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Lígia Márcia Martins
Angelo Antonio Abrantes
Marilda Gonçalves Dias Facci
(Org.)

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P€RIODIZAÇAO
,
HISTORICO-CULTU L
I

DO D€S€NVOLVIM€NTO
,
PSI QUICO
do nascimento à velhice

Coleção Educação Contemporânea


Esta coleção abrange trabalhos que abordam o problema
educacional brasileiro de uma perspectiva analítica e crítica.
A educação é considerada fenômeno totalmente radicado
no contexto social mais amplo e os textos desenvolvem
análise e debate acerca das consequências dessa relação de
dependência. Divulga propostas de ação pedagógica coerentes
e instrumentos teóricos e práticos para o trabalho educacional,
considerado imprescindível para um projeto histórico de
transformação da sociedade brasileira. ( 'olc~:<io I ~duc~u;ão Contemporânea
Con hcçn mn is ohms desta coleção, e os mais relevantes
au tores dn ó~t·n, 111 1 llohso si te:
www 11 1tI 1ll't ~Hnssociud os. com .br

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I\UlORIJ 6 ~
AtWOI~ IAOO fl ~~

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C'apyrlxltt t•~ .W 16 by l:'tlltoro Aultln'." A.llM'' loflo.'i I.ttlu.
'litdttNIIIi !iill ~lltlll dt•ld lit' dl\ 1111 1'1 ~111' 1 Vll liiiH I) 1\dliolll Âll ltii i'N ÂhNO tllltill/1 l ,tdll .

1>11cloHlllh' I' IIIH lt11111IN dt• Cntulüi{H\'ilcl 1111 Puhlkn\'1\ü (CIJ•)


(Cnmnru U•·u.~ lld ru do l.lv•·u, SP, ll t·nsil)

l't•ttodit.l\'llo h b lót iw udtlll .11 do desenvolvimento psfquiw: do SUMÁRIO


" '·' ~~ Íllll'llto
,1 velhice I l.fgi:1 tvl:,rcia Mnrtins, Angelo Antonio Abrnntcs,
MHtlldtt Con~:n l vcs Dias Pac.:ci, {Org.). - Cn mpinas, SP: AulorcsAssocindos,
.>.O111. ( Col<.:ç;1o ed uc.: a<;üo contem por~ nC<l)
ISIIN 97H 1!5-7496-370-9

t. hhtl'nç ,\o - Bras iI 2. Ensino 3. Pedagogia histórico-crítica 4. Psicologia


t•dt lt .tdonnl S. Professores - Formação 6. Sociologia educacional !. Martins, I)t·cf'acto
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII..
1.1111" Mtírcia. ll. Abrantes, Angelo Antonio. III. Facci, Marilda Gonçalves
I >l11s. t V. S~ ri e.
Marta Shuarc
lll· O.l!12;\ CDD-370.115
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
fud l, ··~ pu1 a catálogo sistemático:
I , l't•ttndi tll\'llo histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: Parte 1: Fundamentos teórico-metodológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
l't ~d ttl{ttp,lu hist6ri co-crítica : Educação 370.115

Capítulo 1 Psicologia histórico-cultural, pedagogia histórico-crítica e


dC'senvolvimento humano ........................ . .. ... ............ 13
l.tgia Márcia Martins

l111p •·csso no Brasil- setembro de 2016 Capítulo 2 Aperiodização do desenvolvimento psíquico: atividade
dominante e a formação das funções psíquicas superiores ................. 35

\tlvana Calvo Tuleski & Nadia Mara Eidt

• Capítulo 3 A teoria histórico-cultural da periodização do desenvolvimento


psíquico como expressão do método materialista dialético ... ·. . . . . . . . . . . . . . 63
Juliana Campregher Pasqualini
El )!TORA AUTORES ASSOCIADOS LIDA. Parte 2: Primeira infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
ll,lllll ed itora educativa a serviço da cu ltura brasileira

Av. Albino J. B. de Oliveira, 901 !Barão Geraldo Capítulo 4 O primeiro ano de vida: vida uterina, transição pós-natal
CEP 13084-0081 Campinas - SP c atividade de comunicação emocional direta com o adulto ................ 93
Coordenadora Editorial
Telefone: (55) (19) 3789-9000 Simone Cheroglu & Giselle Modé Magalhães
Érica Bombardi
E-mail: editora@autoresassociados.com.br
Catálogo on-line: \\'\Afw.autoresassociados.com.br Revisão Capítulo 5 Primeira infância: educação e cuidados para o
Cleide Salme
Conselho Editorial "Prof. Casemiro dos Reis Filho" Mariana Rodrigues www.abdr.org.br desenvolvimento humano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
abdr@abdr.org.br
Bernardete A. Gatti denuncie a côpia ilegal Marta Chaves & Adriana de Fátima Franco
Ca rlos Roberto Jamil Cury
Diagramação
Dermeval Saviani
Érica Bombardi
Gilberta S. de M. Jannuzzi t•arte 3: Infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 7
Maria Aparecida Motta
Walter E. Garcia Capa
Maisa S. Zagria ~
Capítulo 6 Idade pré-escolar (3-6 anos) e a educação infantil:
Diretor Executivo Imagem da capa: baseado em obra Ferdinand Georg a brincadeira de papéis sociais e o ensino sistematizado .................. 129
Flávio Baldy dos Reis Waldmüller, Corpus Christi Morning, 1857
Lucinéia Maria Lazaretti


.,
C:tpi111lo 7 Atr:tnslç:lo díl t•dur~tç~to lof~tutll pant o Ptt:-. ltw fttllciHIIH'IIIId :
dos jogos <k papr ls soda Is à atlvldad(' dt• estudo ....................... t '''>
lo~\ Ctt"-ltm~ Mar tins & Mítrilda <:ouçah <::-. Dtas l .trci
PR€FÁCIO
Capítulo H idade escolar e atividade de estudo: educação, ensino c apropriação
dos slstt•nuts conceituais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 1
FI;""' da Silva Ferreira Ashahr
19)
l'ari<' lt: Adolescência • • • • ' ' ' • • o • • • • • • • • o • o • o • o • • • • • • o • • • o • • • • • • •

Capítulo 9 A adolescência inicial: comunicação íntima pessoal,


atividade de estudo e formação de conceitos ..... .... ... ......... ..... 195
Ricardo Eleutério dos Anjos & Newton Duarte
a edición de esta obra representa un importante acontecimiento en el ámbito
Capítulo 10 Adolescência: trabalho , educação e a formação omnilateral .... 221 de las publicacíones de literatura psicológica y pedagógica.
Záira F. de Rezende Gonzales Leal & Gisele Cristina Mascagna Como senalan Lígia Márcia Martins, Angelo Antonio Abrantes y Marilda
Uonçalves Dias Facci en la presentación dellibro, a pesar de que en los últimos
Parte 5: Idade adulta e velhice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
,mos se constata el interés crecíente de los profesionales brasileros por los apor~
Capítulo 11 Idade adulta e o desenvolvimento psíquico na sociedade de classes: lt s que la teoria histórico~cultural ha producido en el estudio de los procesos
juventude e trabalho .............................. . . ............ 241 pslquicos, es evidente que, en Brasil, el tema de la periodización del desarrollo
Angelo Antonio Abrantes & Larissa Bulhões humano no ha sido estudiado y profundizado en la medida necesaria para que
pueda ser empleado fructíferamente tanto en las investigaciones científicas como

Capítulo 12 Idade adulta, trabalho e desenvolvimento psíquico:
a maturidade em tempos de reestruturação produtiva ....... .. .... . ...... 267 l' l'lsus aplicaciones pedagógicas.
Entre los objetivos que se propusieron los compiladores y los autores de los
11rtículos se destaca la difusión amplia y accesible de los princípios fundamen~
Saulo Rodrigues de Carvalho & Lígia Márcia Martins ·
1ales de la teoría histórico~cultural, cuyos eletnentos esenciales se exponen en
Capítulo 13 Avelhice sob o enfoque da psicologia histórico-cultural .. . . . . . 293
ln primera parte de la compilación (el enfoque histórico-cultural del desarrollo
Clayton Washington dos Reis & Marilda Gonçalves Dias Facci
humano, su periodización y sus fundamentos metodológicos). Dicha Parte 1 viene
Parte 6: Épocas do desenvolvimento e a educação escolar . ...... . . . .. . ... 319 :l llenar un relativo vado en el arsenal científico de psicólogos y pedagogos y, de
por si, representa un valioso aparte para la formación y perfeccionamiento de
Capítulo 14 A periodização histórico-cultural do desenvolvimento na educação
los mencionados profesionales.
especial: o problema da idade ..................................... 321 En los capítulos que componen esta primera parte se analizan detalladamen te
Sonia Mari Shima Barroco & Nilza Sanches Tessaro Leonardo las bases filosófico~metodológicas que sustentan la concepción del desarroHo
y los conceptos fundamentales que fueron elaborados en su momento por
Capítulo 15 Contribuições da periodização histórico-cultural do
desenvolvimento para o trabalho pedagógico histórico-crítico . . . . . . . . . . . . . 343 L. S. Vigotski, A. R. Luria, A. N. Leóntiev, O. B. Elkonin y otros investigadores
Ana Carolina Gaivão Marsiglia & Maria Cláudia da Silva Saccomani .' .
sovtettcos.
Seguidamente, la comp ilación contiene trabajos divididos en cu atro
apartados, organizados según el criterio cronológico y referid os a las etapas
-
"i li I hliAM. MAIIIIWI, ANIII L01\ AIJftNlliJO&MAIIIIIIA I l 1), rAGG I(tlllll) PCIIIIJIII.'At.Atliii:. Jillllt 11 t:IJI iiJIMIIH>III•lUJV!liVIMI ~llü i" ,ICJUII ll lx

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(un~Lttlll ' tt t.d,•s dl·l d t!Srlltt lll ll '"'"'"" " M:H '.''' l n ~ ~·~Lt d t~s ~~ ''qu e t·JndJtll!• llllltlll '" dt• t'HI II plthlk:ll·it'l n t'·x itns L'n sus c rnprL•ndi mkntos futuros y a la ob ra,
ll:tlttl t: lll t: ~ \' di v id<.•: pritll\'1 ': 1 in l:111 d:1, Jllf :tt HÍ:t, .tdtlll'l-lll' IH' I:I, t•d :H I ad11lt·:1 l11 111 ;'p., iltllplin dilu s i<')n.
)' \'l' 'l l: ...

l!s d l' d vstnra r qliL', L' rt l n~ r u ntro pnrtL'S men cio nadas, se sigliL' un c ncn Doctora Marta Shuare
Egrc~~ada de la carrcra de psicologia da Universidad de Buenos Aires. Ph. D. por la
dt•t) :uni l' nto lóg ico, d ctc nnin nd o por la clccción, por parte d e los autotTs, <.k·
l Jniwt·,idad l:.~mtal ''M. V. Lomonósov" de Moscú. Creadora de la serie "Biblioteca Je Psicologia
los prit1cipnlcs postulados d e ln teo ría históri co-cultural de L. S. Vigotski y s us SoviL·IÍca", cn que ~c publicarem importantes obras, entre ellas: La psicologia evolutiva y pedagógica.
nmtin uad o rcs (e n parti cul a r, A. N. Lcónticv y D . B. E lkon in), especialme nte c! 1111 la U RSS (co mpilaciún de V. V. Davídov eM. Shuare}; E! proceso de formación de la psicologia

mmxiwr: L. Vi,~o t ski, A Leóntiev, A. Luria (Yu Guippenréiter e A. Puziéri}; La enseiianza escolar y el
ro nrcpto d e activid ad recto ra, cs d ccir aquella actividad que e n, la edad dada, desarrollo /Jsíquico (V. V. Davídov), entre ou·as.
diri ge y e n cam in a el desarrollo psíquico del nino . Así, en relación co n la prime·
r:1 inf~1n ci a, se a nalizan las características d e la comunicación emocional co n cl
:td u lto; cn la infancia, el domínio d e la actividad de juego, en particular, el juego
d e roles sociales y su importancia e n la transición a la etapa en que la actividad
I'L'Cto ra será la de estudio.
Rcsultan de sumo interés los artículos referidos a la problemática del de-
sa rro llo posterior (adolescencia, juve ntud y edad adulta) en vinculación con el
t rabajo y co n las cuestiones que plantea la actual sociedad de clases, caracteri-
zada por esenciales m odificacio n es de los procesos productivos, el crecimiento
de la esfera de servicios y otros camb ies estru cturales en la o rganización de la '
sociedad.
La quinta y última parte de la ob ra trata los problemas relacio n ados con la
edu cación especial, tema éste siempre polémico y de gran signi.ficación para la

organ ización de una ensei1anza que n o discrimine, sino que sea capaz de intc·
grar plena y dignamente a los ninos con d eficiencias o, como suele decirse e n la
nctualidad, con capacidades diferentes.
La compilación concluye con el cap ítul9 dedicado a las relaciones entre
la periodización que la teoria histó rico-cultúral ha elaborado y la pedagogia
h• is tóri cc-critica .
En resumen, podem.os afirmar que se tra ta d e una publicación de importan-
cia para psicólogos y pedagogos, quie nes, indudable m ente, podrán emplear los
conceptos fundamentales expuestos e n la obra para la mejor comprensión de la
problemática del desarrollo human o .
Esto, a su vez, se reflejará positivamente en.los trabajos de investigación cie n,
tífica y en las tareas cotidianas de e nsefíanza de las generaciones en crecimiento,
pues no hay nada más indispensable para quienes se ocupan de la investigació n
teórica y su aplicación práctica que contar con una teoria capaz de dar cuenta de
los fenómenos observables y d e orientar a quienes buscan resolver las cuestiones
vi tales que, en la actualidad, pl.antea el desarrollo del hombre. Resta desear a los
'

APRE:SE:NTAÇÃO

companhamos, nas últimas décadas em nosso país, uma ampla divulga~


ç~1o d a psicologia histórico-cultural, o que a tem colocado como um dos
11"1111 4 n•ccntes avanços da psicologia como ciência e profissão. Não obstante o
1 1 Pt'1w l acervo já publicado acerca das obras de seus proponentes e seguidores

••vlt''l kos, a temática da periodização histórico-cultural do desenvolvimento


j Hii qttko permanece uma questão pouco explorada, exigindo um apelo direto às
III•Hllt~·oes o riginais de, sobretudo, Vigotski, Leontiev e Elkonin. Se, de um lado,
IHIHsibilidade mostra~se importante e frutífera, por outro, ela não facilita o
i '"lll l

li i'hho de um amplo número de pessoas interessadas na compreensão do aporte

I! 1.1111 ko·cu ltural, sobretudo quando iniciam os estudos sobre esse conceito. O
•llle 11 ns move na direção da organização desta coletânea de textos é exatamente
1 ide ntificação dessa demanda, experienciada por nós e seguramente por outros
pn•Fi~~-oiona is envolvidos com a formação d e psicólogos, pedagogos e professores
t1 ttt pniccssos de formação inicial e contínua.
l ) Iivro que ora se apresenta o rganiza-se sob a forma de coletânea de textos
•t e} li,, do desenvolvimento, do n ascimento à velhice, primando por um enfoque
p,. j, 1 dt'IJ~i co que privilegia todo o ciclo vital. Visa, por conseguinte, à elucidação
de •w processo por meio de explicações a respeito das intervinculações e inter-
lt,l" t1dl'•ncias entre os d iferentes períodos da vida. Assumindo esse desafio, a
tíiL1rWtlll' coletânea ganha outra dimensão, qual seja, a de um livro integral, cujo
l•!ll l•·t'ldo apr esenta-se em uma ordem sequencial e lógica entre os conceitos e
lilltP~ que veicula em cada um de seus capítulos. Sua elaboração por diversos
'''' •III'" I'L's ulta da complexidade inerente à temática em análise e, igualmente, de
i,, ,, p II I-H IH nprofundadas q ue os autores dos capítulos têm levado a cabo.
,\ .. particularidades d as análises expressas no livro justificam~se pela necessi-
lctdi.' ell• vincu lar as produções originais dos autores soviéticos, que desencadearam

I
lhtiAM. MAIIIIN't.ANIIIIIlA Al:ll(f\1~11 U&MAIIII IJAI\ ,, IAC(I(IJI(Il) PII' IIII JI/AÇ~O 111011 liW !I I IIIIIJIIAI I lll IJI '•I}IV!ll VIMI IHO ft•;IIJIJII I l I

t1 p ft H\~14/'ll l dl : l ' \l ll 1'1 li li ÇnI l dl ' III I I '1 1~ ll ' I I Hl l l •t'll k 11 HCl lll l ~ li I I III II! lll llti ljl 11 ~~ ll liiÍ Vl llll l' llll '
1 utn n dll'i.t Vlgt 1t s ki - , pn 1':1 qll l' d~ fnto co mpree ndam se us alunos para além
d 1st l 1tl o H I 11 L' I'L' I\I VH :I I( ll'lllll~'llu d<1 p HiquiSII H '• t 'O III li H lll't'l dhtl'ld:ld l's d11s I( t t'tll ll\'nt'H •l1111 tlllltdl't•H t ll~'c kH lc tw m0nicns e apa re n tes. Esse é o ideal que tem alinhado a
so c iai s r npi talistas dl' IHlHHn ll'mpu. Port<~nto, nosso ohjL'I ivo n:tc.' l ahom~·ao d l'HHl' p~tkn l Pgia h istl'H·ico-c ultu rn l à pedagogia histórico-crítica, ambas compro metidas
m:Hcrial articula-se com a tarefa de traba lhar conce itualmen tc a periodi za ~·ao 111111 ii prnnw~·:m do máximo d ese nvo lvimento dos indivíduos pela mediação da
dl,) d ese nvo lvimen to humano sem d esconsiderar as determinações inerentes i\
1 dllt'H\'nu vscolar. Uma ob ra que se dedica à análise radical do desenvo lvimento
soc iedade produtora d e m ercad orias, reco nhec<.;nd o o antagonismo d e class<.;s ~o· l111 II II IIH l n:io pretere a anál ise das articulações entre tal processo e a educação
as tensões entre os processos d e humanização e alienação que se expressan1 d e L·Nn 1lur, hajn vista o pressuposto histórico-crítico, segundo o qual o ensino é a
variadas maneiras no decorrer da existência d os indivíduos. 1 1!1'1 1'11 d o d ese nvolvimento e a escola o locus privilegiado para sua promoção.
Considerar os processos formativos do indivíduo com base no materialismo Nl'SHl' sentido, as an álises que integram o livro visam constituir-se em instru-
histórico-dialético pressupõe analisar a relação entre o seu desenvolvimento c o illt.: llt ospnra to rnar os processos de ensino e aprendizagem mais eficientes à medida
movimento histórico da sociedade, superando dicotomias entre o individual e o qw "H' pnutern pela relação consciente do educador com as capacidades psíquicas
coletivo, entre o biológico e o social, o u seja, entre a natureza dada e a natureza 1 hl'l'l'll1 produzidas pela prática educativa. A prática pedagógica orienta-se pela
adquirida histórico-culturalment~Trabalhar esses aspectos da realidade humana llr! td ,td e e ntre o conteúdo a ser ensinado, a maneira m ais eficiente d e ensinar
'

enqu anto unidade e luta de contrários significa compreender o desenvolvimento 1 ll lll'vnd er c o destinatário do processo educativo. Assim, sem d esconsiderar a

psíquico com base na totalidade indivíduo/realidade social, reconhecendo como 111 ddndv conteúdo-forma-destinatário, esta obra coloca em evidência o destina-
elem ento mediador dessa relação a inserção ativa do sujeito n o mundo. l'fl l'lll da ed ucação no seu processo formativo, enfatizando as _E_articularidades
A análise do d esenvolvimento psíquico centrada na atividade possibilita o , jp 1 ndn época do desenvolvimento - primeira infância, infância, adolescência,
reconhecimento d e que, durante todo o seu processo de formação, o indivíduo jlt\'l'ntude, idade adulta e velhice -, bem co mo as singularidades dos períodos
desempenha papel ativo valendo-se de circunstâncias históricas e sociais que 11111_1 :' s Integram.
determinam o conteúdo e a forma das relações que integra. O s indivíduos parti- ( :n ntc mplando a m etodologia do m aterialismo histórico-dialético, a relação
cipam de um conjunto de ativldades ao longo d e sua existên cia, no entanto, ao •
'lí-, indivíduo hum ano com a realidade foi considerada nas reflexões aqu i comu-
se considerar a formação do psiquismo em seu movimento, existem atividades n I• 'I H lns cm seu aspecto mais desenvolvido, ou seja, press upondo a n ecessidade
'
que possibilitam maior avanço do psiquismo no sentido da interpretação do real, ,_I,_~ l~ti'llll\ ÇÜO da relação consciente do indivíduo com a realidade. A consciêricia
exercendo dominância em relação:às demais atividades que lhe são subordinadas ll 11 111 a co ndição alcançada pelo gênero humano que ab re possibilidades para
ou secundárias. ljlli ' 11 ind ivíduo produza imagens fidedignas da realidade e, tomand o-as corno
Os capítulos deste livro são produzidos tomando-se por base a tese de que I• 1 11, pmduza coletivamente suas condições concretas de vida. Essa dimensão
·em m o mentos particulares do desenvolvimento psíquico existem atividades ui•.Ji· li va d e interpretação do real, que antevê tendências do movimento do real,
que o guia14z possibilitando transformações qualitativas que revolucionam o 1Pll et dn··se à atividade social, resultando em unidade dialética que caracteriza a
mo d o de ser"do indivíduo. O desafio dos autores foi o de refletir, nos dife- j'!i'ítXh llllmana.
rentes momentos d e formação da pessoa, as relações entre atividade,guia e a t) d ~se nvolvimento d o indivíduo entendido a partir de relações sociais
constituição do psiqu ismo, buscando explicitar os limites e as possibilidades l ' fC',.~H I poe o processo de inseri-lo conscientemente no movimento contraditório
de desenvolvimento em cada momento específico da existência, considerando P IH II)I'IIIndividual demarcado pela luta d e classes. Sendo assim, o processo de
o trânsito em direção à participação em atividades de maio r complexidade . l'l'í 11 lt 1\ .to l)e um material abarcando a periodização d o desenvolvimento humano
Outro destaque que entendemos digno d e nota refere-se ao alcance desta 'i,I."' "'H' " 1n um esforço n a luta pela formação o mnilateral da personalidade huma-
produção para além dos limites da psicologia, posto que a temática em tela 1111 \ tdnência para essa formação pressupõe um sistema educativo que tenha
importa a inúmeros campos d e atuação profissional, e, particularmente~ra lll"'"lllhi lid adcs concretas de produzir uma pessoa de pensamentos, com autono mia
a educação escolar. Consideramos premente, em nome d e avanços no campo li ti• l,•c tun l para analisar a realidade valendo-se de instrumentos co nceituais em .
pedagógico, que os professores tenham acesso à psicologia concreta, "científica" - 11 1ui l111 mas mais elaboradas; uma pessoa de sentimentos, que se form e sensível


IIQiiAM MAl~ li NU, AN!ill J (J A Alli.AN lL O6 MAIULOA O IJ IAIA~ I H)IW ) Pllllt li li, 'AC"O IIIG'I (JIW :t 1-Cllll t IIIAI ,IJOl)l!O~INOLVIMU~ lO I)OIW Jlt t l .'i

il l l t' ll fl j llllf n dnH ~H' I 't'H lllllll ll ll <ll'l t' qll v JHIH.'H I :t Sl' llSII d l' j 11 1-1 f ~~·a, I'(.'Vn lt'll ! H i o ·Sl' p:1 it 11 tls1lln. Ddl'IHiv n fl•sv dv q\l l' ad t·qu mla compreensão d a teo ria d a per i o,
:1

t"tl llf T:I :t thi tml'i vd adt•:-; qll l' st· prat ique co ntra qu : dqu ~· ~· me mbro d o g(\ nero t l lt.a~·nu d o dl'Sl'Jwolvimento psíquico elaborada pela Escola de Vigotski requer a
culmine na produ çüo de uma J>essoa ela f>rdxis, q ue comp reenda
l ll tll ll lt Hl. l)li L' IPI'l'l.' llSa o do movimento tógico das categorias que n ela subjazem, destacando que

·'" 1 o n t rad i~'{)CS sociais existentes no processo de produ ção e reprodu ção da llt:anhe r históri co d o desenvolvimento demanda análises com base nas unidades
1-11 H'it•dnde, qu e se engaje na luta pela imple mentação de uma sociedade livre da di:déticas essência,aparência, todo,parte, quantidade,qualidade, contradição e
do m inaçno e da opressão. :-. 11 peração dialética.

Nessas bases, podemos apresentar o movimento interno da obra. Organizada Esses três capítulos iniciais, constituintes da Parte 1 deste livro, configuram
t! l ll seis partes, a presente coletânea estrutura,se com a seguinte composição: tl· mas centrais que subsidiam a análise dos vár ios períodos apresentados nos
Flti H.Inmentos tcórico,metodológicos; Primeira infância; Infância; Adolescência; r:1pítulos seguintes, que abordam de modo particularizado o desenvolvimento
ldm le adulta e velhice; Épocas d o desenvolvimento e a educação escolar. Inicia, tlcsde o nascimento até a velhice, tendo a categoria atividade como elemento
M' ro m o trabalho de Lígia Márcia Martins, intitulado "Psicologia histórico, IJUclear de cada fase, bem como da transição entre elas.
·cu lt ural, pedagogia histórico,crítica e desenvolvimento humano ", que tem Em sua Parte 2, adentramos as especificidades da primeira infância, sendo -
n 1m o objctivo apresentar os pressupostos básicos gerais que ancoram a análise :1 fase inicial da vida objeto de análise do Capítulo 4, "O primeiro ano de vida:
.
nn·n:a da periodização d o desenvolvimento humano nos marcos do materialis, vida uterina, transição pós,natal e atividade de comunicação emocional direta
mo histórico,dialético, tendo como referências a psicologia histórico,cultural e com o adulto", sob responsabilidade de Simone Cheroglu e Giselle Modé
n pl'dagogia histórico,crítica. A autora focaliza a unidade teórico,metodológica Magalhães. Nele, as autoras apresentam as características essenciais das etapas
d~·ssas duas teorias, destacando a psicologia histórico,cultural como fundamento uterina e pós,natal, bem como da etapa de relativa estabilidade na formação

psicológico da 'pedagogia histórico,crítica e, igualmente, a pedagogia histórico, cultural do bebê em seu primeiro ano de vida, conferindo a devida ênfase à
•trftica como fundamento pedagógico da psicologia histórico,cultural. Nesse atividade de comunicação emocional direta entre bebê e adulto, a atividade,guia
diapasão, afirma a transmissão do acervo cultural simbólico mais elaborado e a no primeiro ano d e vida. N essa direção, evidenciam a natureza maximamente
< 1rganização do ensino com vista a esse objetivo como condições imprescindíveis social do bebê e o alto grau de condicionabilidade entre seu d esenvolvimento
pnra a promoção do desenvolvimento das possibilidades humano,genéricas. e as condições educacionais nas quais ele ocorre.
NL·sse capítulo, de cunho introdutório, são também anunciados os princípios Na sequência, Marta Chaves e Adriana de Fátima Franco - autoras do
1l'ú ri co,metodológicos que balizam os conteúdos a serem aprofundados pelos C apítulo 5, "Primeira infância: educação e cuidados para o desenvolvimento
demais pesquisadores/ autores desta obra. humano " - voltam,se à análise da idade d e 1 a 3 anos, cuja atividade,guia é a
O Capítulo 2, "A periodização do desenvolvimento psíquico: atividade do mi, objetal manipulatória. As autoras apresentam e entrelaçam aspectos do desen,
na nte e a formação das funções psíquicas superiores", escrito por Silvana Calvo volvimento psicológico nessa idade com os processos educativos, demonstran,
T uleski e Nadia Mara Eidt, continua guiando a atenção do leitor para conceitos do as possibilidades desenvolventes da educação infantil quando organizada
que irão tangenciar os demais textos, explicitando e esclarecendo a compreensão intencionalmente em torno do ensino sistematizado.
-
dos pesquisadores que elaboraram a psicologia histórico,cultural (Vigotski, Luria Abrindo a Parte 3, que se volta para a época da infância, o Capítulo 6 intitula,
c Lcontiev) acerca do método de investigação do desenvolvimento humano, ,se "Idade pré,escolar (3,6 anos) e a educação infantil: a brincadeira d e papéis
centrando s uas análises em dois conceitos: o de atividade e o de neoformacão. sociais e o ensino sistematizado". Nele, Lucinéia Maria Lazaretti apresenta as
'
Juliana Campregher Pasqualini segue fornecendo o estofo teórico-metodoló, aquisições típicas e as conquistas culturais da criança de 3 a 6 anos, voltando,se
gico da obra, explicitando as bases culturais do desenvolvimento humano à luz também para a análise do papel da educação escolar na promoção de seu desen-
do método marxiano. No Capítulo 3, intitulado "A teoria histórico,cultural da volvimento. A autora defende a ideia de que o conhecimento das características
periodização do desenvolvimento psíquico como expressão do método materialis, de desenvolvimento da criança e das especificidades da atividade,guia "brinca,
t':l dialético", a autora apresenta as categorias do materialismo histórico-dialético deiras de papéis sociais" representam contributos extremamente importantes e
que fundamentaram Vigotski em seus estudos sobre o desenvolvimento do necessários para se traçar metas de ensino que levem a criança a apropriar,se do ·

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IICtiAM, MAIOIN 11, AtJÍtiiOA AIIIIAIHI:!tl'. MAiiiiJ)AO.U f'MlLI ((lfH4,) PI 1<11 lili/A~ AI I III' ti l'li~ILO IA 11 ti IIV\LIItH !l 'l ii i I' 'til IlMI IIIÜ 1'',101 Jl( I l

lll't' l vn ru ltut·nl dn lwtnntdd:H il'. ( 'o rn lHstl, s1rpv1'11 (lllltl'p~·,w., qlH.· tHtllll 'll ll zntll Zt'dra P. dl' H.l'ZctHiv ( ;lltl "ílkb ll'fd t ( it•wlv Cds t'irHI MnHr:lgtlll hllllll\; :1111 11
o iHo de brincn r l' as hrincmkirnl'i, dl'st":lt"llthlo-os vot\lo posslvl'is L' :tdl' llllildtls r:1s do Ca pitulo 10, intitulado "Adnl\''ltl'IH ia: lnlbalho , l·duc:11;ilo l' l o llllll\' íll_l
procedimentos de ensi no. omn ilateral", no qual analisarn o k·m1llll'I10 da adolescência cm t.•streitas t't•ln
Ainda em estreitas relações co m a educnção infantil, o Capítulo 7, sob <;t)es co m o trabalho e se u modo de o rgan ização na sociedade de clas:ws. 1',1 1 ,1
responsabilidade de Josy Cristin e Martins c Marilda Gonçalves Dias Facc i, tanto, d estacam esse período do desenvolvimento naquilo que ele sc virH 1d : 1
intitulado "A transição da educação infantil para o ensino fundame ntal: dos à atividade de preparação profissional e, igualmente, naquilo qu e rdlvt v d "
jogos de papéis sociais à atividade de estudo", aborda o período de transição mundo do trabalho a ser enfrentado pelo jovem em formação. Avan~·am l:s~"
pelo qual a criança passa ao sair da educação infantil e entrar no ens ino análise destacando os desafios da educação escolar nesse período d e vidn dl'1
fundamental, enfocando as transformações que ocorrem no nível de desen~ aluno, tendo em vista prepará~lo, de um lado, para a inserção no u n iv~.· r:-~n d,·
volvimento psicológico. Partindo do pressuposto vigotskiano segundo o qual práticas sociais adultas, e, de outro, promovendo maximamente suas capacid :1
o desenvolvimento humano se faz marcado por rupturas e saltos qualitativos, des, e para o enfrentamento dos inúmeros desafios que essa inserção l'IH' l' ll 'll,
as autoras analisam as tensões dialéti.cas entre jogos de papéis e atividade de sobretudo, para a classe trabalhadora. Nessa direção, reiteram a relevância d11
estudo, cabendo, sobretudo para os pré-escolares, a criação do interesse pela ensino escolar pautado no trabalho como princípio educativo .
atividade de estudo. Trata-se, pois, de um momento nevrálgico para os rumos Após a análise dos aspectos centrais da adolescência na sociedade hod krn.t, a
futuros do desenvolvimento infantil. idade adulta e a velhice entram em tela na Parte 5. O Capítulo 11, "Idade ad11lt11
e o desenvolvimento psíquico na sociedade de classes: juventude e trabal hn",
Dando sequência à temática da infância, temos o Capítulo 8, elaborado por
de autoria de Angelo Antonio Abrantes e Larissa Bulhões, aborda o pl'riod ll
Flávia da Silva Ferreira Asbahr, com o título "Idade escolar e atividade de estudo:
inicial da vida adulta- a juventude na sociedade de classes - e, para tanto, 11s
educação, ensino e apropriação dos sistemas conceituais", no qual a autora versa
autores debruçam-se sobre a relação entre juventude e trabalho e o prohl vmn
sobre a formacão
'
da atividade de estudo analisando o conteúdo e a estrutura
de identificar a atividade dominante que permite "guiar" o desenvolvi mento dn
dessa atividade, a formação embrionária do pensamento teórico e a organização
• jovem no intuito de uma práxis consciente. Exploram a hipótese de qu e anali:4al
do ensino. Destacando a atividade de ensino como orientadora e propulsora
os processos formativos do jovem pressupõe considerar a unidade contrad it <'ll·in
da formação da atividade de estudo, a autora evidencia que a formação do pen-
entre a atividade de estudo profissionaUzante e a atividade produtiva, destaca tlllt 1
samento teórico - característica central desse tipo de atividade - subjuga~se à
que a predominância ou hegemonia de uma delas ocorre pela determi nat, :11,
adequada transmissão dos sistemas conceituais, isto é, à organização d o ensino
da posição que o jovem ocupa em relação aos meios de produção. Os :wtotvs
pautada na dialética conteúdo-forma tendo' em vista a elaboração, pela criança,
evidenciam, por meio da temática em questão, quanto esse período transvott t_
de conceitos científicos, meta máxima desse período do desenvolvimento.

como objetivação da posição de classe ocupada pelo jovem.
No que tange à adolescência, temática em foco na Parte 4, temos o Capítu- O trabalho como atividade-guia na vida adulta é o tema apresentado 1111
lo 9, "A adolescência inicial: comunicação íntima pessoal, atividade de estudo Capítulo 12, "Idade adulta, trabalho e desenvolvimento psíquico: a maturid .td~
e formação de conceitos", de autoria de Ricardo Eleutério dos Anjos e Newton em tempos de reestruturação produtiva", elaborado por Saulo Rodriglll'"' ,1,
Duarte, que apresentam a concepção histórico-crítica de adolescência com um Carvalho e Lígia Márcia Martins. Os autores analisam a atividade-guia dl' lll''
enfoque que visa, primeiramente, desconstruir os modos naturalizantes e anis- dução social- o trabalh o - colocando em foco as agudas contradições qw:, 1111
tóricos pelos quais, recorrentemente, esse período é abordado. Destacando as modo de produção capitalista, nela se instalam. Explicitam tais contradiçot·.. , i ii I
atividades~guia típicas da adolescência, ou seja, a comunicação íntima pessoal e analisarem o trabatho como traço fundante da humanização e, ao mesmo tL'tlll" ,,
atividade profissional de estudo, os autores destacam as mudanças qualitativas que a degeneração que sofre na sociedade de classes, que o converte em trnh;dh"
marcam esse momento de viragem em suas relações com a educação escolar, entre alienado. Avançam essa análise explicitando o acirramento da alienaçiiu \ ' III
as quais se destacam a formação do pensamento por conceitos e a consequente tempos de reestruturação produtiva e o consequente empobreci n"lento do pn1•
elaboração de uma concepção de mundo por parte do adolescente. cesso de humanização dos indivíduos. Destarte, os autores advogam que 11 h lt"lt
~
LiGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MAR ILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 9
H

contra as condições d e alienação identifica,se com a luta pela efetiva vivência de m od o particularizado, as relações entre a periodização do desenvolvimento
da atividade,guia na idade adulta, n aqu ilo que ela se impõe como lastro para a e a prática ped agógica. Essa temática é abordada no Capítulo 15, elaborado
for mação de uma possível e almejada perso nalidade livre e universal. por Ana Carolina G aivão M arsiglia e M aria Cláudia da Silva Saccomani, cujo
No Capítulo 13, "A velhice sob o enfoque da psicologia histórico,cultural", título é "Contribuições da periodização histórico,cultural d o desenvolvime n to
avançamos um pouco mais n a idade do homem e chegamos à velhice, período para o trabalho pedagógico histórico,crítico". As autoras, recuperando as teses
ainda pouco explorado pela psicologia histórico,cultural. No referido capítulo, centrais dos capítulos precedentes, explicitam quanto as articulações entre os
C layton Washington dos Reis e M arilda Gonçalves Dias Facci debruçam,se so, conteúdos de en sino e as formas pelas quais devam ser transmitidos - tendo em
bre a temática da velhice destacand o quanto esse período do desenvolvimento vista a quem se destinam - impõem,se como eixo nuclear do planejam ento de
ainda demanda pesquisas que explorem as mudanças que ocorrem na estrutura t•nsino comprometido com a formação máxima humana dos alunos. Com isso,
d a atividade do idoso em razão das alterações do lugar social que passa a ocupar, t• ncerram a obra enriquecendo~a com elementos que, vinculando a psicologia
problematizando até m esmo a própria concepção de velhice. I' i stórico~cultural e a pedagogia histórico,crítica, demonstram as possibilidades
Tendo em vista um enfoque d e extrema abrangência acerca da periodiza, tlvscnvolventes dessas teorias à medida que iluminem a prática pedagógica escolar.
ção histórico,cultural, em suas relações com a educação escolar, essa temática Para concluir, reportamo,nos a Alexis N. Leontiev (1980, p. 9), que, ao
é apresentada mais especificamente na Parte 6 d a presente obra. Nessa seção, .cpresentar a obra Linguagem e razão humana (Editorial Presença, Lisboa), assim
'
trazemos à discussão, primeiramente, a questão da atenção à periodização d o c.,, rt.•veu: "E possível que algum as passagens se não compreendam à primeira
desenvolvimento de pessoas com deficiências, dado que se tornou objeto d o Ic tt lira. A quem isso suceder, peço que leia uma e outra vez. Este n ão é um livro
Capítulo 14, "A periodização histórico,cultural do desenvolvimento na educa, dt Ivi tu ra recreativa. Há que se meditar sobre seu conteúdo".
ção especial: o problema da idade", elaborado por Sonia Mari Shima Barroco e l ~ n scjamos um bom estudo!

Nilza Sanches Tessaro Leonardo. N esse capítulo, as autoras partem da premissa
d e que a educação especial é uma modalidade d e ensino que atravessa .todos Lígia Márcia Martins
os níveis da aprendizagem, instituindo,se como área de estudos e pesquisas e, Angelo Antonio Abrantes
igualmente, como um campo de intervenção profissional para professores, psi, Marilda Goncalves Dias Facci
'
cólogos, fonoaudiólogos e outros. Consideram que, não obstante os inúmeros
avanços advindos de políticas públicas para a inclusao escolar, um dos d esafios
ainda fortemente presentes para que isso ocorra, diz respeito à ausência, em seu
interior, do pensamen to dialético, seja para definir, apreender ou explicar, seja
para intervir em seu objeto. Com isso, apontam as contribuições da psicologia
histórico,cultural para o enfren tamento do referido desafio, especialmente pela
forma lógico,metodológica pela qual essa teoria explicita o problema da idade e do
desenvolvimento dos indivíduos, corro borando a efetivação do ensino a serviço
d a aprendizagem e çlo desenvolvimento de pessoas com deficiências intelectu ais,
fís icas sensoriais e não sensoriais, mú ltiplas d eficiências e transtorn os globais do
desenvolvimento.
Ao lo ngo de todos os cnpftu los, os <\llt"otTs dl'st·actlr:111l 11 t•dtH 'II \ 'IIP t'H{'o l:ll
c om o v:\ ri úvl' l i n t l' r ve n il'" t v 11 11 pt'()1llll\'ll tl dn dt 'IW 1Wn l v i 1\H:t l lt ,, 11 It t' l'lltHJ 1 11111 doi.
o hit' t Ivos l:l~ 11 t 11tl:1 dI 'H t l' I i v n 11 d1• 1111 H IIi t 1'11 1' 11 r~t Jtll l k i11111d11l l d11 dt' I11,. l t'll ' k u :1 1ti t 111'1 d

d11 d e 14t' l l\ 't d \'i 111 CII( Il p 't (t p tl ( t l I ~IIII lll t d '1 ,d Picdttl ll dcpt lld t~ l !í 11\ d!IPi t_ ! illl,l h;!!t'~
I • -~ · • ..._.J____ .... i .... _ t1._• • a _ • • • t " ' -' - i "t fi .,-._.,.. u L I I u ' -,--, ._-ua -f.lt ., ul
i i.J..l.. ll I H I 11 U _ J I 11 i ' ' l I.!...! (\ fi,


CAPÍTULO l

PSICOLOGIA HISTÓRICO-cULTURAL.
P€DAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA €
D€S€NVOLVIM€NTO HUMANO
, t
LIGIA MARCIA MARTINS'

o colocarmos a periodização do desenvolvimento em pauta, v isamos


I apresentá,la po r meio de um enfoque psicológico ancorado n o apo rt<.'
Ii k 11.; ó fi co materialista histórico-dialético, à luz do qual se evid e ncia a na tu reza
• n 111 \ do h o mem e, co nsequentemente, o desenvolvimento p síquico co mo


1 ~.; ~11\tml o da apropriação de signos culturais. Esse fato, por sua vez, recoloca o

I'I'IWI d cscrnpenh.ado pela educação escolar em sua promoção, posto cabc r,\l w ,
• IIIJH II\III l' ntalme nte, disponibilizar as objetivações culturais humano,gen éri cas ;\
q 11npria~·1\o d os ind ivídu.os particulares. Assim, este capítulo tem por objct ivo
\i •i '"''"'"' '" os pressupostos básicos gerais que ancoram a análise acerca dn I"'
1lcuJ l111\ no do d ese nvo lvimento humano nos marcos do materialism o h istó rin ,.
Iildc l i\ o, t t• nd o co m o referências a psicologia histórico,cultural e a pcdngogi:1
h lrHt ll'll:\ ,nlt ica, posto sere m elas, n os campos psicológico e ped agóg ico, 1TS IWl
!IV!'•("' III\ ', n· prcsc n ta ntes po r excelê n cia desse aporte filosófico. Em fac<.' dl'""'
hktlv" , ., prt• sc ntc ca pítulo coloca e m foco a unidad e teórico,mctod n lt',git ,,
llll't~ 1 p14itnlogia histú ri co-c ultural e a pedagogia histórico-crí t ica ace rca da t n ll

I '~ ''"\d •,tu l·iro·r ulturnl d L· d ese nvolv imento huma n o, d a afirmaç;\o po t pnt l\'
• litd ll ll'\ dn p:qwl d o l' nsino d e co nce itos c ie n t íficos na p ro rn oç1'\o d o n: lt·t ido
I
Ir:·, ,. , d,•lrn e tll n, lwrn co mo ii rt·l~.·vf\ ncin d<1 o rga ni zação d o e nsino tvndo t' lll
'"' '' ' ''''" t•dtt l' ll \,"11\l l'H ru l:1r d cvl' I':\H d esl· nvo lvL'I'll'l.'. Ao fin nli zarn w s, rv il l'l'lllllll"'

li\ H ""'tl lltl"' 1'111 p~l• "\"1~11 ,1,, ••dllt lll,nll, I''"'''"''"'" ,j,, I lith·•t'••ldmlt· l•,t,td tlid l'llllll•il•l " l11ll•' ,j,
I illtll 11 li " ii ,, ) IIII I 111'1\11 ,j,. ~'••t lll-11.1111 "' ,,~j, ,·, jlll(ll 1 " ·' I,, tdtltll lt "' I "IH I• '• I íiiii/•IP
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1I111A M ~i AIHII·IU. NH•I 1o A,Alli~Mm ru lHIAPIII lA (}l u 1"' ' 1(""',) PIHilll lliA~.Ao 1111n n1111 ut :tHIIlltAI ili.i lll 'l,i 111 111 VI MI tl ro1''tlutw :o I ~-

11 pl l~ l ll l' ll ci n dv lllll:l l 'M 'o l ltl i zn ~·:í u :'t :dl'lll'l t d lls M'IIH lll:\xl nln S 11lc.JI H,.,., 11 .1 vl d.t d t• o~s ~lt :ts p1·o p1 Íl• d :t d vs rvs lllt ll l ll l~ tJ'Ili JII lllt! l'lll
d () lll l't ll hnll~o~ ntn q t l l' 11 li JHI ;,"
l li i M'
tod os os indivídu os, indep L' IH.k·nt L'I1lL' nte da id mll' ljliL' it' l l h n m . 1 IIJH iit;m·s () hjL·ti vas de l'X Íst(' IICin . I •. Jl ll t' LIII-I pmprkd: td L·s, d ~.~~ t aca tnos :t p1 o l lll:t

q11 :t lid nd e d e se u ps iquis mo co mo p rud u tu histó ri co-socialm L' IltL' C0 1\st: ndd11
Vigotsk i (VIUOTSKY, 1995) fo i p io neiro n a b usca pela explicitação das o1 i i~'' " i
PSICOLOGIA HISTÓRICQ-CULTURAL e PeDAGOGIA dessas transformações, identificando p rimeiramente uma d ife rença qu:d it:tll\ ·'
HJSTÓRICQ-CRÍTICA: UM eNCONTRO ACeRCA DA PROMOÇÃO DO (u lcral entre as p ropried ades psíqui cas legadas pela n atureza c t ransm it idlls I dn
DeSeNVOLVIMeNTO gen etica men te e aqu elas ed ificadas pela vid a social. As primeiras ele dcnom ii H,,,
d e funções 2 psíquicas d ementares, que pau tam as respostas imedi atas aos L'S t ÍIIHJI< ,.,
Tend o o materialismo histórico-dialético com o fundamento m etodológico, e expressam uma relação fusion al entre suj eito e objeto . Delas resul tam os :1lt 1s
tanto a psicologia histó rico-cult ural q uanto a pedagogia histórico-crítica nos ref lexos imed iatos q ue, em certa medida, n ão d iferenciam substancialn wlltt
apresentam o homem como u m ser social cujo d esenvolvimento con d icio n a- a co nduta hu ma n a da co nduta dos d emais animais, sobretudo dos n n i 111 11 i11
-se pela atividade que o vincula à na tureza, um ser que a p rincípio não dispõe superiores. As segundas, por su a vez, fo ram q ualificad as como funções /Js(cfll i<' ri~
d e p ropried ades qu e lhe assegurem, por s i m es mas, a conq uista daquil o que o superiores, que não resultam for m adas co mo cômpu to d e dispositivos b iolúgin,s
caracteriza co mo ser h u man o. Leontiev (1978a), ao afirmar que a transm issão hereditários, mas d as transformações condicionadas pela atividade q uc sustc 111 ; t
dos produ tos da atividade entre as ge rações se impõe como traço fundante d a a relação d o indivíduo co m seu entorno físico e social, o u seja, resultam cns~t'll
humanidad e dos sujeitos, explicita que o desenvolvimento humano sintetiza dradas pelo tra balho social.
um longo e com plexo pro cesso h istó rico-social de apropriações, e n essa mesma Esse a utor reco nhece u na co mplexidade dessa atividade (trabalho) o f:11n 1
direção Saviani (2003, p. 13) afirm a: decisivo na humanização d o psiquismo , representada pela ruptura da fusão cnt 1v
os estímulos e as respostas, d escortinando as possibilidad es para o autocont n lll
Portanto, n lJllt' nfw é garantido pd:.1 natureza tem que ser produzido his- da co nduta para os atos vo luntários orientados pela consciência. Para Vigot~kl,
toricamente pelo~ humens, e ai se incluem os próprio~ homens. Podemos, na base da formacão d a consciência existe um sistema instituído pelas fun~·w·:-.
• '

poí::;, dizer que a natureza humana não é dada ao homem, mas 0 por dt..' psíquicas, d e sorte qu e a complex ificação das referid as funções co ndiciona os ai
produzida sobre a base cl;:t nnrureza biofísica. cances da consciência. Todavia, a transfo rmação das funções psíquicas elemcntan:s
em fu nções psíquicas superiores revela-se um processo condicionado, e Vigot sk i
Assim, o processo d e aq uisição das particu laridad es human as, isto é, d os (VIGOTSKY, 1997) identificou n o signo o condicionante nuclear da requalifil'il~·:u,
comp ortamen tos com p lexos culturalmente for mados, de manda a apropriação do sistema psíquico human o.
Ao introduzir o conceito de signo, o a utor postulo u qu e o ato especifica nwlll l'
do legado objetivado pela prática histórico-social. Os p rocessos de inte rn aliza-
h uman o apresenta-se n a qualidade de ato instr um ental, um a vez que entre:\ n~s
ção, por sua vez, interpõem-se entre os p lanos das relações interpessoais (in-
posta da pessoa e o estímulo d o ambiente interpõe-se o n ovo elemento d esign11d1 1
terpsíquicas) e das relações intra pessoais (intra psíquicas), o que significa d ize r:
sign o . O sign o então opera com o um estímulo de segunda ordem que, retroagi ndt 1
instituem-se baseados n o universo d e objetivações humanas d ispo nib ilizadas
sobre as funções psíquicas, transforma suas expressões espo ntâneas em exprcssm·•,
para cada indivíduo po r m eio da mediação de o utros indivíduos, o u seja, po r
pro cessos educativos. volit ivas. As operações que atendem aos estímulos d e segund a ordem confl'H.'Ill
novos atributos às fun ções psiquicas, e por meio d eles o psiquismo human o ;HI
Se, por um lado, o patrimô ni o material e ideal coloca-se co mo p rodu to d a
quire u m funcion amento qualitativamente superio r, mas, todavia, dependl'lll\'
ação humana dado à apropriação, por outro e ao m es mo tempo, represe nta
dos signos disponibili zados. Nas palavras d o a utor:
condição imprescindível ao processo d e t ransformação d e u m ser h o mini zad o-
que d ispõe de certas prop riedades na tu rais filogen eticam ente formad as cm u m
ser human izado, isto é, q ue se transforma por apro pr iação da cu ltura. E' no boj o 1
2 A questão das funções psíquicas elementares e superiores será explorada detidamente no Capltul11
d esse p rocesso q ue o próprio h omem se institui e, consequente rn entc, to<.l ;1s
deste livro.
I (I I h ''" M MAl (llt ,., I AN! li I I ) " AIII IAtH f '(i t\ MI\ I 1111!\(t I j I 'A(i(~ i{ Of~(il ) "' ,,,,, u~ N~Ao 11101, 11 'li ', ' 111 1'IIU\1 ltLII''''tlilVlll IMI 111 u I'UIUUitil

c l c l ll c lll lt' ll l ll l l l j!t'llllllltu~l'il' ~h~ di HJ't•li iiiVtHI t"l l tl!'kiuiH


Nc 1 t' Cl lltpct l'l'illl lt' l ll cl n tlltl l':ll', Sl ' t1do :tss i11 1, t'l'Vl' l ii •HI' lllflll p i 1H I II ~'II t1 Sl l ptllln d lv ld ttll l :1 l'l ' l' t~0 1 11p1 11 ll
d i l lj~ lcl n~ :III d t li1 1Í I\ÍII d ct'l j\ l'l'l) li ' ÍPS jlll tl c•<;~ct'i p·~fljl l !l-ttlt, J\ 11• [lllldiiJII.ttll ll l lhndn CIHI'e OS h o m <.:ns L' ( I'II IIStllll i d.t 1\ k l lliV:IS g<.: I':I~'Üt'S, Otl SL~j:t , I.'X IJ~I.' O t' IISillu.
d Í'l j HlS Ítivos p cH ic• Jil l<.'l'i' i H'I' lclllt Ic t~ l. l jll:,t·lc 'i l .t dc ' I H I III i 11:1
H l l'l' ll ictt, \'SSl'S Foi a an álise do papel d o sig no/ pa lnv m nn fo rmação d a im ag<.: m pslquk:1tJlH:
\':1< 1 l 'OIIVt' JH'Íon:d dt• l·~· rram L' I l l as <ll l in sll l ll lll~ l l t os JISJ('ll lc'>gklls I... ) Os co nd uziu Vigotski (VtGOTSKY, 1996) c m d ireção à in vestigação d a convcrsfw dn
i llHI I'llll1 L' IHos psico lógicos são cr i a~·cH·s ani fk iaiH; t•st r u t u r a l mentl' são pa lavra em ato d e pensamento, isto é, d a elaboração da palavra em su n signlfk:1
dis pus iri vos soc iais e n ão orgânicos o u individu ais; estão d irigid os ao ção. O significad o d a palavra ganho u destaque posto represen tar, pri mci rame nt v,
dnmlni o d os p rocessos próprios nu nlhe ios, ta nto 4uanto a técn ica o está seu traço nuclear - o co nteúdo da palavra, m as igualmente por se im por conH1
pa ra o d o m.íni o d os processos ela natureza [id em , p. 6 5P. gen eralização, isto é, como conceito . Por isso V igotski post u lo u o desenvo lvimcnt'tl
d a fala co mo salto qualitativo decisivo na humanização d o psiq uismo, à n1 cdid a
C o nfo rm e Vigotski, os signos são meios auxiliares para a solução d e tarefas que ela resulta do en trecruzamen to d e pensamento e linguage m , fu nções q ut•
psico lógicas e, ana logamente às ferramentas ou instru mentos técnicos de traba~ em suas o rigen s seguem linhas distintas e ind epend entes de desenvolvimcnt·u.
Iho , exige m adaptação do comportamento a eles, do que resu lta a transformação Por co nseguinte, o desenvolvimento d o pensamen to e da linguagem mantL' Jll
ps lqu ica estrutural que promovem . Com isso , esse estudioso afirmou que o real estreita aliança com o processo d e co mplexificação da palavra.
signi ficado do papel do signo na conduta humana só pode ser encontrado na N o que tange a essa complexificação, Vigotsk i e Luria (VIGOTSKY; Lu JUA,
fun ção instrumental qu e assu me. Por consegu inte, a proposição do ato instru~ 2007) ap o ntaram que, no princípio do desenvolvim ento da fala, a pa lav ra
me n tal como lastro do desenvolvimento do psiquismo humano desdobrou~se apresenta-se como mera extensão d o objeto, o u como representação do "objcl'll
n n co n cepção histórico-cultural d e desenvolvimen to co mo processo m ed iad o e em si" - quando a face fonética4 prepondera sobre a face semântica. Send o assim,
su bjugad o ao ensino. Essa assertiva d em anda d o is destaques. a co m plexificação da palavra pressupõe a transição d e correlações m ais d iretas v
O primeiro refer~se ao conceito de m ediação como uma interposição que pr~ imediatas entre objeto e pa~avra em direção a correlaçõ es m ais gerais e abstratas,
voca transformações e potencializa o ato de trabalh o, d e m an eira qu e o conceito co ndição requ erida ao d esenvolvimento do pensam en to abstrato e função p rv·
vigots kiano de m ediação u ltrapassa a relação aparente entre polos, penetrando na cípua da educação escolar que o tenha como objetivo . Em nosso en tendimento,
esfera d as intervinculações entre as suas propriedades essenciais. Trata~se d e um essa proposição corrobora uma das teses centrais d a pedagogia histórico-crí ticíl:
processo que ocorre em atividades específicas, que, valend o-se d e suas proprit~da­ à edu cação escolar cabe promover a fo rm ação de conceitos, n aquilo q ue apresc n
d es essenciais, permitem aos seus integrantes exercerem entre si uma influên cia tem como "rica totalidade de deter m inacões ' , es numerosas" (MA I~X,
e d e relacõ
recíproca da qual depende a consecução d os o~jetivos d a atividade em pa uta. 1973, p. 2 29). Tais co nceitos foram d enom inad os p or Vigotski co mo verdadeiro.\
Destarte, quem med eia é o signo, seja ele u m instrumento técnico de trabalho conceitos e por Saviani como conceitos clássicos.
o u um con ceito . Todavia, o domínio do signo não resulta espontaneamente da Nessa direção, consid eramos a internalização de signos intermediação e n trv a
simp les relação sujeito~objeto; consequentemente, quem disponibiliza o sign o à psico logia histó rico-cultural e a ped agogia histórico-crítica, uma vez qu e am bas a~-.
a pro priação é o outro ser social que já o domina. teorias colocam a socializacão/transmissão d o universo simbólico c ulturalmen tt·
'
O segundo d estaqu e diz respeito ao fato que V igotski, ao propor os sign os na fo rmado n o centro d e seus enfoques acerca d o d esenvolvimento h uman o. I ~.
q ualidade de "instrumentos" do psiquismo, estava referindo-se ao u n iverso s i m~ igualmente, advogam que a qualidade d os signos disponibilizados à internalizn<;:Hl
bólico pelo qual os o bjetos e fenômen os da realidade co ncreta co nquistam outra e as cond içõ es nas quais ela ocorre não são fato res alheios ao alcance da fo rma~·acl
fo rma de existência: a fo rma d e existência abstrata consubsta nciada n a imagem psíquica co nqu istad a pelos indivíd u os.
s ubjetiva d a realidade objetiva. E a essa imagem, tornada conscien te po r meio
da palavra, compete orientar o compo rtam ento d o sujeito n a referida realidade. 4 Vigorski (V!GOTSKY, 1996) c Lu ria ( 1979) propõem uma d is ti nção entre as faces fonética c Sl'lll,i 11111 , '
Esse universo simbólico, por sua vez, resulta d a atividade co letiva objeti.vada n a da palavra. Para ambo:-., a primeira corresponde à representação do ohjeto sensível, à possihdid ""
de conversão do objcto em expressão sonorn representada em sua denominação . A segunda i1HI111
.. e:>sa face e a su pera, visando à representação simbólica do objeto, à representação da esscncialid.cd,
que sua manifestação fcnomênica ocu lta. Afirmam que es~as face~ não se identificam nem s1 d,
'3 As traduções dos originais em espanhol para a língua portuguesa são de res ponsabilidade da aurora. senvoh-cm linear e paralelamt!ntc.
l t{ LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MAR ILDA G. O. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSIQUICO 19
..
C.:o rn isso , a atividade Ide ensino conquista uma n atureza específica na mas aquelas que requerem e ao mesmo temp o promovem a complexificação
l;11'1llfl de educação escolar, que desponta como um processo a q uem compete das funções psíquicas.
, qu 1rt ltnizar a apropriação dos conhecimentos historicamente sistematizad os - o Ao destacar um tipo de conhecimento a ser transmitido - no caso, os
c'tlltqllL'cimento do universo de significações -, tendo em vista a elevação para conhecimentos universais -, a pedagogia histórico-crítica está colocando em
tlc'·m das significações mais imediatas e aparentes disponibilizadas pela simples questão, concomitantemente, as características da atividade educativa, isto é, a
dialética entre fo rma e conteúdo, que em nada se assemelha a um tipo de ensi,
1 wtlcn~·a cultural dos indivíduos e pelas dimensões meramente empíricas dos
1, tulllH'nos. Há que se reconhecer, portanto, a natureza da educação escolar, seu no verbalista e abstrato. Essa orientação encontra amplo amparo em Vigotski
"hw1n L' fins. Nas palavras de Saviani (2003, p. 13): (VIGOTSKY, 1996, 2001) e em Leontiev (1978a, 1978b), para quem as funções
psíquicas só se desenvolvem no exercício de seu funcionamento por· meio de
o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos ele- ativídacles que as determinem. Isso significa dizer que não existe função alheiá
mentos cultu nlis que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espéc ie ao ato d e funcionar e à maneira pela qual funciona. Eis, portanto, o fundamento
humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitan- da proposição histórico-cultural d é'atividades-guia a sustentarem a periodização
temente, à descoberta da::; formas mais adequacl af' para atingir e~se objetivo. do d esenvolvimento.
O 'grau de complexidade requerido n as ações dos indivíduos e a qualidade
Quanto ao primeiro aspecto (a identificação elos e lementos culturais

das m ediações disponibilizadas para sua execução representam os condicionantes
que precisarn ser assimilados), trata-se de disti.nguir entre o essencial e o
primários de toda periodização do desenvo lvimento psíquico, haja vista que fun,
acidental, o prin cipal e o secundário, o fundamental e o acessório. Aqui
ções complexas não se desenvolvem na base de atividades que não as exijam e as
me pe1rece de grande importância, em pedagogia, a noção de "clássico''.
possib ilitem. Nessa tarefa radica, a nosso juizo, o objetivo maior da transmissão
!... ]O clássico é aquilo que se firmou como fundamental, como essencial.
dos conhecimentos clássicos, historicamen te sistematizados no transcurso de
todos os períodos do desenvolvimento. Trata-se do enriquecimento do universo
A p•:dagogia histórico-crítica, ao prescrever a natureza da educação escolar,
simbólico por meio da apropriação d os s ignos culturais mais elaborados e abs-
''" 11l*•1o e fins, aponta na direção das condições objetivas requeridas ao desen,
tratos. Privar os indivíduos das condições objetivas para esse desenvolvimento
v~_, lv llnt· tHo das ca pacidades humanas mais complexas, na base das quais radicam
significa usurpá-los da formação do pensamento em conceitos, que é, em última
,tk ft lll ~'oL'S psíquicas superiores. Trata-se, portanto, da formação das capacidades
instância, o meio mais adequado de se conhecer efetivamente a realidade.
t~ •qw • ridas :\ inteligibilidade do real, ou, em outras palavras, da formação da
O desenvolvimento do pensamento, por sua vez, requer o estabelecimento
sllhjctiva da realidade objetiva. Por essa razão, o reconhecimento do
l ltl ;IHl' lll
de mediações cada vez mais abstratas entre as impressões concretas advindas
r~:qH · I d11 <:du cação escolar no desenvolvimento dos indivíduos exige a análise
d a captação sensível da realidade. Requer o estabelecimento de relações e ge-
d' 1K,., lll l<.'l'td os veiculados por ela, ou melhor, determina a análise da natureza
nerali zações entre distintos objetos à vista d o ordenamento e sistematização da
d,l.., '' )J\IIvci tnL't'llos a serem transmitidos.
expe ri ência individual e da imagem subjetiva dela res ultante. Portanto, a gênese
A11 privi lcgia r o e nsino dos conhecimentos histo ricamente sistematizados,
desse d esenvo lvimento reside no material disponibilizado pela captação sensorial
d11 M ~~~~~~ 1 a ·r i nwn 1os cláss icos, a pedagogia histórico-crítica faz uma d efesa
c, ao mesmo tempo, na ampliação deste, uma vez que é exatamente a tensão
,d ,,.., dtii :IIIH' Il11.' i\linhada às cond ições requ eridas para o dese nvo lvimento
L' nt rc o co ncreto e o abstrato que impulsiona as operações lógicas do raciocínio.
"""'dntl~ J : d dos s lljL·itos, no que se inclui a formação de um psiquismo apto a
Por('m a tensão entre o empírico e o abstrato não resulta espontaneamente.
lll 'l t' llt'; ll .1 llltH I111·a na bnsl' de operações lógicas do raciocí nio - aná lise, sínte-
Ela prl'risa se r provocada, instigada, dad o que nos permite afirmar a educação
, •• t'tt ntp.ll •'\' H'l'l, J~l' t H' I'IIIi za\' <"H:s L' nhsrraçf)cs - , do autocon1 rol v da ron duta,
do~ t\l.l lllld(IM l'• t·tt'll'l l' l'1>1l' ticnH, l ' lll Slllllil , ílj)l<l ;\ Sll S1t' l\1 1ll 11 11 ti vl tl ,t tl 1• 1~ 11 11)()
l'M o lnt to mo ltllln importnnt~· co t"'di~·fio na gc ra~·ão d essa tensão e o ensino dos
qrddntlt• 1\(l•t l\'tll' llHIIitiVil 1111'1jlri:t 11 !IIli Nl~ l lllll lll\1111 , j)l'fl ' lld t; ! 11111 111 III qttt_; Il M ,.,,IH't llcl!'l t'iet tt llktiH C<lltlll c t· l ; t ~·:HI dv " dt'HC<I Ilfi atl\' n" l'm n· la ~·fin no irn cdiatn~
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1.1 iii'I H11 ' 1 1' 111.111 1 l~ll lf\\1 IH~I:l'HI-t id , td t• flll l'lllliH,~I.' IIf\1' 11111 d 11 llhj,_lllt
• 1 i lllllrll. llt l 'fiHI t' ahHohllllllH'nlt' d e pc nd e nles dn apre ndiznge1n, ta l co mo explicitamos no ite m
l'lt ll l l ~t . illll' l\111 1 l':ld icndoll:l C:lpl i i \':I OSl' ll l-t fVt' l, lllll!ill l l t111 ftrtt'i'ild 1 ii"IIHII'i1.•h IIII ,111 1
1
a n t c rio r d esle ca p ftu lo.
11 j11, 111'1\d n cf t1lu t'<liiH'\'11 l!ll liiH.iu o con h ~o•cit i H' Illtl "'l' II MIII' Ird 11'\'t' lll •h• lnHIIIItl t• tll t• A tese central defendida p or Vigotski consiste em que a lei fundamental d o
11 11 ,\I vnd i nwnt o nos motivos da at ividade. desenvolvimento humano, o que m ove o seu curso , radica nas contradições que
l\ 11' tt m:-;t·guinte, se m e nsino sólid o o pe n:-;:tllH.'tHo n:\0 :d\·a SL' lls patamares são instaladas entre processos biológicos e culturais. Tais contradições, por sua
111 11 1 ~ t'lllllpkxos e abstrntos, deixando de corroborar a tormação de uma amp la vez, são instaladas, isto é, provocadas pela vida social conforme a apropriação
tll ll ~cit\ 11 C i u , posto que seu desenvo lvimen to é cultural, históri.co e socialmente dos signos da cultura. Vale observar, n esse enfoque, a concepção dialética d e
n•11d 11 iu nad o. A consciência supera, por incorporação, as bases elementares e desenvolvimento apresentada pelo autor, uma vez que sendo processo o desenvol~
I'HIT\ 11'\II':d s do psiquismo - inclusive as orgânicas - , e o núcleo d essa superação vimento é movimento, e, com o todo movimento, encerra contradições intern as
t•nd Íl'll 1111 l'orrnnção de conceitos, que sintetiza ern suas diferentes formas o movi~ que o move m. Esse preceito metodológico assume importância ímpar para a
1111'1\ llli.'Volutivo d o pen samento. A formação de conceitos, por sua vez, atravessa análise da periodização do desenvolvimento evidenciando, primeiramente, que o .
t' H 111:-. 11s pe ríod os do d esenvolvimento, e isso evidencia, mais uma vez, o papel desenvolvimento não resulta n em do polo suj eito n em d o polo objeto (condições
, l:t l.~ dll c:l \';w escolar com bebês, crianças, jovens e adultos. sociais de vida), mas da natureza e da qualidade das mediações interpostas entre
ambos. Por con seguinte, os dispositivos b iológicos naturais - "localizados" no
polo sujeito, a exem p lo da idade cronológica -não são os parâmetros reais que
PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL e PeDAGOGIA b alizam a evolução/transformação dos p eríodos experienciados p elos indivíduos.
HISTÓRICO-CRÍTICA: UM eNCONTRO ACeRCA DA FORMAÇÃO DOS Apreendendo a inserção social em toda a sua abrangência, poderíamos supor

''V€ RDADeiROS" CONCeiTOS que tais contradições resultam da m era inserção social do suj eito, ou que quais-
quer aprendizagens promovem igualmente o desenvolvimento. Todavia, segund o
11s p~.·rn mos ter conseguido apontar que a afirmação da natureza social do de~ Vigotski (VIGOTSKY, 1995), os conteúdos disponibilizados à apropriação encerram
t'll\'tl lvi me nto humano confere à aprendizagem e ao ensino um lugar de destaque aspectos qu alitat ivamente distintos, de sorte que nem toda aprendizagem é, de
t111 1t11 n a ps icologia histórico-cultural quanto na pedagogia histórico~crítica, q ue fato, desenvolvente. Por conseguinte, a seleção de conteúd os e a forma organiza-
ti' II I 11 11 an álise das relacões entre ensino e desenvolvimento humano um de seus
' tiva pelos quais a aprendizagem ocorre, para a psicologia histórico~cultural, não
111.11-. r aros te mas. No âmb ito da psicologia, Vigotski dedicou~se rigorosamente são fatores que p ossam ser secundarizad os. Da m esma maneira, para a pedagogia
tt n l'~t ud o da relação entre e nsino e desenvolvimento, e um de seus grand es histórico~crítica, h á que se identificar n o ato educativo sob quais condições a
rn (: I'Jt os fo i a inversão d a ordem d e condicionabiiidade entre tais processos. Se o ap rendizagem opera, deveras, a serviço d o d esenvolvimento dos indivíduos.
,. lt~M' t \Vo l vimento fora tomado p ela psicologia tradicional com o condição para o Em total consonância com o preceito vigotskiano, segundo o qual nem toda
l' ll " l l lll,essa relação se inverte a partir das dem onstrações desse autor. aprendizagem pro m ove, de fato, desenvolvimento, Saviani (2008) afirma que é
A< 1 afi r mar o papel dos signos n a transformação qualitativa do psiquis~ a partir do planejamento intencional de forma e conteúdo, ele ações didáticas e
11111, IH.' tn co mo ao afirmar que os signos precisam ser transmitidos, Vigotski saberes historicamen te sistematizados que a educação escolar se diferencia quali~
(V Il •l I I~KY, 1995) apresentou o ensino como condição primária e fundante do tativam ente das demais formas de educação informais, assistemáticas e cotidianas.
d•·M' IIvolvimento, propondo que entre ensino e desenvolvimento se instala uma Para esse autor, a relevância dos conteúd os representa o traço nuclear da educação
,, · l n~ ilo d e interdependência e reciprocidad e, explicável à luz d o preceito lógico~ escolar, posto qu e os conteúdos prescrevem as formas e elas r equisitam, ou não,
tll.dt: t ico d a dinâmica entre" quantidade e qualidade" . A "quantidade" de apren~ d eterminados graus de complexidade psíquica.
, lilllgl·ns pro movidas pelo ensino qualifica o desenvolvimento, à mesma medida No que tange à importância da transmissão d os conhecimentos científicos,
qtlt~ :1 "quantid ade" de desenvolvimento
.
alcancado
'
qualifica as possibilidades d os conhecimentos clássicos, advogada pela pedagogia histórico~crítica, considera~
pn 1'; 1 <1 e nsino. O estofo dessa ideia reside na distinção entre formas naturais e mos necessário reiterar a propriedade da propagação d e tais saberes em todos os •
l 'l llllli t ivas de comportamento e as formas instrumen tais, produzidas na história níveis de ensino. Essa observação se justifica, pois, não raro, equivocadamente se
I,


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I i,,I~IA M MAl' lfN' I Atllll"l,(l A AI_H(i\N li oU&MAHII:UA (~ lJ j '/\{;(.! {lJI(tj) PI I 10111 AÇ'AO ItiOTllf~ICO cI 11 I llflAl f10 OUJL I!VlllVIMUHO I''\IIJI ur.o
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pn 1p.d ,, t1 i 1111 H 1ss i hi Iid:1 dv dl 1v n s i no dt ' cu n t L' údl ls ci l' t' t Il'icos 1 n ill 1n 111 d Llllltt. - e .,;t11 ; t i"Si miL~tl ,.:; ,,·, n,_ nlt~tdt_ tr;, 11 H'' lll~r:t li z:tt·:"i,, d:w IIIIH: ItP•\tll _',.. 11h t idttll 11\ 1

Cl ll )sL'll lll' n t t' nH.' n t L' a i m pt )SS i I) i I idade d e nd eq uaç<H) da pedagogia hist ú ri Cl )•C l'lt ic a l'Si tld ll dtlS CIHlii' III H; llttidi.ttlll!'i :lll C:t lllj lll do::- t:ll i\ Cei lt tS t" I 1~ 111Íf i1ti

para todas as faixas etárias. Há que se reconhecer que desse mal padeceu (e de rar<.'l'l' d t: k g i ti 111 idadv .
certa forma ainda padece) a educação infantil, co ncebida como momento no
qual pouco ou nada há para se "ensinar"- do ponto de vista dos conhecimentos A hipótese anunciada por Vigotski, pela qual realizou suas i nvestig:l\'tw."' nl't'l' 11
clássicos, sobretudo em se us anos iniciais. da formação de conceitos, propunha que o ensino promove o d cscnvo lvlttH' III I i
Urge explicitar, então, que o planejamento pedagógico fundamentado nessa e que o ensino ele conceitos científicos - dos "autênticos" e "verdntki rns" c. IIII
teoria pedagógica assenta,se na tríade forma-conteúdo-destinatário, ele sorte que ceitas- supera qualitativamente o ensino centrado em conceitos cotidian o ..... I\ 11
nenhum desses elementos, esvaziados das conexões que os vinculam, podem essa via, esse autor dedico u,se ao estudo das expressões da relação entrl' c.:nsi tHt 1'
de fato orientar o ato de ensinar. Note,se, porém, que a ênfase aqui conferi.da ass imilação de conhecimentos na construção da imagem subjetiva da rt·alidndt•
ao "destinatário" não se identifica com o reconhecimento do aluno empírico, objetiva, tendo em vista, sobretudo, demonstrar o papel da formação de conl vl t nfl
apreendido por quaisquer especificidades ou características aparentes, mas co m na edificacão

da consciência .
a afirmação da natureza social dessas características. Isso significa dizer que o Seus estudos demonstraram que os conceitos não são assimilados de lot111 n
aluno é entendido, nessa perspectiva, como alguém que sintetiza, a cada período acabada, isto é, como um conjunto de conexões associativas qu e se assi1n dn
da vida, a história das apropriações que lhes foram legadas. por meio da memória. O processo de desenvolvimento de conceitos, afirnHllt
A defesa do ensino de conhecimentos científicos, não cotidianos, foi igual, Vigotski, exige e articula,se a uma série de funções, a exemplo da pe rccpçiio Hl 11

mente proposta por Vigotski (VIGOTSKY, 2001), para quem a formação de con ceitos rada, d a atenção voluntária, da memória lógica, da comparação, general iz:l\ ·11 1,
reorganiza todas as funções psí.quicas requalificando o sistema formado por elas, abstração etc. Por isso, diante de processos tão complexos, não pode ser simpl t ,,
na base elo qual a imagem subjetiva da realidade objetiva se edifica. Conforme o o processo de instrução escolar que vise d e fato a esse desenvolvimento. Nl't...-;:1

autor, ao requalificar as funções psíquicas, a aprendizagem escolar cumpre uma direção, alertou que o professor, ao assumir o caminho da simplificnçan d11
de suas principais funções - incidir na personalidade dos indivíduos, o que • ensino, não conseguirá nada além de assim ilação de palavras, culminando c.·tll
significa dizer, em sua maneira d e ser e operar n o mundo. Em relação ao ensino um verbalismo que meramente simula a internalização de conceitos. Essl' sc J'íl,
de conceitos científicos, Vigotski (idem, p. 181, grifo nosso) afirmou: então, um tipo de aprendizagem circunstancial e transitório que n ão proiiH'"'
desenvolvimento .
A questào do desen\'oh-imento dos conceitos científicos na idade escolar Ao explicitar o processo de formação de conceitos Vigotski (idem) dcmonst n 1' t
.
é, antes d e tudo, uma questão prútíca dt: enorme importância, que p~)de experimentalmente que os conceitos científicos n ão se desenvolvem da nwstlllt

- ser primordial do pomo de vista das tareias que se propôe a escola ao forma que os conceitos cotidianos, ou seja, que o curso do desenvolvimento dt1
ensinar à criança o sisterna de conhecitnento:-. c il~nrífico~. Sem dúddn, primeiros não repete o dos segundos. Contrapondo,se à tendência, consid~· ~ adn
o que sabemos sobre essa questão surpreend e por sua esc.:assez. Tem, por ele hegemônica em se u tempo, e ainda hoje prevalente, avaliou corno 11111
ademais, um significado teóricn muito importante, uma ve:: que a im•es, grande equívoco considerar,se que:
tiga~~ão do desenvolvirnento dos conceitos cknr:ificos, quer dizer, dos conceitos
autênricos, wrdadeirm, pode nos permitir descohrir as regularidades mais o desenvolvimento dos conceitos científicos na mente da crian1;:' !flll

profundas, mais funJamentais de qualquer processo de formação dos recebe instrução escolar n.ào se difere?. esst:nciaLmente do desen<t:oh·imeltl 11 do
conce itos em geral. E o surpree ndente é que esse problema, no qual demais conceitos que se formam durante o processo da própria CXIWrlt'l"- in
está contida a chave de toda história do desenvolvimento intelectual da criança, e que, portanto, não procede diferenciar ambos os pnH. t:->S\ 1

da cr iança e a partir do qu al deveria in iciar a investiga ção do d esc n.- D esse ponto ele vista, o processo de desenvolvirnento dos con ceirn~ ' ll ' l'

volvimento do pensamento infantil, tem s ido muito pouco estudado tíficos simplesmente repete o dese nvolvimento dos conceitos cotidi:tll tt
até agora !...] Os conceitos científicos também se desenvolvem e não em seus traços fundamentais e mais importantes lidem, p. 1881.
LIGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MAR ILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PS[QUICO 25
)•I

criança. Contudo, não podemos perder de vista o alerta de Vigotski em relação


Para esse autor, os conceitos científicos formam~se na tensão problematiza~
5 aos mecanismos psicofísicos e a estrutura da atividade pelos quais os conceitos
t lt 1ra de uma vasta gama de atividades que colocam o pensamento em curso.
espontâneos e científicos formam~se, posto não serem os mesmos. Esperar que
I b I que o ensino de conceitos científicos não possa ser concebido como ações
i:.nladas, casuais no processo didático, mas corno expressão do próprio processo haja um salto de generalização espontâneo dos primeiros para os segundos repre~
tlv desenvolvimento psíquico da criança articulado ao processo de transmissão senta uma negligência em face das possibilidades reais de formação de quaisquer
dl· conhecimentos. Por isso a imensa importância dos conhecimentos objetivos operações psíquicas complexas. Consequentemente, o ensino dos conceitos
:trv rca da periodização do desenvolvimento psíquico para o planejamento de científicos difere~se radicalmente do ensino calcado em conceitos espontâneos,
l' nsino. Ademais, Vigotski alertou que a fronteira que separa a formação de engendrando transformações nas atitudes do sujeito em face do objeto, uma·
ro nceitos espontâneos e a formação dos conceitos científicos é extremamente vez que, em última instância, os conceitos científicos são mediados por outros
tl' nue e lábil, possibilitando que ambos se atravessem e se interpenetrem muitas conceitos em um sistema de conexões internas que apresenta o objeto ao pensa~ ·
vvzl'S. Assim, o desenvolvimento dos conceitos científicos e cotidianos conflui mento de forma cada vez mais multilateral e profunda.
l: lll um mesmo e único processo - o de formação de conceitos, que se realiza em Tais considerações de VigotsK1 assumem uma importância ímpar para a
li i 1(.• rentes circunstâncias externas e internas. educação escolar, na medida em que demonstram claramente o grau de de~
Com base nesses pressupostos, consideramos que a formação de conceitos pendêrtcia do desenvolvimento psíquico em relação à formação de conceitos
:t sst• nta~se numa ~elação tripartida e sistêmica, formada pelos conceitos espontâ~ •
científicos. Igualmente, colocam em destaque as diferenças qualitativas entre
lll'OS (senso comum), por seus objetos (fenômenos aos quais se referem) e pelos o ensino orientado por conceitos espontâneos e o ensino que visa à formação
n 1nceitos científicos (conhecimento objetivo acerca dos mesmos fenômenos aos de conceitos científicos. Não sem razão, ternos afirmado que os princípios que
qunis se referem os conceitos espontâneos). Essa relação tripartida atende a um sustentam a pedagogia histórico~crítica são aqueles que de fato compatibilizam~se
tmlenamento que situa os conceitos espontâneos entre os conceitos científicos e com os preceitos da psicologia histórico~cultural não apenas em razão do estofo
Hl'tts objetos. Portanto, caberá ao ensino confrontar, isto é, pôr "frente a frente" filosófico comum, mas, sobretudo, pela defesa intransigente de uma educação
ns conceitos espontâneos por meio dos conceitos científicos, ampliando a deco- escolar que prime pelo ensino de conceitos científicos, sem o qual, como exposto,
d i l'icação abstrata do objeto (que é o mes1no para ambos os tipos de conceitos, a capacidade para pensar dos indiví.duos resultará comprometida. Trata~se, pois,
1H 1sto representar a realidade concreta a que se visa conhecer), e, com isso, trans~ da afirmacão da escola como:
'
lutma r continuamente o sistema consubstanciado na referida tríade! Destarte,
pn·tL't1demos demonstrar a impropriedade psicológica e a inconsistência dos uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado.
:ttWttncntos para os quais o ensino de conceitos científicos ocorre em detrimen~ Vejam bem: eu disse sistematizado; não se trata, pois, de qualquer tipo
to dos conhecimentos espontâneos e de senso comum. Isso é impossível num de saber. Portanto, a escola diz respeito ao conhecimento elaborado e
pron~sso sólido de ensino. não ao conhecimento espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber
( :onscquentemente, tanto a psicologia histórico-cultural quanto a pedagogia fragmentado; à cultura erudita e não à cultura popular. Em suma, a escola
ld :-; tt'lrico~c ríti ca apontam para a propriedade do ensino calcado em conceitos tem a ver com o problema da ci.ência. Com efeito, ciência é exatamente
dt• 11t l(kos desde a educação infantil, para a raiz do qual a instrução escolar saber metódico, sistematizado [SAVIANI, 2003, p. 14].
pndvn\ co ndu zir, sistematicamente, o curso de formação do psiquismo da
Por conseguinte, há que se afirmar a escola como Locus privilegiado para a
- ~ A, lniiUil dt•Mtl' nlpltulo, l'OnlcrlmoK dcstl1qllc n função pslquica do pensnnwllt'tl , Contudo, isso
vll\H "cognltlvi1Ha" 011 "rndonnllsrn", po:;ro l\111' 111:111 11 pHicolngin
t'l'l\tl Htn ls:.;fio dnqu i lo qu e real men te promove o desenvolvimento, cientes de que o
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'{, LIGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 27
..
c11 j< 1 (u ndamento, do ponto de vista psicológico, radica na formação dos proces, é um.a leitura equivocada aquela que con.si.d era que a atividacle educativa
u, I'• hrn cionais superiores e, sobretudo, naquilo que conduz ao autocontrole d a parte da prática social no sentido ele que os educandos se encontram
,.,,IHiuta. Pretender a formação de alunos "críticos", "participativos", "cidadãos" atuando na prática social e diante dos problemas enfrentados (entenda-
•te, na ausência do ensino de conteúdos sólidos, desenvolventes, parece~nos um -se aqui os problemas em s ua acepção própria, isto é, algo que precisa
tdeal fa laz que precisa ser desvelado. se r resolvido) eles saem da prática e iniciam a atividade educativa para
realizar os estudos necessários para compreend ê-la após o que, uma vez
• tendo mna nova compreensão, voltarn à prática para desenvolvê-la com
PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL e PeDAGOGIA uma nova qualidade. Na verdade, sen.do a educação uma modalidade da
HISTÓRICO-cRÍTICA: UM eNCONTRO ACeRCA DA ORGANIZAÇÃO p rópria prática social, nunca se sai dela. Assim, os educandos permanecem
DO eNSINO na condição de agentes da prática que, pela mediação da educação, logram -
a lterar a qualidade de sua
. prática tornando-a mais consistente, coerente
/\( > longo da exposição precedente, advogamos que o ensino escolar incide
<lt·l·is lvamente na formação do psiquismo humano. Trata,se, pois, de destacar a
e eficaz cm relacão
'
ao ObJ'etívo de transformacão da sociedade n.a luta .
con.tra a dasse dominante que atua visando à perpetuação d essa form a
t'"ll'n lari znção como um processo histórico,social cujo alcance na vida das pessoas
. • soc ial. Trata-se, enfim, de um mesmo e indiviso processo que se d esdobra
1tlt mpassa cm muito a unilateralidade das esferas referentes à preparação ocupa,
em seus momentos constitutivos . Não se trata de uma sequência lógica
1lllllid futura das crianças e jovens e/ou qualificação ocupacional de adultos. O •
ou cronológica; é uma sequência dialética. Portanto, não se age primeiro,
qlll' ... v impõe de modo central na educação escolar assim concebida é a necessá~
depois se reflete e se estuda, em seguida se reorganiza a ação para, por
l'la lut:l pela formação omnilateral dos indivíduos, haja vista que essa formação
fim, agi r novamente. Tram-se de um processo em q ue esses elementos se
r;c itnpoe co mo uma das condições para que eles, de fato, construam,se como
interpenetram desenroland o o fio da existênc ia hurnana na sua totalidaJc
11 t1jeitns históricos, aptos à superação das condições de exploração do homem
[SrWIANl, 2015, p. 38-39) .
1H 1<1 prú prio homem.
Proru ramos indicar também que não é qualquer trabalho pedagógico que
Recorremos a essa citação para explicitar que os momentos do método em
lll'tl' lll a o d esenvolvimento das pessoas em direção de seu máximo desenvolvi~
Saviani fu nda mentam~se no m étodo marxiano de construção do conhecimento,
tiH'.nlo. E, igua lmente, que um processo deveras formativo ocorre no transcurso
1 l1· 11m longo processo, no qual a escolarização orienta a edificação das funções a pressupor a captação empírica e sincrética da realidade como ponto de parti~

pMiqt li r:ls superiores e elas, conco mitantemente, sustentam de forma cada vez da, as mediações abstratas do pensamento como possibilidades para superação
ltlnis ampla c rica o próprio processo de escolarização. A prática pedagógica d essa condição, tendo em vista a apreensão concreta da realidade como síntese
('tl llll\l'l't'IH.l ida d essa mane ira assenta,se na articulação interna entre condições d e múltiplas determinações ou como "rica totalidade de determinações e de
11l ljl' l ivas de c nsl no c co ndi ções subjetivas de aprendizagem expressas n os distintos relações num erosas" (MARx, 1973, p . 229).

pt 1lndns da vid a. Alu z d essas considerações, reportamo~nos à análise que empreendemos em


s~tv ian i ( 1984), no s istematizar o m é todo de e nsino próprio à pedagogia n utro traba lho (MARTINS, 2013) em relação aos referidos momentos e suas articu,
lli HI<'II·in>·rrltirn, nprescnt<HlOS os ele mentos ce ntrais para a imple mentação d a I:I<;O(.!s co rTl a din â mica entre ap rendizagem e ensino. Frise,se que os momentos
l<' lt•t ld :t pr:'tt lt':1 pedag('>gica, dinleti cam e ntc orie ntada para a forrnação c tran s, l'X pli<:it'ndos por Saviani referem·-se à organização lógica do ensino e só podem
lttl'tll ll\'1 1<1 dns honwns e dv sun s cin: un st·f1ncias históri cas d e vida. Nf\o obstantl' t•x prcssn r-s v no nt·o d e ens inar co mo momentos distintos, mas interiores uns aos
'' 11111< 11 tt'l' n 1W111iz: td n a t•x posi~·no dc:ssv mt'· todo c inco 11\0 illl'llt os · pr:\t ir:~
l' lll 'H tlrns. Tmt :I•H<.' <.k · co n1prcc nd c r a prática social, quer no ponto de partida, quer
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2X LIGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PS[QUICO 29

O primeiro momento proposto por Saviani (1984) corresponde à afirmação respondente aos objetos do conhecimento. As relações inicialmente estabelecidas
da prática social como ponto de partida do trabalho pedagógico. Nesse âmbito, ocorrem nos limites da captação sensível e circunscritas às próprias experiências
professor e aluno apresentam~se como agentes sociais distintos, representando do aprendiz, uma vez que a captação do real, na ausência de mediações cada vez
lliferenten1ente a prática social que lhes é comum na qualidade de lastro do ser mais abstratas, subjuga~se à apreensão do objeto em suas manifestações fenomê~
social. De acordo com o autor, nesse momento a compreensão do professor em nicas. Assim, a escolarização impõe~se como uma das condições decisivas para
relação à referida prática pode ser denominada de "síntese precária", enquanto o desenvolvimento da capacidade de abstração, na ausência da qual os sujeitos
a do aluno é "sincrética". permanecem reféns do sincretismo, sustentando suas ações pelas aparências dos
Em relação ao professor, a prática social será sintética conforme os domínios fenômenos e não por aquilo que eles de fato são.
d e que disponha acerca dessa prática, mas é precária na medida em que, do ponto Verifica~se, pois, que a aprendizagem é um processo dinâmico e necessaria~
de partida, desconhece a parcela da realidade que irá dispor como seus alunos. mente mediado, cujo fator propulsor assenta~se nas apropriações efetivadas pelo
( )bserve-se que a dimensão sintética resulta dos conhecimentos disponibilizados sujeito que aprende. Nessa condição, depende completamente da qualidade do
~"
ao docente, fundamentalmente por sua formação acadêmica, acerca das condições universo simbólico disponibilizado e, igualmente, das formas pelas quais sua
so ciais objetivas que, em última instância, pautam seu trabalho. Assim, quanto transmissão se realiza. Embora esse percurso lógico se revele mais explicitamente
maior a fragilidade dessa formação, maior o embotamento da síntese a favor da nos períodos iniciais de vida, cabe observar que ele não é aí circunscrito. Ou
precariedade, que deixa de referir-se apenas à "parcela da realidade que irá dispor • seja, o que está em questão não é o período ou a idade do aprendiz, mas como

como seus alunos", passando a expressar~se corno precariedade na compreensão se aprende.
acerca da própria realidade. Já o percurso lógico do ensino carece ocorrer do abstrato para o concreto,
No que diz respeito ao aluno, a prática social é sincrética tendo em vista que, do geral para o particular, da síntese como possibilidade para a superação da
1ambém do ponto de partida, inexistem para ele articulações entre a experiência síncrese, do não cotidiano para o cotidiano, dos conceitos científicos a serem
escolar produzida pela prática pedagógica e suas experiências sociais para além confrontados com os conceitos espontâneos. Logo, esse percurso revela~se "de
dela. Nessa direção, o educando ainda não dispõe de elementos que lhe possibi~ cima para baixo". Consequentemente, o ensino só pode sustentar~se como obje~
Iitem a identificacão
'
das articulacões
'
entre a sua escolarizacão e a decodificacão ) )
tivação de apropriações já realizadas por quem ensina. Nesse sentido, o percurso
n mcreta do real. Tais articulações, por sua vez, impõem-se como objetivos da lógico do ensino não pode reproduzir o percurso lógico da aprendizagem, pois
pró pria prática pedagógica, o que as coloca na decisiva dependência da qualidade se assim o for não gerará as contradições necessárias à transformação do sistema
1·om a qual ela se realiza. representado pela tríade conceitos científicos, conceitos espontâneos e seus
Ao estabelecermos relações nesse momento - prática social e os processos objetos. A nosso juízo, ter a prática social como ponto de partida do trabalho
1k' ap rendizagem e ensino -, destacamos que aluno e professor apresentam-se pedagógico significa afirmar que professores e alunos são igualmente partícipes
twla como agentes sociais distintos, conduzindo suas ações por percursos lógi~ dela, mas não orientam suas ações pela mesma perspectiva.
~· ns c co nteúdos simbólicos diferentes e necessariamente contraditórios. O que O segundo momento, problematização, nas palavras de seu autor "compreen-
Hignifica dizer: entre o curso lógico do ensino e a lógica interna dos processos d e os principais problemas identificados pela prática social" (SAYIANI, 1984, p. 74),
pHfq uicos do aluno não existe correspondência absoluta. te nd o em vista identificar condições e elementos que visem a sua resolução e,
O percurso lógico da aprendizagem segue uma linha de desenvolvimento que po r conseguinte, quais conh ecimentos colocam~se a seu favor. Entendemos que
~·~tminha do concreto (sensorial, empírico) para o abstrato, do particular para o cRsc segund o passo, d en ominado problematização, também tem um caráter
~wnd , do cotidiano para o não cotidiano, dos conhecimentos de senso comum hast·nlll <.' <Ul1plo <..' n ão gunrda co rrespond ência direta com procedimentos qu e
p11m os co nheci llll'ntos mais elaborados e complexos. Esse percurso revela~se "de in :; tl )!t~t· m 0 11 prohkmntiz<.' tn nqtlil o que ven hn n Hl' r ens inad o pelo professo r
1Htl xn pnra ci tl\ 11 11 • ~i11h 111 iH condi ções, é compreensível que o pensamento res ul te 11 HVli H :tltlltUH. ' i't'II( II IW 1 l lliii'()HH ill\ 1 d11 ld vll(i/'ic:l\'fln doH prohlt•mns impoHtoH :1
llll~ · luln~t·J\11' Ml tH '' t:l r u, d t•Htll't l,ln lld o, e npvmtH grndnt ivtlllll' tlll' ca minlw 1' 1\1 p r 1tl l1·1t t•t lli C'II II VII, 1111 ll id utii Hl d11 pttdt•HH1il'1 1'1 viHI II dtlH l' ll t' lllldlth lllllt ' lt(I IH tl t•
dl n•','no 1111 t•ll tll l 11 In i liwn1p ,1~ ,,.,,"·'' H''~ ' IIII ' vl•a.,,, ' tl'd 1' 11111 11 '''"'H'·
111 til I hJ,.t Iv11 ' '' ' 111111 11 l 111hll h't 1 l ti l't'!il~dii11 11HI
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PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 31
LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG .)
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transformação social" (idem , p. 7 5). A catarse, correspondendo aos resultad os


Ancoramos essa interpretação acerca do m o mento pro blematização n a
que tornam possível afirmar qu e h o uve aprendizagem, produz, com o diria
concepção d e "problema" presente em pro posições de Saviani (2000) e Ko pnin
Vigotski (VIGOTSKY, 1995), rearranjos nos processos psíquicos n a base dos
(1978), que, em seu sentido filosófi co, não se identifica com o significado usual e
quais se instituem os compo rtamentos complexos, culturalmente fo rmados.
de senso comum que lhe é atribuído. O problema, filosoficamente, compreende
A catarse implica rupturas e saltos qualitativos - gera transformações!
as demandas necessárias à existência de determinado fenômeno e qu e impul-
Trata-se, então, da efetivação da intencionalidade educativa co ndensada na
sionam à ação tendo em vista o seu atendimento. O problema aponta, então,
conquista por parte de cada aluno singular "da humanidade produzida pelo con-
aquilo que ainda não existe, mas que precisa existir. A nosso juízo, do ponto de
junto dos homens", dado que se desdobra no quinto momento metodológico,
vista da pedagogia histórico-crítica e da psicologia histórico-cultural, no cerne
n saber: a prática social no ponto de chegada. Segundo Saviani (1984, p. 76):
da problematização reside a definição de qua is sejam os objetivos educacio nais
pretendidos e quais ações se fazem necessárias para a sua consecução.
a p rática social refe rida no ponto de partida (primeiro passo) e n o ponto
O terceiro momento, den o minad o instrumentalização, diz respeito à apro- ,
de chegada (quinto passo) é e não é a mesma. E a mesm a. uma vez qu e
priação dos instrumentos teóricos e práticos requeridos aos encaminhamentos
é ela próp ria qu e constitui ao mesmo tempo o s uporte e o con texto , o
dos problemas identificados. Trata-se do m o mento no qual se destaca, por um
p ressuposto e o alvo, o fund amento e a finalidade da prática pedagógica.
lado, o acervo de apro priações d e qu e d ispõe o professor para objetivar no ato
E não é a mesma, se considerarmos que o modo d e nos situ armos em seu
de ensinar, isto é, dos objetivos, da seleção de conteúdos e procedimentos de
interior se alterou qualitativamen te pela ação pedagógica; e já q ue somos,
ensino, d os recursos didáticos q ue lan çará mão etc. Po r o utro lado, das apro-
e nqu anto age n tes sociais, elem entos objetivamente co nstitu tivos da prática
priações a serem realizadas pelos alunos do acervo cultural indispen sável a sua
social é lícito con cluir que a própria prática se alterou q ualitativam ente.
formação escolar e que lhes permitam superar a "síncrese" em direção à "síntese".

Conforme indicado por Saviani (1984), n ão se trata de um momento d~ cunho
C onsideramos que a prática social como ponto de chegada tem também
tecnicista, mas sim que visa transmitir às novas gerações o saber historicap.1en te
11111 caráter processual e se anuncia como intencionalidade desde o ponto de
s istematizado, possibilitando à edu cação escolar desempenhar sua função social.
pn1·t ida do trabalho pedagógico e, assim, carece estar sob o domínio do professor
O domínio do conhecimento científico a ser transmitido e os conceitos
'''' condição d e projeto a se realizar. Portanto, a prática social qualitativam ente
que se pretende ensinar são ferram entas imprescindíveis para que o professor
ttpt· ri or, representativa do po nto de chegada, assim o será conforme a co ncrcti-
o pere com e por meio delas de maneira prática, sintonizada, se for o caso, para a
,, ~'nn do projeto d e ensino, no processo de intersecção entre o percurso do aluno
concreticidade e empiria do pensamento infantil sem, contudo, deixar aprisio nar-
{tq >tl' IKiizagem) e o percurso do professor (ensino). Sob tais co ndições, n as quais
-se po r elas. Para tanto, ele precisa ter superado o sincretism o de seu própr io
11 ptnfesso r "cede de empréstimo" ao aluno aquilo que já con q uistou- quer n o
pensamento, precisa dispor de objetivações a serem apropriadas pelo aluno,
11111 di z res peito a processos funcionais superiores, quer a co nhecimentos siste-
cri ar tensões problematizadoras que impulsio nem transfo rmações psíquicas, e
• tHtll t:td o s -, o ato de ensina r realizar-se-á como uma interposição que provoca
tud o isso porque entre iguais o u q uase iguais não se instalam co ntradições qu e
llll ll'• l(nTt"' ações, o u seja, operará como mediação no desenvolvimento do aluno.
movam o desenvolvimento. Essas são, a n osso ver, as reais condições para qu e
i\ " ,.,lltsegu in te, pro moverá a catarse e conduzirá avanços na prática social dos
professor e aluno apresentem-se, desde o ponto de partida, como "agentes sociais
11, 11lvi d<>s.
di fe renciados" (idem, p . 73). Dessa m aneira, a instrumentalização do traba lho
t~t'HHll dirl\'flo, :dc:ln<;nr uma prática social qualitativamente superior demanda
ped agógico press upõe l\S co ndições teó ri co-metodológicas pn rn n o pl' rnc io nnl i·
I rt I l lllt t ' l'l' I' q ll l!:
zn ~·rto do '\lu pio tr~ n s ito" requ e rid o :1 0 bom ens ino : do :1h :1 l l'll li 1 IH 1 t' O IH' I'l' t n
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U®\~tMAI~IINO, ANCKtO/\,AOilANTOO &MAI~Il UA 1• I! I Pf 1UIODI?J\Çl\0 III:JiÔW ULlUIMt~ 1)0 I)[SLNVOLVIMCNTO PGIOUICO ~~

l~ulad:tt!Willl', Hl' ll fltl )1111 lllt~Ítl dn-. 111 '\IIS ~~ ll'I.H,Pl''o qttl •I~ lllllllih't llllil 1"111 Co n f'o rm e dispost·o po r Vil{ots k i, o d esenvo lvi mc nto humano reve la~se
t !i t tll ll lit' :t dttt d l,lt'l tl 1 VIII 1-it' U dt~Hl' IIVtl i Vi ll H' I\( 11 VÍ IH tll :td tl i i llll l1111 11,'"1 1111111'
como entrelaçarne a1.to de dois polos: o biológico e o cultural, demandando,
da l'l':d id :td l'. () vl11 n rl o in tL· rn o d as coisas se desro hrt• n>lll :1 it/lldil dtt
por conseguinte, uma compreensão dialética sobre ambos. Uma compreensão
pt'r\H:t llll'IHo por l'tllh.'t.' Ítos, jú que dahurar um conceito sobre a lgtllt\ t>IJ.It'lll
dialéti ca6 , po r sua vez, realiza~se à luz de princípios orientadores da captação do
signit'it:t dl·scohrir uma série de nexos e relações do objeto dado corn toda real, entre os quais se destacam: o princípio de totalidade, do movimento e da
a realidade, significa incluí~lo no complexo sistema de fenômenos que o
contradição - na ausência da qual não há movimento! Por essa perspectiva, cada
sustenta [ Vrt;OTSKY, 1996, p . 79].
período representa a superação por incorporação do período precedente, ou,
como temos veiculado: cada período nasce de "dentro da barriga" do anterior!
( :u m esse excerto representativo da psicologia histórico~cultural aliado Todavia, a superação por incorporação é processo mediado, dependente de
illlS rn ll me ntos d o método pedagógico histórico~crítico, conduzimo~nos à fi~ interposições que a gere e oriente, e a educação escolar é, na sociedade moderna,
11il l izn~·~~o d este capítulo afirmando a organização do ensino como m ediação uma interposição inalienável desse processo. Mas para que ela realize su a função
Ílnpn· tt•rfvcl para a transformação de cada perío do do desenvolvimento em precípua, o trabalho pedagógico destinado às crianças, aos jovens, enfim, a todas ·
11nt pníodo n ovo , engendrado pelas inúmeras rupturas e saltos qualitativos as pessoas, precisa levar em conta que o observável, o manifesto e visível a cada
qtlt' n·q ualificam a relação do aluno e do professor com a realidade concreta.
período oculta e ao mesmo tempo revela o produto do passado e os germens do
/\li l'll w mos, assim, o papel da catarse na periodização do desenvolvimento. futuro. Apreender dialeticamente a periodização do desenvolvimento equivale,
por analogia aos recursos tecnológicos hodiernos, à sua captação em "3D"!
Apenas assim a escolarização irá operar em direção à promoção de rupturas e
CONSID€RAÇÕ€S FINAIS •
saltos qualitativos no sistema psíquico, o que significa dizer: provocará catarse,
transformando funções psíquicas elementares em funçõ es psíquicas superiores!
Fste capítulo, cuja centralidade aponta a unidade teórico~metodológica entre
Promoverá o desenvolvimento de comportamentos complexos culturalmente
" 11sin )logia histórico~cultural e a pedagogia histórico~crítica em torno da análise
formados.
du d t•st• nvolvimento, põe em relevo três asserções: a gênese da forma ção humana
md ka na apropriação dos signos culturais; os signos, ao se objetivarem na forma
dt• l'n n ceitos, conquistam qualidades distintas, d ecorrentes da abrangência ou
R€F€RêNCIAS
rtdcd ign idade pelas quais representam a realidade concreta: os conceitos cientí~
lkt 1s alud em o real de forma qualitativamente superior; cabe à educação escolar K O PNIN, P. V. A dialética como lógica e teoria do conhecimento. Rio d e Janeiro: Civilização
,, t'l';tnsmissão de tais conceitos, de sorte que a organização do ensino efetivada Brasileira, 1978.
nn t ra halho pedagógico impõe~se como variável interveniente na promoção do
LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 197 8a.
tlt·lw nvo lvimento humano.
Nos capítulos subsequentes, o longo processo pelo qual os indivíduos insti~ - - - · Actividad, consciencia y personalidad. Buenos Aires: Ciencias del Hombre, 1978b.
ltlt : r n~se como seres sociais e históricos dotados dos atributos que lhes garantem a LuRIA, A. R. Curso de psicologia geral: introdução evolucionista à psicologia. Rio de Janeiro:
1u t i l' nça ao gênero humano será colocado no centro das análises empreendidas. Civilização Brasileira, 1979. v. 1.
Ir·' t a·se da fo calização dos diversos períodos e etapas atravessadas pelos sujeitos MARTINS, L. M. O desenvolvimento do psiquismo e a educação escolar: contribuições à luz
ii< 1 lt 1ngo d a vida, bem como da exposição acerca da d inâmica interna que move da psicologia histórico-cultural e da p edagogia histórico~critica. Campinas: Autores
.1-1 11a nsições entre eles. O enfoque histórico~cultural acerca da periodização do Associados, 2013 .
dt •st•nvolvimento, superando as análises naturalizantes próprias à psicologia não MARX, K. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa: Estampa, 1973.
, li:dt'· t ira, evidencia que o acesso ao patrimônio cultural, ao universo simbólico,
t'• 11 ljl ll' institui a existência humana na qualidade de um perm anente vir a ser.
6 O próximo capitulo abordará detalhadamente as dimensões do método dialético em suas relações •
Vtt n se r que não resulta esp o ntâneo, mas produzido pelo trabalho educativo.
com a periodização histórico-cultural do desenvolvimento.
<

..
~

34 LIGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.)

SAVlANI, D. Escola e democracia. São Paulo: C ortez; C ampinas: Auto res Associados, 1984. CAPfTULO 2

- - -·Educação: d o senso comum à consciência filosó fica. 13. ed. Campinas: Autores
Associados, 2000.
- - - · Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 8. ed. Campinas: Autores A P€RIODIZAÇÃO DO D€S€NVOLVIM€NTO
Associados, 2003.
PSÍQUICO
- - - · EscoLa e democracia. 40. ed. Campinas: Autores Associados, 2008.
- - - · O conceito dialético de med iação na pedagogia histór ico-crítica em intermediação
com a psico logia histórico-cultural. GerminaL: Marxismo e Educação em Debate, Salvador: ATIVIDAD€ DOMINANTE: € A FORMAÇÃO DAS FUNÇÕ€S
UFBA, v. 7, n. 1, p. 26-43, jun. 2015. Disponível em: <http://www.portalseer.ufba.br/ PSÍQUICAS SUP€RIORE:S
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psicologia, ciência que se volta ao estudo do psiquismo e da conduta
humana por meio de diversas abordagens teóricas, procurou traçar mo-
11 11 nt os, fases ou etapas do desenvolvimento humano desde o nascimento até
1 hl:td l' adulta, o que chamamos de periodização. Nessa busca por delinear tal
'

t !'llkt < '>ria, a psicologia pendeu ora para explicações biológicas, ora para definir as
itHtd :ll\çns no desenvolvimento como decorrentes de um acúmulo quantitativo
di.' I~ X pl' ri ê n c ias e h ábitos. N ão nos cabe aqui discorrer sobre as diversas aborda-
fJl1 11h ;d nd n hoje existentes, as quais, de modo pendular, ainda oscilam entre um
i ' 11111:n > prin cípio explicativo. Importa~ nos n este capítulo explicitar e esclarecer
' l ·lt n q ll'l'l' n são d os elaboradores da psicologia histórico-cultural (Vigotski, Lu ria

1 •' 111 li il'v) sobre o método de investigar o desenvolvimento humano, principal-


ii i• II I I ' o1 lt·i (um lamen tal que regula esse desenvo lvimento. Posteriormente, ao
I
,.
I
I l'~tlu',I"M''• 1 ~JII'dali•Htt t'lll p'>Ht~logt,t d,t t•dllt'll\'lio pda Uniwrsidadc F...radun l de Maringn (UEM),
r liH'~I t f 1111 ltttu l lllllt ' lllll~ dtt t•thu ~~~ ·'" Jll ' lll ttll '~ t llí l ll nlwrsidntk•, do11tnrn t'lltt•dumç:int•stol:tr pvla
llttl\tllltlnlt I 'ltlldllod l'utdilllot "_ hdllt i_l._ ~lt upll111 l illto" (I INt ''1'/A tíii'III JIIII III), tltH t'II IV d,t gmdttíl\ol!t
dr, I'~~' H• 11ltlti. '", 111 p~li " 'i'IJI.• "'' I Jl tM
Ii ,'d' tM" , t"tll.'ll 111. 1 ·III I' :o~ h 1 'h 'v ltt t.% 1 ol ru ji• ll! I \ 111 I III• I11 I. I ttl \ 1 1 11t ltul t1 ( ' 11 1i ·dlt 11 d'' ( :11 1" I' it 111" (1'1 II
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PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 37
36 LIGIA M. MARTINS, ANGELOA. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.)

longo do texto, delinearemos dois conceitos centrais para sua compreensão: o essencial da análise era reconstruir todo o processo até a etapa inicial e, conver,
de atividade dominante e o de neoformacão. tendo o objeto final em um processo, colocá,lo em movimento. Assim, não se
'
Vigotski (VYGOTSKI, 2000a, 2000b, 2000c) fu.n damenta,se no princípio vai do objeto às partes, mas do processo aos seus momentos fundamentais de
metodológico postulado por Marx de que a psicologia, para desvendar o que transição. "Em última análise se interessa pelo surgimento e desaparecimento,
caracteriza e distingue o psiquismo e a conduta do ser humano, deve partir do as causas e as condições e por todos os vínculos reais que constituem os funda,
mais complexo para o mais simples, e não o inverso, como faziam diversas cor, ·m entos de algum fenômeno" (idem, p. 103).
rentes psicológicas de sua época, estudando o comportamento animal em suas Considerando os princípios anteriormente expostos, aplicados às investi,
similaridades com o comportamento humano. Para ele, essas investigações só gações psicológicas, Vigotski pôde sistematizar a lei da internalização como lei
conseguiam evidenciar o que há em comum aos homens e animais, porém não geral do desenvolvimento das funções psicológicas superiores, assunto do qual
elucidavam o incomum, ou seja, de que modo e por que se formam diversas trataremos a seguir.
formas de conduta humana complexas, diferentes das dos animais. Um entrave
que se apresentava era o fato de que, em grande parte, as correntes psicológicas
não consideravam as especificidades do desenvolvimento natural e culturaL A L€:1 DA INTE:RNALIZAÇÃO DAS FUNÇÕE:S PSICOLÓGICAS COMO
Se o objeto a ser investigado é a particularidade do processo de modificação
PRINCÍPIO SOCIOCULTURAL DO DESE:NVOLVIME:NTO PSÍQUICO
do comportamento, denominada por Vigotski (VYGOTSKI, 2000c) de desenvoJ.,
vimento cultural, seriam necessários métodos e modos de investigação novos. Para Vigotski (VYGOTSKI, 2000b), o conceito de desenvolvimento das funções
Para ele, até então, por não diferenciar o curso do desenvolvimento biológico e psicológicas superiores é o mais importante da psicologia, e para sistematizá,lo
cultural, a psicologia apoiava,se na tese principal de que os processos psíquicos seria fundamental modificar o ponto de vista tradicional, que, por ser unilateral,
~

são reações a estímulos, e por isso o esquema fundamental de seus experim.e ntos
desconsidera o desenvolvimento histórico das funcões mentais, confundindo os
'
era o de estímulo,reação (S,R). A investigação de uma reação simples e de urna
nspectos naturais com os culturais e os aspectos biológicos do desenvolvimento
reação complexa era realizada do mesmo modo, de acordo com o mesmo méto,
psíquico infantil com os aspectos sociais. Desse modo, todas as funções eram
do. Esse mesmo esquema servia para explicar tanto o comportamento humano
ITatadas de forma atomística, como processos naturais, ou seja, como elemen,
como o animal. Vigotski (idem, p. 62) toma como base os estudos de Engels
para opor,se a tal explicação, que ignora a natureza transformadora da atividade
l'os ·isolados que se somam mecanicamente. O resultado dessa abordagem é a
especificamente humana, a qual produz algo novo por meio do trabalho e nesse substituição da investigação da gênese dos processos psíquicos complexos pela
processo estampa "sobre a terra o selo de sua vontade". Trata,se de reconhecer dcHcrição puramente externa e quantitativa, mecânica e cronológica das mudanças
que entre o animal e. o ser humano ocorreu um "salto ontológico" representado nlcançadas em cada idade. Para ele, esses estudos situam em uma só linha de
pdo trabalho. ~ IL·sc nvolvimento os aspectos orgânicos e culturais do comportamento infantil,
Tomand o essa assertiva, Vigotski (idem) dedicou,se à elaboração de um c< msid erando-os "fenômenos de mesma ordem, de idêntica natureza psicológica,
novo método de investigação, uma vez que, para ele, o problema e o método t' rom leis que se regem pelo mesmo princípio" (idem, p. 13). Afirma o autor:

dcserrvo lvem,se conjuntamente, ainda que de modo paralelo. "O método, nesse
cns< l, <.: no mesmo tempo premissa e produto, ferramenta e resultado da investi, Cmno temos indicado, já o prime iro ponto de vista caracteriza-se por três
Wl~·no" (idem, p. 47) 1. mmm~ ntos: o estudo das funções psíquicas superiores a partir da faceta dos
O IHt'l od o postulad o po r V igotski (VYC"IOTSKI, 2000:1) ((l i dvnornin ndo de pron·sso s n:\t~~rnis que :ls itHl'gram, n rc-du ção dos processos superiores e
JW IH''I i t'<l't'X l H'I' illH'Illnl pon{ltt' ht rsc:1va pmvoca r e n ..Tri:~ t· d<· l11t11111 lll't ifki:d o i' Uilll'lt•XttH nv l~· ttH'Ill:tl'i':-1 i' n dvs prvzol las 1wn diarid :ulcs c leis específicas
p11H 't'HH<l JWIH'• I i<'tl d 11 d t ·~H· IIvt dv ltlH'Illo p:·dt ptl t·n, dv IIH H i tl qtll t'~tll lul t •t 'l'IIHt' oH
,j,, tlt''ll' l\\'l,j \'l llll ' llltt t' ttlltll':l l t l:tttlllllt lt :t. ~ ~S~II !H II\111\\\' IIIOS Sllll pn'tpritlS
llllll l ll' llfc lll llllliN l111 p 11llllll f t'M d 11 "1 '/it'IIVI d vl ll lt'l\ l tl d11 jlll H I '1'11 t l'AI'III lnt lt I i\ l lll i ~ j'l l 1111111' dn w ll, tt 1'"'("1'tHIII 1'11'1 dt•l,_'l\ Mttl 111 ll v .t ,., ttnll tlll '\11 \'1\ pl-i i< 'll lPJ'ill nh·
; .. .t, .. , , -, l,., l ..... t..od .. ,,-,., ••iri lll•lltt 'd,l. l í Hu1 n 11 ~t • ll.•v~t lt udll lll lllt lllt!t1tll . p , I ~~
LiGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PS[QUICO 39
'H

As duas tendências em psicologia possuíam uma coincidência em seus postu, independentes de desenvolvimento, estudadas por disciplinas psicológicas

lados científicos: a ausência da dialética. Por isso, de acordo com Vigotski (idem), diferentes, particulares.
estudavam a crianca e seu desenvolvimento em abstrato, descoladas de seu meio Mas a espccificidaJe e a Jificuldade do problema do desenvol\'imento
'
social e cultural e das relacões materiais e simbólicas ali existentes: das funçôes psíq1.1 icas superiores na cr.i ança se de,·em ao fato de que na
'
ontogênese at)mecem unidas, formam um processo único, embora comf)[exo lidem,
Tudo se considera à margem de sua face ta histórica. Supõ<>se que a ideia p. 29,30, grifo noi'so ].
que tem acerca do mundo e da causalidade urna criança europeia de
família culta de hoj e ern dia e a ide ia que tem sobre isso uma cria n~~a de Pelo exposto na citação anterior, é possível entender por quê, em todos os
alguma tribo primitiva, a co ncepção de n:rundo de uma criança da Idade estudos que realizou, Vigotski (idem) retorna o desenvolvimento filogenético para
da Pedra, do Meclievo ou do século XX - tudo isso é idêntico e igual em aclarar o percurso do desenvolvimento ontogenético, o mesmo ocorrendo nos
princípio a si mesmo [id em, p. 22J escritos de Luria e Leontiev: "Por isso, devemos recorrer à filogênese, que não
admite a unificação e a fusão d e ambas as linhas para desvendar o complexo nó
Vigotski (idem) entendia que o desenvolvimento das funções psíquicas que se formou na psicologia infantil" (idem, p. 30). É necessário partir de onde
supe riores envolve grupos de fenômenos que inicialmente parecem totalmen, termina a evolução puramente biológica e tem início o desenvolvimento histórico
ll' distintos, mas na realidade estão completamente unidos. É preciso fazer l' cultural da conduta e compreender todo o percurso histórico da humanidade,

d is ti n cão entre os meios externos do desenvolvimento cultural (instrumen, desde o homem primitivo até o cultural da atualidade. Durante esse percurso
'
tos c s ignos) e os processos de desenvolvimento das funções. Enquanto os lk desenvolvimento das funções psicológicas superiores, não houve modificação
pri tn ciros se referem às ferramentas materiais e simbólicas que produziram as H\lbstantiva do tipo biológico humano, porém a transformação maior ocorreu

t'rnn sformações psíquicas (fala, escrita, cálculo, desenho etc.), os últimos se 11 0 desenvolvimento dos órgãos artificiais (as ferramentas).
rl'f'ercm às funções específicas, como memó ria, percepção, atenção e pensamento Pode,se aqui perguntar: E na ontogênese? Como se dá o desenvolvimento do
c< ln re i tual, que se transformam valendo,se dos primeiros. "Tanto uns como l'nmportamento biológico e o histórico, o natural e o cultural? Vigotski (VYGOTSKI,
r~ltt ros, tomados em conjunto, formam o que qualificamos convencionalmente JOOOb) entende ser possível evidenciar processos análogos, mas n ão paralelos,
ru mo processos de desenvolvimento das formas superiores de conduta da IH1is n ontogênese de modo algum reproduz a filogênese e nem caminham como
nian ~·a" (id e m, p. 29). Ii 11 hns paralelas.
I ~ m co ntrapartida, Vigotski (idem) nos alerta para o fato de que devemos
tli l'nl'nciar essas duas linhas de d esenvolvimento para podermos compreender As mudanças que têm lugar em ambos os planos se intercon1unicam e
,, I 11 ti ma relação que elas estabelecem entre si. O grande nó existente na ciê n cia constituem na realidade um processo único de formação biológico-social da
p1'1ko l<'lgica está c m não difere nciar os d o is processos, principalmente porque na f>ersonalidade da criança. Na medida em que o desenvolvimento orgânico se
n ntng0nl'Sl' el es apresentam,se co mpletamente imbricados: produz cm um meio cultural, passa a ser um processo biológico hisco~·icamente
nmdicionado Iidem, p . .'36, grifo nosso] .
() cntltpun:lnwn to tk 11m honwm culrural conten1porâneo- ~e deix:uno/i
dv lad11 c1 prnhktn:t d:1 c1ntog0ncsv L' o problema do dvsenvn lvinH.'nlcl Nt, tH>sHo siste ma natural de atividade humana não está incluída, por exemplo,
itd;ll tlil t'• 11 I'I'H1tltHdc) dv dui s ptun·ssos dis tillt m; ck cl ciWII\'tl lvimettlcl 11 [HíMI·d hilidndl' de vonr, rnas, pelo f<lto de a esfera das atividades humanas ter
p'• Ic11 I k 1 1, I'c11 ' IIII 1 l1H !11, c• 11 111 f ~~ cI!I ".W 1 I' w/ d.~ i1 o dc' t''I'CJ/Jtt,'rlll e/ti ' 1'' /.•c 't. li ',\ t/11 i ll1 1IÍ.~ '"ndl~·tH:H dv s v t· nmpllnd n por fcrmmcntas ou corpo inorgânico (criações artifi,
cfllt' 'llllt/11 ~ 111 ri rl/lr/1 1\ riPc/11 t' \ ftr '• 11 ' J./ott111 \cl/tlo'll'; 1' 1 1 •cn t. tllll•t 1 I IIII /•rtlt c' \ \ 11 c/,• · · ltd~). ;~hn; tti•Ht' ttn IHltll l' lll illl'itHIIlHpnss ihilidndcs pnrn t·nl. Pnrn Vigotski (ide m),
o/o 'k tl'l'rfii 'Ítllt ' llffl /ttWÍfitll Jl ltl t d \ tlll tflld/11 fl!llllt ' lll / 'i ltll/111 1! ~~ i 1111{ 1( 1/t ' t' lll 11111 1 I III c l11 cl tl pt~ltl dtii{LI t'l'll n •vPI111 n pt <H t ·r-~:-.u dv dv~·h' 1 wo l vi tn v l1to inf:111til co mo

1 1 it/liillt/ , 1\mlloc t, c• 'l jilí••- '-'llf-'. ''~ •'' dt ' 'tt' ll\lll\ llll l" ! I Ít! ld illll!lil11! cd 11111 " ' ''l11tllt d1 .til\ ld ttcl l' t le te ttlllll tlll,, •d lltltll itlll'• ttllt' ttt l' I H' I Il•t••li!•H•~ ttllll1t:ti H t'
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LIGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSIQUICO 41
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Dai decorria a necessidade de uma fórmula metodológica nova para o espontanea mente, entre o estímulo e a reação imediata, um elem ento externo
experimento psicológico de uma m etodologia que, levasse em consideração a para auxiliar na tomada d e decisão, ainda que de m aneira primitiva.
'
diferen ça entre o comportamento humano e o comportamento animal e entre
as funções elementares e superiores. Para isso, Vigotski (VYGOTSKI, 2000c) aponta O novo consiste em que é o próprio homem quem cria os estímutos que deter,
a importância de investigar as for mas psicológicas petrificadas ou fossilizadas, minam suas reações e utiliza esses estímulos como meios para dominar
que se originaram n a história da humanidade por força das circunstâncias e os processos de sua própria conduta. É o próprio homem quem detennina seu
co nservam,se como vestígios históricos ainda vivos na conduta d o h o mem comportam.ento com a ajuda de estímulos-meiO$ artificialmente criados [idem,
co ntemporâneo. Tais vestígios pod em elucidar o processo d e d esenvolvimento p. 77, grifo nosso].
d o compor tamento cultural, uma vez que são resíduos do passado, d o desen,
vo lvimento histórico da conduta, e não da evolução biológica. Para ele, esses Podemos observar ações similares em crianças que já d esenvolveram a lin,
vestígios unem o passado e o presente na história do desenvolvimento cultural. guagem simbólica, a qual tem a função de ajudar na tomada de decisões, como
Esclarece o autor: nas brincadeiras d e pompo neta, jokenpô, par ou ímpar. Em grupos primitivos,
historiadores revelam que diversos mecanismos similares foram desenvolvidos
Como as formações antigas, surgidas nas primeiras etapas do desenvol, d e modo que pudesse auxiliar n o processo decisório.
vimento cultural, as funções rudimentares em seu aspecto puro conser, Esse mesm o pro cesso ocorre nas formas rudimentares d e memória cultural,
varam o princípio da estrutura e aüviclade, o protótipo de todas as demais·. t'tn que o ser humano faz nós em lenços, gruda um papel no relógio ou muda
.formas cutturais de conduta. Aquilo que existe de forma oculta em processos 11m objeto de lugar quando precisa recordar,se de algo. Em tod os esses casos são

infinitamente mai.s complexos está presente nelas de maneira manifesta ltti lizad os meios auxiliares de apoio para a memória, como estímulos que servem

lidem, p. 68, grifo nosso]. dL' instrumento d e ativação da memoração, os quais, segundo V igotski (idem),
'
11os povos primitivos são as primeiras fo rmas de registro que antecedem a escrita:
Vigotski (idem) explica que essas formações são a chave d o método, por apre- "precisamente o caráter social da nova forma de comportamento é igual, em
:-a: ntarcm a união entre a plasticidade e a petrificação, entre o fim e o começo d o princípio, um m o do de d ominar a conduta própria e alheia" (idem, p. 79). Tais
de:-~cnvolvi mcnto cultural da conduta. Desse mo·do, uma análise do que há em pi'Occd imentos simbólicos emergem na história da humanidade nos problemas
rn n~um cm todas essas formas rudimentares pode elucidar o caráter e o curso pr:iricos que se colocam n o interior dos grupos sociais. Na história d o desenvol,
do d esenvolvimento da conduta cultural. Por isso ele dedicou,se a explicitar Vltn cnto cultural infantil, essas formas de conduta decorrem d as necessidades
ru mo se dú o processo rudimentar de eleição de um comportamento ou escolha 1l11s cri anças despertadas pelo intercâmbio prático simbólico com os ad.ultos .

(voli~·;\o, vontade ou livre,arbítrio), a fo rma rudimentar de memória cultural e as Po r último, outra forma rudimentar de conduta cultural estudada pelo
fi >n n ns rud in1cn tarcs de pensamento aritmético. Nos t rês casos citados, destaca tlllln r que se refere à história da aritmética cultural é a contagem n os dedos. A

qlll' o ser hurn ano intro duz na situação um estímulo auxiliar, que a m odifica. eMHl' ncia do processo, segund o Vigo tski (idem), está na passagem da percepção
A nalisn ndo c co mparando experimentos efetivados com crianças de d iversas lt1t n li nta de quantidades e reação também imediata a um d irecionamento d a
l':d xns vti\rias, c:-~tud os reali zados po r antropólogos e experimentos com animais, ,.,,11dutncxc rcido pela criação d e estímulos auxiliares: "Os estí.mulos artificiais
V tHnlski (id~.·m) t•xp lica qul' c m uma s ituação d e escolha entre duas situ ações t't'Lnlns I'H.'Io homem, que não possuem relação alguma com a situação existente
dt• v:dtll' :l t H\ I u1~o (d11ns co isas positi vns ou nega tivas), geradora tk co nflito, nos 1. tH IIl postos n serviço da adaptação ativa, revelam,se uma vez mais como recurso
1

.lllltii :IIH ptodttz lltll :l t·v:l\'tln hiol<'lgicil dl' agit:w<1o psicomotot·:t o1 1dv p:tmlisaçfio. dl t~ tltttlvo das fo rm as superi ores da co nduta" (idem, p. 81).

liHMII ll'•'~·\«1 l' ,., ltntlut l' ll l 1 1iatl~'nl'\ 11111i1u 1Wl{IH'I1:\S. Pnn':111 n tlct1t ll \'t11Vi iiH' I11 <> l 1.1111 Vinntski ( 199H), I ttri n ( 1994), Vigntsk i c Lu ria (Vv<~OTSKY; L URIA, 1994),
•:ult'llt'niiHtHIII ?. o dtllllltlio d,, H IIIHI ~'Ill lt 'tl lll ll ltt:ll iz.Ht,'l\tl.lt•,•lt' lfll ' lll•'"' 1 \ 1\' II HIH no~·~~~~~ t lnt l t•IW IIVt> l v intl' lllo ctdtlll'lll il1 f:l tllilt'• poHs lvvl t•vidi.' IH'Íi\ r tr0s mo llH'n~

{HI~!"' "~ 11111dlh11• 1) l'~~~'n n 1' '''"11111 dt· d·~ciRn ,, ,, ••11,. '·""' Utíln kdhn, t' .l"~'" d1 n u1 l'undutlll ' tll'lt h qttt' r l.tllliHlllll 1od, ," pnHI ' 111ln di' llt:l dt ttt. t ~ll" d,, ni11 11 ~n 11
1., . 1..... l ... ,.,, _, trt_.,..,lll. , ._ _ ;.u_..,,,,j .. ..u~tt1...J :i.rt'l l ut lllll o•.tltn!.íl LlítiLI!liiiW ii Uilllllli JJilll\.1 - --------- • '· ·ai (ui i fi 1 1, ', .~ , ' L,-, L___ •.•- •·ul• .u 11 I.. 1 • , .. ... :. • •••.,;.a •, ,,._. I_/.••• d •__._,_. _ __.._ •• - 1• - .- - J__ t_ J_ _ • - -A - ...
••
LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 43
42

Po r isso, para V igotski (idem), em term os psicológicos, o que diferen cia o


ramente imitativa em seu caráter externo) e o instru men tal p ropriam en te d ito
hom em d os animais é a significação, a capacidade de criar e empregar signos, que
(atividad e internalizada). Escreve V igotski (1998, p. 45):
são sinais artificia is; po rém é de su m a importân cia não d esco nectar a criação e
o emprego d e signos do fab rico e u tilização de instrumentos, ou seja , o d o mínio
O primeiro exemplo t~m a ver com o desenvolvimento da habilidade
de si, do d omínio da natu reza exter na. Vigotski (idem) considera incon cebível
arit mética da cria nça. A primeira etapa está form ada pela dotação arittTté-
realizar ta l cisão. Explica o autor:
ti.c a n atural da criança, por exernplo suas opera~~ões de quan tidade antes
d e saber contar. Incluí.lnos aqui a concepção imediata el e quantidade, a
A cada etapa determinada no domín io das fo rças da n a tureza correspo nd e
comparação e ntre grupos grandes e peque nos, o reconh ecirnen to d e algurn
se mpre uma d eten n in ad a etapa no domínio da conduta, n a subord inação
grupo quantitativo , a distr ibu ição de objetos soltos q uando é n ecessár io
dos processos p:.;íqui cos ao poder do homem. A adnpta\~ão a tiva do h omem
dividir etc.
ao me io , isto é, a transf()rrnação da natureza pelo ser h urnnno não pode
A próxima etapa da i<ps icologia ingênua" se observa em todas as crianças
estar baseada na sinalização que reflete passivamente os víncu los natu rais
e pode ilustrar-se com o caso em que a crian ça, conh ecend o os métodos
de roda sorte de agentes. A adaptação at iva exige o fechamento ativo da-
externos de cálculo, imita os adultos e repete "um, dois, t rês" quartdo quer
quele tipo de vínculo, que é impossível quando a conduta é pu ramente
contar, mesmo não sabendo o seu propósito, ou como contar exatamente
n atural - isto é, baseada na combinação natural dos agentes. O homem
por meio de números. Essa etapa do desenvolvimento aritmético foi enri-
introd~tz estímulos artificiais, confere significado a sua concl!Lta e cria, com a ajuda
quecida pela cri<mça descrita por Stern . Ele pergu ntou quantos dedos ele
dos signos cxtemos, n.uvas conexões nu cérebro. Partindo dessa tese, introduzimos
tin ha e a criança contestou que só podia con tar seus própri os dedos. A
como curso na nossa investigação u m n ovo p rincípio regul ador da condu ta,
terceira etap a é q u an.do se conta com a ajuda dos d ed os e a quarta etapa •
uma n ova ide ia sobre a deter m inação das reaçôes hu manas- o pr incíp io
q uando se conta me r.l talnle nte, prescindindo dos ded os. O contar men-
da sign.i fica~~ão, :;egun d o o q ual é o h o mem quem forma externamente as
ta lmente é u rn a ilustração do "c.resc i.m.ento ínterno completo ". ·
conexões n o cérebro , o dirige e, através d ele, governa seu próp rio corpo
[ide m., p . 85, grifo nosso].
D iversos estudos realizad os po r Lu ria (2002, 1994) e Leontiev (1928) também
t·ivc ram co m o foco a gên ese de um d eterminado comportamento cultural com,
·Cabe en tão a p ergu n ta: D e ond e provém esse novo compor tam ento? Provém
plexo, procurando identificar em quais comportam entos anterio res se alicerça
dn co ndição de criar signos e alterar as nossas próprias conexões cereb rais. Para
o novo c, ao mesmo tempo, qual a d inâm ica e d ireção d e desenvolvimento que
n l~·, o que permite essa nova forma de regulação d a conduta é a vida social, isto
:1 nova aq u isição estabelece. Podemos citar os estudos sobre a aquis ição d a fala
n, i\ i nteração d os seres humanos imbricada nas relações sociais d e pro d ução.
lH t o ralid ad e (LURlA, 2001), d a linguagem escrita (LURIA, 1992c, 2001) e d a arit,
Po r sua vez, a possibilidad e d e autorregulação do com por tamen to ou a
m(· t icn (LURIA, 1992a; LEONTlEV, 1928), explicitand o o percurso da apropriação
,qmcidade d e dirigir voluntariam ente e colocar a seu serviço suas funções psi,
d~· (i.• rrn rn cntas culturais simbó licas ao longo do desenvolvimen to até a idad e
1

t jlt k:1s d ecorre d e um processo de internalização das relações exter iores, sociais.
:Hiu lta , l' n' cri anças no rm ais o u com necessid ades especiais (VYGOTSKl, 1997) c
l 'ultt n·gulnção d a conduta alheia exercida por meio dos sign os (d iversas fo rmas
l' t l\ pnres lk gê n1 cos idên ti cos (Lu RtA; Yuoovrc ii, 1978) etc.
dt• Ii" ~{ll<1gc m simbó lica) o u processos d e significação n o interior de atividad es
P:tt'n Vigo t·ski (VvunTSKt, 2000c, p. 82), essa é a ch ave d a co nduta supe ri o r:
t H' I1tl s compu r til hadas, cria-se em cad a sujeito singular a con d ição de recriar
11 dl l\· rv ll~·n vnt t·i.~ 11 ro ndu tn vlvnw nt ar, qu e. se subo rd ina nos vs tlmulos dndos, i.'
11ll<' l' l l l tl ll <.' l1 ('l' t·:ti s d ispos itivos externos (essencialmente cult u rais) e colocá,los a
11 co lldtll tl stq w rl o t·, qtll' Ht: Ht thu n l i tlll aos es t·fm ul os cri nd nH, 11 l'ttt'll l'tvriHI k a dv
'' " d lfl p l 1r, v tn l'u rt\1 :1 tl v :lltl ov:-; 1i nHtl a\·f1o .
11 11 \II IH':-1 1 i lllttlit~'lll l, ;1 cil illJÍillt~ 11 l! ltlpn•gn d v vHtl tnt d oH ·Il ll'hlM ill'l'l(lt•ltdtl t' 11 d vl vt·~
Vlgol!'> ki (idt• tn ), H lill l: tt l l gl' lll or: d nito l' i\ l 1l' 11 i\S i\ l'Xl'Cl t ~·~n d i.'
" t e~dllt:ltlltfltí l l•t 'il fldi< I< H \Itl I"Mtt l l tn il l'l'<H;ilo
ll till tlli'ntlthtl l l t q ll'llt t' ll l ll.hll 'll l 'tl lll !1 ll il lll1 1tl11" ÂI'IH tlll ,
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44 LíGIA M. MARTINS, ANGELOA. ABRANTES & MAR ILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 45

imbricados o fabrico de instrumentos e a criação de signos na história humana. suj eito em relação às co isas e com o person alidade em relação às pessoas.
Há uma similaridade entre a atividade mediadora que envolve o emprego de Por seu turno , ao experimentar as in fluências recí procas, descobre assim
ferramentas e a que envolve o emprego de signos, uma vez que as duas possuem as propriedades verdadeiras, objetivas e essenciais das pessoas, das coisas,
funcão instrumental. A diferenca existente entre as duas atividades refere-se à d a n atureza e da socied ad e fPETROVSKI, 198.5, p. 142-1431.
' '
sua orientação: enquanto a primeira delas dirige-se aos objetos externos dados na
'
natureza, alterando-os e modificando-os, a segunda dirige-se ao próprio homem, E impo rtante esclarecer que nem tudo o que o sujeito faz é atividade. A
modificando sua própria conduta, seus processos psíquicos ou os de outras atividade humana é sempre movida por uma intencionalidade e busca respon-
pessoas. O signo dirige-se para dentro, portanto para o psiquismo próprio ou der a uma necessidade. Para que a necessidade possa ser satisfeita, ela precisa
alheio. Não obstante, as duas atividades mediadoras possuem nexos entre si, uma encontrar um objeto que a satisfaça. Assim, a primeira coqdição de toda ativi-
vez que o domínio da natureza e o domínio de si estão inter-relacionados tanto dade é a necessidade. Não obstante, em si, a necessidade não pode determinar
na filogênese quanto n a ontogênese. "Tanto uma como a outra, denominamos, a orientação concreta de uma atividade, pois é apenas no objeto da atividade
em seu conjunto, com o termo de função psíquica superior ou conduta superior" que ela encontra a sua determinação. Uma vez que a necessidade encontra a
(idem, p. 95, grifo nosso). sua determinação no objeto (objetiva-se nele), o dito objeto torna-se motivo da
Até aqui esclarecemos a lei principal de desenvolvimento das funções psíqui- atividade (LEONTIEV, 1978, p. 108).
cas superiores ou culturais, denominada lei da internalização, cujo fator deter- A psicologia histórico-cultural entende que o motivo da atividade é aquilo
minante está posto nas relações sociais de produção que colocam as condições que impulsiona o homem a agir e que dirige esse agir para a satisfação de uma
para a superação do comportamento direto, imediato, para o comportamento determinada necessidade. Leontiev (idem, p. 82) afirma ainda que "o objeto da

cultural mediatizado por instrumentos (ferramentas) e signos (símbolos). Essa ld atividade é o seu verdadeiro motivo, sendo este tanto material quanto ideal, e
nos permite compreender que atividades anteriormente dirigidas externamente, existente na percepção bem como na imaginação, no pensamento. No entanto ,
isto é, por signos externos, posteriormente passam a ser dirigidas internamente, o fundamental é que atrás do motivo está sempre uma ou outra necessidade".
por signos internalizados, dando a falsa ideia de reação di reta, dada a velocidade Tomemos um exemplo para ilustrar o que foi dito até aqui. A fome é u ma
que adquire a tomada de decisões (eleição), a memória lógica e o cálculo mental, n ecessidade fisiológica. Para satisfazê-la, é preciso que o homem se alimente. ()
por exe·m plo. Agora, necessário se faz esclarecer o conceito de atividade e de ativi- alimento é, ao mesmo tempo, objeto e motivo da atividade, pois satisfaz a s 11 :t

dade dominante de cada etapa do desenvolvimento infantil, pois é ele que coloca necessidade e impulsiona o homem a agir.
em relevo a complexa relação entre o desenvolvimento da criança em unidade Na maioria d os casos, a realização da atividade exige a mobil iza~·.:io dt·
dialética com o meio social que a envolve. inúmeros pro cessos internos e externos. Tais processos são chamados de <wm·s.
Uma ação "é um processo cujo motivo não coincide com seu objetivo (isto é, ro 111
aquilo para o qual de se dirige), mas reside na atividade da qual ele faz parfl' "
A ATIVIDAD€ DOMINANTE: COMO PROPULSORA DO (LEONTJEV, 2001, p. 69). Voltemos ao exemplo da pessoa faminta para ilust.l nr
D€S€NVOLVIM€NTO esse processo: ela d eve realizar uma série d e açõ es internas e extern as qu e na o
es tão dirernmentc relacio nadas co m a obten ção d e alimento , tais co mo pla rH:ja r,
'
E na e pel a ativid ad e qu e o psiquism o se d esenvo lve, c.: parn a psicologia ll'lenl·alnwnte, ns a~·ões n ecessári as para sacia r a fo me, ir ao superme rcad o r o nl pf':l r
h ist·ó rko·Cl d 111 ra I a :üiv i d nd t: (: d d i 1' ida com o n co midn , vo ll ar para r nsa, acl' r1dcr o fogo cozinh ar n comida. Verifi ca-se, a:-;sl 11 1,
t•
qtH: JH> i11l t' l i<> r d v tll1lfl t'111i r: 1 nl iv idm lt: Sílll dvsvmpvnhadns v:~ri :u; a ,·m·:; pn1t'lai 11
l~ 11111 .t ele' 1c• lnc,'ri!• vlv;t ltll'•' v'\'' d11 qtl ll l lit.• ••tllll hl' lec ,_, 111 11 Vl11f lll ,, '' ,d c: ntrc• (jll t' 1 St• ill lll l iHII d ,tto ÍHo l :t d li Jilt ' lll 1' 1 11 :\<l t tlf l ll id t' lll d i l t' I :I IIH' Ill l ' 1'< 1111 ti lll ll(I V tl qll t'
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LÍGIA M. MARTINS, ANGELOA. ABRANTES & MAR ILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO
"
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da atividade. Assim, cadeia de ações é o processo "que corresponde à noção Leontiev (idem, ibidem) dá continuidade ao estudo sobre a estrutura da
de resultado que deve ser alcançado, isto é, o processo que obedece a um fim atividade e a memor ização mostrando como se dá, ao longo da idade pré-escolar
consciente" (LEONTIEY, 1992, p. 55). e escolar, o processo de "transformação em ação própria da memorização e da
Para uma melhor compreensão das especificidades dos conceitos de atividade evocação". Quando uma função - por exemplo, a memória - se converte em
e ação, utilizaremos um exemplo extraído da obra de Leontiev (1978). Imagine~ ação, é porque ela se torna intencional e consciente. O sujeito é capaz de mo-
mos a situação de um estudante que se prepara para a realização de um exame bilizar intencionalmente uma dada função 4 e esta ocupa um lugar na cadeia de
lendo um livro de história. Esse processo pode ser chamando de ativiclade? A nções. Pensemos no sujeito que memoriza determinado conteúdo, por exemplo
resposta a essa pergunta depende da análise dos motivos que impulsionam o os sinais de pontuação. A qualidade dessa memorização dependerá do lugar que
estudante a ler o livro. Seguindo com o exemplo, o estudante recebe a visita de essa funçao vai ocupar no interior da atividade do sujeito. Assim, por exemplo,
u1n colega que lhe informa que o conteúdo daquele livro não é necessário para uma atividade que a criança tem de realizar faz com que a memorização seja uma
o exame. Diante disso, o estudante pode dar continuidade à leitura ou não. Se nção necessária para o cumprimento da tarefa. Isso pode ser visto na atividade
o estudante continua a ler o livro, então se pode dizer que o conteúdo do livro pedagógica proposta por uma professora envolvendo a pontuação. Os alunos,
era o que o incitava à leitura, constituindo o motivo daquela atividade- ou seja, cm grupos, receberam um problema que seria resolvido mediante o emprego
a apropriação do conteúdo do livro atendia a uma necessidade do aluno -, mas, adequado dos sinais de pontuação. Para resolver adequadamente o problema,
se o aluno abandona a leitura d o livro após saber que seu conteúdo não será eles precisavam recordar as regras de uso de cada sinal. Desse modo, o uso da
cobrado no teste, pode~se dizer que o motivo que o incitava a ler o material era memória converteu,se em ação no interior da atividade, tornando-se intencional
outro: a aprovação no exame. Assim, "o fim da leitura não coincidia, portanto, para os alunos.
com o que levava o aluno a ler" (idem, p. 297). A leitura não era, nesse caso, Outro componente que pertence à estrutura da atividade é, segundo Leontiev

uma atividade. A atividade aqui era a preparação para o exame. (idem), a operação, entendida como a maneira de se executar uma ação, maneira
O modo como o estudante se relaciona com a leitura do livro em cada um qu e depende das condições em que a ação é realizada:
dos casos e os processos psíquicos mobilizados para a realização das distintas ações
não podem ser desconsiderados. Leontiev (199-2, p. 54) afirma: "A constância e Por operação, entendemos o mod o d e execução de u ma c.1çào. A operação
a efetividade dos processos mentais estão sempre diretamente relacionadas com é o contelklo indispe nsável de toda a ação. A operação ~ o conteúdo
o motivo que as causa, com o sentido que têm para a criança". indispensável de toda a a~~ão c pode realizar-se por meio ele operações
Com isso, pretendemos evidenciar a estreita relação existente entre a atividade diferentes, e, irwersamente, ações diferentes podem ser realizadas pelas
e a formação das funções psíquicas mais complexas, culturalmente formadas. D e mesmas operações. Isto explica-se pelo fato de que, enquanto uma ação é
acordo com Martins (2013), as funções psíquicas superiores desenvolvem~se em determinada pelo seu fim, uma operação depende da~ cond içôcs cm que
atividades que as requeiram. Isso significa dizer que o desenvolvimento de tais é dado este fim [idem, p. 103-.304].
funções en contra-se na dependência dos processos concretos em que estão en-
volvidas. Progressos expressivos no desenvolvimento das funções só são possíveis Retom and o o exemplo da pessoa faminta, as operações referem-se ao modo
se essas funções ocuparem lugar determinado na atividade, ou seja, se entrarem dt· rl.'ali z<wão - po r exemplo, solicitar um serviço deUvery ou ir até o su permerca-
numa operação em que seja exigido um nível de desenvolvimento para a realização dt 1 r om pra r con1 id n. Será preciso pensar também nas operações necessárias ao
da nção correspondente. Expl ica Leontiev (1978, p. '309): lll'l'pnro do aliml'nto, qu e pode ser feito de diferentes formas: um prato assado,
t.' tlZidn o u tlll'S tiH l nu . No cnso do estudante qu e deve resolver a tarefa dada pela
( ) l l t•ht ' ll\ 1,1\ Ílll\ ' 1111 I dn 1\ll' l llt 'll'li l , ptt l 1'\l' ílljl l tt, l•11'1\lll 11 1 11!11 '1 ~~ 1111' 1111' l lll lil
'I \ I 11 • I I 11' 11.' III• l lt ' 111111 I. III ~ :1!o\ 11111 N ; I I'> li ; I III' I I 'l:·d d111 h' I .11 Íl I \' I h H I I IIII IIII. LI I" 'I.I
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lt' h".tl\•·, q l lt''' "lnt ' lll ~ ~~~~~~-,·~~ll'lt• tu' lllll,ldt*t' lí\ ill\llllll11 •,,1 ,1 il\tlíit''t~'lll,llt:l
I Ui ili' '" un, 1,, • 1, "H• 1 d" 1r li 111, " i rt n ,n 1' 1111, Pn n• 1 1'1 111, ti 1••H q' 11'. di' u \ ; , '' l1. 1{ • 11" V111' '1 ~ lt i (V'\ " 11 1. 1:1,
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~X LfGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 49

profes sora, a memorização como ação pode ser realizada por diversas operações: não receber castigos. Os motivos realmen te eficazes são mais constantes, atuam
rvgistro cm um papel, repetição em voz alta das regras de pontuação o u outras. durante muito tempo e não dependem de situações causais e imediatas. Pode m,
Vale lembrar que uma ação p ode converter,se em operação e uma operação ,se citar como exemplos desses motivos adquirir fo rmação cultural, preparar,se
pod e tTansfonnar,se e m ação. Um exemplo de conversão de ação em operação para o trabalho futuro e outros.
pode s er verificado quando a criança aprende a escrever. No início da apropriação Quando ambos os m otivos atuam simultaneamente, formam uma espécie
da linguagem escrita, a atividade da criança consiste em uma so ma de ações de sistema único no qual cada um deles tem um papel: os motivos realmente
11:10 a~1 to matizadas, ou seja, exige a constante mediação da consciên cia para a eficazes dão ao estudo escolar, p or exemplo, um sentido determinado, enqu anto
reprodução d e cada uma das letras. Mediante a prática e o treina mento, elas se os motivos apenas compreensíveis estimulam a ação imediata. Leontiev (2001)
rmwe"J·t c m em o p erações, tornando,se automatizadas, dispensando, assim , essa demonstra como se dá essa atuação simultânea de motivos com o exemplo de
constante mediação da consciência. O ato de escrever depen de da memorização um aluno d o primeiro ano que n ão conseguia permanecer concentrado fazendo
wúfica de cada uma das letras. Esse processo ocorre por meio de uma cadeia suas licões.
'
Ele tentava adiar a tarefa e distraía;se facilmente. O estudante sabia
de impulsos motores isolados que responde a apen as um elemento da estrutu, que fazer as lições era parte do processo de apro priação do conteúdo escolar,
ra gráfica. A prática faz com que essa estrutura seja radicalmente alterada, de condiç,ã o fundamental para sua atuação futura; porém ter esse disce rnimento
modo qu e o ato de escrever converte,se em u ma "melodia cinética" única, p ois não era suficiente para ele con seguir fazer as lições sem se d istr air com estímulos
11dc n. ao se utiliza mais a mediação da consciência para guiar o agir. Quando • mais atrativos.
1sso aco ntece, as ações transformam,se em operações que compõem a ação de Diante disso, ele colocou para a criança a seguinte condição: "Você não sairá
t:screvc r; entretanto, quando o indivíduo está aprendend o a escrever, cada uma para brincar até que tenha feito as lições" (idem, p. 70). A criança começou a
das op ~: rações é, na verdade, uma ação que contém um fim independente em si. fazer a lição em virtude d e um motivo apenas compreensível, mas depois de
As ope ra~'ões possibilitam o desenvolvimento d e estruturas de p en sam ento cada algumas semanas foi possível perceber uma mudança em sua conduta: ela passou
wz mais complexas e condensadas, bem como o surgimento d e novas ações e, a sentar,se p or conta própria para fazer as tarefas, pois tomara con sciência de que
po r co 11sequência, de novas atividades. o conteúd o aprendido com a realização da tarefa permitia,lhe obter melhores
En. 1 contrapartida, a operação converte,se em ação q uando determinados notas nas provas e apropriar,se de maneira mais efetiva do conteúdo escolar.
t'o mpo nnm cntos, que antes eram realizados pela criança sem intencionalidade Para o autor essa transformação de motivos, n a qual esses deixam de ser
111 1 co n :-.dl:ncia, tuas co m a mediação de adultos, sofrem mudanças em suas ca, apenas compreensíveis e tornam,se realmente eficazes, oco rre quando:
1.1cterí.s 1ir as . A repetição mecânica e não refletida d e comportamentos da criança
1'1>m ol1j1..' tos distintos adquire novos contornos quando o adulto lhe ensina como o resultado da ação é mais significativo, em certas condições, que o motivo
111 ili zar, por exc mplo, a colh er na alimentação, ferramenta que antes er a u sada q ue realmente a induziu. A criança começa fa zendo co nscienciosamente
l'l> mo qun lquer o utro objeto, para atirar, bater na mesa ou no chão p ara emitir suas lições de casa porque ela quer sair rapidamente e ir brincar. No fim,
,n 11s ct t . Uma colher, por exemplo, passa gradativamente a ser utilizada pela isso leva a muito mais: ela não apenas obterá a oportunidade de ir brincar,
1 ri a n~'<'l. C l >mo utensílio para alimentação, preocupando-se ela com os m ovimentos mas também a de obter uma boa nota. Ocorre uma objctivação de suas
1 a fin~-d id :1de dt.' seu uso . Dessa maneira, algo que era feito de modo mecânico necessidades, o qu e significa que elas são compreendidas em um nível
J::111ha <llllr:l configurnção, tornanclo,se ação. mais alto [idem, p. 71].
P;u- a " I.' rumprl'l'nde r a passagem da ação para a atividade, p orém, é necessário
l ' l l lt' I'H.I ~· 1· 1, pnH 'VHSo dl' cri:H;ilo de n'lotivos. Lconticv (1 960) explica que existe m No l'Xt' tnpl o nntTrio rnH'IHt' citndo, temos que uma ação (fa ze r a tnrcfa) ad~
doi s I ÍI "'H Hl dt• 111< 11 i vos: os nwt·ivos ape nas compn:~· ns ivci s , tamh('m dwmndos tk rpliri11 11111 IH>Vo Jnnt ivo qlll' 11 dirvcionou; t'llt :lo n n çt~o 1mn s formou~s v t'lll :li ivi~
p .1t l il' 11 Ll l'!\'1 lll l t •:d~t • ltul"l , (! llH 1\HtlivnH t'l ' ll lll H'Illl' l'fki\ ZVH, l ll tllhl'' ll l c llllllt.ldol-i dv d t ldt ~. l \11' I H~Il l 11 'llll'llll~t: IIMIIIl do rt ll l'tll' l dil10111itll d,t lllividlldt• t' d<ltll(ldl> t '\1 11 1\1
'
I wI i d H 1.:- I I IIII' li 114' ( )M 1111 11h ' I l 'I I q H. J 11 Ili 111111 p 11 't' I I ~ h11 ' i.'1 1111 1' III I d I 11"111 I I t I ru H li I l li ' IIII H I lt~'IH "I ( 1111\'t't 'ltlll 'u' t•ln '-~'Pt 1 t 'lll/u~tl, '' I H ' l ' l\~111 ''' t·t'ltn " l'''''' ' "'l •Mt' ~~ "' '"·'H'Ht· ' ' ~' íH_'M
· 11 t41'' h d '\''' wll ~ ncl 11 H dltt11-ttn t~ , ,,1111 ''"' u' fq:dn• , I" u 1,
I lllrf4 \' , :I '.nr 1T, r lwr 1i 1·p í 1111•n 1 ' ' ' t'l 'l lrt tl lrtntllltn -~H , ,,m
51
PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSIQUICO
LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.)

de propriedades naturais biologicamente d ispostas na criança n e n1 <.la

11 ii ' 1"'h,tllt,\ com desenvolvimento infantil e para os educadores de modo geral. convivência social espontânea.
pí!l tlll'ÍO da atividade que o h omem atua sobre a realidade circundante,
A autora explica que, embora Leontiev faça uso do termo atividade para referir-
!,.t!IH.It' AnHsf<1zer suas necessidades fisicas e psíquicas, não há apenas uma forma
li n•lll\'1 111 do homem com a realidade. Em cada momento do desenvolvimento
1
-se tanto à criança quanto ao adulto, é preciso considerar que a criança pequena
,,~,~,. H' lllt'lonam.os com o mundo de um modo particular e irrepetível. começa a evoluir para o processo de desenvolvimento mediante o elemento mais
lt~tHl pode ser observado, por exemplo, na maneira como o recém~nascido simples, qual seja, a operação:
f'l'ltln~·a crn idade pré-escolar se vinculam com as pessoas e com o mundo à
,, 11
'"' v11ltu . O recém~ nascido tem um psiquismo indiferenciado, no qual as fun- Leontiev afirma a expressão atividade principal desde o n ascimento , dado
que requer uma informação importante. (... ] O s ignificado atribuído
• '"'"' pH!qu icas são essencialmente involuntárias e atuam de forma imbricada.
à ativiclade corresponde ao m odo/mêlo pelo qual a cr iança estabelece
l l iHiult·n 6 o centro da situação psicológica para o bebê, pois dele depende a
.II'H·Jn~·i\O de todas as suas necessidades. A comunicação entre bebê e adulto se relacões
' . de suas
com, a realidade externa, tendo em vista a sutisfacão

··~t .dwlecc por meio da comunicação emocional direta, cujo caráter é de ações
necessidades. Assim sendo, torna-se impossivel pretender a anúlise das
atividades da criança pequena a partir de critérios idênticos ao que é
cc 111HI ns c co mpartilhadas adulto-criança, ou seja, pelo choro, pelo sorriso e pelos
próprio das atividades dos adultos (existência de motivos conscientes e
11H 1vi mentos do corpo do bebê, que são significados pelo adulto que a eles reage
hierarquizados, mediações conscientes nas articulaçôes entre motivos e
R:lt:iH(i\ze nd o as suas necessidades (acalmando-o, alimentando-o, aquecendo etc.);
fins, intervincubções entre ações, etc.), dado que reafirma a importância
I·' c ri nn ça em idade pré-escolar tem um psiquismo essencialmente elementar,
:t
da educação infantil, à qual cumpre a função de preparação da referida
11\:tHao n1esmo tempo algumas funções se estão voluntarizando e não atuam mais
d1.: maneira imbricada. Além disso, ela ainda depende do adulto para satisfazer • atividade [id e m, p . .30] .

Hll:tHnecessidades, embora com um grau de dependência menor se comparada a 5


Ao fazer tal proposição, Martins (idem) retoma o "método inverso" proposto
11111 rcc6nH1ascido. Ela já conta com a linguagem verbal como meio de extefnar
por Marx (1987), em que o fenômeno mais desenvolvido explica o menos desen-
Hl' ll pcn:-;amento e modo de expressar seu estado afetivo e emocional. Verifica-se,
volvido. No caso, o fenômeno mais desenvolvido e complexo é a atividade (que
l!t)\ f\0, uma mudança qualitativa no psiquismo da criança, em íntima dependência
~v organiza a partir de operações e, posteriormente, de ações). É da atividade
di\:; rdaçôes com o meio social, que a impulsionam a determinada atividade.
•llle trata Leontiev na maioria de seus textos, pois o autor estuda a forma mais
Essa mudança no psiquismo infantil ao longo do tempo ocorre em virtude
c11rnplexa alcançada ao longo do desenvolvimento humano. Martins (2006) alerta
d1.· 1mnsfo rmações na atividade dominante, principal ou guia, entendida como
•111e, para compreender uma criança em seu processo inicial de desenvolvimento,
":lllll\.'la cuj o d ese nvolvimento condiciona as principais m.udanças nos processos
l.1z-sc necessá rio iniciar a análise dialeticamente, partindo sim d o elemento mais
p:-.lquicos d(\ criança e as particula ridad es psicológicas da sua personatidade num
Hi mpl es d a estrutura - n o caso, a operação, mas sem perder de vista suas relações
d:Hio estúgio do d esenvolvimento" (LEONTIEV, 1978, p. 312). A atividade-guia
n 1111 o mais co mplexo , representado pela atividade, que compreende uma tora~
pos:-;ihilit a: n) o surgime nto, no inte ri o r d e sua própria estrutura, de novos tipos
l!d :11.ll'. Urna c rian ça recé m~nasci da é um ser "operante" cujo comportamento
dl• at'ivid11dc; h) a forrnnção ou a reo rganização dos processos psíquicos (neo-
~·tlt':~ rr~: rizn-sc,
li llll\i\~'nl'H),
essencia lme nte, por reflexos incondicionados, mas é n ecessário
produzindo nH principais n1udnn ças psicológica:-; nn rwrso nalidade
l lllvlldl.·t· l'SSl' modo d e co nduta com base no mais d esenvolvido, que é a ali vi·
ltd :lnl:lll!ll\ ntdn fas~.·. dllllt:, :1 qu :d Sl.' f'onn :1rc\ em l'Ht:\gioH posteriores.
I~ 11111' IH~II ljlll:, dl· :1cnn ln ru m Mnrt·i11s (2006, p. ~O):

ltt•lltllltl'di~t~ i' dttlttlllt' lld•• thcnlt Vid."k d 11 ctli\11 1 q1 n' I'""'· 1111, "A -d•• ht~ll\11111~
11111!1•1111111 11 dlll\t tlu lllll\111111 111 d1o 111 111 111'11, U ljlH 111\M l'li jlt''lk~ 111l1111111M hdl.• rh>t1~~
ll fi ll I'""' · IIII I 111\lll'llloo , ~·-· · llllt\jlll' llltlltl•• llt_ll ll ll qltlllllltl ~i} (1111111'1 '1'11
•-' ,q•t' ltll'i
1H1\Id1Hii' 1 t_', dt . l ltHII tfiiiiiHI 111111111 IIJII rltn
II II III' I
\I tl\1\ 1 1\'(' lld~i l 11 lllllll ll d ito dt• IH' II I•Jllljll itWH I ftnlll \l 1\1'1"'\i"i A fl •.•IH•Ilt!'.t hlllt;llt 111 ooiUrtl.' [I dHtú' d 11 J7, , -,ll,llttlll d ,1 i\tHÍijttlthtdt, , fio" ," (t\.1 1\h"'
q1 tnl idndc
1. . ... .. t.. "11niu.d .1.1 nlí1uH iitt r111 nl'l' dr" 1lt\'11h IIIi! III . I í.IU] _ ;._ln\
• 52 LIGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSiQUICO 53

Ao longo do desenvolvimento, é possível elencar as atividades do minantes etapas posteriores se apoiem nas anteriores, esse fato não elimina a possibilidade
de cada p eríodo, tomando com o base Elkonin (1987): primeiro ano de vida: do surgimento de elementos ou qualidades anteriormente inexistentes: "Sem
atividad e de comunicação emocion al d ireta; primeira infância: atividade objetal dúvida, é errôneo supor que todo o desenvolvimento limita-se ao crescimento
manipulatória; idade pré-escolar: atividade do jogo de papéis; idade escolar: ati- das funções elementares, essenciais, que são as premissas das facetas superio res
vidade de estudo; adolescência inicial: atividade de comunicação íntima pessoal; da personalidade" (idem, p. 254).
adolescência: atividade profissionaVestudo. Mesmo que esse autor não tenha O autor estabelece como tarefas para o psicólogo do desenvolvimento:
tratado das formações subsequentes na atividade dominante, como a idade adulta buscar as mudan ças internas do próprio desenvolvimento; compreender que
e a velhice, por exemplo, essa teorização pode ser explorada em todas as etapas é um processo que se distingue pela unidade do material e d o psíquico, do
da existência humana. Não nos deteremos nas especificidades de cada período, social e do pessoal, à medida que a criança vai desenvolvendo-se; distinguir os
pois elas serão tratadas ao lo ngo dos próximos capítulos. Procuraremos a seguir,
períodos considerando as n ovas formações, graças às quais é possível determinar
tal como proposto, demonstrar a unidade existente entre as atividades-guia de
o que é essencial em cada idade; ter em conta a dinâmica do desenvolvimento,
cada período e as neoformações, todas condicionadas pela lei geral do d esenvol-
considerando-a um processo que alterna períodos estáveis e períodos de crises ou
vimento postulada por Vigotski.
rupturas; considerar que os períodos agudos originam-se de modo imperceptível,
não sendo fácil determinar seu início e fim, mas sendo possível identificar um
ponto culminante da crise em todas as idades críticas, diferenciando-a das etapas
AS NeOFORMAÇÕE:S OU SfNT€S€S COMPLeXAS DAS FUNÇÕE:S
t'Stáveis do desenvolvimento infantil; esclarecer que geralmente é difícil educar
PS{QUICAS € OS SALTOS QUALITATIVOS NO D€S€NVOLVIM€NTO
crianças que estejam vivendo um período crítico em seu desenvolvimento, pois
Neste tópico procuraremos demonstrar que é impossível compreender a vivenciam conflitos mais ou m enos agudos com as pessoas de seu entorno.

totalidade complexa de cada ciclo do desenvolvimento no qual se constitui a Pelo exposto, entre as tarefas importantes para o psicólogo do desenvol-
atividade-guia ou dominante se não se observar que esta é ao m esm o' tempo vimento postas por Vigotski (idem), é importante destacar um conceito: o de
produto e processo dos confrontos entre o alcançado pela criança em cada etapa 11eo.formações. Para os autores da psicologia histórico-cultural, a compreen são desse
e sua situacão social de desenvolvimento. t'o n.ceito esclarece a dinâmica e a característica do desenvolvimento, superando
'
Buscando ro mper com as correntes psicológicas existentes em sua época, as dicotomias clássicas das diversas correntes psicológicas. Esclarece Vigotski
·Vigotski (VYGOTSKI, 1996) dedica,se a ir além das aparências dos fenômenos ou (Idem, p. 255, grifo nosso):
da descr ição dos sintomas comportam entais que a criança apresenta em cada
etapa do desenvolvimento. Ele procurou revelar a natureza interna do desenvol- Entendemos por formações novas o novo tipo de estrutura da personalidade
vimento que se oculta sob os fenômenos externos, captando seu movimento de e de sua atividade, as mudanças psíquicas e sociais que se produzem pela
modo dialético e não linear. Esclarece o pensador russo: primeira vez e m cada idade e determinam, no aspecto mais importante e
fundamenta l, a consciência d a criança, sua relação com o meio, sua vida
Em relação ao problema da periodização do desenvolvimento infantil, interna c externa, todo o curso de seu desenvolvimento em um periodo
significa que devemos re nunciar a toda intenção de classificar as idades pm d;~do.

sintomas e passar, como fize ram em seu tempo outras ciências, n u rTin per io
dização baseada n él essência interna do processo r:-;ttrdndo li tkm, p. 21 ~ I As t wof(mnn~·<">l'H, ou slnt'CSl'H co mpl exas das fu nções psíquicas, em ergem da
~ lt ll ll \' <ln H()ci: d t'tl l qtH ' a crl: ll1 ~':1t'st'(l inse rida, n q unllhc exige dctern•inaclas rca-
Para dl·, (• irnposs lvd itllal{itlal'qu v n d~·sv twn l vi nl c tlft•lllttYi flllll, llt•t lll t•n• tll t' 11111'.4, ' lidH t·xl~rt" lll ' li t H, por Hltil wz, tltnhlll zn ll1 l'tlll~'<"ws ainda rü tn cnmpktanwnt c

dtl illlillllll , l lllHHII 'W I ex pli t' ildtl Cll llll l llll\ l ll llll \~ 1 1'111'illlt' llltltl..' lilljl!l1 t.'l!drt l~tllflll ljllt' d t•fi t'll\ 1ll\'ldi1 H II H l,jltrtilt Hl' l' tdtu tllll IIII 11111\'l lll l'll l tl jlll l'll lll t' lldt•t 1\~ I'Xij!l~ l ll'iii H
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tHt~· edt 1 'lllltlt'rrl t· ''"' 1111 t• ·rn (' tll l• li'' '''Hitnt·i\'q thtlp.wl!ttJ Hdt !ni'1 Mr._n ,n qtll' 11 ,,. ·...n,.... , .••v. ! ., \..lll!e 11 ru(clu;u t11.2 11t'I.Jd 11 t ,, 111 L" Iii h ~~~t!t l ' ' 11 1\ 1dm 1~.~- 11 d ''" LI I. Lili I
54 LIGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PS ÍQUICO 55

reconfigura em n ovos patamares as funções psíquicas, instituindo fo rmas cada Para Vigotski (idem), e mbora aparentemente os períodos de crise se apre,
vez mais interdependentes entre elas. sentem m ais como destrutivas q ue criativos, por m eio de uma análise dialética
Um exemplo nítido desse processo, que d emo n stra a unidade biológico, evidencia~se que
,social do desenvolvimento, é o desenvolvimento da percepção infantil no bebê.
O bebê recém,nascido ainda não possui a condição de fixar o o lhar em objetos O nascimento do novo no clesem'Oivimento significa irremediavelmente
cm movimento. A n ão coordenação d o movimento de braços e pernas é tam, a desaparição do velho. O passo a uma nm·a idaJe culmi na sempre com o
bé n1 uma característica. Em nossa cultura é muito comum que os adultos que ocaso da a nter ior.[ ...] O desenvolvimen to não interromp e jam a is sua obra
co nvive m com o bebê, desde recém,nascido, cantem para ele, fale m em um tom criadora e até nos momentos cr íticos se prod uze m processus construtivos
d e voz diferenciado (ma is afetuoso), levem objetos coloridos e com sons p ara [ide m, p . 259 J.
que o bebê veja (chocalhos, mordedores, pequenos b rinquedos, entre o utros),
pendure m móbiles coloridos e que se movimentam com o vento sobre o berço. O autor demonstra que a crise retrata a necessidade d e continuidade do
As características dessa situação social de desenvolvimento do b ebê produzirão processo d e desenvolvime nto. Superá,la significa empreender movimento na
nele o refinamento d e sua percepção ele sons e d e imagen s, e esse refinamento situação social de d esenvolvimento da criança. Retomando o exemplo: adultos não
produ zirá mais rapidamente a fixação elo olhar em objetos em m ovimento e, podem mais relacionar,se com um bebê que alcança os objetos, que se locomove
posteriormente, o aperfeiçoamento de movimentos com os braços e mãos, na (cngatinhando ou andando), que já inicia o processo de comunicação verbal e
busca por alcançar os objetos, estimulando o movimento e a exploração. nã.o verbal, do mesmo modo co mo se relacionavam com o bebê de 3 ou 4 meses.
Nesse momento inicial, tem os a percepcão como diretriz das d emais funcões A situação social de d esenvolvimento d eve modificar,se, incorporando os novos
. ' '
pslqu icas , as quais se subordinarão a ela e se desenvo lverão na mesma medida ganhos infantis e proporcionando outros ganh os à criança, os quais, por sua vez,
• produzirão outra neoformação, a reorga nização do com portament o e nova crise.
1.' tn qu e aquela se refina. Podem os dizer que essa é a primeira neoformação .
VL·n..' mos então que a situação social de desenvo lvimento d escrita desencaqeia De acordo co m Vigotski (idem), nos períodos críticos é difícil educar a crian,
11:1 n ian ça um processo interno d e d esenvolvimento que, por sua vez, repercu, ~·n porque o sistema pedagógico utilizado não acompanha as rápidas mudanças

1i n~ na situação social existente; ou seja, o bebê, antes passivo, va i ganhand o \'mpreendidas em sua personalidade. "A pedagogia das idades críticas é a menos
comportame ntos mais e mais ativos com relação ao mundo circundante, e tais vlaborada no sentido prático e teórico" (idem, p . 259). Para ele, a compreensão

ganhos no d esenvolvimento impactarão a situação social existente. Essa situação da dinam icidade do desenvolvimento infantil, considcrando,se a unidade
Hoda l, por fo rça das n ovas aquisições infantis, deverá modificar,se: se a criança ind ividuo,sociedade, é fundamental para que seja possível explicar os períodos

11:1o (• mais n mesma, seu ento rno social deverá criar novos modos de lidar com
t k, c ri se e, ao mesmo tempo, elaborar uma pedagogia das idades críticas. Vigotski
(id em) estabe lece da seguinte maneira a periodização do desenvo lvime n to, com
t:Lt, d t• t'du cú,la.
1d t L'rnância e ntre períodos estáveis e de crise: crise pós,natal - p r imeiro ano (2
I) v :1cordo corn Vigotski (idem), é justamente nesse momento que se esta,
IIH.·ses a 1 a no); crise de 1 ano- infância precoce (1 a 3 anos); crise d os 3 anos -
Iwlvvvm os períodos de vi ragem do desenvolvimento: o choque entre os ganhos
ltl ndc pré,esco lar (3 a 7 a n os); crise dos 7 anos - idade escolar (8 a 12 anos);
du dl'H I.' Iwo lvimento- co nfronto qu e produziu n ovos comportamentos na crian,
11isc dos 11 a n os - puberdade (14 a 18 anos); e crise dos 17 anos6 . Essa divisão
\·:1 - l'X igi d 1nudanças na situação social d e desenvolvimento para lid ar com essa
11otn o hcd cce n c rité rios cronológicos rígidos, por isso devem os pensar na relação
1111V:1 ni:1 " ~·a . Po r isso os pe ríodos c ríti cos são distintos pa ra d ist.i1Hns c rian ças,
l llll' t'io rnwntL' exposta e ntre a situação social de desenvolvimento que coloca a
t• il h v: 1ri : 1 ~ o\'S dqwndvm do cnn\rer con creto ern qu e Sl' m nnil't·H tam (sitll ::wflo
e l'lllll\' tl vm nt ividmle c as t mnsformações alcan çadas que geram as neoformações,
Mt H'i11 l dt: ik:Hi'IWo lvinH·nlo). Por q11Hn1·o m:lis tempo n:-~ n· l m,·ta ·~ llt H' illl l'l Ht ' mnnti·
,. ,H H·dd e l'illldo 11s c:lr:ICll'rlsl ira:-~ n tl t·urni :-; c de classe soc ial c d e mais espec ificidades.
\ 't ' l t~ ln Hxnfl ,. 11 ,\ll 'lt: 111ndilknn·n1 , n 11 cn lltÍIHii\1'1.!111 cn n1 ,, ' ' '' ~ ~" ' ' ' ''"''1:111':1 \':to
illllt' l'il'll llltlllll'XÍii lt' nlt\ lll i ll ~ IH' f l l ll l t lll J{:II'f'l t; St~ Ílll l ' fl fl Í(h lll .•l li nh!l'o l'tllf'.,o,ll 11
lltiiH' I\IHIIII II II l'll~t'I"'IHii d tl t11 dt.' " ' -' dt' IH II\ '11 1\ t' l' 11111 :1 !'H_•d ngn UIII dllfl i d n d t~M (' l'fl'lf'l\14,
11 "I" 11n" 11!'ÍI" d,
t~ n, ' II II 'i ti r wrP1n" ~ '' 111 d•:~· 1, Tt'' ,. l' ''t ol i t111 ' 11, ln p. - ~ 1o .. I,'• I" o1 ~ , ,"' r, ,", , .q o11 1dIÍ~ 1 1, 111 h1
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H1

Para melhor entender esse movimento, é importante apresentarmos as três de desenvolvimento de toda a idade, determinando, com a necessidade
lt·ses gerais que, para Vigotski (idem), caracterizam a configuração interna do interna, o fim da situação social do desenvolvimento, o fim da etapa do
processo de desenvolvimeto ou estrutura da idade em cada período da infância. desenvolvimento e o passo para a segu in te, para o superior período de
1\ primeira tese refere~se ao postulado de que o processo de desenvolvimento idade [idem, p. 265].
co nstitui um todo único, com uma estrutura d eterminada ou formação global
que não pode ser compreendida corno soma de partes isoladas ou agregados Considerando as três teses citadas, podemos resumir na Figura 1 o movimento
(twoformação). Ou seja, "a personaLidade da criança se modifica em sua estrutura dialético que, segundo Vigotski (idem), caracteriza o desenvolvimento infantil,
h1Lerna como um todo e as leis que regulam esse todo determinam a dinâmica de o qual se inicia com o nascimento e a inserção da criança em uma d etermin ada
rnda LLma das partes" (idem, p. 262, grifo nosso). Assim, cada etapa terá uma nova sociedade, cultura, classe soci.al:
lu rrn ação central, que será guia para todos os processos de desenvolvimento, os
quais reorganizarão toda a personalidade em uma nova base.
A segunda tese explicita que essa nova formação não é estática, invariável o u
i móvel, mas possui uma d inâmica d e desenvolvim ento que se refere às relações
t•n t rc a personalidade da criança e seu meio social. Nesse caso, o meio não é
l()mado como um "entorno", externo à criança e independente dela. Essa relação
qlll' se estebelece entre a criança e o meio social é denominada de situação social NEOFORMAÇÃO
dl' d esenvolvimento. Para o autor, essa situação: (ESTRUTURA CENTRAL DE
CADA IDADE)
Determina plenamente e por inteiro as formas e a trajetória que permitem •

à criança adquirir novas propriedad es da personalidade, já que a reaUdade SITUAÇÃO SOCIAL OE


sociaL é a 11erdadeira fonte do Jesen'volvimento, a possibilidade de que o social DESENVOLVIMENTO .ti
se transforme em indtvi.dual. Portanto, a J)rimeira. questão que devemos COMO PONTO DE PARTid~ REESTRUTURAÇÃO
resolver, ao estudar a dinâmica ele aLguma idade, é aclarar a situação sociaL de (RELAÇÕES DA SITUAÇÃO
ESTABELECIDAS COM A SOCIAL DE
desenvolvimento [idem, p. 264, grifo nosso!.
CRIANÇA EM CADA DESENVOLVIMENTO
ETAPA) (IDADES CRÍTICAS)
1\ tercei ra tese diz respeito ao movimento inverso, que consiste em "averiguar
c nllH) influi a estrutura modificada da consciência da crianca '
na reconstrucão
'
dt• :-.t li\ vida, já que a criança que modificou sua personalidade já é outra criança,
•ll tn t·xistl' ncia social se diferencia essencialmente de criancas de menor idade" Figura 1 -Movimento dialético do desenvolvimento infantil.
'
l·lnlm ração das autoras.
{ld t:m, ihidcm). Se a cri ança modificou~se de modo radical, será inevitável que se
ll' l'Hit' \t tlll'l' todo o sistema d e relações no qual ela estava inserida. D everá haver

111 11:1 dvsin l·l·graçfio da situnção social de d esenvolvimento anteri or e uma nova

:-~11:1111\'fln Hoci; tl d<.:VI..' ronst·ituir~sc, sendo esse processo o conteúdo principal das
ltl:1dl'H nllic:ut Hxplic:1 o nul·or n1sso:
n di :lj~rnmn pt·on t rn dl'monst· rn r que a periodização do d esenvo lvimento
V IH'gll tllll:. , 1Hlllillllll, ,1111 .,,:lnll' <'i tl l<' tll tl dn lt•t llltHitttlli ' ltltd ,11, , littn tnic'; t ~tpt ' l 11 1111111 :1 espi t·:d d i:1 k:l it'11, cnvolvvndo avnn<;os e recuo:-;, sa ltos c pnrnlisaçôcs.
1l11 u hiJHII,'"i, ~'' 'H III'IIIttt.'hiHI il-1, ll•t l•llt,'I IH 'I'''' ttn• Vt' lll i ' d Ptl' !l\'!d\'!ltll' llltl tLt hJt•I1!H' jll< H 1'/'4Sll M.lll jlltHiti Zid l lh III'! lll 'll lt ll' ll lll\'l H:H l' ~r<.'h l':td: t S 1\H III ividmlt•s·gll i:1 dt.•

,,lnil~lli' tn tlt!Wt•ll\lltlt'!t idndt•t tlrtl htttt f'"IIH'JI.ll l d1 •lllillll l lll'íprinht~ m l'lll lll iH l hllltt
~····

·,-
lÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 59
<i H

A TÍTULO D€ FINALIZAÇÃO ~c, na condiçao de educadores e psicólogos do desenvolvimento, pretendemos


lutar para produzir o desenvolvimento multilateral das capacidades em todas
Considerando os exper imentos realizados com crianças nas diversas faixas as crianças, embora se saiba que esse trabalho não se encontra desvinculado
etárias para elucidar a dinâmica e direção dos comportamentos culturalmente da luta pela superação da sociedade capitalista e suas contradições, responsável
co mplexos, com o objetivo de elaborar leis ou princípios que elucidassem a pela corrupção da personalidade humana e pelo desenvolvimento desigual dos
ontogênese, os autores mencionados, em grande parte de seus estudos, esta, Indivíduos, como apontou Vigotski (VYGOTSKY, 2004) em seu texto A transfor-
hcleciam urna correlação com o desenvolvimento histórico humano, ou seja, mação sociaUsta do homem.
com a filogênese. Entendiam eles que era fundamental demonstrar por quais
necessidades se d eram as transformações realizadas pelos homens na natureza,
com a invenção de ferramentas de trabalho cada vez mais complexas, e ao mesmo R€F€RêNCIAS
tempo explicar como se deram as transformações subjetivas, em consonância com
tais transformações objetivas. Dito de o utro modo, explicam como a criação e o P1 KONIN, D. B. Sobre el problema de la periodización del desarrollo psíquico en la
aperfeiçoamento dos signos (como atividade simbólica humana) seguem a linha ln(ancia. ln: DAVIDOV, V V; SHUARE, M. (Org.). La psícología evolutiva y pedagógica en la
do desenvolvimento do fabrico e apuramento de instrumentos externos. D e IJRSS: antología. Moscou: Editorial Progreso, 1987. p. 104-124.
modo dialético, eles nos apresentam em seus textos a unidade objetivo,subjetiva
I FONTIEV, A. N. Sobre o desenvolvimento do pensamento aritmético na criança. l n:
co mo característica única do comportamento humano.
VYtiOTSKY, L S. A pedologia da idade escolar. Tradução livre e independente. [Título
Compreender como foi possível à espécie humana operar o salto das condutas
111 iginal: PedoLogiia shkol'nogo Vozrasta. Moscou: Biuro Zaochnogo Obucheniia 2-go MGU,
predominantemente primitivas e instintivas- dominantes nas demais espécies-
Jl)28. p. 9,19].
para as condutas artificialmente criadas, mediante o fabrico e a utilização d e •
l(: rrarncntas, e ao mesmo tempo explicar a elaboração de formas artificiais d e - -· Las necesidades y los motivos de la actividad. ln: SMIRNOV, A. A.; LEONTIEV, A.
co municação predominantemente s imbólicas, e n.ão mais naturais, foi fundamen, 1~..; RUBINSHTEIN, S. L; TrEPLOY, B. M. (Org.). Psicología. México: Grijalbo, 1960. p. 341-354.

1:d para que a psicologia pudesse explicar o desenvolvimento sociocultural de um ==--- · O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978.
Hlljl·iro singular, do nascimento à idade adulta. Estabelecer tal correlação com ==--- · Actividad, conciencia y personalídad. Havana: Editorial Pueblo y Educación, 1992.
'> d ese nvolvimento da humanidade elucida o processo singular (ontogenético),
_.__. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. ln: VIGOTSKII,
111 vs mo que este não seja uma réplica fiel daquele. Reproduzir no ser humano
I S.; LURLA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 9. cd. São
~~ 11Hulnr ns etapas percorridas pela humanidade seria impossível, porém os autores '
l'i1 11lo: Icone, 2001. p. 59-84.
II I H> 11l'gn m simila rid ades em alguns aspectos. Na criança, o desenvolvimento se dá

de modo extremamente acelerado, por esta chegar a um mundo no qual há um !.1 JIUA, A. R.; YuooviCH, F. I. A. Lenguaje y desarrollo intelectual en el nino. Madri: Pablo
pl·rrllrso históri co já realizado pelas gerações que a antecederam. A criança vem d,·l Rio Ed itor, 1978.
;I 11111 mundo no qual já existem ferramentas e signos elaborados socialmente, de ~~ - · O papel da linguagem na formação de conexões temporais e a regulação do
111ndo que sua ta refa é apropri ar,se do existente e a partir daí superá,lo, fazendo ,:nmpmm rncn to cm crianças normais e oligofrênicas. ln: LURIA, A. R.; LEONTIEY, A.
1~1mr ii rodn d a história. 1\1 , VY< ll rrsKI, L. S. et ai. Psicologia e pegadogia: bases psicológicas da aprendizagem e do
!Uko 11in (19R7) foi co ntund cn re no explicitar as estreitas relações e ntre ,lt•tit'tlvolvimçnto. Sno Pnulo: Editora Moares, 1991. p. 77-94.
,, pn>hl v11111 d:~ p t.• riodi zn~· no do desenvo lviment·o c a organizil ~'il<> do ensino
. Â psicologia l'xpcrimcnral e o dese nvolvimento infantil. ln: VIGOTSKII, L S.;
t. ~ Ht~ t~ lnt·. 1\s:; lm, 11 :io t' IH>sslwl n ·spotHkr :1 pvrgunt·n: uo {jlll' t' tH'lillll l' 1111ra :1s - '
I 11\UJ\, Â. lt; I ill )N t i i:V, A U11~~WL!Wrll, d('.~l'11wlvírn ento e af)rcndizagem. S5.o Paulo: Icone,
t' t' lllll\'1\1-1 ( l ' "( 'tl llH l t'IH·Iit\1'1 l:ts r" (PA!-1\)1 IA II N I, 200()) St' lll l llllt ·~ t•ll llljlll 'l' IHi t•r
11 -
l'1 1)1n , p Hl) 101.
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LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MAR ILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 61
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CAPÍTULO 3

A T€0RIA HISTÓRICO-CULTURAL DA
P€RIODIZAÇÃO DO D€S€NVOLVIM€NTO
PSÍQUICO COMO €XPR€SSÃO DO MéTODO
MAT€RIALISTA DIALéTICO

JULIANA CAMPRE:GHE:R PASQUALINI'

o presente capítulo, defendemos a tese de que a adequada compreensão da


teoria da periodização do desenvolvimento psíquico da Escola de Vigotski
tl'quer a apreensão do movimento lógico das categorias a ela subjacente, para que
• 11no seja erroneamente interpretada como mais uma teoria etapista do desen,
vnlvimento psicológico, esvaziando,se, assim, de sua força explicativa do real.

Disso decorre o duplo interesse no estudo da referida teoria por parte de
111 ofessores e pesquisadores: pelo objeto em si, ou seja, pela explicação científica
,1, 1 percurso de desenvolvimento do psiquismo, e ao mesmo tempo, por tratar,se
tlt• 11m caso de emprego do método materialista dialético para explicar um objeto
1111 rt icular, representando um movimento de concreção das categorias lógicas e

tlll'todológicas gerais para a particularidade de um dado objeto.


Como explica Prado Júnior (1959, p. 1, grifo nosso), "a lógica, em seu sentido
1111plo, se destina, como disciplina científica, a determinar e fixar a condução do
/tt'llwtmento na elaboração do Conhecimento". O presente ensaio teórico representa
11111 t.•sforço de compreensão das categorias e princípios do método dialético que

,_' tmlu zirnm o pensamento de L S. Vigotski, A. N. Leontiev, D. B. Elkonin e


t• ll~ t•o lahoradorcs no processo de elaboração da teoria histórico,cultural da pe,
111 HIiz:I\'UO do dcsl'nvolvi mcnto, que compõe um importante capitulo do projeto


1 itmlltud,t '''" p~ indugiu, 1\ lltt'llllt' " dnllltll:l l'tll ~·duraçao l'Sl'o lar pe la llniYl'rs idadl· Estadual
l',ltdl l'lt. t "1111111 dt • Mt ·~t pdtu l; llh n" (\ lt~l •,p / At.lloHjiHllll). Rt'll li tnlll'~t :'tgill dt• dtlllttll':ldll IHl ( \•tltrt'
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64 LíGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 65

coletivo de construção de uma nova psicologia - verdadeiramente científica - CARACTE:RÍSTICAS APAR€NT€S € LÓGICA INTE:RNA DO
apo iada em b ases m aterialistas d ialéticas.
D€S€NVOLVIM€NTO PSÍQUICO
O s alicerces da teoria histórico-cultural da periodização foram estabelecidos
por Vigotski, com destaque às formulações do autor no texto "El problema de Vigotski (VYGOTSKI, 1996) defendeu que não é possível explicar o desenvol-
la edad" (VYGOTSKI, 1996)2. Por sua vez, Leont iev (2001a, 200lb) trouxe decisiva vimento psíquico com base na descr ição dos sintomas ou indícios externos, ou
contribuição ao formular o conceito de atividade dominante, e Elkonin (1987, seja, das características do comportamento da pessoa. É preciso decodificar a
1998) foi o responsável pelo m áximo desenvolvimento e sistematização da teoria, lógica interna que gu ia o percurso do desenvolvimento psíquico, o que representa
incorporando as contribuições de Leontiev e Vigotski. um esforço de superação de uma abordagem sintomática, descritiva, empírica e
O que pretendemos demonstrar é que a proposição pelos referidos autores fenomenológica do problema da periodização.
til' uma nova teoria para explicar os períodos do desenvolvimento - m otivada A proposição de Vigotski (idem ) sobre a necessária captação da lógica interna
por insuficiências e fragilidades identificadas nas teorias então existentes - re- do desenvolvimento psíquico como condição para a compreensão científica das
presenta uma nova forma de pensar o desenvolvimento humano. Buscaremos, fases ou períodos do desenvolvimento é uma aplicação de sua concepção geral
pnra tanto, destacar princípios do método materialista dialético que sustentam sobre a análise psicológica sobre o problema particular da periodização. O autor
{'se expressam na teoria da periodização, com destaque à necessária distinção (e opunha-se à análise fenomenológica ou descritiva em psicologia, considerando
i ntcrvinculação) 'e ntre as características aparen tes e a lógica interna do processo '
que esta "toma o fenômeno tal com o aparece externamente e supõe com toda a
d l' d esenvolvimento (unidade dialética aparência-essência) e às categorias movi- ingenuidade que o aspecto exterior ou a aparência do objeto coincide o nexo real,
tll l' n to , totalidade e contradição (e em seu bojo o conceito d ialético de superação d inâmico-causal que constitui sua base" (VYGOTSKI, 1995, p . 103). Apoiando-se
{' ns unidades dialéticas todo-parte e quantidade-qualidade) 3 . em Marx5 , afirma que se as manifestações externas dos fe n ômenos real mente
Ao redigir o presente capítulo, tendo em vista os objetivos do conjunto da expressassem as verdadeiras relações entre as coisas, a simples observação e a
< lhra que ele integra\ consideramos que sua leitura cumpre, a princípio, a função experiência cotidiana substituiriam por completo a análise científica. Como já
llt• orie ntar o pensamento e d irecionar a atenção do leitor para a dimensão lógico- apontado por Duarte (2000), Vigotski, assim como M arx, considerava que a
llll'todológica das proposições que serão desenvolvidas nos capítulos seguintes. apreensão da realidade pelo pensamento não se realiza de forma imediata, pelo
/\ credita mos, no entanto, qu e essa leitura que antecede as discussões específicas contato d ireto com a aparência dos fenômenos, m as implica a mediação de abs-
de cnd a período do desenvolvimento tende a ter caráter sincrético, só sendo trações teóricas: aa investigação científica, por isso, é o meio indispensável para
posslvcl alcançar a síntese mediante um retorno ao texto após o estudo da obra co nhecer a realidade" (VYGOTSKI, 1996, p. 253).
t'o rn o um todo. Ainda que tenhamos buscado ilustrar os princípios e conceitos Coloca-se, assim, a tarefa de levar a cabo a análise científica do problema
.tq ui apresentados por meio de referências a d iversos momentos do curso do dos períodos do desenvolvimento psíquico, o que requer a necessária distinção
dl'sl' nvo lvimento, apenas a visão de totalidade elo processo possibilitará a plena e ntre o plano da aparência e da essência do fenômeno estudado, posto que "na
<'<llllprccnsão das análises aqui desenvolvidas. rl'alid ad e a essência interna dos objetos e sua manifestação externa não coinci-
dl' m" (ide m, ibidem). Apreender as determinações essenciais que fazem avançar o
dese nvolvi mcnto do psiquismo implica, na teorização vigotsk iana, compreend er
as mud a nças internas d o pró prio d esenvolvimento e a dinâmica da transição a
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66 LiGIA M. MARTINS, ANGELOA. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 67

vendar e explicar o m ovimento histórico de sua formação, o u seja, decodificar processa o desenvolvimento do indivíduo, seu psiquismo percorrerá caminh os
sua gênese, as determin ações e mediações que o produzem e suas tendências de bastante distintos n ão só e m cont eúdo, mas também n a fo rma/estrutura dos
desenvolvimento. Um ap ontamento importante a se fazer, nesse sentido , é que processos psíquicos.
os planos da essência e aparência do fenômeno se distinguem e se negam ao A negação da existê ncia de fases naturais do desenvolvime nto determinadas
mesmo tempo em que se identifica m, p ois essência e aparência constituem uma pela maturação do organismo não significa, porém, abdicar da n oção de "fase"
na explicação d o d esenvo lvimento psíquico. Segundo o dicionário Houaiss, o
unidade dialética. Assim, buscar superar a superfície aparente ou pseu doconcreta
termo fase refere,se a "período ou época com características próprias" e "cada
(KosrK, 1976) de dado fenômeno n ão significa descartar sua forma d e ap arecer,
um dos est ados de algo e m evo lu ção ou que passa por sucess ivas mudanças" .
pois esta não deixa de revelar, ao m es m o tempo em que oculta, a essência d o
O psiquismo passa por su cess ivas mudanças ao longo da vida, e n esse processo
objeto , seu conteúdo interno.
é possível identificar diferentes est ados com características próprias. A questão
Desse modo, o que buscaram os autores da Escola de Vigotski foi a formulação
que se coloca é qu e a existência d essas "fases" não é decorrência exclusiva o u
d e leis que pudessem explicar as regularidades que se apresentam no curso do
direta da maturação do organismo: o critério cronológico ou etário não é a de-
d esenvolvimento do psiquismo. Para a lém de arrolar e descrever as características
te rminação que explica as m udanças do psiquismo no curso do desenvolvimento
d e cada período, a t eoria busca compreender por que essas características - e
c m seus aspectos mais decisivos. No en tanto, se essas mudanças não podem ser
não outras - estão presentes nesse período, desvelando a relação que existe e n tre
explicadas pela simples passagem do tempo e maturação do organismo, o que
as d iferentes características que co nvive m no interior de um mes mo período e
faz o psiquismo avançar em direção a n ovos períodos6?
iluminam sua gên ese e devir.
A abordagem do problema da periodização do desenvolvimento pela Escola
N os tó picos seguintes, d eb ruçarem o-n os sobre princípios metodológicos
d e Vigotski orienta-se pela perspectiva da historicidade do psiquismo human o .
necessários para a compreensão do desenvolvimento psíquico em seu m ovimen- •
Shuare (1990) considera que a historicidade é o eixo que organiza e sust enta
to interno, buscando elucidar a natureza e as forças motrizes desse processo. A 1·odos os demais con ceitos da psicologia soviética. Em sua análise, Vigotski teria
complexidade de nossa t arefa com o p esquisadores decorre da própria nàtureza introduzido a psique no tempo histórico; a natureza histórico-social do psiquismo
do objeto, dadas as múltiplas d eterminações e mediações que agem em seu humano seria, para Shuare, o conceito fundamental proposto pelo autor.
processo formativo. Começarem os nosso pe rcurso abordando o problem a d o
d esenvolvimento psíquico em sua natureza histórica. Os fenômenos psíljuic.os, a psique humana, sendo sociais po r sua ori-

gem, não são dados de uma vez para sempre; existe um desenvo lvimento
hi stó rico desses fe nô menos, uma relação de dependência essencial deles
O CARÁT€R HISTÓRICO DA T€0RIA DA P€RIODIZAÇÃO DO em relação à ,·ida e à ativiclade social. [... J a história d a psiqu e humana é
D€S€NVOLVIM€NTO a histó ria social de sua constituição [idem, p. 61].

U m primeiro fundamento da análise da periodização do desenvolvimento


A relação de dependência essencial dos fenômenos psíquicos em relação à
feita pela Escola d e Vigots ki é a n egação da existência de fases naturais univers:l i:-.
\'li ln c à atividade social, como colocado por Shuare (idem) n o excerto referido ,
válidas para to d os os seres human os e m qualquer contexto e a q u alq u er tempo .
lllltlnc in o caminho m etodológico para uma abordagem histórico-dialética do
A observação e mpírica cotidi ana d o crescirnento d as crinn\' ll:-i n nossn vo ltn li1 p1·ol )ll' ITHl dos períodos do dese nvo lvimento psíquico. É justamente a atividade
pn recc r q u c o d csc nvo lvi m c n to p sfq u ico v a i produ zi nd t H H: tl:lllll'll l v vspo n 1:u wn htiltl l\111\, co mo fl' ntHncno histo ri ca m e nte situado e d eterminado, que permitirá
1 1
1l H' 11(' l' 1 Sl'g'Uind o 11111 :\l'Hj)tTJl' dl' "ciclo VÍI':d" 11 i\l'lll':d l' \llliVI't 'fli d , 1·t 11'1' 111 11 il ll lÍ Ji :-H·
dvll t ll'ktl (:11\ll'tlpol<'ll{irll, lli:.. tt'l t' il'l\ v psirul<'lgkn) lt'VII IIIl e tllt~ tll. l lllll ' lllll dv qt tt• 1 1 11
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68 LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FAC CI (ORG.)
PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO
69

elucidar as mudanças que se processam no ps iqu~smo ao longo d o desenvolvi,


A análise de Elkonin (1998) acerca d a o rigem histórica do jogo protagoniza,
mento. Em outras palavras: a categoria,chave para explicação do problema dos
do é especialmente ilustrativa desse princípio. Apoiado em estudos históricos e
períodos do desenvolvimento é a atividade.
antrbpológicos, o autor defende a tese de que o jogo de papéis não é expressão
O que alça a atividade a esse posto? A atividade é mediação na relação de supostas "tendências instintivas" infantis, mas "nasce no decorrer no desenvol,
dialética indivíduo,sociedade, relação esta que se desenvolve e se co mplexifica
vimento histórico da sociedade como resultado da mudança de lugar da criança
justamente à medida que a própria atividade mediadora se desenvolve e se no sistema de relações sociais" (idem, p. 80). Em síntese, o argumento sustentado
complexifica (ou seja, a mediação transfo rma os dois polos da unidade e é pelo autor indica que, nos períodos históricos e comunidades marcadas por uma
transformada conforme a própria relação se desenvolve). Ao eleger a atividade economia primitiva, as crianças participavam d a vida dos adultos e aprendiam o
como categoria nuclear para a explicação do psiquismo - e para o problema manejo das ferramentas de trabalho inserindo,se diretamente na atividade labo,
específico dos períod os do desenvolvimento -, os autores soviéticos garantem ral; com o desenvolvimento das forças produtivas (envolvendo equipamentos de
a perspectiva da totalidade na explicação do psiquismo individuaL Isso porque trabalho mais elaborados) e o aparecimento de formas mais complexas de divisão
a atividade é determinada e condicionada pelas condições concretas de cada do trabalho e relações de produção, foi tornando,se inexequível a participação das
momento sócio,histórico, e ao mesmo tempo é mobilizadora e formadora do crianças no trabalho produtivo, determinando um prolongamento da infância
psiquismo individual em sua singularidade. e o afastamento e independência da vida infantil em relação à vida produtiva
Como destaca Leontiev (2001b, p. 65, grifo nosso), "cada nova geração e da sociedade. Nesse contexto, o jogo de papéis surge como "um modo peculiar
cada novo indivíduo pertencente a certa geração que possuem certas condições de penetração na esfera da vida e relações adultas interditada para as crianças"
já dadas de vida, que produzem tam bém o conteúdo de sua atividade possível, (idem, p. 76)7. Conclui o autor:
qualquer que seja ela". O conteúdo da atividade que se desenvolve nos limites

dessa atividade possível m obilizará o psiquismo em dada direção, promovendo o Com o jogo protagonizado, começa também um novo p eríodo no de-
desenvolvimento de determinadas funções psíquicas e capacidades. Isso decorre senvolvimento ela criança, o qual pode ser justificadam.ente d.enomin<ldn
da relação de dependência entre o desenvolvimento das funções psicofisiológicas de período dos jogos protagonizados e recebeu na moderna psicologia
e a atividade do indivíduo, apontada tambéln por Leontiev (2001b) ao afirmar infantil e na pedagogia o nome de período de dese nvolvimento pré-escolar
que qualquer função psíquica se desenvolve e é reestruturada no interior do li~em, p. 80].
processo concreto que a realiza.
A mudança n o conteúdo da atividade humana que se produz ao longo do Vemos assim concretizado o arg umento de q ue a mudança no conteúdo da
processo histórico engendra, portanto, mudanças no psiquismo dos indivíduos c 11 1ividade humana que se produz ao longo do processo h istórico resulta em mu,
no pró prio curso de seu desenvolvimento, afetando diretame nte a periodização. tlanças n o psiquismo dos indivíduos e no próprio curso de seu desenvolvimento.
Essa compreensão permite que Leontiev (idem) afirme que, embora a sequência A partir dessa proposição, pode,se compreender que o estudo científico do d e,
de períodos do desenvolvimento ao lo ngo do tempo seja uma regularidade d<, t•nvolvimento psíquico deve apoiar,se na análise do conteúdo da atividade das
desenvolvimento ontológico, os limites etários e o conteúdo de cada períod< 1 1 11~ssons, investigando como essa atividade é constituída nas condições concretas
são determinados pelas condições históricas concretas nas quais se dá o dcsl'll , ,,.vida c seu im pacto sobre o psiquismo em desenvolvimento.
volvimento da crianca:
, Avançando cm direção ao problema específico dos períodos do desenvolvi,
t'll l.l ll! o pslq ui co, isto é, dos impactos da atividade social no curso de fo rmação

N l'tlt 11 (' tl l ll l' t'tdtl d,,., \"·Htl )~ i m; tH'Ill S tt :t M't pt t~ lll ht 1111 l t_' ll'I H11 I H l l'(' tll , 1-1:111 ' ''-' pslqttisnw Jndividunl, Lvonticv (2001h) defend e a tese de q ue as diferentes
llltlll:h't'Í'i ... , l.ll lllti ,lt· 1111111 \ '1'% 11111 ' llld,p,, I .. J 1\•t i lltll licttl 11 h t•l l t'tt it': l.; 'IIII
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de ativid.ade dominante, entendida como aquela que guia e produz as mudanças para analisar o desenvolvimento histórico das sociedades humanas e também o
mais importantes nos processos psíquicos e na for mação da personalidade da desenvolvimento do psiquismo!
criança em cada período de se u desenvolvimento8. O movimento da realidade, ou seja, a perspectiva de que tudo se transforma
A complexificação da atividade do indivíduo a cada novo período do de- é princípio fundamental do materialismo dialético, em oposição a concepção
senvolvimento, expressa na transição a novas atividades dominantes, engendra dos fenômenos da realidade como dados, estáticos e eternos. Mas o que signi-
novas formações psíquicas, graças às quais, para Vigotski (VYGOTSKI, 1996), pode- fica afirmar que tudo se transforma permanentemente? Esse princípio deve ser
-se determinar o essencial de cada idade. Assim, na teoria histórico-cultural da compreendido no contexto da relação dia lética movimento-estabilidade: ainda que
periodização do desenvolvimento, a identificação da atividade dominante e das os fenômenos da realidade não sejam estáticos e eternos, sua existência guarda
n eoformações psíquicas permitirá estabelecer os critérios centrais para distinguir relativa estabilidade - se assim não o fosse, não seria nem mesmo possível a
os períodos concretos do desenvolvimento infantil. Mais que estabelecer quais identificacão dos fenômenos! Portanto o desafio colocado ao analisarmos a
'
são as atividades dominantes e as neoformações típicas de cada período, contu- realidade social - e em específico o curso do desenvolvimento psíquico - refere-
do, faz-se necessário compreender a dinâmica de transição de uma idade a outra
·se à identificação elos mo m entos em que predomina a (relativa) estabilidade e
(idem), evidenciando a gênese e o processo formativo das novas conquistas do
os momentos em que prevalece o movimento, ou seja, a mudança de qualidade
psiquismo infantil qu e car acterizam uma mudança de estado do psiquismo, o dos fenômenos.
que exploraremos a seguir.
Na teoria da periodização h istórico-cultural do desenvolvimento, esse
princípio concretiza-se ao defenderem os autores que o desenvolvimento do
psiquismo é um processo que se caracteriza pela alternância entre períodos
A R€LAÇÃO DlALéTICA €NTR€ MUDANÇAS GRADUAIS € SALTO
estáveis e períodos críticos. Defende Vigotski (idem, p. 255) que "em idades
QUALITATIVO •
relativamente estáveis, o desenvolvimento se deve principalmente às mudanças
. .
Vimos que o desenvolvimento caracteriza-se pela formação de novas capa- microscópicas da personalidade da criança que se vão acumulando até um certo
cidades e funções psíquicas engendradas pela atividade (social) dos indivíduos. li mi te e se manifestam mais tarde com o uma repentina formação qua litativa-
Trata-se, portanto, de um processo marcado por sucessivas mudanças no psiquismo mente nova de uma idade". A transição a um novo período do desenvolvimento
individual. Torna-se fundamental, nesse senddo, compreender a natureza dessas configura-se, assim, como salto qualitativo que resulta do acúmulo (quantitativo)
_mudanças e as forças motrizes responsáveis por sua ocorrência. de mudanças graduais no interior de cada período estável do desenvo lvimento.
Para Vigotski (idem), é equivocada a visão do desenvolvimento como process< l Nos períodos de trânsito o u períodos críticos, ocorrem mudanças bruscas em
linear evolutivo meramente m arcado pelo acúmulo de mudanças gradua is: seu um curto período de tempo: (Cem um espaço de tempo muito breve a criança
curso é permeado por pontos de virada, rupturas, mudanças bruscas que "recm muda por inteiro" (idem, p. 256).
claro o curso de acontecim entos revolucionários tanto pelo ritmo das mudança.., A proposição vigotskiana acerca desse trânsito, antecedida n o campo da
como por seu significado" (idem, p. 256). Assim, a Escola de Vigotski concebe o p:-;icoiogia do desenvolvimento pela teorização do pesquisador soviético Pavel
desenvolvimento psíquico como processo que combina movimentos evo lutivo~ P. Rlonsky (VYGOTSKI, 1996), expressa a compreensão dialética geral acerca do
e revolucionários. dese nvo lvimento dos fenômenos, qu e
Na perspectiva dialética, conforme Vigotski (idem), evolu ção e revolu ção s:u1
duas formas de desenvolvimen to vinculadas entre si, q u L' SL' pn·Hs ttp(k m rccipt·n p:1ss:1 dt• tnudnt\~':ts tptnntirarivas insignificantes e latentes a rnud;mças
camen te. M.ucla nça q uantitativa (cvo luçfio) c tTlud a n \~11 ( 11 111 III uti "" ( l't 'V( lltt \'!lo) Slllt nparvnlt•s c rndic: tis, :1 llllHI:uH::ts q11<1litativns; onde ns mudanças qualita-
ns duas fn rmns que ;~ssltnw o mov inH· nt o da t·vn lidtH II·. l ~l'ltH.' lll'ltll'lpltlL'' v:'tl ld 11 1 h•t ts 11 :'i t1 síitt gl'!ldll:tl ~, lll :ts r:'tpidil~ c st'lhilas, v St' tliWI':IIn pur ~a lt os, d l'
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Isso permite compreender que a existência do período crítico explica-se não A CONTRADIÇÃO COMO MOTOR DO D€S€NVOLVIM€NTO
como sintoma acidental ou secundário, mas como decorrência da lógica interna PSÍQUICO
do desenvolvimento psíquico , fruto da relação dialética entre quantidade e qua-
Compreender a alternância de prevalência na relação movimento-estabilidade e
lidade que engendra a reestruturação do psiquismo. Trata-se de um período de
as transformações qualitativas n o psiquismo humano que indicamos no tópico
tensão que envolve, ao mesmo tempo , um "trabalho destrutivo" do psiquismo
anterior implica destacar a contradição como motor do desenvolvimento histórico
(VYGOTSKI, 1996, p. 259), pois o nascimento do novo significa necessariamente
dos fenômenos. Um dos princípios fundamentais do materialismo dialético é que
a superação do velho, e um trabalho construtivo, formativo e criativo da psique.
n. realidade se produz como fruto da [uta dos contrários. Politzer, Besse e Caveing
O período de viragem pode, ass im, ser compreendido como expressão da luta
entre o velho que ainda não morreu e o novo que ainda não nasceu. ·: ,. (1970, p. 70) explicam e articulam esse princípio do método:
A depender das condições educativas, a crise pode agudizar-se a ponto de gerar
na criança vivências íntimas dolorosas e conflitos com pessoas de seu entorno. Vimos que roda realidade é movimento, e que es~e müvimento, que é

Isso se dá quando a mudança global em gestação não encontra amparo n o entor- universal, assume duns formas: quantitativa e qua li tativa, necessariamente
no social do sujeito, ou seja, quando esse entorno não é também transformado. ligadas e ntre si. Mas, por (zue há movimento? Qual o motor da mudança e,
Tal quadro produz, por via de regra, uma estagnação do fluxo desenvolvente ern particular, da transformação da quantidade e qualidade, da passagem
em pauta, exacerbando a tensao - entre o "ve1110" e"o novo " , representada por de uma qualidade para outra qualidade nova?
descompasses entre a pessoa e seu contexto cultural, ou, se preferirmos, entre
sujeito e objeto. Vale lembrar que a psicologia tradicional também se dedicou A resposta dos autores a essas perguntas é que "toda mudança qualitativa
ao fenômeno das "crises" do desenvolvimento, mas com uma grande diferença .:· solução fecunda de uma contradição" (idem, p. 75). Conforme os autores,
em relação à psicologia histórico-cultural: localizou sua origem nos recôndito~ • não há movimento que não seja consequência de uma luta de contrários: "um
da subjetividade da pessoa. 11 niverso completamente vazio de qualquer contradição estaria condenado a

Na teoria histórico-cultural, o período crítico ou período de viragem refere- se repetir; jamais poderia ocorrer algo de novo. A contradição é, pois, interna a
-se, em última instância, ao salto qualitativo que resultará na mudança do tipo Ioda mudança" (idem, p. 71). A contradição encerra duas forças que se opõem,
dominante de atividade. Leontiev (200lb) êxplica, assim, que no interior de um l' portanto se combatem, mas ao mesmo tempo são inseparáveis, estabelecendo

dado período (estável) do desenvolvimento se produz a formação e a reconstrução vntre si uma relação de reciprocidade. Não se trata, assim, d e mera oposição ,
· gradual das ações e operações da criança, criando condições para a mudança d(l mas de unidade dos contrários, de uma contradição que é interna aos fenômenos.
tipo dominante de atividade n a transição ao novo período9 . Portanto a mudan Essa contradição interna, como luta entre forças opostas que se desenvolve n o
ça de atividade representa um salto qualitativo que se produz com o acúmul(l tl'mpo, é que forjará a formação do n ovo:
gradual de formação, aprimoramento e requalificação de ações e operações.
Como implicação pedagógica, fica evidente que o investimento na formação dl· As mudança~ qualirati\'as põem, assim, em evidência, em dado momento
n ovas ações e automatização de operações no interior de um dado period o dt 1 do processo histórico, aspectos novos que são resultantes da vitória sobre
desenvolvimento mostra-se, assim, fundamental, como condição para a gêntsl
o qul' 0 vdho. M as is::;n não é possível a não ser pelo fato de que a('i forças
e o desenvolvimento da nova atividade dominante. do ti()VO se desenvolveram Cl)ntra o velho, no próprio se io do vel ho .

1... 1 E no SL~ io do vel ho que nasce o novo; é contra o velho qu e o novo se
d vsl' l \\'(l lw. A l' Uil t rad it;i'iu SL' rl'solve quando o nOVl) supera elefi nitivan.1.ente
11 w ii Hl . Apnlvt t',l .' lll i lll, 11 car:\ll' l' in n\'ildlH, a (entl ltlidaclt' d <1S c1mtradi çôe('i
1.> l) '•l'): t ltH I P I :q dtttloo .~ . ... l t li\'111 ,tl u •td ol 11 oll li'd i ,H' .l t• t\ , I .... 11111 ·\ •l lt 1 ! t " .III r~l!llllll'it .III itll\l.lttl llllt.' t'llll I) 111111111 " ' ·' pn ' jlill',l 11 :1 lu litl.'n lltl:l 11 p:1ss:tdt1 I Pl)JII/I ·H; Hi .:"S i i ;
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t 'AVI I '\li '• I')/(), p, 7111
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PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 75

Como pensar o problema da transição a novos períodos do desenvolvimento Na idade pré-escolar, a contradição central se dá entre a tendência à atividade
psíquico por meio da categoria contradição? C ada período estável do desenvol, independente ou n ecessidade de agir da criança (que resulta das inúmeras con,
vimento é caracterizado por uma dada contradição central. Analisemos alguns quistas psíquicas acumuladas nos períodos anteriores do desenvolvimento) e a
períodos à luz dessa proposição. interdição à ação n o mundo adu lto em virtude de sua impossibilidade de executar
N o primeiro ano de vida, conforme Vigotski (VYGOTSKI, 1996), o bebê viven; as operações exigidas pelas ações (LEONTIEV, 200la). Essa contradição vai sendo
cia a contradicão
'
entre a máxima necessidade de comunicacão'
(como condicão . gestada ao longo da primeira infância e se expressa de maneira nítida na crise
para a própria sobrevivência) e a carência de recursos ou meios para efetivar a dos 3 anos (VYGOTSKI , 1996), período de viragem que tem como característica
comunicação social (inexistência da linguagem). Nas palavras do autor: fundamental a reivindicação d e maior autonomia perante o adulto (muitas vezes
expressa na forma de teimosia ou negativismo). A entrada na idad e pré;escolar,
há no primeiro ano de vida uma wciabilidade totahn.e nte específica, como explica Leontiev (200la, p. 120,121, grifo nosso), é marcada pela
profunda, peculiar, en1 virtude de uma situação social de d esenvoki-
mento única, irrepetível, de grande originalidade, determinada por dois expansão da q uantidade de objetos humanos, cujo domínio desafia a

momentos fundamentais. O primeiro deles consiste em um conjunto dl' criança como um problema [... J. Uma criança que domina o mundo que

peculiaridades elo bebê que salta de imediato à vista e se define quast· a cerca é a criança que se esforça para agir nesse mundo.

sempre como urna total incaJJacidade biológica. O bebê é incapaz de satisfazei Durante esse desenvolvimento da consciência do mundo objetivo, a crian-
qualquer de suas necessidades vita is, suas necessidades mais importanrv~ ça tenra, portanto, integrar uma relação ativa não apenas com as coisas
e elementares podem ser satisfeitas apenas com a ajuda elos adultos t(lll' diretamente Clces~íveis a ela, mas também com o mundo adulto mais amplo,
dele cuidam.[ ... } Portanro, a relacão do bebê com a realidade circund:1111c· isto é, da se esforça para ag ir como um adulto. [... J
• •
é social desde o princípio. Desse ponto de vista, podemos d efini r o hel11 Essa situação é também a fonte d.e uma n.o~1a e rara contradiçtw. Ana lisemos
como ser maximarnen te social. essa contmdíção em sua expressão externa. A forma exterior desta nlwa
contradição[ ... ] consiste en1. um conflito entre a fórrnula clássica infantil
A segunda peculi aridade que e<:tracteriza a situação social d e desem'<ll
"me d· e1xa
. , e a ctl)rma nao
- menos c1'ass1ca
' do aouJ I
.to nao .c1a~~a , . [.. .., H -

vilTte nto no primeiro ano é a segp inte: aírlda que o bebê clepcnd:l 11111
completo dos adultos, ainda que todo o seu comportamen to e::-teja inwn;,, Em uma atividad~ infantil, isto é, em sua real forma interna, l:!~sa contradi-

no social, ele todavia carece dos meios fundamentais de conumicaçâo socrlllllct ção surge entre o rápido desenvolvimento de sua necessidade de agir com

forma da linguagem hama.na. Precisamente essa segunda caracterbt ict, '''"


os objetos, de um ladc.\ e o desenvolvimento das operaçôcs que realizam
essas ações (isto é, os modos de ação), de outro.
união com a primeira, confere a mencionada peculiaridade ú silll :t• 1111

social de desenvolvimento em que se encontra o bebê. A mgani:;ll,:tll di


Conforme Leontiev (idem), essa contradição é canalizada no jogo de pa;
sua vida o obri§.!a a manter uma comunicação má.xima com os adull<l~, til ,,
jlol~ :1tividade que emerge como dominante no período pré;escolar, a qual, por
essa comunicação é uma comunicação sem palavras, fundanwnl :drn~· nll
l!rl t'll f'!H'te rística de atividade sem fins utilitários, cujo motivo está no próprio
silenciosa, uma comunicaçilo de gênert) totalmente pcculi;tr. () dvs1 11', d, I
!HtHl'sHo (não nos resultados) - , deixa a criança livre dos modos obrigatórios
rnenw do bebê no primeiro ano Sl~ hascia na ccntlmdi~·tro l' lltn· sua 11111 \ 111111
jl, 11~;1 1· (mqwcto ope racion al), mas preserva a possibilidade de apropriação do
sociahilidndc (cm virtude ~LI situ:,,·,lo cm lJlll' 'il' t'IH' <l llll :t) <'Hl l:ts 111111111 11 1
t•ll l t•t'rd u (:-;v nt ido social) dn:-; açõcs hu manas, engendrando novas qualidades
p\lss ihil id advs dv \:t 1111 1111 il :H;: ttl, Iidl~ ln, p. :U~· I ·),~'(\ ~!l' i l11 IIII'>M •I lilt p11 lq1lls tn o i11f:111t"i l d t•c ls ivns pnm o pleno d esenvolvimento dos processos
I ''I ILjlllt 'IIH Ii i I I H! I it ll'l 'S.
E:-~s: t 1' () 1, t rn d 1çi" , t'· l'' " , 1di w dn nn 11 1111 1'"'s li d1: 1 1 111, 1111 k111,·n1_1 I_' IIII ~~ 11 11 ud d 11 r i 11 l : llllt ' l il\ilcti'l~tdt~ l t•Ht '' 11Ci f1, ~~~llll l ln sv I )rn~!l lll PVll ( 1971), pmlt- mos d estarn r
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(.li IvI d11 d\ li li H I 11 11 111 1 dI I I H. I Ic 11 lt I) \ 'li_' "III H I I\ l'\ I Ifi I_I I li.~" 1'1 w~ ti "I nH' III I I dI\ lid11, I i 11
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psicologia histórico,cultural como época de transição entre infância e vida adulta, De um lado, a sociedade regula a atividade infantil, oferecendo possibilida,
momento no qual a criança se encontra a caminho de seu lugar na sociedade e des determ inadas e apresentando demandas e exigências progressivamente mais
é produzida a sua incorporação à vida social dos adultos. Nas sociedades indus, romplexas. As novas exigências vão m obilizando na criança novas capacidades e
trializadas, como explica Dragunova (idem), apoiada em estudos da antropologia, funções psíquicas e criando condições para a formação de novas ações, operações
essa trans ição é marcada por uma ruptura entre o que a criança aprende na l' motivos. Ao mesmo tempo, de outra parte, o acúmulo de conquistas psíquicas

infância e o conhecimento necessário para cumprir o papel de adulto. O ado, vai produzindo internamente a necessidade de ruptura e mudança, o que ten,
lescente per manece em uma posição intermediária entre ser criança e adulto: 11 iona o lugar ocupado pela criança no sistema de relações sociais, compelindo à
tem a tendência a passar ao grupo dos adultos e gozar de algu ns privilégios que l'cestruturacão de suas relacões vitais.
' '
não possuem as crianças, mas ao mesmo tempo os ad ultos ainda não o aceitam Vemos, assim , que no processo de vida o lugar que a criança ocupa no sistema
plenamente como um igual. de relações sociais objetivamente se altera, mas a criança não se limita a mudar
Sob tais condições, a passagem para a vida adulta tende a transcorrer em de lugar no sistema de relações sociais: "ela se torna também consciente dessas
meio a conflitos interpessoais e intrapessoais, muitas vezes resultando na fal ta relações e as interpreta" (idem, p. 82). Na transição ao novo período, a criança
de preparação para cumprir o papel de adulto quando se chega à maturidade tnrna,se consciente de uma esfera de relações que é totalmente nova para ela.
formal 10• Há fatores sociais que tensionam a contradição na direção de uma ou I )essa forma, cada salto qualitativo no desenvolvimento psíquico representa, ao
outra tendência de desenvolvimento, como a dedicação exclusiva aos estudos n1 csmo tempo, uma mudança na atividade (social) do indivíduo e a reestruturação
(sem obrigações sérias permanentes) e a prática comum em famílias de classe 1 Ic sua consciência.

média e elite de se proteger o adolescente de preocupações, aflições e tarefas


cotidianas, que contribuem para retardar o desenvolvimento de traços adultos;
em contrapartida, podemos destacar a enorme torrente de informações a que •
A TRANSIÇÃO A NOVOS P€RÍODOS COMO SUP€RAÇÃO DIALéTICA
tem acesso h oje o jovem e a aceleração do desenvolvimen to físico e sexual, que

inversamente contribuem para a supressão de traços de infantilidade (idem). Ess:1 Com o vimos no tópico anterior com Politzer, Besse e Caveing (1970, p. 75),
luta entre fo rças con trárias é determinante no processo de transição à vida adulta. 1' 1 >nsiderando que "toda mudança qualitativa é solução fecu nda de uma contradi,
Podemos perceber, com os exemplos mencionados, que as condições para a •;:to", podemos compreender que a transição entre períodos do desenvolvimento
transição a um novo período do desenvolvimento são gestadas ao mesmo tempo ' •1nfigura um processo de superação, na acepção dialética do termo.
·por forças externas e internas ao psiquismo. De acordo com Leontiev (2001 h), Na perspectiva da lógica dialética, aquilo que é superado é ao mesmo tempo
a contradição entre as capacidades do indivíduo e seu modo de vida é fatt l t' tll·gado, conservado e transformado. Vigotski (VYGOTSKI, 1995, p. 117,118) elu,
determinante nesse processo. ' 1dn o sentido de superação na perspectiva dialética ao discutir a relação entre
À medida que se desenvolve e conquista novas capacidades, o indivíduo ro prnccssos psíquicos elementares e superiores:
meça a se dar conta de que o lugar que ocupa no mundo das relações human ;h
que o circunda não corresponde com suas possibilidades, as quais já superar:1111
I [egcl disse que é preciso recordar o duplo sígni fi.cado da expressão ale-
seu atual modo de vida. Isso desencadeia um esforço para modificar o lugar q tl l.'
mã ".mimu.t-superar''. En tendemos essa palavra em primeiro lugar como
ocupa nessas relações (LEONTlEV, 2001). Essa necessidade interior, então sent.it b Cl I'1mmn
. r ,, , "otrr tsaH1egar , e cl'1zemos, c1essa LIorma, q ue as le1.s
• o .
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H.\f?W11f-c
pela pessoa, seja no início da idade pré,escolar o u na adolescência, como vi mns,
1 " 11/mt;zcIr1e 111,· supnm1(
es1;Hl :11 11 1Iata:-;, . .f·tca
· · Ias "; mns essa mesma pa Iavra stgnJ
emerge em conexão com o fato de se esta r enfrentando novns lill'vfns e novll'• • ",\Ojrt
. /l l ii. ·I'O I\Sl'I'Vi\ 1' ,
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exigê ncias ed ucacionn is c sociais.
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próximo período, da mesma maneira como "foi no seio da velha sociedade feudal,
leis que os regem estão enterradas na forma superior do comportamento,
c contra ela, que cresceram as novas forças de produção e as correspondentes rela~
isto é, aparecem nda subordinadas e ocultas.
ções de produção das quais deveria sair a sociedade capitalista" (PouTZER; B ESSE;
CAVEING, 1970, p. 74). Isso significa que no interior de cada idade se produzem
Nessa direção, podemos compreender que as atividades dominantes em cada
as condições para a reprodução do período e, ao mesmo tempo, manifestações
período do d esenvolvimento são su peradas na transição ao novo período, o que
empíricas de atividades que estão em oposição aberta à atividade dominante, ou
não significa que são eliminadas: incorporam~se como conquistas do psiquis~
seja, condições para a su a superação.
mo infantil e se requalificam em virtude das novas capacidades conquistadas,
Para ilustrar esse princípio, podem os n os reportar à gênese da atividade
realocando~se na h ierarquia das atividades infantis, isto é, subordinando~se à nova
objetal manipulatória- pela qual se reconh ece e são apropriados os modos de
atividad e domin ante ao m esmo tempo em que lhe for necem bases.
ação social com objetos na primeira infância- e sua superação como atividade
A comunicação com o adulto, por exemplo, constitui a atividade dominante
dominante na transição à idade pré-escolar. As premissas dessa atividade são
no primeiro ano de vida e não desaparece como tal na transição à primeira in~
formadas ainda no primeiro ano de vida, no contexto da manipulação primária
fância, mas se requalifica na medida em que surge a possibilidade de mediação
d os objetos, que pode ser compreendida como linha acessória d e desenvolvi~
dos signos da linguagem. Ao mesmo tempo, a comunicação direta emocional
mento do período, subordin ada à linha central, que é a comunicação emocional
com o outro, entendida como troca afetiva sem o recurso a palavras, n ão deixa
direta com o adulto.
de existir na vida dos indivíduos: passa a ocupar outro lugar (não dominante) na
O que é impo rtante perceber é que a manipulação primária de objetos nasce
hierarquia de atividades, mas transformada em sua forma e em seu conteúdo -
no interior da comunicação emocional. É justamente na relação d e comuni~
como resultado do desenvolvimento da relacão, do indivíduo com as emocõcs
'
cação emocional que o adulto organiza o contato da criança com a realidade,
(próprias e alheias) e dos demais processos psíquicos que atuam como mediadores • apresentando objetos e estimula ndo sua man ipulação, promovendo, ass im, as
nessa relacão. rondições necessárias para a formação de ações sensório~motoras de manipula~
'

Como sintetiza Elkonin (1987, p. 122): ~'ão . O acú rnulo de aprendizagens sensóri o~motoras que se produz na segunda
metade do primeiro ano d e vida cria condições para a emergência da atividade
Na vid a surgem novos tipos de ativicbde,
. novas relações da criança cou1
1 lbjetal propriame nte dita, que requalifica a relação da criança com os objetos do
a realidade. Seu suq,ômento e cl1nversão em atividades pritlcipais n :11 •
l'ntorno: passam a ter d estaq ue não n1ais as propriedades externas dos objetos,
' eliminam as atividades existe ntes anteriormente, elas apenas mudam d,
m.as sua funcão social e o modo d e sua utilizacão historicamente desenvolvido
lugar no sistema geral de relações da criança com a realidade. mrnn1 11 I" ' '
pda sociedade.
l mais ricas essas relacões.
• Durante a primeira infância, a atividade objetal mobiliza intensamente o
li psiquismo infantil, nele produzindo novas capacidades. Ao mesmo te mpo, em seu
E como "surgem" n ovas atividades que se constituem como domin ant es ~
1n ter io r se produzem as pre missas para a formação da p róxima atividade~guia, o
Cada nova atividade é gestada no interior da atividade dominante de um d ado 1ngo d e papéis. Conforme Elkonin (1998, p. 231), ap oiado nos estudos realizados
per íodo, progressivamente se diferenciando e se emancipando (da mesma nm t.um colaborado res, "todas as premissas fundamentais do jogo se apresentam du~
neira que d iferentes formas d e atividade tiveram relação genética com o trabidl ll' mnt l' o d ese nvolvime nto da atividad e da criança com os objetos sob os auspícios
na h istória humana). A atividade dominante vai esgotando~sc como font l' d,•
dv ndultos c CIYI atividad c co njunta co m eles". Destacamos do conjunto dessas
desenvolvim ento d e novas capacid<:ld es psíqu icas e u rnn novn nt· ividnd~: d l'~ po11t ,,
p1·vmi Hsas a t\· nd 0ncia pnra atuar co m independ ência, tomando o adulto como
co mo guia na transição ao novo pl'rlodo. 1nnd vln dv '' \'no, l! 11 s11hst·it liÍ \'éto lt'1di ca dl! ohjctos, qu e se vai tor nando possível
Por l'SS:\ t'i\ ZÍIP , o t vrmo rwrlm lo (· 111íliS Hdvqllilll ll !III I' fl ldt•lll d i' l ' l ilj H1: \ll li l l
11 lnt•did a ljll l~ :1 c ri :tl l ÇII nlctlll \' 11 o d n nlllli n d t• a\·ovs ohjl't"nis. C omo expli cn
1~ 111p11 ~~ · i 11 iri :1 I 1\l:liH\1 l ii 11111\:1 i111 1'1 1' 1' 1\1 '1'11'11 1 III l j"l l\l'll'll ll lll t 1 1'111 t'tll1 11 ) \ 111 \ll 11' 1 Hill
h ll•ll l dl\ (ldetl'1) 1 li q11 e l'l 11 'ill~ fl'l'i ZII íltlll\111''1 t!ll t: d !H l l l l il(l! lll II II jngn dt• p:tpl'• is Hllll
h ltUul'lrt' tlll11111d d11 IHIItull 111.'1 111, 11111 111 l ltu ltl í'tt lll t't1 [1 11 IW I J t 111l u í1l 111111 11 11
, flll flti vldmlt.·H n nn il/4 ''h.k t·· ~ tfll t' t t~ n' lll'l"11rnn(·l11 t~IH' illl, · ~~vidl'tH: In111 ,,,. IIII HiuR
• 80 LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTU RAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQU ICO 81

sociais de utilizá~los que se formaram ao longo da história. Para além d o uso Assim, os períod os (ou idades) constituem formações globais e dinâmicas q ue
social dos objetos, na transição para a idade pré~escolar passa a interessar para a determinam o papel e o peso específico d e cada linha parcial d e desenvolvimen~
criança o sentido social das ações co m os objetos, ou seja, as relações sociais n o to, ou seja, d e cada parte que a integra. "A relação ent re o todo e as partes, tão
interior das quais os objetos da cultura são utilizados pelos adultos. essencial para entender a estrutura, é uma relação dinâmica que determina as
Findo o período da primeira infância, a atividade objetal não se extingue e mudanças e o desenvo lvimento tanto do todo co m o das partes" (idem, p. 263).
continua presente durante toda a vida, emergindo sempre que n os deparamos Na m esma direção, Leo ntiev (200lb) pontua a impossibilidade de compreen~
com novos e desconhecidos instrumentos da cultura. O que ocorre é que, com são dos processos parciais d o psiquism o valendo~se d e si mesmos, sem referência
os avanços no desenvolvimento d as funções psíquicas superiores, as mediações à totalidade d o psiquismo e, portanto, à atividade dominante em d eterminado
conceituais se interpõem entre o suj eito e o objeto, requalificando o próprio período:
processo de apropriação d e novas ações objetais.
as mudanças ob~ervadas nos processos da vida p~íquica da criança, dentro
dos limites ele cada estági~.>, não ocorrem independentcrnente um do outro;

A R€LAÇÃO TODQ-PART€ NOS MOVIM€NTOS D€ eles estão ligados entre si. Em outras palavras, eles não constituem linhas

R€€STRUTURAÇÃO DO PSIQUISMO independentes de desen\'olvimento de processos separado:, (percepção,


memória, pensamento etc.). Embora essas linhas Je Jesetwolvimento tam~
Até o momento, destacamos o caráter histór ico d o fenômeno do desenvolvi; bém possam ser separada~. é impnssí,·el, quando as analisamos, encontrar
mento psíquico e identificamos a contrad ição (ou luta de contrários) como m otor diretamente as relaçôel' que promovem seu desenvolvime-nto. É duro que
fundamental de seu movimento, que se caracteriza pelo acúmulo de mudanças gra; o desenvol\'imento da memória, por exemplo, forma uma sequência unid<l
duais no interior de uma dada atividade que resultam em mudanças qualitativa~ • de mudanças, ma~ sua ncce~:sü.lade nã.o é determinada pelas rdaçt1es que
no psiquismo - as quais são, ao mesmo tempo, manifestadas e engendradas pela S\Jrgcrn dentro do desenvolvimen to da própria m etnórin, mas por rdaçOes

mudança de atividade dominante. D ebruçaremo;nos agora sobre outro aspecto ilHe clej)enJem. do
lugar que a memória ocujJa na arividade da criança t!m ttm certo
central da perspectiva metodológica e epistemológica da Escola d e Vigotski, qu e estágio de seu Jescmdvimento [id em, p. 78-79, grifo nosso].

permite compreender melhor a natureza das· mudanças qualitativas no curso do
desenvolvimento psíquico: a relação entre as partes ou elementos que compõem . M obilizados pela atividade social d a pessoa, os processos psíquicos partícula~
· o psiquismo e sua concepção com o totalidade. rcs desenvolvem~se e mudam de lugar na estrutura inter funcional. Como explica
No capítulo d edicado à estrutura das funções psíquicas superiores, Vigotsk1 Martins (2013), o curso de desenvolvimento de cada uma das fu nções psíquicas
(VYGOTSKI, 1995) defende a tese d e que a psicologia deve abandonar a perspectiva (sensação, percepção, atenção, memória, linguagem, pensamento, imaginação e
de explicação do psiquismo como resultado d a soma mecânica de elementos (ou t' lnoções~sentimentos) não é linearmente uniforme e só pode ser compreendido
processos) isolados. A nova psicologia, defende o pensador, deve trazer a primei n, pela adoção de um enfoque integral, pois se encontra condicionado pela dinâ~
plano o significado do todo, suas propriedades peculiares específicas que na<, mica psíquica instituída em cada período do desenvo lvimento cultural e pelo
podem deduzir;se da soma d e suas partes. Empregando esse princípio na anúli :-.~· pnpcl que cada processo desempenha nas atividades realizadas pelo indivíduo
da periodização do curso do psiquismo, Vigotski (VYGOTSKI, 1996) enuncia COillll .ln longo de seu desenvolvimento: "a concepção de desenvo lvimento psíquico

tese geral qu e o processo de d esenvolvimento em cada período et':\ri o "co nstit 11i ~~ ~n paut·n, tn l corn o apresentad a por Vigotski [e corroborada por Leontiev] ao
um todo único e possu i um a estrutura d etermin:H.In", r11 1d l11 1Hi o 11 t>X p1TI4H: I<l diHHt'r t·a r sohn: n l'Hrru tu ra dns f u nçôes psíquicas superiores, indica contínuos
estrutura dn idndc. O autor dcfim• L'strutu ra co mo "m1 lilltl\11\IH'II l(lt,hals 1\ i \11 ll'mn.Jns intt·rl'ul)donnis v, IH'HSl' setHido, o psiquisrn o é, permanentemente, a

co mpostns pel:1 somn dt: p:lltt·s i:ml:a lli H, cn 1IHl 1111111 1'''1"' I•' tk• H/P'I nadt m, 11111 lll'tintln<;illl dt· 111i t-. i'IIIH,'IH'H. 1':, IHll't:tii(P , ltwv inwnto" (MARTINS, 20 11, p. 70).
•11 1•· IHlt' Hi IIH :H ittn .., dt·t•''''li'll"'' 11 det~tttl ll ~· ,, slwdfkltil• •t.ll1 t-ndn 1'111 111' q111•n Vlglll•d I (V'1 11 ,1-SI·~ I, j l)l)(,) <'1\llllc·lltl\ 1': " l '•·dlllllll't lp:·d l.llti< ' i l dn id11de lllllt:ritll'
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( ld L!Iú ._ f) . _).(J,.!.) 11 '111\ HII,I I'Itl lt•Ht' t'lll l_llflll IHIVII t lll t' 111p1 1: Hl: lttllll1l ,'1 rth·~ lld11 tlllt.' 11 Ct'lll llÇh lll'
t{'l LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PS[QUICO 83

tlesenvolve. A transição a um novo período do desenvolvimento representa a a realidade (e consigo mesma) é requalificado: os estados subjetivos tornam,se
1nmlificação da estrutura geral da consciência, que em cada período se distingue conscientes e se generalizam os afetos, levando à superação da conduta espontâ,
pur um sistema determinado de relações e dependências entre seus aspectos nea e ingênua característica do período pré-escolar (idem, p. 379,380). A criança
p:lrticulares. Articulando o princípio da relação entre quantidade e qualidade e pequena não conhece suas próprias vivências: alegra-se, mas não sabe que se
co mpreensão dialética da relação todo-parte, podemos compreender que cada alegra; sente-se triste, mas não se sabe triste. A ingenuidade e a espontaneidade
11< lVO período do desenvolvimento psíquico representa uma mudança qualitativa que caracterizam a conduta do pré-escolar significam, em ú ltima instância, que
q11V e nvolve a reestruturação do psiquismo cont.o um todo, produzindo um novo a criança manifesta-se externamente tal como é por dentro. A mudança que se
t:i po de relação entre criança e realidade social que tem como lastro a reorgani- produz nesse período de viragem, denominado crise dos 7 anos, representa,
ZII\'no das relações interfuncionais entre os processos psíquicos. na análise de Vigotski (idem), a orientação consciente de suas vivências, a dife-
Como vimos, na transição ao novo período, a criança torna-se consciente renciação incipiente da faceta interior e exterior da personalidade. Ela passa a
dl' uma esfera de relacões totalmente nova. A nova estrutura da consciência compreender o que significa "estou alegre" ou "estou triste" e ser capaz de julgar
~·\
'
Ctl nquistada em cada período significa que a criança percebe de maneira distinta se us êxitos e insucessos. Essa conquista será decisiva para o desenvolvimento,
t nn to a realidade externa quanto a sua vida interior, o que engendra uma relação 11a idade escolar, da atividade de estudo, que se caracteriza como atividade que
qua li tativamente diferente da criança com o mundo a cada novo período do visa alcanÇar resultados determinados, isto é, que tem como finalidade explícita
l l~·sc nvolvimento., • t' consciente a assimilacão de conteúdos escolares.
'
Na primeira infância, por exemplo, com o desenvolvimento da fala, a p ercep- A transição para o primeiro período da adolescência, por sua vez, é marcada
t;nn do entorno é requalificada, convertendo-se em percepção semântica (mediada pnr um novo salto qualitativo na consciência, destacando-se como neoformação
pl'los signos da linguagem). Aliado às conquistas no plano do desenvolvimento p.'41q uica a autoconsciência. A medida que é ampliada sua inserção nas relações
11 ltll t )J', isso cria condições para a superação do encadeamento imediato percepção- IIH 'iais e , ao mesmo tempo, desenvolvido o pensamento conceituai- que permitirá
t~ IIIO\'flo-ação que marca o funcionamento psíquico e a conduta do bebê no 11 ka I IÇar profundo conhecimento tanto da realidade social externa quanto de
p l'i llll' iro ano de vida. Embora a conduta infantil no novo período seja ainda IIli rea lidade psíquica interna - , surge no adolescente a necessidade de conhecer
r111 H.lamentalmente determinada pela Situação visual presente, essa conquista é tt.l.., próprias particularidades, o que o leva a realizar uma análise de sua per-
t lvcisivn para que a criança passe a perceber os objetos para além de suas proprie- ll llalidade como meio para organizar suas inter-relações e sua atividade sociaL
d11d~o•s fiH icas aparentes e comece a relacionar-se com eles como instrumentos d a l :,,,,, isso, um fator novo e fundamental no desenvolvimento da personalidade
n dttl nt - atenta a su a denominação, função social e modos de uso socialmente Ii ii tHlll lt•scê n cia é que, pela primeira vez, o próprio adolescente converte-se em
d ett:nninndos. Essa relação que se institui com o material é expressão da nova t dd•.> lt, de sua atividade, buscando influir sobre si mesmo, ou mais que isso, criar
11 tI t udc perante os objetos, característica própria da atividade objetal manipu- ' td IIH.'s mo (DRAGUNOVA, 1973). Interessante perceber que é nesse contexto que
lntt'll·ia, a <ltivid ade dom inante do período. É n o bojo dessa transformação que t ,,,lllt,'Íit, rom os pares torna,se significativa, emergindo a comunicação íntima
l lllllht·m ns relações co m o adu lto se requalificam, pois este passa a ser percebido j it,IHu,; d n 11110 atividade dominante, pois, no período anterior do desenvolvi.men-
pi' III ninn\':l n5o ma is co mo o ce ntro d a situação psicológica, mas com o portado I' tt 1, 11 c1 11 1vivrncia com igu a is fazia parte do cotidiano da criança no contexto da
dn11 ct li\ h ccimc ntos relativos ao manejo e d om ínio elos instru mcntos culturais. , •d11 I'I ZII\'Ho, rn as não era o bjeto central para sua consciência e interesse.
Nllt> t'• poHH iwl, port·anto, comp ree nd e r o d ese nvo lvimento da percepçflo ou da Vl1 11t '"'' nss i IYI, qu e cada períod o etário caracteriza,se por uma nova estrutura
lllt'l pl'i:l !': dn :-;,;m d ~.·Hven(.hr ns rc l n~·ôcs cntrt..! esses p rocessos ps íqui co:-~ e st u p: 1p~:l 1,, t••II Mdt~ ll l' itt, pvc ulinr c irre petível, cujas características referem-se à totaUdade
I\ 11 l tl I I' l'lt l I' dH II I iVid11 dt' d Oll) i 11:\I 11'V . lt tli PI•. tt ' t''1HCIH p.-;!q 11 ietlHi mpi icad os nn unidad e indivíduo-sociedad e, e não podem

( )11 11'1 1 du dvHl' ll VO IVi iiH!I110 qli V pndt• llUH 1\ii Xi lilll' 11
JII P III t' l\( ll dtl CIII'Stl ! tlt1ftt'tt'lldidllh dn ll H'I'll :-;o 1nn doH pmrcsHos pnrcin i:-; qu e n constitu em, m as
'V''li'll~t.~ l ll l t• t 111-1 lt~Ht'll t' lll tt•ltt m•tHH' tt'qlktl t'~ H t:I 'IIIIH i~'t\tl :'1 ldm lt• t'lh ,,lnl', Nt•HHi !11'1 lii i'IICitl.tt lt•M p Hftj lli t'IIH ljllt ' l't'Ht ill ll lll d 11H l't• lll(,' (kH t' lll'l icl d n<,'<lt'H l'lll'l'l' t' l l'li: H

111 '''"''' cl'ltlt:t.1 ~"'"''' ;t lnt ~••llu• t' llt;n,, ,1., "l~tr,,,, lntt• lt•t tll ttl " n nl l t~ltllll ~''' '' '" 1111~~ lh it!llt1 f\ tt lc'll ll.' t,III H pll't['tl'ill~ vlvt" t11.: I11H
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• f'I.RIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 85
84 LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.)

quicas, ao mesmo tempo em que são produzidas justamente pelas novas relações to~gonizado, atividade dom inante na idade pré-escolar: "Essa trajetória de cima
interfuncionais dinâmicas entre eles engendradas na transição ao novo período. pn ra baixo, da análise da forma desenvolvida para a história de seu aparecimento
,. decadência é op osta ao evolucionism o trivial e constitui o segundo grande
princípio metodológico de nossa investigação" (idem, p. 24). O autor demonstra
A FORMA MAIS D€SE:NVOLVIDA COMO RE:FE:RêNCIA PARA A 1 p re a atividade lúdica das crianças desenvolve-se e identifica graus ou níveis de
1 l1•senvolvimento dessa atividade. Ao discutir o processo for m ativo do jogo, afir-
ANÁLISE:
ttHI o autor que, "tendo surgido no transcurso da primeira infância e na idade
Caminhando para a conclusão de n ossas reflexões, discutiremos um im· pr·{~·escolar, o jogo protagonizado desenvolve-se intensamente e alcança o nível
portante princípio orientador na produção de conhecimento científico sobre <1 ttt:\ximo na segunda metade da idade pré-escolar" (idem, p. 233). A conclusão
desenvolvirnento d o psiquismo e seus p eríodos e que, ao m esm o te mpo, indica 1l1· Elkonin (idem), em síntese, é que o ca minho de desenvolvimento do jogo vai
·nos um horizonte pa ra a prática pedagógica e psicológica co m prometidas com 1 l.t ação concreta com os objetos à ação lúdica sintetizada e, d esta, à ação lúdica
a promoção d o desenvolvimento humano . fiJotagonizada. N esse percurso, o papel assumido na brincadeira desenvolve-se
Marx afirmou que a anatomia do h o m em é uma das chaves da a na tom ia 1· npera como mediação que requalifica as ações da criança e o significado dos
do macaco. Essa ideia foi explorada por Duarte (2000) e pode ser consideradn 11hjctos com que opera. Com isso, Elkonin (idem, p. 301, grifo nosso) identifica
um princípio fund a m e ntal para a produção de conhecimento científico e nt •lt tns grandes fases fundamentais no processo de formação da atividade lúdica:
geral e, particularmente, para a abordagem do problema d a periodização dll
desenvolvimento à luz do materialism o dialético. Trata-se do princípio da form:l Na primeira (de 3 a 5 anos), o conteúdo fundamental do jogo são as ações
mais desenvolvid a como referência para análise e co mpreensão d o fenômeno , 11 objcrais, de orientaç::ío social, correspondentes à lógica das ações reais; na
cha m ado método inverso 11 • •
segunda (de 5 a 7 anos), as relações sociais estabelecidas entre as pessoas e o
O princípio do método inverso p ermite elucidar o caminho que orie nto serttido social ele sua atiqlidade, correspondentes às relaçôes reais existentes
a análise do processo d e formação da atividade humana, que se inic'ia n o prl,
entre as pessoas.
meiro ano de vida. Cada nova atividade qu e se constitui e se co n solida a cadn
novo período do desenvolvimento deixa urn legado para o psiquismo, fruto d!tk
Somente com a análise da forma mais desenvolvida do jogo é que se revela,
apropriações cada vez m ais ricas e complexas da cultura humana, expressas 1111
I · ~ (nto, a importância d essa atividade para o desenvolvimento psíquico infantil
desenvolvimento de capacidades que amplia m as possibilidad es do indivídu o d1
t'lt conteúdo essencial: "o jogo é uma atividade em que se reconstroem, se m
estabelecer uma relação con sciente com o mundo e com a sua própria existênl t.l
llt ll~ lJtilitários diretos, as relações sociais. [... ]. No homem, é jogo a reconstrução
inserção nele. A proposição sintetizada no método inverso indica que os p:tn\·
1, 11 m a atividad e que destaque o seu conteúdo social humano: as suas tarefas
metros para analisar e explicar esse processo de constituição e desenvolvirn et)ltt
ttH normas das relações sociais" (idem, p. 19-20). Essa compreensão permite
da atividade só pode rão ser estabelecidos to mando-se como referência a fontllt
ltlt'idnr as formas elementares de jogo , em que as crianças se limitam a ações
mais desenvolvida d a atividade hun1an a, porque nela encontramos em fotlllf\
.I 'I!' I nis isoladas e fragmentadas, situando-as no curso de formação da atividade
plena o que se apresenta em forma embrionária nas atividad es que a preced\ 111
ptnpriame ntc protagonizada. Isso significa que a análise da forma mais desen-
Na sequência de nossa argumentação, a n alisaremos a ad oção desse J11111 (' 1·
i 1lv1d n releva aspectos válidos também para formas menos desenvolvidas, mas
pio m etodológico na particularidade do estudo d e um determinado perfodl1t hi
• lllvvrso n no é n ecessa ri amente ve rd ad eiro (DUARTE, 2000).
desenvolvimento para, e m seguid a, discu t ir su as irnpl irll~·ovs I Hl :'\ rnhit·o gl·r:tl du
Nnt·vmos, co rHud o, qu e n co rnpree nsão da atividacle lúdica co mo reprodução
análise d o dese nvo lvime nto ps íquico hu m nno .
ll ltl l'i tHl lll ilit1\l'ins dirvt ns d ns rL· I n~·m·s socia is não L' possível Sl' ITI se elucidar suas
Hlkonin ( 199R) atHitH'in a ndn~·:ln d() prindpin 1111 ftllltdl'1liil'tt d11 ln t'lltll IH II I
!lllt ~lll','t ~~t' tl (: lkll h t:lll11 H :t!ividmlt: prudtr t ivn {cot1Hl it tl vid:tdc prim:\ ria l' Vital
dt'Sl' IWnlvidil lll i1 Hl l'eft: ll1 1H Ítl p.llíl 11 lll l.'dt'il' t'lll Ml'lttl t'"'l\ldt"tf.l li~t lll t li 111~:11 l 'll i
liittl\,11111), i•llt 'l t". •lt' llt d lll iÍil;lt, dc1 IH111tc1 dt \i••t.t lu:Hill'kll ~~ k1g11n, ,ts n: Lt,IH'~
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• 87
86 LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MAR ILDA G. D. FACCI (ORG.) PI.RIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO

Nessa direção, Eidt e Martins (2010) destacam a importância da categoria Em segundo lugar, ainda tomando como referência a discussão de Eidt e
trabalho como referência fundamental para a psicologia do desenvolvimento. Martins (idem) sobre a importância do trabalho como categoria fundamental
Pontuam que a infância marca o início da constituição da atividade, a qual se para a psicologia do desenvo lvimento, fica evidente que não é possível produzir
apresenta como m.eta do processo de desenvolvimento. Explicam que a criança 1'1 mhecimento nesse campo teórico;científico sem se garantir uma articulação com

começa a alçar seu processo de desenvolvimento mediante o elemento m ais ,, análise da sociedade em que esse desenvolvimento se processa. Isso porque, se
simples da estrutura da atividade, ou seja, a operação, e avança na direção lb ,, trabalho em seu sentido ontológico guarda possibilidades de pleno desenvol,
constituição da atividade propriamente dita, que pressupõe intervinculações entrl' vimento humano, no contexto do modo capitalista d e (re)produção da vida ele
ações orientadas por motivos hierarquizados e conscientes. Afirmam as auto ras •l' expressa e se concretiza fundamentalmente como trabalho alienado, dada a
que a atividade infantil tem a possibilidade de se complexificar e enriquece r '"a subordinação ao im.perativo de reprodução ampliada do capital (garantida
por intermédio das diferentes formas que assume ao longo do desenvolvimento pda expropriação dos meios de produção da classe trabalhadora).
(atividade dominante) e destacam que, n esse processo, a atividade complexa do Para levar a cabo uma análise efetivamente historicizadora do desenvolvi,
adulto é a referência para a análise do desenvolvimento da atividade infan t il. 1t1e11.to psíquico infantil e humano em geral, é preciso não apenas situá;lo con,
Assim sendo, 'retamente nas condições sociais e educacionais (desigualmente) ofertadas para a
tnfância, mas, fundamentalmente, captar e desvelar as determinações e mediações
as vicissitudes ps icológicas do processo de desenvolvimento da cr iança l' do mundo do trabalho e dos processos de alienação a ele inerentes no bojo da
ou do jove m só pode m sc:r captadas se não os des ligarmos das vicis~ítudl' 111ciedade capitalista. Recuperamos aqui a i.deia anteriormente apresentada de
psicol(>gicas d o homem adulto , v[sto q ue, se a criança/jovem ~ u adul1, , '111c, ao eleger a categoria atividade como nuclear para a exegese do psiquismo,
em processo de formação, o adulto é a expressão do alcance deste pmcc~:-o·• •1s autores soviéticos garantem a perspectiva da totalidade na explicação do

[idem, p. 682] 11siquismo individual.

Tal indicação das autoras nos leva a d estacar dois apontamentos. Pri me i
ramente, não se trata de se estabelecer um "modelo,padrão" de atividade a Sl' l <:oNSID€RAÇÕ€S FINAIS
alcançado como meta do desenvolvimento dos indivíduos, mas de se iden ti 11
car as características e as qualidades da atividade humana que expressam suaR Para finalizar o presente ensaio, gostaríamos de destacar o seguinte: a siste,
máximas possibilidades de desenvolvimento historicamente alcançadas pvl1 1 IJHitização da teoria da periodização do d esenvolvimento psíquico pela Escola
gênero. O traba lho, em seu sentido ontológico- como atividade teleológica JH ll ,lt• Vigotski expressa um projeto de form ação humana: a formação do homem
meio da qual o homem transforma intencional e conscientemente a realidadl·, 111\lnilateral, para a qual toda nova atividade que se constitui e se consolida a
produz conhecimento sobre ela e desenvolve (coletivamente) novas capackl adl'l;, , ,,da novo periodo do desenvolvimento deixa um legado, tornando,o apto ao
forças e necessidades -, expressa qualidades exclusivamente humanas que, p:l t;t dl·senvolvimento da práxis .

seu pleno desenvolvimento, requerem complexos processos de apropria ~·at, t• O que sign ifica, em última instância, essa compreensão da teoria como pro,
objetivação da cultura que, no curso da vida do indivíduo, "localizanH;e" l"ll l III<>? Tc n1os clareza de que ne m todas as crianças em idade pré,escolar nas atuais
períodos determinados de seu desenvolvimento. Ao lado da atividadc prod11 ~,; ,liHii~·õcs so ciais e educacionais brasileiras alcançam os níveis mais desenvolvidos
tiva, podemos também destacar a atividadc humanrt na l::-dl'nl da arte C<llltll d11 jogo protagoni zado. Arriscnmo,nos a afirmar que a atividade de estudo, tal
expressão possível das m{lxirnas possibi li dades coiHjllistnd ltH pvln g011l'l'(l. 1 ~ 111 rtiiiiO colwl·hid:l por D:widov, (orn'Hl~:-;c crn parcela ínfima de nossas crianças em
síntese, podemo:-; s ituar na pr;'1xi s r otH'l'hida 1 n 1no 1. 1 11u lt· ~t·aiH·fnnn : t d••l 1d11d v l 'M' t dai'. Mas c:dw :\ <' Íl' IH i:1 11:10 :qwnas ide ntifi car ou rctratnr o existe nte,
l'<lllsci vntv, ll't'lt il-~ 1 l' l ' l Íl :111\l ' llll! tli'Íl.:IH:td,, - 11 1H t i' I V•I'tl~1 th~ i ll't4' 11\'ltl \' tlll lltlt · 111\ll'i .iJ ll llll.ll' ,1', (dl \'l' l ~. , ..,) l "'"~ tl l did i Hit~s ,k; M' ll l k vil , i1Hii t 1\I Hin caminhos para
dii !IIÍ VItl;tdl; ltlllll llllol, 11 jlll"lti iiJHII 1 \' l ll ~ ,llll 111'1\'l tfl tll' i\1fl hl!liHtni_I HC jiiii!JI, 111 11 111~ 11 lllll1_' 11 1idi 21 11' rtt pldl'ti til I\' 1111'11111 pt 1.1 11 , 111 ~ 11 tl'lll oll,,)t l d,,.., t 'lllllli \ lll'}• ljllt' i111
____ I,. i • • cÁ~I u • • . . . ...... . . &..4 ...
' ·~ ... .l ... ,,., _, ,,_, ., l,l ,.,. _,, _, ,l._.w, t lhH il v lrn u uu.LhUui ~Lllll de L,HJ IIILWLIJt~H'h lil ~ 1\ lt 'l. ll 'l111,' lllllj llt 11
HH LIGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.) i 'I .HIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 89

ass im, papel de mediação teórica (in strumento) na captação e análise d o real l11"tórico-cultural d o desenvolvimento que será detalhadamente apresentada n os
tendo em vist a subsidiar a intervencão transformadora . llrt')ximos capítulos deste livro. Acreditamos que se aproprian do d os princípios

O que se mostra fundamental na captação e explicação do real quando se lttJ{icos e meto d ológicos da teoria, o leitor terá condições de alcan çar um entendi-
tem como objeto o d esenvolvimento psíquico humano aspirando promovê-lo llll'nto qualitativam ente superior do sistema teórico e laborado pelos pensadores
em suas máximas possibilidades? Em síntese, a Escola de Vigotski convida-nos a 11lviéticos, por compreender su as bases e fundamentos.
compreender o desenvolviment o psíquico como processo não predeterminado
pela hereditariedade ou por leis n aturais, analisando-o para além daquilo q ue
se apresenta aos olhos como sintomas o u indícios comportamentais, com base R€F€RêNCIAS
em uma abordagem integral (não atomista) do psiquismo, ou seja, concebendo-o
llili\GUNOVA, T. V. Características psicológicas do adolescente. ln: PETROVSKI, A. Psicología
como totalidade dinâmica que se desenvolve pela alternância entre movimentos
graduais cumulativos (que preservam relativa estabilidade) e momentos revolu- tvoi.Htiva y pedagógica. Moscou: Editorial Progreso, 1973. p. 120-17 5.

cionários disruptivos (que se expressam como abrupta mudança qualitativa). I ll li\RTE, N. A anatomia do homem é a chave da anatomia do macaco: a dialética em
Tal concepção nos conduz à b u sca por desvelar as relações e conexões entre os \'iHotski e em Marx e a questão do saber objetivo na educação escolar. Educação &
caminhos já percorridos e as novas fo rmações psíquicas, t omando como refe- \u,ted.ade, Campinas: CEDES, ano XXI, n. 71, p. 79-115, 2000.
rência para explicar a formação d o psiquismo individual e guiar a intervenção H1111, N. M.; MARTINS, L. M. Trabalho e atividade: categorias de análise na psicologia
p edagógica orientada para promover seu desenvolvimento a totalidade social L· l1t.l'órico-cultural do desenvolvimento. Psicologia em Estudo, Maringá: UEM, v. 15, n. 4,
as formas mais desenvolvidas da atividade humana. I' (l75-683, out./dez. 2010.
Para o professor que busca subsídios n essa teoria para sua atividade pedag<')-
1(1~:nNIN, D. B. Sobre el problema de la periodización del desarrollo psíquico en la
gica, fica claro que não se trat a de "classificar, em qual período está a criança. •
ltdnncia. ln: DAVIDOV, V. V.; SHUARE, M. (Org.). La psicoLogía evolutiva e pedagógica en la
A teoria fornece princípios gera is/universais (válidos para compreender o

ck·· I mSS: antología. Moscou: Editorial Progreso, 1987. p. 104-124 .
senvolvimento do nascimento à velhice) e orienta o pensamento no processo de
=--· Psicologia do jogo. Trad. de Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fo ntes, 1998.
captação e análise do real no sentido de destacar aspectos fundamentais a serem
observados e acompanhados pelo professor no curso do d esenvolvimento de I· c lSIK, K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Terra e Paz, 1976.
seus alunos. Mais que identificar a "fase, em que se encontra a criança, é precis< 1 lltlNTIEV, A. N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. ln: VrGOTSKII, L.

analisar o singular-particular das crianças com as quais se trabalha, considerand<, ; I URJA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, d.esenvoLvimento e aprendizagem. 9. ed. São
o estado atual do desenvolvimento e suas possibilidades de vir a ser. Auxiliando< 1 l'111do: Ícone, 200la. p. 59-83.
professor nessa desafiadora tarefa, a teoria fornece elementos que apontam para .1:> - · U ma co ntribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. ln: VIGOTSKII,
máximas possibilidades de desenvolvimento humano, indicando: as capacidad<·., S. ; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N . Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 9. ed. São
psíquicas a serem formadas na cria n ça e m cada período como premissas pa r;t l'.1tdn: Ícone, 200lb. p. 119-142.
seu desenvolvimento o mnilateral; as atividades que a cada m omento têm p os!'> l
tvl 1\l~ II NS , L. M. O desenvoLvimento elo psiquismo e a educação escolar: contribuições à lu z
bilidade de promover tal desenvolvimento; condições institucionais e medi a~·< H''•
hc pl'í kologia hi stóri co-cultural e da pedagogia histórico-crítica. Campinas: Autores
pedagógicas que precisam. ser garantidas par a que se possa produ zir, cfetivarnc tl l<,
\ ~tt 11rlndos , 20 !1.
o pleno d csenvolvirTlcnto de tod a~ as crian ças. Mas há utl\ " t' tTclw" do pcrcut·sc,
tv\ 1\l~"< .1< . () Ctl/>it(l/.: nlt icn d;1 cconmn in polí tica, Livro III- O processo global de produção
que cnhc ao próprio profcsso 1· pcn:o rt'l' t·: n tco ri n é :qw n 11~-> 1(~ 1' 1'1\ 1111' 111 11 p:1r:1int v1 vir
···qlll !d l:·ltn . 1. vd . Trndu~·:io d<· Rl•ginnld o Sant'An na. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
l'OI) Scil' l11vm e ntt• tlil rv1did :1dv v t' ll l'rvn t':lr ns mlvvrsid ndt•h d ct l'llllllt d111!
I qc >I . v. I V.
( 'n 111 11 p H 'Hl' l \tt~ l t~x tu, l t lll)tl' dt• l 'HI(Ill ill' 11 di tiC IIMMiltt lllll t1dcdngk11 I' l t'ljdc ti

dil 1111fdl~•· c•l1'11111tl11 pc•l11 l l.u 11l.1 de• VIHc!t•d· l ;\l~e t CII cltí pnt l·tl l1 11111 ""'' pt•!lt u ln o 11 1/ll ltd l ul l lc'll i l llc~(llll
., tl llli ll p et lll kll. Ll vnt I () jllt ii'C'HIHI d i~ pn H III ~'I III dn

;.I.. •. J,.,., 11 u . olu lll'll.. l tlu IJI.! I:lll LI LI • , .. cpil rd '' ,,1, ti(• I{Hht• n" li.ndt,l'lL,, Hn,, I''"'''' F\nlwoq 11_1 I dlltlllll l, i.tl l '\,
, ______ ..

90 LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.)

POLITZER, 0.; BESSE, 0.; CAVEING, M. PTincípios fundamentais da filosofia. Trad. de João
C unha Andrade. São Paulo: Hemus, 1970.
PRADO JúNIOR, C. Notas introdutórias sobre a Lógica dialética. São Paulo: Brasiliense, 1959.
- - - · Dialética do conhecimento. São Paulo: Brasiliense, 1969. v. 2.
SH UARE, M. La psicologia soviética como yo la veo. Moscou: Editorial Progreso, 1990.
VYGOTSKI, L. S. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. Madri: Visor,
1995 .
- - - · Obras escogidas IV: psicología infantil. Madri: Visor, 1996.


CAPÍTULO 4

O PRIMeiRO ANO De VIDA

VIDA UTeRINA. TRANSIÇÃO PÓS-NATAL e ATIVIDADe De


COMUNICAÇÃO eMOCIONAL DIReTA COM O ADULTO

SIMONE: CHE:ROGLU I

GISE:LLE: MOO€ MAGALHÃE:S2

iante dos objetivos do presente livro, este capítulo tem por finalidade
contribuir para a compreensão do processo de desenvolvimento psíquico,
lttlt•grando os estudos acerca do processo de desenvolvimento humano e sua
rwl'iodização, produzidos no âmbito da psicologia histórico,cultural. Trataremos

''I" i, especificamente, dos períodos iniciais de vida: do pré,natal ao primeiro
1110 de idade.
• Para compreender o desenvolvimento do bebê, convidamos o leitor a tomar
• IIIIH) eixo de seu raciocínio a unidade dialeticamente contraditória entre natu,

• ll.· :.t c cultura. Tal convite reflete a compreensão do desenvolvimento humano

pnt,t nlém das simplificações naturalistas, infelizmente ainda tão vigentes n a


li'twin atual. Nesse sentido, amparamos nossos estudos fundamentalmente em
\'IJ!nlski, Leontiev e Elkonin, autores que atestam a formação da humanidade
jll 1,, l.'ntrelaçamento do desenvolvimento evolutivo, biologicamente guiado,
''"' n desenvolvimento social, cultural e historicamente orientado, tendo, este
I íiltltnn, papel central nessa formação. Esse entrelaçamento se expressa por meio
•'
1._, IIII\ processo ativo, que resulta na unidade natureza,cultura, transformando,
I
li"lt'HH0nrin, :\!'! cond içõe:-; externas c i.nternas do desenvolvimento social de cada
l l l' ltllll\l\IH l.

I 1
l'1 1i1 l_ltei\lll ld udt l•'llttdll .d l 1i1l lll ~ IB ," Itdin de • Ml"lqtlilol J!il lu •" (I lN I''ll'/ 11,1111'11)
l 1lo11ln}! •l t' 11\l'NII't'

!1\tldlilll. \lll '~ll,jiiiJHI.I\Jtjj •,l. \t.IIIIJIIIIII

1\, i l " I"H' t I I t_ li t I I tJ I 111'i.l Ij IIII I I I IIII_. ~ III ' I III I J I h_III) I l \_'... I " III II I,,( 11 I I,, I •'I'h \ I I 11 ' I 'I'' li I I "IIII I " i " lltlll 1,' III

94 LiGIA M. MARTINS, ANGELOA. ABRANTES & MAR ILDA G. O. FACCI (ORG) I PIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 95

As condições sociais, para os autores da psicologia histórico-cultural, n ão l';lrulhos ao seu redor. Entre os principais sons presentes desde o início da
'
são mero amparo a fim de que o biológico cresça, mas sim condições para a vitb ''!111\Ção está o ritmo cardíaco da mãe, o qual, segundo Glozman (2014), é fator
humana, se m a qual não há desenvolvimento. Portanto, entrelaçadas com o dl'- 1•.' co nforto e segurança para o bebê em gestação quando constante. A partir
senvolvimento evolutivo já desde o feto estão as condições de d esenvolvimentu I. vinte e quatro semanas, a mesma autora aponta que as reações aos barulhos
impostas p ela sociedade: o desenvolvimento do bebê sofre influência direta dns tt•riores vão tornando~se frequentes .
condições de vida da gestante. Esse momento em que o bebê começa a reagir aos sons externos faz~se inte~
Ao longo do capitulo, como o próprio titulo elucida, trataremos de três fases " •hllnte, pois, embora ele escute o que está sendo dito ao redor, a sua atividade
que compõem o processo de desenvolvimento no prime iro ano d e vida, quais i •• ·t vos a é reflexa, ou seja, ele reage aos sons, m as não compreende, de forma
sejam, o p eríodo uterin o , o período pós~nata l e o período de relativa estabilidadv dHtl ma, o significado das palavras que estão sendo ditas. Nesse sentido, cabe
na formação cultural d o bebê, cuja ênfase será dada à atividade de comunicaçno i_11'flexão sobre a qualidade dos sons que a gestante se expõe, os quais podem
e m ocional direta, atividade~guia no primeiro ano de vida. tlt, •t·nr o ritmo cardíaco dela e também o do bebê.

Após a formação do sistema nervoso e circulatório, as reações aos estímulos


1 III'IO riais vão intens ificando~se cada vez m ais e, como d efendido pela psicologia

VIDA UT€RINA h'''' ('Jri co~cultural e corroborado por Vicentini, Stefanini e Vicentini (2009), o
q1.tl'nto biológico configura~se ao longo do desenvolvim ento do indivíduo subju~
'
E comum n os d epararmos com perguntas relacionadas ao desenvolvimen t11 ttlt >às condições sociais nas quais se processa. E' nessa direção que afirmamos
do bebê a inda em gest ação . Será que o bebê em gestação sente o mesmo qur '"'' ns condições postas ao feto são d eterminadas pelas condições de vida da
a mãe? Será que ele elabora pensamentos? O bebê vai ouvir tudo que di sset\'1 11 II UH ', O período gestacional cria, inevitavelmente, um vínculo de dependência
ao red o r da mãe? S ão perguntas frequentes, e respondê~las não é tarefa simplt'~'~• nt 1'1.' o bebê em formação e a gestante, vínculo esse que leva Glozman (2014)
pois exige a compreensão da contradição natureza~cultura presente n o d esenv< ,1 1 .tfi rmar que mudanças de humor, ansiedade e estresse na gravidez afetam o
vimento humano d esde a gestação. l11 l1i' 1..! 111 formação. D esse m odo, já no período embrionário tem~se o início de
Sendo assim, partimos inicialmente de t:m conse nso na psicologia do desv11 " ''~ I H >stas e mocionais d e vínculo, as quais estão diretamcnte relacio nadas com o
volvimento que é afirmar a vida uterina como o período em que se dá a form<H,': It' tm lo e mocio n al da mãe- ambiente d e d esenvolvimento do feto - e aos fatores
de pré~condições para sistemas funcionais complexos, ou seja, é dentro do ú tero d.t Id •upll mi cos qu e o sustentam.
m ãe que a criança inicia o seu desenvolvimento fisiológico e, consequ e nte ml'ntt·, No e nta nto, é preciso atencão
'
na continuidade d esse vínculo após o nas~ -

as condições para a formação do seu p siquismo. O sistem a orgânico está sl'ndt, l ttl l-' t1to, pois e le sofre mudanças qualitativas radicais, podendo manter~se
formado, e desde o início o seu funcionamento está submetido às cond i\·t H'" lltt~ ta men tc com a m ãe biológica ou formar~se novamente com outro adulto
sociais da gestante, expressão do movimento dialético entre organismo e cul tttl 't l, ttldndor. Destaque~se que o bebê n ão sobrevive se m a presença do adulto, sendo
ou entre o feto e as condicões d e vida da mãe. ll tiJ 11 •Hs lve l a fi r mar q u e esse adulto deva ser necessariame nte a mãe que o gestou,
' ' .
i E o siste ma nervoso e o siste ma circulatório que serão primeiramente fo i'IIHI lt li lll vt•z que ta l afirmação inco rreria em claro equívoco, com a naturalização
d os n o período e n1 brioná ri o, e a lite ratura indica q ue co tTt três se manf.ls dl' vJt lll 1,, 1111 pt:l dn nü1e c a d escon sideração da natureza social do desenvolvimento
intra ute rina o feto já aprese nta batiJTlcntos ca rdí f.lcos, e co m o it o st• mnn as nut:''"' 1111111 111)().

atividndl' re fl exa no l'tnh ri ão. Em dcco rr0nc ia da f(ll'lll:t<;IHl dtl s i s t t..~ ma JWI "'''i' St•gtlt Hio Vkc ntini , S tcfnnini c Vi ce ntini (2009), o início d a vida humana
li
v da tlti vid tld l' t\· ll t'Xtl, o ~,.· mhrian pns:;n a rt..'HJ..rit· :111 ltH Jtl<' 1111 llt lt'l iJ~I I dn 11 \llt.' 1 li ·"ll' dt• ltll'll \:1 l't..' ll vxn :1os t•st·lmulos, rnas rapid ame n te, após o nascimento, o
pt11tl ll til ll lllH'Ill 1', V: IÍ llllll'·d'I'IIIH itl :t ti vid11de lli\I HI' III Ill' 111\'l dttnt l'll'lt l, t'l ll'fH' l l' I'ÍHIII al '''W II li MII Hl jii i HMI I :t :tJ!Íl' v nrie nt ti i'•Hl' pvlo : 11nhi nH~· sor inl que o c irc und a. Nas pa~
tttiiiCt tltt< d tl vtd tt 11t e1'11111 (V tt t't\j 1111-J i; ~ tl lt ·J\N I N I ; Vtt ti<J tl t~!, 1
tH1'J) 1,,v1=n H.I llll 11tl to t'cH: "!\.~ 1'<llll'X 1 w~ tll ' t'Vt ,,..m,., ·" <• p nH I ' 1:: l: 111 " : 1o "11 11tli I:' t cru Iidndl • das
_ _0 dttW II ~'a. d v! n-H' IH I_-, d11 II IHlt, rtl ll ll t_' llltd11J:I111 Jlt1 1!t1Íil 1 1111\diP!i'l t jl_lt', j'llll'il ll llllll r·ltll11 !li 'M 111 11 ~ M ltllll l l ~ \'I I H~ IIl:t ~· t 'H'!'I nhjtot l\'ll"ol'll(ll ' lltll')!: lll iMII\1 1
l lllll l i'III H l f11 t ' l'li i1H1
• · ......-.,_.,,.lt.... ,.. •-III i;. ll11... tit•nl~rut, uu.. t JII'!I"'thll!dudetL t.llll~IU~lHLI I " (11 lt..!!J t, I' ! '\()),
PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 97
LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.)
96
A atividade se produz como resultado da vivência do recém-nascido em socie-
Dessa maneira, reitera-se o vínculo do embrião com a gestante, e o vínculo
dade, de modo que no período pós-natal se entrelaçam, no plano ontogenético,
do recém-nascido com o adulto cuidador, o qual proporcionará condições ob-
natureza e cultura, form ando uma unidade d e contrários, na qual a cultura se
jetivas d e existência ao bebê. É certo que o nascimento traz mudanças radicais
destaca como principal determinante da vida humana. Desse modo, para Vigostski
n a existência objetiva do feto, a segurança e a proteção do útero materno serão
(idem), o início da vida psíquica já está presente no recém-nascido, mesmo que
substituídas pelo desenvolvimento em amb iente social, e, como não poderia ser
de maneira rudimentar.
diferente, espera-se um período d e transição, que significa uma ruptura com. o
Ao longo do período pós-natal, as co ndições concretas de vida d o recém-
passado e o início do novo, com o será explicitado no próximo item, que trata
-nascido serão determinantes significativas de seu desenvolvimento psíq uico e,
do período pós-natal. ass im como nos demais períodos do desenvolvimento humano, tal vida será
transformada, deixando marcas ·na person alidade do indivíduo. O autor aponta
que a vida psíquica do recém-nascido está vinculada ma is aos centros subcorti-
PeRíODO PÓS-NATAL l'ais, pois o córtex ainda está imaturo; contudo, essa condição não significa sua
inexistência. Vigotski (idem) relata que é possível observar na criança recém-
O período pós-natal é denominad o por Vigotski (VYGOTSKI, 1.996) de período
nascida os processos básicos vitais que mantêm relação com os estados psíquicos,
de passividade, uma vez que o bebê nesse período da vida apresenta peculiaridades
3 t'Omo atrações, instintos e afetos mais simples. Não obstante, é preciso excluir
que o colocam em condições de d ependência absoluta do adulto . Embora ocorra
da vida psíquica do recém-nascido a manifestação d e fenômenos propriamente
a separação física da mãe, o bebê permanece sendo b iologicam ente dependentt·
Intelectuais e volitivos da consciência, posto qu e se apresenta ainda a ausência
em suas funções vitais, como na alimentação, posto que mesmo sem a conexão
,la linguagem. Não há ideias nem sentimentos inatos, nem percepção real, n ão
física o bebê continua alimentando-se da mãe.
Outra caracter ística marcante do recém-nascido é a pouca diferenciação L'tl

I1:\ compreensão elos objetos, nem asp irações conscientes .
tre sono e vigília. Os recém-nascidos, de acordo com Vigotski (idem), .d or mc111
O ún i.co que podemos ndmitir corn algum fundamento é a exi::.tên.cin
oitenta por cento do tempo, d e forma inquieta, ligeira e descontínua, fazl'll l
de estados de consciência nebulosos, confusos, nos quais o sensitivo c
movimentos impulsivos, alimentam-se dormindo, dormem com olhos semialw1
emocional se encontram fundidos a tal ponm que caberia qualificá-los de
tos e permanecem com olhos fechados em estado de vigília. O bebê que se L'Sit\
s~nsacões
adap tando ao novo mundo , segundo o au tor, reage com os m esmos movimcnlu~
estados sensitivos emocionais ou estados de marcadas emocionalmente
'
[idem, p . 281, gritó nossoj 4 .
a todo estímulo inesper ado e brusco. Trata-se da reação de Moro, que consiste"''
reflexo dos braços em cruz, ou seja, os braços se separam simetricamente c lt '):''
Destacamos das palavras de Vigotski (idem) sua referên cia às emoções, pois
voltam a se juntar em forma circular.
É a atividade reflexa que marca o início da vida human a, tanto no pct icH I'' ' "''IIIH, sim, já estão prese ntes no bebê desde os primeiros dias de vida e são fun-

embrio nário como no pós-natal. Nessa direção é que Vigotski (idem) d escn vt· '' l,ttll l' ntais para o seu desenvolvimen to. Sejam estados emocionais agradáveis
11.1 l lvsagradáveis, é possível percebê-los na expressão do rosto, na entonação do
passividade do recém-nascido, mostrando qu e não há elementos em sua cotHittltl 1
ou em sua consciência, que d emonstrem uma vivência social ativa. Apesar dt ./l•11 1·1111() etc. Vigotski (idem) aponta que n o primeiro mês d e vida n ão existe para o

o perío do pós-n atal representa um marco no d ese nvo lvimento da v id n pslqttll ll I" I11' di (en..: nciaçflo ent re pessoas e coisas, toda a realidade, incluindo estímulos
in.dividual: é a p::~ rtir do nascimento que se produ z :1 pos~">ihilidadl' da f'onll ;''i''''' lt\ 1't sos, nprese nta-se no bebê como um estado subjetivo único. Assim sendo, essa
ao longo d os :~nos l' por rnl'io dn vida sor inl, d v 1111):1 l'UII Hd l' lw ln indi vldt lld r 1111\11 itl)port·ntHl' rwc ulinridade da vida psíqu ica do recém-nascido apresentada

I lP lo nlt 1nt, q 11 nl sl·ja: a s11 pr"l' m:1cin d l' vivê ncias não fracio n adas, que representam
l I \1 (t"l l H li \1! \ .
1111111 1'11HIIIl d l' ~ 11111 \'1 11 1, :d'v to l' Hl' n HI H,'iHl . Fssl' vstndo rntnh(· rn não pe rmite que o

\ 1h ,11 .u 11 p[IIi""' 1tI 1,. I•. .I 1 , h,·\,,' '- , '"'" ,Iq .._. nd/1 11 •. í·,1 d'·, 11d1d11• "tt" ri 1•.nlll• 11 di ri' , q i u• r. , ,• 11 1 1HI'!I í·I
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1'1 HIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSIQUICO
LiGIAM. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FAC CI (ORG.)
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rt ntividade de comunicação emocionaL direta. Em destaque estão as transformações
bebê separe a sua existência, as suas vivências, da percepção das coisas objetivas, ' 111c ocorrem nos processos sensoriais, motores e de percepção. Esse processo de
tanto ele como o seu entorno fazem parte de uma percepção única. 11 M'lsformação revela o alcance das ações do adulto tanto n o ingresso do bebê

O bebê recém-nascido, segundo Martins (2009), vem ao mundo dotado de III'I'ISa primeira atividade dominante como na organização das condições nas
um aparato sensorial desenvolvido, de modo que possa possibilitar a distinção 1jllí\i S ele estará ativo. A vivência da referida atividade está diretamente vinculada

de cheiros e sabores (doce, salgado e amargo), além da acuidade tátil e auditiva. 1 qualidade das relações interpessoais oportunizadas e promotoras do desenvol-

Apenas a visão encontra-se pouco desenvolvida nos primeiros meses d e vida. vimento global do bebê.
Assim, o mundo, ou a cultura historicamente constituida, adentra a vida do Para que se compreenda a atividade-guia em pauta, começaremos por ex-
indivíduo pelas vias sensitivas e formará, dia após dia, o seu psiquismo. plicitar o conceito de comunicação, tal qual definido por Lísina (1987). Para a
Esse periodo de passividade tem duração de aproximadamente quarenta c· 111tora, o objeto da atividade de comunicação é sempre e, necessariamente, outro
cinco dias, e a nova formação central apresentada pelo bebê nesse momento, 111divíduo na qualidade também de sujeito da atividade. Nessa direção, para que
segundo Vigotski (VYGOTSKI, 1996), é a formação da atividade nervosa superior ' .11 ividade comunicativa aconteça são necessários pelo menos dois indivíduos,

aliada à maturação cortical, marcando o final do periodo pós-natal. A atividadr· ' .1dn um deles se revezando nos papéis de sujeito e objeto da comunicação.
nervosa superior constitui-se conforme a vida psiquica e social do b ebê, pro
piciando o surgimento de uma importante reação social, o sorriso. O sorriso, Definimos com un icação como deter minada in teraç:lo de pessoas, no curso

junto com o choro, tornam-se as formas cenrrais de comunicação com o adulto. da qual ín tercamb iam d ife rente informação com o objetivo de estabelecer

Ao final do periodo pós-natal, entre o segundo e terceiro mês de vida, a pa< relações ou un ir esforços para lograr u m resultad o comum. Do /)Onto de

sividade do recém-nascido transforma-se gradativamente em interesse. Vigotski •vista. psico[ôgico, a ccmum icação é um ti[>O peculiar de ativiclad~ c{uc se caracteriza,

antes de tudo, j>or sua orientação em direção ao outro Jxírticij>Wl.te Ja interação
(idem) aponta que tal interesse é expresso pelas novas manifestações da atividmk
receptora em estado de vigília, pela manifestação da atenção a estimulos ~ensoriais, em '1w,úidacle de sujeito. A cornunicação possui também todos os demais

aos próprios movimentos, aos próprios sons, aos sons em geral e à presença ri<: traços estruturais da atividaJe [ídenl, p. 276, grifo nossol.

outra pessoa. Esse periodo marca de modo importante o desenvolvimento da;


. Desdobra-se da definição referida que, para que a comunicação ocorra, é
sensações e, consequentemente, da atividade sensório-motora.
Se no início desse período a m otricidade do recém-nascido apresent<l ~~· tll'l'l'Ssá ri o que cada um dos individuas envolvidos perceba-se distinto do outro
fusionada com os processos sensoriais e de percepção, ao final dele o mo nd" l"'m ass im poder desempenhar os papéis que lhe cabem. Nas palavras de U s ina
exterior desponta para o bebê e começam a predominar as impressões visua~> ,. Udl·m, ibidem):
sonoras, ainda que sejam os sons que ele mesma produz. O bebê te nta scg111 .11
os objetos, toca-os com as mãos, leva-os à boca para o contato com os lábios, " Por í~~o m'nhum ato, ainda que tenha todos os traços exteriores d,1a( :t"
cunw n ic\l i\'<I (Ii nguagem, mímica, gestos), será considerado comu n ical':H'
língua, ou seja, essas são atitudes manuais que têm importância fundamc·llt:tl
para todo o desenvolvimento psiqui.co posterior, visto que a integração da vi""' st• ~cu llhjt·to i· um co rpo privado da capacidade de pen.:t!her L' da at í\' l •
d.ldt• p~ i cu l <'1gicn d e resposta (um a pessoa adnr rn ecid<l, um m:llH'qttilll ,
aos demais sentidos desenvolve a acuidade perceptiva d a criança, corroborn "d''
11111 rl!l r:t t u t' l t .) Fs:-.t~ t. mt;u limit ai ivu estú cu ntid o, tk' fo rm :1 itnplinr:t, 11:1
a formação da senso motricidade c modificando significativa mcn te a relação '" •<11
CP IIl( ll'l' t' I\'S: IIl du u h jt: t ll d t: l'O I I Il ii\Í V:l~'illl l'O nl ll Sllj t:i to.
seu entorno fisico l' snrinl.
LJ11nt V l'Z l' Xplkitmlo 11 r o 111'1' it1t dv l'tl lllllll lrli\' ÍI <l qttl; HIIHI.t~tl( :l :1 p ntpn:·l i\ 1111
OMUNICAÇÃO (",M<)CIONAl.. l)lR~TA hl 1lt\ t k tt•l.: tdtlll 'td
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ATIVII) AD€ D ( 111111 11 1Miltí p Hit jllhi H\ 1' 11\ dt 'llt' ll\'llhllllllllll 111: \t• n l lllt' lltld l\ 11\111\11 I lM 111111 ' 1 ;'111 1
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meio da qual o bebê ingressa na atividade qe comunicação emocional direta e, Por exemplo, o rosto de sua mãe, seus movimentos express ivos provocam
igualmente, su as principais características. na cria n ça uma reação muito anterior a sua capacidade de perceber
'
E notável que, ao nascer, o bebê não possui as propriedades necessárias à su:1 i::;olaJ a me nte algurna forma, cor ou rnagnitude. Na percepção in.icial do
participação na atividade comunicativa. Na percepção do recém-nascido, as coisa~ recém-nascido, todas as impressôes exterio res estão indissoluvdn1e nte
do mundo não possuem forma d efinida, a percepção de objetos e sujeitos com unidas com o afeto que lhes matiza ou o caráter sensiti\'o da percepção
características distintas entre si é uma propriedade a ser culturalmente formad:1. [VYG~~TSKI , 1996, p. 282].
"Cremos que n o primeiro m ês de vida não existe para o bebê nada de nada, qu\'
to dos os estímulos e se u entorno são para ele um estado unicamente subjetivo" '
E importante notar qu e o afeto estará presente em todos os períodos do
(VYGOTSKI, 1996, p. 282). 1lesenvolvimento, transformando-se à medida que o conjunto dos processos psí-
Conforme indicamos, ao nascer, o bebê não se diferencia do meio, percebl'11 ' 111 icos se altera. Das atrações e necessidades mais primitivas e i media tas sentidas
do a si, aos demais e aos objetos que o circundam como uma totalidade indistint:l pl'lo bebê (relacionadas à alimentação , sono, posição do corpo), ao desenvolver-
Igualmente, os processos sensoriais e motores encontram-se fusio nados. Parn 11 tl', ele passa a sentir novas atrações e n ecessidades, diretamente vinculadas à
recé m-nascido, perceber é agir, de modo que o agir realiza-se por meio de u m ntt 1 11 ansformação do conjunto de processos psíquicos e d o substrato afetivo que
contínuo, único e integral com a percepção. .tIs tentam suas reacões.
'

Isso significa que o bebê tende :1 se rnani.Ú:~tar de forma integrnl , 11:111


O próprio afeto, ao participar nn processo de desenvolvimento psíquico
há em sua motricidade a expres!>ào de movimentos iwlados, J istllll• •
com o fato r essencial, recorre a um caminho complexo, mod ifica-sc em toda
fragmentado::;. A motricidade do bebê se manifesta por meiu dl' Ul l
• nova erapa de formação da personalidade e toma parte na estrutura da nova
rnovirnento m.assivo, elo qual participa todo o seu corpo. Ao lonl!< • d•.
consciência, própria de cada idade. Essas profundíssimas transformações
seu desenvolvimento, os rnovimentos vão se diferenciando e prud t 1. :11n li
na natureza psí.quica dos afetos revel.an:~-se ern roda nova etapa. Também no
novas unidades d e ação , de qualidade superior e distinta d a motnud .ul
primeiro ano de vida o afero expe rim enta um complexo desenvolvimento.
inicialmente indiferenciada [CHEI\OGLU, 2014, p. 76].
Se comparássemos a primeira etapa desse p eríodo com a última, ficaríamos
surpreendi.dos com a enorrne transformação que ocorre n.a vida afetiva
Em meio ao amálgama fo rmado pelos processos sensoriais e motores, a 1'~' 1
do bebê [ide m, p. 299].
cepção do recém-nascido está imediatamente vinculada aos seus estados cm t 11 l1•
nais, nos quais a sensação desempenha papel central. Na estrutura ge ral forttlilll it
Urna vez destacad as as particularidades dos processos psiquicos em desen-
pelos processos de sensação, motricidade e percepção , o a feto desponta c11 nti 1
elemento fundamental às reações do bebê, o que determina aclarar o signil'i•·1 111tt llivl rn cnto no período em análise, é fu ndamental notarmos que, além d e não
111 IHMii r as propriedad es n ecessárias para a participação ativa na ação comunica-
do afeto nesse contexto formativo. O afeto diz respe ito às afecções prod w itl11
i 1\.,,, o bebê tampouco sente a necessidade d e se comunicar: a pro dução d essa
pelas coisas do mundo sobre o bebê, co isas essas que, n esse pe ríodo, prodt llll'n!l
sensações agradáveis e/ou d esagradáveis, d e "bem-estar" c/o u "mal~est :u" . S111i 1H t t•ss idad e reali za-se por meio de dois elementos fundamentais, ambos de
percepção, emocionalm ente mati zada, produz-se sob re a hmK' d essas sv ll..,,ll,,-., iiltllll'l'Zil social (USINA, 1987).

que, contudo, carecem d e significados s imbó li cos. t) pri JTl C i ro rc (ere-sc à co ntradi ção esse n cial que se expressa na total c co n
Em co nseq uência ela q ualid ade dl' sua Pt' l't'l'p~·flo, n lwht\ 11 pl'inclpin, I'' 11 rht 11 111 dt•lwnd0ncia do hcbê ern rela ção ao adulto: todas ns mud a n ~·as d e postura,
e se nfctn, fundarnl'ntn lnll'nll.', <'O til o mqwc t o t'X jll't'HHIVII d 11 11 tl1dt o q11v 111111 tlli 1 dt •tdtH 'IInlt.' l lto 11 0 l'Hp: t ~·o, Stl fl nlinlt' ntn~-~~o, svus IK' rlodo:-; dt.• Hono e de v i ~rrlin ,
M' rvln r ioll :l. l);d 11 i mpn 1 t :l t H i11 d1 1 t 111di1dn1tllll il li t' l\ 1'11 'l'l t u •H td t• t lvn~ot diiiJ.l il lil 1111 I Hj(Í{' IIl' , I tido q1 H' diz n ·.,l w ito :1 :-,11:1 vid :1nro ll( {'l ~~ l'lll l ·nt 1d i ~ c H':-, oq~:1 11 i w da ~
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Vigotski (VYGOTSKI, 1996, p. 284), o bebê "é muito mais objeto que sujeito, qu er l'mocional direta, com a expressão das primeiras reações e mocionais dirigidas ao
dizer, participante ativo das relações sociais". ndulto, o comp~exo de animação desempenha importante papel, incluindo "como
As primeiras expressões do recém,nascido - caretas, gritos, movimentos romponentes a concentração no adulto, o sorriso, as exclamações e uma excitação
massivos que abarcam todo o seu corpo - indicam satisfação ou desconforto: 1notora geral" (idem, p. 287).
fome, sono, dor etc., sendo, antes de mais nada, reações instintivas que não se O complexo de animação ocorre por volta do final do segund o mês de
dirigem a algo ou alguém, mas que expressam os estados de carência do bebê. vida e, além de ser con siderado um marco significativo no desenvo lvimento
da comunicação n o bebê, expressa mudanças fundamentais nos processos
Trata-se, ern pri.rn eiro l.ugar, da necessidade objetiva d.o bebê de atençãu t' ~t'nsoriais, moto res e de percepção, sinalizando transformações também em seu
'
interesse por parte dos circundantes. Somente graças à ajuda perrnancntl' desenvolvimento afetivo. E válido n otar que o complexo de animação é produto
dos adultus próximos u bebê pode sobreviver quando n ão possui n.en.hum da relação do adulto com o bebê e, ao que pesem as reações que d eterminados
tipo adaptativo de atividade ~ não está em condições de satisfazer por .i IH·inquedos atrativos possam provocar, é por meio da relação com o outro que
mesmo nem uma de su a~ si.mplíssirnas necessidades orgânicas [Lí.Sil\.·\, l~sse complexo mímico~somático manifesta-se mais pronta e intensamente (LíSINA,
1987' p. 2801. 1987; E LKONIN, 2009).
Como se pode notar, a atividade do bebê está estritamente condicionada à
Em consequência às reações primárias do bebê, o adulto que o cuida aprendv 1dação elo adulto co m ele, h avendo entre ambos uma comunidade psicológica que
rapidamente a identificar as necessidades que tais reações expressam, atendendo '-tl' objetiva concreta e materialm ente em razão dessa dependência. Nas palavras

,as. Ao atender às reações primárias do recém,nascido como se essas fosse111 tlc Vigotski (VYGOTSKI, 1996, p. 285): "Essa dependência confere um caráter
reações sociais, ou seja, reações dirigidas a alguém, o adu lto o inclui na atividadl' • .thsolutamente peculiar para a relação ela criança co m a realidade (e consigo
comunicativa antecipand o-se a ela e promovendo-a. A atividade antecipadora d() 111es mo): são relações que se realizam por intermédio de outros e se refratam

adulto é fundamental para que o bebê ingresse na atividade comunicativa: são :t!'i l't vmpre através d o prisma das relações com outra pessoa".
ações do adulto em resposta às manifestações do recém-nascido que modelam s11:1 Nesse pe ríodo, o bebê percebe tão somente aquilo que esteja presente em
expressão, introduzindo,o numa atividade.conjunta, co mpartilhada por ambo~. , l' ll campo de visão, de maneira imediata e concreta, e ainda difusa. A p ercepção
Nessa direção, a atividade antecipadora do adu~to é considerada o segund u t' tii (e re n ciada d e o bjetos e indivíduos presentes numa situação é uma conquista
principal elemento gerador da necessidade d e comunicação no b eb ê. O adulte~ IIli. fo rm acão c ultural do bebê. Tendo o adulto como conteúdo central de sua
I

"começa a comunicar,se com o bebê quando este n.ão é capaz d e realizar unw i iiividade e atuando e m comunidade psicológica com ele, o bebê se dirigirá ao
atividade comunicativa e, precisamente graças a isto, ele vai tomando parte c1n ,,j ljeto n a presença d o adulto como se esse fizesse parte de si para, ao longo de
dita atividade" (idem, p. 281). 1w11 .lese nvo lvi mento, diferenciar,se e a tua r di reta mente com os objetos. Por essa
Todo o contato d o bebê com as coisas d o mundo acontece, nesse períod c,, l'ii Zno, a p rese n ça d o adu lto n o campo de visão do bebê é fundamental para que
sob a direção do adulto: o aparecimento e a retirada dos objetos n o esr:1\'l 1, n t•lt• sinta-se ~Hra ído pelos objetos expostos e com eles opere.
loco moção do bebê n o a mbiente, as mudanças de postura, su a alimentaçiiu, ,,H A princípio, os movimentos do bebê são pouco coordenáveis e caóticos;
condições nas quais se acomoda n os períodos d e atividade etc. E n1 o utras pnlavr ,,,,, 111dnvia, os processos se nso riais e d e percepção são passíveis de serem di rígidos
a vida d o bebê reali za-se por meio d as co ndi çôes o rga ni zad ;u; pelo adul to, q111 I'"" II H'io da oriL'nt·a~·no da atenção do bebê pelo adulto. O adu lto, ao d eslocar·M'
se intcrp<"k e ntn.' de t' os ohjetos soc inis, cumprin do cn1n n l'llll~no dt· co nt vt111,, ' 111 nvi II H'n ta r o hj l'tos L'm d iw rsas di reç<'"ks n o cn mpo d e visão do l.'lebê, promow
cv llt l':l l de /·ll lll :11 i v id:tdl~. 11 tlt"1VIIVo lvltiH'I)Io dos l'i istvm:ls se nso riais q1 1ç se coloram co rn o premissa p:tr:t

N:t qt~ . d i,Ltd t · dt·, cllltt•t'ldo ú:11t'r·nl dn illivid:tdt ,1, ,.,_llflltnl,,,\"'' ''ltHH ior wl 11 Íll llli.H,no dnl'l n~nl's ro111 11l1jl·1ns.
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o lh os e a contemplação d esenvolvem-se antes que su rjam os primeiros reticular do objeto e suas verdadeiras dimensões, forma, distância. Desse modo
movimentos na dircção do objeto e constituem a premissa para que esses se estabelecem as bases da percepção trid imensional dos objetos" (ide m, p . 209).
.
moVImentos apareçam. D estaque-se que, ao longo do processo de desenvolvimento na primeira
O desenvolvimento elos aparelh os sensor iais está implícito desde o co me- infân cia, a atividade comunicativa permanecerá entremesclada com as demais
ço na interação da c ri a nça com os adultos que dela cuidam c trnmcorrc ntivid ades da criança. A diferença é que a atividade d e comun icação emocional
em função de UITl proce~so de aprendizagem. O adulto inclina-se sohre a di reta e ncontra,se na base do desenvolvimento do bebê, o rientando-se a formar
criança, aproxima e afasta ::;e u rosto, acerca-se e distancia-se, estende pan\ novas ,
p ossibilidades de ação com a p rodu ção do n ovo no comportamento infan-
da um. objeto de cor viva e, com isso, dá motivo para que a cria nça fixe a ri l. A m edida que o n ovo se prod uz, p o uco a pouco , o b ebê avan ça em d ireção
vista no rosto do ad.ulto uu no brinquedo, para que se produza a conve r- 11superação da atividade ele comunicação em ocio n al direta, na q ualidade d e
gência dos olhos e a con.ternp lação [ELKONJN, 2009, p. 208j. ntivid ade-gu ia, incorporando-a e avançan do e m seu desenvolvimento.
C om o sinal de avanços promovidos no interior da atividade de comunicação
O b ebê tende a ser d ireta e e mocionalmente afetado pelas ações que o adulto vmocional d ireta, V igotski (VYGOTSKI, 1996, p . 287) aponta para uma mudança
d irige a ele, de modo que o caráter e a diversidade das ações realizadas pelo adulto no rol d e operações e comportamentos do bebê por volta do quinto ou sexto
tendem a lhe provocar diferentes reações. Imerso na atividade conj u nta, n o bebê mês de vida e, entre elas, destaca:
ta is reações p rom ovem gradualmente uma complexificação no desenvolvimento
da coordenação viso-motora (olho-mão), importante elemento na formação do os primeiros movimentos precisos defensivos, uma preensão mai::. Firme,
ato de preensão e de sujeição d e objetos. os primeiros rompantes de alegria, gritos causados por algum mo\·in1ento
desafortunado, talvez os primeiros desej os, tent~t ivn:s experimentais, rea-

É precisam ente o adu lro qu em cria as diferentes situaçôes em qu e Sl' ~~ôes sociais ao ver cria nças da mesma idade, busca de brinquedos rerdidos .
aperfeiçoa a direçào ps íquica dos movimentos das rnãos basea,dos na Todas essas formas de com.porramento novo demunstrarn um a atividadc
percepç:lo visual d o l)bjeto e em sua distância. O s adultos que se ocu pan1 que ultrapassa os limites da resposta ao estímulo, uma busca at:iva de
de uma criança frequentemente não se dão conta de que lhe ofereren1, estímulos, de ocupaçôes que se manifestam no incremen.to ::;imulnl neo
n o completo sentid o da palavra, exercícios conjuntos para form ar o mo\'i d e reações espont8.n eas ao longo do dia.
mento preênsil: o adulto suscita a concentração no objeto, coloca-o a um:1

distância na qual a c riança começa dirigindo a mão para ele, e afast<H 1, A manifestação do n ovo no comportam ento infantil, tal qual explicitado no
ohrigando a criança a estirar-se n a direção dele; se a criança estende ,\., l'XCc rto, indica a superação do estado de passividade no qual o bebê se encontrava
mãos para o ohjeto, o adulto d esloca-o até que entre cm contato com as no pe ríodo a nter io r (pós-natal), com a transposição objetiva do interesse passivo
mãos da criança etc. [idem, p. 209-210]. para o inte resse ativo pelos objetos e sujeitos que compõem seu e ntorno social.
A partir d esse p o nto, ressaltamos o caráter processual e revolucionário dessas
As ações conju n tas ampliam o rol de p ossibilidades de operações d o bclw llludanças c sinali zamos o significado de tais conquistas para a formação paulatina
colocand o-o em relação com mediações já internalizadas pelo adu lto. A cxcm· dns nçôcs com o bjctos a se realizarem no interior d a atividade d e comunicação
plo das ações d escritas anteriormente, e m b rincadeira compnrtilhndn, o adull t> l.: m oc ion ~l l di reta.
promove de forma lúd ica o dese nvolvimento da propri ed :H I ~· dl' Hl' ~ k·s l ocnr n11 Um11 vt•z l~ mnatlo o aro de preensão no beb ê, em me io ao co ntexto de
es paço c d irigir seus próprios movimentos, co n1pll'x il'ic:l tHitl tlH I H'<H' l'HIH>H Hl'tl rvtH>YtHio inll't'l'SHI.' pelo entor no, Sl'IIH movimentos e <1Çôcs ndq ui re tTI novtu; qua,
sorinis, d l' pc rC'l' P\'fio c nwlon·s do lwh0, twn•ss:'11·iuH :1 (o l' lll ll<;, l~"l p tltdlllitl :t d11 lld itdt·H. A p:ll'l,il' dl' v nt 'iHl, vvidl'IH'ÍII ·Ht' o Hlll'l{inwnl·o d ~· vnrindoH m ovi ttH'nlos
1 w t·cv p~·:1 o lt·idinwtl:-. itll\111 dn..., n h)l'lt >~-t , A i i i'I Hll'l ~ t\ t' l" dn" ,,,J.tt'•l' tll tll ''ltlllll :lll ll .. H·l tvtnlivnh e, td tttldt H I Wt ll>ll~ lll<' , l'lllkiltH d e tlll>Viltll ' lll tl,.., 1' 111 Ht'• t'it· rn n1 n hjt •l m •.
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madas no objeto e, na m edida em que o bebê os realiza, tornam-se mais diversos: CONSID€:RAÇÕ€:S FINAIS
o bebê agita o objeto, passa-o de uma mão a outra·, faz movimentos para que ele
Com o intuito de ap resentar as características do desenvo lvimento humano n o
osci le repetidas vezes, se está pendurado acima dele, golpeia-o com o utro objeto
primeiro ano de vida, discorremos, n este capítulo, acerca d os marcos referenciais
etc. (ELKONIN, 2009).
dn vida uterina, do per íod o p ós natal e da atividade de comunicaÇã<Yemocional
A execução de m ovimentos reiterativos e co n catenados com objetos realiza-
tlireta com o adulto, primeira atividade-guia do desenvolvimento infantil. Por
-se mediante a contemplação ativa, revelando o vínculo fundamental entre o
n1 cio da teo ri.a apresentada, d esvela-se o papel fundante que a cultura exerce n a
d esenvolvimento dos processos sensoriais, em especial a visão, e os processos
<'onstituição d os processos psíquicos, n egando-se, d essa form a, o desenvolvimento
motores. Nas palavras d e Elkonin (idem, p. 211), "o exame do objeto é por n a-
humano como a lgo natural e biologicamente determinado.
tureza também um movimento reiterativo dos o lhos análogo à su a apalpação.
Assim, tanto os movimentos reiterativos quanto os encadeados transcorre m, d e .
As condicões concretas de vida e educacão
' constituem m ediacões sociais ine- .
gnvelmente d eterminantes do desenvolvimento individual desd e a sua concepção.
um mo d o geral, n o momento de examinar o objeto" .
Em consequência do caráter exploratório das ações iniciais com objetos, l ·' m outras palavras, há que se considerar o desenvolvimento infantil como um
1mxesso culturalmente mediado e dependente das condições concretas nas quais
evidencia-se o significad o da escolha adequ ada e da maneira como os adultos
irão disponibilizá-los ao b ebê em sua atividade conjunta. O b ebê t ende a p re- 'H::orre. A história d e vida de cada suj e ito singular ocorre em condições sociais
ferir objetos que apresentem características n ovas e diversificadas, e essa prefe- 11:1rticulares, que refletem o "lugar" ocupado por ele n a sociedade. O acesso aos
rência pode ser observada por volta do quinto m ês de vida, segundo Elkonin -1 ignos e bens culturais e a forma como esse acesso se realiza é um traco distintivo I

(idem). na formação social de cada criança, determinand o o reco nhecimento de qu e o


A execução de outros m ovimentos, como a pertar, estender, e ncaixar ou d e- "mo tor" de seu desenvolvimento en contra-se fora dela, sendo-lhe disponibilizado,
sencaixar objetos, por vo lta dos 7-8 meses de vida, é compreendida por Vigotski 1!\ t não!
(VYGOTSKI, 1996) como o surgimento inicial da capacidade d e transformar objetos, A percepção do bebê, um dos processos psíquicos em d estaque n esse período,
sinalizando o desenvolvimento prévio ao uso d e ferramentas e sua vinculação <'omplexifica-se à m edida que ele opera por m.eio dos laços afetivos com o adul-
com a formação do pen samento instrumental, ou motor vívido. tn, q ue en gendra a formação da primeira atividade-guia. Imerso na atividad e
til' comunicação emocional direta com o adulto, o outro proporciona ao bebê a
Essa manipulação de objetos fixos por meio de objetos que ~e movem , 11portunidade de vivenciar e experie nciar suas primeiras relações com o mundo
a açâo de uns sobre os o utros, essa transformação da forma do ohjetc 1 lllttna no, firmando-se como med iação fu ndamental para o avanço no desenvol-
e os inícios da formação positiva podem ser considerados, corn plenc , \'l m cnto d o co njunto dos processos psíquicos.
I

direito, con1o uma fase prévia para o desenvolvimento du pensamL·nt c1 E nesse se ntido que a psicologia histórico-cultural afirma o d esenvolvimento
i.nstrUITte.n tal. Tudo isso leva ao ernprego, mais sirn.ples, da J·e rran1L'Dt<L t\ httllH\no co mo um processo em espiral, no qual cada p eríod o é gestad o n o ante-
utilizaçãu de ferramentas origina uma etapa completame nte nova par;\ " l lur. Dcsta rte, é por m e io da atividade de comunicação emocion al direta com o
criança [idem, p. 102]. .tdttlto que ns co ndições para as ações inicias com objetos vão descortinando-se,
11h t indo ou tras c n ovas fo rmas de relacão do bebê com o e n torno físico e social
I

Evidencia-se que, po r rnc io da atividadc d e co muni ca~·üo t'mor io n a l dirct a, l' dvco rrc ntc co m p lexificação d e seu psiquismo.
ou seja, imerso na at ivid nd c conjunta c o rgn ni zad<l pelo ndtdt n, o hd)0 tcndt
n co mpiL·xi(iç;u· o ço t1jllllt·n dv procv:-;Hos psfquicoH qtt<' Hllll ll\l l t rt l(lt:H i idad t• dt·
s tt :l Í n l 'lll :l l,' iÚl. ( :11111 :\ lll l !di :t l,'i l<\ d ()s n l*•tos SPt II II/I d11t1 11\ lld il ll't llt lttll tlH Hi ll I RC:::FE:RfNCIAS
I HI It .ll l ll l l'l'l, 1\1'.,'11' 1111111 l\ 111 l~ lllll i 111 \'ll ... l'lli1H ltl t, jl.lttlllllit il i(H' IHt•, 11 diÍ\ itlitd t: tlt-
llli lllli l llht \' rto d1.' ,,I•Jt'I P ii, l'l'W IIHLt J tl'l\'lll , t , lt '~J!IIIn 1l1t tlr14l 1!\'lll\li iiH' Itl11
1
lldll!'ll 'll u í ;lll •llt •til t i ,~ /.l ttlll\tÍrl 1' r/,•,'it'lll'fllt'llllc ' lllll ./,• t•''" ti 1111.\ tlllll\ ./, • ttftttlt• ttl llltthtti ~lll'" da
- - - - - - - - - -· ,_ , ___ ! ; .... I •-• l!llkuiU.í..!.ILt.J II .tllt h:t ..n~ t dll.ll ld ._t }[tl[t 11 t.JI1.:il fll t[ti.'0U d•i 1.11 11111!. 1-ll ll" t' tl!!!.'l lc• (t>. lt lt tlll" 1•1lt
I IOIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.)

CAPÍTULO 5
I'li I ilt\\'111.1 '" lt• dc C iênci as e Letras da Universidade Estadual Paul ista
I il\ 111 1\rnmquara, 2014.
jll!l l\
11
,

\ I \I ! lt'lti "'o li" [1Hiquico dei nii\o desde el nacimiento hasta e\ ingreso en la
IIIJi lt •Vo (\ (\ .; LEONTIEV, A. E.; RUBINSHTEIN, S. L; TIEPLOV, B. M. (Org.).
PRIM€IRA INFÂNCIA
, (.Iiii ul Jfl\,,\1 u 1, 1969. cap. XIX, p. 504-522.
€DUCAÇÃO € CUIDADOS PARA O D€S€NYOLVIM€NTO
jl.,l!tdttj,ll! d11 Süo Paulo: Editora Martins Fontes, 2009.
)IIIJ.tl.
I '\ Jno li I' " tH •11 ot•l'"icológica fundamentada em Luria e Vygo~ki' avaliação, habilitação HUMANO
1111 1" llt" loi . Trad. de Caria Anauate. São Paulo' Editora Mem non, 2014.

I () d·'~''IIVOhlimento d.o psiquismo. São Paulo: Editora Moraes, 1978.


MARTA CHAVE:S'
2
ADRIANA O€ FÁTIMA FRANC0
I I •\ 1., "' V V.;
1. dt• las formas de comunlcación en los nii\os. ln' DAVIDOV,
I {\ ''11•) \11 f>Sicologia evolutiva e pedogógica en ia URSS, antologia. Moscou'

,,d Pii•I!II~IIU, 1987. P· 274-298.


111: '• I M l l t• l\sino e o desenvolvimento da criança de zero a três anos. Jn, ARCE,
I~ i' it t. , I M . Ens inarulo aos pequenos de <ero a tTês anns. Campinas' Editora Ali nea,
' ALGUMAS R€FL€XÕ€S INICIAIS
.. I ,
I'• · .· ·' 1",1
I . . I ). \
li ! tltiiU, l ', (\.; S rtFANINI , M. A.; V!CENTINI, I. B. F. Considerações morfofu ncionais do •
presente texto tem por objetivo apresentar os entrelaçamentos entre o
lrw twulvltm·otto do sistema nervoso. ln' ARCH, A.; MARTINS, L. M. Ensinando aos pequenos
d esenvolvimento do psiquismo da criança - 1 a 3 anos -, o processo de
lt! fíl ll l ll !1'1'~ rmos. Campinas: Editora Alin.ea, 2009.p. 123-131. ,
periodização desse momento e a sua relação com a educação escolar. Nessa clire-
V'i< '' 11W:t, L. S. Obras escogidas JV, psicologia infantil. Madri' Visor, 1996. ção, firma-se a defesa de que as escolas de educação infantil podem apresentar-se
como espaços de excelência para a educação de crianças pequenas, o que equivale
a sustentar que a organização da rotina, ou seja, a organização do tempo e do
espaço justifica-se para favorecer ou instrumentalizar intervenções educativas
n \pazes de promover a aprendizagem e o desenvolvimento dos escolares. Assim,
ns salas, pátios, corredores, áreas externas e outros espaços ocupados por adultos
l ' crianças devem ser o rgan izados e compostos com diversas cores, formas geo-

ln t: t ricas, letras, números, ilustrações advindas da arte, de autores e personagen s


dn literatura infantil.

I l it:nh tada t' ll l pl'd:tgogia pl'la Un iversidndl' Estadual d e Maringá (UEM), é mestre em educação
1wl.t IIH''i l1l :t lllliwnddndt·, d ou1 o ra t•m l'ducaçno peh' Un ivcrsidnde Fedcrnl d o Paranú (UFP) c
P''" dt~ti1 111'1H i n pdn I h· pntl :lll ll' tlt o dv 1\kologia da l ~dw.: a~·iin, Faculdad l' tk C iC•nrias L' i l·lras da
1 1!11\'t t M ido~dt· F~Htu l1111l Ptud i~t.• "lt'tl l,, d t· Mvsq11l1a Filho"(\ lNFsl'), t'llttl/ll t.l 1\ntl'llllll:tl':l. /\1ll:d11w111~·
t' !llllit •.,•,t llll .tdi'llll,\ d11 I )tjh111 ,111lltll11 tlt• ' l t•tHia t' l'r:'11ka d:t h lul'il\"" d:t \ ll iM ,. dtt Prngt'll lll it d,·
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tllUt _io lli • .ulwii UI' LI ..L III.I~ ÍWiuuiu d tl cduuu.L1ll ['t'li• tl\['llllHI liiiÍ\l'l ~ ldt•dP Attlldtllfllli' ,~ I '""' ~·.t il •li
..
.


• LÍG IA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO li1
I IO

Com isso, consolida-se o ente ndimento de que as instituições educativas tran~formações operada~ no moJo d e produção e de rroca; devem ser

só se justifican1 se, em todos os espaços e tempo, ocuparem-se do desafio de procuradas não na filosofia. mas na econom ia da época em que se trara
disponibilizar às crianças as máximas elaborações humanas, no intuito de [M ARX; EN(~tLS, [199-J. p. 320].

favorecer intervenções pedagógicas capazes de contribuir para a efetivação da


aprendizagem e do desenvolvimento dos indivíduos em seus primeiros anos Destacando tal conhecimento como elemento fundamental para a formação
de vida. Em outras palavras, significa asseverar que na organização do ensino da consciência crítica, Brecht (1986) sublinha que o ((homem não pode ser pa-
deve-se priorizar a defesa do desenvolvimento do espírito altivo, apreço à arte ralisado pelo saber"' . De acordo com o autor, o conhecimento tem a função de
e ao conhecimento. revelar cientificamente como as instituições sociais contribuem para a edificação
Nessa argumentação, destacamos a interdependência entre a teoria histórico- da sociedade capitalista.
-cultural e a pedagogia histórico-crítica. A teoria histórico-cultural constitui um Fazer a crítica a essa sociedade e, consequentemente, negá-la são questões
referencial teórico-metodológico na compreensão do psiquismo histórico-cultural. presentes em toda a sua o bra, como indicamos. E justamente as possibilidades de
Na mesma perspectiva, a pedagogia histórico-crítica, que Duarte (2012, p. 41) ntuação consciente que se apresentam no exercício do trabalho nas instituições
explicitou como "pedagogia marxista" ao defender a essencialidade da educação l~scolares permitem-nos lembrar desse intelectual alemão para atribuir especial
sistematizada e intencional para o desenvolvimento intelectual mais avançado, atenção às práticas edu cativas q uando em tela está a discussão sobre a educação
ampara o planejamento do trabalho educativo nas instituições escolares. D esse formal de crianças em seus primeiros anos. Essas ponderações sobre Brecht nos
modo, a organização do ensino realizada pelo professor deve contemplar vivências orientam para a compreensão da educação formal e, em decorrência, para a edu-
em uma perspectiva de humanização e emancipação. t'ação de crianças pequenas. Tratar dessa especificidade impõe como necessidade
Nesse entendimento, iniciamos nossa reflexão mencionando o dramaturgo considerar questões afetas à dinâmica da sociedade, o que nos permite visualizar
alemão Bertolt Brecht (1898-1956), que em seus estudos e reflexões apontou as • as possibilidades de ensino na primeira infância - e o que pode parecer contra-
instituições sociais como basilares para a estabilidade da sociedade capitalista. Essa tIitório apresenta-se como uma possibilidade.
menção a Brecht se faz por compreendermos que esse autor figura de m'aneir11 Assim como Brecht, não secundarizamos a importância da escola, dada a
exemplar ao denunciar a sociedade capitalista, e o faz apresentando a organiza sua essencialidade para a formação sistemática dos escolares; em contrapartida,
cão
'
escolar e seu cotidiano cristalizando as contradicões
. '
dessa dinâmica social. 11ão desconsideramos os limites postos e impostos aos profissionais da educação.
Nesse sentido, conforme Chaves (2000), o referido autor ocupou-se, nos A aparente valorização da informação e a real negação do conhecimento, tão
primeiros cinquenta anos do século XX, em revelar o cotidiano dos h omens, presentes na atualidade e já discutidas por Duarte (2004), não impedem conside-
discorrendo acerca do caráter de sua dependência no que tange à socieda<.l mrmos a escola como possibilidad e de desenvolvimento humano e apropriação
de classes. Brecht (1990) defendia a formacão •
da consciência histórica e fazi.1 do conhecimento científico, conforme defende a teoria histórico-crítica, tema
contundentes críticas a determinadas maneiras de organização das institui çm· .1hordado com maestria por Saviani (2000).
sociais, entre elas a escola, contemplada em diferentes textos. Em sua acepçé\1. 1, Em nossa compreensão, é preciso organizar o ensino de maneira enriquece-
a escola referenda a prática social vigente à medida que traz em suas ativid nd l • dnrn, o que im p lica atribuir atenção especial à formação dos profissionais que
cotidianas a forma de relação estabelecida pelos homens na luta pela vida
Apresentando-se na condição de defensor do conhecimento histó ri co, Brl'cht \ I' x pr~·~s;.to qu~· (K' r l l'tKl' ;I Pl.\"<1 "O m end igo o u o cach o rro m o rto", escrita em 1919, estread a em 27
.],. '-l'tl'lllhm d1· IW1? l'lll lk·rl i m, A ll'm an h a. A p eça t raz um breve d iálogo c.ntrc um imper ad o r, ao
entende que a viabilidade da sociedade sem. classes, corn o posta nos clússicos de1 1\' tCJIII,II d 1· 11111:1 bata l ha l(lll' llw lOI1tl' d l' n co nqu ist a dé u m i mpo rtante ter r itór io, e u m mendigo
marxismo, baseia-se no conhecime nto d:1 econo rnin da socivdnd v r npit·alist:\ t.' 1 c• t11 p ro lt11 11 ln t1 i ... t 1·~n ( H l i 1 :1 11 ~n da 111\ l rl \' d l' Sl'll l'ao. N esse texto, B rccht discute a gu erra, a dcsmis·
111 11.1\tl" dn IH· 1•'•i, :1 it d.,(• ti a, lf l l •·~ t cn· ... lfl l\' M' apn'M' Illariam p os tl'ri o nlll'11l l' em in(tm era:> o u t ra s
nesse ân1bito é coerent-e ro m n m;\xima 1n nrxista, SVHI II H i tl :1 t pl ll l :
I"\·''· I''" '.t.l ' I' loll l\111'·, "' ' ... 11.1 ol l l lcllt.l !'->11 11 11'1\ ( 1' .IC1 l'llla l .l n fh\11. \l :ll lt lll l'l'\'\'l:t ljlll' Cl llll'lldigo
I ''I'"• lllt!lt\ol lj li l "llll fiC'tli:t dt• il 'tllit~~l'tl I 'IIII C1 hntllt'lll t)lll' ll ll' fal:l\:11'1.1 11 l lllj ll' l :ll llti, \' l"•tl',

,l fl ,·:III "'; li i lltld'tttlllol '• dt• l ttdll "l 11 ~ l t'l lll'lll•llll •ll íli·, '! •ol ,ti ,, l 1 , J ,~• l t11l.t p111 . 11 .1 \'l"'l , 1111. •IIII I •' III<•~ l )',.lllol11 1 lt~oo I"~ llt. l•t• ol lodt ol , j, \I .,Ít! dt• ':O' It Íllt•• tlllo 11t111 , ,\ ltliltl!t1 dll .],

1olllo 1\ 1\1 111( Ítt dl' l!nlhtdlto •'I d~• tli!~M 't iiiiUJ~·· otlit .!lo 11 '~11 IH ' t IIIi II' ljlll ' t">l•''l lll' idt'ltt ilhjllt'ltl I' Ílltllll!
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II I I '1 ·1'1 11 III í I I ti p l tl nlt

de t~stud os, rv l'lvxm~s l' tiVI\ It ~·o~ p11r11 o d l'Sl'I\Vtl h l1111 111 11 httiTlfl i'tll , ltlltl l lj H' tl iiH I, Ji'Cllll ufo l'll. A<~ M~ npl'wd n Hit· 11 fl 11 :tl dn pt'llllvitu HIHl d c v id a, mud anças
d as cri anças, mas tambóm dus proft•ssores. l:il'tllillllll'l 1111111 VC'~ 11 11tl •t 11 l" l'lllisHn 1111 lll lltwi r·:~ dv :1 n i nn~n lid:tl' t"ll lll n ml'io extl'r no sno notórias: ap resenta
d e Marx e Engels (ll99~)) d e que o ed ucad or prt·ristl M' t t•dt l('í'd' '· 11111 i111 dl'Sl' IWo lvi mc rl l o moto r, porta~se de 1T1 od o mais autô no m o, algumas já
Apresentamos, neste ca pítulo, as propriedades gt•r:lis do d cl'll' I\Vo lvi mento ,,, lninl ~:~m l' iniciam a ex pressão verba l. Essas conquistas permitem à criança
de crianças de 1 a 3 anos e tratamos d e suas especificidad cs. Sal kntamos qu e o s ltHnr· tudo o qu e vê. Vigotski (VYGOTS KI, 1996) destaca que o que caracteriza a
marcos cronológicos são apenas referências, pois, como ass inalado nos capítulos '''nsri0ncia da cri ança nesse período é o surgimento de uma unidad e entre as
1111\ ~'óes se nso riais e mo to ras .
anteriores, o desenvolvimento está vinculado às condições objetivas d e vida.
'
As conquistas realizadas no primeiro ano de vida oportunizam profund as E no interio r da atividade de comunicacão emocional direta com o adulto
'
mudanças no modo de a criança relacionar~se com o mundo, culminando na qlll' surge m as primeiras açõcs sensório~motoras de orientação e manipulação,
t 1t 1 seja, as ações com objetos começam a se formar a partir da comunicação com
necessidade de uma subdivisão desse período. A primeira etapa de desenvol-
vimento é denominada por Vigotski (VYGOTSKI, 1996) de primeira infância c
1, ndu lto e ganham impulso explorador pela nova capacidade conquistada: mani~
pular objetos - graças à maior acuidade óculo~manual, ao conseguir engatin.har
subdivide~se em duas fases: de O a 1 ano e de 1 a 3 anos. Para Vigotski (idem),
tlll andar. No primeiro ano de vida, o adulto é o centro da atenção da criança;
a primeira infância é constituída pelos períodos infância e infância p·recoce, n as
l'l1tretanto, ao final do primeiro ano e com suas conquistas, o adulto deixa d e
quais as atividades dominantes são, respectivamente, comunicação emocional direw
'ol' r o centro da atenção e entram em cena os objetos antes apresentados para a
com o adulto - objeto de análise no Capítulo 4 - e atividade objetal manipulatória.
1 riança, que agora pod em ser livremente alcançados e explorados por ela própria;
Tratamos aqui especificamente da infância precoce e de sua atividade~guia, qual
d esenvolve~se então a atividade objetal manipulatória (PASQUALINI, 2013).
seja, a atividade objetal manipulatória.
Pasqualini (idem) sublinha que a característica da situação social d e desenvol~
Nesse período da infância, a criança tem um ativo domínio das atividades

vi menta da criança n esse período é a dependência da situação co ncreto~vis ual,
objetais instrumentais e desenvolve a inteligência prática. Essa conquista se faz
porque a criança ainda se enco ntra subordinada às impressões externas. Segundo
com a participação do adulto, que apresenta à criança o funcionamento dos
Vigotski (VYGOTSKI, 1996, p. 344)4, "para a criança nesta idade, tomar consciência
objetos e seus modos de uso. Uma nova forma de comunicação é desenvolvida
não equivale a perceber e elaborar o percebido com a ajuda da atenção, da
com os adultos, que se tornam os depositários de modelos de ações com os memória e do pensamento. Essas funções não estão diferenciadas e atuam na

objetos (PASQUALINI, 2013). consciência integralmente subordinadas à percepção". Ao focalizar a centralidade
Desenvolvemos nossa argumentação com base nas seguintes questões: Quais da percepção, Vigotski (idem) sustenta que nessa idade o pensamento se manifesta
as conquistas desse período? C o mo organizar o trabalho pedagógico para a criança de forma visual direta. A criança é capaz de estabelecer relações entre os objetos,
nesse momento de seu desenvolvimento? E ap resentamos a defesa da necessidad e porém necessita de sua presença. Ainda conforme o autor, "para a criança d essa
.
de valorização da atuação d os professores em favor da organização do trabalho idade, que já tem atividade intelectual, pensar não significa recordar" (idem,
pedagógico com vistas à possibilidade do desenvolvimento intelectual. ibidem). Nessa idade, impera a percepção visual direta.
A percepção, nesse momento, possui duas características que merecem des~
taque. A primeira diz respe ito ao seu caráter afetivo5• Vigotski (idem) afirma que
PRIM€1RA INFÂNCIA ( l A 3 ANOS): ATIVIDAD€ OBJ€TAL nesse momento da vida toda percepção é apaixonada, e exemplifica ch amando
MANIPULATÓRIA atenção para a ma.n eira como a criança olha para um objeto novo . O autor argu~
menta que essa visão é fundamentalmente diferente da maneira como o adulto
Neste tópico, analisamos as características da infância precoce, que se o lha para um objeto e reintera que quem já observou esse fato tem a dimensão
inicia aproximadamente na transição do primeiro para o segundo ano e per·
dura até o terceiro ano de vida, pontuando que ela é marcada pelo declínio 4 As t raduçôes são de respÇ'••snhilid adt! das autoras.
da atividade de comunicação emocional direta e pelo surgimento da atividad e 5 Por caníter afetivo, e ntend emo:; o grau de afecção do objeto sobre a cr iança.
PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 11 5
LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.)
11 41

Aqui, observamos claramente como a atividade objetal manipulatória en;


1h1 d ife rença entre a percepção do adulto e a da criança. A segunda peculiaridade gendra uma nova qualidade psíquica: o desenvolvimento da linguagem e seu
rd~.·rc-se à centralidade da percepção nesse momento; de acordo com Vigotski
entrecruzamento com o pensamento. O referido entrecruzamento representa o
(tlk·m, p . 345), a percepção é a função predominante na consciência nessa etapa;
salto qualitativo de maior importância desse período. Nas palavras de Vigotski
1ts-;im, "como toda a consciência atua sobre a base da percepção, esta se desenvolve
e Luria (VYGOTSKI; LURJA, 1996, p. 209) "a convergência entre pen samento e fala
,\1\tcs que as demais funções". constitui o momento m ais importante no desenvolvimento de um indivíduo e
Ao apontar a centralidade da percepção nesse período d o desenvolvimento,
é exatamente essa conexão que coloca o pensamento humano numa altura sem
V1gl )tski (idem) cita duas leis relativas ao desenvolvimento das funções psíquicas: ))
precedentes .
Se, duran te o primeiro ano d e vida, o desenvolvimento do pensamento e
a) a primeira diz respeito à preponderância de uma dada função em
da linguagem é marcado por seu desenvolvimento de maneira independente, ·
determinado momento da vida. Na acepção do autor, cada idade
. 1996) nomeia de etapa pré;linguística,
configurando o que Vigorski (VYGOTSKI,
tem a sua função predominante, acentuando que, assim como as
a etapa seguinte (por volta de 2 anos) ·será marcada pela d escob erta da função
partes do corpo humano, as funções também não se d esenvolvem
social do s igno e pelo ent recruzamento do pensamento e da linguagem; "para a
de maneira proporcional e uniforme.
própria criança, esse é o período mais importante, se m o qual seu pensamento
b) a segunda refere;se ao surgim ento das funções. Em sua perspectiva,
as funções mais importantes, as mais necessárias a principio, as que não poderia nem progredir nem desenvo lver-se" (VYGOTSKl; LURIA, 1996, p. 210).
servem de fundamento a outras, desenvolvem-se antes (sensação, · A apropriação da linguagem irá duplicar o mundo perceptível, possibilitando
percepção, atenção, memória, linguagem, entre
6
outras ). é\ criança operar com os objetos na sua ausência para além das coisas observáveis
c manipuláveis diretamente. A possibilidade de superar os limites da experiência
,

O utro ponto que merece ênfase n essa discussão é o desenvolvimento da sensorial amplia drasticamente o mundo da criança. E importante ressaltar que
Ii nguagcm simbólica. O desenvolvimento da linguagem enquanto meio de co- .ts conexões entre linguagem e pensamento inexistem no início do desenvolvi-
nlll ni cação, como possibilidade de compreensão da fala dos adultos e expressão mento e vão surgindo em seu percurso histórico - e todo esse processo se faz
l k: Sl'li S d esejos por meio de palavras, produz uma reorganização da percepção por meio da mediação do outro. O adulto n om eia os objetos para a cr iança e

i11 la ntil, po is a criança passa a perceber os objetos no interior de um todo que lhes atribui significados.
1H tsst li pro priedades fisicas, mas também determinado significado social.
Q uando a criança começa a pronunciar as primeiras palavras:
Vi gotski (idem) salienta a relação entre a atividade objetal manipulatória e
11 d rsc rwolvirncnto da linguagem na primeira infân.cia, afirmando qu e a criança tem in [cio o processo d e construção de seus significados e sentidos, começa
t'• capaz de pronunciar alguns sons e palavras ou equivalentes funcionais das a perceber o mundo dos objetos nas categorias gen eralizadas e a pensar
pnlav m:-; j<\ no primeiro ano de vida, mas é no período de 2 a 3 anos que se ve- através de ações representacionais corporaiti cum uso de suportes materiais
t'dku :1 arnpli ação de seu vo cabulário por meio do dom inio da face fonética da ou pivôs que ar ticulam a expressão o ral, o reper tó rio gestual e o grafismo
p:d:1vr:L l:-;so ocorre po rqu e, sendo a atividade objetal manipulatória a ativiclade- infantil [ÜAVIDOV, 1988, p. 41].
H" in do d ese nvolvime nto psiquico n esse m o mento do desenvolvimento, cresce
11 i 1\l l' rt'sse d a criança pelos objetos e pela co mpree nsão d e sua função social. l·:sM' rn o mcnto d o desenvolvimento provoca uma transformação imensa na
( ' n u \ll ns gt·stos do adulto c o utras fo rmas "mudas" de ensino não satisfaze m a td,, da cri ança :
IH'Ct•s:.id ndl' da rrinn ~·a d e co rnprcc ndc r a fun ção do o bjcto, t•la pnssn n rcqu erc1·
t'HHil l-1 iii I<1111\ IIÇtWS do adult o, o que lhe l'X igir:\ n :1o :qw n 11H l'llllll'll'l'IHivr, mn:. () 1H:ntl:lllll'1Ho prinlit ivo da l'IÍan,·a q11e, n t l~ entüo, se dcsenvo lvern cm

t':lllii H' IIl l lltt' l ' ~~~~~ dn lillgllnl(l' l\1 w rhnl. i I ·


jt i l ,h1 . 1~ 11 ~!1~ 111111:1 1 ~ I\'S II ': IIII1 ''1 1 · 1111 :H IlJ I III, \' SII1·
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' 111 wt 111 1'''"111 hj Iid111 lt• 11, ~~~~~: 1~ I'"" dI dIid11 d1_'/1 I'< i'' ' Iiii 1 11 p1 11 •11 I;1H n InIa, :'1 111 (' 1I i, la

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Í\ l 'flt 'i P r•fiH in ·\jliitltti·ubH!n .lr·~"• ln Jlllf'"lt tl 'i 1 F'l 1\-I •IIIÍ II'i \/(1\ 'I , 1111 , 1_tí " 1"• 11 '"·' v1" II i 1h lt,, 1ll t,1111_• n q ''' t
I I (I LiGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSiQUICO I II

daJes uma forma verbal clara que a capacita a satisfazê-los mais facilmente. • Predomínio da percepção e sua organização: é a fase dos primeiros
Todas a~ observaçôes indicam que essa função da fala é precisamenre a indícios de organização do campo perceptual. A criança ainda n ão
primordial e a mais urgente e persistente [VYUOTSKl; LURLA, 1996, p. 210]. se orienta pelos vínculos objetivos que descobre nos objetos, mas
pelos vínculos subjetivos que a própria percepção lhe sugere.
'
Corroborando Vigotski (VYGOTSKI, 1996, p. 366), é na infância precoce que • Unico significado aos representantes dos diferentes grupos: é a
tii~L' a estrutura semântica e sistêmica da consciência, em suma, "é quando fase da "atribuição d e um único significado aos representantes d os
MI ''l~l' a co nsciência histórica da existência dos outros e, por conseguinte, d e si diferentes grupos, antes de mais n ada daqueles unificados na per-
tlll:1'1 mo". Assinala ainda que a expressão "eu sou" surge n o segundo momento cepção da criança" (idem, p. 177). Coe rência bastante incoerente.
da tdade precoce, e com essa nova possibilidade surge também uma maio r auto- A criança irá reunir os mais diversos elementos, ainda que sejam
IHltnia da cria nça; o autor exemplifica que ela será capaz d e fazer u so d a colher desconexos. Os nexos serão produzidos por impressões subjetivas .
1'111 nwmento das refeições, com eçar a se alime ntar sozinha e negar a ajuda do .
,~d11lto para essa atividade. Em síntese, a relação que se estabelece entre o pensamento da criança e o
Nl'sse sentido, Vigotski (idem) sustenta que as neoformações desse período desenvolvimento da linguagem, sob o predomínio da percepção, é o p ensamento
t~S Lto rdacionadas à linguagem e à tomad a d e consciência possível por m eio da sincrético. H á uma tendência, nessa forma de p ensar da criança, de realizar asso,
.ttlt ti si\·ão da palavra. N a perspectiva do autor, é nesse período que surge, pela ciações por meio de impressões. A criança reúne objetos e lhes atribui significados

pritnl'ira vez, um sistema de funções separadas, com uma estrutura determinada, de maneira desordenada, em razão das impressões subjetivas que as características
1 tqn ponto ce ntral continua sendo a percepção, a qual deve ser con s iderada uma externas do objeto lhe provocam. Nesse períod o , a construção d o conceito está
1u~t ,formação. Com a ajuda da lingu agem e do pensamento, os objetos adquirem l o ndicionada aos "vínculos emocionais e subjetivos entre as impressões que a
ign i ficados. criança confunde com seus objetos" (idem, p. 184).
Essa d iscussão é esmiuçada por Vigotski (2001) na obra A construção elo pensa- O adulto indicará para a criança o uso das palavras, bem como seus signifi,
'"'~ "ro e da linguagem, em que analisa o sign ificado da palavra enquanto unidade l"ados. Nos te rmos d o autor:
de anúlise da con sciência. O autor aponta o significado da palavra "evolui",
pot:-., no se a n alisar o d esenvo lvimento d os conceitos, é necessário com preender O Significado atribuíd o a alguma palavra pela criança que se encontra
1:1 11n t 111tngênese. N a visão do autor, existem diferentes fo rmas qualitativas de nesse desenvolvimento dos conceitos pode, pela aparência, len:1brar de
J!t.: twr:di zação ao longo ela vida, e nessa obra ele indica três grandes períodos no fato o significado dado à palavra pelo adulto. Através de palavras dotad.as
~k~Ml' t wnlvi me nto dos conceitos: sincretismo, formação de complexos e conce itos. de significado, a criança estabelece a comunicação co m os adultos; ne~sa
N.1 infância precoce, a crian ça estaria no primeiro estágio de desenvolvimento abundância de laços sincréticos, nesses amontoados sincréticos de objetos
dn~ l'nnn:itos - o sincretismo - , o qual apresenta três fases, d escritas a seguir. desordenados, formados com. o auxílio de palavras, estão refletidos, ccm-
s ideravelmentc, os laços objctívos, uma vez qu e coincidem com o vínculo
• S ignifi cado da palavra: nessa fase, o trato com o objeto é realizado entre as impressôes e as percepções da criança. Por isso, em alguma parte
por e nsaio e e rro; a cri ança faz uso confo rme acha inte ressa nte, os significados das palavras infantis podem - em muitos casos, especial-
mns troca q uando ide ntifi ca que não corresponde ao que qul'r mente quando se referem a objetos concretos da realidade que rodeia a
s i~n ificar. A l'Scol hn d e novos o bjetos é rea li za da ao acaso. Nas rriançn - coincidir com o significado das mesmas palavras estabelecidos
p11lnvt·:1s dl· Vigotski (itk·m, p. 176), "o sign ificndn dn pnl:wra 0 um na Iingungcrn dos adultos lide.m, p. 176].
l' tH 'IIl lt•:tiiH'Il t lll'litHtl'IÍl'tl nnn l'tdnrmmln dt~ nhjel tlM pnrt k ulnrl:S,
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,,,~:,>, V!gt>I Mki (VY< l< l iSt, l, Jl)t)(l) ci to Elko11i11 l' corrui Hll'll rlllfi M11~141'1'1, nss lrJn ln11do co ncatenação reflexiva d a lógica d as conexões vitais;
1plt' IH'ssn idndl' se l r1 kin o jogo. A criança j1\ brinca dl' nl l tll t' llt :ll' ~H i n boneca, • Produ z-se uma síntese das ações e uma separação dos objetos;
d,• vnt'lt'r 11 r hno usnndo a vassoura, de falar ao tckfonl'; l'll ll't't:lllto, o jogo co m • Aparece a comparação das suas ações com as ações dos adultos, e,
MIHniflcndos varindos, com a introdução de elementos abstrativos, só ocorre ao d e acordo com isso, a criança atribui~se o n o me de um adulto;
l'lltnl dl'SSl' pcriodo. O autor argumenta que na infância precoce as crianças "não • Opera~se a imaginação a respeito do adulto, este apresentando-se à
r..d11 ' III l ria r si tuaç<")cs fictícias no verdadeiro sentido da palavra"; portanto, temos criança como modelo de ação e, simultan eamente, surge a tendência
11111 qu :lst' jogo, o "jogo em si" (idem, p. 349). O desenvolvimento da capacidade de atuar com independência, mas como adulto .
d e ,J h:-.tra,·;lo c ge neralização discutida pelo autor pode ser percebida, por exem~
pio, '", processo de atribu ição de significados a objetos que participam do jogo As conquistas da criança na infância precoce, n o que diz respeito ao conheci,
ll d; llttil , quando estes assumem diferentes funções: a caneta pode ser um avião, mento dos objetos e sua exploração por meio da atividade objetal manipuladora,
1' ,,JI ,o d e vassoura un1 cavalo etc. •
aliadas ao crescente desenvolvimento da linguagem simbólica em seus aspectos
F d essa atividade de quase jogo que se engendra a atividade dominante do co mpreensivos e expressivos, criam possi~ilidades para o surgimento de uma
ll" '' 'llHl período. Ao cam inhar para o final desse período, a criança possui mais nova forma d e atividade, a qu al se tornará à guia do desenvolvimento na etapa
,-J:,n·zn sobre suas ações e possibilidades, observando as açôes desempenhadas seguinte de desenvolvimento, a etapa pré-esco lar, em que a atividade principal
1H'l' ,.. , :1dultos q ue ainda é impedida ou incapaz de executar (ELKONIN, 1998). Pode, será o jogo simbólico.
11 11 ,..., : t c~· ntuar que o con hecimento sobre si marca o momento de transformação Voltemos à nossa segunda questão presente n o início do texto: Como organi~

dn p1 i1neira infânciq. A criança quer realizar ações d e maneira independente do zar o trabalho pedagógico para a criança nesse m om ento de seu d esenvolvimento?
,11 l11lt o, ro n1o tomar banh o, alimentar-se, vestii·~se etc., entretanto nem todas as Essa será a discussão do próximo tópico .
11'1\'ld:ld cs que ela deseja realizar sozinha poderão ser efetivadas.
I )iante d essa contradição, m ais uma vez n os deparamos com um momento
,tl i l ~t d , l iLI C se pode transformar em uma crise, pois, como afirmamos, para DAS POSSIBILIDAD€S L€GAIS ÀS N€C€SSIDAD€S eDUCATIVAS
' p~ 1cologia histórico-cultural o desenvolvimento não é linear e as crises são
n 11 11prcc ndidas dialeticamente, portanto podem ser positivas - como a crise Toda criança tem direito à educação, conforme define a Constituição da
do·, ~ an os. Assim como nas crises de outros períodos, essa se d eve ao fato de a República Fed erativa do Brasil de 1988, reco nhecendo-se o direito social da
, . " ' · "' ~'é\ n ão conseguir sa tisfazer suas necessidades ou precisar reprimir as novas criança ao atendimento em creches e pré-escolas, fixando a educação infantil
1H'l.' l~ss idades q ue surgem ao findar cada etapa (VYGOTSKl, 1996). enquanto dever do Estado (BRASIL, 1988). Essa assertiva te m se reapresentad o em
I•:ssn contradição vivenciada pela criança a leva, de alguma maneira, a procurar debates rel.ativos à educação nas ú ltimas décadas e, somadas a essa lei m aior, h á
lt'm dv(\.Ja, e assim o jogo surge como uma alternativa viável (ELKONIN, 1998). Nesse constantes referências à lei n. 9.394/ 1996 (Lei de Diretrizes e Base da Educacão
'
ltn hito, a criança pode fazer de conta que cozinha, mesm o n ão tendo co ndições Nacional - LDB), que institui a educação infantil co mo a primeira etapa d a
1\':ti..., pilrn isso- alternativa que indica alteração da atividade dominante da crian- educação básica, dando início à integração das creches e pré-escolas no sistema
~'11 A I ítulo de síntese do exposto em relação à etapa do desenvolvimento de 1 de ensino (B RASIL, 1996).
1 \ :111os c sua atividade principal, qual seja, a atividade objetal manipulatória, Essa etapa d a educação básica tem como finalidade o desenvolvimento
rdt•t'lndo-se à conquista e ao desenvolvimento desse período, Elkonin (idem, in tegral de crianças, d os primeiros meses aos 5 anos, em seus aspectos físico,
p . 2 Hl 2 31) aponta que, ao final desse período: afetivo, intelectual, linguístico e social, complementando a ação da família e
na comunidade (idem). Além dessas normativas, citam os ainda as Diretr izes
• A crian ça insere~se no jogo de objetos substitutivos de objetos reais,
Curriculares N acio nais para a Educação Infantil, que ass im definem a educa~
que recebem um nome adequado à sua significação; cão infantil:
'

I )li I:IOIA M MAIO lN\ At~i.!ILI_U A 1\I!IM!W l'l_ltlt llll 'AQ"OIII'd t~HIIJ().(~ULl LJI(fll I lO III lii~NVf li VIM I tJ I 0 Plllt JUit .(j 12 I
M." IIII/\ IJI} FACIJI (ÜI(I] l

l'l'itlltllolt 'lllp:ttllltdllt.t''•Ít• h :hitt' ll, tdt.' lt'l id ttlllll! trlht'l• i' ptA t.•S!'td;t r-;, lt ( ).., l''-t:dwlt•, lnH'Ilto:-; l'dttriH'Íonnil'i quv ok-t t:11n a cducaçao infantil devem
li! Iiii~ " I' I ,lldl' fl'l Í::illll Cll lll <l CS jl.ll,ll.., lll ~illlllí itll ll ti ll lt ilttt.ltllllt ''tl H l i" qlll' I I III lll'lul'i7nr lll'ri:l tH; av promover d e maneirn intencional o desenvolvimento. Ações
1i t II I' 111 v~ t 11lw ll' 1 i n H ·n t u:-. L'd 11 c: H 11111 a l ~ p 1ti dk·í ' " ' 111 111 I\'11 dl iH q til! v d 11 t>;1111 ' ,lll 1,,, itla como hnnho, troca de fralda, alimentação, preparação e condução
l' llid atn dv ninn ~·as dt· Oa 5 anos dL' id:~ t l v 1111 pc•l'lt H I, , dittt'l\<1, l~ lll .i tll'll :ltl l 1111 (lvsrn nso sfio organizadas pelo professor e, se planejadas com o objetivo de
in tegrn l ou parcial, regulados e s upe rvi:-~ iun:~dos put' t'lrg:io rompl'l l'llft' d,1 llllllllover o desenvo lvimento, serão enriquecidas por uma linguagem cuidadosa,
sisterna de ensino c submetid os a controle socia l [13R/\SrJ, 2009aJ. Mil lltn ambiente organizado com livros, brinquedos, com a presença constante
,I,· cantigas populares e música clássica. Ressaltamos, por exemplo, o desenvol~
A ed ucacão
'
infantil encontra~se em um momento fundamental de reconhl vltnvnto das ações lúdicas nesse período. Essas ações formam~se na medida em
cimento, conquistado por meio de lutas da sociedade civil organizada em fóru n~, qttl' n criança in ternaliza aspectos das relações sociais. O adulto irá apresentar
movimentos de trabalhadores e dos próprios profissionais da educação para a 1111t·n a criança a função do objeto, seus significados e suas possibilidades de uso.
garantia desse direito. Pesquisas atestam que a primeira infância é a base pam O trabalho com crianças na idade precoce acontece de maneira muito di.nâ~
o aprendizado humano e constitui um momento importante para determina• ltli ra. Se tomarmos como referência o início dessa idade (1 ano), vamos ter uma
as contribuições que a criança trará para a sociedade quando se to rnar adulta 1tlança mais dependente do adulto. Na rotina escolar, enquanto uma está com
(MARTINS, 2013; PASQUALINI, 2013). lnmc, a outra necessita dor mir, e outra precisa de cuidados de higiene, e, desse
Segundo Vigotski (VYGOTSKI, 1996, p. 299), os primeiros anos de vida são t1todo, o professo r deve estar sempre atento e preparado para as diferentes ações.
fundamentais para o desenvolvimento humano, porque neles ocorre a formação Nesses momentos de cuidados, há possibilidades privilegiadas de comunicação
das estruturas do psiquismo humano sobre o qual se desenvolverão as estruturas ~~ t 1tre criancas e adultos.
'
superiores do pensamento, decorrentes das relações estabelecidas pela criança Partindo da premissa vigotskiana de que a linguagem é o elemento que se
com o mundo exterior. vincula diretamente às neoformações desse período, ressaltamos que é a partir
Por meio das relações sociais, o bebê apropria~se dos modos humanos ela~ dn comunicação com o adulto que surge a comunicação autônoma infantil, fin~
borados socialmente e da forma comum de comunicacão, iniciando o domínio (I ando o período pré~verbal e indicand o a passagem do primeiro para o segundo
'
da linguagem. Criadas pelo modo de vida desde os primeiros anos de existência, ,, no de vida. Nesse momento, o professor pode, por exemplo, indicar objetos,
novas necessidades apresentam~se e assim se estabelece o papel da educação 'infan~ nomeá~los, chamar atenção para suas funções e relações. Período subsequente que
til, que é de extrema relevância na interação da criança com o meio, promovendo corresponde do segundo ao terceiro ano de vida requer um trabalho voltado para
seu desenvolvimento integral. . n enriquecimento do vocabulário. É de fundamental importância que o adulto
Nessa vertente, é essencial que o trabalho docente com crianças pequenas disponibilize imagens, valorize a pronúncia correta e estimule a construção de
seja exercido por profissionais da educação com formação específica, fator de (rases, apresente possibilidades de fantoches.
suma importância para que se realize um trabalho educacional capaz de promo- Nesse sentido, merece atenção especial a formação em exercício dos profis~
ver o desenvolvimento integral da criança. A esse respeito, consta no parecer d o sionais que atuam com crianças menores de 3 anos. Na concepção de Chaves
Conselho Nacional de Educação que: (2007,· 2014a), as propostas de capacitação devem atribuir especial ênfase aos
professores que atuam com as crianças dos primeiros meses aos 3 anos, uma vez
As creches e pré-escolas se constituem, portanto, em estabelecimentos que nessa idade ocorre a formação inicia~ da personalidade humana, a qual serve de
educacionais públicos ou privados que educam e cuidam ele crianças de base para todo o desenvolvimento posterior; no entanto, o que verificamos na
zero a cinco anos de idade por meio de profissionais com a formação es- prática são propostas de capacitação em serviço que privilegiam as idades maiores
pecífica legalmente determinada, a habilitação para o magisté rio superior e se esquecem de uma formação consistente para os educadores que atuam com
ou médio, refutando assim funções de caráter meramente ass ist:encialista, crianças dos primeiros meses aos 3 anos.
embora man.tenha a obrigação de ass istir às necessidades básicas de todas Concordamos com Chaves (2007) quando assevera que, no tocante à forma~
as crianças [B RASIL, 2009bj. ção e atuação dos profissionais da infância, há uma "lei da hierarquia" de valores
J' l I I hliAM M~I'IIN\ ANIII I 0 A 1\lii{Af,j ll'!l ~ MI\I'IIIIA 01. l), I·AGC I (I 1111 1) I 'I I'IIII li/ALA< li IIII I t'll (lt:O I A11 IIli (f\1 lllllll ' llllVIII VIMI t·ll i) I ''t[UIIILII I ~· :1

II'Hiilllllllt! rt'ltt!IH itll ltk 1: qt ii'I' I H' Ill' jlllw l ljtll~ ! d jlt.ll'l "' lllt ll~ l~l lillll' llltt
11 lt l t'l.l dt l~oh t 1 pn•dnm! I\ ln d:t JH' t l 'l'P\ ':111, stt il :11 ivid:H.k t..•s t:'l li lllitnda a um ~1 s ituação
p t•t i.IJ:llS:Íltll'l v:d t' lll lll!I Í:-i qtH' lll liiUS: p:qw[ s llllll l' 1 l ' ilt.it• l 'l'l11pllli 'll' lll v: tl v1 lll, li i 'llll t' tt'l:1; Hl' tHin :ISHÍI11, ii principal ca racterlstica da s ituação social de d esen-

ljlll' jll \1-i~H..' iPS l' histt'll·ias; l'Sl'l'l'Vl' l v: tl l' mais ljlll' IH iiH :11' i' ( ll i lll \ 'i l l' 1ll;tiol'l'S l VIII ' ""'IIIH' nt o da criança nesse período é a dependência da situação. Suas ações
11 11

..111tlHHt·an
''' ·~~~'• ' cl:\
. qlll' Cl' .l êln~·as " ml'norcs "('ll Icm, p . 177) . '''''iii, vinculadas àqu ilo que ela percebe de suas vivências. E percepção, ação e
I )l·ssc modo, adqu i rc (orça n a rgum e ntação de que algu rn as i nsti LU i ~·ot ~~ 111 · imentos formam uma unidade indissolúvel. A percepção está vinculada às
v:t ll'm mais que outras, co mo se os centros de educação infantil tivessem v<ll t "' lllt:trKes afctivas das coisas, o u seja, os objetos possuem uma força afetiva que em
lll l'IWr qu e as escolas. Consideram os que já é tempo de compreender qu e :1~ dt·tvrrninadas circunstâncias as atrai ou as repele, e isso orienta sua ação. Portanto
institui ções educativas para crianças pequenininhas são escolas, ainda que co11t IH'II d esenvo lvimento está subordinado à realidade objetiva, e a comunicação com
pnrtku la rid ades- uma vez que nas diferentes idades as crianças aprendem d l' 11 :1d ulto terá um papel central na transformação dessa função psíquica.

lll udo específico, de acordo com a maneira como melhor se relacionam com '' As principais conquistas desse período estão relacionadas com o desenvol-
lt\llndo a seu redor, o que não descaracteriza a função pedagógica dos centros ''l tn ento da linguagem oral, que só irá desenvolver-se por meio da colaboração
d1· t•d ucacão infantil. ~~ 111 re adulto e criança. Nesse processo, é necessário que um compreenda o
'
Pnra co ncretizar essa escola, é necessário conhecer estudos e pesquisas cujos 1 ,,, t ro. Inicialmente, a linguagem não se configura como uma atividade pessoal

ll'Htlitados demonstrem as possibilidades de desenvolvimento humano nessl' ,1:1 criança. O domínio da linguagem, mediada pelo outro, possibilita uma nova
1>l'l'ft H. lo da vida, pois discutir e refletir com professores pode ser uma oportunida 1 nnfiguração da consciência. Por ser a linguage1n essencial no desenvolvimento

dv dl· superar valores e práticas sem fundamentação científica que secundarizam ,la principal neoformação desse período, frisamos quanto o ensino será impres-
1, c<, n hecimento e impedem o desenvolvimento não exclusivamente das crianças, cindível nessa conquista. "A comunicação com o adulto, que dá a conhecer o
mas também dos professores (MARTINS, 2009; CHAVES, 2014b). mundo à criança - destacando a multiplicidade de signos que o constituem
l'nsinando-a a atuar com ele e por meio deles" (MARTINS, 2013, p. 299). As pri-
meiras palavras irão originar-se dos sons que a criança consegue assimilar, por
€L€M€NTOS PARA AS CONSID€RAÇÕ€S FINAIS • imitação, da fala dos adu ltos .
Com o predomínio da percepção, o pensamento é marcado pelo sincretismo.
Nosso objetivo neste capítulo foi apresentar o processo de desenvolvimento d a A reorganização do pensamento infantil está diretamente relacionada com as
criança na idade precoce (1 a 3 anos). Desenvolvemos nossas discussões tomando novas possibilidades que a linguagem oferece à criança. Ten1.os uma mudança
co rno referencial a psicologia histórico-cultural _e a pedagogia histórico-crítica. significativa d o início para o final desse período. Ao adentrar a primeira infância,
A título de síntese do exposto, apresentamos suas principais características e uma característica marcante da crianca
• •
é a maneira como ela se relaciona com os
conquistas. Destacamos que as possibilidades de avanços estão diretamente re- demais. A criança acredita que o adulto pode compreender seus pensamentos e,
lacionadas à qualidade da situação social d e desenvolvimento em que a criança mesmo quando diz algo inco mpreensível do ponto de vista léxico, pensa (po r não
se encontra. Em outras palavras, defendemos que a intervenção educativa d o ter consciência disso) que sua solicitação deve ser atendida. Na verdade, isso ocorre
adulto é decisiva para o seu desenvolvimento . porque• o adulto age com a criança de maneira que possa interpretar e significar
Nesse período do crescimento, constatamos que há um considerável d esen- sua conduta, buscando satisfazer suas necessidades e d esejos. Vigotski (VYGOTSKI ,
vo lvimento motor da criança e a conq uista da marcha ereta possibilitará maior 1996) assevera que nessa primeira expressão da consciência não há diferenciação
a utonomia na exploração do ambiente e uma transformação na maneira d e ela entre o que está na consciência da criança e o que está na consciência d o outro.
relacionar-se com o adulto. A criança não precisa esperar, passivamente, pela Será dessa primeira expressão de consciência que surgirá a possibilidade de a
presença do outro; ela pode dirigir-se a ele e ir ao seu encontro. A partir dessas criança construir um conhecimento sobre si, e esse será o ponto d e virada para
novas possibilidades, desenvolve-se a atividade objetal manipulatória, e uma das a próxima etapa elo desenvolvimento.
principais características do comportamento nesse período é a dependência da No desenvolvimento de comportamentos complexos, tipicamente humanos,
s ituacão. é essencial a transmissão dos conhecimentos historicamente sistematizados. Nessa
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'

'
CAVITULO 6

,
IDADE: PR€-€SCOLAR C3-6 ANOS)
e A E:DUCAÇÃO INFANTIL
A BRINCADE:IRA DE: PAPéiS SOCIAIS € O E:NSINO
SISTE:MATIZADO

LUCINÉ:IA MARIA LAZAReTII'

INTRODUÇÃO
Na bríncadeira, a críança chora como um pacieHt<:,
mas alegra-se como [Jt.micil'ante.
VYC!OTSKY, 20027

' intenso processo de aprendizagem nos momentos anteriores à idade pré,


,escolar do desenvolvimento da criança determina profundas alterações
••• no seu modo de ser e de agir, culminando em uma nova etapa de seu desenvol,
vimento. Essa nova etapa é resultante das apropriações efetuadas pelo conteúdo
da atividade de comunicação emocional direta e da atividade manipulatória
objetal, característica do período de O a 3 anos. Como consequência, assistimos
às mudanças provocadas no desenvolvimento da criança na primeira infância,
sendo essas as mais significativas e os fundamentos para a nova atividade,guia
no período pré,escolar: a aparição da tendência da atividade independente; o
domínio de um círculo bastante amplo de atividades, com os objetos acessíveis
para isso; a aquisição das formas fundamentais da linguagem como meio de

Doutora em educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Mestre en1 psicologia pela
U n iversidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP/Assis). Graduada em pedagogia
pela U n iversidade Estadual do Centro-Oeste (UNlCENTRO). Professora do Departamento de Teoria e
Prática da Educação na Universidade Estadual de Maringá (U EM). Membro do Grupo de Pesqu isas
"Trabalho Educativo c Escolarização" da UEM (GENTEE/UEM).
2 As traduções são de responsabilidade da autora.
I ,ílll I hliAM MAl 'IIH' I, Nl! •li o" Alllt/\111 ii 'I j A~"" III IA I] UJAí ( I (III HI ) I~11 IIII 'AI) AO lll{d I'I!' H:11: CUI llliiAI I HIIII 01NVI li VIMilll (11 11 •11 Jl Jlt:ll 1.1I

11 L,,,~,, 1'\oci:d. A .11npll:t\ .tn dw. dt 111111lin~ d.t 11 '11 ll,llld, I" I' I! Iiii~ qtlt' :t t~ l'iHil\ ,1 lild rt 1: ltlíll'l~:tdtl lllll' .1\IH'~ l' lt' IIH' Ill 'í ll'l'~ dl' I IIII Ml :tln: :1 l i iilll\'i l IIII d:'t de CO ilH.: r ;\

:tMill lll :l :1\'0I.'S utda wz tll:d /'1 :tut t momn s 1.' Stlll JH'n t'Jl\.l'' '' lt ''IIH'Itn tln n..~:did:tdt I h I! ii.' t'l11 ' 111 :1 l11 VIl , 1111 n 1w 11 t l' ii\ . I~ssas a\ 1>t'S, 1H 1r vezes,
sa o rt! pct i t ivas c rc i te r a tivas,
q11v :1 rmk:iu t·ntTitl~sc mnis aprimorada (E1 J<UN IN, l l)(1 1)) . illl li til ltH'H ilHl ohjvt·o o u brinqw.:do, se m, no entanto, n1udar de conteúdo. E

A partir dessas nquis içôcs, quais são as novas CU 1Hplistas IH'SSI.' período do , tllllllll vssvH llHlm l'IHos const i tu!rem~se cm uma série de ações desconectadas,
desenvolvimento que se inicia? Qual é o papel da educação escolar nesse mom cntt 1 111 II'I :H;:to :dguma entre si. Não segue nenhuma lógica cronológica dos fatos:

do desenvolvimento da crianca? rq IIIH' IIn a menina e mbala a boneca, depois dá banho, logo em ~eguida alimenta
'
Responder a essas questões nos permite vislumbrar a significativa impo rtÜil• , ,, j1111' l'dtimo, leva-a para passear no carrinho. Essas ações desconexas, sem uma
cia que tem uma correta organização do ensino na educação infantil que garant.1 1 í •111ln11 idad e lógica cotidiana, são essenciais para o desenvolvimento das brinca-

situações propiciadoras de aprendizagem e de desenvolvimento das crianças. I, 11 .ts, j:\ que nelas i.dentificamos elementos primários para a sua complexificação
i1 , Vll lll \',fío , o que permite à criança migrar para ações cada vez mais concatenadas
i\ ,,ns poucos, apropriar-se da continuidade lógica das ações que se processam

IDADE: PRé-eSCOLAR: A BRINCADE:IRA D€ PAPéiS SOCIAIS e O "' 1dia a dia de uma pessoa.
E:NSINO NA €DUCAÇÃO INFANTIL No desenvolvimento da brincadeira, quando a criança passa a utilizar seu
p1 uprio nome, quando ela se denomina na atividade, ou seja, identifica,se com
Na ação e manipulação com objetos, na primeira infância, está o embrião dJ~II('m que executa uma ação realizada pelos adultos com algum objeto, são os
da brincadeir a de papéis sociais. Os adultos, pela atividade conjunta com as l1allcios da brincadeira de papéis sociais.
crianças, ao organizarem e dirigirem ações com objetos, inserem n essa atividade,
também, os modos sociais de utilizar determinados instrumentos e ferramen- o cam inho de desenvolvirnento dü jogo vai da açã~) concreta com os objetos
tas que se formaram ao longo da história e encontram-se cristalizados no uso à ação lúdica sintetizada e, desta, à ação lúdica protagonizada: há colher; dar
desses objetos. Como n esses objetos não está inscrito ou indicado diretamente de comer com a colher; dar de comer com a colher ü boneca; dar de comer
os modos de seu emprego, a criança não pode descobri-los por meio de simples à boneca como a mam.ãe; tal é, de maneira esquemática, o caminho para o
manipulações, sem a orientação do adulto, sem um modeLo de ação. É condição jogo protagl.m.izado [ ELKON lN, 1998, p. 258-259].
'
para a aprendizagem das ações com os objetos a intervenção direta dos adultos,
,
c é na atividade prática cotidiana que a criança aprende e desenvolve habilidades E aqui que id en tificamos traços d e trans ição da atividade objetal mani-
e capacidades para isso. pulatória para a atividade brincadeira de papéis sociais: conhecer, manipular,
No decorrer dessa aprendizagem, relações (interação) com objetos com algu- .tpropriar,se das operações e procedimentos de ação com os objetos já não é mais
ma função determinada, como a xícara em que se bebe algo ou com brinquedos suficiente; a criança quer apropriar-se d o mundo humano, das relações humanas,
com que se executa e se reproduz ações apreendidas, proporcionam que a criança uma vez que ela faz parte dele e move,se no intuito de cada vez mais conhecer
co nheça, de maneira progressiva, cada vez novas funções do objeto e, com isso, para melhor se integrar a esse universo.
suas ações lúdicas se complexificam. Gradualmente aprendem ações com objetos O interesse da criança recai no significado social das ações com os objetos,
de modo diverso e amplo. Quando a criança, na sua brincadeira, manifesta a como são utilizados pelos adultos no interior das relações sociais - fazer o que
substituição aparente de um objeto por outro, isso é indicativo das premissas o adulto faz é o que caracteriza a atividade-guia desse período: "Objetivamente,
evolutivas da brincadeira de papéis sociais. isso significa que a criança vê o adulto, sobretudo, pelo lado de suas funções.
A substituição das ações com os objetos é o princípio da atividade lúdica: por Quer atuar como o adulto, sente-se dominada por esse desejo" (idem, p. 404).
exemplo, a criança aprendeu a comer com a colher e passa, em seguida, a dar O desenvolvimento da brincadeira de papéis sociais, como uma atividade
d e comer à boneca, ao brinquedo de pelúcia e, em outra situação, na ausência lúd ica, é marcado pela ação isolada com determinado objeto para, em seguida,
d e uma colher de verdade, acontecem as mesmas ações, porém a criança utiliza a crian.ça o utilizar de maneira diversa, em ações ligadas entre si por u ma lógica
um objeto substituto, como a régua, um pedaço de madeira etc. Esse momento que reflete as ações reais cotidianas na vida das pessoas. Portanto, o principal
1:1' 1 I hliA tvl MAI'IINO, AN< 1110 AAf.II~AN 11 1'1 Hllllll 1\~.Au lll', l !li(IL!l < IH !IlHAl IIli III 1 1I ~IIVOIVIMI tHO l"lhllll!:ll I .1.1
M/\IW UA r], O. PACGI (OIHI l

:-dgnif'icado consistl' IH> Sl'guintl': l>rincm t 1 rcfn't'.'t'ttlttt u /rutlltlill .., nll11dt1 n isso, lu't C< li\\ put t :tlllt'll to, oh 1 ig:1 SI.' II co 11 t rol t' t'o 1\1-i ci t: n te, <.! ela vê s uas próprias ações e
tan1bém procedimentos peculiares, como o de ass u111 i 1 11 I'" lll'l ti~o · lllll:l pl'sst 1.1 1o ma consci0ncia delas. Au h ri ncar como se fosse um motorista, por exemplo,
adulta e de suas funções sociais de trabalho; reprodu zir l' J.Wil vndi znr açf><.!s cotn 11 crian ça csforça~sc para reproduzir ações e controlá~las, e isso é a base para a
os objetos; transferir o significado de um objeto a outro. formação d a consciência.
Essa transição do brincar com objetos para a brincadeira de papéis sociais Esse processo destaca-se, primeiramente, pela negação à realização dos desejos
é caracterizada por uma contradição: a criança possuía e continua poss uin dtl imediatos da criança: se na primeira infância a criança age segundo suas vontades
os mesmos brinquedos, como bonecos, pequenos automóveis, quebra~cabeçns , l' desejos, para que a eles renuncie, ela precisa substituir tal desejo por outro
forminhas para bolo etc., e as próprias ações com eles realizadas em nada sl' Huperior. Já no período pré~escolar, a criança consegue esperar por seus desejos,
altera: a criança dava banho na boneca, dava~lhe de comer e a punha na cam i· Hu bmete~se às exigências do adulto e realiza tarefas que lhe são desagradáveis, mas
nha para dormir. Mas o que aconteceu, então? Esses objetos e atos com ell's necessárias para cumprir algum objetivo. Essas mudanças não ocorrem simples-
realizados estão agora inseridos em um novo sistema de relações da crianÇél rnente por alterações de idade ou porque a cr iança, por si só, resolveu mudar.
com a realidade, adquiriram objetivamente um novo significado social: ocorre a Essa renúncia a desejos e a submissão a regras denotam um longo período de
conversão da menina em mamãe, da boneca em filha, e os atos de dar ban ho, influência direta de atividades realizadas sob a direcão dos adultos.
dar de comer e preparar a comida transformam~se em responsabilidades da '

criança. Isso revela a tendência de a criança querer participar da vida e da~'~


No jogo, manifesta-s~ com especial vivacidade a renúncia aos desejos passageims
atividades dos adultos, quer aprender na relação com eles e com o mundo dos
em benefício de fins mais elevados. A crianca

renuncia a determinados
objetos humanos, procurando compreender essas relações em sintonia com
atos que lhe chamam aten ção em beneficio de outros menos atrativos,
tudo o que se descortina à sua volta.
porque assim lh~ exige o papel que se desenvol\'e no jogo. As ex igências
De acordo com Leontiev (1988, p. 125), a brincadeira surge para a criança "n
para cumprir bem seu papel subordinam os desejos imediatos da crian.ça
partir de sua necessidade de agir em relação não apenas ao mundo dos objetos
[Eu.:nt'\IN, 1969, p. 521, gr ifo nosso].
diretamente acessíveis a ela, m as também em relação ao mundo mais amplo dos •

adultos". Diante disso, a centralidade da brincadeira de papéis sociais é.a relação


Concomitantemente, a atividade lúdica põe em funcionamento toda uma
criança~adulto social e tem como núcleo o mundo das pessoas e suas relações,
complexidad e de funções psíquicas. As situações lúdicas exigem da memória, da
atuando na esfera motivacional e das necessidades, em que o predomínio nesse
período do desenvolvimento da criança está centrado no sentido social das atenção, da imaginação, do pensamento, funcionamento ao atuar com objetos,
atividades humanas. ao argumentar e inserir conteúdo na brincadeira. As condições, as regras fazem
.. Do exposto, qual a importância dessa atividade para o desenvolvimento da com que as crianças se concentrem, memorizem para garantir o êxito da situação
criança? O autocontrole da conduta é a principal conquista desse momento do lúdica. "A necessidade de comunicacão e de estímulo emocional estimulam a
'
desenvolvimento. Ao acatar as regras, as crianças renunciam a seus desejos l' crianca a uma concentracão e uma memorizacão orientada a um fim" (MúJINA,
> I >

impulsos imediatos para desempenharem adequadamente o papel que assumi- 1979, p. 60).
ram na brincadeira. No mundo da brincadeira existem regras fixas, que refletem No esteio dessa formação, manifesta~se a atividade humana: as relações da
as relações sociais entre as pessoas e os objetos, um mundo de realidade. Ao mãe com o filho, seu amor e sua ternura ou até o oposto, já que o conteúdo
assumir um papel, que por sua vez determina e encaminha o comportamento da brincadeira depende das condições concretas da vida da criança, das relações
na brincadeira, a criança busca seguir a regra de conduta que reflete a lógica da concretas que a circundam. Importa-nos responder: Qual é o conteúdo dessa
ação real e das relações sociais. Qualquer infração da lógica das ações não é aceita, ntividade que as crianças estão apropriando-se e reproduzindo? O conteúdo da
justificando que na vida não é assim. Os papéis assumidos na brincadeira - seja de brincadeira é de origem social, h i.stórica e cultural, e os motivos que incitam essa
mamãe e fil ha, m otorista e passageiro - exigem da criança que ela assuma com ntividade é a reprodução das relações humanas. N o entanto o carátcr concreto
exatidão as funções de cada personagem, e essa sujeição modifica seu próprio dessas relações representadas na brincadeira pode ser diverso:


l.ld 11011\ M MAIHIN'I, 1\IJIIII ttA AIII UIJ~II MAIW IJA (4. I)J I'A<)CI {IlHO ) I'I IW11 llt' 1\~.Ao 111 1 11 I')I{I( .o LI_H1\1111\1 I HJ I li '1 l tNIII VIM I n1 0 I'! tlqlJ I! :o I ~~ .~

L~SSil'l rc l : l ,lll' • r uH i t' ll l /il' l' di· l l lll j lt' llll,ftlll " '' dit ld ll 11111 11 111, de , j j,• j~;ft ,, ,ll d ~.· :I<.'U11I t•d nw nt us po litico-sociais. Essa co mplex if"icação
lit v 1·:'u·iu s, lllltS il'il iH t ' :tt t'-
I 1': ti ~: I 11 I \) I~ dv ~I l i H I I II d I ~ c :lll: ll , . :I! ) I III ~ 1: I IIII I l fl l l \III I "li 1
I i h i fi I I II II "1 ' I I I f ll ,dI' II I d vpt.: nd e, lund:unc ntnlmL' nte, da a(inidadc co m o tema proposto em relação às
M' l l l' l. ll1 1ll'l- dv .1111 <1 1 Íl éli'Í:\ Il\0 1 :l tl' d1· dl''• fli !IÍ ~ IIIII , htl!l ldltl.tdl•, ntd l'Z;I, vx pcriências c vivê ncias da cri ança. "Quanto mais estreito é o círculo da realidade
elt. tu d o depelH.IL' d as condi~·<)es socHtis u>lli:H· t a s t' lll 'llll' a crLII l l,:l ' " ' co m qu e a crian ça tem contato , mais monóto n os e pobres são os temas de seus
[ELKONJN, 1998, p. 35J. jogos" (idem , p. 513).
Po r isso, é preciso investir em diversos enredos e promover os argumentos
Em suas brincadeiras, as crianças representam as relações humanas vividas, nas brincadeiras. E, se essa é a tarefa da escola, corno promover e intervir nas
percebidas e sentidas. O motivo de suas ações pode está pautado em reproduzir as brincadeiras das criancas?

operações de um bandido, de um soldado, de uma manequim, e o conteúdo dessas
ações está sendo apropriado pela criança no seio dessas relações, formando,a. ( ) por exemplo, po<.:le-se organi3ar o jogu do arm azé m para ensinnr <tS crian-
conteúdo dessas brincadeiras representa uma síntese de atitudes, de procedimen- ças a uti lizarem 111.edídas de peso. Para isso inrruduzern-se no jog<.) uma
tos, valores, regras de comportamento e conhecimentos que medeiam a relação b alan ça e pest)S reais, e ntregam-se às crianças alguns grãos ( ) \.1 se me ntes
da criança com as demais pessoas em d eterminadas circunstâncias sociais. Se n secas . e e las apre nd e m a tnedir e pe~ar o bjetos variados, d esc m pe nh~1 ndo
brincadeira de papéis sociais fo r deixada ao sabor da espontaneidade infantil, é pos- as fu nçücs ora de vendedores, o ra de Ct.Hn p r ad ores. C laro q ut> nesses jogos
sível que essa atividade reproduza, naturalmente, a alienação própria dos papéis as cr ianças podem aprend er a pesar, med ir, contar artigos por unidades e
sociais reproduzidos do co tidiano da sociedade contemporânea (DUARTE, 2006). até fazer contas e da r o rroco. AF> nbsetTações demonstram que no centro
Por isso, o desenvolvimento dessa atividade requer ações educativas q ue da atividade das crianças esr:io as operações com o peso e ourra:-. medidas,
pro m ovam o seu surgimento, o seu desenvolvimento e direcionamento, o u seja, os cálculos etc. Mas se rdegnm a segundo plano as relaçôes e mn: as pessoas
é preciso intervenção para que o conteúdo dessa atividade avance n os processos no processo de "compra e venda'' [ELKONN, 1998, p. 40 1J.
de relações criança,mundo, com possibilidades humanizadoras. Elkonin (1998)
afirma que é preciso ensinar a criança a brincar: desde a aprendizagem lógica das Ao se propor situações assim, como essa do mercadinho, como muitas vezes
acões

objetais, é o adulto o modelo e agente das formas humanas de atividadc •
ocorre na educação infantil, o que se objetiva é o ensino dos conteúdos qu.e
e de relacões.
'
"Tudo isso acontece sob a direcão de adultos e não de maneira . envolvem pesos e m edidas, formando novas noções e aptidões da área da mate-
espontânea" (idem, p. 270). mática. O uso da brincad eira para esse fim não está negado e é até conveniente
Em razão de tudo isso, é tarefa da escola en.riquecer, ampliar e diversificar o que se adote, mas, se a atividade ficar limitada a apenas nisso , n ão há então a
conteúdo do enredo e dos argumentos, potencializando a brincadeira e sua fu n, prornoção de enredo c d e argumentos que envolvam a brincadeira de papéis
ção no processo de aprendizage m e d esenvolvimento da criança. Elko nin (idem) sociais, seja de vendedo r o u de comprador.
explica que o conteúdo do enredo refere,se aos temas que a criança representa em Essas funções de trabalho são observadas pelas crianças n o cotid iano, m as
suas brincadeiras, seja de mamãe e filho, professor e aluno, motorista e passageiro, poucos m o mentos são pro po rcionados a elas para reproduzir, para vivenciar
entre o utros. Esses temas têm origem na vida co tidiana e refletem m odelos de essas funções e co m isso, simultaneam ente, compreender o que envolve essas
ação para as brincadeiras d as crianças. Para a execução desses enredos, a criança atividades de trabalho human o . Por isso, a intervenção do professor pode ser
recorre a inúmeros meios representativos, como a fala, a ação, a mímica, os gestos a de incrementar com m ateriais, recursos, conhecimentos a respeito dessas ati-
e a respectiva atitude diante do papel representado. Aliado a escolha do enredo, vidades laborais, co mpartilhando com as crianças, brincando junto , instigando
a criança também desenvolve o argumento, ou seja, coloca em movimento o o enredo, levantando hipó teses de direcionamento das ações e o perações. A
tema da brincadeira, que é a "reprodução do que a criança vê em seu entorno brincadeira compartilhada permite a participação do professor não apen as como
na vida e atividade dos adultos" (ELKONIN, 1969, p. 512). No entanto o conteúdo alguém que pode dirigir, mas de vivenciar com as crianças e perceber com.o elas
do enredo e dos argumentos, que tem o rigem na vida cotidiana, pode ampliar- vêm construindo seus conhecimentos a respeito do que envolve as funções de
,se para brincadeiras mais complexas e enriquecidas valendo-se de conteúdos trabalho nas atividades produtivas dos adultos, incrementando e enriquecendo

1.' ,, IIII lA M, MAIUitHI, At IIII I 0 A 1\IJI(t\!Hf M"itll i IA {J D FAGCI (lllll t l


P11Wllli/A<~Ã01119Tillll! llt IJI llJilAIIJ<llll ~II]INOIVIMIJITOI"JI<JUIUJ 137

''l'"'''' ttdtl dl· v; d t•t'Wll' ll'gla:-,,-,od :d :-. qtll: sli11 "'"''""'t'iH!llf.l pn1'1 1 he ,~.,: l m '''":' ' 11 'liglli fk11dn do jogo d1.· hui irlw n <io M'jil iiJK' ntts o pro<:l'SI'io, mas que almejam
l~ ll l\1 ll 1111111do ci i'ClttHI :UIIl', 1.:111 dit\'Ç:\0 :\ nlt lll'.Jndtl j'; 11' 11 \l l l~n L' lllllll! lflll. IH·tn gi r· 11111 t'l~H ultado, um produto, isto é, co mpree nd am n regra do jogo.
I ~HH: t lntl·rvcn çúo, po rt·;uHo , cu minha tant o 1111 dl tt'i,'n (, til' l t llll fll' s ltut~\'tH'.'1 H:;su t ran s i ç~o vn i se nd o co nquistada por meio das atividades produtivas
pt·ot agl li) izudns co rno recurso didático para o ensino t k· :dg1 1111 t'tl llt vt'1d o es pedlku pt't'Hl' l1 tes na edu cação infantil: d ese nho, modelagem, recorte, construção d e
co mo t·,unbé m para a n1pliar o repertório das relaçf>es hum:uws qu e ali se evidcn 11l \il•ros, e1 tivid ad cs manuais etc. Essas atividades têm particularidades próprias
l'inm. Hlkonin (1969, p. 513) explica a necessidade d e o professor compree rH.k·r t!lt l' requ erem conhecimento do professor para que se exer ça influência espe-
l'HSl' processo para intervir de maneira que possa dirigir e utilizá,to co mo meio clf'ica no d ese nvolvimento da criança. Leontiev (1988) explica que a criança
no p rocedimento d e ensino e educação: 1 n mcça a ap render de brincadeira. O desenho é exemplo disso. A criança produz
11s primeiras produções gráficas, figurativas de modo puram ente imitativo, sem
O desenvolvimento dos jogos, tanto no que diz respeito a seu argument1 1 lt1tenção de produzir algo, sem a pretensão de atingir algum resultado. A criança
quanto a seu conteúdo, não se cfetiva de 1.1ma maneira passiva. A passa hri nca de desenhar. De acordo com Pasqualini (2013), progressivamente ocorre
gem de um nível do jogo a outro se realiza graças à direção dos adultos, 11m processo d e diferenciação das diversas atividades das crianças que surgiram
q ue sem alterar a arividade independente e de caráter criador ajudam a co mo brincadeira.
criança a descobrir determinadas facetas da realidade que se refletirã(l Se, em um primeiro momento, a criança se interessa pelo processo das
posteriormente no jogo: as particularidades da ativiclade d os adultos, n., ntividades em si, sem ter consciência da importância d os conhecimentos oure-
funcões sociais das l)essoas, as relacões sociais entre elas, o sen rimento :mltados que estão em questão, no processo ele educação, d irigido pelos adultos,
' ... '
social ela ativ idade humana. O conteúdo dos Jogos de argumento tem uma n criança na idade pré-escolar começa a perceber e tomar consciência de que
significaçclo eclrtcatiq_'a im[>ortante. Por isso, é preciso observar com cuidado do tais atividades não têm apenas um resultado externo ou um fim em si mesm o,
que brinca1n as crianças. É preciso dar-lhes a conhecer aquelas facetas da mas são por meio d essas atividades que ela pode adquirir novos conhecimentos
realidade cuja reprodução nos jogos pode exercer uma influência edu l'hábitos. O processo de começar a tomar consciência dos fins das ações (para que)
cativa positiva c distraí-las da reprodução daquilo que possa clesenvol\'er ~·motivo da atividade (por que) é fundamental na idade pré,escolar e é a base para
qualidades negat ivas. a fase escolar .

Defendemos, portanto, que a proposição de situações lúdicas deve ser Quando um.a criança desenha e tenta f~uer cnn1 que sa ia urn desenho
compreendida como um importante instrumepto para que se possa tanto enri- bonito, está brincando, não está real izando uma ath·idade produtÍ\'a. Mas,
q uecer o repertório de conhecimento, vivências e experiências d as e nas relações quandu nas aulas de desenho se propõe a desenhar melhor do que antel',
hümanas, como também produzir novos interesses e m otivos para outras esferas traçar as linhas retas ou colorir bem o desenho, ~uas açôes ganham ca ráter
de conhecimento da realidade humana, ou seja, os conteúdos d e ensino. Para de aprendizagem [M UKIII:--.V\, 1996, p. 179].
ilustrar: o professor pode propor às crianças aprenderem a jogar bolich e. O pro-
fessor tem clareza de que, por meio dessa atividade, objetiva desenvolver capaci, As atividades produtivas ocupam um lugar importante no trabalho educativo
dades de movimento e d estreza motora, como também operações e estimativas na educacão infantil e constituem uma linha acessória do d esenvolvimento. Essas
'
mentais, com cálculos simples. Jogar boliche para as crianças, nesse momento d o atividades demandam finalidade e planejamento, que desde a primeira infância
desenvolvimento, talvez seja apenas uma atividade lúdica. O que isso significa? propiciam uma complexificação crescente no desenvolvimento das crianças,
As crianças não irão jogar com o intuito do resultado, quantos pinos caíram com novos e desafiadores conteúdos que atuam na zona de desenvolvimento
na jogada, quem derrubo u um número maior, mas o sentido consiste em rolar proximal. Os conteúdos, ao serem desafiadores, potencializam a atividade cria,
a bola e vibrar com a queda dos pinos, isto é, o sentido está no próprio ato e dora da criança, ampliam suas experiências culturais, agregando elementos que
processo de brincar. A tarefa do professor consiste em, gradativamente, transitar enriquecem e aprimoram as funções psicológicas superiores, como atenção,
o motivo das crianças da atividade lúdica para a atividade produtiva, para que , . . . -
memona, pensam ento, tmagmaçao, entre outras.
I .1H lllliA M MAIHIN6, Al~lll II lA /1111(/\1111 M1 IUI liA tU I I AI .I I (11111 1) 1'1 '1!111111 'AI .Ali III: •I i'li 1H11 I .IJl 11 H•AI IHl III ' •I tNIII VIMI NIÜ I''\hJI IILO I .I 1)

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tlH 'Ít .1 1111 :1 11l'in. No fH' t lndo pn'• vsro l n t , pvla pn'1pl'l il ít j''l"l' lh l l IIH\ 111 dv lll ittliptd llt ii l'llt'' t'ht 'l!l:tt' !'>l' l'.t111ili:11'iz:t, dt• 11111 111ndo platlllkado, n1m os sisremas de
llhjt'ius, nmplia Sl' o tk·scnvo lvinwn to Sl' l1 so ri :d d.t t ll.tll ~"il, : q w 1lvi ~·oandn "'"' ltHull'ln:-; ~c tt-1111.1is, qua11do Sl' v11sinnm métlKios para examinar objeros,
ti l it' ll( i\~';l() 11<1S propril'dades e re laçot:s l'X(l'f"ni\S CO IIl itls('l'lllllt'll(Os t' (cn t> llll'llll p:11·a \ 11111p.tmr :->lia" pwpricdad~s com os modelos que já conhece. Isso
11n vspa~·o e tempo. Aprender a orie n ta r-se no cs pnso l's t·;\ vincu l<ldo à form a,,,,, f:t· \ u111 quv <\ percepção da criança torne~se plena, exata e diferenciada
ti as prime iras rep resentações so bre as d ircções da cri ança vale nd o-se do prúp1·11, [MtiiiNt\, 1979, p. 66].
vn rpo, bem como acerca das relações espaciais e ntre os objetos e o domíni o d,,
llilhilidadc d e determiná-las. A aprend izagem da orientação no tempo deman d.1 Purt l\ n to o d ese nvolvime nto sensorial e perceptivo aperfe içoa a sen sibilidade
lll:tior dorninio da percepção temporal, e ela se forma pelas ações diárias rea li zad:t., l 11 i ll sc rl mi n ação auditiva, d esenvolvendo o ouvido fonemático, a visão torna,se
1w ln c ri8nça. Como resultado das ações de ensino, ela começa a se orien.tar "'' ,,.n IH\cla, permitindo diferenciar formas, tamanhos e cores e suas gradações, e
tempo c no espaço, percebe as medidas em forma de horas, manhã, tard e, n oitl', ti 111 :1o se converte em um órgão tátil ativo. Essas novas conquistas favorecem o
l'st nçôcs do ano, e domina a habilidade de perceber e representar essas m edidas. ti• lllll n io de "novas ações perceptivas orientadas para indagar objetos e fen ôm e nos
Pelo desenvolvimento de atividades orientadas, como desenho, jogos de 1la rea lidade, suas múltiplas propriedades e relações" (idem, p. 65). O alcance do
co nstrução, apl icação, modelage m, trabalhos manuais, tarefas musicais, é quv tll·scnvolvimento sensório-perceptual, por sua vez, corrobora a complexificação
nco rrc o desenvolvimento de ações perceptivas. Ao perceber os objetos da real i d :t atenção e da memória, que se tornam menos espontâneas e subjugadas às
dndc c ircundante, a criança aprecia co res, formas, tamanho, peso. Possibilitar a l'Stimulações externas aleatórias, conquistando maior diretividade e m razão da
a prendizagem da percepção estética é fo rmar na criança capacidades n ão apenas 11atureza das acões realizad as.
'
de enu m erar objetos e figuras desenhadas, mas de captar o tema, observar qu a- Esse aperfeiçoam ento interfuncional impulsiona o desenvolvimento do pen-
dros, produzindo, por meio de vivências estéticas, percepções em relação à cor c ..,amento da criança. A resolução de suas tarefas ocorre por três vias: co n creta,
suas co mbinações, ritmo e elementos da composição. O contato com diferentes i'i gurativa e m ediante o perações lógicas. "Quanto menor é a criança, com m a ior
re prese ntações gráficas e o desenvolvimento da percepção visual possibilitam o • rrequência utiliza provas práticas; quanto maior, mais recorre aos meios figurativos
aperfe içoamento da atividade plástica. N o processo de ensino, é p ossível intro- e logo às operações lógicas" (idem, p. 68) .

d uzi r e aperfeiçoar, no d esenh o, diferentes formas de experiência, agregadas por Na primeira infância, as crianças estabelecem relações entre objctos e fe-
novos elementos e modelos gráficos, que vão corresponder com maior exatidão a nômenos mediante modelos de pensamento visual por ações. Em virtude das
tTaços característicos dos objetos representados. Representar os objetos por m eio primeiras generalizações, formadas na atividade prática com objctos e sistemati-
dn forma gráfica envolve três circunstâncias: "os moddos gráficos de que dispõem a zadas na palavra, o pen sam ento da criança deixa de operar exclusivamente por
criànça, a impressão visual do objeto e a experiência táti~motora, adquirida durante a ações e começa a apoiar,se em imagens. As crianças adquirem a compreensão
açcio com o objeto" (VENCER, 1976, p. 19, grifo nosso). das palavras de forma m a is clara quando se apresenta a image m respectiva, isso
A música, como outra vivência estética, apreciada de maneira sistem ática, porque as imagen s refletem a realidade de maneira m ais con creta e expressiva
forma capacidades relacionadas a timb re, melodia, estrutura rítmica de o bras, que os conceitos puramente. "As imagens, características da infância, n ão po-
co mo também o gosto de estilos m a is desenvolvidos. Isso significa que o d esen- dem se transformar de modo espontâneo em conceitos. À m edida que adq uire
vo lvimento das representações acerca dos diferentes padrões de cores, figuras conhecimentos científicos, a criança assimila os conceitos e as formas lógicas d e
geo métricas, tamanho e outras propriedades dos objetos e fenômenos tem estreita pensamento que neles se baseiam" (MUKHINA, 1996, p. 277).
relacão com o ensino dessas atividades orientadas que se desdobram em tarefas No entanto, mesmo que a criança comece a operar com formas simbólicas
'
cada vez mais complexas para a p ercepção infantiL para resolver tarefas, ela ainda se apoia no pensamento por ações e por imagens
que estão conectados com a fala. O uso prático da fala, que constitui a possibi-
O desc'nvolvimento tb pctTL'pçi.'i.o resulta particularrnente efetivo quando lidade de comunicação com as demais pessoas, é a base da reestruturação dos
se criarn condiç:ôes de uma eclHL:a~:cio sensorial especialn1ente organizada. Nu processos psíquicos e, por isso, é a ferramenta do pensamento. A lingu agem não
.
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parrlcul a da experi Qn cia social· l' po r isso q lll', d l· 111 ndn dl'l l' lltl l llnd o, d i t'IJ.W o1 IIIII ~ Ltll \'1 1 ,'1 ncu11 id m; ll ns illt l' t r v l n\' (ll'S d a linguage m c da:-; n~·ües p ráticas. Para
ati.vid ad e intelectu a l d n crinn ça, fo rm a nd o 1-{t.: m·r:d i w~·m·l'l tlll l:, II Wl po ucos, pt ,.., 1111 11 1 cri :lll \'11 IIH' tl o r , :to n.:so lve r t~ l guma t arefa prática , os e nunciados seguem
sibilitam a apropriação d as form as supe riores, aut c tH k:tlll l' l11 l' co n ce it·uni s, q1 11,' IlM n ~·(ws. No curso d o domfni o d e formas mais elaboradas da linguagem, a fala
pro movem o pensamento. u llll l \ll :1 preced e r n ação, a cumprir sua função reguladora. Pela apropriação da
D e acordo com Vigotski (VYGOTSKI, 2001b), a co muni cação e n t re cri an~·:1 t• l'X JH.' ri 0ncia cul t ura l, a c rian ça passa d a o rganização verbal à soluçao de t arefas
adulto representa um d eterminado sistema d e meios - palavras e signos - qth 11 m c retas inte irame n te n o plano d o racio cínio verbal.
se fundamenta na compreen são e ação d o p ensam e nto. O signifi cad o d a pala\'r.t
n ão exibe somente a unid ade entre pensamento e linguagem, m as rep resenta n Cabe ao ensino um papel decisivo na formação do pen:;amento. Inve:-;ti-
unidade de generalização e comunicação, da comunicação e do pensamento. É po r iss11 gaçücs realizadas nos últimos anos rnostraram que mu itas peculiaridades
que cada palavra é uma generalização do tipo mais elementar que culmina, nt 1 d.o pensanlento d os pré-escolares, que antes se cons ideravam ind ícios
processo de desenvolvime nto , na formação d os conceitos. inerentes à idade, nos fato~ se explicam pelas especiais condições de vida
D o pensamento perceptivo, a criança ap e rfeiço a o domínio d a função sim c ati\'idade das crianças, fatos e~ses que podem ser modificados mudando-
bó lica, util izando o bjetos e imagens, na qua lid ade de signos, com o substituto:-. -se o conteúdo e os método~ de ensino pré-escolar. Assim, o concreto do
d e objetos reais, que se afinam pela significação que as palavras adquire m pclil pensamento infantil, sua fixação ao caso particular dado, desaparece,
intervenção do adu lto . Essa conquista permite que as crianças co m ecem a 1-e# ceden.do a passagem a fonnas generalizadas do pensamen to, quando st.:
solver tarefas de cunho complexo, cognitivo, buscando explicar os fenômenos dá a conhecer à criança não co isas isolad as e suas proprieda des, mas sim.
observados, por meio do pen samento por co mplexos. No entanto, n as o peraçõel'i os nexos gerais e as leis dos fenômenos da realidade [MU.JINA, 1979, p. 701.
lógicas, o pensame nto da criança ainda atu a com imagens que representam
objetos con cretos, q ue p od em ser gene ralizad os e esquematizados, d ecorrente:-. Com tod a a implicação social d o d esenvolvimento d a cria n ça nesse pro cesso,
d o acúmulo cada vez m a io r de conhecimento d os fenômenos e d os objetos da • o bservamos ser cad a vez mais variad o e complexo o m od o d e atividade da criança,
realidade circundante e ta mbém em virtude d a complexificação d a linguagem, provocando pro fundas demandas e m relação a sua percepção , atenção, memória,

provocando assim o d esenvolvimento do p ensamento cada vez mais elaborado. linguagem, pensamento e sentimento, que formam nela também a habilidade
Promover o desenvo lvimento da linguage m é uma importante t a refa a ser para organizar o próprio comportamento. As regras de conduta introduzidas pelo
n o rteadora do trabalho educativo na educação infantil, já que a c riança, além adulto como um m e io de organizar a atitude cotidiana d as cri anças possibilitam
de apro priar,se das p a lavr as, como signo verba l, tamb ém elabo ra significações que elas, ao con seguirem cumpri,las, busca ndo atingir d eterminados requisitos e
s'ocia is que os vocábulos representam. A principal função da linguage m é a co- avaliando su as p ró prias ações, sinta m,se na p ossibilidade d e se familiarizar co m
municação, e a criança é d esafiada a novas e co mplexas tarefas: co municar suas ações positivas e com as ressonâncias em o cionais geradas p or elas. Posteriormente,
vivê ncias, experiências; n arrar fatos cotidianos; explicar suas ações. O uso da as crianças começam a avaliar suas ações, e o critério para tal é a conduta que o
comunicacão demanda um intensivo domínio do idioma, do conteúdo verbal adulto espera delas.
'
e da estrutura gramatical. O ensino deve inten sificar essa tarefa de m o do qu e a A base da formação concreta d a p ersonalidade da criança está estreitamente
criança possa expor e, progressivamente, organizar seu pensamento d e maneira ligada a essas con q uistas, ou seja, qua ndo a criança adquire p adrões de conduta,
coerente, relatando seu s fe itos, formando orações articuladas e re lacionadas. Por entende suas de m andas, desejos, e espera a avaliação do adulto no que diz respe ito
isso, as atividades pedagógicas propostas para essa fase de desenvolvimento n a ao domínio dos n ovos tipos de atividad es por ela elaborad os. Esses padrões d e
infância devem permitir que a criança possa entrar em contato com diferentes atitude estão relacionados com a possibilidade de a criança avaliar suas ações,
recursos: narração d e histórias; leitura de diferentes gêneros; exploração de seu comportamento, tendo por orie ntação os motivos de co ndutas sociais. Ao
diferentes livros, materiais e objetos que permite m alcançar formas superiores aprender os motivos de conduta, a criança desenvolve a capacidade para tomar
d e co municacão. consciência das coisas e entender quais são os motivos e as consequências de suas
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l11q H Jt ' l'illlll' pnra 1 > dv~o~e tw() l vl ll \L' Ill o da pvr~o~u t 11d ltllld, •, .lu lttrH;nn s itnh<'>li ci t d11 consc i0n cia. Su:1 linha de d esenvolvimento vai desde a
J)vssn tH >Vil lt>t' nw ~·ao, ot·igi nn·Hl' o COI)trnlv 1 llll .. , ),•lllt• du co ndut :l, <I"' trh~ l 'lltli<;:to dl' ohjctos por outros objetos e por suas representações até o uso de
t' tll:to, JWla ro nslilnte n.:gulação das açõcs extl'l'n:ls, dn lH igl'lll no con lrol t· d" IMIIlls mnt l' mt\ ti cos, linguísti cos e outros tipos e ao domínio das formas lógicas
processos internos. A crian ça começa a dirigir sua JWI'l'l'PÇ:Io, sua mcm(')ria , ~-,, 11 ~_ I, 1 pvnsnml'nto. A origem e a interiorização da imaginação como um processo
JWnsamento e atenção. A rea lização dos diferentes tipos de atividades provt " ,, phlqu íco ocorrem por meio da transição de uma ação lúdica co m objetos que
um snlto qualitativo em seu desenvolvimento: aumenta o pod er de conce ntra,·:tc, 11tl1 > l'Xistem na realidade para a transformação imaginária desse mesmo objeto,
a cstrl bilidade da atenção; a duração do tempo d e conservação da retenção d,
l' rt t·ihu indo-lhe um novo sentido e representando mentalmente as ações com ele
um material na memória e o enriquecimento da imaginação. 1 I IV< llvidas, se m realizar essas ações de fato. Vigotski (VIGOTSKII, 1998, p. 20) afirma

O d esenvolvimento da atencão
, voluntária é resultado das novas deman dit~ Ljllt' o aperfeiçoamento da imaginação é de suma importância para a formação
aprese ntadas pelo adulto, quando este inco rpora novas atividades e, mediank 1l:t condução e do desenvolvimento humano,
determinados meios, organiza e dirige a atenção da criança, e esta por sua w.
passa a gerenciar e a manter a atenção para determinados objetos e fenôm enos, co nvertendo-se em tnn m.eiu de ampliar a exp~riência elo h.omem que, ao
utilizando-se de meios auxiliares. A fala é um meio organizador d a atença" ser capaz de imaginar o que não vê, ao poder ~upor, baseando-se em relatos
que inicialmente é externo, ou seja, surge por meio de indicações verbais dos e descrições distantes, o qm~ não ex1x·rimentuu pessoal e diretam.cnte, nàu
adu ltos e, à medida que a criança começa a dominar a linguagem falada, com a se encerra no estreito círculo de sua própria experiência, mas que pode
ampliação do vocabulário e a aquisição d a estrutura gramatical do idioma, ela afastar-se muito de ~eus lirnites apropriando, com ajuda da imaginação,
adquire o autocomando e passa a dirigir sua atenção em determinadas condições experiências histc')ricas ou socia is alheias.
de execucão
, de atividades.
Embora a atenção involuntária ainda seja predominante na idade pré-escolar, Por meio de um ensino o rientado e diri gido, com demandas cada vez mais
o ensino nesse período não pode estruturar~se em torno de atividades repetitivas, l'nmplexas, por m eio de atividades que a criança realiza, as forn'las voluntárias
monótonas e mecânicas. Mas, para que a criança possa começar a dominar vol un da imaginação, da atenção, da memória e outras funções, mediadas pela lin-

nuiamente a atenção, é preciso estruturar o ensino mediante atividades produtivas, guagem, propiciam a formação reguladora da conduta da criança. Realizar ativi-
co m elementos lúdicos, de modo que se alternem e se programem atividades qur dades como concentrar e manter a atenção fixa em alguma atividade, recordar
permitam manter a atenção infantil em um nível suficientemente alto. um material e reproduzir em seguida, realizar um jogo ou desenho são tarefas
Com a capacidade de concentrar a atenção, aperfeiçoa-se a qualidade da que se produzem e se aperfe içoam pela mediação do adulto, nas condições d e
rc'tenção mental e da recordação, ou seja, da memór ia. Ao aprender cantigas, ensino. ((Portanto começam a se formar ações especiais de atenção, memória,
versos e brincadeiras de rimas, por exemplo, a criança recorda tais feitos com imaginação, graças às quais elas adquirem um caráter voluntário, premeditado"
relativa facilidade, mesmo que de maneira involuntária. Nesse momento, ela (VENGER, 1976, p. 183).
ainda não tem condições de planejar essas tarefas conscientemente, ao fixar ou O que observamos é que, com o desenvolvimento das imensas possibilidades
querer recordar algo, e, portanto, ainda utiliza meios para esse fim que estão in- dadas durante a educação infantil, abrem~se diversas possibilidades de aprendi-
cluídos preferentemente em uma ou outra atividade. Isso porque, nesse período zagem e sistematização de conhecimentos, já que o mundo descortina-se perante
elo desenvolvimento, a memória involuntária ainda é dominante, e a qualidade a criança, tornando-se cada vez mais alvo d e sua aten ção e reflexão, tornando-a
da retenção mental em objetos, quadros ou palavras depende do tipo de relação consciente desse processo e de si m esma a partir da relação com esse mundo. O
que a criança estabelece com essas atividades, do auxílio da percepção detalhada professor, ao organizar o ensino, de modo que tenha como horizonte ampliar
no processo da ação e da habilidade de apoiar~se em meios auxiliares para qu e os conhecimentos da realidade da criança, que estão consolidados em forma d e
aprenda a repetir, discernir e coordenar alguma atividade com o objetivo de reter conteúdo de ensino, que por seu turno é representativo e meio de garantir a sua
na memó ria e aprender a usar as relações durante a recordação. formação e direção social de maneira plena e rica.
11t liAM MAIHINü, ANQI[ 1o AAiH~AN IIII AMM til DA IJ I} rACC 11< li H, l Pl_l~lt lltl At~/\0 III h 1t 11 111 .tl t. III 11 JitAI .UO 1)1 01NVt li VI MI Hl O l"•h Jlii(JU I •1.'1
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A co rnpl t•xil'lcll\'lll> dm; rt..· lt~ \'Ol'S snrln ls dn l' l'illlll,'ll, tWt ltHII{tt dt~fiMI' lll' l'llldP , pt Hlt·ln nH l 'l ll'l'~H.' Ill i ll' u lt~lllli : I H inlt•r't' IH l:~1-1 sn lll'l~ qu:d l' IISinu dL'Vl' Sl'l' tlvst i nado
encnhe<;a novas formaçdes, cvno n dn perso ll :~ l id l ~t l l· . !I Inlpt!l llllll v d l·Ht iH':II·, lll 'HHt' pvrludo l'H<:olnr.
Uma prl'missa importan te a se considerar: compreend er esse período do
todavia, que as funções psicológicas não se desenvol w ltl llldt'IH' IHivn temvnt t·,
dl~s~.·nvolvi mento c suas características é importante e essencial, porém não é su~
mas, de modo progressivo, estão inter,relacio nadas c se coad un am no processtl
lkiente para se o rga nizar o ensino. Esse co nh ecimento responde a uma das faces
do d esenvolvimento cultural e do controle d a conduta. Compreend emos comt,
t l t~ssc processo, ou seja, quem é o sujeito a quem destino o ensino? A partir dessa
desenvolvimento da personalidade a gênese e o vir a ·ser da co nduta e d os pro
1w rgunta, é preciso refletir sobre outras questões fundamentais: Quais conteúdos
cessos psíquicos, que pressupõem relações sociais mediadas.
..,ao essenciais para que o ensino possa potencializar esse d esenvolvimento? Quais
Como consequência, a tomada d e consciência aprimora~se, tornando~se ma i~
11hjetivos são representativos para essa tarefa? Quais recursos e estratégias são
realística: a criança adquire a consciência do lugar que ocupa entre os demais, d v
11\ll is adequados? Para responder a essas questões, uma palavra sintetiza: critério.
suas possibilidades e habilidades, do processo de relações com os adultos e colll
Por exemplo, ao promover a brincadeira de papéis sociais, há muitos enredos
as demais crianças, e isso resulta na generalização de valores, de atos, de norma~
ll O cotidiano, conteúdos que podem ser representados, mas qual o critério para
de condut a. Ao mesmo tempo, com o desenvolvimento da independên cia,
... ~.· l ccionar e intervir adequadamente? Ao confeccio n ar determ inada escultura,
surge na criança, paulatinamente, a tendência a tipos mais sérios de atividades, v n.:al i.zar uma atividade plástica, qual o critério para tal? Pode ser a confecção de um
em primeiro lugar está o estudo: "A aparição d essa tendência mostra o final d a porta~retratos para o pai ou a mãe, que resulta em uma atividade produtiva, mas
idade pré~escolar e o começo de um novo período do desenvolvimento infantil " pnra qual finalidade? Ao cantar músicas e rimas, qual o critério para selecionar
(ELKONIN, 1969, p. 522). vssa ou aquela que se encontra no arsenal didático do professor?
Uma peculiaridade desse processo é que, no d esenvolvimento da brincadeira Essas perguntas são direcionadas no intuito d e questionarmos acerca de
de papéis sociais, a criança deposita sua emoção ao representar o papel do adulto, quão pouco se tem clareza sobre a m aneira de como se organizar um ensino
m as não deixa de ser criança. A princípio, esse processo é inconsciente, a criança qu e de fato potencialize os processos d e aprendizagem e de desenvolvimento da
quer reproduzi~lo, mas no momento em que passa a retratá~lo, a olhar o adulto criança. As diferentes interpretações sobre o desenvolvimento infantil, de cunho
por meio do papel que assumiu, começa a comparar~se emotivamente com ele naturalizante, romântico e abstrato, deflagraram práticas pedagógicas que pouco
e percebe que ainda não é adulto: "Dá~se conta d e que é criança por meio do co ntribuem para sistematizar e organizar o ensino na educação infantil.
jogo, de onde emana a nova razão de chegar a ser adulto e exercer de fato suas Portanto conhecer sobre as características de desenvolvimento da crianca,
'
funções" (ELKONIN, 1998, p. 405). as premissas de cada atividade principal, é uma face extremamente importante
Desse sentimento de ter novas razões pára ser adulto, n o final da id ade t..' necessária para que possamos direcion ar e traçar um h orizonte d e ensino

pré~escolar tais razões adquirem uma for ma concreta: o "desejo de ir à escola que tenha critério ao selecionar, do acervo cultural da humanidade, aquilo que
e começar a realizar um trabalho social sério e apreciado pela sociedade. Para realmente é representativo de um bom ensino! Isso nos remete à finalidade de
a criança, esse é o caminho para a idade adulta" (idem, ibidem). Isso significa seres que pleiteamos formar: garantir a apropriação, em cada indivíduo, dos ele~
que, ao passar para a idade escolar, o utra atividade será a principal - a atividade mentos culturais necessários a sua formação o mnilateral, tendo como referência
:t objetivação alcançada pelo gênero humano.
de estudo -, entretanto a brincadeira não desaparece, torna~se uma atividade
secundária, principalmente em situações de jogos e atividades baseadas em regras. Dos elementos culturais objetivados na prática social, Saviani (1988) nos
ilumina que essa escolha d eve ser orientada pelo seguinte: é preciso que saibamos
distinguir entre o principal e o secundário, entre o essencial e o acessório, para
UMA ReFLeXÃO SOBRe A ORGANIZAÇÃO DO eNSINO que possamos selecionar de maneira adequada os conteúdos que farão parte d o
trabalho educativo. Ainda, Lazarretti (2013) elucida que todas as atividades na
De posse do entendimento de como se processa o desenvolvimento d a educação infantil devem ter como direção metodológica a possibilidade criadora
criança no período pré~escolar, sobre a importância de se considerar a brinca~ das crianças, aproximando~as d e experiências vividas e também das não vividas,
deira de papéis sociais e as atividades produtivas no seio do trabalho educativo, que desafiem n ovas elaborações e criações, ancoradas na cultura humana.


.
I hliAM , MAI41Itl'•, MI! 11 UJA ALIHAtiii ·U & M\trlltlA t] , O. rAGCI (OHI]) Pll{l!llli.'AI.. AOIII:III'liWUt:lllltll{l\lllltlll 'IUMJIVIMI Nl0 1",11Jlll< ll 1·11
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I )dt'lldl'tltos ljltl' \tll\ tl cmrl'lu ~· ttclcqwtcltt < 11 Wtld '-rtiJio di1 t'IHli t~<, 1v 1n < tllll' , I, '\/t\H I• 1'1·1, I . M. A m~lllliZtt~·do didtlllt 11 dot•mlllo 1111 ec/Hcaçdo h1jW1tH: implicações da teoria
l"inalidnd c propiciar aprendlzngern signil'ic 11iva IH l:-ill ltll\ ,,:-1, t• 1'111 '11 IHsu l'• prcl'l:.tl IlltHt'll'iru·l' tdi tlrnl. 20 I 3. 2011·1'. Tvsl' (Duutorndo cm Educação) - Universidade Federal
entender quem é esse aluno c qual o seu processo dL· dl'M' II VP i vl tll ~nto. l•:ss:t , dt· S:tn Cnrlos, S;hl Carlos: U FSCAR, 2013.
uma das tarefas. O professor precisa ter clareza desse procL·sso L' quais as impl t I 1 1)N'III·V, A. N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré--escolar. ln: VIGOTSKII, L. S.;
cações do ensino na aprendizagem e no desenvolvimento dos a lu nos. Parn iss11, I 1lltiA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Trad. de Maria
é preciso coerência e eficácia cm sua prática pedag~gica, não perdendo de visl'il dn Penha Viltalobos. São Paulo: Ícone, 1988. p. 119,143.
o para quê, para quem, por quê, o que e como ensinar numa direção de form <H.":ttl MuKIllNA, V Psicologia da idade pré-escolar. Trad. de Claudia Berliner. São Paulo: Martins
cultural humano,genérica. Fontes, 1996.
Se o horizonte é produzir transformações qualitativas no desenvolvimcnll1 MÚJINA, V S. Características psicológicas del pre,preescolar y del preescolar. ln: PETROVSKI,
da criança, na direção da formação omnilateral, os conteúdos devem despertar o A. V. (Org.). Psicología evolutiva y pedagógica. Moscou: Progreso, 1979. p. 44,79.
gosto lJela cuLtura nas crianças, possibilitando uma compreensão mais aprimorad:t
PASQUAUNI, J. C. Periodização do desenvolvimento psíquico à luz da Escola de Vigotski:
do mundo, com recursos e metodologias variados e diversificados. Apresentar
.1 teoria histórico-cultural do desenvolvimento infantil e suas implicações pedagógicas.
esse mundo à criança, desde seus primeiros meses, nas condições de exploração,
ln: MARSlGLlA, A. C. G. (Org.). Infância e pedagogia histórico-crítica. Campinas: Autores
de manipulação, com situações de ensino que promovam conhecer e apropriar
Associados, 2013. p. 71,98.
,se da linguagem musical, artí.stica, corporal, matemática, social, e com isso
SAVIANI, D. Escola e democracia. 20. ed. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1988.
apreender diferentes sons, imagens, movimentos, impressões, afeto, higiene, de
maneira articulada, permite "um amplo e profundo processo, o de apresentar ;l SAVIAl~I, N. Educação infantil versus educação escolar: implicações curriculares de uma
criança o mundo humano, ajudá,la a nele agir/interagir e, assim, torná,La humana" (falsa) oposição. ln: ARcE, A.; }ACOMELI, M. R. M. (Org.). Educação infantil versus educação
(SAVIANT, 2012, p. 73). ('scolar? Entre a (des)valori.zação e a precarização do trabalho pedagógico nas salas de aula.
Para finalizar, que as teses lançadas ao longo dessa discussão possam iluminar Campinas: Autores Associados, 2012. p. 57,83.
possibilidades de uma educação infantil que tenha o ensino como representativo • VENCER, L. Temas de psicologia preescolar. Havana: Instituto Cubano del Livro/Editorial
de seu trabalho educativo, que possa ter objetivos que promovam as máximas Científico,Técnica, 1976. v. 2.
potencialidades humanas cristalizadas no patrimônio cultural, o qual p1:ecisa ser VlGOTSKll, L. S. La imaginación y d arte en la infancia. Ensayo psicológico. 4. ed. Madri:
apropriado em forma de conteúdos, com metodologias enriquecidas, variadas, l ~diciones Akal, 1998.
diversificadas e contextualizadas de modo que tornem a prática pedagógica um VYGOTSKI, L. S. Obras escogidas II: pensamiento y lenguaje. Conferencias sobre psicología.
espaço que represente as complexas e elaboradas conquistas humanas, que pro, 2. ed. Trad. de José Maria Bravo. Madri: A. Machado Livros, 200lb .
.. duzam o desenvolvimento cultural e humano em todas as criancas.
' VYGOTSKY, L. S. Play and its role in the mental clevelopment of the ch.il.cl. Translated Catherine
Mulholland. [S.l.]: Psychology anel Marxism Internet Archive, 2002. Disponível em:
<http://www.marxists.org/a rchive/vygotsky/works/ 1933/ play.htm>. Acesso em: 20
RE:FE:RêNCIAS
jan.2006.
DuARTE, N. Vamos brincar de alienação?. ln: ARcE, A.; DUARTE, N. (Org.). Brincadeira de
papéis sociais na educação infantil: as contribuições de Vigotski, Leontiev e Elkonin. São
Paulo: Xamã, 2006. p. 89,98.
ELKONJN, D. B. Desarrollo psíquico del nino desde el nacimiento hasta el ingreso en la
escuela. ln: SMlRNOV, A. A.; LEONTIEV, A. N.; RuBINSHTEIN, S. L; TrEPLOV, B. M. Psicología.
México: Grijalbo, 1969. p. 504,522.
- - - · PsicoLogia do jogo. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
( .APITU LO I

A TRANSIÇÃO DA eDUCAÇÃO INFANTIL PARA O


€NSINO FUNDAMeNTAL

DOS JOGOS D€ PAPéiS SOCIAIS À ATIVIDAD€ D€ €STUDO

JOSY CRISTIN€ MARTINS '


MARILDA GONÇALVE:S DIAS FACCJ2

uando retomamos os preceitos da Constituição Federal de 1988, observa-


mos que, entre algumas proposições importantes, está o atendimento de
1 1 innças de Oa 6 anos em instituições de educação infantil. Depois da publicação

1l.1 Constituição, outros dois dispositivos legais foram elaborados, reforçando


11 direito das criancas à educacão: o Estatuto da Crianca e do Adolescente
' ' '
(l iCA), de 1990, e a nova Lei de Oiretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996.
' Mazzuchelli (2010, p. 38) explica que esse conjunto de leis trouxe

profundas in1pli cações p ara a política educacional bras ileira, d entre das: a
crian ça passou n ser cons iderada um ser de direito, soci<.d, histórico e cu ltu-
ral; a educação pré-escolar perdeu seu caráter assisten.cialista, adorando uma
concepção pedagógicai o ens ino passou a ser mu n icipalizado (a Educação
infantil passou a ser assumida pelas Secretarias Municipa is ele Educação),
acarretando dependência financeira com o Estado, que, entretanto, nem
sempre repassa as verbas necessárias, favorecendo as p rivatizações.

I G raduada em psicologia, mestre em psicologia pela Universidade Estadual d e Mari ngá (UEM).
Professora da Un iversid ade Positivo (Curitiba/PR).
2 Mestre em educação pela Universid ade Estadual Pau lista "Júlio de Mesquita Fi lho" (UNESP/
Marília), d outora em educação pela UNES P/ Araraquara, pós-doutora em psicologia escolar e do
desenvolvimento h u man o pelo Instituto de Psicologia da Universidade d e São Paulo (USP) .
Professora do Departamen to de Psico logia e d o Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
UEM (Maringá/ PR) .
.
I !\o 111111\M MAIIIINII ,J\NIIIIIIA Aí!ltAIIít i(!&MAIIIIIlAtl. l) IALI 1(11111 I I'I li IIli li/Al.l\tlll lh I 1'11'11 .1l ! III 1111{1\1 I HIIII ''I tIV! li VIMI tHI.IF''IIUiliU I
. ~
I~ I

U lat() ~.k· 11 vdu<·n,·íiu illl'n11t ll t'll lll'lgtii'III' Ht' t 'tHIIII l'llll'tt · tl11 t•d tt l'll\'nn h 1'wi t 11 ~~ti lll'l' l'liHil qll t:H i llll,IIH~I t\1 l't!ZI\ (l PNI! (ll'i 11. 10. 172/200 1):
t·rouxc n necessidmlc l.k· uma novn 11 H \l1 L' ÍI"H dv \'PII'Ill'i't'llll v r IlM l'tlll\'<>Vh t• "
objetivos d as instit ui ções que lid arn co m as ni:ti1\'HS. P:tM jtl ul l td (2006, p . \11) ( ~un!-i idçr;uhl< >,no cnlillH~l, <1S condiçôes concret<J:S de nosso País, sohretudo
informa que tal questão conduziu à busca pela s tq x~ m,·ao d ;1 d icotomin Vl\11, lhl que se refere à limitação de meio.s financeiros e técnicos, este plano
educar e cuidar, "de modo que toda e qualquer i.nstitui ção Je Ed ucnçilo I JII.111 propc)e que a oterra pCtblica de educação inúmtil conceda prioridadl' à.s
til, seja ela creche ou pré~escola, teria como função precípua cuidar ele e ec/11• r11 nian cas de cducacão
.
. dns famílias de menor renda, situando as instituicôes
' '
cnanças pequenas ". inf:::m tílnas áreas de maior necessidade e nelas concentrando o rnellwr
Esse cenário exigiu do Ministério da Educação e Cultura (MEC) a elabora,.H, de .seut> recursos técnicos e pedagógicos. Deve-se conternplar, também , a
de diretrizes específicas ao seu funcionamento, o que resultou na publi<..·a,·:"'• necessidade do atendimento em tem.po integral para as crianças d.e idades
em 1998, do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Rt ~N l ' l) menores, das familias de renda mais baixa, quando os pais trabalham
(BRASIL, 1998). A busca da qualidade de ensino estava em fazer a integração l'll fora de casa. Essa prioridade não pode, em hípóte::;e algun1a, caracteríz<tr
tre o cuidar e o educar. Para Arce (2010, p. 23), nesse documento ''educar e h l11 a educação infantil pública corno uma ação pobre para pobres. O que
diretamente relacionado a favorecer as condições de aprendizagens que favon.\':1111 este plano recomen.da é uma educação de qualidade prioritariarnentc
o desenvolvimento infantil, a partir de brincadeiras espontâneas e situações ped11 para as crianças mais sujeitas à exclusão ou vítin1as dda. A expansão que
gógicas orientadas pelos professores". A au tora entende que o referencial acnh11 se verifica no atendimento das criancas de 6 e 5 nn.l)S de idade conduzirá
'
dando a ideia de uma educação espontaneísta, com um mínimo de interven<;:nt invariavelmente à universalização, transcendendo a quesrão da renda
do professor, calcada nos pressuposto do construtivismo, tal como tem ocorrid11 ')001 l -:lJ
,.
tan11 1ar [ 0uRASIL,
.,. ,
<-- , p. }J.
em outros níveis de ensino nos últimos anos. Na educação infantil, portanto,
está fortemente implícita a ideia de que a criança deve brincar e que, embol'lt
Por seu turno, o MEC (2004, p. 5) assim se pronuncia:
haja a preocupação com o "educar", este deve ocorrer sem que se "imponham"
à criança os conteúdos curriculares, principalmente aqueles referentes à alfalw
• Corn a aprovação d.a Lei n. 11.274/ 2006, ocorrerá a ínclusào de um n.L1mero
tização. Tal compreensão pode promover uma ruptura entre educação infant ii
rnaior de crianças no sistema educaci.on<~l brasileiro, especialmente aquelas
e ensino fundamental .
pertelK~ntcs aos setores populares, uma vez que as criança::; de seb ::mos
Toda essa discussão, aqui apresentada brevemente, está contemplada nn
de i.dadc das classes médias e alta já se encontraram, majoritariamente,
ampl iacão
'
do ensino fundamental para nove anos, fazendo com que tanto a:-.
•,.
incorporadas ao sistem.a d.c ensino - na pré-esçola ou na primeira série
instituicões de ensino fundamental como as de educacão infantil revissem seu~
' ' du ensino fundarnental.
planos e atividades. O ensino fundamental de nove anos só se tornou mct :1
em 2001, com a publicação do Programa Nacional de Educação (PNE - lei
n. 10.172), que propunha "ampliar para nove anos a duração do Ensino Funda Por meio dos documentos oficiais citados, podemos perceber que as ideias
mental obrigatório com início aos seis anos de idade, à medida que for sendu da teoria da privação cu~tura~ permanecem na base da educação brasileira ainda
universalizado o atendimento na faixa de 7 a 14 anos" (BRASIL, 2001, p. 23). Em hoje. Nesse sentido, Martins e Arce (2010, p. 13) esclarecem:
2005, a resolução CNE/CEB n . 3, em seu artigo 1o, determinou a ampliação
da duração do ensino fundamental para nove anos em decorrência da anteci· a obrigatoriedade da matrícula de críanças a partír de seis <1nos no Ensi no
pação da obrigatoriedade da matrícula de crianças de seis anos nessa etapa d( 1 Fundamental imbui-se de princípios que con.c lamam a educação esC(..)lar
ensino. Em 2006, essa determinação tornou~se a lei n . 11.274, que estabeleceu a como estratégia de equalização cultural, associando o aumento do número
duração de nove anos para o ensino fundamental (BRASIL, 2006a). Além disso, de anos à melhoria das condiçôes de aprendizagem sistematizada.
a emenda constitucional n. 53/2006 alterou o artigo 7°, inciso XXV, da C ons·
tituição Federal de 1988, estabelecendo que as crianças poderiam permanecer Pasqualini (2006) entende que, quando a educação infantil passou a fazer
na educação infantil até, no máximo, os 5 anos (BRASI L, 2006b). parte da educação básica, acreditava,se que o modelo não formal e de baixo
.
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I '" I llt•IA M MAH IIIW, Nlf•ll 'l OA AIJI{Af11Jl'U &MAJIIIIIA 0 1_1 . fAOt I (tll{lt) 1'1 Iti< 11 11/l\l,.i\1 1III'! I' ll{lt 1, 1 111 llli~AIIJU Utrtlr'I·IV1ll VIMI 11 1o1".lullll :11

r t1:-. t t1 M' t l: t :-. uh:-.t i ltdd tl p v ltl n t e ndltt li ' tll ll d l · tj l l n lid:tdl·, lt t: IN, d i ,lt l l l ' d11 l lfll llll l t i A CRISE: DOS 7 ANOS
g-a to rk d a<.IL· d a lJ 11iao, d os t.'S I':td o s l'/ o tl d u:-. lll\11 11\ l p iu:-. l' ll l loll ll'l l\ l:t , lt u \I Vt

po uco invcsti1nc nto c nao hú es pa~·o n a L'du ca<;<lo inf:\llt·il pam :lt l'I Hit.·r :1 tod :ts
Ao elabo rarem a pe ri o di zação da infâ ncia, Vigotski (VYGOTSKl, 2006a) e
as crian ças. En tão, para assegurar a "to d as as cri anças urn te mpo ma is lo ngo d l 1-::.lko ni n (l987), co nfo rme o bservado nos capítulos anterio res, mencio nam as
convívio escolar co m maio res o po rtunidades de aprendi zagc n1" (M EC , 2004 , id ad es cro no lógicas, mas o fazem em consonância com a situação social d e de~
p. 7), antecipou~se a entrada d a crian ça n a escola co ~ a ampliação d o tempo d e senvo lvimento da cri ança, com as relações que ela estabelece co m seu entorno
social, as quais se alteram confo rme as co ndições histórico~sociais. Isso qu er dizer
escolarizacão.
' qu e o limite de idade estabelecido para cada etapa do d esenvo lvimento não é
Entre as orientações fornecidas pelo MEC (idem, p. 8) está o reco nhecimen to
fixo e inalterável, podendo ser redefin ido conforme o momento histó rico. A
de que o objetivo da educação infantil não é "preparar as crianças para o Ensino
historicidade dos fatos produzidos pelos homens é o norte elas caracte rísti cas que
Fundamental", uma vez que "essa etapa da educação básica possui objetivos
são desenvolvidas nos vários perí.odos da vida, como propõe a visão marxista do
próprios". No que tange ao ensino fundamental, as crianças de 6 anos "precisam
de uma proposta curricular que atenda a suas características, potencialidad es L'
desenvo lvimento humano .
De acordo com Vigotski (VYGOTSKI, 2006a) 1, a estrutura da "verdadeira perio-
necessidades específicas".
dização" deve ser fund amentada nas mudanças internas d o próprio desenvolvi~
Martins e Arce (2010) afirmam que todas essas modificações na legislação
mento, as quais são também d eterminadas pelo entorno social; ass im, o melho r
educacional brasileira, além d e aco mpanharem a tendência mundial co m a obri~
critério para distinguir os períod os co ncretos d o desenvolvimento infa ntil ou
gatoriedade da escolarização a partir d os 6 anos, manifestam a emergência de
das idades está na iden tificação d as neoformações, co mo já citadas no Capítulo
que tais níveis de ensino sejam revistos e reorganizados. As autoras afirmam qu e
2, estas en tendidas como:
todos os documentos d o MEC por elas consultados apontam a necessidade d e se
repensar o ensino fundamental, d e se repensar os projetas político~pedagógicos,
o novo tip<) de estrmura da personalidade e de sua ati,·idade, as mudanÇ<lS
"especialmente no que se referem à concepção de infância, alfabetização, letra~
psíq uicas e socia is que se produz.en1 pd:.1 primeira vez em cada idade c deter-
mento, desenvolvimento humano, pro cesso de aprendizagem, metodo logias •
m in am, cm seu aspecto mais im port::u1tc e funchme nral, a consci0nc ia da
de ensino, organização do tempo esco lar e currículo; definição de políticas d e
cri ança, ~u a rel ação co m o me io , sua v ida intern a e exter na, tod o o curso
formação continuada; instalações físicas, etc." (idem, p. 38~39). Além disso, é
d e se u desl."nvolvime n to ern dado período [ide m, p . 254-255 ].
preciso também repensar a presente fragmentação do trabalho realizado pela
educação infantil e pelo ensino fundamental;· _buscando maior integração d en tro
A identificação das neofo rmações em cada etapa do desenvolvimento infan~
da educação básica. É sobre isso que trata este capítulo. Nosso objetivo é discutir
til depende da compreensão que temos acerca da estrutura e d a dinâmica das
a respeito das transformações, no nível psicológico, que ocorrem na criança du~
idades. A estrutura d as idad es se rege por duas leis gerais qu e permitem d etectar
rante a passagem da educação infantil para o ensino fundamental e a preparação
as forças motrizes que imp ulsio nam a transição da criança d e u ma etapa d o
que a escola dá para a criança nessa transição. Para tanto, nos basearemos n os
desenvolvimento à seguinte. A p rimeira lei estabelece que em cad a períod o d e
press upostos estabelecidos n a psicologia histórico~cultural, de base marxista, para idade o processo de d esenvolvimento compõe um todo único e te m uma estru tura
a discussão da temática em tela. determinada, não pod endo ser compreendido co mo a soma d e partes isolad as;
Em um primeiro momento, discorreremos sobre a crise dos 7 anos; em e a segunda lei rem.ete, especificamente, à dinâmica das idades.
seguida apresentaremos alguns aspectos da atividade dominante no período As idades são "fo rm ações globais e dinâmicas, são as estruturas qu e determi~
pré~escolar - os jogos de faz de conta- e do período correspondente à entrada nam o papel e o peso específico de cada linha parcial de desenvolvimento" (idem,
no ensino fundamental - a atividade de estudo. Na terceira parte do capítulo, p. 262). Em cada período d e idade, "a personalidade da criança se rnodifica em
apresentaremos os resultados da pesquisa desenvolvida por M artins (2013), que sua estrutura interna como um todo, e as leis que regulam esse todo determi~
trata sobre a compreensão que professores, pais e alunos têm acerca do período
de transição da educação infantil para o ensino fundamental. 1 A!; trad uções ':;ào ele res ponsab ilidade d as am o ras .
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A 1lt11 ;\ tnkil d :1s id:tdt•s ra mrtt•ri za,Sl' por mov it1ll'l1t.lt' 11 t ll'"'' t1VI>Ivinwllt l• qlll' os rmlei;un;

dt• 11111.1 ldm lv a ou1r:1, l'l'SIK'itando n necess idade inlL'rtl:t dl' c:1d:t rrian~·,, L' st1:1 )} têm C.lr:\ter negativo, resultante da atitude assumida pelas crianças
'11 w~tl.t ~';\ll co 1n a rei\ I idndc ex terna. Quanto à sucessão das ct·apas das idad v... , diante das novas exigências.
e~H: 1 M' dvt~.· rmina pcb t:lltcrnância entre pcriodos estáveis e críticos, o qu e co11

!'lt 111:1 o r:1r:\ter dia lético d o dcse nvolvin1ento hun1ano proposto pela abordagL'IIl nozhovich (ide m) entende que a presença das crises indica a frustração que
ll'tnlllpc na criança cm resposta à privação ou repressão das novas necessidades
ld st t'l l ko-c u ltu rnl (id em), confo rm e dev idamente exposto n o Capítulo 3 desll-
qu e npnrccem com a formação central ao fim de cada etapa do desenvolvimento
llvn,,
!\ 1 rn nsi~·ão de um período a o utro verifica,se, de acordo com Leontiev (200()), IHI Iqllico. No entanto Vigotski compreende que esses momentos são ricos, pois

n1 > d vrorrcr do d ese nvolvimento, quando "a criança começa a se dar conta dl' itt' llltitcm que a criança tenha um novo posicionamento diante da realidade.
que ocupava no mundo das relações humanas que a circundava n no
qtH ' n lugar
A primeira crise identificada por Vigotskí foi a "crise dos 7 anos" - objeto
,.,,,,vspondc às suas potencialidades e se esforça por modificá,lo, surgindo u m :1 k· 1I()SSO interesse neste trabalho - e, na sequência, a crise dos 3 anos, a dos 13
1 n''~'~• de 1 ano e, por fim, a crise pós,natal. A essência de toda crise reside na
c<> I ll r:td i<; ao explicita entTe esses dois fatores" (FACCI, 2004).
i ' '' '~> I ruturação da vivência interior, o que resulta em mudanças na maneira d e a
A sit unção que a criança assume na sociedade faz com que haja motivação para
r1 . 1n ~·n relacionar,se com o mundo, quer dizer, nas mudanças de suas necessidades
1111\ il nova atividade; a situação anterior fica em segundo plano, o que caracteriz.1
11 tnlcio de urna nova etapa de desenvolvimento. O que nos pennite identificar "''li ivos, que são os motores de seu comportamento.
1 1s momentos d e transição é o fato de esses serem marcados por crises. A crise dos 7 anos, refere nte à passagem da idade pré,escolar para a id ade
As crises no processo de desenvolvimento infantil foram identificadas por vias n dn r, constitui,se em uma etapa do desenvolvimento infantil com cara c te,
l'tllpl r kns, c antes dos estudos de Vigotski n ão haviam sido sistematizadas n c111 1 INf'il'ns bastante peculiares, tendo merecido destaque especial por parte dos
'
li H l11ldas nas teorias sobre o desenvolvimento. Isso não significa que os períodos • '"'' H't'S russos. E importante lembrar que a periodização do desenvo lvimento
nlt i<.'os não existissem e/ou não fossem estudados. Por exemplo, Tolstij (198l)) jiiii!H>Sta pela psicologia soviética foi elaborada em uma dada época, em um
dvslnc<l os escritos de Hipócrates sobre a existência dos "anos climatéricos", quv • t~-tf~·xto específico e em consonância co m o sistema educacional vigente
1' 11' p 1v le país.
11 :tda mnis são que as crises evdutivas. Além disso, os períodos de crise eram
. Icrn c.los (( anoma1'tas " no d esenvo1vtmento,
. ((.enterml
. d a d es d e cresctm.en
. 'l Vigotski (VYGOTSKI, 2006a), a característica mais importante da crise
l ':m_
Cll llStt L to , ,
l' r\:to estavam de maneira alguma relacionados às leis internas de desenvolvi h'. 'I anos é o início da diferenciação entre o aspecto interior e exterior da per,
.. ''""idade da criança. A espontaneidade externa da criança persiste enquanto
tlH' nto da personalidade (idem, p. 26). Os períodos de crise, em oposição aos
IWtlodos estáveis, propagam,se por tempo relativamente curto, mas produzem 1, llt.lntém sua ingenuidade interna. Quando incorpora o fator intelectual a sua

1w rwrso nalidade da CTiança mudanças e deslocamentos bruscos e fundamen tais !\'• lll'ia, a criança perde a espontaneidade. Essa perda de espontaneidade ocorre
1-ri'-'ln to de que o acesso aos conhecimentos curriculares, aos conceitos que são
11:1 rL·lação com a realidade.
t tlh,dhados na escola, proporcionam um embrião da formação do autocontrole,
As crises surgem no limite entre as idades e marcam o final de uma etapa do
dL·st• two lvimento e o começo da seguinte. O estudo das crises enquanto etapas dv 1H1Ihuindo para a superação das funções elementares em direção às superio,
1\HH.Innça no desenvolvimento ontogenético da personalidade expõe a essênci:1 . \ criança tem de tomar consciência dos conteúdos que está aprendendo,
psicológica desse processo (BOZHOVlCH, 1987). Quanto às mudanças que as crises 1 111.tndo pré,conceitos.
t, )t t tra peculiaridade desse período do desenvolvimento refere-se ao fato de
dvspcrtanl no comportamento infantil, verificam,se três traços característicos:
ihti1Ça começar a atrib uir significado a suas vivências e a distinguir seus sen-
111• 11tos. "Aos sete anos, forma,se na criança uma estrutura de vivências que a
1) é difícil determinar o exato momento em que elas começam e ter
. 1 11 d ll' compreender o que significa 'estou alegre', 'estou triste', 'estou bravo',
m tnam;
I ~ (, l:lüliA M. MAl' III~' '· At~< 11 I O A AI iUI\f·JI MI\HII i lA(~ IJ I AGC I(IIII!' ) l'lllllllll At,.Aolll:dlll'l!llllllllmAtl)lllll 11 HV(liVIMIIHÜ I"•IUIIIlll 1 ~7

lu,,ll ', ':-.n11 "'"'' '· qlll' l' d iz1' 1, l\l'l :1 s 111'gl: :1 "'''''IIH.nt' li íi iiH'Ii•nt1,: d1 · :-.11.t ~1
1
'1 1111 11• qlll' M')il lll llli\IH:dda s pd 11~ plofl·:-.so l'l''>. E lli L' I H. k~ ll\o:-. qtt e, ao co nh ece r as
I' 1'1 ·, p I Í. l ~ vi vC·l1 c ili s j tiL' Ill , p. ~H o) .
11
(
llt lnr lt' I'Í:-> t k:t :-> do dL'Sl' IWo lvi m t: nt o it1f :uHil , os pro(esso rcs, tanto da edu cação
1\ rrisc d os 7 anos L'S t;1 dir~ tam e ntc rdncio l l!H. I :~ :\ ~~ ''' ' ' '' 'd" d :1 c rinn ~·;t 11a illfÚnril co mo do e n s ino f'undnrncnta l, be nefi ciam-se no m o m ento de conduzir
t'Hcn l:t, af"inn l, co mo observa Vigotski (ide m), as divcn;as l'\l itdi ~·ovs edu cnti v:t ~ HVt 1 t rnbal ho c pod e m contribuir para que ocorra, realmente, uma transição, e
Cn lltrihuem para que a cri se ocorra de uma o u de o utra maneira. Pa ra o rcf(:ri 1\i\ O um a ruptura- no sentido de d escontinuidade, não d e s uperação, d e avanço
do :lt ll'or, a crise d os 3ea dos 7 anos serão sempre mÇ>mentos d e mudança lt<l 110 d ese nvolvim e nto - entre os dois níveis de ensino enfocados neste capítulo .
dl'SL' IWo lvime nto infantil.
l ~ozh ov ich (1987) exp lica que a crise dos 7 anos aparece quando é m obil1
zado, n o pré-escolar, em decorrência da s ituação social de dese nvo lvimento, <, A ATIVlDAD€ DOMINANTE: NA SE:GUNDA INFÂNCIA
inl'l' rcssc pelo estudo , pelo conhecimento da ciência, pela leitura e escrita, p ois
:t pré-escola já não o satisfaz. Na crise dos 7 anos, verifica-se um a discrepân ci;t Neste item vamos brevemente discorrer sobre a ativid ade dominante na
l' nt re a s ituação objetiva da criança e sua p os ição interna. A trans ição d e u m;t segunda infância, pois nos capítulos precedentes os leitores já tiveren1 acesso ao
at ividade para outra significa a ampliação do círculo de conhecimentos d a criança, d etalhamento desse período de d esenvo lvimento .
portanto é um m o mento d e salto qualitativo n o desenvolvimento p s icológico, Partindo dos estudos de Vigo tski e Leontiev, Elkonin compreende que, n o
um m o m e nto que, por isso mesmo, não d eve ser compreendido corno algo n c d esenvolvimento, "cada época consiste em dois períodos regularmente ligados
gn tivo, mas como um periodo rico em avanços e m se u desenvolv imento psíqu ico entre si" (ELKONIN, 1987, p. 123). Elko nin (idem) explica que a passagem de uma
(MAREGA; SFORNI, 2011). época para a seguinte acontece quando falta correspondência entre as possibili-
As crises estão sempre associadas com alguma mudança d e etapa e indicam dades técnicas operacionais da criança e os objetivos e motivos da atividade. O
urna necessidade interior própria. No entanto elas são inevitáveis? Se a n alisarmos autor dividiu a infância em dois períodos: o de jogo de papéis e o de estudo. O
as c rises com base na interpretação clássica de que elas são causadas pelas caracte- jogo de papéis é a atividade principal da crian ça pré-escolar e o estudo é a ativi-
rísti cas interiores da criança em maturação e pelas contradições que surgem entre • dade principal da criança em idade escolar. Passaremos agora ao estudo desses
a cri a n ca

e o ambiente, as crises são, sim, inevitáveis, pois contradicões

são inevi- •
dois períodos d o d esenvolvimento infantil.
t·:\vcis, independentemente das condições. Não obstante, Leontiev (2006) atirma A idade pré-escolar ou infância pré-escolar, como a chama Leontiev (2006),
que, na realidade, as crises não são absolutamente acompanhantes elo desenvol- corresponde ao período do desenvo lvimento infantil qu e se estende dos 3
v i m cnto psíquico. O que é inevitável não são as. crises, mas o momento c rítico, a aos 7 anos. Conforme mencionamos, no Brasil as crianças iniciam o ensino
ru ptura, as mudanças qualitativas no desenvolvimento. Não ocorrerão crises se o fundamental co m 5 o u 6 anos, então quando falamos sobre idade pré-esco lar
d esenvolvimento psíq uico da criança for um processo racionalmente o rganizado, estamos focand o essa faixa etária. E ssa idade configura-se co m o uma nova etapa
um a criação controlada, c não um processo que ocorre espontaneamente. do desenvolvimento infantil pelo fato de a criança encontrar-se em uma nova
De maneira geral, no desenvolvimento da criança, a atividade direcionada s ituacão
'
social de desenvolvimento. Todas as modificacões físicas de intensa )

a um determinado fim vai formando-se aos poucos. Nas crianças de 5-7 anos , é maturação do organ ismo pelas quais passa a criança resultam em sua maior in-
co mum que suas ações estejam determinadas, em boa parte, pelo material, p ela dependência, possibilitando sua inserção no processo educacional. Nessa fase a
s itu ação objetiva na qual atuam. Ao final da idade pré-escolar, a n oção de pro- criança começa a ter um conjunto de ob rigações elementares e seu vínculo com
duto futu ro, de resultado, co m eça a ocupar um lugar cada vez mais preeminente os adultos adquire n ovas formas:
n a atividade; no entanto não é assim para todas as crianças, p o is muitas delas
ch egam à escola com um ba ixo nível de atividade orientada a um fim, organizada a atividade em conjunto é substituída pelo cumprimento independente
c livre , e isso dificulta im ensamente seu êxito escolar (NEPÓMNIASCHAYA, 1985). das indicações dadas pelo adulto. Pela prirneira vez, to rna-se poss.ível um
Consideramos que essas mudanças que ocorrem na criança, no plano ens ino relativamente sistemático e desenvo lvido segundo um programa
psicológico, trazem consequências para o trabalho p edagógico, e é importan - definido; mas, como indicou Vigotski, esse programa só se pode realizar

I~H lltlll M MAl fi 1~10 Nll •I W 1\ AIIH/\N i I M/\1411 i lM~ r1 I·ACGI (OitO ) 1'1 IIII lllllAÇ/\0 III [i l(lf(lêfi I I Jl 1111(/\1 . 00 I) I :GI.I~VOIVIMU !TO I" ih~l III I I I ~·I

11!1 lllt 'd ld ll t'ltl IIII!.' III' 11111\\'l' l tl t'lll lilll l'l!"ji(IIIIHI IIJ!Ijljht d,l 1.11,111111 It; I .. l i l I~:· I: "., I ' j 11 I i t'l d:11 ' lt LH It 'H ,i; I " I i\' lt l:t d l.
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ltv11 11\\, IW~r,. 1'· ~7 1 ,Ln.. I H .• .,~,'"~'>· a" n•l;H,tH,>s ~>•tt'lai.., ~~ llllt.· ,·la:-;,,, ~>t~llllllH:nto social da arh idatk
lltttllõlll:t. < > trllllt'JÍdo t!os jogos tle m.~11menw tl'nt ro11tt signifiw~·do eJucativa
( 'o1n os vs tudos lk· Vigot·sk i e Leo nti ev, cstnhc lvcvt i•Sl' qtll' a ntiv id ndv d" illl/tOllllllll'. I\ H· isso,. f>r('ciso o/Js<:'n'm com cuidado do que hrincam as crianças.
• •
11 li 11:111 ll' da nia n ~·a c n1 idade pré-escolar, co nform e me nc ionado nos c a pí t 1dtl E l'tccisu dar lhl's a conhl'l.·er aquelas tacctas da realidade cuja rcprodu~·:i.o
.llllvri()n!s, (·o jogo ou a brincadeira . Müjina (1.985, p. 58) declara que un o ju~:~~ 11us jt)gus pode exercer uma influência educativa pusíriva ~distraí-las da
11 l~ J' i:t 11l;H tkscoh rc ns rdações objetivas que existem e ntre os h omens, COITicl;:t :t rcprcsenmt;<i.o daqu ilo que possa dese nvolver qu alid ades neg<lti.vas.
l~ lll vndt·r que a participação em cada atividade impõe ao indivíduo o cumpri 111L' Il t •'
de u· rtos deve res c de uma sé rie de direitos". Atividades como as brincadei1.1 .. l ~l konin (1 960a) e Leontiev (2006) viam, nas atividad es características da id ade
d(.~ l':1z d1.· co nta proporcion am momentos p rivilegiados de aprendizagem, conHJ lllt'·,cscolar, indícios d a atividade d e estudo, embora esta a inda não se apresentasse
itHiicn Vigot s ki (2003). E las são o mom ento no qual a criança busca os signili 1. '1 1110 s ua atividade dominant e. Os aLltores entendem que a criança começa a
l mio:-. l'Xpcrienciados em seu dia a dia e cria novos significados à medid a qlll.' ;1 nprcnder por meio das brincadeiras. Vale destacar que a disposição psicológica
s iltiH\'é-IO intcracional o exige. No desenvolvirnento infantil, os jogos de pap(·i:-. p 11m entrar na escola - qualque r que seja o aspecto considerado - é resu ltante
l'tlst limam aparecer com mui ta frequência. Nesses jogos, as crianças assu mcm t il' t·odo o desenvolv imento psíquico precedente, fruto de todo o sistema de
ns ll)ais di versos papé is (m ãe, pai, irm ão, m édico, policial etc.) e mudam fac ii t•ducação na fa mília e na educação infantil (Múj ina, 1985).
IIH'IÜL' d e um para outro (TOLSTIJ , 1989). Nesses papé is sociais, a criança comc\·:t A e ntrada na escola inaugura uma et apa na vida da criança na qual ocorre m
11 dese nvolve r o autocontrole da conduta, urna vez que existen1 regras sociais :t llllldanças decisivas em se u d esenvolvimento psíquico. Mújina (idem) observa
" l'l\'111 seguidas na inte rpretação desses personagens. tjl ll', para enfrentar essa nova etapa, a criança deve esta r sufici entemente pre-
No jogo s imból ico, a capacidade da criança de substituir um objeto por outru l'él rada. A autora esclarece que a maioria das crianças, aos 7 anos, deseja entrar
pnss ihi Iit·a o futuro domínio dos signos sociais (MúJlNA, 1985). O jogo, podemos 11:1 escola, mas, em a lguns casos, a representação daquilo em q ue cons iste essa

t nnsidcmr, co m sua fu nção sim bólica, contribui para que, em períodos posterio •
l' llt rada n ão é suficiente n1ente clara. De qualquer m aneira, uma criança devida-
li lente preparada p ara ass umir a condição d e escolar é atra ída pela p oss ibilidade
1v:-., a r ria nça aproprie,se da leitura e da escrita. Segundo M újina (idem), o j ogo
pruvocn mudanças qualitativas na psique infantil e for ma as bases necessárias

dv obter n ovos co nhecimentos .
Da mesma maneira, Elkonin (1960c) assegura que muitas vezes o q ue atrai a
para que a atividade escolar to rne-se a principal nos an os subsequentes.
t' l iança à escola são os aspectos externos, como o tamanho do prédio, o espaço
Tanto Vigotski (2003) como Mújina (1985) e Elkonin (1960b) descrevem
disponibili zado, a quantidade d e crianças. E lkonin (idem, p . 525), citando dados
'H 11 ras ;Hivid <1des exe rcidas pela criança em idade pré-escolar que não são as prin-
dv Lija Slavina\ critica o fato d e, n a idad e pré-escolar, a criança n ão ser ensinada
l j r1:1isl rnas que também desempenham papel importante no desenvolvimento
.1 (nzer esforços mentais, não ser ens inada a pensar. Leo ntiev (2006) defende
ps lqu ico do pré-escolar, contribuindo para que e la tenha consciência de suas
'llle, ao ingressar na escola, a maio r ia das crianças quer estudar e que para elas a
lt l l '~'; ts l' habilid ades. Essas atividades são o desenho, a modelagem, a constru ção
,, prendizagem te m como sentido geral a aprendizagem mesmo, ou seja , a execução
l: u t r:~ h;, lh o ou tarefas laborais.
,las obrigações escolares. Por isso, quando a criança começa a frequentar a esco la,
1': ru ndame ntal d estacar aqui a importância do papel d o professor no jogo ,vu interesse pelo jogo vai diminuindo, dando lugar ao estudo. Assim, n os pri-
1111 nas nt ividades infant is. Sobre isso, afirma o próprio Elkonin (1960b, p. 513):
lllciros anos da vida escolar da criança, o ens ino exerce um papel f undamental.
Segundo Davidov e M árkova (1987, p. 324), a concepção da atividade de
(') desl'n\'oh-imenro dos jogos, tanto no que diz respeito a seu argumento
~ ~s tudo formou-se sobre o princípio da unidade da psique e d a atividade. Para
qll<11lto n seu conteúdo, não se efetiva de um;~ maneira passiva. A passagem
~~sses autores, as principais fi n alidades do estudo são a "assimilação dos procedi-
dt• um nívd du jogo a outro reali za-se graças à direção dos adultos, qLJ.e, sem
:1ll crelr ;I ,\I i\'idade i ndcpendente e de caráter criador, ajudam a criança a
I Lija V. Slavina fo i, segundo Robbins (2004), uma brilhante experimentadora russa, que trabalhou
tlt'M.ttltri r 1 h:1 t~l mi lleldas facetas da realidade que se refletirão posteriormen- com Bozhovich durante roda a sua vida profissional. Não encontramos dados biográficos da autora.
'IHIIllll1AI~Ao 111',1 I IHI! ;n I I IIII mAl 1111111 1 •1 :HV(II VIMI ti fu l''lh llllr.O li ti
IítO llt liAM MAl« IIIHt, NH\11 I tA AítiMill f ti AMfiHIIllA 11 I l I ACGI (t li H I l

11\l~ lll tl.., g \' IH' I': di .m dtl li dv :H;: \Ill\:l l'S f\'1':1 d oli l ll iH:I'Í I"II/'It' itlllfl lt:ttR t: ;11'1 11\lld: tl\ \' 11
t' l'llllll,'ilh t' lt't'll ol lll llll'lltl~l llli'lt_'l'l' l' :1 :lpl'lt\':11;:111 dtl Jll'lll~:SSill', bsll dt'llllt:l
prl'p:ll':t\':tuiH':;Stt:dlll:,ltlkkntv para u l~nsitHll'scolar d(l aluno, suc\
qtHtlit :lti v: ts t H l d vst•two lvinwr:•t l pslquico da n i:t tl \' n, 'I''' t H t lll l~ ll\ M IIH \' l'"~" 1111t:1

hnsl' [)avidOV (200)) il fi r ma q li e OS pré-escola l'í.'S 11 H lV IIIl l' 111:111\ l 'S fo r~·os jlill H
11

i nc.1p.1( 1d.1lk de encarar da manl'ira correm as obrigações vinculadas à

:-.:ttisr':t zc r se us inte resses cognitivos mediante a co mun ica~·a o ro m os adu ltos,,, posi~··w de cscohu·.
o hsl' rvnçôcs so bre o mundo qu e os rod eia, extraindo difere ntes co nheci nw tllt•
dos Iivros, das revistas e dos programas televisivos que estão ao seu alcan n·. I l, Em seus estudos com crianças de 5 a 7 anos, Bozh ovich (idem) concluiu que,
ncordo co n1 o autor, no começo da vida escolar a cri ança ainda não experim cll lt '" l' tnbora os aspectos exteriores da vida escolar e da atividade de estudo- como os
n necess idade dos conhecimentos teóricos con10 base psicológica da ativid :H 1, tnntcriais, as notas etc. - sejam muito atrativos para os alunos, n ão são esses os
de estud o . Essa necess idade su rge no processo de assimilação real d os conhvt 1 ltHpcctos centrais que os envolvem. O que os atrai é justamente o estudo corno
mcntos teóricos elementares durante a realização, com o professor, d as açõcs dt 111 ividade séria, com conteúdo, que conduz a resultados importantes tanto para
estudo mais simples, destinad as a realizar as correspondentes tarefas de estu d1 '· ~·k~s como para os adultos que a rodeiam .
A preocupação inicial dos estudiosos da psicologia e da educação accrr:1 Conforme podemos observar nos estudos dos autores apresentados neste
da ampliação do ensino fundamental para nove anos estava mais concentrall:! iten1. do capítulo, a preparação da criança para a atividade de estudo, no ensino
nas questões institucionais e d e fo rmação dos professores, mas sao imensas ah lttndamental, é importante e necessária. Mas será que a escola está conseguindo
rnudanças acarretadas à criança, pelo próprio processo de transição - agor:1 preparar a criança para essa passagem? A seguir vamos apresentar a pesqu isa
antecipado. Pequenas exigências, co mo os cuidados com os materiais - qu e na rt•alizada por Martins (2013) qu e trata dessa questão.
educação infantil ficavam na esco la e agora, no ensino fundamental, são d eres
po nsabilidade das crianças e d os pais -, podem causar transtornos na vida escob1
da criança, porque, em geral, ela é cobrada por isso na fren te de toda a tu rrna. O PROCêSSO Dê TRANSIÇÃO - DADOS Dê PêSQUISA
Não foi por acaso que Vigotski (VYGOTSKl, 2006a) classificou o período dv
tran sição como um período de crise. A entrada da criança no ensino fundamental Martins (idem) realizou pesquisa que tinha como objetivo analisar se, no
promove uma verdadeira revolução no desenvolvimento, pois o meio externo l' processo de transição da educação infantil para o ensino fundamental, estaria

os interesses da criança vão m odificand o-se. N essa nova etapa, pais e professores d e fato ocorrendo a preparação das crianças para a atividade de estudo. Bus-
dão grande ênfase à realização das tarefas em casa, e a criança tem de mostrar cou investigar as mudanças provocadas na criança em virtude da mudança na
desempenho nesse quesito, porém falta o preparo gradativo d as crianças para 1l situação social de desenvolvimento, com a entrada no primeiro ano do ensino
desenvolvimento da atividade de estudo. (undamental. A investigação aconteceu em duas etapas:
Davidov (2003) entende que, no começo da vida escolar, a criança precisa
de atividades que desenvolva m o interesse pelo estudo. O autor comenta qm· 1) em uma turm a d e um centro municipal de educação infantil, pelo
tal interesse deve ocorrer na interação entre professor e aluno, no processo dl' período de do is meses (outubro e novembro de 2011);
transmissão e apropriação d o co nhecimento. Nesse sentido, afirma Bozhovich 2) em duas turmas de uma escola pública do ensino fundamental,
(2003, p. 18): dur ante quatro meses (de março a junho de 2012), nas quais estu-
davam alunos que tinham sido acompanhados pela pesquisadora
Q uan.do os estudl)~ provocam nas crim1ças u m interesse clíreto, rnpic.b· na educacão infantil.
'
m en te capta m u rnaterial docen te, resolvem us problernm; com rdati\ a
facilidad e, ma nifl'Stam uma gra nde iniciativa criadora . Mas, ::;e essas Foram realizadas observações, ativi.dade ele desenho com as crianças, co nversas
tarefas carece m. , para elas, J e interesse d ireto, e veern o cumprim enru informais com as professoras e entrevistas com alunos e pais. Participaram. da pes-
d.o trabalho esco lar como uma obrigaç8.o e uma respon se1 hiliclade , entnu quisa 7 alunos qu e frequentavam, em 2011, a educação infantil e, no ano seguinte,
começa m a ~e d istrair, o faz~rn mais n cgligen.ternente do que as outr•h passaram a frequentar o ensino fundamen tal; 4 professoras (duas da educação
I (I I I hilf\ M,Mf\I(IIN\ f\Ni lll Of\ !lliltfll,li I 'l ~~ MAt(ILiiA 1 1_1 I'AGC.I (' 11'' 1l l-'1llll llll ALAI I III' li III <ILt 11 III 11 lHAI ll(t I II 'UI I lVI li VIM I tWJ l''liUIJIU l III I

ini : HII ii , qltt' l.~ l du t.•rulirtli (llfld.tllll' l ll'! tl ,


IIIÍIIÍ s l I':IV: \111 lll JI II I Ili 11\ l':-1 11 1:1 lllll\1.1 1 lt l' ll ~'lll l t lt li-i ;tltlll l lN, M' I III I':ISMt' ll t d 'l t d IIi' i l:t:-1, n li) lrolaSSV111 Sl' ll l'i l'l l 111j)OI'Ii\lllL'IHOs,
qut· ministravam aulas n :l s d 11<\s turmas frt'qllt' lllnd .tN 1W I 11~ .tl11111 111) v 'i lll:ll'"· 11 q11v podv :~r:mt·l:lr :1111 ipill ia l' ro llllilos na relnçao prof~sso r e aluno.

A autora sistematizo u as inforrnaçücs cm três catL'go1101S: a 1 1i:111~a l' n lt1n \·;11 • Marl ins (idl'm, p. 11 5) analisa qu e:
da escola; a criança e a atividade principal; a preparação da c1in1l~·a para a l'Srol.t.
Neste capítulo, iremos nos dedicar a expor a terceira categoria, levando em li 111 As pnstu ras adotadas pelas professoras nos dois níveis de ensino -
sideração o que as professoras comentaram durante a pesquisa, as observa~·~~~'' e:-.pontandsmo, livre movimentação, inclusive do corpo, alimentação, o
real izadas em sala de aula, as entrevistas realizadas com as crianças e os pais e,,. ato de dormi.r (no caso da Educação Infantil) e a di~ciplina rnais rígida
desenhos elaborados pelos estudantes. no Ensino Fundamental - são fatorei> qui:' dcmonstr;un uma ruptura
Na pesquisa realizada, as professoras do primeiro ano do en.s ino fundamcnt :ti entre esses níveis. Co rno fica a crianca d iante desse fato? Cornu eln vai
'
'
constantemente expunham que as crianças não t inham autonomia nenhurn :t l ' compreender que as coisas rnudaram drastícan!ente? E ncsre Sl-: nrido que
que nem todas chegavam ao ensin.o fundamental com algum conhecimento d :t~· compreendemos que ral passagen1. deveria ser mais gradu<d, com os pro-
letras. Vamos, prilneiramente, falar dos comportamentos da criança, da au ton11 tcssores compreendendo as nn.tdanças que vão ocurrendo e Ct)laborando
.
mia e da realizacão das tarefas. com a~ cnanças nesta passagem.
'
As professoras descreviam várias situações, como amarrar os tênis, limpar 11
prato após as refeições, entre outras que consideravam ser uma ação que a crian~·:t Em suas observações, Martins (idem) constatou que as professoras esperavam
deveria fazer sozinha, mas ch egavam ao primeiro ano precisando de ajuda. A que as crianças já tivessem desenvolvido suas funções psicológicas superiores e
expectativa das professoras era de que as crianças ficassem "quietas, sentadas v que estas se tivessem to rnado voluntárias, como no caso da atenção. No caso
sem conversar com os amigos, seguindo as regras estabelecidas" (MARTINS, 201 ~. dessa função, é importante lembrar que, num primeiro mome nto, a atenção
p. 114). da criança era guiada pelo meio externo, por outra pessoa, que com o uso da
A autora pondera que tais comportamentos são difíceis, relatando ainda que, linguagem chamava sua atenção para determinado fato ou objeto. Somente em
nos centros de educação infantil pesquisados, as crianças tinham mais liberdadv • período posterior, por meio das relações sociais, a criança consegue regular seu
de conversar, de interagir, e na escola de ensino fundamental a estrutura passou comportamento. Retornando os pressupostos de Vigotski (VlGOTSKll, 2006b),
a ser diferente. N esse nível de ensino, ' sabemos que essas funções ocorrem pelas mediações, conforme a criança se apro-
pria d os conhecimentos, c não em virtude do processo maturacional. Contudo,
muda também a p~)sição tb!' crianÇas com relação às demais, pois, enquant1 • professores nem sempre têm essa compreensão do desenvolvimento infanti l.
no CMEI as crianças do Infantil 5 eram as mais velhas da escola, C\gt) l" t No caso das entrevistas com as mães, a autora constatou que nem sempre
elas sào as mais ncwas e requerem outros cu idados, por isso, o intcrvaJ, , elas estavam preparadas para ajudar os filhos e compreender esse período de
do primeiro ano é separado do intervalo dos demais [idem, ibidcml. transição, período de crise, conforme exploramos anteriormente levando em
conta as contribuições de Vigotski (VYGOTSKI, 2006a). A entrada da criança no
Além disso, a disposição das carteiras em sala de aula sofreu alteração, as ensino fundamental pode desencadear um processo de revolução no desenvol~
crianças passaram a sentar em carteiras individuais e a não compartilhar uma vimento, pois o meio externo e o interesse da criança podem ser alterados em
mesa de estudos com outros alunos. razão da expectativa que a família - e mesmo a sociedade - tem em relação ao
Nas observações realizadas em sala de aula, a autora constatou que a disci pli- processo de alfabetização no primeiro ano do ensino fundamental. Os próprios
na corporal das crianças incomodava as professoras do ensino fundamental. As pais passam a exigir novos comportamentos da criança, a estabelecer horários
cadeiras não eram adequadas para o tamanho das crianças e, na maior parte das de estudo, embora, no caso da pesquisa, algumas mães tenham relatado que não
vezes, elas faziam as atividades en1 pé, ao lado das cadeiras, saíam do lugar parn sabiam muito como ajudar nas tarefas escolares, o que era uma exigência feita
conversar com os colegas ou mesmo para mostrar o trabalho que estavam fazendo. pela escola. A criança precisa estabelecer uma nova rotina de estudo em casa e
Tais comportamentos irritavam as professoras, pois exigiam que chamassem a na escola, mas nem sempre professores têm paciência para esperar que essa ro-
II(AIAM, M~,l'lll ~~ A!-lúil Lü A Al\i ~AI~ I I Mf\IW IJA q iJ I ALüi(01HY) PU~I!IIll 'AÇÂ.O I IIGT(IBICO· GUL'TU14AI I JU I H'!:L IIVOI.VIMI JNI 0 I" 11! Jl JICI l III
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t:lll ll d t· f':1Z1.' I' l:t l't-!'IIH, dl' t n iZVI' ti 11\:ll ~·r i:d q\l l' VI II 11 :-. .1 1 ,,,, ,,IILt, I" li t'X1~ 111pln, flll!'l ,dtii HI~-t, 111 1 svJn, qu~ · <'l·il<:j:lllt dt' llllt, tl1~ S tlil~'> puss 1hilid:tdvH d ~· n·.di z;~~·:Hl, l '<llll

primeiros meses do ano let ivo, cwnccL' n l'unrio11111 Vll llll \l lt t,


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11 :1jt1d :1

Q uanto à alfabetização, de aco rd o co m Martins (2.0 I ~). :1:-. p11 1lvssot':IH rl'ht · Vigntski (200 3). 1:::::-;se inrcressv 11ao ocorre espo ntanea rn c nte; ele ex ige, sim, um :1
taram qu e não hav ia obrigatoriedade ern alfnbetizar no pri tnl'i ro ;~no d o ensi tH1 t>rgn ni Z:I\'ÚO do processo pedagógico. Fin.ali zando a pesquisa, Mar tins (20 13)
fundamental, porém todo o material didático e todas as atividades propostas eran1 ro nclu iu que muito ainda d eve ser feito para, de fato, serem empreendidas açtH:s
voltadas à alfabetização. A autora observou qu e havia, na edu cação infantil, ccrlil qu e preparem as crianças para essa nova fase do desenvolvimento infa ntil: ''
preocupação co m o processo de alfabetização. No entanto presenciou pouco~ t• ntrad a no ensino fund amental.
m omentos de incentivo à leitura e à escrita. Uma das professoras da educ<u,-~< 1
infantil até mesmo afirmou que não havia um planejamento para trabalhar :t
alfabetização. N o caso da escola investigada, não havia material específico par;1 CONSID€RAÇÕ€S FINAIS
isso, ficando esse conteúdo sob a responsabilidade de cada professor.
Martins (idem, p. 118) afirma que foram "raras as ocasiões em que obsct A preocupação de vários pesquisadores da área d e educação e psicologia acerca
va mos atividades em que· se trabalhava com os conceitos científicos", e que as d a ampliação do ensino fundamental para nove an os centra-se, muitas vezes, na
professoras dedicavam-se mais a trabalhar com os conhecimentos espontâneos, inquietação cotTl o fim da infância para as crianças pequenas, co m o fim d o lúdico
ligados ao cotidian o, sem sistematização, conforme define Vigotski (2008). No na escola, e n em sempre se vinculam ao processo d e transição - agora antecipa-
caso do en.s ino fundamental, a pesquisadora observou qu e a preocupação com d o. Muitas vezes se d eixa de questionar a que ponto a qualidade da atividade na

os conhecimen tos científicos estava m ais presente. qual a criança se insere está contribuindo pa ra o acesso ao co nhecimento e para
Tal falto foi evidenciad o até mesmo na maneira como eram trabalhadas as o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Enten demos que n ão
datas comemorativas. Na Páscoa, por exemplo, Hc trata de a criança d eixar ou não d e ser criança, d e se finalizar a infância, mas
s im de pensar uma escola que realmente invista no desenvolvimento máximo d e
a professora Ido emino fundamental] se preocupou em explicar o sen.tidt, • potencialidades dos estudantes.
da Páscoa, levando as crianças a superarem as informaçôes recebidas n.t Saviani (2003) d eixa muito claro que cabe à escola, n os primeiros anos d o
vid:1 cotidiann de qne os coei h os botavam ovo. A professora, neiite ej;is(Kiil '· ensino fundamental, ensinar a criança a leitura, a escrita, as noções básicas d e
teve muita dificuldade em mostrar para as crian~'at-. que coelho nüo bt)t ,t ciência e de história. Essa deveria ser a preocupação centr al da escola quando a
ovo, 1nuíto rnenos ovos de chocotate. Não estamos d.izenJo, co rn issu, criança está ingressando nessa nova fase do processo de escolarização. Já na edu,
que tal informação tenha sido passada na Educaçãu Infantil, mas e:~tamu:­ cação infantil d eve h aver um plan ejamento, uma sistematização dos conteúdos
rnustrando a diferença na forma dç trabalh<1r os conceitos, pl)ÍS neste níwl a serem trabalhados co m as crianças, produzindo individualmente, conforme
de ensino o interesse maior estava em ensaiar as apresentaçôes, c não e111 propõe Saviani (idem), aquilo q ue foi produzido pela humanidade.
aprender os conceitos [MARTINS, 2013, p. 120]. Para a criança, o significado d a escola também sofre transformações. N a
pesquisa realizada por Martins (2013), a autora constato u que tanto para as
A d efinição dos conteúdos deveria ser problematizada na educação infantil, crianças como para os pais e, ainda, para alguns professores a educação infantil
considerando a função social da escola de socializar os conhecimentos produzidos es tava mais vinculada ao cuidar que à busca de contribuir para d esenvolver na
pelos h omens, conforme propõe Saviani (2003). criança o interesse pela ciência. Na referida pesquisa, as crianças diziam que na
A autora analisou, em suas observações n a escola, que a proposta de Davidov educação infantil elas dormiam, brincavam, e que no primeiro ano tinham de
(2003) d e preparar a criança para a escola, enfatizando a interação entre professor l' aprender a ler e a escrever.
aluno n o processo de apropriação do conhecimento, foi pouco efetivada. Preparar Superar a função historicamente dada para a educação infantil de cuidar de
as crianças para a atividade d e estudo significa propor atividades cognitivas crianças enquanto as mães estão inseridas n o processo de produção está sendo
complexas que estejam no nível de desenvolvimento próximo (iminente) dm um processo difícil talvez porque o significado da escola de educação infantil
I !ti I LI OlA M MAl HINO AIIQ\LlO A AI!IMNH ~~ 8 Mf\I(ILUA 1], I) I'AGGI (O lU
I I'I I 'IIII li~AÇAO III OI'ÔiliGO I III llli(AL IJ(J IJU.JI INOI ,VIM[ NTO POIQUICt I I (, 7

tcrn s ido muito mais d<: l'Sru l :~ :tssisll' llci:di sta qtll~ de t.'St~,,lll ljllt ' ~.~ n.-; ln:L H' 1\ :lltltll't t qt l l'~ l'itl ll : t :1 qttv 1HliHOI11\tl v~ l·:\ h avendo rl'sist~ncin c rn e nsinar,
significado acaba tornando-se o prúpriu sentido qttt' :1 t'"t ol.1 ll' lll p:ll':t ~ 11111 1 h 11.1 t•tht c:t~'fl o hl':ts ik:it·:t, uma w z qtH.' al.Qumas produções, na educação infantil,
que estão envolvidos com a prática pedagógica. ,,,,. II H:tlll o pr()l~sso r de es tar n;rirando da c rian ça a possibilidade de criação e in-
'
E importante lembrar que o qu adro hoj e np rcsc ntnd o pe la ed u c:H;: tt , i 11 lt'l'll\':to, pois "o prokssor te ima c m e nsinar" (ide m, p. 25). Essa é uma discu ssão
fantil no Brasil é fru to do seu desenvolvimento histórico. Tal i nsti tu i~·: to n;,,, i11tpnnantc.: e muito ampla, que não foi o objetivo principal deste capítulo, mas
surgiu co m o intuito de ser "escola", de e nsinar se us alunos, m as corno l's p:w• i l'lllH posicionamos e m direçao à compreensão de educação que se contrapõe a
de cu idad o, onde os pais que p recisassem trabalhar pudessem d c ix:tr St.'ll t'HHv l'Spontnneísmo que impera na escola d e maneira geral. Queremos d e ixar
filhos. Apesar dos avanços socia is, políticos e econô micos no país, até ht ,j,· ,, ltt:tt-cado que partimos do pressuposto d e que a escola deve ensinar os conheci-
educação infantil tem d ificu ldade em superar suas amarras históricas, o q111 ltW tHos científicos, trabalhar com os cont eúdos clássicos, tal como propõem os
se reflete até m es mo nos d ocumentos que buscam instrumentaliza r a eqtlii·H :11 1tores marxistas Vigotski e Saviani, independentem ente do nível d e escolaridade
pedagógica, como é o caso do R eNE!. Tendo isso em vista, acreditniTios li''' dns a lunos.
um dos maiores desafios d a educacão infantil é ass umir o ensino como vix11 Aqui nosso posicionamento é de que existem conhecimentos necessários à
'
norteador d e sua atua cão . li 11·mação da individualidade para si, conforme afirma Agnes Heller (1972, 1991).
'
N epó mniaschaya (1985) cita os trabalhos d o psicólogo soviético N . I· ( :ontrapot-rlo,nos a um a educação que fiqu e no cotidiano, na individualidade
D obrinin , n o qual ele e seus colaborado res demonstraram que a condição prin wi t•m si. Para a formação do gênero humano, é preciso investir na tra nsmissão,
rapara q ue o processo d e estudo seja eficaz é, precisamente, a significação pcsst l:t I apropriação do conhecimento e, tal como Davidov (1985), concordamos com a
da atividad e escolar. Dessa fo rma, o processo de estudo deve ser sign ificati vt 1 1 ide ia de que, d esde a entrada d a criança na escola, é preciso traba lhar no int uito
interessante para que a criança possa conhecer e se apropri ar do n ovo. de d esenvolver a atividade de estudo e o interesse da criança pela descoberta
Algumas ques tões surgem aq ui: Até a que ponto a proposta da educw:'', das várias ciê n cias e nos instrumentos produzidos pelos homens na luta pela
infan til contempla esses aspectos? Será que o professo r se vê co mo aque le qu t· l'!o brevivência e transformacão ela realidade.
'

pode auxiliar, com a sistematização e transmissão dos conteúdos, no in te n.?sst'
pelos estudos? •
Utilizando o R c NEI, o que se espera do professor é que, e m sua prática ped ;t R€F€RêNCIAS
..
gógica, e le respeite a espontaneidade das crianças, fazendo mediações quarH.It,
ARCE, A. O referencial curricular nacional para a educação infantil e o espontaneísmo:
necessário. O professor é encarado como um parceiro mais experiente, ocupand<,
' (rc)colocand o o ensino co mo eixo norteador do trabalho pedagógico com crianças de 4
papel secundário no processo de ensinar. E considerado como simples organ i
a 6 anos. ln: ARCE, A.; MARTINS, L M. Quem tem medo de ensinar na educação infantil? 2.
zad or das atividades. Partindo do princípio de que os professores d a educaçi'lu
l'd . Campinas: Editora Alínea, 2010. p. 13-35.
infantil estão sen do gu iados pelo R eNE!, podemos considerar que estão coerentes
em sua prática. Eles tentam seguir os interesses das crianças, sem dar ênfase aos nRASlL. Ministério da Ed ucação e d() Des porto . Secretaria ele Educação Fundamental.

conhecimentos científicos, contribuind o, muitas vezes, para o esvaziamento d :~ l(eferenci.aL Curricular NacionaL para a Educação lnfcmti L. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.

escola, abandon ando sua função de trans mitir conhecimentos. - -- · Lei n. 10.172, d e 9 de janeiro ele 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e
Com relação ao interesse e à m otivação na aprendizagem, Klein (1996) dá outras providências. Diário OficiaL da União, Brasília, DF, 10 jan. 2001. Dispon ível em:
considera que ambos passam a existir somente depois qu e, de alguma for m a, <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis_2001/l10172.h.tm>. Acesso em: 8 out. 2011.
o fato já entrou n a vida do aluno. O a luno não pode interessar,se p or algo qU l' - --·Resolução CNE/CEB n. 3, de 3 de agosto de 2005. D efine normas n acionais
não conhece, que não lhe foi apresentado pelo professor. Embora o discurso dos para a ampliação do ensino fun damental para nove anos de duração. Diário Oficial da
professo res apresente a ide ia de que todos os alunos têm direito à apropriação União, Brasíli a, DF, 8 ago . 2005. Seção I, p. 27. Disponível em: <http://wv.TW.ceepi.pro.
do conhecimento, o que se tem visto, muitas vezes, é um trabalho em direção br/No rma%20CNE%20MEC/2005%20Res%20CNE%20003%20-%20Regras%20
contrári a a isso. para%20EF%20de%209%20anos.pdf>. Acesso em: 8 out. 2011.
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11. 1
d1· Ll:nnttl'V, l:jk(lllill l' Vi gut :-. kt. ( ;ttclt·~ tto' Ct l!l ·: s, Campinas: C~ t H:.s , v. 24, n. 62,
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1
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FLÁVIA DA SILVA F€RReiRA ASBAHR
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ste capítulo tem com o objetivo fazer uma síntese teórica acerca d a atividade
de estudo, então compree ndida com o sendo a atividade principal d a criança
l' t1l idade escolar. Entend er a atividade de estudo como a atividade principal nesse
1wríodo significa compreendê,la como uma ativid ade que pro move o desenvol,
vin1ento humano e que tem co mo característica produzir a constituição de uma
1\l'Oformação psico lógica esse ncial ao processo de humanização: a fo rn1ação do

pl! nsam.ento teórico. Assim, n ão podemos confundir a atividad e de estudo com

as ações realizadas cotidianamente pelas crianças na escola (leitura de textos,
l'l':.Üização de exercícios para fixação de conteúdos, avaliações, cópias, entre outras).
Tais acões podem compor a atividade de est udo se seus fins fo rem cond izentes
' .
ro m os motivos dessa ativid.ade no intuito da formação do pensamento teórico,
mas podem, em contrapartida, serem meras operações que pouco contribuem
para a formação da criança.
Para iniciarmos n ossas reflexões, comecemos questionando por que a
atividade de estudo é considerada a atividade principal das crianças cm idade
L'scolar (de 6,7 anos a 1Oanos) . Segund o Vigotski (VYGOTSKY, 1988), a en trada na
L'Scola traz profundas transformações ao desenvolvimento infantiL Obviamente,
a aprendizagem d a criança inicia-se muito antes de sua entrada na escola, então

Parte das discussões trazidas neste texto é fruto da pesqu isa de doutorado d a autora, orientada pela
professora doutora M arilen e Proença Rebello de Souza. A pesqu isa teve financiamento da Fundação
de Amp aro à Pesqu isa do Estado de São Paulo (FAPESP).
l Professo ra assistente do depa rtamento d e ps icologia da Un iversidade Estadual Paulistn "Jídio de
Mesquita Filho" (UNESP/Bnu ru). Psicóloga, clouto rn cm psico logia peln U niversid ade d e São Paulo
(USP). É me mbro d o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Atividade Pedngógica (GEPADE) c do
Laboratório l nterinstitucio nal de Estudos e Pesqu isas e m Psicologia Escolar (LiF.PPE).
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11
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~· i:dll H' I11 l' llltl:\ :1 1ividadl' ti l' :tpt'l' ndi zi\ge m que oco rre na escola, instituição cuja
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p:11 t i n d t~rid <1d é 0 a tra nsmissno da cul tura hu m.ana elaborada, com a med iação
íl t tl ill l~':l, n•s p on d l' nd o qtH: n :lo
t' :tpl' n as um a quvsl an dl' s i~ll' lll :tt Í Zii\'<H• d,
'n td lvl ÍIIIL'tHos, co mo propõem di ve rsos auto res. Pa ra Vigolsk i, o ap rendiZild,,
dt >pro(l'sso r, o qual te m~ pa pel central na organi zação do ensino de maneira que
l'"~s ihi litc ao estudante aprop riar~se dessa cultura. A atividade de estudo, dessa
l.':'il:t~ l ar produ z d esenvolvirnento psicológico na medid a cn1 que atua na zona d,
li 11'ma, tc n1 como es pecificidade a constituição de neoformações psicológicas,
d v:-~v n vo l v im e nto próximo c, dessa ma neira, produz neoformações ps icolúgir:1s
t :t is como a consciên cia e o pensamento teórico. Entende~se, assim, o estudante
I hvidov (1 988) ta mbém postula que o ingresso na educação escolar L' 1111 1
1.'11m o sujeito , co mo personalidade integral, não como a soma de capacidad es
tllo tm•n t"o de tra nsformação muito gra nde na vida de uma criança, começa nd,,
bmladas e fragmentadas. Valoriza~se, também, a escola e o professor no processo
1wlt 1 fat o de que há uma mudança em seu lugar social. Mas, além dessa mud nn ,·:~,
dvsl ucn n·H;e as profundas transformações internas: "com o ingresso na escoL. , dl' h umanizacão de nossos estudantes.
'
Apresentados os esclarecimentos sobre o que entendemos como atividade
11 n ian,·a começa a ass imilar os rudimentos das formas mais desenvolvidas d:~
t il' estudo, iremos agora discorrer sobre sua formação, conteúdo e estrutura.
Ct >nsriC•ncia social, ou seja, a ciência, a arte, a moral, o direito, aspectos ligad o~
/\p resentaremos, ainda, como se dá o processo de formação do pensamento
cn m :1 co nsciência e o pensamento teórico das pessoas" (idem, p. 158) 1.
ll'l') rico como resultado das tarefas e ações de estudo. Por fim, traremos algumas
P" ra que essa apropriação oco rra, é necessária a realização, pelas crianças, d1
1o ntribuições p ara pensarmos a organização do ensino tendo em vista a consti~
l llll ti po específico de atividade, ou seja, a atividade de estudo, que correspond1·
111 icão da atividade de estudo .
,1 :tt ividadc humana representada n as formas desenvolvidas de consciência socinl '
Sobre o termo "atividade de estudo" , vale comentar que ele aparece em algu
tnas tradu ções da obra de Davidov como "atividade de aprendizagem" o u "learnhl.~
rtt l ivitiLy" . Entendemos que h á um problema de tradução do termo nessas obras
FORMAÇÃO DA ATIVIDAD€ D€ €STUDO
I' u pt·<l mos pelo uso de "atividacle de estudo". Segundo Davidov (idem), n ão Sl'
Como mencionamos, a entrada n a escola4 representa um marco importante
dvvl' id entificar a atividade de estudo com a aprendizagem. A aprendizagem est:'1 •
no desenvolvim ento da criança, que pode modificar de forma radical sua perso~
IH\'Sl' nte em todas as atividades humanas, e a atividade de estudo tem conteúdu
nalidade. Uma das transforn1 açôcs mais importantes refere~se à mudança de sua
l' vH t rutura própria, diferenciando~sc das outras atividades que a criança reali'zn.
posição social. E' exigido que o estudante em forntação assuma novas obrigações,
organize seu trabalho de forma sistem.ática, assuma novos deveres e direitos. Essas
Alérn disso, na idade e~coln r in icial, a~ crian.ças realizam os tipus
condições fazem com que a escola torne~se potencialmente o centro da vida das
(t1lt

rnerados e outros tip~)s lh.~ ntividade, m.as a principal e que gm'erna 11


r riancas. Bozhovich (1985) sintetiza essas transformacões:
desen\'olvitTle nto é a de estudo: da determ ina o surgimento das princíp,li-, ' '

neoformaçôcs psicológica~ da lcbcle dada, define o clesenvolvimenw psr


Resumindo a caracterização das rnudanças que ocorrem na \'ida da cri<m~
quico geral dos escolares de menor idndc, a formação de sua personalidad~
ça ao ingressar na escola, podemos assinalar a mudança decisiva Jo seu
em conjunto [idem, p. 1'59j.
lugar no sistema de relaçôes sociais acessíveis a ela e ele toda a sua forma
de vida. De~taca-se que a posição do escolar, em \'irtude do ensino geral
A o pção por "atividade d e estudo " é tam bém uma opção política, pois obrigatório c do sentido ideológico que em nossa sociedade se concede
.t t ll:llmente há uma grande quantidade de publ icações na área educacional com ao trabalho' , incluind o ao escolar, cria uma tendência n1tH·al específica
vn foqu e n a aprendizagem infantil como se esta fosse intrínseca às capacidades da
cri:1 nça. N esse sentido, a escola e a atividade de aprendizagem ficam em segundo 4 A referência é o ingresso ao que corresponde ao primeiro ano d o ensino fu ndamental.
plc1 no, há uma primazia da aprendizagem sobre o ensino. A escola e o professor 1 A autora refere-se à educação na então URSS, cm situ ação de socialismo desenvolvido . Defendemos
que a atividacle de estudo é também característica que deve ser fo rmad a nas crianças q ue estudam
pl' rd em sua função nesse processo de psicologização da educação. na escola primária b urguesa, pois o desenvolvimento in fantil deve ser entendido na perspectiva do
gên ero humano, ou seja, tendo como meta as máximas possibilidad es de desenvolvimento em cada
\ As 1raduções p resen tes neste texto são de responsabilidade da autora do capítulo. momento h istórico.
I II I I h1li\M MAI ~ I II J't Al,llliiOA AlliMIHI M~i(lll iA Ql, n I AI t I ((iROl J 111I(IIli 11/At..Ao I IIh I t'IIW:u t:l li 11 li ~AI I HIIII 'li lN! 11VIMI NI 0 111 dUIJILil I '/ :'1

IIII l'rt•.(Hiotltd.uJ· dlll rtoltll;il, ~) l "•tlld[l ll oi l l l I'•" I rl,t '•iliipltlll lll'llll.' 11111.1 I l'Otl! H: v ( ll)HH) l'Xp l il :1 l'I-Sit.., ll':lll hlut 111 :1\' (ll'S ~k 11101 ivu l' nmclu i que a arte
,III\ 11l:Hk tk• .l l>S IIllil,ll, tlll dl' <' llldll'llllll' ll(i l'l lll ' llllllii ltll'lll jlill,l J.ll 'l'jl.tl . tl dt~ l :dtll':l\' ilu (· ju st am~·tHL' 11 ll'illlslornw~·ao dos rnotivos apenas con1preensíveis
, . p:1r.1 n Í11t11ru, t' !>.illl a l ri:m~·a o t ' llllljllo_' <thlt• v 11 " l ' llll' tittllhl'tlt, 1111 1 l.' lll mut ivos dicu zes:
S IJ:t dl' fl':th:tlhar, l'Pil\0 -,11:1
lli'<'IJ"'I'i:l ohng:H,"iitl Jl.ll'flliJI,h :til llfl \'id:t l,ti HH,I!

tPI idiana de fl1dns lidem, p. 1()9]. F uma qu~:stão de o resultado da ação :,er mais significativo, em certas
lundi~·ôe:-, que o moti\'l) que realmente a induziu. A criança começa

!\ at ividnde de estud o nc'Io se forma de maneira naturaL E preciso prepar<1 1' :t fazendo conscienc iosamenre su ns liçôes da casa porque da quer sair rnpi-
ni:tl1\'il P<lrn a o rga nização de s ua atividad e cognoscitiva, e esse é um dos pnpl' t' d a me n te e brincar. N(\ fim., bt") leva a rnuito mais; não apenas ohrerú <I
dn vsro ln nos se us an os inicia is, o u seja , formar uma postura de estudante. 1\ oportun idade de brincar, ma~ ramhé m ::1 de obt:êr u ma hoa nota. Ocorre
llll' lll i t ~·fio da atividade d e estudo é n ecessá ria para que a criança possa assimil ilf urna nova ohj erivação d e :-;uas necessicbdes, o q ue si,gnificH qut: e las s:'ío
,, ro nh cc irTi c nto de maneira sistem á ti ca e voluntária. E, nesse processo, um d u.-. compréendiJas c rn u m nívd rnaili alto [idem, p. 70-7 1].
vlt' tncntos ce ntra is é a formação d e m otivos para o estudo.
Quando o bservamos crianças pequenas, ao final da pré~escola o u nos an ():-. Esse processo de transformação d os motivos conduz ao surgime nto d e uma
i 11 irinis do ensino fundamental (primeiro e segundo anos), facilmente percebe m<>s nova relacão entre afeto e intelecto: "a habilidade da crianca de s u bordinar os
' '
st'll interesse inicial pelo estudo e pela escola . Ingressam com a expect ativa dl· motivos de sua conduta e atividade, (BozHOVlCH, 1985, p. 191). A criança CO ITt e~
aprender a ler e a escrever, de m odo geral gostam d as tarefas propostas e esta ~·a a estabelecer uma hierarqu ia de motivos e a controlar seu compo rtamento.

hL' leccm com o professor uma relação de autoridade: "as crianças ingressam n.1 Fortalecem~se as n ecessidades mediatizadas, especificamente humanas. E o sal to

vsro la com o desejo de estudar, de co nhecer o novo, com interesse pelo próprio qualitativo do desenvolvimento humano, uma vez que a cri ança está aprendendo
con hcci mento" (idem, p. 202). A entrada na escola é socialmente valorizad a, v a controlar seu comportame nto, seu pensa mento e a supe ra r a primazia das nc~
isso produz o in teresse inici a l. cessidades biológicas presente até pouco tempo atrás. Todas essas t nm sformações,

A inda no final do período pré~escolar s urgem novas necess idades cognos • iniciadas na atividade de jogo, consolidam~se na atividade de estudo dependendo

ci 1ivas, a necessidade de adquirir conhecimentos e habilidades e inicia~sc ii


da qualidade das med iações pedagógicas.

r ri nção de uma nova posição social. A s perguntas "por q u e isto?" ou "o que (· Sobre a relação com o(a) professor(a), este representa uma figura de autodda-
dc, que as crianças respeitam c valori zam. As exigências e tarefas propostas pclo(a)
is1·o?", tão típicas da curiosidade infantil, demonstram a força das necess id ades
professor(a) são como leis para as crianças pequenas, o que é mui to importa nte,
rognoscitivas na criança. A questão colocad a 1:10 processo de constituição da
pois elas ainda não possuem as condi ções cognitivas para compreender o sign ifi-
:11 ividade de estudo é como tran sfo rma r a cu riosidade infantil em m otivos p ara
cado de todas as ações rea li zadas em sua fo rmação geral (idem). N esse sentid o, os
n nj)rendizage m: Como surgem essas n ovas necessidades? Como as n ecess idades
de conhecer podem converter~se em motivos impulsionadores da atividade de .
motivos iniciais das criancas em idade escolar vinculam~se fortemente à relacão
'
r:o m o(a) professor(a), e são m otivos predominantemente afetivos. Analisando
t'studo?
ns m o tivos afetivos6 , avaliamos que eles não condizem imediatamente com as
Uma das mudanças produzidas pela atividade de estudo é justamente a
nções de estud o, m as podem ser motivos realmente eficazes se forem considerados
formação da necessidade cognoscitiva e dos m otivos correspondentes. Asbah r
po ntos de partida do trabalho pedagógico e trabalhados como mediações para
(2011) exp licita a formação desses novos motivos necessários para a constituição
tal atividade. O papel do(a) professor(a) n a transformação desses m otivos afetivos
da atividade de estudo. A autora investigou um grupo de crianças e n o to u qu e
cm motivos cognitivos é essencial.
havi a aquelas que iniciavam as ações de estudo tendo como referência motivos
Em torno do t erceiro ano, aproximadamente, nota~se qu e o interesse pela
nfctivos (por exemplo, satisfazer a professora), mas, no decorrer da realização das
esco la e pelo estudo começa a d ecair e iniciam~se os problemas de indisciplina.
açõcs, o próprio processo de realização e os resultados obtidos geravam motivos
h ic rarquicamente superiores no que d iz respeito à atividade de estudo. O motivo 6 Em Asbahr (20 11), com base em d ados empíricos, é d iscutido de forma mais aprofund ad a o p rocesso
passa a ser aprender. de transformacão

d os motivos da atividaclc d e estud o .
I h1IA M MAI 1 ilf HI f\t-1111 I cl 1\ AI!IU\.IJ i I'lU\ M I III 11\ üt 11 1-/\0C I (I 1111 !) 1'!·1'111111, 1\t;Aü IIIIII 1Jllh I JI III I IlHAl I li l I 11 '11 -~IVIII VI MI lHO1'1 .lulllt II I ?II
I '/H

1 1" 11 1 '' L"''uR' 1 11 11 n :11 H'd 1'lv de I >i1vId uv ( I1>H H). l'i11 ·n n 111.1i i i r, 1d n d 11 q 1't • d l' 11"'" 1
t
inq 'll tlld tlllll llt 11H el'l lttd :tlll vs i i : l ~l'l lltld : llt' lll tl:-. pt '<Hvdimvnlos d l· l'l'pnH. Iu ~·;Hl d os
1, 11 III ivid:tdv dv i.'l'l lltd n l' tltll:ll :11 ,1\ 11 l'lt-~1 it' ,l tjl tt j lllt lt• M' l ft 11111 .11111
11.111 d l''il' l l\'t >lvh I< , lll d t~•l tllH'lll ol'i lv<'H·iros. I ):~viduv (idt•tll, p. 178) s inteti za:
ll i l 't 1 l"i : IIH,: I~ quv l'S itH.Iil tl1 "" l'~ro l a pri m:'t ri a htll gllt'"·' ·
( )-, littlit v~ da l·d u ca~·:to hurgues:t, e ntre o utros, rdnvtli ·Sl' ú 0nfasv n:t 1111 '\ ...;~ im, a llL'I.t'"~idadt· da ,ttividndc de estudo estimula os estudantel.' a

IIHII i Zil~ :ln tk conteúdos e ao desenvolvin1ento do pcnsnrnento empírico. Dt"•''' assim ilarL'Ill os conheci m.cntos teóricos; os moti\'OS, a as~imilar os pro-
lll.ttH'ir:t, o l' nsino esrolc1r influe nc ia muito pouco o dese nvolvime n to cognlliv.. ced imcnros de reprodução desses conhecimentos por meio das ações de
estudo, dirigidas para resolverem as tarefas de estudo.
, j <,~ l'Htlldantes.
Jl:11':1 os autores dí1 ps icologií:"l histórico-cu ltural, o ensino escolar pode p11•
1H11du na r n1u ito mais que o d escnvo lvi.mento do pensamento empírico, dvsd, Nesse processo de assimilação8 do con h ecimento teórico, é necessário dife-
t jllt ' :4t~j:t organizado tendo como referê nci.a a atividade de estudo. Isso red in H'tl tl~ tt cia r o método de investigação e de exposição desse conteúdo. A investigação
Hin11:1 (l P<lpcl d.a escola e do e nsin o e pode ser a base para o desenvolvim e111 11 l"t'fl l iza-se pelo exame da diversidade sensorial concreta dos tipos particulares
rlt • movimento do objeto e pela revelação de sua base interna universal. Já a
n 111 ''i L\I c rnl d os es wclantes.
t'\ pos ição realiza-se pelo procedimento de ascensão elo abstrato ao concreto 9 ,
Na escola, incluída a prirnária, é indispensável formar nas criança~ n 11 tH.Io co mo mediações as abstrações e generalizações substanciais e os conceitos
pr(!:-enraçõe~ materialistas firmes, elaborar seu pensamento autCmu1 w •, ti '< 1ri cos. Segundo Davidov (idem), a atividacle de estudo estrutura-se de m an e i.ra
1 tnclhante à exposição do co nhecimento científico, valendo-se do procedimento
melhorar consideravelmente a ed ucacão

artística e estética; elevar o n i \'I' I
ideológico e político do processo didático-educativo, expor com prect .. 11•
,lt• ascensão do abstrato ao concreto.
Destacam-se, assim, duas dimensões d o conhecimento humano: como
os principais conceitos e a~ ideias centrais das disciplinas escolar~s; L'l'l :1
11t"Od uto, resultado das ações m entais de investigação, isto é, como reflexo d a
dicar qualquer manifestação de formalismo no conteúdo e nos mc!tud11
11: :d idade; e como o próprio processo de obtenção desse resultado, ou seja, as
de trabalho pcdagc'>gico, aplicar amplamente as formas e os métodos :11 Í\'tl

ltt;ocs mentais. No caso d a atividade de estudo, os estudantes n ão criam os
de ens ino etc. [idem, p. 170-171}.
(l ll1ceitos teóricos, e sim os assimilam. Portanto o ensino desses conteúdos deve
• ~~~~-~ ~ ruturar-se de maneira que reproduza, de forma abreviada, o processo histórico
N~ssc sentido, o conteúdo fundamental da atividade de estudo são os conhe-
l.lt• desenvolvimento conce ituai.
ci lllc ntos teóricos: "é a ass imilação dos procedimentos generalizados de ação nil
A introducão
, da "tarefa de estudo" como nova unidade de análise na inves-
c~o~ l~~ ra dos conceitos científicos e as mudanças qualitativas no desenvolvimento
IIHf"l.Ção da atividade d e estudo permitiu compreender a atividade d o suje ito n o
pHiq u ico d a criança, que ocorrem sobre essa base" (DAVIDOV; MÃRKOVA, 1987,
.. lll'ocesso de estudo e, assim, desvelar a estrutura dessa atividade. Entend e-se por
p. 124). t oii'Cfa a unidade entre o objetivo da ação e as condições para alcançá-lo (idem).
As premissas da atividade de estudo surgem na atividade de jogo, na medida
A solução de tarefas de estudo confere ao ensino a "exposição de caráter
l' tl\ qu e aquela proporciona o surgimento de interesses cognitivos que n ão podem
problemático dos conhecimentos" (idem, p. 169). Isso significa con siderar q ue
sl'r plename nte satisfeitos com o jogo, o que irá requerer fontes mais amplas 1 apropriação dos conhecime ntos teóricos não ocorre de modo passivo, mas sim
dv co nh eci n1ento que as oferecidas pela vida cotidiana. Mas, no início da vida , nmo resultado da busca autônoma por m eio da resolução de urna tarefa d e estu-
l'srolnr, a criança não tem a necessidade específica de assimilar conhecimentos
lv<'lricos, tal necessidade surge no processo real de apropriação d esses conheci-
~ Os autores soviéticos, em diferentes obras, utilizam o termo "assimilação", q ue não deve ser con-
llll'llt os, durante a realização das tarefas de estudo. Assim, os conhecimentos fu nd ido com o mesmo conceito na obra de Piaget (2007). Para Davidov e Márkova (1987, p. 321),
lv<'lr icos são o conteúdo da atividade de estudo, mas também, simultaneamente, assimilação é o processo de reprodução, pelo sujeito, dos proced imentos historicamente elaborados
ele relação com os objetos da cultura hu mana c a conversão desses procedimentos em formas de
Hu:\ n ecessidade (DAVIDOV, 1988). subjetividade. A assimilação não é, dessa fo rma, u mn adaptação passiva do indivíduo à vida social,
A necessidade da atividacle d e estudo concretiza-se na diversidade de motivos é o resultado da atividad e do sujeito.
vx igidos na realização, pelas crianças, das ações de estudo. São essas ações que l Esse procedimento será mais bem exp licitado no próximo item deste cap ítu lo.
I '/H I hiiA M. MAIIIItl'• NJf III() A Alii~AI III 'I li\ MI I 11111\ (i. li 11\1 .I :1(1 ll~l l) 1'111111111 '1\1,/\lllll'd!IHII:IICUI IIII~I\IIHIIII' 1IIMIIVIMII{1 0 1" 1 1UIIIL11 1'7t)

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11.1111 lt'M'IlVIllvid< 11 :t :\I iv id:ldl' de \.'S ( ud1ll' lll1l:l Ci ll oll~ II' I' I H I ÍI':t I jl 11 jlltdl' M' l li ll' l1l illltl lltiiiH:d nl l'l11os tl..'('lricos. I hvidov (id~.:m, p. 178) sintetiza:
t\:tl' I' I'Í.\1\ ~·as qu t' estudam na escola prim:\ria hurg\ll:s:l .
( )s litHÍIL'S da edu cação hurguesa, entre outros, rd\.·rl' tll ·Sl' ;'1 0 nfasc n :1 1111 Assim, a 1\l'll'ssidadl' da atividadc de estudo estimula os estudantes a
tl Hll'izn<;<IO d e co nteúdos c ao desenvo lvime nto do pe nsa mento empírico. I k:-..•;1 assimilcnem os conhecimentos teóricos; os motivos, a assimilar os pro-
tn :t 11 VÍ ra, o e ns in o esco la r influe n c ia muito pouco o desenvolvimento cogn it iv" Cl'dimentns de reprodução desses conhecimentos por meio das açôes de
d< 1s vs t ud antcs. estudo, dirigidas para re~olv~rcm as tarefas de estudo.
Parn os autores da psicologia histórico~cultural, o ensino escolar podc pn ,
IH ll't'ionar muito mais que o d esenvolvimento do pensamento empírico, d csdt N e~se processo de assimilação8 do conhecimento teórico, é necessário dife-
ljll l' scj~1 o rganizado tendo como referência a atividade de estudo. Isso redinw11 !'1'1\ l' inr o método d e investigação e de exposição desse conteúdo. A investigação
I·I Íonn o papel da escola e do en sino e pode ser a base para o desenvolvim ent1 1 1 ~..~, d i za~se pelo exame da diversidade sen sorial concreta dos tipos particulares
om n i late ral dos estudantes. dr· movimento do objeto e pela revelação de sua base interna universal. ] á a
l''<posição realiza~se pelo procedimento de ascensão do abstrato ao concreto9 ,
Na escola, incluída a primária, é indispen~úvel formar nas crianças n t1·ndo como m ediações as abstrações e generalizações substanciais e os conceitos
presentações materialistas firmes, elaborar seu pensamento autônullll l, h•<', ri cos. Segundo Davidov (idem), a atividade de estudo estrutura-se de maneira
melhorar consideravelmente a educacão artística e estética; elevar o ruw l ~ · melhante à exposição do conhecimento científico, valendo-se do procedimento

ideológico e político do processo didático-educativo, expor co1T1 precis.t P dv ascensão do abstrato ao concreto.
os principais conceitos e as ideias centrais das disciplinas escolares; l ' l'l : 1
Destacam-se, assim, duas dimensões do conhecimento humano: como
clicar qualquer manit~stação de formalismo no conteúdo e nos métud1':-. I'I'Oduto, resu ltado das ações m entais de investigação, isto é, como reflexo da
de trabalho ped<1gógico, aplicar amplamente as f~)rmas e os métodos at Í\'11:, tt•alidade; e como o próprio processo de obtenção desse resultado, ou seja, as
de ensino etc. [idem, p. '170-171 ]. • ,,,·oes mentais. No caso da atividade de estudo, os estudantes não criam os
1'1nceitos teóricos, e sim os assimilam. Portanto o ensino d esses conteúdos deve

Nesse sentido, o conteúdo fundamental da atividade de estudo são os conlw -



,.. ,t ruturar~se de maneira que reproduza, de forma abreviada, o processo histórico
1lt• desenvolvimento conceituai.
c i mcntos teóricos: "é a assimilação dos procedimentos generalizados d e ação rw
.... A introducão da "tarefa d e estudo" como n ova unidade de análise na inves-
,
c:-;fc ra dos conceitos científicos e as mudanças qualitativas no desenvolvimen tu
1 igação da atividade de estudo permitiu compreender a atividade do sujeito n o
psíquico da criança, que ocorrem sobre essa base" (DAVIDOV; M ÁRKOVA, 1987 ,
l'rocesso de estudo e, assim, d esvelar a estrutura dessa atividade. Entende~se por
p. 324).
t oll'efa a unidade entre o objetivo da ação e as condições para alcançá-lo (idem).
As premissas da atividade de estudo surgem na atividade de jogo, na med ida
A solução de tarefas d e estudo confere ao ensino a "exposição d e caráter
c m que aquela proporciona o surgim ento de interesses cognitivos que não podem
111'0blemático dos conhecimentos" (idem, p. 169). Isso significa considerar que
se r plenamente satisfeitos com o jogo, o q ue irá requerer fo n tes mais amplas
1 .1propriação dos conhecimentos teóricos não ocorre de m odo passivo, mas sim
de co nhecimento que as oferecidas pela vida cotidiana. Mas, no início da vida
111tno resultado da busca autôn oma por meio da resolução de uma tarefa de estu-
escolar, a criança não tem a necessidade específica de assimilar conhecimentos
teóricos, tal necessidade surge no processo real de apropriação desses conheci·
Os autores soviéticos, em diferentes obras, utilizam o termo "assi m ilação", que não deve ser con-
mentos, durante a realização das tarefas de estudo. Assim, os conh ecimentos
fund ido com o mesmo conceito na obra d e Piaget (2007). Para Davidov e Márkova ( 1987, p. 321),
teóricos são o conteúdo d a atividad e ele estudo, mas também, simultaneamente, assimilação é o processo de reprodução, pdo sujeito, dos p rocedimentos historicamente elaborados
de relação com os objetos da cultu ra humana e a conversão desses procedimentos ern formas de
s ua n ecessidade (DAvroov, 1988).
subjetividade. A assimilaç5o n ão é, d essa forma, uma adaptação passiva do individuo à vida social,
A necessidade da atividade de estudo concretiza-se na diversidade de motivos é o resultado da atividaclc d o sujeito.
exigidos na realização, pelas crianças, das ações de estudo. São essas ações qu e I Esse proced imento sern mais bem expl icitado no próximo item deste capitulo.
1'1 I1111111 'f\1~/\lllll'd t'll (lt.! I I III IIII lA I UU UIOI ·IIVOIVIMI t J I(i I ''lhJIII!:II I HI
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t1 '< jH' t ll1 11 l' t:l httlll ílll íl ljlll' l'l'i (:'t f'i'\ íld:l III IS iiiSlt'lltrll'IHOS da c ultura.
dv tlm :l sitllil \':ln-probkm :l pruhkm:1 este d~· l: ll .t ll'l t1:11t i111 t' qu~· ir:'t 1 dpl1
No c:I Ml da l'llll t':t ~·no t:srol:u·, a at ividatlc de estudo d esenvolvida a partir da
para s un solu ção, dcte rm i nadas aç(H!S de estud o. \) p:qwl d u profl·ssol' llt''1111
ltHt:l':l\':Hl das c rian ~·as tern demonstrado melhores resultados no que diz respei-
processo é propor tarefas d e estudo que possibilitern
. aos estudantes a n.'l'tlll t 111
''·' :111 processo de assimilação do conh ecimento, por exemplo em situações de
,·ao do rnovimcnto dia lético do pensamento, ou seja, a repro dução d o C:\11111 d!i i
dí'1t llssao sobre a origem de determinado conceito (RUBTSOV, 1996).
histórico de e laboração do conceito, como se fossem "coparticipantcs da' '"''' 11
No processo de desenvolvimento do estudante e de sua atividade d e estudo,
c ientífica". Durante a solucão de uma tarefa de estudo, os estudantes rl' .di~ltlll
' 11111hos sofrem transforntações, o que confere particularidades evolutivas à ativi-
um "microciclo de ascensã.o do abstrato ao concreto como via de assimila,·:\111.1,,
\.Ltdc.• d e estudo. Na idade escolar inicial, o estudante é introduzido à atividade
co nhecimentos teóricos" (id em, p. 179). As investigações soviéticas demot 1st lilllt
i lt• ~·s tudo. Posteriormente, cm uma idade escolar m édia, o aluno já dom i na a
que essa forma de organização do ensino perm ite q u e os estudantes assimil c 111 n
',, ,,,,tu ra geral dessa atividade. Finalmente, a atividade de estudo de estudantes
experiência da atividade criadora.
dt• idade escolar avançada pode ser caracterizada como meio para orientação
Os elementos que compõem a estrutura da atividade de estudo são, scg11 11tl''
,, pt·cparação profissional, o que permitirá a mudança de atividade principal
Davidov e Márkova ( 1987):
(I )J\VIDOV; MÃRKOVA, 1987).
E, no curso de formação da atividade de estudo, surge uma neoformação
1) a compreensão, pelo estudante, das tarefas de estudo;
l'•tcológica especial: "as bases da consciência e do pensamento teórico e das ca-
2) a realização de ações de estudo;
p!iddades psíquicas a elas vinculados (reflexão, análise, planificação)" (DAVIDOV,
3) a realizacão de acões d e controle e avaliacão.
' ' ' ll)H8, p. 176). Nesse processo, o estudante transforma-se em suas relações com
~~ ~ IH objetos de estudo, consigo m es mo e com as outras pessoas, tornando-se
Primeiramente, a compreensão da tarefa de estudo requer que esta l'Slt
1
itl
11jl'ito de sua atividade.
ligada à generalização teórica e possa levar o estudante a dominar as rcLH,I"
generalizadas naquela área de conheci mento. Essa compreensão relacion:l•lil
Esses novo~ tit'10S d e rclacões são neoformacões da ativicbde dt:~ estudo e,
intimamente com a motivação para o estudo, com a transformação da· cri;1n1;11 I" ' '

símult<~neamente, caracterizam a conversão da ''atividadc cm s~u prod uto


e m suje ito d a atividade de estudo.
subjetivo", estreitanh:~ntc ligado com a formação do alunu curno sujeito ela
No processo de formação da atividade. de estudo, o papel do profcsstll r
atíFidacle [ DAVlDOV; M AR]((WA, ·1987 p. 3.31].
1
central, pois é ele quem organiza as tarefas de estudo e ajuda os estudantc" 1111
.. realização das ações de estudo, controle e avaliação. Dessa maneira, o p rofv..,Si "
A formação do p ensamento teórico dos estudantes, nessa perspectiva,
paulatinamente cria situações que proporcionem aos estudantes a auton o tni li
I 1, ·ve ser a finalidade principal do ensino escolar, pois o ensino e a educação
na resolução e proposição das tarefas de estudo e a formação da capacidmll' d,
r•.colar determinam o caráter do desenvolvimento psíquico. A s consequências
estudar.
1 "l~nitivas do processo de escolarização referem-se, segundo Oliveira (1996), a
Outra característica fundamental da atividade de estudo diz respeito a s1111
' •Pl'Ctos relativos à capacidade de operar com abstrações, ao controle da própria
configuração como atividade conjunta, coletiva, tanto por estar medi ada I" I'
1" 11dução cognitiva (autorregulação da atividade de estudo e aprendizagem) e
atividade do professor como por desenvolver-se entre os estudantes. Vale d1111
1 procedimentos metacognitivos (consciência sobre os próprios processos de
que um dos papéis do professor na organ ização do ensino é distribuir as "'' 11
l"' tt sament o).
de estudo de modo coletivo, conforme mencionam os anteriormente.
Embora seja recorrente afirmar a importâ n cia d a escola na formação do
Segundo D avidov e Márkova (idem), a assimilação do conhecimento sen 1p1 \
1u•t1Hamento d os estudantes, a comparação entre escolarizados e não escolarizados
tem, como gênese, a atividade conjunta com outra pessoa, em um processo d1
1n111 demonstra diferencas relevantes (idem).
con1unicação. Essa comunicação pode ter diferentes formas, desde a comunicl\•'' '
IHII
I hliAM MAin 1110. AI·~!] I! I}) A AIII~AI~! I ~t t'IIIIA tl [IJAGG I (I ti u ) Pf'l 111llll 'ACt\01110lÓHICO.GUIIIII(AIIHllli'•I _IMIIVIMIIÜOI 11 ,ICJIJitll I tU

Sq:tII H I I) I ):t\'11111\' ( llJHH), l) l' ll~ i lll l :t i I t:t lt lllt) I l' lfl lt l i(HI ll'tl lill'iH [,,ii l tl llt l :tt di í t. l jll'll~.lllll'llltl llllll_' t•ill l :tl 1' 11 ltl('it• 11\:ll"i :Hit:qll:tt lt> p.ll':l l"llllhl'l'l'l' ;i

d,, I H' IIH :t tii L~ttl't. t tv<'> l'i rt.l, v as pr:'t ti l'n s ped!l gt.',gk:t:: n •HI't'l t tJ(I' III•H e ;\ l(l t'tl Wt.;:ltl t.l.i tt•,did:t,lv l lll l ll l ll.' pt.'III'IT:I 11: 1 t':-.::,(·tlt'i:l itlll'l t la dos o l ljL·t·os, .i<'tq u ~ a natu-
IH' IlS:li1H: Il tul·In pfrico, (Xp rcsso po r co nce itos l' ll tpf t kw. t• t 'tl l ' it l i : ll \o~ . Napr·:'l l i• 11 n.•z:l d~. sscs n:ü 1 se n:\'da na cPntvmplaçüo di reta ~.h: um ou outro objeto
l'sro la r massivn, utili zcHie a exper iê ncia sensorial r o l idi :\1) :1 du~"~ cstudant L's t'"''"' tsoladatnL'tHt.', mas por meio dos n~.·xos e das rclaçôcs que se manitesram
po nto d e pa rtid a n a fo rmação elos con ceitos, mas, co mo não h<\ rees tn t lltt':t~, l t•• 11:1 din;1mtca do uhjeto, em seu desem·oh:imcnto \'incuL-1do a todo o resto
qualitativa da pe rcepção, o pe n sa me nto caminha do senso ri al ao a bstraro (t, 111 d:t rva li dad e. O vínculo interno das coisa~; descuhre-.se com a aíud

a do
ce ito e mpírico), m as não chega ao essencial, ao teórico. tWnsamcnto conceituai, jú que elaborar um conceitn sobre al.~um uhjeto
Ve re mos, no p róximo item , como se organiza esse en sino baseado na fo rn l:ll;t•• significa descobrir uma série de nexos e rdacões
'
d1J ohjcto dado çnm roda
.
d o pe nsam en to empírico e, em o utra p ersp ectiva, a formação do pe nsa ntcttl•• a rl'nlidade, ~ignifica incluí-lo r1o complexo ~istl'ma de fenümenus.
teó rico valendo-se da organização d o ensino proposta por Davidov.
Vigotski (2000, p. 161) analisa o papel d a palavra n a fo rmação d os con ceitos
,. rl.!ssalta o caráter mediad o de todas as fu n ções psíquicas su periores, q ue e mpre-
A FORMAÇÃO DO P€NSAM€NTO T€ÓRICO € A ORGANIZAÇÃO ga m os s ign os com o "meio fund amental d e o ri e ntação e do mínio d os processos
DO €NSINO psíquicos". N o caso do pensamento conceituai, a palavra te m papel central.

M es m o não sendo objetivo aqui analisar p ro fundamente a fo rm ação d ,, No processo ~.k form.a~~ão dos conceitos, esse signo l: a palavra, que cm prin-
pensa mento teó rico , apresentare mos b revemente o assunto, já que a for ma\"" cípio tem o papd de meio na formação de um concciw e. posteriormente,
d esse tipo d e pe nsam ento d eve ser finalidade da escola e é parte co m pom·tllt. torn.a-se seu símboln. Só o estudo do emprego funcional da pnlavra c do
da co nstituicão d a consciência d os estudantes. Assim, discutire mos como ,.,,. Sl'll dese nvnl\'imento, das m últiph1s f(yrmn.s de <lplicação qualitar ivarnente
'
d ese nvo lve o pensam e nto teórico e sua relação co m a organização d o ens ino. dh·e rsas em cada fase etária, ma:-- geneticamente i nter-relacim1ada.s, pode
Ao leito r qu e d eseja aprofundar a com pree n são acerca da fo rmação d o JW it ser n chave para o estudo da formação de concl'itos lidem, p. 161-162].
sa rn e n to teórico , indicamos algum as referê ncias: Rosa, M o raes e C edro (20 I o.~ I

2010b), Nascimento (2010), Bernard es (2006), Facci (2006), Sfo rni (2003),-N (tlll' Conside ra ndo essa grande importâ ncia da formação conceituai para o
(2009), além dos cláss icos Vigotski (2000) e David ov (1982, 1988). desenvolvimen to psíquico d os sujeitos, Vigots ki leva n ta a seguinte pe rgunta
Como vimos, o co nhecimen to teóri co é o.conteúd o d a atividade d e estud(l '" d e pesq uisa: "Como se desenvolvem os co n ceitos científicos na me n te de um a
graças à apropriação desse tipo de conhecimento, desenvolve m-se neoforma~-(ll'l 1 ri ança em processo d e a pren d izagem escolar?" (idem , p. 24 5). Em se us estudos
·psicológicas, como a consciência e a formação d o pe nsamento teórico. A escoln, :\cerca da relação entre pensamento e lingu age m, o autor b usca respond er a esse
na p erspectiva teó rica adotada, d eve organizar o en sino de mod o que prom ov: t 11 questionamento . Para tanto, investiga as diferenças na gên ese e no dese nvolvi~
d esenvolvimento dos estudantes, especialmente n o que diz respeito à fo rm <H,': lt1 mcnto d os con ceitos espo n tâneos e científicos.
do pensa mento co n ceituai. Segund o D avidov (1988), os con ceitos científicos :-;:11 1 O s co n ceitos esp o ntâ n eos são aq u eles gerados no cotid ian o, na comunica-
a refe rência básica do pro cesso d e en sino e co ndição necessári a para a for ma\'1\11 \'5 0 direta d a criança com os adultos, e fo rmados mediante tentativa e erro e
do p e nsamento teórico. com base n os atributos puramente ernpíricos dos objetos; atributos estes não
O s conceitos p odem ser d efi n idos como atos d e generalização, como reprv necessariam en te essenciais. São organizados em um conjunto de relações n em
sentações d a realidade rotulad as por sign os específicos, as p alavras, e determi n; t se mpre conscientes e sistemat izadas. Po rtanto, a cria n ça dificilme n te consegue
d as histórica e culturalmente. São, p ortanto, ferra mentas do pensamento, poi11 l'Xplicar o qu e entende p o r u m conceito cotidiano, n ão pod e defini-lo ; ela não
permite m que o suj eito opere me ntalmente com aquilo que n ão está imediat:r consegue, por exe mplo, explicar o que é "irmão", apenas d á exemplos d e irmãos
n1en te presente. Vigotski (VYGOTSKI, 1996, p. 78-79) explica a importância d,, que conhece. Segundo Vigotski, os conceitos espontâ neos seguem o ca minho
p en sam ento po r co n ceitos: d e "baixo para cima", ou seja, são formados n a experiên cia cotid ian a do sujeito
IH1l I hlll M, MAl C11~1' ~. ANI li I OA /\1!1~1\t,lll MAUilUA Q
l, I) ll\i;GI (OHtu I PI 111111 >l1 AI~ Ao 111:'"ll'll r> c111 11 ~~~"' 1111111 onM 11 vrMI rHo P' •lulm o IH

1:1"'' ' '~ 11 hk 1"'• 1• I p 1 '' 11 H·l1 ' dn t n 11111n i t ·: 1\ 111 1 t 1'' ,., os 1'"' '' '" , h(, "''':1 Jn.:1w 1, d1 a'·1n t 111' 111 1 ,\ l"·.l llll \11:1 d.t~ diM ipllt\,1 '-1 II II eNCII I.Itl ~ ld il'iona l l• :1 C<l ll :-it'ql ll'l) ( l' formn~'t\0
t!lljllllpl'ln~ :·lu d o ~o~ i1~ 1\Í lk:H i o dn nhjvto (vxpn·sHn 11.1 j'liiLI\' 1.t) ,1,, 1W ll ~:t llH' Ill t 1 l' lltpl riru, ni t ll'lllld1 1 t·:tl n l iH'l'pçno cd ucac io n nl.
( )s co nrl•i tos rit- nt lf'iros, l' ll\ ro ntrapartkla, i-1:\0 lo t'tll ll d ( IH 11 11 vscu la p( li 11 11 li i 1 Svgund o I )avid ov (idem), o lipo d e e nsino que vigora na m a ioria das esco las
dv 11111 processo orient:1do, organ izado c t; istc múti co. Sua apropri:t~'(to ro lll l'\':l tttll'l lt'VI I ~\I X' I1 i\H ;\ form ;tç5o do pe nsa m ento cm.pí.rico. Os métod os de ensino, nessa
n rom;c ic nti zação d as ca racte rí sticas essencia is prese ntes na d e fin ição d o ol ,jt •ltl pvrs pcctivn, restrin ge m-se à generalização empírica, expressa por conceitos em-
Esse t ipo de conceito te m início em uma ativiclade m ediada co m o ohjt·tc 1 ,lt pll kos e cotidianos. Ou seja, os es tuda n tes são levados a analü;ar, comparar e
co nhecime nto, e m uma atividade de caráter co nsciente e intencio nal. S:11 1 1111 1 l.tss ifi car diferentes objetos, buscando neles o que há de comu m , as p roprieda-
ma d os mediante procedimentos analíticos e não só com a experiência cotid "''Iii dl'S re petidas, estáveis, que parece m con stituir-se como o essencial na definição
Segundo Vigotski, seguem o caminho de "cima para baixo", pois são aprecn tl,,j,l , 111H objetos em a n á lise. Tais procedime ntos são organizados levando em conta
pelos símbolos, pelas generalizações teóricas, pela v ia do abstrato ao concn·t11 11 rn ráter visual direto, a percepção dos objetos.
Vigotski (idem) considera que os processos de fo r mação dos d o is tipu~ '" Um grave problema dessa organização de en sino é que não são separadas
conceito est ão interl igados. A base dos conceitos científicos são os con rl'lt«•!t 11 tst::une nte as pa rticularidades essenciais d o objeto, a conexão interna de seus
espontâneos e, em contrapos ição, os conceitos espontâneos são reconfigu rad,, ,, ~pectos . Como res ultado, "as propriedades externas dos objetos, sua aparência,
e a mpliados à medida que os conceitos científicos são aprendidos. Facci (2001,, ,1o tomadas como s u a essên cia" (idem, p . 105). O pensamento limita-se à com-
p. 134) exemplifica a relação entre os dois tipos de conceito: I!:\ ração de dados sen soriais, separação das características gerais, classificação
•: inclusão em classes. Ascende do sensorial-concreto p ara o mental-abstrato
Pensemos, por exe1.nplo, no conceitO de fl.or. O indivídUL) (l.prendl' t·.qd ~.~x presso na palavra, restringindo-se, assim, à abstração. Equivo cadamente, con-
dam ente o que é uma flor, ele vê e::;sa flor no jardin1, no \'aso c te111 ~·:.~.[ .ideramos que a capacidade para pen sar abstratamente é o ma is alto nível d e
conceito espontâneo. Essa palavra permite uma generalização, de l<ll tll tl , ll·senvolvimento do pensamento. Davidov (idem, p. 112, grifo nosso) responde
que rosa, cravo, margarida são classificadüs como flor. Quando l'lv '1ti ' essa questão:
para a escola, ao estudar Botânica, o conceito de flor se amplia: dllll,
corola, androceu, gineceu. Suas i.nforma~~ões são ampliadas c ocorre llll ll t Afi pess~1as pensam, pr~dominantcmen.te, de forma abstrata, separandu
modificaçt\o no conceito espontâneo que o sujeito tinha. Esse CLll1n' '" 1 aspectu~ isolados do objeto, que, ern un1a ou outm rebçã~1. :-;~() sernelhantes
pode ser cada vez mais aprofundado, ch egando a um estud o cada vez lll.ll a algum ourro aspecto; es~es n:wmentos bo l ado~ s<io :ltrihuklos a rudo o
específico que compkxitka o seu entendi
. mento do conceito f lor.
.
nhjeto cumu tal. sem se manifestar a vinculação interna ~.le seus aspectos
e particularidades. Pt.'nsar ahstmmmente é o mais fúci l.
Vigotski (VYGOTSKI, 1996; VIGOTSKl, 2000) ressalta que a formação de co11•
ceitos científicos ocorre p lenamente apenas na adolescência. Antes disso, 11 No ensino baseado na generalização empírica, está a usen te o problema da
p e nsamento conceituai está em processo d e d esenvolvimento, m as não atingill 1 11'igem do conte úd o dos conceitos. Separa-se, assim, o conceito de sua história,
s uas máximas poss ibilidades. Como resultado de suas pesquisas, Vigotski (2000) li H·man do-se um pensamento organizad o pela percepção sensorial, pelo aparen-
explica as etapas anterio res de desenvolvimento do conceito: pensamento sincn ·· ll'. Trata-se de um p en samento naturalizador, que descons idera a constituição
tico, pensamento por complexos e pensamento propriamente conceituai. Idstórica dos fenôm enos.
Davidov (1988), d ando continuidade às proposições d e Vigotski acerca d.1 O pensamento teórico, em contrapartida, tem o utro conteúdo e desenvolve-se
for mação conceituai, tem como ponto de partida de suas investigações o segui ll ,lt• modo diferente . Segundo Davidov (idem), o conteúdo do pensamento teórico
te pressuposto: a esco la deve ensinar nossas crianças a pensarem teoricamentv, ~.~ a existência mediatizada, refletida, essencial, que reproduz as formas univer-
Entende q u e a educação e o en sino, na forma de apropriação do conheciment11 'l: tis das coisas. O sujeito opera com conceitos, não apenas com representações
teórico, são as formas universais do desenvo lvimento psíquico huma no. O autot' ,la realidade . Para o autor, expressar o objeto por meio d o conceito significa
analisa, dessa forma, como se desenvolve o pensamento teórico. Exa n:üna, tan1• i nmpreender su a essência.
-
I Kt1 lltliAM, MAIIIIN 11,NJCiUO/\,AIIHAIIII 'IJ &M,\lllllA Y O IA(;Ç I (tlllt, l 1'1 Hl1llli,'MA1llllldlli 111 .11 1IIIIIII1AI UU1Jiliii'IVtii 1 1MI NIO pr,I!IIJI< 11 I tf/

l) CtliH' l'Íitl :ql, lll~(l' nqll i l'tllrlll ti 1111'111:1 ,J• tlli Vi dnt.ir• liH 111td
1
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qual ~L' rl'prudll z '' ohw111 td l'aliz:td,, t.' , -, 11it.tt' llt ll d l· "''"" H · l at;tH'~, qtl i ,lqetn. t) llni vt• r sa lrdl' t l' ·Sl' ;,,., l " '~'~~;l hilid : ld v:-. pot l' IH' ini:-. du h:tM' gt· n t'· t in1 dl' 1111 1:1
em sua unh.lnd~, rl'l ktl'lll <\ uni\'L' t~.dtLhHil' tlll :1 l'"í~.~~ ~~~· i : t tlt• lllli\'ÍIIII ' t ll 1t1t.did:td L· (I ) AVI I )t )V, ltJHH).
do objetn material. O conceito nrua, !'>imu lt.liH'!IIIH' IItl', l'll iii P lut 'lll ;t ,1 !\ p:trtir d ~:sse movim<: nto d<: ahstração do real, e nte ndida co mo ii cu n vx:tn
reflexo do ohjeto material e como meio de sua rcprodu\·i\o llll'lllal , d,· •·11 1 i111pk·s qu e <:stú na base d o co n c reto, pod e~se voltar ao rea l <: n"' sua l'orm;l ro 11
estruturação, isto~. como ação n1.~ntal especial [idem, p. 1261. , . 11~ 1 ! 1. l\widov (id e m, p. 150~ 151) sintetiza esse processo:

Diferentemente do pensamento empixico, que apreende a realidad e pela \ ' ii! No pensamento teórico, o concreto aparece duas vezes: ro mu i Hl J\Iu d<
sensorial, a essência do pen samento teórico está nas dependências in ternas, li"'-' partida da con remplaçâo e da representação, reelaboradas no t'tml'l'it< '• ,.
não podem ser observadas diretamente, mas apenas de forma mediada. N t·~·.n cu mo resu lta do mental da reunião de abstraçôes. [... ] Se, pelo C<llliTi·u i11, 11
perspectiva, o objeto só pode ser compreendido como totalidade, n.ão coJtlll fenôn1eno ou objeto é tom.ado em Ltnidade corno todo, é cx~lminatl<' <'tlt
somatória de partes. Torna-se necessário descobrir as inter~relações dos objt'll 's rdacflo com_Sll<\S outras manífestacôes, com sua essência, com a orit~l'lll
' '
isolados dentro de um s istema. A essa integridade objetiva, Marx (apud DAVIl 1( 1V, universal (leí), será um conhecimento concreto, mesmo que se explt·:..~H'
1988, p. 131) chama de concreto. ·J
com a aJU0<1 cIe. ·"t:
stgnos rna1s a 1straros , e " convenc1ona1s
. . ,.

No materialismL) dialético, essa integridade objeríva, existente I''"


Ainda segundo Davidov, o pensamento teórico provê as p essoas d os n1ei os
meio da conexão das coisas ~ingulares, chama~se o concreto . O concrl'IP 1
1111iversais, historicamente co nstituídos, de compreensão da essência d as mais
I segundo Marx, é "a unidade Llo diverso" . [... ] Mas a tarefa ctn"tsisrv l'lll
,11versas esferas da realidade. É um pensamento baseado na lógica dialética, qul'
representar esse concreto como algo em formação, no processo Lk ~11:1
1tl'l·mite conhecer a realidade em movimento e por contradição .
origem c mediatização, porque só esse processo conduz à compk1a
Rosa, Moraes e Cedro (2010a, p. 7 5) sintetizam as principais características
diversiJade de manifestacões
' do todo. T rata-se de examinar o concn·111 . tlt > pensamento teórico:
em desenvolvimento, e i.Tt movimento, para que se possa descobrir :1
conexões internas do sistema e, assin1, as relações do singular cont ,,
tran:;formacão do saber em teoria desenvolvida mediante cleduc:iu t'
universal. ' '
.,_ explicação; elaboração por meio da análise do papel e da funç8o de ccrt<l
relação entre as coi:;as no interior de um sistema; expressão por diferente:..
O concreto aparece como forma de síntese e não como ponto de par tida.
sistemas semióticos; fundamen tação na transformação dos objeros; nprl'
Sendo assim, a tarefa do pensamento teórico é, por meio do procedimento d~·
sentação de uma torma universal que caracteriza simultaneamente um
ascensão do abstrato ao concreto, compreender a realidade para além de su:t
representante de uma da:-se e um objeto particular; relação entre o geral
aparência externa, isto é, revelar a essência do movimento do objeto. M as o qut·
e o particular; e representarem a relação entre as propriedades do objeto
significa "ascensão do abstrato ao concreto?"
e as suas ligaçôes internas.
Esse procedimento, explicado por Marx (1989, p. 410) n o texto "O método
da economia política", é a "maneira de proceder do pensamento para se apropriar
do conceito, para reproduzi~lo espiritualmente como coisa concreta". O ponto Porém não é em qualquer atividade de estudo que se forma o pensamento
de partida na análise de um fenômeno é a atividade sensorial, o imediatamente lt•úrico. Torna-se necessário que essa atividade seja planejada e o rganizada,
dado, mas, sendo esse representado caoticamente, é uma abstração. A tarefa do tvndo como finalidade a apropriação do conhecimento teórico. Para tanto, a
pensamento teórico é elaborar os dados da contemplação por meio de conceitos, .tl'ividade de ensino do professor e a atividade de estudo dos educandos devem
de abstrações iniciais, que revelam as conexões simples e essenciais do objeto em • Dnstituir~se como unidade dialética. Essa é a discussão do próximo item deste
questão. Na análise de um fenômeno, devem-se separar os elementos que possuern c·npítulo.
IHH I li ~IA M MAli IHI' 1, NH 11 I I I A Al11(Ai~ li Mhitll íi" o.I) I AI ,( I (III(( I) Pll~llllll AI~Ail lll' ti()IW .1, I lliiiii!AI [u tlll II'INr 11 VIMIIHO I" IIIJIJILO I K'l

CONTRIBUIÇÕ€S PARA A ORGANIZAÇÃO D /\11 rll cljlltl, Ccl 11 1tt t' l '~' 11!\' 11lt11'\ tl\ll' l: llll\IHil' lll :\ .1 1 h id:1dt~ t: lll l: cll\1\l ll l, H

A ATIVIDAD€ €M COMUM n·(ntn '''do d11' 11\ oc' , . c/11' o/'t~ltl~ O<'~. a 1mn1 dm ntodos c/<' ac,·cío, a comf>reerlscw
lllltllla {,m tudo clct llltlllttlicctçdo, o f'lanejamento das aç·ões individu ::ti1' em
Para qu e o estudante entre cm atividade, a intcrve n ~'<lu d1 1 professo r é L'Ssl'll busca Lk rl'.mlwJos comnns obtidos pelo processo ele refLexão, entende-se que
r ia! , c este também deve estar em atividade nesse ·caso de ensino. Dessa foll \111, seja possível a superação da individualidade dos sujeitos envolvidos
ddl·ndcmos q ue a atividade d e ensino e de estudo devem fo rmar uma unid :tdt na arividndc or ientada para o ensino e aprendizagem. Pressupõe~se,
d ialéticn (BERNARDES, 2009). na at ívidad e pedagógica, u rn produto coletivo e laborado por m e io de
Segundo Bern ardes (idem), a atividade de ensino e a atividade d e csn1dt, açôes e operaçôes realizadas de fo rma cooperativa pe los suj eitos nu
f'ur rn nrn uma unidade dialética porque têm motivos correspondentes: a hum a11i processo de ens ino e aprcn dizage n1 - e8tudantes c cdu cndor [idem,
z:tçf\o d os individuas na relação co m o gênero humano. Esse motivo expressa sl p. 2.39 ].
d e n1odo diferente em cada atividade, d adas as suas especificidades.
De acordo com Bernardes (idem), a correspondência entre as atividades do
No caso d<1 atividadc de ensino, o motivo é determinado pela nece:-~id,,d, professor e d o estudante somente se torna possível quando esses sujeitos têm
de o ed u cador ensinar o conhec imento teórico-científico elah~n;"l " consciência do lugar social que ocupam na organização das sociedades letradas,
sóciu-historicamente, pn.)movendo a humanização e a transformaçãu d, ,, o que é possível pela correlação entre a significação social das ações realizadas e
esrudantes por meio de açôes conscientes e intencionais definidas n<l lll tr:• pelo sentido d a ativid ade para os sujeitos pertencentes à coletividade.
nização do ensino. Na ati{·iclade Je atmmclizagem, o motivo é ddinido twl.t Independentemente da estratégia pedagógica utilizada, a atividade em
necessidade de o estudante se apropriar do conhecimento sócio-histú rill '• romum e coletiva é essencial na organização da atividade de ens ino. Segundo
tornando-se herdeit"t) cb cultura, humanizando-se lidem, p . 2.39]. Rubtsov (1996, p. 137), a atividadc coletiva é uma etapa necessária e "um m e-
ca nismo interior da atividade individual". O autor postula, basead o na lei de
Para que a at ividade de es tudo forme~se e d ese nvolva-se, as ações d11 l'ormação das funções ps ico lógicas superiores, que a aprendizagem é fruto da
pro fessor são fundamentais. Ta is ações se referem à organização d o ensi1111 interiorização das situações vividas em atividades coletivas. M oura et al. (2010,
q ue crie nos estudantes m otivos para a atividade ele estudo e que poss'ibilitv p. 225) sintetizam o papel da atividade coletiva.
n apropriação do pen samento teórico por eles. Segundo Moura et al. (2010),
o professo r organiza e intervém na relação aos estudantes com os objetos dv lsso se dá quando aos indivíduos são proporcionadas situações que
con h.ecimen.to e, dependendo d e co mo faz a intervenção, produz motivos par:1 exijam o compartilh<unento das aç<")es na resolu ç;'ío d e um<1 deterrnina-
<l atividade de estudo. da situação que surge em certo contexto. Garantir que a ati\'idnde d e
estudo dos educandos se dê prioritariamente dentro de um colcti\'o,
As ações do professnr na organização do ensino devem criar, no estu d:111 busca concrcri:ar o principio ou lei de formação das funçõc~ psíquicas

te, a necessidade do conceito, fazendo coincidir os motivos da ativid:llll superiores elaborado pela Teoria histórico-culmral em acordo com o
com o objero de çsrudo. O professor, como aquele que concretiza oh)' que preconiza Vigotski.
ti\·o~ sociais objetivados no currículo escolar. organiza o en::- ino: d e f i"'
ações, e lege instrumentns e avnlia o processo de ensino e ap rendiz<t gl't u Entendemos que a sistematização acerca da organização das atividades em
[id em, p. 216]. vomum, coletivas, como estratégia pedagógica ainda precisa ser realizada, e
essa deve ser uma das tarefas da pedagogia histórico-crítica. Tro uxemos neste
Scgu ndo Rubtsov (1996), para que essa correspondência ocorra, é necessári11 texto algumas contribuições advindas da psicologia histórico-cultural, mas qu e
q11v l'Studantes c professores estejam em uma atividade em comum. Bernard çs necessitam da m ediação das teorias do ensino de modo que a transformem em
(1()()9) \'Xp l ir a o pnpcl da ativ idade em comum. co ntribuições para a o rganização da prática pedagógica.
lVII l:lüliA M, MAI'IItl'i, N~l•llü 1\ AltHAilll 'l! l\ M. ,1'111 lf\ G D. h\GCI (I li'' •I itll'lfllli/ACAI>III'dt'lHILtl{~l_llllJI~AIIlOill'd INOIVIMI NIOI"iiOlll<.<l 1•_1I

ALGUMAS SfNTeSC::S P ltsl111 ll' n prt' IHiizagl' m w mo u n idnd e d iaktica nu atividade pedagógi c~1. Psicdogia
I 1111lrl1 ,. Fcl11n11 icmcd, Ca mpinas: ABRAPEE, v. 13, n. 2, p. 235,244, dez. 2009. Disponível
Quando se disrut'l' a Ú>rnm~·ao d:1 :1tividadv d v v:·.! llil lt l' lll idíldl· vsnd:11, • 11 11 11 , J,t·t11:// twpsic .bvsalud.org/scielo.php?script=sci_home&lng=en&n rm =iso>. Acesso
fundamenta l te r clareza de qu e esta deve se r pens:1 da l.'f1l s ua di:d(·tk:l s illgltl,ll i'lll l 1 ago. 20 14.
,particulm·,unive rsa l. A atividadc de estud o, co n1 vistas à for m:1çfio do J)l'I1S<IIIIclll ••
I \1 111 H WH 11, L. 1. Lu j)ersonaLidad y su formación en la eclad infantiL H avana: Editorial Pueblo
teórico, deve ser considerada me ta m áx im a d o desenvolvimento human(l 11 11
~· U1 111l'nr iú n, l98S.
vida esco lar. Sabemos que a ativiclade de n ossos estudantes está imersa cm llllltl
I .,1\VIt lUV, V. V. Tíj)OS de generalización en la ensenanza. H avana: Edito rial Pueblo y Educació n,
I
particularidade, em um contexto específico d e organização de escola e de ens1111•,
constituído pelo modo de produção capitalista, que produz determinadas follll il I1.1H L
d e atividade escolar e pedagógica. _ . La enseiianza escolar y el desarroHo psíquico: investigación psicológica teórica y
Na atual o rgan ização do ensino, p o de,se postular que a atividade de estllll •• , 1 • pvri mental. Moscou: Editorial Progreso, 1988.
para m uitos estudantes, não chega a co nstituil·,se como atividad e princ ipal. I 1'
I I \V Il KW, V. V.; MÁRKOVA, A. La co ncepción de la actividacl d e estudio de los escolares.
mos analisado o processo d e alienação n a atividade d e estudo, por exemplo Jlll l
l11 DAVIDOV, V. V.; SHUARE, M. (Org.). La psicología evolutiva y pedagógica en la URSS:
meio da ru p tura entre seus motivos e as ações correspondentes, e os mot iv1'
lllll>logía. Moscou: Editorial Progreso, 1987. p. 316,3 37.
expressos pelos estudantes são apenas compreensíveis, e as ações realizadas ""•'
I \1 :c1, M. G. D. V igotski. e o processo ensino-aprendizagem: a fo rm ação de conceitos.
correspond em a esses m otivos, tornan d o,se esvaziadas de sen tid o . A relação lJ' ll'
I 11 . MENDONÇA, S. G.
L; MILLER, S. (O rg.). Vigotski e a escol.a atual: fundame ntos teóricos
se estabe lece co m a atividade de estudo é uma relacão

alienada. O s contelld t ,,
escolares pouco são co n scien tizados pelo sujeito, po is não ocu pam um lu g:11' ,. Implicações pedagógicas. Araraquara: Ju nqueira & Marin, 2006. p . 123-148.
estrutural e m s ua atividade, e as significações sociais dessa atividade aparecr111 I 11)NTIEV, A. Actividad, conciencia e personalidacl. H avana: Editorial Pueblo y Educación,
como independentes da vida dos indivíduos (ASBA HR., 2011). 1 '>tn.
Em con trapa rtid a, deparamo,nos com contradições na própria organiza~:111 - - · Uma contribuição à teoria do desenvolvimento d a psique infantil. ln: VIGOTSKII,

da ativíd ade pedagógica que indicam possibilidades de s upera ção d essa frag
I , S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A . N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 5. ed. São
m entação entre m otivos e ações e entre significados e sentidos da atividadc d1·
l':lll lo: Ícone, 1988. p. 59-83.
estudo. D efendemos que nesses m o mentos de convergênci a e ntre motivos e açov~
MARX, K. O método da economia política. ln: FERNANDES, F. (Org.). Marx e EngeL~: história.
da atividade d e estudo em formação, o estudante pode estabelece r uma rela~·iH,

'-\ao Paulo: Ática, 1989. p. 409A17 (coleção Grandes C ientistas Sociais).
consciente com o conhecimento e com a prÓpria atividade, no que diz respeitu
à genericidade humana, e esta deve ser uma d as tarefas do trabalho pedagógico: MuuRA, M. 0 .; ARAÚJO, E. S.; MORETTI, V. D.; PENOSSIAN, M . L ; RIBEIRO, F. D. Ati.vidade
produzir a relação consciente entre os motivos e as ações da atividade. 11rientadora de ensino : unidade entre ensino e aprendizagem. Revista Diálogo Educacional,
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5. ed. São Paulo: Íco ne, 1988, p. 103-117.
APilULO 9

A ADOL€SCêNCIA INICIAL

COMUNICAÇÃO ÍNTIMA P€SSOAL, ATMDAD€ D€ €STUDO €


FORMAÇÃO D€ CONC€1TOS

RICARDO '€L€UTÉ:RIO DOS ANJOS 1

N€WTON DUART€2

conhecimentos hegemônicos em psicologia do adolescente estão embasa~


dos em concepções bio logizantes e patologizantes. Tais pressupostos sobre
o1 adolescência contrastam com o ponto fulcral no qual Vigotske e colaboradores

1uncentraram suas pesquisas, a saber, a formação do pensamento por conceitos


1·omo um salto qualitativo nessa fase do desenvolvimento psicológico.
Vale elucidar que os conhecimentos hegemônicos explicam a adolescência
• 1'om base em t:nanifestaçõcs in conscientes e, em alguns casos - como defende o
psicanalista Mauricio Kn obel (1992) -, atrelada a uma ((conduta fJatotó&rica [ ... ]
Inerente à evolução normal desta etapa da vida" (idem, p. 27), bem como por
1'oncepções biologizantes, que concebem essa fase do desenvolvimento humano
romo· perturbações vinculadas à sexualidade, influenciadas por manifestações
hormonais ou por mudanças sinápticas no cérebro, fenômenos estes ocorrentes
na puberdade.
A adolescência, para a psicologia histórico~cultural, não pode ser reduz ida a
.tpenas um processo de mudanças biológicas, naturais, caracterizadas por conse~

Psicólogo, mestre e dou torando cm educação escolar pela U n iversidade Estadua l Paulista "J úlio
de Mesquita Filho" (UNESP/ Araraquara). Integrante do Grupo de Pesquisa "Estudos Marxistas
em Educação". Professor de psicologia na Universidade do Oeste Paulista (UNOESTc/ Presidcnte
Prudente).
1 Professor titular do Departamento de Psicologia d a Educação na Faculdade de C iências e Letras,
UN ESP/ Araraquara. Líder do Grupo de Pesquisa "Estudos Marxistas em Educação" .
I O no me Vigotski é encontrndo na literatura com va riações, tais como Vygotsky, Vygotski, Vigotskii.
A grafia Y igotski será padronizada neste trnbn lho, porém, quando se tratar de referência a u ma
edição especifica, será preservad a a grafia usada naquela edição.
Jl)(l IICIIJ\ M, MAH IINII, NH li LOA Alll~t\1 lll 'fi ~ Mlltll llA I 1 ll I ACGI (lll ~~ 1) PII(IOili. 'AI,.Ailiii'~IOim 11 I lliiiii~AIIIII I II ' II .INiliVIMI NIO I'HIUlJH;o i•YI

\ I' 1\ ' li k~ s !ll d n 111 H'S l ' ll1 v i I' I li dl' d(li'> "I H li' III (I III\ l l'l I II 11 ~ 1.1 ~ I r\1 I I'I ( lt 11 I LI I H•lt.
11
• v I/-(I ,~,., kI d 11 n li v td ndv M ll' i:d, In111 ht'• t11 dt·1111 111i 11 :H los d l' n l'Cl'SS id ndc.·s SliiK' riorcs. O s vd h os
(VYt ii 11 ... 1--1, ltJ<.)(),
3(>) afil'lll:l tllll' <:il't1tiSliiS hiulogb lll/1 t'ijlll\'1 WII III M',l'O ill g l':ll \111
p. i111vrvssvs da i1 1f:1ncia vno ~. 11.-sa p:ll\'\'l' IHio l' surgem então outros novos. Para o
ln·quc.' n r ia , no co ns iderar o ado lescenre simples metH l' ll tn M' l hiol<'lgieo, n:ltlll ~~~ 11 \ll or, a l'XI in ~·:'\o dos velhos interesses e o desenvolvimento dos novos são, par~

I; impo rtan te que se diga que as mudanças biolúgiras ocorridas na adol t 1 ku lnnnentc, un1 processo longo, sens ível e doloroso. Existem períodos de crise

1 (' nrin, ou ern qua lquer outra fase do desenvolvimento humano, não podem"' 1 llo dese nvolvimento humano 5, e a perda dos interesses que antes orientavam a
m·gmlns ou negligen ciadas, pois as relações entre os aspectos biológico e soe ia l 111 1 nt ividnde do indivíduo provoca a necessidade de uma viragem. Não obstante, as
sn humano são de inco r poração do primeiro pelo segundo, e não de elimi na(:'t '' rriscs qu e o adolescente enfrenta marcam o surgimento de uma nova maneira
1HI mes mo separação entre ambos. Discordar das concepções naturalizantes n:itt de pensar, e ngendrada pela atividade~gu ia de estudo, qual seja: o pensamento
s ignifi ca n egar as influências da materialidade orgânica do corpo humano 11:1 por co nceitos e a consequente estruturação da personalidade e da concepção
vida d e uma pessoa. Daí a importância do materialismo histórico~dialético para d e mundo.
n co rreta compreensão desses fenômenos. Assim como nas épocas precedentes (primeira infância e infância), a atividade~
A psicologia histórico~cultural considera que a adolescência, como fase du •g uia na adolescência, segundo Elkonin (1987), também apresenta duas faces:
d esenvolvimento psicológico e fenômeno cultural, tem sua origem na histó1 ia mmunicação íntima social e atividade profissional/de estudo. Porém a identificação
das transformações pelas quais passaram as sociedades, ou seja, as transformaçovs da ativiclade~guia na adolescência apresenta grandes dificuldades, que consistem
dos modos de produção. Um primeiro ponto a ser considerado é o de qu l' n no fato de a atividade do adolescente continuar sendo o estudo escolar. Os ado~
adolescência surgiu em consequência de um determinado grau, historicamente lcscentes, assim como os escolares do período da infância, são valorizados pelos
al cançado, de complexidade da vida social. .1dultos em virtude de seus êxitos ou fracassos na aprendizagem escolar. Elkonin
Em determinadas sociedades, por exemplo, o indivíduo, ao chegar à pulwr (idem) afirma que a ausência de mudanças visíveis nas condições gerais d e vida
dade, era submetido a certos rituais de iniciação que o legitimavam como adul to v de atividade d o adolescente teria levado muitos pesquisadores a explicarem as
Aries (1978) esclarece que até o século XVIII o indivíduo saía da condição de causas da passagem para essa fase como consequência de mudanças do próprio

criança para adulto sem necessariamente passar pela condição da adolescência". • nrgan1smo .
Esse indivíduo participava da vida adulta, crescia em meio aos adultos e aprendi:1 Frequentemente, tais explicações se encontram amparadas na maturação
os comportamentos sociais pelo contato direto. Segundo o autor, foi somentv :-;exual que transcorre nesse período. Pode~se dizer que as dificuldades em iden~
a partir do século XIX que a adolescência passou a ser considerada um a fasv t·ificar as mudanças na adolescência incitaram a produção de muitas pesquisas
distinta da infância e da vida adulta. .. que acabaram por naturalizar essa fase. Elkonin (1960) reconhece que a matura~
Não é objetivo deste capítulo realizar um levantamento das pesquisas nos \'ão sexual exerce influência na formação da personalidade do adolescente, mas
campos da história e da sociologia sobre a adolescência. Essas poucas e rápidas rduta a ideia de que o desenvolvimento sexual seja a principal função nesse
menções a circunstâncias histórico~sociais que levaram ao surgimento da adoks processo. Para o autor, a maturação sexual exerce influência de forma mediada
cência têm unicamente a intenção de registrar a consciência da complexidadv pelas relações do indivíduo co m o mundo que o cerca.
d essa temática e reforçar que um pressuposto central deste estudo é o de q ue :1 Segundo Elkonin (idem), o período escolar médio, ou período da adoles~
adolescência é um fenômeno produzid o pela história das sociedades divididas em t'ência, abarca de 11~ 12 anos até 15 anos. Esse período de desenvolvimento, para
classes sociais, questões que serão exploradas mais acuradamente nos capítulos esse autor, consiste no salto da infância à juventude (15 anos até 17~ 18 anos), por
seguintes. isso essa idade é denominada de trânsito ou de transicão. Embora, como dito
'
Vigotski (VYGOTSKI, 1996) afirma que a conversão da atração (base biológica, anteriormente, à primeira vista, não haja essencialmente diferenças com respeito
instintiva) em interesses é a chave para se compreender o desenvolvimento psíqui· :\s condições de vida da infância - pelo fato de continuar sendo um escolar e
co do adolescente. Os interesses constituem, portanto, o produto da complexidad v

4 O estudo de Àries é aqui empregado não por sua perspectiva historiográfica, mas pelas informaçol'·, S Leontiev d iscorda da inevitabilidade das crises. Em Anjos (2013, p. 99-102), é introduzido o assunto
q ue apresenta. sobre a concepção de crise em Vigotski e Leontiev.
I'HI I hliAM MAl fi INO, NH 11 I t l A All l tAI~ i I MAI(Il fiA!] I) FAGCI (01~1] . ) I'I IWllli.'A~.AI _IIII!III'lllll lll] UI:IUIMI-IJUUIIll iNOI viMI HTOI'',hJllllll I'JU

sua atividnd~,glli <l SL' I' o L':-;tudo , a:-. çomli ~ uvs IH'.,surdu d, d, ,l_'tl\'111\'ltlll:lllt l d" •/lfl' /•l'lllllft' ttu\ lhlo/,.,,, 11111''' 111111/lllfflr ~,, ,. rdelllf/lltll ,,. 1 ""' ''' .u/~rlrm ,. '11111 11

ado lescente se diferenciam muito das do escolar pri''"" 11 1 tlllll/'tlllfltflll~. t·lll O III IIII Jlilli/,•/u\ /'111111/ /1111111\:lln, 1 1111\0111), ~t'J:IIIH/11 n\1'\ illll•/du.,

O presente ca pítulo, com base n os p ress up ostos dv VigtJt :.; ki, Ll'onti t·\, .\IIII.\ ll' ft t l O('\ 1 Cllll ti .\ / 11'.\.~llil.\

Elkonin, entre o utros autores da ps icologia histó ri co-c ulttl l'<l l, amd isn rú, IH IH
tópicos subsequentes, a atividade-guia na ado lescência: com uni cação ín l'illl:t O s urg irnento de um se n timento de maturicbdc, indic::m d o a rnnn i fcst < l ~"; \l l
pessoal e atividade profissio nal/de estudo, bem com o a "função centr<ll tlll tlv seu i lU toconheci mento, deve-se à busca q ue o adolescente tem por u rn mod vl11
guia" (VYGOTSKl, 1996, p. 119), isto é, o pensamento por conceitos nessa fase d" ltkal de ser hun1ano, ou seja, de uma referência adulta.
desenvolvimento hum ano . Vigotski (2000, p. 27) afirma que no desenvolvimento c ultural do i nd ivíd ll ll
i i relação entre o ntogênese e filogênesc é distinta daquela que ocorre no d esL ' I)
vo lv i n1ento o rgâ nico: "lá a filo gênese está incluída em potencial e se repete n:1
A COMUNICAÇÃO ÍNTIMA P€SSOAL llntogênese", ao passo que no desenvolvimento cultural h averia uma "inter,reln<.::~< 1
t'l't~ l" entre filogênese e ontogênese. M as por que inter-relação real? Porque n ;H 1
Com o dito a n tes, uma das faces da at ividade-gu ia na adolescência é ;1 hú verdadeira interação entre o embrião e a mãe, entre o ser já desenvolvido L' <1
comunicação íntima pessoal. Trata-se de uma maneira de reproduzir, com os ~er em formação, ao passo que, "no desenvolvimento cultural, essa inter,relaça(l
o utros adolescentes, as relações existentes entre os adultos. De acordo com l' a forca motriz básica do desenvolvimento".
'
Elkonin (1987, p. 121), a atividade d e comuni.cação pessoal constitui. a atividadv Duarte (2000) assevera qu e essa interação do ser mais desenvolvido COIT\ o
dentro da qual se forman1 os pontos de vista gerais sobre a vida, sobre o futuro, Hc r em desenvolvimento caracteriza-se pela transmissão pelo adulto, à crians·a,
bem como sobre as relações entre as pessoas. Assim, na comunicação pessonl da cultura co nstruída historica mente pelo conjunto dos homens, e tal processo
forma-se a autoconsciência como consciência social transladada ao interior. (caracterizado pela relação di alética entre objetivação e apropri ação), pa ra a
A form ação d as relações sociais na ado lescên cia é caracterizada pelo "código psicologia histórico-cu ltural, é fato r determinante e principal para o dese nvo l
de companheirismo", e esse código tem, para Elkonin (idem, p. 120) 6 , grand l' vimento hu mano .

importância para a formação da personalidade do adolescente. Para o autor, "o Com base nessa premissa, pode-se inferir que, nesse momento histórico-social,
'cód igo de companheirismo' reproduz por se u conteúdo objetivo as nonnas mais o adolescente n ão é mais considerado crianca, muito m e nos adulto. Trata,se d e
'
ge rais das inter-relaçôes existentes entre os adultos na sociedad e dada". uma fase em desenvolvimento, em transição, e tal asserção pressupõe que exist<1
Elkonin denomin a essa atividade de co municação íntima pessoal pelo fato (ou deveria existir) um ser mais d esenvolvido que o adolescente, qual seja: o adulto.
de estar ligada ao sistema de relação criançá-adulto social, caracte ri zada por u m No entanto, o que pode acontecer se a educação esco lar de ad olescen tes,
. modo de comunicação peculiar de reprodução, n as relações com seus coetâneos, por exemplo, apenas apresen tar o seu próprio mund o , seu cotidiano, e n ão
das relações existentes entre os adultos. Em o utras palavras, essa atividade,gu ia um mo delo d e ser humano mais desenvolvido? Se a ado lescência é uma fase
tem como base, n esse período d e desenvo lvimento, determinadas atividades menos d esenvo lvida que a fase adul ta, que referência terá o ad o lescente para o
encontradas entre os adultos, tendo, então, o adulto como referêrtcia. seu desenvolvimento se o adulto n ão lhe apresentar esse moclelo 7? Como antes
O adolescente tende em grande parte a i.mitar os adultos, procurando parecer, explicitado, para Vigotski (2000), a interação do ser mais desenvolvido con1 o
,se com eles em tudo, reproduzindo sua cond uta, suas ações, sua m aneira de ser em d esenvolvimento é fundamenta l para o desenvolvimento desse últimd~ .
proceder. Davidov (1988, p. 83, grifo nosso) escreveu que, De aco rdo com Elkonin (1960, p. 544), a ideia que o adolescente terá de si
mesmo e de seu futuro é baseada nas relações sociais, ou seja, entre seus colegas e
A neofo rmnçfio psicológica centra l d e:>sa idade !adolescênci::d, seg und o <I entre os adultos. Segundo o autor, o adolescente busca um modelo de ser humano
opini ão d es:-;~:;
autores [Elkon in c D ragunuva], é u su rgime n to do Sê:nt i- "nos h eróis das obras literárias, n os grandes homens da atualidade e do passado
ment:o de maturidade como fo rma d e n1anitesracão da auwconsciencü1,
'
7 Essa questão foi realizada em Anjos (2013).
6 As traduções são de responsabilidade dos autores. 8 Para uma discussão sobre o conceito de desenvo lvimento, ver Duarte (2013b).
.
'IIII IIOIAM MAillii·IQ,ANOI I,DA , AOI~ANTIJO &MAI{IIDA!l D. fACCI (QI{tJ) PII~IOIJI, AG/\0 1110'111111< til llllllfU\1 U(l l.ll '(,[ I1NtJLVIMUHO I''II<Jllll o I III

hisl('ll'il'o \.' 11 1\H JW SS()i\H ljllt' 0!-1 l'udc: t t\111 (nH prn l vsH\II'l'l-! 1 n:-. pni !-1 ). t ) H ndoll~H(~{.~ fllt l t'lh t' lll t'l'll'jr1111 , t' lll ~illll ll lidt!l'lll, il n dli<'\'llu d:t m lnpl n\'ilo do ndllll·o no "mundo
du :ldolvHn· nl t•"! N :ttl ~t ~ l'l rt t'HHII 1111 111 :~ lllw.l t: mais cCmwd a, pois dispcn.s8 ria o
11
vec m na vid a c na condu m d l'ss:IH pessoas Ílll <IJ..wns CO IWI't' las p :ll'tl Hl llli lil\'1111
Arcc (2004) mostra que, para rnu itos que traba lham co m edll<.'tl\' :-lo inla11tt l, ud tdl o de qul'stionar o Sl'l l pn'1p 1io Inund o c a si mesmo?
a infância é uma espécie de refúgio no qu al os tld ultos procuram esqu iv;li'·M' d, • Nu ma socied ade ai it:nnda, o indivíduo chega pouco desenvo lvido à fase
enfrentamento com. a realidade alienad a da socied ad e. Assim , n ilkn li z:H;:1o d n o~dultr1. Da í o cí rculo vicioso, pois esse adulto é quem, a rigor, será o ideal ele ser
infância torna-se uma espécie de fu ga por parte d o adulto, que nu tre um se 11 1t l1umano apresentado às futuras gerações. E, se o adu lto 11ão for desenvolvido,
mento nostálgico, como se a infância fosse um paraíso perdid o. N essa vi:-;:11 1, '' t 1hviamente a concepção que ele próprio terá não vai ser a de que o adulto deva
melhor então a fazer é deixar que a criança d esenvolva-se de maneira espontci 111 11 M' l" mais evo luído que o ado lescente. E esse pensamento pode refletir-se na edu-
e livre, evitando-se tod a forma d e ensino que possa antecipar o fim desse perí(H 1,1 cação escolar, reduzindo sua prática às necessidades imediatas d o adolescente
mítico da vida h umana. (1\NJOS, 2013).
N o caso da adolescência, também parece estar ocorrendo esse fen ôrn t•J111 Diante da primeira atividade-guia n a adolescência, a comunicação íntima
d o não enfrentamento, por parte dos adultos, d os aspectos problemáticos (I,, pessoal, Elko nin (1960) enfatiza que o tra balho pedagógico deve pautar-se no
relações sociais no capitalismo contemporâneo. A adolescência (consid crall:t grupo ad olescente, e não apenas no indivíduo isoladamente, considerando que
pelas concepções d o minantes, na atualidade, uma fase "semipato lógica" ela vi dn :1 o pin ião dos adolescen tes sobre si e sobre suas qualidades coincide m ais com
humana) não desempenh a a função de imagem de um paraíso perdido, m :11-o :1valoração que seus colegas fazem, e nã o no que pensam seus pais o u profes-
se m antém a atitude de separação em relação à vida adulta e de naturalizal;il< 1 sores. A educação escolar d eve trabalhar sobre o grupo, pois é d e aco rdo com
d o desenvolvimen to. Se, no caso da infância, o d esenvolvimento deve scgll ll d e que o ado lescente vai agir. Vale frisar que a opinião social da coletividade
seu curso natural para que a criança aproveite ao máximo essa fase da vida, nn escolar adquire uma importância significativa para os ad o lescentes. A princípio
adolescência também o desenvolvimento deve seguir seu livre curso, mas, ness(' ele se vê "com os o lhos dos outros" . Portanto, se o processo educativo estiver
caso, o objetivo seria o de se evitarem os conflitos entre adultos e adolescentl's. hem organizado pelo professor, será um potente m eio para um a ed ucação
Seja com o for, estamos di ante d e co ncepções q ue mitologizam a infância t .' • d esenvolven te .
a ado lescência e as desconectam elas características (positivas o u negativas) d:1 A partir do processo anteriormente descrito, Elkonin (1987) afirma que

vida adulta na sociedade contempo rânea. Essas concepções, que silenciam sobi·v surgem as premissas para que se originem novas tarefas c motivos da atividade,
as relações entre a vida adulta e as fases anterio res da vida humana, não deixan1 convertendo-se em atividade dirigida para o futuro, adquirindo o caráter de
de guard ar relações co m a mito logização da mo rte, nesse caso, difundindo a atividade d e estudo voltada para a futura atuação profissional. Esse é o objeto
crença na vida após a morte, na eternidade etc. A fase adulta é tida como a fasv da análise a seguir.
de muitas res ponsab ilidades, a fase do trabalho , na qual é vedada a diversão e a
alegria, a fase que caminha para o envelhecimento. A fase da velhice também t:
desprezada por conta da ideologia capitalista na q ual compreende que essa etapa A ATIYIDAD€ DE: E:STUDO
do desenvolvimen to humano não é mais produtiva.
Diante da asserção apresentada anteriormente, surge então outra questão: A atividade de estudo na adolescência, de acordo com Elkonin (idem), é
Qual a referência que tem o adolescente para seu desenvolvimento? Torna·Sl' caracterizada pelo motivo funda mental d e estudar para preparar-se para o futu-
problemática a form ação da concepção de mundo pelo adolescente porque ro . O adolescente começa a descobrir o significado do conhecimento científico
ele v ive numa sociedade alienada e os adultos lhe apresentam visões também e, consequentemente, dese nvolvem-se os ch amados interesses cognoscitivos
alienadas de mundo. científicos.
Não se constata, nas literaturas analisadas sobre adolescên cia, a existênci;1 No entanto , as discip linas ministradas na escola são valorizadas conforme a
d e uma discussão crítica sobre o ad ulto na sociedade capitalista contemporânea. futura profissão. "Quando se pergunta qu ais são as matérias mais interessantes,
Não seri a por isso que as soluções apo ntadas para o relacion am ento com o ado recebem-se as seguintes respostas: 'gosto, sobretudo, das matemáticas, e o q ue
;o 1-lel!!\ M MAIHINU At,JC •I 10 A Atli(fll:lll 'fI ~ Mf\f~llUA (~ I)JAGGI (ÜIW ) PI ·1(11:11)11/\CAü III:J111I'It 111 til llii(A.I I)OI it UI INO! VI MI NlO p(;IOUii:fl 'li \

1H1• 111 111 w"'' t t 1 t'• rt 1111 illllllll 11, 1H 11 q 11 v 11111 H' ii st~ rei lllt~d lt.'l ,', 'tlt pt.~ 111l1: d11 1 111 t · 1H· tt •ü i I 'IIH 't 'I~Ho dv dt'M'IlVId v l ll ll'rtltl dtl rliltl lt•Hn ' llll', <III M 'iil, I'Hd:t c·n l lll'éldi~·;to L' llll'l ' l\

" t' l 11,1 Vld, 1'" ( l i 1 lN III V, [t)()(), p. ) I) n. IHI\',1 lolll\il dl· p<.'11Si lllll'11lu qtll' vst'i'l ~· 111 dvM·nvolvimc nlo (o pensamento por
() rn:linr dv~·ml"io dn edtt<.'n~·no esco lar ~k adolt'M t ' lllt'H t' n de con s~·guir, :tt• t·u l ll;t:itos) ç o lato dv que l'SS L' novo cst ~\gio do pensamento do ad o lescente é
IIW14 1llu tvrnpo, prep:\rar rla ra :1 atunção n o mundo do tl'i\l)<d lw l' não li1 nit :11 nl t t~ Lt 1\HlÍt·o inst;\vcl - c o ado l e.sc~ ntc n ão co nsegue, a princípio , lidar com tudo
:1 fnrnla\·ao do i nd ivíd uo a um processo d e adaptaçáo a esse mercado, ú lt'lgit :1 '· ' qlt l' d eseja. O adolescente está aprendendo a pensar por conceitos, e seria
dn vnpit:ll c ú ideologia b urguesa. Isto é, trata~se de não se limi ta r a forma ~·: 1 11 t lt~ r ll i\is exigir que el.e j á pensasse dialeticamente, p or isso acaba demonstr ando
dn indi viduo a un1 processo d e reprodução da força d e trabalho se m, co nt ud11, \IIII;\ uni late ralidad e de pensamento: "ou é isto ou é aquilo". Daí a necessidade

ignorar o fato de que vivemos numa sociedade capitalista na qua l boa partt' tLt , lt· um sistema ed u cacio n al que tenha uma o rientação intencional para o desen~
humanidade precisa vender sua força de trabalho para obter os recursos ll l'll'~, vn lvi ITtento do pensamento dia lético, exigindo do adolescente a superação da
H:'1rios 1\ sob revivê n cia. 1·11 l visão m aniqueísta d e mundo .
Entretanto, limitar a educação do ado lescente a uma mera adaptação :111 Vigotski (VYGOTSKJ, 1996) mostra que existe um a contradi ção entre o q ue
nwn.:ndo de trabalho ser ia abdicar da luta pela superação da sociedade capital is " l' apresenta ao adolescente nesse descortinar~se d e um mundo m a is amplo para
t:t, da divisão social do traba lho e da alienação. Uma educação que favoreça o vle e as possibilidades de seu pensamento, q u e está dan.do um salto gigantesco
p1·ocL·sso de formação de uma individualidade livre e universal (DUARTE, 2013a) 110 plano do pensame nto por conceitos, m as não pode dar o salto no plano do
dvv<.' posicionar~se criticamente em relação à lógica do capital e criar nos alu no,. , pensamento dialético. Para o autor, existe uma "insuficiência de dialética no
a IH;ccs:;idade d e apropriação das produções humanas mais elaboradas, como a pensam ento do adolescente" (idem, p. 68).
cil'ncin , a arte e a filosofia, uma vez que os conhecimentos científicos, artísticos v Ressalta~se, n esse momento, o desafio da educação escolar d e adolescentes,
nlosóficos produzidos ao longo da histó ria do desenvolvimento humano, quando pois o pensamento dia lético não está amplamente difundido na sociedade e nos
l'mnsm it id os pelo professor e apropriados pelos alunos, contribuem d ecisivam en te campos d as ciências, da filosofia e das artes. E, por consequência, o ad olescente
para urna relação cada vez m.ais consciente com a cotidianidade, mediada por raramente se depara com modelos de pensamento dialético.
vssas produções huma nas. Esses fatores são necessários para a estruturação da Para Elkonin (1960), o conteúdo d e estud o do ado lescente exige novos
concepção de mundo do adolescente e para o desenvolvimento de su a perso na~ métodos de ensino. A ed u cação escolar deve incitar o aumento da indepen~

l idnde. Tudo isso sob a base do p ensamento por conceitos. dência do adolescente. O adolesce nte d eve, agora, preparar su as tarefas se m a
Elkon in (1960) afirma que umas das particularidades dos interesses do ado~ aj uda d os adultos, deve organizar seu tempo e encontrar m e ios para resolver
ll·sccnte é seu caráter ativo, conduzindo, a lgumas vezes, ao desp rezo dos conhe~ suas atividades.
çj m c n tos c ientíficos e técnicos por considerarem que estes n ão têm significado .O aumento da independência, segundo o autor, "desenvo lve os aspectos
pr:\t ico. A escola, desse modo, deve fazer o seu papel para o d esenvolvimento positivos da personalidade (tendência a um fim d ete rminado, constân cia, orga~
ps íquico do adolescen te, produzindo necessid ades de conh eci m ento sistemati~ nização, disciplina)" (idem , p . 540). E isso só ocorre quando, ao mesmo tempo,
zmlo nos a lunos, consi.derando~se até m esmo o importante papel das etapas d e aumentam~se as exigências e res ponsabilidades. Quando n ão há exigências

~·sco l a ri zacão
' .
na criacão de tai s n ecessidades. elevadas e a responsabilidade pelo trabalho é insuficiente, prossegue Elkonin,
Além do pragmatismo já citado, o ado lescente também tem inclinação para "a independência do adolescente conduz à fo rmação de aspectos n egativos da
ideias metafísicas e ro mânticas. Vigotski (VYGOTSKI, 1996) identificou que a lguns personalidade (a inconstância, a desorganização, a falta de responsabilidade, a
nu tores da época, como Blonski, constata ram que, por um lado, o adolesce nte falta de disciplina etc.)" (idenl , ibidem).
manifestaria interesse pela m atemática, pela física e pela filosofia, nu ma busca de Para Elkonin (idem), as exigências d o meio social impostas ao adolescente,
compreensão racional e lógica do mundo , mas, por outro, revelari.a um "romantis~ bem como as novas responsabilidades a ele confiadas, são fatores determinantes
m o d as ide ias", no sentido de idealismo, d e dificuldade de lidar com a realidade. no desenvolvimento psíquico nessa idade. O nível alcançado pelas possibilidades
Alguns desses autores tentaram explicar tal contradição por meio d e cau, físicas, intelectuais, vol itivas e morais da criança cria as premissas necessárias
sas biológicas. Porém Vigotski discorda e defen de essa p ostura pela análise do para que se mude fundamentalme nte a situação do ado lescente na sociedade.
LI~IA M. MAittii·P •. AIH li IDA AIii (Aí~ iL h &Mflltll Ul\!:1 U I ACCI (01~1]) •
1
ll1l PI HIIJIII, AI;ÃO 1119TÓ1l1GI}CUU UHAI OU UII 1! NVOI VIMf.NTOI'',IIJIIII I I 'li

I 'HHl' id\:llt'i l'lt•t l\1 (jl l l:, 1111 ('~H'( )li\ Ipi Ill lltl
lll lt"tl l' S( IVI(t lcll, fiH t liMl t·l'l ll \lll ll l t•h I II H III l'
I h 'HIW llll ldt>, :l v dtl l'll\' lllii'Mt nl11 1', lltl lll' l ll ltlpvl dt• JIH.'di~tdtll'ilt.' llll'l' 11 C<ll i< li niHI
mI<1lvsn ·11t\' s t li fi.: rv 1\ ri: 1vn 11 HIL' lll li i t <, d:1 q li v las I 1·: 111 s11 1it Id1111 111 11>~ t'IH'< ti III'<'H d<• 11 H' IH 11 u t> l'll\ :-n ta 1nrd~ 1 l'tdnn l :t iTans mi ssr~ o d os co nt\• t'td os cl:'tssicus,
1\ i l<t cn lldi:tJ1 0, l l'll\
idCide. l~ m virtude d o mai o r g rau d e comp lexid ad l' ll ils diHd pli11ns L'Scolarl's, :t · ~ ~ ~ ll' l11 ;\tiZildos, imprescind lwis para a f(mnação do pensamento por co nceitos.
leis gerais d a realidade co meça ra m a ocupar um lugar impo rtantL', manifestad.~ i
1 ~:-.M' (· um importante ponto para o d esenvo lvimento psicológico n a ado lescência,
no sistema d e conceitos de cada ciên cia. Ou seja, as di sciplinas escolares t r:1 ns p()is, parn Vi gotski (VYGOTSKI, 2001, p. 214), "a to m ada de consciência vem pela
mitidas aos adolescentes, segund o Elkonin (idem), exigiam q u e eles aprendcssvltl IHll' t'~l dos co n ceitos cientificas".
muitos conceitos abstratos, conceitos que possibilitam ao adolescen te saltar da O pensa me nto por conceitos n ão se pode formar na adolescência indepen-
experiências sen soriais imediatas com o objeto p ara a ideia d o objeto, para 1,
d vntemente d a qual idade da educação escolar. Sem a form ação do pensa mento
conceito . Segundo o autor: po r co n ceitos, se m a capacidade de trabalhar com abstrações, o adolescente não
IK' desenvo lve, não tem condições d e amp liar a autocon.sciência, não avan.ça em
Decisivamente, a absrraçüo do concreto é distinta nas diteren.tes disciplitt:t di reção ao para si de sua personalidad e (D UARTE, 2013a), não forma sua concep-
em umas é maior (na geometria, na álgebra, na gramática), em ou\l.t .. , <;ao d e mundo . E nessas circunstâncias o adolescente to rna,se presa fácil de todo
menor (na história, na geografia). Todavia, sc>ja o que forma o carátcr da tipo de manipulação, pois entra em conflito e busca ansiosam ente saídas desse
conexão que há entre os conceitos abstnuos e os objetos concreros, o maJ•, vs tado de crise permanente. Daí radica a importância da educação escolar no
típico e novo que contém o~ conhecimentu~ que adquire o ndolesc~ntl' \ d esenvolvimento do pensamento por conceitos.
a abstração d() concreto lidem, p. 5 36-5 37 ].

Além disso, o desenvolvimento da linguagem tem um enorme s ignificado A FORMAÇÃO DE: CONCE:ITOS
para o desenvolvimento psíquico dos adolescentes. A assimilação das for mas
mais complexas de o rações, com a utilização de diferentes conjunções (embora, Resta-nos diza cfue tC'mos dedícado tanta atenção ao clescrwolvimento
porém, que, porque, entretanto etc.), particípios, gerúndios, entre outros, cria •
do pensamento J>arLJtte não podemos considerá-lo em modo algum.
"uma base para designar variadas dependências complexas entre os objetos l' co1no um dos tantos processos parciais do desemrolvimcnto na idade

fenômenos (relações causais, funcionais, condicionadas etc.) que são objeto de de:: trcmsiçôo. O /Jensarncnw nessa idade não é uma função a mais
estu do das matemáticas, da história, da geografia, d a física e de outras disciplinas" entre as ou.tras. O desem•ult•imento do fJensamento tem um significado
(idem, p. 541-542). central, basal, Jecisit•o para todas as funções e denwis processos. Com
Luria (2010, p. 70) afirma que "não há dúvida de que a transição d o pe nsa a finaliJack de expressar de modo m.ais hrcvc c elmo o fJapel central do
mento situacional para o pensamento taxonômico conceituai está relacionada a descno..dvimento intd2ct1ud [Jam toda [lersonalidade <
.lo adolescente e
uma mudança básica no tipo d e atividade em que o indivíduo está envolvido". todas as suas jimções t>síquicas, diremos que a aquisiçâo ela função de
Ou seja, enquanto os conceitos es po ntâneos formam-se na prática cotidiana da formação de conceitos COJWirtti o ponto principal de todas as mudanças

criança, o desenvolvimento dos conceitos científicos, d o pensamento conceituai, que se produzem na psicoLogia do adolescente. Os elos restantes
d ependerá das operações teóricas que a criança aprende a realizar na escola. dessa cadeia, todas as demais {unções jxm:iais se in tdectualizam,
Pode-se inferir que a formação dos conceitos científicos na adolescência transformam-se e reestruturam-se {)ela influência dos êxir:os decish•os
dependerá da ativid ade na qual o indivíduo estiver inserido. E, de acordo co m obtidos jJelo pensamento do adolescente.
Luria, o professor deve "programar" esse conteúdo, ou seja, a atividade docente \IYCOTS~J, 1996, p. 113
deve ser intencional, direta e não espontânea. Vale acrescentar que não se trata
d e qualquer conteúdo, mas se o objetivo é a formação de con.ceitos científicos, Entre todas as mudanças que ocorrem na passagem da infância à adolescência,
os conteúdos esco lares devem ser aqueles que Saviani (2011) chamou de "saber as correntes psicológicas criticadas por Vigotski (idem) destacavam apenas o ponto
sistematizado". mais superficial e visível, qual seja: a mud ança d o estado em ocional. O a utor fez
'1111 l lf•liAM. MAIIIIN't,At l! •ll üA 1\lii{AIIli 'II AMI\JIII IU\ Ül IJ, I·AGCI ((11 ~1 1) 1'1 IW11 li 'AI ,f\ll llllll t lHil l l l :1IIII JI ~AI 1111 111 'til fNI II VIMI Nll t l"11l.11 IILO
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11111 :1 lll li l .1 :\s ll'll l'i:tS dt• Sllíl ~ I HH 'l l lj lll' lll ll.'> ldl' l'.l\',1111 ljlll ti , tt"! lttl.ll ll, .l" p~ lq111 lll d iv id ttnl Slll'gt' lll r'111 H;ovs p~ lnl l t',~rl e:l s IH>V:ts l' ~ llpl' r ion:s , indis pe nsúv-..: is ú a m-
c:ts tHI :tdu lvM\ .' 1\IV vs l:ttt:tl ll p:tlll :td :ts :1 pvn:1s tH'S'>l' ·'"IH.' t'll l, lma1, p:11 :1 Vl ~~~~r~ lu . pl iii,': H> dos ho rizo nt -..: s cultur:li!-i co lc tivos c indiv id u a is.
'> ig11i lica ol har o fton() m e no dl' r ahl\'a p<lra h<li xo . lilv t lt•si:H:I qth: , :ln r o11lt.ll lt• A nova l(mTH\ de pe n sarnc n to q ue caracteriza a ado lescên cia é a formação de
do q ue afi rm.avam tn is reorias, a criança de tennl idade(· um sn e mincnt-.: II H' Itl• roncciws. Pa ra V igotsk i, o pen same nto p o r con ceitos é o passo para uma fo rm a
e 1noc io n a l, ao passo que o ad o lescente, sobretud o, é um se r pe nsante . 11ova c supe ri o r de ativ idad e in telectual, um m odo n ovo de con d u ta e a chave d e
V igotski (ide m., p. 50) ide n t if icou q ue as teo rias psicológicas p red ominall ll ' lod o o proble m a do d esenvo lvime nto d o pen samento . A fo rmação d e conceitos ,
nas primeiras d écadas d o sécul o XX n egavam o s urgimento d e n ovas form as d, n a ad o lescên c ia , e n co ntra-se n o centro d o d ese nvo lvime nto d o pen sa me nto e
11
pe nsamento na adolescê ncia . Essas teo ri as d efe ndiam que todas as m uda nt,·:,s 1111 t rata-se d e um processo q ue represe nta na realidade as autênticas muda n ças re-
p en samento do adolescente resumia m-se a um avanço ulterior pelas vi as já t r;H;:I vo lu c io nárias tanto no contet1do como nas formas de pensam ento " (id em, p. 58).
das no pensamento da criança , o u seja, tanto no adolescente quanto na cri an ~·:1 O adolescente, por m e io d o pensamento por conceitos, avan ça n a com-
de tenra idade, a forma d e pe nsa r era a n1es ma, havendo mudanças ape n m; " ', preensão da realidade e m qu e vive , das p essoas ao seu redor e d e si m esm o . O
co nteúdo do pensamento . pen samento preso ao imedia to com eça a dar lugar ao pen samento a bstrato , e
Estabelecia-se, d essa m an e ira, uma ruptura entre forma e conteúdo d e pcns:1 o conteúdo d o p en samen to d o ad o lesce nte converte-se em co nvicção in te rna,
m ento . Dia nte d essa visão du a lista e metafís ica, a psicologia tradici o n al defe nd io1 c m o rientacão
, d os se us inte resses, e m n o rmas de co nduta, e m se n tido ético, e m
q ue a diferença entre o p e nsame nto d o ad o lescente e o da criança res umia-se ao se us desejos e pro pósitos.
fa to de q u e as mesmas formas d o pe nsa m ento passavam a ter conteúdos difere n tl''>. D e aco rdo co m os resu ltados de su as pesq uisas, V igots ki (VYGOTSKI, 2001)
A pro posta d e V igotsk i para a superação d essa dico to mia apoia-se na coll · evidencia qu e o dese nvolvimen to do pen sam e nto po r conceito s atravessa vários
cepção dialética da relação entre fo rma e conteú do. Para o a uto r, portanto, "llln estágios, q u ais seja m: o estágio d o sincretis m o; o est ágio do pen same n to po r
con te údo novo não pode s urgir se m fo rm as n ovas" (idem, p . 54). E m o utr:1 complexos; e os co n ceitos p rop riame nte d itos. Da p rime ira infâ n c ia até a idad e
passagem, o auto r asseve ra q u e "é muito característico de to do siste m a dualíst iro pré-esco lar, a criança ope ra cognit iva m ente co m ag rupam entos s i n c réticos,
e m etafísico da psico logia a ruptu ra e ntre a evolução das formas e o co nteúd< 1 • pensamento p o r complexos c co m p seudoco nceitos. Segundo o a utor, a fo rma
do pe nsamento, já que [tal s ist em a] n ão sabe representá-los em s ua uni d ad<.'
s uperior de pensame n to co n ceitua i torna-se possível apenas na ado lescê ncia.
d ialética" (idem, p. 51) . No entanto, é preci so sin alizar que o d esenvolvimento, segundo Vigotski,
Vigotski considera tosca e primitiva a visão contida nessas teo rias, p ar:1
é superação por incorporação ta nto do legado da natureza qu a nto d a própr ia
as quais os novos conteúdos d8 vida d o adolescente, por mais importan tes l'
cultura. Isso qu er dizer que a fo rmação d e conceitos, a co n cepção de mundo , a
revo lucionários que sejam, cm n ad a a ltera riam as formas de p ensar, que seri am
estab.ilização d os traços d e perso n a lid ad e, o auto co ntro le d a cond uta , n ão prin-
co mo um recipiente n o qua l n ovos co nteúd os seriam intro duzid os sem provocar
9
cipia m na ad o lescên cia, dado q ue, a n osso juizo, faz-se n ecessá rio compreende r
m o dif icação do pró prio recip ie nte .
as co nquistas da adolescência como coro lário d a q u alidade dos pe riodos vividos
Contrapondo-se a essa visão, Vigotski afirma q ue ta nto os con teú dos como
anterio rmente.
as fo rmas d e p en samento desenvolvem-se histó rica e dia leticamen te, isto é, q ue
Não obstante o tratame n to já dispen sado nos capítulos a n te rio res deste
t anto n a histó ria social d a humani dade com o n o desenvo lv imento psicológico
livro à periodi zação histórico-cultural da fo rmação d e co n ceitos, retoma mos esse
processo ten d o e m vista evid e n ciar o salto qualitativo que m a rca a complexidade
do pensamento n a ad o lescê ncia.
9 Embora Vigotski, nesse momento , não toque na questão pedagógica, suas co nsiderações sob rl' A primeira fase, o u seja , do pen sam ento sincrético, é própria aos an os inicia is
o caráter mecânico dessa concepção - segundo a qual as formas não se alteram perante novos
conteúdos - podem ser tomadas corno po nto de apoio para a critica a teorias corno as d e Piagct c de vida. Como aponta Martins (2013), n essa fase a imagem s ubj etiva do mundo
de Oewey (EmT, 2009), para as q uais o d ese nvolvimento do pensamento não sofre in flu ência do resume-se a u.m "agrupame nto sin crético" mental. A imagem subjetiva não po d e
processo de aqu isição d e novos conteúdos. A d iferença é que as teorias de Piaget e de Dewcy não
ser "nítida" na ausênci a d o sig nificado da palavra. Como o conce ito se d enom ina
consideram imutáveis as formas de pensame nto, rnas, de qualquer maneira, consideram que tni!>
formas são independentes dos con teúdos. com a palavra, e fora d ela n ão pod e existir, a ausência do signifi cad o d a pa lavra
•oH I h11A M MAitiiN:I, AN< 11 Iü 1\ /111111\Li li Md III IA li li I A< .(I (IIW I ) 1'1111!llll 'AI~'Ar l llll•l< li'H;o < lllllllll\1 llt I lll{tiJIVIll VIMI Nl{ li 1Hh.lllll :1l I (IIJ

1\'~ I dI II I rn~ nli l lllll~ n I \) In l(ull'i II pot' c't ltllpk·x\ IH, qu e• H!.'l',"' l l' I Hit' ~k·sdl' u t ~ rmino cln primeira infnncin a té o
11
I \1 I 11111 I I I \ 1\ Hl' ll\ , , H III(' l'l' l H•ltH H ' (I l' I \( )I' IHill I llllll 11 tt tvtl l tl

1\t'HHI \ i'mH•, l'l'H llil l l '~li i H' I'l' IÍ <.'0 - l'Oillbtn l\ nd o


1
nnn tn ll lll t' tn l' IÜ I't:
e lt' llll' lll c!M ljll l' i11 kio dn ndoll'sc0 ncia. Nl'ssa l·( lt'lllll dl' pe n ~ame nto , as gene ralizações, enquanto
Hl tll' tdHIIl\:1 rn rt·l·s pondê ncia objetiva. A imagc m suhjvtl v:1 dn tnund o é, tTIL'rtl• l'SITut·urn, sf\o complexos d e objctos o u elementos agrupados não somente sobre
tl H' tll t.'t 11m ' 11 g rttJ)íii1H~ nto ' mental, (idem, p. 2'16). íl husc d e conexões subj etivas estabelecidas na percepção da criança, mas sim
1\ crin nça vai, gradativamente, apropriando-se da linguage m, mas nesse i níci u ru ndm.h s po r relações objetivas entre os objetos.
11 p:d;tvra apresenta um s ignificado vago, impreciso e instável. Em suas pesqu i Segundo Vigotski (idem, p. 138):
sils, Vigotski (VYOOTS KI, 2001) constatou que a criança agrupa figuras de acord o
cn tn traços cas uais, ou seja, por proximidade no espaço ou por outro aspecto Esse novo passo no caminho do domínio dos conceitos é um novo grau
t'X l L' t· n o qu e chame sua atenção. É por isso que a criança apresenta uma falta no desenvo lvimen to do pensamento da criança, uma ascen~ã.o notávd t~rn
dt' coerência nas palavras denominadoras desse agrupamento. Ela pode agru par rdaç:ão à fase ante rior. Isso constitui um indubitável e grande progres:so
llm íl bola corn um quadrado tão somente porque estão próximos um do outro. na vida da críança. A transição ao novo tipo de pen~amento consiste
Nesse sentido, a realidade para a criança nessa fase está fundamentalmente ligada ern que. no lugar da "coerência incoerente'' característica da imagem
:\s suas percepções sensíveis. sín.crética, a crianç.a começa a reunir figuras homogêneas em um mes mo
Segundo Vigotski (idem, p. 136), nesse momento a criança chega a apresentar grupo, fonnando com e las con1plexos em. cont'ormidade com as relaçôes
um clcsenvolvimento da fala compreensível. Quando o significado de uma mesma objetivas que começa a descobrir entre as co isas. Quando a criança alcança
p<11 avra para a criança e para o adulto encontra-se no mesmo objeto concreto, é o essa fonna de pensamento, supera parcialmente seu egocentrismo e deixa
suficiente para que haja a compreensão mútua. Porém esse ponto de intersecção de confundir as conexões entre suas próprias impressôes com as re lações
do pensamento do adulto com o da criança não pode ser compreendido co mo entre a1:i coi.::;as, o que supõe um passo decisivo no can1ínho da renúncia
u n1 mes mo processo psíquico. São operações totalmente distintas, pois, no caso do sincretismo e da conquista dD pen~amento ohjetí\·o.
das crian.ças, o domínio sonoro da palavra não significa o domínio do aspecto
interno. Não é sua fala que é sincrética, mas sim seu pensamento. • Desse modo, o pensamento por complexos adquire um maior grau de
A fase sincrética do pensamento compreende três etapas. Para Vigotski, a coerência e objetividade. O pensamento sincrético, caracterizado pela prevalência

primeira etapa da formação da imagem sincrética caracteriza-se pelo período de das conexões subjetivas, cede lugar a vínculos reais estabelecidos entre as coisas.
ensaio e erro no pensamento infantil. Na segunda etapa, aparecem os primeiros É por isso que Vigotski (idem, p. 139) postulou que o complexo funda-se nos
'ç· '
s inais de organização do campo perceptual. Porém essa organização se limita a vínculos reais manifestados na experiência imediata, são agrupamentos de um
fato res acidentais que exerçam alguma influência imediata sobre a percepção conjunto de objetos concretos sobre a base do vínculo entre eles. O autor tam-
d a Criança, como a contiguidade espacial e temporal ou o mero contato físico. bém afirma que "os complexos não pertencem ao plano do pensamento lógico-
"Nessa etapa, o importante é que a criança continua sendo regida não pelas -abstrato, mas sim ao real-concreto, e por isso tanto as conexões que lhe servem
relações objetivas implícitas nas coisas, mas sim pelas conexões subjetivas cria- de base como as que se estabelecem com sua ajuda carecem de uniformidade".

das por sua própria percepção" (idem, p. 136). Os agrupamentos permanecem Diante das sucessivas generalizações ocorrentes nessa fase do desenvolvimento do
sincréticos, porém a criança já considera a contiguidade espacial e temporal pensamento da criança, Vigotski apresenta cinco tipos principais de complexos,
entre seus elementos. quais sejam: o complexo associativo, por coleção, por cadeia, complexos difusos
Na terceira e última etapa do pensamento sincrético, formam-se, conforme e pseudoconceitos.
Martins (2013, p. 217), "subagrupamentos na imagem difusa inicial, que também No primeiro tipo de complexo, o associativo, as palavras não designam objetos
ocorrem na base de conexões sincréticas". Embora se trate do início de u ma isolados, não expressam o nome próprio deles, mas sim, o nome da família do
"coerência ainda bastante incoerente", o significado da palavra avança significa- objeto. Aqui, a criança, ao nomear um objeto, expressa o nome de família, ou
tivamente, o que marca a transição para a próxima fase do desenvolvimento d o seja, denominar o objeto concreto com o nome correspondente significa incluí-lo
pensamento pesquisada por Vigotski (VYGOTSKl, 2001, p. 137), a fase do pensa- em um determinado complexo concreto com o qual guarda relação. Por exemplo,
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III 111111\ M MAlli lN\ 1\NI ,, 111 A Afll~"'' it ·nl~ MAtUl UA ül n 1"' .t 1(',"' •) 1'1 l11111 11 At.iAIIIII'H tll 1lt !I I III IIHIAI . flu IJl OIIIVI li VIMI NfO 111 •hJIIILII ' li

t• ln IHH it• lll l iiH~:II ' 1111111 rd H.: II ~:1 d1· .I VI:t<,, l ll'ltl f:tH• dt.• lliHht•tt Vitll lllll. ~~~ h1nlqt lí ' ' ( ) q 11: 11' 1n t rpt , ti,. t 11111 p 1~~ xu t' dv111 111111 u 11 Io vo 111 pI t • xn d i lu /'lo . "I 'ra t a·Sl' de um a
nol :H;t lll ( til H ll'l il dl!~ l:lliWII:t pl'l:l (I t:IIH; :t, qll:tlqiiVI ltll\1 ~ÓII i l ~/1\lli i ll lVll l'lllll ' P ' '"\ jll'lll' dv l1111dli:1 dv "u is:1s Cn lll :1 pnss ihilid ntk de in co rporar novos objetos

11111 kn ,. llll t ro t.'k'llH'nto do ro111pkxo (· rnzao sullt Ít'lllt' p11111 qtH' :1 ni:11H;11 11 IIIIILI'l'los IH> grupo prin cip:d . Essvs grupos de objetos são formados a parti r
i1H l11a t Hl grupo L' o chnmL' 1w lo nome farniliar, (itk·m, p. 140). No t:o n1pl t•1<•.• ,lt• 1 ll11l'Xúl'S difu sas c vagas (idem, p. 145). Para o autor, o desenvolvimento do
: 1 s:-.~ H'iat ivo, as co nexúcs entre elc n1 c ntos isolados cstabdcccrn,sc por nw lt, , 1, 1H ' ll s: ttn~nto, nessa fase, caractcriza,se por generalizações que a criança cri a n o
l111hito dns esferas não verificáveis na prática. São "esferas do pensamento não
cvrto demento co mu1T1 que co nstitui o núcleo d o complexo.
\'l ti llnl c não prático". A criança entra cm um mundo de generalizações difusas; no
O scgu ndo tipo é o complexo por coleção, caracterizado pela general L•:~t,'•i•'
··n1:1nto, ela ainda permanece dentro dos limites das relações visuais e concretas.
vmhnsnda na afinidade funcional e ntre diferentes objetos. Ao contrúriu "''
\ ti i f'crcnça dos outros complexos é que nesse são associadas coisas alheias ao
t·ipo anterior (que se baseia na semelhança dos atributos de distintos ohjvl tt!i),
,-,mhecimento prático da criança, o que pode ocasion ar relações apoiadas em
o co mplexo por coleção tem como base as conexões e relações entre os ohj t·t 11
' ll'llll'Ctos errôneos, indeterminados e vagos . M artins (2013) ressalta a necessidade
prese ntes na ação prática e na experiência visual da criança. E, portanto, a g< 1n•
•l1· se observar que as manifestações do pensamento por complexo difuso são
ral ização de coisas de acordo com algum atributo funcio n al relevante na pr:'1t kn, 10.
• 11'oneamente interpretadas como uma rica imaginação da criança
1

como copo, prato, colher, garfo etc. "Por isso, resulta natural e comprccmdwl O quinto tipo do pensamento por complexos é denominado pseudoconceitos.
que a criança construa esse tipo de complexos por coleções também cm M' ll
ll':tla,se da transição do p ensamento por complexo para o pensamento conceirual.
pensamento verbal, reunindo objetos em grupos concretos segundo o pri rhll'l '' 1·. tk·nominado de pseudoconceito porque, segundo Vigotski (VYGOTSKI, 2001,
de co mplementariedade funcional" (idem, p. 142). 1\ 146), em seu aspecto exterior, é semelhante ao conceito, po rém, no interior, é
O terceiro tipo é o complexo em cadeia, que se constrói na base d a un ilt•' UI li complexo. Sua estrutura lógica não está fundamentada em um sistema lógico
dinâmica e sequencial de elaborações individuais em uma única cadcL1 dt td,..,trato. Os pseudoconceitos representam a fo rma mais ampla do pensamento
elementos e a partir da transferência de significados por meio de víncu los :di pt '' co mplexo e, segundo o autor, o pseudoconceito equivale funcionalmente ao
ex iste ntes. Vigotski (idem, ibidem) demonstra como esse complexo manifcst .t•IH 1 lliiCCito. Isso pode ser observado na comunicação verbal da criança com o adulto,

na situação experimental: • 111 seja, a diferença entre o complexo e o conceito aparentemente não existe .

No pseudoconccito, a criança demonstra domínio de termos de conceitos,


a crian~:a seleciona urna ou vária::; figurns que mantém alg Lm1<t ClliH'l\,t•• tíl i l s isso não significa o pleno exercício do pen samento con ceituai ou abstrato.

associativa com. certo aspecto do modelo apre!:'entado como ex~.·ntpllll \ lúgica interna dos pscudoconceitos ainda res ide nos t raços concretos do ob,
.
depois continua ad icionando outros elementos ao me:;mo con!pl~·)i••, I< ln, pois as generalizações que existem não ultrapassam a fusão com os objetos

mas regendo-se por qualquer outro atrib uto acessório da última lt).!tit••
,,.,1ts aos quais a criança tem acesso. O domínio da abstração, que tem início na
"l,,!cscência, p ermite a passagem para a formação dos conceitos propriamente
selecionada, um atributo não ~resente no modelo.
l11ns. Para V igotski (idem), os conceitos só aparecem quando os traços são sin,
h t l.tndos novamente e a síntese abstrata resultante transforma,se no principal
Sendo assim, o final de uma cadeia pode não ter nada em comum cn111 ''
111 .t rumento do pensamento.
início dela. Por exemplo: pássaro, árvore, bosque, flores, perfume etc. O sign i!leu·
Nesse contexto, faz,se impo rtante analisar as relações e ntre criança e
do das palavras modifica,se durante os vínculos da cadeia. Nesse complexo, 11:tu
Hltdto. Para Vigotski, h á um caráter impositivo na comunicação d o adulto
é encontrado um centro estrutural, pois cada elemento participa do conj lllllt •
1!111 a criança, porém esse aspecto impositivo não rechaça o caráter ativo do
tão somente por se ligar a algum aspecto parcial do elemento que o antcrvtl t lll,IIS::tmento da criança. N a mesma direção, a pedagogia histórico,crí.tica, ao
na cadeia, o q ue lembra uma corrente, na qual cada elo se liga ao anterior t iii,disar a educação escolar, postula que o caráter d iretivo do ensino não anula
ao subsequente . N esse sentido, Vigotski. (idem, p. 143) afirma qu e "o pri nw i111
elen1en to e o terceiro p odem. não guardar relação alguma en tre si, exceto ti' ''' l'1tra um estudo sobre a questão da cri atividade e imaginação na perspectiva da pedagogia h istó rico-
ambos, segu ndo seu atributo, estã.o relacionados com o segundo". \ 1 ltica, ver Saccomani (2014).
I I ,, III liAM MAR! IIW, NHl LLOA.AfJI(/Itll í lt(JI' t.1Ai~ILOA !] J O IACC I(OIH1 ) Plllll!lll A~Alliii',I(IIUIIII lllllllfAI llitlll Iii hl' III JIMI tHOI"IIIJill! 11 I I\

o cará te r <lli vo d o p v mmtl H.' Ill o do nlu11 o. () nd11lt n 11ril lr.: t n ~ p: dt~ v l .t ~ l n 111 11 Apo.., ,..,Iii i li ltlll'M' d .t~ ,;,,e,. d r1 gt~ IW'it' d tl IH' tl s:lll H•Illt l ll li Ht' Íl tl:d, tlllll lllt
signifi cad os existe ntes n o m.und o adulto. A rr i:l ll \':1 11 11o e sCt lii H' IH'I\1 it Wl' tll ll •Se q w : :1 Ílll :lgL' IIl suhjl't ivn dn lvn lid :td t• P hjl'ti va s<'> pudvn't :dr:tn \: tr l'i ll :t lll :ti<,,
tais significados , m as recebe,os pro ntos, po r~ m <:o lltÍilll:l :1 pl' nsar po r l'<lll l l ! d vdi t~nid:td e a partir d o IK' I1H:t lll l' llt o n m cc itunl. U m p o nt·o qu e nfip sv ptH il·
plexos. A contradição entre o pensame11to adulto c o da c rinn ç~1 in1puls io1 1d pvt·t k·r d e vist·a 6 qu e a realidnde o hj L· t·iva n ão é es tá ti ca c, por isso, som c nlt• IHII
o seu pensamento na direçao dos conceitos. Dai resulta a impo rtâ nci<1 d e 11111 <'<>ll ceitos 6 qu e ela pode ser co mpreendida e m sua totalidad e, histo ric id :t d l~ v
en sino direto e inte ncional. ltlovin"'cn to. Po r m.eio dos co n ceitos é possível, então, a intc li gibilidad l' dn ~t ·; tl
A citada co ntradição faz~se n ecessária principalmente n o bojo d as d iscussn1 i ,. o d ese nvo lvimento do psiquism o . Portanto "o pensamento por conceitos c! o 111<'111
sobre a urgência d a superação das ped agogias embasadas n o le m a "aprcnd, r rn ais adequado para conhecer a realidade porque penetra na essência interna elos ohj<'lm 11

a aprender" (D uARTE, 2006). Na análise das relações entre a lingu agem r " (VYUOTSKI, 1996, p. 78-9, grifo n osso).
pensamento da criança, há que se ter o cuidado de não interpretar o fato d l' ,, Vigo tski analisou especialme nte a formação de d o i.s tipos de conceitos v d:ts
criança empregar certas palavras que os adultos também utilizam como se i s~<' rvln ções e ntre eles, a saber: os co nceitos cotidianos e os conceitos cie nt ifi cn .....
expressasse uma identidade das significações. O fato de a criança utilizar~sc de ( )s con ceitos cotidianos são formad os na educação não escolar, que ocorre 11:1
palavras abstra tas n ão significa, de m od o algum, que ela tenha um pensame n lt, prá tica cotidia n a, ao passo que os con ceitos científicos desenvolvem~se com hii M'

abstrato. A crian ça utiliza as mesm as p alavras que o adulto, relacionando,as ,111 no e nsin o escolar. Duarte (2000, p. 86) explica que, para Vigotski, "os conce it os
mesmo repertó rio ele objetos que os adultos, mas pensa esses o bjetos ele fo rnw d c ntificos, ao serem ensinados à criança através da educação escolar, superam p< H
distinta. E não só a cri.ança pequena, mas também o adolescente, que pode us:11 In corporação os conceitos cotidian os, ao mesmo tempo em que a aprendi zage m
a palavra como um conceito e defini,la como um complexo. É o que Vigotski < lnqueles ocorre sobre a base da formação destes".

(VYGOTSKI, 2001, p. 172) denomina d e "oscilação entre o pe n samento por co1 11 Ao operar com os conceitos cotidianos, a criança não te m consciência d clt·:-.,
plexos e o pe n samento co nceituai". A educação escolar, po rta nto , pode e dl'w po is sua atenção está sempre centrada no objeto a que o conceito se refe re, v
posicionar~se com o mediação en tre o cotidia n o e o n ão cotid ian o d os alu no~, não n o próprio ato de pensa m en to. Ao operar co m os con ceitos científicos, :1

entre os pseudoco n ceitos e os verdad e iros co nceitos. • tTi ança co m eça simultaneamente a op erar sobre o o bjeto ao qual o co n ce ito Sl'

O pensame nto sincrético e o pensame nto por complexos n ão d esaparecc 111 refere e sobre o próprio conceito , isto é, o próprio ato de pensar sobre o objeto.
'
na adolescênci a. Há uma st.Iperação p o r incorporação. Por isso que concei to.-, Outra caracte rística importante d os conceitos científicos é a de que a relaçao
o riundos das esferas da experiência cotidiana, utilizados tanto p elos adolescent v~-; vntre conce ito e objeto é mediada pelas relações entre os próprios co n ceitos
quanto pelos adultos, não podem supera r espontaneamente o níve l dos pseu dt,. de ntro do siste m a teórico ao qual p ertencem. Todo esse processo é mediad o pela
conceitos. Esse p onto legitima mais uma vez a importância d a educação escolar nt, Iinguagem. Com isso, há uma co nsciê ncia e utilização vo luntária d o conce ito.
que t an ge a transmissão,ass imilação dos conhecimentos clássicos, n ão cotidiano~, Para Vigotski, descobrir a co m plexa relação en t re o ensin o e o d esenvo lv i
conforme postula a pedagogia histórico-crítica (SAVIANI, 2011). 1nento d e co n ceitos científicos é uma importante t arefa prática. Para o auto r,
A terceira e última fase é a do pe n sa mento por conce itos. Embora a ad t,. o1 ciência, a arte, a filosofia e as diversas esferas do conh.ecimento poderão se r
lescência seja quando acontece um salto na direção do p en samento abstrato, 11ssimiladas d e maneira aprofundada somente por conceitos, ou seja, a parti r da
faz,se necessário dizer que o adolescente pode não chegar a esse nível intelect uid adolescência. Em suas palavras:
se as condições socia is, especialm e nte aq uelas relacionadas à educação, n ão M'

m ostrarem favo ráve is a esse processo. O utra ob servação que se faz necessária é 11 O conhecimento, no \'erdadeiro sentido da palavra, a ciência, a arte, a:-
d e que o fato d e este texto estudar a fo rmação de conce itos n a ad o lescência nàt' diversas esferas da vida cu ltura l podem ser corrctamen te assimil ada::- t;Hl
'
significa, de mane ira alguma, a desco n sideração da importância da educaça tl f'O men te p or co nce itos. E certo que também a criança assinüla verdad~~s
infantil, seja no que se refere à gênese dos processos psíquicos que forma m :1 científicas e se compcnl'tra com um a determ inada id eologia, que se e nraí·
base do pensame nto abstrato ou a problemas que se origine m na infância v za em diversos campos d a vida cultural, mns a cri an ca
, assimila t udo issu
p ossam vir a difi cultar o desenvolvim e nto intelectual na ad olescência. de ma neira incomp leta, não adequ ada: ao as~im.ibr o materia l cultural
I Ij I ,.,, . ,Cll\1 'f\t1AII III'·II'll'll tl CUIJUI~At lllJ[Jl :/ H:fJVlli\'IMI N101 11 ii!JIIII fi
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dn M H tni1 7.11 Çfl o d 11s fot 'III IIH IIHtl •í dt -"1 1 1\'cdvillll~ dt) ('oll iH'l ' lttH' tl ltl. F sHIIH j H•dngn.
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~:ia~-o 1(: 111 npl'iHi<> tl:tdn :1 l'~< uln :'11'1 d,•tJl il tHi m. iuH.'diataH do cotidiano d:t stH il'd:tdt·
t npit :ti ist·:1, 1\lllll prurcsso dv tlilt'tll'll l iza~·ao e ctcrnização da exist0ncia ai ivn:td:J.
l'll1 L"OIH'l:itus pnd,· <IJ'l'\'sl'llLli '·St' \],• lllllll,,,,,,.,,.,,,, pr,•lltlld,,,. t' tlltlj.il'tl•

cnrne~·a a particip:tr <lli,·a ,. Ct'I.IIÍ\':íllll'lltv 11:ts \li\','I 'S;t~ t.· sll'ms d ;1 \'i,l.t 'ui
O Sl'l' humano não consl'guiria dominar os processos ma is complexos L' prn ·
'
tu ral que tem dia n re dl.' si. A 111<U!..!l'm do pl'n~a llH'Il t" por,., >llt'vi 11•:-. , 11 " '
lu ndos da realidade sem o pensamento conceituai. Segundo Vigotski (VY<;o I'Sl\1,
pos:->ível entender a:. rdaçües e>..istente~ por detrás do:-o fcnCmwn""· t \pt ' ll ol 1996, p. 71), "o pensamento por conceitos revela os profundos nexos da realid;ldl·,
aqueles que os abordam com a cha\'e dos conceitos estúo l'nl cotlllt, ' u revela as leis que a regem". O desenvolvime nto do pensamento conceituai pt·r-
ck compiTl.'nder o mundo dos profundos nexos qut.:' se ocu lt:un fltr:'t-. ,1, mite também que o adolescente tenha o profundo conhecimento da n:;t lid:tdl·
aparêncÍ<\ extt'rna dos t'e nômenos, o. rnu ndo d as cnrnpll'x:1s intvrdt·p• 11 interna, ou seja, o mundo de su as próprias vivências.
dênc i(ls e relnc()t~s

dentro de cada :í rea da n:alídade e entre su:1s dl\'t' l : .1 Vigotski (idem, p . 73) afirma que "graças ao pensamento por conceitos, dH·
e~rleras IVniOTSKI, '199(), p. 64]. gamos a compreender a realidade, a dos demais e a nossa própria". Para o auttlt ,
o pe nsa mento por con ceitos é a "revolução que se produz no pensamento e n:t
No conceito científico, o adolescente pode refletir sobre o que não est:í :11 ' co nsciência do adolescente". Po rém essa revolução não acontece naturalmente,
alcance dos conceitos cotidianos e conhecer a essência do objeto ou fenôn H' IHI espontaneamente, não é fruto de maturação biológica, mas sim da apropriação
dado. E a educação escolar tem um papel fundamental nesse processo, ou st'Jol, de objetivações genéricas mais elaboradas, ou seja, das objetivações genéricas
na mediação entre os conceitos espontâneos e os conceitos científicos. para si (DUARTE, 2013a), corno a ciência, a arte e a filosofia.
Menchinscaia (MENCHINSKAIA, 1960) denomina os conceitos que se fo rm:u n Embo ra o pensamento cotidiano forneça bases para a comp reen são da
fora da educação escolar de "vulgares ou comuns". Segundo a autora, o co ntet't( l,, realidade natural e social, constatam-se nele os limites decorrentes d as próprias
desses conceitos não con1preende o essencial dos objetos, e o fundamenta l na'' características das atividades cotidianas. Se, por um lado, a luta diária pela sobre-
está suficientemente d elimi tado do secundário, ou seja, a essência e a apa r(' th' tn vivência, que caracteriza a vida da maior parte da humanidade, exige a formação
do fenômeno coincidem-se. Destarte, esses conceitos, com frequência, l'St:111 de um relativo senso de realid::tde 11 , sem o qual nilo se obtém êxito nas ações,
deformados. As denominações verbais com q ue as crianças se expressam rw 11'1 • por outro lado esse objetivo de êxito imediato da ação n ão requer, muitas vezes,
sempre são exatas. Quando se amplia a experiência da criança, sobr~tud o g r:H,·:1 m.ais que a vi.são correta de uma parcela bastante restrita d a realidade, podendo
à educação escolar, os conceitos comuns alcan çam o níve l de conce itos cic nt lli pautar-se, n o que se refere à visão de mundo, em premissas totalmente irreais.
cos. A autora assevera que o efetivo domínio do conceito cie ntífi co não OC(l JI I
Na sociedade capitalista, por exemplo, o fetichismo da mercadoria é u m com-
'.

espontaneam ente pelo pensamento por tomplexos, mas exige o trabalho esr(l ln1 ponente necessário da dinâmica social cotidiana. Assim, o reali sm o pragmático
que atue sobre o que está "germinando" na criança em início ele escolariza,·:~ , , 1 que mui.tas vezes acompanha as atividades cotid ianas não necessariame nte Sl'

opõe a concepções acentuadamente idealistas que podem se r opostas à essê nc ia


ou seja, que atue sobre a zona ele desenvolvimento iminente.
de processos n aturais e sociais. O pensamento e o conhecimento cotidianos n<H >
Os conceitos científicos são fruto do que a ciência legitimou e correspond(' ll t
..,ão necessariamente alienados, mas, quando as pessoas não têm oportunid ndl'
às leis objetivas descobertas pelo gênero humano ao longo do processo sú( 111
de transcender os limites da visão de mundo espontaneamente fo rmada n a vid :t
-histórico. Tal afirmação pode ser relacionada com a importância d o trah,1 11 11 •
cotidiana, cria-se inevitavelmente uma situação de alienação (idem).
educativo, pois, de acordo com os pressupostos de Saviani (2011), a especifiri( I,,
Como a essência não se manifesta imediatamente, Kosik (2011) salient<J :1
de da educacão escolar é a transmissão-assimilacão, de forma sistematizada, dt_
' ' necessidade d e uma atividade peculiar por meio da qual o fundamento oculto d;ts
con h ecim entos mais desenvolvidos que foram produzidos historicamente I HII
coisas possa ser descoberto, ou seja, a prática cotidiana, que muitas vezes se li mil :t
gerações precedentes.
ol visões fetichistas da realidade, deve ser transformada em prática revo lucioné\ri:l,
Entretanto, as pedagogias h egem ônicas, notadamente as "pedagogias ' '''
aprender a apre nder", têm influenciado fortemente a edu cação escolar conl clll
li Lukács ( 1966) chama essa caracter!stica da vida e do pensamento cotidiano de "materialismo l'spoll
porân ea na direção oposta à da formação do pensamento conceituai por n~t •ltt . ".
taneo
I 111 III 1IA MMAI'IIN'I, Alllll Uf A f\lll(f\1111 MAl~~~ UA l], IJ 1-At,:;( I (I li~~ I ) PI 11101 li, 'ACI\O IIII d tliH< o I lll n11 tAL UU I.JLtUI ·NVOI VI MI tHO PUI!Jlllco I I .,

qtH' IH ij H' rv l 1tdl t n lrlt t' ltl t· 11 "'Hil•d,td(' dt vl did .t '''', htlitHiR, Nt~"'~;t dit'l'\'11'' ,:. qtll jllll t~, lll lll u :d,.irllloll VigotHki (VYtHHSKI, 200 1, p. 214, g rifo no!-iso): "a LOmac.la
l<nHik (idl'tll p. 1'1) d vlv rHi v n IHTvss:hin tllli :in t'lt l n~ t'i' 111 l. t c hloslll'ln ~~ t•il lt 11
1
,/, .• t: lltl\( ienriu vem /Jda fJorw dos conceitos científicos". O trabalho educativo d eve
ll' lvhrv :d'i ri H:\\': \u tk M:11 x: "sl' n :tp:11'0 rH·ia lerH>III•..' IIi e:t t! ;I l'sM'n ci:l d :ts l'tdtht l" '·"'s ihilitar no indivíduo ir alé m dos limites dos conceitos cotid ia n os, ir além da
11
cni n r idissl'm d irl'taml'nll', n ciê ncia L' a fil osofi a sl· ri ;ll\l itn'rl l' Ís • rtpnr0 ncia do fe n ô m eno. Esses conceitos são superados por incorporação pelos
O co ncei to 6 o refl exo ntivo da rea lidade objetiva no pe nsa m e nt o. I )u,t l'lt n HH'L' Ítos científicos, e, d e acordo Vigotski (VYGOTSKI, 1996, p. 200), o pensa-
(2000), refe rindo-se ao n1 6tod o dialético d e conh ecin'lento e m Vigotsk i L' M.11 x, IIH'n to po r co nceitos produz o desenvolvimento da personalidade e da concepção
afirma que os co nceitos abstratos são os m ediadores do processo d e apropri :ll,' ;tt' d v mundo do adolescente.
do co ncreto p elo pensamento. Nisso radica a relacão dialética entre a atividade de estudo e a formacão
' '
tl1, pensamento por conceitos na adolescência. O pensamento por conceitos é
O qL.te aparentemen te scr i<l um afastamento da realidade co nct-et:l 1', '"' produto da internalização da produção cu ltural e, ao mesmo tempo, condição
verdade, o caminho para t) conh.ecimen to cada vez mais proht1H1, . ,111 11:1 ra tal internalização. A instrução escolar é fon te do desenvo lvimento do
processos essenciais ela real.icbde objetiva . Vigotski via no desenvo lviltl\'111•1 l'l'nsamento por conceitos (VYGOTSKI, 2001, p. 245-246), e as diversas esferas do
desse tipo de pensamento um dos momentos essenciais da passngv111 'Lt ,.,, )nhecimento poderão ser ass imiladas de maneira aprofundada somente por
infância à adolescência, por meio da formação do pen:;amentu pu1 1' llll
llll'Ío do pensamento conceituai (VYGOTSK I, 1996, p. 64).

ceitos (idem, p. 110] . Em suas pesquisas, Vigotski (VYGOTSKI, 2001, p. 130) constatou qu e a fo rma-
~~~o do pensamento por conceitos é produto de um longo processo d e apropriação
O pensamento por co nceitos organiza a imagem subjetiva da realidade. 1:t1 da riqueza cultural da humanidade, havendo a possibilidade de a tingir o seu
afirmacão se embasa n o método científico do conhecimento. Duarte (idt'lll, .111ge formativo na adolescência. Isso significa que, no caso d o cerceamento ao
' .tcesso às riquezas materiais e ideativas produzidas pelo homem, o pensa me nto
p. 92), explicando a análise que M arx fez do método científico de conheciml'lt llll
afirma que o pensamento parte da representação caótica do todo para chegai :Iii
110r conceitos não se formará na adolescência ou em qualquer o utra época d o
, ll'senvolvimento humano .
abstrações. Em seguida, faz o caminho inverso, ou seja, ascende das abstnH,tH'"
mais simples "à complexidade do conjunto que foi representado, inicialm cnlc 1 Há que se considerar que a patologização da adolescência não deixa d e se r
1:1 mbém produzida no descaso à formação da personalidade ao longo de toda
de forma caót ica".
O pen samen to afasta-se momentaneamente elo concreto por meio ela~ 11h~· n formação da pessoa. E, tratando-se de educação escolar, esse descaso ocorre
tracões para, em última instância, voltar ao concreto, porém agora conhecend,, tlcsde a educação infantil. Parece qu e o grande problema enfrentado no â mbito
' .
suas múltiplas determinações, ou seja, com maior inteligibilidade do real. I ~ss11 ,la educação escolar de adolescentes é que esse momento de viragem explicita
·ideia remete-nos à compreensão da forma do pensamento por conceitos, pt 1i•t, 1 1bjetivamente o produto ocu lto da formação antecedente (ANJOS, 2013).
de acordo com Leontiev (1999), os conceitos cotidianos são generalizações q111

vão do concreto ao abstrato, enquanto os conceitos científicos caracterizam M


pelo caminho do abstrato ao concreto, ou seja, à compreensão de suas múltipl:tH
R€F€RêNCIAS
determinações. O concreto n o pensamento (o conceito científico) é o con hc( 1
\NJOS, R. E. O desenvolvimento [)síquico na idade de transição e a formação da individualidade
menta mais profundo dos fenômenos da realidade, já que seu conteúdo n ão v''
J1ara si: aportes teóricos para a educação escolar de adolescentes. 2013. 167f. Dissertação
imediatamente observável (conceito cotidiano), mas sim a síntese de múltipl:t:.
(Mestrado) - Faculdade de Ciências e Letras, Universidades Estadual Paulista "Júlio de
determinações que só é possível por meio das abstrações.
Mesquita Filho", Araraquara, 2013.
Conclui-se, portanto, que os conceitos cotidianos não incidem no d esl'll•
volvimento psíquico da mesma maneira que os conceitos científicos. E de su I\ III
' 1\RCE, A. Pedagogia da infância o u fetichismo da infância? l n: DUARTE, N. (Org.). Crítica
110 fetichismo ela individualidade. Camp inas: Autores Associados, 2004. p. 145-168.
importância qu e o trabalho educativo promova a inteligibilidade do real p( 11
meio da transmissão não d os pseucloconceitos, mas sim dos conceitos cientific()ll, 1\RIES, P. História sociaL ela criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
218 LíGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.)
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l t JI,Á<'\ ( ; ,
1
/•\tt 1int. I :t IH'l'll li:tridad dv lo l'~ l l'l iro. Ct i V~t ln t H'~> ptl•lit tllll íllt''> y d1: pt i11dpiu
t\11111'ltliLI : ( ltlj:d1 Hl 1 11)()(),

1 ~1110,\, A H / >, .,, . , ,,l'fll'l'llllr 'll/tlctl~ lltl i'llll l tit' ll !l l'~tnd1111111 11 cc~ t ld ttl!ltl ll t_1 •u ul11l~1. ü, t•tl. Srtrc
f'111dt n lt' tiltt', )Jl l ll
C.-APITIJLé> 10

ADOLeSCêNCIA

TRABALHO, eDUCAÇÃO e FORMAÇÃO OMNILATeRAL

ZÁIRA F. DE: RE:ZE:NDE: GONZAL€Z L€ Al. 1

GISE:LE: CRISTINA MASCAGNA'

o nforme apresentado no capítulo anterior deste livro, as proposições teóri cas


acerca d o d esenvolvimento human o e, especificamente, da adolescência
••:,rao permeadas por concepções bio logizantes e naturalizantes. Tais proposiçôl's
q 1t mta m que as mudanças ocorridas sobretudo na adolescência são co nd icio nadas
l •t•los processos bio lógicos e se d ão d e maneira universal. Entretanto, há que se
1 ' >n.siclerar que o d esenvo lvimento nesse período vai muito além d a ação d os

l11 mnônios e transformações corporais. O desenvolvimento não se d á d e forma
111liversalizada e natural, m as transcorre de d iferentes modos em d iferentes meios
uleiais e culturais.
O predomín io da visão biologizante sobre essa fase de desenvolvimento leva
t tHlturalização de comportamentos que, segundo a psicologia histó rico-cultural,

.. .lt 1 co nstituídos em uma socied ade dada, situada historicamente. A ad o lescência

1 1, comportamento d os jovens, ao serem vistos de forma n aturalizad a, torn am


r .1do lescência estereotipada e naturalizam os atos executad os pelos indivíd uos
rH·ssa fase.
Apresentar a adolescên cia sob uma visão histórica, trazendo elem entos para
11:1 compreensão nos nexos que mantém com o mundo d o traba lho, é uma

,las metas deste capítulo . Para tanto, tomaremos como referên cia principal os
l'tvss upostos da psico logia histórico-cultural, que afirma a impo rtância desse

Professora do Departamento d e P:sicologia e do Programa de Pós-Graduação cm Psicologia da


Un iversidade Estadual de Maringú (UEM), doutora em psicologia escolar c do desenvo lvimento
humano pela Un iversid ade de São Paulo (USP).
Professora da Fncu Idade Metro po litana d e Mar ingá (U~IFAMMA), mestre em psicologia pela UEM.
.
I haiA M, MAIHII·W, ANIJI ~U) A AUHANll'tllL MAitiiDA (j O I 'ACOI (0fW ) PI I ~I< llll 'AÇAO IIIOTQI(IGO-GULTI_IIil\1 lH llH'W·IIVOIVIMCNTO P'ih li Jll :n I") .,

pC r{ od O C ll'l V j J' I li d C d :tS l)l'() for ll\ :1 ~·( H..' :-i q lll' 1\l' 'l' :O. III ~ (l' 111 . lt dl'i! d 11 H' llll'
IIIH ln l.tt l I III i Na 1'r''tlll 'ttl ''q:, llli till,fll -,,_•.ll ' ptH ' ~ d ' '''" 111d 1\ h I"''~' l'SI :'t i 111pl Ít it ~~ :1 tll'<'l's'>tl bd,·
brevemente o traba lho como ntividadc fundanH: t\ l id 11 :1 l ll ltll ll~ l l <l do lwl ll :\ll ttl dt: l'Sin l wlllt t 11111 ltlnl: tl ll co m <l mund ovx tl'l'i()r, j)iU:t subsistir devem

a seguir trataremos das relações entre a <H.l ol esc~nc i : t t' o 111111\d o do trah:dl ll, 1111 :11 u:1r, produ :tt ' ,,:-; lll l'itts l lt•que ncccss ilam pnra a vida. Au influ ir sobre o

sociedade hod ierna. mundo extl'tHll, o t ranslormam e, com isto, eles se transformam também.
Pt)r isso, tud o o q ue são está determinado po r sua atividade, que por sua
\'CZ está cond icionada pelo n ível de desenvo lvimento que alcan~·ararn seus
TRABALHO € FORMAÇÃO HUMANA meio:-; e formas de organiz<~çào.

Confor me já indicado em mo mentos anteriores deste livro, o trabalho(· tllll O trabalho é condição universal para o processo de humanização . Ao agir
processo fundante do ser humano e d e todas as suas propriedades, posto li'''' hobre a natureza, transformando~a para satisfazer suas necessidades, o homem cria
tudo que o homem edifica resulta de seu intercâm.bio ativo com a naturez:1. I-; ii 11ovas necessidades; quanto mais são satisfeitas as necessidades básicas, mais são
partir d a atividade humana m aterial que se desenvolve o pensamento, criand< > ~;t• criadas necessidades de tipo superior e mais se desenvo lve o psiquismo humano,
possibilidades ilimitadas para a formação do humano. 1ornando necessária uma organização que não obstaculize esse desenvolvimento
(OLIVEIRA, 2005).
O h.o mem encontra na sucied ade e n o mundo transformado pelo pn l t t':-1-11 Entretanto, a acumulação do capital, as relações de exploração e alienação,
:;ócio-h istór ico os meios, aptidôes e saber-fazer necessários para reali :::tr :t que provocam a desagregação e a fragmentação do indivíduo, têm sido a tôni-
atividade que mediatiza a sua ligaçãn com a natureza. Para fazer seu -. 11
ca da sociedade capitalista, forçando-n os a conviver com o empobrecimento
seu:; meios, as suas aptidôes, o se u. saber-fazer, o hornen1 deve entra r l' ltt
cada vez maior do indivíduo. Para Marx (s.d., p. 159), "com a valorização do
relacões

com os outros homens e com a realidade humana material. !': 1111 mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvalorização d o mundo
decurso do desenvolvimento d~stas relações que se realiza o pn.xe~s~, d.t
dos homens".
ont:ogêncsc hun1ana [LEONTlEV, 1978, p. I T~] .
• A sociedade capitalista obstaculiza para a maioria dos indivíduos o desen~
volvimento por m eio de um relacionamento consciente, livre e universal com o
D essa maneira, o trabalho permite ao homem superar os limites do desl'n gênero humano. A realidade é apreendida tal como se apresenta de forma ime~
volvimento subjugado às leis biológicas, passando a orientar-se por finalid ades
dia ta, sem que se percebam suas determinações histórico-sociais e suas conexões,
e condicões sociais historicamente edificadas. Pelo trabalho, a universalidadl'
' e, nesse processo, o desenvolvimento do indivíduo é compreendido d e modo
concretiza~se histórica e socialmente na singülaridade do h omem, em uma síntesv
natural, como um simples amadurecimento de capacidades inatas, embora sua
complexa, formando sua essência como ser consciente (OLI VEIRA, 2005).
formação se dê em uma dinâmica d e apropriação e objetivação que o coloca em
É fundamental compreender que, n o processo de produção da existência, o
contato com os produtos da atividade humana.
desenvolvimen to do homem é m arcado pelas relações estabelecidas entre o sujeit(\
A alienação presente n o processo produtivo transforma o trabalho em ati-
e a realidade social que o cerca, para superar a concepção de desenvolvimento
vidade que esvazia o homem, que deve submeter,se cada vez mais à exploração
humano por m eio de uma essência inata que irá amadurecer ao longo do tempo,
para garantir sua existência, sem poder, por via de regra, dedicar-se às atividades
concepção que te m sustentado as perspectivas tradicionais da psico logia sobre o
enriquecedoras d e seu psiquism o (MÁRKUS, 1974).
desenvolvimento e a ado lescência. Assim, devemos considerar a essência d o ho-
Segundo Vigotski (VYGOTSKY, 2004, p. 5), a organização social capitalista
mem o produto do desenvolvimento histórico e social, que precisa ser apropri ada
tem conduzido a uma "degradação mais profunda da personalidade humana e
e objetivada durante a vida, o que se dá a partir da atividade social: o trabalho.
de seu potencial d e crescimento", em lugar de elevar a humanidade a um nível
Para Leontiev (1988, p. 16) 3:
m ais alto. Para ele, a contradição entre o desenvolvimento das forças de produ-
ção e a ordem social só pode ser resolvida pela revolução socialista e a transição
3 As traduções são de responsabilidade das autoras. a uma nova ordem social, com a respectiva transformação nas relações sociais
.
I IIli/\ M Ml\lt llt~~ I, f\Nill III A AUI ü\1111 M ,IIII ItA ül [), IAGCI (IIIUl) 1'11(11 IIII AL/\11 lll 1 dl'liW .chGUI IIII !I I i!( i i H·l:i IJ 1111 VIMI t~ 10 l''li1JIII1 .(J I -, ~

~stahd~c id as, li l wrta iH.Iu :1 "pv1M Hwl idadv lliiit llll t;l d.1 11 111'1(1111"1 '11 tl\l t: n~H I1I1 t)~\'111 l : l11 v irtudv dos v:'trio~ tnl al'ittldv, cn rt H> ,, I WI...,p vv ti v.t dt•
l:tl(llt'H ljlltc' t l l\ 'tdwm
seu d esenvolvimento" (idem, p. H). ftii 'III'O L't.k• rea li z<wao pt·sst>:tl . Sfln lltllitas as cons id eraç(>~s a se ln zt.· r rH:ssv pn >,
Nessa perspectiva, a edu cação tem pape l ce ntT:d n :1 t I:IIt 1.Jo rnt :1~·ao dP~i tl'Sso de escolha, e geralmente muilas d elas perman ece m no plano da lnntasi:t,
indivíduos, contribuindo para a for mação e enriqu ecimento de sua co nsciC• nd.1 dnquilo que o adolescente concebe sobre seu futuro profissional e do qu e t's pt' l .1
Não se trata de qualquer educação, mas daquela que se organize te nd o por h:tM ' qu ~ seja co nte mplado nesse fu turo, muitas vezes influenciado pelo pres t fg1t1
esse objetivo, que favoreça o pensamento teórico, por me io do qual o sujeito pud 1 qu e a profissão expressa socialmente. Embora nem sempre esse processo p()ss:1
compreender a realid ade social, em seu movimento, em suas múltiplas d eterrn i11 :1 co nstitui r-se co mo escolh a, o ad o lesce nte em geral reflete sobre suas expec t :1 t iv:1..,,
ções e, a partir dai, exercer um a ação com vistas à transformação d essa realid nd v. se us d esejos, muitas vezes sem possuir realmente info rmações cons iste ntes so hn·
O desenvolvimento universal pressupõe a ap ropriação de formas de elev<H;:H, as exigências das profissões e suas possib ilidades de segui-la, tanto em reb1 ~·:H , :'ts
acima d a vid a cotid iana, processo que pode ser impulsionado pela educação esn, poss ibilidades concretas d e vida como aos aspectos das h.ab i.lidad es e ca pncil lad vs
lar ao d esenvolver as capacidades ontológicas essenciais do homem, permitin d( , pessoais para pod er exe rcer a profissão d esejada.
um conhecimento "revelador da artificialidade e da aparência presentes nas su Esse processo pod e se dar de maneiras diferentes, dependend o da classe sori:d
postas cisões entre subj etividade/objetividade, dentre outras; dado condicionad(, n que o adolescente perten ça. Se o adolescente pertence às camadas populnrl's, :1
pela superação do pensamento mecanicista formal hegemôn ico em direção ao entrada no mund o do trabalho pode acontecer ainda bastante cedo, muitas Vl'Zl'~
pensamento dialético" (MARTINS, 2007, p. 118). Entretanto, a educação, permeada paralela aos estudos ou n1esmo sign ificando o abandon o da educação básica antv-.
por concepções a,históricas e abstratas de homem, segundo Martins (idem), tem de sua conclusão . Para as classes com maior poder aquis itivo, a adolescência podv
sido incapaz de contribuir para esse d esenvolvim ento omnilateral. significar um tempo ma ior de espera para integrar o mercado de trabalho, o qtlt'
Como dito anteriormente, é o trabalho que pode explicar a fo rmação do h o pode acontecer, em muitos casos, apenas após a conclusão do ensin o superior.
mem e o conhecimento humano, q ue n ão só é parte dessa atividade prática qu t· Histo ricamente, o processo ele entrada n o mercado de trabalho nem sempn·
organiza a natureza como é determinado por ela, visando à satisfação de necessi- se deu da mesma maneira, pois tal fato responde a n ecess id ades do mercado t' :1
dades, que se vão tornando cada vez mais numerosas e un iversais, dirigindo-se • circunstâncias con cretas ligad as à origem social do adolescente, embora em noss:1
à tota lidade do objeto, d a natureza e do homem . A apropriação dos produtos socied ade esse processo possa ser revestido pela aparência d a escolha, ocultnnd( >
'
desse m eio h umanizado se dá pela via da educação e, nessa perspectiva, a relação as circu nstâncias rea is que envolvem o ad olescente.
en tre trabalh o e educação se impõe como princípio fundante do desenvolvim ento Muitas vezes, o qu e se apresenta ao adolescente em relação à profissão são os
e formação do ser huma n o (MANACORDÀ, 2007). Nesse sentido, é fundamental elementos aparentes, da valorização conferida pela sociedade a algumas cn rn: i
compreender a adolescência co mo um período crucial do d esenvo lv imento do ras, as poss ibilidades de ganhar dinheiro de forn1a mais ráp ida, de ga nh ar alt os
indivíduo, no qual o lo ngo processo de escolarização já vivido se objetiva na salári os, de adquirir d estaque social e ficar em evidência na comun idade, alt·n1
formação do pensamento rigorosa m en te abstrato , no pensa mento por conceitos, de outros fatores associados a esses aspectos.
dado que possibilita a edificação de uma concepção de mundo e, igualmente, Para Tolstij (1989), a orientação para o futuro e o exercício de uma profiss,\1,
prepara para a entrada n a vida adulta e n o mundo do trabalho. exigem o desenvo lvimento da consciência do trabalho co mo elemento central
para a realização d o indivíduo e de seus ideais, ass im como das asp irações par:1
o bem da sociedad e, o qu e está relacionado à formação de ideais sociais e morais
A ADOLE:SCêNCIA e O MUNDO DO TRABALHO: d esenvolvidos, à capacidad e de formular objetivos significativos e d e superar a
PASSAGE:M À VIDA ADULTA atitude infantil em relação ao mundo circu ndante e alcançar os objetivos for
m u lados - aspectos qu e co nfiguram o con teúdo do desenvolvimento pessoal n:1
N a sociedade contemporânea a ado lescência é percebida como um período ad o lescência, tal com o evidenciado no capítulo anterior d este livro.
entre a infância e a idade adulta, sendo a entrada no m u ndo do trabalho o marco Entretanto, como o bservamos em nossa sociedade, esse processo não se d :'t
para a fase ad u lta. A escolha da profissão é algo que marca fortemente esse período exatamente dessa maneira. A escolha da profissão está muito mais relacion:.H.Ll ,
I r t {I I hiiAM. MAil I lN' I, ANOI LO" AUHAN li 'li ~ Mt\Hil DA íj, 1), 17AGI I (III H~) PI ltiOI li 'AÇ"II III' •I (li Ut .u I lll IIII tAL I)o I>I 1 11 NVOI VIMI tfl 0 P' iii li IIII I I'I 'f

\'tliiHl 1\H' I \CtO I\1\du , 11 i 'X I H'('IiiiiVilh pl'lii'IO:Iis l ' dv g :tllhu l'l tHII"I t;t: lllt I~ ,\ (t/(1/.,\ ljll l' ol n:1 qt111 l ~H· l'l'l'ttnl :t n ll':th:dlw ut·l'· 11 t'O I H:Iu sfl n d o L:n si tw st tpl'rior. J:í nas classes
rwn·ss illmles sorini s ou puss ihilidndes d e CO t'\ll'ihltl\'l ltl IHH ' III I, n ljlll' sv dvw :1 v o trnh;dho passllm n se dar, muitas vezes, paralelamente,
!Hl lHd ttl'vs, o l' ltsilto

ca racterísticas do t ipo de socied ade em que vivemos: h;tM':HI:t tH l modo dv pt t• :1 i tHI:1 na sl'gll nda metade o u Case final da ad o lescência, comprometendo, por via
'
du ção capitalista c não em uma questão m eramente subjet iva. I! preciso destiH':tt dv n..'gra, o pleno ate ndimento das demandas advindas da atividade de estudo.
que adentrar o mundo do trabalho e exercer un1a profissão, pa ra grande parn·l.t I k pcnd cndo d as circunstâncias concretas de vida, o estudo é substituído pelo
da população, responde às necessidades econômicas pessoais e muitas vezes pitl.t IT11balho , encurtando sua duração em face da entrada no mundo adulto. As
a garantia da manutenção da existência. circunstâncias sociais forçam o adolescente das classes populares a iniciarem a
Conforme Tolstij (idem), nos an os de 1920 e 1930, o adolescente n a Unia c • vida adulta muito antes que o adolescente das classes mais abastadas, po is, para
Soviética era predominantemente um trabalhador, portanto a passagem à vid it o primeiro, trata-se de enco ntrar con.dições de subsistência, o que o impele a
adulta acontecia antes e o lugar ocupado por ele na vida social era como pn ,,,. t-rabalhar, configurando mudanças em suas relações com os outros e consigo.
dos recursos de trabalho e não de suas reservas, o que o posicionava como 11111 Outra questão a ser considerada é que a adolescência é uma construção his-
homem do trabalho, com as interpretações daí decorrentes. Esse aspecto foi, tórica, que nem sempre existiu como período destacado d o desenvo lvimento e,
segundo Tolstij (idem), compreendido pelos psicólogos soviéticos, que d estac.l portanto, não se pode considerá-la um fenômeno natural e universal, mas deve
ram as diferenças entre o adolescente burguês e o adolescente trabalhador. Pnm ser compreendida como expressão dessa sociedade. Dessa maneira, a adolescência
Vigotski, ainda conforme Tolstij (idem), a psicologia tradicional trabalhava cot n deve ser considerada em suas relações com a cultura e a sociedade, o que significa
base em dados concernentes ao adolescente das classes superio res, com poun ,., que essa fase do desenvolvimento pode assumir características diferen tes para
estudos a respeito do adolescente trabalhador o u camponês. Segund o os psin ,. diferentes grupos sociais, para diferentes culturas e, mesm o, nas diferentes classes
logos soviéticos, o desenvolvimento dava-se d e maneira diversa nas diferentl:li sociais, apesar de ser difundida como um fenômeno universal, destacando-se
classes, pois, em se tratand o d o adolescente trabalhad or, trabalhar consti tu ln algumas características que tratam na verdade de um adolescente "abstrato".
u ma n ecessidade vital e configurava o conjunto ele suas necessidades. Não pod emos, entretanto, deixar d e considerar que, de modo geral e histo-
• ricamente, a idade adolescente configura-se ainda como uma idade escolar, mo-
A necessidade de assegurar sua existê ncia, de trabalhar para comer oa a dificando o lugar do indivíduo na realidade social, pois ele é fundamentalmente

exigên.cia dom inante que amadurecia, justamente, no período de tr:m um aluno, com exigências ligadas ao processo de escolarização e com o período
sito. Esta é a causa peb qual o adolescente trabalhador percorria, ç(''" destacado como um momento de aprendizagem e formação de sua personalidade.
frequê ncia, um caminho abreviadG de maturação cultural e muitas \'t :v~ Tolstij (1989, p. 123) afirma que as tarefas atribuídas ao adolescente conjugam-
sua juventude não roJia manifestar-se, re:>ultando abreviada, debilnKiltt -se com "as particularidades reais dos adolescentes contemporâneos", e muitas
expressnda [TOLSTIJ, 1989, p. 1221. dificuldades da adolescência na atualid ade "são consequência da complexa
situação social de desenvolvimento em que se encontram hoje os adolescentes".
Essa ainda é uma questão válida a ser analisada, pois, como afirmava Vigotski Esse periodo envolve grandes mudanças da person alidade, que receberam
em sua época, a psico logia tradicional realizava seus estudos com o adolescentv na psicologia soviética o nome de "sentimento de adultez", referindo-se à neofor-
burguês e continua a assim proceder. As descrições e conceituações da adolcs mação psicológica que expressa a situação social específica de clesenvolvi.mento
cência e do adolescente continuam a expressar o conteúdo de determinada class\' dos adolescentes. Segundo Tolstij (idem, p. 127), "a atividade social específica
e, portanto, de d eterminada situação, não correspondendo adequadamente i\~ do adolescente consiste na captação e assimilação das no rmas, valores e procedi-
classes populares, em que as necessidades da vida colocam-se de maneira diferentv. mentos de co nduta no mundo dos adultos e suas relações", o que envolve certas
Uma das qu estões que se colocam também em relação à adolescência é Lil- particularidades da personalidade do adolescente, podendo não tran.scorrer de
que a extensão do tempo de estudo e o afastamento do jovem elo trabalho pro maneira simples e linear.
longaram a adolescência, e continuam, de certa forma, a prolo ngar no que diz T olstij (idem) também afirma que o adolescente inicia sua transição para o
respeito a formação de atitudes e comportamentos nas classes mais abastadas, mundo adulto em um plano ideal, por meio da imaginação, que lhe permite

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I'I'I III Hitll' l\1111' 11 llllli H l n, 11\ Wi Sl' 11l\' l lll l.' 11!10 l' l'l'CU IIi ll•c• idlll' lll l-i ll l i H l ' ll j)llt'id :nlvH; I ( ·111\':IU i\ iss(), vn Iv t'\ )(I H ' 111 111 q ll t: dt·Hdv 11 I II m nci L\ a CI'Í<H'lÇa jú é q uestionada sobre
I~ ll'l11td11 ul\)l·tlvw; sodnis, muitas vezes utópicos, pun'' l1l 111\ll li~ pod e rl'a liwl' 11 q11~· vni ser qunndn I' I'V~H't ~ l·, N ohrv o qu e gosta ria de ser. E frequentemente as
pnl' I'HI:I l'Oildi,·ap e, nind<1 para esse auto r, no mom L~ I 1 t·o l' ll1 que transform:H' 1\'H post·as vão mu d an d o <lO longo do tempo e com eçam a se definir melhor na
~a: t1 it lt•id t.• m 1'\.':t li tlnd e, o ad o lescen te se tornará um ad ul to. Essa transform<H,':\1 1 ltd o lcscência, quando a p ressão social por uma decisão aumenta. Entretanto,
1-~ igu i l'iríl colocar cm ação aq ui lo que idealizou, aumentar sua participação 11 :1 1IIli i tas vezes, o futuro imaginado está distante da realidade, e a ativiclade ele

t'<l tlllrnid ~td c, nss urnir um papel mais ativo e novas responsabilidades que nntv·, t't·ahrdh o responde às circunstancias da vida, ao que é possível, na dependência
1'1'11 m I'L•nlizadas pelos ad ultos de seu entorno. Começar a trabalhar constitui lll ll dn s necessidades da pessoa. A precisão de encontrar um emprego que permita
gntmk nva nço nesse processo. li sob revivência, para grande parcela da população, afasta as considerações

A inserção no tnundo do trabalho e as considerações sobre o futuro c u Nob re qual profissão escolher e seguir, sobre os desejos e afinidades, tendo~se
t•xe rcício p rofissio nal co nstituem aspectos significativos da situação vit8l du que aceitar as oportunidades que surgem. Porém, mesmo sendo obrigado a
a~. l o l csce nte, que tenta encontrar seu lugar no mundo. Para decidir~se em relação render~se à força das condições materiais na procura de um emprego, a falta
n um a p rofissão, o adolescente enfrenta a necessidade de responder a um signi d e informações claras e corretas sobre as possibilidades existentes nem sempre
f'i cndo social e pessoal, buscando atender a expectativa de futuro, considerand o estão acessíveis ao jovem.
n possibilidade de alcançar o sucesso e a satisfação pessoal. As incertezas sobrv Tolstij (idem) afirma que a escolha da profissão deveria envolver a tomada
vsse futuro projetado são um aspecto constante nas reflexões do adolescente, de consciência acerca da importância da atividade d e trabalho na vida do ho~
povoadas por preocupações e medos. mem e na organização da sociedade, na esfera da produção, cons iderando~se
Esse não é um processo fácil, pois as condições de vida e as circunstâncias o s ignificado social da escolha como elemento de participação e contribuição
ço ncretas de existência podem limitar as possibilidades do e1dolescente, que podl' para a coletividade e seu desenvolvimento, o que ganhava sentido na sociedade
ser compelido a trilhar um determinado caminho, sem chances de escolher. Mais soviética. Entretanto, em uma sociedade constituída sobre a base da exploração
uma vez, as condições postas por uma sociedade de classes, fundamentada em • do trabalho e fundamen tada no lucro, a consideração sobre o exercício de uma
um modo capitalista d e produção, tratará desse momento ele maneiras cliferen; profissão vincula~se apenas ao interesse individual ou às necessidades pessoais,
'
tes, pois as classes mais abastadas possuem maiores possibilidades de realizar sem considerar a contribuição para a coletividade.
escolhas e segui~las.
Tolstij (idem, p. 138) cita Bozhovich, que ar1ãlisou a situação social de desen-
volvimento de adolescentes e jovens no começo dos anos de 1960 e afirmou que €DUCAÇÃO, TRABALHO € FORMAÇÃO OMNILAT€RAL
ess·es grupos se encontram no "umbral da vida independente e devem traçar seu
caminho vital, encontrar seu lugar na vida", e escolher a profissão seria o centro A escola possui uma importante função no processo d e preparação d os
afetivo desse momento da vida, sendo que a orientação para o futuro desponta indivíduos "para uma diversificada atividade criadora, para a vida e o trabalho"
co rno característica significativa da posição interna dessa idade. (idem, ·p. 148), resolvendo uma dupla tarefa: "educar membros ativos da socie~
Nesse momento da vida, o adolescente vai tomando consciência de suas dade, ou seja, cidadãos, e assegurar a transmissão e o desenvolvimento posterior
possibilidades, embora ainda em um plano bastante ideal, buscando decidir em da cultura" (idem, ibidem). Para o autor, apenas a educação multilateral permite
que atividade poderá realizar suas potencialidades no que diz respeito a aspectos ao escolar determinar a esfera na qual aplicará suas capacidades, escolher sua
físicos e intelectuais, fazendo escolhas de modo ainda povoado por fantasias e, profissão futura e refletir sobre sua vida social.
geralmente, bastante distante d e sua realidade concreta e de sua classe social, Marx também ressalta a importância da educação, porém de um ensino
componentes importantes na efetivação dos planos de vida. vinculado ao trabalho produtivo, o que poderia fornecer aos trabalhadores os
De maneira geral, as imagens fantasiosas sobre o futuro e o que ele poderá instrumentos para sua elevação social. Considerando~se que trabalho e educação
proporcionar não auxiliam na escolha da profissão, pois o adolescente descon~ estão vinculados desde o princípio no desenvolvimento e formação do ser h uma~
.
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nu, 11 \ltli no t. k· ~ t\ S Ítl o 1..' l mha lhtl pr<>du t lvo ('I III III lj ll t'"'t rHtc"''-' IH I'II III I\'1 1 t ll1 '1 l l t lllt•~ , 11 l l' l'ill,' lll I l 1111g ttt'l~ dil pltii' ÍI11 l t/j !;:-; j, ltl,dtdi\1,1' 1 l\.1.tt'X I 'I H 11' ,I Íl l l.' l,l 1l:t III til;t


rd lcxôes nas o bras d e Marx a res pei to d a vdu c:1~·ao t..'MI 11l. tt . let :dt~l.tdt>, d,, IHIIII \'111 l'tll llpil.:l ll, que 1ral1:dh :t 11 :1cl :q'l'll,tS t: c1111 : t~ IJt flll,.,
Marx d efiniu o que consid erava ser o co n tcLJ<.Io 1w d agógin >l11m la m L' I\ t a l l'lll 111:1, l :tmh t": ttt co1tt1l 1 vrçlm1 1.' qliL', n>nst ienlç du pnHv:-.:-.11 q11c llt•..,,.,,,,,h,•,
um ensino socialista em suas Instruções para os de/.egados do Ccmsdlw Cera i J>rovi,cil to, do111ina·o c nao(• por ell' dt>minado litk·m, p. 101 ].
no I Congresso da Associação Internacio nal d os Traba lhado res, uefe nd endc I
o ensino intelect ual, físico e tecnológico, co m os fundamentos cien tíficos d (l O ut ra exigê nci.a q ue se faz no in tuito d a o mnilateralidad c, scgu ndo M:11 x
processos p ro dutivos (MANACORDA, 2007). "A união d o trabalh o produtivo rcn 111 (apud MANACORDA, 2007), é a desvinculação d o ensino em relação ao govc rt H> l'
n erado, ensino intelectual, exercício físico e ad estramento politécnico elcvnr:í 11 i) Igreja, para que o indivíduo possa libertar-se das cadeias d os p reco nceitos dl'
classe operária acima das classes superiores e médias" (Marx apud MANACORIlA, classe impos tos por essas instâncias. Na co ncepção desse filósofo, o ensino d evia
2007' p. 44). constr uir um r igoroso ensino de noções e técnicas. M arx press up u nha a un iuo
Trata-se d e uma u n idade entre teor ia e prática, co m caráter de totalidadt· da escola com a n ecessidad e social de reproduzir a vida, de regular o intercftm h il'
A •

ou o mnilateralidade do h omem, que pe rmita à classe trabalhadora elevar-st' o rgamco com a n at ureza.
além das classes privilegiadas. Essa união, n esse sentido, não pode limitar-se :1<'
- -
aspecto m an ual ou intelectual d a atividade p rodutiva, com objetivo m er amenlt' Em resunw, estamos perante uma determinada concepção d a rvi <H;:tl'
profissional ou com função de fo rm ação d e atitudes de respeito em relação <H' escola,sociedade, do lugar que a escola - local de trabalho das criam:a..,
trabalho (MANACORDA, 2007) pode ter ne la. Marx, frente à tendência objetiva da indústria de se u renq1n
Deve-se considerar, todavia, q ue o trabalho, mesmo fazendo parte do pn > de atrair crianças e adolescentes de ambos os sexos à obra da produ~.,-;i,'
cesso educativo, não po d e sozin h o libertar o hom em e m o d ificar as condiçüc~ social- uma tendência, para ele, progressiva, saudún~l e justa, em l]lll' lll'Sl'
da so ciedade; pode, sim, ser um elem ento para essa libertação em virtude dél o modo teJTívd co mo se realizava sob o domínio do capital-, a cons id l'Ll\':t
relação recíproca entre a escola e a sociedade (idem). Para tanto, não pode set como um fato permanente, inerente ao sistema de produçi'\o mndl'tllll,

um mero recu rso d idático, mas uma inserção real no pro cesso produtivo social, • correspondente a urna situação racionaL da sociedade. A lém dis:m, não ti

constituindo um vínculo entre estruturas educativas e estruturas produtivas. n ha sempre todo sisterna de produção atra ído ú sua ativi.dade tamh(·nt a..,
Para Marx, tratava-se da necessidade d e se formar uma vida de com'unidad c crianças? Frente a essa ten d ência obj etiva e progressiva, punha a quesl ;w
em que a ciência e o trabalho per tencessem a tod os, e a educação escolar d everi:1 também e rnergc:~ntc dessa realidade- d e associar o ensino ao trahalhn ti l'
configurar-se como um processo em q ue a d~ncia e o trabalho coincidissem. Uma fáb rica. O papel social da escola configura-se, pois, para ele, sobren1d, ,,
ciên cia q ue refletisse a essência d o ho mem, sua capacidade de domínio sob re a como uma in.te,gr<~çi'lO à fábrica , do mesmo modo corno a a1)rendiwgvn1
. natureza, não apenas um trabalho d estinado à aquisição de h abilidad es parciais dos ofícios era urna integração à oficina a.rtesanal lidem, p. 108, 109 ].
(apud MANACORDA, 2007).
Segund o Manacorda (idem), M arx consid erava a união entre ensino e traba Na base da concepção de Marx sobre a união entre ensino e trabalh o está o
lho parte de um processo d e recuperação d a integralidade d o h o mem , ficando en tendimento d e trabalho pro dutivo co m a incorpo ração d a prática d e manejo
co mp ro metida pela divisão d o tr abalho e da sociedade. Essa união significava a de instrumentos d e tod os os ofícios associado ao estudo d os princípios funda-
efetivação d o p rocesso educativo em um p rocesso de trabalho total, pleno, d inâ- men tais das ciên cias, sem opor cultura e p rofissão, m as configurando,se como
m ico, e a formação d a o mnilateralidade do hom em. Segundo esse autor, M arx uma atividade operativa social, fund amentad a nos aspectos m ais mo dernos,
afirmava "a exigência de reintegração d e u m princípio u nitário do comportamento integrais e revolucio nários d o saber (idem).
humano" (idem , p. 83). Nesse sentido, é necessária u ma práxis educativa vinculada Segundo M anacorda (id em), M arx opunha ao cr itér io burguês d e pluripro-
ao d esenvolvimento real da socied ade, sem separar os homens em esferas alheias fissionalidad e a ideia d a omnilateralidade, do homem com pleto, co nscien te
e estranhas umas às o utras. A formação o mnilateral pressupõe a reun ificação das do processo que d esenvolve, dominando-o , e n ão sendo d o m in ado po r ele.
estruturas da ciên cia e da produção, para o que a escola d everia ser transformada. Trata-se de um "desenvo lvimento completo, multilateral, em to d os os sentidos,
.
M, ,t III 1/\ t~ . 1), t:At]tl (t li HI)
I I I I hdA M, MAt•tll'l'•, NH il 1.0 A Alllü\1111 PII 1 IOIII//\~J"Il 111 1tl01 111 11 GULHJI~AIIJU IJt itH ~IIVÜlVIMIIHO l''tiC.HJILil .t i

das fnc uld ades \.' diiS l'o l\ 'iiH prud111 iv;1s, dns m·vvss ido~d~~~~ t' dn t'ltpndd;~d l· d:1 l'l ll :l St ld HH IIl l~-o ki (PJ'/'/) ll '!i~ldl tl 11 llt.'I~\!S$ Idndv dv :1 t•dtl t':H,:i<> nli:t l ·,, l' it p1 i1111.'il
satisfação" (idem, p. 87). n ' \'< >Itil il>ll :'11 i:t P< >i ~-o i wgtii HII, l' ll~ i '> I, v:-; 1a é capaz l k ro m PL' r r o l ll o rf r c ui< >vil 11 1<;1,
1

• dntvol'iilJWdng<'>gita :llll:t l ddv11dl'IHio ainda que só assim tal atividade podv til li I
1

Sl' t'\ tramd(mn:lt;ao das rela~'tks humanas atuais e à transformação dos IH>Illl' lll'i
CONSID€RAÇÕ€S FINAIS pela educaç5o, sendo a base para a superação do opo rtunismo e da utopi il, lJllc
exige m adaptação às relações existentes e adiamento das mudanças para o lut t 11 < ,,
Na ad olescência, a partir da formação de conceitos, o indivíduo torna ·s1
A supe ração da sociedade capitalista pode ter a escola como fortL' iii i:1d:t i
capaz de compreender norn1as, regras e valores em seus fundamentos, podend 11
desde que esteja comprometida com esse processo, superando sua forma :lltl :tl .
apropriar~se delas, tornando-as su as e, a partir disso, formar as próprias conCl'P
Pistrak (2000) analis<1 as contri bui ções da escola, propondo uma institu i~·;io vd 1I·
ções, convicções e valores. Nesse processo, conforme Leontiev (197 8), o sujeit 11 cativa vinculada aos ideais comunistas. Para o autor, a escola se rn.pre refiei i11 svt 1
está ao mesmo ten1p0 munido e limitado por representações e conheciment us tempo e sempre esteve a serviço do regime social determinado historicai1ll'lllv,
de sua época e sociedade, que são as ideias dominantes, o que implica adoks e não poderia ser diferente. Contudo, para superar essa condição, os objct iv<1s
centes formando a própria concepção de mundo e compreendendo a realidad v da escola deveriam envolver a formação de um homem capaz ele reconhecl' r-st·
a partir da apropriação de significações, pensamentos e opiniões aí contidas. como ser coletivo em luta contra o regime social.
Nesse sentido, essas significações veiculam um conteúdo ideológico expresso Conforme esse auto r, a escola deveria formar seus alunos no marxismo, para
por palavras e con ceitos que, em uma sociedade dividida em classes, revela l > que os estudantes sentissem organicamente esse método, que não pode ser enten
conteúdo próprio da classe dominante e passa a ser internalizado pelos jovens v dido simplesmente como um modo de analisar a realidade e esclarecer a essência
assumido de maneira naturalizada e universalizada. dos fenômenos, mas que deve ser concebido também como um método ele atuar
Nessa lógica, o acesso ao ensino é, segundo Sforni (2004), condição para a no intuito de transformação do existente, fu ndamen tado pela <málise realizada.
aqu isição ele instrumentos cognitivos que favoreçam a compreensão acerca da Pistrak (id em) compreendia a necessidade de formar alunos capazes de
realidade e permitam ao indivíduo agir de modo consciente diante da sua prú • analisar criticarnente a realidade e de preparar-se para a luta e para a criação ele
pria realidade, para o que é n ecessário competência no uso de signos, códigos c uma nova ordem revolucionárin que promovesse a transformação da sociedade.
instrumentos desenvolvidos socialmente. Segundo a autora, é necessário que se
compreenda como a ação humana tem transformado e ainda pode transformar (~ prec iso qu e n n o\'n geração compree nd a, em primeiro lu.~<1r, qua l é a
a sociedade. ... naturezn d<l lu tn t ravad(l atualmente pela hu manidade; em :,cgundll lugar,
Assim, quando falamos em educação escolar, n ão é de qualquer educação que qual l> es ~~:H;o oc upado pda classe explorada nesta luta; em tcrlt'ir(l l11gar,
estamos falamos, mas daquela comprometida com a finalidade de emancipação l' qua I o e~ paço que deve se r ocupadl) por cada adulesCl'll tl'; c, fi n:d llh' rt te, é
humanização, que permita o desenvolvimento pleno dos indivíduos. Para Savian i que cada um ~a i ha, em ~l'LIS respectin)~ espaços, trm·ar a lu ta pdn dl·~tlliH;ào
(2005), os desafios que se colocam à educação em uma sociedade de classes é fazer das fmmas inúteis, ~uh!-tituinJo-as por um nm·o edifícin [idem, p. ~ 11.

da instrução um componente n a luta pela superação dessa sociedade dividida, o
que envolve maior qualidade do ensino oferecido. O autor afirma que em uma escola marxista o trabalho como princípio edu-
Assim, sendo a educação parte integrante e necessária ao desenvolvimento do cativo deve articular ciência e realidade em íntima relação com os objetivos gl' rais
indivíduo e de seu psiquismo, faz-se necessário um trabalho educativo que se dirija da vida, favorecendo ao adolescente uma participação ativa na constru ção :-.ucinl,
às formas de produzir esse desenvolvimento de maneira plena, tornando-se um para que ele compreenda que a prática d eve ser generalizada e si.stematizndil pela
instrumento para a compreensão da realidade, em. suas múltiplas determinações. teoria, uma vez que o trabalho é condição para a existência social do hollH.' m.
Vale destacar que "é enquanto possibilidade explicativa, enquanto abstração me- Para Pistrak (idem), trabalho e conh ecimento científico devem ter o llH'H tno
diadora na análise do real que as teorias, a ciência e, portanto, a transmissão dos objetivo e a prática deve ser ge neralizada e sistematizada pela teoria, garn11 1imio
conh ecimentos clássicos assume sua máxilT1.a relevância" (MARTlNS , 2006, p. 57). sua vinculação. O trabalho, para isso, deve ser considerado por um p o 11 1u de
'I j I I IOIAM MAIIIIN9,AN11I I{lA,Ani(Afllf '[li\MAitH(IA{• ü. FACt I (OH<•l
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I'I I (I( li II 'N,!"o 111 1d l'lWG(It III I I 11 (/\I [lll I lf tH tiVOl VIM I Nlü l'tl llllll( .t I q~

vista soci,tl em relnçao <lS ne<:essid <H.ks d:1 çoll'l ividm ll', t '1111111 II II\ l1 Lt1l1• t'tltH' I't•t:t 111 :t lt'l'lnI, l ' li V() IVl ' l H lo u dlllfd nl u p d tl' lc11 H~> Im : :1 nr 1:ic1dn\'tH 1 v lll t·v H:d ll' l • t: p ,., H't 'N,'H ,
socialmente útil, não simplesmente corno ap rendizado dv ,dJ: IIttHHI IHll 'll\:\ S ll\ p l·ud 111lvo (id em).
nicas e procedimentos metodológicos de detetmi nadas pro!'i :-;suvs. O 1rab:1l ho O ens ino médio, co nl ot'lll l' Snvi: tni (idem), d eve ser nortc:1d o pela 11 l'l'l'Ssidad t'
é, assin1., concebido co mo a base sobre a qual a vida se eJ ifi ca e a sociedade sv dl' proporcionar o domínio dos (u ndamentos das técnicas diversifi cadas ui ili znd;tH
desenvolve, devendo fazer parte da escola como fenômeno social que também no processo de produção, e não simples mente o treino em técnicas prod 111 iv:111;
se configura como processo formativo, organizando o processo educativo. !\ trnta-se d a formação po litécnica, que, segundo o autor, significa o dorníni () d,,.,
compreensão da realidade deve permear a pedagogia em uma perspectiva socia fundamen tos científicos das dife rentes técnicas utilizadas na prod ução llHld i.' Jil il.
lista, tendo o trab alho como principio educativo, para que o educando entend:1 Pnra tanto, a educação, nesse nível de ensino, deve concentrar-se nas modal idad t·.,
a divisão do trabalho, o seu caráter ontológico. fundamentais que dão base aos processos e técnicas de produção existenll.'s 11 11
Para Pistrak (idem), era necessár io que a nova geração compreendesse a atualid ade.
natureza da luta travada pela humanidade contra a exploração de uns pelos Isso implica a formação n o ensino méd io estendida a todos, indcpend l:IJ•
outros, uma vez que se tratava ele superar a sociedade capitalista. Nesse sen tid o, temen te da ocupação que será exercida posteriormen te, o u seja, umn esco l11
era preciso compreender qual o espaço da classe explorada e o espaço a ser o cu- média d e for mação geral. Essa con cepção d ifere da proposição d e um cn:-. i 1111
pado por cada adolescen te na lu ta pela destrui.ção das formas desuman izantes d a profissionalizante como treino ou adestra mento em uma habilidade, sem qtlt' st•
sociedade, sendo a educação escolar uma ferramenta poderosa para a construção conheçam os fundamentos d essa habilidade ou suas articulações com o p ron•ss11
de uma nova sociedade. C o locava-se em d estaque a formação integral d o homem produtivo como um todo (idem).
e, para tal, os conteúdos escolares teriam o papel de preparar os educandos para O ensino superior, para Saviani (idem), deveria o rganizar a cultura supcri t >I
uma nova ordem, com novos conhecimentos e concepções sobre a socied ad e, permitindo a par ticipação de todos, de forma plena, na vida cultural cm s1t :1
explorando e problematizando as relações com a sociedad e. manifestação m ais elaborada, possibilitando também a difusão e a discussão d os
Nesse sentido, é necessário que se reflita, em nossa sociedade, sobre o trabalho grandes problemas que afetam o homem contempo râneo.
como formador durante a adolescência, pois é nesse período que se desenvolvem, • Essa perspectiva tende a superar a situação atual, em que o trabalho - l.'l1.·
de maneira mais significativa, as potencialidades do indivíduo, conforme aponta m cnto importante na formação do adolescente, uma vez que é constitutivo dt,

V igotski (2005). Além d isso, se o trabalho é imprescindível na formação humana , h o mem -, não se tem apresentado em suas possibilidades formativas nem cotll<,
não se encerrando apenas na produção de mercadorias e na produção d e mais- elemento de contribuição social, ou seja, como elemento de participação 11:1
-valia, o princípio educativo deve superar o papel da escola como local de seleção sociedade e na sua constr ucão.
'
prévia dos estudantes "mais adequados" ao processo produtivo. Portanto, como projeto, pensando na formação de um homem novo e d e U ll l.J
Saviani (2007) parte das reflexões de Gramsci sobre o trabalho como princípio sociedade nova, que possa su perar as limitações impostas pela atual socied adl·
educativo da escola un itária, que corresponderia, em nosso sistema educacional, capitalista, em direção ao desenvolvimento pleno do gênero humano, um a nov;t
aos níveis fundamental e m édio, e afirma que o grau d e desenvolvim ento atual educação deve formar n os adolescentes necessidades e motivos q ue lhe permit 11111
coloca a exigência de um mínimo de conhecimentos sistematizados que garantam incorporar-se ativamente na produção social e na vida da comunidade. Par:1
a participação ativa na sociedade. isso, essa educação deve impulsio nar o desenvolvimento cognitivo que pcrm i1a
Partindo desse princípio, no ensino médio, que atende a faixa etária da ado- a compreensão da realidade em sua essência, favorecendo a inserção e atu aç:H >
lescência, a relação entre o conhecimento e a atividade prática eleve ser tratada nessa mesma realidade.
de maneira explícita e direta, recuperando a relação entre o conhecimento e A sociedade atual avanço u imensamen te na tecnologia e nos processo~
a prática do trabalho. N esse nível de ensino, n ão basta dominar os elementos produtivos, porém à custa da d esumanização de tod os os h omens, em u m s istl'
básicos e gerais do conhecimento que resultam e contribuem, ao mesmo tempo, m a de opressão e alienação. O adolescente, nessa perspectiva, como expressa<>
para o processo de trabalho, é necessário tronar explícito como o conhecimento, dessa sociedade, encon tra-se também alienad o, como q ualquer o utro indivídu o,
que é potência espiritual, converte-se, no processo de prod ução, em potência tendo suas potencialidades cerceadas, também como qualquer outro sujeit().
.

M~ICIIllf\ l~ I) I'AGCI (I~~~~' l 1'1 IIII IIli 1\1~,\t l III' dI 11 (III l (jll[ 11.11 (A_i i lllltllli 'ii VUI 'I MI III O 111 •lt1111Lt1 'I/
I I (I li! i IA M, MAH I lN\ 1\NI d I I l A AIII :lt III

Swri\Nl, 1) l ·'d111 ltt,il•• "" hditnn, pn i JiH"Hí ll h ht. olt tlll'l tirlt ~~ ,,s ~ ~~~~'~"n"~ d .1 'ltllll'd "d'
( :l> mpn:l· ndc r :1 m luksr0nl.'ill t k ·w n>n si dt·r:lr :l l'l> llll l l t ~~ I Hl fl•' dlll\'lt l itlitdl' ,. ,twi:d,
d\· 1ln Mi l :H . l11 : l ll~II\ 1\Hill , 1. C' o~ ~ltN l AN l, I) (t )q~.). Mct1\L\llltl c' t'cl ll t Cl~clo : dd !il lt'll
• tal qual se apresenta, c a sociedad e atua l, c m sua!'> possthilhl:tdt·~ t' litllitl's, v ll :ll,
Cll tllt'tllpOI'illll'OS. ( ::1111p Ít1 111; \llltllt'M 1\ HHI H' Íildt>s: ((!SI Hllllt, 2001. p. 22\ 27'1.
co m base em caracteristicas naturais e universa is:
- - - -· Trnba lho t: vd uc:t,-i'io: 11111d:~ttH'Illt>s onto lógicos e h istóri cos. He1•1s1n de• Hw\llt •ttlt
Para finalizar este capítulo, gostaríamos de reforçar qu e o tk·sl.'nvo lvirnento ""
Edrtcttçdo, Rio J e Janeiro: Â NI'I d; ( ':unpinas: Autores AssociaJos, v. 12, n. H, p. I'>l lHO,
adolescência não é homogênco e linear, mas depende de condições históri cas v
jnn./abr. 2007.
sociais determinadas, não se dando da mesma maneira para adolescentes pertc11
centes às camadas populares e adolescentes pertencentes às camadas privilegiadas Sr:oRNI, M. S. F. Aprendizagem conceituaL e organização do ensino: contribui çôcs da IL' oria d :t

da sociedade. Trata,se de possibilidades bastante diferenciadas, como exposll> ntividade. Araraquara: JM Editora, 2004.
anteriormente, o que coloca de modo mais premente a necessidade de não st• SuCHODOLSKl, B. Teoria marxista de la eclucación. México: Grijalbo, 1977.
tratar a adolescência de maneira naturalizada e universalizada, mas de considerá,b TOLSTrJ, A. EL hombre y La ecla.d. Moscou: Editorial Progreso, 1989.
um processo permeado pelas relações sociais próprias de nossa sociedade, pela VIGOTSKI, L. S. Pensamento e Unguagem. Trad. de J. L. Camargo. São Paulo: Martins hHll t~~i ,
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APII'LILO 11

IDAD€ ADULTA e O D€S€NVOLVIM€NTO


PSÍQUICO NA SOCI€DAD€ D€ CLASSE:S

JUV€NTUD€ e TRABALHO

ANGE:LO ANTONIO ABRAN ll·~S 1

LARISSA BULHOCS'

INTRODUÇÃO

o presente capítulo, o objetivo é colocar a idade adulta como prohk1n:t


inerente à discuss8o ace rca da periodização do desenvolvimento psíqu Íl11,
• tlvstacando o período inicial da vida adulta - a juventude -, tendo co rn o h:lM'
I"H H·teadora a perspectiva da psicologia histórico-cultural.
'
Segundo essa teoria, cada período que compõe o processo d e d cse 1w( 1i
vimento d o indivíduo é caracterizado por uma atividadc qu e desempcnllil ii
ê....

h 1nção de principal forma de relacio namento do sujeito com seu entorno soci ;d,
diri gindo as mud anças m ais importantes referentes aos processos psíqu in1s
do indivíduo e às particularidades fundamentais de sua personalidad e. Ess:1
.11 ividade desempenha a função de "guia" do desenvolvimento ps ico lógico dP
111d ivíduo em dado mo mento de sua existência, constituindo-se como ari vid .1
.lv decisiva em m e io a o utras atividades sociais que compõem a expe ri ê nri.1
t•.ksse sentido, n as relações com as demais atividades de q ue a pessoa parti c i p;1,

G rad uado e m psicologia pela U niversidade Estadual Paulista "Júlio de Mesqu im Filho" (t lNI ·.r)
(· mestre em ps icologia da educação pela Pontifícia U nive rsidade C ató lica d e São Paulo (PU( · "'·'''
Paulo) e doutor e m educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAh1P). Proft·sM 11 .1 ..
r urso de grad uação e m psicologia ela U NESr/ Bauru . V ice-líder d o N úcleo de Estudos e Pv.'>ql li'•"
"Ps ico logia Social, Saúde c Educação: contribu ições d o mar xismo" (N F-PPEM).
I
Graduad a e rn ps icologia pela U NESP (2010) e do utoranda em ccluc:'lção escolar pela r aculd;ldl· d1
C iências e Le tras cln UNESP/ Ara raquara. Professora :>ubstituta do cu rso de ~rraduação c m psicoluJ-:i.l, !.1
UNESr/ Bauru c integra o G rupo de Pcsqu is a "Estudos Marxistas e m Educação". Ul\F.Sr/ Araraq11.11 .1
"I'' III liAM, MAl~ I lN~, At~t 111 { 1A AI_IIV\t~ i I li &Ml\1(11 UA U I} 1-'Ai.JCI (t liH' ) I'I ·I~IOOIYAC!AO I lltfi'ÔI~I~U -(;ULi liJ(t\l l il! l 11 :III :I~Vl HVIMLitll U PUIUUttll 1 L I,,

canl<: lcri z~H;c como utividwle domiHflliLt' no pt·un·~~i > d l· :tiiV•It t1 .tmdottl\ll~·fH::1 l•tn ,.,t'H tildn, tll t ii'"''",\ jii\• ' IHII,_ I ,~ lt'llh;dl ll tdllt'n: <tl''<t~ rdt ''' d.1 .ti lvld ;tdt prin
no modo característico de o indivíduo vin cular-se co m n I'L'< did iltk. OhM·rv:I ·Sl' 'ipnltl:l ord v ttl ~ori: d v lgt 111 1" 1«' \t l;lllll l"' ljlll~ :1 co ntr:~di \no l'l' tliTnl t:ttlll' r:~plt'n l
que a atividade dominante encontra-se em l,lnidadc dialótica co m um co njunt <, ( ~ I mha lh o nprcsc nta~s v l'lll ll<l dl' l l' llllitl:l~'iiO li atividnd ~ principal t'Xl'l'i'ld:1 fH' Itl
de outras atividades sociais, e o fato de exercer dominância em relação a ela~. I mhn l hado r adulto na sm:ivd;~dv ca pi 1ai is ta, incluindo a j uvcn t udl' t rn h;d llildt 11 'n,
considerando os processos formativos do psiquismo, n ão elide as med i_ações d :1~ indi ca ndo que essa relação avi lta o trabalhador, agredindo-o c co nf"isc:t tHI P ,"i l llt
d emais atividades como codeterminantes para o desenvolvimento da rclaça< 1 livrc atividade corpórea e su bjetiva, sobrecarregando-o no processo d c 1r:1h:d l11 ,
do indivíduo com o mundo. no mesm o tempo em que empobrece o seu conteúdo. Indicamos qtH..', p:ttn :1
A advertência sobre a dialética entre a atividade dominante c a codetermin 11· rcn lização dessa subsunção do trabalhador jovem, é n ecessário u rn p rocvsst 1 d ,.
ção de um conjunto de atividades sociais para o desenvo lvim ento psíquico e pa r:~ conformação educativa e afirmamos que uma atuação transformadora ou itd.q 1
o processo de personalização torna-se essencial quanto mais se co mplexificam n~ rativa do sujeito na época adulta dependerá, sobretudo, da cspecificid;1dv d:u.
relações sociais de que a pessoa toma parte, como é o caso do jovem adulto, pois, mediações entre ele e os objctos da cultura ao longo d e sua existência.
com as multideterminações e o intrincado de experiências d e que participam No quarto tópico, "A época adulta apreendida em se u vir a ser", sislt'tn:tti:n
os indivíduos, fica cada vez mais fugidia e problemáti.ca a identificação de u ma mos considerações sobre as contradições sociais e a existência de projcros snt:it.·
atividade dominante que oriente o d esenvolvimento psíquico. tários antagônicos que permeiam a existência do jovem, afirmando a nccessid:tdl
Para refletir a respeito do assunto, este capítulo foi o rganizado em quatro tú- de posicionamento consciente para o exercício da práxis. Destacamos l' JH:II 1 :t
picos. No primeiro, "Juventude e trabalho: a atividade principal como problema" , necessidade de apropriação do conhecimento sistematizado por parte do jowtlt
indicamos as dificuldades em se estabelecer o período da juventude e pontuamos da classe trabalhado ra, por tal meio exercer um papel fundamental no alcancv d.t
que tal fase está associada ao início da época adulta, não se confundin.do co m compreensão das contradições essenciais da sociedade. Salientamos também li' ll
o momento da ado lescência. Advertimos que mais d eterminante que a idad e o desenvolvimento da práxis de resistência à alienação pressupõe a form<w;w d.t
para compreender a atitude do jovem perante o mundo e suas possibilidades d e consciência a níveis que não ocorrem espontaneamente, e sim pela media~·:io d:t '1
desenvolver-se é a sua relaçã o com o trabalho, ou seja, sua luta por autonomia~ produções científicas, artí.sticas e filosóficas pelas quais o jovem deve Iu ra r p:lt ':l

pela possibilidade de realização de uma atividade socialmente produtiva. Defen- ter acesso. Levantamos o problema das neoformações psicológicas que su rgr-111
d emos a hipótese d e que analisar o desenvolvimento no período ela juventude como resultado da atividade dominante do jovem , indican.do como proposi~·: u,
e identificar a atividade dominante que permita "guiar" o desenvolvimento d o que o "novo" para esse m omento do desenvolvimento seria uma relação C<ltn
jovem no intuito de uma práxis consci~nte é pressupor a unidade contraditóri a a realidade em qu e os sistemas teóricos a que o jovem tem acesso n ão sl'j:1111
entre a atividade de estudo profissíonahzante e a atividade produtiva, destacando qu e somente apropriados, mas passem a funcionar como processos de pensamcnt <l,
a predominância de uma delas ocorre pela d eterminação da posição que o jovem tendo o intuito de compreender o real para transform á-lo.
ocupa em relação aos meios de produção.
Considerando que o jovem em atividade no mundo deve ser compreendid o
em sua relação com o processo produtivo e vinculado à necessidade de quali- JUVeNTUDe e TRABALHO:
ficar sua força de trabalho por meio da atividade de formação profissional, n o A ATMDADe PRINCIPAL COMO PROBLeMA
segundo momento, em "A atividade produtiva submetida à lógica do capital na
sociedade de classes", organizamos uma reflexão sobre o trab alho na sociedad e A reflexão deste tópico caracteriza-se como o início de uma el abora~ ;H,
capitalista, apresentando de maneira sintética as contradições centrais entre ou colocação do problema vinculado à tarefa de compreender a din âm ica dt·
capital e trabalho. Destacamos que, por um lado, o capital depende do trabalho atividades de que o jovem adulto participa e as determinações centrais pat.l 1'
para se autovalorizar e precisa, portanto, incluí-lo corno um momento essencial seu desenvolvimento como pessoa, tomando como princípio as transfo rm:w< H h
de sua totalidade; por outro lado, d eve excluí-lo e negá-lo como fonte de valor qualitativas no seu modo de existir. Cientes da necessidade de realização dv t'K

que tenha potencial para afirmar-se por si mesma como uma totalidade. tudos sobre o tema, fundamentamos nossas observações na perspectiva de qtll' ,,
.
II
IJ j I h1IAM MAli I ltl'i, NH 11 UJ A,AO ItAl IIli! i~ M I III IA (4 IJ, IW~G I (I li H1 I I'IIW li 11/1\C~/\0 I lllll t ll~ll t l t l Jlllii iAI IJU ttí [IIII /t li VIMI N1'0 I"lll.lllll Il LIfi

ttll1\'Í tt H' Illu dl· t.: Clllli !H'I.'t' tll lt•t n Jnvv tt t 1111 lttltt'ld ll pi ll' lt~ \.lo }i!t:t l't~ l : n;'ll•'
nnnli s nt' l,'t'H·S st>ct:lih l.' 11 pnskit1 1t: llfl t' rtll >pt11rtkt> t' tll rl'ia ç;io ;\ re:did mle c ao se u estar no
Cl111l f1 ll'ln:t ~·m·s M 1Cil\ is tll ilrrada :-; pl·la dvsigu:dd :H.k, 11v ln ' ltlllllll iH, 1111 ,. l'xpll1t.ll,'l t• • ltltiiHio. l ~ m o utms pnlavt il:-i, o jowm, ao projetar se u fu turo no mundo e nele
de classe . Portanto o desenvolvimento do jovern .em :ttivi t ladv social(· tr:tt·:td•• : t ~i r, reali za urn ato politico de objetivação da realidade, mas, n o entanto, não
no ce nário da lu ta de classes, buscando-se substrato pnrn evitar rdlexCK'S qtH.' '" twccssa ri amente ele tem consciência de si.
baseiem em uma suposta e abstrata juventude em geral. Em estudo sob re co nceito de juventude e suas transform ações, Trancoso
É importante destacar que, crn conformidade com os pressuposto:-; qll• l' O liveira (2014), partind o do princípio de que as significações de juventude
fundamen tam a psicologia histórico-cultural, os determinantes do co nt c11d" tra nsfo rmam-se na m edida em que a realidade é transformada, afirmam tornar-
dos estágios de periodização do desenvolvimento de modo algum são entt·n ..se impossível um conceito unívoco para juventude. Na análise d e quinhentos
didos com o elementos cronológicos o u biológicos. Pelo contrário, todos cst1111 e trin ta e quatro documentos, entre artigos científicos, teses e dissertações, os
condi cio nados às d eterminações socioecon ô micas que compõem o momettt 11 nu tores con clu íram que o significado de juventude apresenta-se, por u rn lado,
h istórico em que o sujeito encontra-se inserido e deve m ser objeto de profulld.t pela expressão de u m grupo social com posturas intrínsecas, comandadas pre~
análise para compreendermos o desenvolvimento psíquico em sua essência. N:~-, ponderantemente pelas variáveis bio lógicas, destacando m udanças h ormonais e
palavras de Leontiev (1988 , p. 65-66): "não é a idade da criança, enquanto tal, energia em excesso como marcas que permanecem e universalizam o conceito.
que determina o conteúdo de estágio do d esenvolvimento; os próprios limitl'., Nesse grupo, são significativas as con siderações que apresentam a idade com o
de idade de um estágio, pelo contrário, d epend em de seu conteúdo e se alterant fator determinante da condição juvenil. Por outro lado, contrapondo essa pers-
pari passu com a mudança das cond ições histórico~socia is". pectiva, a juventude é considerada um conceito-processo, algo em movimento
Em se tratando da juventude, as explicações que supervalo rizam as leis biol1, constante, m es mo que o peso das deter minações históricas seja distinto n os
gicas acusam ainda mais seus limites, pois os determ in antes de ordem histórk< 1· constructos epistemológicos analisados.
-sociais e culturais fundamentam o dese nvolvimento da consciência do indivíduo, Pode-se evidenciar nessa pesquisa a dificuldade de definição d o conceito
uma vez que somente é possível co nsiderar a consciência individual em. uni dad,• de juventude, no entanto os autores d efendem que é no espaço de luta da vida
co m a consciência social, res ultante das conquistas do gênero humano e das • real q ue as ideias de juventude são engendradas, por vezes confirmando os pré-
contradições sociais tornadas conscientes historicamente. Os aspectos biológio ~~ -con ceitos, por distintos suj eitos coletivos, e muitas vezes acrescentando novos
existem e subordinam-se às leis histór ico~sociais, visto q ue não dctermi'nam o elem entos à significação social da juventude. Trancoso e O liveira (idem) a i.nda
con teúdo do desenvolvimento do jovem adulto e muito menos explicam limitl's alertam para o fato de que, não obstante a originalidad e das biografias juvenis,
e possibilidades de sua existência no rnundo .. é necessário que o jovem se insira cm processos sociais mobilizadores ele sua
Quando se toma como princípio orientador do desenvolvimento da pesso<t capacidade para elaboração de um projeto de vida e, igualm ente, facil.itaclores
adulta o trânsito de um a consciência comum em direcão a uma consciência filo de sua formação como sujeito ativo . Os autores destacam que a transmissão ge-
'
sófica da práxis humana, ratifica-se que os aspectos biológicos são insuficientes l' racional é fator decisivo para o desenvolvimento do jovem, uma vez que grupos
secund ários na explicação do vínculo consciente do indivíduo com a realidade. juvenis por si próprios são insuficientes para a vivência da vida pública (idem) .
A concepção espontânea e irrefletida d a atividade humana, que identifica a A inda nesse estudo, uma das definições sobre juventude nas produções aca-
atividade no mundo com a prática utilitár ia da sociedade alienada, encontra dêmicas analisadas destaca a distinção em relação à adolescência, apresentando
seu contraponto na concepção filosófica d e práxis, apreendida pela consciência a juven tude como o momento e m que a pessoa inaugura seu envolvimento com
que capte na totalidade histó rico-social as expressões particulares da atividadl' questões sociais e políticas de sua comunidade e/ou sociedade como um todo,
humana (VÁSQUEZ, 2007). orientando sua relação com o mundo em d ireção à fase adulta. Assim, Trancoso
Nesse sentido, o desenvolvimento do indivíduo adulto, con siderando aspec- e O liveira (idem) não desco nsideram que adolescência e juvent ude estão relacio-
tos objetivos e subjetivos, implica a superação d a consciência em si e da prática nadas, pelo m enos entre o fim da adolescência e o início da juventude.
utilitár ia em direção à práxis consciente do m u ndo; esse p rocesso pressupõe qu e Segundo os autores, essa dificuldad e de distin ção figura até mesmo na própri a
haja pelo sujeito a apropriação d e sistemas teóricos, a interpretação de contradi- legislação sobre o tema, uma vez que no Estatuto ela C rian ça e do Ado lescente
..,
(, II!IIAM MAfrfll·l3, AN11IIOA.Afii~At.Jít MAl UlDA O. O rACC I (lll'l 'I 1·'1 I 'IIII" At,;i\11111' ti t'lHI! .I) tj l.ll.l UW\1 lllllll '·I lN OI VIMI III f o P' ,h JIJII (I I ·I

(I~CA) fica estabelecido que a !K'sso;~ adolt·srl'llll' t'IH'Illlll 'il •~t · 1111 l:dxn l'l':ll 'lll :1 l t l.tdt • : lj l lt'~l' lll': l \'I II i: ll,':'\!tl_' lll11_1 lC_j t' li) oiii11S 1 tl .lt l ~v 11d1 1 jllll'l~(\'t ' llllllol j)lt,'l ' l ~(lct

de 12 anos comp letos a 17 anos inco mpletos, e nqu anto a Pulllicu Naçiunal d11 t; lll l't'l :t\':tn ao Sl' l' jnvt.'lll

Juventude estabelece (CONJUVE et ai., 2006) que a pessoa jovem possui de I Sti l lo:. No rclerido estudo dl' TmtHtl:-.t> L' O li veirn (20 14) I(Jmln idvlltilit :ll l:ts
a 25 ou 29 anos. O fato de existir na legislação certa indistinção entre juvc nt lH lt ' posi\'Ol'S q ue relativizam ao cx tri.'tno a dcfini ç8o d e juventude, <l!Wl'SV Ill·nllt.lt'
e adolescência indica a confusão terminológica e a possibilidade de se rel(•tll l'SS:t ctap<1 como um jeito de esta r no mundo, não in1portando <I S L l l'limit ·:~t;·tH's
às mesmas pessoas como jovem adulto ou como adolescente, dependendo do t~t ;1 rin s, (ís icas ou biológicas. Nessa conceituação, é afirrnado que na o sv l'~; l :1

interesses em jogo. jove m, mas se é jovem ou se pode ser jovem eternamente. Essa visão rom:ttlrt.·a
Vale destacar que Trancoso e Oliveira (2014) alertam para a complexidade d,, da da juventude pouco contribui na reflexão sobre o mo me nto inicial dil vtd,,
discussão sobre o conceito de juventude e para a necessidade d e diferenciação l'tll adulta c ainda omite sua relação central com o trabalho, pois o vín c ulo co tn 11

relacão à adolescência. A tarefa de considerar esses momentos do desenvolvimcnt<' processo produtivo organiza ou reorganiza as ativid ades sociais e a cxist"0tH'i:t dt,

qualitativamente distintos, apesar d e encontrarem~se em unidade contraditória, jovem, d eli mitando-lhe o conteúdo das relações sociais, lim ites e possihilid :td l',.,
fica explicitada. Se a periodização d o desenvolvimento não pode ser entendida em de existência autônoma.
sua essência como estágios definidos por elementos b iológicos ou cronológico~. Com essas considerações, a juventude pode, inicialmente, ser ca rartv1t :a
também não é possível desconsiderar a questão das idades quando se trata d v da como uma etapa que identifica o começo da vida adulta e, nesse sent itl11,
pensar os momentos do desenvolvimento individual. d iferencia~se claramente da adolescência. Tomaremos a juventude como um a t:t'a
Pela idade não podemos conhecer os conteúdos d o d esenvolvimento, seus pado desenvolvimento, não como uma categoria social, refletindo-a pela () I ir:1 t lt ,
li.rnites e p oss ibilidades, o u seja, seus aspectos essenciais, n o entanto a idadt· d esenvolvimento psicológico. No entanto, a psicologia histórico-cultural co nsid t' l': l
pode nos possibilitar uma referência empírica inicial para a análise da relação da a unidade entre as questões objetivas e subjetivas, press upondo as deternl i n:1~ 1H '"
pessoa com o mundo. O p rocesso de aná lise de uma situação concreta somente da objetividade do mundo sem descartar a relação de codeterminação inervtllt·
pode ter início com a referên cia da idade, tendo como orientação a superação aos aspectos objetivos e subj etivos da existência humana.
• A faixa etária dos 18 aos 24 an os corresponde ao período da juvent ud v,
dessa forma aparente, pelo movimento do pensamento, em direção aos elementos
essenciais de explicação da relação do ind ivíduo com a realidade. , momento e m que tem início a vida autônom.a do sujeito, que é d e m:Hc:td:l
Assim, para efeitos desta reflexão, consideramos a juventude associada ao por sua entrada no mundo do trabalh o . Dessa maneira, a juventude cntendidn
início da idade adulta, não se confundindo com o momento da adolescência. como idade adulta inicial apresenta uma relação com a atividade d e form:t~·:H•
Portanto iremos trabalhar com o conceito de época adulta que comporta o profissional (ou conformação), independentemente se esse processo ocorrv 1111
período da juventude inicial, e para isso buscamos apoio para demarcar esse trabalho ou nas instituições educativas, o que depende da situação concrl't :t dt ,
período no ECA, que delimita a adolescência até a maioridade legal de 18 anos jovem. Nesse sentido, mais determinante que a idade para compree nd er a :ll'í
(observamos que, para a maioria dos países, legalmente essa idade d emarca o tude do jovem perante o mundo e suas possibilidades de desenvolver-se é :1 s11:1
início da idade adulta), e principalmente na proposta de periodização de Elko- relação com o trabalho, ou seja, su a luta por autonomia e pela possibilidadL· tlt·
ni.n (1987), na qual o autor define a época da adolescência em dois períodos: o realização de uma atividade socialmente produtiva.
inicial, aproximadamente entre 10 e 14 anos e o da ado lescência propriamente A autonomia suposta no vínculo do jovem com a realidade, considerada llttt:t
dita, entre 14 e 18 anos. realização a ser conquistad a, não é analisada somente pela d imensão su bjet iva,
Convencionar ser o início da juventude aos 18 anos, numa necessária pelos elementos cronológicos aparentes, pelas relações interpessoais imedi atas <llt
primeira aproximação, é tarefa problemáti.ca em uma sociedade de classes, em pelas questões cotidianas utilitárias que se apresentam ao indivíduo, mas pensad.t
que a desigualdade n as atividades das quais o jovem participa é imensa. N o n o coletivo e histórico, portanto na dimensão supraindividual que dctc rmi 11:1
entanto, considerar o momento em que se encerra a juventude é tarefa aind a as relações sociais da pessoa jove m, considerada nas condições concretas d:~ s
ma is complexa, pois podemos observar que na p rópria política para juventude formações sociais capitalistas.
.
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1 p~fqltirn d{'W I\1 tlliVIII 'ii i'•SI' p : ll 'il :t

articulada a sua inclusão e tTl t raba lhos preca ri zado:-., ltttlll.llnln 11111:1 s itu a~·a<l dí:dt•tical'n trl' a a ti vid~ll l ~· dt t'.,lllllopr(ll.issiot1ali zan tc t: a ativid;Hic pmd1tll\.t
existencial marcada pela instabilidade e dependência. Na o !H 11· :1C:1so, presl' tH.· in ou 1rahn lho.
m os uma infantilização de segmentos da juventude, até n1es mo co m i nd i cios d~· Assim, para refl etirmos sobre a época adulta no contexto da pniudi :. t ~.111
parasitismo, na qual reina cer ta lassidão em relação aos desafios intelectuais ~· do dese nvolvimento psíquico, é essencial compreender o papel dessas catvg< lrt:tK
da vontade. Ao m esmo te m po, defrontamo-nos com adolescentes e jovens qu~: no contexto histórico-econômico da sociedade capitalista co n ternpor;\ IW:t, { 11 jo~ :-;
se responsabilizam pela m anutenção da família, despendendo energias que os raízes ancoram-se na contradição existente entre capital e t raba lho.
afastam ou dificultam a possibilidade de qualificação da força de trabalho .
A contradição entre as necessidades sociais produzidas no jovem, qu e possui
todos os direitos adultos, como casar, trabalhar, participar de atividade cívica, A ATMDAD€ PRODUTIVA SUBMeTIDA À LÓGICA DO CAPITAL NA
entre outras, e a impossib ilidade d e concretização d e tais n ecessidades, cm de- SOCI€DAD€ D€ CLASS€S
corrência dos limites materiais da sociedade capitalista, culmina em explosões de
descontentamento que começam a ganhar proporções consideráveis. Para ilustrar, Em consonância com o arcabouço teórico-metodológico que fund anwttt 11
podemos citar o movimento estudantil que foi às ruas, em 1992, lutando pelo a psicologia histó ri co-cultural, que tem o materialismo histórico-dialético coltl<l
impeachment do então presidente da época, e mais recentemente as man ifestações eixo norteador, faremos a exposição da contradição entre capital e traba lho lt'IHI<,
de junho, julho e agosto de 2013, que fica ram conhecidas como a "Manifestação como referência os estudos marxianos sobre o processo d e produção capitalislil
d os 20 centavos". Nas manifestações de 2013, um dado significativo d o perfil com base n a crítica à economia política clássica. Esta, segundo Marx, concent n 111
d os participantes foi a concentração de pessoas na faixa de idade entre 19 e 34 -se nas camadas superficiais das relações de mercado e n elas acreditou encont 1:11
an os, correspondendo a 71,8% dos entrevistados em levantamento citado por a chave explicativa da eco n omia global, o que culminou em uma sob repo~i~·:1o
Pestana (2013). unilateral da esfera da circulação mercantil simples às relações sociais de prod11~ :H 1.
A confrontação do status quo não significa uma irreverência típica do jovem. D essa forma, o processo de produ ção e circulação inerente à sociedade d o cnpital
questionador da sociedade em seus costumes e tabus, mas represe nta uma é conceituado d e maneira co mpletamente apartada de suas categorias essenciais
vinculação com o processo produtivo que cada vez mais é compreeri.dido como em vez de ser examinado dentro do preciso condicionamento histórico q ul' lhv
um complexo d e relações sociais que não pode integrar os joven s aos seus bene- é caro, o que redund ou em uma abordagem puramente dedutiva c fragmcnt·:H ia
fícios, reveland o que a autodeterminação, conferida ao jovem ideologicamente do fenômeno, d e ixando um vazio teórico que só pode ser preenchido por nwi<,
n o sentido individual, somente pode ser considerada a partir de ações colctivas de uma apreensão metodológica crítica e superadora.
e organizadas. Segundo o au tor, o grande equívoco dos representantes dessa concL·p~·a< 1
No que se refere mais especificamente ao processo de inserção e passagem econômica foi ter tomado como ponto de partida "a contradição dos intcresM''-
do adolescente à idade adu lta, de acordo com Martins e Eidt (2010), as ativida- de classe, do salário e do lucro, do lucro e da ren da d a terra" (MARX, 1981, p. 17)
des realizadas se correlacionam com as determinações da produção social e se como leis natur ais inerentes às organizações sociais, independentemente de M'lt
referem ao processo de preparação do indivíduo para o mundo do trabalho, d e m omen to histórico. Po rtanto a compreensão de um fenômeno à luz do métodt ,
modo que é "na idade adulta que encontramos a intersecção entre as categorias m arxiano envolve t ranscender a imediatidade do real alçando suas contrad i,·ov~
atividade e trabalho" (idem, p. 681). internas fundamentais condensadas no concreto pensado, síntese de m(dtipl:ll-
Somente a partir dessa comp reensão podemos considerar a atividade domi- determinações. N esse processo, Marx afirma a identidade como o invólucro vx
nante que permita "guiar" o desenvolvimento do jovem por meio d e uma práxis terno da realidade imediata, de modo que sua essência co nfigura,se na pn')pl in
consciente, ou seja, que com preenda concretamente a contradição entre capital contradição. Para alcançá-la, importa não apenas descobrir as leis do fenônwtll l
e trabalho e posicione-se de mod o co nsciente na luta de classes. N esse sentido, de cuja investigação se ocupa, mas, principalmente, as leis que abarcam seu movi
defendemos a hipótese d e qu e pesquisas sobre a juventude inicial, sua formação mento e que, portanto, regem sua transformação, seu vir a ser, sua transcend ênci:1.
I~ I I htiA M MAli I lN~ 1, AIHli I{l 1\ AI li Mil i I M I III IA (·1 IJ I AI I :1 (01l0 ) PI~ IHill IL 'AI, .Ali III' dI ll{ll r H .III IIII \.I Iiii III 'ti I lVIII VIM I NI 0 11' tluiiiLU I "i 'I

I h ·cn l'l'l' dt'HI'll'H pl'l'HH \II H!,'-IIUH 11 lill o dv (jll l ' , p;tl'll tl l tllltll:, t'l 'lt de• iH illl tl itll iHII 11
t-H' I'I H'o pl'illl' do tTnh:diHI :dl tvln S<' tt l troca, sem el.Juivalente, mas com a aparência
tntwill idvnt'il'ic; \1' :IS p ;tr t k ul nrid ndes essencia is do tw nlt 1 d ,~ 1111 Hl11\'1 \ll çn pi!·nliHI:t dt• 20 li , p. 4S5).
I l'l>l'tt" (M ARX,
t'lll l'l' In~·fto ;\s o rgn n i zaçfK~s soei n is a nteri ores. Nesse sv 1li i d ll, o :tll to ,. apon t 11 n Assirn , a suma importância da categoria trabalho para a compreensão da
JH.'l'l'Ss idad<.; de se analisar o capitalismo pa ra além da ide nrid <ldc lógico;fonu:tl sociedade capitalista em sua essência revela-se no fato de que a oposição entre
v de sua cterni zação, com o objetivo d e identificar os elementos que devem Sl'l 111ercadoria e dinheiro já não se mostra mais suficiente para a definição do modo
l'l'voi ucionados em prol do surgimento de uma nova sociedade. de produção burguês. A forma-dinheiro e a forma-mercadoria são instâncias
Nessa em_preitada, o autor expõe gradualmente as categorias econômicas t' provisórias de manifestação do ciclo de valorização do capital, sendo que esta
suns co11tradições essenciais, reconstituindo a interdependência entre os várit 1:. Llltima consiste na expressão concreta do capital como trabalho objetivado.
l'lcmentos envolvidos no conceito de capital, como em uma cadeia dedutiva qu l N esse sentido, se a mercadoria representa a existência concreta do capital como
cornpõe d iferentes momentos analíticos. A cada desenvolvimento dessa análisv trabalho objetivado, o elemento que pode opor-se a essa objetivação da atividade
co nceitual, o entendimento acerca do capital torna-se mais rico e complexo, rv vital humana é o trabalho em potencial, em sua manifestação abstrata. Como
velando suas diversas formas essenciais de apresentação e rastreando seus nexos sabido, a força de trabalho é a única mercadoria capaz de ser fonte de valor e,
internos (idem, p. 20). portanto, de representar a potencialidade abstrata da atividade vital humana.
Assim, a princípio, como resultante do desejo de alcançar as determinações Portanto, nas palavras de Marx, a fonte criadora de valor "pode apenas ser dada
especificas do capital de maneira ampla, Marx identifica a capacidade de mul· enquanto sujeito vivo, no qual ela existe como capacidade, como possibilidade;
tiplicar valor, ou seja, a característica de apropriar-se da mais-valia gerada no daí como trabalhador. Portanto, o único valor de uso que confronta o capital
processo capitalista de produção como o elemento crucial para a compreensão como o valor de troca posto é o trabalho" (idem, p. 213).
das tendências internas do capital- o que justifica o ponto de partida da análise Essa oposição origina-se no processo de produção do capital, que, por sua vez,
da sociedade burguesa pelo desvelamento do processo produtivo. Em confor· ilustra relações fundamentalmente contraditórias entre capital e trabalho. Nele
midade com o trânsito metodológico então proposto, Marx isola o processo de o trabalho não é apenas valor de uso que se contrapõe ao capital, mas também é
produção de todas as influências secundárias de modo que pudesse analisá-lo • rebaixado a um momento do capital que se afirma como totalidade. Isso porque
em sua forma pura de manifestação; para tanto, faz uso dos mais elevados n íveis na esfera produtiva o trabalhador, ao adicionar dada quantidade de trabalho,
de abstração e lança mão da categoria capital em geral, que delimita as relações acrescenta novo valor ao objeto; assim, a força de trabalho torna-se parte do ca-
sociais de produção isoladas dos condicionantes da realização concreta do capi- pital, que então a consome como um valor d e uso que o próprio capital adquiriu
tal. Nesse primeiro momento, Marx submete'· as categorias econômicas à teoria no mercado em busca de satisfazer sua insaciável "sede vampiresca por sangue
do valor, de modo que pudesse demonstrar que n a sociedade burguesa todo o vivo do trabalhador" (MARX, 1983, p. 371). Destarte, é crucial compreendermos
movimento categorial obedece à lógica de contínua valorização do capital. Um que a atividade criadora de valor possibilitada pela força de trabalho não apenas
exemplo claro dessa constatação marxiana é o fato de a forma-dinheiro e a forma- se torna um dos momentos do capital, mas, sobretudo, representa exatamente
;mercadoria atuarem como momentos transitórios da lógica produtiva capitalista o momento por meio do qual, ao se acrescentar valor ao produto, esse valor
e perderem o caráter aparentemente autônomo que a economia clássica lhes acrescido é transformado na própria concretização do capital.
atribuía. A partir de então, Marx revela que a força de trabalho - a qual a classe Diante disso, temos que a produção da mais-valia não ocorre no âmbito
trabalhadora é coagida a vender aos detentores dos meios de produção para ga- de circulação, mas depende do fato de estar disponível, nessa mesma esfera,
rantir condições de sobrevivência em uma relação legitimada pela aparência de o trabalhador juridicamente apto a vender a sua força de trabalho e economi-
igualdade e liberdade das relações jurídicas formais capitalistas - é o elemento camente obrigado a tal circunstância em virtude do despojamento de todas as
motor para a produção da mais-valia, e, por sua vez, a sua contínua reprodução condições objetivas para a efetivação dessa mercadoria no processo de trabalho.
é responsável pela multiplicação do capital e das próprias relações sociais de pro- A aparência necessariamente igualitária da sociedade burguesa, expressa na face
dução capitalistas. A partir do desvelamento desse processo, identifica-se como jurídica da liberdade e da igualdade, legitima o fato de que o trabalho "livre"
fundamental para a manutenção da ordem vigente a capacidade do capital de redundará na propriedade alheia e a propriedade privada comandará o trabalho
I ~~I I h11/\ M M/\lllltl'l, 1\t~lllll 1/\, AIIIU\111111 A MA.ItllltA (~. IJ I/\! I I (I lltn)
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Nv~sc pron·sso, ul'l'nh:dh ,, \ ' 1\'tll' rvhaixa tl o a mo me nto do ca pi l<d to t;d po r
(Mi\ I{\ 2oI I , p . I HI ) .
~'>L' I' <\l'lrL'l' nd ido como L'xr lu ~:1 o cum pleta da ri queza objetiva . A fo rça de traba-
I

Nl'SSL' processo, o rrahalh ad o r, e ntão dcstiruído dn~ II H'III~ de p nH.I u~ii o,


lh o, fon te verdade ira da p rodu ção e acúmulo de valor, só está d isponíve l na
W I H.Ic ao capita lista o direito ao uso de sua fo rça de traha ll w e, po r nao "t'l
circulação do capi tal e m virtude da ap ropr iação privada dos meios de produ ção
p ro prietá ri o desses meios, não poderá ta mbé m ser proprietário do prod llll •
q ue se configura no estofo da socied ad e burguesa. Dessa forma, na condição
de seu própri o trabalho. Em co ntra pa rtida, o capitalista comanda o trab;di H•
de propriedade alhe ia, a força d e trabalh o é excluída dos m eios mate riais para
alh eio ao tornar-se d o no do produto e contratador da mão de obra. Ass i m ~~
se realizar e não tem a poss ibi lid ade de, da mesma manei ra, submeter o cap ital
co mplexifica o conceito de capital, uma vez que, para além de se definir con11•
a seu mo mento, afir mando-se como totalidade d eterminada. Esse processo foi
co mpra da fo rça de trabalho q ue gera excedente de valor n a produção, tem o:-.
de nomin ado po r Ma rx (2011) de face do trabalho como expressão da pobreza
co mo outra co ndição d essa defi n ição a apropriação dos meios de produ ~·at,
absoluta, em virtude de seu d esnudamen to completo . d e toda a ob.jetividade
negados ao trabalhador - n egação esta que impede o trabalh ad or de vendl·t
social.
qualquer outra mercadoria q ue n ão a s ua fo rça de trabalho; o produto d e Sl'll
Em contraparti da, Marx (i.dem) a fir ma que o trabalho em sua subjetividade,
trabalho torna-se então propried ade alheia daquele que o contrata. D essa mfl-
tido como atividade e, portanto, como fonte viva do valor, representa a possibilida-
neira, du rante uma parte d o processo d e trabalho que executa, o trabalhador
de universal da riqueza d o capital em contraste com a proposição de ser a pobreza
apenas produz os meios d e subsistência de que necessita. A proporção de SLI<1
absoluta como objeto . De acordo com o autor, "essas proposições inteiramente
jor nada d e trabalho destinada a ta l p rocesso é maior o u menor confor me a
contraditórias condicionam-se mutuamente e resultam da essência do trabalho,
soma média d iária de seus meios de subsistência; po rtanto, o valor da fo rça de
pois é pressuposto pelo capital como antítese, como existên cia antitética do capital
trabalho é determinado pelo tempo de trabalho n ecessário à sua produção L'
e, de outro lado, por sua vez, press upõe o capital" (idem, p. 230).
reprodução , como acontece com toda mercado ria.
Assin1, o trabalho constitui toda a su bstância do valor e da ri queza de que
Esse processo implica a subordinação total do trabalh o ao capital, pois o
é composto o capital, fo rm ando, portanto, uma totalidade do ponto de vista
pleno do m ínio do cap italista so bre as cond ições objetivo-materiais d a produção •
substancial. No entanto, pe lo fato de estar formalmente submetido ao cap ital,
impele o assalariado a acatar as imposições das condições de traba lho voltadas
• essa totalidade não se apresenta como algo autorreferente, determ inado por si
para o aumen to da produtividade, as quais se apresentam diante dele como un1
mesmo, o qual poderia englobar o capital como seu mo men to. N essas circuns-
poder autôno mo e subjugado r de sua ativiclade vital. Desse modo, como a força
tâncias, o capital assume sua face mistificadora afirmando-se como sujeito da
produtiva do trabalho não pod e ser desenvolv.icla pelo trabalhado r sem que seu
substân cia do valor do qual se apropria; ele inclui o trabalho como mo mento ele
trabalho per ten ça ao capitalista, ela aparece como força produtiva natural ao
si, nomeando-o cap ital var iável e o exclui como totalídade pote ncial.
próprio capital, como sua força produtiva imanen te (MARX, 1983, p. 264).
Portanto, para afirmar seu poder fetich ista, o capital deve impedir o trabalho
Destarte, a aparência necessária do capital é a de um processo produ tivo au-
de compor um todo como esfera substancial de criação de valor, evitando q ue ele
tônomo, responsável pelo aumento da produtividade do trabalh o e também pelo
se torne sujeito por si mesmo. Isso porque, se assim fosse, o capital não poderia
progresso técnico . Essa dest itu ição do trabalhador das possibilidades de controle
den ominar as condições para sua autovalor ização e não criaria o fetiche por meio
do processo de trabalho em que ele se insere e su a consequente submissão aos
do qual a substância criado ra de valor é tida como uma categoria im potente a
ditames dos meios de produção possibilitam o domínio efetivo do capital; este,
qual apenas alça a capacidade de elevar-se a uma imensa magnitude por meio
ao comandar as con dições em que se dá o processo de trabalho, ao impelir a d a força do próprio capital.
elevação de sua produtividade, ao baratear as mercadorias, entre outros, submete
Temos, en fim, a efetivação da síntese da contradição entre capital e trabalho,
o trabalho a uma finalidade e, por con.seguinte, a urn poder alheios, afir mando-
uma vez que, por um lado , aquele depende deste para se autovalorizar e precisa,
-se como totalidade que engloba o trabalho vivo como um momen.to de sua
por tanto, incluí-lo como momento essencial de sua totalidade; por outro lado,
determinação - o que lhe confere o caráter fetichista de sujeito d a produção da
deve excluí-lo e n egá-lo como fonte de valor que tenha poten cial para afirma-se
riqueza human a. por si mesma como uma totalidade.
lltt iAM Mf\1' 1 11~\At lnll UI\ f\1_11 41\!Jil Ml\ltlllt/\ l~ 1), 1-'AC(I (I li Hl ) 1"'1 1 ' 1 1!111'/\~./\UIIIIdi'!IJII ll flUIIIII ./\IIittlll ti iN11IVIMIIll 0 11•,iqlll!ll I _11., 'I

IRAf\AlJiADORA: O t X€ RC(CIO DA .ATIVIDAD€ r~pu t llll qtH•, ttpl'~'>l 11 dn lll M l tt H' tllt lt'l u tH) t11 ÍCu d o pais, a tcml 0ncin d as dcnwn ~
11\ J
das du c:t pil'nl :'1 ~dura<;: tn da dassl' trabalh adora refere,sc pred o min a n temente à
Wl\1. .NA Rl) (·;M SOCIAL VIG€NTt
r'L•du~·üo dos custos d e trabalho c à lin1itação d essa classe aos níveis m ais baixos
l,tlllidll lt t'tliiiTndi<;ilo existente en tre capital c tmhalhu na sociedade r:t de escola ri zação e formação profissional, de modo que a sua qualificação atenda
1 jiltpd qttt' 11 t mhnlhador exe rce na produção c reprodução d a lógica t't ni ca e exclusivamente às d e mandas urgentes do capital industrial n o qu e se
dt1 ~ lltllil import:\ncia <lponta rmos qu e a questão de classe p ermeia itl refe re à disponibilização e barateamento de mão de obra.
! IIli II dittt'liMI\Íi oll<.'l'rca do processo de desenvolvimento psíquico n a época De acord o com as autoras, as ações d e formação de jovens e adultos da classe
I 1!1 i!!_llt'llll ll: tlavras, no mod o d e produção do capital, o momento adu lto trabalhadora enfatizam:
li IIm 1htt, tii'Htl pnHt as d e acordo com a classe à qual o indivíduo pertence.
lt lttlt•, 1111111 1vlt• t·0 ncia a classe trabalhadora, o adulto pertencente a ela tem objetivos formativos var iados, cujas adjerivaçôes não chegam a dis(arç<H
I 1\ h h" I'' pi'ltH·ipnl o trabalho, ativ idade esta especificamente humana pm a preocupa~·fto ccn tral de controle social sobre as fraçôes da classe tra-
l·11 pip l tHt Hl'l' :1 o bj etivação de suas capacidades, aptidões e possibilidades; halhadora para as qu:lis n:lo está prevista uma efetiva parricipaçiio nas
i ttd •n llt ll uhj(.·tivad o é convertido em mercadoria e lhe é arrancado pelo formas mais inst itucion:1 lizadas de atuação económica, política e wciaL
l11r1 iHl'· l~ ·~ dt; produção, que detém o domínio sobre sua força criadora dl· mas sim o gerenciamento da pobreza extren1a a qual estão submetidas
1 tH ihtnt~ l\~ ii um mero mom ento do processo produtivo global. !... ]. Constituem, na rc<1lidade, um fim em si mesmos: a inserção possível
lilit't'illl, n sujeito deve ser cuidadosamente preparado para adequar,SL' no atual contexto de expropriação no âmbito do capital,impcrialismo
l1 qw• nftn t' de quem se beneficia das condições objetivo,materiais de
1
[idem, p. 7)1,712].
lh••· 1wln co ntrário, são as condições de trabalho que dele se valem
iruHl ,
líhWF\'It' tllt' ;\valorização d o capital. N a sociedade de classes, a produção A citação dos resultados da referida pesquisa tem co m o objetivo ilustrar as
l •t llht ·~ ~~tmformada por todo um mecanismo morto independente d os condições econômico,sociais n as quais o jove m trabalhador exerce su a atividade
llt t!d''' • "· qttl' são incorporados co mo um mero elemento adjacente. D es, • principal em nossa sociedade. Dado que, de acordo com Martins e Eidt (2010,
i 111 lvlt l.td v principal exercida p elo trabalhador na idade adulta "agride p. 682), "o estudo do d esenvo lvimento coincide com o estudo da pessoa concre-
1t í lin "' 1 vnl'lo ao máximo, [... ] confisca toda a livre atividade corpórea c· ta, imersa numa trama de relações sociais e num sistema político e econômico";
111 d ~ I' 'IH\\l) a facilitação do trabalho se torna um meio de tortura, já que é de suma importância d esvelarmos não apenas os processos de precarização,
llilii I 1\1\11 livra 0 trabalhador elo trabalho, maS.SeU trabalho de COnteú do" segregação e fragmentação que permeiam as relações sociais na idade adu lta na
I\JH L p. 41). sociedade de classes, mas também os interesses aos quais esses processos servem.
. Para tanto, dada a correlação existente entre a apropriação das objetiva,
1 ,11 ilii'tli•, para q u e a classe trabalhadora produza e reproduza sua função de
1

l!rdt n ,t di\ o rdem burguesa, é necessário que todo o processo educativo ções humano,genéricas e o desenvolvimento da consciência, é n ecessário n os
1 ''*' '-' d~senvolvimento psíquico de seus membros ao longo de su a vida remetermos ao parco acesso da classe trabalhadora aos conceitos cien tíficos ao
H ,dh'tl t 1H:4•l lúgica d e submissão, o que confirma a assertiva marxiana d e qu e longo da história e aos prejuízos dessa escassez de acesso para o entendimento
l1111 nA lorrnas de sociedade um a determinada produção e as relações que da realidade co ncreta por parte dessa mesma classe. Como coloca Marx (1985,
HJ:t'l HI t'll co nferem a todas as outras produções e relações seu lugar e sua p. 271), a ciência seria d esn ecessária "se a forma de manifestação e a essência das

!•Hi it\itcill" (MARX, 2011, p. 193). coisas coincidissem imediatamente", o que significa que as ínfimas condições
I I !i \ t 11t'4t ll\1\ncia com essa afirmação, um. estudo acerca do processo formativo fornecidas pela realidade imediata e cotidiana são insuficientes para o conheci-
r I,IIJ'lll t hthn lhadora no Brasil, realizado por Rummert, Algebaile e Ventura mento da realidade em suas múltiplas determinações.
I 11, Ir l ~·n tll'!ca os meios neoliberais de destituicão do direito de acesso univer, Nesse sentido, segundo Lênin (1980), a classe trabalhadora atinge a n ecessi,

I dH t 111 dll 'l' i mento científico e tecnológico no conjunto de programas e ações dade da luta sindical espontaneamente, porém não alcança a análise que revela
ll .u l! llll!ttt~ lt wcns trabalhadores empreendidos pelo governo federal. A pesquisa o caráter inconciliável dos interesses das classes sociais opressoras e oprimidas
I ',(I III tiA M MAIUII~\ AN!lll ll A AI II~AtJ li 0 1'. MAI~II I IA 1], I) I AI I I (01{0) I 1IIU1 11 li AI~ÃI I 111'·1 ( 11~11 .(, (;Uilll!(fl! I Jll! !IIi! li ( 11 ~I MI l·l lO l 11 11t.llll! .l I

A JUVE:NTUDE: TRABALHADORA: O E:XE:RC(CIO DA ATIVIDADE: o!llllllfil ljll\' 1 l ljH!SI \1 dll I lt /11' iii'II"' IHII 1'1 ll fH I IIlil \1 d o p ais, ii f t'lldl' IH iii d.tl't dt~ n HII"l
PRINCIPAL NA ORDE:M SOCIAL VIGE:NTE: d,l.'l du t'1 1pit·:d :'1 L'dli<.'H\'1 111 dn l'lil:l~t: t:l'llh:dhadot'<l rdt• rv-sv pn·dotllill ílllft' lll l' llft• 11
rl'dll\':lu dos cust·os d e tTah:dhu l'l'l l lmitnçii.o dcssn clnssl' nos n!wis nnlis hnl \!11'1
Esclarecida a contradição existente entre capital e trabalho na soci ed tH.Iv 1" d1• vsco lari z: t~· ~o e formação pronssional, d e modo qu e a sua qunlil'ic<l\'il o att•ttdlt
pitalista e o pape l que o trabalhador exerce na p rodução e reprodução dn i<'l l!lt'll tlllicll L' exclusivamente às demandas urgentes do ca pital industTi <ll IHI q11 e 111
burguesa, é de suma importância apontarmos que a questão de classe perrnei a i 11 rl'll' l'l' :1 di spo nibilização e barateamento de mão d e ob ra.
tegralmente a discussão acerca do processo de desenvolvimento psíquico n a ép1 11 1 De aco rd o co m as autoras, as ações de fo rmação de jovens e ad ul to~ da t Lt:;s,c·
adulta. Em outras palavras, no modo de produção do capital, o momento adult•• t mha lhadora e nfatizam:
terá configurações opostas de acordo com a classe à qual o indivíduo pertcm:t·
Tendo como referência a classe trabalhadora, o adulto pertencente a ela tvr11 objetivos formativos variados, cujas adjetivaçt>es não chcgn m :1 , 1i s l:~ 11," 1
como atividade principal o trabalho, atividade esta especificamente human a !Hli ' a preocupação central ele controle social :mbre a:-; fraçf>cs d;l t'l:l:-.~t· 11 o1
meio da qual ocorre a objetivação de suas capacidades, aptidões e possibilidadL''-, balhadora para as quais não está prevista uma efetiva partkipnt,': lll n11
porém o trabalho objetivado é convertido em mercadoria e lhe é arrancado pelt 1 formas mais institucionalizadas de atuaç5o cconôrnica, polític:1 1' "'·hinl,
dono dos meios de produção, que detém o do mínio sobre sua força criadora dl n1as sirn o gcrcnciamento da pobreza extrema a qual estão :-.lthtlH'I 111,,
valor e a submete a um mero momento do processo produtivo global. [... ]. Constitut'rn, na realidade, um fim <:m si rnesmos: a inscr\;\uJ'n~~it •tl
Nesse ínterim, o suj e ito deve ser cuidadosamente preparado para adequar·~-tt· no atual contexto ele expropriação no âmbito do capita l-impni:di t. tllll
ao fato d e que não é ele quem se beneficia das condições objetivo-materiais dv [ide m, p. 7JI-7.32J.
trabalho, mas, pelo contrário, são as condições de trabalho que dele se valeru
co mo subserviente à valorização do capital. Na sociedade d e classes, a produç<H 1 A citação dos resultados da referida pesquisa tem como objetivo ilustrar :1:-1
mecanizada é conformada por todo um mecanismo morto independente do~ condicões econômico-sociais nas quais o jovem trabalhador exerce sua ati vid~tdt·
'
trabalhadores, que são incorporados como um mero elemento adjacente. De~ principal em nossa sociedade. Dado que, de aco rdo com Martins e Eid t (20 lO,
tarte, a atividade principal exercida pelo trabalhador na idade adulta "agrkll.' p. 682), ((o estudo do desenvolvimento coincide com o estudo da pessoa CO I H n·

o sistema n ervoso ao máximo, [... ] confisca toda a livre atividade corpórea L'
ta, imersa numa trama d e relações sociais e num sistema político e econCllllil'( l11 ,
espiritual. Mesmo a facilitação do trabalho se torn a um meio de tortura, já qw.· é de suma importância desvelarmos não apenas os processos de preca ri z~tt;"' 1,
a máquina não livra o trabalhador do trabalho, mas seu trabalho de conteúdo" segregação e fragmentação que permeiam as relações sociais na idade ad ui ta 11:1
(MARX, 1983, p. 43). sociedade de classes, mas também os interesses aos quais esses processos scrvvtll .
Portanto, para que a classe trabalhad ora produza e reproduza sua função de Para tanto, dada a correlação existente entre a apropriação das ohje11va~
mantenedora da ordem burguesa, é necessário que todo o processo educativo cões humano-genéricas e o desenvolvimento da consciência, é n ecess<\rio 1111.-.
'
que norteia o d esenvolvimento psíquico de seus membros ao longo de su a vi da re metermos ao parco acesso da classe trabalhadora aos conceitos científico~ :111
naturalize essa lógica de submissão, o que confirma a assertiva marxiana d e q ue longo da história e aos prejuízos dessa escassez de acesso para o entendi tn L' Ilf 11
<<em todas as fo rmas de sociedade urna determinada produção e as relações q ue da realidade concreta por parte dessa mesma classe. Corno coloca M arx (I 9H S,
ela engendra conferem a todas as outras produções e relações seu lugar e sua p. 271), a ciência seria desnecessária "se a forma d e manifestação e a essência d:1 H
importância" (MARX, 2011, p . 193). coisas coincidissem imediatamente", o que significa que as ínfimas condi,·, H':;
Em consonância com essa afirmação, um estudo acerca do processo formativo fornecidas pela realidade imediata e cotidiana são insuficientes para o co nh cr·i
da classe trabalhadora no Brasil, realizado por Rurnrnert, Algebaile e Ventu ra rnento da realidade em suas múltiplas determinações.
(2013), identifica os meios neoliberais de destituicão
, do direito d e acesso univer- N esse sentido, segundo Lê nin (1980), a classe trabalhadora atinge a nen·s.-.i
sal ao conhecimento científico e tecnológico no conjunto de programas e ações dade da luta sindical espontaneamente, porém não alcança a análise que r-ev(·l.t
voltados aos jovens trabalhadores empreendidos pelo governo federal. A pesquisa o caráter inconciliável dos interesses das classes sociais opressoras e oprimidas
I f.l H I hliAM MAl~ lltl'•, AIJilll I 1A /IIII(NJli Ml\i(lllll\ CL I) I'AGCI(I 11(1 I ) PI IW 11 li, ACÃO lllt•l t IIW II UI 11 i I I! (AI t !U UI Ul t lVIII VIMI I·IIIJ l" .hJIIII :11 I '; I)

t ' 1\.11 1 .ttill l(\' 1 l 'lll"(ill\ (ll 1 11 IH'l'('HH id ndv dv SV l' ll l:llll ij'till' d t'Ht'il IIII HIII dl' lli'(Hill ~.lll f111 H l1111 H' 111 11 11 H l :tl t:n IH 'I' d nN (I IIII I itd h, I H·~ VSSl' l ll'i:ds dn socit..•dt~dl' hu rguesn, <1 (j na[,
dl'H lllll:ll1i zadut·. Âss itn , w nws qlll: n:w h:\ possil ,ill tLillt• tlt• 11 i•IVl' lll l'l'ah: tll to~ cn r1 1o n us :1 (i 1 111 a I 0 11i 11 (id, ' III , p. 22) ), "a co nsciên cia socialista d e h oje n ão pode
11111, d vs tituíd o d os conceitos cit:ntífi cos, co nstruir n ut ll tll l lll i111H.'nll: uma l t'lll'l il surgi r Sl' r1:\o ú hase lk' um profundo co nhecimento científico" . A ssim, apen as
rl'voluciu n úri a, jú que a co mpree nsão d o con creto exige domínio do patrinHll ll•• por meio do d o mínio críti co d o patrimônio cultural humano historicamente
rcl ll l'l' itua l histo ri ca me nte acu mulado pela hu manidad e, do qual, confotllll acumu lado os indivíduos a !carão a consciência de suas n ecessidades histór icas
'
vi mo:-;, ele está intenciona lmente apartado. 1.' se rão, de fato, livres para escolher em qual organização social querem viver e

De acord o com Davidov (2009), os conceitos historicamente produzid1•éi po r qual tipo de sociedade querem lutar.
1\i\ socied ad e existem objetivamente nas formas d a atividade humana e em svlf ,, Para M arx (2005, p. 155-156), a possibilidade da emancipação humana reside
t'l'std ta dos, o u seja, nas objetivações humano-genéricas. Os sujeitos os intern:d t n a fo rmacão de uma classe
'
zn n1 nn tes d e aprenderem a atuar com suas manifestações empíricas particul an~K .
O u seja, o indivíduo deve atuar e produzir as coisas segundo os conceitos qu v, qu.e pos~ ui urn C8r:\rer universal por seus sofrimentos universa is e que n.ão
co mo normas, já existem anteriormente co mo significados sociais, aproprian d o·!'>!' reclam<1 nenhurn d i.reito espec ial para si, porque não .se cumL~tç wn iTa ela
deles para se humanizar. Assim, o conceito atua na educação como primário l'tn n enhuma violência especial, senão a violência pura e simples; quç já não
rel ação a suas diversas manifestações particulares. Nas palavras do autor, "com1• püde apelar a um título histórico, mas simplesmente ao título humnno;
a lgo universal, esse conceito é o modelo or iginal (protótipo) e a escala pa1.1 que não se encontra em nenhuma espécie de contraposição parricular com
avaliar as coisas com as quais o indivíduo se encontra empiricamen te" (idem, as consequência~, senão numa contraposição universal com as premissas
p. 75). Portanto atuação transformado ra ou adaptativa do sujeito n a idade aclu lt:t do Estado; de uma esfera, finalmente, que não pode emancipar-se sem se
d e penderá, sobretudo, da especificidade das mediações entre ele e os objetos d:t emancipar de todas as demais esferas da sociedade c, simultaneamente,
cultura ao longo de sua existên cia. de emancipar todas elas; que é, numa palaYra, a perda total do homem e
'
E exatamente n o intuito de ressa ltar a im portância da mediação para :t q ue, por conseguinte, só pode atingir seu objetivo mediante a rec uperação
radicalização da luta de classes que Lêni.n (1980, p. 219) afirn1a q ue a teori:1 torai do homem. Estn dí.s:;ulução da snciedade corno uma classe l'Special
marxista "foi o resultado natural, inevitável do desenvolvimento do pensamen1(1 é o pro letariado.
'
entre os intelectuais revolucionários socialistas". Espontaneamente, pautadP
c m apreensões imediatas, o jovem pertencente à classe trabalhadora é capaz Porém essa classe n ão sentirá "a n ecessidade nem a capacidade de emanei~
d e identificar determinadas relações injustas das quais é vítima e, a partir dai, pação geral até ver-se obrigada a isto por sua situação imediata, pela n ecessidade
reivindicar melhores condições d e vida, d e trabalho ou de salário. Porém , pan1 material, e pelos próprios grilhões" (idem, p . 155). Na sociedade em q ue a a lterna~
vivenciar o ro mpimento com a própria infraestrutura burguesa que sobrevive d:1 tiva de sobrevivência para os que vivem do próprio trabalho é a venda da força
exploração da força de trabalho d espendida e sacrificada para a mera reproduçih 1 de trabal h o, a tendência d e exclusão dos jovens da possibilidade d e trabalhar
do acúmulo progressivo d e valor como necessidad e radical de classe, é n ecessári:1 e viver dignamente, os "grilhões" apresentam-se ao adulto jovem como falta de
u ma intervenção in tencional e o rganizada no intuito de auxiliar a superação das perspectiva d e emprego, trabalhos precários e a própria situação de d ese mprego.
representações gerais limitadas ao imediatamente experienciado, pautando-se n:1 .
Por essa tendência, a situ acão imediata acirra as contradicões.
'
apreensão d os fenô m enos em suas múltiplas deter minações. Destarte, tendo em vista o método q ue norteia n ossas análises, devemos
apreender a época adulta n a sociedade de classes para além de sua man ifestação
aparentemente estática, compreendendo-a em seu vir a ser e possibilidades d e
A éPOCA ADULTA APR€€NDIDA €M S€U VIR A S€R transcendência. Ou seja, vimos que o jovem adulto pertencente à classe traba-
lhadora encontra-se d estituído de seus direitos mais elementares e privado das
Com base no que foi apresentado , podemos afirmar que a apropriação du condições objetivas para a compreen são essencial e, portanto, da superação de
conhecimento sistematizado por parte do jovem trabalhador exerce um pape l sua condição de oprimido na o rd em social vigente. Porém, ass im co mo M arx
'IIII 1101/\ M MAIHINO. NH] I_LO A AIJI (I\1~ li MA!tllt!A (.j u I ACC I (01 11 I ) 1'1~1'11 li ti AÇ"O IIIUl Cm11:;u U HliJlt/\1 lll tlll ,, :i I~Vt )[ VIMI .NI'O P' .1u1111 n
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o Fez no estudo da cconon1i:1 po lftkn, ó de Htlnlil tlllpoii'I\I H' III itlt~ lll' lfi clll'llloH m. I w I H n.I 'ti I l 'l li ) I ; I I d H " 11,' rll , l ln nli1_'1 Hi ti n I_ I, NI i l: n1111111 I , I IIII I l ! i ll 'I H IHHrw I l : IIII H ' I dI 'I I .'H
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possibilidades de transcendência dessa cond içno, a!'i rrn :11HI11 1lH ~ I vi t'l'll\i tWil tt~H 11 :1C() l ldllt,;ilo d~t \'ldn ltH 'k iiH 11~ 111 C<liHii ,·m·s soci :lls dvHinvun'1vv is- I W ·~m·
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específicos em que devemos atuar para que essa trans l{mna~·ao aconteça. svnlid u, il prú pri a o nl l:lla,·lttl do~ vid:1l1li'I1;H>t· um at o mo rall: po litico: 11111 d l ''>, tl lt •
Conforme vimos na análise da contrad ição entre capita l c traba lh o, o capi1. d :1 dcs um a n i zaçno.
nunca será a verdadeira substância nem a verdad eira medida do valor e, portant <,, N essa perspectiva, unw tlils qu es tõ es centrais ao jovem silo as rel'k·xul'~ t1·Lt
jamais poderá medir e valorizar a si mesmo. Ele - o capital - só é capaz d e ap:l- cionadas a projctos d e vida, tendo como temas o projeto d e fo rrTI<l çn o pn , fl s.~ i,,
rentar ser o detentor desses atributos pela sub missão e usurpação d as cond içm-.-, na l, a busca de auto nomia n o trabalho e demais esferas da ativ id ndc h tll llart :t.
objetivas de satisfação d as necess idades d os detentores e detentoras da fo rça dv
A pro dução ativa de um projeto de existência coloca co mo ta rd~1 i n il i.d ""
trabalho - ou seja, dos trabalhadores e das trabal hadoras. Esse condici o n ant l'
pe ríodo jovem d o ad ulto d efinir de forma consciente a comunidade d v v: ll tllt 'r•
sinaliza a fragilidade da dominação do capital sobre o trabalh o , dado qu e dependv
d e q ue almeja participar, portanto posicionar-se quanto aos objetivos cm l1lllJ:tl
do contínuo enfraquecimento e desarticulação das possibilidades de organização
prazo é uma questão imediata ao jovem, visto que nessa ordem de rdi.' n ' l ll 1.1
da classe trabalhadora na luta pela satisfação de suas necessidades.
um projeto de vida é ao m esmo tempo um projeto de sociedade. Para o jnw 111,
Assim, no enriquecimento progressivo do conceito de capital, as necessidad e:-;
esse norteamento sobre qual tipo de sociedade sua atuação estará impl irnd n l' "
do jovem trabalhador aparecem, em uma apreensão contraditória, tanto como o
via pela qual poderá encontrar sentido aos projetas mais imediatos em c u rltl 1•
elemento-chave para sua m anutenção qu anto como o potencial corresponden te
médio prazos, orientando uma práxis consciente.
de sua superação.
A possibilidade de escolha d e uma posição do jovem n a luta de cln ssl~s.
Tendo essas constatações em vista, retomamos uma das análises marxianas n a
considerando a tensão entre liberdade-necessidade, pressupõe o proccsM , tl1·
qual o autor afirma que, n os grandes processos históricos, vinte anos equ ivalem <1
compreender a realidade para além elas aparências imediatas e das d e ma nd a~-1
um dia e, em cad a grau do seu desenvolvimento, a tática do proletariado deve ter
pragmáticas, implicando a formação da relação consciente co m o real n p :11'1l 1
consciência dessa dialética objetivamente inevitável da história da hu manidade
(Marx apud LÊNIN, 1988). Diante da constatação dessa realidade, Marx afirma que- da apropriação das produções humanas mais elaboradas.

se devem aproveitar as épocas de estagnação política, em sua lentidão peculiar, Arriscamo-nos a indicar algumas tarefas relacionadas à existência d o jow 111

para desenvolver a consciência, a força e a capacidade d e luta dos oprimidos, sem adulto no mundo, no int uito de abrir um diálogo com aqueles que trah:dh nn1
perder de vista o objetivo final dessa classe, qual seja, tornar-se capaz de romper com a formação do indivíduo no período tratado. Reconh ecemos inicia lnl cllh'
as correntes q ue a escravizam ao chegarem o s grandes dias que concentram em que a sociedade alienada produz pessoas que estão vivas bio logicamentl', 111:11-1
si vinte anos. defrontam,se com uma espécie d e morte simbó lica, visto que, muitas vczvs, :ts

Assim, no atual momen to histórico, para superarm os a o rdem social vigente experiências são marcadas pela falta ele projeção e de projetas, porta n to 11111 .1
e alçar o socialismo é vital contribuirmos para o desenvo lvimento ela consciência sociedade esvaziada, despolitizada. Os indivíduos presos n a sua particubrid :Hit•
e, portanto, do p róprio psiquismo do jovem adulto da classe trabalhadora pela sofretTt ensimesmados, almejando , no máximo, a simples experiência pesso:d 11:1
via do conhecimento sistematizado, para que ele compreenda a universalidad e busca do prazer, em um projeto de existência que aparentemente prescindl' d t•
ele suas n ecessidades radica is em contraposição com a lógica do capital. Dessa comunidade, de luta.
for ma, em vez de esperar que esse processo ocorra espontaneamente, estare- Destacamos agora a palavra lu ta para refletirmos a respeito d o cont l't'll lll
mos colaborando para que essa classe exerça sua força vanguardista e recupere d as lu tas no período da juventude inicial. Luta do latim lucta, primitivamc1111'
o que é seu de fato, quando ch egarem os dias que não apen as con centrarão luita. Luta, esforço, de luctare. Lutar é despender todas as forças . Peleja . Guvn.1 ,
em si vinte anos, m as, sobretudo, sintetizarão uma nova etapa na história d o Conflito. Contenda. Esforço. Empenho. Sinônimo de pendência. N o scntid, ,
gênero hun'lano . figurado, lutar é esforçar-se por vencer um obstáculo, por atingir um fin1 : lllt ill
Com o nos a po nta H eller (1970), na sociedade capitalista a condução da vida contra a tempestade, lutar por uma posição. Combater. Podemos afirm ar qllt'
não pode converter-se em uma possibilidade social universal, o que somente n ão há vida sem luta, não há vida sem obstáculos, e a questão central qu e sllll'''
I(. ., 111 III\ M MI\It 111 1r 1 /\I~ I 11 1C'! 1\ /\UI <Mil 1 Mf\liiiiiA u u 1/\t .( I (I li H I) 1'1 Hltllll. \C:AU llllliftl~lliU t.JILI UI~AI IJUijl '!tl li 111 VIMIIlf<) I11 ,ILIIIII.Il i I
I I
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da palavra lu tn, qu e press upoe n pnhlvn1 ohst;\r ulo, l' idvllti(kn t 11 til ti Lt do j11Will. nvl.t :-; tll lt'IIIIIIH' d.1 vdll l':t~ : Ht l 'i llil ~ ~~ 1'1:: 111 p~· lls ndm. pvlu )11W tll pt Lt
:11 11tl ttt : l tlt.t

Qual é a sua luta? vst uln pt ddit :t (p<l I'< I todos p1ut v~:-.\1 dv lwmtt n i za~·;H >), h11 :1 p~-! : 1 VM o ln l;111 ,1 (t lt

Inspirados em Lênin (1980), podemos afir mar qu e a tt~rda do jovem l' :t es pírito cienL ffko) c lu ta pe la qualidade do ensino (t:nsino qut· pi'<HlH>V:t dt·M_·tl
de identificar os obstáculos que dão conteúdos a suas lutas. Existe o obstt\cul u vo lvi mento); lu ta para que os indivíduos se produ zam por meio d:ts tv: d 1::1Çt'11_''
para conseguir um lugar no mercad o de trabalho e ser possuído pela lógica d o rnais d esenvolvidas da humanidade. Aprender que o aprender est;\ t' lll 1111 id:H it
individualismo e da concorrência desleal. To mar esse posicionamento signifir:1 com o ensino sistematizad o.
estar ciente d e que a minoria con seguirá tal proeza; é acreditar que existe m O processo de Clprend er a lutar pelo bem comum prcssupt)c :lh:tiHI () It :ll' :1
alguns segmentos socia is que "merecem" posições de destaque em d etrim ento d o ética extra~human a, por e ncontrar nela unidade com a polí tica do cspl'rar, n 1111 ''
conjunto da sociedade. E' apostar na ilusão d e que há alguma justiça n a sociccladl' distanciamento daquilo que gostaria que não existisse; pressupõe supl'r:lr :1 ,·: l it·n
de classes. É viver na irrac io nalidade que representa a lógica d o valor e dns d o capital, que organi za a vida n o intuito da propriedade privada, q ul' OIWttli Z:l
m ercadorias. E deixar~se controlar e om itir~se na produção do n ovo. E escolh e r
' '
a vida pa ra procura exclusiva do benefício próprio.
o isolamento. É projetar pa ra si a produ ção d e um ser emsimesmado. O processo ele aprender a lutar pelo bem comum press upõe produ zi r C\ll':-.: 11 •,
Existe o utra qualidad e d e obstáculo que pressupõe lutar pelo bem comum no objetivo de tira r as p essoas da letargia e despertá~las para a v ida; pressu pt 1v t pt t.'
valendo~se das relações sociais da socied ad e de classes. É partir das contradições as p essoas deixem de esperar e encontrem ânimo (alma) em um a COITtunid;ldc l i \'
do mundo e desesperar perante o modo de existir capitalista, reconhecendo qw: valores humanos; pressupõe lutas concretas: pela escola pública, pela qual id:11 lt
as pessoas foram fo rmadas nessas bases. Essa posição significa reconhecer qu e de ensino, po r uma sociedade sem classes.
o m edo foi desenvolvido n os indivíduos: medo da mudan ça e de que tal senti~ O processo de aprender a lutar pelo bem comum press upõ e supe rar o hstn
mento provoque reações, por vezes violentas, contra tudo o que não se conhece. culos que são a um só tempo pessoais, interpessoais e institucio nais; prl'sS II j'lll
A tarefa d os jovens é apren der para rea lizar no mundo uma práxis consciente critérios de dese nvo lvimento da consciê nci a, do conh ecime nto obje t ivu, d:t
e transformadora. Aprender que sua geração pode criar utTI8 nova sociedade, produção criativa, da apropriação da história, da liberdade e da universtllid :td t·,
que é n ecessário conhecimento e organização para a produção do novo. Os·
jovens, as crianças, os adu ltos e os velhos precisam aprender a luta r pelo bem
'
comum - e são os jovens qu e1T1têm. força e tempo para empree nder esse projeto CONSID€RAÇÕ€S FINAIS
d e humanidade distinto do fracassado projeto capitalista. Aprender q ue não basta
' '
reproduzir discursos, assim ila r palavras ·de ordens e slogans. E n ecessário saber As reflexões sobre o dese nvolvime nto psíquico vale ndo-se do conceit o d t•
agir no mundo e pensar a utono mamente sobre a existência humana. Não basta atividade d ominante, proposta pela psicologia histórico~c ultural, ao anal is; tt· ~~~
impregnar a memó ria de inutilidades, por meio do estudo livresco e inútil - morto processos form.ativos ela época ad ulta no perí odo da juventude in icial, cot1l' l
(é p ossível ser morto~vivo destilando inutilidades de memó ria) . derado n as idades entre 18 e 24 a n os, não po d em escapar da questão so hn· :1~
A tarefa do jovem é aprender a ser contrário ao estudo do s imples mente útil, n eofo rmações psicológicas que surgem como resultado d essa atividacle.
capaz de gerar lucro. Contrário ao estudo afeito à calmaria d e não perturbar a Neste capítu lo partimos da hipó tese de que a atividade que orienta o d est' l1
ociosidade e a tranquilidade daqueles que n ormatizam a vida na socied ade de volvim ento desse jovem n o intuito da práxis consciente encontra~se na u n id:td,
classes, em o utras palavras, aprender a lutar contra o amestramento capitalista; contraditória en tre a atividade de estudo profissionalizante- atividade p rodttt i
aprender que h á o que aprender mesmo nessa sociedade de classes. Assim é va -,destacando que a predominância de uma delas ocorre pela deterrnina<;·:\o d a
necessário aprender a identificar o que é conhecimento e reelaborá~lo d e modo posição que o jove m ocupa e m relação aos meios d e produção. Problematiz;utt os
crítico; aprender valendo~se dos fatos fundamentais, apropriados co mo conhe~ as peculiaridades da situação social de desenvolvimento d o adulto afirmando qtl t'
cimento do ser humano atual. a organização produtiva na sociedade capitalista determina~se pela contrnd i ~·: tt l
A tarefa do jovem é ap render que a luta pelo bem comum d eve ser pensada cent ral entre cap ital e trabalho, que orienta també m os processos d e form:1l;:t11
em cada um nas lutas concretas, e não pensada por outrem. Existem lutas con~ da forca d e trabalho .
}
PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSIQUICO 265
LIGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.)
I Ú•l

HELLER, A. O cotidiano e a história. São Paulo: Paz e Terra, 1970.


Para avançarmos na discussão sobre a periodização do desenvolvimento no
LENINE, V. l. As tarefas das uniões da juventude. ln: . Obras escolhidas. São Paulo:
pníodo da juventude inicial, colocamos como pergunta quais são as neoforma-
Alfa-Omega, 1980. t. 3, p. 386-397. Disponível em: <http:// www.histedbr.fe.unicamp.
\1 lt:s psicológicas que surgem como resultado da atividade do minante. Tomamos br/ revista/edicoes/ 41e/ doc01_4le_l.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2016.
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LÊNIN, V. L Que fazer? Problemas candentes do nosso movimento. ln: . Obras
M:riam os sistemas teóricos de acesso ao jovem não serem so n1ente apropriados,
escolhidas. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1980. t. 3, p. 79-214.
lllél~ passem a funci onar como processos de pensamento, tendo o objetivo de
- - - · A tática da luta de classes do proletariado. ln: . Obras escolhidas. São
c1 lmpreender o real para transformá-lo .
Paulo: Editora Alfa-Omega, 1988. t. 4. p. 58-62.
O desafio seria o de proporcionar condições para qu e o joven1 se vincule
MARTINS, L. M.; EtDT, N. M. Trabalho e atividade: categorias de análise na psicologia .
l'\ o real de maneira sistemática e fundamentada no saber produzido sobre
)Jn
histórico-cultural do desenvolvimento. Psicologia em Estudo. Maringá: UEM, v. 15, n. 4,
determinado fenômeno da realidade, que um sistema co nceitual apropriado
p. 675,683, out./dez. 2010.
(rm cione e desenvoLva-se no indivíduo subjetivamente como instrumento de análise
I ' interpretação do mundo. Esse processo possibilltaria a orientação de ações
MARX, K. O capital: crítica da economia politica. Livro I - O processo de produção do
prúticas a partir da produ ção de imagem fidedigna da realidade, pressupondo capital. Tracj. do alemão de Regis Barbo:sa e Flávio R. Koth e. São Paulo: Nova Cultural,
1983. v. 1, t. 1.
:1identificação de reais necessidades sociais, vislumbrando o bem comum, in-
cluindo a participação ativa na sistematização de problemas referentes a lacunas · . O capital. Livro III . São Paulo: Abril Cultural, 1985. t. II.
~~ i l' Dtíficas, tecnológicas e artisticas. - - - · Crítica da filosofia do direito de Hegel. Tracl. do alemão de Rubens Enderle e
Leo nardo de Deus. São Paulo: Boitempo, 2005.
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lt t\\1. d,• )tl'll'' ll tllt w lll t' A l l l'S, , .. J<,, '" I, p. 1r; H7, 10 1'1.
Pt t•ll l\11. IS.I.•" 11 -l, 1()()1) l'l l·l\liiii \Hd,\kndiiM1111 l~~·vhl 11 Snlllt~l h /11, tlll~tll , t !11\'11 Yt tdu l ilylt tl V \••tJI IIt/, 1
\ ~. Fllmo/lrt ,/,, /IHII't.\ , I, t·~ l , l l ti i' IIIIH A lt~ ·~~ ( 't ll l '~~'l" L n!l ll t ll lll ll' l k lt ll tt dt•
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1 c :lt 'l'l\ littl 1 '111 l d,·u . t :l l'' '•\ '1'11\11 l'r11ri,IJ H.x l"l 'tlllt\11 l 't iJ IIt hll', J(H)/
· .......... i " ""' I.. Jw"iu.lr.1fií~ru·c:.h nu ríjll ii .1 dn i2!' 1fllnt~) r'~"!~
1 1 1
1
APITULO 12

IDAD€ ADULTA, TRABALHO € D€S€NVOLVIM€NTO


PSÍQUICO

A MATURIDADe eM TeMPOS De ReeSTRUTURAÇÃO


PRODUTIVA

1
SAULO RODRlGUE:S DE: CARVALH0

LÍGIA MÁRCIA MARTIN~ )

papel da atividade na promoção do desenvolvimento h umano fo i solwl·'


me nte destacado nos capítulos precedentes, que anunciaram a atividadl
,guia - tal como proposto por Leontiev e Elkonin - , esteira da fo rmação das cap:1
• cidades dos indivíduos ao longo de toda a vida e, sobretudo , como fu ndaml'll t11
do processo de person alização. O que se apresenta n est a coletânea, portnnt (l,
'
visa ao aclaramento do processo pelo qual cada pessoa, em suas relações com P~
outros e em condições con cretas de existência, torna,se quem é.
Ao propor o método inverso 1 como percurso imprescindível na análise d(l
desenvolvimen to hu man o, Vigotski destacou a dialética q ue nesse princí pio S l '
faz presente, conclamando a unidade contraditória en tre aq uilo que o sujl'itu

1 Professor colaborador da Univers idade Est ad ual do CentrÜ'Üeste do Paraná (UNICF.NTRt)), t'tllllf•lll
Santa Cruz, Guara puava/ PR. Mestre em educação escola r c doutorando d o Programa de I'.'
-Graduação em Educação Escola r da U n ivers idade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Fdh .. "
(UNESP/ A raraquara), Bolsista do Conselho Nacio n al de D esenvolvimen to C ientífico c Tecnolúg11 ol
(CNPq).
2 Livre-docente em psicologia da educação, professora da U n iversidade Estadual Paulista "Júlio d,
M esquita Filho" (UNES!') no curso de fo rmação de psicólogos d a Faculdade de Ciências, ttlm/•11
Ba uru, e d o cu rso de pós-graduação e m educação escolar d a Faculdade de C iê ncias e Letras, Ltllll/'"
A raraquara. Me mbro dos grupos de pesquisa "Estudos M arxistas crn Educação" c " H istória Socit·d.t< J,
e Educnção no Brasil" (H ISTEDRR).
3 V igotski (VvnoTSKI, 199 5) de no m ina de método inverso o princípio lógico-d ialé t ico, segu ndo o q11.d
o cr itér io ele an ál ise d e q unlqu cr fen ô meno deve ser a fo rm a mais desenvo lvid a já nlcn nçndn pu r t•lt ,
te ndo e m vista, assim , id e ntificnr ns leis c condiçôes que o rientaram t al alcance, o u seja, rea liza i .1
a ná li:se gené tico-causal sob re o fe nôme no.
I ftH 1hliA M MAl {II~P ,, ANI 11 IJJ A, Al:lltAIIII 'r11\ MAl~ 11 1iA r:~ u 1AGe 1(111 H ' l 1'1 I {I! lllld\C.AI llll' t I (li W 11 1 III IIIIIAI llll i )1'1,1 '11' 'I 11 VIM I NI"O 11' iii Jlll! I l I ftiJ

é- a cad a etapa de sua vida - e aquilo lllll' e k· p<H.k vi1 " ·11 1 11 1'Hjllitltln :tl gtH.' IIl tvtH:t Cl' lll'r n l , ro lu cn <'III leu c111 t1 t'tlt"HIIt,lll'~ n ll.Jv t ivas ll:tli qtllli ~ l~SHII jlltHitlt,'Íi el 111

representativo das n1áximas possibilidades d o gênero hum:ttttl, IH1Silll<mdnl'S'> <' n.':t liw nn contem 1Hll':llll' ÍI l.td<·
vir a ser como parâmetro central d e análise d o referido des<:nvolvimento. À lt1 z Tra ta,sc, de u m lado, dl· s il'tt:tt a at ivid ade-gu ia de pnH. Itt ~·ao socia l 11:1 :-. l tltl•
desse preceito, a atividade,guia da idade adulta, representada pela atividcule de• dições hodiernas cm urna perspecliva prospectiva, visando contrihuit pnta qtll '
produção social consubstanciada no trabalho, desponta como central n o enfoqtt l os indivíduos adu ltos sejam sujeitos, e não suj eitados às cond ições, o quv l' \1 ~ ~~·
histórico-cultural acerca da periodização do desenvolvimento, posto que dela rv o utra o rde m político,cconômica, advinda da superação da propriedade pri v: tdo~
sulta a própria construção d o acervo humano,genérico que, em última instância, dos m eios de produção - que produz coisas e ao próprio trabalhador como 1:1!.
expressa o máximo alcance das capacidades humanas. Mas, de outro l.ado, trata-se também de situá,la em uma perspectiva tT ITOSIH'<'•
Ademais, também pelo m étodo inverso esse autor subtraiu dos fundamentos t iva, posto que a atividade-guia de produção social gesta-se n as at ividadcs,gtl ittH
do materialismo histórico-dialético uma das características centrais da atividnd l' precedentes. Assim, o enfoque sobre a primeira infância, infância, id :tdv d1 ·
humana - sua intencionalidade -, transpondo,a como requisito tanto p ara a transição e juventude demanda que também "olhem os para fre nte", cicn tcs d :ts
construção do conhecimento científico acerca dos fenômenos psicológicos condições objetivas com as quais os futuros adultos vão se d eparar, prcpar;ll) do
quanto para a orientação do processo educativo implicado na formação d o -os para os enfrentamentos que se fizerem necessários. Essa preparação, por :-.t' ll
ser social. turno, expressa-se n a promoção das máximas capacidades a cada período d11
O destaque conferido à intencionalidade como elemento,chave n o processo desenvo lvimento.
histórico de humanização traz e m seu bojo o reconhecimento d e que apenas Em face desses objetivos, principiamos este capítulo apontando o traha ii Hl
o homem apresenta-se com o um ser que se projeta n o/para o futuro, d e sorte como traço fundante da humanização e, ao mesm o tempo, a degeneração qtt <'
que a dimensão teleológica impõe,se como o mais importante atributo de qu al- sofre na sociedade de classes, que o converte em não trabalho, isto é, em trahaii Hl
quer ação humana. Esse fato, por su a vez, coloca o problema da p eri od ização alienado . Isso posto, avançam os nossa análise em direção à explicitação do :te i1
do desenvolvimento em outros p atamares, posto que cada etapa d a vida não se ramento da alienação e, con sequentemente, do empobrecimento do process(l d1·
esgota em si mesma, mas ertgendra um futuro, que não deve ficar à mercê d e • humanização dos indivíduos em tempos da reestruturação produtiva que, como
circunstâncias fortuitas e casuais. mais uma estratégia d e resolução das históricas crises do capitalismo, marca :ts
'
Contudo, a referida intencionalidade não é outra coisa senão uma proprie, últimas décadas.
dade da consciência, e como tal umbilicalmente ligada e orientada pelo conhe- A título de finalização, consideramos os inúmeros obstáculos que rcctl'l11
cimento. Também Vásquez (1977), em análise das relações entre as dimensões sobre os indivíduos impedindo-os de se firmarem como seres humano-gen é ricos,
teleológica e cognitiva da consciência, afirmou a síntese dessas dimensões como objetivando reiterar que a luta contra as condições alienadas e aliena nl l.'S
o traço fundante da ativid ade humana, considerando que ela parte se mpre d e identifica,se com a luta pela efetiva vivência da atividade,guia na idade adult<~ ,
uma realidade posta, que demanda ser conhecida e, ao mesmo tempo, visa a uma naquilo que essa atividade, isto é, o trabalho, corrobora - a formação e o d csl.'ll
realidade futura, edificada na ação intencional de transformação do presente volvimento das fu n ções psíquicas - engendrando a edificação de capacidad ~..:s l'
te ndo em vista a concretização de algo novo - que ainda não existe, mas que se ancorando a formação de uma p ossível e almejada personalidade livre e unive rsal.
almeja contribuir para que exista.
Considerando que a atividade representa o modo e/ou meio pelo qua l os
indivíduos se relacionam com a realidade para atender as suas necessidades SOBR€ A ORIO€M DO HOM€M: TRABALHO € ALI€NAÇÃO
e concomitantemente criar outras - dado que os impulsiona sempre para o
devir -, conh ecer os meandros d essa realidade revela,se condição para a análise A linha natural do desenvolvimento evidencia uma evolução lenta, grad u:d
de seus alcances e ou obstáculos históricos. Nessa direção, e respaldados pelos e orgânica das espécies superio res culminando naquilo que seria a origem d1)
princípios m etodológicos anteriormente citados, o presente capítulo, ao ter a homem. Darwin (1982), acertadamente, descreveu o processo d e seleção e n v:1
idade adulta e, consequentemente, a atividade,guia de produção social como riabilidade genética que possibilitou a constituição da estrutura física dos SCI'l.'S
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iltllll l llt t"l~l. ' lltnd H' tll n,., \',., llldt>.'4 dv Mnrwt11'1, l lll'g: lltlt_'lll t} t ll tci t ' tllhltl ~ I Hll ' ll ngv ls 1\ IH lrt 1:11'11 1ll I :1111ht'· ,11 ljllt' /!l' lllt'P~ id ~ nl'kw• 1i 1dwm dl'sl:n lw:-; m ~1 i s pu reeid os que
( j l)'/ C, ) , ltHik;tll\ II i \ di\'l' l~ idildl' alillll'11l il1' llll\ papel Ílllj"llll' l ,llllt 11.1 ~ 01\l ! H l~ Í ~.IIl n dv gl 1 1lll'o~ multi vit l'liiH l:-., í\IH >:-. t:lndo em uma possível s imilar idade genética
org:\ tl k it do r<..· n<'ll'ipo llll111il11(). cu1n o l'l'S pons~ível peltt proxi m id:tLk d e co mpree nsão de mundo dessas crianças.
As cxp licaç{)l'S a rcspeit·o da origern rwrural do hom l' m :1t t'· n prese nte l'Xl' I"<.'V I ll São in L'1meras e cada vez mais absurdas as pesquisas desse escalão, que de
gr <l ndc inf luê n cia na comp reensão d o se u comporta tTiento. N ão é por nwn t~•. :J igu m a maneira procuram explicar o pensamento social como um desdobramento
q ue pesq uisas co m orçn mentos vultosos procuram descobrir q ual o gene res po11 · natural do estágio evolutivo da espécie. Igualmente as espec ul ações a respeito
sável pelo "banditismo", d esenvo lve r remédios para o "bom hum or" ou dest<H'ill da transformação d o homem n atural c m h o mem social passam ao largo da
os alirnentos que deixam as pessoas ccm ais inteligentes" . As ciências biológ ica . . compreensão ontológica d a sociabilidade humana, urna vez que re pousa sobre ela
exerceram e ainda exercem um importante papel n a compreensão da gênese d,, o entendimento histó rico-n atural e histórico-social da genericidade d o homem.
humano, principalmente no que cabe à captação da transformação de um se r :1 Não se m razão, Lukács (2013, p. 4 3) destaca, em perfe ita medid a, a supe-
o utro, esclarecendo as estruturas mais elementares que conduzem à reprodu ça11 rioridade do método marxiano, "para o qual um estágio primitivo pode ser
da vida pro priamente dita. Evidente que, nesse caso, o terreno árido da ciênci:1 reconstruído l ... ] a partir d o estági o superior, d e sua direção de d esenvolvimento,
moderna só pode compreender tal desenvolvimento em um restrito cam po das tendências de seu desenvo lvimento ". Para o marxismo, a resposta para a
lógico-gnosiológico operan d o na singularidade dos processos, concebendo os compreensão d a autonomia do h o rn.em. em face dos arli.mais, em relação às deter-
seres vivos em um único espectro evolutivo-adaptativo. minações interpostas pela natureza, encontra;sc não em um passado longínquo,
As respostas para muitos q u estionamentos elaborados nessa perspectiva em um "elo perdido" da evolução b iológica, mas na base da sua existência social.
'
tendem a gerar conclusões problemáticas conduzindo a "becos sem saída". A E o trabalho, n o en tanto, a atividade nuclear que p ossibilitou o "salto" 5 para a
exemplo disso, até hoj e pesquisas buscam mensurar o quantum d e inteligênci:l humanizacão • do homem e a formacão•
d e sua essencialidade social.
que um indivíduo pode ter, como se em nossas estruturas genéticas tivesse um O trabalho e as consequências que surgem do seu desenvolvimento não des-
rese rvatório de inteligê ncia com a quanti.dade exata que nos será n ecessári a cartam, evidentemente, a importância d a evolução biológica para a formação d o
utilizar no decorrer d a vida. Recenten•ente uma pesquisa divulgada pelo King':-. homem co mo ser social. De certa maneira, para a própria existência do trabalho

College London (2014) buscou demo nstrar co mo é possível prever a inteligênci a fo i n ecessário d eterminada condição de evolução das formas de reprodu ção orgâ-
de uma criança por meio do detalhamento de um desenho. A pesquisa consistiu nicas, de modo que podemos d izer que o trabalho não nasce u no mesmo tempo
em uma análise de d esenhos elaborados por 7.700 pares de gêmeos com 4 anos que o homem, mas d esenvolveu-se à medida qu e certa combinação d a matéria
(idênticos e não idênticos). Os pesquisadores orgânica em relação com os fenômenos fís icos da natureza extern a provocaram
.. .. do Instituto de Psiquiatria d o
-
'
King's C ollege Lo ndon solicitaram às crianças que desenhassem outra crian ça no se r da espécie humana um tipo de agir orientado por finalidades.
da m esma idade c inferiram so bre o detalhamento d o desenho, auxiliados por O fato fund amental é que a partir do trabalho a espécie humana sofreu
dados apresentado s n os testes de h ab ilidades aplicados nas crianças participantes uma profunda alteração d o seu ser. D e modo geral, a vid a humana d eixou de
da pesquisa. Em suas con clusões, apontaram que as crianças que esmiuçaram corresponder à predominância das determinações n aturais obedecendo, desse
mais o d ese nho o btiveram notas m ais altas n os testes. ponto em d iante, a uma linha histórico-social de desenvolvimento . Isso signifi-
Dez anos depois, repetiram o procedimento com as m es mas crianças. N o- ca qu e por meio do trabalho a humanidade d eixou de ser uma es pécie animal
vamente aquelas que tiveram os desen h os m ais d etalhados apresentara m os adaptativa para to rnar;se uma espécie ativa. Ou seja, o traba lho possibilitou ao
m.elhores resultados nos testes, o que lhes deu o indício d e que a inteligênc ia homem adaptar a natureza às suas n.ecessidades. O que hoj e para nós parece ser
dessas crianças era maio r do q ue d as outras, com desenhos menos d etalhados. uma afirmação simples - a transformação da natureza em objetos que satisfaçam
as n ecessidades humanas - implicou o surgimento de um complexo de relações
4 Lewis H . Morgan escreveu Ancient sociery, publicado em 1877. Nessa obra, Morgan r~presenta seus
estudos sobre a tribo iroquesa, na qual faz descobertas a respeito dos estágios de d esenvolvimento
das sociedades pré-históricas, destacando o papel do avanço das forças produtivas do homem 11\l 5 Para Lukács (2013, p. 46): "todo sa lto imp lica u ma mudança qualitativa e estrutural do ser[ ... ]. A
dom ínio das forças da natureza para a sua reprodução como indivíduo, ampliando suas possibilidades essência do sa lto~ constituíua por uma ruptura com a continuidade norma l do desenvolvimento c
de existência. nrtu pelo nascimento, d e forma st1b ita ou grndati\·a, no te mpo da nova forma d e se r".
''I I 111111\ M MAl H INh, NJIII I u A AltiU\111 I ld~ M. I lllll\f1l, I) I t\t LI (I JIH 1) 1111{1! lllld\1 .t\tllll' l II II ~ILtl ( llltllf(t\1 !111111 11!1 NV{ li/IMI ~II I) I11 1hJIJII .( l l'fl

l!I IV ll ~O H~'l ll'ZS lll'gl l' l t ll'lll fi H l'Hpt'Cllk:11lH' I1( l' lllllll l ll"l llll tl1 • t'tl!n["HI I'UI IIIl' lll 'n, COHi tl :·d).tl ll(l c: IIHI U qll l' l :d dttW' II\'Id\'l l111 1 i'!l1111flilll l ll'dl'l'l'l~O I\\ l'Xll lidno 11 lllll IJI'Ol' l'HSll

co locou para o h o 1n ~,; m ncccsH idade.s inexist·cntcs do pnn11 1 l lt• vl:·dn do nwtni H, dl.' evo l ll(;:ú> 11 !lturnl do:-: ol'l.{ll lli Hi llllH (v mhorn nuncn el imine HLHl hasl.' biológica)
lisrno entre esse ser e a natureza. e, de:-;:-;c modo, tais conqu istns nclo podem ser registradas na base ge nética da
O trabalho não só modificou a natureza externa ao h o 1n~,;n1 como ai tcru11 espécie, isto é, a linguagem c as formas de pensamento tipicamente humanas não
substancialmente sua própria natureza. Como aponta Leontiev (2004, p. 79): ''<, podem ser transmitidas hereditariamente. Assim, a produção da ge nericidade
aparecimento e o desenvolvimento do trabalho modificaram a aparência fisi cn ~ 1,, humana é a criação do "corpo inorgânico" (MARX, 1985) com o qual os homens
homem, bem como a sua organização anatômica e fisiológica". O pressuposto p:1m se relacionam com a natureza.
a existência do trabalho é a sua reprodução, evento que provocou o aparecimcnlt l Para reproduzir o gênero humano, os homens entram em relações muito par~
de outros complexos, como a linguagem e a educação. A difusão do resultad ,, ticulares que têm como objetivo transmitir para as gerações futuras as aquisições
do trabalho e de seus processos exigiu da humanidade um padrão diferen te dl' do momento presente. No escopo da realização do trabalho surge um campo
sua transmissão. Sobre a base orgânica da comunicação, presente nas espécie:-. complexo de atividades que tem por fim influenciar os homens na tomada de
animais gregárias mais complexas, a resposta ao "novo" produzido pelo trabalh1> decisões perante as alternativas permitidas pela vida social (LUKÁCS, 2013). Desse
demandou a elaboração de formas mais precisas e especializadas de comunicaçã1 > modo, o complexo da educação "consiste em[ ... ] [capacitar os homens] a reagi~
(LUKÁCS, 2013). A linguagem desenvolve~se com o trabalho tornando~se um com rem adequadamente aos acontecimentos e às situações novas e imprevisíveis que
plexo decisivo para a consecução deste. No entanto o complexo da linguagem vierem a ocorrer depois em sua vida" (idem, p. 176).
retroage também sobre o homem, desenvolvendo a consciência dos indivíduos A educação emana primeiramente como uma necessidade do trabalho, e, à
sobre a realidade. Como ressalta Leontiev (2004, p. 75), "o reflexo conscien te, medida que se complexificam os processos e as relações de trabalho, complexifica~
diferentemente do reflexo psíquico do animal, é o reflexo da realidade concreta ~se também a educação. Evidente que nos patamares atuais do desenvolvimento
destacada das relações que existem entre ela e o sujeito". A passagem do reflexo das forças produtivas o complexo educativo possui certa autonomia perante o
instintivo para o reflexo consciente tem sua origem no desenvolvimento do tra~ trabalho, mas essa é sempre uma autonomia relativa - uma vez que o trabalho
balho e da linguagem. O trabalho como traço primevo e a linguagem permitiram • é "o modelo de toda práxis social, de qualquer conduta ativa", a educação em
o desenvolvimento do cérebro humano e dos órgãos dos sentidos. Para citarm os sua d imensão não pode ser vista isoladamente das determinações das formas
Engels (2004, p . 7): · predominantes d o trabalho social (idem, p. 83).
Descrevemos resumidamente até aqui os aspectos fundamentais da humani~
O desenvolvimento do cérebro e "<los sentidos a seu serviço, a crescem~.' zação que se distendem do trabalho enquanto "condição natural eterna da vida
clareza de conscíência, a capacidade de abstração e de discernimento cada humana, sem depender, portanto, de qualquer forma dessa vida, sendo antes
vez maiores reagiram por sua vez sobre o h·abalho e a palavra, esri.mulando comum a todas as suas formas sociais" (MARX, 2010, p. 218). Está claro para nós
rnaís e mais o seu desenvolvinlento. Quando o hornen1 se separa defíni- que o surgimento do trabalho determinou a existência das demais esferas da
tivan1.ente do macaco, esse desenvolvimento não cessa de modo algum, sociabilidade dos homens, como a linguagem e a educação, bem como o próprio
mas continua, em grau diverso e em diferentes sentidos entre os d iferentes home'm, o seu pensamento e a sua consciência. Entretanto o trabalho em suas
povos e as diferen.tes épocas, interrompido mesmo às vezes por retrocessos formas mais simples consiste no processo de transformação da natureza, pelo qual
de caráter local ou temporário, mas avan.çanclo em seu conjunto a gran des o homem objetiva suas necessidades. É sempre um ato teleológico que resulta
passos, COll.si.deravelmente impulsionado e, por sua vez, orientado em um em algo que anteri.ormente havia sido idealizado.
determinado sentido por um n ovo elemento que surge com o aparecimento Ao se objetivar no trabalho, o homem "expressa imediata e materialmente o
do hornem acabado: a sociedade . ser para si na existência material das objetivações" (LUKÁCS, 2013, p. 583), momen~
to no qual o homem "exterioriza" o seu ser, que é, por conseguinte, o resultado
No entanto as conquistas do trabalho e o desenvolvimento da linguagem da apropriação da produção histórico~social pelos indiví.duos. Para Lukács (idem),
correspondem estritamente ao desenvolvimento da genericidade do homem, a exteriorização (Entd.usserung) representa a capacidade criadora do ser humano


I

III 11/\ M M/\1( lll~lt . /\N! 11 I ( I" /\OIV\1 111 ~~ l\ M· I III lo,(t n I /\( I ,, (I 11 (1 1) Pll'ltllll 1\I;Àtl lil•.t!lllll tl I llllllltl\.ll!!ll!! I,! ·I~Vl'l IHII IIOI''1h.ll llltl
' 'I ~ I

N:~ MHlt•\hd v l npitnll hllt, '·' lt'lil íi dl ll' :d i~~ t1ml u l n t1t. is ll' 11 11 ~il d HHdl t llll, .ltt dt•
inserindo na renlid ade novos ohjl' tos, co lor:mdo l' ll l l ' ll l'tlll ,, 11 11 i.H, r: nt:-.:11:-- ljl lt'
"toda:--" :1s l'v l a~·ocs h t tl ll:tl\ il tl :'111 11'111\flt•,.; dv nH.: rcado. Â pnH hl \'i ltl dv l lll~rc:H it ll't :l~
só passam a ter sentid o na totalidade social. O trnbnlho l'U I H i t •ll l'i: l , d t·sst· mudo,
torr\<l,se uma fo rça estran lw qt 1v :-. t1hj11ga os trabalhado res ;'1 t'O IH i i ,·: Hl dv ll H ' I'l 'il
a relação d ialética entre apropriação-objetivação-exterio rizn\·:to . 7
d o ri a, tal qual nos explica Marx ( 1985, p. 105) :
A exteriorização compreen de o desenvolvimento das fo rças prod utivas '
das capacidades humanas, contudo não são todas as criações humanas que ..,,.
O operár io é mais pobre quanto m a is riqueza produ:, quanto lll :li:-. 1·11''-' '·
destinam a prom.over a humanidad e dos homens. Ao contrário , en1 face das
sua produção em potência e volume . O t rabalh ador com't'tl l.' ·~v v111 11ll'11 ';1
forças liberadas pela divisão social do trabalho, "o desenvo lvimento das fo t\ 'i\s
d oría tanto mais barata quan t o rnais n1ercad o rias pwd uz. A dl':-.v.dt ,,'iz: tl'.1l1
produtivas acarreta de imediato um in crernento na for mação das capacid ade. .
do mund u h u m an o cresce e m razão díreta d a valor izaç:"\u do llH 111d,1 d:1
humanas, que, n o entanto, abriga em si a possibilidade de sacrificar os indivíduos
coisas. O trabalho nfio somente produz mercado ri as; c k prod uz lillldw111
l... ] nesse processo" (idem, p. 580). Isso significa que, embora as objetivaçõcs
a si rn esrno e ao trabalhado r corno m ercadoria, e jusmmc n te na p ru 1Hl l \ill'
humanas provoquem no conjunto da genericidade do homem uma ampliação dl'
e rn q ue produz me rcador ias em geral.
suas capacidades e h abilidades, n os indivíduos singulares elas não correspondem
ao desenvolvimento de sua personalidade (idem). D esse ponto em diante da vida
h istórico-social, a humanidade defronta-se com o fenômen o do estranhamento" Para o trabalhador, a alienação de sua atividade vital resulta em sun "d vs
(Entfremdung). A objetivação d o trabalho aparece para os indivíduos como u ma realização", n o empob recimento material e espiritual de sua vida enquant o
fo rça estranha que os subjuga. Ademais, as formas de trabalho engendradas pelas ente genérico . A condição de assalariamento impõe para sua vida uma litTiit ad ~t
sociedades de classe expressam na mais pura realidade as alienações produzidas apropriação das objetivações produzidas pela human idade, apenas o ncccss:\ ri t 1
pela hu manidade, no trabalho escravo, servil e assalariado . Sendo assim, con~ para a reprodução J e sua força de trabalho e composição do capital. Desse rnmlo,
cardamos com a afirmação de Lukács (idem, p. 577): Marx nos apresenta (idem, p. 107):

A alienação do tra balhaJur em seLt obj eto ~c expressa, scgundll a~ ], .,..,


o estranham en to como um fen ô m en o exclusivame n te histórko-wcial, que

emerge em cer tos pico~ de d ese nvolvimenro em curso, assumindl) a p<trtir cco nômi.cas, d a seguinte fo rma: quanto mais produz o tml."lalh:.H.lor, ta111t 1

m eno::; há d e cons umir; quanto mais valore!; cria, tant~) ~:nnis M.' m \';dt 11,
daí forma s h istoricam e n.tc :sem.pre diferentes, cada vez m ais marcantes.
A sua comtitu ição , po rtanto , nti.o tem nada a ver com uma condirion 1-tu- t<mto mnis indigno ele se torna; quan.to rna is elaborado seu prod uto, 1:u1t1,

nwine universal, possu ind o rne nos ainda qualquer universalidad e cósmicr~. rrwis o rrabal had o r se deforma; quanto m a is civilizado set1 objl.'lu, 1:.111 t 1,
m ais búrharo ::;e torna o trabalhador; qu a n to m ais rico esp iritwllnwlllt'
::;e faz o traba lho , t anto mais d esespíritua hzad o e ligado <\ naturl'Zi1 !'ic:1 11
A alienação é um fen ômeno transitório que se expressa nas relações sociais
historicamente construídas. Como ressalta Lukács (idem), ela não é u ma condicão trabalhador.

eterna da vida human a, também não é apenas uma derivação subj etiv ista, como
apon tava H egel (embora aja especialmente sobre a subjetividade dos sujeitos); a D e outro modo, para as classes possuidoras, o produto da alienação dt 1
alienação tem sua existência nas relações concretas às quais os ind ivíduos estão trabalho sign ifica o enriquecimen to da propriedade privada. D o mes mo modo,
submetidos a reproduzir sua vida. Por esse motivo, "o estranhamento é um dos representa a extensão de seu poder sobre as demais classes. Isso de man t· ira
fenômenos sociais que mais decididamente está centrado n o indivíduo" (idem, alguma evita os efeitos deformadores da alienação sobre as classes dom ina ntl's,
p. 585), isso significa que a mesma base material da alienação retroage de man eira que veem ao seu curso um processo cada vez mais acentuado de destruição das
personalidades e manifestação das perversidades pessoais que correspond em :'1
diversa sob re os indivíduos.
manutenção do seu don1ínio enquanto classe exploradora.

6 Segundo Costa (2005, p. 4), "O estranh:1 mcnto é a consequên cia necessária da alienação do trabalho;
7 As traduções e m espan ho l são d e responsabilid ade d os auto res .
a venda, pa ra M arx de 1844, é a med inção qu e atualiza esta inversão".
I 'Ht l lttli\ M MAIOINO, Al i! til OA. AUIV\Nll ·~l ~ MA.IW_IlAlJ I) f'AGCI !OI ~i~ l 1-'I I.Ulltl f\f;AIIIIi' ol lll~ll O· U UI IUI~AI Íl!!iH ·III ·IIVI.II 'IMI111 01' 1·hJIII! 11
,~n

O t•st: ranh:tti H' tll u d ns l lns:-.vs d n lllill:t lll l'S IH' t :t tll l' .1 t'HMI" II f' Ín 1~1 i:tdo t':l 1l11 ft tl4 t· ' ''llw l'l:d lst':t dn ~~: tp i tll l inl ltt l ilt.•l. l•d \',tii H'tllv 111 1 rtl lli4d ~~ n c in ~ ~ ~~ l.~x pl t ll'l t t l l l'1
ge n e ri c idad c do ho m em , o u svja, o l:rah:dl w, itlf lu i d t'\'l'il\',\tl ll'lll l' :-.t l l ll t' 11 e t' XI lltli':Hltl l l'l-l.
posiçõ es pessoais d os seus n1cmb ros, q ue n üo se Sl' 11 l l' ll\ ll tom ltlll'lll t.' c u lp:td,,
e m acio n ar m ecanismos d e rep ressão c v io lênc ia na pro teçao da p ropt· i ~ ~d : td t
privad a e expansão d e se us n egócios. A histó t ia não ca nsa d e nos da r t.'Xl' llt pl" O PODE:R DA ALIE:NAÇÃO NA RE:E:STRUTURAÇÃO PRODUTIVA
trágicos desse comportamento q uase atávico d as classes dom in an tes . Na vt" d,,
Ma rx c Engels (2009) nos a lertara m em O manifes to comunista qu e o capi t;d 11 :11 1
capitalismo moderno, para ficarm os n os exe mplos mais co nhecidos, podvt " ''
pod e co n tinua r existind o sem revolucionar constantem e nte se us inst n ll lH'Illos
citar as duas guerras m.undi a is , o H o lo causto e suas câmaras d e gás, a d est rtli1;:u'
dl· produ ção e co m e les tod a a sociedade. Marx já havia obse rvad o a tl·nd 0tH iii
em massa provocada pela bomba d e Hiroshima e Nagasaki, o massacre c n t <1ri 1tl'll
que co ndu z a linha d e desenvolvimento das forças produtivas do cnpil a l, 1111
dos povos da Palestina, as torturas desenvolvidas por ditaduras san grent as IHt
redução cada vez mais drástica do tempo socialmente n ecessário d e prod l1\·:1n
América Latina e periferias d o capitalismo, entre tantos outros espa lhados pt•l,l
d e m ercadorias como fo rma de ampliação da mais,valia. Assim, o a urn e nt·o ti a
mundo que podem nos dar uma medida da ação inescrupulosa dos h ome ns d11
produtividade corres po nde, ao mesmo tempo, ao aumento d a qu antid nd l' dv
burguesia em defesa d e seu capital.
mercadorias expostas n o m ercado capitalista. Por sua vez, o excesso de me rcad o
Mesmo sem tratar especifica me nte da alienação, Marx d escreve u de nH 111, ,
ri as, em sentido inverso, ocasio n a a queda do preço dos produtos c a pe rd :l da
claro os linütes da sociab ilidad e a lienada da burguesia, que só po d e rcco nl wn· t
Iucratividade d o cap italista. O capitalista, para manter,se com pet iti vo, prl'c:is:t
o ho m em co m o "indivíduo rem et ido a si m esmo, ao seu interesse privad o v ; 11_1
investir cada vez mais e m seu capital, tendo em vista realizar uma taxa cad a Vt.''l
seu arbítrio privad o e isolado d a co mu n idade" (MARx, 2009, p. 65,66), e dt''>M
me nor d e lucros. Esse m ovime nto começa de tempos em te m p os a ocasio n:11
m o d o sua relação co m a prod ução genérica ap arece:
crises que p o d em levar à ruína os investidores do capital e com eles o prú pri <1
sistema capitalista. M arx já d escrevera o processo d e crises cíclicas d o ca pit ai.
comn um qu adro exterior aos inc\íyídu os, como limitação d<.l wn <Hill lll •
C rises que intercalam p eríod os de grande desenvolvimento das fo rças produ t ivas
mia original. O ún ico vínculo que os mantém juntos é a necessilLtd,• ,1,, 4
e esgotamentos da forma de produzir.
natureza, a preci~ão [Berdii.fnis] e o interesse p rivado, a conse rva çilo ~1:1 "";' As respostas d o capital para as crises que o afetam são inúmeras e dadas e n1

prup riedade e d:·l sua pe::;son t'gn ísra lidem, p . 66]. diversos âmbitos. Desde a esfera financeira, acionando a salvaguarda d o Estnd( 1
ao capital privado, passando pela política social e indo até m es m o ao rcc u rst >
A particularidade da alien ação burgues.a, expressa em seu pod er econômh 11 da guerra como método d e expansão de mercados 8. Sem fugir aos press u postos
e na aplicação de sua polít ica po r m eio d a força do Estado, torna-se a ge ner:tlt gerais da falência cíclica d o s istema capitalista, a reestruturação produtiva t' l11
zação da "essência" d o h o m em burguês, e não o homem universalmente li"'' sentido amplo co mpõe o co njunto de ações que tem com o m edida recupcra t
d o trabalho emancipado, m as o ho m em limitado pela propriedade privad a. E 111 sua eficiência.
co ntradição co m as p ossibilidad es de d esenvolvimento máximo d a sociabili dad ,· Como reação a um novo períod o de crises despontad o n o início d os anos
d o homem alçadas pelo p rogresso das fo rças produtivas, as relações de produ ~·a11 de 1970, as saídas elabo radas pelo s istema produtivo d em arcam uma n ova e tapa
capitalistas sancio na m cotid ian a m ente o m od o de ser da personalidade b urgut.•s, t, de acumulação caracterizada pelo alto padrão tecnológico da produ ção e enx uga·
tran sformando,se em uma ve rdad e ira "máquina de desperdiçar gente". Para di zl' t mento do quadro d e trabalhadores na execução da "produção sem go rduras d l'
co m outras palavras, a mane ira co m o a sociedade capitalista desenvolve suas rci:J pessoal" (CHESNAIS, 1996, p. 35). Nesse período, como assinala M észáros (2006),
ções interpessoais gera, quand o muito , a gestão de um processo de deform a~·· ~~' as crises passam a apresentar interstícios menores entre ascensão e qued a das
da personalidade humana.
Na sequência, procuramos evide nciar os efeitos devastadores da alien a~·; u'
8 Mészáros (2006, p. 1.000), ao discutir o complexo industrial militar, apo nta com base nas expe rit'·nda·.
produzida pelo capital nos moldes da reestruturação produtiva para a form a~·at • h istóricas das guerras na modernidade o papel vital da d estru ição massiva do poder béliro , 11.1
da personalidade humana. Apo ntamos como o "fetichismo generalizado" da "recuperação das crises e depressões" J o siste ma capitalista.
111 .1,! II~V! 11 1~11 III ojJ,,hIIII( ( l
I ~1 I)
I'/ H I IrAIAM MAl { IIII 'I, At·l! ii I !I A Alllt/\1111 Ml\ltllltAIA. U I Al:CI (ttl ltt) 1'1 III! ll tl At:!Aci III UI 01~11 11

t·nx:\s d r lu c mti v id :td v, u ~ i :-> t l.' lll : l \.' tltl'il v ll l t I' IM' I H' Itt l il l ll ' tHt•, ljll l p 11 1 ~•l' lt tlll'll li NP 111 1 •IYII. I l"q j,,d !l, i'tt i l\ t_ll h .lll tlll t'n pltnll ~-i t':t ('lll ll jll'i.l t' l'/'l l.tdiild tlt•tHit', 11
reflete no mtmcnlo da ~.·x pl o r:t<;ao e n:1 r~.·dl11;:10 d a~ pn~ pt•t t I\'•"" dt· vida d11 1 Lt Kh• pt u dttt h·td.u l,•rd , 11 11 l lt ih lll'ili'l l' ir, ,K.tllnr-. do p ó s g tl t' t'l':ttniiH'\il " d :11 ~ i n ni s d 1•
trabalhado ra. dl·sga:-;tv. A p11lltl, ,1 [ , \' IW"innn, lt• ~WI'I I:I n do Estado e a hnsv l'un li ~t :t dv pr(ldli t,. H l
.
A base da nova forma d e produ zir inic ialme nte a prese nt o u co mo rdl'll'lll'llt c!H.:ga m :1 sv \1:; lillttt l~~ ' k~ t ' \ jlilii SíiiL Corn o a po n ta ll a rvcy (2004 , p . I ~ 1) :
as experiências do capitalismo japo nês. A d e rrota do s indicalis mo classist:t "''
Japão nos anos de 1950 e a fund ação d o "sindicato d e e mpresa" , o ri ginad o 11:1 I k modu mais ).!L'r<d, o período de 1965 a 197 ~ tol'lloll ~·ad .t Vt ':' 111111

Nissan Motors Company, co limaran1 em uma nova forma de s ubo n..lin a~·:H l tJ,~ evidente a incapacidade dn fordü~mo e do kcynçsiani-;11\11 ,11' '"'llí ' l "

trabalho ao capital, combinando a política sindical colaboracionista c <1 Lks i ~t·:l contrad i çôt~s inerentes ao capíralí~mo. [... ] H:l\'ia pn 1hkn1as n 1111 :t t'iL'I

integrada à proposta concorrencial das empresas (OLIVEIRA, 2004). Tal m oviml' J)I tl dez dus investimentos de capital fixo de b rga éScala v dt' ltlll.t..:P pra z,' 1' tJ1
foi fundamental para abrandar mai.s tarde o projeto "inovador", do ponto d e vist :t sÜ;te mas d e pmclução cm Inassa que impt•diam l'l.1 U Í I I\ f'lcxil, il il l; ldl• d1
do capital, que nascia na planta da fábrica ela Toyota Motors Corp. plan e:jnmc n to e p resum iam crescim ento cstúw l e m m e rcados ~k ç, , , 1:-.1 11111'
Observando o desenvolvimento da indústria têxtil, na qual a automação dt, invariantes. Flavia pwblcmas de rigidez nos mercrtd()s n <\ ;d ur< tl,:H, 1· IIII '

maquinário permitia um funcionamento quase ininterrupto da produ ção e :1 con t ratos de tra balho (especialmente n.o cha mado sctor "mo1 H lpPI i-;1:t '')
economia de um núme ro co n siderável de trabalhadores, o engenhe iro Ta i ich 1 E roda tentativa de su perar esses pro blemas d e rigidez encontr<l\'a .1 t~ 11\ "
Ohno decide fazer mudanças n a produção de automóveis. Enquanto n a fábrica aparentemente invencível do poder profu ndamente cntr inclwir;lll" du
de motores da Toyota um o pe rário trabalhava com apenas uma m áquina, n:1 classe traha lhadora - o que explica as ondas de gre\'c e os pn>ldvtn:•
tecelagem Toyota um operário podi a supervisionar quarenta teares automáticos, trahalhbtas du período de 1968 a 1972.
de uma só vez. C o m as restrições d e mercad o que o Japão e nfrentava n aqu elt-
pe ríodo, Ohno viu a possibilidad e n ão d e aumentar a produção d e a uto móveis Como a base d a produtividade do modelo fordista se locuplet ava no au n1 L' I11 t,
em números, mas de mante r a m es m a produção com uma quantidad e red uzida constante da quantid ad e de mercadorias produzidas, o esgot am ento d os m cJTi\d( ts
de custos cotTl força de trabalho . Essa foi a forma encontrada para aume nt a r <l alavancados pdo pe río do de reconstrução da Europa e colocad o e m p rát ica pd :1
produtividade 9 , e teve co m o princípio a redução constante do núme ro d e traba- • política keynesiana por meio do Estado passaram a atravancar os investi rn L'ntt lS
lh.adores, alén1 da incorporação d e técn icas e equipamentos que possi~'J ilitasscm
. constantes das taxas d e Iurro
do capital nesses pa íses. As red uções cada vez mais
a autonomia da linha de produção, flexibilizando postos de trabalho. das empresas ocidentais e o avanço da indústria asiática conquistando pos i ~·ov~
importantes no m ercado internacional chamaram a atenção das grand es co rpom·
Desde 1955 na Toyota um lT<1halhaclor ~e ocupa, em média, de.: cinC1 I ções para o reposicionamento objetivo e político ela produção industri a l mundi:d .
máquinas. Enquanm quatw máqu inas traba lha m , au lomaticnmc..:nlc, ~~:-. De um lado, m ateria l e objetivamente, a p lanta da indústria sofre u utn 11

operáriL)S carregc~m, descarr~gam e prepararn o trabalho na qu inra m.'1· '\evolução" d os seus instrumentos de produção. A s tecnologias d a infonna~,·:lll
quina. Essa 0 a origcn1 dc.1 trahllhador desespeciali::udo, inserido na Or!!a integradas ao processo produtivo permitiram automatizar cad a vez mais a hlh11

nizaçào dn traba lho, rendo em Yista que o operário deixa de atuar num a cação de mercad o rias, disp en sando um considerável núm ero d e trabalhad o ll'"
máquina, cm um po~tu de trabalho isolado, para atuar como membw d~.· O uso da telem áti ca e m nível glo bal, de certo mo do, possibilito u q ue as c mp n·
uma equipe c.k operários, diante de um sistema automatizado, em postus sas pudessem quebra r a "rigidez" dos investimentos da qual Harvey (2004) 111 ,..,

poli\·a lentes [idern, p. 26]. relata. Utilizando meios de comunicação mais rápidos e integrad os, os gnH'ld v..,
grupos corporativos pude ram diversificar seus investimentos ao m es tTI O tcmp11
11
9 Segun do o Novíssimo dicionário ele economia, a p rodutividade (Produkti{;itdtswert) é o "resultado d a em que criaram uma cadeia de comando muito segura no controle d e ati vos ) VIII
divisão d a produção f ís ica obtida numa un idade de tempo (hora, dia, ano) po r urn d~)S fato rl:'s m ercados fora de sua base nacional. A informatizacão do s i.stema mon etári o dl'tt
e mp regados na produção (trabalho, terra, capital). E m termos globais, a produtit•idade expressa a '
utilização eficiente dos recursos procltLti1JOS, tendo em t'istu alcançar a máxima produção na menor unidade de
Lernpo e com os meno1·es custos. [... J A prod u tividade do cap ital, por sua vez, é a q unn tidade prod uzitln 10 "Conjunto ele bens, valo res, créditos e semelhantes , q ue fo rmam o patrimô nio de uma l..'nlJ m·~a .
po r u n id adt:: e cap i tnl i nvcst ido" (SAND RO~ l , 1999, p. 496-497, gr ifos nossos). o pondo-se ao passivo (dívidas, o brigações t::tc.)" (SANDRON l, 1999 , p. 34).
HO I hliAM MAIIIIN:J, MH til ll/1 AIIIIAIIll U ~ Ml\141l!JA (~ [1, IAGC I (111~1 1) 1 1 1 '1~11 li li, 'N.Al.llll(, l l'U'It .(1.-f~ lll IIIIU\1 IH i [111ll II/I 11 VIMI t il UI",IIJIIII I I .
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I

liberdad e para g rand L'H 11H lv inwnta ~·uc.:s li11:\ IH'l' it:l:-., qll l' l'ílMfll'rlllll'rt lllh•m a: 1111:1 1 I ) t• l llllm lado, j HIII t t~ •n ,. ide,' l"l! ll ,\lllL'nt·L·, as íiÇIH·s int·in1id nd o m s d :1 ltll'l,':-J
n a autova lo rização do ca pita l co rpo ra ti vo, co m o çlut idn i.'ll lll l',., (JO IO, p. \ í) : d o 1 ·~:-; t·iH. l o e, ao mes nHl ll' ttlpo, tJ tl so de medidas ngrvgndo rns dt, pod v1 si1Hi ic:tl
no corfms e mpresarial impuse ram du ras d e rrot as pa ra o carnpo d o trahall H,, ()~
A lógica absolutamente irracional da reprodu~;·ao do capitaltl'nd1· ,1 :q1n Cove rn os Reaga n c Thatch er fo ram os grandes precurso res na clest ru iç<lo do podt•J
sentar o capital monetário como a principal mercadoria do c.tpllallsllH 1 s indical dura nte os a nos d e 1980. Em 1981, Ronald Reaga n d esfe ri a o p 1illll'ln ,
Expande as rci<1ções sociais que permitem a extração de m~l i ~>-\',dm :1c , go lpe contra o fo rte e o rganizado sindicato de contro lado res de tráfego at'·n·<, ti< tS
passo que se lkscola ficticiamente das condições reais da prúpria \'ilb Estados Un idos, o Professional Air Traffic Controllers Organi zatio n (PA' I ( '( )),
social. Podemos atribui r ao termo f ictício um duplo sent idn: t..•xpre:-,s; l demitindo, depo is d e dois dias de greve, todos os empregad os s indi r:d i 7: ll l t~s ,
a existên cia de enurme::; rnassas d e capital especulativo nu frnudu lt•nl<l Na Inglaterra , M argareth Thatcher enfrentou a greve de um dos m ais po d cn 1:-it>..,
[... ]; e exe rce a mai~ exace rbada pre::>sáo sobre o trah alho, c rnbora ;tp:l sindicatos do país. Entre 1984 e 1985, os cidadãos ingleses ass istiram à di sp11h1
ren tcrnente tota l.men te apartad o d ele (ou seja, fi ctícia rnente d ist.a iKi<ld ( I e ntre a National Union Mineworks (NUM ) e o governo britânico. D ur;tll le :1
do trabalh o ). greve, a prim ei ra~m inistra britânica não poupou esforços n a utili zação ~ k tnd ,,
aparato repress ivo e o pressivo do Est ado para acabar com a para lisação da:-. miI lili-i
A relativa independência do capital em relação ao trabalho - conquist ad a de carvão (ROMÃO, 2007).
também com a ascen são d o m ercado financeiro otimizado pela informatização A vitória d e Thatch e r m arco u um novo perfil das n egociações sindi ca is pl·lo
dos bancos- abriu os caminhos necessários para to rnar as relações d e trabalho mundo'\ inaugu ra nd o um perío d o reacionário no qual prevaleceu o jWils:1
e de consumo mais flexíve is, a m p liando desse m odo a diversidade da prod u~ mento d e q ue "Não há alte rnativas" (There is no alternative 15). Para a so lu ~::1 n
ção e da prestação de serviços, levantando e derrubando economias regio n a is da crise econ ô mi ca, so m ente medidas austeras podiam se rvir de escolha para 11
em curto espaço de te m po e promovendo o ímpeto do empreendedorismo "mundo real". Isso im plico u para a classe trabalhad o ra a red ução de posto:-. 1l1
"inovador" pela via das mais diversas fo rmas de franchisings 11, joint ventures12 c trabalho , p erdas d e dire itos e garantias, revisão salarial em baixa, privai iz;a,':ttl
partnerships 13 • das e mpresas est at a is, relações trabalhistas de subco ntratação, e n t re out r:1s.

O ataque aos d ireitos d os trabalhadores e a consequ ente redução progressiva dus
'
custos sociais d o Es tado reposicionara iTl os patarnares de acumulação d o capit :d
11 Franchising: "M étodo de comercialização de produtos o u serviços n o qua l o franq ueado o btém o em bases ch amadas flexíveis, otirnizando a expropriação da forca d e t raba l hu 1:
dire ito de uso de u ma marca (geralme nte nome comercial), com ou sem exclusivid ade, c opera de '
increme n tando a propriedade privada, e levada a níveis estratosféricos.
acordo com um padrão d e qualidade estabelecido pelo franqueador, e m troca do pagnmento de um
determinado montante e m dinhe iro (franquia( (SANDRONI, 1999, p. 252).
12 ]oint venture: "Expressão em inglês que significa 'união de risco' e designa o processo mediante o
qual pessoas, ou, o q ue é m a is frequente, empresas se associa m para o desenvolvimento e execução 14 Segundo Romão (2007, p. 9) a National Coald Board (NCB), empresa pública criada para nacu 11 1;dt7,11
de um projeto específico no âmbito econômico e/ou financeiro . U ma joint venture pode ocorrer o carvão em 1947, escreveu o Relatório R id ley, uma série de documentos dCl.ti nados a relata 1 a~ 11 c•c

e ntre empresas privadas, entre empresas públicas e privadas, e entre empresas públicas e privadas gre\'istas e oferecer opções de como derrotá-las. "O relatório Ridley chcga\'a a detalhar o podt·• d1· Ic •i'•,
nacionais e estrangeiras. Du rante a vigência da joint ventu.re, cada empresa participante é responsá\'el das categorias e como enfrentá-las. Por esse relatório, o carvão estava na fa ixa de VLIIm· 1 , 1 !,il~cl : 11 h
pela totalidade do projeto. No caso brasileiro, essa modalidade foi estimulada especialmente durante intermediária, 'det·eria ser nessa área o grande embace'. O plano pre,·ia: a) Garantir estoqut·~ alto, , lc
os anos 70, envolvendo em presas p rivadas nacionais, empresas estatais e empresas estrangeiras" carvão, principalmente nas est ações de força; b) Elevar as despesas dos sindicatos. Com t·s~~· 1111,, 11c 1
(SANDRONI, 1999, p. 315). foram cortados os subsídios sociais dos grevistas, obrigando-os a serem sustentados pelos ~i 11 d 11 ·; 1 ~c,
13 Enco ntramos d ificuldades para defini r o termo partnership, pois e le tem pouca penetração no~ e apoiadores; c) Utilizar força policial para impedir os piquetes; d) Converter as estaçüc-. d\· lcltc,u
escritos de economia no Brasil. A d efinição que adoraremos é a utilizada pela Encyclopaedia de carvõo para óleo/ca rvão; d) Contratar motoristas não sindicalizados para transportar ca 1 , , 11 1, 1·)
Britannica (s.d., tradução nossa): "Associação voluntária de duas ou mais pessoas com a finalidad e Considerar a possibilid ad e de e levar os salários pa ra as áreas ma is vulneráv~is (I3enoy, 19HS, Jtt.';ill,
de gerir uma empresa, compart ilha ndo seus luc ros o u perdas. Na parceria habitual, cada sócio tem fo r Mincworkers, Bain , 2004)". o
padrão adotado desde então pelos governos no trntai1H'Ilhl ol '
plenos poderes para agir e m no me da e mpresa no exercício de sua atividad e. fusim, os parceiros g reves e as pautas sindicais tê m-se fundamentado em uma constante desmoralização do ~indit:d1
são ao m esmo tem po propric t:lrios c também agentes de sua coparticipação. Cada parceiro não mo, declarações de ilegalidad e dos movimentos grevistas, não negociaçôcs c w;o in.d iscrim i11:11ln .j,,
só é ind ivid ualmente responsável perante te rceiros pelas obr igações contraídas pe la e mpresa, m.as aparelho po li cia l.
tam bém é igualmente responsável por obrignções w ntraídas pela co partic ipação q uando e les estno 15 Frase lançada por Thatchc r para justi ficar as políticas irnpopu larcs do gm·crno ingl0s sohrl' a cl. 1·;•, 1
agindo no âmbito elos n egócios ela e mpresa" . trabalhadora.
. .
,~n ..
'H'' l i(liAM MAIUI~I 1 1 , At~lll l (I A AIIHAtll I MAi(IIIJA iJ IJ 1·'1\GC I (! 11 UI ) 1-'IIJI!tl '" 'AU~O III h llll'lt 11 (:IJI i \111/\1 I tU I H III IJV!II IMI t·ll uI "~htiiH (I

Do ponto de v i:-;la id~ulóg ko, <I iiH.'nrpor:l \': l n d :1 :1IIft l1 'f' tH d~~~~ in í't
!H t~dll''ll 't 1IIII1H tl llllul v d :1 l~ ll\llllll• ífl!h~tll ·lli · O llltHIIIIIH' Itl :d du ll'llh:dlu l t' lll l'tjllipe d11
c o refluxo da lu ta s indical no plano politi co ge r<~rant pu 1 p:tlll' du:-; c..·ntusi:1sl:111 tiiYil lil-i tll o C:· :1sua (ll iii! Hittlvll ll ldl itllt~ l ' l\:\ l' o l':-; l :d ll' l vl ittH'11I t1 d v ltll'l :t:-o qtll
da remodelação capitalista e d e alguns d esavisad os a ilus;w d o "(irn do lrah: dlt t~" dl'VC: l\l SC: I' ~1tit1 g idas. ( '11111 h:! i.l ' II II /" 11 Zt'll 1", as Cl] llij)l'S d c..'Vl' \11 Sl'lllpl'l' d l' ll\1 11\'o
e a superação da alienação fordista . Segundo essa perspectiva, o trabalh o m:uHI :d trar alguma 1T1dho ri a l' lll 1 v l :1~:1o ao trabalho a nte ri o r, c isso l'Xigl' o ~o::-; l o t \nv ,t
havia sido substituído pelo trabalho d as "máquinas inteligentes" e nqu anto :1
n >n c:.nc nação d e todos os membros para superar as metas precslahdvc id :ts. N11

força de trabalho humana teria se deslocado especificamente para o "trah:dh (l inte ri o r das equipes, há se mpre un1 receio entre os trabalh ad o res qu e nno at ÍllJ~l'lll
intelectual". ns metas, levando-os a um exercício de supervisão constante d o trabalho :tll wio.
'
E evidente que nenhuma dessas tendências se confirmou como verdadci ras, U rna lid erança é constituída em todas as equipes, entre os traba lh ndorl's, q111 '

mas a argumentação prevalecente da crise de desemprego estrutural leva l.'lll por sua vez é selecionada pelos diretores da empresa, e não p ro priaiT\CIHc..' pvl u...,

consideração esse momento atuante da co rporificação tecnológica do trabal h(l, trabalhadores. Oliveira (2004, p. 158) descreve com mais detalh es:
alegando a insuficiência de qualificação dos trabalhadores para lidar com :1
Es~e crahalh.ador é um do- selt~ci.onado e in.di cadn pela!' h icr:ll'l[ttia ...
nova forma de trabalhar. N essa óti ca, o trabalho mais intelectualizado inspirado
entre ns outros níveis ele direcào e o chão de fábrica. Ele :mwrt~~~·~~· 11
no modelo toyotista colocaria o trabalhador em contato com a totalidade dos '
descontentamento~> e incita ao engajamento, apelandl) para a igu;dd:lllt
processos produtivos realizados na fabricação de um objeto, superando ass im
que os un e aos demais operadores e aprende como t"l)mentar <l llll'llt'alíd:ttll
a visão fragmentária da linha de produção fordista, na qual cada trabalhador (·
ncces-;ária ao crl'scimento do ritmo de trabalho. nm; círculo~ til' rr:d,,diH•
especialista em uma parte da produção.
que acontecem depois de terminada a jornada diária. Na linha dl· llllllll'a
No modelo proposto po r Ohno , o trabalho em equipe aprese nta-se como
gem, ele puxa o rirmo e empurra o trabalho, fazendo todl)S trnhalh:tlt'lll
crucial para a consecução de qualquer tarefa. É a equipe de trabalho quem opera
na cadência exigida, mas raramente assume o trabalho na linha.
um conjunto de máquinas computadorizadas que realiza a produção, sendo ela
a responsáve l direta por tomar as decisões, intervir e resolver os problemas da
Essa liderança d estacada do meio da produção nem sempre é uma refe rt' nriíl
produção. Aparentemente é a equ ipe quem "pensa" a produção enquanto as •
técnica ela condução do trabalho. A escolha dos operadores líderes d as cqu i p1.•s
máquinas executam. Contrapondo-se ao modelo taylorista-fordista, no qual essa
fundamenta-se na capacidade motivadora, o u seja, no quanto esses operad( lrc..·s
responsabilidade ficava a cargo de um especialista, geralmente um engenheiro de
conseguem influenciar as decisões dos companheiros de trabalho. Estes snn
produção, essa tarefa passa a ter uma fu nção coletiva no toyotismo.
retirados da produção para receber treinamentos de como incentivar as eq uipvs
Entretanto o trabalho coletivo no toyqtismo não representa o fim da sepa-
na melhoria da produtividade.
ração entre o trabalho manual e o trabalho intelectual. É, em contrapartida,
.. uma variação dessa disjuntiva, em que equipes de desenvolvedores projetam a
Enfim, u::; lideranças aprendem a arte da manipulação como :,;c !o:->~l~ 11111
produção para equipes de executo res. Um grupo cada vez mais restrito de pla-
procedi1nento cien tífico. A empresa captura a suhjcti\·idade, n1allipt1h :1
nejadores (engenheiros, projetistas) é incumbido de planificar a produção, d e
atnnú; d e técnicas e se apropria dos resultados maiores produzidos. t\ll'lll
m odo que as operações tornem-se mais autômatas e eficientes para a realização
disso, faz com que esse procedimento se apresente como se fo!'M' 11111
do trabalho por meio de equipes executo ras. Estas últimas não decidem o qu e
cuidado com as necessidades básicas do trabalhador. Não basta p\11· 11111
vai ser produzido, nem como deverá ser a produção, suas decisões e reflexões,
colega pnra vigiar l) trahalh.o do outro, tem que fazl.!r isso como se l1 ~~--~
entretanto, são ancoradas em uma série de microssoluções que pode ser acrescida
uma formn de proteção [idem, p. 16) j.
e executada em torno daquilo que já foi estabelecido e definido por uma cadeia
de comando anterior, que detém o conhecimento da totalidade dos processos e
de suas finalidad es últimas.
Os executores por sua vez n ão só colocam em funcionamento e supervisio- 16 Em ja po nês Kaizen (CDI:~) signi fica melhoria; em seu epíteto toyotista representa uma dada fi l<lM ol1 ,1
nam todo o maquinário necessário à produção, como também servem para ü de vid a que leva a busca ele "melhorar sempre" .
.
I hliAM MAIIIIt 1'1. ANt 11 I OÂ 1\IJIMtlll Mf\1(11 i)/\ IJ u.I"' ( I (I li HI ) I'I l~llllll/ ACAO IIII II OI til r tl;lll IIII MI li! 1IIILII11' t ti ~I MI IIIÜ l11 11lllllt 11 'H
it{.j

Naol· dll k d v ll xv 1g:11 tll l ljlt m lru d :~ pmdtl ~:t<l l <lY'''' ' ' ' '' I' '' t 11: 111 n IIII HII H:II I'It · () 11\ u d l• l tl ' l uynt ,l dt• ji!"iídl tl/fl ll t•X p itlldÍII ·Sl' p 111':1 l ttd ,tS IHi ~·t. l l' I 'I IS P l'gl ll l t ~H,
\11<, d u l m h nlh n ln i sllpl' I'Hd a, mui lo 11l l' tWS s ua h il'mnp 11 .• u,,,,, ll :'1, tH l e t\l illlll!, l t o n :tls, Ílldllsiw iiS ~:,,v,•t' IHIIYII.~ III . II/'1 N11s L'sco las, potl V IIH l~ :ti'itll lí tt qt tl' " ''"
tll \li l t't..' IIHH. I e l ~wao d a d ivist\o t~c n ica d o trabalh o, na qtt :d v.,t-.t:-. l~a ractl'rí st 11 " sP I\ H.: nt <: súo pre paritd a:-. l <~ t '"''"dr vnsin o fl exíve is, mas tnmht'l\\ qtt l' si l<> vi\'l' t\
ilpi ll\'l'l'm rna is h o rn oge ncizad as, co n ce ntrad as e ho ri zo nta lizadas, rn as tHII II ' dnd as po r professores <.' í\ ltll \os. Os p rofessores po r te re m se u traba lh o Cí\díl Vl''
t..• li mi n adas po r co mpleto . São fo rm as engasta das de a umenta r a produtividac..lv I H li m nis s u b traído po r fo rmas d e "au to no m ação" 18 d o e nsin o . Os a lun os (1.' i'u t un,.,
me io d a redu ção co nst a nte d e pessoa l. A o contrário do que se pe nsa a res pvt ll' trabalh ad o res) p o r perd e re m o significado d o traba lho, "d es m a te ria li zado" ~·
d o toyoti s m o, n ão é es pecificam e nte n a tecno logia que se encontra su a pr i ncip.d "mitificado" po r co n cep ções teóricas do não trabalho , atua nd o sob re a for m a\' illl
inovação: "as p essoas são a p arte ce ntral do Sistema Toyota, po is son1e n te IH11 d e s uas personalidades.
rn c io da melhoria contínua a operação pode chegar à constância n eccssc\ri:1. No entanto não d evcn1os creditar ao toyotismo unica m e nte o a p rul'u n.
As pessoas devem ser treinadas para encontrar os problemas e eUmíná-los" (P ERI~ I RI\, damento das relações alienadas e sua influência sobre a p erson a lid nd l' d n 11
2012, p. 4, grifo nosso). trabalhadores. E' a partir da integração do capital industrial e fin a n cd ro q uv
No caso, eliminar problemas no toyo tisrno poderia ser substituído fac iln1enll' se produzem efeitos devastadores na organização do trabalho, d efl agra nd o IT I\

po r extinguir postos de trabalho . Entre algumas prerrogativas do trabalho l't\\ ciências irreversive is do po nto de vista da acumulação capitalist a . N as úl t im as
equipe encontram-se a apreen são d e d ad os sobre a produção e a aplicação dv décadas do século XX, a produção capitalista tem enfatizado a le i tc nd cnr iill
técnicas e medidas de auto m atizacão d o trabalho como formas d e aumento di\ da taxa de utilização d ecrescente. Esta tem como finalidade a exp a nsão d o con
'
produtividade. O s resultad os do tr aba lho e m equipe vo ltam-se contra o própri <> sumo e da circulação de m erca dorias de tal modo que a redução constante du
trab alhad o r como um pod er indep e ndente, sob o q ual ele se vê o brigado a con valor de uso d e um p rod uto p ossa tornar o seu consumo perm a n e nte . Afirma
sentir e p ar t icipar d e um processo d e intensificação e eliminação d a força dv Mészáros (2006, p. 661):
trabalho , estando e m risco o seu p rópri o trabalho .
Em o utras p alavras, n o siste m a f lexível o o pe rador mult ifuncion al a tod o o o que é vcrdncle iramente vantajoso para a expansão do capim! não t~ 111 11

momento cava sua pró pria cova n a espe ran ça de que não será ele , e sim outn > incremento na taxa (ou no grau) corn que uma mercadoria- por excml'lu,
operário, de outra equipe , d e o utro seto r, que será dispensado no jogo d a rees-
• uma cnn•bn - é utilizada, e sim, pelo contrário, o decréscirno de sua~
truturação produtiva. Do m es mo modo , o n10delo toyotista apresenta-s<:; como horas de uso d iári o. Enqua nto tal d ecr éscimo for acornpanhado pur 11111 :1
um poderoso instrumento de alie nação do trabalho humano, na medida cm exp::msão adequada do poder aquisitivo da sociedade, cria-se a demanda
que os indivíduos são concebid os, m esmo que trabalhando em equipe , como por outra camisa. Ou seja, em term os gerais, se n taxa ele utiliza~'<\() dt·
o bstáculos, uns para os o utros, n o alcan ce dos objetivos da empresa. um d eterminado tipo de mercador ia pudesse :;er dimin.uída d e, digamns,
Para os trabalhado res multifundo nai s incorporarem os patama res d e 100% parn l %, mantida constante a demanda por seu uso, a multiplirill, .H 1
..
eficiência e produtividade d o m odelo jap o n ês, são necessárias muitas h o ras de potencial do valor de troca seria correspondentemente centuplicada (btt~
tre inamento, que as empresas n ão estão dis postas a pagar. Estr ategica m e n te , é, assumiria a estonteante figura de 10.000%). De fato essa tendência dv
n esse sentido, a pressão d o e mpresariad o e d e organismos mult ilatera is sobre o reduzir a taxa de utilização real tem sido precisamente um dos prinrip; 11 ~
Estado , para ofertar cada vez ma is cedo e m suas matrizes escolares os princíp ios meios pelos quais o capital conseguiu atingir seu crescimento verdadl'ira
da produção flexível, tem sido inte nsa nas ultimas décadas. A educação d a fo rça mente incomensurável no curso do desenvolvimento histórico.
de trabalho da reestruturação produtiva incorpora cada vez mais a lógica da
multifuncionalidade alienada d o trabalhador desespecializado sob o amparo do
"aprender a aprender" 17 •

17 Em afinidad e estrutural com o modelo royotista d e gestão d o trabalho, as pedagogias do "aprender 18 "A uto no mação" Qidoka) é um termo usado pelos engenheiros d a Toyota para designar o pron·~~t 1
a aprender", articuladas ao discurso da empregabil idad e, compõem o quadro ideológico de teorias de auto mação e autonomia das máquinas, pelo qual um único operário pode supervisio nar mu ita,
destinadas a p reparar os indivíduos para n adaptação ao contexto catastrófico d e desemprego e máquinas ao mesmo tempo. No ensino, os projetas de educação a d istância têm desenvolvido ":11 n
penúrin social (para a classe trabalhado ra) da reestruturação prod utiva. U ma compreensão mai:; b ientes de aprendizag~:m" cada vez ma is automatizad os, nos quais é possível q ue um único profl'~,111
prec isa d a crítica ao "aprender n aprender" pode ser encon trada em Duarte (2001, 2006). possa acompanhar inúmeras turmas ao mesmo tempo.
.
I HCI l i(liAM MAl ~ I11 j•,, AN! 11I.0 A AllltN If f [! &MAl 'III IA (!I [LI-AG CI {III H1) PI llllllll 'Al,~/\ll l ll'' l l ll 1 1l .(1 Ctll_l\lfU\1 (li I !ll 'flt fNi llVIMI Nlü l''tiUIIII l l I H'/

TalnH.:canismu dl'l'XP:II\ Sitll, l'l' lll'l'M' t1t':ldn pvl11 o l ,:-.t dl'sd\ IH' i :l pn,g l':l tlt:td :l d.1 i'>cSI'Iil (llv/'. )11Hit 111 "'·' lliiiiHI! h lllfll l d .1do1 e~ l 'resl'1fln 1-i tlhjt •l h .1 d :1 re: 11id m l1
mercado ria, manifesta-se, no entanto, snh cantcterlsl il':ti-i d l'i'i t 1111 IV:ti'i v in s u :-~ tl ' lll. l oll'l':tÍg:t d:t ll OS lllt'tltll liiiS 1111111 1'11 114 dt• I'S II ol\ 11\ l dl' lllllii'iVillin ~~ Sld 1SIIIl \'{H1 1" 1lil
veis que colocam em risco os próprios recursos naturais e, conSl'llllentl'll H.'Ilk, 11 l11t\: ' dt· tr:th;d lw :~n l "l'il;d h 1uk· :1 ~~~ · IH' t: di zar a ptl'l'nidad v da p nHh 1\.i11 t. lt
processo de desenvolvimento e emancipação humana. Em O capiwl, Marx (2010) 11 \ t' rcad11 r ias, pa rt icu I;11 i:• 111 d <, l' l111111 ~ 11 H I< 1 ns poss ihiIidadcs rl': tis dv s11:1s 111 w 1.11; ·"'
apresen ta a mercadoria como uma "coisa" capaz d e satisfaze r as neccss id:tdt .. t :omo apontan1 Antu l1l'i'i l' A lvl's (2004, p. 349):
humanas. O va lor de uso que cada mercadoria traz em si é essencialmente :tqtlil"
q ue interessa aos homens. No entanto, nas relações de mercado estabd ccid:t•, A dt>~unHlnizaçào segregadora leYa ao isohuncnt11 indi\'idtt:d, .~~ 1111111 ,,
pela sociedade capitalista, é o v<1 lor de t roca que constitui fundamento dn pn , .
d'-' crtminnlidadt', ú formacão de "Qltctos de selnrcs c;..;du ídt 1s, :llt·· :~-; 1," 111.1
dução de m ercad orias. M arx (idem) compreendia que a ineren te necessidad e dt n1ais <n1::><1das de explosão ~ocial que, entretanto, n:io l'udv111 .•. ,.r ,.,.11.,
ampliação d o consumo como reflexo do aumento do capital constante pod <:ri :t meramente em r.ermos de cucsão social da socicdiHiv l'lllllo 1nl, j.,,,J.nl.l
trazer (e trouxe em grande medida) o d esenvolvimento das n ecessidades hun \a• dns cnnrradiçtks d a fprma de produção capir~dist:1 (que~·· Jllllllll• :11• d,
nas. Entretanto a expansão capitalista expressa nas formas totalitári as de sun 1;\Sl valor c de mais-valor).
monop olista e imperialista orienta a produ ção de mercadorias, especificamenll',
para autovalorização do capital, utilizando-se para isso de dispos itivos destrutivos, Assim, o aumento descomedido do exército industrial d e reserva 11t:i r:t 11111:t
de uma produção des necessária e de um consumo voraz. grande parcela da classe trabalhadora em u ma situação de extren1 a poh n·~: t t
sujeição ao mercado de trabalh o. Em contrapartida, a massificação da pmd ''' ,111
Certamente, uma grande \·ariedade de outras t(mnas de produção perdul:t de mercadorias estabelece o consumo como única possibilidade de ali rrn;l\'ilP
ria foram também experimentadas com o mesmo propó~ito, e continu:1111 da pessoalidade. A reestruturação produtiva obstaculiza, desse modo, q11:dqt1t' l
;1 ser praticadas desde então, como \'imos corn referência à "oh::.olc::.C\.'Ill'l 1 iniciativa que o use pensar para além da ordem capitalista. As soluçf)cs 11os 1'11'
plnnejada", etc. Entretanto elas demonsrrarn ser excessivamente li miradur:1 blemas do capital são apresentadas, dentro dessa conjuntura, de modo q11c H<1
nu curso dos desdobramento:; capita li stas com rda<;·ão aos irnperati\·, 11 .• é possível resolvê~l os com mais capitalism o. A vida dos indivíduos torn<Hil' cad:t
est:ruturais do sistema. A.ssirn tornou-se necess:'trio adotar a forma ma1 vez m ais a vida do capital, as perspectivas de trabalho e de lazer con(lii Hil'nl
' -se com a lógica egocêntrica dos possuido res limitando o desenvolvinw nl ll d:1
radical de desperdíc io, a destru ição di reta de vastas qua ntidades de riquvz:1
acum uladas e recursos e laborados con1.o maneira dominante de se Ii\'1.11 person alid ade dos indivíd uos à perversidade particular da fo rma de prod ll \'il< • 1
do c·xccsso de capita l superpn;duzido [l\M~szA!Zt)S, 2006, p. 679]. reprodução alienada da sociedade capitalista.

O u seja, o consumo cotid iano dilap idador e a destruição esquernatizad,, Silo enurmes a:-; éYidências do domínío elo caj)ital na 1·iJa fora elo tnt/•,t//1.,

da produção são formas que não só colocam em perigo o desenvo lvimento das (JUC colocam oiJstâca/os ao d~senvol'tJimento de UHW m/Jjdit•itfat/e dllll'lll /1 lf, 1114

necessidades humanas com o também põem em alerta a vida do própr io planl' seja, 1mw subjetit'iclade capa:;: de aspirar a tLma l)ersonaliclwle ntio lllctt' f'cllltc 11111
ta. O uso dispendioso dos recursos naturais para a produção de mercadoria-. nem meramente redHzida a sua "particularidade''. A alienaçàO/t'\lmnltullh'lllt

cada vez m ais descartáveis e nocivas para a saúde das pessoas e a devastaçfH, e os not•os fetichisnws que permeiam o mundo do trabalho rendem ct irn/l1'cl11
massiva d e recursos naturais, ameaçando a biodiversidade e os ecossistemas,
19 Para Antunes e A lves (2004, p. 343-344), o termo "subsunção" compreende n ão apenas a ~ 11111111 ''•11•,
têm se m ostrad o como únicas apostas viáveis capazes de manter o sistema do do trabalhad or ao capital, mas a sua participação ativa nesse processo: "o termo 'suhsu tH,':Hl• tt tdll_il
'
capital em fun cion amento. Como dem on stra Mészáros (ide m, p. 626), o qu e e caracteriza a relação ent re o trabalho e o capital. A primeira vista, poderia parecer mais 1•IHlllllll•,
denom iná-lo 'sub missão', já que se trata d e expressar a relação que surge quando o t rahalhadnt , • '"' [, .
prevalece co mo necessidade não é "a n ecessidade human a dos produto res, mas sua força d e trabalho ao capital, a ele se submetendo. No entanto, subsunçào cxpressn qul' a 1 1111;>~ , l1·
os imperativos estrutu ra is da própria valorização e reprodução elo cap ital", <.k trabalho vem a ser, ela mesma, inclu ída e como que transformada em capital: o trabalhou llll'l t 11 11 1 "
talnwdo que o mundo tem se tornado um lugar cada vez mais estran ho e hostil capitaL Constitui-o negativamente, pois é nele integrado no ato de vend a da força de trah:dh n , ' ""' '
qual o capital adquire, com essa força, o uso dela; uso que co nstitui o próprio processo ~ ·apit. d í •. t , ,
à maio ria dos seres h uman.os . de produção".
t.IWAM MAl( mm Alll ,, 1:0 A AfiH/\1 1i l '1l &Mf\itlt DA (j, 1), I:AGGI (OIHJ) I'I 1(1(11}1 ~AÇAOllltl"l lii~ I(;O t,Uf ll iUf\1 IIII I i! L! l:iVOI VtMr·NT OP-~11 JIIH 11 ' ){ii
tW

ti tlltlu•ll'l!'lllllllrl\tirl c/11 /•c.'l~llllc dlcliicl, • 1' íl lllllllijJ/ic 1d111/r dt• ~lld\ '111í1/id111h { :u11 I~ 11 11 H· :11 11 , 111 :t nHiii n11 '''' ' ' n l11' .1 n d es tl' rn pI t ui n, q lli d q \ll'l' v nl( 1q t 1v so Inv
clll1 1lclttck•, lid\'111, I'· H1)1. 11 :tli vid:td v lwm:t11 :1 n ·qllt ' l it 1\ tHtl lHv dns ro mliçoes objetivas qu e n sustl'IH:tm,
posto qt ll' as ci rr u nst·:i iH i:1s histúricas delimitam o campo de ativ idadcs qul'
l )t•H:it.: 1\H Hio, Â11lt1 1WS \.'A lves (idl'm) co rrobora m a ali mla~·;w dl' l.t1k~11 M co loca m o ser em rel açau co m o mundo, condicionando o d esenvo lvimento das
(JOOO) :1 1'\.'1-I IWi to do "fctichis mo genera li zado" no estágio impe ri alista do c:1p1 l'un çôes psíquicas manifes tas em su as capacidades e alcances d e sua con.sciên cia,
t.dl..,llltl. P:tl':l o IK'ns;H.Ior ht:mgaro, o ferichisrno da mercadoria, in tensifit .ul,. l'u ndamcntos primeiros de seu processo d e personalização. E é por esse processo
I H' Itlt'ltpit·lll monopolista, diCi cul ta sobre maneira o pensamento reflexivo p:u;t n qu e cada um torn a~se uma pessoa, um ser único e irrepetível, mas qu e contém
11\.tÍtll i:1 dos imli vl du os ime rsos n a est rutura ali enada da reprodu ção cap italista l'l"'l si o vasto universo representado pela humanidade.
I r i lt·:Hil' , COilSL'quentcrncnte, d e uma fo rça que exerce sobre os indivíduos 11111 Na atual conjuntura histórica, o que se verifica é a estreiteza do ca mpo de
11 l' ll' ito ill1t·idi ;d ético so bre o pensam e nto" (Lu KACS, 2000, p. 8). ntividades disponibilizado para a maioria das pessoas, quando as atividades priori-
l1:1ra nús, fi ca a co mpreensão de que o trabalho sobre os im.perat ivos d 11 tariam ente realizadas são as atividades conformadoras da força d e trabalho, isto é,
l't!e!'ltrutunt~·:"\o produtiva se esvai, na condição de atividade~guia da idade adult n, qu e promovem o d ese nvolvimento de "competências" submetidas às necessidades
ll fH 1 su pl'rando cm ne nhum aspecto a alienação da sociedade capitalista sol,n externas, cujos res ultados beneficiam a produção d o capital em detrimento d o
t li'\ i m i ivíd uos; pelo co ntrário , intensifica~a de modo que as forças antid ialéti t .1 próprio sujeito e de sua vida. O fosso que se instala entre "criador e criat ura"
lil wradas pela expansão totalitária da forma mercadoria tem se torn ado 11111 não só d escaracteriza o trabalho, mas converte o estranhamento - de condição
nhst:ku lo cada vez m ais indefectível para a constituição da personalidad e d" inerente ao trabalho, em força qu e o apris io na. C o m isso, os significados e os
se ntidos pessoais da atividade resultam cada vez mais cindidos, instalando~se as
i1Hiivlduos.
condições propícias para a co nfiguração de uma subjetividad e também cindida.
Sob tais circunstâncias, as capacidades dos h omens, bem com o as possibili~
dades para seu pleno desenvolvimento, reprirnem~se e deformam~se, compromc~
CONSID€RAÇÕ€S FINAIS
• te ndo a efetiva utilização d e todas as suas forças criado ras. Pelo processo de (des)
Pdo exposto, procuramos demo nstrar o brutal enfrentamento requcrid1, humanização, vemos ocorrer o esvaziamento d os valores essencialmente humanos
nos indivíduos tendo em vista sobreviverem eles como sujeitos da história, C<) tllll que, reiterando o "fetichi.smo generalizad o" ao qual se refere Lukács, acirram
Sl' tTS ativos que de modo consciente traçam os rumos e os d estinos da hunw sentimentos de impotência, de anomia, de isola mento em relação ao outro e a
11 idade.Visa m os, também, demonstrar que em tempos hodiernos n ão há lug:11 si mesmo, dissolvendo a coerência psicológica necessária entre o indivíd u o e a
p:1rn perspectivas idealistas e romantizadas acerca da formação dos indivíd un~, sociedade na qual vive, e, por esse caminho, por via de regra, a individualidade
vxrcto quando tais perspectivas alinham~se ao for talecimento do status quo IH.' co nverte~se em individualismo.

1 gl· m()nico. Todavia, a radicalidade com a qual intentamos apresentar o "est:ttlll E é n o ápice da formação individualista que a personalidade perde~se de si
da arte" referente à atividade~guia da idade adulta não almeja o acirramento dt mesma, posto que o h omem não é um ser social por força de seu habitat coletivo,
pl'ss irnismos, e s im busca alertar para a imensa responsabilidade que recai sohn· mas alguém cuja essência só pode ser encontrada fo ra de si, daí ser ele eternamente
aqueles cujo trabalho vincula~se à forn1ação humana em tempos e circunstânri:111 dependente de pertença social. Claro q ue esse sentido de pertencimento também
n 1dn vez mais desumanas. poderá ocorrer n o círculo estreito de seu individualismo, todavia esse estreitamen~
Se a atividade~guia culmina na formação da perso nalidade das pessoas, \ to é diretarnente proporcional aos riscos d e seu esgarçamento. A nosso juízo, a
Sl'essa atividade n a idade adulta expressa~se pela forma do trabalho, h á qu e ~"~ vida sustentada por motivos efêmeros e particulares ou por motivo nenhum tem
co nstatar q ue apenas com a superação das relações de alienação , cujo fundamcnt" se manifestado objetivamente n os altíssimos índices de relações embrutecidas,
res ide na propriedade privada, no sistema do dinheiro- no capital -, podere nu 111 d e violência indiscriminada e de adoecimento e sofrimento psíquico, que, diga~
a fi r mar que, de fato, a atividade~guia da idade adulta encontra~se a serviço ti,, ~se de passagem , também acabam por adquirir valor de mercado : a indústria de

rea l d esenvolvimento dos indivíduos. psicofármacos propõe~se a vender bem~estar e até felicidade!
llj(J ''"'" M, MAI' ll fl\ 1\Ht li I(),, AUHMll t .,, ~ MAitll liA o f) I!\( ( I (OIIt I) 1:.11'111111 'MAo lll't! ÓWUU t llllt!W\1 !H I! Hll( INOIVIMII~Tü 111 tlollll t! 11 1 I

( 'Ptltllll n, ttti vidndv dv prtH itt ~':ltl :-;od:d tt~ l'll \'M ''' ·' 11 illivid:t dl· g1tl:1 11:1
:-;l• :1 I )AttWIN, ( ·. A wiwlll dtJ ltlllllllll f ' íl ,./n tiP ,, \l/til ' l md. til' Âll rlill ( ' :tl\1 Lt ll 1: ISdtt lltdll

ttlílt·ll t idmlv dlls individuo:-~, v t.' lil \.' t ll.tll\tr:HH.: tksrar:tt t v t t1:1d.1 tlt• 1-. 11 :1 1\ t11 ~'illl dv Nl ttl l':-! hlllst'r<L Sno 1'"" 1''' lltttntt ll , 11H1l.
"l' ll Vt 1lw n t 1.' por co nta do nwdo t k prm lu ~·ão ca pitalista, podl•t la mos supor q uv 11
L)LJ;\IU 1·, N. As pedagogiits d11 "·ll ''l'tldn a npn:ndcr" c algumas ilusúl's dn assin1 < h:llllad:t
t'lllpnhrl'rinwnto das pessoas ocorra apenas n o âmb ito do trabalho, restando ll w sociedade do conheci mL'n lo. H<'11isw 13rctsileira de Educação, Rio de Janeiro: ÂNI'i'd,
ns n utras esfe ras de suas vid as? La rn e ntavelmente, nossa resposta a essa inte t'l'll Ca mpinas: Autores Associados, n. 18, p. 35-40, 2001.
W t ~·no é negativa . Vejamos por quê.
- -- · Vigotsl<.i e o "aprender a aprender": crítica às apropriações neolihl'rai s ,.
Prime iro, co nforme d estacado po r Heller (1991), po rque n ão é n a esfera tb
pós-n10dernas da teoria vigotskia na. Campinas: Autores Associados, 2006.
vitln corid ia na q ue os individuas d eparam~se co m as forças e/ou condições 111il i ~

dt'Sl' two lvidas e mais d ecisivas pe las quais possam desenvolver maximamente su<ts ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. Pannershi[J: article free pass. [S.l.: s.n.J; s.d. Disponível l'lll :
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vez q ue a o rdem das relações político~econômicas subordina a si o seu próprio •

d esenvo lvimento como pessoa. D esta rte, a maior exigência que recai sobre e1
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ativ idade-guia da idade adulta reside no resgate, pelos indivíduos, do controle
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emos por objetivo, neste capítulo, analisar a velhice com base nos pn:..,~ tt
SANDRONI, P. (Org). Novíssimo dicionário de economia . São Paulo: Best Seller, 1999.
postos da psicologia histórico--cultural. Nesse sentido, buscamos evidl.'IH 1,11
Si:vE, L Marxismo e a teoria da personalidade. Tomo 2. Lisboa: Horizonte Un iversitári o, como essa escola psicológica apresenta entendimentos que superam o olh;ll
1970. biologizante, tão comum nas compreensões sobre velhice.
VÁSQUEZ, A. S. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. Aos nos debruçarmos sobre os estudos acerca da velhice, fac ilmente podv1111 1s

VYGOTSKI, L S. Obras escogidas Ill: problemas del desan·olo de la psique. Madri: Visor, 1995. perceber que esse período do desenvolvimento é amplamente associado ao (i Il:tl
• da vida, à perda da função social e à degeneração física, o que, de certa n1atwi 111 ,
contribui para que os i.dosos sintam,se angustiados e temerosos diante dv~M·
.... momento. Também podemos perceber que não existe um consenso qu:ullt, i i
definição exata do que vem a ser a velhice. Entre diversas formas de conct'iltl ~ ll
a velhice, a mais utilizada baseia,se na compreensão adotada pela Organ ÍZil \': H'
Mundial da Saúde (OMS), que considera idoso qualquer pessoa que tcnh:t (,l)
anos ou mais. No entanto essa definição parece n ão ser suficiente para ah;m .tt
a complexidade de torna r,se velho na sociedade contemporânea.

1 O presente capítulo é um recorte d a pesquisa realizada por Reis (2011) no Programa de Pós-( ;, adu.ll, [lll
em Psicologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
2 Formação ern psicologia pela UEM (2005) e mestre em psicologia pela mesma u niversidadl· ( J(l ll l
.3 Graduação e m ps ico logia, m estre em educação pela Un iversidade Estad ual Paulista ")t'dttt d,
Mesqu ita Filho" (UNcsr/Marília), d o utora em educação escolar pela UNESP/Araraquara \' 111•
-doutorado c rn psicologia escolar e do d esenvolvimento h urn.ano pela Instituto de Psicnl t~nt., ,!,,
Univers idade de São Pau lo (USP). Atu almente é docente do Departamento de Psicolo~~l,, ' ti ,,
Programa ele Pós-Grndu:1ção cm Psicologia d a UEM .
2l)t ~ LIGIA M. MAl{ IINS, ANO I I O A AHW\N IIJO& ~IAI~ Il UA Q l) I A<,CI (OIH') PI HIOIJI/A(..AO IIIHIÓHILO CUI I UI{AI I H1I li •,IJNOl VIML NTO PSIUUILO H) ~

Nesse sentido, ao nos aproximarmos dos estudos rc;d iwdns pela psiru A VeLHICe ReTRATADA NA HISTÓRIA-
logia histórico-cultural, sobretudo dos trabalhos de Lev Sen1enovich Vigotsk i BReves CONSIDeRAÇÕeS
(1896-1934), de Aleksci Nikolaevith Leontiev (1903-1979) e de Dan iii Borisovit r h
Elkonin (1904-1984), vislumbramos a possibilidade de entender o psiquismo A velh ice, em cada momento histórico e em cada cultura, ocupou l';'111 j,
humano e, consequentemente, as etapas do desenvolvimento do ho mem pm antagônicos. Ora identificada à imagem do fim, da morte, do rnnl L' d:t lw1d11,
uma nova perspectiva. Nessa nova perspectiva, o ciclo de vida do ho rnem t' ora igualada à sabedoria, ao conhecimento e ao respeito, conforme n wr~t' itllld
caracterizado por períodos que são influenciados pelas condições históricas d ;~ Mascaro (2004).
human idade. Assim, para cada período de desenvolvimento, existem cél ractc- Mascaro (idem) pontua que, se focarmos na história da humaniLI:tdv, IH'It t.'
rísticas que são alicerçadas nas relações sociais de produção. Esses períodos sú beremos que, na Grécia an tiga, a aptidão física era um elemento superv:liul'iZ: ttl"
podem ser compreendidos pela análise dessas relações. socialmente. Isso é compreensível, posto que, quanto menos recursos t'X Ivt'IH ,,.,
existem, mais o corpo é requisitado . Assim, o valor de cada homem vst :I\'•'
Compreender a velhice parece-nos bastante desafiador, na medida em que
exatamente em sua força física, na capacidade de realizar tarefas, de glret·t'l':tt ,
lidamos com um período da vida do indivíduo que, ao longo da história da
Somado a isso, devemos considerar que o idoso, naquele momento hi:-.tt'lltt 11,
humanidade, sobretudo da história do Ocidente, está envolto em preconceitos
não é o mesmo ind ivíduo de h oje. Na Grécia antiga, era considerado id''""
e temores. O que podemos observar é que a velhice manifesta-se nas diversas
qualquer indivíduo que conseguia superar as condições de vida desfavor:ivt·t-. 1
épocas e lugares, fazendo parte da evolução da civilização humana, estando,
ultrapassar a expectativa de vida de 40 anos. Se, por um lado, a sociedade 1~1 ,.,.,,
portanto, presente em nossa vida.
desprestigiava o idoso por sua cond ição física, por outro, de aco rd o com M:t:-.c:tltl
Em 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou
(idem), encontramos em textos como Ditos e feitos memoráveis ele Sócrlltt'~, v:-.1 '''''
o censo demográfico brasileiro. De acordo com os dados coletados, estima-se
por Xenofonte (430-355 a.C .), relatos de que Sócrates aconselhava seus p11 ptltl:-l
que o Brasil possui 191,5 milhões de habitantes distribuídos pelas vinte c sete·
a terem admiração pelos pais, consideran do o saber acumulado por t•lvs. t_)11
federaçôes que constituem a nação brasileira. Desse núrnero total de )1abitantcs,
seja, podemos pensar que sobreviver a todas as intempéri es c chegar o'1 w ll lit't'
a população de idosos representa cerca de 21 milhões, ou seja, 11,3% do número
requeria um quantum de sabedoria acum ulada. Para Mascaro (id ctT'I), mmiH'' Ill tlil
total de habitantes. A projeção fe ita pelo IBGE, em 2008, era de que no ano
-. - vida política aos idosos ficavam reservados os cargos de maio r res pons;lhi lid :u le,
de 2010 a população idosa correspondesse a 9,98% da população total do país.
tanto que, em Esparta, para fazer parte do consel.ho de anciãos, era 11 ('t'l's..,:lt'tt'
Porém o que se observa é que houve um aumento de 1,32% acima daquilo que
,. ter mais de 40 anos.
fora previsto (IBGE, 2010).
Durante o império romano, a imagem do idoso também estava :lsst H' Í:HI.t ' '
Assim, vislumbra-se qu e pa ra este século muitos serão os d esafios que virtude, responsab ilidade e sabedoria nas famílias ricas. Aos anciãos sv n·:-.~·r '.l\ '11
a sociedade e o governo poderão enfrentar, ou já estão enfrentando, para a o pater familias, ou seja, o direito supremo sobre a família. De acordo n 1111 ( ·.,~ilr' •
construção de uma sociedade igualitária, justa e mais humana, sobretudo cm e Barros (2002), assim como nas sociedades gregas, a república romar\il t:11nl ,, 111
razão do aumento do número de idosos. Dessa forma, abordar as questões conferia cargos importantes, no senado, aos anciões como "patrícios" .
referentes à velhice e à aposentadoria é um grande desafio, tendo em vista sua Na obra A senectude, de Cícero, conforme descreve m Castro e lh t rn:-. (JOl) 1 ),
complexidade. a imagc rn da velhi ce foi defendida como momento da vida e m qu v n IH ill ll'lll
A fim de iniciarmos a discussão, n o próximo tópico realiza mos urTt hn.·w tornn..sv, dt• l':tt o, s:'thio . O idoso, na sociedade hcbrai c:1, er:1 cotH'vhitl tl t'tlllln
resgate histórico do papel da velhice ao longo da h ist6ri:1 dn lwmnnidade nt t' nqu vl1; qll t' t· lnhll l~t tiH •tlt l t' ill t' cnndiçt)es de assurn ir o pape l d\· lltlt•r dn t:ri iHttlll
os dias a tua is. Na sequência, arrcsentamos alguns t'H t 1H ltlH ren ll z:tl lt li'\ st ,ht-v :1 de r iH•Ii· d11 llltrllll11 I l lrHI I,IdtiP idoso era nque iL' qu v t·inh :l n r nrdH•d Jtl l' ltl ll
velhi ce c, finalmente, nn tercl'irn pnrt c, ahord:tt\to:o; n tjllt'o' ' "'' t_! ,, lt'nh:dl111 1 o 1111 1 d:~ ld ~"tttlll u t' Ih •dP! li! l' illlj'i! l'l lll11'1,ln co m o:-; lk m:d:; Jllt'tnhrwi tl:t t'tllllllllld ttdt·
nt·ividndt• dnmirt:tlll l! rwHs: t r':tM' dn vid:1, tt: t~tln t.' tlll\tl lutnhtnrt'ltll! 11 pMkllltl):l. t 1\J..nt di ~!llt 1 t\IIIIIHtlttl {ll\('lil) !!ll'llt"lt_lll:l qttl~ 11 idtlSlll.' l·;ltldtlllllllll tllllollll "''ulll
hi~-; l t'll· ktl ( t"'"':\I. ,d ll tl (t_IIHill p111 I'' IIH,IIIJdti l iii \'!'l t,., 'I"' t·•.ttt\,ttlt• ru.lq n~H'IIt ' i lll_ l u r' • 1111 111n1t vtd.t
1
''IC, l i! liAM M/\1011~'1, 1\1~1 111! I/\ 1\IIHI\tJli i{l 1'. M/\1<11.0/\ Ci l"l 1/\t 1 I(Oiji I'I IIII tlll 1\ÇAt, I ll'diiiW () t lll l lll(/\1 l!lll 11 1.1IIJ' '1111/IMI Nl O l'l.ltJIIII.Il
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lo nga, algo reservad o so me n te pn rn nlgumns JWSH<>i!H. C; d wl'l 1t 1tt 1 Juw ;t1, n •., V!J'II i !j ll 'Ii ii dt• ( \ ~ I' pl't1 JHll ll<l l \l tt ld 1\\'1 1111,' 11 l <.'<'l lllll'lj{ko V, dv CV I ( 1\ 1111\I Wi l'i \ 1 ('l'il%idll
d e sua força, preparat·,se para a velhi ce. ttHIIHll'hl p:u·n ns <'( lllll h;cn•te c.le vl d.t dn l \cl pll l tl ~': lo t' t \1 gl'm l, l(>i ll1 11 lll ll llH'Ilt n
Com a queda do império romano, a imagern d o id oso tnm hL' Ill I( >I 1Wl'l k' ltdt IHPH':t tltv dil'k il pnnt t1 P'>Ptd ii,'Í\ (l ldus:1, que, sern pod er pnrar de tt·nh:dh :tr, ln i
seu lugar de destaque na sociedade, visto que cada vez ma is essas Pl'H:m: 1:0, lun1Ii i '' .lt~~ id n t1 miséria (ilk lll, 2002). A n.·s1w ito d esse momen to histór ico, Ari c·s ( 197 ),
tornando,se vítimas da superioridade juvenil. Assim, cri o u-se um sist\' lll l\ '' t(tl·i· • I'· '> ())sa lie nta qu e, "qurtnd o os idosos não eram ricos e poderosos, se u l k st it H>
no qual ficava implícito o que a cada idade era permitido o u n ão faze r. M IIMII\ 111 "~·1•1va d epositado nas mãos da família, q ue podia t ratá-los com bcn evo lênci:t ,
(idem) afirma que, em termos gerais, o cristianismo expôs uma vis5o neg:1 1lv11 d11 111:ts 1:1mhé n1 pod ia esquecê-los, abando nando-os em hosp itais e as ilos".
velhice. Esse tema deixou de interessar aos escritores cristãos, q ue menci( >Jll l \'1 1111 Ve mos qu e a co ncepção de vida, ou a expectativa de vida, está e m cstn: it n
a velhice com relação à moral e a associavam com d ecrepitude, fe iu ra e JWCi tl lt ,, ~e·l:1~·fio co m as próprias condições de manter-se vivo e d e se reproduzir um d ado
De acordo com Mascaro (idem), a vida durante a Idad e M éd ia era h: tHt·nnt• 111mlo d e produção. So mente no século XX é que se inicia uma maior atenção :\
árdua, principalmente para os idosos que não pertenciam à camada privilvg lnd11 w lh ice, e surgem a gerontologia e a geriatria como ciências formais para respond er
dos senhores feudais. O trabalho nos campos, em razão d e exigir muitn 1<>11,•1 :'1s especificid ad es d o corpo que envelhece.
física, afastava os idosos dessa atividade e estes ficavam excluídos da vida pt'lhl i No próximo tópico, apresentamos d e que maneira a velhice tem sido objc·
ca. Para essa autora, a velhice, assim como nos momentos históricos anteri o ll 'li, 1ivada pela ciência entre os séculos XX e XXI.
continuava sendo raridade.

Le Goff (2008), reconhecido estudioso desse períod o de vida, reafirma '-'~HI
pensamento colocando que a velhice, nesse momento histórico, era algo q uL' 111 • A YE:LH ICE: NAS PRODUÇÕE:S CIE:NTÍFICAS
'
iniciava prematuramente, ou seja, indivíduos após atingir 40 anos já eram C<111

s iderados idosos. As más condicões de vida e os altos índices de mortalidad e t' IJI Na contemporaneidade, a idade do homem não é mais compreendida como
'
razão d as doenças faziam com que a maior parte da população não tivesse um :t lim itante de vida, em virtude da tecnologia que proporciona a lo ngevidade. D e
expectativa de vida muito alta. acordo com Bruckner (1.997, p. 24), "não existe mais um limiar do qual o ser
Ao final da Idade Média e no Renascimento, conforme observa Le Gofl humano estaria fora de uso, e hoje podemos recomeçar a vida aos 50 ou 60 anos,
(idem), iniciou,se um retorno aos ideais clássicos gregos, buscando,se uma exnl modificar o destino até os últimos momentos". Tudo isso só foi possível tend o
tação da imagem corporal; assim, o belo e o jovem eram admirados, e o idos<> em vista o desenvolvimento tecnológico e a melhoria da qualidade de vida d as
tornava-se um ser depreciado, tendo em vista a perda do vigor da juventude. pessoas. Minayo, Hartz e Buss (2000) entendem que qualidade de vida é uma
Desse modo, a fim d e evitar o envelhecimento, eram utilizados remédios, poçõe:-~ noção eminentemente humana, relacio nada aos múltiplos d eterminantes dentro
e ervas, de modo que pudesse garantir o rejuvenescimento. de um padrão de conforto e bem-estar.
De acordo com Mascaro (2004), a partir do século XVIII, a população euro- Com o intuito de compreender a velhice na contemporaneidade, buscamos,
peia aumentou em virtude d e m edidas d e saúde e higiene. No entanto a vida d os na literatura científica nacional, material que pudesse nos orientar para verifi;
idosos continuava bastante difícil, tendo em vista que deles era exigido grande car de que maneira a velhice tem sido objetivada pela ciência. A pesquisa foi
resistência física para superar as diversas enfermidades da época. Para a autora realizada em agosto de 2010, em periódicos ela Coordenação de Aperfeiçoamento
supracitada, nas famílias abastadas, o idoso era tido como "figura nobre e reve- de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em especial nos artigos disponibilizados
renciada, simbolizando a união dos laços familiares. Essa imagem de respeito vai pela Scientific Eletronic Liprary Online (SciELO), em dois bancos de teses e
acompanhá;lo durante todo o século XIX e começo do século XX" (idem, p. 32). dissertacões da Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Estadual
'
A partir do século XIX, a vida dos idosos sofreu alterações em virtude da de Campinas (UNICAMP).
Revolução Industrial, pelo êxodo rural e pelas descobertas científicas. Com o Em um panorama geral, após a leitura de 27 artigos publicados em revistas
advento de práticas de higiene e saúde pública, houve um aumento da expectativa científicas, além de resumos ele 24 dissertações e 12 teses, observamos que ave;
de vida, conforme anunciam Castro e Barros (2002). A Revolução Industrial, lhice, no plano científico, é retratada de diversas maneiras, sendo frequentemente

..

1t)X LIGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 299

rt>mp reend ida pelo viés biopsicossocial. E m razão disso, agrupamos o material porqu e direitos estão sendo for temente violad os ou mesmo que a sociedad e não
bibliográfico pesquisado em três grandes categorias, sen do elas: pesquisas sobre está conseguindo lidar com as mazelas que produz na forma como as relações
,,.., cond ições físicas e de saúde do idoso; pesquisas sobre as condições socioeconô~ sociais - de produção - estão sendo travadas.
111 icas c cu lturais do idoso; e pesquisas sobre as condições psicológicas do idoso. Anteriormente ao Estatuto do Idoso, em 1994, foi pro mulgada a lei n.
Nos trabalhos pesquisados sobre as condições físicas e de saúde do idoso, o foco 8.842, que dispõe sobre as d iretr izes da Política Nacional do Idoso, considerando
principal trazia o idoso e suas co ndições f ísicas e q u an to as mu danças corpora is idoso n o Bras il todos os indivíd u os com mais de 60 an os. Essa lei ta m.b é m cria
o~dvi ndns da velhice acarretam problemas d e ordem patológica. os Conselhos do Idoso n os níve is nacional, estadual e m u n icipal, d efinindo
1)e certa maneira, essas pesquisas, tais como os estudos de Netto (2002) e Silva como principa l função dessa entidade a formulação, coordenação, supervisão
( J009) - que tratam do climatério - , além de Fernandes (2009) e de Bulgarelli e e avaliação da Po lítica Nacion al do Id oso, no âmbito das respectivas instâncias ·
M.uKo (2008)- que tratam a respeito da saúde bucal dos idosos-, demonstram político~administrativas (idem). Observa~se que a legislação brasileira parece
11 l' lweihecimento na senilidade, ou seja, no envelhecimento associado às doen~ compreende r a velhice também com base em qu estões cronológicas, valorizan~
~·:~s. Nessas produ ções teóricas, as d oenças mais relacion adas ao idoso foram as do aspectos biológicos do d ese nvolvim e nto hum ano, buscando salvaguardar os
t': lnlíacas, acidentes cerebrais vascu lares, alterações na p ressão arterial, mal de d ireitos dqqu eles que passam a necess itar da atenção do Estado, v isto qu e já não
1\lzlwi IT'I e r, doença de Parkinson, osteoporose, problemas re lacionados à saúde possuem condições ele saúde para atender nem às necessidades sociais, nem às
l111l ai, depressão e demência. · condicões do m e rcado de trabalh o .
'
/\o relacionar as doenças ao processo de envelhecimento, descontextualizam~ Ao se despojar a velhice do trabal ho, segundo Palácios (2004), estamos d e
Sl' os processos socioculturais e históricos da constr ução da velhice e, de certa algum modo vinculando essa fase ao processo de aposentador ia, e, ass im, traze~
ftllll'l<l, o idoso fica associado às doenças e à imagem de algo eminentemente mos u ma nova perspectiva para a compreensão do fenômen o velhice. Em outras
lll'g':l1 ivo: a finitu de da vida. Esse asp ecto , n o senso comum, pod e dar a enten~ palavras , Leão (2000) e Alvaren ga et a l. (2009) afirmam que, se con sid erarm os
dn qlle o idoso, em razão de suas condições físicas, torna~se 1.1m indivíduo sem a lógica capitalista que rege n ossa sociedade - na q u al o trabalho não se cons~
111 iIid:H.k para o mercado d e trabalho e para a sociedade como um todo. ti tu i apenas como uma fonte de renda para o homem, mas exerce uma função
Ik acordo com Rosa (1995, p . 191), as concepções cronológicas e biologi~ primordial na o rgan ização da vida, o u seja, é pelo trabalho, p o r sua ocupação
•:tltlvs so bre a velhice baseiam~se em critérios arbitrários, posto que re fletem profissional, que o homem organiza sua vida p rática, sua rotina, estabelece seus
11
11 1\l:t imagem pouco favorável sobre esta fase do ciclo de vida, nomeadamente planos, constrói laços afetivos, exerce sua criativid ade, ga rante sua independência
I HII'ljlll' a d es po ja de tudo aqu ilo q u e con sidera vital para a sociedade- a produ~ e expressa sua prod u tividade -, de certa m ane i.ra estam os definindo a velhice
t,:;ll>i c lhe arr ibui, como contrapartida, àquilo que é alvo de uma d esva lorização como a ru ptu ra do h o mem com tudo aquilo que organizou sua vida até en tão .
•,, H i:d - a proteção". Esse aspecto parece ter sido evidenciado no Bras il, quando Essa outra d efinição de velh ice é o foco elo segun do agrupamento de pesqui sas
t.'lll "l'll.'lllhro de 2003 fo i a provada pelo presidente Luiz Inácio Lula da S ilva a le i bibliográficas levantadas que versaram sobre o idoso e a velhice com base em
n . 10.74 1, refe rente à proteção e direitos da p essoa idosa - o Estatuto do Idoso. questões socioeconô m icas e culturais.
1 ·.,~~· donlml'IHO o(ic ia l faz pnrte d a Política Nac io nal do Idoso e foi res ultad o As pesquisas que destacam as condições socioeconômicas e culturais do idoso bus~
tln o iW I 1li z:1<;iio c mo h i Iizaçno dos aposentados, pen sion istas e idosos vincu lados cn ram e nte nd e r as d ificuldades sociais advindas do fato d e ser idoso n o Brasil.
11 t ~ll l di.'dt' l'il\'i\() nrn:-; ilei ra dos Apose n tados c Pension istas (COBAP) ( MAI~TINS; Esses trnhn lhos t raze m como temáticas as d ificuldad es f in anceiras em razão da
200H). Dv cv rl :llll:ln c irn, o Estntuto do Idoso rqm.'se nta urn gntnd e
M .\ "1',/\ IH >1.1.< >, nposçn 1;1dorin, <dternçõe:; nas atividad es d e lazer mudando o status social, traba~
11\ olll\ll dt ' l\110 d :t~ PI ,[fi Íl'í\S dl· íll t' 11 \'f\O l\0 idoso, 11:\ IIH'didll l' lll tlllt' S(.' ro nst it ui lhnl' n ::di z:1dos co m grupos dn terceira idad e, n ecessid ad e de reest ruturar a vida
11111:1 ltll 'llt:t l q~. tl d t• ptnft'\llll :to~ din·ilns d v~M·~ i1 H ii vldt 11.11> , t~llt'lll'íl lll ll pndl' lll ll~ 111>1 d :1 :ql<>st' lll m lnr i:t L' d:1 pnd :1 d o lrah:dlw n.:gul:llnl'ni:H.Iol' ns políticas
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11 " \' I ii n ,f·llllí II li 1 11111 i 11 1"~ d 1 ,., d i 11 ~ I IIII! dt ' " Id\!~•~~ M: 11 1" I;1 Hi111 ' •l11 L1dt lti , dt• illl' ll\ .III .III ll [tl!;t I 1\11 11,\(,.,,
l kl~i l tl 11 ftdl n de• llll;ll ' lfl l t t~fl ,, t} t} ttll /1111h l llt 1'1 111 " ''"~' ' '' lt•lr;, Ctli Htt "''11 '1'1.' l' lll Vl ll 'll! 1 ~ 111 ,, [,,,;n,, ("• C«l t'td l'~''' " ,_.t' tlt\1""'""'' 1' ''' '' ' i d ''~'· ' 1111 l\1·:u1l l , vrdt· ' '··:•~n l trtl ' qu• ·
,·;I dli I\ nlit jll11 Nni q ·1'1 1Hlt I . .. . . . . I • ' . I • .. . " . . . ' . •. . . • " . ' . • .. I • "''"' rw·rf ild t~n n~ull rndn ~trd,, IHtHt i'ní .1()(1tl
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lO O I hliAM MAillii-W, At~I)I_I .O A. Afii~AI~ 11~0 & MAil III)/\ (o) n.1-AI~GI (ülm I
'll'Xl l : dllll' lll l~ t·I':I!Hi ll\ 1'411 (\ 1' 11 ( l. ·l ~.-,;' 1 ) I d11 \' II'II H d 11 illllllHll k •l:tdl' IWi: l mlqt lll'id:t \' lllll:
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veis pdos dornidl i os no país, d emonst rou ()2,4'1{, dol'l id< ,..,, 1H Hlln lI ll' l <·~ d,
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~ 111 i 11 d iv! tl11 os r< l m lll : ti H Id11 t k•'1, 111 l111 ' il 1. d11 1v 1\ t l' po I' d1>iH nH l t i vos: a vv rgl ll dw q lll'
família C OS úni cos respo nsáveis pelo SLIStc: nt·o !'innl1 l'L'il'o tlíl t': IHi l (Int 11 •:, 2() 1())
<IS idosos t{; m de c:xpl't'HHíl l' :1 Hl'X ll ld id m l v, o qu e to rna difí cil p~~ra clc:s IH. I o t· :lrt~ lll
A realidade financeira d os idosos no país,. de: fnto, rc:pc:n: ut c: :-~o hn· su:1 \'ld11, .

mcdid:1s de segurançn nc:cc:ssú ri:1, c t':11n bén1 o despreparo dos profissionnb d :1


alterando~a em vários aspectos, e talvez seja esse o motivo d e: pesqu isns dt· r 111 d 11 •
;'1rcn da sat:J<..ie para atender a essas d emandas vindas dos idosos, co nform e nH.' Il~
socioeconôm ico e cultural darem tanta importância ao aspecto f inancl'it'll, n.
dona Provinciali (2005).
certa maneira, podemos dizer que essas pesquisas também acabam por t\'\'l l.t 1
De acordo com Vasconcelos (2004, p. 41 3), "os estereótipos ligados à d e·
que, na sociedade capitalista, o idoso é um fecundo nich o de mercado a M' t t:X
gradação biológica, a qual serviu durante séculos para caracterizar o processo
piorado. Aqu i o foco socioeconômico va i ao enco ntro dos aspectos biolúgkc'IL
de envelhecimento, continuam a impregna r o imaginário cultural". Assim,
visto que, de acordo com Lima~Costa, Barreto e Giatti (2003), em virtudt· d:u•
socialmente a sexualidade é tid a como algo possível apenas durante a juve ntu~
condições de saúde do idoso, o gasto médio me nsal dessa população com 111L'dl de, sendo um comportamento particularmente contaminado por preconceitos
camentos compromete aproximadamente um quarto de sua renda total (2 )<}o)
du rante a velhice.
Podemos perceber que n essas pesquisas as concepções de idoso e do processo d v Para a maioria dos idosos, de fato, o sexo perdeu a função de reprodução,
envelheci mento mostram~se bastante n egativas em relação a essa etapa da vida . tendo em vista as condições bí0lógicas: a menopausa nas mulheres e o possível
As pesquisas parecem d emonstrar que o idoso é co nstantemente visualizadu surgimento de alguma disfunção erétil nos homens. No entanto, conforme apon~
como um problema social, necessitando da atenção do Estado para atender ns ta Vasconcelos (idem), a sexualidade e o sexo manifestam~se na velhice por se r
suas n ecessidad es especiais. essa uma necessidade humana que independe da idade avançada do indivíduo.
O eixo central das discussões pretende u m ostrar quanto o idoso tem sua vidn • Em estudo realizado por Luz e Amatuzzi (2008) a respeito das perspectivas
'
e suas relacões sociais modificadas em virtude d e sua condicão financeira. Essas de felicidade para o idoso, constatolHe que, entre vários elementos, tais como
' '
pesquisas contextualizaram que o idoso tem uma mudança em sua perspectiva contato familiar e social, autonomia e capacidade para trabalhar, encontra~se
d e vida e que as condições econômicas, d e fato, alteram todas as expectativas tam bém a possibilidade de vivenciar a sexualidade. Todos esses elementos foram
dessa população, inclusive
.
com relação à proximidade da morte . co nsiderados pelos idosos como formas d e proporcio nar qualidade de vida e
Na terceira categorização q ue fizemos com os resultad os da pesquisa biblio~ bem~estar social.
gráfica enco ntramos produções, como citamos a n teriormente, referentes às Outro fenômeno constatado nessas pesquisas d e cunho psicológico foi a
condições psicológicas elo idoso. As temáticas desse agrupamento tinham como eixo relação entre o processo de luto, ou seja, o processo d ecorrente da perda d e
o reajuste emocio nal do indivíduo n esse momento d a vida, as questões referentes pessoas próximas e a velhice. pe
acordo corn S ilva et al. (2007). o idoso muitas
à afetividade, à sexualidade na terceira idade, à proximidade da morte, ao luto e vezes está mais próximo de vivenciar a morte, e o luto traz alterações tais como:
ao processo d e solidão. Observamos que tais estudos, em geral, apresentam uma se ntimentos negativos, sensações físicas, cognições e comportamentos, que não
visão que relacionam a velhice às temáticas ele perdas e n10cionais que ocorrem em co nf iguram um luto necessariamente patológico, mas que o fazem perceber a
virtude das questões orgânicas e socioeconômicas advindas do envelhecimento, morte mais próxima dele.
e dessa maneira associam a velhice à morte, ao luto , à solidão, reafirmando esse O que podemos observar é que as pesquisas referentes ao idoso no Brasil ainda
período da vida como um momento final da existê ncia. tendem ao paradigma biopsicossocial e perd em de vista o processo de construção
Destacamos o artigo de Vasconcelos (2004), que estud ou a sexualidade na social da velhice, visto que esse fenômeno nem se mpre foi concebido como ele
terceira idade. De acord o com esse autor, as pessoas têm grande dificuldade em hoje se apresenta, conforme veremos no próximo tópico ,que trata de uma visão
com preender que o idoso tem vida sexual, principalmente n a atualidade, pelo historicizadora da periodização d o desenvolvimento humano.
fato de a tecnologia fornecer as condições necessár ias para se superar problemas
4 Para maiores infonnações sobre a incidência de OST e aids em idosos, sugerimos a leitura do Boletim
orgânicos, co mo a disfunção erétil n os ho m ens e a falta d e lubrificação nas epidemiológico DSTs e AIOS- Ministério da Saúde. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/ sites/
mulheres. Além disso, a sexualidade entre os idosos é tida como um tabu, fato defaul t/files/anexos/pu blicacao/2013/ 5 5559/_p_bolcti m_2013_ internet_pdf_p __ 51315. pd f>.
• Acesso em: 30 abr. 2016 .
qu e tem co ntribuído para o aumento dos índices de co ntaminação por doenças

..

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I h1IAM MAl fi INO, \NI 11 I_OA, Afli(AI~ li..O& f..1AI ~Ili)A Ci 1), I'ACGI (01{(~ ) PLI~ IOill \I~ÂO IIIU IC!I~ICO .(;UI iUUt\llll!lti i1IINOIVIMI NlO I'' •iiJtlleO \11 '

A vel hicl', sohrl'tud o no Brmdl, t v 1n sido rvt r:t i :HI:I \'(1 111 11111 :1 l t: IHI ~ Il CII t 11 O TRABALHO COMC) A11VII >AI >t I lOMINANT€ NA V€ LtiiC€
analisar esse fenômeno d e mane ira naturalisr:t, d csco ns id L'I'<I 1Hin o SL'II p1'<H'l'""''
!\ psko l ogin hist\'ll·tnl•t' tdttlt'; d , ('S\'(d:t dv pl'n s:t111 L' t1l'o psico k>~~icn r ri:tt ln :1
histórico. Também observamos, nos traba lhos co nsult ad os, llll l' :1 imnge 1n /ol(H ild
p:1r ti r dn o hra d e L<.:v V igu tHki ( IH9(l ,l l) 34), suste nta-se com base e m prindph1S
da velhice, enquanto processo histórico, toma co mo base um rnodl'lo l'<.'01H'lllt lrt•
tllnrx istns e nfatizando que ns a l tern ~·oes h istó ri cas nas rclaçôes e n tre os indi viduo~
e produtivo que tem desvalorizado o desenvolvime nto hum ano co n1 o pn H ('SSt•
,
na JTtaneira co mo esses suj eitos organizam a v ida mater ial produzem mud n n (ll~
l'
dinâmico e evolutivo. E importante ressaltar que d e modo alg um estamos 11l'gíl l'l
na co nsciê ncia e no comportamento h umano (SH UARE, 1990; T uu:SKI, 2002;
do o fato d e q ue, com o avanço da idade, o corpo do ser hum a n o se modífit:lt.•
FACCI, 2004). Nessa perspectiva, o trabalho, quand o se refere ao gên e ro hum a no,
suas funções biológicas já não possuem o mesm o desempenho de o utras faSL':-i dt
co nstitui,se como essência humana, e é por meio dele que o home m transfor
desenvolvimento . A d efesa a que n os propo mos é de q ue, para co m preendv1 ,. ,
ma a realidade e cria formas diferenciadas de desenvolvimento e ca racterísticas
velhice, n ão podemos nos limitar às perspectivas biológica, psicológica e sor i:d ,
psicológicas.
em separado ou em conjunto, e destituídas da perspectiva histórica, mas s i111
Marx (1988), em sua obra O capital, pontua que o trabalho é condição esse n
considerar q u e a velhice nem sempre existiu tal qual a concebemos hoje, scnd< 1
cial para a vida humana. Uma_condição para que o homem torn e,se mais li vrl',
un1.a constr ução histórica e, portanto, com características específicas d e cada f<lst•
ma i.s dono de si. Nas palavras de Marx (1988, p. 50):
da orga nização produtiva.
Fica a con cepção de qu e a velhice assume uma ou o utra conotação, sob Ulll
' O trabalho, como cri8.dor de valorc:- de uso, co mo trabalho útil (' Íll·
dos enfoq ues citados ou sob os três, mas que se constituem d e vida, acontec i·
dispensável à existência du homem - quaisquer que sejam as forma:> dv

m entos isolados ou arrolados factualmente, sem a recuperação da historicidad e. suciedade -,é necessidade natur:1l t' eterna de cfetivar o intercâmbio nw
Em o posição a uma compreensão n aturalizantc do d esenvolvimento human o, n rcrial entre o homem e n nr~rure:a, e, portanto. de manter a vida hunwn;L
psicologia histórico-cultural propõe um entendimen to po r intermédio daquilo
que é m ate rial. E, n esse se ntido, o entendimento do ciclo de vida humana passa Pelo trabalho, o homem au m enta suas chances de sobrevivência, m elh o ra
a se r a síntese dos fatores biológicos, psicológicos e sociais. O homem, com base sua condição de vida e progride. Para M a rx (idem, p . 202), o trabalho para o
no ma rxismo, é compreendido como síntese d as relações sociais - relações estas ho mem é, antes de tu do,
permeadas pelos m odos de produção de cad a época.
A compreensão defendida por essa escola psicológica utiliza-se das categorias um processo de que participarn o hornem e a natureza, processo em que o
d o método mate ri alista histórico e dialético , sobre tud o a ca tegoria d e superação ser humano, com sua própria <tção, irnpulsiona, regula e controla seu i n-
por inco rporação, na qual se dá a unidad e entre os aspectos biológicos, psico- tercâmbio material com n natureza. Defronta-se com a natureza como uma
lógicos e sociais. Vigotski (1996a) critica essas teorias n aturaliza ntes e salienta de suas forcas. Pôt' em movim ento as forcas naturais ele seu corr)o, bracos
' ' .
que a grande q uestão das teorias de dese nvo lvi mento não está n o fato de estas e pernas, cabeça e m:ios, a fim. de apropriar-se dos recursos da natureza,
somente padronizarem comportamentos ou criarem etapas d e desenvolvimento i rnprimindo-lhe form8. útil à vida humana. Atuando assim sobre a narureza
universais, mas sim p or não compreenderem o desenvolvime n to humano pela externa e rnodifícando-a, a'J mesnw tempo mudi rica sua própria natureza.
dinâmica histórica concernente ao h om em. M es mo considerando tratar,se de
um tema po uco explorado pela perspectiva da psicologia histórico-cultu ral, sendo Entre o h omem e a natureza ocorre o processo de mediação, que se dá em dois
os estudos empreendidos neste capítulo um a possibilidade de compreender a níveis: pelo instrumento de trabalho que o hom em insere entre ele e o objeto e
velhice, interrogamos: Quais os aspectos essen ciais para anal isar o desenvolvi, por m eio do próprio trabalh o, q ue antecede e torna possível a utilização do objeto.
mento psíqu ico na yelhice e qual ou quais as med iações centrais (atividades) são O foco d a psicologia histó rico-cultural está pautado n a essência genérica d o
,
travadas pelo ho m em nesse período em su a relação com a realidade? E so bre isso homem, ou seja, na atividade humana que se co nstitui na relação do h o mem
que vamos tratar no próximo iten1. co m seu ambiente por meio da cultura. Ao superar o determinismo biológico e

J
--· I ' I'.'JI" M ~ MI'\~TI N P l[ NVU! VIMIIHOI 1RIQUICfl III

q 11v ( 1 hu1111.·n1 to r 11() 1Hw, no Io'' gt , d1• :H 111 1·~I M1~~ , H· 111, tlm l wn w 1n
t' o 11 si dl' J': 11 H Io l~S t:lllllwlllii:Ín dwgtlll .1 t l l iW ltrll' 11 vld:1 i ldll l t:~ v :1 w llli t~l'. Viglltski (ldv111) IHJ11ht'· 111
social <: hist()rico, Vigotski ( 1930, p. 2), <:m s~u trnhnlho llll lltdndo  tmn~fcm)ltt{llu dos pl'rlmlos lk crisl', qul', Sl'gundo l'l<:,
Hl' i lll l'l'l'SHOll soh rl'tiHtlll'll 'l! I H'It'l'HI'tldu

socialista elo homem, salienta que o "homem existe e nqu a nt o membro 11111 Hl'f' social, s:lo nHmwnt·o:-; dl' tnlld:tll\;nH vlult·11 tn s c criticas do d esenvolvimento huni ~HH>.
de algum grupo social, em cujo contexto ele segue o percurso de desenvo lvime nt o Nos ca pítulos anterio t·cs, pudemos comp ree nder corno o desenvolvimento oco rre
histórico". O autor está nos mostrando que aqui!o que costu meiramente coll1•· nns vc\ria.s etapas da vida, com a atividade dominante em cada período.
preendemos como sinal de desenvolvimento está diretamente ligado a fatores Scgu n.d o Petroviski (1979), ao se passar de um período evolutivo para o utro,
históricos e sociais que o homem vivenciou e ainda vivenda. Segundo Vigotski surgem novas formações, novos tipos de estrutura da person alidade e de sua ativi-
(idem, ibidem), "a composição de personalidade, a estrutura de comportamento dade, que não existiam nos períodos anteriores, ass im o organismo se reorganiza
acaba por se constituir em uma variável dependente da evolução social, cujos e modifica o próprio curso do desenvolvimento. Dessa forma, as características
principais aspectos são determinados pela últim a". As características do idoso, de cada idade estão determinadas por um conjunto de condições relacionado
nosso objeto de estudo neste capítulo, são, portanto, decorrentes do desenvol- a essas novas formações em uma relação dialética com as exigências do meio
vimento histórico. externo, que se vã.o modificando conforme o indivíduo avança e m sua idade. É-
Fundamentado nas ideias de Engels (1876), a respeito do papel do trabalho o que ocorre no caso da velhice, cujas exigências do meio foram modificando-se
na adaptação do homem à natureza e na transformação d essa última med iante conforme o homem foi transform ándo a natureza.
o uso de instrumentos, Vigotski alicerçou seus estudos valendo-se da categoria A s conclicões
, concretas da vida do homem relacionam-se diretamente
trabalho, sendo este entendido como atividade vital que co nduz à modificação co m processos históricos, sociais e culturais nos quais ele está inserido. Assim,
,
das relacões do homem - dele com a natureza e d ele com os demais homens. deternünados aspectos d esse momento histórico inf luenciaram diretamente o
• desenvolvimento do homem contemporâneo, mas talvez no desenvolvimento das
De certa forma, é o trabalho que possibilita ao h omem a superação das forças da
natureza, permitindo que ele se distancie da condição anim al, conforme destaca novas gerações esses mesmos aspectos n ão sejam tão relevantes, posto que elas
Pctroviski (1979). se encontram sob outros determin antes (FACCI, 2004). D essa maneira, então,
O distanciamento da natureza só fo i possível pela mediação de suas a tivida- processa~se o desenvolvimento humano em que um período é levado a outro a
' des, que n ão acohtece d e forma direta, mas pelo uso dos mais variados tipos de pa rtir do surgimento de novas atividades que se vão tornando dominantes. Ao
instrumentos e signos. Para entendermos a m ediação, é importante compreendê-la ana lisar as fases de desenvolvimento, temos de compreender a atividade d omi-
como um processo no qual o homem emprega, em sua atividade psíquica inte- n ante que orienta, que promove o desenvo lvimento psíquico.
rior, o signo (palayras, números etc.), ao m es mo tempo em q ue e m sua atividade Cada fase de desenvolvimento é caracterizada por um a atividade dominante,
prática utiliza o instrumento (idem). "por um certo tipo de relações da criança co ro. a realidade, dominantes numa
Não vamos nos alongar nessa discussão sobre o trabalho como essência do dada etapa e determinadas pelo tipo de atividade que é então dominante para
homem o u mesmo sobre a mediação, uma vez qu e tais te mas já foram contem- ela" (LEONT!EV, 1987, p . 292). Para Leo ntiev, é por m eio da atividade dom inante
plados e m capítulos anteriores, mas q ueremos destacar que o homem, com su as que se formam as mudanças fundamentais d a personalidade do indivíduo.
ca racterísticas, e pe rsonalidade, é resultado da evolução filogenética, ontogênica Elkonin (1987) explica que o desenvo lvimento já alcançado em uma fase
c das cond ições histórico-sociais, como afirmam Vigotski e Luria (1996). impulsiona u m novo d esenvolvimento, altera o lugar que o indivíduo ocupa
Ao se analisar o processo de mudança da es trutura da personalidade, Vigotski nas relacões
, sociais e uma n ova a tividade dom inante se estabelece. O estudio-
( I996b) co nside ra a dinâmica do desenvolvimento humano levand o em conta ~o e~darece que o p rocesso de desenvo lvimento se reorganiza e m razão das
que a passagem de uma idade a outra va i ocorrendo de man eira cumulativa, novas necessidades apresentadas pelo in divíduo, e m um processo dialético
conforme o indivíduo vai apropriando-se da cultura n a interação com outros entre aquilo que era e o que passa a ser, n o que diz respeito a capacidades, a
homens, e torna-se visível após um lapso relativamente longo. D e acordo com habilidades que se processam conjuntamente. Assi m, a atividade dominante
Vigotski (idem), as idades estáveis podem ser percebidas nos seguintes períodos: naque le período aos poucos vai deixando seu posto para que a nova atividade
primeiro ano; primeira infância; idade pré-escolar; adolescência. No entanto, esse vá se estabe lecendo .


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Durante :1 vida adulta, a atividade tloJtlÍJl:llllv t'• u l:r:d,;dll< l, :t : tlividndt~ ~"'''"'
e, prtiH' ipnlmcntl', :'1 111 \lt' l\ 1\ " nttldllllt,' l tl'l fi HÍ\':Is ll\ll'l' ll l..{t' lll com :1 dllllitlltit;:tu
fissional, co nfonTte afirma Tolstij ( 1989) 1 . !'~ 1111 l':llil' :~dtdtn qtll' 11 IH l llH'Ill :ttiii)W
o ápice d e seu desenvolvimento físico, psicológico c socinl. J)l' acor·do com v H,'H'
do poiL'l\cial dn s fttl1~'<'\t:14 IHdl o l t'l).t k:t s st1pcrior~s l: cria m um :1 f is io twmia d os
idosos que os fazem nwit u plll'l'ridus l'ntre s i, afirn1a Tolstij (idem). 1\. nossa
autor, o adulto ocupa ainda hoj e, assim com cm outros momentos da histt'lrln,
sociednde, na realidade, fa z pouco investimento na continuidade do dcscnvol,
o lugar central da estrutura social e evolutiva da socied<:uJe. Ern suas palnvrns, 11
homem adulto "constitui a principal via de transmissão do mecanismo cst:Ha l, vi mc11 to cognitivo d e idosos.
De certa maneira, levantamos a hipótese de que a ruptura com o mundo
social e econômico" (idem, p. 191). Essa fase também é marcada pela form:wnu
formal do trabalho constitui,se na crise entre a fase da vida adulta e a velhice,
de uma nova célula social, a família. Nesse período da vida, afirma Tolstij (idem),
o que corrobora com o pensamento de Pacheco (2005), que defende a ide ia
já com uma vida profissional estabelecida ou prestes a se estabelecer, o homl'm,
de que a aposentadoria deve ser considerada um rito de passagem para a ve,
por n ecessidad e social, busca outra pessoa para estabelecer um vínculo mais fortv
lhice na sociedade contemporânea. Nesse sentido, a aposentadoria poderia ser
e duradouro, a fim de constituir uma união estável denominada socialmentv
de casamento . Isso não ocorre de forma n atu ral, prescritiva, principalmentl' co mpreendida como o momento em que o homem rompe com os lacos
' formais
.

e m u 1na sociedade que oferece poucas oportunidades para todas as pessoas Si.' da atividade trabalho, sendo obrigado a se retirar oficialm.ente do m ercado de
engajarem profissionalmente. Mas a expectativa social é de que as pessoas sigam trabalho. Evidentemente que essa ruptura não se dá totalmente, posto que os
esse curso da v ida. idosos, mesmo aposentados, continuam exercendo alguma atividade laboral.
N a passagem da vida adulta para a velhice, várias transformações vão ocor~ No entanto ele mantém outra relação com o trabalho; sendo ass im, o próprio
rendo 6. Tolstij (idem), que desenvolve pesquisas nessa perspectiva teórica, tece trabalho na velhice já não é o mesmo. O idoso muitas vezes é desvalorizado, e
apenas algumas ideias sobre essa fase de desenvolvimento e coloca que a velhice • por i.s so mesmo ele busca manter,se ocupado, realizando alguma atividade para
é uma idade contrad itória, uma vez que é o momento em q u e algumas perguntas ser reconhecido. Mesmo aposentado, busca desenvolver alguma atividade pro,
sob re a própria existência são realizadas. O h omem passa a refletir sobre o que fissional, arrumando um novo emprego, ou mesmo na vida cotidiana cuida dos
viveu, suas conquistas e perdas. netos, auxilia pessoas em suas dificuldades , ajuda os filhos, faz pequenos serviços
Tolstij (idem) também afirma que o número de idosos no mundo vem au, para mostrar,se produtivo, confo rme co nstatado na pesquisa de Reis (2011).
m entado de maneira acelerada, tendo em vista as condi ções de vida do homem Dados da pesquisa realizada por Reis (idem) nos auxiliam na compreensão
na atualidade. No entanto os idosos não têm acompanhado essas mudanças e de que a aposentadoria possa produzir a crise na passagem do homem da vida
sentem muita dificuldade de se inserir nesse novo contexto. Esse prolongar dos adu lta para a velhice. O autor, ao fazer estudo bibliográfico a respeito do assunto
an os de existência é uma maneira de o homem expressar o desejo de prolongar e e ntrevistar dez idosos, constatou que, a partir do advento da aposentadoria, uma
a vida humana na Terra. De acordo com Tolstij (ide m), a duração média de vida série de mudanças começou a ocorrer na vida dos idosos, tendo em vista a função
do homem, na Idade do Bronze, não superava os 20 anos; e, durante tod a a organizativa que o trabalho exercia na vida d esse grupo durante a fase adulta. É
Idade M édia, não mais que 35 anos; somente a partir do século XIX foi que o importante apresentar alguns relatos dos entrevistados sobre as mudanças que
h o m em, co m as mudanças ocorridas em suas condições sociais, veio progressi, ocorreram após a aposentadoria:
vamente vivendo mais.
Além da diminuição da força física, a velhice tem sido caracterizada tam, Fo i bo m e foi ruim se aposentar. Eu tenh o mais tempo livre agora, mns
bém pelas mudanças na própria perspectiva de vida, até mesmo, de acordo ganho menos e acabo indo trabalhar do mesmo jeito porque a apose nta
com Tolstij (idem), com uma diminuição do interesse pelo mundo exterior e doria não é suficiente - Metalú rgico aposentad o [idem , p. 76].
pelo novo. Ainda de acordo com esse autor, a velhice tem sido marcada pela Eu não gostei de me aposentar porque rn inha qualidade de \'ida ca i11
bastante e eu tenh o que faz~:r um traba lho ou outro pr a complement•ll
S As traduções são de responsabilidade dos autores. a renda, rnas agora tenho mais tempo para m in ha fa mília - Professo r 1
6 Esse é um período da vida ainda pouco estudado tomando como referência a psicologia histórico-
aposentada [idem, ihid crn}.
-cultural, sob retudo porq ue não se en con traram n as obras de Vigotski te mas relacionados à velhice.

..
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Jl'''"" /\glll"éltlú<• Agura 1ndu di:t(• domingo, l' l'll 11,111 ll'lllw oh1 i~::11,'t1• :'1 ncup:1~·<1o profiss ional dn s11jvito qui\ndo
de é ap resentado nalguém. Dl' ct•rto
co1n ll:tlb c isso me drixn um pnuco perdido - Auxiliar de 11rt>dll\':til tllodo, o trabalho colabora para a construção do ser social, uma vez que 0 po1
:IJHlSl' lllada [idem, ibidern]. meio dele que o homem produz e se reproduz.
A ind a para esse autor, ao se construir uma identidade pessoal relacionada no
O auto r também o bservou que o idoso não d eixa de manter alguma rela~';111 traba lho, o homem adulto delineia a forma como se reconhece e o modo co mo
ul m o trabalho, o que, de certa forma, já havia sido pontuado pelo pensamento é reconhecido pelo outro. Assim, a vida profissional vem imbuída d e va lorl's
de Vigotski (1996b), quando assinalou que, n o movimento de transição de umil :-- ubjetivos e socialmente compartilhados. Ao mesm o tempo em que o trabalho
la:--L' a outra, a atividade dominante não deixa de existir, ou seja, o trabalho qm· co ntribui para a formação do ser social, o social contribui para a formação do
SL' co nstitui na vida adulta como atividade dominante não deixa de fazer partv ser profissional.
da vida do idoso, o que parece ocorrer é apenas uma mudança na relação que ek· Apesar do papel funda m ental do trabalho na vida do homem, Marx (1988)
.
nwntén1 co rn essa atividade. Ao mesmo tempo em que o idoso não exerce u mn pontua que essa categoria assumi:u características diferentes na sociedade cap ita;
at ivilbd e profissional, da maneira que fazia anteriormente, a sua ocupação não lista. Ao contrário de tornar o homem livre, o trabalho torn.otHe grilhão, posto
deixa de ser permeada pela alienação, e poucos têm condições financeiras que que cn1 nossa sociedade ele se expressa na forma de mercadoria. Portanto, pensar
Ihes permitam não mais necessitar do trabalho. A sua sabedoria, a experiência na vida do homem e na atividade trabalho na contemporaneidade é também
~

adq uirid a, as ponderações que é capaz de fazer com base nos conhecimentos dos pensar como se processa essa relação dentro de uma sociedade capitalista.
quais se foi apropriando e pelo alargamento de sua capacidade intelectual no Conforme Marx (idem), a maneira como organizamos nossa vida material
processo de humanização, em uma sociedade na qual o homem vale pelo que está diretamente ligada à maneira como nos relacionamos com a atividade traba;
produz, não é suficiente para que o idoso se sinta valo rizado. Ele tem de mostrar lho. Em uma sociedade capitalista, o trabalho ganha um novo sentido, uma vez
para a sociedade que é capaz de produzir, de dar lucro, ainda. que valores próprios dessa sociedade lhe são atribuídos, ou seja, na observação
Para a maio r parte da população, na vida adulta, o trabalho, a ocupação pro; desse autor, pensar o trabalho na sociedade capitalista é analisar o papel d a
l"iss io nal passa a ocupar um lugar central na vida do homem: ora pelo trabalho mercadoria dentro desse sistema, é compreender a especificidade do trabalho
ser a atividade que toma a maior parte de seu tempo, ora por ser um organizador enquanto mercadoria.
da vida como um todo, ou seja, por ser em razão dessa atividade que o homem E, nessas condições, o homem trabalha, porém não tem clareza do que faz ao
P<Hita sua rotina, estabelece seus planos, metas e aspirações, constrói laços afe; se deparar com as mercadorias produzidas. De certa maneira, ele não reconhece
rivos, exe rce sua criatividad e, garante sua independência e so brevivência. Pela o produto d e sua produção, exceto por sua forma d e mercadoria, considerando
importância dessa atividade na vida do homem é que ele passa grande parte do que no m ercado elas ganham vida própria, assumem uma importância de fato.
te mpo de seu desenvolvimento se preparando, com o intuito de conseguir meios Em razão disso, ao se relacionar com essas mercadorias tal qual elas são postas,
mais eficientes para preservar essa atividade, conforme anuncia Pochmann (2000). os trabalhadores tornam;se objetos e passam a seguir as regras do mercado. E,
De acordo C01Tl Lukács (1979), na vida do homem adulto, o trabalho é um assim como a mercadoria, o homem, se não consumir, passa a não existir e é
importante elemento na condição de existência do indivíduo, é uma necessidade excluído do mercado, tal como pontua Silveira (1995).
natural e ete rna. No desenvolvimento do gênero humano, o trabalho permitiu A esse respeito, pontua Marx (1988, p. 111):
e permite o intercâmbio com a natureza. Para Lukács (idem, p. 16), o trabalho
tem função de "m ediatizar o intercâmbio orgânico entre o homem e a natureza, O trabalhador torn:He tanto mais pobre quanto mais riqueza produz,
o u seja, a vida do homem". No caso da atividade profissional, o trabalho seria a quanto mais a sua produção aument8 em. poder e extensão. O trabalha-
forma pela qual o homem se relaciona com a sociedade e a atividade que possi; dor torna;se uma mercadoria ta n to mais barata, quanto maior número
310 LIGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PS[QUICO 3 11

de bens produ:. Com a \'alorização do mundo das coisas, aumenta em (idem). Poderíamos argumentar, com base na teoria vigotskiana, que o homem
proporção direra a des\'alorização do mundo dos homens. O trabalho defronta-se com uma nova crise: não ser mais um trabalhador. O indivíduo
não produ: apena~ mt:rcadoria; produz-se também a si mesmo e ao tem experiência, tem conhecimentos, mais possibilidade de analisar os fatos
rrah:~ lhador como uma mercaJoria, e justamente na mc::>ma proporçà<.) da vida - e isso seria o novo nesse período d e desenvolvimento -, porém não
com que prod uz hen:-;. é mais produtivo, e essas características nem sempre são valorizadas. Ele pode
produzir, mas não da mesma forma que vinha fazendo durante a vida adulta. A
O ho mem vende sua força de trabalho para um grupo que detém os meios crise ocorre porque suas potencialidades, adquiridas por meio do intercâmbio
de produção. Porém, quando chega a velhice, como ele poderia ainda dar lucro com a natureza, não são ap roveitad as e consideradas na sociedade da produção,
'
se já não tem as mesmas condições físicas? E nesse momento que ocorre a apo- do lucro. Além disso, de modo geral, pouco investimento se faz para que o idoso
sentadoria. ,continue tendo oportunidade de continuar desenvolvendo-se, apropriando-se de
Na atualidade, de acordo com Kunzler (2009), a imagem da velhice está novos conhecimentos.
diretamente associada à aposentadoria, ou seja, a saída do homem do mercado Não raramente, o processo de envelhecimento está associado culturalmente
de trabalho em virtude de sua idade. Enquanto fenômeno social, a aposenta com a saída do mercado de trabalho e o advento da aposentadoria. Ao contrá~
doria modifica consideravelmente a vida do indivíduo, uma vez que altera as rio do que significava antigamente, o saber acumulado ao longo dos anos nem
relações que o homem estabelece com os demais, sobretudo porque este perd e :t sempre é fonte de reconhecimento e prestígio. Costumeiramente, esse saber é
identidade profissional, que foi construíd a desde o início da vida adulta (idem) menosprezado e considerado obsoleto.
Sabemos, no entanto, que nem todas as pessoas conseguem se aposentar, <..j\ll' Cabe aqui fazer uma análise da própria condição do trabalhador no siste~
muitos trabalhadores realizam atividades informais e mesmo trabalhos Sl'lll ma capitalista, que por sua vez, antes de se aposentar, encontra~se socializado,
registro. No entanto, as próprias condições físicas levam os homens a irem , :1t ,,.., • preparado e exigido social e economicamente pela sociedade capita lista. Essa
poucos, afastando-se de muitas atividades que lhes davam sustento. mesma sociedade faz com que o trabalhador cumpra seu destino de trabalhador,
Marcada pela saída do mercado de trabalho, a velhice traz consigo os vn lun., dirigindo suas escolhas pela afirmação da produção e do consumo. O trabalhador
atribuídos pelo meio social, principalmente, e a ideia de uma vida economil" se vê transformado em seu trabalho, tendo uma vida imersa em rituais cotidia-
rncnte improdutiva. Somados aos valores sociais, existem os valores intrí nsvt '1 ;1 nos, sendo que muitos forjam sua identidade em um labor e, nele, conseguem
ao próprio homem, que se relacionam diretamente com sua história de vid:1, (llt lt o reconhecimento de seu valor, o que lhes confere prestígio, tal como pontua
sw1s relações com a sociedade, com seu modo de enfrentar perdas e d e adnpt .w-~H Kunzler (idem).
:\s novas s ituacões (idem). Para Kunzler (idem), em virtude de seu caráter organizativo, o trabalh o
'
Um aspecto igualmente relacionado à aposentadoria cons iste no f:\lo d,• ,_,hl determina compromissos, ho rários e rotina, fazendo com que o trabalhad o r
1a mhém poder influenciar o desempenho cognitivo do ho mem idoso, l" qtll ·, molde sua vida e m to rn o das condições exigidas por seu trabalh o. Ao se afasta r
l'l11 rnuitos casos, ele vai passar por um empobrecimento d e suas rctks :-.~u tlllt c do trabalho, c co m tempo disponível, o trabalhador percebe que se u tempo livrl'
de nlividades diárias. As redes sociais e as atividades diárias são ek·tlll'tl to,. ,,,, não está mais rc lac ionndo co m o conjunto de atividades diárias que fazia p<lrt l'
portnntcs para a postergação do declínio cogn itivo, visto que, quallt o tn nhtt 11 de sua vida. Ele se vê ohrigndo a mudar os hábitos do co tidiano, diminuindo
t.:ng-:ljarncnto social, rnai or csti m ul:wão i ntclcctua l c ntivid ndcs físicas, '''' 111 ilt o círcu lo de ami zadl's ligadas no trabalho, mas, cn1 contrnpart ida, pnssa ii t~: t
Si lO Wi riscos d e o horncrn sv r :1n lllH:t ido por qu:dqucr dol'll\'ll (idvtll) . liiYiíl ronviv0ncia mais int\'nsn com n fnmilin, que pot..lcn\ ser hnrnH) nirn 011
'
I ~ s: durnr nwstrnr qttl' :t :q1t lSVI\t tHinri:t 11 c m sl' mpt't.' (· :tl'ls il1lil :td n t lt.' j, -lltiilt co n r 111 llt l H: I.
lll'gll t ivn, pni 1-1 t :1tnht' t\1 1HH ll ' M' t t.• ttlt~ IHI idn r:tllllt 1 lllll:t pn:-.s ihi I idml v dt· 11 h tii\H' ill Âpt'l:, IHlll H: tfd 11 d11 1 1ti v itl11dl~ l:thnm l I' l'l\1 I'I I ZIItl d11 l'l:itlld :td l' d :11\IHIHl ' ll( iltltH 'III
tl'tll').rl ttli ,: ll' ~ ~~~~ vid:t. N11 t'ltl t!lllil, "tjllt_• ~~· o l lM' I'\'11 l·~ qtll' 11 lltt l llll.' lll tl dn PI III l I \1'1 1Mli, ( l lt H li"'d IIII I' 1'1.~ t,: IHl i ~~ III 'IIII t I III 1111\'1 l '; h 1f! III nl 'l lllll/l I l\l I' IIII II ~~ e I t' III ~w 1\ i ~ i 11
'• t' lll'tlllllt'ln 1:· t' ll\'t dt<l 11111 ttll\11 ,.,_,ri~_• d,_,.li ittt,H, ot "• el'!tt<' IIH 11"'· inl t• t• l it:~tdtl'l Píl!l th' tlll prtiJt•to~ tk• v1d11. ~ ~~~~H p11 ~d tllllll t\'llt_lt•qllflt' fi lll' ltflll \• ''1 d11 !t' IHJ"Iil ll vtl_' t' ttR
1, '"''-' t ' l~~· tt.' r'"' dtt\' llltttt' tlt l, tUi tl ll! tWirn l'tll ttt.' 1_1 IHHI"i t' tn ,, .,, viv,:rH_'inr n wllil u w..Ni' ú..! nJtçn._. .!it:,duün.~nu~ ltnt" 1141(1 {td l'''' ),
112 LíGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 313

A aposentadoria é mais que o afastamento da força de trabalho, afinal ela característica do sistema de produção capitalista foi estudada primeiramente por
t• nvolve o continuar exercendo alguma atividade de trabalho ou dedicar~se plena- Eça de Queiroz (idem) em seu livro A emigração como força civiLizatória. O autor,
mente a outras possibilidades, preferencialmente mais satisfatórias, como o lazer, por meio de um estudo histórico acerca das emigrações que ocorreram no mundo
o investimento em si mesmo, considerando as variações salariais ao aposentar-se a partir do desenvolvimento da industrialização, afirma que o sistema vigente,
(idem). Falar que o idoso vive "a melhor idade" é muito questionável quando no intuito de atender às questões econômicas postas, força o homem a produzir,
:1nalisamos a situação de penúria e abandono que muitos deles vivem. "Melhor mesmo que para isso seja necessário que ele migre para outros lugares. Em alusão
idade" para quem? ao pensamento de Queiroz (idem), podemos dizer, então, que o sistema capita-
A opção pelo lazer, nesse período de desenvolvimento, pode ser considerada lista se utiliza dessa força civilizadora para fazer com que os idosos continuem a
11 ma mudança positiva. No entanto essa predisposição para usufruir do maior manter algum tipo de relação com a atividade trabalho.
..
tt•mpo livre dependerá de como cada um se preparou financeiramente ao longo da Em razão disso é que pensamos que o trabalho, na sociedade capitalista,
vida, sendo essa possibilidade desfrutada por uma pequena parcela da sociedade. continua sendo a atividade que guiará o desenvolvimento humano ao longo da
M t 1i tas vezes o ingresso precoce na aposentadoria pode significar o empobrecimen- velhice, posto que, dentro do ciclo dê vida humana, o homem envelhecido, apesar
ln do padrão de vida, na medida em que o valor recebido na aposentadoria não das condiçôes físicas, ainda pode produzir e, portanto, servir ao sistema capitalista.
~o~o !'rc os reajustes necessários que possibilitariam ao indivíduo manter o mesmo •

p;td rão de consumo. O trabalhador tem o direito de se aposentar - direito este ~

'
t'o nseguido por meio de muitas lutas da classe trabalhadora -, mas essa medida, CONSID€RAÇÕ€S FINAIS
<'<l m os recursos que recebe, não permite que o indivíduo continue tendo acesso
i H lS mesmos bens que tinha quando trabalhava. Assim, a decisão entre continuar Ao trabalhar em uma sociedade capitalista, o homem sofre o processo de
i mlmlhando ou não pressiona os indivíduos a adiarem os planos da aposentado~ alienação. Alienado, ele se afasta de si mesmo e dos outros homens, uma vez que
1ia . Dessa maneira, o trabalhador, para se retirar da força de trabalho e adentrar seu corpo e todas as demais relações que mantém também estão se afastando
IH'SHl' periodo, passa a avaliar, além de suas condições subjetivas e psicológicas, dele. A respeito elas condições da alienação, Marx (1988, p. 158) pontua:
a sun situação socioeconômica, de modo que sua decisão não se constitua em
ttlllíl experiência insatisfatória ou frustrante financeiramente, conforme aponta Quando o homem está frente a si mesmo, então o outro homem está
K11 nzler (idem). frente a ele. [... ] En1 geral, a proposi~~ã.o de que o hom.em está alienado
Muitos idosos aposentados reingressam no mercado de trabalho não neces~ do seu .ser genérico significa que um homem está alienado de outro, tal
~~:t riamcnte por desejarem continuar na ativa, mas em virtude de dificuldades corno cada um deles da essência humana.
nn:\ IH' l'Ír:1S decorrentes do baixo valor pago pelas aposentadorias. Esses fatores

l 'lll 11ri hucm para que o aposentado permaneça ou reingresse no trabalho. Nessa lógica, a realidade não se apresenta imediatamente ao homem tal
() t rnbalho parece ser, para o idoso, uma atividade importante, na medida qual ela é. O homem só se relaciona parcialmente com essa realidade, sendo
1'111 qll<.', d e um a fonna ou d e outra, os valores ideológicos, próprios da socieda- boa parte de sua essência velada. Assim, dentro do capitalismo, a relação dos
dt· t'ltpitnlisrrt c qu e permearam a vida do indivíduo ao lo ngo d e sua trajetól"i n homens com a realidade é pautada por aquilo que é aparente, ou seja, pela rela-
dt· vil lil, nind:t esrflo prel'e ntcs durante n. velhice. Assim , pod emos perceber Cj ll l' ção existente entre aqueles que produzem. No entanto essa relação não ocorre
l11't ll tn n H IIPI.' rv;d orizt~~·~o d essn ntividadc, corno sendo :ll Jit vln que, de fato, t-rn z d e fo rrTHl explícita, e o que se observa de fato é uma relação q ue se dá entre os
idct ll id tHiv v v11 ln t· il<lH indivld tt os, posto qltt·, no tnthllll111r, 1'11 t tlll prndt lzimlo nlw, produt o:-; d() t rahtt lho do homern e não entre os h o n1 e n ~ proprinrnent'l..! ditos, tnl
(jllt' dt• t tl/ ~1111\11 1\HIIH'II'II podt•r(t Clll lt l'l!Hti r· jllii'H 11 Hl H'lt•dml c, Cll l1\t) l'lllllllll < )livl'il'll (2010).
Ât l 1 111\t 'ilt\1111 ' l lllll llt ZitHit1 1 HU.i111 ltl ltllll ll l J'\' l llll l lt ' l'llt llt c. HI nnu, 11 ldnHtl llt'l' lttlt • I ~MM /1 !1 '11'1 !1 de t·nlll ~';ln vH t·l\ pn·~H' I ltr 1111 pnHHI IHl' lll dn vi d11 nd1tlt·11 I HII'Il 11 vt·lhl·
l'tqllll11 ljlll' ~ )Jit'illl~ ( 11f/ 1)) tlt ;.\lllllllllll\1 tl t,• lcllt,'ll l lvl ll ;.ttl111'1t dtl lli~JIHIHI dlJ ptudtt Ce, l) IY!thl" t 'í!lil\1 11 •1111 h•l.littlt •t•/'111\ lll'/{111\l ':lllill, IlM n •IJII,I)I'Ii dt• ll'lti ll dlt C! p1t 'MI' IIIt 'll
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lllt•inH dv prodtt \'IIO. 1\·ssn mu1wln1, os idosoH ainda qtl l'l't' tll l'a zvr pari\' do llH'I za 1üc, st· ndo l~ssn IH' I'H ill't t lvn ui 1Hia hnst'ante hcge rn ô ni ca na ci ~ ncia, sobretudo
C~~ d !l dv tmhalh o, scjn pl'ln necessidade financeira, seja pe lo sLaLHs d e co ntintlill d entro da psicologia. Muit·os pontos ainda precisam se r investigados, tais como:
• lr:d 1:dh:1mlo. Isso ficou mui to evidente na pesquisa de Re is (2011 ), que por nwlt , diferenciar, com mais profundidade, o trabalho dominante do adulto inserido
dv vnl revistas realizadas com idosos observou que de fato esse grupo cont intlll diretamente na esfera da produção social e o trabalho na velhice, marcado, em
.1 M' rdnriona r com a at ividade trabalho, de forma direta ou indireta, por nH.• iu nossa sociedade, exatamente pelo afastamento/desligamento dessa esfera. Para
dv :t t ividade rem un erada ou não: continuando a trabalhar, mesm o aposentado, tal análise, tem os de resgatar o conceito de atividade, elaborado por Leontiev,
<lll :1judando n o cuidado com os netos, na construção de casa para os filhoi-l compreendido como modo ou meio pelo qual o indivíduo se relaciona com a
11<) t'nso d e urn pedreiro - ou mesmo cuidando ele uma horta. O idoso precis:1 realidade tendo em vista atender às suas necessidades e, a partir daí, analisar
M' lltir;se lltil e produtivo. quais são esses modos no transcurso do envelhecimento e qual deles promove
Alguns dos entrevistados fizeram os seguintes relatos: maior desenvolvimento.
Ao concluir esta pesquisa sobre a velhice, tomando como base a perspectiva ·
Eu cuido de uma horta. Adoro mexer com a terra. Quando chega a hon1 histórico-cultural, partindo da defesa de que o trabalho na sociedade capitalista

de colher, é rnuito bom, porque daí a gente tem bastante coisa pra fazt'l continua guiando o desenvolvimento, algumas perguntas ainda permanecem,
e tem também alimento fresquinho [... ] eu acho que i::;::;o me faz muit11 tais como: Os que se aposentam podem inserir-se em um tipo de trabalho que
bem IREIS, 2011, p. 125]. promove o desenvolvimento? Que trabalho seria esse? Como uma sociedade na
Eu trabalho porque acho quç é importante para o homem continuai qual o desemprego se faz presente pode aproveitar as potencialidades dos idosos?

trabalh<1ndo. E também para ajudar a pagar as contas [idem, p. 126]. Como o arcabouço teórico ela psicologia pode contribuir para compreender
Hoje cu preciso trabalhar para ajudar com as despesas, .só a aposentadori,l essa fase d e desenvolvimento com vistas a auxiliar na busca de alternativas para
não dá para pagar tudo que é preciso lidem, p. 126-127]. aproveitar e propo rcionar a humanização dos idosos? São questões que ainda
precisam ser respondidas, mas que demandam um maior número de estudos
A transição da fas e adulta para a velhice é caracterizada por uma crise além daqueles já empreendidos na compreensão dessa fase ela vida ainda tão
provocada pela aposentadoria. Elkonnin (1987) assinala que cada passagem d e pouco estudada no âmbito das várias ciências. Nesse sentido, faz-se necessário
11m período a outro, cada estabelecimento de uma nova atividade dominante que outras pesquisas fundamentadas no materialismo histórico-dialético sejam
t'· ro mpreendida como uma crise. E é exatamente essa crise que del imita um realizadas, a fim de se compreender como ocorre essa etapa da vida elo homem,
IH.'ríodo e o utro, assinalando o fim de uma etapa de desenvolvimento e o começo que se mostra tão presente hoj e, tendo em vista os dad os demográficos já s ina;
do seguinte. Na transição, ao mesmo tempo em que o trabalhador pode sentir-se lizados neste capítulo.
cnnsnd o, com vontade de deixar o trabalho, de se aposentar, ele experimenta um A partir do que expusemos, reafirmamos a necessidade ela construção de uma
sv nt imcnto de desvalorização por não estar sendo produtivo. O conflito entre psicologia qu e estude o homem na realidade concreta, que busque na raiz elas
tiiWI saída do mercad o de trabalho de forma amena, tranquila, e a necessidade relações de produção as explicações necessárias para compreender o psiquismo
de produzir, d e continuar tendo dinheiro para pagar as despesas - muitas vezes e o desenvolvimento humano.
:11npli ada pela n ecessidade de remédios-, além do desejo de também continuar
M'mlo um co nsumidor. A velhice é concebida como um momento de não pro;
d u~·flo, posto que idosos não estão mais no mercado formal de trabalho. Para ReFeRêNCIAS
S:~ 11tos ( 1990), a aposentadoria é costumeiramente vivenciada como a perda elo
pn')1wio sentido da vida, de certo modo uma morte social. Ao se valorizar apenas ALVARENOA, L. N.; KlYAN, L.; BITTENCOURT, B.; W ANDERLEY, K. S. Repercussões da
nqt H.·lcs que produzem, deprecia-se o sujeito aposentado. aposentadoria na qualidade de vida do idoso. Revista da Escola de Enfermagem da USP,
Para finalizar este capítulo, gostaríamos de sinalizar que as considerações São Paulo: USP, v. 43, n. 4 , p. 796-802, 2009.
nqtli vsho~·:H.Ias ai nela necessitam de mais pesquisas científicas, considerando ARlES, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.
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Ut lítiltf l/, 1•. 1\ t'IIIIJ:l'll~'do (1111 111 (orvt 1 lvlllmrlolrt. IIHiuuu l't• I''~ I H'I t 1\·11 11 Hl~ll l ld tll ll·~ , jl)'/11
1{1'1''• ( ~. W. A tll/11/r/lld!• /rli ll l'l/ut l l' lt w l.lli<'t': l'lln tl'ihui ~·ill'H da pHko lnnl11 hiHi t'l l'ktl r tdltll 'td
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. ..
CAPÍTUlO 14

A P€RIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO
D€S€NVOLVIM€NTO NA E:DUCAÇÃO €SP€CIAL

O PROBL€MA DA IDAD€

SONIA MARI SHIMA BARROCO '

NIUA SANCHE:S TE:SSARO L€0NARD0 2

INTRODUÇAO -

studos sobre o desenvolvimento humano têm sido alvo de atenção de psicó~
logos desde a constituição da psicologia enquanto ciência. Desde a década
de 1980, quando livros traduzidos de L. S. Vigotski passaram a ser publicados no
Brasil, essa temática vem sendo impulsionada: estava sendo apresentada uma nova
proposta explicativa para o desenvolvimento. Esse autor diferenciotHe dos demais
por fundamentar~se no método e na filosofia do materialismo histórico~dialético.
Desse modo, temos com ele um novo modo não somente de explicar, mas de
indagar, de problematizar a constituição e o desenvolvimento do psiquismo . Posta
e defendida a tese central da formação social do psiquismo, os estudos e pesquisas
de Vigotski e de outros autores russos e soviéticos passaram a edificar uma n ova
ciência psicológica, que não só definiu aprendizagem e desenvolvimento, mas
também expôs a relação intrínseca entre esses dois processos e destes com a vida
objetiva. Nesse sentido, reposicionaram a psicologia em relação às ciências em
gera l c cm relação à sociedade.

!'~til 11lo•w•. dttU 'IIIt't i,,I lt ptlll.lll\11\ltl d,• l't-oh " '"''''' t' dnl 1Higt;I IIHI d,.p,·,~ ( lmdtt.t~~~~ t'lll ('.,hn l n~(ht
du 11111\\ t r. hhtdo • I ol.11 l11 ti dt Mut1111:o't (l IH,1)i 1 llllllllt•f~tldlll.t do l'tllglollll.t Mttl!idi-., 11'1111,11 dt
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St•nundu Vign tskl (V~·, lt l i ~ I, J , llJt>7 h), 11 qtl v d isl'l lll{tl t' 11 c l'l lttl \'11 111111 t.• IH' Ill 11l11' ldtll'! 1111 I \ r•ttNI I, fl l'llt 'rít' tl lltl-/11.~ tll' l~lntdttH' I\ 1\' vt llllll llttllt I W I'Hjll' l' t lvn l'l'l t'kl t 1H'HHt'
d vhll ldiH it• 0 11 tlt•l'il'l 0rldi t l' a .'·H ill u v:·qwcll'k itl ttd v dv Htlll ct~ t:l 'llllli ,l
pt.' I'HO I1 i tlldi1 l lt·, tllll\llll d :1 rit' tlCI: t, Jllllll'ltl 'i t' lfl ll '11'1111 f'tiiH I:t llll' lliOH lH l lli iii' XiHJíl O por HV lllj)I'V ll'l\(l\1
,,,.l~n nk:~ t' psiro lt')gic:l. Sun l l'Hl' b;\sk :t para :1 tk·(l.'c tol ogin 1 pt'):-Hvvnltt t l1 111 1'tdu 1 t• tt iiiiiiH'llll'O illll hi Htt'll ku, l'J11 l'O I1f'ormidade t'U IH OH ~'SPíl\'llH
lll lll\ 1 lllllll l111l z:J d o
qt111 l podv inspimr· n atunl l'du cn~·üu in clus iva, 6 d l' qw: "n n i:tn \':1 t' tljn dt•Ht IIV••I lt' ltliH ll'll is, g-eogrMicos 1.' Hm'im•coll()micos. Diferentem ente de o ut·rn s pcrspcrt ivaH
vl tlH' IHo l's t·:\ complicado pelo dcfeito 4 nfio 6 simplcs trtL'nt·c umn <..' l'i:ll l\'11 llii ' Ji ii ''-'''''kiiH, nHs u me como /Lmc.lamenLai c.Jue se considerem a historicidade. e. a diutc!Lic(t pnt·n
dn;t•nvo lvidn que se us pares n o nnnis, mas uma criança d csc nvolvidn tf,. ''"'"' ,. I:IZl'l' u ciênci a psicológica e eleger o seu próprio objeto (VYGOTSKI, 1997n).
111odo" (id em, p. 1 2) ~ .
1 ~~->scs autores soviéticos apresentam uma produção teórico-metodológica qu v
1\ssim , o acesso d e um a criança com d eficiên cia a estágios S lli"K' t' i n t'I~M d, tHll'll' i<l os pesqu isadores e profissionais do século XXI, visto que retiram d o p ln rH l
dvse nvo lvimento psíqu ico não está atrelado apenas ao plano bio lógico 01 1 r't 111 111 I li1)lúgico (hereditário ou adquirido) o peso de d efinir os rumos do d ese nvo lvi ..
p:1rt ici pnção na cultura, mas também às oportunidades que lhe são ofert:1d11HPfll 'l ' tnvnto d os sujeitos com e sem deficiência ou transtornos globais do desenvolvi ..
itltrragi r com seus pares e entrar em contato com as elaborações produ zidn HJu.•llt tlll'n to. Também contribuem para que questionemos a imutabilidade das coisas
human idade no decorrer da história, d emandando um enraizamento na cullt 11'11 -
<' dos fenômenos e fatos, devolvendo aos próprios homens a responsabilidade dt.•
Desse modo, visando à maior compreensão do desenvolvimento da JWI-!Htlt t sl're m o que são. Não que cada um, por si próprio, possa resolver tarefas q ue sflo
co m d eficiência sob esse enquadramento, passemos inicialmente a ex p<lt' '''' antes de tudo históricas, como é o caso do não desenvolvimento a contento de
fu ndamentos d a filosofia e métodos da psico logia histórico-cultural.
pessoas com deficiência intelectual, mas os citados pensadores demonstram q ue
o ritrno e o alcance do desenvolvimento dependem antes do que disponibilizam ~
• do que requerem as relações sociais do que do fator biológico. Podemos afirmar
ASP€CTOS FUNDANT€S DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-cULTURAL que esses autores nos subsidiam no enfrentamento de concepções que tomam
as manifestações biológicas e culturais como naturais, atemporais e anistóricas,
No campo da educação especial temos encontrado uma situação preocu pante·
negando-lhes a possibilidade d e serem capturadas e explicadas geneticamente, sob
n o que tange ao desenvolvimento: para participar dos programas educacionni1-1
que essa modalidade de ensino abarca, o aluno precisa mostrar defasagem em o desvendamento das múltiplas determinações implicadas.
alguma área. Ele é comparado com outros alunos d e sua faixa etária e série c (• Um cego que não é alfabetizado, por exemplo, encontra-se nessa condição não
:d-i.:rida a defasagem que pode recomendar seu ingresso n a educação especial. por sua cegueira, mas pelo não acesso à atividade de ensino realizada por meio
Sendo atendido por profissionais d essa área, em tese, deveria ser avaliado contl• do método b raile ou equivalente. Não é natural que seja menos desenvolvido
nuamente, passando a ser comparado consigo mesmo, isto é, a aprendizagem e por não dominar a escrita e a leitura, que suas funções psicológicas propriamen,
o d esenvolvimento alcançados deveriam ser considerados em relação ao que ele te humanas fiquem aquém do nível que poderiam alcançar de complexidade e
tenha demonstrado quando do seu ingresso em algum programa ou atendimento de clomín.io voluntário. Não se trata de um subdesenvolvimento causado pela
d e educação especial. Assim, de qualquer modo, ao ser comparado com outros cegueira, mas da falta de mediação instrumental que permita compensar essa
alunos ou consigo mesmo, certamente sua idade passa a balizar sua história condicão diferenciada de desenvolvimento. Isso se deve muito menos às caracte,
'
l'Scolar, sob os auspícios da educação especial ou inclusiva. rísticas pessoais, individuais, que à própria limitação imposta por uma sociedad e
Podemos dizer que a psicologia histórico-cultural, que tem em L. S. Vigotski, vidente e pouco preocupada com tal sujeito.
!\. R. Luria e A. N. Leontiev seus principais representantes, q ue são os mais co- Vigotski (VYGOTSKI, 1997b; VYGOTSKY, 2004), Luria (1974, 1986) e Leontiev
(1978) expõem reiteradamente que o desenvolvimento humano normal e especial,
~ Trata-se de termo utilizado por Vigotski e outros autores soviéticos no início do século XX para como o da pessoa com deficiência intelectual o u física sensorial e não sensorial,
referir-se à área de estudos teóricos e de intervenção relativa comparável ao que hoje denominamos é histórico-sociaL Esse entendimento vem seguido de propostas de trabalho e d e
educação especial.
~
intervenções psicológicas e educacionais que resultam na humanização, ou seja,
Relacionado à educação especial, o termo defeito não é usualmente aplicado no âmbito educacional
nos dias de hoje, sendo empregado no âmbito da genética. no processo que busca a realização no plano individual dos êxitos conquista-
') As traduções do espanhol foram realizadas pelas autoras. dos no plano genérico. Também apontam para a necessidade de transformar
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JltdCt llt'li{Ít' II H Hl'I WrtUI'(,.'H •• algo f utH.l;l!))l' fl t":l l , VÍHt O tj \l t ' ~'HHIIH lt ll l\' tH'S CU lllj)<ll' ll l rl' hi~'(H.'s lJ lll' os h o ll ll' tHll'Hiulwll'n'tll entre si c co m ::\ naturt:zn. Nt:ssc st:ntido, o
1 111 1w l' lll Íll' lll n cem sciência. ser hum ano rcvcln-:w como s fn tese das relações sociais.
() q ul' vim o~ expo ndo indi ca não apenas a constituição hi::;tó ri ca do ~wje il t , , Pnra V igotski (VY<KYI'SKI, J997a, p. 372), "cada pessoa é, em maior ou me·
IIIIIH 1·nm h6tTI a vinculação desse processo con stitutivo com o processo de CHen nor grau, o modelo da sociedade, ou melhor, da classe a que pertence, já que
ln1·izn\'no. nela se reflete a totalidade das relações sociais". Essa ideia, se aplicada à área
da educação especial, significa que os limites de desenvolvimento demandam
mediações e recursos especiais que permitam aos deficientes apropriarem-se do
HISTORICIDADE: € D€S€NVOLVIM€NTO HUMANO já elaborado - o que, na sociedade burguesa, só pode ser alcançado em meio a
muitos enfrentamentos e embates.
A edu cação especial é considerada uma modalidade de ensino que atravessa Cumpre considerarmos que a humanidade já tem condições objetivas para
..
lndos os níveis da aprendizagem. Pode ser entendida como área de estudos e pc:-;- produzir o necessário para todos sobreviverem; contudo, por razões político·
cptisns, rnas também como um campo de intervenção profissional para professores, -econômicas, ela não o faz. Também o investimento em pessoas com deficiências
p:·dcú logos, fo noaudiólogos e outros. Ela vem passando por diferentes mudanças contribui no sentido de dimension ar como se constitui a psique humana e de
1' 1 >ln o advento de políticas públicas para a inclusão escolar. Um dos principais entender que as funções psíquicas superiores resultam da própria interação
po ntos de preocupação é a ausência, em seu interior, do pensamento dialético, mediatizada pelos objetos criados pelo homem. Desse modo, temos que todo
:wjn para definir, apreender ou explicar, seja para intervir com o seu objeto de comportamento humano é mediado por instrumentos e signos que, se tornados

ttlVL'Stigação ou com os sujeitos que atende. Se considerarmos que cabe à educação mais acessíveis aos deficientes, estes deles se valerão.
v:·qwcial estudar os processos educacionais capazes de efetivar o ensino de modo Lembramos que, conforme Marx e Engels (1996), a consciência do homem
qut• promova a aprendizagem e o desenvolvimento de pessoas com deficiências é determinada pelas condições materiais de vida e pelas relações sociais de pro·
inh·lcctuais, físicas sensoriais e não sensoriais, múltiplas deficiências e transtornos dução instituídas em dada época e sociedade. Desse modo, mudanças históricas
,~l obais do desenvolvimento, notaremos que essa ausência traz grande prejuízo. na sociedade e na vida objetiva modificam a humanização dos sujeitos, isto é,
1\vl ira-se a possibilidade de investimento na formação da genericidade de modo sua consciência e comportamento. Nessa direção, para Leontiev (1978, p. 70),
111:1i:-; plen o - mais abrangente e complexo. "o aparecimento e o desenvolvimento do trabalho, condição primeira e funda·
ram iliares, professores e demais estudiosos acabam prendendo-se ao que se mental da existência do homem, acarretaram a transformação e a humanização
lllt'S apresenta à primeira vista, de modo direto e com nenhuma ou poucas media· do cérebro, dos órgãos de atividade externa e dos órgãos do sentido". O autor
\'t ll'S que possam explicitar as múltiplas determinações que geram e mantêm dadas caracteriza o trabalho pelo uso e fabrico de instrumentos e por tal ação se efetuar
c :1 racterísticas físicas, intelectuais e afetivas dos sujeitos com deficiências; porém em condições de atividade coletiva. Sobre esse mesmo fundamento, Vigotski
11 singularidade da vida desses sujeitos não pode ser compreendida apartada das (VYGOTSKI, 2000, p. 85) afirma que a "cada etapa determinada do domínio das
1 viações sociais, e, consequentemente, da noção de totalidade, como apontam forças da natureza corresponde sempre uma determinada etapa do domínio da
I )t Jarte (2000) e Barroco (2007). Sem que se levem em conta as contradições que conduta, na subordinação dos processos psíquicos ao poder do homem".
J~l'l'tlm e mantêm as relações sociais que envolvem esses sujeitos e que são por Ponderando esse longo processo histórico de desenvolvimento do homem
eles reproduzidas, não se consegue explicar por que alcançam dado patamar de cultural, podemos dizer que ocorre o seguinte: para efetivar seu domínio sobre a
desenvolvimento, ou ficam à deriva. natureza, o homem não só prodHziu e produz ferramentas, mas também introduz
Dizer isso implica enfrentarmos a ideia corrente naquelas décadas iniciais do nesse processo estímulos artificiais, como é o caso, por exemplo, dos signos. Es~
s{·culo XX, de que a senda percorrida do nascimento à morte pode ser explicada tes, em um primeiro momento, atuam em nível externo, mas com sua gradativa
prlo maturacionismo biológico, o que demanda a ação do tempo sobre o organismo, internalização passam a produzir novas conexões no cérebro. Considerando esses

11:\o sendo o desenvolvimento resultante da atividade dos homens. O desenvol- argumentos- devidamente registrados em produtos e processos criados-, temos

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11 1' 1 H 1HI 11 111~ 111 1 dt: q 11 u 11 t t'' l v hll, 1• In d 1 , 1 , t'l 11 111 1 Jll' 11t ' I H t ' III .t n t .t 111 pn do hIH1/ 1! !l 1
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l'nd~·lll\l~ llol nr qt l t', IHl plnn o OlliOI W11t\l lcu, 1\0 lliiHCl' l' tl Sll jl-lt t l llil tt lt ' lí'•JIHI pel11 t~ l'i n n ~·a do j;\ ohjl-tlv:HIIl t' llll't: oH ho ll1l'ns e a eln disponibil izad o, na direção
'' pt·n tii'Ml ltistt'll·ico j:\ fi.•it o pelns gL· r·a~'tk!-1 :li11L'riores. Conf(m tw M.·11 k11 .. ( l'l'l(l I,• "l~tl'íl para dentro", rll:\!'1 co m o es tabelecimen to de uma relação dialética de
p. '-,1), "ao 1\ :IHt'l'J', o hom em j:\ enco ntra ohjetlvadns nqut•lns IWcvss ld;ttlt •K ,- lll ,,,,uJnirt~·tlo c objetivaçao. Í~ por t:ssc processo que se constitui o psiquismo humano,
p~t~·id:tdvs que Sl' mnnifes tnrnm no passado". Ell' podn;\ vak r··M' do!-~ rw. llll tllh l t \ •mM iL'n cia. Podemos dizer, ainda, que a principal característica que diferencia
dt· todo o d ese nvolvimento soci::~l qu e lhe antecedeu, propiciado pelo tr·nl 'liiiiH t ,, r q.{lll:t ~·:'lo
d a atividade consciente humana é a imbricação que tem com a fala, e
I', 11 .1 t•sse au to r, a tra nsforrnação do co m port~l men to l' desejo d o "n i 111 nI i., il , 1llll; IH na o a possui tem seu d esenvolvimento comprometido. Isso é diferente nas
'I H' "' ame n to c d esejo humanos (em u rn processo d e h u m ~H'I iznção) St' d1'1 1., ""
1 1 111
I~ tl' tnas elementares de regulação de processos orgânicos e em comportamentos
h.~.,,. t' no processo de trabalho; mas, para que funções psicológicas propl'i:t tr H1 1ili tna is simples, que podem ocorrer sem a ajuda ou a participação da fala.
l1111 n:tn:1s se d esenvolvam plenamente, não basta a mera inse rção de cada sujt ·l i1• 11 11 C onsideramos que o comprometimento do desenvolvimento não se dá pela
.c H'il'dndc, porque, quando as sociedad es tornam mais co mplexas suas nt ividndt tlt· t'iciência em si, mas pela ausência de mediações que permitam compensar a
prndut ivas, do mesmo mod o mais complexos se tornam os processos, mee<llliHIII!' fllnç5o o u o órgão afetado. Essa comp~nsação, conforme Vigotski (VYGOTSKl, 1997b)
~~ ftt'l':lme ntas simbólicas que permitem aos homens compreenderem o 11\tllulc, t Vigotski e Lu ria (VYGOTSKY; LuRIA, 1996), não se dá natural e espontaneamente,
Em síntese, segundo Leontiev (1978), o indivíduo, ao nascer, é colocndn 1 111 111as decorre do estabelecimento de estratégias culturais. Um cego não tem maior
t'n rH:Ho co n1 a riqu eza acumulada ao longo dos tempos por várias gc ra ç<H.~/4 d1 st•nsibilidade tátil somente porque perdeu a visão ou por ter nascido sob essa
honwns, o que traz à tona que apenas as fu nções mais elementares - co mo 11 t t mdição, ele pode ter múltiplas deficiências.

ttlstin t·os e reflexos condicionados e o uso rudimentar de instrumentos, pn'Ht' IJ Um fator complicador é a ausência ou a precariedade da fala. Se a deficiência
lt~s no ho mem e n o animal - são biologicamente determinadas . Assim, t c 111t' foi adquirida ou manifesta em fase pré,linguística, o atraso no desenvolvimento
qt1 e t·anto a história da humanidade como a dos sujeitos particulares poss w·m das funções psicológicas superiores apresenta,se com mais frequência, porque nas
1 amadas e ca madas de desenvolvimento. Destarte, o comportamento que é tlpi nt fases iniciais d e desenvolvimento a atividade de falar assume um papel diretivo,
.qk• nns do homem e o faz verdadeiramente humano resulta de uma constnt~'IU, seja para entrar em contato com o mundo, seja para nominar e compreender o que
~.oodn l. Desse modo, podemos dizer que, ao nascer, uma criança tem garant id,, nele há. Em momento posterior, essa atividade, que é exteriorizada e expandida,
11pl'nas a sua candidatura à humanidade, pois o tornar,se humano só será pos~;f torna-se paulatinamente mais contraída ou internalizada. Desse modo, temos qu e
w l :1 partir do momento em que aprender a ser um homem na relação com '>h o pensamento verbal não é inato, mas resulta de um trabalho formativo contínuo
tll ll ros homens. O autor afirma: "tudo que há de especificamente humano nn q ue deve ser buscado e oferecido a todos. Vigotski (VYGOTSKI, 1997b), levando
psiquismo forma,se no decurso da vida" (idem, p. 255). isso em consideração, aponta que é mais complicado ou danoso ao desenvolvi,
mento ser surdo que ser cego. Assim, tem sido recorrente que crianças nascidas
co m deficiências possam ser atendidas em programas d e educação precoce ou
PE:SSOAS COM DêFICIÊ:NCIA ê O DêSêNVOLYIMêNTO estimulação essencial. Nesses programas tenta-se favorecer que o bebê tenha
COMP€NSATÓRIO experiências significativas que impactem o seu desenvolvimento.
'
E possível observarmos que as intervenções educacionais exitosas em educa,
Os escritos de Vigotski e Luria (VYGOTSKI; LURIA, 2007) permitem dizer que ção especial em prol do desenvolvimento dos deficientes investem em estratégias
IH·nh uma das qu alid ades propriamente humanas do psiquismo (pensamento que permitam aos alunos domin;;~.r a linguagem expressiva e receptiva e empregar
lt'tgico, pensamento verbal, imaginação criadora, regulação voluntária das ações a linguagem verbal com maior competência e desenvoltura. Essa linguagem - seja
t•lr.) su rge da mera maturação de capacidades orgânicas . A formação das mes-
ela oralizada, sinalizada, gestualizad a ou escrita - tem de ser viva.
lll:ls capacidades depende de determinadas condições de vida em sociedade, em Esse reequipamento cu~tura~ segue uma longa trajetória. Para Vigotski e Luria
,., ,Jctividade, e da educação, que demanda a mediação instrumental.
(VYGOTSKI; LURIA, 2007), é a partir da mediação instrumental que se dá a consti,
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.12R UiJiA M, MAIHINO, A.NiJUO A.AORANTLO &MAftii_DA rJ D. f1ACll ( HlüDilAÇAO IIIOT (}llltO ( ULI Ultf\l Il\ tlll'11UNotVIMLNTOI "lltJlll< li

111lt;·n,, ,,,.,ktdugkn t 'tl lltJd t''<tl, tjllv nll tl tl cu tll l\ llil v ltlllt ll'hl ndH'dh ·.t l 'lll't l tiiJI iitl 111 111 &114tdltl tud n 11 ~IJIII'IIItlllll ll llllll_ lll tl (idt•t\\), ~ ~III Sl 111l'Hl\ pmlt' lll (ll-l dtZl' l qlll' 11
t lj H' Iol \tH'I'I pr:\t kas, l'O III n nia,an dv l'SI:I tnul m. dv tlldl' lll M't lltHLII i11, ~~ pi i!!H 1111 lit~lt"u'LI d~t1-1 llttl \t 'H'H ,-,llk"I"Hh 1111 hl lj ll' llntvs podv sv r lkl'i llid a co m o a hi Htúl'ia
u pn'IJHiu co mpot·tnnwllto. Dt· anmlu cotn t•ssts nt llo tcs, dlll: t·t~ llll ~ ttW IHii ti d11tt. ll lsl'unna\'IHI dl' IIH' ItlH dl· 1t _lii\I Hll' t:tm ento social em meios de orgnnizn~·:lo
lltlilll:ltH1 O homem l'H('llhl'kCI.' COI1l'XÜO (uncionnll'OlllpkoX:Il'l)(ll~ H l't dll, 11 l i ' ' d 1' 14kt dngicn i mi ivid 1111 I.
lt~ l ' l'iiiiH'nt:ls L' o campo visual naturnl. Ü justnmt• tHL' L'HSH lign,·an qtlt' 11,,. l "~ltttll Af irmam Tulcski, Fnrci e Bnrroco (2013, p. 289):
iJ· alt'· m das ex periências senso riais (imediatas) L' nlcnnc;nr uma n·l:t\'llt 1 1 ,,d '
11111iH indircta e interposta pc..:la linguage m ou fala.
Durnnt~ este processo de "íntcriorizaç8n", isto é, de transferênc ia interna
No t oct~ nte ao d esenvolvimento da crinn ça, esse processo podt• Ml'l ltNh!!!t de funs~ües, não somente acontece umn reconstrução complexa de sua
t•xplkado: ao fa lar como se comporta com o uso de fcrra tT\Cntas dinntl~ dt• U!i\11 C!>trutura e o aperfeiçoando de funções sepamdaii no processo de desen-
dt•tnm in ada tarefa prática, a criança começa a combinar fala c :H;:tn ~" ''' IIIi''' \'o lvimento psicológico da criança, n1a::; ramhérn são alteradas as ligações
dmln ~.~st rutura organizativa. Com essa conduta, ela introdu z um cknwtltrl Mtll 1 d inrrafuncíonais e suas relacôes de modo radical. Como resultado destas
'
l't \\ sua ação, de modo que determine o próprio destino da ação, lwlll t !IItH i u
mudanças, surgem sistemas psicológicos novos que se unem em cooperaç:1o

!Wt'l'llrso de desenvolvimento do seu comportamento. Desse modo, pela p1 illl(iÍt •• e cornbin ações complexas de várias funções elementares ant·es separadas.

Vl'Z t ai comportamento é transferido a um nível absolutamente novo: 11 c1l11 n.. -,, Esrc conceitO de fu nç:õcs psicológicas superiores inclui a combinação

passa a ser orientada por fatores que denotam o aparecimento de cstru t tlt·itli ~u complexa de atividadcs simbóli cas e práticas, isto é , a conelação nova de
• -
funções, característica do intelecto humano. E' justamente por is::;o que a
1 iais cm sua vida psíquica. A história completa do d esenvolvimento psicnlt,~tlct 1

da criança revela que, desde o nascimento, sua adaptação ao ambiente s<'> IHI/Cill t atividade buma n.a é considerada uma atividade livre, nR.O dependente de

:1 se r alcançada por meios sociais. Dito de outro modo, a senda de sua hu11 t:11H
necess idades cliretas e da situação im.e diatamente percebida - ou seja, é

w~·ão conta, desde o início, com as pessoas que a rodeiam, que oportunizn tt"l 1' urna atividade engrenada para o futuro.
l':uninho do objeto a ela, à sua mente. Por meio da fala, a criança faz a des<.'l'l\'1111
vt•rbnl da ação com o enunciado antes de executar a própria ação. Ao fazl'r i H~O, No sentido exposto, para os autores soviéticos (LURIA, 1986; VYGOTSKI, 1996,
MKiali za seu pensamento prático, compartilhando sua ação com outros s uj~·i lt"ltl, 2000, 2001), nenhum desenvolvimento, nem mesmo o da crianca, • nas condicões

tk• modo que sua atividade entra em novas relações com a própria fala. A ss ln1, da sociedade civilizada contemporânea pode ser tomado como mera mánifestação
:10 introduzir intencionalmente a ação de outros em suas tentativas de resolu \'111' de processos inatos que por si mesmos gerem mudanças morfológicas e funcio-
d~,.· um problema, a criança pode não somente planejar mentalmente a atividad1.~, nais. Reconhecem que, se há formas de autoadaptação cultural da criança, elas
t\\é\S também organizar o comportamento do outro, de acordo com as exigênd11H são mais atreladas às condições do ambiente no qual se vive do que propriamente
dn tarefa, em um movimento que acaba criando condições seguras para n Slllt à fatores constitucionais prévios. Em contrapartida, os autores também não se
rvsol ução. Todo esse processo é transferido para o seu próprio comportamcntn, apoiam em teorias ambientalistas para explicarem o desenvolvimento humano
sign ificando não só um deslocamento temporário da fala à ação, mas a translt• e as idades - ao contrário, expõem quanto o ambiente é histórico~cultural e,
rência do centro funcional d o sistema inteiro. por isso mesmo, não se apresenta como fator neutro . Isso significa que o de~
Podemos dizer que inicialmente a fala segue a ação, reftetindo~a, fortaleccndt 1 senvolvimento relaciona~se à idade n o que se refere às estruturas amadurecidas
-.~..·us resultados e permanecendo estruturalmente sujeita a ela, ao mesmo temp<, nos sentidos céfalo-caudal e próximo,distal, mas todo edifício cultural que será
l'l\1 que é também pela ação provocada. Em momento posterior do desenvul construído sobre o equipamento biológico dependerá da posição social que os
vin1ento, o ponto de partida do processo é transferido para a fala, que passn indivíduos ocupem. Uma critica vygotskiana severa é a de que o deficiente não
,, dominar a ação, a guiá~la e a determinar o curso de sua evolução. Com isso, ocupa uma posição social que lhe seja condizente, a qual não raramente é um
nota mos a constituição da função planejadora da fala. Na sequência, temos os espaço tido como de pouca importância, de limitações, de menos valia.
l'Htímulos autodirigidos da fala, que durante o processo de evolução passam dL' Conforme teoria d e Leontiev (1986), esse processo de desenvolvimento ,
11m meio d e excitação de um adulto para autoestímulos na criança, reconstruin- de humanização dos sujeitos, é fundamentado na atividade~guia ou diretora
t\11 LIGIA M, MAI«IIN'i, ANG[Lô A AOIV\1~ TI MAIW 11A U D, FACCI (01,<),) l't:I(IQDilAÇAo HIGT0f~ICCHJ UI1 Uf(I\L f10 iiUif •lN Cli VIM I lHO l''lllllll! O I:' I

l t MiH itJddnt~ lll dm ln {·poc:t d11 vidn, n que provoca<) d<'."<' lt VII I\'lllll'llltl d1· npcrn~·m·s dvll'iln(gvmnd11 u Hl ' lll'itlll' lt(ntlt: ill(t:l'tmlclucl<'), qul' (• 11111 II SJK'l'I'O de rom lkiu·
11 rii ii\'Ol'l'l ll ll'lllfliH 01 1 de seus ajustes quando SÜO gl' l':tdll li ro ll(J'ildi ~·()es (crises) namento soci i\1 dv tlvsvllvnlvi lllt:llln; l' " segunda relnciona·se co n1 a oricnta~·tio
''" Iiii In d1.· correspondência entre motivos, ações, opcrnçóes. Segundo Leonticv socinl da co niJX:nsnçao, que fi1z n adaptação das co ndiçôes do mc i.o que se tem
(h ll; lll, p. 12), criado c formado para um tipo humano normal (idem).
Desse modo, não é suficiente que se trabalhe para que o sujeito com essas
Aquelas relaçôes que a criança estabelece com o mundo que a rodeia são, cond ições de diferenciação s inta,se bem e vença seus limites pessoais sem que
por :-;un essência, relações sociais. A sociedade constitui precisamente a sejam identificados e enfrentados os limites sócio,históricos que impedem ou
1.'1mdiçüo real e primária da vida da criança, seu conteúdo determinante dificultam seu desenvolvimento. Lembramos que, de acordo com Vigotsky e
t' sua rnotivação. Por isso cada atividade infantil expressa não apenas sua Lu ria (VYGOTSKY; LuRIA, 1996), o deficiente pode compensar ou supercompensar
n:lação com os objetos da realidade, mas também que em cada uma de suas deficiências. Esses mecanismos de compensação e supercompensação são assim
suas atividades se manifestam objetivamente também as relações sociais descritos pelos autores:
que existcn1.

A criança se desenvolve e se converte, finalmente, em um membro da o defeito torna-se o centro da preocupação do indivíduo e sohre ele se
suciedade com todas as obrigações que esta lhe impt'>t~. Os estágios poste- constrói uma certa "superestrutura psico lógica,, que busca compensar a
riores dt:· seu desenvol.virnento não são rn.ais qu e os distintos níveis dessa insuficiência natural com pcrsi.stê ncin, exercício e, sobretudo, com certo
transformacão. •
'
uso cultural de sua funcão
'
defeituos::l (caso scJ·a fraca) ou de outras funcôes
'
• substitutivas (caso totahncntc ausente). Um defeito natural organiza a
'
Assim, as forças motrizes para o desenvolvimento, para que os sujeitos pas, mente, dispõe,na Je tal modu que é possivd o mé\ximo de COlTtpensação·.
-.{· m de dadas etapas a outras, são decorrentes da interiorização dessas relações E, o que é mais importante, cria uma enorme persistência em exercitar e
..,1,riais e de sua compreensão, gerando novos motivos em meio a novas atividades. desenvolver tudo quanto possa compensar o defeito em questão. Como
Uuando nada ou pouco se espera dos que apresentam deficiências, transtornos resultado disso, surge um quadro singular inesperado: uma pessoa com
Hlohais do desenvolvimento ou necessidades especiais, pouco também se requer, visão fraca que não lhe permite estar em concliç.ões de igualdade com os
pouco se lhes permite desenvolver. Vigotski (VYGOTSKI, 1997b) refere,se ao não outros, fato que a torna inferior, concentra sua atenção sobre esse defeito
1lt'sc nvolvimento dos deficientes como algo central para a nova defectologia da e dirige toda sua atividadc neuropsico lógica para o defeito. Essa visão fraca
t~r:t soviética, já que a sociedade burguesa não conseguira, de fato, inserdos no desenvolve uma capacidade especial de fazer o rnáxirno uso da informação
11111 ndo produtivo d e modo que pudessem realizar o trabalho socialmente útil. que recebe visualmente de modo a tornar-se uma pessoa cuja visão seja
No entendimento de Vigotski (idem, p. 82), a educação social acabaria ven, central em seu traba1bo - utn arti::itn, um. d esenhista e assim por diante
t·vndo o defeito: [idern, p. 222, grifo nosso].

É provüvcl que mais cedo ou mais tarde a hum anidade triunfe sobre a Vi.gotski (VYGOTSKI, 1997b) faz críticas às teorias que defendem a compensa,
ccgue in1, sobre a surdez e sobre a deficiência mental. Porém as vencerá ção biológica "automática" do defeito físico, afirmando que quem acredita que
I
no plano soc ial e pedagógico muito antes que no p lano biológico e me, o defeito da cegueira se compensa com a educação da audição e do tato está
dicinal. É possível que não esteja longe o tempo em que a pedagogia se cometendo um equívoco, situando,se em um ponto de vista que se distancia do
en\'crgonhe do próprio conceito que tem sobre criança defic iente, ou seja, âmbito da pedagogia sociaL Afirma que esse equívoco teórico da compensação
consideran do-a com um defeito não eliminá\'cl de sua nantreza. biológica deve ser superado pela ideia de compensação sociaL do defeito. A cegueira,
por exemplo, pode ser compensada ou supercompensada em maior medida por
Temos, então, que o processo de desenvolvimento de sujeitos deficientes está estratégias que permitam apreender o mundo por outros órgãos dos sentidos
atrelado socialmente a duas condições: a primeira refere,se à realização social do ou por mecanismos e estímulos, pois o mais importante é aprender a ler, e não
~,.,
n I hJIA M MAH fiNO. ANüiLLO A_AI.IIV\N"í t U&MAWl OA CJ !) I ACOI (01l0 ) f!Lill! 11 IL 'AI; "o IIIGTOnltO [:lllt Ultl\ll

w t 11 ~1 lt•tt':IH; n pl'liiH>n llal l· n·co Jli wn·r IIH IWHso:tH l' etl llll lH't' tld t' l:tH, ltH o u i! Htl' 1111 'I i \ ' 1 '~' '-' 1J 11~ 111 11 11 111 11 1 h1h 11 ' hn;(u_•ti t: 11111'
~~~ l11 11 11 \ ' II li. H~"' Hi ~. ft u 11!'i ; 11 I\' id111 k !!
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t~ lll IW liH o lh os. 1111 H l tilt~ ll llll ' l ' i lt l ll, t! 'lllll dlt1 Ht u•l :d . N:11111:tll l ll : lltl~ , ill' tllllllllit 'l l (fllli ' III!H' it 111 .d

Pnm Vigot·ski (idem), ns li mitações d e d ese nvo lvimento notadas nos suje it'ol'l dircln IH~t. l'l t ' l ltl, 11 jtl):t1 t ll' pap(·is l ' a l'lllllll ll lci l ~'fto IWHsn id lnl'illlíl du~.
d11

Ct , 1\ dd'ici f' ncins têm intrínseca relação co m o isolamento ao qual são submetid oH. adokSl'l.' llh':-. :-.v di:-.ti J\g\l vm stlhst<\ncialmcntl' por Sl ' ll cuntçt'tdo c un Cl l ' ltl

Ncssv st.• nt ido, esse auto r também faz criticas à escola especial para d eficientes d t.• e pela profundidade com que a criança penetra na esfera das tarl'r'n s l' do:,
tlll:ll'pocn, a qua l, em seu entendimento, proporcionava uma ruptura sistemática motivos da ativ id ade elos adultos.l ... l Quando se leva a cabo prL·c i snnH'J\tt•
do con tato co m o ambiente n ormal, segregando e situando esses sujeitos em um esse grupo de atividade, rem lugar nas cri anças n desenvolvimento prlnnpal
nlilrocosmo estreito e fechado, onde tudo fora adaptado ao defeito; o u seja, um da esfera das necessidades e dos motivos [idem, p. 37-38].
11111hil'n te qu e nada tem em comum com o mundo normal no qual os deficientes
dl·vem vive r. Vigotski (idem) percebe a escola especial, tal como se encontrava, O segundo grupo é composto d e atividades d o âmbito criança-objeto social ,
lo m o u n1 espaço com um programa (curricular) reduzido, com méto dos simpli- que levam à "assimilação dos procedimentos socialmente estabelecidos co m os
t'irados c facilitados, sendo antissocial - por ser incapaz d e gerar a humanidade objetos, e dos padrões que d estacam n os objetos seus distintos aspectos". As
IH >s suj eitos. atividades aqui arroladas são d~stintas entre si. Explica o autor:
Pod em os d izer, diante do exposto, que nossa d efesa d eve ser po r uma escola
que não tenha como m eta adaptar-se às d eficiências, mas sim lutar para superá- A atividade ele manipulação com objetos nas crianças na primeira in l':l n·
las, principalmente no campo social. • cia, a ativi.dade de estud os do escolar menor e, mais ainda, a atividac.k dt•
for mação profissional dos adolcscen t.es m a i.o res se parecem muito p( Hlt < 1

externamente. N a rea lidade, o que há em comum entre o domínio da <H;au
D€S€NVOLVIM€NTO D€ P€SSOAS COM D€FICiêNCIA e O objetal co m a colher, o copo, e o clom.ínio da matemática ou da gramMicn !
PROBL€MA DA IDADE: O substancialmente comum é que atuam como elementos da cultura do
homem. Tem uma origem comum e ocupam um lugar comum na vida
Com o vim os tratand o o assunto de m odo mais amplo, cabe agora expormos
da sociedade, porque constituem o resumo de toda história precedentl'
o que teoriza Elkonin (1986) a respeito da periodização d o d esenvolvimento na
[idem, p . 38].
idade infantil. Essa é a principal fase para a qual atentaremos, visto que nela
se dá o começo do reequipamento cultural das pessoas co m e sem deficiência.
Essa relação criança-objeto social permitirá à criança uma compreensão cada
Elkonin (idem) explica que para analisarmos o d esenvo lvimento psíquico é
vez mais profunda do mundo objetal e levará ao d ese nvolvimento de suas forças
preciso co nsiderar as inter-relações entre criança e sociedade. Para tanto, propõe
qu e se analise como se dá o sistema de relações criança-objeto , que na verdade é intelectuais, daí ser possível considerar que "o processo de formação da criança
o sistema criança-objeto sociaL Os procedimentos e ações da criança com os ob- é o componente das forças produtivas d a sociedade" (idem, ibidem).
jl'tos dizem respeito ao seu d esenvolvimento e à relação que ela estabelece com Para esse autor, a vida da criança é dinâmica e em cada período é multifa-
()adulto-social. Lembramos que cada adulto se lhe apresenta "não como modelo cetada, como pode ser identificado em o utros capítulos d o presente livro. M as
das q ualidades cas uais e individuais, senão como portador de determinados tipos vale d estacar que o surgimento de n ovos tipos de atividad e e sua transformação
de atividades, sociais por sua natureza, que cumpre determinadas tarefas, e entra em atividades-guias para a criança com ou se m deficiência, transto rnos globais
cm var iadas relações com outras pessoas enquanto se subo rdina a determinadas do desenvolvimento ou necessidades especiais não implicam a supressão das
normas" (idem, p. 37). Explica o autor que as atividades po d em ser reunidas em atividades que já existiam. Com base no que Elko nin teoriza, podemos d izer
dois gr andes grupos. O p rime iro diz respeito a que essas atividades alteram o lugar qu e ocupavam no sistema geral de relações
co m a realidade, que se tornam cad a vez m ais ricas. Lembramos que essa riqueza,
ativi.d.ad.es, mediante as quais tem lugar urna intensa compreensão dos signi- no entanto, só pode ser alcançada se d e fato forem estabelecidas outras fo rmas
fi cados fundamentais da atividade humana e da assimilação das tarefas, dos para a comunicação emocional direta, para a atividade de manipulação com
\,\11 tlt1IA MJMAH I INO ANWJO A All1MN1 MAII!t liA {4 IJ. FACCI (OI•!J,) l)l :I~IOIJilAÇÂO IIIOT6WGO Glll. I Ul(f\1 IJl 'li NVOLVIMI NIQ P ii1Jlll! O
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t~lljt'lnH l' o Jol~<> dv pHpt'·hL 1:-;:-;o implica lidar cu m dmloHtl l lJt•tlvt~H dm; co 11di ~·tkH C \ dt'\ 11'111 Vlll Hi l l\ l'l td knlldlldr•, nnl1 I q 1111' 1lllli ZI IIl\ Wi () dvHl' IIVU I VI Ill l' I\( U d iiH III~~ ~ I H'll
11 1\ l lf <"llnicu~(i:.; io l t\gicns da cri a nça c da:-; relações soclnis tJII I.' Htlo L'Stabelcci dm~ psirolúgknH HUJWI'lt>I\:M tl dtj ltHIP 11 t11:ti Hque nm l\ 'íl n homt:m cultu nd l• llvrv .
Ht 1IH·v :1 ncgaçt~o ou o n1 e nosp rczo da d eficiê n cia o u diferen ça que ela ap rese nt~.·. Kotiu sk ( 1986), nu tl'nl'l\1 d() d vHt' IWo lvim e nto na psicologia, t·amh(• m vsc n·w
/\o longo do cu rso do seu desenvolvimento, do m esmo modo a atividadc dr que a personalid ade se d csL· nvo lvl' partindo de co n tradições in ternas q11t~ s111·..
l'H tlldo," co muni cação pessoal íntima e a atividade profissional d everia m se d nr gcn1 na vida, decorrentes da relação do indivíduo com o meio, c afirma sohl't'
/'.oh ou t rns co ndi ções, concorrendo para que a riqueza na relação com o mund o a libe rdade:
Sl' d~.·ssL' de fato.
O dese nvolvime nto da criança sob as condições que vimos expondo só A liberdade de ação da personalidade fonn;He paulatinamente CPilH 1 n•
oco rre se e la estiver de fato enraizada na cultura, e é justam ente essa uma das sultado da conscientização da necessidade. Na essência, a liherdadv lla11 í '
maiores c ríticas de Vigotski (VYGOTSKI, 1997b) à d efectologia burguesa, que n ão o isolamento das condiçües objetivas sem uma penetração mais profu t1dn
Ct m segu ia preparar os deficientes para o trabalho socialmente útil, já que não se c ~detiva nessa~ condições, [rnasl a formação da capacidade de subonlltl:ll
va lia dos princípios e fundamentos da educação social (BARROCO, 2007). Isso os impulsos pessoais mais próximos a ações mais distantes, [de subord 111õlrl
pode ser d imensionado quando Vigotski (VYGOTSKI, 1997b, p. 102, grifo nosso) motivos sociais conscíentizados como al,go necessário e frear nu inihi t 11:,

esc reve so bre Valentin Haüy6: atos da conduta que n ão correspondam a esses motivos. Ess<1 capaci d;~,l ,•
forma-se gradualmente, n ?io sem dificuldades, mediante a supcrn ç·:111 ,,,,
Acima do n.1onumento a V Haüy, fundnclor da instrução dos cegos, estão •
conflitos internos. A vontade moral da personalidade consolid<Hil' 't•llt
escri.tas palavras dirigidas à criança cega: i(En contrarús a lu z na instrução seus pr6prios triunfos sobre as dificuldades interiores [idem, p. IH].
~

e· no trabalho". No conhecimento e no trabalho via Haüy a soluç·ão da


tragédia da cegue ira, e indicou o caminho pelo qual marchamos agora.
Dito de outro modo, a liberdade é tanto ma is alcançada quanto mail'! l1.1
A época de Haüy deu a instrução aos cegos; nossa época deq.•c dar-Lhes o trabalho.
em.penho educacional para que a criança com e sem d eficiência comprccnd,,
a si mesma como partícipe d o mundo, para que te n ha necessidade e acesso ao
Vigotski recon h ece a grande contribuição de H aüy, bem com o o caminho a co nhecimento. Não é somente seu intelecto que é impactado por esse empen I H,,
se r trilhado: a luta pela p articipação do cego e dos d emais deficientes na socie,
mas toda a sua personalidade, tenha ou não deficiência, transtornos globais d11
dade, identificando,os por aqu ilo qu e têm de human o, pela atividade essencial,
desenvolvimento ou necess idades especiais. Em contrapartida, a experiência I H ,,.,
que é o trabalho. Por esse envolvimento com o trabalho socialmente útil é que
tem mostrado que pessoas adolescentes ou adu ltas podem chegar aos servi~·~~~~
se ri a possível, d e fato , a construção de uma educação especial revolucion ária.
educacionais formais sem que tenham participado da educação infantil o u l"tlll
Assim, d esde a ed ucação infantil seria preciso dime n sio nar que a vida requer
damental a contento, e assim não superam as fases iniciais do desenvolvimcnlt!
dos deficientes um envolvimento com a construção d a n ova sociedade, para que
Outro aspecto que é relevante e m erece d estaque ao abordarmos a pcl'iodl
renham, apesar d e suas limitações, participação ativa e m prol da coletividade.
zação do desenvolvimento e a idade-probl.e m a é o diagnóstico do desenvotvirnc'?llo ,
Se a essa crítica so m armos a teorizacão

de Leontiev acerca d a imbricacão

entre
Segundo Vygotski (VYGOTSKI, 1996, p. 265), "a idade,problema está diret :1 1.'
d ese nvolvimento e atividade,guia e o que expõe Elkonin ace rca d a periodização
estreit amente vincu lada co m o diagnóstico do desenvolvimento nas dive t'h:l~
do desenvolvimento, teremos a dimensão da gravidade da situação em que se
'd ades da cn.anca " .
1
e ncontra a educação d e pessoas com deficiência no Brasil, a qua l se baseia em '
O aut or denomina de diagnóstico o desenvolvimen to do sistema de pron·dl
programas da educação esp ecial ou inclusiva. Tal edu cação reflete as relações so,
m e n tos h abituais de investigações destinados a determinar o nível real alcan~·nd'1
ciais viven ciadas n a atualidade, e, ao negarmos a essas pessoas esse enraizamento
pela crian ça - nível este que se determina pela idade e pelo estágio ou fasv l:rtl
que se encontra a criança em cada momento da vida. Não obstante, destaca qw· n
6 Valentin Haüy ( 1745-1822) fo i tiflopedagogo (pedagogo dedicaJo à educação de cegos e de pessoas
com baixa visão), trabalhou na França e na Rússia organizando, pela primeira vez, instituições de idade cronológica da criança não d eve ser tomada como um critério seguro, pu I
ensino aos cegos . "a determinação do nível real de desenvolvimento exige sempre uma investig:l\11''

J
tlültl\ M MAIHINO, ANI]I_L(l A NU.At~ ll li &MI\IW IJI\ O U I AGGI (OIUJ ) PL 1~1001/N.,!ÃO III Ol'(lf{IU I L\ li llllf"l I 11 I I
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t'H J H~Gill l , ~: l : lhut'll d ll h• Nlltlh,'lltl


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g i iH,' llH 1'1 lJllltl pud l' HV I O dillg tH'IHI k11 d1 1 tl mH' II Vt d Vt llll' lll t1 F111 Ht' lt'lll lllHltt 1 t' tliYI d t•l'il' il' lll'lll, u dlrt g lli'IH i lcu, lll l ll lllill t' lll d11t

(ld('ll\ 1 il )tdl'tl\), 1\ l(• n l diHS0 1 (f'I HII ljlll:, i1 Pl'H:t r dt Sl' l' l't' l l'VII III l' jlll l'l l li dingn(IHI k11 wzvH, <.'l ltll!H'l' 11111 pl q w i ,~Xfl lltnt t: lll t.l t~tl l \ll'lil'io :1 ~·ssv, poi s, por nH•Iu dt: l l~H it!H
11 l'Ht:dwled mento d eHse nível, isso não é sufi ciente para st~ ler lii1HI nu t011t kn padmnizados- t't\o vn i\HIIHI'Itdut. lJII:II\Iu quesdonmlm; , co nHL'gll t' qunndonHiill 1
t'tl tllprn• nsno do proble n1 a do desenvo lvirnento. De aco rdo co rn o autor, ve ri fkn r o d ese nvolvi n' L' 111 o I'L'a l da cri a nçn c o seu coe fi ciente i n tdcct unI, d1.'HC< 111
side rand o completamente ns relações que a cri ança estabelece com a soci1.•dad v,
n :-;imp lc~ csrahdecimento elo nível real do desenvolvimento e a rcprcsL'Ilt:t ass im como as possibilidades d e aprendizagem e desenvo lvimento que llw sao
~·ao quantitativa da diferença entre a idade cronológica e a fora padrão ou ofertadas, a qualidade das mediações e até mesmo suas condições d e vida.
de suas relações expressadas no coeficiente do desenvolvimento envolvem De modo geral, não são considerados os percu rsos de suas aprend i zag~.·n~,
apenas o primeiro passo no caminho do diagnóstico elo elesenvolvimcnto co mo e em que nível domina e emprega a linguagem verbal (oralizada, escri ta,
lidem, p. 266]. sinalizada), como se vale dos signos para apreender o mundo e nele intervi r. J~: m .
bora sigam as leis gerais d o desenvolvimento, as crianças cegas, surdas, surdoccg;1s,
O autor expõe que o fato de se identificar aquilo que já é de d omínio d o com deficiência intelectu al, por exemplo, estabelecem formas muito esped fi <.·n ~
sujeito está longe de esgotar todo o problem a do desvendamento do desenvol~ para realizarem apropriações e objetivações- e elas precisam ser explicitadas p:1r:1
vimento . Esse diagnóstico, portanto, deve ter como m eta verificar também os que mediações instrumentais se}am propostas.
processos em fase de d esenvolvimento, e isso só é possível com a constatação da Um diagnóstico que não esclareça o já percorrido, os limites enfren tados t'
zo na de desenvolvimen to próximo. os objetivos conquistados não assume sua função diretiva e promotora d e i ntT r•
Vigotski (idem) propõe a existência de dois níveis d e d esenvolvimento: o real, •
venções que levem ao desenvolvimento . E le deve expor como o sujeito se va le díl
que aba rca tudo aquilo que a criança já é capaz de fazer sozinha, sem precisar linguagem, como utiliza instrUtnentos psicológicos para compreender e resolve t·
do auxílio do adulto, e o próximo, aquele que abrange o que a criança não conse~ problemas, como toma consciência do que se passa à sua volta e consigo mesmo.
gue fazer sozinha. "A esfera dos processos imaturos, mas em vias de maturação, D eve, ainda, revelar como está posicionado socialmente.
configura a zona de d esenvolvimento próximo da criança" (idem, p. 269). Nesse
sentido, Duarte (1996) afirma que o n ível de desenvo lvimento d e uma criança
caracteriza~se por aqu ilo que ela faz de modo independente e pelo o que ela con~ CONSIDE:RAÇÕE:S FINAIS
segue faze r com o auxílio de outras pessoas; no entanto, para o caso do sujeito
com deficiência, ainda mais será necessário atentar para o grau e a amplitude de Apresentar subsídios para que profissionais da educação e as próprias insti·
seu enraizamento na cultura. Somente a partir disso é que podem ser separados tuições escolares compreendam as d efesas e proposições dos teóricos soviéticos
o que é de natureza biológica e o que é da cultura. sobre a educação especial e o problema da idade não é tarefa simples: reque r
A determinação d esses níveis é que se denomina de diagnóstico normativo um a concepção clara da constituição do q ue é humano no homem, de ativida d c
da idade. Sua missão con siste em mostrar, com o auxílio d e normas de padrão de humana na sociedade do século XXI, das diferentes possibilidades e m od os d o
idade, o estado atual do desenvolvimento, que se caracteriza tanto pelo processo existir. Tan1bém é preciso termos compromisso com a pedagogia e a psicologin
já maduro como pelo imaturo . d iretivas,. no intuito de que busquem outro devir: a t ransformação dos sujeitos,
Um diagnóstico pobre, em que não sejam investigad os os dois níveis de em uma contín ua construcão do edifício culturaL
'
desenvolvimento e no qual não se leve em conta "o vínculo entre a criança e a Sabem os que a rotina d o traba lho escolar po de ser extenuante, com o ajun·
sociedade, ou o lugar que a criança ocupa no sistema d as relações sociais em cada tamento de tantas pessoas em prol da formação de um coletivo vigoroso, embo ra
mo mento histórico" (PASQUALINI, 2009, p. 31), a atividade p rincipal que a guia, este nem sempre ocorra, já que a soma d e muitas partes não implica fo rmar um
pouco ou nada contribui para a compreensão do problem a do desenvolvimento. todo o u uma unidade. Para isso, é preciso muito investimento de todos os pro~
Para Vigotski (VYGOTSKI, 1996, p. 272), "um diagnóstico autêntico d eve explicar fissionais, com suas diferentes funções e atribu ições, além de empenho po lítico
e predizer e dar uma recomendação prática fundamenta cientificamente". e pedagógico. Também é complexo - o u deve ria sê~lo - o processo de formação
I .IIi III liAM MAl( III ltl, ANíJI W 1\, AllHAN l t;U&MM~ ILDA y 1), I,AOOI (UIII PI llllllll /\1~"0 IIII II tJIII( 11 l!UllllltAlllOI H!:1 tiVOl VIM I N10 l"lit~tllt.O \,W

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<'<> 1\\ o d l·svv nd :w w nt o do papel da edll t:ll\':io (no cnso, pt'l hli<':l) 11:1 vl d11 d tltl m1 AsHi m, fkn çlnm cpt l' 1t tlt1 m· dt•w pt' itll' i z:~r o acesso du n inn \'il co tll dv!'ici l'tl ct:t :I
JdlwL Isso de faro n:io t·l' m sid o algo Himpl es: silo an os c tHH>H ~k· itwl•s t itll vlllt t r ult·ur:l <.:orno d e termltl i llll l~ ;to l-lt' ll dl'l'il'nvolvimento. De aco rd o co m Vigo t·ski,
(co m n.·cu rsoH p(tblicos e privndos). H defi c i ê n ci::~ não cst:\ t·clncionada s t') a um compr0111 eti mcnto biológico, nws
M u it·os fatores têm co nco rrido para q ue rüio sej8 gestadn e d c:-~c n vo l v ld n 11 1am bém ao uso cultural dos processos psicológicos. Desse mod o, ao relncion:11··
n> ncerção d efendida neste capítulo, a qual, embo ra ai nd a possa S<; r gcs t tttln, -se c trabalhar com a deficiência, é primordial contar com med idas culturnis
tH.' tYl :-~c mpre é desenvolvida. U m desses fatores é a apropri ação "aparent v" d11 auxiliares, d e maneira que proporcione mediações que possibilitem a apreensão
l'l':tlidadc, o u seja, não uma apropriação real, resultando em i.ntervenções o u n~·~ H'k d e novos conhecimentos e desenvolvimento.
profiss ionais também na esfera ela aparência: crianças que são ensinad as, lll ii H Vigotski inova ao afirmar que o desenvolvimento da criança não é meramente
que não conseguem, de fato, apropriar-se da riqueza da humanidade rnanifl'sl:t evolutivo-biológico, mas que se dá por meio de fases e crises, considerando que
nnH várias áreas da ciência, da arte (literatura, artes cênicas e visuais, arquitetur:1, esse processo tem intrínseca relação com a vida social, com a atividade cotil a
mús ica), elo cotidiano devidamente suprido com o básico para se ter bem-cst·nr qual a criança estava envolvida._Leontiev (1978), na mesma direção, teoriza q ue
c q ualidade ele vida. o desenvolvimento da criança tem total relação com o papel que ela ocupa n os
Há uma prática instituída na educação (e não só nela) ele se basear e interv i,. grupos primário (família) e secundário (escola, bairro etc.) e com a atividade
naqu ilo que se apresenta à primeira vista, sem que se tenham ou se for mem principal. Para a criança, a atividade principal em geral é a bríncadeira, e é essa
condições (politicas e pessoais) de aprofundamento nas análises para só então atividacle que lhe permite apropriar-se da cultura, dos valores e normas instituídos,

se criar um escopo para o trabalho educativo. Esse modo de trabalho instituído das funções e tarefas que são usualmente desenvolvidas, entre outros. Por meio
fó ra e dentro do âmbito escolar reproduz a lógica da produção capitalista, em da brincadeira, do jogo, a criança resolve e cria conflitos que precisa resolver, e o
que tudo ocorre de modo aligeirado. faz de modo imaginativo, criativo, tanto quanto possível. Dito isso, teoricamente
Não é difícil entender as pressões de toda ordem para que gestores de políti- não encontramos na deficiência em si um fator limitante, mas podemos p ensar
cas públicas da educação alcancem índices quantitativos de produção na esfera que a limitação é de cunho antes social que físico-sensorial.
educacional e que professores e alunos apresentem resultados que validem os Nos dias de hoje- tal como na época do início da teorização desses autores
valores investidos. Também~ é compreensível que essa lógica de aligeiramento na soviéticos, quando era preciso formar um novo homem, implantar a educação
formação inicial e em serviço estimule o próprio esvaziamento dos professores, social e fazer valer a superação da sociedade burguesa-, a atenção dos educadores
influenciando seu trabalho ele ensinar e de promover a aprendizagem que mo- e psicólogos deve ser direcionada ao que promove e movimenta o desenvolvi-
vimenta o desenvolvimento. Essa corrente de fatores impacta de modo brutal mento dos alunos com deficiências. O problema do descompasso entre idade e
as crianças diferenciadas pela deficiência. A prática demonstra que o que se desenvolvimento é apenas a ponta elo íceberg!
oferece - e não só para as crianças com deficiência - é uma escola ou centro ele Vale destacar que na atualidade estamos compondo uma sociedade na qual se
educação infantil que se torna cada vez mais fraco para os fracos . toma como natural todo e qualquer tipo ele problema, sobretudo aqueles relacio-
Lembramos que Vigotski (VYGOTSKI, 1997b), na década de 1920, criticava uma nados ao processo de escolarização. Dito de outro modo, é comum que se retire
pedagogia dita especial, mas que era arcaica e caduca, que era fraca e destinada desse processo o seu componente sócio-histórico - isto é, nega-se a sua gênese,
aos fracos. Defendia uma nova educação especial ou defectologia, que deveria sua historicidade, sua vinculação às condições materiais, compreendendo-o de
oferecer uma escola auxiliar (escola especial) forte para quem fosse considerado modo personificado a algun), indivíduo. Por não se dominar a contento as leis
fraco. Esta deveria ser geradora de potencialidades, assim como a educação regu- do desenvolvimento humano, nega-se que a aprendizagem de modo satisfatório
lar ou comum, e ser promotora de revoluções nos alunos que por ela passavam. dependa de condições materiais adequadas, de metodologia de ensino e de
Tendo com respaldo a teoria vygotskiana, professores e demais profissionais proposta curricular competente, não se restringindo, portanto, às condições
da educação precisam entender quais são os aspectos íntegros ou positivos da neurobiológicas e à motivação individuaL Quando se concebe a escolarização

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MAI~H, iJA P( WOOilAÇt\t llll' I ÓlllüO (1lJll Ultl\1 IKI IH 'lJ( NVOLVIMI!NTO POIQUICO

jllll ' l'HH l ' pf'iHillllt:l'ific:tdtl 1 sn i H'!.'fltdn d rtH t' IIIHHl'H ptlllltllltl'H, lllllli'III'II II H'Ilfl'· lW ll1111 l'tl l 11 !~1~1 1 :-i. ( :.. !11\t t 1, M t 1. 1"lo~ l l r\ 1'11111 tl 1 1i M ~1, l'tdt n lttHIII h iMII'Ji 'lt'll •l' lfilllliiL lillli f' l
11 pt'lH III \'1\(Il'llifuntl dv l tllpvdim~' t1('0H no d l'Sl' llvo l vi lll ~' lll o ou n l'XIIIl' tl ll tl,flll d11 1• 1•t l11 t' 11~· 1\ t 1, 'I(· ort11 "J ( ;' (1/1 tr d, • I, 1 /'~ 11 11111,11 ltr 1 M1 1rt•I!Jt, M~·· xk.-,: U 111 w t li lt l111 I ~ Ih IH i [i i tlll•l 1 I
dvf'kil-ncin. Desl nrt l', h t~ dl'ssa nwn ei t·n um d eslocll llH'n 1o d o dx11 dt IH l11111n Sn11 Nlt'tl i:\H tl v ll id11 IJ~~~. 11. _\,I' N~ l \n l , 10 1L
int l':ll'scoln rl's dn:-; reln çõc:-; institucio n ais, históri cas, ps i co l ú~il.'ns (' I Wd:IHIIHII 11 VYIHl i SKl, I . S.; LLJIUA, A. 1\. FI ln ,hlllllt'nto y t' i sig~w Cl l t'/ ci1'WHollo ,/,•l11 i1,fl lldl~fl!• !'~.!
qlll' co nstitue m o cotidiano escolar para o individuo. I )l· l H.iu y Amél ia Álvart•z. Madri : l :u nd :~rión ln fnncia y Apn· I HII:wlt~, J()(l/

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C API Hll .O I'

CONTRIBUIÇÕ€S DA P€RIODIZAÇÃO
HISTÓRICO-CULTURAL DO D€S€NVOLVIM€NTO
PARA O TRABALHO P€DAGÓGICO
1
HISTÓRICO-CRÍTICO

ANA CAROLINA GALVÃO MARSIGLIA1

MARIA CLÁUDIA DA SILVA SACCOMANI 1

"'·

s autores dos capítulos precedentes ofereceram contribuições fundamentais



para a compreensão da periodização do desenvolvimento do ser humano,
desde o momento de seu nascimento até a velhice. Em consonância com as ideias
apresentadas, tomamos como base o pressuposto de que o desenvolvimento dl'
seres humanos não acontece de modo natural, linear e espontâneo, mas tão
somente por meio da apropriação da cultura. Trata,se de um desenvolvimento
histórico,cultural e, portanto, é resultado da produção (ou não) na subjetividn
de de cada indivíduo, daquilo que já foi produzido no mundo da cultura pela
humanidade ao longo da história (SAVIANI, 2008b).
A quali.dade das condições objetivas de vida e educação produz e determinn
a subjetividade dos sujeitos. Assim sendo, o desenvolvimento psíquico não podl·
ser desvinculado da maneira como o ser humano está inserido na sociedade. Ora,
como afirma Leontiev (1978, p. 283) sobre as aquisições históricas do gênct't1

1 Nosso agradecimento aos professores Lígin Márcia Martins c Ricardo Eleutério dos Anjos JH'I.t
contribu içõcs na elaboração deste capitulo.
2 Doutora em educação escolar pela Universidade Esmdual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Llr I I
Araraquara), professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Líder do Grupo d\ I'.
quisa "Pedagogia H istóric0'Crítica e Educação Escolar", membro do G rupo de Pesqu isa "!..,1111h
Marxistas em Educacão"

e do Núcleo de Ensino de Educacão

Infantil (NEDt-UFES).
3 Mestre em educação escolar pela U:>:ESP/ Araraquara c doutoranda pela mesma instituição. Prolt' "''
da ed ucação básica I n a rede municipal de Jundiaí/SP e membro do Gru po de Pesqu isa "I .tttolt
Marxistas em Educacão"
• .
1•I•I lÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MAR ILDA G. D. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 345
..
'
l1111nano n a sociedade capitalista: "para a esmagadora maioria das pessoas, a vincu la m, podem, de fato, orientar o traba lho p edagógico". E preciso, portan·
.aprop riação d essas aqu isições só é possível dentro de limites miseráveis". to, compreender a tríade como uma unidade, considerando a essência d e cada
Nesse sentido, as condições para o desenvolvimento psíquico não estão dis, elemento, assim como a relação de interdependência existente entre eles.
111 111ihilizadas de maneira igualitária para todos os indivíduos. O desenvolvimento Ademais, considerar a tríade mencionada por Martins implica pensar na
de> psiquismo, no contexto da sociedade capitalista alienante, objetiva,se em um unidade conteúdo,forma, pois, como aponta Saviani (2008b, p. 3):
/'Sc'!lclodesenvolvimenw. Em contrapartida, entendem os que os conhecimentos
c'i<'tlt íficos, artísticos e filosóficos são frutos do trabalho intelectual dos seres o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos
llltmanos e, portanto, não podem ser propriedade apenas da classe dominante. elementos culturais que precisam ser assimilados pdos indivíduos da
Ne!'o,s:1 direção, a pedagogia histórico,crítica defende a educação escolar como espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e .
c','•P:t\·o privilegiado para o desenvolvimento de todos os indivíduos, considerando concomita ntemente, à de-scoberta das forn:tas mais adequadas para atingir
'lUC <> máximo desenvolvimento psíquico exige ações educativas intencionalmente ~ssc objctivo.
tll' tl'll ta das a essa finalidade.

A cultura historicamente acum ulada não está disponibilizada imediatamente Compreendemos, nesse sentido, que a transformação da cultu ra objetiva-
,u>.., imi ivíduos em formação, e que dela precisam se apropriar para se humani, mente 'existente em cultura do indivíduo exige o trabalho educativo tanto no
.ll'<'lll maximamente. Por isso, torna,se imprescin.dível a educação escolar! Na
• que se refere à seleção dos conhecim entos que devem integrar os currículos
del'inição de trabalho educativo como "o ato de produzir, direta e intencional, e~co lares como no tocante aos métodos empregados pelos professores, de forma
tncnte, cm cada indivíduo singular, a humanidad e que é produzida histórica que se articulem dialeticamente com as atividades-gu ia dos indivíduos visando
< 'uk·tivamente pelo conjunto dos homens" (SAVIANI, 2008b, p. 13) reside a
à internalização dos conteúdos escolares cm suas expressões mais ricas e desen,
l'n·m issa de que a "h umanidade" não nos é dada n o m omento do nascimento, '
volvimentistas. E nesse sentido que, neste capítulo, procuraremos explorar as
<II I :-.l'jn, o ser humano não nasce humanizado e precisa realizar,se co mo tal pela
relações e ntre desenvolvimento e o ensino, devidamente planejado.
;IJ Hnpriação dos elementos culturais já produzidos e acumulados na história Antes de seguirmos, vale destacar que consideram os que os conteúdos abor-
h11m a na mediante a atividade de trabalho. dados nos capítulos precedentes já evidenciaram que o processo de escolarização
( :om efeito, o objetivo posto a este capítulo é abordar as relações entre a pe, é um componente inalienável do desenvolvimento da pessoa, posto projetá,la para
t lt>< l iza~·:to histórico,cultural e o trabalho pedagógico histórico,crítico, destacando
o futuro, a ser compreendido para que possa ser enfrentado e transformado -
" 1H't't•ssid ade de comp reendermos a interpendência entre o trabalho educativo,
/ d esafios lançados, sobretudo, pela idade adulta e a velhice. Com isso em vista,
t.d <'I >I no formulado por Saviani (idem), e a promoção do desenvolvimento . o presente capítulo conferirá destaqu e às práticas pedagógicas que pautam os
I h~:,:-m maneira, lançaremos mão dos fun damentos psicológicos da periodização níveis de e n sino instituídos pela Lei d e Diretrizes e Bases da Edu cação Nacional
l1t•. t' >rico-cu! tLtral que oferecem subsídios para intervenções na prática pedagógica (lei n. 9.394/1996), mas não preterimos q ue ações educativas atravessam todos
h 11.11'>t ico-c rfti ca nos diferentes segmentos de ensino .
os períodos d a vida (ou deveriam atravessar!), sob a forma de educação contínua,
1\aseando-nos na tríade conteúdo-forma-destinatário s intetizada por Martins cujo ideal deveria ser a sequência da promoção do desenvolvimento das "pessoas"
( J() I ~h), buscaremos articular teoria e prática pedagógica de modo que a teoria
por meio do ensino.
l11•.tt >I ico-ndtu ral possa converter-se em instrumento para que o professor analise
I ' (n·):-.ign i (i que sua prática docente. Analogamente, tomare m os co mo base a

c ·:tll'j~o ri za~·ao d l' ccmteüdos de formaçcio teórica c operacione~l proposta por M artins
O D€STINATÁRIO DO PROC€SSO €DUCATIVO
( J() I J), IH IM'íi iHio d~· nwns t rar sua nrt ic ulação co rn a pl'riod it:u, :111 do desl'nvolvi~
IYH~ IIIIll : :1 lll'g:tlti Z:t~"IÚI d11 l'll SÍIHl , I l111t1 '1 d~t •l Ct1 11di ~·~H·H p :ll':lllllt'WII\izn,·: ll> do t'll HII\n pmmntt>r dl• dl'St twnl v i
N11 q111 ' dI ~ n'..,IH'I 111 :'1 t 1lnd1dorlllrl c untc•ttdu t/,·stiwllrllft,, d iliiP t•xp lh-11 M11r't 111M ll'tl.l lllt. l t' '· ull ll t' i_' 1_ 1' I I M"' d (11 .I q ll l ~ III Iii d1'11 111111 I I I 'I'111 11 ti I \1 l I' l' d11 1{1 1M k I I ' I ~ ll I :~~ ~ I; III ( I )
1
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\I,, lll_'ldtlllll di~Hilt'!1t' lt_' lllt' ll(t l14 1 1''1\'l l'hll lt>tl di! ~ t'il!!t''l\tlt'/1 c_pl (' tll'l
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\.jf, IIOIA M MAl{ I lN~ i, ANO I I t lA AIIIIAI-111 MNW IrAU [), I:AGCI (C liHI) i'U{IOIJL'ACJ\0 lll:dt ll'ltt 1 Ull HII~AI IHJIJl ~JUIV! li VIMI NlO 1''\IUIIILO I •I'/

,,,_. L'~ lttdo do~ pN ku l ()~~h1 l' <l d:1 IWdagngi:l. E mhu 1';1 l'tü11'!1l 'I111'I H1'1 di : d oJ.~IH' Ill t' t n11t vt'rd ns c d:r:1 ltllllii1H1'111111\ 11 t'lt.'l ll lll l' lll'g:lniw do. Para qu~ h<lja aprendizagem
II'II IHtii H'IIl <~ III tlllid :td v, vada lllll deles tcrn sua l 'h i H'< l(tl'ltl:alv, l ltl l', <.JtltiiHI,, v dvsvrwolvillll'lll tl, IHt qtll' e.xiiHI I :I~'(K'S educativas intencio nalmente orientadas
111_-r dtd ,, dv vist:t, rl·sulta vm harrdras c incoerências l' llll'l' l'sS:Is duas ciên<: inN. i\ l'SSi\ (inalidadl'.
1\ d ti-ii i "~· ~~n l'.nt rc ii psi co logia c a pedagogia não deriva de um preciosisrlHl
A pedagogia tem cotno eixo n.orteador o processo educativo sistematizado,
d1 IIIISHII pil rt v, mas rnos tra~sc in1portante em virtude de uma hegemô ni ca J>sit'o q ue por sua vez "exige clarezas acerca de seu destinatário, d ado que requer o
J,,_ltt znçtlo dct <'clllc{((;üo (MARTINS, 20 12; PASQUALINI, 2013). Assim, h á co n cep~·nvH conhecimento sobre sua formacão e desenvolvimento" (ARCE; MARTINS, 2013,
'
qrr t~ M ' prv<H'tlp:lm cm saber corno a criança se desenvolve e como aprende, rn:ts p. 44). Portanto o professor deve compreender as leis que regem o desenvolvimen-
,., d11e:1ttl ~.· m segundo plano (ou ignoram completamente) o ensino, o papt:l to humano com a finalidade de pensar em práticas pedagógicas eficientes para
d ilt'II\'U dn proll.·ssor, n metodologia e o conteúdo a ser trans mitido; valo ri zn 111 nele interferir. Valendo-se dos conteúdos que serão trabalhados, deve planejar
llltl:lt~ IIIHl'p~·ao psico lógica em detrimento de um fundamento pedagógico 4 . Nn também as formas mais adequadas para atingir esse objetivo.
1'1'1\lnl dvss:t questão cst<1 a n ecessidade de compreendermos a interpendêncit1 Conforme afirma Mukhina (1996, p. 50, grifo nosso), "é necessário conhe- _
t' ltll t ' t'llHi110, nprcnd iz::1gcm e desenvolvimento . cer a relação entre o ensino e o desenvolvimento e, baseando-se nessa relação,
Nt•sst• St'n tido, baseando-se em Rubinstein, Pasqualini (2013, p. 72) a fi r ma determinar o que e como ensinar á. criança n as várias etapas da infância", por
i prt· ,, p:-. icologia c a pedagogia:
exemplo . Como afirmou Vigotski (2009), não é qualquer aprendizagem que
promov:e o desenvolvimento psíquico. É nesse sentido que o psicólogo soviético
S l' n.' lac io n a m d e ta l modo qu e o objeto d e um a é condiçdo p;H :t :1
deixa claro que o bom ensino é aquele que se antecipa ao desenvolvimento, se
'HIt ra. A ps ico logia rüin tem co m o ohj eto o processo pedagóg ic o l' ,, •
pretende promovê~lo .
t\ l'gani za ção do ensino. C omo explica Rubinstein, o ohj c to dn ps iro·
Assim, faz-se necessário explorar as seguintes questões: O que ensinar?
lu!.( ia do dcsc nvoh·inH.!nto ~ão as leis qu e rege m o d esc nvo lvim t' lll tl
(con teúdos); por que ensinar? (objetivos); como ensinar? (procedimentos, en-
do ps iq ui smo da cr iança . O o bj ero d a ped agogia , p o r su a vez, v ,,
caminhamentos metodológicos e organização do trabalho pedagógico). Como
Jll tlt' t.'SSO pt..' d agógico propriamente dito, ou seja, as lei s es pecíl-il'il :-.
explica Pasqualini (2010, p. 1.20):
d a edu carã o c do en s in o .
'

conhecer o estado atual da(s) criança(s) implica conhecer o período do


r:, lk• t:XI'I 't'ma importância compreender como
,
a pessoa se desenvolve t'
desenvolt•imento em que se encontra(m) as criança(s), n que ind ica o que é
•P IIdu n ~; lvls que regem esse desenvolvimento. E nesse sentido que traremos ns
esperado em termos de seu funcionamento psíquico e comportamentaL Esse
•· • •tllr ' lhllr ~ tll'S da teoria da periodização. Entretanto, não se pode perder de vista
conhecimento or ie nta a selccão
'
de C0NTÉUDOS de en sino e defin icão
. de
'I"'' 11 t tllllwcimcnto pedagógico é condicão '
para o objeto da psicologia, isto 6, o
- objetivos pedagógicos de acordo com a faixa etária ou, ma is prec isamente,
derlt'IIV<1lvi mcnto não acontecerá por si só, mas é preciso criar concliçôcs objct·iv:tH
com o período Jo desenvolvirnento da CRl ANÇA .
1'11 1':1 qll<' vlv aconteça! Faz~se necessá rio, pois, o trabalho pedagógico.
<) lrílhallw educativo não somente interfere no dcscrwolvin1cnto, mas {·
Com efeito, é imprescindível pensar nos encaminhamentos metodológicos
tlelt' l'tlli ll:l lll t' n:1 mcdidn cm que lh e confere caminhos c d ircçõcs. O d l'sc nvo l vi~
(forma) sobre como trabalhar os saberes escolares (conteúdos) com o aluno em
1111' 1111 , , portanto, não é decorrente d e qualquer tipo d e cnsi no, mas dcpl· nd <.' dnH
cada mo n1ento de seu desenvolvimento (destinatário). Destarte, com preender
-
1111>111!' ( l ) l I, p. 1>-20), rdv rí ndtl-:'il' :'1 psi\'olo~in h is túrin~-t· ullllr:d l'lllllO t'11ndn1llí'lllll pnm ,, pntllf'll
1 1
o q ue {• possível cm cada momento do desenvo lvimento psíquico é uma das
condi t,'<H's p:ll':l 11 sclcção do próprio conteúdo e planejamento das formas de
l'''l i.l):tl)'il'il, IW' II .~ l'J~Itill l t' n•s.;:dvn: "n p:-;icologia hist·<'lrico·n dtmalt:· tito soi\H'I\11' 11111 do., lll tHI:JIIH IIIt1:'
1!11 l·lllll .t\,lt'''''"l.tl. l1.11.1 .,,.,por cnto, dt'lllll llli('Oit.llllt' i'Jmdnllll'tllll, 111.ts p.tl.l ljiH 11, I'''"'''•tk• vnsltl<t Alt•llt disso, como explica Mar tins (2013b), ao se referir à importância
ltllt '•ttllllt ih1111 p,!t,t u IJ,thitlho l'dlllolll\'l ll' lll'll'SSilllll IIIM'IIill 11111\l,l ll'llll.t fll'tl ;tyt"t)-'h ,1, p ;ll I 1' 11),1 11
t'tlllil·l'ldn llll 1!1 '1 111Hrt·:\rio", (·p reciso rc r claro que não se trata do aluno empí-
1 111 P•l 111 \ '' " 1t1111la ·111 1 " 1t I li lu1 ' ·111 ,1 I ri n .,I 111 a, :1St H i ' d11g 1 11, ,1 I Ih 111 d11, ,, I )hl,11 i' 11 1 " 111 1"~ , •IIIIJH 1'i d1''~
I ld I11 Itl i I I III l III l1 \III d", I III tl li I III ~ (Htl tl\' III ~ , 1' 11 I 11' 11 (I~ Il ll lllj! III I11 ~ IIII Il I I I ! ti I III ,ti l' ol Jlll\t ii ;II' d11 t'I\1 1\'11
1
l'it 'lr, '' '~~"~ nl1n dll tdttll<l C<lll l' l't•to, cu t1 fo rn11.' ~sclnrecc Savinn i (2004), no inruito
d1 lt ' lllt~ il! d ti ltti t'll1 H~ C'I'4 t' IH:u •sH id :l< lt:H illH'tiÍill':lHl l ll l'l lljl~ i t u .
11
Clllptt ' '· lo lt. lllt'dl.u,olt olt 1111111 lt.' t>l Ílt p1't. l 1 t~~~~~~lt .1
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\d t< LIL~IA M, MAl~ lltl' ANtJ.[LO A AOIMN li Ml\l41l UI\ O li IACG I((li{(JU PI. UIOIJitl\ÇI\0 IIIUT(II~IIJO eUIJ UHI\1 DO iJLlil NVOI VIMLNlO I'' ollll JIC:n 'j I I,J

1\ 11 1 111~ 11\IHHIIt 1 dl' ('(li dH'CÍ li H.'lll OS t' llCL'I'I'tl O S oJ>}eti11(),\ IJI 'l~IH ' lll\~1• IIII pi Illll'jlllfH'Il~ t[llt ' 1-H' litllit :t :tlliii Vl' l dv dl'Hl' II VId vitlll'lliO rv:d (:t :11 ivid:H.IC•/.tliÍil do j)l'rlmlo), 111íl S

' ' ,, 1 1 r otllt:lido 11 Sl' l' vmdnado L' n fonnct con1o os ohjetivos dv l'tH-dtH> :tcontecerao :1q ll l ' k q ll l' dl'Sl' twol w a~:oes q lll' se L' l{:t ivl' m par!'indo dii :\ rea de d esenvolvin•en ro
' 111 t~ · l : , ~·: tn 11os conteúdos selecion~dos . Dessa maneirn, esses elementos se con- iminente, isto é, das linhas acessórias de desenvolvimento, criando as premissas
'
dlt'it lll:tlll assim se ndo, hú que se ter coerência interna entre os componentes
t' , da <ttividade dominante do período posterior. E preciso, pois, ter clareza quanto
lttt l11 .tdt 1s. Por exemp lo, não obteremos sucesso no trabalho educativo se utili- à re lação entre atividade-guia e linhas acessórias de desenvolvimento. O bom
111 '11111"1 ll llll o metodologia uma aula expositiva de duas horas para alunos d e 3, ensino, portanto, produz o "novo" no aluno, ou seja, promove o desenvolvimento
I t.il t r, :t iH>S. Isso porque essas crianças ainda não possuem atenção voluntária das funções psicológicas do indivíduo em formação.
llfkH' Iltl' para isso! O trabalho do professor caminha em uma via de mão dupla. Por um lado,
1\ l~sl (1la d e Vi gotski n os fornece um importante instrumento teórico para deve tomar a atividade-guia do período atual do aluno como um importante ins-
'till qlrc·t' IHil· rm os a lógica interna do desenvolvimento psíquico infantil. Uma trumento para a prática pedagógica, entendendo as possibilidades e conquistas do
dn H ttl llttihui ~·(les para se compreender "quem é esse destinatário" e "quais as desenvolvimento em cada idade. Por outro, deve trilhar na direção de engendrar
tll t• ll ll ' n :s fo rmas" para se ens inar determinados "conteúdos" é a teoria da perio- as premissas da atividade-guia do próximo período, atuando nas linhas acessórias-
dI UI ~'i lll l ln d esenvolvimento elaborada por Elkonin, explicitada detalhadamente de desenvolvimento, ou seja, o professor pode (e deve) explorar elementos da
IHIH c:tplt 1dos precedentes desta coletânea. linha acessória que impulsionem á·transiçã.o de um período a outro. Vale escla-
Sl:~:ttndo Leontiev (2012), há tipos de atividades que são dominantes e gu iam recer, porér:n, que trabalhar com as linhas acessórias não significa focar apenas
', tlt·sv nvo lvime nto psíquico em determinados estágios, enquanto outras atividades na passagem para o próximo período, isto é, d eve-se pensar com base no que o
ttll''\l.'i tt· m, ma:-; exerce m um papel acessório na promoção do desenvolvimento. a luno é e, ao mesmo tempo, no seu vir a ser6.
• Diante disso, traremos à baila a periodização histórico-cultural, articulando-
l'ona llf u 1\ S at ividades principais surgem em períodos anteriores do desenvolvi-
lllt,~ llt o l' tn rn a m-se acessórias no período seguinte, quando o utra atividade é a -a com o trabalho pedagógico dirigido a todos os segmen tos de ensino, desde a
PI'II II 1p:t l p ro mo to ra d e desenvolvimento. educação infantil até a educação superior.
A ... si m , é preciso salientar que, em todos os períodos, a atividade-guia não é
1 t'tttit :t q ue pe rm e ia as ações dos sujeitos, pois com ela temos as chamadas linhas

tl t't'(\orim eh: desenvolvimento. Apesar do termo "acessório", não d evemos descartar A P€RIODIZAÇÃO HISTÓRICQ-CULTURAL € A PRÁTICA
111 1 111111 i lll izar as ações ligadas a essas linhas, tendo em vista que, articuladas em PE:DAGÓGICA HISTÓRICQ-CRÍTICA
11111 tnd o din â mi co, elas são fundamentais ao desenvolvimento integral do indi-

vlt ltl t 1. Ad e mais, como enfatizaremos no decorrer do texto, as ações pedagógicas Do nascimento ao primeiro ano de vida, o desenvolvimento infantil
dt \'l' lll o pe rar na linha acessór ia de cada período, à med ida que constituem a caracteriza-se pela comunicação emocional do bebê com o adulto, e por isso
1111' :1 dl· tk·senvolvimento iminente5. ' essa atividade-guia é ch am ada comunicação emocional direta. Ela pertence ao

{ )ll :lmlo Vigotski (2009) abordou os conceitos de nível de desenvdvimento sistema afetivo-emocional, na qu al prepondera a relação criança-ad ulto social.
n•;t/ ~~ dre(t do desenvolvimento iminente, trouxe para o cerne d essa questão a ideia O bebê se desenvolverá na relação que estabelece com o outro, por meio ele
ti, · tjll l~ o hom ensino é aquele que trabalha na direção daquilo que o indivíduo sua experiência social. Seu interesse, que se inicia como receptivo, torna-se ativo
ttlt HI:t 11:1 o poss ui no que se refere a desenvolvimento, mas pode conquistar por ao longo desse primeiro ano, até mesmo em razão de seu desenvolvimento físico e
'
1ne it, d v processos educativos. E nesse sentido que o bom ensino não é aquele motor (apalpar, sustentar a cabeça, ficar sentado, rastejar, engatinhar, andar). Seu
campo perceptual aumenta, suas possibilidades de captações sensoriais se desen-
volvem (inicialmente os bebês não são bons videntes, mas são bons ouvintes), as
, I !I~~· fl ' l11lo tamhém é encont rado nas trad uções como zona de desenvolvimento proximal, zona
d•• ~ 1~·-.~ · ~~'·"lvinwnro próximo, zona de desenvolvimento imed iato ou área de desenvolvimento pessoas e objetos que o circundam dirigem sua ate nção, a linguagem - ainda que
1"'"' 111' 1:11. No t•ntanto, Prestes (2010, p. 160) defende que a melhor t radução seria "zona de desen-
v.. kil111'111o iminente", pois "revela o que a criança pode desenvolver, [o que! não sign ifica q ue irá
"'" 1~:·111111,111ll'1Hl' desenvo lver" . Isso é coerente com o referencial da psicologia histórico-cultural, 6 Essa q uestão será abord ada mais d etidamente ao longo do texto, à medida que explo rarmo~ a
1"'1 ~ '' dl'wnvolvimento só se realizará se as condições objetivas fo rem dadas socialmente. ativiclade-guia de cada períod o, suas linhas acessórias c as implicações para a prática pedagógica.
'li() LÍGIA M. MARTINS, ANGELO A. ABRANTES & MARILDA G. O. FACCI (ORG.) PERIODIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO 35 1

n1d i me nta r (murmúrios e balbuciação) - sinaliza associações com captações sen, Pensa ndo especificamente nos saberes escolares ela educação infantil, não
.'111:1is e ass im por diante. O reconhecimento dessas características pelo professor é possível, por exemplo , sua segmentação rígida ou a proposição de conteúdos
(.u lul to social) na organização das situações de aprendizagem é que possibilitará de formação teórica, divididos em disciplinas estanques, sobretudo para bebês,
1 1 :u kquado planejamento p edagógico. Sim: planejamento de ensino para bebês! visto que o desenvolvimento da linguagem oral precede a formação de quaisqu er
A questão é que, como método de exposição, estamos partindo do bebê conceitos. Com efeito , para esse período do d esenvolvimento, existem co nteúdos
'
1'111 d ireção ao adulto. Porém o professor, para planejar de forma orgânica, por específicos, denom in ados de formação ope rac ional. E preciso superar a ideia
11111 lado, precisa partir d o adu lto para a criança (do co mplexo para o simples- de que não há conteúdos destinados às crianças pequenas e, ao mesmo tempo,
M \R I'I NS, 2013b) - o que lhe exige conhecime ntos aprofundados sobre toda a compreende r que estes são essencialmente diferentes e d evem considerar as
IH"I·tt 1d ização do dese nvolvimento, e não só da faixa etária com a q ual ele trabalha. especificidades da faixa etária.
1\" 1 Htt ro lado, como as creches não são articuladas pedagogicamente com as Os conteúdos de formação operacional referem,se às aquisições que devem
1'HI.'t dils d e educação infantil, q ue por sua vez estão separadas pedagogicamente7 ser co rroboradas pelo trabalho docente, isto é, saberes elo professor que garantem
illl l.'llsino fundamental, que tam bém é separado do ensino médio, há uma a qual ificação do ensino . Esses saberes são dominados pelo professor e estão
Ht'tt 1 Hlv difi culdade e m planejar adequadame nte para todos os níveis d e ensino. subjacentes às ações dirigidas aos alunos. Isso significa que o conhecimento
I ~HM: p roble ma seria minimizado se pelo menos fôssemos capazes de identificar os científico o ri enta o trabalho do professor; portanto, o que se faz na escola não é
''"' lwci me ntos funda mentais de serem transmitidos e assim pudéssemos contar o mesmo que se faz no âmbito da vida doméstica. Os conhecime ntos científicos
• '
,.t 1111 11m currículo clássico para as escolas. Mas para isso é necessário compreender "chegam à criança" indiretamente! E nesse sentido que não se trata do binômio
n1111< 1 um mesmo conteúdo articuJa,se da educação infa ntil ao e nsino m édio para cuidar e educa r9 (PASQUALINI; MARTINS, 2008).
1,17.1' 1 o caminho de volta e planejar cada um a das etapas. Os conteúdos de formação operacional promovem o desenvo lvimento
Professores e profissionais qu e se debruçam sobre a educação infantil
ilt•lrn nt a m,se com as seguintes questões: A educação infantil tem conteúdo? de novos domínios psicofísico:; e sociai~ expressos t'm habilidades es-
\..,)t lais si1o eles? Como os conhecime ntos científicos p odem to rnar,se presentes pecífica::. constina ivas da criança como :-;er hi stórícn-social, a exemplo
11:1 l'l h1 cacão

da crianca

desde o seu n ascimen to? Ensinamos ao bebê? A crianca• de: auwcuidados, hábito~ <tlim entares saudá\'eís, de~treza psicomotora,
pcq11 vna , no âmbito da educação escolar, entra em~ contato com os conhecimen, acuidade percepti\'ê.l e semnrial, habilidades de comunicaçã.o significada,
I 11M vivntlfi cos em sua máxima expressão, tal como é preconizado pela pedagogia identificação de e m oçô~:~::; c sentímc n tos , v ive ncia gnq1al, den tre 01..1tras
h1, 11'11 ko,nítica? Isso é possível8? IMARTII'\'->, 2012, p. 951.
l'otnt te ntar responder a essas perguntas, recorrere mos às ideias de Martins
( 10 I 1) sohrc conteúdos d e formação operacional e formação teórica, cuja cate, Trata,se, pois, d aq ueles co n teúdos que o professor d o mina conceitualmente,
11111 '1 . t ~:to "cumpre uma função essencialmente organizativa do planejamento tanto quanto suas formas de transmissão, de modo que promova o desenvol,
1w1 Ltl~~·,gko, uma vez que na experiência escolar do aluno tais conteúdos operam vimento d o aluno. Tomemos como exemplo: a coorde nação ocular, acuidade
tll'l'tl'tditdamcnte, cm uma relação d e mútua dependência" (idem, p. 97). discriminativa, coorde nação m otora fina, dicção, acuidade perceptiva e senso-
rial, psicomotriciclade, domínios psicofís icos etc. Em linhas gerais, estamos n o
refe rindo aos pré-requisitos 10 psicofísicos necessários para a aprendizagem formal
I • ' '''""' '" "i't i ndn 11.1 ~l'p.lrat;:-lll /'t'diiJ.:CÍJ.:ICCI niio l'St a mos a fi r mando que todas as (,,h: as l'tárin·../ dos conteúdos teóricos.
t l' llll ' lllti S de l ' I I~IIHI Jll't'l'ÍS:JI' Í:l lll l'..,l:l l' no llll'SIIIOl'Sp:I~'O (bico.
V11 l• dt •., t ,ll .lll ', •tq tti, tJ II t ~ 11 M'j'1llt'llil1 dal'dllt'a,·ao inf'nn t i i , vsp~·d:tl tn t•ntv da!>. 1 1 i.1111. I' ti, • () :1 'l anos, 9 Pasq ualini l' Ma rt ins (2008) se co nt rapüem ;\ ideia hege mó n ica d l' q ue o rrahalho ed ucativo nn
I' 11 tJI!t_ lllilt 'i ~11)11• t"lllll ollPIIII'JH,'flll t lt ll ,lllll,tl l 1\, 111 d11 tll'~W II\'Ilh if11111111, lt lld111 1il h tlllll ' llll' dii,I S l'dura\·ao inLinl il tl'lll lOilln ohjl.'tivo eSSl'IH"ial o hinl>mio cuidadn·l'dura,·all. Essa JWrsJwniva,
cnnf<llllll' as ; 1111 01;1~, t la7 lllll<l \'Js;Hlclltlil'.\tCllrlr a l'Sst' Sl'I!IIH'IHo dt• t•nsinll. Apo nl.tlll <)I II ' 111id.1do
10

' ' ' " ' ' ')111• 11, 1.1 \ I'' itllt iu •' ,1 1111 '11111 \ ,d1111 , 11 111 ,1,, lt ,thalho ,1,, )''"'' •,,,, ,11 11 ~Pj!lllloht i' t i lll õlllll

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pl1111o),HI,I . \1111Jtool 'l l'llltll loopltlll•~ ioll\lfllloot l o llllllol l o.illldtoJILidlllotJIII ,111 !1Hd 11·pH•it'llld11[ 1 -oi OIII d11 Jll ot ,., ,,.diiJ't ''"' "" (I' \ '·1.11 '"' 1t u, M \11111·'' , 11)llH, p //).

I jllt' li H' III )I til 1li "111 I' I I I) 111 -.111! 'i 1 I 11' ~ ttl' o ii •!11 1 11 Ílo I 11 j jllll) h · I III\ III 1\,I i I lj' I
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ll!l tlll 't lllll llltl ~ I!"IIIÍtiiJiltililto"l qtH ' jool~~ ihilil! 11\ 111111\llll.l lll,ilol i ' lll tii H i)lí!dttltl I l t ill!ll !llt '11111d ol 1\ ) (i j III 11III l1lll h dI · I , 11 , 11 dIr(\\. iii I
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I htiA M MAilTINO. /\NGIJO A. Al)t1AIHU:i li MAifllll,\ 1] O, 1/\I~GI (CIIm ) I 'I I li IIII AÇt\tllll' d III (11.11 CUII UI MI IJO1)1 (i[ NV( li VIMI NlO l'~1l<ll JH o I5:1

( )tt.ttH it , t'llltt :ttiH I:-1 ttll tt/ pllt'll j ,I.' I H'~ e ~~ t ' IHtlÇ'I I H IH'tjllt'lliiS, tt fl n lh e dlltllll/1 NL~IiHv l'<HtJt tt tlll ,1,. 1 1~111 ~M (t• l':ttlt'rtH11lll'r:1s qt tl'
pode ríamos pensar ou dessas
li III i \ 1'>\plkllt,'lltll Plll't•i ltt :d: " l ~vht', :tgnl'll Vii iiHlS l'illl( i\1 jllll'(jl le tHHll Vl li t;lllttiHlloll 1 ~ · rln t ' dl•sd o l )t't tllll~ lll tlli), ,\ll lll l,'~ tlt ll lt'lllj Hll' tn qu e estamos garantindo as formas
ptll'll ,, dt•,o..,v l1vnlvillll'lllu tlv stt:\ lil1~lln~t~ lll, qt11: t'• lllll il lt tt H;:tn p.'l lt:t dt',gir:;t fttn
< ' tt1 11l vt'td nH ndl'qtt:ttllls p:tt':l lll' tls:tr 11 planejame nto de ensino para os bebês,
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. "Sllllp' Il'I'I IIH'Illl: I! l~ l llll:llllt l~,I 1 tkW IIH ls t:t tnh(· m l:t zt~ r dt•:-;sas <l ~'<"ll'S poss ibilid ades de saltos qualitativos, ou
~·llt li t.'l'll'i :t :q1ill'l.' lll t' sittlplk idad t• tkw n ll)tl' r todo o ro nlwt ittH'Illn d n prllkl'iht -,1 M.' J:t, f':tzt·r u hchê d L'Sl'IWolve r-se d e tal maneira que provoque a segunda crise do
'I' lt' t~ 1d 1:-: id i:1 st1 :1 pr:'ll ic:t pt•dag<'>~ka, o qul' i nd k:t :1 twn·ss id mlc dv tllllit st'd idlt dt•l-lt' IWolvimentou, engendrada pda carência de uma nova ativiclade-guia que
l1 tl'l ll llciiCI d11t l'lll l'.
. ' d lt'tl dii ii suas novas necessidades.
t)s t·ott tt•t'tdns dt• lnrmn(ao tc<'l rica, por su;t Vl'Z di zt' lll n·s1witn :tos 1 n 1dH 1 ( 'o tn deito, no prime iro ano de vida, a relação com o adulto é o que mais
'IIIH'IIItli'\ t lt'tWt'itns quv st•r:Hll'O twt•rt id os em sa lwrL'S t•sro lilrvs (cwt lt'ttdtlo.., 1) ' llll1tlH lVl' o desenvolvimento do bebê, porém, ao mes mo tempo, a atividade-guia
"Pntdn:td,,:-;" dirctatll l'l1tl' :\ rr ian ~·a. Isto L': sahe rl's t•sro larvs sistvmnt izaduo.., d rt dn pl'ríodo dn primeira infância (1 a 3 anos), objetal manipulatória, começa a
divtc· r~n s .ttl':ts do ro nh tTi nwnt o (língua po rtugul'sa, mat vm:'l t ica, cit' nd: ts, IIi ~ '• t't' gvsmdn. Assim, ainda na comunicação emocio nal direta, a manipulação com
ll'tll fl )!I'CI~:r: tfi:l, l'd li C!\~'fiO (ísiC:1 e í11'(eS) (\Serem tr:li'\Stni( idos i\ CJ' i i\11 ~':1 1 d t•Sdt~ i i
1
<,j )jl'll1s jú a P<1 rece como linha acessória do desenvolvimento. Se na comunicação
n lll, ':tt;;ttl itd:u1t ii. ( :unw po r exe mplo: vocab ul úr io, grand t·zas v medidas, Ht'lt'' t'IIH 1cionnl di reta os bebês manipulam os objetos de maneira bastante primitiva
v lv''~'~ • HittHdt :ll ll'idadc , dim cnsüo espacia l, equi líbrio, mt'tsic<l, ar tvs n' tli rns t'll
11
(lvv: ttn o ohjero à boca, movimentam, mordem, chacoalham etc.) e interessam-
E~M·s co tlll'l'td osl t'<li como nfirmn M<Htins (id em, p. 96), ('SI':10 pn·sv lll l1H1\il li SI' pl'los o hjetos e brinquedos somente porque, por meio deles, comunicam-se
tl'h 11l l:td vs proposl':ll'l :\s c ri<ln ~·ns tendo em vist:1 sua socia li z<H:ao como t:tl , is ttll~ 1
11
cttl< H.'ion:1l mente com os adultos, agora se interessam pelos objetos em si e sua
l'd t':t qtlt' :-.~·l'lv t ivl' m t~o mo o hjctos de nproprinção d evem st•r t:nlll S tn it idoHdi n •t'il ' ftlll ~':lo soc ial (MARTINS, 2012).
l'dt'lnn t il:ltlll'I1 1L' cm seus conteúd os co nce ituais e, para téll)t o, prvd.o. ,: tlll Nt.' l O trnhalh o edu cativo destinado às crianças pequ enas (O a 3 anos) deve ter
,
I
ll"•III ;HilS. 'ntlH l t•ixo nortcador a linguagem. Destarte, o papel do professor é essencial
\ .lltlnt.l prnp<K' que as n~·(ks educativas contemplem til' forma inll'~t:td : t tlS p.tm que n criança explore os objetos, mas devemos lembrar que é o "adulto
•iltlt't-tdt1S de forma \·é\o OJX' racionale de formação tcúrira l'tn ronson:1 tH in Ctlllt oS qttt' lhe confere o objeto o u o retira, que o nomina e significa" (idem, p. 111),
wl'l,,d,,s ti, 1dl'sv nvolvimento do aluno, de tal rn odo que, :lnwdid;l qttl' :1 1 tl,ttll,.l tll l sqa, · t lll Io aq u1·1 o que a cnança · " perce b· e " o u " pega " tem nome. V a1e destacar
tttllldtn 1'111 sL'II procl'sso de desenvolvimento, arnp li nm-sc as po:-;sil )i lid:tdt:s d11 lfllt' :1 manipulação de objetos a que nos referim os nada tem. que ver com uma
t''lhn llt tl '""'o:-; ro ntt•t'td os de form ação teórica. tnnnipulação puramente espontânea, em que o professor distribui objetos para
V" lt :IIHio vs pccinca me nte nos bchês, Mngalh iks e Mnrt·ins (20 1 ~) s it1:tl h 1111 lJIIt' :ts crin nças explorem sensorialmente. Isso não basta!
I~ I H' 'i JH.• t Lt~:t >gic:IS l)lll' prl'CÍHill11 Sl'r pt:nsadns pal"a esSl'S l''ll'<.jlll'IHIS, l'O III Il i\111'\'l'l l't'l ( :o mo nfi r ma Lazaretti (2008, p. 155) "nos objetos não está escrito ou indicado
11' dil~ .·re ttt vs vs pa ~·os (irHnnos c externos); dir igir n ohsl'l"va~·:l!> dv ohjl'tllS (l'lllll t l it\'t : tm~·nt-e os rrwdos de emprego; sendo assim, a criança não pode descobri-los
lih•rc•nlt·Hlt'X Itll'ii H, t·:lm:tnlws, so ns c cores), incentivando o lwh0 : tllit:llll ~' :'l - I Ptl 1 ptH' nwio d e si rnples manipulações, sem orientação do adulto, sem um modelo
d l t ' IJ.:: IItdt~ 11 11 ttwvinwtHar-sl' para husc:1r contnro; l~dar com o hvbl\ Ci llll':ll' 111 1 1 dl.' il~·no". E' o adulto quem apresenta o mund o à criança, atribuindo significado
111 ' 111' 1 tl11i'l 1 1s, v xpI' 1 r:1 r i tn i1a~·~ ll' s (gl'S t·u a is e sono ras); nu x iI inr <, dL'M' IW11 lv lltll'tll ' 1 illls ohjl'tos que estão ao seu redor, sua função social e a maneira de se atuar
,,,k,, IIHI!tll' M'Hlll':liHio su:1s m:Hls para dar peq uenos passos L' insnir <lhjl:ltls prtt'il lll lll vlvs. Nl'ssa r~\Se do desenvolvimento a criança está realizando o pareamento
llolll'llttl : t ~ .lll ljll t: Sllh:-it iltli\11\ lll iHIS L' j)l'S. dl· s11:1s : t ~·ovs com a fala, mas quem atribui significado às suas ações é o adulto.
I h•sst• tnodol o prorcssor pode explo rar a manipulação intensa de objetos, seus
IlM ~~ I :·d~~ ~~ i fil :tdos 1.' d ~ t H nn i naçt>es, o u seja, pode trabalhar com diferentes formas,
"III III~' J\ I I I 11 " ' I .11 ' ". (III " III IIII ~~~ "III I ~~~ ' (III 11'1 111 h ll ll't.I I \ I III I . I I I11 I 11 "I dI I ' III I 'I I' " III - I~ 'I" I 'H• .. IIII • 1:1111:111ht1o.., t' proprivd : 1tl~·s dns ohjctos.
d11l11 Ílll(l11 11 \ 111. 1d d11~ I 111111 11d11'1 d1 fntlll .ll, lll 11111 I h h•11 .d ..t ~•todt !l'. j l llllll_llll'l ,11111 • d1 \ llltl
~,, . .lltlt'!'i ,tf tlllliiiiHis qttc nlittgtlilgl'tll ro mp:ll'l'Cl' co m o compone nte impo rtan-
q ~ 11111 1., " I ' 11 l t i • 11 lu I'''''' ,1 11'tl' ' I 11 i/ •li,-,1 1111111 h 1I,,1I 'Ir ' 11 \i 11 i, 1lt• ( 'i 11 i ol l ,·1, 1(111_' , .,, 11'1 I', lllli 11 I' 1 11, l fi!_· d111:iill i 11
l d~lt'lllt l lll(lfl I 11 II II p oitllll lj' ÍI )ti .llllltlll_lllllll ,d , .llllllil lllii'h l!ldi' l_l •lllj111 11111dl' 11 111_1111.-i111,11hl ,j, "-' pill'il t_'l1!4t' <l, ..,,.,"'" lvltlll'lll n, t' llt':l<lll pl :ttt ejntlll'lltn pvd : 1~<'1gko preçisn incluir
11· 11111 1.' ~ - 1 111•. 111 "'~ , 111 , .' 1111111 , , , , J, 1111 , 1 d 1 1111111 I• 11 111 u, " 1 ~, .. 1iii , ,1, d r 1 ~tllllli 1~ 1li "r 1111 , " 1 "' 11111 1111 ·'-1", ,
11
"1111 '!' , , , l\ lllll i! •III I 11111, 111 1 1 flllhl.lltlt ' ll ll tl • 11111 1! 1111\l f !lt'i lld l't 11 lt iM i ti ll ll ( 1_ ' '\11 W ll , 1111111, I'· (I) ll (,' 1\ tlllll ll lli l !\ 111 1! ~ 11 j ii'.W lt lll itl , II II Jtt i -~I I Jf,i ' lll d 11 \ ' 1,) 11 11111 ,11111 1 111111 f'ill'll ll l' lilill ' li ll ,tllh•iltl ll
\'\ti li UiIAM MAIWNU. ANQI[LO A AOitAN i LO & MA.HIUJA G D f Aüt:l !ÜIH41 P( tliOIJI/1\CAO IIIOTQIW \11 lllltAI UU lH'l,[ NVOLVIMI HlO PSI<JUICO til

111, , ~~ •~ ti 1• 11 "'", 11·~ ' II IIn1, dn 1111 M11111:1 '"' 11 n :11 1t dt 1, : 1lit: \ '111 ,, 11111 11 1 1:~ \ 111 , , 1, , ""I 11 111 t1 , 11 ·"' '• l.lllll.lll ltlitlt 'ltl1' rP ·, tli HIIi,ll'í \',ltt iljllt'IHit'lllltt ill,tH'" t'tl lli uhjl'IWi lt~d:t
1

\1 ll ll til w~·; lll tl:t \'I'Íil l\ ~'1 \ 1 tlt'l ll'llll\'llll I' Hl'tjlll'IH' ilt\'1 \tl til : 11'11.'1\'1-1 1 lil: l'llllllll"lll \'1\11 d, -, '' tt ttli ~~ dilt'lt'lllt''' ,. tlhtl">~J~l. l)ll:ll lll,,, tlil s11:1 hrinrndl'ira, a cri ança
I

,d,jt.•tt Hi ~ ~ tr . (MA I( IINS, 20 12). li pnTiso tvr clarvw qtl:tl\lo :1n pnpd d:t ''~'~'"' ' ' ltt• trt:lldlt•sf,t :1 ~.llltr-.IÍI'I I Ít,:'ltt ;IJlllll'llll' de lll\1 u hj l'tu por n utro, revela urna
dt •:-lt 11\'olvi1\Wlllo d11 IingungL'lll ot·:tl. À m~:d ida qlll' 11 ni:t ll\'1 1 viw vtn tllll ;l t:llltHI t·~ll'.lt"trdttl :'tr t a itllJlll t1'fl ncla, primeiro para saber qual foi o objeto da

nld:tdc dv r;danll'S, aprender:\ n fnlnr. E. a lin gu:tgt~l1l ora lt•st":'t Pll'"'l' l\ll' 1\:1 vidll ,t,ao .tprcnditl.t pela cri .tn \·a e quais foram as condições para realizá-la.
,,, tldl :\1\ :t dos alunos. Pon.:·m, aprender a falar e :1 Sl' romunknr 1);1o signil"it 11 t!llt' Segundo, es:,c proces~n indica as premissas da ~\'olução do jogo de papéis
1, · t· l:llt~·: t dt•st•nvolveu a linguagem oral tal como podl'ria tl'r tl cs~.· twol vido. I h~tHm [L;\1.,.\ 1u r n, 2008, p. I 561 .
tllitlll'ÍI':I, t'• (un ç5o da esco la o trabalho sistciYtntizado c in tcn<:iontll quv tlt•Ht' ll
,., dv:1:t lit1gungcm oral nas n1áximas possibi lidades coloc:1das pnrn a faixa v(·;'tl'l :t, Val e problematizar, aqui, uma ideia de fundamental importância acerca da
1\dl'lllll is, o planejamento d estinado a essa faixa etária deve inclui r :11 ivid :1d\·'1 presença dos objetos nas brincadeiras infantis. Graças à linguagem, o ser humano,
l'li':H 1\':IS dl' tnanipulação que levem em conta o desenvolvimento da Pl'I'CI.'P\:tll diferentemente dos animais, pode designar objetos, operar mentalmente com
(t ·~ l ,,,\( 1, ll1 rma, tamanho, propriedades etc.); promoção de experiências de n sM H 1:1 eles. Desse modo, nas brincadeiras as crianças conseguem substituir um objeto ·
~ :u ,, rqwl i~·ão e treino de memória; realização de pequenas tarefas de au tocu idadtl por outro, isto é, lidar com objetos na ausência deles, o que permite a criação
,. ''IW111 i za~·ão do espaço; treino de observação dos objetos. Excelentes rccur:-.; o:, de uma situação imaginária.
p1t1':1 t'SS:\S ações são, por exemplo, a literatura c as artes cênicas. Os animais, segundo Leontiev (2012), também man ifestam comportamentos
V:t rot to (2013) ressalta a importância, no período da atividade objctc:d 111:111 i lúdicos,' porém, diferente da brincadeira infantil, a brincadeira dos animais é
ptd:ttt'lria, do trabalho com poesias, músicas e desenhos infantis. TatTtbém dcst<ll':t •
instintiva. Contudo, como afirma Saccomani (2014, p. 82):

:u,t H''i pl'dagógicas com as literaturas, de uma maneira que as crianças tenhnm
1 nportu n idade de interagir com a história por meio de fantoches ou materiais há urna distinção que. para aquele~ que se dedi cam ao trabalho educati\'o,
qttt• tvprcsentem as personagens. em êspecial na educação infantil, merece atenção especial. As brincadei-
Na co mposição do primeiro ano de vida com a primeira infância, períodos ras dt)S animai::; têrn cunhn fundamentalmente se nsóricvmanipulatório.
1' 1 mst itu ídos pelas atividades-guia comunicação emocional di reta e objetal ma; En1 outras palavras, a agradabilidade da brincadeira, por exemplo, para
111 p11l a t'ória, que pertencem, respectivamente, ao sistema afetivo-emocional c o cachorro, consiste m.eramente na experiência sensorial~man ipularória,
llll l'll'ct Ual-cognitivo, temos o fechamento de uma época: a primeira infância. na qual o limite dessa manipulação é dado pela natureza da espécie. U ma
\hrv ·sc então a época da infância, que será constituída pelos períodos da idade criança pequena também pode realizar es~e tipo de atividade sensúrio-
jlll' t•scolar e idade escolar, tendo como atividades-guia a brincadeira de papéis ·manipulatória, que, entretanto, ::tinda não se caracteriza como brincadeira,
lltwi:l is c o estudo, constituídos pelos sistemas afetivo-emocional e intelectual- a qual é uma f(Hma e:;peci ficamente humana de atividade lúdica. Há que
t ' l ,Hil i1ivo, respectivamente. se ter dmo que nem tLtc.lo o que é chc:nnadl) de "bri1Kar", na cducaçJ.o
I )os 3 até por volta de 6 ou 7 anos, a atividade-guia será a brincadeira de i nfamil, merece de fato essa definição. Isso nos leva a afirmar que a crí<mçn
p.tp{·is sociais, também chamada de jogo protagonizado, jogo simbólico ou jogo abandonada em uma relação imediata con1 objctos, sem a intervenção do
1ll· papéis. O aparecimento dessa atividade, assim como as outras, está na depen- professor, pode c::;rar simplesmente em um ato sensorial-manipulatório.
,lt'lll ia da apropriação da realidade e a necessidade de superação do conhecido Isto é, tal como o animal não brinca, a criança pode não brincar se for
t.'ll\ direção a novos conteúdos. Se na atividade-guia anterior a centralidade estava al.ienada ele um processo de humanização.
11:1 man ipu lação dos objetos, na descoberta de suas funções sociais e na possibi;

Iit l:~d c de utilização dos objetos com outras finalidades , no jogo de papéis essas Portanto a brincadeira a que estamos nos referindo distancia-se fundamen-
,1propriações se inserirão em determinados contextos. Portanto a relação que a talmente de uma visão naturalizante. Como afirma Pasqualini (2013, p. 88), "O
nia nça tem com os objetos ao seu redor é fundamental para que ela desenvolva brincar de faz de conta é com grande frequência pensado como algo natural da
11 .1 1ividade de jogo de papéis. Assim, criança, como uma expressão de sua suposta natureza imaginativa,. Se pensado
ti\ /, U<W\ M MAIHING. ANC!iU O1\ AfJf~AN 1I~ O8. MfiWI UI\ Ct n IAC~W (OI l!l JWJDilAÇÃO IIIOTLli~IGO.iJJI TUItAl OU PI ·[ji ·NVltl VIMI Nl O P'II!Jllll t > \fi?

d t·~H: t lll:III Ci 1'11 1 l~li lltl I H ltl llltH I H Jntl:lll\ !1 I IH 1,.,,.,1 I'• ;dt lllllli 1\ j"ll'l ''l ll'i;t :ii IIII' I' j IIJI 11 ' " ll'ltllt l'l' Huzln lllt, 1\lit ht'lllt'll t'cHtl IHliH't'liHv Pl ll'l'os ohjt.•tos aos quais se dirige
1'1'1 11\'l'l
ll~t •-. 11 pl1:nn dt '.'H'IIVt dvi tlll'llltL n llllll Ht· l(ll'iHl'lll I H'MH IHI H l'lll'lh'lpttttll'H tlu Jogo. Sc l'lilivc:r com outras crianças, vai
d:~ lltnH (' lll: t ~H' ;to p:qwl dn l'Hculn dv dvHl'l 1\'olwr lll:tXli\11\IIH'I"t 1' ' 11
{ )t l :l lli ln IHt Ht'ltt' it :tr lintl lt\'ltcl cn tll vln:-. vtll l"lli' IH > de umn brincadeira comum.
1' 11 '' • llltlll itllos, JH'sHv pron·sHo inHvrv·s~· i\ hritH'Hdvirn. AHs ittt, ojo~~o dt~ ~'' '~"I N11 deHl' two lviliH' Ill n dos jogos simbólicos, as crianças lidam com situações
'~"'·' :H' IIIIIl't l' dvr1lro do :unhienlt' L'Sl'ol:u nno pode sn o IIH'SIIH 1 qttt: :t '11.11111 11 1v:tis l ' lt'tdi cas ao mesmo rcmpo (essa é uma terceira propriedade d o jogo pro,
111 1' 111 ~-it s:~, llil rllil ott t.•m tHit roH nmhienlL'S rom Hl.'liS l'OL'I i\11 cl>s. P:tnt 1 pH• 11 1:tgoll izado). Isso quer dizer que ao brincar as crianças assumem papéis lúdicos
lHII wi tdt•ll':t de l:tto promova dcscnvolvirnento, h:\ que li l.' l' ri<:il l'll\ <.'!lllltttdll , por meio dos quais estabelecem relações reais entre os participantes da brinca,
Sq~ ttnd o Pasqualini (20 11, p. 80), Elkonin afirma:
dl'i ra e com o seu contexto, o que exige ass imilar a linguagem de comunicação,
roordenar suas ações com as alheias e estabelecer ajuda mútua durante o jogo
,t 1111purtiincia tiL~ 11111 hum dired,>nanh:lltt 1 l'cdagt\gllt 1 para q111' a htllh ,, (M ARTI NS, 2013a).
de ira I'' l'>sa prn tno\\'t o d L'Senvolvimen to ps íq u iro c 111 ltlda :1 sua 1H •11'1 H it d1 Todo esse conjunto, devidamente qualificado, é altamente desenvolvimentista..
dadl· ~;\ pcrspcct i\·a do autor, a intL'r\'L'n~·iio do pn1fl'SSlll' pudv dar·Sl' '·"'''' para a cri ança. E, para além dele, ternos as atividades acessórias_ No período da
llél sc lv\·iio de tl'li\<IS para a brincadeira, qunnto na disll'ih lt i()n d11s l':qu'· t atividade-guia brincadeira de papéis sociais, têm grande destaque as atividades
t'nln· as crinnças e sugesn'lo/d efín ição dos <Kl~ssóri ns <1
"•
M.'rt' l\ l u t·ili:md''" de produção (modelagem, pintura, construção de objetos, recorte e colagem,
desenho etc.). Elas devem ser planejadas, inicialmente, com a utilização de
St• o professor intervém, enriq uece o universo simbólico presente no jogo dt• modelos (concreto ou por imagem), além de orientação quanto aos suportes,
p:lpt'• i:-; ! Nc:.;se se11tido, a centralidade desloca,se, nessa atividade, novan1ente p:u11 instrumentos e objetivo; sem modelos (mas mantendo a indicação de objetivos e

it tc lm,·ao criança,adulto social, pois o que impulsionará o jogo protagonizado {• :1 materiais); chegando à criação própria, na qual os materiais e ideias são de esco-
1c'llll ,tJ u ~·i'io [(td ica das ações do adulto (caráter semiótica- uma das propriedadvs
lha da própria criança. A idade pré,escolar, como afirma Martins (2013a, p. 70),
1.ln l11 incadeira de papéis sociais). Dessa forma, a criança toma parte em açoes
"representa um importante período para a preparação e para a construção da
"' ''' w rdadeiramente não poderia realizar, como dirigir, cozinhar, exercer uma atividade humana no rigoroso sentido do termo, ou seja, da atividade antecedida
prn lissao etc. Assim, a criança imita o adulto em atividade (MARTINS, 2013a).
por um planejamento". Além disso, é importante o uso da literatura, músicas,
Na h ri ncadeira de papéis sociais, a criança não apenas representa vários pa·
jogos de raciocínio, dança, jogos com regras, artes plásticas, jogos de movimento,
lll' i..,, mas també rn autorregula seu comportamento em razão do papel exercido.
ações envolvendo leitura e escrita, oferecimento de rico repertório de brinquedos,
l'c,,. t'Xl'mplo, duas crianças brincam de médico. A criança que realiza o papel do
esportes e jogos de dramatização e improvisação (Elkonin apud MARTINS, 2013a).
p:11'ivnte precisa esta r atenta aos comandos daquele que representa o médico. Seu
Muitas vezes, quando afirmamos que o jogo de papéis é a atividade dominan-
I'" pvl (· para ela, inclusive, menos prazeroso (afinal, paciente, por via de regra, ela jil
te, o leitor desavisado pode compreender que todo conteúdo deverá ser trabalhado
1, v lira r quieta recebendo as coordenadas do outro exige mobilização da vontade).
por meio do jogo protagonizado. Ora, tendo em vista d eterminado objetivo e
t~~ 1 l' tllnnto, o im portante na realização do jogo simbólico não é o prazer etT\ si,
conteúdo, há uma forma que é mais adequada, tendo em vista outro objetivo
I H 1IH1, que gera satisfação é a capacidade de cumprir adequadamente o papel 11 • A
e conteúdo, há outra fo rma que é melhor. Por isso i.n.sistimos que o objetivo e
rc·:d i7a,·ão do papel está relacionada a outra propriedade do jogo protagonizado:
o conteúdo condicio nam a forma. Desse modo, não é todo conteúdo que deve
;1 ti, >I ;t<;ão de argumentos c conteúdos das brincadeiras (M uKHINA, 1996).
• ser ensinado na brincadeira de papéis! Mas também trabalhamos a ideia de que
1: singular também nesse período que a criança não mais brinque sozinha.
podemos inserir no jogo simbólico as atividades de produção.
l':11~ ~ l..'xe rcer um papel, reproduzir determinado contexto, ela precisa do outro.
Diante do desenvolvimento dado pelas apropriações realizadas e acumuladas
e os saltos qualitativos resultantes desse processo, a criança tr ans ita novamente
I I i{qnoduzir um papel cm uma b ri ncadeira não significa, de mod o algum, ação mecânica, alienada
do sistema afetivo,emocional Uogo simbólico) para o sistema intelectual,cognitivo .
• 11 1 rl'prod utivista. A criação de uma nova realidad e (o n ovo) surge da compreensão do que é a

11:a lidade (o velho). Po rtanto as situações imaginárias e os papéis são abstraídos dn vivência concreta Se na brincadeira de papéis sociais ela apreende as atividades dos adultos e as
, la ( rianca. reproduz de forma lúdica, com o avanço de seu desenvolvimento não lhe é
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ljlll' Sl' l':'t dolllill:lllll' l'111'1'l' (1 1.' 10 í\J)OS (id ;HII.' l'Hl'<>i:ll') , pH<.'ll don 111 n ·i t 11 : ti q 1t: 11H lo 1 ~~. 11lllllll:-. d v lllll a p rim c ira s(• r il' do e m;i no l'u nd1111 H~ 11t·:ti
1\ :ti ivid :tdv <. k <.'SI udo, rwssc ro JH<..'Xlo, surg<.' no int<.·rinr d:t iii ivid :tdl' dt: jttgtt L'.lnhoram slntesL'S sohrc t r:th:dlt(l inh111til e diferen ças soci ais. Sut\S l'n las L' L'snint l'í
dt•11:tpt':is. Assim, <.'111 dado n1o1rH.:nto, l'tn virtut.k do prorl'sso <.'duc:1l ivo rc:di :11d1,, dcnwnstram capac idade de ex pressar um raciocínio lógico c "crítico" e rn n:I:I~':Hl
.1 .11 tvid:tdv d<.: jogo d e papé is j:\ não ofe rec<.: ma i:-; as prinrip:lis co l1di<;<><.·s parn 11
nos temas. Entretanto não significam o pleno exercício de pensan1e nto ahst rato,
dt•-.t• nvolvinwnto da crian~·a, e nesse se ntido a atividade d<.: estudo, como prudllltt que possibilitaria uma análise da lógica interna dos conteúdos em sw\ complv
,~õt-, ll'I : I ~'<><.'S socia is esta belecidas, toma luga r como atividade-guia. xidade. Vai daí a importância desse período (que atravessa os anos inicin is dt l
1\ <.' 111 rndn nn escola representa uma mudança muiro significa tiva, pois 1:.\ll!' cnsino fu nda rnental), em que a atividade de estudo poderá viabiliza r a SLIIX'ril\':11 >
d11 itHiivíduo un1a nova postura, de responsabilidade c autocontrole da co rHitll·n dos pscudoconceitos pelos verdadeiros conceitos (que terão seu exercício pknn a
'.tda wz mais co n1plexos. Trata-se de uma atividade reconhecida, va lorizada, partir da adolescência), por meio do ensino sistematizado dos conteúdos cl<1sskns,
l'! tlci: d por excelência, po is é por meio dela que o indivíduo assim ila <1 cultl ll':t sejam eles científicos, ar tíst icos ou filosóficos.
ht1111:111:1 de maneira cada vez mais sistematizada, porq ue se realiza , por um lado, Para en frentar o longo processo de estudo sistematizado, que está apenns s<.:
l' llt co ncordâ ncia com normas socialmente estabelecidas e, por o utro, pon.jliV iniciando nos primeiros an os do ensin o fundamental, o planejamento pedagógin >
vx igc :t subordi nação dos interesses individuais aos coletivos. Aliás, essa n.: l<l\'ito preCisa organizar,se em torno de métodos de estudo que en caminhem os sujeitos
111 111 a coletividade será fund amental para a nova mudança de período que est·:í em direção à independência n a organização das ta refas escolares; que ens inem ns

pu r vir, qual seja, a entrada na adolescên cia, a qual será abordada em segu id<t. alunos a ouvir explicações, observar ações, escrever anotações, elaborar si n tl'svs,
Por o ra, ainel a sobre a atividade de estudo, vale lembrar que as d istintas for expor ideias, fazer proposições etc.
111:1~ de pensamento (sincrético, por complexos e conceituai- M ARTlNS, 201 )b,
}() I k) desenvolvem,se mediante as apropriações de signos, que colocam nosso A cada acão. o aluno (.ksen\'olH: autoconrn1le da conLluta, dl:st.•m·nkl

p~iqu is mo e m movimen to, sendo a lingu agem o "signo dos signos", e, por sua suas funçôes p~icológicas (diante ~.ln~ exigências colocada~ pelas ati\'ilbdl''i

wz, entre a Iinguagem oral e a escrita existem d iferentes graus de complexidade. sistematizadas pelo ensinn - por isso não ser\'e qualquer conteúdo esltll.n'),

F importante compreen der e des naturalizar esse processo para salientar que forma sua personalidade- conH) re!'>ultado Lle ~eu Jesenvoh-imento -, l'lll

ll:to é a idade cronológica que garan tirá o pensa mento conce ituai. Assim, o suma: humaniza-se [M:\RSIOLIA , 2013, p. 7171.
;1dult·o não alfabet izado apresenta "diferen ças cultura is de pensamen to", como
j:'1 ilfirmou Luria (2012) em texto homônimo, n o qual apresenta experimen- A crian ça avança nos anos escolares estabilizando suas relações interpesson is
1os realizad os com adu ltos com d iferentes n íveis de instru ção e mostra que o e com o conh.ecimento (que progride a patamares cada vez mais complexos). Ao
pensamento prático (associad o à experiência imediata do sujeito) evolui e é final da infâ ncia, tem início uma n ova transição d e época, a adolescên cia, co m·
substituído pelo pensamento teórico à medida qu e o indivíd uo avan ça em sua posta d e períodos denominados adolescência inicial (lO a 14 an os) e adolescência
l'sço laridade. (14 a 17 anos), que correspondem às atividades-guia comun icação íntima pessoal
Nesse sentido, a atividade de estudo representa uma transição qualitativa e profissional/de estudo .
do desenvolvimento do pensamento por comp lexos em d ireção ao pensamento O adolescente ainda é fortemente valorizado pelo estudo (seus sucessos e
1<>nceitual. Os pseudoconceitos, última etapa do pensamento por complexos, são fracassos), e na passagem da idade escolar para a adolescência não "ocorrem
similares aos con ceitos em sua aparência externa, mas internamente ai nda equiva- mudanças substanciais em seu aspecto externo" (ANJOS, 2013, p . 107). Isso não
lvm a um complexo. Segundo Martins (2013c, p. 135), "na comunicação verbal da significa que o adolescen te seja igual ao sujeito escolar da época da infân cia, pois
rr iança com o adulto, a diferen ça entre o complexo e o conceito mostra,se tênue novas tarefas e motivos se apresentam. Na adolescência, ainda que a meta seja
o u, até mesmo, aparentemente inexistente". Isso porque os pseudoconceitos se tornar,se um adulto, que, portanto, continua uma referên cia (os adolescentes se

. ~
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\/iii IIWA M. MAI~liN!J, ANGI_I,OA1\i:IIV\N ILO &MAI~IIUA. I] O. FACGI!Oim) Pri~l(ll)llAGi\lllll I t)l~l{~ü - GUI I UH/\1 lj( I {J! l!l NVOINIMf;IHU PUIQt llt<

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"'' IIHHivltl ldt•a l dt• 1'111\ljHII'(lllll l' l\(1 1 - idv tll), 1\ l'l' l n,' ntl dill'l ll dnlldlllt.~MCl'l"ll!' 1 pl't•cl:·ttl llllidiHi tl' nllt lmlliiHI III t'l"ile :t qllnlid~ldl' dllS m;llTrinis pedagógicos com os
tplnlh ITnh:tll\1\ltltl~->, 11111'11 qlll ' ~wJ: IItt dv 1':11'0 npo ios para a formação do indivíduo
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1111!1 l'i t,'II H11-{t JlliH. I 1 IH 1r lltl'itl dt'SHII vivt'\ twi:l l't 1111 M'l IHnwl :11H't '~'~ llllt' 1''~ : td,,lt.~t-H 'I'tl
l• ~1i ltll'ttt:llll s tt l l~-> nl illldl's gt•mis sohrt• :1 vida, sohrv as jWSStliiS v n ftll\1111 1 tit~nd,, p:ll 'il si. V:unos tmlmlhnr ro 111 11 biografia de Beyoncé c lvete Sangalo ou de Rosa

,... '• t'tt'l 1\lol ivns par;t n t'Stlldo, pois "as disci plinas ntillisl:r;ld :ts 1111 t'M'Pin till'' I11 Xt.: mhurgo l' Jonna !)'Are?
vn l,ll·izml.,.., rn11ln1nw :t l'ulunt profissao" (idem, p. IOH). Outro aspecto irnportante é, como anunciamos anteriormente, a relação com
l l111 l1:1halho 1wdagúgico que não correspond:1 ao enriquerilt\l'IHn dn l'dtll 1 :1 ro lei ividade, que esteve presente desde a brincadeira de papéis sociais e se apri-

d1u l.'l•''d:tl dn adoksce rne pode levar, co n1 c1 explica Anjos (itkm, p. li S), morou na atividade de estudo. Agora ela se mostra essencial, pois se expressam
romo núcleo do desenvolvimento do indivíduo as indagações que ele faz sobre
an dcsprvzo dos conhL·cimctHns l'ÍL'ntífkos L' t(·rnit-us ptlt' cuttsld,:t·,tt·l'til a rea lidade com seus pares. Como explica Anjos (idem, p. 143):
que taislt>nhvcinwntns não têm significndo p r;itko. A vscula, dl'~1\l'I111Hiti,
dc\'C 1:1::cr 11 Sl' ll 11apcl para a formação da indi\·idu<1 lid<1tk p:tl';l ~ j, 1p1,d Elhmin ( 1960) enfatiza que o trahalhn pedagógico lle\'t: se pautar no grupo··
.... C(íl: prm lu : ir lt ccessidadl'S de conhecimento sistcmnti zadu IHls ah11111 adolescente, e não apl~rms n\1 indi\'íduo isub,.Lunenrc. Pois a opinião di.l~
addescentes sobre si 1ne~·nws e sohrl' suas l)ualícladc:-> coincide muis corn a
llllVI'l'SS<tnte notar que, apesar de o adolescente valorizar as disciplinas nHsll \'aluração que seus colegas fa zl'm du lj1\(' pensam seu::. país uu profe::;surcs.
l'l;tiHiu :1s ttll HCU caráter prático, não se deve interpretar a mudança do moi ivu A educação escolar, portar'lto, dt·,·e trabalhar suhre o grupo, poi~ o adoles-

d,, I'~"> ! lido como algo que minimiza o papel da educação escolar na forma,·:\11 cente \'éli agir Clmformc u grupo. A opinii'io social da coletividacle escolar

'
,1,, irHIIviduo. Ao contrário, a educação escolar mais que nunca precisa SU JWI'i\1 ndquire oma irnportânci:1 ::;i.~nific1ti\'H p:1ra os <hlnle-..cenres. A princípiu

,, 1111111llo empírico, as objetivações em si, pois "a ciência, a arte, a filosot'i:t l' ele se"~ "com os olho~ dc)s ourn)s". Portant\1, SL' o proces$o t:ducatíYu
, l, •nl:lls t.'~->kras de objetivações genéricas para si poderão ser apropriadas dt· estiver bem organizad() pelt) profcs:'(lr, serú um purenre rncio P<lra uma

l~tl ' nl : t :tpro(u ndada somente por meio dos conceitos, ou seja, somente a pari i1 educacão

desen\'oh-ente.

lht .1dnk·scê ncia" (idem, p. 113). Conforme afirma o autor, ao contrário de uma
vlrom11 naturalizante sobre a adolescência, esse período deve ser compreendido Se esse pertencimento não estiver ou for garantido, notaremos uma acomo·
ntlllt, lllll momento privilegiado para que o indivíduo entre em conta to com ns dação e apatia no adolescente que tipicamente naturalizamos, sem considerar,
' 'N I~· ~ ·: t s mais elevadas de objetivações do gênero humano. É nesse sentido, e peln aliás, a influência pedagógica exercida sobre esse "adaptacionismo" e o quão é
lllliHlrl:lncia que mantém o adulto na formação do adolescente, que a educação bem-vindo ao modo de produção capitalista que isso se concretize. Ademais, a
t'l;nllilr precisa superar a esfera do cotidiano e concomitantemente oferecer mo· desqualificação dos questionamentos dos adolescentes, com discursos com.o "todo
dt •l()s dv seres humanos mais desenvolvidos que o próprio adolescente. adolescente é aborrecente", "essa mania de 'reclamar' de tudo é natural nessa fase,
Lo..;s( >se expressa no relacionamento com adultos com comportamento posi- depo is passa", ou o próprio ato de ignorar as colocações desses sujeitos colaboram
l'i\'11 ljllt' estão no entorno do adolescente. Portanto, se o adolescente precisa de para a manutenção da sociedade capitalista, justamente no momento em que o
11111 111uddo de ser humano mais desenvolvido (o adulto), e se este se coloca em indivíduo já tem condições (como resultado de seu processo de desenvolvimento)
I'' tlv igualdade com ele, não lhe propiciará um salto qualitativo de desenvolvi- de analisar a realidade de forma conceituai e, portanto, mais complexa.
llll'llln. Além disso, o adolescente terá modelos que não são de sua convivência, Ao longo da adolescência (como época), a atividade-guia transita de comu-
aH'" q11ais terá acesso por meio dos conteúdos da escola, que lhe proporcionarão nicação íntima pessoal para profissional/de estudo, mantendo a necessidade
L'111 dwn: r "heróis de obras literárias, grandes homens da atualidade e do passado da educação escolar diretiva, intencional, planejada, que exija dos adolescentes
l wH11 1ico", nos quais se espelha por suas condutas e biografias como "imagens responsabilidade, projeto de futuro e modelo de adulto.
11tiH retas para a imitação" (Elkonin apud ~'\IJOS, 2013, p. 141 ). Vai daí a impor- No que diz respeito ao pedagógico, poderíamos afirmar que o processo de
llllll'i:t de refletirmos criticamente sobre quem é o adulto da sociedade capitalista? estudo, iniciado no período anterior, adequadamente desenvolvido e que pros·

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ltllr' lt'HHv pv l t~ rvn lid11d v l' ll poss ibilidad e dl' trnnsf() rll1 1í·lu I'11ZVIII (ou dl'vl! rÍ <I filzer) intuit·o ti L' cu tll:ittll ll l' rq"ll'rtl'1t'i;tt \\ ltt•Sl' d:ts prodt t\'tH.'S h iHI'(ll·iraHd :1 hum11t1id tld l'.
l 1 1111 tpi v t > HJow 11s p l't's lvm a te n ~·ão t'\s dcscobert::ts ckn tílk us, di seu ta ITl sob rc os Ocorre qu l!, il t'tl ltlp:lldl :lrHi u o s l'l lll Hls dn cdu c:1 ~·ao h:\sica, o ensino superi o r
111111 •. \'ilrimlos lvmas, como política, ciência, questões mo rais, arte etc. (Elkonin ve m mostrando-se cnd:1 vez mais esvaziado c minimamen te d csenvolvimen tistn
.11 111 111 l t\i'i\ 1{1:1 11, 2008), q ue devem ser categoricamente oferecidos pela escola e fo rmativo . Exemplo disso pode ser visto no com portamento de a lu nos d e
111.11' tn t• iu dt• sl! us co nteúdos de ensino. gradu ação e até mesmo de pós-graduação, que se ressen te m com aulas que con,
l"':tr:t tnnto, a o rganização da prática educativa para adolescentes deveria sideram muito "puxadas" (muito conteúdo), com muitas exigências (quantidadl'
I') l' l111. 11 · recursos como fe iras de ciências, excursões, grupos de estudo, exposi~ e complexidade de leituras e produção de textos, cumprimento d e calendá ri o,
1 ' " •,, 11:111 i <: ipa ~·ão c m even tos científicos etc. Esse tipo de plan ejamento implica ho rários etc.), "muita teoria e po uca prática", e assim por diante. N o enta nto,
dt·lt' ntlÍtl :ldils co nd ições de realização que se destinam à finalidade do ensino de sabem os também que há o reconhecimento de muitos deles de que esses mn i ~
, lt.• ll. ' t'lltlll:tdos conteúdos. Desse modo, as atividades extracurriculares 14 podem elevados graus de exigência são aqueles que melhor vão amparar o cx~.: rclt io
M1'!' :dt·.ltllt' tHc cn ri q uecedoras da educação escolar (MESQUITA, 2010). profissional, isto é, a colocação em prática de seus conhecimentos na n l tt :I\'Htl
Alt'' tll d isso, vale destacar que a escolha por uma profissão, inserida nesse profi ss io nall 5 . No caso da formaçã o de professores, esse esvaziamen to (sej:t 1\il
-
1111tu·sso, lo nge de ser algo aleatório ou da ordem de um "dom", está enraizada fo rmação inicial ou con tinuada) é altamente problemático, pois coloca tH>t\H..' I
t llt:, li H >ti vos, interesses e necessidades criados socialmente e determinados histo~ cado de trabalho aqueles que têm a responsabilidade sobre as novas gvr:l\'tH 'H t'
t'k: llliVtüe cn1 sua relacão '
com a insercão
'
dos indivíduos no mundo do traba lho. que pouco ou nada poderão oferecer a elas. Em outras palavras, esse prol'isH itl llld
está muito aquém do ser h umano mais desenvolvido que o aluno ll l'n':-.l'i it·n lt't

t' preciso não ~:•squecer qu e boa parte d os ado lescentes bras ilei ros ingressa como referência para sua formação .
nn mundo do trahn lho não tanto em d ecc)rrência de um processo de esco- Em relação à educação s uperior (aquela destinada ao aprofunda ml' t11 n dt• 111 11 11
lh<1 profissinnal, mas rnu i to rnais em funçfio da necessidade de obter um cultura geral pelos indivíduos), é preciso analisar: Que condições a M H ll'\ lnd t•
emprego e da:- alternativas concretas de emprego que se lhe apresentam. capitalista oferece para que se tenha acesso à cultura erudita? Tomemo:-; :q w 1' ·"" 111 11
Lt'\'ar em conta essas circu nstâncias é importante para não aclotarmns exemplo: uma família de qu atro pessoas, para ir ao teatro, poderá gas tai , ' '' 1 11111 :1 s
uma \'Ísào idealista no dehate sobre a importância da educação escolar entradas, em torno de quarenta por cento do salário mínimo de um 1r: tl ,~. d lt.td ol'?

na escolh a pwfis!'ional [A:\JOS, 2013, p . 145 ). Isso se a família for a pé, pois quem mora nos "bairros~dormitório" d ns g t ':t t ll l l~S
I cen tros tem precário sistema de transpor te, es pecialmente nos fin ai:-. dt• "''11\ :t ll:t.
l':t r:l finaliza r as observacões sobre o ensino na idade de transicão (adolescên~ Mas, para além disso, um indivíduo posto durante toda a sua trajl't t'll'llt t'M nlar
' '
' Lt), vvjamos a relação entre educação e trabalho, que no ensino médi.o torna~se diante do cotidi.ano, do desenvolvimento parco e empobrecido, tl' l":\ t:lllh li,oes
t•x plk ita c direta (SAVIANI, 2007). Essa relação que é da ordem teórico~prática de reivindicar essa ed ucação superior? Sequer será capaz de problemnl iznr· l ' M'llti r
,. :11'1irtd a (ou deveria) o processo produtivo com o conhecimento do qual nos falta dela? Como explica Martins (2013b, p. 276), nosso psiquismo tlvsvll vu lw,se
q lltlprra '
mos. no exercício qualificado de seu funcionamento
Segundo Facci (2004, p. 71~72), "A etapa final do desenvolvimento acontece
' l' li tlld t 1 o indivíduo se torna trabalhador, ocupando um novo lugar na sociedade". t 'J
por me io de atividad e:::, que as dctcrm.in enL Isso significa d tzt·r qttl' 11an
'
P1 ' 1' 1 ltlhcceremos, então, o ensino superior e a educação super i o r (SAVIANI, 2007). existe fun c:io
'
alheia ao ato Lle funcionar e à maneira pda
.
lltt.d ''" 11 ' i1 111<\.
I )n·nia haver, na vida adulta, uma unidade entre estudo c atividade produtiva Portanto, o grau de complexidade requerido nas açôe.., dP., i11d j,·hluo:-.
i. jllt', n o caso da primeira, desse a especificidad e da formação profissional do e a qualidad e das mediações disponib il izada& para sua l'"-l' l th;:t" n pre~
sen ta m os condicionantes primário:=; ele rodo desenvoki nh'tllu l'"'"'"cu.
1•1 S,,\'iani (2008b) explica a di fe rença entre os termos curricular e exrracurricul:n. O p rimeiro refere-
c :1qudas arividades q ue são essenciais. As arividades extracurriculares, po r sua vez, apenas fazem 15 Confira Saviani (2008a). O autor aborda a relação teoria c prática e seu sent ido 11.1 f111llla(ào •
111tido à medida que en riqu ecem as cu rriculares.
pro fissional-acadêmica.
PII~IODitACM) lll[rJ ól~t(JD (;Ut 'l UIV\1 iH1 1il l!l NVOI VIML 1tHOPliiUUICI l lêi
\f11 l 11(411\ M MM~ r lt~U. AlmLLO A AOIMNH'Ufi. MAI~ II IJA (4 I) I AG(;I {ütH~ I

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tlll\ 11 , '"

•illt ' lltlt•ll ~ t '\ l jtllll t' :1.<; l11':1h ilrtlttt.' l11 , l~t l·•,, t l't tld:l ,,,,III :1, 11 ' ''-"''"'' j lll l'tt ,, d:t l'H('tll lll: d l~ fH~ II I k- 111 1.' dn l·t'lllll'l lll l'lll ll\'1\ll d:t St>ril'd:td v, dt~ llllllll > qw• !" lll'll'ill
ll''lt ' lt\'ít lll.lltli d :1 ll'olll 'i llll :>:t! lll dtl~ I tllllll_' tlllll ' llf t l io ll ,l ~:dlllh ili '; l ttiht\ l' lll lg lt i dtl ,lll t •.
:tt i ' IHi v t' 11 t"l>doh,

llll ' lllt,' '1 11-l lt' l li ! III Z!Idc IS


Nvssc M:l)ild u, d v~H' tl Vl >lviii H' ill'll da vdlt l'<l ~' tl o l' , l'S PL'c il'ic:lllH' I\1 1' , d11
11
( )

VM'II III p(lhl ic;l, l' tlt 1':1 em vu tllr:tdi,·:lll co m as ex igê ncias it'lc rcnt L'S ;I suv ivd:tdv
I~ Clllll vssl' L'Xc rdcio qu alilka do do psiquis mo q uv :1 pvdagllgi:t hi:-.lt'H'Iu' dl.' clí\sscs de tipo ca pitalista" (id em, p . 256-257). O rn , se n esco la der :tn·s:-u :111
tn wn Ic dl· (111:d id:11 I
, .,.( 1 k: 1 sv ~.: ngaja, visando garanti r <:d ucação escola r vL· rd:td c ir<
s:dwr, n todos, com as mesmas co ndiçôes, o resul tado será a apro pri at,-·ao du :-.:tl n:1
ta mh('m pelos trabalhadores. Mas essa é uma contradi ção pa ra o capit :dis tll ll,
1 qtll', 1111id ivc lmcnte, te rú de recorrer aos vín culos entre teoria L' pr:'t tkill' llt tPd"
visto que u rna de suas premissas básicas é a apropri ação pri vad a dos nw in:-. dl·
1.· q11 ,dquvr n iw l c modal idade de ensino. Co nhecer a pe ri od iz;wüo do deM'IWII h I
produ ção, o que torna insuperável, n esse modelo d e sociedade, os res ult:~ d n1-1
II H' III ll l' uma das (e rrnmentas para que o professo r d irecio ne d<: nw do co nM'Íl'tllt
apresentados n o ENEM, que não pod erão garantir a todos os mesmos co nl w~ 1
,. d m ·to o pl nnejame nto de ensino e, ass im, pense e m açües pedag<')gic:ts qtl\
me ntos, no mesmo padrão de qualidade, em diferentes formas d a estrutur:t d11
,,1ljl't iw m desenvolve r os alunos em suas máximas pote ncialid ades.
sistern_a escolar (uma para os ricos e outra para os pobres).
Nosso objetivo neste capítulo foi contribuir com a reflexão sobre as rel:l\'l ws
entre a psicologia h istórico-cultural e a pedagogia histórico-crítica, probkm :ll i-
OS DeSAFIOS PARA O TRABALHO P€DAGÓGICO
zando-as com a finalidade de discutir a prática pedagógica. Entretanto, aind11
li ISTÓRICO-CRÍTICO
que saibamos das potencialidades que essas teorias têm. para pensar a ed u ra~' ill >

escolar, temos clareza quanto aos I imites de sua realização na escol:1 at u:tl ,
( ) s resul tados da edicão de 2014 do Exame N acio nal d o Ensino Ml''
' cunhada no modo de produção capitalista. Apesar disso, consideramos qtt l.' a
d 1n (ENEM) demonstraram a precariedade da form ação dos estudantes bras ilei ros
escola atual, limitadora do máximo desenvo lvimento humano, só pode r;\ Sl' t
l.' , mais preocupante a inda, revelaram que a média das n otas caiu em relação no
superada por uma nova organização social, da qual depende, dialeticame ntl', a
.II H> de 2013 (9, 7% em redação e 7,3% em matemática). Em red ação, dos ma i:-;
formação plena dos indivíduos. Assim, entendemos que cabe, neste mo rn e nt u
dl· :-.e is milhões de alunos que fizeram o exame, apen as d uzentos e cinque ntn
histórico, atuar nas condições existentes, do minando todas as ferramentas qll l'
. tl n 1n ~·ara n1 a n ota máxima (mil pontos), enquanto 529 .374 obtiveram nota
temos (como é o caso da periodização do desenvolvimento), para oferece r :1
"L· ro, o q ue corresponde a 8,5% daqueles que fizeram a prova. Se somarmos
melhor escola, o melhor ensino e a melhor educação, que proporcionern as
ru m os outros estudantes que tiveram notas até quinhentos, observaremos
condições adequadas para a superação do modo de produção capitalista. Em
lj l iL' m<1 is da metade dos alunos não conseguiram sequer ati.ngir um.a nota
última instância, advogamos (com práticas educativas iluminadas pela psicologin
q t1 c corres po ndesse a cinquenta por cento da n ota máxima. Portanto, esse é
histórico-cultural e pedagogia histórico-crítica) a formação de adultos e idosos qll l'
11111 exe mplo concreto dos desafios que temos pela frente no que se refere à dominem a cultura naquilo que ela tenha de mais ri co para que, assim, també111
l'Sl·o lnri zação da população brasileira. enriqueçam sua existência como seres humanos: aptos a construírem condiçôes
"No caso da sociedade atual, de caráter capitalista, é possível articu lar a objetivas de vida e capazes ele transformar aqui lo que precisa ser transformado .
l'Sl'ola com os interesses dos trabalhadores?, (SAVIANl, 2008a, p. 254). Essa
pngu n ta n os leva, como assinala o autor, a considerar a necessidade de
1'1:1nsfo rmação histórica da escola, que só é possivel se cmbasada em uma ReFeRêNCIAS
ll'lação teórico-prática formulada do ponto de vista da classe trabalhadora.
I ogo, somente com uma teoria pedagógica que estej a alinhada a esse objetivo ANJOS, R. E. O desenvolvimento psíquico na idade de transição e a formação da. individuaUclad('
t'· que poderemos co ncretizar a escola dos trabalhadores. Isso não significa que para si: apo rtes teóricos para a edu cação esco lar d e adolescentes. 2013. Dissertação
11

desejamos (como faz gosto o discurso pós-moderno) uma escola para trabalha- (Mestrado em Educação Escolar) - Universidad e Estadual Paulista } úlio de Mesquit<1
d o res, diferente de uma escola do campo, diferente d e uma escola dos negros, Filho", Araraquara, 2013.
Htft I IL·!IAM MAl( mm.ANOll O A fllli(ANH U&Mf\IW UA O I) I ALUI (OI<Ci) 111 ICI(ll_lllN~f\0 III[{] ÜICitO UJi llil~f\1 lllllll LIIIVOI /I MI NI 0 l'tilílllltO \i, I

\ tH 1, A.; M\ tt li N" , I . M. A t·tlttt' ttt;n,, ltd ittltllt• 11 ,.,,.,1 ,,,, (m, d ttltll•ttlt tl dt • ,, ,,,, 111H1 M·\ll'l ll·h, I , tvl l) 1111illl" ,, 11 tlr 'M' II\'td\'ll l ll ~ ttl tt d ,, ,-· t l tlii Çit d 1• Lt' l tlll ln'H ttllwi . lt t: A111 1' 1

1111.--- . (l ht~.). ~~1/t: ltl lt'lll ll lt.'t /ot /t! t!tl ,\ (lltlt' IIII t'dlltt l ~·do ill (tl llt /fl li ttl dt• ft'l-<1 1 d t 1 1\ l tl d, Ao~ M 1\ll l lNH1 I M . {ll tH) / •'fl,l ll tllir/11 rl!l\ /lt't /lll'llCI\ c/,• Zt'1'11 ti l'l'l'S ci iJ(I,\ , 2.. ~~~~ . ( :ll l llp l t ll tl'! l
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