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Ensinando a Cuidar em

Saúde Pública

Organização

Nébia Maria Almeida de Figueiredo


$PQZSJHIUÏ:FOEJT&EJUPSB-UEB
5PEPTPTEJSFJUPTSFTFSWBEPT1SPJCJEBBSFQSPEV¸·P NFTNPQBSDJBM 
QPSRVBMRVFSQSPDFTTP TFNBBVUPSJ[B¸·PFTDSJUBEB&EJUPSB

&EJUPS.BYXFMM.'FSOBOEFT
$PPSEFOB¸·PFEJUPSJBM"OOB:VF
1SPKFUPHS²mDPFFEJUPSB¸·PFMFUSÃOJDB:FOEJT
1SFQBSB¸·PEFUFYUP-VDBT$POTPMJO%F[PUUJ
'PUPT1BVMB)FTTFM
0CSBEBDBQB"4BSSP

%BEPT*OUFSOBDJPOBJTEF$BUBMPHB¸·POB1VCMJDB¸·P $*1
$³NBSB#SBTJMFJSBEP-JWSP 41 #SBTJM
&OTJOBOEPBDVJEBSFNTBÈEFQÈCMJDBPSHBOJ[B¸·P/¹CJB.BSJB"MNFJEBEF
'JHVFJSFEPo4·P$BFUBOPEP4VM 41:FOEJT&EJUPSB 

BSFJNQSFTT·PEBBFEJ¸·P
#JCMJPHSBmB
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*NQSFTTPOP#SBTJM
1SJOUFEJO#SB[JM

:FOEJT&EJUPSB
"W(VJEP"MJCFSUJ o4·P$BFUBOPEP4VMo41
5FM'BY  
ZFOEJT!ZFOEJTDPNCS
XXXZFOEJTDPNCS
36+%2->%(36%
2qFME1EVME%PQIMHEHI*MKYIMVIHS
Livre-docente em Administração de Enfermagem e doutora em Enfermagem
pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Professora titular de Fundamentos de
Enfermagem da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Diretora do Departamento de
Pós-graduação e coordenadora do Programa de Mestrado em Enfermagem da
Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Áreas de atuação e pesquisa: Fundamentos de
Enfermagem, Cuidado de Enfermagem e Administração de Enfermagem.

'30%&36%(36)7
%HVMERE0IQSW4IVIMVE
Professora assistente do Departamento de Enfermagem em Saúde Pública
da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Enfermeira sanitarista e mestre em Tecnologia
Educacional para as Ciências da Saúde. Áreas de atuação e pesquisa: Gênero,
Sexualidade e Saúde em Enfermagem.

%PQMVHE'SWXE1SVIMVE
Enfermeiro do Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade
Federal Fluminense (UFF). Psicólogo e mestre pela Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/
UNIRIO).
IV § CUIDANDO EM SAUDE
— PUBLICA
—

&IEXVM^+IVFEWWM%KYMEV
Professora adjunta do Departamento de Enfermagem Médico-cirúrgica
da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Doutora em Enfermagem e diretora da
Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Áreas de atuação e pesquisa: Administração
em Serviço e Infecção Hospitalar Pediátrica e Obstétrica.

&IEXVM^+YMXXSR6IREYH&ETXMWXEHI3PMZIMVE
Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Professora adjunta do Departamento de Fundamentos de Enfermagem
e Administração da Universidade Federal Fluminense (UFF). Áreas de atuação
e pesquisa: Enfermagem e Sociedade, Identidade Profissional, Fundamentos de
Enfermagem Médico-cirúrgica.

'EVSPMRI4EZPƒ1EXMSPM
Enfermeira formada pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Univer-
sidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Membro do
Grupo de Incentivo a Inovações Tecnológicas em Enfermagem (GrIITE).

'PEYHMEHI'EVZEPLS(ERXEW
Enfermeira formada pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Univer-
sidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO).

(MVGI0ETPEGE:MERE
Mestre em Ciências pelo Departamento de Enfermagem da Escola Paulista de
Medicina (Unifesp). Especialista em Pediatria pelo Instituto da Criança do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP).
Docente no curso de especialização em Enfermagem Hospitalar à Criança e ao
Adolescente e no curso de especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos
e Emergência à Criança e ao Adolescente no Instituto da Criança (HC/FMUSP).
Enfermeira na Educação Continuada do Instituto da Criança (HC/FMUSP).
SOBRE OS AUTORES §V
)PEMRI'VMWXMREHI3PMZIMVE7SY^E
Enfermeira formada pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ).

)RMVXIW'EIXERS4VEXIW1IPS
Professora assistente do Departamento de Enfermagem em Saúde Pública
da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Enfermeira sanitarista e mestre em Saúde
Pública. Área de atuação e pesquisa: Saúde Pública/Coletiva.

*jXMQE8IVI^MRLE7GEVTEVS'YRLE
Professora assistente do Departamento de Enfermagem em Saúde Pública
da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Enfermeira sanitarista e doutora em Saúde
Pública. Área de atuação e pesquisa: Planejamento em Saúde.

-PHE'IGvPME1HE7MPZE
Doutora em Enfermagem e professora adjunta da Escola de Enfermagem
Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). Área de
atuação e pesquisa: Gerência e Exercício Profissional.

.SWqXI0Y^ME0IMXI
Professora emérita da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universi-
dade Federal do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Pesquisadora do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

.S]GI1EXLMEW*SRWIGE
Enfermeira formada pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ).
VI § CUIDANDO EM SAUDE
— PUBLICA
—

.YPME4IVIW4MRXS
Mestre em Enfermagem Pediátrica pela Escola Paulista de Medicina
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Docente na Universidade
Anhembi-Morumbi. Integrante da Diretoria da Sociedade Brasileira de Enfer-
meiros Pediatras (SOBEP). Área de atuação e pesquisa: Saúde da Criança e do
Adolescente.

0EYVE.SLERWSR
Mestranda e graduada pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Uni-
versidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Bolsista da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

0MPMERE%RKIP:EVKEW
Professora assistente do Departamento de Enfermagem em Saúde Pública
da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Enfermeira sanitarista. Áreas de atuação
e pesquisa: Meio Ambiente e Saúde Coletiva.

1EVME%TEVIGMHEHI0YGEHS2EWGMQIRXS
Professora adjunta e coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Estudos sobre
a Saúde da Mulher e da Criança do Departamento de Enfermagem Materno
Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Doutora em Enfer-
magem. Chefe de divisão do Departamento de Pós-graduação da Pró-reitoria
de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (UNIRIO).

1EVMEHEW+VEpEWHI3*IVRERHIW
Mestre em Enfermagem pela Escola Paulista de Medicina da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp). Docente na Universidade de Guarulhos (UnG).
Áreas de atuação e pesquisa: Saúde da Criança e do Adolescente, Fundamentos
de Enfermagem.
SOBRE OS AUTORES § VII
1jVGMEHI%WWYRpnS*IVVIMVE
Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Professora adjunta da Escola de Enfermagem Anna Nery da Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). Áreas de atuação e pesquisa:
Fundamentos de Enfermagem e Cuidado de Enfermagem.

1EVGMS1EVXMRWHE'SWXE
Enfermeiro formado pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Uni-
versidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Membro do
Grupo de Incentivo a Inovações Tecnológicas em Enfermagem (GrIITE).

1EVPYGM%RHVEHI'SRGIMpnS7XMTT
Professora adjunta da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ).

2IMHI%TEVIGMHE8MXSRIPPM%PZMQ
Professora adjunta do Departamento de Enfermagem Fundamental da
Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(EEAN/UFRJ). Doutora em Enfermagem. Área de atuação e pesquisa: Enfer-
magem Fundamental e Práticas Alternativas em Saúde.

4EYPE6SWIQFIVK%RHVEHI
Mestre em Enfermagem pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Fe-
deral de São Paulo (Unifesp). Enfermeira do Centro Assistencial Cruz de Malta.

4VMWGMPEHI'EWXVS,ERHIQ
Mestranda da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Residente de Enfermagem e
enfermeira do Hospital Central do Exército (HCE).
VIII § CUIDANDO EM SAUDE
— PUBLICA
—

6EUYIP2YRIWHE7MPZE
Enfermeira formada pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Univer-
sidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO) e residente em
Enfermagem Médico-cirúrgica. Membro do Grupo de Incentivo a Inovações
Tecnológicas em Enfermagem (GrIITE).

6IRER8EZEVIW
Professor adjunto do Departamento de Enfermagem Fundamental da Es-
cola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro (EEAP/UNIRIO). Doutor em Estudos Teatrais. Áreas de atuação e
pesquisa: Educação, Teatro, Arte de Cuidar.

8IVIWE8SRMRM
Doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universida-
de Estadual do Rio de Janeiro (IMS/UERJ). Professora assistente da Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(EEAP/UNIRIO). Áreas de atuação e pesquisa: Fundamentos de Enfermagem,
Cuidado de Enfermagem e Administração em Enfermagem.

;IPPMRKXSR1IRHSRpEHI%QSVMQ
Doutor em História da Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna
Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). Professor
assistente do Departamento de Enfermagem em Saúde Pública da Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Ja-
neiro (EEAP/UNIRIO). Área de atuação e pesquisa: Saúde Pública e História
da Enfermagem.
SOBRE OS AUTORES § IX
;MPMEQ'qWEV%PZIW1EGLEHS
Doutor em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). Professor aposentado do
Departamento de Enfermagem Fundamental Escola de Enfermagem Alfredo
Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO).
Professor titular da Faculdade de Enfermagem da Universidade Presidente An-
tônio Carlos (UNIPAC), campi de Juiz de Fora. Professor da Agência Nacional
de Saúde Suplementar do Ministério da Saúde (ANS/MS). Áreas de atuação e
pesquisa: Fundamentos de Enfermagem, Cuidado de Enfermagem, Reabilitação
e Saúde Suplementar.
X § CUIDANDO EM SAUDE
— PUBLICA
—

46)*’%'-3
Este livro tem como objetivo abranger todas as áreas de
conhecimento da enfermagem.
A maior dificuldade encontrada foi a de escrever um livro
que contivesse, ao mesmo tempo, um recado terminal para os
alunos de nível técnico e para os alunos de graduação. Tomou-
se cuidado de avançar sem romper o delicado entendimento
do que é ensinar a cuidar para a equipe de enfermagem.
Procurou-se também quebrar a divisão social existente pois
sabe-se que a fronteira entre enfermeiros e técnicos é tênue.
Trata-se de uma divisão pedagógica, política, organizacional e
teórica, além de honesta e solidária. O importante é que cada
um esteja ciente de suas respectivas funções e saiba o que
fazer. No entanto, se muitas vezes o técnico precisa executar
ações pertinentes ao enfermeiro, é aconselhável que ele saiba
como aplicar os conhecimentos do enfermeiro em benefício
de um cliente único.
—
SUMARIO § XI

791%’6-3

5M /LHAR DA !RTE SOBRE A 3A¢DE 0¢BLICA
!MPLIANDO #ONCEITOS 
)NTRODU½áO 
!RTE 6IDA E 3A¢DE  
/ *OGO $RAMÕTICO  
%SPA½O #OLETIVO 


%NFERMAGEM E A 1UESTáO !MBIENTAL 
)NTRODU½áO 
! 1UESTáO !MBIENTAL NO "RASIL E NO -UNDO 
1UEM £ A 3OCIEDADE 
1UANDO 3URGIU A 0OL¤TICA !MBIENTAL NO "RASIL  
!S )NCONTESTÕVEIS 2ELA½µES ENTRE -EIO
!MBIENTE E 3A¢DE  
! $IMENSáO !MBIENTAL NA 0OL¤TICA DE 3A¢DE  
! 1UESTáO !MBIENTAL E A %NFERMAGEM  
XII § CUIDANDO EM SAUDE
— PUBLICA
—


%DUCA½áO EM 3A¢DE 
)NTRODU½áO 
"ARREIRAS PARA UMA "OA !TIVIDADE %DUCATIVA  
$E QUE 4RATA A %DUCA½áO EM 3A¢DE  
4˜PICOS %MERGENTES EM %DUCA½áO EM 3A¢DE  
$34 E !IDS  
6IOLãNCIA CONTRA A #RIAN½A E O !DOLESCENTE  
!CIDENTE DE 4RºNSITO  
/UTROS 4˜PICOS 


0OL¤TICAS DE 3A¢DE 0¢BLICA 
)NTRODU½áO 
!S 0OL¤TICAS DE 3A¢DE 0¢BLICA NO "RASIL  
003 n 0LANO DE 0ACTUA½áO 3OCIAL  
0REVIDãNCIA 3OCIAL 
2EFORMAS NA 0REVIDãNCIA  
-INIST£RIO DA 0REVIDãNCIA E !SSISTãNCIA 3OCIAL 
2EFORMA 3ANITÕRIA 
!½µES )NTEGRADAS DE 3A¢DE E 3ISTEMA ´NICO E
$ESCENTRALIZADO DE 3A¢DE 
353 n 3ISTEMA ´NICO DE 3A¢DE  
#ONSTITUI½áO &EDERAL 
#OMO 0ARTICIPA A 0OPULA½áO  


/ !MBIENTE E OS 0ROCESSOS DE 2ESTAURA½áO 
)NTRODU½áO 
—
SUMARIO § XIII
/ 0ROCESSO DE $ES !JUSTAMENTO DO /RGANISMO
E AS $OEN½AS 4RANSMISS¤VEIS 
0ECULIARIDADES DAS $OEN½AS 4RANSMISS¤VEIS  
)MPLEMENTA½áO DE -EDIDAS 
0ROCEDIMENTOS 
2EMOVENDO /BSTÕCULOS 
4UBERCULOSE  
(EPATITE  


$ENGUE E &EBRE !MARELA
#UIDADOS 0REVENTIVOS EM 3A¢DE 
$ENGUE  
4RANSMISSáO 
$ESENVOLVIMENTO DA $OEN½A  
$IAGN˜STICO  
0ROCEDIMENTOS "ÕSICOS NO 4RATAMENTO  
&EBRE !MARELA  
4RANSMISSáO 
1UADRO #L¤NICO E 3INTOMAS  
$IAGN˜STICO  
0REVEN½áO E 4RATAMENTO  
/ QUE 3ABER SOBRE 6IGILºNCIA EM 3A¢DE  
-EDIDAS DE 0REVEN½áO E #ONTROLE  


.¤VEIS DE !TEN½áO Í 3A¢DE
#UIDADO 0REVENTIVO PARA O #ORPO 3ADIO 
)NTRODU½áO 
(IST˜RIA .ATURAL E 0REVEN½áO DE $OEN½AS 
XIV § CUIDANDO EM SAUDE
— PUBLICA
—

0ER¤ODO 0R£ PATOL˜GICO 


0ER¤ODO 0ATOL˜GICO  
.¤VEIS DE 0REVEN½áO  
&ATORES DE 2ISCO 
3A¢DE -ANUTEN½áO DO "EM ESTAR  
$IREITO Í 3A¢DE  
!S $IVERSAS $IMENSµES DA 3A¢DE  
/ QUE SE %SPERA DE UM #UIDADO #OLETIVO  


! !TUA½áO DA %NFERMAGEM
NA %PIDEMIA DE ()6!IDS 
/ QUE £ !IDS  
()6  
4RANSMISSáO 
! 4RAJET˜RIA DO ()6!IDS  
/ #LIENTE !MBULATORIAL  
0REVEN½áO 
4ESTAGEM  
! $ESCOBERTA DA )NFEC½áO )MPLICA½µES
PARA A %NFERMAGEM  
/ #LIENTE (OSPITALIZADO  
)NFEC½áO !GUDA 
&ASE !SSINTOMÕTICA  
&ASE 3INTOMÕTICA )NICIAL  
$OEN½AS /PORTUNISTAS  
.ORMAS 5NIVERSAIS DE "IOSSEGURAN½A 
!NEXO ) !VALIA½áO DE 1UIMIOPROlLAXIA PARA ()6 
!NEXO )) 2EGISTRO DO !CIDENTE DE 4RABALHO  
—
SUMARIO § XV

! %NFERMAGEM $IANTE DA %XCLUSáO 3OCIAL 
5SUÕRIO DE $ROGAS  
5M 0OUCO DE (IST˜RIA 
$ROGA  
$ElCIENTE &¤SICO  
/ 0APEL DA %NFERMAGEM  
-ENORES EM 3ITUA½áO DE 2UA  
/ 0APEL DA %NFERMAGEM  
0ROSTITUI½áO  
/ 0APEL DA %NFERMAGEM  
)DOSOS  
/ 0APEL DA %NFERMAGEM  
.EGROS  
/ 0APEL DA %NFERMAGEM  
0ESSOAS COM ()6!IDS  
/ 0APEL DA %NFERMAGEM  
2EmETINDO A %XCLUSáO 3OCIAL SOB A
ÊPTICA DA %NFERMAGEM  


0ROGRAMAS DE !TEN½áO Í 3A¢DE 
)NTRODU½áO 
3A¢DE 0¢BLICA  
5MA "REVE )NTRODU½áO Í (IST˜RIA DA
3A¢DE 0UBLICA 
0OL¤TICA E 3ISTEMA DE 3A¢DE O 353  
/ 353 NA #ONSTITUI½áO &EDERAL  
3A¢DE #OLETIVA  
0ROJETO DE 0ROMO½áO DA 3A¢DE  
3A¢DE #OMUNITÕRIA  
XVI § CUIDANDO EM SAUDE
— PUBLICA
—

0ROGRAMAS DE !TEN½áO Í 3A¢DE  


0!)3! n 0ROGRAMA DE !TEN½áO
)NTEGRAL Í 3A¢DE DO !DULTO 
0!)3- n 0ROGRAMA DE !TEN½áO
)NTEGRAL Í 3A¢DE DA -ULHER  
0!)3# n 0ROGRAMA DE !TEN½áO
)NTEGRAL Í 3A¢DE DA #RIAN½A 
02/3!$ n 0ROGRAMA DE !TEN½áO
Í 3A¢DE DO !DOLESCENTE  
0!34 n 0ROGRAMA DE !TEN½áO
Í 3A¢DE DO 4RABALHADOR  
0!)3) n 0ROGRAMA DE !TEN½áO
)NTEGRAL Í 3A¢DE DO )DOSO 
03& n 0ROGRAMA 3A¢DE DA &AM¤LIA 
0ROBLEMAS #OMUNS E !TUA½áO DA %NFERMAGEM 
/ #LIENTE COM (ANSEN¤ASE  
/ #LIENTE COM 4UBERCULOSE 
/ #LIENTE COM $IABETES -ELLITUS  
/ #LIENTE COM (IPERTENSáO !RTERIAL  
)MUNIZA½áO 
6IOLãNCIA CONTRA A #RIAN½A E O !DOLESCENTE  
3A¢DE "UCAL  


#UIDANDO DE QUEM #UIDA UM 0ROGRAMA DE
!TEN½áO Í 3A¢DE DO 4RABALHADOR DE %NFERMAGEM 
#UIDANDO DE QUEM !PRENDE A #UIDAR  
#UIDADOS PARA QUEM #UIDA E
PARA QUEM !PRENDE A #UIDAR  


#UIDADO DE %NFERMAGEM PELAS
0LANTAS -EDICINAIS 
)NTRODU½áO 
—
SUMARIO § XVII
0LANTAS E 0ROPRIEDADES 4ERAPãUTICAS  
5M 0OUCO DE (IST˜RIA 
/ 5SO DE 0LANTAS -EDICINAIS PARA
#UIDAR DE #LIENTES 
&ORMAS DE 0REPARO E 5SO DAS
0LANTAS -EDICINAIS  
0RECAU½µES  


)NFEC½µES (OSPITALARES 1UESTáO DE
3A¢DE 0¢BLICA E DE %NFERMAGEM 
)NTRODU½áO 
&UNDAMENTA½áO 4E˜RICA 
#AUSAS DE )NFEC½áO (OSPITALAR  
!GENTES %TIOL˜GICOS 
#LASSIlCA½áO DAS )NFEC½µES (OSPITALARES  
-EDIDAS DE #ONTROLE  
0ARA )NFEC½µES DO 4RATO 5RINÕRIO  
0ARA )NFEC½µES #IR¢RGICAS  
0ARA )NFEC½µES DO 4RATO 2ESPIRAT˜RIO 
0ARA 3EPTICEMIA  
#OMISSáO DE )NFEC½µES (OSPITALARES  
,EGISLA½áO 3OBRE )(  


! %NFERMAGEM E OS
2ES¤DUOS DOS 3ERVI½OS DE 3A¢DE 
)NTRODU½áO 
#LASSIlCA½áO DO 2ES¤DUO (OSPITALAR  
'RUPO ! 0OTENCIALMENTE )NFECTANTES  
'RUPO " 1U¤MICOS  
XVIII§CUIDANDO EM SAUDE
— PUBLICA
—

'RUPO # 2EJEITOS 2ADIOATIVOS  


'RUPO $ 2ES¤DUOS #OMUNS  
'RUPO % 0ERFUROCORTANTES  
!CONDICIONAMENTO DO 233  
#OLETA )NTERNA!RMAZENAMENTO  


!½µES E #UIDADOS DE %NFERMAGEM
$URANTE AS %NCHENTES E SUAS #ONSEQÓãNCIAS 
$OEN½AS #AUSADAS PELAS %NCHENTES  
,EPTOSPIROSE  
(EPATITE !  
(EPATITE % 
$OEN½AS $IARR£ICAS  
#˜LERA  
&EBRE 4IF˜IDE 
#UIDADOS COM A ¸GUA PARA 5SO $OM£STICO  
,IMPEZA DA ¸GUA E ,AMA
2ESIDUAL DAS %NCHENTES  
#UIDADOS COM OS !LIMENTOS  
/ QUE &AZER !NTES DAS %NCHENTES 
0ROCEDIMENTOS EM #ASO DE %NCHENTE  
2ISCOS DE !CIDENTES NOS "UEIROS  
#ONSEQÓãNCIAS DOS &ERIMENTOS 
/ QUE &AZER $IANTE DE $ESLIZAMENTOS
OU $ESABAMENTOS  
#UIDADOS AO 2ETORNAR Í 2ESIDãNCIA 
3EGURAN½A CONTRA 2AIOS  
-EDIDAS PARA %VITAR A )NSTALA½áO DE
2OEDORES *UNTO AO (OMEM  
4RA½ANDO UM 0ARALELO ENTRE A
%MO½áO E A 0ERDA  
/ QUE O %NFERMEIRO 0ODE &AZER  
—
SUMARIO § XIX

2EABILITA½áO $OMICILIAR
5MA 1UESTáO DE 3A¢DE 0¢BLICA 
)NTRODU½áO 
3OCIEDADE )NCLUSIVA E AS
$ISTOR½µES DA 2EALIDADE  
)SEN½µES E 4RANSPORTE 0¢BLICO 
$A )NCAPACIDADE Í &UNCIONALIDADE -UDAN½AS
NA &ORMA DE COMO A 3OCIEDADE NOS 6ã 
!CESSIBILIDADE  
!NEXO n 0OL¤TICA .ACIONAL DE 3A¢DE DA 0ESSOA
0ORTADORA DE $ElCIãNCIA 


! -ORTE COMO
)NTERESSE )NDIVIDUAL E DE 3A¢DE 0¢BLICA 
! -ORTE E A 3A¢DE 0¢BLICA  
/ QUE £ 0RECISO 3ABER SOBRE A -ORTE 
/S 0ROlSSIONAIS $IANTE DA -ORTE 
/ QUE 3ABER 
! %NFERMAGEM $IANTE DO ÊBITO  
/ QUE &AZER $IANTE DO #ORPO -ORTO 
/ QUE £ 0REPARO DO #ORPO 
#OMO #UIDAR DO 0ROlSSIONAL
QUE 0REPARA O #ORPO  

%XERC¤CIOS n 1UESTµES 

%XERC¤CIOS n 2ESPOSTAS 

"IBLIOGRAlA 
DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 99

D ENGUE E F EBRE A MARELA :


CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAÚDE
BEATRIZ GUITON RENAUD BAPTISTA DE OLIVEIRA

Dengue
O dengue é uma doença infecciosa febril aguda, benigna
na maior parte dos casos. É causada pelo vírus do grupo
Flavivirus, transmitido ao homem através da picada do
mosquito vetor Aedes aegypti. Após a transmissão, existe
um período de incubação de dois a sete dias; o ciclo de
multiplicação viral dura em média 18 horas.
Os primeiros registros de dengue no mundo foram
feitos no fim do século XVIII, no Sudeste Asiático, em
Java e nos Estados Unidos (Filadélfia). Mas não se atribuiu
ao dengue a importância conferida a outras doenças
tropicais, como à febre amarela ou à malária. A
Organização Mundial de Saúde (OMS) só o reconheceu
como doença no século XX, quando houve altos índices
endêmicos no Sudeste Asiático e o aparecimento da forma
“hemorrágica” da doença. O aumento do número de casos
100 § CUIDANDO EM SAUä DE PäUBLICA

deu-se principalmente por causa das alterações


demográficas – crescimento populacional incontrolado,
intensa urbanização, abastecimento de água precário,
reservatórios de água domésticos, recolhimento de lixo
inadequado. Atual-mente, mais de 2,5 bilhões de pessoas
vivem em áreas com risco de transmissão.
Depois da malária, é considerada a mais importante
doença transmitida por artrópodes e, sem dúvida, é a mais
importante das arboviroses. Registros atuais indicam como
regiões mais acometidas a Ásia, as ilhas do Pacífico, a Índia,
a China, a África, o norte da Austrália e a América Latina.

Transmissão
O Aedes aegypti, inseto transmissor da doença ao
homem, tem origem africana. Na verdade, quem contamina
é a fêmea, pois o macho se alimenta apenas de seivas de
plantas. A fêmea precisa da albumina (substância do
sangue) para completar o processo de amadurecimento
de seus ovos. O mosquito apenas transmite a doença,
mas não sofre seus efeitos.
Seu aspecto é parecido com o do pernilongo, mas
possui listras brancas em seu corpo e só pica durante o
dia. Ele desenvolve sua fase larvária em coleções de
água como poços, caixas d’água, vasos de jardins,
tambores, pneus e outros recipientes. No entanto, esses
ovos podem resistir por mais de seis meses nas paredes
secas dos recipientes até ter contato com água e se
t rans for mar e m mo sq u i to . D e s s a fo r m a , s u a
disseminação pelo planeta foi possibilitada pelo
comércio internacional, já que o mosquito tem
autonomia de vôo muito limitada.
DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 101
A transmissão pode dar-se também pelo Aedes
albopictus, espécie que se reproduz no mesmo tipo de
reservatório e também em coleções naturais de água ou
em ambiente silvestre. O seu papel na transmissão do
dengue é secundário, mas representa uma ameaça por
sua capacidade de adaptar-se às regiões temperadas.
O vírus do dengue precisa de tempo para se manifestar
no homem ou mesmo para infectar o mosquito transmissor.
A idade ideal do mosquito para transmitir a doença é
após trinta dias de vida – seu ciclo total demora 45 dias.
Uma vez contaminado, um ser humano passa de dois a
15 dias até sentir os sintomas da doença. Não ocorre
infecção de pessoa a pessoa. Os clientes são infectantes
para o mosquito até o quinto dia de doença. O período
de incubação varia de três a seis dias, podendo estender-
se até o 15o dia. A suscetibilidade é geral, e a imunidade
é de longa duração e sorotipo específica.
As epidemias caracterizam-se pelo aumento do número
de casos, principalmente no verão, quando as condições
ambientais favorecem a proliferação dos transmissores.

Desenvolvimento da Doença
Por não ter sintomas específicos, a doença pode ser
confundida com diversas outras, como leptospirose,
sarampo e rubéola. Todas estas doenças provocam febre,
prostração, dor de cabeça e dores musculares
generalizadas. Através da avaliação dos sintomas e dos
exames de laboratório pode-se definir a doença e tratá-
la corretamente.
102 § CUIDANDO EM SAUä DE PäUBLICA

Acompanhe o ciclo da doença:


1. O mosquito infectado pica o homem.
2. O vírus se dissemina pelo sangue.
3. O vírus se instala sobre o tecido – um dos locais
preferidos é o tecido retículo-endotelial, que envolve
os vasos sangüíneos.
4. A multiplicação do vírus sobre o tecido provoca
inflamação dos vasos, e o sangue passa a circular
mais lentamente.
5. Com a circulação mais lenta, é comum que os líquidos
do sangue extravasem os vasos; o sangue torna-se
mais espesso.
6. O sangue espesso pode coagular dentro dos vasos,
provocando trombos. Além disso, a circulação lenta
prejudica a oxigenação e a nutrição ideal dos órgãos.
7. Com o tempo, se não houver tratamento específico,
pode haver um choque circulatório; o sangue deixa
de circular, os órgãos ficam prejudicados e podem
parar de funcionar, levando à morte.
Dengue hemorrágico. Em certos contextos
epidemiológicos, em especial em situações de
hiperendemia, com circulação simultânea de mais de um
sorotipo, pode haver aumento de casos de evolução mais
grave, chamado de dengue hemorrágico. O termo
hemorrágico é impreciso; o que caracteriza essa forma é
o aumento da permeabilidade vascular, que provoca
extravasamento de plasma para os tecidos. Isso causa
hemoconcentração ou, nas formas mais graves, choque
hipovolêmico e não-hemorrágico.
Existem quatro sorotipos de um vírus do gênero Flavivírus.
Portanto, se a pessoa tem dengue por mais de uma vez, por
outro tipo de vírus, pode ter dengue hemorrágico.
DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 103

Quadro clínico e sintomas


São características de dengue:
• 99% dos infectados têm febre, que dura cerca de
três a oito dias; pode ser branda ou muito alta,
dependendo do indivíduo e da virulência;
• 50% têm prostração e indisposição;
• 60% têm cefaléia;
• 50% têm dor retro-orbitária, mialgia e artralgia;
• 25% apresentam manchas vermelhas em todo o corpo
(os chamados exantemas); como o vírus se instala
também próximo aos vasos, é comum que inflamem
e fiquem evidentes na pele.
Freqüentemente ocorre dor de garganta, náuseas, -
vômitos, dor epigástrica e diarréia. Manifestações
hemorrágicas, como epistaxe e gengivorragia, podem
ocorrer -mesmo em formas benignas, bem como
plaquetopenia e hemoconcentração. Casos mais graves
apresentam sangramentos intensos e choque.
O dengue hemorrágico apresenta os mesmos sintomas.
E, segundo a OMS, a classificação da gravidade divide-se
em quatro graus:
Grau 1 – plaquetopenia + hemoconcentração; ausência
de sangramento espontâneo.
Grau 2 – plaquetopenia + hemoconcentração; presença
de sangramentos espontâneos.
Grau 3 – plaquetopenia + hemoconcentração;
insuficiên-cia circulatória (pulso filiforme, queda de
20 mmHg na pressão arterial, extremidades frias e
pegajosas, apreensão).
Grau 4 – plaquetopenia + hemoconcentração; choque
declarado, com pressão arterial zero e pulso
impalpável.
104 § CUIDANDO EM SAUä DE PäUBLICA

Diagnóstico
A hipótese de dengue é fácil de ser estabelecida em
função da exuberância do quadro. O diagnóstico feito em
bases puramente clínicas não é confiável, ficando o índice
de acerto em torno de 50% apenas. A história
epidemiológica é essencial para que se suspeite de doenças
confundíveis com o dengue. Algumas doenças têm
apresentação clínica inicial indistinguível, havendo
necessidade de exames complementares para a
diferenciação. Entre elas estão:
• leptospirose;
• infecções respiratórias;
• sarampo;
• parvovirose;
• rubéola;
• malária;
• febre amarela;
• meningococcemia;
• meningoencefalites;
• pielonefrite;
• faringites;
• sepse;
• endocardites.

Confirmação do Diagnóstico. O dengue é um


diagnóstico de exclusão. No contexto epidemiológico
apropriado, a exclusão segura dos diagnósticos diferenciais
permite um razoável grau de certeza em relação à hipótese
de dengue, mesmo quando baseada apenas em exames
inespecíficos.
DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 105
Os exames laboratoriais, essenciais para aumentar o
grau de certeza em relação ao diagnóstico clínico e
diferencial, são accessíveis, simples e podem ser realizados
rapidamente. São eles: hemograma (série branca e
vermelha) e contagem de plaquetas. A presença de
leucocitose com desvio à esquerda torna necessária a
exclusão de doença bacteriana. A contagem de plaquetas
é fundamental para a triagem dos casos, com maior
possibilidade de evolução grave naqueles em que os valores
são menores que 100.000/mm3. O hematócrito permite
detectar a perda de líquidos para o espaço extravascular,
fundamental para diferenciar o dengue hemorrágico e
acompanhar a resposta à hidratação.
Confirmação Etiológica. A confirmação deve ser feita
por meio de sorologia e cultura do vírus, que são realizadas
nos laboratórios. A enfermeira deve estar atenta para que
a unidade de atendimento faça o envio do material clínico
aos laboratórios, evitando o encaminhamento do cliente
ao mesmo.
A confirmação do diagnóstico por sorologia (detecção
de IgM) deve ser feita na primeira consulta; se negativo,
deve ser repetida após 14 dias. O sangue colhido deve
ser deixado em temperatura ambiente por dez a vinte
minutos, para permitir a coagulação. A retração do
coágulo pode levar de seis a 12 horas, e deve ocorrer em
geladeira- a 4 °C para preservar a viabilidade do vírus.
Em adultos, colher entre 8 e 10 mL de sangue; em crianças
pequenas, de 2 a 4 mL.
Em caso de óbito, o diagnóstico deve ser confirmado
pelo exame sorológico e pelo estudo dos fragmentos
de vísceras.
A enfermeira deve treinar sua equipe a fim de que
todos os exames sejam enviados em no máximo 48 horas
após a sua colheita.
106 § CUIDANDO EM SAUä DE PäUBLICA

Procedimentos Básicos no Tratamento


A hidratação e a reposição de eletrólitos são
procedimentos fundamentais no tratamento, independente
da hemoconcentração, pois é certo que febre, anorexia,
vômitos e diarréia podem levar à desidratação. Aconselha-
se ingerir muito líquido.
É indicado o uso de paracetamol para alívio da dor e
para diminuir a febre. Medicamentos a base de ácido
acetilsalicílico (como aspirina) e outros anticoagulantes
devem ser evitados. Deve-se fazer repouso e controle do
hemograma. Nos casos mais graves, com impossibilidade
de hidratação oral, deve-se iniciar hidratação parenteral na
unidade de atendimento, e em seguida transferir para
unidade hospitalar, mesmo antes de pesquisa laboratorial.
A reposição inicial rápida da volemia é limitada à capacidade
cardíaca do cliente, seguida de hidratação de manutenção
para evitar a hiperidratação. A interrupção segue os critérios
de retorno do hematócrito em 40%, diurese satisfatória e
pulso amplo, que se dá em geral após oito a 24 horas.
Registrar temperatura, pulso, pressão arterial, queixa
de dor, quantidade de líquido ingerido, aspecto da pele,
estado físico geral do cliente, presença de vômito e
outros sintomas.
É muito importante no combate ao dengue ter uma
equipe de vigilância epidemiológica e controle de zoonose
bem estruturada e com recursos humanos adequados –
tanto em número quanto em capacitação técnica. O den-
gue clássico é uma patologia que passa facilmente
despercebida pelo serviço de saúde, dada a similaridade
dos sintomas com outras doenças.
Uma equipe de busca ativa e controle da zoonose é de
fundamental importância tanto durante a epidemia quanto
no rescaldo e monitoramento da situação. É necessário
DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 107
que se avaliem todos os detalhes na procura de elementos
comuns que possam antecipar a suspeita do mal. Também
é altamente recomendável que as equipes de
gerenciamento avaliem o modelo de assistência que seus
serviços estão oferecendo. É preciso investir na qualificação
dos profissio-nais de saúde.
A notificação compulsória deve ser rigorosa. Veja
algumas orientações para campanha popular de controle
de mosquitos:
• manter caixas d’água, cisternas e outros depósitos
de água bem tampados;
• trocar a água de plantas por terra ou areia;
• lavar bebedouro de aves e outros animais com escova
(isso elimina ovos depositados nas paredes);
• se tiver piscina, lembre-se de que a água deve estar
sempre tampada;
• garrafas devem ser guardadas de cabeça para baixo;
• o lixo deve permanecer fechado – uma tampinha de
garrafa pode se tornar um criadouro;
• receber bem o agente de saúde quando ele bater em
sua casa.
Sobre o Aedes aegypti:
• transmite dengue e febre amarela;
• coloca seus ovos em locais com água limpa e parada,
como pneus, vasos com plantas, vasos em cemitérios,
caixas d’água, bebedouros de animais etc.;
• as fêmeas precisam se alimentar de sangue para
realizar a postura dos ovos;
• atacam de dia.
Fonte: Dep. de Vigilância e Controle de Zoonoses.
Fundação Municipal de Saúde de Niterói/RJ.
108 § CUIDANDO EM SAUä DE PäUBLICA

Febre Amarela
A febre amarela é uma doença infecciosa aguda, febril,
de natureza viral, curta duração, gravidade variável, causada
por vírus e transmitida por mosquitos-fêmeas infectados.
Manifesta-se por insuficiência hepática e renal, podendo
matar. Pode ser de dois tipos: febre amarela urbana e silvestre.
A febre amarela não era conhecida entre os povos antigos.
Soube-se de sua existência depois da descoberta da América,
mas o agente causal e a forma de transmissão permaneceram
desconhecidos. No Brasil, as primeiras referências sobre a
ocorrência de casos de febre amarela datam de 1685, em
Recife. Depois, em 1692, teriam aparecido casos também
em Salvador, provocando duas mil mortes. Em 1749,
reapareceu em Salvador de forma explosiva, tornando-se
então grave problema nosológico. Espalhou-se por todo o
país, assolando-o por mais de um século.
Os trabalhos de combate aos mosquitos prosseguiram
por muitos anos, contando durante bastante tempo com
o auxílio da Fundação Rockfeller. Em 1903, uma equipe
de cientistas franceses que trabalhava no Rio de Janeiro
conseguiu demonstrar que a febre amarela é provocada
por um vírus. Nos laboratórios dessa mesma fundação foi
desenvolvida a vacina que, a partir de 1937, passou a ser
preparada no Instituto Oswaldo Cruz, possibilitando que
os surtos urbanos de febre amarela fossem eliminados.
Em 1957, após ampla campanha de combate ao Aedes
aegypti, desenvolvida em São Paulo pelo Serviço Especial de
Combate à Febre Amarela e no restante do país pelo Serviço
Nacional de Febre Amarela, a espécie foi declarada erradicada
do Brasil durante a XV Conferência Sanitária Panamericana.
Inicialmente sem grande importância, tais observações
vieram a ser confirmadas muitos anos depois, quando se
DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 109
registrou a ocorrência, nas matas, da febre amarela silvestre
transmitida por mosquitos, como Haemagogus spegazzinii,
Aedes scapularis e outros que habitam esses locais. É de
se notar também que, nas regiões de matas, a vacinação
antiamarílica tornou-se medida profilática da maior eficácia,
protegendo os que ali vivem e trabalham.
Embora tenha se considerado livre do mosquito Aedes
aegypti, o Brasil não conseguiu evitar que esse mosquito
voltasse a invadir seu território alguns anos depois. Foi o que
aconteceu em 1967, quando foi ele observado no Pará. Depois
foi encontrado em Salvador (1976) e no Rio de Janeiro (1977),
já com outro papel reconhecido: transmissor de dengue.

Transmissão
A transmissão da febre amarela é feita por um mos-
quito que exibe marcas prateadas no fundo negro das
patas, no abdome e nos palpos. No tórax, as linhas
prateadas tomam o aspecto de uma lira com duas cordas.
Apenas a fêmea é hematófaga (alimenta-se de sangue),
sendo responsável pela transmissão da doença. O macho
se alimenta de restos alimentares do homem.
Ao contrário do pernilongo comum – que possui hábitos
noturnos –, a fêmea do Aedes ataca durante o dia.
Independente do sexo, o Aedes é essencialmente doméstico;
a fêmea põe seus ovos em recipientes ou depósitos de
água. Os ovos podem sobrexistir até um ano no caso de
seca, à espera das chuvas para eclodirem e se transformarem
em mosquitos adultos. O sangue ingerido por esses insetos
está ligado ao processo de gestação, sendo uma fonte
essencial de proteínas e outros fatores energéticos de que
a fêmea necessita para a boa formação de sua prole. Sem
110 § CUIDANDO EM SAUä DE PäUBLICA

essa vítima, as fêmeas não desovam.


Muitas pessoas morreram antes que se descobrisse que
esse tipo de moléstia era transmitida por mosquito. O mos-
quito Aedes aegypti infectado transmite a febre amarela ur-
bana ao homem através da picada; portanto, é o principal
transmissor urbano. Os mosquitos Haemogogus e Sabethes
infectados transmitem a febre amarela silvestre. Durante a
picada (quando o mosquito suga o sangue de uma vítima),
o vírus invade o organismo do Aedes até atingir as glândulas
salivares, via de transmissão da moléstia. Essa cadeia de
transmissão é responsável pelas epidemias de febre amarela.
Freqüentemente as pessoas confundem o Aedes aegypti
com o pernilongo comum (Culex fatingans). Embora à
primeira vista seja difícil diferenciá-los, uma observação
cuidadosa da anatomia do Aedes revela características
próprias que permitem distingui-lo dos demais mosqui-
tos. Pelo caráter doméstico desse inseto, uma epidemia
urbana atinge proporções alarmantes.
Febre Amarela Silvestre. A transmissão da febre amarela
silvestre está a encargo de outros tipos de vetores –
espécimes do gênero Haemagogus, o Aedes silvestre, o Aedes
leucocelaenus. Estes mosquitos preferem o topo das árvores,
principalmente galhos ocos e pequenos depósitos de água,
onde a fêmea põe os ovos. Florestas úmidas são seu habi-
tat predileto. Alimentam-se do sangue de macacos, que
também são suscetíveis ao ataque dos vírus da febre amarela.
Encontram-se no Brasil várias espécies de símios que alojam
o vírus: bugios (Alouatta), sagüis (Callithrix), macacos-
pregos (Cebus) e macacos-de-cheiro (Saimiri).
Um grupo de possíveis vítimas são os lenhadores, que
podem ser picados por esses insetos silvestres na derrubada
de matas e apresentar a doença. A contaminação
dificilmente atinge proporções alarmantes em virtude de
se alimentarem basicamente de sangue de primatas. Porém,
se uma pessoa picada por esse tipo de vetor entrar em
DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 111
contato com comunidades que apresentam o Aedes aegypti
doméstico, o surto de epidemia pode ser inevitável. A
eliminação dos mosquitos silvestres é tarefa quase
impossível para as autoridades sanitárias.

ATENÇÃO
A febre amarela urbana é transmitida de um homem
a outro pela picada de fêmeas infectadas de Aedes
aegypti. A febre amarela silvestre é transmitida ao
homem pela picada de fêmeas de mosquitos do
gênero Haemagogus e outros, infectadas ao sugar
macacos que servem de reservatório do vírus.

Quadro Clínico e Sintomas


Os principais sintomas são febre, calafrios, dor nas
articulações, prostração, náuseas e vômitos. Em suas formas
fulminantes, a doença compromete o fígado e os rins,
além de provocar manifestações hemorrágicas que podem
causar morte se não houver tratamento imediato.
A pessoa se queixa de forte dor lombar, que se estende
para o abdome e os membros inferiores. Como
conseqüên-cia, a locomoção torna-se difícil. A cabeça
parece que vai estourar, a luz é insuportável, a língua
fica seca e áspera. Calafrios são seguidos de calor intenso.
A temperatura do corpo sobe para 40 °C. A pessoa sente
uma sede terrível; fica ansiosa, inquieta e passa a ter
112 § CUIDANDO EM SAUä DE PäUBLICA

insônia. Sente náuseas e vomita freqüentemente. É o


período infeccioso, rubro ou congestivo, cuja duração
varia de dois a três dias. Nesse estágio, o vírus amarílico
está disseminado por todo o organismo, podendo ser
isolado no sangue do cliente. Depois de manifestações
violentas, os sintomas se amenizam e o indivíduo chega
a desfrutar de tranqüilidade por mais de 24 horas. É o
período de recesso.
Logo aparecem novos sintomas de caráter basicamente
digestivo e urinário, associados a profundas hemorragias.
Sede violenta e dor epigástrica precedem um sintoma
característico: o vômito negro. De cor marrom-escura, o
vômito negro é conseqüência da acumulação de sangue
coagulado no estômago, decorrente da hemorragia que
pode ocorrer no útero, nas narinas e mesmo na camada
cutânea. As fezes aparecem misturadas com sangue escuro,
completando o quadro de melena.
A função renal sofre modificações. A pessoa urina
pouco (oligúria), e sua urina apresenta elevado teor de
albumina. Nesse estágio, o vírus escolhe um alojamento
(em geral o fígado). As células hepáticas degeneram. Em
algumas o núcleo e o citoplasma são destruídos, e em seu
lugar se desenvolve material hialino característico (corpos
de Councilman); em outras ocorre intensa infiltração
gordurosa (esteatose degenerativa). Como conseqüência
dos distúrbios hepáticos, a pigmentação da pele adquire
um tom amarelado (icterícia).
A da enfermidade dura em média três dias. Em menos
de uma semana, o cliente enfrenta o momento mais
perigoso, com convulsões, colapsos cardíacos, síncope
ou coma progressivo provocado por uremia –
intoxicação resultante da depuração insuficiente do
organismo pelos rins, que pode levar à morte. O cliente
que supera a fase crítica se encontra a salvo;
normalmente isso acontece com 80% das pessoas
enfermas. O indivíduo então evolui de forma espontânea
DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 113
para a cura. A febre começa a diminuir, os vômitos
negros tornam-se bem espaçados, a urina volta a ser
expedida em volume nor mal e com pequenas
quantidades de albumina. Apenas a icterícia demora
mais tempo para desaparecer.
Ao fim de várias semanas, a recuperação é completa.
Uma vez curado, o indivíduo desenvolve imunidade ao vírus
amarílico, apresentando forte resistência a uma nova infecção.
A febre amarela também pode evoluir de forma
fulminante, causando a morte no primeiro dia de
manifestação dos sintomas. Na forma abortiva, a pessoa
passa diretamente do período de recesso para a
recuperação total. A febre amarela frustra se assemelha
ao tipo clássico, mas apresenta sintomas bem mais leves.
Na manifestação inaparente ou ambulatória, o indivíduo
sente ligeiro mal-estar provocado por dores de cabeça,
vômitos e febres de curta duração. É sob essa forma que
a moléstia se apresenta em nativos de regiões onde é
endêmica. É também a manifestação mais comum em
pessoas que já tiveram febre amarela e desenvolveram,
como conseqüência, os anticorpos contra o vírus.

Diagnóstico
Para efetuar o diagnóstico, devem ser considerados os
aspectos clínicos, ou seja, quadro típico de febre alta, dor
de cabeça, mal-estar geral, náuseas, vômitos, dores nos
músculos e articulações, prostração e icterícia. Os exames
laboratoriais necessários são:
• exame sorológico – visando detectar a presença
de anticorpos;
• exame virológico – visando realizar o isolamento
do vírus.
114 § CUIDANDO EM SAUä DE PäUBLICA

Prevenção e Tratamento
A prevenção é o papel mais importante dentro do
tratamento da febre amarela. Em uma fiscalização intensiva,
as autoridades sanitárias orientam a população a destruir
possíveis criadouros do mosquito e garantem a vacinação
em massa de todos os que habitam regiões com princípio
de epidemia. No momento, a vacinação é o único recurso
disponível para o combate preventivo da doença,
proporcionando imunidade ativa.

Vacinação
A vacina contra a febre amarela ou antiamarílica (17D)
é elaborada com o vírus vivo atenuado, sendo produzida
inclusive no Brasil (Rio de Janeiro). Em 95% das pessoas,
o efeito protetor ocorre uma semana após a aplicação e
confere imunidade por pelo menos dez anos –
normalmente por toda a vida. Pode ser utilizada a partir
dos nove meses de idade. É aplicada por via subcutânea
na região deltóidea (braço).
No Rio de Janeiro, a vacina está disponível nos Centros
Municipais de Saúde, com prioridade para viajantes que
tenham como destino as áreas de risco de aquisição de
febre amarela – a vacina deve ser recebida pelo menos dez
dias antes da viagem. As pessoas vacinadas nos Centros
Municipais de Saúde recebem um comprovante de
vacinação válido em todo território nacional. A emissão do
Certificado Internacional de Vacinação é feita somente no
Posto de Vacinação do Ministério da Saúde. O certificado
tem validade por dez anos, a contar a partir do décimo dia
da primeira aplicação da vacina. Nas vacinações seguintes
DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 115
(feitas a cada dez anos), o certificado é válido no mesmo
dia da aplicação se apresentado junto com o antigo.
Efeitos colaterais. Sendo utilizada há mais de sessenta
anos, a vacina geralmente produz poucos efeitos colaterais.
Efeitos colaterais graves são extremamente raros. Cerca
de 5% das pessoas podem desenvolver, entre cinco e dez
dias depois da vacinação, sintomas como febre, dor de
cabeça e dor muscular, não sendo freqüente a ocorrência
de reações no local de aplicação. Reações de
hipersensibilidade são muito raras, geralmente atribuídas
às proteínas do ovo contidas na vacina. A ocorrência de
encefalite é raríssima; a maioria dos casos ocorreu em
crianças vacinadas com menos de cinco meses de idade.
A vacina é contra-indicada para:
• crianças com quatro meses ou menos de idade –
risco de encefalite viral (contra-indicação absoluta);
• gestantes – possível risco de infecção para o feto;
• pessoas com imunodeficiências associadas a doenças
ou a terapêuticas – infecção pelo HIV, neoplasias
em geral (incluindo leucemias e linfomas),
corticoterapia, quimioterapia ou radioterapia;
• pessoas que tenham alergia a componentes do ovo
– a vacina é preparada em ovos embrionados;
• pessoas com antecedente de reação alérgica à dose
prévia da vacina antiamarílica.
A decisão de vacinar pessoas que apresentam contra-
indicações, inclusive crianças entre cinco e nove meses
de idade e mulheres amamentando (flavivírus podem ser
eliminados junto com o leite), deve ser feita com bases
individuais pelo médico. Devem ser analisados os riscos
de aquisição da doença e os da imunização. É prudente
adiar a vacinação de pessoas com febre, casos de doenças
agudas ainda sem diagnóstico e doenças crônicas
descompensadas. Em razão de possível interferência na
indução de imunidade, deve-se postergar a aplicação em
116 § CUIDANDO EM SAUä DE PäUBLICA

pessoas que fizeram uso recente de vacinas com vírus


vivo atenuado (MMR, sarampo, rubéola, varicela e Sabin)
e também de vacina contra a cólera, respeitando-se um
intervalo de quatro semanas. Recomenda-se também que
as mulheres vacinadas evitem a gravidez por no mínimo
trinta dias.

Tratamento
Não existe tratamento específico para o vírus da febre
amarela. O tratamento consiste no uso de medicação
sintomática, evitando-se os salicilatos (ácido acetilsalicílico
e derivados) em função do risco de hemorragias; utiliza-
se preferencialmente o paracetamol. Clientes com formas
graves da doença necessitam de cuidados de terapia
intensiva. A enfermagem deve executar os cuidados
necessários dependendo da gravidade da situação e deve
estar atenta ao registro da evolução clínica e realizar a
notificação compulsória de forma clara e objetiva. A
notificação possibilita a descoberta de novos casos, ações
de controle e análise do comportamento epidemiológico
da doença, além da avaliação da eficiência dos programas.
Cartão de Vacinação. O Cartão de Vacinação é um
documento de comprovação de imunidade. As -unidades
de saúde são responsáveis por emiti-lo ou atualizá-lo na
administração de qualquer vacina. Deve ser guardado
junto com documentos de identificação pessoal. É -
importante que seja apresentado nos atendimentos -
médicos de rotina e fundamental que esteja -disponível
em caso de acidente.
Forneça orientações sobre as medidas de proteção:
DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 117
• Vacinar-se contra a febre amarela ou atualizar a
vacinação – tem validade de dez anos a partir do
décimo dia da aplicação inicial. No Rio de Janeiro, a
vacinação com emissão de certificado internacional
é realizada pela Vigilância Sanitária na Secretaria de
Estado de Saúde.
• De acordo com o roteiro, o tipo de atividade e o
tempo de permanência, pode ser igualmente
necessária a vacinação contra a encefalite japonesa,
não disponível na rede pública.
• Procurar hospedar-se em locais que disponham de
ar-condicionado. Se não for possível, utilizar
mosquiteiros impregnados com permetrina (mantém-
se efetivo durante vários meses) e inseticida com
aerossol nos locais fechados de dormir.
• Usar repelentes na pele à base de DEET (Autan®,
Off®) enquanto estiver ao ar livre. Lavar a pele para
retirar o repelente quando permanecer em locais
fechados. Não aplicar DEET nos olhos, na boca ou
em ferimentos.
• Ler cuidadosamente as recomendações do fabricante
do repelente. As concentrações máximas
recomendadas de DEET são de 30% para adultos e
10% para crianças.
• Usar calças e camisas de manga comprida sempre
que possível, para reduzir a área corporal exposta
às picadas de insetos.
• Usar repelentes na roupa à base de permetrina
(Kwell®) ou deltametrina (Deltacid®, Deltametrina®).
Fonte: www.cives.ufrj.br
118 § CUIDANDO EM SAUä DE PäUBLICA

O que Saber Sobre Vigilância em Saúde


A vigilância em saúde é um importante instrumento
de intervenção. Trata-se de um conceito abrangente que
engloba três formas de vigilância: epidemiológica, -
sanitária e ambiental. Ela reúne essas três maneiras de
pensar e realizar vigilância, mostrando-nos que de fato
não é possível separá-las.
Os objetivos da vigilância em saúde incluem:
• identificar os principais problemas de saúde e doença
– surtos e epidemias, novos agravos à saúde, grupos
de alto risco para determinados agravos;
• auxiliar na definição de prioridades;
• recomendar ações;
• avaliar medidas de prevenção e controle adotadas.

Busca e coleta
de dados

Avaliação Processamento de
dados e análise de
informações

Tomada de decisão e
Divulgação da
implementação de
informação
medidas

Figura 6.1 Atividades de vigilância em saúde


DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 119
ATENÇÃO
O conhecimento das particularidades de um agra-
vo permite estabelecer medidas voltadas para a
assistência individual e coletiva. Cada caso pode ser
único no seu desfecho.

Compare estas duas situações


Estudo de Caso I
Maria, profissional de enfermagem do município de
Areia Grande, verificou durante o mês de julho de 2001
um aumento anormal do número de casos de meningite
meningocócica. Sua primeira providência foi alertar a
equipe responsável pela vigilância dos agravos à saúde
para juntos investigarem os casos ocorridos. Após a
ocorrência de três óbitos em crianças menores de cinco
anos de idade no mês de setembro, as ações de vigilância
foram intensificadas e as unidades de saúde colocadas
em estado de alerta. Que mais poderia ser feito?
Todas as equipes de saúde do município foram
orientadas no sentido de identificar precocemente os sinais
e sintomas. A realização do diagnóstico não era tarefa
fácil, principalmente entre os menores de um ano de idade
(os sintomas nem sempre são muito claros). Por esse
motivo, Maria, em conjunto com os outros membros da
equipe, iniciou um amplo trabalho de divulgação dos
sintomas da doença junto à população e aos profissionais
de saúde. Maria passou a ficar responsável pela busca
ativa de casos em hospitais e laboratórios, inclusive nos
120 § CUIDANDO EM SAUä DE PäUBLICA

municípios vizinhos em que foram internadas pessoas


procedentes de Areia Grande com hipótese diagnóstica
de meningite. Além da investigação dos casos, a equipe
da vigilância responsabilizou-se pela identificação e
controle dos contatos (familiares, colegas de trabalho etc.),
que foram acompanhados durante dez dias.
Outro problema enfrentado é que algumas pessoas
que residiam em Areia Grande trabalhavam em Berli,
município vizinho. Por esse motivo, a equipe de saúde
deste município foi comunicada a fim de intensificar a
vigilância da doença. A possibilidade de ocorrência de
uma epidemia era grande, já que a transmissão da
meningite meningocócica se dá de pessoa a pessoa, através
de secreções nasofaríngeas (parte da faringe situada atrás
do nariz). Daí a necessidade da notificação dos casos
suspeitos e da aplicação imediata das medidas adequadas.
A meningite é uma doença grave, cujo tratamento
depende do diagnóstico realizado precocemente e da
aplicação de medidas adequadas. Geralmente tem início
súbito e se caracteriza por febre, náuseas, vômitos, cefaléia
intensa, rigidez de nuca e petéquias (pequenas manchas
vermelhas ou purpúreas que surgem na pele ou em
membranas mucosas). O tratamento dessa doença
bacteriana aguda não pode ser adiado e, para tanto, o
cliente deve ser removido para um serviço hospitalar que
ofereça o suporte necessário. O prognóstico depende de
vários fatores, como o agente etiológico, as condições
clínicas do cliente, a faixa etária, o diagnóstico precoce e
o tratamento adequado.
Estudo de Caso II
Em plena sexta-feira, já quase no final do expediente,
Maria recebe um telefonema do hospital público de Areia
Grande. Haviam sido internadas naquela tarde 15 crianças
que estudavam na Escola Municipal Santo Antonio. As
crianças apresentavam febre, vômitos, evacuações com
DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 121
fezes diarréicas e dor abdominal com cólicas. A equipe
do hospital não sabia como proceder à investigação dos
casos, e estava muito preocupada, pois recebeu um
comunicado que três adultos foram internados no
município vizinho, Vila Esperança, com os mesmos
sintomas. A escola realizara naquele dia um grande almoço
com o objetivo de arrecadar fundos para obras.
O que estaria acontecendo? Haveria alguma ligação entre
os casos? O que deveria ser feito para comprovar suas causas?
A primeira providência de Maria foi acionar os outros
membros da equipe, a fim de iniciar a investigação dos
casos. Havia muito trabalho pela frente:
• visitar o hospital, a escola e os domicílios dos casos
notificados;
• procurar novos casos;
• examinar os clientes;
• coletar material;
• executar medidas de controle.
Pelo visto aquele seria um final de semana muito
movimentado.
A diarréia não deve ser vista pelos profissionais de
saúde como um problema normal; sua importância não
pode ser subestimada. Segundo o Ministério da Saúde
(1998), trata-se de um agravo responsável “por uma elevada
proporção de óbitos em menores de 5 anos” e que tem
sua maior prevalência “nas áreas carentes de saneamento
e onde há maior concentração de populações de reduzida
condição socioeconômica”. Em geral, essa síndrome clínica
de etiologia diversificada e com duração autolimitada –
varia de 2 a 14 dias – não necessita de tratamento. Situações
de surto como a apresentada exigem o desencadeamento
de um processo de investigação que permita:
• a coleta das informações necessárias;
122 § CUIDANDO EM SAUä DE PäUBLICA

• a definição da fonte de infecção;


• medidas de intervenção que interrompam a cadeia
de transmissão.

Medidas de Prevenção e Controle


Como você já sabe, cada situação de doença deve ser
estudada separadamente. O mais importante é que a equipe
de saúde deve decidir e executar o mais rápido possível as
medidas necessárias. Acompanhe e consulte os protocolos
estabelecidos pelo Ministério da Saúde na implementação
de medidas de intervenção. Se tiver dúvidas, esclareça-as.
São muitos agravos, muitos detalhes, nada pode ser deixado
de lado. Compartilhe as decisões com sua equipe de trabalho.-
A observação do número de casos notificados traz um
quadro da situação de doença, indicando qual a melhor
maneira de intervir. O controle do vetor, a educação em
saúde e a participação da comunidade podem ter papel
fundamental. As ações de vigilância à saúde têm como
objetivo romper os elos da cadeia de produção das doenças.
Para tanto, é necessário que tenhamos informações, pois
somente a partir delas será possível gerar ações.
Medidas gerais
Melhora dos níveis de:
• qualidade de vida;
• saneamento básico;
• habitação;
• alimentação e nutrição;
• escolaridade;
• condições de trabalho;
• poder aquisitivo;
DENGUE E FEBRE AMARELA: CUIDADOS PREVENTIVOS EM SAäUDE § 123
• educação ambiental;
• educação em saúde.
Medidas específicas
Realização de:
• Vacinação – indicada em agravos como poliomielite,
difteria, tétano, coqueluche, tuberculose, sarampo,
rubéo-la, hepatite, febre amarela.
• Quimioprofilaxia – indicada nos casos de meningite
meningocócica, difteria, tuberculose.
• Acompanhamento dos contatos – indicado na doença
meningocócica e difteria. O controle dos contatos
deve ser mantido por um período de
aproximadamente dez dias.
• Controle de vetores, controle químico e manejo
ambiental – têm papel decisivo no controle da
malária, febre amarela e dengue.
• Higiene dos alimentos e destino adequado do lixo –
medida muito importante no controle da cólera e da
leptospirose.
• Controle do sangue e hemoderivados, triagem de
doadores de órgãos, óvulos e sêmen – medidas
essenciais no controle da hepatite B e aids.
• Isolamento e desinfecção concorrente e terminal –
medidas indicadas em agravos como coqueluche e
doença meningocócica.
• Controle de aeroportos, aeroportos e rodoviárias –
está indicado em agravos como cólera, peste, febre
hemorrágica pelo vírus Ebola.
Não deixe de aompanhar indíviduos doentes, famílias
e comunidades, orientando-os para o autkocuidado: eles
são a razão do nosso trabalho. Faça da informação sua
grande aliada: divulgue.

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