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terça-feira, 21 de setembro de 2021

A correção monetária do FGTS e a importância do ajuizamento de demanda judicial


pelo trabalhador

Bruno Vinicius Bento Fernandes Camargo e Diogenys de Freitas Barboza

Caso o STF também entenda por bem modular os efeitos na hipótese de o


julgamento ser favorável à modificação do índice de correção monetária dos
depósitos do FGTS, cuja análise poderá se dar em breve por meio da ADIn 5090.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

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Não é de hoje que a análise da possível inconstitucionalidade do índice de correção


monetária do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) se encontra pautada
no Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADIn) 5090, a qual foi recebida em meados de 2014.

Contudo, não obstante a pendência de sua análise e conclusão, o referido tema já


estabelece grandes movimentações e expectativas no cenário jurídico, em especial
aos contribuintes já envolvidos em demandas jurídicas sobre o assunto, bem como
àqueles que ainda não discutem judicialmente o tema.

Entretanto, antes de adentrarmos sobre a referida oportunidade, primeiramente


devemos entender mais sobre o assunto.

O Instituto do FGTS é regulamentado pela lei 8.036, de 11 de maio de 1990, a qual,


por intermédio de seu artigo 151, obriga todos os empregadores a depositar, a cada
mês, em conta bancária vinculada, a importância de 8% da remuneração paga ou
devida, do mês anterior, a cada trabalhador.
Ainda com base na lei 8.036/90, em seu artigo 13, têm-se que os valores
depositados na conta vinculada dos trabalhadores serão corrigidos monetariamente
com base nos parâmetros fixados para atualização dos saldos dos depósitos de
poupança e capitalização com juros de 3% ao ano.

A lei 8.177, de 1° de março de 1991, da mesma forma, também determina que a


Taxa Referencial (TR) é o índice que deve ser adotado para a correção dos
depósitos vinculados ao FGTS.

Ocorre que, a contar do ano de 1999, a TR não refletiu mais a correção monetária,
tendo se distanciado completamente dos índices oficiais de inflação, ou seja, um
índice que não expressou a real inflação, e como consequência afetou a
remuneração dos cotistas.

Isso acaba por significar que há anos os trabalhadores que possuem depósitos no
FGTS não experimentam ganhos reais em sua aplicação. Ao contrário, há muito
tempo, os trabalhadores possuem rendimentos inferiores à inflação, mesmo levando
em conta a remuneração dos juros de 3% ao ano prevista na legislação regente.

E é especificamente sobre esse ponto que o STF deverá se manifestar em breve ao


analisar a ADIn 5090. O tema em questão discute a inconstitucionalidade da
utilização da TR (Taxa Referencial) como índice de correção monetária, bem como a
possibilidade de troca do índice de correção monetária do FGTS dos períodos entre
1999 e 2013, por outro índice mais benéfico aos trabalhadores, seja este o IPCA, o
INPC ou outro que efetivamente recomponha o valor monetário.

A análise do tema estava pautada no STF para ocorrer em 13 de maio deste ano,
mas, em 6 de maio, a ADIn 5090 foi retirada da pauta e até o presente momento não
há nova data para uma nova inclusão de pauta para a consequente definição da
matéria.

Ressalte-se que, em outra análise já realizada pelo STF no final do ano de 2020, a
TR já foi considerada inconstitucional para fins de correção monetária de débitos de
natureza trabalhista, bem como de depósitos recursais relativas a esta mesma
natureza2, tendo em vista que a TR se tornou inadequada no contexto da
Consolidação das leis Trabalhistas (CLT).

Contudo, nessa oportunidade, o STF entendeu por bem modular os efeitos do


referido entendimento para: (i) reputar válidos todos os pagamentos realizados que
utilizaram a TR até o julgamento; (ii) aplicar o novo entendimento de forma retroativa
apenas no tocante aos processos em curso naquele momento que estivessem
sobrestados na fase de conhecimento, independentemente de estarem com ou sem
sentença, inclusive na fase recursal.

Isto é, os contribuintes que se beneficiaram do novo entendimento foram apenas


aqueles que possuíam ações judiciais sobre o tema quando do enfrentamento da
questão pelo STF, de modo que aqueles que não possuíam discussão individual que
envolvesse o assunto ficaram de fora e não mais tinham condições de buscar o
referido direito.

Ao se observar o referido cenário, se pode verificar a existência de uma


oportunidade de os trabalhadores, que tiveram depósitos realizados em suas
respectivas contas vinculadas do FGTS entre os períodos de 1999 e 2013,
buscarem discutir, via ação judicial, o tema com o objetivo de obter o direito a
revisão e correção do saldo vinculado de suas contas do FGTS no mencionado
período.

Isso porque, caso o STF também entenda por bem modular os efeitos na hipótese
de o julgamento ser favorável à modificação do índice de correção monetária dos
depósitos do FGTS - cuja análise poderá se dar em breve por meio da ADIn 5090 -,
aqueles trabalhadores adeptos que não possuírem ação judicial em curso sobre o
tema poderão, com grande chance, ficarem impossibilitados de buscar o
reconhecimento do direito em seu favor com a finalidade de reaver os valores ainda
devidos.

Deste modo, é possível opinar que todos os trabalhadores que tiveram depósitos
realizados em suas respectivas contas vinculadas do FGTS entre os períodos de
1999 e 2013, além de possuírem o direito de ingressar com demanda individual com
o objetivo de buscar a substituição da TR por outro índice mais apropriado e de ver
procedida a revisão da correção em todo o mencionado período, devem exercê-lo de
forma preventiva, ou seja, antes do enfrentamento do tema pelo STF.

Nada obsta demandar judicialmente após o julgamento definitivo do tema pelo STF,
contudo poderá o trabalhador não possuir as condições necessárias à busca do
benefício a que se pretende, posto que, conforme já destacado, a modulação de
efeitos, se aplicada, poderá viabilizar o alcance apenas aos trabalhadores que
ajuizaram a ação até antes do julgamento da ADI 5090, não alcançando os demais
trabalhadores, certamente prejudicados.

A vista disto e diante da momentânea ausência de nova inclusão em pauta da ADI


5090 no STF, é recomendável o ajuizamento da ação revisional de FGTS o quanto
antes, resguardando, o beneficiário, seus direitos em face da possível modulação
dos efeitos que a decisão poderá vir a receber da Suprema Corte.

________

1 "Art. 15. Para os fins previstos nesta lei, todos os empregadores ficam obrigados a
depositar, até o dia 7 (sete) de cada mês, em conta bancária vinculada, a
importância correspondente a 8 (oito) por cento da remuneração paga ou devida, no
mês anterior, a cada trabalhador, incluídas na remuneração as parcelas de que
tratam os arts. 457 e 458 da CLT e a gratificação de Natal a que se refere a lei
4.090, de 13 de julho de 1962, com as modificações da lei 4.749, de 12 de agosto de
1965."

2 ADC 58 e 89, ADIn 5.867 e 6.021.

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