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N812g
Nonato, Raimundo
Inclui bibliografia
CDD 658.1552
SUMÁRIO
ABERTURA DA DISCIPLINA 5
Mensagem do professor 5
Introdução 6
Objetivos 7
Resumo 33
Resumo 51
MÓDULO 3: CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES 52
Resumo 81
Unidade 1: Considerações iniciais sobre o uso dos custos para a tomada de decisão 85
Resumo 109
REFERÊNCIAS 110
MENSAGEM DO PROFESSOR
Caro(a) aluno(a),
Vamos abordar todos esses aspectos da gestão de custos nesta disciplina, que está divida
em duas grandes partes. A primeira trata dos principais conceitos de custos e das metodolo-
gias de custeios fundamentais para a sua gestão. A segunda enfatiza o processo de tomada
de decisão, em que as informações sobre o comportamento dos custos são cruciais para o
resultado da companhia.
Espero que esta disciplina o ajude a entender melhor os aspectos da gestão adequada dos
custos e o auxilie a tomar decisões que gerem o melhor resultado para a empresa. Lembre-
-se de aproveitar ao máximo as informações oferecidas no material didático da disciplina
e as interações que terá com seu professor online. Discuta com seus colegas os conceitos
tratados em cada módulo e tente conectá-los à sua realidade. Seu engajamento é essencial
para o sucesso nesta jornada.
Bons estudos!
O tema gestão de custos envolve dois aspectos fundamentais: a gestão dos processos, que
tem como objetivo otimizar o uso dos recursos para a elaboração de um bem ou a prestação
de serviços, e o uso das informações de custos como ferramentas de apoio nos processos
de tomada de decisão. Em ambos os casos, é necessário que haja confiança na qualidade e
na relevância das informações. Do contrário, nem os gastos serão corretamente controla-
dos nem as decisões serão adequadamente tomadas.
As informações de custos como ferramenta de apoio à tomada de decisão têm sido úteis na
produção de bens no contexto de capacidade produtiva e em pedidos especiais com preços
diferenciados. Entretanto, é necessário tomar cuidado com os dados que serão usados. Isso
porque a efetividade da informação depende do contexto em que a decisão está sendo to-
mada. Dados irrelevantes tornam as informações confusas e quase sempre colaboram para
uma decisão equivocada.
OBJETIVOS
FUNDAMENTOS
CONCEITUAIS DA
GESTÃO DE CUSTOS
INTRODUÇÃO DO MÓDULO
No que se refere ao controle, sua missão mais importante é fornecer dados para o esta-
belecimento de padrões, orçamento e outras formas de previsão. Já em relação à tomada
de decisão, cabe o papel fundamental de oferecer informações sobre valores relevantes
referentes às consequências de curto e longo prazo de diversas medidas, como corte de
produtos, fixação de preços de venda, opção de compra ou fabricação etc. Em resumo, a
contabilidade de custos passou de mera auxiliar na avaliação de estoques e lucros para uma
importante ferramenta de controle e decisão gerenciais.
Hoje, a competição acirrada exige das empresas a busca por inovações tecnológicas que
elevem o nível de qualidade de seus produtos. Além disso, investe-se cada vez mais na me-
lhoria de processos e eliminação de desperdícios, pois as organizações querem fornecer aos
clientes a qualidade desejada a baixos custos. Esse cenário desencadeou mudanças nos pa-
radigmas de gestão do processo produtivo, uma vez que alguns aspectos antes considera-
dos de pouca importância passaram a ser fundamentais para as empresas, como o desenho
dos produtos e processos, a satisfação do cliente, a qualidade, a confiabilidade e os preços.
ESTRUTURA DO MÓDULO
UNIDADE 1
OBJETIVOS E FINALIDADES DO SISTEMA DE CUSTOS
Os sistemas de custos são parte do sistema contábil gerencial, que tem como finalidade a
avaliação e o controle do desempenho de diversas atividades da empresa. O sistema de
custos, por sua vez, tem como objetivo medir e atribuir custos para objetos de custo. Um
objeto de custo é qualquer item para o qual os custos são medidos e atribuídos, como pro-
dutos, clientes, departamentos, processos, atividades e assim por diante. Por exemplo, ao
determinarmos quanto custa produzir uma geladeira, o objeto de custo é a geladeira. Se
quisermos identificar o custo para operar um departamento de montagem dentro de uma
fábrica, então o objeto de custo é o departamento de montagem. Se precisarmos definir o
custo para desenvolver um novo equipamento, então o objeto de custo é o projeto para o
desenvolvimento do novo equipamento.
A contabilidade gerencial tem como principal objetivo fornecer informações para a toma-
da de decisões internas. Está, principalmente, preocupada com as informações para uso dos
administradores para planejamento, controle, avaliação de desempenho.
VOCÊ SABIA?
CONTABILIDADE
CONTABILIDADE GERENCIAL
FINANCEIRA
Externa: acionistas,
Interna: funcionários,
CLIENTELA credores, autoridades
administradores, executivos.
tributárias.
Regulamentada:
Desregulamentada: sistemas
dirigida por regras e
de informações determinados
princípios fundamentais
RESTRIÇÕES pela administração para
da contabilidade
satisfazer necessidades
e por autoridades
estratégicas e operacionais.
governamentais.
Objetiva, auditável,
NATUREZA DA Mais subjetiva e sujeita a juízo de
confiável, consistente,
INFORMAÇÃO valor, válida, relevante, acurada.
precisa.
Contabilidade de custo
Por definição, a contabilidade de custo é uma técnica utilizada para identificar, mensurar e
informar os custos dos produtos e serviços. É importante ressaltar que, embora a definição
pareça estar mais condizente com as atividades de fabricação, sua base conceitual pode
ser aplicada com razoável facilidade aos diversos ramos de atividade, bastando, para isso,
determinar a razão do custeio.
É comum distinguir as quatro principais finalidades dos dados relacionados aos custos:
Avaliação de estoque
Determinação de preços
Uma das funções da contabilidade gerencial é prover informações para o controle dos cus-
tos. A avaliação de desempenho é feita para averiguar se a empresa opera com eficiência e
se está relacionada ao consumo eficiente de recursos. Uma divisão produtiva precisa men-
surar e controlar adequadamente seus custos se quiser ser considerada eficiente em uma
avaliação de desempenho.
Tomada de decisão
Os custos têm papel importante quando a empresa precisa, por exemplo, determinar um
preço especial para uma venda, terceirizar parte de seu processo de produção e expandir ou
contratar produção e novos produtos ou eliminar os antigos. A informação necessária para
tais decisões está, em boa parte, nos custos dos produtos.
15 GESTÃO DE CUSTOS
UNIDADE 2
CONCEITOS BÁSICOS DE GESTÃO DE CUSTOS
Custo
Antes de discutir o processo de atribuição de custo, é preciso definir o que ele significa.
Custo é o valor em dinheiro, ou o equivalente em dinheiro, sacrificado na produção de bens
e serviços dos quais se espera um benefício atual ou futuro para a organização. Em uma
empresa, benefícios futuros normalmente significam receitas.
Despesa
Os custos usados na produção de receitas são denominados expirados, que são as despe-
sas. Periodicamente, as despesas são deduzidas das receitas na demonstração de resul-
tados para determinar o resultado do período, que pode ser lucro (receita maior que as
despesas) ou prejuízo (despesas maiores que as receitas).
16 GESTÃO DE CUSTOS
Perda
Uma perda é um custo que expira sem produzir qualquer benefício de receita. Por exemplo,
o custo de estoque de uma mercadoria deteriorada por uma enchente seria classificado
como uma perda na demonstração de resultados.
Ativos
Muitos custos não expiram em determinado período. Esses custos são classificados como
ativos e aparecem no balanço da empresa, representando uma expectativa de benefício
futuro. Computadores e prédios da fábrica são exemplos de ativos que duram mais do que
um período. Observe que a principal diferença entre um custo classificado como uma des-
pesa e um custo classificado como um ativo é o tempo. Essa distinção é importante e será
usada neste curso no desenvolvimento de outros conceitos sobre custos.
Conceitos básicos
O conceito de gasto
Gasto é o sacrifício financeiro com o qual a entidade arca para a obtenção de um pro-
duto ou serviço qualquer. Esse sacrifício é representado por entrega ou promessa de
entrega de ativos (normalmente dinheiro).
O conceito de investimento
Todos os sacrifícios empregados na aquisição de bens ou serviços (gastos) que são “estoca-
dos” nos ativos da empresa para baixa ou amortização, quando de sua venda, de seu con-
sumo, de seu desaparecimento ou de sua desvalorização, são especificamente chamados
de investimentos. Eles podem ser de diversas naturezas e de períodos de ativação variados:
a matéria-prima é um gasto contabilizado temporariamente como investimento (ativo) cir-
culante; a máquina é um gasto que se transforma em um investimento (ativo) permanente.
O conceito de custo
O custo é também um gasto, só que reconhecido como custo no momento da utilização dos
fatores de produção (bens e serviços) para a fabricação de um produto ou elaboração de
um serviço.
NA PRÁTICA
O conceito de despesa
A comissão do vendedor, por exemplo, é um gasto que se torna imediatamente uma des-
pesa. As despesas são itens que reduzem o patrimônio líquido e que têm a característica de
representar sacrifícios no processo de obtenção de receitas.
Todavia, é importante ressalvar que, embora teoricamente seja fácil a separação entre cus-
tos e despesas, na prática, existe uma série de problemas que impede separar de forma
clara e objetiva. Por exemplo, é comum encontrarmos uma única administração, sem sepa-
ração daquela que realmente pertence à fábrica. Surge, então, a prática de ratear o gasto
geral da administração, uma parte para a despesa e outra para o custo. O rateio é sempre
arbitrário, já que não há possibilidade de uma divisão científica.
O conceito de desembolso
O conceito de perda
A perda não deve ser confundida com a despesa, muito menos com o custo. Sua caracterís-
tica principal é a anormalidade, a não voluntariedade. Ou seja, não é um sacrifício feito com
a intenção de obter receita.
Exemplos comuns: perdas com incêndio, obsolescência de estoques etc. São itens que vão
diretamente para a conta de resultado, assim como as despesas, mas não representam sa-
crifícios normais ou derivados de forma voluntária das atividades destinadas à obtenção de
receita.
Preço, qualidade e desperdício também são importantes conceitos da gestão de custos. Va-
mos conferir a seguir a definição de cada um.
20 GESTÃO DE CUSTOS
O conceito de preço
Em um mercado de livre concorrência, o consumidor define o preço que está disposto a pa-
gar por um bem ou serviço. As empresas definirão seus preços de venda em virtude do tipo
do consumidor que desejam atingir e da parcela de mercado que desejam ocupar.
O conceito de qualidade
O conceito de desperdício
É algo que não adiciona valor ao produto sob a ótica do consumidor. São gastos que podem
ser eliminados sem prejuízo da qualidade e quantidade da produção de bens, serviços ou
receitas. Algumas formas de desperdícios são: contar e estocar materiais, ou seja, qualquer
forma de inspeção; perdas durante o processo; atividades de reprocessamento etc.
Quando falamos de desperdício, vale ressaltar que é o principal tema na busca da redução
de custos. Ele se manifesta na perda de materiais, no excesso de tempo de fabricação e em
atividades que não agregam valor, as quais devem ser identificadas e eliminadas.
VOCÊ SABIA?
Uma das técnicas para solucionar o problema de desperdício e reduzir custos é o just
in time (JIT). O objetivo do JIT é eliminar ou reduzir os estoques da empresa e de seus
clientes e fornecedores. Para que ele funcione, deve haver perfeita sintonia entre a
necessidade da indústria, em termos de materiais, e a capacidade de fornecimento e
de entrega na hora marcada. Um exemplo de sucesso da prática de JIT pode ser visto
entre as montadoras de veículos e a indústria de autopeças.
21 GESTÃO DE CUSTOS
UNIDADE 3
CLASSIFICAÇÕES E TERMINOLOGIAS DOS CUSTOS
Os custos podem ser classificados de várias formas. Todavia, essa classificação dependerá
do uso que será dado à informação. O método irá variar de acordo com o contexto geral em
que será tomada a decisão. Nesta unidade, veremos os custos classificados como diretos e
indiretos, incluindo os conceitos de rateio e rastreio; fixos e variáveis; desembolsáveis e não
desembolsáveis; custo de oportunidade; marginal e incremental.
A classificação de um item como custo direto ou indireto é feita tendo como ponto de refe-
rência o produto que está sendo elaborado. Desse modo, temos:
Custos diretos
Conhecidos como custos mensurados, podem ser diretamente apropriados aos produtos,
bastando, para isso, existir uma medida de consumo (quilos, horas de mão de obra, quan-
tidade de peças etc.). Desse modo, os custos variam proporcionalmente à quantidade pro-
duzida.
Custos indiretos
São os que, para serem incorporados aos produtos, necessitam da utilização de rateio ou es-
timativas. Exemplos: aluguel, custos de manutenção, depreciação, salários de supervisores
etc. Esses custos são chamados de custos estimados.
Dois conceitos estão altamente relacionados à classificação dos custos em diretos e indire-
tos: rateio e rastreio.
Esse parâmetro quase nunca é escolhido tendo como base uma relação de causalidade. Se
o parâmetro for o número de horas de mão de obra, por exemplo, deveria haver aumento
dos custos indiretos toda vez que as horas aumentassem.
22 GESTÃO DE CUSTOS
Quando isso não acontece, é porque as horas não são um parâmetro apropriado, uma vez
que não há relação de causalidade entre o número de horas e o comportamento dos cus-
tos indiretos. Além disso, dada a dificuldade de fixação de critérios de rateio, tais alocações
carregam consigo certo grau de arbitrariedade na escolha da base. Isso implica dizer que o
custo final de um produto ou serviço será influenciado pela escolha da base de rateio, e não
pelo efetivo consumo.
No caso do rastreio, como o próprio nome indica, deve haver uma percepção de que de-
terminado custo pertence efetivamente a um produto ou serviço. Isso significa que é ne-
cessário ter certeza de que certo produto consumiu determinado custo no seu processo
de produção. Nesse caso, há uma relação causal entre a quantidade produzida e o recurso
consumido.
Quanto mais custos forem rastreados para o objeto, maior a precisão da atribuição deles. O
estabelecimento da rastreabilidade é um elemento-chave na construção de atribuições de
custos. No entanto, um ponto precisa ser enfatizado: é preciso ter clareza sobre o objeto de
custo.
Sistemas de gestão de custos tipicamente lidam com muitos objetos de custo. Assim, é pos-
sível, para um item de custo em particular, ser classificado como direto ou indireto. Tudo
depende de qual objeto de custo é o ponto de referência.
NA PRÁTICA
Se a fábrica for o objeto de custo, então o custo para aquecer e resfriar a fábrica é
direto; no entanto, se os objetos de custo são produtos produzidos na fábrica, então
esse custo é indireto em relação aos produtos.
23 GESTÃO DE CUSTOS
Métodos de rastreamento
Rastreabilidade significa que os custos podem ser fácil e detalhadamente atribuídos por
meio de um relacionamento causal. O rastreio dos custos para objetos de custo pode ocor-
rer de duas maneiras: rastreamento direto e rastreamento por direcionadores.
NA PRÁTICA
Vamos supor que o departamento de energia seja o objeto de custo. O salário do su-
pervisor do departamento de energia e o combustível usado para produzir a energia
são exemplos de custos que podem ser especificamente identificados (pela observa-
ção física) com o objeto de custo (o departamento de energia). Como um segundo
exemplo, vamos considerar os materiais e a mão de obra usados para fazer um produ-
to. Ambos são fisicamente observáveis e, portanto, os custos dos materiais e da mão
de obra podem ser diretamente aplicáveis
Essa relação é expressa por meio de direcionadores de custos de primeiro estágio, também
conhecidos como direcionadores de custos e recursos. Isso significa o consumo efetivo de
recursos por uma atividade para que esta possa desempenhar sua função.
24 GESTÃO DE CUSTOS
NA PRÁTICA
A separação entre custos diretos e indiretos, além de sua natureza, leva em conta a
relevância e o grau de dificuldade de medição. Por exemplo, o gasto de energia elétrica
é, por sua natureza, um custo direto. Porém, quase sempre é considerado um custo
indireto de fabricação devido às dificuldades de medição do consumo por produto e
ao fato de que o valor obtido por meio de rateio, em geral, pouco difere daquele que
seria obtido com uma medição rigorosa.
Custos fixos
São aqueles cujo total não varia proporcionalmente ao volume produzido, como aluguel,
seguro de fábrica etc. Um aspecto importante a ressaltar é que os custos são fixos dentro
de determinada faixa de produção. Por exemplo, o aumento da capacidade instalada com
a compra de uma nova máquina gera crescimento dos custos fixos de depreciação. Além
disso, em geral, não são sempre fixos, podendo variar por causa de grandes oscilações no
volume de produção ou mesmo em decorrência de algum fator que não seja a quantidade
produzida. O aluguel, por exemplo, pode mudar em virtude de um índice de reajuste de
preços, e não devido ao aumento do volume de produção.
Custos variáveis
Podemos apresentar uma relação entre o comportamento dos custos fixos e variáveis, con-
forme apresentado no quadro a seguir:
Normalmente, todos os custos variam. Para efeito dessa classificação, toma-se por base o
volume de produção ou o nível de atividade. Assim, se um custo varia independentemente
do volume de produção, ele não será automaticamente classificado como custo variável. O
aluguel, por exemplo, é um custo que aumenta a cada período por conta de um índice pre-
viamente acordado em contrato, e isso não faz dele um custo variável.
Há custos que se comportam como fixos e variáveis quase simultaneamente. Esses são cha-
mados de semifixos ou semivariáveis. Um exemplo é a energia elétrica. Quando se trata da
energia consumida para fins de iluminação do prédio, é definida como custo fixo. Já a ener-
gia utilizada pelas máquinas é considerada custo variável.
Todo custo direto é também variável, mas os custos indiretos tanto podem ser fixos
quanto variáveis. A classificação entre direto ou indireto é importante quando o foco
está na precisão dos custos. A correta classificação entre custos fixos e variáveis forne-
ce importantes subsídios para a tomada de decisão.
Outras classificações
As classificações a seguir não são usuais para efeito de registro, mas são muito comuns para
a tomada de decisões.
Custo de oportunidade
O custo marginal é o custo adicional pela produção de mais uma unidade. O custo incremen-
tal é o custo adicional pela produção de mais um lote de unidades. Ambos os conceitos são
extremamente importantes, pois baseiam muitas decisões. Os contadores frequentemente
se utilizam de um método simplificado e supõem que o custo incremental é igual à variação
dos custos vezes o número de unidades adicionais, mais uma parte dos custos fixos que
incorrerem na produção das unidades adicionais. Esse procedimento ignora variações na
eficiência e nos custos de oportunidade associados aos recursos dos custos fixos, mas, por
outro lado, pode ser considerado uma aproximação aceitável da realidade.
INFORMAÇÃO EXTRA
UNIDADE 4
CUSTEIO DE PRODUTOS E SERVIÇOS
■■ Intangibilidade – significa que os compradores dos serviços não conseguem ver, sen-
tir, ouvir ou saborear um serviço antes deste ser comprado. Segundo a metodologia
clássica, os serviços são considerados produtos intangíveis.
■■ Perecibilidade – significa que os serviços não podem ser armazenados (existem pou-
cos casos, muito raros, em que produtos tangíveis não possam ser estocados).
Gerentes de organizações que produzem produtos ou serviços precisam saber quanto cus-
tam os produtos individuais, já que essa informação impactará na análise da rentabilidade
e em decisões estratégicas referentes ao projeto do produto, à precificação e à combinação
de produtos. Assim, quando discutimos os custos dos produtos, estamos nos referindo tan-
to aos produtos tangíveis quanto aos intangíveis.
A determinação do custo
Dentro da abordagem tradicional do custeio, podemos afirmar que a determinação do custo
de um produto ou serviço qualquer implica em reunir sistematicamente gastos como os de
materiais, mão de obra e custos indiretos de fabricação. Ocorre, todavia, que nem todos os
gastos poderão ser computados como custo dos produtos, uma vez que nem todos foram
consumidos no processo de produção. Além disso, é necessário que estabeleçamos etapas
no processo de custeio, de maneira a sistematizar o procedimento, conforme veremos na
figura 1.2, a seguir.
Conforme a figura anterior, os custos diretos são transferidos automaticamente aos produ-
tos conforme são consumidos e utilizados durante a produção. Já os custos indiretos são
apropriados aos produtos por meio de um procedimento denominado rateio, isto é, são dis-
tribuídos conforme estimativas de custos. Uma vez prontos, os produtos são estocados já na
condição de produtos acabados, prontos para serem vendidos. Quando a venda acontece,
um valor da parcela de produtos negociados é transferido para a conta custos dos produtos
vendidos (CPV). O resultado contábil é apurado confrontando as receitas das vendas com as
despesas somadas aos custos dos produtos vendidos.
NA PRÁTICA
Nem todos esses itens vão compor os custos dos produtos, já que alguns deles não
foram consumidos durante o processo de produção. Dessa forma, o primeiro passo
é separar custos e despesas. O critério que determinará essa separação é justamente
o modo como esses itens foram consumidos. Os que foram consumidos durante o
processo de produção serão considerados custos. Aqueles que foram consumidos em
outras atividades, que não de produção, serão tratados como despesas. Com base
nesse critério, teremos:
Custos
Despesas
Vamos considerar que essa empresa fabrique dois produtos, chamados de Alfa e Beta.
O passo seguinte é apropriar os custos diretos de produção aos dois produtos. Vamos
supor que, nessa organização, além da matéria-prima consumida, 80% da mão de obra,
no valor de $7.360,00, também seja custo direto. O problema agora é definir quanto da
31 GESTÃO DE CUSTOS
Produto MPC
$ 8.400,00
$ 7.360,00
Agora, vamos analisar a maneira de apropriar os custos indiretos. Por sua impossibi-
lidade de apropriação direta, via unidade de medida, a alocação será feita por rateio.
Os custos indiretos são:
Vamos imaginar que, no lugar das horas de mão de obra direta, a empresa adote o cri-
tério do consumo de materiais como base de rateio dos custos indiretos de fabricação
(CIF) dos produtos. Desse modo, temos:
$ 17.540,00
Para o cálculo do custo unitário, bastaria que fossem divididos os custos totais pelas
quantidades produzidas de cada produto. Assumindo que foram fabricadas 6.000 uni-
dades de Alfa e 8.000 de Beta, teríamos:
RESUMO
Em seguida, vimos os conceitos básicos que são essenciais para a compreensão dos siste-
mas de custeios e as classificações dos custos dando ênfase aos custos mensuráveis e aos
estimados, sem esquecer o comportamento dos custos em relação ao volume de produção.
Ainda abordamos outras terminologias usadas para facilitar o entendimento do processo de
custeamento de um produto ou serviço.
Tal método não assegura um valor único de custos de produtos ou serviços, uma vez que não
há somente um parâmetro de rateio dos custos indiretos, mas sim inúmeras possibilidades,
fazendo com que o custo dependa da base de rateio escolhida.
ESTRUTURA DO MÓDULO
UNIDADE 1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O SISTEMA DE CUSTEIO
DEPARTAMENTALIZADO
Vamos supor que uma empresa fabrique os produtos A e B em quantidades iguais e, não
obstante a isso, o consumo de horas de mão de obra para a produção total seja de 20 ho-
ras para o primeiro e 40 horas para o segundo. Se os custos indiretos totalizarem $9.000
e o critério de distribuição desses custos for a mão de obra direta, o produto A receberá a
metade dos custos indiretos em relação a B. Todavia, se o critério de rateio for com base
nas quantidades fabricadas, cada produto receberá o mesmo valor de custos indiretos que
o outro. Desse modo, podemos afirmar que a mudança de um critério de rateio influencia
o resultado de custos e, com isso, muitos produtos, vistos como de baixo custo, podem ter
esse status alterado se for mudada a base de rateio.
Em uma indústria de confecção, por exemplo, em que todo o processo de fabricação fosse
feito pelos departamentos de Corte, Costura e Acabamento, cada departamento responde-
ria por uma etapa na linha de montagem das roupas e, no interior deles, várias atividades
estariam sendo desenvolvidas.
38 GESTÃO DE CUSTOS
Segundo Silva e Lins (2014), departamento é a unidade da empresa com função de produção
ou apoio ao processo produtivo. Cada departamento pode corresponder a um centro de cus-
tos, embora possa haver, segundo a conveniência do controle, mais de um centro de custos
em um único departamento. Essa definição está relacionada ao fato de que sempre há um
responsável para cada departamento. Essa divisão permite que o responsável seja avaliado
pelo seu desempenho. O conceito que liga a atribuição de cada departamento à responsabi-
lidade de uma pessoa dá origem a uma das funções da contabilidade de custos: o controle.
Aqueles que vivem basicamente para execução de serviços e apoio ao sistema de produção
são conhecidos como departamentos de serviço ou apoio.
Conforme vimos na figura anterior, o sistema de produção está dividido em seis departa-
mentos. Três deles são de apoio: manutenção, almoxarifado e administração da fábrica. Os
outros três são de produção: corte, costura e montagem.
Como mencionamos, o processo produtivo fica todo a cargo dos departamentos de produ-
ção, cabendo aos departamentos de serviços as atividades de apoio para todo o sistema,
incluindo a administração geral da fábrica.
Por exemplo, a fabricação das roupas ficaria a cargo dos departamentos de produção. O de-
partamento de corte faria a modelagem de todas as peças e enviaria para o departamento
de costura, que daria a forma adequada das peças que seriam finalizadas no departamento
de acabamento. Os departamentos de serviços, por sua vez, cuidariam para que todo o
sistema produtivo trabalhasse sem interrupção e em conformidade com o esperado. Nesse
sentido, o almoxarifado cuidaria da conservação e armazenamento dos materiais usados
pelos departamentos produtivos. A manutenção se encarregaria de que as máquinas es-
tivessem em condições de operação e a administração seria a responsável pela gestão da
fábrica.
UNIDADE 2
DINÂMICA DO CUSTEIO POR DEPARTAMENTOS
Note que isso é uma maneira de identificar, e não arbitrariamente alojar. Os custos indiretos
são primeiramente atribuídos aos departamentos onde eles são incorridos para que seja
possível estabelecer a responsabilidade pelos custos. Se a responsabilidade pela ocorrência
dos custos for claramente definida, eles poderão ser mais facilmente controlados.
Vale ressaltar que o processo de identificação e acumulação dos custos deve ser transparen-
te e que os responsáveis pelos departamentos ou centros de custos devem estar de acordo
com os critérios de distribuição. Caso contrário, o controle e a avaliação de desempenho
estarão prejudicados.
40 GESTÃO DE CUSTOS
Com relação ao custeio dos produtos, é importante frisar que, depois que os custos indire-
tos estiverem totalmente identificados pelos departamentos, o próximo passo é transferi-
-los aos produtos. Todavia, será necessário, primeiramente, transferir os custos apropriados
dos departamentos de serviços aos departamentos de produção, uma vez que os produtos
são elaborados nesses departamentos. Essa estratégia possibilita estabelecer um critério
mais racional na transferência dos custos departamentais aos produtos, já que não seria
possível transferir os custos dos departamentos de serviços aos produtos, pelo simples fato
de que os produtos não passam por esses departamentos.
Dinâmica do custeamento
Com a distribuição dos custos indiretos aos produtos, podemos estabelecer um esquema de
custeamento por meio de departamentos, conforme mostra a figura 2.2.
Conforme vimos nessa figura, primeiramente, os custos indiretos são identificados pelos
departamentos de produção ou de serviços. Em seguida, os custos alocados nos departa-
mentos de serviços são transferidos aos departamentos de produção. Apenas depois disso,
esses custos irão para os produtos.
A lógica desse “vai e vem” se deve ao fato de não haver qualquer parâmetro defensável
de transferência aos produtos desses custos alocados nos departamentos de serviços. Isso
acontece em razão de não haver qualquer relação entre os produtos e os departamentos de
serviços. Além disso, esses departamentos existem para apoiar os departamentos de pro-
dução e os demais departamentos de serviços. Por isso, consomem custos. Assim, o correto
é a transferência de seus custos aos departamentos que consumiram seus serviços como se
tivessem pagando pelos serviços que receberam.
41 GESTÃO DE CUSTOS
5. Atribuição dos custos indiretos dos departamentos de produção aos produtos, segun-
do os critérios fixados.
É importante ressaltar que nem todos os custos indiretos podem ser identificados sem qual-
quer dúvida aos departamentos. Há, todavia, os chamados custos comuns, que carecem de
um tratamento especial. Por exemplo, em muitas fábricas não há separações por metragens
dos departamentos. Devido a isso, normalmente, quando há aluguel do espaço comparti-
lhado por diversos departamentos, esse custo é alocado inicialmente em um departamen-
to, em geral no de administração da fábrica, juntamente com seus outros custos. Só mais
adiante, quando os custos dos departamentos estiverem sendo transferidos aos demais
departamentos, o custo do aluguel será distribuído entre eles.
VOCÊ SABIA?
UNIDADE 3
TAXAS DE DISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS INDIRETOS
Os custos indiretos são, primeiramente, acumulados para a fábrica, que é o primeiro está-
gio da distribuição de custos. Isso acontece porque os custos indiretos estão relacionados
à estrutura de produção, não aos produtos. Assim, uma vez que todos os custos indiretos
pertencem à fábrica, a atribuição para ela é feita com completa precisão.
Nesse primeiro estágio, o objeto de custo é a fábrica e pode-se usar o rastreamento direto
para atribuir os custos a ela. Depois que os custos estiverem acumulados na fábrica, cal-
cula-se uma taxa única baseada, por exemplo, nas horas de mão de obra direta para, em
seguida, transferir esses custos aos produtos. Presume-se, nesse caso, que os produtos
consomem recursos dos custos indiretos em razão proporcional às horas de mão de obra
direta consumidas. Assim, no segundo estágio, os custos indiretos são atribuídos aos pro-
dutos, multiplicando-se a taxa pelo total de horas de mão de obra direta consumida para
cada produto.
É oportuno dizer que o uso da taxa única para a fábrica nem sempre se traduz em uma cor-
reta distribuição de custos indiretos, uma vez que o estabelecimento dessa taxa pressupõe
que apenas um direcionador ou parâmetro é capaz de estabelecer uma relação causal entre
os custos indiretos e os objetos de custos. Por isso, tem sido comum o uso de múltiplos
direcionadores, ao mesmo tempo, de forma ponderada, como as horas de mão de obra, as
quantidades de materiais consumidos e as quantidades fabricadas, a fim de amenizar dis-
torções comumente causadas pelo uso de um único critério.
Em suma, usar apenas um parâmetro pode produzir alguma distorção na distribuição, pois
pode ser que ele favoreça um dos produtos. Nesse sentido, se o parâmetro for a hora da
mão de obra por produto e o produto A tiver consumido 19 horas e B, 50 horas, o primeiro
receberá uma parte menor. Todavia, se o parâmetro for o consumo de materiais e A tiver
consumido 20 quilos e B, 9 quilos, B receberá uma parte menor dos custos indiretos. Por
isso, usa-se mais de um parâmetro com o objetivo de ponderar a distribuição.
Os métodos para atribuir os custos indiretos aos departamentos de produção são: o méto-
do direto, no qual os custos dos departamentos de serviços são direcionados aos departa-
mentos produtivos, e o método recíproco ou reflexivo, no qual os departamentos de servi-
ços, após transferirem seus custos, acabam, na sequência, recebendo um novo montante de
outros departamentos, forçando novas rodadas de distribuições de custos.
Embora seja feito um esforço para distribuir esses custos usando fatores causais (rastrea-
mento), alguns são atribuídos utilizando vínculos (relação) presumidos (alocação). Quando
os custos são atribuídos a departamentos de produção, os direcionadores baseados em
unidade, tais como horas de mão de obra direta (para os departamentos em que a mão de
obra é intensiva) e horas-máquina (para os departamentos em que o uso da máquina é in-
tensivo), são usados para computar as taxas departamentais.
Além da dependência de bases de rateio para apropriação dos custos indiretos aos produ-
tos, outro problema vale ainda ser citado: o fato de nem sempre esses custos serem conhe-
cidos durante o processo de produção, dificultando, assim, o custeio dos produtos.
Em muitos casos, como aluguel ou manutenção, o valor total dos custos é conhecido ape-
nas quando os produtos já estão finalizados. Além disso, outro problema decorrente da
aplicação dos custos indiretos é verificado quando se deseja calcular o custo unitário dos
produtos. Sabe-se que as quantidades fabricadas de produtos em cada período variam por
causa da demanda ou das condições operacionais. Assim, mesmo quando os custos fixos
são conhecidos no período de produção, o valor unitário do custo variará para o mesmo
produto, pois esses custos são divididos pelo número de unidades fabricadas.
Para resolver o problema do cálculo do custo do produto, bem como evitar variações do
valor unitário decorrente da demanda, a contabilidade de custo se vale de estimativas por
período, tanto de demanda quanto de custos, a fim de estabelecer uma taxa de aplicação de
custos indiretos cujo objetivo é normalizar a parcela de custos indiretos para cada produto
fabricado, conforme veremos no exemplo a seguir.
44 GESTÃO DE CUSTOS
NA PRÁTICA
Ocorre, entretanto, que os custos indiretos efetivamente ocorridos podem não ser
coincidentes ao montante estimado. Se os custos indiretos reais forem de, por exem-
plo, $ 12.500,00, haveria uma variação de $ 500 entre o que se aplicou, baseado em
uma estimativa, e o valor efetivamente gasto.
Para melhor compreender o problema, vamos supor que, dos $ 12.000,00 inicialmente
previstos, $ 8.000,00 eram referentes aos custos indiretos fixos, como aluguel, manu-
tenção, depreciação, entre outros. O valor restante de $ 4.000,00 se referia à parcela
variável dos custos indiretos, como energia elétrica, materiais diversos da produção
etc. Sabemos que essa parcela do custo indireto varia na proporção do volume de pro-
dução e que, portanto, não é o fator preponderante nas variações de custo, conforme
veremos a seguir:
45 GESTÃO DE CUSTOS
Dados do problema:
Custos indiretos variáveis estimados para 1.000 unidades por mês: $ 4.000,00 ou $
4,00 por unidade prevista.
Cada unidade fabricada durante o período receberá uma parcela de custos indiretos
por meio de uma taxa denominada taxa de aplicação de CIF, em que CIF representa os
custos indiretos de fabricação. A taxa é calculada da seguinte maneira:
Como foram fabricadas 1.200 unidades e a taxa de aplicação de CIF foi estimada em $
12,00 por unidade, o montante aplicado de CIF teria sido de $ 14.400,00, bem superior
aos $ 12.000 inicialmente previstos.
Agora, vamos considerar que a empresa soubesse desde o início que faria 1.200 uni-
dades. Nesse caso, a taxa seria:
O valor dos custos indiretos seria de $ 12.800,00, isto é, 1.200 unidades a uma taxa
de $ 10,67. Nesse sentido, a diferença entre $ 14.400,00 e $ 12.800,00, no valor de $
1.600,00, seria atribuída a erro de previsão de volume, também conhecida como va-
riação de volume. Essa variação seria qualificada como favorável, uma vez que o CIF
46 GESTÃO DE CUSTOS
aplicado como base em uma previsão acertada havia ficado abaixo do valor aplicado
a uma taxa estimada.
Supondo, agora, que o CIF realmente incorrido, conforme dados contábeis efetivos,
fosse de $ 13.000,00, a variação entre os $ 12.800,00 e os $ 13.000,00, no valor de $
200,00, seria atribuída à variação de preços, também chamada de variação de custos,
já que o volume correto havia sido alcançado. A variação de $ 200,00 seria qualificada
como uma variação desfavorável, pois o valor de CIF efetivo havia ficado acima do va-
lor aplicado se fossem previstas as quantidades ocorridas.
Por fim, a soma algébrica calculada entre a variação de volume e a variação de custos,
no total de $ 1.400,00 ($ 1.600 - $ 200), é denominada de variação total e também pode
ser calculada confrontando o valor do CIF aplicado ao volume previsto com o CIF real.
As taxas únicas ou departamentais têm sido usadas por décadas e continuam a gerar bons
resultados para muitas empresas. Em alguns processos produtivos, entretanto, elas não
funcionam bem e podem causar distorções graves no custo do produto.
Para causar uma distorção significativa, os custos indiretos devem ser uma porcentagem
significativa dos custos totais de fabricação. Para alguns fabricantes, os custos indiretos são
uma pequena porcentagem (por exemplo, 5% ou menos) e o sistema no qual esses custos
são atribuídos não representa um problema relevante.
Nesse caso, é apropriado usar uma abordagem bem simples e sem complicações, tal como
a taxa única para a fábrica toda. Nas situações em que os custos indiretos constituem uma
porcentagem significativa dos totais dos custos de produção, há pelo menos dois fatores
principais que podem prejudicar a aplicabilidade das taxas únicas ou departamentais em
atribuir custo indireto: (1) uma parcela significativa dos custos indiretos totais não tem qual-
quer relação com os produtos e (2) existe um número elevado de unidades produzidas ou
linhas de produtos, impossibilitando o uso de taxas de custos indiretos razoáveis e com
alguma vinculação ao produto.
O fato é que, embora seja conveniente a simplicidade da aplicação de taxas de custos indi-
retos, de modo a sugerir uma relação de causalidade, nem sempre é apropriado e aplicável
o método da taxa única, conforme explicamos no parágrafo anterior.
47 GESTÃO DE CUSTOS
UNIDADE 4
EXEMPLO NUMÉRICO DE CUSTEIO POR DEPARTAMENTO
Almoxarifado $ 2.200,00
Corte $ 3.200,00
Costura $ 2.800,00
Montagem $ 3.900,00
Vamos imaginar que a empresa adote o método direto e que a sequência de distribuição
comece pelo departamento de administração, seguido pelo de manutenção e reparos e, por
fim, o almoxarifado. Resta agora definir os critérios.
48 GESTÃO DE CUSTOS
Será considerado que a administração rateia seus custos para todos os departamentos com
base no número de funcionários em cada um deles e que as proporções sejam de 25% para
a manutenção, 15% para o almoxarifado, 10% para o corte, 20% para a costura e 30% para
a montagem. A distribuição ficará assim:
Custos
$ 3.200 $ 2.800 $ 3.900 $ 2.200 $ 2.800 $ 2.640
indiretos
Rateio
$ 264 $ 528 $ 792 $ 396 $ 660 $ (2.640)
Administração
Em relação à manutenção, será considerado que esse departamento irá transferir seus cus-
tos para todos os departamentos de produção, mais o almoxarifado, tomando por base as
horas de serviços de manutenção prestados. Com base nesse critério, o departamento de
manutenção transferirá 5% para o almoxarifado, 20% para o corte, 40% para a costura e
35% para a montagem. A distribuição acumulada ficará assim:
Custos
$ 3.200 $ 2.800 $ 3.900 $ 2.200 $ 2.800 $ 2.640
indiretos
Rateio
$ 264 $ 528 $ 792 $ 396 $ 660 $ (2.640)
Administração
Rateio
$ 692 $ 1.384 $ 1.211 $ 173 $ (3.460) 0
Manutenção
O almoxarifado, por sua vez, irá transferir seus custos apenas para os departamentos de
produção, tomando por base as requisições de materiais emitidas por esses departamen-
tos. Sabe-se que tanto a manutenção quanto a administração também emitiram requisições
de materiais. Todavia, pelo método de rateio direto adotado, esses departamentos não de-
verão receber mais custos, sendo essa uma limitação desse método. Nesse sentido, apenas
os departamentos produtivos receberão os custos acumulados no almoxarifado, nas se-
guintes bases: 40% para o corte; 35% para a costura e 25% para a montagem. A distribuição
acumulada ficará assim:
Rateio
$ 264 $ 528 $ 792 $ 396 $ 660 $ (2.640)
Administração
Rateio
$ 692 $ 1.384 $ 2.211 $ 173 $ (3.460) $0
Manutenção
Rateio
$ 1.108 $ 969 $ 692 $ (2.769)
Almoxarifado
Por fim, dado que o montante dos $ 17.540,00 de custos indiretos estão agora totalmente
acumulados nos departamentos de produção, o passo seguinte é transferir esses recursos
para os produtos com base nos critérios previamente definidos.
50 GESTÃO DE CUSTOS
Vamos supor que o departamento de corte irá transferir seus custos com base no montante
dos custos de materiais consumidos em cada peça, conforme mencionado no módulo ante-
rior. A costura, por sua vez, transferirá seus custos com base no montante do custo de mão
de obra. Por fim, a montagem usará as quantidades produzidas para fazer sua distribuição.
Veja, a seguir, a tabela com os dados de rateio:
A distribuição dos custos, tendo em vista os critérios dos departamentos, ficaria assim:
Custos indire-
Corte Costura Montagem
tos totais
A tabela a seguir mostra os dados finais dos custos dos produtos pelo sistema departamen-
talizado:
Mão de Custo
Matéria- Quanti- Custo
Produtos obra indireto Custo total
-prima dades unitário
direta total
RESUMO
No que se refere às etapas de custeio, vale frisar que a distribuição dos custos indiretos nos
departamentos é feita, preferencialmente, por meio de rastreamento, ou seja, os custos
alocados nos departamentos foram, de fato, consumidos por estes que, por sua vez, são
classificados em produtivos ou de serviços, conhecidos também como “de apoio”.
Os custos inicialmente alocados nos departamentos de serviços são distribuídos via rateio
para os departamentos de produção e, só depois disso, quando todos os custos estiverem
alocados nesses departamentos, o montante será transferido, também por meio de rateio,
para os produtos. Nesse sentido, as taxas de aplicação dos custos indiretos deverão ser
calculadas tendo como base um parâmetro que conduza a uma adequada distribuição dos
custos departamentais aos produtos.
Todavia, vale ressaltar que, em que pese a departamentalização ser uma metodologia me-
lhor acabada se comparada ao método básico de custeio, o fato é que o método baseado
em departamentos é caracterizado por ser intensivo em rateio, principalmente no que tange
à distribuição dos custos dos departamentos de serviços para os departamentos de produ-
ção, influenciando fortemente o custo unitário de produtos e serviços.
MÓDULO 3
CUSTEIO BASEADO
EM ATIVIDADES
INTRODUÇÃO DO MÓDULO
ESTRUTURA DO MÓDULO
UNIDADE 1
FUNDAMENTOS DA GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS
Outro fator marcante nessa mudança de paradigma é a associação da gestão de custos aos
objetivos estratégicos da empresa. Nesse sentido, a gestão de custos deixa de ser uma ação
isolada de controle de gastos fabris para ser parte de uma ação maior que visa alcançar a
estratégia da organização também pelo controle dos custos, ou seja, o alcance da estratégia
passa pela gestão dos custos.
Nesse contexto, a determinação dos custos e a definição destes como fatores estratégicos
levaram à necessidade de aprimorar os sistemas de custeio vigentes, com ênfase na deter-
minação do custo dentro desse ambiente de competitividade, voltado com maior ênfase
ao processo de produção, e não mais exclusivamente aos produtos ou serviços. Assim, o
controle e a análise do custo evoluíram para novos sistemas de gerenciamentos, tais como
o custeio por atividade (ABC) e a gestão por atividade (ABM), que possibilitam o melhor uso
de informações sobre custos para a tomada de decisões.
A gestão estratégica de custos é definida como o uso de dados de custos para desenvolver
e identificar estratégias que produzirão uma vantagem competitiva sustentável. Uma van-
tagem competitiva sustentável é a criação de um valor para o cliente por um custo igual ou
mais baixo do que o oferecido pelos competidores. Já valor para o cliente é a diferença entre
o que ele recebe (satisfação) e o que paga (sacrifício financeiro do consumidor).
56 GESTÃO DE CUSTOS
Segundo Shank e Govindarajan (1995), a gestão estratégica de custos é uma análise de cus-
tos vista sob um contexto mais amplo, em que os elementos estratégicos se tornam mais
conscientes, explícitos e formais. Por meio dessa abordagem, os dados de custos são usa-
dos para as principais estratégias da empresa, visando obter uma vantagem competitiva.
Normalmente, a análise de custos é vista apenas sob a ótica do impacto financeiro decor-
rente das decisões gerenciais, não em correlações com outras áreas da empresa. Já a gestão
estratégica de custos é vista a partir de um contexto mais amplo, em que os recursos consu-
midos, as atividades e todas as estruturas têm sua importância, ou seja, estão associadas a
uma estratégia ou a um objetivo que a organização pretende alcançar.
■■ valor presente;
Em síntese, na gestão estratégica, os dados de custos são usados para desenvolver estra-
tégias superiores, a fim de se obter vantagem competitiva sustentável. Nesse contexto, os
sistemas de custos com foco exclusivo na produção podem continuar contribuindo para
fornecimento de informações para avaliação de estoques, decisões operacionais de curto
prazo etc. Contudo, uma compreensão sofisticada da estrutura de custos de uma empresa
pode representar avanços em termos de vantagem competitiva sustentável. Esse processo
é denominado gestão estratégica de custos.
UNIDADE 2
BASES DA GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS
■■ posicionamento estratégico;
■■ cadeia de valor;
■■ direcionadores de custos.
58 GESTÃO DE CUSTOS
Por meio da estratégia da utilização de um baixo custo em relação aos concorrentes, evi-
dentemente, é possível ampliar a participação no mercado, desde que a qualidade não seja
prejudicada. A liderança em custos pode ser obtida por meio das seguintes abordagens:
Abordagem de diferenciação
A abordagem da diferenciação visa fazer com que os clientes possam perceber, valorizar
e estar sempre dispostos a adquirir o produto, principalmente devido ao fator diferencial
intrínseco ao bem. Abordagens desse tipo implicam em fidelidade à marca, por exemplo, a
Apple em computadores, a Samsung em televisores e a Coca-Cola em refrigerantes.
Custo x diferenciação
Para uma empresa que adote uma estratégia de liderança de custos, como GOL e Azul Li-
nhas Aéreas, no ramo da aviação civil brasileira, a atenção especial aos custos-alvo prova-
velmente será uma importante ferramenta gerencial. Mas, para uma organização que adote
uma estratégia de diferenciação de produto, os custos de fabricação podem ser muito me-
nos importantes quando comparados aos demais custos, como os de serviços, marketing ou
distribuição.
Moderado
Importância da observação dos orçamentos Alto a muito alto
a baixo
Geralmente não
Crítico para
Importância da análise dos custos de marketing é feito em uma
o sucesso
base formal
Estratégia de focalização
Uma terceira estratégia é denominada de focalização (ou enfoque). Uma estratégia de foca-
lização envolve selecionar um conjunto de clientes ou segmento de mercado para competir.
Uma possibilidade é selecionar os mercados e os clientes que pareçam mais atraentes e, em
seguida, desenvolver as capacidades para atender a esses segmentos-alvo. Produtos rela-
cionados ao mercado de alto luxo, como os derivados das marcas Rolex, Mont Blanc e Louis
Vuitton, são exemplos dessa abordagem estratégica.
Vale ressaltar, ainda, que muitas empresas não escolherão apenas uma estratégia geral,
mas uma combinação das três. O posicionamento estratégico é o processo de seleção da
combinação ótima das três abordagens estratégicas gerais. A combinação é selecionada
com o objetivo de criar uma vantagem competitiva sustentável.
60 GESTÃO DE CUSTOS
Na estrutura da gestão estratégica de custos, gerenciar custos com eficácia exige um enfo-
que amplo, inclusive externo à empresa. Porter (1995) chamou esse enfoque de cadeia de
valor. A cadeia de valor de qualquer organização, em qualquer setor, é o conjunto de ativi-
dades criadoras de valor que compreendem desde as fontes de matérias-primas básicas,
passando por fornecedores de componentes, até o produto final entregue nas mãos do
consumidor. A figura 3.1, a seguir, apresenta um exemplo simplificado de cadeia de valor do
seguimento de exploração de petróleo.
Exploração
Produção Refino Distribuição
de petróleo
De acordo com a figura 3.1, a cadeia de valor está representada por meio do conjunto de
elos das atividades de criação de valor, que iniciam na extração da matéria-prima e se encer-
ram na distribuição do produto acabado. Com base nessa figura, é possível ter uma empre-
sa operando em toda a cadeia de valor, como faz a Petrobras. Também é possível ter uma
organização que opere apenas no refino e na distribuição ou apenas na distribuição, como
é o caso da BR Distribuidora, controlada pela Petrobras.
De todo modo, para conseguir vantagem competitiva em toda a cadeia de valor, a empresa
precisa atuar com maior eficiência do que os competidores em cada elo da cadeia. Do con-
trário, será melhor que ela se junte a outra organização que se mostre mais competitiva que
ela, por meio de terceirização ou qualquer outro tipo de parceria.
Direcionadores de custos
Direcionadores são os fatores a partir dos quais os custos das atividades são determinados
e conhecidos. No âmbito da gestão estratégica de custos, cada elo da cadeia de valor con-
templa inúmeras atividades que, quando bem exploradas, podem representar fatores de
sustentação da vantagem competitiva da empresa. As atividades estão classificadas como
atividades organizacionais e operacionais. As primeiras estão relacionadas à estrutura orga-
nizacional e à capacidade instalada. Já as atividades operacionais se referem às atividades
produtivas.
61 GESTÃO DE CUSTOS
4. Tecnologia – as tecnologias de processo que são usadas em cada fase da cadeia de valor.
Atividades operacionais são atividades realizadas no dia a dia, como resultado da estrutura
e dos processos da organização. Direcionadores de custos operacionais (direcionadores de
atividade) são os fatores que direcionam o custo das atividades operacionais. Eles incluem
fatores como número de peças, de movimentos, de produtos etc. Ressaltamos que as ativi-
dades e os direcionadores operacionais são focos do custeio ABC. Vamos ver alguns exem-
plos de atividades operacionais e seus direcionadores no quadro a seguir.
Atividades Direcionadores
Atividade organizacional
(selecionar e usar tecnologias de processo)
Atividade Operacional
(movimentar materiais)
UNIDADE 3
DINÂMICA DO CUSTEIO ABC
[...] é uma abordagem que analisa o comportamento dos custos por ati-
vidades, estabelecendo relações entre as atividades e o consumo de re-
cursos, independentemente de fronteiras departamentais, permitindo a
identificação dos fatores que levam a instituição a incorrer em custos nos
seus processos de oferta de produtos e serviços e de atendimento a mer-
cados e clientes.
Com enfoque sobre processos, e não sobre produtos, a proposta do custeio ABC é transferir
custos indiretos aos produtos sem a necessidade de rateio, mas sim por meio de rastrea-
mento. Em última análise, significa apropriar os custos indiretos diretamente aos produtos,
com base na identificação entre o objeto que se deseja custear e as atividades (e seus recur-
sos) necessárias para sua elaboração.
Na verdade, o número de unidades produzidas pode não ter absolutamente nada a ver com
a mensuração da demanda do produto para o manuseio de material. Por exemplo, um lote
de 10 unidades de um produto pode necessitar de tanta atividade de manuseio de material
quanto um lote de 100 unidades de outro produto. Por isso, pode-se dizer que um sistema
de custos baseado em atividade tende a ser intensivo no rastreamento, como mostra a se-
guir a figura 3.3.
Recursos
Atividades
Objetos
de Custos
O custeio do produto em um sistema por atividade tende a ser flexível. O sistema de gestão
de custos baseado em atividades é capaz de produzir informações de custos para uma va-
riedade de objetivos gerenciais, incluindo o objetivo de relatórios financeiros.
Definições mais abrangentes de custeio do produto são enfatizadas para se ter melhor pla-
nejamento, controle e segurança na tomada de decisão. Assim, a máxima de “custos diferen-
tes para propósitos diferentes” assume um significado real no custeio ABC.
67 GESTÃO DE CUSTOS
Por suas limitações, a análise de custos não pode se restringir à análise dos custos por de-
partamentos, principalmente porque esse método de custos é marcado pelo uso intensivo
de rateio, o que prejudica a qualidade da informação. Em um ambiente competitivo, a aná-
lise de custos passa pela identificação e rastreamento dos diversos processos e atividades
que os constituem. De modo geral, podemos afirmar que, em todas as empresas, são en-
contrados os seguintes tipos de processos:
Processos Atividades
Por meio do custeio ABC, a atividade se torna o centro do processo de custo. Essa metodo-
logia parte do princípio de que todos os custos incorridos em uma empresa, ou centro de
custos, acontecem na execução de atividades. Em outras palavras, são as atividades que
consomem custos, não os produtos ou qualquer objeto de custos.
Os custos são levados de uma atividade aos produtos, determinando-se a parcela da ati-
vidade dedicada a cada produto. Dessa forma, a base de apropriação do custo ABC é uma
medida da atividade desempenhada, pois é o desempenho dessas atividades que definirá
o consumo dos recursos e, portanto, dos custos. Assim, todo o processo e suas atividades
68 GESTÃO DE CUSTOS
devem estar sob cuidadosa observação e análise. Entre as atividades, contam-se o tempo
de preparação das máquinas para o início de cada produção, a frequência da colocação dos
pedidos, a colocação de pedidos, a quantidade de peças e o tempo de processo.
Todos os custos indiretos, os chamados overheads, são apropriados primeiramente aos prin-
cipais processos de produção (ou centros de atividades, no custeio ABC) e só depois aos
produtos, como mostra a seguir a figura 3.4.
Recursos:
(materiais, mão de obra
e demais custos)
Estágio 1:
Direcionadores de recursos
Processo Processo
de fabricação de acabamento
Estágio 2:
Direcionadores de Atividades
É importante ressaltar que os custos das atividades não ocorrem sempre na proporção da
quantidade de unidades produzidas, porque o consumo de recursos é diferente quando os
produtos são diferentes. No estágio 2 do processo ABC de apropriação, os custos de cada
atividade são apropriados aos produtos com base na quantidade de operações necessárias
para cumprir cada atividade para cada produto. As bases de apropriação desse segundo
estágio podem ser o tempo de horas máquinas de preparação de produção, horas de mão
de obra direta (MOD) ou quantidade de materiais processados.
69 GESTÃO DE CUSTOS
Na identificação das atividades, os detalhes são muito importantes, pois permitirão levantar
todas as atividades componentes de um processo e demonstrarão como elas agregam valor
ao objeto de custos. Assim, o objetivo dessa etapa é construir uma espécie de dicionário das
atividades que contemple sua identidade e seus atributos.
Nessa fase, é comum verificar que muitas atividades componentes do sistema não mais
contribuem ou são passíveis de serem encerradas. Já nessa etapa, portanto, muitos custos
podem ser reduzidos com atividades que serão encerradas.
70 GESTÃO DE CUSTOS
Uma terceira etapa é o levantamento dos recursos necessários para que uma atividade seja
acionada. Kaplan e Cooper (1988) definiram atividades como o conjunto de recursos ma-
teriais, humanos, financeiros e tecnológicos necessários para que uma ação seja prestada.
O fato é que, no sistema de custeio ABC, nenhum recurso chegará ao produto, a não ser
por meio das atividades. É oportuno afirmar também que os recursos das atividades são
previamente identificados com base nos seus atributos e na capacidade demandada para a
atividade. Ou seja, quanto maior for a expectativa de produção em que aquela atividade seja
usada, maiores serão os recursos a serem considerados.
Por fim, é necessário identificar os direcionadores a partir dos quais as atividades serão
transferidas para os produtos ou serviços ou qualquer objeto de custos. Vale salientar que
a apropriação dos custos aos produtos é via rastreamento, usando, para isso, a taxa de apli-
cação de custos aos moldes do sistema tradicional.
NA PRÁTICA
Materiais diretos $ 40 $ 25
Sucata/emissão ordens
Sucata/reprocessamento $ 379.000
de reprocessamento
Modelo Modelo
Medida esperada das atividades Total
Completo Básico
* Foi emitida uma ordem de reprocessamento para cada unidade defeituosa, visando aproveitá-la.
Taxa da
Atividades Direcionadores CIF
atividade
Sucata/emissão de ordens
Reprocessamento $ 379.000 $ 189,50
de reprocessamento
A distribuição dos custos das atividades aos produtos será feita multiplicando a taxa da
atividade pelo número de eventos dos direcionadores de cada produto. Assim, temos:
Comparando-se os custos unitários calculados pelo modelo tradicional aos valores ob-
tidos pelo custeio ABC, temos uma diferença bastante significativa. Pelo modelo tradi-
cional, o modelo Completo está saindo por $ 90,00, e pelo custeio ABC, por $ 133,80.
O preço do modelo Completo, $ 117,00, está abaixo do custo de produção, que é de $
133,80. Assim, de acordo com esses valores, para cada unidade do modelo Completo
vendido por $ 117,00, a empresa perde $ 16,80. Isso pode explicar parte do declínio do
resultado da companhia.
74 GESTÃO DE CUSTOS
Método do custeio
Método do custeio tradicional
baseado em atividades
VOCÊ SABIA?
UNIDADE 4
GESTÃO BASEADA EM ATIVIDADES
A opção pela implementação do custeio ABC vai além da exatidão ou da melhor apuração
dos custos de produtos e serviços. Empresas que adotaram o custeio ABC estavam interes-
sadas também na gestão dos custos baseada em atividade, conhecida como ABM, do inglês
activity-based management.
A gestão baseada em atividade tem como objetivo melhorar o valor percebido pelo cliente
e o resultado geral da empresa a partir de um exame minucioso de todos os processos da
companhia, sejam eles de produção ou administrativos. Inclui análise de direcionadores,
análise de atividades e avaliação de desempenho por meio do custeio ABC, que é a base de
suas avaliações.
A figura 3.5, demonstrada adiante, foi extraída de Hansen e Mowen (2001) e demonstra a
dimensão vertical que rastreia o custo dos recursos para atividades e, então, para os objetos
de custo. Essa é a dimensão de custo baseado em atividade, conhecida como a visão de cus-
76 GESTÃO DE CUSTOS
to. Serve como uma entrada importante para a dimensão de controle, chamada de a visão
do processo.
A visão do processo identifica fatores que causam um custo de atividade (explica por que os
custos são incorridos), avalia que trabalho é feito (identifica as atividades) e avalia, ainda, o
trabalho realizado e os resultados obtidos (quão bem a atividade é desempenhada). Assim,
um sistema de controle baseado em atividade necessita de informações detalhadas sobre
as atividades.
Visão
Recursos
de custos
Produtos e Clientes
A gestão baseada em atividade (ABM) é uma ferramenta que está se firmando com
efeitos importantes na avaliação da vantagem competitiva. Por meio da ABM, as em-
presas estão percebendo não apenas alocações incorretas de custos, mas também
contribuições abaixo do esperado para atividades bastante dispendiosas.
O gerenciamento baseado em atividade se refere a todo o conjunto de ações que pode ser
tomado com base em informações sobre custeio baseado em atividade, tendo em vista o
desempenho de todo o sistema gerencial. Com a ABM, buscamos alcançar os objetivos uti-
lizando uma quantidade menor de recursos. Ou seja, a organização pode obter os mesmos
resultados com um custo total menor (menor dispêndio de recursos) por meio da maximi-
zação do desempenho das atividades.
77 GESTÃO DE CUSTOS
Para Kaplan e Norton (1983), a ABM concretiza seus objetivos por meio de duas aplicações
complementares: ABM operacional e ABM estratégica.
Gerenciamento operacional
É possível medir os benefícios da ABM operacional pela redução de custos, pelo aumento de
receita (por meio da melhor utilização dos recursos) e pela anulação de custos (uma vez que
a maior capacidade dos recursos existentes elimina a necessidade de investimentos adicio-
nais em capital e pessoas). A ABM operacional se concentra em “como mudar e aprimorar
seus custos”, e os benefícios dessa abordagem normalmente incluem:
Gerenciamento estratégico
A ABM estratégica, baseada na premissa de desempenhar as atividades que devem ser de-
sempenhadas tenta alterar a exigência de atividades a fim de aumentar a lucratividade,
pressupondo que a eficiência da atividade permanecerá constante. Por exemplo, a orga-
nização pode estar operando em um ponto em que a receita obtida com um determinado
produto, serviço ou cliente seja inferior ao custo incorrido para gerá-la.
O modelo ABC indica, ainda, onde produtos, serviços e clientes específicos parecem alta-
mente lucrativos. Tal informação também pode ser usada pelos gerentes de marketing e
vendas para explorar a possibilidade de expansão da demanda desses produtos, a fim de
gerar receitas adicionais que excedam seus custos adicionais.
Assim, com a ABM estratégica, os gerentes aproximam seu mix de atividades de usos mais
lucrativos. Ela inclui também decisões sobre projetos e desenvolvimento do produto e rela-
cionamento com os fornecedores, que reduzem a demanda de atividades organizacionais.
Porém, antes de iniciar uma análise do ABC, os gerentes devem tentar identificar onde es-
peram obter benefícios de curto prazo. O projeto de um sistema ABC varia em virtude da
aplicação pretendida. Os sistemas estratégicos podem exigir relativamente menos ativida-
des, enquanto os sistemas ABM operacionais, muitas vezes, exigem várias centenas de ativi-
dades, com o objetivo de oferecer uma visão melhor dos processos subjacentes à produção
e ao serviço ao cliente. A ABM estratégica, portanto, opera alterando mix de atividades, de
modo a afastá-las de aplicações caras e pouco lucrativas. A ABM estratégica engloba deci-
sões sobre:
NA PRÁTICA
Modelo Modelo
Medidas esperadas das atividades Total
Completo Básico
Sucata /
$ 189.500 $ 4,74 $ 189.500 $ 37,90 $ 379.000
reprocessamento
Por essa tabela, notamos que a atividade que mais onerou os produtos, individual-
mente, foi aquela relativa ao reprocessamento. Foram gastos $ 189.500 por tipo de
produto. Vale ressaltar, entretanto, que a tabela não reflete adequadamente o impac-
to desse custo nos produtos, pois o custo dessa atividade foi distribuído por todos os
produtos, incluindo aqueles que não foram reprocessados.
Com isso, dois problemas ocorreram. Primeiro, o número por unidade fabricada, ape-
sar de alto, é bem menor do que realmente deveria ser. Isto é, se fosse dividido o valor
total da atividade por 1.000 unidades de cada produto, cada unidade reprocessada
custaria $ 189,50, não o valor apresentado. Segundo, ao distribuir o custo do reproces-
samento por todas as unidades, aquelas que não estavam defeituosas acabaram por
subsidiar as unidades defeituosas, fazendo com que estas aparentassem um valor de
custo menor.
RESUMO
Além disso, vimos que o custeio ABC possibilita o gerenciamento das atividades. Isto é, cada
atividade só justificará sua existência no processo de produção se agregar valor ao produto.
Esse procedimento é conhecido como gerenciamento ou gestão baseada em atividades (ac-
tivity-based management – ABM), que evoluiu naturalmente do custeio ABC e que pode atuar
tanto no nível operacional quanto no nível estratégico.
Nesse sentido, o gerenciamento de custos deve estar em linha com o posicionamento estra-
tégico da empresa, podendo ser, por exemplo: posicionamento de baixo custo em relação
aos concorrentes; de diferenciação, que visa fazer com que os clientes possam perceber,
valorizar e estar sempre dispostos a adquirir o produto devido ao fator diferencial intrínseco
dele; de enfoque, que envolve selecionar um conjunto de clientes ou segmento de mercado
para competir. Em todos esses posicionamentos, é exigida uma abordagem de controle de
custos que possibilite alcançar uma vantagem competitiva sustentável.
Na estrutura da gestão estratégica de custos, gerenciar custos com eficácia exige um enfo-
que amplo, denominado cadeia de valor. Ela é o conjunto de atividades criadoras de valor
que compreendem desde as fontes de matérias-primas básicas, passando por fornecedores
de componentes, até o produto final entregue nas mãos do consumidor. Obter vantagem
competitiva sustentável só é possível se a empresa atuar com maior eficiência do que os
competidores em cada elo da cadeia de valor.
MÓDULO 4
INFORMAÇÕES DE
CUSTOS PARA A
TOMADA DE DECISÃO
INTRODUÇÃO DO MÓDULO
Nos três primeiros módulos, estudamos a avaliação do custo de produtos e serviços. Até
aqui, tomamos como base o conceito do custeio por absorção ou custeio pleno. De acordo
com esse conceito, todos os custos, sejam eles fixos ou variáveis, deveriam compor o custo
do produto.
É oportuno mencionar que essa abordagem do custeio pleno, além de conservadora, pois
não leva em consideração qualquer relação de causalidade entre o produto, o objeto do cus-
teio e os custos incorridos, é fruto da influência fiscal que pautou a contabilidade de custos
durante muito tempo.
Neste módulo, daremos ênfase ao uso da informação de custos para tomada de decisão.
Em outras palavras, como os custos podem ter propósitos diferentes daquele de calcular o
custo do produto para fins de avaliação de estoque.
Além disso, abordaremos conceitos ainda não apresentados, como os de margem de contri-
buição, ponto de equilíbrio, resultado pelo custeio variável, entre outros.
OBJETIVOS DO MÓDULO
ESTRUTURA DO MÓDULO
■■ Unidade 1 – Considerações iniciais sobre o uso dos custos para a tomada de decisão
UNIDADE 1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O USO DOS CUSTOS PARA A
TOMADA DE DECISÃO
A análise do impacto no lucro provocado pela mudança de volume das vendas pode tor-
nar-se uma ferramenta útil para o administrador. A eficiência de decisões, como preço do
produto, nível de produção ou introdução de um novo produto, pode ser otimizada quando
a relação custo-volume-lucro for considerada.
Conforme vimos, por definição, um custo fixo é um gasto que não varia no total, mesmo
com mudanças no volume de produção, desde que mantida a mesma capacidade instalada.
Um custo variável é aquele que varia no total proporcionalmente ao volume, mas é constan-
te por unidade.
Isso não quer dizer que o total dos custos fixos nunca varie. A quantidade de custo fixo em
qualquer ano pode ser diferente da quantidade dos anos anteriores, mas as mudanças nes-
ses custos são atribuídas às mudanças na capacidade instalada de produção, normalmente
pela aquisição de novos equipamentos de produção ou baixa de outros.
86 GESTÃO DE CUSTOS
Efeitos
Descrição
Custo
Custo fixo
variável
(+) Aumento
(-) Redução
Assim, podemos depreender que os custos fixos são fixos dentro de determinado nível de
produção, “variando” em forma de degraus quando da ocorrência de modificações positi-
vas ou negativas, normalmente na composição dos ativos fixos (máquinas, instalações etc.),
conforme veremos a seguir:
(a)
Em que:
x = volume de produção
y = custos totais
a = custos fixos
Outro ponto importante sobre os custos fixos é a sua relação de dependência com a produ-
ção, quando consideramos apenas os custos unitários. Em outras palavras, os custos fixos
87 GESTÃO DE CUSTOS
são fixos no seu total, porém, variam em relação ao custo unitário. Por exemplo, se consi-
derarmos um custo fixo de $ 1.000, uma capacidade instalada para fabricação de 700 uni-
dades e a produção de 100 unidades, o custo fixo rateado por cada unidade será de $ 10,00
($ 1.000 / 100 un.). Se, por outro lado, a produção aumentar para 500 unidades, o custo fixo
rateado por cada unidade será de $ 2,00 ($ 1.000 / 500 un.).
Os custos variáveis, por sua vez, são teoricamente constantes por unidade de produção e,
portanto, agregadamente, deveriam variar diretamente com o volume.
y (a)
Em que:
x = volume de produção
y = gastos em custos totais
a = custos variáveis
(b)
b = custos fixos
UNIDADE 2
O CONCEITO DE MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO E SUA APLICAÇÃO
Quando os custos estiverem separados em componentes fixos e variáveis, será útil compa-
rar as receitas com os custos variáveis. Se considerarmos preços constantes, a receita total
será proporcional ao volume. Como os custos variáveis são também proporcionais ao volu-
me, a diferença entre as receitas e o somatório dos custos variáveis e das despesas variáveis
é chamada de margem de contribuição.
Mais ainda, a margem de contribuição, por si mesma, é uma cifra útil para a tomada de
decisões. Por exemplo, a empresa pode ter tido prejuízo e ainda assim decidir permanecer
operando se a margem de contribuição for suficiente. Como alguns custos fixos não podem
ser evitados, tais como depreciação e aluguel, mesmo reduzindo a produção, a companhia
pode achar melhor permanecer operando.
A margem de contribuição nos fornece uma medida dos efeitos da continuação das opera-
ções. Por outro lado, quando ela está negativa indica que as receitas são menores do que
os custos variáveis totais, e seria aconselhável que a empresa descontinue esses negócios.
Caso a organização identifique a margem de contribuição por produto, ela pode optar por
descontinuar somente este produto.
89 GESTÃO DE CUSTOS
MC = PV – (CV + DV)
Em que:
MC = margem de contribuição
PV = preço de venda
CV = custos variáveis por unidade
DV = despesas variáveis por unidade
NA PRÁTICA
Quantidade Preço
MOD
Produtos MPC(Kg) MPC $ Mod $ produzida e venda
(Hr)
vendida ($)
A 20 $ 45 5 $ 15 200 $ 250
B 10 $ 50 30 $ 30 250 $ 260
C 5 $ 40 35 $ 40 300 $ 270
A 20 58 9860 49
B 10 28 4760 19
C 5 14 2380 8
Quadro A
Total
CIF Preço de
Produtos MPC MOD dos Lucro Melhores
rateio vendas
custos
B $ 50 $ 30 $ 19 $ 99 $ 260 $ 161 2o
C $ 40 $ 40 $8 $ 88 $ 270 $ 182 1o
A 5 7 $ 1.190 $6
B 30 43 $ 7.310 $ 29
C 35 50 $ 8.500 $ 28
Quadro B
Lucro por produto após o rateio do CIF com base na MOD consumida.
Total
CIF Preço de
Produtos MPC MOD dos Lucro Melhores
rateio vendas
custos
A $ 45 $ 15 $6 $ 66 $ 250 $ 184 1º
Quadro C
Margem de contribuição:
Total Preço de
Produtos MPC MOD MC
variável venda
A $ 45 $ 15 $ 60 $ 250 $ 190
B $ 50 $ 30 $ 80 $ 260 $ 180
C $ 40 $ 40 $ 80 $ 270 $ 190
De acordo com o exemplo do quadro C, os custos fixos rateados aos produtos distor-
ceram a verdadeira potencialidade de cada produto em cobrir custos fixos e formar
lucros. No quadro A, considerando o critério de rateio baseado na matéria-prima, o
produto com o maior lucro por unidade é o produto C. Todavia, considerando a mão
de obra direta, o melhor produto passa a ser o A. Esse fato ocorre por causa da divisão
dos custos fixos sem uma relação de causa-efeito com os produtos. Utilizando-se a
margem de contribuição como parâmetro de decisão, por conseguinte, retirando-se
os custos fixos da análise, verificamos, pelo Quadro C, que os produtos com maior
potencial de lucratividade são A e C.
92 GESTÃO DE CUSTOS
2º Por não manterem qualquer relação com as unidades produzidas, os custos fixos são
quase sempre distribuídos com base em critérios de rateio, que contêm arbitrariedade
em maior ou menor grau. Quase sempre as arbitrariedades são grandes.
3º O valor do custo fixo por unidade depende ainda do volume de produção: aumentan-
do-se o volume, tem-se um menor custo fixo por unidade e vice-versa. Se a empresa
for decidir com base em custos, é necessário associar sempre ao custo global o volume
que foi tomado como base. Se a empresa estiver reduzindo um item da linha de pro-
dução (dentro de certos limites) por ser pouco lucrativo, pior ainda ficará sua posição,
pois os custos fixos se manterão inalterados.
NA PRÁTICA
Analisemos o seguinte exemplo, a Cia. Escrita Perfeita Ltda. produz dois tipos de lapi-
seiras, que se diferenciam somente pela espessura do grafite utilizado. A lapiseira com
grafite 0,5 mm, que chamaremos de Produto A e a lapiseira com grafite de 0,7 mm, que
chamaremos de Produto B.
Então, qual o melhor produto: A ou B? Com certeza, o melhor produto é o A, que apre-
senta uma MC unitária maior que B. Porém, na atual composição de venda, o produto
B, em razão do seu maior volume, apresenta melhor desempenho.
94 GESTÃO DE CUSTOS
Produto A
CPV › ($ 65.000)
MC total › $ 5.000
Produto B
CPV › ($ 65.000)
MC total › $ 2.500
95 GESTÃO DE CUSTOS
Em que:
CPP: custo da produção do período
CPV: custo da produção vendida
Efpa: estoque final da produção vendida
MC: margem de contribuição
Un: unidade
Quadro 1
Custo Custo
Custo Preço de Margem de
Produto indireto variável Melhores
direito venda contribuição
variável total
Vamos considerar ainda que, por causa de pesquisas de mercado, estão previstos os seguin-
tes volumes de venda:
Produto Volume
A 2.000 un
B 1.000 un
C 2.500 un
NA PRÁTICA
A 2.000 1h 2.000
Total 7.750
1o – Produto A:
$ 770,00 ($ 770,00 / 1)
2o – Produto C:
$ 573,33 ($ 860,00 / 1,5)
3o – Produto B:
$ 450,00 ($ 900,00 / 2)
97 GESTÃO DE CUSTOS
O volume de fabricação do produto B foi obtido por diferença, com a priorização dos
produtos que apresentavam maior margem de contribuição, considerando o fator de
restrição apresentado. Ou seja, não foi possível fabricar o total estimado pela empresa
em 2.500 unidades, dada a existência da restrição de horas-máquina, sendo produzi-
das, assim, apenas 1.667 unidades.
Logo, do que o mercado permite, devemos dar maior atenção ao produto que melhor
aproveita o fator limitativo. No nosso exemplo, o produto A.
Para melhor alocação dos custos fixos aos produtos, linha ou departamento, é sempre im-
portante buscar, quando possível, uma relação dos custos fixos com aqueles.
98 GESTÃO DE CUSTOS
NA PRÁTICA
Resultado $ 350,00
Desse modo, apenas os custos fixos classificados como comuns não devem ser consi-
derados na tomada de decisões, posto que não dependem da decisão a ser tomada.
Quanto aos custos fixos efetivamente identificados, estes são tão importantes quanto
os custos variáveis.
99 GESTÃO DE CUSTOS
UNIDADE 3
ANÁLISE DO PONTO DE EQUILÍBRIO
O ponto de equilíbrio, também denominado de ponto de ruptura (break even point), é aquele
nível de venda no qual as receitas totais igualam as despesas totais. A empresa não tem lu-
cro nem sofre prejuízo se as vendas são iguais ao volume de ponto de equilíbrio.
A margem de contribuição pode ser utilizada para determinar o ponto de equilíbrio. Como
mencionamos anteriormente, ela será igual aos custos fixos no ponto de equilíbrio. Para
simplificar a análise, vamos considerar que o volume de vendas é igual ao volume de pro-
dução. A relação entre a margem de contribuição e o ponto de equilíbrio pode ser derivada
como segue:
RT = CDT + L
Em que:
RT = receita total
CDT = custos e despesas totais
L = lucro (no ponto de equilíbrio, o lucro é igual a zero)
Logo:
Pv x q = CDFt + CDVu x q
Em que:
Pv x q = preço de venda unitário x quantidade
CDVu x q = custos e despesas variáveis por unidade x quantidade
100 GESTÃO DE CUSTOS
Assim: ou ou
Pv.q = CDF + (CDVu.q) (Pv – CDVu) Q = CDF Q= CDF
(Pv - CDVu)
Simplificando:
PE = CDF
MCu
NA PRÁTICA
PE = CDF / MCu
PE = $ 10.000 / (3,00 – 0,50)
PE =$ 10.000 = 4.000 unidades
2,5
Conferindo:
MCT $ 10.000,00
Resultado 0
101 GESTÃO DE CUSTOS
Análise gráfica
3.500
3.000
2.500
1.000
500
0
0 2.000 4.000
No gráfico anterior, as despesas variáveis são inseridas a partir das despesas fixas para se
obter uma medida de custos totais. O ponto de convergência das duas retas, custos totais
e receita total é o ponto de equilíbrio. A área verificada depois do cruzamento das retas
representa o potencial de lucro a ser obtido pela empresa após ser alcançado o ponto de
equilíbrio. Da mesma forma, a área abaixo desse ponto corresponde à área (volume de ven-
da) de prejuízo.
A informação do ponto de equilíbrio, tanto global quanto por produto, é importante porque
identifica o nível mínimo de atividade em que a empresa ou divisão deve operar.
102 GESTÃO DE CUSTOS
Margem de segurança
A margem de segurança é a quantia ou o índice das vendas obtido por meio da diferença en-
tre a quantidade atual de vendas da empresa e o volume de vendas no ponto de equilíbrio.
Portanto, é o volume de vendas que excede as vendas calculadas no ponto de equilíbrio.
A margem de segurança representa o quanto as vendas podem cair sem que a empre-
sa incorra em prejuízo, podendo ser expressa em valor, unidade ou percentual.
Em que:
Va = volume atual de vendas
MS = Va – Ve
Ve = volume no ponto de equilíbrio Va
NA PRÁTICA
Va = 5.000
Ve = 4.000
MS = (5.000 – 4000) / 5.000
MS = 1.000 / 5.000 = 0,20 => 20%
PV = $ 2,50 por unidade
O percentual de 20% indica que a empresa possui sobra de 20% sobre o ponto de
equilíbrio.
103 GESTÃO DE CUSTOS
Logo:
MS = ($ 12.500 - $ 10.000) / $ 12.500 = 0,20
Temos: $ 12.500 x 0,20 = $ 2.500.
Esse número indica que a empresa está trabalhando com uma “sobra” nesse valor, o
que nada mais é do que o excedente ao ponto de equilíbrio.
Cada unidade adicional acima do nível do ponto de equilíbrio acresce ao lucro a quan-
tia da margem de contribuição por unidade. Assim, caso seja desejável calcular o lucro
em determinado nível de vendas acima do ponto de equilíbrio, basta que se multi-
plique a margem de segurança pela margem de contribuição unitária por meio da
seguinte fórmula:
Lucro = MS x MCu
Em que:
MS = margem de segurança em unidades
MCu = margem de contribuição unitária
MS = Va – Ve › 5.000 – 4.000
MS = 1.000
Lucro = MS x MCu
Lucro = 1.000 x $ 2,50 = $ 2.500
104 GESTÃO DE CUSTOS
Alavancagem operacional
GAO = ∆% do Lucro
∆% do Volume
NA PRÁTICA
Logo:
GAO = 100 GAO = 5 vezes
20
O ponto de equilíbrio até o momento apresentado é o ponto de equilíbrio contábil, pois foi
concebido de acordo com uma equação contábil em que a receita é igual à soma de custos
e despesas, com um resultado igual a zero. Entretanto, o estudo do ponto de equilíbrio con-
templa algumas variantes que podem ser adequadas a diversas situações, dependendo do
problema que está sendo investigado. Por exemplo, é sabido que nem todos os custos fixos
são efetivamente desembolsáveis e que a depreciação é um gasto que não gera desem-
bolso. Assim sendo, qual o ponto de equilíbrio necessário para suportar apenas os gastos
desembolsáveis?
Por outro lado, se a empresa atingir o ponto de equilíbrio, o resultado obtido nesse ponto
será igual a zero. Entretanto um resultado contábil nulo significa que a organização está,
economicamente, perdendo dinheiro (pelo menos os juros do capital próprio investido, con-
forme o conceito de custo de oportunidade). Supondo que ela tenha um capital de $ 10.000,
colocando esse valor em uma caderneta de poupança no início do ano, ao final do período
renderia pelo menos $ 600. Desse modo, tem-se um lucro mínimo desejado de $ 600. Assim,
podemos concluir que o verdadeiro lucro da atividade será obtido quando contabilmente o
resultado for superior a esse retorno. Logo, haverá um ponto de equilíbrio econômico quan-
do a empresa alcançar um lucro contábil de $ 600.
NA PRÁTICA
No exemplo apresentado, a empresa trabalha com custo fixo de $ 10.000,00 por mês.
O produto é vendido a um preço de $ 3,00 e os custos variáveis de produção são de $
0,50 por unidade. O ponto de equilíbrio contábil (PEC) será, então, de:
Resultado 0
106 GESTÃO DE CUSTOS
Resultado $ 600,00
Por outro lado, considerando que dos custos fixos de $ 10.000,00 a depreciação repre-
sente 20%, ou seja, $ 2.000,00, o ponto de equilíbrio financeiro será:
Resultado ($ 2.000,00)
Com um prejuízo de $ 2.000, podemos afirmar que a empresa está abaixo do equilíbrio
contábil, uma vez que as 3.200 unidades vendidas não cobrem todos os custos. Mas,
ao mesmo tempo, é possível assegurar que ela está em equilíbrio financeiro, posto
que o prejuízo contábil de $ 2.000 se refere, justamente, à depreciação que, embora
seja uma despesa legítima relativa à parte perdida do ativo imobilizado, é um gasto
que não gera, no momento, uma saída de dinheiro do caixa da empresa.
107 GESTÃO DE CUSTOS
NA PRÁTICA
Produto A B C Total
Receita de
$ 100.000 $ 200.000 $ 300.000 $ 600.000
vendas
Produto A B C Total
Gastos
$ 40.000 $ 100.000 $ 180.000 $ 320.000
variáveis
Preço de venda:
Produto A B C
Preços $ 30 $ 40 $ 50
108 GESTÃO DE CUSTOS
Em que:
Pev = ponto de equilíbrio em vendas CFT
PEV =
1 - CVT
Cft = custos e despesas fixas
Cvt = custos e despesas variáveis RVT
Rvt = receita de vendas total
Em que:
PEq = ponto de equilíbrio em quantidade (PEV / preço de vendas)
PrV = preço de venda unitário
Essa forma de apuração do ponto de equilíbrio para mais de um produto é uma ferramenta
bastante interessante, do ponto de vista gerencial. Ao alcançar o ponto de equilíbrio em
vendas, a empresa já tem uma informação relevante. O número indica que, alcançado esse
valor em receita total, ela já alcançou o ponto de equilíbrio, porém, sem saber qual o volume
por produto.
Ressaltamos, no entanto, que esse modelo também apresenta restrições. A principal delas é
que esse cálculo sempre dependerá do mix de produtos. Ou seja, em caso de sazonalidades
de volumes de produtos, ele deverá ser ajustado para um cálculo relativo ao volume médio
de vendas, o que, se não for corretamente elaborado, poderá distorcer fortemente os resul-
tados apresentados.
109 GESTÃO DE CUSTOS
RESUMO
Podemos afirmar que decisões com base no lucro não são as mais corretas em relação aos
custos fixos apropriados aos produtos, definidos de acordo com critérios de rateio quase
sempre arbitrários.
A margem de contribuição, por sua vez, conceituada como a diferença entre a receita e a
soma dos custos e despesas variáveis, tem a faculdade de tornar mais visível a potencialida-
de de cada produto, mostrando como cada um contribui efetivamente para, primeiramente,
amortizar os gastos fixos e, depois, formar o lucro propriamente dito.
Todavia, quando existir algum fator de limitação à produção, o mais rentável será o pro-
duto que tiver maior margem de contribuição, considerando-se o fator de limitação da ca-
pacidade produtiva. Do mesmo modo, devemos tomar cuidado com a existência de custos
fixos identificados com determinado produto, linhas de produtos ou filiais, uma vez que,
no processo de tomada de decisão, estes são tão importantes quanto os custos e despesas
variáveis. Isso porque eles serão afetados conforme a decisão a ser tomada, diferentemente
daqueles custos fixos não relacionados com qualquer produto, ditos custos fixos comuns.
No tocante à análise do ponto de equilíbrio, vale salientar que os pontos de equilíbrio contá-
bil, econômico e financeiro não são coincidentes, uma vez que, para gerar um lucro mínimo
desejado pela empresa, ela precisa vender acima do ponto de equilíbrio contábil. Por outro
lado, considerando que nem todos os custos e despesas fixos são desembolsáveis, para
atingir o ponto de equilíbrio financeiro, a organização precisa vender um número de unida-
des abaixo do ponto de equilíbrio contábil.
110 GESTÃO DE CUSTOS
REFERÊNCIAS
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CLARK, J. M. Studies in the economics of overhead costs. Chicago: University of Chicago Press,
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GARRINSON, R. H.; NOREEN, E. W. Contabilidade gerencial. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001.
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SHANK, J. K.; GOVINDARAJAN, V. Gestão estratégica de custos. Rio de Janeiro: Campos, 1995.
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