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Medicina do Trabalho

Edson Lopes Mergulhão


Thaís Minett
Marcos Rodrigo Souza Fernandes
Fábio Roberto Cabar
João Victor Fornari
Jeane Lima e Silva Carneiro

1. Conceito e importância
A Medicina do Trabalho é, segundo a Associação Nacional de Medicina do
Trabalho, a especialidade médica que lida com as relações entre homens e
mulheres trabalhadores e seu trabalho, visando não somente à prevenção dos
acidentes e das doenças do trabalho, mas à promoção da saúde e da qualidade
de vida. Tem por objetivo assegurar ou facilitar aos indivíduos e ao coletivo
de trabalhadores a melhoria contínua das condições de saúde, nas dimensões
física e mental, e a interação saudável entre as pessoas e, estas, com seu
ambiente social e o trabalho (ANAMT, 2017).
A Medicina do Trabalho surgiu na 1ª metade do século XIX na Inglaterra, no
contexto da Revolução Industrial, para recuperar a força de trabalho cuja
sobrevivência nas indústrias estava ameaçada pelas péssimas condições de
trabalho. Tem, como características, a prevenção de danos à saúde resultantes
dos riscos do trabalho, a responsabilidade pelos problemas de saúde ocorridos
nos ambientes de trabalho das empresas, a centralidade na figura do médico e
a relação de confiança deste com os empregadores, contratantes de seus
serviços (Mendes; Dias, 1991).
As mudanças no mundo do trabalho, oriundas dos processos produtivos e dos
movimentos sociais, impulsionaram transformações nessas práticas, de modo
que estas incorporaram novos enfoques e instrumentos de trabalho, em uma
perspectiva interdisciplinar, o que culminou na delimitação posterior da
chamada “Saúde Ocupacional” e, mais recentemente, do campo da “Saúde do
Trabalhador” (ANAMT, 2017; Mendes; Dias, 1991).
A Saúde do Trabalhador desenvolveu-se no Brasil acompanhando a Reforma
Sanitária Brasileira, a partir do início da década de 1980, sob a influência de
uma concepção ampliada de saúde ancorada na Teoria da Determinação
Social do Processo Saúde-Doença. Com isso, a relação trabalho e saúde
passou a ser compreendida com base no social, como uma categoria que diz
respeito às formas de produção e reprodução da sociedade. Portanto, pauta
intervenções não somente na recuperação biológica da saúde dos
trabalhadores doentes e acidentados, ou em modificações de seu ambiente de
trabalho a fim de preveni-las, mas também nas condições de trabalho e seus
determinantes e condicionantes. A Saúde do Trabalhador foi incorporada ao
Sistema Único de Saúde (SUS), abrindo novas possibilidades e novos
desafios para a atuação médica e multiprofissional diante dos problemas de
saúde relacionados ao trabalho, nos diversos âmbitos do sistema de saúde.
A relevância do campo de atuação pode ser expressa a partir dos dados da
Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2013), os quais mostram que
2,34 milhões de mortes relacionadas ao trabalho ocorrem por ano, 321 mil
decorrentes de acidentes de trabalho, e os 2,02 milhões restantes, causados
por diversos tipos de enfermidades relacionadas com o trabalho, o que
equivale a uma média diária de mais de 5.500 mortes. Países em
desenvolvimento, como o Brasil, possuem elevados indicadores de mortes e
lesões, pois uma grande parte de suas populações está empregada em
atividades perigosas, como a agricultura, a construção civil, a pesca e a
mineração.

2. Políticas da saúde do trabalhador no Brasil


A Saúde do Trabalhador é, segundo a Constituição de 1988, uma atribuição
do SUS. Em 2002, foi criada no Brasil a Portaria nº 1.679, de 19 de setembro
de 2002, a Rede de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) com
o objetivo de implementar a Saúde do Trabalhador nos diversos níveis de
atenção à saúde (Atenção Primária, Secundária e Terciária), tendo os Centros
de Referência em Saúde do Trabalhador (CERESTs) como eixo articulador
(Evangelista et al., 2011). Em 2012, foi estabelecida pela Portaria nº 1.823, de
23 de agosto de 2012, a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da
Trabalhadora (PNSTT) com a finalidade de definir princípios, diretrizes e
estratégias para a Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, com ênfase na
vigilância em saúde, visando à promoção e proteção da saúde dos
trabalhadores e redução da morbimortalidade decorrentes dos modelos de
desenvolvimento e dos processos produtivos (Brasil, 2012).
São objetivos da PNSTT: I - fortalecer a Vigilância em Saúde do Trabalhador
e a integração com os demais componentes da Vigilância em Saúde; II -
promover a saúde e ambientes e processos de trabalho saudáveis; III - garantir
a integralidade na atenção à saúde do trabalhador; IV - ampliar o
entendimento de que a Saúde do Trabalhador deve ser concebida como uma
ação transversal, devendo a relação saúde-trabalho ser identificada em todos
os pontos e instâncias da rede de atenção; V - incorporar a categoria trabalho
como determinante do processo saúde-doença dos indivíduos e da
coletividade, incluindo-a nas análises de situação de saúde e nas ações de
promoção em saúde; VI - assegurar que a identificação da situação do
trabalho dos usuários seja considerada nas ações e serviços de saúde do SUS e
que a atividade de trabalho realizada pelas pessoas, com as suas possíveis
consequências para a saúde, seja considerada no momento de cada
intervenção em saúde; VII - assegurar a qualidade da atenção à saúde do
trabalhador usuário do SUS (Brasil, 2012).
Para fins de intervenção, consideram-se trabalhadores todos os homens e
mulheres, independentemente da localização (urbana ou rural), da forma de
inserção no mercado de trabalho (formal ou informal), do vínculo
empregatício (público ou privado, assalariado, autônomo, avulso, temporário,
cooperativados, aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado ou
desempregado), que são sujeitos dessa Política (Brasil, 2012).
Segundo a PNSTT, os CERESTs têm o papel de realizar suporte técnico,
educação permanente, assessoria ou coordenação de projetos de assistência,
promoção e vigilância à saúde dos trabalhadores, no âmbito da sua área de
abrangência (lembrar que os CERESTs são regionais, englobando municípios
circunvizinhos de uma mesma região); articular e organizar ações intra e
intersetoriais de saúde do trabalhador, realizando a retaguarda técnica para o
conjunto de ações e serviços da rede; e irradiar experiências de vigilância em
saúde do trabalhador. Esta retaguarda deve ser organizada segundo o método
do apoio matricial às equipes de referência, mediante trabalho
multiprofissional e práticas interdisciplinares, na perspectiva da clínica
ampliada, da promoção e vigilância em saúde do trabalhador (Brasil, 2012).
O Ministério da Saúde é o coordenador Nacional da Política de Saúde do
Trabalhador (Brasil, 2012), mas outros órgãos executivos, o Ministério do
Trabalho e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), atuam na Saúde do
Trabalhador. O Ministério do Trabalho é responsável pela normatização de
toda atividade laborativa, fiscalização e investigação de denúncias e de
acidentes graves e óbitos. O INSS é o responsável pelos benefícios
pecuniários dos trabalhadores (acidentados e/ou aposentados) com registro
em Carteira Profissional. O Ministério da Saúde é responsável pelo cuidado à
saúde de todos os trabalhadores, desde a prevenção do adoecimento ao seu
tratamento, como um direito garantido pelo SUS a toda a população. De
acordo com a Lei nº 13.341/2016, o Ministério do Trabalho e a Previdência
Social foram convertidos em Ministério do Trabalho.
Nesse contexto, desde 1978 o Ministério do Trabalho publica normas
relativas à segurança e saúde do trabalho, as chamadas Normas
Regulamentadoras (NRs), as quais obrigam empresas privadas e públicas, e
pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos
órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos
pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a regular seus ambientes e
suas condições para o exercício do trabalho, de modo a observar a segurança
e saúde de seus trabalhadores.

- As Normas Regulamentadoras

As NRs são normas relativas à Segurança e à Medicina do Trabalho,


aprovadas pela Portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978, que devem ser
cumpridas pelas empresas privadas e públicas que tenham empregados
regidos pela CLT. As NRs são elaboradas por uma comissão tripartite,
composta por representantes do governo, dos empregadores e dos
empregados. Além de regulamentarem, fornecem parâmetros e instruções
sobre Saúde e Segurança do Trabalho. Existem NRs gerais e rurais.
3. Atuação médica na Medicina do
Trabalho/saúde do trabalhador
Um dos campos mais visíveis e tradicionais da Medicina do Trabalho tem
sido nas empresas, no âmbito dos SESMTs e dos PCMSOs, conforme
estabelecem as NR 04 e pela NR 07, respectivamente.
Os SESMTs devem ser compostos por Médicos do Trabalho, Engenheiros de
Segurança do Trabalho, Técnicos de Segurança do Trabalho, Enfermeiros do
Trabalho e Auxiliares ou Técnicos em Enfermagem do Trabalho, a depender
do número de empregados e do Grau de Risco (GR) da atividade econômica
da empresa. Sua obrigatoriedade também ocorre de acordo com o número de
empregados e o GR da atividade econômica, que varia de 1 (menor risco) a 4
(maior risco), conforme a NR 04. Por exemplo, empresas com atividades
econômicas de GR 01 possuem obrigatoriedade desse serviço apenas quando
têm mais de 501 empregados. Já empresas com GR 04 devem dispor desse
serviço já a partir de 50 empregados.
A NR 07 estabeleceu a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por
parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores
como empregados, do PCMSO, com o objetivo de promoção e preservação da
saúde do conjunto dos seus trabalhadores. Esse programa deve ser parte do
conjunto mais amplo de iniciativas da empresa no campo da saúde dos
trabalhadores. Devem-se considerar as questões de risco coletivo e individual,
utilizar abordagem epidemiológica e ter caráter de prevenção, rastreamento e
diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho. No caso de
a empresa estar desobrigada de manter médico do trabalho, de acordo com a
NR 04, deverá o empregador indicar médico do trabalho, empregado ou não
da empresa, para coordenar o programa, o qual deve incluir, entre outros, a
realização obrigatória dos exames médicos: admissional, periódico, de retorno
ao trabalho, de mudança de função e demissional.

Importante
PCMSO são as iniciais do Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional. Trata-se de uma legislação federal, especificamente a Norma
Regulamentadora nº 07, emitida pelo Ministério do Trabalho e Emprego no
ano de 1994, que determina a obrigatoriedade de elaboração e
implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que
admitam trabalhadores como empregados, com base no programa, com o
objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus
trabalhadores.

Com a criação do SUS, na Constituição de 1988, abriram-se novos espaços de


atuação para médicos e outros profissionais de saúde em saúde do
trabalhador, compondo as ações e os serviços desse sistema. Com o avanço
normativo e legislativo do SUS nessa área (RENAST, em 2002; Pacto Pela
Saúde, 2006; PNSTT, 2012 etc.), tem se ampliado a compreensão de que os
serviços de saúde do trabalhador devem ser ofertados em todos os níveis
(Atenção Primária, Secundária e Terciária), criando-se a necessidade de os
médicos atuantes em todas as partes do sistema possuírem conhecimentos e
habilidades para reconhecer e lidar com os problemas de saúde decorrentes do
trabalho, reportando-os aos serviços especializados, quando necessário, ou
pedindo apoio a eles. O CEREST, por exemplo, funciona como retaguarda
técnica e apoiador matricial dos demais serviços.
Há várias possibilidades de atuação médica nessa área. Em geral, podem ser
assim resumidas (ANAMT, 2017):

Nos espaços do trabalho ou da produção (as empresas), como empregado


nos SESMTs, como prestador de serviços técnicos, para a elaboração do
PCMSO ou de consultoria;
Na normalização e fiscalização das condições de Saúde e Segurança no
Trabalho (SST) desenvolvidas pelo Ministro do Trabalho e Emprego;
Na rede pública de serviços de saúde e no desenvolvimento das ações de
saúde do trabalhador;
Na assessoria sindical em saúde do trabalhador, nas organizações de
trabalhadores e de empregadores;
Na perícia médica da Previdência Social, enquanto seguradora do
acidente do trabalho;
Na atuação junto ao Sistema Judiciário como perito judicial em
processos trabalhistas, ações cíveis e ações da promotoria pública;
Na atividade docente e na formação e capacitação profissional;
Na atividade de investigação no campo das relações entre saúde e
trabalho;
Em consultoria privada no campo da SST.

A - Atribuições do médico

Há atribuições mais gerais que o médico compartilha com as equipes de saúde


em que se integra nos diversos espaços onde atua e há aquelas atribuições que
lhes são privativas. Ambas variam em razão da instituição e parte do sistema
de saúde em que ele realiza suas atividades. De modo geral, são algumas
dessas atribuições:
Avaliar as principais consequências ou danos para a saúde dos
trabalhadores, bem como identificar os principais fatores de risco
presentes no ambiente de trabalho decorrentes do processo de trabalho e
das suas formas de organização;
Controlar os fatores de risco presentes nos ambientes e nas condições de
trabalho e identificar as principais medidas de prevenção, inclusive a
correta indicação e os limites do uso dos EPIs;
Efetuar exames (admissionais, periódicos, demissionais), considerando a
história médica e ocupacional, a avaliação clínica e laboratorial, a
avaliação das demandas profissiográficas e o cumprimento dos requisitos
legais vigentes – Ministério do Trabalho (NR 07); Ministério da Saúde
(SUS); Conselhos Federal/Regional de Medicina etc.;
Tratar e diagnosticar as doenças e os acidentes relacionados com o
trabalho, incluindo as providências para a reabilitação física profissional,
e prover atenção médica de emergência na ocorrência de agravos à
saúde, não necessariamente relacionados ao trabalho;
Juntamente aos trabalhadores e empregadores, implementar atividades
educativas;
Organizar e participar da inspeção e da avaliação das condições de
trabalho com vistas ao seu controle e à prevenção dos danos para a saúde
dos trabalhadores;
Opinar sobre o potencial tóxico de risco e avaliar o perigo para a saúde
de produtos químicos mal conhecidos ou insuficientemente avaliados
quanto à sua toxicidade;
Cumprir e interpretar regulamentos legais e normas técnicas,
colaborando, sempre que possível, com os órgãos governamentais, no
desenvolvimento e no aperfeiçoamento dessas normas;
Em acidentes de grandes proporções ou situações de desastres, planejar e
implantar ações;
Participar da implementação de programas de reabilitação de
trabalhadores com dependência química;
Para fins da vigilância da saúde e do planejamento, implementar e
avaliar programas de saúde;
Gerenciar as informações estatísticas e epidemiológicas relativas à
mortalidade, morbidade e incapacidade para o trabalho, bem como
planejar e implementar outras atividades de promoção da saúde,
priorizando o enfoque dos fatores de risco relacionados ao trabalho;
Programar e realizar ações de assistência básica e de vigilância em saúde
do trabalhador;
Realizar inquéritos epidemiológicos em ambientes de trabalho;
Realizar vigilância em ambientes de trabalho com outros membros da
equipe ou com órgãos que atuem no campo da saúde do trabalhador;
Notificar acidentes e doenças do trabalho, mediante instrumentos de
notificação do SUS.

B - Exames médicos do Programa de Controle Médico


de Saúde Ocupacional
a) Admissional

É uma avaliação médica antes do registro em carteira e do efetivo início de


suas atividades, direcionada para riscos específicos como esforço ou
características próprias do trabalho. O médico deve averiguar se o candidato
não apresenta patologia que pode ser agravada pelo trabalho, se não apresenta
doenças ou condição física que possam colocar terceiros em risco e se está
fisicamente capacitado às tarefas a ele propostas.

b) Outros exames

Periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de função e demissional –


todos esses exames devem compreender avaliação clínica, abrangendo
anamnese ocupacional, exames físico e mental e exames complementares.
Para cada um desses exames médicos, será emitido um Atestado de Saúde
Ocupacional (ASO), em que deverão constar a identificação do trabalhador e
do profissional, os riscos ocupacionais específicos existentes ou a ausência
deles, a indicação dos procedimentos médicos a que foi submetido, incluindo
os exames complementares e a definição de apto ou inapto para a função
específica que o trabalhador vai exercer, exerce ou exerceu. Todos esses
dados, além das informações de doenças não relacionadas ao trabalho, devem
estar presentes no prontuário da saúde do trabalhador, cuja guarda é
obrigatória pela empresa até 20 anos após o seu desligamento.
4. Riscos ocupacionais
Cabe ao profissional envolvido na saúde do trabalhador:

Reconhecer o risco, o que significa identificar, no ambiente de trabalho,


fatores ou situações com potencial de dano;
Avaliar o risco, o que significa estimar a probabilidade e a gravidade de
que o dano ocorra.

A - Físicos
B - Químicos

Poeiras: partículas sólidas produzidas mecanicamente por ruptura de


partículas maiores;
Fumos: partículas sólidas produzidas por condensação de vapores metálicos;
Névoas: partículas líquidas produzidas mecanicamente, por exemplo, em
processo spray;
Neblinas: partículas líquidas produzidas por condensações de vapores;
Gases: dispersões de moléculas no ar, misturadas completamente com este;
Vapores: são, também, dispersões de moléculas no ar que, ao contrário dos
gases, podem condensar-se para formar líquidos ou sólidos em condições
normais de temperatura e pressão.

Dica
Toda vez que nos deparamos com uma questão de riscos ocupacionais de
natureza química devemos lembrar que químicos se referem a partículas
e/ou moléculas de dispersão como fatores de risco ocupacional.
C - Biológicos
D - Ergonômicos

Esforço físico e intenso;


Levantamento e transporte manual de peso;
Exigência de postura inadequada;
Controle rígido de produtividade;
Imposição de ritmos excessivos;
Trabalho em turno e noturno;
Jornadas de trabalho prolongadas;
Monotonia e repetitividade;
Outras situações causadoras de estresse físico e/ou psíquico.

E - Riscos de acidentes

Arranjo físico inadequado;


Máquinas e equipamentos sem proteção;
Ferramentas inadequadas ou defeituosas;
Iluminação inadequada;
Eletricidade;
Probabilidade de incêndio ou explosão;
Armazenamento inadequado;
Animais peçonhentos;
Outras situações de risco que podem contribuir para a ocorrência de
acidentes.

5. Acidentes de trabalho
Afetam o empregado segurado, o trabalhador avulso, bem como o segurado
especial, provocando lesão corpórea ou perturbação funcional que cause a
morte, a perda ou redução, temporária ou permanente, da capacidade para o
trabalho.
Os acidentes de trabalho, típicos e de trajeto, geralmente se constituem de
fenômenos traumáticos e são, respectivamente, os que ocorrem a serviço da
empresa ou no percurso da residência ou da refeição para o local de trabalho e
vice-versa. Também se incluem nessa categoria a doença profissional, isto é,
aquela produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a
determinada atividade, constante da relação publicada pelo Ministério da
Saúde, e a doença do trabalho, assim entendida como aquela adquirida ou
desencadeada em função de condições especiais em que é realizado e com ele
se relacione diretamente, desde que também constante em regulamentação.

Importante
Os acidentes em que profissionais de saúde se expõem a sangue e outros
fluidos biológicos devem ser considerados emergência médica. Há,
portanto, necessidade de priorizar o atendimento a eles no mais curto
espaço de tempo possível. As condutas específicas visam evitar a
disseminação do HIV e dos vírus das hepatites B e C no ambiente de
trabalho.

São tipos de exposição que envolvem material biológico considerados de


risco:

Exposições percutâneas: lesões provocadas por instrumentos perfurantes


ou cortantes (exemplo: agulhas, lâminas de bisturi, vidrarias etc.);
Exposições de mucosas: ocorrência de respingos na face, no olho, nariz
ou na boca; ou exposição de mucosa genital;
Exposição de pele não íntegra: contato com locais onde a pele apresenta
dermatites ou feridas abertas;
Arranhaduras e/ou mordeduras: são consideradas de risco quando
envolvem a presença de sangue.

Acompanhamento pós-exposição:

Coleta e realização das sorologias para HIV e hepatites B e C do


profissional acidentado e do paciente-fonte. Outras sorologias podem ser
solicitadas, de acordo com a situação epidemiológica, como sorologia
para doença de Chagas, HTLV, sífilis;
Indicação de profilaxia quando recomendada.

Caracterização do acidente:

Acidente leve: contato com secreções, urina ou sangue em pele íntegra;


Acidente moderado: contato com secreções ou urina em mucosas; sem
sangue visível;
Acidente grave: contato de líquido orgânico contendo sangue visível
com mucosas ou exposição percutânea com material perfurocortante.

Profilaxia:
Logo após o acidente deverá se proceder à descontaminação do sítio exposto,
limpando a ferida com água e sabão ou irrigando as membranas mucosas com
água limpa.

Acidente leve: solicitar sorologias de HIV e hepatites virais do


profissional acidentado e sorologia de HIV do paciente-fonte. Não
prescrever antirretroviral. Encaminhar à Coordenadoria de DST/AIDS
para acompanhamento;
Acidente moderado: comunicar a enfermeira para proceder à notificação
do caso. Solicitar sorologias de HIV e hepatites virais do acidentado e
sorologia de HIV do paciente-fonte. Prescrever: AZT (zidovudina),
100mg, 2cps, VO, a cada 12 horas; e Epivir® (lamivudina), 150mg, 1cp,
VO, a cada 12 horas;
Acidente grave: seguir as recomendações do acidente moderado e
prescrever: AZT (zidovudina), 100mg, 2cps, VO, a cada 12 horas;
Epivir® (lamivudina), 150mg, 1cp, VO, a cada 12 horas; Viracept®
(nelfinavir), 250mg, 3cps, VO, a cada 8 horas.
A - Equiparam-se também a acidente de trabalho

Acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única,
tenha consequência significativa de saúde;
Acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho por
causas diversas às laborais;
Doença proveniente de contaminação acidental do empregado no
exercício de sua atividade;
Acidente sofrido, ainda que fora do local e do horário de trabalho, desde
que a serviço da empresa ou durante o trajeto de ida e volta do trabalho.

B - Não são consideradas doenças de trabalho

Doença degenerativa;
Inerente a grupo etário;
Aquela que não produz incapacidade laborativa;
Doença endêmica adquirida por segurados habitantes de região onde ela
se desenvolva, salvo se comprovado que resultou de exposição ou de
contato direto determinado pela natureza do trabalho.

C - Comunicação de Acidente de Trabalho

As ocorrências de acidentes de trabalho são comunicadas ao INSS pelo


documento de registro oficial desse tipo de ocorrência no Brasil, denominado
Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). Esse documento deve ser
preenchido pelo departamento de pessoal da empresa ou empregador e
entregue ao posto do seguro social até o 1º dia útil após a ocorrência do
acidente. No caso de morte, a comunicação deve ser feita imediatamente. Na
falta de comunicação por parte da empresa, podem preencher a CAT o próprio
segurado acidentado ou seus dependentes, sindicato a que seja filiado, o
médico que o atendeu ou qualquer autoridade, sem que isso, no entanto, isente
a empresa da sua responsabilidade.
Nos casos de doença ocupacional, o médico do trabalho responsável
comunica o caso ao INSS após constatação da doença e emissão da CAT.
Então, o trabalhador é encaminhado ao INSS para perícia e estabelecimento
do nexo causal. Este se refere ao estabelecimento de uma relação de causa e
consequência entre as condições e histórico de trabalho e o quadro clínico
apresentado. Em caso de incapacidade, deverá ser feito o encaminhamento ao
auxílio-doença.

Importante
Em caso de suspeita de doença ocupacional, deve-se realizar um
acompanhamento médico do trabalhador para avaliar se é realmente uma
doença ocupacional. Caso seja constatada a doença, é preciso fazer a
emissão da CAT e o encaminhamento ao INSS. Depois disso, é realizada
uma avaliação pericial e, em caso de incapacidade, é feito o
encaminhamento ao auxílio-doença.

Em caso de acidentes típicos e de trajeto, é emitida a CAT e estabelecido o


tempo de afastamento para tratamento e recuperação. Se esse tempo for
menor que 15 dias, o pagamento do auxílio-doença será de responsabilidade
da empresa. Caso seja maior que 15 dias, esse benefício é de responsabilidade
do INSS.
Em caso de doença não ocupacional, deverá ser estabelecido o tempo de
afastamento para tratamento e recuperação. Se esse tempo for menor que 15
dias, o pagamento do auxílio-doença será de responsabilidade da empresa. A
partir do 16º dia, o benefício é de responsabilidade do INSS, em semelhança
ao acidente de trabalho.

A comunicação será feita ao INSS por intermédio do formulário CAT,


preenchido em 6 vias, com a seguinte destinação:

1ª via: ao INSS;
2ª via: à empresa;
3ª via: ao segurado ou dependente;
4ª via: ao sindicato de classe do trabalhador;
5ª via: ao SUS;
6ª via: à Delegacia Regional do Trabalho (DRT).

É importante ressaltar que a CAT deve ser emitida para todo acidente ou
doença relacionados ao trabalho, ainda que não haja afastamento ou
incapacidade.

Importante
Dos itens que mais são cobrados nas provas, no que se refere ao
preenchimento da doença que levará ao afastamento do trabalho, podemos
citar o agente causador, a situação geradora do acidente e se houve
afastamento.

6. Doenças do trabalho e profissionais


A doença profissional é aquela produzida ou desencadeada pelo exercício do
trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação
elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pela Previdência Social.
Exemplos: saturnismo (intoxicação provocada pelo chumbo) e silicose
(sílica).
Já a doença do trabalho é aquela adquirida ou desencadeada em função de
condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione
diretamente (também constante da relação supracitada). Exemplo: disacusia
(surdez) em trabalho realizado em local extremamente ruidoso.
A Tabela 7 resume e exemplifica os grupos das doenças relacionadas, de
acordo com a classificação proposta por Schilling (1984).
São apresentados a seguir exemplos de doenças que têm, como causa
necessária, fatores de exposição relacionados ao trabalho.

A - Perda auditiva induzida por ruídos

A Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) é o agravo mais frequente à


saúde dos trabalhadores, presente em diversos ramos de atividade,
principalmente siderurgia, metalurgia, gráfica, têxteis, papel e papelão,
vidraria, entre outros. Atualmente, tem sido utilizado um novo termo: Perda
Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados (PAINSPE).

Dica
Entende-se por limite de tolerância a concentração ou intensidade máxima
ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente,
que não causará dano à saúde do trabalhador durante a sua vida laboral.
Dica
Para não esquecer, um esquema é memorizar que, para 85dB, o tempo
máximo de exposição é de 8 horas e, acima de 100dB, o tempo de
exposição é reduzido para minutos. Muitas provas colocam esses períodos
como tempos de corte em relação à exposição em dB.

O manual técnico sobre o assunto, publicado pelo Ministério da Saúde em


2006, indica os sinais e sintomas da PAIR a seguir.

a) Auditivos

Perda auditiva;
Zumbidos;
Dificuldades no entendimento da fala;
Outros sintomas auditivos menos frequentes: algiacusia (sensação
dolorosa a ruído de alta intensidade), sensação de audição “abafada”,
dificuldade na localização da fonte sonora.

Dica
Uma regra mnemônica para gravar os sintomas de PAIR é o “PAZA”, que
representa, respectivamente, Perda auditiva, Algiacusia, Zumbidos e
Abafada.

b) Não auditivos

Transtornos da comunicação;
Alterações do sono;
Transtornos neurológicos;
Transtornos vestibulares;
Transtornos digestivos;
Transtornos comportamentais.

O mesmo documento aponta, como características importantes da PAIR:

Ser sempre neurossensorial, uma vez que a lesão está localizada no


órgão de Corti da orelha interna;
Normalmente bilateral, com padrões similares. Em algumas situações,
observam-se diferenças entre os graus de perda em cada orelha;
A sua progressão cessa com o fim da exposição ao ruído intenso;
A perda tem início e predomínio nas frequências de 3, 4 ou 6kHz,
progredindo, posteriormente, para 8, 2, 1, 0,5 e 0,25kHz.

B - Silicose
A mais antiga, mais grave e mais prevalente das doenças pulmonares
relacionadas à inalação de poeiras minerais é a silicose. As pneumoconioses
são definidas pela OIT como “doenças pulmonares causadas pelo acúmulo de
poeira nos pulmões e reação tissular à presença dessas poeiras”. E, por não ser
passível de tratamento e totalmente irreversível, pode cursar com graves
transtornos à saúde do trabalhador.
É vasta a relação das atividades de risco: mineração subterrânea e de
superfície; corte de pedras, britagem, moagem, lapidação, cerâmicas,
fundições que utilizam areia no processo, vidro industrial de abrasivos,
marmorarias, corte e polimento de granito, cosméticos, protéticos, cavadores
de poços; artistas plásticos e jateadores de areia. Dentre as principais
atividades, com respectivos registros de prevalência de silicose, podemos citar
indústria cerâmica (3,9%), atividades em pedreiras (3 a 16%), jateamento de
areia na indústria naval (23,6%) e perfuração de poços no Nordeste (17%).

Dica
Boa parte dos casos só será diagnosticada anos depois de o trabalhador
estar afastado da exposição, já que a silicose é, em geral, uma doença de
desenvolvimento lento, com progressão independente do término da
exposição, praticamente assintomática na fase inicial.

Os sintomas característicos e predominantes começam a aparecer com a


progressão da doença:

Fase inicial: dispneia de esforço, astenia, tosse e/ou expectoração


constantes e dor torácica à inspiração profunda e aos esforços;
Fase avançada: insuficiência respiratória grave, dor torácica
progressiva, dispneia aos mínimos esforços e até em repouso,
comprometimento cardíaco, astenia grave e até cor pulmonale crônico.

Importante
Caso os sintomas da fase inicial da silicose se apresentem antes de 10 anos
de exposição à sílica cristalina, podem ser atribuídos ao tabagismo ou a
outras doenças associadas, como a silicotuberculose.

Em conjunto com a história clínica ocupacional (inquérito rigoroso sobre


profissão, ramo industrial, atividades específicas detalhadas, presentes e
passadas) coerente, o diagnóstico da silicose se baseia na radiografia de tórax
– específico, recomendado pela OIT, que permite identificar pequenas lesões
no pulmão.
Figura 1 - Silicose

C - Asbestose

O Brasil é um dos grandes produtores mundiais de asbesto, principalmente na


fabricação de produtos de cimento-amianto; materiais de fricção, como
pastilhas de freio; materiais de vedação, piso e produtos têxteis, como mantas
e tecidos resistentes ao fogo.

Importante
Considerada uma doença eminentemente ocupacional, a asbestose é a
pneumoconiose associada ao asbesto ou amianto. A doença, de caráter
progressivo e irreversível, pode se manifestar alguns anos depois de
cessada a exposição, com período de latência superior a 10 anos.
Clinicamente, caracteriza-se por dispneia de esforço, estertores crepitantes
nas bases pulmonares, baqueteamento digital, alterações funcionais e
pequenas opacidades irregulares na radiografia de tórax.

É a partir da história ocupacional, do exame físico e das alterações


radiológicas que o diagnóstico é realizado. A radiografia de tórax, assim como
a sua leitura, deverá ser feita de acordo com o preconizado pela OIT.

- Procedimento

Afastamento imediato e definitivo da exposição, mesmo nas formas


iniciais;
Notificação e investigação do caso;
Solicitação de emissão de CAT pela empresa e preenchimento do Laudo
de Exame Médico (LEM) pelo médico.

Importante
Além da asbestose, a exposição às fibras de asbesto está relacionada ao
surgimento de outras doenças, como as alterações pleurais benignas, o
câncer de pulmão e os mesoteliomas malignos, que podem acometer a
pleura, o pericárdio e o peritônio.
Figura 2 - Corpos de asbesto do tipo anfibólio: fibras finas e retas no tecido pulmonar

D - Lesões por esforços repetitivos/distúrbios


osteomusculares relacionados ao trabalho

As Lesões por Esforços Repetitivos (LERs) e os Distúrbios Osteomusculares


Relacionados ao Trabalho (DORTs) abrangem diversas patologias; dentre as
mais conhecidas, a tenossinovite, a tendinite e a bursite.
Trata-se da 2ª causa de afastamento do trabalho no Brasil. As LERs/DORTs
atingem o trabalhador no auge de sua produtividade e experiência
profissional. A maior incidência está na faixa etária de 30 a 40 anos, e as
mulheres são as mais atingidas.
As categorias profissionais que encabeçam as estatísticas são bancários,
digitadores, operadores de linha de montagem, operadores de telemarketing,
secretárias, jornalistas, entre outros. Não há uma etiologia única e
determinada para a ocorrência de LERs/DORTs. Vários fatores existentes no
trabalho contribuem para a sua existência:

Repetitividade de movimentos;
Manutenção de posturas inadequadas por tempo prolongado;
Esforço físico;
Invariabilidade de tarefas;
Pressão mecânica sobre determinados segmentos do corpo, em particular
membros superiores;
Trabalho muscular estático;
Choques e impactos, vibração, frio e fatores organizacionais.

São caracterizadas pela exigência de ritmo intenso de trabalho, existência de


pressão, autoritarismo das chefias e mecanismos de avaliação de desempenho
com base em produtividade.

E - Intoxicações exógenas

a) Agrotóxicos

Todo produto agrotóxico é classificado, pelo menos, quanto a 3 aspectos,


apresentados a seguir.

- Quanto aos tipos de organismos que controlam

Inseticidas, acaricidas, fungicidas, herbicidas, nematicidas, moluscicidas,


raticidas, avicidas, columbicidas, bactericidas e bacteriostáticos são termos
que se referem à especificidade do agrotóxico com relação aos tipos de pragas
ou doenças.

- Quanto à toxicidade da substância

Quanto ao grau de toxicidade, a classificação adotada é aquela preconizada


pela OMS, que distingue os agrotóxicos em classes I, II, III e IV. A
classificação utilizada na definição da coloração das faixas nos rótulos dos
produtos agrotóxicos é: vermelho, amarelo, azul e verde, respectivamente.
Temos, assim, a classificação presente na Tabela 8.
- Quanto ao grupo químico ao qual pertencem

Organofosforados;
Carbamatos;
Organoclorados;
Piretroides;
Dietilditiocarbamatos;
Derivados do ácido fenoxiacético.

No grupo dos inseticidas, os organofosforados e carbamatos, inibidores das


colinesterases, têm causado o maior número de intoxicações (agudas,
subagudas e crônicas) e mortes no Brasil e no mundo.
Os organofosforados penetram por vias dérmica, pulmonar e digestiva,
causando sudorese, sialorreia, miose, hipersecreção brônquica, colapso
respiratório, tosse, vômitos, cólicas, diarreia, miofasciculações, hipertensão
arterial fugaz, confusão mental, ataxia, convulsões e choque
cardiorrespiratório, podendo levar a coma e óbito.
A ação tóxica e a sintomatologia dos carbamatos são semelhantes às dos
organofosforados.
Os organoclorados penetram no organismo pelas vias dérmica, gástrica e
respiratória, são lipossolúveis (contraindicado o uso de leite nas intoxicações)
e eliminados pela urina e pelo leite materno. Em sua ação tóxica,
comprometem a transmissão do impulso nervoso nos níveis central e
autônomo, provocando alterações comportamentais, sensoriais, do equilíbrio,
da atividade da musculatura voluntária e de centros vitais, principalmente do
bulbo respiratório.
Os inseticidas piretroides causam irritação nos olhos, nas mucosas e na pele.
São muito utilizados em “dedetizações” de domicílios e prédios e têm sido
responsabilizados pelo aumento de casos de alergia em adultos e crianças. Em
altas doses, podem levar a neuropatias (agem na bainha de mielina e a
desorganizam, promovendo a ruptura de axônios).
Os fungicidas do grupo dietilditiocarbamatos são proibidos no exterior, mas
aqui são usados na cultura do tomate, do pimentão e de frutas. A absorção
ocorre pela via dérmica. Alguns contêm manganês, o que possibilita o
surgimento de sintomas de parkinsonismo. Sua impureza, ETU (etileno-
etilureia), é tida como carcinogênica, teratogênica e mutagênica. A exposição
intensa provoca dermatite, conjuntivite, faringite e bronquite.
Os herbicidas são produtos de uso crescente, por serem substitutivos de mão
de obra. O produto mais conhecido e usado é o paraquat (Gramoxone®), que
provoca lesões hepáticas e renais e fibrose pulmonar (insuficiência
respiratória e óbito). Ainda nesse grupo estão o ácido 2,4-diclorofenoxiacético
(2,4-D) e o 2,4,5-triclorofenoxiacético (2,4,5-T). A mistura de 2,4-D e 2,4,5-T
representa o principal componente do agente laranja, utilizado como
desfolhante na guerra do Vietnã.
São bem absorvidos pelas 3 vias já citadas. O primeiro produz neurite
periférica e diabetes transitório; o segundo leva a abortamentos, teratogênese,
carcinogênese (está relacionado à dioxina, que aparece como impureza do
processo de fabricação) e cloroacnes. Provocam, ainda, neurite periférica
retardada, lesões do sistema nervoso central e lesões degenerativas –
hepáticas e renais.

Importante
Dentre as intoxicações químicas relacionadas ao trabalho, podemos citar,
como de maior importância, os organofosforados e carbamatos, tendo,
como sintomatologia, sudorese, sialorreia, miose, hipersecreção brônquica,
colapso respiratório, tosse, vômitos, cólicas, diarreia, miofasciculações,
hipertensão arterial fugaz, confusão mental, ataxia, convulsões e choque
cardiorrespiratório, podendo levar a coma e óbito. Lembrando que o
carbamato se diferencia por apresentar sintomatologia mais leve.

- Procedimento

Estabelecido o nexo pela avaliação clínico-ocupacional, os casos devem ser


notificados ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e
encaminhados à rede de referência para atendimentos especializados, quando
necessário. Os exames laboratoriais, como dosagem de colinesterase, deverão
ser realizados em função do produto ao qual esteve exposto o trabalhador.
Caso o trabalhador intoxicado tenha carteira de trabalho assinada, deverá ser
solicitada a emissão da CAT pela empresa, sendo o médico responsável pelo
preenchimento do LEM. Deverá ser procedida a notificação nos instrumentos
do SUS e ser feita a investigação da situação que ocasionou a intoxicação; a
partir de então, deverão ser desencadeadas as medidas de controle.

b) Chumbo (saturnismo)

As principais fontes de contaminação ocupacional e/ou ambiental são as


atividades de mineração e industriais, especialmente fundição e refino.
A doença causada pelo chumbo é chamada saturnismo. A exposição
ocupacional ao chumbo inorgânico provoca, em sua grande maioria,
intoxicação em longo prazo, podendo ser de variada intensidade. As
principais atividades profissionais em que ocorre exposição ao chumbo são:
fabricação e reforma de baterias; indústria de plásticos; fabricação de tintas;
pintura à pistola/pulverização com tintas à base de pigmentos de chumbo;
fundição de chumbo, latão, cobre e bronze; reforma de radiadores;
manipulação de sucatas; demolição de pontes e navios; trabalhos com solda;
manufatura de vidros e cristais; lixamento de tintas antigas; envernizamento
de cerâmica; fabricação de material bélico à base de chumbo; usinagem de
peças de chumbo; manufatura de cabos de chumbo; trabalho em joalheria etc.
As intoxicações podem causar danos aos sistemas sanguíneo, digestivo, renal,
nervoso central e, em menor extensão, ao nervoso periférico. O contato com
os compostos de chumbo pode ocasionar dermatites e úlceras na epiderme.

- Sinais e sintomas na intoxicação crônica

Cefaleia, astenia;
Alterações do comportamento (irritabilidade, hostilidade, agressividade,
redução da capacidade de controle racional);
Alterações do estado mental (apatia, obtusidade, hipoexcitabilidade,
redução da memória);
Alteração da habilidade psicomotora, com redução da força muscular,
dor e parestesia nos membros;
Queixas de impotência sexual e diminuição da libido (comuns);
Hiporexia, epigastralgia, dispepsia, pirose, eructação;
Dor abdominal aguda, às vezes confundida com abdome agudo, pode ser
sintoma de intoxicação crônica por chumbo;
Modificação da frequência e do volume urinários, das características da
urina, aparecimento de edema e hipertensão arterial;
O exame oral pode revelar a existência da orla gengival de Burton. É um
sinal relativamente frequente e constitui-se numa linha azulada da
gengiva imediatamente por cima da implantação dos dentes. Aparece
mais nas áreas dos caninos, mas nos casos de má higiene (tártaro) ou
cáries junto ao colo costuma incidir mais nas áreas correspondentes aos
dentes com patologia. A orla azulada é ocasionada pelo sulfeto de
chumbo formado nos intoxicados pela presença do chumbo eliminado na
saliva, que age com o ácido sulfídrico normalmente existente na boca,
vindo a formar o sulfeto de chumbo. Esse sulfeto, que tem a coloração
azulada, deposita-se na gengiva (Figura 3).

Figura 3 - Orla gengival de Burton (linha azulada na gengiva, próxima à região de implantação dos
dentes)

c) Mercúrio (hidrargirismo)

O mercúrio e os seus compostos tóxicos ingressam no organismo por


inalação, absorção cutânea e pela via digestiva. O mercúrio metálico é
utilizado principalmente em garimpos, na extração do ouro e da prata, em
células eletrolíticas para a produção de cloro e soda, na fabricação de
termômetros (no Brasil será proibida sua fabricação, importação e
comercialização a partir de 2019), barômetros e aparelhos elétricos e em
amálgamas para uso odontológico. Os compostos inorgânicos são utilizados
principalmente em indústrias de compostos elétricos, eletrodos, polímeros
sintéticos e como agentes antissépticos. Já os compostos orgânicos são
utilizados como fungicidas, fumigantes e inseticidas.
Assim, os trabalhadores expostos são aqueles ligados à extração e à
fabricação do mineral, na fabricação de tintas, barômetros, manômetros,
termômetros, lâmpadas, no garimpo, na recuperação do mercúrio por
destilação de resíduos industriais etc.
Os vapores de mercúrio e seus sais inorgânicos são absorvidos,
principalmente, pela via inalatória. A absorção cutânea tem importância
limitada. Sua principal ação tóxica se deve à sua ligação com grupos ativos da
enzima monoaminoxidase (MAO), resulta no acúmulo de serotonina
endógena e na diminuição do ácido 5-hidroxindolacético, com manifestações
de distúrbios neurais.
Em exposições prolongadas, em baixas concentrações, produz sintomas
complexos, incluindo cefaleia, redução da memória, instabilidade emocional,
parestesias, diminuição da atenção, tremores, fadiga, debilidade, perda de
apetite, perda de peso, insônia, diarreia, distúrbios de digestão, sabor
metálico, sialorreia, irritação na garganta e afrouxamento dos dentes. Podem
ocorrer proteinúria e síndrome nefrótica. De maneira geral, a exposição
crônica apresenta 4 sinais, que se destacam, entre outros, gengivite, sialorreia,
irritabilidade e tremores.

d) Solventes orgânicos

Neste grupo químico, estão os hidrocarbonetos alifáticos (n-hexano e


benzina), os hidrocarbonetos aromáticos (benzeno, tolueno, xileno), os
hidrocarbonetos halogenados (di/tri/tetracloroetileno, monoclorobenzeno,
cloreto de metileno), os álcoois (metanol, etanol, isopropenol, butanol, álcool
amílico), as cetonas (metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona) e os
ésteres (éter isopropílico e éter etílico).
Ocupacionalmente, as vias de penetração são a pulmonar e a cutânea. A
primeira é a mais importante, pois, ao volatilizarem-se, os solventes podem
ser inalados pelos trabalhadores expostos e atingir os alvéolos pulmonares e o
sangue capilar. Havendo penetração e, consequentemente, biotransformação e
excreção, os efeitos tóxicos dessas substâncias nos níveis hepático, pulmonar,
renal, hemático e do sistema nervoso podem manifestar-se.

- Benzenismo
É o nome dado às manifestações clínicas ou alterações hematológicas
compatíveis com a exposição ao benzeno. Os processos de trabalho que
expõem trabalhadores ao benzeno estão presentes no setor siderúrgico, nas
refinarias de petróleo, nas indústrias de transformação que utilizam o benzeno
como solvente ou nas atividades em que se utilizem tintas, vernizes,
seladores, tíneres etc.
Os sintomas clínicos são pobres, mas pode haver queixas relacionadas às
alterações hematológicas, como fadiga, palidez cutânea e de mucosas,
infecções frequentes, sangramentos gengivais e epistaxe. Podem ser
encontrados sinais neuropsíquicos, como astenia, irritabilidade, cefaleia e
alterações da memória. Laboratorialmente, esses quadros podem se
manifestar por meio de mono, bi ou pancitopenia, caracterizando, nesta última
situação, quadros de anemia aplástica.
Vários estudos epidemiológicos demonstram a relação do benzeno com
leucemia mieloide aguda, leucemia mieloide crônica, leucemia linfocítica
crônica, doença de Hodgkin e hemoglobinúria paroxística noturna.

- Procedimento

Estabelecer o nexo causal pela investigação clínico-ocupacional, fazer no


mínimo 2 hemogramas com contagem de plaquetas e reticulócitos no
intervalo de 15 dias, dosar ferro sérico, capacidade de ligação e saturação do
ferro e, ainda, 2 amostras de fenol urinário, uma no fim da jornada e outra
antes dela (no momento da consulta).

e) Cromo

As maiores fontes de contaminação no ambiente de trabalho são as névoas


ácidas, que acontecem principalmente nas galvanoplastias (cromagem), na
indústria do cimento, na produção de ligas metálicas, na soldagem de aço
inoxidável, na produção e na utilização de pigmentos nas indústrias têxtil, de
cerâmica, vidro e borracha e fotográfica.
Os sintomas associados à intoxicação são prurido nasal, rinorreia e epistaxe,
que evoluem com ulceração e perfuração de septo nasal; irritação de
conjuntiva com lacrimejamento e irritação de garganta; na pele, observam-se
prurido cutâneo nas regiões de contato, erupções eritematosas ou vesiculares e
ulcerações de aspecto circular com dupla borda, a externa rósea e a interna
escura (necrose), o que lhe confere o aspecto característico de “olho de
pombo”; a irritação das vias aéreas superiores também pode manifestar-se
com dispneia, tosse, expectoração e dor no peito. O câncer pulmonar é,
porém, o efeito mais importante sobre a saúde do trabalhador.
- Procedimento

Havendo suspeita de intoxicação por cromo, os trabalhadores devem ser


encaminhados ao serviço especializado em saúde do trabalhador para
monitorização biológica – pesquisa do cromo no sangue e tecidos – e
tratamento especializado. Uma vez detectada a presença do cromo no
ambiente, se não houver segurança quanto ao limite legal para a duração da
exposição, a vigilância ou os trabalhadores poderão pedir a verificação do
nível de exposição. Os trabalhadores com intoxicação devem ser
acompanhados por longos períodos, uma vez que o câncer pulmonar se
desenvolve de 20 a 30 anos após a exposição.

F - Síndrome do túnel do carpo


O túnel do carpo é um canal situado ao nível do punho e formado, em sua
base, pelos ossos do carpo, e em sua parte superior ou teto, pelo ligamento
transverso do carpo. É através dele que passa o nervo mediano, responsável
pela inervação do polegar (1º dedo), do indicador (2º dedo), do dedo médio
(3º dedo) e a face interna do anular (4º dedo).
Pelo interior do canal do carpo, passam os tendões flexores dos dedos e o
nervo mediano.
A Síndrome do Túnel do Carpo (STC) é a neuropatia de origem compressiva
mais frequente, incidindo em cerca de 1% da população geral. Os pacientes
são predominantemente do sexo feminino, à proporção de 4:1, geralmente na
faixa etária entre 40 e 60 anos. Em cerca de 50% dos casos, a STC é bilateral,
iniciando-se na mão dominante, na qual os sintomas geralmente são mais
intensos.
As manifestações iniciais são dor, queimação, formigamento e dormência na
mão, geralmente de evolução insidiosa, acometendo território de inervação do
nervo mediano. De forma clássica, os sintomas acentuam-se no período
noturno, por vezes de forma intensa, chegando a despertar o paciente.
Movimentos repetitivos também podem exacerbar os sintomas.
São fatores ocupacionais contribuintes para a STC fadiga de baixa frequência,
esforço e repetitividade, postura e fatores mecânicos externos. Assim, vários
fatores associados ao trabalho concorrem para a ocorrência dessa síndrome,
como a repetitividade de movimentos, a manutenção de posturas inadequadas,
o esforço físico, a invariabilidade de tarefas, a pressão mecânica sobre
determinados segmentos do corpo, o trabalho muscular estático, impactos e
vibrações.
- Diagnóstico

Teste de Phalen:

Posição do paciente: sentado ou em pé, com os cotovelos fletidos a 90° e


os punhos e o dorso em contato e a 90° de flexão;
Descrição do teste: o terapeuta instrui o paciente a realizar uma flexão do
punho e colocar o dorso da mão em contato com a outra mão,
permanecendo assim por 1 minuto;
Sinais e sintomas: o aparecimento de formigamento ou dormência na
mão, principalmente na região que vai até o 3º dedo, demonstra
positividade do teste.

O sinal de Tinel, obtido a partir da percussão leve sobre a prega flexora do


punho, tem valor diagnóstico questionável devido ao elevado índice de
resultados falsos positivos. O sinal da compressão geralmente é positivo e é
obtido por meio da compressão da região do punho na altura do osso
pisiforme, o que piora os sintomas.
Embora as alterações na eletroneuromiografia sejam consideradas importantes
na definição da STC, esse exame pode ser normal em cerca de 5 a 8% dos
pacientes.

G - Outras patologias

Podemos citar, ainda, patologias desencadeadas por fatores ocupacionais:

Distúrbios mentais;
Alcoolismo;
Dermatoses ocupacionais: dermatite de contato;
Radiações ionizantes: catarata, neoplasias;
Pressão atmosférica: osteonecrose;
Picadas por animais peçonhentos.

7. Benefícios

A - Previdência Social

Os beneficiários do Regime Geral de Previdência Social são os segurados e os


dependentes. Os primeiros são as pessoas físicas: empregado pela CLT,
empregado doméstico e contribuinte individual (atividade agropecuária ou
pesqueira, mineradora, religioso, sócio-empresário e autônomo). Os
benefícios do Regime Geral de Previdência Social para o segurado são:

Aposentadoria por invalidez;


Aposentadoria por idade;
Aposentadoria por tempo de serviço;
Aposentadoria especial;
Auxílio-doença;
Salário-família;
Salário-maternidade;
Auxílio-acidente.

a) Benefícios para o dependente

Pensão por morte;


Auxílio-reclusão.

b) Benefícios para ambos

Serviço social;
Reabilitação profissional.

A aposentadoria por invalidez será devida ao segurado que, em gozo ou não


de auxílio-doença, for considerado incapaz e insuscetível de reabilitação para
o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e lhe será paga
enquanto permanecer nessa condição. A doença ou lesão preexistente somente
garantirá o benefício em caso de progressão ou agravamento.
O auxílio-doença será devido ao segurado se ficar incapacitado para o seu
trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 dias consecutivos,
por acidente de trabalho ou doença não relacionada ao trabalho.
O auxílio-acidente será concedido como indenização ao segurado quando,
após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza,
aparecerem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho
que habitualmente exercia.
A quantificação da incapacidade laboral é realizada por uma perícia. A tabela
da SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) é uma das utilizadas para
quantificar a perda da capacidade laboral.
O segurado pode, também, obter isenção de carência para concessão de
aposentadoria por invalidez caso sejam constatadas, em perícia médica, as
seguintes doenças: tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, neoplasia
maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave,
doença de Parkinson, espondilite anquilosante, nefropatia grave, estado
avançado da doença de Paget (osteíte deformante), síndrome da deficiência
imunológica adquirida (AIDS) e contaminação por radiação.

B - Centro de Referência em Saúde do Trabalhador

Os CERESTs promovem ações para melhorar as condições de trabalho e a


qualidade de vida do trabalhador por meio da prevenção e vigilância. Existem
os CERESTs estaduais e os regionais, e cabem a eles capacitar a rede de
serviços de saúde, apoiar as investigações de maior complexidade e apoiar a
estruturação da assistência de média e alta complexidades para atender aos
acidentes de trabalho e agravos.
A equipe de profissionais dos CERESTs regionais é composta por, pelo
menos, 4 profissionais de nível médio (2 auxiliares de enfermagem) e 6
profissionais de nível universitário (2 médicos e 1 enfermeiro). No caso dos
estaduais, a equipe é integrada por 5 profissionais de nível médio (2 auxiliares
de enfermagem) e 10 profissionais de nível superior (2 médicos e 1
enfermeiro).

Resumo
A organização política da área de saúde do trabalhador é regida pelo:
Ministério do Trabalho e Emprego;
Ministério da Previdência Social;
Ministério da Saúde.
A saúde do trabalhador é um conjunto de ações de promoção, proteção,
recuperação e reabilitação dos trabalhadores submetidos aos riscos e
agravos advindos das condições de trabalho;
As normas regulamentadoras:
São responsáveis por regulamentar e fornecer parâmetros e instruções
sobre Saúde e Segurança do Trabalho:
NR 04 - SESMT: o SESMT tem a finalidade de promover a saúde e
proteger a integridade física dos trabalhadores no local de trabalho.
O seu dimensionamento depende do GR e do número de
empregados da empresa;
NR 05 - CIPA:
No geral, empresa com 20 ou mais funcionários;
Representantes do empregador (inclui-se o presidente) e dos
empregados, conforme o dimensionamento da empresa;
Reuniões ordinárias mensais;
SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes do
Trabalho) e campanhas de prevenção de AIDS;
Elaboração do Mapa de Risco;
Ligação com SESMT, quando houver, e PCMSO e PPRA.
NR 06 - EPI: é todo dispositivo de uso individual, de fabricação
nacional ou estrangeira, destinado a proteger a saúde e a integridade
física dos trabalhadores. Todo trabalhador exposto a riscos é
obrigado a utilizá-lo corretamente, responsabilizando-se por sua
guarda e conservação e devendo avisar o empregador sempre que
apresentar defeitos ou problemas;
NR 07 - PCMSO: visa promover e preservar a saúde do conjunto
dos seus trabalhadores. Consultas ocupacionais (admissionais,
periódicas, demissionais, de mudança de função e de retorno ao
trabalho);
NR 09 - PPRA:
Prevenção da saúde e segurança dos trabalhadores;
Levantamento dos riscos ambientais existentes nos locais de
trabalho;
Medidas para neutralização;
Engenheiro do trabalho/técnico de segurança.
NR 17 - Ergonomia: visa estabelecer parâmetros que permitam a
adaptação das condições de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um
máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
Riscos ocupacionais:
Químicos: exposição a substâncias tóxicas por intermédio de gases,
fumos, névoas, poeiras, contato térmico ou ingestão;
Físicos: ruídos, vibração, calor, frio, luminosidade, ventilação,
umidade, pressões anormais, radiação etc.;
Biológicos: bactérias, fungos, vírus, contato com lixo e esgotos;
Ergonômicos e psicossociais: divisão do trabalho, pressão da chefia
por produtividade ou disciplina, jornada, ritmo, pausas, trabalho
noturno ou diurno, organização dos espaços físicos, esforço físico
intenso, levantamento manual de peso, postura e posições
inadequadas, repetitividade de movimentos;
Mecânicos e de acidentes: arranjo físico inadequado, falta de
proteção em máquinas perigosas, ferramentas defeituosas,
possibilidade de incêndios e explosão, presença de animais
peçonhentos.
Patologias ocupacionais:
Pneumoconioses: deposição de partículas sólidas no parênquima
pulmonar, levando ao quadro de fibrose, isto é, ao endurecimento
intersticial do tecido pulmonar;
PAIR;
Silicose;
Asbestose;
LERs;
DORTs;
Intoxicações exógenas.
Acidente de trabalho:
É o agravo à saúde pelo exercício do trabalho e serviço da empresa,
afetando o empregado segurado, o trabalhador avulso, bem como o
segurado especial, provocando lesão corpórea ou perturbação funcional
que cause a morte, a perda ou a redução, temporária ou permanente, da
capacidade para o trabalho:
Acidente típico decorrente das características da atividade
profissional por ele desempenhada;
Acidente de trajeto ou percurso da residência e do local de trabalho.
Doença do trabalho desencadeada em função de condições especiais em
que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente;
Doença profissional produzida ou desencadeada pelo exercício do
trabalho, peculiar a determinado ramo de atividade constante de relação
existente no Regulamento dos Benefícios da Previdência Social;
Previdência Social: os beneficiários do Regime Geral de Previdência
Social são os segurados e os dependentes;
Segurados (pessoas físicas):
Empregado pela CLT;
Empregado doméstico;
Contribuinte individual.
Auxílio-doença: indivíduo que, após um acidente ou doença, fique
incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por
mais de 15 dias consecutivos;
Acidentário/previdenciário;
Aposentadoria por invalidez: indivíduo que, após um acidente, seja
considerado incapaz e insuscetível de reabilitação para o exercício de
atividade que lhe garanta a subsistência, e será paga enquanto
permanecer nessa condição;
Auxílio-acidente: deve-se ao segurado como indenização quando, após
consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza,
aparecem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho
que habitualmente exercia.
CID-10
Marina Gemma
Jeane Lima e Silva Carneiro
Edson Lopes Mergulhão

1. O que é?
A 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID) é conhecida,
na prática clínica, como CID-10. Embora reconhecida por essa sigla, a
publicação é denominada de Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (Laurenti, 1994). A CID é uma
ferramenta diagnóstica padrão para a Epidemiologia, gestão de saúde e
prática clínica, que agrupa doenças análogas, semelhantes ou afins e é
utilizada para monitorizar a incidência e prevalência de doenças e outros
problemas de saúde, de forma a fornecer um panorama da situação de saúde
dos países e das populações (Laurenti, 1991; OMS, 2016).
Além de servir de instrumento estatístico para análises de âmbito nacional, a
CID é cada vez mais utilizada para o cuidado clínico e desenvolvimento de
pesquisas que visam definir doenças e/ou estudar os padrões das doenças,
bem como na gestão dos cuidados em saúde, a fim de monitorizar os
desfechos e a alocação de recursos (OMS, 2016).
Dessa forma, trata-se de uma classificação utilizada por médicos,
enfermeiros, pesquisadores, formuladores de políticas públicas, seguradoras,
gestores de saúde, entre outros profissionais interessados no conhecimento
de uma doença específica quanto a sua história natural e maneiras de
diagnóstico, tratamento e/ou prevenção. A CID foi traduzida em 43 línguas e
teve sua 11ª revisão lançada em 2018.

Importante
Como o próprio nome sugere, a CID não equivale somente a uma
classificação de doenças: consiste em uma sistematização de doenças,
sinais, sintomas e motivos de consultas, englobando, inclusive, definições
usadas em estatísticas vitais e de saúde.

2. Breve histórico
Para cumprir o principal objetivo da Saúde Pública, que é evitar doenças,
prolongar a vida e promover a saúde mediante a atividade organizada da
sociedade, é preciso identificar os problemas de saúde e a forma como estes
se distribuem na população. Nesse contexto, para analisar estatisticamente a
frequência de doenças, é necessário um instrumento que as agrupe ou
classifique segundo determinados critérios. Ao se obter uma uniformização
terminológica (nomenclatura de doenças ou nosografia), é possível ter uma
linguagem comum que favoreça uma melhor troca de informações sobre a
doença, possibilitando, ainda, comparações da sua frequência em áreas
distintas, de forma a contribuir à sua prevenção (Laurenti, 1991).
Nomeadas as doenças, o agrupamento destas segundo características comuns
(nosologia) constitui, então, uma classificação, que serve, basicamente, para
fins estatísticos de análises das situações de saúde das populações. Em uma
classificação estatística de doenças, o interesse principal está, portanto, nos
agrupamentos e não nos casos individualizados (Laurenti, 1991). A busca
por uma classificação ordenada de doenças é secular, mas em meados do
século XVIII e ao longo do século XIX houve um interesse mais expressivo
na obtenção de um instrumento estatístico que sistematizasse as causas de
morte e que fosse de uso internacional, principalmente para possibilitar
comparações (Laurenti, 1991, 1994).
Após diversas tentativas com aceitações bastante limitadas, houve, em 1893,
um acordo internacional para o uso de uma classificação de doenças que
eram causas de morte (77 causas de mortes) e uma recomendação para que
esta fosse revista decenalmente, de modo a incorporar novas causas que
fossem sendo descritas. A 1ª revisão ocorreu em 1900 e, até a 5ª revisão em
1938, havia um reduzido número de códigos, visto que era somente uma
classificação de doenças que causavam morte. A partir da 6ª revisão,
aprovada em 1948, este documento passou a englobar classificações de
doenças, lesões e causas de morte e suas revisões tornaram-se
responsabilidade da Organização Mundial da Saúde – OMS (Laurenti,
1994).
Da 6ª à atual 10ª revisão, a CID ampliou enormemente o número de
categorias e, principalmente, subcategorias, visando satisfazer plenamente
aos seus vários usos em análises de morbidade. Além disso, também foram
incorporadas à Classificação diversas definições usadas em estatísticas vitais
e de saúde (Laurenti, 1991, 1994).
A 10ª revisão da CID foi aprovada em 1989 e recomendada para entrar em
vigor em 1º de janeiro de 1993 pela 43ª Assembleia Mundial de Saúde. No
entanto, por diversos motivos, especialmente de ordem operacional, muitos
países a implementaram entre 1995 e 1997. No Brasil, a CID-10 foi
introduzida em 1º de janeiro de 1996, em cumprimento à Portaria nº
1.832/94 (Grassi; Laurenti, 1998).
Antes da 10ª revisão da CID, não havia atualizações entre as revisões.
Contudo, na Conferência Internacional para a Décima Revisão, de 1989, foi
recomendado que “a OMS endosse o conceito de um processo de
atualização no período entre 2 revisões e considere os mecanismos para que
esta atualização seja colocada em prática”. A partir dessa proposta, 2 grupos
foram estabelecidos para coordenar o processo de atualização: o Grupo de
Referência de Mortalidade (Mortality Reference Group – MRG) e o Comitê
de Referências de Atualizações (Update Reference Committee – URC).
O MRG foi desenvolvido em 1997 e começou suas atividades referentes à
aplicação e interpretação da CID-10 em 1998. O MRG também envia
propostas de atualização para o URC.
O URC foi estabelecido no ano 2000 e recebe propostas do MRG e de
Centros Colaboradores da OMS. O URC avalia essas propostas e submete
recomendações de atualizações aos Diretores dos Centros Colaboradores a
cada ano, que então encaminham sugestões para a OMS.
Para melhor sistematização, foram estabelecidas 2 categorias de atualização:

Principais (major):
Inclusão/exclusão de códigos;
Movimentação de um código para outra categoria ou capítulo;
Alteração numa entrada do índice que muda o código de uma
categoria de 3 caracteres para outra categoria de 3 caracteres
(movimentação de termos);
Alteração de uma regra ou linha de ação que afeta a integridade dos
conjuntos de dados de morbidade e mortalidade; ou introdução de
novos termos no índice.
Secundárias (minor):
Correção ou esclarecimento de uma entrada do índice, alterando o
seu código para outro dentro da mesma categoria de 3 caracteres;
Melhorias na lista tabular ou no índice, como adição de termos de
inclusão ou de exclusão a um código existente ou a duplicação de
uma entrada do índice sob outro termo principal;
Alteração na descrição de um código que a aprimora, sem alterar o
conceito;
Alteração de uma regra ou linha de ação que não afeta a integridade
dos conjuntos de dados de morbidade e mortalidade;
Correção de erros tipográficos.

O ciclo de atualização recomendado passa a ser, então:

Lista tabular: a cada 3 anos para as atualizações principais (major),


anual para atualizações secundárias (minor);
Índice: anualmente para alterações que não impactam na estrutura da
lista tabular.

A CID-11 foi lançada pela OMS em junho de 2018 e deverá ser apresentada
na Assembleia Mundial da Saúde em 2019.

Dica
A CID começou a adquirir as características que possui atualmente a partir
de 1948, com a 6ª revisão, quando incluiu classificações além de doenças
que eram causas de morte e se tornou responsabilidade da Organização
Mundial da Saúde. A 10ª revisão está em vigência, e a 11ª revisão, lançada
em 2018, deverá entrar em vigor em 2022.

3. Apresentação e modo de uso


A CID-10 apresenta 3 volumes, diferentemente das revisões anteriores, que
tinham apenas 2. O Volume I contém a classificação propriamente dita,
chamada de Lista Tabular. Tal lista é formada por categorias (códigos de 3
dígitos – 1 letra e 2 algarismos) e subcategorias (código da categoria
acrescido de 1 ponto e mais 1 algarismo – .0 a .9). Dessa forma, um
conjunto de categorias com doenças semelhantes constitui um agrupamento
e vários agrupamentos formam um capítulo (Figura 1 – CBCD, 2008).

Figura 1 - CID-10: composição da Lista Tabular


Fonte: Centro Brasileiro de Classificação de Doenças.

A CID-10 apresenta, então, 22 capítulos (5 a mais do que a CID-9). Além da


Lista Tabular, o Volume I apresenta a classificação da morfologia de
neoplasias, as listas especiais de tabulação para mortalidade e para
morbidade, bem como as definições e os regulamentos das nomenclaturas
(CBCD, 2008).
O Volume II consiste no Manual de Instruções, contendo toda a parte
referente ao Atestado Médico da Causa de Morte, além de uma breve
descrição da CID, instruções práticas para os codificadores de morbidade e
mortalidade e diretrizes para a apresentação e interpretação dos dados.
Contém, também, as definições relativas a mortalidade fetal, perinatal,
neonatal, infantil e materna (OMS, 2016).
Por fim, o Volume III apresenta o Índice Alfabético, com uma introdução e
maior quantidade de instruções sobre o seu uso. Esse volume está dividido
em 3 seções: a I, que corresponde ao índice alfabético de doenças e natureza
da lesão; a II, que corresponde ao índice alfabético de causas externas da
lesão; a III, que contém a tabela de drogas e compostos químicos (CBCD,
2008).
Em uma nova revisão, novas doenças, quando existentes, são inseridas (por
exemplo, a inclusão da síndrome da imunodeficiência adquirida na 10ª
revisão); determinadas doenças ou agrupamentos de doenças afins podem
ser transferidos para outro capítulo; uma doença com apenas uma categoria
pode passar a ser representada por um agrupamento (por exemplo, o caso da
hipertensão arterial, que passou a ser o agrupamento “doenças
hipertensivas”), dentre outras alterações que podem, consequentemente,
fazer com que as análises de tendência de determinadas doenças sejam
alteradas com a introdução da nova revisão (Grassi; Laurenti, 1998).
As atualizações dos volumes da CID-10 estão disponíveis, em inglês, na
forma de listas anuais de modificações no site da OMS
(http://www.who.int/classifications). A tradução em português da Lista
Tabular pode ser consultada por meio da instalação de programas no
computador ou do navegador da internet
(http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/cid10.htm). Na Tabela 1, é
apresentado um resumo da Lista Tabular, com seus capítulos e
agrupamentos.
Resumo
O que é?

Sistematização de doenças, sinais, sintomas e motivos de consultas,


englobando, inclusive, definições usadas em estatísticas vitais e de
saúde;
Ferramenta diagnóstica padrão para a Epidemiologia, gestão de saúde e
prática clínica.

Objetivo

Uniformização terminológica para fins estatísticos;


Visa possibilitar o registro sistemático, a análise, a interpretação e a
comparação dos dados de morbimortalidade coletados em diferentes
países e regiões e em diferentes momentos no tempo.

Histórico

1893: 1º acordo internacional para o uso de uma classificação de 77


doenças que eram causas de morte;
1900: 1ª revisão da Classificação, de modo a incorporar novas causas de
morte descritas;
1948: aprovação da 6ª revisão, que passou a englobar classificações de
doenças, lesões e causas de morte, além de se tornar responsabilidade da
OMS;
1989: aprovação da 10ª revisão, implementada pelos países em
diferentes anos (entre 1993 e 1997), devido, principalmente, a questões
operacionais;
1996: introdução da CID-10 no Brasil, em cumprimento à Portaria nº
1.832/94.

Organização e modo de uso

Apresenta 3 volumes:
I: contém a classificação propriamente dita, chamada de Lista
Tabular. Além disso, apresenta a classificação da morfologia de
neoplasias, listas especiais de tabulação para mortalidade e para
morbidade, bem como as definições e os regulamentos das
nomenclaturas;
II: consiste no Manual de Instruções, contendo toda parte referente
ao Atestado Médico da Causa de Morte, além de uma breve
descrição da CID, instruções práticas para os codificadores de
morbidade e mortalidade e diretrizes para a apresentação e
interpretação dos dados;
III: apresenta o Índice Alfabético.
Organizada em 22 capítulos, que contêm os agrupamentos de categorias
(códigos alfanuméricos de 3 dígitos) e subcategorias (código da
categoria acrescido de um ponto e mais um algarismo - .0 a .9).
Medicina Legal
André Ribeiro Morrone
Edson Lopes Mergulhão
Thaís Minett
Marcos Rodrigo Souza Fernandes
Fábio Roberto Cabar
João Victor Fornari

1. Introdução
A Medicina Legal compreende o ramo da Medicina que utiliza conhecimentos
das Ciências Médicas para atender às demandas da Justiça, ou seja, realiza as
perícias necessárias para a elucidação de um fato relevante para o Direito. O
médico-legista utiliza conhecimentos da Medicina e de outras ciências
correlatas para fazer as perícias requisitadas pela autoridade competente.

A Tanatologia Forense é o ramo da Medicina Legal que, partindo do exame


do local, oferece informação acerca das circunstâncias da morte e, atendendo
aos dados do exame de necrópsia, procura estabelecer a identificação do
cadáver, o mecanismo da morte, a causa da morte e o diagnóstico diferencial
médico-legal (acidente, suicídio, homicídio ou morte de causa natural).
Esses são os objetivos mais importantes da Tanatologia Forense, nem sempre
fáceis de atingir. Algumas vezes, as dificuldades com que se depara o médico
responsável pela autópsia são muitas e de natureza diversa. Portanto, para se
chegar a uma conclusão correta e com fundamentação científica, o médico-
legista deve utilizar conhecimento amplo nas diversas áreas da Medicina
Assistencial, da Medicina Forense e das Ciências Forenses (Criminalística,
Balística, Toxicologia etc.).

Importante
A Tanatologia Forense é um ramo da Medicina Legal que, por meio do
exame do local, fornece informações acerca das circunstâncias da morte,
além de buscar determinar a identificação do cadáver, o mecanismo da
morte, a causa da morte e o diagnóstico diferencial médico-legal (se
acidente, suicídio, homicídio ou causa natural), por meio de necrópsia.

2. Lesões corpóreas
Estudadas quanto à quantidade e à qualidade do dano, as lesões corpóreas têm
o significado jurídico de configurar, no dolo (o autor tem a intenção de
provocar lesão) ou na culpa (o autor não tem a vontade de lesar, mas por
imprudência, imperícia ou negligência a lesão ocorre na vítima) um crime
contra a pessoa.
As lesões corpóreas dolosas, consideradas quanto à quantidade e à qualidade
do dano, classificam-se em leves, graves e gravíssimas. O crime de lesão
corpórea está previsto no Art. nº 129 do Código Penal (CP).

Importante
As lesões corpóreas podem ser leves (danos com pouca repercussão
orgânica e de fácil recuperação individual), graves (causam incapacidade
para as ocupações habituais por mais de 30 dias, perigo de vida, debilidade
permanente de membro, sentido ou função e aceleração do parto) e
gravíssimas (resultam em incapacidade permanente para o trabalho,
enfermidade incurável, perda ou inutilização de membro, sentido ou
função, deformidade permanente e aborto).

A - Leves

São representadas por danos de pouquíssima repercussão orgânica ou por


perdas superficiais, de fácil recuperação individual.

B - Graves
São as lesões que tiveram, como consequência:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias.


II - Perigo de vida.
III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função.
IV - Aceleração de parto.

C - Gravíssimas

São aquelas que resultaram em:

I - Incapacidade permanente para o trabalho.


II - Enfermidade incurável.
III - Perda ou inutilização de membro, sentido ou função.
IV - Deformidade permanente.
V - Aborto.

3. Traumatologia Forense

A - Conceito

A Traumatologia Forense é o ramo da Medicina Legal que se ocupa das


implicações jurídicas dos traumatismos e trata de todas as energias
potencialmente vulnerantes ao corpo humano. É uma área extensa que
abrange enorme gama de agentes vulnerantes capazes de lesar o organismo ou
prejudicar, de algum modo, o seu funcionamento.
A palavra “trauma”, do ponto de vista semântico, vem do grego trauma
(plural: traumatos, traumas), cujo significado é “ferida”. A terminologia
“trauma”, em Medicina, admite vários significados, todos ligados a
acontecimentos não previstos e indesejáveis que, de forma mais ou menos
violenta, atingem indivíduos neles envolvidos, produzindo-lhes alguma forma
de lesão ou dano. Trauma é definido como “um evento nocivo que advém da
liberação de energia ou de barreiras físicas ao fluxo normal de energia”.
Qualquer forma de energia física em quantidade suficiente pode causar danos
ao tecido. O corpo pode tolerar transferência de energia dentro de certos
limites; se esse limiar for ultrapassado, ocorrerá um trauma cujo resultado
será uma lesão morfologicamente demonstrável.
Em geral, a energia existe em 5 formas físicas: mecânica, química, térmica,
por irradiação ou elétrica. As energias vulnerantes podem ser classificadas,
segundo Borri, em mecânica, física (calor, frio, elétrica etc.), química
(venenos e cáusticos), físico-química (asfixias), bioquímica (intoxicações
alimentares e autointoxicações), biodinâmica (estados de “choque”) e mista.

B - Energia vulnerante mecânica

a) Características

A maior parte das lesões corpóreas é causada pela energia vulnerante


mecânica, a qual modifica o estado inercial (repouso ou movimento) de um
corpo, produzindo lesões em parte ou todo o corpo. Tem-se o contato direto
da energia com área de tegumento corpóreo. São agentes que atuam pela
energia mecânica e abrangem os estudos dos tipos de instrumentos e ações no
organismo, de forma simples e combinada. A energia mecânica pode
apresentar-se em 2 formas:

Instrumento: tem forma definida e pode ser manipulado pelo homem,


de forma que ele consiga gerar, por sua vontade, uma lesão (conceito
específico);
Agente: é tudo que provoca trauma ou lesão (conceito genérico).

Quanto ao modo da ação da energia vulnerante, pode se apresentar como


ativo (ação da energia sobre o corpo da vítima), passivo (ação do corpo da
vítima sobre a energia) e misto (um atua sobre o outro).
A ação da energia pode ser em um ponto, uma reta ou um plano. A partir
desses mecanismos de ação, as lesões podem ser classificadas em simples ou
mistas (combinadas). A lesão tecidual dependerá dos seguintes fatores:

Quantidade de energia transmitida;


Velocidade de transmissão de energia;
Superfície da área corpórea em que a energia é aplicada;
Propriedades elásticas dos tecidos.

O trauma pode ser contuso ou penetrante. A transferência de energia e a lesão


produzida são semelhantes em ambos os tipos de trauma. A única diferença
real é a penetração na pele. Se toda a energia de um objeto está concentrada
numa única área pequena, provavelmente a pele será lacerada e o objeto
entrará no corpo, criando transferência de energia mais concentrada. Isso
poderá resultar em uma força destruidora maior em uma única área. Um
objeto maior, cuja energia é dispersa por uma área muito maior da pele, pode
não penetrar nela. O dano será distribuído por uma área maior do corpo, e o
tipo de lesão será menos localizado.
A transferência de energia está diretamente relacionada com a densidade e o
tamanho da área frontal no ponto de contato entre o objeto e o corpo da
vítima. No trauma contuso (ou fechado), as lesões são produzidas à medida
que os tecidos são comprimidos, desacelerados ou acelerados. No trauma
penetrante, as lesões acontecem conforme os tecidos são esmagados e
separados ao longo do caminho do objeto penetrante. Ambos os tipos criam
cavidade, forçando os tecidos para fora de sua posição normal.
O trauma contuso cria tanto lacerações por cisalhamento quanto por
cavitação. Cavitação é, frequentemente, apenas uma cavidade temporária,
afastada do ponto de impacto. O trauma penetrante cria tanto uma cavidade
permanente (cujo diâmetro é menor do que o do instrumento devido à
elasticidade dos tecidos) quanto uma temporária. A energia de um objeto em
movimento rápido com área de superfície frontal pequena será concentrada
em uma única área e poderá exceder a força extensível do tecido e penetrar
nele. A cavidade temporária criada se dispersará afastando-se do caminho
desse míssil nas direções frontal e lateral.
No trauma contuso, 2 forças estão envolvidas no impacto: cisalhamento e
compressão. Cisalhamento é o resultado da mudança de velocidade mais
rápida de um órgão ou estrutura (ou parte dele) do que de outro órgão ou
estrutura (ou parte dele). Compressão é o resultado de um órgão ou de uma
estrutura (ou parte dele) serem comprimidos diretamente entre outros órgãos
ou outras estruturas.
Importante
As lesões podem ser simples, por instrumentos perfurantes, cortantes e
contundentes, causando feridas punctórias ou puntiformes, incisas e
contusas, respectivamente, ou podem ser lesões mistas causadas por
instrumentos perfurocortantes, perfurocontundentes e cortocontundentes,
que causam lesões perfuroincisas, perfurocontusas e cortocontusas,
respectivamente.

b) Estudo das lesões

- Ferida punctória (puntiforme)

Geralmente é causada pela ação de instrumentos perfurantes, os quais têm as


seguintes características:

Os instrumentos são finos, alongados, pontiagudos, de diâmetro


transversal extremamente reduzido em relação ao seu comprimento;
Podem ser de pequeno ou médio calibre;
Produzem as lesões punctórias ou puntiformes;
Atuam por pressão sobre determinado ponto, em geral afastando as
fibras dos tecidos atingidos, como espinho, agulha, estilete, garfo, espeto
(de churrasco), seta, florete e furador de gelo;
Comumente, causam acidentes e, eventualmente, são usados em
homicídio.

Dica
As feridas punctórias são causadas por agulha, estilete, espinho, espeto etc.
Figura 1 - Feridas punctórias (puntiformes)

- Ferida incisa

A ferida incisa é causada pela ação de instrumento cortante que age por
pressão e deslizamento com “gume afiado” ou fio (bordo de ataque) e atinge a
superfície, em ângulos variáveis. Fibras dos tecidos são seccionadas
(exemplos: navalha, gilete, bisturi, lâminas metálicas afiladas, “papel”,
estilhaços de vidros, capim-navalha). É geralmente de origem homicida, mas
pode ser de origem suicida ou acidental, apresentando as características
relatadas na Tabela 4.
Figura 2 - Características da fenda incisa, como profundidade e comprimento: (A) bordas regulares;
(B) afastamento das bordas da ferida e ausência de trabéculas; (C) extensão maior do que
profundidade

Dica
As feridas incisas são causadas por instrumentos como navalha, gilete,
bisturi, estilhaços de vidro etc.
Figura 3 - Diferentes feridas incisas: (A) agressão; (B) esgorjamento; (C) autoprovocadas no punho
esquerdo (hesitação)

- Lesão contusa

A lesão contusa é causada pela ação de instrumento ou agente contundente


sólido, líquido ou gasoso, sem borda (rombo). Age por pressão (impacto),
torção, percussão, distensão, sucção, deslizamento (arrasto) ou misto. A
grande maioria dos agentes lesivos mecânicos está nesse grupo, como cabeça
e extremidades do homem e dos animais; instrumentos próprios para ataque e
defesa (soco-inglês, borduna, cassetete etc.); ferramentas de trabalho
(martelo, marreta e outros utensílios, desde que utilizados por impacto);
objetos no seu estado natural (pedras, paus etc.); objetos dos mais variados
(qualquer estrutura, pouco importando se é ela que vem de encontro ao corpo
da vítima ou se é este que se choca contra ela, como paredes, solo etc.).

Dica
As lesões contusas são causadas por instrumentos como martelo, pau,
pedra, cassetete, soco-inglês etc.

A lesão contusa produz alteração de cor, volume ou continuidade na


superfície (nesse caso, serão chamadas feridas contusas). As espécies de
lesões contusas são:
Eritema ou hiperemia ou rubefação

Vasodilatação de capilares e vênulas da pele causada pela liberação de


mediadores químicos (histamina);
Ausência de saída de sangue dos vasos;
Desaparecimento à pressão da lesão;
Curta duração (de 10 minutos a 2 horas);
Ausência de marcas.
Figura 4 - Eritema na face lateral da coxa direita: observar a forma do instrumento – chinelo

Edema ou tumefação

Inchaço e elevação;
Palidez da pele na área do impacto;
Surgimento depois de 1 a 3 minutos;
Tríplice reação de Lewis (rubor, tumor e calor);
Coleção de líquido transudato;
Ausência de extravasamento de sangue e de lesão de vasos sanguíneos.
Figura 5 - Edema na face dorsal de pés (A) esquerdo e (B) direito, no qual se pode ver o sinal de
Godet positivo

Escoriação

Arrancamento da camada superior da pele (epiderme) por ação


tangencial da força (atrito) com exposição da derme;
No processo de cicatrização, há a formação de crosta.
Figura 6 - Diferentes níveis de escoriações com formação de crostas: (A) retalho arrancado da
epiderme; (B) direção da força escoriativa; (C) epiderme; (D) derme

Equimose

Ruptura de vasos sanguíneos (capilares, vênulas e arteríolas), com


extravasamento de sangue e infiltração nos tecidos;
Coloração avermelhada no início;
Pele íntegra (sem solução de continuidade);
Forma e tamanho:
Petéquia (forma de ponto ou “cabeça de alfinete”);
Sugilação (pequenos grãos formados pela confluência de numerosas
lesões puntiformes). Exemplo: “chupão”;
Víbices (forma de estrias). Exemplo: cassetete;
Sufusão (hemorragia mais extensa).
Mecanismo de lesão: compressão, tração ou sucção;
Podem surgir de imediato ou mais tardiamente.
Espectro equimótico de Legrand Du Saulle:
Depende das dimensões e da localização das equimoses e de fatores
intrínsecos da vítima;
Em média, as equimoses desaparecem em 15 a 20 dias.

Importante
Esta é a sequência cronológica da equimose: 1º dia, vermelha; 2º e 3º dias,
violácea; do 4º ao 6º dia, azul; do 7º ao 10º dia, esverdeada; e do 11º ao 15º
dia, amarelada.
Figura 7 - (A) Formação de víbices violáceos no dorso e (B) múltiplas fases de equimose no globo e
periocular
Hematoma

“Tumor de sangue”;
Ruptura de um número maior de vasos (mais calibrosos) que forma uma
coleção de sangue afastando os tecidos vizinhos e ocupa espaço próprio
(neocavidade);
Ausência de infiltração do sangue nas malhas do tecido.
Localização:
Superficial (subungueal, subperiostal);
Órgãos e tecidos (fígado, baço, músculo e encéfalo);
Regiões anatômicas (mediastino, retroperitônio, espaços
extradural e subdural do crânio, cervical).
Figura 8 - Formação de hematomas: (A) subgaleal e (B) extradural
Ferida contusa

Compressão da pele entre 2 superfícies rígidas;


Lesão da pele com bordas irregulares (solução de continuidade),
escoriadas e equimosadas;
Fundo e vertente irregulares;
Presença de pontes de tecido íntegro ligando as vertentes;
Pouco sangrante;
Integridade de vasos, nervos e tendões no fundo da lesão;
Ângulos obtusos e irregulares.
Figura 9 - Ferimento contuso com bordas irregulares e equimosadas: (A) bordas irregulares; (B)
margens contundidas; (C) pontes de tecidos; (D) fundo irregular, contuso e hemorrágico
Dica
As feridas contusas envolvem a compressão da pele entre 2 superfícies
rígidas, causando lesões com bordas irregulares, escoriadas e equimosadas.

Fraturas

Solução de continuidade óssea;


Classificação: fechada ou aberta (exposta); completa ou incompleta;
cominutiva ou simples; diafisária ou epifisária;
Cicatrização que produz “calo ósseo”.

Figura 10 - Diferentes níveis de fraturas em ossos longos

Luxações

Deslocamento permanente das superfícies articulares de 2 ossos com


ruptura da cápsula articular e de ligamentos;
Pode ser completa ou incompleta (subluxação);
Comum em homens e nos membros superiores (articulação
escapuloumeral).
Figura 11 - Luxação de articulação umeroulnar

Entorses

Estiramento da cápsula de uma articulação, com ou sem rotura


ligamentar;
Dor intensa, impotência funcional, edema, rubor, equimose, hematomas
e derrame articular.
Figura 12 - Espectro de diferentes lesões no tornozelo

Lesões internas
São causadas por impacto direto, aumento súbito da pressão no interior das
vísceras e cavidades, compressão lenta ou aceleração/desaceleração
(traumatismo cranioencefálico, trauma abdominal, trauma torácico).

Figura 13 - Tomografia que demonstra lesão esplênica após trauma abdominal contuso

- Ferida cortocontusa

A ferida cortocontusa é resultado da ação mista. Os instrumentos


cortocontundentes apresentam um gume que age no 1º momento e um peso
que exerce a ação contundente pelo esmagamento e pela destruição dos
tecidos, podendo causar fraturas e até amputações. A lesão resulta do próprio
peso do agente, intensificada pela força (ativa) de quem o maneja. Exemplos:
foice, facão, machado, enxada, serra elétrica, motosserra, rodas de trem,
dentes.
A ferida cortocontusa tem característica mista, com predomínio muitas vezes
da ação contundente, de bordas irregulares e fundo trabeculado, com
frequência acompanhada de escoriações, equimoses e fraturas. As lesões são
graves, por atingirem planos profundos.
Dica
As feridas cortocontusas são causadas por instrumentos cortocontundentes
como foice, facão, machado, enxada, serra elétrica, dentes etc.
Figura 14 - Ferimento cortocontuso: (A) equimoses em torno da lesão; (B) trabéculas; (C) borda
irregular; (D) fundo anfractuoso

- Ferida perfurocontusa

As feridas perfurocontusas são resultantes da ação de instrumentos


perfurocontundentes que atuam por meio de uma ponta romba e produzem
lesão em forma de túnel. Exemplo: Projétil de Arma de Fogo (PAF), flecha,
lança, tesoura fechada, vergalhas etc. O mecanismo de ação é misto: pressão
contínua e contundente. As feridas perfurocontusas, na maior parte dos casos,
são decorrentes da ação de PAFs. Ao redor do ferimento de entrada por PAF,
teremos as orlas e as zonas, de acordo com a distância do disparo.

Dica
As feridas perfurocontusas são causadas por instrumentos como projétil de
arma de fogo, flecha, lança, tesoura fechada etc.

As orlas, pela ação do PAF perfurando e contundindo os tecidos, dividem-se


em:

Orla de escoriação (contusão): arrancamento da epiderme;


Orla de enxugo: impurezas (sujidades) do PAF que ficam aderidas à
derme;
Orla (auréola) equimótica: na vizinhança da ferida, pela ruptura de
vasos sanguíneos, causada pela onda de choque.

As zonas são formadas pelos resíduos que saem pela boca do cano da arma e
atingem o alvo, dividindo-se em:

Zona de queimadura ou chamuscamento: queimadura causada pelos


gases em combustão. Atinge pele, pelos e roupas;
Zona de esfumaçamento: resíduos da combustão (fuligem) depositados
na pele ou na roupa, de cor acinzentada ou escura;
Zona de tatuagem: grãos de pólvora incombusta que atingem o alvo; na
pele, penetram na derme. Podem ficar na roupa.
Figura 15 - Formação de zonas e orla: (A) orla de contusão; (B) orla de enxugo; (C) zona de
tatuagem verdadeira; (D) zona de esfumaçamento ou zona de tatuagem falsa

Importante
Lesões causadas por projéteis de arma de fogo causam zonas e orlas no
local onde atingem. As orlas dividem-se em orla de escoriação (contusão),
de enxugo (“sujeiras” que ficam aderidas à derme) e equimótica, enquanto
as zonas são divididas em zonas de queimadura ou chamuscamento, de
esfumaçamento (fuligem depositada na pele ou na roupa) e zona de
tatuagem (grãos de pólvora incombusta que penetram a derme, por
exemplo).

De acordo com a distância entre a boca do cano da arma e os vestígios


encontrados no alvo, os disparos de arma de fogo podem ser classificados em:

- Disparo (tiro) encostado (ou de contato)


Figura 16 - Feridas perfurocontusas por disparo encostado no corpo (câmara de mina de Hoffmann)

- Disparo (tiro) a curta distância


Figura 17 - Feridas perfurocontusas por disparo a curta distância

- Disparo (tiro) a longa distância

Figura 18 - Feridas perfurocontusas por disparo a longa distância

O trajeto é o caminho percorrido pelo PAF dentro do corpo da vítima, desde a


entrada até a saída ou até o local de retenção. A trajetória é o caminho
percorrido pelo PAF da boca do cano da arma até atingir o alvo (fora do corpo
da vítima). O estudo é feito pela balística externa. O orifício de saída do PAF
tem as seguintes características: forma irregular e variada (estrelada, “em
fenda” etc.), bordas evertidas, maior sangramento e ausência de orlas e zonas.
Figura 19 - Lesão irregular, sangrante e com bordas evertidas, gerada por projétil de arma de fogo

Os objetivos da perícia médico-legal nos casos de PAF são determinar:

Características, número e localização dos ferimentos;


Individualização dos trajetos;
Análise da letalidade individual de cada PAF no seu trajeto;
Resgate individual dos PAFs;
Radiografias;
Fotografias;
Gráficos;
Outros exames.

- Ferida perfuroincisa

A ferida perfuroincisa decorre da ação mista de instrumento perfurocortante


com “ponta e gume” que age por pressão (perfuração) e corte (bordas afiadas
– deslizamento), atingindo profundidade variável, de acordo com a forma do
agente. Produz feridas perfuroincisas também chamadas “em botoeira” ou
biconvexas, com um ângulo agudo com cauda exígua de escoriação (gume) e
o outro arredondado, nos instrumentos com 1 gume. A profundidade é maior
do que a largura (e pode ser maior do que o comprimento do instrumento),
com bordas regulares e sem trabéculas no fundo da lesão.

Tema frequente de prova


Nas provas, as questões sempre descrevem o tipo de lesão e o material
utilizado; por isso, convém ficar atento ao tipo de material e ao tipo de
lesão que ele mais provoca. Exemplo: a ferida perfuroincisa é mais
provocada por facas e baionetas.

C - Outras energias de ordem física

Dentre as energias físicas mais encontradas na prática da Medicina Legal,


estão a energia térmica e a energia elétrica.

a) Térmica
Tanto o calor como o frio são capazes de lesar o corpo humano. O calor pode
lesar pelo contato direto (ação local): chama ou corpos aquecidos (sólidos,
líquidos e gases); ou pelo calor irradiado (ação difusa): solar (insolação) ou
industrial (intermação). Do ponto de vista médico-legal, as queimaduras
podem ser classificadas em 4 graus, segundo Hoffmann e Lussena:

1º grau: eritema
Vasodilatação com pele vermelha, edemaciada e dolorosa;
Não deixa cicatriz.
2º grau: bolhas (flictena)
Formação de bolhas com conteúdo rico em proteínas;
Eritema, edema e dor;
Não lesa a camada basal;
Não deixa cicatriz.
3º grau: escara
Destruição da epiderme e da derme;
Aspecto endurecido e indolor;
Deixa cicatriz.
4º grau: carbonização
Destruição da pele e de tecidos moles por ação direta do fogo;
Posição “do boxeador” (braços repuxados).

O frio também age de forma local e difusa. Sua ação local se chama geladura
e classifica-se em 4 graus:

1º grau: palidez ou eritema e aspecto anserino da pele;


2º grau: bolhas dolorosas com conteúdo hemorrágico;
3º grau: necrose de tecidos moles;
4º grau: gangrena ou desarticulação.

b) Elétrica

A energia elétrica pode ser dividida em 2 tipos: natural (raios) e artificial


(industrial).
A eletricidade natural pode causar lesões corpóreas (fulguração) ou morte
(fulminação). A ação lesiva da eletricidade natural ocorre pelas ondas de
choque (efeito blast) e pela corrente elétrica, e podem-se encontrar roupas
rasgadas e objetos metálicos derretidos, queimaduras na pele e pelos
enovelados, figuras arborescentes de Lichtenberg e, nos sobreviventes, surdez
e cegueira.
As lesões produzidas pela eletricidade industrial são chamadas eletroplessão.
A corrente flui pelo caminho mais curto entre os 2 polos do circuito, e o efeito
Joule é a transformação da corrente elétrica em calor ao atravessar uma
resistência. A eletricidade artificial produz, no local de contato com o corpo
humano, uma lesão indolor de bordas elevadas e coloração amarelo-
esbranquiçada, denominada marca elétrica de Jellinek.
A energia elétrica artificial pode ser classificada em: baixa voltagem (até
400V); média voltagem (400 a 4.000V); alta voltagem (>4.000V).

Importante
A eletricidade artificial produz, no local de contato com o corpo humano,
uma lesão indolor de bordas elevadas e coloração amarelo-esbranquiçada,
denominada marca elétrica de Jellinek.

O mecanismo de morte nos casos de eletroplessão depende da voltagem a que


o indivíduo foi exposto:

Baixa voltagem: altera o batimento cardíaco, levando a fibrilação


ventricular;
Média voltagem: leva a tetania e parada respiratória periférica;
Alta voltagem: semelhante ao calor, provoca queimaduras
(carbonização) e parada respiratória central.
Figura 20 - Lesão elétrica (marca elétrica de Jellinek) na face plantar do hálux direito

D - Energia vulnerante físico-química (asfixias)

A palavra “asfixia” vem do grego a (falta) + sphyzo (palpitar) e significa


“falta de pulso”. É a síndrome caracterizada pela supressão da respiração e
pela cessação das trocas gasosas por causa patológica (natural ou interna) ou
violenta (externa). A fisiopatologia decorre de ↓O2 e ↑CO2. Os sinais gerais
de asfixias são:

Externos: manchas de hipóstase mais escuras e precoces, cianose e


petéquias na pele e nas mucosas;
Internos: petéquias viscerais (manchas de Tardieu), aspecto do sangue
escuro e fluido, congestão polivisceral e distensão e edema dos pulmões.

As modalidades (espécies) de asfixias são afogamento, soterramento,


confinamento, sufocação direta, sufocação indireta, enforcamento,
estrangulamento e esganadura.

a) Afogamento
Definição: asfixia mecânica, produzida pela penetração de um meio líquido
nas vias respiratórias, impedindo a passagem de ar até os pulmões;
Mecanismo de ação: havendo a submersão, ocorre a morte na sequência das
seguintes fases:
Fase de defesa:

Surpresa ou inspiração inicial;


Dispneia de submersão;
Fase de resistência;
Apneia;
Inspiração profunda;
Fase de exaustão;
Perda da consciência;
Insensibilidade;
Convulsão;
Morte.

Lesões externas:

Hipotermia;
Pele anserina;
Retração do mamilo, do escroto e do pênis;
Maceração da epiderme;
Tonalidade vermelha dos livores cadavéricos;
Cogumelo de espuma;
Erosão dos dedos;
Presença de corpos estranhos sob as unhas;
Equimoses da face e das conjuntivas;
Mancha verde de putrefação (tórax);
Lesões post mortem produzidas por animais aquáticos.

Lesões internas:
Líquidos nas vias respiratórias;
Corpos estranhos no líquido das vias respiratórias;
Lesões dos pulmões: aumentados, distendidos, enfisema aquoso e
equimoses;
Sinal de Brouardel: enfisema aquoso subpleural (“esponja molhada”);
Manchas de Tardieu: equimose subpleural (raras);
Manchas de Paltauf: hemorragias subpleurais (equimoses vermelho-
claras com ≥2cm de diâmetro, devido à ruptura das paredes alveolares);
Diluição do sangue (hidremia);
Crioscopia (temperatura de congelamento): aumentada (água doce) e
diminuída (água salgada);
Sinal de Wydler: presença de espuma, líquido e sólido no estômago;
Sinal de Niles: hemorragia temporal;
Sinal de Vargas Alvarado: hemorragia etmoidal;
Sinal de Étienne Martin: congestão hepática;
Equimoses nos músculos e no pescoço.

- Diagnóstico

O diagnóstico do afogamento torna-se possível pelos exames externo e


interno do cadáver e por exames complementares. A presença de lesões intra
vitam e post mortem concorre para o diagnóstico diferencial entre o afogado
verdadeiro e a simulação de afogamento, assim como a causa jurídica da
morte.

b) Soterramento

Definição: asfixia pela permanência do indivíduo em um meio sólido ou


semissólido, de modo que as substâncias ali contidas penetram na árvore
respiratória, impedindo a entrada de ar e levando à morte;
Mecanismo de ação: a causa da morte varia, portanto é necessário muito
cuidado no exame da vítima para explicar o mecanismo da morte. Pode
ocorrer pela penetração de corpos estranhos do local em que a vítima ficou
soterrada na árvore respiratória, produzindo, então, asfixia mecânica por
mudança do meio gasoso para sólido;
Diagnóstico: obtido pela existência da substância pulverulenta nas vias
respiratórias, sendo indispensável excluir a possibilidade de sua penetração
post mortem, em outras causas de morte. Para isso, têm importância a
penetração profunda dessa substância nas vias respiratórias com indícios de
reação vital e a sua penetração nas vias digestivas, nos movimentos de
deglutição;
Natureza jurídica: pode ser acidente e, com relativa frequência, acidente de
trabalho; pode ser, também, homicídio (praticado, em geral, em casos em que
a vítima não pode se defender ou em casos de infanticídio). O estudo de
reações vitais e o grau de penetração profunda da substância nas vias
respiratórias contribuem para o diagnóstico de soterramento em vida.

c) Confinamento

Definição: asfixia causada pela permanência do indivíduo num ambiente


restrito e/ou fechado, sem condições de renovação do ar respirável, sendo
consumido o oxigênio pouco a pouco, e o gás carbônico, acumulado
gradativamente;
Mecanismo de ação: na respiração normal, exige-se um ambiente externo
contendo ar respirável, com oxigênio em quantidade próxima de 21%.
Quando, no ar atmosférico, o oxigênio atinge 7%, surgem distúrbios
relativamente graves, sobrevindo a morte se essa taxa está em torno de 3%.
No confinamento, há diminuição progressiva do suprimento de oxigênio do
organismo, concomitante ao aumento do teor de anidro carbônico no sangue
(hipercapnia). Simultaneamente, o ar satura-se de vapor de água, dificultando
sua eliminação pelos pulmões e pela transpiração, o que contribui
consideravelmente para que se instale a asfixia;
Lesões externas:

Manchas de hipóstases: precoces, abundantes e de tonalidade escura;


Cianose de face: sinal mais frequente;
Equimoses de pele: arredondadas e de pequenas dimensões, não
maiores do que uma lentilha, formando agrupamento em determinadas
regiões, principalmente na face, no tórax e no pescoço, tomando
tonalidade mais escura nas partes de declive;
Equimoses de mucosas: encontradas, mais frequentemente, nas
conjuntivas palpebral e ocular, nos lábios e, mais raramente, na mucosa
nasal.

Lesões internas:
Equimoses viscerais (manchas de Tardieu);
Congestão polivisceral;
Distensão e edemas dos pulmões;
Sangue: escuro e líquido (fluidez).

Dica
É necessário entender que não existe nenhum sinal que, isoladamente, faça
o diagnóstico das asfixias mecânicas. Portanto, deve-se ter um critério com
base no somatório das lesões estudadas, associando-se sinais e o estudo das
circunstâncias do acontecimento.

d) Sufocação direta

Oclusão direta das narinas e da boca:

Acidental: ocorre em recém-nascidos que, dormindo com as mães, são


sufocados por elas ou por panos que estão sobre o leito. Nos adultos, o
acidente pode resultar de ataques epilépticos, síncopes, embriaguez etc.,
caindo a vítima sobre o leito, com o rosto fortemente apoiado contra o
travesseiro ou contra panos que impeçam a respiração;
Criminosa: mais comum em recém-nascidos, mas pode ser encontrada
também em adultos;
Suicida: o paciente coloca, sobre o corpo e a cabeça, cobertores, panos
etc., até asfixiar-se.

Oclusão direta dos orifícios da faringe e da laringe:

Acidental: modalidade mais frequente, surge especialmente entre


crianças, que levam à boca botões, bolinhas de gude, pedaços de carne e
outros corpos estranhos. Os recém-nascidos podem sufocar-se com
líquido amniótico e restos de membranas. Entre adultos, esse tipo de
morte é encontrado nos que ingerem grandes fragmentos de alimento
sem a devida cautela;
Criminosa: pode ser produzida pela introdução na boca de tampões de
panos, dedos, papel ou qualquer outro objeto. É comum no infanticídio,
mas também pode ser encontrada nos adultos;
Suicida: é um tipo raro, embora a literatura relate casos de indivíduos
que se mataram introduzindo na garganta panos ou objetos.
e) Sufocação indireta

Definição: asfixia mecânica por impedimento dos movimentos respiratórios


devido à compressão do tórax ou do abdome;
Lesões externas: as manifestações de sufocação indireta nem sempre se
apresentam com sinais evidentes de asfixia. Um dos sinais mais importantes é
a máscara equimótica de Morestin, ou cianose cervicofacial, produzida pelo
refluxo sanguíneo da veia cava superior em face da compressão torácica.
Caracteriza-se por cor violácea intensa da face, do pescoço e da parte superior
do tórax;
Lesões internas: os pulmões mostram-se distendidos (sinal de Valentin),
congestos, com sufusões hemorrágicas subpleurais. Podem ocorrer, também,
rupturas. O fígado é congesto; o sangue do coração, escuro e fluido. Pode
ocorrer fratura dos arcos costais;
Diagnóstico: é fornecido pelas lesões externas e internas observadas durante
o exame clínico ou a necrópsia.

f) Enforcamento

Definição: constrição do pescoço causada por um laço acionado pelo peso da


própria vítima;
Sinais externos:

Sulco cervical oblíquo ascendente e interrompido;


Cianose e congestão facial;
Protrusão da língua e dos olhos;
Petéquias conjuntivais;
Hipóstases nas extremidades dos membros.

Sinais internos:

Lesão da parte profunda da pele, do subcutâneo e da musculatura do


pescoço;
Lesão do feixe vasculonervoso do pescoço:
Sinal de Amussat: secção transversal da túnica íntima da artéria
carótida comum;
Sinal de Friedberg: hemorragia na túnica externa da artéria carótida
comum;
Sinal de Ziemke: rotura da túnica interna da veia jugular;
Sinal de Dotto: rotura da bainha de mielina do nervo vago;
Lesão do aparelho laríngeo;
Fratura do enforcado: espondilolistese traumática do áxis,
considerada uma das formas mais frequentes de lesão da coluna
cervical alta. Embora seja popularmente descrita como fratura “do
enforcado”, em alusão ao dano cervical causado pelos
enforcamentos, esse tipo de lesão pode decorrer, também, de
acidentes automobilísticos;
Lesão da coluna vertebral.

g) Estrangulamento

Definição: constrição do pescoço causada por um laço acionado por força


muscular externa;
Sinais externos:

Sulco cervical horizontal e contínuo;


Petéquias conjuntivais;
Cianose e congestão facial.

Sinais internos:

Lesão da parte profunda da pele, do subcutâneo e da musculatura do


pescoço;
Lesão do feixe vasculonervoso do pescoço;
Lesão do aparelho laríngeo.

h) Esganadura

Definição: constrição do pescoço com as mãos (típica) ou outras partes do


corpo, como pés, joelhos e golpes –“gravata”, “mata-leão” (atípica);
Sinais externos:

Marcas ungueais no pescoço;


Equimose no pescoço;
Cianose e congestão facial;
Petéquias conjuntivais.

Sinais internos:

Infiltração hemorrágica das estruturas profundas do pescoço;


Lesão do aparelho laríngeo e fratura do osso hioide;
Lesão do feixe vasculonervoso;
Fratura de processo estiloide do crânio.

4. Aborto
A Organização Mundial da Saúde define abortamento como a interrupção da
gestação antes de 20 a 22 semanas ou feto com peso inferior a 500g. Para o
Direito, aborto é a interrupção da gestação, com a morte do produto
conceptual, haja ou não expulsão, qualquer que seja o seu estado evolutivo,
desde a concepção até o parto; assim, a legislação, ao contrário da Medicina,
não define tempo limite para a ocorrência de aborto, aceitando a denominação
desde a concepção até o termo. No Código Penal Brasileiro, o aborto
provocado é considerado crime, exceto nas situações abordadas a seguir.

A - Aborto praticado por médico (Art. nº 128)

1 - Se não há outro meio de salvar a vida da gestante (aborto terapêutico


– necessário).
2 - Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante
(aborto sentimental – piedoso ou moral).

B - Resolução nº 1.989/12

Autoriza a interrupção da gestação nos casos de feto anencéfalo.


Para tanto, o diagnóstico de anencefalia deve conter: exame ultrassonográfico
realizado a partir da 12ª semana com 2 fotografias identificadas e datadas,
uma com a face do feto em posição sagital e outra com a visualização do polo
cefálico no corte transversal, demonstrando a ausência da calota craniana e de
parênquima cerebral identificável, e laudo assinado por 2 médicos
capacitados para tal diagnóstico.
Após o diagnóstico e esclarecimentos, a gestante pode optar por manter ou
interromper a gravidez. Em ambos os casos, é assegurada assistência médica e
multiprofissional, se houver disponibilidade local. No caso de antecipação
terapêutica do parto, há que se lavrar ata do procedimento, onde conste
consentimento da gestante e/ou representante legal, se for o caso. É dever
informar a paciente sobre os riscos de recorrência da anencefalia e referenciá-
la para programas de planejamento familiar.
A ata, as fotografias e o laudo integrarão o prontuário da paciente.
A Resolução nº 1.989 foi publicada em maio de 2012, ou seja, no mês
seguinte ao STF ter julgado a ADPF (Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental) 54, em que declara que a interrupção da gravidez de
feto anencéfalo não pode ser conduta tipificada nos artigos 124, 126, 128,
incisos I e II, do Código Penal Brasileiro, ou seja, exclui a hipótese de crime
de aborto, quando se tratar de feto anencéfalo.

Importante
À luz da legislação atual, só se permite o aborto em casos de estupro ou de
comprovado risco de morte para a mãe, diretamente relacionado às
alterações fisiológicas da gravidez. Com a Resolução nº 1.989/12, o aborto
é consentido quando se tem diagnosticado, por meio de exame
ultrassonográfico, a partir da 12ª semana de gestação, a presença de feto
anencéfalo, com laudo assinado por 2 médicos.
5. Morte encefálica

A - Características clínico-jurídicas

Com o advento dos transplantes de órgãos, o conceito de morte mudou nas


últimas décadas. Antigamente, considerava-se morte como a cessação
definitiva das atividades respiratória e cardíaca; atualmente, o conceito de
morte é a encefálica. A Lei Federal nº 9.434/97, que dispõe sobre a remoção
de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para transplantes e tratamento,
determina em seu Artigo 3º que os parâmetros para determinação da morte
encefálica sejam definidos pelo Conselho Federal de Medicina, e este, por
meio da Resolução CFM nº 2.173/17, definiu tais critérios. Essa resolução foi
publicada após o Decreto nº 9.175/17, que regulamentou esta Lei.
A constatação da morte encefálica é fundamental tanto para a doação post
mortem de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, quanto para a
otimização dos recursos nas UTIs, uma vez que o indivíduo está clínica e
juridicamente morto.

Importante
Os parâmetros clínicos para a definição de morte encefálica são coma não
perceptivo, ausência de reatividade supraespinal e apneia persistente. O
paciente deve apresentar lesão encefálica de causa conhecida, irreversível e
capaz de causar a morte encefálica, ausência de fatores tratáveis que
possam confundir o diagnóstico de morte encefálica, temperatura corporal
superior a 35°, saturação arterial de oxigênio acima de 94% e pressão
arterial sistólica ≥100mmHg para adultos.

O termo de declaração deverá ser arquivado no prontuário do paciente,


juntamente com os exames complementares utilizados para o diagnóstico de
morte encefálica.
A doação dependerá da autorização da família, cônjuge ou parente, maior de
idade, obedecendo à linha sucessória, reta ou colateral, até o 2º grau,
inclusive, firmada em documento subscrito por 2 testemunhas. É proibida a
doação post mortem de pessoas não identificadas.
A doação em vida de órgãos duplos ou de partes de órgãos ou tecidos, cuja
retirada não impeça o organismo do doador de continuar a viver e não
represente comprometimento de suas funções vitais nem cause mutilação ou
deformação inaceitável, é permitida à pessoa juridicamente capaz, para o
cônjuge ou parentes consanguíneos até 4º grau. No caso de doação para
receptor não consanguíneo (sem parentesco), deverá haver autorização
judicial.
A gestante só poderá doar medula óssea (não outros órgãos e tecidos) caso
não ofereça riscos à sua saúde ou ao feto. O doador vivo deverá autorizar por
escrito preferencialmente, e diante de testemunhas, a doação. E o transplante
ou enxerto só serão feitos com o consentimento expresso do receptor ou do
responsável legal.
Todos os estabelecimentos de saúde têm a obrigação legal de notificar todos
os casos com diagnóstico de morte encefálica (notificação compulsória).

B - Resolução CFM nº 2.137/17


Define os critérios do diagnóstico de morte encefálica e, em seus anexos,
regulamenta:

Anexo I: manual de procedimentos para determinação de morte


encefálica;
Anexo II: termo de declaração de morte encefálica;
Anexo III: capacitação para determinação de morte encefálica.
Os procedimentos para determinação de morte encefálica devem ser iniciados
em todos os pacientes que apresentem coma não perceptivo, ausência de
reatividade supraespinal e apneia persistente e que atendam a todos os
seguintes pré-requisitos:

Presença de lesão encefálica de causa conhecida, irreversível e capaz de


causar morte encefálica;
Ausência de fatores tratáveis que possam confundir o diagnóstico de
morte encefálica;
Tratamento e observação em hospital pelo período mínimo de 6 horas.
Quando a causa primária do quadro for encefalopatia hipóxico-
isquêmica, esse período de tratamento e observação deverá ser de, no
mínimo, 24 horas;
Temperatura corpórea >35°C, saturação arterial de oxigênio >94% e
pressão arterial sistólica ≥100mmHg ou pressão arterial média
≥65mmHg para adultos.

É obrigatória a realização mínima dos seguintes procedimentos para


determinação da morte encefálica:

2 exames clínicos que confirmem coma não perceptivo e ausência de


função do tronco encefálico;
Teste de apneia que confirme ausência de movimentos respiratórios após
estimulação máxima dos centros respiratórios;
Exame complementar que comprove ausência de atividade encefálica.

O exame clínico deve demonstrar de forma inequívoca a existência das


seguintes condições:

Coma não perceptivo;


Ausência de reatividade supraespinal manifestada pela ausência dos
reflexos fotomotor, corneopalpebral, oculocefálico, vestibulocalórico e
de tosse.

Serão realizados 2 exames clínicos, cada um deles por um médico diferente,


especificamente capacitado (especialista em uma das seguintes
especialidades: Medicina Intensiva, Medicina Intensiva Pediátrica,
Neurologia, Neurologia Pediátrica, Neurocirurgia ou Medicina de Emergência
ou conforme descrito no Anexo III) a realizar esses procedimentos para a
determinação de morte encefálica. As conclusões do exame clínico e o
resultado do exame complementar deverão ser registrados pelos médicos
examinadores no termo de declaração de morte encefálica (Anexo II) e no
prontuário do paciente ao final de cada etapa. Nenhum desses médicos poderá
participar de equipe de remoção e transplante, conforme estabelecido no Art.
3º da Lei nº 9.434/1997 e no Código de Ética Médica.

a) Anexo I

Manual de procedimentos para determinação de morte encefálica.


Para o diagnóstico de morte encefálica, é essencial que todas as seguintes
condições sejam observadas:

Pré-requisitos:
Presença de lesão encefálica de causa conhecida, irreversível e
capaz de causar a morte encefálica;
Ausência de fatores tratáveis que possam confundir o diagnóstico
de morte encefálica;
Tratamento e observação em ambiente hospitalar pelo período
mínimo de 6 horas;
Quando a causa primária do quadro for encefalopatia hipóxico-
isquêmica, esse período de tratamento e observação deverá ser de,
no mínimo, 24 horas;
Temperatura corpórea (esofágica, vesical ou retal) >35°C, saturação
arterial de oxigênio >94% e pressão arterial sistólica ≥100mmHg ou
pressão arterial média ≥65mmHg para adultos, ou conforme tabela
para menores de 16 anos.

2 exames clínicos para confirmar a presença do coma e a ausência de


função do tronco encefálico em todos os seus níveis, com intervalo
mínimo de acordo com a Resolução;
Teste de apneia para confirmar a ausência de movimentos respiratórios
após estimulação máxima dos centros respiratórios em presença de
paCO2 >55mmHg;
Exames complementares para confirmar a ausência de atividade
encefálica, caracterizada pela falta de perfusão sanguínea encefálica, de
atividade metabólica, encefálica ou de atividade elétrica encefálica.

Na repetição do exame clínico (2º exame) por outro médico, será utilizada a
técnica do 1º exame. Não é necessário repetir o teste de apneia quando o
resultado do 1º teste for positivo (ausência de movimentos respiratórios na
vigência de hipercapnia documentada).
O intervalo mínimo de tempo a ser observado entre o 1º e o 2º exame clínico
é de 1 hora nos pacientes com idade ≥2 anos. Nas demais faixas etárias, esse
intervalo é variável.
Os familiares do paciente ou seu responsável legal deverão ser
adequadamente esclarecidos, de forma clara e inequívoca, sobre a situação
crítica do paciente, o significado da morte encefálica, o modo de determiná-la
e os resultados de cada etapa de sua determinação. Esse esclarecimento é de
responsabilidade da equipe médica assistente do paciente ou, na sua
impossibilidade, da equipe de determinação da morte encefálica.
A decisão quanto à doação de órgãos somente deverá ser solicitada aos
familiares ou responsáveis legais do paciente após o diagnóstico da morte
encefálica e a comunicação da situação a eles.

b) Anexo II

Termo de declaração de morte encefálica.


A equipe médica que determinou a morte encefálica deverá registrar as
conclusões dos exames clínicos e os resultados dos exames complementares
no termo de Declaração de Morte Encefálica (DME) ao término de cada etapa
e comunicá-la ao médico assistente do paciente ou a seu substituto.
Esse termo deverá ser preenchido em 2 vias. A 1ª via deverá ser arquivada no
prontuário do paciente, junto com o(s) laudo(s) de exame(s)
complementar(es) utilizados na sua determinação. A 2ª via ou cópia deverá
ser encaminhada à Central Estadual de Transplantes (CET),
complementarmente à notificação da ME, nos termos da Lei nº 9.434/97, Art.
13. Nos casos de morte por causa externa, uma cópia da declaração será
necessariamente encaminhada ao Instituto Médico-Legal (IML).
A Comissão Intra-Hospitalar de Transplantes (CIHDOTT), a Organização de
Procura de Órgãos (OPO) ou a CET deverão ser obrigatoriamente
comunicadas nas seguintes situações:

Possível morte encefálica (início do procedimento de determinação de


morte encefálica);
Após constatação da provável morte encefálica (1º exame clínico e teste
de apneia compatíveis);
Após confirmação da morte encefálica (término da determinação com o
2º exame clínico e exame complementar confirmatórios).

A Declaração de Óbito (DO) deverá ser preenchida pelo médico-legista nos


casos de morte por causas externas (acidente, suicídio ou homicídio),
confirmada ou suspeita. Nas demais situações, caberá aos médicos que
determinaram o diagnóstico de morte encefálica ou aos médicos assistentes
ou seus substitutos preenchê-la. A data e a hora da morte a serem registradas
na DO deverão ser as do último procedimento de determinação da morte
encefálica, registradas no termo de DME.
Constatada a morte encefálica, o médico tem autoridade ética e legal para
suspender procedimentos de suporte terapêutico em uso e assim deverá
proceder, exceto se doador de órgãos, tecidos ou partes do corpo humano para
transplante, quando deverá aguardar a retirada deles ou a recusa à doação
(Resolução CFM nº 1.826/2007). Essa decisão deverá ser precedida de
comunicação e esclarecimento sobre a morte encefálica aos familiares do
paciente ou seu representante legal, fundamentada e registrada no prontuário.

c) Anexo III

Capacitação para determinação de morte encefálica.


Curso teórico-prático com duração mínima de 8 horas, sendo 4 de discussão
de casos clínicos. Para cada 8 alunos, deve haver no mínimo 1 instrutor, com
capacitação comprovada em determinação de morte encefálica há pelo menos
2 anos e com Residência Médica ou título de especialista em Neurologia,
Neurologia Pediátrica, Medicina Intensiva, Medicina Intensiva Pediátrica,
Neurocirurgia ou Medicina de Emergência. O coordenador deve ter sido
capacitado há, no mínimo, 5 anos. A programação do curso contém:

Conceito de morte encefálica;


Fundamentos éticos e legais (legislação pertinente);
Metodologia da determinação (pré-requisitos, exame clínico, teste de
apneia, exame complementar e conclusão da determinação);
Conduta pós-determinação (comunicação da morte aos familiares,
retirada do suporte vital).

Para ser capacitado, é pré-requisito que o médico tenha experiência no


atendimento de pacientes em coma, de, no mínimo, 1 ano.
C - Resolução CFM nº 1.826/07

Dispõe sobre a legalidade e o caráter ético da suspensão dos procedimentos


de suportes terapêuticos quando da determinação de morte encefálica de
indivíduo não doador.
Art. 1º: é legal e ética a suspensão dos procedimentos de suportes terapêuticos
quando determinada a morte encefálica em não doador de órgãos, tecidos e
partes do corpo humano para fins de transplante, nos termos do disposto na
Resolução CFM nº 1.480, de 21 de agosto de 1997, na forma da Lei nº 9.434,
de 4 de fevereiro de 1997.
1º: o cumprimento da decisão mencionada no caput deve ser precedido de
comunicação e esclarecimento sobre a morte encefálica aos familiares do
paciente ou seu representante legal, fundamentada e registrada no prontuário.
2º: cabe ao médico assistente ou seu substituto o cumprimento do caput deste
artigo e seu parágrafo 1º.
Art. 2º: a data e a hora registradas na DO serão as mesmas da determinação de
morte encefálica.
Art. 3º: esta resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se
as disposições em contrário.
Ainda não houve atualização do texto desta Resolução, apesar de a Resolução
CFM nº 1.480, de 21 de agosto de 1997, ter sido substituída pela Resolução
CFM nº 2.173/17.
O objetivo é a otimização dos recursos nas UTIs, em vista do diagnóstico de
morte encefálica.

6. Declaração de óbito
A DO é o documento-base do Sistema de Informações sobre Mortalidade do
Ministério da Saúde (SIM/MS). É composta de 3 vias autocopiativas, pré-
numeradas sequencialmente, fornecidas pelo Ministério da Saúde e
distribuídas pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde conforme
fluxo padronizado para todo o país. Além da sua função legal, os dados de
óbitos são utilizados para conhecer a situação de saúde da população e gerar
ações visando à sua melhoria e, para tanto, devem ser fidedignos e refletir a
realidade. As estatísticas de mortalidade são produzidas com base na DO
emitida pelo médico. A emissão da DO é um ato médico, segundo a legislação
do país. Portanto, ocorrida uma morte, o médico tem a obrigação legal de
constatar e atestar o óbito, usando o formulário oficial “Declaração de Óbito”
mencionado. O documento tem, por finalidade:

A inumação (enterramento) do cadáver, pois nenhum enterramento pode


ser feito sem certidão oficial do cartório, extraída após lavratura do
assento de óbito feito à vista do atestado médico (Lei dos Registros
Públicos);
A certidão de óbito é prova cabal e incontestável do desaparecimento do
indivíduo e extingue a personalidade civil da pessoa;
A determinação da causa jurídica da morte (natural ou violenta);
O esclarecimento de questões de ordem sanitária e elaboração de
estatísticas para serem usadas em Saúde Pública.

A - Resolução CFM nº 1.779/05

Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da DO e revoga a


Resolução CFM nº 1.601/00.
Considerando:

A DO como parte integrante da assistência médica;


A DO como fonte imprescindível de dados epidemiológicos;
A morte natural tendo como causa a doença ou lesão que iniciou a
sucessão de eventos mórbidos que diretamente causaram o óbito;
A morte não natural como aquela que sobrevém de causas externas
violentas;
A necessidade de regulamentar a responsabilidade médica no
fornecimento da DO;
Finalmente, o decidido em sessão plenária realizada em 11 de novembro
de 2005.

Resolve:

Art. 1º: o preenchimento dos dados constantes da DO é de


responsabilidade do médico que atestou a morte;
Art. 2º: os médicos, quando do preenchimento da DO, obedecerão às
normas relatadas a seguir.

a) Morte natural
I - Morte sem assistência médica
a) Nas localidades com Serviço de Verificação de Óbitos (SVO):
A DO deverá ser fornecida pelos médicos do SVO.
b) Nas localidades sem SVO:
A DO deverá ser fornecida pelos médicos do serviço público de saúde mais
próximo do local onde ocorreu o evento e, na sua ausência, por qualquer
médico da localidade.
II - Morte com assistência médica
a) A DO deverá ser fornecida, sempre que possível, pelo médico que vinha
prestando assistência ao paciente.
b) A DO do paciente internado sob regime hospitalar deverá ser fornecida
pelo médico assistente e, na sua falta, por médico substituto pertencente à
instituição.
c) A DO do paciente em tratamento sob regime ambulatorial deverá ser
fornecida por médico designado pela instituição que prestava assistência, ou
pelo SVO.
d) A DO do paciente em tratamento sob regime domiciliar (Programa Saúde
da Família, internação domiciliar e outros) deverá ser fornecida pelo médico
pertencente ao programa ao qual o paciente estava cadastrado, ou pelo SVO,
caso o médico não consiga correlacionar o óbito com o quadro clínico
concernente ao acompanhamento do paciente.

b) Morte fetal

Em caso de morte fetal, os médicos que prestaram assistência à mãe ficam


obrigados a fornecer a DO quando a gestação tem duração ≥20 semanas ou o
feto tem peso corpóreo ≥500g e/ou estatura ≥25cm.

c) Mortes violentas ou não naturais

A DO deverá ser fornecida pelos serviços médico-legais. Parágrafo único: nas


localidades onde existir apenas 1 médico, este será o responsável pelo
fornecimento da DO. Art. 3º: esta resolução entra em vigor na data de sua
publicação e revoga a Resolução CFM nº 1.601/00.
Figura 21 - Fornecimento da declaração de óbito

d) Resolução CFM nº 2.139/16

Altera as normas para a emissão de atestados de óbito fornecidos pelos


médicos intervencionistas do Serviço Pré-Hospitalar Móvel de Urgência e
Emergência (SAMU), pois a Resolução CFM nº 2.110/2014, normatizadora
do funcionamento do SAMU, apresentava inconsistência com normativos do
CFM acerca da emissão do atestado de óbito.
O artigo 23 da Resolução CFM nº 2.110/14 passa a vigorar com a seguinte
redação:
Art. 23. O médico intervencionista, quando envolvido em atendimento que
resulte em óbito de suposta causa violenta ou não natural (homicídio,
acidente, suicídio, morte suspeita), deverá obrigatoriamente constatá-lo, mas
não atestá-lo. Neste caso, deverá comunicar o fato ao médico regulador, que
adotará as medidas necessárias para o encaminhamento do corpo para o IML.
Parágrafo único. Em caso de atendimento a paciente que resulte em morte
natural (com ou sem assistência médica) ou óbito fetal em que estiver
envolvido, o médico intervencionista deverá observar o disposto na
Resolução CFM nº 1.779/05 em relação ao fornecimento da DO.

B - Aspectos éticos

a) O que o médico deve fazer

1 - Preencher os dados de identificação com base em um documento da


pessoa falecida. Na ausência de documento, caberá à autoridade policial
proceder ao reconhecimento do cadáver.
2 - Sempre registrar os dados na DO, com letra legível e sem abreviações
ou rasuras.
3 - Registrar as causas da morte, obedecendo ao disposto nas regras
internacionais, anotando um diagnóstico por linha e o tempo aproximado
entre o início da doença e a morte.
4 - Revisar se todos os campos estão preenchidos corretamente antes de
assinar.

b) O que o médico não deve fazer

1 - Assinar DO em branco.
2 - Preencher a DO sem, pessoalmente, examinar o corpo e constatar a
morte.
3 - Utilizar termos vagos para o registro das causas de morte, como
parada cardíaca, parada cardiorrespiratória ou falência de múltiplos
órgãos.
4 - Cobrar pela emissão da DO.

Dica
O ato médico de examinar e constatar o óbito pode ser cobrado desde que
se trate de paciente particular a quem não vinha prestando assistência.

c) Em que situação emitir

1 - Em todos os óbitos (natural ou violento).


2 - Quando a criança nascer viva e morrer logo após o nascimento,
independentemente da duração da gestação, do peso e do tempo que
tenha permanecido viva.
3 - No óbito fetal, se a gestação teve duração ≥20 semanas, ou feto com
≥500g, ou estatura ≥25cm.

d) Em que situações não emitir

1 - No óbito fetal, com gestação <20 semanas, ou peso <500g, ou


estatura <25cm.
2 - Peças anatômicas amputadas.
Dica
No caso de peças anatômicas retiradas por ato cirúrgico ou de membros
amputados, o médico elaborará um relatório em papel timbrado do hospital
descrevendo o procedimento. Esse documento será levado ao cemitério,
caso o destino da peça venha a ser o sepultamento.

C - Definições
Estas definições foram adotadas pela Assembleia Mundial da Saúde
(resoluções WHA 20.19 e WHA 43.24), de acordo com o Art. nº 23 da
Constituição da Organização Mundial da Saúde, e constam da CID-10.

a) Causas de morte

As causas de morte a serem registradas na DO são todas as doenças, estados


mórbidos ou lesões que produziram a morte, ou que contribuíram para ela, e
as circunstâncias do acidente ou da violência que provocou essas lesões.

b) Causa-base de morte

É a doença ou lesão que iniciou a cadeia de acontecimentos patológicos que


conduziram diretamente à morte; São as circunstâncias do acidente ou a
violência que causou a lesão fatal.

Importante
Segundo a Organização Mundial da Saúde, causa-base da morte é “a
doença ou lesão que iniciou a sucessão de eventos mórbidos, os quais
levaram diretamente à morte, ou as circunstâncias do acidente ou violência
que produziu a lesão fatal”.

c) Definições com relação às mortalidades fetal e neonatal

Nascimento vivo: é a expulsão ou extração completa do corpo da mãe,


independentemente da duração da gravidez, de um produto de concepção
que, depois da separação, respire ou apresente qualquer outro sinal de
vida, como batimentos do coração, pulsações do cordão umbilical ou
movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária, estando ou
não cortado o cordão umbilical e desprendida a placenta. Considera-se
cada produto de um nascimento que reúna essas condições uma criança
viva;
Óbito fetal: é a morte de um produto de concepção antes da expulsão ou
da extração completa do corpo da mãe, independentemente da duração
da gravidez; indica o óbito quando o feto, depois da separação, não
respira nem apresenta outro sinal de vida, como batimentos do coração,
pulsações do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músculos de
contração voluntária;
Óbito neonatal: começa no nascimento e termina após 28 dias
completos depois do nascimento. As mortes neonatais, entre nascidos
vivos durante os primeiros 28 dias, podem ser subdivididas em neonatais
precoces, que ocorrem durante os primeiros 7 dias de vida, e neonatais
tardias, que ocorrem após o 7º dia, mas antes dos 28 dias completos.

d) Como preencher o atestado

A DO é formada por 9 partes:

Parte I: cartório;
Parte II: identificação do falecido;
Parte III: residência;
Parte IV: ocorrência;
Parte V: óbito fetal ou menor de 1 ano;
Parte VI: condições e causas de óbito;
Parte VII: médico;
Parte VIII: causas externas;
Parte IX: localidades sem médico.

Deve-se lembrar que o médico é o responsável pelo preenchimento de todas


as partes da DO.
A Organização Mundial da Saúde definiu como causa-base “a doença ou
lesão que iniciou a sucessão de eventos mórbidos, os quais levaram
diretamente à morte, ou as circunstâncias do acidente ou violência que
produziram a lesão fatal”.
Figura 22 - Ficha de declaração de óbito nacional

Na Parte VI, que trata das Condições e Causas do Óbito, o campo 49 é


dividido em Parte I e Parte II.
A Parte I é subdividida em 4 itens (“a”, “b”, “c” e “d”), e seu preenchimento
deve seguir uma ordem lógica e cronológica dos acontecimentos sofridos pelo
paciente, iniciando-se pela causa terminal ou imediata e terminando com
causa-base. Esta deve ser colocada em último lugar, ou seja, deve ser o último
item da Parte I. Antecedendo a causa-base, são colocados os outros eventos
(“devido a ou como consequência de”), até chegar à causa terminal ou
imediata.
A Parte II deve ser usada para informar outras condições significativas que
interferiram no curso do processo mórbido, chamadas de causas contribuintes
ou contributórias.

Figura 23 - Campos das causas de morte primária (parte I) e contribuintes (parte II)

O modelo de DO adotado permite, pelas suas características, facilitar a


seleção da causa-base quando são informados 2 ou mais diagnósticos. Isso
porque o médico, ao registrar os diagnósticos no atestado, deveria colocar a
causa-base em último lugar da Parte I. Assim, a causa-base do exemplo da
Figura 23, registrada dessa forma (último lugar da Parte I, linha “d”), dá
origem a algumas complicações (causas e consequências), que devem ser
registradas nas linhas acima (“c” e “b”). A última causa consequencial,
registrada na linha “a”, é chamada causa terminal ou imediata.
Caso a morte ocorra por causa não natural ou, como mais usualmente se diz,
por causas violentas ou causas externas, também deve constar da última linha
a causa-base, no caso, as circunstâncias da violência (queda, homicídio por
arma de fogo, afogamento etc.) e, acima da causa-base, as consequenciais
(fratura de crânio, rotura de fígado, esmagamento de tórax etc.). As DOs, nos
casos de causa externa, são sempre preenchidas por médicos-legistas.
Alguns exemplos de preenchimento do atestado de óbito:
Exemplo 1 (causa natural): sexo masculino, 65 anos. Há 35 anos, sabia ser
hipertenso e não fez tratamento. Há 2 anos, começou a apresentar dispneia de
esforço. Foi ao médico, que diagnosticou hipertensão arterial e cardiopatia
hipertensiva, e iniciou o tratamento. Há 2 meses, teve insuficiência cardíaca
congestiva e, hoje, edema agudo de pulmão, falecendo após 5 horas. Há 2
meses, foi diagnosticado câncer de próstata.

Figura 24 - Preenchimento da declaração de óbito por causa natural

Exemplo 2 (causa não natural): sexo masculino, 25 anos, pedreiro, estava


trabalhando quando sofreu queda de andaime (altura correspondente a 2
andares). Foi recolhido pelo serviço de resgate e encaminhado ao hospital,
onde fez cirurgia em virtude de traumatismo cranioencefálico. Morreu após 3
dias.

Figura 25 - Preenchimento da declaração de óbito por causa não natural

Exemplo 3: sexo masculino, 42 anos, pedreiro, estava trabalhando em um


andaime, à altura do 12º andar, quando caiu acidentalmente. Teve morte
instantânea. O relatório de necrópsia (IML) evidenciou traumatismos
múltiplos (de crânio, bacia, membros).
Figura 26 - Preenchimento da declaração de óbito acrescentando intervalos enunciados no exemplo
3

Exemplo 4: sexo masculino, 26 anos. Há 3 anos, foi diagnosticado portador


do vírus HIV, não tendo nenhuma manifestação até 10 meses antes, quando
começou a ter febre, emagrecimento intenso e muita tosse. Foi feito
diagnóstico de AIDS com tuberculose pulmonar. Evoluiu muito mal, não
respondendo à terapêutica, e teve o quadro confirmado de broncopneumonia,
vindo a falecer após 4 dias.

Figura 27 - Preenchimento da declaração de óbito considerando apenas causas de morte do exemplo


4

A seguir, alguns exemplos de DOs preenchidas incorretamente e sua correção:


Exemplo 1: uma mulher foi atendida na Emergência às 22 horas, com quadro
de queda da pressão arterial, hemoglobina de 7g/L, volume globular de 28%,
dor à palpação de abdome, distensão abdominal e macicez de decúbito. Às 23
horas, foi encaminhada para laparotomia e recebeu 2 unidades de concentrado
de hemácias. Durante a cirurgia, teve parada cardíaca. Durante a laparotomia,
foi constatado o quadro de gravidez ectópica rota.
Causas da morte na DO:
Parte I (incorreto):
a) Parada cardiorrespiratória.
b) Insuficiência renal aguda.
c) Choque hipovolêmico.
Comentário: nessa situação, ainda que o médico tivesse cuidado do caso e
diagnosticado a gravidez ectópica rota, isso não foi declarado na DO, que
deveria ter sido preenchida da seguinte maneira:
Parte I (correto):
a) Choque hipovolêmico.
b) Abdome agudo hemorrágico.
c) Gravidez ectópica rota.
Exemplo 2: uma parturiente de 23 anos, G3P1A1, fez 10 consultas de pré-
natal desde janeiro. Internada no dia 28.09.97 às 2 horas, com história de
gestação no curso do 9º mês em trabalho de parto, apresentação cefálica,
dilatação cervical de 6cm, PA = 110x60mmHg e deu à luz às 5h45 do mesmo
dia. Às 8 horas, detectou-se hemorragia pós-parto, sendo a puérpera
submetida a histerectomia subtotal e evoluindo para óbito materno às 9h40 no
transoperatório.
Causas da morte na DO:
Parte I (incorreto):
a) Anemia aguda.
b) Hemorragia intensa.
c) Coagulopatia intravascular disseminada.
Comentário: foi omitido, na DO, que a coagulopatia foi decorrente de quadro
grave de hemorragia puerperal. Ela deveria ser preenchida da seguinte
maneira:
Parte I (correto):
a) Choque hemorrágico.
b) Coagulopatia intravascular disseminada.
c) Hemorragia pós-parto.
Parte II: Gestação de 9 meses.
Exemplo 3: uma parturiente de 15 anos, casada há 2 anos, primigesta, fez 9
consultas de pré-natal desde o 2º mês. No final da gestação, diagnosticou-se,
pela ultrassonografia, posição fetal pélvica. A gestante, nessa ocasião,
apresentava quadros hipertensivos. Segundo os familiares, quando as dores se
intensificaram, o marido a levou para o hospital pela madrugada, e a médica
lhe deu uma injeção e disse que ainda não era hora. A gestante passou toda a
madrugada com dor e, como não melhorou pela manhã, retornou ao hospital,
onde ficou em observação. Segundo o prontuário, a parturiente foi admitida,
às 7 horas, em trabalho de parto com idade gestacional de 40 semanas, junto
com doença hipertensiva específica da gravidez leve. Evoluiu, na sala de pré-
parto, apresentando pico hipertensivo de 190x110mmHg, sendo medicada
com Aldomet® 750mg/d e hidralazina. Às 14h15, indicou-se cesárea, devido
à apresentação pélvica, e constataram-se feto morto em primigesta e evolução
de doença hipertensiva específica da gravidez leve para grave. Por ocasião da
indução anestésica, apresentou convulsões generalizadas, que persistiram no
transoperatório, evoluindo com parada cardiorrespiratória irreversível. Foi
encaminhada para o SVO, cujo laudo foi:
Parte I (incorreto):
a) A esclarecer, dependendo de exames complementares.
Comentário: o médico patologista não recebeu as informações médicas sobre
a história de saúde da paciente e, assim, não conseguiu determinar a causa de
óbito. Na realidade, o próprio médico que atendeu a paciente já tinha feito o
diagnóstico. A DO deveria ser preenchida da seguinte forma:
Parte I (correto):
a) Convulsões eclâmpticas.
b) Eclâmpsia grave.
Parte II: Gestação de 9 meses
Feto morto.
Exemplo 4: uma paciente de 19 anos, casada há 1 ano, primigesta, fez pré-
natal desde o 2º mês de gestação. A partir do 4º mês, foi diagnosticada
gestação de alto risco. Esteve internada e, no 5º mês, foi aconselhada a
interromper a gravidez. Antes da data prevista para a interrupção, teve parada
cardíaca. Foi internada com diagnóstico de cardiopatia reumática
descompensada. No 3º dia de internação, teve nova parada cardíaca,
respondendo a manobras de ressuscitação, e foi feita cesárea para a retirada
do feto morto. Às 20 horas, teve outra parada cardiorrespiratória em
assistolia, sem resposta às manobras.
Parte I (incorreto):
a) Edema e congestão pulmonar.
b) Cardiopatia dilatada.
c) Cardiopatia reumática crônica com estenose mitral acentuada.
Comentário: o médico na DO omitiu o estado gestacional. Na realidade,
houve descompensação de seu estado de saúde pela presença da gestação;
assim, o atestado deveria ser preenchido da seguinte forma:
Parte I (correto):
a) Edema e congestão pulmonar.
b) Cardiopatia dilatada.
c) Cardiopatia reumática crônica complicada pela gestação.
Parte II: Cardiopatia reumática crônica com estenose mitral acentuada.
Gestação de 5 meses.
Exemplo 5: uma paciente de 21 anos, branca, solteira, estudante, com última
gestação em 20.08.97, G2A2, usava anticoncepcional hormonal. Admitida em
23.01.98, às 11h30, com 3 a 4 meses de gestação e sangramento vaginal, no
momento da admissão apresentava quadro de choque hipovolêmico, com PA
= 60x30mmHg, pulso = 120bpm, mucosas hipocoradas. Por ocasião do
internamento, negava que estava grávida. Foi diagnosticado aborto
incompleto infectado, sendo indicada curetagem uterina. Sob anestesia
peridural, foram administradas 30 unidades de Syntocinon®. Após a
curetagem, apresentava hemorragia uterina e, às 12h45, perdeu o acesso
venoso, sendo transferida para a UTI do hospital B, com diagnóstico de
choque hipovolêmico e septicemia, por abortamento infectado. O óbito
ocorreu às 15h05.
Parte I (incorreto):
a) Choque septicêmico.
b) Endometrite.
Comentário: o preenchimento da DO foi incorreto: a causa-base do óbito
(aborto não especificado complicado com hemorragia – CID O06.1) não está
referida na letra “c” na DO.
Parte I (correto):
a) Choque septicêmico.
b) Endometrite.
c) Aborto incompleto infectado.

e) Algumas dúvidas mais comuns

1 - Óbito ocorrido em ambulância com médico. Quem deve fornecer a


DO?
A responsabilidade do médico que atua em serviço de transporte, remoção,
emergência, quando dá o 1º atendimento ao paciente, equipara-se à do médico
em ambiente hospitalar e, portanto, se a pessoa vier a falecer, caberá ao
médico da ambulância a emissão da DO, se a causa for natural e se existirem
informações suficientes para tal. Se a causa for externa, chegando ao hospital,
o corpo deverá ser encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML).
2 - Óbito ocorrido em ambulância sem médico é considerado sem
assistência médica?
Sim. O corpo deverá ser encaminhado ao SVO na ausência de sinais externos
de violência ou ao IML em mortes violentas. A DO deverá ser emitida por
qualquer médico em localidades onde não houver SVO, em caso de óbito por
causa natural, sendo declarado na parte I “causa da morte desconhecida”.
3 - Médico do serviço público emite DO para paciente que morreu sem
assistência médica. Posteriormente, por denúncia, surge suspeita de que
se tratava de envenenamento. Quais são as consequências legais e éticas
para esse médico?
Ao constatar o óbito e emitir a DO, o médico deve proceder a cuidadoso
exame externo do cadáver, a fim de afastar qualquer possibilidade de causa
externa. Como o médico não acompanhou o paciente e não recebeu
informações sobre essa suspeita, não tendo, portanto, certeza da causa-base do
óbito, deverá anotar, na variável causa, “óbito sem assistência médica”.
Mesmo se houver exumação e a denúncia de envenenamento vier a ser
comprovada, o médico estará isento de responsabilidade perante a justiça se
tiver anotado, na DO, no campo apropriado, “não há sinais externos de
violência” (campo 59 da DO vigente).
4 - Paciente chega ao pronto-socorro e, em seguida, tem parada cardíaca.
Iniciadas as manobras de ressuscitação, estas não têm sucesso. O médico
é obrigado a fornecer DO? Como proceder com relação à causa da
morte?
Primeiramente, deve-se verificar se a causa da morte é natural ou externa.
Se a causa for externa, o corpo deverá ser encaminhado ao IML. Se for morte
natural, o médico deverá esgotar todas as possibilidades para formular a
hipótese diagnóstica, inclusive com anamnese e história colhida com
familiares. Caso persista dúvida e na localidade exista SVO, o corpo deverá
ser encaminhado para esse serviço. Caso contrário, o médico deverá emitir a
DO esclarecendo que a causa é desconhecida.
5 - Idoso, vítima de queda de escada, sofre fratura de fêmur, é internado e
submetido a cirurgia. Evoluía adequadamente, mas adquire infecção
hospitalar, vindo a falecer 12 dias depois por broncopneumonia. Quem
deve fornecer a DO e o que deve ser anotado com relação à causa da
morte?
Segundo a definição, óbito por causa externa é aquele em consequência direta
ou indireta de um evento lesivo (acidental, não acidental ou de intenção
indeterminada). Ou seja, decorre de lesão provocada por violência
(homicídio, suicídio, acidente ou morte suspeita), qualquer que seja o tempo
decorrido entre o evento e o óbito. O fato de ter havido internação e cirurgia e
o óbito ter ocorrido 12 dias depois não interrompe essa cadeia.
O importante é considerar o nexo de causalidade entre a queda que provocou
a lesão e a morte. O corpo deve ser encaminhado ao IML, e a DO, emitida por
médico-legista. Este deve anotar na DO.

Figura 28 - Preenchimento da declaração de óbito por causa externa

6 - O médico de um município onde não existe IML é convocado pelo juiz


local a fornecer atestado de óbito de pessoa vítima de acidente. O médico
pode se negar a fazê-lo?
Embora a legislação determine que a DO para óbitos por causa externa seja
emitida pelo IML, a autoridade policial ou judicial, com base no Código de
Processo Penal Brasileiro, pode designar qualquer pessoa (de preferência as
que tiverem habilitações técnicas) para atuar pontualmente como perito
legista em municípios onde não existe esse tipo de serviço. Em face de essa
designação não ser opcional, deve-se obedecer à determinação. O perito
eventual (ad hoc) prestará compromisso, e seu exame ficará restrito a um
exame externo do cadáver, com descrição das lesões externas, se existirem, no
laudo necroscópico. Na DO, deverá anotar as lesões, o tipo de causa externa,
fazendo menção ao número do Boletim de Ocorrência Policial e preenchendo
os campos de 56 a 60 do bloco VIII da DO.

7. Legislação
Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei dos Registros Públicos), com as
correções da Lei nº 6.216, de 30 de junho de 1975 – Capítulo IX.

- Relacionado ao óbito

Art. 77º: nenhum sepultamento será feito sem certidão oficial de registro do
lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista
do atestado de médico se houver no lugar, ou, em caso contrário, de 2 pessoas
qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte.
1º - Antes de proceder ao assento de óbito de criança de menos de 1 ano, o
oficial verificará se houve registro de nascimento que, em caso de falta, será
previamente feito.
2º - A cremação de cadáver somente será feita daquele que houver
manifestado a vontade de ser incinerado ou no interesse da saúde pública e se
a DO tiver sido firmada por 2 médicos ou por 1 médico-legista, no caso de
morte violenta, depois de autorizada pela autoridade judiciária.

Resumo
Lesões corpóreas

São consideradas graves as lesões que tiveram, como consequência:


I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias.
II - Perigo de vida.
III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função.
IV - Aceleração de parto.
São consideradas lesões gravíssimas aquelas que resultaram em:
I - Incapacidade permanente para o trabalho.
II - Enfermidade incurável.
III - Perda ou inutilização de membro, sentido ou função.
IV - Deformidade permanente.
V - Aborto.
A energia existe em 5 formas físicas: mecânica, química, térmica, por
irradiação ou elétrica. As energias vulnerantes podem ser classificadas,
segundo Borri, em mecânica, física (calor, frio, elétrica etc.), química
(venenos e cáusticos), físico-química (asfixias), bioquímica
(intoxicações alimentares e autointoxicações), biodinâmica (estados de
“choque”) e mista;
Quanto ao modo da ação da energia vulnerante, pode se apresentar como
ativo (ação da energia sobre o corpo da vítima), passivo (ação do corpo
da vítima sobre a energia) e misto (um atua sobre o outro);
A ação da energia pode ser em um ponto, uma reta ou um plano. A partir
desses mecanismos de ação, as lesões podem ser classificadas em
simples ou mistas (combinadas);
A lesão tecidual dependerá dos seguintes fatores:
Quantidade de energia transmitida;
Velocidade de transmissão de energia;
Superfície da área corpórea em que a energia é aplicada;
Propriedades elásticas dos tecidos.

Aborto
No Código Penal Brasileiro, o aborto provocado é crime, exceto se não há
outro meio de salvar a vida da gestante; se a gravidez resulta de estupro e o
aborto é precedido de consentimento; e se o feto em questão é diagnosticado
como anencéfalo.
Morte encefálica

A doação post mortem deverá ser precedida de diagnóstico de morte


encefálica feito por 2 médicos (um deles neurologista) não participantes
das equipes de remoção e transplante;
Os parâmetros clínicos da morte encefálica são: coma aperceptivo, com
ausência de atividade motora supraespinal, apneia e ausência de
hipotermia (temperatura ≥32,5°C) ou drogas depressoras do sistema
nervoso central ou bloqueadores neuromusculares;
Os exames complementares para a caracterização da morte encefálica
são EEG, PET, angiografia ou Doppler transcraniano.

Declaração de óbito

Em caso de morte fetal, a DO é fornecida se feto ≥20 semanas, ou peso


corpóreo ≥500g ou estatura ≥25cm;
Causa-base de morte é o agravo que iniciou a cadeia de acontecimentos
patológicos que conduziram diretamente à morte;
Parte VI - Condições e causas de óbito: dividida em I e II.
Parte I: registrar os acontecimentos em ordem lógica e cronológica,
iniciando-se pela causa terminal ou imediata e terminando com a
causa-base;
Parte II: outras condições significativas que interferiram no curso
do processo mórbido.
Nos casos de causa externa, é sempre preenchida por médico-legista;
A causa a ser tabulada nas estatísticas de mortalidade é chamada de
causa-base de morte.
Ética médica
André Ribeiro Morrone
Edson Lopes Mergulhão
Thaís Minett
Marcos Rodrigo Souza Fernandes
Fábio Roberto Cabar
João Victor Fornari
Jeane Lima e Silva Carneiro

1. Introdução
A Ética estuda o comportamento moral dos homens dentro de uma sociedade,
isto é, estuda uma forma específica de comportamento humano. Baseia-se nos
atos humanos voluntários e conscientes e que podem envolver outros
indivíduos, grupos sociais e até mesmo toda a sociedade. Embora estejam
profundamente relacionados, os termos “ética” e “moral” não devem ser
confundidos, mas entendidos como complementares.
“Ética”, do grego ethos, significa “modo de ser”, “caráter”; e “moral”, do
latim mos, significa “costume”, “conjunto de normas adquiridas pelo
homem”. Portanto, esses termos se referem a 2 qualidades especificamente
humanas: o “modo de ser” ou o “caráter” de cada um, sobre o qual se
assentam os “costumes” ou as “normas adquiridas”, plasmando o
comportamento moral do homem.
A Ética Médica é responsável pelo estudo do comportamento moral dos
médicos durante o exercício profissional, ou seja, enquanto estão em
atividade médica. A Deontologia Médica, por sua vez, é responsável pelos
estudos dos deveres dos médicos, enquanto a Diceologia estuda os direitos
dos médicos. Essas 2 vertentes estão ordenadas no Código de Ética Médica
(CEM): os Princípios Fundamentais, os Direitos dos Médicos e os capítulos
relativos às vedações a eles.
A Bioética, termo criado pelo oncologista e biólogo americano Van
Rensselaer Potter em seu livro “Bioethics: bridge to the future”, é o estudo
sistemático da conduta humana na área das Ciências da Vida e dos Cuidados
da Saúde, na medida em que essa conduta é examinada à luz dos valores e dos
princípios morais. Esse conceito é o atualmente empregado e foi lançado pela
Encyclopedia of Bioethics em 1978. Como campo emerso da Ética Médica, a
Bioética é fruto da evolução do saber e de concepções novas geradas pelas
realidades atuais da Medicina, da Biologia, da Sociologia e da Filosofia.
Tema frequente de prova
Devemos lembrar sempre os conceitos de autonomia, beneficência e não
maleficência, uma vez que esses temas são sempre cobrados nas provas.

A Bioética analisa os problemas éticos (dos pacientes, dos médicos e de todos


os envolvidos na assistência) relacionados com o início e o fim da vida, com a
Engenharia Genética, com os transplantes de órgãos, com a reprodução
humana assistida com embriões congelados, com a fertilização in vitro, com o
prolongamento artificial da vida, com os direitos dos pacientes terminais, com
a morte encefálica, com as diversas formas de eutanásia etc.
A atividade médica, assim como todas as demais atividades humanas, é
regulamentada por normas jurídicas. As normas jurídicas gerais são comuns a
todos os cidadãos, dentro do espaço territorial brasileiro, e as normas jurídicas
especiais regulamentam matérias específicas.
Assim, o médico, em sua atividade, está sujeito a diversas normas jurídicas
gerais e especiais. As normas gerais são a Constituição de 1988, o Código
Civil de 2002, o Código Penal, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e
outras leis estaduais e municipais. As normas especiais que regulamentam a
atividade médica são elaboradas pelo Ministério da Saúde, pelo Conselho
Nacional de Saúde, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelos
Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), por meio de resoluções e
portarias.
Devemos lembrar que há uma hierarquia entre as normas e que nenhuma pode
ser contrária à Constituição (Lei Magna).
Valor: o conceito está ligado às noções de preferência ou de seleção. Rokeach
(1973) define valor como uma crença duradoura em um modelo específico ou
estado de existência, pessoal ou socialmente adotado e embasado em uma
conduta preexistente. São exemplos de valores individuais: escolha
profissional, autonomia ou paternalismo; são valores universais: religião,
crime, proibição de incesto etc.;
Moral: para Barton e Barton (1984), o estudo da Filosofia Moral consiste em
questionar-se sobre o que é correto ou incorreto, o que é virtude ou maldade
nas condutas humanas. A moralidade é um sistema de valores do qual
resultam normas consideradas corretas por determinada sociedade. Exemplos:
10 mandamentos, Código Penal etc. A lei moral ou os seus códigos
usualmente objetivam ordenar um conjunto de direitos e deveres do indivíduo
e da sociedade; porém, para ser exequível, é necessário que uma autoridade a
imponha e castigue o infrator. A moral pressupõe, além da punição ao
infrator, que seus valores sejam impostos e que não possam ser questionados.
Como em todos os códigos de moral, as proibições vêm sempre precedidas de
um “não”, ficando implícito que todos têm ou podem ter esses desejos e que
estes devem ser reprimidos, senão ocorrerá o castigo.

Dentre os fundamentos formais e obrigatórios relacionados à bioética, à


eticidade e à pesquisa, destacamos os apresentados a seguir.

A - Consentimento livre e esclarecido

Importante
O termo de consentimento livre e esclarecido tem, como finalidade,
documentar as possíveis consequências e complicações do ato médico e
cumpre finalidade ético-jurídica em casos de processos médicos.

O médico tem o dever de informar ao paciente os riscos do ato médico, dos


procedimentos e das consequências dos medicamentos prescritos. Além disso,
tem responsabilidades civil, penal e disciplinar sobre seus atos, devendo essa
responsabilidade ser avaliada em cada caso. O termo de consentimento livre e
esclarecido tem, como finalidade, formalizar ou documentar ao médico e ao
paciente as possíveis consequências do ato médico, inclusive hipóteses de
caso fortuito e de força maior, desconhecidas da Ciência e que fogem ao
controle da Medicina. Dessa forma, o termo não tem a virtude de excluir a
responsabilidade do médico; não pode ser entendido, pois, como excludente
de responsabilidade ou cláusula de não indenização. O documento cumpre
finalidade ético-jurídica e pode ser apreciado como prova da lisura do
procedimento médico. Assim, jamais deve ser de cunho impositivo, devendo
ser grafado em linguagem acessível e simples para o entendimento do
paciente que subscreverá o documento ou de seu representante legal.

B - Comitês de ética em pesquisa

Hospitais e instituições de saúde que realizam pesquisas clínicas devem


atender a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que
traz as normas regulamentadoras de experimentos com seres humanos no
país. Pesquisas envolvendo seres humanos devem ser submetidas à apreciação
do Sistema CEP/CONEP (Comitês de Ética em Pesquisa/ Comissão Nacional
de Ética em Pesquisa). Os CEPs são colegiados interdisciplinares e
independentes, de relevância pública, de caráter consultivo, deliberativo e
educativo, criados para defender os interesses dos participantes da pesquisa
em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da
pesquisa dentro de padrões éticos:

As instituições e/ou organizações nas quais se realizem pesquisas


envolvendo seres humanos podem constituir 1 ou mais de 1 CEP,
conforme suas necessidades e atendendo aos critérios normativos;
Na inexistência de um CEP na instituição proponente ou em caso de
pesquisador sem vínculo institucional, caberá à CONEP a indicação de
um CEP para proceder à análise da pesquisa dentre aqueles que
apresentem melhores condições para monitorá-la.

São atribuições dos CEPs: avaliar protocolos de pesquisa envolvendo seres


humanos, com prioridade nos temas de relevância pública e de interesse
estratégico da agenda de prioridades do SUS, com base nos indicadores
epidemiológicos, emitindo parecer, devidamente justificado, sempre
orientado, dentre outros, pelos princípios da impessoalidade, transparência,
razoabilidade, proporcionalidade e eficiência, dentro dos prazos estabelecidos
em norma operacional, evitando redundâncias que resultem em morosidade
na análise; desempenhar papel consultivo e educativo em questões de ética;
elaborar seu Regimento Interno.

2. Conselhos de Medicina
O CFM e os CRMs, em conjunto, constituem uma autarquia dotada de
personalidade jurídica de direito público com autonomia administrativa e
financeira. São os órgãos supervisores da ética profissional em toda a
República e, ao mesmo tempo, julgadores e disciplinadores da classe médica,
cabendo-lhes zelar e trabalhar, por todos os meios ao seu alcance, pelo
perfeito desempenho ético da Medicina e pelo prestígio e bom conceito da
profissão e dos que a exerçam legalmente. Há, em Brasília, o CFM com
jurisdição em todo o território brasileiro, ao qual ficam subordinados os
CRMs, e, em cada capital de estado e no Distrito Federal, há um CRM, cuja
jurisdição alcançará a do estado ou do Distrito Federal.
Os médicos só poderão exercer legalmente a Medicina, em quaisquer dos seus
ramos ou especialidades, após o prévio registro de seus títulos, diplomas,
certificados ou cartas no Ministério da Educação e de sua inscrição no CRM
sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade. Se o médico exercer sua
atividade por mais de 90 dias em outra jurisdição, ficará obrigado a requerer
inscrição secundária no quadro do CRM dessa jurisdição.

3. Comissões de Ética Médica


As Comissões de Ética Médica compreendem uma extensão do CRM, eleitas
pelo corpo clínico das instituições médicas, estando a ele vinculadas. Devem
ser instaladas em unidades de saúde e são órgãos com funções opinativas,
educativas e fiscalizadoras do desempenho ético da Medicina. São atribuições
das Comissões de Ética Médica:

Orientar e fiscalizar o desempenho ético da profissão dentro da


instituição;
Atuar como controle de qualidade das condições de trabalho e prestação
de assistência médica na instituição, sugerindo e acompanhando as
modificações necessárias;
Denunciar às instâncias superiores, inclusive ao CRM, as eventuais más
condições de trabalho na instituição;
Colaborar com o CRM, divulgando resoluções, normas e pareceres;
Assessorar as diretorias clínica, administrativa e técnica da instituição,
dentro da sua área de competência;
Proceder à sindicância a pedido de interessados, médicos, do próprio
CRM ou por iniciativa própria.

4. Código de Ética Médica


O 1º CEM do Brasil foi elaborado em 1965 pelo CFM e refletia a Medicina
Liberal praticada na época com ênfase nas relações médico-paciente (4
artigos) e médico-médico (12 artigos), além de um capítulo apenas sobre
conferências médicas com 9 artigos, muito semelhante a um código de
etiqueta médica.
Em 1984, esse Código foi substituído pelo Código Brasileiro de Deontologia
Médica, elaborado sigilosa e exclusivamente pelo CFM, o qual enfrentou
resistências generalizadas, tendo vida curta e dando origem ao Código de
1988. Este apresenta, ao todo, 145 artigos, divididos em 14 capítulos, e é mais
extenso e detalhado do que os anteriores.
O CEM, elaborado com a tentativa da participação de vários setores da
sociedade e da classe médica, configura-se como uma mescla de código de
moral com código administrativo que regula aspectos práticos da profissão e
prevê sanções a quem o infringir. O Código está, portanto, subordinado à
Constituição e às leis.
O CFM, no uso de suas atribuições, reuniu sua plenária em 12 de abril de
2010 e aprovou o novo CEM, o qual traz uma série de questionamentos
importantes acerca do exercício profissional no que se refere aos deveres e
aos direitos dos médicos. Pela 1ª vez, temas importantes e polêmicos são
levados em consideração.
O novo CEM é composto de um preâmbulo com 6 incisos, 25 incisos de
princípios fundamentais, 10 incisos sobre “direitos”, 118 artigos de normas
deontológicas (sobre “deveres”) e 4 incisos de disposições gerais. Ou seja, foi
mantido o esquema de Princípios, Direitos e Deveres; preserva a essência do
anterior, em vigor desde 1988, que surgiu na esteira das conquistas da
sociedade brasileira e da convivência democrática que também resultou na
Constituição, na consagração da dignidade humana, dos direitos
fundamentais, do Estado de Direito, da liberdade, da igualdade e da Justiça. O
Código trata, dentre outros temas, dos direitos dos médicos, da
responsabilidade profissional, dos direitos humanos, da relação com pacientes
e familiares, da doação e dos transplantes de órgãos, da relação entre médicos,
do sigilo profissional, dos documentos médicos e do ensino, da pesquisa e da
publicidade médicos.

Importante
O novo CEM, de 2010, além de considerar as mudanças sociais, jurídicas e
científicas, levou em conta os atuais códigos de ética médica de outros
países e considerou elementos de jurisprudência, posicionamentos que já
integram pareceres, decisões e resoluções da Justiça, das Comissões de
Ética locais e resoluções éticas do Conselho Federal de Medicina e dos
Conselhos Regionais de Medicina editadas desde 1988.

Relativamente conciso, o novo CEM não entra em detalhes nem considera


todas as circunstâncias que envolvem a prática e a ética médica: são mantidos
os princípios tradicionais que regem a prática médica, desde o juramento de
Hipócrates – a honestidade e a dedicação do médico, sua obrigação de
preservar a vida, de não prejudicar os pacientes, mas sim respeitar seus
interesses, sua privacidade e a confidencialidade. Foi mantida a dupla
finalidade da Deontologia Médica, que supõe a autonomia da prática
profissional e a sua regulação. O CEM serve de referência para a atuação
judicante dos Conselhos de Medicina, ao mesmo tempo que é o guia dos
médicos em sua prática cotidiana a serviço dos pacientes, bem como enfatiza
que o respeito pela vida não é exclusividade do médico, mas particularmente
aplicável a ele.
O princípio de liberdade do indivíduo é outro pilar do Código atual. O sujeito
é livre para escolher seu médico e aceitar ou rejeitar o que lhe é oferecido:
exames, consultas, internações, atendimento de qualquer espécie, prontuários
médicos, participação em pesquisa clínica, transmissão de dados etc. Mas o
exercício da liberdade depende de o paciente receber informações justas,
claras e adequadas. Daí a importância do consentimento informado, livre e
esclarecido; o princípio de liberdade do médico deve estar concatenado com a
liberdade do paciente. Esse é o contrato tácito e implícito de todo ato médico
e que permeia o novo Código.
O médico deve exercer a Medicina sem discriminação de qualquer natureza,
praticando a solidariedade entre seus companheiros e, pessoalmente
responsável pelos seus atos, preservar a sua independência profissional,
livrando-se, em benefício do paciente, de influências pessoais ou materiais de
empregadores, pagadores, instituições, indústria e outros interesses.
Outra categoria de princípios ressaltada pelo novo Código diz respeito às
habilidades e qualidades exigidas do médico, pois é essa a missão que a
sociedade lhe confere. Para cumpri-la, o médico deve ser competente para
tanto. Daí a relevância da habilidade profissional e do compromisso do
médico com a Ciência, obviamente reconhecendo seus limites. O médico tem
no Código a preservação de sua independência profissional, daí a
preocupação ética de eliminar conflitos, de afastar o médico de influências
desmedidas de empregadores, da indústria e dos interesses puramente
empresariais e mercantis.
Por fim, o novo CEM posiciona-se sobre grandes debates contemporâneos no
campo da Bioética, como a questão dos transplantes de órgãos, os ensaios
clínicos, a eutanásia, a Reprodução Assistida (RA) e a manipulação genética.
Em 15.08.2018, o site do CFM noticiou o encerramento do processo de
revisão do CEM, iniciado em 2016. A previsão de publicação no Diário
Oficial da União é até o fim de 2018, após o trâmite administrativo
necessário. O novo CEM deve entrar em vigor em 2019.

A - Destaques (importantes temas de prova)

A seguir, estão compilados os principais temas abordados nas provas de


concursos médicos. Os artigos em que esses princípios estão inseridos são
citados para possibilitar a consulta do dispositivo legal na íntegra.
Abandono de paciente: o médico não pode abandonar o paciente (Cap. 5,
Art. 36);
Anúncios profissionais: é obrigatório incluir o número do CRM em anúncios
(Cap. 12, Art. 118);
Apoio à categoria: o médico deve apoiar os movimentos da categoria (Cap.
1, XV);
Condições de trabalho: o médico pode recusar-se a exercer a Medicina em
locais inadequados (Cap. 2, IV);
Conflito de interesses: o médico é obrigado a declarar conflitos de interesses
(Cap. 12, Art. 109);
Consentimento esclarecido: o paciente precisa dar o consentimento (Cap. 4,
Art. 22);
Denúncia de tortura: o médico é obrigado a denunciar prática de tortura
(Cap. 4, Art. 25);
Descontos e consórcios: o médico não pode estar vinculado a cartões de
desconto e consórcios (Cap. 8, Art. 72);
Direito de escolha: o médico deve aceitar as escolhas do paciente (Cap. 1,
XXI);
Falta em plantão: abandonar o plantão é falta grave (Cap. 3, Art. 9);
Letra legível: a receita e o atestado médico têm de ser legíveis e com
identificação (Cap. 3, Art. 11);
Limitação de tratamento: nada pode limitar o médico em definir o
tratamento (Cap. 1, XVI);
Manipulação genética: o médico não pode praticar a manipulação genética
(Cap. 3, Art. 16; Cap. 1, XXV);
Métodos contraceptivos: o paciente tem direito de decidir sobre métodos
contraceptivos (Cap. 5, Art. 42);
Pacientes terminais: o médico deve evitar procedimentos desnecessários em
pacientes terminais (Cap. 5, Art. 41; Cap. 1, XXII);
Participação em propaganda: o médico não pode participar de propaganda
(Cap. 13, Art. 116);
Prontuário médico: o paciente tem direito a cópia do prontuário médico
(Cap. 10, Art. 85; Cap. 10, Art. 87; Cap. 10, Art. 89; Cap. 10, Art. 90);
Receita sem exame: o médico não pode receitar sem ver o paciente (Cap. 5,
Art. 37);
Relações com farmácias: o médico não pode ter relação com comércio e
farmácias (Cap. 8, Art. 69);
Responsabilidade: a responsabilidade médica é pessoal e não pode ser
presumida (Cap. 3, Art. 1º);
Segunda opinião: o paciente tem direito a uma 2ª opinião e a
encaminhamento a outro médico (Cap. 5, Art. 39; Cap. 7, Art. 53; Cap. 7, Art.
52);
Sexagem: a escolha do sexo do bebê é vedada na RA (Cap. 3, Art. 15);
Sigilo médico: o sigilo médico deve ser preservado, mesmo após a morte
(Cap. 1, XI; Cap. 9, Art. 73);
Uso de placebo: é proibido em pesquisa quando há tratamento eficaz (Cap.
12, Art. 106).

B - Código de Ética Médica (conteúdo na íntegra)

Resolução CFM nº 1.931, de 17 de setembro de 2009


Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 24 set. 2009. Seção I,
p. 90 a 92
Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 13 out. 2009. Seção I,
p. 173 – retificação:

Aprova o CEM;
O CFM, no uso das atribuições conferidas pela Lei nº 3.268, de 30 de
setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto nº 44.045, de 19 de julho
de 1958, modificado pelo Decreto nº 6.821, de 14 de abril de 2009, e
pela Lei nº 11.000, de 15 de dezembro de 2004, e consubstanciado nas
Leis nº 6.838, de 29 de outubro de 1980 e Lei nº 9.784, de 29 de janeiro
de 1999;
Considerando que os Conselhos de Medicina são ao mesmo tempo
julgadores e disciplinadores da classe médica, cabendo-lhes zelar e
trabalhar, por todos os meios ao seu alcance, pelo perfeito desempenho
ético da Medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que
a exerçam legalmente;
Considerando que as normas do CEM devem submeter-se aos
dispositivos constitucionais vigentes;
Considerando a busca de melhor relacionamento com o paciente e a
garantia de maior autonomia à sua vontade;
Considerando as propostas formuladas ao longo dos anos de 2008 e 2009
e pelos CRMs, pelas entidades médicas, pelos médicos e por instituições
científicas e universitárias para a revisão do atual CEM;
Considerando as decisões da IV Conferência Nacional de Ética Médica,
que elaborou, com participação de delegados médicos de todo o Brasil,
um novo CEM revisado;
Considerando o decidido pelo Conselho Pleno Nacional, reunido em 29
de agosto de 2009;
Considerando, finalmente, o decidido em sessão plenária de 17 de
setembro de 2009.

Resolve:

Art. 1º: aprovar o CEM, anexo a esta Resolução, após sua revisão e
atualização;
Art. 2º: o CFM, sempre que necessário, expedirá resoluções que
complementem esse CEM e facilitem sua aplicação;
Art. 3º: o Código anexo a esta Resolução entra em vigor 180 dias após a
data de sua publicação, e, a partir daí, revoga-se o CEM aprovado pela
Resolução CFM nº 1.246, publicada no Diário Oficial da União, no dia
26 de janeiro de 1988, Seção I, páginas 1.574 a 1.579, bem como as
demais disposições em contrário.

Preâmbulo:

I - O presente CEM contém as normas que devem ser seguidas pelos


médicos no exercício de sua profissão, inclusive no exercício de
atividades relativas ao ensino, à pesquisa e à administração de serviços
de saúde, bem como no exercício de quaisquer outras atividades em que
se utilize o conhecimento advindo do estudo da Medicina.
II - As organizações de prestação de serviços médicos estão sujeitas às
normas deste Código.
III - Para o exercício da Medicina, impõe-se a inscrição no CRM do
respectivo estado, território ou Distrito Federal.
IV - A fim de garantir o acatamento e a cabal execução deste Código, o
médico comunicará ao CRM, com discrição e fundamento, fatos de que
tenha conhecimento e que caracterizem possível infração do presente
Código e das demais normas que regulam o exercício da Medicina.
V - A fiscalização do cumprimento das normas estabelecidas neste
Código é atribuição dos Conselhos de Medicina, das Comissões de Ética
e dos médicos em geral.
VI - Este CEM é composto de 25 princípios fundamentais do exercício
da Medicina, 10 normas diceológicas, 118 normas deontológicas e 4
disposições gerais. A transgressão das normas deontológicas sujeitará os
infratores às penas disciplinares previstas em lei.

a) Capítulo I – Princípios fundamentais

I - A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da


coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza.
II - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em
benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor da sua
capacidade profissional.
III - Para exercer a Medicina com honra e dignidade, o médico necessita ter
boas condições de trabalho e ser remunerado de forma justa.
IV - Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da
Medicina, bem como pelo prestígio e bom conceito da profissão.
V - Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar
o melhor do progresso científico em benefício do paciente.
VI - O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre
em seu benefício. Jamais utilizará seus conhecimentos para causar sofrimento
físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar
tentativa contra sua dignidade e integridade.
VII - O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a
prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não
deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de
urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do
paciente.
VIII - O médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum
pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer
restrições ou imposições que possam prejudicar a eficiência e a correção de
seu trabalho.
IX - A Medicina não pode, em nenhuma circunstância ou forma, ser exercida
como comércio.
X - O trabalho do médico não pode ser explorado por terceiros com objetivos
de lucro, finalidade política ou religiosa.
XI - O médico guardará sigilo a respeito das informações de que detenha
conhecimento no desempenho de suas funções, com exceção dos casos
previstos em lei.
XII - O médico empenhar-se-á pela melhor adequação do trabalho ao ser
humano, pela eliminação e pelo controle dos riscos à saúde inerentes às
atividades laborais.
XIII - O médico comunicará às autoridades competentes quaisquer formas de
deterioração do ecossistema, prejudiciais à saúde e à vida.
XIV - O médico empenhar-se-á em melhorar os padrões dos serviços médicos
e em assumir sua responsabilidade em relação à saúde pública, à educação
sanitária e à legislação referente à saúde.
XV - O médico será solidário com os movimentos de defesa da dignidade
profissional, seja por remuneração digna e justa, seja por condições de
trabalho compatíveis com o exercício ético-profissional da Medicina e seu
aprimoramento técnico-científico.
XVI - Nenhuma disposição estatutária ou regimental de hospital ou de
instituição, pública ou privada, limitará a escolha, pelo médico, dos meios
cientificamente reconhecidos a serem praticados para o estabelecimento do
diagnóstico e da execução do tratamento, salvo quando em benefício do
paciente.
XVII - As relações do médico com os demais profissionais devem basear-se
no respeito mútuo, na liberdade e na independência de cada um, buscando
sempre o interesse e o bem-estar do paciente.
XVIII - O médico terá, para com os colegas, respeito, consideração e
solidariedade, sem se eximir de denunciar atos que contrariem os postulados
éticos.
XIX - O médico se responsabilizará, em caráter pessoal e nunca presumido,
pelos seus atos profissionais, resultantes de relação particular de confiança e
executados com diligência, competência e prudência.
XX - A natureza personalíssima da atuação profissional do médico não
caracteriza relação de consumo.
XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus
ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de
seus pacientes relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por
eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas.
XXII - Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a
realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e
propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos
apropriados.
XXIII - Quando envolvido na produção de conhecimento científico, o médico
agirá com isenção e independência, visando ao maior benefício para os
pacientes e a sociedade.
XXIV - Sempre que participar de pesquisas envolvendo seres humanos ou
qualquer animal, o médico respeitará as normas éticas nacionais, bem como
protegerá a vulnerabilidade dos sujeitos da pesquisa.
XXV - Na aplicação dos conhecimentos criados pelas novas tecnologias,
considerando-se suas repercussões tanto nas gerações presentes quanto nas
futuras, o médico zelará para que as pessoas não sejam discriminadas por
nenhuma razão vinculada a herança genética, protegendo-as em sua
dignidade, identidade e integridade.

b) Capítulo II – Direitos dos médicos

- São direitos do médico


I - Exercer a Medicina sem ser discriminado por questões de religião, etnia,
sexo, nacionalidade, cor, orientação sexual, idade, condição social, opinião
política ou de qualquer outra natureza.
II - Indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas
cientificamente reconhecidas e respeitada a legislação vigente.
III - Apontar falhas em normas, contratos e práticas internas das instituições
em que trabalhe quando as julgar indignas do exercício da profissão ou
prejudiciais a si mesmo, ao paciente ou a terceiros, devendo dirigir-se, nesses
casos, aos órgãos competentes e, obrigatoriamente, à Comissão de Ética e ao
CRM de sua jurisdição.
IV - Recusar-se a exercer sua profissão em instituição pública ou privada
onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar a
própria saúde ou a do paciente, bem como a dos demais profissionais. Nesse
caso, comunicará imediatamente sua decisão à Comissão de Ética e ao CRM.
V - Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando a
instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições
adequadas para o exercício profissional ou não o remunerar digna e
justamente, ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo
comunicar imediatamente sua decisão ao CRM.
VI - Internar e assistir seus pacientes em hospitais privados e públicos com
caráter filantrópico ou não, ainda que não faça parte do seu corpo clínico,
respeitadas as normas técnicas aprovadas pelo CRM da pertinente jurisdição.
VII - Requerer desagravo público ao CRM quando atingido no exercício de
sua profissão.
VIII - Decidir, em qualquer circunstância, levando em consideração sua
experiência e capacidade profissional, o tempo a ser dedicado ao paciente,
evitando que o acúmulo de encargos ou de consultas venha a prejudicá-lo.
IX - Recusar-se a realizar atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam
contrários aos ditames de sua consciência.
X - Estabelecer seus honorários de forma justa e digna.

c) Capítulo III – Responsabilidade profissional

- São vedados ao médico


Art. 1º: causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como
imperícia, imprudência ou negligência.

Parágrafo único. A responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode


ser presumida.
Art. 2º: delegar a outros profissionais atos ou atribuições exclusivos da
profissão médica.
Art. 3º: deixar de assumir responsabilidade sobre procedimento médico que
indicou ou do qual participou, mesmo quando vários médicos tenham
assistido o paciente.
Art. 4º: deixar de assumir a responsabilidade de qualquer ato profissional que
tenha praticado ou indicado, ainda que solicitado ou consentido pelo paciente
ou por seu representante legal.
Art. 5º: assumir responsabilidade por ato médico que não praticou ou do qual
não participou.
Art. 6º: atribuir seus insucessos a terceiros e a circunstâncias ocasionais,
exceto nos casos em que isso possa ser devidamente comprovado.
Art. 7º: deixar de atender em setores de urgência e emergência, quando for de
sua obrigação fazê-lo, expondo a risco a vida de pacientes, mesmo respaldado
por decisão majoritária da categoria.
Art. 8º: afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente,
sem deixar outro médico encarregado do atendimento de seus pacientes
internados ou em estado grave.
Art. 9º: deixar de comparecer a plantão em horário preestabelecido ou
abandoná-lo sem a presença de substituto, salvo por justo impedimento.

Parágrafo único. Na ausência de médico plantonista substituto, a direção


técnica do estabelecimento de saúde deve providenciar a substituição.

Art. 10º: acumpliciar-se com os que exercem ilegalmente a Medicina ou com


profissionais ou instituições médicas nas quais se pratiquem atos ilícitos.
Art. 11º: receitar, atestar ou emitir laudos de forma secreta ou ilegível, sem a
devida identificação de seu número de registro no CRM da sua jurisdição,
bem como assinar em branco folhas de receituários, atestados, laudos ou
quaisquer outros documentos médicos.
Art. 12º: deixar de esclarecer o trabalhador sobre as condições de trabalho que
ponham em risco sua saúde, devendo comunicar o fato aos empregadores
responsáveis.

Parágrafo único. Se o fato persistir, será dever do médico comunicar o


ocorrido às autoridades competentes e ao CRM.

Art. 13º: deixar de esclarecer o paciente sobre as determinantes sociais,


ambientais ou profissionais de sua doença.
Art. 14º: praticar ou indicar atos médicos desnecessários ou proibidos pela
legislação vigente no país.
Art. 15º: descumprir legislação específica nos casos de transplantes de órgãos
ou de tecidos, esterilização, fecundação artificial, abortamento, manipulação
ou terapia genética.

§ 1º: no caso de procriação medicamente assistida, a fertilização não


deve conduzir sistematicamente à ocorrência de embriões
supranumerários.
§ 2º: o médico não deve realizar a procriação medicamente assistida com
nenhum dos seguintes objetivos:
I - Criar seres humanos geneticamente modificados.
II - Criar embriões para investigação.
III - Criar embriões com finalidades de escolha de sexo, eugenia ou
para originar híbridos ou quimeras.
§ 3º: praticar procedimento de procriação medicamente assistida sem que
os participantes estejam de inteiro acordo e devidamente esclarecidos
sobre ele.

Art. 16º: intervir sobre o genoma humano com vista à sua modificação, exceto
na terapia gênica, excluindo-se qualquer ação em células germinativas que
resulte na modificação genética da descendência.
Art. 17º: deixar de cumprir, salvo por motivo justo, as normas emanadas dos
Conselhos Federal e Regionais de Medicina e de atender às suas requisições
administrativas, intimações ou notificações no prazo determinado.
Art. 18º: desobedecer aos acórdãos e às resoluções dos Conselhos Federal e
Regionais de Medicina ou desrespeitá-los.
Art. 19º: deixar de assegurar, quando investido em cargo ou função de
direção, os direitos dos médicos e as demais condições adequadas para o
desempenho ético-profissional da Medicina.
Art. 20º: permitir que interesses pecuniários, políticos, religiosos ou de
quaisquer outras ordens, do seu empregador ou superior hierárquico ou do
financiador público ou privado da assistência à saúde, interfiram na escolha
dos melhores meios de prevenção, diagnóstico ou tratamento disponíveis e
cientificamente reconhecidos no interesse da saúde do paciente ou da
sociedade.
Art. 21º: deixar de colaborar com as autoridades sanitárias ou infringir a
legislação pertinente.

d) Capítulo IV – Direitos humanos

- São vedados ao médico


Art. 22º: deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante
legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de
risco iminente de morte.
Art. 23º: tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua
dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto.
Art. 24º: deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir
livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua
autoridade para limitá-lo.
Art. 25º: deixar de denunciar práticas de tortura ou de procedimentos
degradantes, desumanos ou cruéis, praticá-las, bem como ser conivente com
quem as realize, ou fornecer meios, instrumentos, substâncias ou
conhecimentos que as facilitem.
Art. 26º: deixar de respeitar a vontade de qualquer pessoa, considerada capaz
física e mentalmente, em greve de fome, ou alimentá-la compulsoriamente,
devendo cientificá-la das prováveis complicações do jejum prolongado e, na
hipótese de risco iminente de morte, tratá-la.
Art. 27º: desrespeitar a integridade física e mental do paciente ou utilizar-se
de meio que possa alterar sua personalidade ou sua consciência em
investigação policial ou de qualquer outra natureza.
Art. 28º: desrespeitar o interesse e a integridade do paciente em qualquer
instituição na qual esteja recolhido, independente da própria vontade.

Parágrafo único. Caso ocorram quaisquer atos lesivos à personalidade e à


saúde física ou mental dos pacientes confiados ao médico, este estará
obrigado a denunciar o fato à autoridade competente e ao CRM.

Art. 29º: participar, direta ou indiretamente, da execução de pena de morte.


Art. 30º: usar da profissão para corromper costumes, cometer ou favorecer
crime.

e) Capítulo V – Relação com pacientes e familiares

- São vedados ao médico


Art. 31º: desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de
decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas,
salvo em caso de iminente risco de morte.
Art. 32º: deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e
tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do
paciente.
Art. 33º: deixar de atender paciente que procure seus cuidados profissionais
em casos de urgência ou emergência, quando não haja outro médico ou
serviço médico em condições de fazê-lo.
Art. 34º: deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os
riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta lhe
possa provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu
representante legal.
Art. 35º: exagerar a gravidade do diagnóstico ou do prognóstico, complicar a
terapêutica ou exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer outros
procedimentos médicos.
Art. 36º: abandonar paciente sob seus cuidados.

§ 1º: ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom


relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional, o
médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que o
comunique previamente ao paciente ou a seu representante legal,
assegurando-se da continuidade dos cuidados e fornecendo todas as
informações necessárias ao médico que lhe suceder.
§ 2º: salvo por motivo justo, comunicado ao paciente ou aos seus
familiares, o médico não abandonará o primeiro por ser este portador de
moléstia crônica ou incurável e continuará a assisti-lo ainda que para
cuidados paliativos.

Art. 37º: prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do


paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade
comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente após
cessar o impedimento.

Parágrafo único. O atendimento médico a distância, nos moldes da


telemedicina ou de outro método, dar-se-á sob regulamentação do CFM.

Art. 38º: desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados


profissionais.
Art. 39º: opor-se à realização de junta médica ou 2ª opinião solicitada pelo
paciente ou por seu representante legal.
Art. 40º: aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico-paciente
para obter vantagem física, emocional, financeira ou de qualquer outra
natureza.
Art. 41º: abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu
representante legal.

Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o


médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis, sem
empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas,
levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na
sua impossibilidade, a de seu representante legal.

Art. 42º: desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre método


contraceptivo, devendo sempre esclarecê-lo sobre indicação, segurança,
reversibilidade e risco de cada método.

f) Capítulo VI – Doação e transplante de órgãos e tecidos

- São vedados ao médico


Art. 43º: participar do processo de diagnóstico da morte ou da decisão de
suspender meios artificiais para prolongar a vida do possível doador, quando
pertencente à equipe de transplante.
Art. 44º: deixar de esclarecer o doador, o receptor ou seus representantes
legais sobre os riscos decorrentes de exames, intervenções cirúrgicas e outros
procedimentos nos casos de transplantes de órgãos.
Art. 45º: retirar órgão de doador vivo quando este for juridicamente incapaz,
mesmo se houver autorização de seu representante legal, exceto nos casos
permitidos e regulamentados em lei.
Art. 46º: participar direta ou indiretamente da comercialização de órgãos ou
tecidos humanos.

g) Capítulo VII – Relação entre médicos

- São vedados ao médico


Art. 47º: usar de sua posição hierárquica para impedir, por motivo de crença
religiosa, convicção filosófica, política, interesse econômico ou qualquer
outro, que não técnico-científico ou ético, que as instalações e os demais
recursos da instituição sob sua direção sejam utilizados por outros médicos no
exercício da profissão, particularmente se são os únicos existentes no local.
Art. 48º: assumir emprego, cargo ou função para suceder médico demitido ou
afastado em represália a atitude de defesa de movimentos legítimos da
categoria ou da aplicação deste Código.
Art. 49º: assumir condutas contrárias a movimentos legítimos da categoria
médica com a finalidade de obter vantagens.
Art. 50º: acobertar erro ou conduta antiética de médico.
Art. 51º: praticar concorrência desleal com outro médico.
Art. 52º: desrespeitar a prescrição ou o tratamento de paciente determinados
por outro médico, mesmo quando em função de chefia ou de auditoria, salvo
em situação de indiscutível benefício para o paciente, devendo comunicar
imediatamente o fato ao médico responsável.
Art. 53º: deixar de encaminhar o paciente que lhe foi enviado para
procedimento especializado de volta ao médico assistente e, na ocasião,
deixar de fornecer-lhe as devidas informações sobre o ocorrido no período em
que se responsabilizou por ele.
Art. 54º: deixar de fornecer a outro médico informações sobre o quadro
clínico do paciente, desde que autorizado por este ou por seu representante
legal.
Art. 55º: deixar de informar ao substituto o quadro clínico do paciente sob sua
responsabilidade ao ser substituído ao fim do seu turno de trabalho.
Art. 56º: utilizar-se de sua posição hierárquica para impedir que seus
subordinados atuem dentro dos princípios éticos.
Art. 57º: deixar de denunciar atos que contrariem os postulados éticos à
Comissão de Ética da instituição em que exerce seu trabalho profissional e, se
necessário, ao CRM.

h) Capítulo VIII – Remuneração profissional

- São vedados ao médico


Art. 58º: o exercício mercantilista da Medicina.
Art. 59º: oferecer ou aceitar remuneração ou vantagens por paciente
encaminhado ou recebido, bem como por atendimentos não prestados.
Art. 60º: permitir a inclusão de nomes de profissionais que não participaram
do ato médico para efeito de cobrança de honorários.
Art. 61º: deixar de ajustar previamente com o paciente o custo estimado dos
procedimentos.
Art. 62º: subordinar os honorários ao resultado do tratamento ou à cura do
paciente.
Art. 63º: explorar o trabalho de outro médico, isoladamente ou em equipe, na
condição de proprietário, sócio, dirigente ou gestor de empresas ou
instituições prestadoras de serviços médicos.
Art. 64º: agenciar, aliciar ou desviar, por qualquer meio, para clínica
particular ou instituições de qualquer natureza, paciente atendido pelo sistema
público de saúde ou dele utilizar-se para a execução de procedimentos
médicos em sua clínica privada, como forma de obter vantagens pessoais.
Art. 65º: cobrar honorários de paciente assistido em instituição que se destina
à prestação de serviços públicos, ou receber remuneração de paciente como
complemento de salário ou de honorários.
Art. 66º: praticar dupla cobrança por ato médico realizado.

Parágrafo único. A complementação de honorários em serviço privado


pode ser cobrada quando prevista em contrato.

Art. 67º: deixar de manter a integralidade do pagamento e permitir descontos


ou retenção de honorários, salvo os previstos em lei, quando em função de
direção ou de chefia.
Art. 68º: exercer a profissão com interação ou dependência de farmácia,
indústria farmacêutica, óptica ou qualquer organização destinada à fabricação,
manipulação, promoção ou comercialização de produtos de prescrição
médica, qualquer que seja sua natureza.
Art. 69º: exercer simultaneamente a Medicina e a Farmácia ou obter
vantagem pelo encaminhamento de procedimentos, pela comercialização de
medicamentos, órteses, próteses ou implantes de qualquer natureza, cuja
compra decorra de influência direta em virtude de sua atividade profissional.
Art. 70º: deixar de apresentar separadamente seus honorários quando outros
profissionais participarem do atendimento ao paciente.
Art. 71º: oferecer seus serviços profissionais como prêmio, qualquer que seja
sua natureza.
Art. 72º: estabelecer vínculo de qualquer natureza com empresas que
anunciam ou comercializam planos de financiamento, cartões de descontos ou
consórcios para procedimentos médicos.
i) Capítulo IX – Sigilo profissional

- São vedados ao médico


Art. 73º: revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de
sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por
escrito, do paciente.

Parágrafo único. Permanece essa proibição:


Mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha
falecido;
Quando de seu depoimento como testemunha. Nessa hipótese, o
médico comparecerá perante a autoridade e declarará o seu
impedimento;
Na investigação de suspeita de crime, o médico estará impedido de
revelar segredo que possa expor o paciente a processo penal.

Art. 74º: revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade,


inclusive a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha
capacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar
dano ao paciente.
Art. 75º: fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou
seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos,
em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente.
Art. 76º: revelar informações confidenciais obtidas quando do exame médico
de trabalhadores, inclusive por exigência dos dirigentes de empresas ou de
instituições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos empregados ou da
comunidade.
Art. 77º: prestar informações a empresas seguradoras sobre as circunstâncias
da morte do paciente sob seus cuidados, além das contidas na Declaração de
Óbito, salvo por expresso consentimento do seu representante legal.
Art. 78º: deixar de orientar seus auxiliares e alunos a respeitar o sigilo
profissional e zelar para que seja por eles mantido.
Art. 79º: deixar de guardar o sigilo profissional na cobrança de honorários por
meio judicial ou extrajudicial.

j) Capítulo X – Documentos médicos

- São vedados ao médico


Art. 80º: expedir documento médico sem ter praticado ato profissional que o
justificasse, que seja tendencioso ou não corresponda à verdade.
Art. 81º: atestar como forma de obter vantagens.
Art. 82º: usar formulários de instituições públicas para prescrever ou atestar
fatos verificados na clínica privada.
Art. 83º: atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente, ou quando
não tenha prestado assistência ao paciente, salvo, no último caso, se o fizer
como plantonista, médico substituto ou em caso de necrópsia e verificação
médico-legal.
Art. 84º: deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestando
assistência, exceto quando houver indícios de morte violenta.
Art. 85º: permitir o manuseio e o conhecimento dos prontuários por pessoas
não obrigadas ao sigilo profissional quando sob sua responsabilidade.
Art. 86º: deixar de fornecer laudo médico ao paciente ou a seu representante
legal quando aquele for encaminhado ou transferido para continuação do
tratamento ou em caso de solicitação de alta.
Art. 87º: deixar de elaborar prontuário legível para cada paciente.

§ 1º: o prontuário deve conter os dados clínicos necessários para a boa


condução do caso, sendo preenchido, em cada avaliação, em ordem
cronológica com data, hora, assinatura e número de registro do médico
no CRM.
§ 2º: o prontuário estará sob a guarda do médico ou da instituição que
assiste o paciente.

Art. 88º: negar ao paciente acesso a seu prontuário, deixar de lhe fornecer
cópia quando solicitada, bem como deixar de lhe oferecer explicações
necessárias à sua compreensão, salvo quando ocasionem riscos ao próprio
paciente ou a terceiros.
Art. 89º: liberar cópias do prontuário sob sua guarda, salvo quando
autorizado, por escrito, pelo paciente, para atender ordem judicial ou para a
sua própria defesa.

§ 1º: quando requisitado judicialmente, o prontuário será disponibilizado


ao perito médico nomeado pelo juiz.
§ 2º: quando o prontuário for apresentado em sua própria defesa, o
médico deverá solicitar que seja observado o sigilo profissional.
Art. 90º: deixar de fornecer cópia do prontuário médico de seu paciente
quando de sua requisição pelos CRMs.
Art. 91º: deixar de atestar atos executados no exercício profissional, quando
solicitado pelo paciente ou por seu representante legal.

k) Capítulo XI – Auditoria e perícia médica

- São vedados ao médico


Art. 92º: assinar laudos periciais, auditoriais ou de verificação médico-legal
quando não tenha realizado pessoalmente o exame.
Art. 93º: ser perito ou auditor do próprio paciente, de pessoa de sua família ou
de qualquer outra com a qual tenha relações capazes de influir em seu
trabalho ou de empresa em que atue ou tenha atuado.
Art. 94º: intervir, quando em função de auditor, assistente técnico ou perito,
nos atos profissionais de outro médico, ou fazer qualquer apreciação na
presença do examinado, devendo reservar suas observações para o relatório.
Art. 95º: realizar exames médico-periciais de corpo de delito em seres
humanos no interior de prédios ou de dependências de delegacias de polícia,
unidades militares, casas de detenção e presídios.
Art. 96º: receber remuneração ou gratificação por valores vinculados à glosa
ou ao sucesso da causa, quando na função de perito ou de auditor.
Art. 97º: autorizar, vetar, bem como modificar, quando na função de auditor
ou de perito, procedimentos propedêuticos ou terapêuticos instituídos, salvo,
no último caso, em situações de urgência, emergência ou iminente perigo de
morte do paciente, comunicando, por escrito, o fato ao médico assistente.
Art. 98º: deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para servir
como perito ou auditor, bem como ultrapassar os limites de suas atribuições e
de sua competência.

Parágrafo único. O médico tem direito a justa remuneração pela


realização do exame pericial.

l) Capítulo XII – Ensino e pesquisa médica

- São vedados ao médico


Art. 99º: participar de qualquer tipo de experiência envolvendo seres humanos
com fins bélicos, políticos, étnicos, eugênicos ou outros que atentem contra a
dignidade humana.
Art. 100º: deixar de obter aprovação de protocolo para a realização de
pesquisa em seres humanos, de acordo com a legislação vigente.
Art. 101º: deixar de obter do paciente ou de seu representante legal o termo de
consentimento livre e esclarecido para a realização de pesquisa envolvendo
seres humanos, após as devidas explicações sobre a natureza e as
consequências da pesquisa.

Parágrafo único. No caso de o sujeito de pesquisa ser menor de idade,


além do consentimento de seu representante legal, é necessário seu
assentimento livre e esclarecido na medida de sua compreensão.

Art. 102º: deixar de utilizar a terapêutica correta, quando seu uso estiver
liberado no país.

Parágrafo único. A utilização de terapêutica experimental é permitida


quando aceita pelos órgãos competentes e com o consentimento do
paciente ou de seu representante legal, adequadamente esclarecidos da
situação e das possíveis consequências.

Art. 103º: realizar pesquisa em uma comunidade sem antes informá-la e


esclarecê-la sobre a natureza da investigação e deixar de atender ao objetivo
de proteção à Saúde Pública, respeitadas as características locais e a
legislação pertinente.
Art. 104º: deixar de manter independência profissional e científica em relação
a financiadores de pesquisa médica, satisfazendo interesse comercial ou
obtendo vantagens pessoais.
Art. 105º: realizar pesquisa médica em sujeitos direta ou indiretamente
dependentes ou subordinados ao pesquisador.
Art. 106º: manter vínculo de qualquer natureza com pesquisas médicas,
envolvendo seres humanos, que usem placebo em seus experimentos, quando
houver tratamento eficaz e efetivo para a doença pesquisada.
Art. 107º: publicar em seu nome trabalho científico do qual não tenha
participado; atribuir-se autoria exclusiva de trabalho realizado por seus
subordinados ou outros profissionais, mesmo quando executados sob sua
orientação, bem como omitir do artigo científico o nome de quem dele tenha
participado.
Art. 108º: utilizar dados, informações ou opiniões ainda não publicados, sem
referência ao seu autor ou sem sua autorização por escrito.
Art. 109º: deixar de zelar, quando docente ou autor de publicações científicas,
pela veracidade, clareza e imparcialidade das informações apresentadas, bem
como deixar de declarar relações com a indústria de medicamentos, órteses,
próteses, equipamentos, implantes de qualquer natureza e outras que possam
configurar conflitos de interesse, ainda que em potencial.
Art. 110º: praticar a Medicina, no exercício da docência, sem o consentimento
do paciente ou de seu representante legal, sem zelar por sua dignidade e
privacidade ou discriminando aqueles que negarem o consentimento
solicitado.

m) Capítulo XIII – Publicidade médica

- São vedados ao médico


Art. 111º: permitir que sua participação na divulgação de assuntos médicos,
em qualquer meio de comunicação de massa, deixe de ter caráter
exclusivamente de esclarecimento e educação da sociedade.
Art. 112º: divulgar informação sobre assunto médico de forma
sensacionalista, promocional ou de conteúdo inverídico.
Art. 113º: divulgar, fora do meio científico, processo de tratamento ou
descoberta cujo valor ainda não esteja expressamente reconhecido
cientificamente por órgão competente.
Art. 114º: consultar, diagnosticar ou prescrever por qualquer meio de
comunicação de massa.
Art. 115º: anunciar títulos científicos que não possa comprovar e
especialidade ou área de atuação para a qual não esteja qualificado e
registrado no CRM.
Art. 116º: participar de anúncios de empresas comerciais, qualquer que seja
sua natureza, valendo-se de sua profissão.
Art. 117º: apresentar como originais quaisquer ideias, descobertas ou
ilustrações que na realidade não o sejam.
Art. 118º: deixar de incluir, em anúncios profissionais de qualquer ordem, o
seu número de inscrição no CRM.

Parágrafo único. Dos anúncios de estabelecimentos de saúde devem


constar o nome e o número de registro no CRM do diretor técnico.

n) Capítulo XIV – Disposições gerais

I - O médico portador de doença incapacitante para o exercício profissional,


apurada pelo CRM em procedimento administrativo com perícia médica, terá
seu registro suspenso enquanto perdurar sua incapacidade.
II - Os médicos que cometerem faltas graves previstas neste Código e cuja
continuidade do exercício profissional constitua risco de danos irreparáveis ao
paciente ou à sociedade poderão ter o exercício profissional suspenso
mediante procedimento administrativo específico.
III - O CFM, ouvidos os CRMs e a categoria médica, promoverá a revisão e a
atualização do presente Código quando necessárias.
IV - As omissões deste Código serão sanadas pelo CFM.

C - Comentários ao Código de Ética Médica


De modo geral, muitos princípios foram mantidos, outros atualizados, e
alguns inovaram no novo CEM, e o conteúdo de algumas resoluções do CFM
também foi trazido ao novo Código. Podemos destacar os seguintes tópicos:

Há a separação clara dos princípios fundamentais e dos direitos dos


médicos em relação aos deveres mandamentais;
Deixa claro que o não cumprimento das normas deontológicas sujeitará
os infratores às penas disciplinares;
A natureza do ato médico é personalíssima e não caracteriza relação de
consumo;
A responsabilidade profissional é pessoal, e a culpa não pode ser
presumida;
Traz, tacitamente, o conceito da ortotanásia e dos cuidados paliativos aos
pacientes em situações clínicas irreversíveis e terminais;
Proíbe o médico de abreviar a vida do paciente mesmo com o
consentimento e limita o uso de ações diagnósticas ou terapêuticas
inúteis ou obstinadas nos casos de doença incurável e terminal, sempre
em sintonia com a vontade do paciente;
No caso da ausência de plantonista substituto, a direção técnica do
estabelecimento de saúde deverá providenciar a substituição;
Regulamenta alguns tópicos da RA e terapia genética;
O atendimento médico a distância por telemedicina ou outro método é
regulamentado pelo CFM;
Veda o mercantilismo na Medicina, a dupla cobrança de honorários, o
vínculo com empresas que comercializem planos de financiamento,
cartões de desconto ou consórcios para procedimentos médicos;
Proíbe a quebra do segredo profissional nos casos de investigação
criminal quando possa expor o paciente a processo penal;
O sigilo profissional só pode ser revelado por motivo justo, dever legal
ou consentimento por escrito do paciente;
Proíbe o médico de fazer referências a casos clínicos identificáveis,
exibir pacientes ou fotos em anúncios ou divulgação de assuntos
médicos nos meios de comunicação em geral, mesmo com autorização
dos pacientes;
Regulamenta o prontuário médico quanto à forma, à guarda e ao
fornecimento de cópias;
Veda a realização de exames médico-periciais de corpo de delito em
seres humanos em delegacias de polícia, unidades militares, casas de
detenção e presídios;
O médico perito ou auditor não pode ter sua remuneração ou gratificação
vinculada à glosa ou ao sucesso da causa;
Nas pesquisas em menor de idade, além do consentimento do
responsável legal, é necessária a concordância do menor na medida de
sua compreensão;
Veda o uso de placebo nas pesquisas envolvendo seres humanos quando
houver tratamento eficaz e efetivo para a doença pesquisada;
O médico nas pesquisas deve zelar pela veracidade, clareza e
imparcialidade, assim como declarar conflitos de interesse com relação a
indústrias de remédios, próteses, equipamentos etc.;
Os anúncios médicos devem conter o número da inscrição no CRM;
Há a suspensão cautelar do exercício profissional nos casos de faltas
graves, para evitar danos irreparáveis ao paciente e à sociedade.

Dica
O que não se pode deixar de atentar é para o fato de que as provas colocam
situações referentes a determinado artigo e perguntam se referem aos
capítulos em específico, como direito médico, disposição geral etc. O
principal não é memorizar cada um dos capítulos, e sim identificá-los no
enunciado.
5. Tópicos relacionados

A - Alta médica

O médico pode negar-se a conceder alta a paciente sob seus cuidados quando
considerar que isso possa acarretar-lhe risco de morte. Se o paciente, os
responsáveis ou os familiares tomarem a decisão de transferência, deverão
responsabilizar-se pelo ato por escrito. Nesse caso, o médico também tem o
direito de passar a assistência que vinha prestando para outro profissional
indicado, ou aceito pelo paciente, ou pela família, documentando as razões da
medida. A decisão sobre a alta é técnica, ou seja, só o médico pode
manifestar-se tecnicamente sobre a necessidade ou não de o paciente
permanecer internado; portanto, o termo “alta a pedido” não tem qualquer
relação com o julgamento técnico do médico, sendo apenas um ato
administrativo.
Ao médico compete fazer o que julgar melhor para assistir o paciente. Porém,
esse poder é limitado e se subordina à aceitação deste, se tiver capacidade de
autodeterminar-se ou de alguém que possa falar por ele – por
consanguinidade ou delegações legítimas de outra natureza, inclusive as
constituídas por decisão judicial. O Código Civil traz no Art. 15 o seguinte
preceito legal: “ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de
vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”, que vai ao encontro do
princípio da autonomia da vontade do paciente.

Importante
A questão da alta a pedido deve ser bem discutida, pois no dia a dia vemos
essa situação com frequência e não nos atentamos que, do ponto de vista
do julgamento técnico do médico, ela não tem valor na avaliação, sendo
considerada um problema muito comum na vida médica.

B - Abandono do paciente

Iniciado o tratamento, o médico não pode abandonar o paciente, a menos que


tenham ocorrido fatos que comprometam a relação entre ambos e o
desempenho profissional. Nesse caso, o paciente (ou o responsável) deve ser
informado. O médico, por sua vez, deve expor os motivos do desligamento e
assegurar-se de que haverá continuidade na assistência prestada, sem prejuízo
ao tratamento.
C - Exames compulsórios

Compõem-se de teste sorológico ou outros exames (para HIV ou outro exame


qualquer).
O exame anti-HIV deve ser voluntário, após informações completas e
adequadas ao paciente quanto à finalidade.
O paciente que se recusa a ser testado não deve ter prejuízos em sua
assistência em decorrência de tal decisão.
O CFM decidiu que é vedada a realização compulsória de sorologia para HIV,
em especial como condição necessária a internamento hospitalar, pré-
operatório, ou exames pré-admissionais ou periódicos e, ainda, em
estabelecimentos prisionais.

D - Terapias alternativas

O CEM veda ao médico “usar experimentalmente qualquer tipo de terapêutica


ainda não liberada para uso no país, sem a devida autorização dos órgãos
competentes e sem o consentimento do paciente ou do responsável legal,
devidamente informado da situação e das possíveis consequências”.

E - Sigilo profissional

Este é um tema bastante abordado no CEM no Capítulo IX, bem como no


Código Penal Brasileiro.
É vedado ao médico:
“Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua
profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por escrito,
do paciente.
Parágrafo único. Permanece essa proibição:

Mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha


falecido;
Quando de seu depoimento como testemunha. Nessa hipótese, o médico
comparecerá perante a autoridade e declarará o seu impedimento;
Na investigação de suspeita de crime, o médico estará impedido de
revelar segredo que possa expor o paciente a processo penal.”

“Revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, inclusive


a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha capacidade de
discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao
paciente”.
O médico deve manter sigilo quanto às informações confidenciais de que tem
conhecimento no desempenho de suas funções. O mesmo se aplica ao
trabalho em empresas, exceto nos casos em que seu silêncio prejudique ou
ponha em risco a saúde do trabalhador ou da comunidade.
Art. 154 do Código Penal: “revelar a alguém, sem justa causa, segredo de que
tem ciência em razão de função de ministério, ofício ou profissão, e cuja
revelação possa produzir dano a outrem”. A pena compreende detenção de 3
meses a 1 ano ou multa.

a) Código de Processo Penal

Art. 207: “são proibidas de depor as pessoas que, em razão de função,


ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas
pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho”.

b) Código de Processo Civil

Art. 407: “a testemunha não é obrigada a depor de fatos: II – a cujo respeito,


por estado ou profissão, deva guardar sigilo”.

c) Quebra do sigilo

A quebra do sigilo profissional pode ocorrer em 3 situações: motivo justo,


dever legal ou consentimento por escrito do paciente.
O sigilo profissional deve ser rigorosamente respeitado em relação aos
pacientes com HIV. Isso se aplica, inclusive, aos casos em que o paciente
deseja que a condição não seja revelada sequer aos familiares, persistindo a
proibição de quebra de sigilo mesmo após a sua morte. No caso de possível
contaminação de um terceiro (por exemplo, parceiro sexual), podemos
configurar motivo justo e revelar ao contactuante.
O médico que presta serviços a uma empresa está proibido de revelar o
diagnóstico do funcionário ou candidato a emprego, inclusive ao empregador
e à seção de pessoal da empresa, cabendo-lhe informar, exclusivamente,
quanto à capacidade ou não de exercer determinada função.
O dever legal da quebra do sigilo profissional está previsto em lei como nos
casos das doenças de notificação compulsória, declaração de óbito, casos de
morte encefálica (Lei de Transplantes), maus-tratos contra a criança e o
adolescente (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA), doenças e
acidentes relacionados ao trabalho, maus-tratos contra idosos (Estatuto do
Idoso) e violência contra a mulher (Lei nº 10.778/03).

Importante
A quebra de sigilo profissional pode ocorrer por motivo justo,
consentimento por escrito do paciente e por dever legal, sendo esses temas
importantes para a sua preparação.

F - Responsabilidade médica

O médico deve ser responsável por todos os seus atos nas esferas ética,
administrativa, cível e criminal, principalmente ao realizar atos médicos e
assinar documentos médicos. Apesar de a assinatura ser atividade rotineira em
sua vida, o profissional não pode se esquecer da responsabilidade que ele
assume com esse ato: um atestado, uma receita ou um laudo.
O novo CEM traz como novidade que a responsabilidade profissional nunca é
presumida, portanto deve ser provada dentre uma das modalidades de culpa
(imperícia, imprudência ou negligência). A atuação profissional do médico
não caracteriza relação de consumo. Exceção se faz aos procedimentos
estéticos (cirurgias plásticas, por exemplo).

6. Documentos médicos

Importante
Os aspectos éticos e legais, como sigilo médico e responsabilidade médica,
também se aplicam aos documentos médicos, porém a Constituição de
1988 permite o habeas data, que é o direito de saber ou ter conhecimento
das informações relativas à pessoa que busca as informações.

Entende-se por documento qualquer base de conhecimento fixada


materialmente e disposta de maneira que se possa utilizar para consulta,
estudo, prova etc. Nessa definição, documentos médicos são todos aqueles
diariamente elaborados e guardados pelo médico.
Os aspectos éticos e legais são muito importantes e devem ser lembrados,
dentre os quais se destacam o sigilo médico e a responsabilidade médica.
As fichas clínicas, os arquivos ou os prontuários médicos constituem
elemento fundamental para a prática clínica cotidiana, pois neles estão
guardadas todas as informações sobre os pacientes. São, portanto,
documentos sigilosos, e todo cuidado tem de ser tomado para que o seu
conteúdo não seja revelado por todos que os manuseiam. Convém lembrar
que a Constituição de 1988 prevê o habeas data, isto é, o direito de conhecer
os elementos relativos à sua pessoa que constem de registros ou banco de
dados.

A - Fichas clínicas

As fichas clínicas são documentos cujas responsabilidades de redigir e de


arquivar são do médico. A utilização é exclusiva deste em nova consulta, em
pesquisa clínica, ou para atestar fatos verificados no atendimento clínico. São
documentos decorrentes, diretamente, da relação médico-paciente, portanto,
em caso de falecimento do médico, devem ser destruídos ou devolvidos ao
paciente.

B - Prontuário clínico

Prontuário clínico é o registro feito pelo(s) médico(s) dos comemorativos do


paciente, de um hospital, de uma clínica ou de grupos de médicos. Estes,
diferentemente do consultório particular, são centralizados na instituição, e
esta é a responsável pela sua guarda. É o conjunto de documentos
padronizados, destinados ao registro da assistência prestada ao paciente desde
a sua matrícula até a sua alta. O médico incorrerá em falta ética grave se
deixar de elaborá-lo.
Atualmente, com a grande quantidade de informações anexadas a tal registro,
muitas instituições se utilizam de registros informatizados, os quais devem
seguir as diretrizes gerais de confidencialidade e armazenagem.

C - Receituários e prescrições médicas

São documentos de que constam os medicamentos utilizados em determinado


quadro, como devem ser ministrados, diretrizes de dietas e orientações gerais
ao paciente.
O receituário comum deve ter um cabeçalho de que constem os dados da
instituição e do médico, o endereço, o número de inscrição no CRM etc.

- Receituários especiais, receita A (amarela) e receita B


(azul)
Além dos itens constantes do receituário comum, o receituário especial deve
ser feito em 2 vias carbonadas, devendo constar nome e endereço do paciente,
e a sua utilização é limitada a 6 caixas por paciente. A receita A, impressa na
cor amarela, é fornecida por autoridade sanitária local (Vigilância Sanitária),
pessoalmente aos profissionais habilitados, e pode conter até 5 ampolas ou
uma apresentação comercial do medicamento receitado. A receita B, na cor
azul, é impressa pelo próprio médico ou instituição segundo modelo
padronizado, e sua numeração de controle é fornecida pela autoridade
sanitária local. Nela poderão ser prescritas até 5 ampolas injetáveis ou 3
unidades de apresentação comercial (3 caixas) para uso oral. Em linhas gerais,
os medicamentos entorpecentes são controlados via receituário amarelo
(morfina, por exemplo), e os psicotrópicos, via receituário azul (como
benzodiazepínicos).

7. Atestados médicos
Trata-se da afirmação simples e por escrito de um fato médico e suas
consequências. São sempre de muita responsabilidade, não importando a sua
finalidade e incorrendo nas penas da lei. Assim, de acordo com o Código
Penal, fica vedado ao médico:
Art. 302: “dar o médico, no exercício de sua profissão, atestado falso”. A pena
compreende detenção de 1 mês a 1 ano.
O novo CEM prevê no Art. 80 que é vedado ao médico “expedir documento
médico sem ter praticado ato profissional que o justificasse, que seja
tendencioso ou que não corresponda à verdade”.

A - Classificação

Idôneo: expedido pelo profissional habilitado, e o seu conteúdo expressa a


veracidade do ato;
Gracioso: fornecido sem a prática do ato profissional que o justifique, não
importando se gratuitamente ou pago, ou ainda por “caridade, humanidade,
amizade, motivos políticos”. É sempre antiético e pode transformar-se em
imprudente ou falso;
Imprudente: fornecido por um médico particular para fins administrativos,
sabendo-se que a empresa ou repartição têm serviço médico próprio;
Falso: aquele que, na sua expressão, falta com a verdade, dolosamente. É
crime previsto no Código Penal como falsidade ideológica.
B - Boletim médico

Consiste em um pequeno escrito noticioso no qual o médico presta


informações sobre a situação de saúde do paciente. Neste tópico, é
fundamental ressaltar os artigos do CEM que regem sobre a revelação do
sigilo médico, sendo a revelação do estado de saúde de imprescindível
autorização do paciente ou seu responsável legal.

C - Notificações compulsórias

São comunicações compulsórias feitas pelos médicos às autoridades


competentes de um fato profissional, por necessidade social ou sanitária,
como acidente do trabalho, doenças infectocontagiosas, uso habitual de
substâncias entorpecentes ou crime de ação pública, de que tiverem
conhecimento, e que não exponham o cliente a procedimento criminal. O não
cumprimento desses dispositivos incorre em infração ética e penal do
profissional passível de punição.

D - Parecer médico

É a resposta à consulta feita por interessado a 1 ou mais médicos, à comissão


de profissionais ou à sociedade científica sobre fatos referentes à questão a ser
estabelecida. Sua resposta visa apresentar fundamentos legais e éticos para
uma conclusão que tenta esclarecer as dúvidas em questão.

E - Perícia e relatório médico-legal

A perícia médico-legal é toda sindicância promovida por autoridade policial


ou judiciária na qual a natureza do exame prescinde de realização por médico.
O Relatório Médico-Legal expressa todas as operações de uma perícia
médica. Receberá o nome de auto quando ditado ao escrivão logo após o
exame ou laudo caso seja redigido pelo próprio perito. Dele devem constar
preâmbulo, quesitos, histórico, descrição, discussão, conclusões e respostas
aos quesitos solicitados.

8. Código de Processo Ético-Profissional


(Resolução CFM nº 2.145/16)

Dica
Os processos ético-profissionais são regidos pelo CEM, e a competência
para julgar infrações éticas será do Conselho Regional de Medicina em que
o médico estiver inscrito.

Assim como no Direito, os processos administrativos contra médicos devem


seguir uma norma estabelecida e amplamente divulgada, na qual se destaca o
direito fundamental da ampla defesa do acusado.
O processo ético-profissional se regerá por esse Código. A competência para
julgar infrações éticas será do CRM em que o médico estiver inscrito. No
caso de a infração ética ter ocorrido em local onde o médico não tenha
inscrição, a apuração será realizada onde ocorreu o fato.
A sindicância é um procedimento informativo com o objetivo de verificar a
ocorrência de uma infração ética. Pode ter início a partir de uma denúncia
escrita ou tomada a termo da qual constem o relato dos fatos e a identificação
completa do denunciante. O CRM pode instaurar a sindicância de ofício (ex
officio) por sua própria deliberação, ao tomar conhecimento de denúncia
formulada por conselheiro. As Comissões de Ética Médica, Delegacias
Regionais ou Representações poderão instaurar sindicância quando tiverem
ciência do fato com supostos indícios de infração ética. Concluída a
sindicância, é elaborado um relatório a ser apresentado ao presidente do
Conselho, que designará a inclusão em pauta de Sessão Plenária para
apreciação do fato. Do julgamento do relatório da sindicância pode resultar
arquivamento da denúncia ou instauração de processo ético-profissional.
O processo ético-profissional segue um rito processual determinado:

O denunciado receberá notificação para apresentar defesa prévia com rol


de testemunhas no prazo de 30 dias. Se o denunciado não for encontrado
ou for revel, o presidente do Conselho designará defensor dativo;
O conselheiro instrutor poderá determinar diligências que julgar
necessárias;
Concluída a instrução, será aberto prazo de 15 dias para a apresentação
das razões finais;
O conselheiro instrutor proferirá relatório circunstanciado, que será
encaminhado ao presidente do CRM;
Depoimento do denunciante;
Oitiva (depoimento) de testemunhas;
Depoimento do denunciado;
O presidente do Conselho, após o recebimento do processo devidamente
instruído, designará o conselheiro relator e o revisor que elaborarão
relatórios;
Sessão de Câmara para julgamento. Após as exposições efetuadas pelo
relator e revisor, o presidente dará a palavra ao denunciante e ao
denunciado, por 10 minutos para sustentação oral. Depois, há a votação;
proferidos os votos, o presidente anuncia o resultado do julgamento, e,
posteriormente, é elaborado o acórdão. O julgamento disciplinar será a
portas fechadas, permitida a presença das partes e dos seus procuradores;
Das decisões da Câmara, cabe recurso ao CFM.

Transitada em julgado a sentença, isto é, quando não couber mais recursos, as


penalidades impostas serão executadas pelos CRMs e pelo CFM.
As penas disciplinares aplicáveis aos infratores de ética profissional estão
previstas no Art. 22 da Lei Federal nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, e
são:

Advertência confidencial, em aviso reservado;


Censura confidencial, em aviso reservado;
Censura pública em publicação oficial;
Suspensão do exercício profissional, por até 30 dias;
Cassação do exercício profissional.

9. Normas de publicidade médica


Conforme a Resolução CFM nº 1.974/11, que estabelece os critérios
norteadores da propaganda em Medicina, os anúncios médicos devem conter
dados referentes à inscrição do profissional no CRM. Só pode ser anunciada
especialidade reconhecida pelo CRM por médicos registrados no quadro de
especialistas do órgão. Por ocasião de entrevistas, comunicações, publicações
de artigos e informações ao público, o médico deve evitar a autopromoção e o
sensacionalismo.
Os boletins médicos devem ser elaborados de modo sóbrio, impessoal e
verídico, rigorosamente fiel ao segredo médico.
É proibido ao médico anunciar cura de determinadas doenças para as quais
não haja tratamento próprio, exercício de mais de 2 especialidades, consultas
por meio de correspondência, imprensa, caixa postal, rádio ou processos
análogos, prestação de serviços gratuitos em consultórios particulares e
especialidade ainda não reconhecida pelo respectivo ensino profissional.
Com a diversificação das redes sociais, houve a necessidade de alterações na
Resolução para atender essa demanda. Assim, a Resolução CFM 2.126/15 e a
Resolução 2.133/15 atualizam a questão.
10. Reprodução humana assistida
No Brasil, até a presente data, não há legislação específica a respeito da RA.
Tramitam no Congresso Nacional, há anos, diversos projetos a respeito do
assunto, mas nenhum deles chegou a termo.
Os aspectos médicos envolvendo a totalidade das circunstâncias da aplicação
da RA são detalhadamente expostos na Resolução CFM nº 2.168/2017.

A - Princípios gerais

As técnicas de RA têm o papel de auxiliar na resolução dos problemas de


reprodução humana, facilitando o processo de procriação;
As técnicas de RA podem ser utilizadas na preservação social e/ou oncológica
de gametas, embriões e tecidos germinativos;
As técnicas de RA podem ser utilizadas desde que exista probabilidade de
sucesso e não se incorra em risco grave de saúde para o(a) paciente ou o
possível descendente:

1º - A idade máxima das candidatas a gestação por técnicas de RA é de


50 anos.
2º - As exceções a esse limite serão aceitas com base em critérios
técnicos e científicos fundamentados pelo médico responsável quanto à
ausência de comorbidades da mulher e após esclarecimento ao(s)
candidato(s) quanto aos riscos envolvidos para a paciente e para os
descendentes eventualmente gerados a partir da intervenção,
respeitando-se a autonomia da paciente.

O consentimento livre e esclarecido será obrigatório para todos os pacientes


submetidos às técnicas de RA. Os aspectos médicos envolvendo a totalidade
das circunstâncias da aplicação de uma técnica de RA serão detalhadamente
expostos, bem como os resultados obtidos naquela unidade de tratamento com
a técnica proposta. As informações também devem atingir dados de caráter
biológico, jurídico e ético. O documento de consentimento livre e esclarecido
será elaborado em formulário especial e estará completo com a concordância,
por escrito, obtida a partir de discussão bilateral entre as pessoas envolvidas
nas técnicas de RA;
As técnicas de RA não podem ser aplicadas com a intenção de selecionar o
sexo (presença ou ausência de cromossomo Y) ou qualquer outra
característica biológica do futuro filho, exceto para evitar doenças no possível
descendente;
É proibida a fecundação de oócitos humanos com qualquer outra finalidade
que não a procriação humana;
Quanto ao número de embriões a serem transferidos, fazem-se as seguintes
determinações de acordo com a idade:

Mulheres até 35 anos: até 2 embriões;


Mulheres entre 36 e 39 anos: até 3 embriões;
Mulheres com 40 anos ou mais: até 4 embriões;
Nas situações de doação de oócitos e embriões, considera-se a idade da
doadora no momento da coleta dos oócitos. O número de embriões a
serem transferidos não pode ser superior a 4;

Em caso de gravidez múltipla decorrente do uso de técnicas de RA, é proibida


a utilização de procedimentos que visem à redução embrionária.

B - Pacientes das técnicas de reprodução assistida


Todas as pessoas capazes, que tenham solicitado o procedimento e cuja
indicação não se afaste dos limites desta resolução, podem ser receptoras das
técnicas de RA, desde que os participantes estejam de inteiro acordo e
devidamente esclarecidos, conforme legislação vigente;
É permitido o uso das técnicas de RA para relacionamentos homoafetivos e
pessoas solteiras, respeitado o direito a objeção de consciência por parte do
médico;
É permitida a gestação compartilhada em união homoafetiva feminina em que
não exista infertilidade. Considera-se gestação compartilhada a situação em
que o embrião obtido a partir da fecundação do(s) oócito(s) de uma mulher é
transferido para o útero de sua parceira.

C - Referente a clínicas, centros ou serviços que


aplicam técnicas de reprodução assistida

As clínicas, centros ou serviços que aplicam técnicas de RA são responsáveis


pelo controle de doenças infectocontagiosas, pela coleta, pelo manuseio, pela
conservação, pela distribuição, pela transferência e pelo descarte de material
biológico humano dos pacientes das técnicas de RA. Devem apresentar, como
requisitos mínimos:

Um diretor técnico (obrigatoriamente um médico registrado no Conselho


Regional de Medicina de sua jurisdição) com registro de especialista em
áreas de interface com a RA, que será responsável por todos os
procedimentos médicos e laboratoriais executados;
Um registro permanente (obtido por meio de informações observadas ou
relatadas por fonte competente) das gestações, dos nascimentos e das
malformações de fetos ou recém-nascidos provenientes das diferentes
técnicas de RA aplicadas na unidade em apreço, bem como dos
procedimentos laboratoriais na manipulação de gametas e embriões;
Um registro permanente dos exames laboratoriais a que são submetidos
os pacientes, com a finalidade precípua de evitar a transmissão de
doenças;

Os registros deverão estar disponíveis para fiscalização dos Conselhos


Regionais de Medicina.
D - Doação de gametas ou embriões

A doação não poderá ter caráter lucrativo ou comercial;


Os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa;
A idade-limite para a doação de gametas é de 35 anos para a mulher e de 50
anos para o homem;
Será mantido, obrigatoriamente, sigilo sobre a identidade dos doadores de
gametas e embriões, bem como dos receptores. Em situações especiais,
informações sobre os doadores, por motivação médica, podem ser fornecidas
exclusivamente para médicos, resguardando-se a identidade civil do(a)
doador(a);
As clínicas, centros ou serviços onde são feitas as doações devem manter, de
forma permanente, um registro com dados clínicos de caráter geral,
características fenotípicas e uma amostra de material celular dos doadores, de
acordo com legislação vigente;
Na região de localização da unidade, o registro dos nascimentos evitará que
um(a) doador(a) tenha produzido mais de 2 gestações de crianças de sexos
diferentes em uma área de 1 milhão de habitantes. Um(a) mesmo(a) doador(a)
poderá contribuir com quantas gestações forem desejadas, desde que em uma
mesma família receptora;
A escolha das doadoras de oócitos é de responsabilidade do médico assistente.
Dentro do possível, deverá garantir que a doadora tenha a maior semelhança
fenotípica com a receptora;
Não será permitido aos médicos, funcionários e demais integrantes da equipe
multidisciplinar das clínicas, unidades ou serviços participar como doadores
nos programas de RA;
É permitida a doação voluntária de gametas, bem como a situação
identificada como doação compartilhada de oócitos em RA, em que doadora e
receptora, participando como portadoras de problemas de reprodução,
compartilham tanto do material biológico quanto dos custos financeiros que
envolvem o procedimento de RA. A doadora tem preferência sobre o material
biológico que será produzido.

E - Criopreservação de gametas ou embriões

As clínicas, centros ou serviços podem criopreservar espermatozoides,


oócitos, embriões e tecidos gonádicos;
O número total de embriões gerados em laboratório será comunicado aos
pacientes para que decidam quantos embriões serão transferidos a fresco,
conforme determina esta Resolução. Os excedentes, viáveis, devem ser
criopreservados;
No momento da criopreservação, os pacientes devem manifestar sua vontade,
por escrito, quanto ao destino a ser dado aos embriões criopreservados em
caso de divórcio ou dissolução de união estável, doenças graves ou
falecimento de um deles ou de ambos, e quando desejam doá-los;
Os embriões criopreservados com 3 anos ou mais poderão ser descartados se
esta for a vontade expressa dos pacientes;
Os embriões criopreservados e abandonados por 3 anos ou mais poderão ser
descartados;

Parágrafo único. Embrião abandonado é aquele em que os responsáveis


descumpriram o contrato preestabelecido e não foram localizados pela
clínica.

F - Diagnóstico genético pré-implantação de embriões

As técnicas de RA podem ser aplicadas à seleção de embriões submetidos a


diagnóstico de alterações genéticas causadoras de doenças – podendo, nesses
casos, ser doados para pesquisa ou descartados, conforme a decisão do(s)
paciente(s) devidamente documentada em consentimento informado livre e
esclarecido específico;
As técnicas de RA também podem ser utilizadas para tipagem do sistema
HLA do embrião, no intuito de selecionar embriões HLA-compatíveis com
algum irmão já afetado pela doença e cujo tratamento efetivo seja o
transplante de células-tronco, de acordo com a legislação vigente.
O tempo máximo de desenvolvimento de embriões in vitro será de até 14 dias.

G - Sobre a gestação de substituição (cessão


temporária do útero)

As clínicas, centros ou serviços de RA podem usar técnicas de RA para


criarem a situação identificada como gestação de substituição, desde que
exista um problema médico que impeça ou contraindique a gestação na
doadora genética, em união homoafetiva ou pessoa solteira.
A cedente temporária do útero deve pertencer à família de um dos parceiros,
em parentesco consanguíneo até o 4º grau (1º grau – mãe/filha; 2º grau –
avó/irmã; 3º grau – tia/sobrinha; 4º grau – prima). Demais casos estão sujeitos
à autorização do Conselho Regional de Medicina;
A cessão temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial;
Nas clínicas de RA, os seguintes documentos e observações deverão constar
no prontuário da paciente:

Termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos pacientes e


pela cedente temporária do útero, contemplando aspectos
biopsicossociais e riscos envolvidos no ciclo gravídico-puerperal, bem
como aspectos legais da filiação;
Relatório médico com o perfil psicológico, atestando adequação clínica e
emocional de todos os envolvidos;
Termo de Compromisso entre o(s) paciente(s) e a cedente temporária do
útero (que receberá o embrião em seu útero), estabelecendo claramente a
questão da filiação da criança;
Compromisso, por parte do(s) paciente(s) contratante(s) de serviços de
RA, de tratamento e acompanhamento médico, inclusive por equipes
multidisciplinares, se necessário, à mãe que cederá temporariamente o
útero, até o puerpério;
Compromisso do registro civil da criança pelos pacientes (pai, mãe ou
pais genéticos), devendo esta documentação ser providenciada durante a
gravidez;
Aprovação do cônjuge ou companheiro, apresentada por escrito, se a
cedente temporária do útero for casada ou viver em união estável.

H - Reprodução assistida post mortem

É permitida a RA post mortem desde que haja autorização prévia específica


do(a) falecido(a) para o uso do material biológico criopreservado, de acordo
com a legislação vigente.

11. Ato médico


Ato médico, ou ato profissional de médico, é a ação ou o procedimento
profissional praticado por um médico com os objetivos gerais de prestar
assistência médica, investigar as enfermidades ou a condição de enfermo ou
ensinar disciplinas médicas. Toda ação ou procedimento deve estar voltado
para a melhoria do bem-estar das pessoas, a profilaxia ou o diagnóstico de
enfermidades, a terapêutica ou a reabilitação de enfermos. O ato médico deve
ser exercido sempre de boa fé e em benefício de quem dele necessita.
O exercício é função privativa de quem é formado em Medicina em
estabelecimento educacional oficial ou oficialmente reconhecido. Exige-se
também a inscrição no CRM da região de exercício profissional. Os atos
médicos podem ser privativos de profissional médico ou compartilhados com
outros profissionais.
Temos 2 características essenciais da atividade médica que a diferenciam das
demais atividades: a vulnerabilidade do paciente diante do médico e a
incerteza deste perante as medidas terapêuticas, que o caracterizam como
profissional responsável pelo empenho, e não pelo resultado que elas
alcançam.
A Medicina deve lidar com 2 complexidades: a do seu objeto (as
enfermidades, os seres humanos e as interações entre eles) e a dos seus
recursos e dos métodos diagnósticos e terapêuticos utilizados.
A relação médico-paciente tem 3 aspectos fundamentais:

Uma relação socioeconômica, pois todo ato profissional presume a


existência de um contrato de prestação de serviço (explícito ou não);
Uma relação técnico-científica, pois todo ato médico deve ser uma
atividade cientificamente fundamentada;
Uma relação intersubjetiva de ajuda, entre alguém que dela necessita e
alguém que pode oferecê-la.

A Medicina tem 5 funções sociais: assistência aos enfermos, pesquisa sobre as


doenças e sobre os doentes, ensino das matérias médicas, exercício da perícia
e supervisão das auditorias técnicas médicas. O CFM, na Resolução nº
1.627/2001, definiu o ato médico como “todo e qualquer procedimento
técnico-profissional praticado por médico legalmente habilitado e dirigido
para:

A promoção da saúde e a prevenção da ocorrência de enfermidades ou


profilaxia (prevenção primária);
A prevenção da evolução das enfermidades ou a execução de
procedimentos diagnósticos ou terapêuticos (prevenção secundária);
A prevenção da invalidez ou reabilitação dos enfermos (prevenção
terciária).”

Em 2013, a então presidente Dilma Rousseff sancionou, com 10 vetos, a lei


que disciplina o exercício da Medicina no país. A questão mais polêmica,
referente à responsabilidade pela formulação do diagnóstico e pela prescrição
terapêutica, foi vetada pela presidente com a justificativa de evitar prejudicar
inúmeros programas do Sistema Único de Saúde. A norma determina que são
privativas do médico atividades como indicação e execução de intervenção
cirúrgica, sedação profunda e procedimentos invasivos (terapêuticos ou
estéticos), como biópsias, endoscopias e acessos vasculares profundos.
Também são privativos do médico perícia e auditoria médicas, ensino de
disciplinas especificamente médicas e coordenação dos cursos de graduação
em Medicina, dos programas de Residência Médica e dos cursos de pós-
graduação específicos para médicos. A direção administrativa de serviços de
saúde, porém, pode ser exercida por outro profissional.
Os vetos permitem que a aplicação de injeção, sucção, punção e drenagem
sejam feitas por outros profissionais, bem como a “invasão da epiderme e
derme com o uso de produtos químicos ou abrasivos” (peeling facial, por
exemplo). A justificativa é que o projeto de lei transformaria a prática da
acupuntura em privativa dos médicos, o que iria contra a Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde. Além
disso, outros profissionais de saúde podem formular o diagnóstico e a
respectiva prescrição terapêutica, além de indicar o uso de órteses e próteses e
de prescrever órteses e próteses oftalmológicas.

Dica
Os vetos presidenciais sancionados em 2013 para a lei que disciplina o
exercício da Medicina no país preveem que outros profissionais de saúde
formulem o diagnóstico e a respectiva prescrição terapêutica.

12. Programa Nacional de Segurança do


Paciente
Hipócrates (460 a 370 a.C.) cunhou o postulado primum non nocere, que
significa “primeiro não cause dano”. O pai da Medicina tinha a noção, desde
aquela época, de que o cuidado poderia causar algum tipo de dano.
A partir da divulgação do relatório “To Err is Human”, do Institute of
Medicine, o tema segurança do paciente ganhou relevância. Esse relatório se
baseou em 2 pesquisas de avaliação da incidência de Eventos Adversos (EAs)
em revisões retrospectivas de prontuários, realizadas em hospitais de Nova
York, Utah e Colorado. Nessas pesquisas, o termo EA foi definido como dano
causado pelo cuidado à saúde e não pela doença de base, que prolongou o
tempo de permanência do paciente ou resultou em incapacidade presente no
momento da alta. O relatório apontou que cerca de 100 mil pessoas morreram
em hospitais a cada ano vítimas de EAs nos Estados Unidos e que estes
eventos representavam, além do dano para as pessoas, grave prejuízo
financeiro. No Reino Unido e na Irlanda do Norte, o prolongamento do tempo
de permanência no hospital devido aos EAs custou cerca de 2 bilhões de
libras ao ano, e o gasto do Sistema Nacional de Saúde com questões litigiosas
associadas a EAs foi de 400 milhões de libras ao ano. Nos Estados Unidos, os
gastos anuais decorrentes de EAs foram estimados entre 17 e 29 bilhões de
dólares anuais.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2004, demonstrando
preocupação com a situação, criou a World Alliance for Patient Safety. Os
objetivos desse programa (que passou a chamar-se Patient Safety Program)
eram, entre outros, organizar os conceitos e as definições sobre segurança do
paciente e propor medidas para reduzir riscos e mitigar os EAs. Dada a
divergência entre as definições de erro em saúde e EA, a OMS desenvolveu a
Classificação Internacional de Segurança do Paciente (International
Classification for Patient Safety – ICPS). O Centro Colaborador para a
Qualidade do Cuidado e a Segurança do Paciente traduziu os conceitos chave
do ICPS para a língua portuguesa. Vide, na Tabela 4, alguns desses conceitos.
Neste contexto, por meio da Portaria MS/GM nº 529, de 1º de abril de 2013,
foi instituído o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) e
definido o Comitê de Implementação do Programa Nacional de Segurança do
Paciente – o CIPNSP, colegiado, de caráter consultivo, para promover ações
de melhoria da segurança do cuidado em saúde.
O PNSP apresenta:
Objetivo principal: contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em
todos os estabelecimentos de saúde do território nacional, quer sejam
públicos, quer sejam privados.
Objetivos específicos:

Implantar a gestão de risco e os Núcleos de Segurança do Paciente


(NSPs) nos estabelecimentos de saúde;
Envolver os pacientes e familiares nas ações;
Ampliar o acesso da sociedade às informações;
Produzir, sistematizar e difundir conhecimentos;
Fomentar a inclusão do tema segurança do paciente no ensino técnico e
de graduação e pós-graduação na área da saúde.

O PNSP possui 4 eixos que serão detalhados a seguir. A cultura de segurança


do paciente é o elemento que perpassa todos esses eixos, então a Portaria
MS/GM nº 529/2013 dedicou espaço específico para esse conceito (vide
Tabela 5).

O conceito de que o profissional de saúde não comete erros é muito difundido


na sociedade; porém, a partir do entendimento da premissa de que “errar é
humano”, defende-se que não se podem organizar os serviços de saúde sem
considerar que os profissionais irão errar. Cabe ao sistema, contudo, criar
mecanismos para evitar que o erro atinja o paciente. Diversos autores se
dedicaram ao tema, e a definição de erro da OMS – falha na execução de uma
ação planejada de acordo com o desejado ou o desenvolvimento incorreto de
um plano – foi desenvolvida com base nas definições de James Reason.
Associadamente, o entendimento de que os erros podem ser ativos (atos
inseguros cometidos por quem está em contato direto com o sistema, como
uma troca de medicamento no momento da administração) ou latentes (atos
ou ações evitáveis dentro do sistema, que surgem a partir da gestão, como a
falta de medicamento no hospital) justifica o modelo de “barreiras” para
impedir que o erro chegue ao paciente. Esse modelo pressupõe uma
abordagem sistêmica para gerenciar o erro ou a falha em camadas (ou
barreiras). As diversas barreiras que precisam ser atravessadas a fim de que
um erro chegue ao paciente podem ser: profissionais atualizados, uso de
protocolos clínicos, checklists cirúrgicos, protocolos de higiene das mãos,
dose unitária de medicamentos etc. O princípio norteador dessa abordagem é
de que os EAs não são causados por pessoas más, e sim por sistemas que
foram mal desenhados e produzem resultados ruins, mudando o foco anterior
do erro do individual para os defeitos do sistema.
O PNSP possui 4 eixos principais (Figura 1).
Figura 1 - Eixos do Programa Nacional de Segurança do Paciente

De forma mais detalhada:


Eixo 1 – Estímulo a uma prática assistencial segura:
- Os Protocolos:
A Portaria MS/GM nº 529/2013 estabelece que um conjunto de protocolos
básicos, definidos pela OMS, deve ser elaborado e implantado: prática de
higiene das mãos em estabelecimentos de saúde; cirurgia segura; segurança na
prescrição, uso e administração de medicamentos; identificação de pacientes;
comunicação no ambiente dos estabelecimentos de saúde; prevenção de
quedas; úlceras por pressão; transferência de pacientes entre pontos de
cuidado; uso seguro de equipamentos e materiais.
- Planos (locais) de segurança do paciente dos estabelecimentos de saúde:
São planos desenvolvidos pelos NSPs nos estabelecimentos de Saúde. A
Classificação Internacional de Segurança do Paciente da OMS pretende
fornecer uma compreensão global do domínio da segurança do paciente. Tem
como objetivo representar um ciclo de aprendizagem e de melhoria contínua,
realçando a identificação, a prevenção, a detecção e a redução do risco, a
recuperação do incidente e a resiliência do sistema.
Para a organização do plano, é importante conhecer os fatores contribuintes,
que são circunstâncias, ações ou influências que desempenham um papel na
origem ou no desenvolvimento de um incidente ou no aumento do risco de
incidente. Os fatores podem ser:

I - Humanos: relacionados ao profissional.


II - Sistêmicos: relacionados ao ambiente de trabalho.
III - Externos: relacionados a fatores fora da governabilidade do gestor.
IV - Relacionados ao paciente: por exemplo, não adesão ao tratamento.

Conhecer e modificar o fator contribuinte de um incidente é uma ação de


prevenção primária.
Para a elaboração do plano de segurança do paciente dos estabelecimentos de
saúde, os NSPs deverão consultar os programas de saúde do
trabalhador/ocupacionais dos estabelecimentos de saúde. Muitas das medidas
que protegem o profissional da saúde ajudam a proteger o paciente e vice-
versa.
- Criação dos NSPs:
Os NSPs, previstos na Portaria MS/GM nº 529/2013 e na RDC nº
36/2013/Anvisa, são instâncias que devem ser criadas nos estabelecimentos
de saúde para promover e apoiar a implementação de iniciativas voltadas à
segurança do paciente. Os NSPs devem, antes de tudo, atuar como
articuladores e incentivadores das demais instâncias do hospital que
gerenciam riscos e ações de qualidade, promovendo complementaridade e
sinergias neste âmbito.
- Sistema de notificação de incidentes:
Lucian Leape considera que, para um sistema de notificação de incidentes ser
efetivo, são necessárias as seguintes características:

1 - Não punitivo.
2 - Confidencial.
3 - Independente (com dados analisados por organizações).
4 - Resposta oportuna para os usuários do sistema.
5 - Orientado para soluções dos problemas notificados.
6 - As organizações participantes devem ser responsivas às mudanças
sugeridas.

No Brasil, a vigilância de EAs relacionados ao uso dos produtos que estão sob
a vigilância sanitária (incluindo o monitoramento do uso desses produtos)
objetiva a detecção precoce de problemas relacionados a esse uso para
desencadear as medidas pertinentes para que o risco seja interrompido ou
minimizado.
Eixo 2 – Envolvimento do cidadão na sua segurança:
Paciente pela Segurança do Paciente é um programa da OMS que estabelece
que haverá melhora na segurança se os pacientes forem colocados no centro
dos cuidados e incluídos como parceiros. A visão desse programa, segundo a
OMS, é a de “um mundo em que os pacientes devem ser tratados como
parceiros nos esforços de prevenir todo mal evitável em saúde”.
Corresponsabilidade e vínculos solidários são termos utilizados na Política
Nacional de Humanização e correspondem ao termo “parceria” utilizado no
Paciente pela Segurança do Paciente.
Eixo 3 – Inclusão do tema segurança do paciente no ensino:
Envolve a inclusão do tema no ensino técnico e de graduação, na pós-
graduação na área da Saúde e na educação permanente dos profissionais de
saúde.
Eixo 4 – Incremento de pesquisa em segurança do paciente:
O foco na investigação tem se concentrado em 5 componentes (OMS):

1 - Medir o dano.
2 - Compreender as causas.
3 - Identificar as soluções.
4 - Avaliar o impacto.
5 - Transpor a evidência em cuidados mais seguros.

O Ministério da Saúde desenvolve ações que visem à promoção da segurança


do paciente, por meio de medidas de educação e divulgação das boas práticas
para profissionais de saúde, pacientes e acompanhantes e com ações
preventivas, como a implementação das 6 metas da OMS.
O Ministério da Saúde, em parceria com os Hospitais Certificados de
Excelência, via Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Sistema Único de
Saúde (PROADI-SUS), realiza ações, por meio de projetos, para implantação
do PNSP, disseminação da cultura de segurança, melhoria contínua de
processos e implementação de boas práticas. Os projetos fornecem apoio à
implantação dos NSP; à construção dos planos de segurança; à
capacitação/qualificação de profissionais; além de estímulo à promoção da
cultura de segurança com ênfase no aprendizado e aprimoramento
organizacional; ao engajamento dos profissionais na prevenção de incidentes,
com ênfase em sistemas seguros; à implementação de protocolos, guias e
manuais de segurança do paciente, além de estímulo a notificação dos EAs,
com análises dos EAs ocorridos.

Resumo

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