Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
TRANSFORMACIONAL
CNPJ: 50.312.284/000-35
João Lisboa – MA
2
MÓDULO I
Sumário
DISCIPLINAS/UNIDADES
UNIDADE 1: PSIQUIATRIA I 4
UNIDADE 2: PSIQUIATRIA II 24
Lembre-se que você não está sozinho, ou sozinha colocamos a sua disposição para tirar
suas dúvidas em relação aos conteúdos, atividades, e exercícios no decorrer do curso.
4
Unidade
PSIQUIATRIA I 1
Índice:
Introdução
A Psiquiatria e suas Relações com a Psicanálise e a Neurologia
Classificações, Definições e outras Controvérsias
Entrevista e Exames Psiquiátricos
A Entrevista Psiquiátrica
O Exame do Estado Mental
Transtornos Cognitivos
Delirium
Demência
Transtornos Amnésticos
Esquizofrenia e outros Transtornos Psicóticos
Esquizofrenia
Esquizofrenia Tipo Paranóide
Esquizofrenia Tipo Desorganizado, ou Hebefrênico
Esquizofrenia Tipo Catatônico
Esquizofrenia Tipo Indiferenciado
Esquizofrenia Tipo Residual
Transtorno Esquizofreniforme
Transtorno Esquizoafetivo
Transtorno Delirante
Transtorno Psicótico Breve
Outros Transtornos Psicóticos
Transtornos de Humor
Transtornos Depressivos
Transtorno Depressivo Maior
Transtorno Distímico
Transtornos Bipolares
5
Transtorno Bipolar I
Transtorno Bipolar II
Transtorno Ciclotímico
Transtornos de Ansiedade
Pânico
Fobias
Introdução
Já os Psiquiatras, dependendo de suas escolas de formação, têm uma visão mais ou menos
materialista, admitindo ou não a existência de fenômenos “não-materiais” (espirituais, místicos
ou paranormais), mas sempre com uma abordagem da mente e do pensamento muito mais
direcionada ao conteúdo e à manifestação deste conteúdo, do que à anatomia e à fisiologia dos
órgãos do Sistema Nervoso, como é o caso da Neurologia.
Como já seria de se esperar, existem muitas áreas “limítrofes” entre as duas especialidades, e
às vezes nem mesmo os médicos de outras especialidades sabem ao certo para quem devem
encaminhar um paciente que tenha distúrbios do sono, da fala, da memória, ou até do humor,
para citar alguns exemplos.
E o Psicanalista, aonde fica? Bem, segundo a opinião de muitos médicos, a Psicanálise não
deveria ser exercida por Psicanalistas ou Psicólogos, mas apenas por Psiquiatras. Outros, talvez
menos egocêntricos (ou com menos receio de “perder o mercado”), percebem a impossibilidade
de uma pessoa se aprofundar em seus estudos em tantas áreas distintas, e recebem até com
alívio a formação de pessoas especializadas em uma terapêutica “não biológica”, para quem
possam encaminhar seus pacientes que não tenham indicação de tratamento medicamentoso,
ou mesmo que possam ter um beneficio do tratamento complementar, “biológico” e psicoterápico
(especificamente, em nosso caso, psicanalítico).
6
vez mais precário, deixando-nos, como profissionais em formação, muitas vezes um tanto
“perdidos”... Será que ainda veremos o dia em que alguém será especialista na unha do dedo
mínimo da mão esquerda, ou o bom senso ainda prevalecerá?
Por outro lado, os sistemas de classificação e as definições sempre se mostram limitados, uma
vez que restringem em “categorias” aquilo que, na verdade, é sempre um “contínuo”! Como
excelente exemplo, podemos citar as cores: Nossos cérebros têm a capacidade de diferenciar
milhões de cores diferentes, mas só temos nomes para umas poucas delas (geralmente,
dependendo da língua em questão, de algumas unidades e no máximo poucas dezenas de
nomes diferentes para as cores). Assim, agrupamos mentalmente as experiências sensoriais em
categorias, classificando várias tonalidades diferentes como “verde” ou “azul”, e ocasionalmente
especificando com adjetivos que muitas vezes são de interpretação individual (como “verde-
abacate” ou “azul-calcinha”...). E mesmo se conseguíssemos criar um nome diferente para cada
uma das mais de 16 milhões de cores passíveis de diferenciação (para se ter uma idéia, o novo
dicionário “Aurélio”, edição 2000, tem apenas 435.000 verbetes!!!), ainda assim estaríamos
limitando a “realidade” a partir de nossa percepção da realidade!!!
Aldous Huxley, em “As Portas da Percepção”, de 1954 (citado por Richard Bandler e John Grinder
em “A Estrutura da Magia”), explica que “... a função do cérebro, do sistema nervoso e dos órgãos
dos sentidos é principalmente eliminativa e não produtiva. Cada pessoa é a cada momento capaz
de lembrar tudo o que já lhe aconteceu e de perceber tudo o que está acontecendo em toda parte
do universo. A função do cérebro e do sistema nervoso é de proteger-nos de sermos engolfados
e confundidos por esta massa de conhecimento em grande escala inútil e irrelevante, pela
interceptação da maior parte do que, de outra forma, deveríamos perceber ou lembrar a qualquer
momento, e deixando somente essa seleção bem pequena e especial que provavelmente é de
uso prático”... “Para formular e expressar o conteúdo desta consciência reduzida, o homem
inventou e elaborou incessantemente estes sistemas de símbolos e filosofias implícitas que
chamamos línguas. Cada indivíduo é a um só tempo o beneficiário e a vitima da tradição
lingüística na qual ele nasceu – beneficiário, na medida em que a língua lhe dá acesso ao registro
acumulado da experiência de outras pessoas, vítima na medida em que a língua confirma nele a
crença de que a consciência reduzida é a única consciência, e ela confunde seu sentido de
realidade, de modo que ele está inteiramente apto a tomar seus conceitos por dados, suas
palavras por coisas reais”.
7
variabilidade que existe entre os seres humanos, passam a ser considerados não mais como
simples guias, ou normas, mas como a expressão completa da realidade!
Para que pudesse haver um certo consenso na chamada “literatura científica”, além de
padronização em estatísticas de saúde (afetando desde os seguros de vida e de saúde, até as
decisões dos chefes das nações), as “doenças” foram classificadas pela Organização Mundial
de Saúde, fazendo a Classificação Internacional de Doenças, atualmente em sua 10ª revisão (o
chamado CID-10). Já os Psiquiatras americanos, que desde 1869 iniciaram uma classificação
própria das patologias mentais (na época lançada pela American Medico-Psychological
Association, que mais tarde viria a se transformar na American Psychiatric Association),
publicaram separadamente um Manual de Diagnostico e Estatística de Transtornos Mentais, em
1952, cuja mais recente revisão, de 1994, é conhecida como o DSM-IV.
Atualmente, portanto, são essas as duas classificações mais amplamente utilizadas, uma vez
que os Estados Unidos, e em menor grau alguns países Europeus, “dominam” a produção
científica atual. Ambas são muito semelhantes, uma vez que as comissões que prepararam cada
uma delas trabalharam em estreita proximidade, na tentativa de padronizar e reduzir as
diferenças significativas de redação entre os dois sistemas. No final desta apostila, incluímos um
tabela com a classificação dos transtornos mentais do DSM-IV.
Uma das evoluções que se fizeram, nessa tentativa de definição e padronização, foi o fato de
não mais serem os problemas mentais classificados como “loucura”, ou mesmo como “doença”,
sendo preferida a palavra “transtorno”, implicando em não haver necessariamente um distúrbio
que caracterize a pessoa afetada como “diferente” (o que sempre foi motivo de preconceito e
segregação), mas apenas como acometida de uma condição que, por si, prejudica a si mesma
ou às pessoas que com ela convivam. Ainda assim, está implícito um certo grau de segregação,
principalmente quando se incluem os transtornos sexuais, que para alguns são verdadeiras
aberrações (e portanto devendo ser consideradas doenças, requerendo um tratamento para
serem eliminadas), enquanto para outros são apenas questão de opção pessoal. O
homossexualismo e o bissexualismo, que já foram (por muito tempo) incluídos nessa categoria,
hoje não são mais considerados nem mesmo “transtornos”, sendo apenas “opção” ou
“orientação”...
Outro grande problema gerado pela aceitação “radical” dos sistemas de classificação e que à
primeira vista pode não ser tão aparente, é a aceitação implícita do modo “americano” de pensar
e de agrupar os distúrbios, que implica também em um agrupamento tanto por semelhança clinica
como por fisiopatologia, ou seja, pressupõese que os grupos de transtornos descritos se
8
Basta lembrar que uma única medicação, não por acaso um anti-depressivo, é responsável por
uma grande porcentagem do faturamento da indústria farmacêutica, não só a americana, mas
agora inclusive em quase todo o mundo!
Também seria oportuno lembrar que a filosofia típica americana é baseada num conceito
materialista do Universo, sendo muito recente, e ainda pouco difundida, a idéia do “Homem
Integral”, composto de inseparáveis corpo-mente-espirito, e a visão holística do Ser Humano, que
deve, portanto, ser incorporada a toda tentativa de abordagem diagnóstica ou, principalmente,
terapêutica, tanto mais quando se trata de transtornos da mente, essa porção tão pouco
compreendida de nosso Ser.
Para finalizar esta seção, fica um trecho de nosso escritor, Machado de Assis, que com sua
inteligência aguçada e sua crítica sagaz, nos premiou com o excelente conto “O Alienista”, onde
a personagem do ilustre Dr. Simão Bacamarte, após ter internado em sua “casa de loucos” a
maior parte da cidade, decide rever seus conceitos sobre a loucura, da seguinte maneira:
“E agora prepare-se o leitor para o mesmo assombro em que ficou a vila ao saber um dia que os
loucos da Casa Verde iam todos ser postos na rua.
- Todos?
- Todos.
- É impossível; alguns sim, mas todos...
- Todos. Assim o disse ele no ofício que mandou hoje de manhã à Câmara.
De fato o alienista oficiara à Câmara expondo: primeiro: que verificara das estatísticas da vila e
da Casa Verde que quatro quintos da população estavam aposentados naquele estabelecimento;
segundo: que esta deslocação de população levara-o a examinar os fundamentos da sua teoria
das moléstias cerebrais, teoria que excluía da razão todos os casos em que o equilíbrio das
faculdades não fosse perfeito e absoluto; terceiro: que, desse exame e do fato estatístico,
resultara para ele a convicção de que a verdadeira doutrina não era aquela, mas a oposta e,
portanto, que se devia admitir como normal e exemplar o desequilíbrio das faculdades e como
hipóteses patológicas todos os casos em que aquele equilíbrio fosse ininterrupto; quarto: que à
vista disso declarava à Câmara que ia dar liberdade aos reclusos da Casa Verde e agasalhar
nela as pessoas que se achassem nas condições agora expostas;...”
A Entrevista Psiquiátrica
Durante a entrevista, deve-se, ainda, dentro dos limites específicos de cada caso, procurar
determinar a queixa principal do paciente, e a partir desta, estabelecendo inicialmente um
diagnóstico diferencial provisório, aprofundar-se em questões mais ou
É importante, também, deixar que o paciente fale livremente, por algum tempo, para que se possa
observar o grau de conexão de seus pensamentos, usando para isto uma mistura de questões
abertas e fechadas. Assuntos possivelmente difíceis ou constrangedores não devem deixar de
ser abordados, embora com bastante delicadeza, inclusive, e especialmente, a questão dos
pensamentos suicidas, e de possíveis tentativas prévias de suicídio.
A entrevista incluirá indagações sobre o histórico pessoal e familiar do paciente, devendo sempre
serem detalhados dados a respeito de doenças prévias ou subjacentes, tratamentos previamente
utilizados, incluindo a duração dos mesmos, os resultados obtidos, e possíveis efeitos colaterais.
É importante tentar estabelecer uma “linha do tempo”, mesmo que a ordem dos dados não seja
obtida de maneira seqüencial, e também o modo de instalação dos sintomas.
Muitas vezes, será necessário obterem-se dados de familiares, os quais poderão ser obtidos na
presença do paciente ou não. Em algumas ocasiões, pode ser necessário marcar-se uma
entrevista em separado com um ou mais dos familiares ou contatos sociais do paciente, porém
sempre respeitando a necessidade absoluta de sigilo, o que por vezes pode ser difícil, uma vez
que os familiares geralmente estão emocionalmente envolvidos, gerando ansiedade e co-
morbidade. É imperativo que se tenha sempre em mente que nunca devemos trair a confiança
do paciente, sob pena de vermos o tratamento absolutamente impossibilitado.
Situações específicas, como nos casos de pacientes deprimidos com potencial suicida, dos
pacientes delirantes, dos pacientes violentos, e também dos pacientes catatônicos, exigem uma
habilidade especial por parte do examinador, que só com a prática vai se refinando, mas
recomendações e “dicas” a respeito podem ser encontradas em diversas fontes na literatura.
Ao final da entrevista, deve-se dar ao paciente (e, se for o caso, aos seus acompanhantes) uma
chance de fazer perguntas, respondendo-as de maneira sucinta porém direta, já em busca do
estabelecimento de um “contrato terapêutico”. É de fundamental importância procurar transmitir
um senso de confiança e, se possível, de esperança, ao final da entrevista inicial, facilitando a
manutenção da rapport para os futuros encontros.
Basicamente, a descrição do estado mental (que pode variar muito de uma consulta a outra)
envolve a descrição da aparência, do comportamento, da fala, das ações e dos pensamentos do
paciente.
É de extrema importância o registro do humor e do afeto, bem como da adequação das respostas
emocionais do paciente. O humor pode ser definido como uma emoção abrangente que colore a
percepção que a pessoa tem do mundo, sendo importantes a profundidade, a intensidade, a
duração e também as flutuações do humor. Já o afeto é a expressão externa da resposta
emocional, podendo ser observado também nas expressões faciais e atitude corporal, incluindo-
se a quantidade e amplitude do comportamento expressivo. O afeto pode ser congruente ou
incongruente com o humor, e tal congruência deve ser anotada. Além disso, deve ser observada
a adequação das respostas emocionais do paciente ao contexto tanto da situação da consulta
quanto ao assunto que está sendo discutido.
Ainda dentro do exame do estado mental, deve-se incluir a avaliação do psiquiatra sobre a
confiabilidade das informações prestadas pelo paciente.
Transtornos Cognitivos
Delirium
O delirium é uma síndrome, não devendo ser confundido com o sintoma delírio. Enquanto este é
um sintoma, caracterizado por um distúrbio do julgamento da realidade, que não se modifica em
11
face a um raciocínio correto e lógico, aquele é um conjunto de sinais e sintomas, comuns a várias
afecções, e que se caracteriza por uma comprometimento de início agudo da consciência,
geralmente acompanhado de comprometimento global das funções cognitivas, e de curso breve
e flutuante, podendo melhorar rapidamente, se a causa for identificada e eliminada.
Suas causas são variadas, estando entre as principais as doenças do SNS (epilepsia,
traumatismo craniano, encefalites, doenças vasculares cerebrais), doenças sistêmicas
(insuficiência cardíaca, insuficiência renal aguda, insuficiência hepática), e intoxicação ou
abstinência de agentes farmacológicos ou tóxicos. A abstinência do álcool é talvez a causa mais
conhecida pela população em geral de delirium, sendo classicamente denominada delirium
tremens.
Demência
Sendo uma síndrome, também pode ter diversas causas, e o seu curso depende dessa etiologia,
podendo ser progressivo ou estático, permanente ou reversível, mas quase sempre de início
insidioso. Estima-se que aproximadamente 15% dos indivíduos com demência tenham causas
reversíveis, caso o tratamento seja instituído a tempo, antes da ocorrência de um dano
irreversível, o que acentua a necessidade de encaminhamento e investigação etiológica tão logo
quanto possível.
A maioria dos casos de demência é devida a doença de Alzheimer (50 a 60% dos casos), e uma
boa porcentagem dos casos restantes (10 a 20% do total) é devida a distúrbios vasculares
(demência por múltiplos infartos, doença de Binswanger), podendo ainda ser causada por outros
processos neurodegenerativos (como as doenças de Parkinson e de Pick), traumatismo craniano,
tumores cerebrais, distúrbios metabólicos, doenças inflamatórias sistêmicas, e até infecções,
inclusive a AIDS, entre outras.
Transtornos Amnésticos
O paciente “típico” com esquizofrenia poderia ser aquilo que está no imaginário popular como o
“louco varrido”, com delírios e alucinações em profusão, e objeto de tantas piadas e preconceitos.
Talvez isto denote o muito comum medo do desconhecido, e a incapacidade das pessoas para
lidar com aquilo que é muito diferente de si. De fato, é uma das opiniões difundidas entre os
médicos o fato de ser necessário, de certo modo, “entrar no mundo do esquizofrênico”, para
poder abordá-lo de modo terapêutico.
A etiologia da esquizofrenia está ainda longe de ser definida, e dados de pesquisas são
absolutamente desnorteantes, como por exemplo o fato de as pessoas que futuramente
apresentam esquizofrenia têm uma maior probabilidade de terem nascido no inverno e início da
primavera, e menor probabilidade de terem nascido no final da primavera e no verão. Assim no
hemisfério Sul, os esquizofrênicos nascem mais nos meses de Julho a Setembro, enquanto que
no hemisfério Norte, de Janeiro a Abril. Também a distribuição geográfica da esquizofrenia é
incompreensível, com algumas regiões apresentando uma prevalência desproporcionalmente
alta da doença. Além disso, os estudos com gêmeos monozigóticos apresentam uma taxa de
concordância de 50%, o que significa que existe uma interação entre fatores biológicos genéticos
e ambientais, além de fatores psicológicos não compreendidos, embora o achado de que gêmeos
monozigóticos criados por pais adotivos têm esquizofrenia na mesma razão que seus irmãos
gêmeos criados pelos pais biológicos sugira que a influência genética supera a influência
ambiental (psicológica ou biológica). Apesar de tantas incertezas, o estudo dessa patologia é
extremamente intrigante e apaixonante, qualquer que seja a óptica pela qual se aborda a
questão!
13
Além das características gerais, descritas acima, dividimos a esquizofrenia em alguns “subtipos”,
o Paranóide, o Desorganizado (ou Hebefrênico), e o Catatônico, havendo também a
caracterização dos tipos Indiferenciado e Residual.
Quando não se pode caracterizar nenhum dos tipos acima, o paciente esquizofrênico é
classificado como sendo de tipo indiferenciado. Em geral observa-se características mistas, com
delírios de temas diferentes, agitação e pensamento desorganizado, porém sem critérios
completos para caracterizar um dos subtipos.
Transtorno Esquizofreniforme
Transtorno Esquizoafetivo
Transtorno Delirante
A diferenciação com a esquizofrenia se faz pela ausência de outros sintomas vistos nesta última,
como alucinações proeminentes, embotamento afetivo, transtornos do pensamento, catatonia,
além da natureza de seus delírios não ser tão bizarra quanto nos esquizofrênicos. Em geral, são
coisas até plausíveis, ainda que improváveis. Também o comprometimento funcional é mais leve,
quando comparado à esquizofrenia.
Já a diferenciação com os transtornos do humor se faz pelo fato de que os pacientes com
transtorno delirante não apresentam toda a gama de sintomas afetivos vistos nos transtornos do
humor, embora tenham um humor consistente com o conteúdo de seus delírios.
Os delírios podem ser de vários tipos, classificados em erotomaníacos (uma outra pessoa,
geralmente de posição mais elevada, estaria apaixonada pelo indivíduo), grandiosos (delírios de
valor, poder, conhecimento, identidade ou de relação especial com uma pessoa famosa ou
divindade), ciumento (delírios de que o parceiro sexual é infiel), persecutório (o indivíduo ou
alguém próximo a ele está sendo, de algum modo, maldosamente tratado), somático (algum
defeito físico ou condição médica geral específica), ou misto (mais de um dos tipos acima, sem
predomínio de um deles).
Transtornos psicóticos breves são episódios de curta duração (de um dia até um mês), em que
pelo menos um sintoma importante de psicose aparecem, em geral com início súbito. Nem
sempre incluem todo o padrão sintomático apresentado na esquizofrenia, sendo também mais
comuns os sintomas afetivos, confusão, e comprometimento da atenção, do que na
esquizofrenia. Sempre deve ser afastada uma causa médica geral, ou o uso de alguma
substância, seja medicamentosa ou de abuso.
Os transtornos psicóticos breves podem ser desencadeados ou não por fatores estressantes
acentuados (como numa situação de guerra, por exemplo), ou por uma série de fatores
estressantes menos importantes, que em conjunto se tornassem demasiadamente intensos. São
incluídos aqui os episódios iniciados dentro das primeiras 4 semanas do puerpério, que
caracteriza uma síndrome específica, de psicose puerperal (que é mais específica, incluindo
delírios, depressão, e pensamentos da mãe sobre ferir o bebê ou a si mesmo, com risco
considerável de se cometerem o infanticídio ou o suicídio).
Outros transtornos psicóticos incluem os transtornos devidos a condições médicas gerais (muito
comumente distúrbios neurológicos e distúrbios metabólicos), e os transtornos psicóticos
induzidos por substâncias (seja por intoxicação, seja por abstinência).
16
Transtornos de Humor
O humor, estado emocional interno de uma pessoa, varia normalmente em uma pessoa, segundo
suas experiências de vida, seus sucessos e fracassos em seus projetos, seus relacionamentos,
suas ambições. Dessa maneira, o humor pode estar elevado, deprimido, ou neutro, em uma
ampla faixa da variação, e as pessoas apresentam um repertório igualmente variado de
expressões afetivas. Geralmente, as pessoas estão mais ou menos no controle de seus humores
e afetos, levadas em consideração, evidentemente, as alterações surpreendentes da própria
existência (como a perda súbita de um ente querido, ou ganhar um grande prêmio em um sorteio,
por exemplo).
Infelizmente, com a opressão sócio-econômica cada vez maior, imposta pelos modelos e padrões
ocidentais de vida, voltada principalmente para a valorização da posição econômica e social, em
detrimento dos valores morais, interpessoais, e religiosos, observar-se uma tendência indiscutível
dos indivíduos permanecerem a maior parte do tempo nas faixas deprimidas do continuum do
humor, facilitando a tendência, também influenciada pelos interesses econômicos, de se
diagnosticarem e tratarem em excesso os transtornos do humor, em especial a depressão leve
e a distimia. Outro fator que contribui para esse excesso diagnóstico e terapêutico são as
consultas cada vez mais breves, ditadas pelas pressões dos sistemas de saúde pública e privada
(planos de saúde), e pela má formação dos médicos, em geral, quanto à visão holística do Ser
Humano.
Transtornos Depressivos
17
Os transtornos depressivos são caracterizados basicamente pelo humor deprimido, onde a perda
de interesse ou prazer acompanham a sensação de tristeza, a desesperança, a sensação de
inutilidade. O suicídio é uma preocupação constante quando se trata de pacientes deprimidos,
uma vez que cerca de dois terços deles pensa em se matar, e de 10 a 15% efetivamente cometem
o suicídio.
A maioria dos pacientes tem perda de apetite, com correspondente perda de peso, porém alguns
tem a reação contrária. Também o aumento de sono, principalmente a sonolência diurna, pode
ser relatado. Quase sempre os pacientes deprimidos tem, concomitantemente, queixa de
ansiedade, e é comum encontrarem-se já em uso de medicamentos ansiolíticos.
Para se diagnosticar o transtorno depressivo maior, é necessário que haja pelo menos um
episódio depressivo maior, que necessita de um período mínimo de duas semanas de duração,
para ser caracterizado, havendo pelo menos 5 dos sintomas descritos, concomitantemente,
havendo pelo menos o humor deprimido ou a perda de prazer ou interesse. Com esses critérios
mais “rígidos”, espera-se padronizar um pouco melhor o diagnóstico da depressão, embora em
nosso meio nem sempre os critérios sejam utilizados corretamente.
Os episódios depressivos maiores podem ainda ser classificados segundo sua gravidade, desde
o episodio leve, passando pelo moderado, até os severos, com ou sem aspectos psicóticos, que
por sua vez podem ser congruente com o humor ou não. Os transtornos depressivos maiores
também são divididos em episódios únicos, os recorrentes, quando há na história pelo menos
dois episódios depressivos maiores, com pelo menos 2 meses de intervalo, durante os quais não
são satisfeitos os critérios para episódio depressivo maior.
O luto, ou seja, a situação de perda de um ente querido, também pode levar uma pessoa a reunir
os critérios diagnósticos para um episódio depressivo maior, porém não deve ser considerado
como tal, a menos que uma resolução do quadro não ocorra, ou que os sintomas se tornem
especialmente severos, com ideação suicida, sentimento de culpa (não apenas por omissão),
mumificação, ou seja, manter os pertences do falecido exatamente como estavam antes do óbito,
18
O curso dos transtornos depressivos maiores é de início agudo, embora sintomas depressivos
significativos possam ser vistos em cerca de metade dos pacientes, mas sem um transtorno de
personalidade definido pré-mórbido, e em geral o primeiro episódio depressivo maior ocorre antes
dos 40 anos de idade. Um episódio depressivo maior não tratado dura aproximadamente de 6 a
13 meses, sendo que a duração dos episódios tratados é em média de 3 meses, sendo este o
tempo mínimo para o tratamento com antidepressivos, uma vez que sua suspensão precoce
quase sempre resulta no retorno dos sintomas. Com a progressão do transtorno, a tendência dos
episódios é de ficarem mais freqüentes, e de maior duração, com uma média de 5 ou 6 episódios
ao longo de 20 anos. De 5 a 10% dos pacientes com um diagnostico inicial acabam por ter
episódios maníacos, num período de 6 a 10 anos do primeiro episódio depressivo, após uma
média de 2 a 4 episódios depressivos maiores.
O prognóstico do transtorno depressivo maior não é tão benigno como acreditam alguns,
comparando com a esquizofrenia. Se é verdade que a maioria dos pacientes recupera-se
completamente após um primeiro episódio, a taxa de recorrência dos episódios é extremamente
alta, chegando a 75% nos 5 primeiros anos. Isso faz deste um transtorno crônico, com recaídas,
e com tendência ao intervalo entre as recaídas de diminuir, e a gravidade de cada episódio de
aumentar, o que pode ser melhorado com o tratamento psicofarmacológico profilático.
Transtorno Distímico
O termo “distimia” significa, literalmente, mal-humor, mas foi alterado na última revisão do DSM
para “transtorno distímico” (provavelmente pra uniformizar a nomenclatura). Antes de 1980,
várias denominações haviam sido dadas para a mesma situação clínica, como “neurose
depressiva”, “personalidade ciclotímica”, “personalidade melancólica”, “depressão
caracterológica”, etc.
Os sintomas clínicos são similares aos do transtorno depressivo maior, porém sua presença é
constante, e em geral de menor severidade, podendo variar em gravidade ao longo do tempo.
Apesar desta severidade menos intensa, o que pesa realmente para o diagnostico diferencial é
a falta de episódios delimitados. Por definição, também, os pacientes distímicos não têm
quaisquer sintomas psicóticos. Deve-se estar atento, no entanto, para sintomas comuns no
transtorno distímico, como a preocupação obsessiva com questões relacionadas à saúde, e
queixas freqüentes de tratamento injusto por parentes, e pessoas de convívio próximo, que
podem ser erroneamente interpretadas como delírios persecutórios ou somáticos, sendo mesmo
difícil, por vezes, a diferenciação.
A estimativa entre os pacientes com transtorno depressivo maior é de que 40% satisfaçam
também os critérios para transtorno distímico, uma situação conhecida como depressão dupla.
Estes pacientes têm prognóstico pior do que aqueles com transtorno depressivo maior “puro”,
devendo ser tratados com direção para ambos os transtornos. O abuso de álcool e outras
substâncias, como estimulantes, maconha, etc., também é extremamente freqüente em co-
morbidade com os transtornos distímicos, muitas vezes sendo difícil determinar se o transtorno
distímico levou ao abuso da substancia, ou foi um efeito do mesmo.
O tratamento dos pacientes com transtorno distímico, classicamente, sempre foi apenas com
psicoterapias, das mais diversas modalidades, sendo muito freqüente a indicação do tratamento
psicanalítico, porém os resultados das terapias de longo prazo, como a psicanálise, deixam muito
a desejar, sendo muito mais eficazes as terapias breves, sendo nos EUA dado ênfase às terapias
comportamentais e cognitivas, bem de acordo com a sua maneira de ver o mundo, voltada para
objetivos imediatos e de “funcionalidade”. Talvez por isso, também, têm-se dado ênfase à
terapêuticas farmacológica, que obviamente melhora os sintomas apresentados, bem como o
desempenho profissional e social, porém não pode ser suspensa, trazendo, de certo modo, uma
nova dependência farmacológica, muitas vezes rejeitada em nosso meio. Talvez a melhor
abordagem seria uma terapêutica combinada, com os antidepressivos sendo indicados numa
fase inicial, concomitantemente com a psicoterapia, até que esta possa trazer resultados
suficientes para que o paciente possa prescindir dos medicamentos.
Transtornos Bipolares
Transtorno Bipolar I
Existem também os episódios mistos, em que tanto os critérios para um episódio depressivo
maior quanto os critérios para um episódio maníaco se encontram presentes ao mesmo tempo.
O curso do transtorno bipolar I é quase sempre um de recorrências, sendo raro que permaneçam
com episódios maníacos únicos. Apenas 7% dos pacientes não tem uma recorrência dos
sintomas, e a grande maioria, na verdade, inicia pela depressão (75% das vezes nas mulheres,
e 67% nos homens). A grande maioria tem tanto episódios maníacos quanto depressivos, porém
de 10 a 20% permanecem tendo apenas episódios maníacos. Os episódio maníacos, sem
tratamento, duram por volta de três meses, não devendo a terapêutica ser interrompida antes de
decorrido este período. O tempo entre os episódios costuma diminuir com a progressão do
transtorno, mas costuma estabilizar-se após 5 ou 6 episódios, em cerca de 6 a 9 meses de
intervalo. Alguns pacientes, entretanto, têm episódios com ciclagem rápida, trazendo maior
angústia a seus familiares, amigos e colegas.
21
O prognóstico é pior do que o do transtorno depressivo maior, com apenas 50 a 60% dos
pacientes adquirindo um controle significativo de seus sintomas com a terapia profilática das
recorrências com medicação, e com uma alta freqüência de sintomas crônicos, com delírio social
significativo em cerca de um terço dos pacientes. Apenas 15% dos pacientes com transtorno
bipolar I permanecem bem, a longo prazo, a despeito do tratamento medicamentoso e
psicoterápico.
Transtorno Bipolar II
Esta categoria diagnóstica só foi introduzida na 4ª revisão do DSM, portanto é uma categoria
“nova”, sobre a qual não dispomos, ainda de estudos suficientes. Aparentemente, trata-se de um
diagnóstico estável, permanecendo os pacientes com o mesmo diagnóstico numa revisão após
5 anos do primeiro diagnóstico. Parece ser uma doença crônica, exigindo tratamento a longo
prazo, sendo ainda incerto se o tratamento indicado para o transtorno bipolar I tem a mesma
eficácia no transtorno bipolar II, mas sendo certo que o tratamento isolado com antidepressivos
deve ser visto no mínimo com cautela, pela alta freqüência de precipitação de um episódio
maníaco.
Transtorno Ciclotímico
Os sintomas são idênticos aos do transtorno bipolar I, exceto por serem menos severos, ou de
menor duração. Os pacientes que têm os sintomas depressivos como proeminentes tendem a
procurar auxílio psiquiátrico com muito maior freqüência do que aqueles em que são mais
evidentes os sintomas hipomaníacos. Quase todos os pacientes têm também períodos de
sintomas mistos, com irritabilidade acentuada.
As pessoas com transtorno ciclotímico têm uma tendência ao insucesso profissional e social,
devido à sua condição, mas alguns pacientes podem chegar a resultados consideráveis no
trabalho, por haverem trabalhado muitas horas por dia, em decorrência da falta de necessidade
de sono.
Os ciclos do transtorno tendem a ser muito mais curtos que os do transtorno bipolar I, com
alterações irregulares e súbitas de humor, às vezes ocorrendo em questão de horas.
Freqüentemente os pacientes sentem que seu humor está fora de controle, levando a stress e
22
irritabilidade. O abuso de álcool e de outras substâncias é comum, com cerca de 5 a 10% dos
pacientes apresentando dependência de uma ou mais substâncias.
O início dos sintomas é geralmente insidioso, na adolescência e início da idade adulta, por vezes
comprometendo o desempenho escolar, e sua capacidade de socialização. O prognóstico é
variável, com cerca de um terço dos pacientes evoluindo para um transtorno de humor maior,
mais comumente o transtorno bipolar II. Os demais tendem a ter um curso crônico, necessitando
de tratamento medicamentoso e psicoterápico de longo prazo, muitas vezes por toda a vida.
Transtornos de Ansiedade
A ansiedade é uma resposta bio-psicológica normal, comum não apenas a todos os seres
humanos, como também à maior parte da escala biológica animal, e tem a função biológica de
promover um estado de alerta mais aguçado, levando o indivíduo a se preparar antecipadamente
para enfrentar uma possível ameaça à sua integridade física. Um sinal similar de alerta é o medo,
distinguindo-se da ansiedade pelo fato de ser especificamente direcionando, a uma ameaça
conhecida, externa, definida, enquanto a ansiedade é dirigida a ameaças desconhecidas, vagas,
internas, ou de origem conflituosa.
Toda pessoa que já viu em um ambiente obscuro, com probabilidade de ocorrência de eventos
surpreendentes, sabe como são as sensações da ansiedade, marcadas pela ação do Sistema
Nervoso Autônomo Simpático, com transpiração, taquicardia, desconforto abdominal,
inquietação, midríase (dilatação das pupilas), etc. Tal reação tem a intenção de preparar o
indivíduo para fugir ou lutar, e em tempos remotos deve ter servido para a preservação da nossa
espécie (e de outras), na constante luta pela sobrevivência.
No entanto, em dias atuais, tal reação raramente se justifica, uma vez que ficamos ansiosos
geralmente por “perigos” que não trazem riscos reais à nossa existência, como contas por pagar,
empregos por manter, relacionamentos pessoais por estabelecer ou romper... Quem pode dizer
que nunca ficou ansioso por um primeiro encontro com uma pessoa amada?
OBS.: O próprio nome “Simpático” para o sistema adrenérgico, que comando esta reação, é
devido ao fato de que nos tornamos mais atraentes ao termos nossas pupilas dilatadas, nossas
faces ruborizadas, nossa respiração acelerada... Talvez por isso se diga que o Amor e o Perigo
andem sempre de mãos dadas!
Pânico
Desde 1980, na publicação do DSM-III, foi oficialmente definido o conceito do transtorno de
pânico, e evidências importantes foram se acumulando a seu respeito. Hoje não há dúvida de
que o tratamento deve incluir terapêutica medicamentosa associada à psicoterapia.
breve, geralmente de alguns minutos a menos de uma hora, e são caracterizados por intensa
ansiedade ou medo, acompanhados de sensações somáticas como palpitações, taquipnéia e
sudorese. Muitas vezes os pacientes com pânico procuram inicialmente os clínicos e
cardiologistas, suspeitando eles mesmos de algum distúrbio em seus corações, pulmões ou
estômagos, muitas vezes submetendose a uma série de exames complementares, e após
resultarem negativos os exames, são encaminhados diretamente ao psicanalista, com rótulo de
“histéricos”.
A freqüência dos ataques de pânico é variável, desde apenas alguns ataques durante o ano até
várias vezes por dia. Freqüentemente, o distúrbio é acompanhado por agorafobia (do grego agorá
= assembléia, praça pública + phobia = medo), ou medo de estar sozinho em lugares públicos
ou abertos e amplos, especialmente se a saída deste lugar se torne difícil, no caso de ocorrer
uma crise de pânico. Isto pode levar a uma séria disfunção pessoal e social, prejudicando o
indivíduo em situações não diretamente relacionadas, como o trabalho e coisas simples, como
fazer compras em um supermercado, por exemplo. Aparentemente, a agorafobia é uma
conseqüência dos ataques de pânico, desenvolvendo-se à medida em que os pacientes se
tornam receosos de seus ataques e de suas conseqüências.
O transtorno de pânico tem seu início geralmente no final da adolescência e início da idade adulta,
e tem em geral um curso crônico, porém muitas vezes benigno, com cerca de 30 a 40% estando
livres de sintomas a longo prazo, 50% com sintomas leves, que não afetam significativamente
suas vidas, e apenas 10 a 20% com sintomas importantes. O tratamento farmacológico,
associado à psicoterapia, tem alto índice de eficácia, embora muitas vezes haja uma elevada
taxa de recaída, mesmo quando o tratamento medicamentoso se estende por períodos de um
ano ou mais.
Fobias
Uma fobia é um medo irracional que provoca o constante esquivar-se do objeto, atividade ou
situação temidos, com importante sofrimento do indivíduo, que reconhece sua reação como
sendo excessiva. Além da já citada agorafobia (vide acima), caracterizam-se também as fobias
específicas (em relação a um objeto, animal, sangue, elevador, etc.) e as fobias sociais, com
medo de humilhação em vários contextos sociais, como falar em público, ou até urinar em um
toalete público.
Geralmente as fobias levam o indivíduo a evitar (ou tentar evitar) o estímulo específico, por vezes
levando a situações extremamente embaraçosas, como por exemplo ter de viajar grandes
distâncias de carro ou ônibus, enquanto todo o resto de uma equipe profissional ou de um grupo
social viaja em um avião, ou ter que subir vários andares em escadas, por medo de elevadores.
24
Não existem drogas específicas para o tratamento das fobias, e a psicanálise deve ser um pouco
mais “agressiva”, pela tendência destes pacientes a se esquivarem dos objetos de suas fobias.
As várias técnicas de terapia breve, principalmente a hipnoterapia e a terapia de
dessensibilizaçao têm se mostrado mais eficazes na resolução destes transtornos.
Unidade
PSIQUIATRIA II 2
Índice
Transtorno Obsessivo-Compulsivo
“Stress” Agudo e Pós-traumático
Ansiedade Generalizada
Transtornos Somatoformes
Transtorno de Somatização
Transtorno Conversivo
Hipocondria
Dor e Transtorno Doloroso
Transtornos Dismórfico Corporal
Transtornos Factícios
Transtornos Dissociativos
Amnésia Dissociativa
Fuga Dissociativa
Transtorno Dissociativo de Identidade (Personalidade Múltipla)
Transtornos de Despersonalização
Transe Dissociativo
Transtornos Sexuais
Disfunções Sexuais
Parafilias
Transtornos de Identidade de Gênero
Transtornos Alimentares
Aneroxia Nervosa
25
Bulimia Nervosa
Transtornos do Sono
Dissonias
Parassonias
Transtornos Relacionados a Substâncias
Medicamentos mais Comumente Usados em Psiquiatria e Neurologia, e Outras
Terapias “Biológicas”
Antidepressivos
Antipsicóticos (Neurolépticos)
Ansiolíticos e Indutores de Sono
Anti-Parkinsonianos
Anti-Convulsivantes
Eletroconvulsoterapia (ECT)
Psicocirurgia
Homeopatia
Acupuntura
Terapias “Alternativas”
O Efeito Placebo e a “Cura pela Fé”
Conclusão
Apêndice A: Classificação dos Transtornos Mentais do DSM-IV
Bibliografia
Trabalho
Transtorno Obsessivo-Compulsivo
O padrão mais comum é o de uma obsessão de contaminação (ou sujeira), seguida por
uma compulsão para lavar ou limpar, ou ainda para esquivar-se do objeto ou pessoa
supostamente contaminada. O segundo padrão em freqüência é uma obsessão de
dúvida, seguido de uma compulsão à verificação, geralmente com a obsessão
envolvendo algum padrão de perigo ou violência (esquecer o gás ligado, ou a porta
destrancada, com as possíveis conseqüências de explosão ou de invasão, por exemplo).
Outros padrões comuns envolvem pensamentos obsessivos meramente intrusivos, sem
compulsões associadas, geralmente pensamentos repetitivos com conteúdo sexual ou
agressivo repreensível aos olhos do paciente, ou a necessidade de simetria ou precisão,
ou ainda obsessões religiosas, entre outras.
O tratamento farmacológico vem ganhando força por sua eficácia a curto prazo, e pelos
achados recentes de alterações orgânicas cerebrais nos pacientes com transtorno
obsessivo-compulsivo, porém ainda não se pode determinar se estas alterações seriam
a causa desta condição, pois a maioria dos estudos têm achado resultados discrepantes.
A psicanálise tem sido desconsiderada como alternativa terapêutica, embora existam
relatos informais de sucesso, e não haver dúvida em relação à necessidade de
psicoterapia coadjuvante à farmacoterapia.
Traumas emocionais intensos podem levar praticamente qualquer pessoa a uma reação
aguda de stress. Esses traumas incluem, por exemplo, experiências de combate,
catástrofe naturais, agressão física, estupro, acidentes sérios, entre outros. O transtorno
de stress pós-traumático consiste de revivência do evento traumático através de sonhos
e de pensamentos durante a vigília, hiperexcitação persistente, e evitação persistente de
coisas que lembrem do trauma. Se os sintomas ocorrem por um breve período de tempo
(de dois dias a quatro semanas), classifica-se como stress agudo, e se eles persistem
por mais de um mês, caracteriza-se o stress póstraumático.
Ansiedade Generalizada
Transtornos Somatoformes
Esta aula não se deterá muito nos transtornos somatoformes, assim como nos
transtornos factícios, dissociativos, alimentares, sexuais, de sono e os relacionados a
substâncias, uma vez que tais condições devem ser mais profundamente estudadas no
restante do curso, assim como os transtornos de ansiedade, vistos acima. Para um maior
aprofundamento na visão “psiquiátrica” destas condições, recomenda-se o “Compêndio
de Psiquiatria”, de Kaplan e outros (vide Bibliografia).
Transtorno de Somatização
28
Transtorno Conversivo
O termo “conversivo” foi introduzido por Freud, com base em seu trabalho com Anna O.,
que é um “clássico” obrigatório para o entendimento da psicanálise como um todo, e
especificamente da conversão, seus mecanismos e seu tratamento.
Hipocondria
Mais comumente iniciado entre 20 e 30 anos de idade, e com uma duração de pelo menos
6 meses (há casos com menor duração, geralmente relacionados a stress importante,
mas estes não podem ser caracterizados como hipocondria), tem curso episódico, com
intervalos quiescentes e episódios de hipocondria de vários meses a anos de duração. A
psicoterapia é geralmente pouco eficaz, tanto quanto as drogas ansiolíticas e
antidepressivas, porém em geral o prognóstico é benigno, com melhora espontânea
eventual, ou com manutenção dos sintomas sem outras complicações, exceto nos casos
em que exames médicos mais invasivos, ou terapêuticas direcionadas a achados clínicos
supervalorizados tragam complicações iatrogênicas.
A presença de dor, não completamente explicada por uma condição médica, não
psiquiátrica, associada a prejuízo funcional e sofrimento emocional, e com relação causal
plausível com fatores psicológicos, caracteriza o transtorno doloroso. Esta definição
acaba por deixar muito aberto o diagnóstico, uma vez que a presença e intensidade de
dor é sempre uma questão extremamente subjetiva, e nunca é possível eliminar ou
assegurar-se com certeza absoluta de componentes psicológicos para qualquer queixa
de dor, mesmo quando existe uma patologia orgânica evidente.
Talvez uma boa parte do recente aumento da procurar por procedimentos estéticos
reparadores (cirurgia plástica, aumento de seios e nádegas, lipoaspiração, remoção de
rugas, etc.) esteja refletindo uma tendência ao aumento da freqüência deste transtorno,
determinada ou facilitada por fatores psicossociais...
Transtornos Factícios
Não existem incentivos externos para este comportamento, e se existirem (como no caso
de vantagens econômicas, esquiva de responsabilidades legais, ou obtenção de atenção
específica de alguma pessoa intimamente relacionada) não se faz diagnóstico de
transtorno factício, mas sim de Simulação.
Transtornos Dissociativos
Amnésia Dissociativa
Uma forma comum é a amnésia para a própria identidade pessoal, mas com memória
intacta para informações gerais. O término da amnésia é em geral abrupto, e a
recuperação é completa, com baixa incidência de recorrências. No entanto, a
psicoterapia é quase sempre recomendada, para que haja uma integração adequada das
memórias à personalidade do indivíduo, e para resolução de conflitos que possam estar
na base do transtorno agudo.
Fuga Dissociativa
Na fuga dissociativa, o paciente, além de perder memória de seu nome, família, passado,
etc., afasta-se fisicamente de seu lar habitual, trabalho e locais costumeiramente
freqüentados (muitas vezes afastando-se da cidade), muitas vezes assumindo uma
identidade completamente nova, embora essa identidade, em geral, seja menos
completa do que as personalidades alternativas vistas no transtorno dissociativo de
identidade, além de não haver uma alternância entre as identidades antiga e nova.
O paciente, durante o período de fuga, tem completa amnésia para a sua vida e ligações
passadas, mas não tem consciência plena de ter esquecido de algo, e não perde
capacidades anteriormente aprendidas. Em geral, não dá mostras de estar comportando-
se de maneira extraordinária, procurando levar uma vida calma, banal, atraindo para si o
mínimo de atenção.
Esta situação tem rendido várias histórias na ficção, especialmente de cunho romântico,
como em novelas de TV e romances dirigidos ao público feminino, encontrados em
bancas de revistas.
32
Transtorno de Despersonalização
As sensações podem incluir alterações corporais, como sentir que suas extremidades
estão maiores ou menores que o normal, ou até duplicação, sentindo-se “fora do corpo”
ou até em dois lugares ao mesmo tempo.
33
Transe Dissociativo
Transtornos Sexuais
Não iremos nos deter nos inúmeros meandros do estudo da sexualidade normal e
patológica. Apenas citaremos os grandes grupos de transtornos sexuais listados no
DSM-IV, lembrando sempre que a orientação sexual, se hetero, homo ou bissexual, NÃO
é considerada, por motivos do “politicamente correto”, um possível transtorno, não
havendo categoria diagnóstica para a homossexualidade.
Disfunções Sexuais
Parafilias
O papel e a identidade de gênero devem ser diferenciados também do sexo (ou sexo
biológico), limitado às características anatômicas e fisiológicas sexuais, macho ou fêmea,
e da orientação sexual, que é a tendência de respostas erótica da pessoa, sendo
homossexual, heterossexual ou bissexual.
Tal sentimento geralmente está presente desde a infância, podendo ou não se manifestar
por atitudes e interesses mais característicos do outro sexo, e às vezes já na infância a
expressão declarada de sentirem-se meninos, quando são meninas, ou vice-versa.
Esses indivíduos podem ter atração sexual pelo mesmo sexo, pelo sexo oposto, ou por
ambos os sexos. Quando tem atração pelo mesmo sexo (biológico), não se consideram
homossexuais, uma vez que têm a convicção plena de pertencerem ao sexo oposto.
35
O papel do psicanalista, nesses casos, é pequeno, mas pode ser um bom adjuvante,
para que haja uma melhor adaptação e integração da pessoa, qualquer que seja o estado
orgânico atingido.
Transtornos Alimentares
Anorexia Nervosa
O termo “anorexia” é inadequado, pois não ocorre realmente perda de apetite, mas uma
evitação quase obsessiva dos alimentos, principalmente os mais calóricos, enquanto a
36
Em geral, nas mulheres, ocorre também uma amenorréia, ou seja, uma interrupção dos
ciclos menstruais, que não ocorre, em geral, se a paciente utiliza contraceptivos. A
amenorréia reflete as alterações hormonais, decorrentes da inanição.
Existe uma alta taxa de co-mordidade com transtornos depressivos, com uma freqüência
de até 50% de transtornos depressivos maior ou distímico. Em geral, o prognóstico de
pacientes anoréxicos é ruim, com algumas remissões, mas uma grande tendência a
apresentarem recaídas, e apesar da resposta a curto prazo a praticamente qualquer tipo
de tratamento, nas fases que requerem hospitalização (como única forma de nutrir
adequadamente o paciente), ser boa, há relatos de altas taxas de mortalidade a médio
prazo, chegando até a 18%.
Bulimia Nervosa
Os fatores sociais, com as pressões exercidas pelos padrões atuais de magreza como
sinônimos de beleza, e como pré-requisito para o sucesso pessoal, profissional e sexual,
podem estar ajudando a aumentar a incidência tanto da bulimia quanto da anorexia
nervosas.
Transtornos do Sono
Os sintomas básicos dos transtornos do sono são a insônia (dificuldade para iniciar ou
para manter o sono), a hipersonia (quantidades excessivas de sono e sonolência diurna),
as parassonias (fenômenos incomuns ou indesejáveis que aparecem subitamente
durante o sono ou no limiar entre o sono e a vigília) e as perturbações no ciclo-vigília
(deslocamento do sono a partir do período circadiano desejado).
Dissonias
paralisia do sono. O sintoma mais comum são os ataques de sono, com episódios de
sono irresistível, às vezes de duração de poucos segundos, ocorrendo várias vezes
durante o dia.
Parassonias
O terror noturno, por outro lado, é um despertar que ocorre durante o sono Não-REM
profundo (estágios 3 e 4), com emissão de um grito alucinante, seguindo de
manifestações que lembram o estado de pânico, tipicamente não respondendo às
tentativas de ser acalmado por outrem, e que evoluem ou para o retorno ao sono, ou
mais raramente para um estado transitório de confusão e desorientação. Nenhum sonho
é recordado, e o evento em geral é inteiramente esquecido pelo paciente (embora seja
intensamente estressante para os familiares, especialmente porque ocorre
principalmente em crianças).
Atualmente, o uso de substâncias, ilegais ou não, como forma de buscar algum tipo de
bem-estar, torna-se cada vez mais alarmante, por envolver imensas quantidades de
recursos financeiros, e um altíssimo índice de criminalidade associada. Isto é verdadeiro
não apenas em relação às “drogas” como se entende em senso estrito (das quais, em
nosso meio, a maconha, a cocaína e o “crack” são as mais importantes), mas
principalmente das “drogas legais”, como os medicamentos psicoativos, os solventes
orgânicos (como a “cola de sapateiro”), e em escala alarmante, embora em geral
ignorada, o tabaco e o álcool. Este último, por ter uma aceitação social quase universal
(em contraste com o tabaco, que já gozou de prestígio muito maior, porém hoje vê
campanhas importantes contra o seu uso), tem minimizada sua responsabilidade nos
diversos distúrbios, por ele direta ou indiretamente influenciados.
Não cabe aqui uma exposição detalhada e minuciosa de todas as nuanças do uso e
abuso de substâncias químicas, uma vez que o assunto é extremamente extenso,
merecendo inclusive um ou dois módulos do curso especificamente para si. Certamente
irão aparecer no consultório de cada psicanalista não apenas pacientes com problemas
pelo uso ou abuso direto de álcool ou outras substâncias, mas uma ampla gama de
pacientes com transtornos indiretamente produzidos por este abuso, desde cônjuges ou
filhos de dependentes, até pessoas cujas vidas foram marcadas por ruína, financeira,
moral ou social, devido ao envolvimento de alguém com uma ou mais substância citadas,
ou ao falecimento de alguém que se envolveu com a “roda-viva” do álcool e das drogas.
As implicações e ramificações são tantas, que poder-se-ia até dizer que não há sequer
uma pessoa, na face da Terra, que não esteja sendo influenciada, de um modo ou de
outro, pelo uso e abuso de álcool ou outras drogas.
40
Outro conceito cada vez mais levado em consideração é o da co-dependência, que gosto
de chamar de “dependência no dependente”. Este é um conceito, é claro, puramente
psicológico, e implica numa “atração” inconsciente de certas pessoas a se relacionarem
com dependentes, muito comumente encontrado em cônjuges de alcoólatras!
O que tentaremos nesta última seção de nosso módulo é mostrar um apanhado geral das
drogas mais usadas, sem nos preocuparmos com a descrição de seus efeitos (desejados
ou colaterais), suas doses usuais, indicações, contra-indicações, ou mecanismos de
ação. Trata-se apenas de uma rápida exposição, descompromissada, com caráter
apenas introdutório, procurando citar apenas as drogas disponíveis no Brasil, com seus
nomes comerciais associados.
Antidepressivos
Exemplos de tricíclicos:
• Amitriptilina (Tryptanol®);
• Imipramina (Tofranil®, Imipra®);
• Clomipramina (Anafranil®);
• Nortriptilina (Pamelor®)
Exemplo de tetracíclico:
• Maprotilina (Ludiomil®).
Exemplo de ISRS:
• Fluoxetina (Prozac®, Nortec®, e muitos outros!); • Paroxetina (Aropax®);
• Sertralina (Zoloft®).
Cabe ainda citar o Lítio (Carbolitium®), usado no controle e profilaxia dos episódios
maníacos dos transtornos bipolares.
Antipsicóticos (Neurolépticos)
42
Outra droga, não aparentada aos benzodiazepínicos, com efeito ansiolítico, é a Buspirona
(Buspar®). Esta não tem efeito indutor de sono, nem anticonvulsivante.
Uma droga utilizada para induzir o sono, uma das mais antigas, e que hoje é usada quase
que exclusivamente na indução do sono para realização de eletroencefalogramas, é o
Hidrato de Cloral (não disponível exceto sob manipulação).
Outra classe ainda de efeitos hipnóticos e sedativos, praticamente abandonada para este
uso, são os barbitúricos. Apenas o Fenobarbital (Gardenal®, Edhanol®, Fenocris®) e a
Barbexaclona (Maliasin®) são ainda utilizados, mas só no tratamento das epilepsias, por
suas propriedades anticonvulsivantes, bem como o Tiopental (Thionembutal®,
Thiopental®), este apenas em casos gravíssimos de crises epilépticas que não cessam
(o “estado de mal epiléptico”), e apenas de uso intra-hospitalar.
43
Anti-Parkinsonianos
Anti-Convulsivantes
O tratamentos das epilepsias, com drogas eficazes para a prevenção das crises tanto
focais quanto generalizadas, tem progredido bastante, com o desenvolvimento de novas
drogas, com bons resultados, e relativamente poucos efeitos colaterais. Além dos
barbitúricos (vide acima), e de alguns dos benzodiazepínicos (Clonazepam, Clobazam,
Dizepam), incluem-se também:
• Carbamazepina (Tegretol®);
• Oxcarbazepina (Trileptal®);
• Valproato ou Ácido Valpróico (Depakene®, Valpakine®, Valprin®); • Fenitoína
(Hidantal®, Fenital®, Epelin®);
• Lamotrigina (Lamictal®).
Eletroconvulsoterapia (ECT)
Uma crítica plausível para esta prática é o fato de que não se sabe o mecanismo da
melhora pela ECT, porém o mesmo também se pode dizer da maioria das drogas, e de
44
Psicocirurgia
A cirurgia como arma terapêutica para os transtornos mentais teve seu período de glória,
culminando com o Prêmio Nobel recebido pelo português Egas Moniz, em 1949, pelas
suas descobertas nesta área, principalmente a introdução da lobotomia frontal, para o
controle de pacientes com personalidades violentas (psicopáticas). No entanto, os
conceitos foram mudando, as medicações se tornando mais eficazes, e os efeitos
negativos das cirurgias se evidenciando, levando a psicocirurgia ao ostracismo,
chegando ao ponto de se cogitar a retirada do prêmio de Egas Moniz! Atualmente, os
avanços na área da Neuropsicologia, e nas técnicas microcirúrgicas, têm dado novo
ímpeto às pesquisas na área de psicocirurgia, agora mais propriamente chamada de
Neurocirurgia Funcional. Ainda são poucas as indicações, e pequenas as estatísticas,
mas é possível que nas próximas décadas assistamos a um “renascimento” da cirurgia
cerebral como tratamento das patologias mentais.
Homeopatia
Acupuntura
O mesmo que se disse para a Homeopatia pode ser aplicado à Acupuntura, com a
diferença nas bases teóricas e práticas do tratamento, que se baseia na estimulação
direta de pontos energéticos específicos, espalhados pelo corpo. O efeito, no entanto,
seria o mesmo: equilíbrio energético do Ser como um Todo.
Terapias “Alternativas”
Em minha opinião, isto pode ser verdadeiro apenas em parte, pois há registros, na
história de todas as religiões, de pessoas especiais, que obtinham um índice de cura de
praticamente 100%, como no caso de Jesus Cristo. É certo que mesmo que Ele afirma a
uma das suas “pacientes”: “...a sua Fé te curou!” Mas parece evidente que lá havia algo
mais do que o “simples” (porém totalmente incompreendido) efeito Placebo...
Deixo estas questões em aberto, para muitas discussões e conversas animadas, em que
certamente nenhuma conclusão definitiva poderá ser alcançada, mas muita boa Filosofia
será produzida!
Conclusão
Retardo Mental
Obs.: Esses são classificados no eixo II
317 Retardo Mental Leve
Retardo Mental Severo
Retardo Metal Severo
Retardo Mental Profundo
319 Retardo Mental. Gravidade Não Especificada
Transtornos de Aprendizagem 315.0
Transtorno da Leitura
Transtorno da Matemática
Transtorno da Expressão Escrita
315.9 Transtorno da Aprendizagem SOE
Transtorno das Habilidades Motoras
315.4 Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação
Transtornos da Comunicação
315.31 Transtorno da Linguagem Expressiva
315.31 Transtorno Misto da Linguagem Receptivo-Expresssiva
315.39 Transtorno Fonológico
307.0 Tartamudez
307.9 Transtorno da Comunicação SOE
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento
299.0 Transtorno Autista
299.80 Transtorno de Rett
299.10 Transtorno Desintegrativo da Infância
299.80 Transtorno de Asperger
299.80 Transtorno Invasivo do Desenvolvimento SOE
Transtorno de Déficit de Atenção e Comportamento Disruptivo
314.xx Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade
.01 Tipo Combinado
.00 Tipo Predominantemente Desatento
.01 Tipo Predominantemente Hiperativo- Impulsivo
314.9 Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade
SOE
312.8 Transtorno de Conduta
313.81 Transtorno Desafiador de Oposição
312.9 Transtorno de Comportamento Disruptivo SOE Transtornos
de Alimentação da Primeira Infância
Pica
Transtorno de Ruminação
307.59 Transtorno de Alimentação na Primeira Infância
Transtorno de Tique
307.23 Transtorno de Tourette
307.22 Transtorno de Tique Motor ou Vocal Crônico
307.21 Transtorno de Tique Transitório
307.20 Transtorno de Tique SOE
Transtornos de Eliminação
- Encoprese
787.6 Com Constipação e Incontinência por Hiperfluxo
307.7 Sem Constipação e Incontinência por Hiperfluxo
307.6 Enurese (Não devido a uma Condição Médica Geral)
Outros Transtorno da Infância ou Adolescência
309.21 Transtorno da Ansiedade da Separação
313.23 Mutismo Seletivo
313.89 Transtorno Reativo de Vinculação na Infância 307.3
Transtorno de Movimento Estereotipado
303.9 Transtorno da Infância ou Adolescência SOE.
DELIRIUM, DEMÊNCIA, TRANSTORNO AMNÉSTICO E OUTROS TRANSTORNOS COGNITIVOS
Delirium
293.0 Delirium Devido a uma condição Médica Geral
- Delirium por Intoxicação com Substância
47
0= Inespecificado
Transtornos Depressivos
296.xx Transtorno Depressivo Maior
.2x Episódio Único
.3x Episódio Recorrente
300.4 Transtorno Distímico
311 Transtorno Depressivo SOE
Transtornos Bipolares
296.xx Transtorno Bipolar I
.0x Episódio Único Maníaco
.40 Episódio Mais Recente Hipomaníaco
.4x Episódio Mais Recente Maníaco
.6x Episódio Mais Recente Misto
.5x Episódio Mais Recente Depressivo
.7x Episódio Mais Recente Inespecificado
296.89 Transtorno Bipolar II
301.13 Transtorno Ciclotímico
296.80 Transtorno Bipolar SOE
293.83 Transtorno de Humor Devido a uma Condição Médica Geral
- Transtorno de Humor Induzido por Substância (consultar Transtornos Relacionados a substâncias para
códigos específicos às substâncias)
296.90 Transtorno de Humor SOE
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
300.01 Transtorno de Pânico Sem Agorafobia
Transtorno de Pânico Com Agorafobia
Agorafobia Sem História de Transtorno de Pânico
300.29 Fobia Específica
300.23 Transtorno Social
300.3 Transtorno Obsessivo-Compulsivo
309.81 Transtorno de Stress Pós-Traumático
308.3 Transtorno de Stress Agudo
308.02 Transtorno de Ansiedade Generalizada
300.89 Transtorno de Ansiedade Devido a uma Condição Médica Geral
- Transtorno de Ansiedade Induzido por Substância (consultar Transtornos Relacionados a substâncias para
códigos específicos às substâncias)
300.00 Transtorno de Ansiedade SOE
TRANSTORNOS SOMATOFORMES
300.81 Transtorno de Somatização
300.81 Transtorno Somatoforme Indiferenciado
300.11 Transtorno de Conversão
307.xx Transtorno Doloroso
.80 Associado com Fatores Psicológicos
.89 Associado com Fatores Tanto Psicológicos Quanto com uma Condição Médica Geral
300.7 Hipocondria
300.7 Transtorno Dismórfico Corporal
300.81 Transtorno Somatoforme SOE
TRANSTORNOS FACTÍCIOS
300.xx Transtorno Factício
.16 Com Sinais e Sintomas Predominantemente Psicológicos
.19 Com Sinais e Sintomas Predominantemente Físicos
.19 Com Sinais e Sintomas Psicológicos e Físicos Combinados
300.19 Transtorno Factício SOE
TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS
Amnésia Dissociativa
Fuga dissociativa
Transtorno Dissociativo de Identidade
300.6 Transtorno de Despersonalização
300.15 Transtorno Dissociativo SOE
TRANSTORNOS SEXUAIS E DE IDENTIDADE DE GÊNERO
Disfunções Sexuais
52
Problemas de Relacionamento
V619 Problema de Relacionamento Relacionado a um Transtorno Mental ou Condição Médica Geral
V61.20 Problema de Relacionamento Entre Pai e Filho
V61.1 Problema de Relacionamento com Parceiro
V61.8 Problema de Relacionamento com Irmãos
V62.81 Problema de Relacionamento SOE
Problemas Relacionados ao Abuso ou Negligência
V61.21 Abuso Físico da Criança (código 995.5 se foco de atenção é a vitima)
V61.21 Abuso Sexual da Criança (código 995.5 se foco da atenção é a vítima)
V61.21 Negligência da Criança (código 995.5 se foco da atenção é a vítima)
V61.1 Abuso Físico do Adulto (código 995.5 se foco da atenção é a vítima)
V61.1 Abuso Sexual do Adulto (código 995.5 se foco da atenção é a vítima)
Condições Adicionais que Podem Ser um Foco de Atenção Clínica
V15.81 Falta de Adesão ao Tratamento
V65.2 Simulação
V71.01 Comportamento Anti-Social no Adulto
V71.02 Comportamento Anti-Social na Criança ou Adolescente
V62.89 Funcionamento Intelectual Borderline
780.9 Declínio Cognitivo Relacionado à Idade
V62.82 Luto
V62.3 Problema Acadêmico
V62.2 Problema Ocupacional
313.82 Problema de Identidade
V62.89 Problema Religioso ou Espiritual
V62.4 Problema de Aculturação
V62.89 Problema de Fase de Vida
CÓDIGOS ADICIONAIS
300.9 Transtorno Mental Inespecificado (não-psicótico)
V71.09 Nenhum Diagnóstico ou Condição no Eixo I
799.9 Diagnóstico ou Condição Protelados no Eixo I
V71.09 Nenhum Diagnóstico no Eixo II
799.9 Diagnóstico Protelado no Eixo II
Baseado no “Diagnostic and Statistical Manual os Mental os Mental Disorders”, 4ª ed. Americam
Psychiatric Association, 1994.
Referências
Freud, S.: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud.
Kaplan, H. I., Sadock, B. J. e Grebb, J. A.: Compêndio de Psiquiatria – Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica.
Louzã Neto, M. R., Motta, T., Wang, Y. P. e Elkis, H. (orgs.): Psiquiatria Básica.
Bandler, R. e Grinder, J.: A Estrutura da Magia – Um Livro Sobre Linguagem e Terapia Schreiber, F. R.: Sybil
Avaliação: Psiquiatria
Caso 1:
Paciente do sexo masculino, 30 anos, casado há três anos, sem filhos, auxiliar de
produção. Vem à consulta acompanhado da mãe. Queixa-se de estar “muito nervoso”,
tendo piorado progressivamente nos últimos meses. Refere ter “explosões”, muitas vezes
por motivos fúteis e às vezes tem consciência da desproporção de suas reações, após
as mesmas.
Há mais ou menos 2 meses vem tendo a idéia de que sua esposa o está traindo, embora
a mesma nunca tenha lhe dado motivo para tal desconfiança, e tem consciência deste
fato. Refere saber ser verdade que a esposa não o trai, porém não consegue evitar tal
idéia. Tem sido agressivo, chegando a agredi-la por trás, arremessando um copo de vidro
contra suas costas.
Refere que seus sintomas o têm prejudicado também no trabalho, onde notou uma
diminuição de rendimento, que não sabe se é percebida pelos superiores. Não tem mais
contato praticamente nenhum com seus colegas de trabalho, ficando isolado a maior
parte do tempo.
Refere fazer uso de bebidas alcoólicas há vários anos, e há 8 a 10 anos ingerindo
diariamente um mínimo de 3 garrafas de cerveja e nos finais de semana chegando a
mais de 24 garrafas de cerveja. Refere também já ter feito uso de cocaína, por um
período de aproximadamente 1 ano, tendo interrompido o uso há uns 7 meses.
Sua mãe relata que o paciente teve uma convulsão com 2 anos de idade, única, tendo
feito tratamento até os 6 anos de idade, tendo um desenvolvimento psicológico, motor e
intelectual normal, sendo por ela considerado “sempre um bom menino”.
O paciente ainda relata dificuldade para dormir, demorando a iniciar o sono, e com
múltiplos despertares durante a noite, sentindo-se cronicamente cansado.
Ao exame, o paciente mostra-se agitado, com fala acelerada e em tom alto e agressivo,
com as conjuntivas avermelhadas, e uma tendência e não parar de movimentar suas
mãos, ora mexendo nos objeto sobre a mesa ora apertando seus próprios antebraços. O
exame clínico geral e neurológico são normais.
Caso 2:
Paciente de sexo feminino, 42 anos, separada há 4 anos, com dois filhos (menino de 14
anos e menina de 17 anos), dona de casa, vem à consulta acompanhada pela mãe.
56
Queixa-se de “depressão”, dizendo ter sido diagnosticada como tal por médica
psiquiatra, tendo sido receitado “Tryptanol”, que refere “não fazer efeito”, tendo
interrompido o tratamento por conta própria, não mais voltando para novas consultas
com sua médica (foi a um total de três consultas). Refere “não ter vontade de fazer
nada”, sem ânimo para sair, mesmo para realizar tarefas simples. Diz permanecer
sozinha, isolada, sem conversar até mesmo com seus filhos.
Refere ter vontade de chorar, porém não o faz, nem sozinha, nem quando na presença
de familiares.
Nega alteração significativa do sono, porém às vezes acorda de madrugada, com certa
dificuldade para voltar a dormir. Às vezes tem a impressão de que as pessoas de seu
convívio estão a perseguindo, culpando-a por todas as discussões e todos os problemas.
A paciente não se sente especialmente culpada, e ao contrário, insiste em atribuir falhas
e culpas a várias pessoas de seu convívio, inclusive seus filhos, sua mãe, e seu ex-
marido. Acredita que seus sintomas são “naturais”, e que “qualquer pessoas que passe
tanta raiva” quanto ela ficaria do mesmo modo.
Durante a entrevista,a paciente não mostra expressões faciais que denotem angústias
falando em um tom casual dando a impressão de que está narrando eventos e situações
de pouco ou nenhum conteúdo emocional. Muitas vezes, ao ser questionada
especificamente sobre algum detalhe, responde com informações inteiramente diversas.
Quando questionada sobre seu sono, por exemplo, respondeu dizendo que seus filhos
adolescentes “dão muito trabalho, não é doutor?”
Alguns dias depois da primeira entrevista, sua mãe retorna com a irmã da paciente, e
ambas relatam que a mesma passou a se comportar com “explosões” de agressividade,
muitas vezes gratuita, chegando a agredir fisicamente seu filho, sem motivo aparente, e
sem dizer a razão para tal ato. Após alguns momentos, volta ao normal, como se nada
houvesse ocorrido. Em outra ocasião, telefonou à sua mãe apenas para dizer que estava
“ótima”, e que “tudo está muito bem”, desligando a seguir, sem maiores explicações.
Caso 3:
Paciente de sexo masculino, de 42 anos, trazido à sala de emergência pela polícia, por
ter se envolvido em uma discussão e briga no restaurante onde trabalha. Ao ser
interrogado pela polícia, deu o nome de Pedro dos Santos, mas não tinha nenhum
57
Uma visita da Sra. Oliveira confirmou a identidade do paciente como José Paulo de
Oliveira. A Sra. Oliveira explicou que, por um ano e meio antes de seu desaparecimento,
o marido trabalhara como gerente júnior em uma grande empresa, tendo dificuldades
consideráveis no trabalho. Foi ignorado para uma promoção, e recebeu duas críticas de
seu supervisor em seu trabalho. Vários de seus subordinados haviam pedido demissão,
e o paciente considerava impossível atingir os objetivos de produção.
Ao ser levado à sala onde sua esposa o esperava, o paciente declarou que não a
conhecia, parecendo visivelmente ansioso, com sudorese intensa, esfregando suas
mãos uma sobre a outra com freqüência.
Caso 4:
As crises têm aparecido espontaneamente, mas a maior parte das vezes está associada
ao alimentar-se, ou até à simples idéia de comer, tendo chegado ao ponto de ingerir
líquidos, e ainda assim com muitas restrições.
Caso 5:
Paciente do sexo feminino, 29 anos, mãe de dois filhos, solicitou autorização médica para
uma cirurgia para retirada de cistos nas mamas. Descreveu os cistos como aumentando
rapidamente, e insuportavelmente dolorosos. Enquanto chamava a atenção para os seus
seios, observou: “São tão grandes e tão sensíveis ao toque. Que simplesmente não
consigo ter relações – nem pensar nisso”.
Ela também sentia uma dor lombar incapacitante, que se irradiava para baixo, e fazia
suas pernas “cederem” subitamente, fazendo-a cair. Ao dizer isso, fez um trejeito de dor,
acrescentando: “Ah, lá vem de novo, minhas costas doem o tempo todo. A dor é tão forte
que afeta o meu relacionamento com as crianças. Uma dor assim transforma qualquer
pessoa em uma fera”. (Ela estivera, anteriormente sob suspeita de abusar dos filhos).
Também queixou-se de “falta de ar” e de uma tosse seca, que não a deixavam subir
ladeiras.
Dois casamentos, ambos com homens alcoólatras e abusivos que se recusaram a pagar
pensão alimentícia para os filhos, terminaram em divórcio. Ela perdeu vários empregos,
por causa de excessivas faltas ao trabalho. Durante os períodos em que se sentia pior,
passava a maior parte do dia em casa, em trajes de dormir, enquanto os parentes
cuidavam das crianças. Tinham uma história de dependência de “calmantes” e
narcóticos, e afirmou que começara a usar analgésicos para sua dor nas costas e
“exagerei com eles”.
O exame físico revelou inconsistências no tecido mamário, mas nenhuma massa
claramente evidente, e os achados da mamografia foram normais.
Caso 6:
Inexplicavelmente, os ataques quase sempre ocorriam por volta das 16 horas. Ela
geralmente precisava deitar-se no sofá e freqüentemente não se sentia melhor até às 19
ou 20 horas. Após sua recuperação, habitualmente passava o resto da noite assistindo
à televisão. Com maior freqüência, adormecia na sala, não indo para cama antes das 2
ou 3 horas.
Caso 7:
Estudante universitário sexo masculino, 20 anos, queixou-se ao seu Clínico de
dificuldades para estudar porque nos últimos seis meses, tornara-se progressivamente
preocupado com pensamentos que não conseguia afastar. Toda noite passava horas
60
Unidade
Para compreender a causa, é muitas vezes útil dividir os fatores causais em categorias
biológicas e sociológicas. As perturbações mentais que reconhecidamente se baseiam
em patologia do cérebro – por exemplo, infecção sifilítica do cérebro ou degeneração
cerebral na senilidade – são denominadas orgânicas ou biogênicas. Quando não existe
patologia cerebral conhecida e a perturbação se baseia, presumivelmente, em
suposições falsas, capacidades inadequadas e outras condições que levam a reações
desajustadoras à tensão, perturbação é denominada psicogênicas. Finalmente, existem
perturbações cuja natureza é fundamental sociogênica – em que os fatores sociológicos,
por exemplo, as privações econômica e cultural, provocam deformações no
desenvolvimento ou criam tensões excessivamente grandes para o ajustamento
saudável. No entanto, quando os fatores biológicos, psicológicos ou sociológicos
desempenham o papel dominante, lidamos sempre com uma interação de determinantes
que contribuem, em graus diferentes para a perturbação mental.
61
desvalorização.
Disciplina defeituosa Excesso de liberdade ligado à insegurança,
agressividade anti-social. A disciplina severa
geralmente leva a excessiva condenação do
eu por comportamento agressivo, a disciplina
incoerente geralmente resulta em falta de
valores estáveis para a orientação do
comportamento, com tendência para
incoerência e vacilação ao enfrentar
problemas.
Rivalidade entre irmãos Hostilidade direta ou indireta, insegurança,
falta de auto confiança, regressão.
Desavença conjugal e lares desfeitos Angústias, tensão, insegurança, falta de uma
base segura no lar, tendência para avaliar o
mundo como um lugar perigoso e inseguro.
Lealdades conflitivas, falta de modelos
adequados para o desenvolvimento adequado
do ego.
Os pais como modelos deficientes Interiorização de atitudes de valores imorais e
socialmente indesejáveis, que
freqüentemente levam problemas com a
justiça.
Perturbações neuróticas
O núcleo Neurótico
2. Angústia e temor
Como o neurótico enfrenta várias tensões que percebe como ameaçadas, a angústia é
um fator difuso, subjacente a todas as neuroses. Às vezes a angústia é aguda – por
exemplo, em ataques de angústia – mas é mais comum que o neurótico crie várias
defesas para reduzi-la. Tais defesas, no entanto, raramente são adequadas, e
usualmente continua a haver considerável quantidade de angústia e temor.
Freqüentemente a angústia do neurótico é intensificada por seus sintomas, por ele
reconhecidos como irracionais, mas que não pode controlar. Além disso, os temores e
conflitos subjacentes, controlados pela defesa neurótica podem aparecer de vez em
65
3. Tensão e irritabilidade
6. Insatisfação e infelicidade
Por causa de seus temores, suas preocupações, conflitos e orientação geral a vida, os
neuróticos tendem a serem tensos pessimistas e, de modo geral, insatisfeitos com sua
situação de vida. Geralmente têm vagos sentimentos de que algo está faltando ou de
que algo está errado, mas não são capazes de localizar a origem de sua dificuldade.
REAÇÃO DE ANGÚSTIA
Sintomas
Uma reação astênica se caracteriza por fadiga crônica, física e mental, e por um conjunto
de dores. Não há acordo entre as estimativas de incidência, mas as reações astênicas,
pelo menos em forma branda, são relativamente comuns e provavelmente representam
10 por cento ou mais das perturbações neuróticas. De modo geral, adultos de meia idade
– sobretudo donas de casa frustradas – aparecem os mais à neurastenia. As reações
neurastênicas são também mais comuns em níveis sócio econômicos mais baixos.
67
Nas reações astênicas a queixa fundamental do paciente é a fadiga física e mental. Tem
dificuldade para concentração, distrai-se facilmente, não tem o vigor necessário para
realizar atividade até a sua completação satisfatória. Mesmo tarefas secundárias
parecem exigir esforço bérculeo. Usualmente gasta muito tempo em sono, numa tentativa
de combater a fadiga; no entanto, apesar da quantidade de sono acorda cansado.
Além da fadiga crônica, o neurastênico geralmente tem várias outras queixas somáticas:
dor ou “peso” na cabeça, indigestão, dores na região dos rins, pequenas tonturas,
sensibilidade excessiva a pequenas irritações, sensações de fraqueza.
Sintomas
Numa época em que os médicos já não acreditam que alguém “fique” cego, mudo ou
paralítico, de repente os pacientes apresentam menos tais sintomas e maior número de
dores e queixas vagas, mas dificilmente diagnosticadas como funcionais. No entanto, as
reações de conversão podem simular grande amplitude de doenças orgânicas, e são
muito numerosos os sintomas específicos que podem aparecer.
1. Sintomas sensoriais
Qualquer um dos sentidos pode ser incluído em reações de conversão. As formas mais
comuns são as seguintes:
Reações dissociativas
Sintomas
Na reação de amnésia típica, o paciente não pode lembrar seu nome, não sabe sua idade
nem sua residência, não reconhece os pais, parentes ou amigos. Apesar disso, seus
padrões de hábito – por exemplo, capacidade para escrever, falar e assim por diante –
continuam intatos, e com a exceção da amnésia, parece muito normal.
REAÇÃO DE FOBIA
Uma reação de fobia é um medo contínuo de algum objeto ou situação que não
apresentam perigo real para o paciente, ou em que o perigo é aumentado
desproporcionalmente com relação à sua gravidade real. A lista seguinte de fobias
comuns e seus objetos dão certa indicação da variedade de situações e objetos em torno
do quais as fobias podem centralizar-se:
Sintoma
Quase todos nós temos pequenos irracionais, mas nas reações de fobia, tais medos são
intensos e interferem nas atividades cotidianas do paciente. Por exemplo, um paciente
com claustrofobia pode dar grandes voltas para não entrar numa sala pequena ou num
corredor, ainda que tenha uma necessidade de fazê-lo. Os pacientes usualmente
admitem que não tenha causa real para ter medo do objeto ou da situação, mas dizem
que não conseguem impedir isso. Se não se submetem ao medo e não inventa a situação
de fobia, são denominadas por angústia, que pode variar de leves sentimentos de mal
estar e aflição até um ataque agudo de angústia.
69
Nas reações obsessivo-compulsivas, tal como ocorre nas fobias, o paciente reconhece a
irracionalidade de seu comportamento, mas parece obrigado a pensar em algo em que
não deseja realizar. Tais reações irracionais, obsessivas e compulsivas, são numerosas
e variadas, e parecem constituir aproximadamente de 20 a 30 por cento de todas as
perturbações neuróticas.
Sintomas
Sintomas
Reação Angústia
Sintomas principais: Angústia “livre”, geralmente interrompida por ataques agudos.
Dinâmica básica: Controle de ameaças internas ou externas por simples repressão.
A angústia ainda não está “detida” ou controlada por defesas do ego.
70
Conversão
Sintomas principais: Simulação de doenças orgânica real – pode incluir diferentes
sintomas sensoriais, motores ou de doenças somática.
Dinâmica básica: Ficar doente para fugir de situação de tensão que provoca angústia
Dissociação
Sintomas principais: Amnésia, fuga, personalidade múltipla, sonambulismo.
Fobia
Sintomas principais: Medos irracionais, que o indivíduo reconhece serem irracionais, mas
que levam a angústia se não forem observados.
Dinâmica básica: Medo contínuo e condicionado ou reação defensiva para proteger o eu
de tensão que provoca angústia, através de deslocamento de angústia do perigo real
para aspecto simbolicamente ligado a essa tensão, e que protege o paciente da
necessidade de enfrentá-la.
Obsessivo-compulsiva
Sintomas principais: Pensamentos ou impulsos contínuos que o indivíduo compreende que
são irracionais, mas que não pode evitar.
Dinâmica básica: Reações de defesa que protegem o indivíduo contra ameaças internas
ou externas através de atividades substitutivas, formação de reação, isolamento
entre os desejos que provocam angústia e sua base afetiva, oposição ao medo
através de rituais compulsivos e uma “ordenação” obsessiva da situação, de forma
que tudo esteja sob controle e nada possa estar errado.
Neurótica – depressiva
Sintomas principais: Sentimentos de desânimo, abatimento, autodepreciação.
Dinâmica básica: Extremo desânimo, resultante de adversidade ambientais; parte da
angústia é despertada por tais adversidades, moderada por intropunitividade (auto
castigo).
GAGUEIRA
71
ROER UNHAS
TIQUES
ENURESE
Nas crianças, a enurese tem sido explicada de várias formas entre as quais as seguintes:
a) expressão indireta de angústia;
b) tentativa de mostrar necessidade de auxílio e atenção dos pais;
c) expressão de hostilidade muitas vezes inconsciente, contra os pais;
d) indicação de imaturidade e perturbação emocional;
e) resultado de capacidade inadequada da bexiga.
Fator de comportamento:
Neurose: Leve grau de descompensação da personalidade; são atingidos o contato com
a realidade e a atuação social.
Psicoses: Elevado grau de descompensação de personalidade; contato com a realidade
é muito atingido; o paciente fica impossibilitado de atuação social.
Natureza do sintoma:
Neurose: Grande amplitude de sintomas psicológicos e somáticos, mas não há
alucinação ou outros desvios extremos em pensamentos, sentimentos ou ação.
Psicoses: Grande amplitude de sintomas com delírios, alucinações, embotamento
emocional e outros comportamentos muito anormais.
Orientação:
Neurose: O paciente raramente perde orientação no ambiente
Psicoses: O paciente freqüentemente perde orientação no ambiente
Auto conhecimento:
Neurose: O paciente freqüentemente tem certeza da compreensão da natureza do
seu comportamento.
Psicoses: O paciente raramente tem compreensão da natureza de seu
comportamento.
Aspectos sociais:
Neurose: O comportamento raramente é prejudicial ou perigoso para o paciente ou para
a sociedade.
Psicoses: O comportamento freqüentemente é prejudicial ou perigoso para o paciente
ou para a sociedade.
Tratamento
Neurose: O paciente raramente precisa de internamento em hospital.
Psicoses: O paciente geralmente precisa de internamento em hospital.
AS PSICOSES FUNCIONAIS
ANOMALIAS DA SEXUALIDADE
2. Falta de afinidade emocionai com o par sexual. Neste caso, o indivíduo pode estar
apaixonado por causa pessoa, de forma que intensos sentimentos de infidelidade e culpa
interferem em seu comportamento sexual, ou pode achar seu par sexual fisicamente
repugnante; pode também haver intensos sentimentos de hostilidade ou oposição em
conseqüência de discussões ou conflitos anteriores. Às vezes, uma ligação excessiva
com a mãe pode levar a sentimentos relativamente inconscientes de infidelidade e, por
isso, à impotência.
Muitos vivem com medo contínuo de identificação, perda de emprego e desonra social,
embora social sintam que tem direito à sua forma de ajustamento sexual. Outros sentem
que seus desejos sexuais são inteiramente errados; estão em permanentes conflitos
íntimos. Sobretudo quando o homossexual vive só e não está ligado a um grupo
organizado de homossexuais, tende a estar em guerra constante consigo e a sentir-se
inseguro, preocupado e solitário.
c) Ser educado como pessoa do outro sexo. As vezes, a mãe que desejava muito
ter uma filha educa seu filho como se fosse uma menina, fazendo como se fosse uma
menina, fazendo com que tenha cabelos longos, vestindo-se com roupas de menina e
incutindo nele atitudes e interesses tipicamente femininos.
Pedofilia
Em outros casos, parece que estamos diante de psicopatologia difusa que enfraqueceu
seus controles internos – por exemplo, no alcoolismo crônico, parecia a degeneração senil
ou por arteriosclerose cerebral. A pedofilia e o exibicionismo são os delitos sexuais mais
comuns, entre eles os cometidos por pacientes senis ou com arteriosclerose. Aqui,
79
Bestialidade
Exibicionismo
Voyeurismo
Uma das anomalias mais freqüentes é, sem dúvida, o voyeurismo, também conhecido
por scoptofilia ou mixoscopia. O indivíduo é quase sempre incapaz de realizar o ato
sexual – os velhos impotentes ou os jovens que sofrem de timidez mórbida integram a
maioria dos casos e encontram prazer em observá-los realizados por outros. Em muitos
casos, no entanto, não é necessário ver realizar o ato em si. Para alguns pacientes a
contemplação do ato é indispensável à sua satisfação; para outros, a visão dos órgãos
genitais do sexo oposto é suficiente. Existem homens que se satisfaz com o simples fato
de ver uma mulher subindo por um lugar íngreme ou escada ou inclinar-se em posição
provocante. Outros encontram prazem presenciando a copulação dos animais, e há até
os que o encontram vendo defecar ou urinar.
Necrofilia
Sadismo
Sadismo é um termo derivado do nome Marquês Sade (1740-1814) que, para obtenção
de prazer sexual, submetia suas vítimas a cruelmente tão desumana que finalmente foi
detido como insano. Embora o termo tenha adquirido um sentido mais amplo, de forma
que inclui a crueldade de modo geral, limitaremos nosso uso à obtenção de prazer sexual
através da provocação de dor no par sexual. A dor pode ser infligida fisicamente – por
exemplo, por chicotadas, mordidas ou beliscões – ou pode ser infligida verbalmente,
através de observações humilhantes ou crítica diante de outras pessoas.
1. O sadismo sexual com apenas uma expressão de uma atitude mais geral de
destruição e o sadismo com relação a outras pessoas. Neste caso, o indivíduo sente-
se frustrado e rejeitado, e procura – através de comportamento hostil e destrutivo –
81
Masoquismo
No masoquismo o indivíduo consegue prazer sexual ao fazer com que outras pessoas
provoquem sua dor. O termo deriva do nome do romancista austríaco Leopod V. Sacher
Masoch (1836-1895), cujas personagens insistam terreamente no prazer sexual da dor.
Tal como ocorre no sadismo, o termo masoquismo ampliou-se para fora do campo sexo,
a fim de incluir prazer obtido com renúncia, sofrimento físico de expiação na auto
flagelação religiosa, e dificuldade e sofrimento de modo geral. No entanto, para nossos
objetivos imediatos, limitaremos nossa discussão aos aspectos sexuais do
comportamento masoquista.
Transvestismo
Narcisismo
84
O infantilismo
Existem duas classes de homens que se sentem atraídos pela infância: os jovens de
vinte a trinta anos de idade, cuja condição fisiológica não evoluída os assemelha às
crianças, e os velhos em que a semelhança se produz por uma regressão da atividade
sexual. Para ilustrar o primeiro destes tipos, recordamos a observação de Magnus
Hirschfel sobre um jovem de vinte e quatro anos de origem burguesa. Foi condenado por
conduta incidente depois de haver sido apanhado in frangranti com dois meninos de nove
e dez anos, respectivamente. Entregava-se com estes, a masturbação recíproca, o que
lhe proporcionava uma completa satisfação. Neste caso a puberdade havia se retardado
e quando perto dos dezessete anos teve consciência das necessidades sexuais, achou
que seus desejos não tinham outro objeto que os meninos de dois a dez anos de idade.
Sua perversão lhe provocava tormentos morais e, ao ouvir falar de um tratamento
consistente na castração, dirigiu-se ao relatar a fim de submeter-se a esta intervenção
cirúrgica. Na terceira semana, depois de operado, sua tendência pervertida começou a
declinar e s crianças já não lhe proporcionavam outro prazer que o estético. Finalmente
este último prazer desapareceu também e o jovem foi liberado da obsessão sexual.
Gerontofilia
Além das causas fisiológicas, esta perversão, segundo as teorias de Freud, tem uma
origem psicológica. Esta escolha atribui às crianças o amor sexual aos pais do sexo
oposto, fenômeno designado sob o nome de “Complexo de Édipo”. Quando o
desenvolvimento do sexo infantil não se dá normalmente o sujeito ao mesmo tempo em
que se afasta do objeto de seu desejo, pode reter uma preferência pelas pessoas de
mais idade. De modo que o jovem se sentiria atraído pelas mulheres que lhe
recordassem sua mãe. E a jovem atraída pelos homens mais velhos que lhe recordassem
seu pai.
Necrofilia
Tentou-se explicar de muitas maneiras esta triste atração sexual pelos cadáveres. A
escola freudiana vê na necrofilia lembranças da infância, do amor sentido pela mãe
adormecida e a fixação dos primeiros atribuem estas tendências patológicas a certa
negligencia sexual que introduz a buscar uma companheira dócil incapaz de oferece a
menor resistência.
Feiticismo
O que se coloca em lugar do objeto sexual é alguma parte do corpo (tal como o pé ou
cabelo) que é, em geral, muito imprópria para finalidades sexuais, ou algum objeto
inanimado que tenha atribuível com a pessoa que ele substitui e, de preferência, com a
sexualidade dessa pessoa, (por exemplo, uma peça do vestuário ou de roupa intima).
Tais substitutos são, com alguma justiça assemelhados aos fetiches e quem os
selvagens acreditam incorporados os seus deuses.
REFERÊNCIAS
3. Qual a importância das ralações defeituosas entre pais e filho para o desenvolvimento
do comportamento anormal?
15. Quais são os fatores mais importantes usados para explicar a dinâmica do sadismo
sexual?
16. Quais os quatro padrões que foram delineados para explicar o masoquismo?
Unidade
PROCESSO PSICANALÍTICO I 4
ÍNDICE
O PROCESSO PSICANALÍTICO
1 – O que é?
Podemos criar um conceito mais simples ainda, se dissermos que o Processo inclui todos
os procedimentos havidos entre Psicanalista e paciente, desde a escolha do primeiro até
a RTN (reação terapêutica negativa) que o paciente experimenta quando de fato seu
tratamento já está encerrado.
89
Segundo os didatas mais famosos, toda vez que não existir uma contra-indicação
específica e irrecusável, a Psicanálise é indicada.
Outras perguntas poderiam ser levantadas, contudo tentaremos responder estas que nos
parecem mais prementes.
Por outro lado, temos ainda duas outras questões a considerar nesta parte:
3 – O Par Analítico
Vale ainda considerar que essa figura não surge com imediatismo, sendo necessário um
tempo determinado de contato para se ter idéia de sua medida. Isto torna fundamentais
as entrevistas.
O ambiente deve oferecer ao paciente oportunidade de bem estar. Ele deve ter a
sensação de que aquele local é o mais agradável possível para os 50 (cinqüenta)
minutos a que tem direito.
2 – Anamnese
De posse dessas informações e outras que poderão ser obtidas com as respostas a
certas perguntas do chamado “Interrogatório forçado”, o psicanalista terá uma visão da
analisabilidade e das possibilidades de formação do par analítico, bem como das
condições econômicas que darão sustentação ao processo.
Na anamnese o Psicanalista não deve prometer nada, além de sua boa vontade para
com o caso, mas deixando claro que tudo vai depender do processo de entrevista. Não
podemos garantir cura, nem mesmo se poderemos continuar com o caso, se bem que
isto é mais teórico do que prático.
3 – Entrevista
4 – O Contrato Analítico
Vamos tomar um termo das relações civis para designar certo procedimento necessário
à prática psicanalítica.
“Vale a pena assinalar... que o contrato psicanalítico não só implica direitos e obrigações,
mas também riscos, os riscos inerentes a todo o empreendimento humano”.
USO DO DIVÃ
Qual a razão do Divã? Freud o concebeu para possibilitar o maior relaxamento possível
ao paciente enquanto fala. Ele tem por objetivo tirar o paciente da rotina de atividades
musculares, diminuir as tensões, afastar as responsabilidades com equilíbrio e outras
que consomem bastante energia. O divã é fundamental também porque permite ao
psicanalista posicionar-se em relação a ele de modo a ficar menos exposto, diminuindo
assim a carga transferencial e o constrangimento dos olhares insinuativos, que são
responsáveis pela contra-transferência, fenômeno que pode ameaçar todo o trabalho.
No contrato deve ficar claro que o divã é para o Psicanalista como a cadeira do equipo
de um dentista, e tantas outras. O divã oferece condições para que não haja compressão
das juntas e ainda, como já mencionamos, oferece uma melhor oportunidade para a
relaxação, tornando-se assim, indispensável ao exercício da Psicanálise.
O dinheiro da psicanálise tem uma função econômica por excelência. Pode parecer
absurdo esta afirmação, uma vez que dinheiro é sempre fator econômico. Só que o termo
econômico em psicanálise tem outro significado. É uma carga de valores que domina
uma relação. O dinheiro tem aqui importância diferente dos demais
95
Deve ficar claro que o paciente precisa do analista para resolver os seus problemas e
este tem um preço e uma competência que lhe coloca ao dispor. O Psicanalista deve ser
rígido na questão dos honorários, não atendendo de graça, sob nenhuma hipótese. E
por quê? Quem não pode pagar pela análise também não será beneficiado por ela. Sem
falar nos complexos que seriam plasmados, dentre eles o de inferioridade, o de devedor
eterno etc...
No contrato, o Psicanalista deve fixar o seu preço, o modo de pagamento, podendo ser
por sessão, semanal ou mensal, sendo este o preferido. Podemos também ter preços
diferenciados, de acordo com as condições do paciente e a quantidade de sessões
semanais. Entretanto, que nunca um paciente saiba o quanto os demais estão pagando.
Não devemos ter uma tabela de preços afixada.
Freud psicanalisava com 05 (cinco) sessões semanais, dando folga apenas nos fins de
semana e feriados.
O que fazer? O Psicanalista precisa, ao menos neste caso, forçar um pouco para que
o paciente entenda a necessidade de uma freqüência mais amiúde, pelo menos duas
vezes por semana, mesmo que isto sacrifique suas economias e obrigue a uma
mudança radical nas suas contas pessoais.
96
Vale a pena tomar cuidado com certas correntes modernas de psicanálise que pregam
a possibilidade de gasto de tempo menor. Os Lacanianos têm imaginado sessões de até
cinco (05) minutos, o que é um absurdo.
Embora haja psicoterapias rápidas, algumas até com fundamentação psicanalítica, vale
lembrar que psicanálise não se preocupa com o fator tempo. Não podemos submeter ao
tempo fatores ponderáveis e que dependerão de circunstâncias mil para virem à tona. O
próprio processo psicanalítico está sujeito a vais-e-vens que cada caso determina. Além
disso, existe o problema potencial da relação: Neurose – profundidade – conseqüência
– personalidade – caráter – psicanalista – questões do par analítico – intensidade da
transferência – complicação da contra-transferência – inteligência do paciente – idade –
RTN etc. Tudo isto acena para a impossibilidade de fixação de prazos. Contudo, a
experiência tem mostrado que, em média, um tratamento completo dura cerca de cinco
anos. Pode ir até dez anos. Em alguns casos é interminável.
Férias
O Psicanalista deve contratar também o seu período de descanso semanal, nos feriados
e anual. Estas férias devem atender também às necessidades de descanso financeiro
do paciente quando de um período de cessação de trabalho, que funciona bem para
realimentar as esperanças e fortalecer a transferência, quando for o caso.
Podemos optar por trinta dias corridos ou dois períodos de quinze dias. Entretanto, esses
períodos devem ser fixados de antemão. Muito raramente se admite alteração nessa
cláusula. O trabalho ininterrupto, sem a observância do período de descanso, é contra-
indicado por todos os motivos.
No contrato fixamos também que o nosso trabalho tem uma metodologia rígida, não por
uma questão de intransigência, mas de princípio, de doutrina. A regra áurea é Livre
Associação de Idéias. Psicanálise é isto. Fora dessa regra o que existe é método
catártico, apoio, papoterapia, condutoterapia, menos Psicanálise. Nosso objetivo, o da
Psicanálise, é tornar o inconsciente, o Id, consciente. Pretendemos e conseguimos trazer
todo material recalcado no Id para a superfície, para o consciente, para o ego. Uma vez
97
Naturalmente que o paciente não se envolverá tão facilmente assim. Leva algum tempo
para entender e conseguir falar o que vai passando pela mente. Durante bom tempo ele
vai tentar dialogar com o psicanalista, o que evitamos, com o silêncio absoluto.
Será necessária uma ligeira palestra do psicanalista ensinando o paciente o que é Livre
Associação. Pode ser recomendável que se dê alguma coisa a respeito para o paciente
ler. Podemos fazer certos exercícios que introduzam no método, etc... De qualquer
maneira, tratamento psicanalítico não é um papo em dias e horas e local marcados.
Embora este critério não seja exclusivo da psicanálise, tem para nós uma importância
capital. O paciente às vezes foge das sessões por motivos conscientes ou inconscientes.
De qualquer maneira tais motivos são resistência. Mesmo quando diz que não tinha
dinheiro, razão pelo que optamos pelo pagamento mensal, para evitar esta desculpa.
Deve ficar claro que a sessão agendada é dele e ele paga, quer compareça ou não. Isto
aumenta a responsabilidade do tratamento.
Devemos ser rígidos nesta cláusula, dado à fenomenologia presente e intensa. Não
devemos estender também o aumento inesperado de sessões semanais, fora do que se
contratou, a não ser por motivos bem claros e discutidos, pois pode tratar-se de
necessidade transferencial que não deve ser alimentada ou fortalecida. O processo deve
ter a necessária rigidez, porque tudo é tratamento.
Mudança de Horários
O Material Onírico
Psicanalista que se preza não pode fugir dos sonhos nem possuir deles idéias místicas,
fantásticas, sobrenatural, religiosa ou banal. O sonho é o melhor material que a mente
fornece. No sonho as informações são completas e livres de bloqueios. Vêm, contudo,
revestidas de simbolismos aparentemente intransponíveis.
Todo sonho é satisfação de uma necessidade. É claro que não estamos falando dos
sonhos proféticos, mas daqueles produzidos pelo inconsciente para romper a barreira
do superego, das censuras.
Regra de Abstinência
CUIDADO! É de Freud esta máxima: “Se quisermos que alguém nos abra o coração,
devemos começar por abrir o nosso”. Ela serve para tudo, menos para a prática
psicanalítica.
À primeira vista poderia parecer justo que o psicanalista permitisse, da parte do paciente,
a visão de seus próprios defeitos e de seus próprios anímicos, abrindo a sua vida íntima
aos olhos do analisado. Mas esse modo de proceder não acarreta nenhuma vantagem
ao tratamento, pelo contrário. Incapacita o paciente no sentido de vencer as suas
resistências profundas, provocando-lhe, cada vez mais e mais, uma curiosidade
insaciável, chegando mesmo a encontrar na análise do psicanalista encantos e atrativos
bem mais interessantes que a sua própria análise. Sem falar no fato de que o analista
informaria sobre sua contra-transferência, seus afetos pelo paciente.
Nessa linha de raciocínio, também o psicanalista não se interessa pelo paciente. Não
existimos para satisfazer o paciente. Não temos como satisfazer e não nos deve
interessar nem mesmo como é que o paciente o conseguirá.
5 – Postura do Psicanalista
O Psicanalista deve vestir-se bem, sem ostentação. Não deve usar roupas anacrônicas
nem modismo demasiado. Deve, contudo, ser uma pessoa agradável, quer pela
indumentária, quer pela higiene geral. Precisa ouvir sem manifestar susto com o
conteúdo comunicado. Não pode manifestar escrúpulo nem qualquer espécie de
julgamento.
Quando o paciente falar algum gracejo, devemos rir de leve. Se não o fizermos,
provocaremos o constrangimento inibitório. Não devemos rir às gargalhadas com o
99
paciente – o paciente é que está em análise, não nós. Não podemos dar ao paciente a
idéia de que a sessão nos interessa de modo pessoal, que nos sentimos bem com ela
etc.
1 – Definição
Como definição, podemos dizer que é o caudal de idéias que se relacionam entre si e
que são verbalizadas sem preocupação lógica ou estilo.
A livre Associação é parte fundamental do Processo Psicanalítico. Sem ela não existe
Psicanálise, porém monólogo ou diálogo. O Processo Psicanalítico não consiste em um
paciente falando o que consegue lembrar ou simplesmente ocupando os ouvidos do
analista. Na Livre Associação fala-se do que vem naturalmente à cabeça e não daquilo
que procuramos no material mnético.
Podemos afirmar que leva algum tempo para um paciente Associar Livremente. Quando
muito, começa falando desembaraçadamente, o que não é o mesmo.
Para a Livre Associação é fundamental o uso do Divã. Ali o paciente encontra uma
posição de conforto que favorece essa manifestação do inconsciente mais naturalmente.
Lembremos que todo material recalcado ao inconsciente está ali como que colado,
arraigado. Não é fácil desprendê-lo. Certas condições mínimas são necessárias. A mais
eficiente é aquela em que o indivíduo é convidado a falar em uma posição que
normalmente não utiliza para tal, e sim para dormir. Há uma predisposição mental ao
relaxamento próprio do sono e à capacidade de verbalizar.
É indiferente o tipo de material que se tenha, que o paciente apresente: pode ser a
história de analisado, as recordações infantis ou mesmo a história da enfermidade;
A Psicanálise visa sondar o inconsciente para trazer à tona da consciência as idéias que
aí se acham recalcadas e libertá-las através da compreensão. É verdade que tal
libertação é, de certa forma, um pouco de aplicação do método catártico. Contudo, quem
traz à tona tais idéias latentes é o paciente, não o analista. O Psicanalista não é
escafandrista, um mergulhador. No máximo atua dando corda à imaginação mnética.
100
O paciente não deve raciocinar sobre o que está dizendo; quando ocorre o raciocínio, o
que há de fato é uma seleção, como se o psicanalista pudesse definir o que é importante
e o que não é. Na base dessa seleção é encontrada a resistência. Uns dizem: “Lembrei
de algo, mas isso não é importante, não tem nada a ver”. É exatamente aí que temos
que trabalhar e fazê-lo entender a presença de uma resistência, de um bloqueio.
O paciente não deve se preocupar com o que está dizendo. Deve agir como que estando
a “pensar em voz alta”. Transmite todas as idéias que forem surgindo, mesmo que sejam
agressivas, pareçam vergonhosas, banais, conflitem com os seus costumes. Aliás uma
das coisas mais responsáveis pelo recalque é exatamente o “pensar de um modo e falar
de outro”. Isto é cometido pelos padrões culturais e pela hipocrisia das religiões etc.
Obs.: O conteúdo que incluímos sob este título foi extraído do livro de J. Ralph,
“Conhece-te pela Psicanálise”.
Vou ensinar ao aluno como se deve pescar. E não só como pescar, mas também, o lugar
bom para uma boa pescaria.
Mas não se trata de peixes, trata-se de pescar idéias. Não as alheias, mas as suas
próprias idéias.
É verdade que, sob certas condições, precisamos pescar as idéias dos outros; mas,
comumente não há necessidade disso. Há muitos indivíduos, com efeito, que com a
maior sofregidão, nos oferecem as suas, graciosamente, sob a forma de convicções e
de preconceitos. A média dos indivíduos recusa-se a admitir qualquer associação com
sua última atitude mental; e com que energia procuram demonstrar que suas idéias são
próprias, espontâneas e desinteressadas.
Não, o que pretendo agora é ensiná-lo a pescar as próprias idéias. Naturalmente, elas
lhe interessam muito. Mas vai uma grande distância entre interessar-se por uma coisa e
possuí-la e gozá-la integralmente.
De nada nos vale uma ótima coisa, que apreciamos muito e pela qual muito nos
interessamos, se não podemos utilizá-la justamente quando e como queremos.
101
E se não o podemos fazer, é porque a coisa não nos pertence de fato, e, se por acaso a
consideramos nossa, somos, positivamente, vítimas de uma ilusão.
Nesta pescaria, que empreenderemos juntos, vamos adotar um anzol mental. Será uma
pesca extremamente prática e de grande proveito para a sua personalidade.
Quero ensiná-lo a trazer à consciência (de modo que se possam confrontar) as idéias
responsáveis pelo seu temperamento: as boas e as más, as fortes e as fracas.
Poucas, entretanto, são as pessoas que têm a noção exata de suas próprias reservas
mentais, ou uma noção inteligente dos alicerces inconscientes sobre as soterradas
(idéias). E, quando afluem, escolhemos as que são utilizáveis, rejeitando as restantes
para as profundidades do espírito.
Há, ainda, uma outra maneira de pensar, a que devemos referir, de passagem: é o sonho
acordado, o devaneio. É um modo de pensar que não dá vantagens ao indivíduo na luta
pela vida. Com efeito, a atenção em vez de se dirigir, intencionalmente, a um objeto
mental definido, é atraída, nesse caso, pelas idéias – desejos. Representa um esforço
para alcançar uma via imaginária e que não se consegue na vida real. Sendo um meio
de se fugir às realidades da vida, constitui uma espécie de ópio mental, que devemos,
portanto, evitar a todo o custo.
O que o aluno vai conhecer agora é uma outra atitude mental, onde a atenção não é,
nem dirigida, nem atraída, mas assiste, como um espectador passivo, ao desfile das
idéias que, sob certas condições, aparecem no horizonte da consciência. Essa atitude é
conhecida, tecnicamente, sob o nome de Livre Associação de Idéias.
Sabemos que toda idéia que surge na consciência tem suas raízes nas profundidades
do espírito; e sabemos, também, que se pudéssemos seguir essas raízes, desde a
consciência até as suas origens no inconsciente, haveríamos de chegar à origem dessa
idéia, isto é, às lembranças soterradas das quais ele não é mais do que a expressão.
isca, apenas por uma associação puramente simpática, que entre elas possa existir.
Vamos obter, assim, uma Livre Associação de Idéias.
Para se obter uma boa associação de idéias é necessário afastar completamente esses
esforços intelectuais e assumir, perante a consciência, a atitude de simplesmente
espectador do que vai acontecer. Deve-se assistir à procissão de idéias sem interpor
nenhuma influência intelectual.
Essa atitude mental não é difícil de se obter. É antes uma questão de habilidade. E, uma
vez conseguida, basta um pouco de prática para repeti-la, sempre que se entender ser
útil e necessária.
Lembre-se sempre que nenhuma idéia penetra na consciência por ação do acaso.
Toda idéia que, mesmo que seja por um tempo mínimo, ocupa o centro da consciência,
aí não entrou por acaso. Ou foi empurrada pelas influências subjacentes, ou foi atraída
pelas condições de superfície.
Se, como no exemplo da idéia – isca, nos abstivermos de qualquer influência intelectual
sobre ela, vai se operar uma associação livre de idéias, constituída das lembranças que
são as suas próprias raízes; e deixando que essas associações se realizem livremente,
num fluxo ininterrupto e contínuo, a consciência há de reconhecer, por fim, a lembrança
exata que constitui a sua origem.
Resumindo:
O presente questionário sugerido por Gastão Pereira da Silva, poderá ser usado quando
das resistências, entretanto, é melhor não utilizá-lo do que empregá-lo mal. Cuidado!
A – Relação Edipiana:
F – Relações Amorosas:
1. Que é amor?
2. Qual é o tipo de pessoa preferida?
3. Seria você capaz de persistir em uma atitude amorosa sem ter satisfação sexual?
4. Gosta em geral das pessoas a quem julga superiores, iguais ou inferiores a você?
105
G – Situação de família:
1. Foi você criado pela sua mãe, por algum parente ou por estranhos?
2. Teve você companheiros na infância?
3. Quais eram os brinquedos escolhidos?
4. Em que colégio esteve? Quais as lembranças que traz desse tempo? Era interno
ou externo?
5. Que livros você lia quando era pequeno?
6. Que classe de divertimentos você preferia?
7. Qual é a pessoa que exerce maior autoridade sobre você em sua família?
8. Quais eram as suas idéias religiosas? Quais são agora?
H – Sobre a morte:
PROCESSO PSICANALÍTICO II 5
ÍNDICE
IV – Aliança Terapêutica
V – Transferência
VI – Contra-transferência
VII – Resistência
1 – Definição
2 – Tipos de Resistências
3 – Generalidades sobre Resistências
VIII – Os Mecanismos de Defesa – Tipos sublimados de Resistências
IX – Angústia de Separação
X – A Interpretação
XI – Etapas da Análise
XII – Vicissitudes do Processo Psicanalítico
XIII – Leitura da reflexão: Essência e regra de auto-análise sistemática (Karen Horney)
Anexo I
Anexo II
XIV – Leitura para reflexão: O papel do psicanalista no hospital psiquiátrico Anexo III
XV – Bibliografia
IV – ALIANÇA TERAPÊUTICA
Na primeira parte deste estudo abordamos o chamado Par analítico. Vimos na ocasião
que o par analítico constitui a combinação do melhor Psicanalista para determinado
paciente, e vice-versa.
Antes, porém, aparece este delicado assunto, a Aliança, por muitos confundida com
transferência. Mas não confundamos – a transferência ocupa uma parte definida do
universo psicanalítico. Nem tudo que ocorre na situação analítica é transferência. Temos,
contudo, que reconhecer que a linha divisória entre a Aliança Terapêutica e a
Transferência é muito tênue.
V – TRANSFERÊNCIA
A transferência precisa ser entendida como um falso enlace, que tem, em princípio, dois
objetivos, ambos inconscientes:
a. Satisfazer as necessidades propriamente inconscientes, confundindo a pessoa do
Psicanalista com as pessoas que faltaram ou faltam na vida do paciente;
b. Evitar a subida do mundo inconsciente ao consciente, funcionando desse modo como
resistência, como dissimulação, com o fim de direcionar as energias mentais para um
lado que embargue a manifestação do universo inconsciente.
108
Em qualquer caso, a transferência jamais poderá ser entendida como uma fraqueza de
caráter, como “safadeza” do paciente, mas como algo inevitável às pessoas mais sérias.
É sempre um problema da personalidade no que diz respeito às neuroses, carências,
etc. As pessoas que sufocam as manifestações transferenciais, o que conseguem é
plasmar mais uma carência, fortalecendo assim o patrimônio neurótico.
Não nos esqueçamos também que a transferência não é fenômeno exclusivo das
relações psicanalíticas, mas acha-se presente em todo trabalho relacional. E é pior nas
outras profissões e contatos, porque os envolvidos não têm o conhecimento científico do
que está ocorrendo, tomando, de acordo com o lado, como oportunidade de satisfação.
A confusão que segue será sem precedentes nessas vidas.
VI – CONTRA-TRANSFERÊNCIA
Quando falamos na Aliança Terapêutica que deve ser uma evolução da transferência, a
própria transferência racional, de certa forma postulamos o mesmo para a
contratransferência. Nesse caso, quando nos interpretamos, quando identificamos os
motivos dessa afetividade etc., transformamos esse sentimento intenso no
correspondente à Aliança Terapêutica, a que chamamos descendente. Essa Aliança
Terapêutica Descendente, que vem do Psicanalista, é igualmente um importante
instrumento do processo, porque liga o psicanalista ao paciente, sem interdependência
ao nível de sentimento.
VII – RESISTÊNCIA
1 – Definição
109
2 – Tipos de Resistências:
a. Resistência consciente – é a retenção intencional de informações por parte de um
paciente, causada pela vergonha, medo de rejeição, temor de perder a
consideração do analista. Aceita-se que, subentendidos na resistência
consciente, haja sempre motivos inconscientes;
b. Resistência inconsciente – aquela produzida pelo inconsciente de modo
defensivo, sem que o paciente perceba. Tão somente atua ou deixa de atuar. O
tipo mais conhecido é denominado atos falhos (falhados).
atuações que visam dar um tratamento sintomático aos complexos e aos deslizes,
quando a consciência se sente desequilibrada.
110
IX – ANGÚSTIA DA SEPARAÇÃO
X – A INTERPRETAÇÃO
Entendemos por interpretação o método de deduzir o que o paciente tem em sua alma
e lhe comunicarmos. A interpretação, é, portanto, a aplicação da racionalidade ao
material que nos é oferecido através da Livre Associação. É quando o psicanalista
entende e junta os fatos, montando o quebra-cabeça com o material mnético
apresentado.
Quando o paciente se antecipa na interpretação, o que temos nem sempre é insight, mas
a inveja do psicanalista e a tentativa de tomar o seu lugar.
XI – ETAPAS DA ANÁLISE
Quando dizemos que há etapas, o que queremos dizer é que na evolução do processo
psicanalítico, há momentos característicos, definidos, distintos de outros, momentos com
uma dinâmica especial que os distingue. Aliás, tudo nesta vida tem princípio, meio e fim.
• Primeira etapa – A abertura da análise. Vai da primeira sessão (anamnese) até mais
ou menos uns três meses quando estamos com contrato de duas a três sessões
semanais. Nesta fase temos os ajustes necessários, o início da transferência etc.;
• Segunda etapa – O mesmo que etapa média. É a menos típica e mais longa e
criativa. Começa quando o analisando compreendeu e aceitou as regras do jogo,
como Livre Associação, interpretação, ambiente permissivo etc... Prolonga-se por um
tempo variável até que a enfermidade originária (ou sua réplica, a neurose de
transferência) haja desaparecido ou tenha-se modificado substancialmente;
112
• Terceira etapa – O término da análise. Não se prolonga por muito tempo. Deve durar,
contudo, o suficiente para que a Reação Terapêutica Negativa (RTN) seja vencida,
para que a angústia da separação definitiva seja igualmente interpretada e assumida.
Como vemos, a análise, que vem de resolver problemas, no fim, por causa do intenso e
duradouro relacionamento, acaba tornando-se um problema. Entretanto, o tal não será
enfermidade e tem caráter gratificante.
Toda ciência, bem como todo relacionamento, apresenta suas dificuldades naturais.
• Insight – Tanto a sua ausência, nos “desinteligentes” (burros), quanto a sua fartura,
podem atrapalhar. Além do mais, em termos de interpretação, quantas vezes o
paciente vê uma coisa e o psicanalista vê outra.
• Actinh-out – Problema difícil de explicar. Poder-se-ia dizer que se trata de uma ação
fora da situação analítica ou que tem por objetivo afastar o paciente ou o Psicanalista
de seu suporte. Mas para simplificar, é quando o paciente faz uma coisa em vez da
outra.
CONCLUSÃO
Todo esse nosso trabalho não visa esgotar nem reunir toda problemática que nos
envolve, mas alinhar as situações mais comuns.
113
Cresçamos em Freud.
Visto como já examinamos o trabalho psicanalítico sob diversos pontos de vista, e vimos,
através de um exemplo extenso, o processo geral por que uma pessoa se psicanalisa a
si mesma, dificilmente será necessário – e parecerá mesmo redundante – discutir
sistematicamente a técnica da auto-análise. Os comentários a seguir, portanto, apenas
ressaltarão, certas considerações, muitas das quais já mencionadas a outros respeitos,
que merecem atenção especial quanto se atua sobre o próprio eu.
que pode esperar é uma certa aproximação do ideal das associações livres. Em vista
destas dificuldades, a pessoa que trabalha só deve lembrar-se, de tempos em tempos,
que estará agindo contra seus verdadeiros interesses se deixar de lado ou eliminar
qualquer idéia ou sentimento que venha à tona. Deve lembrar-se, igualmente, de que a
responsabilidade é exclusivamente sua: não há ninguém senão ela para adivinhar um
elo que esteja faltando ou para investigar acerca de um vácuo deixado em suspenso.
um sentimento. Pois, em questão psicológica, também, não se pode enforcar quem ainda
não foi capturado.
Tão improdutivo quanto essas tentativas de forçar uma solução é o procedimento de uma
pessoa que, mesmo quando deixa a mente trabalhar em liberdade, procura descobrir o
significado de suas associações, ligando-as umas às outras. Seja o que for que o leva a
fazer isso, quer se trate de impaciência, de uma necessidade de ser inteligente ou de um
receio de dar saída a idéias e sentimentos incontroláveis, esta intromissão do raciocínio
propende a perturbar a situação de repouso necessária à livre associação. É verdade
que o significado de uma associação pode surgir espontaneamente. A série de
associações de Clara, que terminou com a letra do cântico religioso, é um bom exemplo
disto: as associações dela mostraram um grau crescente de lucidez, apesar de não ter
sido feito nenhum esforço consciente para entendê-las. Por outras palavras, os dois
processos – auto-expressão e compreensão – as vezes podem coincidir. Sem embargo,
no que toca a esforços conscientes, eles devem ser conservados rigorosamente
separados.
do que eles mesmos. Quiçá a pessoa chegue a um ponto onde se sinta curiosa de saber
o que é que tudo aquilo significa; toque, de repente, em uma corda emocional que
prometa lançar luz sobre algo que a incomoda; fique, simplesmente, sem idéias, o que
pode ser um sinal de resistência, mas também pode indicar que esgotou o assunto, por
enquanto; ou pode apenas dispor de tempo limitado e queira ainda tentar interpretar suas
anotações.
Quanto à compreensão das associações, é tão infinita a gama dos temas e combinações
de temas que pode apresentar-se, que não é possível fixar quaisquer regras a respeito
do significado dos elementos individuais dos contextos individuais. Certos princípios
fundamentais são estudados no que tange à participação do analista no processo
analítico; entretanto, forçosamente muito é deixado a cargo da habilidade, presença de
espírito e capacidade de concentração de cada um. Por isso, limitar-me-ei a ampliar o
que já foi dito, acrescentando algumas observações sobre o intuito que deve presidir à
interpretação.
Quando uma pessoa pára de associar e começa a examinar suas anotações, com o fim
de compreendê-las, seu método de trabalho deve mudar: em lugar de ficar inteiramente
passiva e receptiva ante tudo o que acontecer, tornar-se ativa. Agora, o raciocínio dela
entra em ação. Prefiro exprimir isso, entretanto, de forma negativa: ela não mais exclui
o raciocínio, pois mesmo agora ela não o emprega com exclusividade. É difícil descrever
exatamente a atitude que deve ser adotada ao procurar apreender o significado de uma
série de associações. Por certo, o processo não deve degenerar em um mero exercício
intelectual. Se quiser isso, será melhor jogar xadrez, prever a evolução da política
mundial, ou dedicar-se a palavras cruzadas. Um esforço para conceber interpretações
perfeitamente escorreitas, sem perder nenhuma conotação possível, talvez gratifique-
lhe a vaidade, demonstrando a superioridade de sua inteligência, mas dificilmente a
levará mais próximo de uma verdadeira compreensão de si mesma. Um esforço assim
chega mesmo a oferecer algum perigo, pois pode impedir o progresso ao produzir uma
confortável impressão de “eu-sei-tudo”, enquanto, de fato, ela apenas catalogou dados
isolados sem ter sido tocada por coisa alguma.
O outro extremo, um “insight” meramente emocional, é bem mais valioso. Se não for
posteriormente aperfeiçoado, tampouco é o ideal a atingir, porquanto deixa fugir muitas
pistas significativas, malgrado não estejam ainda nítidas de todo. Mas, consoante vimos
na análise de Clara, um “insight” deste gênero pode pôr alguma coisa em marcha. No
início do trabalho, ela teve uma sensação intensa de estar extraviada, decorrente do
sonho com a cidade estrangeira; foi mencionado, então, que embora seja impossível
verificar se essa experiência emocional teve qualquer repercussão ulterior na análise, a
inquietação resultante pode ter afrouxado o tabu rígido que ela possuía face aos vínculos
complexos que a prendiam a Peter. Outro caso ocorreu perante a batalha final de Clara
contra sua dependência, quando sentiu franca resistência a governar a própria vida; ela,
então, não tinha a menor noção intelectual do significado deste “insight” emocional, e,
no entanto, ajudou-a a sair de um estado de impotência letárgica.
Em vez de desejar produzir uma obra-prima científica, a pessoa que está trabalhando
sozinha deve deixar sua interpretação ser dirigida por seu interesse. Deve simplesmente
ir empós daquilo que lhe atrai a atenção, que lhe desperta a curiosidade, que toca uma
corda emocional em seu íntimo. Se for suficientemente flexível para deixar-se guiar por
seu interesse espontâneo, pode ficar razoavelmente certa de que intuitivamente
116
Presumo que este conselho suscitará algumas dúvidas. Não estarei advogando uma
excessiva tolerância? Será que o interesse do indivíduo não o levará a escolher assuntos
com os quis está familiarizado? Não significará isto ceder ante as resistências? Isto será
estudado. Como lidar com as resistências, basta dizer, aqui, que é verdade que deixar-
se levar pelos próprios interesses, significa adotar o caminho de menor resistência. Mas,
a menor resistência não quer dizer a mesma coisa que nenhuma resistência. O princípio
significa, essencialmente, a busca dos assuntos que, no momento, são os menos
reprimidos. E é este, exatamente, o princípio que o analista aplica quando apresenta
suas interpretações. Ele, como já foi salientado, escolhe para interpretar os fatores que,
segundo crê, o paciente pode apreender perfeitamente na ocasião, e renuncia a
aventurar-se por problemas que ainda estão muito reprimidos.
Uma pessoa pode achar, naturalmente, que em uma série de associações nada lhe
desperta o interesse em particular; ela apenas vê uma ou outra possibilidade, mas nada
de esclarecedor. Ou, no extremo oposto, pode achar que mesmo que se detenha em
uma conexão, certos outros elementos também a impressionam. Em ambos os casos,
será bom que anote à margem as questões deixadas em suspenso. Talvez no futuro, ao
recapitular suas anotações, as possibilidades meramente teóricas tenham algum
significado para ela, ou as perguntas guardadas possam ser agora examinadas em maior
detalhe.
Há, ainda, um último escolho a ser citado: nunca aceite mais do que você pode acreditar
deveras. Este perigo é maior na análise regular, especialmente se o paciente é daqueles
que tendem a concordar com afirmações peremptórias. Mas também pode desempenhar
um papel quando a pessoa confia em seus próprios recursos. Ela pode sentir obrigada,
por exemplo, a aceitar o que quer que de “mau” surja a seu respeito, e a desconfiar de
uma “resistência” caso hesite em fazê-lo. Ficará mais garantida, porém, se encarar sua
interpretação como simples tentativa, sem procurar convencer-se de que é definitiva. A
essência da análise é a verdade, e isto deve aplicar-se igualmente à aceitação ou não
das interpretações.
A auto-análise de Clara ilustra muito bem as três etapas da análise: identificação de uma
tendência neurótica, compreensão de suas implicações, e descobrimento de suas inter-
relações com outras tendências neuróticas. Na análise de Clara, como sói ocorrer muitas
vezes, as etapas recobriram-se até certo ponto: ela identificou muitas das implicações,
antes de finalmente localizar a própria tendência. Tampouco fez qualquer esforço para
executar qualquer etapa definida em sua análise: ela não se dispôs deliberadamente a
descobrir uma tendência neurótica, nem examinou deliberadamente as ligações entre
sua dependência e sua modéstia compulsiva. A identificação da tendência veio por si
mesma; e, analogamente, os elos de conexão entre as duas tendências tornaram-se
cada vez mais visíveis, quase que automaticamente, à proporção que o trabalho analítico
foi progredindo. Por outras palavras, Clara não escolheu os problemas – pelo menos
conscientemente – mas os problemas vieram a ela, e ao se exibirem revelaram uma
continuidade orgânica.
Houve, na análise de Clara, uma continuidade de outra espécie, ainda mais importante,
e mais possível de ser emulada; em nenhum momento houve qualquer “insight” que
ficasse isolado ou desligado. O que vimos desenvolver-se, não foi um acúmulo de
“insights”, mas sim uma configuração estrutural. Mesmo que cada “insight” de per si, que
o indivíduo obtenha esteja certo, ele ainda pode privar-se dos maiores benefícios do
trabalho se os “insights”permanecerem dispersos.
Assim, não é absolutamente uma questão puramente de interesse teórico uma pessoa
descobrir como um traço de personalidade está implantado em sua estrutura, com
múltiplas raízes e efeitos; também é da máxima importância terapêutica. Este requisito
pode ser expresso em termos familiares de dinâmica: é preciso conhecer-se a dinâmica
de uma tendência antes de poder mudá-la. Mas, esta palavra é como uma moeda que
com o uso vai ficando fina e um tanto gasta. Além do mais, sugere comumente a idéia
de forças impulsoras, e pode ser interpretada aqui como significando que se deve apenas
procurar essas forças, quer nos primeiros anos da infância quer no presente. Neste caso,
a noção de dinâmica seria enganosa, porquanto a influência que uma tendência exerce
119
Se é assim essencial, no trabalho analítico, não perder-se em detalhes dispersos, como se pode
conseguir a desejada continuidade? Teoricamente, a resposta está implícita nos parágrafos
precedentes. Se uma pessoa fez uma observação pertinente ou conseguiu um “insight”, deve
examinar como a peculiaridade desvendada manifesta-se em várias áreas, quais as suas
conseqüências e quais os fatores de sua personalidade por ela responsáveis. Isto, porém, pode
ser encarado como uma afirmação assaz imaginária. Deve-se ter em mente, entretanto, que
qualquer exemplo sumário necessariamente dá a impressão de uma clareza e simplicidade que
na realidade não existem. Ademais, um exemplo desses, destinado a mostrar a variedade de
fatores a serem identificados, não pode indicar as experiências emocionais que a pessoa tem ao
analisar-se e, por conseguinte, só dá uma imagem unilateral e supraracionalizada.
Tendo em mente estas restrições, suponhamos uma pessoa que observou que, em dadas
situações em que gostaria de participar de discussões, fica com a língua presa porque receia as
possíveis críticas. Se ela permitir esta observação arraigar-se em si, começará a matutar acerca
do receio em questão, visto como não é proporcional a qualquer risco real. Pensará porque o
medo é tão grande que lhe impede não só de exprimir suas idéias, mas também de pensar
claramente. Perguntar-se-á se o medo é maior do que sua ambição, e se é maior do que
quaisquer considerações de ordem prática, que, pelo bem de sua carreira, tornem conveniente
causar uma boa impressão.
Tendo obtido assim um interesse pelo problema, procurará verificar se dificuldades semelhantes
fazem-se sentir em outros setores de sua vida e, em caso afirmativo, de que forma se revestem.
Examinará suas relações com mulheres: será que ele é tímido demais para aproximar-se delas
receando que encontrem defeitos nele? E que dizer de sua vida sexual? Esteve impotente
durante algum tempo por não poder esquecer-se de um insucesso? Reluta em ir a Festas? Como
é que age quanto a compras? Dá gorjetas exageradas porque teme que, de outra forma, o
vendedor o considere sovina? Ainda mais, quão vulnerável é ele exatamente com relação a
críticas? O que basta para deixá-lo embaraçado ou para fazê-lo sentir-se melindrado? Ele fica
magoado quando sua esposa critica abertamente sua gravata ou fica incomodado quando ela
apenas elogia João por combinar sempre a gravata com as meias?
120
Finalmente, procura os fatores responsáveis pela dificuldade. O que o deixou tão receoso
de críticas? Pode recordar-se de que seus pais fizeram-no apegar-se a padrões muitos
severos, e pode lembrar-se de uma série de incidentes em que foi repreendido ou em
que o fizeram sentir-se deslocado. Mas também terá de pensar em todos os pontos
fracos de sua verdadeira personalidade que, em sua totalidade, tornam-no dependente
dos outros e, por isso, fazem-no considerar a opinião que fazem dele como da máxima
importância. Se puder encontrar respostas para todas essas perguntas, seu
reconhecimento de que teme as críticas não mais será um “insight” isolado, mas verá a
relação deste traço com toda a estrutura de sua personalidade.
Pode bem ser perguntado se com este exemplo eu quero dizer que uma pessoa que haja
descoberto um novo fator deve deliberadamente esquadrinhar suas experiências e seus
sentimentos das várias maneiras indicadas. Por certo que não, pois um procedimento
desses envolveria o mesmo perigo de um domínio meramente intelectual, que já foi
discutido. Pelo contrário, ela deve assegurar-se um período de contemplação. Deve
meditar sobre sua descoberta mais ou menos da forma que um arqueólogo que
descobriu uma estátua enterrada, muito mutilada, olha seu tesouro de todos os ângulos
até que as formas originais revelem-se à sua mente. Qualquer fator novo que a pessoa
identifique é como a luz de um projetor voltada para certos domínios de sua vida,
iluminando pontos que até então haviam permanecidos no escuro. Ela quase não é
obrigada a vê-los, se ao menos estiver verdadeiramente interessada em conhecer-se.
Estes são pontos em que a orientação de um especialista seria particularmente útil.
Nessas ocasiões, um analista ajudaria efetivamente o paciente a ver o significado da
descoberta, fazendo uma ou outra pergunta sugerida por ele e ligando-a a descobertas
anteriores. Quando não se dispõe de um auxílio exterior desses, a melhor coisa a fazer
é abster-se de prosseguir correndo na análise, recordando que um novo “insight”
significa a conquista de território novo, e procurando beneficiar-se dessa conquista
consolidando a vantagem obtida. Podemos estar bem certos de que a razão pela qual
as pessoas interessadas não atinaram com essas perguntas, foi somente por ter o seu
interesse acabado com o afastamento de suas dificuldades imediatas.
Se perguntássemos a Clara como foi que conseguiu tão notável continuidade em sua
análise, provavelmente ela daria a mesma resposta dada por uma boa cozinheira quando
lhe é pedida uma receita: a resposta, em suma, é que segue seu “instinto”. No caso da
análise, contudo, essa resposta não é tão satisfatória como no de uma omelete. Ninguém
pode tomar por empréstimo os “instintos” de Clara, mas todos possuem seus “instintos”
próprios pelos quais se podem guiar. E isso traz-nos de volta a algo que foi discutido
acima, ao tratarmos da interpretação de associações; é útil ter uma noção daquilo que
se está procurando, mas a procura deve ser dirigida pela iniciativa e pelo interesse da
própria pessoa. Deve-se aceitar o fato de que se é um ser humano, movido por
necessidade.
121
ANEXO I
1 – O que é?
Trata-se do processo didático eleito pela nossa Instituição para substituir com eficácia o
velho sistema de Análise Didática empregado desde os primórdios da Psicanálise.
A instituição entende que a Análise Didática nos velhos moldes, tanto acrescenta e
resolve os problemas pessoais do futuro Psicanalista, como pode ser usada como meio
de manipulação e exploração do futuro Psicanalista por Profissionais Didatas e/ou
instituições (Sociedades Psicanalíticas) que buscam mais a obtenção de meios do que
propriamente a formação e a ciência.
2 – Precedentes do Processo
Este processo vem sendo utilizado no Brasil através da ABPC (Academia Brasileira de
Psicanálise Clínica) especialmente com os alunos de outras cidades, isto é, fora de sua
sede, com resultados exuberantes.
Processo semelhante foi empregado com sucesso pela Escola Superior de Psicanálise
de São Paulo, que orientava imediato trabalho de estágio, com credenciamento precário
de todos os Psicanalistas em Formação.
Podemos acrescentar também que a Universidade Gama Filho, do Rio de Janeiro, vem
empregando tal processo (ligeiramente adaptado) nos Cursos de Mestrado e
Especialização nas áreas de Psicanálise, com ótimo aproveitamento.
Precisamos levar em conta também que o advento das universidades à distância vem
impondo novas formas de amadurecimento profissional diferentes das tradicionais, e que
isto é marca de desenvolvimento e de novos tempos. Não é possível que só na
Psicanálise tenhamos que manter um processo rígido e eterno, imutável, quando tudo o
mais sofre aperfeiçoamento.
122
3 – A eficácia
Neste terreno, vale pensar ainda no fato do aluno em estágio estar muito atento às
ligações com sua própria história. É oportunidade para ab-reação provocada de seus
próprios recalques, uma vez que o material externalizado pelos pacientes, passa a
funcionar como isca dentro do Psicanalista em Formação.
4 – O paciente-piloto
Deve ser objeto de escolha e convite por parte do Psicanalista em Formação dentre
pessoas do seu universo de atividade e relacionamento.
Devem ser convidados 3 (três) a 6 (seis) pacientes, deixando-lhes claro que vão
funcionar como “doentes”, embora não o sejam, para fins de um projeto terapêutico que
você está desenvolvendo.
Os pacientes-piloto devem ser pessoas de boa formação intelectual e que não ofereçam
dificuldades a priori. Devem ser evitadas pessoas pelas quais o Psicanalista tenha certa
predisposição, tanto positiva quanto negativa.
Por outro lado aconselhamos que o Psicanalista em Formação procure acolher também
pacientes que tenham conhecidos problemas, mas, nesse caso, não digam que foram
por isso convidados. Sugerimos também que sejam recebidos pacientes psicóticos para
observação diferencial (neste caso o convite é feito a família, com o intuito de ajudar
etc.), podendo todos os escolhidos serem neuróticos e psicóticos.
Você deve explicar também que mesmo durante a anamnese o paciente não está
obrigado a responder, podendo simplesmente deixar de comunicar. Ele não será
obrigado a dar respostas que lhe causem constrangimento, pois o objetivo não está no
paciente, mas no Psicanalista.
Uma vez posto todo o processo perante o paciente, o trabalho é iniciado pela anamnese.
Aqui estamos admitindo que o Psicanalista em Formação monte o seu trabalho didático
de estágio sob a fórmula de Atendimento Comunitário, gratuito ou não. Neste caso, o
convite é feito a pessoas com patologias conhecidas, não deixando de informar que o
seu trabalho é ao nível de estágio e que está autorizado a clinicar temporariamente.
Neste caso não deve ser dito ao paciente que o objetivo é tirar lições também.
Entretanto, deve ficar claro ao paciente, caso seja gratuito. O processo terá fim com o
encerramento do estágio. A partir dali o Psicanalista estará impedido de atuar
gratuitamente.
7 – O “modus faciendi”
a. O paciente será tratado de modo formal;
b. Deverá ser usado o Divã ou substituto, com freqüência;
c. O paciente será conhecido por um pseudônimo, de domínio apenas do paciente
e do Psicanalista;
d. As fichas de controle didático e de fatos do paciente serão preenchidas pelo
pseudônimo;
e. Será dispensado o pseudônimo no caso do previsto no item 6 (seis) deste anexo;
f. Seja dada aos pacientes a garantia de inviolabilidade total;
g. O Psicanalista em Formação fica impedido de fazer qualquer espécie de
referência em público ou não sobre casos clínicos dos seus pacientes, quando
esses estiverem presentes;
h. O Psicanalista em Formação se portará como Psicanalista e não como médico,
pedagogo, psicótico, pastor etc., tão somente interpretando ou dando apoio, em
caso de Psicóticos;
i. Toda vez que tiver às mãos pacientes surtados ou com psicoses instaladas, com
quadro de irrealidade clara, deve encaminhá-los a um Psiquiatra, solicitando-lhe
posição sobre a validade de um acompanhamento psicanalítico e os limites do
mesmo;
j. O Psicanalista em Formação deverá redobrar os cuidados quando da
interpretação, procurando exaurir todas as variantes antes de externá-la.
8 – O controle
9 – O tempo
Obs.: Toda vez que um paciente parar ou abandonar o tratamento, a ficha será
completada e remetida para o Conselho Acadêmico.
10 – O Credenciamento
11 – Os riscos
12 – O órgão de acompanhamento
O Conselho Acadêmico, sob a presidência do Pr. Davi Oliveira Boa Sorte D.D. e
constituído de todos os Psicanalistas didatas e professores desta Sociedade, reunir-
se-á mensalmente para acompanhar e responder às solicitações dos Psicanalistas
em Formação. Entretanto, a Diretoria do Conselho responderá no imediatismo.
No caso das neuroses graves, os pacientes não apresentam a ampla perda das
funções mentais característica do paciente que sofre de uma psicose. Eles mantêm
a capacidade de se comunicar através da fala e, assim, podem adaptar-se facilmente
ao ambiente hospitalar, sabendo-se doentes. Acham-se perturbados,
primordialmente, em seu relacionamento com os outros. Entretanto, a natureza
desse distúrbio é quase qualitativamente distinta daquela do paciente psicótico. O
127
paciente neurótico não se afasta dos outros, nem usa como substituto uma realidade
falsa constituída por objetos de delírio, como faz o paciente psicótico. Ele se apega
ainda mais às pessoas que o cercam, mas este apegamento é de um tipo muito
especial. Ele não pode existir sem seus objetos (empregando um termo psicanalítico)
e lhes faz grandes exigências. É aqui que se pode notar indicações de atitudes
mentais que, embora novas na vida adulta, caracterizaram outrora o comportamento
da primeira infância posterior. É esta perturbação das relações interpessoais que
frequentemente conduz à hospitalização, uma vez que os que cercam o paciente
são incapazes de fornecer-lhe a segurança e a satisfação pelas quais está se
esforçando.
A fim de lidar com esses problemas, teve que ser estabelecido um estreito contato
entre o psicanalista e a equipe de enfermagem. O intercâmbio de informações que
128
Poucos anos mais tarde, esforços sérios de tratar pacientes esquizofrênicos por meio
da psicanálise foram colocados em prática na Menninger Clinic, em Chericolt Lodge,
e em um ou dois hospitais psiquiátricos norte-americanos. Desde então, criou-se
uma literatura ampla, que fornece detalhes acerca dos meios pelos quais os
pacientes podem ser psicanaliticamente abordados. Foi dada atenção às
modificações da técnica de tratamento e dispensou-se consideração especial aos
modos pelos quais os pacientes devem ser manejados no decurso do tratamento.
e direto que nos Estados Unidos. Antes de 1939, a psicanálise não desempenhava
papel algum nos hospitais psiquiátricos britânicos. Talvez houvesse umas poucas
exceções nos casos em que as teorias psicanalíticas eram discutidas e se faziam
algumas tentativas de experimentar o método psicanalítico. A tradição do tratamento
psicanalítico de pacientes individuais no hospital psiquiátrico não surgiu da mesma
maneira que nos Estados Unidos. Após 1945, o impacto da psicanálise apresentava-
se menos concentrado que no hospital psiquiátrico americano e, sendo mais difuso,
sua influência deveria fazer-se sentir mais na esfera da clínica do hospital
psiquiátrico do que no caso individual.
Foi Jones (1952) quem reconheceu, com base na compreensão psicanalítica, que
os vínculos transferenciais que os pacientes têm com a comunidade hospitalar em
geral podiam ser explorados para fins terapêuticos. Achou ele que os conflitos
subjacentes aos sintomas e as dificuldades comportamentais poderiam vir a se
manifestar através do veículo de comunicação de seus pensamentos, sentimentos e
fantasias acerca de suas experiências enquanto se achavam no hospital. As
discussões, tanto em grupos pequenos como em grandes, permitiria a expressão
dessas reações e, ao mesmo tempo, daria à equipe médica e de enfermagem a
oportunidade de oferecer ao paciente uma avaliação baseada na realidade dessas
reações.
Deste modo, Jones esperava realizar uma análise do conflito do paciente, não na
terapia individual, mas no grupo. Acreditava que, através desse processo, o paciente
viria a se identificar mais facilmente com os valores do grupo e do hospital, o que o
fortaleceria e suplementaria o efeito benéfico resultante da análise de um ou mais
conflitos conscientes, pré-conscientes e inconscientes.
Até este ponto, apresentou-se um breve esboço das maneiras pelas quais a
psicanálise contribuiu para a psiquiatria hospitalar na Grã-Bretanha e nos Estados
130
Este caso foi mencionado porque ilustra duas características dos pacientes
psicóticos seriamente perturbados. Primeiro, mostra como a capacidade do paciente
de conhecer a realidade do meio ambiente através das funções de seu ego
(percepção, fala, pensamento, memória) acha-se submersa sob uma realidade
psicótica, a qual, incluindo suas fantasias irracionais, altera-lhe de tal modo o
julgamento que pessoas reais como enfermeiros e médicos vêm a ser confundidas
131
como figuras de seus delírios. Isto leva o paciente a opor-se aos enfermeiros e aos
médicos, e resulta em agir ele de maneira autoprejudicial. Neste caso, os próprios
meios empregados para ajudar o paciente atuam como fonte de agravamento da
doença.
A segunda característica ilustrada por este exemplo é que o paciente não perdeu
inteiramente a capacidade de se relacionar com figuras reais. Esta capacidade,
porém, é limitada e fraca em sua expressão. Ninguém pode dizer, a princípio, com
quem o paciente será capaz de estabelecer um vínculo. Neste caso, foi com a
terapeuta ocupacional. O vínculo era fraco e foi fácil e irrecuperavelmente rompido
pelo desapontamento. O fato de que vínculos emocionais possam ocorrer nas
doenças psicóticas significa que a influência terapêutica é possível. A tarefa do
psicanalista, portanto, é descobrir se tal capacidade existe e para onde é dirigida.
Isto só pode ser feito por sua comunicação direta com a equipe de enfermeiros e
auxiliares.
É inevitável que alguns pacientes, para sua própria segurança, tenham de ser
confinados, e, então, a realidade psicótica amiúde resulta numa piora do seu estado,
levando-os a crer que se acham cercados por perseguidores. O confinamento com
pacientes do mesmo sexo pode ter resultados adversos, por outra razão. Se um
paciente se encontra preocupado com problemas de identidade sexual, e, em
conseqüência da doença, experimenta a sensação de que seu corpo é parcial ou
inteiramente feminino, pode acreditar que está atraindo ou será sexualmente atraído
pelos outros pacientes. Com muita freqüência, o comportamento incooperante,
agressivo ou aterrorizado de pacientes pode ser remontado a estas causas: a
intrusão da realidade psicótica ou o surgimento de tendências homossexuais na
consciência. Os psicanalistas, compreendendo que ambos os tipos de experiências
podem surgir na psicose, acham-se alertas quanto à sua ocorrência. Quando fazem
sua aparição, medidas apropriadas devem ser tomadas, a fim de aliviar os temores
do paciente, transferindo-o para uma situação em que sua liberdade não seja
restringida.
presente caso, a paciente achava-se envolvida demais com suas idéias, não havia
um ego razoável a quem apelar e seus controles eram deficientes. O conhecimento
de fora a perda da mãe que a levara ao movimento para trás (à regressão) da vida
mental e ao surgimento de atitudes instintivas infantis fez com que o tratamento fosse
temporariamente abandonado e que os cuidados com a paciente fossem
continuados pela encarregada da enfermaria, sob a supervisão do analista. Nestas
circunstâncias, a enfermeira, “in loco”, pode ajudar a paciente a recuperar o controle.
A continuação do tratamento com o analista teria apenas exaltado a sexualidade e
as ansiedades que esta originara.
Sob circunstâncias ideais, seria necessário, nos hospitais psiquiátricos, decidir quem
é a pessoa mais indicada para ter contato com o paciente, se deve ser homem ou
mulher, moço ou velho. A melhora ou a deterioração do estado mental amiúde se
deve aos fatores que foram descritos. O psicanalista se encontra em posição de
cuidar que o manejo do paciente seja de tal ordem, que não vá de encontro ao efeito
benéfico do tratamento por drogas ou psicoterapia.
O psicanalista tem como tarefa revelar o potencial terapêutico que existe em todos
aqueles que têm contato com o paciente. A teoria psicanalítica fornece os conceitos
que ajudam a descrever os processos que atuam nestas relações interpessoais e,
com seu auxílio, o que era latente passa a ser manifesto e comunicável. Caso se
pretenda que tal abordagem obtenha sucesso, entre os membros da equipe de
médicos e enfermeiros os canais de comunicação devem estar abertos. A forma que
tomarão, isto é, se deve haver reuniões estabelecidas ou discussões informais é
secundária quanto à criação de um meio pelo qual todos possam relatar suas
experiências com os pacientes. Deste modo, o amplo conhecimento que enfermeiros
e terapeutas ocupacionais acumularam através dos anos pode tornar-se
aproveitável. Tais informações revelam quão numerosas são as influências que
133
atuam sobre um paciente durante sua estada no hospital e impedem que o psiquiatra
ou psicanalista acredite ter sido uma pílula especial ou uma interpretação específica
que conduziu a uma mudança nos sintomas do paciente.
Uma tarefa mais difícil é transmitir esse conhecimento à equipe de enfermagem, mas
tal pode ser feito se tomar-se em consideração as resistências dos enfermeiros e se
elas forem manejadas com bastante tato e paciência. Somente quando enfermeiro e
atendentes vêm a reconhecer que os sintomas e o comportamento são, em larga
escala, o resultado da regressão, é que estão aptos a adotar uma atitude mais
objetiva e menos emocional com relação a seus pacientes.
É pena que tantos psiquiatras sejam perturbados por temores irracionais com
respeito à psicanálise, com resultantes suspeita e preconceito. Isto causou, e
continuará a causar, conseqüências desafortunadas para a psiquiatria e para a
psicanálise. Os psiquiatras que trabalharam com psicanalistas sabem que esses
temores são infundados. Talvez o futuro conduza a uma cooperação maior, de modo
que a psicanálise possa, como um sócio com iguais direitos, participar dos cuidados
e do tratamento do doente mental.
135
LEITURAS RECOMENDADAS
ANEXO II
I – Das Sessões:
1 - / / hora
2 - / / hora
3 - / / hora
4 - / / hora
5 - / / hora
6 - / / hora
7 - / / hora
8 - / / hora
9 - / / hora
10 - / / hora
11 - / / hora
12 - / / hora
13 - / / hora
14 - / / hora
15 - / / hora
16 - / / hora
17 - / / hora
18 - / / hora
19 - / / hora
20 - / / hora
21 - / / hora
22 - / / hora
23 - / / hora
24 - / / hora
25 - / / hora
26 - / / hora
27 - / / hora
28 - / / hora
29 - / / hora
30 - / / hora
31 - / / hora
32 - / / hora
33 - / / hora
136
34 - / / hora
35 - / / hora
36 - / / hora
37 - / / hora
38 - / / hora
39 - / / hora
40 - / / hora
41 - / / hora
42 - / / hora
43 - / / hora
44 - / / hora
45 - / / hora
46 - / / hora
47 - / / hora
48 - / / hora
49 - / / hora
50 - / / hora
51 - / / hora
52 - / / hora
53 - / / hora
54 - / / hora
55 - / / hora
56 - / / hora
57 - / / hora
58 - / / hora
59 - / / hora
60 - / / hora
II – Das Observações:
XV – BIBLIOGRAFIA
É a visão de mundo que cada um transmite aos outros. Neste sentido, a história de vida não diz
respeito ao passado. Ela garante a direção e a coesão necessárias para cada um agir no
presente e pensar o futuro. Desta forma, a história de vida é a explicação e a narrativa que
montamos a partir de marcos que guardamos seletivamente em nossa memória. Essa explicação
é o que nos dá identidade, nos faz reconhecer a nós próprios.
Unidade
1. Resistência
Introdução
Definição
1. RESISTÊNCIA
– INTRODUÇÃO
O conceito de Resistência foi introduzida cedo por Freud; pode-se dizer que exerceu um
papel decisivo no aparecimento da psicanálise. Com efeito, renunciou à hipótese e à
sugestão essencialmente porque a resistência maciça que certos pacientes lhe opunha
parecia ser por um lado legítima, e, por outro, não pode ser superada nem interpretada.
Isto, pelo contrário, se torna possível pelo método psicanalítico, na medida em que
permite a elucidação progressiva das resistências que se produzirão particularmente
pelas diferentes maneiras como o paciente infringe a regra fundamental.
A resistência não é algo que aparece de tempos em tempos, durante a análise, mas algo
constantemente presente durante o tratamento.
Em 1936, Anna Freud, em seu livro O Ego e os Mecanismos de defesa, salientou o modo
como as resistências podem proporcionar informações sobre o funcionamento mental do
paciente. As resistências, na medida em que refletem o tipo de conflito e as defesas
utilizadas, tornaram-se elas próprias objeto de estudo. A análise das resistências poderia
ser encarada, em essência, como a análise daqueles aspectos das defesas do paciente
que se fundiram ao resultado patológicos de seus conflitos e contribuíram para os
mesmos. A “análise das defesas” mediante a análise das resistências, veio desempenhar
um papel cada vez mais importante na técnica psicanalítica (Hartmann, 1951; glover,
1955, Anna Freud, 1965).
– DEFINIÇÃO
O conceito de resistência foi introduzido cedo por Freud; pode dizer que exerceu um
papel decisivo no aparecimento da psicanálise.
Antes que possamos analisar uma resistência temos que estar aptos a reconhecê-la.
Devemos lembrar que as resistências aparecem numa variedade de maneiras
complexas e sutis, em combinações ou formas misturadas e que os exemplos individuais
e isolados não constituem a regra. Deve-se também salientar que todos os tipos de
comportamento podem ajudar uma função de resistência. O fato de o material de um
paciente revelar conteúdo inconsciente, impulsos instintuais ou lembranças reprimidas
não exclui a possibilidade de uma resistência importante estar em ação no mesmo
momento.
O SILÊNCIO DO PACIENTE
Podemos ter determinadas situações, em que o paciente, não está com vontade de falar.
Neste caso, o paciente não está literalmente silencioso, mas está cônscio de que não
está com vontade de falar ou então ele não tenha nada a dizer.
Podendo ocorrer situações tão especiais, que o silêncio venha a ser adotado
como:
141
Defesa contra o erotismo oral: o sugar, que é típico da situação pré-edipiana, mas
que se estenda sobre outras circunstâncias da época, vindo a ser incluída a
falação na atualidade;
Enfrentar-se um paciente silencioso não é nada fácil, pelo que se recomenda que a
abordagem venha revestida de firmeza e decisão.
142
O SILÊNCIO DO ANALISTA
Uma das mais judiciosas opiniões sobre o silêncio da analista nos vem de Greenson
(1967), quando nos diz:
Do mesmo modo, pode ele sentir o nosso silêncio ou como apoio caloroso, ou como
exteriorização de crítica e de distanciamento. Isto talvez se deva às suas projeções
transferenciais, mas pode, também, derivar-se de uma sua percepção subliminar de
nossas reações contra-transferenciais.
Todos sabemos que aquele que quiser compreender o outro, há que ouvi-lo, sendo que,
quanto mais deseje aprofundar-se na compreensão, tanto mais tempo e oportunidade
há de conceder para as exposições. Ora, o dar oportunidade, se dá por meio do fato de
se retrair o analista, oferecendo uma postura de silêncio de quem quer ouvir, com um
toque de simpatia, de acolhimento, ao que se deve aditar a empatia, o que, de resto,
resume a um dos mais expressivos princípios regentes do nosso ofício.
Do ponto de vista das emoções do paciente, a indicação mais típica de resistência será
notada quando o paciente comunica verbalmente, mas existe uma ausência de afeto.
Suas observações são secas, insípidas, monótonas e apáticas. Tem-se a impressão de
que o paciente está alheio e desligado do que ele está relatando. Isto é particularmente
importante quando a ausência de afeto diz respeito a fatos que deveriam estar cheios de
profunda emoção. Em geral a inconveniência da emoção é um sinal bem impressionante
de resistência.
A POSTURA DO PACIENTE
Muitas vezes, os pacientes vão demonstrar a presença da resistência pela posição que
assumem no divã. Rigidez, contração muscular, o corpo encolhido como proteção contra
uma ameaça, tudo isso pode indicar defesa. Acima de tudo, qualquer posição inalterada,
que é mantida durante toda a sessão, é sempre um sinal de resistência. Se a pessoa
está relativamente livre de resistência, a sua postura muda um pouco durante a sessão.
Movimentos excessivos também indicam que alguma coisa está sendo descarregada em
movimentos e não em palavras. A discrepância entre a postura e o conteúdo verbal
também é um sinal de resistência. O paciente que fala com suavidade sobre um fato,
mas que se contorce e se mexe, está contando apenas um fragmento de uma história.
Seus movimentos parecem estar contando a outra parte da narrativa. Mãos apertadas,
braços cruzados apertados bem contra o peito, tornozelos encostados, são indicações
de defesa. Além disso, um paciente que se senta durante a sessão ou fica com um pé
fora do divã, são indicações de desejos de fugir do analista. Bocejos durante a sessão
indicam resistência. A maneira pela qual um paciente entra no consultório, evitando os
olhos do analista ou dizendo algo que não tem prosseguimento no divã ou saindo no final
da sessão sem olhar para o analista – tudo isto são sinais de resistência.
FIXAÇÃO NO TEMPO
Em geral, quando o paciente está falando com relativa liberdade, haverá oscilações entre
o passado e o presente em suas produções verbais. Quando um paciente fala, firme e
inalteradamente, sobre o passado sem entremear qualquer coisa sobre o presente ou
se, ao contrário, um paciente fala continuamente sobre o presente sem mergulhar
ocasionalmente no passado, há alguma resistência em ação. Prender-se a um
144
Uso de chavões, termos técnicos ou conversas vazias é um dos sinais mais freqüentes
de resistência. Isso geralmente indica uma fuga das imagens vividas e evocativas da
linguagem pessoal de um indivíduo. Seu objetivo é impedir uma comunicação revelada
pessoalmente. O paciente que diz “órgãos genitais” quando realmente quer dizer pênis
está evitando as imagens que viriam à mente com a palavra pênis. Deve observar-se
aqui que o analista use uma linguagem viva e pessoal ao falar com seus pacientes.
A AUSÊNCIA DE SONHOS
RESISTÊNCIA DA TRANSFERÊNCIA
refletir a luta contra impulsos infantis que, sob forma direta ou modificada, emergiram em
relação à pessoa do analista.
Embora, inicialmente, o sintoma possa ser sentido “corpo estranho” e indesejável, pode
ocorrer, e muitas vezes ocorre, um processo de assimilação do sintoma na organização
psicológica do indivíduo. Freud assim o descreveu: “O ego passa agora a comportar-se
como se reconhecesse que o sintoma tivesse vindo para ficar, e a única coisa a fazer é
aceitar a situação, sem afligir-se, e tirar dela a maior vantagem possível.” (1926a.) Esses
ganhos secundários oriundos dos sintomas são bem conhecidos sob a forma de
vantagens e gratificações obtidas da condição de estar doente e de ser cuidado ou de
ser objeto do comportamento dos outros, ou sob a forma de gratificação de impulsos
agressivos vingativos para com aqueles que são obrigados a compartilhar do sofrimento
do paciente. O ganho secundário também pode resultar da satisfação de uma
necessidade de o paciente se punir ou da satisfação de tendências masoquistas ocultas.
Os mais evidentes exemplos de ganho auferido da doença podem ser constatados nas
pacientes como “neurose de compensação” ou naqueles que permanecem doentes por
causa do ganho secundário subsidiado pela sociedade, por exemplo, nos casos em que
os pagamentos da “previdência social” ultrapassam o salário que poderia ser obtido. A
refratariedade do paciente ao abandono dessas vantagens secundárias da doença, no
decorrer do tratamento, constitui essa forma particular de resistência.
RESISTÊNCIA DO ID
tem possibilidade de ter sucesso maior que os seus rivais. Ou então, um paciente que
tem intensos sentimentos inconscientes de culpa em relação aos seus desejos sexuais,
em particular, pode reagir com uma forte resistência subseqüente à liberação desses
desejos através do processo analítico. A “resistência do superego” pode ser
exemplificada com o paciente que se permite ter um pensamento que desperta culpa,
reprime esse pensamento e vem à sessão com uma sensação de mal-estar que, por fim,
é identificada como um sentimento de culpa que o tornou resistência ao trabalho da
análise. A mais intensa forma de semelhante resistência do superego pode ser vista na
chamada “reação terapêutica negativa”.
Num primeiro momento Freud dizia que o reprimido seria o protótipo do inconsciente,
para mais tarde retificar e concluir que nem tudo que é inconsciente é, obrigatoriamente,
reprimido. Também, num primeiro instante, a repressão foi usada por ele como protótipo
de defesa, para depois se tornar apenas uma das modalidades de mecanismo de defesa.
A idéia de que a repressão fosse responsável pela angustia foi refeita, para em seu lugar,
permanecer a definição de que é a angustia que produz a repressão.
Quando exacerbada, a atividade repressora poderá compor sintoma ou uma doença. Ela
é típica dos estados histéricos. Como exemplo, temos o da emoção alterada diante das
situações inocentes, por exemplos: a pessoa não chora durante uma morte significativa,
mas entra em choro convulsivo diante de uma cena “água com açúcar” da telenovela.
Pela clínica da repressão entende-se e percebe-se que o reprimido flui e se aloca, aqui
e ali, apresentando-se sob vários modos: nos sintomas, nas doenças, na linguagem, no
comportamento e algumas outras sutilezas anunciadas, na tentativa de um retorno.
148
Para esses autores repressão caberia à operação psíquica tendente a fazer desaparecer
da consciência um conteúdo desaprovável ou inoportuno, mas sem que haja
transposição para o inconsciente. As características da operação permaneceriam no
campo consciente ou pré-consciente; atingiriam apenas os afetos, num movimento de
simples eliminação ou inibição dos mesmos.
Alguns autores usam mais o termo “repressão” em sentido amplo, deixando ao leitor a
curiosidade de entender as nuances do significado.
CONVERSÃO
Para alguns autores esta seria uma atividade defensiva relativamente benigna com
deslocamento das catexias em direção a órgãos do sentido e musculatura estriada,
resultando disfunções, tais como: tremores, paralisias, anestesias, amaurose (perda de
visão) não orgânica, contraturas, etc. A função do mecanismo de conversão é aliviar a
tensão afetivo-emocional por via das expressões somáticas. Choro copioso, risos
imotivados, compulsão incoercível a falar são conversões que precisam ter seu
diagnóstico diferencial feitos com as expressões emocionais normais.
Certos músculos lisos também seriam atingidos pela conversão levando à náuseas,
vômitos, vontade de defecar e de urinar, talvez pela complexidade das inervações
voluntárias e involuntárias que se combinam.
O histérico reprime toda sua sexualidade genital (a que ele tem) que retorna através
das manifestações somáticas, ou ainda, que “converte”, simbolicamente, em sintoma
somático.
DESLOCAMENTO
É a medida defensiva comum no cotidiano do cidadão, sem que ele tome consciência
dela. O exemplo clássico é a do funcionário massacrado pelo chefe que, ao chegar em
casa, dirige toda sua contra-agressividade contida sobre a mulher e os filhos. De certo
modo, a pessoa até tem consciência da tensão a que está submetida, apenas não se dá
conta da causa original, do porquê de sua agressão à família.
DISSOCIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA
Aqui vamos apontá-la apenas como exemplo de atividade defensiva, sem descer a
detalhes dos quadros clínicos próprios de personalidades ou de doenças histéricas,
obsessivas, fóbicas e ansiosas, e de comportamentos de jovens imaturos ou de
síndromes esquizofreniformes.
150
Caracteriza-se pela cisão da personalidade, de tal forma que uma parte se mantém
reprimida e a outra em vigência operativa e plena , com movimento alternado de
aparecimento.
Na clínica suas formas mais comuns são: certo tipo de esquecimento (amnésia), estados
sonambúlicos e estados de “fuga”, em que o paciente vive “aéreo”, distraído, não se
dando conta de acontecimentos a sua volta ou em que, até mesmo, tenha participado,
fala-se em “evitação” de situações desagradáveis.
ESCOTOMIZAÇÃO
Assim chamada por analogia com as zonas cegas da retina denominada “escotomas”,
esse mecanismo, segundo alguns autores, se daria num plano quase consciente. “Olho
mas não enxergo, se enxergo não quero ver”. Acontecimentos óbvios não são vistos por
uma “decisão”, quase de conveniência.
Em artigo sobre o “Fetichismo” (1927), Freud atribui a Laforque (1926) o uso da palavra
escotomização, mas crítica o termo porque para indicar esse processo já haveria o
vocábulo repressão, “a mais antiga palavra de terminologia psicanalítica”.
HUMOR
No artigo de 1927 sobre “O Humor” Freud aponta-o como uma forma de defesa dentro
da “extensa serie de métodos que a mente humana construiu a fim de fugir à compulsão
para sofrer”. Fazer humor e rir sobre o sexo e sobre a morte, sobre temas raciais, étnicos
e situações sociais risíveis, assustadoras, constrangedoras ou ameaçadores, é uma boa
e humana forma de fugir à perplexidade e ao medo dos temas referidos. Não é raro
pessoas terem “ataques de riso” em um velório.
INIBIÇÃO
Pouco valorizado, esse mecanismo talvez seja o que está mais presente nas várias
formas de neurose. Algumas vezes é chamado de “bloqueio emocional”.
Na raiz das inibições está, entre outras coisas, a educação doméstica dada,
principalmente, pelos pais. A mãe exigente em chamar a atenção do filho, o pai
151
desconfirmador que só tem críticas a fazer, a verdadeira lavagem cerebral que se faz
através das ordens negativas: não faça isso, não faça aquilo, não, não... fazem parte do
processo inibidor.
ISOLAMENTO
LEMBRANÇA ENCOBRIDORA
A atividade egóica vai ao baú de lembranças e retira imagens que, na consciência, têm
por finalidade substituir uma outra recordação, esta sim, penosa, desagradável ou
ameaçadora.
A autopiedade, caracterizada por lamúrias e queixumes, pode fazer parte desse tipo de
defesa. A pessoa relembra de modo obsessivo temas e situações da vida passada, de
modo a confirmar-se como “vítima”, encobrindo recordações mais difíceis de virem à
tona.
152
NEGAÇÃO
No artigo “A negativa” (1925) Freud dá-nos o exemplo clássico do sujeito que diz: “Essa
pessoa dos meus sonhos, minha mãe, certamente, não é”. Seria a aceitação intelectual
do recalcado, sem perder a essência do recalcamento, por meio de uma pretensa
liberdade de julgar.
Vários são os tipos sociais de negação da realidade, entre eles: escapismo, adiamento
de compromissos, recusa de enfrentamentos desagradáveis, criação de doenças
imaginárias para fugir de responsabilidades, subterfúgios. A negação pode ir a um ponto
tal de irracionalidade, quando, por exemplo, o estudante deixa de comparecer à prova,
com medo de ir mal, mesmo sabendo que sua ausência implicará em nota zero.
Geralmente, o negador cria falsas situações “mais importantes”, para não enfrentar o
“mais real”. A arrogância juvenil é uma forma de negar a perplexidade do jovem diante
dos desafios da vida e o seu embaraçamento diante das tarefas sociais que lhe são
postas.
O negador mente para si próprio, prometendo que da próxima vez será diferente. No
caso do estudante, ele promete que vai estudar... mas sempre semana que vem.
Negadores da realidade somos todos nós que acreditamos que vamos ganhar na loteria
esportiva ou em qualquer forma de ficar rico sem fazem força e caímos na conversa de
vendedores hábeis que nos prometem ilusões. O lema do fantasiador é: “engana que eu
gosto”.
Mas um pouco de fantasia é estimulante para as lutas diárias. Na vida adulta até pode
corresponder a possibilidades factuais. Sonhar é o primeiro passo para a conquista do
desejado. Sonhar com o pé no chão, ensinam os sábios, pois as fantasias, se excessivas
e ingênuas, prejudicam o ajustamento à realidade e trazem amargas decepções.
153
POSTERGAÇÃO DE AFETOS
É o nome que Fenichel dá para situações de luto, raiva, medo, vergonha, nojo, em que
há explosões retardadas de sentimentos. A reação emocional não se dá no momento do
acontecido, mas sim algum tempo depois. Durante um período, o de perigo, o ego se
mostra corajoso, enfrentando o risco, para depois, já no momento da calmaria, ser
tomado de medo intenso. “Na hora do desastre tive peito para ajudar todo mundo, mas
depois me deu uma tremedeira danada”, diz o herói do cotidiano.
MECANISMO DE DEFESA:
É uma forma de substituir, por boas razões, uma determinada conduta que exige
explicações, de um modo geral, da parte de quem adota.
RACIONALIZAÇÃO
Nada do que fazemos na vida tem uma só justificativa: agimos por necessidade,
motivações, desejos ou com tudo ao mesmo tempo.
Por sua vez, o desejo pode ser entendido de duas formas: a primeira, bastante ampla,
refere-se ao anseio, ao querer, à aspiração, à cobiça, consciente. A segunda, forma
restrita, refere-se ao desejo como matéria prima das emoções em que está fortemente
ancorada a pulsão sexual inconsciente.
explicamos nossos piores vícios em casa, na rua, na escola e no trabalho, pois, para o
racionalizador, “os fins justificam os meios”.
SURDEZ EMOCIONAL
São os famoso ouvidos de mercador, numa decisão quase de conveniência. “Ouço, mas
não escuto, se escuto não quero entender”.
A formação reativa leva o ego a efetuar aquilo que é totalmente oposto às tendências do
id que se pretende rechaçar.
As pessoas que propõem a ser sensores de filmes, teatros, livros e revistas geralmente
conciliam a repressão e a satisfação dos desejos, pois podem ver a obra proibida e, ao
mesmo tempo, manter o seu controle moralista, condenando-a.
Mas a formação reativa, pelo seu lado bom, permite-nos manter um comportamento
socialmente aprovado e útil para a convivência humana, com papéis sociais saudáveis.
É o caso de alguém que, por formação reativa, faz-se bombeiro voluntário, como
defesa contra sua piromania. Segundo Fenichel, a pessoa que elaborou formações
reativas não criou com isso um determinado mecanismo para utilizá-lo quando se produz
a ameaça de um perigo instintivo; modificou a estrutura de seu ego como se o perigo
estivesse sempre presente, de tal forma que ele se encontre preparado em qualquer
momento em que o perigo se produza.
Dá-se o nome de regressão ao processo que conduz a atividade psíquica a uma forma
de atuação já superada, evolutiva e cronologicamente mais primitiva do que a atual.
Sempre que alguém se depara com uma frustração, há tendências de ter saudades de
épocas anteriores da vida em que as expectativas eram mais prazerosas.
É o caso de alguém que depois de repetidas frustrações na área sexual, regride, para
obter satisfações, à fase oral, passando a comer em excesso.
FIXAÇÃO
É importante lembrar, com Freud, que toda neurose implica uma fixação, mas nem toda
fixação leva à neurose.
Freud deu interessante exemplo, que se tornou clássico, do “ciúme projetivo”, em que o
indivíduo se defende dos seus próprios desejos de ser infiel, imputando a infidelidade ao
cônjugue.
INTROJEÇÃO
É clássico o caso em que ela se evidencia numa situação de luto: é comum, após a morte
do pai, que um dos filhos passe a adotar o “jeitão” do falecido. No entanto quando a
pessoa começa a se comportar como se fora “mesmo” o pai, provavelmente estaremos
diante de um caso psicótico.
IDENTIFICAÇÃO
IDEALIZAÇÃO
É a defesa que nos faz acreditar na bondade e beleza dos objetos (pessoas, coisas,
idéias). A pessoa por quem se está apaixonada, a moto do ano desejada e a proposta
política abraçada servem de exemplos de objetos relacionais em que a idealização é
utilizada, transformando-os numa crença irretorquível. A amada será a mais bela e
carinhosa do mundo; a moto será a melhor até hoje fabricado; e o ideal político, o mais
nobre da história. Ninguém e nada terão defeito para o idealizador.
RENÚNCIA ALTRUÍSTICA
Esta seria uma forma de sublimação. Por ela o indivíduo usaria os mecanismos de
projeção e de identificação projetiva no que eles têm de útil para estabelecer boas
relações afetivas e consolidar os vínculos positivos. Então, ser-lhe-ia dada a
possibilidade de participar da convivência com seus semelhantes de modo a ser solidário
e camarada.
REPARAÇÃO
SIMBOLIZAÇÃO
É qualquer coisa usada para representar outra coisa. Exemplo: a pomba é símbolo da
paz. Na psicologia psicanalítica símbolo é a imagem que traduz as tendências
inconscientes.
158
Os símbolos utilizados poderão ter sentido universal, como é o caso do folclore, das
lendas, dos mitos, dos provérbios, dos chistes, mas poderão ter significados particular,
espelhando pensamentos encontrados na própria história inconsciente da pessoa.
Muitas vezes o símbolo não deve ser visto simbolicamente. “Um charuto, às vezes, é um
charuto mesmo”, diz a anedota psicanalítica.
Fenichel coloca no item sublimação todas as atividades capazes de fazer cessar o móvel
do perigo, ou seja, cessação daquilo que se rejeita, constituindo-se em defesas bem-
sucedidas. No entanto, desejos já reprimidos no inconsciente (recalcados, diriam os
franceses) não poderiam ser sublimados e daí por que a sublimação haveria de ocorrer
antes de qualquer repressão. Ainda é pouco conhecido o malabarismo que o Ego faz
para que isso possa acontecer.
Laplanche diz que a sublimação é uma das “cruzes” da psicanálise. Cruz, no sentido de
cruzamento e convergência de vários temas, e cruz, no sentido mesmo das crucificações
no passado, impostas como flagelo.
A trajetória de Freud nesse terreno estaria repleta de hesitações e sua atitude não teria
sido nada confiante, pois ele foi remetendo para o futuro a melhor compreensão da tese,
não a alcançando no entanto.