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Universidade Vila Velha

Psicologia

Taís Barbosa
1 Resumo:
Este projeto tem como propósito relatar a vivência de campo, em estágio específico na
Unidade de Saúde da Família da Barra do Jucu. Dentro da Unidade ocorreu a
participação em reuniões como de matriciamento e reuniões de equipe nas quais
discutimos casos que necessitam de mais atenção, também foram realizados grupos e
atendimentos individuais.

2 Introdução:

A partir do movimento da reforma psiquiátrica aliado ao movimento sanitária,


que se iniciou no Brasil, permitiu a criação do SUS e a posterior inclusão da
Psicologia no campo da saúde, em especial na Atenção Primária. Além de trazer
a ressignificação do conceito de saúde, que deixa de ser apenas a ausência de
doença, passou a considerar diversos fatores como sociais, culturais, políticos e
econômicos como determinantes do processo de adoecimento, além de
considerar que o conceito de saúde não se adequa a um contexto universal, tem
caráter subjetivo, é variável de acordo com o meio, a história pregressa, cultural
de cada indivíduo (Dalla Vecchia & Martins 2009).

Neste cenário a Psicologia está presente no campo da atenção primaria com o


objetivo de promover saúde mental, visando desenvolver uma atenção integral
aos usuários, com o princípio de utilizar das técnicas e teorias presentes na
formação voltadas para intervenções sociais em um contexto institucional
complexo. “As intervenções em saúde mental devem promover novas
possibilidades de modificar e qualificar as condições e modos de vida,
orientando-se pela produção de vida e de saúde e não se restringindo à cura de
doenças. Isso significa acreditar que a vida pode ter várias formas de ser
percebida, experimentada e vivida. Para tanto, é necessário olhar o sujeito em
suas múltiplas dimensões, com seus desejos, anseios, valores e escolhas. Na
Atenção Básica, o desenvolvimento de intervenções em saúde mental é
construído no cotidiano dos encontros entre profissionais e usuários, em que
ambos criam ferramentas e estratégias para compartilhar e construir juntos o
cuidado em saúde” (Brasil, 2013).
As unidades básicas de saúde destinadas a atenção básica e contínua podem se
organizar a partir da Estratégia da Família, caracterizando uma Unidades de
Saúde da Família. Neste modelo de organização existe um mapeamento, que faz
a buscativa das famílias que moram na região que a Unidade contempla. A
Unidade de Saúde da Família consiste em uma unidade de saúde pública
destinada a atenção básica e contínua, é considerada a porta de entrada do
sistema de saúde e é integrada por equipe multiprofissional. Em uma Unidade
de Saúde da Família, referente a Psicologia, se deve ressaltar a importância de
considerar que o trabalho no SUS não pode ser uma mera adaptação de práticas
clínicas individuais à rotina desse sistema, mas exige uma grande rotação da
maneira como se constrói esse processo de trabalho, o modelo de atendimento
aos sujeitos e a postura da Psicologia ao se inserir de forma ampla considerando
todo o contexto social ao qual os usuários estão envolvidos, para além da
instituição, utilizando de diversas técnicas como grupos, atendimento individual
e conjunto para garantir aos usuários o melhor acompanhamento (Conselho
Federal de Psicologia, 2019).

Esse trabalho tem o objetivo de apresentar um relato de experiência sobre a


vivência de uma estagiária de psicologia em uma Unidade de Saúde da Família,
localizada na Barra do Jucu no município de Vila Velha, Espírito Santo. O
estágio tem o intuito de apresentar aos futuros profissionais da área intervenções
práticas de aprendizagem, além de contribuir para o funcionamento da Unidade.

2 . ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE E PSICOLOGIA

2.1 O SUS e a atenção Primária


ESF/ território/
A Atenção Primária forma a base do Sistema Único de Saúde (SUS),
promovendo a organização e racionalização da utilização dos recursos, tanto
básicos como especializados, direcionados para a promoção, manutenção e
melhoria da saúde. É considerada a entrada do usuário para todas as novas
necessidades e problemas, direcionando um acompanhamento contínuo dos
usuários. O Programa de Saúde da Família é a principal estratégia de
implementação e organização da Atenção Primária, aplicado em Unidades de
Saúde da Família para que seja feito o mapeamento e direcionamento das
demandas do território (Gomes, Cotta, Araújo, Cherchiglia, & Martins, 2011).
Para dar início ao trabalho no campo, foi realizado um diagnóstico da Unidade
que proporcionou um reconhecimento de território fundamental para
compreender as particularidades presentes naquele contexto que naturalmente
envolvem os usuários da Unidade, além de ser essencial para a caracterização da
população e de seus problemas de saúde, contribuindo ainda para a avaliação do
impacto dos serviços de saúde naquele ambiente. A efetivação das atividades de
atenção à saúde se baseia no entendimento de como funcionam e se articulam
num território as condições econômicas, sociais e culturais e de como se dá a
vida das populações, seus atores sociais e a sua íntima relação com seus
espaços, seus lugares (Goldstein et al., 2013).
A Unidade de Saúde da Família da Barra do Jucu é formada por quatro equipes,
divididas por região, Riviera, Barra do Jucu, Santa Paula I e Santa Paula II. É
necessário ter uma leitura das principais características de cada região para
entendermos as principais necessidades a serem atendidas pelos usuários. O
território de Riviera é caracterizado por uma população mais carente, bem
dependentes de informação e exigem um movimento maior da Unidade em ir
até eles. O principal público é de idosos, com diabetes e hipertensão. Os quais
possuem queixas referentes a constante troca de médicos da Unidade o que por
vezes impossibilita a criação de um vínculo. A região é marcada por muita
violência e a presença do tráfico, mas demonstra um crescimento exponencial
referente ao comércio local.
O território da Barra do Jucu atualmente se divide de forma informal em dois,
Barra um e Barra dois, o que por vezes se configura como uma barreira
geográfica para os moradores e que é um fator relevante a ser compreendido
principalmente na ocupação do território para promover ações da Unidade.
Barra um localiza boa parte do comércio, por ser a primeira região a se
desenvolver, Barra dois se localiza mais distante da praia e possui um
significativo crescimento de uma zona periférica. Apesar dessa diferenciação é
uma região que valoriza muito a arte e o artesanato, estando visivelmente
presente nas ruas, com uma cultura local muito forte e tem como principal
público idoso, principalmente com a demanda de hipertensão e diabetes. A
região possui pouco desenvolvimento relacionado a comércio, a população
procura preservar a característica local.
Em Santa Paula I o principal público a procurar a unidade também se
caracteriza por idosos principalmente hipertensos e diabéticos, na região
existem muitos galpões de alimentos e construções. A população principalmente
por questões geográficas de distância recorre mais a agente comunitária de
saúde e os que não tem muitos agravos de saúde quase não procuram a Unidade.
O território é considerado perigoso referente a assaltos e é uma área
caracterizada por uma população bem carente, onde ocorre ações voltadas a
prover alimento para parte da população.
Já Santa Paula II é uma área dividida pela zona urbana com condomínios e a
zona rural com fazendas e trabalhadores rurais, por se caracterizar em um
território onde as pessoas possuem melhores condições de vida, quase não
existia vínculo com a Unidade pois boa parte da população fazia uso do plano
de saúde, mas após a pandemia começou um movimento maior das pessoas
deixando o plano e passando a utilizar os serviços da Unidade. É uma região
bem tranquila e pouco movimentado com pouco comércio, ainda por ser um
bairro novo. Apesar de o público alvo ser também de idosos principalmente com
hipertensão e diabetes, está ocorrendo um movimento significativo referente à
procura de medidas contraceptivas como DIU, anticoncepcional, laqueadura e
vasectomia.
Referente ao público da saúde mental, se configura em mulheres entre 20 e 30
anos, com as principais queixas de ansiedade e depressão e que fazem uso
principalmente de ansiolíticos como Acertralina, Bupropriona e Afluxetina.

2.2 Psicologia na Atenção Primária


A Psicologia na Atenção Primária, se insere com o dever de construir,
conjuntamente com as equipes, respostas eficientes para as mais variadas
demandas de saúde mental existentes naquele território: coletivas, individuais,
familiares, escolares, institucionais etc. E para que se consiga resultados
eficientes a equipe deve portar várias técnicas que possibilitam a integração e
qualidade do serviço como abordagens em domicílio e o matriciamento, que são
importantes ferramentas de cuidado para com os sujeitos e seus familiares,
podendo ainda ser aliadas ao olhar criterioso e analítico para com a demanda,
enquanto expressão subjetiva de sofrimento de uma dada coletividade (Jimenez,
2011).

A inserção do estágio de Psicologia em um Unidade de Saúde da Família vai


muito além de uma qualificação do serviço, compõe quebra de expectativa,
distanciamento entre a formação acadêmica e a realidade da rede de saúde e
principalmente uma flexibilização do futuro profissional para se inserir em
todos os contextos que abrange uma Unidade. Essa realidade cria demandas
onde o acolhimento da equipe se mostra fundamental, é quando se inicia um
novo processo de aprendizagem que somente a vivência daquele ambiente pode
proporcionar, diante da necessidade de atentar com relação às especificidades de
cada território, a integração entre práticas assistenciais e preventivas, a
participação social e a multidisciplinaridade. Os profissionais em uma UBS
devem então se orientar pelos princípios e diretrizes do SUS. É o contato
preferencial dos usuários com o SUS, a porta de entrada ao sistema formando
um conjunto de ações de Saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a
promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o
tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o
objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde
e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das
coletividades (Brasil, 2013).

6 Referências
Brasil. Ministério da Saúde. (2004). HumanizaSUS: Política Nacional de
Humanização. A humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão
em todas as instâncias do SUS. Brasília, DF.
Brasil. Ministério da Saúde. (2013). Cadernos de Atenção Básica: Saúde Mental.
Brasília, DF.
Dimenstein, M. D. B. (1998). O psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde: desafios
para a formação e atuação profissionais. Estudos de Psicologia (Natal), 3, 53-81.
Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, & Núcleo Técnico da
Política Nacional de Humanização. (2007) Clínica ampliada, equipe de referência e
projeto terapêutico singular. 2ª ed. Brasília, DF.
Goldstein, R. A., Barcellos, C., Magalhães, M. D. A. F. M., Gracie, R., & Viacava, F.
(2013). A experiência de mapeamento participativo para a construção de uma
alternativa cartográfica para a ESF. Ciência & Saúde Coletiva, 18, 45-56.
Dalla Vecchia, M., & Martins, S. T. F. (2009). Desinstitucionalização dos cuidados a
pessoas com transtornos mentais na atenção básica: aportes para a implementação de
ações. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, 13, 151-164.
Jimenez, L. (2011). Psicologia na Atenção Básica à Saúde: demanda, território e
integralidade. Psicologia & Sociedade, 23, 129-139.
Conselho Federal de Psicologia (2019). Referências técnicas para atuação de
psicólogas (os) na atenção básica à saúde. Brasília, DF
Gomes, K. D. O., Cotta, R. M. M., Araújo, R. M. A., Cherchiglia, M. L., & Martins, T.
D. C. P. (2011). Atenção Primária à Saúde-a" menina dos olhos" do SUS: sobre as
representações sociais dos protagonistas do Sistema Único de Saúde. Ciência & Saúde
Coletiva, 16, 881-892.

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