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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO DE VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DE ÁGUAS CLARAS/DF

JUSTIFICATIVAS PARA A DEVOLUÇÃO DO DISPOSITIVO REFERENTE AO


SISTEMA DE MONITORAMENTO

Após protocolar a manifestação em 28/12/2023, cujo título era alusivo a “relatos


sobre o sistema de monitoramento e medidas protetivas que estão sendo descumpridas”, fui
surpreendida mais uma vez com um relatório elaborado pela DMPP (Diretoria de
Monitoramento de Pessoas Protegidas) contendo justificativa digna de dúvidas.
Nesse sentido, como é possível observar nos dados do relatório, Robson seguia
um trajeto em linha reta, quando, de repente, desviou seu destino rumo ao meu endereço de
trabalho (local expressamente proibido) e o alerta de aproximação disparou por 13 minutos.
Inclusive, são explícitos os alertas visuais nas cores amarelo e, posteriormente, vermelho, pois
a aproximação foi aumentando gradativamente. Mais uma vez, a equipe de monitoramento
permaneceu inerte e não zelou pela minha integridade física e psicológica.

Além disso, para justificar o terceiro descumprimento de Medidas Protetivas,


alegaram que dessa vez houve uma falha no GPS da tornozeleira do ofensor. Constatação
muito estranha, pois pela segunda vez, segundo os relatórios, o GPS do sistema apresenta
instabilidade quando existe a violação de distanciamento, mas essa falha não é apontada
quando o ofensor está longe da zona de exclusão.

É perceptível que esses relatórios escritos estão sendo omissos e favorecendo o


ofensor, pois não retratam a real gravidade dessas infrações. Por exemplo, no dia 14/12/2023,
Robson e eu estivemos na mesma rua por 6 minutos e isso não foi descrito, no dia 27/12/2023,
Robson alterou seu trajeto injustificavelmente rumo ao meu local de trabalho e também não
foi descrito. Além da falta de comunicação e amparo, já relatados na manifestação anterior.
Indubitavelmente, esses episódios tem me causado um verdadeiro terror
psicológico, pois quando o alerta de aproximação é acionado, vivo minutos de aflição e medo,
principalmente porque a DMPP não entra em contato comigo para informar nada.
Sendo assim, não resguardam minha integridade psicológica e, tendo em vista o
comportamento omisso diante dessas ocorrências, acredito que não agirão com rapidez e
eficácia para impedir um futuro contato físico entre Robson e eu.

Ressalto que, me sinto insegura e insatisfeita com os serviços que foram


propostos, mas não são cumpridos pela DMPP. A principal interessada em saber das
aproximações e ser informada em tempo real sobre os alertas é a vítima.
A seguir, vou transcrever alguns pontos da manifestação anterior, protocolada em 28/12/2023:

“É totalmente compreensível que esses alertas de aproximação afetam minha integridade


psicológica, principalmente porque o DMPP não esclarece se corro riscos, não esclarece se a proximidade dele
é na mesma rua ou com algumas quadras de distância, não esclarece se ele está vindo em minha direção ou
não. Assim, são abertas inúmeras possibilidades que resultam em medo, ansiedade, aflição, angústia e o temor
da aproximação se resultar em feminicídio.”

“Aproveito a oportunidade para levar ao conhecimento do Judiciário que, rotineiramente, o


dispositivo fica sem conexão, emite alertas sonoros avisando a falta de internet e o DMPP nunca entrou em
contato comigo para avisar nada. Suponho que seja inviável o rastreamento sem a conexão do sistema com o
aparelho, pois se fosse possível, não teria 2 chips no dispositivo.”

“Em 15/12/2023, após receber várias notificações sobre a falta de conexão e estranhar a falta de
comunicação do DMPP, resolvi questionar a inércia diante de aproximações e também tentar entender qual o
objetivo do monitoramento, mas não obtive resposta esclarecedora.

Destaca-se que a principal interessada em saber das aproximações SOU EU, sendo assim, é claro
que existe necessidade de entrarem em contato comigo.”

Para comprovar, mais uma vez, o enorme descaso, vou anexar um diálogo
realizado com a DMPP onde questiono se o local para devolver o aparelho é o mesmo em que
retirei e eles confirmam. Mas, ao entrar em contato com o setor SUPREC que me forneceu o
aparelho, sou informada que a devolução deverá ser na própria DMPP.
Insta salientar também que, tenho a impressão que as justificativas para as
ocorrências aparentam ser direcionadas a tentar diminuir a gravidade das aproximações de
Robson do que de fato promover o monitoramento e garantir a minha segurança.

Além disso, quando os episódios de aproximação acontecem, entro em contato


com o Ministério Público que sempre me atende prontamente e toma providências
imediatamente.
Portanto, sinto-me amparada pelos Promotores e acredito que é dispensável o
rastreamento da minha localização em tempo real por uma equipe que eu desconheço e que se
mostra sempre inerte sem se preocupar com a minha integridade psicológica.
Na minha percepção, esse monitoramento só está servindo para realizar relatórios com
justificativas de ocorrência sempre favoráveis ao ofensor, ignorando a gravidade das
aproximações. Seguirei vigilante e mantendo contato com o Ministério Público, órgão que
realmente está empenhado em me proteger.

Brasília/DF, 29 de dezembro de 2023.

Atenciosamente,

Jéssica Pinheiro de Lima

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