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Território, Família e

Comunidade

Profa. Patrícia Viana


Por que iremos percorrer ruas e avenidas de Teresina,
tendo como guias os Agentes Comunitários de Saúde?

 Porque é preciso conhecer e entender o modelo de atenção em


saúde vigente – a Estratégia Saúde da Família (ESF);
 Porque a Saúde da Família é a principal estratégia de reorganização
da Atenção Básica ou Atenção Primária em Saúde (APS);
 Porque a APS ou Atenção Básica é a principal porta de entrada do
Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pela coordenação do
cuidado em todos os níveis de atenção e tem o TERRITÓRIO como
um de seus pressupostos;
 Porque os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) compõem as
equipes de Saúde da Família/Saúde Bucal, as quais têm
responsabilidade sanitária sob determinado território.
Brasil, 2012
O Sistema de Saúde Brasileiro

Diversos movimentos serviram como base para a organização do capítulo


referente à saúde na Constituição Federal de 1988, criando o Sistema Único
de Saúde (SUS).

A partir de então, os dispositivos criados para a reorganização do modelo


de atenção à saúde são atravessados pelo paradigma da promoção da
saúde, da atenção baseada nos cuidados primários e no território.

Política Nacional de
Programa de Programa Saúde da Saúde Bucal (PSNB)
Agentes Família (PSF) em em 2004 e
Comunitários de 1994 e equipes de
Saúde (PACS) em Saúde Bucal em Estratégia Saúde da
1991. 2000. Família (ESF) em
2006.
Lima & Cockell, 2009 Ministério da Saúde, 2003 Brasil, 2004; Cunha & Sá, 2013
Estratégia Saúde da Família

É a forma prioritária para a reorganização da Atenção Primária em


Saúde (APS).
Eixos fundamentais:
 Ações baseadas nas necessidades de saúde individuais e
coletivas;
 Estabelecimento do vínculo profissional de saúde-usuário;
 Trabalho em equipe multiprofissional;
 Intersetorialidade;
 Clientela adscrita;
 Área geográfica delimitada (Território).
Brasil, 2012
Alguns conceitos
A cidade é um espaço construído socialmente,
é ao mesmo tempo produto e produtor de
diferenças sociais e ambientais. É formada por
um conjunto de territórios.

Território é um espaço singularizado e de poder,


delimitado político-administrativamente (poder
instituído) ou determinado por grupo de atores
sociais (poder instituinte).

O Sistema Único de Saúde utiliza algumas divisões


territoriais para operacionalizar suas ações: as regiões de
saúde, o município, o distrito sanitário, a área de
abrangência de unidades de saúde e das equipes de saúde
da família, as micro-áreas, dentre outros.

Gondim et al, 2008


O território
Teresina é organizada em 3
Regiões Administrativas:
 Centro-Norte;
 Leste-Sudeste;
 Sul.

ERA organizada em 3
Regiões de Saúde:
 Centro-Norte;
 Leste-Sudeste;
 Sul.

Prodater, 2016
O território

É muito mais que uma extensão geográfica, é também um perfil


demográfico, epidemiológico, administrativo, tecnológico,
político, social e cultural que o caracteriza e se expressa num
lugar em permanente construção.
Barcellos & Rojas, 2004

O território é o resultado de uma acumulação de situações


históricas, ambientais, sociais que promovem condições
particulares para a produção de doenças.
Barcellos et al., 2002
O território
O reconhecimento desse território é um passo básico para a
caracterização da população, de seus problemas e de suas
necessidades de saúde, bem como para avaliação do impacto
dos serviços sobre os níveis de saúde dessa população.
Gondim et al, 2008

Para as UBS com Saúde da Família em


grandes centros urbanos, recomenda-
se a cobertura de, no máximo, 12 mil
habitantes e devem estar localizadas
dentro do território.
Brasil, 2012
O território

 Uma equipe de Saúde da Família/Saúde


Bucal é responsável por um determinada
área (território de abrangência);
 Cada área é composta por um conjunto
de microáreas.
Brasil, 2012
 Cada equipe tem responsabilidade sanitária por uma
população máxima de 4 mil pessoas e a média
recomendada é de 3 mil;
 Cada ACS é responsável por no máximo 750
pessoas;
 O número máximo de ACS por equipe é 12.
Brasil, 2012

 Foi lançada em 10 de outubro de


2013, a Portaria Nº 2.355 que altera
o número de pessoas sob
reponsabilidade das Equipes de
Saúde da Família para 2 mil.
Brasil, 2013a
Cobertura

Teresina

http://dab.saude.gov.br/dab/historico_cobertura_sf/historico_cobertura_sf_relatorio.php.
Cobertura

http://dab.saude.gov.br/dab/historico_cobertura_sf/historico_cobertura_sf_relatorio.php.
Família

 É um espaço complexo de construção e reconstrução histórica


das relações entre seus membros;

 É um lugar privilegiado de Constituição Federal de 1988:


promoção da saúde; Art 5º, inciso X - são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e
 Nos impõem um dilema entre a a imagem das pessoas, assegurado
garantia de direitos constitucionais: o direito a indenização pelo dano
proteção x privacidade. material ou moral decorrente de sua
violação
Mioto, 2003
Família

A pesquisa de Costa (2014) revela o papel primordial da família e da


comunidade na produção do cuidado em saúde.

 O saber popular presente nas estratégias de cuidado deixa a busca


pelos serviços de saúde, muitas vezes, em segundo plano;
 As crenças religiosas são marcantes – Deus como fonte de cuidado e
força para o enfrentamento das adversidades:

Busco força em Deus. Porque é só ele quem nos protege, só ele


que nos dá! Aí, a gente, já vai levar a vida com aquele problema
mais manero na mente. Eu tenho muita fé em Deus. (Esmeralda)
Costa, 2014
Família

O trabalho de Costa (2014) revela o papel primordial da família e da


comunidade no cuidado em saúde:

 O saber popular presente nas estratégias de cuidado deixa a busca


pelos serviços de saúde, muitas vezes, em segundo plano;
 As crenças religiosas são marcantes – Deus como fonte de cuidado
e força para o enfrentamento das adversidades;
 As famílias, mesmo vivendo em condições adversas demonstram
força, autonomia e identidade, por meio de suas histórias de vida e
modos de viver.
Família

 Gutierrez & Minayo (2010) e Costa (2014) concordam que os


atuais estudos não dão conta de expressar concretamente as
formas de cuidado das famílias com seus entes;
 Para Costa “[...] viver não é sinônimo de exatidão [...]. Não dá
para traçar estratégias de cuidado como uma reta [...].
 Os profissionais de saúde precisam levar em conta as crenças,
os valores, a cultura das comunidades e perceber que os
fatores que determinam a saúde e a doença vão além do
aspecto biológico.
Visita Domiciliar

A despeito dos desafios apontados, as visitas domiciliares são


consideradas como instrumento central no processo de trabalho das
equipes de saúde da família e apresentam suas potencialidades.
Cunha & Sá, 2013

 Vínculo;
 Identificação das
necessidades;
 Identificação dos
fatores de risco;
 Promoção da
equidade;
 Ampliação do acesso.
Visita Domiciliar

 Iremos utilizar o termo


Visita Domiciliar (VD) no
decorrer da discussão,
entretanto é válido
informar que o Ministério
da Saúde considera a VD
uma atividade dos ACS,
os demais profissionais da
equipe realizam
Atendimento Domiciliar.
Brasil, 2013b
Ações específicas da Equipe de Saúde Bucal
(ESB) realizadas em domicílio
 Orientações de higiene corporal e bucal, sobre alimentação e
hábitos de vida saudáveis;
 Acompanhamento e cuidado odontológico de pacientes com
deficiência, acamados ou com dificuldade de deambulação;
 Acompanhamento e cuidados em saúde bucal durante a
gravidez e o puerpério;
 Rastreamento do câncer bucal;
 Exames bucais com finalidade epidemiológica;
 Busca ativa: pacientes faltosos e pacientes referenciados para
atenção secundária que não retornaram à atenção básica;
 Realização de alguns procedimentos clínico-cirúrgicos.
O que levar nas Visitas Domiciliares?
 Prontuários familiar e odontológico;
 Receituário e guia para solicitação de exames;
 Agenda;
 Macro modelos, folders, escova, creme dental e fio;
 Instrumentais para a realização de procedimentos;
 Olhos e ouvidos atentos.
As Visitas Domiciliares
fortalecem os princípios da
universalidade, equidade
e integralidade quando
oferecem a oportunidade de
acesso aos serviços de
saúde aos indivíduos que,
em caráter definitivo ou
provisório, não podem se
deslocar à unidade básica,
garantindo o exercício pleno
da cidadania.
Mapear o território

 A territorialização é dos pressupostos básicos do trabalho na


ESF e esta tarefa possui outros sentidos além da demarcação
dos limites de áreas de atuação.
 O reconhecimento do território permite caracterizar a
população, identificar as singularidades da vida cotidiana, as
questões sociais, seus problemas e necessidades de saúde,
observando as diferentes apropriações do território.
 Um mapa é, antes de tudo, uma forma de organizar e comunicar
dados que dizem respeito aos territórios.
 A construção de mapas locais permite identificar as diferentes
tipologias de uso do território e apontar fontes de riscos à saúde.
Monken & Barcellos, 2007
É importante observar

 Características demográficas;
 Condições socioeconômicas: de que se ocupam as
pessoas que vivem aqui? Como a renda se forma? Como é
distribuída?
 Organização social e política: processos de mobilização,
lideranças, associações e grupos, temas e objetos de ação;
 Qualidade e condições de vida: moradias, espaços públicos,
alternativas de lazer, padrões alimentares;
Santos & Rigotto, 2011
É importante observar

 As políticas públicas e os projetos comunitários:


 Como as políticas de educação, saúde, trabalho, meio ambiente,
transporte, cultura e lazer, entre outras, estão acontecendo no
território?
 Quais os equipamentos públicos disponíveis?
 Que iniciativas inovadoras estão em desenvolvimento?
 Quais os desafios e os problemas?
 Como está o saneamento – abastecimento de água, esgoto
doméstico e industrial, resíduos sólidos domésticos, urbanos,
industriais e sanitários, drenagem urbana?
 Como vêm sendo acompanhadas a segurança e a qualidade dos
alimentos e da água?
Santos & Rigotto, 2011
 Produza um diário;
 Produza imagens (sempre pedindo autorização);
 Em caso de dúvidas, tentar esclarecê-las com o
ACS ou demais componentes da equipe;
 Traga a discussão para o momento teórico;
 Não deixe para o último dia!

Seja Criativo
Referências
BARCELLOS, C. et al. Organização espacial, saúde e qualidade de vida: A análise espacial e o uso de indicadores na avaliação de
situações de saúde. Informe Epidemiológico do SUS, v. 11, n.3, p. 129-138, 2002.

BARCELLOS, C.; ROJAS, L. I. 2004. O território e a Vigilância da Saúde. EPSJV: Programa de Formação de Agentes Locais de
Vigilância em Saúde - Proformar – Unidade de Aprendizagem I, Módulo III. Rio de Janeiro, 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. As Cartas da Promoção da Saúde.
Brasília: Ministério da Saúde, 2002.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Nacional de Saúde
Bucal. Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal. Brasília, 2004.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011. 2011. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2488_21_10_2011.html. Acesso em: 20 set. 2014.

______. Ministério da Saúde e Ministério da Educação. Portaria Ministerial nº 2.355, de 10 de outubro de 2013. 2013a. Disponível
em: bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2355_10_10_2013.html. Acesso em: 20 set. 2014.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. e-SUS Atenção Básica: Sistema
com Coleta de Dados Simplificada: CDS. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013b.

CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 8, 1986. Relatório Final. Brasília: Ministério da Saúde, 1987. Disponível em:
http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_8.pdf. Acesso em: 22 set. 2014.
Referências
CUNHA, M. S.; SÁ, M. C. A visita domiciliar na Estratégia de Saúde da Família: os desafios de se mover no território. Interface -
Comunic., Saude, Educ., v.17, n.44, p.61-73, jan./mar. 2013.

GONDIM, G. M. M. et al. O território da saúde: a organização dos sistema de saúde e a territorialização. In: MIRANDA, A.C. et al.
Território, Ambiente e Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2008.

LIMA, J. C., COCKELL, F. F. As novas institucionalidades do trabalho no setor público: os agentes comunitários de saúde. Trab.
Educ. Saúde, v. 6, n. 3, p. 481-502, 2009. Disponível em: http://www.bvseps.epsjv.fiocruz.br/lildbi/docsonline/1/9/1191 -arquivo[3].pdf.
Acesso em: 20 set. 2014.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Programa Saúde da Família:
ampliando a cobertura para consolidar a mudança do modelo de Atenção Básica. Rev. bras. saúde matern. infant., Recife, v. 3, n. 1,
p.113-125, jan./mar. 2003.

MONKEN, M; BARCELLOS, C. Instrumentos para o Diagnóstico Sócio-Sanitário no Programa Saúde da Família. In: FONSECA, A.
F.; CORBO, A. D’A. O Território e o Processo Saúde-doença. Rio de Janeiro: EPSJV/FIOCRUZ, 2007.

PAIM, J. S. Reforma sanitária brasileira: contribuição para compreensão e crítica. Salvador: J. S. Paim, 2007.

SANTOS, A. L.; RIGOTTO, R. M. Território e territorialização: incorporando as relações produção, Trabalho, ambiente e saúde na
atenção básica à saúde. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 8 n. 3, p. 387-406, nov.2010/fev.2011.

YUNES, A. M. M; FEIJÓ, H. N. O rio comanda a vida do Agente Comunitário de Saúde no Amazonas. Revista Brasileira Saúde da
Família, ano IX, v. 18, abr./jun. 2008.
Chão onde a vista alcançar
Todo e qualquer caminho pra percorrer e chegar
Chão quando quer sumir
Se esconde no buraco
Chão se quer sacudir
Vira um terremoto
O chão quando foge dos pés
Tudo perde a gravidade...
Chão – Lenine, 2011

Até a próxima!

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