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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
Núcleo de Ensino a Distância
Créditos e Copyright
CDD 301
CDD XXXXX
Vanessa Laurentina Maia
Crb8 71/97
Bibliotecária UNIMES
Este curso foi concebido e produzido pela UNIMES Virtual. Eventuais marcas aqui
publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários.
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SUMÁRIO
Aula 01_O que é ler e produzir textos? ....................................................................... 4
Aula 02_Ler na universidade ...................................................................................... 8
Aula 03_As relações intertextuais ............................................................................. 12
Aula 04_Paráfrase e sumarização ............................................................................ 17
Aula 05_As palavras e seus sentidos ....................................................................... 21
Aula 06_As palavras e seus níveis ........................................................................... 24
Aula 07_Linguagem: clareza x ambiguidade............................................................. 28
Aula 08_Informações explícitas e implícitas ............................................................. 32
Aula 09_Tipos de texto e o conceito de gênero do discurso ..................................... 36
Aula 10_A narração e a narratividade ....................................................................... 42
Aula 11_A descrição e a descritividade .................................................................... 45
Aula 12_A dissertação e os recursos argumentativos .............................................. 48
Aula 13_A exposição e a argumentação ................................................................... 54
Aula 14_Coesão referencial ...................................................................................... 58
Aula 15_Coesão sequencial...................................................................................... 63
Aula 16_Coerência textual ........................................................................................ 66
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“... a arte de decifrar e traduzir signos”. É desse ponto que gostaria de partir
para que possamos, juntos, refletir um pouco acerca de leitura e de produção de
textos – na verdade (e ao final), da noção de texto. Se, como diz Manguel,
conseguimos ler os rastros de animais, o casco das tartarugas, o olhar do parceiro,
o corpo do ser amado, é porque vivemos em um mundo repleto de textos que podem
– e esperam – ser lidos: não só decifração, mas também a compreensão,
interpretação e tradução.
Paulo Freire, em conferência proferida no 3º Congresso de Leitura (Campinas,
1981), contou que, ao preparar sua fala, foi se distanciando no tempo, voltando à
infância, retomando os “diferentes momentos em que o ato de ler se veio colocando”
em sua vida:” Primeiramente, a leitura do mundo, do pequeno mundo em que me
envolvia. /.../ Retomo a infância distante, buscando a compreensão do meu ato de
ler, em um mundo particular em que me movia e que, até onde não sou traído pela
memória, me é absolutamente significativo”. E continuou enumerando os “textos”
que ia lendo: a casa em que nasceu, o quintal, as árvores, os pássaros, a chuva, o
vento – e o seu medo –, para mostrar que “o primeiro ato de leitura do mundo, é a
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leitura do real, é a leitura do concreto, para depois ser, ou começar a ser, a leitura
da palavra”.
Portanto, antes mesmo de lermos as palavras, já praticamos atos de leitura,
pois conseguimos atribuir significados a outros “textos” que não os verbais. É a
conhecida e tão citada constatação enunciada por Paulo Freire nessa palestra em
Campinas: “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta
implica na continuidade da leitura daquele”.
No cotidiano de cada um de nós, nossos atos de leitura são variados:
- o bolo feito a partir da leitura da receita,
- a montagem da estante depois da leitura do manual,
- a decisão de seguir viagem por tal estrada após a consulta ao mapa,
- a diminuição da velocidade do carro mediante placa indicativa de área escolar,
- a adesão a uma luta sindical;
- a assinatura de um abaixo-assinado;
- a opção por votar em determinado candidato;
- a elaboração de um relatório de estágio;
- a compra de um livro após a leitura de uma resenha publicada no jornal;
- a resposta dada na prova de Psicologia;
- a conversa com os amigos na saída do cinema ou do teatro;
- a carta de protesto contra a posição adotada no editorial de um jornal;
- a redação da dissertação do Trabalho de Conclusão do curso de Pedagogia.
Nessas e em inumeráveis outras situações, está implícita a leitura: “... a arte
de decifrar e traduzir signos”, segundo Manguel, ou, como quer Paulo Freire, a leitura
da “palavra-mundo”. Daí o porquê de serem plurais, diferentes, e até divergentes, as
leituras que fazemos dos textos.
Para que fique clara essa ideia, pense, agora, em um texto qualquer, um
conto, por exemplo: alguém, criado num determinado lugar, com certos valores
individuais e/ou culturais, pertencente a uma determinada classe social, com alguns
objetivos e expectativas, produz um texto que, ao longo do tempo, é lido por vários
leitores, criados em lugares e com valores culturais diferentes dos do autor, de
determinadas classes sociais e econômicas, cada qual com objetivos e expectativas
às vezes até opostos. Diante disso, podemos aventar a hipótese de que, na verdade,
a cada leitura, esse texto, embora seja linguisticamente “decifrado” da mesma forma,
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vai sendo “traduzido” de modos diferentes, a partir das visões de mundo de seus
leitores (ou de seus grupos de leitores).
Visto sob esse ângulo, o texto é um lugar de encontro. Sim, um lugar de
encontro entre um autor – com suas circunstâncias socioeconômicas, culturais,
emocionais, com seu estilo, sua história de leituras etc. – e um leitor, também com
todas essas circunstâncias e características, diferentes ou semelhantes, mas nunca
totalmente iguais. Dessa forma, o texto se multiplica em muitos outros textos (as
suas várias “traduções”), e a leitura passa a ser um diálogo entre sujeitos social,
econômica, cultural e emocionalmente singulares, que participam, nesse momento,
de uma troca.
E quanto à produção ...
Produção de texto não é uma atividade exclusiva dos “profissionais da escrita”
(escritores, jornalistas, publicitários, professores, estudantes) – ela faz parte do
cotidiano de todos aqueles que aprenderam a “ler e escrever”. Em situações
informais ou formais, precisamos sempre redigir algum texto: um bilhete, um abaixo-
assinado, uma carta, um trabalho escolar, a ata de uma reunião, a lista de compras
do supermercado.
Na vida acadêmica, como já lembrei na apresentação deste curso, a todo
momento você será chamado a produzir um texto – e esse texto, muitas vezes, será
lido por alguém. Por isso, é necessário estar sempre preparado para desenvolver
esse tipo de atividade com desenvoltura.
Gosto de dizer aos meus alunos que escrever é como andar de bicicleta.
Quando somos pequenos, alguém nos diz o que devemos fazer para andar de
bicicleta: como nos equilibrar, como olhar para a frente e para os lados, como brecar,
como desviar – enfim, apresentam-nos a “teoria”. Mas nós só aprendemos mesmo
quando montamos na bicicleta e, persistentemente, conseguimos fazer, ao mesmo
tempo, tudo aquilo que nos foi ensinado. Depois de alguns sustos e tombos,
podemos dizer que sabemos andar de bicicleta. E nunca esquecemos como fazer
isso! Mas se ficarmos muito tempo sem andar de bicicleta, quando formos fazê-lo
novamente, demoramos um pouco para “pegar o jeito”.
Na minha prática como professora de Redação, tenho percebido que o
mesmo acontece com o ato de escrever. Procuro orientar meus alunos quanto ao
desenvolvimento do tema e do tipo de texto pedido, mostro-lhes a necessidade da
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Dessa forma, a leitura atenta de bons textos aliada a uma postura reflexiva e
crítica diante deles e da realidade que nos cerca são muito importantes para a
produção de textos competentes.
[1] Alberto Manguel. Uma história da leitura. SP: Companhia das Letras, 1997, p. 19.
[2] A íntegra dessa conferência, intitulada A importância do ato de ler, vem transcrita no livro Leituras do
Brasil: antologia comemorativa do 10º COLE. (org. Márcia Abreu) Campinas: Mercado das Letras, 1995, p.29-
46. Antes desse registro, havia sido publicada sob forma de artigo em A importância do ato de ler: em três
artigos que se completam. São Paulo: Ed. Autores Associados e Cortez Editora, 1982.
[3] Leituras do Brasil: antologia comemorativa do 10º COLE. (org. Márcia Abreu) Campinas: Mercado das
Letras, 1995, p. 36.
[6] Há um famoso poema de João Cabral de Melo Neto, intitulado Tecendo a manhã, que tem sido visto como
uma metáfora dessa inter-relação entre o escritor (galo) e seus leitores (galos), que culminaria em um texto
(manhã) prenhe de significado (luz balão).
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Os objetivos de nossas leituras variam muito: lemos por puro prazer, por
“obrigação”, por necessidade. E, de acordo com o objetivo dessa atividade, será
nosso procedimento de leitura. Considerarei, aqui, que o objetivo da leitura em um
curso universitário é a aquisição de conhecimento, isto é, mesmo que se trate de
uma leitura prazerosa, supõe-se que ela seja, acima de tudo, produtiva. Para isso,
há alguns procedimentos recomendáveis, dos mais simples aos mais complexos,
que listo abaixo:
• observação cuidadosa do material: capa, orelha, folha de rosto, ficha
catalográfica, sumário ou índice, divisão (partes, capítulos, títulos, subtítulos),
ilustrações, referências bibliográficas, presença de gráficos, de anexos e de
glossários;
• consultas, se necessário, a dicionários ou a outras obras que esclareçam
passagens ou termos específicos de difícil compreensão;
• releitura de trechos mais complexos ou mais importantes para o objetivo
específico da leitura;
• reconhecimento de palavras-chave, ideias principais, exemplificações
esclarecedoras, passagens mais importantes;
• relacionamento e integração do que foi reconhecido como importante para
alcançar o objetivo da leitura;
• relacionamento do conhecimento recém-adquirido com o conhecimento
anterior;
• elaboração (por meio das palavras-chave e das ideias principais) de
esquemas, frases esquemáticas, paráfrases e/ou de resumos.
Após a leitura atenta de um texto, percebemos que há, nele, algumas palavras
em torno das quais as outras se organizam para que ele tenha sentido e o leitor
perceba as informações mais importantes que o autor quis registrar e transmitir.
A essas palavras, dá-se o nome de palavras-chave. Elas constituem o
alicerce do texto e podem aparecer de formas diversas: repetidas, modificadas,
retomadas por sinônimos.
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____1 Salvatore D`Onofrio. Metodologia do trabalho intelectual. 2ª ed. S.P.: Atlas, 2000, p.75.
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Intergenericidade
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Modo de preparar
Deixe de molho por algumas horas, nos baldes de promessas, o ingrediente
presidenciável, os salários de fome e os cidadãos desnutridos crus.
Agora refogue o salário congelado com a pitada de violência.
Misture os ingredientes e leve ao forno quente para gratinar por duas horas.
Polvilhe com clichês famosos e sirva em porções mínimas.
(retirado da internet, com adaptações)
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[1] Umberto Eco. Pós-escrito a O nome da rosa. RJ: Nova Fronteira, 1993, p.14.
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Sumarizar
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Como você pôde notar, a palavra cliente sofreu tantas mudanças que, hoje,
pelo menos na área dos programas de qualidade das empresas, ela quer dizer o
oposto do que originariamente significava. Esse exemplo também evidencia o
caráter “aberto” do léxico de uma língua ao qual me referi anteriormente.
Vejamos agora como o sentido de uma palavra é alterado, por exemplo, numa
citada pelo professor Sírio Possenti, em seu livro Os humores da língua:
- Escuta, Godói! Não é melhor a gente tomar um táxi?
- Não, obrigado (hic!). Hoje eu não misturo mais nada.
No final dos anos 1990, circulou, em vários periódicos, uma propaganda da
revista Ponto Cruz na qual foi explorada, de forma bastante criativa, a polissemia da
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Início a aula As palavras e suas famílias, afirmando que nós pensamos com
palavras. Procuro deixar claro que é por meio delas que organizamos nossos
pensamentos, que nos expressamos. Por isso, seria muito bom se lembrássemos as
várias circunstâncias em que as utilizamos.
Imagino que, agora, você esteja em algum lugar tranquilo, lendo, estudando,
discutindo algum conteúdo de seu curso: por exemplo, o do nosso livro texto. Mas,
antes (ou depois) dessa atividade, você passou (ou passará) por outras situações
em que utilizou (ou utilizará) as palavras com outras finalidades e, provavelmente,
de modos totalmente diferentes: o recado preso na geladeira para o seu filho, a
conversa no portão ou no elevador com o vizinho, as palavras trocadas com o
passageiro ao seu lado no ônibus, o bate-papo com os colegas de serviço, as
informações passadas ao seu chefe, os conselhos amigáveis para sua amiga que
brigou com o namorado, a conversa sobre futebol ou sobre o último capítulo da
novela, as impressões trocadas com seus familiares sobre os acontecimentos do dia,
as combinações com seus pais ou filhos para o dia seguinte.
Talvez você não tenha prestado muita atenção, mas em cada uma dessas
situações predominou um nível de linguagem.
Sem muitos problemas ou angústias, conseguimos adequar tanto nosso
comportamento quanto nossa linguagem às diferentes circunstâncias que
vivenciamos ao longo de um dia.
Com um pouco mais de rigor, no momento da escrita, não podemos esquecer
que existem vários níveis de linguagem e, portanto, de vocabulário. Dentre esses
níveis, destacarei três: o coloquial, o culto e o técnico.
O vocabulário de nível coloquial é aquele que utilizamos no dia a dia, com
nossos familiares e amigos, em conversas, bilhetes, e mesmo em cartas pessoais,
isto é, em situações que não exigem formalidade. Portanto, descuidamos, por
exemplo, da pronúncia de certas palavras (como num em vez de não, tá no lugar
de está), das concordâncias verbais e nominais (as casa por as casas), da
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uniformidade das pessoas gramaticais (Você quer que eu te ligue?), das flexões
verbais (Se ele trazer em lugar de Se ele trouxer) – e usamos gírias de montão!
O vocabulário de nível culto é o “oficial”, prescrito pela Nomenclatura
Gramatical Brasileira, que utilizamos em situações mais formais, em textos
acadêmicos, oficiais, profissionais. Nesse nível, tomamos cuidado com a pronúncia
correta das palavras, com as concordâncias verbais e nominais, com a uniformidade
das pessoas gramaticais, com as flexões verbais – e evitamos as gírias.
Já o vocabulário técnico agrupa os termos específicos de uma área do
conhecimento, como a Medicina, a Linguística, o Direito, a Pedagogia, e está, em
geral, intimamente integrado ao de nível culto. Esses termos específicos compõem
subgrupos dentro do léxico da língua – são os campos lexicais.
Suponha que, um dia, em nossa videoaula, eu me dirija aos alunos nestes
termos:
- Moçada, hoje nosso papo é mó barato: vamos trocar umas ideias sobre
o jeitão da gente falar!
Você e seus colegas, com certeza, estranhariam muito, pois essa linguagem
não está nem um pouco adequada à minha função de, por exemplo, ajudá-los a
melhorar o modo de se expressarem.
No entanto, se eu estivesse em minha casa, conversando com meus filhos,
ninguém estranharia se dissesse a eles algo como:
- Moçada, hoje nosso papo foi mó barato! Adorei conversar sobre o trampo da
escola!
As duas situações são totalmente diferentes: na primeira, por mais que me
sinta à vontade com os alunos, meu “papel” é o de uma professora da qual se espera
um mínimo de rigor com relação ao modo de se expressar; na segunda, estou em
uma situação familiar, tentando entender meus filhos adolescentes e participar de
uma situação do cotidiano deles.
Creio que, a partir desses dois exemplos, podemos concluir que, de um modo
espontâneo e natural, conseguimos variar nosso nível de linguagem de acordo com
os interlocutores e com as diferentes situações em que vivemos no nosso dia a dia
– é muito parecido com as roupas que usamos quando vamos à praia ou a uma festa,
ao trabalho ou à colação de grau de nosso primo.
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que tu cheira, e a erva que tu barrufa enfraquece o corpo e deixa tu chué da cabeça e dos
peitos. E aí tu fica moleza pro Aids! Mas o pico é o canal direto pra essa praga que está aí.
Então, malandro, se cobre. Quem gosta de tu é tu mesmo. A saúde é como a liberdade. A
gente dá valor pra ela quando já era!
O texto, falado pelo dramaturgo e ator Plínio Marcos, quer convencer os
presidiários a não usarem drogas injetáveis, a terem relações sexuais somente com
o consentimento do parceiro e a usarem camisinha nas relações sexuais. Para
alcançar esse objetivo, o autor valeu-se do nível coloquial, adequando sua linguagem
à do receptor (vocabulário, construções de frases, pronúncia). Com isso, deve ter
conseguido, mais facilmente, a adesão de seus “ouvintes”. Portanto, foi um recurso
argumentativo totalmente válido o uso de uma linguagem extremamente coloquial.
Pode-se dizer, em suma, que a “língua falada” e a “língua escrita”, a
informalidade e a formalidade são somente diferentes modalidades que
empregamos em contextos diferentes. O importante é atentar para a “adequação” da
linguagem ao que vamos dizer (assunto), a quem receberá a nossa mensagem
(receptor), ao local em que o processo de comunicação vai se desenvolver.
____
1 Vídeo exibido na Casa de Detenção de São Paulo. Agência: Adag, realização: TV Cultura, 1998.
Apud Platão e Fiorin. Op.Cit., p. 281-282.
2 Folha de S.Paulo. 22/2/04, p.A12.
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nossa intenção tratar naquele momento. Com isso, já temos meio caminho andado
para a elaboração de um texto objetivo e conciso.
Do ponto de vista da linguagem, para se alcançar a concisão, é necessário
evitar repetições desnecessárias, palavras supérfluas, o uso exagerado de adjetivos
e as frases longas e confusas. A passagem abaixo, retirada de um texto da
revista Isto É(24/3/93) trata de um caso interessante – e extremo – de concisão:
Carta concisa: Nesta modalidade, permanecem imbatíveis o escritor
francês Victor Hugo (1802-1885) e os seus editores /.../. O autor encontrava-
se em férias, fora de Paris, e queria saber a todo custo como andava a
venda de seu último romance, Os miseráveis. Armou-se, então, de papel e
pena para escrever pura e simplesmente?’ Para sua satisfação, obteve
como resposta: ‘!’
Você deve ter percebido, pela data da publicação do texto acima, que o
“século passado” é o XIX. No entanto, até hoje encontramos, mesmo em publicações
dirigidas ao grande público, como revistas e jornais, textos extremamente prolixos,
pois passam bem longe da clareza, da concisão e da objetividade.
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Então, gostaria de deixar bastante claro para vocês que o objetivo do texto,
seu receptor, as circunstâncias em que é escrito constituem fatores determinantes
da linguagem a ser utilizada.
______ 1 O Estado de S.Paulo. 27/5/2006, p.1;2 Apud Mauro Ferreira. Op.Cit., p.110;3 O
Estado de S.Paulo. 17/9/2006, p.B12.
Em 2002, logo depois que Lula tomou posse como presidente da república,
Angeli publicou uma charge em que há um casal dentro de um carro, conversando.
O marido e a mulher estão vestidos a rigor, ambos seguram um copo, provavelmente
de champanhe; o homem fuma um charuto e a mulher um cigarro, numa piteira.
Percebe-se, no banco da frente, o motorista e, em volta do carro, pessoas sujas,
escuras, pobres. Abaixo do desenho, há o seguinte diálogo:
– Meu Deus! Tanta pobreza, tanta miséria, tanta gente faminta... Querida, chegou
a hora da mudança.
– Para Paris, espero?
O título da charge é “Agora, os ricos também são de esquerda” e será o
ponto de partida para nosso estudo acerca de informações explícitas e implícitas.
Nele, o que nos interessa analisar, em especial, são duas palavras: agora e também.
A palavra agora, no contexto, deixa implícito que, antes, as coisas não aconteciam
como acontecem no flagrante da charge
– se agora os ricos têm determinada postura, pensam de determinado modo,
isso quer dizer que, antes, eles não eram assim. A palavra também, por sua vez,
insinua que há outras classes que são de esquerda, e que a dos ricos vem se juntar
a essas outras classes com relação a suas convicções políticas. Relacionando os
implícitos trazidos pelas duas palavras, podemos dizer que, antes havia classes, que
não a dos ricos, de esquerda, mas que, no momento em que a charge foi feita, os
ricos passaram a compartilhar com elas as mesmas convicções.
Imagine, agora, que você estivesse conversando com uma amiga chamada
Adelaide e perguntasse a ela o seguinte: “– Adelaide, você sabe o telefone da
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Helena? Preciso falar com ela ainda hoje”. E Adelaide lhe respondesse
simplesmente: “– Sei”.
Você ficaria, no mínimo, desapontado ou sem jeito, porque, na verdade,
estava pedindo uma informação à sua amiga – o número do telefone de Helena – e
Adelaide não entendeu o implícito contido em sua pergunta.
Dos dois casos acima analisados, podemos depreender que, nos textos,
sejam eles orais ou escritos, em linguagem verbal ou não verbal, há informações que
são transmitidas explicitamente e outras que o são implicitamente – estão
pressupostas ou subentendidas. Por isso, uma leitura eficiente é aquela que
consegue captar tanto as informações explícitas quanto as implícitas.
Glossário
Pressupostos - São ideias não expressas de maneira explícita, que
decorrem do sentido de certas palavras ou expressões contidas na frase ou mesmo
de sua construção. É o que vimos no título da charge de Angeli e o que acontece
nos exemplos que seguem:
Exemplo
1- José Carlos tornou-se um grande defensor dos direitos humanos.
• explícito: hoje, José Carlos é um grande defensor dos direitos humanos.
• pressuposto: anteriormente, José Carlos não era um grande defensor dos
direitos humanos.
2- Mariana e Antônio foram o primeiro casal a se casar nesta igreja.
• explícito: Mariana e Antônio casaram-se nesta igreja antes de qualquer outro
casal.
• pressuposto: todos os outros casais casaram-se nesta igreja depois de
Mariana e Antônio.
3- Todos os presentes aplaudiram o campeão; até os seus rivais.
• explícito: os seus rivais e as outras pessoas presentes aplaudiram o campeão.
• pressupostos: a) o aplauso dos rivais não era esperado; b) os rivais não
costumam aplaudir os campeões.
4- Meu filho mais velho mora em São Paulo.
• explícito: eu tenho um filho que mora em São Paulo.
• pressupostos: a) eu tenho mais de um filho; b) meu(s) outro(s) filho(s) é(são)
mais novo(s) do que o que mora em São Paulo.
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Exemplo
Há algum tempo, recebi um e-mail com o texto abaixo. Vamos lê-lo.
As colheres de cabo comprido
Dizem que Deus convidou um homem para conhecer o céu e o inferno.
Foram primeiro ao inferno. Ao abrirem a porta, viram uma sala em cujo centro havia
um caldeirão de sopa e à sua volta estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas.
Cada uma delas segurava uma colher de cabo bem comprido que lhes permitia alcançar o
caldeirão, mas não a própria boca. O sofrimento era grande.
Em seguida, foram ao céu. Era uma sala idêntica à primeira: havia o mesmo
caldeirão, as pessoas em volta, as colheres de cabo comprido. A diferença é que todos
estavam saciados.
- Eu não compreendo – disse o homem a Deus – por que aqui as pessoas estão
felizes enquanto na outra sala morrem de aflição, se é tudo igual?
Deus sorriu e respondeu:
Você não percebeu? É porque aqui eles aprenderam a dar comida uns aos outros.
Esse é um texto figurativo, já que foi construído, basicamente, com termos
concretos, isto é, que remetem àquilo que existe no mundo natural (porta, sala,
caldeirão, sopa, colher etc), o que produz um efeito de realidade. Observe, agora, o
seguinte texto:
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Como você deve ter observado, este segundo quadro é mais detalhista que o
primeiro. Quando classificamos os textos em “figurativos” ou ‘temáticos”, formamos
dois grandes grupos nos quais cabem textos muito diferentes entre si; quando os
classificamos em “narração”, “descrição” e “dissertação”, restringimos um pouco
mais. Assim conseguimos perceber um número maior de pormenores e podemos
estabelecer algumas subdivisões, como os dois tipos básicos de dissertação e de
narração, os três tipos básicos de descrição.
Neste momento, você pode levantar a seguinte questão: não existem textos
que misturam as três modalidades? Sem dúvida, existem. O que nos leva a
“classificar” um texto dentro de uma modalidade são as características que
predominam nele, aquelas que o autor escolheu para compô-lo. Você já deve ter lido
um romance, por exemplo, em que aparecem trechos descritivos, diálogos entre
personagens nos quais estão presentes avaliações e argumentações, características
do texto dissertativo. É possível afirmar, então, que poucos são os textos “puros” e
que, em geral, embora predomine neles uma das modalidades, as outras aparecem,
circunstancialmente, entremeadas à que se sobrepõe. A essa presença
denominamos narratividade, descritividade e dissertatividade (as duas primeiras são,
sem dúvida, as mais comuns).
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Fonte: sites.google.com
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O ponto em comum entre esse tipo de texto e as narrações ficcionais é que ambos
são marcados pela temporalidade. É isso que nos permite dizer que nos relatos
há narratividade, ou seja, o modo de ser da narração.
Há narratividade, portanto, em qualquer texto marcado pela sequência
temporal de acontecimentos e pela transformação sofrida pelos seres (animados ou
inanimados) neles envolvidos.
Em sua edição de 2 de junho de 2002, O Estado de S. Paulo deu o seguinte
título a uma das reportagens de seu caderno de “Economia & Negócios”:
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Vamos analisar e entender por que podemos dizer que esse gráfico apresenta
narratividade: em seu título, “Crescimento da população urbana mundial”, já aparece
uma ideia de mudança de situação – a população urbana cresceu, enquanto a rural
diminuiu; as colunas estão agrupadas aos pares e organizadas em ordem
cronológica (1955, 1975, 1995, 2015), já que essa mudança se deu ao longo do
tempo, havendo, inclusive uma projeção para 2015.
Mesmo que o gráfico não tivesse título (o que não deve acontecer), seria
possível perceber a narratividade nas mudanças que percebemos nas colunas que
registram as porcentagens. O mesmo acontece com o gráfico de linha reproduzido
a seguir, que mostra o comportamento da produção e da importação de petróleo, no
Brasil, entre os anos de 1954 e 1999. Há nele, portanto, narratividade.
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Para encerrar, leia o texto abaixo, em linguagem verbal e não verbal: é uma
descrição de processo, já que mostra, passo a passo, as etapas do processo de
clonagem da ovelha Dolly.
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permite, na verdade, distinguir a dissertação da argumentação. A
argumentação, contrariamente (sic) à dissertação, visa persuadir ou
convencer um auditório da validade de uma tese ou proposição. Inclui a
explicação, mas o objetivo da argumentação é construir uma comunicação
persuasiva.
Recursos argumentativos
Dizem que opinião não se discute. Até certo ponto, isso é verdade, já que é
direito de todos ter e externar um ponto de vista. No entanto, os argumentos que
sustentam uma opinião podem ser discutidos, questionados. Por isso, ao
elaborarmos uma dissertação argumentativa, na qual procuramos demonstrar a
validade de um ponto de vista ou defender uma tese sobre determinado tema, é
necessário que a argumentação esteja bem estruturada, tanto na escolha pertinente
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dos fatores que justificam a opinião dada quanto no raciocínio e na linguagem que
os apresentam. É importante que os argumentos escolhidos harmonizem-se com a
totalidade do texto, garantindo sua coerência e evitando possíveis refutações de um
leitor crítico.
O conhecimento de alguns dos principais procedimentos argumentativos pode
ser, portanto, muito útil no momento em que produzimos um texto dissertativo, em
especial o dissertativo argumentativo.
Em vários campos do conhecimento, existem “verdades” que não são
questionadas. Por exemplo, você questionaria a seguinte proposição: A=B; B=C;
portanto A=C? Creio que não. Mas não é só nas ciências exatas que existe esse tipo
de afirmação. Há certas proposições com as quais todos concordam, como: Toda
criança precisa estar bem alimentada para conseguir um bom desempenho
escolar. Ou ainda: A educação é fundamental para o desenvolvimento de um
país. Quando lançamos mão de afirmações desse tipo com o objetivo de justificar
nossa opinião, estamos usando um argumento de valor universal, isto é,
argumentos baseados no consenso. Portanto, além de relevantes e adequados, não
admitem emoções, preconceitos, crenças (marcas de subjetividade) nem lugares-
comuns.
O argumento de prova concreta, por sua vez, é aquele que se sustenta em
fatos de conhecimento geral, dados, estatísticas, leis. Todas essas informações,
quando utilizadas em um texto argumentativo, devem ser exatas, com respaldo na
realidade. Além disso, é preciso interpretá-las com atenção para ficar clara a sua
pertinência e para não se tirar delas inferências ou generalizações descabidas.
Às vezes, quando defendemos uma ideia, procuramos conhecer o que
especialistas no tema já disseram. Então, fazemos citações diretas ou indiretas
desses autores. Nesse caso, estamos usando um argumento de autoridade –
aquele cuja base de sustentação está no pensamento alheio. A citação de autores
renomados, de autoridades em determinado assunto, é positiva na medida em que
revela um produtor de texto não só bem informado, mas também capaz de relacionar
seu próprio pensamento com o de outra pessoa, encontrando neles ponto de contato.
No entanto, é preciso que a citação seja realmente adequada e bem aproveitada no
contexto do trabalho – ela não substitui a argumentação pessoal do produtor do
texto.
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O autor deve ter sempre em mente aonde quer chegar para que seja possível
selecionar as ideias, argumentos, exemplos, dados mais importantes que o levem
de forma lógica e clara à conclusão desejada. Por isso, é necessário não se desviar
do tema, atendo-se à discussão inicial, nem deixar ideias soltas, impedindo que se
perceba o porquê de elas terem sido mencionadas.
Pode-se dizer que a conclusão é a parte mais importante do texto, pois é o
ponto de chegada dele – tudo converge para esse momento em que a discussão se
fecha. Sintética, a conclusão rejeita a repetição de argumentos e o uso de fórmulas
feitas, de clichês, de frases vazias.
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trecho para que você se recorde dele – se quiser, volte à Aula 3 e releia a análise
que fizemos.Op.Cit., p.16
A crise na agricultura brasileira será discutida pelos ministros porque hoje
está muito calor em Brasília. Juscelino, que não viu nem viveu crise econômica
alguma, morreu a fim de enviar um telegrama a suas filhas que, por sinal, moravam
em Paris, onde se estuda muito. Porém, o mundo ficou chocado, já que o bailarino
tropeçou e o avião caiu assim mesmo. Em suma, toda crise é salutar.
Não negociamos o Sócrates, pois ele é insubstituível, inegociável,
imprestável. Você já ouviu essa frase? Segundo o “folclore futebolístico”, quem
a disse, certa vez, foi Vicente Mateus, ex-presidente do Corinthians. Ela também não
pode ser considerada coerente, pois o engano quanto ao significado de “imprestável”
torna o termo contraditório com o que vinha sendo enunciado. Não serve, portanto,
como argumento.
Coerência externa
Entende-se por coerência externa a compatibilidade ou não contradição entre
os dados, fatos e conceitos apresentados em um texto e aqueles tidos como
verdadeiros dentro do quadro de referências em que esse texto se inscreve.
Os exemplos mais comuns de falhas de coerência externa aparecem em
argumentos com dados numéricos:
Oitenta por cento da população do Brasil é composta de jovens.
Cerca de 40% dos brasileiros são analfabetos.
Outro caso frequente é o das generalizações e estereótipos (clichês):
Os políticos são todos corruptos.
As pessoas roubam porque têm fome.
Os alunos da escola pública não entram na Universidade.
Percebe-se, pelos exemplos acima, que o autor de um texto deve estar, em
primeiro lugar, bem informado sobre o tema que está tratando e, também, apto a
refletir profundamente sobre ele, a fim de criticá-lo, relacionando seus diferentes
aspectos, estabelecendo hipóteses, analisando causas e consequências. Enfim,
deve deixar patentes seu grau de informatividade, sua capacidade reflexiva e crítica
e sua habilidade de organização e coerência textuais.
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