano material ou moral. É necessário, quando o dano é causado
utilização do pedido de reconsideração ou do recurso hierárquico, por servidor público, distinguir duas hipóteses: se o dano é causado
que não são institutos previstos na matéria disciplinar do Estatuto. ao Estado ou a terceiros.

– OBS. Importante: A revisão de inquérito não depende de pré- Importante esclarecer, que a responsabilidade civil do servidor
vio pedido de reconsideração. público perante a Administração é subjetiva e depende da prova da
existência do dano, do nexo de causalidade entre a ação e o dano e
A revisão processual no âmbito do direito administrativo disci- da culpa ou dolo da sua conduta, podendo o dano ser material ou
plinar pode ser solicitada pela parte interessada ou realizada de ofí- moral.
cio a qualquer tempo. Esse pedido de revisão pode ocorrer median- Outrossim, quando se trata de dano causado a terceiros, aplica-
te a apresentação de fato novo ou circunstâncias que justifiquem o se o art. 37 §6◦ da CF, em decorrência da qual o Estado responde
abrandamento da decisão original. objetivamente, ou seja, independente de culpa ou dolo, podendo
É importante salientar que mera manifestação de inconformis- haver, todavia o direito de regresso.
mo não é suficiente para justificar a revisão; é necessário apresen- Dita a Lei 8.112/1990:
tar elementos substanciais.
O fato novo não precisa ser necessariamente recente, mas [...]
deve ser algo que não se tinha conhecimento durante o processo CAPÍTULO IV
originário. Mesmo que o fato seja antigo, ele pode ser considerado DAS RESPONSABILIDADES
novo se não era conhecido no momento do processo administrativo
disciplinar. A revisão pode resultar na inocentação do servidor ou Art. 121. O servidor responde civil, penal e administrativamente
na conclusão de que a infração é menos grave, sujeita a uma pena- pelo exercício irregular de suas atribuições.
lidade mais branda. Art. 122. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou
O rito utilizado para a revisão processual no âmbito do direito comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou
administrativo disciplinar é regulamentado pelo artigo 177 da Lei nº a terceiros.
8.112/1990. A revisão só pode ser autorizada pelo respectivo Minis- §1o A indenização de prejuízo dolosamente causado ao erário
tro de Estado. Esse processo revisional possui duas fases distintas: a somente será liquidada na forma prevista no art. 46, na falta de
admissibilidade e o mérito. outros bens que assegurem a execução do débito pela via judicial.
Na fase de admissibilidade, o Ministro competente avalia se o §2o Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o
pedido atende aos pressupostos estabelecidos no artigo 174. Caso servidor perante a Fazenda Pública, em ação regressiva.
entenda que não há fundamentos para a admissibilidade da revi- §3o A obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores
são, o pedido é indeferido imediatamente, sendo arquivado. No e contra eles será executada, até o limite do valor da herança
entanto, mesmo com o arquivamento, os documentos relacionados recebida.
ao pedido de revisão devem permanecer apensados aos autos do

76
NOÇÕES DE DIREITO

LEI Nº 8.112, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1990 Art. 6º O provimento dos cargos públicos far-se-á mediante ato
da autoridade competente de cada Poder.
Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da Art. 7º A investidura em cargo público ocorrerá com a posse.
União, das autarquias e das fundações públicas federais. Art. 8º São formas de provimento de cargo público:
PUBLICAÇÃO CONSOLIDADA DA LEI Nº 8.112, DE 11 DE DEZEM- I - nomeação;
BRO DE 1990, DETERMINADA PELO ART. 13 DA LEI Nº 9.527, DE 10 II - promoção;
DE DEZEMBRO DE 1997. III -(Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
IV - (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- V - readaptação;
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: VI - reversão;
VII - aproveitamento;
TÍTULO I VIII - reintegração;
IX - recondução.
CAPÍTULO ÚNICO
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES SEÇÃO II
DA NOMEAÇÃO
Art. 1º Esta Lei institui o Regime Jurídico dos Servidores Públi-
cos Civis da União, das autarquias, inclusive as em regime especial, Art. 9º A nomeação far-se-á:
e das fundações públicas federais. I - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isolado de pro-
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, servidor é a pessoa legalmente vimento efetivo ou de carreira;
investida em cargo público. II - em comissão, inclusive na condição de interino, para cargos
Art. 3º Cargo público é o conjunto de atribuições e responsabi- de confiança vagos. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
lidades previstas na estrutura organizacional que devem ser come- Parágrafo único. O servidor ocupante de cargo em comissão
tidas a um servidor. ou de natureza especial poderá ser nomeado para ter exercício,
Parágrafo único. Os cargos públicos, acessíveis a todos os brasi- interinamente, em outro cargo de confiança, sem prejuízo das atri-
leiros, são criados por lei, com denominação própria e vencimento buições do que atualmente ocupa, hipótese em que deverá optar
pago pelos cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou pela remuneração de um deles durante o período da interinidade.
em comissão. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Art. 4º É proibida a prestação de serviços gratuitos, salvo os Art. 10. A nomeação para cargo de carreira ou cargo isolado
casos previstos em lei. de provimento efetivo depende de prévia habilitação em concurso
público de provas ou de provas e títulos, obedecidos a ordem de
TÍTULO II classificação e o prazo de sua validade.
DO PROVIMENTO, VACÂNCIA, REMOÇÃO, REDISTRIBUIÇÃO E Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso e o de-
SUBSTITUIÇÃO senvolvimento do servidor na carreira, mediante promoção, serão
estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do sistema de carreira
CAPÍTULO I na Administração Pública Federal e seus regulamentos. (Redação
DO PROVIMENTO dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)

SEÇÃO I SEÇÃO III


DISPOSIÇÕES GERAIS DO CONCURSO PÚBLICO

Art. 5º São requisitos básicos para investidura em cargo públi- Art. 11. O concurso será de provas ou de provas e títulos, po-
co: dendo ser realizado em duas etapas, conforme dispuserem a lei e o
I - a nacionalidade brasileira; regulamento do respectivo plano de carreira, condicionada a inscri-
II - o gozo dos direitos políticos; ção do candidato ao pagamento do valor fixado no edital, quando
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais; indispensável ao seu custeio, e ressalvadas as hipóteses de isenção
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo; nele expressamente previstas. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de
V - a idade mínima de dezoito anos; 10.12.97) (Regulamento)
VI - aptidão física e mental. Art. 12. O concurso público terá validade de até 2 (dois ) anos,
§1º As atribuições do cargo podem justificar a exigência de ou- podendo ser prorrogado uma única vez, por igual período.
tros requisitos estabelecidos em lei. §1º O prazo de validade do concurso e as condições de sua rea-
§2º Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direi- lização serão fixados em edital, que será publicado no Diário Oficial
to de se inscrever em concurso público para provimento de cargo da União e em jornal diário de grande circulação.
cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são §2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver candidato
portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por aprovado em concurso anterior com prazo de validade não expi-
cento) das vagas oferecidas no concurso. rado.
§3º As universidades e instituições de pesquisa científica e
tecnológica federais poderão prover seus cargos com professores,
técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo com as normas e os
procedimentos desta Lei. (Incluído pela Lei nº 9.515, de 20.11.97)

77
NOÇÕES DE DIREITO

SEÇÃO IV trinta dias de prazo, contados da publicação do ato, para a retoma-


DA POSSE E DO EXERCÍCIO da do efetivo desempenho das atribuições do cargo, incluído nesse
prazo o tempo necessário para o deslocamento para a nova sede.
Art. 13. A posse dar-se-á pela assinatura do respectivo termo, (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
no qual deverão constar as atribuições, os deveres, as responsabi- §1º Na hipótese de o servidor encontrar-se em licença ou afas-
lidades e os direitos inerentes ao cargo ocupado, que não poderão tado legalmente, o prazo a que se refere este artigo será contado a
ser alterados unilateralmente, por qualquer das partes, ressalvados partir do término do impedimento. (Parágrafo renumerado e alte-
os atos de ofício previstos em lei. rado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§1º A posse ocorrerá no prazo de trinta dias contados da pu- §2º É facultado ao servidor declinar dos prazos estabelecidos
blicação do ato de provimento. (Redação dada pela Lei nº 9.527, no caput. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
de 10.12.97) Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em
§2º Em se tratando de servidor, que esteja na data de publi- razão das atribuições pertinentes aos respectivos cargos, respeitada
cação do ato de provimento, em licença prevista nos incisos I, III a duração máxima do trabalho semanal de quarenta horas e obser-
e V do art. 81, ou afastado nas hipóteses dos incisos I, IV, VI, VIII, vados os limites mínimo e máximo de seis horas e oito horas diárias,
alíneas “a”, “b”, “d”, “e” e “f”, IX e X do art. 102, o prazo será contado respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.91)
do término do impedimento. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de §1º O ocupante de cargo em comissão ou função de confiança
10.12.97) submete-se a regime de integral dedicação ao serviço, observado o
§3º A posse poderá dar-se mediante procuração específica. disposto no art. 120, podendo ser convocado sempre que houver
§4º Só haverá posse nos casos de provimento de cargo por no- interesse da Administração. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de
meação. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) 10.12.97)
§5º No ato da posse, o servidor apresentará declaração de §2º O disposto neste artigo não se aplica a duração de traba-
bens e valores que constituem seu patrimônio e declaração quanto lho estabelecida em leis especiais. (Incluído pela Lei nº 8.270, de
ao exercício ou não de outro cargo, emprego ou função pública. 17.12.91)
§6º Será tornado sem efeito o ato de provimento se a posse Art. 20. Ao entrar em exercício, o servidor nomeado para cargo
não ocorrer no prazo previsto no §1º deste artigo. de provimento efetivo ficará sujeito a estágio probatório por perí-
Art. 14. A posse em cargo público dependerá de prévia inspe- odo de 24 (vinte e quatro) meses, durante o qual a sua aptidão e
ção médica oficial. capacidade serão objeto de avaliação para o desempenho do cargo,
Parágrafo único. Só poderá ser empossado aquele que for jul- observados os seguinte fatores: (vide EMC nº 19)
gado apto física e mentalmente para o exercício do cargo. I - assiduidade;
Art. 15. Exercício é o efetivo desempenho das atribuições do II - disciplina;
cargo público ou da função de confiança. (Redação dada pela Lei nº III - capacidade de iniciativa;
9.527, de 10.12.97) IV - produtividade;
§1º É de quinze dias o prazo para o servidor empossado em V- responsabilidade.
cargo público entrar em exercício, contados da data da posse. (Re- §1º 4 (quatro) meses antes de findo o período do estágio pro-
dação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) batório, será submetida à homologação da autoridade competen-
§2º O servidor será exonerado do cargo ou será tornado sem te a avaliação do desempenho do servidor, realizada por comissão
efeito o ato de sua designação para função de confiança, se não constituída para essa finalidade, de acordo com o que dispuser a lei
entrar em exercício nos prazos previstos neste artigo, observado o ou o regulamento da respectiva carreira ou cargo, sem prejuízo da
disposto no art. 18. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) continuidade de apuração dos fatores enumerados nos incisos I a V
§3º À autoridade competente do órgão ou entidade para onde do caput deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 11.784, de 2008
for nomeado ou designado o servidor compete dar-lhe exercício. §2º O servidor não aprovado no estágio probatório será exone-
(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) rado ou, se estável, reconduzido ao cargo anteriormente ocupado,
§4º O início do exercício de função de confiança coincidirá com observado o disposto no parágrafo único do art. 29.
a data de publicação do ato de designação, salvo quando o servi- §3º O servidor em estágio probatório poderá exercer quaisquer
dor estiver em licença ou afastado por qualquer outro motivo le- cargos de provimento em comissão ou funções de direção, chefia
gal, hipótese em que recairá no primeiro dia útil após o término do ou assessoramento no órgão ou entidade de lotação, e somente
impedimento, que não poderá exceder a trinta dias da publicação. poderá ser cedido a outro órgão ou entidade para ocupar cargos de
(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Natureza Especial, cargos de provimento em comissão do Grupo-
Art. 16. O início, a suspensão, a interrupção e o reinício do exer- -Direção e Assessoramento Superiores - DAS, de níveis 6, 5 e 4, ou
cício serão registrados no assentamento individual do servidor. equivalentes. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Parágrafo único. Ao entrar em exercício, o servidor apresenta- §4º Ao servidor em estágio probatório somente poderão ser con-
rá ao órgão competente os elementos necessários ao seu assenta- cedidas as licenças e os afastamentos previstos nos arts. 81, incisos I
mento individual. a IV, 94, 95 e 96, bem assim afastamento para participar de curso de
Art. 17. A promoção não interrompe o tempo de exercício, que formação decorrente de aprovação em concurso para outro cargo na
é contado no novo posicionamento na carreira a partir da data de Administração Pública Federal.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
publicação do ato que promover o servidor.(Redação dada pela Lei §5º O estágio probatório ficará suspenso durante as licenças e
nº 9.527, de 10.12.97) os afastamentos previstos nos arts. 83, 84, §1º, 86 e 96, bem assim
Art. 18. O servidor que deva ter exercício em outro município na hipótese de participação em curso de formação, e será retoma-
em razão de ter sido removido, redistribuído, requisitado, cedido ou do a partir do término do impedimento. (Incluído pela Lei nº 9.527,
posto em exercício provisório terá, no mínimo, dez e, no máximo, de 10.12.97)

78
NOÇÕES DE DIREITO

SEÇÃO V §3º No caso do inciso I, encontrando-se provido o cargo, o ser-


DA ESTABILIDADE vidor exercerá suas atribuições como excedente, até a ocorrência
de vaga. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
Art. 21. O servidor habilitado em concurso público e empossa- §4º O servidor que retornar à atividade por interesse da ad-
do em cargo de provimento efetivo adquirirá estabilidade no servi- ministração perceberá, em substituição aos proventos da aposen-
ço público ao completar 2 (dois) anos de efetivo exercício. (prazo 3 tadoria, a remuneração do cargo que voltar a exercer, inclusive
anos - vide EMC nº 19) com as vantagens de natureza pessoal que percebia anteriormente
Art. 22. O servidor estável só perderá o cargo em virtude de à aposentadoria.(Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
sentença judicial transitada em julgado ou de processo administra- 4.9.2001)
tivo disciplinar no qual lhe seja assegurada ampla defesa. §5º O servidor de que trata o inciso II somente terá os pro-
ventos calculados com base nas regras atuais se permanecer pelo
SEÇÃO VI menos cinco anos no cargo. (Incluído pela Medida Provisória nº
DA TRANSFERÊNCIA 2.225-45, de 4.9.2001)
Art. 23. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) §6º O Poder Executivo regulamentará o disposto neste artigo.
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
SEÇÃO VII Art. 26. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
DA READAPTAÇÃO 4.9.2001)
Art. 27. Não poderá reverter o aposentado que já tiver comple-
Art. 24. Readaptação é a investidura do servidor em cargo de tado 70 (setenta) anos de idade.
atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que
tenha sofrido em sua capacidade física ou mental verificada em ins- SEÇÃO IX
peção médica. DA REINTEGRAÇÃO
§1º Se julgado incapaz para o serviço público, o readaptando
será aposentado. Art. 28. A reintegração é a reinvestidura do servidor estável no
§2º A readaptação será efetivada em cargo de atribuições afins, cargo anteriormente ocupado, ou no cargo resultante de sua trans-
respeitada a habilitação exigida, nível de escolaridade e equivalên- formação, quando invalidada a sua demissão por decisão adminis-
cia de vencimentos e, na hipótese de inexistência de cargo vago, o trativa ou judicial, com ressarcimento de todas as vantagens.
servidor exercerá suas atribuições como excedente, até a ocorrên- §1º Na hipótese de o cargo ter sido extinto, o servidor ficará em
cia de vaga. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) disponibilidade, observado o disposto nos arts. 30 e 31.
§2º Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual ocupante
SEÇÃO VIII será reconduzido ao cargo de origem, sem direito à indenização ou
DA REVERSÃO aproveitado em outro cargo, ou, ainda, posto em disponibilidade.
(Regulamento Dec. nº 3.644, de 30.11.2000)
SEÇÃO X
Art. 25. Reversão é o retorno à atividade de servidor aposenta- DA RECONDUÇÃO
do: (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
I - por invalidez, quando junta médica oficial declarar insubsis- Art. 29. Recondução é o retorno do servidor estável ao cargo
tentes os motivos da aposentadoria; ou (Incluído pela Medida Pro- anteriormente ocupado e decorrerá de:
visória nº 2.225-45, de 4.9.2001) I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo;
II - no interesse da administração, desde que: (Incluído pela II - reintegração do anterior ocupante.
Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) Parágrafo único. Encontrando-se provido o cargo de origem, o
a) tenha solicitado a reversão; (Incluído pela Medida Provisória servidor será aproveitado em outro, observado o disposto no art.
nº 2.225-45, de 4.9.2001) 30.
b) a aposentadoria tenha sido voluntária; (Incluído pela Medi-
da Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) SEÇÃO XI
c) estável quando na atividade;(Incluído pela Medida Provisória DA DISPONIBILIDADE E DO APROVEITAMENTO
nº 2.225-45, de 4.9.2001)
d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos anteriores Art. 30. O retorno à atividade de servidor em disponibilidade
à solicitação; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de far-se-á mediante aproveitamento obrigatório em cargo de atribui-
4.9.2001) ções e vencimentos compatíveis com o anteriormente ocupado.
e) haja cargo vago. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225- Art. 31. O órgão Central do Sistema de Pessoal Civil determina-
45, de 4.9.2001) rá o imediato aproveitamento de servidor em disponibilidade em
§1º A reversão far-se-á no mesmo cargo ou no cargo resultante vaga que vier a ocorrer nos órgãos ou entidades da Administração
de sua transformação. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225- Pública Federal.
45, de 4.9.2001) Parágrafo único. Na hipótese prevista no §3º do art. 37, o servi-
§2º O tempo em que o servidor estiver em exercício será con- dor posto em disponibilidade poderá ser mantido sob responsabili-
siderado para concessão da aposentadoria. (Incluído pela Medida dade do órgão central do Sistema de Pessoal Civil da Administração
Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) Federal - SIPEC, até o seu adequado aproveitamento em outro ór-
gão ou entidade.(Parágrafo incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)

79
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 32. Será tornado sem efeito o aproveitamento e cassada a SEÇÃO II


disponibilidade se o servidor não entrar em exercício no prazo legal, DA REDISTRIBUIÇÃO
salvo doença comprovada por junta médica oficial.
Art. 37. Redistribuição é o deslocamento de cargo de provimen-
CAPÍTULO II to efetivo, ocupado ou vago no âmbito do quadro geral de pessoal,
DA VACÂNCIA para outro órgão ou entidade do mesmo Poder, com prévia aprecia-
ção do órgão central do SIPEC, observados os seguintes preceitos:
Art. 33. A vacância do cargo público decorrerá de: (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
I - exoneração; I - interesse da administração; (Incluído pela Lei nº 9.527, de
II - demissão; 10.12.97)
III - promoção; II - equivalência de vencimentos; (Incluído pela Lei nº 9.527,
IV - (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) de 10.12.97)
V - (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) III - manutenção da essência das atribuições do cargo; (Incluído
VI - readaptação; pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
VII - aposentadoria; IV - vinculação entre os graus de responsabilidade e complexi-
VIII - posse em outro cargo inacumulável; dade das atividades; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
IX - falecimento. V - mesmo nível de escolaridade, especialidade ou habilitação
Art. 34. A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do ser- profissional; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
vidor, ou de ofício. VI - compatibilidade entre as atribuições do cargo e as finalida-
Parágrafo único. A exoneração de ofício dar-se-á: des institucionais do órgão ou entidade.(Incluído pela Lei nº 9.527,
I - quando não satisfeitas as condições do estágio probatório; de 10.12.97)
II - quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar em §1º A redistribuição ocorrerá ex officio para ajustamento de lo-
exercício no prazo estabelecido. tação e da força de trabalho às necessidades dos serviços, inclusive
Art. 35. A exoneração de cargo em comissão e a dispensa de nos casos de reorganização, extinção ou criação de órgão ou entida-
função de confiança dar-se-á: (Redação dada pela Lei nº 9.527, de de. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
10.12.97) §2º A redistribuição de cargos efetivos vagos se dará mediante
I - a juízo da autoridade competente; ato conjunto entre o órgão central do SIPEC e os órgãos e entidades
II - a pedido do próprio servidor. da Administração Pública Federal envolvidos. (Incluído pela Lei nº
Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) 9.527, de 10.12.97)
§3º Nos casos de reorganização ou extinção de órgão ou enti-
CAPÍTULO III dade, extinto o cargo ou declarada sua desnecessidade no órgão ou
DA REMOÇÃO E DA REDISTRIBUIÇÃO entidade, o servidor estável que não for redistribuído será coloca-
do em disponibilidade, até seu aproveitamento na forma dos arts.
SEÇÃO I 30 e 31. (Parágrafo renumerado e alterado pela Lei nº 9.527, de
DA REMOÇÃO 10.12.97)
§4º O servidor que não for redistribuído ou colocado em dispo-
Art. 36. Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de nibilidade poderá ser mantido sob responsabilidade do órgão cen-
ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de sede. tral do SIPEC, e ter exercício provisório, em outro órgão ou entida-
Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se de, até seu adequado aproveitamento. (Incluído pela Lei nº 9.527,
por modalidades de remoção: (Redação dada pela Lei nº 9.527, de de 10.12.97)
10.12.97)
I - de ofício, no interesse da Administração; (Incluído pela Lei nº CAPÍTULO IV
9.527, de 10.12.97) DA SUBSTITUIÇÃO
II - a pedido, a critério da Administração; (Incluído pela Lei nº
9.527, de 10.12.97) Art. 38. Os servidores investidos em cargo ou função de dire-
III - a pedido, para outra localidade, independentemente do in- ção ou chefia e os ocupantes de cargo de Natureza Especial terão
teresse da Administração:(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) substitutos indicados no regimento interno ou, no caso de omissão,
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servi- previamente designados pelo dirigente máximo do órgão ou entida-
dor público civil ou militar, de qualquer dos Poderes da União, dos de. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi deslocado no §1º O substituto assumirá automática e cumulativamente,
interesse da Administração;(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) sem prejuízo do cargo que ocupa, o exercício do cargo ou função
b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou de direção ou chefia e os de Natureza Especial, nos afastamentos,
dependente que viva às suas expensas e conste do seu assentamen- impedimentos legais ou regulamentares do titular e na vacância do
to funcional, condicionada à comprovação por junta médica oficial; cargo, hipóteses em que deverá optar pela remuneração de um de-
(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) les durante o respectivo período. (Redação dada pela Lei nº 9.527,
c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipótese em de 10.12.97)
que o número de interessados for superior ao número de vagas, §2º O substituto fará jus à retribuição pelo exercício do cargo
de acordo com normas preestabelecidas pelo órgão ou entidade ou função de direção ou chefia ou de cargo de Natureza Especial,
em que aqueles estejam lotados. (Incluído pela Lei nº 9.527, de nos casos dos afastamentos ou impedimentos legais do titular, su-
10.12.97)

80
NOÇÕES DE DIREITO

periores a trinta dias consecutivos, paga na proporção dos dias de Art. 46. As reposições e indenizações ao erário, atualizadas até
efetiva substituição, que excederem o referido período. (Redação 30 de junho de 1994, serão previamente comunicadas ao servidor
dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) ativo, aposentado ou ao pensionista, para pagamento, no prazo
Art. 39. O disposto no artigo anterior aplica-se aos titulares de máximo de trinta dias, podendo ser parceladas, a pedido do inte-
unidades administrativas organizadas em nível de assessoria. ressado. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
4.9.2001)
TÍTULO III §1º O valor de cada parcela não poderá ser inferior ao corres-
DOS DIREITOS E VANTAGENS pondente a dez por cento da remuneração, provento ou pensão.
(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
CAPÍTULO I §2º Quando o pagamento indevido houver ocorrido no mês
DO VENCIMENTO E DA REMUNERAÇÃO anterior ao do processamento da folha, a reposição será feita ime-
diatamente, em uma única parcela. (Redação dada pela Medida
Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exercício de Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
cargo público, com valor fixado em lei. §3º Na hipótese de valores recebidos em decorrência de cum-
Parágrafo único. (Revogado pela Medida Provisória nº 431, de primento a decisão liminar, a tutela antecipada ou a sentença que
2008). (Revogado pela Lei nº 11.784, de 2008) venha a ser revogada ou rescindida, serão eles atualizados até a
Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acres- data da reposição. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-
cido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. 45, de 4.9.2001)
§1º A remuneração do servidor investido em função ou cargo Art. 47. O servidor em débito com o erário, que for demitido,
em comissão será paga na forma prevista no art. 62. exonerado ou que tiver sua aposentadoria ou disponibilidade cas-
§2º O servidor investido em cargo em comissão de órgão ou sada, terá o prazo de sessenta dias para quitar o débito. (Redação
entidade diversa da de sua lotação receberá a remuneração de dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
acordo com o estabelecido no §1º do art. 93. Parágrafo único. A não quitação do débito no prazo previsto
§3º O vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens de implicará sua inscrição em dívida ativa. (Redação dada pela Medida
caráter permanente, é irredutível. Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
§4º É assegurada a isonomia de vencimentos para cargos de Art. 48. O vencimento, a remuneração e o provento não serão
atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder, ou entre ser- objeto de arresto, seqüestro ou penhora, exceto nos casos de pres-
vidores dos três Poderes, ressalvadas as vantagens de caráter indi- tação de alimentos resultante de decisão judicial.
vidual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.
§5º Nenhum servidor receberá remuneração inferior ao salário CAPÍTULO II
mínimo. (Incluído pela Lei nº 11.784, de 2008 DAS VANTAGENS
Art. 42. Nenhum servidor poderá perceber, mensalmente, a
título de remuneração, importância superior à soma dos valores Art. 49. Além do vencimento, poderão ser pagas ao servidor as
percebidos como remuneração, em espécie, a qualquer título, no seguintes vantagens:
âmbito dos respectivos Poderes, pelos Ministros de Estado, por I - indenizações;
membros do Congresso Nacional e Ministros do Supremo Tribunal II - gratificações;
Federal. III - adicionais.
Parágrafo único. Excluem-se do teto de remuneração as vanta- §1º As indenizações não se incorporam ao vencimento ou pro-
gens previstas nos incisos II a VII do art. 61. vento para qualquer efeito.
Art. 43. (Revogado pela Lei nº 9.624, de 2.4.98) (Vide Lei nº §2º As gratificações e os adicionais incorporam-se ao venci-
9.624, de 2.4.98) mento ou provento, nos casos e condições indicados em lei.
Art. 44. O servidor perderá: Art. 50. As vantagens pecuniárias não serão computadas, nem
I - a remuneração do dia em que faltar ao serviço, sem motivo acumuladas, para efeito de concessão de quaisquer outros acrés-
justificado;(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) cimos pecuniários ulteriores, sob o mesmo título ou idêntico fun-
II - a parcela de remuneração diária, proporcional aos atrasos, damento.
ausências justificadas, ressalvadas as concessões de que trata o art.
97, e saídas antecipadas, salvo na hipótese de compensação de ho- SEÇÃO I
rário, até o mês subseqüente ao da ocorrência, a ser estabelecida DAS INDENIZAÇÕES
pela chefia imediata.(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Parágrafo único. As faltas justificadas decorrentes de caso Art. 51. Constituem indenizações ao servidor:
fortuito ou de força maior poderão ser compensadas a critério da I - ajuda de custo;
chefia imediata, sendo assim consideradas como efetivo exercício. II - diárias;
(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) III - transporte.
Art. 45. Salvo por imposição legal, ou mandado judicial, ne- IV - auxílio-moradia.(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
nhum desconto incidirá sobre a remuneração ou provento. (Vide Art. 52. Os valores das indenizações estabelecidas nos incisos I
Decreto nº 1.502, de 1995)(Vide Decreto nº 1.903, de 1996) (Vide a III do art. 51, assim como as condições para a sua concessão, serão
Decreto nº 2.065, de 1996) (Regulamento) (Regulamento) estabelecidos em regulamento. (Redação dada pela Lei nº 11.355,
§1º (Revogado pela Lei nº 14.509, de 2022) de 2006)
§2º (Revogado pela Lei nº 14.509, de 2022)

81
NOÇÕES DE DIREITO

SUBSEÇÃO I Art. 59. O servidor que receber diárias e não se afastar da sede,
DA AJUDA DE CUSTO por qualquer motivo, fica obrigado a restituí-las integralmente, no
prazo de 5 (cinco) dias.
Art. 53. A ajuda de custo destina-se a compensar as despesas Parágrafo único. Na hipótese de o servidor retornar à sede em
de instalação do servidor que, no interesse do serviço, passar a ter prazo menor do que o previsto para o seu afastamento, restituirá as
exercício em nova sede, com mudança de domicílio em caráter per- diárias recebidas em excesso, no prazo previsto no caput.
manente, vedado o duplo pagamento de indenização, a qualquer
tempo, no caso de o cônjuge ou companheiro que detenha também SUBSEÇÃO III
a condição de servidor, vier a ter exercício na mesma sede. (Reda- DA INDENIZAÇÃO DE TRANSPORTE
ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§1º Correm por conta da administração as despesas de trans- Art. 60. Conceder-se-á indenização de transporte ao servidor
porte do servidor e de sua família, compreendendo passagem, ba- que realizar despesas com a utilização de meio próprio de locomo-
gagem e bens pessoais. ção para a execução de serviços externos, por força das atribuições
§2º À família do servidor que falecer na nova sede são asse- próprias do cargo, conforme se dispuser em regulamento.
gurados ajuda de custo e transporte para a localidade de origem,
dentro do prazo de 1 (um) ano, contado do óbito. SUBSEÇÃO IV
§3º Não será concedida ajuda de custo nas hipóteses de re- DO AUXÍLIO-MORADIA
moção previstas nos incisos II e III do parágrafo único do art. 36. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
(Incluído pela Lei nº 12.998, de 2014)
Art. 54. A ajuda de custo é calculada sobre a remuneração do Art. 60-A. O auxílio-moradia consiste no ressarcimento das des-
servidor, conforme se dispuser em regulamento, não podendo ex- pesas comprovadamente realizadas pelo servidor com aluguel de
ceder a importância correspondente a 3 (três) meses. moradia ou com meio de hospedagem administrado por empresa
Art. 55. Não será concedida ajuda de custo ao servidor que se hoteleira, no prazo de um mês após a comprovação da despesa pelo
afastar do cargo, ou reassumi-lo, em virtude de mandato eletivo. servidor. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
Art. 56. Será concedida ajuda de custo àquele que, não sendo Art. 60-B. Conceder-se-á auxílio-moradia ao servidor se aten-
servidor da União, for nomeado para cargo em comissão, com mu- didos os seguintes requisitos: (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
dança de domicílio. I - não exista imóvel funcional disponível para uso pelo servi-
Parágrafo único. No afastamento previsto no inciso I do art. 93, dor;(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
a ajuda de custo será paga pelo órgão cessionário, quando cabível. II - o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe imóvel
Art. 57. O servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de custo funcional;(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
quando, injustificadamente, não se apresentar na nova sede no pra- III - o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja ou te-
zo de 30 (trinta) dias. nha sido proprietário, promitente comprador, cessionário ou promi-
tente cessionário de imóvel no Município aonde for exercer o cargo,
SUBSEÇÃO II incluída a hipótese de lote edificado sem averbação de construção,
DAS DIÁRIAS nos doze meses que antecederem a sua nomeação; (Incluído pela
Lei nº 11.355, de 2006)
Art. 58. O servidor que, a serviço, afastar-se da sede em caráter IV - nenhuma outra pessoa que resida com o servidor receba
eventual ou transitório para outro ponto do território nacional ou auxílio-moradia;(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
para o exterior, fará jus a passagens e diárias destinadas a indenizar V - o servidor tenha se mudado do local de residência para ocu-
as parcelas de despesas extraordinária com pousada, alimentação e par cargo em comissão ou função de confiança do Grupo-Direção
locomoção urbana, conforme dispuser em regulamento. (Redação e Assessoramento Superiores - DAS, níveis 4, 5 e 6, de Natureza
dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Especial, de Ministro de Estado ou equivalentes (Incluído pela Lei
§1º A diária será concedida por dia de afastamento, sendo de- nº 11.355, de 2006)
vida pela metade quando o deslocamento não exigir pernoite fora VI - o Município no qual assuma o cargo em comissão ou fun-
da sede, ou quando a União custear, por meio diverso, as despe- ção de confiança não se enquadre nas hipóteses do art. 58, §3º,
sas extraordinárias cobertas por diárias. (Redação dada pela Lei nº em relação ao local de residência ou domicílio do servidor;(Incluído
9.527, de 10.12.97) pela Lei nº 11.355, de 2006)
§2º Nos casos em que o deslocamento da sede constituir exi- VII - o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha residido
gência permanente do cargo, o servidor não fará jus a diárias. no Município, nos últimos doze meses, aonde for exercer o cargo
§3º Também não fará jus a diárias o servidor que se deslocar em comissão ou função de confiança, desconsiderando-se prazo in-
dentro da mesma região metropolitana, aglomeração urbana ou ferior a sessenta dias dentro desse período; e(Incluído pela Lei nº
microrregião, constituídas por municípios limítrofes e regularmente 11.355, de 2006)
instituídas, ou em áreas de controle integrado mantidas com países VIII - o deslocamento não tenha sido por força de alteração
limítrofes, cuja jurisdição e competência dos órgãos, entidades e de lotação ou nomeação para cargo efetivo.(Incluído pela Lei nº
servidores brasileiros considera-se estendida, salvo se houver per- 11.355, de 2006)
noite fora da sede, hipóteses em que as diárias pagas serão sempre IX - o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho de 2006.
as fixadas para os afastamentos dentro do território nacional. (In- (Incluído pela Lei nº 11.490, de 2007)
cluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Parágrafo único. Para fins do inciso VII, não será considerado o
prazo no qual o servidor estava ocupando outro cargo em comissão
relacionado no inciso V. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)

82
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 60-C. (Revogado pela Lei nº 12.998, de 2014) Parágrafo único. A VPNI de que trata o caput deste artigo so-
Art. 60-D. O valor mensal do auxílio-moradia é limitado a 25% mente estará sujeita às revisões gerais de remuneração dos servi-
(vinte e cinco por cento) do valor do cargo em comissão, função co- dores públicos federais. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-
missionada ou cargo de Ministro de Estado ocupado. (Incluído pela 45, de 4.9.2001)
Lei nº 11.784, de 2008
§1º O valor do auxílio-moradia não poderá superar 25% (vinte SUBSEÇÃO II
e cinco por cento) da remuneração de Ministro de Estado. (Incluído DA GRATIFICAÇÃO NATALINA
pela Lei nº 11.784, de 2008
§2º Independentemente do valor do cargo em comissão ou Art. 63. A gratificação natalina corresponde a 1/12 (um doze
função comissionada, fica garantido a todos os que preencherem avos) da remuneração a que o servidor fizer jus no mês de dezem-
os requisitos o ressarcimento até o valor de R$ 1.800,00 (mil e oito- bro, por mês de exercício no respectivo ano.
centos reais). (Incluído pela Lei nº 11.784, de 2008 Parágrafo único. A fração igual ou superior a 15 (quinze) dias
§3º (Incluído pela Medida Provisória nº 805, de 2017) (Vigência será considerada como mês integral.
encerrada) Art. 64. A gratificação será paga até o dia 20 (vinte) do mês de
§4º (Incluído pela Medida Provisória nº 805, de 2017) (Vigência dezembro de cada ano.
encerrada) Parágrafo único. (VETADO).
Art. 60-E. No caso de falecimento, exoneração, colocação de Art. 65. O servidor exonerado perceberá sua gratificação nata-
imóvel funcional à disposição do servidor ou aquisição de imóvel, o lina, proporcionalmente aos meses de exercício, calculada sobre a
auxílio-moradia continuará sendo pago por um mês. (Incluído pela remuneração do mês da exoneração.
Lei nº 11.355, de 2006) Art. 66. A gratificação natalina não será considerada para cálcu-
lo de qualquer vantagem pecuniária.
SEÇÃO II
DAS GRATIFICAÇÕES E ADICIONAIS SUBSEÇÃO III
DO ADICIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO
Art. 61. Além do vencimento e das vantagens previstas nesta
Lei, serão deferidos aos servidores as seguintes retribuições, grati- Art. 67. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
ficações e adicionais:(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) 2001, respeitadas as situações constituídas até 8.3.1999)
I - retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e as-
sessoramento; (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) SUBSEÇÃO IV
II - gratificação natalina; DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE, PERICULOSIDADE OU
III - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) ATIVIDADES PENOSAS
IV - adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas
ou penosas; Art. 68. Os servidores que trabalhem com habitualidade em lo-
V - adicional pela prestação de serviço extraordinário; cais insalubres ou em contato permanente com substâncias tóxicas,
VI - adicional noturno; radioativas ou com risco de vida, fazem jus a um adicional sobre o
VII - adicional de férias; vencimento do cargo efetivo.
VIII - outros, relativos ao local ou à natureza do trabalho. §1º O servidor que fizer jus aos adicionais de insalubridade e de
IX - gratificação por encargo de curso ou concurso. (Incluído periculosidade deverá optar por um deles.
pela Lei nº 11.314 de 2006) §2º O direito ao adicional de insalubridade ou periculosidade
cessa com a eliminação das condições ou dos riscos que deram cau-
SUBSEÇÃO I sa a sua concessão.
DA RETRIBUIÇÃO PELO EXERCÍCIO DE FUNÇÃO DE DIREÇÃO, Art. 69. Haverá permanente controle da atividade de servido-
CHEFIA E ASSESSORAMENTO res em operações ou locais considerados penosos, insalubres ou
(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) perigosos.
Parágrafo único. A servidora gestante ou lactante será afastada,
Art. 62. Ao servidor ocupante de cargo efetivo investido em enquanto durar a gestação e a lactação, das operações e locais pre-
função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de provimento vistos neste artigo, exercendo suas atividades em local salubre e em
em comissão ou de Natureza Especial é devida retribuição pelo seu serviço não penoso e não perigoso.
exercício.(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Art. 70. Na concessão dos adicionais de atividades penosas, de
Parágrafo único. Lei específica estabelecerá a remuneração dos insalubridade e de periculosidade, serão observadas as situações
cargos em comissão de que trata o inciso II do art. 9º.(Redação dada estabelecidas em legislação específica.
pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Art. 71. O adicional de atividade penosa será devido aos servi-
Art. 62-A. Fica transformada em Vantagem Pessoal Nominal- dores em exercício em zonas de fronteira ou em localidades cujas
mente Identificada - VPNI a incorporação da retribuição pelo exer- condições de vida o justifiquem, nos termos, condições e limites
cício de função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de pro- fixados em regulamento.
vimento em comissão ou de Natureza Especial a que se referem os Art. 72. Os locais de trabalho e os servidores que operam com
arts. 3º e 10 da Lei no 8.911, de 11 de julho de 1994, e o art. 3º da Raios X ou substâncias radioativas serão mantidos sob controle per-
Lei no 9.624, de 2 de abril de 1998. (Incluído pela Medida Provisória manente, de modo que as doses de radiação ionizante não ultra-
nº 2.225-45, de 4.9.2001) passem o nível máximo previsto na legislação própria.

83
NOÇÕES DE DIREITO

Parágrafo único. Os servidores a que se refere este artigo serão §1º Os critérios de concessão e os limites da gratificação de
submetidos a exames médicos a cada 6 (seis) meses. que trata este artigo serão fixados em regulamento, observados os
seguintes parâmetros: (Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
SUBSEÇÃO V I - o valor da gratificação será calculado em horas, observadas a
DO ADICIONAL POR SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO natureza e a complexidade da atividade exercida; (Incluído pela Lei
nº 11.314 de 2006)
Art. 73. O serviço extraordinário será remunerado com acrés- II - a retribuição não poderá ser superior ao equivalente a 120
cimo de 50% (cinqüenta por cento) em relação à hora normal de (cento e vinte) horas de trabalho anuais, ressalvada situação de ex-
trabalho. cepcionalidade, devidamente justificada e previamente aprovada
Art. 74. Somente será permitido serviço extraordinário para pela autoridade máxima do órgão ou entidade, que poderá autori-
atender a situações excepcionais e temporárias, respeitado o limite zar o acréscimo de até 120 (cento e vinte) horas de trabalho anuais;
máximo de 2 (duas) horas por jornada. (Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
III - o valor máximo da hora trabalhada corresponderá aos se-
SUBSEÇÃO VI guintes percentuais, incidentes sobre o maior vencimento básico da
DO ADICIONAL NOTURNO administração pública federal: (Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
a) 2,2% (dois inteiros e dois décimos por cento), em se tratando
Art. 75. O serviço noturno, prestado em horário compreendido de atividades previstas nos incisos I e II do caput deste artigo;(Reda-
entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 5 (cinco) horas do dia se- ção dada pela Lei nº 11.501, de 2007)
guinte, terá o valor-hora acrescido de 25% (vinte e cinco por cento), b) 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento), em se tratando
computando-se cada hora como cinqüenta e dois minutos e trinta de atividade prevista nos incisos III e IV do caput deste artigo. (Re-
segundos. dação dada pela Lei nº 11.501, de 2007)
Parágrafo único. Em se tratando de serviço extraordinário, o §2º A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso somente
acréscimo de que trata este artigo incidirá sobre a remuneração será paga se as atividades referidas nos incisos do caput deste ar-
prevista no art. 73. tigo forem exercidas sem prejuízo das atribuições do cargo de que
o servidor for titular, devendo ser objeto de compensação de carga
SUBSEÇÃO VII horária quando desempenhadas durante a jornada de trabalho, na
DO ADICIONAL DE FÉRIAS forma do §4º do art. 98 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 11.314 de
2006)
Art. 76. Independentemente de solicitação, será pago ao servi- §3º A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso não se
dor, por ocasião das férias, um adicional correspondente a 1/3 (um incorpora ao vencimento ou salário do servidor para qualquer efei-
terço) da remuneração do período das férias. to e não poderá ser utilizada como base de cálculo para quaisquer
Parágrafo único. No caso de o servidor exercer função de di- outras vantagens, inclusive para fins de cálculo dos proventos da
reção, chefia ou assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a aposentadoria e das pensões. (Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
respectiva vantagem será considerada no cálculo do adicional de
que trata este artigo. CAPÍTULO III
DAS FÉRIAS
SUBSEÇÃO VIII
DA GRATIFICAÇÃO POR ENCARGO DE CURSO OU CONCURSO Art. 77. O servidor fará jus a trinta dias de férias, que podem
(Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006) ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, no caso de neces-
sidade do serviço, ressalvadas as hipóteses em que haja legislação
Art. 76-A. A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso é específica. (Redação dada pela Lei nº 9.525, de 10.12.97) (Vide Lei
devida ao servidor que, em caráter eventual:(Incluído pela Lei nº nº 9.525, de 1997)
11.314 de 2006) (Regulamento)(Vide Decreto nº 11.069, de 2022) §1º Para o primeiro período aquisitivo de férias serão exigidos
Vigência 12 (doze) meses de exercício.
I - atuar como instrutor em curso de formação, de desenvol- §2º É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao serviço.
vimento ou de treinamento regularmente instituído no âmbito da §3º As férias poderão ser parceladas em até três etapas, desde
administração pública federal;(Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006) que assim requeridas pelo servidor, e no interesse da administração
II - participar de banca examinadora ou de comissão para exa- pública.(Incluído pela Lei nº 9.525, de 10.12.97)
mes orais, para análise curricular, para correção de provas discur- Art. 78. O pagamento da remuneração das férias será efetuado
sivas, para elaboração de questões de provas ou para julgamento até 2 (dois) dias antes do início do respectivo período, observando-
de recursos intentados por candidatos; (Incluído pela Lei nº 11.314 -se o disposto no §1º deste artigo. (Vide Lei nº 9.525, de 1997)
de 2006) §1° e §2° (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
III - participar da logística de preparação e de realização de §3º O servidor exonerado do cargo efetivo, ou em comissão,
concurso público envolvendo atividades de planejamento, coorde- perceberá indenização relativa ao período das férias a que tiver di-
nação, supervisão, execução e avaliação de resultado, quando tais reito e ao incompleto, na proporção de um doze avos por mês de
atividades não estiverem incluídas entre as suas atribuições perma- efetivo exercício, ou fração superior a quatorze dias. (Incluído pela
nentes;(Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006) Lei nº 8.216, de 13.8.91)
IV - participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas de exa- §4º A indenização será calculada com base na remuneração do
me vestibular ou de concurso público ou supervisionar essas ativi- mês em que for publicado o ato exoneratório. (Incluído pela Lei nº
dades. (Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006) 8.216, de 13.8.91)

84
NOÇÕES DE DIREITO

§5º Em caso de parcelamento, o servidor receberá o valor §2º A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações,
adicional previsto no inciso XVII do art. 7º da Constituição Fede- poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes
ral quando da utilização do primeiro período. (Incluído pela Lei nº condições: (Redação dada pela Lei nº 12.269, de 2010)
9.525, de 10.12.97) I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a
Art. 79. O servidor que opera direta e permanentemente com remuneração do servidor; e (Incluído pela Lei nº 12.269, de 2010)
Raios X ou substâncias radioativas gozará 20 (vinte) dias consecuti- II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remu-
vos de férias, por semestre de atividade profissional, proibida em neração. (Incluído pela Lei nº 12.269, de 2010)
qualquer hipótese a acumulação. §3º O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a
Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) partir da data do deferimento da primeira licença concedida. (Inclu-
Art. 80. As férias somente poderão ser interrompidas por mo- ído pela Lei nº 12.269, de 2010)
tivo de calamidade pública, comoção interna, convocação para júri, §4º A soma das licenças remuneradas e das licenças não remu-
serviço militar ou eleitoral, ou por necessidade do serviço declarada neradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em um
pela autoridade máxima do órgão ou entidade. (Redação dada pela mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no §3º,
Lei nº 9.527, de 10.12.97) (Vide Lei nº 9.525, de 1997) não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e II do
Parágrafo único. O restante do período interrompido será go- §2º. (Incluído pela Lei nº 12.269, de 2010)
zado de uma só vez, observado o disposto no art. 77. (Incluído pela
Lei nº 9.527, de 10.12.97) SEÇÃO III
DA LICENÇA POR MOTIVO DE AFASTAMENTO DO CÔNJUGE
CAPÍTULO IV
DAS LICENÇAS Art. 84. Poderá ser concedida licença ao servidor para acompa-
nhar cônjuge ou companheiro que foi deslocado para outro ponto
SEÇÃO I do território nacional, para o exterior ou para o exercício de manda-
DISPOSIÇÕES GERAIS to eletivo dos Poderes Executivo e Legislativo.
§1º A licença será por prazo indeterminado e sem remunera-
Art. 81. Conceder-se-á ao servidor licença: ção.
I - por motivo de doença em pessoa da família; §2º No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou companhei-
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro; ro também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos
III - para o serviço militar; Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
IV - para atividade política; pios, poderá haver exercício provisório em órgão ou entidade da
V - para capacitação; (Redação dada pela Lei nº 9.527, de Administração Federal direta, autárquica ou fundacional, desde que
10.12.97) para o exercício de atividade compatível com o seu cargo.(Redação
VI - para tratar de interesses particulares; dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
VII - para desempenho de mandato classista.
§1º A licença prevista no inciso I do caput deste artigo bem SEÇÃO IV
como cada uma de suas prorrogações serão precedidas de exame DA LICENÇA PARA O SERVIÇO MILITAR
por perícia médica oficial, observado o disposto no art. 204 desta
Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009) Art. 85. Ao servidor convocado para o serviço militar será con-
§2º (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) cedida licença, na forma e condições previstas na legislação espe-
§3º É vedado o exercício de atividade remunerada durante o cífica.
período da licença prevista no inciso I deste artigo. Parágrafo único. Concluído o serviço militar, o servidor terá até
Art. 82. A licença concedida dentro de 60 (sessenta) dias do 30 (trinta) dias sem remuneração para reassumir o exercício do car-
término de outra da mesma espécie será considerada como pror- go.
rogação.
SEÇÃO V
SEÇÃO II DA LICENÇA PARA ATIVIDADE POLÍTICA
DA LICENÇA POR MOTIVO DE DOENÇA EM PESSOA DA FAMÍ-
LIA Art. 86. O servidor terá direito a licença, sem remuneração,
durante o período que mediar entre a sua escolha em convenção
Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera do registro
doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padras- de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral.
to ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas §1º O servidor candidato a cargo eletivo na localidade onde
e conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação desempenha suas funções e que exerça cargo de direção, chefia,
por perícia médica oficial. (Redação dada pela Lei nº 11.907, de assessoramento, arrecadação ou fiscalização, dele será afastado, a
2009) partir do dia imediato ao do registro de sua candidatura perante a
§1º A licença somente será deferida se a assistência direta do Justiça Eleitoral, até o décimo dia seguinte ao do pleito.(Redação
servidor for indispensável e não puder ser prestada simultanea- dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
mente com o exercício do cargo ou mediante compensação de ho- §2º A partir do registro da candidatura e até o décimo dia se-
rário, na forma do disposto no inciso II do art. 44. (Redação dada guinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença, assegurados os
pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) vencimentos do cargo efetivo, somente pelo período de três meses.
(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)

85
NOÇÕES DE DIREITO

SEÇÃO VI CAPÍTULO V
DA LICENÇA PARA CAPACITAÇÃO DOS AFASTAMENTOS
(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
SEÇÃO I
Art. 87. Após cada qüinqüênio de efetivo exercício, o servidor DO AFASTAMENTO PARA SERVIR A OUTRO ÓRGÃO OU ENTI-
poderá, no interesse da Administração, afastar-se do exercício do DADE
cargo efetivo, com a respectiva remuneração, por até três meses,
para participar de curso de capacitação profissional. (Redação dada Art. 93. O servidor poderá ser cedido para ter exercício em ou-
pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)(Vide Decreto nº 5.707, de 2006) tro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, ou do
Parágrafo único. Os períodos de licença de que trata o caput Distrito Federal e dos Municípios, nas seguintes hipóteses:(Redação
não são acumuláveis. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.91) (Regulamento) (Vide Decreto
Art. 88. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) nº 4.493, de 3.12.2002) (Vide Decreto nº 5.213, de 2004) (Vide De-
Art. 89. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) creto nº 9.144, de 2017)
Art. 90. (VETADO). I - para exercício de cargo em comissão ou função de confiança;
(Redação dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.91)
SEÇÃO VII II - em casos previstos em leis específicas. (Redação dada pela
DA LICENÇA PARA TRATAR DE INTERESSES PARTICULARES Lei nº 8.270, de 17.12.91)
§1º Na hipótese do inciso I, sendo a cessão para órgãos ou en-
Art. 91. A critério da Administração, poderão ser concedidas ao tidades dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, o ônus
servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não esteja em está- da remuneração será do órgão ou entidade cessionária, mantido o
gio probatório, licenças para o trato de assuntos particulares pelo ônus para o cedente nos demais casos. (Redação dada pela Lei nº
prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração. (Redação 8.270, de 17.12.91)
dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) §2º Na hipótese de o servidor cedido a empresa pública ou
Parágrafo único. A licença poderá ser interrompida, a qualquer sociedade de economia mista, nos termos das respectivas normas,
tempo, a pedido do servidor ou no interesse do serviço. (Redação optar pela remuneração do cargo efetivo ou pela remuneração do
dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) cargo efetivo acrescida de percentual da retribuição do cargo em
comissão, a entidade cessionária efetuará o reembolso das despe-
SEÇÃO VIII sas realizadas pelo órgão ou entidade de origem. (Redação dada
DA LICENÇA PARA O DESEMPENHO DE MANDATO CLASSISTA pela Lei nº 11.355, de 2006)
§3º A cessão far-se-á mediante Portaria publicada no Diário
Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem re- Oficial da União. (Redação dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.91)
muneração para o desempenho de mandato em confederação, §4º Mediante autorização expressa do Presidente da Repúbli-
federação, associação de classe de âmbito nacional, sindicato re- ca, o servidor do Poder Executivo poderá ter exercício em outro ór-
presentativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão ou, gão da Administração Federal direta que não tenha quadro próprio
ainda, para participar de gerência ou administração em sociedade de pessoal, para fim determinado e a prazo certo. (Incluído pela Lei
cooperativa constituída por servidores públicos para prestar servi- nº 8.270, de 17.12.91)
ços a seus membros, observado o disposto na alínea c do inciso VIII §5º Aplica-se à União, em se tratando de empregado ou servi-
do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento e obser- dor por ela requisitado, as disposições dos §§1º e 2º deste artigo.
vados os seguintes limites: (Redação dada pela Lei nº 11.094, de (Redação dada pela Lei nº 10.470, de 25.6.2002)
2005) (Regulamento)(Regulamento) §6º As cessões de empregados de empresa pública ou de socie-
I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, 2 (dois) dade de economia mista, que receba recursos de Tesouro Nacional
servidores; (Redação dada pela Lei nº 12.998, de 2014) para o custeio total ou parcial da sua folha de pagamento de pes-
II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 (trinta soal, independem das disposições contidas nos incisos I e II e §§1º
mil) associados, 4 (quatro) servidores; (Redação dada pela Lei nº e 2º deste artigo, ficando o exercício do empregado cedido condi-
12.998, de 2014) cionado a autorização específica do Ministério do Planejamento,
III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) associados, Orçamento e Gestão, exceto nos casos de ocupação de cargo em
8 (oito) servidores. (Redação dada pela Lei nº 12.998, de 2014) comissão ou função gratificada. (Incluído pela Lei nº 10.470, de
§1º Somente poderão ser licenciados os servidores eleitos para 25.6.2002)
cargos de direção ou de representação nas referidas entidades, des- §7° O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, com
de que cadastradas no órgão competente.(Redação dada pela Lei nº a finalidade de promover a composição da força de trabalho dos
12.998, de 2014) órgãos e entidades da Administração Pública Federal, poderá de-
§2º A licença terá duração igual à do mandato, podendo ser terminar a lotação ou o exercício de empregado ou servidor, inde-
renovada, no caso de reeleição. (Redação dada pela Lei nº 12.998, pendentemente da observância do constante no inciso I e nos §§1º
de 2014) e 2º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 10.470, de 25.6.2002)(Vide
Decreto nº 5.375, de 2005)

86
NOÇÕES DE DIREITO

SEÇÃO II §1º Ato do dirigente máximo do órgão ou entidade definirá,


DO AFASTAMENTO PARA EXERCÍCIO DE MANDATO ELETIVO em conformidade com a legislação vigente, os programas de capa-
citação e os critérios para participação em programas de pós-gra-
Art. 94. Ao servidor investido em mandato eletivo aplicam-se duação no País, com ou sem afastamento do servidor, que serão
as seguintes disposições: avaliados por um comitê constituído para este fim. (Incluído pela
I - tratando-se de mandato federal, estadual ou distrital, ficará Lei nº 11.907, de 2009)
afastado do cargo; §2º Os afastamentos para realização de programas de mestra-
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, do e doutorado somente serão concedidos aos servidores titulares
sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração; de cargos efetivos no respectivo órgão ou entidade há pelo menos
III - investido no mandato de vereador: 3 (três) anos para mestrado e 4 (quatro) anos para doutorado, in-
a) havendo compatibilidade de horário, perceberá as vanta- cluído o período de estágio probatório, que não tenham se afastado
gens de seu cargo, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo; por licença para tratar de assuntos particulares para gozo de licença
b) não havendo compatibilidade de horário, será afastado do capacitação ou com fundamento neste artigo nos 2 (dois) anos an-
cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração. teriores à data da solicitação de afastamento.(Incluído pela Lei nº
§1º No caso de afastamento do cargo, o servidor contribuirá 11.907, de 2009)
para a seguridade social como se em exercício estivesse. §3º Os afastamentos para realização de programas de pós-dou-
§2º O servidor investido em mandato eletivo ou classista não torado somente serão concedidos aos servidores titulares de car-
poderá ser removido ou redistribuído de ofício para localidade di- gos efetivo no respectivo órgão ou entidade há pelo menos quatro
versa daquela onde exerce o mandato. anos, incluído o período de estágio probatório, e que não tenham
se afastado por licença para tratar de assuntos particulares ou com
SEÇÃO III fundamento neste artigo, nos quatro anos anteriores à data da soli-
DO AFASTAMENTO PARA ESTUDO OU MISSÃO NO EXTERIOR citação de afastamento.(Redação dada pela Lei nº 12.269, de 2010)
§4º Os servidores beneficiados pelos afastamentos previstos
Art. 95. O servidor não poderá ausentar-se do País para estudo nos §§1º, 2º e 3º deste artigo terão que permanecer no exercício
ou missão oficial, sem autorização do Presidente da República, Pre- de suas funções após o seu retorno por um período igual ao do
sidente dos Órgãos do Poder Legislativo e Presidente do Supremo afastamento concedido. (Incluído pela Lei nº 11.907, de 2009)
Tribunal Federal. (Vide Decreto nº 1.387, de 1995) §5º Caso o servidor venha a solicitar exoneração do cargo ou
§1º A ausência não excederá a 4 (quatro) anos, e finda a missão aposentadoria, antes de cumprido o período de permanência pre-
ou estudo, somente decorrido igual período, será permitida nova visto no §4º deste artigo, deverá ressarcir o órgão ou entidade, na
ausência. forma do art. 47 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990, dos
§2º Ao servidor beneficiado pelo disposto neste artigo não será gastos com seu aperfeiçoamento.(Incluído pela Lei nº 11.907, de
concedida exoneração ou licença para tratar de interesse particular 2009)
antes de decorrido período igual ao do afastamento, ressalvada a §6º Caso o servidor não obtenha o título ou grau que justificou
hipótese de ressarcimento da despesa havida com seu afastamen- seu afastamento no período previsto, aplica-se o disposto no §5º
to. deste artigo, salvo na hipótese comprovada de força maior ou de
§3º O disposto neste artigo não se aplica aos servidores da car- caso fortuito, a critério do dirigente máximo do órgão ou entidade.
reira diplomática. (Incluído pela Lei nº 11.907, de 2009)
§4º As hipóteses, condições e formas para a autorização de que §7º Aplica-se à participação em programa de pós-graduação no
trata este artigo, inclusive no que se refere à remuneração do servi- Exterior, autorizado nos termos do art. 95 desta Lei, o disposto nos
dor, serão disciplinadas em regulamento.(Incluído pela Lei nº 9.527, §§1º a 6º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.907, de 2009)
de 10.12.97)
Art. 96. O afastamento de servidor para servir em organismo CAPÍTULO VI
internacional de que o Brasil participe ou com o qual coopere dar- DAS CONCESSÕES
-se-á com perda total da remuneração.(Vide Decreto nº 3.456, de
2000) Art. 97. Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor ausentar-se
do serviço:
SEÇÃO IV I - por 1 (um) dia, para doação de sangue;
(Incluído pela Lei nº 11.907, de 2009) II - pelo período comprovadamente necessário para alistamen-
DO AFASTAMENTO PARA PARTICIPAÇÃO EM PROGRAMA DE to ou recadastramento eleitoral, limitado, em qualquer caso, a 2
PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU NO PAÍS (dois) dias; (Redação dada pela Lei nº 12.998, de 2014)
III - por 8 (oito) dias consecutivos em razão de :
Art. 96-A. O servidor poderá, no interesse da Administração, e a) casamento;
desde que a participação não possa ocorrer simultaneamente com b) falecimento do cônjuge, companheiro, pais, madrasta ou pa-
o exercício do cargo ou mediante compensação de horário, afastar- drasto, filhos, enteados, menor sob guarda ou tutela e irmãos.
-se do exercício do cargo efetivo, com a respectiva remuneração, Art. 98. Será concedido horário especial ao servidor estudante,
para participar em programa de pós-graduação stricto sensu em quando comprovada a incompatibilidade entre o horário escolar e
instituição de ensino superior no País. (Incluído pela Lei nº 11.907, o da repartição, sem prejuízo do exercício do cargo.
de 2009)

87
NOÇÕES DE DIREITO

§1º Para efeito do disposto neste artigo, será exigida a com- c) para o desempenho de mandato classista ou participação de
pensação de horário no órgão ou entidade que tiver exercício, res- gerência ou administração em sociedade cooperativa constituída
peitada a duração semanal do trabalho. (Parágrafo renumerado e por servidores para prestar serviços a seus membros, exceto para
alterado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) efeito de promoção por merecimento; (Redação dada pela Lei nº
§2º Também será concedido horário especial ao servidor por- 11.094, de 2005)
tador de deficiência, quando comprovada a necessidade por junta d) por motivo de acidente em serviço ou doença profissional;
médica oficial, independentemente de compensação de horário. e) para capacitação, conforme dispuser o regulamento; (Reda-
(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§3º As disposições constantes do §2º são extensivas ao servi- f) por convocação para o serviço militar;
dor que tenha cônjuge, filho ou dependente com deficiência. (Reda- IX - deslocamento para a nova sede de que trata o art. 18;
ção dada pela Lei nº 13.370, de 2016) X - participação em competição desportiva nacional ou convo-
§4º Será igualmente concedido horário especial, vinculado à cação para integrar representação desportiva nacional, no País ou
compensação de horário a ser efetivada no prazo de até 1 (um) ano, no exterior, conforme disposto em lei específica;
ao servidor que desempenhe atividade prevista nos incisos I e II do XI - afastamento para servir em organismo internacional de que
caput do art. 76-A desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.501, de o Brasil participe ou com o qual coopere. (Incluído pela Lei nº 9.527,
2007) de 10.12.97)
Art. 99. Ao servidor estudante que mudar de sede no interesse Art. 103. Contar-se-á apenas para efeito de aposentadoria e
da administração é assegurada, na localidade da nova residência ou disponibilidade:
na mais próxima, matrícula em instituição de ensino congênere, em I - o tempo de serviço público prestado aos Estados, Municípios
qualquer época, independentemente de vaga. e Distrito Federal;
Parágrafo único. O disposto neste artigo estende-se ao cônjuge II - a licença para tratamento de saúde de pessoal da família do
ou companheiro, aos filhos, ou enteados do servidor que vivam na servidor, com remuneração, que exceder a 30 (trinta) dias em perí-
sua companhia, bem como aos menores sob sua guarda, com au- odo de 12 (doze) meses.(Redação dada pela Lei nº 12.269, de 2010)
torização judicial. III - a licença para atividade política, no caso do art. 86, §2º;
IV - o tempo correspondente ao desempenho de mandato ele-
CAPÍTULO VII tivo federal, estadual, municipal ou distrital, anterior ao ingresso no
DO TEMPO DE SERVIÇO serviço público federal;
V - o tempo de serviço em atividade privada, vinculada à Pre-
Art. 100. É contado para todos os efeitos o tempo de serviço vidência Social;
público federal, inclusive o prestado às Forças Armadas. VI - o tempo de serviço relativo a tiro de guerra;
Art. 101. A apuração do tempo de serviço será feita em dias, VII - o tempo de licença para tratamento da própria saúde que
que serão convertidos em anos, considerado o ano como de trezen- exceder o prazo a que se refere a alínea “b” do inciso VIII do art.
tos e sessenta e cinco dias. 102.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) §1º O tempo em que o servidor esteve aposentado será conta-
Art. 102. Além das ausências ao serviço previstas no art. 97, são do apenas para nova aposentadoria.
considerados como de efetivo exercício os afastamentos em virtude §2º Será contado em dobro o tempo de serviço prestado às
de: (Vide Decreto nº 5.707, de 2006) Forças Armadas em operações de guerra.
I - férias; §3º É vedada a contagem cumulativa de tempo de serviço pres-
II - exercício de cargo em comissão ou equivalente, em órgão tado concomitantemente em mais de um cargo ou função de órgão
ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, Municípios e Dis- ou entidades dos Poderes da União, Estado, Distrito Federal e Mu-
trito Federal; nicípio, autarquia, fundação pública, sociedade de economia mista
III - exercício de cargo ou função de governo ou administração, e empresa pública.
em qualquer parte do território nacional, por nomeação do Presi-
dente da República; CAPÍTULO VIII
IV - participação em programa de treinamento regularmen- DO DIREITO DE PETIÇÃO
te instituído ou em programa de pós-graduação stricto sensu no
País, conforme dispuser o regulamento; (Redação dada pela Lei nº Art. 104. É assegurado ao servidor o direito de requerer aos
11.907, de 2009) (Vide Decreto nº 5.707, de 2006) Poderes Públicos, em defesa de direito ou interesse legítimo.
V - desempenho de mandato eletivo federal, estadual, munici- Art. 105. O requerimento será dirigido à autoridade compe-
pal ou do Distrito Federal, exceto para promoção por merecimento; tente para decidi-lo e encaminhado por intermédio daquela a que
VI - júri e outros serviços obrigatórios por lei; estiver imediatamente subordinado o requerente.
VII - missão ou estudo no exterior, quando autorizado o afasta- Art. 106. Cabe pedido de reconsideração à autoridade que hou-
mento, conforme dispuser o regulamento; (Redação dada pela Lei ver expedido o ato ou proferido a primeira decisão, não podendo
nº 9.527, de 10.12.97)(Vide Decreto nº 5.707, de 2006) ser renovado.(Vide Lei nº 12.300, de 2010)
VIII - licença: Parágrafo único. O requerimento e o pedido de reconsideração
a) à gestante, à adotante e à paternidade; de que tratam os artigos anteriores deverão ser despachados no
b) para tratamento da própria saúde, até o limite de vinte e prazo de 5 (cinco) dias e decididos dentro de 30 (trinta) dias.
quatro meses, cumulativo ao longo do tempo de serviço público Art. 107. Caberá recurso: (Vide Lei nº 12.300, de 2010)
prestado à União, em cargo de provimento efetivo; (Redação dada I - do indeferimento do pedido de reconsideração;
pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) II - das decisões sobre os recursos sucessivamente interpostos.

88
NOÇÕES DE DIREITO

§1º O recurso será dirigido à autoridade imediatamente supe- VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição;
rior à que tiver expedido o ato ou proferido a decisão, e, sucessiva- IX - manter conduta compatível com a moralidade administra-
mente, em escala ascendente, às demais autoridades. tiva;
§2º O recurso será encaminhado por intermédio da autoridade X - ser assíduo e pontual ao serviço;
a que estiver imediatamente subordinado o requerente. XI - tratar com urbanidade as pessoas;
Art. 108. O prazo para interposição de pedido de reconsidera- XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder.
ção ou de recurso é de 30 (trinta) dias, a contar da publicação ou da Parágrafo único. A representação de que trata o inciso XII será
ciência, pelo interessado, da decisão recorrida. (Vide Lei nº 12.300, encaminhada pela via hierárquica e apreciada pela autoridade su-
de 2010) perior àquela contra a qual é formulada, assegurando-se ao repre-
Art. 109. O recurso poderá ser recebido com efeito suspensivo, sentando ampla defesa.
a juízo da autoridade competente.
Parágrafo único. Em caso de provimento do pedido de reconsi- CAPÍTULO II
deração ou do recurso, os efeitos da decisão retroagirão à data do DAS PROIBIÇÕES
ato impugnado.
Art. 110. O direito de requerer prescreve: Art. 117. Ao servidor é proibido: (Vide Medida Provisória nº
I - em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão e de cassa- 2.225-45, de 4.9.2001)
ção de aposentadoria ou disponibilidade, ou que afetem interesse I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia au-
patrimonial e créditos resultantes das relações de trabalho; torização do chefe imediato;
II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo quando II - retirar, sem prévia anuência da autoridade competente,
outro prazo for fixado em lei. qualquer documento ou objeto da repartição;
Parágrafo único. O prazo de prescrição será contado da data da III - recusar fé a documentos públicos;
publicação do ato impugnado ou da data da ciência pelo interessa- IV - opor resistência injustificada ao andamento de documento
do, quando o ato não for publicado. e processo ou execução de serviço;
Art. 111. O pedido de reconsideração e o recurso, quando cabí- V - promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto
veis, interrompem a prescrição. da repartição;
Art. 112. A prescrição é de ordem pública, não podendo ser VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos pre-
relevada pela administração. vistos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua respon-
Art. 113. Para o exercício do direito de petição, é assegurada sabilidade ou de seu subordinado;
vista do processo ou documento, na repartição, ao servidor ou a VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a
procurador por ele constituído. associação profissional ou sindical, ou a partido político;
Art. 114. A administração deverá rever seus atos, a qualquer VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de
tempo, quando eivados de ilegalidade. confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau
Art. 115. São fatais e improrrogáveis os prazos estabelecidos civil;
neste Capítulo, salvo motivo de força maior. IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de ou-
trem, em detrimento da dignidade da função pública;
TÍTULO IV X - participar de gerência ou administração de sociedade priva-
DO REGIME DISCIPLINAR da, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto
na qualidade de acionista, cotista ou comanditário;(Redação dada
CAPÍTULO I pela Lei nº 11.784, de 2008
DOS DEVERES XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a reparti-
ções públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários
Art. 116. São deveres do servidor: ou assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou
I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo; companheiro;
II - ser leal às instituições a que servir; XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem de qual-
III - observar as normas legais e regulamentares; quer espécie, em razão de suas atribuições;
IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando manifesta- XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estran-
mente ilegais; geiro;
V - atender com presteza: XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas;
a) ao público em geral, prestando as informações requeridas, XV - proceder de forma desidiosa;
ressalvadas as protegidas por sigilo; XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em
b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direito serviços ou atividades particulares;
ou esclarecimento de situações de interesse pessoal; XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo
c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública. que ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias;
VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis
cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando houver com o exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho;
suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de outra autori- XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solici-
dade competente para apuração; (Redação dada pela Lei nº 12.527, tado.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
de 2011) Parágrafo único. A vedação de que trata o inciso X do caput
VII - zelar pela economia do material e a conservação do patri- deste artigo não se aplica nos seguintes casos: (Incluído pela Lei nº
mônio público; 11.784, de 2008

89
NOÇÕES DE DIREITO

I - participação nos conselhos de administração e fiscal de em- §3º A obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores
presas ou entidades em que a União detenha, direta ou indireta- e contra eles será executada, até o limite do valor da herança rece-
mente, participação no capital social ou em sociedade cooperativa bida.
constituída para prestar serviços a seus membros; e(Incluído pela Art. 123. A responsabilidade penal abrange os crimes e contra-
Lei nº 11.784, de 2008 venções imputadas ao servidor, nessa qualidade.
II - gozo de licença para o trato de interesses particulares, na Art. 124. A responsabilidade civil-administrativa resulta de ato
forma do art. 91 desta Lei, observada a legislação sobre conflito de omissivo ou comissivo praticado no desempenho do cargo ou fun-
interesses. (Incluído pela Lei nº 11.784, de 2008 ção.
Art. 125. As sanções civis, penais e administrativas poderão
CAPÍTULO III cumular-se, sendo independentes entre si.
DA ACUMULAÇÃO Art. 126. A responsabilidade administrativa do servidor será
afastada no caso de absolvição criminal que negue a existência do
Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é ve- fato ou sua autoria.
dada a acumulação remunerada de cargos públicos. Art. 126-A. Nenhum servidor poderá ser responsabilizado civil,
§1º A proibição de acumular estende-se a cargos, empregos penal ou administrativamente por dar ciência à autoridade superior
e funções em autarquias, fundações públicas, empresas públicas, ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, a outra autori-
sociedades de economia mista da União, do Distrito Federal, dos dade competente para apuração de informação concernente à prá-
Estados, dos Territórios e dos Municípios. tica de crimes ou improbidade de que tenha conhecimento, ainda
§2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada que em decorrência do exercício de cargo, emprego ou função pú-
à comprovação da compatibilidade de horários. blica.(Incluído pela Lei nº 12.527, de 2011)
§3º Considera-se acumulação proibida a percepção de venci-
mento de cargo ou emprego público efetivo com proventos da ina- CAPÍTULO V
tividade, salvo quando os cargos de que decorram essas remunera- DAS PENALIDADES
ções forem acumuláveis na atividade. (Incluído pela Lei nº 9.527,
de 10.12.97) Art. 127. São penalidades disciplinares:
Art. 119. O servidor não poderá exercer mais de um cargo em I - advertência;
comissão, exceto no caso previsto no parágrafo único do art. 9º, II - suspensão;
nem ser remunerado pela participação em órgão de deliberação III - demissão;
coletiva.(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade; (Vide ADPF
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à remu- nº 418)
neração devida pela participação em conselhos de administração e V - destituição de cargo em comissão;
fiscal das empresas públicas e sociedades de economia mista, suas VI - destituição de função comissionada.
subsidiárias e controladas, bem como quaisquer empresas ou enti- Art. 128. Na aplicação das penalidades serão consideradas a
dades em que a União, direta ou indiretamente, detenha participa- natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela
ção no capital social, observado o que, a respeito, dispuser legisla- provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou
ção específica. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, atenuantes e os antecedentes funcionais.
de 4.9.2001) Parágrafo único. O ato de imposição da penalidade mencionará
Art. 120. O servidor vinculado ao regime desta Lei, que acumu- sempre o fundamento legal e a causa da sanção disciplinar.(Incluído
lar licitamente dois cargos efetivos, quando investido em cargo de pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
provimento em comissão, ficará afastado de ambos os cargos efe- Art. 129. A advertência será aplicada por escrito, nos casos de
tivos, salvo na hipótese em que houver compatibilidade de horário violação de proibição constante do art. 117, incisos I a VIII e XIX, e
e local com o exercício de um deles, declarada pelas autoridades de inobservância de dever funcional previsto em lei, regulamenta-
máximas dos órgãos ou entidades envolvidos. (Redação dada pela ção ou norma interna, que não justifique imposição de penalidade
Lei nº 9.527, de 10.12.97) mais grave. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Art. 130. A suspensão será aplicada em caso de reincidência
CAPÍTULO IV das faltas punidas com advertência e de violação das demais proibi-
DAS RESPONSABILIDADES ções que não tipifiquem infração sujeita a penalidade de demissão,
não podendo exceder de 90 (noventa) dias.
Art. 121. O servidor responde civil, penal e administrativamen- §1º Será punido com suspensão de até 15 (quinze) dias o ser-
te pelo exercício irregular de suas atribuições. vidor que, injustificadamente, recusar-se a ser submetido a inspe-
Art. 122. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou ção médica determinada pela autoridade competente, cessando os
comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou efeitos da penalidade uma vez cumprida a determinação.
a terceiros. §2º Quando houver conveniência para o serviço, a penalidade
§1º A indenização de prejuízo dolosamente causado ao erário de suspensão poderá ser convertida em multa, na base de 50% (cin-
somente será liquidada na forma prevista no art. 46, na falta de qüenta por cento) por dia de vencimento ou remuneração, ficando
outros bens que assegurem a execução do débito pela via judicial. o servidor obrigado a permanecer em serviço.
§2º Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o ser- Art. 131. As penalidades de advertência e de suspensão terão
vidor perante a Fazenda Pública, em ação regressiva. seus registros cancelados, após o decurso de 3 (três) e 5 (cinco)
anos de efetivo exercício, respectivamente, se o servidor não hou-
ver, nesse período, praticado nova infração disciplinar.

90
NOÇÕES DE DIREITO

Parágrafo único. O cancelamento da penalidade não surtirá §5º A opção pelo servidor até o último dia de prazo para defesa
efeitos retroativos. configurará sua boa-fé, hipótese em que se converterá automatica-
Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: mente em pedido de exoneração do outro cargo.(Incluído pela Lei
I - crime contra a administração pública; nº 9.527, de 10.12.97)
II - abandono de cargo; §6º Caracterizada a acumulação ilegal e provada a má-fé, apli-
III - inassiduidade habitual; car-se-á a pena de demissão, destituição ou cassação de aposenta-
IV - improbidade administrativa; doria ou disponibilidade em relação aos cargos, empregos ou fun-
V - incontinência pública e conduta escandalosa, na repartição; ções públicas em regime de acumulação ilegal, hipótese em que
VI - insubordinação grave em serviço; os órgãos ou entidades de vinculação serão comunicados. (Incluído
VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
em legítima defesa própria ou de outrem; §7º O prazo para a conclusão do processo administrativo disci-
VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos; plinar submetido ao rito sumário não excederá trinta dias, contados
IX - revelação de segredo do qual se apropriou em razão do da data de publicação do ato que constituir a comissão, admitida
cargo; a sua prorrogação por até quinze dias, quando as circunstâncias o
X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio na- exigirem.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
cional; §8º O procedimento sumário rege-se pelas disposições deste
XI - corrupção; artigo, observando-se, no que lhe for aplicável, subsidiariamen-
XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públi- te, as disposições dos Títulos IV e V desta Lei.(Incluído pela Lei nº
cas; 9.527, de 10.12.97)
XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117. Art. 134. Será cassada a aposentadoria ou a disponibilidade do
Art. 133. Detectada a qualquer tempo a acumulação ilegal de inativo que houver praticado, na atividade, falta punível com a de-
cargos, empregos ou funções públicas, a autoridade a que se refere missão. (Vide ADPF nº 418)
o art. 143 notificará o servidor, por intermédio de sua chefia ime- Art. 135. A destituição de cargo em comissão exercido por não
diata, para apresentar opção no prazo improrrogável de dez dias, ocupante de cargo efetivo será aplicada nos casos de infração sujei-
contados da data da ciência e, na hipótese de omissão, adotará pro- ta às penalidades de suspensão e de demissão.
cedimento sumário para a sua apuração e regularização imediata, Parágrafo único. Constatada a hipótese de que trata este artigo,
cujo processo administrativo disciplinar se desenvolverá nas seguin- a exoneração efetuada nos termos do art. 35 será convertida em
tes fases: (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) destituição de cargo em comissão.
I - instauração, com a publicação do ato que constituir a co- Art. 136. A demissão ou a destituição de cargo em comissão,
missão, a ser composta por dois servidores estáveis, e simultanea- nos casos dos incisos IV, VIII, X e XI do art. 132, implica a indisponi-
mente indicar a autoria e a materialidade da transgressão objeto da bilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, sem prejuízo da ação
apuração;(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) penal cabível.
II - instrução sumária, que compreende indiciação, defesa e re- Art. 137. A demissão ou a destituição de cargo em comissão,
latório; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) por infringência do art. 117, incisos IX e XI, incompatibiliza o ex-ser-
III - julgamento. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) vidor para nova investidura em cargo público federal, pelo prazo de
§1º A indicação da autoria de que trata o inciso I dar-se-á pelo 5 (cinco) anos. (Vide ADIN 2975)
nome e matrícula do servidor, e a materialidade pela descrição dos Parágrafo único. Não poderá retornar ao serviço público fede-
cargos, empregos ou funções públicas em situação de acumulação ral o servidor que for demitido ou destituído do cargo em comissão
ilegal, dos órgãos ou entidades de vinculação, das datas de ingresso, por infringência do art. 132, incisos I, IV, VIII, X e XI.
do horário de trabalho e do correspondente regime jurídico. (Reda- Art. 138. Configura abandono de cargo a ausência intencional
ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) do servidor ao serviço por mais de trinta dias consecutivos.
§2º A comissão lavrará, até três dias após a publicação do ato Art. 139. Entende-se por inassiduidade habitual a falta ao ser-
que a constituiu, termo de indiciação em que serão transcritas as viço, sem causa justificada, por sessenta dias, interpoladamente,
informações de que trata o parágrafo anterior, bem como promo- durante o período de doze meses.
verá a citação pessoal do servidor indiciado, ou por intermédio de Art. 140. Na apuração de abandono de cargo ou inassiduidade
sua chefia imediata, para, no prazo de cinco dias, apresentar defe- habitual, também será adotado o procedimento sumário a que se
sa escrita, assegurando-se-lhe vista do processo na repartição, ob- refere o art. 133, observando-se especialmente que: (Redação dada
servado o disposto nos arts. 163 e 164. (Redação dada pela Lei nº pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
9.527, de 10.12.97) I - a indicação da materialidade dar-se-á: (Incluído pela Lei nº
§3º Apresentada a defesa, a comissão elaborará relatório con- 9.527, de 10.12.97)
clusivo quanto à inocência ou à responsabilidade do servidor, em a) na hipótese de abandono de cargo, pela indicação precisa do
que resumirá as peças principais dos autos, opinará sobre a licitude período de ausência intencional do servidor ao serviço superior a
da acumulação em exame, indicará o respectivo dispositivo legal e trinta dias; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
remeterá o processo à autoridade instauradora, para julgamento. b) no caso de inassiduidade habitual, pela indicação dos dias de
(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) falta ao serviço sem causa justificada, por período igual ou superior
§4º No prazo de cinco dias, contados do recebimento do pro- a sessenta dias interpoladamente, durante o período de doze me-
cesso, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão, aplicando-se, ses; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
quando for o caso, o disposto no §3º do art. 167. (Incluído pela Lei II - após a apresentação da defesa a comissão elaborará rela-
nº 9.527, de 10.12.97) tório conclusivo quanto à inocência ou à responsabilidade do ser-
vidor, em que resumirá as peças principais dos autos, indicará o

91
NOÇÕES DE DIREITO

respectivo dispositivo legal, opinará, na hipótese de abandono de Parágrafo único. Quando o fato narrado não configurar eviden-
cargo, sobre a intencionalidade da ausência ao serviço superior a te infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será arquivada,
trinta dias e remeterá o processo à autoridade instauradora para por falta de objeto.
julgamento. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Art. 145. Da sindicância poderá resultar:
Art. 141. As penalidades disciplinares serão aplicadas: I - arquivamento do processo;
I - pelo Presidente da República, pelos Presidentes das Casas do II - aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até
Poder Legislativo e dos Tribunais Federais e pelo Procurador-Geral 30 (trinta) dias;
da República, quando se tratar de demissão e cassação de aposen- III - instauração de processo disciplinar.
tadoria ou disponibilidade de servidor vinculado ao respectivo Po- Parágrafo único. O prazo para conclusão da sindicância não ex-
der, órgão, ou entidade; cederá 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado por igual período, a
II - pelas autoridades administrativas de hierarquia imediata- critério da autoridade superior.
mente inferior àquelas mencionadas no inciso anterior quando se Art. 146. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar
tratar de suspensão superior a 30 (trinta) dias; a imposição de penalidade de suspensão por mais de 30 (trinta)
III - pelo chefe da repartição e outras autoridades na forma dos dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade,
respectivos regimentos ou regulamentos, nos casos de advertência ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração
ou de suspensão de até 30 (trinta) dias; de processo disciplinar.
IV - pela autoridade que houver feito a nomeação, quando se
tratar de destituição de cargo em comissão. CAPÍTULO II
Art. 142. A ação disciplinar prescreverá: DO AFASTAMENTO PREVENTIVO
I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demis-
são, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de Art. 147. Como medida cautelar e a fim de que o servidor não
cargo em comissão; venha a influir na apuração da irregularidade, a autoridade instau-
II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão; radora do processo disciplinar poderá determinar o seu afastamen-
III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência. to do exercício do cargo, pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, sem
§1º O prazo de prescrição começa a correr da data em que o prejuízo da remuneração.
fato se tornou conhecido. Parágrafo único. O afastamento poderá ser prorrogado por
§2º Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-se às igual prazo, findo o qual cessarão os seus efeitos, ainda que não
infrações disciplinares capituladas também como crime. concluído o processo.
§3º A abertura de sindicância ou a instauração de processo dis-
ciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final proferida por CAPÍTULO III
autoridade competente. DO PROCESSO DISCIPLINAR
§4º Interrompido o curso da prescrição, o prazo começará a
correr a partir do dia em que cessar a interrupção. Art. 148. O processo disciplinar é o instrumento destinado a
apurar responsabilidade de servidor por infração praticada no exer-
TÍTULO V cício de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições
DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR do cargo em que se encontre investido.
Art. 149. O processo disciplinar será conduzido por comissão
CAPÍTULO I composta de três servidores estáveis designados pela autoridade
DISPOSIÇÕES GERAIS competente, observado o disposto no §3º do art. 143, que indicará,
dentre eles, o seu presidente, que deverá ser ocupante de cargo
Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade
serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata, igual ou superior ao do indiciado. (Redação dada pela Lei nº 9.527,
mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, asse- de 10.12.97)
gurada ao acusado ampla defesa. §1º A Comissão terá como secretário servidor designado pelo
§1º (Revogado pela Lei nº 11.204, de 2005) seu presidente, podendo a indicação recair em um de seus mem-
§2º (Revogado pela Lei nº 11.204, de 2005) bros.
§3º A apuração de que trata o caput, por solicitação da auto- §2º Não poderá participar de comissão de sindicância ou de
ridade a que se refere, poderá ser promovida por autoridade de inquérito, cônjuge, companheiro ou parente do acusado, consan-
órgão ou entidade diverso daquele em que tenha ocorrido a irre- güíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau.
gularidade, mediante competência específica para tal finalidade, Art. 150. A Comissão exercerá suas atividades com indepen-
delegada em caráter permanente ou temporário pelo Presidente da dência e imparcialidade, assegurado o sigilo necessário à elucida-
República, pelos presidentes das Casas do Poder Legislativo e dos ção do fato ou exigido pelo interesse da administração.
Tribunais Federais e pelo Procurador-Geral da República, no âmbito Parágrafo único. As reuniões e as audiências das comissões te-
do respectivo Poder, órgão ou entidade, preservadas as competên- rão caráter reservado.
cias para o julgamento que se seguir à apuração.(Incluído pela Lei Art. 151. O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes
nº 9.527, de 10.12.97) fases:
Art. 144. As denúncias sobre irregularidades serão objeto de I - instauração, com a publicação do ato que constituir a co-
apuração, desde que contenham a identificação e o endereço do missão;
denunciante e sejam formuladas por escrito, confirmada a auten- II - inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa
ticidade. e relatório;

92
NOÇÕES DE DIREITO

III - julgamento. Art. 160. Quando houver dúvida sobre a sanidade mental do
Art. 152. O prazo para a conclusão do processo disciplinar não acusado, a comissão proporá à autoridade competente que ele seja
excederá 60 (sessenta) dias, contados da data de publicação do ato submetido a exame por junta médica oficial, da qual participe pelo
que constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por igual pra- menos um médico psiquiatra.
zo, quando as circunstâncias o exigirem. Parágrafo único. O incidente de sanidade mental será processa-
§1º Sempre que necessário, a comissão dedicará tempo inte- do em auto apartado e apenso ao processo principal, após a expe-
gral aos seus trabalhos, ficando seus membros dispensados do pon- dição do laudo pericial.
to, até a entrega do relatório final. Art. 161. Tipificada a infração disciplinar, será formulada a indi-
§2º As reuniões da comissão serão registradas em atas que de- ciação do servidor, com a especificação dos fatos a ele imputados e
verão detalhar as deliberações adotadas. das respectivas provas.
§1º O indiciado será citado por mandado expedido pelo presi-
SEÇÃO I dente da comissão para apresentar defesa escrita, no prazo de 10
DO INQUÉRITO (dez) dias, assegurando-se-lhe vista do processo na repartição.
§2º Havendo dois ou mais indiciados, o prazo será comum e de
Art. 153. O inquérito administrativo obedecerá ao princípio do 20 (vinte) dias.
contraditório, assegurada ao acusado ampla defesa, com a utiliza- §3º O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo dobro, para
ção dos meios e recursos admitidos em direito. diligências reputadas indispensáveis.
Art. 154. Os autos da sindicância integrarão o processo discipli- §4º No caso de recusa do indiciado em apor o ciente na cópia
nar, como peça informativa da instrução. da citação, o prazo para defesa contar-se-á da data declarada, em
Parágrafo único. Na hipótese de o relatório da sindicância con- termo próprio, pelo membro da comissão que fez a citação, com a
cluir que a infração está capitulada como ilícito penal, a autoridade assinatura de (2) duas testemunhas.
competente encaminhará cópia dos autos ao Ministério Público, in- Art. 162. O indiciado que mudar de residência fica obrigado a
dependentemente da imediata instauração do processo disciplinar. comunicar à comissão o lugar onde poderá ser encontrado.
Art. 155. Na fase do inquérito, a comissão promoverá a tomada Art. 163. Achando-se o indiciado em lugar incerto e não sabido,
de depoimentos, acareações, investigações e diligências cabíveis, será citado por edital, publicado no Diário Oficial da União e em
objetivando a coleta de prova, recorrendo, quando necessário, a jornal de grande circulação na localidade do último domicílio co-
técnicos e peritos, de modo a permitir a completa elucidação dos nhecido, para apresentar defesa.
fatos. Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, o prazo para defesa
Art. 156. É assegurado ao servidor o direito de acompanhar o será de 15 (quinze) dias a partir da última publicação do edital.
processo pessoalmente ou por intermédio de procurador, arrolar e Art. 164. Considerar-se-á revel o indiciado que, regularmente
reinquirir testemunhas, produzir provas e contraprovas e formular citado, não apresentar defesa no prazo legal.
quesitos, quando se tratar de prova pericial. §1º A revelia será declarada, por termo, nos autos do processo
§1º O presidente da comissão poderá denegar pedidos consi- e devolverá o prazo para a defesa.
derados impertinentes, meramente protelatórios, ou de nenhum §2º Para defender o indiciado revel, a autoridade instauradora
interesse para o esclarecimento dos fatos. do processo designará um servidor como defensor dativo, que de-
§2º Será indeferido o pedido de prova pericial, quando a com- verá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou
provação do fato independer de conhecimento especial de perito. ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado. (Reda-
Art. 157. As testemunhas serão intimadas a depor mediante ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
mandado expedido pelo presidente da comissão, devendo a segun- Art. 165. Apreciada a defesa, a comissão elaborará relatório mi-
da via, com o ciente do interessado, ser anexado aos autos. nucioso, onde resumirá as peças principais dos autos e mencionará
Parágrafo único. Se a testemunha for servidor público, a expe- as provas em que se baseou para formar a sua convicção.
dição do mandado será imediatamente comunicada ao chefe da re- §1º O relatório será sempre conclusivo quanto à inocência ou à
partição onde serve, com a indicação do dia e hora marcados para responsabilidade do servidor.
inquirição. §2º Reconhecida a responsabilidade do servidor, a comissão in-
Art. 158. O depoimento será prestado oralmente e reduzido a dicará o dispositivo legal ou regulamentar transgredido, bem como
termo, não sendo lícito à testemunha trazê-lo por escrito. as circunstâncias agravantes ou atenuantes.
§1º As testemunhas serão inquiridas separadamente. Art. 166. O processo disciplinar, com o relatório da comissão,
§2º Na hipótese de depoimentos contraditórios ou que se infir- será remetido à autoridade que determinou a sua instauração, para
mem, proceder-se-á à acareação entre os depoentes. julgamento.
Art. 159. Concluída a inquirição das testemunhas, a comissão
promoverá o interrogatório do acusado, observados os procedi- SEÇÃO II
mentos previstos nos arts. 157 e 158. DO JULGAMENTO
§1º No caso de mais de um acusado, cada um deles será ouvido
separadamente, e sempre que divergirem em suas declarações so- Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento
bre fatos ou circunstâncias, será promovida a acareação entre eles. do processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão.
§2º O procurador do acusado poderá assistir ao interrogatório, §1º Se a penalidade a ser aplicada exceder a alçada da autori-
bem como à inquirição das testemunhas, sendo-lhe vedado inter- dade instauradora do processo, este será encaminhado à autorida-
ferir nas perguntas e respostas, facultando-se-lhe, porém, reinquiri- de competente, que decidirá em igual prazo.
-las, por intermédio do presidente da comissão.

93
NOÇÕES DE DIREITO

§2º Havendo mais de um indiciado e diversidade de sanções, Art. 175. No processo revisional, o ônus da prova cabe ao re-
o julgamento caberá à autoridade competente para a imposição da querente.
pena mais grave. Art. 176. A simples alegação de injustiça da penalidade não
§3º Se a penalidade prevista for a demissão ou cassação de constitui fundamento para a revisão, que requer elementos novos,
aposentadoria ou disponibilidade, o julgamento caberá às autorida- ainda não apreciados no processo originário.
des de que trata o inciso I do art. 141. Art. 177. O requerimento de revisão do processo será dirigido
§4º Reconhecida pela comissão a inocência do servidor, a auto- ao Ministro de Estado ou autoridade equivalente, que, se autorizar
ridade instauradora do processo determinará o seu arquivamento, a revisão, encaminhará o pedido ao dirigente do órgão ou entidade
salvo se flagrantemente contrária à prova dos autos.(Incluído pela onde se originou o processo disciplinar.
Lei nº 9.527, de 10.12.97) Parágrafo único. Deferida a petição, a autoridade competente
Art. 168. O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo providenciará a constituição de comissão, na forma do art. 149.
quando contrário às provas dos autos. Art. 178. A revisão correrá em apenso ao processo originário.
Parágrafo único. Quando o relatório da comissão contrariar as Parágrafo único. Na petição inicial, o requerente pedirá dia e
provas dos autos, a autoridade julgadora poderá, motivadamente, hora para a produção de provas e inquirição das testemunhas que
agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de arrolar.
responsabilidade. Art. 179. A comissão revisora terá 60 (sessenta) dias para a con-
Art. 169. Verificada a ocorrência de vício insanável, a autorida- clusão dos trabalhos.
de que determinou a instauração do processo ou outra de hierar- Art. 180. Aplicam-se aos trabalhos da comissão revisora, no
quia superior declarará a sua nulidade, total ou parcial, e ordenará, que couber, as normas e procedimentos próprios da comissão do
no mesmo ato, a constituição de outra comissão para instauração processo disciplinar.
de novo processo. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Art. 181. O julgamento caberá à autoridade que aplicou a pena-
§1º O julgamento fora do prazo legal não implica nulidade do lidade, nos termos do art. 141.
processo. Parágrafo único. O prazo para julgamento será de 20 (vinte)
§2º A autoridade julgadora que der causa à prescrição de que dias, contados do recebimento do processo, no curso do qual a au-
trata o art. 142, §2º, será responsabilizada na forma do Capítulo IV toridade julgadora poderá determinar diligências.
do Título IV. Art. 182. Julgada procedente a revisão, será declarada sem
Art. 170. Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se todos os direitos
julgadora determinará o registro do fato nos assentamentos indivi- do servidor, exceto em relação à destituição do cargo em comissão,
duais do servidor. que será convertida em exoneração.
Art. 171. Quando a infração estiver capitulada como crime, o Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar
processo disciplinar será remetido ao Ministério Público para ins- agravamento de penalidade.
tauração da ação penal, ficando trasladado na repartição.
Art. 172. O servidor que responder a processo disciplinar só TÍTULO VI
poderá ser exonerado a pedido, ou aposentado voluntariamente, DA SEGURIDADE SOCIAL DO SERVIDOR
após a conclusão do processo e o cumprimento da penalidade, aca-
so aplicada. CAPÍTULO I
Parágrafo único. Ocorrida a exoneração de que trata o parágra- DISPOSIÇÕES GERAIS
fo único, inciso I do art. 34, o ato será convertido em demissão, se
for o caso. Art. 183. A União manterá Plano de Seguridade Social para o
Art. 173. Serão assegurados transporte e diárias: servidor e sua família.
I - ao servidor convocado para prestar depoimento fora da sede §1º O servidor ocupante de cargo em comissão que não seja,
de sua repartição, na condição de testemunha, denunciado ou in- simultaneamente, ocupante de cargo ou emprego efetivo na admi-
diciado; nistração pública direta, autárquica e fundacional não terá direito
II - aos membros da comissão e ao secretário, quando obriga- aos benefícios do Plano de Seguridade Social, com exceção da as-
dos a se deslocarem da sede dos trabalhos para a realização de mis- sistência à saúde.(Redação dada pela Lei nº 10.667, de 14.5.2003)
são essencial ao esclarecimento dos fatos. §2º O servidor afastado ou licenciado do cargo efetivo, sem
direito à remuneração, inclusive para servir em organismo oficial
SEÇÃO III internacional do qual o Brasil seja membro efetivo ou com o qual
DA REVISÃO DO PROCESSO coopere, ainda que contribua para regime de previdência social no
exterior, terá suspenso o seu vínculo com o regime do Plano de Se-
Art. 174. O processo disciplinar poderá ser revisto, a qualquer guridade Social do Servidor Público enquanto durar o afastamento
tempo, a pedido ou de ofício, quando se aduzirem fatos novos ou ou a licença, não lhes assistindo, neste período, os benefícios do
circunstâncias suscetíveis de justificar a inocência do punido ou a mencionado regime de previdência.(Incluído pela Lei nº 10.667, de
inadequação da penalidade aplicada. 14.5.2003)
§1º Em caso de falecimento, ausência ou desaparecimento do §3º Será assegurada ao servidor licenciado ou afastado sem re-
servidor, qualquer pessoa da família poderá requerer a revisão do muneração a manutenção da vinculação ao regime do Plano de Se-
processo. guridade Social do Servidor Público, mediante o recolhimento men-
§2º No caso de incapacidade mental do servidor, a revisão será sal da respectiva contribuição, no mesmo percentual devido pelos
requerida pelo respectivo curador. servidores em atividade, incidente sobre a remuneração total do

94
NOÇÕES DE DIREITO

cargo a que faz jus no exercício de suas atribuições, computando-se, a) aos 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se homem, e aos 30
para esse efeito, inclusive, as vantagens pessoais. (Incluído pela Lei (trinta) se mulher, com proventos integrais;
nº 10.667, de 14.5.2003) b) aos 30 (trinta) anos de efetivo exercício em funções de ma-
§4º O recolhimento de que trata o §3º deve ser efetuado até o gistério se professor, e 25 (vinte e cinco) se professora, com proven-
segundo dia útil após a data do pagamento das remunerações dos tos integrais;
servidores públicos, aplicando-se os procedimentos de cobrança e c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem, e aos 25 (vinte e
execução dos tributos federais quando não recolhidas na data de cinco) se mulher, com proventos proporcionais a esse tempo;
vencimento.(Incluído pela Lei nº 10.667, de 14.5.2003) d) aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e aos
Art. 184. O Plano de Seguridade Social visa a dar cobertura aos 60 (sessenta) se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de
riscos a que estão sujeitos o servidor e sua família, e compreende serviço.
um conjunto de benefícios e ações que atendam às seguintes fina- §1º Consideram-se doenças graves, contagiosas ou incuráveis,
lidades: a que se refere o inciso I deste artigo, tuberculose ativa, alienação
I - garantir meios de subsistência nos eventos de doença, inva- mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira posterior
lidez, velhice, acidente em serviço, inatividade, falecimento e re- ao ingresso no serviço público, hanseníase, cardiopatia grave, do-
clusão; ença de Parkinson, paralisia irreversível e incapacitante, espondi-
II - proteção à maternidade, à adoção e à paternidade; loartrose anquilosante, nefropatia grave, estados avançados do
III - assistência à saúde. mal de Paget (osteíte deformante), Síndrome de Imunodeficiência
Parágrafo único. Os benefícios serão concedidos nos termos Adquirida - AIDS, e outras que a lei indicar, com base na medicina
e condições definidos em regulamento, observadas as disposições especializada.
desta Lei. §2º Nos casos de exercício de atividades consideradas insalu-
Art. 185. Os benefícios do Plano de Seguridade Social do servi- bres ou perigosas, bem como nas hipóteses previstas no art. 71, a
dor compreendem: aposentadoria de que trata o inciso III, “a” e “c”, observará o dispos-
I - quanto ao servidor: to em lei específica.
a) aposentadoria; §3º Na hipótese do inciso I o servidor será submetido à junta
b) auxílio-natalidade; médica oficial, que atestará a invalidez quando caracterizada a in-
c) salário-família; capacidade para o desempenho das atribuições do cargo ou a im-
d) licença para tratamento de saúde; possibilidade de se aplicar o disposto no art. 24. (Incluído pela Lei
e) licença à gestante, à adotante e licença-paternidade; nº 9.527, de 10.12.97)
f) licença por acidente em serviço; Art. 187. A aposentadoria compulsória será automática, e de-
g) assistência à saúde; clarada por ato, com vigência a partir do dia imediato àquele em
h) garantia de condições individuais e ambientais de trabalho que o servidor atingir a idade-limite de permanência no serviço ati-
satisfatórias; vo.
II - quanto ao dependente: Art. 188. A aposentadoria voluntária ou por invalidez vigorará a
a) pensão vitalícia e temporária; partir da data da publicação do respectivo ato.
b) auxílio-funeral; §1º A aposentadoria por invalidez será precedida de licença
c) auxílio-reclusão; para tratamento de saúde, por período não excedente a 24 (vinte
d) assistência à saúde. e quatro) meses.
§1º As aposentadorias e pensões serão concedidas e mantidas §2º Expirado o período de licença e não estando em condições
pelos órgãos ou entidades aos quais se encontram vinculados os de reassumir o cargo ou de ser readaptado, o servidor será aposen-
servidores, observado o disposto nos arts. 189 e 224. tado.
§2º O recebimento indevido de benefícios havidos por fraude, §3º O lapso de tempo compreendido entre o término da licen-
dolo ou má-fé, implicará devolução ao erário do total auferido, sem ça e a publicação do ato da aposentadoria será considerado como
prejuízo da ação penal cabível. de prorrogação da licença.
§4º Para os fins do disposto no §1º deste artigo, serão consi-
CAPÍTULO II deradas apenas as licenças motivadas pela enfermidade enseja-
DOS BENEFÍCIOS dora da invalidez ou doenças correlacionadas. (Incluído pela Lei nº
11.907, de 2009)
SEÇÃO I §5º A critério da Administração, o servidor em licença para tra-
DA APOSENTADORIA tamento de saúde ou aposentado por invalidez poderá ser convoca-
do a qualquer momento, para avaliação das condições que enseja-
Art. 186. O servidor será aposentado:(Vide art. 40 da Consti- ram o afastamento ou a aposentadoria. (Incluído pela Lei nº 11.907,
tuição) de 2009)
I - por invalidez permanente, sendo os proventos integrais Art. 189. O provento da aposentadoria será calculado com ob-
quando decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional servância do disposto no §3º do art. 41, e revisto na mesma data e
ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei, e proporção, sempre que se modificar a remuneração dos servidores
proporcionais nos demais casos; em atividade.
II - compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proven- Parágrafo único. São estendidos aos inativos quaisquer bene-
tos proporcionais ao tempo de serviço; fícios ou vantagens posteriormente concedidas aos servidores em
III - voluntariamente: atividade, inclusive quando decorrentes de transformação ou re-
classificação do cargo ou função em que se deu a aposentadoria.

95
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 190. O servidor aposentado com provento proporcional ao SEÇÃO IV


tempo de serviço se acometido de qualquer das moléstias especifi- DA LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SAÚDE
cadas no §1º do art. 186 desta Lei e, por esse motivo, for conside-
rado inválido por junta médica oficial passará a perceber provento Art. 202. Será concedida ao servidor licença para tratamento
integral, calculado com base no fundamento legal de concessão da de saúde, a pedido ou de ofício, com base em perícia médica, sem
aposentadoria. (Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009) prejuízo da remuneração a que fizer jus.
Art. 191. Quando proporcional ao tempo de serviço, o proven- Art. 203. A licença de que trata o art. 202 desta Lei será conce-
to não será inferior a 1/3 (um terço) da remuneração da atividade. dida com base em perícia oficial. (Redação dada pela Lei nº 11.907,
Art. 192.(Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) de 2009)
Art. 193. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) §1º Sempre que necessário, a inspeção médica será realizada
Art. 194. Ao servidor aposentado será paga a gratificação nata- na residência do servidor ou no estabelecimento hospitalar onde se
lina, até o dia vinte do mês de dezembro, em valor equivalente ao encontrar internado.
respectivo provento, deduzido o adiantamento recebido. §2º Inexistindo médico no órgão ou entidade no local onde se
Art. 195. Ao ex-combatente que tenha efetivamente participa- encontra ou tenha exercício em caráter permanente o servidor, e
do de operações bélicas, durante a Segunda Guerra Mundial, nos não se configurando as hipóteses previstas nos parágrafos do art.
termos da Lei nº 5.315, de 12 de setembro de 1967, será concedida 230, será aceito atestado passado por médico particular. (Redação
aposentadoria com provento integral, aos 25 (vinte e cinco) anos de dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
serviço efetivo. §3º No caso do §2º deste artigo, o atestado somente produzirá
efeitos depois de recepcionado pela unidade de recursos humanos
SEÇÃO II do órgão ou entidade. (Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009)
DO AUXÍLIO-NATALIDADE §4º A licença que exceder o prazo de 120 (cento e vinte) dias
no período de 12 (doze) meses a contar do primeiro dia de afasta-
Art. 196. O auxílio-natalidade é devido à servidora por motivo mento será concedida mediante avaliação por junta médica oficial.
de nascimento de filho, em quantia equivalente ao menor venci- (Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009)
mento do serviço público, inclusive no caso de natimorto. §5º A perícia oficial para concessão da licença de que trata o
§1º Na hipótese de parto múltiplo, o valor será acrescido de caput deste artigo, bem como nos demais casos de perícia oficial
50% (cinqüenta por cento), por nascituro. previstos nesta Lei, será efetuada por cirurgiões-dentistas, nas hi-
§2º O auxílio será pago ao cônjuge ou companheiro servidor póteses em que abranger o campo de atuação da odontologia. (In-
público, quando a parturiente não for servidora. cluído pela Lei nº 11.907, de 2009)
Art. 204. A licença para tratamento de saúde inferior a 15
SEÇÃO III (quinze) dias, dentro de 1 (um) ano, poderá ser dispensada de perí-
DO SALÁRIO-FAMÍLIA cia oficial, na forma definida em regulamento. (Redação dada pela
Lei nº 11.907, de 2009)
Art. 197. O salário-família é devido ao servidor ativo ou ao ina- Art. 205. O atestado e o laudo da junta médica não se referirão
tivo, por dependente econômico. ao nome ou natureza da doença, salvo quando se tratar de lesões
Parágrafo único. Consideram-se dependentes econômicos para produzidas por acidente em serviço, doença profissional ou qual-
efeito de percepção do salário-família: quer das doenças especificadas no art. 186, §1º.
I - o cônjuge ou companheiro e os filhos, inclusive os enteados Art. 206. O servidor que apresentar indícios de lesões orgânicas
até 21 (vinte e um) anos de idade ou, se estudante, até 24 (vinte e ou funcionais será submetido a inspeção médica.
quatro) anos ou, se inválido, de qualquer idade; Art. 206-A. O servidor será submetido a exames médicos perió-
II - o menor de 21 (vinte e um) anos que, mediante autoriza- dicos, nos termos e condições definidos em regulamento. (Incluído
ção judicial, viver na companhia e às expensas do servidor, ou do pela Lei nº 11.907, de 2009) (Regulamento).
inativo; Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput, a União e
III - a mãe e o pai sem economia própria. suas entidades autárquicas e fundacionais poderão: (Incluído pela
Art. 198. Não se configura a dependência econômica quando o Lei nº 12.998, de 2014)
beneficiário do salário-família perceber rendimento do trabalho ou I - prestar os exames médicos periódicos diretamente pelo ór-
de qualquer outra fonte, inclusive pensão ou provento da aposen- gão ou entidade à qual se encontra vinculado o servidor; (Incluído
tadoria, em valor igual ou superior ao salário-mínimo. pela Lei nº 12.998, de 2014)
Art. 199. Quando o pai e mãe forem servidores públicos e vi- II - celebrar convênio ou instrumento de cooperação ou parce-
verem em comum, o salário-família será pago a um deles; quando ria com os órgãos e entidades da administração direta, suas autar-
separados, será pago a um e outro, de acordo com a distribuição quias e fundações; (Incluído pela Lei nº 12.998, de 2014)
dos dependentes. III - celebrar convênios com operadoras de plano de assistência
Parágrafo único. Ao pai e à mãe equiparam-se o padrasto, a à saúde, organizadas na modalidade de autogestão, que possuam
madrasta e, na falta destes, os representantes legais dos incapazes. autorização de funcionamento do órgão regulador, na forma do art.
Art. 200. O salário-família não está sujeito a qualquer tributo, 230; ou (Incluído pela Lei nº 12.998, de 2014)
nem servirá de base para qualquer contribuição, inclusive para a IV - prestar os exames médicos periódicos mediante contra-
Previdência Social. to administrativo, observado o disposto na Lei no 8.666, de 21 de
Art. 201. O afastamento do cargo efetivo, sem remuneração, junho de 1993, e demais normas pertinentes.(Incluído pela Lei nº
não acarreta a suspensão do pagamento do salário-família. 12.998, de 2014)

96
NOÇÕES DE DIREITO

SEÇÃO V Art. 216. (Revogado pela Medida Provisória nº 664, de 2014)


DA LICENÇA À GESTANTE, À ADOTANTE E DA LICENÇA-PATER- (Vigência) (Revogado pela Lei nº 13.135, de 2015)
NIDADE Art. 217. São beneficiários das pensões:
I - o cônjuge;(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
Art. 207. Será concedida licença à servidora gestante por 120 a) (Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
(cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da remuneração. b) (Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
(Vide Decreto nº 6.690, de 2008) c) (Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
§1º A licença poderá ter início no primeiro dia do nono mês de d) (Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
gestação, salvo antecipação por prescrição médica. e) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
§2º No caso de nascimento prematuro, a licença terá início a II - o cônjuge divorciado ou separado judicialmente ou de fato,
partir do parto. com percepção de pensão alimentícia estabelecida judicialmente;
§3º No caso de natimorto, decorridos 30 (trinta) dias do even- (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
to, a servidora será submetida a exame médico, e se julgada apta, a) (Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
reassumirá o exercício. b) (Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
§4º No caso de aborto atestado por médico oficial, a servidora c) Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
terá direito a 30 (trinta) dias de repouso remunerado. d) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
Art. 208. Pelo nascimento ou adoção de filhos, o servidor terá III - o companheiro ou companheira que comprove união es-
direito à licença-paternidade de 5 (cinco) dias consecutivos. tável como entidade familiar;(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
Art. 209. Para amamentar o próprio filho, até a idade de seis IV - o filho de qualquer condição que atenda a um dos seguin-
meses, a servidora lactante terá direito, durante a jornada de tra- tes requisitos:(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
balho, a uma hora de descanso, que poderá ser parcelada em dois a) seja menor de 21 (vinte e um) anos; (Incluído pela Lei nº
períodos de meia hora. 13.135, de 2015)
Art. 210. À servidora que adotar ou obtiver guarda judicial de b) seja inválido;(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
criança até 1 (um) ano de idade, serão concedidos 90 (noventa) dias c)(Vide Lei nº 13.135, de 2015) (Vigência)
de licença remunerada. (Vide Decreto nº 6.691, de 2008) d) tenha deficiência intelectual ou mental; (Redação dada pela
Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de crian- Lei nº 13.846, de 2019)
ça com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata este artigo V - a mãe e o pai que comprovem dependência econômica do
será de 30 (trinta) dias. servidor; e (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
VI - o irmão de qualquer condição que comprove dependência
SEÇÃO VI econômica do servidor e atenda a um dos requisitos previstos no
DA LICENÇA POR ACIDENTE EM SERVIÇO inciso IV.(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
§1º A concessão de pensão aos beneficiários de que tratam os
Art. 211. Será licenciado, com remuneração integral, o servidor incisos I a IV do caput exclui os beneficiários referidos nos incisos V
acidentado em serviço. e VI. (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
Art. 212. Configura acidente em serviço o dano físico ou mental §2º A concessão de pensão aos beneficiários de que trata o
sofrido pelo servidor, que se relacione, mediata ou imediatamente, inciso V do caput exclui o beneficiário referido no inciso VI.(Redação
com as atribuições do cargo exercido. dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
Parágrafo único. Equipara-se ao acidente em serviço o dano: §3º O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho me-
I - decorrente de agressão sofrida e não provocada pelo servi- diante declaração do servidor e desde que comprovada dependên-
dor no exercício do cargo; cia econômica, na forma estabelecida em regulamento.(Incluído
II - sofrido no percurso da residência para o trabalho e vice- pela Lei nº 13.135, de 2015)
-versa. §4º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019)
Art. 213. O servidor acidentado em serviço que necessite de Art. 218. Ocorrendo habilitação de vários titulares à pensão,
tratamento especializado poderá ser tratado em instituição priva- o seu valor será distribuído em partes iguais entre os beneficiários
da, à conta de recursos públicos. habilitados.(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
Parágrafo único. O tratamento recomendado por junta médica §1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
oficial constitui medida de exceção e somente será admissível quan- §2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
do inexistirem meios e recursos adequados em instituição pública. §3º (Revogado).(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
Art. 214. A prova do acidente será feita no prazo de 10 (dez) Art. 219. A pensão por morte será devida ao conjunto dos de-
dias, prorrogável quando as circunstâncias o exigirem. pendentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da
data: (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019)
SEÇÃO VII I - do óbito, quando requerida em até 180 (cento e oitenta dias)
DA PENSÃO após o óbito, para os filhos menores de 16 (dezesseis) anos, ou em
até 90 (noventa) dias após o óbito, para os demais dependentes;
Art. 215. Por morte do servidor, os seus dependentes, nas hi- (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019)
póteses legais, fazem jus à pensão por morte, observados os limites II - do requerimento, quando requerida após o prazo previs-
estabelecidos no inciso XI do caput do art. 37 da Constituição Fede- to no inciso I do caput deste artigo; ou (Redação dada pela Lei nº
ral e no art. 2º da Lei nº 10.887, de 18 de junho de 2004. (Redação 13.846, de 2019)
dada pela Lei nº 13.846, de 2019) III - da decisão judicial, na hipótese de morte presumida. (Reda-
ção dada pela Lei nº 13.846, de 2019)

97
NOÇÕES DE DIREITO

§1º A concessão da pensão por morte não será protelada pela III - a cessação da invalidez, em se tratando de beneficiário in-
falta de habilitação de outro possível dependente e a habilitação válido, ou o afastamento da deficiência, em se tratando de benefici-
posterior que importe em exclusão ou inclusão de dependente só ário com deficiência, respeitados os períodos mínimos decorrentes
produzirá efeito a partir da data da publicação da portaria de con- da aplicação das alíneas a e b do inciso VII do caput deste artigo;
cessão da pensão ao dependente habilitado. (Redação dada pela (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019)
Lei nº 13.846, de 2019) IV - o implemento da idade de 21 (vinte e um) anos, pelo filho
§2º Ajuizada a ação judicial para reconhecimento da condição ou irmão; (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
de dependente, este poderá requerer a sua habilitação provisória V - a acumulação de pensão na forma do art. 225;
ao benefício de pensão por morte, exclusivamente para fins de ra- VI - a renúncia expressa; e(Redação dada pela Lei nº 13.135,
teio dos valores com outros dependentes, vedado o pagamento da de 2015)
respectiva cota até o trânsito em julgado da respectiva ação, ressal- VII - em relação aos beneficiários de que tratam os incisos I a III
vada a existência de decisão judicial em contrário. (Redação dada do caput do art. 217: (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
pela Lei nº 13.846, de 2019) a) o decurso de 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que
§3º Nas ações em que for parte o ente público responsável pela o servidor tenha vertido 18 (dezoito) contribuições mensais ou se o
concessão da pensão por morte, este poderá proceder de ofício à casamento ou a união estável tiverem sido iniciados em menos de 2
habilitação excepcional da referida pensão, apenas para efeitos de (dois) anos antes do óbito do servidor; (Incluído pela Lei nº 13.135,
rateio, descontando-se os valores referentes a esta habilitação das de 2015)
demais cotas, vedado o pagamento da respectiva cota até o trânsito b) o decurso dos seguintes períodos, estabelecidos de acordo
em julgado da respectiva ação, ressalvada a existência de decisão com a idade do pensionista na data de óbito do servidor, depois de
judicial em contrário. (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) vertidas 18 (dezoito) contribuições mensais e pelo menos 2 (dois)
§4º Julgada improcedente a ação prevista no §2º ou §3º deste anos após o início do casamento ou da união estável: (Incluído pela
artigo, o valor retido será corrigido pelos índices legais de reajusta- Lei nº 13.135, de 2015)
mento e será pago de forma proporcional aos demais dependentes, 1) 3 (três) anos, com menos de 21 (vinte e um) anos de idade;
de acordo com as suas cotas e o tempo de duração de seus benefí- (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
cios.(Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019) 2) 6 (seis) anos, entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis) anos de
§5º Em qualquer hipótese, fica assegurada ao órgão concessor idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
da pensão por morte a cobrança dos valores indevidamente pagos 3) 10 (dez) anos, entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte e nove) anos
em função de nova habilitação. (Incluído pela Lei nº 13.846, de de idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
2019) 4) 15 (quinze) anos, entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) anos de
Art. 220. Perde o direito à pensão por morte:(Redação dada idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
pela Lei nº 13.135, de 2015) 5) 20 (vinte) anos, entre 41 (quarenta e um) e 43 (quarenta e
I - após o trânsito em julgado, o beneficiário condenado pela três) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
prática de crime de que tenha dolosamente resultado a morte do 6) vitalícia, com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos de idade.
servidor; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
II - o cônjuge, o companheiro ou a companheira se compro- §1º A critério da administração, o beneficiário de pensão cuja
vada, a qualquer tempo, simulação ou fraude no casamento ou preservação seja motivada por invalidez, por incapacidade ou por
na união estável, ou a formalização desses com o fim exclusivo de deficiência poderá ser convocado a qualquer momento para avalia-
constituir benefício previdenciário, apuradas em processo judicial ção das referidas condições.(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
no qual será assegurado o direito ao contraditório e à ampla defesa. §2º Serão aplicados, conforme o caso, a regra contida no inciso
(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) III ou os prazos previstos na alínea “b” do inciso VII, ambos do caput,
Art. 221. Será concedida pensão provisória por morte presumi- se o óbito do servidor decorrer de acidente de qualquer natureza
da do servidor, nos seguintes casos: ou de doença profissional ou do trabalho, independentemente do
I - declaração de ausência, pela autoridade judiciária compe- recolhimento de 18 (dezoito) contribuições mensais ou da compro-
tente; vação de 2 (dois) anos de casamento ou de união estável. (Incluído
II - desaparecimento em desabamento, inundação, incêndio ou pela Lei nº 13.135, de 2015)
acidente não caracterizado como em serviço; §3º Após o transcurso de pelo menos 3 (três) anos e desde que
III - desaparecimento no desempenho das atribuições do cargo nesse período se verifique o incremento mínimo de um ano inteiro
ou em missão de segurança. na média nacional única, para ambos os sexos, correspondente à
Parágrafo único. A pensão provisória será transformada em vi- expectativa de sobrevida da população brasileira ao nascer, pode-
talícia ou temporária, conforme o caso, decorridos 5 (cinco) anos rão ser fixadas, em números inteiros, novas idades para os fins pre-
de sua vigência, ressalvado o eventual reaparecimento do servidor, vistos na alínea “b” do inciso VII do caput, em ato do Ministro de Es-
hipótese em que o benefício será automaticamente cancelado. tado do Planejamento, Orçamento e Gestão, limitado o acréscimo
Art. 222. Acarreta perda da qualidade de beneficiário: na comparação com as idades anteriores ao referido incremento.
I - o seu falecimento; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
II - a anulação do casamento, quando a decisão ocorrer após a §4º O tempo de contribuição a Regime Próprio de Previdência
concessão da pensão ao cônjuge; Social (RPPS) ou ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS) será
considerado na contagem das 18 (dezoito) contribuições mensais
referidas nas alíneas “a” e “b” do inciso VII do caput.(Incluído pela
Lei nº 13.135, de 2015)

98
NOÇÕES DE DIREITO

§5º Na hipótese de o servidor falecido estar, na data de seu SEÇÃO IX


falecimento, obrigado por determinação judicial a pagar alimentos DO AUXÍLIO-RECLUSÃO
temporários a ex-cônjuge, ex-companheiro ou ex-companheira, a
pensão por morte será devida pelo prazo remanescente na data do Art. 229. À família do servidor ativo é devido o auxílio-reclusão,
óbito, caso não incida outra hipótese de cancelamento anterior do nos seguintes valores:
benefício. (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) I - dois terços da remuneração, quando afastado por motivo de
§6º O beneficiário que não atender à convocação de que trata prisão, em flagrante ou preventiva, determinada pela autoridade
o §1º deste artigo terá o benefício suspenso, observado o disposto competente, enquanto perdurar a prisão;
nos incisos I e II do caput do art. 95 da Lei nº 13.146, de 6 de julho II - metade da remuneração, durante o afastamento, em virtu-
de 2015.(Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) de de condenação, por sentença definitiva, a pena que não deter-
§7º O exercício de atividade remunerada, inclusive na condi- mine a perda de cargo.
ção de microempreendedor individual, não impede a concessão ou §1º Nos casos previstos no inciso I deste artigo, o servidor terá
manutenção da cota da pensão de dependente com deficiência in- direito à integralização da remuneração, desde que absolvido.
telectual ou mental ou com deficiência grave. (Incluído pela Lei nº §2º O pagamento do auxílio-reclusão cessará a partir do dia
13.846, de 2019) imediato àquele em que o servidor for posto em liberdade, ainda
§8º No ato de requerimento de benefícios previdenciários, que condicional.
não será exigida apresentação de termo de curatela de titular ou §3º Ressalvado o disposto neste artigo, o auxílio-reclusão será
de beneficiário com deficiência, observados os procedimentos a se- devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos depen-
rem estabelecidos em regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.846, dentes do segurado recolhido à prisão.(Incluído pela Lei nº 13.135,
de 2019) de 2015)
Art. 223. Por morte ou perda da qualidade de beneficiário, a
respectiva cota reverterá para os cobeneficiários. (Redação dada CAPÍTULO III
pela Lei nº 13.135, de 2015) DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE
I - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
II - (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015) Art. 230. A assistência à saúde do servidor, ativo ou inativo, e
Art. 224. As pensões serão automaticamente atualizadas na de sua família compreende assistência médica, hospitalar, odonto-
mesma data e na mesma proporção dos reajustes dos vencimentos lógica, psicológica e farmacêutica, terá como diretriz básica o imple-
dos servidores, aplicando-se o disposto no parágrafo único do art. mento de ações preventivas voltadas para a promoção da saúde e
189. será prestada pelo Sistema Único de Saúde – SUS, diretamente pelo
Art. 225. Ressalvado o direito de opção, é vedada a percepção órgão ou entidade ao qual estiver vinculado o servidor, ou median-
cumulativa de pensão deixada por mais de um cônjuge ou compa- te convênio ou contrato, ou ainda na forma de auxílio, mediante
nheiro ou companheira e de mais de 2 (duas) pensões.(Redação ressarcimento parcial do valor despendido pelo servidor, ativo ou
dada pela Lei nº 13.135, de 2015) inativo, e seus dependentes ou pensionistas com planos ou seguros
privados de assistência à saúde, na forma estabelecida em regula-
SEÇÃO VIII mento. (Redação dada pela Lei nº 11.302 de 2006)
DO AUXÍLIO-FUNERAL §1º Nas hipóteses previstas nesta Lei em que seja exigida perí-
cia, avaliação ou inspeção médica, na ausência de médico ou junta
Art. 226. O auxílio-funeral é devido à família do servidor faleci- médica oficial, para a sua realização o órgão ou entidade celebra-
do na atividade ou aposentado, em valor equivalente a um mês da rá, preferencialmente, convênio com unidades de atendimento do
remuneração ou provento. sistema público de saúde, entidades sem fins lucrativos declaradas
§1º No caso de acumulação legal de cargos, o auxílio será pago de utilidade pública, ou com o Instituto Nacional do Seguro Social -
somente em razão do cargo de maior remuneração. INSS. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§2º (VETADO). §2º Na impossibilidade, devidamente justificada, da aplicação
§3º O auxílio será pago no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, do disposto no parágrafo anterior, o órgão ou entidade promoverá a
por meio de procedimento sumaríssimo, à pessoa da família que contratação da prestação de serviços por pessoa jurídica, que cons-
houver custeado o funeral. tituirá junta médica especificamente para esses fins, indicando os
Art. 227. Se o funeral for custeado por terceiro, este será inde- nomes e especialidades dos seus integrantes, com a comprovação
nizado, observado o disposto no artigo anterior. de suas habilitações e de que não estejam respondendo a processo
Art. 228. Em caso de falecimento de servidor em serviço fora disciplinar junto à entidade fiscalizadora da profissão. (Incluído pela
do local de trabalho, inclusive no exterior, as despesas de transpor- Lei nº 9.527, de 10.12.97)
te do corpo correrão à conta de recursos da União, autarquia ou §3º Para os fins do disposto no caput deste artigo, ficam a
fundação pública. União e suas entidades autárquicas e fundacionais autorizadas a:
(Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006)
I - celebrar convênios exclusivamente para a prestação de ser-
viços de assistência à saúde para os seus servidores ou empregados
ativos, aposentados, pensionistas, bem como para seus respectivos
grupos familiares definidos, com entidades de autogestão por elas
patrocinadas por meio de instrumentos jurídicos efetivamente ce-
lebrados e publicados até 12 de fevereiro de 2006 e que possuam
autorização de funcionamento do órgão regulador, sendo certo

99
NOÇÕES DE DIREITO

que os convênios celebrados depois dessa data somente poderão b) de inamovibilidade do dirigente sindical, até um ano após o
sê-lo na forma da regulamentação específica sobre patrocínio de final do mandato, exceto se a pedido;
autogestões, a ser publicada pelo mesmo órgão regulador, no prazo c) de descontar em folha, sem ônus para a entidade sindical a
de 180 (cento e oitenta) dias da vigência desta Lei, normas essas que for filiado, o valor das mensalidades e contribuições definidas
também aplicáveis aos convênios existentes até 12 de fevereiro de em assembléia geral da categoria.
2006; (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006) d) (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
II - contratar, mediante licitação, na forma da Lei no 8.666, de e) (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
21 de junho de 1993, operadoras de planos e seguros privados de Art. 241. Consideram-se da família do servidor, além do cônju-
assistência à saúde que possuam autorização de funcionamento do ge e filhos, quaisquer pessoas que vivam às suas expensas e cons-
órgão regulador; (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006) tem do seu assentamento individual.
III - (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006) Parágrafo único. Equipara-se ao cônjuge a companheira ou
§4º (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006) companheiro, que comprove união estável como entidade familiar.
§5º O valor do ressarcimento fica limitado ao total despendido Art. 242. Para os fins desta Lei, considera-se sede o município
pelo servidor ou pensionista civil com plano ou seguro privado de onde a repartição estiver instalada e onde o servidor tiver exercício,
assistência à saúde. (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006) em caráter permanente.

CAPÍTULO IV TÍTULO IX
DO CUSTEIO
CAPÍTULO ÚNICO
Art. 231. (Revogado pela Lei nº 9.783, de 28.01.99) DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAIS

TÍTULO VII Art. 243. Ficam submetidos ao regime jurídico instituído por
esta Lei, na qualidade de servidores públicos, os servidores dos Po-
CAPÍTULO ÚNICO deres da União, dos ex-Territórios, das autarquias, inclusive as em
DA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTERES- regime especial, e das fundações públicas, regidos pela Lei nº 1.711,
SE PÚBLICO de 28 de outubro de 1952 - Estatuto dos Funcionários Públicos Civis
da União, ou pela Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo
Art. 232.(Revogado pela Lei nº 8.745, de 9.12.93) Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, exceto os contratados
Art. 233.(Revogado pela Lei nº 8.745, de 9.12.93) por prazo determinado, cujos contratos não poderão ser prorroga-
Art. 234.(Revogado pela Lei nº 8.745, de 9.12.93) dos após o vencimento do prazo de prorrogação.
Art. 235.(Revogado pela Lei nº 8.745, de 9.12.93) §1º Os empregos ocupados pelos servidores incluídos no regi-
me instituído por esta Lei ficam transformados em cargos, na data
TÍTULO VIII de sua publicação.
§2º As funções de confiança exercidas por pessoas não inte-
CAPÍTULO ÚNICO grantes de tabela permanente do órgão ou entidade onde têm
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS exercício ficam transformadas em cargos em comissão, e mantidas
enquanto não for implantado o plano de cargos dos órgãos ou enti-
Art. 236. O Dia do Servidor Público será comemorado a vinte e dades na forma da lei.
oito de outubro. §3º As Funções de Assessoramento Superior - FAS, exercidas
Art. 237. Poderão ser instituídos, no âmbito dos Poderes Exe- por servidor integrante de quadro ou tabela de pessoal, ficam ex-
cutivo, Legislativo e Judiciário, os seguintes incentivos funcionais, tintas na data da vigência desta Lei.
além daqueles já previstos nos respectivos planos de carreira: §4º (VETADO).
I - prêmios pela apresentação de idéias, inventos ou trabalhos §5º O regime jurídico desta Lei é extensivo aos serventuários
que favoreçam o aumento de produtividade e a redução dos custos da Justiça, remunerados com recursos da União, no que couber.
operacionais; §6º Os empregos dos servidores estrangeiros com estabilidade
II - concessão de medalhas, diplomas de honra ao mérito, con- no serviço público, enquanto não adquirirem a nacionalidade bra-
decoração e elogio. sileira, passarão a integrar tabela em extinção, do respectivo órgão
Art. 238. Os prazos previstos nesta Lei serão contados em dias ou entidade, sem prejuízo dos direitos inerentes aos planos de car-
corridos, excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o do venci- reira aos quais se encontrem vinculados os empregos.
mento, ficando prorrogado, para o primeiro dia útil seguinte, o pra- §7º Os servidores públicos de que trata o caput deste artigo,
zo vencido em dia em que não haja expediente. não amparados pelo art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais
Art. 239. Por motivo de crença religiosa ou de convicção filo- Transitórias, poderão, no interesse da Administração e conforme
sófica ou política, o servidor não poderá ser privado de quaisquer critérios estabelecidos em regulamento, ser exonerados median-
dos seus direitos, sofrer discriminação em sua vida funcional, nem te indenização de um mês de remuneração por ano de efetivo
eximir-se do cumprimento de seus deveres. exercício no serviço público federal.(Incluído pela Lei nº 9.527, de
Art. 240. Ao servidor público civil é assegurado, nos termos da 10.12.97)
Constituição Federal, o direito à livre associação sindical e os se- §8º Para fins de incidência do imposto de renda na fonte e na
guintes direitos, entre outros, dela decorrentes: declaração de rendimentos, serão considerados como indenizações
a) de ser representado pelo sindicato, inclusive como substitu- isentas os pagamentos efetuados a título de indenização prevista
to processual; no parágrafo anterior. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)

100
NOÇÕES DE DIREITO

§9º Os cargos vagos em decorrência da aplicação do disposto ordens e fiscalizar a atuação dos seus subordinados. Essa relação
no §7º poderão ser extintos pelo Poder Executivo quando conside- de subordinação e hierarquia, por sua vez, causa algumas sequelas,
rados desnecessários. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) como o dever de obediência dos subordinados, a possibilidade de
Art. 244. Os adicionais por tempo de serviço, já concedidos aos o imediato superior avocar atribuições, bem como a atribuição de
servidores abrangidos por esta Lei, ficam transformados em anuê- rever os atos dos agentes subordinados.
nio. Denota-se, porém, que o dever de obediência do subordinado
Art. 245. A licença especial disciplinada pelo art. 116 da Lei nº não o obriga a cumprir as ordens manifestamente ilegais, advindas
1.711, de 1952, ou por outro diploma legal, fica transformada em de seu superior hierárquico. Ademais, nos ditames do art. 116,
licença-prêmio por assiduidade, na forma prevista nos arts. 87 a 90. XII, da Lei 8.112/1990, o subordinado tem a obrigação funcional
Art. 246. (VETADO). de representar contra o seu superior caso este venha a agir com
Art. 247. Para efeito do disposto no Título VI desta Lei, haverá ilegalidade, omissão ou abuso de poder.
ajuste de contas com a Previdência Social, correspondente ao perí- Registra-se que a delegação de atribuições é uma das
odo de contribuição por parte dos servidores celetistas abrangidos manifestações do poder hierárquico que consiste no ato de conferir
pelo art. 243. (Redação dada pela Lei nº 8.162, de 8.1.91) a outro servidor atribuições que de âmbito inicial, faziam parte
Art. 248. As pensões estatutárias, concedidas até a vigência dos atos de competência da autoridade delegante. O ilustre Hely
desta Lei, passam a ser mantidas pelo órgão ou entidade de origem Lopes Meirelles aduz que a delegação de atribuições se submete a
do servidor. algumas regras, sendo elas:
Art. 249. Até a edição da lei prevista no §1º do art. 231, os ser- A) A impossibilidade de delegação de atribuições de um
vidores abrangidos por esta Lei contribuirão na forma e nos per- Poder a outro, exceto quando devidamente autorizado pelo texto
centuais atualmente estabelecidos para o servidor civil da União da Constituição Federal. Exemplo: autorização por lei delegada,
conforme regulamento próprio. que ocorre quando a Constituição Federal autoriza o Legislativo a
Art. 250. O servidor que já tiver satisfeito ou vier a satisfazer, delegar ao Chefe do Executivo a edição de lei.
dentro de 1 (um) ano, as condições necessárias para a aposentado- B) É impossível a delegação de atos de natureza política.
ria nos termos do inciso II do art. 184 do antigo Estatuto dos Fun- Exemplos: o veto e a sanção de lei;
C) As atribuições que a lei fixar como exclusivas de determinada
cionários Públicos Civis da União, Lei n° 1.711, de 28 de outubro de
autoridade, não podem ser delegadas;
1952, aposentar-se-á com a vantagem prevista naquele dispositivo.
D) O subordinado não pode recusar a delegação;
(Mantido pelo Congresso Nacional)
E) As atribuições não podem ser subdelegadas sem a devida
Art. 251. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
autorização do delegante.
Art. 252. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, com
efeitos financeiros a partir do primeiro dia do mês subseqüente.
Sem prejuízo do entendimento doutrinário a respeito da
Art. 253. Ficam revogadas a Lei nº 1.711, de 28 de outubro de
delegação de competência, a Lei Federal 9.784/1999, que estabelece
1952, e respectiva legislação complementar, bem como as demais os ditames do processo administrativo federal, estabeleceu as
disposições em contrário. seguintes regras relacionadas a esse assunto:
Brasília, 11 de dezembro de 1990; 169º da Independência e – A competência não pode ser renunciada, porém, pode ser
102º da República. delegada se não houver impedimento legal;
– A delegação de competência é sempre exercida de forma
PODERES ADMINISTRATIVOS: PODER HIERÁRQUICO; parcial, tendo em vista que um órgão administrativo ou seu titular
PODER DISCIPLINAR; PODER REGULAMENTAR; PODER DE não detém o poder de delegar todas as suas atribuições;
POLÍCIA; USO E ABUSO DO PODER – A título de delegação vertical, depreende-se que esta pode
ser feita para órgãos ou agentes subordinados hierarquicamente, e,
a nível de delegação horizontal, também pode ser feita para órgãos
Poder Hierárquico e agentes não subordinados à hierarquia.
Trata-se o poder hierárquico, de poder conferido à autoridade
administrativa para distribuir e dirimir funções em escala de Não podem ser objeto de delegação:
seus órgãos, vindo a estabelecer uma relação de coordenação – A edição de atos de caráter normativo;
e subordinação entre os servidores que estiverem sob a sua – A decisão de recursos administrativos;
hierarquia. – As matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade;
A estrutura de organização da Administração Pública é baseada
em dois aspectos fundamentais, sendo eles: a distribuição de Ressalta-se com afinco que o ato de delegação e a sua
competências e a hierarquia. revogação deverão ser publicados no meio oficial, nos trâmites da
Em decorrência da amplitude das competências e das lei. Ademais, deverá o ato de delegação especificar as matérias e os
responsabilidades da Administração, jamais seria possível que toda poderes transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração
a função administrativa fosse desenvolvida por um único órgão ou e os objetivos da delegação e também o recurso devidamente
agente público. Assim sendo, é preciso que haja uma distribuição cabível à matéria que poderá constar a ressalva de exercício da
dessas competências e atribuições entre os diversos órgãos e atribuição delegada.
agentes integrantes da Administração Pública. O ato de delegação poderá ser revogado a qualquer tempo
Entretanto, para que essa divisão de tarefas aconteça de pela autoridade delegante como forma de transferência não
maneira harmoniosa, os órgãos e agentes públicos são organizados definitiva de atribuições, devendo as decisões adotadas por
em graus de hierarquia e poder, de maneira que o agente que delegação, mencionar de forma clara esta qualidade, que deverá
se encontra em plano superior, detenha o poder legal de emitir ser considerada como editada pelo delegado.

101
NOÇÕES DE DIREITO

No condizente à avocação, afirma-se que se trata de Esquematizando, temos:


procedimento contrário ao da delegação de competência, vindo
a ocorrer quando o superior assume ou passa a desenvolver as
funções que eram de seu subordinado. De acordo com a doutrina,
a norma geral, é a possibilidade de avocação pelo superior
hierárquico de qualquer competência do subordinado, ressaltando-
se que nesses casos, a competência a ser avocada não poderá ser
privativa do órgão subordinado.
Dispõe a Lei 9.784/1999 que a avocação das competências
do órgão inferior apenas será permitida em caráter excepcional e
temporário com a prerrogativa de que existam motivos relevantes e
impreterivelmente justificados.
O superior também pode rever os atos dos seus subordinados,
como consequência do poder hierárquico com o fito de mantê-los,
convalidá-los, ou ainda, desfazê-los, de ofício ou sob provocação
Poder conferido à autoridade
do interessado. Convalidar significa suprir o vício de um ato
administrativa para distribuir e dirimir funções
administrativo por intermédio de um segundo ato, tornando válido
PODER em escala de seus órgãos, que estabelece
o ato viciado. No tocante ao desfazimento do ato administrativo,
HIERÁRQUICO uma relação de coordenação e subordinação
infere-se que pode ocorrer de duas formas:
entre os servidores que estiverem sob a sua
a) Por revogação: no momento em que a manutenção do ato
hierarquia.
válido se tornar inconveniente ou inoportuna;
b) Por anulação: quando o ato apresentar vícios.
A edição de atos de caráter
No entanto, a utilização do poder hierárquico nem sempre normativo
poderá possibilitar a invalidação feita pela autoridade superior dos Não podem ser A decisão de recursos
atos praticados por seus subordinados. Nos ditames doutrinários, a objeto de delegação administrativos
revisão hierárquica somente é possível enquanto o ato não tiver se
tornado definitivo para a Administração Pública e, ainda, se houver As matérias de competência
sido criado o direito subjetivo para o particular. exclusiva do órgão ou autoridade
– Observação importante: “revisão” do ato administrativo Por revogação: quando a
não se confunde com “reconsideração” desse mesmo ato. A manutenção do ato válido se tornar
revisão de ato é condizente à avaliação por parte da autoridade Desfazimento do inconveniente ou inoportuna
superior em relação à manutenção ou não de ato que foi praticado ato administrativo
por seu subordinado, no qual o fundamento é o exercício do Por anulação: quando o ator
poder hierárquico. Já na reconsideração, a apreciação relativa apresentar vícios
à manutenção do ato administrativo é realizada pela própria
autoridade que confeccionou o ato, não existindo, desta forma, Poder Disciplinar
manifestação do poder hierárquico. O poder disciplinar confere à Administração Pública o poder
Ressalte-se, também, que a relação de hierarquia é inerente de autorizar e apurar infrações, aplicando as devidas penalidades
à função administrativa e não há hierarquia entre integrantes aos servidores público, bem como às demais pessoas sujeitas à
do Poder Legislativo e do Poder Judiciário no desempenho de disciplina administrativa em decorrência de determinado vínculo
suas funções típicas constitucionais. No entanto, os membros específico. Assim, somente está sujeito ao poder disciplinar o
dos Poderes Judiciário e Legislativo também estão submetidos à agente que possuir vínculo certo e preciso com a Administração,
relação de hierarquia no que condiz ao exercício de funções atípicas não importando que esse vínculo seja de natureza funcional ou
ou administrativas. Exemplo: um juiz de Primeira Instância, não é contratual.
legalmente obrigado a adotar o posicionamento do Presidente Existindo vínculo funcional, infere-se que o poder disciplinar
do Tribunal no julgamento de um processo de sua competência, é decorrente do poder hierárquico. Em razão da existência de
porém, encontra-se obrigado, por ditames da lei a cumprir ordens distribuição de escala dos órgãos e servidores pertencentes a
daquela autoridade quando versarem a respeito do horário de uma mesma pessoa jurídica, competirá ao superior hierárquico
funcionamento dos serviços administrativos da sua Vara. determinar o cumprimento de ordens e exigir daquele que lhe for
Por fim, é de suma importância destacar que a subordinação não subordinado, o cumprimento destas. Não atendendo o subordinado
se confunde com a vinculação administrativa, pois, a subordinação às determinações do seu superior ou descumprindo o dever
decorre do poder hierárquico e existe apenas no âmbito da mesma funcional, o seu chefe poderá e deverá aplicar as sanções dispostas
no estatuto funcional.
pessoa jurídica. Já a vinculação, resulta do poder de supervisão
Conforme dito, o poder disciplinar também detém o poder
ou do poder de tutela que a Administração Direta detém sobre as
de alcançar particulares que mantenham vínculo contratual com
entidades da Administração Indireta.
o Poder Público, a exemplo daqueles contratados para prestar
serviços à Administração Pública. Nesse sentido, como não existe
relação de hierarquia entre o particular e a Administração, o

102
NOÇÕES DE DIREITO

pressuposto para a aplicação de sanções de forma direta não é o A doutrina não é unânime em relação ao uso da expressão
poder hierárquico, mas sim o princípio da supremacia do interesse poder regulamentar. Isso acontece, por que há autores que,
público sobre o particular. assemelhando-se ao conceito anteriormente proposto, usam
Denota-se que o poder disciplinar é o poder de investigar e punir esta expressão somente para se referirem à faculdade de editar
crimes e contravenções penais não se referem ao mesmo instituto regulamentos conferida aos Chefes do Executivo. Outros autores,
e não se confundem. Ao passo que o primeiro é aplicado somente a usam com conceito mais amplo, acoplando também os atos
àqueles que possuem vínculo específico com a Administração de gerais e abstratos que são emitidos por outras autoridades, tais
forma funcional ou contratual, o segundo é exercido somente sobre como: resoluções, portarias, regimentos, deliberações e instruções
qualquer indivíduo que viole as leis penais vigentes. normativas. Há ainda uma corrente que entende essas providências
Da mesma forma, o exercício do poder de polícia também não gerais e abstratas editadas sob os parâmetros e exigências da
se confunde com as penalidades decorrentes do poder disciplinar, lei, com o fulcro de possibilitar-lhe o cumprimento em forma de
que, embora ambos possuam natureza administrativa, estas deverão manifestações do poder normativo.
ser aplicadas a qualquer pessoa que esteja causando transtornos ou No entanto, em que pese a mencionada controvérsia, prevalece
pondo em risco a coletividade, pois, no poder de polícia, denota- como estudo e aplicação geral adotada pela doutrina clássica, que
se que o vínculo entre a Administração Pública e o administrado utiliza a expressão “poder regulamentar” para se referir somente
é de âmbito geral, ao passo que nas penalidades decorrentes do à competência exclusiva dos Chefes do Poder Executivo para
poder disciplinar, somente são atingidos os que possuem relação editar regulamentos, mantendo, por sua vez, a expressão “poder
funcional ou contratual com a Administração. normativo” para os demais atos normativos emitidos por outras
Em suma, temos: espécies de autoridades da Administração Direta e Indireta, como
1º - Sanção Disciplinar: Possui natureza administrativa; advém por exemplo, de dirigentes de agências reguladoras e de Ministros.
do poder disciplinar; é aplicável sobre as pessoas que possuem Registra-se que os regulamentos são publicados através de
vínculo específico com a Administração Pública. decreto, que é a maneira pela qual se revestem os atos editados
2º - Sanção de Polícia: Possui natureza administrativa; advém pelo chefe do Poder Executivo. O conteúdo de um decreto pode ser
do poder de polícia; aplica-se sobre as pessoas que desobedeçam por meio de conteúdo ou de determinado regulamento ou, ainda,
às regulamentações de polícia administrativa. a pela adoção de providências distintas. A título de exemplo desta
3º - Sanção Penal: Possui natureza penal; decorre do poder última situação, pode-se citar um decreto que dá a designação de
geral de persecução penal; aplica-se sobre as pessoas que cometem determinado nome a um prédio público.
crimes ou contravenções penais. Em razão de os regulamentos serem editados sob forma
condizente de decreto, é comum serem chamados de decretos
Por fim, registre-se que é comum a doutrina afirmar que o poder
regulamentares, decretos de execução ou regulamentos de
disciplinar é exercido de forma discricionária. Tal afirmação deve
execução.
ser analisada com cuidado no que se refere ao seu alcance como
Podemos classificar os regulamentos em três espécies
um todo, pois, se ocorrer de o agente sob disciplina administrativa
diferentes:
cometer infração, a única opção que restará ao gestor será aplicar á
A) Regulamento executivo;
situação a penalidade devidamente prevista na lei, pois, a aplicação
B) Regulamento independente ou autônomo;
da pena é ato vinculado. Quando existente, a discricionariedade
refere-se ao grau da penalidade ou à aplicação correta das sanções c) Regulamento autorizado.
legalmente cabíveis, tendo em vista que no direito administrativo
não é predominável o princípio da pena específica que se refere à Vejamos a composição de cada em deles:
necessidade de prévia definição em lei da infração funcional e da
exata sanção cabível. – Regulamento Executivo
Em resumo, temos: Existem leis que, ao serem editadas, já reúnem as condições
suficientes para sua execução, enquanto outras pugnam por
Poder Disciplinar um regulamento para serem executadas. Entretanto, em tese,
– Apura infrações e aplica penalidades; qualquer lei é passível de ser regulamentada. Diga-se de passagem,
– Para que o indivíduo seja submetido ao poder disciplinar, é até mesmo aquelas cuja execução não dependa de regulamento.
preciso que possua vínculo funcional com a administração; Para isso, suficiente é que o Chefe do Poder Executivo entenda
– A aplicação de sanção disciplinar deve ser acompanhada de conveniente detalhar a sua execução.
processo administrativo no qual sejam assegurados o direito ao O ato de regulamento executivo é norma geral e abstrata.
contraditório e à ampla defesa, devendo haver motivação para que Sendo geral pelo fato de não possuir destinatários determinados
seja aplicada a penalidade disciplinar cabível; ou determináveis, vindo a atingir quaisquer pessoas que estejam
– Pode ter caráter discricionário em relação à escolha entre nas situações reguladas; é abstrata pelo fato de dispor sobre
sanções legalmente cabíveis e respectiva gradação. hipóteses que, se e no momento em que forem verificadas no
mundo concreto, passarão a gerar as consequências abstratamente
Poder regulamentar previstas. Desta forma, podemos afirmar que o regulamento possui
Com supedâneo no art. 84, IV, da Constituição Federal, consiste conteúdo material de lei, porém, com ela não se confunde sob o
o poder regulamentar na competência atribuída aos Chefes do aspecto formal.
Poder Executivo para que venham a editar normas gerais e abstratas
destinadas a detalhar as leis, possibilitando o seu fiel regulamento
e eficaz execução.

103
NOÇÕES DE DIREITO

O ato de regulamento executivo é constituído por importantes Embora exista uma enorme importância em termos de
funções. São elas: praticidade, denota-se que os regulamentos de execução gozam
de hierarquia infralegal e não detém o poder de inovar na ordem
1.º) Disciplinar a discricionariedade administrativa jurídica, criando direitos ou obrigações, nem contrariando,
Ocorre, tendo em vista a existência de discricionariedade ampliando ou restringindo as disposições da lei regulamentada.
quando a lei confere ao agente público determinada quantidade de São, em resumo, atos normativos considerados secundários que
liberdade para o exercício da função administrativa. Tal quantidade são editados pelo Chefe do Executivo com o fulcro de detalhar a
e margem de liberdade termina sendo reduzida quando da editação execução dos atos normativos primários elaborados pelas leis.
de um regulamento executivo que estipula regras de observância Dando enfoque à subordinação dos regulamentos executivos
obrigatória, vindo a determinar a maneira como os agentes devem à lei, a Constituição Federal prevê a possibilidade de o Congresso
proceder no fiel cumprimento da lei. Nacional sustá-los, caso exorbite do poder regulamentar nos
Ou seja, ao disciplinar por intermédio de regulamento parâmetros do art. 49, inc. V da CF/88. É o que a doutrina chama
o exercício da discricionariedade administrativa, o Chefe do de “veto legislativo”, dentro de uma analogia com o veto que o
Poder Executivo, termina por voluntariamente limitá-la, vindo a Chefe do Executivo poderá apor aos projetos de lei aprovados pelo
estabelecer autêntica autovinculação, diminuindo, desta forma, o Parlamento.
espaço para a discussão de casos e fatos sem importância para a Pondera-se que a aproximação terminológica possui limitações,
administração pública. uma vez que o veto propriamente dito do executivo, pode ocorrer
em função de o Presidente da República entender que o projeto
2.º) Uniformizar os critérios de aplicação da lei de lei é incompatível com a Constituição Federal, que configuraria
É interpretada no contexto da primeira, posto que o o veto jurídico, ou, ainda, contrário ao interesse público, que seria
regulamento ao disciplinar a forma com que a lei deve ser fielmente o veto político. Por sua vez, o veto legislativo só pode ocorrer
cumprida, estipula os critérios a serem adotados nessa atividade, por exorbitância do poder regulamentar, sendo assim, sempre
fato que impede variações significativas nos casos sujeitos à lei jurídico. Melhor dizendo, não há como imaginar que o Parlamento
aplicada. Exemplo: podemos citar o desenvolvimento dos servidores venha a sustar um decreto regulamentar por entendê-lo contrário
na carreira de Policial Rodoviário Federal.
ao interesse público, uma vez que tal norma somente deve
Criadora da carreira de Policial Rodoviário Federal, a Lei
detalhar como a lei ao ser elaborada pelo próprio Legislativo, será
9.654/1998 estabeleceu suas classes e determinou que a investidura
indubitavelmente cumprida. Destarte, se o Parlamento entende
no cargo de Policial Rodoviário Federal teria que se dar no padrão
que o decreto editado dentro do poder regulamentar é contrário
único da classe de Agente, na qual o titular deverá permanecer por
ao interesse público, deverá, por sua vez, revogar a própria lei que
pelo menos três anos ou até obter o direito à promoção à classe
lhe dá o sustento.
subsequente, nos termos do art. 3.º, § 2.º.
Ademais, lembremos que os regulamentos se submetem ao
A antiguidade e o merecimento são os principais requisitos
para que os servidores públicos sejam promovidos. No entanto, controle de legalidade, de tal forma que a nulidade decorrente da
o vocábulo “merecimento” é carregado de subjetivismo, fato que exorbitância do poder regulamentar também está passível de ser
abriria a possibilidade de que os responsáveis pela promoção dos reconhecida pelo Poder Judiciário ou pelo próprio Chefe do Poder
servidores, alegando discricionariedade, viessem a agir com base Executivo no exercício da autotutela.
em critérios obscuros e casuístas, vindo a promover perseguições
e privilégios. E é por esse motivo que existe a necessidade de – Regulamento independente ou autônomo
regulamentação dos requisitos de promoção, como demonstra o Ressalte-se que esta segunda espécie de regulamento, também
próprio estatuto dos servidores públicos civis federais em seu art. adota a forma de decreto. Diversamente do regulamento executivo,
10, parágrafo único da Lei 8.112/1990. esse regulamento não se presta a detalhar uma lei, detendo o
Com o fulcro de regulamentar a matéria, foi editado o Decreto poder de inovar na ordem jurídica, da mesma maneira que uma
8.282/2014, que possui como atributo, detalhar os requisitos lei. O regulamento autônomo (decreto autônomo) é considerado
e estabelecer os devidos critérios para promoção dos Policiais ato normativo primário porque retira sua força exclusivamente e
Rodoviários Federais, dentre os quais se encontra a obtenção de diretamente da Constituição.
“resultado satisfatório na avaliação de desempenho no interstício A Carta Magna de 1988, em sua redação original, deletou a
considerado para a progressão”, disposta no art. 4.º, II, “b”. Da figura do decreto autônomo no direito brasileiro. No entanto, com
mesma forma, a expressão “resultado satisfatório” também é a Emenda Constitucional 32/2001, a possibilidade foi novamente
eivada de subjetividade, motivo pelo qual o § 3.º do mesmo inserida na alínea a do inciso VI do art. 84 da CFB/88.
dispositivo regulamentar designou que para o efeito de promoção, Mesmo havendo controvérsias, a posição dominante na doutrina
seria considerado satisfatório o alcance de oitenta por cento das é no sentido de que a única hipótese de regulamento autônomo que
metas estipuladas em ato do dirigente máximo do órgão. o direito brasileiro permite é a contida no mencionado dispositivo
Assim sendo, verificamos que a discricionariedade do constitucional, que estabelece a competência do Presidente da
dirigente máximo da PRF continua a existir, e o exemplo disso, é República para dispor, mediante decreto, sobre organização e
o estabelecimento das metas. Entretanto, ela foi reduzida no funcionamento da administração federal, isso, quando não implicar
condizente à avaliação da suficiência de desempenho dos servidores em aumento de despesa nem mesmo criação ou extinção de órgãos
para o efeito de promoção. O que nos leva a afirmar ainda que, públicos.
diante da regulamentação, erigiu a existência de vinculação da Por oportuno, registarmos que a autorização que está prevista
autoridade administrativa referente ao percentual considerado na alínea b do mesmo dispositivo constitucional, para que o
satisfatório para o efeito de promoção dos servidores, critério que Presidente da República, mediante decreto, possa extinguir cargos
inclusive já foi uniformizado. públicos vagos, não se trata de caso de regulamento autônomo.

104
NOÇÕES DE DIREITO

Cuida-se de uma xucra hipótese de abandono do princípio do – Regulamento autorizado ou delegado


paralelismo das formas. Isso por que em decorrência do princípio Denota-se que além das espécies anteriores de regulamento
da hierarquia das normas, se um instituto jurídico for criado por apresentadas, a doutrina administrativista e jurista também
intermédio de determinada espécie normativa, sua extinção apenas menciona a respeito da existência do regulamento autorizado ou
poderá ser veiculada pelo mesmo tipo de ato, ou, ainda, por um de delegado.
superior hierarquia. De acordo com a doutrina tradicional, o legislador ordinário
Nesse sentido, sendo os cargos públicos criados por lei, nos não poderá, fora dos casos previstos na Constituição, delegar de
parâmetros do art. 48, inc. X da CFB/88, apenas a lei poderia forma integral a função de legislar que é típica do Poder Legislativo,
extingui-los pelo sistema do paralelismo das formas. Entretanto, aos órgãos administrativos.
deixando de lado essa premissa, o legislador constituinte derivado Entretanto, em decorrência da complexidade das atividades
permitiu que, estando vago o cargo público, a extinção aconteça técnicas da Administração, contemporaneamente, embora haja
por decreto. Poderíamos até dizer que foi autorizado um decreto controvérsias em relação ao aspecto da constitucionalidade, a
autônomo, mas nunca um regulamento autônomo, isso posto pelo doutrina maior tem aceitado que as competências para regular
fato de tal decreto não gozar de generalidade e abstração, não determinadas matérias venham a ser transferidas pelo próprio
regulamentando determinada matéria. Cuida-se, nesse sentido, de legislador para órgãos administrativos técnicos. Cuida-se do
um ato de efeitos concretos, amplamente desprovido de natureza fenômeno da deslegalização, por meio do qual a normatização sai
regulamentar. da esfera da lei para a esfera do regulamento autorizado.
De forma diversa do decreto regulamentar ou regulamento No entanto, o regulamento autorizado não se encontra limitado
executivo, que é editado para minuciar a fiel execução da lei, somente a explicar, detalhar ou complementar a lei. Na verdade, ele
destaca-se que o decreto autônomo ou regulamento independente, busca a inovação do ordenamento jurídico ao criar normas técnicas
encontra-se sujeito ao controle de constitucionalidade. O que não contidas na lei, ato que realiza em decorrência de expressa
justifica a mencionada diferenciação, é o fato de o conflito entre um determinação legal.
decreto regulamentar e a lei que lhe atende de fundamento vir a Depreende-se que o regulamento autorizado não pode ser
configurar ilegalidade, não cabendo o argumento de que o decreto confundido com o regulamento autônomo. Isso ocorre, porque,
é inconstitucional porque exorbitou do poder regulamentar. ao passo que este último retira sua força jurídica da Constituição,
Assim, havendo agressão direta à Constituição, a lei, com certeza aquele é amplamente dependente de expressa autorização contida
pode ser considerada inconstitucional, mas não o decreto que a na lei. Além disso, também se diverge do decreto de execução
regulamenta. Agora, em se tratando do decreto autônomo, infere- porque, embora seja um ato normativo secundário que retira sua
se que este é norma primária, vindo a fundamentar-se no próprio força jurídica da lei, detém o poder de inovar a ordem jurídica, ao
texto constitucional, de forma a ser possível uma agressão direta contrário do que ocorre com este último no qual sua destinação é
à Constituição Federal de 1988, legitimando desta maneira, a apenas a de detalhar a lei para que seja fielmente executada.
instauração de processo de controle de constitucionalidade. Assim Nos moldes da jurisprudência, não é admitida a edição de
sendo, podemos citar a lição do Supremo Tribunal Federal: regulamento autorizado para matéria reservada à lei, um exemplo
Com efeito, o que é necessário demonstrar, é que o decreto do disso é a criação de tributos ou da criação de tipos penais, tendo
Chefe do Executivo advém de competência direta da Constituição, em vista que afrontaria o princípio da separação dos Poderes, pelo
ou que retire seu fundamento da Carta Magna. Nessa sentido, caso fato de estar o Executivo substituindo a função do Poder Legislativo.
o regulamento não se amolde ao figurino constitucional, caberá, por Entretanto, mesmo nos casos de inexistência de expressa
conseguinte, análise de constitucionalidade pelo Supremo tribunal determinação constitucional estabelecendo reserva legal, tem sido
Federal. Se assim não for, será apenas vício de inconstitucionalidade admitida a utilização de regulamentos autorizados, desde que a lei
reflexa, afastando desta forma, o controle concentrado em ADI venha a os autorizar e estabeleça as condições, bem como os limites
porque, como adverte Carlos Velloso: “é uma questão de opção. da matéria a ser regulamentada. É nesse sentido que eles têm sido
Hans Kelsen, no debate com Carl Schmitt, em 1929, deixou isso claro. adotados com frequência para a fixação de normas técnicas, como
E o Supremo Tribunal fez essa opção também no controle difuso, por exemplo, daquelas condições determinadas pelas agências
quando estabeleceu que não se conhece de inconstitucionalidade reguladoras.
indireta. Não há falar-se em inconstitucionalidade indireta reflexa. É
uma opção da Corte para que não se realize o velho adágio: ‘muita – Regulamentos jurídicos e regulamentos administrativos
jurisdição, resulta em nenhuma jurisdição’” (ADI 2.387-0/DF, Rel. A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que é possível
Min. Marco Aurélio). fazer a distinção entre os regulamentos jurídicos ou normativos e
Em suma, conforme dito anteriormente, convém relembrar os regulamentos administrativos ou de organização.
que o art. 13, I, da Lei 9.784/1999 proíbe de forma expressa a Afirma-se que os regulamentos jurídicos ou normativos, criam
delegação de atos de caráter normativo. No entanto, com exceção regras ou normas para o exterior da Administração Pública, que
a essa regra, o decreto autônomo, diversamente do que acontece passam a vincular todos os cidadãos de forma geral, como acontece
com o decreto regulamentar que é indelegável, pode vir a ser com as normas inseridas no poder de polícia. No condizente aos
objeto de delegação aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral regulamentos administrativos ou de organização, denota-se que
da República e ao Advogado estes estabelecem normas sobre a organização administrativa
Geral da União, conforme previsão contida no parágrafo único ou que se relacionam aos particulares que possuem um vínculo
do art. 84 da Constituição Federal. específico com o Estado, como por exemplo, os concessionários de
serviços públicos ou que possuem um contrato com a Administração.

105
NOÇÕES DE DIREITO

De acordo com a ilustre professora, outra nota que merece Denota-se que a mencionada norma prevê, ainda, a possibilidade
destaque em relação à distinção entre os mencionados institutos, de prescrição intercorrente, ou seja, aquela que ocorre no curso
é a de que os regulamentos jurídicos, pelo fato de se referirem à do processo, quando o procedimento administrativo vir a ficar
liberdade e aos direitos dos particulares sem uma relação específica paralisado por mais de três anos, desde que pendente de despacho
com a Administração, são, por sua vez, elaborados com menor grau ou julgamento, tendo em vista que os autos serão arquivados de
de discricionariedade em relação aos regulamentos administrativos. ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem que
Esquematicamente, temos: haja prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorrente
da paralisação, se for o caso, nos parâmetros do art. 1.º, § 1.º.
Regulamentos jurídicos ou Vale a pena mencionar com destaque que a prescrição da ação
normativos punitiva, no caso das sanções de polícia, se interrompe no decurso
Espécies de das seguintes hipóteses:
regulamento quanto aos Regulamentos A) Notificação ou citação do indiciado ou acusado, inclusive por
destinatários administrativos ou de meio de edital;
organização B) ocorrer qualquer ato inequívoco que importe apuração do
fato; pela decisão condenatória recorrível;
Poder de Polícia C)Por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação
O poder de polícia é a legítima faculdade conferida ao Estado para expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito interno da
estabelecer regras restritivas e condicionadoras do exercício de direitos Administração Pública Federal.
e garantias individuais, tendo sempre em vista o interesse público.
Registramos que a Lei em estudo, prevê a possibilidade de
– Limites em determinadas situações específicas, quando o interessado
No exercício do poder de polícia, os atos praticados, assim interromper a prática ou sanar a irregularidade, que haja a
como todo ato administrativo, mesmo sendo discricionário, está suspensão do prazo prescricional para aplicação das sanções de
eivado de limitações legais em relação à competência, à forma, aos polícia, nos parâmetros do art. 3.º.
fins, aos motivos ou ao objeto. Por fim, denota-se que as determinações contidas na Lei
Ressalta-se de antemão com ênfase, que para que o ato de 9.873/1999 não se aplicam às infrações de natureza funcional e aos
polícia seja considerado legítimo, deve respeitar uma relação de processos e procedimentos de natureza tributária, nos termos do
proporcionalidade existente entre os meios e os fins. Assim sendo, art. 5º.
a medida de polícia não poderá ir além do necessário com o fito
de atingir a finalidade pública a que se destina. Imaginemos por – Atributos
exemplo, a hipótese de um estabelecimento comercial que somente Segundo a maior parte da doutrina, são atributos do poder
possuía licença do poder público para atuar como revenda de roupas, de polícia: a discricionariedade, a autoexecutoriedade e a
mas que, além dessa atividade, funcionava como atelier de costura. coercibilidade. Entretanto, vale explicitar que nem todas essas
Caso os fiscais competentes, na constatação do fato, viessem a características estão presentes de forma simultânea em todos os
interditar todo o estabelecimento, pondera-se que tal medida seria atos de polícia.
desproporcional, tendo em vista que, para por fim à irregularidade, Vejamos detalhadamente a definição e atribuição de cada
seria suficiente somente interditar a parte da revenda de roupas. atributo:
Acontece que em havendo eventuais atos de polícia que
estejam eivados de vícios de legalidade ou que se demonstrem — Discricionariedade
desproporcionais devem ser, por conseguinte, anulados pelo Consiste na liberdade de escolha da autoridade pública em
Poder Judiciário por meio do controle judicial, ou, pela própria relação à conveniência e oportunidade do exercício do poder de
administração no exercício da autotutela. polícia. Entretanto, mesmo que a discricionariedade dos atos de
polícia seja a regra, em determinadas situações o exercício do
– Prescrição poder de polícia é vinculado e por isso, não deixa margem para que
Determina a Lei 9.873/1999 que na Administração Pública a autoridade responsável possa executar qualquer tipo de opção.
Federal, direta e indireta, são prescritíveis em cinco anos a ação Como exemplo do mencionado no retro parágrafo,
punitiva para apuração da infração e a aplicação da sanção de comparemos os atos de concessão de alvará de licença e de
polícia, desde que contados da data da prática do ato ou, em se autorização, respectivamente. Em se tratando do caso do alvará
tratando de infração de forma permanente ou continuada, do dia de licença, depreende-se que o ato é vinculado, significando que
em que tiver cessado (art. 1.º). Entretanto, se o fato objeto da a licença não poderá ser negada quando o requerente estiver
ação punitiva da Administração também for considerado crime, a preenchendo os requisitos legais para sua obtenção. Diga-se de
prescrição deverá se reger pelo prazo previsto na lei penal em seu passagem, que isso ocorre com a licença para dirigir, para construir
art. 1.º, § 2.º. bem como para exercer certas profissões, como a de enfermagem,
por exemplo. Referente à hipótese de alvará de autorização, mesmo
Ademais, a Lei determina que prescreve em cinco anos a ação o requerente atendendo aos requisitos da lei, a Administração
de execução da administração pública federal relativa a crédito não Pública poderá ou não conceder a autorização, posto que esse ato
tributário advindo da aplicação de multa por infração à legislação é de natureza discricionária e está sujeito ao juízo de conveniência
em vigor, desde que devidamente contados da constituição e oportunidade da autoridade administrativa. É o que ocorre, por
definitiva do crédito, nos termos da Lei 9.873/1999, art. 1.º-A, com exemplo, coma autorização para porte de arma, bem como para a
sua redação incluída pela Lei 11.941/2009. produção de material bélico.

106
NOÇÕES DE DIREITO

— Autoexecutoriedade
Nos sábios dizeres de Hely Lopes Meirelles, o atributo da autoexecutoriedade consiste na “faculdade de a Administração decidir e
executar diretamente sua decisão por seus próprios meios, sem intervenção do Judiciário”. Assim, se um estabelecimento comercial estiver
comercializando bebidas deteriorados, o Poder Público poderá usar do seu poder para apreendê-los e incinerá-los, sendo desnecessário
haver qualquer ordem judicial. Ocorre, também, que tal fato não impede ao particular, que se sentir prejudicado pelo excesso ou desvio
de poder, de buscar o amparo do Poder Judiciário para fazer cessar o ato de polícia abusivo.
Entretanto, denota-se que nem todas as medidas de polícia são dotadas de autoexecutoriedade. A doutrina majoritária afirma que a
autoexecutoriedade só pode existir em duas situações, sendo elas: quando estiver prevista expressamente em lei; ou mesmo não estando
prevista expressamente em lei, se houver situação de urgência que demande a execução direta da medida. O que infere que, não sendo
cumprido nenhum desses requisitos, o ato de polícia autoexecutado será considerado abusivo. Cite-se como exemplo, o de ato de polícia
que não contém autoexecutoriedade, como o caso de uma autuação por desrespeito à normas sanitárias. Nesse caso específico, se o
poder público tiver a pretensão de cobrar o mencionado valor, não poderá fazê-lo de forma direta, sendo necessário que promova a
execução judicial da dívida.
A renomada Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que alguns autores dividem o atributo da autoexecutoriedade em dois,
sendo eles: a exigibilidade (privilège du préalable) e a executoriedade (privilège d’action d’office). Nesse diapasão, a exigibilidade ensejaria
a possibilidade de a Administração tomar decisões executórias, impondo obrigações aos administrados mesmo sem a concordância
destes, e a executoriedade, que consiste na faculdade de se executar de forma direta todas essas decisões sem que haja a necessidade
de intervenção do Poder Judiciário, usando-se, quando for preciso, do emprego direto da força pública. Imaginemos como exemplo, um
depósito antigo de carros que esteja ameaçado de desabar. Nessa situação específica, a Administração pode ordenar que o proprietário
promova a sua demolição (exigibilidade). E não sendo a ordem cumprida, a própria Administração possui o poder de mandar seus
servidores demolirem o imóvel (executoriedade).
Ainda, pelos ensinamentos da ilustre professora, ao passo que a exigibilidade se encontra relacionada com a aplicação de meios
indiretos de coação, como a aplicação de multa ou a impossibilidade de licenciamento de veículo enquanto não forem pagas as multas
de trânsito, a executoriedade irá se consubstanciar no uso de meios diretos de coação, como por exemplo dissolução de reunião, da
apreensão de mercadorias, da interdição de estabelecimento e da demolição de prédio.
Adverte-se, por fim, que a exigibilidade se encontra presente em todas as medidas de polícia, ao contrário da executoriedade, que
apenas se apresenta nas hipóteses previstas por meio de lei ou em situações de urgência.

— Coercibilidade
É um atributo do poder de polícia que faz com que o ato seja imposto ao particular, concordando este, ou não. Em outras termos, o
ato de polícia, como manifestação do ius imperi estatal, não está consignado à dependência da concordância do particular para que tenha
validade e seja eficaz. Além disso, a coercibilidade é indissociável da autoexecutoridade, e o ato de polícia só poderá ser autoexecutável
pelo fato de ser dotado de força coercitiva.
Assim sendo, a coercibilidade ou imperatividade, definida como a obrigatoriedade do ato para os seus destinatários, acaba se
confundindo com a definição dada de exigibilidade que resulta do desdobramento do atributo da autoexecutoriedade.

– Poder de polícia originário e poder de polícia delegado


Nos parâmetros doutrinários, o poder de polícia originário é aquele exercido pelos órgãos dos próprios entes federativos, tendo como
fundamento a própria repartição de competências materiais e legislativas constante na Constituição Federal Brasileira de 1988.
Referente ao poder de polícia delegado, afirma-se que este faz referência ao poder de polícia atribuído às pessoas de direito público
da Administração Indireta, posto que esta delegação deve ser feita por intermédio de lei do ente federativo que possua o poder de polícia
originário.
Como uma das mais claras manifestações do princípio segundo o qual o interesse público se sobrepõe ao interesse privado, no
exercício do poder de polícia, o Estado impõe aos particulares ações e omissões independentemente das suas vontades. Tal possibilidade
envolve exercício de atividade típica de Estado, com clara manifestação de potestade (poder de autoridade). Assim, estão presentes
características ínsitas ao regime jurídico de direito público, o que tem levado o STF a genericamente negar a possibilidade de delegação do
poder de polícia a pessoas jurídicas de direito privado, ainda que integrantes da administração indireta (ADI 1717/DF).
Esquematizando, temos:

ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA


Discricionariedade Autoexecutoriedade Coercibilidade
Liberdade de escolha da autoridade Faculdade de a Administração
pública em relação à conveniência e decidir e executar diretamente sua Faz com que o ato seja imposto ao
oportunidade do exercício do poder de decisão por seus próprios meios, sem particular, concordando este, ou não.
polícia. intervenção do Judiciário.

107
NOÇÕES DE DIREITO

Uso e abuso de poder Embora haja ausência de uniformidade doutrinária, a partir


De antemão, depreende-se que o exercício de poder acontece da análise lúcida do tópico anterior, acoplada aos estudos dos
de forma legítima quando desempenhado pelo órgão competente, conceitos retro apresentados, é possível extrair alguns elementos
desde que esteja nos limites da lei a ser aplicada, bem como em fundamentais para a definição dos conceitos do ato administrativo.
atendimento à consecução dos fins públicos. De antemão, é importante observar que, embora o exercício
No entanto, é possível que a autoridade, ao exercer o poder, da função administrativa consista na atividade típica do Poder
venha a ultrapassar os limites de sua competência ou o utilize para Executivo, os Poderes Legislativo e Judiciário, praticam esta função
fins diversos do interesse público. Quando isto ocorre, afirma-se de forma atípica, vindo a praticar, também, atos administrativos.
que houve abuso de poder. Ressalta-se que o abuso de poder ocorre Exemplo: ao realizar concursos públicos, os três Poderes devem
tanto por meio de um ato comissivo, quando é feita alguma coisa nomear os aprovados, promovendo licitações e fornecendo
que não deveria ser feita, quanto por meio de um ato omissivo, por benefícios legais aos servidores, dentre outras atividades. Acontece
meio do qual se deixa de fazer algo que deveria ser feito. que em todas essas atividades, a função administrativa estará
Pode o abuso de poder se dividido em duas espécies, são elas: sendo exercida que, mesmo sendo função típica, mas, recordemos,
– Excesso de poder: Ocorre a partir do momento em que a não é função exclusiva do Poder Executivo.
autoridade atua extrapolando os limites da sua competência. Denota-se também, que nem todo ato praticado no exercício
– Desvio de poder ou desvio de finalidade: Ocorre quando a da função administrativa é ato administrativo, isso por que em
autoridade vem a praticar um ato que é de sua competência, porém, inúmeras situações, o Poder Público pratica atos de caráter privado,
o utiliza para uma finalidade diferente da prevista ou contrária ao desvestindo-se das prerrogativas que conformam o regime jurídico
interesse público como um todo. de direito público e assemelhando-se aos particulares. Exemplo:
a emissão de um cheque pelo Estado, uma vez que a referida
Convém mencionar que o ato praticado com abuso de poder providência deve ser disciplinada exclusivamente por normas de
pode ser devidamente invalidado pela própria Administração por direito privado e não público.
intermédio da autotutela ou pelo Poder Judiciário, sob controle Há de se desvencilhar ainda que o ato administrativo pode ser
judicial. praticado não apenas pelo Estado, mas também por aquele que
o represente. Exemplo: os órgãos da Administração Direta, bem
ATO ADMINISTRATIVO: VALIDADE, EFICÁCIA; ATRIBU- como, os entes da Administração Indireta e particulares, como
TOS; EXTINÇÃO, DESFAZIMENTO E SANATÓRIA; CLASSI- acontece com as permissionárias e com as concessionárias de
FICAÇÃO, ESPÉCIES E EXTERIORIZAÇÃO; VINCULAÇÃO E serviços públicos.
DISCRICIONARIEDADE
Destaca-se, finalmente, que o ato administrativo por não
apresentar caráter de definitividade, está sujeito a controle
Conceito por órgão jurisdicional. Em obediência a essas diretrizes,
Hely Lopes Meirelles conceitua ato administrativo como sendo compreendemos que ato administrativo é a manifestação unilateral
“toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública de vontade proveniente de entidade arremetida em prerrogativas
que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, estatais amparadas pelos atributos provenientes do regime jurídico
resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou de direito público, destinadas à produção de efeitos jurídicos e
impor obrigações aos administrados ou a si própria”. sujeitos a controle judicial específico.
Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro explana esse tema, como: “a Em suma, temos:
declaração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos ATO ADMINISTRATIVO: é a manifestação unilateral de vontade
jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de proveniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais
direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”. amparadas pelos atributos provenientes do regime jurídico de
O renomado, Celso Antônio Bandeira de Mello, por sua vez, direito público, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos
explica o conceito de ato administrativo de duas formas. São elas: a controle judicial específico.
A) Primeira: em sentido amplo, na qual há a predominância de
atos gerais e abstratos. Exemplos: os contratos administrativos e os Atos administrativos em sentido amplo
regulamentos.
No sentido amplo, de acordo com o mencionado autor, o ato Atos de Direito Privado
administrativo pode, ainda, ser considerado como a “declaração do Atos materiais
Estado (ou de quem lhe faça as vezes – como, por exemplo, um
concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas Atos de opinião, conhecimento, juízo ou valor
públicas, manifestada mediante providências jurídicas Atos políticos
complementares da lei a título de lhe dar cumprimento, e sujeitas a
Contratos
controle de legitimidade por órgão jurisdicional”.
Atos normativos
B) Segunda: em sentido estrito, no qual acrescenta à definição Atos normativos em sentido estrito e propriamente ditos
anterior, os atributos da unilateralidade e da concreção. Desta
forma, no entendimento estrito de ato administrativo por ele
exposta, ficam excluídos os atos convencionais, como os contratos,
por exemplo, bem como os atos abstratos.

108
NOÇÕES DE DIREITO

Requisitos Verdade que trabalham na investigação de violações graves de


A lei da Ação Popular, Lei nº 4.717/1965, aponta a existência Direitos Humanos nos períodos entre 18.09.1946 e 05.10.1988, que
de cinco requisitos do ato administrativo. São eles: competência, resulta na combinação dos critérios da matéria e do tempo.
finalidade, forma, motivo e objeto. É importante esclarecer que a A competência possui como características:
falta ou o defeito desses elementos pode resultar. a) Exercício obrigatório: pelos órgãos e agentes públicos, uma
De acordo com o a gravidade do caso em consideração, em vez que se trata de um poder-dever de ambos.
simples irregularidade com possibilidade de ser sanada, invalidando b) Irrenunciável ou inderrogável: isso ocorre, seja pela vontade
o ato do ato, ou até mesmo o tornando inexistente. da Administração, ou mesmo por acordo com terceiros, uma vez
No condizente à competência, no sentido jurídico, esta palavra que é estabelecida em decorrência do interesse público. Exemplo:
designa a prerrogativa de poder e autorização de alguém que está diante de um excessivo aumento da ocorrência de crimes graves e
legalmente autorizado a fazer algo. Da mesma maneira, qualquer da sua diminuição de pessoal, uma delegacia de polícia não poderá
pessoa, ainda que possua capacidade e excelente rendimento para jamais optar por não mais registrar boletins de ocorrência relativos
fazer algo, mas não alçada legal para tal, deve ser considerada a crimes considerados menos graves.
incompetente em termos jurídicos para executar tal tarefa. c) Intransferível: não pode ser objeto de transação ou
Pensamento idêntico é válido para os órgãos e entidades públicas, acordo com o fulcro de ser repassada a responsabilidade a outra
de forma que, por exemplo, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) pessoa. Frise-se que a delegação de competência não provoca a
não possui competência para conferir o passaporte e liberar a entrada transferência de sua titularidade, porém, autoriza o exercício de
de um estrangeiro no Brasil, tendo em vista que o controle de imigração determinadas atribuições não exclusivas da autoridade delegante,
brasileiro é atividade exclusiva e privativa da Polícia Federal. que poderá, conforme critérios próprios e a qualquer tempo,
Nesse sentido, podemos conceituar competência como sendo revogar a delegação.
o acoplado de atribuições designadas pelo ordenamento jurídico às d) Imodificável: não admite ser modificada por ato do agente,
pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos, com o fito de facilitar quando fixada pela lei ou pela Constituição, uma vez que somente
o desempenho de suas atividades. estas normas poderão alterá-la.
A competência possui como fundamento do seu instituto e) Imprescritível: o agente continua competente, mesmo que
a divisão do trabalho com ampla necessidade de distribuição não tenha sido utilizada por muito tempo.
do conjunto das tarefas entre os agentes públicos. Desta f) Improrrogável: com exceção de disposição expressa prevista
forma, a distribuição de competências possibilita a organização em lei, o agente incompetente não passa a ser competente pelo
administrativa do Poder Público, definindo quais as tarefas cabíveis mero fato de ter praticado o ato ou, ainda, de ter sido o primeiro a
a cada pessoa política, órgão ou agente. tomar conhecimento dos fatos que implicariam a motivação de sua
Relativo à competência com aplicação de multa por infração prática.
à legislação do imposto de renda, dentre as pessoas políticas,
a União é a competente para instituir, fiscalizar e arrecadar o Cabem dentro dos critérios de competência a delegação e a
imposto e também para estabelecer as respectivas infrações e avocação, que podem ser definidas da seguinte forma:
penalidades. Já em relação à instituição do tributo e cominação de
penalidades, que é de competência do legislativo, dentre os Órgãos a) Delegação de competência: trata-se do fenômeno por
Constitucionais da União, o Órgão que possui tal competência, é o intermédio do qual um órgão administrativo ou um agente
Congresso Nacional no que condizente à fiscalização e aplicação das público delega a outros órgãos ou agentes públicos a tarefa de
respectivas penalidades. executar parte das funções que lhes foram atribuídas. Em geral, a
Em relação às fontes, temos as competências primária e delegação é transferida para órgão ou agente de plano hierárquico
secundária. Vejamos a definição de cada uma delas nos tópicos inferior. No entanto, a doutrina contemporânea considera, quando
abaixo: justificadamente necessário, a admissão da delegação fora da linha
a) Competência primária: quando a competência é estabelecida hierárquica.
pela lei ou pela Constituição Federal. Considera-se ainda que o ato de delegação não suprime a
b) Competência Secundária: a competência vem expressa em atribuição da autoridade delegante, que continua competente para
normas de organização, editadas pelos órgãos de competência o exercício das funções cumulativamente com a autoridade a que
primária, uma vez que é produto de um ato derivado de um órgão foi delegada a função. Entretanto, cada agente público, na prática de
ou agente que possui competência primária. atos com fulcro nos poderes que lhe foram atribuídos, agirá sempre
em nome próprio e, respectivamente irá responder por seus atos.
Entretanto, a distribuição de competência não ocorre de Por todas as decisões que tomar. Do mesmo modo, adotando
forma aleatória, de forma que sempre haverá um critério lógico cautelas parecidas, a autoridade delegante da ação também poderá
informando a distribuição de competências, como a matéria, o revogar a qualquer tempo a delegação realizada anteriormente.
território, a hierarquia e o tempo. Exemplo disso, concernente ao Desta maneira, a regra geral é a possibilidade de delegação de
critério da matéria, é a criação do Ministério da Saúde. competências, só deixando esta de ser possível se houver quaisquer
Em relação ao critério territorial, a criação de Superintendências impedimentos legais vigentes.
Regionais da Polícia Federal e, ainda, pelo critério da hierarquia,
a criação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), É importante conhecer a respeito da delegação de competência
órgão julgador de recursos contra as decisões das Delegacias da o disposto na Lei 9.784/1999, Lei do Processo Administrativo
Receita Federal de Julgamento criação da Comissão Nacional da Federal, que tendo tal norma aplicada somente no âmbito federal,
incorporou grande parte da orientação doutrinária existente,
dispondo em seus arts. 11 a 14:

109
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos Vejamos a diferença entre a avocação com revogação de
administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação:
delegação e avocação legalmente admitidos. – Na avocação, sendo sua providência de forma excepcional e
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se temporária, nos termos do art. 15 da Lei 9.787/1999, a competência
não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência é de forma originária e advém do órgão ou agente subordinado,
a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam sendo que de forma temporária, passa a ser exercida pelo órgão ou
hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão autoridade avocante.
de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou – Já na revogação de delegação, anteriormente, a competência
territorial. já era de forma original da autoridade ou órgão delegante, que
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à achou por conveniência e oportunidade revogar o ato de delegação,
delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos voltando, por conseguinte a exercer suas atribuições legais por
presidentes. cunho de mão própria.
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
I - a edição de atos de caráter normativo; Finalmente, adverte-se que, apesar de ser um dever
II - a decisão de recursos administrativos; ser exercido com autocontrole, o poder originário de avocar
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou competência também se constitui em regra na Administração
autoridade. Pública, uma vez que é inerente à organização hierárquica como
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser um todo. Entretanto, conforme a doutrina de forma geral, o órgão
publicados no meio oficial. superior não pode avocar a competência do órgão subordinado em
§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes se tratando de competências exclusivas do órgão ou de agentes
transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os inferiores atribuídas por lei. Exemplo: Secretário de Segurança
objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva Pública, mesmo estando alguns degraus hierárquicos acima de
de exercício da atribuição delegada. todos os Delegados da Polícia Civil, não poderá jamais avocar para si
§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela a competência para presidir determinado inquérito policial, tendo
autoridade delegante. em vista que esta competência é exclusiva dos titulares desses
§ 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar cargos.
explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo Não convém encerrar esse tópico acerca da competência
delegado. sem mencionarmos a respeito dos vícios de competência que
é conceituado como o sofrimento de algum defeito em razão de
Convém registrar que a delegação é ato discricionário, que problemas com a competência do agente que o pratica que se
leva em conta para sua prática circunstâncias de índole técnica, subdivide em:
social, econômica, jurídica ou territorial, bem como é ato revogável a) Excesso de poder: acontece quando o agente que pratica
a qualquer tempo pela autoridade delegante, sendo que o ato de o ato acaba por exceder os limites de sua competência, agindo
delegação bem como a sua revogação deverão ser expressamente além das providências que poderia adotar no caso concreto, vindo
publicados no meio oficial, especificando em seu ato as matérias a praticar abuso de poder. O vício de excesso de poder nem sempre
e poderes delegados, os parâmetros de limites da atuação do poderá resultar em anulação do ato administrativo, tendo em vista
delegado, o recurso cabível, a duração e os objetivos da delegação. que em algumas situações será possível convalidar o ato defeituoso.
b) Usurpação de função: ocorre quando uma pessoa exerce
Importante ressaltar: atribuições próprias de um agente público, sem que tenha esse
Súmula 510 do STF: Praticado o ato por autoridade, no exercício atributo ou competência. Exemplo: uma pessoa que celebra
de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança casamentos civis fingindo ser titular do cargo de juiz.
ou a medida judicial. c) Função de fato: ocorre quando a pessoa que pratica o ato
Com fundamento nessa orientação, o STF decidiu no julgamento está irregularmente investida no cargo, emprego ou função pública
do MS 24.732 MC/DF, que o foro da autoridade delegante não ou ainda que, mesmo devidamente investida, existe qualquer tipo
poderá ser transmitido de forma alguma à autoridade delegada. de impedimento jurídico para a prática do ato naquele momento.
Desta forma, tendo sido o ato praticado pela autoridade delegada, Na função de fato, o agente pratica o ato num contexto que tem
todas e quaisquer medidas judiciais propostas contra este ato toda a aparência de legalidade. Por esse motivo, em decorrência da
deverão respeitar o respectivo foro da autoridade delegada. teoria da aparência, desde que haja boa-fé do administrado, esta
deve ser respeitada, devendo, por conseguinte, ser considerados
Seguindo temos: válidos os atos, como se fossem praticados pelo funcionário de fato.
a) Avocação: trata-se do fenômeno contrário ao da delegação
e se resume na possibilidade de o superior hierárquico trazer
para si de forma temporária o devido exercício de competências
legalmente estabelecidas para órgãos ou agentes hierarquicamente
inferiores. Diferentemente da delegação, não cabe avocação fora da
linha de hierarquia, posto que a utilização do instituto é dependente
de poder de vigilância e controle nas relações hierarquizadas.

110
NOÇÕES DE DIREITO

Em suma, temos: Em resumo, temos:

VÍCIOS DE COMPETÊNCIA Específica ou Imediata e Geral


Finalidade Pública
Em determinadas ou Mediata
Excesso de poder situações é possível a Ato praticado com finalidade
convalidação diversa da prevista em Lei.
Usurpação de função Ato inexistente Desvio de finalidade e Ato praticado formalmente
ou desvio de poder com finalidade prevista em Lei,
Ato válido, se houver porém, visando a atender a fins
Função de fato
boa-fé do administrado pessoais de autoridade.
ABUSO DE AUTORIDADE
Concernente à forma, averígua-se na doutrina duas formas
Excesso de poder Vício de competência distintas de definição como requisito do ato administrativo. São elas:
Desvio de poder Desvio de finalidade A) De caráter mais restrito, demonstrando que a forma é o
modo de exteriorização do ato administrativo.
Relativo à finalidade, denota-se que a finalidade pública é B) Considera a forma de natureza mais ampla, incluindo no
uma das características do princípio da impessoalidade. Nesse conceito de forma apenas o modo de exteriorização do ato, bem
diapasão, a Administração não pode atuar com o objetivo de como todas as formalidades que devem ser destacadas e observadas
beneficiar ou prejudicar determinadas pessoas, tendo em vista que no seu curso de formação.
seu comportamento deverá sempre ser norteado pela busca do
interesse público. Além disso, existe determinada finalidade típica Ambas as acepções estão meramente corretas, cuidando-se
para cada tipo de ato administrativo. simplesmente de modos diferentes de examinar a questão, sendo
Assim sendo, identifica-se no ato administrativo duas espécies que a primeira analisa a forma do ato administrativo sob o aspecto
de finalidade pública. São elas: exterior do ato já formado e a segunda, analisa a dinâmica da
a) Geral ou mediata: consiste na satisfação do interesse público formação do ato administrativo.
considerado de forma geral.
b) Pública específica ou imediata: é o resultado específico Via de regra, no Direito Privado, o que prevalece é a liberdade
previsto na lei, que deve ser alcançado com a prática de determinado de forma do ato jurídico, ao passo que no Direito Público, a regra
ato. é o formalismo moderado. O ato administrativo não precisa ser
revestido de formas rígidas e solenes, mas é imprescindível que
Está relacionada ao atributo da tipicidade, por meio do qual a ele seja escrito. Ainda assim, tal exigência, não é absoluta, tendo
lei dispõe uma finalidade a ser alcançada para cada espécie de ato. em vista que em alguns casos, via de regra, o agente público
Destaca-se que o descumprimento de qualquer dessas tem a possibilidade de se manifestar de outra forma, como
finalidades, seja geral ou específica, resulta no vício denominado acontece nas ordens verbais transmitidas de forma emergencial
desvio de poder ou desvio de finalidade. O desvio de poder é aos subordinados, ou, ainda, por exemplo, quando um agente
vício que não pode ser sanado, e por esse motivo, não pode ser de trânsito transmite orientações para os condutores de veículos
convalidado. através de silvos e gestos.
A Lei de Ação Popular, Lei 4.717/1965 em seu art. 2º, parágrafo Pondera-se ainda, que o ato administrativo é denominado
único, alínea e, estabelece que “o desvio de finalidade se verifica vício de forma quando é enviado ou emitido sem a obediência à
quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele forma e sem cumprimento das formalidades previstas em lei. Via
previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência”. de regra, considera-se plenamente possível a convalidação do
Destaque-se que por via de regra legal atributiva de competência ato administrativo que contenha vício de forma. No entanto, tal
estatui de forma explícita ou implicitamente, os fins que devem ser convalidação não será possível nos casos em que a lei estabelecer
seguidos e obedecidos pelo agente público. Caso o ato venha a ser que a forma é requisito primordial à validade do ato.
praticado visando a fins diversos, verificar-se-á a presença do vício Devemos explanar também que a motivação declarada e
de finalidade. escrita dos motivos que possibilitaram a prática do ato, quando
for de caráter obrigatório, integra a própria forma do ato. Desta
O desvio de finalidade, segundo grandes doutrinadores, se maneira, quando for obrigatória, a ausência de motivação enseja
verifica em duas hipóteses. São elas: vício de forma, mas não vício de motivo.
a) o ato é formalmente praticado com finalidade diversa da Porém, de forma diferente, sendo o motivo declinado pela
prevista por lei. Exemplo: remover um funcionário com o objetivo autoridade e comprovadamente ilícito ou falso, o vício consistirá no
de punição. elemento motivo.
b) ocorre quando o ato, mesmo formalmente editado com
a finalidade legal, possui, na prática, o foco de atender a fim de Motivo
interesse particular da autoridade. Exemplo: com o objetivo de O motivo diz respeito aos pressupostos de fato e de direito que
perseguir inimigo, ocorre a desapropriação de imóvel alegando estabelecem ou autorizam a edição do ato administrativo.
interesse público. Quando a autoridade administrativa não tem margem para
decidir a respeito da conveniência e oportunidade para editar o ato
administrativo, diz-se que este é ato vinculado. No condizente ao

111
NOÇÕES DE DIREITO

ato discricionário, como há espaço de decisão para a autoridade A motivação dos atos administrativos
administrativa, a presença do motivo simplesmente autoriza a É a teoria dos motivos determinantes. Convém explicitar a
prática do ato. respeito da motivação dos atos administrativo e da teoria dos
Nesse diapasão, existem também o motivo de direito que se motivos determinantes que se baseia na ideia de que mesmo a lei
trata da abstrata previsão normativa de uma situação que ao ser não exigindo a motivação, se o ato administrativo for motivado, ele
verificada no mundo concreto que autoriza ou determina a prática só terá validade se os motivos declarados forem verdadeiros.
do ato, ao passo que o motivo de fato é a concretização no mundo
empírico da situação prevista em lei. Exemplo
Assim sendo, podemos esclarecer que a prática do ato A doutrina cita o caso do ato de exoneração ad nutum de
administrativo depende da presença adjunta dos motivos de fato servidor ocupante de cargo comissionado, uma vez que esse tipo de
e de direito, posto que para isso, são imprescindíveis à existência ato não exige motivação. Entretanto, caso a autoridade competente
abstrata de previsão normativa bem como a ocorrência, de fato venha a alegar que a exoneração transcorre da falta de pontualidade
concreto que se integre à tal previsão. habitual do comissionado, a validade do ato exoneratório virá
De acordo com a doutrina, o vício de motivo é passível de a ficar na dependência da existência do motivo declarado. Já
ocorrer nas seguintes situações: se o interessado apresentar a folha de ponto comprovando sua
a) quando o motivo é inexistente. pontualidade, a exoneração, seja por via administrativa ou judicial,
b) quando o motivo é falso. deverá ser anulada.
c) quando o motivo é inadequado. É importante registrar que a teoria dos motivos determinantes
pode ser aplicada tanto aos atos administrativos vinculados quanto
É de suma importância estabelecer a diferença entre motivo e aos discricionários, para que o ato tenha sido motivado.
motivação. Vejamos: Em suma, temos:
– Motivo: situação que autoriza ou determina a produção do ato
administrativo. Sempre deve estar previsto no ato administrativo, – Motivo do ato administrativo
sob pena de nulidade, sendo que sua ausência de motivo legítimo – Definição: pressuposto de fato e direito que fundamenta a
edição do ato administrativo.
ou ilegítimo é causa de invalidação do ato administrativo.
– Motivo de Direito: é a situação prevista na lei, de forma
– Motivação: é a declinação de forma expressa do motivo,
abstrata que autoriza ou determina a prática do ato administrativo.
sendo a declaração das razões que motivaram à edição do
– Motivo de fato: circunstância que se realiza no mundo real
ato. Já a motivação declarada e expressa dos motivos dos atos
que corresponde à descrição contida de forma abstrata na lei,
administrativos, via de regra, nem sempre é exigida. Porém, se
caracterizando o motivo de direito.
for obrigatória pela lei, sua ausência causará invalidade do ato
administrativo por vício de forma, e não de motivo.
Vícios de motivo do ato
Convém ressaltar que a Lei 9.784/1999, que regulamenta o administrativo
processo administrativo na esfera federal, dispõe no art. 50, o Inexistente
seguinte:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com Falso
indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: Inadequado
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções; – Teoria dos motivos determinantes
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção – O ato administrativo possui sua validade vinculada aos
pública; motivos expostos mesmo que não seja exigida a motivação.
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo – Só é aplicada apenas se o ato conter motivação.
licitatório; – STJ: “Não se decreta a invalidade de um ato administrativo
V - decidam recursos administrativos; quando apenas um, entre os diversos motivos determinantes, não
VI - decorram de reexame de ofício; está adequado à realidade fática”.
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão
ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais; Objeto
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação O objeto do ato administrativo pode ser conceituado como
de ato administrativo. sendo o efeito jurídico imediato produzido pelo ato. Em outras
palavras, podemos afirmar que o objeto do ato administrativo
Prevê a mencionada norma em seu § 1º, que a motivação deve cuida-se da alteração da situação jurídica que o ato administrativo
ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração se propõe a realizar. Desta forma, no ato impositivo de multa, por
de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, exemplo, o objeto é a punição do transgressor.
informações, decisões ou propostas, que, nesse caso, serão parte Para que o ato administrativo tenha validade, seu objeto deve
integrante do ato. Tal hipótese é denominada pela doutrina de ser lícito, possível, certo e revestido de moralidade conforme os
“motivação aliunde” que significa motivação “em outro local”, mas padrões aceitos como éticos e justos.
que está sendo admitida no direito brasileiro. Havendo o descumprimento dessas exigências, podem incidir
os esporádicos vícios de objeto dos atos administrativos. Nesse
sentido, podemos afirmar que serão viciados os atos que possuam
os seguintes objetos, seguidos com alguns exemplos:

112
NOÇÕES DE DIREITO

a) Objeto lícito: punição de um servidor público com suspensão ilícito em prejuízo do próprio “X”, incumbe a “X” comprovar o que
por prazo superior ao máximo estabelecido por lei específica. está alegando, de maneira que, em nada conseguir provar os fatos,
b) Objeto impossível: determinação aos subordinados para “Y” não poderá ser punido.
evitar o acontecimento de chuva durante algum evento esportivo.
c) Objeto incerto: em ato unificado, a suspensão do direito de – Imperatividade
dirigir das pessoas que por ventura tenham dirigido alcoolizadas Em decorrência desse atributo, os atos administrativos são
nos últimos 12 meses, tanto as que tenham sido abordadas por impostos pelo Poder Público a terceiros, independentemente da
autoridade pública ou flagradas no teste do bafômetro. concordância destes. Infere-se que a imperatividade é proveniente
d) Objeto moral: a autorização concedida a um grupo de do poder extroverso do Estado, ou seja, o Poder Público poderá
pessoas específicas para a ocupação noturna de determinado editar atos, de modo unilateral e com isso, constituir obrigações
trecho de calçada para o exercício da prostituição. Nesse exemplo, para terceiros. A imperatividade representa um traço diferenciado
o objeto é tido como imoral. em relação aos atos de direito privado, uma vez que estes somente
possuem o condão de obrigar os terceiros que manifestarem sua
Atributos do Ato Administrativo expressa concordância.
Tendo em vista os pormenores do regime jurídico de direito Entretanto, nem todo ato administrativo possui imperatividade,
público ou regime jurídico administrativo, os atos administrativos característica presente exclusivamente nos atos que impõem
são dotados de alguns atributos que os se diferenciam dos atos obrigações ou restrições aos administrados. Pelo contrário, se o
privados. ato administrativo tiver por objetivo conferir direitos, como por
Acontece que não há unanimidade doutrinária no condizente exemplo: licença, admissão, autorização ou permissão, ou, ainda,
ao rol desses atributos. Entretanto, para efeito de conhecimento, quando possuir conteúdo apenas enunciativo como certidão,
bem como a enumeração que tem sido mais cobrada em concursos atestado ou parecer, por exemplo, não haverá imperatividade.
públicos, bem como em teses, abordaremos o conceito utilizado
pela Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro. – Autoexecutoriedade
Nos dizeres da mencionada administrativista, os atributos dos Consiste na possibilidade de os atos administrativos serem
atos administrativos são: executados diretamente pela Administração Pública, por
intermédio de meios coercitivos próprios, sem que seja necessário
– Presunção de legitimidade a intervenção prévia do Poder Judiciário.
Decorre do próprio princípio da legalidade e milita em favor dos Esse atributo é decorrente do princípio da supremacia do
atos administrativos. É o único atributo presente em todos os atos interesse público, típico do regime de direito administrativo, fato
administrativos. Pelo fato de a administração poder agir somente que acaba por possibilitar a atuação do Poder Público no condizente
quando autorizada por lei, presume-se, por conseguinte que se a à rapidez e eficiência.
administração agiu e executou tal ato, observando os parâmetros No entender de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a
legais. Desta forma, em decorrência da presunção de legitimidade, autoexecutoriedade somente é possível quando estiver
os atos administrativos presumem-se editados em conformidade expressamente prevista em lei, ou, quando se tratar de medida
urgente, que não sendo adotada de imediato, ocasionará, por sua
com a lei, até que se prove o contrário.
vez, prejuízo maior ao interesse público.
De forma parecida, por efeito dos princípios da moralidade e
da legalidade, quando a administração alega algo, presume-se que
suas alegações são verdadeiras. É o que a doutrina conceitua como Exemplos de Atos Administrativos Autoexecutórios
presunção de veracidade dos atos administrativos que se cuida da apreensão de mercadorias impróprias para o consumo
presunção de que o ato administrativo foi editado em conformidade humano
com a lei, gerando a desconfiança de que as alegações produzidas
pela administração são verdadeiras. demolição de edifício em situação de risco
As presunções de legitimidade e de veracidade são elementos internação de pessoa com doença contagiosa
e qualificadoras presentes em todos os atos administrativos. No
entanto, ambas serão sempre relativas ou juris tantum, podendo dissolução de reunião que ameace a segurança
ser afastadas em decorrência da apresentação de prova em sentido
contrário. Assim sendo, se o administrado se sentir prejudicado Por fim, ressalta-se que o princípio da inafastabilidade da
por algum ato que refutar ilegal ou fundado em mentiras, poderá prestação jurisdicional possui o condão de garantir ao particular
submetê-lo ao controle pela própria administração pública, bem que considere que algum direito seu foi lesionado ou ameaçado,
como pelo Judiciário. Já se o órgão provocado alegar que a prática possa livremente levar a questão ao Poder Judiciário em busca da
defesa dos seus direitos.
não está em conformidade com a lei ou é fundada em alegações
falsas, poderá proclamará a nulidade do ato, desfazendo os seus
– Tipicidade
efeitos.
De antemão, infere-se que a maior parte dos autores não cita a
Denota-se que a principal consequência da presunção
tipicidade como atributo do ato administrativo. Isso ocorre pelo fato
de veracidade é a inversão do ônus da prova. Nesse sentido,
de tal característica não estabelecer um privilégio da administração,
relembremos que em regra, segundo os parâmetros jurídicos,
mas sim uma restrição. Se adotarmos o entendimento de que
o dever de provar é de quem alega o fato a ser provado. Desta
a título de “atributos” devemos estudar as particularidades dos
maneira, se o particular “X” alega que o particular “Y” cometeu ato atos administrativos que os divergem dos demais atos jurídicos,
deveremos incluir a tipicidade na lista. Entretanto, se entendermos

113
NOÇÕES DE DIREITO

que apenas são considerados atributos as prerrogativas que acabam – Já os discricionários são aqueles em que a Administração
por verticularizar as relações jurídicas nas quais a administração Pública possui um pouco mais de liberdade para, em consonância
toma parte, a tipicidade não poderia ser considerada. com critérios subjetivos de conveniência e oportunidade, tomar
Nos termos da primeira corrente, para a Professora Maria decisões quando e como o ato será praticado, com a definição de
Sylvia Zanella Di Pietro, a “tipicidade é o atributo pelo qual o ato seu conteúdo, destinatários, a motivação e a forma de sua prática.
administrativo deve corresponder a figuras definidas previamente
pela lei como aptas a produzir determinados resultados”. Assim c) Em relação às prerrogativas da Administração, os atos
sendo, em consonância com esse atributo, para cada finalidade que administrativos podem ser atos de império, de gestão e de
a Administração Pública pretender alcançar, deverá haver um ato expediente.
previamente definido na lei. – Atos de império são atos por meio dos quais a Administração
Denota-se que a tipicidade é uma consequência do princípio Pública pratica no uso das prerrogativas tipicamente estatais usando
da legalidade. Esse atributo não permite à Administração praticar o poder de império para impô-los de modo unilateral e coercitivo
atos em desacordo com os parâmetros legais, motivo pelo qual o aos seus administrados. Exemplo: interdição de estabelecimentos
atributo da tipicidade é considerado como uma ideia contrária à da comerciais.
autonomia da vontade, por meio da qual o particular tem liberdade
para praticar atos desprovidos de disciplina legal, inclusive atos
d) Em relação aos atos de gestão, são atos por meio dos
inominados.
quais a Administração Pública atua sem o uso das prerrogativas
Ainda nos trâmites com o entendimento exposto, ressalta-se
provenientes do regime jurídico administrativo. Exemplo: atos de
que a tipicidade só existe nos atos unilaterais, não se encontrando
administração dos bens e serviços públicos e dos atos negociais
presente nos contratos. Isso ocorre porque não existe qualquer
com os particulares.
impedimento de ordem jurídica para que a Administração venha
Quando praticados de forma regular os atos de gestão, passam
a firmar com o particular um contrato inominado desprovido de
a ter caráter vinculante e geram direitos subjetivos.
regulamentação legal, desde que esta seja a melhor maneira de
atender tanto ao interesse público como ao interesse particular.
Exemplo:
Classificação dos Atos Administrativos uma autarquia ao alugar um imóvel a ela pertencente, de
A Doutrina não é uniforme no que condiz à atribuição dada forma vinculante entre a administração e o locatário aos termos do
à diversidade dos critérios adotados com esse objetivo. Por esse contrato, acaba por gerar direitos e deveres para ambos.
motivo, sem esgotar o assunto, apresentamos algumas classificações
mais relevantes, tanto no que se refere a uma maior utilidade – Já os atos de expediente são tidos como aqueles que
prática na análise dos regimes jurídicos, tanto pela concomitante impulsionam a rotina interna da repartição, sem caráter vinculante
abordagem nas provas de concursos públicos. e sem forma especial, cujo objetivo é dar andamento aos processos
a) Em relação aos destinatários: atos gerais e individuais. e papéis que tramitam internamente nos órgãos públicos.
Os atos gerais ou normativos, são expedidos sem destinatários Exemplo:
determinados ou determináveis e aplicáveis a todas as pessoas que Um despacho com o teor: “ao setor de contabilidade para as
de uma forma ou de outra se coloquem em situações concretas devidas análises”.
que correspondam às situações reguladas pelo ato. Exemplo: o
Regulamento do Imposto de Renda. e) Quanto à formação, os atos administrativos podem ser atos
simples, complexos e compostos.
– Atos individuais ou especiais: são dirigidos a destinatários – O ato simples decorre da declaração de vontade de apenas
individualizados, podendo ser singulares ou plúrimos. Sendo que um órgão da administração pública, pouco importando se esse
será singular quando alcançar um único sujeito determinado e órgão é unipessoal ou colegiado. Assim sendo, a nomeação de um
será plúrimo, quando for designado a uma pluralidade de sujeitos servidor público pelo Prefeito de um Município, será considerada
determinados em si. como ato simples singular, ao passo que a decisão de um processo
administrativo por órgão colegiado será apenas ato simples
Exemplo: colegiado.
O decreto de desapropriação que atinja um único imóvel. – O ato complexo é constituído pela manifestação de dois ou
Por outro lado, como hipótese de ato individual plúrimo, cita- mais órgãos, por meio dos quais as vontades se unem em todos os
se: o ato de nomeação de servidores em forma de lista. Quanto sentidos para formar um só ato. Exemplo: um decreto assinado pelo
aos destinatários: ATOS GERAIS, ATOS INDIVIDUAIS, SINGULARES Presidente da República e referendado pelo Ministro de Estado.
PLÚRIMOS É importante não confundir ato complexo com procedimento
administrativo. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, “no ato
b) Em relação ao grau de liberdade do agente, os atos podem complexo integram-se as vontades de vários órgãos para a obtenção
ser atos vinculados e discricionários. de um mesmo ato, ao passo que no procedimento administrativo
– Os atos vinculados são aqueles nos quais a Administração praticam-se diversos atos intermediários e autônomos para a
Pública fica sem liberdade de escolha, nos quais, desde que obtenção de um ato final e principal”.
comprovados os requisitos legais, a edição do ato se torna
obrigatória, nos parâmetros previstos na lei. Exemplo: licença para f) Em relação ao ato administrativo composto, pondera que
a construção de imóvel. este também decorre do resultado da manifestação de vontade de
dois ou mais órgãos. O que o diferencia do ato complexo é o fato de

114
NOÇÕES DE DIREITO

que, ao passo que no ato complexo as vontades dos órgãos se unem autônomo admitidas no direito brasileiro, são as disposta no art. 84,
para formar um só ato, no ato composto são praticados dois atos, VI, “a”, da Constituição Federal, incluída pela Emenda Constitucional
um principal e outro acessório. 32/2001, que predispõe a competência privativa do Presidente da
Ademais, é importante explicar a definição de Hely Lopes República para dispor, mediante decreto, sobre a organização e
Meirelles, para quem o ato administrativo composto “é o que funcionamento da administração federal, quando não incorrer em
resulta da vontade única de um órgão, mas depende da verificação aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos.
por parte de outro, para se tornar exequível”. A mencionada
definição, embora seja discutível, vem sendo muito utilizada – Atos ordinatórios
pelas bancas examinadoras na elaboração de questões de provas Os atos administrativos ordinatórios são aqueles que podem
de concurso público. Isso ocorreu na aplicação da prova para ser editados no exercício do poder hierárquico, com o fulcro
Assistente Jurídico do DF, elaborada pelo CESPE em 2001, que foi de disciplinar as relações internas da Administração Pública.
considerado correto o seguinte tópico: “Ao ato administrativo cuja Detalharemos aqui os principais atos ordinatórios. São eles: as
prática dependa de vontade única de um órgão da administração, instruções, as circulares, os avisos, as portarias, as ordens de
mas cuja exequibilidade dependa da verificação de outro órgão, dá- serviço, os ofícios e os despachos.
se o nome de ato administrativo composto”. Instruções: tratam-se de atos administrativos editados pela
autoridade hierarquicamente superior, com o fulcro de ordenar
Espécies a atuação dos agentes que lhes são subordinados. Exemplo:
O saudoso jurista Hely Lopes Meirelles propõe que os atos as instruções que ordenam os atos que devem ser usados de
administrativos sejam divididos em cinco espécies. São elas: atos forma interna na análise do pedido de utilização de bem público
normativos, atos ordinatórios, atos negociais, atos enunciativos e formalizado unicamente por particular.
atos punitivos. Circulares: são consideradas idênticas às instruções, entretanto,
de modo geral se encontram dotadas de menor abrangência.
– Atos normativos Avisos: tratam-se de atos administrativos que são editados
Os atos normativos são aqueles cuja finalidade imediata é por Ministros de Estados com o objetivo de tratarem de assuntos
esmiuçar os procedimentos e comportamentos para a fiel execução correlatos aos respectivos Ministérios.
da lei, posto que as dispostas e utilizadas por tais atos são gerais, Portarias: são atos administrativos respectivamente editados
não possuem destinatários específicos e determinados, e abstratas, por autoridades administrativas, porém, diferentes das do chefe
versando sobre hipóteses e nunca sobre casos concretos. do Poder Executivo. Exemplo: determinação por meio de portaria
determinando a instauração de processo disciplinar específico.
Em relação à forma jurídica adotada, os atos normativos
Ordens de serviço: tratam-se de atos administrativos
podem ser:
ordenadores da adoção de conduta específica em circunstâncias
a) Decreto: é ato administrativo de competência privativa dos
especiais. Exemplo: ordem de serviço determinadora de início de
chefes do Poder Executivo utilizados para regulamentar situação
obra pública.
geral ou individual prevista na legislação, englobando também de
Ofícios: são especificamente, atos administrativos que se
forma ampla, o decreto legislativo, cuja competência é privativa das
responsabilizam pela formalização da comunicação de forma escrita
Casas Legislativas.
e oficial existente entre os diversos órgãos públicos, bem como
O decreto é de suma importância no direito brasileiro, motivo
pelo qual, de acordo com seu conteúdo, os decretos podem ser de entidades administrativas como um todo. Exemplo: requisição
classificados em decreto geral e individual. Vejamos: de informações necessárias para a defesa do Estado em juízo por
b) Decreto geral: possui caráter normativo veiculando regras meio de ofício enviado pela Procuradoria do Estado à Secretaria de
gerais e abstratas, fato que visa facilitar ou detalhar a correta Saúde.
aplicação da Lei. Exemplo: o decreto que institui o “Regulamento Despachos: são atos administrativos eivados de poder
do Imposto de Renda”. decisório ou apenas de mero expediente praticados em processos
c) Decreto individual: seu objetivo é tratar da situação administrativos. Exemplo: quando da ocorrência de processo
específica de pessoas ou grupos determinados, sendo que a sua disciplinar, é emitido despacho especifico determinando a oitiva de
publicação produz de imediato, efeitos concretos. testemunhas.

Exemplo: – Atos negociais


Decreto que declara a utilidade pública de determinado bem Também chamados de atos receptícios, são atos administrativos
para fim de desapropriação. de caráter administrativo editados a pedido do particular, com o
fulcro de viabilizar o exercício de atividade específica, bem como a
Nesse ponto, passaremos a verificar a respeito do decreto utilização de bens públicos. Nesse ato, a vontade da Administração
regulamentar, também designado de decreto de execução. Pública é pertinente com a pretensão do particular. Fazem parte
A doutrina o conceitua como sendo aquele que introduz um desta categoria, a licença, a permissão, a autorização e a admissão.
regulamento, não permitindo que o seu conteúdo e o seu alcance Vejamos:
possam ir além daqueles do que é permitido por Lei. a) Licença: possui algumas características. São elas:
Por sua vez, o decreto autônomo é aquele que dispõe sobre Ato vinculado: desde que sejam preenchidos os requisitos
matéria não regulada em lei, passando a criar um novo direito. legais por parte do particular, o Poder Público deverá editar a
Pondera-se que atualmente, as únicas hipóteses de decreto licença;

115
NOÇÕES DE DIREITO

Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a


Administração se torna conivente com o exercício da atividade *Nota importante: o art. 5, XXXIV, “b”, da Constituição Federal
privada como um todo; consagra o direito de certidão no âmbito de direitos fundamentais,
Ato declaratório: ato que reconhece o direito subjetivo do no qual assegura a todo e qualquer cidadão interessado,
particular, vindo a autorizar a habilitação do seu exercício. independentemente do pagamento de taxas, “a obtenção de
b) Permissão: trata-se de ato administrativo discricionário certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
dotado da permissão do exercício de atividades específicas esclarecimento de situações de interesse pessoal”.
realizadas pelo particular ou, ainda, o uso privativo de determinado
bem público. Exemplo: a permissão para uso de bem público c) Atestados: tratam-se de atos administrativos similares às
específico. certidões, posto que também declaram a existência ou inexistência
A permissão é dotada de características essenciais. São elas: de fatos. Entretanto, os atestados não se confundem com as
Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a certidões, uma vez que nas certidões, o agente público utiliza-se do
Administração Pública concorda com o exercício da atividade ato de emitir declaração sobre ato ou fato constante dos arquivos
privada, bem como da utilização de bem público por particulares; públicos, ao passo que os atestados se incumbem da tarefa de
retratar fatos que não constam de forma antecipada dos arquivos
Ato discricionário: ato por intermédio do qual a autoridade
da Administração Pública.
administrativa é dotada de liberdade de análise referente à
d) Apostilamento: tratam-se atos administrativos que possuem
conveniência e à oportunidade do ato administrativo;
o objetivo de averbar determinados fatos ou direitos reconhecidos
Ato constitutivo: ato por meio do qual, o particular possui
pela norma jurídica como um todo. Como exemplo, podemos citar
somente expectativa de direito antes da edição do ato, e não
o apostilamento, via de regra, feito no verso da última página dos
apenas de direito subjetivo ao ato.
contratos administrativos, da variação do valor contratual advinda
c)Autorização: é detentora de características iguais às da
de reajuste previsto no contrato, nos parâmetros do art. 65, § 8.°,
permissão, vindo a constituir ato administrativo discricionário da Lei 8.666/1993, Lei de Licitações.
permissionário do exercício de atividade específica pelo particular
ou, ainda, o uso particular de bem público. Da mesma forma que – Atos punitivos
a permissão, a autorização possui como características: o ato de Também chamados de atos sancionatórios, os atos punitivos
consentimento estatal, o ato discricionário e o ato constitutivo. são aqueles que atuam na restrição de direitos, bem como de
d)Admissão: trata-se de ato administrativo vinculado portador interesses dos administrados que vierem a atuar em desalento com
do reconhecimento do direito ao recebimento de serviço público a ordem jurídica de modo geral. Entretanto, exige-se, de qualquer
específico pelo particular, que deve ser editado na hipótese na qual forma, o devido respeito à ampla defesa e ao contraditório na
o particular preencha devidamente os requisitos legais. edição de atos punitivos, nos trâmites do art. 5.°, LV, da Constituição
Federal Brasileira, bem como que as sanções administrativas
– Atos enunciativos tenham previsão legal expressa cumprindo os ditames do princípio
São atos administrativos que expressam opiniões ou, ainda, da legalidade.
que certificam fatos no campo da Administração Pública. A doutrina Podemos dividir as sanções em dois grupos:
reconhece como espécies de atos enunciativos: os pareceres, as 1) Sanções de polícia: de modo geral são aplicadas com
certidões, os atestados e o apostilamento. Vejamos: supedâneo no poder de polícia, bem como são relacionadas aos
a) Pareceres: são atos administrativos que buscam expressar particulares em geral. Exemplo: multa de trânsito.
a opinião do agente público a respeito de determinada questão de 2) Sanções funcionais ou disciplinares: são aplicadas com
ordem fática, técnica ou jurídica. Exemplo: no curso de processo de embasamento no poder disciplinar aos servidores públicos e às
licenciamento ambiental é apresentado parecer técnico. demais pessoas que se encontram especialmente vinculadas
à Administração Pública. Exemplo: reprimenda imposta à
De forma geral, a doutrina pondera a existência de três espécies determinada empresa contratada pela Administração.
de pareceres. São eles: Em relação aos atos punitivos, pode-se citar como exemplos, as
1) Parecer facultativo: esta espécie não é exigida pela legislação multas, as interdições de atividades, as apreensões ou destruições
para formulação da decisão administrativa. Ao ser elaborado, não de coisas e as sanções disciplinares. Vejamos resumidamente cada
vincula a autoridade competente; espécie:
2) Parecer obrigatório: é o parecer que deve ser necessariamente Multas: tratam-se de sanções pecuniárias que são impostas
elaborado nas hipóteses mencionadas na legislação, mas a aos administrados.
opinião nele contida não vincula de forma definitiva a autoridade Interdições de atividades: são atos que proibitivos ou
responsável pela decisão administrativa, que pode contrariar o suspensivos do exercício de atividades diversas.
parecer de forma motivada; Apreensão ou destruição de coisas: cuidam-se de sanções
aplicadas pela Administração relacionadas às coisas que colocam a
3) Parecer vinculante: é o parecer que deve ser elaborado população em risco.
de forma obrigatória contendo teor que vincule a autoridade Ressalta-se que em se tratando de perigo público iminente,
administrativa com o dever de acatá-lo. a autoridade pública deterá o poder de destruir as coisas nocivas
b) Certidões: tratam-se de atos administrativos que possuem à coletividade, havendo ou não, processo administrativo prévio,
o condão de declarar a existência ou inexistência de atos ou fatos situação hipotética na qual a ampla defesa será delongada para
administrativos. As certidões são atos que retratam a realidade, momento posterior. Entretanto, estando ausente a urgência da
porém, não são capazes de criar ou extinguir relações jurídicas. medida, denota-se que a sua aplicação dependerá da formalização

116
NOÇÕES DE DIREITO

feita de forma prévia no processo administrativo, situação por Relativo à sua natureza jurídica, sendo a cassação considerada
intermédio da qual, a ampla defesa será postergada para momento como um ato sancionatório, uma vez que a cassação só poderia
ulterior. ser proposta contra particulares que tenham sido flagrados pelos
Sanções disciplinares: também chamadas de sanções agentes de fiscalização em descumprimento às condições de
funcionais, as sanções disciplinares são aplicadas aos servidores subsistência do ato, bem como por ato revisional que implicasse
públicos e aos administrados possuidores de relação jurídica auditoria, acoplando até mesmo questões relativas à intercepção
especial com a Administração Pública, desde que tenha sido de bases de dados públicas.
constatada a violação ao ordenamento jurídico, bem como aos Vale ressaltar que a cassação e a anulação possuem efeitos
termos do negócio jurídico. Um exemplo disso, é a demissão de parecidos, porém não são equivalentes, uma vez que a cassação
servidor público que tenha cometido falta grave. advém do não cumprimento ou alteração dos requisitos necessários
para a formação ou manutenção de uma situação jurídica, ao passo
*Nota importante: Diferentemente das sanções aplicadas que a anulação tem parte quando é verificado que o defeito do ato
aos particulares, de modo geral, no exercício do poder de polícia, ocorreu na formação do ato.
as sanções disciplinares são aplicadas no campo das relações de
sujeição especial de administrados específicos do poder disciplinar – Anulação
da Administração Pública, como é o caso dos servidores e É a retirada ou supressão do ato administrativo, pelo motivo
contratados. Ao passo que as sanções de polícia são aplicadas para de ele ter sido produzido com ausência de conformidade com a lei
o exterior da Administração - as chamadas sanções externas - as e com o ordenamento jurídico. A anulação é resultado do controle
sanções disciplinares são aplicadas no interior da Administração de legalidade ou legitimidade do ato. O controle de legalidade ou
Pública, - as denominadas sanções internas. legitimidade não permite que se aprofunde na análise do mérito
do ato, posto que, se a Administração contiver por objetivo retirar
Extinção do ato administrativo o ato por razões de conveniência e oportunidade, deverá, por
Diversas são as causas que causam e determinam a extinção conseguinte, revogá-lo, e não o anular.
dos atos administrativos ou de seus efeitos. No entendimento de Diferentemente da revogação, que mantém incidência
Celso Antônio Bandeira de Mello, o ato administrativo eficaz poderá somente sobre atos discricionários, a anulação pode atingir tanto
ser extinto pelos seguintes motivos: cumprimento de seus efeitos, os atos discricionários quanto os vinculados. Isso que é explicado
vindo a se extinguir naturalmente; desaparecimento do sujeito, pelo fato de que ambos deterem a prerrogativa de conter vícios de
vindo a causar a extinção subjetiva, ou sendo do objeto, extinção legalidade.
objetiva; retirada do ato pelo Poder Público e pela renúncia do Em relação à competência, a anulação do ato administrativo
beneficiário. viciado pode ser promovida tanto pela Administração como pelo
Poder Judiciário.
Nesse tópico trataremos do condizente a outras situações por Muitas vezes, a Administração anula o seu próprio ato. Quando
meio das quais a extinção do ato administrativo ou de seus efeitos isso acontece, dizemos que ela agiu com base no seu poder de
ocorre pelo fato do Poder Público ter emitido novo ato que surtiu autotutela, devidamente paramentado nas seguintes Súmulas do
efeito extintivo sobre o ato anterior. Isso pode ocorrer nas seguintes STF:
situações:
PODER DE AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
– Cassação
É a supressão do ato pelo fato do destinatário ter descumprido a Administração Pública pode declarar
Súmula 346
condições que deveriam permanecer atendidas com o fito de dar a nulidade dos seus próprios atos.
continuidade à0situação jurídica. Como modalidade de extinção a Administração pode anular seus
do ato administrativo, a cassação relaciona-se ao ato que, mesmo próprios atos, quando eivados de vícios
sendo legítimo na sua origem e formação, tornou-se ilegal na sua que os tornam ilegais, porque deles não
execução. Exemplo: cassação de uma licença para funcionamento se originam direitos; ou revogá-los, por
de hotel que passou a funcionar ilegalmente como casa de Súmula 473
motivo de conveniência ou oportunidade,
prostituição. respeitados os direitos adquiridos, e
ressalvada, em todos os casos, a apreciação
Vale ressaltar que um dos principais requisitos da cassação judicial.
de um ato administrativo é a preeminente necessidade de sua
vinculação obrigatória às hipóteses previstas em lei ou norma
Assim, percebe-se que o instituto da autotutela pode
similar. Desta forma, a Administração Pública não detém o poder
ser invocado para anular o ato administrativo por motivo de
de demonstrar ou indicar motivos diferentes dos previstos para
ilegalidade, bem como para revogá-lo por razões de conveniência
justificar a cassação, estando, desta maneira, limitada ao que
e oportunidade.
houver sido fixado nas referidas leis ou normas similares. Esse
A anulação do ato administrativo pode se dar de ofício ou por
entendimento, em geral, evita que os particulares sejam coagidos
provocação do interessado.
a conviver com extravagante insegurança jurídica, posto que, a
Tendo em vista o princípio da inércia Poder Judiciário, no
qualquer momento a administração estaria apta a propor a cassação
exercício de função jurisdicional, este apenas poderá anular o ato
do ato administrativo.
administrativo havendo pedido do interessado.

117
NOÇÕES DE DIREITO

Destaque-se que a anulação de ato administrativo pela própria – Convalidação


Administração, somente pode ser realizada dentro do prazo É a providência tomada para purificar o ato viciado, afastando
legalmente estabelecido. À vista da autonomia administrativa por sua vez, o vício que o maculava e mantendo seus efeitos,
atribuída de forma igual à União, Estados, Distrito Federal e inclusive aqueles que foram gerados antes da providência
Municípios, cada uma dessas esferas tem a possibilidade de, saneadora. Em sentido técnico, a convalidação gera efeitos ex tunc,
observado o princípio da razoabilidade e mediante legislação uma vez que retroage à data da edição do ato original, mantendo-
própria, fixar os prazos para o exercício da autotutela. lhe todos os efeitos.
Em decorrência do disposto no art. 54 da Lei 9.784/1999, no Sendo admitida a convalidação, a convalidação perderia sua
âmbito federal, em razão do direito de a Administração anular os razão de ser, equivalendo em tudo a uma anulação, apagando os
atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os efeitos passados, seguida da edição de novo ato que por sua vez,
destinatários de boa-fé, o prazo de anulação decai em cinco anos, passaria a gerar os seus tradicionais efeitos prospectivos.
contados da data em que foram praticados. Infere-se que como tal Por meio da teoria dualista é admitida a existência de vícios
norma não possui caráter nacional, não há impedimentos para a sanáveis e insanáveis, bem como de atos administrativos nulos e
estipulação de prazos diferentes em outras esferas. anuláveis.
À vista da atual predominância doutrinária, a teoria dualista foi
– Revogação incorporada formalmente à legislação brasileira. Nesse diapasão,
É a extinção do ato administrativo válido, promovido pela o art. 55 da Lei 9.784/1999 atribui à Administração pública a
própria Administração, por motivos de conveniência e oportunidade, possibilidade de convalidar os atos que apresentarem defeitos
sendo que o ato é suprimido pelo Poder Público por motivações de sanáveis, levando em conta que tal providência não acarrete lesão
conveniência e oportunidade, sempre relacionadas ao atendimento ao interesse público nem prejuízo a terceiros. Embora tal regra seja
do interesse público. Assim, se um ato administrativo legal e perfeito destinada à aplicação no âmbito da União, o mesmo entendimento
se torna inconveniente ao interesse público, a administração pública tem sido aplicado em todas as esferas, tanto em decorrência da
poderá suprimi-lo por meio da revogação. existência de dispositivo similar nas leis locais, quanto mediante
A revogação resulta de um controle de conveniência e analogia com a esfera federal e também com fundamento na
oportunidade do ato administrativo promovido pela própria prevalência doutrinária vigente.
Administração que o editou. Assim, é de suma importância esclarecermos que a
É fundamental compreender que a revogação somente pode jurisprudência tem entendido que mesmo o ato nulo pode, em
atingir os atos administrativos discricionários. Isso ocorre por que determinadas lides, deixar de ter sua nulidade proclamada em
quando a administração está à frente do motivo que ordena a decorrência do princípio da segurança jurídica.
prática do ato vinculado, ela deve praticá-lo de forma obrigatória,
não lhe sendo de forma alguma, facultada a possibilidade de Decadência Administrativa
analisar a conveniência e nem mesmo a oportunidade de fazê-lo. O instituto da decadência consiste na perda efetiva de um
Desta maneira, não havendo possibilidade de análise de mérito direito existente, pela falta de seu exercício, no período de tempo
para a edição do ato, essa abertura passará a não existir para que o determinado em lei e também pela vontade das próprias partes
ato seja desfeito pela revogação. e, ainda no fim de um direito subjetivo em face da inércia de seu
titular, que não ajuizou uma ação constitutiva no prazo estabelecido
Mesmo não se submetendo a qualquer limite de prazo, a pela lei.
princípio, a revogação do ato administrativo pode ser realizada a Celso Antônio Bandeira de Mello considera esse instituto como
qualquer tempo. Nesse sentido, a doutrina infere a existência de sendo a “perda do próprio direito, em si, por não o utilizar no prazo
certos limites ao poder de revogar. Nos dizeres de Maria Sylvia previsto para o seu exercício, evento, este, que sucede quando a
Zanella Di Pietro12, não são revogáveis os seguintes atos: única forma de expressão do direito coincide conaturalmente
a) Os atos vinculados, porque sobre eles não é possível a com o direito de ação”. Ou seja, “quando o exercício do direito se
análise de conveniência e oportunidade; confunde com o exercício da ação para manifestá-lo”.
b) Os atos que exauriram seus efeitos, como a revogação não Nos trâmites do artigo 54 da Lei 9.784/99, encontramos o
retroage e os atos já produziram todos os efeitos que lhe seriam disposto legal sobre a decadência do direito de a administração
próprios, não há que falar em revogação; é o que ocorre quando pública anular seus próprios atos, a partir do momento em que esses
transcorre o prazo de uma licença concedida ao servidor público, vierem a gerar efeitos favoráveis a seus destinatários. Vejamos:
após o gozo do direito, não há como revogar o ato;
c) Quando a prática do ato exauriu a competência de quem Artigo 54. O direito da administração de anular os atos
o praticou, o que ocorre quando o ato está sob apreciação de administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
autoridade superior, hipótese em que a autoridade inferior que o destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticou deixou de ser competente para revogá-lo; praticados, salvo comprovada má-fé.
d) Os meros atos administrativos, como certidões, atestados, § 1° - No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de
votos, porque os efeitos deles decorrentes são estabelecidos pela decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.
lei; § 2° - Considera-se exercício do direito de anular qualquer
e) Os atos que integram um procedimento, porque a cada medida de autoridade administrativa que importe impugnação à
novo ato ocorre a preclusão com relação ao ato anterior; validade do ato.”
f) Os atos que geram direitos a terceiros, (o chamado direito
adquirido), conforme estabelecido na Súmula 473 do STF.

118
NOÇÕES DE DIREITO

O mencionado direito de anulação do ato administrativo decai Critério formal


no prazo de cinco anos, contados da data em que o ato foi praticado. Segundo esse critério, serviço público é o labor exercido sob
Isso significa que durante esse decurso, o administrado permanecerá o regime jurídico de direito público denegridor e desmesurado do
submetido a revisões ou anulações do ato administrativo que o direito comum.
beneficia. Passando o tempo, denota-se que o Estado foi se distanciando
Entretanto, após o encerramento do prazo decadencial, dos princípios liberais, passando a desenvolver também atividades
o administrado poderá ter suas relações com a administração comerciais e industriais, que, diga se de passagem, anteriormente
consolidadas contando com a proteção da segurança jurídica. eram reservadas somente à iniciativa privada. De outro ângulo,
Anote-se que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do foi verificado em determinadas situações, que a estrutura de
Mandado de Segurança 28.953, adotou o seguinte entendimento organização do Estado não se encontrava adequada à execução
sobre a matéria na qual o ministro Luiz Fux desta forma esclareceu: de todos os serviços públicos. Por esse motivo, o Poder Público
“No próprio Superior Tribunal de Justiça, onde ocupei durante veio a delegar a particulares com o intuito de responsabilidade,
dez anos a Turma de Direito Público, a minha leitura era exatamente a prestação de alguns serviços públicos. Em outro momento, tais
essa, igual à da ministra Carmen Lúcia; quer dizer, a administração serviços públicos também passaram a ter sua prestação delegada
tem cinco anos para concluir e anular o ato administrativo, e não a outras pessoas jurídicas, que por sua vez, eram criadas pelo
para iniciar o procedimento administrativo. Em cinco anos tem próprio Estado para esse fim específico. Eram as empresas públicas
que estar anulado o ato administrativo, sob pena de incorrer em e sociedades de economia mista, que possuem regime jurídico
decadência (grifo aditado). Eu registro também que é da doutrina de direito privado, cujo serviço era mais eficaz para que fossem
do Supremo Tribunal Federal o postulado da segurança jurídica e da executados os serviços comerciais e industriais.
proteção da confiança, que são expressões do Estado Democrático Esses acontecimentos acabaram por prejudicar os critérios
de Direito, revelando-se impregnados de elevado conteúdo ético, utilizados pela doutrina para definir serviço público como um todo.
social e jurídico, projetando sobre as relações jurídicas, inclusive, Denota-se que o elemento subjetivo foi afetado pelo fato de as
as de Direito Público. De sorte que é absolutamente insustentável pessoas jurídicas de direito público terem deixado de ser as únicas
o fato de que o Poder Público não se submente também a essa a prestar tais serviços, posto que esta incumbência também passou
consolidação das situações eventualmente antijurídicas pelo a ser delegada aos particulares, como é o caso das concessionárias,
decurso do tempo.” permissionárias e autorizatárias. Já o elemento material foi atingido
Destaca-se que ao afirmar que a Administração Pública dispõe em decorrência de algumas atividades que outrora não eram tidas
de cinco anos para anular o ato administrativo, o ministro Luiz Fux como de interesse público, mas que passaram a ser exercidas pelo
promoveu maior confiabilidade na relação entre o administrado e Estado, 8como por exemplo, como se deu com o serviço de loterias.
Administração Pública, suprimindo da administração o poder de usar O elemento formal, por sua vez, também foi bastante atingido, na
abusivamente sua prerrogativa de anulação do ato administrativo, o forma que aduz que nem todos os serviços públicos são prestados
que proporciona maior equilíbrio entre as partes interessadas. sob regime de exclusividade pública, como por exemplo, a aplicação
Em resumo, é de grande importância o posicionamento de algumas normas de direito do consumidor e de direito civil a
adotado pela Corte Suprema, levando em conta que ao mesmo só contratos feitos entre os particulares e a entidade prestadora de
tempo, propicia maior segurança jurídica e respeita a regra geral de serviço público de forma geral.
contagem do prazo decadencial. Assim sendo, em razão dessas inovações, os autores passaram,
por sua vez, a comentar em crise na noção de serviço público.
SERVIÇOS PÚBLICOS: CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO, REGU- Hodiernamente, os critérios anteriormente mencionados continuam
LAMENTAÇÃO E CONTROLE; DELEGAÇÃO: CONCESSÃO, sendo utilizados para definir serviço público, porém, não é exigido
PERMISSÃO, AUTORIZAÇÃO que os três elementos se façam presentes ao mesmo tempo para
que o serviço possa ser considerado de utilidade pública, passando
a existir no campo doutrinário diversas definições, advindas do uso
Conceito isolado de um dos elementos ou da combinação existente entre
De modo geral, não havendo a existência de um conceito legal eles.
ou constitucional de serviço público, a doutrina se encarregou de Registra-se, que além da enorme variedade de definições
buscar uma definição para os contornos do instituto, ato que foi advindas da combinação dos critérios subjetivo, material e formal,
realizado com a adoção, sendo por algumas vezes isolada, bem é de suma importância compreendermos que o vocábulo “serviço
como em outras, de forma combinadas, vindo a utilizar-se dos público” pode ser considerado sob dois pontos de vista, sendo um
critérios subjetivo, material e formal. Vejamos a definição conceitual subjetivo e outro objetivo. Façamos um breve estudo de cada um
de cada em deles: deles:

Critério subjetivo – Sentido objetivo


Aduz que o serviço público se trata de serviço prestado pelo Infere-se que tal expressão é usada para fazer alusão ao sujeito
Estado de forma direta. responsável pela execução da atividade. Exemplo: determinada
autarquia com o dever de prestar de serviços para a área da
Critério material educação.
Sob esse crivo, serviço público é a atividade que possui como
objetivo satisfazer as necessidades coletivas.

119
NOÇÕES DE DIREITO

– Sentido objetivo ou material exemplo, que apenas podem ser enquadradas no conceito quando
Nesse sentido, a administração pública está coligada à diversas forem devidamente prestadas pelo Estado, levando em conta que
atividades que são exercidas pelo Estado, por intermédio de a execução desses serviços por particulares deve ser denominada
seus agentes, órgãos e entidades na diligência eficaz da função como serviço privado.
administrativa estatal. Finalmente, em relação ao critério formal, nos tempos
Destaque-se, por oportuno, que o vocábulo serviço público modernos, infere-se que não é mais necessário que o regime
sempre está se referindo a uma atividade, ou, ainda, a um conjunto jurídico ao qual está submetido o serviço público seja realizado
de atividades a serem exercidas, sem levar em conta qual o órgão de maneira integral de direito público, sendo que em algumas
ou a entidade que as exerce. situações, acaba existindo um sistema híbrido que é formado por
Mesmo com os aspectos expostos, boa parte da doutrina ainda regras e normas de direito público e privado, principalmente em se
usa de definições de caráter amplo e restrito do vocábulo serviço tratando de caso de serviços públicos nos quais sua prestação tenha
público. Para alguns, tal vocábulo se presta a designar todas as sido delegada a terceiros.
funções do Estado, tendo em vista que nesse rol estão inclusas as
funções administrativa, legislativa e judiciária. Já outra corrente – Observação importante: Com o entendimento acima
doutrinária, utiliza-se de um conceito com menor amplitude, vindo mencionado, a ilustre Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro
a incluir somente as funções administrativas e excluindo, por sua acaba por definir serviço público como sendo toda a atividade
vez, as funções legislativa e judiciária. Destarte, infere-se que dentre material que a lei atribui ao Estado, para que este a exerça de forma
aquelas doutrinas que adotam um sentido mais restrito, existem direta ou por intermédio de seus delegados, com o condão de
ainda as que excluem do conceito atividades importantes advindas satisfazer de forma concreta as necessidades da coletividade, sob
do exercício do poder de polícia, de intervenção e de fomento. regime jurídico total ou parcialmente público.
Denota-se com grande importância, que o direito brasileiro
acaba por diferenciar de forma expressa o serviço público e o poder Elementos Constitutivos
de polícia. Em campo tributário, por exemplo, no disposto em Os elementos do serviço público podem ser classificados sob os
seus arts. 77 e 78, o Código Tributário Nacional dispõe do ensino seguintes aspectos:
Subjetivo: Por meio do qual o serviço público está sempre sob
e determinação de duas atuações como fatos geradores diversos
a total responsabilidade do Estado. No entanto, registra-se que ao
do tributo de nome taxa. Nesse diapasão de linha diferenciadora,
Estado como um todo, é permitido delegar determinados serviços
a ESAF, na aplicação da prova para Procurador do Distrito
públicos, desde que sempre por intermediação dos parâmetros da
Federal/2007, veio a considerar como incorreta a afirmação: “o
lei e sob regime de concessão ou permissão, bem como por meio de
exercício da atividade estatal de polícia administrativa constitui a
licitação. Denota-se que nesse caso, é o próprio Estado que escolhe
prestação de um serviço público ao administrado”.
os serviços que são considerados serviços públicos. Como exemplo,
De forma geral, a doutrina entende que os elementos subjetivo,
podemos citar: os Correios, a radiodifusão e a energia elétrica,
material e formal tradicionalmente utilizados para definir serviço dentre outros serviços pertinentes à Administração Pública. Esse
público, continuam de forma ampla a servir a esse propósito, desde elemento determina que o serviço público deve ser prestado pelo
que estejam combinados e harmonizados com o fito de acoplar de Estado ou pelos seus entes delegados, ou seja, por pessoas jurídicas
forma correta, as contemporâneas figuras jurídicas que vêm sendo criadas pelo Estado ou por concessões e permissões a terceiros
inseridas e determinadas pelo legislador com força de lei, com o para que possam prestá-lo.
fulcro de oferecer conveniência e utilidades, bem como de atender Formal: A princípio, o regime jurídico é de Direito Público, ou
as constantes necessidades da população que sempre acontecem parcialmente público, sob o manto do qual o serviço público deverá
de forma mutante, a exemplo das parcerias público-privadas, das ser prestado. No entanto, quando particulares prestam seus serviços
OSCIPs e organizações sociais. em conjunto com o Poder Público, ressalta-se que o regime jurídico
Nesse sentido, com o objetivo de reinterpretar o elemento é considerado como híbrido. Isso por que nesse caso, poderá haver
subjetivo em consonância com o atual estágio de evolução do direito a permanência do Direito Público ou do Direito Privado nos ditames
administrativo, podemos afirmar que a caracterização de um serviço da lei. Porém, em ambas as situações, a responsabilidade será
como público, em tempos contemporâneos passou a não exigir sempre objetiva.
mais que a prestação seja realizada pelo Estado, mas apenas que ele Material: Por intermédio desse elemento, o serviço público
passe a deter, nos termos legais dispostos na Constituição Federal deverá sempre prestar serviços condizentes a uma atividade de
de 1988, a titularidade de tal serviço. Em relação a esse aspecto, interesse público como um todo. Denota-se que por meio da
destacamos a importância de não vir a confundir a expressiva aplicação desse elemento, o objetivo do serviço público será
titularidade do serviço com sua efetiva prestação. Registe-se que o sempre o de satisfazer de forma concreta as necessidades da
titular do serviço, trata-se do sujeito que detém a atribuição legal coletividade.
constitucional para vir a prestá-lo. Via de regra, aquele que detém Esquematizando, temos:
a titularidade do serviço não se encontra obrigado a prestá-lo de
forma direta através de seus órgãos, mas tem o dever legal de
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
promover-lhe a prestação, de forma direta por meio de seu aparato
Subjetivo: determina que o serviço público deve ser prestado
administrativo, ou, ainda, mediante a legal delegação a particulares
realizada por meio de concessão, permissão ou autorização. pelo Estado ou pelos seus entes delegados, ou seja, por pessoas
De maneira igual, contemporaneamente, o critério material jurídicas criadas pelo Estado ou por concessões e permissões a
considerado de forma isolada não é suficiente para definir um serviço terceiros para que possam prestá-lo.
como público. Isso ocorre pelo fato de existirem determinadas
atividades relativas aos direitos sociais como saúde e educação, por

120
NOÇÕES DE DIREITO

Formal: o regime jurídico é de Direito Público, ou ultrapassar o direito dos usuários dos serviços essenciais, que se
parcialmente público, sob o manto do qual o serviço público tratam daqueles que por decorrência de sua natureza, colocam
deverá ser prestado. a sobrevivência, a vida e a segurança da sociedade em risco se
Material: o serviço público deverá sempre prestar serviços estiverem ausentes.
condizentes a uma atividade de interesse público como um todo.
Subjetivo: é o próprio Estado que escolhe os serviços que Formas de prestação e meios de execução
são considerados serviços públicos. Como exemplo, podemos O art. 175 da Constituição Federal de 1988 determina, que
citar: os Correios, a radiodifusão e a energia elétrica, dentre compete ao Poder Público, nos parâmetros legais, de forma direta
outros serviços pertinentes à Administração Pública. ou sob regime de concessão ou permissão a prestação de serviços
Formal: poderá haver a permanência do Direito Público públicos de forma geral. De acordo com esse mesmo dispositivo,
ou do Direito Privado nos ditames da lei. Porém, em ambas as as concessões e permissões de serviços públicos deverão ser
situações, a responsabilidade será sempre objetiva. sempre precedidas de licitação.
Material: por meio da aplicação desse elemento, o objetivo Entretanto, o parágrafo único do art. 175 da Carta Magna
do serviço público será sempre o de satisfazer de forma concreta dispõe a implementação de lei para regulamentar as seguintes
as necessidades da coletividade. referências:
I – o regime das empresas concessionárias e permissionárias
Regulamentação e Controle de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua
Tanto a regulamentação quanto o controle do serviço público prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização
são realizados de maneira regular pelo Poder Público. Isso e rescisão da concessão ou permissão;
ocorre em qualquer sentido, ainda que o serviço esteja delegado II – os direitos dos usuários;
por concessão, permissão ou autorização, uma vez que nestas III – política tarifária;
situações, deverá o Estado manter sua titularidade e, ainda que IV – a obrigação de manter serviço adequado.
haja situações adversas e problemas durante a prestação, poderá
o Poder Público interferir para que haja a regularização do seu Considera-se que a Lei Federal 8.987/1995, em obediência
funcionamento, com fundamento sempre na preservação do ao mandamento constitucional foi editada estabelecendo normas
interesse público. generalizadas como um todo em matéria de concessão e permissão
Ressalta-se que esses serviços são controlados e também de serviços públicos, devendo tais normas, ser aplicáveis à União,
fiscalizados pelo Poder Público, que deve intervir em caso de Estados, Distrito Federal e Municípios, da mesma forma que a Lei
má prestação, sendo que isso é uma obrigação que lhe compete Federal 9.074/1995, que, embora tenha o condão de estipular
segundo parâmetros legais. regras especificamente voltadas a serviços de competência da
A esse respeito, dispõe a Lei 8997 de 1995 em seus arts. 3º e União, trouxe também em seu bojo, pouquíssimas regras gerais que
32, respectivamente: podem ser aplicadas a todos os entes federados.
Art. 3º. As concessões e permissões sujeitar-se-ão à Em relação à forma de prestação dos serviços públicos,
fiscalização pelo poder concedente responsável pela delegação, depreende-se que estes podem ser prestados de forma centralizada
com a cooperação dos usuários. ou descentralizada, sendo a primeira forma caracterizada quando o
Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão, serviço público for prestado pela própria pessoa jurídica federativa
com o fim de assegurar a adequação na prestação do serviço, bem que detém a sua titularidade e a segunda forma, quando, em
como o fiel cumprimento das normas contratuais, regulamentares várias situações, o ente político titular de determinado serviço
e legais pertinentes. público, embora continue mantendo a sua titularidade, termina
por transferir a pessoas diferentes e desconhecida à sua estrutura
Deve-se registrar também, que outro aspecto que deve ser administrativa, a responsabilidade pela prestação.
enfatizado com destaque em relação à regulamentação e ao Lembremos que o ente político, mesmo ao transferir a
controle dos serviços públicos, são os requisitos do serviço e responsabilidade pela prestação de serviços públicos a terceiros,
direito dos usuários, sendo que o primeiro deles é a permanência, sempre poderá conservar a sua titularidade, fato que lhe garante
que possui como atributo, impor a continuidade do serviço. Logo a manutenção da competência para regular e controlar a prestação
após, temos o requisito da generalidade, por meio do qual, os dos serviços delegados a outrem.
serviços devem ser prestados de maneira uniforme para toda A descentralização dos serviços públicos pode ocorrer de duas
maneiras:
a coletividade. Em seguida, surge o requisito da eficiência, por
1. Por meio de outorga ou delegação legal: por meio da qual
intermédio do qual é exigida a eficaz atualização do serviço
o Estado cria uma entidade que poderá ser autarquia, fundação
público. Em continuidade, vem a modicidade, por meio da qual,
pública sociedade de economia mista ou empresa pública,
infere-se que as tarifas que são cobradas dos usuários devem
transferindo-lhe, por meios legais a execução de um serviço público.
ser eivadas de valor razoável e por fim, a cortesia, que por seu
2. Por meio de delegação ou delegação negocial: por
intermédio, entende-se que o tratamento com o usuário público
intermédio da qual, o Poder Público detém o poder de transferir
em geral, deverá ser oferecido com presteza.
por contrato ou ato unilateral a execução ampla do serviço, desde
Havendo descumprimento de quaisquer dos requisitos retro
que o ente delegado preste o serviço em nome próprio e por sua
mencionados, afirma-se que o usuário do serviço terá em suas conta e risco, sob o controle do Estado e dentro da mesma pessoa
mãos o direito pleno de recorrer ao Poder Judiciário para exigir jurídica.
a correta prestação desses serviços. Neste mesmo sentido,
destaca-se que a greve de servidores públicos, não poderá jamais

121
NOÇÕES DE DIREITO

Esclarece-se ainda, a título de conhecimento, que a delegação negocial admite a titularidade exclusiva do ente delegante sobre o
serviço a ser delegado. Em se tratando de serviços nos quais a titularidade não for exclusiva do Poder Público, como educação e saúde,
por exemplo, o particular que tiver a pretensão de exercê-lo não estará dependente de delegação do Estado, uma vez que tais atos de
exercício de educação e saúde, quando forem prestados por particulares, não serão mais considerados como serviços públicos, mas sim
como atividade econômica da iniciativa privada.
Em outras palavras, os serviços públicos podem ser executados nas formas:
– Direta: Quando é prestado pela própria administração pública por intermédio de seus próprios órgãos e agentes.
– Indireta: Quando o serviço público é prestado por intermédio de entidades da Administração Pública indireta ou, ainda, de particulares,
por meio de delegação, concessão, permissão e autorização. Esta forma de prestação de serviço, deverá ser sempre sobrepujada de
licitação, formalizada por meio de contrato administrativo, seguida de adesão com prazo previamente estipulado e que por ato bilateral,
buscando somente transferir a execução, porém, jamais a titularidade que deverá sempre permanecer com o poder outorgante.

Em resumo, temos:

Descentralização Transferência da execução do serviço para outra pessoa física ou jurídica.


Desconcentração Divisão interna do serviço com outros órgãos da mesma pessoa jurídica.

— Delegação

Concessão
Ocorre a delegação negocial de serviços públicos mediante: concessão, permissão ou autorização.
Nesse tópico, não esgotaremos todas as formas de concessões existentes e suas formas de aplicação e execução nos serviços públicos,
porém destacaremos as mais importantes e mais cobradas em provas de concursos públicos e áreas afins.
Conforme o Ordenamento Jurídico Brasileiro, as concessões de serviços públicos podem ser divididas em duas espécies:
1ª) Concessões comuns, que estão sob a égide das leis 8.987/1995 e 9.074/1995 e 2ª, que subdividem em: concessão de serviços
públicos e concessão de serviço público precedida da execução de obra pública.
2ª) Concessões especiais, que são as parcerias público-privadas previstas na Lei 11.079/2004, sujeitas a alguns dispositivos da Lei
8.987/1995. Se subdividindo em duas categorias: concessão patrocinada e concessão administrativa.

A concessão comum de serviço público é uma modalidade de contrato administrativo por intermédio do qual a Administração Pública
transfere delegação a pessoa jurídica ou, ainda, a consórcio de empresas a execução de certo serviço público pertencente à sua titularidade,
na qual o concessionário é obrigado, por meio de contratos legais a executar o serviço delegado em nome próprio, por sua conta e risco,
sendo sujeito a controle e fiscalização do poder concedente e remunerado através de tarifa paga pelo usuário ou outra modalidade de
remuneração advinda da exploração do serviço. Exemplo: as receitas adquiridas por empresas de transporte coletivo que cobram por
comerciais constantes na parte traseira dos ônibus.
Conforme mencionado, existem duas modalidades de concessão comum, quais sejam: a concessão de serviço público, também
conhecida como concessão simples e a concessão de serviço público antecedida de execução por meio de obra pública.
A concessão de serviço público ou concessão simples, pode ser definida pela lei como a “delegação da prestação de serviço público,
feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado” (art. 2º, II).
Já a concessão de serviço público antecedida de execução de obra pública pode ser como “a construção, total ou parcial, conservação,
reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de interesse público, delegada pelo poder concedente, mediante licitação, na
modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por sua conta
e risco, de forma que o investimento da concessionária seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou da obra

122
NOÇÕES DE DIREITO

por prazo determinado” (art. 2º, III). Como hipótese de exemplo, Denota-se que além do conhecimento da previsão no citado
citamos a concessão a particular, vitorioso de processo licitatório dispositivo, é importante compreendermos o significado prático de
por construção e conservação de rodovia, com o consequente cada condição citada, com o objetivo de garantir que cada exigência
pagamento realizado mediante a cobrança de pedágio aos legal seja cumprida para a qualificação do serviço como adequado.
particulares que vierem a utilizar da via. Desta forma, temos:
Pondera-se que a diferença entre as duas modalidades de 1 – Regularidade: exige que os serviços públicos sejam
concessão comum está apenas no objeto. Perceba que na concessão prestados de forma a garantir a estabilidade e a manutenção dos
simples, o objeto do contrato é somente a execução de atividade requisitos essenciais, sendo prestados em perfeita harmonia com a
que foi caracterizada como sendo serviço público, ao passo que lei e com o regulamento que disciplina a matéria.
na concessão de serviço público antecedida da execução de obra 2 – Continuidade: impõe que o serviço público, uma vez
pública existe uma duplicidade de objeto, sendo que o primeiro instituído, seja prestado de forma permanente e sem interrupção,
deles se refere ao ajuste existente entre o poder concedente e com exceção de situações de emergência, bem como a que advém
o concessionário para que certa obra pública seja executada. de razões de ordem técnica ou de segurança das instalações
Em relação ao segundo, a prestação do serviço público existe na elétricas, por exemplo.
exploração amplamente econômica do serviço ou da obra. 3 – Eficiência: refere-se à obtenção de resultados eficazes na
prestação do serviço público, exigindo que o serviço seja realizado
– Direitos e obrigações dos usuários de acordo com uma adequada relação de custo/benefício, para,
Nos ditames do art. 7º da Lei 8.987/1995, os direitos e com isso, evitar desperdícios.
obrigações dos usuários dos serviços públicos delegados são os 4 – Segurança: deverão os serviços públicos respeitar padrões,
seguintes: bem como normas de segurança, de forma a preservar a integridade
a) Receber serviço adequado; da população de modo geral e dos equipamentos utilizados.
b) Receber do poder concedente e da concessionária 5 – Atualidade: possui como foco o impedimento de que o
informações para a defesa de interesses individuais ou coletivos; prestador se encontre alheio às inovações tecnológicas, suprimindo
o investimento em termos de disponibilização aos usuários das
c) Obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha entre melhorias de qualidade e amplitude do serviço.
vários prestadores de serviços, quando for o caso, observadas as 6 – Generalidade: deve oferecer a garantia de que o serviço
normas do poder concedente; seja ofertado da forma mais abrangente possível.
d) Levar ao conhecimento do poder público e da concessionária 7 – Cortesia: o prestador do serviço deverá tratar o usuário de
as irregularidades de que tenham conhecimento, referentes ao forma educada e gentil.
serviço prestado;
e) Comunicar às autoridades competentes os atos ilícitos 8 – Modicidade das tarifas: aduz que o valora a ser pago
praticados pela concessionária na prestação do serviço; pela prestação dos serviços, deverá, nos parâmetros legais,
f) Contribuir para a permanência das boas condições dos bens ser estabelecido de acordo com os padrões de razoabilidade,
públicos pelos quais lhes são prestados os serviços. buscando evitar que os prestadores de serviços venham o obter
lucros extraordinários causando prejuízo aos usuários econômico-
Ademais, as concessionárias de serviços públicos, de direito financeiros do contrato firmado com a administração.
público e privado, nos Estados e no Distrito Federal, são legalmente
obrigadas a dispor ao consumidor e ao usuário, desde que dentro – Observação importante: A celebração de qualquer espécie
do mês de vencimento, o mínimo de seis datas como opção de contrato de concessão ou permissão de serviço público deve
para escolherem os dias de vencimento de seus débitos a serem ser realizada mediante licitação, conforme previsto no art. 175 da
adimplidos, nos termos do art. 7º-A, da Lei 8.987/1995. Constituição Federal. Concernente às concessões, a Lei 8.987/1995
determinou que a delegação dependerá da realização de prévio
1. Serviço adequado procedimento licitatório para que seja escolhido o concessionário,
Os usuários detêm o direito de receber um serviço público na modalidade obrigatória da concorrência. Sendo a modalidade
adequado. Esse direito encontra-se regulamentado pelo seguinte licitatória regulada pela Lei de Licitações e Contratos, Lei
dispositivo: 8.666/1993, e tema dos próximos tópicos de estudo, mais adiante,
Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação detalharemos com maior aprofundamento sobre este importante
de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme tema.
estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo
contrato. Passemos a abordar a respeito do prazo que a Administração
§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de Pública permite à concessão na execução dos serviços públicos como
regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, um todo. A Lei 8.987/1995 estabelece que a concessão simples de
generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas. serviço público ou a concessão de serviço público precedida de
obra pública deverá ser realizada por prazo determinado, mas não
define quais seriam os limites desse prazo. Assim sendo, caberá à lei
reguladora específica de cada serviço público, devidamente editada
pelo ente federado detentor de competência para prestá-lo, aditar
definindo qual o prazo de duração do contrato de concessão. Caso
o legislador competente não estabeleça qualquer prazo, deverá,

123
NOÇÕES DE DIREITO

por conseguinte, o poder concedente fixá-lo no ato da minuta do Cláusulas obrigatórias somente nas concessões de serviços
contrato de concessão, que se encontra afixado como anexo no públicos precedidas de obras públicas (art. 23, parágrafo único)
edital da licitação. I – estipular os cronogramas físico-financeiros de execução das
Denota-se que o prazo deve ser razoável, de forma a obras vinculadas à concessão; e
permitir o abatimento dos investimentos a serem realizados pelo II – exigir garantia do fiel cumprimento, pela concessionária,
concessionário. das obrigações relativas às obras vinculadas à concessão.
Referente às concessões advindas de parceria público-privada,
infere-se que a vigência de tais contratos deverá ser sempre Cláusulas facultativas (art. 23-A)
compatível com o abatimento dos investimentos realizados, I – o contrato de concessão poderá prever o emprego de
não podendo ser sendo inferior a 5 e nem superior a 35 anos, já mecanismos privados para resolução de disputas decorrentes ou
restando-se incluído nesse prazo eventual prorrogação nos termos relacionadas ao contrato, inclusive a arbitragem, a ser realizada
da Lei 11.079/2004, art. 5º, I. no Brasil e em língua portuguesa, nos termos da Lei 9.307, de
23.09.1996;
– Cláusulas do contrato de concessão II – qualquer outra que não seja obrigatória.
Nos ditames dos arts. 23 e 23-A da Lei 8.987/1995, as
cláusulas do contrato de concessão tratam de modo geral sobre É importante, demonstrar que o contrato de concessão é firmado
o modo, a forma e as condições de prestação dos serviços; os tendo em vista, não apenas oferecimento da melhor proposta,
direitos e as obrigações do concedente, do concessionário e dos mas incluindo também as características referentes à pessoa
usuários; os poderes de fiscalização do concedente; a obrigação contratada, devendo o concessionário demonstrar capacidade
do concessionário de prestar contas; ou e disciplinam aspectos técnica e econômico-financeira que faça haver a presunção de que
relativos à extinção da concessão. haverá a perfeita execução do serviço. A esse aspecto, a doutrina
Infere-se que as cláusulas podem ser divididas em: cláusulas denomina de contrato firmado intuitu personae, que se trata da
essenciais obrigatórias em qualquer contrato de concessão, quer prática de eventual transferência da concessão para outra pessoa
seja concessão simples, quer seja concessão de serviço público jurídica, bem como do controle societário da concessionária, sem
prévia aviso ou autorização do poder concedente, vindo a implicar a
precedida de obra pública, cláusulas obrigatórias apenas nos
caducidade que nada mais é do que a extinção da concessão.
contratos de concessão de serviço público precedida da execução
de obra pública e cláusulas facultativas. Vejamos, em síntese:
– Intervenção na concessão
A intervenção na concessão encontra-se submetida a um
(São obrigatórias nas concessões):
procedimento formal. De antemão, o poder concedente, por meio
I – objeto, área e prazo da concessão;
de ato do Chefe do Poder Executivo, ao tomar conhecimento da
II – modo, forma e condições de prestação do serviço;
falta de adequação da prestação do serviço ou do descumprimento
III – critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros definidores pela concessionária das normas pertinentes, edita o decreto de
da qualidade do serviço; intervenção que deverá conter a designação do interventor, o prazo
IV – preço do serviço, critérios e procedimentos para o reajuste da intervenção e os objetivos e limites da medida nos ditames do
e a revisão das tarifas; legais pertinentes.
V – direitos, garantias e obrigações do poder concedente e da Declarada a intervenção por intermédio de decreto, o poder
concessionária, inclusive os relacionados às previsíveis necessidades concedente deverá, no prazo de até 30 dias, realizar a instauração
de futura alteração e expansão do serviço e consequente de procedimento administrativo com o fito de comprovar as causas
modernização, aperfeiçoamento e ampliação dos equipamentos e determinadas na medida e apurar as responsabilidades. Esse
das instalações; procedimento administrativo deverá ser concluído em até 180 dias,
VI – direitos e deveres dos usuários para obtenção e utilização sob pena de ser considerada inválida a intervenção, nos termos do
do serviço; art. 33, § 2º da Lei 8987/95.
VII – forma de fiscalização das instalações, dos equipamentos,
dos métodos e práticas de execução do serviço, bem como a – Extinção da concessão
indicação dos órgãos competentes para exercê-la; simples e nas A concessão pode ser extinta por várias causas, colocando
concessões de serviço público precedida da execução de obra fim à prestação dos serviços pelo concessionário. O art. 35 da Lei
pública (art. 23,caput); 8.987/1995, prevê de forma expressa algumas causas de extinção
VIII – penalidades contratuais e administrativas a que se sujeita da concessão. Sendo elas: o advento do termo contratual; a
a concessionária e sua forma de aplicação; encampação; a caducidade; a rescisão; a anulação; e a falência ou
IX – casos de extinção da concessão; extinção da empresa concessionária e falecimento ou incapacidade
X – bens reversíveis; do titular, em se tratando de empresa individual.
XI – critérios para o cálculo e a forma de pagamento das Pondera-se que além das causas anteriores, previstas na
indenizações devidas à concessionária, quando for o caso; legislação e adotadas pela doutrina, a extinção da concessão de
XII – condições para prorrogação do contrato; serviço público também pode ocorrer por: desafetação do serviço;
XIII – à obrigatoriedade, forma e periodicidade da prestação de distrato; ou renúncia da concessionária.
contas da concessionária ao poder concedente;
XIV – exigência da publicação de demonstrações financeiras
periódicas da concessionária; e
XV – o foro e o modo amigável de solução das divergências
contratuais.

124
NOÇÕES DE DIREITO

Vejamos: 6 – Desafetação do serviço público


1 – Encampação (ou resgate) A Lei 8.987/1995 não se refere e nem minucia a desafetação de
Consiste na extinção da concessão em decorrência da retomada serviço público como causa de extinção da concessão. Entretanto,
do serviço pelo poder concedente durante o prazo da concessão, no entender de Diógenes Gasparini, a desafetação do serviço
por motivos de interesse público. público em decorrência de lei também é hipótese de extinção da
concessão, tendo em vista que a desafetação ocorre no momento
2 – Caducidade (ou decadência) em que uma lei torna público um serviço.
Consiste na extinção do contrato de concessão de serviço
público em decorrência de inexecução total ou parcial do contrato, 7 – Distrato (acordo)
por razões que devem ser imputadas à concessionária. Poderá ser Mesmo não havendo referência legal à extinção da concessão
declarada pelo poder concedente pelas seguintes maneiras, nos por intermédio de acordo ou distrato entre o poder concedente
termos do art. 38, § 1º, I a VII: e a concessionária, esta hipótese não foi vedada pela legislação.
A) O serviço estiver sendo prestado de forma inadequada Por esse motivo, boa parte da doutrina vem admitindo a extinção
ou deficiente, tendo por base as normas, critérios, indicadores e antecipada da concessão de forma amigável e também consensual.
parâmetros definidores da qualidade do serviço;
B) A concessionária descumprir cláusulas contratuais ou 8 – Renúncia da concessionária
disposições legais ou regulamentares concernentes à concessão; Nesse caso, a lei também não menciona essa hipótese como
C) A concessionária paralisar o serviço ou concorrer para tanto, maneira de extinção da concessão. Porém, o ilustre Diogo de
ressalvadas as hipóteses decorrentes de caso fortuito ou força Figueiredo Moreira Neto, a renúncia da concessionária será aceita
maior; como forma de extinção da concessão, a partir do momento em
D) A concessionária perder as condições econômicas, técnicas que houver previsão contratual nesse sentido vindo a disciplinar-
ou operacionais para manter a adequada prestação do serviço lhe as devidas consequências.
concedido; a concessionária não cumprir as penalidades impostas
por infrações, nos devidos prazos; Nota importante acerca da concessão:
E) A concessionária não atender a intimação do poder
– Outro efeito da extinção da concessão é a assunção imediata
concedente no sentido de regularizar a prestação do serviço; e
do serviço pelo poder concedente, ficando este autorizado a ocupar
F) A concessionária não atender a intimação do poder
as instalações e a utilizar todos os bens reversíveis, tendo em vista a
concedente para, em 180 dias, apresentar a documentação relativa
necessidade de dar continuidade à prestação do serviço público nos
à regularidade fiscal, no curso da concessão, na forma do art. 29 da
parâmetros do art. 35, §§ 2º e 3º.
Lei 8.666, de 21.06.1993.
– Independente da causa da extinção da concessão, os bens
reversíveis que ainda não se encontrem amortizados ou depreciados
3 – Rescisão
De acordo com a Lei 8.987/1995 a rescisão é a forma de extinção deverão ser indenizados ao concessionário, sob pena de, se não o
da concessão, por iniciativa da respectiva concessionária, quando fizer, haver enriquecimento sem causa do poder concedente.
esta se encontrar motivada pelo descumprimento de normas
contratuais advindas do poder concedente, nos ditames do art. 39. — Permissão
Nesta hipótese, sendo a autoexecutoriedade privilégio aplicável O art. 175 da Constituição Federal Brasileira determina que
somente à Administração Pública, para que o concessionário possa “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob
rescindir o contrato de concessão, deverá fazê-lo por intermédio de regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a
ação judicial, sendo que os serviços prestados pela concessionária prestação de serviços públicos”.
não deverão ser interrompidos e nem mesmo paralisados em Passível de observação, o ditado dispositivo constitucional não
hipótese alguma, até que a decisão judicial que determine a faz nenhum tipo de referência relativa à autorização de serviços
rescisão transite em julgado. públicos. Entretanto, denota-se que existe a admissão da delegação
de serviços públicos por intermédio de autorização com fulcro nos
4 – Anulação art. 21, XI e XII, e art. 223 da Constituição Federal. Desta forma,
Trata-se de hipótese de extinção do contrato de concessão infere-se que a delegação de serviços públicos pode ser realizada
em decorrência de vício de legalidade, que pode, via de regra, ser por meio de concessão, permissão ou autorização. Tratada
declarado por via administrativa ou judicial. anteriormente, passemos a explorar os demais institutos.
Infere-se que a Lei 8.987/1995 não traz em seu bojo muitos
5 – Falência ou extinção da empresa concessionária e dispositivos relacionados à permissão de serviços públicos, vindo
falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresa a limitar-se a estabelecer o seu conceito. A permissão de serviço
individual público, nos ditames da lei, pode ser conceituada como “a
A Lei 8.987/1995, embora a Lei 8.987/95 mencione esse delegação, a título precário, mediante licitação, da prestação de
tópico como formas de extinção da concessão no art. 35, VI, nada serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou
dispõe em relação aos efeitos dessas hipóteses de extinção. No jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua
entendimento de José dos Santos Carvalho Filho, tais fatos acabam conta e risco” (art. 2º, IV). Já o art. 40 da mesma Lei dispõe:
por provocar a extinção de pleno direito do contrato, pelo fato de Art. 40. A permissão de serviço público será formalizada
que tornam inviável a execução do serviço público objeto do ajuste. mediante contrato de adesão, que observará os termos desta Lei,
das demais normas pertinentes e do edital de licitação, inclusive
quanto à precariedade e à revogabilidade unilateral do contrato
pelo poder concedente.

125
NOÇÕES DE DIREITO

Proveniente do exposto, podemos expor com destaque as se que não existe a precariedade do vínculo, vindo, desta forma,
principais características da permissão de serviço público. São elas: o permissionário obter o direito de indenização quando não der
a) É uma forma de delegação de serviços públicos; causa à rescisão deste.
b) Deve ser precedida de licitação pública, mas a Lei não Em síntese, vejamos as principais características da concessão
determina a modalidade licitatória a ser seguida (diferencia-se da e da permissão de serviços públicos:
concessão de serviço público que exige a licitação na modalidade
concorrência); PERMISSÃO DE SERVIÇO CONCESSÃO DE SERVIÇO
c) É formalizada por meio de um contrato de adesão, de PÚBLICO PÚBLICO
natureza precária, uma vez que a lei prevê que pode ser revogado
de maneira unilateral pelo poder concedente (diferencia-se das – Forma de delegação de
concessões de serviço público que não possuem natureza precária); serviço público; – Forma de delegação de
e – Depende de licitação, serviço público;
d) Os permissionários podem ser pessoas físicas ou jurídicas mas a lei não – Depende de licitação
(diferencia-se das concessões de serviço público em razão de os – Predetermina a na modalidade obrigatória da
concessionários somente poderem ser pessoa jurídica ou consórcio modalidade licitatória; concorrência;
de empresas). – Possui natureza precária, – Não possui natureza
havendo controvérsias na precária;
Por motivos importantes relacionados às características doutrina; – Os concessionários só
anteriores, destacamos algumas observações. – Os permissionários podem ser pessoa jurídica ou
Relativo a primeira, aduz-se que todo contrato administrativo podem ser pessoa física ou consórcio de empresas.
é um contrato de adesão, posto que a minuta do contrato deve ser pessoa jurídica.
redigida pela Administração, bem como integra todos os anexos do
edital de licitação apresentado. Desta maneira, aquele que vence a — Autorização
licitação e, por sua vez, assina o contrato, passa a aderir somente De acordo com o entendimento da doutrina, a autorização se
ao que foi estipulado pela Administração Pública, não podendo constitui em ato administrativo unilateral, discricionário e precário
haver discussões sobre as cláusulas contratuais. Assim ocorrendo, por intermédio do qual, o poder público detém o poder de delegar
tanto a concessão quanto a permissão de serviço público estarão se a execução de um serviço público de sua titularidade, possibilitando
constituindo em contrato de adesão, sendo que essa circunstância, que o particular o realize em seu próprio benefício. Nos ditames
não serve para diferenciar os dois institutos. de Hely Lopes Meirelles, “serviços autorizados são aqueles que o
Direcionado à segunda observação a ser feita, trata-se de uma Poder Público, por ato unilateral, precário e discricionário, consente
relação à precariedade do vínculo, que de antemão, pode vir a ser na sua execução por particular para atender a interesses coletivos
extinto a qualquer tempo, havendo ou não indenização. Registra- instáveis ou emergência transitória”.
se que o texto da lei acabou por usar designação imprópria de Depreende-se que a autorização de serviço público não é
revogação do contrato, tendo em vista que este não é revogado, dependente de licitação, posto que esta somente é exigível para
é rescindido, o que se dá de forma contrária do ato administrativo a realização de contrato. Sendo a autorização ato administrativo,
que é sujeito à revogação. De qualquer maneira, a precariedade do entende- se que não deverá ser precedida de procedimento
vínculo encontra-se relacionada à possibilidade de extinção sem o licitatório. Entretanto, se houver uma quantidade limitada
pagamento de indenização. de autorizações a serem fornecidas e existindo determinada
Pondera-se que todo e qualquer tipo de contrato administrativo, pluralidade de possíveis interessados, em atendimento ao princípio
desde que esteja justificado pelo interesse público, pode ser da isonomia, é necessário que se faça um processo seletivo para
rescindido de forma unilateral pela Administração Pública, não facilitar a escolha dos entes que serão autorizados pelo Poder
configurando esse aspecto apenas uma particularidade do contrato Público.
de permissão de serviços públicos. Caso o ato de autorização seja precário, pode de antemão,
Infere-se que quando a rescisão do contrato de concessão não ser revogado a qualquer tempo, desde que seja por motivo de
for causada pelo concessionário, acarretará em direito a percepção interesse público, suprimindo o direito à indenização por parte do
de indenização pelos prejuízos sofridos, uma vez que a concessão eventual prejudicado. No entanto, a exemplo de exceção, existindo
é impreterivelmente celebrada por prazo certo. No tocante à estabelecimento de prazo para a autorização, ressalta-se que o
permissão, existem contradições, pois existem doutrinadores que vínculo acaba por perder a precariedade, passando a ser cabível
entendem que a permissão sempre ocorre, via de regra, por prazo o direito de indenização em se tratando de caso de revogação da
certo e determinado, ao passo que outros doutrinadores defendem autorização.
que a permissão ocorre, de antemão, por prazo indeterminado, Demonstramos, por fim, que embora seja tradição se definir
porém, também admitem que ocorre prazo determinado, desde a autorização como ato administrativo discricionário, a Lei Geral
que tal dispositivo esteja fixado no edital da correspondente de Telecomunicações determina que a autorização de serviço de
licitação. Essa última posição, é a que a Professora Maria Sylvia telecomunicações é ato administrativo vinculado, nos parâmetros
Zanella Di Pietro defende, para quem a fixação de prazo de vigência da Lei 9.472/1997, art. 131, § 1º, de forma a não existir possibilidade
da permissão faz com que desapareçam as diferenças existentes de a administração denegar a prática da atividade para os
entre os institutos da permissão e da concessão. Por conseguinte, particulares que vierem a preencher devidamente as condições
em se tratando da permissão por prazo determinado, ressalta- objetivas e subjetivas necessárias.

126
NOÇÕES DE DIREITO

— Classificação c) Serviços administrativos, econômicos (comerciais ou


Existem vários critérios adotados para classificar os serviços, industriais) e sociais
dentre os quais, vale à pena destacar os seguintes: São constituídos por atividades promovidas pelo Poder Público
com o fulcro de atender às necessidades internas requeridas pela
a) Serviços públicos propriamente ditos (essenciais) e serviços Administração. Também podem preparar outros serviços que
de utilidade pública (não essenciais) deverão ser prestados ao público, como por exemplo, as estações
Em relação aos serviços públicos propriamente ditos, afirma-se experimentais e a imprensa oficial.
que são serviços classificados como essenciais à sobrevivência da Nos ditames da lição de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o serviço
sociedade e do próprio Estado. Como exemplo, podemos citar o comercial ou industrial é aquele que a Administração Pública
serviço de Polícia Judiciária e Administrativa. Tendo em vista que executa, direta ou indiretamente, com o objetivo de atender
tais serviços exigem a prática de atos de império relacionados aos às necessidades coletivas de ordem econômica, tendo como
administrados, denota-se que os mesmos só podem ser prestados supedâneo no art. 175 da Constituição Federal, a exemplo dos
de forma direta pelo Estado, sem a necessidade de delegação a serviços de telecomunicações, dentre outros.
terceiros. Concernente aos serviços de utilidade pública, aduz-se Já o serviço público social, cuida-se daquele que atende
que são aqueles cuja prestação é de bom proveito à coletividade, a necessidades coletivas, em áreas cuja atuação do Estado é
tendo em vista que, mesmo que estes visem a facilitação da vida considerada de caráter essencial, a exemplo dos serviços de
do indivíduo na sociedade como um todo, não são considerados educação, saúde e previdência. De acordo com a doutrina
essenciais, podendo, por esse motivo, ser executados de forma dominante, tais serviços, quando são prestados pela iniciativa
direta pelo Estado ou ter sua prestação delegada a particulares. privada não são considerados como serviços públicos, mas sim
Exemplo: a água tratada, o transporte coletivo, dentre outros. como serviços de natureza privada.

b) Serviços próprios e impróprios d) Serviços uti singuli (singulares) e uti universi (coletivos)
A classificação de serviços públicos próprios e impróprios é Também chamados de serviços singulares ou individuais,
apresentada com variações de sentido na doutrina. os serviços uti singuli são aqueles cuja finalidade é a satisfação
individual e direta das necessidades do indivíduo. Esses serviços
No entendimento de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a doutrina
têm usuários determinados, sendo, por esse motivo, possível a
clássica classifica como serviços públicos próprios aqueles que, em
mensuração de forma individualizada da utilização de cada usuário.
decorrência de sua importância, o Estado passa a assumir como
São incluídos nessa categoria os serviços de fornecimento de água,
seus e os coloca em execução de forma direta por intermédio de
energia elétrica, telefone, etc. que podem ser remunerados por
seus agentes, ou, ainda, indireta que ocorre mediante delegação
intermédio de taxa ou tarifa.
a terceiros concessionários ou permissionários. Referente aos
Os serviços uti universi, também conhecidos como serviços
serviços públicos impróprios, são aqueles que, embora atendam
universais, coletivos ou gerais, são os serviços prestados à
às necessidades coletivas, não estão sendo executados pelo coletividade, porém, são usufruídos somente de forma indireta
Estado, nas suas formas direta ou indireta, mas estão autorizados, pelos indivíduos. Exemplos: serviço de iluminação pública, defesa
regulamentados e fiscalizados pelo Poder Público. Exemplo: as nacional, dentre outros. Denota-se que os serviços uti universi,
instituições financeiras, de seguro e previdência privada, dentre de modo geral são prestados a usuários indeterminados e
outros. Entretanto, a própria autora explica que os serviços indetermináveis, não sendo por esse motivo, passíveis de ter seu
considerados impróprios pela retro mencionado corrente uso individualizado. Além disso são custeados através de impostos
doutrinária, em sentido jurídico, sequer poderiam ser considerados ou contribuições especiais. Por esse motivo, o STF editou a Súmula
serviços públicos, tendo em vista que a lei não atribui a sua 670 (posteriormente convertida na Súmula Vinculante 41), na qual
prestação ao Estado. predomina o entendimento de que “o serviço de iluminação pública
Hely Lopes Meirelles ensina que serviços próprios do Estado não pode ser remunerado mediante taxa”, uma vez que se trata de
“são aqueles que se relacionam intimamente com as atribuições do serviço uti universi.
Poder Público, como: segurança, polícia, higiene e saúde públicos Por fim, ressalta-se que há uma correlação entre a conceituação
etc., sendo que para a execução destes, a Administração utiliza de do serviço como uti universi ou uti singuli e o seu custeio, pois,
seu poder de hierarquia sobre os administrados. Por esse motivo, quando o serviço é uti singuli, é possível identificar o usuário e
infere-se que só devem ser prestados por órgãos ou entidades mencionar a utilização da expressão a “conta” deve ser paga pelo
públicas, sem delegação a particulares”. Por sua vez, os serviços próprio usuário, mediante o implemento de taxa, preço ou tarifa.
impróprios do Estado “são os que não afetam substancialmente Em se tratando de serviço uti universi, quando não é possível
as necessidades da comunidade, mas satisfazem interesses saber quem são os usuários de forma individualizada, pois, o
comuns de seus membros, e, por isso, a Administração os presta usuário é a “coletividade”, nem quantificar o uso, a “conta” é
remuneradamente, por seus órgãos ou entidades descentralizadas paga pela coletividade, mediante o recolhimento de impostos ou
(autarquias, empresas públicas, sociedades de economia contribuições especiais.
mista, fundações governamentais), ou delega sua prestação a
concessionários, permissionários ou autorizatários”.

127
NOÇÕES DE DIREITO

— Princípios b) reserva de lei: o tratamento de determinadas matérias deve


Os princípios jurídicos solidificam os valores fundamentais ser formalizado pela legislação, excluindo o uso de outros atos com
da ordem jurídica. Em razão de sua fundamentalidade e abertura caráter normativo.
linguística, os princípios se espalham sobre todo o sistema jurídico,
vindo a garantindo-lhe harmonia e coerência. Todavia, o princípio da legalidade deve ser conceituado
Os princípios jurídicos são classificados a partir de dois como o principal conceito para a configuração do regime jurídico-
critérios. Partindo da amplitude de aplicação no sistema normativo, administrativo, tendo em vista que segundo ele, a administração
os princípios podem ser divididos em três espécies: pública só poderá ser desempenhada de forma eficaz em seus atos
a) Princípios fundamentais: são princípios que representam executivos, agindo conforme os parâmetros legais vigentes. De
as decisões políticas de estrutura do Estado, servindo de base acordo com o princípio em análise, todo ato que não possuir base
para todas as demais normas constitucionais, como por exemplo: em fundamentos legais é ilícito.
princípios republicanos, federativo, da separação de poderes,
dentre outros; – Princípio da impessoalidade
b) Princípios gerais: via de regra, se referem a importantes Consagrado de forma expressa no art. 37 da CRFB/1988, possui
especificações dos princípios fundamentais, embora possuam duas interpretações possíveis:
menor grau de abstração e acabam por se espalhar sobre todo o a) igualdade (ou isonomia): dispõe que a Administração Pública
ordenamento jurídico. Exemplos: os princípios da isonomia e da deve se abster de tratamento de forma impessoal e isonômico aos
legalidade; particulares, com o fito de atender a finalidade pública, vedadas
c) Princípios setoriais ou especiais: se destinam à aplicação de a discriminação odiosa ou desproporcional. Exemplo: art. 37, II,
certo tema, capítulo ou título da Constituição. Exemplos: princípios da CRFB/1988: concurso público. Isso posto, com ressalvas ao
da Administração Pública dispostos no art. 37 da CRFB: legalidade, tratamento que é diferenciado para pessoas que estão se encontram
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. em posição fática de desigualdade, com o fulcro de efetivar a
igualdade material. Exemplo: art. 37, VIII, da CRFB e art. 5.0, § 2. °,
Já a segunda classificação, acaba por levar em conta a menção da Lei 8.112/1990: reserva de vagas em cargos e empregos públicos
expressa ou implícita dos princípios em seus textos normativos. São
para portadores de deficiência.
eles:
b) proibição de promoção pessoal: quem faz as realizações
a) Princípios expressos: são os que se encontram
públicas é a própria entidade administrativa e não são tidas como
expressamente mencionados no texto da norma. Exemplos:
feitos pessoais dos seus respectivos agentes, motivos pelos quais
princípios da Administração Pública que são elencados no art. 37
toda a publicidade dos atos do Poder Público deve possuir caráter
da CRFB);
educativo, informativo ou de orientação social, nos termos do art.
b) Princípios implícitos: são os reconhecidos pela doutrina
37, § 1.°, da CRFB : “dela não podendo constar nomes, símbolos
e pela jurisprudência advindo da interpretação sistemática do
ordenamento jurídico. Exemplos: princípios da razoabilidade e da ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
proporcionalidade, da segurança jurídica. servidores públicos” .

Em relação ao processo administrativo, denota-se que estes – Princípio da moralidade


são regulados por leis infraconstitucionais e que também elencam Disposto no art. 37 da CRFB/1988, presta-se a exigir que a
outros princípios do Direito Administrativo. A nível federal, registra- atuação administrativa, respeite a lei, sendo ética, leal e séria.
se que o art. 2. ° da Lei 9.784/1999 cita a existência dos seguintes Nesse diapasão, o art. 2. °, parágrafo único, IV, da Lei 9.784/1999
princípios: legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, ordena ao administrador nos processos administrativos, a autêntica
proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, “atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-
segurança jurídica, interesse público e eficiência. fé”. Exemplo: a vedação do ato de nepotismo inserido da Súmula
Sem qualquer tipo de dependência da quantidade de princípios Vinculante 13 do STF. Entretanto, o STF tem afastado a aplicação da
elencados pelo ordenamento e pela doutrina, podemos destacar, mencionada súmula para os cargos políticos, o que para a doutrina
para fins de estudo os principais princípios do Direito Administrativo: em geral não parece apropriado, tendo em vista que o princípio da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, moralidade é um princípio geral e aplicável a toda a Administração
razoabilidade, proporcionalidade, finalidade pública (supremacia Pública, vindo a alcançar, inclusive, os cargos de natureza política.
do interesse público sobre o interesse privado), continuidade,
autotutela, consensualidade/participação, segurança jurídica, – Princípio da publicidade
confiança legítima e boa-fé. Sua função é impor a divulgação e a exteriorização dos atos
Vejamos a definição e a importância de cada um deles: do Poder Público, nos ditames do art. 37 da CRFB/1988 e do art.
2. ° da Lei 9.784/1999). Ressalta-se com grande importância que a
– Princípio da legalidade transparência dos atos administrativos guarda estreita relação com
Previsto no art. 37 da CRFB/1988, é conceituado como um o princípio democrático nos termos do art. 1. ° da CRFB/1988), vindo
produto do Liberalismo, que pregava a superioridade do Poder a possibilitar o exercício do controle social sobre os atos públicos
Legislativo na qual a legalidade se divide em dois importantes praticados pela Administração Pública em geral. Denota-se que a
desdobramentos: atuação administrativa obscura e sigilosa é característica típica dos
a) supremacia da lei: a lei acaba por prevalecer e tem Estados autoritários. Como se sabe, no Estado Democrático de
preferência sobre os atos da Administração; Direito, a regra determinada por lei, é a publicidade dos atos estatais,
com exceção dos casos de sigilo determinados e especificados

128
NOÇÕES DE DIREITO

por lei. Exemplo: a publicidade é um requisito essencial para a e forma paritária com os ideais igualdade, justiça material e
produção dos efeitos dos atos administrativos, é uma necessidade racionalidade, vindo a consubstanciar importantes instrumentos de
de motivação dos atos administrativos. contenção dos excessos cometidos pelo Poder Público.
O princípio da proporcionalidade é subdividido em três
– Princípio da eficiência subprincípios:
Foi inserido no art. 37 da CRFB, por intermédio da EC 19/1998, a) Adequação ou idoneidade: o ato praticado pelo Estado será
com o fito de substituir a Administração Pública burocrática adequado quando vier a contribuir para a realização do resultado
pela Administração Pública gerencial. O intuito de eficiência pretendido.
está relacionado de forma íntima com a necessidade de célere b) Necessidade ou exigibilidade: em decorrência da proibição
efetivação das finalidades públicas dispostas no ordenamento do excesso, existindo duas ou mais medidas adequadas para
jurídico. Exemplo: duração razoável dos processos judicial e alcançar os fins perseguidos de interesse público, o Poder Público
administrativo, nos ditames do art. 5.0, LXXVIII, da CRFB/1988, terá o dever de adotar a medida menos agravante aos direitos
inserido pela EC 45/2004), bem como o contrato de gestão no fundamentais.
interior da Administração (art. 37 da CRFB) e com as Organizações c) Proporcionalidade em sentido estrito: coloca fim a uma
Sociais (Lei 9.637/1998). típica consideração, no caso concreto, entre o ônus imposto pela
Em relação à circulação de riquezas, existem dois critérios que atuação do Estado e o benefício que ela produz, motivo pelo qual a
garantem sua eficiência: restrição ao direito fundamental deverá ser plenamente justificada,
a) eficiência de Pareto (“ótimo de Pareto”): a medida se torna tendo em vista importância do princípio ou direito fundamental
eficiente se conseguir melhorar a situação de certa pessoa sem que será efetivado.
piorar a situação de outrem.
b) eficiência de Kaldor-Hicks: as normas devem ser aplicadas de – Princípio da supremacia do interesse público sobre o
forma a produzir o máximo de bem-estar para o maior número de interesse privado (princípio da finalidade pública)
pessoas, onde os benefícios de “X” superam os prejuízos de “Y”). É considerado um pilar do Direito Administrativo tradicional,
tendo em vista que o interesse público pode ser dividido em duas
Ressalte-se, contudo, em relação aos critérios mencionados categorias:
acima, que a eficiência não pode ser analisada apenas sob o prisma a) interesse público primário: encontra-se relacionado com a
econômico, tendo em vista que a Administração possui a obrigação necessidade de satisfação de necessidades coletivas promovendo
de considerar outros aspectos fundamentais, como a qualidade justiça, segurança e bem-estar através do desempenho de
do serviço ou do bem, durabilidade, confiabilidade, dentre outros atividades administrativas que são prestadas à coletividade, como
aspectos. por exemplo, os serviços públicos, poder de polícia e o fomento,
dentre outros.
– Princípios da razoabilidade e da proporcionalidade b) interesse público secundário: trata-se do interesse do
Nascido e desenvolvido no sistema da common law da Magna próprio Estado, ao estar sujeito a direitos e obrigações, encontra-
Carta de 1215, o princípio da razoabilidade o princípio surgiu no se ligando de forma expressa à noção de interesse do erário,
direito norte-americano por intermédio da evolução jurisprudencial implementado através de atividades administrativas instrumentais
da cláusula do devido processo legal, pelas Emendas 5.’ e 14.’ da que são necessárias ao atendimento do interesse público primário.
Constituição dos Estados Unidos, vindo a deixar de lado o seu Exemplos: as atividades relacionadas ao orçamento, aos agentes
caráter procedimental (procedural due process of law: direito ao público e ao patrimônio público.
contraditório, à ampla defesa, dentre outras garantias processuais)
para, por sua vez, incluir a versão substantiva (substantive due – Princípio da continuidade
process of law: proteção das liberdades e dos direitos dos indivíduos Encontra-se ligado à prestação de serviços públicos, sendo que
contra abusos do Estado). tal prestação gera confortos materiais para as pessoas e não pode
Desde seus primórdios, o princípio da razoabilidade vem ser interrompida, levando em conta a necessidade permanente de
sendo aplicado como forma de valoração pelo Judiciário, bem satisfação dos direitos fundamentais instituídos pela legislação.
como da constitucionalidade das leis e dos atos administrativos, Tendo em vista a necessidade de continuidade do serviço
demonstrando ser um dos mais importantes instrumentos de público, é exigido regularidade na sua prestação. Ou seja, prestador
defesa dos direitos fundamentais dispostos na legislação pátria. do serviço, seja ele o Estado, ou, o delegatório, deverá prestar o
O princípio da proporcionalidade, por sua vez origina-se das serviço de forma adequada, em consonância com as normas vigentes
teorias jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII, a partir do momento e, em se tratando dos concessionários, devendo haver respeito às
no qual foi reconhecida a existência de direitos perduráveis ao condições do contrato de concessão. Em resumo, a continuidade
homem oponíveis ao Estado. Foi aplicado primeiramente no âmbito pressupõe a regularidade, isso por que seria inadequado exigir que
do Direito Administrativo, no “direito de polícia”, vindo a receber, o prestador continuasse a prestar um serviço de forma irregular.
na Alemanha, dignidade constitucional, a partir do momento Mesmo assim, denota-se que a continuidade acaba por não
em que a doutrina e a jurisprudência passaram a afirmar que a impor que todos os serviços públicos sejam prestados diariamente
proporcionalidade seria um princípio implícito advindo do próprio e em período integral. Na realidade, o serviço público deverá ser
Estado de Direito. prestado sempre na medida em que a necessidade da população
Embora haja polêmica em relação à existência ou não de vier a surgir, sendo lícito diferenciar a necessidade absoluta da
diferenças existentes entre os princípios da razoabilidade e da necessidade relativa, onde na primeira, o serviço deverá ser
proporcionalidade, de modo geral, tem prevalecido a tese da prestado sem qualquer tipo interrupção, tendo em vista que a
fungibilidade entre os mencionados princípios que se relacionam

129
NOÇÕES DE DIREITO

população necessita de forma permanente da disponibilidade – Princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da
do serviço. Exemplos: hospitais, distribuição de energia, limpeza boa-fé
urbana, dentre outros. Os princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da
boa-fé possuem importantes aspectos que os assemelham entre si.
– Princípio da autotutela O princípio da segurança jurídica está dividido em dois sentidos:
Aduz que a Administração Pública possui o poder-dever de – Objetivo: estabilização do ordenamento jurídico, levando em
rever os seus próprios atos, seja no sentido de anulá-los por vício de conta a necessidade de que sejam respeitados o direito adquirido,
legalidade, ou, ainda, para revogá-los por motivos de conveniência o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5.°, XXXVI, da CRFB);
e de oportunidade, de acordo com a previsão contida nas Súmulas – Subjetivo: infere a proteção da confiança das pessoas
346 e 473 do STF, e, ainda, como no art. 53 da Lei 9.784/1999. relacionadas às expectativas geradas por promessas e atos estatais.
A autotutela designa o poder-dever de corrigir ilegalidades,
bem como de garantir o interesse público dos atos editados pela Já o princípio da boa-fé tem sido dividido em duas acepções:
própria Administração, como por exemplo, a anulação de ato ilegal – Objetiva: diz respeito à lealdade e à lisura da atuação dos
e revogação de ato inconveniente ou inoportuno. particulares;
Fazendo referência à autotutela administrativa, infere-se que – Subjetiva: está ligada à relação com o caráter psicológico
esta possui limites importantes que, por sua vez, são impostos daquele que atuou em conformidade com o direito. Esta
ante à necessidade de respeito à segurança jurídica e à boa-fé dos caracterização da confiança legítima depende em grande parte da
particulares de modo geral. boa-fé do particular, que veio a crer nas expectativas que foram
geradas pela atuação do Estado.
– Princípios da consensualidade e da participação
Segundo Moreira Neto, a participação e a consensualidade Condizente à noção de proteção da confiança legítima, verifica-
tornaram-se decisivas para as democracias contemporâneas, pelo se que esta aparece em forma de uma reação frente à utilização
fato de contribuem no aprimoramento da governabilidade, vindo abusiva de normas jurídicas e de atos administrativos que terminam
a fazer a praticar a eficiência no serviço público, propiciando mais por surpreender os seus receptores.
freios contra o abuso, colocando em prática a legalidade, garantindo Em decorrência de sua amplitude, princípio da segurança
a atenção a todos os interesses de forma justa, propiciando decisões jurídica, inclui na sua concepção a confiança legítima e a boa-fé,
mais sábias e prudentes usando da legitimidade, desenvolvendo a com supedâneo em fundamento constitucional que se encontra
responsabilidade das pessoas por meio do civismo e tornando os implícito na cláusula do Estado Democrático de Direito no art. 1.°
comandos estatais mais aceitáveis e mais fáceis de ser obedecidos. da CRFB/1988, na proteção do direito adquirido, do ato jurídico
Desta forma, percebe-se que a atividade de consenso entre o perfeito e da coisa julgada de acordo com o art. 5.0, XXXVI, da
Poder Público e particulares, ainda que de maneira informal, veio CRFB/1988.
a assumir um importante papel no condizente ao processo de Por fim, registra-se que em âmbito infraconstitucional, o
identificação de interesses públicos e privados que se encontram princípio da segurança jurídica é mencionado no art. 2. ° da Lei
sob a tutela da Administração Pública. 9.784/1999, vindo a ser caracterizado por meio da confiança
Assim sendo, com a aplicação dos princípios da consensualidade legítima, pressupondo o cumprimento dos seguintes requisitos:
e da participação, a administração termina por voltar-se para a a) ato da Administração suficientemente conclusivo para gerar
coletividade, vindo a conhecer melhor os problemas e aspirações no administrado (afetado) confiança em um dos seguintes casos:
da sociedade, passando a ter a ter atividades de mediação para confiança do afetado de que a Administração atuou corretamente;
resolver e compor conflitos de interesses entre várias partes ou confiança do afetado de que a sua conduta é lícita na relação
entes, surgindo daí, um novo modo de agir, não mais colocando jurídica que mantém com a Administração; ou confiança do afetado
o ato como instrumento exclusivo de definição e atendimento do de que as suas expectativas são razoáveis;
interesse público, mas sim em forma de atividade aberta para a b) presença de “signos externos”, oriundos da atividade
colaboração dos indivíduos, passando a ter importância o momento administrativa, que, independentemente do caráter vinculante,
do consenso e da participação. orientam o cidadão a adotar determinada conduta;
De acordo com Vinícius Francisco Toazza, “o consenso na c) ato da Administração que reconhece ou constitui uma
tomada de decisões administrativas está refletido em alguns situação jurídica individualizada (ou que seja incorporado ao
institutos jurídicos como o plebiscito, referendo, coleta de patrimônio jurídico de indivíduos determinados), cuja durabilidade
informações, conselhos municipais, ombudsman, debate público, é confiável;
assessoria externa ou pelo instituto da audiência pública. Salienta- d) causa idônea para provocar a confiança do afetado (a
se: a decisão final é do Poder Público; entretanto, ele deverá confiança não pode ser gerada por mera negligência, ignorância ou
orientar sua decisão o mais próximo possível em relação à síntese tolerância da Administração); e
extraída na audiência do interesse público. Nota-se que ocorre e) cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e
a ampliação da participação dos interessados na decisão”, o que obrigações no caso.
poderá gerar tanto uma “atuação coadjuvante” como uma “atuação
determinante por parte de interessados regularmente habilitados à
participação” (MOREIRA NETO, 2006, p. 337-338).
Desta forma, o princípio constitucional da participação é o
pioneiro da inclusão dos indivíduos na formação das tutelas jurídico-
políticas, sendo também uma forma de controle social, devido aos
seus institutos participativos e consensuais.

130
NOÇÕES DE DIREITO

CONTROLE E RESPONSABILIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO: – Controle externo: é realizado por órgão estranho à estrutura
CONTROLE ADMINISTRATIVO; CONTROLE JUDICIAL; do Poder controlado. Verificamos tal fato, em termos práticos,
CONTROLE LEGISLATIVO; RESPONSABILIDADE CIVIL DO quando por exemplo, um Tribunal de Contas Estadual passa a julgar
ESTADO. SANÇÕES APLICÁVEIS AOS ATOS DE IMPRO- as contas no âmbito dos poderes legislativo ou judiciário.
BIDADE ADMINISTRATIVA (LEI Nº 8.429/1992 E SUAS
ALTERAÇÕES) Controle Judicial
Registremos, a princípio, que o controle judicial da
Administração Pública, trata-se daquele exercido pelo Poder
Controle exercido pela Administração Pública (controle Judiciário, quando em exercício de função jurisdicional, sobre os
interno) atos administrativos do Poder Executivo, do Poder Legislativo e
A princípio, infere-se que a teoria da separação dos poderes do próprio Poder Judiciário. O controle judicial é aquele por meio
possui em sua essência, de acordo com Montesquieu, o objetivo do qual, o Poder Judiciário, ao exercer de a função jurisdicional,
certo de limitar arbítrios de maneira que venha a proteger os aprecia a juridicidade que engloba a regularidade, a legalidade e a
direitos individuais. Isso por que, grande parte dos detentores do constitucionalidade da conduta administrativa.
Poder tende a adquirir mais poder, situação tal, que, caso não esteja Denota-se que o controle externo da Administração por meio
sujeita a controle, culminará no abuso, ou até no absolutismo. do Poder Judiciário foi majorado e fortalecido pela Constituição
Para evitar esse tipo de distorção, Montesquieu propôs a teoria Federal de 1988, tendo previsto novos instrumentos de controle,
dos freios e contrapesos, por meio da qual os poderes constituídos como por exemplo, o mandado de segurança coletivo, o mandado
possuem a incumbência de controlar, freando e contrabalanceando de injunção e o habeas data.
as atuações dos demais poderes, de maneira que cada um deles O Brasil, contemporaneamente adota o sistema de unidade
tenha autonomia, possua liberdade, porém, uma liberdade sob de jurisdição, também conhecido por sistema de monopólio de
vigilância. Nesse sentido, o Poder Legislativo edita leis que podem jurisdição ou sistema inglês, por intermédio do qual o Poder
ser vetadas ou freadas pelo Poder Executivo, que poderá ter seu Judiciário possui a exclusividade da função jurisdicional, vindo a
veto derrubado ou freado pelo Poder Legislativo. Ou seja, não inferir que somente as decisões judiciais fazem coisa julgada em
concordando o Executivo com a derrubada de um veto vindo a sentido próprio, vindo a tornar-se juridicamente insuscetíveis de
entender que a lei aprovada seja inconstitucional, deterá o poder serem modificadas.
de incumbir a matéria à análise do Poder Judiciário que irá dirimir Desta maneira, percebe-se que a decisão que é proferida
o conflito, como por exemplo, uma ADI ajuizada pelo Presidente da pela Administração Pública ou, ainda, qualquer ato administrativo
República. O Judiciário contém os membros de sua cúpula (STF), encontram-se passíveis de revisão pelo Poder Judiciário.
que são indicados pelo chefe de outro Poder, no caso, o Presidente É importante registrar que o fundamento da adoção do
da República, sendo a indicação restrita à aprovação de uma das sistema de unidade jurisdicional no Brasil é a previsão que se
Casas do Parlamento (Senado Federal), o que acaba por ser uma encontra inserida no art. 5º, XXXV, da CFB/1988, por meio da qual
espécie de controle prévio. ficou estabelecido que “a lei não excluirá da apreciação do Poder
Desta maneira, percebe-se que no Estado Democrático de Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Direito, o próprio ordenamento jurídico dispõe de mecanismos Há países, que de forma diferente do Brasil, adotam o
que possibilitam o controle de toda a atuação do Estado. Tais sistema de dualidade de jurisdição ou sistema do contencioso
instrumentos tem como objetivo, garantir que tal atuação se administrativo ou sistema francês. Denota-se que nesses países, a
mantenha sempre consolidada com o direito, visando ao interesse função jurisdicional é exercida por duas estruturas orgânicas que
público e mantendo o respeito aos direitos dos administrados. são regidas de forma independente, sendo elas a Justiça Judiciária
Em relação à localização do órgão de controle, infere-se que e a Justiça Administrativa, posto que cada uma profere decisão com
pode ser interno ou externo. Vejamos: força de coisa julgada no âmbito de suas competências.
– Controle interno: é realizado por órgãos de um Poder Referente à Justiça Administrativa, explica-se que no sistema
sobrepondo condutas que são praticadas na direção desse de dualidade de jurisdição, esta é composta por juízes e tribunais
mesmo Poder, ou, ainda, por um órgão de uma pessoa jurídica administrativos cuja competência cuida-se em geral, de resolver
da Administração indireta sobre atos que foram praticados pela litígios nos quais o Poder Público seja parte. Pareando a Justiça
própria pessoa jurídica da qual faz parte. No controle interno o Administrativa, está a Justiça Judiciária, composta por órgãos do
órgão controlador encontra-se inserido na estrutura administrativa Poder Judiciário, tendo competência para julgar com definitividade
que deve ser controlada. conflitos que envolvam somente particulares.
Em alguns casos, o controle interno decorre da hierarquia, Pondera-se que o controle exercido pelo Poder Judiciário, via
pois esta possibilita aos órgãos hierarquicamente superiores de regra, será sempre um controle de legalidade ou legitimidade
controlar os atos praticados pelos que lhe são subordinados. Em do ato administrativo. No exercício da função jurisdicional, os
resumo, o controle interno que venha a depender da existência de Magistrados não apreciam o mérito do ato administrativo, não
hierarquia entre controlador e controlado, é aquele exercido pelas analisando a conveniência e a oportunidade da prática do ato.
chefias sobre seus subordinados, sendo o tradicional “sistema de Devido ao fato de se tratar de um controle de legalidade ou
controle interno” é organizado por lei incumbida de lhe definir as de legitimidade, sempre que o ato estiver eivado de algum vício,
atribuições, não dependendo de hierarquia para o exercício de suas a decisão judicial será revertida no sentido de anulação do ato
prerrogativas. administrativo que se encontra viciado. Vale enfatizar que não
é cabível no exercício da função jurisdicional a revogação do ato
administrativo, tendo em vista que esta pressupõe a análise do
mérito do ato.

131
NOÇÕES DE DIREITO

É de suma importância destacar que o controle judicial possui Levando em conta o princípio da simetria de organização,
abrangência tanto em relação aos atos vinculados quanto aos as regras mencionadas também devem ser aplicadas, no que
discricionários, posto que ambos devem obedecer aos requisitos de lhes couber, ao Poder Legislativo em âmbito estadual, municipal
validade como a competência, a forma e a finalidade. Desta forma, e distrital, desde que realizadas as devidas adaptações,
é possível que tanto os atos administrativos vinculados quanto principalmente aquelas que advém do fato de nos planos estadual,
os discricionários venham a apresentar vícios de legalidade ou municipal e distrital a organização do Poder Legislativo serem do
ilegitimidade, em decorrência dos quais poderão vir a ser anulados tipo unicameral.
pelo Poder Judiciário quando estiver no exercício do controle Com fundamento no princípio da autotutela, o Poder Legislativo
jurisdicional. também possui o poder de exercer o controle interno sobre os seus
Explicita-se que o controle judicial da Administração, de modo próprios atos. Nessa situação, aduz-se que o Poder Legislativo estará
geral, é sempre provocado, isso por que ele depende da iniciativa de realizando um controle administrativo interno. Esse é o motivo pelo
alguma pessoa, que poderá ser física ou jurídica. Qualquer pessoa qual quando falamos no controle parlamentar, estamos abordando
que tenha a pretensão de provocar o controle da administração somente o controle externo exercido pelo Poder Legislativo.
pelo Poder Judiciário, deverá, de antemão, propor judicialmente a Destaca-se que o controle que o Poder Legislativo detém
ação cabível para o alcance desse objetivo. sobre a Administração Pública, encontra-se limitado às hipóteses
Por fim, diga-se de passagem, que existem várias espécies previstas na Constituição Federal. Isso ocorre, por que porque
de ações judiciais que permitem ao Judiciário apreciar lesão ou caso contrário, haveria inferiorização do princípio da separação
ameaça a direito decorrente de ato administrativo. Exemplos: dos poderes. Acontece que em razão disso, não podem leis
o habeas corpus, o habeas data, o mandado de injunção, etc. A ordinárias, complementares ou Constituições Estaduais predispor
relação das ações que dão possibilidade ao controle judicial da outras modalidades de controle diversas das que são previstas na
Administração será sempre a título de exemplificação, tendo em Constituição Federal, sob risco de ferir o mesmo princípio.
vista que o controle pode ser exercido, inclusive, por intermédio De modo geral, a doutrina diferencia dois tipos de controle
de ação judicial ordinária sem denominação especial ou específica. legislativo: o político e o financeiro.
O controle financeiro é exercido com o auxílio dos tribunais
– Nota: a Emenda Constitucional 45/2004 ao introduzir no de contas. Já o controle político, alcança aspectos de legalidade
direito brasileiro o instituto das súmulas vinculantes, inaugurou um e de mérito, vindo a ser preventivo, concomitante ou repressivo,
novo mecanismo de controle judicial da Administração Pública, ato conforme o caso.
por meio do qual passou-se a admitir o cabimento de reclamação
ao STF contra ato administrativo que contrarie súmulas vinculantes – Formas de controle político:
editadas pela Corte Suprema. 1. Da competência exclusiva do Congresso Nacional (CF,
art. 49): resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou
Controle Legislativo atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos
O controle legislativo é aquele executado pelo Poder Legislativo gravosos ao patrimônio nacional; autorizar o Presidente da
sobre as autoridades e os órgãos dos outros poderes, como ocorre República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que
por exemplo, nos casos de convocação de autoridades com o forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele
objetivo de prestar esclarecimentos ou, ainda, do controle externo permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos
exercido pelo Poder Legislativo auxiliado pelo Tribunal de Contas. em lei complementar; autorizar o Presidente e o Vice-Presidente
O controle legislativo, também denominado de controle da República a se ausentarem do País, quando a ausência exceder
parlamentar, se refere àquele no qual o Poder Legislativo exerce a quinze dias; aprovar o estado de defesa e a intervenção federal,
poder sobre os atos do Poder Executivo e sobre os atos do Poder autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas
Judiciário, sendo este último somente no que condiz ao desempenho medidas; sustar os atos normativos do Poder Executivo que
da função administrativa. Trata-se assim, o controle parlamentar de exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação
um controle externo sobre os demais Poderes. legislativa; julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente
Infere-se que a estrutura do Poder Legislativo Brasileira deve da República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos
ser verificada com atenção às peculiaridades de cada ente federado, de governo; fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de
posto que não somente o princípio da simetria, como também as suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração
regras específicas que a Constituição Federal predispõe para os indireta; apreciar os atos de concessão e renovação de concessão
âmbitos federal, estadual, municipal e distrital. de emissoras de rádio e televisão; aprovar iniciativas do Poder
Em análise ao plano federal, verifica-se que vigora o Executivo referentes a atividades nucleares; autorizar, em terras
bicameralismo federativo, sendo o Poder Legislativo Federal indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos
composto por duas Casas: a Câmara dos Deputados que é composta e a pesquisa e lavra de riquezas minerais; aprovar, previamente, a
por representantes do povo e o Senado Federal que é composto por alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois
representantes dos Estados-membros e do Distrito Federal. mil e quinhentos hectares.
De acordo com o sistema constitucional, o controle parlamentar 2. Da competência privativa do Senado Federal (CF, art. 52):
pode ser exercido: a) por uma das Casas isoladamente; b) pelas processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos
duas Casas reunidas em sessão conjunta; c) pela mesa diretora crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os
do Congresso Nacional ou de cada Casa; d) pelas comissões do Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes
Congresso Nacional ou de cada Casa. da mesma natureza conexos com aqueles; processar e julgar os
Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho
Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público,

132
NOÇÕES DE DIREITO

o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União serão encaminhadas ao Ministério Público, para que este órgão
nos crimes de responsabilidade; autorizar operações externas de promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores, nos
natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito termos dispostos no art. 58, § 3º da CFB/1988.
Federal, dos Territórios e dos Municípios; fixar, por proposta Em decorrência do exercício dos seus poderes de investigação,
do Presidente da República, limites globais para o montante da a CPI é dotada de ato próprio, sem a necessidade de autorização
dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e judicial para:
dos Municípios; dispor sobre limites globais e condições para as – Realizar as diligências que entender necessárias;
operações de crédito externo e interno da União, dos Estados, – Convocar e tomar o depoimento de autoridades, inquirir
do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais testemunhas sob compromisso e ouvir indiciados;
entidades controladas pelo Poder Público federal; dispor sobre – Requisitar de órgãos públicos informações e documentos de
limites e condições para a concessão de garantia da União em qualquer natureza;
operações de crédito externo e interno; estabelecer limites globais – Requerer ao Tribunal de Contas da União a realização de
e condições para o montante da dívida mobiliária dos Estados, do inspeções e auditorias que entender necessárias.
Distrito Federal e dos Municípios; aprovar, por maioria absoluta e
por voto secreto, a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da Ademais, conforme decisão do STF, por autoridade própria, a
República antes do término de seu mandato; aprovar previamente, CPI pode sem necessidade de intervenção judicial, porém, sempre
por voto secreto, após arguição pública, a escolha de: por meio de decisão fundamentada e motivada, observadas todas
– Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição; as formalidades da legislação, determinar a quebra de sigilo fiscal,
– Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo bancário e de dados do investigado. (MS 23.452/RJ).
Presidente da República; Em esquema básico, temos:
– Governador de Território;
– Presidente e diretores do Banco Central; Financeiro: é exercido com
– Procurador-Geral da República; o auxílio dos tribunais de contas.
– Titulares de outros cargos que a lei determinar;
– Aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em CONTROLE LEGISLATIVO Político: alcança aspectos
sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de ESPÉCIES de legalidade e de mérito, vindo
caráter permanente. a ser preventivo, concomitante
ou repressivo.
3. Da competência privativa da Câmara dos Deputados (CF,
art. 51): autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração Controle pelos Tribunais de Contas
de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e Previstos na Constituição Federal, os Tribunais de Contas são
os Ministros de Estado; proceder à tomada de contas do Presidente órgãos com a finalidade de auxiliar o Poder Legislativo na execução
da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional do exercício do controle externo da Administração Pública. São
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa. órgãos especializados e não integram a estrutura administrativa
4. Outros controles políticos (CF, art. 50): a Câmara dos do Parlamento e também não mantém com ele mantém qualquer
Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, espécie de relação hierárquica.
poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de Denota-se que a Carta Magna de 1988 preservou a estrutura
órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para de organização dos Tribunais de Contas vigente nos diversos entes
prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente da federação à época de sua promulgação. Com isso, nos termos
determinado, importando crime de responsabilidade a ausência do art. 31, § 4º da CFB/1988, tornou-se proibida a criação de novos
sem justificação adequada; as Mesas da Câmara dos Deputados tribunais, conselhos ou órgãos de contas municipais.
e do Senado Federal poderão encaminhar pedidos escritos de Em seguimento a essa diretriz, em âmbito federal, temos o
informações a Ministros de Estado ou a quaisquer titulares de órgãos TCU (Tribunal de Contas da União); no plano estadual, os Tribunais
diretamente subordinados à Presidência da República, importando de Contas dos Estados; no Distrito Federal, o TCDF (Tribunal
em crime de responsabilidade a recusa, ou o não atendimento, no de Contas do Distrito Federal), sendo que na esfera municipal,
prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas. percebe-se a organização dos tribunais de contas não ocorre de
Por fim, em relação ao controle político legislativo, cabe maneira uniforme. Devido ao fato da maioria dos municípios ter
especial destaque referente ao controle exercido pelas comissões criado até a CF/1988 o seu próprio Tribunal de Contas, a função
parlamentares de inquérito (CPIs). de prestar auxílio ao Poder Legislativo municipal no exercício do
As CPIs são comissões temporárias designadas a investigar fato controle externo é normalmente repassada ao Tribunal de Contas
certo e determinado e fazem parte do contexto de uma das funções do respectivo Estado que é dotado de atribuições de controle ao
típicas do Parlamento que é a função de fiscalização. das administrações estadual e municipal.
De acordo com a Constituição Federal, as comissões Em relação à sua composição, verificamos com afinco que os
parlamentares de inquérito possuem poderes de investigação que Tribunais de Contas são órgãos colegiados, com quadro de pessoal
são próprios das autoridades judiciais, além de outros poderes que próprio (inspetores, procuradores, analistas, técnicos etc.), sendo
estão previstos nos regimentos das Casas Legislativa. As CPIs são o TCU composto por nove ministros, ao passo que os demais
criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, seja em Tribunais de contas são compostos, em regra, por sete conselheiros,
conjunto ou de forma separada mediante pugnação de um terço número sempre observado nos Estados, com exceção do Tribunal
de seus membros, com o objetivo de apurar fato determinado e
por prazo certo, sendo que as suas conclusões, quando for preciso,

133
NOÇÕES DE DIREITO

de Contas do Município de São Paulo que conta com apenas cinco Destaca-se que o controle externo também investiga se houve
conselheiros, nos parâmetros do art. 49 da Lei Orgânica daquele a aplicação de forma correta das subvenções, que se tratam de
Município. transferências de recursos feitas pelo governo com o fito de cobrir
Embora, não obstante a existência dos chamados “tribunais” despesas de custeio das entidades beneficiadas.
de contas, as cortes de contas também não exercem jurisdição em As subvenções podem ser de duas espécies. São elas:
sentido próprio, isso por que suas decisões não possuem o caráter subvenções sociais e subvenções econômicas.
de definitividade, vindo a sofrer a possibilidade de serem anuladas A) Subvenções sociais: são destinadas ao custeio de instituições
pelo Poder Judiciário. Entretanto, o processo ajuizado com o fito públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural, que não
de anular a decisão da corte de contas é distinto do processo de possuem finalidade lucrativa, nos ditames da Lei 4.320/1964, art.
natureza administrativa em que foi proferida tal decisão. Desta 12, § 3º, I.
forma, o interessado não poderá interpor um recurso para o B) Subvenções econômicas: são as destinadas ao custeio de
Judiciário em desfavor da decisão final do Tribunal de Contas com empresas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial,
o fulcro de reformá-la, mas sim ajuizar processo autônomo perante agrícola ou pastoril, nos termos da Lei 4.320/1964, art. 12, § 3º, II.
o órgão jurisdicional competente com o objetivo de anular o Registra-se, que o controle externo também se incumbe
mencionado julgado. de apreciar a regularidade da renúncia de receita. Há vários
Registra-se que em relação ao controle externo financeiro e mecanismos que tornam possível a renúncia de receita, como
as atribuições dos tribunais de contas, a Constituição Federal criou por exemplo: a remissão, o subsídio, a isenção e a modificação da
um sistema harmonizado de controle, que prevê a existência de um alíquota ou da base de cálculo de tributo que implique sua redução.
controle externo associada a um controle interno executado por Nos ditames constitucionais, a cargo de Congresso Nacional, o
cada órgão sobre seus agentes e seus atos. controle externo, será exercido com a ajuda do Tribunal de Contas
O controle exercido pelo Poder Legislativo é uma forma de da União, ao qual compete, nos parâmetros do art. 71 da CFB/1988:
controlar de maneira externa os atos dos órgãos dos outros Poderes A) Apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da
e das entidades da administração indireta. Esse controle, além de República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em
controlar a parte financeira dos outros órgãos, também abrange sessenta dias a contar de seu recebimento;
de forma ampla o controle contábil, financeiro, orçamentário, B) Julgar as contas dos administradores e demais responsáveis
operacional e patrimonial, levando em conta os aspectos da por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e
legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas
e renúncia de receitas. pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa
No campo contábil a análise abrange o registro dos fatos a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao
contábeis e a elaboração de demonstrativos. Em âmbito financeiro, erário público; apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos
é verificado o verdadeiro ingresso das receitas, através de de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta
comprovantes de depósito ou transferência de recursos, bem como e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder
a realização de forma efetiva de despesas, vindo a comprovar os Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em
seus tradicionais estágios de licitação, empenho, liquidação e comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas
pagamento. Por sua vez, o controle orçamentário é aquele que e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o
acompanha a execução do orçamento, que é a legislação em fundamento legal do ato concessório;
que se encontram as receitas previstas e também as despesas C) Realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados,
fixadas. Em referência ao controle operacional, ressaltamos que do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções
o mesmo trata de diversos aspectos do desempenho da atividade e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária,
administrativa, como por exemplo, numa auditoria operacional, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos
pode ser computado o tempo médio que o usuário usa esperando Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades
por atendimento médico em uma unidade do sistema público de referidas na letra b;
saúde. Finalmente, temos o controle patrimonial, que cuida da D) fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais
fiscalização do patrimônio público. de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta,
Analisando a legalidade do controle externo, observamos que nos termos do tratado constitutivo;
este investiga se a conduta administrativa está de acordo com as E) Fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela
diversas normas jurídicas. União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos
O controle de legitimidade atua complementando o controle congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;
de legalidade, permitindo a apreciação de outros aspectos além F) Prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional,
da adequação formal da conduta à legislação pertinente. Nesse por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas
diapasão, são passíveis de averiguação aspectos como a finalidade Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
do ato e a obediência aos princípios constitucionais como a operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e
moralidade administrativa, por exemplo. inspeções realizadas;
Em continuidade, o controle de economicidade é relativo à G) Aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa
utilização dos recursos de forma racional, uma vez que com ele, ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que
pretende-se averiguar se a despesa realizada atende aos aspectos estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano
da melhor relação custo-benefício. causado ao erário;
H) Assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as
providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada
ilegalidade;

134
NOÇÕES DE DIREITO

I) sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, Os Tribunais de Contas possuem competência distinta para
comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por
Federal; verba pública, bens e valores públicos da administração direta
J) Representar ao Poder competente sobre irregularidades ou e indireta, inclusive das fundações e sociedades instituídas e
abusos apurados. mantidas pelo Poder Público, e ainda, as contas dos entes que
ensejarem e derem causa à perda, extravio ou outra irregularidade
Observação: As normas retro mencionadas acima relativas de que resulte prejuízo ao erário público, nos termos do disposto no
ao Tribunal de Contas da União aplicam-se, no que couber, à art. 71, III da CFB/1988.
organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Outro ponto importante a ser destacado, é o fato de que
Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos ao julgar as contas dos gestores públicos e demais agentes que
de Contas dos Municípios, onde houver, nos termos do art.75 da causarem danos ao erário, em diversos casos, os tribunais de contas
CFB/1988. imputam débito com o objetivo de ressarcir o dano, ou multa com
caráter de punição. Denota-se que decisões das Cortes de Contas
– Aspectos importantes sobre as atribuições dos Tribunais de que imputam débito ou multa terão validade de título executivo nos
Contas termos do art. 71, § 3º da CFB/198. Ou seja, caso a pessoa a quem
Vejamos a diferença entre os atributos de “apreciar contas” e foi imputada a multa ou o débito não vier a adimplir a referida
“julgar contas”. importância dentro do prazo estipulado por lei, poderá sofrer a
Em relação às contas do chefe do Poder Executivo, os Tribunais cobrança judicial da importância diretamente por intermédio de
de Contas têm atribuição para “apreciá-las”, desde que haja a uma ação de execução, sendo desnecessário o ajuizamento de uma
emissão de parecer conclusivo, que deverá ser elaborado no prazo ação de conhecimento para rediscutir a matéria que já foi objeto de
de 60 dias a contar de seu recebimento (art. 71, I), sendo que é decisão da corte de contas.
competência do Poder Pelo fato das decisões definitivas dos tribunais de contas
Legislativo julgar as contas de cada ente federado. Desta que imputam débito ou aplicam multa terem, por si só, força de
maneira, as contas anuais do Presidente da República são julgadas título executivo, sua execução independe da inscrição em dívida
pelo Congresso Nacional nos ditames do art. 49, IX, CF/1988; as dos ativa. Entretanto, os entes federados têm o costume de inscrever
Governadores, pela Assembleia Legislativa do respectivo Estado; todos os seus créditos passíveis de execução em dívida ativa, o que
a do Governador do Distrito Federal, pela Câmara Legislativa do ocorre por dois motivos. Em primeiro lugar, por que a inscrição
Distrito Federal; e as contas dos Prefeitos, pelas respectivas câmaras dá possibilidade para que a execução siga o rito estabelecido na
municipais. Lei 6.830/1980, Lei das Execuções Fiscais, trazendo uma série de
Existe uma particularidade em relação ao parecer que o vantagens para o exequente. Em segundo lugar, a inscrição acaba
tribunal de contas do Estado ou do município emite a respeito por submeter o crédito a um controle mais amplo, na medida em
das contas anuais do chefe do Poder Executivo municipal. Nos que ele fica registrado em sistemas informatizados criados para a
termos do previsto no art. 31, § 2º, da CF/1988, o parecer prévio, administração, controle de prazos e cobrança dos valores inscritos.
emitido pelo tribunal de contas sobre as contas que o Prefeito
deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão — Controle Administrativo3
de dois terços dos membros da Câmara Municipal. Assim sendo, O Controle da Administração pode ser interno ou externo,
é por essa razão que grande parte da doutrina afirma que nessa administrativo, legislativo e judiciário, conforme seja realizado
hipótese, o parecer prévio é relativamente vinculante, não sendo ou não pela própria Administração ou pelos Poderes Executivo,
absolutamente vinculante pelo fato de poder ser superado, porém, Legislativo e Judiciário.
como a superação depende de quórum qualificado, tem-se uma O Controle Administrativo é aquele realizado pela própria
vinculação relativa. Administração Pública. Esse controle decorre do princípio da
Em relação a esse assunto, o STF explicou que a expressão “só autotutela, ou seja, do poder que possui a Administração de anular
deixará de prevalecer”, contida no mencionado § 2º, não quer dizer os atos ilegais e de revogar os atos inconvenientes ou inoportunos
que o parecer conclusivo do tribunal de contas poderia produzir ao interesse público. Ë denominado como o poder de fiscalização
efeitos imediatos, que se poderiam se tornar permanentes em caso e correção que a Administração Pública (em sentido amplo) exerce
do silêncio da casa legislativa. Para a Suprema Corte, o parecer do sobre sua própria atuação, sob os aspectos de legalidade e mérito,
Tribunal de Contas que rejeita as contas do chefe do executivo possui por iniciativa própria ou mediante provocação.
natureza opinativa, só podendo produzir o efeito de inelegibilidade É o controle exercido pelos órgãos com função administrativa
do prefeito (LC 64/1990, art. 1º, I, alínea “g”) após transcorrido o sobre seus próprios atos, no desempenho da autotutela. Portanto,
julgamento das contas pela respectiva Câmara de Vereadores (RE cabe ao Poder Executivo o amplo controle sobre suas próprias
729.744/MG e RE 848.826/DF). funções administrativas, extroversas e introversas, e aos demais
De outro ângulo, o parecer antecedente emitido pela Corte Poderes do Estado, bem como aos órgãos constitucionalmente
de Contas é indispensável ao julgamento das contas anuais independentes, exercer o autocontrole no que toca às suas
dos Prefeitos. Foi justamente por esse motivo que o STF julgou respectivas funções administrativas.
inconstitucional dispositivo de constituição estadual que permitia Em relação ao objetivo, esta modalidade de controle visa,
às Câmaras Legislativas apreciarem as contas anuais prestadas genericamente, à juridicidade da ação administrativa pública,
pelos prefeitos, independentemente do parecer do Tribunal de destacadamente quanto à sua legitimidade e legalidade.
Contas do Estado, quando este não fosse oferecido no prazo de 180
dias. (ADI 3.077/SE). 3 Almeida, Fabrício Bolzan D. Manual de direito administrativo. Disponível em:
Minha Biblioteca, (5th edição). Editora Saraiva, 2022.

135
NOÇÕES DE DIREITO

Abrange os órgãos da Administração Direta ou centralizada Esse meio de controle é processado através dos recursos
e as pessoas jurídicas que integram a Administração Indireta ou administrativos, matéria que, marcada por muitas singularidades,
descentralizada. será estudada em separado a seguir.

A Súmula n. 473 do STF prevê: Controle Social


A Administração pode anular seus próprios atos, quando As normas jurídicas, tanto constitucionais como legais, têm
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se contemplado a possibilidade de ser exercido controle do Poder
originam direitos, ou revogá-los, por motivo de conveniência ou Público, em qualquer de suas funções, por segmentos oriundos
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em da sociedade. É o que se configura como controle social, assim
todos os casos, a apreciação judicial. denominado justamente por ser uma forma de controle exógeno do
Poder Público nascido das diversas demandas dos grupos sociais.
Esse controle pode ser iniciado de ofício pela Administração
(independentemente de provocação do particular) ou mediante Objetivos
requerimento do interessado. São três os objetivos do controle administrativo:
1 – O primeiro deles é o de confirmação, pelo qual atos e
Existem instrumentos utilizados pelos particulares para comportamentos administrativos são dados pela Administração
provocar o controle administrativo, entre eles estão: como legítimos ou adequados. Exemplo: o ato de confirmação de
– Representação (denúncia de ilegalidade ou abuso de poder autuação fiscal, quando o autuado alega ilegalidade do ato.
perante a Administração); 2 – O segundo é o de correção, em que a Administração,
– Reclamação administrativa (manifestação de discordância em considerando ilegal ou inconveniente a conduta ou o ato,
razão de atuação administrativa que atingiu direito do particular); providencia a sua retirada do mundo jurídico e procede à nova
– Recurso hierárquico próprio e impróprio; conduta, agora compatível com a legalidade ou com a conveniência
– Pedido de revisão; e administrativas. Se o Poder Público, para exemplificar, revoga
– Pedido de reconsideração (quanto aos três últimos autorização de estacionamento, está corrigindo o ato anterior
instrumentos, vide a seguir no Capítulo “Processo Administrativo”). quanto às novas condições de conveniência para a Administração.
3 – Objetivo de alteração, através do qual a Administração
Meios de Controle ratifica uma parte e substitui outra em relação ao que foi produzido
O controle administrativo pode ser hierárquico ou não por órgãos e agentes administrativos. Exemplo: portaria que altera
hierárquico. local de atendimento de serviço público, mas mantém o mesmo
horário anterior.
O Controle Hierárquico entre os órgãos da administração
direta que sejam escalonados verticalmente, em cada Poder, e Responsabilidade civil do Estado
existe controle hierárquico entre os órgãos de cada entidade da Evolução histórica
administração indireta que sejam escalonados verticalmente, no De início, adentraremos esse módulo respaldando sobre
âmbito interno da própria entidade. o conceito de responsabilidade civil do Estado. Consiste esse
instituto na obrigação estatal de indenizar os danos patrimoniais,
Controle Ministerial morais ou estéticos que os seus agentes, agindo nessa qualidade,
De outra parte, existe controle administrativo não hierárquico. causarem a terceiros. A responsabilidade civil do Estado pode ser
Também chamado de controle finalístico, de supervisão ministerial, dividida em dois grupos: a contratual, que advém da ausência de
de tutela administrativa, é o controle exercido pela administração cumprimento de cláusulas inclusas em contratos administrativos,
direta aos atos praticados pela administração indireta. É um e a extracontratual ou aquiliana, que alcança as demais situações.
controle interno exercido sem que haja subordinação. Em relação à evolução histórica, de acordo com o Professor
O Controle ministerial é o exercido pelos Ministérios sobre os Celso Antônio Bandeira de Mello, a tese da responsabilidade civil
órgãos de sua estrutura administrativa e também sobre as pessoas do Estado sempre foi aceita em forma de princípio amplo. Isso
da Administração Indireta federal. ocorreu mesmo no período em que não existia dispositivo de
norma específica. Para o mencionado autor, desde os primórdios,
O Direito de Petição, a doutrina em geral menciona diversos predominou no Brasil a tese da responsabilidade do Estado com
meios ou instrumentos passíveis de ser utilizados pelo administrado base na teoria da culpa civil. Logo após, houve o avanço para que
para provocar o controle administrativo, todos eles espécie do houvesse a admissão da culpa pela ausência de serviço. Por fim,
abrangente direito fundamental previsto no art. 5.º, XXXIV, a, da chegou-se à aprovação da responsabilidade objetiva do Estado.
Constituição Federal, conhecido como “direito de petição”. Nos tempos imperiais, a Constituição de 1824 vigente à época,
previa somente a responsabilidade pessoal do agente público,
Revisão Recursal conforme disposto no art. 179, XXIX: “Os empregados públicos
Como instrumento de controle administrativo, a revisão são estritamente responsáveis pelos abusos e omissões praticados
recursal significa a possibilidade de eventuais interessados se no exercício de suas funções e por não fazerem efetivamente
insurgirem formalmente contra certos atos da Administração, responsáveis aos seus subalternos”.
lesivos ou não a direito próprio, mas sempre alvitrando a reforma Ressalta-se, que nesse período, mesmo não existindo previsão
de determinada conduta. constitucional a respeito da responsabilidade do Estado, a doutrina
e a jurisprudência compreendiam que existia solidariedade do
Estado em alusão aos atos de seus agentes.

136
NOÇÕES DE DIREITO

No art. 82 da Constituição Federal de 1891, no seu art. 82, material como o dano moral. Entretanto, a jurisprudência achou
carregou e trouxe em seu bojo, dispositivo semelhante ao da por bem ampliar as espécies de danos indenizáveis, passando a
Constituição de 1824. determinar que o dano estético se constituiria em uma espécie de
Em âmbito civilista, o Código Civil de 1916, em seu art. 15, dano autônomo no qual a indenização poderia ser expressamente
dispôs: “As pessoas jurídicas de Direito Público são civilmente cumulada com a reparação pelos danos materiais e morais.
responsáveis por atos de seus representantes que nessa qualidade Ressalta-se que a responsabilidade objetiva do Estado deve
causem danos a terceiros, procedendo de modo contrário ao direito seguir a teoria do risco administrativo, conforme previsto na
ou faltando a dever prescrito em lei, salvo o direito regressivo contra CF/1988 e a teoria do risco integral jamais recebeu acolhimento
os causadores do dano”. Para a doutrina, o entendimento é de que como norma ou regra em nenhuma das constituições brasileiras.
o referido dispositivo legal consagrava a responsabilidade subjetiva No entanto, no ordenamento jurídico brasileiro algumas
do Estado tanto no sentido de culpa civil, quanto por ausência de hipóteses em que se aplica a teoria do risco integral foram
serviço. inseridas. A título de exemplo disso, temos os casos de danos
Referente à Constituição de 1934, depreende-se que esta causados por acidentes nucleares (CF, art. 21, XXIII, “d”, disciplinado
manteve a responsabilidade civil subjetiva do Estado, determinando pela Lei 6.453/1977), e, ainda, de danos decorrentes de atentados
no art. 171, o seguinte: “Os funcionários públicos são responsáveis terroristas ou atos de guerra contra aeronaves de empresas aéreas
solidariamente com a Fazenda Nacional, Estadual ou Municipal, por brasileiras (Leis 10.309/2001 e 10.744/2003).
quaisquer prejuízos decorrentes de negligência, omissão ou abuso Finalmente, após inúmeras delongas ao longo da história,
no exercício dos seus cargos”. chega-se ao Código Civil de 2002 que, em seu art. 43, reitera
A Carta Magna de 1937, por sua vez, reiterou no art. 158 o a mesma orientação inserida na Constituição Federal de 1988,
mesmo dispositivo da Constituição de 1934. suprimindo, no entanto, a alusão à responsabilidade das pessoas
No condizente à Constituição de 1946, aduz-se que esta jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público.
representou uma importante e grande inovação no assunto ao Entretanto, ressalta-se que a omissão, nesse caso, não impede a
introduzir, por sua vez, a teoria da responsabilidade objetiva do responsabilização objetiva dessas pessoas jurídicas, posto que está
Estado, conforme ditado no dispositivo a seguir: prevista no texto constitucional.
Art. 194. As pessoas jurídicas de Direito Público Interno são
civilmente responsáveis pelos danos que os seus funcionários, nessa Ante o exposto, aduz-se que as conclusões a respeito da
qualidade, causem a terceiros. matéria podem ser resumidas da seguinte maneira:
Parágrafo único. Caber-lhes-á ação regressiva contra os – A teoria da irresponsabilidade civil do Estado nunca foi aceita
funcionários causadores do dano, quando tiver havido culpa destes. no direito brasileiro.
A Constituição de 1967, acoplada à Emenda 1, de 1969, foi – A evolução legislativa mostra que o ordenamento jurídico
audaz e manteve a responsabilidade objetiva do Estado, fazendo o pátrio previu de início a responsabilidade civil do Estado com base
acréscimo referente de que a ação regressiva contra o funcionário na culpa civil, vindo a evoluir para a responsabilidade pela ausência
ocorreria também nos casos de dolo, e não somente nos casos de de trabalho até chegar à responsabilidade objetiva.
culpa, como era disposto na Constituição de 1946. – A responsabilidade objetiva do Estado foi inserida no
Em âmbito contemporâneo, a Constituição Federal de 1988, no ordenamento jurídico brasileiro a partir da Constituição Federal de
art. 37, § 6º, determina: “As pessoas jurídicas de Direito Público e 1946.
as de Direito Privado prestadoras de serviços públicos responderão – A Constituição Federal de 1988, veio a ampliar a
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a responsabilidade objetiva do Estado, vindo a responsabilizar
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos objetivamente as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras
casos de dolo ou culpa”. de serviço público.
O referido dispositivo constitucional em alusão, trouxe – A Constituição Federal de 1988 consagrou a responsabilidade
informação inovadora ao ampliar a responsabilidade civil objetiva por danos morais ou extrapatrimoniais.
do Estado, que por sua vez, passou também a alcançar as pessoas – A responsabilidade objetiva do Estado adotada pela Carta
jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos, como Magna de 1988, segue a teoria do risco administrativo, sendo que a
por exemplo: as fundações governamentais de direito privado, teoria do risco integral foi acolhida apenas em situações e hipóteses
as empresas públicas, sociedades de economia mista, e, ainda excepcionais.
qualquer pessoa jurídica de direito privado, desde que estejam – Divergindo da Constituição Federal de 1988, pelo fato de
devidamente paramentadas sob delegação do Poder Público e a não haver feito referência à responsabilidade objetiva das pessoas
qualquer título para a prestação de serviços públicos. jurídicas que prestam serviços ao poder público, o Código Civil de
Esclarece-se, nesse sentido, que a regra da responsabilidade 2002, prevê também a responsabilidade objetiva do Estado.
civil objetiva não pode ser aplicada aos atos das empresas públicas
e das sociedades de economia mista exploradoras de atividade Responsabilidade por ato comissivo do Estado
econômica, tendo em vista que o art. 173, § 1º, da CF/1988, De antemão, convém respaldar que responsabilidade civil
determina de forma expressa que elas sejam regidas pelas mesmas do Estado é passível de advir de atos comissivos ou omissivos
normas aplicáveis às empresas privadas. Por consequência, tais praticados por seus agentes.
entidades estão sujeitas à responsabilidade subjetiva, sendo Em consonância com o estudo em questão, aduz-se que atos
controladas pelas normas comuns pertinentes ao Direito Civil. comissivos são aqueles por meio dos quais o agente público atua
Aduz-se que a aglutinação do art. 37, § 6º, com o art. 5º, X, de forma positiva causando danos a um terceiro. Exemplo: um
ambos da CF/1988, leva à conclusão de que a responsabilização condutor de veículo automotor e servidor do Estado, embriagado
e sob o efeito de drogas, dirigindo a serviço, atropela um pedestre.
estatal tem ampla abrangência tanto no condizente ao dano

137
NOÇÕES DE DIREITO

Cumpre ressaltar que a teoria adotada em relação à situação na qual um banhista está se afogando, permanece inerte,
responsabilidade civil do Estado por prática de conduta omissa, não permitindo que o banhista venha a falecer sem ser socorrido. Nesta
é a mesma a ser aplicada à responsabilização por atos comissivos. situação, o Estado explicitamente será responsabilizado pelo ato de
Infere-se que o artigo 37, § 6º da Constituição Federal de 1988 é omissão do agente público, tendo em vista que este tinha o dever
de aplicação restrita em relação aos atos comissivos, sendo, assim, legal de agir, ao menos tentando salvar a vida do banhista e não o
incorreta a sua invocação nos casos específicos de responsabilidade fez. Em outro ângulo, aproveitando o mesmo exemplo, se, ao invés
por omissão estatal. do guarda salva-vidas, a mencionada omissão fosse praticada por
Para melhor entendimento do raciocínio, o artigo 37, § 6º, da um Analista Judiciário do Tribunal de Justiça de algum Estado da
Constituição Federal, em relação à responsabilidade civil do Estado, Federação, o Estado não poderia ser responsabilizado, tendo em
dispõe: vista que ao Analista, não era incumbido o dever legal de tentar
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado salvar o banhista.
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus Não obstante, afirma-se que é inaplicável o uso do artigo 37,
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o § 6º da Constituição Federal de 1988, bem como da teoria do risco
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. administrativo às lides de responsabilidade civil por omissão do
O mencionado dispositivo, sob plena concordância unânime Estado.
da doutrina e jurisprudência, consagra de forma expressa a Registre-se ainda, que a responsabilidade civil por omissão
responsabilidade civil objetiva do Estado. No entendimento desse estatal é subjetiva. Isso ocorre, também, devido à inaplicabilidade
parâmetro Constitucional, a vítima se encontra de forma ampla, do artigo 37, § 6º da Constituição Federal, que é a instituidora
dispensada do ônus da prova da culpa da Administração, tendo da responsabilidade objetiva aos casos de omissão estatal, o que
a incumbindo-lhe somente comprovar o nexo causal entre o ato enseja ao entendimento de que a responsabilização do mesmo
desta e o prejuízo sofrido. apenas poderá ser invocada se sua ausência de ação houver sido
Contudo, ressalta-se que o dispositivo se reporta apenas aos culposa.
danos causados pelos agentes das pessoas jurídicas de direito Em outras palavras, aduz-se que a responsabilidade civil
público ou, ainda, das pessoas jurídicas de direito privado que do estatal por conduta omissa é subjetiva. Ressalte-se que tal
prestam serviço público, não tendo qualquer espécie de alcance às
posicionamento já foi referendado por muitos de nossos mais
situações nas quais o dano tenha decorrido de ato de terceiro ou de
renomados e importantes administrativistas. Ótimos exemplos
fatos advindos de caso fortuito ou força maior.
disso, são Hely Lopes Meirelles e Celso Antônio Bandeira de Mello,
Assim sendo, afirma-se que o artigo 37, § 6º, Constituição
sendo desse último, o esclarecedor ensinamento de que a partir
Federal de 1988, não enseja ao alcance das hipóteses de omissão
do momento em que o dano foi constatado em decorrência de
estatal, posto que, nestas situações, o dano não decorre,
uma omissão do Estado, sendo pelo serviço que não funcionou, ou,
exatamente da ação de um agente do Estado, mas sim da atitude de
funcionou de forma ineficientemente ou tardia, aduz-se que caberá
um terceiro, denotando que a omissão do Estado apenas contribui
para o resultado. a aplicabilidade da teoria da responsabilidade subjetiva. Entretanto,
Adverte-se que a conduta omissa do Estado não é o que causa se o Estado não agiu, não será, por conseguinte, ser ele o autor do
diretamente o dano, uma vez que este é proveniente de ato de dano. E, não sendo ele o autor, só será responsabilizado se caso
terceiro, razão pela qual pode-se afirmar que o dano à vítima não estivesse obrigado a impedir o dano.
foi consequência de forma direta da conduta omissa do agente Em alusão ao retro ensinamento, afirma-se que a teoria
do Estado, o que faz inaplicável o artigo 37, § 6º, da CFB/88 às aplicada não poderia ser a objetiva, isso porque tal teoria admite
hipóteses de omissão do Estado, restando incabível a teoria da a cobrança de responsabilização até mesmo quando o dano é
responsabilidade objetiva com base no risco administrativo. advindo de atuação lícita do Estado.
Nos casos relacionados à omissão estatal, o Estado não é
Responsabilidade por omissão do Estado o verdadeiro autor do dano, uma vez este o advém de atividade
Atos omissivos são aqueles por meio dos quais o agente de terceiro. Assim sendo, sua responsabilidade somente poderá
público deixa de agir e sua omissão, ainda que não venha a causar ser invocada caso esteja obrigado a agir com o fulcro de impedir
diretamente o dano, possibilita sua ocorrência. que o dano ocorra, isso, em havendo ilegalidade na sua omissão.
Quando o Estado é omisso no seu dever de agir de acordo com Resta registrar também, inclusive, que a responsabilidade estatal
os parâmetros legais, terá o dever de reparar o prejuízo causado. não poderá ser invocada quando existir a impossibilidade real de
No entanto, a responsabilidade será aplicada na forma subjetiva, impedimento do dano mediante atuação aplicadora do Estado.
posto que deverá ser demonstrada a culpa do Estado, ou seja, a Por fim, devido ao fato de a responsabilização estatal ocorrer
omissão estatal. apenas quando sua omissão for caracterizada por uma atitude ilícita,
Prevalece entre os doutrinadores, apesar de não haver a Administração não será responsabilizada se houver utilizado e
pacificidade doutrinária e nem tampouco nos tribunais, o esgotado suas possibilidades e formas de amparo no limite máximo
entendimento de que a redação do art. 37, § 6º, da CFB/88, só e, mesmo desta forma, não tiver conseguido impedir o dano, posto
consagra a responsabilidade objetiva nos atos comissivos. que a Administração Pública somente poderá ser responsabilizada
Destaque-se que não é qualquer ato omissivo praticado por por danos que estava obrigada a impedir.
agente público que intitula a responsabilidade civil do Estado. A
responsabilização estatal em função de omissivos, ocorre somente Requisitos para a demonstração da responsabilidade do
quando o agente público omisso possui o dever legal de praticar estado
um determinado ato, e deixa de fazê-lo. Exemplo: em situação Os requisitos que compõem a estrutura e demarcam o
hipotética, um agente salva-vidas que ao se deparar diante de perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público, são: a
alteridade do dano; a causalidade material entre o eventus damni

138
NOÇÕES DE DIREITO

e o comportamento positivo por ação, ou negativo por omissão do Em relação às circunstâncias excludentes da responsabilidade
agente público; a oficialidade da atividade causal e lesiva, imputável do Estado, a doutrina e a jurisprudência consideram as seguintes:
a agente público que tenha, nessa condição de servidor, incidido culpa ou dolo exclusivo da vítima ou de terceiros, caso fortuito e
em conduta comissiva ou omissiva, isso, independentemente da força maior.
licitude, ou não, do comportamento funcional e a inexistência de Vejamos:
causa excludente da responsabilidade do Estado.
Em suma, os requisitos para a demonstração da – Culpa ou dolo exclusivo da vítima ou de terceiros
responsabilidade do Estado são necessariamente a conduta a ser É excludente da responsabilidade do Estado, uma vez que
praticada pelo agente que poderá ser lícita ou ilícita. Veja-se por afasta o nexo causal entre a conduta do agente público e o dano
exemplo, no caso de odontologista que realiza cirurgia pertinente à existente. A esse respeito, é de suma importância ressaltarmos que
sua área de atuação em hospital público e venha a cometer algum não é cabível a invocação de culpa ou de dolo exclusiva da vítima
erro, caracterizado como ato ilícito, ou em campanha de aplicação na hipótese de suicídio de detento. Isso ocorre pelo fato do preso
de flúor contra cáries, quando a substância vem a causar situação se encontrar sob a custódia do Estado que tem o dever de manter-
adversa irreversível caracterizada como ato lícito, são atos que lhe a integridade física e moral, buscando sua total proteção,
acabam por gerar danos passíveis de reparação, na forma objetiva. inclusive do suicídio. Nesse sentido, o STF entende que o suicídio
Para que a responsabilidade objetiva estatal seja configurada, de detento é motivo de omissão ilegítima, que por sua vez, gera
deve haver um dano, tendo em vista que indenizar é “suprimir o responsabilidade civil objetiva do Estado, que passará a ter o dever
dano” por meio do adimplemento de uma contraprestação de de indenizar por meio de danos morais os familiares do falecido.
natureza pecuniária. Isso pode ser tanto dano de efeito moral Em algumas situações ocorrem no mundo dos fatos eventos
como a violação à dignidade e à honra, por exemplo, quanto dano imprevisíveis, extraordinários e de força irresistível, externos à
material que cause prejuízo financeiro a outrem. administração pública e que causam danos aos administrados.
Assegura-se ainda, que quando houver mera possibilidade de Tendo em vista a inexistência de qualquer nexo de causalidade
dano, esta não será passível de indenização. Exemplo: a construção entre a atuação administrativa e o prejuízo sofrido pelo terceiro,
de um presídio perto de pré-escola. Isso é fato que pode vir a causar ter-se-á por excluída a responsabilidade civil do Estado, não lhe
danos irreparáveis tanto aos alunos, como às suas famílias. Pondera- sendo imputado qualquer dever de indenizar.
se também que deve haver o nexo causal, que se trata da necessária
e importante relação de causa e efeito entre a conduta praticada – Caso fortuito e força maior
pelo agente e o dano causado. Não existindo o nexo causal, ou for Boa parte dos doutrinadores denominam consideram esta
disseminado por algum fator, estará afastada a responsabilidade do excludente como sendo os eventos naturais, a exemplo das
Estado. tempestades, dos furacões, dos raios, dentre outros, vindo a
No contexto acima, compreende-se que é insuficiente a reservar a expressão “caso fortuito” para os acontecimentos
demonstração somente do dano e da conduta do Estado. É humanos, como os arrastões, as guerras, as greves, etc., ao passo
necessário e devido também que se prove o nexo causal. que outros possuem conceitos opostos, designando a “força maior”
– Observação importante: O STF tem entendido que, havendo para os eventos que podem ser imputados aos homens e o “caso
fuga de preso na qual o detento se encontre há muito tempo fortuito” para os eventos naturais.
foragido e venha a cometer algum crime, com a geração de dano a Pondera-se que o Supremo Tribunal Federal e o Superior
particular, não existe a responsabilidade do Estado, pelo fato de não Tribunal de Justiça tem atribuído aos eventos extraordinários,
haver mais nexo causal, interrompido pelo prolongado período de imprevisíveis e de força irresistível, ocorridos de forma externa à
fuga. Entende o STF que o longo período do tempo entre a fuga administração pública com causídico de danos aos administrados,
e o crime faz com que o nexo causal deixe de existir, não sendo a especificidade de excludentes do nexo causal ocorridas entre a
mais possível imputar ao Estado o dano causado. O tempo que o atuação administrativa e o evento danoso, de modo a impedir a
STF entende como longo, pondera-se que não existe uma tabela de responsabilização estatal pelos prejuízos causados.
prazos que regule tal entendimento. O que a Suprema Corte faz é a Desta maneira, nos julgados de ambos os Tribunais, não existe
análise de casos concretos e específicos. a preocupação em diferenciar caso fortuito de força maior, mas
somente a tentativa de averiguar a presença deles em cada caso
Causas Excludentes e Atenuantes da Responsabilidade do específico do objeto de exame.
Estado Nesse entendimento, o STJ já validou que “somente se afasta
Dentro do instituto da responsabilidade civil do Estado existem a responsabilidade se o evento danoso resultar de caso fortuito ou
algumas causas que excluem ou atenuam a sua obrigação de acatar força maior, ou decorrer de culpa da vítima” (REsp 721.439/RJ),
ou não com tais prerrogativas. Pondera-se que a única circunstância enquanto o STF asseverou que “o princípio da responsabilidade
que explicitamente atenua ou diminui a responsabilidade civil objetiva não se reveste de caráter absoluto, eis que admite o
estatal é a existência de culpa concorrente da vítima, comprovando abrandamento e, até mesmo, a exclusão da própria responsabilidade
assim a inexistência de culpa exclusiva do Estado. Desta forma, na civil do Estado, nas hipóteses excepcionais configuradoras de
situação hipotética de colisão entre veículo que pertence a ente situações liberatórias – como o caso fortuito e a força maior – ou
público e a um particular, na qual tenha ocorrido imprudência de evidenciadoras de ocorrência de culpa atribuível à própria vítima”
ambos os condutores, o Estado não responde pela integralidade do (RE109.615/RJ).
dano, o que faz por força de lei, com que os prejuízos deverão ser
rateados na proporção da culpa de cada responsável pelo ato.

139
NOÇÕES DE DIREITO

Esquematizando, temos: sentença que condena o Estado na ação indenizatória, posto que o
interesse jurídico para propor a ação regressiva depende em grande
Culpa ou dolo exclusivo parte do efetivo desfalque nos cofres públicos. Denota-se que
Caso fortuito e força maior caso ocorra a propositura da ação regressiva antes do pagamento,
da vítima ou de terceiros
poderia denotar e ensejar o enriquecimento sem causa do Estado.
O STF e o STJ tem atribuído Pondera-se que em fase inicial, a cobrança regressiva em face
aos eventos extraordinários, do agente público deve ocorrer na esfera administrativa. Em se
imprevisíveis e de força tratando de caso de acordo administrativo, o agente deverá, nos
irresistível, ocorridos de forma trâmites legais, providenciar o ressarcimento aos cofres públicos.
É excludente da
externa à administração pública Restando ausente o acordo, o Poder Público terá o dever de propor
responsabilidade do Estado,
com causídico de danos aos a ação regressiva contra o agente público culpado.
uma vez que afastam o
administrados, a especificidade Apesar de grande parte da doutrina e jurisprudência
nexo causal entre a conduta
de excludentes do nexo causal compreender que a ação de ressarcimento proposta pelo Poder
do agente público e o dano
ocorridas entre a atuação Público em face de seus agentes é definitivamente imprescritível,
existente
administrativa e o evento à vista do disposto na parte final do § 5.° do art. 37 da Constituição
danoso, de modo a impedir a Federal, o Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral,
responsabilização estatal pelos acabou por decidir que é prescritível nos trâmites do art. 206, §
prejuízos causados. 3.°, V, do Código Civil, no prazo de três anos, a ação de reparação
de danos à Fazenda Pública advinda de ilícito civil e de origem de
Infere-se que o Código Civil brasileiro, no parágrafo único do art. acidente de trânsito, o que não alcança à primeira vista, os ilícitos
393, determina que “O caso fortuito ou de força maior verifica-se relacionados às infrações ao direito público, como por exemplo, os
no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.” de natureza penal e os atos de improbidade.
Percebe-se que, à semelhança das decisões do STF e do STJ, a
referência é a “caso fortuito ou de força maior”, com as expressões Direito de regresso
objeto de tanta discussão acadêmica citadas em conjunto, separadas O parágrafo 6º do art. 37 da Constituição Federal Brasileira
apenas pela partícula “ou”, como que querendo demonstrar que, se prenuncia a responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas
as consequências são semelhantes, estando regidas pelo mesmo de direito público e das pessoas jurídicas de direito privado
regime jurídico, não há relevância na tentativa de diferenciação. prestadoras de serviços públicos pelos danos que seus agentes,
nessa qualidade, causarem a terceiros. Assegura ainda ao Estado ou
Reparação do dano a seus prestadores de serviços públicos, o direito de regresso contra
Em sentido geral, a reparação do dano pode ser viabilizada na o agente responsável, nos casos em que este aja com dolo ou culpa.
esfera administrativa por meio de acordo administrativo, ou na via Levando em conta os princípios constitucionais da ampla defesa
judicial. e do contraditório, o direito de regresso deve ser desempenhado
O agente estatal, na qualidade de agente público, em se e exercido sob o manuseio de ação própria e regressiva, não
tratando de caso de dolo ou culpa, pode causar danos ao Estado admitindo ao Estado efetuar de forma direta o desconto nos
ou a terceiros. subsídios do servidor, sem o consentimento deste.
Na primeira situação, a responsabilidade deverá ser apurada Existe ainda, a possível hipótese de o servidor reconhecer a
por intermédio de processo administrativo, garantidos a ampla sua responsabilidade vindo a optar por recolher espontaneamente
defesa e o contraditório. Comprovada a responsabilidade subjetiva a quantia devida aos cofres públicos e até mesmo autorizar que
do agente, o adimplemento poderá ser feito de forma espontânea o valor venha a ser descontado de seus vencimentos, desde que
ou, caso contrário, por medida judicial. respeitados os percentuais máximos previstos em lei para essa
No entanto, ressalte-se, que é ilegal usar com imposição o espécie de desconto.
desconto em folha de pagamento dos agentes públicos de valores Sobre o assunto, é importante destacar alguns pontos:
referentes ao ressarcimento ao erário, exceto se houver autorização A) A ação de responsabilização do agente público deduz que o
prévia do agente ou procedimento administrativo com a aplicação Poder Público tenha indenizado o particular, tanto em virtude de
da ampla defesa e do contraditório. acordo com o reconhecimento da responsabilidade civil estatal,
Na segunda situação, o terceiro, como vítima do dano, poderá como em decorrência de condenação em ação ajuizada pelo lesado.
ajuizar ação em face do Estado, aplicando a responsabilidade B) Em ação regressiva, a responsabilidade do agente público é
objetiva, ou do próprio agente público, se valendo nesse caso de natureza subjetiva, às expensas da comprovação de que ele agiu
da responsabilidade subjetiva, exceto nos casos em que houver com culpa ou dolo. Desta forma, é possível que o Estado venha a
a adoção da teoria da dupla garantia, por meio da qual, a única indenizar o particular e não reconheça o direito de ser ressarcido
medida cabível seria o direcionamento da pugnação de reparação pelo servidor responsável. Para isso, basta que não seja comprovado
em face do Estado. dolo ou culpa advinda desse agente público.
De qualquer maneira, o Estado, ao indenizar a vítima, deterá o C) A parte final do § 5º do art. 37 da CFB/88, pode levar ao
dever de cobrar, de forma regressiva, o valor desembolsado perante entendimento precípuo de que quaisquer e todos as espécies
o agente público que causou o dano efetivo e que agiu com dolo ou de ações de ressarcimento movidas pelo Poder Público são
culpa. imprescritíveis. Entretanto, o STF, no julgamento do RE 669.069/
Entende-se que o direito de regresso do Estado em face do MG, decidiu, com repercussão geral, que “é prescritível a ação de
agente público nasce com o pagamento da indenização à vítima. reparação de danos à fazenda pública decorrentes de ilícito civil.
Assim sendo, não basta o que ocorra o trânsito em julgado da

140
NOÇÕES DE DIREITO

D) É transmitida aos herdeiros a qualquer tempo, a obrigação Trata-se o referido artigo, de norma constitucional com eficácia
de ressarcir o Estado, respeitada, sem dúvidas, a possibilidade de limitada, que requer regulamentação para que produza efeitos
prescrição na hipótese de danos decorrentes de ilícito civil, tendo jurídicos.
como limite o valor do patrimônio transferido (art. 5º, XLV, da Assim sendo, a Lei nº 8.429/1992, Lei da Improbidade
CF/1988). Entretanto, ocorrendo a prescrição da ação regressiva, Administrativa - LIA, que passou por alterações através da Lei nº
beneficiará também aos herdeiros, que não poderão mais ser 14.230/2021, se trata de normativo legal de observância obrigatória
demandados pelos danos advindos pelo falecido. por parte da administração direta e indireta de todos os entes
E) O servidor responde pelos seus atos, inclusive após a federativos, por meio do qual, o legislador infraconstitucional veio a
extinção de seu vínculo com a Administração Pública, desde a estabelecer as regras e procedimentos a serem observados quando
ação regressiva não esteja prescrita. Desta forma, o agente que foi ocorrer a prática de atos de improbidade.
exonerado ou demitido, pode, nos trâmites legais, ser obrigado a
ressarcir os prejuízos causados ao ente público. Sujeitos da Ação de Improbidade – sujeitos ativos, sujeitos
passivos
Nota – Sobre Súmulas Vinculantes Sujeitos ativos da ação de improbidade administrativa são
Súmula 187, STF: A responsabilidade contratual do aqueles que estão sujeitos à prática de atos de improbidade no
transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por âmbito da Administração Pública, vindo a figurar no polo passivo
culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva. da correspondente ação. Já os sujeitos passivos, são as pessoas
Súmula 188, STF: O segurador tem ação regressiva contra jurídicas vítimas dos atos de improbidade que figuram no polo ativo
o causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite da ação.
previsto no contrato de seguro. Assim, temos:

– Lei da improbidade administrativa • Praticam atos de improbidade; e


SUJEITOS ATIVOS • Figuram no polo passivo da
Conceito ação.
Preliminarmente, para melhor entendimento acerca das
disposições relativas à lei da improbidade administrativa, é • Sofrem as consequências dos
necessário adentrar à origem da prática dos atos ímprobos SUJEITOS PASSIVOS atos de improbidade administrativa; e
concernentes ao tema. • Figuram no polo da ação.
No condizente ao princípio da moralidade, relembremo-nos
que este comporta em seu bojo, os seguintes subprincípios: — Sujeitos Ativos
a) Boa-fé; O artigo 2º da Lei n. 8.429/1992, com redação dada pela Lei nº
b) Probidade; e 14.230/2021, apresenta a relação de pessoas vinculadas ao Poder
c) Decoro. Público que são passíveis de se tornarem sujeitos ativos na ação de
improbidade.
A moralidade é um princípio estabelecido pela Constituição Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público
federal de 1.988, de forma que deverá ser cumprido pelos órgãos e o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda
entidades de todos os entes federativos. que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
Desse modo, havendo desrespeito à moralidade ou aos seus designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura
subprincípios, de consequência, deverá o ato administrativo ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades
ímprobo ser anulado. referidas no art. 1º desta Lei.
Assim, podemos conceituar a improbidade administrativa Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública,
como um designativo técnico que aduz corrupção administrativa sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física
contrário à boa-fé, à honestidade, à correção de atitude e contra ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio,
a honradez. contrato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo
Nem sempre o ato de improbidade será um ato administrativo, de cooperação ou ajuste administrativo equivalente.
podendo ser configurado como qualquer tipo de conduta comissiva
ou omissiva praticada no exercício da função ou, ainda, fora dela. Cuida-se de um conceito amplo de agente público, de maneira
Nesse diapasão, auferindo um pouco mais de segurança ao que mesmo os que exerçam atribuições em caráter transitório ou
respeito do subprincípio da probidade, a Carta Magna paramentou, mesmo sem remuneração, como os estagiários voluntários, por
em seu artigo 37, § 4º, as consequências a seguir, elencadas, para exemplo, são considerados, para efeitos legais, como possíveis
configurar a prática dos atos de improbidade: sujeitos ativos.
Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer Desse modo, entende-se que duas são as classes de pessoas
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos passíveis de figurar como sujeito ativo dos atos de improbidade
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, administrativa, sendo elas: as que mantenham algum vínculo com
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: o Poder Público, mesmo que transitório ou sem remuneração, bem
[...] como os particulares que induzam ou concorram para a prática de
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão improbidade
a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a Para que o agente público atue na condição de sujeito ativo,
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e deverá ter agido com dolo.
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

141
NOÇÕES DE DIREITO

No condizente ao particular que tenha induzido ou concorrido Além disso, é importante destacar que:
para a improbidade figurar como sujeito ativo, é preciso que ele – A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efeitos
tenha agido com dolo. relativamente a todos os que concorreram para a prática do ato de
No condizente aos atos de improbidade administrativa, improbidade. (Art. 23, §6º, LIA).
ressalta-se que todos os agentes administrativos se encontram – Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do
subordinados às disposições da Lei nº 8.429/1992. Além disso, mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a qualquer
destaca-se o seguinte: deles estendem-se aos demais. (Art. 23, §7º, LIA)
– Em consonância com o entendimento do STF, os agentes – O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público,
políticos estão sujeitos à dupla responsabilização no crime de deverá, de ofício ou a requerimento da parte interessada,
responsabilidade e nos atos de improbidade administrativa. reconhecer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora
– O Presidente da República, em exceção, não está sujeito e decretá-la de imediato, caso, entre os marcos interruptivos
à dupla responsabilização, mas responde ao regulamento referidos no § 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo.
estabelecido na Constituição Federal de 1.988. (Art. 23, §8º, LIA).
Por fim, vejamos importantes dispositivos que merecem
Ressalta-se que o Ministério Público, mesmo não sendo uma destaque em relação à prescrição na LIA
das entidades relacionadas pela Lei n. 8.429/1992, é passível de :
figurar como polo ativo da lide da mesma forma que as demais Art. 23-A. É dever do poder público oferecer contínua
pessoas jurídicas. capacitação aos agentes públicos e políticos que atuem com
prevenção ou repressão de atos de improbidade administrativa.
— Sujeitos Passivos Art. 23-B. Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não
Os sujeitos passivos são as pessoas jurídicas lesadas pela haverá adiantamento de custas, de preparo, de emolumentos, de
prática de improbidade administrativa, vindo a figurar no polo ativo honorários periciais e de quaisquer outras despesas.
da lide. São exemplos de sujeitos passivos: § 1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais
a) A Administração direta e indireta de todos os Poderes; despesas processuais serão pagas ao final.
b) As entidades privadas recebedoras de incentivos, benefícios § 2º Haverá condenação em honorários sucumbenciais em
e subvenções do poder público; caso de improcedência da ação de improbidade se comprovada
c) As entidades privadas para as quais houve concorrência do má-fé.
erário na criação ou custeio de modo geral. Art. 23-C. Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação
PRESCRIÇÃO NA LIA de recursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações,
– Para a aplicação das sanções previstas na LIA, prescreve serão responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096/1995
em 8 anos, contados a partir da ocorrência do fato ou, no caso de
infrações permanentes, do dia em que cessou a permanência; LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992
– Para instauração de inquérito civil ou de processo
administrativo para apuração dos ilícitos, suspende o curso do prazo Dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de
prescricional por, no máximo, 180 dias corridos, recomeçando a atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37
correr após a sua conclusão ou, caso não concluído o processo, da Constituição Federal; e dá outras providências. (Redação dada
esgotado o prazo de suspensão; pela Lei nº 14.230, de 2021)
– O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será
concluído no prazo de 365 dias corridos, prorrogável uma única vez CAPÍTULO I
por igual período. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Vale ressaltar que o prazo da prescrição de 8 (oito) anos, Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade
contados a partir da ocorrência do fato pelo ajuizamento da ação administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no
de improbidade administrativa, interrompe-se nos seguintes casos: exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade
a) Pela publicação da sentença condenatória; do patrimônio público e social, nos termos desta Lei. (Redação dada
b) Pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça pela Lei nº 14.230, de 2021)
ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença condenatória Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
ou que reforma sentença de improcedência; de 2021)
c) Pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal
§1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as con-
de Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma
dutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados
acórdão de improcedência; e
tipos previstos em leis especiais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
d) Pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal
2021)
Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma
§2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcan-
acórdão de improcedência.
çar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não
bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de 2021)

142
NOÇÕES DE DIREITO

§3º O mero exercício da função ou desempenho de competên- Art. 6° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
cias públicas, sem comprovação de ato doloso com fim ilícito, afasta Art. 7º Se houver indícios de ato de improbidade, a autoridade
a responsabilidade por ato de improbidade administrativa. (Incluí- que conhecer dos fatos representará ao Ministério Público compe-
do pela Lei nº 14.230, de 2021) tente, para as providências necessárias. (Redação dada pela Lei nº
§4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado nesta 14.230, de 2021)
Lei os princípios constitucionais do direito administrativo sanciona- Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
dor. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
§5º Os atos de improbidade violam a probidade na organização Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano ao
do Estado e no exercício de suas funções e a integridade do patri- erário ou que se enriquecer ilicitamente estão sujeitos apenas à
mônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo e Judici- obrigação de repará-lo até o limite do valor da herança ou do pa-
ário, bem como da administração direta e indireta, no âmbito da trimônio transferido. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. (Incluído Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º
pela Lei nº 14.230, de 2021) desta Lei aplica-se também na hipótese de alteração contratual, de
§6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbida- transformação, de incorporação, de fusão ou de cisão societária.
de praticados contra o patrimônio de entidade privada que receba (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes pú- Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a
blicos ou governamentais, previstos no §5º deste artigo. (Incluído responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de repara-
pela Lei nº 14.230, de 2021) ção integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferi-
§7º Independentemente de integrar a administração indireta, do, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas nesta Lei
estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade pratica- decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data da fusão
dos contra o patrimônio de entidade privada para cuja criação ou ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou de evidente
custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou intuito de fraude, devidamente comprovados. (Incluído pela Lei nº
receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso, à 14.230, de 2021)
repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. (In-
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) CAPÍTULO II
§8º Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ain-
da que não pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente SEÇÃO I
prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE
do Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI IMPORTAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
7236)
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importan-
o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda do em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato do-
que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, loso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de ati-
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades referi- vidade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:
das no art. 1º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública, I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou
sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indire-
ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, con- ta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de
trato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido
cooperação ou ajuste administrativo equivalente. (Incluído pela Lei ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do
nº 14.230, de 2021) agente público;
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa-
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra cilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou
dolosamente para a prática do ato de improbidade. (Redação dada a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por
pela Lei nº 14.230, de 2021) preço superior ao valor de mercado;
§1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa-
pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de im- cilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o forne-
probidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, cimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de
comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso mercado;
em que responderão nos limites da sua participação. (Incluído pela IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel,
Lei nº 14.230, de 2021) de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas
§2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica, no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empre-
caso o ato de improbidade administrativa seja também sanciona- gados ou de terceiros contratados por essas entidades; (Redação
do como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
12.846, de 1º de agosto de 2013. (Incluído pela Lei nº 14.230, de V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
2021) ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar,
Art. 4° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual-
Art. 5° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;

143
NOÇÕES DE DIREITO

VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técni- ou serviço por preço superior ao de mercado;
co que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre VI - realizar operação financeira sem observância das normas
quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercado- legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidô-
rias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas no art. nea;
1º desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a obser-
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de manda- vância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à es-
to, de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles, pécie;
bens de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo
deste artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimô- seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucra-
nio ou à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo tivos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimo-
agente da licitude da origem dessa evolução; (Redação dada pela nial efetiva; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Lei nº 14.230, de 2021) IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autoriza-
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de con- das em lei ou regulamento;
sultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que te- X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda,
nha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio públi-
omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a co; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
atividade; XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a libera- pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irre-
ção ou aplicação de verba pública de qualquer natureza; gular;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enri-
ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declara- queça ilicitamente;
ção a que esteja obrigado; XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veí-
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, culos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza,
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das en- de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencio-
tidades mencionadas no art. 1° desta lei; nadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público,
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por
art. 1° desta lei. objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associa-
da sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído pela Lei
SEÇÃO II nº 11.107, de 2005)
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAUSAM XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem sufi-
PREJUÍZO AO ERÁRIO ciente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formali-
dades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorpo-
lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efe- ração, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens,
tiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades pública a entidades privadas mediante celebração de parcerias,
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: (Redação dada pela sem a observância das formalidades legais ou regulamentares apli-
Lei nº 14.230, de 2021) cáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica
incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos
de bens, de rendas, de verbas ou de valores integrantes do acervo pela administração pública a entidade privada mediante celebração
patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta Lei; (Redação de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regula-
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) mentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica pri- (Vigência)
vada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entida-
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a des privadas sem a observância das formalidades legais ou regula-
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis mentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)
à espécie; (Vigência)
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente desper- XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na fisca-
sonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, ren- lização e na análise das prestações de contas de parcerias firmadas
das, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades pela administração pública com entidades privadas; (Redação dada
mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades pela Lei nº 14.230, de 2021)
legais e regulamentares aplicáveis à espécie; XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de pública com entidades privadas sem a estrita observância das nor-
bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação
no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014, com a redação dada
por preço inferior ao de mercado; pela Lei nº 13.204, de 2015)
XXI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)

144
NOÇÕES DE DIREITO

XXII - conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tribu- cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada
tário contrário ao que dispõem o caput e o §1º do art. 8º-A da Lei na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes
Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei nº da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com-
14.230, de 2021) preendido o ajuste mediante designações recíprocas; (Incluído pela
§1º Nos casos em que a inobservância de formalidades legais Lei nº 14.230, de 2021)
ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recur-
ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento sos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no §1º
sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei. (Incluído do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco
pela Lei nº 14.230, de 2021) enaltecimento do agente público e personalização de atos, de pro-
§2º A mera perda patrimonial decorrente da atividade econô- gramas, de obras, de serviços ou de campanhas dos órgãos públi-
mica não acarretará improbidade administrativa, salvo se compro- cos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
vado ato doloso praticado com essa finalidade. (Incluído pela Lei nº §1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a
14.230, de 2021) Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro
de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplica-
SEÇÃO II-A ção deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do
(Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para
si ou para outra pessoa ou entidade. (Incluído pela Lei nº 14.230,
Art. 10-A. (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
§2º Aplica-se o disposto no §1º deste artigo a quaisquer atos de
SEÇÃO III improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis especiais
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade administrativa
ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO instituídos por lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
PÚBLICA §3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de
que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da prática
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação das
contra os princípios da administração pública a ação ou omissão normas constitucionais, legais ou infralegais violadas. (Incluído pela
dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de Lei nº 14.230, de 2021)
legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas: (Reda- §4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem
ção dada pela Lei nº 14.230, de 2021) lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de sancionamento e independem do reconhecimento da produção
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos.
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando §5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou indi-
beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco cação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sen-
a segurança da sociedade e do Estado; (Redação dada pela Lei nº do necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do
14.230, de 2021) agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua
imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou CAPÍTULO III
de outras hipóteses instituídas em lei; (Redação dada pela Lei nº DAS PENAS
14.230, de 2021)
V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano
de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitató- patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de respon-
rio, com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, sabilidade, civis e administrativas previstas na legislação específica,
ou de terceiros; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamen-
desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar te, de acordo com a gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº
irregularidades; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de tercei- I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens ou valores
ro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública, sus-
econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço. pensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos, pagamento de
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e proibi-
e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pú- ção de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou
blica com entidades privadas. (Vide Medida Provisória nº 2.088-35, incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que
de 2000) (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência) por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,
IX - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos; (Redação dada pela Lei
X - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) nº 14.230, de 2021)
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores
colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autori- acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstân-
dade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido cia, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até 12
em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de (doze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano

145
NOÇÕES DE DIREITO

e proibição de contratar com o poder público ou de receber bene- §9º As sanções previstas neste artigo somente poderão ser
fícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, executadas após o trânsito em julgado da sentença condenatória.
ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio ma- (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
joritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos; (Redação dada §10. Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspen-
pela Lei nº 14.230, de 2021) são dos direitos políticos, computar-se-á retroativamente o inter-
III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de multa civil valo de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da
de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide
pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou de ADI 7236)
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou in-
diretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual CAPÍTULO IV
seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos; DA DECLARAÇÃO DE BENS
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
IV - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicio-
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, nados à apresentação de declaração de imposto de renda e proven-
de 2021) tos de qualquer natureza, que tenha sido apresentada à Secretaria
§1º A sanção de perda da função pública, nas hipóteses dos in- Especial da Receita Federal do Brasil, a fim de ser arquivada no ser-
cisos I e II do caput deste artigo, atinge apenas o vínculo de mesma viço de pessoal competente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de
qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com 2021)
o poder público na época do cometimento da infração, podendo o §1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
magistrado, na hipótese do inciso I do caput deste artigo, e em ca- §2º A declaração de bens a que se refere o caput deste artigo
ráter excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas as será atualizada anualmente e na data em que o agente público dei-
circunstâncias do caso e a gravidade da infração. (Incluído pela Lei xar o exercício do mandato, do cargo, do emprego ou da função.
nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7236) (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§2º A multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz conside- §3º Será apenado com a pena de demissão, sem prejuízo de
rar que, em virtude da situação econômica do réu, o valor calculado outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar a
na forma dos incisos I, II e III do caput deste artigo é ineficaz para declaração dos bens a que se refere o caput deste artigo dentro do
reprovação e prevenção do ato de improbidade. (Incluído pela Lei prazo determinado ou que prestar declaração falsa. (Redação dada
nº 14.230, de 2021) pela Lei nº 14.230, de 2021)
§3º Na responsabilização da pessoa jurídica, deverão ser con- §4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
siderados os efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo
a viabilizar a manutenção de suas atividades. (Incluído pela Lei nº CAPÍTULO V
14.230, de 2021) DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DO PROCESSO
§4º Em caráter excepcional e por motivos relevantes devida- JUDICIAL
mente justificados, a sanção de proibição de contratação com o
poder público pode extrapolar o ente público lesado pelo ato de Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade ad-
improbidade, observados os impactos econômicos e sociais das ministrativa competente para que seja instaurada investigação des-
sanções, de forma a preservar a função social da pessoa jurídica, tinada a apurar a prática de ato de improbidade.
conforme disposto no §3º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, §1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e
de 2021) assinada, conterá a qualificação do representante, as informações
§5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tute- sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha
lados por esta Lei, a sanção limitar-se-á à aplicação de multa, sem conhecimento.
prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores obtidos, §2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em
quando for o caso, nos termos do caput deste artigo. (Incluído pela despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades es-
Lei nº 14.230, de 2021) tabelecidas no §1º deste artigo. A rejeição não impede a represen-
§6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do tação ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta lei.
dano a que se refere esta Lei deverá deduzir o ressarcimento ocorri- §3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade
do nas instâncias criminal, civil e administrativa que tiver por objeto determinará a imediata apuração dos fatos, observada a legislação
os mesmos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) que regula o processo administrativo disciplinar aplicável ao agen-
§7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta te. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Minis-
o princípio constitucional do non bis in idem. (Incluído pela Lei nº tério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de
14.230, de 2021) procedimento administrativo para apurar a prática de ato de im-
§8º A sanção de proibição de contratação com o poder público probidade.
deverá constar do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Sus- Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho
pensas (CEIS) de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, de Contas poderá, a requerimento, designar representante para
observadas as limitações territoriais contidas em decisão judicial, acompanhar o procedimento administrativo.
conforme disposto no §4º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de 2021)

146
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá ser desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a sub-
formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de indis- sistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao
ponibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral recompo- longo do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
sição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de enrique- §12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens
cimento ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) do réu a que se refere o caput deste artigo, observará os efeitos
§1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarre-
§1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere tar prejuízo à prestação de serviços públicos. (Incluído pela Lei nº
o caput deste artigo poderá ser formulado independentemente da 14.230, de 2021)
representação de que trata o art. 7º desta Lei. (Incluído pela Lei nº §13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de
14.230, de 2021) até 40 (quarenta) salários mínimos depositados em caderneta de
§2º Quando for o caso, o pedido de indisponibilidade de bens a poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente.
que se refere o caput deste artigo incluirá a investigação, o exame e (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras man- §14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de fa-
tidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados mília do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de van-
internacionais. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) tagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta Lei.
§3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
caput deste artigo apenas será deferido mediante a demonstração Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta
no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao re- Lei será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento
sultado útil do processo, desde que o juiz se convença da probabili- comum previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código
dade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com funda- de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei. (Redação dada pela Lei
mento nos respectivos elementos de instrução, após a oitiva do réu nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)
em 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) §1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem a §2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório prévio puder com- §3º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
provadamente frustrar a efetividade da medida ou houver outras §4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não podendo a §4º-A A ação a que se refere o caput deste artigo deverá ser
urgência ser presumida. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou da pessoa
§5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores jurídica prejudicada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado §5º A propositura da ação a que se refere o caput deste ar-
na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilí- tigo prevenirá a competência do juízo para todas as ações poste-
cito. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) riormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o
§6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de mesmo objeto. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
dano indicada na petição inicial, permitida a sua substituição por §6º A petição inicial observará o seguinte: (Redação dada pela
caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial, Lei nº 14.230, de 2021)
a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a I - deverá individualizar a conduta do réu e apontar os elemen-
instrução do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) tos probatórios mínimos que demonstrem a ocorrência das hipóte-
§7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da de- ses dos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossi-
monstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apu- bilidade devidamente fundamentada; (Incluído pela Lei nº 14.230,
rados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de de 2021)
incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser pro- II - será instruída com documentos ou justificação que con-
cessado na forma da lei processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de tenham indícios suficientes da veracidade dos fatos e do dolo
2021) imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de
§8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei, no apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação
que for cabível, o regime da tutela provisória de urgência da Lei nº vigente, inclusive as disposições constantes dos arts. 77 e 80 da Lei
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (Incluí- nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (In-
do pela Lei nº 14.230, de 2021) cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§9º Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à in- §6º-A O Ministério Público poderá requerer as tutelas provisó-
disponibilidade de bens caberá agravo de instrumento, nos termos rias adequadas e necessárias, nos termos dos arts. 294 a 310 da Lei
da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil (Inclu-
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ído pela Lei nº 14.230, de 2021), (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)
§10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem ex- §6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos do art. 330 da
clusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem in- Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil),
cidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de bem como quando não preenchidos os requisitos a que se referem
multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade os incisos I e II do §6º deste artigo, ou ainda quando manifestamen-
lícita. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) te inexistente o ato de improbidade imputado. (Incluído pela Lei nº
§11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar ve- 14.230, de 2021)
ículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral, semo-
ventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples
e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência

147
NOÇÕES DE DIREITO

§7º Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de im-
autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem probidade administrativa em ação civil pública, regulada pela Lei nº
no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do 7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
art. 231 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Pro- §17. Da decisão que converter a ação de improbidade em ação
cesso Civil). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) civil pública caberá agravo de instrumento. (Incluído pela Lei nº
§8º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§9º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) §18. Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre
§9º-A Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas os fatos de que trata a ação, e a sua recusa ou o seu silêncio não
pelo réu em sua contestação caberá agravo de instrumento. (Incluí- implicarão confissão. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
do pela Lei nº 14.230, de 2021) §19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa:
§10. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§10-A. Havendo a possibilidade de solução consensual, pode- I - a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em
rão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contes- caso de revelia; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§1º e
nº 13.964, de 2019) 2º do art. 373 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
§10-B. Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvido o autor, Processo Civil); (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
o juiz: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade admi-
I - procederá ao julgamento conforme o estado do processo, nistrativa pelo mesmo fato, competindo ao Conselho Nacional do
observada a eventual inexistência manifesta do ato de improbida- Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre membros
de; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de Ministérios Públicos distintos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de
II - poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas a otimizar a 2021)
instrução processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou
§10-C. Após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá de- de extinção sem resolução de mérito. (Incluído pela Lei nº 14.230,
cisão na qual indicará com precisão a tipificação do ato de improbi- de 2021)
dade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado modificar §20. A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a le-
o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo autor. (Inclu- galidade prévia dos atos administrativos praticados pelo adminis-
ído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043) trador público ficará obrigada a defendê-lo judicialmente, caso este
§10-D. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá venha a responder ação por improbidade administrativa, até que a
necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles pre- decisão transite em julgado. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
vistos nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)
de 2021) §21. Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumen-
§10-E. Proferida a decisão referida no §10-C deste artigo, as to, inclusive da decisão que rejeitar questões preliminares suscita-
partes serão intimadas a especificar as provas que pretendem pro- das pelo réu em sua contestação. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
duzir. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 2021)
§10-F. Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação Art. 17-A. (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
de improbidade administrativa que: (Incluído pela Lei nº 14.230, de I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
2021) II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - condenar o requerido por tipo diverso daquele definido na III - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
petição inicial; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) §1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - condenar o requerido sem a produção das provas por ele §2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
tempestivamente especificadas. (Incluído pela Lei nº 14.230, de §3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
2021) §4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§11. Em qualquer momento do processo, verificada a inexis- §5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
tência do ato de improbidade, o juiz julgará a demanda improce- Art. 17-B. O Ministério Público poderá, conforme as circuns-
dente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) tâncias do caso concreto, celebrar acordo de não persecução civil,
§12. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) desde que dele advenham, ao menos, os seguintes resultados: (In-
§13. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)
§14. Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurídica interes- I - o integral ressarcimento do dano; (Incluído pela Lei nº
sada será intimada para, caso queira, intervir no processo. (Incluído 14.230, de 2021)
pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043) II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida
§15. Se a imputação envolver a desconsideração de pessoa ju- obtida, ainda que oriunda de agentes privados. (Incluído pela Lei nº
rídica, serão observadas as regras previstas nos arts. 133, 134, 135, 14.230, de 2021)
136 e 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de §1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste ar-
Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) tigo dependerá, cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.230, de
§16. A qualquer momento, se o magistrado identificar a exis- 2021)
tência de ilegalidades ou de irregularidades administrativas a se- I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior
rem sanadas sem que estejam presentes todos os requisitos para ou posterior à propositura da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de
a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo da 2021)

148
NOÇÕES DE DIREITO

II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo ór- c) a extensão do dano causado; (Incluído pela Lei nº 14.230,
gão do Ministério Público competente para apreciar as promoções de 2021)
de arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da d) o proveito patrimonial obtido pelo agente; (Incluído pela Lei
ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) nº 14.230, de 2021)
III - de homologação judicial, independentemente de o acordo e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes; (Incluído pela
ocorrer antes ou depois do ajuizamento da ação de improbidade Lei nº 14.230, de 2021)
administrativa. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e as consequên-
§2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere cias advindas de sua conduta omissiva ou comissiva; (Incluído pela
o caput deste artigo considerará a personalidade do agente, a natu- Lei nº 14.230, de 2021)
reza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do ato de g) os antecedentes do agente; (Incluído pela Lei nº 14.230, de
improbidade, bem como as vantagens, para o interesse público, da 2021)
rápida solução do caso. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) V - considerar na aplicação das sanções a dosimetria das san-
§3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, ções relativas ao mesmo fato já aplicadas ao agente; (Incluído pela
deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas competente, que Lei nº 14.230, de 2021)
se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo VI - considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro,
de 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide quando for o caso, a sua atuação específica, não admitida a sua
ADI 7236) responsabilização por ações ou omissões para as quais não tiver
§4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser concorrido ou das quais não tiver obtido vantagens patrimoniais
celebrado no curso da investigação de apuração do ilícito, no curso indevidas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios obje-
condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) tivos que justifiquem a imposição da sanção. (Incluído pela Lei nº
§5º As negociações para a celebração do acordo a que se refere 14.230, de 2021)
o caput deste artigo ocorrerão entre o Ministério Público, de um §1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não
lado, e, de outro, o investigado ou demandado e o seu defensor. (In- configura ato de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043) §2º Na hipótese de litisconsórcio passivo, a condenação ocor-
§6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá con- rerá no limite da participação e dos benefícios diretos, vedada qual-
templar a adoção de mecanismos e procedimentos internos de in- quer solidariedade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tegridade, de auditoria e de incentivo à denúncia de irregularidades §3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata
e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito esta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras medidas em Art. 17-D. A ação por improbidade administrativa é repressiva,
favor do interesse público e de boas práticas administrativas. (Inclu- de caráter sancionatório, destinada à aplicação de sanções de ca-
ído pela Lei nº 14.230, de 2021) ráter pessoal previstas nesta Lei, e não constitui ação civil, vedado
§7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o seu ajuizamento para o controle de legalidade de políticas públicas
caput deste artigo, o investigado ou o demandado ficará impedido e para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente
de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.
conhecimento pelo Ministério Público do efetivo descumprimento. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI Parágrafo único. Ressalvado o disposto nesta Lei, o controle
7043) de legalidade de políticas públicas e a responsabilidade de agentes
Art. 17-C. A sentença proferida nos processos a que se refere públicos, inclusive políticos, entes públicos e governamentais, por
esta Lei deverá, além de observar o disposto no art. 489 da Lei nº danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil): (Incluí- artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer ou-
do pela Lei nº 14.230, de 2021) tro interesse difuso ou coletivo, à ordem econômica, à ordem urba-
I - indicar de modo preciso os fundamentos que demonstram nística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos
os elementos a que se referem os arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, que e ao patrimônio público e social submetem-se aos termos da Lei nº
não podem ser presumidos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - considerar as consequências práticas da decisão, sempre Art. 18. A sentença que julgar procedente a ação fundada nos
que decidir com base em valores jurídicos abstratos; (Incluído pela arts. 9º e 10 desta Lei condenará ao ressarcimento dos danos e à
Lei nº 14.230, de 2021) perda ou à reversão dos bens e valores ilicitamente adquiridos, con-
III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor forme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito.
e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
direitos dos administrados e das circunstâncias práticas que houve- §1º Se houver necessidade de liquidação do dano, a pessoa
rem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente; (Incluído jurídica prejudicada procederá a essa determinação e ao ulterior
pela Lei nº 14.230, de 2021) procedimento para cumprimento da sentença referente ao ressar-
IV - considerar, para a aplicação das sanções, de forma isolada cimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens.
ou cumulativa: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
a) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; (Inclu- §2º Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote as providên-
ído pela Lei nº 14.230, de 2021) cias a que se refere o §1º deste artigo no prazo de 6 (seis) meses,
b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida; contado do trânsito em julgado da sentença de procedência da
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ação, caberá ao Ministério Público proceder à respectiva liquidação
do dano e ao cumprimento da sentença referente ao ressarcimento

149
NOÇÕES DE DIREITO

do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens, sem pre- §2º As provas produzidas perante os órgãos de controle e as
juízo de eventual responsabilização pela omissão verificada. (Incluí- correspondentes decisões deverão ser consideradas na formação
do pela Lei nº 14.230, de 2021) da convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na con-
§3º Para fins de apuração do valor do ressarcimento, deverão duta do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
ser descontados os serviços efetivamente prestados. (Incluído pela §3º As sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação à
Lei nº 14.230, de 2021) ação de improbidade quando concluírem pela inexistência da con-
§4º O juiz poderá autorizar o parcelamento, em até 48 (quaren- duta ou pela negativa da autoria. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
ta e oito) parcelas mensais corrigidas monetariamente, do débito 2021)
resultante de condenação pela prática de improbidade adminis- §4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fa-
trativa se o réu demonstrar incapacidade financeira de saldá-lo de tos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da ação da
imediato. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os fundamen-
Art. 18-A. A requerimento do réu, na fase de cumprimento da tos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei nº 3.689, de
sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com outras 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). (Incluído pela Lei
já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual con- nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7236)
tinuidade de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes, observado o §5º Sanções eventualmente aplicadas em outras esferas deve-
seguinte: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) rão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos desta
I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço), ou a soma das pe- Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta Lei, o Minis-
nas, o que for mais benéfico ao réu; (Incluído pela Lei nº 14.230, tério Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrati-
de 2021) va ou mediante representação formulada de acordo com o disposto
II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, no art. 14 desta Lei, poderá instaurar inquérito civil ou procedimen-
o juiz somará as sanções. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) to investigativo assemelhado e requisitar a instauração de inquérito
Parágrafo único. As sanções de suspensão de direitos políticos policial. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou cre- Parágrafo único. Na apuração dos ilícitos previstos nesta Lei,
ditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 (vinte) será garantido ao investigado a oportunidade de manifestação por
anos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) escrito e de juntada de documentos que comprovem suas alegações
e auxiliem na elucidação dos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
CAPÍTULO VI 2021)
DAS DISPOSIÇÕES PENAIS
CAPÍTULO VII
Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbida- DA PRESCRIÇÃO
de contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor
da denúncia o sabe inocente. Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta Lei
Pena: detenção de seis a dez meses e multa. prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do fato
Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está su- ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a per-
jeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à manência. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
imagem que houver provocado. I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença con- III - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
denatória. §1º A instauração de inquérito civil ou de processo administra-
§1º A autoridade judicial competente poderá determinar o tivo para apuração dos ilícitos referidos nesta Lei suspende o curso
afastamento do agente público do exercício do cargo, do emprego do prazo prescricional por, no máximo, 180 (cento e oitenta) dias
ou da função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida for corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão ou, caso não
necessária à instrução processual ou para evitar a iminente prática concluído o processo, esgotado o prazo de suspensão. (Incluído
de novos ilícitos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) pela Lei nº 14.230, de 2021)
§2º O afastamento previsto no §1º deste artigo será de até 90 §2º O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será
(noventa) dias, prorrogáveis uma única vez por igual prazo, median- concluído no prazo de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias corri-
te decisão motivada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) dos, prorrogável uma única vez por igual período, mediante ato fun-
Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe: damentado submetido à revisão da instância competente do órgão
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. (Incluído
quanto à pena de ressarcimento e às condutas previstas no art. 10 pela Lei nº 14.230, de 2021)
desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) §3º Encerrado o prazo previsto no §2º deste artigo, a ação de-
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle verá ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias, se não for caso de ar-
interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas. quivamento do inquérito civil. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§1º Os atos do órgão de controle interno ou externo serão con- §4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo inter-
siderados pelo juiz quando tiverem servido de fundamento para a rompe-se: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
conduta do agente público. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - pela publicação da sentença condenatória; (Incluído pela Lei
nº 14.230, de 2021)

150
NOÇÕES DE DIREITO

III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Jus-


tiça ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença condena- LEI DO PROCESSO ADMINISTRATIVO (LEI Nº 9.784/1999 E
tória ou que reforma sentença de improcedência; (Incluído pela Lei SUAS ALTERAÇÕES)
nº 14.230, de 2021)
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribu- — Conceito4
nal de Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma Processo administrativo é a possibilidade que tem o
acórdão de improcedência; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) administrado de ver revistos os atos impostos pela Administração.
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal Consiste no conjunto de atos administrativos concatenados
Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma acór- (ordenados) e preparatórios de uma decisão da Administração.
dão de improcedência. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do Em sentido amplo
dia da interrupção, pela metade do prazo previsto no caput deste Trata-se do conjunto de medidas jurídicas e materiais praticadas
artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) com certa ordem e cronologia, necessárias ao registro dos atos
§6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efei- da Administração Pública, ao controle do comportamento dos
tos relativamente a todos os que concorreram para a prática do ato administrados e de seus servidores, a compatibilizar, no exercício
de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) do poder de polícia, os interesses público e privado, a punir seus
§7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do servidores e terceiros, a resolver controvérsias administrativas e a
mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a qualquer outorgar direitos a terceiros.
deles estendem-se aos demais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de O processo administrativo, que pode ser instaurado
2021) mediante provocação do interessado ou por iniciativa da própria
§8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público, Administração, estabelece uma relação bilateral, “inter partes”,
deverá, de ofício ou a requerimento da parte interessada, reconhe- ou seja, de um lado, o administrado, que deduz uma pretensão
cer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decre- e, de outro, a Administração que, quando decide, não age como
tá-la de imediato, caso, entre os marcos interruptivos referidos no terceiro, estranho à controvérsia, mas como parte que atua no
§4º, transcorra o prazo previsto no §5º deste artigo. (Incluído pela próprio interesse e nos limites que lhe são impostos por lei. É
Lei nº 14.230, de 2021) toda e qualquer autuação efetivada pela Administração Pública no
Art. 23-A. É dever do poder público oferecer contínua capacita- interesse e segurança da função administrativa.
ção aos agentes públicos e políticos que atuem com prevenção ou Ademais, importante destacar que uma das espécies de
repressão de atos de improbidade administrativa. (Incluído pela Lei processo administrativo é o PAD (processo administrativo
nº 14.230, de 2021) disciplinar), que visa apurar infrações funcionais praticadas pelos
Art. 23-B. Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não servidores públicos e que foi estudado no capítulo Agentes Públicos.
haverá adiantamento de custas, de preparo, de emolumentos, de
honorários periciais e de quaisquer outras despesas. (Incluído pela Dita a Lei n. 9.784/99 em seu art. 2º que:
Lei nº 14.230, de 2021) A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos
§1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais des- princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade,
pesas processuais serão pagas ao final. (Incluído pela Lei nº 14.230, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
de 2021) segurança jurídica, interesse público e eficiência.
§2º Haverá condenação em honorários sucumbenciais em caso
de improcedência da ação de improbidade se comprovada má-fé. — Princípios do Processo Administrativo5
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 23-C. Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda patri- Princípio da Legalidade
monial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação de re- O processo administrativo deve ser conduzido na forma da lei.
cursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações, serão A legalidade está relacionada ao dever de submissão
responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de estatal à vontade popular, já que as normas são feitas pelos
1995. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7236) representantes eleitos pelos cidadãos. Com isso, pode-se afirmar
que o Poder Público, em virtude principalmente dos princípios da
CAPÍTULO VIII indisponibilidade do interesse público e da legalidade, deverá agir
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS de acordo com a vontade da coletividade, evitando, assim, excessos
por parte dos administradores.
Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Leciona Hely Lopes Meirelles: “Enquanto na administração
Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho de particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração
1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza”. Perceba que,
em contrário. enquanto o particular preserva a autonomia de sua vontade, o
Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da Independência e administrador encontra-se subordinado aos termos da lei.
104° da República.

4 Almeida, Fabrício Bolzan D. Manual de direito administrativo. Disponível em:


Minha Biblioteca, (5th edição). Editora Saraiva, 2022.
5 Pessoa, Erick A. Direito Administrativo. (Coleção Método Essencial). Disponí-
vel em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022.

151
NOÇÕES DE DIREITO

Princípio da Moralidade Princípio da Celeridade Processual ou Duração Razoável do


O princípio da moralidade no artigo 37 da Constituição Federal Processo
e na Lei 9.784/99 traduz a ideia de que a Administração e seus O art. 5º, LXXVIII, da CF estabelece que tanto o processo
agentes devem pautar-se pelos princípios éticos na condução do administrativo como o processo judicial deverão ter duração razoável.
processo administrativo, devendo observar, outrossim, a probidade, A celeridade processual deverá ser interpretada em conjunto com
honestidade, respeito aos valores éticos e jurídicos da sociedade. o princípio do contraditório e da ampla defesa, porque processo
Logo, a moralidade aplicada ao processo impõe ao administrador rápido pode não ser justo. Assim, imprescindível analisarmos alguns
o dever de conduzir o processo de forma íntegra, imparcial e requisitos para saber se o processo teve ou não duração razoável.
impessoal. São eles:
O princípio da moralidade, prevista na Constituição Federal e – Comportamento das partes no feito (se a atuação é
na Lei 9784/99, é quando a Administração e seus agentes devem se protelatória ou não);
pautar pelos princípios éticos no processo administrativo, contidos – A atuação das autoridades judiciais;
também a probidade, honestidade, respeito aos valores éticos e – A complexidade do caso.
jurídicos da sociedade.
Princípio do Contraditório e Ampla Defesa
Princípio da Eficiência Por contraditório, entenda-se a possibilidade que é dada ao
A eficiência no que concerne ao processo administrativo administrado de ter conhecimento de que está sendo acusado e poder se
significa não somente a prestação estatal célere, mas, eficiente, de manifestar sobre tal acusação, enquanto ampla defesa é a possibilidade
acordo com os melhores instrumentos que realizem, plenamente, o que tem o administrado de utilizar todos os meios e recursos para
fim pretendido. A Administração deve atuar de forma mais eficiente efetivar sua mais ampla defesa. Ambos decorrem do due process of law.
e célere para assegurar a justiça processual.
O princípio da eficiência estabelece que a Administração Princípio da Razoabilidade
deve atingir os resultados práticos almejados com o mínimo de Impõe que o administrador atue dentro de critérios aceitáveis
desperdício, utilizando-se apropriadamente dos seus recursos. do ponto de vista racional. Augustin Gordillo8 define que um ato
será irrazoável quando:
Princípio da Finalidade – Não existirem fundamentos para ampará-los;
Na visão dominante, adotada por Hely Lopes Meirelles, – Desconsiderar fatos ou circunstâncias;
o princípio da finalidade seria apenas uma faceta do princípio – Não guardar proporcionalidade entre meios utilizados e fins
constitucional da impessoalidade. Isto ocorre em virtude de os dois buscados pela lei com o ato (ou para prática do ato).
buscarem o bem-estar coletivo.
Por certo, o princípio da razoabilidade se relaciona com o
Princípio da Oficialidade ou do Impulso Oficial princípio da proporcionalidade, havendo quem entenda que este
Informa tal princípio que, mesmo o processo sendo iniciado por integra aquele.
motivação do administrado, compete à Administração movimentar
o processo até o fim. Princípio da Proporcionalidade
Esse princípio tem por fundamento a finalidade pública Exige que o administrador se paute por critérios de
da atuação administrativa, que exige a satisfação do interesse ponderabilidade e de equilíbrio entre o ato praticado, a finalidade
público e, consequentemente, a movimentação de ofício perseguida e as consequências do ato. Afinal, mesmo o ato que
(independentemente de requerimento do particular) do processo cumpre sua finalidade, poderá ser desproporcional se trouxer
administrativo como única forma de tutelar o interesse coletivo. Se consequências que contrariem ou esvaziem a finalidade buscada.
o particular que requereu a instauração desapareceu, isso em nada Juarez de Freitas pondera, com muita felicidade, que o princípio da
interfere no dever de a Administração dar andamento ao processo. proporcionalidade exige sacrificar o mínimo para preservar o máximo.
A Lei Federal nº 9.784/99, no artigo 2º, Parágrafo Único, Inciso
Princípio do Informalismo ou Formalismo Moderado VI, consagra o princípio da proporcionalidade ao:
Os atos praticados no processo, especialmente aqueles a) exigir adequação de fins e meios; e
realizados pelo administrado, não possuem maiores exigências b) vedar o estabelecimento de obrigações, restrições e sanções
formais e deverão ser sempre aproveitados. superiores ao estritamente necessário.
Esse princípio legitima formas simples na composição do
processo administrativo, bastando que sejam suficientes para Princípio da Publicidade
garantir a segurança e o respeito aos direitos dos administrados. Ex.: Esse princípio, agora previsto expressamente no artigo 37,
deve ser escrito, datado e assinado pela autoridade competente. caput, da Constituição, aplica-se ao processo administrativo. Por
ser pública a atividade da Administração, os processos que ela
Princípio da Verdade Material desenvolve devem estar abertos ao acesso dos interessados.
Para o Princípio da Verdade Material, o que importa saber Esse direito de acesso ao processo administrativo é mais amplo
dentro de um processo administrativo é o fato que se deu no do que o de acesso ao processo judicial; neste, em regra, apenas
mundo real. as partes e seus defensores podem exercer o direito; naquele,
Em razão de a Administração tutelar o interesse público, não qualquer pessoa é titular desse direito, desde que tenha algum
pode ficar aguardando as provas trazidas pelos administrados interesse atingido por ato constante do processo ou que atue na
(verdade formal), devendo buscar o que realmente aconteceu defesa do interesse coletivo ou geral, no exercício do direito à
(verdade material) durante o processo administrativo. informação assegurado pelo artigo 5º, inciso XXXIII, da Constituição.

152
NOÇÕES DE DIREITO

É evidente que o direito de acesso não pode ser exercido A portaria bem elaborada é essencial à legalidade do processo,
abusivamente, sob pena de tumultuar o andamento dos serviços pois equivale à denúncia do processo penal e, se não contiver
públicos administrativos; para exercer esse direito, deve a pessoa dados suficientes, poderá prejudicar a defesa; é indispensável que
demonstrar qual o seu interesse individual, se for o caso, ou qual o ela contenha todos os elementos que permitam aos servidores
interesse coletivo que pretende defender. conhecer os ilícitos de que são acusados.
O direito de acesso ao processo não se confunde com o direito de Se, além da infração administrativa, a fato constituir ilícito
“vista”, que somente é assegurado às pessoas diretamente atingidas por penal, deve a comissão processante comunicar às autoridades
ato da Administração, para possibilitar o exercício do seu direito de defesa. policiais, fornecendo os elementos de instrução de que dispuser.
O direito de acesso só pode ser restringido por razões de
segurança da sociedade e do Estado, hipótese em que o sigilo deve – Instrução
ser resguardado (art. 5º, XXXIII, da Constituição); ainda é possível A instrução rege-se pelos princípios da oficialidade e do
restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da contraditório, este último essencial à ampla defesa. Com base no
intimidade ou o interesse social o exigirem (art. 5º, LX). primeiro, a comissão toma a iniciativa para levantamento das provas,
podendo realizar ou determinar todas as diligências que julgue
Princípio da Gratuidade necessárias a essa finalidade. O princípio do contraditório exige,
Sendo a Administração Pública uma das partes do processo em contrapartida, que a comissão dê ao indiciado oportunidade
administrativo, não se justifica a mesma onerosidade que existe no de acompanhar a instrução, com ou sem defensor, conhecendo e
processo judicial (v. item 14.1). respondendo a todas as provas contra ele apresentadas.
A regra da gratuidade está agora expressa no artigo 2º, O STJ, pela Súmula nº 591, decidiu que “é permitida a prova
parágrafo único, inciso XI, da Lei nº 9.784, que proíbe “cobrança emprestada no processo administrativo disciplinar desde que
de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei”. A menos devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o
que haja leis específicas exigindo cobrança de determinados atos, a contraditório e a ampla defesa”.
regra é a da gratuidade dos atos processuais. Concluída a instrução, deve ser assegurado o direito de “vista”
Inclusive para fins de propositura de recurso na esfera do processo e notificado o indiciado para a apresentação da sua
defesa. Embora esta fase seja denominada de defesa, na realidade
administrativa, o STJ sumulou o entendimento de que “é ilegítima
as normas referentes à instauração e à instrução do processo já têm
a exigência de depósito prévio para admissibilidade de recurso
em vista propiciar a ampla defesa ao servidor. Nesta terceira fase,
administrativo” (Súmula nº 373). Esse também é o entendimento
deve ele apresentar razões escritas, pessoalmente ou por advogado
do Supremo Tribunal Federal, conforme visto no Capítulo 17
da sua escolha; na falta de defesa, a comissão designará funcionário,
(item 17.3.2.1), agora objeto da Súmula Vinculante nº 21: “É
de preferência bacharel em direito, para defender o indiciado.
inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de
A citação do indiciado deve ser feita antes de iniciada a
dinheiros ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.”
instrução e acompanhada de cópia da portaria para permitir-lhe
pleno conhecimento da denúncia; além disso, é permitido a ele
assistir a inquirição das testemunhas e reperguntar às mesmas, por
intermédio da comissão, devendo comparecer acompanhado do
seu defensor. Terminada a instrução, será dada vista dos autos a
indiciado e aberto o prazo para a defesa. O princípio do contraditório
é, pois, assegurado em toda a sua extensão.

– Relatório
Terminada a defesa, a comissão apresenta o seu relatório, no
qual deve concluir com proposta de absolvição ou de aplicação de
determinada penalidade, indicando as provas em que baseia a sua
conclusão. O relatório é peça apenas opinativo, não obrigando a
– Início do Processo autoridade julgadora, que poderá, analisando os autos e apresentar
O processo tem início com despacho de autoridade competente, conclusão diversa.
determinando a instauração, assim que tiver ciência de alguma irregularidade;
ela age ex officio, com fundamento no princípio da oficialidade.6 – Decisão
Não havendo elementos suficientes para instaurar o processo, A fase final é a de decisão, em que a autoridade poderá
determinará previamente a realização de sindicância. acolher a sugestão da comissão, hipótese em que o relatório
corresponderá à motivação; se não aceitar a sugestão, terá que
– Instauração motivar adequadamente a sua decisão, apontando os elementos
Determinada a instauração e já autuado o processo, é este do processo em que se baseia. É comum a autoridade julgadora
encaminhado à comissão processante, que o instaura, por meio socorrer-se de pareceres de órgãos jurídicos antes de adotar a sua
de portaria em que conste o nome dos servidores envolvidos, a decisão.
infração de que são acusados, com descrição sucinta dos fatos e A autoridade julgadora deve fazer exame completo do processo
indicação dos dispositivos legais infringidos. para verificar a sua legalidade, podendo declarar a sua nulidade,
determinar o saneamento do processo ou a realização de novas
diligências que considere essenciais à prova. Tudo com base no
6 Pietro, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em: Minha princípio da oficialidade.
Biblioteca, (36th edição). Grupo GEN, 2023.

153
NOÇÕES DE DIREITO

— Modalidades7 direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da


Nos países que acolhem a dualidade de jurisdição, ou seja, a Administração”. Estados e Municípios que queiram dispor sobre a
existência de um contencioso administrativo ao lado da jurisdição matéria têm competência para promulgar as suas próprias leis.
comum, é possível falar em dois tipos de processo administrativo: o A lei federal disciplina os processos administrativos em geral,
gracioso e o contencioso. que tramitam perante a Administração Pública federal, direta e
No processo gracioso, os próprios órgãos da Administração indireta, abrangendo, além do Poder Executivo, também os órgãos
são encarregados de fazer atuar a vontade concreta da lei, com administrativos dos demais Poderes, conforme artigo 1º, § 1º.
vistas à consecução dos fins estatais que lhe estão confiados e que Contudo, teve o cuidado de respeitar as normas que disciplinam
nem sempre envolvem decisão sobre pretensão do particular. Para os processos específicos, aos quais a nova lei se aplicará apenas
chegar à prática do ato final pretendido pela Administração, pratica- subsidiariamente (art. 69). Assim, por exemplo, as normas legais
se uma série de atos precedentes necessários para apuração que disciplinam o processo disciplinar, o processo de licitação ou
dos fatos, averiguação da norma legal aplicável, apreciação dos o processo administrativo tributário prevalecem, nessas matérias,
aspectos concernentes à oportunidade e conveniência. Essa série sobre as normas da Lei nº 9.784/99.
de atos constitui o processo, que vai culminar com a edição de A lei federal contém normas sobre os princípios da
um ato administrativo. É nesse sentido que se fala em processo Administração Pública, direitos e deveres do administrado,
administrativo no direito brasileiro. competência, impedimento e suspeição, forma, tempo e lugar dos
O processo administrativo contencioso é o que se desenvolve atos do processo, comunicação, instrução, decisão, motivação,
perante um órgão cercado de garantias que asseguram a sua anulação, revogação e convalidação, recursos administrativos
independência e imparcialidade, com competência para proferir e prazos. Em regra, o que a lei faz é colocar no direito positivo
decisões com força de coisa julgada sobre as lides surgidas entre conceitos, regras, princípios já amplamente defendidos pela
Administração e administrado. Esse tipo de processo administrativo doutrina e jurisprudência. Define algumas questões controvertidas,
só existe nos países que adotam o contencioso administrativo; como a dos prazos para a Administração praticar determinados atos,
nos demais, essa fase se desenvolve perante o Poder Judiciário, proferir decisões, emitir pareceres, anular atos administrativos. As
porque só este pode proferir decisão com força de coisa julgada; normas da lei serão mencionadas nos itens pertinentes aos temas
a Administração Pública, sendo “parte” nas controvérsias que ela nela tratados.
decide, não tem o mesmo poder, uma vez que ninguém pode ser
juiz e parte simultaneamente. — Espécies de Processo Administrativo8
A Constituição de 1988 não prevê o contencioso administrativo
e mantém, no artigo 5º, XXXV, a unidade de jurisdição, ao determinar, Processo de Expediente
que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou O processo de expediente é aquele que tramita pelo interior
ameaça a direito”. da Administração Pública, instaurado por sua determinação ou
mediante provocação de terceiros, e que não se caracteriza como de
Portanto, no direito brasileiro, falar em processo outorga, de polícia, de controle ou de punição. Assim, são processos
administrativo significa falar em processo gracioso. dessa espécie, por exemplo, os que objetivam a desapropriação, a
Ainda se pode falar em duas outras modalidades de processo licitação, a implantação de um novo serviço, a elaboração de uma
administrativo: o técnico e o jurídico. lei e a abertura de concurso público de admissão de servidores,
Alguns autores restringem o conceito de processo todos instaurados, pela Administração Pública. Não possuem
administrativo para abranger somente os que envolvem interesses procedimento próprio nem rito sacramental, seguindo pelos canais
de particulares, criando controvérsia entre Administração e rotineiros para informações, pareceres, despacho final da chefia
administrado. Hely Lopes Meirelles, por sua vez, só considera competente e subsequente arquivamento.
como processos administrativos propriamente ditos “aqueles que
encerram um litígio entre a Administração e o administrado ou o Processo de Outorga
servidor”; os demais, ele designa de processos de expediente, “que Processo administrativo de outorga é o que permite à
tramitam pelos órgãos administrativos, sem qualquer controvérsia Administração Pública atribuir, a quem o requer, um direito. É
entre os interessados”. aquele em que se pleiteia algum direito ou situação individual
No entanto, partindo-se da ideia de processo como instrumento perante a Administração. Possui rito especial, mas não contraditório,
indispensável para exercício da função administrativa, não há como salvo quando há oposição de terceiros ou impugnação da própria
deixar de enquadrar os processos técnicos e os chamados “de Administração. Em tais casos, deve-se dar oportunidade de defesa
expediente”, por aquele autor, entre os processos administrativos, ao interessado, sob pena de nulidade da decisão final. São exemplos
considerados em seu sentido mais amplo. Nem sempre, quando desse tipo os processos de licenciamento de edificações, de licença
o particular deduz uma pretensão perante a Administração, surge de habite-se, alvará de funcionamento, de isenção tributária e
uma controvérsia; nem por isso deixa de haver um processo outros que consubstanciam pretensões de natureza negocial entre
administrativo. o particular e a Administração ou abranjam atividades sujeitas à
O processo administrativo está hoje disciplinado, no âmbito fiscalização do Poder Público.
federal, pela Lei nº 9.784, de 29-1-99. A respectiva Lei estabelece
normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da
Administração Federal Direta e Indireta, visando à “proteção dos

7 Pietro, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em: Minha 8 Gasparini, Diogénes. Direito administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca,
Biblioteca, (36th edição). Grupo GEN, 2023. (17th edição). Editora Saraiva, 2011.

154
NOÇÕES DE DIREITO

Processo de Controle IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e


Processo administrativo de controle é aquele que permite boa-fé;
à Administração Pública verificar o comportamento ou situação V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as
de administrados ou servidores e declarar a sua regularidade ou hipóteses de sigilo previstas na Constituição;
irregularidade ante os termos e condições da legislação pertinente. VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obri-
Tais processos, normalmente, têm rito próprio e, quando neles se gações, restrições e sanções em medida superior àquelas estrita-
deparam irregularidades puníveis, exigem oportunidade de defesa mente necessárias ao atendimento do interesse público;
ao interessado, antes do seu encerramento, sob pena de invalidade VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que deter-
do resultado da apuração. minarem a decisão;
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos
Processo Punitivo direitos dos administrados;
É o promovido pela Administração Pública com o objetivo IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar ade-
de apurar infração à lei ou contrato, cometida por servidor, quado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos admi-
administrado, contratado ou por quem estiver submetido a um nistrados;
vínculo especial de sujeição, e aplicar a correspondente penalidade. X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de ale-
Esses processos devem ser necessariamente contraditórios, com gações finais, à produção de provas e à interposição de recursos,
oportunidade de defesa e estrita observância do devido processo nos processos de que possam resultar sanções e nas situações de
legal, sob pena de nulidade da sanção imposta. litígio;
A sua instauração há que se basear em auto de infração, XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas
representação ou peça equivalente, iniciando-se com a exposição as previstas em lei;
minuciosa dos atos ou fatos ilegais ou administrativamente ilícitos, XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem preju-
atribuídos ao indiciado e indicação da norma ou convenção ízo da atuação dos interessados;
infringida. XIII - interpretação da norma administrativa da forma que me-
O processo punitivo poderá ser realizado por um só lhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada
representante da Administração ou por comissão. aplicação retroativa de nova interpretação.

LEI Nº 9.784 , DE 29 DE JANEIRO DE 1999. CAPÍTULO II


DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS
Regula o processo administrativo no âmbito da Administração
Pública Federal. Art. 3º O administrado tem os seguintes direitos perante a Ad-
ministração, sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados:
CAPÍTULO I I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de
suas obrigações;
Art. 1º Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo ad- II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em
ministrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta, que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter có-
visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e pias de documentos neles contidos e conhecer as decisões profe-
ao melhor cumprimento dos fins da Administração. ridas;
§1º Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos III - formular alegações e apresentar documentos antes da deci-
Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho são, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente;
de função administrativa. IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo
§2º Para os fins desta Lei, consideram-se: quando obrigatória a representação, por força de lei.
I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Ad-
ministração direta e da estrutura da Administração indireta; CAPÍTULO III
II - entidade - a unidade de atuação dotada de personalidade DOS DEVERES DO ADMINISTRADO
jurídica;
III - autoridade - o servidor ou agente público dotado de poder Art. 4º São deveres do administrado perante a Administração,
de decisão. sem prejuízo de outros previstos em ato normativo:
Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos I - expor os fatos conforme a verdade;
princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, pro- II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;
porcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, seguran- III - não agir de modo temerário;
ça jurídica, interesse público e eficiência. IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colabo-
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observa- rar para o esclarecimento dos fatos.
dos, entre outros, os critérios de:
I - atuação conforme a lei e o Direito;
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia to-
tal ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei;
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada
a promoção pessoal de agentes ou autoridades;

155
NOÇÕES DE DIREITO

CAPÍTULO IV Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publi-
DO INÍCIO DO PROCESSO cados no meio oficial.
§1º O ato de delegação especificará as matérias e poderes
Art. 5º O processo administrativo pode iniciar-se de ofício ou a transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os ob-
pedido de interessado. jetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva
Art. 6º O requerimento inicial do interessado, salvo casos em de exercício da atribuição delegada.
que for admitida solicitação oral, deve ser formulado por escrito e §2º O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela au-
conter os seguintes dados: toridade delegante.
I - órgão ou autoridade administrativa a que se dirige; §3º As decisões adotadas por delegação devem mencionar ex-
II - identificação do interessado ou de quem o represente; plicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo dele-
III - domicílio do requerente ou local para recebimento de co- gado.
municações; Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos
IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de
fundamentos; competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.
V - data e assinatura do requerente ou de seu representante. Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divulgarão publi-
Parágrafo único. É vedada à Administração a recusa imotivada camente os locais das respectivas sedes e, quando conveniente, a
de recebimento de documentos, devendo o servidor orientar o in- unidade fundacional competente em matéria de interesse especial.
teressado quanto ao suprimento de eventuais falhas. Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o processo
Art. 7º Os órgãos e entidades administrativas deverão elaborar administrativo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor
modelos ou formulários padronizados para assuntos que importem grau hierárquico para decidir.
pretensões equivalentes.
Art. 8º Quando os pedidos de uma pluralidade de interessados CAPÍTULO VII
tiverem conteúdo e fundamentos idênticos, poderão ser formula- DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO
dos em um único requerimento, salvo preceito legal em contrário.
Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o ser-
CAPÍTULO V vidor ou autoridade que:
DOS INTERESSADOS I - tenha interesse direto ou indireto na matéria;
II - tenha participado ou venha a participar como perito, teste-
Art. 9º São legitimados como interessados no processo admi- munha ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao
nistrativo: cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau;
I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares de III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o inte-
direitos ou interesses individuais ou no exercício do direito de re- ressado ou respectivo cônjuge ou companheiro.
presentação; Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impedimento
II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm direitos deve comunicar o fato à autoridade competente, abstendo-se de atuar.
ou interesses que possam ser afetados pela decisão a ser adotada; Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impedi-
III - as organizações e associações representativas, no tocante a mento constitui falta grave, para efeitos disciplinares.
direitos e interesses coletivos; Art. 20. Pode ser argüida a suspeição de autoridade ou servidor
IV - as pessoas ou as associações legalmente constituídas quan- que tenha amizade íntima ou inimizade notória com algum dos inte-
to a direitos ou interesses difusos. ressados ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes
Art. 10. São capazes, para fins de processo administrativo, os maiores e afins até o terceiro grau.
de dezoito anos, ressalvada previsão especial em ato normativo próprio. Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser
objeto de recurso, sem efeito suspensivo.
CAPÍTULO VI
DA COMPETÊNCIA CAPÍTULO VIII
DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO PROCESSO
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos
administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de Art. 22. Os atos do processo administrativo não dependem de
delegação e avocação legalmente admitidos. forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir.
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não §1º Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em
houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a ou- vernáculo, com a data e o local de sua realização e a assinatura da
tros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquica- autoridade responsável.
mente subordinados, quando for conveniente, em razão de circuns- §2º Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma somente
tâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. será exigido quando houver dúvida de autenticidade.
Parágrafo único. O disposto nocaputdeste artigo aplica-se à delega- §3º A autenticação de documentos exigidos em cópia poderá
ção de competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes. ser feita pelo órgão administrativo.
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação: §4º O processo deverá ter suas páginas numeradas seqüencial-
I - a edição de atos de caráter normativo; mente e rubricadas.
II - a decisão de recursos administrativos; Art. 23. Os atos do processo devem realizar-se em dias úteis,
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autori- no horário normal de funcionamento da repartição na qual tramitar
dade. o processo.

156
NOÇÕES DE DIREITO

Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário normal os §2º Os atos de instrução que exijam a atuação dos interessados
atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o curso regular do pro- devem realizar-se do modo menos oneroso para estes.
cedimento ou cause dano ao interessado ou à Administração. Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as provas
Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou obtidas por meios ilícitos.
autoridade responsável pelo processo e dos administrados que dele Art. 31. Quando a matéria do processo envolver assunto de
participem devem ser praticados no prazo de cinco dias, salvo mo- interesse geral, o órgão competente poderá, mediante despacho
tivo de força maior. motivado, abrir período de consulta pública para manifestação de
Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser dilatado terceiros, antes da decisão do pedido, se não houver prejuízo para
até o dobro, mediante comprovada justificação. a parte interessada.
Art. 25. Os atos do processo devem realizar-se preferencial- §1º A abertura da consulta pública será objeto de divulgação
mente na sede do órgão, cientificando-se o interessado se outro for pelos meios oficiais, a fim de que pessoas físicas ou jurídicas pos-
o local de realização. sam examinar os autos, fixando-se prazo para oferecimento de ale-
gações escritas.
CAPÍTULO IX §2º O comparecimento à consulta pública não confere, por si,
DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS a condição de interessado do processo, mas confere o direito de
obter da Administração resposta fundamentada, que poderá ser
Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo comum a todas as alegações substancialmente iguais.
administrativo determinará a intimação do interessado para ciência Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade,
de decisão ou a efetivação de diligências. diante da relevância da questão, poderá ser realizada audiência pú-
§1º A intimação deverá conter: blica para debates sobre a matéria do processo.
I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade ad- Art. 33. Os órgãos e entidades administrativas, em matéria re-
ministrativa; levante, poderão estabelecer outros meios de participação de ad-
II - finalidade da intimação; ministrados, diretamente ou por meio de organizações e associa-
III - data, hora e local em que deve comparecer; ções legalmente reconhecidas.
IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se Art. 34. Os resultados da consulta e audiência pública e de ou-
representar; tros meios de participação de administrados deverão ser apresen-
V - informação da continuidade do processo independente- tados com a indicação do procedimento adotado.
mente do seu comparecimento; Art. 35. Quando necessária à instrução do processo, a audiên-
VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes. cia de outros órgãos ou entidades administrativas poderá ser reali-
§2º A intimação observará a antecedência mínima de três dias zada em reunião conjunta, com a participação de titulares ou repre-
úteis quanto à data de comparecimento. sentantes dos órgãos competentes, lavrando-se a respectiva ata, a
§3º A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por ser juntada aos autos.
via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha ale-
que assegure a certeza da ciência do interessado. gado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a
§4º No caso de interessados indeterminados, desconhecidos instrução e do disposto no art. 37 desta Lei.
ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados estão
meio de publicação oficial. registrados em documentos existentes na própria Administração
§5º As intimações serão nulas quando feitas sem observância responsável pelo processo ou em outro órgão administrativo, o ór-
das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado su- gão competente para a instrução proverá, de ofício, à obtenção dos
pre sua falta ou irregularidade. documentos ou das respectivas cópias.
Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o reco- Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes da
nhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo tomada da decisão, juntar documentos e pareceres, requerer dili-
administrado. gências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria
Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será garanti- objeto do processo.
do direito de ampla defesa ao interessado. §1º Os elementos probatórios deverão ser considerados na
Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do processo motivação do relatório e da decisão.
que resultem para o interessado em imposição de deveres, ônus, §2º Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fun-
sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades e os atos damentada, as provas propostas pelos interessados quando sejam
de outra natureza, de seu interesse. ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias.
Art. 39. Quando for necessária a prestação de informações ou
CAPÍTULO X a apresentação de provas pelos interessados ou terceiros, serão
DA INSTRUÇÃO expedidas intimações para esse fim, mencionando-se data, prazo,
forma e condições de atendimento.
Art. 29. As atividades de instrução destinadas a averiguar e Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação, poderá o ór-
comprovar os dados necessários à tomada de decisão realizam-se gão competente, se entender relevante a matéria, suprir de ofício a
de ofício ou mediante impulsão do órgão responsável pelo proces- omissão, não se eximindo de proferir a decisão.
so, sem prejuízo do direito dos interessados de propor atuações Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos solicitados ao
probatórias. interessado forem necessários à apreciação de pedido formulado, o
§1º O órgão competente para a instrução fará constar dos au- não atendimento no prazo fixado pela Administração para a respec-
tos os dados necessários à decisão do processo. tiva apresentação implicará arquivamento do processo.

157
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou diligência so administrativo mediante participação concomitante de todas as
ordenada, com antecedência mínima de três dias úteis, mencionan- autoridades e agentes decisórios e dos responsáveis pela instrução
do-se data, hora e local de realização. técnico-jurídica, observada a natureza do objeto e a compatibilida-
Art. 42. Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um órgão de do procedimento e de sua formalização com a legislação perti-
consultivo, o parecer deverá ser emitido no prazo máximo de quin- nente.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
ze dias, salvo norma especial ou comprovada necessidade de maior §2º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
prazo. §3º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
§1º Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de ser emiti- §4º A decisão coordenada não exclui a responsabilidade origi-
do no prazo fixado, o processo não terá seguimento até a respectiva nária de cada órgão ou autoridade envolvida.(Incluído pela Lei nº
apresentação, responsabilizando-se quem der causa ao atraso. 14.210, de 2021)
§2º Se um parecer obrigatório e não vinculante deixar de ser §5º A decisão coordenada obedecerá aos princípios da legali-
emitido no prazo fixado, o processo poderá ter prosseguimento e dade, da eficiência e da transparência, com utilização, sempre que
ser decidido com sua dispensa, sem prejuízo da responsabilidade necessário, da simplificação do procedimento e da concentração
de quem se omitiu no atendimento. das instâncias decisórias.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
Art. 43. Quando por disposição de ato normativo devam ser §6º Não se aplica a decisão coordenada aos processos adminis-
previamente obtidos laudos técnicos de órgãos administrativos e trativos:(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
estes não cumprirem o encargo no prazo assinalado, o órgão res- I - de licitação;(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
ponsável pela instrução deverá solicitar laudo técnico de outro ór- II - relacionados ao poder sancionador; ou(Incluído pela Lei nº
gão dotado de qualificação e capacidade técnica equivalentes. 14.210, de 2021)
Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de III - em que estejam envolvidas autoridades de Poderes distin-
manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo for tos.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
legalmente fixado. Art. 49-B. Poderão habilitar-se a participar da decisão coorde-
Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração Pública nada, na qualidade de ouvintes, os interessados de que trata o art.
poderá motivadamente adotar providências acauteladoras sem a 9º desta Lei.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
prévia manifestação do interessado. Parágrafo único. A participação na reunião, que poderá incluir
Art. 46. Os interessados têm direito à vista do processo e a ob- direito a voz, será deferida por decisão irrecorrível da autoridade
ter certidões ou cópias reprográficas dos dados e documentos que responsável pela convocação da decisão coordenada.(Incluído pela
o integram, ressalvados os dados e documentos de terceiros prote- Lei nº 14.210, de 2021)
gidos por sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem. Art. 49-C. (VETADO).(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
Art. 47. O órgão de instrução que não for competente para emi- Art. 49-D. Os participantes da decisão coordenada deverão ser
tir a decisão final elaborará relatório indicando o pedido inicial, o intimados na forma do art. 26 desta Lei.(Incluído pela Lei nº 14.210,
conteúdo das fases do procedimento e formulará proposta de deci- de 2021)
são, objetivamente justificada, encaminhando o processo à autori- Art. 49-E. Cada órgão ou entidade participante é responsável
dade competente. pela elaboração de documento específico sobre o tema atinente à
respectiva competência, a fim de subsidiar os trabalhos e integrar
CAPÍTULO XI o processo da decisão coordenada.(Incluído pela Lei nº 14.210, de
DO DEVER DE DECIDIR 2021)
Parágrafo único. O documento previsto nocaputdeste artigo
Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente emitir abordará a questão objeto da decisão coordenada e eventuais pre-
decisão nos processos administrativos e sobre solicitações ou recla- cedentes.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
mações, em matéria de sua competência. Art. 49-F. Eventual dissenso na solução do objeto da decisão
Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Ad- coordenada deverá ser manifestado durante as reuniões, de forma
ministração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorro- fundamentada, acompanhado das propostas de solução e de alte-
gação por igual período expressamente motivada. ração necessárias para a resolução da questão.(Incluído pela Lei nº
14.210, de 2021)
CAPÍTULO XI-A Parágrafo único. Não poderá ser arguida matéria estranha ao
DA DECISÃO COORDENADA objeto da convocação.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) Art. 49-G. A conclusão dos trabalhos da decisão coordenada
será consolidada em ata, que conterá as seguintes informações:(In-
Art. 49-A. No âmbito da Administração Pública federal, as de- cluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
cisões administrativas que exijam a participação de 3 (três) ou mais I - relato sobre os itens da pauta;(Incluído pela Lei nº 14.210,
setores, órgãos ou entidades poderão ser tomadas mediante deci- de 2021)
são coordenada, sempre que:(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) II - síntese dos fundamentos aduzidos;(Incluído pela Lei nº
I - for justificável pela relevância da matéria; e(Incluído pela Lei 14.210, de 2021)
nº 14.210, de 2021) III - síntese das teses pertinentes ao objeto da convocação;(In-
II - houver discordância que prejudique a celeridade do proces- cluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
so administrativo decisório.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) IV - registro das orientações, das diretrizes, das soluções ou das
§1º Para os fins desta Lei, considera-se decisão coordenada a propostas de atos governamentais relativos ao objeto da convoca-
instância de natureza interinstitucional ou intersetorial que atua ção;(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
de forma compartilhada com a finalidade de simplificar o proces-

158
NOÇÕES DE DIREITO

V - posicionamento dos participantes para subsidiar futura atu- Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o proces-
ação governamental em matéria idêntica ou similar; e(Incluído pela so quando exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar
Lei nº 14.210, de 2021) impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente.
VI - decisão de cada órgão ou entidade relativa à matéria sujei-
ta à sua competência.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) CAPÍTULO XIV
§1º Até a assinatura da ata, poderá ser complementada a fun- DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO
damentação da decisão da autoridade ou do agente a respeito de
matéria de competência do órgão ou da entidade representada.(In- Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quan-
cluído pela Lei nº 14.210, de 2021) do eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de
§2º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.
§3º A ata será publicada por extrato no Diário Oficial da União, Art. 54. O direito da Administração de anular os atos adminis-
do qual deverão constar, além do registro referido no inciso IV do- trativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários
caputdeste artigo, os dados identificadores da decisão coordenada decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados,
e o órgão e o local em que se encontra a ata em seu inteiro teor, salvo comprovada má-fé.
para conhecimento dos interessados.(Incluído pela Lei nº 14.210, §1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de deca-
de 2021) dência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.
§2º Considera-se exercício do direito de anular qualquer me-
CAPÍTULO XII dida de autoridade administrativa que importe impugnação à vali-
DA MOTIVAÇÃO dade do ato.
Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresen-
indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: tarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Ad-
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; ministração.
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção CAPÍTULO XV
pública; DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo lici-
tatório; Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em face de
V - decidam recursos administrativos; razões de legalidade e de mérito.
VI - decorram de reexame de ofício; §1º O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão,
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco dias, o encaminhará
ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais; à autoridade superior.
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalida- §2º Salvo exigência legal, a interposição de recurso administra-
ção de ato administrativo. tivo independe de caução.
§1º A motivação deve ser explícita, clara e congruente, poden- §3º Se o recorrente alegar que a decisão administrativa contra-
do consistir em declaração de concordância com fundamentos de ria enunciado da súmula vinculante, caberá à autoridade prolatora
anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, da decisão impugnada, se não a reconsiderar, explicitar, antes de
neste caso, serão parte integrante do ato. encaminhar o recurso à autoridade superior, as razões da aplicabili-
§2º Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode dade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso. (Incluído pela
ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das Lei nº 11.417, de 2006).Vigência
decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos inte- Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo por três
ressados. instâncias administrativas, salvo disposição legal diversa.
§3º A motivação das decisões de órgãos colegiados e comis- Art. 58. Têm legitimidade para interpor recurso administrativo:
sões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo I - os titulares de direitos e interesses que forem parte no pro-
escrito. cesso;
II - aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente
CAPÍTULO XIII afetados pela decisão recorrida;
DA DESISTÊNCIA E OUTROS CASOS DE EXTINÇÃO DO PROCES- III - as organizações e associações representativas, no tocante a
SO direitos e interesses coletivos;
IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses
Art. 51. O interessado poderá, mediante manifestação escrita, difusos.
desistir total ou parcialmente do pedido formulado ou, ainda, re- Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de dez dias o prazo
nunciar a direitos disponíveis. para interposição de recurso administrativo, contado a partir da ci-
§1º Havendo vários interessados, a desistência ou renúncia ência ou divulgação oficial da decisão recorrida.
atinge somente quem a tenha formulado. §1º Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso adminis-
§2º A desistência ou renúncia do interessado, conforme o caso, trativo deverá ser decidido no prazo máximo de trinta dias, a partir
não pre judica o prosseguimento do processo, se a Administração do recebimento dos autos pelo órgão competente.
considerar que o interesse público assim o exige. §2º O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá ser
prorrogado por igual período, ante justificativa explícita.

159
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 60. O recurso interpõe-se por meio de requerimento no CAPÍTULO XVII


qual o recorrente deverá expor os fundamentos do pedido de ree- DAS SANÇÕES
xame, podendo juntar os documentos que julgar convenientes.
Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade compe-
efeito suspensivo. tente, terão natureza pecuniária ou consistirão em obrigação de fa-
Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou zer ou de não fazer, assegurado sempre o direito de defesa.
incerta reparação decorrente da execução, a autoridade recorrida
ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar CAPÍTULO XVIII
efeito suspensivo ao recurso. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 62. Interposto o recurso, o órgão competente para dele
conhecer deverá intimar os demais interessados para que, no prazo Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a
de cinco dias úteis, apresentem alegações. reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente
Art. 63. O recurso não será conhecido quando interposto: os preceitos desta Lei.
I - fora do prazo; Art. 69-A. Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão
II - perante órgão incompetente; ou instância, os procedimentos administrativos em que figure como
III - por quem não seja legitimado; parte ou interessado: (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
IV - após exaurida a esfera administrativa. I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;
§1º Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente a auto- (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
ridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo para recurso. II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental; (Incluído
§2º O não conhecimento do recurso não impede a Administra- pela Lei nº 12.008, de 2009).
ção de rever de ofício o ato ilegal, desde que não ocorrida preclusão III –(VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
administrativa. IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, neo-
Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá con- plasia maligna, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardio-
firmar, modificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, a deci- patia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefro-
são recorrida, se a matéria for de sua competência. patia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget
Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome de imuno-
decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientifi- deficiência adquirida, ou outra doença grave, com base em conclusão da
cado para que formule suas alegações antes da decisão. medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída após
Art. 64-A. Se o recorrente alegar violação de enunciado da o início do processo.(Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
súmula vinculante, o órgão competente para decidir o recurso ex- §1º A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando
plicitará as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula, prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade administra-
conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 11.417, de 2006).Vigência tiva competente, que determinará as providências a serem cumpri-
Art. 64-B. Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a reclamação fun- das. (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
dada em violação de enunciado da súmula vinculante, dar-se-á ciência à §2º Deferida a prioridade, os autos receberão identificação
autoridade prolatora e ao órgão competente para o julgamento do recur- própria que evidencie o regime de tramitação prioritária. (Incluído
so, que deverão adequar as futuras decisões administrativas em casos se- pela Lei nº 12.008, de 2009).
melhantes, sob pena de responsabilização pessoal nas esferas cível, admi- §3º (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
nistrativa e penal. (Incluído pela Lei nº 11.417, de 2006).Vigência §4º (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
Art. 65. Os processos administrativos de que resultem san- Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
ções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, Brasília 29 de janeiro de 1999; 178º da Independência e 111º
quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetí- da República.
veis de justificar a inadequação da sanção aplicada.
Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar
agravamento da sanção.
QUESTÕES

CAPÍTULO XVI 1. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO - Assistente em Administração


DOS PRAZOS Um cidadão deseja comunicar que um certo servidor público
está exercendo de forma negligente o cargo que ocupa.
Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data da cienti- Nos termos da Constituição Federal, a lei disciplinará as formas
ficação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e incluin- de participação do usuário na administração pública direta e indi-
do-se o do vencimento. reta, regulando especialmente a disciplina contra o exercício negli-
§1º Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil se- gente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração
guinte se o vencimento cair em dia em que não houver expediente pública, através de uma
ou este for encerrado antes da hora normal. (A) delação
§2º Os prazos expressos em dias contam-se de modo contínuo. (B) representação
§3º Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de data a (C) notificação
data. Se no mês do vencimento não houver o dia equivalente àque- (D) acusação
le do início do prazo, tem-se como termo o último dia do mês. (E) indicação
Art. 67. Salvo motivo de força maior devidamente comprovado,
os prazos processuais não se suspendem.

160
NOÇÕES DE DIREITO

2. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO - Assistente em Administração 5. CESGRANRIO - 2018 - LIQUIGÁS - Assistente Administrativo I
Um médico ortopedista, exercendo suas atividades em deter- É juridicamente viável que um órgão público edite portaria ou
minado município, com horário livre, resolveu realizar concurso qualquer outro ato normativo para regular internamente como se
para ocupar cargo no Estado. Após aprovação no certame, ele passa dará a movimentação de seu pessoal.
a exercer atividades nos dois órgãos, o municipal e o estadual, ocu- No entanto, essa normatização interna não pode ofender as
pando cargos de médico. Em determinado momento, o serviço de leis vigentes e deve respeitar os entendimentos das jurisprudências
medicina do Estado passa por uma troca de chefia. Esse novo che- que atualmente explicitam que
fe exige que o ortopedista modifique os seus dias de plantão para (A) o deslocamento de cargo de provimento efetivo, ocupado
melhor atender ao interesse público. Ocorre que os dias indicados ou vago no âmbito do quadro geral de pessoal, para outro ór-
coincidem com os realizados no município. O ortopedista, então, gão ou entidade do mesmo Poder, é denominado redistribui-
requer que seus dias de plantão sejam mantidos para poder exercer ção, demandando a vinculação entre os graus de responsabili-
seu direito de acumulação de cargos. dade, equivalência de vencimentos e manutenção da essência
Nos termos da Constituição Federal, a cumulação, quando pre- das atribuições do cargo.
vista, é possível, desde que haja compatibilidade de (B) o servidor não poderá ser cedido para ter exercício em ou-
(A) conhecimentos tro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, ou
(B) horários do Distrito Federal e dos Municípios, para exercício de cargo
(C) gerentes em comissão ou função de confiança.
(D) locais (C) a permuta é o deslocamento do servidor para exercer fun-
(E) órgãos ção distinta da exercida no órgão de origem, a pedido ou de
ofício, com mudança de sede, observados os interesses da ad-
3. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO - Técnico de Assuntos Educa- ministração e a equivalência de vencimentos.
cionais (D) a remoção do servidor implica seu deslocamento dentro
O servidor público W foi demitido do serviço público, após pro- do mesmo órgão ou entidade, e determina a alteração em seu
cesso administrativo disciplinar. Inconformado, ele propôs ação ju- cargo, mudança no nível de escolaridade, especialidade, habi-
dicial, buscando o retorno ao serviço público, tendo obtido decisão litação profissional e efeito pecuniário positivo direto para o
favorável, após dez anos de duração do processo. servidor.
Nos termos da Lei no 8.112/1990, quando invalidada a demis- (E) os servidores movimentados não possuem assegurados os
são por decisão judicial, ocorre a denominada seus direitos e vantagens a que faziam jus no órgão ou entidade
(A) reinclusão de origem, e devem estar conscientes de que, com a movimen-
(B) reintegração tação de pessoal, há risco de prejuízo para o servidor na con-
(C) recondução tagem de seu tempo de férias e concessão de licença prêmio.
(D) revisão
(E) repristinação 6. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO - Assistente em Administração
Um servidor público, ao tomar posse no cargo, apresentou sua
4. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO - Técnico de Assuntos Educa- declaração de bens.
cionais Além da declaração anual, a Lei n° 8.429/1992 e suas altera-
P obtém aprovação para ingressar no serviço público federal, ções determina que o servidor deve apresentar declaração atuali-
tendo tomado posse e entrado em exercício nos prazos legais. Sen- zada quando
do profissional altamente qualificado na sua área de conhecimento, (A) mudar de sede.
logo após entrar em exercício, também logra aprovação para cur- (B) for promovido.
sar mestrado no exterior do país. Baseado na Lei nº 8.112/1990, (C) for transferido para o exterior.
P requer licença com vencimentos para manter seu vínculo com o (D) deixar o exercício do cargo.
serviço público. (E) houver processo administrativo.
O referido estatuto do servidor, no caso de período em que
ocorre o estágio probatório, veda a concessão de licença para 7. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO - Assistente em Administração
(A) capacitação O presidente de comissão de sindicância e processo adminis-
(B) acompanhar cônjuge trativo de determinado órgão público competente para julgar todos
(C) tratar doença os servidores que pratiquem atos contrários ao Estatuto do Servi-
(D) serviço militar dor deseja abdicar dessa função.
(E) atividade política Nos termos da Lei n° 9.784/1999 e suas alterações, a compe-
tência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a
que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e
(A) transferência
(B) modificação
(C) conexão
(D) avocação
(E) continência

161
NOÇÕES DE DIREITO

8. CESGRANRIO - 2018 - Petrobras 13. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO


Nos termos da Constituição de 1988, o direito de propriedade J é portador de necessidades especiais e pretende ingressar no
é um direito serviço público. Nos termos da Lei n° 8.112/1990, às pessoas por-
(A) social, cabendo ao proprietário respeitar os limites da fun- tadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em
ção social. concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam
(B) social, pois não possibilita ao proprietário dispor conforme compatíveis com a deficiência de que são portadoras.
o seu próprio e exclusivo interesse.
(C) individual, que impede qualquer tipo de intervenção do Es- Para tais pessoas, serão reservadas, das vagas oferecidas no
tado. concurso, até
(D) individual absoluto, que possibilita ao proprietário sempre (A) 5%
dispor conforme o seu próprio e exclusivo interesse. (B) 10%
(E) individual relativo, cabendo ao proprietário respeitar os li- (C) 15%
mites da função social. (D) 20%
(E) 30%
9. CESGRANRIO - 2018 - Transpetro
Quando um ato administrativo é revogado por conveniência e 14. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO
oportunidade da Administração, deve ser observado, quanto à for- Q é servidor público e postulou readaptação por ter sofrido
ma, o princípio da limitações que impediriam o exercício no cargo público originário
(A) simetria que ocupava. Ao submeter-se à inspeção de saúde, foi diagnostica-
(B) motivação do como totalmente incapaz para o serviço público.
(C) vinculação Nesse caso, nos termos da Lei no 8.112/1990, o servidor Q será
(D) acidentalidade (A) exonerado
(E) essencialidade (B) demitido
(C) disponibilizado
10. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO (D) aposentado
Um gerente administrativo de determinado órgão público rece- (E) retornado
be treinamento para diminuir os equívocos na atuação do Estado na
relação com os administrados. 15. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO
Em uma das aulas do curso, são abordados os atributos do ato As regras de acumulação de cargos previstas no sistema jurídi-
administrativo que, segundo a doutrina, inclui a co pátrio são rígidas. Nos casos em que não é possível a acumulação
(A) condicionalidade de cargos ou quando o limite de acumulação já foi atingido, como
(B) estabilização no caso de médico que acumula dois cargos públicos de médico,
(C) certeza de origem para evitar ilegalidade, a Lei n° 8.112/1990 estabelece que no ato
(D) presunção de legitimidade da posse, o empossando apresente declaração de não exercício de
(E) simplicidade outra(o)
(A) inserção comunitária
11. CESGRANRIO - 2018 - LIQUIGÁS - Profissional Júnior (B) atividade filantrópica
No denominado controle jurisdicional, é assente que não se (C) função social
pode substituir o administrador quanto ao aspecto da decisão mais (D) emprego privado
conveniente. (E) cargo público
Isso restringe o âmbito de atuação dessa espécie de controle à
(A) legalidade
(B) oportunidade GABARITO
(C) reanálise
(D) modificabilidade
1 B
(E) primazia
2 B
12. CESGRANRIO - 2023 - AGERIO 3 B
A banca organizadora de um concurso para o cargo de agente
de saúde em um determinado município decide estabelecer, como 4 A
etapa necessária para o certame, a realização de avaliação psicoló- 5 A
gica.
6 D
Para sujeitar o candidato a cargo público a exame psicotécnico
antes mesmo da publicação do ato em que se organiza o certame, é 7 D
indispensável a previsão 8 E
(A) no edital
(B) em aviso 9 A
(C) em portaria 10 D
(D) em lei
(E) em resolução 11 A

162
NOÇÕES DE DIREITO

______________________________________________________
12 D
13 D ______________________________________________________
14 D ______________________________________________________
15 E
______________________________________________________

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________

163
NOÇÕES DE DIREITO

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

164
MATEMÁTICA

CONJUNTOS NUMÉRICOS: NATURAIS, INTEIROS, RACIONAIS E REAIS; MÚLTIPLOS, DIVISORES, NÚMEROS PRIMOS;
POTÊNCIAS E RAÍZES

Conjunto dos números inteiros - z


O conjunto dos números inteiros é a reunião do conjunto dos números naturais N = {0, 1, 2, 3, 4,..., n,...},(N C Z); o conjunto dos opos-
tos dos números naturais e o zero. Representamos pela letra Z.

N C Z (N está contido em Z)

Subconjuntos:

SÍMBOLO REPRESENTAÇÃO DESCRIÇÃO


* Z* Conjunto dos números inteiros não nulos
+ Z+ Conjunto dos números inteiros não negativos
*e+ Z*+ Conjunto dos números inteiros positivos
- Z_ Conjunto dos números inteiros não positivos
*e- Z*_ Conjunto dos números inteiros negativos

Observamos nos números inteiros algumas características:


• Módulo: distância ou afastamento desse número até o zero, na reta numérica inteira. Representa-se o módulo por | |. O módulo de
qualquer número inteiro, diferente de zero, é sempre positivo.

• Números Opostos: dois números são opostos quando sua soma é zero. Isto significa que eles estão a mesma distância da origem
(zero).

Somando-se temos: (+4) + (-4) = (-4) + (+4) = 0

165
MATEMÁTICA

Operações Na multiplicação e divisão de números inteiros é muito impor-


• Soma ou Adição: Associamos aos números inteiros positivos tante a REGRA DE SINAIS:
a ideia de ganhar e aos números inteiros negativos a ideia de perder.
Sinais iguais (+) (+); (-) (-) = resultado sempre positivo.
ATENÇÃO: O sinal (+) antes do número positivo pode ser dis-
pensado, mas o sinal (–) antes do número negativo nunca pode Sinais diferentes (+) (-); (-) (+) = resultado sempre negativo.
ser dispensado.
Exemplo:
• Subtração: empregamos quando precisamos tirar uma quan- (PREF.DE NITERÓI) Um estudante empilhou seus livros, obten-
tidade de outra quantidade; temos duas quantidades e queremos do uma única pilha 52cm de altura. Sabendo que 8 desses livros
saber quanto uma delas tem a mais que a outra; temos duas quan- possui uma espessura de 2cm, e que os livros restantes possuem
tidades e queremos saber quanto falta a uma delas para atingir a espessura de 3cm, o número de livros na pilha é:
outra. A subtração é a operação inversa da adição. O sinal sempre (A) 10
será do maior número. (B) 15
(C) 18
ATENÇÃO: todos parênteses, colchetes, chaves, números, ..., (D) 20
entre outros, precedidos de sinal negativo, tem o seu sinal inverti- (E) 22
do, ou seja, é dado o seu oposto.
Resolução:
Exemplo: São 8 livros de 2 cm: 8.2 = 16 cm
(FUNDAÇÃO CASA – AGENTE EDUCACIONAL – VUNESP) Para Como eu tenho 52 cm ao todo e os demais livros tem 3 cm,
zelar pelos jovens internados e orientá-los a respeito do uso ade- temos:
quado dos materiais em geral e dos recursos utilizados em ativida- 52 - 16 = 36 cm de altura de livros de 3 cm
des educativas, bem como da preservação predial, realizou-se uma 36 : 3 = 12 livros de 3 cm
dinâmica elencando “atitudes positivas” e “atitudes negativas”, no O total de livros da pilha: 8 + 12 = 20 livros ao todo.
entendimento dos elementos do grupo. Solicitou-se que cada um Resposta: D
classificasse suas atitudes como positiva ou negativa, atribuindo
(+4) pontos a cada atitude positiva e (-1) a cada atitude negativa. • Potenciação: A potência an do número inteiro a, é definida
Se um jovem classificou como positiva apenas 20 das 50 atitudes como um produto de n fatores iguais. O número a é denominado a
anotadas, o total de pontos atribuídos foi base e o número n é o expoente.an = a x a x a x a x ... x a , a é multi-
(A) 50. plicado por a n vezes. Tenha em mente que:
(B) 45. – Toda potência de base positiva é um número inteiro positivo.
(C) 42. – Toda potência de base negativa e expoente par é um número
(D) 36. inteiro positivo.
(E) 32. – Toda potência de base negativa e expoente ímpar é um nú-
mero inteiro negativo.
Resolução:
50-20=30 atitudes negativas Propriedades da Potenciação
20.4=80 1) Produtos de Potências com bases iguais: Conserva-se a base
30.(-1)=-30 e somam-se os expoentes. (–a)3 . (–a)6 = (–a)3+6 = (–a)9
80-30=50 2) Quocientes de Potências com bases iguais: Conserva-se a
Resposta: A base e subtraem-se os expoentes. (-a)8 : (-a)6 = (-a)8 – 6 = (-a)2
3) Potência de Potência: Conserva-se a base e multiplicam-se
• Multiplicação: é uma adição de números/ fatores repetidos. os expoentes. [(-a)5]2 = (-a)5 . 2 = (-a)10
Na multiplicação o produto dos números a e b, pode ser indicado 4) Potência de expoente 1: É sempre igual à base. (-a)1 = -a e
por a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum sinal entre as letras. (+a) = +a
1

5) Potência de expoente zero e base diferente de zero: É igual


• Divisão: a divisão exata de um número inteiro por outro nú- a 1. (+a)0 = 1 e (–b)0 = 1
mero inteiro, diferente de zero, dividimos o módulo do dividendo
pelo módulo do divisor.
Conjunto dos números racionais – Q
ATENÇÃO: m
1) No conjunto Z, a divisão não é comutativa, não é associativa Um número racional é o que pode ser escrito na forma n ,
e não tem a propriedade da existência do elemento neutro. onde m e n são números inteiros, sendo que n deve ser diferente
2) Não existe divisão por zero. de zero. Frequentemente usamos m/n para significar a divisão de
3) Zero dividido por qualquer número inteiro, diferente de zero, m por n.
é zero, pois o produto de qualquer número inteiro por zero é igual
a zero.

166
MATEMÁTICA

N C Z C Q (N está contido em Z que está contido em Q)

Subconjuntos:

SÍMBOLO REPRESENTAÇÃO DESCRIÇÃO


* Q* Conjunto dos números racionais não nulos
+ Q+ Conjunto dos números racionais não negativos
*e+ Q*+ Conjunto dos números racionais positivos
- Q_ Conjunto dos números racionais não positivos
*e- Q*_ Conjunto dos números racionais negativos

Representação decimal
Podemos representar um número racional, escrito na forma de fração, em número decimal. Para isso temos duas maneiras possíveis:
1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, um número finito de algarismos. Decimais Exatos:

2
= 0,4
5
2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, infinitos algarismos (nem todos nulos), repetindo-se periodicamente Decimais
Periódicos ou Dízimas Periódicas:

1
= 0,333...
3
Representação Fracionária
É a operação inversa da anterior. Aqui temos duas maneiras possíveis:

1) Transformando o número decimal em uma fração numerador é o número decimal sem a vírgula e o denominador é composto pelo
numeral 1, seguido de tantos zeros quantas forem as casas decimais do número decimal dado. Ex.:
0,035 = 35/1000

2) Através da fração geratriz. Aí temos o caso das dízimas periódicas que podem ser simples ou compostas.
– Simples: o seu período é composto por um mesmo número ou conjunto de números que se repeti infinitamente. Exemplos:

Procedimento: para transformarmos uma dízima periódica simples em fração basta utilizarmos o dígito 9 no denominador para cada
quantos dígitos tiver o período da dízima.

167
MATEMÁTICA

– Composta: quando a mesma apresenta um ante período que não se repete.

a)

Procedimento: para cada algarismo do período ainda se coloca um algarismo 9 no denominador. Mas, agora, para cada algarismo do
antiperíodo se coloca um algarismo zero, também no denominador.

b)

Procedimento: é o mesmo aplicado ao item “a”, acrescido na frente da parte inteira (fração mista), ao qual transformamos e obtemos
a fração geratriz.

Exemplo:
(PREF. NITERÓI) Simplificando a expressão abaixo

Obtém-se :

(A) ½
(B) 1
(C) 3/2
(D) 2
(E) 3

168
MATEMÁTICA

Resolução: ATENÇÃO: Na adição/subtração se o denominador for igual,


conserva-se os denominadores e efetua-se a operação apresen-
tada.

Exemplo:
(PREF. JUNDIAI/SP – AGENTE DE SERVIÇOS OPERACIONAIS
– MAKIYAMA) Na escola onde estudo, ¼ dos alunos tem a língua
portuguesa como disciplina favorita, 9/20 têm a matemática como
favorita e os demais têm ciências como favorita. Sendo assim, qual
fração representa os alunos que têm ciências como disciplina favo-
rita?
Resposta: B (A) 1/4
(B) 3/10
Caraterísticas dos números racionais (C) 2/9
O módulo e o número oposto são as mesmas dos números in- (D) 4/5
teiros. (E) 3/2

Inverso: dado um número racional a/b o inverso desse número Resolução:


(a/b)–n, é a fração onde o numerador vira denominador e o denomi- Somando português e matemática:
nador numerador (b/a)n.

O que resta gosta de ciências:

Representação geométrica

Resposta: B

• Multiplicação: como todo número racional é uma fração ou


pode ser escrito na forma de uma fração, definimos o produto de
dois números racionais a e c , da mesma forma que o produto de
Observa-se que entre dois inteiros consecutivos existem infini- frações, através de: b d
tos números racionais.

Operações
• Soma ou adição: como todo número racional é uma fração
ou pode ser escrito na forma de uma fração, definimos a adição
entre os números racionais a e c , da mesma forma que a soma
de frações, através de: b d • Divisão: a divisão de dois números racionais p e q é a própria
operação de multiplicação do número p pelo inverso de q, isto é: p
÷ q = p × q-1

• Subtração: a subtração de dois números racionais p e q é a


própria operação de adição do número p com o oposto de q, isto é:
p – q = p + (–q) Exemplo:
(PM/SE – SOLDADO 3ªCLASSE – FUNCAB) Numa operação
policial de rotina, que abordou 800 pessoas, verificou-se que 3/4
dessas pessoas eram homens e 1/5 deles foram detidos. Já entre as
mulheres abordadas, 1/8 foram detidas.
Qual o total de pessoas detidas nessa operação policial?
(A) 145
(B) 185

169
MATEMÁTICA

(C) 220 ções e radiciações) e também por símbolos chamados de sinais de


(D) 260 associação, que podem aparecer em uma única expressão.
(E) 120
Procedimentos
Resolução: 1) Operações:
- Resolvermos primeiros as potenciações e/ou radiciações na
ordem que aparecem;
- Depois as multiplicações e/ou divisões;
- Por último as adições e/ou subtrações na ordem que apare-
cem.

2) Símbolos:
- Primeiro, resolvemos os parênteses ( ), até acabarem os cál-
culos dentro dos parênteses,
-Depois os colchetes [ ];
- E por último as chaves { }.

ATENÇÃO:
– Quando o sinal de adição (+) anteceder um parêntese, col-
chetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o colchete ou
chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os números internos
com os seus sinais originais.
Resposta: A – Quando o sinal de subtração (-) anteceder um parêntese, col-
chetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o colchete ou
• Potenciação: é válido as propriedades aplicadas aos núme- chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os números internos
ros inteiros. Aqui destacaremos apenas as que se aplicam aos nú- com os seus sinais invertidos.
meros racionais.
A) Toda potência com expoente negativo de um número racio- Exemplo:
nal diferente de zero é igual a outra potência que tem a base igual (MANAUSPREV – ANALISTA PREVIDENCIÁRIO – ADMINISTRATI-
ao inverso da base anterior e o expoente igual ao oposto do expo- VA – FCC) Considere as expressões numéricas, abaixo.
ente anterior.
A = 1/2 + 1/4+ 1/8 + 1/16 + 1/32 e
B = 1/3 + 1/9 + 1/27 + 1/81 + 1/243

O valor, aproximado, da soma entre A e B é


(A) 2
(B) 3
(C) 1
B) Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo sinal da (D) 2,5
base. (E) 1,5

Resolução:
Vamos resolver cada expressão separadamente:

C) Toda potência com expoente par é um número positivo.

Expressões numéricas
São todas sentenças matemáticas formadas por números, suas
operações (adições, subtrações, multiplicações, divisões, potencia- Resposta: E

170
MATEMÁTICA

Múltiplos Vale ressaltar a divisibilidade por 7: Um número é divisível por


Dizemos que um número é múltiplo de outro quando o primei- 7 quando o último algarismo do número, multiplicado por 2, subtra-
ro é resultado da multiplicação entre o segundo e algum número ído do número sem o algarismo, resulta em um número múltiplo de
natural e o segundo, nesse caso, é divisor do primeiro. O que sig- 7. Neste, o processo será repetido a fim de diminuir a quantidade
nifica que existem dois números, x e y, tal que x é múltiplo de y se de algarismos a serem analisados quanto à divisibilidade por 7.
existir algum número natural n tal que:
x = y·n Outros critérios
Divisibilidade por 12: Um número é divisível por 12 quando é
Se esse número existir, podemos dizer que y é um divisor de x e divisível por 3 e por 4 ao mesmo tempo.
podemos escrever: x = n/y Divisibilidade por 15: Um número é divisível por 15 quando é
divisível por 3 e por 5 ao mesmo tempo.
Observações:
1) Todo número natural é múltiplo de si mesmo. Fatoração numérica
2) Todo número natural é múltiplo de 1. Trata-se de decompor o número em fatores primos. Para de-
3) Todo número natural, diferente de zero, tem infinitos múl- compormos este número natural em fatores primos, dividimos o
tiplos. mesmo pelo seu menor divisor primo, após pegamos o quociente
4) O zero é múltiplo de qualquer número natural. e dividimos o pelo seu menor divisor, e assim sucessivamente até
5) Os múltiplos do número 2 são chamados de números pares, obtermos o quociente 1. O produto de todos os fatores primos re-
e a fórmula geral desses números é 2k (k ∈ N). Os demais são presenta o número fatorado. Exemplo:
chamados de números ímpares, e a fórmula geral desses números
é 2k + 1 (k ∈ N).
6) O mesmo se aplica para os números inteiros, tendo k ∈ Z.

Critérios de divisibilidade
São regras práticas que nos possibilitam dizer se um número
é ou não divisível por outro, sem que seja necessário efetuarmos
a divisão.
No quadro abaixo temos um resumo de alguns dos critérios:

Divisores
Os divisores de um número n, é o conjunto formado por todos
os números que o dividem exatamente. Tomemos como exemplo o
número 12.

Um método para descobrimos os divisores é através da fato-


ração numérica. O número de divisores naturais é igual ao produto
dos expoentes dos fatores primos acrescidos de 1.
Logo o número de divisores de 12 são:

Para sabermos quais são esses 6 divisores basta pegarmos cada


fator da decomposição e seu respectivo expoente natural que varia
de zero até o expoente com o qual o fator se apresenta na decom-
(Fonte: https://www.guiadamatematica.com.br/criterios-de- posição do número natural.
-divisibilidade/ - reeditado) 12 = 22 . 31 =
22 = 20,21 e 22 ; 31 = 30 e 31, teremos:
20 . 30=1
20 . 31=3

171
MATEMÁTICA

21 . 30=2
21 . 31=2.3=6
22 . 31=4.3=12
22 . 30=4
O conjunto de divisores de 12 são: D (12)={1, 2, 3, 4, 6, 12}
A soma dos divisores é dada por: 1 + 2 + 3 + 4 + 6 + 12 = 28

Máximo divisor comum (MDC)


É o maior número que é divisor comum de todos os números dados. Para o cálculo do MDC usamos a decomposição em fatores pri-
mos. Procedemos da seguinte maneira:
Após decompor em fatores primos, o MDC é o produto dos FATORES COMUNS obtidos, cada um deles elevado ao seu MENOR EXPO-
ENTE. Exemplo:
MDC (18,24,42) =

Observe que os fatores comuns entre eles são: 2 e 3, então pegamos os de menores expoentes: 2x3 = 6. Logo o Máximo Divisor Co-
mum entre 18,24 e 42 é 6.

Mínimo múltiplo comum (MMC)


É o menor número positivo que é múltiplo comum de todos os números dados. A técnica para acharmos é a mesma do MDC, apenas
com a seguinte ressalva:
O MMC é o produto dos FATORES COMUNS E NÃO-COMUNS, cada um deles elevado ao SEU MAIOR EXPOENTE.
Pegando o exemplo anterior, teríamos:
MMC (18,24,42) =
Fatores comuns e não-comuns= 2,3 e 7
Com maiores expoentes: 2³x3²x7 = 8x9x7 = 504. Logo o Mínimo Múltiplo Comum entre 18,24 e 42 é 504.

Temos ainda que o produto do MDC e MMC é dado por: MDC (A,B). MMC (A,B)= A.B
SISTEMAS DE UNIDADES DE MEDIDAS: COMPRIMENTO, ÁREA, VOLUME, MASSA E TEMPO

O sistema métrico decimal é parte integrante do Sistema de Medidas. É adotado no Brasil tendo como unidade fundamental de me-
dida o metro.
O Sistema de Medidas é um conjunto de medidas usado em quase todo o mundo, visando padronizar as formas de medição.

Medidas de comprimento
Os múltiplos do metro são usados para realizar medição em grandes distâncias, enquanto os submúltiplos para realizar medição em
pequenas distâncias.

UNIDADE
MÚLTIPLOS SUBMÚLTIPLOS
FUNDAMENTAL
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
km hm Dam m dm cm mm
1000m 100m 10m 1m 0,1m 0,01m 0,001m

172
MATEMÁTICA

Para transformar basta seguir a tabela seguinte (esta transformação vale para todas as medidas):

Medidas de superfície e área


As unidades de área do sistema métrico correspondem às unidades de comprimento da tabela anterior.
São elas: quilômetro quadrado (km2), hectômetro quadrado (hm2), etc. As mais usadas, na prática, são o quilômetro quadrado, o me-
tro quadrado e o hectômetro quadrado, este muito importante nas atividades rurais com o nome de hectare (ha): 1 hm2 = 1 ha.
No caso das unidades de área, o padrão muda: uma unidade é 100 vezes a menor seguinte e não 10 vezes, como nos comprimentos.
Entretanto, consideramos que o sistema continua decimal, porque 100 = 102. A nomenclatura é a mesma das unidades de comprimento
acrescidas de quadrado.

Vejamos as relações entre algumas essas unidades que não fazem parte do sistema métrico e as do sistema métrico decimal (valores
aproximados):
1 polegada = 25 milímetros
1 milha = 1 609 metros
1 légua = 5 555 metros
1 pé = 30 centímetros

Medidas de Volume e Capacidade


Na prática, são muitos usados o metro cúbico(m3) e o centímetro cúbico(cm3).
Nas unidades de volume, há um novo padrão: cada unidade vale 1000 vezes a unidade menor seguinte. Como 1000 = 103, o sistema
continua sendo decimal. Acrescentamos a nomenclatura cúbico.
A noção de capacidade relaciona-se com a de volume. A unidade fundamental para medir capacidade é o litro (l); 1l equivale a 1 dm3.

Medidas de Massa
O sistema métrico decimal inclui ainda unidades de medidas de massa. A unidade fundamental é o grama(g). Assim as denominamos:
Kg – Quilograma; hg – hectograma; dag – decagrama; g – grama; dg – decigrama; cg – centigrama; mg – miligrama
Dessas unidades, só têm uso prático o quilograma, o grama e o miligrama. No dia-a-dia, usa-se ainda a tonelada (t). Medidas Especiais:
1 Tonelada(t) = 1000 Kg
1 Arroba = 15 Kg
1 Quilate = 0,2 g
Em resumo temos:

Relações importantes

173
MATEMÁTICA

1 kg = 1l = 1 dm3 (A) 50 kg de Cannabis sativa e 100 kg de outras ervas.


1 hm2 = 1 ha = 10.000m2 (B) 55 kg de Cannabis sativa e 95 kg de outras ervas.
1 m3 = 1000 l (C) 60 kg de Cannabis sativa e 90 kg de outras ervas.
(D) 65 kg de Cannabis sativa e 85 kg de outras ervas.
Exemplos: (E) 70 kg de Cannabis sativa e 80 kg de outras ervas.
(CLIN/RJ - GARI E OPERADOR DE ROÇADEIRA - COSEAC) Uma
peça de um determinado tecido tem 30 metros, e para se confec- Resolução:
cionar uma camisa desse tecido são necessários 15 decímetros. O enunciado fornece que a cada 5kg do produto temos que 2kg
Com duas peças desse tecido é possível serem confeccionadas: da Cannabis sativa e os demais outras ervas. Podemos escrever em
(A) 10 camisas forma de razão , logo :
(B) 20 camisas
(C) 40 camisas
(D) 80 camisas

Resolução:
Como eu quero 2 peças desse tecido e 1 peça possui 30 metros
logo:
30 . 2 = 60 m. Temos que trabalhar com todas na mesma unida-
de: 1 m é 10dm assim temos 60m . 10 = 600 dm, como cada camisa
gasta um total de 15 dm, temos então:
Resposta: C
600/15 = 40 camisas.
Resposta: C
Razões Especiais
São aquelas que recebem um nome especial. Vejamos algu-
(CLIN/RJ - GARI E OPERADOR DE ROÇADEIRA - COSEAC) Um
mas:
veículo tem capacidade para transportar duas toneladas de carga.
Velocidade: é razão entre a distância percorrida e o tempo gas-
Se a carga a ser transportada é de caixas que pesam 4 quilogramas
to para percorrê-la.
cada uma, o veículo tem capacidade de transportar no máximo:
(A) 50 caixas
(B) 100 caixas
(C) 500 caixas
(D) 1000 caixas

Resolução: Densidade: é a razão entre a massa de um corpo e o seu volu-


Uma tonelada(ton) é 1000 kg, logo 2 ton. 1000kg= 2000 kg me ocupado por esse corpo.
Cada caixa pesa 4kg
2000 kg/ 4kg = 500 caixas.
Resposta: C

Proporção
RAZÃO E PROPORÇÃO
É uma igualdade entre duas frações ou duas razões.
Razão
É uma fração, sendo a e b dois números a sua razão, chama-se
razão de a para b: a/b ou a:b , assim representados, sendo b ≠ 0.
Temos que:
Lemos: a esta para b, assim como c está para d.
Ainda temos:

Exemplo:
(SEPLAN/GO – PERITO CRIMINAL – FUNIVERSA) Em uma ação
policial, foram apreendidos 1 traficante e 150 kg de um produto
parecido com maconha. Na análise laboratorial, o perito constatou
que o produto apreendido não era maconha pura, isto é, era uma
mistura da Cannabis sativa com outras ervas. Interrogado, o trafi-
cante revelou que, na produção de 5 kg desse produto, ele usava
apenas 2 kg da Cannabis sativa; o restante era composto por várias
“outras ervas”. Nesse caso, é correto afirmar que, para fabricar todo
o produto apreendido, o traficante usou

174
MATEMÁTICA

• Propriedades da Proporção Quando realizamos uma divisão diretamente proporcional es-


– Propriedade Fundamental: o produto dos meios é igual ao tamos dividindo um número de maneira proporcional a uma sequ-
produto dos extremos: ência de outros números. A divisão pode ser de diferentes tipos,
a.d=b.c vejamos:

– A soma/diferença dos dois primeiros termos está para o pri- Divisão Diretamente Proporcional
meiro (ou para o segundo termo), assim como a soma/diferença • Divisão em duas partes diretamente proporcionais: para de-
dos dois últimos está para o terceiro (ou para o quarto termo). compor um número M em duas partes A e B diretamente propor-
cionais a p e q, montamos um sistema com duas equações e duas
incógnitas, de modo que a soma das partes seja A + B = M:

– A soma/diferença dos antecedentes está para a soma/dife-


rença dos consequentes, assim como cada antecedente está para O valor de K é que proporciona a solução pois: A = K.p e B = K.q
o seu consequente.
• Divisão em várias partes diretamente proporcionais: para
decompor um número M em partes x1, x2, ..., xn diretamente pro-
porcionais a p1, p2, ..., pn, deve-se montar um sistema com n equa-
ções e n incógnitas, sendo as somas x1 + x2 + ... + xn= M e p1 + p2 + ...
+ pn = P:

Exemplo:
(MP/SP – AUXILIAR DE PROMOTORIA I – ADMINISTRATIVO –
VUNESP) A medida do comprimento de um salão retangular está
para a medida de sua largura assim como 4 está para 3. No piso Divisão Inversamente Proporcional
desse salão, foram colocados somente ladrilhos quadrados inteiros, • Divisão em duas partes inversamente proporcionais: para
revestindo-o totalmente. Se cada fileira de ladrilhos, no sentido do decompor um número M em duas partes A e B inversamente pro-
comprimento do piso, recebeu 28 ladrilhos, então o número míni- porcionais a p e q, deve-se decompor este número M em duas par-
mo de ladrilhos necessários para revestir totalmente esse piso foi tes A e B diretamente proporcionais a 1/p e 1/q, que são, respecti-
igual a vamente, os inversos de p e q. Assim basta montar o sistema com
(A) 588. duas equações e duas incógnitas tal que A + B = M:
(B) 350.
(C) 454.
(D) 476.
(E) 382.

Resolução:
O valor de K proporciona a solução pois: A = K/p e B = K/q.

• Divisão em várias partes inversamente proporcionais: para


decompor um número M em n partes x1, x2, ..., xn inversamente pro-
porcionais a p1, p2, ..., pn, basta decompor este número M em n
Fazendo C = 28 e substituindo na proporção, temos: partes x1, x2, ..., xn diretamente proporcionais a 1/p1, 1/p2, ..., 1/pn. A
montagem do sistema com n equações e n incógnitas, assume que
x1 + x2 + ... + xn= M:

4L = 28 . 3
L = 84 / 4
L = 21 ladrilhos
Assim, o total de ladrilhos foi de 28 . 21 = 588
Resposta: A

175
MATEMÁTICA

Divisão em partes direta e inversamente proporcionais


• Divisão em duas partes direta e inversamente proporcionais: para decompor um número M em duas partes A e B diretamente
proporcionais a, c e d e inversamente proporcionais a p e q, deve-se decompor este número M em duas partes A e B diretamente propor-
cionais a c/q e d/q, basta montar um sistema com duas equações e duas incógnitas de forma que A + B = M

O valor de K proporciona a solução pois: A = K.c/p e B = K.d/q.

• Divisão em n partes direta e inversamente proporcionais: para decompor um número M em n partes x1, x2, ..., xn diretamente pro-
porcionais a p1, p2, ..., pn e inversamente proporcionais a q1, q2, ..., qn, basta decompor este número M em n partes x1, x2, ..., xn diretamente
proporcionais a p1/q1, p2/q2, ..., pn/qn.
A montagem do sistema com n equações e n incógnitas exige que x1 + x2 + ... + xn = M:

Exemplos:
(PREF. PAULISTANA/PI – PROFESSOR DE MATEMÁTICA – IMA) Uma herança de R$ 750.000,00 deve ser repartida entre três herdeiros,
em partes proporcionais a suas idades que são de 5, 8 e 12 anos. O mais velho receberá o valor de:
(A) R$ 420.000,00
(B) R$ 250.000,00
(C) R$ 360.000,00
(D) R$ 400.000,00
(E) R$ 350.000,00

Resolução:
5x + 8x + 12x = 750.000
25x = 750.000
x = 30.000
O mais velho receberá: 12⋅30000=360000
Resposta: C

(TRF 3ª – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC) Quatro funcionários dividirão, em partes diretamente proporcionais aos anos dedicados para a
empresa, um bônus de R$36.000,00. Sabe-se que dentre esses quatro funcionários um deles já possui 2 anos trabalhados, outro possui 7
anos trabalhados, outro possui 6 anos trabalhados e o outro terá direito, nessa divisão, à quantia de R$6.000,00. Dessa maneira, o número
de anos dedicados para a empresa, desse último funcionário citado, é igual a
(A) 5.
(B) 7.
(C) 2.
(D) 3.
(E) 4.

Resolução:
2x + 7x + 6x + 6000 = 36000
15x = 30000
x = 2000
Como o último recebeu R$ 6.000,00, significa que ele se dedicou 3 anos a empresa, pois 2000.3 = 6000
Resposta: D

176
MATEMÁTICA

(CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – FCC) Uma prefeitura destinou a quantia de 54 milhões de reais para a
construção de três escolas de educação infantil. A área a ser construída em cada escola é, respectivamente, 1.500 m², 1.200 m² e 900 m²
e a quantia destinada à cada escola é diretamente proporcional a área a ser construída.
Sendo assim, a quantia destinada à construção da escola com 1.500 m² é, em reais, igual a
(A) 22,5 milhões.
(B) 13,5 milhões.
(C) 15 milhões.
(D) 27 milhões.
(E) 21,75 milhões.

Resolução:
2x + 7x + 6x + 6000 = 36000
15x = 30000
x = 2000
Como o último recebeu R$ 6.000,00, significa que ele se dedicou 3 anos a empresa, pois 2000.3 = 6000
Resposta: D

(SABESP – ATENDENTE A CLIENTES 01 – FCC) Uma empresa quer doar a três funcionários um bônus de R$ 45.750,00. Será feita uma
divisão proporcional ao tempo de serviço de cada um deles. Sr. Fortes trabalhou durante 12 anos e 8 meses. Sra. Lourdes trabalhou du-
rante 9 anos e 7 meses e Srta. Matilde trabalhou durante 3 anos e 2 meses. O valor, em reais, que a Srta. Matilde recebeu a menos que o
Sr. Fortes é
(A) 17.100,00.
(B) 5.700,00.
(C) 22.800,00.
(D) 17.250,00.
(E) 15.000,00.

Resolução:
* Fortes: 12 anos e 8 meses = 12.12 + 8 = 144 + 8 = 152 meses
* Lourdes: 9 anos e 7 meses = 9.12 + 7 = 108 + 7 = 115 meses
* Matilde: 3 anos e 2 meses = 3.12 + 2 = 36 + 2 = 38 meses
* TOTAL: 152 + 115 + 38 = 305 meses
* Vamos chamar a quantidade que cada um vai receber de F, L e M.

Agora, vamos calcular o valor que M e F receberam:

M = 38 . 150 = R$ 5 700,00

F = 152 . 150 = R$ 22 800,00

Por fim, a diferença é: 22 800 – 5700 = R$ 17 100,00


Resposta: A

(SESP/MT – PERITO OFICIAL CRIMINAL - ENGENHARIA CIVIL/ENGENHARIA ELÉTRICA/FÍSICA/MATEMÁTICA – FUNCAB/2014) Maria,


Júlia e Carla dividirão R$ 72.000,00 em partes inversamente proporcionais às suas idades. Sabendo que Maria tem 8 anos, Júlia,12 e Carla,
24, determine quanto receberá quem ficar com a maior parte da divisão.

177
MATEMÁTICA

(A) R$ 36.000,00
(B) R$ 60.000,00
(C) R$ 48.000,00
(D) R$ 24.000,00
(E) R$ 30.000,00

Resolução:

A maior parte ficará para a mais nova (grandeza inversamente proporcional).


Assim:

8.M = 288 000


M = 288 000 / 8
M = R$ 36 000,00
M + J + C = 72000
Resposta: A

REGRA DE TRÊS SIMPLES E REGRA DE TRÊS COMPOSTA

Regra de três simples


Os problemas que envolvem duas grandezas diretamente ou inversamente proporcionais podem ser resolvidos através de um proces-
so prático, chamado REGRA DE TRÊS SIMPLES.

• Duas grandezas são DIRETAMENTE PROPORCIONAIS quando ao aumentarmos/diminuirmos uma a outra também aumenta/diminui.
• Duas grandezas são INVERSAMENTE PROPORCIONAIS quando ao aumentarmos uma a outra diminui e vice-versa.

Exemplos:
(PM/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO – VUNESP) Em 3 de maio de 2014, o jornal Folha de S. Paulo publicou a seguinte informação
sobre o número de casos de dengue na cidade de Campinas.

178
MATEMÁTICA

De acordo com essas informações, o número de casos regis- um dia de trabalho por 18 varredores trabalhando 5 horas por dia.
trados na cidade de Campinas, até 28 de abril de 2014, teve um Mantendo-se as mesmas proporções, 15 varredores varrerão 7.500
aumento em relação ao número de casos registrados em 2007, m² de calçadas, em um dia, trabalhando por dia, o tempo de
aproximadamente, de (A) 8 horas e 15 minutos.
(A) 70%. (B) 9 horas.
(B) 65%. (C) 7 horas e 45 minutos.
(C) 60%. (D) 7 horas e 30 minutos.
(D) 55%. (E) 5 horas e 30 minutos.
(E) 50%.
Resolução:
Resolução: Comparando- se cada grandeza com aquela onde está o x.
Utilizaremos uma regra de três simples:
M² ↑ varredores ↓ horas ↑
ano % 6000 18 5
11442 100 7500 15 x
17136 x
Quanto mais a área, mais horas (diretamente proporcionais)
11442.x = 17136 . 100 Quanto menos trabalhadores, mais horas (inversamente pro-
x = 1713600 / 11442 = 149,8% (aproximado) porcionais)
149,8% – 100% = 49,8%
Aproximando o valor, teremos 50%
Resposta: E

(PRODAM/AM – AUXILIAR DE MOTORISTA – FUNCAB) Numa


transportadora, 15 caminhões de mesma capacidade transportam
toda a carga de um galpão em quatro horas. Se três deles quebras-
sem, em quanto tempo os outros caminhões fariam o mesmo tra-
balho? Como 0,5 h equivale a 30 minutos, logo o tempo será de 7 horas e
(A) 3 h 12 min 30 minutos.
(B) 5 h Resposta: D
(C) 5 h 30 min
(D) 6 h (PREF. CORBÉLIA/PR – CONTADOR – FAUEL) Uma equipe cons-
(E) 6 h 15 min tituída por 20 operários, trabalhando 8 horas por dia durante 60
dias, realiza o calçamento de uma área igual a 4800 m². Se essa
Resolução: equipe fosse constituída por 15 operários, trabalhando 10 horas
Vamos utilizar uma Regra de Três Simples Inversa, pois, quanto por dia, durante 80 dias, faria o calçamento de uma área igual a:
menos caminhões tivermos, mais horas demorará para transportar (A) 4500 m²
a carga: (B) 5000 m²
(C) 5200 m²
(D) 6000 m²
cami- ho- (E) 6200 m²
nhões ras
15 4 Resolução:
(15 – 3) x
Operários
horas ↑ dias ↑ área ↑
12.x = 4 . 15 ↑
x = 60 / 12
x=5h 20 8 60 4800
Resposta: B 15 10 80 x

Regra de três composta Todas as grandezas são diretamente proporcionais, logo:


Chamamos de REGRA DE TRÊS COMPOSTA, problemas que
envolvem mais de duas grandezas, diretamente ou inversamente
proporcionais.

Exemplos:
(CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO
– FCC) O trabalho de varrição de 6.000 m² de calçada é feita em
Resposta: D

179
MATEMÁTICA

Exemplo:
PORCENTAGEM (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO –
FCC) O preço de venda de um produto, descontado um imposto de
São chamadas de razões centesimais ou taxas percentuais ou 16% que incide sobre esse mesmo preço, supera o preço de com-
simplesmente de porcentagem, as razões de denominador 100, ou pra em 40%, os quais constituem o lucro líquido do vendedor. Em
seja, que representam a centésima parte de uma grandeza. Costu- quantos por cento, aproximadamente, o preço de venda é superior
mam ser indicadas pelo numerador seguido do símbolo %. (Lê-se: ao de compra?
“por cento”). (A) 67%.
(B) 61%.
(C) 65%.
(D) 63%.
(E) 69%.
Exemplo:
(CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP – ANA- Resolução:
LISTA TÉCNICO LEGISLATIVO – DESIGNER GRÁFICO – VUNESP) O Preço de venda: V
departamento de Contabilidade de uma empresa tem 20 funcio- Preço de compra: C
nários, sendo que 15% deles são estagiários. O departamento de V – 0,16V = 1,4C
Recursos Humanos tem 10 funcionários, sendo 20% estagiários. Em 0,84V = 1,4C
relação ao total de funcionários desses dois departamentos, a fra-
ção de estagiários é igual a
(A) 1/5.
(B) 1/6.
(C) 2/5.
(D) 2/9. O preço de venda é 67% superior ao preço de compra.
(E) 3/5.
Resposta: A
Resolução:
Aumento e Desconto em porcentagem
– Aumentar um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo por

Logo:

Resposta: B

Lucro e Prejuízo em porcentagem - Diminuir um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo por


É a diferença entre o preço de venda e o preço de custo. Se
a diferença for POSITIVA, temos o LUCRO (L), caso seja NEGATIVA,
temos PREJUÍZO (P).
Logo: Lucro (L) = Preço de Venda (V) – Preço de Custo (C).
Logo:

Fator de multiplicação

É o valor final de , é o que chama-


mos de fator de multiplicação, muito útil para resolução de cálculos
de porcentagem. O mesmo pode ser um acréscimo ou decréscimo
no valor do produto.

180
MATEMÁTICA

Aumentos e Descontos sucessivos em porcentagem


São valores que aumentam ou diminuem sucessivamente. Para efetuar os respectivos descontos ou aumentos, fazemos uso dos fato-
res de multiplicação. Basta multiplicarmos o Valor pelo fator de multiplicação (acréscimo e/ou decréscimo).
Exemplo: Certo produto industrial que custava R$ 5.000,00 sofreu um acréscimo de 30% e, em seguida, um desconto de 20%. Qual o
preço desse produto após esse acréscimo e desconto?

Resolução:
VA = 5000 .(1,3) = 6500 e
VD = 6500 .(0,80) = 5200, podemos, para agilizar os cálculos, juntar tudo em uma única equação:
5000 . 1,3 . 0,8 = 5200
Logo o preço do produto após o acréscimo e desconto é de R$ 5.200,00

JUROS SIMPLES E JUROS COMPOSTOS

Juros simples (ou capitalização simples)


Os juros são determinados tomando como base de cálculo o capital da operação, e o total do juro é devido ao credor (aquele que
empresta) no final da operação. Devemos ter em mente:
– Os juros são representados pela letra J*.
– O dinheiro que se deposita ou se empresta chamamos de capital e é representado pela letra C (capital) ou P(principal) ou VP ou PV
(valor presente) *.
– O tempo de depósito ou de empréstimo é representado pela letra t ou n.*
– A taxa de juros é a razão centesimal que incide sobre um capital durante certo tempo. É representado pela letra i e utilizada para
calcular juros.
*Varia de acordo com a bibliografia estudada.

ATENÇÃO: Devemos sempre relacionar a taxa e o tempo na mesma unidade para efetuarmos os cálculos.

Usamos a seguinte fórmula:

Em juros simples:
– O capital cresce linearmente com o tempo;
– O capital cresce a uma progressão aritmética de razão: J=C.i
– A taxa i e o tempo t devem ser expressos na mesma unidade.
– Devemos expressar a taxa i na forma decimal.
– Montante (M) ou FV (valor futuro) é a soma do capital com os juros, ou seja:
M=C+J
M = C.(1+i.t)

181
MATEMÁTICA

Exemplo:
(PRODAM/AM – Assistente – FUNCAB) Qual é o capital que,
investido no sistema de juros simples e à taxa mensal de 2,5 %, pro-
duzirá um montante de R$ 3.900,00 em oito meses?
(A) R$ 1.650,00
(B) R$ 2.225,00
(C) R$ 3.250,00
(D) R$ 3.460,00
(E) R$ 3.500,00

Resolução:
Montante = Capital + juros, ou seja: j = M – C , que fica: j =
3900 – C ( I )
Agora, é só substituir ( I ) na fórmula do juros simples:

O crescimento do principal (capital) em:


– juros simples é LINEAR, CONSTANTE;
– juros compostos é EXPONENCIAL, GEOMÉTRICO e, portanto
tem um crescimento muito mais “rápido”;
Observe no gráfico que:
– O montante após 1º tempo é igual tanto para o regime de
juros simples como para juros compostos;
390000 – 100.C = 2,5 . 8 . C – Antes do 1º tempo o montante seria maior no regime de
– 100.C – 20.C = – 390000 . (– 1) juros simples;
120.C = 390000 – Depois do 1º tempo o montante seria maior no regime de
C = 390000 / 120 juros compostos.
C = R$ 3250,00
Resposta: C Exemplo:
(PREF. GUARUJÁ/SP – SEDUC – PROFESSOR DE MATEMÁTICA
Juros compostos (capitalização composta) – CAIPIMES) Um capital foi aplicado por um período de 3 anos, com
A taxa de juros incide sobre o capital de cada período. Também taxa de juros compostos de 10% ao ano. É correto afirmar que essa
conhecido como “juros sobre juros”. aplicação rendeu juros que corresponderam a, exatamente:
Usamos a seguinte fórmula: (A) 30% do capital aplicado.
(B) 31,20% do capital aplicado.
(C) 32% do capital aplicado.
(D) 33,10% do capital aplicado.

Resolução:

O (1+i)t ou (1+i)n é chamado de fator de acumulação de capital.

ATENÇÃO: as unidades de tempo referentes à taxa de juros (i) e


do período (t), tem de ser necessariamente iguais.
Como, M = C + j , ou seja , j = M – C , temos:
j = 1,331.C – C = 0,331 . C
0,331 = 33,10 / 100 = 33,10%
Resposta: D

Juros Compostos utilizando Logaritmos


Algumas questões que envolvem juros compostos, precisam de
conceitos de logaritmos, principalmente aquelas as quais precisa-
mos achar o tempo/prazo. Normalmente as questões informam os
valores do logaritmo, então não é necessário decorar os valores da
tabela.

182
MATEMÁTICA

Exemplo:
(FGV-SP) Uma aplicação financeira rende juros de 10% ao ano, compostos anualmente. Utilizando para cálculos a aproximação de ,
pode-se estimar que uma aplicação de R$ 1.000,00 seria resgatada no montante de R$ 1.000.000,00 após:
(A) Mais de um século.
(B) 1 século
(C) 4/5 de século
(D) 2/3 de século
(E) ¾ de século

Resolução:
A fórmula de juros compostos é M = C(1 + i)t e do enunciado temos que M = 1.000.000, C = 1.000, i = 10% = 0,1:
1.000.000 = 1.000(1 + 0,1)t

(agora para calcular t temos que usar logaritmo nos dois lados da equação para pode utilizar a propriedade
, o expoente m passa multiplicando)

t.0,04 = 3

Resposta: E

EQUAÇÃO DO 1º GRAU, EQUAÇÃO DO 2º GRAU, SISTEMAS DE EQUAÇÕES; EQUAÇÕES EXPONENCIAIS E LOGARÍTMICAS

Equação é toda sentença matemática aberta que exprime uma relação de igualdade e uma incógnita ou variável (x, y, z,...).

Equação do 1º grau
As equações do primeiro grau são aquelas que podem ser representadas sob a forma ax + b = 0, em que a e b são constantes reais,
com a diferente de 0, e x é a variável. A resolução desse tipo de equação é fundamentada nas propriedades da igualdade descritas a seguir.
Adicionando um mesmo número a ambos os membros de uma equação, ou subtraindo um mesmo número de ambos os membros,
a igualdade se mantém.
Dividindo ou multiplicando ambos os membros de uma equação por um mesmo número não-nulo, a igualdade se mantém.

• Membros de uma equação


Numa equação a expressão situada à esquerda da igualdade é chamada de 1º membro da equação, e a expressão situada à direita da
igualdade, de 2º membro da equação.

183
MATEMÁTICA

• Resolução de uma equação Exs.:


Colocamos no primeiro membro os termos que apresentam x² - 81 = 0 é uma equação incompleta (b=0).
variável, e no segundo membro os termos que não apresentam va- x² +6x = 0 é uma equação incompleta (c = 0).
riável. Os termos que mudam de membro têm os sinais trocados. 2x² = 0 é uma equação incompleta (b = c = 0).
5x – 8 = 12 + x
5x – x = 12 + 8 • Resolução da equação
4x = 20 1º) A equação é da forma ax2 + bx = 0 (incompleta)
X = 20/4 x2 – 16x = 0  colocamos x em evidência
X=5 x . (x – 16) = 0,
x=0
Ao substituirmos o valor encontrado de x na equação obtemos x – 16 = 0
o seguinte: x = 16
5x – 8 = 12 + x Logo, S = {0, 16} e os números 0 e 16 são as raízes da equação.
5.5 – 8 = 12 + 5
25 – 8 = 17 2º) A equação é da forma ax2 + c = 0 (incompleta)
17 = 17 ( V) x2 – 49= 0  Fatoramos o primeiro membro, que é uma diferen-
ça de dois quadrados.
Quando se passa de um membro para o outro se usa a ope- (x + 7) . (x – 7) = 0,
ração inversa, ou seja, o que está multiplicando passa dividindo e x+7=0 x–7=0
o que está dividindo passa multiplicando. O que está adicionando
passa subtraindo e o que está subtraindo passa adicionando. x=–7 x=7

Exemplo: ou
(PRODAM/AM – AUXILIAR DE MOTORISTA – FUNCAB) Um gru-
po formado por 16 motoristas organizou um churrasco para suas x2 – 49 = 0
famílias. Na semana do evento, seis deles desistiram de participar. x2 = 49
Para manter o churrasco, cada um dos motoristas restantes pagou x2 = 49
R$ 57,00 a mais. x = 7, (aplicando a segunda propriedade).
O valor total pago por eles, pelo churrasco, foi: Logo, S = {–7, 7}.
(A) R$ 570,00
(B) R$ 980,50 3º) A equação é da forma ax² + bx + c = 0 (completa)
(C) R$ 1.350,00 Para resolvê-la usaremos a formula de Bháskara.
(D) R$ 1.480,00
(E) R$ 1.520,00

Resolução:
Vamos chamar de ( x ) o valor para cada motorista. Assim:
16 . x = Total Conforme o valor do discriminante Δ existem três possibilida-
Total = 10 . (x + 57) (pois 6 desistiram) des quanto á natureza da equação dada.
Combinando as duas equações, temos:
16.x = 10.x + 570
16.x – 10.x = 570
6.x = 570
x = 570 / 6
x = 95 Quando ocorre a última possibilidade é costume dizer-se que
O valor total é: 16 . 95 = R$ 1520,00. não existem raízes reais, pois, de fato, elas não são reais já que não
Resposta: E existe, no conjunto dos números reais, √a quando a < 0.
Equação do 2º grau • Relações entre raízes e coeficientes
As equações do segundo grau são aquelas que podem ser re-
presentadas sob a forma ax² + bx +c = 0, em que a, b e c são cons-
tantes reais, com a diferente de 0, e x é a variável.

• Equação completa e incompleta


1) Quando b ≠ 0 e c ≠ 0, a equação do 2º grau se diz completa.
Ex.: x2 - 7x + 11 = 0= 0 é uma equação completa (a = 1, b = – 7,
c = 11).

2) Quando b = 0 ou c = 0 ou b = c = 0, a equação do 2º grau se


diz incompleta.

184
MATEMÁTICA

Exemplo: Pode-se resolver qualquer inequação do 1° grau por meio do


(CÂMARA DE CANITAR/SP – RECEPCIONISTA – INDEC) Qual a estudo do sinal de uma função do 1° grau, com o seguinte proce-
equação do 2º grau cujas raízes são 1 e 3/2? dimento:
(A) x²-3x+4=0 1. Iguala-se a expressão ax + b a zero;
(B) -3x²-5x+1=0 2. Localiza-se a raiz no eixo x;
(C) 3x²+5x+2=0 3. Estuda-se o sinal conforme o caso.
(D) 2x²-5x+3=0
Pegando o exemplo anterior temos:
Resolução: -2x + 7 > 0
Como as raízes foram dadas, para saber qual a equação: -2x + 7 = 0
x² - Sx +P=0, usando o método da soma e produto; S= duas x = 7/2
raízes somadas resultam no valor numérico de b; e P= duas raízes
multiplicadas resultam no valor de c.

Exemplo:
(SEE/AC – PROFESSOR DE CIÊNCIAS DA NATUREZA MATEMÁ-
TICA E SUAS TECNOLOGIAS – FUNCAB) Determine os valores de
que satisfazem a seguinte inequação:

Resposta: D (A) x > 2


(B) x - 5
Inequação do 1º grau (C) x > - 5
Uma inequação do 1° grau na incógnita x é qualquer expressão (D) x < 2
do 1° grau que pode ser escrita numa das seguintes formas: (E) x 2

Resolução:
ax + b > 0
ax + b < 0
ax + b ≥ 0
ax + b ≤ 0
Onde a, b são números reais com a ≠ 0

• Resolvendo uma inequação de 1° grau


Uma maneira simples de resolver uma equação do 1° grau é
isolarmos a incógnita x em um dos membros da igualdade. O méto-
do é bem parecido com o das equações. Ex.:
Resolva a inequação -2x + 7 > 0.
Solução:
-2x > -7
Multiplicando por (-1) Resposta: B
2x < 7
x < 7/2 Inequação do 2º grau
Portanto a solução da inequação é x < 7/2. Chamamos de inequação da 2º toda desigualdade pode ser re-
presentada da seguinte forma:
Atenção:
Toda vez que “x” tiver valor negativo, devemos multiplicar por
(-1), isso faz com que o símbolo da desigualdade tenha o seu sen-
tido invertido.

185
MATEMÁTICA

Fazendo o gráfico, a > 0 parábola voltada para cima:


ax2 + bx + c > 0
ax2 + bx + c < 0
ax2 + bx + c ≥ 0
ax2 + bx + c ≤ 0
Onde a, b e c são números reais com a ≠ 0

Resolução da inequação
Para resolvermos uma inequação do 2o grau, utilizamos o estu-
do do sinal. As inequações são representadas pelas desigualdades:
> , ≥ , < , ≤.
Ex.: x2 -3x + 2 > 0

Resolução:
x2 -3x + 2 > 0
x ‘ =1, x ‘’ = 2
Resposta: C
Como desejamos os valores para os quais a função é maior que
zero devemos fazer um esboço do gráfico e ver para quais valores
Sistema do 1º grau
de x isso ocorre.
Um sistema de equação de 1º grau com duas incógnitas é for-
mado por: duas equações de 1º grau com duas incógnitas diferen-
tes em cada equação. Veja um exemplo:

• Resolução de sistemas
Vemos, que as regiões que tornam positivas a função são: x<1 Existem dois métodos de resolução dos sistemas. Vejamos:
e x>2. Resposta: { x|R| x<1 ou x>2}
• Método da substituição
Exemplo: Consiste em escolher uma das duas equações, isolar uma das
(VUNESP) O conjunto solução da inequação 9x2 – 6x + 1 ≤ 0, no incógnitas e substituir na outra equação, veja como:
universo dos números reais é:
(A) ∅
(B) R Dado o sistema , enumeramos as equações.

(C)

(D)

Escolhemos a equação 1 (pelo valor da incógnita de x ser 1) e


(E)
isolamos x. Teremos: x = 20 – y e substituímos na equação 2.
3 (20 – y) + 4y = 72, com isso teremos apenas 1 incógnita. Re-
Resolução:
solvendo:
Resolvendo por Bháskara:
60 – 3y + 4y = 72 → -3y + 4y = 72 -60 → y = 12
Para descobrir o valor de x basta substituir 12 na equação x =
20 – y. Logo:
x = 20 – y → x = 20 – 12 →x = 8
Portanto, a solução do sistema é S = (8, 12)

Método da adição
Esse método consiste em adicionar as duas equações de tal
forma que a soma de uma das incógnitas seja zero. Para que isso
aconteça será preciso que multipliquemos algumas vezes as duas
equações ou apenas uma equação por números inteiros para que a
soma de uma das incógnitas seja zero.

186
MATEMÁTICA

Substituindo a II e a III equação na I:


Dado o sistema

Para adicionarmos as duas equações e a soma de uma das in-


cógnitas de zero, teremos que multiplicar a primeira equação por
– 3.
Substituindo na equação II
x = 320 + 50 = 370
z=320+30=350
A equipe que mais arrecadou foi a amarela com 370kg

Resposta: E
Teremos:
(SABESP – ANALISTA DE GESTÃO I -CONTABILIDADE – FCC) Em
um campeonato de futebol, as equipes recebem, em cada jogo, três
pontos por vitória, um ponto em caso de empate e nenhum ponto
se forem derrotadas. Após disputar 30 partidas, uma das equipes
desse campeonato havia perdido apenas dois jogos e acumulado 58
Adicionando as duas equações: pontos. O número de vitórias que essa equipe conquistou, nessas
30 partidas, é igual a
(A) 12
(B) 14
(C) 16
(D) 13
(E) 15
Para descobrirmos o valor de x basta escolher uma das duas
equações e substituir o valor de y encontrado: Resolução:
x + y = 20 → x + 12 = 20 → x = 20 – 12 → x = 8 Vitórias: x
Portanto, a solução desse sistema é: S = (8, 12). Empate: y
Derrotas: 2
Exemplos: Pelo método da adição temos:
(SABESP – APRENDIZ – FCC) Em uma gincana entre as três equi-
pes de uma escola (amarela, vermelha e branca), foram arrecada-
dos 1 040 quilogramas de alimentos. A equipe amarela arrecadou
50 quilogramas a mais que a equipe vermelha e esta arrecadou 30
quilogramas a menos que a equipe branca. A quantidade de alimen-
tos arrecadada pela equipe vencedora foi, em quilogramas, igual a
(A) 310
(B) 320
(C) 330
(D) 350
(E) 370
Resposta: E
Resolução:
Amarela: x Sistema do 2º grau
Vermelha: y Utilizamos o mesmo princípio da resolução dos sistemas de
Branca: z 1º grau, por adição, substituições, etc. A diferença é que teremos
x = y + 50 como solução um sistema de pares ordenados.
y = z - 30
z = y + 30 Sequência prática
– Estabelecer o sistema de equações que traduzam o problema
para a linguagem matemática;
– Resolver o sistema de equações;
– Interpretar as raízes encontradas, verificando se são compatí-
veis com os dados do problema.

187
MATEMÁTICA

Exemplos:
(CPTM - MÉDICO DO TRABALHO – MAKIYAMA) Sabe-se que o FUNÇÕES: AFINS, QUADRÁTICAS, EXPONENCIAIS,
produto da idade de Miguel pela idade de Lucas é 500. Miguel é LOGARÍTMICAS
5 anos mais velho que Lucas. Qual a soma das idades de Miguel e
Lucas? Funções lineares
(A) 40. Chama-se função do 1º grau ou afim a função f: R  R definida
(B) 55. por y = ax + b, com a e b números reais e a 0. a é o coeficiente an-
(C) 65. gular da reta e determina sua inclinação, b é o coeficiente linear da
(D) 50. reta e determina a intersecção da reta com o eixo y.
(E) 45.

Resolução:
Sendo Miguel M e Lucas L:
M.L = 500 (I)
M = L + 5 (II)
substituindo II em I, temos:
(L + 5).L = 500
L2 + 5L – 500 = 0, a = 1, b = 5 e c = - 500
∆ = b² - 4.a.c Com a ϵ R* e b ϵ R.
∆ = 5² - 4.1.(-500)
∆ = 25 + 2000 Atenção
∆ = 2025 Usualmente chamamos as funções polinomiais de: 1º grau, 2º
x = (-b ± √∆)/2a etc, mas o correto seria Função de grau 1,2 etc. Pois o classifica a
x’ = (-5 + 45) / 2.1 → x’ = 40/2 → x’ = 20 função é o seu grau do seu polinômio.
x’’ = (-5 - 45) / 2.1 → x’’ = -50/2 → x’’ = -25 (não serve)
A função do 1º grau pode ser classificada de acordo com seus
Então L = 20 gráficos. Considere sempre a forma genérica y = ax + b.
M.20 = 500
m = 500 : 20 = 25 • Função constante
M + L = 25 + 20 = 45 Se a = 0, então y = b, b ∈ R. Desta maneira, por exemplo, se y =
Resposta: E 4 é função constante, pois, para qualquer valor de x, o valor de y ou
f(x) será sempre 4.
(TJ- FAURGS) Se a soma de dois números é igual a 10 e o seu
produto é igual a 20, a soma de seus quadrados é igual a:
(A) 30
(B) 40
(C) 50
(D) 60
(E) 80
• Função identidade
Resolução:
Se a = 1 e b = 0, então y = x. Nesta função, x e y têm sempre
os mesmos valores. Graficamente temos: A reta y = x ou f(x) = x é
denominada bissetriz dos quadrantes ímpares.

Eu quero saber a soma de seus quadrados x2 + y2


Vamos elevar o x + y ao quadrado:
(x + y)2 = (10)2
x2 + 2xy + y2 = 100 , como x . y=20 substituímos o valor :
x2 + 2.20 + y2 = 100
x2 + 40 + y2 = 100
x2 + y2 = 100 – 40
x2 + y2 = 60
Resposta: D
Mas, se a = -1 e b = 0, temos então y = -x. A reta determinada
por esta função é a bissetriz dos quadrantes pares, conforme mos-
tra o gráfico ao lado. x e y têm valores iguais em módulo, porém
com sinais contrários.

188
MATEMÁTICA

• Função Par
Quando para todo elemento x pertencente ao domínio temos
f(x)=f(-x), ∀ x ∈ D(f). Ou seja, os valores simétricos devem possuir a
mesma imagem.

• Função linear
É a função do 1º grau quando b = 0, a ≠ 0 e a ≠ 1, a e b ∈ R.

• Função afim
É a função do 1º grau quando a ≠ 0, b ≠ 0, a e b ∈ R.
• Função ímpar
• Função Injetora Quando para todo elemento x pertencente ao domínio, temos
É a função cujo domínio apresenta elementos distintos e tam- f(-x) = -f(x) ∀ x є D(f). Ou seja, os elementos simétricos do domínio
bém imagens distintas. terão imagens simétricas.

• Função Sobrejetora
É quando todos os elementos do domínio forem imagens de Gráfico da função do 1º grau
PELO MENOS UM elemento do domínio. A representação geométrica da função do 1º grau é uma reta,
portanto, para determinar o gráfico, é necessário obter dois pontos.
Em particular, procuraremos os pontos em que a reta corta os eixos
x e y.
De modo geral, dada a função f(x) = ax + b, para determinarmos
a intersecção da reta com os eixos, procedemos do seguinte modo:

• Função Bijetora
É uma função que é ao mesmo tempo injetora e sobrejetora.

1º) Igualamos y a zero, então ax + b = 0 ⇒ x = - b/a, no eixo x


encontramos o ponto (-b/a, 0).
2º) Igualamos x a zero, então f(x) = a. 0 + b ⇒ f(x) = b, no eixo y
encontramos o ponto (0, b).
• f(x) é crescente se a é um número positivo (a > 0);
• f(x) é decrescente se a é um número negativo (a < 0).

189
MATEMÁTICA

(A) R$ 3.487,50.
(B) R$ 3.506,25.
(C) R$ 3.534,00.
(D) R$ 3.553,00.
Resolução:

Raiz ou zero da função do 1º grau


A raiz ou zero da função do 1º grau é o valor de x para o qual y =
f(x) = 0. Graficamente, é o ponto em que a reta “corta” o eixo x. Por-
tanto, para determinar a raiz da função, basta a igualarmos a zero:
Resposta: A

(CBTU/RJ - ASSISTENTE OPERACIONAL - CONDUÇÃO DE VEÍ-


CULOS METROFERROVIÁRIOS – CONSULPLAN) Qual dos pares de
pontos a seguir pertencem a uma função do 1º grau decrescente?
Estudo de sinal da função do 1º grau (A) Q(3, 3) e R(5, 5).
Estudar o sinal de uma função do 1º grau é determinar os valo- (B) N(0, –2) e P(2, 0).
res de x para que y seja positivo, negativo ou zero. (C) S(–1, 1) e T(1, –1).
1º) Determinamos a raiz da função, igualando-a a zero: (raiz: (D) L(–2, –3) e M(2, 3).
x =- b/a)
2º) Verificamos se a função é crescente (a>0) ou decrescente (a Resolução:
< 0); temos duas possibilidades: Para pertencer a uma função polinomial do 1º grau decrescen-
te, o primeiro ponto deve estar em uma posição “mais alta” do que
o 2º ponto.
Vamos analisar as alternativas:
( A ) os pontos Q e R estão no 1º quadrante, mas Q está em uma
posição mais baixa que o ponto R, e, assim, a função é crescente.
( B ) o ponto N está no eixo y abaixo do zero, e o ponto P está no
eixo x à direita do zero, mas N está em uma posição mais baixa que
o ponto P, e, assim, a função é crescente.
( D ) o ponto L está no 3º quadrante e o ponto M está no 1º
quadrante, e L está em uma posição mais baixa do que o ponto M,
sendo, assim, crescente.
( C ) o ponto S está no 2º quadrante e o ponto T está no 4º qua-
drante, e S está em uma posição mais alta do que o ponto T, sendo,
assim, decrescente.
Exemplos: Resposta: C
(PM/SP – CABO – CETRO) O gráfico abaixo representa o salário
bruto (S) de um policial militar em função das horas (h) trabalhadas Equações lineares
em certa cidade. Portanto, o valor que este policial receberá por As equações do tipo a1x1 + a2x2 + a3x3 + .....+ anxn = b, são equa-
186 horas é ções lineares, onde a1, a2, a3, ... são os coeficientes; x1, x2, x3,... as
incógnitas e b o termo independente.
Por exemplo, a equação 4x – 3y + 5z = 31 é uma equação line-
ar. Os coeficientes são 4, –3 e 5; x, y e z as incógnitas e 31 o termo
independente.
Para x = 2, y = 4 e z = 7, temos 4.2 – 3.4 + 5.7 = 31, concluímos
que o terno ordenado (2,4,7) é solução da equação linear
4x – 3y + 5z = 31.

190
MATEMÁTICA

Funções quadráticas
Chama-se função do 2º grau ou função quadrática, de domínio R e contradomínio R, a função:

Com a, b e c reais e a ≠ 0.

Onde:
a é o coeficiente de x2
b é o coeficiente de x
c é o termo independente

Atenção:
Chama-se função completa aquela em que a, b e c não são nulos, e função incompleta aquela em que b ou c são nulos.

Raízes da função do 2ºgrau


Analogamente à função do 1º grau, para encontrar as raízes da função quadrática, devemos igualar f(x) a zero. Teremos então:
ax2 + bx + c = 0

A expressão assim obtida denomina-se equação do 2º grau. As raízes da equação são determinadas utilizando-se a fórmula de Bhaska-
ra:

Δ (letra grega: delta) é chamado de discriminante da equação. Observe que o discriminante terá um valor numérico, do qual temos de
extrair a raiz quadrada. Neste caso, temos três casos a considerar:
Δ > 0 ⇒ duas raízes reais e distintas;
Δ = 0 ⇒ duas raízes reais e iguais;
Δ < 0 ⇒ não existem raízes reais (∄ x ∈ R).

Gráfico da função do 2º grau

• Concavidade da parábola
Graficamente, a função do 2º grau, de domínio r, é representada por uma curva denominada parábola. Dada a função y = ax2 + bx + c,
cujo gráfico é uma parábola, se:

• O termo independente
Na função y = ax2 + bx + c, se x = 0 temos y = c. Os pontos em que x = 0 estão no eixo y, isto significa que o ponto (0, c) é onde a pará-
bola “corta” o eixo y.

191
MATEMÁTICA

• Raízes da função
Considerando os sinais do discriminante (Δ) e do coeficiente de x2, teremos os gráficos que seguem para a função y = ax2 + bx + c.

Vértice da parábola – Máximos e mínimos da função


Observe os vértices nos gráficos:

O vértice da parábola será:


• o ponto mínimo se a concavidade estiver voltada para cima (a > 0);
• o ponto máximo se a concavidade estiver voltada para baixo (a < 0).
A reta paralela ao eixo y que passa pelo vértice da parábola é chamada de eixo de simetria.

Coordenadas do vértice
As coordenadas do vértice da parábola são dadas por:

Estudo do sinal da função do 2º grau


Estudar o sinal da função quadrática é determinar os valores de x para que y seja: positivo, negativo ou zero. Dada a função f(x) = y =
ax2 + bx + c, para saber os sinais de y, determinamos as raízes (se existirem) e analisamos o valor do discriminante.

192
MATEMÁTICA

Considere um sistema de coordenadas cartesianas com centro


em O, de modo que o eixo vertical (y) passe pelo ponto mais alto do
arco (V), e o horizontal (x) passe pelos dois pontos de apoio desse
arco sobre a porta (A e B).
Sabendo-se que a função quadrática que descreve esse arco é
f(x) = – x²+ c, e que V = (0; 0,81), pode-se afirmar que a distância ,
em metros, é igual a
(A) 2,1.
(B) 1,8.
(C) 1,6.
(D) 1,9.
(E) 1,4.

Exemplos: Resolução:
(CBM/MG – OFICIAL BOMBEIRO MILITAR – FUMARC) Duas C=0,81, pois é exatamente a distância de V
cidades A e B estão separadas por uma distância d. Considere um F(x)=-x²+0,81
ciclista que parte da cidade A em direção à cidade B. A distância d, 0=-x²+0,81
em quilômetros, que o ciclista ainda precisa percorrer para chegar X²=0,81
ao seu destino em função do tempo t, em horas, é dada pela função X=±0,9
A distância AB é 0,9+0,9=1,8
. Sendo assim, a velocidade média desenvolvida
Resposta: B
pelo ciclista em todo o percurso da cidade A até a cidade B é igual a
(A) 10 Km/h
(TRANSPETRO – TÉCNICO DE ADMINISTRAÇÃO E CONTROLE
(B) 20 Km/h
JÚNIOR – CESGRANRIO) A raiz da função f(x) = 2x − 8 é também raiz
(C) 90 Km/h
da função quadrática g(x) = ax²+ bx + c. Se o vértice da parábola, grá-
(D) 100 Km/h
fico da função g(x), é o ponto V(−1, −25), a soma a + b + c é igual a:
(A) − 25
Resolução:
(B) − 24
Vamos calcular a distância total, fazendo t = 0:
(C) − 23
(D) − 22
(E) – 21

Resolução:
2x-8=0
Agora, vamos substituir na função:
2x=8
X=4

100 – t² = 0
– t² = – 100 . (– 1)
t² = 100
t= √100=10km/h
Resposta: A

(IPEM – TÉCNICO EM METROLOGIA E QUALIDADE – VUNESP)


A figura ilustra um arco decorativo de parábola AB sobre a porta da
entrada de um salão:
Lembrando que para encontrar a equação, temos:
(x - 4)(x + 6) = x² + 6x - 4x - 24 = x² + 2x - 24
a=1
b=2
c=-24
a + b + c = 1 + 2 – 24 = -21
Resposta: E

193
MATEMÁTICA

Função exponencial 02. Considerando a função, encontre a função: y = (1/3)x


Antes seria bom revisarmos algumas noções de potencializa-
ção e radiciação.
Sejam a e b bases reais e diferentes de zero e m e n expoentes
inteiros, temos:

Observando as funções anteriores, podemos concluir que para


y = ax:
• se a > 1, a função exponencial é crescente;
• se 0 < a < 1, a função é decrescente.
Equação exponencial Graficamente temos:
A equação exponencial caracteriza-se pela presença da incóg-
nita no expoente. Exemplos:

Para resolver estas equações, além das propriedades de potên-


cias, utilizamos a seguinte propriedade:
Se duas potências são iguais, tendo as bases iguais, então os
expoentes são iguais: am = an ⇔ m = n, sendo a > 0 e a ≠ 1.
Inequação exponencial
Gráficos da função exponencial A inequação exponencial caracteriza-se pela presença da incóg-
A função exponencial f, de domínio R e contradomínio R, é de- nita no expoente e de um dos sinais de desigualdade: >, <, ≥ ou ≤.
finida por y = ax, onde a > 0 e a ≠1. Analisando seus gráficos, temos:

Exemplos:
01. Considere a função y = 3x.
Vamos atribuir valores a x, calcular y e a seguir construir o grá-
fico:

Observando o gráfico, temos que:


• na função crescente, conservamos o sinal da desigualdade
para comparar os expoentes:

194
MATEMÁTICA

• na função decrescente, “invertemos” o sinal da desigualdade para comparar os expoentes:

Desde que as bases sejam iguais.

Exemplos:
(CORPO DE BOMBEIROS MILITAR/MT – OFICIAL BOMBEIRO MILITAR – COVEST – UNEMAT) As funções exponenciais são muito
usadas para modelar o crescimento ou o decaimento populacional de uma determinada região em um determinado período de tempo.
A função P(t) = 234(1,023)t modela o comportamento de uma determinada cidade quanto ao seu crescimento populacional em um deter-
minado período de tempo, em que P é a população em milhares de habitantes e t é o número de anos desde 1980.
Qual a taxa média de crescimento populacional anual dessa cidade?
(A) 1,023%
(B) 1,23%
(C) 2,3%
(D) 0,023%
(E) 0,23%

Resolução:

Primeiramente, vamos calcular a população inicial, fazendo t = 0:

Agora, vamos calcular a população após 1 ano, fazendo t = 1:

Por fim, vamos utilizar a Regra de Três Simples:


População----------%
234 --------------- 100
239,382 ------------ x

234.x = 239,382 . 100


x = 23938,2 / 234
x = 102,3%
102,3% = 100% (população já existente) + 2,3% (crescimento)
Resposta: C

(POLÍCIA CIVIL/SP – DESENHISTA TÉCNICO-PERICIAL – VUNESP) Uma população P cresce em função do tempo t (em anos), segundo a
sentença P = 2000.50,1t. Hoje, no instante t = 0, a população é de 2 000 indivíduos. A população será de 50 000 indivíduos daqui a
(A) 20 anos.
(B) 25 anos.
(C) 50 anos.
(D) 15 anos.
(E) 10 anos.

Resolução:

195
MATEMÁTICA

Vamos simplificar as bases (5), sobrando somente os expoentes. Assim:


0,1 . t = 2
t = 2 / 0,1
t = 20 anos
Resposta: A

Função logarítmica
• Logaritmo
O logaritmo de um número b, na base a, onde a e b são positivos e a é diferente de um, é um número x, tal que x é o expoente de a
para se obter b, então:

Onde:
b é chamado de logaritmando
a é chamado de base
x é o logaritmo

OBSERVAÇÕES
– loga a = 1, sendo a > 0 e a ≠ 1
– Nos logaritmos decimais, ou seja, aqueles em que a base é 10, está frequentemente é omitida. Por exemplo: logaritmo de 2 na
base 10; notação: log 2

Propriedades decorrentes da definição

• Domínio (condição de existência)


Segundo a definição, o logaritmando e a base devem ser positivos, e a base deve ser diferente de 1. Portanto, sempre que encontra-
mos incógnitas no logaritmando ou na base devemos garantir a existência do logaritmo.
– Propriedades

Logaritmo decimal - característica e mantissa


Normalmente eles são calculados fazendo-se o uso da calculadora e da tabela de logaritmos. Mas fique tranquilo em sua prova as
bancas fornecem os valores dos logaritmos.

Exemplo: Determine log 341.

Resolução:
Sabemos que 341 está entre 100 e 1.000:
102 < 341 < 103
Como a característica é o expoente de menor potência de 10, temos que c = 2.
Consultando a tabela para 341, encontramos m = 0,53275. Logo: log 341 = 2 + 0,53275  log 341 = 2,53275.

Propriedades operatórias dos logaritmos

196
MATEMÁTICA

Cologaritmo
cologa b = - loga b, sendo b> 0, a > 0 e a ≠ 1

Mudança de base
Para resolver questões que envolvam logaritmo com bases diferentes, utilizamos a seguinte expressão:

Função logarítmica
Função logarítmica é a função f, de domínio R*+ e contradomínio R, que associa cada número real e positivo x ao logaritmo de x na
base a, onde a é um número real, positivo e diferente de 1.

Gráfico da função logarítmica


Vamos construir o gráfico de duas funções logarítmicas como exemplo:
A) y = log3 x
Atribuímos valores convenientes a x, calculamos y, conforme mostra a tabela. Localizamos os pontos no plano cartesiano obtendo a
curva que representa a função.

B) y = log1/3 x
Vamos tabelar valores convenientes de x, calculando y. Localizamos os pontos no plano cartesiano, determinando a curva correspon-
dente à função.

Observando as funções anteriores, podemos concluir que para y = logax:


• se a > 1, a função é crescente;
• se 0 < a < 1, a função é decrescente.

197
MATEMÁTICA

Equações logarítmicas
A equação logarítmica caracteriza-se pela presença do sinal de igualdade e da incógnita no logaritmando.
Para resolver uma equação, antes de mais nada devemos estabelecer a condição de existência do logaritmo, determinando os valores
da incógnita para que o logaritmando e a base sejam positivos, e a base diferente de 1.

Inequações logarítmicas
Identificamos as inequações logarítmicas pela presença da incógnita no logaritmando e de um dos sinais de desigualdade: >, <, ≥ ou ≤.
Assim como nas equações, devemos garantir a existência do logaritmo impondo as seguintes condições: o logaritmando e a base
devem ser positivos e a base deve ser diferente de 1.
Na resolução de inequações logarítmicas, procuramos obter logaritmos de bases iguais nos dois membros da inequação, para poder
comparar os logaritmandos. Porém, para que não ocorram distorções, devemos verificar se as funções envolvidas são crescentes ou de-
crescentes. A justificativa será feita por meio da análise gráfica de duas funções:

Na função crescente, os sinais coincidem na comparação dos logaritmandos e, posteriormente, dos respectivos logaritmos; porém,
o mesmo não ocorre na função decrescente. De modo geral, quando resolvemos uma inequação logarítmica, temos de observar o valor
numérico da base pois, sendo os dois membros da inequação compostos por logaritmos de mesma base, para comparar os respectivos
logaritmandos temos dois casos a considerar:
• se a base é um número maior que 1 (função crescente), utilizamos o mesmo sinal da inequação;
• se a base é um número entre zero e 1 (função decrescente), utilizamos o “sinal inverso” da inequação.

Concluindo, dada a função y = loga x e dois números reais x1 e x2:

Exemplos:
(PETROBRAS-GEOFISICO JUNIOR – CESGRANRIO) Se log x representa o logaritmo na base 10 de x, então o valor de n tal que log n =
3 - log 2 é:
(A) 2000
(B) 1000
(C) 500
(D) 100
(E) 10

198
MATEMÁTICA

Resolução:
log n = 3 - log 2
log n + log 2 = 3 * 1
onde 1 = log 10 então:
log (n * 2) = 3 * log 10
log(n*2) = log 10 ^3
2n = 10^3
2n = 1000
n = 1000 / 2
n = 500
Resposta: C

(MF – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO – ESAF) Sabendo-se que log x representa o logaritmo de x na base 10, calcule o valor
da expressão log 20 + log 5.
(A) 5
(B) 4
(C) 1
(D) 2
(E) 3

Resolução:
E = log20 + log5
E = log(2 x 10) + log5
E = log2 + log10 + log5
E = log10 + log (2 x 5)
E = log10 + log10
E = 2 log10
E=2
Resposta: D

Funções trigonométricas
Podemos generalizar e escrever todos os arcos com essa característica na seguinte forma: π/2 + 2kπ, onde k Є Z. E de uma forma geral
abrangendo todos os arcos com mais de uma volta, x + 2kπ.
Estes arcos são representados no plano cartesiano através de funções circulares como: função seno, função cosseno e função tangente.

• Função Seno
É uma função f : R → R que associa a cada número real x o seu seno, então f(x) = sem x. O sinal da função f(x) = sem x é positivo no 1º
e 2º quadrantes, e é negativo quando x pertence ao 3º e 4º quadrantes.

199
MATEMÁTICA

• Função Cosseno
É uma função f : R → R que associa a cada número real x o seu cosseno, então f(x) = cos x. O sinal da função f(x) = cos x é positivo no
1º e 4º quadrantes, e é negativo quando x pertence ao 2º e 3º quadrantes.

• Função Tangente
É uma função f : R → R que associa a cada número real x a sua tangente, então f(x) = tg x.
Sinais da função tangente:
- Valores positivos nos quadrantes ímpares.
- Valores negativos nos quadrantes pares.
- Crescente em cada valor.

200
MATEMÁTICA

PROGRESSÕES ARITMÉTICAS E GEOMÉTRICAS

Progressão aritmética (P.A.)


É toda sequência numérica em que cada um de seus termos, a partir do segundo, é igual ao anterior somado a uma constante r, de-
nominada razão da progressão aritmética. Como em qualquer sequência os termos são chamados de a1, a2, a3, a4,.......,an,....

• Cálculo da razão
A razão de uma P.A. é dada pela diferença de um termo qualquer pelo termo imediatamente anterior a ele.
r = a2 – a1 = a3 – a2 = a4 – a3 = a5 – a4 = .......... = an – an – 1

Exemplos:
- (5, 9, 13, 17, 21, 25,......) é uma P.A. onde a1 = 5 e razão r = 4
- (2, 9, 16, 23, 30,.....) é uma P.A. onde a1 = 2 e razão r = 7
- (23, 21, 19, 17, 15,....) é uma P.A. onde a1 = 23 e razão r = - 2.

201
MATEMÁTICA

• Classificação
Uma P.A. é classificada de acordo com a razão.

Se r > 0 ⇒ CRESCENTE. Se r < 0 ⇒ DECRESCENTE. Se r = 0 ⇒ CONSTANTE.

• Fórmula do Termo Geral


Em toda P.A., cada termo é o anterior somado com a razão, então temos:
1° termo: a1
2° termo: a2 = a1 + r
3° termo: a3 = a2 + r = a1 + r + r = a1 + 2r
4° termo: a4 = a3 + r = a1 + 2r + r = a1 + 3r
5° termo: a5 = a4 + r = a1 + 3r + r = a1 + 4r
6° termo: a6 = a5 + r = a1 + 4r + r = a1 + 5r
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
n° termo é:

Exemplo:
(PREF. AMPARO/SP – AGENTE ESCOLAR – CONRIO) Descubra o 99º termo da P.A. (45, 48, 51,...)
(A) 339
(B) 337
(C) 333
(D) 331

Resolução:

Resposta: A

Propriedades
1) Numa P.A. a soma dos termos equidistantes dos extremos é igual à soma dos extremos.
2) Numa P.A. com número ímpar de termos, o termo médio é igual à média aritmética entre os extremos.

202
MATEMÁTICA

Exemplo:

3) A sequência (a, b, c) é P.A. se, e somente se, o termo médio é igual à média aritmética entre a e c, isto é:

Soma dos n primeiros termos

Progressão geométrica (P.G.)


É uma sequência onde cada termo é obtido multiplicando o anterior por uma constante. Essa constante é chamada de razão da P.G.
e simbolizada pela letra q.

Cálculo da razão
A razão da P.G. é obtida dividindo um termo por seu antecessor. Assim: (a1, a2, a3, ..., an - 1, an, ...) é P.G. ⇔ an = (an - 1) q, n ≥ 2

203
MATEMÁTICA

Exemplos:

Classificação
Uma P.G. é classificada de acordo com o primeiro termo e a razão.

CRESCENTE DECRESCENTE ALTERNANTE CONSTANTE SINGULAR


a1 > 0 e q > 1 a1 > 0 e 0 < q < 1 Cada termo apresenta sinal contrário q = 1. a1 = 0
ou quando ou quando ao do anterior. Isto ocorre quando. (também é chamada de Esta- ou
a1 < 0 e 0 < q < 1. a1 < 0 e q > 1. q<0 cionária) q = 0.

Fórmula do termo geral


Em toda P.G. cada termo é o anterior multiplicado pela razão, então temos:
1° termo: a1
2° termo: a2 = a1.q
3° termo: a3 = a2.q = a1.q.q = a1q2
4° termo: a4 = a3.q = a1.q2.q = a1.q3
5° termo: a5 = a4.q = a1.q3.q = a1.q4
. . . . .
. . . . .
. . . . .

n° termo é:

Exemplo:
(TRF 3ª – ANALISTA JUDICIÁRIO - INFORMÁTICA – FCC) Um tabuleiro de xadrez possui 64 casas. Se fosse possível colocar 1 grão de
arroz na primeira casa, 4 grãos na segunda, 16 grãos na terceira, 64 grãos na quarta, 256 na quinta, e assim sucessivamente, o total de
grãos de arroz que deveria ser colocado na 64ª casa desse tabuleiro seria igual a
(A) 264.
(B) 2126.
(C) 266.
(D) 2128.
(E) 2256.

Resolução:
Pelos valores apresentados, é uma PG de razão 4
a64 = ?
a1 = 1
q=4
n = 64

Resposta: B

204
MATEMÁTICA

Propriedades
1) Em qualquer P.G., cada termo, exceto os extremos, é a média geométrica entre o precedente e o consequente.
2) Em toda P.G. finita, o produto dos termos equidistantes dos extremos é igual ao produto dos extremos.

3) Em uma P.G. de número ímpar de termos, o termo médio é a média geométrica entre os extremos.
Em síntese temos:

4) Em uma PG, tomando-se três termos consecutivos, o termo central é a média geométrica dos seus vizinhos.

Soma dos n primeiros termos


A fórmula para calcular a soma de todos os seus termos é dada por:

Produto dos n termos

Temos as seguintes regras para o produto:


1) O produto de n números positivos é sempre positivo.
2) No produto de n números negativos:
a) se n é par: o produto é positivo.
b) se n é ímpar: o produto é negativo.

Soma dos infinitos termos


A soma dos infinitos termos de uma P.G de razão q, com -1 < q < 1, é dada por:

205
MATEMÁTICA

Exemplo: Princípio multiplicativo ou fundamental da contagem (PFC)


A soma dos elementos da sequência numérica infinita (3; 0,9; Constitui a ferramenta básica para resolver problemas de con-
0,09; 0,009; …) é tagem sem que seja necessário enumerar seus elementos, através
(A) 3,1 das possibilidades dadas. Podemos dizer que, um evento B pode
(B) 3,9 ser feito de n maneiras, então, existem m • n maneiras de fazer e
(C) 3,99 executar o evento B.
(D) 3, 999
(E) 4 Exemplo:
(CÂMARA DE CHAPECÓ/SC – ASSISTENTE DE LEGISLAÇÃO E
Resolução: ADMINISTRAÇÃO – OBJETIVA) Quantos são os gabaritos possíveis
Sejam S as somas dos elementos da sequência e S1 a soma da para uma prova com 6 questões, sendo que cada questão possui 4
PG infinita (0,9; 0,09; 0,009;…) de razão q = 0,09/0,9 = 0,1. Assim: alternativas, e apenas uma delas é a alternativa correta?
S = 3 + S1 (A) 1.296
Como -1 < q < 1 podemos aplicar a fórmula da soma de uma PG (B) 3.474
infinita para obter S1: (C) 2.348
S1 = 0,9/(1 - 0,1) = 0,9/0,9 = 1 → S = 3 + 1 = 4 (D) 4.096
Resposta: E
Resolução:
ANÁLISE COMBINATÓRIA: PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA
4 . 4 . 4 . 4 . 4 . 4 = 4096
CONTAGEM, PERMUTAÇÃO, ARRANJO E COMBINAÇÃO
Resposta: D
Temos dois princípios de contagem: o aditivo e o multiplicativo.
Vejamos
A Análise Combinatória é a parte da Matemática que desen-
volve meios para trabalharmos com problemas de contagem. Ve-
Princípio aditivo
jamos eles:
Se existem m1 possibilidades de ocorrer um evento E1, m2 pos-
sibilidades de ocorrer um evento E2 e m3 para ocorrer o evento
Princípio fundamental de contagem (PFC)
E3, o número total de possibilidades de ocorrer o evento E1 ou o
É o total de possibilidades de o evento ocorrer.
evento E2 ou o evento E3, será de m1+m2+m3.
O conectivo que caracteriza a aplicação do princípio aditivo é o
• Princípio multiplicativo: P1. P2. P3. ... .Pn.(regra do “e”). É
“OU”, que está associado a união de conjuntos.
um princípio utilizado em sucessão de escolha, como ordem.
• Princípio aditivo: P1 + P2 + P3 + ... + Pn. (regra do “ou”). É o
Exemplo:
princípio utilizado quando podemos escolher uma coisa ou outra.
(CORPO DE BOMBEIROS MILITAR/MT – OFICIAL BOMBEIRO
MILITAR – COVEST – UNEMAT) A maioria das pizzarias disponibili-
Exemplos:
zam uma grande variedade de sabores aos seus clientes. A pizzaria
(BNB) Apesar de todos os caminhos levarem a Roma, eles pas-
“Vários Sabores” disponibiliza dez sabores diferentes. No entanto,
sam por diversos lugares antes. Considerando-se que existem três
as pizzas pequenas podem ser feitas somente com um sabor; as
caminhos a seguir quando se deseja ir da cidade A para a cidade
médias, com até dois sabores, e as grandes podem ser montadas
B, e que existem mais cinco opções da cidade B para Roma, qual a
com até três sabores diferentes.
quantidade de caminhos que se pode tomar para ir de A até Roma,
Imagine que um cliente peça uma pizza grande.
passando necessariamente por B?
De quantas maneiras diferentes a pizza pode ser montada no
(A) Oito.
que diz respeito aos sabores?
(B) Dez.
(A) 10
(C) Quinze.
(B) 720
(D) Dezesseis.
(C) 100
(E) Vinte.
(D) 820
(E) 730
Resolução:
Observe que temos uma sucessão de escolhas:
Resolução:
Primeiro, de A para B e depois de B para Roma.
As pizzas grandes podem ser montadas com ATÉ 3 sabores:
1ª possibilidade: 3 (A para B).
* 1 sabor: 10 maneiras
Obs.: o número 3 representa a quantidade de escolhas para a
* 2 sabores: 10 . 9 = 90 maneiras
primeira opção.
* 3 sabores: 10 . 9 . 8 = 720 maneiras
2ª possibilidade: 5 (B para Roma).
Como as pizzas podem ter 1 OU 2 OU 3 sabores, basta SOMAR
Temos duas possibilidades: A para B depois B para Roma, logo,
cada uma das possibilidades, temos: 10 + 90 + 720 = 820 maneiras.
uma sucessão de escolhas.
Resposta: D
Resultado: 3 . 5 = 15 possibilidades.
Resposta: C.

206
MATEMÁTICA

(PREF. CHAPECÓ/SC – ENGENHEIRO DE TRÂNSITO – IOBV) Em


um restaurante os clientes têm a sua disposição, 6 tipos de carnes,
4 tipos de cereais, 4 tipos de sobremesas e 5 tipos de sucos. Se o
cliente quiser pedir 1 tipo carne, 1 tipo de cereal, 1 tipo de sobre-
mesa e 1 tipo de suco, então o número de opções diferentes com • Com repetição
que ele poderia fazer o seu pedido, é: Os elementos que compõem o conjunto podem aparecer re-
(A) 19 petidos em um agrupamento, ou seja, ocorre a repetição de um
(B) 480 mesmo elemento em um agrupamento.
(C) 420 A fórmula geral para o arranjo com repetição é representada por:
(D) 90

Resolução:
A questão trata-se de princípio fundamental da contagem, logo
vamos enumerar todas as possibilidades de fazermos o pedido:
6 x 4 x 4 x 5 = 480 maneiras. Exemplo: Seja P um conjunto com elementos: P = {A,B,C,D},
Resposta: B. tomando os agrupamentos de dois em dois, considerando o arranjo
com repetição quantos agrupamentos podemos obter em relação
Fatorial ao conjunto P.
Sendo n um número natural, chama-se de n! (lê-se: n fatorial) Resolução:
a expressão: P = {A, B, C, D}
n! = n (n - 1) (n - 2) (n - 3). ... .2 . 1, como n ≥ 2. n=4
Exemplos: p=2
5! = 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 120. A(n,p)=np
7! = 7 . 6 . 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 5.040. A(4,2)=42=16
Permutação
É a TROCA DE POSIÇÃO de elementos de uma sequência. Utili-
ATENÇÃO zamos todos os elementos.
0! = 1
1! = 1 • Sem repetição

Tenha cuidado 2! = 2, pois 2 . 1 = 2. E 3!


Não é igual a 3, pois 3 . 2 . 1 = 6.

Arranjo simples
Arranjo simples de n elementos tomados p a p, onde n>=1 e p Atenção: Todas as questões de permutação simples podem ser
é um número natural, é qualquer ordenação de p elementos dentre resolvidas pelo princípio fundamental de contagem (PFC).
os n elementos, em que cada maneira de tomar os elementos se
diferenciam pela ordem e natureza dos elementos. Exemplo:
(PREF. LAGOA DA CONFUSÃO/TO – ORIENTADOR SOCIAL –
Atenção: Observe que no grupo dos elementos: {1,2,3} um dos IDECAN) Renato é mais velho que Jorge de forma que a razão entre
arranjos formados, com três elementos, 123 é DIFERENTE de 321, e o número de anagramas de seus nomes representa a diferença en-
assim sucessivamente. tre suas idades. Se Jorge tem 20 anos, a idade de Renato é
(A) 24.
• Sem repetição (B) 25.
A fórmula para cálculo de arranjo simples é dada por: (C) 26.
(D) 27.
(E) 28.

Resolução:
Anagramas de RENATO
______
Onde: 6.5.4.3.2.1=720
n = Quantidade total de elementos no conjunto.
P =Quantidade de elementos por arranjo Anagramas de JORGE
_____
Exemplo: Uma escola possui 18 professores. Entre eles, serão 5.4.3.2.1=120
escolhidos: um diretor, um vice-diretor e um coordenador pedagó-
gico. Quantas as possibilidades de escolha? Razão dos anagramas: 720/120=6
n = 18 (professores) Se Jorge tem 20 anos, Renato tem 20+6=26 anos.
p = 3 (cargos de diretor, vice-diretor e coordenador pedagógico) Resposta: C.

207
MATEMÁTICA

• Com repetição
Na permutação com elementos repetidos ocorrem permutações que não mudam o elemento, pois existe troca de elementos iguais.
Por isso, o uso da fórmula é fundamental.

Exemplo:
(CESPE) Considere que um decorador deva usar 7 faixas coloridas de dimensões iguais, pendurando-as verticalmente na vitrine de
uma loja para produzir diversas formas. Nessa situação, se 3 faixas são verdes e indistinguíveis, 3 faixas são amarelas e indistinguíveis e 1
faixa é branca, esse decorador conseguirá produzir, no máximo, 140 formas diferentes com essas faixas.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
Total: 7 faixas, sendo 3 verdes e 3 amarelas.

Resposta: Certo.

• Circular
A permutação circular é formada por pessoas em um formato circular. A fórmula é necessária, pois existem algumas permutações
realizadas que são iguais. Usamos sempre quando:
a) Pessoas estão em um formato circular.
b) Pessoas estão sentadas em uma mesa quadrada (retangular) de 4 lugares.

Exemplo:
(CESPE) Uma mesa circular tem seus 6 lugares, que serão ocupados pelos 6 participantes de uma reunião. Nessa situação, o número
de formas diferentes para se ocupar esses lugares com os participantes da reunião é superior a 102.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
É um caso clássico de permutação circular.
Pc = (6 - 1) ! = 5! = 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 120 possibilidades.
Resposta: CERTO.

Combinação
Combinação é uma escolha de um grupo, SEM LEVAR EM CONSIDERAÇÃO a ordem dos elementos envolvidos.

• Sem repetição
Dados n elementos distintos, chama-se de combinação simples desses n elementos, tomados p a p, a qualquer agrupamento de p
elementos distintos, escolhidos entre os n elementos dados e que diferem entre si pela natureza de seus elementos.

Fórmula:

208
MATEMÁTICA

Exemplo:
(CRQ 2ª REGIÃO/MG – AUXILIAR ADMINISTRATIVO – FUNDEP) Com 12 fiscais, deve-se fazer um grupo de trabalho com 3 deles. Como
esse grupo deverá ter um coordenador, que pode ser qualquer um deles, o número de maneiras distintas possíveis de se fazer esse grupo é:
(A) 4
(B) 660
(C) 1 320
(D) 3 960

Resolução:
Como trata-se de Combinação, usamos a fórmula:

Onde n = 12 e p = 3

Como cada um deles pode ser o coordenado, e no grupo tem 3 pessoas, logo temos 220 x 3 = 660.
Resposta: B.

As questões que envolvem combinação estão relacionadas a duas coisas:


– Escolha de um grupo ou comissões.
– Escolha de grupo de elementos, sem ordem, ou seja, escolha de grupo de pessoas, coisas, objetos ou frutas.

• Com repetição
É uma escolha de grupos, sem ordem, porém, podemos repetir elementos na hora de escolher.

Exemplo:
Em uma combinação com repetição classe 2 do conjunto {a, b, c}, quantas combinações obtemos?
Utilizando a fórmula da combinação com repetição, verificamos o mesmo resultado sem necessidade de enumerar todas as possibi-
lidades:
n=3ep=2

PROBABILIDADE

A teoria da probabilidade permite que se calcule a chance de ocorrência de um número em um experimento aleatório.

Elementos da teoria das probabilidades

• Experimentos aleatórios: fenômenos que apresentam resultados imprevisíveis quando repetidos, mesmo que as condições sejam
semelhantes.
• Espaço amostral: é o conjunto U, de todos os resultados possíveis de um experimento aleatório.
• Evento: qualquer subconjunto de um espaço amostral, ou seja, qualquer que seja E Ì U, onde E é o evento e U, o espaço amostral.

209
MATEMÁTICA

Experimento composto
Quando temos dois ou mais experimentos realizados simultaneamente, dizemos que o experimento é composto. Nesse caso, o nú-
mero de elementos do espaço amostral é dado pelo produto dos números de elementos dos espaços amostrais de cada experimento.
n(U) = n(U1).n(U2)

Probabilidade de um evento
Em um espaço amostral U, equiprobabilístico (com elementos que têm chances iguais de ocorrer), com n(U) elementos, o evento E,
com n(E) elementos, onde E Ì U, a probabilidade de ocorrer o evento E, denotado por p(E), é o número real, tal que:

Onde,
n(E) = número de elementos do evento E.
n(S) = número de elementos do espaço amostral S.

Sendo 0 ≤ P(E) ≤ 1 e S um conjunto equiprovável, ou seja, todos os elementos têm a mesma “chance de acontecer.

ATENÇÃO:
As probabilidades podem ser escritas na forma decimal ou representadas em porcentagem.
Assim: 0 ≤ p(E) ≤ 1, onde:
p(∅) = 0 ou p(∅) = 0%
p(U) = 1 ou p(U) = 100%

Exemplo:
(PREF. NITERÓI – AGENTE FAZENDÁRIO – FGV) O quadro a seguir mostra a distribuição das idades dos funcionários de certa repartição
pública:

FAIXA DE IDADES (ANOS) NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS


20 ou menos 2
De 21 a 30 8
De 31 a 40 12
De 41 a 50 14
Mais de 50 4

Escolhendo ao acaso um desses funcionários, a probabilidade de que ele tenha mais de 40 anos é:
(A) 30%;
(B) 35%;
(C) 40%;
(D) 45%;
(E) 55%.

210
MATEMÁTICA

Resolução:
O espaço amostral é a soma de todos os funcionário:
2 + 8 + 12 + 14 + 4 = 40
O número de funcionário que tem mais de 40 anos é: 14 + 4 = 18
Logo a probabilidade é:

Resposta: D

Probabilidade da união de eventos


Para obtermos a probabilidade da união de eventos utilizamos a seguinte expressão:

Quando os eventos forem mutuamente exclusivos, tendo A ∩ B = Ø, utilizamos a seguinte equação:

Probabilidade de um evento complementar


É quando a soma das probabilidades de ocorrer o evento E, e de não ocorrer o evento E (seu complementar, Ē) é 1.

Probabilidade condicional
Quando se impõe uma condição que reduz o espaço amostral, dizemos que se trata de uma probabilidade condicional.
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral U, com p(B) ≠ 0. Chama-se probabilidade de A condicionada a B a probabilidade de
ocorrência do evento A, sabendo-se que já ocorreu ou que vai ocorrer o evento B, ou seja:

Podemos também ler como: a probabilidade de A “dado que” ou “sabendo que” a probabilidade de B.

– Caso forem dois eventos simultâneos (ou sucessivos): para se avaliar a probabilidade de ocorrem dois eventos simultâneos (ou
sucessivos), que é P (A ∩ B), é preciso multiplicar a probabilidade de ocorrer um deles P(B) pela probabilidade de ocorrer o outro, sabendo
que o primeiro já ocorreu P (A | B). Sendo:

211
MATEMÁTICA

– Se dois eventos forem independentes: dois eventos A e B de


um espaço amostral S são independentes quando P(A|B) = P(A) ou
P(B|A) = P(B). Sendo os eventos A e B independentes, temos:

P (A ∩ B) = P(A). P(B)

Lei Binomial de probabilidade


A lei binominal das probabilidades é dada pela fórmula:
Cartogramas: são representações em cartas geográficas (ma-
pas).

Sendo:
n: número de tentativas independentes;
p: probabilidade de ocorrer o evento em cada experimento (su-
cesso);
q: probabilidade de não ocorrer o evento (fracasso); q = 1 - p
k: número de sucessos.

ATENÇÃO:
A lei binomial deve ser aplicada nas seguintes condições:
– O experimento deve ser repetido nas mesmas condições as
n vezes.
– Em cada experimento devem ocorrer os eventos E e .
– A probabilidade do E deve ser constante em todas as n vezes.
– Cada experimento é independente dos demais.

Exemplo:
Lançando-se um dado 5 vezes, qual a probabilidade de ocorre-
rem três faces 6?
Pictogramas ou gráficos pictóricos: são gráficos puramente
Resolução: ilustrativos, construídos de modo a ter grande apelo visual, dirigi-
n: número de tentativas ⇒ n = 5 dos a um público muito grande e heterogêneo. Não devem ser uti-
k: número de sucessos ⇒ k = 3 lizados em situações que exijam maior precisão.
p: probabilidade de ocorrer face 6 ⇒ p = 1/6
q: probabilidade de não ocorrer face 6 ⇒ q = 1- p ⇒ q = 5/6

ESTATÍSTICA BÁSICA: LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE


DADOS REPRESENTADOS EM TABELAS E GRÁFICOS;
MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL (MÉDIA, MEDIANA,
MODA)

— Tipos de Gráficos
Estereogramas: são gráficos onde as grandezas são
representadas por volumes. Geralmente são construídos num
sistema de eixos bidimensional, mas podem ser construídos num
sistema tridimensional para ilustrar a relação entre três variáveis.

212
MATEMÁTICA

Diagramas: são gráficos geométricos de duas dimensões, de


fácil elaboração e grande utilização. Podem ser ainda subdivididos
em: gráficos de colunas, de barras, de linhas ou curvas e de setores.
a) Gráfico de colunas: neste gráfico as grandezas são compa-
radas através de retângulos de mesma largura, dispostos vertical-
mente e com alturas proporcionais às grandezas. A distância entre
os retângulos deve ser, no mínimo, igual a 1/2 e, no máximo, 2/3 da
largura da base dos mesmos.

d) Gráfico em setores: é recomendado para situações em que


se deseja evidenciar o quanto cada informação representa do total.
A figura consiste num círculo onde o total (100%) representa 360°,
subdividido em tantas partes quanto for necessário à representa-
ção. Essa divisão se faz por meio de uma regra de três simples. Com
o auxílio de um transferidor efetuasse a marcação dos ângulos cor-
respondentes a cada divisão.

b) Gráfico de barras: segue as mesmas instruções que o gráfico


de colunas, tendo a única diferença que os retângulos são dispostos
horizontalmente. É usado quando as inscrições dos retângulos fo-
rem maiores que a base dos mesmos.

Histograma: O histograma consiste em retângulos contíguos


com base nas faixas de valores da variável e com área igual à fre-
quência relativa da respectiva faixa. Desta forma, a altura de cada
retângulo é denominada densidade de frequência ou simplesmente
densidade definida pelo quociente da área pela amplitude da faixa.
Alguns autores utilizam a frequência absoluta ou a porcentagem na
construção do histograma, o que pode ocasionar distorções (e, con-
sequentemente, más interpretações) quando amplitudes diferen-
tes são utilizadas nas faixas.

Exemplo:

c) Gráfico de linhas ou curvas: neste gráfico os pontos são dis-


postos no plano de acordo com suas coordenadas, e a seguir são li-
gados por segmentos de reta. É muito utilizado em séries históricas
e em séries mistas quando um dos fatores de variação é o tempo,
como instrumento de comparação.

213
MATEMÁTICA

Gráfico de Ogiva: Apresenta uma distribuição de frequências A partir das informações contidas nos gráficos, é correto afirmar
acumuladas, utiliza uma poligonal ascendente utilizando os pontos que:
extremos. (A) nos dias 03 e 14 choveu a mesma quantidade em Fortaleza
e Florianópolis.
(B) a quantidade de chuva acumulada no mês de março foi
maior em Fortaleza.
(C) Fortaleza teve mais dias em que choveu do que Florianó-
polis.
(D) choveu a mesma quantidade em Fortaleza e Florianópolis.

Resolução:
A única alternativa que contém a informação correta com os
gráficos é a C.
Resposta: C.

Média Aritmética
Ela se divide em:
Exemplo: (PREF. FORTALEZA/CE – PEDAGOGIA – PREF. FORTA-
• Simples: é a soma de todos os seus elementos, dividida pelo
LEZA) “Estar alfabetizado, neste final de século, supõe saber ler e
número de elementos n.
interpretar dados apresentados de maneira organizada e construir
Para o cálculo:
representações, para formular e resolver problemas que impliquem
Se x for a média aritmética dos elementos do conjunto numéri-
o recolhimento de dados e a análise de informações. Essa caracte-
co A = {x1; x2; x3; ...; xn}, então, por definição:
rística da vida contemporânea traz ao currículo de Matemática uma
demanda em abordar elementos da estatística, da combinatória e da
probabilidade, desde os ciclos iniciais” (BRASIL, 1997).
Observe os gráficos e analise as informações.

Exemplo:
(CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP – ANALIS-
TA TÉCNICO LEGISLATIVO – DESIGNER GRÁFICO – VUNESP) Na festa
de seu aniversário em 2014, todos os sete filhos de João estavam
presentes. A idade de João nessa ocasião representava 2 vezes a
média aritmética da idade de seus filhos, e a razão entre a soma das
idades deles e a idade de João valia
(A) 1,5.
(B) 2,0.
(C) 2,5.
(D) 3,0.
(E) 3,5.

Resolução:
Foi dado que: J = 2.M

(I)

Foi pedido:

214
MATEMÁTICA

Na equação ( I ), temos que: • Aplicações


Como o próprio nome indica, a média geométrica sugere inter-
pretações geométricas. Podemos calcular, por exemplo, o lado de
um quadrado que possui a mesma área de um retângulo, usando a
definição de média geométrica.

Exemplo:
A média geométrica entre os números 12, 64, 126 e 345, é
dada por:
G = R4[12 ×64×126×345] = 76,013

Média harmônica
Corresponde a quantidade de números de um conjunto dividi-
Resposta: E dos pela soma do inverso de seus termos. Embora pareça compli-
cado, sua formulação mostra que também é muito simples de ser
• Ponderada: é a soma dos produtos de cada elemento multi- calculada:
plicado pelo respectivo peso, dividida pela soma dos pesos.
Para o cálculo

ATENÇÃO: A palavra média, sem especificações (aritmética ou Exemplo:


ponderada), deve ser entendida como média aritmética. Na figura abaixo os segmentos AB e DA são tangentes à cir-
cunferência determinada pelos pontos B, C e D. Sabendo-se que os
Exemplo: segmentos AB e CD são paralelos, pode-se afirmar que o lado BC é:
(CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO/SP – PRO-
GRAMADOR DE COMPUTADOR – FIP) A média semestral de um cur-
so é dada pela média ponderada de três provas com peso igual a 1
na primeira prova, peso 2 na segunda prova e peso 3 na terceira.
Qual a média de um aluno que tirou 8,0 na primeira, 6,5 na segunda
e 9,0 na terceira?
(A) 7,0
(B) 8,0
(C) 7,8
(D) 8,4
(E) 7,2
(A) a média aritmética entre AB e CD.
Resolução: (B) a média geométrica entre AB e CD.
Na média ponderada multiplicamos o peso da prova pela sua (C) a média harmônica entre AB e CD.
nota e dividimos pela soma de todos os pesos, assim temos: (D) o inverso da média aritmética entre AB e CD.
(E) o inverso da média harmônica entre AB e CD.

Resolução:
Sendo AB paralela a CD, se traçarmos uma reta perpendicular a
AB, esta será perpendicular a CD também.
Resposta: B Traçamos então uma reta perpendicular a AB, passando por B e
outra perpendicular a AB passando por D:
Média geométrica
É definida, para números positivos, como a raiz n-ésima do pro-
duto de n elementos de um conjunto de dados.

215
MATEMÁTICA

Sendo BE perpendicular a AB temos que BE irá passar pelo cen- Enquanto a geometria plana ou euclidiana reúne os estudos
tro da circunferência, ou seja, podemos concluir que o ponto E é sobre as figuras planas, ou seja, as que não apresentam volume,
ponto médio de CD. a geometria espacial estuda as figuras geométricas que possuem
Agora que ED é metade de CD, podemos dizer que o compri- volume e mais de uma dimensão.
mento AF vale AB-CD/2.
Aplicamos Pitágoras no triângulo ADF: — Geometria Plana
É a área da matemática que estuda as formas que não possuem
volume. Triângulos, quadriláteros, retângulos, circunferências são
alguns exemplos de figuras de geometria plana (polígonos)2.
Para geometria plana, é importante saber calcular a área, o
perímetro e o(s) lado(s) de uma figura a partir das relações entre os
(1) ângulos e as outras medidas da forma geométrica.
Algumas fórmulas de geometria plana:
Aplicamos agora no triângulo ECB:
— Teorema de Pitágoras
(2) Uma das fórmulas mais importantes para esta frente
matemática é o Teorema de Pitágoras.
Agora diminuímos a equação (1) da equação (2): Em um triângulo retângulo (com um ângulo de 90º), a soma
dos quadrados dos catetos (os “lados” que formam o ângulo reto) é
igual ao quadrado da hipotenusa (a aresta maior da figura).
Teorema de Pitágoras: a² + b² = c²

— Lei dos Senos


Note, no desenho, que os segmentos AD e AB possuem o mes- Lembre-se que o Teorema de Pitágoras é válido apenas para
mo comprimento, pois são tangentes à circunferência. Vamos então triângulos retângulos. A lei dos senos e lei dos cossenos existe para
substituir na expressão acima AD = AB: facilitar os cálculos para todos os tipos de triângulos.
Veja a fórmula abaixo. Onde a, b e c são lados do triângulo.
Para qualquer triângulo ABC inscrito em uma circunferência de
centro O e raio R, temos que:

Ou seja, BC é a média geométrica entre AB e CD.


Resposta: B

GEOMETRIA PLANA: POLÍGONOS, CIRCUNFERÊNCIA,


CÍRCULO, TEOREMA DE PITÁGORAS, TRIGONOMETRIA
NO TRIÂNGULO RETÂNGULO; PERÍMETROS E ÁREAS.

A geometria é uma área da matemática que estuda as formas


geométricas desde comprimento, área e volume1. O vocábulo ge-
ometria corresponde a união dos termos “geo” (terra) e “metron”
(medir), ou seja, a “medida de terra”.
A Geometria é dividida em três categorias:
- Geometria Analítica;
- Geometria Plana;
- Geometria Espacial;

Assim, a geometria analítica, também chamada de geometria


cartesiana, une conceitos de álgebra e geometria através dos
sistemas de coordenadas. Os conceitos mais utilizados são o ponto
e a reta.

1 https://www.todamateria.com.br/matematica/geometria/#:~:text=A%20
geometria%20%C3%A9%20uma%20%C3%A1rea,Geometria%20
Anal%C3%ADtica 2 https://bityli.com/BMvcWO

216
MATEMÁTICA

— Lei dos Cossenos


A lei dos cossenos pode ser utilizada para qualquer tipo de triângulo, mesmo que ele não tenha um ângulo de 90º. Basta conhecer o
cosseno de um dos ângulos e o valor de dois lados (arestas) do triângulo.
Veja a fórmula abaixo. Onde a, b e c são lados do triângulo.
Para qualquer triângulo ABC, temos que:

— Relações Métricas do Triângulo Retângulo


As relações trigonométricas no triângulo retângulo são fórmulas simplificadas. Elas podem facilitar a resolução das questões em que
o Teorema de Pitágoras é aplicável.
Para um triângulo retângulo, sua altura relativa à hipotenusa e as projeções ortogonais dos catetos, temos o seguinte:
- Onde a é hipotenusa;
- b e c são catetos;
- m e n são projeções ortogonais;
- h é altura.

— Teorema de Tales
O Teorema de Tales é uma propriedade para retas paralelas.

217
MATEMÁTICA

Se as retas CC’, BB’ e AA’ são paralelas, então:

— Fórmulas Básicas de Geometria Plana

Polígonos
O perímetro é a soma de todos os lados da figura, ou seja, o comprimento do polígono.
Onde A é a área da figura, veja as principais fórmulas:

218
MATEMÁTICA

Fórmulas da Circunferência Classificação

Os polígonos são classificados de acordo com o número de la-


dos, conforme a tabela.

Fórmulas

Diagonais de um vértice: dv = n – 3.

Total de diagonais:
Conversão para radiano, comprimento e área do círculo:
Conversão de unidades: π rad corresponde a 180°. Soma dos ângulos internos: Si = (n – 2).180°.
Comprimento de uma circunferência: C = 2 · π · R.
Área de uma circunferência: A = π · R² Soma dos ângulos externos: para qualquer polígono o valor da
soma dos ângulos externos é uma constante, isto é, Se = 360°.
Polígonos são linhas fechadas formadas apenas por segmentos
de reta que não se cruzam. Ou seja, são figuras geométricas planas Polígonos Regulares
formadas por lados, que, por sua vez, são segmentos de reta.
Um polígono é chamado de regular quando tem todos os la-
Elementos de um polígono dos congruentes (iguais) e todos os ângulos congruentes. Para os
polígonos regulares temos as seguintes fórmulas, além das quatro
acima:

Ângulo interno:

Ângulo externo:

Semelhança de Polígonos

Dois polígonos são semelhantes quando os ângulos correspon-


dentes são congruentes e os lados correspondentes são proporcio-
nais.
• Lados: cada um dos segmentos de reta que une vértices con-
secutivos.
• Vértices: ponto de intersecção de dois lados consecutivos.
• Diagonais: Segmentos que unem dois vértices não consecu-
tivos
• Ângulos internos: ângulos formados por dois lados consecu-
tivos
• Ângulos externos: ângulos formados por um lado e pelo pro-
longamento do lado a ele consecutivo.

219
MATEMÁTICA

“Em todo triângulo retângulo o quadrado da hipotenusa é igual


à soma dos quadrados dos catetos”.
a2 = b2 + c2

Exemplo:
Um barco partiu de um ponto A e navegou 10 milhas para o
oeste chegando a um ponto B, depois 5 milhas para o sul chegando
a um ponto C, depois 13 milhas para o leste chagando a um ponto D
e finalmente 9 milhas para o norte chegando a um ponto E. Onde o
barco parou relativamente ao ponto de partida?
(A) 3 milhas a sudoeste.
(B) 3 milhas a sudeste.
(C) 4 milhas ao sul.
Exemplo: (D) 5 milhas ao norte.
Um joalheiro recebe uma encomenda para uma joia poligonal. (E) 5 milhas a nordeste.
O comprador exige que o número de diagonais seja igual ao número
de lados. Sendo assim, o joalheiro deve produzir uma joia: Resolução:
(A) Triangular
(B) Quadrangular
(C) Pentagonal
(D) Hexagonal
(E) Decagonal

Resolução:
Sendo d o número de diagonais e n o número de lados, deve-
mos ter:

x 2 = 32 + 42
x2 = 9 + 16
x2 = 25
Resposta: E

GEOMETRIA ESPACIAL: PRISMA, PIRÂMIDE, CILINDRO,


CONE E ESFERA; ÁREAS E VOLUMES
Resposta: C
— Geometria Espacial
Teorema de Pitagoras É a frente matemática que estuda a geometria no espaço.
Ou seja, é o estudo das formas que possuem três dimensões:
Em todo triângulo retângulo, o maior lado é chamado de hipo- comprimento, largura e altura.
tenusa e os outros dois lados são os catetos. Deste triângulo tira- Apenas as figuras de geometria espacial têm volume.
mos a seguinte relação: Uma das primeiras figuras geométricas que você estuda
em geometria espacial é o prisma. Ele é uma figura formada por
retângulos, e duas bases. Outros exemplos de figuras de geometria
espacial são cubos, paralelepípedos, pirâmides, cones, cilindros e
esferas. Veja a aula de Geometria espacial sobre prisma e esfera.

— Fórmulas de Geometria Espacial


Fórmula do Poliedro: Relação de Euler
Para saber a quantidade de vértices e arestas de uma figura
espacial, utilize a Relação de Euler:
Onde V é o número de vértices, F é a quantidade de faces e A é
a quantidade de arestas, temos:

V+F=A+2

220
MATEMÁTICA

Fórmulas da Esfera

Fórmulas do Cone
Onde r é o raio da base, g é a geratriz e H é a altura.
Área lateral do cone: Š = π · R . g
Área da base do cone: A = π · R²
Área da superfície total do cone: S = Š + A
Volume do cone: V = 1/3 . A . H

221
MATEMÁTICA

Fórmulas do cilindro Fórmulas da Pirâmide Regular

Área da base de um cilindro: Ab = π · r².


Área da superfície lateral de um cilindro: Al = 2 · π · r · h.
Volume de um cilindro: V = Ab · h = π · r² · h.
Secção meridiana: corte feito na “vertical”; a área desse corte
será 2r · h. Para uma pirâmide regular reta, temos:
Área da Base (AB): área do polígono que serve de base para a
Fórmulas do Prisma pirâmide.
O prisma é um sólido formado por laterais retangulares e duas Área Lateral (AL): soma das áreas das faces laterais, todas trian-
bases. Na imagem a seguir, o prisma tem base retangular, sendo um gulares.
paralelepípedo. O cubo é um paralelepípedo e um prisma. Área Total (AT): soma das áreas de todas as faces: AT = AB + AL.

Volume (V): V = . AB . h.

E sendo a (apótema da base), h (altura), g (apótema da pirâ-


mide), r (raio da base), b (aresta da base) e t (aresta lateral), temos
pela aplicação de Pitágoras nos triângulos retângulos.

h² + r² = t²

h² + a² = g²

Fórmulas do Tetraedro Regular


Diagonal de um paralelepípedo: . Para o tetraedro regular de aresta medindo a, temos:
Área total de um paralelepípedo:
.
Volume de um paralelepípedo: .
Prismas retos são sólidos cujas faces laterais são formadas por
retângulos.
Volume de um prisma:

222
MATEMÁTICA

(A) 10%
Altura da face = (B) 15%
(C) 20%
Altura do tetraedro = (D) 25%
(E) 30%
Área da face: AF =
4. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021
Assunto: Número de elementos da união, da intersecção, do
Área total: AT = complemento e da diferença
Um banco está selecionando um novo escriturário e recebeu
um total de 50 currículos. Para o exercício desse cargo, três habi-
Volume do tetraedro: lidades foram especificadas: comunicação, relacionamento inter-
pessoal e conhecimento técnico. As seguintes características foram
detectadas entre os candidatos a essa vaga:
QUESTÕES
• 15 apresentavam habilidade de comunicação;
• 18 apresentavam habilidade de relacionamento interpessoal;
1. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE- • 25 apresentavam conhecimento técnico;
AR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE NU- • Seis apresentavam habilidade de relacionamento interpesso-
CLEAR/2022 al e de comunicação;
Assunto: Número de elementos da união, da intersecção, do • Oito apresentavam habilidade de relacionamento interpesso-
complemento e da diferença al e conhecimento técnico;
Em uma gincana escolar, uma turma foi pesquisada, por dois • Dois candidatos apresentavam todas as habilidades;
grupos concorrentes, sobre as idades de seus estudantes. Um dos • Oito candidatos não apresentavam nenhuma das habilidades.
grupos constatou que 78% dos estudantes dessa turma têm, pelo Com base nessas informações, qual o número total de candida-
menos, 15 anos; outro grupo concluiu que, nessa mesma turma, tos que apresentam apenas uma das três habilidades apontadas?
34% dos estudantes têm, no máximo, 15 anos. (A) 28
Com base nessas pesquisas, qual o percentual de estudantes, (B) 38
dessa turma, com exatamente 15 anos? (C) 21
(A) 44% (D) 13
(B) 63% (E) 15
(C) 49%
(D) 22% 5. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE-
(E) 12% AR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE NU-
CLEAR/2022
2. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE- Assunto: Adição, subtração, multiplicação e divisão de núme-
AR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE NU- ros naturais
CLEAR/2022 Um jogo de estratégia é jogado por dois jogadores num tabu-
Assunto: Número de elementos da união, da intersecção, do leiro quadriculado com 10 linhas e 10 colunas, conforme a Figura a
complemento e da diferença seguir.
Dois conjuntos não vazios A e B são tais que: A ∪ B = {3,4,6,7,9};
A ∩ B = {4,7}
O conjunto (A - B) ∪ (B - A) é igual a
(A) N
(B) {3,4,6,7,9}
(C) {3,6,9}
(D) {4,7}
(E) ∅

3. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021


Assunto: Número de elementos da união, da intersecção, do
complemento e da diferença
Antes de iniciar uma campanha publicitária, um banco fez uma
pesquisa, entrevistando 1000 de seus clientes, sobre a intenção de
adesão aos seus dois novos produtos. Dos clientes entrevistados,
430 disseram que não tinham interesse em nenhum dos dois pro-
dutos, 270 mostraram- -se interessados no primeiro produto, e 400
mostraram-se interessados no segundo produto.
Qual a porcentagem do total de clientes entrevistados que se
mostrou interessada em ambos os produtos?

223
MATEMÁTICA

Cada jogador recebe 16 fichas que devem ser colocadas nas ca- 9. CESGRANRIO - PNS (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE-
sas do tabuleiro e, após a colocação de todas as fichas de ambos os AR/ENGENHARIA AMBIENTAL/2022
jogadores, um jogador é sorteado para colocar uma peça especial Assunto: Frações e dízimas periódicas
em qualquer uma das casas não ocupadas. As lojas L1 e L2 possuem, cada uma delas, N peças em seu esto-
Quantas são as casas não ocupadas nas quais o jogador escolhi- que, enquanto o estoque da loja L3 está vazio. Metade do estoque
do pode colocar a peça especial? de L1 e um quarto do estoque de L2 são transferidos para L3, for-
(A) 78 mando o novo estoque de L3. Esse novo estoque de L3 é dividido
(B) 72 em três grupos com a mesma quantidade de peças e, de um desses
(C) 68 grupos, é retirado um quinto do total de peças do novo estoque de
(D) 64 L3.
(E) 62 Quantas peças permaneceram nesse grupo do qual as peças
foram retiradas?
6. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE-
AR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE NU-
CLEAR/2022
Assunto: Números inteiros (propriedades, operações, módulo
(A)
etc)
Sejam a, b e c números reais tais que a ≠ 0 e a < b < c.
É necessariamente verdadeiro que
(A) a . b < b . c
(B) b - a < c - b (B)

(C)

(D) a . b < a . c (C)


(E) a + b < a + c

7. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE-


AR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE NU-
CLEAR/2022 (D)
Assunto: Frações e dízimas periódicas
M = 6,6666... é uma dízima periódica de período 6;
N = 2,3333... é uma dízima periódica de período 3.
(E)
Dividindo M por N, encontra-se o mesmo resultado que divi-
dindo
10. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021
(A) 20 por 7
Assunto: Radiciação e potenciação
(B) 65 por 23
O método da bisseção é um algoritmo usado para encontrar
(C) 29 por 9
aproximações das raízes de uma equação. Começa- -se com um in-
(D) 66 por 23
tervalo [a,b], que contém uma raiz, e, em cada passo do algoritmo,
(E) 37 por 13
reduz-se o intervalo pela metade, usando-se um teorema para de-
terminar se a raiz está à esquerda ou à direita do ponto médio do
8. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE-
intervalo anterior. Ou seja, após o passo 1, obtém-se um intervalo
AR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE NU-
de comprimento ; após o passo 2, obtém-se um intervalo de
CLEAR/2022
comprimento ; e após o passo n,obtém- -se um intervalo de
Assunto: Frações e dízimas periódicas
Em certa escola técnica, cada estudante só pode fazer um curso comprimento . Esse processo continua até que o intervalo ob-
de cada vez. Do total de estudantes, 1/4 cursa enfermagem, e 1/6 tido tenha comprimento menor que o erro máximo desejado para
dos restantes cursa eletrônica. Além desses estudantes de enfer- a aproximação. Para aplicar esse método no intervalo [1,5], quan-
magem e de eletrônica, a escola possui 350 estudantes em outros tos passos serão necessários para obter-se um intervalo de compri-
cursos. mento menor que 10−3 ?
Sendo X o total de estudantes dessa escola, qual é a soma dos (A) 9
algarismos de X? (B) 10
(A) 11 (C) 11
(B) 12 (D) 12
(C) 13 (E) 13
(D) 14
(E) 15

224
MATEMÁTICA

11. CESGRANRIO - PNS (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE- 15. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU-


AR/ENGENHARIA AMBIENTAL/2022 CLEAR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE
Assunto: Números irracionais NUCLEAR/2022
O número irracional π está escrito a seguir com 15 casas deci- Assunto: Porcentagem
mais. Na tentativa de atrair clientela, um hotel passou a cobrar por 4
π = 3,141592653589793 diárias o mesmo valor que cobrava por 3 diárias, o que implica um
desconto, no preço da diária, de
Truncando π na 5a casa decimal e arredondando π na 5a casa (A) 20%
decimal, obtêm-se, respectivamente, os registros (B) 25%
(A) 3,14160 e 3,14160 (C) 30%
(B) 3,14160 e 3,14159 (D) 33%
(C) 3,14159 e 3,14159 (E) 75%
(D) 3,14159 e 3,14160
(E) 3,14159 e 3,14161 16. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU-
CLEAR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE
12. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU- NUCLEAR/2022
CLEAR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE Assunto: Porcentagem
NUCLEAR/2022 Por conta de uma doença, um homem precisou fazer uma dieta
Assunto: Números reais (propriedades e operações; intervalos) extremamente rigorosa. Nas duas primeiras semanas de dieta, ele
Sejam x1, x2 e x3 números reais. perdeu 12,5% de sua massa corpórea e, na semana seguinte, ele
A média aritmética desses três números é maior que zero se, perdeu mais 5kg, ficando com 81,25% da massa que tinha logo an-
e apenas se, tes do início da dieta.
(A) X2 > 0 Qual era a massa corpórea do homem, em quilogramas, duas
(B) X1 + X2 + X3 > 0 semanas depois do início da dieta?
(C) X1 > 0 ; X2 > 0 ; X3 > 0 (A) 60
(D) X1 . X2 . X3 > 0 (B) 65
(E) XI < 0 para, no máximo, um valor de i entre 1, 2 e 3 (C) 70
(D) 75
13. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021 (E) 80
Assunto: Análise combinatória (princípio fundamental da con-
tagem, arranjos, combinações, permutações) 17. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU-
De quantas formas diferentes, em relação à ordem entre as CLEAR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE
pessoas, dois homens e quatro mulheres poderão ser dispostos em NUCLEAR/2022
fila indiana, de modo que entre os dois homens haja, pelo menos, Assunto: Porcentagem
uma mulher? Uma sala é usada no dia a dia para mostrar aos visitantes o
(A) 10 funcionamento da empresa. Nessas visitas, por segurança, apenas
(B) 20 28 pessoas podem ingressar na sala, o que corresponde a 80% de
(C) 48 sua capacidade. Na festa de fim de ano, a mesma sala será usada
(D) 480 para uma confraternização, mas sem a restrição de segurança, ou
(E) 720 seja, com a capacidade total. Quantas pessoas, no máximo, podem
participar da confraternização?
14. CESGRANRIO - TEC BAN (BASA)/BASA/2022 (A) 28
Assunto: Porcentagem (B) 30
Em outubro de 2021, segundo dados do Banco Central, os sa- (C) 32
ques nas cadernetas de poupança superaram os depósitos em cerca (D) 35
de R$7,4 bilhões. Foram R$278 bilhões em depósitos e R$285,4 bi- (E) 40
lhões em saques, aproximadamente, no período.
Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/ noticia 18. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU-
/2021/11/05/saques-na-poupanca-superam-depositos-em- -r-743-bi- CLEAR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE
lhoes-em-outubro.ghtml>. Acesso em: 12 nov. 21. Adaptado. NUCLEAR/2022
Assunto: Porcentagem
Tomando-se como base o valor total dos depósitos, a diferença O funcionário de uma loja cometeu um erro ao reajustar o pre-
percentual entre os totais de retirada e de depósitos, no mês de ço de um produto: ele aumentou o preço em 80%, quando o per-
outubro de 2021, centual correto de aumento era de 40%. Após o aumento de 80%, o
(A) foi de menos de 2%. produto passou a custar R$ 450,00.
(B) ficou entre 2% e 8%. Se o funcionário tivesse dado o aumento correto, de 40%, o
(C) ficou entre 8% e 14%. produto teria passado a custar
(D) ficou entre 14% e 20%. (A) R$ 126,00
(E) foi superior a 20%. (B) R$ 270,00
(C) R$ 290,00

225
MATEMÁTICA

(D) R$ 350,00
(E) R$ 410,00

19. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021


Assunto: Porcentagem
Uma empresa paga um salário bruto mensal de R$ 1.000,00 a
um de seus funcionários. Além desses honorários, a empresa deve
recolher o FGTS desse empregado.
Sabendo-se que o valor pago corresponde a, aproximadamen-
te, 8,33% do salário bruto, qual o valor pago, a título de FGTS, por
Considerando-se que, ao longo do ano de 2020, essa empresa
esse funcionário?
reparou 1.000 unidades do modelo A, 600 unidades do modelo B
(A) R$ 1.008,33
e 400 unidades do modelo C, qual foi a porcentagem destes aten-
(B) R$ 8,33
dimentos, nesse período, que tiveram tempo de serviço Curto ou
(C) R$ 83,30
Médio?
(D) R$ 991,67
(A) 29%
(E) R$ 1.083,30
(B) 48%
20. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021
(C) 52%
Assunto: Porcentagem
(D) 58%
Uma profissional liberal comprou dois apartamentos com o ob-
(E) 96%
jetivo de vendê-los. Na venda do primeiro deles, obteve um lucro
de 36% sobre o preço de compra e, na do segundo, um lucro de
23. CESGRANRIO - TEC BAN (BASA)/BASA/2022
12%, também sobre o preço de compra. Ela recebeu por essas duas
Assunto: Interpretação de gráficos e tabelas
vendas uma quantia 27% maior do que a soma das quantias pagas
A Tabela a seguir apresenta as cotações, em dólares america-
na compra dos dois apartamentos.
nos, de 6 criptomoedas no dia 18 de novembro de 2021.
Nessas condições, sendo P a quantia paga pelo primeiro apar-
tamento, e S a quantia paga pelo segundo, a razão P/S é igual a
(A) 8/5 Criptomoeda Ticker Preço
(B) 5/3
Bitcoin BTC $58.685,62
(C) 12/5
(D) 17/14 Ethereum ETH 4.111,28
(E) 9/8
Binance Coin NB $553,42
21. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE DE TECNOLO- Tether USDT $1,00
GIA/2021 Solana SOL $197,32
Assunto: Porcentagem
Durante um atendimento, o cliente de um banco relata ao geren- Cardano ADA $1,80
te de atendimento sua disponibilidade para investir R$400.000,00.
O gerente tem ao seu dispor 5 opções de investimento: renda fixa, Disponível em: <https://www.seudinheiro.com/2021
CDB, fundo de ações, LCI e LCA. Ao cliente foi oferecida uma carteira /bitcoin/bitcoin -btc-criptomoedas-hoje-18-11/>. Acesso em:
diversificada de 20%, 10%, 30%, 15% e 25%, respectivamente. 25 nov. 21.
Sendo assim, verifica-se que o valor sugerido para
(A) renda fixa foi de R$80.000,00 O valor de 1 Bitcoin corresponde a
(B) CDB foi de R$60.000,00 (A) mais de 10 Ethereums
(C) fundo de ações foi de R$40.000,00 (B) menos de 100 Binance Coins
(D) LCI foi de R$100.000,00 (C) aproximadamente 58 Tethers
(E) LCA foi de R$120.000,00 (D) mais de 400 Solanas
(E) menos de 30.000 Cardanos
22. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE DE TECNOLO-
GIA/2021 24. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU-
Assunto: Porcentagem CLEAR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE
Uma central de assistência técnica de celulares trabalha com NUCLEAR/2022
três modelos de um mesmo fabricante. Para melhor organizar seu Assunto: Proporções. Grandezas proporcionais. Divisão em
sistema, foi medido o tempo de serviço para o conserto de cada partes proporcionais
aparelho, desde a chegada do pedido de manutenção até a entrega Todo ano, os organizadores de uma festa encomendam copos
do aparelho consertado, e cada um desses prazos foi classificado de 300 mL em formato de prisma regular hexagonal reto. Para a fes-
como Curto, Médio ou Longo. ta do próximo ano, os organizadores pediram que a fábrica também
A Tabela abaixo mostra a distribuição dos tempos de serviço confeccionasse copos de 500 mL, mantendo o mesmo formato e a
para cada um dos três modelos aos quais a empresa prestou assis- mesma proporção do copo de 300 mL, ou seja, os dois copos devem
tência em 2020. ser semelhantes.

226
MATEMÁTICA

GABARITO

1 E
2 C
3 A
4 A
5 C
6 E
Desprezando-se a espessura do material do copo, qual deve ser 7 A
a razão entre o lado do hexágono da base do copo de 500 mL e do
copo de 300 mL? 8 A
9 D
(A) 10 D
11 C
(B) 12 B
13 D
14 B
(C)
15 B
16 C
(D)
17 D
18 D
(E) 19 C
20 B
25. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU- 21 A
CLEAR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE 22 B
NUCLEAR/2022
Assunto: Regra de três simples 23 A
Uma bomba d’água esvazia uma piscina em 10 horas. 24 E
Se a vazão promovida pela bomba fosse 25% maior, em quanto
tempo ela esvaziaria a piscina? 25 A
(A) 8h
(B) 7h30min
(C) 6h ANOTAÇÕES
(D) 5h
(E) 2h30min
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

227
MATEMÁTICA

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

228
REALIDADE BRASILEIRA

pital Militar e o Jardim Botânico. Dom João autorizou também o


FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO: DA funcionamento de tipografias e a publicação de jornais. Com os li-
INDEPENDÊNCIA À REPÚBLICA vros da Biblioteca Real trazidos de Lisboa foi organizada a Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro.
— A Chegada da Família Real ao Brasil Para interligar a capital com as demais regiões da colônia e po-
Em 1806, Portugal foi afetado pelo Bloqueio Continental da voar o interior, o governo doou sesmarias e autorizou o Banco do
França contra a Inglaterra, que ocorreu graças à impossibilidade Brasil a oferecer créditos aos colonos para que pudessem plantar
das tropas de Napoleão de anexar a Inglaterra por meios militares. e criar gado. Essa política de povoamento estimulou a imigração.
Caso não aderisse ao Bloqueio, as tropas de Napoleão invadiriam o Em 1815, um grupo de 45 colonos oriundo de Macau e Cantão, na
território português. Entretanto, Portugal decidiu não seguir esse China, estabeleceu-se na cidade do Rio de Janeiro.
caminho porque tinha fortes ligações comerciais com a Inglaterra1. Em 1818, cerca de dois mil suíços fundaram Nova Friburgo, na
Em novembro de 1807, dom João, príncipe regente de Portugal província do Rio de Janeiro (as capitanias passaram a se chamar
desde 1799 - a rainha dona Maria, sua mãe, sofria de distúrbios províncias a partir de 1815). Na política externa, o governo joanino
mentais -, diante da ameaça de invasão, decidiu transferir a família adotou uma linha de ação franca- mente expansionista, ocupando a
real e a Corte lusa para a colônia na América, deixando os súditos Guiana Francesa, em 1809, e anexando a Banda Oriental (atual Uru-
expostos ao ataque francês. guai), em 1816. Em 1818, dois anos após a morte da rainha dona
Os ingleses garantiram a proteção da mudança da monarquia Maria, o príncipe regente foi coroado rei com o título de dom João
para o Brasil. Nobres da Corte e familiares do príncipe recolheram Vl.
às pressas tudo o que podiam carregar - joias, obras de arte, milha-
res de livros, móveis, roupas, baixelas de prata, animais domésticos, — A Promoção à Reino Unido
alimentos, etc. - e zarparam em 29 de novembro rumo ao Rio de Para gerar recursos para a administração, o governo joanino
Janeiro. teve de aumentar a carga tributária. O dinheiro dos impostos foi
Além da família real e dos nobres, viajaram altos funcionários, utilizado para cobrir os gastos da Corte, custear as obras de urbani-
magistrados, sacerdotes, militares de alta patente, etc. Estima-se zação do Rio de Janeiro e financiar intervenções militares. Essa si-
que nos 36 navios viajaram entre 4,5 mil e 15 mil pessoas. Parte tuação, somada à carestia e ao aumento dos preços, gerou enorme
da esquadra, incluindo o navio ocupado por dom João, atracou em insatisfação da população, que começou a questionar os privilégios
Salvador no dia 22 de janeiro de 1808, seguindo semanas depois concedidos aos portugueses, detentores dos principais cargos buro-
para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o restante da frota, e lá cráticos e dos mais altos postos da Academia Real Militar.
chegando em 8 de março de 1808. Começaram a ocorrer agitações de rua que culminavam em
ações violentas da polícia principalmente (mas não exclusivamente)
— Sede do Governo Português no Rio de Janeiro. A situação em Portugal também era de descon-
Agora que boa parte da elite lusa encontrava-se em terras tentamento popular. Com a queda de Napoleão em 1815, os portu-
brasileiras, o desenvolvimento da colônia não poderia continuar gueses passaram a exigir o retorno imediato de dom João a Portu-
cerceado. Como afirma a historiadora Maria Odila Silva Dias, pela gal. Ele, entretanto, assinou um decreto criando o Reino Unido de
primeira vez iria se configurar “nos trópicos portugueses preocupa- Portugal, Brasil e Algarves. Com isso, o Brasil deixava de ser colônia
ções de uma colônia de povoamento e não apenas de exploração e ganhava o mesmo status político de Portugal.
ou de feitoria comercial”. Assim, seis dias depois de desembarcar E o Reino passava a ter dois centros políticos: Lisboa, em Por-
em Salvador, o príncipe regente dom João decretou a abertura dos tugal, e Rio de Janeiro, no Brasil, onde dom João exercia o governo.
portos brasileiros às nações amigas, ou seja, às nações com as Para muitos historiadores, a elevação do Brasil a Reino Unido foi o
quais Portugal mantinha relações diplomáticas amigáveis. marco inicial do processo de emancipação política e administrativa
do Brasil.
O Governo de D. João no Brasil
Dom João — cuja gestão é conhecida como governo joanino — Revolução Pernambucana
- adotou medidas que afetaram diretamente a vida econômica, po- Na província de Pernambuco, no início de 1817, o debate de
lítica, administrativa e cultural do Brasil. No plano administrativo, ideias emancipacionistas e republicanas deu origem a um movi-
dom João procurou reproduzir na colônia a estrutura burocrática do mento conspiratório, que ficou conhecido como Insurreição Per-
reino. Foram criados órgãos públicos, como o Conselho de Estado nambucana ou Revolução de 1817.
e o Erário Régio (que depois se tornou Ministério da Fazenda), que Inspirados na Revolução Francesa, os líderes redigiram o esbo-
garantiam o funcionamento burocrático do Estado e proporciona- ço de uma Constituição que garantia a igualdade de direitos entre
vam emprego para muitos portugueses. os indivíduos, a liberdade de imprensa e a tolerância religiosa. No
Ainda em 1808, foram criados o Banco do Brasil, o Real Hos- entanto, o movimento enfraqueceu-se com as divergências entre
1 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, os proprietários de escravos e os rebeldes abolicionistas. Em maio,
Reinaldo Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.

229
REALIDADE BRASILEIRA

tropas enviadas da Bahia e do Rio de Janeiro cercaram o Recife. e Portugal.


Alguns líderes foram executados e muitos outros, encarcera- dos Em maio de 1822, o príncipe regente determinou que todos
em Salvador. os decretos vindos das Cortes de Lisboa deveriam passar por sua
aprovação. Em junho, dom Pedro aprovou a convocação de uma
— Revolução do Porto Assembleia Constituinte no Brasil. No começo de setembro, des-
Por volta de 1818, alguns monarquistas liberais da cidade do pachos vindos de Lisboa desautorizavam a convocação da Assem-
Porto defendiam a ideia de que o monarca deveria governar obe- bleia Constituinte e ordenavam o imediato retorno de dom Pedro
decendo a uma Constituição. Em agosto de 1820 uma guarnição do a Portugal. José Bonifácio enviou os despachos ao príncipe, que se
Exército do Porto se rebelou e deu início a uma revolução liberal e encontrava em São Paulo, aconselhando-o a romper com Portugal,
anti-absolutista conhecida como Revolução do Porto. Rapidamen- pois já não considerava mais possível uma conciliação.
te, o movimento se espalhou pelas demais cidades portuguesas. No dia 7 de setembro, o mensageiro alcançou dom Pedro nas
Em Lisboa, uma junta provisória assumiu o poder e convocou proximidades do riacho do Ipiranga. Ao receber os decretos, o prín-
as Cortes, que não se reuniam desde 1689, para elaborar uma Cons- cipe proclamou a independência do Brasil, declarando a ruptura
tituição. A junta exigia também o retorno da família real e da Corte dos laços com Portugal. No dia 12 de outubro, já de volta ao Rio de
a Portugal e a restauração do monopólio comercial com o Brasil. Janeiro, foi aclamado com grande pompa imperador constitucional
com o título de dom Pedro I.
A volta da família real a Portugal
Nesse período irromperam no Pará, na Bahia e em Pernambu- Guerras de Independência
co várias revoltas apoiando o movimento constitucional de Portu- Proclamada a independência, teve início a luta por sua conso-
gal. Em fevereiro de 1821, o rei dom João VI concordou em jurar lidação, que envolveria conflitos e derramamento de sangue em
fidelidade à Constituição que estava ainda para ser elaborada e em diversas regiões do novo país.
convocar eleições para a escolha dos deputados que iriam repre- Em fevereiro de 1822, ainda antes da declaração de indepen-
sentar o Brasil nas Cortes de Lisboa. dência, houve na Bahia um longo conflito armado entre as forças
brasileiras que lutavam pela independência e queriam manter um
Temendo perder o trono, dom João VI anunciou também seu brasileiro no cargo de governador - no lugar de um general portu-
retorno a Portugal. No dia 26 de abril, a família real e mais quatro guês. A guerra entre as duas facções se prolongaria até 2 de julho
mil pessoas (nobres e funcionários) zarparam rumo a Portugal. Em de 1823, com destaque para a figura de Maria Quitéria de Jesus
seu lugar, o rei deixou o filho, dom Pedro, que assumiu o poder no Medeiros, que se alistou ao lado das tropas brasileiras.
Brasil como príncipe regente. No Maranhão, no Ceará, no Pará, na Província Cisplatina e no
Piauí houve revoltas de portugueses, que viviam nessas regiões,
As Cortes de Lisboa contra a independência. Para derrotar os revoltosos, dom Pedro
Após o embarque de dom João VI, foram realizadas eleições recrutou mercenários estrangeiros. A vitória das tropas brasileiras
para a escolha dos 71 representantes do Brasil nas Cortes de Lisboa. nessas regiões, além da obtida na Bahia, impediu a fragmentação
Embora a maior parte dos eleitos fosse a favor da independência do do Brasil em diversas províncias autônomas e garantiu a unidade
Brasil, apenas 56 viajaram para Lisboa, onde começaram a chegar territorial da jovem nação.
em agosto de 1821, oito meses depois do início dos trabalhos.
Eles enfrentaram uma forte oposição dos parlamentares lusos,
que já tinham adotado diversas medidas desfavoráveis ao Brasil PRIMEIRA REPÚBLICA: ELITE AGRÁRIA E A POLÍTICA DA
com a intenção de reduzir o Brasil à sua antiga condição de colônia. ECONOMIA CAFEEIRA
Para os parlamentares lusos, Brasil e Portugal deveriam se subme-
ter a uma mesma autoridade: as Cortes de Lisboa. Ao final de 1821, — Consolidação da República
as Cortes ordenaram que Dom Pedro, príncipe regente do Brasil, Em 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca
retornasse a Portugal. proclamou a República. Apesar das divergências que existiam sobre
o tipo de república a ser construída no país, as elites que domina-
— A Independência do Brasil vam a política em São Paulo, Minas Gerais e no Rio Grande do Sul
Enquanto a determinação das Cortes de Lisboa não chegava, defendiam o federalismo, em oposição à centralização imperial2.
dom Pedro era apoiado, no Brasil, por pessoas da elite político-e- Paulistas e mineiros defendiam propostas inspiradas no libe-
conômica, com experiência administrativa, como José Bonifácio ralismo e tinham, sobretudo os paulistas, o modelo estadunidense
de Andrada e Silva (1763-1838). Na opinião de José Bonifácio e de como referência, em relação à autonomia dos estados e às liberda-
outros políticos do período, o Brasil deveria manter-se unido a Por- des individuais.
tugal, mas com um governo próprio e autônomo. Havia também No Rio Grande do Sul, havia um importante grupo de políticos
quem defendesse o rompimento completo com Portugal. liderado por Júlio de Castilhos. Esse grupo defendia, com base nos
Ambas as correntes, contudo, concordavam que dom Pedro de- ideais positivistas, a instauração de uma ditadura republicana que,
veria resistir às pressões das Cortes de Lisboa e recursar-se a voltar ao garantir a ordem, levaria o país ao progresso. Já no Rio de Janei-
a Portugal. No final de 1821, José Bonifácio organizou um abaixo- ro, a capital da República, existia um grupo de republicanos radicais,
-assinado subscrito por oito mil assinaturas, que foi entregue a Dom chamados de jacobinos. Eram civis e militares, alguns deles positi-
Pedro, no qual era pedido que o príncipe permanecesse no Brasil. vistas, que defendiam de maneira exaltada o regime republicano e
Em 9 de janeiro de 1822, o príncipe anunciou sua decisão de ficar opunham-se de maneira contundente à volta da monarquia.
no Brasil. O episódio, conhecido como Dia do Fico, foi o primeiro 2 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo.
de uma série de atos que levariam à ruptura definitiva entre Brasil Saraiva.

230
REALIDADE BRASILEIRA

Havia também os monarquistas, que desejavam o retorno do Treze generais do Exército contestaram sua posse e, por meio
antigo sistema. Entre os militares, predominavam os republicanos. de um manifesto, exigiram eleições presidenciais. Floriano ignorou
E, mesmo entre estes, havia divergências: enquanto alguns oficiais o protesto e mandou prender os generais. Receosas com a instabi-
seguiam a liderança de Deodoro, outros preferiam a de Floriano lidade da República, as elites políticas de São Paulo, representadas
Peixoto. Mas havia também os positivistas, que tinham Benjamin pelo Partido Republicano Paulista (PRP), apoiaram o novo presiden-
Constant como líder, e alguns monarquistas, sobretudo na Marinha, te. Floriano, por sua vez, percebeu que o suporte do PRP era fun-
que tinham fortes ligações com o Império. damental.
Nesse emaranhado de projetos políticos, no início de 1890 o Ele também contou com o apoio de importantes setores do
Governo Provisório convocou uma Assembleia Nacional Constituin- Exército e da população do Rio de Janeiro. Oficiais da Marinha de
te para institucionalizar o novo regime e elaborar o conjunto de leis Guerra (Armada) tornaram-se a sua principal oposição. Em 6 de
que o regeriam. setembro de 1893, posicionaram os navios de guerra na baía de
Assim, em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a primeira Guanabara, apontaram os canhões para o Rio de Janeiro e Niterói e
Constituição republicana do país, a Constituição dos Estados Uni- dispararam tiros contra as duas cidades - era o início da Revolta da
dos do Brasil. Inspirada no modelo vigente nos Estados Unidos, ela Armada. Em março do ano seguinte a situação tornou-se insusten-
era liberal e federativa, concedendo aos estados prerrogativas de tável nos navios - não havia munição, alimentos, água nem o apoio
constituir forças militares e estabelecer impostos. da população. Parte dos revoltosos pediu asilo político a Portugal,
Além disso, ela instaurou o presidencialismo como regime po- a outra foi para o Rio Grande do Sul participar de um conflito que
lítico, com a separação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciá- eclodira um ano antes: a Revolução Federalista.
rio, e oficializou a separação entre Estado e Igreja. Os deputados
constituintes também elegeram o marechal Deodoro da Fonseca — Revolução Federalista
para a presidência e o marechal Floriano Peixoto para a vice-pre- A instalação da República alterou a política do Rio Grande do
sidência da República. Mas o novo regime republicano enfrentaria Sul. Com ela, o Partido Republicano Rio-Grandense alcançara o po-
crises muito sérias até se consolidar definitivamente. der. Apoiada por Floriano Peixoto e liderada por Júlio de Castilhos,
a agremiação de orientação positivista tornou-se dominante no es-
— República de Espadas tado em que passou a governar de maneira autoritária.
Na área econômica, comandada por Rui Barbosa, então minis- A principal força de oposição ao Partido Republicano era o Par-
tro da Fazenda, a República começou com grande euforia. Com o tido Federalista, liderado por Gaspar Silveira Martins, que defendia
objetivo de estimular o crescimento econômico e a industrialização o parlamentarismo e a predominância da União Federativa sobre
do país, o governo autorizou que os bancos concedessem crédito a o poder estadual - enquanto os republicanos pregavam o sistema
qualquer cidadão que desejasse abrir uma empresa. E, para cobrir presidencialista e a autonomia dos estados.
esses empréstimos, permitiu a impressão de uma imensa quantida- Diante da violência e das fraudes eleitorais, os federalistas uni-
de de papel-moeda. ram-se a outras forças de oposição, dando origem a uma sangren-
Como a moeda brasileira tinha como referência a libra inglesa, ta guerra civil, que ficou conhecida como Revolução Federalista
as emissões de dinheiro sem lastro (sem garantia em ouro) provo- (1893-1895). Os conflitos não se limitaram ao estado do Rio Grande
caram o aumento acelerado da inflação. Muitos dos empréstimos do Sul, estendendo-se aos de Santa Catarina e do Paraná, e só ter-
concedidos foram usados para abrir empresas que existiam apenas minaram em junho de 1895 com a vitória dos republicanos sobre os
no papel, mas cujas ações, ainda assim, eram negociadas na Bolsa federalistas. A Revolução Federalista causou muito sofrimento ao
de Valores. Como resultado, muitos investidores perderam seu di- sul do país. Somente no Rio Grande do Sul, que contava com cerca
nheiro e a inflação aumentou, atingindo toda a sociedade brasileira. de 900 mil habitantes, morreram de 10 a 12 mil pessoas, muitas
Essa medida, que visava estimular a economia, mas resultou em delas degoladas.
desvalorização da moeda e especulação financeira, recebeu o nome Passados cinco anos da proclamação da República, chegava ao
de Encilhamento. fim o governo de Floriano Peixoto. No dia 15 de novembro de 1894,
Na área política, assistia-se a graves conflitos envolvendo o o marechal passou a faixa presidencial ao paulista Prudente de Mo-
presidente e os militares que o apoiavam, de um lado, e políticos rais, conferindo novos ares à República. Pela primeira vez, um civil
liberais e a imprensa, do outro. Oito meses após ser eleito, em no- ligado às elites agrárias, em especial aos cafeicultores, assumia o
vembro de 1891, Deodoro da Fonseca determinou o fechamento do poder. Com a eleição de Prudente de Morais, encerrava-se o perío-
Congresso Nacional e decretou estado de sítio no país. Os oficiais do conhecido como República da Espada.
que seguiam a liderança de Floriano Peixoto não apoiaram o golpe — Modelo Político
de Estado; assim como a Marinha, que considerou autoritária a ati- A Constituição de 1891 estabeleceu eleições diretas para todos
tude do presidente, e diversas lideranças civis. Sem apoio político, o os cargos dos poderes Legislativo e Executivo. Também determinou
presidente renunciou no dia 23. que, excetuando os mendigos, os analfabetos, os praças de pré, os
Nesse mesmo dia, Floriano Peixoto, seu vice, assumiu a presi- religiosos, as mulheres e os menores de 21 anos, todos os cidadãos
dência da República. brasileiros eram eleitores e elegíveis.
A posse do novo presidente foi muito questionada. De acordo Apesar de suprimir a exigência de renda mínima constante da
com a Constituição, o vice assumiria somente se o presidente hou- Constituição imperial, a primeira Constituição da República tam-
vesse cumprido metade de seu mandato, ou seja, dois anos. Caso bém excluía a maioria da população brasileira do direito de votar. O
contrário, ela previa a realização de uma nova eleição. Mas Floriano voto foi decretado aberto, mas, como não havia Justiça Eleitoral, na
estava decidido a permanecer no poder, com o apoio dos florianis- prática as eleições eram caracterizadas pela fraude. A organização
tas, que alegavam que o dispositivo constitucional só valeria para o da eleição dos municípios, bem como a redação da ata da seção
próximo mandato presidencial. eleitoral, ficava a cargo dos chefes políticos locais, os chamados co-

231
REALIDADE BRASILEIRA

ronéis. Vale lembrar que, à época, os partidos políticos eram estaduais


Isso lhes permitia registrar o que bem quisessem nas atas - daí e proliferavam siglas como Partido Republicano Mineiro, Partido
o nome “eleições a bico de pena” - e também controlar as escolhas Republicano Paulista, Partido Republicano Rio-Grandense etc. Ex-
dos eleitores, por meio da violência ou do suborno. Era comum, por pressão simbólica da aliança entre o Partido Republicano Paulista e
exemplo, que nas atas das seções eleitorais constassem votos de o Partido Republicano Mineiro foi a chamada política do café com
eleitores já mortos para o candidato dos coronéis. leite, que funcionava no momento da escolha do sucessor presi-
Ou então que os coronéis reunissem os eleitores em um de- dencial.
terminado lugar para receber as cédulas eleitorais já preenchidas. As oligarquias dos dois estados escolhiam um nome comum
Esses locais eram chamados de “curral eleitoral”. De modo geral, os para presidente, ora filiado ao partido paulista, ora ao mineiro. A
eleitores votavam no candidato do coronel por vários motivos: obe- cada sucessão presidencial, a aliança entre Minas Gerais e São Pau-
diência, lealdade ou gratidão, ou em busca de algum favor, como lo precisava ser renovada, muitas vezes com conflitos e interesses
dinheiro, serviços médicos e até mesmo proteção. Afinal, sem a ga- divergentes. Por serem fortes em termos políticos e econômicos,
rantia dos direitos civis e políticos, grande parte da população rural formaram-se duas oligarquias dominantes no país: a de São Paulo e
- vale lembrar que a imensa maioria dos brasileiros então vivia no a de Minas Gerais. Embora em posição inferior à aliança entre pau-
campo - buscava a proteção de um coronel e acabava se inserindo listas e mineiros, destacavam-se também a do Rio Grande do Sul, a
em uma rede de favores e proteção pessoal. da Bahia e a do estado do Rio de Janeiro.
Houve eleições em que os vitoriosos não estavam comprometi-
— O Poder dos Coronéis dos com a política do café com leite, caso de Hermes da Fonseca em
Também conhecida como coronelismo, a chamada “República 1910 e de Epitácio Pessoa em 1919. O importante é considerar que
dos coronéis” era um sistema político que resultou da Constituição as oligarquias dos estados que se encontravam fora da política do
de 1891 e marcou a Primeira República. Se no Império os presiden- café com leite passaram a questionar o sistema político na década
tes de estado (hoje denominados governadores) eram nomeados de 1920.
pelo poder central, com a República eles passaram a ser eleitos pe-
los coronéis. Nos municípios, eram os coronéis que, por meio da — Aspectos Econômicos
violência e da fraude eleitoral, controlavam os votos que elegiam o Por volta de 1830, o café tornou-se o principal produto de ex-
presidente de estado, e também os deputados estaduais e federais, portação do Brasil, superando o açúcar. Com a expansão das lavou-
os senadores e até mesmo o presidente da República. ras cafeeiras para o Oeste Paulista, a partir da década de 1870, a
Por outro lado, eles dependiam do governante estadual para cafeicultura estimulou a economia do país, cujo dinamismo atraiu
nomear parentes e protegidos a cargos públicos ou liberar verbas investidores estrangeiros, sobretudo britânicos.
para obras nos municípios. Assim, criava-se uma ampla rede de Ela propiciou a construção e o reaparelhamento de ferrovias,
alianças e favores, em que coronéis, presidentes de estado, parla- estradas, portos e o surgimento de bancos, casas de câmbio e de
mentares e o próprio presidente da República estavam atados por exportação. Também foram criados estaleiros, empresas de nave-
fortes laços de interesses. Esse esquema se consolidou na presi- gação e moinhos. O café mudou o país, inclusive incentivando a sua
dência de Campos Sanes (1898-1902), idealizador do que veio a ser industrialização. Surgiram, por exemplo, fábricas de tecidos, cha-
chamado de política dos governadores Ou dos esta- dos. péus, calçados, velas, alimentos, utensílios domésticos etc. Trata-
Nela, o governo federal apoiava as oligarquias dominantes nos va-se de um tipo de indústria, a de bens de consumo não duráveis,
estados, que em troca sustentavam politicamente o presidente da que não exigia grande tecnologia ou altos investimentos de capital,
República no Congresso Nacional, controlando a eleição de senado- mas que empregava grande quantidade de mão de obra.
res e deputados federais - e evitando, dessa forma, que os candida- A riqueza gerada pelas exportações de café possibilitou, ainda,
tos da oposição se elegessem. Ainda assim, caso isso acontecesse, a o aumento das importações e a expansão das cidades, com a ins-
Comissão de Verificação de Poderes da Câmara Federal, responsá- talação de serviços públicos (como iluminação a gás e sistema de
vel por aprovar e confirmar a vitória dos candidatos eleitos, impug- transporte urbano), novas práticas de diversão e até mesmo maior
nava a posse, sob a alegação de fraude. circulação de jornais e livros. A cidade que mais cresceu foi a de São
Apesar das fraudes eleitorais, as eleições periódicas foram Paulo, principalmente a partir de 1886, com a chegada de milhares
importantes para a configuração do sistema político brasileiro. Pri- de imigrantes.
meiro, porque exigiam o mínimo de competição no jogo eleitoral,
permitindo a renovação das elites dirigentes. Segundo, porque, Crise do Café
mesmo com o controle do voto, havia alguma mobilização do elei- Na década de 1920, o café, que era então responsável por mais
torado - com o qual as elites, mesmo dispondo de grande poder da metade das exportações brasileiras, sustentava a economia do
político, precisavam manter alguma interlocução. país. Por consequência, a oligarquia paulista tornara-se dominante
na política brasileira - dos 12 presidentes eleitos entre 1894 e 1930,
Política do Café com Leite seis eram filiados ao Partido Republicano Paulista.
A política dos governadores inaugurada por Campos Salles fun- A crescente produção cafeeira, contudo, acabou provocando
damentou a chamada República Oligárquica. Ela reforçou os pode- graves problemas. O consumo do café brasileiro, que nesse período
res das oligarquias - sobretudo as dos estados de São Paulo e Minas atendia a 70% da demanda mundial, estabilizou-se, mas os fazen-
Gerais. Como o número de representantes por estado no Congresso deiros continuaram expandindo suas plantações. Com uma produ-
era proporcional à sua população, São Paulo e Minas Gerais, que ção maior do que a capacidade de consumo, os preços internacio-
eram os estados mais populosos e ricos - da federação, elegiam as nais caíram, causando prejuízos e gerando dívidas.
maiores bancadas na Câmara dos Deputados. A primeira crise de superprodução ocorreu em 1893. Ao as-
sumir a presidência em 1894, Prudente de Morais teve de lidar

232
REALIDADE BRASILEIRA

com grave crise econômica. Campos Salles, que o sucedeu na pre- Outra pendência foi com a França, sobre a demarcação das
sidência em 1898, fez um acordo com os credores internacionais fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa. Com arbitragem in-
conhecido como funding loan. Pelo acordo, que transformou todas ternacional do governo suíço, o Brasil venceu a disputa em 1900,
as dívidas brasileiras em uma única, cujo credor era a casa bancária impondo sua soberania sobre as terras que hoje integram o estado
britânica dos Rothschild, o Brasil recebeu como empréstimo 10 mi- do Amapá.
lhões de libras esterlinas. Além de oferecer as rendas da alfândega No ano seguinte, o Brasil entrou em disputa com a Grã-Breta-
do Rio de Janeiro como garantia, o governo se comprometeu a rea- nha sobre os limites territoriais entre a Guiana Britânica (ou Inglesa)
lizar uma política económica deflacionária, retirando papel-moeda e o norte do então estado do Amazonas - que hoje corresponde ao
do mercado, o que gerou recessão, falências e desemprego e não estado de Roraima.
resolveu os problemas da superprodução de café e da queda dos O rei da Itália. Vítor Emanuel II, foi convocado como árbitro
preços no mercado internacional. internacional, e em 1904 ele decidiu a favor dos britânicos. Desse
Para evitar maiores prejuízos, representantes das oligarquias modo, o Brasil perdeu parte do território conhecido como Pirara, e
cafeeiras dos estados de São Paulo, Minas Gerais e do Rio de Janeiro a Grã-Bretanha obteve acesso à bacia Amazônica por meio de al-
reuniram-se na cidade paulista de Taubaté e elaboraram, em 1906, guns de seus afluentes.
um plano para a defesa do produto, que, a princípio, não contou Outra disputa, bem mais complexa. foi travada em torno da
com o apoio do governo federal. região onde hoje se localiza o Acre. que então pertencia à Bolívia
Pelo Convénio de Taubaté - como ficou conhecido esse encon- e ao Peru. Muitos nordestinos, em particular cearenses, que so-
tro - estabeleceu-se a política de valorização do café, pela qual os friam com a seca. haviam se estabelecido ali para explorar o látex,
governos dos estados conveniados recorreriam a empréstimos ex- gerando conflitos armados com tropas bolivianas. Os brasileiros
ternos para comprar e estocar o excedente da produção de café, até chegaram a declarar a independência política do Acre. Em 1903, a
que seu preço se estabilizasse no mercado internacional, de modo diplomacia brasileira conseguiu uma vitória com o Tratado de Pe-
a garantir o lucro dos cafeicultores. Para o pagamento dos juros da trópolis, que incorporava o Acre ao território brasileiro em troca de
dívida, seria cobrado um imposto sobre as exportações de café. indenizações à Bolívia e ao Peru.
Dois anos depois, na presidência de Afonso Pena, o governo Cabe destacar a relevante atuação de José Maria da Silva Para-
federal deu garantias aos empréstimos. A política de valorização do nhos Júnior, o barão do Rio Branco. responsável pelas relações in-
café foi benéfica apenas para os cafeicultores, em especial os pau- ternacionais do Brasil entre 1902 e 1912. Ele não só esteve à frente
listas, em detrimento dos produtores de açúcar, algodão, charque, das negociações que envolviam disputas territoriais do país como
cacau etc. Além de acentuar as desigualdades regionais, grande fez do Ministério das Relações Exteriores uma instituição profissio-
parte dos custos dessa política acabou recaindo sobre a sociedade nalizada e aproximou o Brasil dos EUA.
brasileira, que teve de arcar com os prejuízos.
— Movimentos e Revoltas
Economia da Borracha
No começo da República, outro importante produto de exporta- Revolta da Vacina
ção era a borracha da Amazônia, que alcançou seu auge entre 1890 e Além de modernizar a cidade, era necessário erradicar as
1910. Em meados do século XIX, desenvolveu-se o processo de vulcani- doenças epidêmicas da capital da República. Com base nas então
zação da borracha, por meio do qual ela se tornava endurecida, porém recentes descobertas sobre os microrganismos e a capacidade de
flexível, perfeita para ser usada em instrumentos cirúrgicos e de labo- mosquitos, moscas e pulgas transmitirem doenças, o médico sani-
ratório. O sucesso do produto aconteceu mesmo ao ser empregado na tarista Oswaldo Cruz, a quem coube essa tarefa, estava decidido a
fabricação de pneus tanto de bicicletas como de automóveis. Em 1852, erradicar a febre amarela, com o combate aos mosquitos, a varíola,
o Brasil exportava 1 600 toneladas de borracha (2,3% das exportações com a vacinação, e a peste bubónica, com a caça aos ratos, cujas
nacionais). Em 1900, já ultrapassava os 24 milhões de toneladas, o que pulgas transmitiam a doença.
equivalia a quase 30% das exportações. Em junho de 1904, Rodrigues Alves enviou um projeto de lei ao
Além de empregar cerca de 1 10 mil pessoas que trabalhavam Congresso que propunha a obrigatoriedade da vacinação contra a
nos seringais, a extração do látex na região Norte fez com que as varíola. Havia grande insatisfação popular contra as reformas urba-
cidades de Belém e Manaus passassem por grandes transforma- nas do prefeito Pereira Passos. Mas a obrigatoriedade de introduzir
ções: expansão urbana, instalação de serviços (iluminação pública, líquidos desconhecidos no corpo, imposta de maneira autoritária
bondes elétricos, serviços de telefonia e de distribuição de água). pelo governo e sem esclarecimentos à população, que à época des-
A partir de 1910, contudo, a entrada da borracha de origem asiá- conhecia os benefícios da vacinação, gerou forte resistência.
tica no mercado internacional provocou um drástico declínio na Havia também razões morais contra a vacinação obrigatória. À
produção amazónica. Extraída em colônias inglesas e holandesas, época, os homens não admitiam que, em sua ausência, suas resi-
a borracha asiática tinha maior produtividade, melhor qualidade e dências fossem invadidas por estranhos que tocassem no corpo de
menor preço. suas esposas e filhas para aplicar vacinas. Como a maioria das mu-
lheres partilhava desses mesmos valores, quando a lei da vacinação
— Disputas por Território obrigatória foi publicada nos jornais, estourou uma revolta no Rio
Os primeiros governos republicanos enfrentaram problemas de de Janeiro.
disputas territoriais com os vizinhos latino-americanos. Inicialmente, militares tentaram depor Rodrigues Alves, mas
O primeiro deles foi sobre a região oeste dos atuais estados logo foram dominados por tropas fiéis ao governo. A maior reação,
de Santa Catarina e Paraná. que era reclamada pelos argentinos. entretanto, ficou por conta da população mais pobre. Entre os dias
A questão foi resolvida pela arbitragem internacional dos EUA em 10 e 13 de novembro de 1904, a cidade foi tomada por manifes-
1895, confirmando a posse brasileira. tantes populares: as estreitas ruas do centro foram bloqueadas por

233
REALIDADE BRASILEIRA

barricadas e os policiais, atacados com pedradas. Cícero lutou em vão até o ano de sua morte, 1934, para provar que
A repressão policial foi violenta. Qualquer suspeito de haver o milagre em Juazeiro do Norte havia ocorrido. Apenas em 2016, a
participado da revolta foi jogado em porões de navios e manda- Igreja Católica se reconciliou com o padre, suspendendo todas as
do para o Acre. A vacinação obrigatória acabou sendo suspensa, e, punições que havia lhe imposto.
quatro anos depois, uma epidemia de varíola matou mais de 6 mil
pessoas no Rio de Janeiro. Foram necessários muitos anos para que Guerra de Canudos
os governantes reconhecessem que nada conseguiam com Imposi- Antônio Vicente Mendes Maciel andava pelos sertões nordes-
ções e práticas autoritárias sobre a população. Nos anos 1960, com tinos pregando a fé católica. Tornou-se um beato conhecido como
campanhas de esclarecimento, a vacinação em massa tornou-se co- Antônio Conselheiro e passou a ser seguido por muitas pessoas.
mum no país. Em 1971, ocorreu o último caso de varíola no Brasil. Em 1877, fixou-se com centenas delas no arraial de Canudos, um
lugarejo abandonado no interior da Bahia, às margens do rio Vaza-
Revolta da Chibata -Barris, ao qual renomearam Belo Monte. A comunidade cresceu
Os marujos da Marinha de Guerra brasileira viviam sob péssi- rapidamente. Famílias, que fugiam da exploração dos latifundiários
mas condições de trabalho: soldos miseráveis, má alimentação, tra- da região ou abandonavam suas terras de origem devido à seca,
balhos excessivos e opressão da oficialidade. Mas os castigos físicos foram para Canudos.
aos quais eram submetidos, principalmente com o uso da chibata, Também foi o caso de jagunços, que serviam aos coronéis, mas
eram ainda mais graves. haviam caído em desgraça. Estima-se que em poucos anos o arraial
Em 22 de novembro de 1910, marinheiros do encouraçado recebeu entre 20 e 30 mil pessoas pobres, em sua grande maioria,
Minas Gerais se revoltaram contra a punição de um colega conde- mas que em Canudos tinham ao menos uma casa para morar e ter-
nado a receber 250 chibatadas. Liderados por João Cândido, eles ra para plantar.
tomaram a embarcação, prenderam e mataram alguns oficiais e Canudos tinha uma rígida organização social. No comando es-
apontaram os canhões para a cidade do Rio de Janeiro. Os marujos tava António Conselheiro, também chamado de chefe, pastor ou
do encouraçado São Paulo e de outras seis embarcações, também pai. Doze homens, denominados apóstolos, assumiram as chefias
ancoradas na baía de Guanabara, aderiram à revolta. Os revoltosos dos setores de guerra, economia, vida civil, vida religiosa etc. O
exigiam melhores condições de trabalho e o fim dos castigos cor- arraial contava com uma guarda especial formada pelos jagunços,
porais. chamada Companhia do Bom Jesus ou Guarda Católica. Havia tam-
O Congresso negociou com os revoltosos e, somente após sua bém comerciantes.
rendição, concedeu-lhes anistia. Mas o ambiente na Armada con- Em 1896, um incidente alterou a paz do arraial. Comerciantes
tinuou tenso. Em 4 de dezembro, diante de novas punições, outra de Juazeiro não entregaram madeiras compradas por Conselheiro
revolta eclodiu na ilha das Cobras. Os oficiais reagiram de maneira para a construção de uma nova igreja. Os jagunços se vingaram sa-
dura e bombardearam a ilha. queando a cidade. Em resposta, o governador baiano enviou duas
Depois, prenderam 600 marinheiros, inclusive os que participa- expedições punitivas a Canudos, ambas derrotadas pelos conselhei-
ram da primeira revolta, entre eles João Cândido, apelidado de “al- ristas.
mirante negro”. Jogados em prisões solitárias por vários dias, mui- Denúncias de que Canudos e António Conselheiro faziam parte
tos deles morreram. Os demais foram detidos em porões de navios de um amplo movimento que visava restaurar a monarquia no país
e mandados para a Amazónia - ou executados durante a viagem. chegavam nas capitais dos estados. A imprensa do Rio de Janeiro e
de São Paulo, sobretudo, insistia na existência de um complô mo-
Revolta em Juazeiro do Norte narquista. Na capital da República, estudantes, militares, escritores,
Em 1889, no povoado de Juazeiro do Norte, no sul do estado jornalistas, entre outros grupos sociais, responsabilizavam o presi-
do Ceará, durante uma missa celebrada pelo padre Cícero Romão dente Prudente de Morais por não reprimir Canudos.
Batista, uma beata teria sangrado pela boca logo após receber a Nesse contexto foi então organizada uma terceira expedição,
hóstia. A notícia do suposto milagre - da hóstia que teria se transfor- chefiada pelo coronel Moreira César, veterano na luta contra os
mado em sangue - espalhou-se, aumentando o prestígio do padre, federalistas gaúchos. Formada por 1.300 homens do Exército bra-
que passou a ser idolatrado na região. Além das funções de padre, sileiro e seis canhões, ela foi derrotada pelos conselheiristas, que
ele desempenhava as de juiz e conselheiro, ensinava práticas de hi- mataram o coronel. O fato tomou proporções nacionais, e Canudos
giene, acolhia doentes e criminosos arrependidos. passou a ser visto como uma real ameaça à República. Formou-se,
Seu prestígio era tamanho que a alta hierarquia da Igreja che- assim, uma quarta expedição, que contava com 10 mil homens. Em
gou a ficar incomodada e temerosa de que essa veneração estimu- outubro de 1897, o arraial foi destruído e sua população, massacra-
lasse práticas religiosas fora de seu controle - o que, de fato, aconte- da - mesmo aqueles que se renderam foram degolados.
ceu. Em 1892, o padre foi impedido de pregar e ouvir em confissão.
Dois anos depois, a Congregação para a Doutrina da Fé decretou a Guerra do Contestado
falsidade do milagre em Juazeiro do Norte, provocando a reação da Em 1911, um pregador itinerante de nome José Maria apa-
população. Movimentos de solidariedade se formaram e irmanda- receu na região central de Santa Catarina. Ele afirmava que tinha
des se mobilizaram a favor do padre Cícero. Imensas romarias pas- sido enviado pelo monge João Maria, morto alguns anos antes.
saram a se dirigir à cidade. Beatas diziam ter visões que anunciavam Na região Sul do país, monge tinha o mesmo significado que bea-
a proximidade do fim do mundo e o retorno de Cristo. Surgia um to no Nordeste. João Maria, quando vivo, fora contra a instaura-
movimento que desafiava as autoridades eclesiásticas da região. ção da República e acreditava que somente a lei da monarquia era
Em 1911, inserido na política oligárquica local, padre Cícero foi verdadeira. Apresentando-se como um continuador de suas ideias,
eleito prefeito de Juazeiro do Norte e se tornou o principal articula- José Maria organizou uma comunidade formada por milhares de
dor de um pacto entre os coronéis da região do vale do Cariri. Padre homens e mulheres em Taquaruçu, nas proximidades do município

234
REALIDADE BRASILEIRA

catarinense de Curitibanos. Armados e sob a liderança de José Ma- Acostumada ao padrão europeu de música, a audiência rejei-
ria, eles criticavam a República. tava os instrumentos musicais das culturas africanas e indígenas.
Muitos homens e mulheres que participavam desse movimen- Para os modernistas, era preciso mostrar às elites que essas cultu-
to conhecido como Contestado, por ter ocorrido em uma área dis- ras também eram formadoras da cultura nacional.
putada entre os estados do Paraná e de Santa Catarina, eram pe-
quenos proprietários expulsos de suas terras devido à construção — O Tenentismo
de uma ferrovia, a Brazil Railway Company, que ligaria os estados Enquanto isso, setores da média oficialidade do Exército - como
de São Paulo e do Rio Grande do Sul. A empresa pertencia a um dos tenentes e capitães - atacavam o governo com armas, em um movi-
homens mais ricos do mundo, o estadunidense Percival Farquhar. mento conhecido como tenentismo. Alguns criticavam o liberalismo
Como parte do pagamento à empresa construtora, o governo e defendiam um Estado forte e centralizado, expressando um nacio-
estadual doou 15 quilômetros de terras de cada lado da linha, pre- nalismo não muito bem definido. Exigiam a moralização da política
judicando os camponeses que ali viviam. A situação era agravada e das eleições e defendiam a adoção do voto secreto. Muitos se
pela presença de madeireiras. Atacados pela polícia, em 1912, des- mostravam ressentidos com os políticos, pelo papel secundário do
locaram-se para Palmas, no Paraná. Exército na política nacional. A primeira revolta tenentista ocorreu
no Rio de Janeiro, em 1922. Após os rebelados tomarem o Forte de
O governo do estado, que considerou se tratar de uma inva- Copacabana, canhões foram disparados contra alvos considerados
são dos catarinenses, atacou a comunidade e matou José Maria, estratégicos. O objetivo era impedir posse do presidente eleito Ar-
dispersando a multidão de homens e mulheres que o seguia. Um thur Bernardes e, no limite, derrubar o governo.
ano depois, cerca de 12 mil fiéis se reagruparam em Taquaruçu. A O presidente Epitácio Pessoa, com o apoio do Exército e da
liderança do movimento ficou a cargo de um conselho de chefes, Marinha, ordenou o bombardeamento do forte. Muitos desistiram
que difundiu a crença de que José Maria regressaria à frente de da luta, mas 17 deles decidiram resistir. Com fuzis nas mãos, mar-
um exército encantado para vencer as forças do mal e implantar o charam pela avenida Atlântica. Um civil se juntou a eles. Ao final,
paraíso na Terra. Em fins de 1916, forças do Exército e das polícias sobraram apenas os militares Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
estaduais, com o apoio de aviões, reprimiram o movimento, matan- A rebelião ficou conhecida como a Revolta dos 18 do Forte.
do milhares de rebeldes. Em 1924, eclodiu outra revolta tenentista, dessa vez em São
Paulo. Os revoltosos tomaram o poder na capital paulista. O objeti-
— O Modernismo vo era incentivar revoltas todo o país até a derrubada do presiden-
No Brasil, como em grande parte do mundo ocidental, a vida te Arthur Bernardes. A reação do governo federal foi bombardear
cultural era fortemente influenciada pelos europeus. No vestuário, a cidade. Acuados, os revoltosos resolveram marchar para Foz do
na culinária, na literatura, na pintura, no teatro e em outras mani- Iguaçu.
festações artístico-culturais, adorava-se, sobretudo, o padrão fran-
cês como modelo. A Coluna Prestes
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, isso começou Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, o jovem capitão Luís
a mudar. A guerra resultou no declínio econômico e político dos Carlos Prestes liderava uma coluna militar que, partindo de Santo
países envolvidos no conflito e suscitou, ao menos nas Américas, a Ângelo, marchava ao encontro dos rebelados paulistas em Foz do
dúvida quanto à superioridade da cultura europeia. Nos anos 1920, Iguaçu. Quando se encontraram, em abril de 1925, formaram a
em diversas cidades do Brasil, principalmente em São Paulo e no Coluna Prestes-Miguel Costa e partiram em direção ao interior do
Rio de Janeiro, surgiram jornais, revistas e manifestos publicados país, para mobilizar a população contra o governo e as oligarquias.
por artistas e intelectuais que, preocupados com a modernização Com cerca de 1500 homens, atravessaram 13 estados. Perse-
do país, discutiam o que era ser brasileiro. Recusavam-se a copiar guido pelo Exército, Prestes, com táticas militares inteligentes, im-
padrões europeus e propunham uma nova maneira de pensar e de- pôs várias derrotas às tropas governistas - que nunca o derrotaram.
finir o Brasil, valorizando a memória nacional e a pesquisa das raízes Após marcharem 25 mil quilômetros, cansados e sem perspectivas,
culturais dos brasileiros. em 1927 os soldados da coluna entraram no território boliviano,
Era o movimento modernista, que se manifestou com grande onde conseguiram asilo político. Por sua luta e capacidade de co-
impacto em São Paulo. Entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, o mando, Luís Carlos Prestes passou a ser considerado um herói e
Teatro Municipal de São Paulo abrigou a Semana de Arte Moderna. conhecido como “Cavaleiro da Esperança “.
Em três noites de apresentação, artistas e intelectuais exibiram suas
obras: houve música, poesia, pintura, escultura, palestras e debates. — A Revolução de 1930
Nas artes plásticas, destacaram-se Anita Malfatti, Di Cavalcanti No início da década de 1920, o sistema político da Primeira Re-
- responsável pela arte da capa do catálogo da exposição - e Lasar pública começava a apresentar sinais de esgotamento. A realização
Segall (pintura); Vitor Brecheret (escultura); e Oswaldo Goeldi (gra- da Semana de Arte Moderna, a fundação do Partido Comunista do
vura). Oswald de Andrade apresentou as revistas Papel e Tinta e Brasil e a eclosão da Revolta dos 18 do Forte eram indícios desse
Pirralho, leu textos e poemas. esgotamento. A própria sucessão presidencial, também no ano de
Mário de Andrade, Ronald de Carvalho e Graça Aranha tam- 1922, foi marcada por uma forte disputa entre os grupos políticos
bém leram seus trabalhos. O maestro Villa-Lobos impressionou o estaduais.
público quando, na orquestra que regia, incluiu instrumentos de Paulistas e mineiros haviam concordado em apoiar o mineiro
congada, tambores e uma folha de zinco. O público vaiou. Arthur Bernardes. Mas as lideranças políticas do Rio de Janeiro, do
Rio Grande do Sul, da Bahia e de Pernambuco optaram por lançar
Nilo Peçanha como candidato. O movimento, conhecido como Rea-
ção Republicana, não propunha romper com o sistema oligárquico,

235
REALIDADE BRASILEIRA

mas abrir espaço para os grupos dominantes de outros estados, de- Em São Paulo, a nomeação do tenentista pernambucano João
safiando o domínio de paulistas e mineiros. No entanto, os resulta- Alberto Lins de Barros para interventor provocou descontentamen-
dos das eleições eram previsíveis e Arthur Bernardes saiu vitorioso. to entre as elites, que passaram a exigir um interventor civil e pau-
Os líderes da Reação Republicana não aceitaram a derrota e lista. Os desdobramentos do descontentamento da população em
apelaram para os militares - o que fez eclodir a revolta tenentista relação a Vargas levaram à deflagração da Revolução Constituciona-
no Forte de Copacabana, em 5 de julho de 1922. Arthur Bernardes lista, em julho de 1932.
governou sob estado de sítio, perseguiu o movimento operário e Devido à debilidade de suas convicções ideológicas, o tenentis-
atuou de maneira bastante impopular nas cidades. Em 1926, dissi- mo perdeu muito de sua influência junto ao governo Vargas. Vários
dentes do PRP fundaram o Partido Democrático (PD), em São Paulo. de seus representantes voltaram para os quartéis, outros se aliaram
O novo partido defendia a adoção do voto secreto e obrigatório, a ao comunismo ou a grupos simpatizantes do fascismo. Os que con-
criação da Justiça Eleitoral e a independência dos três pode tinuaram no governo permaneceram subordinados ao presidente.
O sucessor de Arthur Bernardes, Washington Luís, suspendeu o
estado de sítio e as perseguições ao movimento sindical. No entan- — Legislação Trabalhista
to, não concedeu a anistia política aos tenentes, como exigiam as A obra pela qual o governo de Getúlio Vargas é mais lembra-
oposições. Em 1929, começaram as articulações para a nova suces- do é a legislação trabalhista, iniciada com a criação do Ministério
são presidencial. O presidente Washington Luís, do Partido Repu- do Trabalho, Indústria e Comércio, em novembro de 1930. As leis
blicano Paulista, indicou para sucedê-lo o presidente do estado de de proteção ao trabalhador regularam o trabalho de mulheres e
São Paulo, Júlio Prestes. Inconformadas, as oligarquias mineiras se crianças, estabeleceram jornada máxima de oito horas diárias de
aliaram aos gaúchos e aos paraibanos, lançando o nome do gaúcho trabalho, criaram o descanso semanal remunerado e garantiram o
Getúlio Vargas para a presidência e do paraibano João Pessoa para direito a férias (já concedido anteriormente, em 1923, porém nunca
a vice-presidência. colocado em prática) e à aposentadoria, entre outras novidades.
O Partido Democrático, de São Paulo, apoiou a candidatura de Esse conjunto de leis seria sistematizado em 1943, com a Con-
Vargas. Os dissidentes então formaram a Aliança Liberal, cuja pla- solidação das Leis do Trabalho (CLT). Ao mesmo tempo, em 1931
taforma política defendia o voto secreto, a criação de uma Justiça 0 governo aprovou a Lei de Sindicalização, que estabelecia o con-
Eleitoral, a moralização da prática política, a anistia para os militares trole do Ministério do Trabalho sobre a ação sindical. Os sindica-
revoltosos dos anos 1920 e o estabelecimento de leis trabalhistas. tos passaram a ser órgãos consultivos do poder público; só podiam
funcionar com autorização do Ministério do Trabalho, que, por sua
Nas eleições ocorridas em março de 1930, Júlio Prestes venceu, vez, tinha poderes de intervenção tão importantes nas atividades
mas os políticos da Aliança Liberal não aceitaram a derrota, alegan- sindicais que podia até afastar diretores.
do fraudes eleitorais. Mineiros e gaúchos conseguiram o apoio dos Assim, anarquistas e comunistas foram afastados do movimen-
tenentes na luta contra o governo. No exilio argentino, Luís Carlos to sindical pelo governo e reagiram à lei, considerada autoritária,
Prestes tinha aderido ao comunismo e recusou-se a participar das por meio de greves e manifestações. Aos poucos, porém, diversos
conversações. A crise eclodiu com o assassinato de João Pessoa, setores sindicais passaram a acatá-la.
em julho de 1930. Apesar de se tratar de um crime que misturava A legislação trabalhista - apresentada à população como uma
razões políticas locais e passionais, os políticos da Aliança Liberal “dádiva do governo” - e a aproximação em relação aos sindicatos
transformaram o episódio em questão nacional e deflagraram uma faziam parte de um tipo de política que seria caracterizado como
revolução. populista, anos mais tarde. Apresentado como autor magnânimo
Iniciada em 3 de outubro de 1930, em Minas Gerais e no Rio das leis trabalhistas, Getúlio era chamado de “pai dos pobres”, uma
Grande do Sul, ela se alastrou rapidamente pelo Nordeste. Diante espécie de protetor da classe trabalhadora, desconsiderando as
da possibilidade de uma guerra civil, altos oficiais do Exército e da conquistas como resultado das lutas dos trabalhadores.
Marinha depuseram o presidente Washington Luís e formaram uma
Junta Militar. Com a chegada das tropas rebeldes ao Rio de Janeiro, — A Constituição de 1934
entregaram o poder a Getúlio Vargas. O movimento político-militar Em 1932, Getúlio Vargas ainda governava sob um regime de
conhecido como Revolução de 1930 saía vitorioso. Era o início da exceção. Em fevereiro do mesmo ano, o governo aprovou um novo
Era Vargas. Código Eleitoral que trazia algumas novidades:
– criava a Justiça Eleitoral, para coibir as fraudes eleitorais;
– instituía o voto secreto, principalmente para minar a influên-
O ESTADO GETULISTA. cia dos coronéis sobre os eleitores (releia o Capítulo 3);
– reduzia de 21 anos para 18 a idade mínima do eleitor;
— Governo Provisório – garantia o direito de voto às mulheres, antiga reivindicação
Ao assumir a chefia do governo provisório em 1930, apoiado dos grupos feministas, que tinham entre suas principais militantes a
pelos militares, Getúlio Vargas aboliu a Constituição de 1891, dis- enfermeira Bertha Lutz (1894-1976).
solveu o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas estaduais
e as Câmaras municipais e instituiu um regime de emergência. Com Pressionado por diversos setores da sociedade, juntamente
exceção do governador Olegário Maciel, de Minas Gerais, todos os com a divulgação do novo Código Eleitoral, o governo convocou
demais (na época, chamados de presidentes de estado) foram subs- eleições para maio de 1933, visando à formação de uma Assembleia
tituídos por interventores, pessoas da confiança do presidente, es- Constituinte. Entre os 254 constituintes eleitos encontrava-se a mé-
colhidos por ele entre os egressos do movimento tenentista3. dica Carlota Pereira de Queirós, candidata por São Paulo e primeira
3 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, deputada do Brasil.
Reinaldo Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.

236
REALIDADE BRASILEIRA

Promulgada em julho de 1934, a nova Constituição incorporou Entre os detidos encontravam-se Luís Carlos Prestes (posterior-
a legislação trabalhista em vigor, acrescentando a ela a instituição mente condenado a dezesseis anos de reclusão) e sua mulher, a
do salário mínimo (que seria criado somente em 1940) e criou o judia alemã Olga Benário. Ela, grávida de sete meses, foi deportada
Tribunal do Trabalho. Pela nova Carta, analfabetos e soldados conti- para a Alemanha nazista em setembro de 1936, onde morreu em
nuavam proibidos de votar. um campo de concentração em 1942.
Ainda em julho de 1934 os constituintes elegeram Getúlio Var-
gas para a Presidência da República, pondo fim ao governo provisó- — Eleições Canceladas
rio. De acordo com a Constituição, o mandato presidencial se esten- Em meio a esse clima de repressão à esquerda, teve início, em
deria até 1938, quando um novo presidente escolhido por voto livre 1937, a campanha eleitoral para a escolha do sucessor de Getúlio
e direto assumiria o cargo. Vargas. O presidente, contudo, articulava sua permanência no po-
der junto às Forças Arma das e aos governadores. No final de 1937,
— Governo Constitucional de Vargas o capitão integralista Olímpio Mourão Filho elaborou um plano de
Os anos 1930 foram marcados por uma forte polarização po- uma conspiração comunista para a tomada do poder e o entregou à
lítica, com o surgimento de dois movimentos antagônicos: a Ação cúpula das Forças Armadas.
Integralista Brasileira (AIB), de direita, e a Aliança Nacional Liber- Era o Plano Cohen, nome de seu suposto autor. O documen-
tadora (ANL), de esquerda. to era falso, mas serviu de pretexto para um golpe de Estado. No
A exemplo do que acontecia na Europa, onde a população geral dia 10 de novembro de 1937, o presidente ordenou o fechamento
estava desacreditada da democracia liberal - o que favorecia o sur- do Congresso por tropas do Exército. Pelo rádio, Vargas declarou
gimento de regimes totalitários em diversos países -, surgiram no canceladas as eleições presidenciais e anunciou a instauração do
Brasil grupos que reivindicavam a implantação de uma ditadura de Estado Novo, que ele definiu como “um regime forte, de paz, justiça
direita, semelhante à de Mussolini na Itália. e trabalho”.
Em 1932, foi formada a Ação Integralista Brasileira, de inspi- A seguir, foi outorgada uma nova Constituição, que logo pas-
ração fascista, liderada pelo escritor Plínio Salgado e composta de saria a ser chamada de Polaca, em alusão a suas semelhanças com
intelectuais, religiosos, alguns ex-tenentistas e setores das classes a Constituição polonesa, de inspiração fascista. As garantias indivi-
médias e da burguesia. Tendo como lema “Deus, Pátria e Família”, o duais foram suspensas e o direito de reunião, abolido. A população
integralismo era um movimento de caráter nacionalista, antiliberal, ficou proibida de se organizar, reivindicar seus direitos e de ma-
anticomunista e contrário ao capitalismo financeiro internacional. nifestar livremente suas opiniões. Sem reação popular, começava
Os integralistas defendiam o controle do Estado sobre a eco- uma nova fase do governo getulista: a de uma ditadura declarada,
nomia e o fim de instrumentos democráticos, como a pluralidade centralizada em torno da figura de Getúlio Vargas.
partidária e a democracia representativa. Nas eleições municipais
de 1936, os integralistas elegeram vereadores em diversos municí- — O Estado Novo
pios brasileiros e conquistaram várias prefeituras, entre elas as de Vargas passou a governar por meio de decretos-lei. Todos os
Blumenau (SC) e Presidente Prudente (SP). partidos políticos foram extintos, incluindo a Ação Integralista, que
A Aliança Nacional Libertadora surgiu em março de 1935, e apoiara o golpe. A ideologia do Estado Novo enfatizava principal-
tinha como presidente de honra o líder comunista Luís Carlos Pres- mente a ideia de reconstrução da nação - pautada na ordem, na
tes. O Partido Comunista do Brasil (PC do B) tinha grande ascendên- obediência à autoridade e na aceitação das desigualdades sociais
cia sobre a ANL, mas o movimento reunia em suas fileiras grupos - e a de tutela do Estado sobre a nacionalidade brasileira.
de variadas tendências: socialistas, liberais, anti-integralistas, inte-
lectuais independentes, estudantes e ex-tenentistas descontentes Departamento de Imprensa e Propaganda
com o autoritarismo do governo Vargas. Seu programa político era Em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propagan-
nacionalista e anti-imperialista. Entre suas principais bandeiras es- da (DIP), inspirado no serviço de comunicação da Alemanha nazista.
tavam a suspensão do pagamento da dívida externa, a nacionaliza- Os agentes do DIP controlavam os meios de comunicação por meio
ção de empresas estrangeiras e a reforma agrária. da censura a jornais, revistas, livros, rádio e cinema. Eles também
A ANL cresceu rapidamente, chegando a reunir entre 70 mil e elaboravam a propaganda oficial do Estado Novo, produzindo peças
100 mil filiados, segundo estimativas do historiador Robert Levine. publicitárias que mostravam o presidente como uma figura pater-
Quatro meses depois de fundada, foi declarada ilegal pelo presi- nal, bondosa, severa e exigente a fim de agradar à opinião pública.
dente Vargas. O DIP elaborava também cine documentários, como o Cine-
A partir de então, seus militantes passaram a agir na clandes- jornal Brasileiro - exibido obrigatoriamente em todos os cinemas,
tinidade. Em novembro de 1935, setores da ANL ligados ao PC do antes do início dos filmes -, livros e cartilhas escolares enaltecendo
B lideraram, sob orientação da Internacional Comunista, insurrei- a figura de Vargas e transmitindo noções de patriotismo e civismo.
ções mi- litares nas cidades de Natal, Recife e Rio de Janeiro, com Em meio ao ambiente de controle e repressão, a Polícia Espe-
o intuito de tomar o poder e implantar o comunismo no Brasil. Mal cial de Getúlio Vargas ganhou força. Comandada pelo ex-tenentista
articulados, os levantes fracassaram e a Intentona Comunista, como Filinto Müller, ela ficou conhecida por suas prisões arbitrárias e pela
ficou conhecido o episódio, levou o presidente a decretar estado de prática de tortura contra os presos.
sítio e determinar a prisão de mais de 6 mil pessoas - entre as quais
um senador e quatro deputados. — O Brasil e a Segunda Guerra Mundial
Em 1940, Vargas fez um discurso elogiando o sucesso das tropas
nazistas na Europa. Entretanto, embora se aproximasse dos países
do Eixo por suas posturas autoritárias, o governo de Getúlio Vargas
manteve uma postura ambígua sobre a Segunda Guerra Mundial,

237
REALIDADE BRASILEIRA

pois mantinha relações econômicas com os Estados Unidos. de voto aos analfabetos (mais da metade da população), inúmeras
Para impedir a influência europeia sobre o Brasil, o governo restrições ao direito de greve e a não incorporação dos trabalhado-
estadunidense pôs em prática a política de boa vizinhança, que se res do campo à legislação trabalhista.
manifestou por meio do fim do intervencionismo político e da cola- Na área econômica, Dutra deu uma orientação liberal ao seu
boração econômica e militar. O rompimento definitivo com o bloco governo, afastando-se da política nacionalista adotada por Getúlio
nazifascista ocorreu em 1942, quando navios mercantes brasileiros Vargas. Com a abertura do mercado aos produtos importados, as
foram afundados por submarinos alemães. reservas nacionais em moedas estrangeiras acumuladas durante a
Em agosto daquele ano, após manifestações populares e es- Segunda Guerra esgotaram-se.
tudantis exigindo que o governo entrasse no conflito ao lado das Em 1948, foi anunciado o Plano Salte, abreviatura de Saúde,
democracias, Getúlio declarou guerra aos países do Eixo. Em julho Alimentação, Transporte e Energia, considerados setores prioritá-
de 1944, aproximadamente 25 mil soldados, integrantes da Força rios. O plano só foi aprovado pelo Congresso em 1950, no final do
Expedicionária Brasileira (FEB) desembarcaram na Itália. governo Dutra, e abandonado pelo governo seguinte. Assim, foi
implementado apenas em parte, como a pavimentação da rodovia
— O Fim do Estado Novo Rio-São Paulo (atual Via Dutra), a abertura da rodovia Rio-Bahia e o
Em 1942, as manifestações estudantis e populares lideradas início das obras da Hidrelétrica do São Francisco. Aderindo ao clima
pela União Nacional dos Estudantes (UNE), a favor da participação da Guerra Fria, o governo Dutra estreitou relações com os Estados
do Brasil na guerra contra o nazifascismo, deram início a um lento Unidos e, em 1947, rompeu relações diplomáticas com a União So-
processo de distensão no clima sufocante do Estado Novo. Outras viética. Esse posicionamento acabou provocando um recuo na frágil
manifestações ocorreram, agora pelo fim do Estado Novo e pela e recente democracia brasileira: o governo decretou a ilegalidade
volta da democracia. do Partido Comunista Brasileiro (PCB), cassando o mandato de de-
Em 1943, houve o Manifesto dos Mineiros, de um grupo de po- putados, senadores e vereadores do partido que foram eleitos em
líticos e intelectuais de Minas Gerais durante um congresso da Or- 1945.
dem dos Advogados do Brasil (OAB). No início de 1945, foi a vez dos Além disso, o governo também ordenou a intervenção estatal
participantes do Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores. Ainda em mais de 400 sindicatos.
em 1945, Getúlio pôs fim à censura da imprensa, anistiou presos
políticos - entre eles, Luís Carlos Prestes - e convocou eleições para — O Retorno de Getúlio Vargas
uma Assembleia Constituinte. Getúlio Vargas foi vitorioso nas eleições para a sucessão de Du-
Surgiram então diversos partidos políticos, entre os quais a tra em outubro de 1950. Ele candidatou-se pelo Partido Trabalhista
União Democrática Nacional (UDN), formada por setores das clas- Brasileiro (PT B), com o apoio do Partido Social Democrático (PSD).
ses médias e altas, o Partido Social Democrático (PSD), composto de Assim, o pai dos pobres, como ficou conhecido, reassumia a
antigos coronéis e interventores nos estados e o Partido Trabalhista Presidência do Brasil em janeiro de 1951, mas, desta vez, democra-
Brasileiro (PTB), constituído por líderes sindicais ligados ao Ministé- ticamente. Sua atuação política junto às camadas mais carentes do
rio do Trabalho, além do Partido Comunista do Brasil (PC do B), que país, no estilo populista, foi decisiva para sua vitória. Meses depois
voltou a ser legalizado. da eleição de Getúlio, a marchinha mais cantada no Carnaval de
Durante a campanha eleitoral, líderes do PTB e de alguns sin- 1951 era Retrato do velho, de Haroldo Lobo e Marino Pinto, gravada
dicatos, com o apoio do Partido Comunista e com o aval do presi- em outubro de 1950 por Francisco Alves, para comemorar o resul-
dente, passaram a defender a permanência de Getúlio Vargas na tado das eleições.
Presidência. A expressão “Queremos Getúlio!”, repetida em coro Com a volta de Getúlio Vargas, o governo passou a seguir a cor-
pelos partidários desse grupo, deu nome ao movimento: queremis- rente nacionalista, com o Estado atuando de maneira intervencio-
mo. Para evitar a permanência de Vargas no poder, os generais Góis nista e paternalista.
Monteiro e Eurico Gaspar Dutra exigiram sua renúncia. As importações foram restringidas e os investimentos estran-
Com o afastamento de Getúlio em Outubro de 1945, o Estado geiros foram limitados, dificultando as remessas de lucros de em-
Novo chegava ao fim. presas transnacionais para seus países de origem. Para incentivar a
indústria nacional, em 1952, foi criado o Banco Nacional de Desen-
DEMOCRACIA E RUPTURAS DEMOCRÁTICAS NA SEGUNDA volvimento Econômico (BNDE) e, no ano seguinte, a Petrobras, em-
METADE DO SÉCULO XX presa estatal com o monopólio da exploração e refino do petróleo
no Brasil. Foi proposta também a criação da Eletrobrás, uma em-
presa para controlar a geração e a distribuição de energia elétrica.
— A Experiência Democrática no Brasil
Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência em janeiro de 1946. Vargas nomeou João Goulart (1919-1976) para ministro do
O início de seu governo foi marcado pela posse da Assembleia Na- Trabalho, em 1953, para enfrentar as rei- vindicações e a onda de
cional Constituinte, encarrega da de elaborar uma nova Constitui- greves. Sob a orientação do presidente, o novo ministro propôs, em
ção para o Brasil. Promulgada ainda em 1946, a Carta restabelecia janeiro de 1954, dobrar o valor do salário mínimo, que recuperou
a democracia, a organização do Estado em três poderes (Executivo, seu valor em relação à crescente inflação.
Legislativo e Judiciário) e a autonomia dos estados e municípios, co- Em fevereiro, 42 coronéis e 39 tenentes-coronéis emitiram um
locando fim ao centralismo político que caracterizou a Era Vargas4. manifesto - o Manifesto dos Coronéis - criticando o governo, o aumen-
No entanto, a nova Constituição manteve a exclusão do direito to do salário mínimo e as desordens que corriam pelo país. Entre eles
4 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláudio estava o coronel Golbery do Couto e Silva e vários outros militares que,
Vicentino. José Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed. São mais tarde, foram protagonistas da ditadura iniciada em 1964.
Paulo. Scipione.

238
REALIDADE BRASILEIRA

Diante do manifesto, Getúlio demitiu o ministro da Guerra, o Destacam-se também a construção das usinas hidrelétricas de
general Espírito Santo Cardoso, e acordou com Goulart a sua de- Furnas e Três Marias; e a pavimentação de milhares de quilômetros
missão, acalmando os ânimos. Contudo, no feriado de 19 de maio de estradas. Grandes mudanças ocorriam em diversos setores. No
de 1954, Vargas anunciou o aumento de 100% do salário mínimo, dia a dia de muitas cidades e regiões.
conquistando ainda mais apoio dos trabalhadores. Na música, foi a época em que surgiu a bossa Nova, um novo
A política populista de Vargas atraiu a oposição de liberais, estilo de tocar e cantar samba com influência do jazz, juntando-se
como os membros da UDN (União Democrática Nacional, partido aos tangos, boleros, valsas e sambas de então. No futebol, 1958
político de orientação liberal), oficiais das Forças Armadas e empre- foi o ano da conquista do primeiro campeonato mundial. Passaram
sários, especialmente os ligados aos interesses estrangeiros. a fazer parte dos hábitos dos brasileiros o consumo de produtos
Em 5 de agosto de 1954, o jornalista Carlos Lacerda (1914- industriais, como eletrodomésticos (máquina de lavar roupas, rádio
1977), um dos principais oponentes de Vargas, dono do jornal Tri- de pilha, etc.)
buna da Imprensa, sofreu um atentado no qual morreu seu segu- No entanto, esse desenvolvimentismo era basicamente diri-
rança, o major da Aeronáutica Rubens Vaz (1922-1954). O episódio gido a partes do mundo urbano moderno. O enorme fosso social,
ficou conhecido como o atentado da rua Toneleros. pleno de desigualdades e carências (saneamento básico, escolas,
As investigações apontaram a participação de Gregório Fortu- saúde), e um mundo rural que ainda reunia a maioria da população
nato (1900-1962), chefe da guarda pessoal de Getúlio. Isso acirrou brasileira sem a proteção de uma legislação trabalhista continua-
os ânimos dos oposicionistas, desdobrando-se numa grande cam- vam a existir.
panha pela renúncia de Vargas. A maior obra do governo JK, entretanto, foi a construção de
A campanha contou com os meios de comunicação, que ali- Brasília, a nova capital federal, planejada pelo urbanista Lúcio Costa
mentavam e impulsionavam o aprofundamento da crise. Pressiona- e pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
do, Vargas suicidou-se em 24 de agosto de 1954. A notícia da morte A cidade foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Localizada no
e a divulgação de sua carta-testamento estimularam manifestações Planalto Central, estava bem distante das cidades do Rio de Janeiro
populares por todo o país. Jornais de oposição foram invadidos e e de São Paulo, os principais centros de pressão popular da época.
depredados, assim como os diretórios da UDN e a embaixada dos A abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro e os vários
Estados Unidos no Rio de Janeiro. empréstimos contraídos junto às instituições estrangeiras deixaram
Com o suicídio de Getúlio, o vice-presidente Café Filho (1899- o país numa séria crise financeira, com a inflação chegando, em
1970) assumiu o poder. Inconformados com o resultado das elei- 1960, ao índice de 25% ao ano.
ções, a UDN de Lacerda e setores militares tramavam um golpe, Nas eleições de 1960, a coligação PSD-PTB indicou o marechal
com apoio discreto de Café Filho e outros ministros, mas esbarra- Henrique Teixeira Lott para concorrer à Presidência e João Goulart
ram no legalista ministro da Guerra, o general Henrique Teixeira à Vice-presidência. Na oposição, a UDN e outros partidos meno-
Lott (1894-1984). res apoiaram a candidatura do ex-governador de São Paulo, Jânio
A saída de Café Filho da presidência por problema de saúde oca- Quadros (1917-1992). Seu candidato à Vice-presidência era Mílton
sionou a transferência do cargo ao presidente da Câmara dos Deputa- Campos, ex-governador de Minas Gerais. Jânio pregava uma limpe-
dos, Carlos Luz (1894-1961), aliado da UDN. Este, mais favorável aos za na vida política nacional com o combate à corrupção. Para sim-
golpistas, tentou se livrar do legalista Lott, que reagiu e o depôs. bolizar a ideia, usava uma vassoura na campanha eleitoral. Como
O cargo foi entregue então ao presidente do Senado, Nereu Ra- votava-se separadamente para presidente e para vice-presidente,
mos (1888-1958), que governou como presidente da República até Jânio Quadros se tornou presidente com 5,6 milhões de votos. João
a posse de Juscelino Kubitschek, em janeiro de 1956. Goulart foi eleito vice-presidente com 4,5 milhões de votos. Era for-
Nas eleições de outubro de 1955, Juscelino Kubitschek de Oli- mada a dupla “Jan-Jan”.
veira (1902-1976), ex-governador de Minas Gerais, teve uma vitó-
ria apertada, de 36%, contra 30% dos votos dados a Juarez Távora, Jânio Quadros no Poder
candidato da UDN. Como presidente, Jânio Quadros primou pela ambiguidade. Na
JK, como era popularmente conhecido, foi o candidato da coli- economia atuava deforma mais próxima aos conservadores liberais:
gação PSD-PTB. Como na época os eleitores votavam separadamen- cortou gastos e congelou salários em meio à contínua elevação dos
te para presidente e para vice-presidente, João Goulart, o Jango, preços dos produtos. Por outro lado, sua política externa aproxi-
ex-ministro do Trabalho de Vargas, venceu a eleição para Vice-presi- mava-se da esquerda, ao reatar relações diplomáticas com países
dência, com mais votos (3 591.409) do que o próprio JK (3 077.411). socialistas a fim de ampliar mercados.
Um episódio reforçou essa política de independência em rela-
— De Jk a João Goulart ção ao bloco capitalista. Em 1961, o argentino Ernesto Che Guevara,
O governo de Juscelino Kubitschek foi marcado pelo desen- então ministro da Economia em Cuba, foi condecorado por Jânio
volvimentismo. Apoiando-se no Plano de Metas, divulgado sob o Quadros com a Ordem do Cruzeiro do Sul.
slogan “50 anos em 5”, Juscelino prometia desenvolver o país em Essa atitude provocou reações contrárias, inclusive do próprio
tempo recorde. O programa priorizava investimentos em setores de partido do presidente. Em agosto de 1961, após sete meses de go-
energia, indústria, educação, transporte e alimentos. verno, Jânio surpreendeu a todos ao renunciar ao cargo, numa ma-
Para alcançar as metas, o governo favoreceu a entrada de capi- nobra política fracassada. A renúncia fazia parte de um plano que
tais estrangeiros e a presença de empresas transnacionais no país. contava com o temor de setores da sociedade diante da possibilida-
Esse modelo abandonava o nacionalismo do período Vargas e ade- de de João Goulart assumir a Presidência para fortalecer seu poder.
ria ao capitalismo internacional. Como resultado dessa política, fá-
bricas de caminhões, tratores, automóveis, produtos farmacêuticos
e cigarros foram instaladas no Brasil.

239
REALIDADE BRASILEIRA

O vice, que se encontrava na China Popular, em missão de go- João Goulart aproximou-se de setores populares organizados por
verno, era considerado comprometido com as causas trabalhistas operários, camponeses, estudantes e militantes de esquerda, como
- e até acusado de ser um comunista - por vários militares e políti- o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos
cos. Ao que parece, a expectativa de Jânio era que a população se Estudantes (UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas
mobilizasse contra seu pedido de renúncia e o Congresso Nacional (UBES), a Confederação dos Trabalhadores Agrícolas (CONTAC) e as
o rejeitasse, o que o levaria a exigir plenos poderes para continuar Ligas Camponesas.
na Presidência. No lado oposto, contra Jango, os conservadores juntavam or-
A renúncia, porém, foi aceita imediatamente e nenhum gru- ganizações sociais e políticas. Entre eles, destacava-se o Instituto
po movimentou-se para convencer Jânio Quadros a permanecer de Pesquisas Econômicas e Sociais (PES), que reunia diretores de
no poder. O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzil- empresas multinacionais, jornalistas, intelectuais, militares e a nata
li (1910-1975), assumiu a Presidência da República até a posse de do empresariado nacional.
Jango. Entre outros opositores a João Goulart estavam o Instituto Bra-
sileiro de Ação Democrática (Ibad), a Confederação Nacional das
— A Crise Política no Governo Jango Indústrias (CNI) e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
A renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961 amplifi- Num comício realizado em 13 de marco de 1964, no Rio de Janeiro,
cou as divergências entre as forças políticas. Alguns ministros mili- o presidente prometeu o aprofundamento das reformas para diver-
tares e políticos da UON, contrariando a Constituição, tentaram im- sas entidades de trabalhadores e estudantes.
pedir a posse de João Goulart. O novo presidente era visto como um Em resposta, os conservadores organizaram uma grande pas-
herdeiro de Getúlio Vargas e acusado de simpatizante da esquerda. seata em São Paulo, chamada Marcha da Família com Deus pela
Em defesa de Jango, Leonel Brizola (1922-2004), então gover- Liberdade. Os participantes da passeata declaravam estar se posi-
nador do Rio Grande do Sul, lançou a Campanha da Legalidade, cionando contra o que era visto como ameaça da transformação do
conquistando o apoio de boa parte da população brasileira. A posse país numa república comunista, representada pelo presidente, suas
de Jango ocorreu somente após debates e negociações que levaram propostas e seu grupo de apoio. Setores da Igreja e do empresaria-
à alteração da Constituição. Com uma emenda, em 2 de setembro do participaram da manifestação.
de 1961, foi implantado o parlamentarismo no país. Era o acordo
para se evitar uma guerra civil: Jango assumiria a presidência, mas o
governo de fato ficaria a cargo do primeiro-ministro, escolhido pelo A REDEMOCRATIZAÇÃO E A BUSCA PELA ESTABILIDADE
Congresso Nacional. Definiu-se também que, após algum tempo, o ECONÔMICA
parlamentarismo deveria ser ratificado ou não por um plebiscito.
Em janeiro de 1963, o plebiscito sobre o parlamentarismo mo- Definição
bilizou o país. O sistema político estava em vigência há pouco mais “Abertura Política” é a denominação de uma sequência de ati-
de um ano e era muito criticado e impopular. Com intensa cam- vidades cuja finalidade era promover uma lenta, gradual e segura
panha pelo seu fim, os brasileiros decidiram pela restauração do transição do regime militar que para o regime democracia nos últi-
regime presidencialista. Enquanto o presidencialismo era restabe- mos dois mandatos da ditadura.
lecido, a situação econômica do país deteriorava-se. • “Lenta, gradual e segura”: o lema que definiu o início da
A inflação, que em 1962 atingira 52%, chegou aos 80% em 1963 abertura política foi criado no governo do general Ernesto Geisel
e afetou gravemente o poder aquisitivo dos trabalhadores. Para en- indicava o modo como o líder pretendia conduzir o processo de res-
frentar a crise, o governo lançou o Plano Trienal, no final de 1962. tauração da democracia.
Seu objetivo era conter a inflação e promover o desenvolvimento – Lenta: devido a não haver conformidade nas Forças Armadas
do país. No entanto, os efeitos do plano foram mínimos, principal- com relação à abertura política. Enquanto uns não concordavam
mente quanto ao custo de vida. As pressões populares cresceram, com a adoção de medidas mais radicais e extremistas, outros de-
levando Jango a defender amplas reformas nos setores agrário, ad- fendiam (e empreendiam) tentados terroristas contra instituições.
ministrativo, fiscal e bancário. Conhecidas como reformas de base, – Gradual: conforme o Pacote de Abril (nome atribuído pela
essas medidas foram vistas pelos seus opositores como uma amea- a um conjunto de medidas impostas por Ernesto Geisel, abril de
ça à ordem liberal vigente. 1977), ainda não era o momento ideal para que os militantes abris-
Três dessas medidas ajudam a entender os interesses que es- sem mão das eleições majoritárias indiretas.
tavam ameaçados. Contra a inflação, foi criada a Superintendência – Segura: tinha o objetivo de assegurar o controle da ascen-
Nacional do Abastecimento (Sunab), ligada ao governo e encarre- são da esquerda ao poder, para que o processo democratização não
gada de controlar os preços dos produtos, interferindo, portanto, eclodisse em uma revolução semelhante às que ocorreram na China
nos lucros dos produtores e comerciantes. e em Cuba. Ainda, por meio da Lei Falcão, conseguiu-se dificultar a
Para oferecer melhores condições de vida a milhões de traba- divulgação das propostas dos candidatos oponentes.
lhadores rurais e ampliar a oferta de alimentos, uma proposta de
reforma agrária nos latifúndios improdutivos foi apresentada ao • Lei da Anistia: promulgada no Governo de João Figueiredo,
Congresso. Os latifundiários, porém, não concordavam com os me- essa lei isentou os militares de seus crimes cometidos no decorrer
canismos de cálculos para se chegar aos valores das indenizações da ditadura, além de dispensar, também, aqueles que tinham sido
a serem pagas pelas terras, alegando grandes perdas caso fossem condenados por crimes políticos e os militares e agentes que atua-
efetivamente aplicados. ram ilegalmente durante o regime.
Outra questão polémica foi a restrição da remessa de lucros das • “Diretas Já»: o impulso que avançou o movimento também
empresas estrangeiras para o exterior; a proposta teve oposição de recuperou o pluripartidarismo. Mesmo que sua aprovação tenha
grupos ligados ao capital internacional. Diante de tantos embates, ocorrido em função de fragmentar a esquerda, o pluripartidarismo

240
REALIDADE BRASILEIRA

permite representação política aos mais diversos grupos, sendo, que, Berimbau e Tambor. Por conseguinte, não podemos perder de
assim, um fator essencial em um regime democrático. O retorno vista que estas expressões musicais são também corporais, uma vez
pelo à democracia somente seria possível por meio da eleição dire- que refletem formas de dançar, como no caso do Maculelê, uma
ta para presidente da República, assim, o movimento “Diretas Já”, dança folclórica brasileira, e do samba de roda, uma variação mu-
em contrapartida à divisão provocada pelo pluripartidarismo, gerou sical do samba. Podemos ressaltar outras expressões de música e
o engajamento político desses grupos em busca de desse ideal co- dança como as danças rituais, o Tambor de Crioula, e os estilos mais
mum. contemporâneos como o samba-reggae e o axé baiano. Finalmente,
• Revogação do AI-5: outra medida indispensável na luta pela merecendo um destaque especial a Capoeira, uma mistura de dan-
democracia, decretada no Governo de Ernesto Geisel. ça, música e artes marciais proibida no Brasil durante muitos anos
• Eleição de Tancredo Neves: o marco da transição de regimes e declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2014.
aconteceu em 1985, de forma indireta, e o candidato eleito contava A culinária é outro elemento típico da cultura afro-brasileira.
com aprovação de boa parte da bancada governamental, ou seja, Ela introduziu as panelas de barro, o leite de coco, o feijão preto,
agradou os militares. E, mesmo que Neves não tenha assumido o o quiabo, dentre muitos outros. Entretanto, os alimentos mais co-
cargo, o governo que se seguiu reafirmou o êxito dos militares, já nhecidos são aqueles da culinária baiana, preparados com azeite
que a esquerda só chegaria à Presidência da República quase vinte dendê e pimentas, como Abará, Vatapá e o Acarajé, bem como o
anos depois. Quibebe nordestino, preparado com carne-de-sol ou charque; além
dos doces de pamonha e cocada. Por fim, o prato brasileiro mais
conhecido de todos é a Feijoada, criada pelos escravos como uma
HISTÓRIA DOS NEGROS NO BRASIL: LUTA ANTIRRACISTA, apropriação da feijoada portuguesa e produzida a partir dos restos
CONQUISTAS LEGAIS E DESAFIOS ATUAIS de carne que os senhores de engenho não consumiam.
A religião afro-brasileira se caracterizou pelo sincretismo com o
A formação da cultura afro-brasileira remonta ao período co- catolicismo, união de aspectos do cristianismo às suas tradições re-
lonial, quando milhares de africanos vieram para o Brasil através ligiosas para que pudessem realizar as práticas religiosas africanas
do trafico negreiro. O grande número de negros vindo no período secretamente. Assim, nasceram do sincretismo o Batuque, o Xam-
colonial acabou por formar a maior população de origem africana bá, a Macumba e a Umbanda, enquanto se preservaram algumas
fora da África. A cultura afro-brasileira foi marcada pelas referências variações africanas da Quimbanda, Cabula e o Candomblé.
culturais europeia e indígena.
É importante ressaltar que essa manifestação cultural não se Influência Africana no Brasil5
deu de forma homogênea, já que os africanos que vieram ao Bra-
sil tinham distintas origens, forçando a apropriação e a adaptação A influência africana no processo de formação da cultura afro-
para que suas práticas culturais sobrevivessem. Os rituais e costu- -brasileira começou a ser delineada a partir do tráfico negreiro.
mes africano apenas deixaram de ser proibidos em 1930, durante o Quando milhões africanos “deixaram” forçadamente o continente
governo de Getúlio Vargas. africano e despontarem no Brasil para exercer o trabalho compul-
Assim, com o fim da perseguição, a cultura africana começou a sório.
ser mais valorizada, até que, em 2003, é promulgada a lei nº 10.639 O escravo africano era um elemento de suma importância no
(Lei de Diretrizes e Bases da Educação), exigindo as escolas brasilei- campo econômico do período colonial sendo considerado “as mãos
ras de ensino fundamental e médio que abarquem em seus currícu- e os pés dos senhores de engenho porque sem eles no Brasil não
los o ensino da história e cultura afro-brasileira. é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho
Devido à quantidade de escravos recebidos e também pela mi- corrente” (ANTONIL, 1982, p.89). Contudo, a contribuição africana
gração interna destes, os estados de Maranhão, Pernambuco, Ala- no período colonial foi muito além do campo econômico, uma vez
goas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo que, os escravos souberem reviver suas culturas de origem e recria-
e Rio Grande do Sul foram os mais influenciados. A maioria dos po- rem novas práticas culturais através do contato com outras culturas.
vos veio trazido da Angola, Congo e Moçambique, eles formavam É importante salientar que não houve uma homogeneidade
os Bantos. Já os Sudaneses, vieram da África ocidental, Sudão e da cultural praticada pelos negros africanos, visto que imperava uma
Costa da Guiné. heterogeneidade favorecida pelas origens distintas dos africanos,
que apesar de oriundos do continente africano, geralmente os
I. Aspectos da Cultura Afro-Brasileira escravos apresentava uma prática cultural diferenciada em alguns
aspectos devido à região que pertencia, pois a África caracteriza-
Podemos dizer que a cultura afro-brasileira compõe os costu- se em um continente dividido em países com línguas e culturas
mes, as tradições, a mitologia, o folclore, a língua, a culinária, a mú- diversas.
sica, a dança, a religião, enfim, o imaginário cultural brasileiro. Além da prática cultural diferenciada ressaltada, os africanos,
Um exemplo de como a cultura africana esta presente na nossa ainda, incorporaram algumas práticas europeias e indígenas, além
sociedade estão nas festividades, como o Carnaval, a maior festa de, influenciá-los culturalmente. O intercâmbio cultural entre os
popular brasileira, a festa de São Benedito, principal festa do Con- elementos citados contribuiu para uma formação cultural afro - bra-
gado (expressão da cultura afro-brasileira), comemorada no final de sileira híbrida e bastante peculiar.
semana após a Páscoa; e a festa de Iemanjá, realizada no dia 2 de Ao longo do período colonial e monárquico brasileiro foi gran-
fevereiro. de o contingente de escravos africanos no Brasil, visto que, cons-
Na música influência afro-brasileira está patente em expres- tituía a maior mão - de - obra do período. A contribuição desses
sões como Samba, Jongo, Carimbo, Maxixe, Maculelê, Maracatu e 5 http://www.acordacultura.org.br/artigos/29082013/a-influencia-africana-no-pro-
utilizam instrumentos variados, com destaque para Afoxé, Ataba- cesso-de-formacao-da-cultura-afro-brasileira

241
REALIDADE BRASILEIRA

escravos foi além da participação econômica, uma vez que, foram De acordo com Paiva (2001, p.27), pode-se caracterizar este
inserindo suas práticas, seus costumes e seus rituais religiosos na cruzamento cultural como resultante de uma aproximação entre
sociedade Brasileira contribuindo, dessa forma para uma formação universos geograficamente afastados, em hibridismos e em imper-
cultural peculiar no Brasil. meabilidades, em (re) apropriações, em adaptações e em sobrepo-
Importante, ressaltar que as práticas desses escravos africanos sição de representações e de práticas culturais.
eram diferenciadas, pois eles eram oriundos de pontos diferentes Assim, a influência africana foi se tornando visível em vários
do continente africano. De acordo com VAINFAS (2001 p.66), du- seguimentos da sociedade colonial, tais como culinária, práticas re-
rante o período colonial, quase nada se sabia sobre a origem étnica ligiosas, danças, dentre outros valores culturais que foram incorpo-
dos africanos traficados para o Brasil. Porém, ao longo do período rados pela população brasileira.
passou-se a designá-los a partir da região ou porto de embarque, Sobre a influência africana Freire (2001, p. 343) destaca que:
ou seja, das áreas de procedência. Quantas “mães-pretas”, amas de leite, negras cozinheiras e qui-
Apesar da origem diversa dos escravos africanos, dois grupos tandeiras influenciaram crianças e adultos brancos (negros e mes-
se destacaram no Brasil: os Bantos e os Sudaneses. Os bantos foram tiços também), no campo e nas áreas urbanas, com suas histórias,
assim, classificados devido à relativa unidade linguística dos africa- com suas memórias, com suas práticas religiosas, seus hábitos e
nos oriundos de Angola, Congo e Moçambique. seus conhecimentos técnicos? Medos, verdades, cuidados, forma
Vainfas (2001, p. 67) destaca que: de organização social e sentimentos, senso do que é certo e do que
Os povos bantos predominaram entre os escravos traficados é errado, valores culturais, escolhas gastronômicas, indumentárias
para o Brasil desde o século XVII, concentrando-se na região su- e linguagem, tudo isso conformou-se no contato cotidiano desen-
deste, mas espalhados por toda a parte, inclusive na Bahia. (...) Os volvido entre brancos, negros, indígenas e mestiços na Colônia.
Bantos oriundos do Congo eram chamados de congo, muxicongo, Ainda de acordo com Freyre (2001, p. 346), a nossa herança
loango, cabina, monjolo, ao passo que os de Angola o eram de mas- cultural africana é visível no jeito de andar e no falar do brasileiro,
sangana, cassange, loanda, rebolo, cabundá, quissamã, embaca, pois:
benguela. Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se de-
Essa diversidade fez com os Bantos apresentassem uma es- liciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de
pecificidade cultural, notadamente na lingüística, nos costumes e, ninar menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida,
principalmente, no campo religioso, que mesclou aspectos do cris- trazemos quase todos a marca da influência negra. Da escrava ou
tianismo com suas tradições religiosas. sinhama que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de
De acordo com Kavinajé (2009, p. 3): comer, ela própria amolegando na mão o bolão de comida. Da ne-
Os bantos, depois de um primeiro período de autonomia reli- gra velha que nos contou as primeiras histórias de bicho e de mal-
giosa, que se conhece através de documentos históricos, assistiram -assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho- de- pé de
à transformação de seus cultos. Por um lado, esses deram lugar uma coceira tão boa. De que nos iniciou no amor físico e nos trans-
á macumba; por outro, amoldaram-se às regras dos condomblés mitiu, ao ranger da cama- de- vento, a primeira sensação completa
nagôs, não se distinguindo deles senão por uma maior tolerância. de homem. Do muleque que foi o nosso primeiro companheiro de
Os cultos bantos em gradativo declínio acolheram os espíritos dos brinquedo. (Freyre (2001, p. 348)
índios, o que iria levar ao surgimento de um “condomblé de cablo- Observa-se que de acordo com a citação acima a influência afri-
cos”, e adotaram cantos em língua portuguesa, ao passo que os cana foi além cozinha e da mesa, chegando até a cama, pois era co-
condomblés nagôs só usam cantos em língua africana. mum a iniciação sexual do “senhorzinho” branco ocorrer com uma
Já os sudaneses provenientes da África ocidental, Sudão e da escrava.Comum também era a prática de feitiços sexuais e afrodi-
Costa da Guiné, contribuíram culturalmente para a formação de síacos pelos escravos, pois foi na “perícia e no preparo de feitiços
uma identidade afro-brasileira, visto que muito de suas práticas sexuais e afrodisíacos que deu tanto prestigio a escravos macum-
culturais imperam atualmente como, por exemplo, o candomblé, beiros juntos a senhores brancos já velhos e gastos.” Freyre (2001,
prática religiosa dos escravos sudaneses. p. 343),
No Brasil estes grupos: bantos e sudaneses misturaram-se re- A influência do escravo negro na vida sexual da família brasilei-
sultando em cruzamentos biológicos, culturais e religiosos. ra é destacada por, Freyre (2001, p. 381), assim:
De acordo com Paiva (2001, p.36): (...) O grosso das crenças e práticas da magia sexual que se de-
Misturavam-se informações, assim como etnias, tradições e senvolveram no Brasil foram coloridas pelo intenso misticismo do
práticas culturais. Novas cores eram forjadas pela sociedade colo- negro; algumas trazidas por ele da África, outras africanas apenas
nial e por ela apropriadas para designar grupos diferentes de pes- na técnica, servindo-se de bichos e ervas indígenas. Nenhuma mais
soas, para indicar hierarquização das relações sociais, para impor a característica que a feitiçaria do sapo para apressar a realização de
diferença dentro de um mundo cada vez mais mestiço. Da cor da casamentos demorados. O sapo tornou-se também, na magia se-
pele à dos panos que a escondia ou a valorizava até a pluralidade xual afro-brasileira, o protetor da mulher infiel que, para enganar
multicor das ruas coloniais, reflexo de conhecimentos migrantes, o marido, basta tomar uma agulha enfiada em retrós verde, fazer
aplicados à matéria vegetal, mineral, animal e cultural. com ela uma cruz no rosto do indivíduo adormecido e coser depois
Nota-se que o cruzamento cultural entre estes povos africanos os olhos do sapo.
propiciou a construção de uma identidade cultural brasileira, ou Além da influência na vida sexual destacado no clássico Casa
cultura afro-brasileira. Uma vez que, eles não temeram em “inven- Grande e Senzala, merecem ênfase as canções que foram modifica-
tar códigos de comportamentos e de recriarem práticas de socia- das pelas negras.
bilidade e culturais” (Paiva 2001, p.23). Assim, este cruzamento foi Também as canções de berço portuguesas, modificou-se a boca
resultado de um longo processo que propiciou uma riqueza cultural da ama negra, alterando nelas palavras; adaptando-as às condições
peculiar ao Brasil. regionais; ligando-as às crenças dos índios e às suas. Assim a velha

242
REALIDADE BRASILEIRA

canção “escuta, escuta menino” aqui amoleceu-se em “durma, dur- das escritas; da dominação, da resistência e do transito entre elas:
ma, meu filhinho”, passando Belém de “fonte” portuguesa, a “ria- da temporalidade e da espacialidade; das continuidades e das des-
cho” brasileiro. Freyre (2001, p. 380) continuidades; da memória e da história. Tudo implicado com os
Observa-se que as amas apropriaram-se das canções de origem campos da política e do econômico, provocando mutuamente con-
portuguesa e as recriaram, dando um toque especial, o toque afri- tínuas reordenações e construções sociais.
cano. Isso é perceptível na “infantilização” das palavras das canções. Desse modo, observa-se a formação e a preservação de uma
“A linguagem infantil também aqui se amoleceu ao contato da identidade cultural, bastante plural devido às influências: europeia,
criança com a ama negra. Algumas palavras, ainda hoje duras ou africana e indígena, favorecendo uma riqueza cultural bastante pe-
acres quando pronunciadas pelos portugueses, se amaciaram no culiar. Estas peculiaridades multiculturais manifestaram-se, princi-
Brasil por influência da boca africana. Da boca africana aliada ao palmente, na língua, culinária, música, dança, religião, dentre ou-
clima - outro corruptor das línguas europeias, na fervura por que tros.
passaram na América tropical e subtropical. Freyre (2001, p. 382)
Deste modo, foi se delineando a língua falada no Brasil, a língua Resistência
portuguesa que foi amplamente influenciada pelo modo de falar Onde quer que tenha existido escravidão, houve resistência
dos escravos africanos. escrava. No Brasil os escravizados criaram diversas maneiras de re-
A ama negra fez muitas vezes com as palavras o mesmo que sistência ao sistema escravista durante os quase quatro séculos em
com a comida: machucou-as, tirou-lhes as espinhas, os ossos, as du- que a escravidão existiu entre nós. A resistência poderia assumir
rezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles. diversos aspectos: fazendo “corpo mole” na realização das tarefas,
Daí esse português de menino que no norte do Brasil, principalmen- sabotagens, roubos, sarcasmos, suicídios, abortos, fugas e forma-
te, é uma das falas mais doces deste mundo. Sem rr nem ss; as síla- ção de quilombos. Qualquer tipo de afronta à propriedade senho-
bas finas moles; palavras que só faltam desmanchar-se na boca da rial por parte do escravizado deve ser considerada como uma forma
gente. A linguagem infantil brasileira, e mesmo a portuguesa, tem de resistência ao sistema escravista.
um sabor quase africano: cacá, bumbum, tentén, nenén, tatá, papá, Perdigão Malheiro, que foi um importante jurista do século XIX,
papapo, lili, mimi (...) Amolecimento que se deu em grande parte entendia a fuga como parte essencial do sistema escravista. Existe
pela ação da ama negra junto à criança; do escravo preto junto ao uma concordância geral entre os estudiosos da escravidão com a
filho do senhor branco. Os nomes próprios foram dos que mais se opinião de Malheiro, de que a fuga foi um aspecto típico do escra-
amaciaram, perdendo a solenidade, dissolvendo-se deliciosamente vismo. Onde quer que tenha existido escravidão, foram comuns as
na boca dos escravos. Freyre (2001, p. 382) fugas, os anúncios nos jornais buscando fugitivos e também a figura
Nota-se que o intercâmbio cultural entre os negros africanos, do capitão-do-mato. Após a fuga, o escravizado poderia tentar se
indígenas e portugueses foram intensos, notadamente na língua, esconder nas matas, onde frequentemente formavam quilombos,
costumes, modos, comidas, forma de pensar e práticas religiosas. ou ainda tentar se misturar na densa população africana e afrodes-
De acordo com Paiva (2001, p. 185) As trocas culturais e os contatos cendente que habitava os núcleos urbanos, tentando se passar por
entre povos de origem muito diversa é algo que, então, fazia parte livre ou por liberto. Tendo fugido um escravizado, o seu senhor acio-
do dia - a – dia colonial, desde a chegada dos portugueses. Isto, nava toda uma rede de informantes para descobrir o seu paradeiro.
porque, era ampla a vivência cultural da população negra no Brasil Anunciava a fuga nos jornais locais, oferecendo recompensas àque-
colonial, refletindo amplamente na sociedade do período. le que desse notícias precisas sobre o esconderijo ou localização do
Deste intercâmbio cultural formou-se a cultura afro-brasileira, fugitivo e, frequentemente, pagava um capitão-do-mato para trazer
sendo visível à influência africana em todos os aspectos da socieda- o escravizado de volta.
de brasileira, não sendo possível desvincular a cultura brasileira da A fuga representou um modo significativo no processo de re-
africana, da indígena ou da europeia. sistência ao cativeiro e de autoafirmação da condição humana do
Para Paiva (2001, p.39) a formação cultural não se deu de escravizado em oposição ao sistema escravista. Em primeiro plano
forma linear, uniforme e harmônica. Muitos foram os conflitos, as provocava um abalo do ponto de vista econômico, tanto de posse
adaptações e os arranjos ao longo do período. quanto de produção, por vários motivos: porque o escravizado dei-
É evidente que não estou sugerindo uma formação linear desse xava de trabalhar enquanto estava fugido, deixando, portanto, de
universo cultural, nem estou emprestando-lhe uma harmonia, que, gerar lucro para o seu senhor; também por não haver garantia de
de fato, pouco existiu. Tanto seu processo de formação quanto que o escravizado fosse ser apreendido e, caso não fosse, o senhor
a convivência no interior dele se deram (e se dão) de maneira perdia o capital nele investido; e, por último, porque pagar as diá-
conflituosa na maioria das vezes, embora haja, também, adaptações rias de um Capitão-do-Mato não era barato. Em segundo plano, a
constantes, arranjos e acordos que visam a sua preservação. Paiva fuga não era apenas um simples ato de rebeldia, significava a ten-
(2001, p. 41) tativa de usufruir de um espaço de liberdade, ainda que, na maior
A preservação dessas práticas culturais ocorreu através de parte das vezes, fosse passageira. Sendo uma afronta direta ao po-
aproximações e afastamentos conforme ideia defendida por Paiva der senhorial, os escravizados fugitivos, quando apreendidos, rece-
(2001, p.40): biam um castigo exemplar. As punições aos escravizados apreendi-
A conformação e a preservação do universo cultural dão-se, en- dos após uma fuga eram extremamente severas, podendo, às vezes,
tão, através das aproximações e afastamentos, das interseções, da o castigo exemplar recebido resultar em sua morte.
intervenção de espaços individuais e coletivos, privados e comuns, As motivações que levavam um escravizado a fugir eram varia-
que envolvem dimensões do viver tão diversas quanto à do mate- das e nem todas as fugas tinham por objetivo se livrar do domínio
rial, da utensilagem e das técnicas; dos costumes e tradições, das senhorial. Existiam as fugas reivindicatórias, como aquelas que fi-
práticas e das representações culturais; da mitologia e da religião; zeram os escravos do engenho Santana de Ilhéus, nas quais os es-
do físico e concreto, do psicológico e imaginário; da linguagem e cravizados buscaram mudanças no exercício da escravidão dentro

243
REALIDADE BRASILEIRA

do engenho, ou quando o escravizado fugia após ser vendido para As irmandades religiosas constituíam outro aspecto da religio-
um outro senhor. Fazendo isto, o escravizado pressionava o seu sidade negra do Brasil escravista. Alguns africanos vindos de regiões
comprador para devolvê-lo ao seu antigo senhor, pois sabia que ne- da África, onde o catolicismo já havia penetrado, como o Congo e
nhum senhor gostaria de ter entre os seus escravizados um fugitivo Angola, já chegaram ao Brasil como católicos. Outros se convertiam
contumaz. De forma contrária, às vezes, o escravizado fugia à pro- no Brasil quando, por imposição da cultura senhorial, padres católi-
cura de um outro senhor que o comprasse; caso o seu senhor não cos eram contratados pelos senhores para iniciarem os escravizados
aceitasse a negociação, ele poderia continuar fugindo e, portanto, no cristianismo.
dando prejuízos e maus exemplos, até que seu senhor resolvesse Possuidores de suas próprias crenças, os escravizados se deixa-
vendê-lo. vam converter de forma superficial, e quando adotavam o catolicis-
Existiam também as fugas temporárias. Era comum a fuga por mo, o faziam através de seu próprio repertório religioso e cultural.
alguns dias, quando em geral o escravizado ficava nas imediações O que fez com que o catolicismo praticado pelos africanos e des-
da moradia de seu senhor, às vezes para cumprir obrigações reli- cendentes possuísse muitas características das religiões de matriz
giosas, outras para visitar parentes separados pela venda, outras, africana, como as músicas e danças, as oferendas, as promessas e
ainda, para fazer algum “bico” e, com o dinheiro, completar o valor as festas. Além do que, para a maior parte dos escravizados, adotar
da alforria. o catolicismo não significava abandonar as religiões africanas, pra-
ticava-se o catolicismo na frente do senhor e as religiões africanas
Os Quilombos pelas costas.
O exercício da prática católica pelos negros foi feito através das
Os quilombos ou mocambos existiram desde a época colonial irmandades religiosas. Estas organizavam festas em homenagem
até os últimos anos do sistema escravista e, assim como as fugas, aos padroeiros, os mais comuns eram Nossa Senhora do Rosário
foram comuns em todos os lugares em que existiu escravidão. A for- e São Benedito. Além das festas e obrigações religiosas as irman-
mação de quilombos pressupõe um tipo específico de fuga, a fuga dades juntavam dinheiro para compra de alforria e se constituíam
rompimento, cujo objetivo maior era a liberdade. Essa não era uma em importantes espaços de fortalecimento de laços de união entre
alternativa fácil a ser seguida, pois significava viver sendo persegui- escravos e libertos.
do não apenas como um escravo fugido, mas como criminoso. Entre as contribuições mais expressivas da cultura africana es-
O quilombo mais conhecido no Brasil foi Palmares. Palmares tão o samba, o carnaval, o futebol, a capoeira e o candomblé (este
foi um quilombo formado no século XVII, na Serra da Barriga, região mais diretamente associado à cultura baiana). À exceção do fute-
entre os estados de Alagoas e Pernambuco. Localizado numa área bol, todos fazem parte do repertório cultural afro-brasileiro. Porém,
de difícil acesso, os aquilombados conseguiram formar um Estado o marcante estilo do futebol brasileiro, com seu molejo e criativida-
com estrutura política, militar, econômica e sociocultural, que tinha de, também é inseparável da influência afro. Sambas, batucadas,
por modelo a organização social de antigos reinos africanos. Cal- candomblés e o exercício da capoeira foram práticas duramente
cula-se que Palmares chegou a possuir uma população de 30 mil reprimidas pelo Estado brasileiro em épocas anteriores à década
pessoas. de 1930. A partir da década de 1920, começou a ganhar corpo en-
Depois da abolição definitiva da escravidão no Brasil, em 1888, tre a intelectualidade brasileira a ideia da miscigenação como algo
as comunidades negras deram outro sentido ao termo “Quilom- positivo.
bo”, não sendo mais utilizado como forma de luta e resistência ao Essas ideias da intelectualidade brasileira ganhariam uma fei-
cativeiro, mas sim como morada e sobrevivência da família negra ção prática com a chegada de Getúlio Vargas ao poder e os ideais
em pequenas comunidades, onde seus valores culturais eram pre- nacionalistas do Estado Novo. Ao longo dos quinze anos do governo
servados. Tais comunidades receberam diferentes nomeações: re- Vargas (1930-1945), várias medidas foram tomadas no sentido de
manescentes de quilombos, quilombos, mocambos, terra de preto, valorização de uma cultura nacional. Dentre essas medidas devem
comunidades negras rurais, ou ainda comunidades de terreiro. ser citadas a valorização do samba e a descriminalização da capoei-
ra e do candomblé.
Religião e Cultura
Religiosidade Negra As diferentes origens dos africanos trazi-
dos para o Brasil fizeram com que aqui se desenvolvessem diferen- HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL: LUTA
tes tradições religiosas, que variaram de acordo com as localidades POR DIREITOS E DESAFIOS ATUAIS
para as quais eles foram levados. No Sudeste brasileiro, por exem-
plo, a maior parte da população escrava anterior ao fim do tráfico, • Indígena: em 1492, quando chegou à América, Colombo
em 1850, era composta de africanos oriundos da região centro-o- achou que tinha desembarcado nas Índias e chamou de índios os
cidental, vindos principalmente do Congo e de Angola. Daí ter se habitantes da região. O nome resultou de um erro e contém a falsa
desenvolvido uma religiosidade de matriz africana que cultuava os visão de que todos os habitantes da América nesse período eram
ancestrais e os inquices (como eram chamados genericamente as iguais, com a mesma cultura. Portanto hoje se prefere empregar o
entidades dos cultos congo-angolanos no Brasil). Já o Maranhão e termo indígena.
a Bahia, receberam muitos africanos da região do reino do Daomé,
chamados de jejes na Bahia e de minas no Maranhão. Estes grupos
cultuavam deuses chamados de voduns. Para a Bahia vieram tam-
bém grupos que falavam a língua iorubá, que cultuavam deuses de-
nominados orixás. A fusão de elementos das tradições jejes e nagôs
deu origem ao candomblé baiano.

244
REALIDADE BRASILEIRA

História dos Povos Indígenas e a Formação Sociocultural Bra- Limites Geográficos: os limites entre países, estados ou muni-
sileira6 cípios muitas vezes são criados a partir de referências que não coin-
cidem com os limites de habitação dos povos indígenas. Em muitos
Segundo o censo do IBGE de 20107, o Brasil conta com uma casos, os povos que hoje vivem em uma região de fronteiras inter-
população de 896.917 pessoas que consideram-se indígenas. Des- nacionais já ocupavam essa área antes da criação das divisões entre
tes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o que os países; é por isso que faz mais sentido dizer povos indígenas no
corresponde aproximadamente a 0,47% da população total do país. Brasil do que do Brasil.
A maior parte dessa população distribui-se por milhares de al-
deias, situadas no interior de 700 Terras Indígenas, de norte a sul do Discussões
território nacional. Sobre os povos indígenas, pela visão dos portugueses “eles
Esses números representam os sobreviventes da colonização eram selvagens e muito cruéis”. Essa visão, construída com base
do território brasileiro ao longo de 500 anos de exploração. Ao pon- nos valores europeus da época marcou o processo de colonização.
to que estima-se que, na época da chegada dos europeus, fossem Alguns arqueólogos afirmam que a ocupação da América
mais de 1.000 povos, somando entre 2 e 4 milhões de pessoas. ocorreu há cerca de 15.000 anos. Outros, porém, dizem que isso
Sendo que, nos dias hoje, encontramos no território brasileiro 246 ocorreu antes, por volta de 50.000 anos atrás.
povos falantes de mais de 150 línguas diferentes. Seja como for, o fato é que boa parte do território hoje conheci-
Contudo para tratar o assunto na atualidade, é necessário ter do como Brasil já era ocupado por grupos humanos há 10.000 anos.
em mente seis pontos: A cultura e as formas de organização social desses grupos eram di-
ferentes umas das outras.
Ocupação: populações humanas já habitavam a terra hoje de- Alguns desses grupos são chamados atualmente de povos de
nominada Brasil antes da chegada dos europeus, com ocupações tradição Humsitá. Eles ocupavam o que é hoje a região Sul do Brasil
que variam entre 40.000 e 2.000 anos antes do presente, e que ain- e eram habilidosos fabricantes de instrumentos de pedra.
da se mantinham por volta de 1.500. Essas populações habitavam Haviam os sambaquis que habitavam principalmente o litoral.
territórios que interagiam com seu modo de vida e seus costumes. Viviam, sobretudo, da pesca e da coleta de moluscos, como o ca-
ranguejo.
Origem: não existe um consenso sobre a origem das Outros grupos eram os que habitavam a atual região amazô-
populações indígenas. Pesquisas apontam migrações vindas do nica e produziam objetos de cerâmica. O grupo dos Itararé, que
norte da América, da Polinésia e de outras áreas do planeta. ocupavam as regiões Sul e Sudeste do Brasil atual e faziam suas ha-
Essas populações foram chamadas de nativas ou originárias por já bitações abaixo do solo, além de diversos outros grupos com carac-
habitarem o lugar antes da chegada dos europeus. terísticas próprias.
A relação entre os povos indígenas e os europeus sempre foi
Permanência: muitos dos grupos que habitam o território bra- bastante agitada. Durante os primeiros anos do contato foram esta-
sileiro possuem vínculos com os primeiros povos aqui estabeleci- belecidas relações de comércio, principalmente do Pau-Brasil, com
dos. portugueses e franceses. Percebendo a concorrência, esses países
buscaram aliados nos grupos que habitavam o litoral e que já pos-
História: o ser humano surgiu na África, aproximadamen- suíam histórico de rivalidade com outras tribos.
te 3 milhões de anos atrás. A partir de então vem adaptando-se Com a decisão de Portugal de ocupar e colonizar efetivamente
ao ambiente, até resultar no Homo sapiens sapiens, que data de o Brasil, muitos índios acabaram aprisionados e escravizados, utili-
40.000 anos. Durante todo esse período, chamado de pré-história, zados como mão-de-obra principalmente nas plantações de cana-
ocorreram migrações para diversas partes do mundo, até chegar à -de-açúcar.
América. As fontes de informação sobre esse período são de origem Como havia a necessidade de cada vez mais terras para o cul-
arqueológica, visto que as populações que habitavam o Brasil eram tivo da cana, os portugueses adentravam cada vez mais para o in-
ágrafas (não possuíam sistema de escrita). A partir de 1500 esses terior, o que gerava sempre novos conflitos ao tentar expulsar os
grupos que haviam se separado pelos fluxos migratórios entram em índios de suas terras. A busca por ouro e pedras preciosas empreen-
contato novamente, com a chegada dos portugueses. dida pelas bandeiras de exploração também resultou na captura de
muitos indígenas.
Cultura: como qualquer outro grupo humano, os povos indíge- A situação amenizou-se com a chegada dos padres da Compa-
nas possuem culturas resultantes da história e das relações entre nhia de Jesus ao Brasil, que condenavam o trabalho forçado dos
os homens e o ambiente que os cerca. Essa cultura sofreu diversas índios. Os padres construíram colégios e reduções, onde buscavam
transformações por conta dos contatos realizados nos últimos 500 converter os índios para a fé católica. Muito mais do que um local
anos, de maneira nem sempre pacífica. para a conversão, os índios enxergavam nessas construções formas
de fugir da exploração do trabalho forçado e de seus inimigos.
Com a expansão para o interior do Brasil, principalmente du-
rante os séculos XIX e XX, a situação indígena piorava cada vez mais.
Aqueles que não eram mortos durante os conflitos por terras aca-
bavam confinados em aldeamentos e reservas, que representavam
uma pequena parte do território que habitavam e de onde tiravam
seu sustento.
6 http://pib.socioambiental.org/ Muitos índios acabaram também sendo expulsos dessas re-
7 https://indigenas.ibge.gov.br/graficos-e-tabelas-2.html servas, obrigados a migrarem para as cidades ou sendo realocados

245
REALIDADE BRASILEIRA

em reservas com povos totalmente diferentes, em alguns casos até Eram inimigos dos Tabajaras.
mesmo povos em que existia uma relação de conflito. Tabajaras: viviam no litoral dos estados de Alagoas e Sergipe,
migrando para a Paraíba, território de domínio Potiguara, o que ge-
Os Indígenas em 1500 rou grandes conflitos entre os povos. Os Tabajaras acabaram alian-
Por volta de 1500, quando os portugueses aqui chegaram, al- do-se aos portugueses após os primeiros contatos.
guns desses povos ainda existiam; outros já tinham desaparecido Tamoios: também eram praticantes da antropofagia. Habita-
havia algum tempo. Estudos atuais revelam que por essa época, vi- vam o litoral norte de São Paulo e o Vale do Paraíba, sendo inimigos
viam no atual território brasileiro mais de 1.000 povos diferentes, dos portugueses.
com crenças, hábitos, costumes e formas de organização específi- Tupinambás: habitaram porções de terra no norte da Bahia,
cas. Sergipe e também do litoral norte do Rio de Janeiro até São Sebas-
Esses povos falavam cerca de 1.300 línguas distintas, agrupadas tião em São Paulo. Foram inimigos dos Tupiniquim e também dos
em dois troncos linguísticos: o Tupi e o Macro-Jê. Mas havia muitas portugueses.
outras famílias linguísticas, como a dos Aruaque e a dos Caraíba, da Tupiniquins: viviam na região do atual estado da Bahia e pos-
atual região amazônica. suíam uma grande concentração de pessoas no território do atual
De modo geral, os povos do tronco linguístico Tupi viviam no estado de São Paulo. Foram aliados dos portugueses.
litoral. Estre eles estavam povos como os Guarani, os Tupinambá e
os Tabajara. Influências na Formação da Sociedade Brasileira
Já os povos do tronco Macro-Jê – como os Bororó, os Carajá, Muitas das práticas sociais e culturais do Brasil atual têm ori-
os Tarairu, os Cariri – viviam, em grande parte, mais para o interior gem nas sociedades indígenas, a começar pela alimentação. Ao
do território, ou no sertão, como os portugueses diziam na época. chegarem ao Brasil em 1500, os portugueses saborearam os ali-
mentos nativos da América, conhecidos e cultivados há muito tem-
- Povos do tronco Jê po pelos indígenas.
Xavantes: autodenominados Akwén, entraram em contato Assim, iniciou-se o consumo pelos portugueses da mandioca,
com mineradores na província de Goiás, no início do século XVIII. do milho, da batata-doce, do amendoim, da abóbora, do abacaxi,
Atualmente habitam o estado do Mato Grosso. do caju, da pimenta, do mamão, entre outros. O hábito de assar os
Apinayé: entram em contato com jesuítas no Tocantins em alimentos, o hábito de dormir em redes, tão difundido, sobretudo
1633, sendo contrários à ideia de pacificação. Estiveram em conflito no Nordeste, o consumo de bebidas preparadas a partir de guaraná
com portugueses e com o governo brasileiro ao longo de vários sé- e mate também tem origem nos costumes indígenas.
culos. Atualmente habitam o estado de Tocantins. Técnicas como a pesca utilizando tarrafa (rede), a coivara (quei-
Kaingang: São um dos grupos indígenas mais numerosos do mada dos campos para limpeza) e o mutirão, originado da práti-
Brasil, com uma população estimada em aproximadamente 30 mil ca tupi de realização coletiva de determinada atividade necessária
pessoas. Habitam os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e para a manutenção da organização da tribo, foram também incor-
Rio Grande do Sul. Desde o século XVI possuem contato com euro- poradas.
peus, quando eram denominados Guaianazes. A medicina também utilizou-se da sabedoria indígena para au-
Eram também conhecidos por coroados, devido ao corte de ca- xiliar na cura dos homens. A quinina, empregada para a malária,
belo que utilizavam, semelhante a uma coroa. Sua relação com os ainda hoje é utilizada como medicamento básico. A copaíba, que
colonizadores e funcionários do governo sempre adquiriram caráter os tupis utilizavam para curar feridas, igualmente continua a ser uti-
hostil, até que em meados do século XIX seus líderes resolveram lizada. Podemos citar, ainda, o curare, usado como anestésico, e a
aliar-se aos não índios, auxiliando na pacificação dos diversos gru- pajelança (invocação dos espíritos para efetivar a cura de doenças),
pos espalhados pelo interior dos estados que ainda habitam. praticada mediante a intermediação dos pajés.
Kayapó: habitantes da região da floresta amazônica. Atualmen- Também o folclore foi e ainda é marcado por influências indí-
te vivem nos estados de Mato Grosso e Pará. genas. Destacamos o curupira, que protegia a caça e a natureza,
Timbira: entram em contato com os não índios a partir do início garantindo um permanente equilíbrio entre as necessidades do
do século XVIII, na capitania do Piauí. Atualmente habitam os esta- homem e a preservação do ambiente natural; o boto-tucuxi, que,
dos de Tocantins, Pará e Maranhão. no folclore amazônico, era o responsável pela gravidez de jovens
Xokleng: habitantes do sul do Brasil, os primeiros registros de virgens e de mulheres cujos maridos costumavam ausentar-se por
contatos datam do século XVIII. Vivem atualmente no estado de longos períodos.
Santa Catarina. Nosso vocabulário teve uma grande contribuição de diversas
etnias em sua formação. Até hoje muitos nomes de lugares, pes-
- Povos do tronco Tupi soas, objetos e práticas do dia tem sua origem em palavras indíge-
Caetés: ficaram conhecidos pelo episódio em que teriam su- nas.
postamente feito um banquete com a tripulação que naufragou
juntamente com Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo portu- Organização dos Índios
guês a chegar no Brasil. Habitavam a região dos estados de Alagoas
e Pernambuco. Relações Familiares
Potiguaras: povo que tinha no caráter guerreiro seu valor fun- Os documentos produzidos pelos portugueses e outras evidên-
damental. Praticavam a antropofagia (ato de comer partes de um cias históricas revelam que boa parte dos povos indígenas viviam
ser humano) ritual. Foram inimigos dos portugueses durante o pro- em pequenas aldeias. Cada aldeia era formada por um conjunto de
cesso de conquista do território, formando alianças com franceses. quatro a sete malocas (tipo de cabana comunitária).
Viviam do litoral do atual estado da Paraíba ao estado do Ceará. Essas aldeias eram circulares, em forma de ferradura ou linea-

246
REALIDADE BRASILEIRA

res, como por exemplo, duas fileiras de casas, formatos ainda hoje principalmente milho, mandioca, abóbora, inhame e batata-doce.
utilizados pelos indígenas. As malocas eram feitas de galhos de ár- Com o grande conhecimento que tinham da natureza, alguns
vores e cobertas com palha. povos indígenas aprenderam a extrair o veneno de certas varieda-
Uma característica comum às aldeias é a existência de um es- des de mandiocas. Feita a extração do veneno, transformavam a
paço central entre as habitações onde se organizam cerimônias re- raiz em farinha seca, tapioca, beiju e outros produtos. Vários ali-
ligiosas e festas, e onde as crianças brincam. Em tupi, esse espaço mentos que consumimos hoje no Brasil são uma herança direta das
é chamado de ocara. culturas indígenas.

Crenças e Costumes Antropofagia na Cultura Indígena


As crenças religiosas dos povos indígenas estavam estreita- A antropofagia praticada pelos povos indígenas fazia parte de
mente relacionadas com a natureza. Para eles, a chuva ou a seca, sua cultura, e é sob esse prisma que precisamos compreender o
uma boa caçada ou uma pescaria bem-sucedida deviam-se à ação fenômeno. Os indígenas não comiam outros seres humanos por es-
de várias entidades e espíritos ligados à natureza. tarem com fome ou por não terem comida.
O boitatá, por exemplo, protegia o campo dos incêndios, repre- Para algumas etnias, comer o corpo de um ente querido cons-
sentado por uma serpente de fogo; o curupira, descrito como um tituía um ato de amor: mães e pais, por exemplo, poderiam comer
indígena de cabelos vermelhos com os pés virados para trás, era o restos mortais de seus filhos.
protetor da fauna e da flora. Outra forma de antropofagia era aquela em que grupos ou
A figura central dos ritos religiosos era o pajé, mediador entre povos comiam o corpo de um guerreiro aprisionado. Esse costu-
o mundo terreno e o espiritual. Ele entrava em contato com os espí- me fazia parte de um ritual mais amplo: o prisioneiro poderia viver
ritos da floresta para curar as doenças e era um grande conhecedor muito tempo junto ao grupo que o aprisionou, era bem alimentado
dos remédios naturais extraídos das plantas. e chegava mesmo a se casar com uma mulher da aldeia. No dia da
Na época da chegada dos portugueses à América, os indígenas execução, aldeias vizinhas eram convidadas para a festa. Por meio
conheciam mais de 3 mil diferentes espécies de ervas, que usavam dessa morte e da ingestão do corpo do guerreiro, a aldeia vingava
para combater os mais variados problemas de saúde. Na Europa, o simbolicamente os parentes mortos pela aldeia inimiga. Em outros
número de remédios não passava de cem. casos, julgavam adquirir a força e a coragem do inimigo ao ingerir
Para os indígenas, a terra, a floresta, a água e os animais eram partes do corpo do prisioneiro morto.
de todos, não havia propriedade privada. Para resolver situações
importantes – como decidir uma guerra -, formava-se um conse- Papel dos Jesuítas
lho composto dos chefes das grandes famílias e as decisões eram
tomadas coletivamente. O morubixaba – líder da aldeia – era o Muitos padres da Companhia de Jesus, conhecidos por Jesuítas
conselheiro encarregado de ajudar as pessoas a resolver pequenos condenavam as ações praticadas pelos colonos portugueses em re-
conflitos. lação aos escravos indígenas, já que a rotina de trabalho nos cana-
Podemos dizer, portanto, que nas sociedades indígenas não ha- viais era árdua e durava longas horas diárias.
via privilégios nem desigualdades sociais. Por pressão dos Jesuítas, a Coroa portuguesa estabeleceu
A educação das crianças era tarefa de toda a comunidade, que os escravos fossem liberados de suas atividades durante os
e não só da família. As crianças eram muito bem tratadas e não domingos para praticar a fé cristã e frequentar a missa. Apesar da
havia castigos físicos. Da mesma forma, os idosos eram respeitados determinação real, a medida não era seguida por muitos senhores
como guardiões da história e do saber de seu povo. Eram eles que de engenhos e quando era praticada, muitos indígenas acabavam
transmitiam aos mais jovens os valores e as crenças do grupo. usando o dia para descansar ou praticar outras atividades que lhes
Os indígenas que viviam nas terras que hoje formam o Brasil rendessem uma alimentação complementar, deixando de lado as
desconheciam a escrita. Assim, o conhecimento e os saberes acu- obrigações religiosas.
mulados pelos grupos eram transmitidos de geração em geração Os Jesuítas criaram aldeamentos com o objetivo de batizar os
por meio de histórias narradas oralmente. índios na fé católica. Com a ideia de que poderiam alcançar o paraí-
Além da arte de contar histórias, muitos grupos desenvolve- so e praticar a fé cristã, os índios eram catequizados. Para conseguir
ram habilidades como produtores de arte plumária, que consiste na uma aproximação e conquistar os interesses indígenas, os Jesuítas
criação de enfeites e adornos de penas coloridas em combinações aprenderam sua linguagem e seus costumes, para pouco a pouco
de grande beleza. Também na cerâmica, nos traçados e nas pinturas incorporar elementos religiosos em sua cultura e finalmente torná-
corporais alguns desses povos produziram obras belíssimas. -los completamente cristãos.
As tarefas que garantiam a sobrevivência do grupo eram fei- O abandono das antigas crenças e aceitação da fé cristã, mes-
tas por todos. Assim também era dividido o resultado do trabalho mo quando imposta, era considerada pelos jesuítas, como a forma
coletivo. Derrubar árvores, caçar, pescar, preparar a terra para o mais eficiente para torná-los mais pacíficos, além de facilitar a vida
plantio, construir malocas, armas e canoas, em geral, era trabalho dos colonos pois auxiliariam em guerras contra tribos consideradas
dos homens. As mulheres, além de cuidar das crianças pequenas e perigosas e hostis, além dos invasores franceses e holandeses que
cozinhar, trabalhavam na coleta de frutos, na plantação de roças e possuíam grande interesse pelo território brasileiro.
na colheita. É importante notar o ponto de vista indígena, muitas vezes
Os alimentos variavam conforme a disponibilidade dos recur- atraídos para os aldeamentos com o objetivo de fugir da escravidão
sos naturais e as características de cada povo indígena. Grupos que imposta pelos colonos e das guerras praticadas por seus rivais.
moravam próximo a rios e mares tinham na pesca sua principal fon-
te de alimento. Já os que viviam no interior do território, além da
caça, se dedicavam muitas vezes à prática da agricultura. Plantavam

247
REALIDADE BRASILEIRA

Aldeamentos Indígenas Para os jesuítas, o objetivo final da catequização e conversão


Os aldeamentos foram os locais de trabalho dos missionários, começava a mostrar seu sucesso a partir da destruição e da perda
que buscavam catequizar as populações indígenas. Utilizados como dos costumes dos povos indígenas.
forma de atração, os aldeamentos normalmente estavam localiza- O modelo, tal como inaugurado pelos jesuítas, perdurou ao lon-
dos próximos às povoações coloniais, para incentivar o contato com go de todo o período colonial, embora tenha sofrido significativas
os portugueses. alterações com a política indigenista pombalina, inaugurada com o
Entre os vários exemplos de estudo da língua indígena para a Diretório dos Índios (1757-1758), que já apostava na secularização
utilização como ferramenta de conversão é possível citar os padres das aldeias, e reforçada após a expulsão dos jesuítas em 1759-60.
José de Anchieta e António Ruiz de Montoya.
O primeiro dicionário conhecido da língua Tupi foi escrito pelo Diretoria-Geral e Diretorias Parciais dos Índios.9
padre José de Anchieta e publicado em 1595, com o nome de “Arte
de Gramática da Língua Mais Falada na Costa do Brasil”. A criação das Diretorias Gerais e Parciais dos Índios por todo
Anchieta, que missionou no Brasil desde 1553, notava (como o território brasileiro foi originada por meio do Regulamento das
seus contemporâneos) a grande semelhança da língua falada pelos Missões de Catequese e Civilização dos Índios criado pelo Decreto
indígenas do litoral: os tupis. Em uma carta de 1584, ele observa n° 426 de 24 de julho de 1845.
que todos os povos do litoral “têm uma mesma língua que é de As Diretorias dos Índios tinham como responsabilidade as me-
grandíssimo bem para a sua conversão”. diações entre os índios e os Governos Imperial e Provincial.
Seriam assim povos cuja identidade estaria associada à língua Segundo o Regulamento, cada Província teria um Diretor Geral
geral, como os jesuítas chamavam o “tupi universal” que inventa- de Índios, nomeado pelo Imperador que deveria interagir com o
ram. Ao lado da inegável semelhança de todos os dialetos tupis, o respectivo Presidente da Província para algumas questões, como
agrupamento das diversas “castas” resolveu-se na necessidade ho- por exemplo, requisitar os objetos que o Governo Imperial enviasse
mogeneizadora que os primeiros missionários viam para lidar com para os índios, a fim de distribuí-los pelos Diretores das Aldeias e
os grupos nativos. pelos Missionários.
Tratava-se de entender para transformar, compreender as cul- Com relação à Assembleia Provincial, deveria propor “a criação
turas indígenas para substituí-las pelo Evangelho. Os jesuítas, desde de Escolas de primeiras Letras para os lugares, onde não baste o
cedo, determinaram que a catequese, ou a conquista das almas, Missionário para este ensino”. As Aldeias eram controladas por um
seria mais facilmente realizada se usassem da língua dos naturais. Diretor, nomeado pelo Diretor Geral.
Assim, a Gramática da língua mais usada na costa do Brasil surge Tanto o Governo Imperial e quanto o Governo Provincial se-
com um instrumento da conversão do indígena. riam juridicamente responsáveis pela Diretoria. Essa divisão de res-
O primeiro dicionário da língua Guarani foi escrito no ano de ponsabilidade apenas aconteceu a partir do Ato Adicional de 12 de
1639 pelo padre António Ruiz Montoya. Publicado em Madrid, no agosto de 1834, que alterou a constituição e, dentre outros, criou
dicionário de 814 páginas traz cerca de 8.100 palavras. Não por aca- as Assembleias Legislativas Provinciais, delegando-lhes competên-
so a publicação que traduz para o castelhano recebeu o nome “Te- cias legislativas e materiais, ou seja, competência de editar leis e de
souro da Língua Guarani”. colocá-las em prática, incluindo a de elaborar as leis orçamentárias
Sobre a relação dos indígenas com os aldeamentos, como e a de “promover, cumulativamente com a assembleia e o governo
bem destacam Mota e Chagas8, ao tratar das reduções jesuíticas geral, a organização da estatística da província, a catequese, a civili-
na região do Guairá (atual Paraná), os índios guarani, por seu lado, zação dos indígenas e o estabelecimento de colônias”.
fizeram alianças, acordos e guerras, no sentido de garantir sua li- Na Província de São Paulo, o Diretor Geral dos Índios nomeado
berdade. pelo Imperador foi o Brigadeiro José Joaquim Machado de Oliveira,
É preciso lembrar que, quando fizeram aliança com os jesuítas, que, por sua vez, deveria nomear diretores leigos para cada aldeia
eles buscaram uma forma de não ser submetidos, por exemplo, à indígena da província.
servidão (encomiendas). Para entender a história da ocupação dos Machado de Oliveira se posicionava a favor da vertente que via
territórios do Guairá, é preciso considerar as relações entre os di- a catequese e civilização como saída do estado de barbárie, con-
versos grupos: conquistadores e seus interesses, os Guarani, os trariando aqueles que não acreditavam ser possível qualquer mu-
Kaingang (inimigos). dança. Mesmo que o Regulamento das Missões fosse um passo a
Com expedições denominadas de descimentos, os missioná- favor dessa vertente, ainda assim, era composto por ideias bastante
rios convenciam os índios através da retórica a descerem de suas diversificadas.
aldeias para se juntarem a novos aldeamentos. Pela legislação, o O aldeamento de Itariri-SP chama atenção, por ser um dos
aldeamento garantia a liberdade indígena, no entanto, nesse am- poucos que Machado de Oliveira considerava ter dado certo. Ele foi
biente, os indígenas foram forçados a adaptar-se a novos elementos criado em 21 de janeiro de 1847, no município de Iguape, porque,
culturais, sofrendo interferência religiosa e moral. Eram obrigados a segundo o diretor geral, existiram famílias de indígenas Guarani
trabalhar e por lei deveriam receber pagamento, uma nova realida- Nhandeva, que deixaram as matas, em 1837 e ali se asilaram, viven-
de completamente diferente da sua tradição. do do trabalho braçal onde era este exigido, e talvez sob a condição
Os jesuítas nunca foram contrários ao trabalho indígena e, mui- de escravos.
to menos, à sua inserção no mundo colonial. O que eles não sus-
tentavam era a servidão natural dos mesmos e a sua escravização,
salvo por motivo de “guerra justa”.
8 Chagas, Nádia Moreira; Mota, Lúcio Tadeu. O Guairá nos Séculos XVI e XVII
– As Relações Interculturais http://projetos.unioeste.br/projetos/cidadania/images/
stories/ArquivosPDF/biblioteca/O_Guair_nos_sec._XVI_e_XVII_.pdf 9 http://www.ambienteterra.com.br/paginas/indio/seusdireitos.html

248
REALIDADE BRASILEIRA

Criação do Serviço de Proteção aos Índios (SPI)10 bitação dos índios.


Foram estimuladas mudanças no trabalho indígena com a di-
O Serviço de Proteção aos Índios (SPI), instituição criada pelo fusão de novas tecnologias agrícolas e o ensino da pecuária, além
decreto nº 8.072, de 20 de junho de 1910 com o nome de Serviço da arregimentação de índios para os trabalhos de conservação das
de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais linhas telegráficas.
(SPILTN). Tinha por tarefa a pacificação e proteção dos grupos in- A experiência de Rondon no trato com povos indígenas e suas
dígenas, bem como o estabelecimento de núcleos de colonização ideias positivistas sobre os índios, convergentes com os projetos de
com base na mão de obra sertaneja. colonização e povoamento definidos na criação do MAIC, origina-
As duas instituições foram separadas em 6 de janeiro de 1918 ram o convite que o tornou primeiro diretor do SPI. Dessa forma,
pelo decreto Lei nº 3.454, e a instituição passou a ser denominada foi instaurado um novo poder estatizado que assegurava o controle
SPI, que foi extinta em 1967 quando da criação da Fundação Nacio- legal das ações incidentes sobre os povos indígenas. Esse poder foi
nal do Índio (FUNAI). formalizado na malha administrativa do SPI, a partir de um código
A origem do SPI estava nas redes sociais que ligavam os inte- legal (regimentos, decretos, código civil, etc.).
grantes do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (MAIC), Para a administração da vida indígena foi formalizada uma de-
Apostolado Positivista no Brasil e Museu Nacional, pois o MAIC pre- finição legal de índio, através do Código Civil de 1916 e do Decreto
viu desde a sua criação a instituição de uma agência de civilização nº 5.484, de 1928. Os indígenas tornaram-se tutelados do Estado
dos índios. brasileiro, um direito que implicava num aparelho administrativo
As atividades das Comissões de Linhas Telegráficas em Mato único, mediando as relações índios/Estado/sociedade nacional.
Grosso deram notoriedade a Cândido Mariano da Silva Rondon. A terra, a representação política e o ritmo de vida foram admi-
Ele e outros militares positivistas que integravam redes de relações nistrados por funcionários estatais, com os índios adotando uma
políticas regionais e nacionais, vinculadas a instituições civis e apa- indianidade genérica.
relhos governamentais, sediados na Capital Federal, se envolveram Os indigenistas do SPI trabalharam em diferentes tipos de pos-
numa polêmica pública relativa à “capacidade ou não de evolução tos indígenas (de atração, de criação, de nacionalização, etc.), assim
dos povos indígenas”. como em povoações e centros agrícolas. Dependendo de recursos
A partir de 1908, Rondon propôs que fosse criada uma agência financeiros e políticos, o SPI adotou um quadro funcional heterogê-
indigenista do Estado brasileiro tendo por finalidades: neo, envolvendo desde militares positivistas a trabalhadores rurais
a) estabelecer de uma convivência pacífica com os índios; sem qualquer formação. A pedagogia nacionalista empregada por
b) garantir a sobrevivência física dos povos indígenas; esses agentes controlava as demandas indígenas, mas podia resul-
c) estimular os índios a adotarem gradualmente hábitos “civi- tar em situações de fome, doenças e de população, contrárias aos
lizados”; objetivos do Serviço.
d) influir “amistosamente” na vida indígena; A ação do SPI foi marcada por contradições identificadas como
e) fixar o índio à terra; “paradoxos indigenistas”, pois tinha por objetivo respeitar as terras
f) contribuir para o povoamento do interior do Brasil; e a cultura indígena, mas agia transferindo índios e liberando ter-
g) possibilitar o acesso e a produção de bens econômicos nas ritórios indígenas para colonização, impondo uma pedagogia que
terras dos índios; alterava todo o sistema produtivo indígena.
h) empregar a força de trabalho indígena no aumento da pro- De 1910 a 1930, o SPI fez parte do então Ministério da Agricul-
dutividade agrícola; tura, Indústria e Comércio; de 1930 a 1934, esteve ligado ao Minis-
i) fortalecer as iniciativas cívicas e o sentimento indígena de tério do Trabalho; de 1934 a 1939, foi integrado ao Ministério da
pertencer à nação brasileira. Guerra, como parte da Inspetoria de Fronteiras; em 1940 voltou ao
Ministério da Agricultura e, mais tarde, passou para o Ministério
As iniciativas do SPI envolviam a intervenção na vida indíge- do Interior. Em 1939, foi criado o Conselho Nacional de Proteção
na através de um ensino informal, a partir das necessidades cria- aos Índios (CNPI) com o objetivo de atuar como órgão formulador e
das, evitando-se influenciar a organização familiar. O objetivo era consultor da política indigenista brasileira.
impedir conflitos entre diferentes povos enquanto o SPI introduzia A ideia seria a de que o SPI daí por diante teria somente atri-
inovações culturais, prevendo possíveis mudanças nos locais de ha- buições executivas, o que não ocorreu. A atuação do SPI se concen-
10 BRASIL. Legislação indigenista. Brasília: Senado Federal/Subsecretaria de trou na pacificação de grupos indígenas em áreas de colonização
Edições Técnicas, 1993. recente. Em São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso e outras
Ministério da Agricultura. Serviço de Proteção aos Índios. SPI/1953. Relatório regiões foram instalados postos indígenas.
das atividades do Serviço de Proteção aos Índios durante o ano de 1953. Rio de Após a consolidação da pacificação eram feitas negociações
Janeiro: Serviço de Proteção aos Índios, 1953. com os governos estaduais para a criação de reservas de terras para
Ministério da Agricultura. Serviço de Proteção aos Índios. SPI/1954. Relatório a sobrevivência física dos índios. Progressivamente eram introduzi-
das atividades do Serviço de Proteção aos Índios durante o ano de 1954. Rio de das atividades educacionais voltadas para a produção econômica e
Janeiro: Serviço de Proteção aos Índios, 1954. ações destinadas a atender as condições sanitárias dos índios.
FREIRE, Carlos Augusto da Rocha. Saudades do Brasil: Práticas e representa- O SPI buscou garantir a posse de terras aos índios através da
ções do campo indigenista no século XX. Tese (Doutorado em Antropologia Social) concessão de terras devolutas. Inúmeras propostas foram feitas
– PPGAS/MN, UFRJ, Rio de Janeiro, 2005. pelo SPI de criação de terras indígenas e que foram negadas pelos
LIMA, Antonio Carlos de Souza. Sobre indigenismo, autoritarismo e nacionalidade: governos estaduais.
considerações sobre a constituição do discurso e da prática da “proteção fraternal” Nos postos indígenas eram instaladas oficinas mecânicas, en-
no Brasil. In: OLIVEIRA, João Pacheco de (Org.). Sociedades indígenas e indige- genhos de cana-de-açúcar e casas de farinha, e os índios treinados
nismo no Brasil. Rio de Janeiro: Marco Zero: Ed. UFRJ, 1987. em diversos ofícios. As crianças eram enviadas as escolas dos pos-

249
REALIDADE BRASILEIRA

tos, sendo que estas também recebiam filhos de colonos de empre- Assimilacionismo Cultural
gados dos postos e crianças da população vizinha, o que permitia No dicionário a palavra assimilacionismo recebe a seguinte de-
um processo de integração da população. finição: “corrente que preconiza a assimilação de culturas periféri-
O SPI enfrentou durante toda a sua existência problemas de cas pelas culturas dominantes”11.
carência de recursos e dificuldades de qualificação de seu pessoal. Por assimilacionismo entendemos que um determinado grupo
A atuação do órgão acabou por gerar resultados opostos a sua pro- cultural minoritário num processo de “deculturação” esquecem os
posta. Eram frequentes as denúncias de casos de fome, doenças, traços da sua cultura de origem e, simultaneamente, adquirem os
assassinatos e escravização. No início da década de 1960, sob a acu- da cultura dominante.
sação de genocídio, corrupção e ineficiência o SPI foi investigado Tem como base uma perspectiva ideológica que considera uma
por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). cultura superior à outra e supõe um papel passivo das culturas mais
O processo levou à demissão ou suspensão de mais de cem fracas: muitas vezes, ao grupo mais fraco exige-se mesmo que adote
funcionários de todos os escalões. Em 1967, durante o regime mili- os traços do grupo dominante. Neste caso, uma das culturas elimina
tar, o SPI e o CNI (Confederação Nacional da Industria) foram extin- efetivamente a outra (ajustamento por eliminação). Na prática, no
tos e substituídos pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). entanto, verifica-se que só alguns aspectos da cultura subordinada
são eliminados em favor da cultura dominante.
Assistência Sanitária Em termos de comunidades migrantes, culturalmente diferen-
A disseminação de doenças e a ocorrência de epidemias para tes e minoritárias, portanto mais fracas, a forma de reação a esta
as quais os povos em guerra ou dominados tinham baixa imunidade situação parece depender de duas condições:
contribuiu para a conquista dos povos indígenas do Brasil na época - primeiro, que haja uma opção clara e vigorosa dos indivíduos
colonial. O contágio da varíola, gripe, tuberculose, pneumonia, co- candidatos à integração, de se inserirem na sociedade de acolhi-
queluche, sarampo e outras viroses levaram à dizimação de inúme- mento;
ros povos indígenas, à mortandade de milhares de índios. - segundo, que haja uma opção coletiva suficientemente clara e
Nas primeiras décadas do século XX, essa realidade não foi alte- explícita da sociedade de acolhimento para reconhecer a identidade
rada: nos grupos recém-contatados pelo SPI, aldeias inteiras foram cultural própria e um estatuto de igualdade aos novos integrados.
destruídas por doenças pulmonares. Ao causar alta mortalidade, o
pós-contato iniciava o desequilíbrio das condições de sobrevivência Museu do Índio (anos 1950)12
de um povo que já enfrentava doenças endêmicas como vermino-
ses e malárias, passando a conviver com a desnutrição, a dificulda- O Museu do Índio foi criado, em 1953, no Serviço de Proteção
de de produção de alimentos e a falta de cuidados sanitários. aos Índios – SPI, agência do Governo encarregada de dar assistência
O SPI dificilmente conseguia controlar, estabilizar e melhorar aos índios no Brasil.
a condição sanitária de povos indígenas que enfrentavam surtos No início da década de 60, o Museu foi transferido para o Con-
epidêmicos. Em campo, no início dos anos 50, o antropólogo Dar- selho Nacional de Proteção aos Índios – CNPI, órgão responsável
cy Ribeiro foi testemunha da morte de dezenas de índios Urubu pelo assessoramento e formulação da política indigenista oficial da
Kaapor dizimados por sarampo e coqueluche. Os postos indígenas época. Em 1967, o Governo militar resolveu reunir o SPI, o CNPI e o
possuíam alguns medicamentos, mas a maioria de seus encarrega- Museu em um único órgão, a Fundação Nacional do Índio - FUNAI,
dos eram leigos em assistência sanitária. onde a instituição está inserida até hoje.
Atualmente, o Museu do Índio é uma importante instituição
Assistência Educacional de pesquisa sobre línguas e culturas indígenas. Tem sob sua guar-
Dos antigos aldeamentos missionários aos postos indígenas do da documentos relativos à maioria das sociedades indígenas con-
SPI, a alfabetização de crianças e adultos indígenas visava consoli- temporâneas, constituídos de 15.840 peças etnográficas e 15.121
dar a sedentarização de um povo. Esse processo pedagógico envol- publicações nacionais e estrangeiras, especializadas em etnologia e
via cultos cívicos, aprendizado de trabalhos manuais, técnicas da áreas afins. Seus diversos Serviços são responsáveis pelo tratamen-
pecuária e novas práticas agrícolas. Pressupunha também novos to técnico de 76.821 registros audiovisuais e 833.221 documentos
cuidados corporais, como o uso de vestimentas e o ensino de prá- textuais de valor histórico e contemporâneo.
ticas higiênicas. Sob a direção do antropólogo Darcy Ribeiro, o Museu do Índio
Os postos indígenas instalavam oficinas mecânicas, engenhos foi inaugurado no dia 19 de abril de 1953, no Rio de Janeiro.
de cana e casas de farinha, treinando os índios em diversos ofícios, O prédio já foi residência oficial na época do império e abrigou,
além de investir na educação para transformar os índios em traba- entre outras figuras políticas, o marechal Rondon, pioneiro na polí-
lhadores nacionais. Desde o século XIX, crianças indígenas eram en- tica indigenista no País. Em 1865 o imóvel foi doado para abrigar um
viadas para as escolas de artífices existentes nas capitais estaduais órgão de pesquisas sobre as culturas indígenas brasileiras. Em 1910,
como ocorreu em Manaus na gestão do SPI. se tornou sede do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e, entre 1953 e
A política de “nacionalização” dos índios esteve presente em 1978, foi sede do Museu do Índio. Em 1978, o museu foi transferido
quase todos os postos, onde a professora das crianças indígenas para o bairro de Botafogo, na zona sul.
era quase sempre a esposa do encarregado, orientando essas crian- A abertura do Museu do Índio não representou apenas um
ças para a integração à população regional à medida que aceitavam 11 https://bit.ly/2v73uqH
também como alunos os filhos de colonos, dos empregados do pos- 12 LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001.
to e de fazendas vizinhas. Essas escolas não se diferenciavam das MOREIRA, Ruy. A Nova Divisão Territorial do Trabalho e as Tendências de
escolas rurais, do método de ensino precário à falta de formação Configuração do Espaço Brasileiro. In: LIMONAD, Ester; HAESBAERT, Rogério &
do professor, predominando a formação de índios como produtores MOREIRA, Ruy (org.) Brasil Século XXI, por uma nova regionalização. São Paulo:
rurais voltados para o mercado regional. Max Limonad, 2004.

250
REALIDADE BRASILEIRA

novo espaço para divulgação da cultura indígena. Ele exibia a te- Parque Indígena é a área contida em terra para posse dos
mática indígena conjugada a um novo estilo museográfico, carac- índios, cujo grau de integração permita assistência econômica,
terizado pela elaboração de um projeto prévio, onde tanto o tema educacional e sanitária dos órgãos da União, em que se preservem
quanto os equipamentos expositivos foram pensados de modo que as reservas de flora e fauna e as belezas naturais da região.
o resultado agradasse ao usuário.
Para tanto o prédio passou por uma reforma, assinada por um O novo status remeteu o Parque do Xingu à subordinação da
arquiteto de renome que criou um novo sistema de iluminação, FUNAI – Fundação Nacional do Índio e, portanto, não mais subor-
projetou as vitrines, distribuiu os espaços inserindo nele objetos e dinado ao IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
fotografias concatenados com o tema. O Museu do Índio abre suas Recursos Naturais Renováveis, caso permanecesse como parque
portas atraindo o público devido ao grande apelo visual, abrigando nacional.
em sua dependência arquivo textual, audiovisual e espaços para di-
nâmicas educativas. Segundo a legislação ambiental brasileira parques nacionais
Provido de uma infraestrutura que conjugava conforto e con- correspondem a áreas geográficas extensas e delimitadas, dotadas
teúdo documental, o Museu do Índio, representado por Ribeiro, se de atributos naturais excepcionais, objeto de preservação perma-
lança como um novo fórum de debates para as políticas indigenis- nente, submetidas à condição de inalienabilidade e indisponibilida-
tas até centrada no Museu Nacional marcadamente pela atuação de de seu todo.
de Heloisa Alberto Torres. Ribeiro não apenas assina a Certidão de
Nascimento do Museu do Índio como é também responsável pelas Considerando-se a configuração do PIX (Parque Indígena do
primeiras coleções etnográficas autorais daquela instituição. Xingu) em relação ao território mato-grossense constata-se que
O casarão que abriga, atualmente, o Museu do Índio/FUNAI foi este se encontra “ilhado”. Isto porque o Parque do Xingu sofre pres-
tombado como patrimônio de preservação cultural do país em 22 sões constantes sobre sua geografia e população, ao situar-se em
de fevereiro de 1967. Vinte anos depois, a construção também pas- meio à ocupação do seu entorno, por grandes fazendas do agro-
sou a ser considerada patrimônio do município do Rio de Janeiro, negócio, pela mobilidade dos trabalhadores rurais e pelas novas
pelo decreto 6.934, de 9 de setembro de 1987. cidades.
A história e trajetória do Museu do Índio é peculiar, por ter sur- Ao longo desses últimos 60 anos, a consolidação do espaço ru-
gido de um órgão voltado à proteção das populações indígenas, que ral e urbano do estado de Mato Grosso resultou na expansão espa-
desenvolveu uma seção de estudos, que não tinha como finalidade cial da economia para o interior do Brasil, resultando em impactos
a pesquisa acadêmica; e sim pesquisas para dar um respaldo ao SPI. socioambientais, especialmente para o conjunto de etnias localiza-
Essas pesquisas acabaram construindo um acervo, que gerou um das no Parque Indígena do Xingu.
processo museológico. Desde sua existência o museu esteve vin- A ampliação do PIX é atualmente uma das principais reivindi-
culado às pesquisas, salvo alguns momentos em que mudanças na cações de líderes indígenas endereçadas a FUNAI - Fundação Na-
estrutura impediram essa aproximação. cional do Índio. O parque tem quase 30 mil quilômetros quadra-
dos, embora seu território atualmente seja muito menor do que o
Parque Nacional do Xingu (anos 1960) inicialmente previsto. Nas quatro décadas seguintes a sua criação,
incorporou algumas pequenas áreas, porém não suficiente para in-
A criação do Parque do Xingu resultou de um longo processo de cluir as nascentes da bacia hidrográfica e evitar a pressão do desma-
luta entre instituições do Estado brasileiro e setores da sociedade tamento e da progressiva influência do complexo do agronegócio.
civil envolvendo o controle territorial e/ou privatização de terras. A leitura do atual mapa de uso e ocupação do Mato Grosso
Sua superfície corresponde a uma pequena parcela da vasta região revela a vulnerabilidade do Parque do Xingu e de seus habitantes
onde se encontrava presente, já no início do século XX, uma varie- sobre o entorno ligado ao uso das terras pelo agronegócio. Esta pes-
dade significativa de etnias indígenas localizadas na bacia do alto rio quisa está se iniciando e apresenta uma primeira leitura da análise
Xingu no estado brasileiro de Mato Grosso. geográfica sobre o Parque Indígena do Xingu nos tempos atuais.
A partir dos anos 40 foi sendo sistematizado o contato entre Recentemente uma série de fatos e eventos circunscritos à
setores da sociedade nacional, mais precisamente indigenistas com área de localização e influência da terra indígena está relacionada
os grupos indígenas. Um posto de assistência do órgão oficial en- aos equipamentos do território e à mobilidade da força de traba-
carregado da tutela aos grupos indígenas no Brasil - o Serviço de lho, fatos estes que se inserem no grande projeto da Infraestrutura
Proteção aos Índios (SPI) foi criado e instalado no Alto Xingu. Regional Sul-Americana (IRSA). Consolidando-se como liderança
Em 1952 foi apresentado ao Congresso Nacional um Antepro- regional, o Brasil passa a investir e coordenar um programa de inte-
jeto para a criação de um parque nacional na referida região. Neste gração da infraestrutura regional (IRSA) com apoio das instituições
projeto estava previsto um perímetro bem maior que o atual, in- multilaterais: BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento),
cluindo uma zona tampão de amortecimento do contato com as BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento),
frentes de expansão, de proteção às nascentes da bacia hidrográfica CAF (Bando de Desenvolvimento da América Latina) e agências de
e da preservação do meio ambiente imediatamente circunvizinho à desenvolvimento europeias, japonesas etc.
região ocupada pela população indígena. Tal processo é mutuamente reforçado pelo aumento da inte-
Em 1961 foi criado pelo governo federal no alto Xingu o Parque gração econômica regional, comercial, financeira e produtiva. E o
Nacional do Xingu. Em 1973 é, por força do Estatuto do Índio, alte- Parque do Xingu está bem no âmago e no centro destas territoriali-
rado na sua condição jurídica para parque indígena. A lei 6.001 de dades. O efeito mais imediato conforme dados que serão apresen-
1973 em seu artigo 28 define: tados é o da urbanização do território.

251
REALIDADE BRASILEIRA

Assim, argumenta-se com base nos dados referentes aos im- para enfrentar as situações criadas pelo entorno e vem sendo com-
pactos socioambientais presentes na atualidade do território indí- plementado por outras ações, desenvolvidas no âmbito do Projeto
gena sobre três condições: Fronteiras, uma parceria da ATIX com o ISA (Instituto Socioambien-
- a geografia do território oficial do parque do Xingu; tal).
- o significado da transformação de parque nacional em parque O projeto compreende o mapeamento da dinâmica de desma-
indígena; e tamentos, através de fotos de satélite, e da identificação in loco de
- os efeitos do processo de urbanização extensiva e da consoli- novos vetores de ocupação no entorno do PIX. Também inclui um
dação do agronegócio sobre as etnias e seus descendentes localiza- trabalho de capacitação dos Chefes de Postos, a restauração e ma-
dos no referido território indígena. nutenção dos marcos que estabelecem os limites físicos do territó-
rio e um banco de dados georreferenciados de todos os fazendeiros
A ideia de criação do Parque tomou forma numa mesa-redon- cujas propriedades fazem fronteira com o PIX.
da convocada pela Vice-Presidência da República em 1952, da qual Dessa maneira, torna-se possível que os índios acompanhem
resultou um anteprojeto de um Parque muito maior do que o que de perto o que acontece nas fronteiras do Parque e mobiliza as co-
veio finalmente a se concretizar. A despeito dos poderes legislativo munidades acerca das ameaças externas, tanto em discussões in-
e executivo do Mato Grosso estarem representados nessa mesa-re- ter-aldeias, como junto aos órgãos públicos responsáveis (FUNAI,
donda, inclusive por seu governador, o estado começou a conceder, IBAMA e o Governo Estadual).
dentro desse perímetro, terras a companhias colonizadoras.
Por isso, quando foi finalmente criado o Parque Nacional do O Indigenismo no Regime Militar (anos 1960 a 1980)13
Xingu, pelo Decreto nº 50.455, de 14/04/1961, assinado pelo pre-
sidente Jânio Quadros, sua área correspondia a apenas um quarto Após o golpe civil-militar de 1964, um novo período econômi-
da superfície inicialmente proposta. O Parque foi regulamentado co se iniciou no Brasil. Construções de grandes obras (hidrelétricas,
pelo Decreto nº 51.084, de 31/07/1961; ajustes foram feitos pe- estradas e desmatamento de áreas para a criação de grandes lati-
los Decretos nº 63.082, de 6/08/1968, e nº 68.909, de 13/07/1971, fúndios para pecuária) se espalharam por todas as regiões do país,
tendo sido finalmente feita a demarcação de seu perímetro atual e no caminho desses projetos inúmeros povos com suas terras, re-
em 1978. conhecidas ou não, passaram a ser tratados como obstáculos para
Tendo em vista os povos que lá habitam, pode-se dividir o Par- o desenvolvimento.
que Indígena do Xingu em três partes: Nas regiões de fronteira agrícola, como a Amazônia e o Centro-
- uma ao norte (conhecida como Baixo Xingu); -Oeste, as terras indígenas eram invadidas por criadores de gado,
- uma na região central (o chamado Médio Xingu); e madeireiros ou garimpeiros. O Estado tinha pouco controle nessas
- outra ao sul (o Alto Xingu). regiões, e as violências contra os indígenas tinham, frequentemen-
te, a conivência das autoridades locais.
Na parte sul ficam os formadores do rio Xingu; a região cen- As políticas indigenistas foram integralmente subordinadas aos
tral vai do Morená (convergência dos rios Ronuro, Batovi e Kulue- planos de defesa nacional, construção de estradas e hidrelétricas,
ne, identificada pelos povos do Alto Xingu como local de criação do expansão de fazendas e extração de minérios. Sua atuação foi man-
mundo e início do Rio Xingu) à Ilha Grande; seguindo o curso do Rio tida em plena afinidade com os aparelhos responsáveis por imple-
Xingu, encontra-se a parte norte do Parque. mentar essas políticas: Conselho de Segurança Nacional (CSN), Pla-
Na década de 80, tiveram início as primeiras invasões de pes- no de Integração Nacional (PIN), Instituto Nacional de Colonização
cadores e caçadores no território do PIX. Ao final dos anos 90, as e Reforma Agrária (INCRA) e Departamento Nacional de Produção
queimadas em fazendas pecuárias localizadas a nordeste do Parque Mineral (DNPM).
ameaçavam atingi-lo e o avanço das madeireiras instaladas a oeste A ação da FUNAI durante a ditadura foi fortemente marcada
começou a chegar perto dos limites físicos definidos pela demar- pela perspectiva assimilacionista. O Estatuto do Índio (Lei nº 6.001)
cação. aprovado em 1973, e ainda vigente, reafirmou as premissas de inte-
Ademais, a ocupação do entorno começava a poluir as nascen- gração que permearam a história do SPI.
tes dos rios que abastecem o Parque e que ficaram fora da área Com recursos escassos e mal contabilizados, a FUNAI conti-
demarcada. Nesse processo, fortaleceu-se entre os moradores do nuou a operar, assim como o SPI, com profissionais pouco qualifi-
PIX a percepção de que está a caminho um incômodo: o Parque cados. Não se concretizou a proposta de se realizar planejamentos
vem sendo cercado pelo processo de ocupação de seu entorno e antropologicamente orientados, conduzidos por profissionais de
já se evidencia como uma “ilha” de florestas em meio ao pasto e a formação sólida, bem pagos e comprometidos com o futuro dos po-
monocultura na região do Xingu. vos indígenas. O órgão foi permeado, em todos os níveis, por redes
A questão da fiscalização do território é presença certa na de relações pessoais, clientelistas e corporativas, que remetem ao
agenda dos assuntos políticos do Parque, sendo discutida tanto paternalismo e ao voluntarismo que dominaram o velho SPI.
em encontros de lideranças e assembleias da ATIX (Associação Ter- Projetos como a construção das hidrelétricas de Itaipu e de Tu-
ra Indígena Xingu) como na interlocução com a FUNAI e os órgãos curuí, no Rio Tocantins, e a criação do maior latifúndio do mundo
ambientais federal (IBAMA) e estadual (Fundação Estadual do Meio no norte do Mato Grosso, em terra indígena Xavante, expulsaram
Ambiente - FEAM). centenas de comunidades e provocaram milhares de mortes nas
Para tanto, foi montada uma infraestrutura dos citados onze aldeias. A abertura da rodovia Transamazônica BR- 230, planejada
postos de vigilância para proteger as áreas que propiciam um aces- para cortar o Brasil transversalmente, da fronteira com o Peru até
so direto ao Parque, como a intersecção dos principais rios com os João Pessoa na Paraíba, afetou de maneira trágica 29 grupos indí-
limites do PIX e o ponto em que a BR-080 margeia esses limites. 13 Adaptado de http://memoriasdaditadura.org.br/indigenas/ e http://pib.socioam-
No entanto, o sistema de postos, por si só, não é suficiente biental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/funai

252
REALIDADE BRASILEIRA

genas, dentre eles, 11 etnias que viviam completamente isoladas. Muitas crianças e jovens são expostas desde cedo à televisão e
Documentos e relatos colhidos durante as investigações recen- à internet, o que pode ser considerado natural para quem vive nas
tes da Comissão Nacional da Verdade (CNV) apontam que cerca de fronteiras culturais. O problema é que grande parte destas crianças
8 mil indígenas foram mortos, em conflitos, crises de abastecimen- só tem acesso às produções culturais do ocidente. O conhecimento
to ou epidemias trazidas pelos trabalhadores, em consequência da produzido pelos povos indígenas, nestes espaços que se constituem
construção de quatro rodovias: com as novas tecnologias, fica do lado de fora.
- a Transamazônica; Por outro lado, essas mídias têm servido para dar visibilidade
- a BR-174, que liga Manaus a Boa Vista; e ‘guardar’ a história e a memória da comunidade indígena, dentro
- a BR-210, conhecida com Perimetral Norte; e de recursos tecnológicos que atraem o olhar do índio e também
- a BR 163, que liga Cuiabá a Santarém. que fazem com que os mesmos sintam-se incluídos no mundo, pois
a cultura deles também é difundida para a sociedade.
Essas estradas faziam parte do Plano de Integração Nacional Guardadas as devidas proporções, assim como nas outras re-
(PIN), instituído em 1970, pelo presidente Emílio Garrastazu Médici. giões do mundo, do Brasil e da Amazônia, as tecnologias invadiram
O PIN previa que 100 quilômetros em cada lado das estradas a se- o dia a dia das pessoas, seja pela mera cópia de um CD pirata, seja
rem construídas deveriam ser destinados à colonização. A intenção pelos aparelhos sofisticados que passaram a fazer parte da vida
do governo era assentar cerca de 500 mil pessoas em agrovilas que pessoal e profissional dos indivíduos na contemporaneidade. Da
seriam fundadas nesses locais. mesma maneira, os índios foram atraídos pelos encantos desses
O processo civilizatório imposto pela ditadura civil-militar in- aparatos tecnológicos, levado pela proximidade de suas aldeias, as-
cluía perseguição, criminalização, prisão e tortura de lideranças in- sim como sua inserção no convívio com as cidades urbanas.
dígenas que lutavam por seus territórios ou que tivessem compor- Esse contato com as mídias foi incorporado à cultura indígena.
tamento considerado inadequado pela FUNAI. Hoje é comum encontrar nas comunidades Indígenas aparelhos de
Durante a ditadura, as comunidades indígenas encontraram TV, filmadoras, DVDs, rádios, telefones celulares, câmeras e compu-
entre os antropólogos, sertanistas e missionários ligados ao Conse- tadores. Algumas populações indígenas passaram a utilizar e consu-
lho Indigenista Missionário (CIMI) seus principais apoiadores para mir produtos dessa sociedade informacional.
resistir às violências e às ameaças cometidas pelo regime, pelos do- Não que isso seja um crime, pelo contrário, pode representar
nos de terras e pelos colonos e trabalhadores do garimpo. uma oportunidade de “capturar” as informações, os relatos e socia-
lizá-los de vez aos conhecimentos e a cultura indígena não somente
Os Índios e a Tecnologia14 para os índios mais jovens, mas com toda a sociedade que desco-
nhecem a riqueza dos primeiros habitantes do Brasil.
A população indígena é formada por diferentes povos com O jovem/adolescente Suruí transita por outros espaços e se
hábitos, costumes e línguas distintas. Atualmente o rápido avanço constitui também em outras identidades, já que ele pode ser um
tecnológico tem permitido a aproximação entre os índios que ainda eleitor, um estudante, pode receber uma bolsa assistencial do go-
vivem em reservas e o restante da população. O contato com os verno, ter um número de celular, conviver com jovens da sociedade
meios de comunicação, especialmente a televisão, o telefone e a envolvente. Portanto, se essa tecnologia é uma realidade e aden-
internet, colabora na busca pela adoção de um novo estilo de vida trou a vida dos índios Suruí, é preciso conciliar sua utilização com
e na perda de antigos valores. as tradições do povo, do mesmo modo que deve ser aplicada como
Há cerca de quatro anos, foi destaque na imprensa nacional e recurso didático na educação, levando em conta a memória e histó-
estrangeira a história de índios suruís que vivem na reserva indíge- ria do povo indígena.
na Sete de Setembro, na divisa entre os Estados de Rondônia e Acre, Nem sequer pode-se atribuir aos meios eletrônicos a origem da
fazendo uso das novas tecnologias para defender a terra na qual massificação das culturas populares. Esse equívoco foi apropriado
eles vivem do desmatamento. Com a ajuda de GPS, eles passaram a pelos primeiros estudos sobre a comunicação, segundo os quais a
monitorar a posição de madeireiros ilegais. cultura massiva substituiria o culto e o popular tradicionais.
Os dados são enviados para autoridades competentes, como É interessante destacar que a noção de popular é reforçada nas
Polícia Federal e Fundação Nacional do Índio (FUNAI), para que as mídias ainda levando em conta uma lógica de mercado, ou seja, a
providências cabíveis sejam tomadas. Foi quando os arcos e flechas mídia tem um papel central já que as pessoas necessitam do seu
deixaram de ser as únicas ferramentas de defesa do território, e as discurso para que possam construir o sentido social da realidade.
novas tecnologias passaram a fazer parte do dia a dia de muitas E não é diferente com a comunidade indígena Suruí que passa
tribos indígenas. compreender como importante ter sua história e tradições serem
A proximidade das comunidades indígenas aos centros urba- narradas pelos diversos meios de comunicação. A mídia, neste sen-
nos faz com que os índios acessem os instrumentos disponíveis das tido, não é apenas um suporte tecnológico, mas uma instituição
tecnologias de informação e comunicação, trazendo esses recursos responsável por criar uma lógica de mundo, muitas vezes, não mui-
e os incluindo no seu dia a dia e nas suas relações de sociabilidade. ta clara, mas que exerce sentido na vida humana, pois influencia as
Essas mídias são adaptadas não levando em conta o fazer dessa co- relações sociais ou até cria novas formas de sociabilidade.
munidade, ou seja, a formação do povo. Hoje, a imagem midiática começa na primeira idade das crian-
14 CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da ças e vai até o fim da sua vida, ditando as intenções daqueles que
Modernidade.3ª. Edição. São Paulo: Edusp, 2000. trabalham para construir esses sentidos, sejam produtores anôni-
COSTA, Alda Cristina. O embate entre o visível e o invisível: a construção social mos ou ocultos: no despertar pedagógico da criança, nas escolhas
da violência no jornalismo e na política. 2010. Universidade Federal do Pará, econômicas e profissionais do adolescente, nas escolhas tipológicas
Belém. (a aparência) de cada pessoa, até nos usos e costumes públicos ou
http://www.videonasaldeias.org.br/2009/. privados, às vezes como “informação”, às vezes velando a ideologia

253
REALIDADE BRASILEIRA

de uma escolha ou persuadindo os comportamentos. As crianças como suportes de inclusão e exclusão sociais e de controle das coi-
começam a desenvolver algumas lógicas de pensamento a partir de sas que acontecem no mundo.
uma programação televisiva. Com o surgimento da Internet e seus adventos, o homem se
Muitas crianças indígenas, mesmo vivendo com suas famílias, deparou com um espaço que antes era difícil de imaginar: um lu-
bem cedo são expostas à escola ocidental, à televisão e até mesmo gar onde pudesse exprimir suas ideias, pensamentos, opiniões, sua
à internet, o que é natural para quem vive nas fronteiras culturais. vida cotidiana, e ao mesmo tempo, um lugar onde tudo isso poderia
O problema é que grande parte destas crianças só tem acesso às ser visto.
produções culturais do ocidente. O conhecimento produzido pelos Dessa maneira, uma perspectiva onde a cultura ocidental ainda
povos indígenas, nestes espaços que se constituem com as novas se sobrepõe sobre a indígena, é possível hoje utilizar os recursos
tecnologias, fica do lado de fora. Ainda que existam sociedades iso- tecnológicos em benefício da comunidade, pois eles abrem novas
ladas dentro da Amazônia, no Brasil, lembra a antrópologa Ivânia possibilidades, principalmente no sentido de que podem servir
Neves, a maioria dos povos indígenas mantém relações efetivas também para atrair e seduzir o mundo indígena, ou seja, contando
com a sociedade envolvente. a história e memória do povo nos artefatos. Não é possível excluir
Já estabelecem, portanto, uma fronteira cultural com as insti- esses recursos, mas é possível adaptá-los para que sejam utilizados
tuições ocidentais (igreja, escola, televisão, rádio, secretarias públi- como instrumentos para comunidade, já que eles podem produzir o
cas, ONGs, entre outras). Nascidas dentro deste cenário, a grande mundo deles e divulgá-los para sociedade como um todo.
maioria das crianças indígenas vive hoje nestas fronteiras. Histori-
camente, o início do contato entre as sociedades indígenas e as ins-
tituições ocidentais, além de terem resultado na morte de milhares DINÂMICA SOCIAL NO BRASIL: ESTRATIFICAÇÃO, DESI-
de índios, quer seja por processos de violência, quer seja por ques- GUALDADE E EXCLUSÃO SOCIAL
tões de saúde, representa quase sempre uma grande desestrutura-
ção política e cultural para estas sociedades. Todos sabemos, pela própria experiência do dia-a-dia, que nos-
Este contato, no entanto, uma vez realizado estabelece uma sa sociedade apresenta contradições: e desigualdades. Nas grandes
nova e irreversível ordem para as sociedades indígenas. Se as ge- cidades por exemplo, ao lado de mansões luxuosas encontramos
rações mais velhas não dominavam a língua portuguesa, hoje, na favelas e pessoas morando embaixo de viadutos.
realidade de muitas sociedades, o que se observa é o fato de que as Vivemos, portanto, em uma sociedade profundamente desi-
crianças falam apenas a língua portuguesa. Não podemos perder de gual. Se quisermos fazer uma descrição desse tipo de sociedade,
vista que existem grupos indígenas que não falam mais uma língua podemos trabalhar com o conceito de estratificação social. Mas se
tradicional. nosso objetivo for analisar historicamente os conflitos entre os di-
Ao se trabalhar a questão da tecnologia deve-se levar em conta versos grupos que a compõem, devemos recorrer ao conceito de
que seus avanços produzem transformações na experiência cotidia- classes sociais.
na, estabelecendo novas relações de sociabilidade. Seja qual for o método escolhido, é preciso levar em conta tam-
É interessante destacar que algumas experiências já vêm sen- bém que alguns indivíduos ou mesmo grupos de pessoas podem
do realizadas com resultados positivos com relação a inserção dos mudar de posição social. Para estudar esses casos utilizamos o con-
índios no mundo digital. Desde 1987 vem sendo realizado o projeto ceito de mobilidade Social
denominado Vídeo nas Aldeias, na área de produção audiovisual in-
dígena no Brasil, com o objetivo de apoiar as lutas dos povos indíge- Estratificação social
nas para fortalecer suas identidades e seus patrimônios territoriais
e culturais, por meio de recursos audiovisuais. A expressão estratificação deriva de estrato, que quer dizer ca-
O uso do vídeo permite que as comunidades indígenas selecio- mada. Por estratificação social entende-se a distribuição de indiví-
nem e fortaleçam manifestações culturais que elas desejam tanto duos e grupos em camadas hierarquicamente superpostas dentro
conservar para as futuras gerações quanto apresentar como parte de uma sociedade. Essa distribuição se dá pela posição social dos
de sua identidade. Ele é um instrumento adaptado a formas tra- indivíduos, das atividades que eles exercem e dos papéis que de-
dicionais de produção e transmissão cultural apoiado na força da sempenham na estrutura social.
palavra e na memória oral. Na sociedade capitalista contemporânea, as posições sociais
O Vídeo nas Aldeias surgiu como proposta das atividades da são determinadas basicamente pela situação dos indivíduos no de-
ONG Centro de Trabalho Indigenista, como um experimento reali- sempenho de suas atividades produtivas (capitalistas X proletários).
zado por Vincent Carelli entre os índios Nambiquara, depois abran- Contudo, nessa mesma sociedade os indivíduos podem de-
gendo outras aldeias brasileiras. Hoje o projeto criou um importan- sempenhar outros papéis e alcançar novas posições sociais como
te acervo com mais de 70 filmes sobre os povos indígenas no Brasil. na religião que praticam, o partido político em que militam, as fun-
A utilização das mídias também passa na concepção dos índios ções sociais que desempenham, a profissão que exercem (médico
como instituições importantes de divulgação de identidades e de x pedreiro).
visibilidades. É interessante destacar que os indivíduos e as formas
de relação entre eles são alimentados pela mídia porque a maior Principais tipos de Estratificação Social
parte dos conhecimentos acerca do mundo, dos modelos de papel,
dos valores e dos estilos de comportamento chega à mente humana 1. Estratificação política. Estabelecida pela posição de mando
não pela experiência direta do mundo físico e das relações com os na sociedade (grupos que têm poder e grupos que não têm).
outros, mas cada vez mais pela mediação dos meios de comunica-
ção. E diversas questões passam a habitar a mente humana, a partir
da discussão por esses meios. Esses meios se tornam fundamentais

254
REALIDADE BRASILEIRA

2. Estratificação profissional. Baseada nos diferentes graus de sagrados dos hindus.


importância atribuídos a cada profissional pela sociedade. P.E., em Embora o sistema de castas tenha sido abolido oficialmente em
nossa sociedade a profissão de médico é muito mais valorizada que 1947, quando a Índia conquistou a independência sob a liderança
a de pedreiro, motorista. de Mahatma Gandhi, basta percorrer o pais para constatar que, na
3. Estratificação econômica. É definida pela posse de bens ma- prática, o antigo regime sobrevive. Os indianos das castas superio-
teriais, cuja distribuição pouco equitativa faz com que haja pessoas res não aceitam perder seus privilégios, e os membros das castas
ricas, pobres e em situação intermediária. inferiores e os “sem castas” continuam sendo excluídos, rejeitados,
privados de educação formal e de outras oportunidades.
Estratificação Econômica de uma Sociedade Capitalista Cabem a eles as piores tarefas, como limpar fossas e lavar ca-
dáveres.
Dependendo do tipo de sociedade, esses estratos podem ser Na segunda metade do século XX, reformas sociais e mudanças
organizados em: na economia da Índia, impulsionadas pela industrialização, começa-
• Castas ram a romper o sistema de divisão em castas.
• Estamentos Assim, nos grandes centros urbanos do pais, como Nova Delhi,
• Classes sociais. Bombaim e Calcutá, a abolição do sistema vem ocorrendo grada-
tivamente. Entretanto, ele ainda perdura na maior parte da Índia
Tipos de Sociedades Estratificadas rural.

Castas Sociais: Estamentos ou Estados


Existem sociedades em que os indivíduos nascem numa cama- Um exemplo típico de sociedade estratificada em estamentos
da social mais baixa e podem alcançar, com o decorrer do tempo, pode ser encontrado na Europa ocidental durante a Idade Média
uma posição social mais elevada. Esse fenômeno conhecido como (476-1453), sob a vigência do modo de produção feudal.
mobilidade social. Estamento ou estado e uma camada social semelhante a casta,
Em contrapartida, existem sociedades em que, mesmo usando porém um pouco mais aberta. Na sociedade estamental, a mobili-
toda a sua capacidade e empregando todos os esforços, o indivíduo dade social é difícil mas não impossível, como na sociedade estra-
não consegue alcançar uma posição social mais elevada. Nesses ca- tificada em castas.
sos, a posição social lhe atribuída por ocasião do nascimento, inde- Na sociedade feudal, a ascensão era possível nos raros casos
pendentemente de sua vontade. Ele carrega consigo, pelo resto da em que a Igreja recrutava seus membros entre os mais pobres;
vida, a posição social herdada. quando os servos eram emancipados por seus senhores; no caso
A sociedade indiana é estratificada dessa maneira. Há séculos, de o rei conferir um título de nobreza a um homem do povo; ou,
a população da Índia está distribuída em um sistema de estratifica- ainda, se a filha de um rico comerciante se casasse com um nobre,
ção social rígido e fechado, que não oferece a menor possibilidade tornando-se, assim, membro da aristocracia.
de mobilidade social. É o sistema de castas A pirâmide social da sociedade estamental durante o feudalis-
Enquanto nas sociedades ocidentais pessoas de níveis sociais mo europeu apresentava-se da seguinte maneira:
diferentes podem se casar - o que não raro possibilita a ascensão No vértice da pirâmide encontravam-se nobreza e no alto clero.
social de um dos cônjuges -, na Índia o casamento só é permitido Eram os donos da terra da qual obtinham renda explorando o traba-
entre pessoas da mesma casta. lho dos servos. Os nobres dedicavam-se à guerra à caca, cuidavam
As castas são grupos sociais fechados, cujos membros seguem da administração do feudo e exerciam o poder judiciário em seus
rigorosamente as tradições familiares. Um indivíduo nascido em feudos.
determinada casta deve permanecer nela pelo resto da vida. Sua O alto clero (cardeais, arcebispos, bispos, abades) era uma elite
posição social é definida ao nascer. Além de direitos e deveres es- eclesiástica e intelectual.
pecíficos, as pessoas não podem ascender socialmente mediante Seus membros vinham da nobreza. Constituíam também a úni-
qualidades pessoais, mérito ou realizações profissionais. ca camada letrada na primeira a fase do período medieval, desem-
Pode-se esquematizar a estratificação social indiana por meio penhando importantes funções administrativas.
da seguinte pirâmide de castas: Abaixo da camada dos nobres, encontravam-se os comercian-
No topo da pirâmide estão os brâmanes, que são os sacerdotes tes. Embora ricos, muitas vezes eles não tinham os mesmos privilé-
e os mestres da erudição sacra. Segundo sua crença, a eles compete gios da nobreza. Além disso, suas atividades sofriam uma série de
preservar a ordem social, estabelecida por orientação divina. restrições legais. Tais restrições foram desaparecendo à medida que
A seguir, distribuídos pela segunda casta, vem os Xátrias guer- o feudalismo entrou em declínio.
reiros que formam a aristocracia militar. Mais abaixo estavam os artesãos, os camponeses livres e o
A terceira grande casta – a dos vaixas - é formada pelos comer- baixo clero. Os artesãos viviam nas cidades, reunidos em associa-
ciantes, artesãos e camponeses. ções profissionais, as corporações de ofício; os camponeses livres
Os sudras, por sua vez, executam os trabalhos manuais e di- trabalhavam a terra e vendiam seus produtos agrícolas nas vilas e
versas tarefas servis. São uma casta depreciada, tendo o dever de cidades; o baixo clero, originário da população pobre, convivia com
servir as três castas superiores. os pobres, com o povo, prestando-lhe assistência religiosa
Na base da pirâmide social ficam os parias, grupo de miserá- Abaixo de todos estavam os servos, que trabalhavam a terra
veis, desprovidos de direitos e sem profissão definida. Totalmente para si e para seus senhores, vivendo em condições precárias; esta-
desprezados pelas demais castas, vivem da caridade alheia. Os pa- vam ligados à terra, passando a ter novo se quando a terra mudava
rias não podem banhar-se nas águas sagradas do rio Ganges (o que de dono.
é permitido as outras castas), nem ler os Vedas, que são os livros

255
REALIDADE BRASILEIRA

A divisão da estrutura social em estamentos - tipo intermediá- que trabalham em escritórios, funcionários públicos e profissionais
rio entre a casta e a classe – era encontrada na Europa até fins do liberais.
século XVIII. Ao contrário da burguesia e do proletariado, que atuam dire-
tamente na produção social entre as classes médias misturam-se
Classe Social múltiplos papeis. Não se trata, portanto, de uma classe política e
Desenvolvido pelo pensador alemão Karl Marx, o conceito de socialmente homogênea.
classe social parte de premissas próprias, segue critérios específicos Segundo Karl Marx, essa heterogeneidade das classes médias
e sua aplicação leva a conclusões totalmente diferentes das que po- explica por que, nos conflitos sociais e políticos, elas oscilam tanto,
dem ser encontradas nos estudos que analisam a sociedade segun- ora apoiando os interesses da grande burguesia, ora apoiando os
do o modelo descritivo da estratificação social. interesses dos trabalhadores.
Para Marx, a história da humanidade é “a história da luta de
classes”. Segundo ele, portanto, a classe social é acima de tudo uma Mobilidade Social
categoria histórica. Quando Marx se refere as duas grandes clas- Em maio de 1953, Lourenço Carvalho de Oliveira, nascido na
ses do capitalismo - a burguesia e o proletariado -, está designando pequena aldeia de Vigia, no norte de Portugal, desembarcou no
duas forças motrizes e concretas do modo de produção capitalista, porto de
um sistema econ6mico historicamente determinado. Santos, no litoral de São Paulo, depois de onze dias de viagem
O próprio Marx, no entanto, não reivindicava a descoberta das na terceira classe do transatlântico Vera Cruz. Em sua terra, deixara
classes sociais nem da luta de classes, mas sim a “demonstração de a mulher e três filhos pequenos vivendo graças à solidariedade de
que a existência das classes só se liga a determinadas fases histó- parentes e vizinhos.
ricas de desenvolvimento da produção”. Marx atribula uma impor- Foi morar de favor na casa de um primo e arrumou emprego
tância particular aos conflitos entre as classes. Para ele, são esses como ajudante num bar. Economizou muito, mandou buscar a famí-
conflitos que constituem o principal fator de mudança social. Esses lia e conseguiu, depois de anos de trabalho e privações, abrir uma
movimentos, portanto, imprimiriam movimento e dinamismo à so- pequena venda em sociedade com um amigo.
ciedade. O negócio foi crescendo: primeiro uma mercearia, depois um
Por outro lado, as classes sociais mudam ao longo do tempo, mercado, a seguir um supermercado. Em 1988, 35 anos depois de
conforme as circunstâncias econômicas, políticas e sociais. As con- chegar ao Brasil, o Sr. Lourenço era dono de uma grande rede de
tradições que mantêm entre si forjam e estruturam a própria socie- supermercados, tendo se tornado um dos mais influentes membros
dade. Quando os conflitos chegam a um ponto insuportável, ocorre da Associação Comercial de São Paulo. Seus filhos têm curso supe-
uma revolução que transforma a sociedade, modificando o modo rior e um deles é professor na Universidade de São Paulo.
de produção. Essa história de vida mostra que os indivíduos, numa sociedade
Foi o que aconteceu, com o feudalismo: uma nova classe (a capitalista, podem chegar a ocupar diferentes posições sociais - ou
burguesia) derrubou um velho estamento (a nobreza), gerando a estratos - durante a vida. É possível que alguns deles, que integram
sociedade capitalista. A Revolução Francesa de 1789 foi uma das o estrato de baixa renda (camada C), passem a integrar o de renda
expressões dessa transformação. média (camada B) ou mesmo o de renda alta (camada A).
Mas a nova sociedade capitalista, na concepção de Marx, já co- Por outro lado, alguns indivíduos da camada A podem ter sua
meçou dividida em duas grandes classes conflitantes: a burguesia renda diminuída, passando a integrar as camadas B ou C. Do ponto
(proprietária dos meios de produção) e o proletariado, ou classe de vista sociológico, os dois fenômenos são caracterizados como
operária, que só tem de seu a torça de trabalho. manifestações de mobilidade social.
Essa divisão baseada no regime de propriedade faz com que Mobilidade social é a mudança de posição social de uma pes-
uma classe seja dominante, e a outra, dominada, numa relação sis- soa (ou grupo de pessoas) num determinado sistema de estratifi-
temática de dominação e exploração. cação social.
Assim, a teoria das classes não se limita a descrever as divisões
da sociedade em camadas, como faz o modelo da estratificação so- Tipos de Mobilidade Social
cial, mas procura explicar como e por que elas ocorrem historica-
mente. As classes sociais só existem a partir da relação que estabe- Quando as mudanças de posição social ocorrem no sentido as-
lecem entre si. Nesse sentido, as classes são, além de antagônicas, cendente ou descendente na hierarquia social, dizemos que a mo-
necessariamente complementares. A burguesia, por exemplo, não bilidade social é vertical. Quando a mudança de uma posição social
pode existir sem o proletariado. a outra se opera dentro da mesma camada social, diz-se que houve
Complementares, porque são elas que fazem funcionar o sis- mobilidade social horizontal.
tema. Antagônicas, porque uma delas (a burguesia) se apropria do
trabalho da outra (o proletariado), o que gera o conflito permanen- Mobilidade Social Vertical
te. A mobilidade social vertical pode ser:
As classes médias - ascendente ou de ascensão social - quando a pessoa melhora
Entre a burguesia e o proletariado existem outros grupos que sua posição no sistema de estratificação social, passando a integrar
se movem entre as duas classes fundamentais, oscilando de uma um grupo economicamente superior a seu grupo anterior;
para a outra. Alguns desses grupos são denominados genericamen- - descendente ou de queda social- quando a pessoa piora de
te de classes medias, ou pequena burguesia. posição no sistema de estratificação, passando a integrar um grupo
A pequena burguesia constitui um setor muito numeroso, que economicamente inferior.
abrange desde a dona de um pequeno armazém até os pequenos e O filho de um operário que, por meio do estudo, passa a fazer
médios proprietários de terra, passando por todos os assalariados parte da classe média é um exemplo de ascensão social. A falência

256
REALIDADE BRASILEIRA

e o consequente empobrecimento de um comerciante, em contra- bilidade social feito pela OCDE (Organização para a Cooperação e
partida, é um exemplo de queda social. Desenvolvimento Econômico) com dados de 30 países15.
Assim, tanto a subida quanto a descida na hierarquia social são De acordo com o estudo o elevador social está quebrado. Para
manifestações de mobilidade social vertical. promover mobilidade social, seriam necessárias nove gerações para
Em uma sociedade aberta e democrática, é comum pessoas de que os descendentes de um brasileiro entre os 10% mais pobres
um grupo social passarem para outro grupo, mais ou menos eleva- atingissem o nível médio de rendimento do país. A estimativa é a
do na escala social. mesma para a África do Sul e só perde para a Colômbia, onde o
A esse fenômeno, que tanto pode ser ascendente como des- período de ascensão levaria 11 gerações.
cendente, dá-se o nome de mobilidade social. O indicador da OCDE foi construído levando em consideração a
No Brasil, a chegada do ex-metalurgico Luiz lnácio Lula da Silva “elasticidade intergeracional de renda”. Ou seja, quanto o nível de
à Presidência da República, em janeiro de 2003, é expressão dessa rendimento dos filhos é determinado pelo dos pais. A instituição
mobilidade. Com ele, passaram a integrar o governo diversas pes- ressalta no estudo que a simulação tem finalidade ilustrativa - para
soas provenientes das camadas mais baixas da sociedade. É o caso, dar dimensão da dificuldade de ascensão social - e que não deve ser
por exemplo, de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, que foi interpretada como o tempo preciso para que um domicílio de baixa
seringueira no Acre e só pode estudar a partir dos 17 anos. renda atinja a renda média.
Na média entre os países membros da OCDE, a chamada “per-
Mobilidade Social Horizontal sistência” da renda intergeracional é de 40%. Isso significa que, se
Uma pessoa se muda do interior para a capital. No interior, ela uma família tem rendimento duas vezes maior o que de outra, o
defendia ideias políticas conservadoras; agora, na capital, sob novas filho terá, em média, renda 40% mais alta que a da criança que veio
influências, passa a defender as ideias de um partido progressis- da família de menor renda.
ta. Seu nível de renda, porém, não se alterou substancialmente. A Nos países nórdicos, a persistência é de 20%. No Brasil, de 70%,
situação mostra uma pessoa que experimentou alguma mudança conforme a pesquisa.
de posição social mas que, apesar disso, permaneceu no mesmo Mais de um terço daqueles que nascem entre os 20% mais po-
estrato social. bres no Brasil permanece na base da pirâmide, enquanto apenas
Assim, a mudança de uma posição social dentro da mesma ca- 7% consegue chegar aos 20% mais ricos. Na média da OCDE, 31%
mada social caracteriza-se como mobilidade social horizontal. dos filhos que crescem entre 20% mais pobres permanecem nesse
grupo e 17% ascendem ao topo da pirâmide.
Democracia e Mobilidade Social
Pai Pobre, Filho Pobre
O fenômeno da mobilidade social varia de uma sociedade para
outra. Em algumas sociedades ela ocorre mais facilmente; em ou- Isso é o que o estudo chama de “chão pegajoso” (sticky floor): a
tras, praticamente inexiste no sentido vertical ascendente. É mais dificuldade das famílias de baixa renda de sair da pobreza.
fácil ascender socialmente nos Estados Unidos, por exemplo, do Filhos de pais na base da pirâmide têm dificuldade de acesso à
que no interior da índia, ainda dominado pela estratificação social saúde e maior probabilidade de frequentar uma escola com ensino
em castas. de baixa qualidade.
A mobilidade social ascendente é mais frequente numa socie- A educação precária, em geral, limita as opções para esses
dade democrática aberta, que enaltece a escalada rumo ao topo de jovens no mercado de trabalho. Sobram-lhes empregos de baixa
indivíduos de origem humilde - como nos Estados Unidos -, do que remuneração, em que a possibilidade de crescimento salarial para
numa sociedade de tradição aristocrática, como a Inglaterra. quem tem pouca qualificação é pequena - e a chance de perpetua-
Entretanto, é bom esclarecer que, mesmo numa sociedade ção do ciclo de pobreza, grande.
capitalista mais aberta, a mobilidade social vertical não se dá de Nesse sentido, a desigualdade social e de renda, destaca o le-
maneira igual para todos os indivíduos. A ascensão social depende vantamento, é definidora do acesso às oportunidades que podem
muito da origem de classe de cada indivíduo. fazer com que alguém consiga ascender socialmente.
Alguém que nasce e vive numa camada social elevada tem mais “Além do chão pegajoso, países como o Brasil têm também te-
oportunidades e condições de se manter nesse nível, ascender ain- tos pegajosos (sticky ceilings)”, acrescenta Stefano Scarpetta, dire-
da mais e se sair melhor do que os originários das classes inferiores. tor de emprego, trabalho e assuntos sociais da OCDE, referindo-se
Isso pode ser facilmente verificado no caso dos jovens que pre- às famílias de alta renda.
tendem fazer o curso superior. Aqueles que, desde o início de sua O nível elevado de desigualdade também se manifesta sobre a
vida escolar, frequentaram boas escolas e, além disso, estudaram mobilidade no topo da pirâmide. Aqui, é pequena a probabilidade
em cursinhos preparatórios de boa qualidade, têm mais possibili- de que as crianças mais abastadas eventualmente se tornem adul-
dades de aprovação nos vestibulares das universidades públicas e tos de classes sociais mais baixas que a dos pais.
privadas do que os jovens provenientes das classes de baixa renda. Scarpetta pondera que, ao contrário da tendência global de
aumento da desigualdade, o Brasil conseguiu reduzir suas dispari-
Mobilidade Social no Brasil dades na última década, até o início da recessão. O país fez pouco,
A chance de uma criança de baixa renda de ter um futuro me- entretanto, para corrigir os problemas estruturais que mantêm em
lhor que a realidade em que nasceu está, em maior ou menor grau, movimento o ciclo da pobreza - a qualidade precária da educação e
relacionada à escolaridade e ao nível de renda de seus pais. Nos da saúde e a falta de treinamento para os milhões de trabalhadores
países ricos, o “elevador social” anda mais rápido. Nos emergentes, 15 Camila Veras Mota. Brasil é o segundo pior em mobilidade social em ranking
mais devagar - no Brasil, ainda mais lentamente. de 30 países. Instituto Humanitas Unisinos. http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/
O país ocupa a segunda pior posição em um estudo sobre mo- 579960-brasil-e-o-segundo-pior-em-mobilidade-social-em-ranking-de-30-paises.

257
REALIDADE BRASILEIRA

de baixa qualificação. O movimento da contracultura começou nos EUA, quando uma


“O Brasil fez um bom trabalho tirando milhões de famílias da geração de intelectuais e poetas dos anos 1950 - a beat generation
extrema pobreza, com o Bolsa Família, por exemplo. Falta agora - passou a criticar os valores conservadores da sociedade estaduni-
fazer a ‘segunda geração’ de políticas”, disse o economista à BBC dense. Eles negavam o individualismo e o consumismo do chamado
News Brasil. american way ofl ife. Allen Ginsberg, William Burroughs e Jack Ke-
rouac são os nomes mais conhecidos desse movimento.
Classe Média O último escreveu um livro bastante divulgado, On the road,
Quando se analisa a mobilidade apenas do indivíduo, e não de de 1957 - que no Brasil foi lançado como Pé na estrada. Na década
uma geração a outra, o estudo da OCDE verifica que, de forma geral, de 1960, a contracultura continuou a expressar a rebeldia de jo-
a classe média é o estamento com maior flexibilidade - para cima vens das classes médias contra o consumismo, a cultura de massa,
e para baixo. a sociedade industrial e a padronização dos comportamentos. Eles
No Brasil, a mobilidade da base da pirâmide para a classe mé- também se mostravam insatisfeitos com o autoritarismo de seus
dia é maior do que em vários emergentes. Essa ascensão, contudo, pais e dos governantes.
é frágil. Estudantes e intelectuais passaram a incorporar reivindicações
A estrutura do mercado de trabalho, com uma participação ele- de grupos considerados minoritários, como os negros, os homos-
vada do emprego informal, intensifica os efeitos negativos das cri- sexuais e as mulheres - todos em busca de seus direitos. Grande
ses sobre a população mais vulnerável. Como aconteceu com parte número de jovens se engajou no movimento hippie. Usando roupas
da “nova classe média” durante a última recessão, o desemprego largas e coloridas e cabelos compridos e sem corte, os hippies recu-
pode ser um caminho de retorno à pobreza. savam a sociedade industrial, massificante e de consumo.
Eles valorizavam o indivíduo, as ideias de paz, amor e liberda-
Mobilidade Social e Crescimento Econômico de e a vida comunitária. “Paz e amor” era o lema deles. Pacifistas,
eram contra a guerra e a violência e protestavam distribuindo flo-
O nível baixo de mobilidade social tem implicações negativas res. Em geral, defendiam o amor livre, rejeitando o casamento mo-
sobre o crescimento da economia como um todo, diz o estudo da nogâmico tradicional.
OCDE. Talentos em potencial podem ser perdidos ou subaprovei- Muitos não estudavam nem tinham emprego, viviam em co-
tados, com menos iniciativas na área de negócios e menos inves- munidades onde comiam o que plantavam e produziam artesanato
timentos. para vender. Alguns se aproximaram das religiões orientais.
“Isso debilita a produtividade e crescimento econômico poten-
cial em nível nacional”, ressalta o texto. — 1968
Um elevador social “quebrado” também se manifesta sobre o O auge do movimento da contracultura foi em 1968. Protes-
bem-estar social. tos de jovens e trabalhadores ocorreram nos Estados Unidos, na
A percepção de que a oportunidade de ascensão depende de Europa e na América Latina. Muitos estavam entusiasmados com
fatores que estão fora do alcance - como a renda dos pais ou o aces- a Revolução Cubana (1959), a Independência da Argélia (1962) e a
so a educação - gera desesperança e sentimento de exclusão. Isso Revolução Cultural na China (1966).
aumenta a probabilidade de conflitos sociais, diz a pesquisa. Com o desejo de mudar o mundo, jovens de vários países pas-
saram a recusar o consumismo capitalista e o modelo de socialismo
Tendência Global soviético. Nos EUA, milhões de jovens protestaram contra a Guerra
O problema não é exclusivo dos países emergentes. Mesmo do Vietnã. Nas universidades, os estudantes organizaram protestos;
países ricos, com desempenho expressivamente superiores ao do fora delas, os hippies também defendiam o fim do conflito.
Brasil nos indicadores de educação - França, Alemanha - estão aci- Na Europa, o movimento de rebeldia mais conhecido foi o que
ma da média da OCDE entre as estimativas do número de gerações aconteceu na França e ficou conhecido como Maio de 1968. Em 22
necessário para que os 10% mais pobres atinjam a renda média. de março, estudantes ocuparam a Universidade de Nanterre para
“Por mais que esses países tenham bom desempenho no PISA protestar contra a prisão de alguns colegas. Depois, tomaram o
(avaliação global do desempenho escolar), esses índices são uma Quartier Latin, famoso bairro universitário em Paris, erigindo bar-
média. Países como a França, por exemplo, são bastante heterogê- ricadas. Em 13 de maio, as centrais sindicais comunista e socialista
neos”, ressalta Scarpetta. declararam greve.
Trabalhadores e estudantes uniram-se a elas, organizando um
comando operário-estudantil. Em 20 de maio, 10 milhões de traba-
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS, MOVIMENTOS SOCIAIS E lhadores estavam em greve. Para contornar a situação, o governo
GARANTIA DE DIRETOS DAS MINORIAS Charles de Gaulle convocou eleições, nas quais os chamados gaul-
listas saíram vitoriosos. De Gaulle acionou a polícia para recuperar
fábricas e universidades que haviam sido tomadas pelos revoltosos,
— Contracultura perseguiu e prendeu líderes estudantis.
Nos Estados Unidos e nos países da Europa Ocidental, entre as A partir daí, o movimento de Maio de 1968 recuou. Os protes-
décadas de 1950 e 1960, muitos jovens passaram a criticar os mo- tos estudantis e operários de 1968 também ocorreram no Brasil, no
dos de vida tradicionais e a criar novos estilos de vida e de relações México, na Polônia, na Iugoslávia e na Tchecoslováquia. A repressão
sociais. Esse conjunto de contestações da juventude daquela época pôs fim à mobilização em toda parte.
ficou conhecido como contracultura16.
16 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São
Paulo. Saraiva.

258
REALIDADE BRASILEIRA

— Conquista dos Direitos Civis — O Movimento Feminista


Até meados dos anos 1950, vigorou a segregação racial contra Nos anos 1960, não eram apenas os negros estadunidenses
os negros nos estados do sul dos EUA. Havia escolas para brancos e que lutavam por direitos civis. As mulheres também reivindicavam
escolas para negros, restaurantes e bares para brancos e restauran- igualdade perante os homens. Em 1963, elas constituíam 51% da
tes e bares para negros, banheiros públicos para brancos e banhei- população e um terço da força de trabalho. Mas ganhavam menos,
ros públicos para negros. Nos ônibus e nas praças públicas, havia inclusive quando exerciam um trabalho igual ou ocupavam o mes-
assentos reservados para os brancos e para os negros. mo cargo que um homem.
Em alguns estados sulistas, os negros encontravam dificulda- Algumas funções pareciam impossíveis de serem ocupadas por
des para exercer seus direitos políticos. Em 1954, a Suprema Corte uma mulher, em particular cargos de gerência e direção. As mulhe-
dos EUA reconheceu que as escolas públicas para brancos recebiam res, além disso, eram minoria nos cursos superiores de graduação
mais recursos dos governos estaduais, e ofereciam um ensino de e pós-graduação. Apesar das conquistas no campo político, em es-
melhor qualidade do que as escolas para negros. Os juízes, então, pecial o direito de voto, obtido em 1918, o movimento feminista
declararam a inconstitucionalidade da segregação racial nas esco- perdeu o ímpeto a partir da década de 1920.
las: todas as crianças, brancas ou negras, podiam frequentar qual- O renascimento ocorreu nos anos 1960. Em 1963, a ativista
quer escola. Betty Friedan publicou o livro The feminine mystique (A mística
Naquele ano, o negro Martin Luther King foi nomeado pastor feminina), em que atacava as ideias que reservavam para a mu-
de uma igreja batista em Montgomery, no estado do Alabama. Em lher apenas o papel de dona de casa e mãe. As feministas foram
seu curso de pós-graduação, ele defendera uma tese sobre o mo- hostilizadas, insultadas e ridicularizadas. Muitos alegavam que a
vimento de resistência pacífica liderado por Mahatma Gandhi, na igualdade entre os sexos destruiria a instituição do casamento e da
Índia. Ele já tinha se tornado o maior defensor dos direitos da po- família. Mas o movimento feminista enfrentou todos os obstáculos
pulação negra quando, em 1955, uma mulher negra, Rosa Parks, foi com sucesso.
presa em um ônibus. Rosa estava sentada e, pelas leis segregacio- Em 1964, a legislação federal proibiu qualquer discriminação
nistas, deveria ceder seu lugar a um passageiro branco. no trabalho por motivo de raça e também de sexo. Nos anos seguin-
Ela se negou a fazê-lo e acabou detida pela polícia. Luther King, tes, uma série de leis garantiu às mulheres direitos civis e a igual-
em represália, organizou um boicote da população negra aos trans- dade perante os homens, a exemplo da criminalização do assédio
portes urbanos em Montgomery. Foi preso e sua casa, atacada. A sexual no trabalho e da abertura da carreira militar para elas.
Suprema Corte declarou, então, a inconstitucionalidade da segre- O movimento se expandiu por diversas partes do mundo, resul-
gação racial nos transportes públicos de todo o país. Foi um avanço tando em campanhas e leis específicas contra a violência doméstica
na luta contra a discriminação. e a favor da equiparação das mulheres aos homens no tocante aos
Em resposta à resistência da população negra, a organização direitos civis.
racista Ku Klux Klan empregou táticas de terror. Mas o movimento
contra a discriminação prosseguiu firme. Recorrendo à resistência Características
pacífica, no início de 1963, Luther King liderou grandes protestos • Política fundamentada na profunda centralização de poder e
dos negros por seus direitos civis. Em 1964, Luther King foi vence- no autoritarismo
dor do Prêmio Nobel da Paz. Em abril de 1968, ele foi assassinado • Controle da nação por meio dos Atos Institucionais, dispositi-
a tiros. vos contrários à Constituição Federal
A luta dos negros estadunidenses continuou e resultou no re- • Intervenção estatal na economia, com desenvolvimento eco-
conhecimento de seus direitos civis e na abolição da discriminação nômico nos padrões capitalista e tecnoburocrático, com dependên-
em todos os estados do país. cia monetária internacional
• Princípios da Escola Monetarista (Industrialização Excluden-
— Malcolm X e os panteras negras te)
Apesar de bem-sucedido na sua estratégia de luta, a lideran- • Modernização da infraestrutura (transporte, comunicação,
ça de King começou a ser contestada por setores mais radicais do energia e saneamento)
movimento negro, sobretudo sua proposta de integração e convívio • Ampliação da linha de crédito para classes média e média-
pacífico com os brancos. Outras lideranças surgiram, como Malcolm -alta
X. Filho de família pobre, tornou-se líder de um templo muçulmano
em Detroit e passou a pregar a dignidade dos negros. Era contra a Movimentos sociais
estratégia da resistência pacífica. Em fevereiro de 1965, foi assas- • Movimento Sindical: ressurgiu a partir de 1974, confrontan-
sinado. do a ditadura de forma mais direta e caracterizando o fim dos anos
Na segunda metade dos anos 1960, setores do movimento ne- 1970 como uma intensa onda de greves, que sofreram fortes re-
gro aderiram a propostas ainda mais radicais. Entre elas estava a do pressões.
Partido Pantera Negra para Autodefesa, fundado no final de 1966 • Vanguarda Popular Revolucionária (VPR): movimento de
em Oakland, na Califórnia. Sua maneira de luta era muito diferente guerrilha formado por militares dissidentes, criado em 1966, con-
da liderada por Luther King ou Malcolm X. trário à postura do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e à sua inope-
Os panteras negras não se amparavam na religião. Declaravam- rância diante ao Golpe de 1964.
-se marxistas e maoistas e recorriam à violência em confrontos ar- • Movimentos das comunidades eclesiais de base: articulados
mados com a polícia. Foram duramente reprimidos e a maioria de pela Igreja Católica, especialmente pelos adeptos à Teologia da Li-
seus líderes, presa. O movimento desapareceu nos anos 1980. bertação, esses grupos denunciavam episódios de prisões políticas
e torturas, reivindicando direitos humanos mínimos.
• Associações de moradores: esses grupos se multiplicavam no

259
REALIDADE BRASILEIRA

período do regime militar, com o objetivo de lutar por melhores praticamente toda sua capacidade de investimento, o que adveio
condições de vida, principalmente em relação à saúde, educação e do progressivo endividamento público. No âmbito microeconômi-
saneamento. co, ocorreu uma forte contração dos empréstimos e financiamentos
• Movimento sanitarista: naquele sistema, a saúde pública es- externos a empresas nacionais, tanto estatais quanto privadas. As
tava limitada a poucos e respaldada no Instituto Nacional de Assis- empresas estatais, portanto, não possuíam mais recursos disponí-
tência Médica da Previdência Social (INAMPS), fundado em 1974, veis para grandes empreendimentos de infraestrutura. Essa redu-
para dar assistência apenas aos trabalhadores das zonas urbanas e ção de despesas implicou uma deterioração do estoque de capital
que possuíam registro em carteira, ou seja, previdenciários. em infraestrutura e, consequentemente, gerou estrangulamentos
• Movimento estudantil: Impulsionados pela Reforma Univer- em setores importantes para a retomada do desenvolvimento eco-
sitária de 1968 e pelo Decreto no 477, que suspendeu quaisquer nômico.
manifestações estudantis, e, ainda pelo Ato Institucional n. 5 (AI5), Em vários países, a reação às crises da década de 1970 foi se-
os estudantes se encarregaram da principal atuação no enfrenta- guida por processos de reforma do Estado, com a diminuição de
mento à ditadura. A União dos Estudantes (UNE) teve papel funda- seu papel como provedor de infraestrutura, gerando uma onda de
mental nesse movimento. privatizações e concessões ao setor privado. Na Grã-Bretanha, o
lema tornou-se o rolling back the State durante o governo That-
cher quando, além das privatizações, foram disseminados contratos
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CONCENTRAÇÃO DA de desempenho para os prestadores de serviços de infraestrutura
RENDA E RIQUEZA ou de utilidade pública (MACEDO; ALVES, 1997). Na Nova Zelândia,
considerado um dos países com reformas mais radicais, foram im-
O Estado na década de 197017 plementadas grandes mudanças macroeconômicas, com um agres-
sivo programa de privatizações, além da terceirização de várias ati-
A década de 1970 foi marcada por uma intensa participação vidades estatais (CARVALHO, 1997).
do Estado na economia em todo o mundo, especialmente no Bra- A estratégia das privatizações surgiu como tentativa de ajus-
sil. Isso se deu, em grande parte, em virtude de empresas públicas te nas contas públicas, por meio da venda de ativos produtivos do
oferecerem infraestrutura para o setor privado. O Estado brasileiro Estado, seja para redução do estoque da dívida pública, seja para
durante 50 anos (1930–1970) criou e absorveu empresas do setor redução da demanda de recursos fiscais para gastos em infraestru-
privado por vários motivos, como nacionalismo econômico, socor- tura. Dessa forma, uma das principais justificativas para a privatiza-
ro a empresas privadas, recursos insuficientes por parte do setor ção, no âmbito macroeconômico, foi o ajuste fiscal. Mais empresas
privado em setores estratégicos da economia nacional e riscos ele- privadas significavam, igualmente, maior arrecadação tributária
vados em investimentos de infraestrutura com grandes períodos de para o governo, o que também poderia contribuir para a melho-
maturação. ra das contas públicas. No plano microeconômico, as privatizações
Martins (1985) aponta que a participação do Estado brasileiro foram justificadas pelos ganhos de eficiência das empresas sob o
na economia durante a década de 1970 foi caracterizada por um controle privado e sua maior capacidade de investir. Giambiagi e
movimento de forças centrípetas – de concentração de recursos Além (2000) apontam que não se pode garantir maior eficiência
no governo federal – e de forças centrífugas – de disseminação de apenas pela transferência ao setor privado, não havendo diferenças
agências e empresas independentes e relativamente autônomas significativas entre ambos, sendo que o principal contraste é que
para a alocação dos recursos supramencionados. Conforme o autor, as empresas estatais também têm um papel importante na política
somente de 1971 a 1976 foram criadas 131 empresas estatais, sen- econômica do governo.
do 67 pela União, 59 pelos estados e 5 pelos municípios. No Brasil, pode-se identificar três fases da privatização (PINHEI-
Havia cerca de 300 empresas estatais, somente no âmbito fe- RO; GIAMBIAGI,1997):
deral, em 1979. Essas empresas variavam desde bancos até siderúr-
gicas, empresas de petróleo, hotéis e outros setores. Segundo Pêgo a) Década de 1980 – A primeira fase se deu por um processo de
Filho et al. (1999), entre 1970 e 1981, a poupança bruta do setor reprivatizações, com o objetivo de sanear a carteira do BNDES5, o
produtivo estatal federal correspondeu a 3,68% do PIB, em média, que ocorreu sem a privatização de grandes empresas estatais. Essa
representando 18,68% de toda a poupança bruta do setor privado. fase permitiu ao BNDES adquirir know-how para se tornar o princi-
Além disso, a década de 1970 caracterizou-se como um perío- pal agente de privatizações posteriormente.
do de déficit público elevado para o equilíbrio macroeconômico e b) De 1990 a 1995 – Em 1990, foi lançado o Plano Nacional
de níveis de inflação acima do que seria desejado. Ademais, o ex- de Desestatização (PND). Nessa fase ocorreu a venda de empresas
pansionismo estatal levou a grandes projetos de infraestrutura sob tradicionalmente estatais, além da privatização de setores inteiros.
a responsabilidade do Estado, o que exigiu montantes de capital A privatização significava ainda uma peça importante na estratégia
para sua implementação. do governo de ajuste macroeconômico. Grandes empresas, como a
A partir da primeira e, principalmente, da segunda crise do pe- Usiminas, escolhida para inaugurar o processo, foram privatizadas.
tróleo em 1973 e 1978, respectivamente, houve uma deterioração c) A partir de 1995 – Em 1995 foi aprovada a Lei de Concessões,
das contas públicas da maioria dos países, gerando graves desequilí- estabelecendo regras para a exploração de serviços públicos pelo
brios macroeconômicos. Nesse contexto, o Estado brasileiro perdeu setor privado, abrindo caminho para um processo de maciça pri-
17 ARAÚJO, Wagner Frederico Gomes de. As estatais e as parcerias público- vatização, principalmente nos setores de infraestrutura e serviços
privadas: o Project Finance como estratégia de garantia de investimentos em públicos, como telecomunicações e energia elétrica.
infraestrutura e seu papel na reforma do estado brasileiro. in: PRÊMIO DEST MO- Com a privatização dos serviços públicos, a partir de 1995, foi
NOGRAFIAS: EMPRESAS ESTATAIS. Embrapa Informação Tecnológica, Brasília, necessário um esquema de regulação das empresas privadas que
DF.2009 - Adaptado atendiam aos cidadãos, pois, a despeito de ser de iniciativa privada,

260
REALIDADE BRASILEIRA

os serviços públicos têm que ser garantidos pelo Estado. O Estado preços. Foram propostas as seguintes metas:
simplesmente delega os serviços públicos ao setor privado sob con- - crescimento de 7% do PNB que deveria ser repassado aos sa-
dições e prazos acordados, tendo o setor privado a obrigação de lários reais com o objetivo de distribuir melhor a renda;
investimentos previamente definidos (MOREIRA; CARNEIRO, 1994). - promoção das Reformas de Base (principalmente a Reforma
As estatais remanescentes tiveram seu papel estratégico exal- Agrária);
tado, assumindo um papel seletivo, mas importante na economia - refinanciamento da dívida externa do país;
brasileira, como é o caso da Embraer ou da Petrobras. Ademais, sua - redução progressiva da pressão inflacionária, de modo que
gestão foi profissionalizada, uma vez que se trata instituições de di- em 1965 a elevação do nível de preços não fosse superior a 10%;
reito privado. - redução das desigualdades regionais dos níveis de vida;
Dessa forma, a interação entre o setor público e o setor priva- - melhoria da qualidade do ensino.
do, inclusive as estatais, tem que ser contínua, pois a partir dessa Para o governo da época, a realização destas metas só seria
interação será consolidada a posição do setor privado em infraes- possível mediante o controle do processo inflacionário, que se tor-
trutura. O fato de o Estado brasileiro ainda ocupar um papel fun- nou o objetivo prioritário do plano. A origem da inflação foi asso-
damental na economia nacional e a melhora do cenário macroe- ciada ao período de crescimento econômico de 1957 a 1961 com o
conômico na década de 1990 criam condição para que se efetive a aumento da participação do setor público na economia e também
parceria público-privada nos setores de infraestrutura. devido aos problemas estruturais do setor externo vinculados ao
processo de substituição de importações.
O Plano Metas e Bases Para a Ação do Governo (1970-1973)18 O plano continha as seguintes metas para o controle inflacio-
nário:
O plano Metas e Bases para a Ação do Governo (MBAG), foi - redução do dispêndio público programado;
adotado pelo governo federal durante o período em que Médici es- - captação de recursos do setor privado no mercado de capitais;
tava na presidência, divulgado em outubro de 1970. O governo não - política fiscal com aumentos progressivos da carga tributária.
pretendia criar um novo plano imediatamente e, assim, o MBAG
complementou-se com outros dois documentos: o Orçamento O Plano Trienal possuía uma maior abrangência, programa e
Plurianual de Investimentos de 1971 a 1973 e o I Plano Nacional de metodologia e modificou as concepções a respeito da política e
Desenvolvimento Econômico e Social (1972 a 1974). Neste plano programação econômica no Brasil. Este plano é considerado um
ficaria estabelecida a sistemática segundo a qual cada governo exe- marco histórico uma vez que foi além da concepção plurissetorial,
cutaria o último ano do Plano Nacional de Desenvolvimento, com as determinando linhas de ação com projeções globais da economia e
correções que julgasse necessárias. tendo como objetivo amplas modificações estruturais como: a dis-
O MBAG estabeleceu como prioridades nacionais para o perío- tribuição de renda, melhoria de recursos humanos, correção das
do de 1970 a 1973 (auge do Milagre Econômico) as seguintes: in- disparidades regionais, organização do setor governamental e eli-
vestimentos em educação, saúde, saneamento, agricultura e abas- minação de entraves institucionais. Os tipos de investimento prio-
tecimento e o avanço no desenvolvimento científico e tecnológico. rizados no Plano Trienal incluíam a ampliação da base de recursos
O documento identificava como objetivo síntese o ingresso do naturais economicamente utilizáveis, o aperfeiçoamento do fator
Brasil no mundo desenvolvido até o final do século (Brasil, 1970). humano, investimentos sociais, estes da alçada do setor público, e
Este objetivo síntese incorporava os seguintes objetivos básicos: investimentos estruturais e infraestruturas como indicativos para o
- crescimento econômico com elevação da taxa de crescimento setor privado.
do produto real para no mínimo 7 a 9% a.a., evoluindo para 10% O Plano Trienal caracterizou-se ainda pelo seu caráter globa-
a.a.; lista e pelo fato de ter se ajustado ao quadro das motivações que
- expansão do emprego para a ordem de 3,3% a.a.; levam o Estado a participar diretamente do processo de formação
- controle da taxa de inflação; de capital em suplementação ao setor privado. Alinhou-se também
- expansão das receitas de exportação; às motivações decorrentes do processo de coordenação geral da
- progresso social e melhoria na distribuição de renda; economia, formulando diretrizes básicas para a orientação do cres-
- correção gradual de desequilíbrios regionais e setoriais; cimento econômico.
- estabilidade política e segurança nacional. Contudo, Singer (1977) considera que o Plano Trienal não era
um plano de desenvolvimento econômico e social do país, mas ape-
O Plano Trienal (1963-1964)19 nas uma plataforma de ação do governo federal.
Para Bresser Pereira (1998), o Plano Trienal não teve condições
Em 1961 o presidente Jânio Quadros criou a Comissão Nacio- políticas para ser aplicado, dada a crise que o país atravessava no
nal de Planejamento (COPLAN) que coexistiu por algum tempo com início dos anos 60 e que acabou culminando com o golpe militar
o Conselho de Desenvolvimento. Posteriormente, Celso Furtado, em 1964. O Plano Trienal conseguiu sobreviver apenas até meados
como Ministro Extraordinário para o Planejamento, preparou o Pla- de 1963, quando todo o ministério de João Goulart foi substituído.
no Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social para o período Segundo Sandroni (2000), com relação aos planos anteriores, o
de 1963 a 1965, já durante o regime parlamentarista do governo de Plano Trienal apresentou a vantagem de partir de uma visão global
João Goulart. O plano foi criado com os objetivos básicos de promo- da economia, mas a sua parte setorial não obedeceu a um esquema
ver um desenvolvimento econômico rápido e estabilizar o nível de uniforme de apresentação e muitos dos seus objetivos não foram
18 MATOS, Patrícia de Oliveira. Análise dos planos de desenvolvimento elabora- definidos quantitativamente, sendo apresentados sob a forma de
dos no Brasil após o II PND. Dissertação (mestrado) Escola Superior de Agricultu- diretrizes gerais.
ra Luiz de Queiroz, 2002. Adaptado Segundo Rossetti (1991), o Plano Trienal não descuidou da cor-
19 Idem reção de desajustamentos, ao estabelecer objetivos para o controle

261
REALIDADE BRASILEIRA

progressivo da pressão inflacionária, para a atenuação dos custos sociais do crescimento econômico e para a redução das desigualdades
regionais de níveis de vida.
Contudo, o Plano Trienal não logrou êxito, como o Plano de Metas, devido principalmente às pressões exercidas por grupos populis-
tas que impediam a implantação de medidas mais rigorosas de controle da inflação e às pressões exercidas por classes economicamente
dominantes que tentavam impedir as Reformas de Base.
Mesmo assim, o Plano Trienal contribuiu significativamente para o aprimoramento dos instrumentos de política econômica.

O Plano de Ação Econômica do Governo (1964-1967)

O Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG) teve a sua implantação a partir do início do regime militar em 1964. Ele surgiu como
uma reação das classes conservadoras contra as posições reformistas contidas no Plano Trienal, porém atingiu níveis de agregação tão
amplos quanto este. O plano procurava dar consistência às estratégias de reformas econômicas do primeiro governo militar, o governo do
general Castelo Branco.
O PAEG assumiu uma posição menos reformista, com traços predominantemente liberais e propostas de caráter ortodoxo, mas sem
abandonar a interferência governamental na economia, justificando a ação estatal contida no plano a partir das deficiências do sistema de
preços. As deficiências apontadas pelo plano foram as seguintes: o livre jogo das forças de mercado não garante necessariamente a forma-
ção de um volume desejável de poupança, o sistema de preços nem sempre incentiva investimentos em setores essenciais como por exem-
plo, educação, transportes; e o sistema de preços não leva necessariamente a uma distribuição de renda razoável entre pessoas e regiões.
Apesar disso, segundo o PAEG, o Estado não elimina o papel da livre empresa e do mecanismo de preços, ele age apenas como regu-
lamentador e tem um caráter meramente indicativo.
O PAEG foi elaborado pelos ministros Roberto Campos e Otávio Gouvêa de Bulhões com base na ortodoxia e no arrocho salarial, mas
conseguiu realizar reformas importantes que os outros governos não puderam implantar, tais como: a reforma bancária, com a criação do
Banco Central; a reforma do mercado de capitais; a criação do FGTS e do BNH e a instituição da correção monetária.
O fato mais relevante a ser comentado sobre o PAEG é o de que este marca um período de transição na vida política e econômica do
país. Contudo, o PAEG não teve a pretensão de apresentar-se como um plano global de desenvolvimento, mas apenas como um programa
de ação coordenada do governo no campo econômico. Estes traços liberais no entanto não correspondem às medidas implementadas no
período de 1964 a 1966. Nesta época, o número de empresas estatais aumentou muito (em 1966 35% das estatais existentes haviam sido
criadas sob a vigência do PAEG).
As principais medidas do PAEG referem-se às destinadas ao controle da inflação que vinha aumentando muito desde 1959, chegando a
atingir 90% em 1963. Estas medidas englobam a reforma tributária, com elevação da tributação para reduzir a renda disponível, a redução
das emissões monetárias, o estímulo às exportações e redução das importações e um severo controle dos salários e dos juros. O diagnós-
tico da economia brasileira como uma economia inflacionária também gerou a criação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional
(ORTN) que permitiu ao governo a captação de recursos por via não inflacionária.
A inflação durante o período de vigência do PAEG foi diagnosticada como tendo componentes de demanda e de custos e, segundo
Sandroni (1999), a inflação de custos foi localizada no processo de substituição de importações, incentivado por barreiras alfandegárias.
Para este autor, o protecionismo permitia um aumento espiral nos custos dos setores substitutivos.
O PAEG atingiu seus objetivos no que se refere à redução da inflação, melhoria do saldo das contas públicas e recuperação das expor-
tações agrícolas, não conseguiu porém, evitar a recessão e o aumento do desemprego.
Segundo Tavares (1972), durante o período de 1964 a 1967 foram modificadas em profundidade as regras do jogo institucional. Não
só do setor público, como no que se refere aos mecanismos de acumulação interna das empresas e aos esquemas de seu financiamento
externo. Assim, a economia brasileira pôde voltar a crescer em novas condições de financiamento, mantendo aparentemente, o mesmo
padrão estrutural de crescimento, apenas mais acentuadamente desequilibrado e concentrador. A natureza do problema central da acu-
mulação naquele período de transição consistia na necessidade de transferir excedentes dos setores atrasados ou pouco dinâmicos para
os de maior potencial de expansão.
O Plano previa uma taxa anual de investimento bruto de 17% do produto, que, associada a taxas anuais de depreciação de 5%, cresci-
mento populacional de 3,5% e a uma relação incremental capital-produto de 2:1, permitiria uma elevação da renda per capita de 2,5 % a.a.
Neste período também foi realizada a Reforma Administrativa, na qual foram introduzidas modificações de largo alcance na estrutura
do planejamento do país. Um dos objetivos da Reforma foi a institucionalização do planejamento governamental, firmando a norma de
que a ação do governo obedeceria a programas gerais e setoriais de duração plurianual, elaborados através dos órgãos de planejamento,
sob a orientação e coordenação geral do presidente da república. A Reforma estabeleceu que o planejamento constituiria um dos princí-
pios fundamentais da administração federal, compreendendo a elaboração e atualização dos seguintes instrumentos básicos:
- plano geral do governo;
- programas setoriais e regionais de duração plurianual;
- orçamento programa anual;
- programação financeira de desembolso.
A Constituição de 24/01/67 estabeleceu a competência do Congresso Nacional para dispor sobre os “planos e programas nacionais,
regionais e orçamento plurianuais” estipulando também que “as despesas de capital obedecerão ainda a orçamentos plurianuais de in-
vestimento, na forma prevista em lei complementar” e que “o orçamento consignará dotações plurianuais para a execução dos planos de
valorização das regiões menos desenvolvidas do país.”
Alguns dos resultados macroeconômicos durante o período de vigência do PAEG podem ser analisados na tabela:

262
REALIDADE BRASILEIRA

Tabela. Brasil - variáveis macroeconômicas nos anos 60.

Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) (2002)


PIB*- Taxa de crescimento;
Taxa de Investimento* - Formação Bruta de Capital Fixo/PIB;
Inflação* - variação do IGP- DI;
Déficit Público* - Gov. Federal e Banco Central (títulos). Em R$ Milhões (deflator:
IGP-DI).

O primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (1972-1974)

Em 15 de setembro de 1971 foi encaminhada ao Congresso, juntamente com o segundo Orçamento Plurianual de Investimentos, a
proposta do I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND). O I PND definiu os seguintes objetivos nacionais:

- colocar o Brasil, no espaço de uma geração, na categoria de nação desenvolvida;


- duplicar, até 1980, a renda per capita do país (em comparação com 1969)
- expandir o PIB de Cr$ 222,8 bilhões em 1972 para Cr$ 314,5 bilhões em 1974 (a preços de 1972);
- investimentos nas áreas de siderurgia, petroquímica, transporte, construção naval, energia elétrica e mineração;
- prioridades sociais: agricultura, programas de saúde, educação, saneamento básico e incremento à pesquisa técnico- científica;
- ampliação do mercado consumidor e da poupança interna com os recursos do PIS e do PASEP;
- aumento da taxa de investimento bruto de 17% em 1970 para 19% em 1974;

Para isto, pressupunha a manutenção de taxas anuais de crescimento do PIB de 8 a 10%; taxa de expansão do nível de emprego de
3,2%, redução da taxa de inflação até o nível de 10%; disseminação dos resultados do progresso econômico em termos sociais e regionais;
estabilidade política e segurança interna e externa (Brasil, 1971).
O I PND foi elaborado durante a gestão do ministro do planejamento Reis Velloso, ainda no governo Médici, e coincidiu com a expan-
são cíclica do período do Milagre Econômico. Segundo Furtado (1981), o extraordinário crescimento da produção manufatureira brasileira,
no período em que se convencionou chamar de “milagre”, ocorreu sem que operassem modificações significativas na estrutura do sistema,
ou sem que este alcançasse níveis altos de capacidade de autotransformação.
O I PND foi baseado no binômio político ideológico de segurança e desenvolvimento e representou uma ampla formulação do “mo-
delo brasileiro de organizar o Estado e moldar as instituições”. Os projetos de desenvolvimento do I PND seriam completados com o PIN
(Programa de Integração Nacional), cujos objetivos eram a construção da Rodovia Transamazônica e colonização das regiões por ela cor-
tadas; ampliar para 40 mil hectares a área irrigada do Nordeste e distribuir 70 mil títulos de propriedades rurais a posseiros e agricultores
sem-terra.
Segundo Sandroni (2000), ao final do triênio 72/74, confirmou-se o elevado grau de execução do I PND, sobretudo na área econômica.
Contudo, alguns projetos sociais tiveram um grau de execução bem abaixo do previsto. Dos 40 mil hectares estipulados para a irrigação no
Nordeste foram irrigados apenas 5674 hectares. No saneamento básico, a rede de esgoto assegurou o atendimento a 500 mil pessoas em
lugar dos 5 milhões constantes do I PND. No campo industrial o maior crescimento ocorreu no setor de bens de consumo duráveis o que
acabou gerando um aumento nas importações de meios de produção. A inflação prevista para 10% a.a. Atingiu os 35%.
Para a avaliação dos resultados dos planos de desenvolvimento, foi implementado, em 1972, o Programa de Acompanhamento dos
Planos Nacionais de Desenvolvimento que constituía a atividade permanente dos órgãos que integravam o sistema de planejamento e
tinha por objetivo a avaliação da execução, revisão, complementação e aperfeiçoamento dos Planos Nacionais de Desenvolvimento e os
respectivos instrumentos de controle e implementação.

263
REALIDADE BRASILEIRA

Este trabalho era realizado por meio de: de produto. Assim, o II PND foi lançado apesar de o governo reco-
- análise do desempenho total da economia e do comporta- nhecer as dificuldades para manter taxas de crescimento da ordem
mento de seus setores prioritários; de 10%, face à crise externa. Mesmo assim, optava pelo crescimen-
- avaliação do progresso alcançado na execução dos programas to acelerado como “política básica”.
e projetos; O plano realizou alterações nas prioridades de industrialização
- identificação dos pontos de estrangulamento e obstáculos brasileira: do setor de bens de consumo duráveis para o setor pro-
institucionais que dificultam a consecução das metas e a execução dutor de meios de produção, principalmente a indústria siderúrgica,
de programas e projetos. máquinas, equipamentos e fertilizantes, sendo as empresas estatais
o agente central destas transformações. O plano enfatizou a aber-
Segundo Holanda (1983), pretendia-se fazer com que esse pro- tura na política externa, o mercado interno e a empresa privada
grama viesse a contribuir para a efetiva institucionalização de um nacional, o combate à inflação, a exploração do potencial hidrelétri-
sistema integrado de planejamento. Com base no programa, o rela- co e a continuação do processo de substituição de importações. A
tório de acompanhamento do I PND relativo ao exercício de 1972, principal meta do II PND era a manutenção da taxa de crescimento
mostrou que das 34 metas setoriais mais importantes, 19 haviam se econômico em torno de 10% ao ano, com crescimento industrial
enquadrado na faixa de execução de 90 a 99% e apenas 6 apresen- em torno de 12%.
tavam um índice de execução de menos de 80%. Segundo Sandroni (2000), o II PND propunha transformar o
O I PND, concedeu maior ênfase à indústria de bens de consu- Brasil em uma “potência emergente” deslocando-o do Terceiro
mo duráveis, liderada pela indústria automobilística. Mas, apesar Mundo para o espaço dos países altamente industrializados. Para
de haver um intenso crescimento econômico neste período, o plano isto propunha substituir importações, elevar as exportações e am-
acabou intensificando as distorções distributivas do país. pliar o mercado interno consumidor. O investimento total seria de
Tavares (1972) considera que o desenvolvimento do período 1 trilhão e 750 bilhões de cruzeiros, para assim atingir um PIB da
se fez com graves pressões inflacionárias e com o aumento do de- ordem de US$120 bilhões e uma renda per capita de US$ 1000,00.
sequilíbrio externo e das desigualdades regionais, embora não seja O nível de crescimento industrial deveria situar-se em torno de 12%
menos significativo, o fato de que o Brasil foi um dos poucos países a.a., as exportações deveriam crescer a 20% a.a. e a agricultura a
da América Latina que conseguiu manter um ritmo de crescimento 7%. Quanto à ampliação do mercado consumidor, as diretrizes do II
elevado na época e em que o processo de substituição de importa- PND, não eram claras. Isto decorria da política salarial que reduzia
ções avançou até níveis de integração industrial maiores. o poder de compra dos assalariados. Assim, o crescimento do mer-
Tem-se assim, um grande avanço no processo de substituição cado interno estaria mais relacionado ao aumento populacional e à
de importações neste período. No entanto, em fins de 1973, a ma- expansão do emprego.
nutenção do ciclo expansionista dependeria cada vez mais de uma Para Furtado (1981), os objetivos estratégicos do II PND podem
situação externa favorável. O Choque do Petróleo no final deste ser sintetizados em 2 pontos: ampliar a base do sistema industrial
ano, veio tornar esta situação mais adversa e elevar a taxa de in- e aumentar o grau de inserção da economia no sistema de divisão
flação interna. Diante da condição externa desfavorável e da dimi- internacional do trabalho. Estes objetivos refletiam a percepção da
nuição da capacidade de financiamento do setor público, o modelo necessidade de reestruturação do sistema produtivo, que requeria
de crescimento do Milagre se esgotou e o governo se viu obrigado a elevação da taxa de investimento e, com intensidade ainda maior,
a optar entre uma política de ajustamento ou de financiamento. da taxa de poupança. No entanto, os resultados da execução do pla-
A política de ajustamento causaria a contenção da demanda no ficaram bem aquém do esperado. De 1975 a 1979 a produção
interna e evitaria que o choque do setor externo se transformasse manufatureira cresceu a 6,8% ao ano, a produção de bens de capital
em inflação permanente. A política de financiamento manteria o a 7% e a de bens de consumo duráveis a 7,4% ao ano.
crescimento em níveis elevados, fazendo ajustes graduais de preços O Conselho de Desenvolvimento Econômico (CDE) foi o prin-
relativos, enquanto houvesse financiamento externo abundante. cipal órgão de implementação do plano, visando dar garantias de
Inicialmente o governo da época escolheu o ajustamento, mas não demanda e incentivos ao setor privado. Já a sustentação política
conseguiu atingir os efeitos desejados. O governo então optou pela do plano assentou-se no capital financeiro nacional, nas emprei-
continuidade do processo de desenvolvimento lançando, em fins teiras e nas oligarquias arcaicas. Desta forma, o governo buscava
de 1974, o II PND. dar suporte ao plano, restando para isso equacionar a questão do
financiamento.
O segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (1975-1979) Assim, as empresas estatais foram forçadas ao endividamento
externo para cobrir o hiato de divisas. Além disso, houve uma esta-
O segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), do tização da dívida externa e ampliação da mesma devido, entre ou-
período de 1975 a 1979, constituiu a mais ampla e articulada expe- tros aspectos, à facilidade de obtenção de recursos no exterior. Esta
riência de planejamento no Brasil após o Plano de Metas. Foi elabo- facilidade decorria da ampla liquidez no mercado internacional.
rado durante o governo Geisel, pelo ministro do planejamento Reis Para realizar o II PND, o Estado foi assumindo um passivo para
Velloso, permanecendo em vigor até o primeiro ano do governo manter o crescimento econômico e o funcionamento da econo-
Figueiredo. mia (Vasconcellos et al., 1999). O endividamento do governo nesta
O II PND mudou a ênfase do desenvolvimento para a indústria época teve como consequência a deterioração da capacidade de
de bens de capital, mas foi considerado um fracasso pois coinci- financiamento do setor público na década de 80, uma vez que so-
diu com a fase de retração cíclica da economia. O plano buscava a cializaram-se todos os custos do II PND (aumento nos gastos sem
preservação do modelo de desenvolvimento, admitindo que a con- criar mecanismos adequados de financiamento). O endividamento
tinuidade do crescimento exigiria uma “reconstrução estrutural” direto externo foi estimulado paralelamente ao aumento da dívida
com um esforço bem maior de acumulação por unidade adicional interna, impossibilitando progressivamente os grandes projetos go-

264
REALIDADE BRASILEIRA

vernamentais. Este fato exigiu constantes revisões nas metas do II PND.


Segundo Sandroni (2000), durante a vigência do plano ocorreu uma variável não prevista: a necessidade de desaquecimento da eco-
nomia. Este autor fez o seguinte balanço do plano: significativos avanços na geração de bens de capital, de energia, prospecção de petróleo
e produção de álcool, mas o alcance dos objetivos estaria muito aquém do que foi traçado para o aumento do PIB, da renda per capita, das
exportações e da ampliação do mercado consumidor.
A crise mundial está entre as causas da desaceleração do II PND, além dos limites estruturais do próprio plano. Segundo Lessa (1981),
o II PND era impossível de ser implementado, em função do seu gigantismo e da crise econômica mundial, uma vez que se tratava de um
verdadeiro projeto de Nação-Potência, não apoiado pelas bases de sustentação do regime militar. Já Castro (1985), considerava que os
grandes projetos do II PND, pela sua complexidade e longo prazo de maturação teriam começado a produzir resultados visíveis somente
a partir de 1983 e 1984, e as dificuldades acima mencionadas teriam apenas levado à diminuição do ritmo de investimentos a partir de
1976, mas não à sua paralisação total.
Para Bresser Pereira (1998), o plano não reconheceu que o Brasil (e o mundo) entravam naquele momento em uma fase de declínio ou
desaceleração cíclica que tornavam inviáveis a maioria de suas metas. No entanto, este foi importante para estimular de forma definitiva
a implantação da indústria de bens de capital no Brasil.

Tabela. Resultados macroeconômicos durante o II PND.

Fonte: IPEA (2002)


PIB* - Taxa de Crescimento;
Indústria* - Taxa de Crescimento;
Formação Bruta de Capital Fixo/ Produto Interno Bruto* - (Taxa de Investimento);
Inflação* - Variação do IGP-DI;
Dívida Externa* - US$ (Bilhões).
O terceiro Plano Nacional de Desenvolvimento (1980 - 1985) e a nova realidade econômica

O terceiro Plano Nacional de Desenvolvimento foi elaborado em 1979, em plena crise econômica, durante o governo do presidente
Figueiredo, pelo ministro Delfim Neto que, paradoxalmente, era considerado um descrente do planejamento econômico.
O plano foi projetado para o período de 1980 a 1985, embora tenha sido interrompido já no segundo semestre de 1980. Neste perío-
do, já não existia o clima de “euforia desenvolvimentista” que marcou os PND’s anteriores. Segundo Giacomoni (1996), o país começava a
sofrer as consequências da crise econômica internacional e o governo federal, alegando que a instabilidade impedia qualquer programa-
ção de mais longo prazo, passou a governar com medidas de curto e curtíssimo prazo.
O III PND reconheceu como setores prioritários da economia brasileira a agricultura e o desenvolvimento de novas fontes de energia.
Quanto aos seus objetivos, o III PND pouco se diferenciava dos planos anteriores mantendo como objetivo síntese a construção de uma
sociedade desenvolvida, livre, equilibrada e estável, em benefício de todos os brasileiros, no menor prazo possível. Segundo o documento
oficial do III PND, foram considerados os seguintes objetivos prioritários:
- acelerado crescimento da renda e do emprego;
- melhoria da distribuição da renda, com redução dos níveis de pobreza absoluta e elevação dos padrões de bem-estar das classes de
menor poder aquisitivo;
- redução das disparidades regionais;
- contenção da inflação;
- equilíbrio do Balanço de Pagamentos e controle do endividamento externo;
- desenvolvimento do setor energético;
- aperfeiçoamento das instituições políticas.

No entanto, estes objetivos não foram alcançados, até porque não houve qualquer implementação do plano.
Na realidade, o III PND não pode ser considerado como um plano de desenvolvimento, mas como uma simples declaração de inten-
ções pelo governo. Segundo Lopes (1990), o plano foi preparado apenas para o cumprimento de uma determinação legal, sob a égide
de um ministério cujo comandante não via qualquer utilidade prática no processo de planejamento e, sendo assim, o III PND viu-se logo

265
REALIDADE BRASILEIRA

relegado ao esquecimento. Quanto à parte econômica o I PND-NR evitou quantificações


Para Bresser Pereira (1998), o III PND refletiu não apenas a crise que pudessem representar compromissos mensuráveis. Enfatizou,
econômica como também a própria crise do governo, incapaz de principalmente, a mudança no padrão de negociação da dívida ex-
formular um plano de ação coerente. terna e a necessidade de reduzir as transferências de recursos ao
Holanda (1983), considera que o III PND foi influenciado pelo exterior. Quanto ao setor público, priorizou a reestruturação do
impacto do choque do petróleo e dos juros internacionais que tor- aparelho estatal por meio de medidas que iam desde a privatização
naram precárias quaisquer projeções econômicas. Para este autor, seletiva de empresas estatais à reforma administrativa.
o plano se caracterizava como um documento basicamente quali- Segundo Lopes (1990), o I PND-NR representou um inútil exer-
tativo, definindo diretrizes, critérios e instrumentos de ação. E, em cício, da mesma forma que seu antecessor, e não foi sequer consi-
função das incertezas e das restrições decorrentes da crise energé- derado como instrumento de suporte ou indicador de tendências
tica, da dívida externa e das pressões inflacionárias não apresentou seja pelo governo, seja pelo setor privado.
metas quantitativas. No entanto, a argumentação dos mentores do plano era a de
Assim, o III PND marca o fim do processo de planejamento que este se diferia dos anteriores, assim como as condições da eco-
como efetivo instrumento de controle da política econômica do nomia brasileira nos anos 80 se diferiam das condições da década
país. Foram apontados os seguintes motivos para o fim do processo: anterior. Esta diferença apresentava-se na própria concepção do
- a saída do ministro Reis Velloso da SEPLAN (Secretaria de Pla- plano:
nejamento) e a ascensão de Delfim Neto, representando uma mu- “Em virtude da circunstância em que vivemos no campo econô-
dança de mentalidade, uma vez que Velloso sempre foi um grande mico-social e devido à nova orientação do governo sobre as funções
defensor do planejamento, enquanto Delfim Neto não depositava o do setor público, associada ao decisivo estímulo para que o setor
mesmo crédito no processo; privado assuma o papel de liderança no processo de crescimento,
- a distância entre os números previstos no II PND e os realiza- este não é um plano de investimentos públicos, nem uma proposta
dos, gerando uma reação contra o planejamento; acabada e compulsória de direcionamento dos investimentos em-
- as dificuldades enfrentadas pelo segundo choque do petróleo presariais” (Brasil, 1985b).
e pela alta das taxas de juros internacionais limitando as funções Segundo Giacomoni (1996), em função das dificuldades de
do III PND. reorientar a questão financeira no âmbito do setor público e dos
Segundo Lopes (1990), o III PND foi preparado, aprovado e pu- problemas de administração da dívida externa e interna, o país, ao
blicado apenas devido à imposição legal e, à época em que o plano longo desse período, conviveu com inúmeras crises que se refleti-
deveria estar sendo implementado, a convicção geral era de se tra- ram na substituição de ministros da área econômica e na adoção
tar de um documento de reduzida utilidade em face dos desafios de medidas de curtíssimo prazo. Estes fatos dificultaram o planeja-
enfrentados pela economia brasileira. mento de médio e longo prazo no país e, portanto, a implementa-
ção do I PND-NR.
O primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova Re-
pública (1986 - 1989) A dívida pública interna após 1986 e as mudanças institucio-
nais20
A Nova República encontrou, em 1985, apesar da grave situa-
ção de endividamento, uma posição de relativo ajuste após as crises As dificuldades fiscais existentes em meados da década de
de 1981 a 1983, graças aos pesados investimentos em energia e à 1980 acarretaram a necessidade de mudanças na estrutura institu-
recuperação dos superávits na balança comercial. A recuperação do cional da área fiscal. O ano de 1986 representou um marco funda-
crescimento, no entanto, associou-se à explosão das taxas de infla- mental no aspecto institucional da administração da dívida pública
ção ocasionando o Plano Cruzado em 1986. brasileira, com a adoção de medidas profundas visando a um maior
O Plano Cruzado gerou uma economia com preços congelados controle fiscal, como a extinção da Conta Movimento – utilizada
por tempo excessivo, provocando desabastecimento geral e dese- para o suprimento dos desequilíbrios de fundos do Banco do Brasil
quilíbrio dos fatores de produção, que levaram ao abandono do pla- pelo Banco Central. Decidiu-se ainda pela criação da Secretaria do
no e a um novo surto inflacionário em 1987. Segundo Lopes (1990), Tesouro Nacional, por meio do Decreto nº 92.452, de 10/08/1986,
este conturbado cenário deflagrou a decadência do processo de visando a centralizar o controle dos gastos públicos e, especialmen-
planejamento que o Brasil vinha desenvolvendo há décadas. Neste te, a viabilizar seu controle mais efetivo. A maior preocupação com
sentido, o lançamento do I Plano Nacional de Desenvolvimento da a necessidade de controle e monitoramento da dívida interna, a
Nova República (I PND-NR) acentuou a crise do planejamento para qual vinha apresentando elevado crescimento nos anos anteriores
o desenvolvimento no Brasil, presente desde o III PND. em virtude da precária situação fiscal, aliada à percepção de que se
Este primeiro plano de desenvolvimento do governo de José fazia necessária uma distinção institucional entre as políticas mone-
Sarney foi publicado pela SEPLAN, com metas para o período de tária e de dívida acarretaram a transferência da administração da
1986 a 1989 e elaborado sob a coordenação do ministro João Sayad. dívida pública do Banco Central para o Ministério da Fazenda.
O I PND-NR se concentrou nos seguintes aspectos: O Decreto nº 94.443, de 12/06/1987 determinou a transferên-
cia das atividades relativas à colocação e ao resgate da dívida públi-
- crescimento econômico; ca para o Ministério da Fazenda, onde essa função ficou a cargo da
- combate à pobreza, às desigualdades e ao desemprego; Secretaria do Tesouro Nacional. Entre as funções dessa secretaria,
- educação, alimentação, saúde, saneamento, habitação, previ- regulamentadas pela Portaria MF nº 430, de 22/12/1987, estava
dência e assistência social; explicitamente:
- justiça e segurança pública. 20 PEDRAS, Guilherme Binato Villela. História da dívida pública no Brasil: de
1964 até os dias atuais

266
REALIDADE BRASILEIRA

[...] efetuar o controle físico/financeiro da dívida emitida [...] parcela considerável da DPFi, funcionando como um importante
determinar os títulos e os volumes das Ofertas Públicas, inclusive instrumento do governo na manutenção de sua capacidade de fi-
elaborando e publicando os editais, em estreito relacionamento nanciamento.
com o Banco Central do Brasil [...] e [...] administrar o limite de co- Com o insucesso do Plano Cruzado, o ano de 1987 marca o iní-
locação dos títulos [...] cio de dificuldades ainda maiores na condução da política econô-
mica, com o déficit público saindo do controle, além de problemas
Nesse contexto, e visando a separar ainda mais as atribuições na área externa. De fato, a moratória da dívida externa ocorrida em
de autoridade monetária e fiscal, foi elaborado o Decreto-Lei nº fevereiro daquele ano gerou maior necessidade de financiamento
2.376, de 25/11/1987, que estabelecia medidas de controle sobre via dívida interna.
a dívida pública, a qual só poderia ser elevada para cobrir déficit Com a promulgação da Constituição em 1988, o Banco Cen-
no Orçamento Geral da União (OGU), mediante autorização legisla- tral, que naquele momento estava proibido de emitir títulos, ficou
tiva, e para atender à parcela do serviço da dívida não incluída no também impedido de financiar o governo. Pela nova sistemática, o
referido OGU. A despeito da separação de funções e da criação da Banco Central só poderia adquirir títulos diretamente do Tesouro
Secretaria do Tesouro Nacional, este mesmo Decreto-Lei nº 2.376 Nacional em montante equivalente ao principal vencendo em sua
estabeleceu que: “[...] se o Tesouro Nacional não fizer colocação de carteira. Tinha-se chegado assim à clássica forma de relacionamen-
títulos junto ao público, em valor equivalente ao montante dos que to entre autoridade monetária e autoridade fiscal. Posteriormente,
forem resgatados, o Banco Central do Brasil poderá subscrever a em 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal tornou ainda mais rígida
parcela não colocada”. Em outras palavras, embora fosse um avan- a legislação, ao estabelecer que as colocações para a carteira do
ço institucional em relação à prática anterior, qualquer que fosse a Banco Central só poderiam ser efetuadas à taxa média do leilão rea-
necessidade de rolagem, esta seria passível de financiamento via lizado, no dia, em mercado, regra esta que permanece até os dias
Banco Central, bastando para isso que o mercado se recusasse a atuais.
dar o financiamento. A despeito dos sucessivos choques heterodoxos introduzidos
O insucesso das políticas levadas a cabo pelo governo até en- na economia desde 1986, as taxas de inflação permaneciam em ní-
tão para o combate à inflação conduziu o governo a tentativas mais veis bastante elevados, assim como a incerteza em relação ao futu-
“heterodoxas”, que acabaram por influenciar as estratégias de ad- ro próximo. Dessa maneira, em 1988 e 1989 praticamente não hou-
ministração da dívida nos anos seguintes. Logo no início de 1986, o ve colocação de LTNs nem mesmo para a carteira do Banco Central,
país viveu a primeira experiência heterodoxa de combate à inflação. ilustrando o difícil momento pelo qual passava o país. Por sua vez,
No início daquele ano, a elevação das taxas de inflação e do endi- o financiamento público começou a ser efetuado com emissão de
vidamento público eram motivo de preocupação para o governo, LFTs, sendo tal título durante esses dois anos praticamente a única
levando-o a adotar, em 28 de fevereiro, o Plano Cruzado, o qual forma de arrecadação de recursos, via emissão de títulos, para o go-
congelou preços, decretou o fim da correção monetária e reduziu verno. Nesse período, é interessante notar que esse instrumento de
as taxas reais de juros. Essas medidas, aliadas à necessidade de re- origem heterodoxa passava a ser fundamental para a solvência do
duzir os déficits fiscais, levaram o Banco Central, e não o mercado, país. Sua inexistência implicaria a necessidade de emissão de LTNs
a absorver as novas emissões da dívida, conforme permitido pela em prazos cada vez menores, o que levaria a aumento considerável
legislação em vigor, antes descrita. no risco de refinanciamento da dívida.
Tendo em vista a dificuldade na colocação de LTNs e a impos- A criação das LBCs, primeiramente, e a seguir das LFTs mostra
sibilidade de colocação de ORTNs (agora denominadas OTNs) em que a busca por soluções não tradicionais para os problemas eco-
mercado, dada a desindexação da economia por conta da extinção nômicos foi usada também na administração da dívida pública. A
da correção monetária, o Banco Central optou por criar um título despeito disso, o prazo da dívida não foi alterado com a emissão
de sua responsabilidade. Assim, em maio de 1986, a falta de opções desse instrumento de repactuação diária, de forma que, ao final da
de instrumento levou o Conselho Monetário Nacional a autorizar década, o prazo médio da dívida continuou reduzido, enquanto o
a autoridade monetária a emitir títulos próprios para fins de polí- percentual desta sobre o PIB representava o maior valor registrado
tica monetária. Foi então criada a Letra do Banco Central (LBC), a até aquela data, indicando o crescente grau de vulnerabilidade do
qual tinha como característica ímpar o fato de ser remunerada pela país ante as necessidades de refinanciamento.
taxa Selic, com indexação diária. A ideia era limitar as emissões de Ao se iniciar o novo governo, em 1990, a situação do endivi-
LBCs ao volume de títulos de responsabilidade do Tesouro Nacional damento público era crítica, com o estoque de títulos em mercado
existente na carteira do Banco Central. Naturalmente, dadas as ca- representando 15% do PIB, recorde histórico, sendo a dívida com-
racterísticas do novo título e a conjuntura econômica da época, sua posta praticamente por LFTs e com prazo médio de apenas cinco
aceitação pelo mercado foi enorme. meses. Além disso, a inflação encontrava-se em níveis superiores
Considerando o sucesso na colocação das LBCs, aliado à referi- a 1.000% ao ano, e o déficit primário havia atingido 1% do PIB no
da falta de opção de instrumentos de financiamento, e consideran- ano anterior.
do a nova diretriz de separação das atividades fiscais e monetárias, Tendo em vista esse pano de fundo, o governo do presidente
o governo aproveitou a edição do já citado Decreto-Lei nº 2.376/87 Collor iniciou-se com o objetivo explícito de dar fim ao processo
e criou as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs). Tais títulos possuíam inflacionário e ao descontrole fiscal vivido pelo país nos últimos
características idênticas às da LBC, sendo de responsabilidade do anos. O desgaste da política econômica mencionado anteriormen-
Tesouro Nacional e destinados especificamente para financiamento te e a crítica situação da dívida pública daí decorrente conduziram
dos déficits orçamentários. às drásticas medidas representadas pelo Plano Collor em 1990, o
É importante avaliar sob uma perspectiva histórica o impacto qual, entre outras, determinou o congelamento de 80% dos ativos
da iniciativa de emitir títulos atrelados à taxa de juros diária. Como financeiros do país, representando, para a dívida pública, impacto
será mencionado adiante, esses títulos passariam a representar sem precedentes.

267
REALIDADE BRASILEIRA

Com esse artifício, o governo promoveu a troca compulsória ma, a estrutura da dívida pública interna.
da dívida em poder do mercado por outra, retida por 18 meses no Entretanto, a despeito do relativo sucesso na estabilização da
Banco Central, rendendo BTN + 6% a.a. Ou seja, o estoque, antes inflação, a partir daquele ano a dívida começou a apresentar traje-
remunerado pela taxa Selic, passou a ser remunerado a uma taxa tória forte de elevação, o que pode ser explicado pela conjugação
muito inferior, gerando ganhos consideráveis para o governo. Além de alguns fatores, dentre eles: (I) a rígida política monetária da épo-
disso, a medida causou uma profunda redução na liquidez da eco- ca, a qual acarretou uma taxa real de juros média no período extre-
nomia, de forma que o Banco Central se viu forçado a recomprar mamente elevada; (II) o reduzido superávit primário, que se apre-
as LFTs ainda em mercado. Esses dois fatos, aliados ao superávit sentava até negativo para alguns entes de governo; e (III) a política
primário obtido no primeiro ano do novo governo (mais de 4% do de propiciar maior transparência às contas públicas, reconhecendo
PIB), acabaram por conduzir a uma queda histórica no estoque da vários passivos que antes se encontravam disfarçados, como, por
dívida em poder do público, de 82,5% em 1990. exemplo, o programa de saneamento das finanças estaduais e mu-
Em 1991, com a inflação ascendente e dificuldade para emis- nicipais e a capitalização de alguns bancos federais. De fato, nessa
são de LTNs, dada a credibilidade perdida pelo governo por conta segunda metade da década de1990, a DPMFi em mercado cresceu
do congelamento de ativos representado pelo Plano Collor, o Banco em média, em termos reais, à taxa de 24,8% a.a.
Central optou por criar um instrumento com características idênti- Na segunda metade da década de 1990, o reduzido prazo mé-
cas para fins de política monetária, o Bônus do Banco Central (BBC), dio da dívida, aliado à política de maior transparência fiscal (con-
instituído pela Resolução nº 1.780, de 21/12/1990. Nos primeiros tabilização dos “esqueletos” no estoque da dívida), fazia com que
meses de 1991, apenas esse título era ofertado ao público. o alongamento passasse a ser parte fundamental na estratégia de
A partir de setembro de 1991, os valores referentes aos ativos endividamento. Por essa razão, em que pese o sucesso na estabili-
congelados começaram a ser devolvidos, e, a partir de outubro, os zação econômica, as mudanças na estratégia de endividamento ao
recursos para pagá-los eram obtidos com novas emissões de títulos. longo dos anos seguintes foram reflexo preponderantemente das
Ao final do ano de 1991 foi criado um novo instrumento, regula- turbulências por que passou a economia internacional no período.
mentado pelo Decreto nº 317, de 30/10/1991 e denominado Notas Nos primeiros anos após o Plano Real, o governo logrou melho-
do Tesouro Nacional (NTNs), com diversas séries, a depender do rar substancialmente a composição da dívida. Com a estabilidade
indexador utilizado. Dentre os mais comuns destacam-se o dólar econômica, ele elevou os volumes emitidos de LTNs, assim como
(NTN-D), o IGP-M (NTN-C) e a TR (NTN-H). Buscava-se diversificar paulatinamente buscou aumentar seus prazos ofertados em leilão,
os instrumentos para tentar ampliar a base de investidores, tentan- que passaram de um mês para dois e três meses de prazo. Em 1996,
do garantir os recursos para pagamento das BTN-Es vincendas. A apenas LTNs de seis meses de prazo passaram a ser ofertadas em
criação dessa diversidade de instrumentos reflete não apenas as mercado. Os prazos desses títulos continuaram a ser elevados até
turbulências passadas pela economia doméstica ao longo dos anos que, ao final de 1997, o Tesouro Nacional conseguiu colocar em
1980 e início dos anos 1990, mas também a heterodoxia então do- mercado títulos prefixados com dois anos de prazo. Após a eclo-
minante no plano macroeconômico. são da crise da Ásia, a opção imediata foi pela redução nos prazos,
Buscando dar mais um passo na direção da separação entre as quando voltaram a ser ofertadas LTNs de três meses. Até esse mo-
atividades fiscais e monetárias iniciada na década anterior, em 1993 mento, o governo tinha resistido a recorrer às LFTs. Apenas após
foram propostas algumas medidas, conhecidas como “Operação a crise da Rússia o Tesouro Nacional decidiu voltar a emitir esse
Caixa-Preta”. Tais medidas buscavam propiciar maior transparên- instrumento, interrompendo, momentaneamente, a emissão de tí-
cia no relacionamento entre o Tesouro Nacional e o Banco Central, tulos prefixados.
efetuando, entre outras mudanças, a reestruturação da carteira de Ao longo desse período, a participação das LTNs, que se encon-
títulos de responsabilidade do Tesouro Nacional no Banco Central, trava em menos de 1% ao final de 1994, passou para 27% em 1996,
dotando a autoridade monetária de instrumentos mais adequados enquanto o estoque das LFTs chegou a desaparecer nesse mesmo
à condução da política monetária. Outra medida foi o resgate ante- ano. Entretanto, já a partir de 1997, com a eclosão da crise asiática
cipado de títulos do Tesouro Nacional na carteira do Banco Central, e a despeito do sucesso na manutenção da estabilidade econômica,
com recursos obtidos via emissão de títulos do Tesouro em merca- os avanços obtidos foram sendo revertidos, de forma que, ao final
do, sendo um dos fatores responsáveis pela queda de 24% no esto- de 1998, o estoque de prefixados chegaria a apenas 2% do estoque
que da carteira de títulos em poder do Banco Central naquele ano. total, enquanto as LFTs voltavam a representar quase metade desse
Ao longo desses anos da década de 1990, o governo continuava estoque total.
tentando debelar a inflação, que, naquele momento, já superava Um dos motivos que explicam a não recuperação dos papéis
a casa dos 1.000% ao ano. Enquanto isso, as taxas de crescimento prefixados na participação da dívida é, como esta cresceu muito, o
da economia continuavam muito baixas, com o país apresentando aumento da percepção de risco de refinanciamento, de forma que
crescimento médio real negativo de 1,3% de 1990 a 1993. Buscan- o prazo médio desta teve de ser aumentado para não prejudicar a
do dar um fim a essa situação, em 1994 era lançado mais um pla- percepção do mercado quanto à sustentabilidade da dívida pública.
no heterodoxo, conhecido como Plano Real. Este partia do mesmo Dessa forma, evitou-se colocar títulos prefixados com prazos infe-
princípio dos planos anteriores, isto é, que existia um componente riores a seis meses, privilegiando instrumentos pós-fixados (em es-
inercial na inflação brasileira, mas dessa vez buscava-se conciliar a pecial as LFTs) mais longos. Tal processo foi ajudado com a mudança
esse aspecto alguns componentes da cartilha ortodoxa, como a ma- no regime cambial em 1999, que, ao reduzir a volatilidade das taxas
nutenção de elevadas taxas reais de juros. Dessa vez a receita foi de juros, fez com que o risco de mercado da dívida pública, sob a
bem-sucedida e o país pôde, após muitos anos, viver momentos de ótica do governo, fosse também reduzido. De fato, a partir de 1999,
inflação em níveis razoáveis e cadentes. A partir de 1995, a previsi- o prazo das LFTs ofertadas em leilão foi aumentado para dois anos,
bilidade começava a voltar a fazer parte do cotidiano dos agentes enquanto as LTNs voltaram a ser emitidas com prazos de três e seis
econômicos. Certamente, esse aspecto iria impactar, de alguma for- meses.

268
REALIDADE BRASILEIRA

O ponto a destacar quanto a esse período é que, apesar do concedidos a seus produtores agrícolas pelos países desenvolvidos,
grande avanço representado pela estabilização da economia, seus da ordem de US$ 150 bilhões de dólares por ano, e da revolução no
efeitos sobre a dívida pública em termos de composição dos instru- setor de materiais que vem reduzindo substancialmente o uso de
mentos não se fizeram sentir tão fortemente como seria esperado. matérias-primas naturais por unidade de produto obtido.
As expressivas emissões diretas representadas pelo reconhecimen- Ao final da década de 1980, dada a precária situação fiscal do
to dos passivos contingentes (fundamental para um saneamento país, o governo federal possuía dívidas contratuais vencidas com
definitivo das contas públicas), aliadas às altas taxas de juros neces- diversos credores. O processo de saneamento das contas públicas
sárias à consolidação da estabilidade, fizeram com que o estoque da implicava encontrar uma solução para essa situação. No início dos
dívida pública crescesse brutalmente no período. Esse fato gerou a anos 1990, o governo deu início a um processo de reestruturação
necessidade de que seu prazo médio fosse elevado para evitar que dessas dívidas por meio de sua securitização. Nesse processo, dé-
o risco de refinanciamento a cada período ficasse muito grande. bitos oriundos da assunção de dívidas de estados e de empresas
Também a partir de 1999 o governo voltou a emitir títulos in- estatais foram repactuados e transformados em títulos públicos
dexados a índices de preços (IGP-M). O objetivo era reforçar o pro- emitidos para os credores originais. Enquanto representou um be-
cesso de alongamento da dívida pública, aproveitando uma elevada nefício para o governo, na medida em que permitiu a adaptação dos
demanda potencial representada pelos fundos de pensão. Desde fluxos de pagamentos à sua capacidade de pagamento, contribuiu
então, tem-se observado um esforço no sentido de obter contínua para o resgate da credibilidade do setor público como devedor. Para
melhoria no perfil da dívida federal interna, seja em termos de au- o credor, representou transformar uma dívida contratual, portanto
mento do prazo, seja de uma maior qualidade na composição desta, sem liquidez, em instrumento passível de negociação em mercado
buscando-se a redução na participação de títulos indexados à taxa secundário. O Tesouro Nacional registrou os títulos emitidos para
de câmbio e à taxa Selic, o que vem acontecendo com sucesso des- refinanciamento da dívida dos estados no Sistema Especial de Li-
de 2003. quidação e de Custódia, do Banco Central (Selic) e os referentes à
assunção da dívida das empresas estatais, denominados Créditos
Consenso de Washington Securitizados, na Central de Custódia e de Liquidação Financeira de
Em novembro de 1989, reuniram-se na capital dos Estados Títulos (Cetip), onde estão custodiados, sendo livremente negocia-
Unidos funcionários do governo norte-americano e dos organismos dos em mercado secundário. Ainda nos anos 1990, os Créditos Se-
financeiros internacionais ali sediados - FMI, Banco Mundial e BID curitizados foram, em conjunto com outros títulos da dívida pública,
- especializados em assuntos latino-americanos. O objetivo do en- utilizados como moeda de pagamento no programa de privatização
contro, convocado pelo Institute for International Economics, sob o das empresas estatais, sendo, portanto, parte daquele conjunto de
título “Latin American Adjustment: How Much Has Happened?”, era instrumentos que ficou conhecido como “moedas de privatização”.
proceder a uma avaliação das reformas econômicas empreendidas Em 1999, e dentro do processo de padronização dos instrumentos
nos países da região. Para relatara experiência de seus países tam- de dívida pública, o Tesouro Nacional passou a aceitar tais títulos
bém estiveram presentes diversos economistas latino-americanos. como meio de pagamento na segunda etapa dos leilões de NTN-C e,
Às conclusões dessa reunião é que se daria, subsequentemente, a mais recentemente, nos leilões de NTN-B. Não obstante essa possi-
denominação informal de “Consenso de Washington”. bilidade, o estoque dos Créditos Securitizados tem aumentado, em
A mensagem neoliberal que o Consenso de Washington regis- virtude, principalmente, da emissão regular de CVS, título que tem
traria vinha sendo transmitida, vigorosamente, a partir do come- como origem a securitização de dívidas decorrentes do Fundo para
ço da Administração Reagan nos Estados Unidos, com muita com- Compensação das Variações Salariais (FCVS).
petência e fartos recursos, humanos e financeiros, por meio de
agências internacionais e do governo norte-americano. Acabaria O Brasil e o Consenso de Washington21
cabalmente absolvida por substancial parcela das elites políticas,
empresariais e intelectuais da região, como sinônimo de moderni- Os princípios neoliberais consolidados no Consenso de Washin-
dade, passando seu receituário a fazer parte do discurso e da ação gton batem de frente com alguns dos pressupostos do modelo de
dessas elites, como se de sua iniciativa e de seu interesse fosse. desenvolvimento brasileiro e da política econômica externa que lhe
Exemplo desse processo de cooptação intelectual é o documento dava apoio. Em particular com a liberdade de ação que o Brasil de-
publicado em agosto de 1990 pela Fiesp, sob o título “Livre para sejava manter para prosseguir em seu processo de industrialização,
crescer - Proposta para um Brasil moderno”, hoje na sua 5ª edição, mediante reserva de mercado para indústrias de capital nacional no
no qual a entidade sugere a adoção de agenda de reformas virtual- campo da informática assim como pela exclusão do patenteamen-
mente idêntica à consolidada em Washington. to na área químico-farmacêutica. O Brasil tampouco se dispunha a
A proposta da Fiesp inclui, entretanto, algo que o Consenso aceitar restrições ao pleno desenvolvimento tecnológico no setor
de Washington não explicita mas que está claro em documento nuclear e aeroespacial.
do Banco Mundial de 1989, intitulado “Trade Policy in Brazil: the Golpeado pela crise da dívida externa e pela forma como esta
Case for Reform”. Aí se recomendava que a inserção internacional foi tratada, o Brasil, graças a sua base industrial e ao esforço feito
de nosso país fosse feita pela revalorização da agricultura de ex- pela Petrobrás para aumentar substancialmente a produção nacio-
portação. Vale dizer, o órgão máximo da indústria paulista endossa, nal de petróleo, conseguiria acumular substanciais saldos de ba-
sem ressalvas, uma sugestão de volta ao passado, de inversão do lanço comercial, criando condições para honrar o serviço daquela
processo nacional de industrialização, como se a vocação do Bra- dívida. Em consequência, só lograria fazê-lo à custa do equilíbrio
sil, às vésperas do século XXI, pudesse voltar a ser a de exportador das contas públicas. Sucessivas cartas de intenção ao FMI foram as-
de produtos primários, como o foi até 1950. Uma área em que os sinadas sem que o país pudesse cumprir as metas acordadas em
preços são cadentes - são hoje, em termos reais, 40% em média 21 Batista, Paulo Nogueira. O CONSENSO DE WASHINGTON: A visão neolibe-
inferiores aos de 1970 - em virtude do notável volume de subsídios ral dos problemas latino-americanos. 1994

269
REALIDADE BRASILEIRA

matéria fiscal e monetária. Para dominar a inflação resultante desse porem com a redução da inflação iniciava-se a maior recessão da
descontrole, gerado em sua maior parte pelo serviço da dívida ex- história no Brasil, houve aumento de desemprego, muitas empre-
terna e interna, sucessivos planos, heterodoxos e ortodoxos, foram sas fecharam as portas e a produção diminui consideravelmente,
tentados sem êxito, produzindo um sentimento generalizado de tem uma queda de 26% em abril de 1990, em relação a abril de
frustração que abalaria a confiança na ação do Estado. 1989. As empresas são obrigadas a reduzirem a produção, jornada
A despeito da vulnerabilidade resultante do endividamento ex- de trabalho e salários, ou demitir funcionários. Só em São Paulo nos
terno e dos percalços na luta contra a inflação, o Brasil não parou. primeiros seis meses de 1990, 170 mil postos de trabalho deixaram
Teria, por isso mesmo, condições para resistir às pressões do gover- de existir, foi o pior resultado, desde a crise do início da década de
no americano e dos organismos multilaterais de crédito. Resistiria, 80. O Produto Interno Bruto diminui de US$ 453 bilhões em 1989
inclusive, às pretensões americanas no GATT, em matéria de servi- para US$ 433 bilhões em 1990. Collor parecia alheio a sua política
ços e de propriedade intelectual, posição que só começaria a ser econômica desastrosa, procurava passar uma imagem de super-
erodida ao final do governo Sarney. -homem, sempre aparecendo na mídia se exibindo, pilotando uma
Com Collor é que se produziria a adesão do Brasil aos postula- aeronave, fazendo caminhadas, praticando esportes etc. Mostrava
dos neoliberais recém-consolidados no Consenso de Washington. uma personalidade forte, vaidoso, arrojado, combativo e moderno.
Comprometido na campanha e no discurso de posse com uma pla-
taforma essencialmente neoliberal e de alinhamento aos Estados Privatizações - Em 16 de agosto de 1990 o Programa Nacio-
Unidos, o ex-presidente se disporia a negociar bilateralmente com nal de Desestatização que estava previsto no Plano Collor é regula-
aquele país uma revisão, a fundo, da legislação brasileira tanto mentado e a Usiminas é a primeira estatal a ser privatizada, através
sobre informática quanto sobre propriedade industrial, enviando de um leilão em outubro de 1991. Depois mais 25 estatais foram
subsequentemente ao Congresso projeto de lei que encampava as privatizadas até o final de 1993, quando Itamar Franco já estava à
principais reivindicações americanas. Com base em recomendações frente do governo brasileiro, com grandes transferências patrimo-
do Banco Mundial, procederia a uma profunda liberalização do regi- niais do setor público para o setor privado. Sendo que o processo
me de importações, dando execução por atos administrativos a um de privatização dos setores petroquímico e siderúrgico já está prati-
programa de abertura unilateral do mercado brasileiro. Concluiria, camente concluído. Então se inicia a negociação do setor de teleco-
ainda, negociações com a Argentina a respeito de um mecanismo municações e elétrico, há uma tentativa de limitar as privatizações
de salvaguardas das respectivas instalações nucleares, mediante o à construção de grandes obras e à abertura do capital das estatais,
qual nosso país, sem aderir ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear, mantendo o controle acionário pelo Estado.
aceitaria de fato o regime de salvaguardas abrangentes que nele se
prevê. Plano Collor II

Plano Collor22 A inflação entra em cena novamente com um índice mensal


de 19,39% em dezembro de 1990 e o acumulado do ano chega
A inflação em um ano de março de 1989 a março de 1990 che- a 1.198%, o governo se vê obrigado a tomar algumas medidas. É
gou a 4.853%, e no governo anterior teve vários planos fracassados decretado o Plano Collor II em 31 de janeiro de 1991. Tinha como
de conter a inflação. Depois de sua posse, Collor anuncia um pa- objetivo controlar a ciranda financeira, extingue as operações de
cote econômico no dia 15 de março de 1990, o Plano Brasil Novo. overnight e cria o Fundo de Aplicações Financeiras (FAF) onde cen-
Esse plano tinha como objetivo por fim a crise, ajustar a economia traliza todas as operações de curto prazo, acaba com o Bônus do
e elevar o país do terceiro para o Primeiro Mundo. O cruzado novo Tesouro Nacional fiscal (BTNf), o qual era usado pelo mercado para
é substituído pelo “cruzeiro”, bloqueia por 18 meses os saldos das indexar preços, passa a utilizar a Taxa Referencial Diária (TRD) com
contas correntes, cadernetas de poupança e demais investimentos juros prefixados e aumenta o Imposto sobre Operações Financeiras
superiores a Cr$ 50.000,00. Os preços foram tabelados e depois li- (IOF). Pratica uma política de juros altos, e faz um grande esforço
berados gradualmente. Os salários foram pré-fixados e depois ne- para desindexar a economia e tenta mais um congelamento de pre-
gociados entre patrões e empregados. Os impostos e tarifas aumen- ços e salários. Um deflator é adotado para os contratos com venci-
taram e foram criados outros tributos, são suspensos os incentivos mento após 1º de fevereiro. O governo acreditava que aumentando
fiscais não garantidos pela Constituição. É Anunciado corte nos gas- a concorrência no setor industrial conseguiria segurar a inflação,
tos públicos, também se reduz a máquina do Estado com a demis- então se cria um cronograma de redução das tarifas de importa-
são de funcionários e privatização de empresas estatais. O plano ção, reduzindo a inflação de 1991 para 481%. A recuperação da
também prevê a abertura do mercado interno, com a redução gra- economia iniciou-se no final de 1992, após um grande processo de
dativa das alíquotas de importação. As empresas foram surpreendi- reestruturação interna das industrias. Foi fundamental a abertura
das com o plano econômico e sem liquidez pressionam o governo. do mercado brasileiro para produtos importados, a qual obrigou a
A ministra da economia Zélia Cardoso de Mello, faz a liberação gra- indústria nacional a investir alto na modernização do processo pro-
dativa do dinheiro retido, denominado de “operação torneirinha”, dutivo, qualidade e lançamento de novos produtos no mercado. As
para pagamento de taxas, impostos municipais e estaduais, folhas empresas que queriam permanecer no mercado tiveram que rever
de pagamento e contribuições previdenciárias. O governo libera os seus métodos administrativos, bem como da organização, reduzin-
investimentos dos grandes empresários, e deixa retido somente o do os custos de gerenciamento, as atividades foram centralizadas,
dinheiro dos poupadores individuais. muitos setores terceirizados. As empresas são obrigadas a investir
pesado na automação, reduz a hierarquia interna nas industrias, en-
Recessão - No início do Plano Collor a inflação foi reduzida por- tão cresce a produtividade. Toda essa modernidade era necessária
que o plano era ousado e radical, tirava o dinheiro de circulação, para as empresas se tornarem mais competitiva, tanto no mercado
22 LENARDUZZI, Cristiano, Et al. PLANO COLLOR. Adaptado interno quanto no mercado externo. O aumento de produtividade

270
REALIDADE BRASILEIRA

foi fundamental para a sobrevivência das empresas, porem para os dólar, o que restringia a emissão de moeda ao aumento do Tesouro
trabalhadores, significava perdas de postos de trabalho, quer di- Nacional. Em um primeiro momento, a medida proporcionou uma
zer com menos funcionários se produziam mais, então aumenta o estabilidade econômica sem inflação significativa que favoreceu o
desemprego dos brasileiros, que em 1993 só na Grande São Paulo ingresso de capitais estrangeiros produzindo um forte crescimento
chega a um milhão e duzentos mil trabalhadores desempregados. do PIB. No entanto, uma recessão que teve início em 1998 e chegou
ao seu auge em 2001, em parte relacionada às crises internacio-
Plano Real23 nais e, em parte resultado da política de câmbio fixo, terminou por
provocar o fim da Lei de Convertibilidade com altas sequelas para o
O Plano Real teve como base teórica: o Consenso de Washin- país, nos níveis político, social e econômico.
gton, que deu as direções que deveriam ser tomadas e o Plano A economia brasileira repetiria a trajetória mexicana e argen-
Cruzado e as discussões relativas à sua criação, tomados como um tina em alguns pontos importantes, combinando sucesso inicial no
exemplo dos erros que não deveriam ser repetidos. combate à inflação com elevados déficits externos e forte depen-
Em novembro de 1989, em congresso convocado pelo Instituto dência de fluxos voláteis de capital internacional.
de Economia Internacional, reuniram-se em Washington funcioná- Algumas diferenças entre os três planos são claras: o Plano Real
rios do governo dos EUA, FMI, BIRD, BID e economistas latino-a- era mais flexível e cauteloso com relação ao câmbio do que a lei de
mericanos para debater o seguinte tema: “Ajustamento latino-a- conversibilidade argentina; o plano mexicano recorreu intensamen-
mericano, o que tem ocorrido?”. O congresso afirmou a excelência te a políticas de preços e salários, que dependeu de negociações
das medidas neoliberais que vinham sendo adotadas pelos países com os representantes das classes trabalhistas, diferente do que
latino-americanos até então, com exceção do Brasil e do Peru. A aconteceu com os planos argentino e brasileiro. No caso do Plano
conferência apontou a importância do combate à inflação através Real, a criação da URV (Unidade Real de Valor), que funcionou por
da dolarização da economia, valorização das moedas nacionais, quatro meses, foi uma medida original para evitar medidas de cho-
ajuste fiscal, aceleração das privatizações, mudanças na seguridade que como confiscos e congelamentos, possibilitando a estabilização
social, desregulamentação dos mercados e liberalização comercial da moeda.
e financeira. No entanto, as diferenças não superam as convergências entre
A segunda referência importante, a experiência do Plano Cru- os três planos que buscavam a estabilização da economia e sua in-
zado, forneceu um aporte teórico relacionado ao debate entre as serção nos padrões internacionais do neoliberalismo, que passava a
propostas de uma “moeda indexada” e um “choque heterodoxo”. ditar as novas normas do capitalismo mundial.
Devido à inoperância do Plano Cruzado, que foi identificado Nas semelhanças entre os planos estão: o uso da taxa de câm-
como um “choque heterodoxo”, a outra sugestão ganhou força no bio como instrumento de combate à inflação, de acordo com o con-
desenvolvimento do Plano Real. A ideia de uma “moeda indexada” ceito de monetary standard approach que considera a importân-
ao dólar e a outra moeda nacional paralela, ganhou força durante cia da harmonização das políticas monetárias como uma forma de
o desenvolvimento do Plano Cruzado e influenciou fortemente o combate à inflação; a abertura da economia às importações, por
Plano Real. meio da drástica redução das barreiras tarifárias e não-tarifárias; a
Brasil, Argentina e México enfrentaram vários desafios comuns abertura financeira externa, com o estímulo à entrada de capitais
no final da década de 1980 e início da década de 1990, os principais de curto prazo e medidas de desindexação da economia.
deles sendo a inflação que implicava em sérios problemas sociais,
necessidade de reorganização das economias e alinhamento às mu- Implantação do Plano Real
danças internacionais nestes países que ainda estavam vinculados
aos programas de desenvolvimentos fortemente estatais que, no O Plano de Fernando Henrique Cardoso, que era ministro da
Brasil, foram implementados pelo governo militar a partir de 1964 Fazenda do governo de Itamar Franco, consistia em três fases: o
e ganhando força na década de 1970. ajuste fiscal, o estabelecimento da URV (Unidade de Referência de
O processo de desenvolvimento da uma economia liberal no Valor) e a instituição de uma nova moeda, o Real. De acordo com os
México, entre 1988 e 1994, assim como no Brasil, teve como ob- autores do plano, as reformas liberais do Estado, que estavam em
jetivo diminuir a participação do Estado na economia e avançar na andamento naquele período seriam fundamentais para efetividade
liberalização do comércio externo, com destaque para as relações do plano.
comerciais com os Estados Unidos e o Canadá que foram favore- A primeira fase, o “ajuste fiscal” procurava criar condições fis-
cidas com a entrada do país no Nafta (North American Free Trade cais adequadas para diminuir o desequilíbrio orçamentário do Es-
Agreement). O processo de reformas no início da década de 90 con- tado, principalmente sua fragilidade com financiamento, que seria
tribui para o crescimento da economia baseado nas exportações e um dos principais problemas relacionados à inflação. A criação do
apoiado por uma política de desvalorização do Peso. No entanto, o FSE (Fundo Social de Emergência), que tinha por finalidade diminuir
crescimento foi quebrado por uma crise cambial motivada pela des- os custos sociais derivados da execução do plano e dos cortes de
confiança do capital internacional, provocando uma instabilidade impostos, foi uma das principais iniciativas do governo.
que se refletiu na saída maciça de capital e na queda abrupta das A URV, o embrião da nova moeda, que terminou quando o
reservas do país. Real começou a funcionar em 1º de julho de 1994, era um índice
Na Argentina, durante o governo do presidente Carlos Menem, de inflação formado por outros três índices: O IGP-M, da Fundação
o Ministro da Economia Domingo Cavallo apresentou seu plano Getúlio Vargas, o IPCA do IBGE e o IPC da FIPE/USP. O objetivo do
para combater a inflação, que se reverteu na Lei da Convertibilida- governo era amarrar o URV ao dólar, preparando o caminho para
de, que tinha como uma de suas bases o câmbio fixo, atrelado ao a “âncora cambial” da moeda e também evitar o caráter abrupto
23 IPOLITO, Danilo Bueno. História do Plano Real. Universidade de São Paulo, dos outros planos, com esta ferramenta transitória. Dessa forma,
Jornalismo. ao contrário da proposta de “moeda indexada” e da criação de duas

271
REALIDADE BRASILEIRA

moedas, apenas separaram-se duas funções da mesma moeda, pois plosão dos níveis de consumo que resultou em um crescimento de
o URV servia como uma “unidade de conta”. 5,4% no PIB de 1994. Colaborou para isso o aumento das compras
A terceira fase do plano consistiu na implementação da nova a prazo e a baixa remuneração nominal das aplicações financeiras
moeda, que substituiria o Cruzeiro de acordo com a cotação da URV com a realocação dos recursos para o consumo.
que, naquele momento, valia CR$ 2.750,00. O governo instituiu que
este valor corresponderia a R$ 1,00 que, por sua vez, foi fixada pelo As crises Mexicana, Asiática e Russa
Banco Central em US$ 1,00, com a garantia das reservas em dólar
acumuladas desde 1993. A partir de dezembro de 1994 eclodiu a crise cambial mexicana,
No entanto, apesar de amarrar a moeda ao dólar, o Governo e a saída de capital especulativo relacionada à queda da cotação do
não garantiu a conversibilidade das duas moedas, como ocorreu dólar nos mercados internacionais começou a colocar em xeque a
na Argentina. Dessa forma, o Real conseguiu corresponder de uma estabilização da economia nacional e o Plano Real, que dependia
forma mais adequada às turbulências desencadeadas pela crise do em grande parte do capital estrangeiro. A crise mostrou que a po-
México, que começou a se intensificar no final de 1994. lítica de contenção da inflação com a valorização das moedas na-
A política de juros altos, que promoveu a entrada de capitais de cionais frente ao dólar não poderia ser sustentável no longo prazo.
curto prazo, e a abertura do país aos produtos estrangeiros, com a Negando sempre à similaridade entre o Brasil e o México e a
queda do Imposto de Importação, foram fundamentais para com- Argentina, o governo passou a desacelerar a atividade econômica
plementar a introdução da nova moeda e para combater a inflação e a frear a abertura internacional com a elevação da taxa de juros,
e elevar os níveis de emprego. aumento das restrições às importações e com estímulos à expor-
tação. Com a necessidade de opor a situação econômica brasileira
Reformas do Estado à mexicana, como um sinal ao capital especulativo, o governo quis
mostrar que corrigiria a trajetória de sua balança comercial, atingin-
Considerada uma quarta fase da reforma econômica proposta do saldo positivo.
pelo Plano Real, as reformas no Estado propiciaram o habitat ideal Após retomada do crescimento entre abril de 1996 e junho de
para a moeda criada em sintonia com o conceito de neoliberalismo, 1997, a crise dos “Tigres Asiáticos”, que começou com a desvalori-
ao contrário do Estado que, como visto anteriormente, ainda carre- zação da moeda da Tailândia, se alastrou para Indonésia, Malásia,
gava fortes resquícios do modelo pré-crise do petróleo, caracteriza- Filipinas e Hong Kong e acabou por atingir Nova York e os mercados
do pela regulamentação do mercado, a instituição de monopólios financeiros mundiais.
estatais e o forte investimento em infraestrutura. A crise obrigou o governo a elevar novamente as taxas de juros
Desta forma, os defensores do Plano Real insistiram na neces- e decretar um novo ajuste fiscal. Novamente a fuga de capitais vol-
sidade das reformas das áreas econômicas como a quebra dos mo- tou a assolar a economia brasileira e o Plano Real.
nopólios estatais, tratamento igualitário entre empresas nacionais A consequência foi a demissão de 33 mil funcionários públicos
e estrangeiras e desregulamentação das atividades e mercados con- não estáveis da União, suspensão do reajuste salarial do funciona-
siderados até então estratégicos ou de segurança nacional. Além lismo público, redução em 15% dos gastos em atividades e corte de
disso, foram empreendidas reformas tributárias, administrativas e 6% no valor dos projetos de investimento para 1998, o que resultou
previdenciárias. em uma diminuição de 0,12% do PIB naquele ano.
A importância destas reformas para a estabilização do país e a A crise se intensificou em agosto com o aumento da instabilida-
inserção internacional brasileira era ressaltada e abrandada nos pe- de financeira na Rússia, com a desvalorização do rublo e a decreta-
ríodos mais estáveis da economia nacional. As mudanças de ordem ção da moratória por parte do governo.
econômica foram aprovadas com relativa facilidade no Congresso A resposta brasileira foi a mesma de sempre, a elevação da taxa
Nacional, sendo extintos o monopólio estatal na área de prospec- de juros básica para até 49% e um novo pacote fiscal para o período
ção, exploração e refino de petróleo e na distribuição, transmissão 1999/2001. No entanto, diferentemente das outras duas crises, o
e geração de energia. governo recorreu ao FMI em dezembro de 1998, com quem obteve
As reformulações nas estruturas do Estado foram mais com- cerca de US$ 41,5 bilhões, comprometendo-se a manter o mesmo
plicadas. A reforma fiscal só começou a ser discutida no Congresso regime cambial, desvalorizando gradativamente o Real, acelerar as
com a crise cambial em janeiro de 1999. Na reforma administrativa, privatizações e as reformas liberais, realizar o pacote fiscal e assu-
aprovou-se a possibilidade de demissão de funcionários públicos mir metas com relação ao superávit primário.
por excesso de quadros (quando os salários ultrapassarem 60% das
receitas), e por ineficiência. As privatizações, que já estavam enca- O fim da âncora cambial
minhadas desde o governo Collor, com o PND (Programa Nacional
de Desestatização), foram ampliadas e aceleradas. Nos primeiros dias do segundo governo de Fernando Henrique
Nesse sentido, pode-se perceber a importância do Plano Real Cardoso, em janeiro de 1999, a repercussão da crise cambial russa
para a implementação do projeto liberal no Brasil e como, de fato, chegou ao seu limite no Brasil. As elevadas taxas de juros começa-
não foi apenas um plano solitário de estabilização monetária e sim vam a perder força como ferramenta de manutenção do capital ex-
um conjunto de medidas para impulsionar a internacionalização da terno na economia brasileira e um novo déficit recorde na conta de
economia brasileira. transações correntes obrigou o governo a mudar a banda cambial,
que foi ampliada para R$ 1,32.
A Euforia do Consumo - A queda da inflação de 46,60% em Logo no primeiro dia, o Real atingiu o limite máximo da ban-
junho para 3,34% em agosto e a manutenção desta abaixo desse va- da, sendo desvalorizado em 8,2%, o que influenciou na queda do
lor nos meses seguintes provocou um aumento imediato no poder valor dos títulos brasileiros no exterior e das bolsas de valores do
aquisitivo da população de mais baixa renda, conduzindo uma ex- mundo todo. O Banco Central tentou defender o valor da moeda,

272
REALIDADE BRASILEIRA

vendendo dólares, mas a saída de capitais continuou ameaçando rísticas de uma política fiscal anticíclica (em alguns períodos, o go-
se aproximar do limite de 20 bilhões, que foi acordado com o FMI verno não formalizou a política anticíclica como objetivo, sobretudo
no ano anterior. Nesse momento, o governo não teve outra escolha antes de 2012) após a crise financeira internacional, considerando
senão deixar o câmbio flutuar livremente, alcançando a cotação de o indicador de superávit primário consolidado do setor público es-
R$ 1,98 em 13 dias. trutural acumulado em quatro trimestres como proporção do PIB.
Para citar um exemplo, esse superávit recuou de 3,4% no primeiro
Os Ciclos Diferenciados e o Desafio da Política Monetária Pró- trimestre de 2008 para 2,2% no terceiro trimestre de 2009, quando
-Cíclica24 a taxa real de crescimento acumulada em quatro trimestres recuou
de 6,37% para uma variação negativa de -1,4% na mesma compara-
A crise financeira internacional de 2008 provocou uma queda ção. Entre 2010 e 2013, também ocorreu a deterioração do superá-
consistente da inflação nas economias desenvolvidas, mas nos paí- vit primário durante o ciclo de desaceleração do PIB.
ses emergentes foram registradas divergências acentuadas no ci- Entretanto, a recuperação da poupança fiscal na economia
clo inflacionário, que tem prevalecido nos anos recentes. O Chile brasileira em períodos de expansão econômica tem sido puxada de
e o México iniciaram um ciclo de flexibilização monetária em 2012 forma preponderante pelo aumento das receitas tributárias e não
e 2013, respectivamente, com a desaceleração do ritmo de cres- por corte e/ou maior eficiência dos gastos. Nesse panorama, a po-
cimento econômico, enquanto o Brasil elevou sua taxa básica de lítica fiscal pressiona a inflação de custos e no último triênio 2011-
juros em 375 pontos base entre abril de 2013 e abril de 2014 de 2013, apresentou novo impulso fiscal de demanda, o que também
7,25% para 11,0%, a despeito da redução no ritmo da expansão da demandou a necessidade de retomada de um novo ciclo de aperto
atividade industrial e do consumo privado. monetário em 2013.
O estabelecimento do regime de metas de inflação em 1999 No passado, em diversas economias emergentes que apre-
marcou o início de um novo arcabouço institucional da política mo- sentavam déficits elevados de transações correntes no balanço de
netária no Brasil. Com a combinação do regime de câmbio flutuan- pagamentos e pressão de desvalorização de suas moedas, como o
te, as expectativas inflacionárias assumiram um papel relevante Brasil nas décadas de 80 e 90, os governos acionavam o aumento
na convergência da inflação para a meta central, que passou ser das taxas internas de juros para atenuar esse movimento, mas que
o principal objetivo do Banco Central e a taxa de juros, o principal por outro lado, limitava ou mesmo impedia a adoção de política
instrumento. monetárias anticíclicas.
Entretanto, para a boa consecução do regime de metas de in- Nos últimos cinquenta anos, cerca de 40% dos países em de-
flação é crucial a convergência e a coordenação das políticas fiscal e senvolvimento sancionaram políticas monetárias pró-cíclicas, en-
monetária. Após registrar superávits primários consolidados na mé- quanto países industrializados praticaram políticas monetárias
dia de 1,93% do PIB entre 1999-2002 e de 2,42% entre 2003-2008, a anticíclicas no mesmo período. Ao comparar os ciclos da política
política fiscal brasileira tem sido posta em cheque nos últimos anos monetária, através da taxa básica de juros e da taxa real de cresci-
quanto à sua neutralidade na inflação e a sua influência nas ações mento econômico medida pelo PIB (para uma amostra de 69 eco-
da política monetária. Os desvios consistentes da inflação à meta nomias entre os anos de 1960 a 2009), constatou-se que todas as
central nos últimos anos e sobretudo, o timming e a intensidade economias consideradas industrializadas adotaram taxas de juros
do ajuste da taxa de juros levantaram questionamentos entre os mais elevadas em períodos de maior crescimento.
analistas em relação ao ciclo da política monetária, que estaria mais
associado a um padrão pró-cíclico. Crescimento econômico25
As economias em desenvolvimento tradicionalmente imple-
mentaram políticas fiscais pró-cíclicas, com expansão de gastos A economia internacional registrou uma aceleração do cres-
públicos em períodos de elevação das taxas de crescimento eco- cimento a partir de 2002. A exemplo do que havia ocorrido entre
nômico e ajustes contracionistas nas contas públicas nos períodos 1982 e 2001. As regiões que mais se destacaram foram a Ásia Oci-
recessivos ou de desaceleração, reforçando a deterioração dos dental e Pacífico e a China. Nesse último país, a média anual do
ciclos de negócios. O comportamento pró-cíclico da política fiscal período foi de quase 10%. A economia da Rússia, que conseguiu sair
estaria associado às dificuldades de acesso ao financiamento do da recessão pós-socialista graças ao aumento dos preços do petró-
mercado internacional de capitais e também às pressões políticas leo, se expandiu a 6,4% ao ano.
por aumento de gastos em períodos do ciclo de alta do crescimento Os países da União Europeia e o Japão tiveram comportamento
econômico. inverso. Suas economias reduziram o crescimento a níveis inferiores
Entretanto, nos últimos anos, aumentou o número de econo- a 2%. A América Latina apresentou uma recuperação, chegando a
mias emergentes que tem acionado políticas fiscais anticíclicas, ou quase 4% ao ano a despeito de o Brasil ter mantido sua trajetória
seja, tem priorizado a recuperação da poupança fiscal em anos de anual de 2,4%. Os EUA também mantiveram seu crescimento em
bom crescimento para utilizar essa poupança de forma anticíclica torno de 3%.
nos períodos de contração ou desaceleração econômica, via am- A economia brasileira, apesar do crescimento relativamente
pliação dos gastos fiscais e crédito público subsidiado. Esse movi- lento, apresentou, nesse período, uma mudança em relação às duas
mento estaria associado à qualidade institucional e regulatória e ao décadas anteriores. Houve uma substancial redução da fragilidade
aprofundamento das reformas econômicas estruturais, reforçando externa da economia, graças à acumulação de elevados superávits
a credibilidade do cumprimento das metas de superávit primário. comerciais – US$ 32 bilhões, em média, entre 2001 e 2006, dos pelo
No caso da economia brasileira, os números apontam caracte- aumento das exportações. O resultado foram os sucessivos saldos
24 VELHO, Eduardo. Os Ciclos Diferenciados e o Desafio da Política Monetária positivos nas transações correntes, da ordem de 1,5% do PIB
Pró-Cíclica. Disponível em: http://agriforum.agr.br/os-ciclos-diferenciados-e-o-de- 25 CRUZ, Adriana inhudes Gonçalves, Et al. A Economia Brasileira: Conquistas
safio-da-politica-monetaria-pro-ciclica/ dos Últimos dez anos e perspectivas para o futuro. Adaptado

273
REALIDADE BRASILEIRA

Esses elevados superávits externos se refletiram muito positi- taxa cambial variou de R$1,95/US$, em Janeiro para R$2,36/US$
vamente nos indicadores de dívida e de reservas externas. A dívida em Dezembro.
externa líquida até setembro de 2006 havia sido reduzida para US$ Apesar disso, o impacto da desvalorização cambial sobre os
70,8 bilhões, o equivalente a 35% do valor máximo alcançado em preços não foi tão acentuado, o IPCA cresceu 6,8% no ano, justifica-
1999, US$ 205,1 bilhões. Já a dívida externa bruta registrou uma do pela diminuição da demanda do consumidor e pela paralisação
redução de US$ 84,8 bilhões nesse mesmo período, enquanto as do mercado de trabalho, em relação a novas contratações e a ren-
reservas internacionais atingiram US$ US$ 62,7 bilhões, aumentan- tabilidade real. Além disso, a crise energética também impactaria o
do em praticamente US$ 30 bilhões desde o nível mínimo atingido nível de preços, e assim, o país operou com uma política monetária
em 2000. Como se pode ver no Anexo 1, essa melhoria no quadro retrativa, através do aumento da taxa básica de juros e dos depó-
externo pode ser percebida em todos os demais indicadores de sitos compulsórios, para permanecer dentro da meta inflacionária.
solvência externa da economia brasileira. A redução da vulnerabili- O colapso energético ocorrido no Brasil neste período compro-
dade externa foi acompanhada pelo fortalecimento financeiro das meteu o fornecimento e distribuição de energia elétrica do país.
empresas brasileiras. Esta crise interna, que obrigou os brasileiros a racionar energia,
A partir de 2002, a dívida bruta das companhias abertas, a pre- aconteceu por dois principais motivos: a pequena quantidade de
ços de dezembro de 2005 [Nascimento (2006)], caiu de R$ 366,8 chuva, que deixou inúmeras represas vazias, e pela carência de pla-
bilhões para R$ 286,5 bilhões: uma redução de aproximadamente nejamento e de investimento, tanto na geração como na distribui-
R$ 80 bilhões. Com isso, ao final daquele último ano, a dívida total ção da energia elétrica.
era 21,9% menor do que em 2002, ano em que atingiu seu valor Em 2001, a economia da Argentina, que estava atrelada ao
máximo. câmbio fixo, no qual um peso era equivalente a um dólar, tentou
Do ponto de vista do endividamento líquido, a queda foi ainda negociar suas dívidas, porém só aprofundou ainda mais a crise. Em
maior. O saldo de R$ 253 bilhões a preços de 2005, registrado ao fi- dezembro, o país declarou a moratória de sua dívida, neste mês,
nal de 2002, se viu reduzido, no final de 2005, a R$ 130,7 bilhões, ou o Presidente Fernando de La Rua renunciou, e em seguida, outros
seja, quase a metade. Além da redução da dívida bruta, colaborou quatro presidentes assumiram o cargo e renunciaram em 12 dias.
para esse resultado o aumento das disponibilidades e aplicações A taxa de crescimento em 2002 foi de 2,7%, ocasionada devi-
líquidas dessas empresas, que passaram de R$ 132 bilhões para R$ do a vitória nas eleições presidenciais do país pelo candidato de
156 bilhões nesse período. oposição, Luiz Inácio Lula da Silva, que trouxe incerteza quanto à
Com relação ao equilíbrio entre receitas e obrigações em moe- sustentação da política econômica, o chamado risco-Lula, nome
da estrangeira, também se observou uma redução importante na que faz alusão ao risco-país. O risco-país tenta medir a instabilidade
fragilidade das empresas. A participação do endividamento em econômica em um país e assim o risco que você assume ao investir
moeda estrangeira no endividamento total das empresas analisa- nele, quanto maior, menores serão as chances de atrair investidores
das começou a declinar ainda em 2001 quando atingiu o máximo de estrangeiros.
46%. Desde então, a redução das dívidas em moeda estrangeira se Esse fator, aliado à degradação da economia e da política da
acentuou, fazendo com que sua participação declinasse para 30% Argentina, resultou na queda do fluxo de capitais e aumentou risco
em 2005. Foi uma queda de 12 pontos percentuais em apenas três dos países emergentes, pelo provável ataque ao Iraque pelos EUA,
anos. que provocou instabilidade nos preços internacionais do petróleo e
Esses resultados sinalizam um cenário de fortalecimento fi- afetou os preços internos de seus derivados.
nanceiro das empresas, tanto em termos de menor endividamento Em consequência desses fatores, o aumento da taxa cambial
líquido quanto de maior equilíbrio entre suas receitas e seus paga- não só continuou como passou a influenciar os preços internos e
mentos em moeda estrangeira. Esse comportamento corresponde, elevar a dívida pública, pois parte dela estava acoplada à moeda
no plano microeconômico, à redução da vulnerabilidade externa da estrangeira, terminando o ano com a cotação de R$3,63/US$ e com
economia como um todo. uma depreciação de 52% do Real. Mesmo com a moeda deprecia-
da e com o aumento da inflação, o Banco Central decidiu reduzir
Crescimento do mercado interno26 para 18% a taxa Selic em julho, agosto e setembro, porém no em
outubro teve início um aumento sucessivo da taxa, concluindo o
No ano 2000, o Brasil voltou a apresentar uma aceleração do ano em 25%.
crescimento, o PIB cresceu 4,3%. O aquecimento da economia es- Em 2002, o que aumentou o nível desta taxa foi o risco-Lula,
tava relacionado com a diminuição das taxas de juros, imposta rigi- que trouxe insegurança quanto à política econômica que iria em-
damente para ficar no patamar de 15% no ano anterior, o grande pregar.
período em que o Real manteve-se estabilizado nos anos anteriores Em 2003 o governo adotou política fiscal e monetária contra-
e com a recuperação da confiança, consequência do comprimento cionista, fazendo com que a taxa de crescimento do PIB voltasse a
do acordo com FMI. desacelerar e alcançasse a marca de 1,1%. A insegurança do perío-
O ano de 2001 foi marcado por uma desaceleração econômica, do foi caracterizada pelo aumento do risco-país, pela depreciação
a taxa de crescimento do PIB foi de apenas 1,3%. Isso aconteceu da taxa de câmbio, pela saída de capitais e pela queda do crédito
devido à crise energética vivenciada pelo país e pela insegurança internacional.
nos mercados externos, provocados pela crise da Argentina e pelos Com o objetivo de controlar a inflação, o governo optou por
atentados terroristas contra os Estados Unidos. aumentar a taxa Selic para 26,5% ao ano em fevereiro, mantendo-a
Com isso, o mercado de câmbio passou por algumas oscilações, assim até junho. Esta política econômica resultou em maior con-
na qual o Real sofreu uma depreciação média de 28,3% ao ano e a fiança dos mercados e na baixa do câmbio, que passou de R$3,59/
26 Ribeiro, Francielle Camila Santos, Et al. A EVOLUÇÃO DO PRODUTO IN- US$ em fevereiro para R$2,93/US$ ao final do ano. Com a aprecia-
TERNO BRUTO BRASILEIRO ENTRE 1993 E 2009 ção do câmbio e com ferramentas monetárias restritivas, o governo

274
REALIDADE BRASILEIRA

conseguiu obter certo controle sobre a inflação e assim voltou a transformação com participação de 5,1%, e da construção civil
diminuir a taxa básica de juros. Mesmo assim, a inflação acumulada 5,0%, enquanto o setor de serviços apresentou alta de 4,7% em
do período alcançou 9,3% (IPCA). relação a 2006, desempenho determinado pelo subsetor de inter-
O ano de 2004 foi marcado pela retomada do crescimento do mediações financeiras e seguros (13,0%), seguido por serviços de
PIB brasileiro, alcançando a taxa de 5,7%. Com um ambiente exter- informações (8,0%) e comércio (7,6%).
no favorável e o contínuo aumento do saldo da balança comercial, O PIB cresceu 5,1% em 2008, enquanto o PIB per capita cresceu
a taxa de câmbio voltou a valorizar-se. Além disso, a queda da in- 4,0% em relação a 2007. A taxa de investimento de 2008 chegou a
flação, a partir da metade do ano de 2003, fez com que o Banco 18,5% - a mais alta da série iniciada em 2000. Comparando o quarto
Central reduzisse a meta da taxa Selic em 10 pontos percentuais, trimestre de 2008 com o terceiro, o PIB apresentou queda de 3,6%,
atingindo, em janeiro de 2004, 16,5% a.a. se comparado ao mesmo período de 2007 a economia brasileira
De janeiro a abril, o Comitê de Política Monetária (COPOM) de- registrou expansão de 1,3%
cidiu diminuir a taxa Selic em meio ponto percentual para prorrogar Os modestos resultados do último trimestre do ano foram mo-
o crescimento econômico e o pequeno nível da inflação. Porém, no tivados pela precipitação da crise mundial, iniciada nos Estados Uni-
segundo semestre, o aumento da pressão inflacionária acarretou dos, que foi negligenciada pelo governo brasileiro, que se limitou a
um aumento desta taxa, que passou para 17,5% ao ano. reduzir os depósitos compulsórios e preferiu não alterar a taxa Se-
Em 2005, o país apresentou crescimento de 3,2%, desempe- lic. A indústria foi o setor que mais padeceu, registrando queda de
nho menor que o verificado em 2004, devido à desaceleração dos 7,4%, enquanto a agropecuária e serviços apresentaram resultados
investimentos, da indústria de transformação e da agropecuária. de – 0,5% e – 0,4%, respectivamente no período.
Segundo Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE, este Em 2009, a variação do PIB ficou em - 0,2%, totalizando R$
resultado foi puxado pelo consumo das famílias, influenciado prin- 3.143 bilhões. Os resultados setoriais também apresentaram que-
cipalmente pelo aumento do crédito e dos salários reais, da ordem da, sendo o pior desempenho da indústria - 5,5%, no qual todos
de 3,1%, enquanto que o gasto do governo cresceu 1,6% em relação os subsetores apresentaram queda, com destaque para a indústria
ao ano anterior. e transformação (- 7,0%) e construção civil (-6,3%). O agronegócio
De acordo com o IBGE, a participação dos componentes da recuou – 5,2%, devido à redução da produção de trigo, milho, café
demanda, no resultado do PIB deste ano, foi de 55,5% consumo e soja. O setor de serviços apresentou alta de 2,6%.
das famílias, 20,6% investimento, 19,5% consumo do governo e ex- Os componentes da demanda interna agregada apresentaram
portações líquidas de 4,4%, sendo que as exportações contribuíram valores positivos para consumo das famílias (4,1%) e gastos do go-
com 16,8%, contra 18,0% de 2004, queda justificada pela aprecia- verno (3,7%), enquanto que a formação bruta de capital fixo recuou
ção do Real frente ao dólar, enquanto as importações alcançaram 9,9%.
12,4%, contra 13,4% em 2004. A renda per capita caiu em 1,2%, ficando em R$ 16.414,00, re-
Os investimentos registraram alta de apenas 1,6%, em relação sultado maior que em 2008, devido à baixa taxa de crescimento da
a 2004, pois a crise de confiança, motivada pelas incertezas quanto população (0,99%) e não ao desempenho da economia.
às políticas do governo, fez com que empresários e consumidores A taxa de investimento recuou para 16,7%, resultado direta-
adiassem projetos para 2006. A taxa de juros mais elevadas e o mente relacionado à crise de confiança, que rondava a economia
câmbio contribuíram com esse resultado. mundial no primeiro semestre de 2009, “recessão pronunciada,
A participação setorial no valor adicionado foi da ordem de acontecida no 1º semestre do ano, reflexo da penetração da crise
R$ 145,8 bilhões para a agropecuária, redução na participação de internacional no front doméstico, que atingiu de forma profunda os
1,70% em relação a 2004, totalizando 8,4% do PIB 2005. A indús- ramos mais articulados ao comércio externo, pela via perversa da
tria e os serviços apresentaram desempenhos positivos, 40% e diminuição da demanda, dos preços e do crédito”.
57%, respectivamente. O PIB per capita a preços correntes, definido No segundo semestre, a economia se recuperou, em função
como a divisão do total do PIB a preços correntes pela população do bom desempenho do mercado interno aquecido pelas reduções
residente atingiu R$ 10.520,00 em 2005. do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para automóveis,
Para o ano de 2006, o crescimento registrado foi de 4,0%, pe- eletrodomésticos da linha branca e materiais de construção, e da
quena recuperação frente a 2005. O PIB per capita apresentou cres- pequena melhora apresentada pelo comércio internacional.
cimento real de 1,4% e o consumo das famílias 3,8% ante 2005. O PIB do primeiro semestre, se comparado ao mesmo período
Com base em dados do IBGE, o setor agropecuário cresceu de 2008, recuou 1,9% e, no segundo período de 2009, apresentou
3,2% em 2006, a indústria brasileira avançou 3%, puxada pela in- alta de 1,5%, seguindo a mesma base comparativa.
dústria extrativa mineral (5,6%) e pela construção civil (4,5%). O As medidas para mitigação dos efeitos da crise foram intensi-
ano foi marcado pelos reflexos da crise do agronegócio iniciada em ficadas entre 2008 até meados de 2009, período no qual a política
2005, determinada pela ausência de investimentos e de incentivos monetária promoveu uma diminuição gradativa na taxa Selic de
por parte dos governos e, pela preocupação mundial com a gripe 13,75% a.a. em dezembro/2008 para 8,75 a.a. em julho/2009. Por-
do frango, febre aftosa, transgenia, que comprometeram as expor- tanto, a recuperação demonstra que as medidas adotadas pelo go-
tações brasileiras do setor. verno promoveram a reação econômica, fazendo com que o Produ-
O resultado de 2007 mostra crescimento de 5,7%, conquistado to Interno Bruto crescesse nos últimos seis meses do ano anterior.
pela recuperação do setor do agronegócio, atividade que apresen-
tou o maior crescimento no ano com 5,3%, baseado no bom desem-
penho da lavoura de trigo, algodão herbáceo, milho em grão, cana e
soja. O bom desempenho da economia também foi motivado pelo
volume de investimentos (16,0%).
A indústria cresceu 4,9%, com destaque para a indústria de

275
REALIDADE BRASILEIRA

A Evolução do Salário Mínimo27 prazo. Outra fonte de ampliação dos empregos formais se deu a
partir do setor público, devido aos avanços das políticas sociais, so-
O primeiro mandato do governo Lula, marcado pelo começo bretudo em saúde, educação, previdência e assistência social, sen-
de uma nova fase da inserção internacional da economia brasileira, do que esses dois últimos setores passaram a contratar mais, como
a partir da melhora da demanda do mercado externo, determinan- reflexo do maior dinamismo da atividade econômica. Portanto, a
do grande parte das condições favoráveis ao bom desempenho do dinâmica econômica e do mercado de trabalho, no pós 2003, foram
crescimento do PIB, o qual foi realimentado pela subsequente am- fundamentais para a ampliação do emprego formal. Contudo, tam-
pliação do investimento e consumo - resultando, entre os anos de bém é necessário sublinhar que uma fonte de estímulo da melhora
2003 e 2006, numa média de variação anual do produto da ordem do nível de formalização está relacionada ao maior empenho do go-
de 4,2% -, inaugurou um período de considerável estruturação no verno no sentido de aumentar a fiscalização nos estabelecimentos
mercado de trabalho brasileiro, o que também contribuiu para a e contratos de trabalho. Tal postura do poder público, através do
criação de um contexto favorável à implementação de uma política Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho
do salário mínimo. e Justiça do Trabalho, tinha como principal objetivo a elevação da
A maior liquidez internacional no pós 2003, devido, em gran- arrecadação de impostos e contribuições sociais, para contrabalan-
de medida, à política americana de juros baixos, ampliação do gas- çar os crescentes gastos sociais, e as necessidades de ajuste fiscal,
to público e do déficit comercial, juntamente à forte demanda da decorrentes da política macroeconômica conservadora, iniciada em
economia chinesa, contribuiu para um movimento mais favorável 1999.
do comércio mundial, se traduzindo em melhoras crescentes das Sendo assim, tais mudanças significativas na economia e no
nossas exportações – via aumento de preços e quantidades, prin- mercado de trabalho brasileiro, como reflexo de um ciclo virtuoso
cipalmente em commodities, mas também em manufaturados –, inaugurado em 2003 - com a forte demanda do mercado interna-
mais competitivas devido ao câmbio desvalorizado, significando ex- cional, num ambiente de relativo controle inflacionário e redução
pressivos aumentos dos saldos anuais da balança comercial e em da vulnerabilidade externa e tendência à queda nas taxas de juros
conta corrente. O aumento das exportações, por sua vez, rebateu -, foram primordiais à trajetória ascendente do valor do salário mí-
positivamente na atividade econômica e, consequentemente, na nimo, que acumulou crescimento real de 27,87%, entre 2002-2006.
dinâmica da demanda doméstica, reforçada, posteriormente, pelo A ampliação do número de pessoas ocupadas com rendimento,
aumento do crédito às empresas e ao consumidor pelas transfe- aumento da formalização, crescimento da massa salarial - sobretu-
rências de renda do programa Bolsa Família, e pelo movimento de do entre 2005 e 2006 -, em virtude do aumento das ocupações, mas
recuperação do salário mínimo acima da inflação, o qual foi bene- também pela elevação da renda média do trabalho, relacionada,
ficiado pela gradual ativação da economia, bem como um contexto por sua vez, com a recuperação do piso mínimo, foram fundamen-
político mais favorável. tais para realimentar o ciclo virtuoso e, portanto, a continuidade
Embora com a continuidade de um arranjo restritivo de política do processo de recomposição do salário mínimo. Na medida em
econômica, marcada pelos juros elevados - priorizando o contro- que o ritmo de crescimento da economia e do emprego se man-
le inflacionário -, câmbio flutuante e a busca dos recorrentes su- teve, foram nítidos os efeitos positivos sobre as contas públicas e
perávits primários - para pagar o custo da dívida pública e reduzir da previdência, realimentando o quadro favorável para a sequência
a relação dívida/PIB -, com o aquecimento da economia os níveis de reajustes do mínimo, rebatendo nos aumentos do salário médio
absolutos e relativos de desemprego pararam de subir no mesmo real que, somados aos ajustes dos pisos das categorias - como resul-
ritmo anterior e, a partir de 2004, com o PIB crescendo em média tado das negociações coletivas -, e à ampliação dos empregos for-
3,5% ao ano, entre 2004-2006, houve um gradativo aumento da mais, implicou em substancial crescimento da massa salarial real,
elasticidade do emprego em relação ao produto, com as ocupações conforme dados da PNAD e assim sucessivamente, reproduzindo as
aumentando cerca de 2% ao ano – ver tabela 2. A informalidade e condições para o contexto positivo.
o grau de desproteção previdenciária arrefeceram, e a massa dos
rendimentos do trabalho, captada pela PNAD, cresceu considera- Ampliação de credito28
velmente entre 2004-2006, mas, sobretudo entre 2005-2006, tanto
pelo aumento das ocupações formais, como devido ao crescimento Dentro do contexto econômico, pode-se dizer que o crédito
da renda média do trabalho – ver tabela 4 -, a qual se encontrava oportuniza a realização de investimentos e conquistas, sendo ob-
em níveis bastante baixos em 2004. Sendo assim, tal cenário aca- tido por meio de uma relação de confiança entre duas ou mais
bou significando melhores condições para a continuidade do pro- partes, com as devidas garantias de operação, cujo propósito é a
cesso de recuperação do valor real do salário mínimo. compra e venda de produtos ou serviços.
Com a recuperação da atividade econômica ocorreu um maior O acesso das populações carentes ao crédito é resultado das
estímulo às contratações formais, sobretudo em razão do aumento políticas públicas contra a pobreza, impactando a economia local.
de capacidade produtiva nas médias e grandes empresas - domi- Pode-se dizer que o crédito é a chave que abre a porta para o cres-
nantes no setor exportador – revertendo a tendência de pequena cimento dos negócios em todos os setores da economia.
elasticidade emprego-renda dos anos 90. Dessa forma, inaugu- O sistema financeiro do Brasil tem como características certo
rou-se um período de aumento das ocupações, principalmente o conservadorismo, apoiando-se numa visão de curto prazo e privile-
emprego assalariado formal. Esse quadro de aumento do emprego giando a ideia de que capital atrai mais capital, às vezes, numa razão
e formalização foi sendo realimentado pela continuidade do bom direta de seu tamanho e inversa com relação às suas necessidades.
desempenho do produto, reforçado pelo aumento dos gastos das A oferta de crédito tem uma elevada importância no desenvol-
famílias e empresas, devido à ampliação do crédito de mais longo 28 BURIN, Roberto. AS CONSEQUÊNCIAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA
27 SOUEN, Jacqueline Aslan. A Política de Valorização do Salário Mínimo e seus AMPLIAÇÃO DO CRÉDITO COMO ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO
Determinantes no Contexto da Retomada Econômica, 2003 – 2010. Adaptado ECONÔMICO. Adaptado

276
REALIDADE BRASILEIRA

vimento econômico do país, uma vez que possibilita o investimento ocorre a partir dos cheques emitidos pelo cliente, se não houver
na aquisição de produtos, máquinas, equipamentos, bem como na saldo na conta corrente de movimentação. Havendo saldo disponí-
contratação de mão-de-obra, impulsionando a economia nacional. vel na conta movimento, há a transferência dos valores para a conta
Com a oferta de crédito a médio e longo prazo, tanto as pessoas garantida, cobrindo o saldo devedor da mesma.
físicas como empresas participam de forma mais direta da econo- - Desconto de títulos (notas promissórias e duplicatas): o banco
mia, participação observada pelo aumento do consumo, aplicações libera aos clientes, de forma imediata, recursos que serão recebi-
em maquinários e abertura de novos estabelecimentos comerciais. dos quando do vencimento das promissórias e duplicatas entregues
O crédito tem um importante papel no desenvolvimento local à instituição financeira. O cliente recebe os valores, antecipa seu
e este irá se refletir no desenvolvimento de uma forma mais ampla, fluxo de caixa e transfere ao banco os documentos que seriam re-
ou seja, reflete-se na sociedade como um todo e faz com que os cebidos no futuro.
governos se voltem para atender as necessidades da população. O - Aquisição de bens: operação que se destina a possibilitar a
desenvolvimento do país deve envolver a participação da sociedade aquisição de bens, tanto a pessoas físicas como jurídicas, ficando
civil, do poder público e das instituições financeiras, enquanto orga- o bem adquirido como garantia da operação de crédito realizada.
nismos liberadores de crédito. - Financiamento imobiliário: caracteriza-se por não estar inte-
Sempre que o poder público oportuniza a liberação do crédi- grado ao Sistema Financeiro de Habitação e seu objetivo é o finan-
to, o reflexo é o aumento do consumo. Saliente-se que pode haver ciamento para adquirir, construir ou reformar imóveis.
maior inserção econômica e social, através da geração de emprego - Cheque especial: tipo de crédito em que há a vinculação de
e renda. um determinado limite à conta bancária da pessoa física. O saldo
É importante ressaltar que a concessão do crédito através das desse limite é abatido sempre que houver saldo na conta bancária
instituições financeiras baseia-se na análise de fatores operacionais do devedor.
e financeiros da empresa, no caso de pessoa jurídica, bem como - Crédito pessoal: tradicional operação de crédito destinada às
nas garantias pessoais, no caso de liberação de crédito à pessoa pessoas físicas, mas ressalta-se que a concessão não se caracteriza
física, ligado principalmente ao salário. O volume de crédito é pela vinculação de um bem ou de algum serviço.
diretamente proporcional à política econômica implantada pelo - Cartão de crédito: modalidade de crédito que disponibiliza,
poder público, isto é, numa economia equilibrada, pode-se liberar entre outros, serviços como pagamentos à vista entre consumidor
o crédito sem maiores riscos. Salientando-se que quanto maior e empresa, bem como permite a liberação de dinheiro de forma
o endividamento, maiores são os riscos de inadimplência, assim direta ao consumidor por meio de uma operação de saque.
como provoca a elevação das taxas de juros. - Crédito consignado: representa uma modalidade de crédito
No entender de Securato (2002), toda operação de crédito se muito utilizada atualmente. Trata-se de um empréstimo em que os
caracteriza por ser uma forma de obtenção de empréstimo, cujo débitos das parcelas serão realizados diretamente no salário do to-
custo está representado na forma de juros. Já Schrickel (2000, p. mador do empréstimo, ou seja, diretamente em seu contracheque.
25) apresenta uma definição de operação de crédito como sendo No entanto, essa modalidade deve obedecer aos limites de endivi-
“[...] todo ato de vontade ou disposição de alguém destacar ou ce- damento do trabalhador, conforme o valor de seu salário (FORTU-
der temporariamente parte de seu patrimônio a um terceiro, com NA, 1999; BACEN, 2007).
a expectativa de que esta parcela volte à sua posse integralmente A liberação de crédito através da utilização das políticas pú-
após decorrer o tempo estipulado”. No momento da liberação do blicas, especificamente no período de 2002 a 2009, possibilitou o
crédito, ocorre o que Santos (2003, p.15) determina como sendo “a acesso ao crédito das chamadas populações de baixa renda, urba-
troca de um valor presente por uma promessa de reembolso futuro, nas e rurais; bem como a elevação do consumo e a consequente
não necessariamente certa em razão do fator risco”. geração de emprego e renda. Conforme Torres Filho (2006), a partir
As operações de crédito têm sua classificação de acordo com do ano 2000, evidencia-se um crescimento do crédito para a pessoa
a origem dos recursos, dividindo-se em: operações de crédito com física em razão da consolidação do sistema financeiro no que diz
recursos direcionados, aquelas que apresentam taxas e recursos respeito ao enfrentamento das constantes crises financeiras e da
previamente estabelecidos pelas normas governamentais e desti- capacidade de manter a economia nacional num patamar de estabi-
nadas fundamentalmente a setores como o rural, habitacional e de lidade e segurança, a partir de alguns ajustes e redirecionamentos.
infra-estrutura; assim como as operações de crédito com recursos Conforme Slomp (2012), percebe-se, no país, a instalação da
livres, as que têm sua formalização por meio de taxas de juros de- chamada cultura do endividamento, em face do aumento no nú-
finidas entre os tomadores e os estabelecimentos financeiros (OR- mero de pessoas endividadas junto às instituições financeiras, bem
TOLANI, 2000). como pela elevação do crédito direto ao consumidor em lojas e
departamentos; fazendo com que o endividamento se caracterize
Entre as principais operações de crédito com recursos livres, como um reflexo da sociedade. Assim sendo, a dívida é parte inte-
pode-se destacar: grante do contexto econômico e está diretamente relacionada às
atuações internacionais, nacionais, regionais e até familiares, em
- Capital de giro: modalidade de empréstimo cujo objetivo é face disso, o governo e os órgãos de controle devem estar atentos
atender as necessidades de capital de giro das empresas. O emprés- para que o endividamento não se torne um problema de irreversí-
timo tem sua vinculação por meio de um contrato específico em vel solução.
que fica estabelecido o prazo, taxas, valores e as garantias necessá-
rias. Comumente, a garantia se realiza por meio de duplicatas, e os
prazos giram em torno de 180 dias.
- Conta garantida: caracteriza-se por se tratar de uma conta de
crédito aberta com valor limite pré-estabelecido e o movimento

277
REALIDADE BRASILEIRA

Transferência de Renda29 tantes, se constituindo em uma forma de ampliar o bem estar da


sociedade.
No Brasil, país de grande dimensão continental, a acumulação
ocorre de forma heterogênea. Em algumas áreas estão concen- A crise econômica 2008 - Abalos na economia mundial
trados setores dinâmicos da economia, que promovem cada vez
mais a expansão produtiva daquele espaço, enquanto em outras A crise que mais abalou a economia mundial desde a crise de
ocorrem fragilidades econômicas. Buscar a integração do processo 1929 foi a que eclodiu nos EUA a partir de uma bolha (uma situação
produtivo entre as regiões do Brasil para promover o acúmulo de de super demanda que estimula a especulação financeira) no setor
excedentes e a redução das desigualdades sociais rumo a um pos- imobiliário e se alastrou para todos os outros setores econômicos
terior desenvolvimento, deveria estar entre os principais objetivos e países do mundo. Ocorreram várias outras crises econômicas en-
das ações governamentais. tre 29 e 2008, mas foram menos violentas. Como outras crises que
As discussões em torno das causas do crescimento e desen- ocorreram neste intervalo podemos citar as crises do petróleo, na
volvimento de uma nação são das mais diversas. Enquanto alguns década de 70 (1973 e 1979). A crise atingiu os setores financeiros
economistas compartilham a ideia de que crescimento e desen- (de créditos financiamentos e negociações na bolsa de valores) e
volvimento são sinônimos, outra corrente de teóricos diferenciam produtivos (retração na produção das indústrias, desemprego e di-
ambos, propondo ser o crescimento condição indispensável, mas minuição no consumo de bens e serviços.). Se alastrou rapidamente
não suficiente ao desenvolvimento. Há também uma nova proposta e de forma notável atingiu com mais profundidade os países mais
de desenvolvimento sustentada no princípio da justiça social, com desenvolvidos. EUA, UE, e Japão foram os mais impactados. Uma
a equalização das oportunidades, contrapondo-se ao modelo con- razão para isso é que devemos nos lembrar que na Globalização
vencional de desenvolvimento econômico predominante. todas as grandes economias do mundo são muito interligadas e in-
Daí a importância de não se confundir crescimento com de- terdependentes, podendo gerar um efeito dominó.
senvolvimento, fazendo-se necessário a compreensão de ambos Ainda nos dias de hoje, idos de 2015, alguns países europeus
os processos, pois em algumas situações associado ao crescimen- estão passando por uma forte crise econômica e a união europeia
to ocorrem queda dos indicadores sociais. O crescimento estaria corre risco de se desmantelar e o Euro de se enfraquecer. Há vá-
relacionado ao aumento da renda per capita, enquanto que, o rias propostas nos PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda/Eire, Grécia e
desenvolvimento contemplaria o aumento da produção nacional Espanha), os mais atingidos pela crise europeia, de abandonar a
acompanhado de melhorias no nível de vida da população e de moeda e a UE. Nos mais industrializados também há convicções de
transformações sociais e econômicas ocorridas na sociedade, o que abandonar a organização. Foi marcado no Reino Unido um plebis-
evidencia a complexidade da relação existente entre crescimento e cito para decidir se ficam ou não na EU. A crise atingiu também os
desenvolvimento. Emergentes. Como dependem do capital das economias centrais e
As análises mais completas acerca das questões do desenvolvi- exportam matérias primas para lá, foram atingidos e tiveram um
mento, além avaliarem as variações quantitativas do produto e as crescimento econômico menor. Lembre-se que países desenvolvi-
melhorias em educação, saúde, nível de bem estar, entre outros, dos param de produzir e de comprar commodities (matérias pri-
consideram a questão ambiental, pois “Com o tempo, o crescimen- mas negociadas nas bolsas internacionais. Fique ligado, pois quem
to econômico tende a esgotar os recursos produtivos escassos, atra- determina o preço é o mercado e não os produtores.) e no caso
vés de sua utilização indiscriminada.” do Brasil, exportamos menos minérios e produtos agrícolas. Como
Daí a relevância do gasto social e das rendas monetárias para as tudo isso começou?
pequenas economias, pois em muitos casos, eles são direcionados A crise estourou nos EUA e é importante lembrarmos uma de
aqueles que não possuem renda, implicando na ampliação do con- suas características: Seu banco central o FED (federal reserve) tem
sumo destes beneficiários, e em ganhos econômicos. O gasto social total autonomia para mexer nas taxas de juros. E como não há inter-
teria efeitos sobre o produto e a renda da economia, o que pode ser venção estatal, quando um consumidor adquire um financiamento,
atribuído ao princípio da demanda efetiva. Outro efeito concentra- os valores das parcelas podem oscilar de acordo com a oscilação
-se na promoção autônoma da redistribuição da renda que o gasto dos juros. Em 2001 ocorre o atentado do 11/09 que estimula a
pode promover aos beneficiários. No Brasil, o avanço em gasto so- política de Guerra ao Terror do então presidente George Bush de
cial começa a ocorrer a partir da Constituição de 1988, momento de invadir o Afeganistão em 2001 e o Iraque e os gastos militares au-
grandes demandas sociopolíticas em todo o país. mentam muito.
O programa Bolsa Família é uma representação bastante plau- Nos anos de 2001 o FED diminuiu a taxa básica de juros que
sível nesta proposta de desenvolvimento equitativo, haja vista que, ficou em torno de 1,75% a 1%. O objetivo desta medida é estimu-
além de atender parcela significativa da população brasileira em lar a economia através do consumo. Os financiamentos ficam mais
situação de pobreza e extrema pobreza, o programa conta com baratos e vendem mais mercadorias. O valor do financiamento de
condicionalidades nas áreas de saúde e educação, o que acaba por casas caiu e impulsionou a construção civil e o mercado imobiliário,
contribuir com igualdade, e com a oportunidade de inclusão. que passa a oferecer créditos a muitas pessoas. No linguajar corpo-
As políticas sociais se definem como a intervenção do Estado rativo americano denominava-se como “Sub prime” os setores tra-
nas questões sociais do país, com vista a melhorar as condições de balhadores mais frágeis da economia (trabalhadores assalariados e
vida de seus habitantes, e oferecer direitos, como educação, saú- pequenos empreendedores), que por possuírem uma baixa renda,
de e assistência social. Dentre os objetivos das políticas, a redução há um risco maior de calote no caso de aumento das prestações).
das desigualdades, pode ser considerada como um dos mais impor- Multiplicam-se os empréstimos imobiliários e a emissão de títulos
29 SILVA. Audileia Rodrigues. PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIAS DE REN- na bolsa de valores, dando como garantia as prestações a serem pa-
DA E DESENVOLVIMENTO: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA gas, ou seja, em caso de inadimplência perde o imóvel. Com a super
NO MUNICÍPIO DE PLANALTO – BA, NO PERÍODO DE 2004 A 2010. Adaptado demanda forma-se uma bolha especulativa, e aumentam os valores

278
REALIDADE BRASILEIRA

dos imóveis e aplicações financeiras na construção civil. A Crise Ambiental Global


Devidos aos altos gastos militares e políticas neoliberais em Atualmente, enfrentamos uma série de crises ambientais, in-
que o governo retirou os impostos das rendas mais altas ocorre au- cluindo as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, a polui-
mento da inflação (aumento no preço dos produtos) no país. Para ção e a degradação dos solos e dos recursos hídricos. As mudanças
tentar conter a inflação o FED aumentou a taxa básica de juros e climáticas, impulsionadas principalmente pelas emissões de gases
tentar incentivar a procura internacional por dólares. A principal de efeito estufa resultantes de atividades humanas, como a quei-
consequência é o aumento do valor dos financiamentos e presta- ma de combustíveis fósseis, representam uma ameaça significativa
ções. As taxas foram aumentadas até 5,25%, cinco vezes maior que para ecossistemas, economias e comunidades em todo o mundo.
2001. Como as prestações multiplicaram seu valor, aquele grupo A perda de biodiversidade, por sua vez, resulta da destruição de
mais frágil da economia designado “sub prime” pelos bancos não habitats, poluição, práticas agrícolas insustentáveis e mudanças
conseguiram pagar suas dívidas e ocorreram vários calotes. climáticas, comprometendo os serviços ecossistêmicos dos quais
Lembra-se que o próprio imóvel era dado como garantia da dependemos.
dívida? Então. Ocorre uma grande onda de despejos e muitas pes-
soas foram parar nas ruas. Com o aumento da oferta de imóveis Desenvolvimento Sustentável como Solução
(oferta maior que a demanda) os preços desabam. Como as dividas O desenvolvimento sustentável propõe um modelo em que o
foram transformadas em títulos os bancos comercializaram estes crescimento econômico é alcançado sem esgotar os recursos natu-
títulos nas bolsas de valores. Estes títulos na bolsa (com base nos rais e prejudicar o meio ambiente. Essa abordagem enfatiza a im-
empréstimos dados como garantia) despencou causando prejuízos portância de atender às necessidades do presente sem comprome-
à bancos e a empresas imobiliárias. O resultado: Efeito dominó. Mi- ter a capacidade das gerações futuras de atender às suas próprias
lhares de pessoas perdem a moradia, bancos quebram e o setor de necessidades. Isso envolve a integração de políticas ambientais,
construção civil entrou em paralisia. econômicas e sociais, a promoção de tecnologias limpas e renová-
veis, e a adoção de práticas de consumo e produção responsáveis.
Consequências da crise
Economia Verde e Energias Renováveis
- Adoção de medidas Keynesianas, ou seja, os Estados passam a Uma parte crucial do desenvolvimento sustentável é a tran-
intervir na economia. Os bancos no mundo todo injetam em torno sição para uma economia verde, caracterizada por ser inclusiva e
de 400 bilhões nos mercados financeiros através de empréstimos geradora de baixas emissões de carbono. Isso inclui investimentos
de curto prazo para os bancos manterem as transações financeiras. em energias renováveis, como solar, eólica e hidrelétrica, que são
O dinheiro emprestado é público. O governo norte americano inje- fundamentais para reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
tou muito dinheiro para salvar bancos e estimular fusões entre eles. Além disso, a economia verde envolve a criação de empregos “ver-
Os bancos que não receberam ajuda estatal quebraram e levaram des” que contribuem para preservar ou restaurar o meio ambiente,
junto outros bancos e fundos de pensão. seja na agricultura, indústria, serviços ou administração pública.
- Os investidores (por segurança param de investir em títulos
imobiliários) e migram seus investimentos para as commodities o Sustentabilidade Social e Equidade
que provocou aumento na cotação internacional dos grãos. Mais O desenvolvimento sustentável também aborda questões de
de 20 nações pobres passaram por uma crise alimentar no primeiro equidade social e sustentabilidade. Isso envolve garantir que todos
semestre de 2008, causando protestos populares. tenham acesso aos recursos básicos, educação e saúde, e que as
- As medidas Keynesianas são adotadas pelas potências comunidades tenham voz nas decisões que afetam seus ambientes
industriais para evitar uma maré de empresas quebradas. Investem e seus meios de subsistência. A promoção da igualdade de gêne-
trilhões de dólares nas instituições bancárias e grandes empresas. ro, a proteção dos direitos dos povos indígenas e das comunidades
As eficácias das medidas neoliberais passam a ser questionadas. Os locais, e a garantia de práticas comerciais justas são fundamentais
governos estatizam empresas e garantem os depósitos bancários para alcançar a sustentabilidade em todas as suas dimensões.
de investidores
- Recessão (retração da economia) Desafios e Caminhos a Seguir
- Desemprego A implementação efetiva do desenvolvimento sustentável re-
- Diminuição do crescimento econômico mundial quer ação coletiva global, envolvendo governos, empresas e socie-
dade civil. Acordos internacionais, como o Acordo de Paris sobre
mudanças climáticas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentá-
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE. vel das Nações Unidas, são passos importantes nessa direção. No
entanto, ainda há desafios significativos, incluindo a necessidade de
A relação entre meio ambiente e desenvolvimento sustentável financiamento adequado, o desenvolvimento de políticas eficazes
é um dos temas mais prementes da atualidade, refletindo a necessi- e a promoção de mudanças comportamentais em nível individual
dade urgente de reavaliar as práticas econômicas e sociais à luz dos e coletivo.
impactos ambientais. O conceito de desenvolvimento sustentável O caminho para o desenvolvimento sustentável não é simples
surge como uma resposta à crescente consciência de que o mode- nem fácil, mas é essencial para garantir um futuro onde o progres-
lo de desenvolvimento econômico vigente, muitas vezes baseado so econômico, a conservação ambiental e o bem-estar social cami-
na exploração excessiva de recursos naturais, não é viável a longo nhem lado a lado. Assim, cada ação que tomamos hoje para apoiar
prazo. Assim, busca-se um equilíbrio entre crescimento econômico, este objetivo é um passo em direção a um mundo mais equitativo,
conservação ambiental e equidade social. saudável e sustentável para todos.

279
REALIDADE BRASILEIRA

Os índices termopluviométricos, associados a outros fatores de


BIOMAS BRASILEIROS: USO RACIONAL, CONSERVAÇÃO variação espacial menor e que também influem no tipo de vegeta-
E RECUPERAÇÃO ção, como maior ou menor proximidade de curso de água, os dife-
rentes tipos de solo, a topografia e as variações de altitude, deter-
minam a existência de diferentes ecossistemas não contemplados
As formações vegetais são tipos de vegetação facilmente iden- nos mapas-múndi. Todas as formações vegetais têm grande impor-
tificáveis na paisagem e que ocupam extensas áreas. É o elemento tância para a preservação dos variados biomas e ecossistemas da
mais evidente na classificação dos biomas. Estes, por sua vez, são Terra.
sistemas em que solo, clima, relevo, fauna e demais elementos da
natureza interagem entre si formando tipos semelhantes de cober- Cobertura Vegetal Original
tura vegetal, como as Florestas Tropicais, as Florestas Temperadas,
as Pradarias, os Desertos e as Tundras. Em escala planetária, os Tundra
biomas são unidades que evidenciam grande homogeneidade nas Vegetação rasteira, de ciclo vegetativo extremamente curto.
características de seus elementos. Por encontrar-se em regiões subpolares, desenvolve-se apenas du-
Assim, há Florestas Tropicais na América, África, Ásia e Ocea- rante os três meses de verão, nos locais onde ocorre o degelo. Um
nia que, embora semelhantes, possuem comunidades ecológicas exemplo disso é o rio na Groelândia que se forma nessa estação,
com exemplares distintos. Alguns desses exemplares são chama- com o derretimento da neve. As espécies típicas são os musgos,
dos de endêmicos, ou seja, não ocorrem em nenhuma outra área nas baixadas úmidas, e os líquens, nas porções mais elevadas do
do mundo. Entre outros fatores, isso se explica pela separação dos terreno, onde o solo é mais seco, aparecendo raramente pequenos
continentes: o afastamento físico fez com que as espécies vivessem arbustos.
evoluções paralelas, apesar de distintas, processo que é chamado
especiação.
As plantas e os animais de um mesmo bioma não estão presen-
tes, necessariamente, em diferentes regiões do planeta. Exemplo: o Floresta Boreal (Taiga)
chimpanzé é encontrado na Floresta Tropical de Uganda, mas não Formação florestal típica da Zona temperada. Ocorre nas altas
compõe a fauna das Florestas Tropicais sul-americanas. Por outro latitudes do hemisfério norte, em regiões de climas temperados
lado, várias espécies endêmicas de nosso continente não são en- continentais, como Canadá, Suécia, Finlândia e Rússia. Neste últi-
contradas nas florestas africanas, como é o caso do mico-leão-dou- mo país, cobre mais da metade do território e é conhecida como
rado, originário da Mata Atlântica brasileira. Taiga. É uma formação bastante homogênea, na qual predominam
coníferas do tipo pinheiro. As coníferas são espécies adaptadas à
Principais Características das Formações Vegetais ocorrência de neve no inverno; são aciculifoliadas e com árvores
em forma de cone, o que facilita o deslizamento da neve por suas
A formação vegetal é o elemento mais evidente na classificação copas. Essa formação florestal foi largamente explorada para
dos ecossistemas e biomas, por isso, e dependendo da escala utili- ser usada como lenha e para a fabricação de papel e móveis.
zada em sua representação, são feitas grandes generalizações. Atualmente, a madeira é obtida de árvores cultivadas (silvicultura).
Os elementos climáticos, em especial a temperatura e a umida-
de, são determinantes para o tipo de vegetação de uma área. Eles Floresta Subtropical e Temperada
definem diversas características das plantas, necessárias à adapta- Esta formação florestal caducifólia, típica dos climas tempera-
ção aos diferentes climas. Com base nessas características é possí- dos e subtropicais, é encontrada em latitudes mais baixas e sob
vel classificar as plantas em: maior influência da maritimidade. Estendia-se por grandes porções
Perenes (do latim perene, “perpétuo, imperecível”): plantas que da Europa centro-ocidental, mas por causa de atividades agrope-
apresentam folhas durante o ano todo; cuárias, atualmente subsiste na Ásia, na América do Norte e em
Caducifólias, decíduas (do latim deciduus, “que cai, caduco”) ou pequenas extensões da América do Sul e da Oceania. Na Europa,
estacionais: plantas que perdem as folhas em épocas muito frias ou restam apenas pequenas extensões, com a floresta Negra, na Ale-
secas do ano; manha, e a floresta de Sherwood, na Inglaterra.
Esclerófilas (do grego sklerós, “duro, seco, difícil”): plantas com
folhas duras, que têm consistência de couro (coriáceas); Floresta Equatorial e Tropical
Xerófilas (do grego xêrós, “seco, descarnado, magro”): plantas Nas regiões tropicais quentes e úmidas, encontramos florestas
adaptadas à aridez; que se desenvolvem graças aos elevados índices pluviométricos.
Higrófilas (do grego hygrós, “úmido, molhado”): plantas, geral- São, por isso, formações higrófilas e latifoliadas, extremamente
mente perenes, adaptadas a muita umidade; heterogêneas, que se localizam em baixas latitudes na América,
Tropófilas (do grego tropos, “volta, giro”): plantas adaptadas a na África e na Ásia. Nessas regiões predominam climas tropicais e
uma estação seca e outra úmida; equatoriais e espécies vegetais de grande e médio portes, como o
Aciculifoliadas (do latim acicula, “alfinete, agulhinha”): pos- mogno, o jacarandá, a castanheira, o cedro, a imbuia e a peroba,
suem folhas em forma de agulhas, como os pinheiros. Quanto me- além de palmáceas, arbustos, briófitas e bromélias. As Florestas
nor a superfície das folhas, menos intensa é a transpiração e maior Tropicais possuem a maior biodiversidade do planeta, com muitas
é a retenção de água pela planta; espécies ainda desconhecidas.
Latifoliadas (do latim lato, “lrgo, amplo”): plantas de folhas lar-
gas, que permitem intensa transpiração; são geralmente nativas de
regiões muito úmidas.

280
REALIDADE BRASILEIRA

Mediterrânea A Vegetação e os Impactos do Desmatamento


Desenvolve-se em regiões de clima mediterrâneo, que apresen-
tam verões quentes e secos e invernos amenos e chuvosos. É en- Impacto ambiental é um desequilíbrio provocado pela ação dos
contrada em pequenas porções da Califórnia (Estados Unidos, onde seres humanos sobre o meio ambiente ou por acidentes naturais,
é conhecida como Chaparral), do Chile, da África do Sul e da Austrá- como a erupção de um vulcão (que pode provocar poluição atmos-
lia. As maiores ocorrências estão no sul da Europa, onde foi larga- férica), o choque de um meteoro (destruição de espécies animais e
mente desmatada para o cultivo de oliveiras (espécie nativa dessa vegetais), um raio (incêndio numa floresta), etc.
formação vegetal) e videiras (nativas da Ásia), e norte da África. Quando os ecossistemas sofrem impactos ambientais, geral-
mente a vegetação é o primeiro elemento a ser atingido, pois é re-
Pradarias flexo das condições naturais de solo, relevo e clima do lugar em que
Compostas basicamente de gramíneas, são encontradas prin- ocorre.
cipalmente em regiões de clima temperado continental. Desen- Atualmente, todas as formações vegetais, em maior ou menor
volvem-se na Rússia e Ásia central, nas Grandes Planícies norte-a- grau, encontram-se modificadas. Em muitos casos, sobraram ape-
mericanas, nos Pampas argentinos, no Uruguai, na região Sul do nas alguns redutos em que a vegetação original é encontrada, nos
Brasil e na Grande Bacia Artesiana (Austrália). Muito usada como quais, embora com pequenas alterações, ainda preserva suas ca-
pastagem, essa formação é importante por enriquecer o solo com racterísticas principais. Essa devastação deve-se basicamente a in-
matéria orgânica. teresses econômicos.
A primeira consequência do desmatamento é o comprometi-
Estepes mento da biodiversidade, por causa da diminuição ou, muitas ve-
Nessas formações a vegetação é herbácea, como nas Pradarias, zes, da extinção de espécies vegetais e animais, muitas delas ainda
porém mais esparsa e ressecada. As Estepes desenvolvem-se em nem descobertas e estudadas.
uma faixa de transição entre climas tropicais e desérticos, como na Na Floresta Amazônica, há uma grande quantidade de espécies
região do Sahel, na África, e entre climas temperados e desérticos, endêmicas. Parte desse patrimônio genético é conhecida pelas vá-
como na Ásia central. Essa vegetação foi muito degradada por ativi- rias etnias indígenas que ali habitam. No entanto, a maioria dessas
dades econômicas, como o pastoreio. comunidades nativas está sofrendo um processo de integração à
sociedade urbano-industrial que tem levado à perda do patrimônio
Deserto cultural desses povos, dificultando a preservação dos seus conhe-
Bioma cujas espécies vegetais estão adaptadas à escassez de cimentos. Outro ponto importante que afeta os interesses nacio-
água em regiões de índice pluviométrico inferior a 250 mm anuais, nais dos países onde há florestas tropicais, incluindo o Brasil, é a
como nos desertos da América, África, Ásia e Oceania. Apresenta biopirataria, por meio da qual muitas empresas assumem práticas
espécies vegetais xerófilas, destacando-se as cactáceas. Algumas ilegais para garantir o direito de explorar, futuramente, uma possí-
dessas plantas são suculentas (armazenam água no caule) e não vel matéria-prima para a indústria farmacêutica e de cosméticos,
possuem folhas ou evoluíram para espinhos, reduzindo a perda de entre outras.
água pela evapotranspiração. No Saara, em lugares em que a água No Brasil, os incêndios ou queimadas de florestas, que conso-
aflora à superfície, surgem os oásis. mem uma quantidade incalculável de biomassa30 todos os anos, são
provocados para o desenvolvimento de atividades agropecuárias,
Savana muitas vezes em grandes projetos que recebem incentivos gover-
Em regiões onde o índice de chuvas é elevado, porém concen- namentais e, portanto, sob o amparo da lei. Podem também ser
trado em poucos meses do ano, podem desenvolver-se as Savanas, resultado de práticas criminosas ou ainda de acidentes, incluindo
formação vegetal complexa que apresenta estratos arbóreo, arbus- naturais.
tivo e herbáceo. As Savanas são encontradas em grandes extensões As consequências socioambientais das interferências humanas
da África, na América do Sul (no Brasil, corresponde ao domínio em regiões de florestas são várias. Uma das principais é o aumento
dos Cerrados) e em menores porções na Austrália e na Índia. Sua do processo erosivo, o que leva a um empobrecimento dos solos,
área de abrangência tem sido muito utilizada para a agricultura e podendo ampliar ou formar áreas desertificadas em regiões de cli-
a pecuária, o que acentuou sua devastação, como tem ocorrido no ma árido, semiárido e subúmido.
Brasil central. No continente africano, esse bioma abriga animais
de grande porte, como leões, elefantes, girafas, zebras, antílopes Biomas e Formações Vegetais do Brasil
e búfalos.
Nosso país apresenta grande variedade de ecossistemas. Essa
Vegetação de Altitude variedade relaciona-se à grande diversidade da fauna e da flora
Em regiões montanhosas há uma grande variação altitudinal da brasileiras, das quais muitas espécies são nativas do Brasil, como a
vegetação. À medida que aumenta a altitude e diminui a tempera- jabuticaba, o amendoim, o abacaxi e a castanha-do-pará. No entan-
tura, os solos ficam mais rasos e a vegetação, mais esparsa. Nessas to, esses ecossistemas já sofreram grandes impactos negativos des-
condições, surgem as florestas nas áreas mais baixas e, nas mais de o início da colonização, com o desenvolvimento das atividades
altas, os campos de altitude. econômicas e a consequente ocupação do território, como se pode
constatar ao comparar os dois mapas abaixo.

30 Biomassa é a quantidade total de matéria viva de um ecossistema, geralmente


expressa em massa por unidade de área ou de volume.

281
REALIDADE BRASILEIRA

Brasil: vegetação nativa viais tropicais do planeta. No Brasil, ela se estende por 3,7 milhões
de km² e 10% dessa área constitui unidades de conservação. Cerca
de 15% da vegetação da Floresta Amazônica foi desmatada, sobre-
tudo a partir da década de 1970 com a construção de rodovias e a
instalação de atividades mineradoras, garimpeiras, agrícolas e de
exploração madeireira. Em razão do predomínio das planícies e dos
planaltos de baixa altitude, a topografia não provoca modificações
profundas na fisionomia da floresta, que apresenta três estratos de
vegetação:
→ Caaigapó (do tupi-guarani, “mata molhada”) ou igapó: de-
senvolveu-se ao longo dos rios, numa área permanentemente ala-
gada. Em comparação com os outros estratos da floresta é o que
possui menos quantidade de espécies e é constituído por árvores
de menor porte, incluindo palmeias e plantas aquáticas, destacan-
do-se a vitória-régia;
→ Várzea: área sujeita a inundações periódicas, com a vegetação
de médio porte raramente ultrapassando os 20 m de altura, como o
pau-mulato e a seringueira. Como se situa entre a matas de igapó e
de terra firme, possui características de ambas;
→ Caaetê (do tupi-guarani, “mata seca”) ou terra firme: área
que nunca inunda, na qual se encontra vegetação de grande porte,
com árvores chegando aos 60 m de altura, como a castanheiro-do-
-pará e o cedro. O entrelaçamento das copas das árvores forma um
http://www.inf.furb.br/sisga/educacao/ensino/mapaVegeta- dossel que dificulta a penetração da luz, propiciando um ambiente
cao.php não exposto ao sol e úmido no interior da floresta.

Brasil: retratação da vegetação e da cobertura atual31 Mata Atlântica (floresta pluvial tropical): originalmente cobria
uma área de 1 milhão de km², estendendo-se ao longo do litoral
desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul e alargando-
-se para o interior em Minas Gerais e São Paulo. É um dos biomas
mais importantes para a preservação da biodiversidade brasileira
e mundial, mas é também o mais ameaçado. Restam apenas 7%de
sua área original e, desses remanescentes, quatro quintos estão lo-
calizados em propriedades privadas. As unidades de conservação
abrangendo esse bioma constituem apenas 2%.

Mata de Araucárias ou Mata dos Pinhais (floresta pluvial sub-


tropical): nativa do Brasil, é uma floresta na qual predomina a arau-
cária (Araucaria angustifolia), também conhecida como pinheiro-
-do-paraná ou pinheiro brasileiro, espécie adaptada a climas de
temperaturas moderadas a baixas no inverno, solos férteis e índice
pluviométrico superior a 1000 mm anuais. Nesse bioma é comum a
ocorrência de erva-mate, além de grande variedade de espécies va-
lorizadas pela indústria madeireira, como os ipês. Originariamente,
essa floresta dominava vastas extensões dos planaltos da região Sul
e pontos altos da serra da Mantiqueira nos estados de São Paulo,
Rio de Janeiro e Minas Gerais. Foi desmatada, sobretudo, para a
retirada de madeira utilizada na fabricação de móveis.

Mata dos Cocais: esta formação vegetal se localiza no estado


do Maranhão, encravada entre a Floresta Amazônica, o Cerrado e
https://www.nerdprofessor.com.br/mapa-vegetacao-do-brasil/ a Caatinga, caracterizando-se como mata de transição entre forma-
ções bastante distintas. É constituída por palmeiras, com grande
Características das Formações Vegetais Brasileiras predominância do babaçu e ocorrência esporádica de carnaúba;
desde o período colonial, a região é explorada economicamente
As principais formações vegetais no território brasileiro são: pelo extrativismo de óleo de babaçu e cera de carnaúba. Atualmen-
Floresta Amazônica (floresta pluvial equatorial): é a maior flo- te, porém, vem sendo desmatada para o cultivo de grãos destina-
resta tropical do mundo, totalizando cerca de 40% das florestas plu- dos à exportação, com destaque para a soja.
31 Em geografia e ecologia, a antropização é a conversão de espaços abertos,
paisagens e ambientes naturais pela ação humana.

282
REALIDADE BRASILEIRA

Caatinga: vegetação xerófila, adaptada ao clima semiárido do ameaças à preservação dessas formações vegetais são o avanço da
Sertão nordestino, na qual predominam arbustos caducifólios e es- urbanização, a pesca predatória, a poluição dos estuários e o turis-
pinhosos; ocorreram também cactáceas, como o xique-xique e o mo desordenado, incentivando a instalação de aterros.
mandacaru. A palavra “caatinga” significa, em tupi-guarani, “mata
branca”, cor predominante da vegetação durante a estação seca. Matas de Galeria (Ciliar) e Capão
No verão, em razão da ocorrência de chuvas, brotam folhas verdes Podemos encontrar pequenas formações florestais em meio a
e flores. Sua área original era de 740 mil km², mas já teve 50% de outros tipos de vegetação, tai como:
sua área devastada e menos de 1% faz parte de unidades de con- Mata de Galeria ou Mata Ciliar: tipo de formação vegetal que
servação. acompanha o curso de rios do Cerrado, onde é muito frequente,
e da Caatinga. Nas áreas próximas às margens dos rios perenes, o
Cerrado: originalmente cobria cerca de 2 milhões de km² do solo é permanentemente úmido, criando condições para o desen-
território brasileiro, mas cerca de 40% de sua área foi desmatada. volvimento dessa mata, mais densa do que o bioma onde está en-
É constituído por vegetação caducifólia, predominantemente ar- cravada.
bustiva, de raízes profundas, galhos retorcidos e casca grossa (que Capão: em locais que correspondem a pequenas depressões,
dificulta a perda de água). Duas das espécies mais conhecidas são com baixos índices de chuvas, o nível hidrostático (ou lençol freáti-
o pequizeiro e o buriti. A vegetação próxima ao solo é composta de co) aflora ou chega muito próximo à superfície. Aí se desenvolvem
gramíneas, que secam no período de estiagem. É uma formação os capões, formações arbóreas geralmente arredondadas em meio
adaptada ao clima tropical típico, com chuvas abundantes no ve- à vegetação mais rala ou rasteira.
rão e inverno seco, desenvolvendo-se, sobretudo, no Centro-Oeste
brasileiro e em porções significativas do estado de Roraima. Nas re- Domínios Morfoclimáticos
giões Sudeste e Nordeste do país aparecem em manchas isoladas,
cercadas por outro tipo de vegetação. Em regiões mais úmidas, essa Brasil: Domínios Morfoclimáticos
formação se torna mais densa e com árvores maiores, caracterizan-
do o chamado “cerradão”.

Pantanal: estende-se, em território brasileiro, por 140 mil km²


dos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, em planícies
sujeitas a inundações. No Pantanal há vegetação rasteira, floresta
tropical e até mesmo vegetação típica do Cerrado nas regiões de
maior altitude. Por isso caracteriza-se não como uma formação ve-
getal, mas como um complexo que agrupa várias formações, com
fauna muito rica. Esse bioma vem sofrendo diversos problemas
ambientais, decorrentes principalmente da ocupação em regiões
mais altas, onde nasce a maioria dos rios. A agricultura e a pecuária
provocam erosão dos solos, assoreamento e contaminação dos rios
por agrotóxicos.
Campos Naturais: formações rasteiras ou herbáceas constituí-
das por gramíneas que atingem até 60 cm de altura. Sua origem
pode estar associada a solos rasos ou temperaturas baixas em re-
giões de altitude elevada, áreas sujeitas à inundação periódica ou
ainda solos arenosos. Os campos mais expressivos do Brasil loca-
http://educacao.globo.com/geografia/assunto/geografia-fisi-
lizam-se no Rio Grande do Sul, na chamada Campanha Gaúcha,
ca/dominios-morfoclimaticos.html
apropriados inicialmente como pastagem natural, atualmente são
amplamente cultivados tanto dessa forma quanto para a produção
Em 1965, o geógrafo Aziz Ab’Sáber (1924-2012) estabeleceu
agrícola mecanizada. Destacam-se, ainda, os campos inundáveis da
uma classificação dos domínios morfoclimáticos brasileiros, na qual
ilha de Marajó (PA) e do Pantanal (MT e MS), utilizados, respectiva-
cada domínio corresponde a uma diferente associação das condi-
mente, para criação de gado bubalino e bovino, além de manchas
ções de relevo, clima e vegetação. Assim, por exemplo, o domínio
isoladas na Amazônia, com destaque ao estado de Roraima, e nas
equatorial amazônico é formado por terras baixas (relevo), floresta-
regiões serranas do Sudeste.
das (vegetação) e equatoriais (clima).
Vegetação Litorânea: a restinga e os manguezais são conside-
Legislação Ambiental e Unidades de Conservação
radas formações vegetais litorâneas. A restinga se desenvolve no
cordão arenoso formado junto à costa, com predominância da ve-
A expressão “meio ambiente” envolve todas as dimensões que
getação rasteira, chamada de pioneira por possibilitar a fixação do
tornam a vida das pessoas mais saudáveis e equilibrada, como a
solo e permitir a ocupação posterior de arbustos e algumas árvores.
qualidade do ar e o conforto acústico. Essa expressão, portanto, en-
Os manguezais são nichos ecológicos responsáveis pela reprodução
globa tanto o meio ambiente natural quanto o cultural.
de grande número de espécies de peixes, moluscos e crustáceos.
A legislação brasileira relativa ao meio ambiente é ampla e bem
Desenvolvem-se nos estuários, e a vegetação, arbustiva e arbórea,
elaborada. Os problemas ambientais que observamos com frequên-
é halófila (adaptada ao sal da água do mar), podendo apresentar
cia, amplamente divulgados pelos meios de comunicação, não re-
raízes que, durante a maré baixa, ficam expostas. As principais

283
REALIDADE BRASILEIRA

sultam da limitação da legislação, mas da ineficiência de ações educativas e de fiscalização.

Histórico das Leis Ambientais Brasileiras


Ao longo dos períodos colonial e imperial de nossa história, foram elaboradas algumas leis voltadas à proteção do meio ambiente,
mas elas tinham abrangência restrita, como a proteção ao pau-brasil e a algumas espécies animais. Já no período republicano, em 1911,
foi criada a primeira reserva florestal do país, onde atualmente se encontra o estado do Acre; em 1921 foi criado o Serviço Florestal do
Brasil, que hoje é o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); e em 1934 foi aprovada a primeira versão do
Código Florestal.
Durante o período da ditadura militar (1964-1985), foram criados projetos de ocupação humana e econômica das regiões Norte e Cen-
tro-Oeste que provocaram grandes impactos negativos ao meio ambiente. Esses projetos previam a expansão da agricultura e a criação de
gado em áreas de floresta e a prática de garimpo, mineração e extração de madeira, instituída com a abertura das rodovias de integração.
Como os impactos, principalmente na Floresta Amazônica, trouxeram repercussão negativa em escala mundial, em 1974 o governo
brasileiro promoveu mudanças de estratégia, implantando ações de proteção ambiental: combate à erosão, criação das Estações Ecológi-
cas e Áreas de Proteção Ambiental, metas para o zoneamento industrial e criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente.
Em 1979, foi criado o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que instituiu, em 1981, a Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA, Lei nº 6.938). Essa lei promoveu um grande avanço ao apresentar as bases para a proteção ambiental e conceituar expressões
como “meio ambiente”, “poluidor”, “poluição” e “recursos naturais”. A PNMA busca a preservação e a recuperação das áreas ambiental-
mente degradadas, visando garantir condições de desenvolvimento social e econômico, e segurança nacional e a proteção da dignidade
da vida humana. A partir de sua publicação se instituiu que o meio ambiente é um bem público a ser resguardado e protegido, em prol da
coletividade.
Em 1986, o Conama publicou uma resolução sobre o tema, em que se destaca a exigência de elaboração do Estudo de Impacto Am-
biental (EIA), de caráter técnico e detalhista, e do seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (Rima), menos detalhado e acessível aos
que não são especialistas na área. Esses dois documentos são necessários para o licenciamento e a autorização expedidos pelo Ibama para
a realização de qualquer obra ou atividade que provoque impactos ambientais.
Outro grande destaque na evolução do Direito Ambiental Brasileiro foi atingido com a Constituição Federal de 1988, a primeira de
nossa história a dedicar um capítulo ao esse tema e a incorporar o conceito de desenvolvimento sustentável. Ela estabelece, no artigo 225,
que “Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. O parágrafo ter-
ceiro desse mesmo artigo estipula que: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão aos infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.
A previsão de sanções penais significa a criminalização das atividades prejudiciais ao meio ambiente, o que foi regulamentado somente
dez anos depois, em 1998, com a Lei nº 9.605. Conhecida como a Lei dos Crimes Ambientais, ela define os crimes contra a fauna e aflora,
além dos relacionados à poluição, ao ordenamento urbano, ao patrimônio cultural e outros. Quem comete agressões ambientais como
desmatamento, poluição do ar ou de águas, ou falsificação de Relatório de Impacto Ambiental, é punido com multa, proibição de exercício
de certas atividades e até mesmo prisão.

Código Florestal
O Código Florestal foi criado em 1934 e reformulado duas vezes: em 1965 e em 2012 (Lei nº 12.561/12). Neste ano houve muitos em-
bates entre ambientalistas, que queriam ampliar as áreas de preservação e a obrigação de recompor o que foi desmatado irregularmente,
e grandes proprietários, que queriam autorização para ampliar as áreas de agricultura e pecuária sem recompor os biomas. Esta é uma das
mais importantes leis ambientais do país e estabelece a normas de ocupação e uso do solo em todos os biomas brasileiros. Os incisos II e
III do artigo 1º, parágrafo 2º, merecem destaque, pois definem as áreas de preservação e as reservas legais:
Áreas de Preservação Permanente (APPs): só podem ser desmatadas com autorização do Poder Executivo Federal e em caso de uso
para utilidade pública ou interesse social, como a construção de uma rodovia, por exemplo. São a margens de rios, lagos ou nascentes,
várzeas, encostas íngremes, mangues e outros ambientes. A principal função das APPs é preservar a disponibilidade de água, a paisagem,
o solo e a biodiversidade.
Reservas Legais: em cada um dos sete biomas brasileiros, os proprietários de terras são obrigados a preservar uma parte da vegeta-
ção nativa. Na Amazônia, são obrigados a manter 80% da propriedade com floresta nativa, índice que cai para 35% no Cerrado localizado
dentro da Amazônia a 20% em todas as demais regiões e biomas do país. É importante notar que o Código Florestal rege apenas as pro-
priedades que podem ser utilizadas para atividades agrícolas, e não se aplica, portanto, no interior das unidades de conservação, como os
parques e as reservas ecológicas.

As Unidades de Conservação
As unidades de conservação são doze áreas de preservação agrupadas conforme a restrição ao uso. As unidades classificadas como
de restrição total são denominadas Unidades de Proteção Integral, como o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em Teresópolis, Rio de
Janeiro, por exemplo. Aquelas cujo nível de restrição é menor e têm uso voltado ao desenvolvimento cultural, educacional e recreacional
são denominadas Unidades de Uso Sustentável.

284
REALIDADE BRASILEIRA

Unidades de Conservação conforme a Restrição ao Uso


Unidades de Proteção Integral Unidades de Uso Sustentável
Estação Ecológica Área de Proteção Ambiental
Reserva Biológica Área de Relevante Interesse Ecológico
Parque Nacional Floresta Nacional
Monumento Natural Reserva Extrativista
Refúgio de Vida Silvestre Reserva de Fauna
Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Reserva Particular do Patrimônio Natural

Existem unidades de conservação definidas pela Ibama em todos os biomas brasileiros, inclusive nos biomas marinhos. Há também
unidades de conservação mantidas por estados e até por municípios, criadas por leis estaduais e municipais.
É importante destacar que a criação de leis, decretos e normas voltados à questão ambiental ao longo da história brasileira é conse-
quência do aumento da importância do tema no mundo e no Brasil. Essa evolução deu-se de forma lenta, mas contínua. Esse processo foi
influenciado pelas conquistas obtidas em âmbito internacional nas diversas conferências mundiais voltadas ao meio ambiente, e parte da
sociedade civil brasileira cumpriu um importante papel ao pressionar os governos legisladores em aprovar leis eficazes e incluir o tema na
própria Constituição do país.

Objetivos das Unidades de Conservação


O Código Florestal, como várias outras leis que se seguiram, serviu de base para a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conser-
vação da Natureza, que têm como propósitos:
Contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;
Proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;
Contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;
Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
Promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento;
Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
Proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
Proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;
Valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
Favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;
Proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua
cultura e promovendo-as social e economicamente.

MATRIZ ENERGÉTICA: FONTES RENOVÁVEIS E NÃO RENOVÁVEIS

As fontes de energia são de grande importância para o desenvolvimento de um país. No Brasil, as principais fontes de energia são a
energia hidrelétrica, petróleo, biocombustíveis e carvão mineral.
• Hidrelétrica: utiliza usinas hidrelétricas para a produção de eletricidade.
• Petróleo: utilizado para produzir combustíveis como a gasolina e óleo diesel e abastecer usinas termelétricas.
• Carvão Mineral: utilizado para produzir energia termelétrica e é a matéria prima para as indústrias siderúrgicas.
• Biocombustíveis: são combustíveis alternativos originados de produtos vegetais e renováveis.

— Fontes de Energia Renováveis e não renováveis


As fontes de energia não renováveis são aquelas que podem se esgotar do planeta, por não terem regeneração. As renováveis podem
se regenerar e portanto, não agridem tanto o meio ambiente.
• Fontes de Energia não Renováveis: petróleo, carvão mineral, energia nuclear e gás natural.
• Fontes de Energia Renováveis: energia solar, energia eólica, biocombustíveis, energia hidráulica e energia geotérmica.

285
REALIDADE BRASILEIRA

MUDANÇA CLIMÁTICA

Efeito Estufa

Sempre ouvimos falar que o efeito estufa é o grande vilão do aquecimento global, que não deixa de ser verdade. Mas uma coisa pre-
cisa ficar clara: é graças a ele que existe vida em nosso planeta. O efeito estufa é um fenômeno natural que faz com que a temperatura
média do globo se conserve nos limites necessários para a manutenção da vida, em torno de 14,5 graus Celsius.
Ele ocorre em razão da existência de gases, como o carbono, que estão naturalmente na atmosfera e impedem a dissipação para o
espaço de parte da radiação vinda do Sol, que é absorvida e refletida pela Terra32
O problema é que, por causa da ação do homem, esse benéfico “cobertor” atmosférico está se transformando num forno. O intenso
uso de combustíveis fósseis, especialmente carvão e petróleo, e a utilização predatória da terra (desmatamento, queimadas, depósitos de
lixo) liberam na atmosfera uma imensa quantidade de gases que retêm calor, como dióxido de carbono, metano e óxidos de nitrogênio,
intensificando o efeito estufa.
O IPCC defende a tese de que essas atividades teriam causado um aumento de 0,7 grau no século XX.

Aumento das emissões


Desde a Revolução Industrial, há mais de 200 anos, nossas atividades econômicas são baseadas na queima de combustíveis fósseis.
A energia que consumimos para gerar eletricidade e aquecimento, para nos locomovermos em viagens de carro, avião ou navios e para
mover a atividade manufatureira contribui com cerca de metade das emissões dos gases de efeito estufa.
Outras atividades, como a agricultura, a derrubada de florestas e a manutenção de aterros sanitários, também despejam no ar enor-
me quantidade de gás carbônico, metano e óxido nitroso.
Todas essas atividades são realizadas mais intensamente nos países desenvolvidos. Estados Unidos, Japão e muitas nações europeias
apresentam elevada produção de gases estufa per capita, principalmente por causa do uso de automóveis e da elevada industrialização.
Contudo, países em desenvolvimento, como China e Brasil, vêm aumentando significativamente as emissões desses gases nos últimos
anos.
Os chineses já ultrapassaram os norte-americanos como os maiores poluidores do planeta, sendo responsáveis por um quarto das
emissões mundiais. No Brasil, 61% das emissões de gases-estufa estão ligadas ao desmatamento.

32 http://www.mundoedu.com.br/uploads/pdf/554aaa4b0e16e.pdf

286
REALIDADE BRASILEIRA

Em busca de uma economia verde equilíbrio ambiental, de maneira a garantir a satisfação das neces-
Apesar de parecer um palavrão, a sustentabilidade está pre- sidades das gerações presentes e futuras.
sente no cotidiano de todos nós. Separar o lixo em casa, economi- Outro marco foi a Eco 92, a conferência mundial sobre meio
zar água, desligar as luzes quando desnecessário, não jogar lixo no ambiente realizada no Rio de Janeiro, em 1992. O encontro apro-
chão, escolher eletrodomésticos que economizem energia, cuidar vou o documento Convenção sobre a Mudança do Clima, que trata
de plantas e animais. Essas ações nos parecem muitas vezes natu- do aquecimento global, e a Convenção sobre a Diversidade Biológi-
rais, mas nem sempre foi assim. ca, que trata da preservação dos ecossistemas e hábitats.
Faz apenas algumas décadas que os primeiros ambientalistas, O documento mais abrangente elaborado pelo encontro foi a
cientistas e pesquisadores passaram a defender a preservação dos Agenda 21, um plano que estabelece estratégias globais, nacionais
mananciais e dos biomas, a redução no consumo de energia, a de- e locais para promover o desenvolvimento sustentável no mundo.
posição adequada do lixo e a reciclagem de materiais. A Agenda 21 traduz os compromissos com o desenvolvimento
A diferença, agora, é que essa visão ambientalista contamina a sustentável em 27 princípios, calcados em três premissas:
economia globalizada, levando empresas e governos a reconsiderar → os países desenvolvidos devem mudar seu padrão de produ-
seu modelo econômico. Isso faz com que sejam promovidas cam- ção e consumo e, portanto, seu modelo econômico;
panhas de conscientização que atingem largamente a população. → os países em desenvolvimento devem manter as metas de
O meio ambiente transforma-se numa questão estratégica crescimento, mas adotar métodos e sistemas de produção susten-
para a vida econômica, social e cultural, e o desenvolvimento tem táveis;
de ser sustentável, ou seja, deve incluir em seus pressupostos a ma- → as nações desenvolvidas devem apoiar o crescimento das
nutenção de recursos naturais e o bem-estar dos cidadãos. mais pobres, com recursos financeiros, transferência de tecnologia
No início dos anos 90, durante a Conferência Eco 92, realizada e reformas nas relações comerciais e financeiras internacionais.
no Rio de Janeiro, os temas da sustentabilidade e da preservação
ambiental ganharam mais força e o reconhecimento de diversos A partir de então, cada país signatário é considerado parte des-
países. Em 2012, vários líderes mundiais voltaram a se reunir na sa convenção e indica representantes para as discussões, realizadas
Rio+ 20, com o objetivo de fazer um balanço do que foi feito e dis- uma vez por ano, numa Conferência Geral das Partes (cuja sigla é
cutir novas formas de equilibrar as atividades econômicas com a COP).
preservação do meio ambiente. Amais importante delas, até hoje, foi a terceira conferência (a
Para boa parte dos governos do mundo e dos cientistas reu- COP-3), que ocorreu em 1977, em Kyoto, no Japão. Criado no en-
nidos por eles, organizados no Painel Intergovernamental sobre contro, o Protocolo de Kyoto é um importante documento por ter
Mudanças Climáticas (IPCC), o clima da Terra está passando por sido o primeiro acordo oficial com metas e prazos para reduzir as
um aquecimento global, que estaria sendo provocado pela ação emissões de gases do efeito estufa.
humana, com a liberação de poluentes na atmosfera que acen- O documento estabeleceu diferenças entre os países ricos, que
tuam o efeito estufa. Também estava na pauta a preservação da tinham metas percentuais de redução por ser os principais respon-
biodiversidade do planeta, que implica equilíbrio e estabilidade de sáveis pelos gases emitidos nos últimos dois séculos, e aqueles em
ecossistemas e seu aproveitamento pela humanidade de forma a desenvolvimento e industrialização recentes, entre os quais Brasil,
preservá-las. China e Índia, que se comprometiam a adotar medidas sem metas
O uso descontrolado de matérias-primas, o crescimento caóti- pré-estabelecidas.
co das cidades e o desmatamento são temas que integraram toda O protocolo, porém, demorou para entrar em vigor, pois de-
essa discussão. veria ter a adesão de um número de países que representasse pelo
Mais difícil do que apontar os erros em relação à forma de tra- menos 55% das emissões globais (relativas a 1990). Isso só aconte-
tar o meio ambiente era achar soluções possíveis dentro de realida- ceu em 2005, quando superou esse patamar com a adesão da Rús-
des tão diversas. Na hora de aplicar medidas concretas, esbarra-se sia, valendo a princípio para o período de 2008 até o fim de 2012.
em diferentes interesses de cada país ou grupo social, e a grande No entanto, qualquer redução significativa continuou depen-
questão de quem arca com o ônus das políticas de preservação. dendo dos grandes emissores, e nem todos ratificaram o acordo.
No plano mundial, os países mais desenvolvidos alegavam que A principal ausência foi dos Estados Unidos, que se recusam a assi-
a crise econômica impedia a implementação de medidas em larga nar o protocolo se não houver metas de redução obrigatórias para
escala, pois afetariam ainda mais sua economia, já fragilizada. Por todos os países em desenvolvimento. Eles alegaram, ainda, que a
sua vez, as nações em desenvolvimento, que apresentavam cresci- economia do país seria bastante afetada.
mento, não queriam prejudicar sua economia, em expansão. Mais tarde, com a não participação norte-americana, outras
nações também abandonaram os compromissos firmados no pro-
Como tudo começou tocolo.
Há quatro décadas discutem-se as questões ambientais em Os governos de Canadá, Japão, Austrália e Rússia passaram a
âmbito global. Em 1972, na Conferência Mundial de Estocolmo, fazer coro com os Estados Unidos na reclamação contra as econo-
abordou-se pela primeira vez a produção (principalmente indus- mias emergentes, que passaram a ter grande peso no balanço de
trial) dos países ricos como causa importante da degradação da na- emissões.
tureza. Essa perspectiva marcou uma nova etapa da preocupação Países como China, Índia e Brasil não são considerados ricos e,
ambiental. portanto, não têm metas obrigatórias. No entanto, o crescimento
Depois, em 1987, o Relatório Nosso Futuro Comum, da Co- econômico dessas nações nos últimos anos, principalmente das su-
missão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, retomou a perpopulosas China e Índia, aumentou muito a emissão de carbono
questão, lançando o conceito de desenvolvimento sustentável, cuja global, sem que eles tenham que cumprir metas.
proposta visava a compatibilizar o crescimento econômico com o

287
REALIDADE BRASILEIRA

Novas perspectivas Mas as propostas das conferências exigem políticas de governo


Havia expectativa de que um novo acordo fosse acertado na para que saiam do papel e sejam postas em prática, o que não é
COP-15, que aconteceu em 2009, em Copenhague (Dinamarca), tarefa fácil. Esse desafio é o que chamamos de Governança Glo-
mas ela fracassou. Na conferência seguinte, a COP-16, realizada em bal, ou seja, como os países se organizarão, em termos de metas,
2010, em Cancún (México), os participantes priorizaram a regula- acordos, protocolos e instituições, para colocar a economia verde
mentação de medidas já discutidas para enfrentar ou amenizar as em prática.
consequências do aquecimento global. As nações desenvolvidas deixaram a desejar quanto a promo-
A principal delas foi a criação de um Fundo Verde, no qual os ver a igualdade de oportunidades. A transferência de tecnologia
países ricos se comprometeram a depositar 30 bilhões de dólares, ficou aquém do esperado. A ajuda financeira prometida às nações
até o fim de 2012, para ajudar os países pobres a adotar medidas pobres pelos 22 países mais ricos do planeta também está longe
na área ambiental. de atingir o compromisso assumido, em parte devido à crise eco-
Também foi aprovada a criação do mecanismo de Redução nômica global.
de Emissões e Degradação Florestal (Redd, sigla em inglês), que
permitirá a países como o Brasil receber compensações financeiras Camada de Ozônio
para preservar suas florestas.
A primeira etapa do Protocolo de Kyoto venceu em 2012 sem Diversas mudanças climáticas bruscas já ocorreram no mun-
alcançar seus objetivos. Ainda se tentava chegar a uma nova fase do, como as ondas de calor nos anos 1980, considerada a década
do acordo, na COP-17, realizada em Durban, na África do Sul, em mais quente do século XX. Embora as ondas de calor possam estar
dezembro de 2011. Apesar da recusa das nações desenvolvidas em relacionadas a processos naturais, não há dúvida de que os gases
assinar qualquer compromisso, chegou-se a um consenso: o prazo produzidos pela atividade humana e lançados na atmosfera contri-
de validade da primeira etapa do protocolo teve seu final prorroga- buem para o aumento da temperatura média da Terra.
do por mais cinco anos, até 2017. O gás ozônio, presente naturalmente na estratosfera, desem-
Com esse acordo, as nações assinaram um documento que de- penha uma função de extrema importância: ele filtra cerca de 70%
via servir de base para um futuro novo protocolo. Esse documen- a 90% dos raios ultravioletas emitidos pelo Sol.
to-base, chamado Plataforma Durban, fixou uma agenda que cul- Não fosse a presença da camada de ozônio, os raios ultravio-
minou na criação, em 2015, de um novo acordo, que obriga todas letas atingiriam diretamente a Terra e, em consequência, teríamos
as nações, e não apenas aquelas listadas no Protocolo de Kyoto, a uma elevação de temperatura tão violenta que destruiria qualquer
cumprir metas de redução nas emissões a partir de 2020. forma de vida aqui existente.
Na prática, a plataforma foi só uma promessa. Mas, no mundo No entanto, é preciso lembrar que, no nível do solo, o ozônio é
das políticas globais, significou um avanço na luta contra as mudan- uma forma perigosa de poluição, exercendo ação tóxica sobre ve-
ças climáticas, ainda mais levando em conta que os dois maiores getais e seres humanos.
poluidores do mundo, China e Estados Unidos, concordaram em
integrar esse pré-acordo.
Aqui no Brasil, a lei que institui a Política Nacional de Mudan-
ças Climáticas, sancionada pelo então presidente da época, Lula, no
início de 2010, estabeleceu a meta brasileira de redução nas emis-
sões de CO² entre 36% e 39% até 2020, usando como parâmetro as
emissões projetadas para esse período se nada fosse feito.
Como o desmatamento é responsável por cerca de 75% das
emissões brasileiras, essa meta implicava diminuir o índice do país.

Ao organizar a Rio+20, a intenção das Nações Unidas era deba-


ter também como a crise econômica mundial poderia ser uma boa
oportunidade para rever o modelo econômico atual. As mudanças
propostas deveriam se apoiar sobre três pilares: sociedade, econo-
mia e meio ambiente.
Assim, à lista de questões ambientais, a ONU acrescentou o
combate à pobreza e à fome e a crise econômica mundial. Por isso,
o documento final da conferência abordava formas de promover
uma “economia verde”, que não prejudicasse o meio ambiente,
promovendo a eficiência no uso dos recursos naturais e, ao mesmo
tempo, promovendo a erradicação da pobreza e da fome.
Há quem critique o documento por apresentar uma pauta am-
pla demais, que pode não resultar em avanços concretos. Segundo Atualmente, muito se discute o problema da destruição da
os críticos, seria melhor tratar apenas das questões do meio am- camada de ozônio. A diminuição desta camada ameaça a saúde
biente, que já são suficientemente complexas. humana, podendo provocar doenças, como câncer de pele, quei-
Para evitar que a questão se mantenha no terreno do debate maduras, envelhecimento precoce, catarata ocular e imunodefici-
teórico, seria preciso estabelecer metas específicas para cada ação, ência. Mas ela também afeta a flora e a fauna, além de influir no
com valores claros a ser alcançados dentro de prazos determina- clima do planeta.
dos.

288
REALIDADE BRASILEIRA

Desde 1974, estudos associam a destruição do ozônio estratosférico ao maciço e descontrolado uso dos CFCs, um grupo de gases
utilizados principalmente nos sistemas de refrigeração e na produção de aerossóis (sprays), solventes, isopor etc.
Uma vez presentes na atmosfera e submetidos a reações químicas (liberação de íons de cloreto na estratosfera) e a reações com
outros gases, os CFCs - compostos de cloro (Cl), adquirem a propriedade de destruir o ozônio.
Estudos recentes comprovaram uma diminuição de 3% a 4% da camada de ozônio na Antártida, originando o chamado buraco na
camada de ozônio. A quase totalidade dos CFCs presentes na atmosfera dessa região provém dos países industrializados e é transportada
pela circulação atmosférica (massas de ar).
Em 1987, no Protocolo de Montreal (Canadá), 24 países desenvolvidos assinaram um compromisso de redução da produção de CFC,
substituindo-o por gases menos nocivos. De fato, o uso desses gases tem se reduzido e o buraco na camada de ozônio pode diminuir ou
mesmo desaparecer se forem mantidas as providências estabelecidas também em outras convenções mundiais (Estocolmo, na Suécia,
1972; Rio de Janeiro, 1992; Kyoto, no Japão, 1997 etc.).
O buraco na camada de ozônio é detectável por meio de imagens de satélites, como podemos observar na figura.

Imagem de setembro de 2004, feita por satélite de monitoramento da NASA que mostra o buraco na camada de ozônio sobre a
Antártida. Este buraco é consequência da emissão de gases ao longo de anos, em todo o planeta.

Chuva Ácida

Trata-se de chuva, neve ou neblina com alta concentração de ácidos em sua composição. Com a denominação genérica de chuva
ácida, sua origem são os óxidos de nitrogênio (NOx) e o dióxido de enxofre (SO²) liberados na atmosfera pela queima de combustíveis
fósseis (principalmente o carvão mineral).
Esses compostos reagem com o vapor de água presente na atmosfera, formando o ácido nítrico (HNO³) e o ácido sulfúrico (H²SO4),
que, mais tarde, se precipitam e alteram as características do solo e da água, prejudicando lavouras, florestas e a vida aquática. Também
danificam edifícios e monumentos históricos.

289
REALIDADE BRASILEIRA

Inversão Térmica

Os grandes centros urbanos, principalmente os localizados em áreas de serras ou montanhas são as regiões comumente mais afeta-
das pela inversão térmica. Essa inversão acontece quando o ar frio e mais denso não consegue circular por uma camada de ar mais quente
e menos densa. Sem essa circulação ocorrem alterações significativas na temperatura do local33.
Um dos agravantes dessa situação é que com a impossibilidade de circulação, o ar mais denso (frio) fica retido nas regiões mais pró-
ximas da superfície retendo junto a ele uma grande quantidade de gases poluentes. Essa camada de ar denso é facilmente verificada ao
apresentar uma cor acinzentada decorrente da alta concentração de gases emitidos pelas indústrias e pelos automóveis, principalmente.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Você sabe o que é a “transição energética”? Essa palavra está cada vez mais em evidência com a mudança climática em todo o mundo.
A necessidade de ações mais focadas na redução de emissão de gases do efeito estufa (GEE), como na utilização de geração energia com
fontes renováveis, é essencial para o planeta.

Desde os primórdios da civilização humana passamos por algum tipo de transição energética. Seja ela humana, animal ou até mesmo
aquela vinda da queima dos combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão. A evolução de uma comunidade ou região pode ser anali-
sada com base na forma de controlar e consumir energia.

33 https://querobolsa.com.br/enem/biologia/problemas-ambientais

290
REALIDADE BRASILEIRA

Atualmente, quando falamos de transição energética, estamos


destacando a mudança de uma fonte de energia para outra de for-
ma mais sustentável, ou seja, uma matriz que reduza as emissões
de gases de efeito estufa.

Além disso, a transição energética tem sido apontada como um


dos grandes pilares para o crescimento econômico e social dos paí-
ses, de forma justa e inclusiva.

Portanto, a política de transição no Brasil busca a eletricida-


de renovável e ampliar essa participação para ajudar os setores
industriais e de transportes a reduzir a pegada de carbono. Além
de serem competitivos, ao mesmo tempo em que também usa os
combustíveis de Baixo Carbono para cobrir o restante dessa oferta.

Fonte: https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/tran-
sicao-energetica-a-mudanca-de-energia-que-o-planeta-precisa

Transição energética consiste em passar de uma matriz de fon- POPULAÇÃO: ESTRUTURA, COMPOSIÇÃO E DINÂMICA.
te de energia que utiliza combustíveis fósseis, como Petróleo, gás
natural e carvão, que são grandes emissores de Carbono (CO2) na O crescimento da população brasileira, nas últimas décadas,
atmosfera, para fontes renováveis, como sol, água, vento e biomas- está ligado principalmente ao crescimento vegetativo (ou natural).
sa, que emitem menos gases de efeito estufa. A queda nesse crescimento apresenta outras justificativas que me-
recem atenção.
O Ministério de Minas Energia (MME) é um dos protagonistas • Maior custo para criar filhos;
mundiais deste tema e é o principal responsável pela Política Na- • Acesso a métodos anticoncepcionais;
cional de Transição Energética, que poderá levar o Brasil para outro • Trabalho feminino extradomiciliar;
nível mundial em fontes renováveis de energia. Hoje, o país já utiliza • Acesso a tratamento médico;
48% de energia renovável, acima da média mundial que é de 15%. • Saneamento básico.
Contudo, ainda tem grande potencial de recursos hídricos, solar e
eólico para ser explorado de forma estável e eficiente para o siste- Para conhecer a população de um país, devemos, primeira-
ma. mente, definir dois conceitos demográficos básicos:
– População absoluta: corresponde ao número total de pessoas
A transição energética é um conjunto de políticas fundamentais de uma área. No Brasil, por exemplo, a população absoluta era de
para o setor energético e para o desenvolvimento socioeconômico 190.755.799 pessoas, pelo censo de 2010.
do país. O grande desafio é conciliar geração de emprego, renda, in- – População relativa: é também chamada de densidade demo-
clusão social, combate às desigualdades, melhoria da qualidade de gráfica e é dada pelo número de habitantes por quilômetro quadra-
vida do brasileiro, reindustrialização, preservação da biodiversidade do de uma determinada região.
e da qualidade ambiental, entre outros. O declínio da mortalidade deve-se, em grande parte, à dimi-
nuição da mortalidade infantil, isto é, dos óbitos de crianças com
INDÚSTRIA E TRANSPORTE menos de um ano de idade. Em 1970, a taxa era de cem mortes em
cada mil nascimentos vivos; em 1980, caiu para setenta por mil; em
Os setores da indústria e de transportes tiveram um papel im- 1991, para 45 por mil; e no ano de 2000, para 35 por mil.
portante na trajetória dos últimos 50 anos no consumo de energia Em relação aos países desenvolvidos, este índice ainda é ele-
no Brasil. Cerca de dois terços de toda energia consumida pelo bra- vado. Por isso, programas de combate à mortalidade vêm sendo
sileiro *se deu* nesses segmentos. implementados tanto pelo governo quanto por entidades privadas
A taxa de mortalidade infantil no Brasil está baixando, confor-
Na questão do consumo, 18% da energia foi na forma de ele- me indicadores. A queda da mortalidade infantil indica aumento no
tricidade e 82% a partir da queima de combustíveis, sejam em bio- percentual de adultos e melhorias na expectativa de vida, que em
combustíveis ou combustíveis fósseis. 1950 era de mais ou menos 46 anos e, em 2018, chegou a 76 anos
(IBGE).

291
REALIDADE BRASILEIRA

Migrações populacionais
As migrações populacionais remontam aos tempos pré-históricos. O homem parece estar constantemente à procura de novos ho-
rizontes. As razões que justificam as migrações são inúmeras (político-ideológicas, étnico-raciais, profissionais, econômicas, catástrofes
naturais, entre outras), ainda que as razões econômicas sejam predominantes.
A grande maioria das pessoas migra em busca de melhores condições de vida. Todo ato migratório apresenta causas repulsivas (o
indivíduo é forçado a migrar) e/ou atrativas (o indivíduo é atraído por determinado lugar ou país).
Considera-se emigração como a saída de uma área para outra; imigração é a entrada de pessoas em uma área. As migrações podem
ser internas, quando ocorrem dentro do país, e externas, quando ocorrem de um país para outro. Ainda podem ser permanentes ou tem-
porárias.

Movimentos migratórios no Brasil

Externos
Até 1934, foi liberada a entrada de estrangeiros no Brasil. A partir dessa data, ficou estabelecido que só poderiam imigrar 2% de cada
nacionalidade dos estrangeiros que haviam migrado entre 1884 e 1934.
Os fatores que mais favoreceram a entrada de imigrantes no Brasil foram:
– A dificuldade de encontrar escravos após a extinção do tráfico, depois de 1850;
– O ciclo do café, que exigia mão de obra numerosa;
– Abundância de terras.

Para a maior parte dos imigrantes, a adaptação foi muito difícil, pois além das diferenças climáticas, da língua e dos costumes, não
havia no país uma política firme que assegurasse garantias as pessoas que aqui chegavam. As regiões sul e sudeste foram as que receberam
maior contingente de imigrantes, principalmente por causa do ciclo do café e povoamento da região sul.

Internos
Em nossa história, os principais movimentos migratórios foram:
– Migração de nordestinos da Zona da Mata para o sertão, séculos XVI e XVII (gado);
– Migração de nordestinos e paulistas para Minas Gerais, século XVII (ouro);
– Migração de mineiros para São Paulo, século XIX (café);
– Migração de nordestinos para a Amazônia, devido ao ciclo da borracha;
– Migração de nordestinos para Goiás, na década de 1950 (construção de Brasília);
– Migrações de paulistas para Rondônia e Mato Grosso, na década de 1970.

Fonte: www.sogeografia.com.br

Os movimentos migratórios mais intensos nas décadas de 1980 e 1990 foram nas regiões:
– Centro-oeste: Brasília e arredores; áreas do interior do MT, MS e GO, onde ocorre a expansão da pecuária e da agricultura comercial.
– Norte: zonas de extrativismo mineral em RO, AP e PA; zonas madeireiras no PA e AM; áreas agrícolas em RO e AC.
– Sudeste: migrações das capitais para o interior dos estados de SP, RJ e MG.
– Sul: até o final da década de 1980, os movimentos emigratórios para o centro-Oeste e norte foram muito significativos. Na década
de 1990, houve forte migração intraestadual, principalmente das metrópoles para o interior.
– Nordeste: tradicionalmente, o Nordeste era uma área de evasão populacional, principalmente do sertão para a Zona da Mata ou
outras regiões do país, como sudeste e centro-oeste. Atualmente, há uma atração devido os incentivos fiscais dos estados às empresas
de fora, mão de obra barata e turismo.

292
REALIDADE BRASILEIRA

Estrutura etária da população brasileira


Avalia-se a estrutura da população através da sua distribuição etária, condição socioeconômica e sua posição no IDH (Índice de Desen-
volvimento Humano). Em relação aos critérios de avaliação dos países, desde 1950 até o final da década de 1980, a classificação comum
era aquela que enquadrava os países da seguinte forma:

1º mundo: países capitalistas desenvolvidos;


2º mundo: países socialistas de economia planificada;
3º mundo: países subdesenvolvidos.
Acontecimentos na geopolítica internacional, como a queda do Muro de Berlim, fim da Guerra Fria, ressurgimento da Europa como
potência econômica e o fim da experiência socialista soviética, marcam uma nova disposição da ordem mundial, em que se menciona o
mundo multipolar e a globalização da economia.
A partir daí, tornou-se necessário um novo entendimento para classificar os países. A ONU passou a utilizar o IDH (Índice de Desenvol-
vimento Humano), que tem por objetivo avaliar a qualidade de vida através de alguns critérios:
– Expectativa de vida;
– Renda per capita;
– Grau de instrução.

O IDH avalia e aplica uma nota que varia de 0 a 1. Quanto mais próximo do 1, melhor o IDH de uma país, ou de uma região. Veremos
mais informações sobre o IDH nos próximos tópicos.

Essa organização é apresentada em gráficos cartesianos, em que na abscissa (horizontal) são colocadas as populações por milhões,
divididas em homens e mulheres, cada qual ficando de um lado da ordenada (vertical), onde é colocada uma tabela de idades, dividida em
faixas de 5 em 5 ou de 10 em 10 anos. Esses gráficos cartesianos são chamados de pirâmides etárias. Normalmente, as faixas resultantes
são divididas em três partes ou faixas etárias:
– População jovem: 0 a 19 anos.
– População adulta: de 20 a 59 anos.
– População idosa: acima de 60 anos.

A pirâmide etária do Brasil tem sua base larga e vai estreitando-se até atingir o topo. Isso significa que o número de idosos é relativa-
mente pequeno. O gráfico do Brasil demonstra que, mesmo com todo o crescimento, continuamos a ser um país jovem, pois no caso dos
países mais desenvolvidos, a base da pirâmide costuma ser menos larga e o topo mais amplo.

Fonte: IBGE

293
REALIDADE BRASILEIRA

Fonte: IBGE

PEA (População Economicamente Ativa)


É a população que exerce atividade remunerada nas formas da lei. Nos países desenvolvidos, os ativos são predominantemente a
população adulta, enquanto nos subdesenvolvidos tanto os jovens quanto os idosos trabalham juntamente com os adultos.

DESENVOLVIMENTO URBANO BRASILEIRO: REDES URBANAS; METROPOLIZAÇÃO; CRESCIMENTO DAS CIDADES E PROBLE-
MAS URBANOS

— Definição e função

Cidade
Area industrializada e povoada com zonas residenciais e comerciais. A cidade é uma zona urbana, o contrário de zona rural, ou seja, é
a parte do município em que há uma grande concentração de pessoas e estruturas industriais.
As zonas rurais, também denominadas de campo, são partes de um município em que são utilizadas para atividades da agricultura e
agropecuária, onde há pouquíssima industrialização, e são áreas que abrigam paisagens naturais.
As zonas urbanas e rurais coexistem, são dependentes umas das outras, pois a zona urbana utiliza produtos produzidos nas zonas
rurais e as zonas rurais comercializam com as zonas urbanas.

— Industrialização e Urbanização
Os processos de industrialização e urbanização são interligados, desde a revolução industrial as cidades começaram a se desenvolver
de forma que o movimento de pessoas aumentou e consequentemente, a urbanização se desenvolveu. Quanto maior o número de pes-
soas, mais consumiam e produziam, movimentando assim, a indústria e ocasionando também deu rápido desenvolvimento.
O crescimento da Indústria em todos os países do mundo, mas principalmente na Inglaterra, proporcionou diversas transformações no
espaço geográfico. Além de um maior movimento de pessoas, estruturas relacionadas ao transporte, como trens, metrô, veículos em geral,
ruas asfaltadas, grandes centros comerciais, entre outros, foram criadas e desenvolvidas. Isso, mas principalmente o fator de empregos na
área industrial, acabou causando o êxodo rural, que é quando as pessoas que residem nas zonas rurais se mudam para a zona urbana a fim
de encontrar empregos e condições melhores de vida, o que ocorreu bastante no processo da revolução Industrial.

— Urbanização Brasileira e Regiões Metropolitanas


A urbanização brasileira iniciou-se no século XX, com o desenvolvimento da indústria o êxodo rural começou a acontecer, em meados
de 1950, e portanto, a urbanização a se desenvolver principalmente no Sudeste do país. Algo que influenciou bastante esse desenvolvi-
mento foi a política de desenvolvimento dos governos Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek que prometiam “50 anos em 5”. Nos anos 60,
a urbanização começa a se desenvolver no centro-oeste do país. Hoje, mais de 70% da população do Brasil reside em áreas urbanas, por-
tanto as regiões diferem bastante em relação a infraestruturas. As regiões do Sudeste e do Sul são mais desenvolvidas, enquanto o Nordes-

294
REALIDADE BRASILEIRA

te ainda tem uma grande carência. Assim, a urbanização junto da As dinâmicas socioespaciais nas cidades envolvem diversos as-
industrialização causou buracos na sociedade, como a desigualdade pectos, como:
social e falta de oportunidades para as pessoas. – Aspectos econômicos: referem-se às atividades produtivas
que se realizam nas cidades, como indústria, comércio, serviços
— A Questão Agrária e Conflitos no Campo no Brasil e finanças. Essas atividades geram empregos, renda, impostos e
A questão agrária diz respeito a conflitos que ocorrem no meio desenvolvimento para as cidades, mas também podem provocar
rural, nos meios de produção agrícolas e a relação entre o capita- desigualdades sociais, concentração de riquezas e dependência ex-
lismo e o trabalho rural. Com a modernização deste espaço rural, terna.
problemas como a desigualdade, concentração de terras e êxodo – Aspectos políticos: referem-se às formas de organização e
rural acabaram se intensificando. A urbanização causou um aumen- gestão das cidades, como os poderes públicos, os partidos políticos,
to na demanda de produtos agrícolas, e como consequência, meios os movimentos sociais e as instituições participativas. Esses atores
de acelerar essa produção, como o uso de agrotóxicos. Isso diminui influenciam nas decisões sobre o planejamento urbano, as políticas
o preço dos produtos enquanto produtos industrializados tem seu públicas, a distribuição de recursos e a garantia de direitos para os
preço elevado. cidadãos urbanos.
– Aspectos culturais: referem-se às manifestações artísticas,
— Rede e Hierarquia Urbana Brasileira religiosas, linguísticas, gastronômicas e outras que expressam a di-
Hierarquia Urbana é a organização de cidades em níveis hie- versidade e a identidade dos grupos sociais que vivem nas cidades.
rárquicos de subordinação, ou seja, cidades médias têm influência Essas manifestações contribuem para a valorização da cultura urba-
sobre as menores. Dizemos maior em relação a produtividade, bens na, mas também podem gerar conflitos, preconceitos e exclusões.
e serviços oferecidos, e não em relação a seu tamanho físico. A hie- – Aspectos ambientais: referem-se às condições naturais e an-
rarquia também integra as cidades em uma rede urbana, uma rede trópicas que afetam a qualidade de vida nas cidades, como o clima,
que as conecta econômica, social e culturalmente. Pode ser cate- a vegetação, a poluição, o saneamento básico e o uso do solo. Essas
gorizada em: condições podem gerar benefícios ou problemas para os habitantes
• Metrópole: cidade de grande porte que exerce influência so- urbanos, como conforto térmico, áreas verdes, enchentes, ilhas de
bre outras cidades. Uma metrópole pode ser nacional (grande cen- calor e deslizamentos.
tro urbano) ou regional (uma cidade em que habitam mais de um As dinâmicas socioespaciais nas cidades também estão relacio-
milhão de habitantes e exerce influência em todo o estado). nadas aos riscos e desastres urbanos, que são eventos adversos que
• Centros Regionais: cidades de médio porte, exercem influên- podem causar danos materiais e humanos nas áreas urbanas. Esses
cia na região e produzem bens para outras cidades. eventos podem ser de origem natural ou antrópica (causados ou
• Cidade local: cidades de porte pequeno que dependem de agravados pela ação humana), como terremotos, furacões, incên-
cidades maiores. dios, explosões e acidentes. Os riscos e desastres urbanos estão
• Vilas: pequena concentração urbana que não atinge critérios associados à vulnerabilidade social e ambiental das populações ur-
para se considerar uma cidade, e depende muito das grandes me- banas, especialmente as mais pobres e marginalizadas.
trópoles. As políticas públicas de planejamento urbano são instrumentos
que visam ordenar o espaço urbano e promover o desenvolvimento
— Concentração e Desconcentração das Indústrias no Brasil sustentável das cidades. Elas envolvem a elaboração de planos dire-
Concentração e Desconcentração Industrial é o processo de tores, leis de uso do solo, zoneamentos ambientais e outras normas
migração das indústrias dentro de um certo país. No Brasil, a indus- que regulam as atividades urbanas. Elas também envolvem a imple-
trialização ocorreu tarde, mas não demorou muito para se solidifi- mentação de obras e serviços públicos que atendam às demandas
car, nos anos 70, a região do Sudeste já estava bem industrializada da população urbana em áreas como habitação, transporte, saúde,
e com boa infraestrutura urbana. Há muito tempo, o Sudeste lidera educação e lazer.
o processo industrial no Brasil, porém atualmente tem acontecido
uma mudança nessa concentração, a partir de planejamentos go-
DESENVOLVIMENTO RURAL BRASILEIRO: ESTRUTURA E
vernamentais de democratizar a indústria pelas regiões do país. São
CONCENTRAÇÃO FUNDIÁRIA; SISTEMAS PRODUTIVOS
Paulo continua sendo o estado de maior concentração industrial,
E RELAÇÃO DE TRABALHO NO CAMPO
porém o desenvolvimento desse setor nas outras regiões tem cres-
cido e possivelmente causará em breve uma desconcentração das
O Brasil, com sua extensa área territorial e vasta diversidade
Indústrias no Brasil.
de biomas, é uma potência agrícola global. O desenvolvimento do
setor agrícola não foi apenas resultado de seus recursos naturais,
INFRAESTRUTURA URBANA E SEGREGAÇÃO mas também de práticas, inovações e esforços para transferir co-
SOCIOESPACIAL nhecimentos técnicos aos agricultores. Nesse cenário, a extensão
rural se consolidou como uma ponte entre a pesquisa agropecuária
A urbanização é o processo de crescimento das cidades em e o campo, desempenhando um papel central na modernização da
população e extensão territorial, que ocorre principalmente pela agricultura brasileira.
migração do campo para a cidade, chamada de êxodo rural. A ur- A agricultura brasileira, desde o período colonial, foi marcada
banização está relacionada às dinâmicas socioespaciais, que são as por distintas formas produtivas, desde latifúndios monocultores até
transformações que ocorrem no espaço geográfico em decorrência pequenas propriedades familiares. Porém, a falta de acesso à infor-
das relações sociais, econômicas, políticas, culturais e ambientais mação e tecnologia foi por muito tempo um limitador do desenvol-
que nele se desenvolvem. vimento agrícola, principalmente para pequenos e médios produ-

295
REALIDADE BRASILEIRA

tores. Nesse contexto, a extensão rural surgiu como um mecanismo ça por parte de muitos agricultores em relação a novas técnicas e
para diminuir essa lacuna, propondo uma relação mais próxima e práticas.
direta com o homem do campo, visando sua capacitação e empo- A fase inicial da extensão rural no Brasil, até a década de 1940,
deramento. foi marcada por tentativas, aprendizados e adaptações. Embora
Apesar de ser reconhecido primordialmente por sua impor- fosse um período de estruturação e consolidação da ideia de ex-
tância política e administrativa como sede do governo federal, o tensão, as sementes plantadas nessa época forneceram a base para
Distrito Federal tem uma relevante parcela rural, que abriga desde o desenvolvimento de programas mais robustos e sistemáticos nas
produções familiares até experimentações agrícolas. Estas áreas décadas subsequentes. A extensão rural começava a se firmar como
rurais, por estarem próximas ao centro político, acabam por vezes uma ferramenta essencial para a modernização da agricultura bra-
refletindo as dinâmicas e transformações das políticas agrícolas do sileira.
país de maneira mais imediata.
A extensão rural se apresenta não apenas como transmissão de — Institucionalização (1940 - 1960)
técnicas, mas como uma via de mão dupla, na qual extensionistas e
agricultores trocam experiências, adaptam soluções e co-criam es- O cenário pós Segunda Guerra
tratégias para enfrentar os desafios do campo. Ao longo da história O período pós Segunda Guerra Mundial marcou um momento
brasileira, essa prática tem passado por diversas metamorfoses, es- de reconstrução e transformação global. O mundo presenciou um
pelhando os desafios socioeconômicos e ambientais de cada época. boom tecnológico, com inovações que passaram a influenciar diver-
Assim, ao explorar a trajetória da extensão rural no Brasil e no sas áreas, incluindo a agricultura. O Brasil, imerso nesse contexto e
Distrito Federal, mergulhamos em uma narrativa sobre desenvolvi- buscando modernizar sua produção agrícola, viu na extensão rural
mento, inovação, desafios e adaptações, reconhecendo a centra- um mecanismo fundamental para essa transformação.
lidade do setor agrícola na formação socioeconômica do país e a
importância de conectar ciência, prática e tradição no campo. Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR)
Em 1948, foi fundada a Associação Brasileira de Crédito e Assis-
— Origens (até a década de 1940) tência Rural (ABCAR), um marco na institucionalização da extensão
rural no Brasil. Com apoio do governo e cooperação internacional,
Um país de base agrária principalmente dos Estados Unidos, a ABCAR atuou como principal
Ao longo de sua história colonial e nos primeiros momentos entidade de extensão, focando inicialmente em regiões de maior
como nação independente, o Brasil teve sua economia fortemen- desenvolvimento agrícola, como o Sudeste.
te ancorada na agricultura. Grandes ciclos econômicos, como o do A ABCAR não só introduziu técnicas agrícolas modernas, mas
açúcar, café e borracha, deram forma à nossa paisagem econômica também buscou promover uma mudança cultural no campo. Seu
e social. No entanto, a produção agrícola era muitas vezes baseada trabalho envolveu a introdução de práticas de gestão, incentivo à
em práticas tradicionais, com pouca intervenção tecnológica. cooperação entre agricultores e a promoção da cidadania e educa-
ção rural.
Os primeiros passos da extensão rural
Antes da oficialização da extensão rural como uma prática sis- A extensão e a modernização agrícola
temática, já existiam iniciativas isoladas que buscavam levar conhe- A década de 1950 foi marcada pelo desejo de modernização da
cimentos mais avançados ao campo. Estas iniciativas eram frequen- agricultura brasileira. Sob influência do “Milagre Verde”, que pro-
temente conduzidas por escolas agrícolas, sociedades rurais e até moveu o uso intensivo de insumos químicos e variedades de alto
mesmo por missionários. Era uma fase onde a extensão estava mais rendimento em diversos países, o Brasil buscou atualizar suas práti-
ligada à ideia de educação rural e alfabetização do que à transmis- cas agrícolas. A extensão rural desempenhou um papel chave, sen-
são de técnicas agrícolas avançadas. do o veículo para introduzir essas novas técnicas aos agricultores.

Influência internacional e modelos iniciais Desafios e críticas


O conceito de extensão rural, como é entendido hoje, teve suas Apesar do crescimento e fortalecimento da extensão rural
raízes em modelos desenvolvidos principalmente nos Estados Uni- durante este período, também surgiram críticas. Muitos alegavam
dos no final do século XIX e início do século XX. O “Modelo Smi- que a abordagem adotada era muito top-down, impondo técnicas
th-Lever”, por exemplo, instituído nos EUA em 1914, teve grande sem considerar a realidade e o conhecimento local dos agricultores.
influência na forma como o Brasil começou a perceber a necessi- Além disso, a forte ênfase na modernização às vezes levava a práti-
dade de uma ação organizada de extensão. A ideia de conectar uni- cas insustentáveis e à marginalização de pequenos agricultores em
versidades, pesquisadores e agricultores começou a ganhar força, benefício da agricultura de grande escala.
reconhecendo-se que a pesquisa agrícola não seria efetiva sem uma A fase de institucionalização da extensão rural no Brasil entre
ponte direta com o produtor. 1940 e 1960 foi fundamental para estabelecer a prática como um
pilar da política agrícola nacional. Foi um período de rápido apren-
Desafios e limitações dizado, expansão e adaptação, onde a extensão rural começou a
Apesar de haver uma crescente percepção da importância da moldar a face da agricultura brasileira. Contudo, os desafios enfren-
extensão rural neste período, o Brasil enfrentou desafios. A vasti- tados e as críticas levantadas nesse período também sinalizavam a
dão territorial, as diferenças regionais, a variedade de cultivos e a necessidade de uma abordagem mais inclusiva e sustentável para a
falta de infraestrutura (como estradas e meios de comunicação efi- extensão no futuro.
cientes) tornaram a implementação de programas de extensão uma
tarefa complexa. Além disso, havia resistência cultural e desconfian-

296
REALIDADE BRASILEIRA

— Expansão e consolidação (1960 - 1980) sil, incluindo inflação elevada, dívidas externas e crises fiscais. No
entanto, foi também um período de transição política, com o fim
O Brasil em transformação do regime militar e a redemocratização do país. Essas mudanças
A década de 1960 viu o Brasil passar por intensas mudanças so- tiveram impactos diretos na maneira como a extensão rural foi con-
ciopolíticas. O Golpe Militar de 1964 levou à instauração de uma di- duzida e percebida.
tadura que perduraria até 1985. Durante este período, houve uma
busca intensiva pelo desenvolvimento econômico, sendo a agricul- Descentralização das políticas de extensão
tura uma das áreas focais. Com o objetivo de transformar o país Durante a década de 1980, a extensão rural começou a ser
em uma potência agrícola e garantir a segurança alimentar, houve descentralizada. A responsabilidade pela prestação de serviços de
uma massiva mobilização de recursos para a pesquisa e extensão extensão, anteriormente centralizada em agências federais como a
agrícola. EMBRATER, foi gradualmente transferida para as unidades federati-
vas. Isso levou a uma maior participação dos estados e municípios
Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural na formulação e implementação de políticas de extensão.
(EMBRATER)
Criada em 1973, a EMBRATER surgiu como parte desse impulso A ascensão da agricultura familiar
modernizador. Absorvendo as funções da ABCAR, a EMBRATER se Nesse período, houve um reconhecimento crescente da im-
tornou o principal órgão nacional de extensão rural, atuando em portância da agricultura familiar. Ao contrário do modelo anterior,
parceria com as empresas estaduais de extensão. Seu papel não era focado em grandes propriedades e monoculturas, a década de 1990
apenas transferir tecnologia, mas também coordenar e formular viu esforços para apoiar pequenos agricultores. Programas como o
políticas de extensão em nível nacional. PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fa-
miliar) foram criados, e a extensão rural desempenhou um papel
A Era da revolução verde no Brasil vital na transferência de tecnologias apropriadas para essa modali-
Inspirado pelo sucesso da Revolução Verde em outros países, o dade de agricultura.
Brasil adotou muitas de suas práticas durante as décadas de 1960
e 1970. Com o apoio da extensão rural, foram introduzidos no país O movimento pela agroecologia
variedades de cultivos de alto rendimento, fertilizantes químicos e Junto com a valorização da agricultura familiar, surgiu um mo-
pesticidas. Este período viu um aumento significativo na produção vimento pela agroecologia, buscando uma agricultura mais susten-
agrícola, solidificando a posição do Brasil como uma potência agrí- tável e integrada ao meio ambiente. A extensão rural começou a
cola global. explorar e promover práticas agroecológicas, enfatizando a diversi-
dade, rotação de culturas, e uso mínimo de insumos químicos.
Impactos sociais e ambientais
Porém, a intensa modernização da agricultura teve seus custos. Desafios financeiros e institucionais
O foco em grandes propriedades e monoculturas levou a uma con- A despeito das mudanças positivas na abordagem da extensão
centração de terras, marginalizando pequenos agricultores. As prá- rural, o período foi marcado por restrições financeiras. Com as cri-
ticas intensivas da Revolução Verde também levaram a problemas ses econômicas e a descentralização, muitas entidades de extensão
ambientais, como erosão do solo, contaminação da água e perda enfrentaram falta de recursos e tiveram que se reestruturar. Isso
de biodiversidade. levou a debates sobre a eficácia e eficiência da extensão rural e so-
bre como melhor atender às necessidades dos agricultores em um
A busca por sustentabilidade e participação ambiente de recursos limitados.
Reconhecendo os problemas emergentes, começaram esforços A extensão rural, nas décadas de 1980 e 1990, passou por uma
na década de 1970 para tornar a agricultura mais sustentável. A ex- redefinição significativa em suas práticas e objetivos. De um mode-
tensão rural começou a promover práticas como rotação de cultu- lo centralizado e voltado para a agricultura de larga escala, migrou-
ras, manejo integrado de pragas e conservação do solo. Também -se para uma abordagem mais descentralizada, inclusiva e ambien-
houve uma crescente consciência da importância da participação talmente consciente. Embora tenham surgido novos desafios, esse
dos agricultores no processo de extensão, levando a métodos mais período lançou as bases para uma extensão rural mais adaptada às
participativos. realidades e diversidades do Brasil.
A fase de expansão e consolidação da extensão rural entre
1960 e 1980 foi marcada por conquistas significativas em termos de — Século XXI: inovação, sustentabilidade e participação
produção agrícola. No entanto, também trouxe à luz os desafios da
modernização rápida e sem reflexão. O papel da extensão rural foi O novo milênio: Desafios e oportunidades
fundamental nesse processo, tanto na promoção de novas tecnolo- O início do século XXI foi marcado por um cenário globalizado,
gias quanto na reorientação em direção a práticas mais sustentáveis onde a tecnologia e a informação passaram a ter um papel cen-
e inclusivas. Esta fase preparou o terreno para as transformações e tral. O Brasil, inserido neste contexto, experimentou crescimento
descentralizações que ocorreriam nas décadas seguintes. econômico, mas também enfrentou desafios como as mudanças
climáticas e a necessidade de produção agrícola sustentável. A ex-
— Descentralização e redefinição (1980 - 2000) tensão rural, mais uma vez, se viu na encruzilhada entre tradição e
inovação.
O contexto socioeconômico
A década de 1980, muitas vezes chamada de “década perdi-
da”, trouxe consigo desafios econômicos significantes para o Bra-

297
REALIDADE BRASILEIRA

A revolução digital no campo desafios, como conflitos de uso da terra, pressões urbanísticas e
Com o advento das tecnologias de informação e comunicação questões de manejo de recursos hídricos.
(TICs), a extensão rural começou a se beneficiar de ferramentas Inovação e sustentabilidade
como softwares de gestão agrícola, drones, satélites e plataformas A EMATER-DF tem desempenhado um papel proativo na in-
online. Isso permitiu uma extensão mais eficaz, alcançando um nú- trodução de tecnologias inovadoras para os agricultores da região.
mero maior de agricultores e oferecendo soluções personalizadas. Projetos de agricultura de precisão, uso eficiente de água e produ-
ção orgânica são alguns exemplos. Há também um forte incentivo
Foco na sustentabilidade e agroecologia à agroecologia, com a promoção de práticas que respeitem o meio
Reconhecendo os impactos negativos da agricultura intensiva, ambiente e promovam a biodiversidade.
houve um movimento contínuo em direção à sustentabilidade. A
extensão rural passou a promover ainda mais práticas agroecológi- Participação e integração com a comunidade
cas, manejo integrado de recursos e conservação da biodiversidade. A proximidade da zona rural com o ambiente urbano permitiu
Além disso, com a crescente preocupação global com as mudanças uma maior integração entre produtores e consumidores. A EMA-
climáticas, a extensão rural teve papel crucial na difusão de práticas TER-DF promoveu diversas iniciativas, como feiras agroecológicas,
agrícolas resilientes ao clima. que aproximaram o público urbano da realidade dos agricultores,
valorizando o produto local e promovendo uma alimentação sau-
Participação ativa dos agricultores dável.
A abordagem de extensão rural no século XXI tornou-se mais A extensão rural no Distrito Federal reflete a singularidade de
participativa. Valorizando o conhecimento local, as agências de ex- uma região que combina características urbanas e rurais. Através da
tensão passaram a envolver mais os agricultores no processo de atuação da EMATER-DF, os agricultores do DF têm sido capazes de
decisão, reconhecendo-os como parceiros e não apenas como re- enfrentar desafios específicos e aproveitar as oportunidades ofere-
ceptores de tecnologia. Isso resultou em soluções mais adaptadas cidas por sua localização única. A história da extensão rural no DF é
às realidades locais. um testemunho da capacidade de adaptar práticas agrícolas às cir-
cunstâncias locais, buscando sempre a sustentabilidade, inovação e
Parcerias e colaborações integração com a comunidade.
Neste período, observou-se um aumento nas parcerias entre
órgãos de extensão, instituições de pesquisa, universidades e o se- — Do passado ao futuro
tor privado. A natureza multidisciplinar dos desafios agrícolas exigiu A extensão rural no Brasil possui uma rica e dinâmica história,
uma abordagem colaborativa, onde diferentes entidades trabalha- refletindo as transformações sociais, políticas e econômicas que o
ram juntas para fornecer soluções holísticas. país experimentou ao longo do século XX e início do século XXI. Des-
O século XXI trouxe consigo um conjunto de desafios e oportu- de seus primórdios voltados para a difusão de técnicas agrícolas,
nidades para a extensão rural no Brasil. Com foco em inovação, sus- até a valorização da agricultura familiar e práticas agroecológicas, a
tentabilidade e participação, a extensão rural continuou a evoluir, extensão rural tem desempenhado um papel fundamental na pro-
buscando soluções que não apenas aumentassem a produtividade moção do desenvolvimento agrícola sustentável.
agrícola, mas que também fossem ambientalmente sustentáveis e A trajetória da extensão rural no país pode ser vista como um
socialmente justas. Adaptando-se às realidades em constante mu- espelho das prioridades nacionais: a busca por segurança alimentar
dança, a extensão rural reafirmou seu papel vital na paisagem agrí- nas décadas de 1960 e 1970, a redefinição e descentralização nos
cola brasileira. anos 1980 e 1990, e o foco na inovação e sustentabilidade no século
XXI.
— Extensão rural no Distrito Federal O Distrito Federal, por sua vez, oferece um interessante micro-
cosmo da extensão rural. A EMATER-DF, ao longo de sua história,
O cenário particular do Distrito Federal enfrentou desafios específicos, mas também aproveitou as oportu-
O Distrito Federal (DF), criado em 1960 para ser a sede da ca- nidades únicas apresentadas pela proximidade entre zonas urbanas
pital federal, Brasília, apresenta uma particularidade em relação a e rurais.
outros estados brasileiros. Embora a maioria das atividades esteja Olhando para o futuro, a extensão rural no Brasil e no Distrito
centrada na administração pública e em serviços, a região também Federal tem o potencial de continuar a desempenhar um papel cru-
possui uma zona rural ativa, com uma diversidade de pequenos e cial. Com os crescentes desafios das mudanças climáticas, da neces-
médios produtores que cultivam desde hortaliças até grãos. sidade de alimentar uma população em crescimento e da conserva-
ção da biodiversidade, a extensão rural será essencial para conectar
A criação da EMATER-DF pesquisa, inovação e as realidades no campo.
A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Assim, a história da extensão rural no Brasil e no Distrito Fede-
Federal (EMATER-DF) foi criada em 1977 com a missão de promover ral não é apenas um registro do passado, mas uma fonte de inspira-
o desenvolvimento rural sustentável no DF. Desde o início, sua abor- ção e orientação para as futuras gerações de agricultores, técnicos,
dagem foi voltada para a agricultura familiar, focando em práticas pesquisadores e formuladores de políticas. Através da colaboração,
sustentáveis e na melhoria da qualidade de vida dos agricultores. inovação e respeito ao meio ambiente e às comunidades rurais, a
extensão rural pode continuar a moldar um futuro agrícola próspe-
Desafios e particularidades ro e sustentável para o Brasil.
Diferente de regiões agrícolas tradicionais, o DF possui uma
proximidade única entre zonas rurais e urbanas. Isso traz vantagens,
como acesso a mercados e facilidade de comunicação, mas também

298
REALIDADE BRASILEIRA

embrionárias do pensamento comunista.


A INSERÇÃO DO BRASIL NO SISTEMA INTERNACIONAL. É importante perceber que o debate acerca da legitimação do
Estado como instituição gestora de conflitos e interesses domésti-
Origens, Conceitos Básicos e Fundamentos Teóricos34 cos não acontece de forma autônoma em relação aos eventos ex-
ternos às fronteiras nacionais. Assim, na medida em que os grupos
O Início políticos dominantes encontram certo grau de coesão doméstica, a
Levando-se em consideração a centralidade do Estado no de- própria manutenção da estrutura do poder estatal torna-se paula-
bate dos estudos de Relações Internacionais, faz-se necessário en- tinamente sensível à dinâmica política e comercial no âmbito das
tender a evolução teórica acerca desse tema. Nesse sentido, a Ciên- relações interestatais.
cia Política, de forma geral, concentra sua literatura nos trabalhos O período de consolidação das monarquias europeias deu-se,
de Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes, John Locke, Montesquieu e então, no contexto da articulação dos agrupamentos humanos em
Jean-Jacques Rousseau. torno de Estados que respondessem por suas demandas políticas,
Pode-se dizer que, de uma forma ou de outra, as teorias das econômicas e sociais. Alcançada a legitimação do poder doméstico,
Relações Internacionais utilizam esses autores como base para di- os Estados passaram, em maior ou menor grau, a se projetar inter-
versas de suas argumentações, principalmente quando se trata das nacionalmente, no sentido de garantir recursos que assegurassem
correntes liberal e realista. sua sobrevivência ou expansão territorial.
Ao trabalhar a ideia de interesse nacional, Nicolau Maquiavel Essa dinâmica de poder entre os Estados absolutistas europeus
(1469-1527), autor de O Príncipe, defendeu o argumento de que fomentou a consolidação do sistema estatal moderno. Na medida
para defender os interesses do Estado, a política não pode sub- em que o Estado absolutista ia sendo substituído pelo Estado liberal
meter-se aos valores morais. É sabido que as ideias de Maquiavel (legitimado pela soberania popular), o sistema internacional con-
influenciaram profundamente o surgimento e a consolidação do solidou-se como palco de luta de interesses nacionais divergentes.
absolutismo europeu. Vale ressaltar que o sistema internacional surge antes mesmo
Para Thomas Hobbes (1588-1679), o homem é um ser mau por da consolidação do capitalismo como um sistema de alcance global.
natureza, que não mede esforços para garantir sua sobrevivência e Argumenta-se que, na verdade, o sistema capitalista beneficiou-se
defender seus interesses. Assim, nessa luta incessante de homem das diversas estruturas estatais anteriormente estabelecidas. Desse
contra homem, a morte é uma ameaça constante à vida dos indiví- modo, o processo de acumulação capitalista passou a ser paulati-
duos. Partindo-se, então, do medo da morte, surge a necessidade namente instrumentalizado como recurso de poder nas Relações
de todos abrirem mão de seus direitos em benefício de um Estado Internacionais. Ainda que o dinamismo do processo de acumulação
(Leviatã) que garanta paz, segurança e prosperidade. Isso posto, capitalista seja, para muitos, a principal fonte de atrito do sistema
Hobbes utiliza a figura do Leviatã para legitimar o Estado como ator internacional, vale ressaltar que o ambiente conflituoso entre as
que age em benefício de todos. Discute-se que os postulados de potências europeias é anterior ao surgimento do capitalismo.
Hobbes embasam os estudos sobre o contrato social.
Trabalhando na releitura dos conceitos de Hobbes, John Locke Sistema Internacional, Geopolítica e Relações Internacionais
(1632-1704) ponderou sobre os limites ao poder das monarquias Estudos sistêmicos, a partir das dinâmicas e circunstâncias his-
absolutistas. Nesse sentido, Locke defende a ideia de que a liberda- tóricas, geográficas, políticas e econômicas do sistema internacio-
de não pode ser entendida como o preço a ser pago pela instituição nal, impulsionaram o surgimento de conceitos e teorias que com-
do poder estatal. Nesse caso, ficaria estabelecido o direito da socie- põem, hoje, o campo de estudo das Relações Internacionais.
dade rebelar-se contra o Estado, pois sua liberdade seria o contra- Já é de amplo conhecimento que o atual sistema internacional
ponto ao próprio poder do soberano. É dentro desse contexto que é fruto dos desdobramentos da Guerra dos Trinta Anos (1618-48) e
surge a separação entre as esferas públicas e privadas. dos Tratados de Vestefália, que puseram fim ao conflito. De 1648 a
A partir das ideias de John Locke, Barão de Montesquieu (1689- 1792, o sistema de Estados europeus consolidou-se com uma dinâ-
1755) tratou da separação dos poderes (Legislativo, Executivo e Ju- mica própria de equilíbrio de poder. No entanto, as guerras impul-
diciário) em sua obra O Espírito das Leis. O contrato social ganhou sionadas pela Revolução Francesa (1792-1815) provocaram mudan-
forma na estrutura de uma democracia representativa. Edificaram- ças fundamentais no equilíbrio de poder até então estabelecido.
-se, então, os pilares do Estado liberal que rivalizaria com o poder Após a derrocada de Napoleão Bonaparte, o Congresso de Paz
absolutista dos reis. de Viena (1815) estabeleceu um período de aproximadamente um
Por fim, Jean Jacques Rousseau (1712-78), na contramão do século de “paz” no continente europeu. A razoável estabilidade, no
pensamento hobbesiano, embasou seu pensamento na figura do continente, ficou comprometida com os acontecimentos que prece-
bom selvagem. Enquanto para Thomas Hobbes o homem era um deram a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-18).
ser mau e egoísta por natureza, inserido em um contexto de anar- Nesse sentido, a defesa do equilíbrio de poder europeu pela
quia e caos, Rousseau argumentou que, na verdade, o homem é um Grã-Bretanha, entre França, Prússia, Áustria e Rússia, favoreceu a
ser originalmente bom. Desse modo, sua transformação, na figura adoção de uma política externa, ao mesmo tempo, isolacionista na
hobbesiana, dá-se a partir do surgimento da propriedade privada Europa e imperialista no âmbito global. Torna-se importante ressal-
que o leva à violência e escravidão. Para Rousseau, o contrato so- tar que a supremacia mundial britânica (Pax Britannica) represen-
cial ideal seria aquele que a soberania popular, expressa na forma tou a vitória do seu poder naval sobre o poder terrestre do Império
da democracia direta, fosse o pilar principal sobre o qual se esta- Napoleônico. A marinha britânica não só contribuiu para a derrota
beleceria o Estado. As ideias de Rousseau são identificadas como de Napoleão e do expansionismo francês, como manteve o ímpeto
34 JUBRAN, Bruno Mariotto. Relações internacionais: conceitos básicos e aspec- expansionista dos demais impérios europeus, em especial o russo.
tos teóricos. Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional. Fundação Adicionalmente, a frota naval britânica foi fundamental na conso-
de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuse. Porto Alegre: 2015. lidação de seu império ultramarino e de seu poder sobre as rotas

299
REALIDADE BRASILEIRA

comerciais mundiais. coube à influência do poder naval norte-americano a criação de Es-


A expansão territorial dos Estados nacionais e o controle sobre tados-tampões nas fronteiras soviéticas, assim como a instalação
recursos naturais existentes em territórios além das fronteiras na- de bases militares, navais e terrestres, para conter o expansionismo
cionais são os ingredientes latentes, em grande parte, dos conflitos soviético por terra e mar.
interestatais. Nesse sentido, muitas vezes, negar o acesso a recur- A ideia da rivalidade secular entre poder terrestre e naval in-
sos estratégicos, ou conter a expansão imperialista de um Estado fluenciou e segue influenciando as análises internacionais. Nesse
(ou grupo de Estados), no interior do sistema internacional, torna- sentido, é comum o uso da metáfora da luta secular entre o país
-se a lógica dos grandes players da política internacional. baleia (supremacia do poder naval) e o país urso (supremacia do
Foi dentro desse debate sobre os recursos de poder, território poder terrestre). Tal metáfora é bastante utilizada para retratar o
e acesso a recursos naturais que surgiram as primeiras observações conflito entre os Estados Unidos da América e a União das Repúbli-
teóricas no campo das relações interestatais. Trata-se, mais espe- cas Socialistas Soviéticas (EUA-URSS) no âmbito da Guerra Fria e nos
cificamente, da geopolítica, campo de estudos que analisa as rela- posteriores contenciosos envolvendo a Rússia e os Estados Unidos.
ções entre Estados a partir da perspectiva histórica e geográfica. A Desse modo, como a teoria do poder terrestre foi importante
geopolítica, que precedeu a consolidação das Relações Internacio- para os estudos do poder naval, as obras de Mackinder e Mahan,
nais como um campo de estudo científico, estruturou-se a partir da consideradas pilares dos estudos geopolíticos, também contribuí-
teoria do poder terrestre e, posteriormente, das teorias do poder ram para trabalhos que passaram a enfatizar a influência do poder
naval e aéreo. aéreo para o equilíbrio de poder no sistema internacional. O pró-
Em 1904, o geógrafo britânico Halford John Mackinder argu- prio termo geopolítica traz em si a ideia da influência de questões
mentou, a partir do estabelecimento de um nexo de causalidade geográficas na política. Isso posto, faz-se necessário ressaltar, tam-
entre Geografia e História, que havia uma secular disputa pela bém, que os estudos pioneiros na área das Relações Internacionais
supremacia mundial entre dois poderes antagônicos: o poder ter- se beneficiaram tanto da análise histórica do sistema internacional,
restre e o marítimo. Segundo Mello (1999), Mackinder acreditava a partir dos desdobramentos da Paz de Vestefália até os dias atuais,
na existência de um poder terrestre eurasiano que buscava, por como das primeiras análises geopolíticas encampadas por Mackin-
meio de uma expansão centrífuga, dominar as regiões periféricas der e Mahan.
da Europa com o objetivo de garantir acesso aos mares quentes.
Já o poder antagônico, marítimo, situado em ilhas próximas e re- O Campo de Estudo das Relações Internacionais: Atores e Ní-
giões marginais à Eurásia, controlava a linha costeira dessa região veis de Análise
com o intuito de manter o poder terrestre no interior eurasiano,
recorrendo ao exercício de uma força centrípeta. Apesar de tratar o O estudo das Relações Internacionais visa à compreensão de
poder marítimo como força antagônica ao poder terrestre, Mackin- eventos pertinentes às relações entre os Estados dentro de um
der notabilizou-se como o principal intelectual da teoria do poder recorte temporal determinado. Nesse sentido, faz-se necessária a
terrestre. Ao defender a existência da disputa secular entre poder construção do contexto ou da realidade em que se dão os temas
terrestre e poder marítimo, Mackinder pôs fim à dominante visão — objetos de estudo das RI. Partindo do pressuposto de que as RI
eurocêntrica das análises internacionais. iniciam suas abordagens mediante a construção de conjunturas
No que diz respeito ao poder marítimo, em que pese à supre- e estruturas em que seus objetos de pesquisa estão inseridos, o
macia naval britânica, foi um almirante norte-americano quem, em primeiro desafio do pesquisador do campo das Relações Interna-
1880, deu inteligibilidade à teoria do poder marítimo. Alfred Thayer cionais é o de construir tal realidade. Esse desafio é potencializado
Mahan elaborou importante trabalho sobre a influência do poder pelo fato de cada pesquisador observar seu objeto de pesquisa a
marítimo na história no período de 1660 a 1783. O impacto dos es- partir de sua própria perspectiva, podendo, facilmente, divergir de
tudos de Mahan foi decisivo na consolidação do Destino Manifesto seu colega que, por coincidência, estuda o mesmo tema. Nesse sen-
como política de expansão do poderio norte-americano na região tido, as questões que se impõem são ontológicas, epistemológicas e
do Caribe e do Pacífico (Porto Rico, Filipinas e Cuba). teórico-metodológicas.
A teoria do poder naval, na política estadunidense, propunha Ao se aprofundar nessas questões, Sarfati (2005) busca identi-
o completo controle do território norte-americano, a contenção do ficar os elementos, atores e proposições que compõem a realidade
expansionismo japonês na região do Pacífico e a retirada da supre- dos estudos das Relações Internacionais (ontologia). O autor ques-
macia dos mares dos britânicos mundialmente. tiona a forma como o conhecimento, na área das RI, é gerado, no
Mello (1999) ressalta que as ideias de Mackinder e Mahan fo- sentido de identificar aquilo que pode ou não ser privilegiado nas
ram muito influentes na configuração do sistema mundial no pe- análises (epistemologia). Por fim, Sarfati pondera sobre as formas
ríodo imediatamente posterior à Primeira Guerra Mundial, assim de pesquisar Relações Internacionais (metodologia quantitativa e/
como no período da Guerra Fria (194591). Após a Primeira Guer- ou qualitativa). Enquanto a abordagem quantitativa busca elemen-
ra, o ocidente acreditava na necessidade de se estabelecer um tos mensuráveis para explicar uma realidade, a qualitativa vale-se
cordão sanitário no entorno da União Soviética com o objetivo de de elementos não necessariamente quantificáveis, mas que ajudam
conter a influência e o avanço bolchevique no resto da Europa. Já a compreender a realidade do objeto de estudo. Daí a pertinên-
no pós Segunda Guerra Mundial (1939-45), a consolidação de Es- cia, no estudo das Relações Internacionais, das teorias que buscam
tados-tampões junto às fronteiras soviéticas atendiam mais aos explicar, identificando relações de causa e efeito, e de outras que
interesses do Kremlin, no sentido de dificultar qualquer tentativa buscam entender a realidade.
de expansionismo por parte dos países ocidentais. Igualmente, na Outro aspecto relevante no estudo das Relações Internacionais
visão das potências ocidentais, a expansão e a influência do poder refere-se ao nível de análise. Nesse caso, trata- -se do foco dado à
terrestre soviético, no coração da Eurásia, era um forte argumento pesquisa. Assim, para Sarfati (2005), a análise pode buscar a expli-
da necessidade de se encampar este tipo de estratégia. Isso posto, cação ou a compreensão de determinado evento internacional a

300
REALIDADE BRASILEIRA

partir de determinados níveis, quais sejam: o individual, o societal, Conceitos Pertinentes ao Estudo das Relações Internacionais
o estatal, o supraestatal e o do sistema internacional.
O nível individual apropria-se do estudo da natureza humana Nas Relações Internacionais, o processo de entendimento dos
para explicar/compreender seu objeto de estudo. eventos internacionais passa pelo debate acerca de conceitos que
Nesse caso, poder-se-ia, por exemplo, buscar a explicação de são transversais às teorias desse campo do conhecimento. O uni-
um evento internacional a partir da análise cognitivo-comporta- verso conceitual das RI, longe de esgotar as possibilidades analíti-
mental de um presidente ou autoridade governamental e sua res- cas, trabalha com definições e conceitos inerentes à dinâmica das
pectiva influência sobre os processos decisórios do país. No nível relações interestatais. Nesse sentido, é comum a discussão sobre o
societal, por outro lado, consideram-se os interesses de segmentos comportamento individual de Estados em relação aos demais.
da sociedade ou da burocracia estatal como foco da pesquisa em RI. Faz-se necessária uma explanação sobre o que se entende
No nível estatal, tem-se o estudo dos interesses e sistemas de acerca das expressões sistema estatal ou sistema internacional. O
governo (democracias, ditaduras, economia, segurança, política) sistema internacional é caracterizado pela não existência de um Go-
dos Estados como um ente unitário nas relações interestatais. Já verno central. Não existe um governo supranacional, pelo menos
no nível supraestatal, o pesquisador privilegia o estudo de organiza- em tese, que determine as regras de governança globais, ou que
ções internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) seja capaz de impor punições a Estados que “descumpram” tais re-
ou a Organização Mundial do Comércio (OMC), assim como orga- gras. Entende-se que o sistema internacional é composto por Esta-
nismos internacionais não governamentais (multinacionais, organi- dos soberanos, política e territorialmente constituídos, que buscam
zações terroristas, grupos ambientalistas, etc.) como foco de seu maximizar seus interesses de forma legítima.
trabalho. A ideia de que Estados soberanos buscam maximizar interesses
Finalmente, tem-se o nível do sistema internacional. Nesse tipo nacionais em um sistema internacional marcado pela inexistência
de análise, a pesquisa avalia os padrões sistêmicos das relações mú- de um governo central leva à constatação de que a política interna-
tuas entre todos os atores das Relações Internacionais. A análise cional opera em um ambiente anárquico. Dessa forma, a anarquia
sistêmica argumenta que os Estados são entidades políticas sobera- seria a principal característica do sistema internacional.
nas, não existindo um governo central nas Relações Internacionais, Ainda que alguns teóricos das RI percebam a anarquia do sis-
o que daria a característica anárquica do sistema. Porém é comum tema internacional como característica secundária, para muitos, a
a contra-argumentação de que, na verdade, a aparente anarquia primazia da mesma parte da convicção generalizada de que a maxi-
esconde a hierarquia dos países dentro do sistema internacional. mização dos interesses nacionais é reflexo da característica egoísta
A hierarquia desse sistema seria determinada pelo exercício dos do ser humano. Assim, da mesma forma que o homem é um ser
recursos de poder dos Estados (território, população, exércitos, tec- egoísta que busca, acima de tudo, a garantia da própria sobrevi-
nologia, riqueza, etc.) no interior do mesmo. vência, os Estados nacionais também agem de forma egoísta para
Vale ressaltar, porém, que o nível de análise não se confunde assegurar sua existência no sistema internacional.
com os atores das Relações Internacionais, outro conceito relevante No entanto, é importante ressaltar que, ainda que o sistema
abordado pelas teorias de RI. Tem-se como consenso, entre as cor- internacional seja anárquico, existe um conjunto de imposições,
rentes teóricas das RI, que os atores são os protagonistas em cada sanções e regras implícitas que norteiam o comportamento dos Es-
um dos níveis analisados. Contudo o debate em torno do tema recai tados no sistema internacional. Adicionalmente, chama a atenção o
sobre a primazia dos atores (protagonistas) no estudo das Relações fato de que o ambiente anárquico do sistema não restringe possibi-
Internacionais. Desse modo, como foi colocado na discussão sobre lidades de cooperação bi ou multilateral entre os Estados.
os níveis de análise das pesquisas de RI, o rol de atores engloba A análise do sistema internacional abre, ainda, espaço para a
indivíduos, órgãos governamentais, Estados, Organizações Inter- abordagem de outros dois conceitos importantes das Relações In-
nacionais (OI), organizações internacionais não governamentais ternacionais, quais sejam, soberania e recursos de poder. A sobera-
(ONGs) e atores não estatais como grupos terroristas ou empresas nia diz respeito à legitimidade política e territorial do Estado sobre
multinacionais. suas ações no âmbito doméstico e internacional. Desse modo, o
Percebe-se, então, uma diferenciação clara entre níveis de aná- conceito de soberania trata do exercício da autonomia do Estado
lise e atores no estudo das Relações Internacionais. Ainda que se sobre a condução de sua política interna ou externa, assim como
queira compreender, por exemplo, o apoio do Governo Federal no seus efeitos sobre a dinâmica do sistema internacional como um
processo de internacionalização de empresas brasileiras a partir da todo. Já os recursos de poder tratam das capacidades dos Estados
análise do nível sistêmico das Relações Internacionais (oligopoli- em exercitar seu poder soberano dentro e fora de suas fronteiras
zação de setores da economia mundial e reordenação do sistema nacionais. Em RI, o exercício do poder diz respeito ao gerenciamen-
produtivo global), os protagonistas, nesta análise, podem ser as to das capacidades assimétricas dos países dentro do sistema in-
grandes empresas brasileiras, o Estado brasileiro e os países onde ternacional, seja por meio da coerção hard power (poder duro), da
atuam as empresas nacionais. De outra forma, pode-se analisar influência soft power (poder brando) ou da combinação de ambos.
esse objeto a partir do nível societal, levando-se em conta os in- A dinâmica, no interior do sistema internacional, é, na verda-
teresses de segmentos sociais (empresários) e políticos (o partido de, reflexo do gerenciamento das estratégias de maximização dos
do governo), onde os protagonistas (atores) seriam a burocracia es- interesses dos Estados. Tais estratégias levam em consideração a
tatal, como, por exemplo, o Banco Nacional do Desenvolvimento disposição assimétrica dos recursos de poder dos países no sistema
(BNDES), o partido do governo, as grandes empresas nacionais e o internacional. Nesse contexto, Keohane (2001) constata graus dife-
Estado brasileiro. rentes de sensibilidade e vulnerabilidade dos países em relação a
tudo que acontece no interior do sistema internacional.
Em vista disso, a sensibilidade de um país em relação ao cená-
rio externo pode revelar sua dificuldade para formular novas polí-

301
REALIDADE BRASILEIRA

ticas em um curto espaço de tempo, dado o comprometimento de tados Unidos, Europa, China, Japão e Rússia. Por conseguinte, os
sua política interna ou acordos internacionais. No tocante à vulne- demais Estados buscam maximizar seus interesses a partir de aná-
rabilidade, evidencia-se a capacidade dos países em efetivamente lises estruturais e conjunturais do sistema. Nesse panorama, torna-
formular novas políticas e encontrar alternativas, em curto espaço -se compreensível o agrupamento de países sob a lógica de grupos
de tempo, frente a uma situação adversa no contexto internacional. de geometria variável (VIZENTINI, 2006). A estratégia de inserção
Assim, observa-se que, enquanto a sensibilidade identifica o grau internacional por meio desse tipo de aliança estratégica está laten-
de dependência do país em relação às dinâmicas do sistema inter- te na formação de grupos como o Fórum de diálogo Índia, Brasil e
nacional, sua vulnerabilidade trata de sua efetiva capacidade de África do Sul (IBAS), o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do
reação em cenários internacionais desfavoráveis (KEOHANE, 2001). Sul), o G4 (Alemanha, Brasil, Índia e Japão) e o G20 (Grupo dos 20
A observação das capacidades sistêmicas dos Estados, no sis- no âmbito do sistema financeiro internacional).
tema internacional, levou ao surgimento de conceitos que caracte- Principal Debate Teórico: Realismo Versus Liberalismo
rizam a dinâmica das interações dos países em diferentes recortes A discussão teórica nas Relações Internacionais está, tradicio-
temporais. Isso posto, os estudiosos das RI entendem que o sistema nalmente, pautada pela disputa entre duas correntes principais e
internacional pode operar sob a lógica da hegemonia ou dos polos suas variações: o realismo e o liberalismo. Naturalmente, não se
de poder. trata de duas escolas perfeitamente coesas e cristalizadas, mas sim
Para Arrighi (1996), a hegemonia trata da capacidade de um de tradições de pensamento que evoluem e se modificam com o
Estado soberano exercer, simultaneamente, seu poder de coerção e tempo e com as circunstâncias. Essa oposição, em larga medida,
de liderança moral e intelectual no núcleo do sistema internacional. começou com o surgimento do debate sobre as Relações Inter-
O país hegemônico mobiliza esse poder por meio da possibilidade nacionais após o término da I Guerra Mundial. Nessa conjuntura,
ou ameaça de uso combinado de seus recursos de poder (território, um grupo de pensadores vinculados à tradição liberal começou a
população, recursos naturais, tecnologia, exércitos, finanças) com pensar em alternativas para dirimir as possibilidades de uma nova
o fim de garantir o consentimento dos demais Estados em relação guerra acontecer. Esse pensamento bebia do liberalismo econômi-
às suas políticas dentro do sistema internacional. Ainda que discor- co e político, que apregoava o direito natural à vida, à liberdade e
dem, os demais Estados sentem-se coagidos a aceitar as políticas à propriedade, e reputava o Estado como um potencial destruidor
do país hegemônico. De forma complementar, o país hegemônico desses direitos. Destaca-se, portanto, o interesse na construção de
pode obter o consentimento dos demais Estados por meio de sua uma sociedade calcada no indivíduo, que lhe pudesse assegurar as
liderança dentro do sistema internacional, que se dá pela sua influ- melhores condições para a fruição de sua liberdade.
ência cultural, moral e intelectual. Consequentemente, as políticas No tocante à política internacional, a grande preocupação
encampadas pelo país hegemônico podem ser percebidas como be- dos liberais era em relação à criação de um ambiente propício à
néficas pela totalidade dos países. Consequentemente, a existência paz mundial. Esse panorama tornar-se-ia possível na medida em
de um país hegemônico, no interior do sistema internacional, fo- que fossem criadas e impulsionadas instituições que coibissem os
menta o debate sobre polos de poder. vícios e os maus costumes, de forma a promover uma sociedade
Os polos de poder, nas RI, referem-se à percepção generalizada mais equilibrada e bem ordenada. Na visão liberal, o Estado era,
de que alguns países, isolada ou conjuntamente, possuem capaci- muitas vezes, responsável por perpetrar distorções nocivas ao bem
dades para influenciar e liderar a política internacional de forma comum, que acabavam fazendo com que se sobrepusessem inte-
sistêmica. Destarte, pode-se dizer que a análise das Relações Inter- resses individuais à vontade geral. A guerra, por exemplo, seria
nacionais leva em consideração a uni, a bi ou a multipolaridade do fruto desse processo, uma vez que ela decorria da disputa política
sistema internacional. de determinados grupos, ainda que fosse travada em parâmetros
No caso de um sistema unipolar, pode-se usar como exemplo nacionais. Para os liberais, o uso da razão — que todos possuímos
os contextos históricos do império romano (Pax-Romana) e do im- — viabilizaria a construção de uma ordem internacional mais pací-
pério britânico (Pax-Britânica). Nesses exemplos, ainda que outros fica, pois os custos da guerra excederiam largamente os seus even-
Estados possuíssem capacidades, Roma e Inglaterra exerciam a he- tuais benefícios. Seria imperativo, logo, propiciar mecanismos que
gemonia do sistema internacional (MAGNOLI, 2004). dessem vazão aos desejos dos indivíduos, que atentariam mais à
Quando se percebe que a hegemonia do sistema é exercida prosperidade moral e material do que às rusgas interestatais.
de forma compartilhada entre dois Estados, tem-se a bipolaridade A percepção dos liberais a respeito da guerra pode ser sinte-
como característica patente do sistema. Em vista disso, é consolida- tizada pela afirmação do filósofo Immanuel Kant (1989), que dizia
da a ideia de que o período da Guerra-Fria foi marcado pela bipola- que esta era “o esporte dos reis”, pois era praticada sem levar em
ridade (URSS/EUA) do sistema internacional. consideração os benefícios da população. Assim, considerava-se
Por fim, as últimas três décadas têm sido caracterizadas pelo que o sistema de Estados era caracterizado pela anarquia, aqui en-
debate recorrente sobre a multipolaridade, a unipolaridade ou uni- tendida não como sinônimo de caos, mas de ausência de autorida-
-multipolaridade do sistema internacional. Essa constatação dá-se de superior aos Estados. Pairava no ar a possibilidade de que um
pelo fato de que embora os Estados Unidos sejam a maior potência simples desentendimento pudesse desencadear um conflito arma-
militar e econômica do planeta, os custos financeiros e políticos do do. Desse modo, se, por um lado, era prerrogativa estatal a defesa
exercício da hegemonia sobre o conjunto do sistema internacional da integridade física do seu território e de seus habitantes, também
são muito elevados. Dessa forma, abrem-se espaços para que ou- era verdade que muitas das violações partiam dos próprios Esta-
tros Estados considerados potências locais utilizem sua influência dos, configurando um dilema de segurança. No entanto, esse qua-
hegemônica regional como forma de atingir seus respectivos inte- dro poderia ser alterado se os cidadãos fossem ativos na política e
resses em suas relações globais. propusessem soluções que tornassem o sistema internacional mais
Percebe-se, então, que a configuração do atual sistema inter- cooperativo e pacífico.
nacional reflete os interesses de polos de poder consolidados: Es-

302
REALIDADE BRASILEIRA

A perspectiva liberal — que considerava o mundo como um am- lutas por poder. A fim de esclarecer seu ponto de vista, os realistas
biente hostil em virtude da anarquia, mas plenamente possível de frequentemente recorrem à imagem do jogo de bilhar para explicar
ser aperfeiçoado pelas instituições e pelas ideias adequadas — foi o comportamento estatal: os Estados seriam como bolas de bilhar
duramente criticada por um grupo de analistas que veio a constituir no tabuleiro geopolítico mundial, ou seja, até poderiam variar em
a escola rival: o realismo. De acordo com os realistas, o componente termos de tamanho e cor, mas desempenhariam basicamente as
anárquico da sociedade internacional não só potencializa as chan- mesmas funções. À primeira vista, essa perspectiva soa imprecisa,
ces de guerras, mas também as garante. A inexistência de uma ins- uma vez que se admite que há conflitos internos nos Estados sobre
tância supranacional, que coordene e limite a ação estatal, faz com o que constituiria o interesse nacional. No entanto, para os realis-
que cada um seja livre para perseguir os seus próprios objetivos. tas, esses antagonismos seriam resolvidos internamente, de modo
Eventualmente, então, é inevitável que ocorram disputas entre as que, ao final, somente uma posição tivesse primazia.
nações, uma vez que frequentemente os interesses são conflitivos. O entendimento liberal sobre o Estado diverge, em muitos as-
Ademais, ressalta-se o fato de que a anarquia é também um desin- pectos, da visão realista. Acima de tudo, observa-se que, para os
centivo à cooperação, pois há sempre um elevado risco de que um pensadores liberais, as Relações Internacionais estão compostas por
lado trapaceie, o que acabaria com a colaboração mútua. Cientes inúmeros atores expressivos, não somente os Estados. Enfatiza-se,
desse cenário, segundo o realismo, os Estados seriam reticentes às então, que as instituições estatais são palcos de grandes contendas,
iniciativas de promoção da paz e tratariam de priorizar sua própria o que faz com que nem sempre seja possível visualizar uma postura
segurança. única em relação a temas complexos. Enquanto alguns grupos de
A crítica realista em relação à abordagem liberal era bastan- pressão atuam em um sentido, outros vão em direção oposta, e o
te dura, na medida em que essas interpretações eram reputadas Estado, muitas vezes, não consegue escapar a essa dubiedade. Na
como normativas e não avaliativas. Edward Carr (1981), por exem- mesma linha, frisam os liberais, as organizações internacionais tam-
plo, dizia que os pensadores de Relações Internacionais se dividiam bém são mecanismos indispensáveis, pois limitam a atuação dos
entre os idealistas — termo vulgarmente utilizado para denominar Estados (punindo os transgressores de regras e recompensando
os liberais — e os realistas. Para Carr, enquanto estes estariam pre- quem as obedece) e facilitam a cooperação, pois a presença de um
ocupados em entender o mundo tal como era, aqueles teriam uma canal de comunicação poderia diminuir a descrença generalizada e
“visão rósea” da política internacional, ignorando dinâmicas essen- favorecer o entendimento mútuo.
ciais que eram fonte de disputas entre as grandes potências. Funda- Ainda sobre o tema do Estado, nota-se que os realistas não
mentalmente, Carr assentava suas premissas no contexto histórico fazem distinção entre o sistema político-econômico que cada país
em que vivia, quando o mundo rumava para a II Guerra Mundial, adota, não observando diferenças entre socialismo e capitalismo,
pondo um termo definitivo à ideia de que a Grande Guerra pudesse ditadura e democracia. Na ótica realista, todos os Estados têm as
ter sido a “guerra para acabar com todas as guerras”. Além disso, a mesmas funções: garantir sua sobrevivência e velar por seus pró-
falência da Liga das Nações em acomodar interesses distintos e im- prios interesses. O regime político pode ser importante para deter-
pedir o uso da força como recurso de poder também ia de encontro minar os meios pelos quais uma nação escolhe agir, mas não altera
às premissas liberais, sinalizando a necessidade de problematizar o suas funções básicas. Na Guerra Fria, por exemplo, Estados Unidos
tema de maneira menos normativa. e União Soviética, a despeito de suas discrepâncias institucionais e
Embora tanto o realismo quanto o liberalismo tenham mudado econômicas, eram sempre colocados em um mesmo patamar: am-
significativamente ao longo dos anos, é possível observar, com a bos eram superpotências e procuravam expandir sua área de influ-
classificação proposta por Carr, algumas diferenças importantes nas ência no mundo. Novamente, portanto, os realistas retomam a me-
duas tradições. Em primeiro lugar, salienta-se que realistas e liberais táfora das bolas de bilhar, que até podem não ser iguais em termos
concordam em relação ao ordenamento do sistema internacional, de tamanho e coloração, mas comportam-se de modo idêntico.
entendido como anárquico. Novamente, ressalta-se que a anarquia Na visão liberal, caso haja uma dessemelhança representativa
contrapõe-se à hierarquia e não implica uma condição de caos per- no que tange à política e à economia, não é correto considerar todos
manente. Malgrado esse ponto de encontro, é elementar recordar os países como se fossem iguais. Em alguma medida, para os libe-
que a anarquia do sistema não tem os mesmos efeitos para as duas rais, existem Estados melhores e piores: aqueles são democráticos
escolas. Para os realistas, dada a inexistência de uma instância su- e encampam o livre-comércio, ao passo que estes se comportam
pranacional capaz de acomodar interesses e solucionar contendas, de maneira contrária. Essa distinção não se deve apenas a ques-
trata-se de um elemento causador de desequilíbrios e de confron- tões morais e normativas, mas também dizem respeito à conduta
tos: como os Estados só têm a si mesmos para atingir seus objeti- empregada pela nação para resolver os seus conflitos. Isso porque,
vos, não há como evitar a ocorrência de guerras. Já os liberais, por segundo os liberais, as democracias não tendem a entrar em guerra
outro lado, não negam a relevância da anarquia como motivador de entre si, ainda que eventualmente possam entrar em um confronto
disputas, mas lembram que instituições desenhadas com base na armado com uma ditadura. Essa análise remete à paz republicana
racionalidade humana têm condições de atenuar desconfianças e de Immanuel Kant, que via nas repúblicas as virtudes necessárias
promover a cooperação. para a concórdia mundial, em oposição ao belicismo das monar-
À desavença em relação às consequências da anarquia, soma- quias absolutistas. Em virtude disso, convencionou-se chamar de
-se a discórdia sobre o papel do Estado nas Relações Internacionais. “paz democrática” essa faceta do pensamento liberal.
Esse ponto é absolutamente basilar para realistas e liberais e pauta A ideia de que democracias não guerreiam entre si merece al-
suas discussões até hoje. Na perspectiva realista, os Estados são os gum crédito, uma vez que, de fato, não se registram muitos confli-
atores precípuos das Relações Internacionais. Ainda que empresas, tos armados entre Estados com regimes democráticos. De acordo
organizações não governamentais (ONGs), organizações internacio- com os liberais, esse fenômeno ocorre em função do peso da opi-
nais, fóruns multilaterais, etc. tenham alguma pressão sobre o sis- nião pública nesses países, que teria muito mais importância para a
tema internacional, é somente no âmbito interestatal que se dão as formulação da política externa do que nas ditaduras. Desse modo,

303
REALIDADE BRASILEIRA

enquanto governos autoritários podem prescindir do apoio popu- todos os Estados, os recursos disponíveis que cada um tem para
lar para se aventurar em uma investida militar, as democracias são assegurar sua integridade territorial são os seus meios de exercer
muito mais responsivas às demandas da população, o que seria um pressão no sistema internacional.
desincentivo à guerra. Entretanto, embora a hipótese liberal tenha Sendo a política internacional um campo de disputa por poder,
respaldo empírico, o elo causal apresentado é frágil em termos de como pensam os realistas, a chave para entendê-la seria analisar
coerência interna. Afinal, questionam os realistas, se a opinião pú- a balança de poder entre as grandes potências, a qual resultaria,
blica desempenha um papel proeminente na manutenção da paz, sobretudo, da capacidade militar de cada um. Os liberais, no entan-
por que países democráticos iniciaram inúmeras vezes guerras con- to, não compactuam com aspectos fundamentais dessas premissas,
tra ditaduras? Ademais, muitas vezes as hostilidades começaram ainda que não discordem de tudo. Estão de acordo, por exemplo,
com o apoio da opinião pública, como atesta a Guerra do Iraque com a ideia de que todos os Estados buscam aumentar seu poder
(2003). na esfera internacional, cientes de que isso é crucial para a obten-
Como o realismo trata os Estados independentemente de seu ção de suas metas. Não obstante, os liberais creem que a preocu-
regime político, a teoria da paz democrática é terminantemente re- pação com a segurança nem sempre é prioritária para os países,
chaçada por expoentes realistas, que argumentam não haver qual- que só dariam relevância ao tema quando realmente ameaçados
quer incompatibilidade para uma guerra entre dois países democrá- por um competidor. Na maioria dos casos, o propósito principal te-
ticos. Os realistas salientam a incapacidade dos liberais em explicar ria um fundo econômico. Assim, nem seria o poder um conceito
o nexo causal entre a paz e o sistema de governo, objetando que predominantemente militar, nem seria um jogo de soma zero, pois
o peso da opinião pública não é suficiente para legitimar a paz de- benefícios econômicos podem ser usufruídos por todas as partes,
mocrática. Todavia, ainda que os realistas tenham êxito em apontar sem que ninguém saia prejudicado. Por fim, o liberalismo prevê que
as falhas teórico-metodológicas nas explicações dos liberais sobre a interdependência gera ganhos de margem de manobra para os
o assunto, não têm o mesmo sucesso no tocante à refutação da Estados teoricamente mais fracos, que se podem valer de suas van-
hipótese per se. Dada a intransigência do realismo em apontar, tagens comparativas para pressionar as grandes potências, como
nas diferenças internas de cada Estado, a razão para seu compor- atesta a crise do petróleo de 1973.
tamento externo, é lógico que os autores dessa corrente não veem Em termos cronológicos, nota-se que o primeiro autor que do-
nenhuma impossibilidade em uma guerra entre duas democracias. tou o realismo de um senso teórico organizado e bem acabado foi
Porém, como inexistem exemplos significativos que demonstrem o o germano-americano Hans Morgenthau (2003), em seu livro Polí-
contrário, a paz democrática permanece inexplicada pelo realismo. tica entre as Nações. Nessa obra, considerada o ponto de partida
Outra aposta dos liberais para dirimir os riscos de um conflito para o estudo da teoria de Relações Internacionais, o autor subli-
armado interestatal é o livre-comércio. Esse seria um mecanismo nha seis princípios básicos que norteariam o sistema internacional:
fundamental porque criaria estímulos para que empresários e con- (a) a política, tal como a sociedade, é regida por leis objetivas, que
sumidores pressionassem seus Estados a não entrarem em guer- espelham a natureza humana; (b) o poder é o objetivo comum de
ra, com receio de que a contenda desvirtuasse o fluxo de bens e todos os Estados; (c) o poder é um conceito universalmente defini-
serviços, prejudicando a economia local. Mais uma vez, essa inter- do, mas que se expressa diferentemente de acordo com o tempo e
pretação é rejeitada pelos pensadores realistas, que asseveram que o espaço; (d) os princípios morais são fundamentais para as Rela-
as questões de segurança nacional têm primazia sobre os aspectos ções Internacionais, mas são subordinados aos interesses da ação
econômicos, o que reduziria drasticamente os efeitos positivos de política e à prudência do estadista; (e) os princípios morais não são
uma interdependência comercial. A esse respeito, realça-se que universais, mas particulares; (f) a esfera política é autônoma em re-
esse assunto pode ser analisado de duas formas, cada uma favo- lação a outras esferas sociais.
rável a uma escola. De fato, a história documenta fartamente guer- O estudo seminal de Morgenthau sobre as Relações Interna-
ras entre países que tinham intenso fluxo comercial, com destaque cionais foi, naturalmente, alvo de apreciações, elogios e críticas,
para a I Guerra Mundial, o que parece corroborar o pressuposto mesmo entre pensadores realistas que o sucederam. John Herz
realista. Contudo, os liberais sublinham a dificuldade para se esta- (1950), por exemplo, enalteceu o esforço de Morgenthau para le-
belecer uma contraprova, visto que muitos conflitos podem ter sido var adiante o realismo, mas também apontou as fraquezas de sua
evitados por pretextos comerciais, sem que isso possa ser definiti- obra. Herz acreditava que Política entre nações pecava ao tratar a
vamente provado. busca por poder como variável residual das ambições humanas: na
Realistas e liberais também discordam em um elemento-chave visão de Morgenthau, os Estados queriam ser poderosos porque as
das Relações Internacionais: o poder. Enquanto o realismo costuma pessoas têm essa característica. Herz concordava com a premissa
tratar o poder como a variável máxima da disputa interestatal, o de que a procura por poder era um elemento definidor das Rela-
liberalismo ressalta que esse conceito tem de ser problematizado ções Internacionais, mas argumentava que a causa não derivava de
à luz da crescente interdependência econômica e política entre os questões psicológicas, e sim do componente anárquico do sistema
Estados. Assim, observa-se que os realistas veem o poder como a internacional. Afinal, como todos os Estados somente dependem
soma relativa das capacidades dos países em termos políticos, mi- de si para garantir sua sobrevivência, é natural que exista uma cor-
litares, econômicos e tecnológicos, enfatizando o poder em seus rida para obter os meios necessários para tanto. O problema é que
aspectos relativos, ou seja, o poder que uma nação tem sobre a a única maneira de se proteger é se armar, e, naturalmente, isso é
outra. A política internacional, logo, seria um jogo de soma zero, percebido como uma ameaça pelos demais. Essa situação configu-
pois o ganho que um país tem seria uma perda em comparação ao ra um dilema da segurança, pois o sucesso individual depende do
outro: o poder é a capacidade de influenciar o sistema mais do que mal-estar coletivo.
ser influenciado por ele. Destaca-se, ainda, o caráter político-militar A crítica de Herz foi assimilada por outro realista, Kenneth
da noção de poder para os realistas. Isso porque, como vivemos em Waltz, em O Homem, o Estado e a Guerra (1959). Esse trabalho, sob
uma sociedade anárquica e a sobrevivência é o objetivo último de o ponto de vista metodológico, é de suma relevância para as Rela-

304
REALIDADE BRASILEIRA

ções Internacionais, pois reúne e categoriza um conjunto de visões intensa comunicação entre os atores globais, a possibilidade de re-
sobre as origens da guerra no sistema interestatal. Na perspectiva correr à força torna-se cada vez menor, ainda que não desapareça.
de Waltz (1959), a literatura costuma dividir as razões pela disputa Essa situação aumenta os recursos à disposição dos Estados mais
de poder em três imagens. A primeira, enunciada por Morgenthau fracos militarmente, reforçando sua margem de manobra perante
e outros autores, pressupõe que há conflitos porque os seres hu- as grandes potências.
manos têm uma necessidade inata e insaciável de obter mais poder, O estudo de Keohane e Nye (2001) suscitou um grande inte-
impedindo a manutenção da paz entre as nações. A segunda, por resse por parte dos acadêmicos de Relações Internacionais, que os
sua vez, vê os Estados como responsáveis pelas guerras, dadas as classificaram como neoliberais, na medida em que sua teoria, ain-
suas necessidades e interesses individuais. Finalmente, a terceira da que compartilhasse do legado da tradição liberal, acrescentava
imagem (que se baseia no dilema da segurança) dá conta da anar- elementos novos à análise, aproximando-a da vertente realista em
quia do sistema internacional como a motivação básica pela qual os alguns pontos. Curiosamente, na sequência, deu-se um processo
países têm de acumular poder, uma vez que a ausência de um órgão semelhante no realismo, com o lançamento da Teoria da Política In-
supranacional capaz de garantir a ordem faria com que os Estados ternacional, de Kenneth Waltz (1979). Esse autor dedicou-se a res-
tivessem de elevar os recursos à sua disposição, não por veleidades ponder às críticas que a vertente realista vinha sofrendo ao longo
individuais, mas devido à insegurança estrutural do sistema. dos anos 70, quando a teoria da interdependência complexa ganha-
O avanço do realismo deveu-se, em boa medida, à conjuntura va força na academia. Para tanto, Waltz (1979) realizou um estudo
internacional dos anos 1950-60, quando a hostilidade entre Estados cujo objetivo era dar uma base mais sólida e científica ao realismo,
Unidos e União Soviética acentuou-se vigorosamente. Esse pano- com a ideia de que a teoria ainda tinha uma grande capacidade de
rama conflituoso parecia confirmar as principais hipóteses dos re- explicação das Relações Internacionais, desde que adequadamente
alistas, que viam com desconfiança as perspectivas de cooperação estruturada. Há, então, discordâncias em relação aos realistas clás-
entre os Estados e davam especial relevância aos temas de poder e sicos, razão pela qual Waltz (1979) é considerado o fundador do
de competição militar. Contudo, esse cenário se alterou substancial- neorrealismo.
mente na década de 70, quando a détente entre Moscou e Washin- O intuito de Waltz (1979) era fazer uma análise estrutural do
gton começou a dar frutos, dirimindo as tensões e abrindo margem realismo, com a perspectiva de que a causa das guerras está no as-
para o diálogo entre as grandes potências. Além disso, esse período pecto anárquico do sistema internacional. O autor, assim, rejeita a
foi profícuo em termos de parcerias interestatais, e a crise do petró- primeira e a segunda imagem da política internacional, asseveran-
leo de 1973 indicava que os liberais estavam certos ao enfatizar as do que é a terceira a fonte de conflitos entre as grandes potências.
questões econômicas e o tema de interdependência como um eixo Em sua ótica, toda estrutura era composta de três atributos básicos:
basilar das Relações Internacionais, que sempre foi menosprezado princípio ordenador, características de suas unidades e distribuição
pelos teóricos realistas. de capacidades. O primeiro, segundo Waltz (1979), diz respeito à
Foi nessa conjuntura favorável que, em 1977, os liberais Robert natureza do sistema: anárquica ou hierárquica. Nas Relações Inter-
Keohane e Joseph Nye publicaram Poder e Interdependência: políti- nacionais, portanto, é a anarquia que rege os Estados. Já o segundo
ca mundial em transição (2001), no qual argumentavam que os pro- está relacionado à produção de recursos. Diferentemente de uma
cessos transnacionais estavam alterando as dinâmicas do sistema economia de mercado, onde cada um se especializa no que faz de
internacional. Em sua visão, os países cada vez mais se deparavam melhor, a política internacional é marcada pela autoajuda: cada Es-
com problemas que se originavam em espaços que estavam fora do tado conta somente consigo mesmo para realizar suas tarefas. En-
seu controle. Na mesma linha, os atores não estatais tornaram-se fim, a distribuição das capacidades trata dos meios relativos que
mais relevantes para a política internacional, complexificando as cada país tem, ou seja, quantas são as grandes potências. Nesse
Relações Internacionais. Esse quadro acelerava a interdependência livro, Waltz (1979) afirma que o sistema é bipolar ou multipolar,
entre os Estados, o que proporcionava uma nova agenda de discus- não abrindo espaço para a unipolaridade que se seguiu à queda da
sões sobre conflito e cooperação. Diferentemente dos liberais an- União Soviética.
teriores, porém, Keohane e Nye (2001) tinham uma interpretação Como vimos, o debate nas Relações Internacionais está forte-
menos normativa da interdependência, que sempre fora reputada mente ligado à conjuntura, com o avanço e o retrocesso das esco-
como um fator de estabilidade e concórdia pelo liberalismo. Para las refletindo o clima político entre as grandes potências. Assim, os
esses acadêmicos, embora a interdependência pudesse favorecer a anos 80 foram de predomínio realista, em decorrência da Segunda
cooperação, ela também era um fator de disputa e um recurso de Guerra Fria. No entanto, com a derrocada da União Soviética, viu-se
poder. Observa-se, portanto, uma tentativa de conciliar aspectos da um refluxo do realismo, acompanhado de um progresso do ideário
teoria realista com os preceitos liberais. liberal. Isso porque o triunfo do bloco ocidental foi perseguido pelos
A obra de Keohane e Nye (2001) está assentada em três fun- liberais como um sintoma da superioridade do capitalismo e da de-
damentos que norteiam a configuração da política internacional a mocracia, que nunca mais seriam seriamente questionados. Então,
partir da interdependência complexa: (a) existência de múltiplos seria inaugurada uma nova era das Relações Internacionais, na qual
canais de comunicação e negociação: os Estados não têm o mo- os países não mais lutariam entre si, mas competiriam por merca-
nopólio das negociações internacionais, que são feitas com vários dos e investimentos. Essa perspectiva foi consubstanciada no livro
atores (estatais ou não) em circunstâncias formais e informais, o O Fim da História e o Último Homem, de Francis Fukuyama (1992),
que diminui as incertezas e a assimetria de informações; (b) agenda que via no êxito dos Estados Unidos uma vitória da civilização oci-
múltipla: contrariamente a outros períodos, os temas de segurança dental, que seria emulada por todos os países que aspirassem ao
já não são hierarquicamente superiores às questões econômicas, desenvolvimento econômico e social.
sociais, ambientais e tantas outras, fazendo com que as vantagens Na década de 90, por conseguinte, floresceram teorias que
comparativas de cada Estado não sejam absolutas, mas relativas; pressupunham o fim dos conflitos militares, na medida em que os
(c) utilidade decrescente do uso da força: dado o envolvimento e a Estados se tornavam capitalistas e democráticos. Nesse quadro, as

305
REALIDADE BRASILEIRA

guerras ficariam circunscritas a regiões “atrasadas”, que ainda não estavam na agenda dos Estados.
haviam tomado o rumo do “progresso”. Essa hipótese se assenta-
va nas noções anteriormente mencionadas, para as quais, os con- Visões Alternativas: Marxismo, Teoria da Dependência, Teoria
frontos armados se deviam às características internas dos Estados. Crítica e Construtivismo
Desse modo, como todos os países teriam o interesse em aderir ao
capitalismo e à democracia, acentuar-se-ia o processo de interde- O marxismo, no campo das Relações Internacionais, procurou
pendência. Esse, por sua vez, não implicaria ausência de tensões estabelecer-se como um contraponto tanto ao realismo como ao
interestatais, mas dirimiria os riscos de uma guerra, dado o cres- liberalismo. Curiosamente, seja exatamente por esse motivo, seja
cente peso das instituições internacionais, o papel dos atores extra- por questões metodológicas, essa corrente jamais logrou o status
estatais e a convergência de interesses, fazendo com que o recurso de mainstream nas discussões sobre teoria das Relações Internacio-
à força passasse a ser contraproducente. Ou seja, seria inevitável o nais, especialmente nos Estados Unidos. Como veremos, o pensa-
crescimento dos Estados “bons”, que fariam do sistema internacio- mento marxista, em Relações Internacionais, teve maior repercus-
nal um ambiente mais pacífico. são nas academias fora do eixo América do Norte-Europa Ocidental.
Com o passar dos anos, a crença liberal em um mundo sem É o caso do marxismo-leninismo, que chegou a ser a doutrina oficial
guerras foi-se diluindo — movimento acompanhado por um ressur- de nações de orientação socialista e da teoria da dependência, que
gimento da tradição realista. Em 2001, John Mearsheimer publicou teve expoentes em vários pontos do chamado Terceiro Mundo.
A Tragédia das Grandes Potências, que foi considerado por muitos Apesar de não ter elaborado análises diretas sobre as Relações
como o exemplo mais bem acabado do realismo em termos teóri- Internacionais, e de ter dado pouca atenção ao papel do Estado
cos. Nessa obra, Mearsheimer tratou de demonstrar que sua cor- no plano mundial, Karl Marx inspirou um abrangente e bastante
rente ainda era muito útil para as Relações Internacionais, ainda diversificado conjunto de visões em diversos campos das Ciências
que não fosse a única capaz de explicar fenômenos políticos rele- Sociais. Um aspecto comum a quase todos os desdobramentos
vantes. Mais do que criticar o liberalismo, porém, o autor procurou do pensamento marxista, especificamente nas RI, é o primado em
levar adiante o neorrealismo de Kenneth Waltz (1979), que Mear- pensá-los como um produto do desenvolvimento das relações de
sheimer definia como um realismo defensivo. Isso porque, embora produção em dado período histórico. Nessa leitura, o sistema de
Waltz, em Teoria da Política Internacional, tivesse dado uma grande Estados contemporâneo seria apenas uma forma peculiar de orga-
contribuição ao realismo nos aspectos metodológico e científico, nização das comunidades políticas, calcadas no princípio da territo-
sua visão não explicava por que as grandes potências iniciavam rialidade e no conceito de nação, e não na formação “natural” de
guerras. Para Mearsheimer, Waltz (1979) havia adotado uma pos- entidades políticas com base na comunhão de valores, como etnia,
tura conservadora, que não dava conta de que os Estados tinham, raça ou história comum.
muitas vezes, motivos para encetar um confronto armado. Os autores marxistas, em RI, não compartilham da visão predo-
Segundo esse acadêmico, as Relações Internacionais são mar- minantemente benigna dos liberais acerca do capitalismo e do co-
cadas pela anarquia internacional e são estruturadas em torno de mércio internacional como um jogo de soma positiva para os atores
atores racionais, os Estados. Assim, há uma competição entre eles, envolvidos. De forma semelhante aos realistas, são, em geral, bas-
e o principal objetivo é a sobrevivência. Esse ponto é chave, pois tante céticos em relação à possibilidade de cooperação equânime e
considera que o poder não é uma meta, mas sim um meio para atin- mutuamente benéfica entre os agentes que a praticam. Em relação
gir um propósito. Além disso, Mearsheimer salienta que o elemento aos realistas, os marxistas questionam a premissa de que os Estados
que representa uma grande potência é sua capacidade militar. Des- agem autonomamente no sistema internacional, sem considerar as
sa forma, ainda que os recursos tecnológicos e econômicos sejam disputas e os interesses das classes sociais. Esses conflitos sociais,
importantes, eles somente o são quando podem ser convertidos ademais, não necessariamente se limitam às fronteiras nacionais, e
em termos militares. Nessa linha, Mearsheimer também é cético podem-se alastrar em compasso com a conformação do capitalis-
quanto às possibilidades da diplomacia na política internacional, mo global. As classes sociais, assim, precedem os Estados na escola
que é insuficiente quando há um risco de intervenção militar. Na marxista.
realidade, em sua interpretação, o que ocorre é que todas as gran- A seguir, abordaremos algumas das principais subdivisões do
des potências querem ser únicas no cenário internacional, o que faz marxismo nas RI, tendo-se em mente o contexto em que surgiram:
com que elas balanceiem o poder com suas rivais, a fim de eliminá- o leninismo, as teorias da dependência e, mais recentemente, a te-
-las e certificar sua sobrevivência. oria crítica. Apresentaremos algumas visões mais representativas
A teoria de Mearsheimer, que ficou popularizada como o re- de cada uma dessas divisões, e, na medida do possível, contrasta-
alismo ofensivo, constitui o último esforço de grande repercussão remos com outras teorias, tanto com as de outras escolas de pen-
de sua escola, por mais que muitos artigos realistas tenham sido samento (realismo e liberalismo), como com as de outros ramos do
publicados desde então. A corrente, conquanto seja respeitada e próprio marxismo.
replicada cotidianamente nas Relações Internacionais, já não goza Como vimos anteriormente, tanto liberais como realistas ten-
do mesmo prestígio que teve ao longo do século XX, sobretudo nos dem a caracterizar o sistema internacional como anárquico, em fun-
períodos em que havia uma crise aguda entre as grandes potências ção da inexistência de uma autoridade central que se sobreponha
do sistema internacional. Atualmente, o realismo é alvo de duras aos Estados. No marxismo, premissas como a inexistência de um
críticas, inclusive de autores não liberais, mas tem seguidores nas governo mundial, ou a preeminência dos Estados como principais
teorias pós-modernas como o construtivismo e a teoria crítica. Do atores não seriam suficientes para entender a ordem global. Tam-
mesmo modo, os pensadores liberais também parecem anestesia- pouco seria útil, nessa visão, o emprego da categoria analítica anar-
dos com os principais eventos políticos do século XXI, que mostra- quia internacional. Quase todos os autores marxistas compartilham
ram que o seu otimismo em relação à paz entre as nações e a inter- da visão de que a ordem global é essencialmente hierárquica, co-
dependência era precipitado, na medida em que os conflitos ainda abitada por atores mais poderosos (ou centrais) que restringem o

306
REALIDADE BRASILEIRA

campo de ação dos mais fracos (ou periféricos). ramente a tese da coexistência pacífica com os países capitalistas,
enquanto a China sob o mando de Mao Zedong passou a arguir
Lênin e a Teoria do Imperialismo a necessidade de ampliar a luta anti-imperialista nos países peri-
féricos, favorecendo, inclusive, a aliança entre os comunistas e a
Vladimir I. Lênin elaborou aquilo que se tornaria a primeira e burguesia local mais progressista . Como resultado, já em 1959 ob-
decisiva contribuição marxista ao pensamento nas serva-se uma deterioração progressiva das relações entre os dois
Relações Internacionais. Sua principal contribuição teórica, a países, a ponto de colocá-los à beira de uma confrontação militar
obra Imperialismo como a Fase Superior do Capitalismo, foi publi- aberta em 1969.
cada em 1917 , meses antes da Revolução de Outubro na Rússia, e
pouco menos de um ano antes da anunciação dos 14 Pontos pelo As RI na Periferia: a Teoria da Dependência
então presidente americano Woodrow Wilson, os quais embasa-
riam a vertente liberal nas RI. Na análise leninista, a fase mono- Parte dos autores da chamada teoria da dependência, tam-
polista do capital (a que ele chama de imperialismo), visível já no bém chamados de dependentistas radicais, tinha como referência
final do século XIX, envolve a expansão das empresas monopolistas teórica o marxismo, dentre os quais se situam, entre outros, Andre
nacionais para o exterior, cujo resultado é a contradição observada Gunder-Frank, Theutônio dos Santos, Samir Amin e Immanuel Wal-
entre os Estados que as representam. lerstein. Diferentemente de Lênin e Marx, esses autores têm uma
Podemos destacar alguns pontos de contato do leninismo posição em geral mais cética sobre o efeito civilizador do capitalis-
com outras grandes tradições teóricas em RI. Com o realismo, Lê- mo nas economias coloniais. Nesse sentido, a própria inserção das
nin poderia concordar que o sistema internacional é composto por colônias e dos países recém-emancipados no capitalismo interna-
Estados nacionais, detentores de diferentes capacidades de poder. cional é um fator para o subdesenvolvimento da periferia ou posi-
No entanto, suas divergências são mais relevantes: a desigualdade ção dependente desta em relação ao centro.
entre os Estados, para Lênin, é explicada pela evolução desigual do Embora a preocupação central desses autores tenha a ver com
sistema econômico e dos meios de produção. O interesse nacional, os desdobramentos internos da condição de subdesenvolvimento,
além disso, deve ser entendido conforme os interesses econômi- e não exatamente com sua política externa, observa-se a importan-
cos dos grandes conglomerados e dos monopólios nacionais, e não te análise da relação entre os países do centro e da periferia como
como algo dado. O autor russo vai além: os principais Estados mo- uma relação de dependência. As análises desses autores convergem
nopolistas disputam entre si colônias e áreas de influência como parcialmente com o estruturalismo realista de Waltz (1979), espe-
consequência da expansão de suas atividades econômicas; por esse cialmente no que se refere à premissa de que a ação dos atores é
motivo, as relações entre eles tendem ao conflito. Esse aspecto foi condicionada pelo sistema internacional. As divergências, no entan-
a principal disputa travada com outro autor influenciado por Marx, to, são bastante evidentes: se, para os realistas, o que diferencia os
Karl Kautsky, para quem as potências capitalistas poderiam evitar a países são, sobretudo, seus recursos materiais, para os dependen-
guerra e cooperar, de maneira a reduzirem os gastos com defesa e tistas, a dialética centro-periferia, na economia mundial, funciona
se contraporem ao movimento revolucionário dos trabalhadores. como um ponto de partida. Em linhas gerais, os países periféricos
Analisado tanto por Lênin como pelos primeiros autores libe- permanecerão explorados pelo centro devido à deterioração dos
rais, o conceito de autodeterminação significava a luta dos povos termos de troca no comércio internacional e à ampliação dos in-
contra a dominação ou opressão por parte de potências estran- fluxos de investimentos externos diretos, o que gera desequilíbrios
geiras. Mas a autodeterminação, para Lênin, era expressão da luta crescentes em seu balanço de pagamentos.
nacionalista (que visava à emancipação política) e anti-imperialista Os teóricos dependentistas radicais rejeitam a concepção típi-
(refratária à dominação econômica), ao passo que na linha de ra- ca dos realistas, a de que os Estados se comportam racionalmente
ciocínio liberal significava apenas a conquista da soberania política no sistema internacional, de acordo com sua agenda de interesses
por parte dos povos que tivessem alcançado determinado grau de nacionais. Samir Amin (1987), por exemplo, argumenta que a de-
maturidade e civilização. pendência é construída entre o capital internacional e a burguesia
O leninismo tornou-se a ideologia oficial com a vitória da re- nacional governante, e é a partir dessa relação entre classes sociais
volução socialista na Rússia, em novembro de 1917 , ainda que seu de diferentes países que se deve entender a exploração das massas
legado tenha sido alvo de importantes disputas após a morte de no Terceiro Mundo. Para estancar o processo de transferência de
Lênin, em 1924. No que se refere à política externa da URSS, com a valor da periferia para o centro, ele defende a ruptura dos países
chegada de Josef Stalin ao poder em 1929, coube ao governo sovi- periféricos com o capitalismo central por meio de uma revolução
ético a tarefa de atenuar o isolamento internacional imposto pelas socialista. Esse é um contraponto em relação às teorias menos radi-
potências ocidentais e precaver-se do anticomunismo das potên- cais, como as de Celso Furtado e Raúl Prebisch, os quais defendiam
cias fascistas, especialmente Alemanha e Japão. A Guerra Fria era o desencadeamento da industrialização, principalmente pelo me-
vista, na academia soviética, não apenas como um conflito interes- canismo de substituição de importações, como forma de superar o
tatal, mas também — e, principalmente —, como interclassista: os subdesenvolvimento econômico.
países capitalistas representavam os interesses burgueses, ao passo A teoria do sistema-mundo de Immanuel Wallerstein (1974) é
que os socialistas, o do proletariado no poder. No entanto, como uma das mais influentes na escola marxista. O conceito de siste-
forma de garantir a sobrevivência do sistema social, a URSS bus- ma-mundo proposto é uma estrutura econômica integrada, a qual
cou, com diferentes graus de intensidade, a defesa do princípio da apresenta um componente dinâmico, a lógica da acumulação de
coexistência pacífica entre os diferentes sistemas socioeconômicos. capital. Por meio dessa lógica dinâmica, os espaços diferenciam-se
Essa postura seria alvo de fortes críticas na China, especialmen- ao longo do tempo em três categorias: os centros de poder econô-
te a partir de meados da década de 50. Com a chegada ao poder mico, as periferias, e as semiperiferias, as quais se estabelecem em
de Nikita Khrushev em 1953, a URSS passou a defender mais cla- uma posição intermediária entre as duas anteriores. Enquanto as

307
REALIDADE BRASILEIRA

regiões centrais apresentam atividades econômicas mais intensivas tornando-se uma teoria “resolução de problemas”, isto é, realiza o
em capital e tecnologia, as periféricas acabam por se especializar diagnóstico da situação internacional e prescreve sugestões para o
na produção e na exportação de produtos básicos. A semiperiferia poder constituído dos Estados, no sentido de fortalecê-los. É uma
atinge determinado grau de industrialização e estabelece uma re- teoria conservadora, uma vez que não se compromete com o ideal
lação de dependência sobre a periferia, da qual importa insumos de emancipação humana, algo que toda teoria social deveria consi-
básicos. Porém, tanto a tecnologia como o capital permanecem de- derar. O realismo, assim como qualquer outra teoria social, deve ser
pendentes do centro. Alguns países da América Latina, que haviam contextualizado no tempo e espaço, e serve aos interesses de de-
passado por um significativo processo de industrialização, como o terminada audiência. Por esse motivo, jamais pode ser considera-
Brasil e o México, já eram enquadrados como semiperiféricos na do neutro e universal. Por outro lado, Cox e outros autores críticos
década de 70, quando a teoria foi proposta. reconhecem que suas teorias têm abrangência limitada, decorrente
Alguns analistas argumentam que a teoria da dependência da própria condição de ciência social das mesmas.
falhou em não prever a ascensão econômica dos chamados Tigres Os críticos retomam o raciocínio comum a quase todos marxis-
Asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e Hong Kong), que te- tas das RI, de que não faz sentido pensar o sistema de Estados atual
riam deixado para trás o fardo do subdesenvolvimento por meio de como uma realidade dada, sem considerar os processos históricos
uma estratégia de promoção das exportações e de integração nas que o configuraram. No entanto, um dos focos de disputas com o
cadeias produtivas globais. É possível concordar com esse questio- marxismo ortodoxo refere-se à importância das ideias e de outros
namento na assertiva de que a estratégia de desenvolvimento au- elementos não materiais para o exercício da liderança de determi-
tárquico (ou voltado para dentro) apresenta limites, especialmen- nado polo de poder. Nesse caso, os autores reabilitam o conceito
te em se tratando de países com mercado interno reduzido. Além gramsciano de hegemonia, o qual relaciona o poder físico ou bélico
disso, em uma economia internacional bastante interconectada e com a construção da legitimidade. Transplantado para as Relações
dinâmica, essa estratégia de desenvolvimento pode comprometer Internacionais, a força militar dos Estados é levada a se justificar
a competitividade do país que a adota por um período muito ex- constantemente, mesmo nos casos menos defensáveis: a Alemanha
tenso, especialmente em uma economia global cada vez mais inte- nazista, por exemplo, conduziu uma linha de argumentação para
grada. Entretanto as teorias da dependência foram (e continuam) atacar a Polônia, em 1939, com base na defesa de seus cidadãos
pródigas ao apontarem que países ou regiões que se especializam frente a um crescente militarismo polonês. Outra disputa com as
em exportar insumos básicos correm o risco de perpetuar ou mes- demais correntes marxistas é o questionamento ao determinismo
mo acentuar seu subdesenvolvimento face aos demais players da e ao excessivo materialismo nas análises sobre a realidade social.
economia mundial. E, mais além, países que se industrializam por Sobre o conceito de hegemonia, os autores realistas a associam
meio da estratégia de internalização da produção de itens de médio com a noção de supremacia militar de determinado poder sobre os
valor agregado, como sugere Wallerstein, não deverão atingir os ní- demais; para os críticos, o termo envolve também o consentimento
veis de desenvolvimento dos países mais avançados. geral de que a ordem dada, imposta pelo agente hegemônico, é
benéfica a todos os partícipes. Assim, a construção do sistema de
A Teoria Crítica Bretton Woods, sob a hegemonia dos EUA, foi possível não apenas
graças à supremacia militar sobre seus aliados ocidentais, mas tam-
Ainda que a leitura dos sistemas-mundo de Wallerstein per- bém graças ao esforço de convencimento de que aquela ordem era
maneça bastante atual, a partir dos anos 80, observa- -se o apa- do interesse não apenas de seu líder, os EUA, mas também de todos
recimento de trabalhos de inspiração marxista, mas que se apre- seus membros.
sentavam críticos tanto às escolas realista e liberal das RI, como às A análise de Cox, especificamente, não aposta na predominân-
próprias proposições mais clássicas do marxismo. Esses autores, in- cia do componente material, ou do componente das ideias para en-
fluenciados pela chamada Escola de Frankfurt, vieram a constituir o tender a política internacional. Para ele, existe certa circularidade
que se denomina teorias críticas das RI. Diferentemente dos demais entre formas de produção (ou forças sociais), organizações políticas
subgrupos do marxismo, as teorias críticas têm seu epicentro em nacionais e política internacional: elas influenciam-se reciproca-
universidades da América do Norte e da Europa Ocidental. É inte- mente, e não de forma unidirecional, como defendem as teorias
ressante frisar que essas teorias reflexivas de forma alguma foram tradicionais (realistas, liberais e marxistas clássicos).
e são peculiaridades das RI; mas integram um movimento que já As teorias críticas denunciam a falta de componente dinâmico
encontrava ampla ressonância em outras Ciências Sociais décadas nas teorias positivistas de RI, porquanto estas apresentam compro-
antes. No entanto, é apenas com o fim da Guerra Fria e o súbito misso com a manutenção dos mecanismos de dominação social do
desmonte dos regimes comunistas na Europa Oriental que elas ga- Estado-nação, que são reproduzidos em âmbito global via a formu-
nharam adeptos na academia ocidental. Os críticos sustentam que lação analítica do sistema internacional interestatal. O poder, na vi-
o realismo teria falhado ao observar apenas a questão da distribui- são das teorias mais tradicionais, tem como compromisso apenas a
ção das capacidades materiais, sobretudo bélicas, entre as duas su- segurança (ou sobrevivência) daqueles que o exercem, os Estados,
perpotências. Na década de 80, com efeito, a paridade estratégica e não para a promoção de mudanças sociais.
nuclear pouco havia alterado; mas um exame mais aprofundado Um aspecto comum a vários autores críticos é o de pensar as
acerca da quebra da legitimidade de instituições soviéticas, como Relações Internacionais não como um campo autônomo nas Ciên-
o Partido Comunista, por exemplo, poderia dar pistas acerca das cias Sociais, como outros campos também não o são. Economia e
mudanças que se sucederam no final daquela década. política, por exemplo, não devem ser dissociadas ao se analisar de-
O principal alvo dos autores críticos é, entretanto, a tradição terminado contexto social e histórico. Essa visão é compartilhada
realista. Robert Cox (1987), autor canadense, questiona o caráter por autores críticos como Cox, e por autores da chamada Economia
científico tanto do realismo como do liberalismo (tidos por ele Política Internacional (EPI), como Susan Strange.
como visões positivistas). Segundo esse autor, o realismo acabou Demais autores críticos reforçam o argumento de que o atual

308
REALIDADE BRASILEIRA

sistema de Estados não é perene, tampouco natural: é fruto de pro- dade comum entre EUA e Reino Unido, estabelecida a partir de um
cessos históricos complexos, marcados pela superposição de lutas histórico de amizade e confiança recíproca, algo não imputável às
sociais. A noção de soberania territorial, como defendem alguns au- relações EUA-Coreia do Norte.
tores, é algo bastante recente e tem seu início datável no século XIX, Nicholas Onuf, ao rejeitar o primado da realidade não como
após a Revolução Francesa. A premissa dos neorrealistas (corrobo- dada, mas socialmente concebida por meio da construção de dis-
rada por parcela considerável dos liberais) de que os Estados são cursos, representa a parcela mais crítica dentro do construtivismo.
funcionalmente semelhantes seria falaciosa, como indicam estudos Com o conjunto desses discursos predominantes, tem-se a hege-
empíricos de História e de Sociologia. monia cultural, termo que o aproxima das teorias críticas neomar-
Os teóricos críticos, em virtude de seus posicionamentos bas- xistas, que veremos adiante.
tante desafiadores, apesar das inovações colocadas em prática, so- Mais próximos à abordagem de Wendt, outros autores ofe-
bretudo a partir da década de 90, permanecem bastante marginali- recem visões construtivistas para entender o comportamento de
zados na academia dos países ocidentais. Com raríssimas exceções, determinados Estados. Peter Katzenstein, por exemplo, defende a
têm sido empregados como professores em universidades de me- necessidade de se entenderem a cultura e as normas internas acer-
nor prestígio acadêmico, seus trabalhos sofrem menor divulgação ca da segurança nacional — essa é a explicação para entender a
nas revistas mais bem avaliadas, e seus projetos de pesquisa têm passagem de uma política militarista para uma pacifista por parte
mais dificuldades em obter recursos de financiamento. do Japão no pós-II Guerra. Outra abordagem construtivista aplica-
da a países específicos é levada a cabo por Ted Hopf, que analisa a
A “Virada” Construtivista política externa soviética e russa. Para esse autor, as visões internas
sobre o próprio país e sobre seus “rivais” externos, compartilhadas
A partir dos anos 90, tem havido um grande debate em torno tanto pela elite quanto pela sociedade em geral, são um ponto de
das chamadas teorias construtivistas em Relações Internacionais, partida para entender a política externa em dado momento.
especialmente na América do Norte e, em menor grau, na Euro- Os autores construtivistas têm fornecido interessantes análises
pa. São dois os autores considerados pioneiros nessa agenda de sobre o fenômeno da integração econômica e da formação de blo-
estudos: Nicholas Onuf, por meio da obra World of Our Making: cos regionais, em especial o caso europeu no pós-II Guerra Mundial.
rules and rule in social theory and International Relations, de 1989, De acordo com a referida visão, a crescente integração política e
cunhou o termo construtivista, e Alexander Wendt, autor do artigo econômica, no caso europeu, foi possível não apenas tomando em
Anarchy is What States Make of It, de 1992. Esses autores confi- consideração o interesse nacional dos Estados, mas também graças
gurar-se-ão, também, em duas das principais subdivisões do cons- aos processos de interação social. As estruturas criadas no âmbito
trutivismo: a primeira, mais à esquerda, detém maior aproximação dos esquemas de integração, sejam elas formais ou não, ajudam a
com as visões pós- -modernas ou pós-coloniais, enquanto a segun- ampliar o espaço de comunhão da intersubjetividade não apenas
da apresenta uma agenda de pesquisa mais próxima às visões mais entre os Estados, mas também entre as próprias sociedades a que
tradicionais (realismo e liberalismo). essa integração se dirige, como alegado nessa perspectiva.
A questão fundamental que veio à tona, com o advento do É interessante destacar que o construtivismo, e mais especi-
construtivismo nas Ciências Sociais, foi o papel das ideias e dos va- ficamente o da vertente mais pragmática de Wendt, conseguiu
lores na realidade social, e as Relações Internacionais não passaram atingir o status de mainstream na academia norte-americana em
incólumes a esse debate. O fim da Guerra Fria e o súbito desmonte períodos recentes, diferentemente das outras visões alternativas
dos sistemas socialistas, no Leste Europeu, certamente deram im- ao debate realismo/liberalismo. Em uma recente pesquisa publica-
pulso às visões não realistas, em especial ao construtivismo, ao libe- da pelo jornal Foreign Policy, Alexander Wendt foi considerado, de
ralismo e, em menor grau, às teorias genuinamente pós-modernas. longe, o autor estadunidense mais influente nas RI nas últimas duas
De acordo com essas visões, o realismo falhou não apenas em não décadas, superando, inclusive, nomes bastante consagrados, como
prever os acontecimentos do início dos anos 90, como também te- Kenneth Waltz e Robert Keohane.
ria sido incapaz de observar tendências internas desses países que,
ao menos em parte, foram responsáveis pelas transformações na
ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: A CONSTITUIÇÃO DE
ordem global.
1988 E A AFIRMAÇÃO DA CIDADANIA
Apesar de ser uma tarefa bastante difícil agrupar e caracterizar
o construtivismo como se fosse um grupo único, dadas as divergên-
cias marcantes entre os autores, um aspecto que os aproxima é, jus-
O Estado Democrático de Direito
tamente, seu viés crítico em relação ao realismo (mesmo que, como
veremos, o tom das críticas varie bastante). Wendt, considerado um
O Estado Democrático de Direito é um sistema institucional que
autor mais moderado do construtivismo, questiona a ideia de a es-
designa que qualquer Estado deve garantir o respeito das liberda-
trutura anárquica levar, inexoravelmente, ao conflito ou à competi-
des civis dos indivíduos que nele se abrigam.
ção entre os seus agentes. Seria necessário observar o comporta-
Deste modo, podemos dizer que o Estado Democrático de Di-
mento dos agentes para precisar possíveis tendências de conflito ou
reito significa a exigência do Estado reger-se pelo Direito e por nor-
cooperação; ou seja, a anarquia, como diz o nome de seu famoso
mas democráticas, com eleições livres, periódicas e pelo povo, bem
artigo, é o que os Estados fazem dela. Outro aspecto fundamental,
como o respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias
nessa visão, é o papel da identidade como variável para entender a
fundamentais, proclamado no caput do artigo 1º da Constituição
política externa. Wendt aponta que as cerca de 200 armas nuclea-
Federal de 1988, sendo que a norma máxima adotou, igualmente
res do Reino Unido são consideradas bem menos ameaçadoras para
em seu parágrafo único, o denominado princípio democrático, ao
os EUA do que uma única ogiva em posse da Coreia do Norte. A
afirmar que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de
razão para esse problema seria o compartilhamento de uma identi-

309
REALIDADE BRASILEIRA

representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.


Em sua origem grega, “democracia” quer dizer “governo do povo”. No sistema moderno, no entanto, não é possível que o povo gover-
ne propriamente (o que significaria uma democracia direta). Assim, os atos de governo são exercidos por membros do povo ditos “politi-
camente constituídos”, por meio de eleição.

No Estado democrático de direito, as autoridades políticas estão sujeitas ao poder do povo, uma vez que é a população
quem escolhe seus representantes para criarem as leis, os legisladores (soberania popular).

No Estado Democrático Brasileiro, as funções típicas e indelegáveis do Estado são exercidas por indivíduos eleitos pelo povo para tan-
to, de acordo com regras pré-estabelecidas que regerão o pleito eleitoral. O aspecto do termo “de Direito” refere-se a que “tipo de direito”
exercerá o papel de limitar o exercício do poder estatal.
No Estado democrático de direito, apenas o direito positivo (isto é, aquele que foi codificado e aprovado pelos órgãos estatais compe-
tentes, como o Poder Legislativo) poderá limitar a ação estatal, e somente ele poderá ser invocado nos tribunais para garantir o chamado
“império da lei”. Todas as outras fontes de direito, como o Direito Canônico ou o Direito natural, ficam excluídas, a não ser que o direito
positivo lhes atribua esta eficácia, e apenas nos limites por ele estabelecidos.
Neste contexto, destaca-se o papel exercido pela Constituição. Nela delineiam-se os limites e as regras para o exercício do poder estatal
(onde se inscrevem os chamados “Direitos e Garantias fundamentais”), e, a partir dela, e sempre a tendo como baliza, redige-se o restante
do chamado “ordenamento jurídico”, isto é, o conjunto das leis que regem uma sociedade.
Nota-se que é imprescindível no Estado democrático de direito a existência de uma Constituição. No entanto, não devemos restringir o
elemento democrático à limitação do poder estatal e a democracia ao instituto da representação política, uma vez que o princípio demo-
crático não se reduz a um método de escolha dos governantes pelos governados.
Nos dias atuais o Estado Democrático de Direito tem um significado de fundamental importância no desenvolvimento das sociedades,
sendo um dos fundamentos essenciais de organização das sociedades políticas do mundo moderno, tendo em vista que é um sistema
institucional em que há previsão e proteção aos direitos fundamentais.
Diante de todo o exposto, em linhas gerais, podemos definir como requisitos para a caracterização de um “Estado Democrático de
Direito”: o império das leis; a forma federativa de Estado; o enunciado de garantia de direitos individuais; governo legitimamente eleito
pelo povo.

Características do Estado Democrático de Direito


Para que o Estado Democrático de Direito funcione, é fundamental que exista a distinção dos poderes executivos e que os tribunais
sejam independentes, assim como os legisladores, para garantir a imparcialidade das decisões. Foi a partir desta concepção que surgiu a
divisão dos três poderes: o poder judiciário, o poder legislativo e o poder executivo.
O funcionamento desta divisão de poderes estabelece então que em uma democracia parlamentar, o legislativo, representado pelo
parlamento, limita o poder do executivo, que é o governo. Este não estará livre para agir à vontade, porém deve constantemente garantir
o apoio parlamentar, uma vez que ele representa a vontade do povo. Desta mesma forma, o poder judiciário pode fazer um contraponto
a determinadas decisões governamentais.

Princípio Constitucional Democrático35


A concepção teórica de Estado de direito cumpre a missão de limitar o poder político para estabelecer o império do direito, o “governo
das leis e não dos homens”, o que pode aparentar mero atrelar-se à “liberdade dos modernos” assente no distanciamento e na restrição
do poder, na defesa contra o mesmo.
Por sua vez, a concepção teórica de Estado democrático busca um poder, uma ordem de domínio legitimada pelo povo na sua titula-
ridade e no seu exercício, organizada e exercida em uma dinâmica que não se desvincula do povo (na formulação de Lincoln: governo do
povo, pelo povo, para o povo), o que pode aparentar mero atrelar-se à “liberdade dos antigos”, amiga da convivência com o poder.
Ocorre, no entanto, que o princípio constitucional democrático renova estas concepções, ao estabelecer para a democracia uma
dimensão substancial (legitimidade) e duas procedimentais (legitimação). A legitimidade está atrelada à prossecução concreta e partici-
pativa de determinados fins e valores positivados (Estado de direito democrático – renovação sensivelmente diversa da fórmula “para o
povo”). A legitimação está vinculada a escolha dos governantes (teoria da democracia representativa) e a formas procedimentais de exer-
cício do poder que permitem atuar em sua concretização e renovar o controle popular (teoria da democracia participativa).
A dimensão positivada pela Constituição da legitimidade demonstra que o atual Estado de direito limita o exercício não democrático
do poder, assim como a democracia, em sua dimensão substancial, deslegitima o poder exercido contra os valores positivados pelo direito,
contra o direito.
Estas facetas da democracia demonstram que esta constitui princípio jurídico informador, “impulso dirigente” do Estado e da socieda-
de, fundamento radical e funcional de qualquer organização do poder. Desdobra-se em diversas normas principiológicas: soberania popu-
lar, renovação dos titulares de cargos públicos, sufrágio universal, liberdade de propaganda, igualdade de oportunidades nas campanhas
eleitorais, separação e interdependências dos órgãos de soberania, entre outros.

35 Marcelo Lamy. Princípio Constitucional do Estado Democrático e Direito Natural. http://www.hottopos.com/rih9/lamy.htm

310
REALIDADE BRASILEIRA

QUESTÕES A partir da década de 1970, verifica-se a ultrapassagem do


contingente de população urbana em relação à rural, que decorre
do seguinte fator estrutural:
1.(CESGRANRIO - 2016 - Agente de Pesquisas e Mapeamento
(IBGE) (A) Expansão da agroecologia
(B) Redução do analfabetismo
(C) Regressão do rodoviarismo
(D) Avanço da industrialização
(E) Realização de megaeventos

3.(CESGRANRIO - 2016 - Agente de Pesquisas por Telefone


(IBGE)

A diminuição da razão de dependência permite que o país


comece a mudar suas prioridades em termos de políticas públicas.
É preciso lembrar, contudo, que essa queda não é homogênea entre
as regiões, os estados e os diferentes grupos de renda.

LACERDA, Antônio Corrêa de. [et al.] Economia Brasileira. São Paulo:
Saraiva, 2013, p.266.

O conteúdo do trecho acima envolve o conceito de Razão de


Dependência Total.
Disponível em: <http://www.atlassocioeconomico.rs.gov.br/upload/
mapa_popula%C3%A7%C3%A3o_absoluta_brasil_2010.gif>. Acesso Esse conceito tem relação direta com a razão
em: 31 maio 2016.
(A) de uma situação populacional de altas taxas de mortalida-
O estado do Sudeste com menor população absoluta é de e natalidade para uma de baixas taxas
(A) Rio Grande do Sul (B) da população entre 0 e 14 anos sobre a população em ida-
(B) São Paulo de ativa
(C) Rio de Janeiro (C) da população dependente (0 a 14 anos e 65 anos ou mais)
(D) Minas Gerais sobre a população em idade ativa
(E) Espírito Santo (D) da quantidade da população economicamente ativa sobre
o número de desempregados
2. (CESGRANRIO - 2016 - Agente de Pesquisas e Mapeamento (E) do número médio de nascidos vivos de mulheres entre 14
(IBGE) e 49 anos

No gráfico a seguir, é apresentada a evolução das populações 4.(CESGRANRIO - 2014 - Agente de Pesquisas e Mapeamento
urbana e rural no Brasil. (IBGE)

Banhada por importantes rios e com abundância de ventos, a


região Sul é um dos maiores polos de geração de energia do País. É
lá que se encontra a maior usina hidrelétrica do planeta em geração
por MW/hora, Itaipu Binacional, localizada em Foz do Iguaçu (PR),
responsável pelo fornecimento de 17,3% da energia consumida no
Brasil e 72,5% do consumo no Paraguai.

O Globo. Suplemento Especial Sul, 12 dez. 2013, p. 2. Adaptado

A usina hidrelétrica mencionada no texto, localiza-se na bacia


hidrográfica do rio
(A) Paraná
(B) Uruguai
(C) Paraguai
(D) Tocantins
(E) Parnaíba

311
REALIDADE BRASILEIRA

5.(CESGRANRIO - 2011 - Professor (SEEC RN)/Geografia) 8.(CESGRANRIO - 2014 - Agente de Pesquisas e Mapeamento
(IBGE)
Estabelecendo-se uma relação entre espaço urbano/industrial
e problemas ambientais, um dos desafios a ser enfrentado no
mundo é gerar cada vez mais energia, ampliando a participação de
fontes renováveis e limpas.

Sobre a matriz energética brasileira, reconhece-se que,


comparada à matriz energética mundial, ela apresenta
(A) mais equilíbrio, apesar de a participação do petróleo ultra-
passar a média mundial.
(B) muito desequilíbrio, por ser mais dependente do petróleo
que a maioria dos países.
(C) pouca expressão do setor renovável em relação ao setor
não renovável.
(D) menor representação das fontes de energia limpa.
(E) participação inexpressiva do álcool combustível. O tipo climático predominante na porção setentrional do
território brasileiro representado no climograma acima é o
6.(CESGRANRIO - 2016 - Agente de Pesquisas e Mapeamento (A) temperado continental
(IBGE) (B) equatorial
(C) tropical de altitude
O Atlas Geográfico Escolar do IBGE de 2002 apresenta uma (D) subtropical
classificação de cidades no Brasil, tais como: centros regionais, (E) tropical semiárido
metrópoles regionais, metrópoles nacionais e metrópoles globais.
9.(CESGRANRIO - 2013 - Técnico em Informações Geográficas e
Sendo assim, com base nesse Atlas, Rio de Janeiro e Belo Estatísticas A I (IBGE)
Horizonte são cidades classificadas, respectivamente, como:
(A) metrópole global e metrópole regional No Brasil, ocorre um tipo climático com aspectos bem definidos:
(B) metrópole nacional e metrópole regional médias elevadas de temperatura de 25 a 28 oC e pequena amplitude
(C) metrópole global e metrópole nacional térmica anual, em torno de 3 oC. Nesse tipo de clima, as chuvas
(D) metrópole nacional e centro regional são abundantes e bem distribuídas ao longo do ano, favorecidas
(E) metrópole global e centro regional diretamente pela convergência dos ventos alísios e pela dinâmica
de uma massa de ar continental.
7.(CESGRANRIO - 2016 - Agente de Pesquisas por Telefone
(IBGE) Os aspectos acima mencionados caracterizam o tipo climático
(A) equatorial
No Censo do IBGE de 2010, o país possuía uma população de (B) subtropical
aproximadamente 191 milhões de habitantes. Desses, cerca de 161 (C) semiárido
milhões viviam nas zonas urbanas, enquanto apenas 29 milhões (D) tropical de altitude
viviam na zona rural. Mas nem sempre foi assim. Até a década de (E)tropical com duas estações
1960, a maioria da população morava no campo e a quantidade de
cidades era bem menor do que a atual. [...] Na década de 1970, o 10.(CESGRANRIO - 2018 - Técnico Bancário (BASA)
número de habitantes morando nas cidades foi, pela primeira vez,
maior do que a população que vivia na zona rural. Esse crescimento Um domínio natural do Brasil se destaca na parte setentrional
do meio urbano proporcionalmente maior do que o do meio rural do país pela extraordinária extensão de terras baixas florestadas,
recebe o nome de Urbanização [...] disposto em anfiteatro, com fortíssima entrada de energia solar,
ausência de estações secas prolongadas pronunciadas em quase
Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/brasil/urbanizacao-no- todos os subespaços regionais, com elevado abastecimento de
-brasil.htm>. Acesso em: 09 maio 2016. umidade. É o domínio que menos sofreu com o desmatamento.

A partir de 1990, especialmente, há novas tendências no AB’SÁBER, A. N. Os Domínios de Natureza no Brasil. São Paulo: Ateliê
processo de urbanização brasileiro. Editorial, 2003. Adaptado.

Uma dessas tendências é a(o) As características acima descrevem qual domínio natural
(A) redução do custo de vida nas metrópoles brasileiro?
(B) retração das áreas de ocupação irregular
(C) alteração do ritmo de crescimento das grandes cidades (A) Caatinga
(D) aumento na velocidade das migrações inter-regionais (B) Araucárias
(E) colapso das políticas de planejamento urbano a favor das (C) Amazônico
classes média e alta

312
REALIDADE BRASILEIRA

(D) Cerrado É correto o que se afirma em


(E) Mares de Morros (A) I, apenas.
(B) II, apenas.
11.(CESGRANRIO - 2013 - Técnico em Informações Geográficas (C) I e III, apenas.
e Estatísticas A I (IBGE) (D) II e III, apenas.
(E) I, II e III.

13.(CESGRANRIO - 2009 - Professor de Educação Básica (SEDUC


TO)/História)

“(...) a adoção de uma solução monárquica no Brasil, a


manutenção da unidade da ex-colônia e a construção de um
governo civil estável foram em boa parte consequência do tipo
de elite política existente à época da Independência, gerado pela
política colonial portuguesa”.

CARVALHO. José Murilo de Carvalho. A construção da ordem: a elite


política imperial. Teatro de sombras: a política imperial.
Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2003. p. 21.

De acordo com o autor do texto, as particularidades do processo


Disponível em: <vivaterra.org.br.> Acesso em: 03 ago. 2013.
de independência do Brasil em relação aos seus vizinhos da América
Espanhola devem ser atribuídas, principalmente, à homogeneidade
Na imagem acima, está registrada uma vegetação típica do
cultural da elite política que conduziu a emancipação da América
ambiente natural denominado
Portuguesa e a formação do Estado imperial brasileiro. Entre outras
(A) caatinga
evidências históricas, esta tese é fundamentada na
(B) manguezal
(A) união das elites criollas da América Espanhola em torno do
(C) campo limpo
bolivarismo.
(D) campo rupestre
(B) restrição da Coroa lusitana à criação de universidades na
(E) mata de cocais
América Portuguesa.
(C) adoção da forma republicana de governo por todas as ex-
12.(CESGRANRIO - 2011 - Professor (SEEC RN)/Pedagogia/Sem
-colônias espanholas.
Especialidade)
(D) ampla participação dos criollos nos altos cargos da buro-
cracia espanhola.
A segunda viagem ao interior do país, rumo a São Paulo,
(E) predominância de analfabetos entre os conselheiros de Es-
começou no dia 14 de agosto, três semanas antes do Grito do
tado do Império.
Ipiranga. O objetivo, como na vez anterior, era apaziguar os ânimos
na província, dividida entre dois grupos políticos, um ligado à família
14.(CESGRANRIO - 2010 - Analista (IBGE)/História)
do ministro José Bonifácio e outro, ao coronel Francisco Inácio,
comandante da força pública e aliado da João Carlos Oeynhausen,
Em 15 de novembro de 1890, foi instalada a Assembleia Nacional
presidente da junta provisória local.
Constituinte encarregada de elaborar a primeira Constituição
republicana. O tema principal da discussão foi a relação entre o
GOMES, Laurentino. 1822. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
poder central e os estados. Ao fim e ao cabo, a Constituição de 1891
definiu que
Sobre o período da história do Brasil referido no texto, analise
(A) as rendas advindas da exportação ficariam com os gover-
as afirmações a seguir.
nos estaduais.
(B) as forças armadas ficariam sob o comando do Congresso
I – Os movimentos revoltosos tinham o objetivo de efetivar a
Nacional.
Proclamação da República.
(C) o ensino primário deveria ficar a cargo da União.
(D) o sistema de saúde deveria ficar a cargo dos governos es-
II – As viagens foram realizadas por D. Pedro I como parte do
taduais.
processo que levou à Independência do Brasil.
(E) o orçamento participativo favoreceria a representação mu-
nicipal.
III – As mudanças nos regimes políticos no Brasil foram feitas
à custa de embates, gerados, muitas vezes, pela contradição de
interesses entre grupos sociais.

313
REALIDADE BRASILEIRA

15.(CESGRANRIO - 2010 - Analista (IBGE)/História) 18.(CESGRANRIO - 2010 - Professor (Pref Salvador)/História)

Os anos iniciais da República no Brasil foram caracterizados Nas cidades gregas da Antiguidade, a democracia limitava-se
por uma intensa instabilidade política. O governo de Campos Sales à minoria da população. Os escravos e as mulheres não tinham
(1898-1902) é visto como o construtor de um pacto político que direitos políticos. Além disso, só aqueles que nasciam na cidade de
garantiu certa estabilidade ao regime. Esse pacto, conhecido como Atenas podiam ser cidadãos.
a política dos estados, consistiu num sistema de compromissos
políticos por meio do qual o governo federal garantia a autonomia De acordo com a Constituição Brasileira de1988, quem NÃO
dos grupos oligárquicos dominantes em cada estado, em troca de pode votar no Brasil atualmente são os
apoio das bancadas estaduais no Congresso Nacional. Entre os (A) maiores de 70 anos.
efeitos da política dos estados, identifica-se o(a) (B) maiores de dezesseis anos.
(A) fortalecimento do poder Executivo Estadual, em detrimen- (C) estrangeiros naturalizados.
to do poder Executivo Federal e o do Legislativo. (D) analfabetos.
(B) fortalecimento do poder Legislativo que ampliou sua auto- (E) que estão cumprindo o serviço militar obrigatório.
nomia em relação ao poder Executivo.
(C) equilíbrio de poder entre os estados da federação que al- 19.(CESGRANRIO - 2010 - Professor (Pref Salvador)/História)
ternavam a liderança do Poder Executivo de forma igualitária.
(D) neutralização das oposições, pois o Congresso era contro-
lado pelos partidos republicanos hegemônicos.
(E) fraude eleitoral, pois o voto aberto e não obrigatório favo-
recia o controle das eleições por parte das oligarquias locais.

16.(CESGRANRIO - 2014 - Agente de Pesquisas por Telefone


(IBGE)

Desde que o jornal integralista A Offensiva estampara as


primeiras convocações para o evento na praça da Sé, esquerdistas
dos mais variados matizes idealizaram uma contramanifestação,
combinada propositadamente para o mesmo dia (7 de outubro
de 1934), horário e local. “És amigo da liberdade? Queres que o
Brasil marche para a paz e o progresso? Repugna-te o crime e a
bandalheira? És amante da arte, da ciência e da filosofia? Pois,
então, guerra ao integralismo com todas as suas energias”, incitava Trabalhadores homenageiam Vargas pelos seus 10 anos de governo na
um panfleto da Federação Operária de São Paulo, de orientação Esplanada do Castelo.
anarquista. Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1940.

NETO, Lira. [ ] Do Governo Provisório à Ditadura do Estado Novo (1930 Disponível em: http://novahistorianet.blogspot.com Acesso em: 17 set.
-1945). São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p.193. 2010.

O embate previamente anunciado entre esquerdistas e No que se refere à política trabalhista, Getúlio Vargas conjugou
integralistas foi fatal e ocorreu no governo do presidente com bastante sucesso uma forte repressão ao movimento operário
(A) Café Filho com a criação de um conjunto de leis que representaram avanço
(B) Getúlio Vargas para os trabalhadores.
(C) Jânio Quadros
(D) Washington Luís No dia 1o de maio de 1943, foi assinado o Decreto-Lei no 5.452
(E) Juscelino Kubitschek que instituía a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e unificava
toda a legislação trabalhista já existente no país. Desde então, a CLT
17.(CESGRANRIO - 2010 - Analista (IBGE)/História) sofreu alterações, mas, tendo em vista o Decreto de 1943, registra-
se que, naquela ocasião, os trabalhadores obtiveram as seguintes
Ao longo da república, na sociedade brasileira, o exercício conquistas:
da cidadania sofreu transformações associadas a ações estatais
promotoras de maior inclusão política e social, dentre as quais cita- I - adoção no território nacional da Carteira Profissional, que
se o(a) passou a ser obrigatória para o exercício de qualquer emprego
(A) voto feminino, a partir de 1934. assalariado;
(B) seguro desemprego, por meio da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT). II - estabelecimento do limite máximo de 8 horas diárias para a
(C) direito de voto para os analfabetos, a partir de 1946. jornada de trabalho do empregado; III - direito a todo empregado
(D) reconhecimento da liberdade sindical, a partir de 1937. de um descanso semanal de 24 horas consecutivas.
(E) proteção dos direitos indígenas, a partir de 1891.

314
REALIDADE BRASILEIRA

IV - aprovação do salário mínimo, pago diretamente pelo 11 B


empregador a todo trabalhador do sexo masculino.
12 D
V - liberação para a formação de mais de um Sindicato 13 B
representativo da mesma categoria econômica ou profissional,
ou profissão liberal, sem restrições por parte do Ministério do 14 A
Trabalho, Indústria e Comércio. 15 E
16 B
Estão corretas APENAS as conquistas apresentadas em
(A) I, II e III. 17 A
(B) I, III e IV. 18 E
(C) I, III e V.
(D) II, IV e V. 19 A
(E) III, IV e V. 20 A

20.(CESGRANRIO - 2010 - Analista (IBGE)/História)


ANOTAÇÕES
A criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), em 1938, durante a presidência de Getúlio Vargas,
objetivou a produção e a sistematização de informações e dados ______________________________________________________
sobre o povo e o território brasileiros de modo a conhecer o país
e a instrumentalizar o poder público em suas ações destinadas ao ______________________________________________________
desenvolvimento e à modernização nacional.
______________________________________________________
PORQUE
______________________________________________________
Na conjuntura política da época da criação do Instituto Brasileiro ______________________________________________________
de Geografia e Estatística (IBGE) – o Estado Novo – ampliaram-se as
atribuições do governo federal por meio de ações centralizadoras ______________________________________________________
e intervencionistas, cuja eficácia em muito dependia de saberes
tecnicamente especializados e confiáveis. ______________________________________________________

Analisando as afirmações acima, conclui-se que ______________________________________________________


(A) as duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a
primeira. ______________________________________________________
(B) as duas afirmativas são verdadeiras, mas a segunda não ______________________________________________________
justifica a primeira.
(C) a primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa. ______________________________________________________
(D) a primeira afirmativa é falsa, e a segunda verdadeira.
(E) as duas afirmativas são falsas. ______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

1 E ______________________________________________________
2 D ______________________________________________________
3 C
______________________________________________________
4 A
5 A ______________________________________________________

6 C ______________________________________________________
7 C
______________________________________________________
8 B
______________________________________________________
9 A
10 C ______________________________________________________

_____________________________________________________

315
REALIDADE BRASILEIRA

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

316

Você também pode gostar