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O PAPEL DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA EM NOS-

SA SOCIEDADE DE RISCO: EM PROL DE UMA


NOVA ORDEM DE RELAÇÕES ENTRE CIÊNCIA,
TECNOLOGIA E SOCIEDADE
Marcelo Valérioa
Walter Antonio Bazzob

RESUMO
O presente artigo retoma a discussão acerca do papel desempenhado pela ciência e a pela tecnologia
no contexto da sociedade contemporânea, buscando construir uma reflexão sobre seus impactos no modo
de vida humano. Faz uso de dois referenciais básicos – os estudos CTS (ciência, tecnologia e sociedade)
e a noção de “sociedade de risco” – para problematizar a necessidade e capacidade dos cidadãos influen-
ciarem e exercerem controle sobre as inovações científicas/tecnológicas. Reafirma a aproximação entre
CTS e “sociedade de risco” e insere a divulgação científica como ferramenta educativa imprescindível no
sentido de responder aos anseios desses referenciais. Pressupõe uma função educativa para a divulgação
científica e localiza-a na construção de um modelo social no qual as relações entre ciência, tecnologia e
sociedade precisam ser reconstruídas.

Palavras-chave: divulgação científica; sociedade de risco; CTS (ciência, tecnologia e sociedade).

ABSTRACT
This article synthesizes the discussion concerning the role that science and technology play in the
context of contemporary society, aiming at constructing a reflection on their impact in human way of life.
Two basic references are used: STS (science, technology and society) studies and the notion of ‘risk socie-
ty’. Issues concerning citizens’ necessity and capacity to influence and control scientific/technologi¬cal
innovations are discussed. This article stresses the connections between the STS movement and the
notion of ‘risk society’, placing the popularization of S&T as a much needed and essential educational
tool to attend the demands of these references. The dissemination of scientific information is, therefore,
seen as having an educational role, placed among the efforts towards building a social model in which the
relationships among science, technology and society need to be reconstructed.

Key-words: science and technology popularization; risk society; STS (science, technology and society).

INTRODUÇÃO sobre as quais se debruçar. E imprescindível por-


que se torna cada vez mais evidente a influência da
Chegamos a pensar, em muitas situações, que a C&T na nossa cultura1.
única solução para os problemas são de caráter cien- Ciência e tecnologia têm sido, sobretudo nas
tífico-tecnológico. Em suma, precisamos trabalhar o últimas décadas, elevadas a verdadeiros símbolos
fato de que mais ciência, mais técnica, não significa, dos tempos modernos. Responsáveis por renovar
necessariamente, vida melhor para todos. as esperanças e expectativas sociais em suas pro-
SANZ et al. (1996)’ jeções sobre o futuro, os novos “avanços” vêm sendo
encarados como ferramentas capazes de suplantar
O desafio de lançar uma reflexão sobre o papel qualquer problema com o qual podemos nos depa-
da ciência e da tecnologia (C&T) na sociedade con- rar e/ou criar. Contudo, é importante considerar que
temporânea é uma tarefa, ao mesmo tempo, infin- existem incertezas sobre a aplicabilidade e o acesso
dável e imprescindível. Infindável porque, ao invés a esses avanços, além do fato de que – quase sem-
de gerar respostas cabais, esse exercício reflexivo pre – eles ensejam riscos potenciais merecedores de
alimenta crescentemente o repertório de questões tanta atenção quanto seus pretensos benefícios.
a
Pesquisador. Mestre em Educação Científica e Tecnológica. Universidade Federal de Santa Catarina. Núcleo de Estudos em Genética Humana
(NUEG) - Centro de Ciências Biológicas: Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética - Campus Universitário – Trindade. 88010790
– Florianópolis – SC – 48 3331 6911. marcelov@ced.ufsc.br
b
Professor. Mestre em Ciências Térmicas e Doutor em Educação. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro Tecnológico: Departamento de
Engenharia Mecânica. Campus Universitário – Trindade. 46009. Florianópolis – SC – Fone 48 2319812 Fax 2341519. wbazzo@emc.ufsc.br

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A consideração dessas ressalvas tornou cres- sobre as práticas de C&T e seus frutos. A criação
centes os sentimentos de ceticismo e resistência de um público crítico e reflexivo parece só ser vi-
às promessas científicas/tecnológicas, mas parece ável pela democratização dos conhecimentos e,
haver ainda muito caminho a percorrer para que principalmente, dos valores que sustentam a C&T
se construa uma concepção crítica sobre o papel da em seus bastidores. E essa é uma tarefa na qual a
C&T na sociedade contemporânea. Atualmente, a educação científica e tecnológica constitui um com-
visão social corrente configura apenas uma repre- ponente primordial.
sentação caricaturada de C&T e que não se mostra Ilustrando tal cenário, a pesquisa de Vogt; Poli-
condizente com sua construção histórica. Ideais de no (2003) – até o presente momento a mais consis-
autonomia e neutralidade ainda são associados às tente investigação contemplando o cenário nacional
práticas científica e tecnológica, o que não possi- – dá conta de que mais de 97% dos cidadãos brasi-
bilita uma reflexão significativa sobre os impactos leiros crêem na importância da participação públi-
sociais de suas inovações2. ca em temas ligados à C&T. No entanto, somente
Vivemos dias de intensa interferência de ino- 7,4% manifestam possuir experiências efetivas de
vações científicas/tecnológicas no contexto social. engajamento. O principal obstáculo, sinalizam, não
As relações humanas são fortemente ressignifica- é outro senão a falta de conhecimentos suficientes
das pela influência desses aparatos e nosso cotidia- que lhes permitam inserir-se nessas discussões.
no é totalmente permeado por eles. Nosso futuro Nessa nova perspectiva, a divulgação da ciên-
se apresenta como fruto daquilo que a C&T nos cia e da tecnologia surge como importante ferra-
puder oferecer. E devemos reconhecer que a vida menta educativa. Inserida no âmbito social através
humana, tal qual admitimos, dificilmente poderia de uma ampla gama de meios de comunicação, fa-
ser imaginada sem considerar a presença e o signi- culta a si própria a possibilidade de atingir os mais
ficado social da C&T. diversos públicos, além da capacidade de fomentar
As últimas décadas evidenciaram ainda mais neste público a devida reflexão sobre os impactos
esse imbricamento entre ciência, tecnologia e so- sociais da C&T. Dessa feita, a divulgação coloca-se
ciedade. As recentes revoluções em áreas como a no contexto da educação científica e tecnológica e
computação, genética e automação, por exemplo, alia-se ao ensino formal na construção de uma so-
provocaram intenso impacto social, o que vem con- ciedade alfabetizada científica e tecnologicamente,
tribuindo para despertar o interesse público sobre capaz de refletir criticamente e de atuar a respeito
esses assuntos. dos assuntos de C&T em seu contexto.3
Esse interesse tem levado ao reconhecimento
de efeitos nefastos decorrentes da aceitação apres-
UMA NOVA CONJUNTURA DE
sada de inovações científicas/tecnológicas e, assim,
RELACIONAMENTO ENTRE CIÊNCIA,
tem reformulado – ainda que gradativamente – a
ingênua fé progressista na C&T que figura no âm- TECNOLOGIA E SOCIEDADE
bito social. O até então inabalável otimismo de- A racionalidade crescente no século XIX atingiu
sestrutura-se frente à exposição de significativos seu apogeu no século que seguiu, no qual se atrelou
riscos potenciais atrelados aos ditos avanços cientí- o conceito de desenvolvimento científico/tecnológi-
ficos/tecnológicos. co à noção de desenvolvimento humano. Durante
Nesse contexto de dúvidas e incertezas, esta é este período, o otimismo e a fé no progresso atra-
a resposta mais clara e evidente da influência so- vés da C&T construíram uma noção social dessas
cial exercida pela C&T: o crescente interesse públi- como provedoras do bem-estar comum (ANGOTTI;
co pela discussão e participação nas decisões sobre AUTH, 2001).
assuntos relacionados a elas. Essa nova atribuição O fato é que, ainda hoje, as pesquisas têm de-
dos cidadãos vem ganhando força e expressão nas monstrado que este modelo de percepção pública
diferentes partes do mundo e parece apresentar- sobre C&T persiste e que boa parte das pessoas lhes
se como imperativo de uma sociedade moderna – e confere todo o mérito pela condição humana atual e
que se quer democrática. Parcelas significativas de aposta nelas como principais esperanças para um
cidadãos estão deixando a perplexidade e inativida- futuro ainda “melhor” (VOGT; POLINO, 2003; NA-
de frente às ações da C&T na sociedade e galgando TIONAL SCIENCE FOUNDATION, 2004).
um posto de atuação e reflexão sobre as mesmas, Entretanto, tais investigações também ace-
construindo, assim, uma nova ordem de relações nam que essa concepção de credibilidade total à
entre esses espaços. C&T vem sendo desconstruída – ainda que paula-
Entretanto, essa nova ordem depende, para tinamente – nas últimas décadas (em especial após
concretizar-se, de que os cidadãos comuns – tam- II Guerra Mundial), com o maior reconhecimento e
bém chamados de “leigos” – tenham ampliado seu exposição dos riscos atrelados ao progresso cientí-
acesso a informações, em quantidade e qualidade, fico e tecnológico.

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A segunda metade do século XX tem as marcas capazes de reconstruir, inclusive, nossa noção de
desta exposição. O até então desconhecido “outro distância e de relacionamento interpessoal.
lado” da C&T tem abalado a crença no pretenso O fato é que esta nova e emergente ordem de
objetivo de bem-estar comum e exposto as possibi- relações entre ciência, tecnologia e sociedade tem
lidades de mau uso do conhecimento científico e da nos mostrado uma tendência de reaproximação en-
técnica. A partir deste momento, vem sendo criada tre as partes, na qual a última irá ecoar cada vez
uma nova postura pública em relação à C&T, na mais forte sobre as duas primeiras. E como já foi
qual fica claro que seus avanços, além de não bene- dito, esse padrão de mudança resulta justamente
ficiarem a todos, congregam, muitas vezes, efeitos da crescente inserção e impacto das inovações cien-
bastante indesejáveis. tíficas/tecnológicas no âmbito social; da onipresen-
Atualmente, as preocupações sobre o desenvol- ça da C&T em nosso cotidiano, conferindo novos
vimento científico e tecnológico e o uso de seus re- significados aos sentimentos e valores humanos,
sultados têm sido cada vez mais evidentes. Mais re- numa mostra do que parece ser a característica
centemente, contudo, novas facetas têm se somado mais marcante de nossos dias.
a esse o rol de questões: mais do que conseqüências A atual conjuntura de relacionamento entre
meramente técnicas, aspectos como a concentração ciência, tecnologia e sociedade aponta para impactos
de poder e riqueza, por exemplo, passaram também sociais cada vez mais profundos, modeladores das
a ser encarados como resultado de relações detur- relações e do comportamento humano. Mas como
padas entre ciência, tecnologia e sociedade. historicamente tem sido mostrado, não se pode dele-
Enfim, embora persista a concepção de que gar apenas aos cientistas e tecnólogos a competência
os benefícios da C&T são maiores que seus efeitos para ditar os rumos de toda uma sociedade. Caberá
nocivos, ainda assim parece haver realmente uma ao cidadão comum a tarefa de dizer que tipo de de-
mudança em curso. E ao que tudo indica, ela se di- senvolvimento científico/tecnológico é necessário e
rige no sentido de aproximar cada vez mais o públi- aceitável para, assim, aproximar – verdadeiramen-
co leigo das decisões a respeito de temas em C&T te – a prática de C&T de seu pretenso objetivo de
(VOGT; POLINO, 2003). melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas.
As palavras de Holton (1979) esclarecem como Finalmente, o empreendimento de formas de
esta mudança já vem se fazendo premente há pelo controle social da C&T constitui-se, além de uma
menos duas décadas do final do século XX. Segun- meta democrática, numa questão fundamental-
do este autor, deverá ser essa uma mudança não só mente ética. Somente a construção de mecanismos
do ponto de vista público, mas também no que diz que permitam aos cidadãos apropriar-se de infor-
respeito aos cientistas e tecnólogos: mações sobre C&T e inserir-se em contextos de to-
Os cientistas e os não-cientistas precisam ago- mada de decisões políticas poderá impedir novas
ra, certamente, também de um maior contato formas de exclusão social e, até mesmo, de escra-
com as discussões substanciais sobre o impacto vidão. Contudo, esse compromisso, em favor prin-
da ciência e tecnologia sobre os valores huma- cipalmente das futuras gerações, deve ser confia-
nos e éticos. A fuga da maioria dos membros do, mais do que às leis, à necessidade de evolução
de uma profissão para o alto empíreo, onde po- moral de nossa sociedade (GARRAFA et al., 2000;
dem trabalhar tranqüilamente em problemas BERLINGUER, 2004).
puramente científicos isolados da agitação da
vida real, talvez fosse adequada a uma fase OS “ESTUDOS CTS” E A NOÇÃO DE
anterior da ciência; no mundo de hoje, é um “SOCIEDADE DE RISCO”
luxo que não podemos sustentar (HOLTON,
1979, p. 217). Obviamente, antes de atingir o grande público,
Afirmações como essa, anteriormente restrita o intuito de avaliar e repensar o desempenho da
ao âmbito acadêmico ou a parcelas específicas da C&T e sua influência junto à sociedade se fez pre-
população, renovam-se em nosso tempo mediante sente nos domínios acadêmicos. Das diversas aná-
os estrondosos avanços da C&T no final do século lises que emergiram, sobretudo na área de filosofia
passado. Atualmente, os últimos avanços na área e sociologia, avultaram os “estudos CTS” e a noção
da biotecnologia, por exemplo, como os alimentos de “sociedade de risco”.
transgênicos ou a clonagem, mostraram-se profun- Os “estudos CTS” têm sua origem entre as
damente inseridos no tecido social, representando, décadas de 60 e 70 e definem hoje um campo de
no mínimo, alterações radicais na maneira como trabalho e docência em franca consolidação. Suas
concebemos nossa alimentação e nossas formas de abordagens são de caráter crítico, perante a tradi-
reprodução. Se considerarmos também as novas cional imagem essencialista da C&T, e de caráter
tecnologias do campo da comunicação, torna-se evi- interdisciplinar, por coincidir em disciplinas como
dente que num breve espaço de tempo C&T foram a filosofia, a história e a sociologia da ciência, além

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de relacioná-las com a política e a economia, por afetem de forma direta a vida cotidiana da socieda-
exemplo. Ocupam-se, primordialmente, em estu- de (DONAS, 2004).
dar a dimensão social da ciência e da tecnologia, Bastante interessante e provocativa, e sob o
tanto do ponto de vista de seus antecedentes como mesmo foco de análise, encontramos a noção de “so-
de suas conseqüências (CEREZO; LUJÁN, 2000). ciedade de risco”. O termo foi cunhado em 1986 pelo
Para os estudos CTS, como apontam Bazzo et sociólogo alemão Ulrich Beck, tendo se popularizado
al. (2003a), se é consenso que não há crescimento cada vez mais por sua contemporaneidade. O autor
ou desenvolvimento se estes não estiverem alicer- faz uso desse conceito para explicar as característi-
çados em avanços científicos e tecnológicos, deve cas da alta modernidade, na qual a radicalização de
ser igualmente consensual que esses processos de- alguns princípios traz riscos principalmente à saúde
vem estar necessariamente atados com questões humana e ao meio ambiente. Esses riscos passam
sociais e culturais contextualizadas. a ser apontados como componentes centrais das so-
Pode-se dizer que esses estudos caracterizam- ciedades contemporâneas, não apenas como mais
se por reconhecer a complexidade da relação entre a uma das faces do avanço científico/tecnológico. Para
tríade ciência, tecnologia e sociedade, propondo-se a Beck, a sociedade industrial moderna, fundada so-
analisar suas recíprocas influências de forma a supe- bre as disputas das riquezas socialmente produzi-
rar a ingênua aplicação da clássica relação linear en- das, é substituída por uma sociedade que precisa ad-
tre elas. Suas análises visam extrapolar a tradicional ministrar a produção social dos riscos (BECK, 1992;
e fragmentada dimensão acadêmica e colocam o pro- MARTIONS; GUIVANT, 2003).
cesso tecnocientífico no contexto social, defendendo, A caracterização da sociedade de risco conta
assim, a participação democrática na orientação do também, por parte de seu fundador, com um impor-
seu desenvolvimento (BAZZO et al., 2003b). tante questionamento dos princípios da ciência e
Em corrente expansão, as abordagens CTS vêm da tecnologia moderna. Dessa ótica, vivemos numa
ganhando espaço principalmente nos países peri- sociedade de risco por conta de nossa cultura in-
féricos, justamente onde as concepções sobre C&T dustrializada e da contínua inserção de inovações
parecem ainda mais deturpadas – e isso é bastante científico/tecnológicas em nosso meio social. Essas
animador. No caso dos países ditos “desenvolvidos” inovações têm criado, constantemente, novas for-
já é possível, inclusive, reconhecer diferentes dire- mas de risco e impõe uma periculosidade qualitati-
cionamentos dos estudos CTS. Como nos expõem vamente distinta da que vivemos no passado. Esses
Bazzo et al. (2003b), pode-se reconhecer a existên- riscos seriam danos (potenciais ou reais) aos quais
cia de duas tradições de estudos CTS: a primeira estamos nos submetendo por conta de nossa rela-
delas é a norte-americana, que enfatiza questões ção com C&T, e que estão sendo democraticamente
de cunho social, prioriza a influência da tecnologia distribuídos já que não respeitam fronteiras de paí-
e caracteriza-se por questões éticas e educacionais; ses ou de classes (CEREZO; LUJÁN, 2000).
por outro lado, a tradição européia confere maior Nesse contexto de ressignificação das relações
importância aos fatores sociais antecedentes, pos- entre ciência, tecnologia e sociedade, na qual os
sui um caráter mais teórico e descritivo e caracte- riscos se fazem mais importantes que os preten-
riza-se por reflexões sociológicas, psicológicas e an- sos benefícios científicos/tecnológicos, incorpora-se
tropológicas. compulsoriamente o modelo de sociedade que vive
Não obstante as possíveis diferenças, importa sob um processo que Beck chama de “moderniza-
que os estudos CTS sejam entendidos como uma ção reflexiva”. Resultante da sociedade de risco,
área onde a preocupação fundamental é tratar ciên- a modernização reflexiva consiste na tomada de
cia e tecnologia na perspectiva de suas relações, consciência por parte do público das relações entre
conseqüências e respostas sociais. Assim, confere- ciência, tecnologia e sociedade. Sua finalidade é o
se um caráter de atualidade a esta referência, de aparecimento de mecanismos para minimizar os
forma que ela responde aos anseios de composição efeitos de viver num estado de incerteza, o que vai
de uma sociedade democrática, que considera as certamente ao encontro da necessidade de partici-
repercussões da C&T e se propõe a construir estru- pação pública defendida nos dos estudos CTS.
turas para orientá-las. Dessa forma, mesmo contando apenas com
Em sua dupla faceta, de movimento de partici- uma breve apresentação desses referenciais, faz-se
pação social e estrutura acadêmica, as abordagens inegável a possível aproximação entre seus ideais.
CTS resumem um exemplo de uma dinâmica so- Ambos versam sobre a problemática em torno do
cial de crescente aceleração, orientada à criação de relacionamento entre ciência, tecnologia e socieda-
uma consciência sobre temas de C&T. Tal dinâmi- de e ocupam-se em apresentar de que forma essas
ca se mostra possível mediante o direcionamento influências recíprocas têm contribuído para cons-
e o controle social da investigação científica e do truir nosso modelo de sociedade atual.
estabelecimento de planos de ação específicos de Os estudos CTS e a noção de sociedade de risco
participação cidadã em assuntos tecnológicos que encontram-se diretamente ao reconhecer a urgente

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reavaliação do papel da C&T na vida dos cidadãos. (2002) e Souza (2004), não restam mais dúvidas
Como comentam Cerezo e Luján (2000), essa sinto- de que o exercício da cidadania exige agora muito
nia ressalta a necessidade da participação pública mais do que podem oferecer os saberes formaliza-
para uma adequada gestão dos riscos na sociedade, dos nas disciplinas escolares. Outros autores, como
ou seja, se levados a cabo, seus pressupostos nos Argüello (2002), têm sido enfáticos em afirmar que
apontam a necessidade de que se crie publicamen- as escolas não educam em ciências e muito pobre-
te uma capacidade crítica e reflexiva para avaliar mente divulgam seus resultados. Considerando,
a prática e os frutos da C&T, sendo esse o alicerce assim, a precariedade do ensino formal em ciên-
para um novo modelo de sociedade, onde a partici- cias, somada à diminuta parcela do tempo de vida
pação e o controle público sobre C&T surgirão como que um cidadão dedica a sua formação através de
imperativos. instituições oficiais de ensino, sobretudo no Brasil,
percebe-se a urgência de que haja políticas e estra-
tégias pedagógicas que efetivamente contribuam
O PAPEL DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
para a educação pública em ciências por meio de
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA
experiências fora do ambiente escolar.
ORDEM SOCIAL Este ensaio vem destacar o papel da divulga-
Durante o século XX, a busca e as implicações ção científica como ferramenta educativa, inserida
dos avanços técnico-científicos ficaram a cargo de no contexto mais amplo da educação pública e dota-
uma elite, uma comunidade de experts a quem se da de um potencial ímpar para atender aos anseios
delegou o poder de gestão do futuro. Os excluídos de uma sociedade que começa a reconstruir a sua
foram essencialmente os cidadãos leigos. Contudo, relação com C&T.
há um notável crescimento dos mecanismos desti- Entendida como um acervo de práticas no cam-
nados a envolver ativamente o público, tendo como po da comunicação, a divulgação científica deve
pano de fundo o ceticismo em relação ao desempe- propor a exposição pública (ou vulgarização) não
nho científico e tecnológico (EINSIEDEL, 2003). só dos conhecimentos, mas dos pressupostos, valo-
As pessoas, ao se conceberem como integran- res, atitudes, linguagem e funcionamento da C&T,
tes de uma sociedade e se tornarem cientes de que fazendo uso, para tanto, de uma ampla gama de
progridem conjuntamente com o desenvolvimento meios disponíveis, dentre os quais a museologia (de
desta, entenderão melhor que, mesmo em parte observação e interativa), a dramaturgia (no teatro e
submetidas e condicionadas pela crescente utili- televisão), a literatura e o jornalismo (de televisão,
zação da C&T em seu meio, suas vidas não estão rádio e mídia impressa), além de outras iniciativas
irrevogavelmente predeterminadas pela lógica ine- menos usuais (como os cafe scientifique, realizados
vitável, às vezes perversa, do desenvolvimento tec- primordialmente na Europa). A conjunção entre
nológico (ANGOTTI; AUTH, 2001). essas premissas práticas da divulgação científica e
As afirmações acima se somam aos argumen- da diversidade de veículos pelos quais opera é que
tos até aqui apregoados e reafirmam a concepção confere a qualidade de recurso imprescindível na
de que exista um novo ordenamento para a dialé- educação pública em ciências.
tica entre ciência, tecnologia e sociedade. A pers- No entanto, importa reconhecer que as práticas
pectiva de futuro aventada nos estudos CTS e pela de divulgação científica, assim como o arcabouço
noção de uma sociedade de risco gera também uma teórico a seu respeito, ainda se encontra em via de
reflexão sobre o conceito de cidadania, que conta, consolidação, tornando difícil identificar esse com-
agora, com novos significados numa sociedade bali- promisso educativo na maior parte das iniciativas.
zada por C&T. O exercício pleno da cidadania pas- A divulgação científica, tal qual é pensada
sa hoje, pela motivação e capacidade dos indivíduos e praticada atualmente, congrega uma série de
de se envolverem em decisões sobre os rumos da questões problemáticas, dentre as quais a maneira
sociedade, um desafio no qual compreender e refle- como concebe e contempla as inovações em C&T.
tir a prática científica/tecnológica se faz preponde- Até o presente momento, a maior parte dos veículos
rante. de divulgação científica tem se preocupado pouco
Neste ponto do discurso enxerga-se à premên- com a sua dimensão educativa e, assim, não con-
cia com que se possa contar com uma educação tribuem significativamente com a formação em seu
científica e tecnológica de qualidade, não apenas no público de uma visão crítica sobre C&T.4 Em ge-
âmbito formal de ensino, mas em todos os espaços ral, são poucas as iniciativas que têm considerado
sociais onde o caráter pedagógico se faça conside- esse potencial da divulgação e, infelizmente, essa
rar. Conforme argumenta Donas (2004), trata-se de tarefa tem ficado a cargo daquelas que possuem
adaptar os objetivos educativos às novas necessi- menor inserção social, como os museus interativos
dades e demandas de uma sociedade em transfor- de ciência, por exemplo. Já em outros instrumen-
mação, sob pena de zelar pela manutenção de um tos de comunicação social de massa, como é o caso
sistema educativo em degeneração. Para Gaspar da televisão – que representa a principal fonte de

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informação em C&T para os europeus (~60%) e Podemos, por meio desse pressuposto, ver agora a
norte-americanos (44%)5 –, o que se tem é, quase posição destacada que possui a divulgação científi-
sempre, uma noção bastante simplificada da prá- ca no contexto dos estudos CTS e na construção de
tica científica/tecnológica. Na maioria dos casos, os uma sociedade de risco.
temas em C&T são tratados de maneira bastante Fundar uma sociedade com discernimento crí-
descontextualizada e pouco reflexiva, fazendo per- tico e capaz de fazer inferências nas relações entre
durar a ultrapassada concepção de superestima e ciência, tecnologia e sociedade é uma premissa e,
otimismo cego na C&T. ao mesmo tempo, um anseio desses referenciais.
Paradoxalmente, Dorea e Segurado (2000) de- O desafio da educação aponta como emergencial o
finem como os meios de comunicação de massa tor- compromisso de alfabetizar científico-tecnologica-
naram-se fundamentais na nossa sociedade, carac- mente o público numa perspectiva ampla, em dire-
terizando-os como o “quarto poder”, sobretudo por ção ao que Jenkins (1997) chamou de “entendimen-
sua capacidade de produzir modos de vida e dinâ- to funcional da ciência”. Assim, deve-se repensar a
micas sociais. Segundo essas autoras, a mídia des- função social das práticas de divulgação científica,
taca-se como um potente disparador de processos considerar sua dimensão educativa como primor-
de subjetivação, porque investe como ninguém no dial e, também, fortalecer sua relação com o ensino
cotidiano de cada indivíduo, podendo adequar com- formal de C&T. Estaremos, então, colocando-a em
portamentos e maneiras de pensar de acordo com posição de destaque na construção dessa nova so-
seus interesses. Assim, faz-se necessário e premen- ciedade.
te que a divulgação científica passe rapidamente a Sabe-se, entretanto, que ainda estamos longe
contemplar tais capacidades. de manter uma divulgação científica de qualidade
Não obstante, há verdadeiramente uma di- e que atinja amplos setores da nossa população (no
mensão ética a ser considerada na divulgação cien- Brasil, sobretudo) (Massarani et al., 2002).
tífica: a circulação das idéias e dos resultados de E a dimensão deste problema pode ser percebi-
pesquisas é fundamental para avaliar o seu impac- da nas palavras de Fausto (2002): “A atividade apa-
to social e cultural, como também para recuperar, rece como uma espécie de meio-termo desengonçado
por meio do livre debate e confronto de opiniões, entre a pesquisa de ponta (que deveria nos conduzir
os vínculos e valores culturais que a descoberta do ao primeiro mundo) e a educação de base (que deveria
novo, muitas vezes, rompe ou fere. Nesse sentido, nos salvar de nossa própria miséria)” (2002, p. 208).
a divulgação não é apenas página de literatura, na Entre os principais fatores que brecam ou re-
qual as imagens encontram as palavras (quando primem o ideal de divulgação científica aqui descri-
as encontram), mas exercício de reflexão sobre os to poder-se-iam citar a ainda deficitária formação
impactos sociais e culturais de nossas descobertas profissional dos divulgadores (geralmente jornalis-
(CANDOTTI, 2002). tas) para lidar com temas de C&T; o desinteresse e
Tais argumentos têm apontado a urgência de até repulsa de boa parte dos cientistas/pesquisado-
que a divulgação científica assuma seu papel como res em relacionar-se diretamente ao público leigo; a
ferramenta fundamental na formação dos cida- carente formação educacional básica desse público
dãos. Como sinalizado anteriormente, seu poten- (principalmente em países periféricos como o Bra-
cial formativo e a inserção social de seus veículos sil); sua diversidade cultural em relação à C&T; a
colocam-na em posição destacada na construção de insuficiência do compromisso social das instituições
uma nova ordem de relações entre ciência, tecnolo- de pesquisa; a insólita vinculação entre mídia e in-
gia e sociedade. Uma possibilidade que se abre, e teresses corporativos e, principalmente, a limitada
que se faz indispensável, é a da aproximação entre valorização do potencial educativo da divulgação.
a educação científica e tecnológica formal e os espa- Reconhecidos os entraves, consolidar e melho-
ços de divulgação científica, tornando possível uma rar a divulgação científica como instrumento de
complementaridade de ambos em prol da formação reflexão sobre ciência e tecnologia e, além disso,
de cidadãos conscientes e atuantes no novo modelo ampliar seu alcance para torná-la verdadeiramen-
de sociedade que se deseja. te democrática tornou-se um dos maiores desafios
Como já exposto, há, certamente, uma deman- da atualidade. Mas essa é uma tarefa que só será
da pública por informação em C&T. O atendimento viável se transformada num processo coletivo su-
a esta demanda deve possibilitar formar uma so- ficientemente amplo, que envolva instituições de
ciedade capacitada a analisar criticamente as re- pesquisa, universidades, comunicadores, cientis-
lações entre ciência, tecnologia e sociedade e, futu- tas, educadores, estudantes e o próprio público em
ramente, predisposta a redimensionar a influência geral (MASSARANI et al., 2002).
da sociedade na atividade científica e tecnológica.

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CONSTATAÇÕES FINAIS Mas, para isso, é primordial que se perceba


como a inserção da C&T na cultura tem influen-
Nunca, talvez, a frase feita – exercer o controle
sobre a tecnologia e pô-la a serviço dos seres
ciado nosso modelo de sociedade e ressignificado
humanos – teve tanta urgência de virar fato continuamente todo nosso modo de vida. Moderna-
quanto hoje, em defesa da liberdade mesma, mente, o exercício de uma cidadania plena exigirá
sem a qual o sonho da democracia se esvai novas capacidades: agora, informar-se, analisar
Paulo Freire
criticamente, refletir e decidir sobre todos os as-
Com essa assertiva do mais importante edu-
pectos da nossa cultura cientificada e tecnocrática
cador brasileiro, torna-se possível retomar o ideal
emergem como atribuições das quais não podere-
de que um certo controle democrático sobre C&T
mos prescindir.
não é só desejável, mas inevitável. A partir disso, a
Deve-se considerar, assim como Donas (2004),
conclusão a que se pode chegar é a mesma encon-
que não são poucas as vozes críticas que têm assi-
trada por Kneller (1980), de que somente um públi-
nalado que são os meios de comunicação que real-
co científica e tecnologicamente informado poderá
mente desempenham este papel na sociedade, que
debater as múltiplas ramificações da C&T na vida
são eles os que exercem uma influência real e deci-
cotidiana, sem ceder a um otimismo superficial ou
à hostilidade frenética. siva na formação das novas e atuais gerações.
A regulação externa do empreendimento cien- E é nesse novo contexto que uma divulgação
tífico e tecnológico torna urgentemente necessária científica de qualidade se faz urgentemente neces-
uma cidadania mais científica e tecnologicamente sária. Suas potencialidades destacam-na como ins-
esclarecida e também a exigência da criação de trumento reflexivo sobre as relações entre ciência,
meios institucionais para algum tipo de controle tecnologia e sociedade. Responsabilizando-se por
democrático de C&T, tarefa esta que não deverá democratizar os saberes e valores da C&T, promo-
ser fácil – principalmente por se chocar com pode- ver uma alfabetização cientifica/tecnológica numa
rosos interesses – e está apenas começando a ser perspectiva crítica e fomentar a inserção política
empreendida. dos cidadãos nas tomadas de decisão, a divulgação
Ainda assim, pensar hoje na existência humana adquire agora uma importância ímpar na constru-
sem considerar a representatividade dos artefatos ção de uma sociedade democrática e que recoloca a
científicos/tecnológicos é irrelevante. Sem dúvida, C&T ao seu favor.
nossa existência é dependentemente sustentada pela
existência desses aparatos, e nosso modo de vida re- AGRADECIMENTOS
flete a onipresença da C&T na sociedade. Embora
vivamos nossos cotidianos mergulhados na perplexi- Do autor Marcelo Valério à Coordenação de
dade, ou no “sonambulismo tecnológico” como argu- Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
menta Winner (1987), reconhecidamente C&T fazem CAPES, pela bolsa de fomento que torna possível a
cada vez mais parte do nosso dia-a-dia. dedicação integral às atividades da pós-graduação,
Importa dizer que não se pretendeu, em mo- período no qual este trabalho foi desenvolvido.
mento algum deste trabalho, criticar de maneira
pejorativa a C&T. Pelo contrário, reconhece-se sua
REFERÊNCIAS
importância na construção de nossa sociedade: vi-
vemos mais e melhor por conseqüência de inovações AMORIM, L; MASSARANI, L. Jornalismo científico:
científicas/tecnológicas, cujos aparatos significam, um estudo de caso de três jornais brasileiros. In:
muitas vezes, facilidades e benefícios para o su- ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM
cesso de nossa existência. Porém, por conta dessas EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, V. Anais... Bauru: CD-
mesmas inovações, vivemos também num contexto ROM. 11p. 2005.
de incertezas e dúvidas: os benefícios da C&T difi- ANGOTTI, J. A . P.; AUTH, M. A. Ciência e tecnologia:
cilmente se fazem democratizados e, assim, ense- implicações sociais e o papel da educação. Ciência &
jam possibilidades de dominação econômica e cul- Educação, v. 7, p. 15-27, 2001.
tural; seus riscos, pelo contrário, atingem a todos e
associam-se a mazelas sociais insustentáveis. ARGÜELLO, C. A. A ciência popular. In: MASSARANI,
O que este ensaio defende, então, é a constru- L.; MOREIRA, I. C.; BRITO, F. (Org.). Ciência e
ção de uma massa pública crítica, capaz de ava- público – caminhos da divulgação científica no Brasil.
Rio de Janeiro: Casa da Ciência/UFRJ, 2002. (Série
liar o impacto da inserção social das inovações em
Terra Incógnita).
C&T, e a contribuição que a comunidade científica
pode conceder a esse ideal. As possibilidades para AULER, D.; DELIZOICOV, D. Alfabetização científico-
a interferência e o controle público sobre a prática tecnológica para quê? Ensaio – pesquisa em educação
científica/tecnológica colocarão ambas a serviço da em ciências, v. 3, n. 2, dez. 2001.
sociedade – e não mais o contrário –, redimensio- BECK, U. Risk society: towards a new modernity.
nando, assim, as relações entre essas partes. London: Sage Publications, 1992.

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38 O PAPEL DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA EM NOSSA SOCIEDADE DE RISCO: . . .

BAZZO, W. A.; PEREIRA, L. T. V.; LINSINGEN, social dos riscos: o caso Brasil. Relatório final de bolsa
I. V. Inovação tecnológica ou inovação social? In: de pesquisa de iniciação científica (PIBIC 2002/2003).
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENSINO DE Florianópolis: Departamento de Sociologia e Ciência
ENGENHARIA, XXXI. Anais... Rio de Janeiro: CD- Política; Centro de Filosofia e Ciências Humanas;
ROM. 9p. 2003a. Universidade Federal de Santa Catarina, 2003.
BAZZO, W. A. et al. Introdução aos estudos CTS MASSARANI, L.; MOREIRA, I. C.; BRITO, F. (Org.).
(Ciência, Tecnologia e Sociedade). Cuadernos de Ciência e público – caminhos da divulgação científica
Iberoamérica. Madrid: OEI, 2003b. no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência/UFRJ,
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Editora UnB, 2004. NATIONAL SCIENCE FOUNDATION. Science and
CANDOTTI, E. Ciência na educação popular. In: Engineering Indicators. Arlington: VA, 2004.
MASSARANI, L.; MOREIRA, I. C.; BRITO, F. (Org.). SANZ, M. A. et al. Ciencia, tecnología y sociedad.
Ciência e público – caminhos da divulgação científica Madrid: Editorial Noesis, 1996.
no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência/UFRJ, VOGT, C.; POLINO, C. (Org.). Percepção pública da
2002. (Série Terra Incógnita). ciência: resultados da pesquisa na Argentina, Brasil,
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la sociedad del conecimiento. Revista Internacional Gedisa, 1987.
Interdisciplinas INTERthesis, v. 1, n. 1, 2004. Disponí-
vel em: http://www.interthesis.cfh.ufsc.br Acesso em:
8 out. 2004. NOTAS
DOREA, G.; SEGURADO, R. Continuidades e 1
Reconhecido todo o peso explicativo deste termo, não nos inte-
descontinuidades em torno do debate científico. São ressa ampliar aqui a discussão sobre seu significado conceitual.
Paulo em Perspectiva, v. 14, n. 3, p. 20-25, 2000. Contudo, pretende-se que cultura seja aqui entendida como o
modo de vida humano em nossa sociedade global; uma visão de
EINSIEDEL, E. Vozes dos cidadãos: participação mundo que se constitui em modelo para nossas ações e compor-
pública na área de biotecnologia. Ciência & Ambiente, tamentos enquanto indivíduos desta sociedade.
2
O uso aqui proposto do termo “inovação” enseja o desafio de en-
v. 26, p. 115-128. 2003. tendê-lo numa dimensão não apenas técnica, mas considerando,
FAUSTO, C. Entre ciência e educação. In: MASSA- sobretudo, seu caráter social. A esse respeito, o artigo de Bazzo
et al. (2003a) traz uma significativa discussão sobre a distante
RANI, L.; MOREIRA, I. C.; BRITO, F. (Org.). Ciência relação entre o que os autores chamaram de “inovação tecnoló-
e público – caminhos da divulgação científica no gica” e “inovação social”.
Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência/UFRJ, 2002. 3
A noção de alfabetização científico-tecnológica (ACT) aqui as-
(Série Terra Incógnita). sumida vai ao encontro das propostas de Fourez (1997) de uma
ACT de sentido amplo, e Auler e Delizoicov (2001) de ACT numa
FOUREZ, G. Alfabetización científica e tecnológica. perspectiva ampliada. Longe de compor uma ingênua ferramen-
Buenos Aires: Colihue, 1997. ta mecânica de “letramento”, constitui-se numa prática que visa
conceder autonomia para a tomada de decisões; a capacidade
FREIRE, P. Pedagogia da esperança: um reencontro de comunicação sobre temas em C&T e o domínio e responsa-
com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e bilização em face de situações concretas do cotidiano; permitir
a compreensão sobre as interações entre ciência, tecnologia e
Terra, 1992. sociedade; ensinar conceitos científicos num contexto que sugi-
GARRAFA, V.; COSTA, S. I.; OSELKA, G. A bioética ra o desvelamento de mitos vinculados à C&T e proporcionar
o reconhecimento e discussão sobre a dinâmica de produção e
no século XXI. In: GARRAFA, V.; COSTA, S. I. A apropriação do conhecimento científico e tecnológico.
bioética no século XXI. Brasília: Editora UnB, 2000. 4
Em trabalho recente, Amorim e Massarani (2005), pesquisando
p. 13-23. três dos maiores jornais brasileiros, ilustram este argumento ao
mostrar que a informação sobre C&T dificilmente é encontrada
HOLTON, G. A imaginação científica. Rio de Janeiro: com um sentido mais amplo, ou seja, ligada a cultura, política,
Zahar, 1979. economia e/ou questões sociais. O que esses autores constata-
ram, pelo contrário, foi a existência de uma cobertura quase
JENKINS, E. Towards a functional public caricaturada ou ingênua do que realmente representa o desen-
understanding of science. pp.137-150 In: LEWINSON, volvimento científico-tecnológico.
R.; THOMAS, J. Science today: problem or crisis?
5
Esses e outros dados de extrema relevância sobre “percepção
pública da ciência e tecnologia” estão muito bem organizados
London: Routledge, 1997. no relatório produzido pela National Science Foundation (2004)
KNELLER, G. F. A Ciência como atividade humana. intitulado Science and engineering indicators (Arlington: VA:
NSF) e que pode ser acessado pela internet (http://www.nsf.gov/
Rio de Janeiro: Zahar/Edusp, 1980. statistics/seind04/).
MARTIONS, M. S.; GUIVANT, J. S. A construção

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DADOS BIOGRÁFICOS DOS AUTORES

Marcelo Valério, Walter Antonio Bazzo,


Pesquisador do Núcleo de Estudos em Professor do Departamento de Enge-
Genética Humana (NUEG) da Uni- nharia Mecânica da UFSC, é mestre em
versidade Federal de Santa Catarina, Ciências Térmicas e Doutor em Educa-
é Bacharel e Licenciado em Ciências ção. Possui mais de noventa artigos pu-
Biológicas (2003) e Mestre em Educa- blicados em eventos científicos na área
ção Científica e Tecnológica pela mes- de Engenharia e Educação Tecnológica,
ma instituição (2006). Tendo partici- onze artigos publicados em periódicos
pado de mais de duas dezenas de eventos científicos, o nacionais e internacionais; seis livros completos de sua
autor possui vários artigos publicados e apresentados, autoria e em co-autoria e mais três capítulos compo-
em especial nas áreas de Ensino de Ciências e Biolo- nentes de outras publicações. Ministrou vários cursos
gia e Educação Científica e Tecnológica. Suas investi- extracurriculares na área de ensino de engenharia.
gações privilegiam temas como as relações entre bio- Possui várias orientações de Dissertações e teses (em
logia e sociedade, educação ambiental e divulgação e andamento e concluídas) sobre educação tecnológica e
popularização da ciência e tecnologia. Em sua recente CTS. Já teve mais de 110 participações em congressos,
dissertação de mestrado dedicou-se a revelar, descre- seminários, colóquios, aulas magnas e outros eventos
ver, o atual panorama de ações de divulgação da ci- nacionais e internacionais como palestrante nos temas
ência e tecnologia na Universidade Federal de Santa CTS e educação tecnológica. Seu doutorado, na área
Catarina, discutindo as bases teóricas que justificam de Educação, realizado na UFSC, versou sobre o tema:
a popularização de C&T no país e a participação de Ensino de engenharia: novos desafios para a formação
instituições públicas nesse cenário de esforços. docente. Atualmente tem participado, por convite da
Marcelo Valério – marcelov@ced.ufsc.br OEI, da divulgação dos estudos CTS e ministração de
Universidade Federal de Santa Catarina – Centro cursos nos mais diferentes países do mundo. No início
de Ciências Biológicas: Departamento de Biologia do ano 2000 foi convidado para ser membro do Conse-
Celular, Embriologia e Genética. lho Editorial da Revista Eletrônica da OEI sobre Ci-
Campus Universitário – Trindade ência, Tecnologia e Sociedade. É membro do Conselho
88010790 – Florianópolis – SC Editorial da Revista da ABENGE.
Walter Antonio Bazzo – wbazzo@emc.ufsc.br
Universidade Federal de Santa Catarina – Centro Tec-
nológico: Departamento de Engenharia Mecânica.
Campus Universitário – Trindade
46009 - Florianópolis – SC

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