DRE: 120177828 e 120179862 Turma: 4ª feira 13-16h Relatório de leitura DELEUZE, Gilles. Francis Bacon: Lógica da Sensação. Capítulo: “Cada pintor resume à sua maneira a história da pintura”
1º Parágrafo: Neste parágrafo, o autor inicia o capítulo, colocando em pauta a
arte egípcia, e questiona se é possível considerar o conjunto da arte do Egito como início da pintura ocidental. Em seguida, cita seis pontos de Riegl para definir o baixo relevo egípcio, como a união dos sentidos, a visão e o tato, que é proporcionada pela técnica, conferindo a obra uma função háptica, e a proximidade da arte com o espectador pelo fato das formas e o fundo estarem no mesmo plano. Também discorre sobre o caráter linear e planar das formas, o que define a essência da escultura e a do mundo representado nesta. 2º Parágrafo: Neste parágrafo, Deleuze faz uma comparação, enumerando pontos que a arte de Francis Bacon aparenta ter em comum com as pinturas egípcias, como amplas áreas planas, a clareza, o uso dos contornos, as formas e o fundo próximos no mesmo nível, a presença de figuras destacadas etc. Em seguida, cita o amor de Bacon pela escultura egípcia e outros conceitos. Segundo Deleuze, Bacon: “pensa, como Rodin, que durabilidade, essência ou eternidade são a primeira característica da obra de arte”. Sobre a escultura, dizia Bacon que essa o atraía, porém, já conseguia, ao pintar, o que desejava conseguir com a escultura. Por fim, sugere que o que Bacon almejava era um tipo de técnica mista, entre a pintura e a escultura, como o baixo relevo do Egito. 3º Parágrafo: No decorrer deste parágrafo, o autor amplia a análise, de Bacon para a história da pintura ocidental. Sugere o cristianismo como um ponto de partida, pois a doutrina subjugou os moldes da representação figurativa, conforme a concepção de Deus mudava e a sua história era contada. O elemento formal deixou de reportar-se somente ao cerne, passou a remeter ao acaso, à eventualidades e inconstâncias. O autor afirma que o artista pode se desprender do tema religioso e pode retratar, não apenas um acontecimento consagrado como a cena de crucificação, mas elementos simples, casuais como uma taça derramada, um pão dividido etc. A configuração começa a expressar o acaso, não só a essência. Conclui que foram os egípcios que, ao submeter a forma à intenção pura, permitiram que a arte pictórica no Ocidente realizasse essa transmutação. 4º Parágrafo: Neste parágrafo, Deleuze continua a comentar sobre os primórdios do que chama de pintura ocidental, introduz a arte grega no assunto e lista alguns de seus êxitos: distinção dos planos, invenção de uma perspectiva, manipulação de luz e sombras que proporcionam movimento ao espaço etc. Estes aspectos configuram o que se conhece por representação clássica, que tem por objeto o movimento, o acaso. A arte pode ser figurativa, mas vê-se que este não é o objetivo principal, apenas uma consequência. Em seguida, o autor divaga sobre relações entre a representação e o objeto a ser representado e comenta sobre a complexidade do espaço ótico e a função táctil- ótica da obra, que conecta a composição com o mundo orgânico. Por último, são feitas observações sobre o contorno, que desprende da geometria, passa para a forma orgânica e mantem-se constante, inalterado pelo arranjo do claro e escuro. O olhar subjuga a função táctil, e o tato passa a ter influência periférica. 5º Parágrafo: Neste parágrafo, Deleuze aponta duas tendências possíveis a partir da mudança da representação orgânica: a expansão do espaço ótico puro, ou a imposição de um espaço manual impetuoso, comparando esse último ao processo de um esboço, onde a mão é tomada por uma força inusitada e pujante. Por fim, o autor afirma que as artes bizantina e gótica parecem incorporar estas duas direções conflitantes. 6º Parágrafo: Neste parágrafo, o autor analisa as características e conquistas da arte bizantina. Diferente da arte grega, esta dá ao plano de fundo movimentos, tornando difícil saber onde começa e termina a forma. O plano é a base dinâmica de formas que dependem mais do jogo de luz e sombras para serem definidas. A função táctil é excluída e o contorno se dissolve, torna-se apenas um resultado de jogo de claros e escuros. O autor segue apresentando diferenças entre as características da arte bizantina da representação clássica, comenta a mudança do acontecimento, que deixa de seguir leis orgânicas para tornar-se outro tipo de composição. A configuração torna-se indivisível do movimento, através da luz e das sombras compõe uma dinâmica forte. Segundo Deleuze: “Uma composição é a própria organização, mas em vias de se degradar”, ele também afirma que a pintura abstrata se sustenta nesses conceitos. 7º Parágrafo: Neste parágrafo, o autor disserta sobre os atributos da arte bárbara, ou gótica. Afirma que a arte gótica também rompe com a reprodução orgânica, mas de modos distintos. Ela se distingue da vitalidade da concepção clássica, bem como da essência egípcia. A forma e o fundo se dissolvem, o plano e a linha são fortes do mesmo modo. O autor compara o estilo a um abstrato expressionista. Em seguida, Deleuze faz mais comentários sobre a linha e o contorno do estilo em pauta, e sobre a diferença da geometria empregada nos estilos grego e egípcio. No gótico, a configuração linear é acidentada, se fortalece através da transposição de diversos empecilhos. O movimento une as estruturas, os corpos em uma mesma configuração, desobrigada da figuração e das narrativas. 8º Parágrafo: Neste parágrafo, Deleuze menciona o erro que é antagonizar as direções - rumo a um espaço ótico puro e rumo ao espaço manual puro – e lembra da semelhança dos caminhos: a desconstrução da zona táctil- ótica da composição clássica. A seguir, o autor discorre sobre a questão da luz ótica e os acidentes formais, questiona qual dos dois determina o outro, e exemplifica ao sugerir olhar uma pintura de Rembrandt de cabeça para baixo. Por fim, introduz um questionamento sobre o problema da cor. 9º Parágrafo: Neste parágrafo, o autor disserta sobre os atributos da cor. Inicia comparando a cor à luz, que essa pertence ao mundo ótico puro e está livre da forma também. A cor, como a luz, passa a ordenar a figura e não é limitada por ela. Deleuze, após citar um entendimento de Wölfflin sobre a cor e os contornos, explica as relações de valor e tonalidade, as quais as cores se sujeitam. Estas escalas se misturam e constituem elementos fortes na pintura, os mosaicos bizantinos são um bom exemplo. Fala-se que a pintura do século XVII continuou a dar autonomia à luz e a cor em relação à figura e que Cézanne trabalhou com estas duas relações da cor conjuntas. Porém, não quer dizer que elas ocupam o mesmo espaço visual. As relações de valor requerem uma função ótica de visão afastada e a modelação da cor reproduz uma finalidade relativa ao tato. Ou seja, ambas trabalham de maneiras diferentes, a luz na cor e a cor na luz. 10º Parágrafo: Neste parágrafo, o autor continua a discutir as relações de valor e tonalidade das cores. Ele afirma que será possível discutir espaço ótico quando a visão tiver também característica ocular. Será possível falar em espaço háptico quando as relações de tonalidade suprimirem as de valor e cita Monet, Turner e Cézanne, cujos trabalham exemplificam este conceito. Por fim, o autor discute sobre as funções háptica, manual e ótica da visão, afirma que o espaço háptico e o ótico passam a se confrontar. 11º Parágrafo: Neste parágrafo, Deleuze continua a discorrer sobre os atributos da cor e da luz na superfície pictórica. Afirma que o luminismo escapa do risco de uma narração acidental amparando-se na abstração, resultante de princípios do claro e escuro. Ao passo que estilo correspondente da pintura é o colorismo, que evita a abstração e evoca a narrativa, a representação com o objetivo de se aproximar de um fato puro, no qual não há mais nada a ser mostrado. Por fim, o autor conclui o capítulo com uma analogia para demonstrar o que seria este fato, imaginando um Egito concebido somente pela cor e por casualidades, acidental.