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Direito Penal
PROFESSORES
Me. Marllon Beraldo
Esp. Beatriz Gasparin Moreira
FICHA CATALOGRÁFICA
http://lattes.cnpq.br/
Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à disciplina Fundamentos do Direito Penal. Nossa
finalidade é trabalhar com as questões fundamentais para o Direito Penal e explicar
sua área de abrangência e importância para o mundo jurídico. Esta disciplina resgata
os aspectos históricos, que tiveram influência na criação do Direito Penal, bem como
explica sua evolução até os dias atuais.
Você aprenderá os temas mais importantes que cercam o Direito Penal, como os
elementos que estruturam o crime, suas classificações, seu objeto de proteção, prin-
cípios, causas que excluem a punibilidade do agente infrator, entre outros assuntos.
Apresentados os temas primordiais a serem estudados, você saberia dizer qual a
relevância desses assuntos para a sua formação profissional? De que maneira o co-
nhecimento desses temas implicará no exercício da sua profissão?
Compreender o Direito Penal é relevante, tendo em vista que se trata de uma ciência
cujo objetivo primordial é a proteção dos bens mais importantes para os indivíduos e
sociedade, como a vida, a liberdade, a integridade física, o patrimônio e a administração
pública. Conhecer até que ponto podemos ir, para que o bem jurídico de outra pessoa
ou da coletividade não seja violado, é de suma importância aqui.
Dessa forma, nosso assunto torna-se muito importante para a sua trajetória acadê-
mica, profissional e pessoal, uma vez que apresenta as questões fundamentais para o
Direito Penal e explica sua área de abrangência e importância para o mundo jurídico,
a qual é imprescindível para sua a formação.
Para, de fato, compreender a relevância dos Fundamentos do Direito Penal, ima-
gine como seria uma sociedade sem a previsão normativa de infrações penais e suas
respectivas sanções para punição de determinadas ações ou omissões. Como seria se
cada pessoa pudesse praticar qualquer ação, sem a preocupação de ser punida pelo
Estado? Ainda, como seria se cada pessoa pudesse fazer justiça com as próprias mãos,
tendo em vista a inexistência de sanções legais?
Pensando nisso, podemos perceber como o Direito Penal e os seus Fundamentos são
primordiais para a compreensão da nossa própria sociedade. A tipificação de determina-
das condutas e a imposição das respectivas sanções penais são relevantes, tendo em vista
que determinadas ações humanas não devem ficar impunes. Essas punições, no entanto,
também não podem ser realizadas ao livre arbítrio do Estado, uma vez que este deve
respeitar os Direitos Fundamentais consagrados na Constituição Federal. Dessa forma, o
Direito Penal procura, por meio de diversas teorias, as quais lhe serão apresentadas, criar
uma tipificação que possibilite estabelecer uma proporção objetiva entre a ação humana
que originou infração penal e a proporcionalidade da pena ao fato.
Assim, a preocupação principal desta disciplina é apresentar um panorama histórico
geral sobre o Direito Penal e, posteriormente, as diversas teorias que os cercam, bem
como uma análise do seu conceito, fundamento, características, funções, objetos, signi-
ficação dos principais princípios, que norteiam o Direito Penal, e as classificações gerais
dos crimes. Estudaremos, também, as principais teorias da conduta, do nexo causalidade
e da culpabilidade, bem como as hipóteses excludentes da ilicitude e da culpabilidade.
Após essas discussões, apresentaremos o conceito e as hipóteses de concurso de
crimes e concurso de pessoas, assim como as diferenças entre autor e partícipe, de
acordo com cada teoria adotada. Por fim, explicaremos as causas extintivas da punibi-
lidade, com atenção especial à prescrição, considerando suas diversas modalidades, e
detalhando a forma como é feita a contagem de cada prazo.
Querido(a) aluno(a), após realizadas todas essas ponderações, tenho certeza de que você
percebeu que o Direito Penal é uma ciência que vai muito além de prever crimes e cominar
sanções. São diversas as teorias criadas, que sustentam e fundamentam o Direito Penal.
Após realizar a leitura deste livro didático e compreender os Fundamentos do Di-
reito Penal, você saberá o que é uma conduta criminosa e quais são os elementos que
devem estar presentes para considerá-la como tal. Perceberá que não é apenas neces-
sário verificar se determinada conduta se adequa à determinada norma, como também
é imprescindível notar se não estão presentes nenhuma causa que exclua a ilicitude e
a culpabilidade. Ademais, irá notar que se passado determinado lapso temporal, ainda
que típica, ilícita e culpável, determinada conduta não poderá ser mais punida.
A disciplina que envolve os Fundamentos do Direito Penal é complexa, mas, ao mesmo
tempo, encantadora. Compreendê-la fará com que você se torne um melhor profissional na
sua área de formação, tendo em vista que saberá os limites que envolvem o Direito Penal.
Dessa forma, convido-lhe a realizar a leitura deste livro didático. Bons estudos!
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tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA
1
11 2
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INTRODUÇÃO PRINCÍPIOS E
AO DIREITO APLICAÇÃO DA
PENAL LEI PENAL NO
TEMPO E NO
ESPAÇO
3
81 4 121
TEORIA GERAL CONCURSO DE
DO CRIME: FATO CRIMES E DE
TÍPICO, ILÍCITO E PESSOAS
CULPÁVEL
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EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE
1
Introdução ao
Direito Penal
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Esp. Beatriz Gasparin Moreira
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Caro(a) aluno(a), para que você compreenda de fato a origem do Direito Penal
é de suma importância que você saiba o seu conceito. De forma simplória, iden-
tificamos que uma grande parte das pessoas entendem que o Direito Penal é
destinado a promover punições, e elas não estão erradas.
Dessa forma, vamos analisar o conceito de Direito Penal trazido por Cléber Masson
(2020, p. 3), que o define como sendo “o conjunto de princípios e regras destinadas a
combater o crime e a contravenção penal, mediante a imposição de uma sanção penal”.
Para Bitencourt (2022, p. 43):
“
O Direito Penal apresenta-se, por um lado, como um conjunto de
normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de
natureza penal e suas sanções correspondentes — penas e medidas
de segurança. Por outro lado, apresenta-se como um conjunto de
valorações e princípios que orientam a própria aplicação e interpre-
tação das normas penais (BITENCOURT, 2022, p. 43).
Para Nucci (2022, p. 41), Direito Penal “é o corpo de normas jurídicas voltado à
fixação dos limites do poder punitivo do Estado, instituindo infrações penais e
as sanções correspondentes, bem como regras atinentes à sua aplicação”.
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NOVAS DESCOBERTAS
Podemos dizer que a história do Direito Penal se confunde com a história da pró-
pria sociedade. O Direito Penal primitivo, conforme aponta Nucci (2022, p. 70):
“
[...] é o mesmo que especular e apontar um não direito, pois
inexistiam regras precisas, nem protetoras dos direitos individuais.
Prevalecia a lei do mais forte e, quando agrupados em tribos, do
mesmo modo era a vontade do chefe supremo a ditar as sanções
e, pior, o que seria crime. Não havia segurança alguma contra
punições injustas, de modo que se estava bem distante daquilo que,
hoje, denominamos direito penal (NUCCI, 2022, p. 70).
Por conta disso, sentiu-se a necessidade de centralização das normas, o que pode
ser verificado nos direitos romano, germânico, canônico e comum.
O Direito Penal Romano conheceu a pena de Talião. Na República, em torno
de 509 a.C. houve a separação entre Direito e religião. No início, existiam os crimes
privados (conhecidos como delitos; aqui, quem punia era a própria vítima) e os cri-
mes públicos (conhecidos como crimes). Posteriormente a pena passou a ser pública.
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“
[...] os romanos conheceram o nexo causal, dolo, culpa, caso fortuito,
inimputabilidade, menoridade, concurso de pessoas, penas e sua
medição. Não procuraram defini-los, trabalhavam-nos casuistica-
mente, isoladamente, sem se preocupar com a criação, por exemplo,
de uma Teoria Geral de Direito Penal (BITENCOURT, 2022, p. 94).
Já o Direito Penal Germânico, segundo Greco (2022, p. 50), “não possuía fontes
escritas, sendo suas normas transmitidas por meio dos costumes. Os problemas pe-
nais eram resolvidos pela vingança ou pela perda da paz.” Também possuiu a pena de
Talião e a Compositio, considerava o crime como a quebra da paz, e a preocupação
maior era com o dano causado pelo crime e não com a culpa do criminoso.
O Direito Penal Canônico surge com o Cristianismo. Proclamava a igual-
dade de todos os homens. Destacou o elemento subjetivo do crime, isto é, a culpa.
Contra a vingança privada, o direito canônico criou o “direito de asilo” e as “trevas
de Deus”, bem como fez aparecer a estrutura das penitenciárias. Conforme Bi-
tencourt (2022, p. 96): “o Direito Canônico contribuiu consideravelmente para
o surgimento da prisão moderna, especialmente no que se refere às primeiras
ideias sobre a reforma do delinquente”.
O Direito Penal Comum surge na Idade Média. A maior influência do di-
reito penal comum foi o direito romano (também recebeu influências dos di-
reitos germânico e canônico) principalmente com o surgimento dos praxistas
(práticos), que foram os chamados Glosadores (1100–1250) e pós-Glosadores
(1250–1450), que comentavam os velhos textos romanos, revigorando-os. A vin-
gança persistia, sendo pública.
A preocupação do Direito Penal nesse período era a proteção dos soberanos
e seus favorecidos. Prevalecia ainda a desigualdade de classes, a desumanidade
das penas, incluindo a tortura e a pena de morte, os meios inquisitoriais, o sigilo
dos processos e a existência de leis imprecisas. Aparece aqui o lado mais sombrio
da história do direito penal.
O Período Humanitário foi marcado pela revolução das descobertas cientí-
ficas. Alastrou-se o livre-pensamento. Consagrou o Iluminismo, que teve seu auge
na França. Os pensadores iluministas defendiam uma reestruturação do direito
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A segunda teoria foi a Teoria Relativa, a qual está mais focada na utilização
da pena como prevenção do crime do que como castigo. Está relacionada ao pe-
ríodo do Iluminismo quando Beccaria defendia a pena como forma de prevenção
à prática de novos crimes.
A prevenção da Teoria Relativa pode ser dividida em: prevenção especial,
que é dirigida ao condenado e prevenção geral, que é dirigida à comunidade. A
prevenção especial e geral podem ainda ser divididas em negativa e positiva. A
prevenção especial negativa tem como objetivo a intimidação do condenado a
fim de evitar a reincidência, e a positiva tem como objetivo a sua ressocializa-
ção. A prevenção geral negativa é utilizada como intimidação da sociedade, para
mostrar que é possível a aplicação da pena quando cometido determinado crime,
e a prevenção geral positiva é utilizada para a sua educação, a fim de mostrar a
existência de normas jurídico-penais, bem como a sua eficácia.
Por fim, há a Teoria Mista, que foi acolhida pelo Código Penal em seu artigo
59, quando afirma que a pena será estabelecida pelo juiz conforme seja necessário e
suficiente para a reprovação e prevenção do crime. Para essa teoria, a pena serve como
castigo, como recuperação (prevenção especial) e intimidação (prevenção geral).
Caro(a) aluno(a), o Direito Penal brasileiro também passou por várias revoluções,
desde a época em que somente habitavam em nossas terras os indígenas, passando
pelo Período Colonial, Independência, República, e se encaminhando até o Código
Penal atual. É importante que você conheça os principais marcos dessa história.
Inicialmente, os indígenas utilizavam o que chamamos de direito consuetudiná-
rio, que nada mais é do que um direito baseado nos costumes e crenças da comuni-
dade. Tal direito não exerceu qualquer influência no direito penal positivo brasileiro.
Conforme destaca Nucci (2022, p. 93): “antes do domínio português, prevalecia a lei
da selva, ditada pelos indígenas, geralmente com o predomínio da vingança privada
ou mesmo da lei do talião. Portanto, não há que falar de um direito penal”.
Sendo assim, para os indígenas, o Direito era bom senso.
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“
Não se pode olvidar, ainda, que, ao tempo da proclamação da Inde-
pendência e durante o século XIX, a igreja desempenhou um papel
fundamental ao auxiliar o Estado brasileiro em sua organização
política, na implementação do respeito às normas nos mais longín-
quos rincões brasileiros e, como consequência, na manutenção da
unidade de nosso país (CARVALHO, 2007, p. 43).
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Em 1830, foi criado o 1° Código Penal do Brasil, que também era extremamente
liberal. Apesar das grandes discussões sobre a pena de morte estar ou não inserida
nesse Código (os conservadores eram a favor da pena de morte e os liberais eram
contrários), o CP de 1830 a consagrou.
Conforme Bitencourt (2022, p. 108):
“
Em 1830, o imperador D. Pedro I sancionou o Código Criminal, primei-
ro código autônomo da América Latina. Destacava Aníbal Bruno que o
novo texto fundou-se nas ideias de Bentham, Beccaria e Mello Freire, no
Código Penal francês de 1810, no Código da Baviera de 1813, no Códi-
go Napolitano de 1819 e no Projeto de Livingston de 1825. Todavia, não
se filiou estritamente a qualquer deles, tendo sabido mostrar-se original
em mais de um ponto (BITENCOURT, 2022, p. 108).
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EXPLORANDO IDEIAS
Manuel da Mota Coqueiro foi um grande fazendeiro, na região de Macaé no Rio de Janei-
ro. Era um homem muito influente, de grandes negócios. Junto a sua esposa, Úrsula das
Virgens Cabral, possuía cinco vastas propriedades rurais.
Em uma noite chuvosa de 1852, um grupo de homens abordou a casa de Francisco Bene-
dito – ex-escravo, que vivia em uma das propriedades de Mota Coqueiro – e iniciou uma
chacina: Francisco e toda sua família foram mortos a golpe de facões por um grupo de cer-
ca de oito negros, escapando somente Francisca, a filha grávida. O caso foi levado às au-
toridades competentes e Mota Coqueiro foi acusado de ter sido o mandante da chacina.
De acordo com os registros da época, Mota afirmou ser inocente até momentos antes da
execução: “O crime fez-se, porém eu sou inocente, peço perdão ao povo e à Justiça, assim
como eu perdoo de todo o meu coração”. O caso Mota Coqueiro entrou para a História
como um dos maiores erros judiciários do Brasil.
Fonte: Souza (2017).
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Código Penal (artigos 1° ao 120), e a lei 7.210/1984 – conhecida como Lei de Exe-
cução Penal (LEP) – estabelece os regramentos acerca do cumprimento da pena.
Observa-se, então, que o Código Penal de 1940 sofreu reforma substancial em
1984, e passou a conter uma parte geral e uma especial, sendo chamado de Direito
Penal Fundamental. Existem também uma enormidade de leis complementares (es-
peciais, extravagantes), as quais são denominadas de Direito Penal Complementar.
Em 2019, a lei 13.964, também chamada de Lei Anticrime ou Pacote Anti-
crime, trouxe inúmeras modificações relevantes para o Direito Penal, como a legítima
defesa protetiva, roubo majorado pelo emprego de arma branca, natureza da ação
penal nos crimes de estelionato, aumento no tempo máximo de cumprimento de pena,
execução da pena de multa e qualificadora no crime de homicídio.
Querido(a) aluno(a), após estudarmos o conceito do Direito Penal e um pou-
co da sua história, antes de adentrar na sistemática do direito penal, é importante
que você conheça seus caracteres, seu conteúdo/objeto, bem como suas divisões.
Primeiramente, apresentarei as características do Direito Penal. Para Masson
(2020, p. 4), “o Direito Penal é uma ciência cultural, normativa, valorativa,
finalista, de natureza predominantemente sancionatória e fragmentária”.
É importante que você entenda cada uma delas:
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O direito penal tem como objeto a proteção dos bens jurídicos mais importantes. De
acordo com Veneral (2020, p. 23-24), bem jurídico pode ser definido da seguinte forma:
“
[...] bens jurídicos são valores ou interesses relevantes para o indi-
víduo e a sociedade. Na esfera penal, o bem jurídico é selecionado
pelo legislador com o objetivo de garantir os valores consagrados
na Constituição Federal (CF) de 1988, conforme determina a teoria
constitucional do direito penal (VENERAL, 2020, p. 23-24).
“
Bem é um termo determinativo de algo desejável, que traz bem-estar
e prazer; algo que transmite vantagem e alívio; em suma, alguma coisa
objetivada pelas pessoas. Inserindo-se no ambiente jurídico, fazendo
a devida associação, atinge-se o bem jurídico, que nada mais é do
que um interesse de alguém protegido por lei (NUCCI, 2022, p. 59).
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“
A finalidade do Direito Penal é proteger os bens mais importantes e
necessários para a própria sobrevivência da sociedade, ou, nas preci-
sas palavras de Luiz Regis Prado, “o pensamento jurídico moderno
reconhece que o escopo imediato e primordial do Direito Penal
radica na proteção de bens jurídicos – essenciais ao indivíduo e à
comunidade” (GRECO, 2022, p. 34).
Portanto, o Direito Penal tem como objetivo a proteção dos bens jurídicos impres-
cindíveis à satisfação do indivíduo ou sociedade. Apenas os interesses mais relevantes
são tutelados pelo Direito Penal, em razão do seu caráter fragmentário, ficando a
cargo dos outros ramos do Direito a tutela dos bens jurídicos de menor relevância.
Após o estudo das características e do objeto do Direito Penal, veja como a
doutrina o divide:
■ Direito Penal Objetivo: é o próprio Direito positivo. São as normas jurí-
dicas de Direito Penal. A norma existente, incriminadora, de aplicabilidade.
■ Direito Penal Subjetivo: é o jus puniendi estatal. É o poder de punir que
o Estado possui. O Estado possui o direito de punir aquele que cometer
um crime.
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Caro(a) aluno(a), deve-se saber que o Direito Penal não pode ser encarado de
maneira estanque, sem jamais ter qualquer comunicação com outros ramos do
ordenamento jurídico. O Direito Penal, em muitos casos, associa-se a outras dis-
ciplinas, pois faz parte de um todo, sendo “um dos galhos de um tronco”. Mantém
relações com disciplinas jurídicas e outras ciências. É o que se pode denominar
de interdisciplinaridade do Direito Penal.
É por conta disso que o Direito Penal, apesar de possuir suas normas próprias,
também deverá obedecer a algumas normas que sejam peculiares de outras dis-
ciplinas, tal qual as normas relativas à constitucionalidade, ao Direito Adminis-
trativo, ao Direito Civil, ao Direito Processual, à psicologia, dentre outras. Existe
uma comunicação entre o Direito Penal e as outras disciplinas, no intuito de dar
sustentação ao todo. Dentre as relações mais importantes, estão:
1ª) Relação com o Direito Constitucional: é a Carta Magna, que trata dos
direitos do Estado e fixa os princípios básicos. Nenhuma lei pode contrariar a Cons-
tituição Federal (CF). Como aduz Barroso (2008, p. 3), “a Constituição foi capaz de
promover, de maneira bem-sucedida, a travessia do Estado brasileiro de um regime
autoritário, intolerante e, por vezes violento, para um Estado democrático de direito”.
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4ª) Relação com o Direito Civil: muitos artigos, concepções existentes no Direito Pe-
nal devem ser buscadas no Direito Civil. Por exemplo: os crimes dos artigos 235 a 237
do CP e as consequências civis pelo cometimento de crimes (artigos 944 a 954 do CC).
EXPLORANDO IDEIAS
Algumas vezes, um dado tipo de ilícito penal também poderá configurar um ilícito civil ou admi-
nistrativo. Muito embora exista uma relação do Direito Penal com o Direito Civil e o Direito Ad-
ministrativo, é oportuno compreender que as sanções de cada qual poderão ser diferenciadas.
Por outro lado, existirão situações em que a prática de um certo ilícito penal e a consequente
absolvição criminal influenciarão diretamente na responsabilidade civil ou administrativa.
Considerando isso, imagine um cidadão que pratica lesões corporais em outra pessoa,
fazendo com que esta fique inabilitada para trabalhar por sessenta dias. Além de existir a
possibilidade de punição na esfera penal, a vítima pode buscar reparação na esfera cível,
com o objetivo de ser indenizada pelos gastos com o tratamento de saúde. Ainda, se a
pessoa que provocou as lesões for um agente público, ele ainda poderá ser responsabili-
zado administrativamente. Portanto, as sanções não se comunicam, salvo raras exceções.
Fonte: os autores.
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ou seja, ocorre quando um indivíduo pratica a conduta vedada pelo Direito Penal
e, a partir de então, surge para o Estado a possibilidade de aplicação da punição.
Segundo Masson (2020, p. 5):
“
Para Zafaroni, a criminalização secundária possui duas caracterís-
ticas: seletividade e vulnerabilidade, pois há forte tendência de ser o
poder punitivo exercido precipuamente sobre pessoas previamente
escolhidas em face de suas fraquezas, a exemplo dos moradores de
rua, prostitutas e usuárias de drogas (MASSON, 2020, p. 5).
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(2004, p. 104): “as fontes formais são os meios ou formas pelas quais o Direito
Positivo se apresenta na História; são os meios de expressão e conhecimento do
Direito”. Portanto, pode-se dizer que a fonte formal é a forma pela qual o Direito
Penal se exterioriza, se objetiva, se concretiza, se dá a conhecer.
Ainda, as fontes formais subdividem-se em duas espécies: a formal imedia-
ta e a formal mediata ou secundária. A fonte formal imediata (fonte formal
direta ou fonte formal primária) é a lei penal. Segundo Masson (2020, p. 14):
“
É a lei, regra escrita concretizada pelo poder legislativo em consonância
com a forma determinada pela Constituição Federal. Em obediência
ao princípio da reserva legal ou da estrita legalidade (CF, artigo 5º, in-
ciso XXXIX, e CP, artigo 1º), constitui-se a única fonte formal imediata
do Direito Penal, pois somente ela pode criar crimes (e contravenções
penais) e cominar penas (MASSON, 2020, p. 14).
1ª. É imperativa, pois sua violação faz surgir o jus puniendi estatal e acarreta a apli-
cação de uma pena.
3ª. É impessoal e abstrata, por não se referir a pessoa determinada, nem se referir
a casos concretos.
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EXPLORANDO IDEIAS
Para fixar:
Fonte imediata:
Lei Ordinária.
Fontes mediatas:
Constituição Federal: não cria crimes e nem comina penas, mas possui diversos artigos
que se aplicam ao Direito Penal.
Jurisprudência: também não cria crimes e nem comina penas. A jurisprudência é na ver-
dade um conjunto de entendimentos elaborados pelos tribunais superiores a respeito de
determinado tema.
Tratados Internacionais: podem ser classificados como fonte do Direito Penal apenas
quando incorporados ao Direito interno.
Costumes: influenciam a elaboração de novas leis; proporciona a compreensão de vários
termos que aparecem na lei penal.
Princípios Gerais de Direito: são valores fundamentais que ajudam na elaboração do
Direito.
Caro(a) aluno(a), como se viu nesta unidade, para se conhecer o Direito Penal
na forma como o encontramos hoje, com suas características, objeto e funções,
é necessário conhecer a sua história.
A construção da história do Direito Penal foi um processo lento e marcado
por erros, desde o elevado desrespeito à pessoa até a valorização dos direitos
humanos. O estudo e abordagem cronológica dessa evolução propicia o enten-
dimento sobre a mudança do pensamento humano em relação ao conceito de
crime e às penas que devem ser imputadas àquele que praticou uma infração.
Ainda, você pôde compreender que atualmente seu objetivo maior é a proteção
dos bens jurídicos mais relevantes, que são essenciais para a harmonia de uma socie-
dade. Foi possível perceber, também, que o Direito Penal pode comportar variadas
funções, de acordo com as concepções doutrinárias, bem como possui várias carac-
terísticas, sendo uma ciência normativa, de valores, fragmentária e sancionatória.
Diferentemente dos tempos antigos, em que o Direito Penal era lastreado
pelos costumes e uso do bom senso, ao estudar sobre as suas fontes, percebeu-se
que atualmente sua criação é fruto das leis, e que somente pode ocorrer sua modi-
ficação por meio de um processo legislativo estabelecido na Constituição Federal,
no qual a União é o ente federativo que possui competência privativa para legislar
a respeito, podendo somente delegar para os Estados em casos específicos.
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1. “A pena, segundo este princípio formulado nitidamente nas célebres definições de
Grócio, Pufendorf e Thomasius, é uma sanção cominada ab malum actionis, ou an-
tegressi delecti, ou propter delectum, isto é, aplicável quando se tenha praticado um
delito, que constitui sua causa ou condição necessária e do qual se configura como
efeito ou consequência jurídica” (FERRAJOLI, 2014, p. 338).
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo. Revista
dos Tribunais, 2014.
2. “Apenas os bens jurídicos mais relevantes são erigidos a bens jurídicos penais, em
face do caráter fragmentário e da subsidiariedade do Direito Penal. O legislador sele-
ciona, em um Estado Democrático de Direito, os bens especialmente relevantes para
a vida social e, por isso mesmo, merecedores da tutela penal” (MASSON, 2020, p. 8).
MASSON, Cléber. Direito penal: parte geral. Rio de Janeiro; São Paulo: Forense;
Método, 2020.
3. “O direito penal é uno. O ordenamento jurídico, com efeito, é composto por conjuntos
de normas e princípios em vigor. Sua divisão em blocos se dá estritamente para fins
didáticos. Dessa forma, o Direito Penal se relaciona como todos os demais ramos
jurídicos” (MASSON, 2020, p. 5).
MASSON, Cléber. Direito penal: parte geral. Rio de Janeiro; São Paulo: Forense;
Método, 2020.
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Princípios e
Aplicação da
Lei Penal no
Tempo e no Espaço
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Querido(a) aluno(a), imagine a seguinte situação: uma mãe pobre, que encontra-
-se desempregada e cria sozinha seus quatro filhos menores de idade, sem ter o
que comer há três dias, entra em um supermercado e, não vendo outra alternativa,
furta um saco de arroz e outro de feijão. Os seguranças do estabelecimento, após
perceberem a conduta suspeita, interceptam a mulher, que já estava saindo da loja,
e, na sequência, acionam a polícia. A pena prevista para o crime de furto é de um
a quatro anos de reclusão, conforme o artigo 155 do Código Penal (CP). Em sua
opinião, com base nos fatos e na pena prevista, seria proporcional a aplicação de
tal pena à autora do furto? Você sabe como o Direito Penal atua nessas situações?
É oportuno dizer que as normas penais estão divididas em regras e princípios.
As regras são normas de conteúdo determinado, que possuem comandos precisos
e específicos, enquanto os princípios são normas de conteúdo mais abrangentes,
os quais servem como instrumento de interpretação e integração. Diferentemente
das regras, os princípios são normas de conteúdo de grande generalidade e que
são aplicados após a análise dos interesses do caso em concreto, bem como há
ponderação de valores e observa-se a proporcionalidade. Portanto, ainda que
uma determinada conduta se amolde perfeitamente a um tipo penal, ainda é
necessário analisar alguns princípios com o fim de realizar a tipificação.
Considerando essas ponderações iniciais, agora é sua vez!
Te convido, querido(a) aluno(a), a realizar a leitura do julgado
abaixo, que trata do princípio da insignificância nos casos de
furto famélico, também chamado de furto de alimentos, o qual
versa sobre a problemática que analisamos acima. Boa leitura!
Após a leitura do julgado, você pôde perceber que, ainda que o sujeito tenha
praticado uma conduta típica, ele não sofreu as reprimendas estatais. Isso por-
que, ainda que no caso em concreto fosse possível a aplicação da norma penal,
prevista no artigo 155 do CP, foi aplicado ao caso o princípio da insignificância.
É importante ressaltar que o princípio da insignificância não foi criado para le-
gitimar condutas típicas, mas para impedir que condutas consideradas ínfimas
fossem punidas pelo Direito Penal.
O princípio da insignificância será tratado de maneira mais aprofundada
nesta unidade, assim como os demais princípios que norteiam o Direito Penal
e auxiliam o legislador tanto quando da elaboração das normas, como em sua
interpretação para a aplicação da lei ao caso concreto.
42
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“
Os princípios são normas com elevado grau de generalidade, aptos
a envolver inúmeras situações conflituosas com o objetivo de solu-
cioná-las. Não possuem a especificidade de uma regra, que contém
um comando preciso e determinado, mas constituem proposituras
amplas o suficiente para englobar as regras, dando-lhes um rumo,
mormente quando há conflito entre elas (NUCCI, 2022, p. 98).
De acordo com Masson (2020), os princípios são valores fundamentais que inspi-
ram a criação e manutenção do sistema jurídico. Eles têm como função o auxílio
ao legislador ordinário, bem como ao aplicador da norma, para garantir a limi-
tação do poder punitivo estatal e garantir a imposição de garantias ao cidadão.
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UNIDADE 2
EXPLORANDO IDEIAS
Princípios são certos enunciados lógicos admitidos como condição ou base de validade das
demais asserções que compõem o campo do saber. [...] Os princípios podem ser omniva-
lentes quando aplicáveis a todos os ramos do saber, como o princípio da razão; plurivalen-
tes quando aplicáveis a vários campos do saber, como ocorre com o princípio da causalida-
de típico das ciências naturais e não extensível a outras ciências; e monovalentes quando
aplicáveis somente a um campo do saber, como o são os princípios gerais de direito.
Fonte: REALE, M. Lições preliminares de direito. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
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UNICESUMAR
pena sem prévia cominação legal. Em razão desse princípio, são inadmissíveis, no
Direito Penal, a criação de leis vagas e imprecisas para definir crimes e cominar penas.
Por outro lado, segundo o princípio da anterioridade, para que exista crime
e pena, é essencial que elas sejam definidas e previstas pelo ordenamento jurídico
antes da conduta realizada pelo agente. Portanto, a norma deve ser anterior ao fato
tido como criminoso. Como acentua Nucci (2022, p. 66): “De nada adiantaria ado-
tar o princípio da legalidade sem a correspondente anterioridade, pois criar uma
lei, após o cometimento do fato, pretendendo aplicá-la a este, seria totalmente inútil
para a segurança que a norma penal deve representar a todos os seus destinatários”.
Portanto, de acordo com o princípio da anterioridade, a lei somente poderá
ser aplicada a fatos praticados depois da sua entrada em vigor. É proibida a sua
aplicação ainda que no período de vacatio legis. É desse princípio que deriva a
irretroatividade da lei penal, salvo para beneficiar o réu.
Já para o princípio da intervenção mínima, a criminalização de uma conduta
só se legitima se constituir meio necessário para a proteção de um bem jurídico.
Assim, se outras sanções, como, por exemplo, civis ou administrativas, forem su-
ficientes para a proteção de um bem jurídico, não se deve criminalizar a conduta.
Nesse sentido, esclarece Greco (2022, p. 115):
“
O princípio da intervenção mínima, ou ultima ratio, é o responsá-
vel não só pela indicação dos bens de maior relevo que merecem
a especial atenção do Direito Penal, mas se presta, também, a fa-
zer com que ocorra a chamada descriminalização. Se é com base
neste princípio que os bens são selecionados para permanecer sob
a tutela do Direito Penal, porque considerados como os de maior
importância, também será com fundamento nele que o legislador,
atento às mutações da sociedade, que com a sua evolução deixa de
dar importância a bens que, no passado, eram da maior relevância,
fará retirar do nosso ordenamento jurídico-penal certos tipos in-
criminadores (GRECO, 2022, p. 115).
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UNIDADE 2
risco bens jurídicos tidos como fundamentais para a manutenção e progresso do ser
humano e da sociedade. Portanto, nem todo ilícito será um ilícito penal.
Por outro lado, segundo o princípio da subsidiariedade, o Direito Penal somente
deve atuar quando os demais ramos do Direito, que são considerados mais brandos
(Direito Administrativo, Direito Civil, por exemplo), se mostrarem insuficientes para o
controle da ordem pública. Dessa forma, o princípio da subsidiariedade atua como um
soldado reserva, ou seja, fica condicionado ao fracasso dos demais ramos do Direito.
No que se refere ao princípio da ofensividade ou lesividade, a conduta
criminosa a ser tipificada pelo legislador deve ofender um bem jurídico, não
podendo ser considerado crime condutas inofensivas a um certo bem jurídico.
Portanto, de acordo com esse princípio, não há infração penal quando não houver
lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico, assim, o Direito Penal não deve se
preocupar com questões morais, éticas, religiosas, políticas ou filosóficas.
De acordo com o princípio da alteridade, que é um subprincípio do princípio
da lesividade, para que o Direito Penal seja aplicado, a lesão ao bem jurídico precisa
transcender da esfera individual do agente. Logo, ninguém pode ser punido por
causar um mal a si próprio. É devido a esse motivo que não se pune a autolesão.
Segundo o princípio da culpabilidade, não se pode aplicar uma pena se não
houver culpabilidade. Veda-se por esse princípio a teoria da responsabilidade objeti-
va no Direito Penal (quando não são levados em consideração o dolo ou a culpa do
agente criminoso). Já o princípio da humanidade, decorre da dignidade da pessoa
humana, prevista no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal. Segundo Masson
(2020, p. 50),“esse princípio apregoa a inconstitucionalidade da criação de tipos penais
ou cominação de penas que violem a incolumidade física ou moral de alguém”.
Nesse sentido, a Constituição Federal afirma, em seu artigo 5º, inciso XLVII, que
não haverá penas de morte (salvo em caso de guerra declarada), de caráter perpétuo, de
trabalhos forçados, de banimento ou cruéis. Consoante, adverte Rodrigues (2021, p. 3):
“
Em relação a essa regra, cumpre frisar que a principal função do
princípio da dignidade da pessoa humana incide diretamente na
aplicação e execução da pena, momento em que o direito penal
precisa ter freios e parâmetros comprometidos com os direitos fun-
damentais, garantindo assim o respeito e preservação da dignidade
da pessoa humana (RODRIGUES, 2021, p. 3).
46
UNICESUMAR
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UNIDADE 2
em relação àqueles que são reincidentes, uma vez que a reincidência genérica é
apenas utilizada na ponderação da dosimetria da pena.
No entanto, é importante destacar que, em recentes entendimentos, o Supre-
mo Tribunal Federal vem entendendo que a reincidência não impede, por si só,
que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta:
“
Para o colegiado, como regra, a habitualidade delitiva específica [ou
seja, o fato de o réu já responder a outra ação penal pelo mesmo delito] é
um parâmetro [critério] que afasta a análise do valor do bem jurídico tu-
telado para fins de aplicação do princípio da bagatela. Excepcionalmen-
te, no entanto, as peculiaridades do caso concreto podem justificar
a exclusão dessa restrição, com base na ideia da proporcionalidade
em sentido concreto. Essa é justamente a situação dos autos, de furto
de um galo, quatro galinhas caipiras, uma galinha garnizé e três quilos
de feijão, bens avaliados em pouco mais de cem reais. O valor dos bens
é inexpressivo e não houve emprego de violência. Enfim, é caso de mí-
nima ofensividade, ausência de periculosidade social, reduzido grau de
reprovabilidade e inexpressividade da lesão jurídica. Mesmo que conste
em desfavor do paciente outra ação penal instaurada por igual conduta,
ainda em trâmite, a hipótese é de típico crime famélico. A excepcionali-
dade também se justifica por se tratar de hipossuficiente. Não é razoável
que o Direito Penal e todo o aparelho do Estado-polícia e do Estado-juiz
movimente-se no sentido de atribuir relevância a estas situações. Habeas
Corpus nº 141440 AgR/MG, Acórdão de 14/08/2018, Relator Min. Dias
Toffoli, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, de 22/08/2018)
(INFORMATIVO STF, 2018, grifos dos autores).
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UNIDADE 2
que dirige com as devidas cautelas, seguindo todas as regras de trânsito, acredita
que as demais pessoas também irão agir de acordo com as normas. Portanto, uma
pessoa que ultrapassa o sinal verde de trânsito e colide com outra que ultrapassou
o sinal vermelho, não pode ser punida, uma vez que possuía a confiança de que
as demais pessoas também iriam respeitar as regras de trânsito.
É nesse sentido que o princípio da confiança atua, ou seja, espera-se que as
demais pessoas atuem de maneira lícita, respeitando as normas do ordenamento
jurídico. Ainda que inicialmente aplicado para crimes de trânsito, hoje possui
aplicação bastante ampla. Para Juarez Tavares (2003, p. 294):
“
Segundo esse princípio, todo aquele que atende adequadamente ao
cuidado objetivamente exigido, pode confiar que os demais copar-
ticipantes da mesma atividade também operem cuidadosamente. A
consequência da aplicação desse pensamento no direito penal será
a de excluir a responsabilidade dos agentes em relação a fatos que
se estendam para além do dever concreto que lhes é imposto nas
circunstâncias e nas condições existentes no momento de realizar
a atividade. Como seria absolutamente impossível exigir-se de cada
pessoa uma atenção extraordinária que pudesse ir além daquela que
lhe era atribuível segundo juízo concreto de adequação, este prin-
cípio vigora como limitador do dever de cuidado, precisamente no
âmbito da atividade concreta (TAVARES, 2003, p. 294).
Caro(a) aluno(a), agora passarei a explicar o estudo da lei penal e sua aplicação.
Ocorrido um fato criminoso, três questões se colocam para solucioná-lo, quais
sejam: se esse fato será ou não regulado pela lei de seu tempo; se esse fato será ou
não regulado pela lei do local em que se tenha realizado; se esse fato foi ou não
realizado por certa pessoa. De posse dessas constatações, existirá a subsunção do
fato às devidas normas penais.
Isso se torna importante, pois alguns problemas podem ocorrer nessa subsun-
ção, como, por exemplo, determinado fato foi praticado em um dado dia, sendo
que, nesse dia ele não era considerado criminoso, porém, no dia seguinte, surge
uma nova lei, dizendo que aquele fato se tornou uma conduta criminosa; daí, surge
a indagação: referido fato será regido pela lei velha ou pela lei nova?
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UNIDADE 2
1ª) Hipótese: imagine que determinado fato atípico (não criminoso) seja prati-
cado hoje, e, posteriormente, seja editada uma lei que considere fato criminoso.
Nessa hipótese, o fato praticado anteriormente será considerado atípico e,
como consequência, inexistirá punição ao agente criminoso, não se aplicando a lei
posterior. Aqui, vigora o princípio da irretroatividade da lei penal, decorrente do
próprio princípio da anterioridade capitulado no artigo 1° do CP: “Não há crime
sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.”
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UNICESUMAR
2ª) Hipótese: imagine que determinado fato típico (criminoso) seja praticado
hoje, e, posteriormente, seja editada uma lei que estabeleça pena mais severa ao
mesmo fato criminoso.
Nessa hipótese, o fato praticado anteriormente será julgado com base na lei
anterior, e como consequência, será aplicada a pena mais branda. Aqui, vigora
o princípio da irretroatividade da lei penal, decorrente do próprio princípio da
anterioridade capitulado no artigo 1° do CP: “Não há crime sem lei anterior
que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.”
3ª) Hipótese: imagine que determinado fato típico seja praticado hoje, e, poste-
riormente, seja editada lei posterior que estabeleça a atipicidade desse mesmo fato.
Nessa hipótese, o fato praticado anteriormente será regido pela lei posterior, e,
como consequência, não existirá mais crime por ser o fato atípico. Aqui, vigora o
princípio da retroatividade da lei penal benéfica, capitulado no artigo 2° caput do
CP: “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.”
Consoante, Bitencourt (2022, p. 225) afirma: “A lei penal mais benéfica, repe-
tindo, não só é retroativa, mas também ultrativa. A eficácia ultrativa da norma
penal mais benéfica, sob o império da qual foi praticado o fato delituoso, deve
prevalecer sempre que, havendo sucessão de leis penais no tempo, constatar-se
que o diploma legal anterior era mais benéfico ao agente.”
Em suma, a lei penal mais benéfica é retroativa, porque se for posterior
ao fato praticado irá voltar para se aplicar ao mesmo ocorrido, bem como é
ultrativa, pois, mesmo que cessada sua vigência, irá se estender ao fato.
4ª) Hipótese: imagine que determinado fato típico seja praticado hoje – com
pena mais severa – e posteriormente uma lei seja editada com pena mais branda
ao mesmo fato criminoso.
Nessa hipótese, o fato praticado anteriormente será regido pela lei posterior,
e como consequência, terá a pena mais branda. Aqui, vigora o princípio da re-
troatividade da lei penal benéfica, capitulado no artigo 2° parágrafo único do CP.
5ª) Hipótese: imagine que determinado fato típico seja praticado hoje, e, pos-
teriormente, lei posterior seja editada e estabeleça qualquer benefício para o
mesmo fato criminoso.
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UNIDADE 2
Nessa hipótese, o fato praticado anteriormente será regido pela lei posterior, e,
como consequência, terá a aplicação dos benefícios trazidos pela nova lei. Aqui,
vigora o Princípio da Retroatividade da Lei Penal Benéfica, capitulado no
artigo 2°, parágrafo único, do CP.
Sempre que uma nova lei penal que de qualquer forma beneficiar o agen-
te criminoso, será aplicada ao fato, seja retroagindo, seja sendo ultrativa.
1ª) Hipótese: imagine que determinado fato criminoso seja praticado na vigência
da lei excepcional ou temporária, posteriormente encerra o fim da vigência dessa
lei, estabelecendo-se a atipicidade do fato.
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Nessa hipótese, o fato praticado anteriormente será regido pela lei anterior, isto
é, ao fato praticado será aplicada a lei excepcional ou temporária, e mesmo que
essa lei tenha cessada a sua vigência no decorrer de um processo-crime, ao sujeito
ativo deverá ser reconhecido o cometimento do crime. Aqui, vigora o princípio da
ultratividade da lei excepcional ou temporária capitulado no artigo 3° do CP. Esse
princípio se funda na expressão tempus regit actum (o tempo do crime rege o ato).
2ª) Hipótese: imagine que determinado fato criminoso seja praticado sob vigên-
cia da lei excepcional ou temporária com pena mais severa. Posteriormente, há
a prorrogação da lei excepcional ou temporária para o mesmo fato criminoso,
estabelecendo, todavia, pena mais branda.
Nessa hipótese, o fato praticado anteriormente será regido pela lei anterior,
isto é, ao fato praticado será aplicada a lei excepcional ou temporária inicial, e
mesmo que essa lei tenha sido prorrogada com pena mais branda, ao sujeito ativo
deverá ser aplicada a pena mais severa. Aqui, vigora o princípio da ultratividade
da lei excepcional ou temporária capitulado no artigo 3° do CP. Esse princípio
se funda na expressão tempus regit actum (o tempo do crime rege o ato).
No que diz respeito à aplicação da lei penal no tempo quando ocorre altera-
ção do complemento da lei penal em branco (lei que possui o preceito primário
incompleto, necessitando de outra norma jurídica para complementá-la), assunto
que veremos logo mais à frente, deve-se analisar o caso a depender da situação
de excepcionalidade ou não da alteração.
Para o Superior Tribunal Federal, quando o complemento da norma penal em
branco é encontrado em outra lei (homogênea), deve retroagir para beneficiar o
réu. No entanto, quando o complemento não acontece por meio de outra lei, e sim
por um ato administrativo (heterogênea), a situação merece duas considerações.
Se o ato administrativo se der em situação de excepcionalidade, a alteração do
complemento não retroage. No entanto, caso a situação não se dê em situação de
excepcionalidade, deve retroagir.
Como exemplo, imagine que ocorra o tráfico de terminada droga “X”, previsto
no artigo 33 da Lei 11.343/2006 (norma penal em branco), por estar em desa-
cordo com a portaria “Y”, que é um ato administrativo. Posteriormente é editada
nova portaria “W”, que estabelece que a droga “X” não é mais considerada droga.
Nesse caso, a norma deve retroagir para beneficiar o réu, uma vez que a altera-
ção da portaria não é uma medida que aconteceu em situação de excepcionalidade.
55
UNIDADE 2
Após o estudo da aplicação da lei penal no tempo, gostaria de lhe fazer o seguin-
te questionamento: caso ocorra um fato criminoso, e aparentemente possa ser
aplicada a ele mais de uma norma penal – ambas vigentes - qual norma aplicar?
Perceba que, diferentemente do que ocorre quando há um conflito de leis no
tempo, em que somente é possível a aplicação de uma norma, tendo em vista
que a outra já está revogada, nesse caso, as duas normas estão em vigor. A isso
se denomina conflito aparente de normas.
O conflito aparente de normas requer três pressupostos: unidade de conduta,
pluralidade de normas, identificando a mesma conduta como delituosa, e vigên-
cia de ambas as normas.
Para solucionar o conflito, são aplicados quatro princípios. São eles: especia-
lidade, subsidiariedade, consunção e alternatividade.
O princípio da especialidade (também denominado de princípio da especiali-
zação) é aplicado quando existem especializantes no tipo que se requer para subsumir
ao fato praticado. Em outras palavras, o princípio da especialidade apregoa que, no
conflito entre uma norma geral e uma norma especial, esta deverá prevalecer.
Como adverte Nucci (2022, p. 269):
56
UNICESUMAR
“
Para identificar a lei especial, leva-se em consideração a existência
de uma particular condição (objetiva ou subjetiva), que lhe imprima
severidade menor ou maior em relação à outra. Deve haver entre
os delitos geral e especial relação de absoluta contemporaneidade.
Exemplo: furto qualificado exclui o simples; crime militar exclui
o comum; infanticídio exclui o homicídio (NUCCI, 2022, p. 269).
57
UNIDADE 2
EXPLORANDO IDEIAS
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UNICESUMAR
“
A lei penal é elaborada para viger dentro dos limites em que o Es-
tado exerce sua soberania. Como cada Estado possui sua própria
soberania, surge o problema da delimitação espacial do âmbito de
eficácia da legislação penal. Estamos em face do denominado Direi-
to Penal Internacional [...]. O Direito Penal Internacional estabelece
regras de determinação da lei aplicável em caso de a conduta punível
lesar o ordenamento jurídico de mais de um Estado. Trata-se de
Direito Público Interno, motivo por que tem recebido críticas a de-
nominação. É direito de aplicação do Direito Penal, ou superdireito
(JESUS, 2012, p. 161).
Esse problema será resolvido pelos princípios que regem a lei penal no espaço.
Cinco princípios procuram solucionar o problema, a saber:
1°) Princípio da Territorialidade: a lei penal do país aplica-se aos crimes ocor-
ridos no seu território, qualquer que seja a nacionalidade do autor e da vítima do
crime e qualquer que seja o bem jurídico atingido.
2°) Princípio da Personalidade: a lei do país segue o cidadão onde quer que
ele esteja. Divide-se em: Princípio da Personalidade Ativa, quando se aplica a lei
pessoal do acusado independentemente do bem jurídico (ex.: crime praticado
por brasileiro no exterior) – artigo 7º, inciso II, b, do CP; e Princípio da Persona-
lidade Passiva, quando se aplica à lei penal da nacionalidade do sujeito passivo (a
lei brasileira será aplicada ao crime praticado por estrangeiro contra brasileiro)
– artigo 7º, parágrafo 3º, do CP.
3°) Princípio da Defesa Real ou Proteção: o país exerce o direito de punir sem-
pre que for nacional (do Estado ou de seu cidadão) o bem jurídico atingido pelo
crime, seja qual for o lugar onde seja praticado, seja quem for o agente: nacional
ou estrangeiro – artigo 7º, inciso I, a, b, c.
59
UNIDADE 2
“
Ocorre que o artigo 6º do Código Penal destina-se, exclusivamente,
ao denominado direito penal internacional, ou seja, à aplicação
da lei penal no espaço, quando um crime tiver início no Brasil e
terminar no exterior ou vice-versa (é o denominado “crime a
distância”). Firma-se a competência da Justiça brasileira, valendo-
se da teoria mista, em qualquer situação na qual se verifique tenha o
delito tocado território brasileiro, em plena afirmação da soberania
nacional para processar e punir os culpados (NUCCI, 2022, p. 219).
É importante saber que o território nacional é considerado todo espaço onde im-
pera a soberania brasileira. Nas precisas palavras de Faria (1960, p. 33),“se entende
todo o espaço sujeito aos poderes políticos da nação e sobre o qual exerce livremente
sua soberania”. Especificamente no campo penal, considera-se território nacional:
■ O espaço geográfico compreendido entre as nossas fronteiras.
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UNIDADE 2
Por fim, a hipercondicionada está prevista no artigo 7º, parágrafo 3º, do Códi-
go Penal e significa que para ser aplicada a lei brasileira ao crime cometido por
estrangeiro – princípio da personalidade passiva –, além dos requisitos acima,
precisam constar que:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça;
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UNIDADE 2
“
Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime
ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciên-
cia à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela
representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até
a decisão final, sustar o andamento da ação (BRASIL, 1998).
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“
Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional
não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável.
Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas
à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros,
resolva sobre a prisão (BRASIL, 1998).
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UNIDADE 2
1. Autêntica: é feita pelo legislador por meio de uma outra lei ou norma.
2. Doutrinária: é realizada pelos doutrinadores, que são os escritores ou
comentaristas de textos. Faz-se por tratados, livros, conferências, palestras,
artigos, aulas, entre outros.
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UNIDADE 2
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ser: uma outra lei, um decreto, uma portaria, um regulamento etc. As leis
penais incompletas são chamadas de Lei Penal em Branco.
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UNIDADE 2
concepção da sociedade sobre o que pode e deve ser proibido, mediante a ameaça
de aplicação de sanção penal. Em suma, no sentido material, o crime é a conduta
ofensiva a um bem juridicamente tutelado, ameaçada de pena”. Para Bitencourt
(2022, p. 295), “crime é a ação ou omissão que contraria os valores ou interesses
do corpo social, exigindo sua proibição com a ameaça de pena”.
O critério legal é dado pelo legislador, ou seja, é o que a lei definiu como
crime. Por sua vez, o critério analítico ou formal, procura examinar as ca-
racterísticas do crime. Põe-se à mostra seus aspectos essenciais, seus elementos
estruturais, seus predicados, em suma, os seus elementos constitutivos. Dentro
desse critério, podemos encontrar uma posição quadripartida (crime é fato tí-
pico, ilícito, culpável e punível), tripartida (crime é fato típico, ilícito e culpável)
ou bipartida (crime é fato típico e ilícito).
O conceito analítico tripartido de crime, que considera como elementos cons-
titutivos a tipicidade, a ilicitude (ou antijuridicidade) e a culpabilidade, é acatado
pela maioria dos doutrinadores.
Querido(a) aluno(a), iremos analisar, a partir de agora, as variadas classifi-
cações para as infrações penais:
CONTRAVENÇÕES CRIMES
Somente pode ser julgada pela Justi- Pode ser julgada pela Justiça Esta-
ça Estadual. dual e Federal.
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UNICESUMAR
O crime de dano se consuma com a efetiva lesão ao bem jurídico tutelado, en-
quanto o crime de perigo se contenta com a probabilidade de um dano. Os cri-
mes de perigo ainda podem se dividir em perigo abstrato e perigo concreto. Nos
crimes de perigo abstrato não é necessária a comprovação do perigo ocasionado
ao bem jurídico tutelado, uma vez que é presumido pela lei, ao passo que nos
crimes de perigo concreto, é necessária a efetiva comprovação da situação de
perigo ao caso concreto.
71
UNIDADE 2
Nos crimes materiais, o tipo exige uma conduta e um efetivo resultado. Podemos
citar, como exemplo, o crime de homicídio previsto no artigo 121 do Código Pe-
nal, uma vez que para que o crime se efetive, é necessário a produção do resultado
naturalístico, ou seja, a morte do sujeito passivo, caso contrário a conduta não
passará de uma mera tentativa.
Nos crimes formais, o tipo não exige a produção do resultado concreto, mas ele
existe. Podemos citar, como exemplo, o crime de extorsão mediante sequestro pre-
visto no artigo 159 do Código Penal, uma vez que para que o crime se efetive, não é
necessário a produção do resultado naturalístico, ou seja, o crime estará consumado
a partir do momento em que o agente realiza a extorsão. O pagamento do resgate em
troca da liberdade da vítima, caso ocorra, é considerado mero exaurimento do crime.
Nas infrações de mera conduta, o tipo se satisfaz com uma ação desobediente.
Não prevê resultado naturalístico. Exemplo: porte de arma de fogo.
Nos crimes simples, o fato se amolda a um único tipo penal. Exemplo: furto.
Nos crimes complexos, há a junção de mais de um tipo penal. Exemplo: roubo,
uma vez que une o crime de furto mais o crime de ameaça ou lesão corporal.
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UNICESUMAR
O crime comum pode ser realizado por qualquer pessoa, não se exigindo quais-
quer qualidades do sujeito ativo. Exemplos: artigos 121 e 155 do Código Penal.
No crime próprio, o tipo exige uma qualidade do sujeito ativo. Exemplos:
artigos 123 e 312 do Código Penal.
Os crimes de mão própria só podem ser realizados pessoalmente pelo agente.
Exemplo: artigo 342 (falso testemunho) do Código Penal.
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UNIDADE 2
Caro(a) aluno(a), sujeitos do crime são aquelas pessoas que estão envolvidas no
fato criminoso, tanto em relação à autoria da conduta, quanto às consequências
da empreitada criminosa. Sujeito ativo do crime é aquele que comete o crime.
Via de regra, o sujeito ativo é a pessoa física, maior de 18 anos. Discute-se atual-
mente sobre a possibilidade de a pessoa jurídica ser sujeito ativo de um crime.
A Constituição Federal admitiu a possibilidade de a pessoa jurídica ser sujeito
ativo em crimes contra o meio ambiente, contra a ordem econômica e financeira
e contra a economia popular, independentemente da responsabilidade individual
dos seus dirigentes. Atualmente, somente foi editada a lei 9.605/1998 (Lei de
Crimes Ambientais), que dispõe expressamente sobre a responsabilização penal
da pessoa jurídica, enquanto em relação aos crimes contra a ordem econômica
e financeira, bem como contra a economia popular, não sobreveio lei definidora
dos crimes da pessoa jurídica (MASSON, 2020).
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UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
Por outro lado, sujeito passivo é aquele que é titular do bem jurídico ofendi-
do, ou seja, é aquele que sofre as consequências da conduta criminosa. Pode
ser o ser humano, sendo que a lei o protege mesmo antes de seu nascimento e a
pessoa jurídica. Existem crimes ainda em que o sujeito passivo é indeterminado,
ou seja, não existe uma vítima concreta, pois há ofensa a toda a coletividade.
Trata-se do chamado crime vago.
No que se refere ao objeto do delito, ele pode ser classificado em material
ou jurídico. Objeto jurídico de um crime é o bem/interesse protegido pela
norma penal. Para Mirabete e Fabbrini (2007, p. 115), “bem é tudo aquilo que
satisfaz a uma necessidade humana, inclusive as de natureza moral, espiritual, etc.,
e o interesse é o liame psicológico em torno desse bem, ou seja, o valor que tem
para seu titular”. Os códigos classificam os crimes tendo em vista o objeto jurídico
tutelado. Nos títulos, aparecem os objetos jurídicos genéricos, nos capítulos os
objetos em espécie. Por exemplo, no crime de homicídio o objeto jurídico tutela-
do é a vida, no crime de furto é o patrimônio. Já o objeto material é a coisa ou
pessoa que foi atingida pela conduta criminosa. Por exemplo, no crime de
homicídio, o objeto é a pessoa, enquanto no furto, é a coisa subtraída.
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, foi possível compreender um pouco mais sobre
os princípios do Direito Penal, bem como a aplicação da lei penal em relação ao tempo,
espaço e às pessoas. Também foram analisadas as formas de interpretação da lei penal
e sua classificação, assim como os aspectos iniciais acerca da teoria do crime.
Constatou-se, precipuamente, que o Direito Penal não é compreendido ape-
nas por artigos de leis, mas também por princípios que visam limitar sua atuação,
bem como garantir a coesão e proporcionalidade na sua incidência. Dessa forma,
após a análise do caso trazido no início da unidade, que envolvia o furto famélico,
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
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1. “Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema verdadeiro, alicerce
dele, disposição fundamental que se irradia por diferentes normas, compondo-lhes
o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência exata-
mente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere
a tônica e lhe dá sentido harmônico” (MELLO, 2002, p. 807-808).
MELLO, C. A. B. Curso de direito administrativo. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 2002.
a) Lesividade.
b) Legalidade.
c) Proporcionalidade.
d) Alteridade.
e) Confiança.
2. “Quando lhe for indagado o conceito de crime, uma resposta mais técnica e minucio-
sa deve ser apresentada. De fato, o crime pode ser conceituado levando em conta
três aspectos: material, legal, formal ou analítico” (MASSON, 2020, p. 159).
MASSON, C. Direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020.
Sob o ponto de vista dos conceitos de crime, discorra sobre o conceito analítico e
informe seus elementos.
MASSON, C. Direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método,
2020.
Considerando o texto acima, disserte sobre as diferenças entre crime e contravenção penal.
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3
Teoria Geral do
Crime: Fato Típico,
Ilícito e Culpável
Me. Marllon Beraldo
Esp. Beatriz Gasparin Moreira
Prezado(a) aluno (a), imagine a seguinte situação: você está fazendo um passeio
de barco em alto mar, quando, em determinado momento, essa embarcação vira
e você e as outras pessoas, que estavam a bordo, precisam colocar os coletes
salva-vidas para conseguirem sobreviver. Ocorre que não há coletes salva-vidas
para todo mundo. Você avista o último colete boiando ao mesmo tempo em que
Maria, e vocês dois vão em direção a ele o mais depressa possível, pois quem
chegar primeiro irá se salvar. Por fim, você consegue chegar primeiro para pegar
o colete e Maria morre afogada. Agora, eu lhe pergunto: nessa situação, você seria
acusado de homicídio em razão da morte de Maria?
Para que um fato seja considerado criminoso, é necessário que ele preencha os
três elementos que compõem o crime, ou seja, ele precisa ser típico, antijurídico e
culpável. Para ser típico, a sua conduta basicamente precisa estar prevista em lei.
Para ser antijurídico, ele precisa ser contrário ao direito, ou seja, não pode estar
amparado por nenhuma causa de exclusão de ilicitude, seja ela legal ou supralegal.
Por fim, ele precisa ser culpável. No caso acima, está presente claramente a ex-
cludente de ilicitude legal chamada estado de necessidade, que acontece quando
alguém pratica determinado crime para salvar a sua própria vida ou de terceiros.
Portanto, ainda que o caso narrado se amolde em um fato típico, ele não é antijurí-
dico/ilícito, pois está acobertado pelo estado de necessidade e, consequentemente,
não preenche o segundo elemento do crime.
Agora é sua vez! Leia o julgado abaixo, em que o réu foi absolvi-
do por se encontrar em estado de necessidade, assim como em
nosso exemplo. Boa leitura!
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UNIDADE 3
• Voluntariedade;
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É importante destacar que não há crime sem conduta, ou seja, o Direito Penal
brasileiro não admite crimes de mera suspeita. Ainda, a conduta pode ocorrer de
duas formas: positiva e negativa.
A conduta positiva é caracterizada por uma ação, ou seja, o agente realiza
uma conduta vedada. Enquanto a conduta negativa é caracterizada por uma
omissão, ou seja, o agente deixa de realizar uma ação que deveria ser feita. Há
ainda, as condutas mistas, caracterizadas por uma ação seguida de omissão. É o
caso do crime de apropriação de coisa achada, previsto no artigo 169, parágrafo
único, inciso II, do Código Penal.
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a conduta de “C”, “B”, mesmo assim, morreria? No exemplo citado, sim, uma vez
que “A” não utilizou a arma emprestada de “C”. Dessa forma, a conduta de “C”
não pode ser considerada causa do crime.
No entanto, essa causalidade física não é e nem poderia ser o único pressuposto da
responsabilidade penal. Acha-se, portanto, a causalidade subordinada à existência do
elemento subjetivo, isto é, após se averiguar que alguém causou um resultado lesivo, há
que se indagar se o agente agiu com dolo ou culpa. Se não fosse o elemento subjetivo,
por exemplo, os fabricantes de armas responderiam por todos os crimes ou os pais
dos criminosos também seriam responsabilizados, pois sem a concepção dos filhos,
o crime não iria existir. Dessa forma, haveria um regressus ad infinitum.
O parágrafo 1°, do artigo 13, do CP, abrandou a teoria da equivalência ao prever a
hipótese da independência relativa de uma causa superveniente. A teoria que justifica
essa exceção é chamada de teoria da causalidade adequada. Segundo essa teoria,
são consideradas as circunstâncias idôneas e adequadas à produção do resultado.
Imagine a seguinte situação: “A” alveja (ação) “B”.“B” é socorrido em um hospital,
mas acaba morrendo em razão de uma infecção hospitalar. Segundo a teoria dos
antecedentes causais, se retiramos a conduta de “A”,“B” não teria morrido. Portanto,
a conduta de “A” é considerada causa do resultado. Analisando pela perspectiva da
teoria da causalidade adequada, é necessário analisar quais são os desdobramentos
estatísticos prováveis e ver se eles são compatíveis com o resultado.
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UNIDADE 3
Nesse caso, de acordo com a teoria da causalidade adequada, “A” responde pelo
crime de homicídio consumado, uma vez que a infecção hospitalar está no des-
dobramento provável da sua conduta.
Agora, imagine uma situação diferente: “A” alveja (ação) “B”.“B” é socorrido em
um hospital e sofre uma intervenção cirúrgica. Todavia, na fase de recuperação, a
enfermeira que cuida de “B” ministra veneno em sua água, e destarte, “B” morre.
Nesse caso, “A” responderá por tentativa de homicídio simples, uma vez que a
morte de “B” não está no desdobramento normal ou provável de sua conduta,
enquanto a enfermeira responderá por homicídio qualificado consumado (artigo
121, parágrafo 2°, inciso III, do CP).
Para finalizar o fato típico – primeiro elemento do conceito de crime – falare-
mos agora, querido(a) aluno(a), da tipicidade. Conforme Fragaso (1995, p. 187),
“tipo é o modelo legal do comportamento proibido, compreendendo o conjunto
das características objetivas e subjetivas do fato punível”. A tipicidade representa
a adequação da conduta humana a uma norma penal incriminadora, que é de-
nominada de tipo penal (ou tipo legal).
O tipo é o elemento material, objetivo, exterior. O tipo penal objetivo (ou
tipo legal) é a descrição da conduta humana feita pela lei e correspondente ao
crime. É um modelo abstrato que descreve um comportamento humano proibido
ou um comportamento humano devido. O tipo objetivo é composto de vários
elementos. Tais elementos podem ser descritivos, normativos ou subjetivos.
Os elementos descritivos são aqueles que apenas descrevem. Por exemplo:
matar alguém, filho, mulher, dentre outros. Elementos normativos são aqueles que
precisam ser completados por um juízo de valor. Por exemplo: honra, dignidade,
decoro, dentre outros. Por fim, os elementos subjetivos relacionam-se com a in-
tenção do agente. Por exemplo: “para si ou para outrem” no caso do crime de furto.
Entendem os finalistas, como consequência da própria concepção de con-
duta, que não há o se falar em tipo sem que se inclua no seu conceito o elemento
subjetivo. Assim, o tipo apresenta uma dupla estrutura: 1) O tipo objetivo: que é a
descrição da conduta humana feita pela lei e correspondente ao crime. 2) O tipo
subjetivo: que é constituído por um elemento geral e às vezes por um elemento
especial. O elemento subjetivo geral é o dolo. Por exemplo, o artigo 121 do CP
(crime de homicídio simples). Os elementos subjetivos especiais são as intenções
e tendências especiais previstas pelo legislador na norma incriminadora e que são
chamados pela doutrina tradicional de dolo específico. Esses elementos especiais
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aparecem no tipo legal por meio das expressões: “a fim de”, “com o fim de”, “para”,
dentre outras.
Sobre o dolo, o Código Penal adotou duas teorias. A teoria da vontade e a
teoria do assentimento. Segundo a teoria da vontade, o agente age dolosamente,
ou seja, tem consciência e vontade de realizar o tipo objetivo de um crime. Por
sua vez, para a teoria do assentimento (ou consentimento), existe dolo quando o
agente consente (assume) em causar o resultado ao praticar uma conduta.
Por meio da expressão “quis”, o Código Penal adotou a teoria da vontade, ao
estabelecer o chamado dolo direto. Por meio da expressão “assumir o risco”, ado-
tou a teoria do assentimento, ao estabelecer o chamado dolo eventual.
Dessa forma, o dolo é integrado pelos seguintes elementos: 1) Consciência: no
sentido de representação, de conhecimento do fato. Essa consciência tem de ser
atual, isto é, no momento do fato; 2) Vontade: no sentido de decisão: de realizar
o fato. É a decisão de agir para realizar o tipo de crime. Relaciona-se com o fim
proposto. Essa vontade de querer ou de assumir o risco tem de ser incondicionada
(livre, espontânea, isenta de erro).
O dolo, ainda, segundo a doutrina majoritária, pode ser classificado em:
Dolo direto ou imediato ocorre quando o agente quer o resultado. Dolo indireto
ou mediato subdivide-se em eventual (quando o agente não quer o resultado,
mas assume o risco de produzi-lo) e alternativo (quando o agente quer produzir
um ou outro resultado – por exemplo: matar ou ferir).
Segundo Hungria (1972, p. 192) “assumir o risco é alguma coisa a mais que
ter consciência de correr o risco. É consentir previamente com o resultado, caso
venha realmente a ocorrer”. Assumir o risco é concordar com o resultado.
■ Dolo de dano: aparece nos crimes de dano, quando o agente quer causar
um efetivo dano a um bem jurídico tutelado. Por exemplo: artigo 130,
parágrafo 1°, e artigo 131, ambos do CP.
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UNIDADE 3
■ Dolo geral (ou dolo genérico): o dolo é alheio a qualquer fim particular.
Por exemplo: artigo 121 do CP.
■ Dolo específico (ou dolo com elementos especiais subjetivos): quando a
lei pressupõe ou menciona um fim especial ou determinado. Por exemplo:
artigo 159 do CP.
Dessa forma, como vimos, para que o dolo se caracterize, é necessário que exista
uma vontade consciente do agente. Essa vontade consciente precisa ainda estar
em conformidade com a realidade, isto é, não pode estar alterada em razão de
erro. Se isso ocorrer, surge o chamado erro de tipo, que incide sobre os elementos
pertencentes ao tipo penal.
O erro do tipo pode ser essencial, que trata da falsa percepção da realidade
que recai sobre os elementos essenciais do tipo, por exemplo, subtrair o celular do
amigo pensando ser o seu. Aqui, o erro recai sobre o elemento “coisa alheia” pre-
visto no crime de furto (artigo 155 do CP) e, dessa forma, o agente não responderá
dolosamente pelo crime. No erro de tipo essencial, o dolo sempre será afastado,
no entanto, a culpa deve ser analisada caso a caso. Se o erro for previsível, o
agente responderá de forma culposa (se houver previsão legal), caso contrário,
se o erro for imprevisível, a tipicidade será afastada. E também o erro pode ser
acidental, que recai sobre os dados periféricos do tipo, ou seja, tudo aquilo que
não for elemento essencial. A grande diferença entre o erro do tipo acidental e o
erro do tipo essencial é que no caso do último, caso o agente venha a ser avisado
sobre o erro que está prestes a cometer, ele cessa imediatamente a sua conduta
e não pratica o ato. Enquanto no caso do erro do tipo acidental, caso o agente
venha a ser avisado sobre o seu erro, ele permanece com a sua conduta, mas de
maneira diversa. Vejamos:
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UNIDADE 3
Caro (a) aluno (a), os crimes dolosos são a regra, enquanto os crimes cul-
posos são a exceção. Um crime somente será culposo se a lei prevê a sua mo-
dalidade culposa.
No tipo culposo, existe uma vontade dirigida a uma certa conduta (geralmen-
te lícita, porém imprudente, negligente ou imperita), ocasionando um resultado
involuntário. Em suma, há crime culposo quando o agente, violando o cuidado, a
atenção ou a diligência a que estava adstrito, causa o resultado que podia prever,
ou que previu, supondo, no entanto, levianamente que não ocorreria.
No artigo 18, inciso II, do CP, não existe a definição de culpa, eis que, o legislador
referiu-se apenas às suas modalidades, que são: imprudência, negligência ou
imperícia, as quais são fórmulas gerais de inobservância do cuidado exigível.
1. Imprudência: possui a forma ativa. O agente atua com precipitação sem
tomar as cautelas necessárias; não usa os poderes inibidores. É a falta de
prudência, de cautela, de precaução, ou seja, é a conduta arriscada. Por
exemplo: dirigir em excesso de velocidade; atravessar o sinal vermelho;
caçar em local de acesso público; manejar armas na presença de pessoas;
dentre outros.
2. Negligência: possui a forma negativa. O agente não usa os poderes de ati-
vidade. Caracteriza-se pela inação, inércia, passividade por não obedecer
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UNIDADE 3
Remonta ao direito romano uma gradação de culpa em: grave, leve ou levíssima. A
culpa grave seria aquela que qualquer pessoa pudesse prever o resultado. A culpa
leve é aquela que somente o muito diligente tivesse a possibilidade de prever o re-
sultado. A culpa levíssima é aquela que somente a excepcional cautela impediria o
resultado. Tal gradação de culpa só tem valor histórico na atualidade, principalmen-
te, depois de estruturada as concepções de culpa consciente e culpa inconsciente.
Querido(a) aluno(a), não existe compensação de culpa no Direito Penal. O
fato de a vítima também concorrer para o resultado não elimina a culpa do agente.
Só não será responsabilizado criminalmente o agente quando o evento ocorrer
por culpa exclusiva da vítima. Todavia, a culpa da vítima deve ser considerada
no cálculo da pena base (artigo 59 do CP).
O dolo deve cobrir todos os elementos da tipicidade. Todavia, algumas ve-
zes, a lei prevê em parágrafos ou em artigos pena mais severa quando ocorre
um resultado mais grave não pretendido pelo agente. Essas infrações penais são
denominadas de crimes qualificados pelo resultado. Esse resultado mais grave
pode decorrer: por dolo do agente; por culpa do agente; ou por mero nexo causal.
Nos termos do artigo 19 do CP, quando houver um resultado mais grave, o
agente só será responsabilizado criminalmente por esse resultado se tiver agido
com dolo ou culpa. Assim, por exemplo, se um sequestrado fugir do cativeiro e
for atropelado, e consequentemente morrer, o sequestrador não será responsa-
bilizado por esse resultado mais grave (morte), eis que, não laborou com dolo
ou culpa. Responderá o sequestrador pelas sanções do artigo 159, caput do CP.
Quando o resultado mais grave decorrer de culpa, tem-se o chamado crime
preterdoloso. O crime preterdoloso é aquele em que existe dolo no antecedente
e culpa no consequente. Exemplo típico de crime preterdoloso é a lesão corporal
seguida de morte (artigo 129, parágrafo 3°, do CP). Nesse tipo, fica bem claro que
há dolo de lesão (dolo no antecedente) e culpa na morte (culpa no consequente).
Por outro lado, se o agente tiver dolo de lesão e dolo de morte, o crime será
de homicídio e não de lesão corporal seguida de morte.
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UNIDADE 3
EXPLORANDO IDEIAS
De acordo com Masson (2020), exaurimento é o delito em que ocorrem efeitos lesivos após
a sua consumação. É o caso, por exemplo, do recebimento do resgate no crime de extorsão
mediante sequestro, uma vez que ele já se encontra consumado no momento da privação
da liberdade com o fim de obter vantagem econômica indevida. No terreno da tipicidade, o
exaurimento não se encontra no iter criminis que se encerra com a consumação. No entan-
to, influencia diretamente na dosimetria da pena, uma vez que o artigo 59 do Código Penal
trouxe como hipóteses as consequências do crime e suas condições. Em alguns casos, ainda,
o exaurimento pode ser considerado uma qualificadora ou aumento de pena, como ocorre
nos casos dos artigos 329, parágrafo 1º, e 327, parágrafo 1º, ambos do CP, respectivamente.
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UNIDADE 3
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EXPLORANDO IDEIAS
Não se concebe a existência de uma conduta típica que não afete um bem jurídico, posto
que os tipos não passam de particulares manifestações de tutela jurídica desses bens.
Embora seja certo que o delito é algo mais – ou muito mais – que a lesão a um bem jurídi-
co, essa lesão é indispensável para configurar a tipicidade. É por isso que o bem jurídico
desempenha um papel central na teoria do tipo, dando o verdadeiro sentido teleológico
(de telos, fim) à lei penal. Sem o bem jurídico, não há um “para quê?” do tipo e, portanto,
não há possibilidade alguma de interpretação teleológica da lei penal. Sem o bem jurídico,
caímos num formalismo legal, numa pura “jurisprudência de conceitos”.
Fonte: ZAFFARONI, E. R.; PIERANGELI, J. H. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 7.
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. v. 1.
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UNIDADE 3
“
Para que o comportamento seja considerado criminoso, é neces-
sário que ele seja um fato típico (descrito por lei como crime) e
antijurídico (contrário à ordem jurídica como um todo). Vê-se que a
ilicitude (também chamada de antijuridicidade) é nada mais do que
a contradição entre o comportamento do sujeito e a ordem jurídica
(DELMANTO et al., 2002, p. 44).
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UNICESUMAR
de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias,
não era razoável exigir-se.”
Para Mirabete e Fabbrini (2007, p. 171):
“
O estado de necessidade pressupõe um conflito entre titulares de in-
teresses lícitos, legítimos, em que um pode perecer licitamente para
que outro sobreviva. Exemplos clássicos de estado de necessidade
são o furto famélico; a antropofagia, no caso de pessoas perdidas; a
destruição de mercadorias de uma embarcação ou aeronave, para
salvar tripulantes e passageiros; a morte de um animal que ataca
o agente sem interferência alguma de seu dono etc. Não podendo
o Estado acudir aquele que está em perigo, nem devendo tomar
partido a priori de qualquer dos titulares dos bens em conflito,
concede o direito de que se ofenda bem alheio para salvar direito
próprio ou de terceiro ante um fato irremediável.
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UNIDADE 3
3. Inevitabilidade do dano.
A possibilidade de fuga para evitar o perigo tem de ser exercitada, pois se o agente
assim não o fizer, não estará protegido pelo estado de necessidade. O exercício da
possibilidade de fuga é chamado de commodus discessus. Para a caracterização
do estado de necessidade, não é necessário que a ofensa seja injusta, resultando
daí que duas pessoas reciprocamente, ao mesmo tempo, possam agir em estado
de necessidade uma contra a outra, sendo, portanto, possível a reciprocidade do
estado de necessidade (o que não ocorre na legítima defesa).
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UNIDADE 3
PENSANDO JUNTOS
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UNIDADE 3
“
A responsabilidade é a obrigação que alguém tem de arcar com as
consequências jurídicas do crime. É o dever que tem a pessoa de
prestar contas de seu ato. Ele depende da imputabilidade do indiví-
duo, pois não pode sofrer as consequências do fato criminoso (ser
responsabilizado) senão o que tem consciência de sua antijuridici-
dade e quer executá-lo (NORONHA, 1998, p. 172).
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UNIDADE 3
“
[...] o legislador penal ciente da necessidade de não deixar impunes
os criminosos ébrios, restringiu de tal modo sua irresponsabilidade
penal, que somente contemplou como motivo de isenção de pena a
embriaguez completa e involuntária (causa) que, ao tempo da conduta
(requisito temporal), retire por inteiro a capacidade de entendimento ou
de autodeterminação (efeito) (ESTEFAM; GONÇALVES, 2012, p. 418).
Pelo retratado, não é qualquer embriaguez que exclui a culpabilidade, como inclusive
se infere do artigo 28, inciso II, do CP. A embriaguez do artigo 28, parágrafo 1°, do CP
deve ser involuntária (não querida – caso fortuito e força maior), além disso, deixar o
agente completamente impossibilitado nas suas capacidades intelectivas e volitivas.
Por exemplo, imagine o sujeito que não pode ingerir bebida alcoólica, pois encontra-se
fazendo uso de remédios contínuos; todavia, outro indivíduo insere no copo daquele
sujeito bebida alcoólica sem que ele perceba; por conta disso, o sujeito bebe de forma
involuntária e acaba sendo dominado pelos efeitos do álcool em contradição com
os efeitos do remédio, restando totalmente fora de si, e acabando por cometer uma
infração penal; nesse caso, o sujeito embriagado terá a sua culpabilidade excluída.
A embriaguez pré-ordenada (que é aquela em que o agente se embriaga para lhe
encorajar a cometer o crime), a embriaguez voluntária (que é aquela em que o agente
se embriaga por livre e espontânea vontade), a embriaguez culposa (que é aquela
em que o agente se embriaga por não respeitar um dever objetivo de cuidado) não
excluem a culpabilidade. Já a embriaguez patológica poderá excluir a culpabilidade
quando gerar uma doença mental, sendo que, aqui, aplica-se o artigo 26 do CP.
Tanto a embriaguez, como a emoção e a paixão, por não excluírem a culpabili-
dade, estão relacionadas com a teoria da actio libera in causa, ou seja, a conduta
do agente estava livre quando optou pela causa (embriaguez, emoção ou paixão).
Portanto, ainda que no momento da conduta, o agente não possuía plenamente
a consciência da sua conduta, o que se pune é o momento anterior, ou seja, o
momento em que ele optou por se embriagar e assumiu os riscos do seu estado.
A consciência potencial da ilicitude é o segundo elemento da culpabilidade.
É o fundamento do juízo de reprovação. Assim, para que se caracterize a
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UNICESUMAR
culpabilidade, não basta que o agente seja imputável, sendo indispensável, ainda,
para o juízo de reprovação que ele possa conhecer a antijuridicidade de sua
conduta. Trata-se do conhecimento leigo que as pessoas possuem acerca daquilo
que é certo e do que é errado. Não existindo referida consciência, carecerá de
culpabilidade o agente. A falta de consciência da ilicitude ocasionará o erro de
proibição, como veremos adiante.
Como terceiro elemento da culpabilidade, ao lado da imputabilidade e da cons-
ciência potencial da ilicitude, aparece a exigibilidade de conduta diversa. A exi-
gibilidade de conduta diversa significa que nas circunstâncias do fato realizado pelo
agente, fosse possível exigir deste um comportamento diverso daquele que tomou ao
praticar o fato típico e antijurídico. Vale dizer, o agente deveria ter atuado diferente-
mente de como atuou, como, por exemplo, exige-se do homicida que não mate, pois ele
pode assim proceder; exige-se do ladrão que não furte, pois ele pode assim proceder.
Pode ocorrer em determinadas situações em que o agente que está realizando a
conduta típica e antijurídica não tenha a possibilidade de atuar de outra forma, ou
seja, ao agente não se pode exigir que tenha outra conduta senão a conduta injusta
(típica e antijurídica). Nessa situação, fala-se em inexigibilidade de conduta di-
versa. A inexigibilidade de conduta diversa quer significar que o agente tem de se
conduzir da forma como se conduziu. O legislador, no artigo 22 do CP, estabelece
duas hipóteses de causas legais de inexigibilidade de conduta diversa, quais sejam:
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UNIDADE 3
Caro(a) aluno(a), voltemos um pouco ao erro de tipo. Como vimos, é aquele que ocor-
re quando o agente erra sobre os elementos do tipo penal, isto é, sobre a tipicidade em
si. No erro de tipo essencial, por exemplo, o agente não quer realizar a conduta ilícita
que está fazendo, na verdade, supõe que está praticando uma conduta lícita, pois se
soubesse que sua conduta era ilegal, jamais a teria praticado (por exemplo, se o agente
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UNICESUMAR
soubesse que transportava cocaína e não farinha de trigo, jamais teria realizado tal
conduta, por saber que o transporte de drogas é crime. O erro de tipo exclui o dolo”.
Diferentemente é o erro de proibição. No erro de proibição, o agente quer
realizar a conduta, pois não vislumbra que ela esteja contrária ao direito. O agente
tem a consciência da sua realização, porém não sabe que seu ato é contrário ao
direito (por exemplo, um árabe vem para o Brasil e contrai mais de um casamen-
to; o árabe conscientemente sabia que estava se casando, todavia, não sabia que,
no Brasil, possuir mais de um casamento é crime de bigamia).
Nas palavras de Mirabete (2007, p. 197):
“
Como visto, para existir culpabilidade, necessário se torna que haja
no sujeito ao menos a possibilidade de conhecimento da antijuridi-
cidade do fato. Quando o agente não tem ou não lhe é possível esse
conhecimento, ocorre o denominado erro de proibição. Há, portanto,
erro de proibição quando o autor supõe, por erro, que seu compor-
tamento é lícito. Nessa hipótese, o agente atua voluntariamente e,
portanto, dolosamente, porque seu erro não incide sobre elementos
do tipo; mas não há culpabilidade, já que pratica o fato por erro
quanto à ilicitude de sua conduta (MIRABETE, 2007, p. 197).
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UNIDADE 3
b) erro de proibição evitável: ocorre quando a média comum dos seres hu-
manos, na mesma situação vivida pelo agente, não erraria (parágrafo único
do artigo 21 do CP). Nesse caso, o erro não exclui a reprovabilidade da con-
duta realizada, todavia, poderá diminuir a pena do agente na proporção de
um sexto a um terço. Foi adotado pelo CP, em seu artigo 21, 2ª frase, 2ª parte.
O erro de proibição não se confunde com o erro sobre a norma. O erro sobre a
norma, disposto no artigo 21, 1ª frase do CP, refere-se ao desconhecimento da lei;
em face do próprio dispositivo legal referido, o erro sobre a norma é irrelevante,
não podendo o agente alegar o desconhecimento da lei. O agente responderá pelo
crime, todavia, sua pena será atenuada por força do artigo 65, II do CP.
Também existe a figura do erro acidental, que poderá incidir em relação à pes-
soa (artigo 20, parágrafo 3° do CP) ou à execução do crime (artigo 73 do CP). Existe,
ainda, a figura do erro determinado por terceiro, no qual podem ocorrer situações
fáticas em que o erro é determinado dolosamente por um terceiro. Nos termos do ar-
tigo 20, parágrafo 2° do CP, responderá pelo crime o terceiro que determinou o erro.
Querido(a) aluno(a), após entendermos os conceitos de erro de proibição e
erro do tipo, é necessário que você saiba o que são as descriminantes putativas,
previstas no artigo 20, parágrafo 1° do CP. Em termos sintéticos e didáticos, as
descriminantes putativas podem ser entendidas como situações imaginárias que
excluem o crime. Por exemplo, o agente imagina que está atuando em estado de
necessidade, em legítima defesa. Em que pese as controvérsias doutrinárias a respeito
das descriminantes putativas, pode-se dizer que elas possuem duas espécies:
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UNICESUMAR
Elementos do Crime
Caro(a) aluno(a), após estudarmos de maneira por-
menorizada assuntos de grande relevância, convido-lhe
a escutar o podcast desta unidade, como forma de fixar
ainda mais o conteúdo. Nele, apresento os elementos do
crime de acordo com o seu conceito analítico, bem como
explico os elementos que compõem o fato típico, as causas
excludentes de ilicitude e culpabilidade.
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UNIDADE 3
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1. Imagine a seguinte situação: Pedro planeja assaltar determinada agência bancária.
Assim, em determinado dia, em horário comercial, entra na agência armado, colocan-
do todos, que estavam dentro do estabelecimento, na posição de refém, enquanto,
ao mesmo tempo, pedia para que o gerente lhe desse dinheiro. Para sua surpresa,
Pedro escuta sirenes de carros de polícia se aproximando, e foge rapidamente do
local, sem conseguir subtrair nada.
Fonte: os autores.
f) Roubo consumado.
g) Roubo tentado.
h) Furto consumado.
i) Furto tentado.
j) Extorsão.
Fonte: os autores.
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3. Em palavras simples, ilicitude ou antijuridicidade é a relação de contrariedade de uma
conduta típica em face do ordenamento jurídico, sendo que de acordo com a estru-
tura adotada por nós, todo fato típico tende a ser ilícito, e será, salvo se houver causa
de justificação, ou seja, uma excludente de ilicitude presente na situação concreta.
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4
Concurso de
Crimes e de
Pessoas
Me. Marllon Beraldo
Esp. Beatriz Gasparin Moreira
122
UNICESUMAR
o crime em conjunto? É possível que cada pessoa responda por crimes diferentes,
de acordo com a sua conduta dentro da divisão de tarefas durante a empreitada
criminosa? Antes de continuarmos a leitura, escreva, em seu diário de bordo, suas
impressões sobre o que vimos até aqui.
Prezado (a) aluno(a), uma infração penal poderá ser praticada por uma única
pessoa (por exemplo, o sujeito “A” mata o sujeito “B”), como também poderá ser
praticada por duas ou mais pessoas (por exemplo os sujeitos “A” e “B” matam a
pessoa de “C”). Quando realizada a infração por duas ou mais pessoas, pode-se
dizer que existe concurso de pessoas ou concurso de agentes nessa prática. No
concurso de pessoas, estuda-se o crime sob a perspectiva de realização múltipla
pelos envolvidos na conduta, como, por exemplo, se os sujeitos “A”,“B” e “C” matam
a pessoa de “D”, é mister averiguar qual a contribuição de cada um para a prática
delituosa, pois receberão a pena de acordo com sua culpabilidade.
Também se faz necessário compreender a distinção entre autor e partícipe
do crime, pois, nem sempre, exige-se do autor do crime que seja pessoalmente o
executor da infração, a qual poderá se dar a distância, ou até mesmo, ser realizada
por terceira pessoa. Como se verá, tal distinção é de suma importância, para se
saber a responsabilidade penal de cada um.
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UNIDADE 4
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OLHAR CONCEITUAL
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UNIDADE 4
b) Teoria dualista: para essa teoria, há uma distinção entre autores e partí-
cipes. Aqui, os autores principais respondem por um crime e os partícipes
respondem por outro.
c) Teoria pluralista: já por essa vertente, apesar de os agentes praticarem
uma mesma conduta, visualizando atingirem o mesmo fato, cada um res-
ponde por um crime diferente. Essa teoria foi adotada, de maneira excep-
cional, pelo Código Penal, em alguns crimes, como por exemplo, no artigo
126 (aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante).
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UNICESUMAR
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UNIDADE 4
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UNIDADE 4
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Após todas essas considerações, é importante que você entenda que o partícipe
responde pela mesma infração penal praticada pelo autor, ou seja, se, por exemplo,
a pessoa de “A” emprestou uma arma para que “B” matasse a pessoa de “C”, e esta
foi morta, tanto “A” (que é partícipe), como “B” (que é autor) responderão por ho-
micídio consumado. É esse o teor do artigo 29, caput, 1ª parte do CP. No presente
caso, perceba que “B” praticou um fato típico e ilícito, tendo em vista que não agiu
amparado por nenhuma excludente de ilicitude, e de acordo com a teoria da acesso-
riedade limitada, quando o autor pratica um fato típico e ilícito, o partícipe também
é punido pelo mesmo crime de acordo com a sua culpabilidade (artigo 29 do CP).
O artigo 29, caput, do CP, em sua parte final, quando ressalva: “na medida
da sua culpabilidade”, significa dizer que tanto o partícipe como o autor terão a
limitação de sua pena à medida da contribuição pessoal para o fato típico. Tam-
bém, consoante o parágrafo 1°, do artigo 29 do CP, o partícipe poderá ter a sua
pena reduzida de um sexto a um terço se sua participação tiver sido de menor
importância, o que deve ser analisada caso a caso.
A participação de menor importância é aquela que não teve grande con-
tribuição para o acontecer típico. Alguns doutrinadores entendem que significa
que é aquela que pode ser realizada por qualquer pessoa, uma vez que o fato típico
aconteceria da mesma forma.
Já no parágrafo 2° do artigo 29, do CP, encontramos a figura da cooperação
dolosamente distinta: “Se algum dos concorrentes quis participar de crime me-
nos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade,
na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave”. Esse parágrafo traz a
hipótese em que o concorrente quer praticar um crime menos grave, mas acaba
sendo punido por um mais grave, em razão da mudança do elemento subjetivo
do seu cúmplice. Por exemplo, o mandante determina que seu capanga dê uma
surra na vítima; porém o capanga a mata. Algumas hipóteses podem se verificar:
1ª) Há a verificação de um evento mais grave, não querido por um dos concor-
rentes, porém previsível o resultado mais grave. Por exemplo, o sujeito “A” manda
“B” dar uma surra em “C”; “B” age com tal brutalidade que acaba matando a pessoa
de “C”; “B” será responsabilizado pelo crime de homicídio consumado, enquanto
“A” será responsabilizado pelo crime de lesão corporal com a pena aumentada de
metade, eis que previsível o resultado.
2ª) Há um evento mais grave, não querido por um dos concorrentes, e im-
previsível o resultado mais grave. Por exemplo, o sujeito “A” manda “B” dar uma
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UNIDADE 4
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UNICESUMAR
Por fim, o próprio artigo 30 do CP, em sua parte final, ressalva que as circunstân-
cias/condições subjetivas se comunicarão no concurso de pessoas quando forem
elementares do tipo, como, por exemplo, a condição de funcionário público. Para
os crimes praticados por funcionários públicos contra a administração pública,
comunica-se quando existir um concurso de pessoas entre um funcionário e
outro sujeito qualquer.
Caro(a) aluno(a), ainda há algumas ponderações importantes a respeito do con-
curso de pessoas que devem ser do seu conhecimento. Uma delas é a respeito do
concurso de pessoas em crimes culposos. De acordo com a doutrina majoritária,
133
UNIDADE 4
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UNICESUMAR
Prezado(a) aluno(a), da mesma forma que uma infração penal pode ser cometida
por várias pessoas (concurso de pessoas), uma só pessoa pode cometer mais de
uma infração penal, e a isso damos o nome de concurso de crimes. Assim, con-
curso de crimes é um apêndice do Direito Penal que se volta para o estudo da
multiplicidade de infrações penais.
É o que ocorre, por exemplo, quando uma pessoa pratica dois ou mais crimes
ao mesmo tempo, necessitando-se saber que pena lhe será imposta. É por conta
disso que o concurso de crimes está intimamente ligado à aplicação da pena, pois
constatado que o agente criminoso tenha cometido várias infrações, é fácil con-
cluir que a ele será imposta uma pena condizente com os vários crimes praticados.
Deverá o agente, de regra, ser penalizado por todos os delitos que praticou.
Para que haja a referida penalização, fala-se em concurso de crimes, que tanto po-
derá ser um concurso material, concurso formal ou crime continuado, como
veremos a seguir. Em suma, ocorre o concurso de crimes quando o agente
por meio de uma ou mais ações ou omissões pratica dois ou mais crimes.
Segundo Masson (2020, p. 653), “concurso de crimes é o instituto que se verifica
quando o agente, mediante uma ou várias condutas, pratica duas ou mais infrações”.
A grande discussão no estudo do concurso de crimes diz respeito ao critério
de aplicação da pena, ou seja, de que forma deve ser aplicada a pena quando de
um concurso de crimes. A esse respeito, três sistemas se destacam, a saber:
a) Sistema do cúmulo material (ou real): por meio do qual, as penas dos
vários delitos devem ser somadas, isto é, se foram praticados vários crimes,
devem ser somadas todas as penas (por exemplo, se foram cometidos três
homicídios simples, tendo cada um deles a pena de seis a 20 anos, o agente
deverá receber a pena total de 18 a 60 anos). Esse sistema é aplicado nos
casos de concurso material, concurso formal impróprio e às penas de multa.
b) Sistema da exasperação da pena: por meio do qual, deve ser aplicada
a pena do crime mais grave, todavia, aumentada de um quantum (por
exemplo, imagine o cometimento de um crime de furto com uma pena
de um a quatro anos em concurso com um crime de estupro com uma
pena de seis a dez anos; nesse caso, só será aplicada a pena do crime mais
grave, que é o estupro, porém essa pena será aumentada de um quantum
que o próprio legislador estabelece). Esse sistema se aplica ao concurso
formal próprio e crimes continuados.
135
UNIDADE 4
Após introduzir o assunto e explicar o sistema de penas, passo agora a falar sobre
cada modalidade do concurso de crimes, começando pelo concurso material.
Primeiramente, cabe destacar que o concurso material (ou concurso real) está
regulamentado no artigo 69 do CP:
“
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulati-
vamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No
caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção,
executa-se primeiro aquela.
136
UNICESUMAR
“
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, prati-
ca dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave
das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada,
em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se,
entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os
crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante
o disposto no artigo anterior.
137
UNIDADE 4
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UNICESUMAR
“
A continuidade delitiva ocorre quando o agente, por meio de duas
ou mais condutas, comete dois ou mais crimes da mesma espécie e,
pelas condições de tempo, lugar, modo de execução e outras seme-
lhantes, devem os subsequentes serem havidos como continuação
do primeiro. Com relação à aplicação da pena, utiliza-se o sistema
da exasperação (VENERAL, 2020, p. 234).
Para Pimentel (1969, p. 82), “o crime continuado é uma realidade jurídica, mas a uni-
dade do crime é uma ficção, porque, na verdade, vários são os crimes que a compõem”.
O crime continuado nada mais é do que ficção criada em razão da política
criminal, para evitar que penas demasiadamente grandes fossem aplicadas. No
crime continuado, o agente realiza vários crimes em condições de tempo, modo
e lugar semelhantes, e, por razões de política criminal citada acima, o legislador
resolveu considerar praticado apenas um crime, ou seja, existem vários crimes
praticados, mas é considerado um só para fins de aplicação da pena. O crime
continuado está previsto no artigo 71 do CP, vejamos:
139
UNIDADE 4
“
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os
subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-
-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
2 1/6
3 1/5
4 1/4
5 1/3
6 1/2
7 2/3
140
UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
O aumento decorrente do concurso formal deve se dar de acordo com o número de in-
frações. Houve um aprimoramento desta tese, com a especificação do cálculo: [...] 5. A
exasperação da pena do crime de maior pena, realizado em continuidade delitiva, será
determinada, basicamente, pelo número de infrações penais cometidas, parâmetro este
que especificará no caso concreto a fração de aumento, dentro do intervalo legal de 1/6
a 2/3. Nesse diapasão, esta Corte Superior de Justiça possui o entendimento consolidado
de que, em se tratando de aumento de pena referente à continuidade delitiva, aplica-se
a fração de aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações; 1/4 para 4
infrações; 1/3 para 5 infrações; 1/2 para 6 infrações e 2/3 para 7 ou mais infrações [...].
Fonte: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). HC 543.725/PB. Relator: Ministro
Ribeiro Dantas. HC, 11 fev. 2020. DJe - Diário de Justiça Eletrônico, 14 fev. 2020.
Querido(a) aluno(a), enquanto o caput do artigo 71 do CP, o qual vimos até agora,
traz a modalidade de continuidade delitiva comum (crimes com penas idênticas)
e qualificado (crimes com penas diversas), o seu parágrafo único traz a modalida-
de, conforme a doutrina denomina, de continuidade delitiva específica.
141
UNIDADE 4
EXPLORANDO IDEIAS
Nem sempre será fácil trazer para os autos o número exato de crimes que foram prati-
cados, especialmente quando se trata de delitos sexuais. É o caso, por exemplo, de um
padrasto que mora há meses ou anos com a sua enteada e contra ela pratica constan-
temente estupro de vulnerável. Nessas hipóteses, mesmo não havendo a informação do
número exato de crimes que foram cometidos, o juiz poderá aumentar a pena acima de
1/6 e, dependendo do período de tempo, até chegar ao patamar máximo.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). HC 311.146/SP. Relator: Ministro Newton
Trisotto (desembargador convocado do TJ/SC). HC, 17 mar. 2015. DJe - Diário de Justiça
Eletrônico, 31 mar. 2015.
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UNICESUMAR
143
1. Senhor do fato é aquele que realiza em forma final, em razão da sua decisão volitiva.
A conformação do fato mediante a vontade de realização que dirige em forma pla-
nificada é o que transforma o autor em senhor do fato.
2. O concurso de crimes ocorre quando determinado agente, por meio de uma ou mais
condutas (ações ou omissões), pratica dois ou mais delitos, sejam eles idênticos ou
não, para que de acordo com as algumas características específicas se defina a forma
de aplicação da pena para ele.
A autora.
144
5
Extinção da
Punibilidade
Me. Marllon Beraldo
Esp. Beatriz Gasparin Moreira
148
UNICESUMAR
de sua vida, ainda que decorridos muitos anos da prática do delito, pudesse ser
descoberto, processado e punido. Podemos concluir também que quanto maior o
período de tempo entre a prática criminosa e o julgamento, torna-se mais difícil
a colheita de provas, tendo em vista que elas se perdem no tempo. Por fim, é fato
que com o decurso do tempo, a grande parte das pessoas mudam seu jeito de agir
e de pensar, portanto, pode ser que a depender de quando a pena fosse aplicada,
perderia o propósito de sua aplicação. A partir de toda essa reflexão, escreva no
diário de bordo abaixo a sua impressão inicial acerca da extinção da punibilidade
e seus aspectos positivos e negativos.
149
UNIDADE 5
Ocorrido um fato criminoso, surge para o Estado o direito de punir (jus pu-
niendi) o agente que praticou o fato. O Estado deverá valer-se dos meios oficiais
para impor, de maneira eficaz, a reprimenda ao criminoso. Todavia, há situações
em que mesmo existindo o direito de punir por parte do Estado, ele não poderá
aplicá-lo por situações que excluam o ius puniendi, ainda que já tenha havido
condenação definitiva.
Referidas situações são as denominadas causas extintivas da punibilidade,
que dependendo de sua espécie, serão impostas pelos mais variados motivos,
como, por exemplo, clemência, por morte, por revogação, por perdão, por decurso
do tempo e inércia, dentre outros. Com isso, fica evidente que, mesmo existindo
a ocorrência do fato criminoso, mesmo o crime tendo sido consumado e o su-
jeito esteja definitivamente condenado, poderão surgir situações que impeçam
o Estado de dar uma efetiva punição para o agente criminoso.
Por outro lado, como se verá, em certas ocasiões, ainda que o agente não seja
punido, poderão persistir algumas obrigações por parte dele, seja em relação ao
próprio Estado, seja em relação à vítima do delito, fazendo com que persistam
alguns resquícios da infração cometida.
Sendo assim, é importante que você saiba como a doutrina conceitua as cau-
sas extintivas de punibilidade. Conforme acentua Nucci (2022, p. 868), causa
extintiva da punibilidade “é o desaparecimento da pretensão punitiva ou execu-
tória do Estado, em razão de específicos obstáculos previstos em lei, por razões
de política criminal”. Já para Greco (2022, p. 748), “quando nos referimos a cau-
sas de extinção da punibilidade estamos diante de dados que não interferem na
infração penal em si, mas, sim, que a existência desses dados pode impedir que
o Estado, mesmo existindo a infração penal, seja impedido de exercitar o seu
direito de punir”.
Em princípio, todo crime deve ensejar uma punibilidade, isto é, toda conduta
efetivamente criminosa contém em si a sua punibilidade, autorizando o Estado a
exercer seu jus puniendi; porém, outras situações poderão retirar do Estado esse
direito de punir, fazendo com que o agente criminoso não receba uma punição
concreta. A essa retirada do jus puniendi costuma-se denominar de extinção da
punibilidade. Nas palavras de Tourinho (2012, p. 626): “contingências ou motivos
de conveniência ou oportunidade fazem desaparecer os próprios fundamentos
da punibilidade, tornando, assim, impossível a concretização do jus puniendi”.
150
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UNIDADE 5
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O inciso II, do artigo 107 do CP, apresenta a anistia, graça e indulto como
causas extintivas da punibilidade, também denominadas de clemências sobera-
nas, uma vez que o Estado renuncia ao seu jus puniendi. Essas modalidades de
extinção da punibilidade alcançam tanto crimes de ação penal pública, como de
ação penal privada, pois sempre o jus puniendi será estatal.
A Constituição Federal, em seu artigo 5°, inciso XLIII, veda a concessão das
clemências soberanas aos crimes de tortura, terrorismo, tráfico de drogas e aos
definidos em lei como crimes hediondos. As clemências soberanas são:
1. A anistia consiste, como explica Bitencourt (2022, p. 980), no “esqueci-
mento jurídico do ilícito e tem por objeto fatos (não pessoas) definidos
como crimes, de regra, políticos, militares ou eleitorais, excluindo-se,
normalmente, os crimes comuns”. A anistia só se aplica a fatos pretéritos.
Como adverte Estefam e Gonçalves (2012, p. 682), “a anistia se diferencia
da abolitio criminis. Nesta, a norma penal incriminadora deixa de existir,
enquanto, naquela, são fulminados apenas fatos criminosos anteriores,
continuando a existir o tipo penal”.
153
UNIDADE 5
Conforme o artigo 48, inciso VIII, da CF, a anistia deve ser concedida por lei apro-
vada no Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República. A anistia,
ainda, extingue todos os efeitos penais da condenação (pena, reincidência, antece-
dentes etc.), existindo, todavia, os efeitos extrapenais (por exemplo: a indenização).
154
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UNIDADE 5
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EXPLORANDO IDEIAS
Punibilidade
O Direito Penal não pretende realizar valores absolutos de justiça sobre a terra, nem exercitar
os cidadãos para a virtude da violência, senão garantir a inviolabilidade dos valores supremos
da ordem social, tornando possível a vida em comunidade. De acordo com esse ponto de
partida, (leia-se: natureza “instrumental” do Direito Penal a serviço da convivência humana),
entende a doutrina dominante que a missão essencial do Direito Penal, destarte, é a de prote-
ção dos valores fundamentais da ordem social; isto é, a salvaguarda de bens jurídicos.
Fonte: GOMES, L. F.; MOLINA, A. G. P.; BIANCHINI, A. Direito penal: introdução e princí-
pios fundamentais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. v. 1.
157
UNIDADE 5
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UNICESUMAR
para fazer com que ele cumpra a pena recebida; se o Estado assim não agir nesse
período, restará caracterizada a prescrição do crime.
A Tabela 1, realizada de acordo com o disposto no artigo 109 do Código Penal,
ilustra os prazos prescricionais dos crimes, de acordo com a sua pena máxima:
8 a 12 anos 16 anos
4 a 8 anos 12 anos
2 a 4 anos 8 anos
1 a 2 anos 4 anos
159
UNIDADE 5
“
A prescrição é uma das situações em que o Estado, em virtude do
decurso de certo espaço de tempo, perde seu ius puniendi. Embora
exista alguma controvérsia doutrinária, como frisamos, entende-
mos que com a prescrição existe a perda do direito de punir, e não
a renúncia ao direito de punir por parte do Estado. O Estado pode
renunciar ao seu exclusivo ius puniendi quando concede, por exem-
plo, a anistia, a graça e o indulto. Nessas hipóteses, embora podendo
levar a efeito o seu direito de punir, o Estado dele abre mão, ao con-
trário do que ocorre com a prescrição, quando, mesmo querendo,
não poderá exercê-lo (GRECO, 2022, p. 767).
160
UNICESUMAR
“
A palavra prescrição, no sentido comum, significa preceito, ordem
expressa; no sentido jurídico, significa perda de um direito em face
de seu não exercício dentro de certo prazo. Prescrição penal, num
conceito preliminar, é a extinção do direito de punir do Estado pelo
decurso do tempo. Preferimos dizer que a prescrição penal é a per-
da da pretensão punitiva ou executória do Estado pelo decurso do
tempo sem o seu exercício (JESUS, 2012, p. 761).
“
Cuida-se da perda do direito de punir do Estado pelo não exercício
em determinado lapso de tempo. Não há mais interesse estatal na
repressão do crime, tendo em vista o decurso do tempo e porque o
infrator não reincide, readaptando-se à vida social. Há duas maneiras
de se computar a prescrição: a) pela pena in abstracto; b) pela pena
in concreto. No primeiro caso, não tendo ainda havido condenação,
inexiste pena para servir de base ao juiz para o cálculo da prescrição.
Portanto, utiliza-se a pena máxima em abstrato prevista para o delito.
No segundo caso, já tendo havido condenação com trânsito em jul-
gado, ao menos para a acusação, a pena tornou-se concreta e passa
a servir de base de cálculo para a prescrição (NUCCI, 2022, p. 885).
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UNIDADE 5
Boa parte da doutrina pátria entende que a prescrição tem natureza jurídica de
direito material (penal), aplicando-se a ela as mesmas regras do Direito Penal. É o
que sustentam Estefam e Gonçalves (2012, p. 689) ao afirmarem que “a prescrição é
instituto de direito material”. Do mesmo modo, enuncia Jesus (2012, p. 762): “cremos,
entretanto, que a prescrição tem natureza exclusivamente penal. Tanto que, consti-
tuindo causa extintiva da punibilidade, vem disciplinada no CP”. Tendo a prescrição
natureza de direito material (penal), a ela serão aplicadas as regras pertinentes ao
Direito Penal, tais como: a retroatividade de lei mais benéfica, irretroatividade de
lei maléfica, contagem material do prazo (artigo 10 do CP), dentre outras.
162
UNICESUMAR
condenatória. Isso significa dizer que além do sujeito não receber pena, também
será considerado primário, de bons antecedentes, não existirá a obrigação certa
de indenizar, dentre outros. Todavia, a prescrição da pretensão punitiva não im-
pedirá a propositura de uma ação civil autônoma de reparação de dano, a teor
do artigo 67, inciso II, do CPP.
Existindo a prescrição da pretensão executória, o agente criminoso só terá
afastado o efeito penal principal da condenação, qual seja, o cumprimento da
pena imposta. De outro lado, os efeitos penais secundários subsistirão, como, por
exemplo, o agente será considerado reincidente, não terá bons antecedentes, terá
a obrigação certa de indenizar, dentre outros.
Passaremos a falar, agora, especificamente da prescrição da pretensão pu-
nitiva. Como dito anteriormente, a prescrição da pretensão punitiva (também
chamada de prescrição da ação) é aquela que se verifica antes do trânsito em
julgado de uma sentença penal condenatória. A prescrição da pretensão punitiva
pode ser dividida em quatro espécies, quais sejam: prescrição da pretensão pu-
nitiva propriamente dita; prescrição da pretensão punitiva retroativa; prescrição
da pretensão punitiva superveniente ou intercorrente; e prescrição da pretensão
punitiva virtual ou antecipada ou por prognose ou em perspectiva.
OLHAR CONCEITUAL
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UNIDADE 5
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UNICESUMAR
“
[...] haverá ainda prescrição retroativa, na hipótese de haver decor-
rido o prazo entre o oferecimento e o recebimento da denúncia
ou queixa, uma vez que a lei 12.234/2010 só proíbe a prescrição
retroativa em data anterior ao seu oferecimento. Esta hipótese, em
regra, mostra-se presente quando o juiz rejeita a denúncia que só é
recebida muito tempo depois pelo tribunal (ESTEFAM; GONÇAL-
VES, 2012, p. 702).
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UNIDADE 5
Descrição da Imagem: esquema com cinco células, sendo que uma delas, acima, apresenta os dizerem
“prescrição da pretensão punitiva retroativa”. Abaixo dela, outras quatro células, da esquerda para a
direita, trazem os dizeres: “prática do crime”, “recebimento da renúncia”, “sentença”, “trânsito em julga-
do para o ministério público”. Uma linha vermelha une a célula “recebimento da denúncia” até a célula
“trânsito em julgado para o MP”, que se encontram em uma única seta que aponta para a célula de cima.
166
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: esquema com sete células, sendo que uma delas, acima, possui os dizeres: “pres-
crição da pretensão punitiva superveniente/intercorrente”. Abaixo dela, outras seis células, da esquerda
para a direita, apresentam os dizeres: “prática do crime”, “recebimento da renúncia”, “sentença”, “trânsito
em julgado para o ministério público”, “trânsito em julgado para ambas as partes” e “início da execução
da pena”. Uma linha vermelha une a célula “trânsito em julgado para o MP” até a célula “trânsito em
julgado para ambas as partes”, que se encontram em uma única seta, que aponta para a célula de cima.
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UNIDADE 5
até então sem julgamento no ano de 2013, e mesmo que o agente venha a ser
condenado, sua pena não irá ultrapassar um ano, sendo lógico concluir, assim,
que mesmo sendo condenado a qualquer momento, seu crime já estaria prescrito,
pois já está transcorrido o lapso prescricional (artigo 109, inciso V, do CP); por
questão de economia processual, seria interessante antecipar o reconhecimento
de sua prescrição.
A prescrição virtual, conforme dispõe o Superior Tribunal de Justiça, em
sua Súmula 438, não é admitida: “É inadmissível a extinção da punibilidade
pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética,
independentemente da existência ou sorte do processo penal”.
Consoante referida Súmula, a prescrição virtual não pode ser aplicada e con-
sequentemente reconhecida, seja no âmbito inquisitivo (na fase do inquérito
policial), seja no âmbito judicial (na fase do processo penal). Em outras palavras,
o crime deverá ser apurado normalmente, e só ao final, poderá ocorrer ou não a
prescrição. Muito se critica o entendimento exarado nessa Súmula, pois não seria
razoável deixar o transcorrer de um inquérito policial ou um processo penal,
para no fim se reconhecer a prescrição; estar-se-ia diante de flagrante ofensa ao
princípio da efetividade jurisdicional.
168
UNICESUMAR
“
De acordo com a classificação dos crimes, deve-se verificar qual a data
da consumação: materiais, no dia em que houve o resultado; formais e
de mera conduta, na data da atividade; omissivos próprios, na data do
comportamento negativo; omissivos impróprios, no dia do resultado;
preterdolosos ou qualificados pelo resultado, na data do resultado;
culposos, na data do resultado naturalístico. Nos crimes continuados,
vale a data da consumação de cada delito que os compõe.
169
UNIDADE 5
Querido(a) aluno(a), o Estado deverá se valer dos meios oficiais para executar a pena
imposta ao agente. Todavia, pode ocorrer que, mesmo existindo esse direito de punir
estatal, desde o momento da imposição da pena ao agente até a sua efetiva execução,
ocorra o transcurso de um lapso temporal que faça extinguir a punibilidade.
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“
[...] ocorreu depois do trânsito em julgado para as partes, embora o
seu início se dê a partir da data do trânsito em julgado para a acusa-
ção. Nessa hipótese, a condenação somente perde o efeito para o fim
de imposição da sanção principal – a pena aplicada. Remanescem os
efeitos secundários da condenação, como o registro do antecedente,
a viabilidade de gerar reincidência, o dever indenizatório na área
cível etc. (NUCCI, 2022, p. 886).
“
[...] somente podemos falar em prescrição da pretensão executória
quando o Estado já tiver formado o seu título executivo judicial, o
que somente acontece após o trânsito em julgado para ambas as par-
tes e, ainda, com a efetiva possibilidade de execução do título execu-
tivo judicial formado por meio do trânsito em julgado da sentença
penal condenatória. Caso contrário, mesmo que, aparentemente,
tenha havido a concretização da pena que fora aplicada ao agente,
se o Estado não teve, por um instante sequer, a possibilidade de fazer
valer sua decisão condenatória, executando a pena infligida ao con-
denado, a prescrição não poderá ser considerada como da pretensão
executória, mas, sim, da pretensão punitiva (GRECO, 2022, p. 771).
171
UNIDADE 5
Descrição da Imagem: esquema com sete células, sendo que uma delas, acima, traz os dizeres: “prescri-
ção da pretensão executória”. Abaixo dela, as outras seis células, da esquerda para a direita, apresentam
os dizeres: “prática do crime”, “recebimento da renúncia”, “sentença”, “trânsito em julgado para o ministério
público”, “trânsito em julgado para ambas as partes” e “início da execução da pena”. Uma linha vermelha
une a célula “trânsito em julgado para o MP” até a célula “início da execução da pena”, que se encontram
em uma única seta, que aponta para a célula de cima
172
UNICESUMAR
uma vez vencidas tais causas, o prazo volta a fluir do ponto em que havia parado,
computando-se àquele que já transcorreu.
Segundo Nucci (2022, p. 897): “Impedir ou suspender a prescrição significa
apenas paralisar o prazo prescricional, que recomeçará a correr do ponto onde
parou, tão logo a causa que fundamentou a suspensão termine” Já interromper,
para o mesmo autor,“significa recomeçar, por inteiro, o prazo prescricional (artigo
117, parágrafo 2º, CP). Exemplo: se após o decurso de dois anos do lapso pres-
cricional, de um total de quatro, houver a ocorrência de uma causa interruptiva,
o prazo recomeça a correr integralmente” (NUCCI, 2022, p. 899).
O legislador, nos incisos I a IV, do artigo 116 do CP, indica as causas suspen-
sivas da prescrição da pretensão punitiva, enquanto nos incisos I a IV, do artigo
117 do CP, indica as causas interruptivas da prescrição da pretensão punitiva. Já a
causa suspensiva da prescrição da pretensão executória encontra-se normatizada
no parágrafo único do artigo 116 do CP, enquanto suas causas interruptivas estão
definidas nos incisos V e VI, do artigo 117 do CP:
Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição
não corre:
II - pela pronúncia;
173
UNIDADE 5
No que se refere à reincidência (artigo 117, inciso VI, do CP), o STJ sumulou
entendimento (Súmula 220) de que a reincidência não influi no prazo da pres-
crição da pretensão punitiva.
Caro(a) aluno(a), no que se refere à prescrição quanto às penas restritivas de
direito, a teor do parágrafo único do art. 109 do CP, elas prescrevem pelos mesmos
prazos das penas privativas de liberdade. Isso significa que as penas restritivas
de direitos prescrevem seguindo a mesma estrutura da prescrição das penas pri-
vativas de liberdade. Segundo Nucci (2022, p. 890), os prazos prescricionais das
penas restritivas de direito “são os mesmos previstos para as penas privativas de
liberdade justamente porque as restritivas são substitutivas, significando que não
têm previsão autônoma no preceito secundário dos tipos penais incriminadores”.
Já no que se refere às penas de multas, o artigo 144 do CP tratou do assunto. Assim:
a) a prescrição da pena de multa ocorrerá em dois anos, quando a multa for
a única cominada ou aplicada (inciso I do artigo 114 do CP);
b) no mesmo prazo estabelecido para a prescrição da pena privativa de liber-
dade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumula-
tivamente aplicada (inciso II do artigo 114 do CP).
O artigo 115 do CP ainda versa sobre o que chamamos de menoridade re-
lativa e senilidade, quando dispõe que, sendo o agente criminoso menor de
21 (vinte e um) anos na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos na data da
sentença, seja na prescrição da pretensão punitiva, seja a prescrição da pretensão
executória, todos os seus prazos prescricionais serão reduzidos pela metade.
Referidas idades não sofreram alterações, quer por parte do Código Civil (que
reduziu a maioridade para os 18 anos), quer do Estatuto do Idoso (que considera
idoso aquele que tenha idade igual ou superior a 60 anos). Para efeitos da pres-
crição penal, a idade a ser considerada será a estabelecida no artigo 115 do CP.
174
UNICESUMAR
175
UNIDADE 5
Todavia, o jus puniendi não pode ser aplicado de forma indiscriminada pelo
Estado, bem como, em determinadas situações, o próprio Estado pode desistir de
aplicá-lo. Essas limitações do jus puniendi são chamadas de causas de extinção
da punibilidade.
Como informado no começo da unidade, o crime de furto possui pena má-
xima de quatro anos de reclusão e, diante disso, conforme aprendido, o Estado
possui prazo de até oito anos para punir o agente infrator, uma vez que se de-
corrido tal prazo, há por consequência a extinção da punibilidade. Na suposição
de morte do agente, também há a extinção da punibilidade, em observância do
princípio da intranscendência das penas. Essas hipóteses, entre outras que vimos,
estão presentes no rol não taxativo do artigo 109 do CP.
É certo que, quando alguém pratica uma infração penal, o Estado também
sofre com tal prática, uma vez que ele deve garantir à sociedade a punibilidade do
agente infrator para não gerar a sensação de impunidade, bem como para servir
de exemplo para que os demais não transgridam a lei, assim como garantir que
o infrator não volte a delinquir. No entanto, deve-se ter em mente que a punibi-
lidade não é eterna e que possui causas de extinção, seja para a própria proteção
do delinquente, seja para não deixar o Estado cair na inércia.
176
1. Imagine que João tenha praticado uma infração penal em 2011, tendo sido julgado e
condenado com o trânsito julgado em 2016, iniciando o cumprimento da sua pena
neste mesmo ano. Em 2020, foi publicada uma lei que deixou de considerar a infração
que João havia praticado como fato típico.
Fonte: a autora.
a) Abolitio criminis.
b) Prescrição.
c) Decadência.
d) Anistia.
e) Graça.
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UNIDADE 2
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UNIDADE 5
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NUCCI, G. S. Curso de direito penal: parte geral. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022.
183
UNIDADE 1
1. São três as teorias que explicam a finalidade da pena: absoluta, relativa e a mis-
ta. A absoluta diz respeito ao caráter retribucionista da pena, ou seja, àque-
le que praticou uma infração penal deve ser aplicada uma pena como forma de
castigo. A teoria relativa possui caráter preventivo, ou seja, tem como objetivo
a prevenção do crime. Por fim, a teoria mista, adotada pelo Código Penal brasi-
leiro, de acordo com o artigo 59, possui caráter de retribuição e prevenção.
A teoria relativa ainda se subdivide em duas espécies: geral e especial. Essas, por sua
vez, subdividem-se em negativa e positiva. A prevenção geral negativa volta-se para
a sociedade com o fim de intimidação, enquanto a prevenção geral positiva volta-se
para a sociedade com o objetivo de educá-la. Por outro lado, a prevenção especial
negativa volta-se para o delinquente com o objetivo de evitar a sua reincidência, e a
prevenção especial positiva volta-se para o delinquente, visando à sua ressocialização.
2. De acordo com Pacelli (2017, p. 61), bem jurídico pode ser definido da seguinte for-
ma: “é a coisa, o valor, o atributo espiritual ou intelectual cujo usufruto e gozo são
reconhecidos como significativamente relevantes. Primeiro, para o efetivo desenvol-
vimento pessoal de seu titular e, depois e em consequência, para todo o corpo social,
de que é exemplo o meio ambiente ecologicamente equilibrado”. Dois exemplos são:
a liberdade de locomoção e a vida.
184
UNIDADE 2
1. Letra B. O princípio da legalidade, ou reserva legal, encontra previsão nos artigos 5°,
inciso XXXIX, da Constituição Federal e 1°, do Código Penal, e afirma que só existe crime
ou pena se uma norma assim estabelecer. Em razão desse princípio, são inadmissíveis
no Direito Penal a criação de leis vagas, imprecisas para definir crimes e cominar penas.
3. Contravenção: pena máxima de cinco anos; somente pode ser julgada pela Justiça Es-
tadual; não pode haver crimes tentados; não admite a extraterritorialidade; os crimes
são de ação pública incondicionada. Crimes: Pena máxima de 40 anos; pode ser julgada
pela Justiça Estadual e Federal; pune crimes tentados; admite a extraterritorialidade;
os crimes podem ser de ação pública incondicionada, condicionada e privada.
UNIDADE 3
1. A letra B é a correta.
O crime relatado é o crime de roubo, uma vez que ele ameaça pessoas para sub-
trair o bem, amoldando-se perfeitamente ao tipo previsto no artigo 156 do CP.
No entanto, deve ser punido na forma tentada, tendo em vista que crime tentado
é todo aquele que é iniciado a sua execução pelo agente, porém não se consuma
por circunstâncias alheias a sua vontade. De acordo com o artigo 14, inciso II, do
CP: “Diz-se do crime: II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente”.
185
2. A letra C é a correta.
UNIDADE 4
1. Autor é aquele que possui o domínio da realização da conduta típica, ou seja, possui o
poder de decidir sobre a paralisação ou continuidade da conduta típica. Já o partícipe
é aquele que não possui o domínio do fato típico, ou seja, não pode decidir entre a
continuidade e a paralisação da conduta típica. A teoria do domínio final do fato define
autor em três contextos:
a) Autor propriamente dito: é aquele que realiza diretamente o núcleo do tipo penal.
b) Autor intelectual: é aquele que não realiza o núcleo do tipo penal, mas é a ca-
beça da conduta criminosa. Sem ele, o tipo penal não acontece da forma como
planejada.
c) Autor mediato: é aquele que utiliza de um não culpável para a prática do crime.
186
2. Ocorre o concurso material quando o agente, mediante mais de uma ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. Já o concurso formal ocorre
quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não.
A continuidade delitiva ocorre quando o agente, por meio de duas ou mais condu-
tas, comete dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo,
lugar, modo de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havi-
dos como continuação do primeiro. Com relação à aplicação da pena, utiliza-se o
sistema da exasperação.
3. A letra A é a correta.
Roubo majorado, de acordo com o artigo 157, parágrafo 2º, inciso I, do CP, em con-
curso formal (artigo 70 do CP), uma vez que por meio de uma única ação o agente
pratica diversos roubos. Ainda é próprio, pois não ocorreram desígnios diferentes.
UNIDADE 5
1. Letra A.
A abolitio criminis que ocorre por meio de retroatividade de lei que não mais consi-
dera o fato como criminoso e tem seu fundamento no artigo 5°, inciso XL, da CF e
no artigo 2°, do CP. Portanto, a abolitio ocorre quando uma nova lei entra em vigor
e não considera mais como criminosa uma certa infração.
187
3. A prescrição, propriamente dita, ocorre enquanto ainda não houver sentença conde-
natória com trânsito em julgado para a acusação e se regula pela pena em abstrato
cominada ao delito. O Estado deverá instaurar o processo ou, caso já instaurado, deve
julgá-lo, antes do lapso prescricional estabelecido pela lei (artigo 109, caput, do CP). O
cálculo dessa prescrição será feito com base no artigo 109 do CP, sempre tendo por
parâmetro o máximo da pena privativa de liberdade abstratamente cominada ao delito.
Por fim, prescrição virtual é aquela em que é realizada uma análise hipotética das si-
tuações que fossem levadas em conta no momento do juiz graduar a pena para chegar
em uma eventual condenação. Assim, levando em consideração a pena virtualmente
considerada, seria possível verificar, de maneira antecipada, eventual prescrição. Caso
a eventual prescrição ocorresse, não haveria interesse do Estado em prosseguir com
a ação penal e, desse modo, seria possível considerá-la prescrita.
188