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Organização de trabalhos acadêmicos

Prof. André Rocha de Oliveira

Descrição

Identificação dos instrumentos úteis ao desenvolvimento da pesquisa.


Características dos trabalhos acadêmicos mais recorrentemente
utilizados. Estruturação e componentes do artigo científico.
Características específicas dos trabalhos de conclusão: monografias,
dissertações e teses.

Propósito

Compreender os diferentes tipos de trabalhos acadêmicos, com suas


características comuns e nuances, bem como quando se espera que
cada um seja utilizado no decorrer de uma pesquisa, algo fundamental
para o desenvolvimento do pesquisador.

Objetivos
Módulo 1

Tipos de organização dos estudos

Identificar os conceitos e as funções do fichamento, do resumo e das


resenhas acadêmicas.

Módulo 2

Artigos científicos

Reconhecer os artigos científicos por meio de sua estrutura e de seus


conteúdos.

Módulo 3

Monografias, dissertações e teses

Identificar as expectativas com relação às monografias, dissertações


e teses com base em suas definições.

meeting_room
Introdução
O mundo acadêmico pode ser caracterizado pela produção de
conhecimento, mas não qualquer um: o saber elaborado neste
meio demanda metodologias, regras e critérios bem definidos.
Chamamos tal saber de conhecimento científico e podemos
apontar, pelo menos, duas aplicações para ele.

Por um lado, o conhecimento científico contribui para o


desenvolvimento da sociedade como um todo, seja na esfera
social seja nas esferas econômica, cultural etc. Assim, sua
contribuição vai desde a análise dos problemas que afetam a
sociedade até o desenvolvimento de produtos que possam
melhorar a qualidade de vida da população, como as vacinas, por
exemplo.

Por outro lado, o conhecimento científico serve de base para sua


própria renovação dentro da comunidade acadêmica, o que, por
sua vez, levará à reprodução do processo de criação de novos
conhecimentos. É para esta segunda aplicação que voltaremos
nossas atenções a partir de agora.

No entanto, de que maneira podemos atestar a confiabilidade do


conhecimento gerado a partir da execução de uma pesquisa?

De acordo com Mueller (2000), essa confiança provém da


divulgação dos resultados obtidos e de sua aprovação por outros
acadêmicos da área, ou seja, os chamados “pares”. Somente
assim, determinado estudo passa a usufruir do status de saber
confiável.

O processo pelo qual as conclusões de uma pesquisa passam


até serem consideradas aceitáveis pela comunidade acadêmica é
chamado de sistema de comunicação científica. A capacidade de
redigir trabalhos acadêmicos segundo esse sistema é uma das
competências que se espera do pesquisador.

Porém, como veremos a seguir, os trabalhos não são iguais. Não


são produzidos da mesma maneira, nem com as mesmas
finalidades, embora seja comum se inter-relacionarem.
1 - Tipos de organização dos estudos
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os conceitos e as funções do fichamento,
do resumo e das resenhas acadêmicas.

Fichamento
Múltiplo e bastante diversificado, o fichamento pode ser de várias
modalidades. É possível que esteja voltado à reunião apenas de
citações presentes em um texto ou ser redigido exclusivamente para
reunir comentários realizados pelo pesquisador, por exemplo.

Igualmente, o pesquisador é capaz de produzir fichas temáticas. Assim,


é possível juntar, em somente um documento, as posições de diversos
autores sobre determinado tema.

Contudo, voltaremos nossas atenções para o tipo mais comumente


utilizado, conhecido como fichamento de leitura.

Você sabe o que é fichamento?

Resposta
O fichamento é um instrumento de grande valia para o desenvolvimento
de uma pesquisa. Ele é ainda mais útil quando se tem por objetivo
produzir um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC): monografia,
dissertação ou tese. Afinal, a pesquisa, seja ela da área do
conhecimento que for, demanda do investigador o conhecimento sobre
a bibliografia produzida acerca do assunto estudado.

Todo trabalho acadêmico conta, em algum momento, com uma revisão


bibliográfica. É um item obrigatório por demonstrar, em linhas gerais, o
que já foi produzido sobre determinado assunto, destacando, assim, que
a pesquisa desenvolvida é necessária.

Apenas com conhecimento do que já foi produzido, dá para perceber


lacunas e realizar uma investigação com perspectiva original. Porém, a
contribuição do fichamento não termina aí. Ele também auxilia com os
referenciais teóricos e as metodologias. Enfim, praticamente tudo o que
é lido e útil para o trabalho a ser realizado pode ser fichado.

A necessidade de se elaborar fichas vem, por um lado, da quantidade de


artigos, livros, trabalhos de conclusão etc. reunidos em um
levantamento bibliográfico (material reunido pelo investigador que serve
de base para o estudo que está sendo realizado) que o estudioso se vê
compelido a ler. Nesse sentido, o fichamento acaba sendo uma
consequência que preserva o tempo do estudioso (MEDEIROS, 2006),
uma vez que não precisa ficar retornando ao texto completo a todo
momento.

Por outro lado, o fichamento surge da corriqueira demanda pela


consulta a obras guardadas em bibliotecas ou arquivos.

Eco (2007) afirma que o cenário ideal seria aquele onde teríamos todas
as obras que precisássemos ao longo do desenvolvimento de um
trabalho dentro de casa, mas esta não é a realidade. Em alguns casos –
ou mesmo em muitos, dependendo da investigação realizada –, as
obras sequer podem ser emprestadas. Em tais circunstâncias, o
fichamento funciona como uma espécie de substituto para o texto cujo
acesso não é tão fácil.

De maneira sucinta, essa ferramenta pode ser compreendida como uma


compilação dos tópicos importantes de determinado texto. Os
benefícios decorrentes de sua prática são vários.

Ao fichar um trabalho acadêmico, o pesquisador consegue reunir em um


único documento – cujo tamanho é sensivelmente menor que o original
– informações que, espera-se, serão úteis a ele ao longo de toda a
pesquisa. Além de identificar a obra fichada e sintetizar seu conteúdo,
esses dados podem englobar citações, análises, comentários ou
críticas, por exemplo (GIL, 2002; MARCONI; LAKATOS, 2017).

Assim, segundo Lima (2015), os efeitos práticos de tal iniciativa são:


evitar releituras de textos já lidos – e fichados –, bem como facilitar a
subsequente utilização das informações em um trabalho escrito. Por
essas razões, Eco (2007) considera a prática do fichamento
indispensável ao ofício da investigação acadêmica.

A construção – “como fazer” –, porém, é diversificada. Isso é assim


porque não há uma maneira única de elaborar um fichamento. O que
podemos constatar é que alguns componentes são mais mencionados
pelos autores que se ocuparam do assunto e, por isso, podem ser
tratados como itens obrigatórios.

Nesse sentido, Hühne (1995 apud LIMA, 2015) propõe um modelo


“compacto” de fichamento, composto por cinco itens básicos:

list 1

Referência bibliográfica do texto a ser fichado.

list 2

Resumo indicativo.

list 3

Citações consideradas mais importantes para a


pesquisa.
list 4

Comentários ou críticas.

list 5

Ideias ou problemas deixados em aberto no texto.

Desses cinco quesitos, os três primeiros precisam, necessariamente,


estar presentes: referência bibliográfica, resumo e citações.

A ausência de algum desses elementos acarretaria a descaracterização


do fichamento. Cabe, portanto, algumas palavras sobre tais itens.

Referência bibliográfica expand_more

A referência bibliográfica é o primeiro ponto a ser registrado no


fichamento. Ela tem uma dupla serventia: por um lado, identifica
a ficha (a que obra ela se dedica); por outro, antecipa a
necessidade futura que o pesquisador terá de produzir a
listagem com as referências utilizadas em seus trabalhos
acadêmicos. Por isso, como enfatiza Hühne (1995 apud LIMA,
2015), as referências devem ser feitas de acordo com a norma
NBR 6023 (ABNT, 2018).

Resumo expand_more

O segundo tópico obrigatório é o resumo. Apesar de Hühne


(1995 apud LIMA, 2015) apontar o tipo indicativo, Lima (2015)
defende que o quesito seja uma escolha de quem está fichando.
Como veremos no próximo item, o resumo (indicativo ou
informativo) deve apresentar concisamente:
As ideias do autor da obra;
O objeto;
A metodologia;
Os critérios;
As conclusões alcançadas.

O pesquisador decidirá como cada aspecto será tratado. Não


podemos esquecer que o fichamento é um instrumento auxiliar
da pesquisa. Portanto, é de uso eminentemente pessoal.

Citação expand_more

O terceiro elemento que não pode faltar, segundo Lima (2015), é


a citação, que deve ser produzida de acordo com a norma NBR
10520 (ABNT, 2002). Neste momento, transcrevemos para o
fichamento aqueles trechos que julgamos ser fundamentais para
a compreensão das ideias do autor apresentadas em um texto
acadêmico.

Resumo
O resumo é, provavelmente, a modalidade mais disseminada dentre
aquelas que compõem o gênero textual acadêmico. Ele se faz presente
desde o começo da trajetória do pesquisador e nunca mais o abandona.

O resumo pode ser realizado para:

Apresentação

Apresentar uma comunicação em algum congresso – as


inscrições costumam, quase em sua totalidade, cobrar um
resumo do que será apresentado.

Redação
Redigir um artigo científico – a maioria dos periódicos científicos
exige do autor um resumo sobre o texto encaminhado.

Produção

Produzir um trabalho de conclusão – em que o resumo também é


um componente obrigatório.

A presença praticamente universal do resumo, em consequência da


demanda por seu emprego, encontra explicação naquele que é seu
objetivo final: proporcionar, em poucas palavras, uma visão ampla e
suficientemente informativa sobre o conteúdo da obra resumida.

Há duas formas de se alcançar esse objetivo nos seguintes textos:

Texto de própria autoria expand_more

Nestes casos, somos impelidos a sintetizar as informações que


são mais comumente exigidas em um trabalho acadêmico. Em
outras palavras, tratando-se do resumo de um texto pertencente
ao gênero acadêmico, espera-se que ele informe determinada
gama de aspectos.

Nesse sentido, Medeiros (2006) e Severino (2002) destacam


alguns dos itens que costumeiramente são esperados, já
mencionados antes, como: objeto tratado, objetivo(s),
metodologia(s), critérios adotados e conclusões alcançadas. O
resumo precisa ser capaz de proporcionar ao leitor subsídios
para que este decida se vale a pena ou não ler o texto completo.

Texto de autoria alheia expand_more

Podemos perceber, portanto, que a redação de um resumo não é


tarefa das mais fáceis. Visando facilitar esse procedimento,
várias iniciativas foram e vêm sendo adotadas. Estas visam,
sobretudo, padronizar a maneira de redigir um resumo.
Nesse sentido, a Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) elaborou, em 2003, uma norma voltada exclusivamente
para o resumo: a NBR 6028. Em linhas gerais, essa norma define
resumo como “apresentação concisa dos pontos relevantes de
um documento” (ABNT, 2003b, p. 1) e o classifica em três tipos:
indicativo, informativo e crítico. Cada um deles representa um
grau de aprofundamento.

A ABNT, dentre as suas atribuições, ocupa-se, ainda, em indicar algumas


orientações – chamadas de regras gerais de apresentação – sobre a
construção do resumo. Por fim, determina os tamanhos:

Resumos de artigos científicos – de 100 a 250 palavras.

Resumos de trabalhos de conclusão e de relatórios técnico-


científicos – de 150 a 500 palavras.

Essa norma tem servido de base para as reflexões de diversos autores


interessados na temática. Por exemplo, Marconi e Lakatos (2017)
apontam que os resumos chamados de indicativos são aqueles que se
referem apenas às partes principais do texto, descrevendo sua natureza,
forma e finalidade. Esses resumos não dispensam a consulta ao texto
completo. Outra maneira de mencionar esse tipo é intitulando-o resumo
descritivo.

Com relação ao resumo informativo, Pereira (2013) pondera que sua


aparência lembra a de um pequeno trabalho, e que sua apresentação
pode ser estruturada ou não estruturada. Ambas possuem o mesmo
conteúdo, variando apenas na forma.

No primeiro caso (apresentação estruturada), o resumo é constituído de


partes precedidas por subtítulos, que costumam ser designados, de
modo padronizado, pelo veículo de publicação – os periódicos
científicos são os mais comuns – e remetem, quase sempre, àqueles
aspectos esperados de um resumo de texto do gênero acadêmico:
objetivo(s), metodologia(s), conclusões etc.

No segundo caso (apresentação não estruturada), todas as


informações são dispostas em texto corrido.
Em tese, o resumo informativo dispensa a necessidade de consulta do
texto completo. Já o resumo crítico será visto mais adiante – trata-se da
resenha.

Confira, a seguir, dois exemplos de resumos:

Exemplo 1
Estudo realizado sobre redações de vestibulandos da FUVEST. Examina
os textos com base nas novas tendências dos estudos da linguagem,
que buscam erigir uma gramática do texto, uma teoria do texto. São
objeto de seu estudo a coesão, o clichê, a frase feita, o “não texto” e o
discurso indefinido. Parte de conjecturas e indagações, apresenta os
critérios para a análise, as informações sobre o candidato, o texto e
farta exemplificação.

Resumo indicativo. Fonte: MEDEIROS,2006, p. 153-154. Crise na


linguagem: a redação no vestibular. São Paulo: Mestre Jou, 1981.

Exemplo 1

Examina 1.500 redações de candidatos a vestibulares (1978), obtidas da


FUVEST. O livro resultou de uma tese de doutoramento apresentada à
USP em maio de 1981. Objetiva caracterizar a linguagem escrita dos
vestibulandos e a existência de uma crise na linguagem escrita,
particularmente desses indivíduos. Escolheu redações de vestibulandos
pela oportunidade de obtenção de um corpus homogêneo. Sua hipótese
inicial é da existência de uma possível crise na linguagem e, por meio do
estudo, estabelecer relações entre os textos e o nível de estruturação
mental de seus produtores. Entre os problemas, ressaltam-se a carência
de nexos, de continuidade e quantidade de informações e a ausência de
originalidade. Também foram objeto de análise condições externas,
como família, escola, cultura, fatores sociais e econômicos. Um dos
critérios de análise é a utilização do conceito de coesão. A autora
preocupa-se, ainda, com a progressão discursiva, com o discurso
tautológico, as contradições lógicas evidentes, o nonsense, os clichês,
as frases feitas. Chegou à conclusão de que 34,8% dos vestibulandos
demonstram incapacidade de domínio dos termos relacionais; 16,9%
apresentam problemas de contradições lógicas evidentes. A
redundância ocorreu em 15,2% dos textos. O uso excessivo de clichês e
frases feitas aparece em 69% dos textos. Somente em 40 textos,
verificou-se a presença de linguagem criativa. Às vezes, o discurso
estrutura-se com frases bombásticas, pretensamente de efeito.
Recomenda a autora que uma das formas de combater a crise estaria
em se ensinar a refazer o discurso falho e a buscar a originalidade,
valorizando o devaneio.

Fonte: Resumo informativo. Medeiros (2006, p. 138-139). ROCCO, Maria


Thereza Fraga. Crise na linguagem: a redação no vestibular. São Paulo:
Mestre Jou, 1981.

Palavras-chave
Um último ponto, mas não menos importante, diz respeito ao emprego
das palavras-chave. De acordo com Curty e Boccato (2005), elas
representam o conteúdo do texto e devem ser registradas logo abaixo
do resumo.

Quando nos referimos a resumos inseridos em artigos, as palavras-


chave tornam-se elemento obrigatório e contribuem para a indexação do
trabalho nas bases de dados. Sua quantidade varia, mas, geralmente,
restringe-se a três.

Outra característica que pode oscilar é a liberdade para sua escolha. Em


determinadas áreas, como as Ciências da Saúde, as palavras-chave –
chamadas de descritores – são de uso controlado, ou seja, há uma lista
já pronta, e o autor escolhe aquelas que mais interagem com seu
trabalho. Na área de Humanidades, a seleção das palavras-chave fica a
critério do próprio autor. Apenas a quantidade é predeterminada
(PEREIRA, 2013).

Resenhas acadêmicas
Embora de natureza completamente distinta, a resenha acadêmica
cumpre uma função que é semelhante ao papel do fichamento, ou seja,
busca-se poupar o tempo do pesquisador. Essa necessidade é uma das
consequências do fenômeno chamado explosão bibliográfica.

Explosão bibliográfica
De acordo com Mueller (2000), entende-se por essa expressão o aumento
da quantidade, em grande velocidade, do número de trabalhos acadêmicos
produzidos ao redor do mundo. Este não é um fato recente – teve início em
fins do século XVII –, mas o advento da internet e sua difusão no início do
século XXI deu maior intensidade ao processo.

Com a rapidez com que o conhecimento se renova, aparece a dificuldade de


atualização ou o acompanhamento das novidades relacionadas ao saber
científico por parte do pesquisador ou do interessado em geral.

O objetivo principal da resenha é proporcionar ao leitor


uma quantidade suficiente de informações para que este
possa, de maneira embasada, decidir sobre a leitura – ou
não – do texto completo.

Nesse sentido, Severino (2002) observa que a resenha auxilia o


estudioso no processo de seleção das leituras que deverão ser feitas,
seja para o desenvolvimento da investigação, seja para a subsequente
produção dos trabalhos acadêmicos. Em outras palavras, a resenha
serve para poupar o investigador de leituras desnecessárias – para sua
pesquisa – e, com isso, otimizar seu tempo.

Conceito de resenha
O que é uma resenha?

De acordo com a NBR 6028 (ABNT, 2003b), trata-se da modalidade de


resumo chamada resumo crítico, cuja definição consiste na análise
crítica de determinado texto realizada por um especialista. Porém, tal
acepção não é suficientemente esclarecedora a ponto de responder a
nossa pergunta satisfatoriamente. Desse modo, cabe identificar como
alguns autores a caracterizam.

Marconi e Lakatos (2017) entendem a resenha como uma descrição


pormenorizada do conteúdo de um texto, na qual o resenhista resume,
critica e formula um juízo de valor sobre a obra. No entanto, a resenha
também deve ser entendida como uma redação técnica dotada de
sequências textuais que não se restringem à descrição, mas também
englobam narração e dissertação.

Como afirmamos antes, a finalidade das resenhas é possibilitar a seu


leitor elementos para que consiga, de maneira fundamentada, decidir se
a leitura do texto completo lhe é pertinente ou não (SEVERINO, 2002).
Por isso mesmo, elas configuram uma modalidade específica de
trabalho acadêmico, estando presentes no sistema de comunicação
científica.

Narração e dissertação
“Estruturalmente, [a resenha] descreve as propriedades da obra (descrição
física da obra), relata as credenciais do autor, resume a obra, apresenta
suas conclusões e metodologia empregada, bem como expõe um quadro
de referências em que o autor se apoiou (narração) e, finalmente, apresenta
uma avaliação da obra e diz a quem a obra se destina (dissertação)”
(MEDEIROS, 2006, p. 153-154).

Comentário

Podemos encontrar resenhas, com relativa frequência, publicadas em


seções especialmente destinadas a elas nos periódicos científicos.
Porém, não são todas as revistas acadêmicas que publicam resenhas.

Variações de resenha
Do mesmo modo que podemos encontrar diferentes tipos de resumos e
fichamentos, as resenhas também podem ser categorizadas. Embora
não haja unanimidade entre os autores sobre isso, optamos pela
posição de Medeiros (2006), que indica a existência de duas
modalidades. Veja, a seguir, quais são:

Resenha descritiva expand_more

Segundo Fiorin e Savioli (2003, p. 426), redigir uma resenha


descritiva significa “fazer uma relação das propriedades de um
objeto, enumerar cuidadosamente seus aspectos relevantes,
descrever as circunstâncias que o envolvem”.

Nesse tipo de resenha, prevalece, evidentemente, a sequência


textual da descrição. Porém, é possível encontrar também partes
narrativas. De acordo com esses autores, o objeto resenhado
pode ser tanto um acontecimento quanto textos ou outras obras
culturais.

Os estudiosos do assunto salientam, ainda, que o principal a ser


observado é que toda resenha descritiva é seleção. Isso decorre
do fato de as características e conjunturas que circundam o
objeto serem múltiplas, tornando inviável descrever cada uma
delas. Em outros termos, impossível não é.

Mas a resenha não busca poupar tempo do estudioso?

A descrição pormenorizada de todos os elementos vai contra tal


prerrogativa, por isso a necessidade de selecionar aspectos.
Essa seleção deve ser feita levando em conta os objetivos do
resenhista, como também que tipos de leitor pretende alcançar.

Resenha crítica expand_more

Já a resenha crítica, conforme Medeiros (2006) aponta,


caracteriza-se pelo acréscimo de elementos dissertativos
àqueles que já constam na resenha descritiva. Em outras
palavras, nessa modalidade, aparece, para além das descrições,
considerações que defendem determinado ponto de vista sobre
o objeto e que são sustentadas por argumentos ou dados.

Por isso, esse autor enfatiza que o leitor demanda um


posicionamento por parte do resenhista, que precisa ser claro,
uma vez que incidirá diretamente sobre os pontos considerados
positivos e negativos da obra resenhada.

Nesse sentido, os elogios e as críticas tecidas precisam ser bem


ponderados pelo resenhista, pautados em argumentos ou dados,
como já salientamos, devendo sempre estar circunscritos à obra
e jamais se estender aos autores.

Marconi e Lakatos (2017) observam, ainda, que o resenhista também


está proibido de, por quaisquer motivos, deturpar o pensamento do
autor. Por essas razões, espera-se que uma resenha crítica seja
elaborada por um especialista na área, pois é desejado que ele possua
certas características, como (SALVADOR, 1980, p. 139 apud MARCONI;
LAKATOS, 2017, p. 282):
list Conhecimento completo da obra.

list Competência na matéria.

list Capacidade de juízo de valor.

list Independência de juízo.

list Correção e urbanidade.

list Fidelidade ao pensamento do autor.

Um último ponto importante são os elementos que constituem a


resenha, como vemos na tabela a seguir:

ITENS DE UMA
COMPONENTES
RESENHA

Referência • Autor(es).
bibliográfica • Título e subtítulo.
ITENS DE UMA
COMPONENTES
RESENHA

• Elementos de imprensa (local,


editora e data).
• Número de páginas.

• Informações gerais.
Credenciais do autor • Papel exercido no meio
científico/acadêmico.

• Resumo das ideias principais.


Conhecimento
• Tema.
(conteúdo)
• Abordagem.

• Presença ou não de conclusões e


quais foram.
Conclusão do autor • Local em que aparecem (a cada
capítulo ou reunidas no final da
obra).

Quadro de • Teoria que embasou o texto.


referências do autor • Metodologia utilizada.

• Avaliação da obra – como se insere


nas correntes científicas, filosóficas
ou culturais, e perante as
circunstâncias culturais,
socioeconômicas e históricas.
• Mérito da obra – contribuição dada
ao campo, presença de ideias
originais, novas abordagens etc.
Apreciação
• Estilo – concisão, objetividade,
clareza, precisão, coerência etc.
• Forma – organização lógica,
sistematizada, equilíbrio entre as
partes.
• Indicação da obra – público-alvo
(estudantes, especialistas, público
em geral etc.).

Tabela: Estrutura de resenha crítica.


Marconi & Lakatos (2017, p. 282)

Esta também pode ser a estrutura de uma resenha descritiva, desde que
se exclua o último item da tabela (Apreciação).

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Registrando o processo de pesquisa
Confira agora como registrar o processo de pesquisa.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Os resumos são uma importante ferramenta na produção de


trabalhos acadêmicos. Eles ajudam o pesquisador a acessar as
informações que mais corriqueiramente procuram em um texto.
Analise as afirmações sobre as características de quem faz um
resumo:

I. Capacidade de síntese.

II. Apresentação de informações, como metodologia, critérios e


conclusões.

III. Organização.

IV. Apresentação de críticas ou comentários.


A I, II e III.

B I, II e IV.

C II, III e IV.

D II e III.

E I e IV.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Não se espera que um resumo apresente críticas, comentários ou


quaisquer outros juízos de valor. O resumo deve ocupar-se do
fornecimento – organizado e sintético – de informações úteis ao
pesquisador, como metodologia, critérios e conclusões, entre
outros possíveis, de determinado texto. Críticas ou comentários
podem ser encontrados tanto nos fichamentos quanto nas
resenhas acadêmicas. Isso foi explicado quando apresentamos a
estrutura básica proposta para o fichamento, na primeira parte
deste módulo, e quando discorremos sobre a resenha crítica, na
parte final.

Questão 2

Em uma resenha descritiva, a seleção deve ser realizada pelo


resenhista de acordo com

a afinidade entre suas ideias e as ideias do autor da


A
obra.
as possibilidades de descrever todos os aspectos
B
relacionados a um objeto.

os objetivos da resenha, como a quem pretende


C
alcançar.

D o tipo de objeto resenhado.

a possibilidade de envolver essencialmente textos


E
relacionados ao objeto.

Parabéns! A alternativa C está correta.

O resenhista fará a seleção necessária de acordo com seus


objetivos, e estes estão diretamente associados ao público-alvo. A
redação de uma resenha independe da concordância, por parte do
resenhista, com as ideias presentes na obra resenhada. Além disso,
em uma resenha descritiva, é inevitável fazer seleções, uma vez que
o objeto resenhado sempre possuirá, independentemente de sua
tipologia, grande quantidade de características e circunstâncias que
o rodearão. Isso impedirá a produção de uma síntese total que seja
satisfatória para uma resenha.
2 - Artigos científicos
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os artigos científicos por meio de sua
estrutura e de seus conteúdos.

Conceito de artigo científico


Como vimos, a correta produção e utilização de fichamentos, resumos e
resenhas acadêmicas pode contribuir bastante para o andamento de
uma investigação. Com o emprego desses instrumentos, o estudo
avança, e o pesquisador começa a se deparar com considerações mais
completas em relação ao objeto analisado.

É a partir deste momento que, habitualmente, toma forma um tipo


bastante específico de trabalho acadêmico: o artigo científico.

Um dos objetivos de tal modalidade consiste na divulgação dos


resultados de uma pesquisa, mesmo parciais, isto é, cujo estudo ainda
esteja em andamento. Contudo, o registro de resultados não é a única
motivação que pode levar o pesquisador a produzir um artigo.

As razões para isso podem ser várias. Elas podem surgir em


consequência das demandas da pesquisa que vem sendo realizada ou
para discutir uma questão antiga, mas de forma inovadora. O artigo
pode servir, ainda, para refutar um erro ou ponto controverso para o qual
outros pesquisadores não tenham dado a devida atenção.

Sua concepção também pode ser vinculada a questões de ordem


prática. É assim, por exemplo, quando os resultados obtidos ainda não
são robustos o suficiente para justificar a redação de um livro, ou
quando, no decorrer da investigação, o estudioso se depara com pontos
relevantes, mas secundários.

O artigo científico pode ser uma opção para apresentar tais pontos, uma
vez que eles não aparecerão muito no trabalho completo. Este é o caso,
por exemplo, de aspectos que atravessam, mas não são o objeto
principal de um Trabalho de Conclusão de Curso.

Artigo científico
“Trabalhos breves, porém completos, que tratam de uma questão científica.
Apresentam o resultado de estudos ou pesquisas e distinguem-se dos
diferentes tipos de trabalhos científicos pela sua reduzida dimensão e
conteúdo.”

Fonte: Marconi & Lakatos (2017, p. 276).

Atenção!
Quando falamos “artigo científico”, podemos passar a impressão de que
estamos nos referindo a algo único, o que não é o caso. As
características dos artigos são múltiplas e variam não apenas entre as
diferentes áreas do conhecimento, mas também no interior de uma
mesma área. Isso é assim porque os objetivos por trás de cada artigo,
bem como seus conteúdos, estão diretamente vinculados às escolhas
tomadas pelo investigador em sua pesquisa ou ao estágio em que ela
se encontra.

Devemos levar em conta que aqui também não há unanimidade na


classificação e delimitação de um artigo. Assim, há autores que chegam
a apresentar sete tipos diferentes de artigos, caso de Curty e Boccato
(2005):
list Tipo 1

Artigo científico.

list Tipo 2

Artigo original.

list Tipo 3

Artigo de revisão.

list Tipo 4

Artigo de atualização.

list Tipo 5

Relato de caso clínico.

list Tipo 6

Nota prévia.
list Tipo 7

Comunicação.

Contudo, como a própria autora Boccato (2006) observa, muitas


daquelas modalidades apresentadas são subitens de outras. Seja como
for, para os fins deste módulo, podemos nos ater à classificação
proposta pela norma NBR 6022 da ABNT.

Artigo científico

Parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e


discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas
diversas áreas do conhecimento.

Artigo de revisão

Parte de uma publicação que resume, analisa e discute


informações já publicadas.

Artigo original

Parte de uma publicação que apresenta temas ou abordagens


originais. Fonte: ABNT (2003a, p. 2).

Cabe uma observação a partir das definições apresentadas por essa


norma. Podemos reparar que não há, de fato, uma ruptura entre o artigo
científico e o artigo original. Pelo contrário, com a exceção dos artigos
de revisão, espera-se que todos os outros produzidos na atualidade
sejam originais.

Já abordamos, anteriormente, o fenômeno da explosão bibliográfica e


das dificuldades que dela decorrem. Nesse sentido, não há razão para a
produção de trabalhos que não sejam originais – a não ser os já
mencionados de revisão. É nessa linha que Boccato (2006) se situa ao
indicar apenas dois tipos de artigo: o original (que se divide em
subitens) e o de revisão.

Outro ponto relevante que precisamos destacar é a possível confusão


gerada pelas nomenclaturas. Isso ocorre porque o termo artigo
científico pode ser aplicado em dois sentidos, designando tanto a
totalidade de artigos quanto uma tipologia específica, que, como vimos,
constitui uma parte dentro da categoria “artigo original” ao lado de
outras modalidades. Por isso, não estranhe quando se deparar com
textos que tratem o artigo de revisão como artigo científico, porque,
afinal, é isso mesmo!

Estrutura dos artigos


Elementos obrigatórios e opcionais
Seja original seja de revisão, o artigo científico precisa apresentar uma
gama de elementos obrigatórios. Outros componentes, opcionais,
podem vir a ser acrescentados.

A já mencionada norma NBR 6022 (ABNT, 2003a) apresenta quais são


esses elementos compulsórios. A utilização dos opcionais dependerá
das normas indicadas pelos periódicos científicos ou dos congressos
que publicarão os textos em seus anais. É preciso ficar atento!

As categorias opcionais sempre se somarão às essenciais, mas nunca


as substituirão. A estrutura do artigo também deve respeitar uma ordem
de apresentação. Assim, os componentes dividem-se, tradicionalmente,
em elementos:

list Pré-textuais
list Textuais

list Pós-textuais

Consideradas essas questões, os itens que compõem um artigo


científico são os seguintes:

PARTES DO
COMPONENTES
CONTEÚDO

Visão de conjunto de:


• Tema – que deve se desdobrar na
delimitação do assunto.
• Problema.
• Hipótese(s).
• Objetivo(s).
• Corpus documental – é necessário
Introdução identificar as fonte(s) analisada(s) e
como foram levantadas.
• Perspectiva teórico-metodológica –
também pode ser feita no
desenvolvimento.
• Vinculação com uma pesquisa maior
– se houver.
• Forma de estruturação do texto.

Desenvolvimento Apresentação da perspectiva teórico-


metodológica – quando não constar
na introdução.

Análise e argumentação – as
seguintes questões podem ajudar a
desenvolvê-la:
• O que a documentação analisada diz
PARTES DO
COMPONENTES
CONTEÚDO

sobre o problema levantado?


• O que os autores dizem?
• O que os autores dizem faz sentido
quando confrontado com o que a
documentação diz?

Considerações (parciais ou finais)


correspondentes ao(s) objetivo(s) e
à(s) hipótese(s). É o momento de
Conclusão finalizar o texto, apresentando as
conexões entre a análise/pesquisa e o
tema estudado, e de retomar as ideias
principais.

Tabela: Componentes de conteúdo de artigos científicos.


Adaptado de ABNT (2003a).

Do mesmo modo, tais apontamentos também podem ser úteis a outras


áreas das Humanidades. Outros pontos podem ser acrescidos, mas um
texto com esses componentes contemplará, de maneira satisfatória, os
principais requisitos esperados em um artigo pertencente a tal área.

Cabe, aqui, uma reflexão sobre o item “vinculação com uma pesquisa
maior”. Como vimos, uma das motivações para a escrita de um artigo
pode ser redigir sobre um ponto secundário da pesquisa realizada pelo
estudioso ou ser parte constitutiva daquela, mas que ainda não é
completa o suficiente para ser registrada em um trabalho de conclusão,
por exemplo.

Cabe, aqui, uma reflexão sobre o item “vinculação com uma pesquisa
maior”. Como vimos, uma das motivações para a escrita de um artigo
pode ser redigir sobre um ponto secundário da pesquisa realizada pelo
estudioso ou ser parte constitutiva daquela, mas que ainda não é
completa o suficiente para ser registrada em um trabalho de conclusão,
por exemplo.

Há também os casos de uma investigação individual que está vinculada


a outra maior, geralmente desenvolvida coletivamente. Nessas
situações, é indicado situá-las brevemente no início do trabalho.
O artigo de revisão consiste em uma grande discussão bibliográfica que
tem por objetivo, como o nome sugere, proporcionar uma revisão de
determinado segmento da literatura científica.

Os componentes apresentados na tabela anterior também podem valer


para esses artigos. Há, inclusive, componentes ali que não só podem,
como devem aparecer nesses trabalhos. São os casos, por exemplo, de:

Tema: o artigo de revisão deve ser circunscrito a um tema;

Metodologia: aqui entendida como os critérios para a seleção da


bibliografia utilizada:”Por que, dentro de tal tema, estas obras
foram escolhidas?”; “Outras ficaram de fora? Quais? Por quê?”;

Autoria de tais materiais: quem escreveu, quando e com quais


motivações;

Considerações: balanço sobre o que foi produzido até aqui acerca


do tema, bem como apontamento das lacunas existentes, ou seja,
os pontos que ainda carecem de estudos por parte da comunidade
científica.

Estilo e citações
Há outros dois pontos que estão diretamente relacionados com a parte
do conteúdo, mas tratam da forma como é apresentado. São eles:

O estilo expand_more

O estilo com que se deve redigir tais textos é consenso entre os


autores ocupados com a metodologia científica. Nesse sentido,
espera-se que o pesquisador dote o artigo de:

Concisão;

Objetividade – isto é, evitar aquelas digressões;

Precisão – ir direto ao ponto, sem muitos preâmbulos, a


menos que sejam necessários para a compreensão;

Correção ortográfica;

Uso do vocabulário correto.


Volpato (2007) sugere, ainda, o uso de palavras simples e frases
curtas, que se redijam na ordem direta. Um texto escrito
atentando para esses quesitos é capaz de expressar suas ideias
com clareza. O objetivo de toda escrita, inclusive a acadêmica, é
proporcionar um texto no qual os diversos itens lá reunidos se
apresentem como um todo coerente para o leitor.

As citações expand_more

As citações são elementos imprescindíveis a um texto do gênero


acadêmico. Podemos afirmar, inclusive, que, sem elas, não há
um trabalho científico, porque qualquer pesquisa realizada não
começa “do nada”. Ela parte de algum ponto do conhecimento já
desenvolvido pela comunidade científica. Se tal investigação vai
aprofundar ou buscar refutar tal conhecimento, isso é outra
história.

O que importa é que o estudo terá como ponto de partida outros


já realizados, exceto em casos cujo objeto investigado não tenha
sido alvo do interesse de nenhum pesquisador antes, mas,
mesmo aqui, o uso da literatura científica relacionada é
fundamental.

Para que o texto produzido seja reconhecido como pertencente ao


gênero acadêmico, ele deve, além de atender às observações que
fazemos ao longo deste módulo, cumprir com certas exigências no que
tange à forma da redação.

Marconi e Lakatos (2017) apontam que adjetivos supérfluos,


explicações inúteis e rodeios – ou seja, digressões desnecessárias –
devem ser evitados. Do mesmo modo, gírias e apelidos, a não ser em
casos muito específicos e diretamente atrelados ao objeto da pesquisa,
também devem ser deixados de lado no momento de escrever um texto
acadêmico.

Toda pesquisa é, no fundo, um trabalho coletivo.


A pesquisa não se inicia e se extingue no trabalho realizado pelo
estudioso. Como afirmamos no início deste módulo, seus frutos servirão
de base para novas investigações, nas quais serão citados.

Atenção!
Sua falta, quando nos valemos de dados retirados de terceiros,
configura plágio. As consequências disso podem resultar desde a não
publicação de um artigo à cassação de um título obtido, quando isso é
verificado em um trabalho de conclusão. Em certos casos, sobretudo
nos estudos envolvendo a produção de patentes, pode virar uma
questão judicial.

Por isso, seja em um artigo científico seja em outro trabalho acadêmico


qualquer, é esperado do pesquisador que sua produção interaja com o
conhecimento científico que já foi e está sendo produzido, e que confira
o crédito a quem de direito é devido.

Atentando para a importância desse quesito, a ABNT conta com uma


norma exclusiva para citações: a NBR 10520 (ABNT, 2002). Lá,
encontramos as diferentes maneiras de fazer a citação no corpo do
texto.

A citação pode ser:

Direta Indireta

A citação direta Já a citação indireta


acontece quando ocorre quando
reproduzimos expressamos as ideias
fidedignamente – isto é, close de outro pesquisador
usando as palavras do com as nossas próprias
próprio autor – algum palavras.
trecho de outra obra.
Trata-se da transcrição.

A norma NBR 10520 (ABNT, 2002) contém as regras de apresentação


para cada tipo de citação. Contudo, adentrar nesse ponto fugiria ao
propósito deste módulo. Algumas indicações, porém, podem ser dadas.
É o caso, por exemplo, das fornecidas por Matos (1985). Este autor
aponta oito princípios para citar, que reproduzimos a seguir:

1. Cite com um propósito bem claro, definido, relevante;


2. Seja parcimonioso (como cientista) e breve como
citador;
3. Atribua às suas citações um valor razoável;
4. Faça citações integradas ao seu próprio texto;
5. Cite diretamente da fonte, quando tal procedimento der
mais força à sua argumentação do que a estratégia da
paráfrase (dizer em suas próprias palavras);
6. Cite com exatidão;
7. Traduza as citações em língua estrangeira, para facilitar
o “processamento” de seus leitores;
8. Identifique sempre o(s) autor(es) transcrito(s) ou
mencionado(s).

Sempre que houver traduções, registre o original, em língua estrangeira,


na nota de rodapé. É uma maneira que o leitor tem de se certificar de
que a tradução foi feita corretamente.

Referências bibliográficas
As referências bibliográficas consistem no elemento pós-textual mais
importante de um artigo. São nelas que os dados referentes às citações
empregadas ao longo do texto são registrados.

O lugar onde se situam pode variar. Elas podem aparecer nas notas de
rodapé das páginas, conforme vão sendo mencionadas no corpo do
texto, bem como em uma listagem após o fim, na qual se reúnem todas
as referências citadas no trabalho.

Uma vez mais, isso dependerá das normas de publicação dos periódicos
científicos ou dos anais de determinado congresso. Há, ainda, aqueles
que exigem em ambos os lugares: durante e depois.

Referências bibliográficas
“Maneira pela qual o autor presta a quem lê uma satisfação quanto à sua
seriedade e competência, permitindo, assim, a localização de documentos
no todo ou em partes, segundo normas específicas” (CURTY E BOCCATO,
2005, p. 66).

Qual a razão para se registrar as referências


bibliográficas? Elas são apenas o complemento necessário
das citações?

Ao registrar as referências bibliográficas das obras mencionadas ao


longo do texto, o pesquisador permite que o leitor refaça seus passos.
Com isso, quem está lendo o texto consegue constatar se as
informações utilizadas foram realmente retiradas de onde o investigador
disse que as retirou e, principalmente, se tais ideias foram aplicadas
corretamente. Portanto, esta parte serve para pôr à prova a qualidade do
trabalho acadêmico.

Sua utilização não se restringe aos artigos. Elas devem constar também
nos Trabalhos de Conclusão de Curso e nas resenhas acadêmicas, por
exemplo. Por essas razões, como vimos, sugere-se registrá-las nos
fichamentos preparados ao longo do percurso de pesquisa.

Como as referências bibliográficas são feitas?

Basta seguir outra norma produzida pela ABNT: a NBR 6023 (2018).
Nela, encontramos orientações para fazer os registros bibliográficos de
vasta gama de materiais: livros, artigos, anais de congressos, jornais,
leis, filmes, trilhas sonoras, materiais iconográficos, sites etc.

Atenção!
Uma referência feita incorretamente pode inviabilizar a possibilidade de
o leitor chegar ao texto e acabar comprometendo aquela que é sua
razão de existir.

video_library
Apresentando suas ideias
Confira agora um pouco sobre o processo de desenvolvimento de
artigos científicos.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Sabemos que os artigos – como fonte ou produto – são criações


das mais comuns e presentes na vida acadêmica de todo
pesquisador. Exatamente por isso, é importante identificar as
especificidades de cada um deles.

O artigo original dedica-se, principalmente, a

apresentar os resultados alcançados no decorrer da


A
pesquisa.

B compilar os dados coletados em uma investigação.

C desenvolver novas teorias ou metodologias.

extinguir a necessidade de novas pesquisas sobre o


D
assunto.
a possibilidade de envolver essencialmente textos
E
relacionados ao objeto.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Como vimos no início deste módulo, é a necessidade de comunicar


e testar os resultados obtidos com o andamento da pesquisa que
impulsiona o investigador a redigir um artigo e submetê-lo à
avaliação de seus pares. O artigo não consiste em um inventário. É
preciso apontar o problema, a(s) hipótese(s), o(s) objetivo(s),
argumentar em favor de cada um etc. O desenvolvimento de teorias
ou metodologias é consequência do desenvolvimento avançado de
uma pesquisa. É isso que se espera em Trabalhos de Conclusão de
Curso. Além disso, os artigos servem para contribuir com o
surgimento ou avanço de outros estudos.

Questão 2

A disposição de alguns itens no artigo pode variar, dependendo das


normas de publicação de um periódico ou dos anais de algum
congresso. Ter clareza disso oferece condições ao pesquisador
para a realização efetiva desse produto.

É um exemplo de item que pode aparecer em um lugar ou outro do


artigo:

A Resumo no idioma do texto.

B Citações.

C Anexo.

D Título em idioma estrangeiro.


E Palavras-chave.

Parabéns! A alternativa D está correta.

Tanto o resumo na língua em que o texto é redigido quanto as


citações e o anexo possuem lugares determinados dentro do artigo,
que não são alterados. Nesse sentido, o resumo no idioma do texto,
bem como palavras-chave são elementos pré-textuais, devendo
aparecer antes do texto em si. Já as citações compõem os
elementos textuais, podendo estar presentes na introdução, no
desenvolvimento ou mesmo na conclusão. Por fim, o anexo, quando
existir, deve ser colocado após o texto, uma vez que se trata de um
elemento pós-textual. Elementos como “título em idioma
estrangeiro”, “resumo em idioma estrangeiro” ou “palavras-chave em
idioma estrangeiro” podem constituir elementos pós-textuais, como
define a ABNT, ou pré-textuais, como habitualmente é empregado
no âmbito dos periódicos científicos da área de Humanas.
Discorremos sobre esse ponto quando identificamos os elementos
obrigatórios e opcionais de um artigo.

3 - Monografias, dissertações e teses


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as expectativas com relação às
monografias, dissertações e teses com base em suas definições.
Trabalhos de conclusão
Anteriormente, discorremos sobre fichamentos, resumos e resenhas –
ferramentas que, como vimos, auxiliam e acompanham o pesquisador
desde seus primeiros passos na investigação.

Logo depois, voltamos nossas atenções para os artigos científicos, que


consistem na etapa intermediária do desenvolvimento do estudo, uma
vez que são responsáveis por divulgar os resultados, muitas vezes,
parciais, de determinada pesquisa.

Então, finalmente, alcançamos a etapa em que se faz necessária a


produção de um trabalho específico, capaz de sistematizar a própria
investigação ou, pelo menos, aqueles pontos fundamentais que
possibilitaram sua realização: os trabalhos de conclusão. Estes podem
ser considerados os desfechos de tudo aquilo que viemos discutindo
até aqui.

Como acontece nos outros trabalhos acadêmicos que apresentamos,


sua natureza também pode variar. Neste sentido, Rey (1978 apud
MARCONI; LAKATOS, 2017) aponta aqueles que seriam os três tipos
mais comuns de trabalhos científicos:

list Observações ou descrições originais

São os registros sobre os fenômenos da natureza,


espécies, estruturas etc.

list Trabalhos experimentais

São aqueles que submetem o objeto analisado às


condições de controle exercidas pela experiência.
list Trabalhos teóricos

São caracterizados pelo estudo ou pela síntese de


conhecimentos que proporcionam novos conceitos,
apresentação de hipóteses, teorias etc.

Seja qual for a modalidade, há elementos que se deve esperar de todo


trabalho de conclusão. Afinal:

[…] qualquer que seja a forma do


trabalho científico, é preciso
relembrar que todo trabalho desta
natureza tem por objetivo intrínseco
a demonstração, o desenvolvimento
de um raciocínio lógico. Ele assume
sempre uma forma dissertativa, ou
seja, busca demonstrar, mediante
argumentos, uma tese, que é uma
solução proposta para um
problema. Fatos levantados, dados
descobertos por procedimentos de
pesquisa e ideias avançadas se
articulam justamente como
portadores de razões
comprovadoras daquilo que se quer
demonstrar. E é assim que a ciência
se constrói e se desenvolve.

(SEVERINO, 2002, p. 149)


De acordo com Marconi e Lakatos (2017), esses trabalhos precisam,
ainda, funcionar como um modelo ou, pelo menos, fornecer subsídios
para outras pesquisas.

Já Salvador (1980 apud MARCONI; LAKATOS, 2017) destaca que as


informações registradas devem possibilitar a outro pesquisador:

Reproduzir os procedimentos, de modo que obtenha os


resultados apontados.

Avaliar as conclusões indicadas a partir das observações


registradas.

Examinar se as análises e o raciocínio lógico empregados pelo


autor para alcançar os resultados foram feitos corretamente.

Há uma constatação fundamental decorrente do que foi apresentado


até aqui: os trabalhos de conclusão, assim como a maioria dos
trabalhos acadêmicos, não consistem em uma produção particular e de
compreensão restrita àquele que o redigiu.

Pelo contrário, suas respostas – e os caminhos percorridos para se


chegar até elas – devem servir a outros pesquisadores, de modo a
contribuir efetivamente para o avanço do conhecimento científico.

Quando tal trabalho é produzido no âmbito de uma instituição de ensino


com vistas à obtenção de um título, é comum receber nomes
específicos.

Assim, se sua produção ocorre ao final de uma graduação, como


requisito para a obtenção de grau, costumamos chamá-la de Trabalho
de Conclusão de Curso ou monografia.
Caso seja resultado de uma investigação realizada durante o mestrado,
cujo objetivo do pesquisador é obter o título de mestre, então o trabalho
produzido é conhecido como dissertação.

Agora, se for fruto de uma pesquisa desenvolvida ao longo de um


doutorado, para receber o título de doutor, então estamos falando de
uma tese.

Atenção!
Um ponto que merece ser destacado quanto às terminologias utilizadas
é a confusão no emprego de cada um desses termos. Não raro,
encontramos referências como “tese de mestrado”, por exemplo.

Uma explicação para esses casos pode ser encontrada no fato de que a
associação entre monografia e graduação, dissertação e mestrado, tese
e doutorado, costumeiramente adotada no Brasil, não é de uso universal.
Assim, enquanto a palavra tese é empregada de forma generalizada na
Grã-Bretanha, o vocábulo dissertação é difundido nos Estados Unidos e
na Europa continental (CAMPELLO, 2000).

Esses tratamentos chegaram até aqui por diversos caminhos, dois deles
principais:

1. Pela leitura de bibliografia estrangeira, que aponta tal


uso.
2. Pela própria formação do pesquisador, que pode tê-la
realizado, em determinada etapa, em algum desses outros
lugares.

Mesmo no Brasil, onde há um consenso sobre o emprego dos termos,


alguns autores atentam para as nuances existentes em meio a tal
classificação. Severino (2002), por exemplo, observa que todos os
referidos trabalhos são exemplos de monografias científicas, isto é, são
caracterizados pela unidade e pela delimitação temática, além da
profundidade da análise dispensada ao objeto em estudo.

Medeiros (2006) segue pela mesma linha. Além de corroborar com as


posições de Severino (2002) no que tange ao caráter englobante das
monografias, destaca que tanto dissertações quanto teses consistem
em textos dissertativos, nos quais pode haver a defesa de uma ou mais
teses. O autor ainda pontua que seria mais adequado chamar as
dissertações de monografias para obtenção do grau de mestre e as
teses de monografias para obtenção do grau de doutor. Isso sem se
esquecer das monografias redigidas nas graduações para bacharelado e
licenciatura.

Comentário

O problema com o emprego dos termos é apenas o reflexo de outro,


mais complicado, que é estabelecer a diferenciação entre monografias,
dissertações e teses. Como podemos observar, o ponto de tensão
incide, principalmente, sobre os trabalhos produzidos no âmbito da pós-
graduação. Isso decorre de sua própria natureza.

Segundo Severino (2002), a pós-graduação foi criada com o escopo de


proporcionar as condições necessárias para a produção de pesquisas
rigorosas nas mais distintas áreas do conhecimento científico. Por
conseguinte, a exigência sobre o pós-graduando é ainda maior em
termos de disciplina, rigor, domínio sobre métodos e procedimentos etc.
Espera-se, com isso, que tal pesquisador possa ser capaz de
desenvolver um texto que contemple, a um só tempo, tais
características.

Esses atributos são esperados tanto nos níveis de mestrado quanto de


doutorado. Em consequência disso, a tarefa de encontrar os limites que
caracterizam esses trabalhos torna-se bem complexa. A necessidade de
tantas qualidades semelhantes finda por suscitar desencontros na hora
de estabelecer quais delas as distingue.

Exemplo

Um ponto controverso diz respeito à questão da presença da


originalidade. Por um lado, Medeiros (2006) sustenta que todos os
trabalhos de conclusão precisam ser inéditos e originais. Por outro,
Severino (2002) considera a originalidade uma demanda estritamente
vinculada à produção de uma tese, o que seria, inclusive, um dos fatores
para diferenciá-la da dissertação.

Diante de tal quadro, no qual parece estar tudo misturado, como


diferenciar os trabalhos produzidos nos distintos níveis de formação?

Primeiro critério expand_more


O primeiro consiste na classificação pelo grau de ênfase com
que as dimensões teórica, metodológica e empírica são
abordadas em cada trabalho. Esse grau varia de acordo com
cada nível de formação.

Assim, em uma monografia, espera-se a introdução aos métodos


de pesquisa e de escrita; nas dissertações, a capacidade de
formular problemáticas e hipóteses, bem como utilizar
adequadamente os conceitos; nas teses, a ênfase reside em
maior aprofundamento teórico, que seja capaz de gerar reflexões
de maior densidade.

Segundo critério expand_more

O segundo critério é a diferenciação segundo o grau de


autonomia esperado no momento da elaboração dos trabalhos
de conclusão. Nesse sentido, o nível de autonomia observado
para a produção dos trabalhos varia de acordo com o estágio no
qual é produzido.

Terceiro critério expand_more

Outro ponto a destacar é a atuação do orientador em cada caso.


Assim, ao desenvolver uma monografia, o pesquisador iniciante
estaria situado no campo da heteronomia, ou seja, não se espera
que seu trabalho apresente nenhuma autonomia, sendo
acompanhado de perto pelo orientador, que cumpre a função de
tutor.

Quarto critério expand_more

Na confecção da dissertação de mestrado, por sua vez, o


estudioso deve realizar um progressivo distanciamento com
relação ao estágio da heteronomia, dando os primeiros passos
rumo à autonomia. Aqui, as intervenções do orientador são
reduzidas: seu papel se restringe a apenas orientar.

Quinto critério expand_more

Enfim, de uma tese de doutorado, deseja-se, da parte do


pesquisador, plena autonomia na elaboração da proposta, na
construção do trabalho, nas questões teórico-metodológicas etc.
A função do orientador, nesses casos, é a de um interlocutor.

Entendemos que esses critérios são os mais indicados para avaliar os


trabalhos de conclusão hoje em dia. Como veremos a seguir, a estrutura
e os conteúdos de cada um não variam tão significativamente de um
para outro. Desse modo, a adoção de quaisquer critérios rígidos e
estritamente objetivos não seria capaz de caracterizar e, principalmente,
de diferenciar monografias, dissertações e teses.

Estrutura dos trabalhos de conclusão


Assim como nos demais trabalhos acadêmicos que apresentamos nos
módulos anteriores, a ABNT também conta com uma normativa para
elaborar trabalhos de conclusão: a NBR 14724 (ABNT, 2011).

De acordo com essa norma, a organização de monografias,


dissertações e teses depreende uma estrutura bastante similar à dos
artigos científicos, mas com uma diferença: nos trabalhos de conclusão,
há duas partes, a saber:

Externa
É composta pela capa e, opcionalmente, pela lombada.

Interna
Engloba componentes que também constatamos nos artigos
(elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais).
Há também, no âmbito dos trabalhos de conclusão, os itens que são
considerados obrigatórios, enquanto outros, opcionais, podem ser
acrescidos de acordo com os objetivos do autor.

Monografia
As monografias de graduação são os trabalhos de conclusão mais
difundidos no meio acadêmico brasileiro, e, talvez, até no mundo. Como
já afirmamos, elas também são chamadas de Trabalhos de Conclusão
de Curso e costumam ser exigidas pela maioria dos cursos como
contrapartida para a obtenção do grau de bacharel ou licenciado. É,
portanto, uma etapa pela qual a maioria dos profissionais em atividade
já passaram.

Dependendo do curso e da instituição de ensino, pode-se exigir que o


concluinte apresente sua monografia para uma banca de professores,
que tecerão comentários e críticas, além de perguntas sobre o trabalho.
O grau só é obtido mediante a aprovação nesse processo.

Essa arguição é chamada de defesa de monografia. No entanto, tal


procedimento é mais comum na pós-graduação – defesa de dissertação
e defesa de tese –, na qual é uma etapa indispensável para a obtenção
dos graus conferidos.

Um dado curioso chama a atenção sobre as monografias. Embora seja


uma exigência que, habitualmente, impõe-se ao aluno no fim da
graduação, o Trabalho de Conclusão de Curso é o momento em que
acontece, de fato, a iniciação à pesquisa (NEVES, 1996; MARCONI;
LAKATOS, 1992).

Cabe, então, desde já, a pergunta:

O que é monografia?

A norma NBR 14724 define monografia como:


Documento que apresenta o
resultado de estudo, devendo
expressar conhecimento do
assunto escolhido, que deve
ser obrigatoriamente
emanado da disciplina,
módulo, estudo
independente, curso,
programa e outros
ministrados.
(ABNT, 2011, p. 4)

De maneira complementar, Severino (2002) e Marconi e Lakatos (2017)


apontam que também se deve levar em consideração três fatores, os
quais devem estar presentes em todos os trabalhos de conclusão:
unidade temática, problema e metodologia. Além disso, nas
monografias, o enfoque está na qualidade da análise, e não na
quantidade de páginas.

Atenção!

As formas como os elementos textuais da monografia são estruturadas


também é uma questão fundamental para que os propósitos do trabalho
de conclusão possam ser plenamente satisfeitos.

Dissertação
O mestrado consiste na primeira etapa dentro da pós-graduação,
excetuando-se as especializações. Por isso, está situado em um meio
termo no que tange à formação do pesquisador.

Em outras palavras, o mestrando é aquele que já concluiu uma


graduação, tendo, muito provavelmente, escrito uma monografia. Porém,
ainda não chegou, em sua área de formação, à etapa do doutorado. No
ponto em que se encontra, para obter o título de mestre, esse
pesquisador precisará redigir uma dissertação e defendê-la na chamada
defesa de dissertação.

De acordo com a norma NBR 14724, dissertação é o:

Documento que apresenta o


resultado de um trabalho
experimental ou exposição de
um estudo científico
retrospectivo, de tema único
e bem delimitado em sua
extensão, com o objetivo de
reunir, analisar e interpretar
informações. Deve evidenciar
o conhecimento de literatura
existente sobre o assunto e a
capacidade de
sistematização do candidato.
(ABNT, 2011, p. 2)

Nesse sentido, por um lado, espera-se que o texto apresente maior


aprofundamento com relação àqueles pontos típicos da monografia,
como a metodologia, por exemplo. Por outro, deseja-se que conte com
aspectos próprios de uma tese, como uma reflexão mais sólida e
embasada sobre o problema levantado.

Marconi e Lakatos (2017) compreendem a dissertação como um estudo


teórico e reflexivo, que requer que os dados sejam sistematizados,
ordenados e interpretados. Esse estudo deve, ainda, apresentar uma
metodologia própria. Contudo, tal característica não deve ser
confundida com a simples reprodução de textos produzidos por
terceiros. Como Severino (2002) destaca, a dissertação precisa ser
propositiva, e não apenas expositiva.

As dissertações também podem ser divididas em mais de um tipo


quanto ao conteúdo. Medeiros (2006) e Salvador (1980 apud MARCONI;
LAKATOS, 2017) identificam a existência de dois tipos de trabalho:

Expositivo
No trabalho expositivo, o autor realiza grande levantamento de materiais
– das mais diversas fontes – relacionados ao tema da pesquisa. O que
é avaliado aqui é a capacidade para coletar e organizar tudo o que foi
reunido.

Argumentativo
Já o trabalho argumentativo exige a interpretação das ideias
apresentadas e um posicionamento por parte do autor. Os argumentos
servem de sustentação tanto à interpretação quanto à posição adotada
pelo pesquisador.

No que diz respeito à forma, também há mais uma classificação


aplicável às dissertações: elas também podem ser categorizadas de
acordo com a maneira que resolvem proceder. Nesse sentido, Medeiros
(2006) aponta que há três “movimentos” que uma dissertação pode
adotar: para fora, para dentro e “zigue-zague”.

1. No movimento para fora, o texto parte de algo próximo,


específico, e vai em direção ao geral, em um processo tipicamente
indutivo. Em outras palavras, procede do particular para o universal;

2. No movimento para dentro, o sentido vai na direção oposta, ou


seja, trata-se de uma dedução. Aqui, o ponto de partida é uma
generalização qualquer. Avança-se até alcançar um caso específico;

b3. Por fim, no chamado “zigue-zague”, o autor utiliza


contraposições e comparações tanto de ideias quanto de fatos e
contextos.

Tese
As teses são trabalhos de conclusão produzidos com vistas à obtenção
de dois títulos:

list Doutor

Grau que se conquista após a conclusão de um


curso de doutorado.

list Livre docente

Grau de titulação acadêmica mais alto a que se


pode chegar (apenas pesquisadores que já tenham
o título de doutor podem consegui-lo).

Assim como a dissertação, para a obtenção de tais títulos, exige-se o


rito chamado defesa de tese.

As teses consistem em um grande esforço de sistematização de uma


pesquisa em um trabalho acadêmico. Espera-se do investigador que
está concluindo esta etapa que seja capaz de proporcionar uma
descoberta ou contribuição significativa para a ciência (MEDEIROS,
2006). Por isso, alguns autores afirmam que se deve esperar a
originalidade apenas em uma tese de doutorado.

A tese é descrita pela NBR 14724 como:


Originalidade
Como frisa Severino (2002), para sustentar sua posição, originalidade nada
tem a ver com novidade, mas, sim, com um retorno às origens. De acordo
com o autor:

“[...] [explicita-se], assim, um esclarecimento original ao assunto, até então


não percebido. A descoberta original lança novas luzes sobre o objeto
pesquisado, superando seja o desconhecimento, seja, então, a ignorância”
(SEVERINO, 2002, p. 148).

Documento que apresenta o


resultado de um trabalho
experimental ou exposição de
um estudo científico de tema
único e bem delimitado. Deve
ser elaborado com base em
investigação original,
constituindo-se em real
contribuição […].
(ABNT, 2011, p. 4)

Para além da definição técnica, Marconi e Lakatos (2017) destacam que


é esperado que tais trabalhos contemplem três pontos em especial:

1. O primeiro deles é que sejam precisos, ou seja, os dados


apresentados precisam ser exatos, sem erros ou inconstâncias.

2. O segundo é a exaustão: a tese deve exaurir o assunto ao qual se


dedica.
3. Por fim, o terceiro aspecto diz respeito à clareza, isto é, a tese
precisa ser inteligível e transparente.

Você se lembra do que vimos no início deste estudo?

O trabalho de conclusão é feito para o outro, e não para si mesmo.

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Fugindo do estresse do TCC
Confira um pouco mais sobre o processo de desenvolvimento do
trabalho de conclusão de curso.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Independentemente de sua modalidade, os Trabalhos de Conclusão


de Curso, geralmente, costumam assustar o pesquisador nesta fase
de seu processo acadêmico. É claro que, sem necessidade de
pânico, devemos estar atentos a alguns pontos essenciais. Sobre
esses pontos, analise as afirmações:

I. Permitir a outro pesquisador reproduzir os procedimentos nele


realizados.

II. Contribuir para o desenvolvimento de outras pesquisas.

III. Desenvolver o trabalho em linguagem clara e simples.


IV. Apresentar resultados de uma pesquisa ainda em andamento.

Está correto o que se afirma em:

A I, II e III.

B I, II e IV.

C II, III e IV.

D II e III.

E I e IV.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Apresentar os resultados de uma pesquisa em andamento, ou seja,


conclusões ainda parciais, é esperado em artigos científicos, e não
em trabalhos de conclusão. Nestes, espera-se o registro dos
resultados relativos a uma pesquisa. Todos os demais pontos
apresentados são essenciais a um trabalho de conclusão.

Questão 2

Devido aos distintos entendimentos de cada autor, um fator


consegue gerar desencontros no momento de se delimitar o que
são monografias, dissertações e teses. Que fator é esse?

A divisão dos elementos textuais em introdução,


A
desenvolvimento e conclusão.
B A questão do nível de autonomia esperado.

C A demanda para que o trabalho seja original.

D O seguimento das normas da ABNT.

E O tema a ser estudado.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Como vimos, a originalidade é ponto conflitante entre os autores


consultados. Enquanto, para uns, ela deve estar presente em todos
os trabalhos de conclusão, para outros, é uma exigência que deve
ser circunscrita às teses de doutorado. A divisão do texto em
introdução, desenvolvimento e conclusão é esperada em todos os
trabalhos, não influenciando no processo de classificação dos
trabalhos de conclusão. A verificação do nível de autonomia serve
justamente como um dos mecanismos adotados para superar o
problema da delimitação, não contribuindo para possíveis
confusões. Além disso, espera-se que todos os trabalhos sejam
realizados obedecendo às orientações das normas da ABNT.

Considerações finais
Esperamos que você tenha percebido a importância de darmos atenção
a toda estrutura necessária à organização de um trabalho acadêmico.
Se, de um lado, isso permite que os pesquisadores comuniquem os
resultados de suas investigações, de outro, possibilita que se atualizem
sobre os avanços alcançados por seus pares.
Porém, para que isso aconteça, é imprescindível que os resultados de
suas pesquisas sejam registrados de alguma maneira coerente e que
permitam tal compreensão. Estamos nos referindo aos trabalhos
acadêmicos: artigos científicos, livros, resenhas, trabalhos de conclusão
(monografias, dissertações e teses).

Finalizamos, então, com a palavra de duas autoras que muito nos


ajudaram no itinerário percorrido neste tema, esperando que tenhamos
contribuído com sua formação:

“A elaboração de um texto de forma bem estruturada, com suas


citações e referências seguindo regras estabelecidas por uma norma,
confere a ele um caráter de cientificidade e confiabilidade, fundamental
para a seriedade do trabalho proposto” (CURTY E BOCCATO, 2005, p.
96).

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Podcast
Ouça um bate-papo sobre técnicas de produção de trabalhos
acadêmicos.

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Levando em conta que saber escrever de maneira clara e inteligível é
uma demanda imposta a qualquer pesquisador, para aprofundamento
da produção textual, indicamos as seguintes leituras:

Argumentação, de José Luiz Fiorin.


Escrita e práticas comunicativas, de Ingedore Villaça Koch & Vanda
Maria Elias.

Escrever melhor: guia para passar os textos a limpo, de Dad


Squarisi & Arlete Salvador.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022:
Informação e documentação – Artigo em publicação periódica científica
impressa – Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2003a.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023:


Informação e documentação – Referências – Elaboração. 2. ed. Rio de
Janeiro: ABNT, 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028:


Informação e documentação – Resumo – Apresentação. Rio de Janeiro:
ABNT, 2003b.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520:


Informação e documentação – Citações em documentos –
Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724:


Informação e documentação – Trabalhos acadêmicos – Apresentação.
3. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2011.

BOCCATO, V. R. C. Metodologia da pesquisa bibliográfica na área


odontológica e o artigo científico como forma de comunicação. Revista
de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo, São Paulo, v. 18, n.
3, p. 265-274, 2006.

CAMPELLO, B. S. Teses e dissertações. In: CAMPELLO, B. S.; CENDÓN, B.


V.; KREMER, J. M. (org.). Fontes de informação para pesquisadores e
profissionais. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2000.

CURTY, M. G.; BOCCATO, V. R. C. O artigo científico como forma de


comunicação do conhecimento na área de Ciência da Informação.
Revista Perspectivas em Ciências da Informação, Belo Horizonte, v. 10,
n. 1, p. 94-107, 2005.
ECO, U. Como se faz uma tese em Ciências Humanas. 13. ed. Lisboa:
Editorial Presença, 2007.

FIORIN, J. L; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. 16.


ed. São Paulo: Ática, 2003.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,


2002.

LIMA, M. H. T. de F. Sobre fichamento: dicas práticas. Rio de Janeiro:


Academia.edu, 2015.

MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia


científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Metodologia do trabalho científico:


procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório,
publicações e trabalhos científicos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1992.

MATOS, F. G. de. O cientista como citador. Ciência e Cultura, Campinas,


v. 37, n. 12, p. 42-44, 1985.

MEDEIROS, J. B. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos,


resenhas. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

MUELLER, S. P. M. A ciência, o sistema de comunicação científica e a


literatura científica. In: CAMPELLO, B. S.; CENDÓN, B. V.; KREMER, J. M.
(org.). Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo
Horizonte: Editora da UFMG, 2000.

NEVES, M. de S. Monografias, dissertações e teses: apontamentos para


o início de uma discussão. Anos 90, Porto Alegre, n. 5, 1996.

PEREIRA, M. G. Estrutura do artigo científico. Epidemiologia e Serviços


de Saúde, Brasília, v. 21, n. 2, p. 351-352, 2012.

PEREIRA, M. G. O resumo de um artigo científico. Epidemiologia e


Serviços de Saúde, Brasília, v. 22, n. 4, p. 707-708, 2013.

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. São Paulo:


Cortez, 2002.

VOLPATO, G. L. Como escrever um artigo científico. Anais da Academia


Pernambucana de Ciência Agrária, Recife, v. 4, p. 97-115, 2007.
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