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Direitos

Humanos,
Cidadania e
Segurança
PROFESSORAS
Me. Brenda Ohana Rocha Hundzinski
Esp. Beatriz Gasparin Moreira

ACESSE AQUI O SEU


LIVRO NA VERSÃO
DIGITAL!
EXPEDIENTE

FICHA CATALOGRÁFICA

Coordenador(a) de Conteúdo C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


Isis Carolina Massi Vicente Núcleo de Educação a Distância. HUNDZINSKI, Brenda
Ohana Rocha; MOREIRA, Beatriz Gasparin.
Projeto Gráfico e Capa
André Morais, Arthur Cantareli e Direitos Humanos, Cidadania e Segurança. Brenda
Ohana Rocha Hundzinski e Beatriz Gasparin Moreira.
Matheus Silva
Maringá - PR: Unicesumar, 2022.
Editoração
176 p.
Juliana Duenha
Design Educacional ISBN 978-85-459-2333-6
Lucio Ferrarese “Graduação - EaD”.
Curadoria 1. Direito 2. Segurança 3. Cidadania. 4. EaD. I. Título.
Cleber Rafael Lopes Lisboa
Revisão Textual CDD - 22 ed. 341.1
Bruna da Silva
Ilustração
Andre Luis Azevedo da Silva Impresso por:
Fotos
Shutterstock Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
02511317
Me. Brenda Ohana Rocha Hundzinski
Olá, meu nome é Brenda, sou Mestre em Políticas Públicas
(Universidade Estadual de Maringá – UEM, 2021), espe-
cialista em Direito Aplicado (Escola da Magistratura do
Paraná – EMAP, 2015) e Gestão Pública Municipal (Univer-
sidade Estadual de Maringá – UEM, 2019), e sou graduada
em Pedagogia (Unicesumar, 2013) e em Direito (Faculdade
Alvorada de Tecnologia e Ensino, 2014).
Nasci e resido na cidade de Maringá, no Estado do Pa-
raná, e é nessa cidade que atuo profissionalmente, desde
novembro de 2013, como Soldado da Polícia Militar do
Estado do Paraná. Também, atuo profissionalmente, des-
de janeiro de 2022, como Professora Mediadora na Uni-
cesumar, no curso de Tecnologia em Segurança Pública.
Ingressei em ambos os cursos de graduação no ano
de 2010, quando tinha 17 anos, e não foi fácil conciliar os
estudos, porém, sempre acreditei que o conhecimento é
essencial para a vida, pois possibilita os crescimentos pes-
soal, intelectual e social. Por tal motivo, sempre, busquei
estudar e aperfeiçoar os conhecimentos obtidos por meio
das pós-graduações.

http://lattes.cnpq.br/9493650097029515
Esp. Beatriz Gasparin Moreira
Olá, aluno(a)! Tudo bem com você? Meu nome é Beatriz
Gasparin Moreira, sou formada em Direito pela Universi-
dade Estadual de Maringá (UEM), Especialista em Direito
Material do Trabalho e Direito Processual do Trabalho, pelo
Centro Universitário UniDomBosco, e em Direito Proces-
sual Civil pelo Instituto Damásio de Direito. Atualmente,
sou advogada em Maringá, no Paraná, nas áreas de Direito
de Família, Direito Civil e Direito do Consumidor, e atuo
como Professora Mediadora na Unicesumar, no Curso
Superior de Tecnologia em Gestão de Segurança Privada.
Para que você conheça mais de mim, vou contar um
pouquinho da minha história. Eu nasci em uma cidade bem
pequena no interior do Paraná, de, aproximadamente, uns
dois mil habitantes, chamada Ivatuba, e, quando tinha 16
anos, eu e minha família mudamos para a cidade de Ma-
ringá, em busca de mais estrutura e meios para os estudos.
Ingressei no curso de Direito aos 19 anos e me formei aos
24. Desde então, busco me aperfeiçoar nesse ramo de tra-
balho, afinal de contas, nunca devemos parar de estudar.
Nas minhas horas vagas, gosto de assistir a uma boa
série, ou filme. Também, gosto de viajar e conhecer novos
lugares, novas culturas, novas experiências gastronômi-
cas e novas pessoas. Um delicioso churrasco, aos fins de
semana, sempre vai bem também.
Aceitei o grande desafio de escrever este livro pois
sou grande entusiasta e estudante da área dos direitos
humanos e espero que eu consiga fazer você se interessar
por esse tema de tamanha importância nos dias de hoje.
Acredito que o conhecimento e o estudo são as armas
mais fortes que podemos ter, e que ninguém nunca po-
derá tirar de nós. Portanto, usufruam, ao máximo, desse
material que foi feito com tanto carinho para vocês!

http://lattes.cnpq.br/0740510682590788
DIREITOS HUMANOS, CIDADANIA E SEGURANÇA

Olá, estudante. Seja bem-vindo (a) à disciplina Direitos Humanos, Cidadania e Seguran-
ça! Disciplina que volta a resgatar os aspectos históricos dos direitos humanos, a fim
de apresentar as noções gerais da trajetória desses direitos e a influência que tiveram
para a formação do atual ordenamento jurídico e para a estruturação social. Na disci-
plina, também, será apresentado um breve estudo dos fundamentos e dos aspectos
jurídicos para a construção dos direitos fundamentais do homem, com a exibição de
conceitos relevantes para as suas formação e vida profissionais. É necessário mostrar
como eles regem as relações humanas nos âmbitos interno e externo.
Apresentados os temas primordiais a serem estudados nesta disciplina, convém
questionar: qual é a relevância desses assuntos para a formação e para a atuação
profissional dos agentes de segurança pública? Como a compreensão dessas temáti-
cas poderá influir no desenvolvimento dos atos de prevenção da ordem pública e de
persecução criminal?
Embora a disciplina não aborde, de forma direta, os atos desenvolvidos pelos agen-
tes de segurança pública nas práticas corriqueiras, como ocorre com o Direito Penal, o
Direito Administrativo, dentre outros ramos do Direito, ela abordará temas que subsi-
diam as ações dos agentes estatais, e norteará ações para a defesa dos preceitos consti-
tucionais e internacionais do homem, evitando quaisquer atos truculentos e ilegítimos.
Assim, voltada a compreensão dos direitos humanos, da cidadania e da segurança, a
disciplina se torna muito importante para as suas formações acadêmica, profissional e
pessoal, uma vez que apresenta aspectos primordiais de estruturação do ordenamento
jurídico, fatores e fundamentos que influem na consolidação das leis e dos preceitos
essenciais a uma vida digna.
Para demonstrar a relevância dos direitos humanos, da cidadania e da segurança,
imagine como seriam as relações humanas sem nenhuma normatização para regulá-las
– se cada indivíduo da coletividade, conforme o livre arbítrio, pudesse praticar qualquer
ação sem a observância de limites ou regras? Como a ausência de normatização básica
de defesa do ser humano influiria nas ações estatais?
O estabelecimento de regras é essencial para a consolidação de uma sociedade
justa e igualitária, que imponha limites às condutas humanas, com escopo de evitar
ações truculentas, inquisitórias e arbitrárias, pautadas, apenas, no interesse abusivo
de uma parte, sem respeito mínimo a outrem. Sem a existência dos direitos humanos,
da cidadania e da segurança, a convivência não seria possível, pois viveríamos em con-
flitos intensos e violentos, que impediriam a formação de uma sociedade de direitos.
Compreender a relevância dos direitos humanos, da cidadania e da segurança é essen-
cial para o entendimento de como são fundamentadas as normatizações que visam regular
as relações humanas e as ações estatais, e como são estabelecidos os preceitos básicos do
homem para o mínimo existencial concretizador da dignidade da pessoa humana.
Para tanto, a disciplina utilizará, como diretriz de instrução, o presente livro, o qual
foi estruturado, didaticamente, em cinco unidades, a fim de facilitar o desenvolvimento
do processo de ensino-aprendizagem e proporcionar uma formação de qualidade, ca-
paz de viabilizar o progresso da sua criticidade no que tange a aspectos sociais, legais,
processuais, dentre outros.
Com o objetivo delimitado, é mister destacar os assuntos abordados em cada uni-
dade. Desse modo, a Unidade 1 do livro didático da disciplina é direcionada à análise
dos aspectos sociojurídicos de direitos humanos, da história e do desenvolvimento
destes, e da consolidação dos Direitos dos Refugiados e do Direito Humanitário, a
serem exibidas as relevâncias do reconhecimento e da positivação de direitos para a
formação de uma sociedade justa e harmônica.
A Unidade 2, a fim de contribuir para a compreensão dos direitos humanos, discorre
sobre a titularidade dessas prerrogativas, influência nas relações jurídicas subjetivas e
características. Ademais, nesta unidade, são exibidos os aspectos gerais de proteção inter-
nacional dos direitos humanos, nos âmbitos regional, nacional e universal, com a solidifi-
cação da relevância destes para a efetivação e o respeito à dignidade da pessoa humana.
Dando seguimentos aos estudos, a Unidade 3 apresenta os fundamentos dos
direitos humanos a partir de várias manifestações, como direitos sociais e econô-
micos, coletivos, da personalidade, dentre outros. Neste momento, é realizada uma
análise histórica da formação dos direitos positivados e dos preceitos fundamentais
do homem, para mostrar como esse processo foi essencial à formação do atual or-
denamento jurídico pátrio.
A Unidade 4 mostra, de forma pontuada, os direitos e garantias presentes na Cons-
tituição Federal de 1988, no que tange aos aspectos individuais e coletivos, e apresenta
os aspectos gerais dos direitos sociais. Ademais, as organizações do Estado, dos po-
deres e da ordem social, também, são analisadas, de forma a ser demonstrado como
foram estruturadas as ordens social, jurídica e política do Brasil. É preciso contextualizar
esses estudos com a realidade social em que vivemos.
A Unidade 5 do livro se destina à análise específica da cidadania, e apresenta as
formas de estruturação e os fundamentos históricos dela. Em seguida, é abordada a
influência que o capitalismo teve para a formação da cidadania, além da participação
do neoliberalismo para a efetivação dela. Após esse momento, já definido o conceito
de cidadania, serão analisados o pluralismo, a tolerância, a formação da consciência
ética e as instituições de Direito no Brasil, temas de extrema relevância para a concre-
tização da cidadania.
Caro (a) estudante, feitas essas ponderações, é importante destacar que, por meio
desta disciplina, você compreenderá os aspectos históricos que foram relevantes para
a formação do ordenamento jurídico vigente, além dos preceitos e direitos essenciais
ao homem, os quais são relevantes para uma sociedade justa.
Embora pareçam temas desconexos e distantes da realidade social, os assuntos
abordados nesta disciplina são de extrema importância, pois a compreensão e o domí-
nio dos temas permitirão o respeito e a aplicação do ordenamento jurídico e de todo
o fundamento e preceitos.
Assim, os assuntos abordados ao longo deste livro didático são de grande relevân-
cia para as suas formações acadêmica, profissional e pessoal, pois, por meio desses
conhecimentos, você será capaz de exercer a sua cidadania e os seus direitos, além
de respeitar os direitos de outrem, atuando, sempre, de forma proba, lícita, legítima e
fundamentada, a fim de evitar quaisquer violações às leis e aos princípios e preceitos
fundamentais. Dessa forma, convido-o a adentrar na leitura deste livro, e bons estudos!
RECURSOS DE
IMERSÃO
REALIDADE AUMENTADA PENSANDO JUNTOS

Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA

Professores especialistas e convi-


NOVAS DESCOBERTAS
dados, ampliando as discussões
sobre os temas. Enquanto estuda, você pode aces-
sar conteúdos online que amplia-
ram a discussão sobre os assuntos
de maneira interativa usando a tec-
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
nologia a seu favor.
Uma dose extra de conhecimento
é sempre bem-vinda. Posicionando
seu leitor de QRCode sobre o códi- OLHAR CONCEITUAL
go, você terá acesso aos vídeos que
Neste elemento, você encontrará di-
complementam o assunto discutido.
versas informações que serão apre-
sentadas na forma de infográficos,
esquemas e fluxogramas os quais te
ajudarão no entendimento do con-
teúdo de forma rápida e clara

Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar


Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do
aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store
CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM

1
13 2
41
PROTEÇÃO
INTRODUÇÃO AOS INTERNACIONAL DOS
ESTUDOS DOS DIREITOS HUMANOS NOS
DIREITOS HUMANOS ÂMBITOS NACIONAL,
REGIONAL, UNIVERSAL E
TITULARIDADE

3
73 4 103
A CONSTITUIÇÃO
DIREITOS HUMANOS
FEDERATIVA DO BRASIL
NAS RELAÇÕES
DE 1988: DIREITOS
JURÍDICAS
FUNDAMENTAIS,
ORGANIZAÇÃO DO
ESTADO, DOS PODERES E
DA ORDEM SOCIAL.

5
137
CIDADANIA COMO
FATOR BASILAR
DO ESTADO
DEMOCRÁTICO DE
DIREITO
1
Introdução aos
Estudos dos
Direitos Humanos
Esp. Beatriz Gasparin Moreira

Pensar em direitos humanos pode parecer algo fácil, pois a grande


maioria das pessoas, alguma vez na vida, já ouviu esse termo. No
entanto, para poder compreendê-lo, é necessário um estudo apro-
fundado e minucioso, principalmente, em razão da importância dele.
Assim, nesta unidade, introduziremos o estudo de direitos humanos,
e abordaremos, de maneira inicial, o conceito, o fundamento e as
características. Também, aprenderemos os direitos humanitários e os
dos refugiados e de que maneira eles se relacionam com os direitos
humanos.
UNIDADE 1

Caro(a) aluno(a), você já ouviu falar dos direitos humanos? Quando e o porquê
eles surgiram, e no que eles refletem atualmente, no nosso cotidiano? Você sabia
que várias coisas que fazemos, hoje em dia, e que consideramos normais, somente,
são possíveis porque, lá atrás, ocorreram diversas guerras e lutas? Você, também,
sabia que o fato de você ter direito à moradia, saúde de qualidade, um trabalho
que proporcione uma vida digna e um salário, incluindo educação, apenas, é
possível em razão da conquista histórica dos direitos humanos?
E você, querida aluna, já parou para pensar que você, somente, está lendo este
material, neste momento, e tendo a oportunidade de estudar e escolher uma pro-
fissão, em posição de igualdade de direitos com os homens, sem sofrer nenhum
tipo de discriminação e retaliação, devido ao gênero, porque, ao longo do tempo,
as mulheres conquistaram o espaço delas (e, ainda, vêm conquistando), por meio
de intensas lutas e debates que tiveram, por consequência, normas de proteção
fundamentadas nos direitos humanos?
Pois bem, caro(a) aluno(a), como pode perceber, os direitos humanos estão, intrin-
secamente, ligados ao nosso dia a dia, e é de suma importância compreendermos esses
direitos para que possamos entender a nossa história e a sociedade na qual vivemos.
Estudar os direitos humanos e todo o contexto histórico deles nos faz com-
preender a nossa própria história. O direito de ser reconhecido como ser humano,
sujeito dotado de direitos, independentemente de nacionalidade, raça, gênero e
religião, em qualquer lugar do mundo, somente, é possível graças a intensas lutas
no decorrer do tempo. Você aprenderá que os direitos humanos são direitos que
vieram para proteger as pessoas das arbitrariedades dos Estados, e entenderá que,
em razão das atrocidades cometidas na Segunda Guerra Mundial, a proteção
dos direitos humanos começou a ser de interesse da comunidade internacional.
Nesse sentido, a preocupação com esses direitos, portanto, deixou de ser, apenas,
interna, pois transcendeu os limites de um Estado.
Em contrapartida, é importante saber que os direitos humanos estão em cons-
tante evolução, ao passo que eles se adaptam, conforme a realidade da socieda-
de. Direitos que, hoje, consideramos básicos e fundamentais, como os à vida, ao
trabalho, à propriedade e à educação, apenas, existem porque pessoas, há anos,
precisaram lutar por eles.
Caro (a) aluno (a), depois de introduzir um pouco os preceitos de direitos
humanos e o que eles representam, chegou a hora de entendermos, na prática,
ainda mais, a aplicação deles.

14
UNICESUMAR

Você sabia que, por dia, milhares de mulheres morrem em decorrência do


feminicídio no Brasil? Infelizmente, ainda, há um grande obstáculo por parte
das mulheres em denunciarem os companheiros para as autoridades, na grande
maioria dos casos, ocasionado em razão do medo.
Atualmente, nós temos, no nosso ordenamento jurídico, a Lei 11.340/2006,
denominada de Lei Maria da Penha, que protege os direitos das mulheres contra
agressões físicas, psicológicas, morais, sexuais e patrimoniais, praticadas por com-
panheiros ou companheiras. No entanto, essa lei, somente, foi criada em razão da
tentativa de feminicídio sofrida por Maria da Penha (nome que foi dado à lei),
de grande repercussão internacional.
Maria da Penha, no ano de 1983, foi vítima de dupla tentativa de feminicídio
por parte do companheiro dela. Como resultado dessa agressão, ficou paraplégica,
além de ter tido outras complicações físicas e psicológicas.
Na época, o Brasil não possuía nenhuma lei que protegia e dava amparo às
mulheres em casos de agressões. O companheiro de Maria da Penha foi conde-
nado, em 2001, a 15 anos de prisão, mas, em razão dos recursos interpostos na
época, ficou poucos meses preso, e, depois, foi colocado em liberdade. Então, ela
denunciou o Brasil para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da
Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA). Devido ao caso, a Comissão
realizou diversas recomendações ao Estado brasileiro, destinadas ao combate
à violência doméstica, e, em 2006, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva
sancionou a Lei 11.340/2006.
Diante desse breve resumo da história da Lei Maria da Penha, agora é sua vez!
Como atividade, eu quero que você, querido (a) aluno (a), acesse o site do Ins-
tituto Maria da Penha, disponibilizado no QRCode, e leia quem é Maria da Penha.
Nesse site, você encontrará toda a trajetória dela, com os pontos
mais importantes, e compreenderá, de maneira detalhada, o pas-
so a passo da importância para o nosso ordenamento jurídico e
a contribuição para a evolução dos direitos humanos no Estado
brasileiro. Boa leitura, tenho certeza de que você gostará.
Depois de realizar a leitura imersiva da história de Maria da
Penha e da contribuição dela para a elaboração da Lei 11.340/2006, com noções
introdutórias dos direitos humanos, realizadas anteriormente, tenho certeza de
que esse assunto se tornou mais claro na sua mente.

15
UNIDADE 1

Os direitos humanos têm diversas pautas, e uma delas é o direito à igualda-


de, independentemente de gênero, classe social, raça etc. Como iniciamos um
aprofundamento do assunto dos direitos das mulheres, com alicerce no direito
à igualdade, sugiro que continuemos com ele para a sua melhor compreensão.
Neste momento, querido (a) aluno (a), quero que você reflita a respeito de
quais eram os direitos da mulher desde a época antiga, além das transformações
que ela sofreu durante o passar do tempo, até chegar ao estágio que se encontra
hoje. O mesmo raciocínio você pode fazer em relação a outros assuntos.
Será que conseguimos uma grande evolução no nosso ordenamento jurídico
e na nossa sociedade em relação à proteção das mulheres? E em relação à pro-
teção das pessoas LGBTQIA+ e da cor preta? Se sim, como foi possível? Fique à
vontade para refletir!
Agora que você compreendeu um pouco mais a respeito dos direitos hu-
manos e da importância deles para a nossa sociedade, escreva, no seu diário de
bordo, quais são as impressões iniciais que você obteve dos direitos humanos.
Você consegue percebê-los no seu dia a dia? Eles já tiveram alguma influência
marcante na sua vida ou na da sua família?

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UNICESUMAR

Caro (a) aluno (a), você, certamente, já ouviu falar, alguma vez, na sua vida, dos
direitos humanos. Entretanto, você sabe, realmente, qual é o conceito dele?
Do que se trata? Para que serve? Quando surgiu? A grande maioria das pessoas
possui uma noção do que seriam os direitos humanos, mas não os compreende
devido à complexidade e à extensão.
Os direitos humanos, segundo André de Carvalho Ramos,


consistem em um conjunto de direitos considerado indispensável
para uma vida humana pautada na liberdade, igualdade e dignidade.
Os direitos humanos são os direitos essenciais e indispensáveis à
vida digna. Não há um rol predeterminado desse conjunto mínimo
de direitos essenciais a uma vida digna. As necessidades humanas
variam e, de acordo com o contexto histórico de uma época, novas
demandas sociais são traduzidas juridicamente, e inseridas na lista
dos direitos humanos (RAMOS, 2014, p. 24).

17
UNIDADE 1

Os direitos humanos, de maneira simplória, são um conjunto de normas e


procedimentos que garantem, ao ser humano, uma vida digna, pelo sim-
ples fato de estar vivo. Assim, eles possuem, como objetivo primordial, proteger
o ser humano, como garantir direitos essenciais, como os à moradia, alimentação,
educação, propriedade, saúde etc.

Depois de ter tido essa noção introdutória a respeito do


que se tratam os direitos humanos, convido você, querido
(a) aluno (a), a ouvir o podcast que eu gravei, no qual expli-
co, de maneira simplificada, a origem dos direitos humanos
e todo o desenvolvimento deles ao longo da história,
incluindo características, terminologias e fundamentos.
Ainda, nessa mesma oportunidade, também, explico um
pouco dos direitos humanitários, dos refugiados, diferenças
e como eles se aplicam na prática.

Esses direitos essenciais do indivíduo contam com uma diversidade de termos,


como direitos humanos, direitos fundamentais, direitos do homem, direitos na-
turais, direitos individuais, dentre outros. A terminologia varia na doutrina e nos
diplomas nacionais e internacionais (RAMOS, 2014).
No entanto, querido (a) aluno (a), é de suma importância sabermos dife-
renciar direitos humanos de direitos fundamentais e direitos do homem. Agora
que você já conhece o conceito de direitos humanos, você sabe o que são os
fundamentais? Pois bem, os direitos fundamentais representam os direitos
protegidos pela ordem interna de um país, ou seja, são aqueles protegidos
pelas Constituições. A grande maioria deles é consagrada na nossa Constituição
Federal, previstos no art. 5º, como os direitos à vida, à informação, a não ser tor-
turado, à inviolabilidade domiciliar, à liberdade etc. Já os direitos humanos são
mais amplos, uma vez que são aqueles protegidos e positivados pela ordem
externa, no âmbito internacional, por declarações ou tratados internacionais,
ou seja, transcedem o ordenamento jurídico interno. Com relação à locução di-
reitos do homem, é uma expressão de cunho jusnaturalista, referente aos
direitos naturais, que não precisam estar escritos ou positivados e que são
válidos a qualquer tempo.

18
UNICESUMAR

EXPLORANDO IDEIAS

Para gravar:
Direitos humanos: Servem para definir os direitos estabelecidos pelo Direito Internacio-
nal em tratados e demais normas internacionais que tratam da matéria.
Direitos do homem: Referem-se aos direitos naturais, aqueles inatos ao homem, que
não dependem de previsão na ordem jurídica positiva, e que decorrem da razão divina,
ou da razão humana (estão relacionados com o jusnaturalismo).
Direitos fundamentais: São reconhecidos e positivados pelo Direito Constitucional de
um Estado específico.
Direito natural: É uma expressão que denota o reconhecimento de direitos inerentes à
pessoa humana. Conceito ultrapassado ante a constatação da historicidade desses direitos.
Direitos individuais: É uma terminologia utilizada, apenas, para tratar dos direitos de pri-
meira dimensão (termo, também, conhecido por alguns doutrinadores, como geração, ou
família, utilizado para dividir as fases dos direitos humanos), mas não dos vários outros,
que não se amoldam nesse termo.
Fonte: RAMOS, 2014, p. 47-48.

Como vimos, os direitos humanos servem para ressaltar a existência da pessoa


humana como um valor absoluto e tudo em razão da dignidade dela. Assim,
podemos dizer que o alicerce que fundamenta os direitos humanos é o
princípio da dignidade da pessoa humana.
Segundo Saito (2020, p. 8),“a dignidade da pessoa humana enuncia os escopos
do Estado, traduzindo-se em um verdadeiro alicerce de todo o ordenamento, que
acaba por irradiar a totalidade do direito positivo pátrio”.
Para André de Carvalho Ramos:


Assim, a dignidade humana consiste na qualidade intrínseca e dis-
tintiva de cada ser humano, que o protege contra todo tratamento
degradante e discriminação odiosa, e assegura condições mate-
riais mínimas de sobrevivência. Consiste em um atributo que todo
indivíduo possui, inerente à condição humana, não importando
qualquer outra condição referente à nacionalidade, opção política,
orientação sexual, credo etc. (RAMOS, 2014, p. 69).

Dessa forma, a dignidade da pessoa humana é uma qualidade intrínseca a todo


ser humano pelo simples fato de existir, tida como um valor incondicional, inco-

19
UNIDADE 1

mensurável e insubstituível. Portanto, caro (a) aluno (a), quando você vê pessoas
em situações degradantes, como moradores de rua, pacientes em filas de hospitais
públicos, o drama de pessoas sofrendo violências verbais ou físicas por intolerân-
cias religiosas, culturais, sociais etc., pode ter certeza de que um direito humano
e fundamental está sendo violado.

É importante que vocês conheçam, também, algumas das características dos di-
reitos humanos, para que possam compreendê-los com toda a complexidade.
Vamos a elas:

Historicidade: Os direitos humanos não surgiram todos de uma vez, foram


sendo construídos ao longo da história. Desenvolveram-se no plano inter-
nacional, principalmente, depois da Segunda Guerra Mundial. Veremos
isso, detalhadamente, adiante.

Universalidade: São direitos de proteção a todas as pessoas, ou seja, são


dotadas de dignidade humana e, portanto, titulares dos direitos humanos.

Essencialidade: São essenciais porque protegem a dignidade da pessoa


humana e, sem eles, não seria possível usufruirmos de uma vida digna.

20
UNICESUMAR

Irrenunciabilidade: O titular não pode renunciar aos próprios direitos.

Inalienabilidade: Não podem ser transferidos e nem cedidos. São inego-


ciáveis.

Inexauribilidade: Não formam um rol taxativo, podendo ser ampliados a


cada momento e situação histórica.

Imprescritibilidade: Não perdem a validade com o passar do tempo.

Vedação do retrocesso: Devem, sempre, ser mantidos ou melhorados.


Não pode ser retirado, do titular, um direito, anteriormente, conquistado
e adquirido. Essa característica, também, é conhecida como “Efeito cliquet”.

Os direitos humanos são um resultado de um processo histórico e de lutas, e passaram


por fases, de acordo com cada período histórico. É errado pensar que uma dimensão
substitui a outra. A sua divisão foi elaborada por Karel Vasak, com a finalidade de
proporcionar um exame adequado dos direitos humanos e da amplitude deles. Não
é uma ideia de que um direito é melhor ou mais relevante do que o outro. Todos pos-
suem a mesma relevância, apenas, apresentam dimensões específicas (VIANA, 2020).
“A primeira dimensão engloba os direitos de liberdade, que são direitos às
prestações negativas, nas quais o Estado deve proteger a esfera de autonomia
do indivíduo” (RAMOS, 2014, p. 52). Os direitos dessa dimensão começaram a
surgir no contexto histórico das revoluções liberais do século XVIII, na Europa
e nos Estados Unidos.
Essas revoluções visavam restringir o poder absoluto do monarca, a fim de
impingir limites à ação estatal. São, dentre outros, o direito à liberdade, igualdade
perante a lei, propriedade, intimidade e segurança, o que traduz o valor da liber-
dade (RAMOS, 2014).
Portanto, os direitos de primeira dimensão são prestações negativas, que
limitam a atuação do Estado e protegem a autonomia do indivíduo. Assim,
agora, você consegue visualizar a atuação dos direitos de primeira dimensão na
sua vida? Darei alguns exemplos para ficar mais claro para você.

21
UNIDADE 1

Você já parou para pensar que ninguém pode entrar na sua casa sem o seu
consentimento, inclusive, o Estado, por meio dos agentes públicos, salvo nos casos
previstos em lei? Caso um policial bata na sua porta, sem um mandado judicial,
ele não pode entrar na sua casa sem o seu consentimento. Isso é um exemplo de
limitação da atuação estatal.
O fato de você poder andar livremente, dentro do território nacional, além de
realizar um curso de graduação, também, são exemplos de limitação da atuação
estatal. Primeiramente, porque o Estado não pode privar você de se locomover,
salvo nos casos de cumprimento de uma pena privativa de liberdade, e não pode
intervir na escolha que você pode fazer em relação a uma profissão, se atendidas
as qualificações profissionais que a lei estabelece, conforme preconiza o art. 5º,
inciso XIII, da Constituição Federal.

NOVAS DESCOBERTAS

Caro (a) aluno (a), podemos encontrar a grande maioria dos direitos
de primeira dimensão, previstos no nosso ordenamento jurídico, no
art. 5º, da Constituição Federal. Diante disso, proponho uma ativida-
de: acesse a Constituição, disponibilizada no QRcode, e, depois, vá até
o art. 5º e realize a leitura dele. Dessa forma, você compreenderá um
pouco mais de quais são os direitos dessa dimensão.

Os direitos de segunda dimensão, por sua vez, fazem-se presentes a partir da con-
cepção do Estado Social, pois abriga os direitos sociais e traz a ideia de igualdade
(VIANA, 2020). Compreende, essa dimensão, os direitos sociais, econômi-
cos e culturais.
Os direitos englobados na segunda dimensão são frutos das lutas sociais com-
preendidas no início do século XX, e, altamente, influenciadas por doutrinas
socialistas. Na época em que vigorava a Revolução Industrial, a desigualdade
social era demasiadamente grande e as condições de trabalho eram precárias.
Prova disso se dava pelas jornadas exaustivas, pela diferença salarial entre homens
e mulheres, pelos ambientes insalubres etc.
Esses direitos possuem, como marcos, o Estado Social, a Constituição Mexi-
cana de 1917, a Constituição de Weimar de 1919, e a OIT (Organização Interna-
cional do Trabalho), que reconheceu os direitos dos trabalhadores.

22
UNICESUMAR

De maneira oposta aos direitos de primeira dimensão, que buscam uma abs-
tenção estatal nas vidas das pessoas, os direitos de segunda dimensão reivindicam
um papel ativo do Estado, a fim de diminuir as desigualdades e estabelecer uma
vida e um trabalho dignos para todas as pessoas.
Ramos (2014, p. 52) leciona o seguinte a respeito dos direitos de segunda
dimensão, ou direitos sociais:


Os direitos sociais são, também, titularizados pelo indivíduo e opo-
níveis ao Estado. São reconhecidos os direitos à saúde, educação,
previdência social, habitação, dentre outros, que demandam pres-
tações positivas do Estado para atendimento e são denominados
direitos de igualdade por garantir, justamente, às camadas mais
miseráveis da sociedade, a concretização das liberdades abstratas,
reconhecidas nas primeiras declarações de direitos.

Podemos concluir, portanto, que os direitos de segunda dimensão são aqueles


que precisam de uma atuação positiva do Estado para que sejam concretizados.
São exemplos: direitos à saúde, ao trabalho, à moradia, ao salário-mínimo, ao
transporte etc. A maioria desses direitos é encontrada nos arts. 6º e 7º, da CF/88.
Aconselho a leitura deles também.
Já os direitos de terceira dimensão são aqueles de titularidade de uma
comunidade, como os ao desenvolvimento, ao meio ambiente equilibrado,
à autodeterminação etc. São oriundos da constatação da vinculação do homem
ao planeta Terra, com recursos finitos e uma divisão, absolutamente, desigual de
riquezas em verdadeiros círculos viciosos de miséria, com ameaças cada vez mais
concretas à sobrevivência da espécie humana (RAMOS, 2014).
Os direitos de terceira geração estão envolvidos em um contexto pós-Segunda
Guerra Mundial, no qual muitas áreas do planeta foram destruídas devido às
guerras. Nesse contexto, começou uma forte preocupação com o meio ambiente,
a fim de preservá-lo para as futuras gerações. Nessa geração, estão presentes os di-
reitos de fraternidade ou solidariedade, de titularidade coletiva, transindividuais
ou metaindividuais. São exemplos: meio ambiente, patrimônio histórico, direitos
da criança e do adolescente, direito à paz etc.
Há, ainda, quem defenda o nascimento da quarta geração, no final do
século XX, como Paulo Bonavides, que seria resultante da globalização dos

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UNIDADE 1

direitos humanos, o que corresponde aos direitos de participação democrática


(democracia direta), ao pluralismo, à bioética e aos limites à manipulação genética,
fundados na defesa da dignidade da pessoa humana contra intervenções abusivas
de particulares ou do Estado. Bonavides afirma, ainda, existir uma quinta gera-
ção, que seria composta pelo direito à paz em toda a humanidade (RAMOS, 2014).

OLHAR CONCEITUAL
2ª DIMENSÃO 3ª DIMENSÃO
Direitos: Igualdade, Direitos:
econômicos, sociais e Desenvolvimento, meio
1ª DIMENSÃO culturais. ambiente, comunicação,
Direitos: liberdade, Contexto Histórico: patrimônio comum, etc.
civis e políticos. Revolução Industrial, Contexto Histórico:
Contexto histórico: Constituição Mexicana e Pós Segunda Guerra
Revoluções Liberais. Constituição de Weimar. Mundial.
Ano: Meados do Ano: Final do século XIX Ano: Segunda metade
século XVIII. e início do século XX. do século XX.

4ª DIMENSÃO
Direitos: Democracia, 5ª DIMENSÃO
à informação, ao Direitos: à paz
pluralismo etc. Contexto Histórico:
Contexto Histórico: Pós-guerra fria.
Globalização. Ano: Século XXI.
Ano: Final do século XX
e início do século XXI.

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UNICESUMAR

Para que possamos compreender os direitos humanos, precisamos olhar para o


passado. São frutos de uma construção histórica que foi se pautando de acordo
com o desenvolvimento da sociedade. Olhar para o passado, portanto, faz a gente
compreender o presente, a forma através da qual aconteceu determinado fato, o
porquê aconteceu, como aconteceu, além de toda a evolução até chegar à atuali-
dade. Esse mesmo raciocínio deve ser aplicado aos direitos humanos.
Não há, na história, um momento exato que marque o nascimento dos direi-
tos humanos, no entanto, o ponto principal, sempre, foi a luta contra a opressão,
com a busca do bem-estar do indivíduo. Ao longo da evolução histórica, os di-
reitos humanos passaram por fases que foram fundamentais para sedimentar o
conceito desses direitos essenciais. Desde os primeiros escritos do homem, são
mais de vinte e oito séculos rumo à afirmação universal deles, que tem, como
marco, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948 (RAMOS, 2014).
Na antiguidade oriental, período compreendido entre os séculos VIII a II
a.C., no Oriente Médio, tivemos o primeiro passo para o início da constru-
ção dos direitos do homem. Nesse período, foram
elaborados códigos que tratavam do reconhecimento
dos direitos individuais. Um dos mais famosos foi
o Código de Hammurabi (1792-1750 a.C.), que
tratava, em especial, dos direitos à vida, à proprie-
dade e à honra. Nesse código, estava presente, ainda,
a famosa Lei de Talião, que tinha, como marco, a
reciprocidade para o trato de ofensas (“olho por olho,
dente por dente”).
A Lei de Talião e o Código de Hammurabi foram
de grande importância, já que foram alguns dos pri-
meiros compilados jurídicos escritos que regulamen-
tavam as relações dos indivíduos, enquanto prevale-
cia, naquela época, a tradição oral. Foram escritos em
uma pedra, com a utilização da escrita cuneiforme.
No século VI a.C., foi elaborada uma declaração
de boa governança de Ciro II (Cilindro de Ciro). Ela
marcava a libertação do povo hebreu e permitia a
liberdade religiosa, além de estabelecer a igualdade
racial na região da pérsia.

25
UNIDADE 1

A Lei das Doze Tábuas, editada em 450 a.C., 89 anos depois do Cilindro
de Ciro, foi a grande contribuição dos romanos para os direitos humanos. Ela
foi responsável pela concretização do princípio da legalidade. O direito
romano, também, contribuiu para a consagração de vários outros direitos,
como os de liberdade, propriedade, personalidade jurídica e igualdade
entre as pessoas.
Apesar da contribuição da antiguidade para a construção dos direitos do
homem, apenas, na Idade Média e na Idade Moderna, começaram a surgir do-
cumentos com artigos mais específicos e relacionados a esses direitos.
Na Idade Média, o poder dos governantes era quase ilimitado, tendo em vista
que era fundamentado pela vontade divina. No entanto, mesmo nessa época,
surgiram os primeiros movimentos de reivindicação, liderados pela aristocracia
em face aos governantes, de maneira especial, com a Declaração das Cortes de
Leão, a Magna Carta inglesa de 1215 (RAMOS, 2014).
A Declaração de Leão consagrou a luta dos senhores feudais contra
a centralização do poder. Já a Magna Carta consistia em disposições que
protegiam os barões ingleses contra os abusos do monarca João Sem-Terra.
Ela não era um instrumento universal, uma vez que só privilegiava a nobreza,
no entanto, foi a maior contribuição de afirmação de limitação do poder político
daquela época (RAMOS, 2014).
Apesar de tudo isso parecer pouco, na Idade Média, os direitos civis eram,
praticamente, inexistentes. Todo o poder era concentrado nas mãos da Igreja e
dos senhores feudais. Portanto, esses dois documentos significaram muita coisa
para a afirmação dos direitos humanos na época.
Com a crise da Idade Média, ocorreu o surgimento dos Estados Na-
cionais Absolutistas, com a centralização do poder na figura do rei. No século
XVII, o Estado Absolutista foi questionado, em especial, na Inglaterra. A busca
pela limitação do poder, já incipiente na Magna Carta, foi consagrada na Petition
of Right, de 1628 (RAMOS, 2014).
Outro documento importante da Idade Moderna foi a Declaração de Direitos
(Bill of Rights), na Inglaterra, em 1689, a partir da qual o poder autocrático dos
reis ingleses foi reduzido de forma definitiva. Foi por meio dessa Declaração que
se consolidou a vitória do parlamentarismo inglês sobre o monarquismo,
o que limitou o poder do soberano e assegurou vários direitos, como a liberdade
de eleição dos membros do parlamento.

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UNICESUMAR

Com relação ao Bill of Rights,


dentre os pontos, estabelece-se “que é ilegal o pretendido poder de
suspender leis, ou a execução de leis, pela autoridade real, sem o
consentimento do Parlamento”; “que devem ser livres as eleições dos
membros do Parlamento”; e que “a liberdade de expressão e debates,
ou procedimentos no Parlamento, não devem ser impedidos ou
questionados por qualquer tribunal ou local fora do Parlamento
(RAMOS, 2014, p. 34).

O final da Idade Moderna foi marcado por revoluções liberais inglesas,


americanas e francesas e respectivas declarações. A Revolução Inglesa foi a
mais precoce, e teve, como referência, a Petition of Right (Petição de Direitos),
de 1628, e o Bill of Rights (Declaração de Direitos), de 1689, que consagraram a
supremacia do Parlamento e o império da lei.
Mais à frente, tivemos a Revolução Americana, que retratou o processo de
independência das colônias britânicas da América do Norte, em 1776, e a cria-
ção da primeira Constituição do Mundo, que foi a norte-americana, de 1787
(RAMOS, 2014).
Ramos (2014, p. 39) traz que


A Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 4 de julho
de 1776 (escrita, em grande parte, por Thomas Jefferson), estipulou,
já no início, que “todos os homens são criados iguais, sendo conferi-
dos, a eles, pelo Criador, certos direitos inalienáveis, dentre os quais
se contam a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Para garantir
esses direitos, são instituídos governos entre os homens, derivados
os justos poderes de consentimento dos governados.

A Declaração de Independência dos Estados Unidos serviu de inspiração para


todos os movimentos de independência dos povos colonizados na América, e foi
o primeiro documento que declarou a igualdade entre todos. No entanto, apesar
de declarar a igualdade, na prática, não era o que se encontrava.
Naquela época, a escravidão, ainda, era muito presente nos países colonizados,
em especial, no Brasil. No nosso país, durou séculos, e causou enormes conse-

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UNIDADE 1

quências negativas que podem ser percebidas até os dias atuais, com práticas
intolerantes, como o racismo.
A Revolução Francesa, também, foi um grande referencial para a proteção dos
direitos do homem, e marcou o início da Idade Contemporânea, em 1789. Gerou a
aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão no mesmo ano.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão consagrava os valores
de liberdade, igualdade e fraternidade, e proclamava que “os homens nascem e
permanecem livres e iguais em direitos”. Mesmo que os artigos tivessem, como
referência, todos os povos, e atraíssem a opinião mundial para os direitos do
homem, a Declaração não possuía caráter normativo internacional. Portanto, ela
era, apenas, válida para o povo francês.
Em 1864, surgiu a Convenção de Genebra, que inaugurou o direito hu-
manitário internacional. Essa Convenção visava proteger os soldados doentes e
feridos e as populações civis que estavam dentro de um conflito bélico. A Convenção
de Genebra foi a primeira a introduzir os direitos humanos na esfera internacional.
No final do século XIX e início do século XX, período marcado pelas
Revoluções Industriais, as condições laborativas dos trabalhadores, nas
fábricas, eram precárias. Homens, mulheres e crianças trabalhavam jornadas
exaustivas e em péssimas condições. Não havia o mínimo de salubridade no
trabalho, nem leis que visavam protegê-los.
Nesse mesmo contexto, de muita desigualdade entre patrões e proletários, em
1848, Karl Marx e Friedrich Engels publicaram o Manifesto do Partido Comu-
nista, no qual defendiam novas formas de organização social e visavam atingir o
comunismo e a igualdade de classes.

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UNICESUMAR

Vários movimentos socialistas surgiram naquela época, na Europa. Atacaram


o capitalismo e conseguiram a adesão de grande parte da população. No plano
político, ocorreu a Revolução Russa, em 1917, que estimulou novos avanços para
a defesa da igualdade e da justiça social. Houve, também, a introdução dos cha-
mados direitos sociais, ou de segunda geração, em várias Constituições, como
a Constituição do México (1917), a Constituição de Weimar (1919), e a
Constituição Brasileira, de 1934.
No Plano do Direito Internacional, consagrou-se, pela primeira vez, uma or-
ganização voltada para a melhoria das condições dos trabalhadores, denominada
de Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada em 1919, pelo Tra-
tado de Versalhes, que colocou fim à Primeira Guerra Mundial (RAMOS, 2014).
No entanto, apenas, com o final da Segunda Guerra Mundial, os direitos
humanos se tornaram uma preocupação mundial e se consagraram no
Direito Internacional.
Querido (a) aluno (a), acredito que você, certamente, já ouviu falar das barbá-
ries nazistas que ocorreram na época da Segunda Guerra Mundial, não é mesmo?!
Esse período foi marcado pelo registro de um grandioso número de vítimas e pela
discriminação e extermínio de grupos minoritários. A crueldade foi tanta que
teve impacto na comunidade internacional. Como marco dessa nova etapa do
direito internacional, foi criada, na Conferência de São Francisco, em 1945, a
Organização das Nações Unidas (ONU). O Tratado instituído por essa Con-
ferência foi chamado de “Carta de São Francisco”.

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UNIDADE 1

O objetivo dessa Carta era restabelecer a paz mundial e a segurança internacional


para que os erros da Segunda Guerra não fossem repetidos. Nesse contexto, então,
que a ONU elabora a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.
De acordo com Saito (2020, p. 7):


A Declaração Universal promoveu um grande passo em prol da ins-
trumentalização do sistema universal de direitos humanos. Serviu
como base fundamental para a formação de valores e princípios que
influenciaram, mais tarde, os três sistemas (europeu, americano e
africano). Ela inovou ao proclamar diretrizes gerais que orbitam em
torno da dignidade da pessoa humana e ao universalizar a prote-
ção aos direitos humanos, que devem ser reconhecidos como seres
humanos, sem distinção.

Importante destacar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada
como uma resolução, sendo composta por um preâmbulo e 30 artigos que estabele-
cem vários direitos, como os à vida, liberdade, segurança, de que ninguém será sub-
metido à escravidão, à tortura, de que todos são iguais perante a lei e sem distinção etc.
Depois da metade do século XX e da criação da referida Declaração, foram
criados sistemas de proteção que reuniram inúmeros tratados, convenções e
acordos entre os países, sempre, com o mesmo objetivo: ampliar a proteção dos
direitos humanos. Entretanto, veremos esses sistemas de proteção, com mais de-
talhes, em outras unidades, combinado?!
Portanto, concluímos que os direitos humanos, nem sempre, existiram, mas
foram uma construção realizada durante toda a nossa história. Ainda, percebe-
mos que o objetivo primordial, sempre, foi garantir a proteção do ser humano em
razão da dignidade dele. Precisamos compreender que somos sujeitos dotados
de direitos pelo simples fato de existirmos.
Apesar de muitos direitos, ainda, serem violados atualmente, como o à igual-
dade, independentemente de gênero, classe econômica, origem e raça, a proteção
existe, e quem viola um direito de outra pessoa deve ser responsabilizado. Tudo
isso devido à evolução e à construção dessa proteção ao longo do tempo.

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Querido (a) aluno (a), é preciso compreender que a proteção dos direitos humanos,
no Plano Internacional, recai em três eixos principais: Direito Internacional dos
Direitos Humanos (DIDH) – tema que veremos posteriormente –, Direito Inter-
nacional Humanitário (DIH) e Direito Internacional dos Refugiados (DIR). Apesar
dessa separação, todos têm um único objetivo comum: a proteção do ser humano.
Começamos, portanto, a falar, neste momento, do direito humanitário. Você
sabe do que se trata, querido (a) aluno (a)? Já ouviu falar, em algum momento,
desse ramo do Direito? O direito humanitário é conhecido como um direito
que protege o ser humano que se encontra em situações de guerra ou con-
flitos armados. Ele busca proteger o ser humano que se encontra em situações
hostis e remediar os meios de guerra. Ainda, possui princípios, regras e procedi-
mentos próprios (VIANA, 2020).
Para Ana Aguiar Viana:


O direito humanitário é considerado uma maneira de limitar as so-
beranias dos Estados modernos. Isso porque, caso exista um conflito
armado em um determinado país, este tem que respeitar determi-
nadas normas que visam proteger vítimas civis e militares que estão
fora do combate (VIANA, 2020, p. 17).

De maneira geral, o DIH estabelece proteção às pessoas não participantes de


um conflito armado, como civis, doentes e feridos; que esses feridos e doentes
sejam recolhidos e protegidos e suporte a determinados locais, como hospitais e
ambulâncias; e aos indivíduos prisioneiros, com fornecimento de alimentação,
abrigo, dentre outras garantias jurídicas.
O Direito Humanitário Internacional é amparado por quatro Convenções
de Genebra, elaboradas nos anos de 1864, 1906, 1929 e 1949, com protocolos adi-
cionais, e pela Convenção de Haia, que objetiva proteger o patrimônio cultural em
um tempo de conflito armado. Essas Convenções visam minorar o sofrimento de
soldados doentes e feridos e de populações civis atingidas por um conflito bélico.
A comissão da Convenção que inaugurou o Direito Humanitário Internacio-
nal, em 1864, transformou-se, mais tarde, em 1880, na Comissão Internacional
da Cruz Vermelha, conhecida mundialmente.
Essa primeira Convenção teve, como missão, proteger enfermos e feridos da
guerra das forças armadas que estavam em combate, com 64 dispositivos que

31
UNIDADE 1

tratavam, não apenas, desses feridos e enfermos, mas, também, dos profissionais
de saúde e religião.
A segunda Convenção teve, como propósito, dar suporte a feridos, enfermos
e náufragos das forças armadas do mar. Buscou seguir a estrutura da primeira
convenção, com 63 artigos, e passou a ter aplicabilidade às questões marítimas.
A terceira Convenção substituiu a Convenção dos prisioneiros de guerra,
de 1929, com 163 artigos, e ampliou a categoria desses prisioneiros. Portanto, a
aplicabilidade específica dela era direcionada aos prisioneiros de guerra. Segundo
essa Convenção, deveriam ser liberados e repatriados logo após as hostilidades
praticadas em guerra. Foram definidas, ainda, com preciosidade, condições de lo-
cais e cativeiros no que tange ao trabalho realizado por eles em guerra, incluindo
disposições de recursos, dinheiro, socorro e processo judicial.
A quarta Convenção possuía 159 artigos e determinava proteger os civis dos
territórios ocupados. Até então, as convenções anteriores não se preocupavam
com os civis, apenas, com os combatentes. No entanto, o cenário da Segunda
Guerra Mundial fez com que essa situação se alterasse. Ademais, essa Conven-
ção expôs as obrigações da potência ocupante no que se refere a civis e entregou
orientações para o socorro humanitário.

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UNICESUMAR

Após as convenções serem adotadas, houve um aumento de conflitos internos nos


países e de guerras por independência, por isso, foram elaborados dois protocolos adi-
cionais em 1977. Esses protocolos visavam acolher as vítimas dos conflitos armados
internacionais e não internacionais, e estabeleciam os limites dos métodos de guerra.
Em 2007, um protocolo adicional foi realizado, com o mesmo status dos em-
blemas da Cruz Vermelha e do crescente vermelho, chamado de Cristal Vermelho.
Ainda, regras de direito humanitário nas Convenções de Haia, que dispõe sobre
métodos e meios usados na guerra (VIANA, 2020).
Dessa forma, podemos concluir que o objetivo maior do direito humanitário
é proteger o ser humano que se encontra em situação de guerra, sejam prisionei-
ros, soldados, civis e profissionais que estejam trabalhando nessa situação.
Caro (a) aluno (a), depois de aprender um pouco mais a respeito dos direitos
humanitários, você sabe diferenciá-los dos direitos humanos? Perceba que os hu-
manos são mais amplos, pois visam proteger o ser humano, independentemente de
onde esteja e da situação na qual se encontra. Mantém acolhimento ao ser humano,
como já falamos, pelo simples fato da existência dele, em razão da dignidade.
Por outro lado, o direito humanitário tem uma aplicabilidade mais específica,
sendo aplicado, exclusivamente, nos casos de conflitos armados. Dessa forma,
é como se os direitos humanos fossem o gênero e, os humanitários, a espécie.
Conseguiu compreender?

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UNIDADE 1

Caro (a) aluno (a), acredito que você já tenha visto nos jor-
nais, na televisão, ou escutado falar de pessoas saindo dos
próprios países para não morrerem ou sofrerem algum tipo
de ataque, pois bem, refugiado é aquela pessoa que migra
do próprio país forçadamente, em virtude de um fun-
dado temor de perseguição, em razão de cinco motivos:
raça, nacionalidade, religião, pertencimento a um gru-
po social ou opinião política.
Antes do século XX, não existia nenhuma norma inter-
nacional de proteção aos refugiados. Somente, após o esta-
belecimento das Ligas das Nações, em 1919, que os debates a
respeito da responsabilização de países e da proteção dessas
pessoas se iniciaram.
De acordo com Pereira (2019, p. 30):


O conselho da Sociedade da Liga das Nações
autorizou a criação de um Alto Comissaria-
do para os Refugiados, inicialmente, com a
intenção voltada para os refugiados russos.
Com o passar do tempo, esse Alto Comis-
sariado para os Refugiados admitiu uma
maior abrangência de atuação do órgão, não
apenas, limitando a atuação para pessoas de
nacionalidade russa, mas abarcando outras
etnias que, também, precisavam de refúgio.

Com o advento da Segunda Guerra Mundial, aumentou,


significativamente, o número de refugiados pelo mundo,
cerca de 40 milhões, aproximadamente. Devido a isso, as
ações da Liga das Nações já não eram mais eficazes. Após o
fim da Liga, e a implementação da Organização das Nações
Unidas, criou-se o ACNUR (Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados), como um órgão responsável para
tratar da situação de refúgio. O marco que instituiu a pro-
teção moderna dos refugiados é a Convenção de Genebra
sobre o Estatuto dos Refugiados, de 1951.

34
UNICESUMAR

EXPLORANDO IDEIAS

Agora que sabemos quem são as pessoas refugiadas e o porquê elas se encontram nessa
situação, pergunto a você: você sabe diferenciá-las dos apátridas?
“Os apátridas são pessoas consideradas sem pátria, ou seja, aquelas que não detêm vín-
culo jurídico político com nenhum país. Devido a isso, inúmeras são as dificuldades encon-
tradas na vida civil, como de acesso à saúde pública, à educação, a direitos relacionados
à propriedade, impossibilidade de deslocamento dentro do Estado, ou entre Estados etc.
Existem, ainda, dois tipos de apátridas, os de fato e os de direito. Os de fato são as pes-
soas que não se encontram vinculadas aos critérios de atribuição de nacionalidade de
nenhum país. Por outro lado, os de direito são as que continuam não possuindo a na-
cionalidade reconhecida por nenhum país, mas é garantido, a elas, o status de apátridas,
atribuídos direitos garantidos a qualquer estrangeiro”.
Fonte: PEREIRA, 2019.

Inicialmente, a Convenção possuía limitações temporal (para acontecimentos


ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951) e geográfica para a definição de re-
fugiado (somente para os eventos ocorridos na Europa). Em 1967, foi adotado
o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados, que eliminou tais limitações. No
Brasil, a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados foi aprovada pelo Con-
gresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo nº 11, de 7 de julho de 1960,
com exclusão dos Arts. 15 (direito de associação) e 17 (exercício de atividade
profissional assalariada) (RAMOS, 2014).
O Protocolo de 1967 foi promulgado, internamente, com o Decreto nº 70.946,
de 7 de agosto de 1972, tendo sido superada a limitação temporal. Quanto à bar-
reira geográfica, foi derrubada, somente, em 19 de dezembro de 1989, por meio
do Decreto nº 98.602 (RAMOS, 2014).
Importante deixar claro que a Convenção não se aplica às pessoas que comete-
ram crimes contra a paz, guerra à humanidade, algum crime grave fora do país de
refúgio antes de serem, nele, admitidas como refugiados, e que se tornaram culpadas
de atos contrários aos fins e princípios das Nações Unidas (RAMOS, 2014).
Nos arts. 2 e 3 da referida Convenção, observam-se as obrigações dos refugiados
perante os Estados que os recebem e dos Estados perante esses refugiados, vejamos:

35
UNIDADE 1


Art. 2º - Obrigações gerais

Todo refugiado tem deveres para com o país em que se encontra,


os quais compreendem, notadamente, a obrigação de se conformar
às leis e regulamentos, assim como às medidas tomadas para a ma-
nutenção da ordem pública.

Art. 3º Os Estados Contratantes aplicarão as disposições desta Con-


venção aos refugiados, sem discriminação quanto à raça, à religião
ou ao país de origem.

De acordo com Ramos (2014), o Capítulo II da referida Convenção trata da


situação jurídica do refugiado, e estabelece que:

• O Estatuto pessoal do refugiado é regido pela lei do país no qual tem


domicílio, ou, a partir da falta de domicílio, pela lei do país de residência.

• Os direitos que tenha adquirido anteriormente, que decorram do estatuto


pessoal, especialmente, os que resultam de casamento, devem ser respei-
tados pelo Estado Contratante, ressalvado, se for o caso, o cumprimento
das formalidades previstas pela legislação do Estado.

• Quanto à aquisição de propriedade móvel ou imóvel e a outros direitos a


ela referentes, ao aluguel e a outros contratos: os Estados Contratantes de-
vem conceder, ao refugiado, um tratamento tão favorável quanto possível,
e não menos favorável do que é concedido “nas mesmas circunstâncias”
aos estrangeiros, em geral.

• Quanto à propriedade industrial e às propriedades literária, artística e


científica: o refugiado deve se beneficiar, no país no qual tem residência
habitual, da proteção que é conferida aos nacionais do referido país, e, nos
territórios de outros Estados Contratantes, da proteção dada aos nacionais
do país no qual é dada residência habitual.

O Capítulo III da Convenção trata do exercício do emprego remunerado pelos re-


fugiados. Como regra geral, é realizado o mesmo tratamento dado aos estrangeiros.

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UNICESUMAR

O Capítulo IV versa sobre o bem-estar deles, como a prestação de assistência,


primeiros-socorros e o oferecimento de ensino primário. Com relação a aloja-
mentos, deve-se dar, aos refugiados, um tratamento tão favorável quanto possível,
e, em todo caso, tratamento não menos favorável do que aquele que é dado, nas
mesmas circunstâncias, aos estrangeiros, em geral (RAMOS, 2014).
O Capítulo V trata das medidas administrativas relativas aos refugiados, como,
conforme dispõem os arts. 27 e 28, qualquer refugiado que não possua documento
de viagem válido deve receber, do Estado Contratante, um documento de identi-
dade e documentos de viagem para que possa viajar para fora do território (salvo
por razões imperiosas de segurança nacional ou ordem pública). Ademais, é garan-
tida a liberdade de movimento para escolher uma residência e circular dentro do
território livremente, com as reservas aplicadas aos estrangeiros (RAMOS, 2014).
Os refugiados, também, não são submetidos a taxas e impostos além dos
cobrados dos nacionais em situações análogas (art. 29), e o Estado deve permitir
que transfiram os bens necessários à reinstalação deles em outro país (art. 30).
Aqueles em situação irregular, no país de refúgio, não são submetidos a sanções
caso se apresentem, sem demora, às autoridades, e exponham razões aceitáveis
para a entrada. Para a presença irregular, apenas, restrições necessárias podem
ser impostas ao deslocamento (art. 31) (RAMOS, 2014).
Outro ponto de extrema importância, estabelecido nesta Convenção, é que o
refugiado não pode ser expulso ou rechaçado para fronteiras de territórios nas
quais a vida, ou a liberdade dele, esteja ameaçada, em decorrência de raça, religião,
nacionalidade, grupo social ao qual pertença ou opiniões políticas, o que consagra
o princípio do non refoulement (proibição do rechaço) (RAMOS, 2014).
O princípio da proibição do rechaço, entretanto, não pode ser invocado se
o refugiado é considerado, por motivos sérios, um perigo à segurança do país,
ou se é condenado, definitivamente, por um crime, ou delito, particularmente,
grave, e constitua ameaça para a comunidade do país no qual ele se encontra
(art. 33) (RAMOS, 2014).
O art. 34 da Convenção prevê que os Estados Contratantes devem facilitar,
na medida do possível, a naturalização dos refugiados, e se esforçar para acelerar
o processo e reduzir taxas e despesas (RAMOS, 2014).
Eu trouxe para você, querido (a) aluno (a), os principais aspectos da Con-
venção dos Refugiados. No entanto, convido para que você, também, faça uma
leitura dela, com o objetivo de acrescentar os estudos.

37
UNIDADE 1

É difícil pensar em uma sociedade sem que seja sustentada pelos direitos
humanos. Os valores que eles trazem, fundamentados para a dignidade da pessoa
humana, são aspectos que toda pessoa almeja na vida.
Os direitos humanos, como vimos, são os responsáveis por nos proporcionar
direitos básicos, como a liberdade, a igualdade e a fraternidade, e nos protegem
de toda a opressão que possa existir pelo simples fato de sermos seres humanos.
Também, estudamos que esses direitos não surgiram de uma hora para a ou-
tra, e que, ainda, estão em processo de evolução. Há muito para ser melhorado e
acrescentado. Conforme observado, durante muito tempo, a sociedade viveu sob
um regime de centralização de poder, a partir do qual os direitos civis e políticos
eram, praticamente, inexistentes.
As pessoas não eram tratadas como iguais, pois a luta pela igualdade, somente,
iniciou-se no contexto das revoluções liberais, no século XIX, momento carac-
terizado pela primeira dimensão. Eram eram discriminadas por vários motivos,
sejam econômicos, raciais, religiosos, dentre outros.
Com o passar do tempo e a cada momento histórico, fez-se necessária a luta
por mais direitos e garantias, como no início do século XX, com o surgimento das
fábricas, o que proporcionou a luta pelos direitos da segunda dimensão e, posterior-
mente, após o fim da Segunda Guerra Mundial, pelos direitos de terceira dimensão.
Obviamente, sabemos que, atualmente, muitos desses direitos são desrespei-
tados, uma vez que, ainda, existem desigualdade, preconceito, pobreza, situações
degradantes vividas por muitas pessoas etc. Contudo, os direitos humanos, pelo
menos, no papel, existem, e cabe, a nós, cobrarmos, do poder público, que eles
sejam respeitados.
Precisamos nos atentar a respeito dos nossos direitos, buscar, junto ao Poder
Público, que eles sejam respeitados de forma integral, conforme assegura a nossa
Constituição Federal e os diversos tratados e convenções internacionais.
Agora que você aprendeu as noções iniciais dos direitos humanos, tenho
certeza de que você consegue percebê-los no seu cotidiano. Entender toda a evo-
lução deles durante a história e as fases nos faz compreender o porquê de muitas
coisas. Lembram-se do exercício proposto no início do capítulo? Você consegue
pensar em alguma situação de atuação dos direitos humanos nas vidas de vocês
ou na de alguém próximo? O caso da Maria da Penha, por exemplo, é um exemplo
claro de como os direitos humanos atuam na vida da mulher e como ocorreu
essa evolução durante a história.

38
UNICESUMAR

Há um tempo, a mulher era vista como um ser inferior ao homem, principal-


mente, em razão da sociedade patriarcal que existia. Ao longo da história, com
várias lutas e reivindicações, ela foi conquistando o próprio espaço. No entanto, é
importante ressaltar que essa mudança de concepção ocorreu de maneira assídua
no Ocidente, uma vez que, até os dias atuais, a ideia de inferioridade da mulher,
em relação ao homem, acontece no Oriente Médio. Hoje, podemos encontrar
várias normas de proteção aos direitos da mulher em tratados internacionais, na
nossa Constituição Federal e na própria Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha). No
entanto, não podemos nos esquecer de que essas normas de proteção só existem
porque alguém, em algum momento, lutou por elas.
Maria da Penha, quando sofreu as agressões do próprio marido, que cul-
minaram na deficiência física dela, não foi protegida, de maneira efetiva, pelo
Estado brasileiro. Ocorre que, pelo fato de existirem tratados internacionais de
proteção aos direitos humanos, ela conseguiu a proteção de outras mulheres
por meio da elaboração da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha), que visa prote-
ger todas as mulheres que sofrem violência doméstica, seja física, psicológica,
moral, patrimonial ou sexual, assim, o Estado brasileiro foi responsabilizado.
Portanto, podemos notar a atuação dos direitos humanos diante da proteção
da mulher que sofre violência doméstica no Brasil e a evolução deles para que
chegassem nesse estágio.

39
Para fixar o conteúdo, vamos colocar em prática o aprendido desta unidade? Con-
vido você a completar o mapa mental a seguir com as palavras, ou frases-chave
estudadas nesta unidade.

Fundamento:

Direitos Humanitários
Direitos Direitos dos Refugiados
Direitos Fundamentais Humanos
Direitos do Homem
Direitos protegidos na ordem
interna de um país Características Universalidade
Dimensões
1ª Dimensão 3ª Dimensão
2ª Dimensão
Direitos: civis; políticos;
liberdade

Descrição da Imagem: Representação de um mapa mental que resume os principais conceitos e caracte-
rísticas referentes aos direitos humanos. No centro da imagem, está escrito “Direitos Humanos”, a partir
do que saem sete subdivisões: “Fundamento”, “Direito dos Refugiados”, “Direitos do Homem”, “Direitos
Humanitários”, “Direitos Fundamentais”, “Características” e “Dimensões”. A seção “Direitos Fundamentais” se
subdivide em outra seção, na qual está descrito o conceito. As seções “Direitos Humanitários”, “Direitos dos
Refugiados” e “Direitos do Homem” se subdividem em uma seção cada uma, as quais possuem um espaço
vazio para o preenchimento do aluno. A seção “Fundamento” possui um espaço para o preenchimento do
aluno. A seção “Característica” se subdivide em outras seis seções. Na primeira, está escrito “Universalidade”,
e as demais são espaços vazios para o preenchimento do aluno. A seção “Dimensões” se subdivide em “1ª
dimensão”, “2ª dimensão” e “3ª dimensão”. A seção “1ª dimensão’’ se subdivide em outra seção, na qual está
escrito “Direitos: civis, políticos, liberdade”. Por fim, as seções “2ª dimensão” e “3ª dimensão” se subdividem
em uma seção cada uma, com espaços vazios para o preenchimento do aluno.
2
Proteção
Internacional dos
Direitos Humanos nos
Âmbitos Nacional,
Regional, Universal e
Titularidade
Esp. Beatriz Gasparin Moreira

Para entender os direitos humanos, além de saber a definição e as


características deles, é necessário entender como eles se aplicam. Para
isso, nesta unidade, você terá a oportunidade de aprender como os
direitos humanos atuam nos planos nacional e internacional. Você,
também, perceberá como eles estão presentes na relação entre os
particulares e quem, efetivamente, é o titular.
UNIDADE 2

Suponhamos que um direito fundamental, como a vida de um determinado in-


divíduo, seja violado por outra pessoa, e esse violador não recebe, do Estado, a
partir de uma violação perpetuada, a punição adequada. Diante disso, o violador
desse direito, como não tem uma punição do Estado, ficaria isento de sanção?
Não há, pela vítima, nenhuma outra forma de buscar que a justiça seja feita e
que o violador pague pela infração cometida? E com relação ao Estado que não
pune adequadamente, ou se isenta perante o caso, você sabe dizer se ele pode ser
responsabilizado? Se sim, quem é competente para fazer?
Querido (a) aluno (a), primeiramente, é importante sabermos que existem
normas internacionais que protegem os direitos humanos, tendo em vista a essen-
cialidade. Portanto, além da proteção interna do Estado de origem, por meio de
normas e procedimentos, o ser humano recebe proteção internacional quando um
direito fundamental dele é violado. Essa proteção internacional existe para evitar
que, quem seja responsável pela violação de algum direito humano, não receba a
devida punição, e para garantir que o Estado, no qual a violação ocorre, realize tudo
o que estiver ao seu alcance para apurar os fatos. Por outro lado, é uma forma de
garantir que a vítima seja assistida, protegida e receba todo o amparo necessário.
Para ficar mais claro, em sua mente, o ponto do qual estamos falando, vamos
entender, com um exemplo real, o que aconteceu com o Estado brasileiro? Nos
anos compreendidos entre 1991 e 2003, vários homicídios foram cometidos con-
tra meninos que possuíam idades entre 5 e 15 anos, cujo objetivo principal era
a retirada dos órgãos genitais deles, na região que interliga a cidade de São Luís,
no Estado do Maranhão. Devido a esses acontecimentos, que ficaram conhecidos
como “o caso dos meninos emasculados”, o Estado brasileiro foi denunciado por
organizações não governamentais à Comissão Interamericana dos Direitos Hu-
manos, sob a alegação de que houve violação de obrigações à luz da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos e da Declaração Americana, por não adotar
medidas eficazes para conter as práticas de tortura e homicídio de diversas crian-
ças no Estado do Maranhão e pela omissão na investigação dos fatos.
Diante disso, eu proponho que você leia o Relatório n. 43/06,
da OEA , disponível no QR Code ao lado, que tratou do caso dos
meninos emasculados, para entender como a proteção interna-
cional dos direitos humanos incidiu sobre esse caso e realizar a
anotação de quais foram as medidas adotadas pela Comissão

42
UNIDADE 2

Interamericana dos Direitos Humanos para a solução da questão. Por fim, relate
a sua opinião a respeito de tais medidas e exponha se você acha que foram sufi-
cientes e adequadas. Bom trabalho!
Agora que você leu o Relatório n. 43/06, da OEA, e entendeu um pouco de
como a proteção internacional dos direitos humanos podem incidir sobre as
normas internas de um país, tenho certeza de que você consegue visualizar a
importância de existirem mecanismos internacionais para fiscalizar e monitorar
a aplicação desses direitos na sociedade.
Nesse momento, eu quero que você reflita como seria se não existissem as
normas internacionais de proteção dos direitos humanos. Será que seria possível
os Estados, por si só, adotarem medidas eficazes para proibir a violação desses
direitos no âmbito interno? E no caso de um Estado se manter inerte perante
alguma violação, quem poderia ser capaz de obrigá-lo a tornar efetivas as normas
de proteção dos direitos humanos?
A partir dessas reflexões, eu quero que você, querido (a) aluno (a), escreva,
no seu Diário de Bordo, as impressões iniciais que você teve das normas inter-
nacionais de proteção dos direitos humanos e da importância delas, incluindo as
respostas para os questionamentos que fiz, anteriormente, a você.

43
UNIDADE 2

Prezado (a) aluno (a), para que você entenda a proteção internacional dos direitos
humanos, precisamos compreender o contexto histórico no qual ela surgiu.
Como você já deve saber, os debates acerca da dignidade da pessoa humana
começaram a ser levantados, de maneira mais assídua, após a Segunda Guerra
Mundial, em razão das atrocidades cometidas durante a guerra.
Começou a ser questionada a eficácia das normas e dos procedimentos
internos dos Estados em relação à proteção dos direitos humanos. Diante disso,
os Estados concordaram em reconhecer um sistema internacional de proteção
aos direitos humanos, que ultrapassou a órbita interna, capaz de garantir a
segurança global.
Somente, após o surgimento da Organização das Nações Unidas (ONU),
apareceu o sistema internacional de proteção dos direitos humanos, e, por con-
sequência, o estabelecimento de órgãos e instâncias voltados para essa proteção.
A proteção internacional dos direitos humanos coloca objetivos a serem pre-
vistos nas relações internacionais, ao promover salvaguarda a uma multiplicida-
de de direitos como forma de combater as injustiças e minimizar o sofrimento
humano ao redor do mundo. Podemos dizer que a internacionalização dos
direitos humanos nada mais é que a expansão, para além das fronteiras
nacionais, dos direitos fundamentais da pessoa humana.
De acordo com Garbin (2021, p. 15):


A proteção internacional dos direitos humanos determina, aos Esta-
dos, a observância de um rol extensivo de direitos, aplicáveis a todos
os indivíduos e grupos em um território, independentemente dos
vínculos formais entre os Estados ou da amplitude da proteção de
direitos humanos prevista no plano interno. Além disso, também,
reconhece a possibilidade de os indivíduos reclamarem de direitos,
diretamente, na esfera internacional.

Portanto, os desenvolvimentos internacionais, para a proteção dos direitos hu-


manos, culminaram no que, hoje, denominamos de Proteção Internacional
de Direitos Humanos, que se define pelo conjunto de normas e procedimentos
que visa defender os seres humanos contra qualquer tipo de barbárie, e tem,
como objetivo, promover a coexistência pacífica, plena da humanidade ao redor
do mundo.

44
UNIDADE 2

Caro (a) aluno (a), antes de avançar na leitura da proteção


internacional dos direitos humanos, convido você a ouvir
o podcast que gravei, no qual explicou os pontos-chave
que trataremos nesta unidade. Nele, expliquei, de maneira
simples, o que será abordado adiante, ou seja, como a
proteção internacional acontece, os principais Tratados
e Convenções que existem no sistema universal e nos
sistemas regionais, além de como essa proteção incide nos
países, inclusive, no Brasil. Aproveite essa experiência que
preparamos para você!

Querido (a) aluno (a), o processo de internacionalização dos direitos humanos


surge como uma resposta às atrocidades nazistas praticadas na Segunda Guerra
Mundial. Era preciso reconstruir o valor da pessoa humana, sob o enfoque na
dignidade dela. Assim, os direitos humanos se tornaram tema de interesse inter-
nacional, e transcenderam o âmbito doméstico. A universalização fez com que
os Estados se submetessem a um controle internacional.
Além da Segunda Guerra Mundial, podemos citar três precedentes históricos
que contribuíram para o processo de internacionalização dos direitos humanos:
Direito Humanitário, Liga das Nações e Organização Internacional do Trabalho.

45
UNIDADE 2

O Direito Humanitário visa à proteção das pessoas que se encontram em si-


tuação de conflito bélico. Já a Liga das Nações, criada em 1920, após a Primeira
Guerra Mundial, trazia disposições genéricas dos direitos do homem, e tinha,
como objetivo, proporcionar a paz, a segurança e a cooperação internacionais.
Com relação à Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada em
1919, pós-Primeira Guerra Mundial, pelo tratado de Versalhes, apresentava, como
objetivo, melhorar as condições de trabalho de homens, mulheres e crianças, a
fim de regular as condições de trabalho a nível mundial.
Caro (a) aluno (a), precisamos ter em mente que, nessa época, não existiam
normas internacionais de proteção dos direitos humanos, portanto, esses prece-
dentes, ao serem criadas normas de limitação da soberania dos Estados, com a
asseguração da paz, como na Liga das Nações, e de proteção dos trabalhadores,
como na OIT, tornaram-se uma ponte de início para a internacionalização dos
direitos humanos.
Como vimos, a proteção internacional dos direitos humanos aconteceu pro-
gressivamente, e, para que essa proteção fosse colocada em prática, foram sen-
do adotados sistemas internacionais que correspondiam a um conjunto de
normas, procedimentos e estruturas em torno dos quais as dinâmicas da
política internacional, em matéria de direitos humanos, desenvolvessem-
-se. Atualmente, existem quatro sistemas internacionais de proteção dos
direitos humanos: o sistema global, sendo o sistema da Organização das
Nações Unidas (ONU), e três sistemas regionais, que correspondem ao
europeu, ao interamericano e ao africano. Antes de explicarmos, detalhada-
mente, cada sistema, é de suma importância que conheçamos os princípios que
norteiam esses sistemas.
PRINCÍPIO CARACTERÍSTICA

Significa dizer que os sistemas são complementares, e


Coexistência um interage com o outro com os mesmos objetivos: a
promoção e a proteção dos direitos humanos.

Significa que o indivíduo tem a livre escolha de optar por


Livre escolha que sistema deve denunciar o Estado no qual um direito
é violado.

46
UNIDADE 2

PRINCÍPIO CARACTERÍSTICA

Os sistemas internacionais, somente, podem ser aciona-


Subsidiariedade dos quando se esgotam todos os recursos internos do
país no qual o direito do indivíduo é violado.

Os países que fazem parte dos tratados internacionais,


ao assumir o compromisso, presumem-se de boa-fé. É
Boa-fé
necessária cooperação entre eles para que seja possível
a promoção dos direitos.

Quadro 1 - Princípios Norteadores dos Sistemas Internacionais dos Direitos Humanos


Fonte: a autora.

Querido (a) aluno (a), é importante saber, também, que a nossa Constituição Fe-
deral elencou, no art. 4º, os princípios que norteiam as relações internacionais
das quais o Brasil participa. De acordo com Piovesan (2013, s. p.):


Nos termos do art. 4º do Texto, fica determinado que o Brasil se
rege, nas relações internacionais, pelos seguintes princípios: inde-
pendência nacional (inciso I), prevalência dos direitos humanos
(inciso II), autodeterminação dos povos (inciso III), não interven-
ção (inciso IV), igualdade entre os Estados (inciso V), defesa da paz
(inciso VI), solução pacífica dos conflitos (inciso VII), repúdio ao
terrorismo e ao racismo (inciso VIII), cooperação entre os povos
para o progresso da humanidade (inciso IX) e concessão de asilo
político (inciso X).

A Constituição Brasileira foi a primeira a trazer princípios que regem as relações


internacionais, e inovou, principalmente, ao abarcar, como princípio, o primado
do respeito aos direitos humanos, tanto debatido na órbita internacional. O
reconhecimento desse princípio significou a abertura do ordenamento interno
para a proteção internacional dos direitos humanos.
A adoção desse princípio significa a busca, pelo país, de adequar normas e re-
gras ao direito internacional no que se refere aos direitos humanos, e em oposição
em relação a todos os outros países nos quais esses direitos são desrespeitados.

47
UNIDADE 2

De acordo com Piovesan (2013, p. 94), “a partir do momento em que o Brasil se


propõe a fundamentar relações com base na prevalência dos direitos humanos,
está, ao mesmo tempo, reconhecendo a existência de limites e condicionamentos
à noção de soberania estatal”. Rompe-se, portanto, com a ideia de soberania estatal
absoluta em prol dos direitos humanos.
Ainda, é importante saber que a adoção da prevalência dos direitos huma-
nos, como princípio, teve grande importância para a incorporação de Tratados,
Convenções e acordos no ordenamento jurídico brasileiro. Com relação a como
ocorre essa incorporação, falarei, mais detalhadamente, adiante.

Pois bem, começaremos, agora, a falar do sistema global, ou universal, de proteção


aos direitos humanos, que teve, como marco inicial, a criação da Organização das
Nações Unidas (ONU), na Conferência de São Francisco, em 1945. O Tratado
constitutivo foi denominado de “Carta de São Francisco” (RAMOS, 2014). A
ONU foi criada para ser uma organização da sociedade política e mundial
na qual deveria pertencer a todos os países do mundo e que tinha, como
objetivo, proteger a sociedade humana. De acordo com Saito (2020, p. 7):

48
UNIDADE 2


A Organização das Nações Unidas, fundada pela Carta das Nações
Unidas, em 1945, no cenário pós-guerra, é a entidade que estru-
tura, coordena e produz os documentos internacionais, a fim de
proporcionar uma noção de sistema global de promoção da paz e
da segurança em âmbito internacional.

Mais tarde, em 1948, foi criada a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH),
que promoveu um grande passo em prol da instrumentalização do sistema universal
dos direitos humanos, e serviu de base fundamental para a formação de princípios e
valores que serviram, mais tarde, para influenciar os sistemas interamericano, europeu
e africano de proteção aos direitos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos
inovou ao proclamar diretrizes gerais que orbitam em torno da dignidade, e ao
universalizar a proteção dos direitos humanos (SAITO, 2020).
Em razão da DUDH não ser um Tratado, surgiram discussões a respeito de a
natureza jurídica dela ser, ou não, de caráter vinculante. Uma primeira corrente
afirma que, apesar de não ser um Tratado, mas uma Resolução, ela possui caráter
vinculante, tendo em vista que é uma interpretação literal dos direitos humanos,
previstos na Carta Internacional dos Direitos Humanos, e esta, por sua vez, tem
esse caráter vinculante. Para a segunda corrente, a DUDH possui caráter vincu-
lante por tratar do costume internacional dos direitos humanos. Por fim, uma
última corrente afirma que a DUDH não possui caráter vinculante, e se constitui,
apenas, como soft law (lei branda/quase um direito) da matéria, por ter sido
constituída por meio de Resolução, não de Tratado (RAMOS, 2014).

Após vinte anos da aprovação da DUDH, foram aprovados dois Pactos Inter-
nacionais de Direitos Humanos: O Pacto dos Direitos Civis e Políticos e o dos
Direitos Sociais, Econômicos e Culturais. Inicialmente, a ideia era a de criação
de, apenas, um documento que abrangesse esses direitos, mas, em razão do
conflito que pairava, na época, entre as potências ocidentais e comunistas, re-
solveu-se que fossem criados ambos os pactos, para atender e agradar os dois
lados. O Pacto dos Direitos Civis e Políticos foi pensado em prol das potências
ocidentais, enquanto o Pacto dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais foi
tido a favor das comunistas. Ademais, alegou-se, na época, que, como a natu-
reza dos direitos era diversa e a aplicabilidade ocorreria de maneira distinta,
uma vez que o primeiro pacto teria aplicação imediata, enquanto, o segundo,
programática, seria melhor a criação de dois pactos ao invés de, apenas, um.

49
UNIDADE 2

Na época, a doutrina consagrou a chamada Carta Internacional dos Direitos


Humanos, em homenagem à Bill of Rights (Declaração de Direitos, importante
documento criado em 1689, na Inglaterra), do Direito Constitucional, para com-
preender os seguintes diplomas internacionais: Declaração Universal dos Direitos
Humanos, Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e Pacto Internacional
dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais (RAMOS, 2014).
Dessa forma, podemos concluir que o conjunto normativo do Sistema Univer-
sal dos Direitos Humanos, que corresponde à estrutura institucional, é composto
pela Carta Internacional dos Direitos Humanos, que engloba três documentos
principais: a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional
dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Eco-
nômicos e Culturais (GARBIN, 2021).
Apesar de a Carta Internacional dos Direitos Humanos corresponder ao
núcleo principal de proteção do sistema universal, existem outros documentos
que o integram, como: Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação Racial, Convenção contra Tortura e outros Tratamen-
tos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, Convenção sobre os Direitos
da Criança, Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos
os Trabalhadores e Migrantes e Membros de suas Famílias, Convenção sobre
os Direitos das Pessoas com Deficiência, Convenção para a Proteção de Todas
as Pessoas contra Desaparecimentos Forçados e seus Protocolos Facultativos e
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a
Mulher. Veremos um pouco mais de cada um desses documentos adiante.
De acordo com Ramos (2014, p. 139), “o Pacto Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos (PIDCP) foi adotado pela XXI Sessão da Assembleia Geral das
Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966, com o Pacto Internacional sobre
Direitos Sociais, Econômicos e Culturais”. Os direitos previstos no Pacto Inter-
nacional sobre os Direitos Civis e Políticos, basicamente, são os encontrados
na primeira dimensão, como os direitos à vida; à proibição da escravidão, da
servidão e do trabalho forçado; à igualdade entre homens e mulheres; à proibição
da tortura e de tratamentos desumanos ou degradantes; à liberdade e à segurança
pessoal; à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; à reunião e à
associação; à proteção à família, à criança e às minorias etc.
No que se refere ao Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais (PIDESC), criado com o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e

50
UNIDADE 2

Políticos, podemos encontrar os direitos presentes na segunda dimensão dos di-


reitos humanos, destacando-se os de igualdade entre homens e mulheres, ao tra-
balho, à liberdade sindical, à segurança social, à proteção e à assistência à família,
à vestimenta, à moradia, à saúde, à educação, à vida cultural etc. Fundamenta-se
que os direitos previstos pelo PIDESC são garantidos de forma progressiva pelo
Estado, e não de maneira imediata, como acontece com os direitos previstos no
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (SAITO, 2020).


O PIDESC reconheceu que os direitos sociais, em sentido amplo,
são de realização progressiva, e devem, os Estados, dispor do má-
ximo dos recursos disponíveis para a efetivação, o que não exclui
a obrigatoriedade de promoção e, após, a proibição do retrocesso
social. Assim, os direitos previstos no PIDESC são (i) obrigatórios
e, (ii) após a implementação, estão protegidos pela proibição do re-
trocesso (RAMOS, 2014, p. 146)

Com relação à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discrimi-


nação Racial, o Estado se responsabiliza, internacionalmente, por todos os atos
de racismo praticados no próprio território, e se compromete em apurá-los. No
que toca à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discrimina-
ção contra a Mulher, em um primeiro momento, a Convenção, apenas, previa
o monitoramento das normas por um Comitê instituído para essa finalidade,
posteriormente, no entanto, instituiu-se um sistema de petições individuais para
que as mulheres que sofressem violência denunciassem o caso, diretamente, para
o Comitê (SAITO, 2020).
A Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, De-
sumanos ou Degradantes, definiu tortura da seguinte maneira:


Para os fins da presente Convenção, o termo “tortura” designa qual-
quer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais,
são infligidos, intencionalmente, a uma pessoa, a fim de obter, dela
ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-
-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja
suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir essa pessoa ou ou-
tras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de

51
UNIDADE 2

qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos


por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções
públicas, por instigação, com consentimento ou aquiescência. Não
se considerarão, como tortura, as dores ou sofrimentos que sejam
consequência, unicamente, de sanções legítimas, ou que sejam ine-
rentes a tais sanções ou, delas, decorram (BRASIL, 1991).

Os Estados têm o dever de adotar mecanismos de cunhos administrativo, legis-


lativo e judicial para impedir a prática de tortura nos próprios territórios, e não
é admitida nenhuma alegação excepcional, como calamidade e estado de guerra,
para que seja tolerada.
A Convenção Sobre os Direitos da Criança afirma serem crianças todas
as pessoas menores de 18 anos, e impõe, aos Estados, mecanismos administrati-
vos e legislativos para adotar os direitos reconhecidos nesta Convenção, sempre,
observando o melhor interesse da criança. Essa Convenção, ainda, conta com
três protocolos facultativos que dispõem sobre as crianças em conflitos armados,
venda delas, prostituição e pornografia infantil e respeito ao procedimento de
comunicações (SAITO, 2020).
A Convenção Internacional Sobre os Direitos de Todos os Trabalhado-
res Migrantes e suas Famílias dispõe sobre os direitos de proteção dos traba-
lhadores e das famílias deles acerca da não discriminação, de direitos adicionais
de migrantes documentados, de disposições adicionais aplicáveis a categorias
especiais de trabalhadores migrantes e das famílias deles, dentre outros, tudo em
virtude da situação de vulnerabilidade que os trabalhadores migrantes encontram
no Estado no qual conseguem emprego (SAITO, 2020).
Temos, também, a Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Defi-
ciência, que busca promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo
dos direitos humanos de todas as pessoas que possuem alguma deficiência, em
razão da dignidade delas, algo inerente.
Por fim, a Convenção para a Proteção de Todas as Pessoas Contra De-
saparecimentos Forçados dispõe que o desaparecimento forçado consiste em
prisão, detenção, sequestro ou qualquer outro meio que restrinja a liberdade, e
que nenhuma pessoa pode ser submetida a isso e nenhuma justificativa é tolerável
em prol dessas práticas (SAITO, 2020).
Essas Convenções, geralmente, possuem monitoramento realizado por Comi-
tês instituídos com essa finalidade, que realizam relatórios periódicos nos quais

52
UNIDADE 2

informam a realização dos direitos previstos nas Convenções pelos Estados, e


é possível, também, que recebam comunicações individuais ou interestatais a
respeito de uma possível violação de direitos.

Além do sistema universal, surgiram os sistemas regionais dos direitos humanos,


com o objetivo de internacionalizar a proteção desses direitos no plano regional.
Os principais são os sistemas europeu, americano e africano, no entanto, há
autores que, ainda, citam o árabe e o regional asiático. Garbin (2021, p. 74) dispõe
o seguinte sobre esses dois últimos sistemas:


Apesar de a Ásia e o Oriente Médio não contarem com sistemas regio-
nais de direitos humanos propriamente ditos, seria precipitado con-
siderar esses espaços como vácuos de direitos humanos no mundo.
Existem desenvolvimentos incipientes nessas regiões que não podem
ser desconsiderados, dada a própria característica de construção lenta
e progressiva dos direitos humanos no plano internacional.

É certo que os sistemas regionais são independentes em relação ao sistema uni-


versal, uma vez que cada um tem o próprio aparato jurídico. Vamos compreender
um pouco de cada um deles.

53
UNIDADE 2

O sistema europeu corresponde a um sistema desenvolvido por algumas


organizações intergovernamentais europeias, com os objetivos de interpretar e
adaptar os padrões internacionais de proteção dos direitos humanos à realidade
da Europa. Os desenvolvimentos e as particularidades da região fizeram com que
o sistema se estruturasse em torno de três organizações europeias: o Conselho
da Europa, a União Europeia e a Organização para a Segurança e Cooperação
Europeia (GARBIN, 2021).
As principais normas de proteção desse sistema são: Convenção Europeia
de Direitos Humanos (1950), Carta Social Europeia (1961, revisada em 1966),
Convenção Europeia para a Prevenção à Tortura (1987), e Convenção-Quadro
para a Proteção das Minorias (1955). Com relação aos principais órgãos, são:
Corte Europeia dos Direitos Humanos, criada em 1959, e Comissariado Europeu
dos Direitos Humanos, estabelecido em 1966 como órgão judicial das atividades
promocionais de direitos humanos (GARBIN, 2021).
A respeito do sistema africano de direitos humanos, corresponde a um
sistema regional fundado na estrutura da Organização da Unidade Africana, e
tem, como objetivo, trazer as normas internacionais de direitos humanos para a
realidade da África. Existem alguns documentos normativos desse sistema, mas
o principal é a Carta Africana de Direitos Humanos e de Direitos dos Povos,
também, conhecida como Carta de Banjul, aprovada em janeiro de 1981.
No que se refere aos órgãos que compõem a estrutura normativa do sistema
africano, há: Comissão Africana de Direitos Humanos, Corte Africana de Direitos
Humanos e Comitê das Crianças Africanas. A Comissão Africana de Direitos
Humanos tem, como objetivo, receber denúncias interestatais e individuais rela-
tivas às violações de direitos humanos. Já a Corte Africana de Direitos Humanos
é o órgão judicial do sistema africano e possui poder para tomadas de decisões
vinculantes, ao realizar mandatos contenciosos e consultivos. Por fim, o Comitê
das Crianças Africanas, em funcionamento desde 2006, formado por especialistas
e voluntários, examinam denúncias individuais e interestatais e conduzem visitas
a locais (GARBIN, 2021).
A adoção do sistema africano foi um grande desafio para a região, pois abriu
possibilidades de intervenções em caso de violações aos direitos humanos, in-
cluindo sanções econômicas e políticas. Em funcionamento, somente, desde 2000,
é o sistema mais recente entre todos os existentes, e, devido a isso, ainda, passa por
algumas dificuldades, como a falta de apoio dos Estados aos órgãos dos direitos

54
UNIDADE 2

humanos e a pouca adesão deles ao sistema. Hoje, apesar de a África ser composta
por 54 Estados-membros, pouco mais da metade participa do sistema africano.
Por fim, o sistema interamericano corresponde ao sistema desenvolvido
para a organização da proteção dos direitos humanos no âmbito dos Estados
da América. O objetivo desse sistema é adaptar essa proteção à realidade das
Américas. Os principais documentos normativos, que correspondem à De-
claração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e à Carta da Orga-
nização dos Estados Americanos, foram criados em 1948, na 9ª Conferência
Internacional Americana, em Bogotá.
A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, criada antes da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, estabelece a noção de universa-
lidade dos direitos humanos, tendo em vista que expressa os direitos essenciais
ao homem em razão da condição inerente dele de ser humano, e não por outras
questões relacionadas à nacionalidade, à origem, à raça etc. (RAMOS, 2014).
A Carta da Organização dos Estados da América buscou internaciona-
lizar os direitos humanos, uma vez que influenciou os países americanos a reco-
nhecerem a legitimidade do sistema interamericano sobre os territórios. Além
disso, ela é responsável pela organização, pelos princípios e pelos objetivos da
OEA, além de, segundo Saito (2020, p. 27), “ter o propósito de atingir paz e justi-
ça, a fim de promover solidariedade e colaboração entre os países e integridade
territorial e independência”.
O sistema interamericano se estrutura por dois órgãos principais: a Comis-
são e a Corte Interamericana dos Direitos Humanos. A Comissão Interame-
ricana dos Direitos Humanos foi criada por meio da Resolução VIII, de 1959, e é
composta por sete comissários, que são indicados pelos Estados da OEA e eleitos
pela Assembleia da Organização para um mandato de quatro (4) anos.
A Comissão Interamericana tem, como atividade, o monitoramento da apli-
cação dos direitos humanos nos Estados, e participa do processo contencioso
da Corte Interamericana dos Direitos Humanos, uma vez que é o canal para o
recebimento de denúncias e comunicações de violação dos direitos humanos. Por
outro lado, a Corte Interamericana dos Direitos Humanos exerce uma função
protetiva, ou jurisdicional, ou seja, pode responsabilizar os Estados que não cum-
pram os direitos previstos nos documentos normativos da OEA, além de uma
função consultiva sobre os instrumentos normativos que compõem o sistema
interamericano (GARBIN, 2021).

55
UNIDADE 2

Em novembro de 1969, foi adotado, pelo sistema interamericano, um dos


documentos mais importantes, a Convenção Interamericana de Direitos Hu-
manos, também, conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, que,
somente, entrou em vigor em 18 de julho de 1978. De acordo com Garbin (2020,
p. 75),“esse documento foi considerado o documento mais ambicioso já desenvol-
vido por um sistema internacional de direitos humanos, pois ampliou a proteção
sobre os direitos ao mesmo tempo em que previu a criação da corte regional dos
direitos humanos”.
Portanto, além de ampliar a proteção dos direitos humanos nos Estados da
América, o Pacto de San José foi responsável por delimitar as funções da Co-
missão e da Corte Interamericana dos Direitos Humanos. Ainda, um ponto de
fundamental importância é saber que a Convenção, ao buscar adquirir adesão dos
Estados, não desenvolveu a respeito dos direitos sociais, econômicos e culturais,
mas reproduziu, em grande parte, os artigos previstos no Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos, de 1966. Os direitos sociais foram tratados, posterior-
mente, apenas, no Protocolo San Salvador, adotado em novembro de 1988, e
com vigência a partir de novembro de 1999.
André Carvalho de Ramos faz referência a outros documentos importantes
que fazem parte do sistema interamericano, vejamos:


Podemos citar, ainda, outros documentos que fazem parte do siste-
ma interamericano, como: Convenção Interamericana para Preve-
nir e Punir o Crime de Tortura; Protocolo Adicional à Convenção
Americana de Direitos Humanos Relativos à Pena de Morte; Con-
venção Interamericana para Prevenir, Erradicar a Violência Contra
a Mulher; Convenção Interamericana Sobre o Desaparecimento
Forçado de Pessoas; Convenção Interamericana Sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação sobre Pessoas Portadoras de
Deficiências (RAMOS, 2014, p. 237).

Por fim, é importante que você, também, saiba, querido (a) aluno (a), que, apesar
de o sistema interamericano ser o único que abarca todo o continente americano,
existem outros sistemas sub-regionais que visam ampliar a proteção dos direitos
humanos, como o Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos, criado
no âmbito do Mercosul (GARBIN, 2021).

56
UNIDADE 2

OLHAR CONCEITUAL
Declaração Universal dos
Direitos Humanos

Sistema Pacto Internacional dos Direitos


Universal dos Direitos Civis e Político

Pacto Internacional de Direitos Sociais,


Econômicos e Culturais
Sistemas
Internacionais dos Carta Africana de Direitos
Direitos Humanos Sistema Africano
Humanos e de Direitos dos Povos

Sistema Regional Convenção Europeia


dos Direitos Humanos
Sistema Europeu
Sistema Interamericano
Carta Social Europeia
Pacto de San José
Declaração Americana da Costa Rica Convenção Europeia para
dos Direitos e Deveres a prevenção à Tortura
do Homem Carta da Organização
dos Estados Americanos

Descrição da Imagem: Representação de um mapa mental com os principais documentos de cada sis-
tema internacional dos direitos humanos. No lado esquerdo, está escrito a frase “sistemas internacionais
dos direitos humanos’’, da qual saem duas subdivisões: “Sistema Universal” e “Sistema Regional”. A seção
“Sistema Universal” se subdivide em “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, “Pacto Internacional
dos Direitos Civil e Político” e “Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais”. A seção
“Sistema Regional” se subdivide em “Sistema Africano”, “Sistema Europeu” e “Sistema Interamericano”. A
seção “Sistema Africano” se subdivide em “Carta Africana de Direitos Humanos e de Direitos dos Povos”.
A seção “Sistema Europeu” se subdivide em “Convenção Europeia dos Direitos Humanos”, “Carta Social
Europeia” e “Convenção Europeia para a Prevenção à Tortura”. A seção “Sistema Interamericano” se sub-
divide em “Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem”, “Carta da Organização dos Estados
Americanos” e “Pacto de San José da Costa Rica”.

Em 1998, outro marco de grande relevância, para a proteção dos direitos hu-
manos, no âmbito internacional, aconteceu com a criação do Tribunal Penal
Internacional (TPI), durante a Conferência Intergovernamental de Roma, cujo
instrumento de criação ficou conhecido como “Estatuto de Roma”. No art.
126, afirma-se que o instrumento, somente, entraria em vigor após o depósito do

57
UNIDADE 2

instrumento de ratificação do sexagésimo país. Portanto, devido a esse motivo, o


TPI, apenas, entrou em vigor em 2002.
Segundo Ramos (2014, p. 328), o TPI “é composto de um preâmbulo e treze
capítulos, com 128 artigos que englobam as regras referentes aos crimes, à inves-
tigação e ao processo, à cooperação e à execução da pena, e ao financiamento das
atividades”. Outro ponto importante é que o Tribunal é composto por 18 juízes
e cada um indicado para um mandato de nove anos.
A jurisdição do TPI é complementar em relação à dos Estados, ou seja, pri-
meiramente, é necessário que os crimes sejam julgados pelo Estado competente,
e, caso haja falha na persecução penal doméstica, seja por incapacidade efetiva ou,
simplesmente, por falta de vontade do Estado, o TPI atua de maneira subsidiária.
É, de competência do TPI, o julgamento dos crimes de genocídio, contra a
humanidade, de guerra e de agressão. Entretanto, “há as possibilidades de os
Estados emendarem o Estatuto e ampliarem o rol desses crimes, permitindo que
o TPI seja instrumento de incremento do número de crimes internacionais em
sentido estrito” (RAMOS, 2014, p. 328). Ademais, a jurisdição do TPI, somente,
pode ser exercida nas seguintes hipóteses:
■ cometido no território de um Estado-Parte;
■ por um nacional do Estado-Parte;
■ por meio de declaração específica do Estado não contratante (caso o cri-
me tiver ocorrido no território ou por nacional);
■ na ausência de quaisquer hipóteses anteriores, ter, o Conselho de Seguran-
ça, adotado resolução vinculante, adjudicando o caso ao Tribunal Penal
Internacional.

As penas previstas no TPI são as de reclusão por um período de até 30 anos,


excepcionalmente, a perpétua, em razão de circunstâncias de extrema gravidade
do delito, multa e perda de bens. Não é admitida a pena de morte. Ainda, vale
ressaltar que: i) o TPI, apenas, possui jurisdição em relação aos crimes que
foram cometidos após a entrada dele em vigor; ii) seus crimes não prescre-
vem; iii) e é irrelevante a função a pessoa exerça no momento da realização
do crime, podendo julgar qualquer pessoa, inclusive, um Chefe de Estado.
De acordo com o art. 5º da Constituição Federal, parágrafo 4º, introduzido
pela EC/95, é permitido, ao Brasil, submeter-se ao Tribunal Penal Internacional.
Diante disso, o Brasil aderiu ao TPI, que foi ratificado pelo Decreto Legislativo

58
UNIDADE 2

nº 112, de 6 de junho de 2002. Portanto, caso um indivíduo cometa algum dos


crimes mencionados anteriormente, e, eventualmente, a nossa jurisdição interna
não apresente uma repressão adequada e justa, esse indivíduo poderá ser julgado
pelo TPI e receber as penas, lá, previstas (BRASIL, 1988).

Querido (a) aluno (a), após percorrermos todo esse cenário de proteção dos di-
reitos humanos no plano internacional, vamos compreender como essas notas
se aplicam no nosso país e ordenamento jurídico.
Após o intenso período de ditadura militar que foi compreendido entre os
anos de 1964 a 1985, o Brasil passou por uma fase de redemocratização que se
consolidou com a instituição da Constituição Federal de 1988. A Constituição
Federal inaugurou, no nosso sistema jurídico, um extenso rol normativo de di-
reitos humanos, incluindo direitos de diversas espécies, como civis, políticos,
econômicos e sociais (BRASIL, 1988). De acordo com Ramos (2014, p. 349), “de
forma inédita, na história constitucional brasileira, a abertura da Constituição, aos
direitos, foi baseada, também, nos Tratados Internacionais celebrados pelo Brasil”.
O rol previsto no art. 5º, da CF/88, não é exaustivo, tendo em vista que, no
parágrafo 2º, consta que os direitos e as garantias previstos internamente não
excluem os decorrentes de regimes, princípios e Tratados dos quais o Brasil seja

59
UNIDADE 2

parte. Ademais, no art. 4º, inciso II, da Carta Magna, está disposto que o Brasil
deve cumprir, nas relações internacionais, o princípio de prevalência dos direitos
humanos (BRASIL, 1988).
Nesse cenário favorável, em meio ao direito internacional, que o Brasil ratificou
diversos instrumentos internacionais de proteção aos direitos humanos, tendo re-
conhecido, por exemplo, em 1998, a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos
Humanos (Corte IDH), e, em 2002, a jurisdição do Tribunal Penal Internacional.
Para a implementação de um Tratado internacional no ordenamento jurídico
brasileiro, o processo não é tão simples assim. É necessário um ato complexo, de
junção de vontades, entre os Poderes Executivo e Legislativo. Esse processo se
inicia pela assinatura, de competência do Poder Executivo, que se trata de um
aceite provisório pelo Estado. Depois de assinado, o Poder Executivo o envia ao
Congresso para análise e aprovação. Após aprovado pelo Congresso, volta para
a manifestação do Poder Executivo para que este ratifique o Tratado, que é o ato
formal de adoção dele pelo Estado brasileiro. O termo ratificação pode, ainda,
significar, de acordo com Martins (2020, p. 19):


Ato do órgão estatal próprio: É um soberano, um presidente, um
conselho federal que exprime a vontade de um Estado se obrigar
por meio de um Tratado.

Procedimento internacional: É o que permite que o Tratado entre em vi-


gor, ou seja, a troca ou o depósito formal dos instrumentos de ratificação.

O próprio documento: Deve ser autenticado, por meio do qual o


Estado demonstra a intenção de se obrigar pelo Tratado.

Avulsa e popularmente, a aprovação do Tratado pela legislatura: Ou,


ainda, outro órgão estatal cujo consentimento possa ser necessário.

A partir do momento da ratificação pelo Poder Executivo, o Brasil se tor-


na obrigado, internacionalmente, a cumprir o disposto no Tratado que
assinou. Todavia, considerado o posicionamento do Supremo Tribunal Federal,
para que o Tratado ingresse, efetivamente, no ordenamento jurídico brasileiro,
torne-se de cumprimento obrigatório, é necessário que ocorra a promulgação
dele, por meio da publicação de um Decreto Presencial. Assim, apenas, após a
promulgação e a publicação, o Tratado se torna obrigatório internamente.

60
UNIDADE 2

OLHAR CONCEITUAL

Assinatura: Aprovação: Ratificação: Promulgação:


Poder Executivo Congresso Nacional Poder Executivo Poder Executivo

Significa ser um aceite pro- Momento em que o Poder Ato formal de adoção do Ato realizado por meio de
visório ao afirmar que o Legislativo vota pela apro- Tratado pelo Estado brasi- Decreto Presidencial, que,
Estado deve analisar o texto vação, ou não, da incorpo- leiro. A partir deste momen- após publicado, faz o Trata-
e submetê-lo ao Poder Le- ração do Tratado no orde- to, o Brasil se torna vincula- do se tornar obrigatório,
gislativo. namento jurídico. Se o Tra- do internacionalmente. também, no âmbito inter-
tado versar sobre os direitos no.
humanos, poderá ser incor-
porado de duas maneiras:
Se aprovado por maioria
simples, terá status de
norma supralegal, o que
significa dizer que essa
norma estará acima das leis,
mas abaixo da Constituição
em relação à hierarquia.
Caso seja aprovada seguin-
do o trâmite de aprovação
de uma Emenda Constitu-
cional, que é a aprovação
em dois turnos, com
quórum de 3/5 em cada
uma das Casas Legislativas,
terá, também, status de
Emenda Constitucional. Se
versar sobre qualquer outro
assunto, diverso de direitos
humanos, terá status de lei
ordinária.

Ao adentrarem no nosso ordenamento jurídico, por meio do procedimento explicado


anteriormente, os Tratados internacionais podem possuir três categorias de status.
Aqueles que não versam sobre direitos humanos, entram no nosso ordena-
mento com status de lei ordinária. Isso significa que, no momento de aprovação
desse Tratado pelo Congresso Nacional, ele é aprovado por maioria simples em
cada uma das casas (Senado e Câmara).
Quando o Tratado incorporado ao nosso ordenamento se trata de assuntos
relacionados aos direitos humanos, e a aprovação, em cada casa do Congresso Na-
cional, dá-se por 3/5 dos membros, possui o status de Emenda Constitucional, ou

61
UNIDADE 2

seja, passa a ter hierarquia de norma constitucional. Caso contrário, possui status
de norma supralegal, inferior à norma constitucional, mas superior à lei ordinária.
Após a incorporação, algumas situações podem ocorrer: i) o tratado pode
coincidir com o direito interno; ii) o tratado pode complementar o direito inter-
no; iii) ou o tratado pode contrariar o direito interno. Nos dois primeiros casos,
não há maiores problemas, tendo em vista que não há incompatibilidade com o
texto constitucional. O maior problema se encontra quando o Tratado contraria
alguma disposição interna. Nesse caso, deve ser aplicada a norma mais favorável
ao indivíduo, também, conhecido como princípio pro homine, o qual veremos,
mais detalhadamente, adiante.

PENSANDO JUNTOS

Querido (a) aluno (a), depois de conhecer os principais sistemas e Convenções interna-
cionais de proteção dos direitos humanos e a incorporação deles ao nosso sistema jurí-
dico, você saberia responder, com propriedade, quem é (são) o (s) titular (es) dos direitos
humanos? Toda essa proteção, da qual tratamos até agora, caberia, exclusivamente, aos
seres humanos?

62
UNIDADE 2

Primeiramente, devemos relembrar do que trata o princípio da universalidade,


estudado na unidade anterior. De acordo com esse princípio, todos os seres hu-
manos são titulares desses direitos, independentemente de sexo, raça, religião,
opinião política, classe social etc. Nesse sentido, o art. 5º, da nossa Constituição
Federal, dispõe o seguinte:


Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se, aos brasileiros e aos estrangeiros resi-
dentes no país, a inviolabilidade dos direitos à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (BRA-
SIL, 1988, grifo da autora).

Ocorre que muito se questionou a respeito da possibilidade de os estrangeiros


não residentes, que estiverem, por exemplo, a passeio no nosso país, serem ti-
tulares dos direitos previstos na nossa Constituição, tendo em vista que o art. 5º
prevê, expressamente, proteção, apenas, aos brasileiros e aos estrangeiros residen-
tes no país. No entanto, o Supremo Tribunal Federal já entendeu que os direitos
fundamentais, previstos na Carta Magna, devem ser estendidos aos estrangeiros
não residentes, uma vez que ela própria defende a dignidade da pessoa humana e
prevê direitos decorrentes de Tratados e acordos internacionais (RAMOS, 2014).
Portanto, faz um tempo que o tema não é mais controverso, sendo inquestioná-
vel que, apesar da redação do art. 5º, da CF/88, tratar, apenas, dos estrangeiros
residentes, os não estrangeiros, também, fazem jus aos direitos fundamentais
previstos na Carta Magna.
Outro ponto a ser abordado é em relação às pessoas jurídicas, tendo em vista
que o art. 5º, da Constituição Federal, também, não as menciona. Ocorre que a
jurisprudência dominante, no nosso país, afirma que os direitos fundamentais,
também, podem ser aplicados às pessoas jurídicas no que for pertinente. Por
exemplo, obviamente, o direito de locomoção, previsto no inciso XV, do art. 5º,
da CF/88, não se aplica às pessoas jurídicas, ao passo que os direitos à honra e à
imagem, previstos no inciso X do mesmo artigo, podem ser, facilmente, aplicados.
De acordo com Ramos (2014, p. 458),“são, ainda, destinatários de proteção de
direitos humanos, os entes despersonalizados, que podem invocar determinados
direitos pertinentes à situação deles, como as sociedades de fato, condomínio,
espólio, massa falida e nascituro”.

63
UNIDADE 2

Por fim, como regra, o Estado se encontra como sujeito passivo da relação
jurídico-subjetiva, uma vez que cabem, a ele, as obrigações e responsabilidades para
o cumprimento dos direitos humanos, ou seja, é dele que a pessoa titular (sujeito
ativo) do direito pode exigir o cumprimento e o respeito. No entanto, há outros
direitos previstos na própria Constituição Federal que colocam pessoas diferentes
nessa posição, como no art. 205, no qual a família se encontra no polo passivo do
direito à educação, e no art. 225, no qual a coletividade se encontra no polo passivo
em relação ao meio ambiente equilibrado (BRASIL, 1988; RAMOS, 2014).
Caro (a) aluno (a), é necessário ponderar que, apesar de os direitos humanos
serem essenciais, eles não são absolutos, e, por isso, em algumas situações, podem
sofrer limitação. Essa limitação pode acontecer sempre que algum direito funda-
mental possa ferir o direito de outro indivíduo. É preciso reconhecer, portanto, que
o mundo dos direitos humanos é regado de conflito entre direitos, uma vez que os
de um indivíduo convivem com os de outros, assim, marca presença a imposição de
limites e preferências. Um exemplo que classifico é a colisão que envolve o direito
à vida e os direitos reprodutivos da mulher (aborto) (RAMOS, 2014).
De acordo com Ramos (2014), a solução para a colisão se explica por meio de
duas teorias, a interna e a externa. A teoria interna visa à finalidade do conteúdo
da norma, e se divide em expressa e imanente. A teoria interna expressa traz o
limite no próprio conteúdo da norma, como o direito à liberdade de expressão, pre-
visto no art. 5º, inciso IV, da CF/88. Vejamos: “Art. 5º [...] IV - é livre a manifestação
do pensamento, sendo vedado o anonimato” (BRASIL, 1988, grifo da autora).
Na teoria interna imanente, cabe, ao intérprete da norma, encontrar o limi-
te. Como exemplo dessa teoria, Ramos (2014) cita a pessoa que grita “FOGO” em
uma sala de cinema, motivo pelo qual faz as pessoas saírem correndo e algumas
são pisoteadas. Obviamente, o direito à liberdade de expressão não confere, a ela,
o direito de causar pânico nas pessoas que estavam próximas.
A teoria interna nega qualquer tipo de colisão, tendo em vista que afirma que
não há conflito entre os direitos. No primeiro caso, a própria norma traz o limite,
e, no segundo, porque não ocorreu a colisão do direito de liberdade de expressão
da pessoa que gritou em uma sala de cinema fechada com o direito à integridade
física das pessoas pisoteadas, cabe, ao intérprete, chegar a essa conclusão.
A maior fragilidade da teoria estaria na limitação dada pelo intérprete ao
analisar a situação fática, uma vez que pode incorrer em arbitrariedades e não
compreender, corretamente, o caso em análise.

64
UNIDADE 2

Com relação à teoria externa, utiliza um mecanismo bifásico. Em um pri-


meiro momento, analisa se a situação fática se encaixa na literalidade da norma,
e, após, verifica se não há nenhuma limitação, ou restrição justificável, causada
por outro direito. Essa justificação é baseada no princípio da proporcionalidade.
A partir do exemplo anterior, o fato de o agente ter gritado “fogo” está ampara-
do pelo direito de liberdade de expressão, ocorre que, no momento de se observar
se existe alguma limitação externa, com base no princípio da proporcionalidade,
os direitos à integridade física e às vidas das demais pessoas justificam a restrição.
A principal crítica a essa teoria, segundo Ramos (2014, p. 106), “é que impulsiona
uma inflação de conflitos sujeitos ao Poder Judiciário, o que gera um aumento da
imprevisibilidade e da insegurança jurídica”.
Relacionado a esse tema, prezado (a) aluno (a), é importante que você
conheça alguns princípios que regem a interpretação dos direitos humanos
quando há colisão de direitos: máxima efetividade, pro homine e primazia
da norma mais favorável.
O princípio da máxima efetividade determina que a interpretação dos direi-
tos humanos deve conduzir ao maior proveito do titular e ao menor sacrifício dos
direitos dos titulares que estão em colisão. Já o princípio pro homine exige que a
interpretação seja a mais favorável ao indivíduo, tendo em vista a superioridade
dos direitos humanos. Por fim, a primazia da norma mais favorável se refere
à aplicação da norma mais benéfica ao indivíduo (mesmo sentido do princípio
pro homine) quando existe colisão de direitos.

65
UNIDADE 2

Caro (a) aluno (a), os direitos humanos precisam ser respeitados nas relações
de particulares com o Estado (eficácia vertical, considerada a posição de
desigualdade nas relações) e entre particulares (eficácia horizontal, tida a
posição de igualdade nas relações). André Carvalho de Ramos classificou os
direitos humanos com base na relação que existe entre os particulares contra o
Estado e os particulares contra os particulares, em direitos de defesa, a prestações
e a procedimentos e instituições. Vamos analisar cada um deles:

Os direitos de defesa consistem no direito de os indivíduos se defen-


derem de determinadas intervenções do Poder Público nas próprias vi-
das ou, até mesmo, de outros particulares. Segundo Ramos (2014, p. 55),
podem ser classificados, ainda, em três subespécies: “os direitos ao não
impedimento (liberdade de expressão, por exemplo); os direitos ao não
embaraço (por exemplo, direito à inviolabilidade domiciliar); e direitos a
não supressão de determinadas situações jurídicas (defesa do direito de
propriedade, por exemplo)”.

Os direitos prestacionais são aqueles que, ao contrário dos direitos de


defesa, exigem uma obrigação do Estado para que algum direito seja asse-
gurado. Como exemplo, o Estado deve fornecer hospitais para assegurar
o direito das pessoas à saúde, e fornecer escolas de ensino gratuito para
contemplar o direito à educação.

Por último, prestações e direitos a procedimentos e instituições são


aqueles que têm, como função, a possibilidade de exigência dos indivíduos
para que o Estado forneça e estruture órgãos para que seja possível a
efetivação dos direitos humanos (RAMOS, 2014).

66
UNIDADE 2

EXPLORANDO IDEIAS

No final do século XIX, foi desenvolvida, por Georg Jellinek, uma teoria muito impor-
tante para explicar a relação do indivíduo em face do Estado sob a ótica dos direitos
humanos. Vejamos como ela foi pensada:
• estado de submissão (status subjectionis ou status passivo): posição de subordi-
nação do indivíduo em face do Estado. Por exemplo: pagamento de impostos.
• status negativo (status libertatis): conjunto de limitações à ação do Estado vol-
tadas para o respeito dos direitos do indivíduo. Por exemplo: possibilidade de o
indivíduo possuir uma propriedade sem interferência.
• status positivo (status civitatis): conjunto de pretensões do indivíduo para invocar
a atuação do Estado em prol de direitos. Por exemplo: possibilidade de o indivíduo
requerer, junto ao Estado, assistência à saúde, habitação e trabalho.
• status ativo (status activus): conjunto de prerrogativas e faculdades que o indi-
víduo possui para participar da formação da vontade do Estado, o que reflete no
exercício de direitos políticos e no direito de aceder a cargos em órgãos públicos.
Por exemplo: capacidade de votar (RAMOS, 2014, p. 65).

Portanto, caro (a) aluno (a), os direitos humanos não são absolutos, e devem
ser analisados no caso concreto quando existe alguma colisão com outro di-
reito fundamental, seja do mesmo titular ou de titulares diferentes. A doutrina
explica algumas teorias para que esse choque seja resolvido da maneira mais
proporcional possível, e se vale da utilização de princípios. Ademais, os direitos
humanos estão presentes nas relações não só entre particulares, mas, também,
de particulares contra o Estado, tendo em vista que, com relação aos direitos de
primeira geração, em regra, a atuação do Estado é a de não intervenção, e, aos de
segunda geração, é de prestação.
Estamos chegando ao fim de mais uma unidade, e o resultado foi o de mais
um passo dado no aprendizado dos direitos humanos. Você conseguiu aprender
que a atuação deles vai muito além da órbita interna de um país, uma vez que, ao
tratarmos dos direitos humanos, estamos nos referindo aos direitos de todo o ser
humano, em qualquer lugar do mundo, onde quer que ele esteja. Portanto, não
é um direito, apenas, do brasileiro, do francês ou do argentino, mas de todos os
seres humanos que estão no mundo, em razão da dignidade, que é inerente a eles.
Aprendemos que foi necessário ampliar a proteção dos direitos humanos para
o plano internacional, a fim de ser extrapolada a órbita interna de um país, com
o objetivo de evitar injustiças e omissões. Foram criados Tratados e Convenções

67
UNIDADE 2

que obrigam os países a respeitá-los e a cumpri-los,


além de mecanismos de monitoramento que têm,
como objetivo, fiscalizar o implemento.
Também, compreendemos como as normas in-
ternacionais de proteção atuam no nosso país e o
passo a passo no processo de incorporação de um
tratado no nosso ordenamento jurídico. Além disso,
percebemos que os direitos humanos não são abso-
lutos, e que, em muitos momentos, podem colidir
com os outros direitos, assim, é necessária a criação
de técnicas para se encontrar a norma mais favorá-
vel ao indivíduo.
Agora, eu quero que você se recorde da atividade
proposta que sugeri a você no início da unidade, do
caso dos meninos emasculados do Maranhão. Após
a falha do Brasil em apurar o caso, foi proposto um
acordo de solução amistosa entre o Estado brasileiro
e os peticionários, representados pelas organizações
não governamentais Justiça Global e Centro de De-
fesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Padre
Marcos Passerini. Ali, o Brasil reconheceu a própria
responsabilidade em relação à violação dos direitos
humanos, e se comprometeu a apurar a responsabi-
lização do réu, dentro do marco do devido processo
legal e do respeito aos direitos humanos.
Foram adotadas algumas medidas de reparação,
como a instalação de uma placa em homenagem sim-
bólica às crianças vitimadas no Complexo Integrado
de Proteção à Criança e ao Adolescente no Estado do
Maranhão; a inclusão das famílias nos programas de
Habitação de Interesse Social; e a realização do pa-
gamento de uma pensão especial mensal, de cunho
indenizatório, no valor de R$ 500,00 (quinhentos
reais), para cada uma das famílias beneficiárias, por
um prazo de 15 (quinze) anos.

68
UNIDADE 2

Ademais, a União se comprometeu a incluir o Esta-


do do Maranhão no Programa de Ações Integradas Re-
ferenciais de Enfrentamento da Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes no Território Brasileiro (PAIR).
Da mesma forma, o Estado do Maranhão prometeu dar
continuidade à implementação do Sistema Estadual de
Enfrentamento à Violência Sexual contra a Criança e o
Adolescente e do Sistema Interinstitucional de Ações
Antidrogras (SIAD), dentre outras medidas.
Com relação ao monitoramento após essas gra-
ves violações, ficou acordado que o Conselho Esta-
dual de Direitos Humanos, o Conselho Estadual de
Direitos da Criança e do Adolescente do Estado do
Maranhão e representantes dos peticionários iriam
se reunir a cada 4 (quatro) meses, em sessão conjunta,
para o monitoramento do cumprimento do acordo.
O Estado brasileiro e os peticionários se comprome-
teram a encaminhar, à CIDH, no ano de 2006, relató-
rios semestrais e, posteriormente, anuais, a respeito
do cumprimento dos termos do acordo, e a CIDH
facilitaria audiências para receber informações e via-
bilizaria pedidos de visitas no local que aconteceu a
violação, caso necessário.
Depois de toda essa análise, você consegue per-
ceber que é quase impossível imaginar um mundo
sem a proteção internacional dos direitos humanos?
Prova disso é nos lembrarmos de que, quando essa
proteção, ainda, era escassa, tivemos a eclosão de duas
guerras mundiais. Portanto, é de suma importância
que exista a proteção internacional dos direitos hu-
manos, com o objetivo de ajudar os países na aplica-
ção desses direitos, além de fiscalizá-los e responsa-
bilizá-los, caso alguma norma, por eles, adotada não
seja cumprida. Dessa forma, seguiremos em busca da
paz e do respeito aos direitos de todos.

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Agora é sua vez! Vamos testar se você compreendeu a disciplina estudada nesta
unidade? Caso você erre alguma alternativa, recomendo voltar a leitura na parte que
explica o conteúdo que você errou.

1. Leia o texto a seguir:

Há três fases que levam à formação da vontade do Brasil em celebrar um Tratado,


em assumir obrigações perante o Direito Internacional: 1) fase da assinatura; 2) fase
da aprovação congressual (ou fase do Decreto Legislativo); e 3) fase da ratificação.
Há, ainda, uma quarta fase, que é a de incorporação do Tratado já celebrado pelo
Brasil, denominada de fase do Decreto Presidencial (ou Decreto de Promulgação).

RAMOS, A. C. de. Curso de direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2014.

Diante disso, e dos conhecimentos da incorporação dos Tratados internacionais no


ordenamento jurídico brasileiro, analise as afirmativas a seguir:

I- A fase de assinatura corresponde ao momento em que o Presidente da Repú-


blica assina o Tratado internacional e vincula, juridicamente, o Estado brasileiro.
II - A fase de aprovação congressual corresponde ao momento em que o Congresso
Brasileiro aprova o Tratado que é assinado pelo Chefe do Poder Executivo, no
entanto, esse ato, ainda, não vincula o Estado brasileiro.
III - A fase de ratificação é realizada pelo Presidente da República, e, a partir desse
momento, o Estado brasileiro está obrigado no plano internacional.
IV - A última fase, denominada de promulgação, de acordo com o STF, é irrelevante,
uma vez que, a partir da ratificação, o Tratado se torna obrigatório.
É CORRETO o que se afirma em:

a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas
e) I, II, III e IV.

70
2. Leia o texto a seguir:

Porque o cenário, ainda, encontrava-se bipolarizado quanto à proclamação dos di-


reitos de primeira dimensão e dos de segunda dimensão. Tornou-se necessária a
adoção de dois Tratados distintos dos direitos humanos: O Pacto Internacional Sobre
Direitos Civis e Políticos e o Pacto Econômico Sobre os Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais, em 1966.

SAITO, T. Direitos humanos. Curitiba: Contentus, 2020.

Com relação à proteção internacional dos direitos humanos, assinale a alternativa


que contenha os exemplos dos direitos que estão inseridos em cada Pacto Inter-
nacional.

I - Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos: direitos à vida, liberdade,


igualdade e segurança. Pacto Econômico Sobre os Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais: direitos à moradia, saúde, vestimenta e vida cultural.
II - Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos: direitos à vida, liberdade,
educação e condição justa ao trabalho. Pacto Econômico Sobre os Direitos Eco-
nômicos, Sociais e Culturais: direito à proibição à escravidão, saúde, vestimenta
e vida cultural.
III - Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos: direitos à assistência à família,
igualdade entre homens e mulheres e à vida. Pacto Econômico Sobre os Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais: alimentação, saúde, vestimenta e vida cultural.
IV - Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos: direitos à moradia, saúde, ves-
timenta e vida cultural. Pacto Econômico Sobre os Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais: direitos à vida, liberdade, igualdade e segurança.
É CORRETO o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.

71
3. Conforme a importância dos direitos humanos, foram se destacando no plano in-
ternacional, e deixaram de ser um tema a ser debatido, apenas, no âmbito interno
de um Estado, com pauta na comunidade internacional. Diante disso, foram criados
sistemas de proteção, de âmbitos global e regional. Assim, considerando o estudo
do assunto, assinale a alternativa que contém, apenas, instrumentos normativos que
fazem parte do Sistema Interamericano dos Direitos Humanos:

a) Declaração Universal dos Direitos Humanos, Declaração Americana dos Direitos


e Deveres do Homem e Convenção-Quadro para a Proteção das Minorias.
b) Declaração Universal dos Direitos Humanos, Pacto Internacional dos Direitos
Civil e Político e Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais.
c) Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, Carta da Organização
dos Estados Americanos e Pacto de San José da Costa Rica.
d) Protocolo San Salvador, Declaração Universal dos Direitos Humanos e Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem.
e) Pacto de San José da Costa Rica, Protocolo San Salvador e Declaração Universal
dos Direitos Humanos.

72
3
Direitos Humanos
Nas Relações
Jurídicas
Me. Brenda Ohana Rocha Hundzinski

Olá, aluno(a). Uma nova unidade inicia e, neste momento, iremos estu-
dar as noções e os fundamentos históricos e normativos dos Direitos
Sociais, dos Direitos Econômicos e do Direito da Personalidade, assim
como iremos abordar os aspectos gerais sobre as várias manifesta-
ções e acepções do Direito de Liberdade e Igualdade. Os assuntos a
serem estudados estão estritamente interligados com os Direitos Hu-
manos e com os preceitos constitucionais, tornando a aprendizagem
essencial à sua formação acadêmica, profissional e pessoal. Sendo
assim, convido você a continuar com a leitura do livro.
UNIDADE 3

O ordenamento jurídico de um Estado é uma construção social, que está em


constante transformações e adaptações ao meio em que está inserido, acompa-
nhando o desenvolvimento econômico, político, educacional, cultural, moral,
tecnológico, dentre outros. Por estar em constante atualização os direitos e prer-
rogativas individuais e coletivas são acrescidos e maximizados, tornando-se mais
efetivas na busca de uma vida digna.
Observa-se, dessa forma, que a legislação tal qual como conhecemos atualmente
não é estática e não foi estruturada como a conhecemos, visto que, em momento
anterior, não existiam e não eram positivados alguns direitos e garantias, como estão
hoje, o que diminuía significativamente a harmonia e a dignidade social.
Por tal motivo, é possível afirmar que a ordem jurídica e suas modificações
decorrem da ânsia social em concretizar direitos, limitando a atuação estatal e as-
segurando preceitos básicos para uma vida proeminente? É viável o fundamento de
que os aspectos históricos direcionam e estruturam o atual ordenamento jurídico,
adequando e apresentando princípios norteadores das ações sociais e estatais?
Caro(a) aluno(a), de acordo com Rousseau, “o homem nasceu livre e em toda
parte é posto a ferros. Quem se julga o senhor dos outros não deixa de ser tão
escravo quanto eles” (ROUSSEAU, 2007, p. 23), ou seja, todos nascem livres, po-
rém, em razão de uma convenção despojada de aspectos técnicos, os indivíduos
abrem mão da sua liberdade e estabelecem contratualmente a formação de uma
sociedade, garantindo maiores chances de sobrevivência, estabilidade e harmonia,
estando todos submersos aos objetivos e ao interesse social.
O bem comum é o escopo central da formalização de uma sociedade, sen-
do que, para a sua concretização, foram estabelecidas convenções e legislações
para direcionar o comportamento humano, evitando ações abusivas e arbitrárias.
Ocorre que a sociedade está em constante transformação, não podendo perma-
necer com as normatizações estabelecidas em um dado momento histórico.
Em vista disto, a legislação é modificada e adaptada à realidade em que está
inserida. Para tanto, as manifestações sociais, que visam o estabelecimento de
novos direitos garantindo o mínimo existencial, são essenciais para a consolida-
ção de uma sociedade justa com normatizações atuais e conexas com a vivência
do povo. Os aspectos históricos, assim, são essenciais para o ajustamento entre o
direito positivado e a realidade social.
O direito é um dado histórico que decorre dos atos e ações da sociedade, sen-
do por ela modificado e adaptado ao novo cotidiano. Podemos dizer que o direito

74
UNICESUMAR

acompanha a revolução social e reflete os valores básicos da comunidade em que


está inserida, não rompendo totalmente com o status quo (expressão que se refere
a permanência do estado anterior), mas complementando e maximizando os seus
efeitos na concretização de uma sociedade justa e igualitária.
Feito essas explanações, para complementar a compreensão
dos fundamentos dos direitos do homem, sugiro que assista o
documentário O Tempo e o Direito, realizado e publicado pela
TV Justiça Oficial e disponibilizado no QR-Code. Após assistir
o vídeo, faça uma resenha, entre 8 e 12 linhas, explicando a im-
portância dos movimentos históricos para a formação do atual
ordenamento jurídico.
Caro(a) aluno(a), você deve ter percebido que a sociedade atual, tal como co-
nhecemos e vivenciamos, decorre da evolução histórica que a sociedade passou,
a fim de materializar direitos na realidade social, sendo que cada prerrogativa e
garantia positivada na ordem jurídica é uma conquista social.
Diante dessas explanações, você percebeu que a sociedade atual decorre dos
fatos sociais ocorrido ao longo da história e que ao mesmo tempo em que sofre
interferência desta, também interfere nela, sendo uma relação de mútua recipro-
cidade? Qual a relevância dos movimentos históricos sociais para a formação e
estruturação do ordenamento jurídico atual? Para maior interação e resolução
dos questionamentos, utilize o seu Diário de Bordo.

75
UNIDADE 3

Caro(a) aluno(a), estamos iniciando nossos estudos sobre os Direitos Humanos


em suas várias manifestações e sua influência nas relações jurídicas subjetivas,
na concretização de um Estado de Bem-estar social e na efetivação da dignidade
da pessoa humana.
Entretanto, antes de adentrarmos à análise e às particularidades dos funda-
mentos do Direito da personalidade, dos Direitos Sociais, econômicos e coletivos,
assim como dos direitos de liberdade e igualdade, temas a serem estudados nesta
unidade, devemos entender que estes são manifestações dos Direitos Humanos,
os quais são normas jurídicas internacionais que conferem ao Homem garantias
essenciais a sua dignidade e primordiais para a concretização de uma sociedade
justa (MENDES; BRANCO, 2017).
É mister expor que os Direitos Humanos abrangem todos os indivíduos
da sociedade, possuindo caráter universal, ou seja, a todos os seres humanos,
conforme delimita o Art. 1º da Declaração Universal de Direitos Humanos, é
garantido a titularidade de direitos humanos, pois todos “nascem livres e iguais
em dignidade e direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para
com os outros com espírito de fraternidade” (BRASIL, 1992, s.p), demonstrando
igualdade entre os indivíduos.
Substanciais à formalização de uma sociedade livre, justa e igualitária, os Di-
reitos Humanos são históricos e possuem natureza jurídica jus congens, ou seja,
natureza de normas de direito internacional com valores e princípios essenciais
que norteiam a aplicação do direito e devem ser considerados um gênero que
possui várias espécies, as quais estão previstas, em um rol exemplificativo, no
ordenamento jurídico (VARELLA, 2009).

76
UNICESUMAR

PENSANDO JUNTOS

Caro(a) aluno(a), o texto apresenta os termos: rol exemplificativo e rol taxativo. Você sa-
beria a diferença entre ambos? Quais implicações destes conceitos para os direitos fun-
damentais?

Pois bem, o rol taxativo apresenta uma lista de conceitos não determinada e fixa,
viabilizando sua expansão conforme os princípios constitucionais, enquanto o
rol exemplificativo apresenta conceitos determinados e limitados, impedindo a
sua expansão de forma doutrinária e jurisprudencial.
Os Direitos Humanos, desta forma, pertencem ao ramo do direito internacional
público, visto que são Direitos Fundamentais e prerrogativas estabelecidas e positiva-
das no plano internacional, por meio de declarações, tratados, convênios entre outros,
com objetivo de concretizar direitos essenciais para a dignidade da pessoa humana,
evitando tratamentos humilhantes e deteriorantes, sendo, portanto, um conjunto de
direitos do homem protegidos na ordem internacional (MARTINS, 2022).
Nota-se, dessa forma, que os Direitos Humanos são garantias delimitadas no
ordenamento jurídico com a finalidade de permitir a convivência digna, livre
e igual para todas as pessoas, efetivando a dignidade da pessoa humana, po-
dendo se manifestar das mais diversas formas. Estando, muitas vezes, atrelados
aos direitos fundamentais adotados pelos Estados, os Direitos Humanos estão
positivados de forma expressa e não taxativa no ordenamento jurídico nacional
e internacional, de forma a guiar as relações jurídicas subjetivas.
Embora atuem diretamente nas relações jurídicas subjetivas, não são todos
os direitos fundamentais dos homens que podem ser atrelados a concepção de
direito subjetivo, visto que estes últimos “conferem ao indivíduo a possibilidade
de transformar a norma geral e abstrata contida em um determinado ordena-
mento jurídico em algo que possua como próprio” (MARTINS, 2022, p. 163). Isso
é a plena possibilidade de fruição e gozo de um direito estabelecido na legislação
pátria, independentemente de quaisquer circunstâncias a atuações estatais.
De fato, os direitos subjetivos estão relacionados com a própria essência do ho-
mem, assim como os direitos humanos, se diferenciando destes, conforme salienta
Amaral (2008), em razão da possibilidade que uma pessoa tem “para realizar seus
interesses nos limites da lei, constituindo-se juntamente com o respectivo titular, o
sujeito do direito, em elemento fundamental do ordenamento jurídico” (2008, p. 338).

77
UNIDADE 3

Não podemos afirmar que todos os Direitos humanos são direitos subjetivos,
uma vez estes podem se manifestar por meio de duas dimensões: dimensão sub-
jetiva e dimensão objetiva, sendo que a primeira se volta a concepção de que os
direitos do homem positivados na ordem jurídica internacional são proposições
jurídicas que visam proteger o ser humano como indivíduo dotado de direitos.
Enquanto a segunda está direcionada à proteção dos direitos humanos voltados
para os Estados e o seu dever de atuar e criar mecanismos que promovam os
direitos humanos na sociedade (BRANCO; MENDES, 2017).
Sinteticamente, a dimensão subjetiva reflete a prerrogativa que um indivíduo
tem para invocar uma norma jurídica a fim de exigir do Estado a execução de
uma ação, obrigação de fazer ou não fazer, ao passo que a dimensão objetiva está
direcionada a ideia de que os Direitos Humanos norteiam a aplicação e interpre-
tação de todo o ordenamento jurídico (MARTINS, 2021).
Assim, atrelar e limitar os Direitos Humanos apenas como direitos sub-
jetivos seria inadequado, observado que os primeiros podem ser inexequí-
veis, tanto por questões financeiras e orçamentárias do Estado, quanto por
outras circunstâncias fáticas que impedem sua efetivação na realidade social.
Em contrapartida, o segundo “pressupõe que as prestações materiais já hajam
sido precisadas e delimitadas - tarefa própria de órgão político, e não judicial”
(MENDES; BRANCO, 2017, p. 149).
Feito essas explanações, nota-se que os direitos subjetivos decorrem do mes-
mo fundamento dos direitos humanos, porém, estão relacionados à concepção
do pensamento individualista e sua fruição e gozo na realidade, ao contrário dos
direitos humanos que são coletivos e abrangentes positivados na ordem jurídica.
Em síntese os direitos humanos têm um caráter universal, sendo direcionados
a todos os seres humanos, os quais são titulares desses direitos apenas por ser
caracterizado como ser humano, podendo utilizar da prerrogativa em âmbito
jurídico nacional ou internacional, como sustenta Mazzuoli (2016, p. 34): “[...]
podem ser vindicados indistintamente por todos os cidadãos do planeta e em
quaisquer condições, bastando ocorrer a violação de um direito seu reconhecido
em norma internacional aceita pelo Estado em cuja jurisdição se encontre”. No
mesmo diapasão, Ramos ensina que “os direitos humanos, por definição, são di-
reitos de todos os indivíduos, não importando origem, religião, grupo social ou
político, orientação sexual e qualquer outro fator” (2017, p. 612).

78
UNICESUMAR

Diante das inúmeras possibilidades de manifestação, os Direitos Huma-


nos podem ser classificados, conforme ensinamentos de Accioly (2019),
em Primeira, Segunda ou Terceira Dimensão ou Geração. A primeira vol-
ta-se à concepção de que os direitos possuem cunho positivo, ou seja,
prevalência de obrigações de não fazer, obrigando o Estado a se ausentar
o máximo possível da vida das pessoas, viabilizando o pleno exercício do
Direito à liberdade.

Diferentemente, a Segunda Dimensão ou Geração obriga o Estado a atuar


de forma assertiva e ativa, com escopo de efetivar e promover direitos. A
Terceira Dimensão ou Geração não se limita à análise da aplicabilidade
de direitos individuais, passando a tutelar direitos meta individuais, ou os
direitos coletivos.

Como se observa, os Direitos Humanos não surgiram e não foram organizados


da forma como conhecemos atualmente, visto que estes são dados históricos que
passaram por um processo de desenvolvimento com base nas transformações e
evoluções que ocorreram na sociedade e que clamaram pelo estabelecimento de
novos direitos garantindo o mínimo existencial.
As primeiras manifestações dos Direitos Humanos ocorreram com a necessi-
dade de organizar a sociedade, delimitando regras de convivência, a fim de evitar
abusos e ações tortuosas, sendo que a primeira manifestação expressa destes foi
concretizada em 539 a.C., com a normatização elaborada por Cilindro de Ciro,
que delimitava a libertação do povo hebreu da Babilônia, a liberdade religiosa e
a igualdade racial na região (GUIMARÃES, 2010).
Embora seja o esboço dos direitos humanos, a ideia apresentada neste pe-
ríodo estava muito longe de ser universal, englobando todos os indivíduos da
sociedade, visto que excluía os escravos, mulheres e outros grupos minoritários
presentes em uma sociedade, como pessoas com deficiência. Evidente que apesar
dos direitos humanos terem suas primeiras manifestações na antiguidade, apenas
na Idade Média e na Idade Moderna que ocorreu a eclosão de movimentos so-
ciais, políticos e jurídicos que viabilizaram a organização e avanços significativos
para a garantia das prerrogativas dos indivíduos.
Assim, com o passar dos anos, na Idade Média, há um avanço nos Direitos Hu-
manos, com o surgimento do movimento constitucionalista decorrente da Carta

79
UNIDADE 3

Magna, outorgada pelo rei inglês João I, no ano de 1.215, a qual limitou a atuação
estatal, viabilizando o surgimento de direitos fundamentais (MARTINS, 2021).
Dando seguimento aos aspectos históricos dos direitos humanos, neste pe-
ríodo histórico surgiu normas estatais de direitos humanos na Inglaterra, tais
como Petition of Right (Petição de Direito), de 1.628 e do Bill of Rights de 1.689,
ambos voltados para a limitação de poder do governante e para o estabelecimento
direitos e garantias fundamentais básicas, tornando-se manifestações históricas
dos direitos humanos (MARTINS, 2022).
Com este avanço, no século XVIII na Europa, um movimento político-social
com concepção liberal, iniciado pela burguesia durante o Iluminismo, que am-
bicionava se opor ao poder arbitrário e absoluto do soberano, com a finalidade
de limitá-lo, reconhecendo o povo como real detentor do poder e declarando
liberdades e direitos individuais (TAVARES, 2012). Este novo movimento deu
ensejo a documentos formais direcionados à construção de uma nova ordem
constitucional com limitação e separação de poderes e com reconhecimento de
direitos individuais (CANOTILHO, 1993).
A positivação de direitos decorre da necessidade que os seres humanos pos-
suem em delimitar por escritos os direitos e deveres instituídos em uma ordem
constitucional, visto que “nenhum homem tem uma autoridade natural sobre
seu semelhante e já que a força não produz nenhum direito, restam apenas as
convenções como base de toda autoridade legítima entre os homens” (ROU-
SSEAU, 2007, p. 27), permitindo a organização social e a convivência, em tese,
harmoniosa, igualitária e justa.
No ano de 1776, foi promulgada a Declaração de Independência dos
Estados Unidos da América, a qual estabeleceu igualdade entre os homens,
conferindo a estes direitos inalienáveis, tornando-se o primeiro documen-
to histórico escrito que declara a igualdade entre todos os seres humanos.
Ocorre que, apesar de delimitar e reconhecer a igualdade, sendo um marco
para o início dos movimentos de independência dos povos, este documento
manteve a escravidão.
Com a positivação de direitos, os direitos humanos foram formalizados e,
historicamente, os documentos de maior relevância, que impulsionaram o de-
senvolvimento e aperfeiçoamento dos Direitos Humanos, propagando as ideias
das prerrogativas essenciais do homem, foram a Constituição dos Estados Unidos
da América, datada de 1787 e a Constituição da França, datada de 1791.

80
UNICESUMAR

Dando seguimento ao desenvolvimento histórico dos Direitos Humanos,


com fundamentos na Constituição francesa de 1791, surge a Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos e dos Cidadãos, a qual foi elaborada em um
contexto de pós 2ª Guerra Mundial, resplandecendo os princípios e direitos fun-
damentais à vida digna e materializando a necessidade de proteção, avanço e
aperfeiçoamento destes, com a finalidade de evitar conflitos e manter a ordem
pública (LENZA, 2010).

EXPLORANDO IDEIAS

A Segunda Grande Guerra Mundial foi um conflito, envolvendo Inglaterra, França, Estados
Unidos versus Alemanha, Itália e Japão, que iniciou no dia 1º de setembro de 1939, com
a invasão alemã na Polônia e terminou em 8 de maio de 1945, quando a Alemanha se
rendeu, reconhecendo a derrota. Embora tenha ocorrido a rendição alemã, o Japão per-
durou os conflitos até 02 de setembro de 1945, gerando milhares de mortes e destruição
de grandes proporções.
Esta Guerra ocorreu pela ânsia expansionista da Alemanha, pela disputa por territórios,
pela vontade de revanche alemã diante da derrota na Primeira Guerra Mundial, dentre
outros fatores. Importante destacar que o Brasil participou da Segunda Guerra Mundial,
ao declarar guerra ao Eixo, em 22 de agosto de 1942, e encaminhar várias tropas de com-
batente à Europa.
Fonte: Silva, 2021.

Com a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Assem-


bleia Geral das Nações Unidas, foi consubstanciado “um dos primeiros diplomas
internacionais a aglomerar, num único dispositivo normativo, direitos e liberda-
des clássicas juntamente com direitos sociais” (MARTINS, 2022, p. 39).
Composta por trinta artigos, a Declaração Universal de Direitos Humanos
dispõe sobre os mais diversos tipos de garantia de direitos, sendo estas estabe-
lecidas através de tratados internacionais, onde cada nação faz adesão e passa a
utilizar esses tratados como legislação específica.
A Declaração Universal de Direitos Humanos se fundamenta nos preceitos
delimitados pelo Constitucionalismo Social, o qual tem por finalidade suprimir
ou minimizar a crise pública decorrente da concentração de renda e a exclusão
social que foram, exponencialmente, intensificadas com movimentos sociais an-
teriores (MARTINS, 2021).

81
UNIDADE 3

Como consequência o Estado, até então inerte e passivo, passa a agir de forma
ativa na consumação de direitos constitucionais, visando a construção de uma
sociedade justa e igualitária, constituindo um Estado de Bem-estar social, em que
há a concretização de direitos e da igualdade jurídico-formal, evitando abusos
estatais e exclusões sociais.
Assim, observa-se que a Declaração de Direitos Humanos delimitou de for-
ma expressa a limitação de poder e a definição de direitos individuais, sociais,
coletivos e econômicos devendo o Estado agir ativamente para a promoção dos
direitos essenciais aos homens, realizando ações objetivas (LENZA, 2010).
Nesse sentido, de acordo com Martins, “o Estado deveria abandonar sua pos-
tura passiva, eminentemente liberal, e assumir um papel positivo, ativo, a fim de
que a igualdade jurídico-formal apregoada nos textos constitucionais fosse, de
fato, concretizada” (2022, p. 24).
Desse modo, com o avançar dos Direitos Humanos, o Estado deve almejar a
efetivação das prerrogativas essenciais ao homem na realidade social, tornando:


[...] as relações sociais e econômicas mais equilibradas, mediando os
conflitos coletivos e neutralizando as diferenças de classe ao prote-
ger os mais fracos, seja convertendo-os em portadores de determi-
nados direitos perante os Poderes Públicos (MARTINS, 2022, p. 41).

Para tanto, o Ente Público deve não apenas estabelecer novos direitos humanos
com intuito de construir uma sociedade justa e igualitária, mas deve desenvol-
ver ações efetivas para constituir um Estado de Bem-estar social, em que haja a
concretização de direitos e da igualdade jurídico-formal.

82
UNICESUMAR

Caro(a) aluno(a), observa-se que os direitos humanos são prerrogativas essen-


ciais ao homem, sendo protegidas “pela ordem internacional (especialmente por
meio de tratados multilaterais, globais ou regionais) contra as violações e arbi-
trariedades que um Estado possa cometer às pessoas sujeitas à sua jurisdição”
(MAZZUOLI, 2018, p. 30).
Diante da fundamentalidade destes na vida social, passaremos a analisar as
várias manifestações dos Direitos Humanos de forma individualizada, nas suas
várias manifestações. Iniciaremos o estudo pelos Direitos Individuais e Coletivos,
Direitos Sociais e Econômicos, seguidos dos Direitos da Personalidade, Direito
de liberdade e de igualdade no Brasil.
Assim sendo, no Brasil os Direitos Fundamentais do homem foram delimita-
dos na Constituição Federal e em Tratados Internacionais de Direitos Humanos
incorporados ao ordenamento jurídico pátrio, regulando uma série de garantias e
prerrogativas básicas para assegurar a dignidade da pessoa humana e a formação
de uma sociedade justa e igualitária.
Convém destacar que os direitos humanos podem ser classificados em di-
reitos individuais e direitos coletivos, não podendo estes serem confundidos,
visto os primeiros estão direcionados para a concretização da autonomia e das
prerrogativas do indivíduo, garantindo o exercício e efetivação de garantias e
princípios constitucionais, assim como a independência deste frente aos outros
membros da sociedade. Enquanto o segundo abrange não apenas um indivíduo,
mas uma coletividade determinada, extrapolando os limites da individualidade
de uma pessoa (MARTINS, 2021).

EXPLORANDO IDEIAS

Caro(a) aluno(a), cumpre destacar que os direitos coletivos é gênero cujas espécies são os
direitos coletivos strictu sensu, direitos difusos e direitos individuais homogêneos. Os pri-
meiros estão direcionados a um grupo determinado e certo de pessoas, visto que sua ti-
tularidade é atribuída a uma figura subjetiva pública ou privada concreta ou determinável,
tendo como objeto um direito indivisível. Diferentemente, os Direitos Difusos são direitos
metaindividuais e indivisíveis, cuja titularidade não é certa, inexistindo vínculo jurídico ou
fático muito preciso, isto é, as pessoas não são determinadas, tampouco determináveis,
sendo usufruídos por um número indeterminado de pessoas. Em contrapartida, os Direitos
Individuais homogêneos são direitos divisíveis com titulares determinados, isto é, são pes-
soas que possuem os mesmos direitos diante de uma circunstância igual (TAVARES, 2012).

83
UNIDADE 3

Convém apresentar que os direitos individuais são de cunho positivo, ou seja,


prevalência de obrigações de não fazer, sendo que ao Estado é incumbido o dever
de se ausentar o máximo possível da vida das pessoas, pois se pauta na liberda-
de. Diferentemente, os Direitos Coletivos estão atrelados a terceira dimensão
do direito, uma vez a titularidade do direito deixa de ser individual, passando à
coletividade. Os Direitos passam a ser metaindividuais, como ensina Tavares:


Os direitos individuais caracterizam-se, em geral, pela inclusão
no rol dos direitos humanos de primeira dimensão. Os direitos
coletivos são os direitos humanos de terceira dimensão. Direitos
coletivos, em sentido amplo, designam os interesses de grupos de
pessoas indeterminadas. Os direitos sociais, juntamente com os di-
reitos econômicos e culturais, compõem os direitos humanos de
segunda dimensão. São as liberdades positivas, que objetivam a tu-
tela dos hipossuficientes, única forma de implementar efetivamente
a igualdade social, fundamento do Estado brasileiro (inc. IV do art.
1º, 2012, p. 560).

Observa-se desta forma que, os direitos coletivos dos povos, também denomina-
do de direitos fundamentais ou direitos humanos de terceira geração ou dimensão,
como já afirmado, estão direcionados a uma coletividade determinada, a um grupo
de pessoas específicas que possuem um vínculo, sendo “direitos individuais exercidos
coletivamente, como o direito de reunião e de associação” (TAVARES, 2012, p. 529).
Previsto constitucionalmente de forma não taxativa, os direitos coletivos de-
correm de movimentos sociais voltados para a efetivação de um Estado Demo-
crático de Direitos, estando interligados a “tutela constitucional do consumidor,
mandado de segurança coletivo, ação popular para a defesa do patrimônio públi-
co” (MARTINS, 2021, p. 753), isto é, relacionam-se diretamente com o exercício
de direito de um grupo.
Embora estejam intimamente relacionados à efetivação de direitos dos indi-
víduos, os Direitos coletivos não pode ser confundidos com os Direitos Sociais,
pois estes são direitos de segunda dimensão, voltados para a concretização de um
Estado Social de Direito, uma vez que “disciplinam situações subjetivas pessoais
ou grupais de caráter concreto” (SILVA, 2007, p. 183). Realizada essa breve distin-
ção entre direitos, é imprescindível expor que os Direitos sociais, com objetivo de
efetivar prerrogativas na realidade e concretizar um estado de bem-estar social,

84
UNICESUMAR

eclodiu com o constitucionalismo social, cobrando do Estado ações eficiente e


uma postura ativa para garantir a materialização e o usufruto de direitos consti-
tucionais (MARTINS, 2022).
Historicamente, as primeiras manifestações dos Direitos Sociais ocorreram
com a promulgação da Constituição do México (1917), da Constituição de Wei-
mar (1919) e Constituição do Brasil (1934), assim como todas as constituições
brasileiras após esta. Ressalta-se que a Constituição do Brasil de 1934:


[...] foi a primeira a prever sistematicamente direitos sociais, entre
eles a inviolabilidade do direito à assistência, os direitos à assistência
judiciária gratuita, direito ao trabalho e à assistência dos indigentes,
além de afirmar a existência digna como objeto de ordem econômi-
ca (MARTINS, 2022, p. 144).

Através da Constituição da República de 1934 os direitos sociais passaram a


integrar o rol de direitos positivados essencial à uma vida digna, sendo que neste
período sua amplitude e essencialidade não eram questões com grande visibilida-
de. Fato que foi modificado com a promulgação da Constituição Federal de 1988,
a qual conferiu maior projeção a estes direitos, permitindo maior maximização
e especificidades dos direitos sociais, assim como a materialização de um Estado
Democrático de Direito com bases sociais.

Caro(a) Estudante, o ordenamento jurídico pátrio estabelece


direitos e prerrogativas aos indivíduos com intuito de ga-
rantir uma vida digna. Para tanto, são estipulados direitos
individuais e coletivos, assim como direitos sociais. Ocorre
que estes últimos, por alguns doutrinadores e juristas, não
são considerados direitos fundamentais, mesmo sendo
essenciais para a formação de uma sociedade justa e igual-
itária, independente da nomenclatura a ele conferida.
Assim, para melhor compreensão desta dicotomia ex-
istente sobre a fundamentalidade dos direitos sociais, te
convido a ouvir minha explicação, por meio de um Pod-
cast, sobre a temática, pois neste momento apresentarei
de forma pormenorizada as correntes doutrinárias que
versam sobre o tema, mostrando ao final o entendimento
dos Tribunais Superiores.

85
UNIDADE 3

Previstos no Art. 6 da Constituição Federal, os Direitos Sociais, embora haja con-


trovérsias doutrinárias, são denominados como Direitos Fundamentais, cujas
“prestações positivas a serem implementadas pelo Estado (Social de Direito) e
tendem a concretizar a perspectiva de uma isonomia substancial e social na busca
de melhores e adequadas condições de vida” (LENZA, 2010, p. 838).
Melhor dizendo, os direitos sociais, também denominados de direitos a pres-
tações materiais ou direitos a prestação em sentido estrito, visam diminuir as
desigualdades sociais, possibilitando que o maior número possível de indivíduos
possa usufruir e gozar das prerrogativas normativas. Contudo, para que haja
atuação ativa do Estado em viabilizar o exercício de direitos dos indivíduos é ne-
cessário investimento econômico, o qual depende de estruturação orçamentária
e de disponibilidade de recursos, visto que os Direitos Sociais “têm sua efetivação
sujeita às condições, em cada momento, da riqueza nacional. Por isso mesmo, não
seria factível que o constituinte dispusesse em minúcias, de uma só vez, sobre
todos os seus aspectos” (MENDES; BRANCO, 2017, p. 148).
Importante apresentar que, apesar de ser reconhecidos como Direitos Funda-
mentais, não sendo apenas uma norma programática para a efetivação de direitos,
os Direitos Sociais não podem ser taxados, de forma generalizada, como direitos
subjetivos, uma vez estes podem ser caracterizados como uma circunstância jurí-
dica que o Estado confere um direito a um indivíduo, podendo este impor deter-
minada obrigação para garantir o exercício de uma prerrogativa (TAVARES, 2012).


Desta maneira, por serem origens, finalidades e razões muito dis-
tintas, tentar aplicar a noção de direito subjetivo aos direitos sociais,
parece bastante inadequada. [...] de fato, seria ingenuidade admitir
que todos os direitos sociais são direitos públicos subjetivos, ple-
namente exequíveis, tanto porque a efetividade dos direitos sociais
muitas vezes está condicionada pela disponibilidade financeira do
Estado ou por outras contingências fáticas ou econômicas (MAR-
TINS, 2022, p. 163).

A inviabilidade de serem reconhecidos todos os direitos sociais como direitos


subjetivos decorre na impossibilidade de execução e exercício pleno dos referidos
direitos, uma vez que há obstáculos sociais e econômicos que impedem que estes
tornem-se exequíveis.

86
UNICESUMAR

Convém delimitar que os Direitos Sociais são materializados por meio de


Políticas Públicas, as quais objetivam diminuir a discrepância entre o esperado e
o realizado, o Estado passa a desenvolver políticas públicas “que visam à satisfa-
ção do interesse de uma comunidade” (AMABILE, 2012, p. 390), minimizando o
problema público e concretizando direitos fundamentais relacionados ao “direito
à educação, à saúde, ao trabalho, à moradia, ao transporte, ao lazer, à segurança,
à previdência social, à proteção à maternidade, à infância e o direito dos desam-
parados à assistência” (MENDES; BRANCO, 2017, p. 148).
Os Direitos Sociais, desta feita, poderão se manifestar por meio de várias es-
pécies, sendo que todas as formas de exteriorização desse dependerá de aspectos
econômicos, “de acordo com as disponibilidades do momento, na forma prevista
pelo legislador infraconstitucional” (MENDES; BRANCO, 2017, p. 149).
Assim, no que tange aos direitos econômicos, sabe-se que estes são materia-
lizados no ordenamento jurídico para viabilizar a consumação da igualdade ma-
terial na realidade social, permitindo oportunidades jurídicas e materiais iguais a
todos os indivíduos da sociedade, com a finalidade de efetivar o desenvolvimento
dos indivíduos e dos Estados (TAVARES, 2012).
Para positivação dessa prerrogativa, foi realizado o Pacto Internacional de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), o qual ingressou no ordena-
mento jurídico pátrio em julho de 1992, por meio do Decreto presidencial Nº 591.
De acordo com o referido dispositivo normativo, em seu art. 2º, item 01:


Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar me-
didas, tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação
internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até
o máximo de seus recursos disponíveis, que visem a assegurar, pro-
gressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício
dos direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particu-
lar, a adoção de medidas legislativas (BRASIL, 1992, s/p).

Com esse breve trecho do ato normativo, percebe-se que a Assembleia Geral
das Nações Unidas, elaboradora do texto do pacto internacional, não objetiva
a retirada da autonomia dos Estado. Ao contrário, ela visa garantir a soberania
dos Estado e o estabelecimento de normas programáticas para a concretização
de direitos na realidade social.

87
UNIDADE 3

Para tanto, aos Estados-membros incumbe o dever de investir o máximo dos


seus recursos disponíveis em Políticas Públicas de efetivação de direitos humanos
essenciais à vida digna e à concretização da igualdade entre os indivíduos.

Caro(a) Estudante, você deve ter percebido que o escopo primordial das legis-
lações que tratam sobre os direitos humanos, em suas várias manifestações, ob-
jetivam a concretização de preceitos básicos, como a igualdade, a liberdade e os
direitos de personalidade.
Nessa perspectiva, passaremos ao estudo do Direito de Igualdade, visto ser
este essencial para a concretização de uma sociedade justa. Por tanto, a Igualdade
pode ser entendida como “qualidade ou estado de igual” (FERREIRA, 2001, p.
401), ou seja, é a equiparação dos indivíduos, reconhecendo que todos são sujeitos
de direitos e garantias constitucionais inerentes ao homem.
No ordenamento jurídico brasileiro, a igualdade está prevista no Art. 5º
da Constituição Federal, o qual delimita que “todos são iguais perante a lei,

88
UNICESUMAR

sem distinção de qualquer natureza” (BRASIL, 1988, s/p), concretizando a


igualdade formal.
A igualdade formal, tal como está delimitada no texto constitucional, consiste
em tratar todos de forma igual, sem qualquer possibilidade de diferenciação.
Contudo, embora seja essencial para a efetivação de direitos e da dignidade da
pessoa humana, a igualdade formal consubstanciada na letra da lei não é capaz
de viabilizar a fruição e o gozo de direitos, pois os indivíduos são diferentes e
possuem condições diferentes, o que pode maximizar o exercício de direitos ou
minimizá-los significativamente (LENZA, 2010).
Diante desta circunstância, ocorreu um desdobramento do princípio da
igualdade, que foi defendido por Aristóteles e, no Brasil, por Rui Barbosa, e que
faz surgir a igualdade material, também denominada de isonomia, a qual pugna
pelo tratamento desigual aos indivíduos que estão em situação de desigualdade,
ou seja, é a busca pela efetivação real da igualdade, permitindo que todos usu-
fruam dos mesmos direitos e prerrogativas independentes de suas condições
(MARTINS, 2021).
Um exemplo prático da igualdade material ocorre com a promulgação da
Lei de Cotas Sociais e Raciais para o ingresso em Universidades Públicas, com
a finalidade de viabilizar o acesso dos grupos excluídos que tiveram uma for-
mação educacional prejudicada, compensando os aspectos históricos de danos
estruturais. Outro exemplo de igualdade material é evidenciado com o tratamen-
to diferenciado entre homens e mulheres, reconhecendo os desfavorecimentos
históricos das mulheres e a necessidade de ações afirmativas para minimizar a
diferenciação existente entre os gêneros.
Com a igualdade material há a consumação da discriminação positiva, isto
é, ações afirmativas decorrentes de políticas públicas temporárias, pois quando
atingir a igualdade desejada é extinta, que tem por escopo conferir a determina-
dos grupos, historicamente prestigiados, um tratamento diferenciado.
Importante apresentar que a Declaração Universal de Direitos Humanos,
ratificada e incorporada no ordenamento jurídico pátrio, com intuito de evitar
dualidades e multiplicidade de conceitos, assim como violações de direitos, es-
tabelece em seu artigo 2° o conceito de igualdade:


Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberda-
des proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma,

89
UNIDADE 3

nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de


opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna,
de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será
feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou
internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja
esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito
a alguma limitação de soberania (BRASIL, 1992, s.p.).

Em outros dispositivos da referida normatização, o Direito à igualdade resplan-


dece, como segue:


Art. 10 Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua
causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal inde-
pendente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou
das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela
seja aduzida (BRASIL, 1992, s.p.).

Nota-se que a igualdade consagrado pelo ordenamento jurídico brasileiro possui


duas acepções, uma que delimita e declara de forma expressa na legislação e atos
normativos a igualdade entre os indivíduos, impedindo que possam criar trata-
mentos diferenciados entre estes quando em situação de equiparação e outra que
objetiva a efetiva igualdade na realidade social, por meio do estabelecimento de
diferenciações em razão de aspectos históricos desfavoráveis.
Assim, fica evidente que o princípio da igualdade tem uma dupla função social,
o de possibilitar o tratamento isonômico dos indivíduos perante a lei, bem como o
de limitar a atuação do legislativo para que não haja inconstitucionalidade.
Caro(a) estudante, a igualdade é essencial para a concretização de direitos
essenciais ao homem, porém há outros preceitos que possuem grande relevância
para a efetivação da dignidade da pessoa humana. Um desses preceitos é o Princí-
pio da Liberdade, a qual pode ser conceitualizada como “a faculdade de cada um
se decidir ou agir segundo sua própria determinação” (FERREIRA, 2001, p. 457).
Com intuito de conceituar o termo liberdade, Bicudo afirma que:


A Liberdade é um valor que muito dificilmente se conseguirá defi-
nir com precisão, sendo que sua experiência e sua vivência é que, de
modo efetivo, farão com que se tenha “noção” de seu conteúdo. [...] a

90
UNICESUMAR

liberdade em sentido pessoal, ou seja, em seu nível mais elementar, dá


ao indivíduo a sensação de que ninguém o coage ou o restringe quan-
do faz algo que deseja, por um lado e, por outro, dá-lhe a convicção de
que pode fazer tudo o que quiser dentro de seus limites, respeitando
os limites do desejo de outra pessoa (BICUDO, 2010, p.08).

Assim, podemos dizer que a liberdade é a prerrogativa de se sentir livre, agindo,


dentro da legislação, conforme suas vontades e anseios, exercendo direitos e ga-
rantias constitucionais. Corroborando com este entendimento, o art. 4º Decla-
ração Universal de Direitos Humanos delimita que a:


liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique
a outrem; assim sendo, o exercício dos direitos naturais de cada
homem não tem outros limites senão os que assegurem aos demais
membros da sociedade o gozo desses direitos. Tais limites não po-
dem ser determinados senão pela lei (BRASIL, 1992, s.p.).

A liberdade é um dos mais basilares e fundamentais direitos inerentes a todo e


qualquer indivíduo, sendo que dela decorrem outras e inúmeras garantias, como
a livre manifestação de pensamento, direito à informação, privacidade etc. Nesse
ínterim, verifica-se que a liberdade como se conhece hoje, a liberdade das demo-
cracias ocidentais, tão importantes para seus cidadãos, decorreu de um longo
processo histórico.
Nota-se, desta forma, que a liberdade é a faculdade de ser livre e agir conforme
seus objetivos, efetivando seus direitos, sem, contudo, ferir direitos de outrem.
Cumpre destacar que a liberdade eclodiu por meios de movimentos sociais his-
tóricos, decorrente das constantes transformações que ocorreram na sociedade,
sendo um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, uma vez que
viabiliza o exercício de outras prerrogativas constitucionais, tais como liberdade
de locomoção, liberdade de expressão, liberdade de manifestação do pensamento,
liberdade de consciência e crença, liberdade de informação, liberdade de esco-
lher seu trabalho, dentre outras manifestações essenciais para a concretização de
direitos na realidade social.
Importante destacar que a Liberdade é um direito previsto em um rol exem-
plificativo, visto que o indivíduo possui liberdades definidas constitucionalmente,
porém estas não são as únicas liberalidades conferida aos indivíduos, visto que

91
UNIDADE 3

todos são livres perante a lei, podendo fazer tudo o que a lei não proíbe, desde
que não viole direitos fundamentais individuais e coletivos.
Nessa perspectiva, o Direito à Liberdade poderá se manifestar por meio do
direito de locomoção, o qual foi arrolado no rol constitucional de direitos funda-
mentais, consistindo na prerrogativa que o indivíduo tem de ir, vir e permanecer
no território nacional, não podendo ninguém ser privado da sua liberdade, salvo
quando for decretado Estado de Defesa e Estado de Sítio, ou em hipóteses de
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente (LENZA, 2010).
Embora haja a possibilidade de restrição constitucional a Direitos Funda-
mentais, é notório que esta não pode ocorrer de forma arbitrária e ilegítima,
devendo todos os atos de minimização de um direito ser respaldados na legis-
lação, a fim de permitir uma atuação de forma efetiva e legítima. Assim, quando
os direitos de locomoção de pessoas física forem violados ou estiver sob ameaça
de serem violados, por uma ação abusiva ou ilegítima, o ordenamento jurídico
prevê a possibilidade da utilização de um Instituto jurídico para coibir a ação
ilegítima de cerceamento de liberdade de locomoção, qual seja: Habeas Corpus
(FERNANDES, 2020).
O Habeas Corpus é uma ação constitucional que objetiva a proteção do direito de
locomoção, a fim de evitar lesões ou ameaça de lesões à liberdade de ir, vir e permane-
cer. A condição básica para a impetração deste remédio constitucional é a existência
de violência ou coação moral que ameace o direito de locomoção (MARTINS, 2021).
O Habeas Corpus poderá ser preventivo, denominado de salvo conduto, ou
repressivo. O Habeas Corpus preventivo será utilizado quando o titular de direi-
tos fundamentais se sentir ameaçado de sofrer violência ou coação em seu direito
de ir, vir e permanecer, em razão de ilegalidade ou abuso de poder, sendo que a
violação ao direito ainda não foi concretizada. Em contrapartida, quando a vio-
lação ao Direito de Locomoção já estiver consubstanciada deverá ser impetrado
o Habeas Corpus repressivo, o qual objetiva acabar com a violência ou coação
moral e restabelecer a prerrogativa de ir, vir e permanecer (LENZA, 2010).
Embora seja muito usado na área criminal, o Habeas Corpus não é um recur-
so processual, mas uma ação constitucional autônoma que tutela a liberdade de
locomoção não podendo ser utilizada para pleitear indenizações, solicitar certi-
dões ou restituições de bens apreendidos ou discutir confisco criminal de bens,
tampouco pode ser usada para questionamentos quanto a guarda e visitação de

92
UNICESUMAR

crianças e adolescentes, para questionamentos quanto a sequência de processo


administrativo ou para evitar a intimação de índio, deslocando-se da reserva
indígena (MARTINS, 2021).
Não obstante a liberdade de locomoção seja mais evidente no ordenamento
jurídico pátrio, ela é apenas uma das liberdades delimitadas constitucionalmente,
visto que há outras arroladas no texto constitucional, como a liberdade de ma-
nifestação do pensamento.
Prevista no Art. 5, inciso IV da Constituição Federal, a liberdade de mani-
festação do pensamento, volta-se a ideia de que todos podem expor suas ideias,
pensamentos e convicções, sendo vedado, contudo, o anonimato, ou seja, a todos
é garantido o direito de apresentar suas opiniões e conhecimento, desde que esta
manifestação não fira direitos de outrem. A limitação ao direito de livre mani-
festação de pensamentos, proporcionada pela vedação ao anonimato decorre do
fato de os direitos humanos não serem absolutos e da necessidade de limitar o
agir dos indivíduos, evitando ações agressivas e ilegítimas.
A vedação ao anonimato é uma garantia à estabilidade social e à garantia des-
tina à proteção da honra e da intimidade, podendo ser limitada quando houver
denúncia anônima ao setor policial, visto que os Tribunais Superiores permitem
o anonimato com reserva:

- Não pode a ação penal ser iniciada com base apenas em denúncias anô-
nimas, podendo esta apenas gerar ações de investigação para colheita e
estabelecimento de novas provas.

- Com base apenas em denúncia anônima não é possível a decretação ou


o requerimento de instauração de interceptação telefônica.

Outra acepção do estabelecimento da impossibilidade do anonimato, deriva da


possibilidade de os indivíduos ser responsabilizado civil, penal e criminalmen-
te pelas opiniões e manifestações que realizar, assim como da possibilidade da
decretação do direito de respostas, proporcional ao agravo sofrido, sendo nos
mesmos termos, mesmo horário, período de tempo e veículo de comunicação.
Ademais, conforme entendimento dos Tribunais Superiores, o direito de res-
posta só será concretizado em veículos de comunicação social, como jornais,

93
UNIDADE 3

revistas etc., sendo que ofensas havidas em redes sociais não serão passíveis de
viabilizar o direito de resposta, cabendo apenas responsabilização cível e penal. O
prazo para ser requerido o direito de resposta será de 60 (sessenta) dias, a contar
da publicação da manifestação, independentemente de a pessoa que teve seu
direito violado saber ou não deste fato (MARTINS, 2021).
Feitas estas explanações, passaremos à análise da Liberdade de consciência
e crença, a qual possui dois aspectos: o primeiro refere-se ao direito a professar
qualquer religião e o segundo refere-se ao direito de não professar nenhuma
religião. Estes aspectos decorrem da laicidade do Estado brasileiro, o qual não
delimita uma religião como oficial, assim como não proíbe nenhuma manifes-
tação religiosa.

EXPLORANDO IDEIAS

Caro(a) Estudante, é oportuno apresentar que atualmente a Constituição da República


delimita que o Estado brasileiro é laico, inexistindo religião oficial ou vedação a mani-
festações religiosas, podendo o indivíduo proferir qualquer religião ou, até mesmo, não
proferir religião alguma, evidenciando a busca pelo pluralismo religioso. A laicidade do
Estado, assim, decorre da manifestação social que pugnaram pelo reconhecimento da
multiculturalidade brasileira, mantendo o Ente Público impedidos de realizar manifesta-
ções, a favor ou contra uma religião.
Fonte: Martins, 2021.

Assim como todos os direitos humanos, o direito à liberdade de consciência reli-


giosa não é absoluto, visto que independente de qual religião você pratica ou não
pratica é defeso a realização de sacrifícios, assim como a utilização de substâncias
entorpecentes ilícitas.
Em contrapartida, a Liberdade Artística, científica e de comunicação,
visa a livre manifestação de pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos, sem a
obrigatoriedade de controle estatal, censura ou permissão de publicação. O esta-
belecimento e positivação desta prerrogativa emergiu como forma de limitar a
atuação estatal, evitando ações ilegais, tortuosas e abusivas, com a finalidade de
impedir a divulgação de informações, dados artísticos e científicos.
Fica evidente, a influência histórica dos movimentos sociais na constitucio-
nalização deste direito, uma vez por meio deles é que foi concretizado uma nova
ordem social, que permite a publicização de informações, ideias, ideologias e

94
UNICESUMAR

pensamentos dos mais variados assuntos e temas, desde que não viole direitos
individuais e coletivos de outrem, sem autorização do governo ou de qualquer
órgão que poderia limitar esta manifestação.
Embora seja ampla, a Liberdade artística, científica e de comunicação não é
absoluta, pois como decidiu o Supremo Tribunal Federal, no Habeas Corpus nº
82424, um livro pode configurar um crime de racismo, quando for ofensivo e
apresentar conceitos violadores de direitos individuais e coletivos.

Caro(a) aluno(a), a liberdade é um tema muito complexo, que envolve vários


elementos, conceitos e possibilidades, ficando inviável a apresentação de todas as
liberdades previstas no ordenamento jurídico pátrio, assim como nos Tratados
Internacionais de Direitos Humanos, visto que estas também não são delimitadas
de forma taxativa nas normatizações. Evidencia-se que a busca pela efetivação
de direitos e a formação de uma sociedade justa e igualitária são as bases para a
compreensão das ações lícitas e ilícitas e dos limites das liberdades individuais.

95
UNIDADE 3

Concluído este pensamento, sobre a liberalidade das ações, pensamentos e


manifestações dos indivíduos, passaremos ao estudo dos Direitos da persona-
lidade, os quais são fundamentais para a dignidade da pessoa humana e para a
concretização de direitos individuais, coletivos, sociais, resplandecendo a igual-
dade e as liberdades dos indivíduos.
Os Direitos da Personalidade são direitos subjetivos, atribuídos a todos os
seres humanos, a fim de que estes possam defender sua própria integridade (física,
moral e intelectual), conforme ensina Lenza:


[...] subjetivos da pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja, a
sua integridade física (vida, alimentos, próprio corpo vivo ou morto,
corpo alheio vivo ou morto, partes separadas do corpo vivo ou mor-
to); a sua integridade intelectual (liberdade de pensamento, autoria
científica, artística e literária) e sua integridade moral (honra, reca-
to, intimidade, segredo pessoal, doméstico e profissional, imagem,
identidade pessoal, familiar e social) (LENZA, 2010, p. 888).

Atrelados, de forma exclusiva, aos seres humanos, os direitos da personalidade estão


interligados aos aspectos físicos, psíquicos e morais do indivíduo, a fim de que estes exer-
çam suas prerrogativas e vivam conforme os parâmetros de bem-estar social. Para Diniz:


[...] os direitos da personalidade consistem no conjunto de carac-
teres próprio da pessoa, a personalidade não é um direito, de modo
que seria errôneo afirmar que o humano tem direito à personali-
dade. A personalidade é que apoia os direitos e deveres que dela
irradiam, é o objetivo de direito, é o primeiro bem da pessoa, que
lhe pertence como primeira utilidade, para que ela possa ser o que
é, para sobreviver e se adaptar às condições do ambiente em que
se encontra, servindo-lhe de critério para aferir, adquirir e ordenar
outros bens (DINIZ, 2003, p. 119).

Os direitos da personalidade podem ser caracterizados como direitos inerentes


às pessoas, sendo a elas conferidas prerrogativas e deveres com o nascimento
com vida, sendo garantido, desde a concepção, os direitos do nascituro. Assim,
atribuídos aos indivíduos desde o nascimento, os Direitos da Personalidade são:

96
UNICESUMAR

- Absolutos: São direitos que geram oponibilidade erga omnes, ou seja,


dever geral de abstenção.

- Ilimitados: Não há no ordenamento jurídico um rol taxativo dos Direitos


da Personalidade, existindo apenas um rol exemplificativo destes, visto que
a legislação e a doutrina poderão criar direitos.

- Irrenunciáveis: Não pode um indivíduo recusar ou renunciar seu direito


de personalidade, podendo apenas não os exercer.

- Imprescritíveis: Em regra são possuem prescrição, salvo quando se trata


de tutela reparatória a lesão no direito da personalidade, como indeniza-
ção por dano moral, que há o estabelecimento de prescrição.

- Intransmissíveis: Não existe a possibilidade de transferência de direitos


da personalidade, nem em vida, por meio de contrato, e nem após morte,
por meio da sucessão. Com características estabelecidas, de forma a nor-
tear a sua aplicabilidade na realidade social, os Direitos de Personalidade
extinguem com a morte, isto é, com o fim da personalidade jurídica de um
indivíduo. A morte poderá se manifestar de três formas:

- Morte Civil: É a extinção da personalidade jurídica de uma pessoa viva,


como por exemplo a escravidão, haja vista que esta retirada do indivíduo
seus direitos de homem.

- Morte Real: Todas as hipóteses em que se tem a certeza da morte da


pessoa, ou seja, tem prova direta da morte, a qual é comprovada por um
atestado médico de óbito, que é levado ao registro no cartório de pessoas
naturais.

- Morte Presumida: Aquela que decorre de uma prova indireta da morte,


ou seja, inexiste cadáver. A morte presumida pode ser realizada sem a de-

97
UNIDADE 3

cretação de ausência, a qual ocorrerá após a instauração de procedimento


de justificação, que apresentará a enorme probabilidade de a morte ter
se consumado, embora inexista cadáver. A morte presumida com a ins-
tauração de procedimento de justificação será efetivada quando a pessoa
estava em iminente perigo ou risco de vida, como por exemplo, estava em
um avião que durante o voo caiu no oceano.

Outra forma de concretização do procedimento de morte presumida ocorre com


a decretação de ausência da pessoa, que será utilizado quando uma pessoa de-
saparece de seu domicílio sem deixar vestígios ou direcionamento de onde ela
esteja. Nessa situação há apenas uma pequena probabilidade de morte.
Verifica-se, dessa forma, que a linha entre os direitos de personalidade, assim
como todas as manifestações dos direitos humanos é tênue, sendo um o com-
plemento do outro, a fim de assegurar a concretização de uma vida digna e de
uma sociedade harmoniosa, impedindo violações de direitos e de prerrogativas
inerente aos homens.
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim dessa unidade do livro da disciplina onde
abordamos temas relevantes de Direito Humanos, os quais interferem significa-
tivamente na prática profissional do agente de segurança pública.
No início da unidade, foram realizados alguns questionamentos sobre a in-
fluência que o direito sofre da sociedade, assim como deste no meio social em que
está inserido. Foi questionado também a relevância dos movimentos históricos
sociais para a formação e estruturação do ordenamento jurídico atual. l
No decorrer da unidade, foram apresentadas informações, dados históricos e
fundamentos sobre a formação dos Direitos Humanos. Em seguida, foi estudado
noções gerais e fundamentos dos direitos fundamentais dos homens, suas ma-
nifestações essenciais à formação do Estado Democrático de Direito no Brasil,
demonstrando que o direito positivado decorre de movimentos históricos, sendo
um resultado das lutas sociais.
Restou evidente que a sociedade, em contrapartida, também sofre interferên-
cia dos direitos, estabelecendo uma relação bilateral de reciprocidade, em que um
é inspirado e motivado pelo outro. Ademais, ficou compreensível que o direito
como está atualmente não foi sempre desta forma, sendo que ao longo da história
foi se transformando e evoluindo a fim de regular as relações sociais e se adaptar
no contexto em que estava inserido.

98
UNICESUMAR

Assim, além dos aspectos históricos sobre direitos humanos, foram abordadas
as noções gerais sobre alguns tipos de direitos do homem em espécie, os quais
são essenciais para a consolidação da dignidade da pessoa humana e de uma
sociedade justa e harmônica.
No decorrer da unidade, desta forma, ficou evidenciado que os direitos são
dados históricos decorrentes das ações humanas e que se modificam conforme os
anseios sociais e necessidades públicas, permitindo maior adaptabilidade na reali-
dade social e normatização dos preceitos essenciais para a efetivação da dignidade
da pessoa. Por serem historicamente construídos, os direitos humanos refletem os
objetivos, a cultura, valores e aspectos básicos da sociedade, regulando de forma
objetiva as relações e limitando a atuação estatal, permitindo paridade e liberdade.
A liberdade e a igualdade são direitos básicos dos homens e são essenciais
para a concretização de uma sociedade justa, não podendo ser ignorados na
prática profissional, assim como os demais direitos e princípios estabelecidos no
ordenamento jurídico pátrio.
Evidencia-se, desta forma, que os direitos positivos na ordem jurídica se inter-
-relacionam, formando um conglomerado de prerrogativas direcionadas a con-
sumação de uma vida digna e estruturação harmônica e igualitária da sociedade.
Ocorre que, infelizmente, embora sejam claras as delimitações de garantias para
a consolidação do Estado Democrático de Direito, as violações e a relativização
inadequadas dos direitos humanos ainda estão presentes no bojo da sociedade,
infringindo os preceitos basilares formadores da sociedade.
São exemplos, do desrespeito dos direitos humanos e prerrogativas relevantes
para a dignidade da pessoa humana, a omissão estatal em viabilizar educação de
qualidade e o uso indevido da força policial, desobedecendo a normatização e os
preceitos constitucionais e internacionais para a efetivação de direitos humanos.
Assim, embora pareçam longe da realidade profissional dos agentes de segu-
rança pública, as temáticas estudadas permitem a atuação lícita e proporcional,
evitando ações irregulares que violem direitos. Da mesma forma, permitem o
pleito de sanção, protocolado em órgãos internacionais, ao Estado gerador da vio-
lação, tais como ocorreram em desfavor do Estado brasileiro. Isto se observa pelas
várias denúncias sobre violações a direitos humanos que foram protocoladas em
órgãos internacionais de defesa aos direitos do homem, para requerer a punição
do Ente Público e a reestruturação da organização das instituições de segurança

99
UNIDADE 3

pública - a fim de diminuir o uso desmoderado de força, decorrentes de abuso


de poder e de atos desproporcionais em razão da ausência de conhecimento.
Feito esta explicação, fica claro que os temas aqui tratados são conexos com
a prática do profissional de segurança, observado que por meio destes conheci-
mentos é possível a compreensão do ordenamento jurídico pátrio e dos precei-
tos estabelecidos constitucionalmente, aplicando-os de forma correta e legítima
durante a atuação profissional, influenciando beneficamente o agir do agente.
A compreensão das leis e dos procedimentos normativos, assim como dos
preceitos e princípios essenciais da ordem constitucional impedem a atuação
torpe e infundada do profissional de segurança pública, norteando-o à prática
de atos legítimos, proporcionais e razoáveis, tornando-se um agente público ga-
rantidor de direitos.
Em suma, espero que os assuntos aqui estudados permitam que você tenha
maior clareza e domínio sobre as temáticas apresentadas, a fim de viabilizar uma
atuação profissional mais objetiva que respeite os Direitos.

100
1. A igualdade é um direito previsto na Constituição Federal que defende que todos são
iguais perante a lei, detendo os mesmos direitos, prerrogativas e deveres. Contudo,
embora seja essencial para a efetivação de direitos e da dignidade da pessoa humana,
a igualdade que equipara todos de forma igual, sem analisar suas individualidades,
não é capaz de viabilizar a fruição e o gozo de direitos. Por tal motivo, foi desenvolvida
uma nova conceitualização de igualdade, a qual objetiva o tratamento desigual aos
indivíduos que estão em situação de desigualdade, ou seja, permitindo que todos
usufruam dos mesmos direitos e prerrogativas independentes de suas condições.

Diante dessa afirmação, assinale a alternativa que apresente a denominação correta


da perspectiva que visa igualdade real:

a) Igualdade Formal.
b) Igualdade Prática.
c) Igualdade Material.
d) Igualdade para todos.
e) Igualdade Eficaz.

2. A Igualdade Material, também chamada de isonomia, tem a finalidade de permitir que


todos os seres humanos, independentemente de suas particularidades e limitações,
possam usufruir direitos constitucionais essenciais para uma vida digna. Tratando as
pessoas diferentes, conforme suas características, a Isonomia, busca a efetivação de
direitos. No ordenamento jurídico pátrio, são manifestações da Igualdade Material:

I - Lei Maria da Penha, que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher.
II - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência.
III - Lei de Cotas Sociais e Raciais para o ingresso em Universidades Públicas
Com base no apresentado, assinale a alternativa que apresenta apenas afirmativas
corretas no que se refere às manifestações da igualdade material:

a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) I, II e III.

101
3. Os direitos sociais visam a prestação material com a finalidade de diminuir as desi-
gualdades sociais, possibilitando que o maior número possível de indivíduos possa
usufruir e gozar das prerrogativas normativas. Nesse sentido, podem ser conside-
rados direitos sociais:

a) Direito à saúde e direitos dos desamparados à assistência.


b) Direito à cidadania e à solução pacífica dos conflitos.
c) Direito à liberdade de expressão e direito à segurança.
d) Direito à previdência social e o direito de reunião.
e) Direito à propriedade e à educação.

4. O direito de locomoção, o qual foi arrolado no rol constitucional de direitos funda-


mentais, consistindo na prerrogativa que o indivíduo tem de ir, vir e permanecer no
território nacional. Quando este direito é violado por uma ação abusiva e ilegítima,
poderá seu titular lesado, impetrar o Habeas Corpus. Diante da relevância desta ação,
conceitualize, por meio de um texto de dez a quinze linhas, o termo Habeas Corpus.

5. Os Direitos Humanos podem ser caracterizados como garantias e prerrogativas bá-


sicas para assegurar a dignidade da pessoa humana e a formação de uma sociedade
justa e igualitária. Com finalidade objetiva, os direitos humanos podem ser classifica-
dos em direitos individuais e direitos coletivos. Assim, discorra, por meio de um texto
de cinco a dez linhas, sobre a diferença básica entre ambos.

102
4
A Constituição
Federativa do Brasil
de 1988: Direitos
Fundamentais,
Organização do
Estado, dos Poderes e
da Ordem Social.
Esp. Beatriz Gasparin Moreira

Mais importante do que entender o que são os direitos humanos,


como eles surgiram, sua história e sua proteção internacional, é com-
preender como eles estão consagrados no ordenamento pátrio brasi-
leiro, tendo em vista que são esses direitos que possuem aplicação di-
reta em nossas vidas e devem ser respeitados por todos os indivíduos
e pelo Estado. Portanto, nesta unidade veremos alguns dos direitos
fundamentais previstos na Constituição Federal do Brasil e como eles
estão dispostos, entenderemos também como se organiza o estado
brasileiro e como se dá a divisão dos seus poderes.
UNIDADE 4

Querido(a) aluno(a), antes de iniciarmos essa unidade, gostaria de lhe perguntar:


Você sabe quais são os direitos humanos consagrados em nossa Constituição
Federal (CF) e como eles estão organizados? Ainda, você sabe como acontece a
organização do Estado Brasileiro e a divisão dos seus poderes?
De maneira inicial, adianto a você que a Constituição do Brasil inovou ao
trazer um extenso rol de direitos humanos em seu texto, principalmente a partir
do seu artigo 5º. É evidente a divisão que esta trouxe ao separar os direitos de
primeira e segunda dimensão. É importante que conheçamos um pouco desses
direitos, uma vez que são eles que regem as relações que possuímos, sejam elas
pessoais ou profissionais. Também é importante sabermos como o Estado Brasi-
leiro se estrutura e se organiza, tendo em vista que todas essas questões refletem
diretamente em nossas vidas.
Querido(a) aluno(a), para que você consiga enxergar como
os direitos fundamentais estão dispostos na Constituição Fede-
ral do Brasil, proponho que você realize a leitura do artigo 5º ao
11º. Clique no QRcode a seguir e tenha uma excelente leitura!
Agora que você realizou a leitura dos artigos mencionados
acima, você consegue perceber como a proteção dos direitos hu-
manos está presente em nosso ordenamento jurídico? Ademais, você consegue
perceber como os direitos de primeira e segunda dimensão estão distribuídos?
Que tal anotar sobre as suas impressões iniciais? Eu quero que você escreva no seu
diário de bordo quais os direitos humanos/fundamentais que você leu e não tinha
conhecimento sobre a sua proteção, bem como relate como estão distribuídos os
direitos de primeira e segunda dimensão. Bom trabalho!

104
UNIDADE 4

Caro(a) aluno(a), iniciaremos nossos estudos com a compreensão de que direitos e


garantias não são sinônimos. Direitos são dispositivos normativos que dão a de-
terminada pessoa a titularidade de um bem jurídico. Mas o que seria o bem jurídico?
Bem jurídico é o bem que a norma ou o dispositivo visa proteger. Por exemplo,
no art. 121 do Código Penal temos como fato típico “matar alguém”, portanto, o bem
jurídico tutelado por essa norma é a vida, uma vez que podemos extrair da sua inter-
pretação que caso alguém mate outra pessoa será punido com uma sanção.
Por outro lado, as garantias são os instrumentos que visam garantir que
os direitos sejam respeitados. Elas podem vir juntamente com os direitos nos
dispositivos, chamadas de garantias genéricas, ou podem estar em dispositivos
diversos, chamadas garantias específicas. Vamos aos exemplos.
No art. 5º da Constituição Federal, inciso IX, está expressamente disposto que
todos têm direito à liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, cien-
tífica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. Na primeira
parte do dispositivo que versa sobre a liberdade de expressão, estamos diante do

105
UNIDADE 4

direito previsto no dispositivo e a segunda parte, que afirma “independente de


censura ou licença”, estamos diante de uma garantia, tendo em vista que é uma
forma de garantir que o direito de liberdade seja respeitado.
De outro modo, a garantia pode vir separada do direito, como acontece no
direito de locomoção. O art. 5º da CF/1988, inciso XV, quando afirma que “é livre
a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa,
nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”, prevê ex-
pressamente o direito que possuímos de ir e vir dentro no território nacional em
tempo de paz quando quisermos e para onde bem entendermos.
Já no inciso LXVIII do mesmo artigo, encontramos o Habeas Corpus, que
é um remédio constitucional e uma forma de garantia ao direito de locomoção,
uma vez que nos assegura que o nosso direito de locomoção seja respeitado.
Vejamos o ensinamento do André Carvalho e Ramos sobre o assunto:


Há as garantias fundamentais gerais ou genéricas, que acompanham
a redação dos direitos, proibindo abusos e outras formas de vulne-
ração, como, por exemplo, a proibição da censura que assegura a
liberdade de expressão. Há ainda as garantias específicas, que con-
sistem em instrumentos processuais que tutelam os direitos e liber-
dades fundamentais, como o habeas corpus, mandado de segurança,
mandado de injunção, habeas data, ação popular e ação civil pública.
Essas garantias também são chamadas de garantias fundamentais
instrumentais (RAMOS, 2014, p. 456).

Há também as garantias institucionais, que são as estruturas públicas que visam


a proteção dos direitos garantidos em nosso ordenamento jurídico, como por
exemplo, o Ministério Público e a Defensoria Pública, bem como as garantias
limites, que visam a limitação do Estado na esfera privada, como por exemplo,
garantem o direito de não violação domiciliar fora dos casos previstos em lei.

106
UNIDADE 4

Caro(a) aluno(a), antes de avançar na leitura sobre Constitu-


ição Federal do Brasil e os seus direitos fundamentais, con-
vido você a ouvir o podcast que gravei, no qual eu explico
detalhadamente o disposto a seguir nesta unidade. Nele
eu falei sobre os direitos fundamentais mais importantes
e os entendimentos jurisprudenciais a respeito, expliquei
um pouco sobre a organização do estado brasileiro e sobre
cada poder: legislativo, executivo e judiciário. Caso você de-
cida escutar, tenho certeza de que a leitura dessa unidade
ficará mais fácil e dinâmica para sua compreensão.

Querido(a) aluno(a), a Constituição Federal do Brasil de 1988 surgiu como forma


de reaproximação da democratização. Os anos anteriores ao seu surgimento eram
ditados pela ditadura militar, onde habitavam o autoritarismo, graves violações
dos direitos humanos e não existia participação popular nas decisões políticas do
Estado. Segundo Piovesan (2013, p. 85) “a Carta de 1988, como marco jurídico da
transição ao regime democrático, alargou significativamente o campo dos direitos
e garantias fundamentais, colocando-se entre as Constituições mais avançadas
do mundo no que diz respeito à matéria”.
A Constituição Federal Brasileira pode ser considerada um marco na histó-
ria do Brasil uma vez que introduziu em seu rol, não exaustivo, de direitos, uma
extensa proteção aos Direitos Humanos. A CF/1988 trata de direitos políticos,
civis, econômicos, culturais, de liberdade, entre outros, bem como realizou a sua
abertura à implementação dos direitos humanos e pugnou pela formação de um
tribunal penal internacional.
Após essa abertura favorável ao Direito Internacional, foram assinados di-
versos tratados com o objetivo de aumentar a proteção dos Direitos Humanos.
Ademais, segundo Ramos (2014. p. 349), “além do universalismo, o Brasil, após a
Constituição de 1988, acatou a indivisibilidade e interdependência de todos os
direitos humanos, ao ratificar indistintamente os tratados voltados a direitos civis
e políticos e direitos sociais, econômicos e culturais”. Passaremos agora a conhecer
um pouco mais sobre a Constituição do Brasil e os direitos abarcados nela.
Querido(a) aluno(a), logo no seu art. 1º, a Constituição de 1988 dispõe que
a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados
e Municípios e do Distrito Federal, constituindo-se em um Estado Democrático
de Direito, que tem como fundamentos: a soberania; a cidadania; a dignidade da
pessoa humana; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; e o pluralismo

107
UNIDADE 4

político. Já no seu parágrafo único está disposto que todo o poder emana do povo,
que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição, o que reforça a sua reaproximação à democracia.
A soberania consiste na participação popular nas decisões afetas às
questões políticas, mediante referendo, plebiscito e iniciativa popular para pro-
posta de lei, e é exercida pelo sufrágio universal, voto direto e secreto, tudo isso em
consonância com o artigo 14 da Constituição Federal. Para Ramos (2014, p. 348),
a soberania ainda possui duas esferas, a interna e a externa: “Na esfera externa, a
soberania consiste no poder político independente na esfera internacional. Na
sua esfera interna, a soberania consiste no poder político titularizado pelo povo,
redundando na soberania popular”.
A cidadania está ligada à nacionalidade e a capacidade do povo na for-
mação de vontade do poder estatal. Ela pode ser exercida de diversas maneiras,
vejamos no fragmento do art. 98, II:


A cidadania da Constituição de 1988 possui diversas facetas, a sa-
ber: 1) cidadania-eleição, que permite ao cidadão-eleitor votar e ser
votado; 2) a cidadania-fiscalização, que permite ao cidadão propor
a ação popular (art. 5º, LXXIII), noticiar irregularidades ou ilega-
lidades perante o Tribunal de Contas da União (art. 74, § 2º), ou
ainda ser eleito conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (art.
103-B, XIII) e do Conselho Nacional do Ministério Público (art.
130-A,VI); 3) a cidadania-propositiva, que permite ao cidadão dar
início a projetos de lei (art. 61, § 2º); 4) cidadania-mediação social,
que permite ao cidadão ser eleito Juiz de Paz (RAMOS, 2014, p. 348).

A dignidade da pessoa humana, por sua vez, é qualidade intrínseca a todo


ser humano, em razão da sua condição, independente de raça, religião, condição
econômica, nacionalidade etc. Em relação aos valores sociais do trabalho e
da livre iniciativa e o pluralismo político, o objetivo do legislador foi de criar
uma sociedade diversificada e plural, tentando conciliar trabalho e capital, bem
como diferentes valores políticos (RAMOS, 2014).
No art. 3º da Constituição Federal, estão presentes os objetivos da República
Federativa do Brasil, e são eles: construir uma sociedade livre, justa e solidária;
garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização
e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem

108
UNIDADE 4

preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de dis-
criminação. O art. 4º, por sua vez, expõe os princípios relacionados às relações
internacionais em que o Brasil faça parte.

Querido(a) aluno(a), a partir do artigo 5º, a Constituição Federativa do Brasil


dividiu os direitos humanos em 5 categorias, sendo elas: a) direitos e deveres
individuais e coletivos; b) direitos sociais; c) direitos de nacionalidade; d) direitos
políticos; e) partidos políticos. Lembrando que esses direitos não são exaustivos,
tendo em vista à abertura para a implementação dos direitos humanos comen-
tada anteriormente (RAMOS, 2014).
Os Direitos individuais consistem nos direitos de proteção de um indi-
víduo determinado. São geralmente direitos de primeira dimensão, que consis-
tem, por exemplo, na liberdade de expressão, locomoção, direito à vida, à proteção
contra a inviolabilidade domiciliar, proteção contra qualquer tipo de tortura ou
tratamento desumano ou degradante, entre outros. A maioria desses direitos
são encontrados no art. 5º da CF/1988, mas também podem ser encontrados
em outros dispositivos.

109
UNIDADE 4

Segundo Ramos (2014, p. 59), no que se refere ao regime jurídico dos direitos
individuais, o autor afirma que “o regime jurídico dos direitos individuais é robus-
to: são de aplicação imediata (art. 5º, § 1º) e ainda componentes do núcleo pétreo
da Constituição (art. 60, § 4º, IV), tornando-os elementos centrais na identidade
constitucional imutável do Brasil”.
Em relação aos Direitos Coletivos, trata-se dos direitos em que são titu-
lares um agrupamento de pessoas. De acordo com Ramos (2014), eles podem
ser divididos em direitos coletivos difusos, direitos coletivos em sentido estrito e
direitos coletivos individuais homogêneos. Os direitos coletivos difusos se refe-
rem à direitos transindividuais em que são titulares um grupo indeterminado de
pessoas, ao passo que os direitos coletivos em sentido estrito, também são direitos
transindividuais, só que os seus titulares são pessoas determinadas.
No que toca os direitos coletivos individuais homogêneos, eles possuem li-
gação por meio de uma relação jurídica, ou seja, são direitos pertencentes a um
grupo de pessoas, e esse grupo de pessoas são ligados entre si por meio de uma
relação jurídica, ou por meio da ligação que possuem com a parte contrária.
Eles não possuem natureza indivisível, mas possuem a sua origem comum. Há
ainda os direitos individuais de expressão coletiva, que são direitos formados
por a junção de vontade de um grupo de pessoas, como por exemplo, o direito
de liberdade à associação.
Querido(a) aluno(a), o Título II, Capítulo I, da Constituição Federal, denomi-
na-se “Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos”, portanto, podemos extrair
que a CF/1988 não apenas trouxe direitos aos indivíduos ou grupos, mas também
impôs obrigações. Esses deveres impõem que os indivíduos, grupo de indivíduos
e o próprio Estado realize obrigações para que determinado direito fundamental
alheio não seja violado. Ramos (2014) divide esses deveres em duas categorias, a
primeira, chamada concepção de dever em sentido amplo, refere-se ao dever
de proteção do Estado, que não pode deixar que ocorram violações de terceiros
em face determinado direito fundamental de alguém. Essa concepção também
atinge os particulares, no sentido do dever de não violar direito essencial alheio.
Já em relação à segunda concepção, chamada concepção em sentido estri-
to, refere-se ao dever que determinados agentes públicos e particulares possuem
de realizar condutas de cunho obrigatório e indispensável para que determinados
direitos fundamentais sejam respeitados. André Carvalho de Ramos, cita alguns
desses deveres, que estão previstos na CF/1988, vejamos:

110
UNIDADE 4


Cabe citar, em relação aos agentes públicos, o dever de respeitar a in-
tegridade física e moral do preso (art. 5º, XLIX); o dever de comunicar
a prisão e o local onde se encontre o detido imediatamente ao juiz
competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 5º,
LXII); o dever de informar aos presos de seus direitos, entre os quais o
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e
de advogado (art. 5º, LXIII); o dever de informar ao preso a identifica-
ção dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial
(art. 5º, LXIV), o dever de relaxar imediatamente a prisão ilegal (art. 5º,
LXV), o dever de não prender nenhum indivíduo quando a lei admitir
a liberdade. Quanto aos particulares, há deveres específicos, como o
de prestar o serviço militar ou civil alternativo (art. 143), bem como
o dever de votar (art. 14, § 1º, I), entre outros. (RAMOS, 2014, p.64)

Passaremos agora a analisar os principais direitos fundamentais, individuais e


coletivos, consagrados no art. 5º da nossa Constituição Federal.
Querido(a) aluno(a), logo no caput do referido artigo podemos encontrar
cinco direitos garantidos, tendo em vista que o mesmo afirma que “todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos bra-
sileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 1988).
Portanto, logo de cara percebemos a proteção quanto à vida, liberdade, igual-
dade, segurança e propriedade. Alguns doutrinadores afirmam que esses cincos
direitos se desmembram nos incisos no art. 5º, e que são eles os pilares ou raízes para
os direitos previstos nos incisos. Diante disso, começaremos a analisá-los.
No que tange ao direito à vida, alguns doutrinadores afirmam que esse direi-
to seria o principal existente, uma vez que sem ele não seria possível a realização
dos demais. De acordo com Novelino (2017, p. 325), o direito à vida compreende
duas acepções, são elas:


Acepção positiva: está associada ao direito à existência digna, que
assegura o acesso a bens e utilidades indispensáveis para isso. Ela
não se limita ao mínimo existencial, pois garante também preten-
sões de caráter material e jurídico, de modo que os poderes públicos
devem adotar medidas positivas de proteção da vida, de amparo
material e de emissão de normas protetivas;

111
UNIDADE 4

Acepção negativa: é o direito assegurado a todo e qualquer ser


humano de permanecer vivo. É um direito de defesa e um pressu-
posto elementar para o exercício de todos os demais direitos. Uma
decorrência dessa acepção é a proibição da pena de morte (art. 5º,
XLVII, “a”, da CF) (grifo da autora).

No entanto, o direito à vida, assim como os demais direitos fundamentais, não


é absoluto, ou seja, comporta exceções. No próprio art. 5º, inciso XLVII, está
disposto que não haverá pena de morte, salvo em caso de guerra declarada,
portanto, é uma clara exceção da proteção do direito à vida realizada pela
própria Constituição.
Encontramos outra exceção ao direito à vida, no art. 128 do Código Penal
Brasileiro, quando o mesmo dispõe que não se pune o aborto praticado por mé-
dico quando seja necessário para salvar a vida da gestante, bem como quando
a gravidez seja resultante de estupro e haja o seu consentimento ou, no caso de
incapaz, do seu representante legal.
Ademais, o Supremo Tribunal Federal (STF) firmou alguns posicionamentos
importantes relacionados ao direito à vida, como por exemplo, no julgamento na
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n. 3510, o qual tratou de Pesquisa
em Células Tronco Embrionárias. A Suprema Corte firmou o entendimento de
que as pesquisas em células tronco, nos termos da lei, não violam o direito à vida.
No julgamento da Ação Declaratória de Preceito Fundamental (ADPF) n.
54, ficou autorizada a interrupção da gravidez quando o feto for anencéfalo. De
acordo com o STF, não se trata de aborto, tendo em vista que a vida nesses casos
seria impossível. A discussão envolve o direito da autodeterminação da mulher
em face de eventual tortura.
Recentemente, no Habeas Corpus n. 124.306 de 2016, o STF proferiu decisão
de possibilidade de interrupção da gravidez nos primeiros três meses de gestação,
com o argumento de que até os três meses, não há a criação do sistema nervoso,
bem como não há a mínima possibilidade de existência de vida fora do ventre
materno. No entanto, não é uma decisão definitiva.
Outras exceções ao direito à vida que podemos encontrar no nosso ordena-
mento jurídico, estão relacionados à legítima defesa e estado de necessidade, que
são excludentes de ilicitude previstas no Código Penal, artigo 23. De maneira
simplificada a legítima defesa ocorre quando alguém, utilizando de meios mo-
derados, repele injusta agressão praticada por outra pessoa, que pode ocasionar

112
UNIDADE 4

violação ao direito à vida. Tal conduta não será considerada crime, pois se trata
de uma excludente de ilicitude (SENA, 2021).
Enquanto o Estado de Necessidade consiste quando alguém, para salvar seu
próprio bem, ou de terceiros, acaba ofendendo bem de outra pessoa. Ainda que
tal conduta lese a vida ou integridade física de outrem, não será considerada
crime tendo em vista também se tratar de excludente de ilicitude (SENA, 2021).
Portanto, ainda que o direito à vida seja essencial e, por muitos, considerado
o direito mais importante consagrado no ordenamento pátrio brasileiro, ele não
é absoluto, e de acordo com o caso concreto, pode abranger exceções.

Outro direito previsto no caput do art. 5º da CF/1988 é o direito da igualdade.


O direito à igualdade começou a aparecer logo nas primeiras constituições da
época do liberalismo, compreendido no século XVIII, afirmando que todos os
indivíduos eram iguais perante a lei. Essa igualdade tinha como objetivo diminuir
o poder da nobreza e das castas religiosas, no entanto, era parcial, tendo em vista
que demais setores da população não eram protegidos por esse direito, como
escravos, mulheres e os pobres.
Foi apenas como o implemento do Estado Social, com as revoluções socia-
listas, que a igualdade de fato começou a ser questionada e abrangida. De acordo

113
UNIDADE 4

com Ramos (2014, p. 466) “essa igualdade efetiva ou material busca ir além do
reconhecimento da igualdade perante a lei: busca ainda a erradicação da pobreza
e de outros fatores de inferiorização que impedem a plena realização das poten-
cialidades do indivíduo.”
Portanto, atualmente, encontramos duas concepções de igualdade: a igualdade
formal e a igualdade material. A igualdade formal representa o tratamento
igual dos indivíduos perante a lei, ou seja, o poder público precisa tratar todos
em igualdade, sem distinção. Enquanto a igualdade material representa o tra-
tamento igual na medida das igualdades, ou seja, tratamento igual para os
iguais e tratamento desigual para aqueles em situação de desigualdade.
Portanto, a igualdade material impõe a obrigação de tratamento diferencia-
do para as pessoas que estão em situação de vulnerabilidade ou desigual. Por
exemplo, a igualdade não estaria prevista se o tratamento de uma pessoa com
deficiência para a concorrência de vagas a um concurso público se desse da mes-
ma maneira que uma pessoa que não possui deficiência. Dessa forma, o art. 37,
VIII, CF/1988, atendeu essa igualdade com a reserva de vagas para as pessoas
com deficiência. Ainda, ao impor impostos sobre grandes fortunas, previstos no
artigo 153, VII, da CF/1988, também impõe o tratamento igual para àqueles que
estejam em uma extrema vantagem social (RAMOS, 2014).

EXPLORANDO IDEIAS

Diante disso, querido(a) aluno(a), é importante que você grave:


Igualdade formal: representa o tratamento igual dos indivíduos perante a lei, ou seja, o
poder público precisa tratar todos em igualdade, sem distinção.
Igualdade material: representa o tratamento igual na medida das igualdades, ou seja,
tratamento igual para os iguais e tratamento desigual para aqueles em situação de desi-
gualdade (RAMOS, 2014).

Ademais, a igualdade também é dividida por dimensões, sendo elas a ob-


jetiva e a subjetiva. A objetiva é compreendida de acordo com o princípio ma-
terial, ou seja, tratamento igual para os que estão em situação de igualdade e
tratamento desigual para os que estão em situação de desigualdade. Enquanto a
dimensão subjetiva, pode ser dividida em dois aspectos, as de caráter negativo,
que compreende a proteção contra ações arbitrárias e diferenciadoras, e as de

114
UNIDADE 4

caráter positivo, que é a possibilidade de exigência do indivíduo, em face do poder


público, para que sejam adotadas medidas para a diminuição das desigualdades,
também chamadas de ações afirmativas.
Portanto, busca-se, atualmente, não somente a igualdade formal, perante a
lei, mas também a igualdade material. Nesse sentido, algumas medidas têm sido
implantadas, por meio de ações afirmativas, para que a igualdade material seja
alcançada. Vamos a alguns exemplos.
O Supremo Tribunal Federal já declarou ser constitucional a reserva para
cotas raciais no percentual de 20% nas vagas para concursos públicos, para pro-
vimento de cargos efetivos e empregos públicos. Ademais, a Suprema Corte tam-
bém já julgou ser constitucional o programa PROUNI, uma vez que este, segundo
ela, cumpre o art. 205 da CF/1988, que afirma ser a educação um direito de todos.
Outra ação muito importante, em prol da igualdade material, foi a declaração
da constitucionalidade dos arts. 1.º, 33 e 41 da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da
Penha), pelo STF, na ADC 19. André Carvalho de Ramos (2014, p. 469), ainda
cita, em sua obra, alguns dispositivos que asseguram a igualdade material e que
estão previstos na Constituição Federal:


Esse dever de inclusão leva a tratamentos desiguais aos desiguais.
A própria Constituição lista hipóteses de tratamento diferenciado
para que se obtenha a igualdade material, como, por exemplo: reser-
va de vagas às pessoas com deficiência nos concursos públicos (art.
37, VIII da CF/1988); i) no tratamento previdenciário privilegiado
às mulheres (art. 40, § 1º, III, e art. 201, § 7º, I); ii) na isenção das
mulheres e eclesiásticos do serviço militar obrigatório em tempo de
paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir (art.
143, § 2º); iii) na garantia de um salário mínimo de benefício mensal
à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir
meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família, conforme dispuser a lei (art. 203, V); iv) na previsão de que
a lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta signifi-
cação para os diferentes segmentos étnicos nacionais (art. 215, § 2º).

No caput do art. 5º também encontramos o direito à liberdade, consagrado em


diversos incisos do referido artigo, como a liberdade ação (inciso II), que afirma
que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em

115
UNIDADE 4

virtude da lei, liberdade de pensamento (inciso IV), o qual dispõe que é livre a
manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato, liberdade de crença
consciência religiosa (inciso VI), liberdade de locomoção (inciso XV), liberdade
de reunião (inciso XVI) e liberdade de associação (incisos XVII a XXI).
Realizarei agora alguns apontamentos importantes referentes aos direitos de
liberdade. Em relação à liberdade de ação, de acordo com o princípio da legalidade,
podemos extrair que ele se desdobra em duas vertentes: uma para os particulares
e outra para os agentes públicos. Para os particulares, estes são livres para fazerem
tudo o que a lei não proíbe, enquanto os agentes públicos somente podem fazer o
que a lei definiu para fazerem, com o objetivo de evitar arbitrariedades.
O inciso que aponta sobre a liberdade de manifestação do pensamento, impõe
também uma limitação a esse direito, no momento que expressa que é vedado
o anonimato. Essa vedação garante a possibilidade de indenização para aquele
que se sentiu ofendido com a manifestação de outra pessoa. Ademais, o Supre-
mo Tribunal Federal, em julgado recente, entendeu pela constitucionalidade da
marcha da maconha, em razão do princípio da liberdade de manifestação. Na
época, foi questionado se essa marcha seria legal, uma vez que alguns entendiam
que ela fazia apologia ao crime, no entanto, a Suprema Corte não entendeu nesse
sentido. É também em razão da liberdade de manifestação de pensamento que
o Supremo Tribunal Federal decidiu, no Recurso Extraordinário 511901, sobre
a inconstitucionalidade da exigência do diploma de jornalismo para o exercício
da profissão de jornalista.
A liberdade de locomoção, também prevista na Declaração Universal dos
Direitos do Humanos, afirma que ninguém poderá ser privado de locomoção no
território nacional em tempos de paz. Cabe ressaltar que as únicas hipóteses de o
indivíduo ter restringido o seu direito à locomoção em tempo de paz, seria por
meio de decretação de prisão por decisão fundamentada e escrita de autoridade
judiciária competente, bem como por prisão em flagrante.
O direito à propriedade, previsto no inciso XVII e caput do art. 5º, confere
ao proprietário o direito de usar, gozar, dispor e reavê-la de quem injustamente a
detenha, conforme art. 1.228 do Código Civil, no entanto, assim como qualquer
outro direito fundamental, o mesmo não é absoluto. O direito à propriedade
pode sofrer limitação quando, por exemplo, o proprietário não cumprir a fun-
ção social da propriedade ou no caso por interesse público. Essas restrições
podem se dar por meio da desapropriação, limitação administrativa, ocupação

116
UNIDADE 4

temporária, tombamento etc. Como é matéria de direito administrativo, não


irei me aprofundar.
Em relação ao direito à segurança, Sena (2021, p. 102) afirma que: “em um
primeiro momento você pode até pensar que a segurança aqui está relacionada
com a segurança pública, contudo não foi esse sentido que o constituinte deu.
Segurança do art. 5º se refere à segurança jurídica, isto é, das relações sociais”.
Portanto, o direito à segurança não está se referindo à segurança pública, e sim
a segurança que os indivíduos possuem em suas relações, seja com o Estado ou
com outro particular.
No inciso XI, do art. 5º, encontramos o direito à inviolabilidade domiciliar
e está disposto que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”
(BRASIL, 1988). Já no inciso XII, encontramos o direito à inviolabilidade de
comunicações, ao dispor que “é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no
último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal” (BRASIL, 1988).
Para que haja quebra da garantia desses dois direitos, é necessário autorização
por autoridade judicial, ou, no primeiro caso, para prestação de caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro.

117
UNIDADE 4

Querido(a) aluno(a), seguindo a ordem dos direitos humanos que está prevista
na Constituição Federal de 1988, depois de entendermos um pouco o que são os
direitos e deveres individuais coletivos, previstos no art. 5º, e que trata de manei-
ra geral dos direitos de primeira dimensão, partiremos agora para o estudo dos
direitos sociais, que estão previstos no art. 6º, Capítulo II, denominado “Direitos
Sociais”. O art. 6º da Constituição, assim dispõe:


Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos de-
samparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 1988).

Portanto, os Direitos Sociais são direitos, em sua grande maioria, prestacionais, e


estão englobados na segunda dimensão dos Direitos Humanos. Eles requerem,
geralmente, uma prestação ativa por parte do Estado, para que sejam concretizados.
Historicamente, os direitos sociais começaram a ser questionados com
as revoluções socialistas, e inicialmente foram introduzidos nas Constitui-
ção do México de 1917 e na Constituição de Weimar (Alemanha) de 1919.
No Brasil, foram inseridos na Constituição de 1934, na época do Bem-Estar
Social, com o capítulo “da Ordem Econômica e Social” e na Constituição de
1988, com o capítulo específico “Dos Direitos Sociais”, previstos nos art. 6º
ao 11º (RAMOS, 2014).
Um ponto de bastante relevância sobre os direitos sociais, é referente às teo-
rias da reserva do possível e do mínimo existencial. Para entendê-las, basta
imaginarmos o que aconteceria se todas as pessoas começassem a exigir pres-
tações ativas por parte do Estado, alegando que algum direito fundamental seu
não esteja sendo respeitado, como por exemplo, o direito à alimentação e, devido
a isso, pedissem uma ajuda de custo financeiro. Será que seria possível o Estado
ajudar todas as pessoas sem que isso causasse algum tipo de dano em seu orça-
mento financeiro? Certamente não.
Diante disso, foi criada a teoria da reserva do possível que consiste em
uma limitação fática e jurídica, para a implantação dos direitos fundamen-
tais pelo Estado, tendo em vista que seus recursos não são ilimitados. No
entanto, o limite à teoria da reserva do possível, é o mínimo existencial, que
significa que o Estado pode até deixar de realizar alguma prestação sob a alegação

118
UNIDADE 4

de impossibilidade financeira, no entanto, precisa garantir o mínimo necessário


para a existência da pessoa, de modo a não afetar o núcleo da dignidade humana.
Como falado, os direitos sociais são direitos, de maneira geral, prestacionais,
ou seja, eles possuem um viés positivo, uma vez que são direitos que requerem
uma prestação ativa por parte do Estado. Porém, eles também possuem um viés
negativo, ou seja, significa que os indivíduos também podem exigir uma absten-
ção do Estado, momento em que é aplicado o princípio da vedação ao retro-
cesso. Esse princípio afirma que, uma vez implementado algum direito, o
Estado não pode retirá-lo do ordenamento jurídico, de maneira que ocorra
um retrocesso.
No artigo 7º da CF/1988, encontramos os direitos sociais referentes aos tra-
balhadores. Alguns dos direitos que estão previstos neste artigo são:

Direito ao salário mínimo.

Irredutibilidade do salário.

Décimo terceiro salário.

Jornada de trabalho de 8 horas.

Fundo de garantia do tempo de serviço.

Remuneração do trabalho noturno superior ao diurno.

Salário família pago em razão de dependente do trabalhador de baixa renda.

Hora extra.

Repouso semanal remunerado.

119
UNIDADE 4

Licença maternidade.

Licença paternidade.

Férias anuais remuneradas.

Redução dos ricos inerentes ao trabalho.

Aposentadoria.

Proibição de diferença de salário por razões de sexo, idade, cor ou estado civil.

Proibição de discriminação do portador de deficiência.

Proibição do trabalho noturno, perigoso ou insalubre.

Integração à previdência social.

Relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa.

Assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5


anos de idade em creches e pré-escola.

Querido(a) aluno(a), esses direitos dispostos acima são os direitos sociais indi-
viduais. A partir do artigo 8º, nós encontramos os direitos sociais coletivos dos
trabalhadores, como o direito à associação sindical ou profissional, direito à greve
e direito à representação. Vejamos:


Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o
seguinte:

120
UNIDADE 4

I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de


sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Po-
der Público a interferência e a intervenção na organização sindical;

II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em


qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômi-
ca, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores
ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de
um Município;

III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou


individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou admi-
nistrativas;

IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de


categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do
sistema confederativo da representação sindical respectiva, inde-
pendentemente da contribuição prevista em lei;

V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;

VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações


coletivas de trabalho;

VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas or-
ganizações sindicais;

VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do


registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical
e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato,
salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organiza-


ção de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as
condições que a lei estabelecer.

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhado-


res decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses
que devam por meio dele defender.

§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre


o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

121
UNIDADE 4

§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e emprega-


dores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses
profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deli-
beração.

Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegura-


da a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva
de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.

Algumas ponderações devem ser feitas acerca do assunto. Primeiramente, o art.


8º, inciso I, dispôs expressamente que não há a necessidade de autorização por
parte do Estado para a fundação do sindicato, bem como a interferência e in-
tervenção do Poder Público na sua organização. Importante ressaltar que seu
registro, que ocorre no Ministério do Trabalho, não se confunde com autorização.
Portanto, o direito sindical é um direito fundamental protegido pela constituição.
Em relação às contribuições que podem ser cobradas dos trabalhadores, são
duas: a confederativa e a sindical. A confederativa refere-se à fixada pela As-
sembleia Geral e serve para custear suas atividades na representação sindical. Ela
é facultativa, tendo em vista que também é facultativa a escolha do trabalhador
para se filiar ou não, conforme inciso V do art. 8º da CF. Já a contribuição sindical
é a prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e deve ser paga por
todos os trabalhadores, empregadores ou profissionais liberais, independente
de filiação sindical, desde que participem de alguma categoria profissional ou
econômica. Antes da Reforma Trabalhista de 2017, o seu recolhimento era obri-
gatório - no entanto, atualmente não é mais (SENA, 2021).
O inciso III dispõe sobre a possibilidade da defesa pelo sindicato dos inte-
resses e questões individuais e coletivos do trabalho (sendo a participação nesse
último caso obrigatória, conforme inciso VI), na forma de substituição proces-
sual. No artigo 9º está previsto o direito de greve, o qual afirma que compete
aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interes-
ses que devam por meio dele defender. Um ponto importante sobre o direito à
greve, sobre a impossibilidade da mesma ser realizada por servidores públicos
que atuam na área da segurança pública, por entendimento jurisprudencial do
Supremo Tribunal Federal. No inciso VIII, encontramos o direito à estabilidade
do trabalhador desde o momento da sua candidatura, até um ano depois do seu

122
UNIDADE 4

mandato, e no artigo 11 direito de representação nas empresas que possuem mais


de duzentos empregados.
Querido(a) aluno(a), a partir de agora falaremos um pouco sobre a organiza-
ção do Estado Brasileiro. Você sabe a diferença entre forma de governo e forma
de estado? Saberia dizer também qual é o sistema de governo que o Brasil adota?
Antes de adentrarmos nesse assunto, e compreendermos como a organização do
Brasil acontece, precisamos saber que um Estado é composto por três elementos
constitutivos: povo, território e governo.
Povo é o conjunto de pessoas que se identificam por sua língua, hábitos, con-
junto de interesses e são presos a um determinado ordenamento normativo pelo
vínculo da cidadania. É a dimensão pessoal de um Estado. Território compreende
o espaço físico em que o Estado exerce o seu poder político, sendo o espaço onde
a cidadania é exercida. O Estado Brasileiro compreende como território a terra
firme, incluindo o subsolo, limitada pelas fronteiras externas, espaço aéreo, mar
territorial e plataforma continental. Por fim, o governo seria o conjunto de órgãos
estatais pelos quais o Estado exerce suas funções para alcançar os seus fins.
Entender o que são as formas de Estado significa aprender como se dá o
exercício do poder político em função do seu território (SENA, 2021). Caro(a)
aluno(a), existem basicamente duas formas de Estado: o unitário e o com-
posto. O Estado Unitário é aquele onde há uma centralização política, ou seja,
o poder político não é distribuído. Já no Estado composto, o poder político é
distribuído em duas ou mais entidades políticas. O Estado composto pode se dar
ainda por meio de Confederação ou por meio da Federação.
A Confederação acontece quando vários estados soberanos se unem, por
meio de tratados ou acordos, para tratarem de objetivos comuns. Nesse modelo,
todos os Estados permanecem com a sua soberania. Por outro lado, a Federação
ocorre quando um ente federativo permanece com a soberania e os outros entes
possuem autonomia.
A forma de Estado adotada pelo Brasil é a federativa, portanto, podemos
dizer que o poder político no Brasil é descentralizado e dividido em outras
entidades federativas, quais sejam: União, Estado e Municípios. Importante
saber que apenas a República Federativa do Brasil possui soberania (significa
que sua manifestação de vontade não está subordinada a nenhum outro poder),
enquanto a União, Estados, Municípios possuem autonomia, não existindo
hierarquia entre os mesmos.

123
UNIDADE 4

Segundo Sena (2021, p. 169) “a autonomia de cada ente federativo se dá no


âmbito político, financeiro, orçamentário, administrativo e qualquer outra área
permitida pela Constituição Federal”. É devido a autonomia desses entes, que
cada estado brasileiro possui sua própria constituição, bem como cada município
possui sua própria lei orgânica. No entanto, essa autonomia não é absoluta, uma
vez que ela não pode contrariar o disposto na Constituição Federal.
A forma federativa ainda pode ocorrer por um movimento de “dentro para
fora”, chamado centrífugo, ou seja, quando há um Estado unitário e este se trans-
forma em um Estado federado (é o que aconteceu com o Brasil), ou pode ocorrer
por um movimento de “fora para dentro”, chamado centrípeto, no qual o Estado
Unitário cede parcela de sua soberania para os demais entes federativos, como é
o caso dos Estados Unidos da América.
A autonomia dos entes federativos confere-lhes a capacidade de se autogover-
nar, ou seja, eles poderão eleger seus próprios governantes e realizar a sua própria
justiça. Ainda possuem a capacidade de autolegislar, ou seja, criam suas próprias
leis, de acordo com a sua competência. Também se auto administram, podendo
organizar sua própria administração, de acordo com os seus servidores e serviços
públicos e, por fim, possuem a capacidade de auto-organização, podendo criar
suas próprias constituições (NOVELINO, 2017).

EXPLORANDO IDEIAS

Características da autonomia dos entes federativos:


Auto-organização: capacidade de auto-organizar por meio de suas normas fundamen-
tais. Estados: Constituições Estaduais e Municípios: Leis Orgânicas.
Autogoverno: capacidade que cada governo tem de escolher seus próprios representan-
tes do Poder Executivo e Poder Legislativo por meio de eleições.
Autoadministração: capacidade que cada governo possui para administrar-se, gerir suas
contas, planejar seus orçamentos, cobrar seus tributos conforme a distribuição de com-
petências na Constituição Federal.
Autolegislação: capacidade que cada ente tem de criar suas próprias normas conforme
a distribuição de competências constitucionais.
Fonte: SENA, 2021, p.57.

No que se refere ao sistema de governo, ele pode ser presidencialista ou par-


lamentarista. O sistema presidencialista é o sistema no qual é eleito um represen-

124
UNIDADE 4

tante periodicamente pelo povo, o qual as atribuições de Chefe de Estado e Chefe


de Governo é realizado por uma só pessoa. Enquanto o sistema parlamentarista
há uma separação da figura do Chefe de Estado e Chefe de Governo, tendo em
vista que o Chefe de Estado no sistema parlamentarista é atribuído ao Presidente
da República ou ao Monarca, enquanto a Chefia do Governo é realizada pelo
Primeiro Ministro. Portanto, o sistema adotado pelo Brasil é o presidencialista.
Por fim, a forma de governo pode ser republicana ou monarquia. A forma
republicana significa a escolha periódica de representantes do povo em processo
eleitoral para conduzir os assuntos políticos. Enquanto na forma monárquica, não
a processo eleitoral, e sim o governo é conduzido de acordo com a hereditarie-
dade de uma família. A forma de Governo adotada pelo Brasil é a republicana.

FORMA DE ESTADO FORMA DE GOVERNO SISTEMA DE GOVERNO

Unitário Parlamentarista Republicano

Composto Presidencialista Monarquista


Quadro 1 - Formas de Organização de um Estado / Fonte: SENA, 2021.

Querido(a) aluno(a), depois de entendermos os conceitos iniciais básicos


sobre como um Estado pode se organizar e estruturar, precisamos saber
como a nossa Constituição Federal organizou o Estado Brasileiro. A parte
que trata sobre a organização do Estado Brasileiro se inicia no Título III,
com o art. 18, que dispõe:
■ Art. 18 A organização político-administrativa da República Federativa do
Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
todos autônomos, nos termos desta Constituição.

Portanto, podemos extrair desse artigo que os territórios não são entes federativos,
e que a organização do Brasil se dá de forma descentralizada, cujo poderes são
distribuídos à União, Estados, Distrito Federal e Municípios, todos autônomos.
No parágrafo primeiro do referido artigo, está disposto que Brasília é a capital do
Brasil. O artigo 19 estabelece algumas vedações aos entes federados, quais sejam:
estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcio-
namento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou
aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; recusar fé

125
UNIDADE 4

aos documentos públicos; e criar distinções entre brasileiros ou preferências entre


si. Sena (2021, p. 172), explica de maneira resumida essas vedações:


A primeira vedação decorre da laicidade do Estado Brasileiro, ou
seja, não possuímos religião oficial no Brasil em razão da situação
de separação entre Estado e Igreja. A segunda vedação decorre da
presunção de veracidade dos documentos públicos. E, por último,
contemplando o princípio da isonomia, o qual será tratado em mo-
mento oportuno, fica vedado estabelecer distinções entre brasileiros
ou preferências entre si.

Nos artigos seguintes (20 ao 33) estão dispostos os bens de cada ente federado,
bem como suas competências. Diante disso, convido você, caro(a) aluno(a), a
fazer a leitura dos mesmos e compreender um pouco sobre as competências
específicas de cada ente.

126
UNIDADE 4

Caro(a) aluno(a), como sabemos o Brasil é um Estado democrático de direito,


cuja forma governo é o Republicano, forma de estado é o federado e o sistema
de governo é presidencialista. Agora, é importante que saibamos como ocorre a
repartição dos três poderes: legislativo, judiciário e executivo.
Ressalto primeiramente que o Brasil adotou a teoria da tripartição dos
poderes, que significa a divisão dos poderes em três poderes harmônicos e inde-
pendentes. Essa divisão surgiu com a intenção de limitar o Poder Estatal por meio
da separação dos poderes e a adoção do sistema de freios e contrapesos.
A separação dos poderes significa afirmar que cada poder pode atuar de acordo
com cada competência que a Constituição Federal lhe atribui, enquanto o sistema
de freios e contrapesos significa que um poder pode interferir na esfera de outro
quando há notório abuso do poder. O art. 2º da CF/1988 afirma que: “Art. 2º São
Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo
e o Judiciário” (BRASIL, 1988).
Passaremos agora a estudar cada um deles, começando pelo Poder Legisla-
tivo. O Poder Legislativo é o poder que tem como função típica a criação
e modificação de leis que inovam o ordenamento jurídico brasileiro, bem
como possuem a função de fiscalização e controle dos atos do Poder
Executivo. No entanto, eventualmente, ele também pode exercer a função de
administrar (própria do Poder Executivo), quando por exemplo, a câmara e o
senado se organizam internamente, bem como a função de julgar (própria do
Poder Judiciário), quando por exemplo, julga o Presidente da República nos
crimes de responsabilidade.
O Poder Legislativo é encontrado no âmbito federal, estadual e municipal.
No âmbito federal, ele é exercido pelo Congresso Nacional, este por sua vez é
composto por duas casas: Senado Federal e Câmara dos Deputados. Em razão
dessa composição (duas casas), entende-se que vigora o bicameralismo federal.
A Câmara dos Deputados compõe-se dos representantes dos povos, eleitos
pelo sistema proporcional, em cada Estado, território e Distrito Federal. O man-
dato para o cargo eletivo de Deputado é de 4 anos, e nenhuma unidade pode ter
menos que 8 e mais que 70 deputados. A competência da Câmara está prevista no
art. 51 da CF/1988. Por sua vez, o Senado Federal é composto de representantes
do Estado, eleitos pelo sistema majoritário, em que cada Estado e Distrito Federal
elegerá 3 representantes, com mandato de 8 anos. A renovação do Senado Federal
acontecerá a cada 4 anos, alternadamente, por um e dois terços. Além disso, com

127
UNIDADE 4

cada Senador serão eleitos 2 suplentes e a sua competência privativa está prevista
no art. 52 da CF/1988.
No âmbito estadual, o Poder Legislativo é representado pela Assembleia
Legislativa apenas, devido a isso, entende-se que vigora o unicameralismo. O
número de Deputados à Assembléia Legislativa corresponderá ao triplo da repre-
sentação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e
seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze.
Por exemplo, se na câmara dos deputados temos 24 representantes do Estado do
Paraná, isso significa que na sua assembleia legislativa, teremos 72 deputados
estaduais. Por fim, o Poder Legislativo municipal também é unicameral, formado
pela câmara dos vereadores. Os representantes são eleitos para um mandato de
4 anos, também pelo sistema proporcional.
As atribuições do Congresso Nacional estão previstas no art. 48 e 49 da Cons-
tituição Federal. As competências previstas no art. 48 são realizadas por meio de
lei, tendo em vista que depende de sanção presidencial, e as competências previs-
tas no art. 49, uma vez que não dependem de sanção presidencial, é realizada por
meio de decreto legislativo. Essas competências previstas na Constituição Federal,
por regra da simetria, são utilizadas, no âmbito legislativo estadual e municipal,
respectivamente nas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas.
O artigo 53 e seguintes da Constituição Federal trata das prerrogativas e as
vedações parlamentares. De acordo RACK (2012, p.138) “as prerrogativas a eles
concedidas justificam-se pela necessidade de os parlamentares serem livres de pres-
sões e imunes a perseguições políticas ou ideológicas em razão de suas opiniões”.
O Poder Executivo, por sua vez, é comandado no Brasil pelo Presidente
da República, uma vez que a CF/1988 adota o sistema presidencialista, no qual,
a figura do Chefe de Estado e Chefe de Governo estão abrangidos na figura do
Presidente, no entanto, também existe o sistema parlamentarista, como já fala-
mos, no qual a figura do Chefe de Estado pode ser atribuída ao Presidente da
República ou ao Monarca, enquanto a figura do Chefe de Governo é atribuída
ao Primeiro Ministro.
Portanto, a chefia do Executivo no âmbito federal é exercida pelo Presiden-
te da República com auxílio dos ministros de estado, no âmbito estadual, por
simetria, é exercido pelos Governadores com auxílio dos secretários estaduais
e no âmbito municipal é exercido pelos Prefeitos auxiliados pelos secretários
municipais. A escolha dos nomes para esses cargos acontece pela via eleitoral, que

128
UNIDADE 4

ocorre a cada 4 anos, no primeiro domingo do mês e, caso haja a necessidade de


segundo turno (no caso dos municípios apenas para os que tiverem mais de 200
mil habitantes), ocorrerá no último domingo do mês. As eleições acontecem pelo
sistema majoritário, e o que obtiver a maioria dos votos válidos vence.
O Presidente da República possui competências variadas, entre elas estão a
livre nomeação e exoneração de ministros, celebração de tratados internacionais,
elaboração de decretos autônomos, sanção e veto de leis, entre outros, que estão
dispostas no artigo 84 da CF/1988. Por outro lado, a constituição não atribui com-
petências específicas para o vice-presidente, apenas afirmando que ele deve auxiliar
o presidente sempre que este lhe conferir missões especiais. Ainda, o vice-presidente
substitui o presidente em caso de impedimento e o sucede em caso de vacância.
Quando ambos faltam para o exercício do cargo, são chamados para assumir a
presidência, respectivamente, o presidente da câmara dos deputados, presidente do
senado federal e presidente do Supremo Tribunal Federal (HACK, 2012).
A Constituição Federal também traz hipóteses de crimes responsabilida-
de que podem ser cometidos pelo Presidente da República, quando este atenta
contra: a existência da União; o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder
Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da
Federação; o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; a segurança
interna do País; a probidade na administração; a lei orçamentária; o cumprimen-
to das leis e das decisões judiciais. Referidos crimes ensejam o afastamento do
presidente, conhecido como impeachment.
O Poder Judiciário é o poder que possui “a função de dirimir os litígios
que lhe são apresentados pela aplicação da lei ao caso concreto” (RACK, 2012,
p.152). Basicamente, o poder judiciário é acionado quando existem duas partes
em sentido opostos, no qual uma parte requer a aplicação de uma determinada
lei, e a outra requer a aplicação de outra lei. Assim, o poder judiciário recolhe
provas de ambas, bem como seus argumentos, e por meio do devido processo
legal decide o litígio.
O Supremo Tribunal Federal (STF) é a cúpula do poder judiciário, e é composto
por 11 ministros, que são escolhidos pelo Presidente da República com a aprova-
ção do Senado Federal. Ele possui a função de decidir as causas relacionadas que
questionam a constitucionalidade das leis ou atos normativos. Abaixo do STF a
justiça é dividida pelas funções que cada uma trata, e cada qual possui primeira
e segunda instância e uma corte superior. A justiça federal e estadual são justiças

129
UNIDADE 4

não especializadas e sua corte superior é o Superior Tribunal de Justiça, que possui
a função de julgar todos os litígios onde haja ofensa à lei federal (HACK, 2012).
A Justiça federal possui competência para julgar as ações que versam sobre
os assuntos que estão dispostos no artigo 109 da CF/1988, e a Justiça Estadual
possui competência residual, ou seja, todos os assuntos que não são tratados pela
Justiça Federal vão para a Justiça Estadual. As demais justiças são especializadas
em função da matéria, temos: a Justiça do Trabalho que tem função de julgar as
questões atreladas às relações do trabalho, e a sua segunda instância é atribuída
aos Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) e a seu tribunal superior é o Tribunal
Superior do Trabalho (TST).
A Justiça Eleitoral tem como competência julgar as causas relacionadas a
questões relativas às eleições. A segunda instância fica a cargo dos Tribunais Re-
gionais Eleitorais (TRE) e sua corte superior é o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Para completar as justiças especializadas, temos a Justiça Militar, que julga as
causas relacionadas com as questões militares. A sua segunda instância é atribuí-
da é exercida pelos tribunais regionais e sua corte superior é Superior Tribunal
Militar (STM), (HACK, 2012).

130
UNIDADE 4

OLHAR CONCEITUAL

PODER LEGISLATIVO
Função Típica: Criação e
modificação de leis que inovam o
ordenamento jurídico brasileiro,
e fiscalização e controle
dos atos do Poder
Executivo.

PODER EXECUTIVO
Função Típica: Administrar o
Estado, ou seja, ele é o responsável,
principalmente, a contratar, fazer
compras, gerir o orçamento público,
bem como qualquer outra
atividade relacionada à
administração de
coisa pública. PODERES

PODER JUDICIÁRIO
Função Típica: função de dirimir
os litígios que lhe são apresentados
pela aplicação da lei ao caso
concreto.

131
UNIDADE 4

Caro(a) aluno(a), falaremos um pouco agora sobre o Título VIII da CF/1988


que trata sobre a “Ordem Social”. Segundo Hack (2012, p.192), a ordem social
trata de “assuntos sociais, ou seja, relacionados com o atendimento à população,
melhoria da qualidade de vida e assuntos de interesses coletivos”. Já o artigo 193
da CF/1988 afirma que a ordem social tem como primado o trabalho e como
objetivo o bem-estar e as justiças sociais.
O Título de Ordem Social inicialmente versa sobre a seguridade social, que
trata de um conjunto integrado do poder público destinado a assegurar
os direitos à saúde, previdência e assistência social. O atendimento à segu-
ridade é universal, ou seja, é destinado a todos os brasileiros, assim como a sua
contribuição também será cobrada de todos, mesmo em relação a aqueles que
nunca usufruem do sistema (HACK, 2012).
O direito à saúde é direito de todos e dever do Estado que deve ser assegura-
do por todos os entes da federação. Portanto, todas as pessoas possuem direito à
saúde, independente de contribuir ou não para a seguridade social. A previdência
social, por sua vez, é um sistema de aposentadorias e pensões, em que a sua con-
tribuição é obrigatória para todos aqueles que exerçam trabalho remunerado e
não sejam servidores públicos. Diante disso, o trabalhador não tem a opção de
escolher ou não se filiar ao sistema, uma vez que ele é obrigado (HACK, 2012).
A assistência social é o serviço prestado às classes menos favorecidas, confor-
me a CF art. 203, incisos I a IV: independentemente de contribuição à seguridade
social e tem como objetivo: a proteção à família, à maternidade, à infância, à ado-
lescência e à velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da
integração ao mercado de trabalho; a habilitação e reabilitação das pessoas porta-
doras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; a garantia
de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao
idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família; a redução da vulnerabilidade socioeconômica de
famílias em situação de pobreza ou de extrema pobreza (BRASIL, 1988).
A ordem social ainda traz disposições a respeito da educação, afirmando
que é um direito de todos e dever do Estado e da família, bem como trata sobre
a cultura, no qual afirma que o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos
direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a
valorização e a difusão das manifestações culturais. Ademais garante o direito ao

132
UNIDADE 4

desporto, assim como dispõem que o Estado promoverá e incentivará o desenvol-


vimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação.
Ainda, traz diretrizes acerca da liberdade de manifestação do pensamento, da
proteção da família, meio ambiente, família, criança, adolescente, jovem idoso e
aos índios. Portanto, percebemos que a ordem social traz, via de regra, os direi-
tos prestacionais de segunda dimensão, os quais impõem ao Estado o direito à
proteção e prestação a diversos direitos.
Querido(a) aluno(a), estamos chegando ao fim de mais uma unidade, na qual
pudemos compreender alguns dos principais direitos fundamentais consagrados
na Constituição Federal do Brasil, como o direito à vida, igualdade, liberdade,
entre outros, assim como os embates jurídicos que os cercam. Ainda, aprendemos
como o Estado Brasileiro se estrutura e como acontece a divisão dos poderes.
Agora eu quero que você se recorde da atividade proposta no início da uni-
dade, após a leitura da mesma, você consegue perceber como a Constituição
Federal se preocupou em trazer os direitos de primeira e segunda dimensão de
forma organizada em seu texto? Ao dispor sobre os direitos individuais e coleti-
vos, percebemos os direitos da primeira dimensão uma vez que a maioria deles
requer uma abstenção estatal na esfera da vida do indivíduo, ao passo que nos
direitos sociais e na ordem social, o Estado tem o dever de atuação para a garantia
de diversos direitos, como o trabalho e saúde. Ademais, a ordem social ainda traz
disposições que versam sobre alguns direitos de terceira dimensão, como por
exemplo, quando trata sobre o meio ambiente.
Caro(a) aluno(a), você consegue perceber esses direitos sendo protegidos
em sua vida e nas suas relações? Eu, por exemplo, possuo diversos exemplos de
atuação Estatal em minha vida, uma vez que por muitas vezes recorri ao Sistema
Único de Saúde (SUS) para conseguir atendimento médico, me formei em uma
universidade pública, utilizei transportes públicos, etc. Em compensação, como
exemplo da atuação dos direitos de primeira dimensão, hoje eu tenho a minha
própria casa, sem interferência do Estado.
Consegue perceber como é fundamental que você tenha conhecimento acer-
ca desses direitos fundamentais? Tudo isso porque eles estão presentes em suas
relações pessoais ou profissionais. Ademais, é de suma importância para que seja
possível solicitar a abstenção do Estado em determinadas questões, bem como
sua prestação em outras.

133
1. Leia o texto a seguir:

O Brasil é um Estado democrático de direito, em que o poder é de titularidade do


povo, mas é exercido geralmente por meio de representantes. Excepcionalmente,
é exercido diretamente. Também já vimos que se adota a tripartição dos poderes,
separando-se as funções do poder Executivo, Legislativo e do Judiciário.

HACK, Erico. Direito Constitucional: conceitos, fundamentos e princípios bá-


sicos. Curitiba: InterSaberes, 2012, p.135.

Sendo assim, discorra em um parágrafo dissertativo entre 10 a 15 linhas sobre como


ocorre a divisão dos poderes do Brasil e as funções típicas de cada um.

2. Leia o texto a seguir:

O direito à vida engloba diferentes facetas, que vão desde o direito de nascer, de
permanecer vivo e de defender a própria vida e, com discussões cada vez mais agu-
das em virtude do avanço da medicina, sobre o ato de obstar o nascimento do feto,
decidir sobre embriões congelados e ainda optar sobre a própria morte.

RAMOS, André Carvalho de. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014,
p. 458.

Considerando que o direito à vida é considerado por muitos o direito fundamental


mais importante consagrado na Constituição Federal, discorra em um parágrafo dis-
sertativo, entre 10 a 15 linhas sobre os embates jurídicos que os cerca e as exceções
previstas no ordenamento pátrio.

134
3. Leia o texto a seguir:

No título III a Constituição trata da organização do Estado Brasileiro, apontando como


este se divide e qual tarefa incumbe a cada um dos seus entes. É estabelecida para
cada um dos entes da federação uma determinada competência, a qual pode incluir
atividades ou serviços a serem desempenhados pelo ente ou sobre quais assuntos
ele pode legislar.

HACK, Erico. Direito Constitucional: conceitos, fundamentos e princípios bá-


sicos. Curitiba: InterSaberes, 2012, p.111.

Considerando o texto acima, analise as assertivas a seguir, verificando a que apre-


senta, respectivamente, uma forma de estado, uma forma de governo e um sistema
de governo.

I - Federado; república; parlamentarista.


II - Confederado; monarquia; presidencialista.
III - Presidencialista; monarquia; federado.
IV - República; monarquia; parlamentarismo.
É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) II, III, IV, apenas.
e) I, II, III, e IV.

135
5
Cidadania Como
Fator Basilar
do Estado
Democrático de
Direito
Me. Brenda Ohana Rocha Hundzinski

Olá, aluno(a). Nesta unidade, iremos estudar as noções gerais sobre


cidadania, seu conceito, histórico, sua estruturação e a interferência
que esta recebe conforme o sistema em que está inserida. Os referidos
assuntos são de suma importância, pois por meio da compreensão
deles há a possibilidade de conhecer, identificar, conceber e respeitar
as leis e as ações estatais, viabilizando o pleno exercício e a efetivação
de direitos na realidade social.
UNIDADE 5

Atualmente, vivemos em um Estado Democrático de Direito, pautado na defesa


da dignidade da pessoa humana e na busca pela consolidação de uma sociedade
justa e igualitária. Para que alcançar a tão almejada sociedade harmônica com
justiça social, em que há respeito aos princípios constitucionais e direitos básicos
do homem, a cidadania se torna indispensável, visto que por meio dela o indiví-
duo tem o conhecimento de deveres e de direitos.
Contudo, essa conceitualização ampla de cidadania foi consumada após uma
série de movimentos históricos que a reconheceram como princípio fundamental
de uma sociedade democrática. Com amplitude extensa a cidadania se relaciona
diretamente com os direitos humanos, permitindo não apenas o gozo de direitos
políticos, mas também a fruição e o exercício de direitos civis e sociais.
É possível verificar que a insuficiência e a infrutuosidade da cidadania afe-
tam a efetivação e a fruição de direitos, assim como a ausência destes interferem
naquela. Assim, qual a relação existente entre direitos e cidadania? É possível a
concretização de um Estado Democrático de Direito sem a existência e conso-
lidação da cidadania?
A cidadania, de forma ampla, pode ser caracterizada como o conjunto de
direitos e deveres que uma pessoa tem, a fim de viabilizar sua participação ativa
na vida social. Por tal motivo, a cidadania se inter-relaciona com os direitos es-
senciais do homem, garantindo o pleno exercício de prerrogativas e a efetivação
da dignidade da pessoa humana.
Convém destacar que a ausência de concretização de direitos impede que
os cidadãos tenham o direito a uma vida digna, afetando substancialmente sua
participação na sociedade. Assim, pode-se concluir que para que haja cidadania
é necessário a fruição e o gozo de direitos, haja vista que por meio dela há a pos-
sibilidade de participar na comunidade em que está inserido.
Por ser expressão dos direitos fundamentais, a cidadania não existe sem o
exercício destes, enquanto estes não subsistem sem a cidadania, formando uma
relação complexa e recíproca, em que um precisa do outro para ser aplicada na
realidade social. O motivo desta mutualidade decorre do fato de que o direito
estabelece prerrogativas, garantias e deveres, enquanto a cidadania permite o
exercício do direito posto, formando uma relação da lei e sua aplicabilidade.
À vista disto, a cidadania é primordial para o Estado Democrático de Direito,
sendo basilar para sua concretização, uma vez que ela permite a aplicação da lei
na realidade social, a fim de alcançar os objetivos primordiais da sociedade.

138
UNICESUMAR

Caro(a) Estudante. A cidadania é um dado histórico que decorre das ações


e anseios sociais, aperfeiçoando-se e adaptando-se à realidade em que está
inserida. Embora resplandeça os objetivos sociais, a cidadania
não possui um conceito uno, visto que possui uma conceitua-
lização extensiva e ampla e outra conceitualização restritiva e
não abrangente. Com intuito de permitir uma compreensão
melhor sobre a evolução da cidadania e seu conceito, indico a
visualização dos documentários D-05 – Caminhos da Cida-
dania no Brasil, Parte I e Parte II, produzidos pela UNIVESP
e disponibilizados pelo YouTube nos seguintes links nos QR-
codes ao lado.
Após realizar a visualização do documentário, indique ao
menos cinco aspectos da cidadania, assim como realize um texto, entre 08 e 10
linhas, diferenciando o conceito amplo e o conceito restrito de cidadania.
A conceituação de cidadania é difícil, visto ser ela um termo complexo e his-
toricamente produzido, o qual possui várias concepções. Uma das concepções é
mais estrita e limitada, enquanto a outra é mais ampla e maximizada. Qual seria
a diferença entre ambos os conceitos? Como foi construído historicamente estes
conceitos? Para melhor fixação dessas conceitualizações, recomendo que utilize
o seu Diário de Bordo.

139
UNIDADE 5

Caro(a) aluno(a), vivemos em um Estado Democrático de Direito, o qual possui


um conceito complexo, podendo ser caracterizado pela limitação do poder estatal,
delimitando a subordinação de todos a lei, independente de qual posição social que
ocupa, uma vez que o poder é conferido ao povo, que é titular deste, devendo agir
para a construção de uma sociedade justa e igualitária (MARTINS, 2021).
Para a formalização do Estado Democrático de Direito é imprescindível a
existência e a efetivação da cidadania, visto que ela “expressa um conjunto de
direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do
governo de seu povo” (DALLARI, 1998, p.14), de forma a viabilizar a plena par-
ticipação na vida social.
Dessa forma, a cidadania é basilar ao Estado Democrático de Direito, sendo
seu alicerce e fundamento. Ocorre qu,e embora seja essencial à formação de uma
sociedade justa, a conceitualização de cidadania é complexa, visto que ela poderá
ser analisada sobre dois prismas diferentes, como afirma Martins (2021):


[...] a palavra cidadania possui duas acepções distintas: uma acepção
mais estrita e uma mais ampla. Na acepção mais estrita, a cidadania
é a possibilidade de interferência nas decisões políticas do Estado,

140
UNICESUMAR

por meio dos direitos políticos. Atualmente, o conceito de cidada-


nia é mais amplo, refletindo a titularidade de direitos e deveres do
brasileiro (MARTINS, 2021, p. 1032).

Com duplo conceito, a cidadania poderá ser analisada de forma restritiva e de


forma ampla, sendo que o primeiro se refere a uma análise limitativa e menos
ampla, abarcando apenas o exame do termo em sua acepção técnica, que define
a cidadania como o direito de ser cidadão, ou seja, o direito político destinado
apenas à participação das deliberações políticas do Estado, por meio do voto, do
direito de petição e da ação popular (MENDES; BRANCO, 2017).
Em contrapartida, segundo conceito é amplo e extenso, decorrendo de vários
movimentos sociais históricos, expandindo o termo cidadania para o exercício de
Direitos Humanos e aplicabilidade de preceitos fundamentais na realidade social,
com o objetivo de efetivar um Estado de Bem-estar social (TAVARES, 2012).
De acordo com Paulo e Alexandrino (2016, p. 94), a concepção moderna de
cidadania não se limita, assim, ao estabelecimento de direitos políticos, sendo
essencial que o Estado atue, de forma eficaz, no oferecimento de:


condições propícias à participação política dos indivíduos na con-
dução dos negócios do Estado, fazendo valer seus direitos, contro-
lando os atos dos órgãos públicos [...] assegurando e oferecendo
condições materiais para a integração irrestrita do indivíduo na
sociedade política organizada.

Assim, a visão moderna de cidadania passa a englobar todos os direitos essen-


ciais do homem para uma vida digna, deixando de ser vista, portanto, “apenas
como a titularidade de direitos políticos, mas também a possibilidade de parti-
cipar da comunidade, de inúmeras formas, num enlace de direitos e de deveres”
(MARTINS, 2021, p. 888).
Convém delimitar que a amplitude conferida à cidadania decorreu de mo-
vimentos históricos que objetivavam a concretização da liberdade e igualdade,
conferindo aos indivíduos maior efetivação de direitos essenciais à sua vida digna.
Os movimentos sociais tinham por intuito extinguir a ideia limitadora da
cidadania defendida na Antiguidade, visto que neste período o termo referia-se
apenas à participação nas deliberações políticas (MARTINS, 2021).

141
UNIDADE 5

Ademais, é oportuno apresentar que neste período, na Grécia, a cidadania


era restrita a um determinado e pequeno grupo que detinha o poder sobre as
decisões políticas. A participação política decorria da cidadania, e esta não era
conferida às mulheres, aos escravos e às crianças, sendo estes totalmente excluídos
do exercício de direitos (COSTA e IANNI, 2018).
Não diferente, em Roma, a cidadania também era destinada a um pequeno
grupo, sendo excluídos da fruição e gozo de direitos uma grande parcela dos
habitantes da região. Contudo, embora exercessem direitos, os cidadãos roma-
nos não detinham o poder de deliberar de decidir questões políticas, visto que
estas decisões ficavam a cargo do soberano, o qual decidia as questões políticas
essenciais para a sociedade conforme seus anseios e objetivos (LOPES, 2010).
Destaca-se que em ambos os momentos históricos, a cidadania estava rela-
cionada apenas com os direitos políticos e à possibilidade de participação na vida
social. Circunstâncias essas que foram modificadas com o transcurso do tempo,
visto que na Idade Média, houve um significativo retrocesso de direitos.
Com a limitação de direitos e cerceamentos de liberdades neste período, a
cidadania foi diretamente afetada, sendo minimizada exponencialmente, obser-
vado que o extensivo poder estatal impediu o estabelecimento, avanço e apli-
cabilidade de prerrogativas e garantias aos indivíduos, cerceando a liberdade, a
igualdade e a consolidação de uma sociedade justa.
Ocorre que esta situação de limitação de direitos diante do grande poder es-
tatal, gerou muita “fome, miséria, direitos diferenciados, insensibilidade, desigual-
dade e ganância” (GORCZEVSKI, 2011, p. 46), causando muito aborrecimento
e contrariedade do povo, o que gerou questionamentos sobre as diferenças e os
privilégios conferidos a uma pequena parcela da sociedade.
Diante desse cenário, o modelo social e econômico do período, feudalismo,
chega ao fim, dando ensejo a grandes revoluções sociais que romperam com a
ordem jurídica anteriormente estabelecida com a finalidade de instituir e con-
cretizar direitos essenciais ao homem.
Com isso, há uma ruptura entre a ordem jurídica estabelecida na Idade Média
para a nova ordem jurídica consolidada com a Era Moderna, resplandecendo a
ideologia da cidadania fundamentada em conceitos filosóficos, desenvolvidos
pela Escola Teórica, denominada de Escola Contratualista, a qual defendeu o
estabelecimento de Estado-Nação pautados em direitos (COSTA; IANNI, 2018).

142
UNICESUMAR

O surgimento de Estados-Nação foi pautado na ideologia iluminista,


objetivando um vínculo jurídico entre Estado e indivíduo, sendo que estes últi-
mos passam a ter identidade nacional, expandindo a ideia de pertencimento a
uma comunidade política.
Isto é, a construção da cidadania refere-se a relação das pessoas com o Estado,
reconhecendo este como uma nação, tornando os indivíduos cidadãos conforme
passavam a se sentir parte de uma nação e de um Estado.
A cidadania é a relação jurídica entre um indivíduo e o Estado, a qual resplan-
dece a identificação do primeiro com uma nação, devendo o vínculo existente e
o sentimento de pertencimento estarem juntas. Por tal motivo, a forma como um
Estado-nação é organizado e estruturado, afeta e condiciona a cidadania, delimi-
tando seus contornos, sua aplicabilidade e efetividade no contexto da sociedade.
Cria-se, dessa maneira, por meio dos Estados-nação uma cultura nacional
que fomenta a defesa de direitos e prerrogativas dos cidadãos que vivem em um
determinado Estado, impondo a este o dever de garantir o livre exercício das
garantias e liberdades atribuídas aos homens (COSTA e IANNI, 2018).
Portanto, nos dizeres de Santos e Santos (2017, p. 104), a cidadania:


[...] deve ser entendida como algo mais que um simples conjunto
de direitos. Cidadania é também a sensação de pertencer a certa
comunidade, de compartilhar de valores comuns, de uma história
comum e de experiências comuns.

Com o estabelecimento de direitos e de uma cultura de pertencimento a um


Estado, eclode pensamento revolucionário que objetiva a efetivação destes na rea-
lidade social, consumando as primeiras manifestações por conquista de direitos.
A primeira manifestação revolucionária sobre direitos ocorreu na Inglaterra,
com a elaboração da Magna Carta, em 1215. Por meio desta normatização, o
poder irrestrito do soberano chegou ao fim, sendo estabelecidos limites a estes,
impedindo ações arbitrárias e o estabelecimento de direitos a uma parcela da
sociedade (LOPES, 2010).
Importante delimitar que o estabelecimento de direitos ficou restringida ao
clero e à nobreza, sendo que os demais indivíduos foram excluídos do uso e gozo
de direitos. Embora limitasse os direitos à uma pequena parcela da sociedade,
o referido dispositivo legal foi essencial para a evolução da cidadania, pois por

143
UNIDADE 5

meio dele houve “a restrição dos poderes do rei. O rei não possuía mais poderes
ilimitados. E essa limitação dos poderes não provém apenas de normas superiores
com fundamento nos costumes ou na religião, mas dos próprios direitos inerentes
aos indivíduos” (LOPES, 2010, p.70).
Em suma, a revolução concretizada na Inglaterra deu origem ao Estado
de Direito, impedindo o estabelecimento de um poder absoluto e ilimitado. Com
novos preceitos, a nova ordem jurídica delimitada no Estado inglês influenciou
a eclosão da Revolução Francesa.
A Revolução Francesa, alicerçada na liberdade, igualdade e fraternidade,
ensejou a elaboração da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
de 1789, positivando direitos essenciais do homem para uma vida digna e re-
conhecendo a real igualdade entre os indivíduos, independentemente de suas
características culturais, pessoais, religiosas, étnicas, dentre outras. Com isso, a
conceitualização de cidadania é ampliada para além das concepções anteriores,
que a limitava ao direito de participação política (COSTA e IANNI, 2018).
Com o estabelecimento de uma nova ordem jurídica, reconhecendo e con-
solidando direitos, os quais foram essenciais para a formação da cidadania como
conhecemos atualmente, assim como permitindo o surgimento de um novo sis-
tema econômico pautado no capital econômico.
O novo sistema econômico, denominado de capitalismo, é pautado na “pro-
priedade privada dos meios de produção, na organização da produção visando
o lucro e empregando o trabalho assalariado, e no funcionamento do sistema de
preços” (FERREIRA, 2001, p. 137).

PENSANDO JUNTOS

“O capitalismo pode ser entendido, genericamente, como um regime de produção, distri-


buição e apropriação da riqueza material, cujo movimento se autodetermina segundo leis
gerais da acumulação de capital” (PRONI, 1997, p. 4).

A modificação do sistema social e econômico, decorrentes dos movimentos re-


volucionários enseja mudanças não apenas econômicas, mas viabiliza mudança
de paradigmas, alterando consideravelmente a formação social, permitindo a

144
UNICESUMAR

retomada de valores e prerrogativas essenciais ao homem e a vida digna, afetando


a cidadania e permitindo, de forma mínima, a abrangência destas.
Convém destacar que o Capitalismo só estaria plenamente constituído, se
prolongando no tempo e estabilizado no bojo da sociedade, nas palavras de
Proni (1997, p. 9):


[...] com o surgimento da produção mecanizada, organizada como
grande indústria, e com a generalização do trabalho assalariado e a
reprodução de uma classe operária. Assim, a Revolução Industrial
representa a constituição/generalização de relações capitalistas de
produção, o que é fundamental para o pleno domínio do capital
sobre as condições de sua valorização.

Assim, ao transformar a força de trabalho em mercadoria a ser vendida e


consumida no processo de produção industrial, o capitalismo delimita e
divide os indivíduos em classes, capazes de movimentar o sistema. Acon-
tece que ao estabelecer uma sociedade de classe pautada na acumulação
de capital e na venda da força laboral, as condições de vida foram rela-
tivizadas, estabelecendo relações desumanas, as quais minimizaram os
valores morais da sociedade e impôs uma nova ordem social assentada
na concorrência individual, não suprindo os anseios sociais por igualdade,
liberdade e vida digna (PRONI, 1997).

Diante dessas circunstâncias desfavoráveis ao pleno exercício de direitos,


a busca por efetivação de direitos no capitalismo passa a ser recorrente,
pugnando não apenas por melhoria na qualidade de vida, mas abrangendo
a necessidade do estabelecimento de liberdades e garantias individuais
capazes de manter o próprio sistema capitalista.

Dessa maneira, com intuito de concretizar princípios básicos para uma vida digna
foram estabelecidas e reconhecidas as primeiras garantias do homem, as quais esta-
vam voltadas à efetivação de Direitos Civis, visto que sem estes a própria implanta-
ção e manutenção do capitalismo teriam sido impossibilitadas, já que sem liberdade
e autonomia individuais os homens não conseguiriam participar ativamente da

145
UNIDADE 5

vida social, tampouco poderiam entrar livremente no mercado capitalista (nem


como compradores e nem como vendedores de força trabalhista) (SAES, 2016).
Assim, “evidencia-se que existe uma íntima relação entre cidadania e urbani-
zação industrial, ou melhor, avanço do capitalismo” (SANTOS; SANTOS, 2017,
p.16), sendo que embora esta pugne pela igualdade e liberdade entre os cidadãos,
esta relação pautada pelo capital não extinguiu ou minimizou as desigualdades,
ao contrário, estas foram maximizadas, ensejando o surgimento de novos movi-
mentos sociais que requerem a efetivação de novos direitos que viabilizassem a
construção de uma sociedade justa e digna.
Sobre a temática, ensina SAES (2016, p. 5):


[...] a relação entre cidadania e desigualdade de classe teria sido
totalmente funcional, pois o livre funcionamento do mercado fa-
ria com que os homens se distribuíssem em posições extremas e
desiguais: capitalistas e empregados. [...], porém, a implantação de
direitos políticos e de direitos sociais iria contribuir para a diminui-
ção das desigualdades de classe.

Com o escopo de minimizar a desigualdade social, foram implementados direi-


tos políticos e sociais, permitindo que uma nova conceitualização de cidadania,
que agora passa a ser concebida e analisada sob três aspectos distintos: aspecto
social, aspecto civil e aspecto político.
O primeiro está direcionado aos direitos essenciais para a fruição das liber-
dades individuais, o segundo refere-se a prerrogativa que o indivíduo tem de
possuir o mínimo para a dignidade da pessoa humana e o terceiro refere-se a
prerrogativa de participar do poder político como membro ativo da sociedade
em que está inserido (MARTINS, 2021).
No mesmo sentido Santos e Santos afirmam, que a cidadania, após o esta-
belecimento de uma sociedade capitalista, passa a ser alicerçada em três pontos:
direitos civis, direitos políticos e direitos sociais, podendo, de forma porme-
norizada, estes serem definidos como:


São direitos civis os direitos que concretizam a liberdade individual,
como os direitos de ir e vir, o de livre pensamento e fé, o de celebrar
contratos, de reunião e associação, o “sagrado” direito à propriedade,

146
UNICESUMAR

bem como a garantia de acesso aos instrumentos, imprescindível à


defesa de todos esses direitos, ou seja, o direito à justiça. O elemento
político da cidadania, são os direitos que compõem a prerrogati-
va do exercício do poder político. Tal prerrogativa envolve tanto a
possibilidade da pessoa tornar-se membro do governo, ou seja, ser
eleito, quanto a possibilidade de o indivíduo escolher seu governan-
te por intermédio do voto. [...] O terceiro elemento da cidadania de
direitos sociais. Tais direitos garantem um mínimo de bem-estar
e segurança material, o que deve ser entendido como o acesso de
todas as pessoas à herança social e a uma vida civilizada, de acordo
com os padrões da sociedade (SAES, 2016, p. 104).

Ocorre que o reconhecimento e a positivação de direitos não garantem a efetiva


participação do povo no poder político, assim como não garante que a popula-
ção tenha acesso às garantias materiais essenciais para um Estado de bem-estar
social, visto que estes poderiam se concretizar ou não nas sociedades capitalistas,
criando uma lacuna entre o direito posto e a realidade social.
Dessa forma, a cidadania estaria correlacionada com o estabelecimento do
capitalismo e com a materialização de direitos, visto que por meio dela o Esta-
do criaria um conjunto de ações e de políticas públicas destinadas a assegurar
direitos básicos do homem com intuito de evitar a decadência do sistema e o
surgimento de novos movimentos revolucionários requerendo direitos para a
garantia de uma vida digna.


Ocorre, entretanto, que, no decorrer da análise, essa possibilidade
de variação é parcialmente desmentida. Mais precisamente, [...] es-
pecificidade dos direitos civis com relação aos direitos políticos e
aos direitos sociais: aqueles direitos não só não estariam em conflito
com as desigualdades sociais próprias à sociedade capitalista como
inclusive seriam absolutamente necessários à reprodução, no tempo
histórico, da relação social desigual típica do capitalismo: a relação
econômica entre capitalista e trabalhador assalariado.

Evidencia-se, assim, que a instauração das liberdades civis se


configura como um fenômeno essencial e necessário à reprodu-
ção do capitalismo. Já a participação do povo no poder político e
o acesso do povo ao bem-estar material seriam ideais que pode-

147
UNIDADE 5

riam ou não se concretizar nas sociedades capitalistas (SANTOS;


SANTOS, 2017, p.14).

Embora difunda a defesa da liberdade e igualdade os valores essenciais dos direi-


tos dos homens, o capitalismo passa por uma grande decadência com a quebra
das bolsas de valores, o que potencializa a distinção entre as classes sociais, a
concentração de poder, renda e riquezas, tornando as relações desiguais, afetando
significativamente a cidadania, uma vez que estes fatores impedem o pleno exer-
cício e efetivação de direitos e deveres dos cidadãos, os quais ficam impedidos de
exercer estes por não possuir condições materiais.
Como consequência, a miséria, a pobreza e a desigualdade são materializadas
e maximizadas na realidade social, fazendo com que o Estado deixe de ser inerte
na promoção de direitos e garantias sociais, reprimindo a ideologia liberal de
Estado mínimo e atuando de forma ativa na efetivação de prerrogativas básicas.

NOVAS DESCOBERTAS

O liberalismo é um sistema jurídico, político e econômico que surgiu como forma de re-
pressão ao sistema antigo, buscando a efetivação das liberdades individuais e mínima
atuação do Estado.
O liberalismo possui várias correntes ideológicas, as quais foram importantes para a for-
mação da sociedade, do direito e da cidadania. O tema é complexo e de grande amplitude,
indico que a leitura da tese de Doutorado O Pensamento Radical de Thomas Paine (1793-
1797): Artífice e Obra da Revolução Francesa, do Dr. Daniel Gomes de Carvalho, publicado
pela Universidade de São Paulo - USP - e disponível no seguinte DOI: <10.11606/T.8.2018.
tde-12062018-135137>
WEB: O pensamento radical de Thomas Paine (1793-1797): artífice e obra da Revolução
F... (usp.br)

Convém destacar que o pensamento ideológico liberal clássico defende que


o Estado deve ser mínimo se limitando a promover apenas educação, saúde e
segurança, independentemente da existência de qualidade de vida.
Diferentemente da intervenção mínima, o Estado Social defende a interven-
ção do Estado no Mercado, substituindo o laissez-faire, manipulando os índices
e regulando as relações econômicas, com o escopo de promover prosperidade
social e aumento da riqueza estatal. Visando a prosperidade social, o Estado de

148
UNICESUMAR

Bem-Estar Social defende um Estado interventor, que controla e constitui uma


economia forte, com escopo de obter harmonia e prosperidade na sociedade,
assumindo a responsabilidade pela qualidade de vida.
Entretanto, com o transcurso do tempo, a recuperação da economia e mini-
mização dos efeitos das desigualdades geradas pelo capitalismo foram alcançadas,
e o Estado deixou de atuar ativamente na concretização de políticas públicas para
o exercício de direitos dos homens, permitindo o surgimento do Neoliberalismo.
O Neoliberalismo se pauta em um Estado mínimo, em que o Ente Público
não mais visa a efetivação de direitos, tampouco a regulamentação do mercado
econômico, provocando “uma modificação organizacional, estrutural e funcional
do Estado, minimizando o seu papel (no que diz respeito à garantia dos direitos
sociais), tendo como principal preocupação limitar a esfera de influência do pú-
blico no privado” (GIRON, 2008, p. 19).

NOVAS DESCOBERTAS

O Neoliberalismo é um conjunto de pensamentos políticos e econô-


micos, pautados no capitalismo, que visa a não participação do Es-
tado nas relações econômicas e sociais, permitindo a total liberdade
de comércio. Ocorre que a ausência de atuação estatal nas relações
econômicas e sociais afeta a cidadania. Para melhor compreensão do
tema e da influência que o Neoliberalismo exerce sobre a efetivação
ou não de direitos, sugiro a leitura do artigo Neoliberalismo, Cidade e
Cidadania: Questões sobre o Esvaziamento Político do Espaço Público
na Metrópole Brasileira, elaborado por Jansen Faria, publicado pela
Universidade Federal de Minas Gerais, em abril de 2021, e disponibi-
lizado no QRcode.

Com a mínima participação estatal na vida social e na promoção de direitos e


garantias fundamentais há a transferência de funções do Estado para a iniciativa
privada, tornando ações de promoção de direitos em mercadorias, de forma a
fracionar e dividir a população em quem possui capital e quem não possui capital.
A segmentação social provocada pelo Neoliberalismo materializa a dicotomia
entre quem poderá ter acesso e usufruir de direitos fundamentais e quem não
poderá exercê-los por ausência de condições financeiras em adquiri-los como se

149
UNIDADE 5

mercadorias fossem evidenciando que “os direitos sociais se tornam mercadorias


e o movimento econômico restringe a esfera social da cidadania em favor da
projeção do mercado” (GIRON, 2008, p. 19).
Com isso, a cidadania, que é o exercício de direitos civis, sociais e políticos é
relativizada e destinada apenas às classes sociais economicamente privilegiadas,
gerando uma grave crise social com o aumento da desigualdade, miséria, fome
e outros fatores, demostrando que “a cidadania implica o reconhecimento, por
parte do Poder Público, em algum nível, da igualdade entre os indivíduos” (SAN-
TOS; SANTOS, 2016, p. 104), sendo esta incompatível com sistemas econômicos
e sociais absolutistas que impediam a participação de grupos sociais do exercício
de direitos fundamentais.

150
UNICESUMAR

Caro(a) aluno(a), como explanado até este momento, a cidadania não é um


terno interligado apenas aos direitos políticos, mas é um termo historicamente
construído para materializar uma sociedade justa, igualitária e capaz de pro-
mover o bem-estar social, sendo que “a evolução da cidadania a partir de seu
núcleo mínimo resultaria da eventual capacidade das lutas populares de im-
por às classes dominantes um compromisso sobre novos direitos” (SANTOS;
SANTOS, 2017, p. 13)
Por tal motivo, a cidadania engloba também o exercício de direitos civis e
sociais, sendo influenciado pelos mais diversos aspectos e fatos que ocorrem
na sociedade.
Feito estas explanações, é importante destacar que para a concretização de
um Estado Democrático de Direito é essencial a existência de direitos e do livre
exercício da cidadania, assim como ações estatais capazes de efetivá-los na reali-
dade social, buscando não apenas a igualdade formal, mas a igualdade material,
isto é, a efetiva igualdade com base no tratamento desigual conforme a medida
das desigualdades.
Para tanto, as individualidades devem ser respeitadas e defendidas, de
modo e reprimir quaisquer condutas intolerantes que dissemine o ódio, a conten-
da e as inimizades, permitindo a consolidação da justiça social. Com base nisto,
nota-se que para a efetivação da cidadania é de suma importância o reconheci-
mento do pluralismo, visto que em uma sociedade desigual toda a diversidade
social, política e cultural, deve ser admitida e respeitada.
Convém descrever que a diversidade existente na sociedade permite a coe-
xistência do pluralismo, o qual pode ser conceitualizado como:


um direito fundamental à diferença em todos os âmbitos e expres-
sões da convivência humana — tanto nas escolhas de natureza po-
lítica quanto nas de caráter religioso, econômico, social e cultural,
entre outras —, um valor fundamental, pelo pluralismo, a não discri-
minação, a tolerância, a justiça (MENDES; BRANCO, 2017, p. 178).

Como se vislumbra, o pluralismo, assim como a cidadania, não pode estar ligado
apenas aos aspectos políticos de uma sociedade, visto que são termos amplos que
englobam a multiplicidade de fatores sociais que interferem na vida da coletivi-
dade e na construção de um Estado Democrático de Direito.

151
UNIDADE 5

Há que se destacar que as nações são sociedades complexas, em que os indi-


víduos são diferentes em razão de fatores étnicos, culturais, religiosos, filosóficos,
econômicos, dentre outros aspectos que geram diversificação.
Convém reconhecer que o pluralismo é um fenômeno histórico que surgiu
com a modernidade e que está intimamente ligado com a amplitude da socieda-
de, com reconhecimento da diversidade dos indivíduos, os quais, embora sejam
diferentes, convivem harmonicamente em uma sociedade (FERNANDES, 2020).
O pluralismo, assim, em todas suas acepções é essencial para a formação de
uma sociedade justa e harmônica, não podendo ser aceita a ideia de que este é
um obstáculo para a materialização de direitos e de um Estado Democrático de
Direito, visto que ele “colabora, para o conhecimento da verdade; e, racionalmente
aproveitado, em vez de embaraçar os operadores jurídicos, acaba ampliando o
seu horizonte de compreensão e facilitando-lhes a tarefa de aplicar do direito”
(MENDES; BRANCO, 2017 p. 121)
O pluralismo deve ser visto como a heterogeneidade presente em toda socie-
dade, sendo que ao Estado é atribuído o dever de desenvolver ações capazes de
reconhecer estas diferenças individuais, apresentando ações e políticas públicas
capazes de respeitá-las e protegê-las durante as decisões políticas e no decorrer
de toda a convivência social, concretizando a igualdade na realidade vivida, de
modo a extrapolar a igualdade delimitada pelo ordenamento jurídico.
Oportuno afirmar que todo pluralismo decorre do pensamento liberal, sen-
do benéfico para sociedade ao permitir uma ordem interna plural, devendo ele
ser reconhecido como princípio essencial para a formalização da dignidade da
pessoa humana, não podendo existir atos discriminatórios que violam o direito
dos desiguais (FERNANDES, 2020).
O pluralismo é, nesse sentido, um “valor fundamental para o surgimento e a
preservação das sociedades democráticas” (MENDES; BRANCO, 2017, p. 1422),
devendo toda forma de atos discriminatórios que visem diminuir sua amplitu-
de ser reprimido com veemência pelo Ente Público, visto que a ele é atribuído
o dever de agir para a concretização dos fundamentos jurídicos de um Estado
Democrático de Direito.
Dessa forma, ao incorporar no bojo social aspectos pluralistas, disseminando
noções de diversidade, a nova ordem jurídica desenvolve uma preocupação com
a tolerância. Para tanto, passa a ser incumbência do Estado o desenvolvimento de
políticas públicas para a proteção a todos os outros, diferentes (MARTINS, 2021).

152
UNICESUMAR

Ao desenvolver atos de proteção ao pluralismo, o Estado desenvolve os ideais


de tolerância e respeito, evitando atos desrespeitosos e violadores de direito, re-
primindo quaisquer formas de intolerância.

A Constituição Federal do Brasil estabeleceu o pluralismo


e as liberdades como garantias constitucionais essenciais
para a dignidade da pessoa humana. Porém, embora seja
assegurado constitucionalmente direitos e garantias de
liberdade, a fim de garantir o pluralismo social, muitos atos
de intolerância e violência ocorrem. Assim, diante das mui-
tas possibilidades de manifestações de atos de intolerância,
te convido a participar da nossa roda de conversa, visto
que neste momento abordarei assuntos sobre a tolerância,
intolerâncias e políticas públicas que visam impedir atos
discriminatórios.

A tolerância, assim, pode ser configurada como a prerrogativa que o indivíduo


tem de não:


ser vítima de preconceitos, de ódio ou de perseguição pelo simples
fato de ser diferente, como tem acontecido no curso da História,
[...] não podendo os traços característicos de cada indivíduo ser
vistos como estigmas, mas, antes, como expressão da sua metafísica
singularidade (MENDES; BRANCO, 2017, p. 179).

153
UNIDADE 5

Caro(a) aluno(a), é evidente que o ordenamento jurídico pátrio pugne pela igual-
dade material, viabilizando o tratamento desigual das pessoas, na medida das suas
desigualdades, com intuito de garantir direitos fundamentais.
Entretanto, vivemos uma sociedade marcada pela violência e por atos de
intolerância, os quais se manifestam contra:


[...] aquele que é diferente. Nesse sentido, na realidade brasileira, são
vítimas da intolerância grupos diversos tais como, o índio, o negro
e o nordestino. É dentro desse contexto que ocorre a intolerância e
fundamentalismos diversos, trazendo permanentes desafios à prá-
tica democrática (OLIVEIRA e COELHO, 2016, p. 05).

A tolerância, dessa forma, não pode se limitar ao respeito dos desiguais apenas como
uma forma de como aceitação da diversidade, mas devemos compreendê-la como a
efetivação e busca pela concretização e afirmação de direitos fundamentais do homem.
Analisando nesta perspectiva, observa-se que a cidadania está intimamente
ligada com o pluralismo e a tolerância, visto que ela é o pleno exercício de direitos
e prerrogativas estabelecidas no ordenamento jurídico para a concretização da
dignidade da pessoa humana, sendo que o pluralismo permite a efetivação de
liberdades individuais, enquanto que a tolerância é o respeito às diferenças e a
busca pela promoção dos direitos essenciais do homem dos grupos delimitados
como diferentes, de forma a permitir que estes usufruam das garantias positivas
na ordem jurídica.


É possível, [assim] construir uma nova concepção de cidadania, ten-
do em vista o pluralismo como reconhecimento da multiplicidade
de vozes, a aceitação do outro, não consistindo apenas na tolerância
de diferenças e sim, a celebração dessas, dando ensejo ao modelo
agonístico de democracia (OLIVEIRA; COELHO, 2016, p. 10).

Esse modelo é respaldado no dissenso, o qual valoriza a diversidade e reconhece


o antagonismo como algo positivo em uma ordem mundial pluralística, sendo
um equívoco acreditar que o modelo adversarial de político se tornou obsoleto.
Assim, a dimensão de conflito e antagonismo da política são consequências da
pluralidade de valores (OLIVEIRA; COELHO, 2016, p. 12).

154
UNICESUMAR

A ideia de tolerância assim não é apenas reconhecer as diferenças existentes


em uma sociedade, tampouco o predomínio da maioria sobre a minoria, sendo
apenas o reconhecimento do pluralismo e da necessidade de ações eficazes ca-
pazes de viabilizar que todos da sociedade, independentemente de suas particu-
laridades, possam exercer os direitos e prerrogativas do homem.
Nesse sentido, a tolerância deve ser caracterizada como a existência de atos
contínuos voltados à disposição de organização e de recursos do Estados para
a aplicação do direito, evitando lacunas entre o que é estabelecido na norma e o
que acontece na realidade social.
A tolerância deve ser vista como:


[...] a igualdade dos seres humanos que se transforma em ética de
acesso às oportunidades materiais e afetivas de que uma comuni-
dade dispõe, [...] a qual não é baseada na vontade nobre de uma
minoria iluminada, mas, sim, nas instituições que existem na co-
munidade (SARACENO, 2011, p. 99).

A tolerância é, assim, uma ação, um comportamento de respeito ao próximo, de


forma a compreender que todos os indivíduos são sujeitos de direitos e de deve-
res, bem como que todos os direitos possuem limitações. Os preceitos expostos
pela tolerância tornam-se fundamentais para a materialização de uma sociedade
justa e harmônica.
Delimitada a relação entre pluralismo, tolerância e cidadania, observa-se que
um conceito é complementado pelo outro, de forma a demonstrar a inter-relação
existente entre eles para a efetivação de direitos civis, políticos e sociais na reali-
dade coletiva. Além de demonstrar a importância de uma formação consciente
da ética, viabilizando uma educação crítica.

155
UNIDADE 5

Feito essas explanações, passaremos a analisar a educação como fator de emanci-


pação social e concretização da cidadania. Para atingir a finalidade proposta anali-
saremos a educação como forma de promoção da cidadania e efetivação de direitos.
O exercício da cidadania permite a existência do pluralismo, em suas várias
concepções, abrangendo todos os atores da sociedade, sendo que este influi na
materialização da cidadania, sendo uma relação de bilateralidade, visto que um
afeta o outro e a ausência de um, impede a concretização do outro.
Nesse sentido, os indivíduos de uma sociedade devem ser treinados e capa-
citados para o exercício de todas as prerrogativas estruturadoras de um Estado
de Direito. Por tal motivo, a educação não pode ser rígida e limitada, devendo
abranger várias concepções, argumentos, linhas de pensamento e/ou de trans-
missão do conhecimento, sendo proibido quaisquer atos de intolerância e de
discriminação que visem cercear direitos e a efetivação do ensino aprendizagem.
Importante frisar que vivemos em um Estado Democrático de Direito, que
defende o pluralismo em todas as suas concepções, onde a Constituição Federal
delimita direitos fundamentais básicos, que devem ser respeitados e efetivados,
garantindo ao povo um bem-estar social, o qual objetiva reafirmar a dignidade
da pessoa e os demais fundamentos da República, atingindo todos os objetivos
ali delimitados.
Nesse sentido, a fim de consubstanciar uma sociedade justa e igualitária, às
normas constitucionais imputam ao Estado o dever de desenvolver ações para
efetivar os direitos fundamentais das pessoas, proporcionando uma qualidade
de vida. Assim, dentre os direitos fundamentais que cabe ao Estado efetivar, está
o acesso à Educação, sendo o seu fornecimento deve ocorrer nas mais diversas
faixas etárias e níveis.
Segundo Duarte (2006):


O direito à educação não se reduz ao direito do indivíduo de cursar
o ensino fundamental para alcançar melhores oportunidades de
emprego e contribuir para o desenvolvimento econômico da nação.
Deve ter como escopo o oferecimento de condições para o desen-
volvimento pleno de inúmeras capacidades individuais, jamais se
limitando às exigências do mercado de trabalho, pois o ser humano
é fonte inesgotável de crescimento e expansão no plano intelectual,
físico, espiritual, moral, criativo e social (DUARTE, 2006, p. 272).

156
UNICESUMAR

A educação é fundamental para o desenvolvimento pleno do indivíduo, ense-


jando sua autonomia e senso crítico, sendo que ela, de acordo com a definição
constitucional, deve ocorrer em vários níveis, para proporcionar ao indivíduo
aprendizagem plena.
A Educação é está prevista na Constituição Federal, sendo ela um direito fun-
damental que tem por objetivo a formação plena do indivíduo para o exercício
da cidadania, para o trabalho e para sua emancipação crítica. A educação, dessa
forma, é essencial para a expansão dos outros direitos, visto que ela permite que
as pessoas tomem conhecimento de seus direitos e se organizarem para lutar por
eles, como ocorreu historicamente.
A ausência de uma população educada e de uma Educação de qualidade tem
sido sempre um dos principais obstáculos à construção da cidadania civil e po-
lítica, pois por meio dela o indivíduo desenvolve suas capacidades e criticidade,
conseguindo compreender o meio social em que está inserido e participar das
deliberações públicas.
Com isso, a educação dos indivíduos de uma sociedade deve estar voltada
para a formação dos indivíduos de modo a permitir que as pessoas desenvolvam
suas habilidades psíquicas, intelectuais e pessoais, capazes de permitir que estes
usufruam de direitos e garantias, assim como permitindo que estes participem
ativamente da vida política e social.
A formação crítica voltada para o livre exercício da cidadania, nos seus mais
diversos aspectos, é essencial, pois por meio do conhecimento e de informações
os cidadãos ficam informados, tornando-se críticos e responsáveis sobre a vida
social e sobre as deliberações políticas.
Os cidadãos, por meio da educação, são capazes de atuar ativamente na
sociedade, assumindo responsabilidades e criticidade, viabilizando contribui-
ções efetivas, direcionadas e adequadas para a concretização de direitos na
realidade social.
Importante frisar que a educação crítica para a consolidação da cidadania
afeta diretamente as relações sociais, permitindo o desenvolvimento de hábitos
de ética e cidadania, permitindo o respeito às pluralidades, às minorias e aos
desamparados, a fim de permitir ações estatais para a consolidação de direitos.
A educação pautada na ética, portanto, deve estar voltada ao ensino apren-
dizagem da criticidade voltados a tolerância religiosa, os direitos fundamentais e
igualdade material. A ética é uma ciência que estuda a forma de comportamento

157
UNIDADE 5

nas sociedades, onde o bem-estar deve estar em primeiro lugar; assim, podemos
afirmar que a necessidade ética se originou com o homem em sociedade.
O comportamento ético varia conforme o ambiente, a situação e a cultura,
mas está presente em nossas vidas o tempo todo, tanto nas relações pessoais,
quanto nas profissionais; daí a importância de estudar a ética dentro do contexto
organizacional (MACORE, 2016, p. 07).
Ademais, a educação ética e voltada para a cidadania, pautada em valores éti-
cos, permite o desenvolvimento da consciência moral, do senso moral e de outros
fatores que permitem a ampliação da participação do cidadão, sua emancipação
crítica, tornando-o independente de forma a agir de forma íntegra e consciente
nos assuntos sociais e políticos da sociedade.

Caro(a) aluno(a), a cidadania é essencial para a formação de um Estado De-


mocrático de Direito, sendo que a educação dos indivíduos deve ser objetiva
e direcionada à sua emancipação crítica, de forma a viabilizar conhecimentos
adequados capazes de influir nas decisões políticas e nos públicos.
Diante da essencialidade da cidadania, a Constituição Federal do Brasil, no
Art. 1º, delimita que esta é um fundamento do Estado Democrático de Direito,
o qual objetiva a concretização de Direitos Fundamentais, evitando abusos por
parte do Estado, de forma a impor a este o dever de atuar de forma negativa para
não abusar do poder, assim como possibilita que o indivíduo exija do Ente pú-

158
UNICESUMAR

blico um agir direcionado para a efetivação de direito e prerrogativas essenciais


para uma vida digna.
Nesse sentido, para efetivar os direitos e garantias constitucionais, o ordena-
mento jurídico estabelece as Instituições de Direitos, para a sua concretização destes
na realidade social, evitando lacunas entre o direito posto e a realidade social.
São exemplos de instituições de direito no Brasil o mandado de segurança,
habeas corpus, o habeas data, plebiscito, dentre outros instrumentos de efetivida-
de das prerrogativas. Com intuito de contextualizá-lo, será analisado os institutos
com maior aplicabilidade na realidade do profissional de segurança pública.
Iniciaremos com a análise dos remédios constitucionais, visto que estes são
meios de garantia de direitos evitando abusos e ações desmedidas.

É uma ação constitucional que objetiva a proteção do direito


de locomoção, a fim de evitar lesões ou ameaça de lesões à
liberdade de ir, vir e permanecer. A condição básica para a
impetração deste remédio constitucional é a existência de
violência ou coação moral que ameace o direito de locomo-
ção (MARTINS, 2021).
Habeas Esta ação pode ser impetrada de forma preventiva e de forma
Corpus repressiva. Quando utilizada de forma preventiva, o Habeas
Corpus visa impedir a concretização de violência ou coação em
seu direito de ir, vir e permanecer, em razão de ilegalidade ou
abuso de poder, sendo que a violação ao direito ainda não foi
concretizada. Em contrapartida, quando a violação ao Direito
de Locomoção já estiver consubstanciada deverá ser impetra-
do o Habeas Corpus repressivo.

Ação Constitucional voltada a garantir o acesso, retificação,


contestação, anotação ou esclarecimento de informações e
de dados pessoais que estejam em banco de dados do Ente
Habeas
Público ou banco de dados de instituição privada com caráter
Data
público. As informações e dados que são requeridos são da
pessoa do impetrante, sendo vedado a requisição de informa-
ções e dados de outras pessoas (LENZA, 2010).

159
UNIDADE 5

Ação Constitucional que tem por finalidade a impugnação de


atos administrativos, judiciais, eleitorais ou qualquer outro
tipo, quando há a existência de direito líquido e certo, não
amparado por Habeas Corpus – liberdade de locomoção – ou
Habeas Data – acesso ou retificação de informação –, cujo
Mandado
responsável pelo abuso de poder ou ilegalidade seja agente
de
público ou quem está exercendo as funções do Ente Estatal
Segurança
(LENZA, 2010). No que tange a ilegalidade e abuso de poder
decorrentes de atos de agente público, sabe-se que a primeira
está atrelada a atos vinculados do Poder Público, enquanto o
segundo está interligado com os atos discricionários (LENZA
apud TEMER, 2010).

Ação Constitucional direcionada a concretização e efetivação


de direito subjetivo constitucional, o qual necessita de regula-
Mandado mentação para o uso e gozo. Assim, o Mandado de Injunção
de objetiva a regulamentação de um direito constitucional de
Injunção eficácia limitada, com escopo de que ele possa produzir todos
seus efeitos, findando a lacuna entre o direito posto e a reali-
dade social (TAVARES, 2012).

Com objetivo de proteger o patrimônio público ou de entidade


de que o Estado participe, à moralidade administrativa, o meio
ambiente e o patrimônio histórico e cultural, o Constituinte
Ação
originário atribuiu aos cidadãos a possibilidade de ajuizar a Ação
popular
Popular quando existirem fundados receios de existência ilega-
lidade, lesividade e violações a estes, a fim de anular quaisquer
atos lesivos e danos (FERNANDES, 2020).

Está interligado com a aprovação popular de projeto de lei


Referendo
posteriormente ao processo legislativo.

Requer a aprovação popular sobre um tema, antes das deli-


berações e formalização do processo legislativo, sendo que
Plebiscito
apenas após assentimento popular é que será executado o
procedimento legal.

Iniciativa Refere-se a possibilidade de a população deflagrar o processo


Popular legislativo.

Quadro 1 – Remédios Constitucionais / Fonte: a autora.

160
UNICESUMAR

Os direitos delimitados no ordenamento jurídico pátrio permitem que a sociedade


politicamente organizada e estruturada reduza os excessos de desigualdade e cen-
tralização de renda produzidos pelo capitalismo, com escopo de garantir o mínimo
de bem-estar para todos, concretizando os ideais de justiça e equidade social.
Como explanado ao longo desta unidade, vivemos em uma sociedade capita-
lista, marcada pela produção exacerbada de bens para a maximização de lucros e
geração de riquezas, e que muitas minimiza a formação de qualidade impedindo
o livre exercício da cidadania e perpetuando a situação desigual existente, sendo
que a cidadania se torna essencial para a efetivação e exercício de direitos e para
a luta por igualdade, liberdade e tolerância.
A cidadania, nesse sentido, é fundamento do Estado Democrático de Direito,
e tem por objetivo manter a estabilidade social, permitindo o pleno exercício de
direitos e a formação de uma sociedade justa e equilibrada.
Caro(a) Estudante! Chegamos ao fim desta unidade, onde abordamos temas
relevantes sobre a cidadania, os quais interferem significativamente na prática
profissional do agente de segurança pública.
No início da unidade foram realizados questionamentos sobre a concei-
tualização do termo cidadania, visto que esta possui conceito amplo e conceito
restrito. O primeiro refere-se à possibilidade de usufruto de direitos e garantias
individuais, enquanto o segundo se limita à possibilidade de exercício de direitos
políticos, participando ativamente das decisões políticas do Estado.
Convém delimitar que ao longo da unidade foi estudado a conceitualização
de Cidadania, suas concepções, de forma a compreender a consolidação de di-
reitos e a formação do Estado Democrático de Direito no Brasil, cujo objetivo é
o bem-estar social. Após essas explanações sobre a conceitualização de cidadania
foram apresentadas informações e dados históricos sobre a formação dos direitos
humanos e do Estado Democrático de Direito.
Além dos aspectos históricos e materialização da cidadania, foi considerado
e analisados os fatores educacionais voltados para a concretização da criticidade
do indivíduo e os atos de tolerância ao pluralismo social em todas as suas ma-
nifestações, que são imprescindíveis para a formação de uma sociedade justa e
igualitária. Compreende-se, desse modo, que conhecer os assuntos abordados
nesta unidade permite que você se torne um indivíduo crítico e conhecer de seus
direitos e de seus deveres, atuando ativamente nas decisões e deliberações sociais.

161
UNIDADE 5

Ademais, além de possibilitar sua atuação ativa e dinâmica na sociedade, na


defesa de seus direitos e garantias, a ciência e conhecimentos sobre os aspec-
tos gerais da cidadania permitirá que atue profissionalmente de forma íntegra,
ética e correta, visto que saberá seus direitos e deveres, os direitos e deveres de
outrem e, principalmente, os limites destes, de forma a compreender que todos
os indivíduos da sociedade são sujeitos de direitos e obrigações, que devem ser
respeitados plenamente.
Embora pareça temas distantes da prática do profissional de segurança pú-
blica, estes são de extrema relevância, uma vez que através destes conhecimen-
tos será possível a compreensão do ordenamento jurídico pátrio e dos preceitos
estabelecidos constitucionalmente que influenciam no agir do agente público.
Compreender a formação do Estado, aspectos gerais sobre a cidadania,
sobre o pluralismo e os atos de tolerância, bem como sobre os preceitos e prin-
cípios essenciais da ordem constitucional impedem a atuação ilegal, abusiva,
ilegítima e infundada do profissional de segurança pública, norteando-o à prá-
tica de atos legítimos, proporcionais erazoáveis, tornando-se um agente público
garantidor de direitos.

162
1. “Uma cidadania plena, que combine liberdade, participação e igualdade para todos, é
um ideal desenvolvido no Ocidente e talvez inatingível […] foi ela que permitiu às pes-
soas tomarem conhecimento de seus direitos e se organizarem para lutar por eles”
(CARVALHO. 2002, p. 11). Assim, com o estabelecimento de direitos e de uma cultura
de pertencimento a um Estado, eclode pensamentos revolucionários que objetivam
a efetivação destes na realidade social, consumando as primeiras manifestações por
conquista de direitos. O primeiro movimento histórico foi:

a) Revolução Grega
b) Revolução Inglesa
c) Revolução Francesa
d) Revolução do Proletariado
e) Revolução Industrial

2. Com base no texto normativo da Constituição da República, todo ser humano pos-
sui liberdade de locomoção, de pensamento, de escolhas, de opiniões, de escolher
onde trabalhar, o que estudar, como viver, qual religião deseja seguir e se deseja
seguir uma. O rol de liberdades e direitos estabelecidos na Constituição Federal é
extenso e não taxativo, podendo surgir novos direitos e garantias essenciais para
uma vida digna. O pluralismo deve ser visto como a heterogeneidade presente em
toda sociedade, englobando a multiplicidade de fatores sociais que interferem na
vida da coletividade e na construção de um Estado Democrático de Direito. Diante
do exposto, analise as seguintes afirmativas:

I - Diante do pluralismo, o Estado atribui ao dever de desenvolver ações capazes


de reconhecer as diferenças individuais.
II - Com a ideologia política o Estado deve desenvolver ações para respeitar e pro-
teger as diferenças e as minorias.
III - O pluralismo é uma ilusão, visto que todos são iguais perante a lei.
Diante do exposto, assinale a alternativa que apresenta apenas afirmativas corretas:

a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e II, apenas
e) I, II e III, apenas.

163
3. A cidadania, desta forma, é basilar ao Estado Democrático de Direito, sendo seu ali-
cerce e fundamento. Ocorre que embora seja essencial à formação de uma sociedade
justa, a conceitualização de cidadania é complexa, podendo ela ser conceitualizada de
forma ampla e de forma restritiva. Assim, diferencie, em forma de texto dissertativo
de até cinco linhas, ambos conceitos.

4. A visão moderna da cidadania delimita que ela é composta por direitos civis, direitos
sociais e direitos políticos. Assim, apresente, em forma de texto dissertativo de quatro
a oito linhas, o conceito de cada um dos termos.

164
UNIDADE 1

BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência do-
méstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal,
da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres
e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera
o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providên-
cias. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm.
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em Genebra, a 12 de agosto de 1949, destinadas a proteger as vítimas da guerra. Disponível
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PEREIRA, G. de L. Direitos humanos e migrações forçadas: introdução ao direito migratório e


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RAMOS, A. C. de. Curso de direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2014.

SAITO, T. Direitos humanos. Curitiba: Contentus, 2020.

VIANA, A. C. A. Direitos humanos – Aspectos históricos, conceituais e conjunturais. Curitiba:


Contentus, 2020.

UNIDADE 2

BRASIL. Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991. Promulga a Convenção Contra a Tortura e


Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes. Disponível em: http://www.
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168
UNIDADE 1

1. Fundamento: Dignidade da pessoa humana.

Direito humanitário: Protege o ser humano que se encontra em situações de guerra


ou conflitos armados.

Direito dos refugiados: Protege as pessoas que migram do próprio país, forçadamente,
em virtude de um fundado temor de perseguição, em razão de cinco motivos: raça,
nacionalidade, religião, pertencimento a um grupo social ou opinião política.

Direito do homem: Aqueles inatos ao homem, que não dependem de previsão na


ordem jurídica positiva.

Características: Historicidade, essencialidade, irrenunciabilidade, inalienabilidade,


imprescritibilidade e vedação ao retrocesso.

2ª Dimensão: Igualdade (econômicos, sociais e culturais).

3ª Dimensão: Desenvolvimento, meio ambiente, comunicação, patrimônio comum.

UNIDADE 2

1. Alternativa correta: b).

I. A fase de assinatura não vincula o Estado brasileiro. Essa vinculação, somente,


acontece na fase de ratificação.

II. Correta.

III. Correta.

IV. De acordo com o STF, é obrigatória a fase de promulgação para o Tratado se


tornar obrigatório no plano interno.

2. Alternativa correta: a).

169
I. Correta.

II. As condições justas ao trabalho são direitos previstos no Pacto Econômico Sobre
os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Ademais, a proibição à escravidão é
um direito previsto no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.

III. Os direitos à assistência à família e à igualdade entre homens e mulheres são


previstos no Pacto Econômico Sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

IV. Os direitos à moradia, saúde, vestimenta e vida cultural são direitos previstos no
Pacto Econômico Sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, e os à vida,
liberdade, igualdade e segurança marcam presença no Pacto Internacional Sobre
Direitos Civis e Políticos.

3. Alternativa correta: c).

a. A Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção-Quadro para a Pro-


teção das Minorias pertencem ao sistema universal dos direitos humanos.

b. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional dos Direitos


Civil e Político e o Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais
pertencem ao sistema universal dos direitos humanos.

c. Correta.

d. A Declaração Universal dos Direitos Humanos pertence ao sistema universal dos


direitos humanos.

e. A Declaração Universal dos Direitos Humanos pertence ao sistema universal dos


direitos humanos.

UNIDADE 3

1. Alternativa correta: c).

A concepção de igualdade, que visa o tratamento diferenciado dos indivíduos, com a


finalidade de alcançar a igualdade efetiva, é a igualdade material.

170
2. Alternativa correta: e).

As três leis apresentadas visam tratar de forma desigual os grupos desiguais, historica-
mente desfavorecidos, com intuito de equipará-los aos demais indivíduos, permitindo
o exercício de direitos.

3. Alternativa correta: a).

São direitos sociais, delimitados expressamente, de forma não exaurida, o Direito


ao trabalho, à moradia, ao transporte, ao lazer, à segurança, à previdência social, à
proteção à maternidade, à infância e o direito dos desamparados à assistência.

4. Resposta Esperada: O Habeas Corpus é uma ação constitucional que objetiva a pro-
teção do direito de locomoção, a fim de evitar lesões ou ameaça de lesões à liber-
dade de ir, vir e permanecer. A condição básica para a impetração deste remédio
constitucional é a existência de violência ou coação moral que ameace o direito de
locomoção (MARTINS, 2021).

5. Resposta Esperada: Os direitos individuais estão direcionados para a concretização


da autonomia e das prerrogativas do indivíduo, garantindo o exercício e efetivação
de garantias e princípios constitucionais, assim como a independência deste frente
aos outros membros da sociedade. Enquanto que os direitos coletivos abrangem não
apenas um indivíduo, mas uma coletividade determinada, extrapolando os limites da
individualidade de uma pessoa.

UNIDADE 4

1. A divisão dos poderes no Brasil acontece pela distribuição entre os poderes legislativo,
judiciário e executivo.

O Poder Legislativo tem como função típica legislar e fiscalizar é encontrado no âm-
bito federal, estadual e municipal. No âmbito federal, ele é exercido pelo Congresso
Nacional, este por sua vez é composto por duas casas: Senado Federal e Câmara dos
Deputados. No âmbito estadual o Poder Legislativo é representado pela Assembleia
Legislativa no âmbito municipal é exercido pela câmara dos vereadores. O Poder
Executivo, por sua vez, possui função típica de administrar e, no âmbito federal, é
comandado no Brasil pelo Presidente da República com auxílio dos ministros de
estado, no âmbito estadual, por simetria, é exercido pelos governadores com auxílio
dos secretários estaduais e no âmbito municipal é exercido pelos prefeitos auxiliados
pelos secretários municipais. O Poder Judiciário é o poder que possui a função típica

171
de dirimir os litígios que lhe são apresentados pela aplicação da lei ao caso concreto.
O Supremo Tribunal Federal (STF) é a cúpula do poder judiciário e suas justiças são
divididas em comuns e especialistas. A comum é composta pela Justiça Federal e
Estadual, e as especializadas são a Justiça Eleitoral, do Trabalho e a Militar.

2. O direito à vida, assim como os demais direitos fundamentais, não é absoluto, ou


seja, comporta exceções. Algumas exceções são trazidas pela própria Constituição
Federal e outras foram criadas por entendimentos jurisprudenciais. Como exemplo
trazido pela Constituição federal temos no art. 5º, inciso XLVII, o qual está disposto
que não haverá pena de morte, salvo em caso de guerra declarada, bem como no art.
128 do Código Penal Brasileiro, quando o mesmo dispõe que, não se pune o aborto
praticado por médico quando seja necessário para salvar a vida da gestante, bem
como quando a gravidez seja resultante de estupro e haja o seu consentimento ou,
no caso de incapaz, do seu representante legal. Já como exemplo das exceções criadas
por entendimentos jurisprudenciais, temos o entendimento de que as pesquisas em
células tronco, nos termos da lei, não violam o direito à vida, bem como a autorização
da interrupção da gravidez quando o feto anencéfalo.

3. Alternativa correta: b)

Assertiva I - correta

Assertiva II - correta

Assertiva III - errada - presidencialista é um sistema de governo; monarquia é uma


forma de governo; federado é uma forma de estado.

Assertiva IV - errada - república é uma forma de governo; monarquia é uma forma de


governo; parlamentarismo é um sistema de governo.

UNIDADE 5

1. Alternativa Correta: b).

a. Incorreta. Movimento histórico ligado à independência da Grécia.

b. Correta. A primeira manifestação revolucionária ocorreu na Inglaterra com a ela-


boração da Magna Carta e ocorreu no século XVII.

172
c. Incorreta. Movimento de grandes proporções na luta por direitos, porém ocorreu
após a Revolução Inglesa e pautada nela.

d. Incorreta. Promulgada pelo Marxismo em que o proletariado tenta ocupar a po-


sição de classe dominante.

e. Incorreta. Movimento destinado à passagem da manufatura à indústria mecânica.

2. Alternativa Correta: d).

I - Afirmativa correta.

II - Afirmativa correta.

III - Afirmativa errada, pois o pluralismo reconhece a diversidade e objetiva a igual-


dade material, reconhecendo que as diferenças podem afetar o exercício de direitos.

3. O conceito mais restritivo delimita que a cidadania é apenas o direito de ser cidadão,
ou seja, o direito político destinado apenas à participação das deliberações políticas do
Estado. Diferentemente, o conceito amplo expande o termo cidadania para o exercício
de Direitos Humanos e aplicabilidade de preceitos fundamentais na realidade social,
não se limitando a direitos políticos.

4. Os Direitos civis são direcionados para o exercício das liberdades individuais. Os di-
reitos políticos se referem à possibilidade de os indivíduos participarem ativamente
das decisões e deliberações políticas da sociedade. Os direitos sociais objetivam a
efetivação mínima de direitos para uma vida digna.

173

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