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Introdução ..................................................................................................................................... 2
1. Casa Pia de Lisboa ................................................................................................................ 3
1.1 Acolhimento Residencial e Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental da
Casa Pia de Lisboa .................................................................................................................... 3
2. Contexto da intervenção ............................................................................................................ 6
2.1 Famílias multiproblemáticas ............................................................................................... 6
2.2 Pobreza e Exclusão Social................................................................................................... 7
2.3 Categorias das problemáticas .............................................................................................. 9
2.4 Maus-tratos às crianças e jovens ....................................................................................... 10
2.5 Explicação dos maus tratos segundo os modelos sistémico e ecológico........................... 11
3. Pressupostos da intervenção na Casa Pia ................................................................................ 13
3.1 Política da Qualidade e Ambiente ..................................................................................... 13
3.2 Acolhimento terapêutico ................................................................................................... 14
4. Intervenção tradicional e aumento da confiança e proximidade das famílias ......................... 16
5. A terapia familiar e abordagem sistémica como ferramentas de intervenção e de mudança
familiar ........................................................................................................................................ 18
Algumas reflexões conclusivas ................................................................................................... 22
Bibliografia ................................................................................................................................. 25
Siglas
CA…………………………………….……………..…..………………….Casa de Acolhimento
CAFAP………………………………...…Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental
CED………………………………….……………….…Centro de Educação e Desenvolvimento
CPCJ……………………………………….……....Comissões de Proteção de Crianças e Jovens
CPL, I.P……………………………….………….…….…..Casa Pia de Lisboa, Instituto Público
1
Introdução
Pretende-se, com este trabalho, contribuir com uma proposta para a melhoria de
vida de crianças e jovens em acolhimento residencial na Casa Pia de Lisboa, I.P., bem
como das suas famílias.
Quando detetadas situações de risco/perigo, as Comissões de Proteção de
Crianças e Jovens e/ou Tribunais de Família e Menores colocam as crianças e jovens à
guarda do Estado, seja em casas de acolhimento, acolhimento familiar ou adoção. Em
algumas situações de retirada há perigo iminente, com um ou mais tipos de violência,
mas também existem inúmeros casos em que as crianças são retiradas por motivos de
negligência, falta de competências parentais ou mudanças ao nível do ciclo vital da
família que causam instabilidade emocional no seu seio, pobreza e exclusão social.
Nas situações em que não existe perigo, a Lei preconiza que a intervenção seja
mínima e que se dê prevalência à reunificação familiar. A Casa Pia de Lisboa, I.P.
prevê, tanto na sua Política da Qualidade como nos Princípios da Intervenção
Terapêutica, um trabalho de proximidade com as famílias das crianças e jovens
acolhidas. Para além das equipas das casas de acolhimento, em que existe a figura de
educador de referência e uma equipa de psicólogo e assistente social, que têm a
obrigação de fazer esta aproximação às famílias, possui também um Centro de Apoio
Familiar e Aconselhamento Parental (CAFAP), constituído por uma equipa
multidisciplinar que, a partir do momento em que a equipa das casas de acolhimento
propõe como projeto de vida de uma criança a reintegração familiar, prepara um projeto
de intervenção ainda mais próximo desse agregado, visando essa reintegração.
Propõe-se, neste contexto, uma abordagem sistémica no trabalho com as famílias
das crianças e jovens acolhidas, desde o primeiro instante e, sempre que as equipas
técnicas entendam ser necessário, e as famílias considerem ser uma mais-valia, a
Intervenção Familiar Sistémica como metodologia para trabalhar com estes agregados,
ou seja, envolver todos os elementos significativos do contexto familiar de cada criança
na resolução dos conflitos. A família é uma unidade de vital importância para si, onde
residem os seus laços sociais e emocionais, pelo que é necessário recuperar a
homeostasia através da transformação, sendo para isso necessário, à priori, a vontade de
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todos os elementos envolvidos e a habilidade de acreditar que possuem a capacidade
para a resolução da crise.
O motivo que me leva a optar por este trabalho prende-se com o meu percurso
profissional e académico, com mais de quinze anos de trabalho com crianças e jovens
em acolhimento residencial e uma dissertação de mestrado sobre o trabalho feito em
instituições de acolhimento de crianças e jovens ao nível da reintegração familiar.
Não poderia terminar esta introdução sem agradecer à Dr.ª Milice Ribeiro dos
Santos pelos preciosos momentos e contributos, que me auxiliaram na elaboração da
presente monografia.
3
a minimizar os efeitos negativos que o acolhimento pode provocar em algumas crianças
e jovens.
O trabalho com as famílias é uma realidade na CPL, I.P., havendo a preocupação
por parte dos técnicos em manter a proximidade destes com os seus filhos e com as
equipas das casas de acolhimento, como irá ser abordado de uma forma mais
aprofundada no ponto nº4 da presente monografia. Quando se perspetiva o regresso das
crianças e jovens à família, as equipas das casas de acolhimento encaminham o processo
para o CAFAP que, seis meses antes de se efetivar a medida, começam a trabalhar com
estes agregados, podendo este acompanhamento prolongar-se até dois anos após a
reunificação familiar, para garantir uma reintegração plena.
A Portaria nº139/2013, de 2 de abril, estabelece a forma de intervenção,
organização e funcionamento dos Centros de Apoio Familiar e Aconselhamento
Parental,
1
Portaria n.º 139/2013 de 2 de abril
2
Idem
4
instituições. Carneiro (2005:78-80), no relatório sobre as estratégias de acolhimento das
crianças e jovens em risco da CPL, I.P., menciona o papel do trabalho com as famílias
como essencial, devendo ter em consideração três fases: “intervenção preventiva da
institucionalização, intervenção na institucionalização e no período pós-institucional”.
Mas são as fases da intervenção na institucionalização e no período pós-
institucionalização que devem merecer um maior destaque, dadas as circunstâncias
sociofamiliares das crianças e jovens acolhidas. Para além da formação parental,
mediação familiar ou aconselhamento familiar, os autores deste estudo defendem que,
“quando as dificuldades aumentam ou atingem maior complexidade, importa haver
«serviços de terapia familiar» para recurso das famílias.” (P.80), especialmente em
situações de presença de doença física/mental, grande conflitualidade ou risco, maus
tratos e negligência, toxicodependência ou abandono infantil, em que é fundamental
uma intervenção mais duradoura e terapêutica.
“Entenda-se que esta intervenção tem como objectivo não a «cura» da família, mas a
sua capacitação, no sentido de catalisação das suas competências (…). Ela visa um
melhor relacionamento dos familiares com as suas emoções, em sucessivos passos:
identificação-compreensão-gestão das emoções. Através da história transgeracional da
família, esta intervenção reforça também o sentido da identidade e pertença”. (idem:80)
Neste sentido, a intervenção do CAFAP cumpriria também os pressupostos da
intervenção preconizados na Portaria que regulamenta a atuação destes Centros, no que
aos objetivos da intervenção diz respeito, nomeadamente3: prevenir situações de risco e
de perigo através da promoção do exercício de uma parentalidade positiva (com as
famílias das crianças e jovens acolhidas); avaliar as dinâmicas de risco e proteção das
famílias e as possibilidades de mudança; desenvolver competências parentais, pessoais e
sociais que permitam a melhoria do desempenho da função parental; capacitar as
famílias promovendo e reforçando dinâmicas relacionais de qualidade e rotinas
quotidianas; potenciar a melhoria das interações familiares; atenuar a influência de
fatores de risco nas famílias, prevenindo situações de separação das crianças e jovens do
seu meio natural de vida; aumentar a capacidade de resiliência familiar e individual;
favorecer a reintegração da criança ou do jovem em meio familiar; reforçar a qualidade
das relações da família com a comunidade, bem como identificar recursos e respetivas
formas de acesso.
3
Artigo 3º da Portaria n.º 139/2013 de 2 de abril
5
O reforço da intervenção do CAFAP com uma abordagem sistémica e com
recurso à Terapia Familiar, através de um protocolo com uma entidade externa, como
será explicado neste trabalho, permitirá uma abordagem mais holística na intervenção,
sistémica e em rede, com todos os intervenientes, e não apenas uma abordagem centrada
ora na crianças e jovens, ora em elementos do agregado, permitindo um olhar diferente
nas interações entre os vários sujeitos pois, como refere Sampaio (1984:67)
2. Contexto da intervenção
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perceber as suas próprias histórias de vida e a encontrar um caminho que leve a
resultados diferentes.
“Os pobres distinguem-se uns dos outros pela forma como concebem a sua situação”,
a forma como analisam as suas carências. Considerando o conceito de pobreza como
carências ao nível do ser ou do ter (Amaro, 2000), é visível que, em termos quantitativos,
a maioria das famílias assistidas pelos serviços sociais são famílias pobres, ou seja,
famílias marcadas não só pela falta de recursos económicos, mas marcadas, também, por
sentimentos de algum tipo de exclusão relativamente à sociedade. Faz cada vez mais
sentido falar não em exclusão, mas antes em exclusões, como explica Costa (2007)4, por
ser um fenómeno complexo e heterogéneo, ao elencar vários tipos de exclusão social com
que os sujeitos se podem ver afetados.”
Amaro (2000:2) considera a exclusão social como “uma situação de falta de
acesso às oportunidades oferecidas pela sociedade aos membros”, considerando-a, numa
forma abrangente, como a “ausência de cidadania, se, por esta, se entender a
participação plena na sociedade, aos diferentes níveis em que esta se organiza e se
exprime: ambiental, cultural, económico, político e social” (idem:2), elencando seis
dimensões5 pelas quais se exprime a exclusão social. Borges (2018:50) refere que “A
não realização de uma, ou várias destas dimensões é, segundo este autor, sinónimo de
exclusão social, deixando a pobreza definida dentro da dimensão do não ter, quer pelo
facto do não ter, como pelo facto de não saberem, por exemplo, organizar a sua
economia familiar, pois “A dificuldade em gerir os rendimentos e definir prioridades é
clara” (Sousa, 2005:31). As famílias multiproblemáticas, padecendo de uma ou de
várias destas dimensões, acabam por ser afetadas, direta ou indiretamente, não só em
4
Alfredo Bruto da Costa (2007), citado por Borges (2018:49-50) tipifica da seguinte forma a exclusão social: Social – que pode ser
provocada por falta de recursos económicos, ou porque as pessoas carecem de autonomia pessoal, como é o caso de idosos ou
pessoas com deficiência; Cultural – tem a ver com questões de racismo, xenofobia, origens étnicas, minorias, ou com questões
também culturais que dificultem a reintegração social, por exemplo, de ex-reclusos; De origem patológica - questões de foro
psiquiátrico ou psicológico podem afetar as relações e/ou provocar ruturas familiares; Por comportamentos autodestrutivos –
questões como a toxicodependência, alcoolismo ou prostituição podem ser, só por si ou pelas causas por detrás destas ser também
fator de exclusão.
5
Rogério Roque Amaro (2000:2), defende as seguintes dimensões da exclusão social: SER - da personalidade, da dignidade e da
autoestima e do autoconhecimento individual; ESTAR - das redes de pertença social: família, redes de vizinhança, grupos de
convívio e de interação social e sociedade mais geral; FAZER - as tarefas realizadas e socialmente reconhecidas, o tipo de emprego
remunerado, ou formas de trabalho não remunerado; CRIAR - a capacidade de empreender, de assumir iniciativas, de definir e
concretizar projetos, de inventar e criar ações, quaisquer que elas sejam; SABER - o acesso à informação (escolar ou não; formal ou
informal), necessária à tomada fundamentada de decisões, e da capacidade crítica face à sociedade e ao ambiente envolvente; TER -
rendimento, poder de compra, acesso a níveis de consumo médios da sociedade, ou as capacidades aquisitivas, incluindo a
capacidade de estabelecer prioridades de aquisição e consumo.
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termos individuais, mas também do(s) seu(s) grupo(s) de pertença, principalmente ao
nível de socialização primária e secundária, sendo necessário compreender as dinâmicas
de inclusão/exclusão social inerentes a estes agregados. “(…) as famílias
multiproblemáticas, pela sua falta de autonomia, vão sendo incluídas nos sistemas de
apoio existentes na comunidade e vão sendo excluídas dum sistema familiar autónomo”
(Sousa, 2005:20) ou de outros sistemas. Amaro (2000:3), citado por Borges (2018:51),
aponta três fatores de exclusão social, associados às dimensões atrás mencionadas, que
estão diretamente associados às redes de pertença, começando por um nível macro, de
natureza estrutural, que estão relacionados com o modo de funcionamento da sociedade
em que está inserido, a nível político, económico e cultural. A um nível meso, os fatores
de exclusão que afetam os indivíduos ou as famílias, prendem-se, apesar de diretamente
ligados às questões estruturais, com incidências conjunturais, que podem variar com
maior facilidade, pois têm que ver com políticas locais, com o mercado de trabalho,
com preconceitos da comunidade ou com normas e valores da comunidade em que se
encontram inseridos. Borges (2018:51) refere que o nível “micro, que engloba as
questões individuais ou familiares, tem a ver com lacunas ou problemas/fragilidades
experimentadas nos percursos de vida.” “Enquanto que os 2 primeiros tipos de factores
(macro e meso) referem-se às oportunidades oferecidas (ou negadas) pela sociedade, o
último centra-se nas capacidades e competências individuais e familiares” Amaro
(2000:4), citado por Borges (2018:51), sendo, portanto, necessário diagnosticar a
exclusão de determinado indivíduo de uma forma global e interativa, enquanto
indivíduo inserido em vários contextos sociais, desde o núcleo familiar, família
alargada, grupo de pares, bairro, etc., numa lógica de compreensão da sua rede
relacional, no plano individual, afetivo, profissional e cultural.
Perceber os fatores de institucionalização de crianças e jovens obriga, portanto, a
uma análise multidimensional e sistémica de todas estas questões. Capucha et al.,
(2002:242), citado por Borges (2018:51), refere que das problemáticas que levam à
instauração de processos a crianças e jovens, “sobressai a negligência (24,3%), outras
situações de perigo não especificadas (19,1%) o abandono e absentismo escolar (31,6%)
(…) e os maus tratos físicos e psicológicos (10,3%).”, mas realça também o paralelo
que existe entre as crianças e jovens alvos de processos das Comissões de Proteção de
Menores com a vulnerabilidade social, como a pobreza e a exclusão social dos próprios
cuidadores: relativamente ao tipo de famílias, havia, no momento do estudo (2000),
21,6% de situações de famílias monoparentais, 18,2% das quais femininas. Quanto à
8
escolaridade dos progenitores, “81,7% de pais que possuem seis anos ou menos de
escolaridade e 94,2% que não possuem escolaridade mínima obrigatória” o que,
segundo Amaro (2000), estaria na dimensão da exclusão social do saber, ou da exclusão
social ao nível cultural, como defende Alfredo Bruto da Costa. Também ao nível da
dimensão do ter, o autor destaca a grande incidência, próxima dos 50%, de situações de
emprego precário e mal remunerado, bem como famílias dependentes de subsídios
estatais.
9
descontrolados: desaparecimentos e reaparecimentos, zangas e reconciliações.” (Sousa,
2005:27), citada por Borges (2018:53).
Relativamente à pobreza comunicação evidenciada por estes agregados Minuchin,
(2004:72) refere que “Los participantes no cuentan com ser escuchados, y los mensajes
sobre la modalidade del vínculo son más importantes que el contenido. Las
comunicaciones parecen organizadas en torno de secuencias o interacciones nímias,
inconexas, provistas de un valor afectivo.”
É também comum depararmo-nos com alguma indefinição, e até um certo caos,
quer ao nível da própria organização familiar, dos papéis que cada um desempenha, ao
nível de horários e rituais, mas também do próprio espaço “despido de valor relacional,
de privacidade e intimidade. O espaço não é delimitado, entra-se e sai-se a qualquer
hora e em qualquer situação (…)” (Sousa, 2005:29), citada por Borges (2018:53).
Apesar destas famílias se nos apresentem desta forma caótica, afetadas por
situações de exclusão social de vários tipos e dimensões, afetadas por múltiplas
problemáticas e desafios, existe vontade dos pais em educar os seus filhos, existem
sentimentos entre pais e filhos, ou seja, existem potencialidades que é necessário
auxiliar na sua identificação e desenvolvimento.
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“As lesões físicas ou psicológicas não acidentais ocasionadas pelos responsáveis do
desenvolvimento, que são consequência de acções físicas, emocionais ou sexuais, de
acção ou omissão e que ameaçam o desenvolvimento físico, psicológico e emocional
considerado como normal para a criança.” (Azevedo e Maia, 2006:24)”
Armando Leandro (1988), citado também por Azevedo e Maia (2006:23), refere a
necessidade de os vários profissionais, das várias áreas de intervenção, encontrarem
uma definição globalmente aceite a este respeito, de uma forma interdisciplinar e
sistémica e que “esta interdisciplinaridade pressupõe, que cada uma das ciências perca a
unilateralidade da sua perspectiva específica a favor de uma visão mais global,
integrada, e, assim, mais próxima da realidade.” Alberto (2010:24-33), citada por
Borges (2018:57-58), faz uma análise dos maus tratos6, ou maltrato, separando aquilo
que considera como sendo violência ativa e violência passiva.
6
Negligência e abandono: quando os pais não assumem plenamente a sua função de cuidadores, ao nível alimentar, médico,
escolar, afetivo; quando não dão a atenção necessária, quando a relação, negativa ou positiva, é deficiente ou inexistente; pode ser
psicológica, ou seja, são ignoradas as necessidades sócia afetivas, o que pode causar problemas emocionais; Abuso psicológico: é
transversal nas outras formas de maltrato, segundo a autora, estando presente no abuso físico, sexual, negligência e abandono. Esta
dimensão apresenta, segundo ClarkeClark, (1989), citado por Alberto (2010:26) “cinco categorias: rejeitar, aterrorizar (ameaçar de
abandono, de castigos corporais, de morte), isolar (impedir de brincar com outros amigos e colegas), ignorar (pode reduzir a
estimulação táctil, intelectual e emocional) e corromper (incentiva a actividades anti.-sociais, destrutivas)”. Abuso físico: traduz a
violência física perpetrada para com uma crianças e jovens; é o tipo de agressão melhor identificável, devido a lesões visíveis. Em
muitas situações existe devido a pressupostos culturais, em que a criança é considerada propriedade dos adultos. Abuso fatal: é todo
o tipo de abusos que possam causar a morte de crianças. Apesar de os números, em Portugal, não serem preocupantes, a autora
chama a atenção para a existência de muitas situações, nomeadamente nos E.U.A., que passaram despercebidas pelos técnicos de
intervenção, em atendimentos prévios, e que acabaram em mortes. Síndrome do bebé abanado: praticado geralmente pelos
cuidadores principais, consiste em abanar os bebés de forma violenta, resultando em hemorragias, hematomas, edemas ou inflexões
da cabeça, podendo provocar lesões físicas e cerebrais. Síndrome de Munchausen por Procuração: caracteriza-se “pela indução
ou produção de sintomas físicos e/ou psicológicos e sinais de doenças nas crianças, por parte dos principais cuidadores, afim de que
elas recebam cuidados médicos e hospitalares” (P.29) Manifesta-se através de cuidadores, normalmente mães, que aparentam ser
bons cuidadores, mas que recorrem à mentira e à manipulação e sinais de ansiedade. Apesar de as crianças, quando não
acompanhadas pelos seus cuidadores, serem crianças normais, este tipo de situações pode levar a que esta indução de sintomas
provoque desde pequenos danos a situações de morte. Exposição à violência interparental: a violência nos casais, embora não seja
um ato direto ou intencional de violência para com os filhos, quando manifestada diante destes, pode induzir ao surgimento de
“diversos problemas de comportamento, baixa auto-estima, sintomatologia depressiva e perturbações de ansiedade” (P.30)
Exploração do trabalho infantil: são aquelas atividades desenvolvidas por crianças, normalmente até aos 15 anos de idade que
possam afetar o seu normal desenvolvimento, a sua saúde ou educação, que impeçam a criança de ter tempos livre para brincar,
praticar atividades desportivas, sociais e culturais. Abuso sexual: apresenta uma dimensão física e uma dimensão psicológica e
pode ser perpetrada de uma forma isolada ou conjugada com outros tipos de maltratos. Apesar de a sua definição ser difícil, devido à
sua complexidade, a autora define-a: “como qualquer experiência sexual, forçada ou não, que vai de formas mais passivas, como a
exibição de pornografia. Até à relação sexual (genital, anal ou oral), passando pelo recurso à criança para produção de pornografia
infantil, que pode num presente imediato ou num futuro mais longínguo. Provocar trauma e dificuldades de desenvolvimento na
criança.” Alberto (2010:56). Maltrato institucional: as crianças e jovens, quando são acolhidas em instituições, são-no para
salvaguardar os seus direitos, a sua segurança e integridade, o que não sucedia no seu meio natural de vida. Mas em alguns casos
verifica-se que cuidadores de instituições, bem como pares normalmente mais velhos, mantêm atitudes e atos de maltrato.
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que pode provocar não só análises distintas, como sujeitar as vítimas à repetição, vezes
sem conta, de situações que envolvem estados emocionais negativos, por vezes
profundos. Deste modelo, convém também realçar a sua “abordagem complexa e
interaccionista do maltrato infantil, integrando: (1) factores familiares, (2) factores
sócio-económicos, e (3) factores socioculturais, dando uma dimensão holística,
dinâmica e histórica da violência em geral (…)” (idem:36).
Musitu Ochoa et al. (1988), baseando-se no Modelo Ecológico do
Desenvolvimento de Bronfenbrenner (1977) - que apresenta este modelo dividido em:
microssistema (o contexto familiar), exossistema (sistema social em que a família está
inserida) e macrossistema (crenças culturais que influenciam os sistemas anteriores) -
identificam cinco grupos de fatores:
a) Fatores relativos à interação familiar (disciplina familiar, educação)
b) Fatores pessoais e comportamentais da criança (a forma como facilitam ou causam
maus tratos)
c) Fatores pessoais ou comportamentais dos pais
d) Fatores de âmbito social (tipo de instrução, profissão, estatuto socioeconómico)
e) Aprendizagem de comportamentos agressivos (aprendizagem social)
A postura sistémica neste tipo de intervenção permite uma abordagem diferente e
abrangente. Alarcão (2006:39) afirma que “ler sistemicamente a família implica, então,
ter uma visão global da sua estrutura (dimensão espacial) e do seu desenvolvimento
(dimensão temporal).” É necessário trabalhar sistemicamente cada indivíduo, consoante
os diferentes papéis que representa em cada contexto da sua vida. “É na medida em que
cada unidade sistémica é, simultaneamente, parte e todo que Minuchin (1979), citado
por Relvas (1996b:11), a define como holão: vindo do grego, holos significa todo
enquanto que o sufixo ão sugere uma partícula ou parte. Cada holão é, ao mesmo
tempo, um todo e uma parte “não mais um que o outro, sem que um rejeite ou entre em
conflito com o outro”” (idem:51). Convém também não esquecer que a
institucionalização nem sempre resolve a questão do maltrato, uma vez que este não
existe apenas na família, podendo existir dentro das próprias instituições. Borges
(2018:59) refere também que “os maus tratos estendem-se também às instituições, entre
os jovens acolhidos, pelo que este fenómeno não pode ser tido em conta apenas nos
agregados e pesa na hora de intervir.”
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vezes entre pares, com as vítimas mais velhas a tornarem-se os agressores dos mais
novos, num ciclo de transmissão de relações abusivas aa gerirem toda a trama relacional
da instituição.” (Alberto, 2010:33), citada por Borges (2018:59-60)
A própria separação da crianças e jovens é, em si, uma forma de violência, mesmo
quando esta separação as visa proteger. A imagem que cada crianças e jovens tem sobre
a sua família, mesmo quando maltratante, nem sempre é a que corresponde à realidade.
“O funcionamento psíquico de um sujeito, que na vida real é separado dos pais, fica
desestabilizado; terá de realizar um trabalho particularmente complexo para repensar as
suas origens e (re)construir uma nova identidade.” (Berger, 2003:123)
O modelo sistémico apresenta-se como uma solução para melhor compreender e
intervir nas situações de maus tratos, pois permite-nos analisar de uma forma
abrangente, mais aprofundada e multidimensional esta problemática, que tem origem no
quotidiano familiar, devido a fatores variados como a natureza sociocultural, problemas
familiares, económicos, de saúde. De facto, sem envolver, de uma forma sistémica,
familiares e crianças e jovens acolhidos, corremos o risco de fracionar a intervenção e
não conseguir que estas famílias sejam capazes de identificar as suas próprias
problemáticas e compreender quais as mudanças necessárias para reverter a situação em
que se encontram, nomeadamente a das crianças que, para além das problemáticas
vivenciadas no seio familiar, nem sempre compreendidas, ficam sujeitas aos problemas
nefastos da institucionalização, sendo duplamente vítimas: da situação familiar e da
institucionalização.
13
apostando na inovação e na diversificação das suas respostas, com vista à
concretização de uma oferta ajustada às necessidades dos mesmos;”7
“Os princípios de uma cultura terapêutica têm sido ultimamente definidos como
incorporando ideias chave de acordo com o trabalho de Rex Haigh (1999), cada uma destas
correspondendo a um aspecto de uma cultura verdadeiramente terapêutica:
7
Ponto nº 1 da Política da Qualidade e Ambiente da CPL
14
Comunicação (Cultura de abertura),
Envolvimento (cultura de participação e cidadania) e
Ser agente de si próprio (cultura de empowerment).”
“Na equipa, o IA procura envolver as pessoas num objectivo comum, com uma
comunicação mais positiva e construtiva, de modo a ser possível amplificar e
generalizar aquele momento experiencial e funcionalmente mais relevante.
No tocante à intervenção, será um instrumento que ajuda os indivíduos a
aprenderem com os seus sucessos, estabelecendo um foco no futuro, nas
soluções e nos recursos que poderão continuar a encontrar, promovendo assim
o empowerment.” (ibidem:67)
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“O conceito de circularidade faz com que o terapeuta, no seu trabalho com
famílias, deixe de ser um técnico responsável pela “regulação” dos sistemas
familiares disfuncionais e passe a ser parte integrante do novo contexto
emergido no inter-relacionamento entre ele e a família e o sistema terapêutico.
A “postura terapêutica”, exige do terapeuta uma sensibilidade em perceber os
comportamentos verbais e não-verbais dos clientes envolvidos no sistema
terapêutico, assim como as nuances das suas próprias respostas nesse contexto
interacional, implicando que esteja atento a todos os recursos disponíveis.” (Matos et al,
2011:71)
Com o intuito de formular hipóteses, de uma forma neutra, esta técnica visa que
terapeuta e família reflitam, em conjunto, sobre a situação e eventuais alterações futuras
no seio familiar.
O Impacto sobre os outros é também indicada como técnica a mobilizar:
“Esta técnica pode ser importante para ajudar as crianças a perceberem o impacto que os
seus comportamentos têm nos outros, como forma de criar uma matriz de pensamento e de
comunicação que ajude as crianças a perceber que têm um impacto, que os adultos pensam
sobre elas e sobre o que se passa com elas. Esta técnica de falar acerca do impacto é
utilizada, por exemplo, na Mulberry Bush School (Day 2010, Longinotto 2008)” (idem:72)
“A escultura tem muita utilidade com as crianças pequenas, pois consegue fazer
com que estas se empenhem, dado os métodos não verbais de expressão serem
mais naturais. Também pode ser um bom procedimento de diagnóstico, pois
através desta técnica pode-se pedir que descrevam as mudanças desejadas.
Walrond-Skinner (1976)” (ibidem:73)
16
como as relações familiares e sociais. “Tal ocorre, provavelmente, porque as respostas
sociais mais disponíveis correspondem a apoios instrumentais e porque são as
necessidades prementes vividas pelas famílias.” (Sousa et al, 2007:53). Muitas destas
famílias são multiassistidas, estando dependentes de diferentes diagnósticos, ou de
diagnósticos baseados em suposições nem sempre condizentes com a realidade. Esta
situação nem sempre facilita o trabalho em rede, principalmente quando existem
crianças retiradas, pois o trabalho com as crianças e jovens e com as famílias está
dependente de um trabalho em parceria entre várias equipas (CPCJ, Tribunais,
Segurança Social, serviços sociais municipais, etc.). “As parcerias raramente significam
integração e, na prática, tendem (ainda) a traduzir-se em acumulação de intervenções.
Neste contexto, torna-se difícil delimitar funções e fronteiras, não raramente vários
profissionais intervêm junto de elementos da mesma família sem que conheçam as
acções que cada um desenvolve.” (idem:57). Há pouco espaço para ouvir as famílias,
para tentar perceber os seus pontos de vista, identificar as suas competências e
potencialidades. Muitas das vezes os profissionais definem os diagnósticos, bem como
as linhas de intervenção, sem refletir com as famílias essas mesmas estratégias,
esperando-se que as cumpram, mesmo sem saber ao certo o porquê. Seria de refletir a
própria forma como se fazem diagnósticos, se os elementos são recolhidos em todo o
agregado, ou baseados apenas num ou noutro elemento do mesmo. “Os contactos entre
a família e as instituições ou profissionais são mediados, por norma, por um elemento
da família. (…) A família é avaliada a partir de um dos seus elementos, falhando a
análise das interacções familiares.” (ibidem:63), o que facilmente se denota no trabalho
com crianças e jovens em acolhimento, em que a intervenção é mais focada nela própria
ou com algum familiar que mantenha contactos privilegiados com a equipa.
A relação de confiança, abordada na questão do acolhimento terapêutico, deve ser
alargada também às famílias.
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Os problemas que afetam estas famílias são, por vezes, fruto de desafios e crises
sucessivas, não são problemas recentes ou de curta-duração. Trabalhar com estas
famílias implica proximidade e respeito pelo seu tempo. Este tempo destas famílias é
limitado, por vezes, pela dificuldade de resolverem problemas e necessidades básicas,
pelo que é fundamental começar por aí. “(…) só depois de alguns problemas imediatos
e práticos das famílias estarem resolvidos é que elas têm tempo, físico e emocional, para
se envolverem em processos de mudança mais intensos” (ibidem:76), pelo que se
reforça a necessidade de um trabalho articulado em rede e parceria, um trabalho
negociado e articulado pelos serviços envolvidos.
É necessário um trabalho mais ativo na escuta e compreensão destas famílias,
compreender os seus esforços, capacidades e competências, ou seja, auxiliar estas
famílias a fazerem o seu autorretrato de uma forma co construída para, posteriormente,
perceber quais são as suas expectativas e trabalhar a partir daí.
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los que éstos se hallan associados.” (Coletti e Linares, 1997:78). É, portanto, necessário,
primeiramente, ter uma postura e olhar profissional sistémicos. Trabalhar com famílias
que apresentam os tipos de características atrás descritas exige um especial cuidado
devido à dificuldade que normalmente apresentam para comunicar e reflectir sobre as
suas problemáticas.
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momento, e pegando em algumas das técnicas propostas no manual do Acolhimento
Terapêutico, é necessário recolher informações dos vários membros do agregado,
através da escuta ativa ou do questionamento circular. “Quando uma família começa a
descrever sua realidade, o profissional precisa ouvir com o quye tem sido às vezes
chamado de “terceiro ouvido”, captando o que é dito indirectamente e registrando
informações obscurecidas pela narrativa.” (Ibidem:48). O genograma ou o mapa de rede
de Sluzki poderão ser também uma mais-valia a mobilizar nestes momentos iniciais. O
mapa de rede pode ser trabalhado quer com as crianças e jovens, para perceber o seu
mapa de relações de proximidade, ou com as famílias para perceber o seu grau de
envolvência com a comunidade ou serviços.
“Los genogramas pueden ayudar a los membros de una família a verse a sí mismos
de una manera distinta; por consiguiente, son una manera importante para “unir” a las
famílias en terapia. Estos le permiten al entrevistador volver a formular, desintoxicar y
normalizar cuestiones cargadas de emociones, creando una perspectiva sistemática que
ayuda a rastrear problemas familiares a través del tiempo y del espacio.” (McGoldrick e
Gerson, 2000:18)
Pode ter interesse poder fazer um segundo genograma ou mapa de rede passado
algum tempo após o início da intervenção, poderá servir como avaliação do próprio
percurso da intervenção e da família.
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uma questão antes que a raiva tome conta delas.” (Idem:60) Em situações que mereçam
especial cuidado, caso a equipa não se sinta capaz de controlar ou solucionar estas
situações, deverá encaminhar estas agregados para consultas de Terapia Familiar. Neste
sentido, pode ser apropriado haver sessões individuais com um ou vários membros do
agregado, mediante o tipo de dificuldades que possam estar a dificultar a intervenção,
retomando-se, logo que possível, as sessões conjuntas. “Todos nós transportamos
representações internas de relacionamentos importantes, de sistemas de significados, de
mitos e de limitações familiares. Os «outros significantes» não existem só na realidade
corpórea da família como também na mente (…) dos elementos individuais da família.”
(Jones, 2004:137).
Pese embora estas crianças e jovens sejam retiradas às suas famílias por motivos,
frequentemente, de negligência e maltrato, a visão que podemos ter sobre estas famílias
nunca é a mesma que as crianças e jovens têm, pelo que é importante manter, sempre
que possível, um contacto o mais próximo possível entre todos. “A família é a força
mais poderosa na vida da criança, e a equipe pode apenas ajudar, trabalhando de perto
com a família. Ao invés de acalmar a família com garantias de que a criança agora está
em boas mãos, é importante preservar o sentido de urgência e comunicar a necessidade
do envolvimento contínuo da família.” (Minuchín, Colapinto e Minuchín. (1999:76)
Envolver as famílias no acolhimento de crianças e jovens não tem porque ser um
procedimento complexo, podendo-se criar alguns momentos que permitam estas
aproximações, como uma data especial, envolver as famílias na vida académica dos
filhos, no acompanhamento a consultas, ou promovendo reuniões entre as equipas,
crianças e jovens e familiares para solucionar determinada situação ou para definir
metas a alcançar para os projectos de vida do agregado.
O acolhimento terapêutico preconiza um trabalho ao nível da vinculação com as
crianças e jovens, mas é igualmente importante trabalhar com estas famílias eventuais
falhas a este nível. Não é incomum uma crianças e jovens em acolhimento ter um irmão
mais novo a residir com os progenitores, pelo que é necessário trabalhar as situações
que falharam no passado para tentar evitá-las no presente ou no futuro. Há, em todas
estas situações, cuidados a ter em conta, como eventuais sentimentos de vergonha por
parte da família relativamente ao facto de terem filhos em acolhimento, que pode causar
algum desconforto quer em frequentar a casa de acolhimento, quer a receber os
profissionais nas suas casas para visitas domiciliárias. “As famílias sentem-se
frequentemente importantes por se reunirem em sua própria casa, mas também são
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sensíveis à intrusão e à crítica ao seu estilo de vida.” (idem:84). Cabe aos profissionais
desmistificar este tipo de sentimentos e saber atuar com respeito e aceitação do
agregado tal como é.
Também é necessário um trabalho que promova uma maior articulação e
implicação entre os vários serviços que assistem estas famílias. Com tantas entidades
envolvidas num processo que culmina com a retirada de uma crianças e jovens,
provocada por uma diversidade de fatores, não podemos continuar a assistir a uma
panóplia de profissionais das mais diversas áreas a diagnosticarem, segundo os
pressupostos de cada um, uma mesma realidade. “Por isso os interventores sistémicos
defendem a realização de encontros inter-institucionais para aumentar a eficácia da
intervenção de cada instituição e de cada profissional e para «reduzir o número
aberrante de acções discordantes e de técnicos envolvidos»”. (Alarcão, 2006:329). Esta
autora refere ainda que
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Lei 147/99, de 1 de setembro
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perturbar e sem provocar alterações na sua estrutura e organização, mantendo e
reforçando, depois, o trabalho desenvolvido.
Não havendo abertura, por parte da CPL, I.P., em integrar a Terapia Familiar
Sistémica como metodologia de intervenção, seria de ponderar um protocolo com uma
clínica, nomeadamente com Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, para onde
pudessem ser encaminhadas para, em conjunto, se poder encontrar um apoios e
respostas para essas dificuldades. A Terapia Familiar Sistémica permite uma maior
focalização nos padrões de interação de uma forma mais profunda e regular.
Uma intervenção baseada na Teoria Sistémica poderá ser uma mais valia neste
contexto de intervenção, minimizando os efeitos nefastos que o acolhimento provoca
nas crianças e jovens e também nas suas famílias, podendo auxiliar na prossecução dos
pressupostos da intervenção na CPL, I.P., trabalhando as expectativas das crianças e
jovens e suas famílias e orientando o trabalho para corresponder a essas mesmas
expectativas. Para isso, é necessário, antes de mais, repensar a forma como o
profissional utiliza o saber, o ser e o fazer, cortando com conceitos e metodologias
centradas no indivíduo, passando para um modelo interativo e holístico, valorizando as
potencialidades de desenvolvimento destas famílias com vista a um equilíbrio dinâmico,
a partir das suas próprias expectativas, e trabalhar o poder de capacitação e
transformação destas famílias e de resposta às dificuldades concretas que enfrentam.
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