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REVISÃO INTEGRATIVA SOBRE

A FISIOTERAPIA NA REABILITAÇÃO
CARDIOVASCULAR NO BRASIL*

VIRGÍNIA MACIEL NOVAIS DE CASTRO, PRISCILA


VALVERDE DE OLIVEIRA VITORINO

Resumo: revisão integrativa com objetivo de identi-


ficar a atuação da fisioterapia nos programas de reabilita-
ção cardiovascular do Brasil. Foram incluídos 17 artigos,
seguindo os critérios de inclusão. As principais formas de
atuação estão voltadas para a fase III. O principal grupo
de pacientes atendidos é o de coronariopatas. As fases I e
II ainda tem pouca atuação da fisioterapia.
estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 479-487, out./dez. 2013.

Palavras-chave: Fisioterapia. Reabilitação. Doenças


Cardiovasculares.

A reabilitação cardíaca pode ser definida como:

(...) o conjunto das atividades necessárias para assegu-


rar, da melhor maneira possível, as condições físicas,
mentais e sociais do doente cardíaco, possibilitando o
seu retorno à comunidade e proporcionando uma vida
ativa e produtiva da melhor maneira possível (MUELA;
BASSAN; SERRA, 2011).

E
m todo o mundo a reabilitação cardíaca tem sido
considerada um processo de restauração das funções
físicas e psicossociais. Seu amplo papel na prevenção
de eventos cardiovasculares e redução da mortalidade estão 479
bem documentados. No Brasil os primeiros serviços de reabilita-
ção foram implantados em 1960, tendo como elemento central a
prática de exercício físico (MUELA; BASSAN; SERRA, 2011).
A reabilitação cardíaca tem sido recomendada para
pacientes após infarto agudo do miocárdio e após cirurgia de
revascularização do miocárdio. Estudos recentes também têm
recomendado esse tipo de tratamento no pós-operatório de ci-
rurgias cardíacas, insuficiência cardíaca crônica estável, pré e
pós-transplante cardíaco, intervenções percutâneas do miocárdio,
doenças valvares e doença arterial periférica. Recomenda-se que
a reabilitação cardíaca seja implementada e executada por uma
equipe multiprofissional (MAIR et al., 2008).
Programas de reabilitação cardíaca são estruturados em
três fases: a fase I (internação hospitalar); fase II (da alta hospi-
talar até dois a três meses após o evento) e fase III (recuperação
e manutenção) (MAIR et al., 2008). A fisioterapia tem papel es-
sencial em todas as fases com a utilização de manobras, recursos
e exercícios físicos que melhoram a capacidade funcional dos
pacientes, aprimorando a função cardiorrespiratória (SANTOS
FILHO et al., 2005; REIS et al., 2006).
Poucos estudos abordam os serviços de reabilitação car-
díaca no Brasil, as suas formas de atuação e procedimentos.
Desta forma, torna-se complicado comparar e escolher na prática
estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 479-487, out./dez. 2013.
clínica as melhores estratégias para o tratamento desse grupo
de pacientes. Portanto, o objetivo desse estudo foi identificar as
principais formas de atuação da fisioterapia nos programas de
reabilitação cardiovasculares existentes no Brasil.

METODOLOGIA

O presente artigo é uma revisão integrativa da literatura


que selecionou artigos de 2000 a 2013, pesquisas realizadas no
Brasil nos idiomas Inglês e Português. Foram excluídos os artigos
publicados que apresentassem pesquisas com dados referentes a
outros países. As bases de dados científicos pesquisadas foram
Bireme, MEDLINE, LILACS, IBECS. Para a busca foram uti-
lizados os seguintes descritores combinados: medicina física e
reabilitação e doença das coronárias; reabilitação e insuficiência
480 cardíaca; centros de reabilitação e frequência cardíaca; centros
de reabilitação e doença das coronárias; reabilitação e doenças
cardiovasculares; insuficiência cardíaca e serviços hospitalares
de fisioterapia; insuficiência cardíaca e fisioterapia; doença das
coronárias e fisioterapia; frequência cardíaca e fisioterapia; exer-
cício e insuficiência cardíaca; exercício e doença das coronárias;
exercício e doenças cardiovasculares.
Para a verificação dos critérios de inclusão no estudo foram
lidos todos os títulos e seus resumos. Caso não fosse suficiente
para a seleção os artigos eram lidos na íntegra.

RESULTADOS

Foram encontrados 528 artigos, após leitura dos artigos,


152 foram excluídos, restando 17 que compuseram a leitura
para o estudo (Figura 1). Os artigos incluídos apresentaram a
seguinte distribuição por metodologia utilizada: 03 retrospectivos;
08 experimentais prospectivos; 05 relatos de caso e 01 revisão
bibliográfica.

DISCUSSÃO
estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 479-487, out./dez. 2013.

Figura 1: Metodologia para inclusão dos artigos da amostra,


Goiânia, Goiás, 2013.

481
Os estudos de fase I foram realizados com pacientes em
pós-operatório de transplante cardíaco (FARIA et al., 2007) e re-
vascularização do miocárdio (ROMANINI et al., 2007; FRANCO
et al., 2011) e após evento de infarto agudo do miocárdio (IAM)
(HISS et al., 2012). Foram avaliados o EPAP (Expiratory Positi-
5
ve Airway Pressure) ; BiPAP (Bilevel Positive Pressure Airway)
com a fisioterapia respiratória convencional (FRC) e somente a
FRC (FRANCO et al., 2011); RPPI (pressão positiva respiratória
intermitente) comparado com o incentivador respiratório (IR) e
os efeitos do exercício físico associado com padrões respiratórios
(ROMANINI et al., 2007).
A PEEP (pressão positiva expiratória) ideal encontrado,
que não promove queda pressórica para pacientes pós-transplan-
te cardíaco foi de 5-10 CMH2O (FARIA et al., 2007). O BiPAP
promoveu reestabelecimento da função pulmonar de forma mais
precoce quanto utilizado com a FRC em comparação com a FRC
isolada (FRANCO et al., 2011). Quando comparadas a utilização
de RPPI e IR, observou-se que a RPPI reverte a hipoxemia preco-
cemente e a IR foi mais efetiva na melhora da força dos músculos
respiratórios (ROMANINI et al., 2007). Os exercícios físicos e pa-
drão respiratório frequentemente adotado no tratamento imediato
do pós IAM mostraram-se efetivos e seguros (HISS et al., 2012).
estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 479-487, out./dez. 2013.
O outro estudo testou a espirometria de incentivo (EI)
associada com EPAP comparada apenas com orientações sobre
técnicas de tosse, mobilização precoce e exercícios de respiração
profunda. Os pacientes que realizam EI+EPAP apresentaram
melhores resultados com relação a dispneia e sensação de esforço
após o teste de caminhada de seis minutos (TC6) e também melhor
qualidade de vida (FERREIRA et al., 2010).
Um estudo abordou a percepção de pacientes submetidos
a reabilitação cardiovascular no pós-operatório cardíaco. Foi en-
contrado que a fisioterapia contribui para o sucesso do processo
de reabilitação pós-cirúrgica, mas contribui pouco na fase pré-
cirurgica (LIMA et al., 2011).
Dois estudos abordaram as fases I e II da reabilitação car-
diovascular. O primeiro avaliou os efeitos de um protocolo com
utilização da estimulação diafragmática elétrica transcutânea
482 (EDET), manobras (higiene brônquica e reexpansão pulmonar),
exercícios de respiração profunda, uso de incentivador respirató-
rio e fisioterapia motora. Quando o paciente foi transferido para a
enfermaria foi adicionado ao protocolo a deambulação assistida.
Após alta hospitalar foram realizadas 30 sessões em 6 semanas de
EDET. Houve aumento nos volumes e capacidades pulmonares e
na força muscular respiratória (BALTIERI et al., 2010).
A fase III é a mais estudada em centros de reabilitação
no país, sendo diversos os protocolos utilizados e as variáveis
avaliadas.
A utilização da Reabilitação Cardiovascular supervisiona-
da utilizando o protocolo convencional (aquecimento, exercício
aeróbio, exercícios resistidos e desaquecimento) foi testada em
pacientes com doença coronariana. Houve melhora dos parâmetros
fisiológicos, hemodinâmicos, funcionais e autonômicos quando
utilizada com uma frequência de 2 vezes por semana (MUELA;
BASSAN; SERRA, 2011). Em estudo de caso de um paciente
com Síndrome de Marfan, a reabilitação convencional, 3 vezes na
semana promoveu melhora da progressão da hipertrofia cardíaca
e disfunção ventricular avaliada pelo ecocardiograma (MEDEI-
ROS et al., 2012). O protocolo convencional também promoveu
melhora do controle autonômico da FC e da capacidade funcional
em pacientes com implante aórtico (REIS et al., 2006).
Outro estudo que avaliou os efeitos da imersão em piscina
estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 479-487, out./dez. 2013.

terapêutica após a fase de desaquecimento de um protocolo de


reabilitação convencional, realizado três vezes na semana não
desencadeou nenhuma repercussão clínica diferente do proto-
colo convencional sem a imersão (ARAÚJO; DE MORAES;
SALES, 2011).
Os protocolos de reabilitação cardíaca não supervisionada
também foram testados em alguns estudos. Na fase III pós IAM,
os pacientes foram divididos em 3 grupos: um grupo foi submetido
a reabilitação convencional; outro a orientações sobre hábitos de
vida e orientados a realizar atividade física e o último recebeu
apenas orientações e não realizou atividade física. Esse estudo
concluiu que a inclusão desse grupo de pacientes em programa
de reabilitação cardiovascular supervisionada é essencial para a
melhora da qualidade de vida (BENETTI et al., 2012).
A reabilitação não supervisionada foi testada em pacientes
com doença coronariana aterosclerótica, em fase estável e de baixo 483
risco isquêmico contra somente orientações e tratamento clínico
e mostrou-se segura e eficaz (OLIVEIRA FILHO et al., 2002).
A reabilitação não supervisionada também foi testada como
seguimento de pacientes submetidos à reabilitação supervisionada
como em estudo de caso de um paciente após transplante cardíaco
que realizou 6 meses de reabilitação supervisionada e após esses
tempo foi orientado a realizar exercícios sem supervisão. Houve
redução da FC de repouso e melhora da tolerância ao exercício
(LEITE et al., 2008).
Um estudo avaliou o impacto de programa de exercícios
físicos supervisionados em obesos mórbidos, com sessões de ca-
minhada e alongamentos com duração de 30 minutos, durante 6
semanas uma vez na semana com orientações para realizar o pro-
grama diariamente. Os resultados sugerem que exercícios físicos
supervisionados em baixa intensidade e realizados com frequência
podem interferir positivamente nos fatores de risco cardiometabó-
licos (FRCM) de indivíduos obesos mórbidos (MARCON; GUS;
NEUMANN, 2011).
O modelo de atuação da fisioterapia em reabilitação cardio-
vascular (RC) no Brasil e o perfil administrativo dos serviços de
RC foram investigados por meio da aplicação de um questionário.
Dentre os serviços que responderam o questionário: 63% iniciam
a fisioterapia no pré-operatório; 71% tem o acompanhamento
estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 479-487, out./dez. 2013.
pós-intervenção nos serviços de unidades de terapia intensiva
e 75% nas unidades de internação. E na fase III da reabilitação
cardiovascular 65% oferecem tratamentos supervisionados aos
pacientes (MAIR et al., 2008).
Em revisão de literatura foi identificado que há grande in-
teresse cientifico em reabilitação cardiovascular e nos principais
exercícios utilizados no tratamento de doenças cardiovasculares.
E ainda que os exercícios aeróbicos tenham papel importante na
reabilitação cardiovascular (SANTOS FILHO et al., 2005).

CONCLUSÃO

A fase I é muito realizada em diversos ambientes hospitala-


res em todo Brasil. Entretanto, estudos sobre o assunto são pouco
frequentes, visto que as condutas e nomenclaturas são diferentes
484 de um estudo para outro.
Muitos artigos encontrados tratavam dos benefícios da
reabilitação cardiovascular referentes à pressão arterial, perfil
lipídico, biomarcadores, glicemia, controle do peso dentre outras
variáveis não abordando de forma específica a atuação da fisiote-
rapia nesses programas.
O protocolo convencional composto por aquecimento, exer-
cício aeróbio e resistido e desaquecimento é o mais estudado em
centros de reabilitação cardiovascular e hospitais. Entretanto, uma
alternativa de protocolo está despertando o interesse dos fisiote-
rapeutas, a reabilitação não supervisionada, que tem apresentado
bons resultados com custos reduzidos.
As principais formas de atuação da fisioterapia no Brasil
encontradas nos estudos estão voltadas para a fase III da Reabi-
litação Cardiovascular. O principal grupo de pacientes atendidos
é o de coronariopatas tanto antes quanto após evento cardiovas-
cular. As fases I e II ainda tem pouca atuação da fisioterapia,
bem como o acompanhamento dos pacientes abrangendo todas
as fases.

INTEGRATIVE REVIEW OF PHYSICAL THERAPY


IN CARDIOVASCULAR REHABILITATION IN BRAZIL

Abstract: integrative review to identify the role of physio-


estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 479-487, out./dez. 2013.

therapy in cardiac rehabilitation programs in Brazil. 17 articles


were included, following the inclusion criteria. The main forms
of action are aimed at phase III. Coronary artery is the main
disease related. There are few phases I and II physiotherapy’s
studies.

Keywords: Physical Therapy Specialty. Rehabilitation.


Cardiovascular Diseases.

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estudos, Goiânia, v. 40, n. 4, p. 479-487, out./dez. 2013.

p. 306-309, 2005.

* Recebido em: 05.09.2013. Aprovado em: 18.09.2013.


VIRGÍNIA MACIEL NOVAIS DE CASTRO,
PRISCILA VALVERDE DE OLIVEIRA VITORINO
(PUC Goiás). 487

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