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estamos fora desses espaços: fazemos parte de uma sociedade, de uma cultura,
e também estamos implicados nas relações produzidas pela ciência e pela
Sociedade tem uma história e que essa história começa em meados da década
de 1960 e início dos anos 1970, quando diversos grupos passam a contestar com
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“Ciência, Tecnologia e Sociedade: primeiras leituras” foi originalmente escrito como capítulo de minha
autoria no livro “Ciência, Tecnologia e Sociedade I”, Módulo Introdução aos Estudos CTS (Cabral e Pereira,
2011). Com intenção didática, em 2017, realizei a primeira revisão deste texto; em 2019, a segunda; em
2020, a terceira. Carla Giovana Cabral é professora da Área Ciência, Tecnologia e Sociedade na Escola de
Ciências e Tecnologia da UFRN.
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diversos grupos que realizam pesquisas com base no campo interdisciplinar CTS,
especialmente em universidades públicas. Há também discussões sobre as inter-
No Brasil, CTS integra uma discussão relativamente nova e que aos poucos
Tecnologia da ECT é ainda incipiente, ou seja, não foi ainda assumida de forma
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CTS na universidade. É um passo para compreender o lugar que você ocupa como
profissional e cidadão/cidadã e atuar de forma responsável social, ambiental,
econômica e politicamente.
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mais efetiva. Walter Antonio Bazzo, Luiz Teixeira do Vale Pereira e Irlan von
Linsingen, professores de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa
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você já pensou em seu País e pode incluir aqui algum exemplo do seu contexto.
Veja o Quadro 1! Ele faz uma cronologia internacional que nos ajuda a
compreender como alguns eventos e teorias conjuminaram em críticas à ciência
e às tecnologias modernas.
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1957 - A União Soviética lança o Sputnik, o primeiro satélite artificial ao redor da terra.
Causou uma espécie de convulsão social, política e educacional nos Estados Unidos
da América do Norte (EUA) e outros países ocidentais.
- O reator nuclear de Windscale, Inglaterra, sofre um grave acidente, criando uma
nuvem radioativa que se espalha pela Europa Ocidental.
- Explode nos Urais o depósito nuclear Kyshtym, contaminando uma grande extensão
circundante à União Soviética.
1958 Criada a NASA, como uma das consequências do Sputnik.
1959 - Conferência de C.P. Snow, em que se denuncia o abismo entre as culturas
humanística e científico-tecnológica.
Anos - Desenvolvimento do movimento de contracultura, em que a luta política contra o
1960 sistema vincula o seu protesto em relação à tecnologia.
1961 - A talidomida é proibida nos (EUA), após causar mais de 2.500 defeitos de
nascimento.
1962 Publicação de Silent Spring, de Rachel Carson. Essa autora denuncia, entre outras
coisas, o impacto ambiental de pesticidas sintéticos como o DDT. É o que deflagra o
movimento ecológico.
1963 - Tratado de limitação de provas nucleares.
Afunda o submarino nuclear USS Thresher, seguido pelo USS Scorpion (1968).
1966 - Um avião B 52 com quatro bombas de hidrogênio explode perto de Palomares,
Almeria, contaminando com radioatividade uma grande área.
Com base em motivos éticos e políticos, profissionais de informática constituem um
movimento de oposição à proposta de criar um banco de dados nacionais nos EUA.
1967 - O petroleiro Torry Canyon sofre um acidente e verte uma grande quantidade de
petróleo nas praias do sul da Inglaterra. A contaminação por petróleo começa a ser
algo comum em todo o mundo desde então.
1968 - O papa Pablo VI torna público um rechaço à contracepção artificial.
- Graves revoltas nos EUA contra a Guerra do Vietnã (a participação norte-americana
incluiu sofisticados métodos bélicos como o napalm).
- Maio de 68 na Europa e EUA: protestos generalizados contra o sistema.
Fonte: BAZZO, PEREIRA E VON LINSIGEN (Eds) Introdução aos Estudos CTS. OEI: 2003.
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da ciência e seu apoio público; o combate ao uso irracional dos recursos naturais;
o questionamento da neutralidade científica e sua autonomia em relação à
sociedade.
nos projetos, nos investimentos feitos e nas decisões que são tomadas. Temos aí
várias questões. Vamos a elas.
engenheiros/as que, por sua vez, continuam pensando que as suas pesquisas e
projetos são neutros, ou seja, não têm impacto social, ambiental e político
negativos porque a ciência é “neutra”. Sendo neutra está inexoravelmente voltada
ao bem-estar social. Nesse ponto, convém perguntar: qual ciência? Para quê? E
para quem?
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SONAMBULISMO TECNOLÓGICO.
(Cerezo, 2003, p. 117). No título do livro, Mary Shelley faz uma citação ao mito de
Prometeu. Você conhece esse mito?
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Discuta o tema!
Vamos refletir um pouco mais? Podemos viver sem redes sociais, celular e
internet? Pense nessa indagação, seriamente.
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do processo de mudança drástica pela qual a humanidade passa e que está sendo
ambiente?
ciências e nas escolas de engenharia, mas não é o único e tão pouco o mais amplo
e desejável – porque ele é restrito. E sendo assim ele oferece um olhar do mundo
bastante limitado.
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Uma das questões que está na origem dessa visão e das suas repercussões
obter a verdade seria por meio do método científico. Cerezo (2003, p. 119)
descreve o método científico como uma combinação de racionalidade lógica e
observação cuidadosa. A avaliação por pares, ainda segundo o mesmo autor, “se
encarregará de velar sobre a integridade intelectual e profissional da instituição”
(idem, 2003, p. 119-120). Em outras palavras, quer dizer que a correta aplicação
do método é que vai garantir o bom funcionamento desse código de conduta.
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Para Reale e Antiseri (2009), a ideia de método, mais especificamente de método hipotético dedutivo,
ou seja, são necessárias hipóteses como primeiro passo para a solução de problemas. Dessas hipóteses
deduzem-se consequências experimentais publicamente controláveis.
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início do século XX, essa ideia foi bastante fortalecida por um movimento que
ficou conhecido como Empirismo Lógico, que surge na Áustria, nos anos 1920 e
alterações que levem a uma mudança mais pronunciada. Para esse pensador, esse
é um período em que os cientistas se dedicam a resolver “quebra-cabeças” por
revolução científica. Veja que, dessa forma, o critério para definir o que é ciência
deixa de ser empírico e passa a ser social. Em outras palavras, não é a aplicação
polonês chamado Ludwik Fleck já dizia que a ciência não era uma produção
individual. Para esse pensador, na interpretação de Schäfer e Schnelle (2010), a
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indivíduos.
história e que esse é um momento em que o homem ainda não tinha investido
em um sistema de conhecimento racional. Esse sistema racional se originará na
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história, esta não se deu aleatoriamente. O ambiente social (cada época teve o
seu) e a forma como as pessoas (mulheres e homens, ricos e pobres, negros,
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mundo.
Vamos refletir?
Este texto buscou apresentar elementos para uma aproximação ao campo CTS
e a discussão que ele enseja sobre as relações entre ciência, tecnologia e
sociedade. Há muito mais a ser debatido e acreditamos que você se dará conta
disso no decorrer dos seus estudos. Aproprie-se deste texto como uma espécie
de primeira leitura.
Referências
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