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Introdução
Atualmente, a migração tem levado à redefinição de políticas públicas pela necessidade de
adaptação emergente aos novos contextos sendo a migração considerada como a
movimentações de pessoas e valores sociais, culturais, económicos e políticos (Rodrigues &
Ferreira, 2014), que pode conduzir a dificuldades na integração e acesso aos serviços de saúde
das populações imigrantes mais vulneráveis.
A Organização Internacional para as Migrações (2023) estima que, em 2020, 3,6% da população
mundial era migrante. Em Portugal 5,2% da população residente é imigrante, verificando-se
um incremento de 37% desde os últimos Censos, sendo os imigrantes provenientes da Ásia
Central e Meridional os que registaram um dos maiores fluxos migratórios (INE, 2023).
Para responder a esta questão realizou-se uma revisão integrativa da literatura (RIL), com o
objetivo de identificar os principais determinantes de saúde da população imigrante da Ásia
Central e Meridional.
Fundamentação Teórica
A migração faz parte da experiência humana, sendo reconhecida como uma fonte de
prosperidade, inovação e de desenvolvimento sustentável num mundo globalizado. No entanto,
este processo afeta os países, as comunidades, os próprios migrantes e suas famílias em formas
diferentes e imprevisíveis. É por isso crucial que a oportunidade de migração internacional nos
una, em vez de nos dividir, otimizando-a através da criação de políticas de migração (ONU,
2018).
Um dos maiores desafios que surgem com a migração é o respeito dos direitos humanos, criando
questões políticas, sociais, culturais e de saúde (Rendi, Minchola & Almeida, 2020), tornando-
se essencial garantir que os atuais e potenciais migrantes sejam informados sobre os seus
direitos, obrigações e opções para uma migração segura, ordenada e regular. Importa também
garantir que estejam cientes dos riscos da migração irregular, devendo estas informações ser
objetivas, claras e baseadas em evidência sobre os benefícios e desafios da migração, dissipando
mitos e expetativas infundadas (ONU, 2018).
Esta mobilização da população para um país novo traz vários desafios, não só para a população
que se desloca, como também para quem os recebe. Desenvolver políticas relativamente aos
serviços de saúde e às estruturas legislativas e financeiras devem ser uma prioridade ao nível
nacional, regional e local, proporcionando melhor qualidade de vida para todos e diminuição
das desigualdades. Estas políticas devem considerar os determinantes socioeconómicos e
ambientais da saúde bem como fortalecer os sistemas de saúde tendo em conta as necessidades
de todos os grupos vulneráveis (Mosler Vidal & Laczko, 2022), pela via do empoderamento
comunitário, já referido.
Metodologia
Para dar resposta ao objetivo, foi desenvolvida uma RIL tendo por base a questão de
investigação “Quais são os determinantes de saúde que afetam os imigrantes da Ásia Central e
Meridional?”, e que foi estruturada segundo a mnemónica PCC (População, Conceito e
Contexto):
Na seleção dos artigos, foram considerados os artigos dos últimos 5 anos, com os seguintes
critérios de inclusão: estudos que se refiram à população imigrante proveniente da India, Nepal,
Paquistão e Bangladesh; artigos com as palavras-chave “Determinantes de Saúde, Cuidados de
Saúde Primários, Imigrantes Asiáticos, Cuidados Culturalmente Congruentes”, sejam de livre
acesso e realizados no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários ou na Comunidade; e de
exclusão: estudos sobre população imigrante de outros países, realizados em âmbito hospitalar,
artigos pagos e que sejam revisões sistemáticas da literatura. As bases de dados consultadas
foram: Pubmed, B-On e EBSCO, durante o mês de julho de 2023. (Figura 1).
Figura 1 – Diagrama PRISMA - Revisão Integrativa da Literatura
Resultados
Os estudos considerados para esta RIL encontram-se dentro dos estudos qualitativos em que,
para obterem a informação pretendida, todos os artigos utilizaram entrevistas individuais ou
através de grupos focais, tendo como objetivo identificar os principais determinantes de saúde
da população e as principais dificuldades no acesso aos serviços de saúde.
Estes cinco artigos demonstram a realidade dos serviços de saúde em 3 países (Canadá,
Austrália e Reino Unido) em que os serviços de saúde são gratuitos e universais para os
residentes no país de acolhimento, tal como acontece em Portugal, com algumas diferenças,
mas com a premissa de que a saúde é um direito universal e, como tal, todos devem ter acesso
à mesma e, para tal, é importante conhecer a população que acede a estes e de que forma se
pode melhorar o seu acesso para poder prestar os melhores cuidados à população.
Discussão/Conclusão
A imigração traz benefícios para os países recetores, como seja a diminuição do índice de
envelhecimento (já que grande parte da população que imigra é jovem e parte na expetativa de
melhores condições de vida que aquela que deixa no seu país de origem) e a dinamização do
mercado de trabalho (Lopes et al, 2009). No entanto, também surgem desafios para o
desenvolvimento de políticas sociais e de saúde quanto à melhoria da qualidade de vida, não só
da população já residente no país, como também daqueles que agora chegam à procura de novas
oportunidades.
Com a chegada ao novo país, apesar de os migrantes serem aparentemente saudáveis, quando
iniciam a sua nova vida perante uma nova casa, os desafios de um novo trabalho, novas
condições de vida e um novo ambiente, pode levar a que este estado seja alterado. Os estilos de
vida que adotam e os comportamentos associados à sua cultura e às suas crenças, onde dão
prioridade à utilização de “remédios” caseiros e automedicação e só como recurso final a
procura dos serviços de saúde, são fatores que condicionam o seu estado de saúde (Nisar, Khan
& Kolbe-Alexander, 2022).
Dahal et al (2022) referem no seu artigo sugestões dadas pelos participantes para promover o
acesso à saúde: promoção de melhores estilos de vida através de sessões de educação para a
saúde ou a presença de intérpretes para melhorar a forma de comunicação entre profissionais
de saúde e os utentes imigrantes. No entanto, é também referido que esta comunidade
compreende que se deve envolver mais na procura de informação e conhecimento sobre os seus
direitos e deveres tendo em consideração a sua presença no país, para poderem articular
corretamente com os vários pares da comunidade.
De um modo geral, como profissionais de saúde, é essencial conhecer bem a cultura de uma
comunidade e compreender quais as suas necessidades perante uma nova realidade. Só assim é
possível empoderar esta comunidade com recurso a cuidados culturalmente congruentes, que
têm em conta a influência da cultura, dos valores, das crenças e da religião, aumentando o nível
de literacia em saúde da comunidade imigrante, a adesão à prevenção e promoção da saúde.
Também as medidas políticas e sociais devem ser desenvolvidas para facilitar o acesso aos
serviços e aos cuidados de saúde, considerando que o direito à saúde é universal.
Estas políticas devem considerar os determinantes socioeconómicos e ambientais da saúde,
fortalecer os sistemas de saúde, considerando as necessidades de todos os grupos vulneráveis,
garantindo que se alcancem as metas do ODS 3 - Saúde e bem-estar, nunca esquecendo da
importância de fortalecer os meios de implementação e de revitalizar a parceria global para o
desenvolvimento sustentável (ODS 17) (Mosler Vidal & Laczko, 2022). É importante continuar
a investigar as dimensões e implicações dos cuidados de saúde a esta população, permitindo
um incremento na acessibilidade e equidade em saúde em todo o território nacional,
independentemente da nacionalidade do utilizador.
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