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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS

Núcleo de Ensino a Distância

Leitura e Produção de Texto

Núcleo Comum

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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
Núcleo de Ensino a Distância

Créditos e Copyright

OLIVEIRA, Maria Tereza Ginde de.

Leitura e produção de texto / Maria Tereza Ginde de


Oliveira: Santos,2007. Atualizado por Irene da Silva Coelho,2023.
71f.
Universidade Metropolitana de Santos, Licenciatura em Letras,2007.

1. Ensino a distância. 2. Licenciaturas. 3. Leitura e Produção de Textos. I. Título

CDD 301

CDD XXXXX
Vanessa Laurentina Maia
Crb8 71/97
Bibliotecária UNIMES

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curso oriundo da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em
qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos.

É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato.

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SUMÁRIO
Aula 01_O que é ler e produzir textos? ....................................................................... 4
Aula 02_Ler na universidade ...................................................................................... 8
Aula 03_As relações intertextuais ............................................................................. 12
Aula 04_Paráfrase e sumarização ............................................................................ 17
Aula 05_As palavras e seus sentidos ....................................................................... 21
Aula 06_As palavras e seus níveis ........................................................................... 24
Aula 07_Linguagem: clareza x ambiguidade............................................................. 28
Aula 08_Informações explícitas e implícitas ............................................................. 32
Aula 09_Tipos de texto e o conceito de gênero do discurso ..................................... 36
Aula 10_A narração e a narratividade ....................................................................... 42
Aula 11_A descrição e a descritividade .................................................................... 45
Aula 12_A dissertação e os recursos argumentativos .............................................. 48
Aula 13_A exposição e a argumentação ................................................................... 54
Aula 14_Coesão referencial ...................................................................................... 58
Aula 15_Coesão sequencial...................................................................................... 63
Aula 16_Coerência textual ........................................................................................ 66

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Aula 01_O que é ler e produzir textos?


Palavras-chave: apresentação; leitura; produção.

Quando o assunto é “leitura”, o que lhe vem à mente? Provavelmente, uma


porção de livros, uma profusão de papéis (ou – por que não? – uma tela de
computador) lotados de palavras. Será a leitura algo simples ou árduo? Seria a
decifração dos signos linguísticos. No entanto, quero aqui registrar uma visão mais
ampla de leitura, sugerida por Alberto Manguel na passagem abaixo transcrita:
Ler as letras de uma página é apenas um de seus (da leitura) muitos
disfarces. O astrônomo lendo um mapa de estrelas que não existem mais;
o arquiteto japonês lendo a terra sobre a qual será erguida uma casa, de
modo a protegê-la das forças malignas; o zoólogo lendo os rastros de
animais na floresta; o jogador lendo os gestos do parceiro antes de jogar a
carta vencedora; a dançarina lendo as notações do coreógrafo e o público
lendo os movimentos da dançarina no palco; o tecelão lendo o desenho
intrincado de um tapete sendo tecido; o organista lendo várias linhas
musicais simultâneas orquestradas na página; os pais lendo no rosto do
bebê sinais de alegria, medo ou admiração; o adivinho chinês lendo as
marcas antigas na carapaça de uma tartaruga; o amante lendo cegamente
o corpo amado à noite, sob os lençóis; o psiquiatra ajudando os pacientes
a ler seus sonhos perturbadores; o pescador havaiano lendo as correntes
do oceano ao mergulhar a mão na água; o agricultor lendo o tempo no céu
– todos eles compartilham com os leitores de livros a arte de decifrar e
traduzir signos. [1]

“... a arte de decifrar e traduzir signos”. É desse ponto que gostaria de partir
para que possamos, juntos, refletir um pouco acerca de leitura e de produção de
textos – na verdade (e ao final), da noção de texto. Se, como diz Manguel,
conseguimos ler os rastros de animais, o casco das tartarugas, o olhar do parceiro,
o corpo do ser amado, é porque vivemos em um mundo repleto de textos que podem
– e esperam – ser lidos: não só decifração, mas também a compreensão,
interpretação e tradução.
Paulo Freire, em conferência proferida no 3º Congresso de Leitura (Campinas,
1981), contou que, ao preparar sua fala, foi se distanciando no tempo, voltando à
infância, retomando os “diferentes momentos em que o ato de ler se veio colocando”
em sua vida:” Primeiramente, a leitura do mundo, do pequeno mundo em que me
envolvia. /.../ Retomo a infância distante, buscando a compreensão do meu ato de
ler, em um mundo particular em que me movia e que, até onde não sou traído pela
memória, me é absolutamente significativo”. E continuou enumerando os “textos”
que ia lendo: a casa em que nasceu, o quintal, as árvores, os pássaros, a chuva, o
vento – e o seu medo –, para mostrar que “o primeiro ato de leitura do mundo, é a
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leitura do real, é a leitura do concreto, para depois ser, ou começar a ser, a leitura
da palavra”.
Portanto, antes mesmo de lermos as palavras, já praticamos atos de leitura,
pois conseguimos atribuir significados a outros “textos” que não os verbais. É a
conhecida e tão citada constatação enunciada por Paulo Freire nessa palestra em
Campinas: “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta
implica na continuidade da leitura daquele”.
No cotidiano de cada um de nós, nossos atos de leitura são variados:
- o bolo feito a partir da leitura da receita,
- a montagem da estante depois da leitura do manual,
- a decisão de seguir viagem por tal estrada após a consulta ao mapa,
- a diminuição da velocidade do carro mediante placa indicativa de área escolar,
- a adesão a uma luta sindical;
- a assinatura de um abaixo-assinado;
- a opção por votar em determinado candidato;
- a elaboração de um relatório de estágio;
- a compra de um livro após a leitura de uma resenha publicada no jornal;
- a resposta dada na prova de Psicologia;
- a conversa com os amigos na saída do cinema ou do teatro;
- a carta de protesto contra a posição adotada no editorial de um jornal;
- a redação da dissertação do Trabalho de Conclusão do curso de Pedagogia.
Nessas e em inumeráveis outras situações, está implícita a leitura: “... a arte
de decifrar e traduzir signos”, segundo Manguel, ou, como quer Paulo Freire, a leitura
da “palavra-mundo”. Daí o porquê de serem plurais, diferentes, e até divergentes, as
leituras que fazemos dos textos.
Para que fique clara essa ideia, pense, agora, em um texto qualquer, um
conto, por exemplo: alguém, criado num determinado lugar, com certos valores
individuais e/ou culturais, pertencente a uma determinada classe social, com alguns
objetivos e expectativas, produz um texto que, ao longo do tempo, é lido por vários
leitores, criados em lugares e com valores culturais diferentes dos do autor, de
determinadas classes sociais e econômicas, cada qual com objetivos e expectativas
às vezes até opostos. Diante disso, podemos aventar a hipótese de que, na verdade,
a cada leitura, esse texto, embora seja linguisticamente “decifrado” da mesma forma,

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vai sendo “traduzido” de modos diferentes, a partir das visões de mundo de seus
leitores (ou de seus grupos de leitores).
Visto sob esse ângulo, o texto é um lugar de encontro. Sim, um lugar de
encontro entre um autor – com suas circunstâncias socioeconômicas, culturais,
emocionais, com seu estilo, sua história de leituras etc. – e um leitor, também com
todas essas circunstâncias e características, diferentes ou semelhantes, mas nunca
totalmente iguais. Dessa forma, o texto se multiplica em muitos outros textos (as
suas várias “traduções”), e a leitura passa a ser um diálogo entre sujeitos social,
econômica, cultural e emocionalmente singulares, que participam, nesse momento,
de uma troca.
E quanto à produção ...
Produção de texto não é uma atividade exclusiva dos “profissionais da escrita”
(escritores, jornalistas, publicitários, professores, estudantes) – ela faz parte do
cotidiano de todos aqueles que aprenderam a “ler e escrever”. Em situações
informais ou formais, precisamos sempre redigir algum texto: um bilhete, um abaixo-
assinado, uma carta, um trabalho escolar, a ata de uma reunião, a lista de compras
do supermercado.
Na vida acadêmica, como já lembrei na apresentação deste curso, a todo
momento você será chamado a produzir um texto – e esse texto, muitas vezes, será
lido por alguém. Por isso, é necessário estar sempre preparado para desenvolver
esse tipo de atividade com desenvoltura.
Gosto de dizer aos meus alunos que escrever é como andar de bicicleta.
Quando somos pequenos, alguém nos diz o que devemos fazer para andar de
bicicleta: como nos equilibrar, como olhar para a frente e para os lados, como brecar,
como desviar – enfim, apresentam-nos a “teoria”. Mas nós só aprendemos mesmo
quando montamos na bicicleta e, persistentemente, conseguimos fazer, ao mesmo
tempo, tudo aquilo que nos foi ensinado. Depois de alguns sustos e tombos,
podemos dizer que sabemos andar de bicicleta. E nunca esquecemos como fazer
isso! Mas se ficarmos muito tempo sem andar de bicicleta, quando formos fazê-lo
novamente, demoramos um pouco para “pegar o jeito”.
Na minha prática como professora de Redação, tenho percebido que o
mesmo acontece com o ato de escrever. Procuro orientar meus alunos quanto ao
desenvolvimento do tema e do tipo de texto pedido, mostro-lhes a necessidade da

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clareza e da objetividade na apresentação das ideias, ensino-os a organizar as


frases e a usar os elementos de ligação, recordo com eles, quando necessário, as
“regras gramaticais” – em suma, apresento-lhes a “teoria”. Mas, obviamente, eles só
produzem textos realmente quando “põem a mão na massa”, isto é, quando
escrevem, quando conseguem fazer, ao mesmo tempo, tudo aquilo que lhes foi
ensinado. É como andar de bicicleta: mais competentes ficam quanto mais
escrevem; mais dificuldades aparecem quanto maior é o tempo que ficam sem
escrever!
Portanto, produzir textos é uma atividade que se aprende, que se desenvolve,
não é um “dom” que só alguns “iniciados” possuem, nem uma “inspiração” soprada
por uma musa benevolente. Exige empenho, trabalho, preparação, concentração,
pois muitas são as habilidades que acionamos, muitos são os conhecimentos que
precisamos articular no momento da escritura, tudo ao mesmo tempo, para que um
texto seja bem-sucedido.
Muitos estudantes ficam frustrados com professores de redação que não dão
“dicas”. Na verdade, não é disso que precisamos se quisermos redigir bem.
Escrever bem é o resultado de um percurso constituído de muita prática,
muita reflexão e de muita leitura. É uma ação em que o sujeito se envolve
de forma total, com sua bagagem de conhecimentos e experiências sobre
o mundo e sobre a linguagem. [1]

Dessa forma, a leitura atenta de bons textos aliada a uma postura reflexiva e
crítica diante deles e da realidade que nos cerca são muito importantes para a
produção de textos competentes.

[1] Alberto Manguel. Uma história da leitura. SP: Companhia das Letras, 1997, p. 19.
[2] A íntegra dessa conferência, intitulada A importância do ato de ler, vem transcrita no livro Leituras do
Brasil: antologia comemorativa do 10º COLE. (org. Márcia Abreu) Campinas: Mercado das Letras, 1995, p.29-
46. Antes desse registro, havia sido publicada sob forma de artigo em A importância do ato de ler: em três
artigos que se completam. São Paulo: Ed. Autores Associados e Cortez Editora, 1982.
[3] Leituras do Brasil: antologia comemorativa do 10º COLE. (org. Márcia Abreu) Campinas: Mercado das
Letras, 1995, p. 36.
[6] Há um famoso poema de João Cabral de Melo Neto, intitulado Tecendo a manhã, que tem sido visto como
uma metáfora dessa inter-relação entre o escritor (galo) e seus leitores (galos), que culminaria em um texto
(manhã) prenhe de significado (luz balão).

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Aula 02_Ler na universidade

Palavras-chave: ler na universidade; o leitor; procedimentos.

Os objetivos de nossas leituras variam muito: lemos por puro prazer, por
“obrigação”, por necessidade. E, de acordo com o objetivo dessa atividade, será
nosso procedimento de leitura. Considerarei, aqui, que o objetivo da leitura em um
curso universitário é a aquisição de conhecimento, isto é, mesmo que se trate de
uma leitura prazerosa, supõe-se que ela seja, acima de tudo, produtiva. Para isso,
há alguns procedimentos recomendáveis, dos mais simples aos mais complexos,
que listo abaixo:
• observação cuidadosa do material: capa, orelha, folha de rosto, ficha
catalográfica, sumário ou índice, divisão (partes, capítulos, títulos, subtítulos),
ilustrações, referências bibliográficas, presença de gráficos, de anexos e de
glossários;
• consultas, se necessário, a dicionários ou a outras obras que esclareçam
passagens ou termos específicos de difícil compreensão;
• releitura de trechos mais complexos ou mais importantes para o objetivo
específico da leitura;
• reconhecimento de palavras-chave, ideias principais, exemplificações
esclarecedoras, passagens mais importantes;
• relacionamento e integração do que foi reconhecido como importante para
alcançar o objetivo da leitura;
• relacionamento do conhecimento recém-adquirido com o conhecimento
anterior;
• elaboração (por meio das palavras-chave e das ideias principais) de
esquemas, frases esquemáticas, paráfrases e/ou de resumos.
Após a leitura atenta de um texto, percebemos que há, nele, algumas palavras
em torno das quais as outras se organizam para que ele tenha sentido e o leitor
perceba as informações mais importantes que o autor quis registrar e transmitir.
A essas palavras, dá-se o nome de palavras-chave. Elas constituem o
alicerce do texto e podem aparecer de formas diversas: repetidas, modificadas,
retomadas por sinônimos.

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Depois de encontrá-las, é sempre produtivo tentar usá-las, seja em


esquemas, em pequenas frases ou em resumos. Com isso, podemos perceber o
nosso entendimento do que foi lido e a nossa capacidade de registrar e transmitir o
conhecimento adquirido por meio da leitura. Esse procedimento traz outra vantagem:
o enriquecimento de nosso vocabulário. E é bom lembrar que, na universidade, é
necessário, realmente, sentirmo-nos à vontade com o vocabulário específico da área
que estamos cursando.
O esquema é uma anotação de leitura feita por meio das palavras-chave,
com o auxílio de flechas, chaves e outros sinais, usando-se, às vezes, cores
variadas; enfim, cada leitor tem um modo muito particular de elaborar esquemas,
tanto que, em geral, outras pessoas não conseguem decifrá-los. Eles são úteis,
também, para anotações de aulas.
O resumo nada mais é do que um esquema estruturado em orações
completas, com sujeito, verbo e complemento, isto é, essas orações devem ter
sentido completo. É, portanto, uma síntese organizada, com o máximo de
objetividade possível, a partir das ideias principais contidas no texto ou daquelas que
mais nos interessam no momento. O resultado é um texto conciso e seletivo.
No resumo, muitas vezes chegamos a copiar expressões e pequenos trechos,
anotando a página em que aparecem. Tais cuidados são necessários especialmente
quando pretendemos fazer, mais tarde, algum trabalho escrito a partir dessa leitura
– poderemos usar, então, trechos selecionados como uma citação que abone ou
justifique algo que dissermos. Creio que nem preciso dizer da honestidade de
registrarmos a fonte. Após a elaboração do resumo, o leitor pode – e deve – redigir,
sinteticamente, suas impressões sobre o texto lido, a importância dele para futuros
estudos.
Outro procedimento interessante é a elaboração de uma paráfrase do texto
lido. Esse tipo de anotação consiste em registrarmos as principais ideias do texto de
um modo mais simples, usando o nosso próprio vocabulário. A paráfrase é uma boa
estratégia nas seguintes situações: o texto é o primeiro contato com um assunto
totalmente novo para nós; o texto lido é muito complexo; a linguagem do autor é
prolixa. Como no resumo, podemos, ao final, redigir nossa avaliação do material.
Os procedimentos acima são muito comuns quando estudamos e devem fazer
parte da rotina dos universitários. Mas há, ainda, outros tipos de texto que

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produzimos a partir de uma ou várias leituras. O principal e mais comum é a resenha


crítica.
De certa forma, a resenha crítica pressupõe, assim como o resumo, uma
etapa de anotações e de sínteses para que, em seguida, seu autor possa apresentar,
como diz o professor Salvatore D`Onofrio: “considerações críticas sobre o trabalho
científico ou artístico, analisando sua estrutura e sua importância, não fugindo da
responsabilidade de apontar também defeitos graves, se for o caso”.
Podemos perceber, por essas explicações, que a resenha requer um trabalho
analítico-crítico mais apurado. Assim, uma resenha crítica costuma conter:
• referências bibliográficas (título, subtítulo, edição, editora, data, número de
páginas);
• apresentação do(s) autor(es) (dados biográficos relevantes, formação,
atividades);
• apresentação e discussão das principais ideias presentes na obra (tema,
opiniões, teorias, conhecimentos prévios necessários, conclusões,
metodologia utilizada);
• informações acerca da estrutura (partes, capítulos, tópicos);
• considerações sobre a linguagem (precisão, clareza, concisão, prolixidade,
vocabulário);
• indicações sobre o público a que se destina.
Percebe-se, portanto, que esse tipo de trabalho prevê uma leitura atenta e
minuciosa da obra a ser resenhada, a elaboração de um resumo que apresente
realmente as ideias mais importantes do livro, sua abrangência, assim como os
objetivos do autor, para que o leitor da resenha possa ter uma ideia clara do que
pode encontrar nessa obra se resolver lê-la.
Como trabalho acadêmico, a resenha é um exercício de compreensão e de
crítica, servindo, ainda, para desenvolver a capacidade de expressão dos
estudantes, já que ela, além de bem estruturada, segundo as normas do trabalho
científico e acadêmico, deve ser bem redigida, evitando-se construções da oralidade
e empregando-se um vocabulário adequado e preciso.
Como já disse anteriormente, os procedimentos e tipos de textos acima
comentados fazem parte da rotina dos estudantes universitários. Há outros,
entretanto, que são de maior fôlego, como as monografias apresentadas ao final de

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“cursos monográficos”, isto é, que fazem um recorte bastante específico dentro de


determinada disciplina, e os trabalhos de conclusão de curso, para os quais converge
todo o conhecimento adquirido ao longo de um bacharelado ou de uma licenciatura.
No entanto, não irei comentá-los aqui, pois costumam ser tratados
pormenorizadamente, e com muito mais propriedade, pelos professores de
Metodologia do Trabalho Científico (ou qualquer outro título que se dê à disciplina
que trata deles).
De qualquer forma, vale lembrar que, da leitura à redação, há todo um trabalho
de reflexão e de trato com as palavras ao qual precisamos nos dedicar a fim de que
possamos desenvolver, cada vez mais, nossas habilidades de leitura e de redação.

____1 Salvatore D`Onofrio. Metodologia do trabalho intelectual. 2ª ed. S.P.: Atlas, 2000, p.75.

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Aula 03_As relações intertextuais

Palavras-chave: diálogo entre textos; relações; procedimentos.

A leitura e a compreensão de textos não se restringem ao conhecimento do


vocabulário e das estruturas frasais de nossa língua materna – são vários os fatores
de que elas dependem.
Dentre esses fatores, podemos distinguir a correlação existente entre o texto
que estamos lendo e outros anteriormente produzidos, sejam eles em linguagem
verbal ou não verbal. Quando lemos ou ouvimos alguém dizer, por exemplo, que
determinada pessoa está “deitada eternamente em berço esplêndido”, percebemos
que há, na frase, uma referência a um outro texto, que conseguimos facilmente
identificar: o Hino Nacional Brasileiro. Isso significa que, para entender alguns textos
e suas intenções, é necessário um pré-requisito: conhecer outros textos e identificá-
los em outros contextos. Pode-se dizer que um “pega carona” com o outro, de modo
que seu significado e/ou sua intenção dependem do conhecimento que temos
daquele a que se refere.
Portanto, muitas são as “vozes” registradas em um texto, além da do próprio
autor, e muitos, também, os modos de um texto referir-se a outro. Nos textos em
linguagem verbal, o mais óbvio é a transcrição fiel do texto alheio, em que o emissor
declara de modo explícito o procedimento, por meio de aspas e, algumas vezes, da
citação da fonte. É o caso, por exemplo, de textos jornalísticos informativos, em que
os autores utilizam falas de autoridades ou de pessoas envolvidas no fato narrado,
para enriquecer, comprovar e ilustrar suas matérias. Isso acontece, ainda, em textos
científicos, dissertações acadêmicas, artigos de opinião, em que a transcrição
rigorosa de autoridades no assunto apresentado reforça a estratégia argumentativa
do texto. E é o que vem acontecendo, também, nestas nossas aulas, nas quais,
muitas vezes, recorro – e recorrerei – a outros autores para respaldar os conceitos
que desejo passar para você, ou mesmo para exemplificá-los.
A esse procedimento de recuperar um texto por meio de outro, tirando proveito
dele, seja de seu conteúdo, seja de sua estrutura formal, dá-se o nome
de intertextualidade ou relações intertextuais.

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Em seu livro Pós-escrito O nome da rosa, Umberto Eco descreve o processo


de criação de seu romance, ambientado na Idade Média: relendo os cronistas
medievais, o autor foi se apropriando do ritmo e do estilo deles para, ao narrar, fazê-
lo “pela boca de um cronista da época”. Com isso, segundo ele, teria redescoberto
“aquilo que os escritores sempre souberam (e tantas vezes disseram): os livros falam
sempre de outros livros e toda história conta uma história já contada”.
O procedimento de Umberto Eco não é, então, uma citação literal – nesse
caso, ela pode ser identificada pela semelhança de estilo. É, também, o que vem
acontecendo com as inúmeras e já famosas “retomadas “da Canção do Exílio, de
Gonçalves Dias.

Minha terra tem macieiras da


Minha terra tem palmeiras Califórnia
Onde canta o Sabiá. Onde cantam gaturamos de
Gonçalves Dias Veneza.
Murilo Mendes

Minha terra tem palmeiras


Minha terra tem palmares Onde canta o tico-tico
Onde gorjeia o mar Enquanto isso o sabiá
Oswald de Andrade Vive comendo o meu fubá
Cacaso

Minha amada tem palmeiras Um sabiá


Onde cantam passarinhos na palmeira, longe
Ferreira Gullar Carlos Drummond de Andrade

Minha Dinda tem cascatas


Minha terra tem Palmeiras Onde canta o curió.
Corinthians e outros times Não permita Deus que tenha
Eduardo Alves da Costa De voltar pra Maceió.
Jô Soares

Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras?


lá? Não. Minha terra tem engenhocas
ah! de rapadura,
sabiá... cachaça e açúcar (...)
papá... Tem cana caiana e cana crioula,
maná... cana pitu, cana rajada, cana-de-
sofá... governo

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sinhá... e muitas outras canas e garapas


(...)
cá? Carlos Drumond de Andrade
bah!
José Paulo Paes

Minha Dinda tem cascatas Minha terra tem palmeiras


Onde canta o curió. onde sopra o vento forte
Não permita Deus que tenha da fome com medo muito
De voltar pra Maceió. principalmente da morte
Jô Soares Gilberto Gil e Torquato Neto

Vou voltar, sei que ainda


Minha terra não tem palmeiras...
Vou voltar para o meu lugar
E em vez de um mero sabiá,
Foi lá e é ainda lá
Cantam aves invisíveis
Que eu hei de ouvir cantar
Nas palmeiras que não há.
Uma sabiá, cantar uma sabiá
Mario Quintana
Tom Jobim e Chico Buarque

As relações intertextuais não são exclusivas da literatura nem dos textos em


linguagem verbal, já que aparecem em várias áreas e esferas da produção humana.
A famosa Mona Lisa (1506), de Leonardo da Vinci, por exemplo, é uma das
obras de arte mais parodiadas do mundo. São famosas as versões de Marcel
Duchamp (1919), que “presenteou” a Mona Lisa com um bigode, e do pintor
colombiano Fernando Botero (1978), que a fez muito gorda, como, aliás, a maioria
de suas “personagens”. Até Maurício de Sousa tem uma Mônica Mona Lisa!
Na área da publicidade, já nos acostumamos, também, com a presença da
intertextualidade, inclusive com o aproveitamento de obras de arte famosas. Um dos
casos mais conhecidos é justamente uma recriação da Mona Lisa: a propaganda do
produto Mon Bijou em que Carlos Moreno foi fotografado com roupas semelhantes
às da Mona Lisa, numa postura também semelhante à dela (inclusive a posição das
mãos), contra um fundo idêntico ao do famoso quadro. Essa intertextualidade é
reforçada pela frase, que vem na parte inferior da foto: “Mon Bijou deixa sua roupa
uma perfeita obra-prima”.

Intergenericidade

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Encontramos também a relação entre diferentes gêneros textuais, tal


característica é analisada por Ursula Fix (1997, p. 97). A autora usa a expressão
"intertextualidade intergêneros” para designar a mescla de gêneros, ou seja,
ocorrência em que um gênero assume a função de outro.

A questão da intertextualidade intergêneros evidencia-se como uma mescla


de funções e formas de gêneros diversos num dado gênero e deve ser
distinguida da questão da heterogeneidade tipológica do gênero, que diz
respeito ao fato de um gênero realizar várias sequências de tipos textuais
(por exemplo, o caso da carta pessoal citada). No exemplo acima, temos
um gênero funcional (artigo de opinião) com o formato de outro (poema).
Em princípio, isto não deve trazer dificuldade interpretativa, já que o
predomínio da função supera a forma na determinação do gênero, o que
evidencia a plasticidade e dinamicidade dos gêneros. Resumidamente, em
relação aos gêneros, temos: (1) intertextualidade intergêneros == um
gênero com a função de outro (2) heterogeneidade tipológica == um gênero
com a presença de vários tipos.

E agora, pense: Que gênero é este?


Lasanha à recessão gratinada
Ingredientes
1 membro presidenciável da Academia de Letras
1 pitada de violência
1 ano de salário congelado
2 salários de fome (vulgo salário mínimo)
5 cidadãos desnutridos crus
5 baldes de promessas do tipo “prometo zelar pelos interesses do povo brasileiro
sem jamais pensar em interesses pessoais”
3 tabletes de clichês famosos como “O Brasil é um gigante adormecido”

Modo de preparar
Deixe de molho por algumas horas, nos baldes de promessas, o ingrediente
presidenciável, os salários de fome e os cidadãos desnutridos crus.
Agora refogue o salário congelado com a pitada de violência.
Misture os ingredientes e leve ao forno quente para gratinar por duas horas.
Polvilhe com clichês famosos e sirva em porções mínimas.
(retirado da internet, com adaptações)

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Texto retirado do Programa Gestão da Aprendizagem Escolar - Gestar II. Língua


Portuguesa: Caderno de Teoria e Prática 3 - TP3: gêneros e tipos textuais. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.

[1] Umberto Eco. Pós-escrito a O nome da rosa. RJ: Nova Fronteira, 1993, p.14.

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Aula 04_Paráfrase e sumarização

Palavras-chave: tipos de paráfrase; sumarização; escrita.

A paráfrase é um texto que busca deixar mais claras e objetivas as


informações contidas em outro texto já existente, com o uso de outras palavras e,
geralmente, com uma organização frasal diferente - uma construção formal que não
traz nenhuma informação nova com relação ao texto original.
No âmbito da produção textual escrita, “parafrasear, portanto, é expressar as
ideias de alguém com uma construção e um vocabulário próprios. Ela possibilita a
construção de gêneros textuais, como o resumo, a resenha e o artigo científico”
(KÖCHE, BOFF, PAVANI, 2006, p.91).(grifos nossos)
Segundo Lucília H. do Carmo Garcez, a paráfrase deve ser muito bem
elaborada, pois, caso contrário, pode causar “mal-entendidos prejudiciais à
comunicação e, se não houver citação clara do autor das ideias” (2002, p.58), é tida
como plágio.
Para exemplificar, imaginemos que um estudante, ao redigir um texto, queira
justificar suas observações por meio da autoridade da Prof.ª Lucília. A ideia está
registrada no seguinte trecho: “Todos podem vir a ser bons redatores. Entretanto,
escrever não é um ato espontâneo. Exige muito empenho, é um trabalho duro”.
(GARCEZ, 2002, p.10)
Há dois mecanismos básicos de paráfrases: as que se baseiam no léxico e
as que se baseiam na sintaxe.
É possível fazermos paráfrases só com base no léxico, isto é, fazendo
equivalências no nível da palavra (substantivos, adjetivos, verbos, preposições).
Vejamos alguns desses mecanismos.
1. Predicado converso
• Predicado converso com uso de substantivo:
Maria é mãe de Ana = Ana é filha de Maria.
• Predicado converso com uso de adjetivo:
O futebol do Brasil é superior ao de Portugal = O futebol de Portugal é inferior ao do
Brasil.
• Predicado converso com uso de verbo:

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Pedro entregou o livro a Otávio = Otávio recebeu o livro de Pedro.


• Predicado converso com uso de preposição:
A universidade fica antes da agência de correios = A agência de correios fica
depois da universidade.
2) Predicado simétrico
• Predicado simétrico com substantivo:
Paulo é irmão de Pedro = Pedro é irmão de Paulo.
• Predicado simétrico com adjetivo:
O futebol do Brasil é tão bom quanto o futebol de Portugal = O futebol de Portugal é
tão bom quanto o futebol do Brasil.
• Predicado simétrico com verbo:
Maria ama José = José ama Maria.
• Predicado simétrico com locuções prepositivas:
A universidade fica perto da agência do correio = A agência do correio fica perto da
universidade.
3) Troca de expressões baseadas em diferentes verbos-suporte
José tem barba = José é barbudo.
José tem muita idade = José é muito idoso, muito velho.
José tem paciência = José é paciente.
4) Expressão das mesmas relações por meio de palavras que pertencem a classes
morfossintáticas diferentes
Antes da palestra, o professor pediu silêncio = A palestra do professor foi precedida
pelo pedido de silêncio
Por causa da chuva, os convidados chegaram atrasados = A chuva provocou o
atraso dos convidados
e) Termos sinônimos
Ele era uma pessoa calma = Ele era uma pessoa tranquila
A aula estava muito chata = A aula estava muito maçante = A aula estava muito
tediosa
Mecanismos de paráfrases baseados na sintaxe
A paráfrase acontece usando-se as mesmas palavras, ou palavras da mesma
família, mudando-se apenas a construção. Vejamos alguns exemplos:
1) formação da voz passiva

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O aluno realizou a pesquisa = a pesquisa foi realizada pelo aluno


2) nominalização
A justiça ordenou que a criança fosse imediatamente entregue aos pais = A justiça
ordenou a entrega imediata da criança aos pais
3) substituição de uma forma verbal finita por uma forma verbal infinita
Seria bom que ele solicitasse uma revisão do carro = Seria bom ele solicitar uma
revisão do carro.
4) substituição de verbos por advérbios e vice-versa
Algumas substituições possíveis:
aparentemente: parecer
possivelmente: poder
necessariamente: precisar
geralmente/habitualmente: costumar
Os ensaios da banda são feitos habitualmente nas noites de quarta-feira = Os
ensaios da banda costumam ser feitos na noite de quarta-feira.
Os resultados dos exames de Ana aparentemente estão corretos = Os resultados
dos exames de Ana parecem estar corretos.
5) Substituição de orações desenvolvidas por orações reduzidas e vice-versa
Quando chegou em casa, ligou a televisão para ver o jogo = Chegando em casa,
ligou a televisão para ver o jogo (reduzida de gerúndio)
Era necessário que ele se detivesse sobre o caso = Era necessário ele se deter sobre
o caso (reduzido de infinitivo).
Feito o trabalho, foi descansar (reduzida de particípio) = Depois que fez o trabalho,
foi descansar.
6) Substituição de expressão formada de verbo “semanticamente fraco” +substantivo
por um único verbo.
Efetuar o cálculo do imposto = calcular o imposto.
Fazer a compra de um microscópio = comprar o microscópio
Realizar a medição da casa = medir a casa
7) Uso do “se” apassivador para tornar a sentença mais impessoal ou “mais leve”
Pesquisadores demonstraram que o uso contínuo de celulares afeta a memória =
Demonstrou-se que o uso contínuo de celulares afeta a memória.

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Foram detectados vários tremores de terra na região = Registraram-se vários


temores de terra na região.

Sumarizar

Podemos sumarizar diferentes tipos de informações: textos, acontecimentos,


filmes, artigos, CDs, livros etc.) e essa sumarização pode ser materializada como um
resumo.
As informações provenientes de um texto podem ser sumarizadas de
diferentes formas, de acordo com a situação em que nos encontramos. Conforme o
tipo de destinatário e de acordo com o que julgamos ser o objetivo desse destinatário.
Conforme Machado (2011, p.25 e 26), fazemos algumas operações como:
1.No supermercado, Paulo encontrou Margarida, que estava usando um
lindo vestido azul de bolinhas amarelas.
Sumarização: Paulo encontrou Margarida.
Informações excluídas: circunstâncias que envolvem o fato (no
supermercado), qualificações/ descrições de personagens (que estava
usando um lindo vestido de bolinhas amarelas.
2.Você deve fazer as atividades, pois, do contrário, não vai aprender e
vai tirar nota baixa.
Sumarização: Você deve fazer as atividades.
Informações excluídas: justificativas para uma afirmação.
3.Maria era uma pessoa muito boa. Gostava de ajudar as pessoas.
Informações excluídas: a oração "gostava de ajudar as pessoas" é
facilmente inferível da anterior, devido a nosso conhecimento de
mundo.
4. Discutiremos a construção de textos argumentativos, isto é, aqueles
textos nos quais o autor defende determinado ponto de vista por meio do
uso de argumentos, procurando convencer o leitor da sua posição.
Informações excluídas: a oração introduzida por "isto é" é explicação de
"textos argumentativos" e, portanto, pode ser excluída.
5.Não corra tanto com seu carro, pois, quando se corre muito, não é
possível ver a paisagem e, além disso, o número de acidentes fatais
aumenta com a velocidade.
Informações excluídas: as orações seguintes são justificativas,
observe o conectivo "pois".
6.O principal suspeito do assassinato era o marido: era ciumento e não tinha
um álibi, dado que afirma ter ficado rodando a casa para ver se a mulher se
encontrava com o amante.
Informações excluídas: as orações que vêm depois dos dois pontos
são explicações ou justificativas da primeira. Observe que há um "pois"
ou "porque" implícito: "(pois) era ciumento e não tinha um álibi ( ... )"
7.De manhã, lavou a louça, varreu a casa, tirou o pó e passou roupa. À
tarde, foi ao banco pagar contas, retirar talão de cheques e extrato e, à noite,
preparou aula, corrigiu os trabalhos e elaborou a prova.
Informações excluídas: só é possível resumir, reformulando as
orações e utilizando termos mais genéricos. Por exemplo: De manhã,
lavou a louça, varreu a casa, tirou o pó e passou roupa→De manhã, realizou
as tarefas domésticas.

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Aula 05_As palavras e seus sentidos

Palavras-chave: léxico; denotação; conotação.

Nós pensamos com palavras. E quando queremos ou precisamos expressar


verbalmente nossos pensamentos, transmiti-los para outras pessoas, procuramos
encontrar as palavras certas, adequadas, para deixá-los claros, e conseguirmos,
assim, a comunicação desejada.
Eu, você e a maioria dos falantes de uma língua sabemos que, para isso,
devemos ter um bom domínio do vocabulário. Em nossa comunicação diária, seja
ela oral ou escrita, empregamos um número x de palavras com as quais nos
sentimos confortáveis, já que dominamos seus sentidos e empregos. Ao conjunto
dessas palavras dá-se o nome de vocabulário ativo.
Por outro lado, há outras palavras que não costumamos usar, nem quando
falamos nem quando escrevemos. No entanto, se as ouvimos ou lemos,
conseguimos entendê-las, pois ou conhecemos seus sentidos ou temos uma noção
deles, embora não os saibamos com precisão. Ao conjunto dessas palavras dá-se o
nome de vocabulário passivo.
Portanto, a consulta ao dicionário não é o único caminho para a ampliação do
nosso vocabulário. Para isso, é necessário ler jornais, revistas, livros, assistir a
filmes, palestras, debates, prestar atenção às letras de músicas de bons autores.
Num primeiro momento, vamo-nos familiarizando com novas palavras e construções
de frases, que passam, então, a fazer parte de nosso vocabulário passivo. Aos
poucos, começamos a nos sentir mais à vontade com elas, mais seguros para usá-
las em nossos textos (orais ou escritos), sinal de que ampliamos nosso vocabulário
ativo.
Com isso, você deve ter percebido que não só a leitura, mas também a
produção de textos são os meios mais eficazes para o enriquecimento do
vocabulário. Aliás, nossa competência textual está intimamente relacionada com
nosso domínio do léxico.
Dá-se o nome de léxico ao conjunto das palavras de uma língua. Esse
conjunto é aberto, isto é, novas palavras estão sempre sendo agregadas a ele,

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enquanto outras tantas vão caindo em desuso e chegam a desaparecer. Atualmente,


com o acelerado desenvolvimento das novas tecnologias, temos notado a rápida
incorporação de muitos termos que, a princípio utilizados na nossa fala do dia a dia,
passaram (ou passarão, daqui a alguns anos) a fazer parte do nosso léxico.
Mas as palavras, também, se transformam. Como você deve saber, o
Português (assim como o Espanhol, o Italiano...) é uma língua neolatina, isto é,
derivada do Latim. Ao longo do tempo, por vários motivos, o Latim foi passando por
transformações, dando origem às novas línguas (creio que você sabe, também, que
o Latim é uma “língua morta”, isto é, ele não é mais falado por nenhum povo, em
nenhuma região do mundo). Isso significa que as palavras sofreram várias
transformações ao longo do tempo até chegarem a ser o que são hoje, seja do ponto
vista fonético (som), ortográfico (o modo como são escritas) ou semântico
(significado). Transcreverei abaixo uma passagem do texto “Qualidade na educação:
as armadilhas do óbvio”, do professor Nilson José Machado, na qual, ao tratar da
valorização dos programas de qualidade das empresas, o autor explica a etimologia
e o uso da palavra cliente ao longo do tempo.
...vamos procurar entender os estranhos desígnios etimológicos que
contemplaram a palavra cliente no léxico dos teóricos da qualidade. Pelo
menos nas línguas de origem latina, como a nossa, cliente origina-se de
cliens, clientis, que significa “vassalo, protegido de alguém, de um senhor”,
este sim, detentor do poder. Depois a palavra foi associada aos protegidos
dos senadores romanos, dando origem à variante do costume político
comum e frequentemente criticado, denominado “clientelismo”. Mais tarde
ainda, o uso foi estendido para designar os que consultavam determinados
profissionais, como os advogados ou os médicos. Hoje, no discurso
da qualidade, uma fantástica torção semântica transformou o vassalo no
senhor.

Como você pôde notar, a palavra cliente sofreu tantas mudanças que, hoje,
pelo menos na área dos programas de qualidade das empresas, ela quer dizer o
oposto do que originariamente significava. Esse exemplo também evidencia o
caráter “aberto” do léxico de uma língua ao qual me referi anteriormente.
Vejamos agora como o sentido de uma palavra é alterado, por exemplo, numa
citada pelo professor Sírio Possenti, em seu livro Os humores da língua:
- Escuta, Godói! Não é melhor a gente tomar um táxi?
- Não, obrigado (hic!). Hoje eu não misturo mais nada.
No final dos anos 1990, circulou, em vários periódicos, uma propaganda da
revista Ponto Cruz na qual foi explorada, de forma bastante criativa, a polissemia da

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palavra “ponto”. A ilustração da peça publicitária eram duas galinhas bordadas em


ponto cruz, sobre as quais apareciam os seguintes dizeres: “Como fazer uma galinha
no ponto”. O entrecruzamento da figura e das palavras permite-nos perceber que a
palavra “ponto” pode ser entendida tanto como “tipo de bordado” quanto como “grau
de consistência de um alimento”.
Nos dois casos acima, com intenções diferentes, os autores exploraram a
polissemia das palavras e nós, receptores, pudemos percebê-la a partir do contexto
em que foi usada. No nosso dia a dia de usuários da língua, conseguimos dar a
melhor e mais adequada interpretação para as palavras que lemos, ouvimos ou
utilizamos para nos expressar.
De modo geral, sabemos o sentido “básico” de uma palavra ou expressão,
aquele que pode ser apreendido mesmo sem a ajuda de um contexto – é o sentido
literal. As palavras “ouro”, “prata”, por exemplo, mesmo descontextualizadas, não
nos trazem nenhuma dificuldade de entendimento.
No entanto, há situações particulares de uso (o contexto) em que as palavras
adquirem um outro significado a partir de uma extensão de seu sentido literal – é o
sentido figurado. Num provérbio como “A palavra é de prata, o silêncio é de ouro”,
percebemos que as palavras “prata” e “ouro” não foram usadas no sentido próprio,
literal, mas no figurado, por extensão de sentido: a prata é um metal cujo valor é
menor que o do ouro.
Quando uma palavra é usada em seu sentido literal, dizemos que ela
tem valor denotativo; quando usada em sentido figurado, dizemos que ela
tem valor conotativo.
Assim, a denotação costuma predominar nos textos científicos, informativos,
pois é uma referência estável, que tenta representar, objetivamente, a realidade. A
conotação, por ser uma referência instável, isto é, dependente do contexto,
predomina nos textos literários em geral ou em quaisquer outros que tentem
registrar, subjetivamente (ou expressivamente), uma maneira de ver a realidade.
Nesse sentido, quando falamos ou escrevemos, devemos ter em mente nossa
intenção, nosso objetivo, nosso receptor, para que possamos escolher as palavras
e expressões mais adequadas – para que possamos, enfim, combiná-las de modo a
construir um contexto em que adquiram o sentido desejado.
____1 Sírio Possenti. Os humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas: Mercado de Letras, 1998,
p.83.

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Aula 06_As palavras e seus níveis

Palavras-chave: linguagem; graus; níveis.

Início a aula As palavras e suas famílias, afirmando que nós pensamos com
palavras. Procuro deixar claro que é por meio delas que organizamos nossos
pensamentos, que nos expressamos. Por isso, seria muito bom se lembrássemos as
várias circunstâncias em que as utilizamos.
Imagino que, agora, você esteja em algum lugar tranquilo, lendo, estudando,
discutindo algum conteúdo de seu curso: por exemplo, o do nosso livro texto. Mas,
antes (ou depois) dessa atividade, você passou (ou passará) por outras situações
em que utilizou (ou utilizará) as palavras com outras finalidades e, provavelmente,
de modos totalmente diferentes: o recado preso na geladeira para o seu filho, a
conversa no portão ou no elevador com o vizinho, as palavras trocadas com o
passageiro ao seu lado no ônibus, o bate-papo com os colegas de serviço, as
informações passadas ao seu chefe, os conselhos amigáveis para sua amiga que
brigou com o namorado, a conversa sobre futebol ou sobre o último capítulo da
novela, as impressões trocadas com seus familiares sobre os acontecimentos do dia,
as combinações com seus pais ou filhos para o dia seguinte.
Talvez você não tenha prestado muita atenção, mas em cada uma dessas
situações predominou um nível de linguagem.
Sem muitos problemas ou angústias, conseguimos adequar tanto nosso
comportamento quanto nossa linguagem às diferentes circunstâncias que
vivenciamos ao longo de um dia.
Com um pouco mais de rigor, no momento da escrita, não podemos esquecer
que existem vários níveis de linguagem e, portanto, de vocabulário. Dentre esses
níveis, destacarei três: o coloquial, o culto e o técnico.
O vocabulário de nível coloquial é aquele que utilizamos no dia a dia, com
nossos familiares e amigos, em conversas, bilhetes, e mesmo em cartas pessoais,
isto é, em situações que não exigem formalidade. Portanto, descuidamos, por
exemplo, da pronúncia de certas palavras (como num em vez de não, tá no lugar
de está), das concordâncias verbais e nominais (as casa por as casas), da

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uniformidade das pessoas gramaticais (Você quer que eu te ligue?), das flexões
verbais (Se ele trazer em lugar de Se ele trouxer) – e usamos gírias de montão!
O vocabulário de nível culto é o “oficial”, prescrito pela Nomenclatura
Gramatical Brasileira, que utilizamos em situações mais formais, em textos
acadêmicos, oficiais, profissionais. Nesse nível, tomamos cuidado com a pronúncia
correta das palavras, com as concordâncias verbais e nominais, com a uniformidade
das pessoas gramaticais, com as flexões verbais – e evitamos as gírias.
Já o vocabulário técnico agrupa os termos específicos de uma área do
conhecimento, como a Medicina, a Linguística, o Direito, a Pedagogia, e está, em
geral, intimamente integrado ao de nível culto. Esses termos específicos compõem
subgrupos dentro do léxico da língua – são os campos lexicais.
Suponha que, um dia, em nossa videoaula, eu me dirija aos alunos nestes
termos:
- Moçada, hoje nosso papo é mó barato: vamos trocar umas ideias sobre
o jeitão da gente falar!
Você e seus colegas, com certeza, estranhariam muito, pois essa linguagem
não está nem um pouco adequada à minha função de, por exemplo, ajudá-los a
melhorar o modo de se expressarem.
No entanto, se eu estivesse em minha casa, conversando com meus filhos,
ninguém estranharia se dissesse a eles algo como:
- Moçada, hoje nosso papo foi mó barato! Adorei conversar sobre o trampo da
escola!
As duas situações são totalmente diferentes: na primeira, por mais que me
sinta à vontade com os alunos, meu “papel” é o de uma professora da qual se espera
um mínimo de rigor com relação ao modo de se expressar; na segunda, estou em
uma situação familiar, tentando entender meus filhos adolescentes e participar de
uma situação do cotidiano deles.
Creio que, a partir desses dois exemplos, podemos concluir que, de um modo
espontâneo e natural, conseguimos variar nosso nível de linguagem de acordo com
os interlocutores e com as diferentes situações em que vivemos no nosso dia a dia
– é muito parecido com as roupas que usamos quando vamos à praia ou a uma festa,
ao trabalho ou à colação de grau de nosso primo.

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Podemos dizer, então, que adequação é o ajustamento de uma coisa à outra:


aquilo que está adequado à situação A e/ou ao interlocutor B pode não estar
adequado à situação C ou ao interlocutor D.
Você deve ter percebido que, muitas vezes, é necessário, e até conveniente,
tomarmos cuidado com a adequação de nossa linguagem. Para se adequar à
situação de comunicação, o falante pode variar o vocabulário, a maneira de construir
as frases, a forma de tratamento, o volume da voz etc.
Vários fatores, sozinhos ou combinados, nos levam a adequar nossa
linguagem quando nos dirigimos a alguém, oralmente ou por escrito. Entre eles,
destacam-se:
• o receptor (você falaria do mesmo modo com o diretor de sua escola e com
uma criança?)
• o assunto (você comentaria a doença de uma pessoa amiga da mesma
maneira que comentaria – ou blasfemaria contra - o péssimo desempenho da nossa
seleção?)
• o ambiente (você usaria as mesmas palavras e o mesmo tom de voz num
velório e num bar, tomando chope com amigos?)
Em um ato de comunicação, a presença desses fatores resulta num maior ou
menor grau de formalidade ou de informalidade na linguagem.
Um texto que ilustra muito bem o que estou dizendo é o de um vídeo exibido
na Casa de Detenção de São Paulo, com o objetivo de ensinar os detentos a se
prevenirem contra a Aids. Transcrevo, abaixo, alguns trechos dele:
Aqui é bandido: Plínio Marcos. Atenção, malandrage! Eu num vô pedir nada, vô te dá
um alô! Te liga aí: Aids é uma praga que rói até os mais fortes, e rói devagarinho. Deixa o
corpo sem defesa contra a doença. Quem pega essa praga está ralado de verde e amarelo,
de primeiro ao quinto, e sem vaselina. Num tem doto que dê jeito, nem reza brava, nem
choro, nem vela, nem ai, Jesus. Pegou Aids, foi pro brejo! Agora, sente o aroma da perpétua:
Aids pega pelo esperma e pelo sangue, entendeu? Pelo esperma e pelo sangue! (Pausa)
Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca! Não é porque tu tá na
tranca que virou anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara ruim! Mas é preciso que
cada um se cuide, ninguém pode valê pra ninguém nesse negócio de Aids. Então, já viu:
transá, só de acordo com o parceiro, e de camisinha! (Pausa).../
Quanto a tu, mais chegado ao pico, eu tô sabendo que ninguém corta o vício só por
ordem da chefia. Mas escuta bem, vago mestre, a seringa é o canal pra Aids. /.../ E a farinha

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que tu cheira, e a erva que tu barrufa enfraquece o corpo e deixa tu chué da cabeça e dos
peitos. E aí tu fica moleza pro Aids! Mas o pico é o canal direto pra essa praga que está aí.
Então, malandro, se cobre. Quem gosta de tu é tu mesmo. A saúde é como a liberdade. A
gente dá valor pra ela quando já era!
O texto, falado pelo dramaturgo e ator Plínio Marcos, quer convencer os
presidiários a não usarem drogas injetáveis, a terem relações sexuais somente com
o consentimento do parceiro e a usarem camisinha nas relações sexuais. Para
alcançar esse objetivo, o autor valeu-se do nível coloquial, adequando sua linguagem
à do receptor (vocabulário, construções de frases, pronúncia). Com isso, deve ter
conseguido, mais facilmente, a adesão de seus “ouvintes”. Portanto, foi um recurso
argumentativo totalmente válido o uso de uma linguagem extremamente coloquial.
Pode-se dizer, em suma, que a “língua falada” e a “língua escrita”, a
informalidade e a formalidade são somente diferentes modalidades que
empregamos em contextos diferentes. O importante é atentar para a “adequação” da
linguagem ao que vamos dizer (assunto), a quem receberá a nossa mensagem
(receptor), ao local em que o processo de comunicação vai se desenvolver.

____
1 Vídeo exibido na Casa de Detenção de São Paulo. Agência: Adag, realização: TV Cultura, 1998.
Apud Platão e Fiorin. Op.Cit., p. 281-282.
2 Folha de S.Paulo. 22/2/04, p.A12.

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Aula 07_Linguagem: clareza x ambiguidade

Palavras-chave: objetividade; subjetividade; ambiguidade.

Em sua vida acadêmica e, mais tarde, na profissional, você terá várias


oportunidades de produzir textos escritos que serão posteriormente lidos por seus
professores e colegas. Para que o entendimento deles seja possível, é necessário
que, ao redigi-los, você procure organizar suas ideias e apresentá-las de modo claro,
conciso e objetivo.
Clareza, concisão e objetividade são características da linguagem de textos
acadêmicos, administrativos, técnicos e científicos. Isso não significa, segundo
Margaret Norgaard, que esses textos devam apresentar “uma objetividade
completamente desapaixonada”, o que tornaria a leitura penosa e enfadonha. O
importante é que, qualquer que seja o “estilo” do autor, as ideias possam ser
compreendidas, sem a interferência de ambiguidades e redundâncias
desnecessárias. “Afinal, na era do conhecimento e da informação, uma comunicação
com clareza e objetividade é obrigatória”, diz a jornalista Margot Cardoso.
A clareza é reflexo direto da organização do pensamento de quem escreve.
Por isso, antes de se iniciar a redação de um texto, é necessário refletir, fazer um
levantamento das principais ideias que se quer passar para, depois, organizá-las de
um modo lógico a fim de que, mais tarde, o leitor possa acompanhar o raciocínio do
autor. Um texto tem clareza quando as informações e ideias nele contidas são
facilmente apreendidas, sem que o leitor precise “adivinhar” o que o redator quis
dizer. Um dos principais responsáveis pela falta de clareza em um texto (ou um
trecho) é a ambiguidade, à qual dedicaremos toda a próxima aula.
Como a clareza, a concisão e a objetividade revelam a organização mental
da pessoa que redige um texto, já que elas consistem na comunicação daquilo que
é essencial: diz-se que um texto tem objetividade quando vai diretamente ao assunto,
sem introduções muito longas e dispersivas nem frases iniciais desnecessárias. Isto
é, quando fazemos a seleção das ideias que pretendemos desenvolver em um texto,
vamos deixando de lado tudo aquilo que não esteja relacionado com o que não é

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nossa intenção tratar naquele momento. Com isso, já temos meio caminho andado
para a elaboração de um texto objetivo e conciso.
Do ponto de vista da linguagem, para se alcançar a concisão, é necessário
evitar repetições desnecessárias, palavras supérfluas, o uso exagerado de adjetivos
e as frases longas e confusas. A passagem abaixo, retirada de um texto da
revista Isto É(24/3/93) trata de um caso interessante – e extremo – de concisão:
Carta concisa: Nesta modalidade, permanecem imbatíveis o escritor
francês Victor Hugo (1802-1885) e os seus editores /.../. O autor encontrava-
se em férias, fora de Paris, e queria saber a todo custo como andava a
venda de seu último romance, Os miseráveis. Armou-se, então, de papel e
pena para escrever pura e simplesmente?’ Para sua satisfação, obteve
como resposta: ‘!’

No extremo oposto da linguagem concisa está a empregada nos processos


judiciais, que se caracteriza pela prolixidade, o que é justificado no trecho abaixo
(Folha de S.Paulo, 28/6/93):
A linguagem rebuscada dos processos, muitas vezes incompreensível para
um não iniciado, é uma herança do século passado. Os escrivães
ganhavam por palavra. Por essa razão, se esmeravam em esticar ao
máximo as frases, criando floreios que se tornaram o próprio estilo da
escrita judicial.

Você deve ter percebido, pela data da publicação do texto acima, que o
“século passado” é o XIX. No entanto, até hoje encontramos, mesmo em publicações
dirigidas ao grande público, como revistas e jornais, textos extremamente prolixos,
pois passam bem longe da clareza, da concisão e da objetividade.

Ambiguidade: defeito ou recurso expressivo?


Em aulas anteriores, vimos que a clareza é responsável pela fácil e correta
apreensão das ideias contidas em um texto. Se quisermos ser bem compreendidos,
se pretendemos que nosso texto seja corretamente interpretado e valorizado, não
devemos deixar a cargo do leitor uma missão que não é dele: “adivinhar” o que
queremos dizer. Um dos principais responsáveis pela falta de clareza em um texto
(ou um trecho) é a ambiguidade.
Quando o leitor vacila diante de mais de uma possibilidade de entendimento
do que foi dito, dizemos que, no texto, há ambiguidade.

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Às vezes, a ambiguidade pode ser causada pelo fato de um vocábulo


apresentar mais de um significado. A esse tipo de ambiguidade dá-se o nome
de ambiguidade polissêmica.
Observe a frase: Comprei uma capa na loja da esquina. Você diria que a
palavra “capa” deve ser entendida como “peça de vestuário” ou como “proteção para
um livro ou para outro objeto qualquer”? A meu ver, não fui clara ao passar essa
informação: é possível afirmar, com certeza, a qual objeto a palavra “capa” se
refere?
Veja outro caso: O moço esqueceu a carta sobre o balcão. Podemos atribuir
à palavra “carta” vários significados: correspondência, carta de baralho, carta de
motorista... Tal tipo de ambiguidade pode ser evitado (ou pelo menos amenizado)
pela substituição do vocábulo por outro mais preciso ou por um esclarecimento maior
do contexto: O carteiro esqueceu a carta sobre o balcão. Ou ainda: O motorista
esqueceu a carta sobre o balcão.
Há casos, ainda, em que a ambiguidade decorre da construção da frase.
Temos, então, a ambiguidade estrutural.
Observe: Diretor de presídios diz que autorizou filmagem de Marcola. Essa frase é o
título de uma notícia. Ao lê-lo, fiquei em dúvida: o diretor autorizou que alguém – um
cinegrafista de televisão, por exemplo – filmasse Marcola ou que Marcola filmasse
algo? Há, portanto, uma difícil distinção entre agente (aquele que pratica a ação) e
paciente (aquele sobre o qual recai a ação).
Além dessa, há outras construções que podem prejudicar a clareza do
enunciado:
• uso inadequado da coordenação: Cauê e Andréia divorciaram-se.
• má colocação de palavras ou expressões: Suzane vai esperar julgamento
em casa.
• uso inadequado de pronomes relativos: Conheci o diretor e o museu a que o
convidado se referiu na palestra.
• não distinção de pronome relativo e conjunção integrante: O jogador falou
com o torcedor que estava decepcionado.
• mau uso de possessivos: Marcelo encontrou Jussara e lhe disse que sua
prima havia sido hospitalizada.

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• mau uso de formas nominais: O jornalista encontrou o deputado entrando no


escritório.
A falta de clareza pode também levar o leitor a interpretações engraçadas,
ridículas e/ou absurdas. Num texto de um boletim da Associação Paulista de
Medicina, aparece a seguinte recomendação: Preferir os alimentos que indicam que
não têm colesterol no rótulo 2 . O que você acha: o alimento não tem colesterol ou o
rótulo não tem colesterol?
Você pode estar pensando que eu enlouqueci: é lógico que rótulo não tem
colesterol! Afinal, pelo nosso conhecimento de mundo, sabemos que rótulos não têm
colesterol, que há, isto sim, alimentos que aumentam o colesterol de nosso
organismo, pessoas que têm colesterol. Entretanto, não é disso que estamos
falando, mas sim de frases ambíguas, e a frase do boletim da Associação Paulista
de Medicina é ambígua. O que deve ficar claro é o seguinte: mesmo que eu saiba o
que o redator da frase quis dizer, ela está ambígua e, portanto, posso entendê-la
como quiser – inclusive como absurda! Creio que você não quer que aconteça isso
com seus textos, não é?
Neste momento, várias dúvidas devem estar surgindo! A ambiguidade é
sempre um defeito? E se eu quiser que meu texto fique mesmo ambíguo? Os poetas
não são mestres da ambiguidade? Os redatores das agências de propaganda não
estão sempre “cometendo” ambiguidades?
E eu devo lembrá-los, então, do que vimos em nossa aula acerca da
adequação da linguagem. Num poema, numa peça publicitária – até num título de
notícia ou numa manchete de jornal! – a ambiguidade é um recurso estilístico
utilizado pelo autor para alcançar seu objetivo.
O jornal O Estado de S. Paulo publicou, no caderno de Economia, uma
reportagem acerca da retração do consumo de cachaça no país, o qual vem
diminuindo num ritmo de 2% a 3% ao ano. Nela, aparecem uma pequena tabela e
um infográfico que registram, respectivamente, a evolução das vendas do produto e
a “participação de mercado das principais marcas em 2006”; a essas informações foi
dado o seguinte título: “Ressaca no mercado"
“O autor do título explorou, de forma bastante criativa, a polissemia da palavra
“ressaca”:
“indisposição após uma bebedeira” e “refluxo”.

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Então, gostaria de deixar bastante claro para vocês que o objetivo do texto,
seu receptor, as circunstâncias em que é escrito constituem fatores determinantes
da linguagem a ser utilizada.
______ 1 O Estado de S.Paulo. 27/5/2006, p.1;2 Apud Mauro Ferreira. Op.Cit., p.110;3 O
Estado de S.Paulo. 17/9/2006, p.B12.

Aula 08_Informações explícitas e implícitas

Palavras-chave: pressuposição; implícitos; sentido.

Em 2002, logo depois que Lula tomou posse como presidente da república,
Angeli publicou uma charge em que há um casal dentro de um carro, conversando.
O marido e a mulher estão vestidos a rigor, ambos seguram um copo, provavelmente
de champanhe; o homem fuma um charuto e a mulher um cigarro, numa piteira.
Percebe-se, no banco da frente, o motorista e, em volta do carro, pessoas sujas,
escuras, pobres. Abaixo do desenho, há o seguinte diálogo:
– Meu Deus! Tanta pobreza, tanta miséria, tanta gente faminta... Querida, chegou
a hora da mudança.
– Para Paris, espero?
O título da charge é “Agora, os ricos também são de esquerda” e será o
ponto de partida para nosso estudo acerca de informações explícitas e implícitas.
Nele, o que nos interessa analisar, em especial, são duas palavras: agora e também.
A palavra agora, no contexto, deixa implícito que, antes, as coisas não aconteciam
como acontecem no flagrante da charge
– se agora os ricos têm determinada postura, pensam de determinado modo,
isso quer dizer que, antes, eles não eram assim. A palavra também, por sua vez,
insinua que há outras classes que são de esquerda, e que a dos ricos vem se juntar
a essas outras classes com relação a suas convicções políticas. Relacionando os
implícitos trazidos pelas duas palavras, podemos dizer que, antes havia classes, que
não a dos ricos, de esquerda, mas que, no momento em que a charge foi feita, os
ricos passaram a compartilhar com elas as mesmas convicções.
Imagine, agora, que você estivesse conversando com uma amiga chamada
Adelaide e perguntasse a ela o seguinte: “– Adelaide, você sabe o telefone da

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Helena? Preciso falar com ela ainda hoje”. E Adelaide lhe respondesse
simplesmente: “– Sei”.
Você ficaria, no mínimo, desapontado ou sem jeito, porque, na verdade,
estava pedindo uma informação à sua amiga – o número do telefone de Helena – e
Adelaide não entendeu o implícito contido em sua pergunta.
Dos dois casos acima analisados, podemos depreender que, nos textos,
sejam eles orais ou escritos, em linguagem verbal ou não verbal, há informações que
são transmitidas explicitamente e outras que o são implicitamente – estão
pressupostas ou subentendidas. Por isso, uma leitura eficiente é aquela que
consegue captar tanto as informações explícitas quanto as implícitas.
Glossário
Pressupostos - São ideias não expressas de maneira explícita, que
decorrem do sentido de certas palavras ou expressões contidas na frase ou mesmo
de sua construção. É o que vimos no título da charge de Angeli e o que acontece
nos exemplos que seguem:
Exemplo
1- José Carlos tornou-se um grande defensor dos direitos humanos.
• explícito: hoje, José Carlos é um grande defensor dos direitos humanos.
• pressuposto: anteriormente, José Carlos não era um grande defensor dos
direitos humanos.
2- Mariana e Antônio foram o primeiro casal a se casar nesta igreja.
• explícito: Mariana e Antônio casaram-se nesta igreja antes de qualquer outro
casal.
• pressuposto: todos os outros casais casaram-se nesta igreja depois de
Mariana e Antônio.
3- Todos os presentes aplaudiram o campeão; até os seus rivais.
• explícito: os seus rivais e as outras pessoas presentes aplaudiram o campeão.
• pressupostos: a) o aplauso dos rivais não era esperado; b) os rivais não
costumam aplaudir os campeões.
4- Meu filho mais velho mora em São Paulo.
• explícito: eu tenho um filho que mora em São Paulo.
• pressupostos: a) eu tenho mais de um filho; b) meu(s) outro(s) filho(s) é(são)
mais novo(s) do que o que mora em São Paulo.

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5- O aluno Luís Eduardo alegou que estava doente no dia da prova.


• explícito: Luís Eduardo justificou com o fato de estar doente a sua falta à
prova.
• pressuposto: Luís Eduardo estar doente no dia da prova é verdadeiro para o
aluno, mas não necessariamente para o produtor do texto.
6- As ruas do bairro foram totalmente asfaltadas.
• explícito: todas as ruas do bairro estão asfaltadas.
• pressupostos: a) antes, as ruas do bairro não eram asfaltadas em sua
totalidade; b) o bairro não possui ruas com outra pavimentação que não a asfáltica.
7- Fui a São Paulo, mas não me encontrei com meu irmão.
• explícitos: a) fui a São Paulo; b) não me encontrei com meu irmão.
• pressuposto: esperava-se que, indo a São Paulo, eu me encontrasse com
meu irmão.
8- Os alunos, que se saíram bem nas provas, foram cumprimentados pelo diretor.
• explícitos: a) os alunos saíram-se bem nas provas; b) o diretor cumprimentou-
os.
• pressuposto: todos os alunos foram muito bem nas provas.
9- Os alunos que se saíram bem nas provas foram cumprimentados pelo diretor.
• explícitos: a) o diretor cumprimentou os alunos; b) esses alunos
cumprimentados pelo diretor foram bem nas provas.
• pressuposto: alguns alunos se saíram bem nas provas; outros, não.
Com relação aos dois últimos exemplos, observe que ambos apresentam orações
adjetivas. No primeiro caso (em que a oração vem entre vírgulas), a oração é adjetiva
explicativa: pressupõe que o que ela expressa se refere à totalidade dos elementos
do conjunto designado pelo antecedente do pronome relativo (em nosso exemplo,
“alunos”). No segundo caso (em que não há vírgulas), a oração é adjetiva
restritiva: pressupõe que o que ela expressa se refere apenas à parte dos elementos
do conjunto designado pelo antecedente do pronome relativo (novamente, “alunos”).
Seguem, abaixo, outros exemplos. Considerando o que acabamos de ver, qual a
diferença entre os dois textos abaixo?
Os alunos de Pedagogia, que têm se dedicado com atenção e cuidado à
produção de textos, conseguiram sair-se bem no último concurso público.

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Os alunos de Pedagogia que têm se dedicado com atenção e cuidado à produção


de textos conseguiram sair-se bem no último concurso público.
Glossário
Subentendidos - Enquanto os pressupostos estão linguisticamente
marcados, os subentendidos são ideias ou informações não marcadas
linguisticamente na frase. Por isso, pode-se dizer que eles se constituem em
insinuações que o receptor pode entender ou não, mostrar que entendeu ou não. É
o que aconteceu na situação que imaginamos anteriormente, na qual o emissor
indaga um número de telefone e o receptor responde laconicamente: “Sei”.
Vou contar a vocês um caso que aconteceu comigo para ilustrar a ideia de
subentendido.
Em um dia de calor, uma de minhas alunas estava com uma amidalite muito
forte e pediu-me que não ligasse o ar condicionado. Quase no final da aula, mais de
um aluno reclamou do fato de o ar condicionado estar desligado, mas eu não o liguei.
Quando bateu o sinal, um dos meninos me disse, bastante chateado, que
havia me pedido para ligar o ar e eu não havia feito isso. Então, respondi que ele
não havia feito esse pedido!
Ao não ligar o ar condicionado, agi como Adelaide: os alunos, realmente, não
haviam me pedido para ligá-lo, apenas deixaram subentendido que queriam que eu
fizesse isso. Então, eu pude “me desculpar”, apoiada no fato de eles não me terem
feito o pedido de modo explícito. Na verdade, aproveitei-me disso para não expor a
aluna e para evitar uma briga desnecessária entre os que queriam o ar condicionado
ligado e ela.
Além disso, o emissor pode, às vezes, esconder-se por trás das palavras e
dizer que não queria dizer aquilo que o ouvinte ou leitor entendeu. O subentendido
mais sugere do que diz.

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Aula 09_Tipos de texto e o conceito de gênero do discurso

Palavras-chave: gêneros; tradicionais; digitais.

Desde a Antiguidade, com a Poética de Aristóteles, a tipologia textual tem sido


um dos temas mais estudados e discutidos tanto no âmbito dos estudos literários
como no da análise do discurso. Portanto, procurarei fazer, nesta aula, um “resumo
do resumo” de duas possibilidades de classificação dos textos. O critério utilizado
foi, confesso, pragmático, isto é, selecionei o material que considero mais útil para
vocês neste momento, como universitários que são, e no futuro, como educadores
que serão.
A primeira possibilidade é aquela que agrupa os textos em torno de dois
grandes eixos: o das figuras e o dos temas. Os textos que trabalham com as figuras
são os que, de certa forma, representam o mundo natural, enquanto os que
trabalham com os temas são aqueles que, sobretudo, interpretam essa mesma
realidade. Obviamente, eles terão características totalmente diferentes, e elas estão
abaixo sintetizadas em um quadro que organizei a partir do que nos ensinam os
professores José Luiz Fiorin e Francisco Platão Savioli .

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Exemplo
Há algum tempo, recebi um e-mail com o texto abaixo. Vamos lê-lo.
As colheres de cabo comprido
Dizem que Deus convidou um homem para conhecer o céu e o inferno.
Foram primeiro ao inferno. Ao abrirem a porta, viram uma sala em cujo centro havia
um caldeirão de sopa e à sua volta estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas.
Cada uma delas segurava uma colher de cabo bem comprido que lhes permitia alcançar o
caldeirão, mas não a própria boca. O sofrimento era grande.
Em seguida, foram ao céu. Era uma sala idêntica à primeira: havia o mesmo
caldeirão, as pessoas em volta, as colheres de cabo comprido. A diferença é que todos
estavam saciados.
- Eu não compreendo – disse o homem a Deus – por que aqui as pessoas estão
felizes enquanto na outra sala morrem de aflição, se é tudo igual?
Deus sorriu e respondeu:
Você não percebeu? É porque aqui eles aprenderam a dar comida uns aos outros.
Esse é um texto figurativo, já que foi construído, basicamente, com termos
concretos, isto é, que remetem àquilo que existe no mundo natural (porta, sala,
caldeirão, sopa, colher etc), o que produz um efeito de realidade. Observe, agora, o
seguinte texto:

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Uma equipe participativa, homogênea, coesa e criativa consegue encontrar


alternativas para transpor barreiras e resolver problemas que parecem insolúveis às
pessoas que mantêm um posicionamento isolado.
Esse segundo texto diz basicamente a mesma coisa que o primeiro, isto é, a
importância do espírito de equipe, da solidariedade na resolução de problemas
comuns. Mas, enquanto aquele trabalhou com termos concretos, este foi construído
sobretudo com termos abstratos, isto é, com palavras que ordenam o mundo natural,
que indicam conceitos (participação, coesão, criatividade, resolução etc),
expressando uma interpretação da realidade.
Uma segunda tipologia, talvez a mais conhecida, é aquela que agrupa os
textos em três grandes modalidades: a narração, a descrição e a dissertação. Seria
bom, aqui, refletirmos um pouco sobre essas três palavras, pois elas representam,
em primeiro lugar, a ação praticada pelo produtor do texto: narração, descrição e
dissertação implicam, necessariamente, a figura da pessoa que pratica essas ações,
isto é, do autor. No segundo sentido dessas palavras, é que se pode dizer que são
o produto da ação de narrar, de descrever e de dissertar. Dadas essas explicações,
podemos elaborar um quadro que sintetize as características desses três tipos de
texto.

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Como você deve ter observado, este segundo quadro é mais detalhista que o
primeiro. Quando classificamos os textos em “figurativos” ou ‘temáticos”, formamos
dois grandes grupos nos quais cabem textos muito diferentes entre si; quando os
classificamos em “narração”, “descrição” e “dissertação”, restringimos um pouco
mais. Assim conseguimos perceber um número maior de pormenores e podemos
estabelecer algumas subdivisões, como os dois tipos básicos de dissertação e de
narração, os três tipos básicos de descrição.
Neste momento, você pode levantar a seguinte questão: não existem textos
que misturam as três modalidades? Sem dúvida, existem. O que nos leva a
“classificar” um texto dentro de uma modalidade são as características que
predominam nele, aquelas que o autor escolheu para compô-lo. Você já deve ter lido
um romance, por exemplo, em que aparecem trechos descritivos, diálogos entre
personagens nos quais estão presentes avaliações e argumentações, características
do texto dissertativo. É possível afirmar, então, que poucos são os textos “puros” e
que, em geral, embora predomine neles uma das modalidades, as outras aparecem,
circunstancialmente, entremeadas à que se sobrepõe. A essa presença
denominamos narratividade, descritividade e dissertatividade (as duas primeiras são,
sem dúvida, as mais comuns).

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Mudam-se os tempos: Gêneros discursivos e textuais


As primeiras reflexões sobre o conceito de gêneros tiveram início com Platão
e Aristóteles – apresentando reflexões sobre as características poéticas ou retóricas
que os textos apresentavam. A arte poética e a retórica foram estudadas e tratadas
em separado, pois eram vistos como atividades diferentes e de esferas distintas. No
século XX, muitos estudiosos se debruçaram sobre o tema, destacando-se os
estudos de Bakhtin e de seu círculo de estudiosos.
Desde então, o conceito de gênero passou a abranger “todas as produções
discursivas humanas” e não somente as do campo da arte literária ou da oratória
pública. O gênero passou a não mais ser analisado segundo as propriedades formais
dos textos, desconsiderando os sentidos trazidos pelas abstrações linguísticas, mas
como entidades da comunicação e da interação entre as pessoas.
Mikhail Bakhtin (1997) e Luiz Antônio Marcuschi (2008) têm sido referências
que embasam o estudo sobre o tema e afirmam que os gêneros adquirem sentido
quando relacionados a uma prática interativa social. Neste sentido, Marcuschi define
os gêneros como
atividades discursivas socialmente estabilizadas que se prestam aos mais
variados tipos de controle social e até mesmo ao exercício de poder. Pode-
se, pois, dizer que os gêneros textuais são nossa forma de inserção, ação
e controle social no dia a dia. (MARCUSCHI, 2008, p. 161)
Para Bakhtin (1997) os enunciados orais e escritos se moldam de acordo com
a circunstância em que são usados e nas esferas (campos) de utilização da língua.
Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de
cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu
estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais,
fraseológicos e gramaticais da língua, mas também, e, sobretudo, por sua
construção composicional. Estes três elementos (conteúdo temático, estilo
e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do
enunciado e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de
comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas
cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente
estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso.
(BAKHTIN, 1997, p. 279)

Toda atividade discursiva se dá em algum gênero o que justifica a imensa


pluralidade de gêneros e seu caráter essencialmente sócio-histórico.
Marcuschi (2008) diz que os indivíduos recorrem aos gêneros para se se
adequarem a determinados contextos. Ele acrescenta ainda que os textos e/ou
discursos circulam através dos gêneros. É o caso dos textos multimodais que
satisfazem as necessidades comunicativas dos indivíduos deste tempo e espaço.

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Segundo Marcuschi (2008), o gênero não cria relações deterministas, apenas


manifesta-as em certas condições e que seu domínio e sua manipulação dependem
da nossa inserção social e de nosso poder social. Ou seja, o ensino se dá pelo e
com o texto (além de outros aspectos), insistir em trazer textos de gêneros sem
relação com o alunado é insuficiente para um ensino de qualidade.
O gênero discursivo é caracterizado por Rojo (2015) como entidade que
funciona em nossa vida cotidiana e pública, para nos comunicarmos e para
interagirmos com as outras pessoas. Os gêneros do discurso permeiam nossa vida
diária e organizam nossa comunicação.
Vejamos o que são tirinhas cômicas.
Inicialmente, que diferenciar as HQs que são histórias narradas por meio de
desenhos contidos em pequenos quadros, com diálogos inseridos em balões ou com
texto narrativo sob forma de legenda e que surgiram por volta do fim do século XIX,
das Tiras Cômicas que são segmentos ou fragmentos das HQs, com três ou
quatro quadros, apresentando um texto sincrético (verbal e visual) no mesmo
enunciado e sob a mesma enunciação. Veja um exemplo de tira cômica tradicional:

Fonte: sites.google.com

As tiras cômicas como um gênero icônico ou icônico-verbal narrativo, cujo


avanço temporal se estabelece quadro a quadro. Como componentes próprios, as
tiras cômicas exibem os desenhos, os quadros e os balões e/ou legendas, onde é
introduzido o texto verbal (MENDONÇA, 2010).
O artista de tiras cômicas manipula com competência variados recursos para
realçar a aparência dos desenhos, fazendo uso do enquadramento, de desenhos
com perspectiva, de efeitos de luz e sombra, de expressões de movimento, de muitos
aspectos faciais e corporais que atraem e chamam o leitor, entre outros. Meios e
artifícios esses que impedem a monotonia na prática leitora (AMARAL, 2009).

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Aula 10_A narração e a narratividade

Palavras-chave: o narrar; a linguagem; as características.


Em vários momentos do nosso dia a dia, deparamo-nos com inúmeros textos
narrativos: estamos sempre contando algo ou ouvindo o relato de alguém. O mesmo
ocorre quando abrimos um jornal, ouvimos um noticiário ou assistimos a um
telejornal. Esses textos, embora narrativos, não são considerados, por
alguns autores, narração, uma vez que não pertencem ao campo da ficção, que não
têm por objetivo o envolvimento do leitor pela trama, pelo conflito. Diferentemente do
da narração, seu propósito é transmitir fatos acontecidos, situações vividas,
informações. Seriam relatos.

O ponto em comum entre esse tipo de texto e as narrações ficcionais é que ambos
são marcados pela temporalidade. É isso que nos permite dizer que nos relatos
há narratividade, ou seja, o modo de ser da narração.
Há narratividade, portanto, em qualquer texto marcado pela sequência
temporal de acontecimentos e pela transformação sofrida pelos seres (animados ou
inanimados) neles envolvidos.
Em sua edição de 2 de junho de 2002, O Estado de S. Paulo deu o seguinte
título a uma das reportagens de seu caderno de “Economia & Negócios”:

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Com a Samello, póoo de Franca vai ao topo da moda. Nesse título


há narratividade, pois havia pressuposta uma situação inicial A(embora seja, já há
muito tempo, um importante produtor e exportador brasileiro de calçados, Franca
ainda não havia chegado ao topo da moda internacional) que, numa sucessão de
acontecimentos (trabalho da família Samello, investimentos, negociações) levou a
uma situação B (a Samello, tradicional fabricante de calçados masculinos de Franca,
estava começando, em 2002, a fornecer seus produtos para a Car-Shoe, marca do
grupo italiano Prada), distinta da anterior.
O texto abaixo, em linguagem não verbal, também apresenta narratividade.

Vamos analisar e entender por que podemos dizer que esse gráfico apresenta
narratividade: em seu título, “Crescimento da população urbana mundial”, já aparece
uma ideia de mudança de situação – a população urbana cresceu, enquanto a rural
diminuiu; as colunas estão agrupadas aos pares e organizadas em ordem
cronológica (1955, 1975, 1995, 2015), já que essa mudança se deu ao longo do
tempo, havendo, inclusive uma projeção para 2015.
Mesmo que o gráfico não tivesse título (o que não deve acontecer), seria
possível perceber a narratividade nas mudanças que percebemos nas colunas que
registram as porcentagens. O mesmo acontece com o gráfico de linha reproduzido
a seguir, que mostra o comportamento da produção e da importação de petróleo, no
Brasil, entre os anos de 1954 e 1999. Há nele, portanto, narratividade.

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Aula 11_A descrição e a descritividade

Palavras-chave: o descrever; a linguagem; as características.

Como os narrativos, os textos descritivos podem aparecer sustentados pela


linguagem verbal e ou pela não verbal. Embora não possam ser considerados em
sua totalidade, não sejam propriamente descrições, apresentam traços descritivos,
ou seja, são textos que contêm descritividade. Neles, podemos encontrar
informações sucintas (os sinais de trânsito, por exemplo), resumos de pesquisas
e/ou de estudos (tabelas, esquemas, gráficos, mapas, ilustrações), etapas a serem
seguidas para se alcançar um objetivo (receitas, manuais de instrução). A
descritividade é, portanto, um recurso muito utilizado em diversos tipos de texto, seja
para apresentar informações sobre seres, situações e processos, seja para registrar
uma reflexão ou crítica a eles.
A descrição em linguagem verbal pode ser entendida como um tipo de texto
em que, por meio da enumeração de pormenores, dados, características, vai-se
construindo a imagem verbal daquilo que se pretende retratar. A construção dessa
imagem, no entanto, depende das intenções do autor e do objetivo do texto.
Há descrições que têm por objetivo informar, como acontece com um texto
que apresente, num livro de Geografia, a vegetação da Serra Gaúcha. Nesse caso,
o autor procurará ser bastante objetivo, usando um vocabulário específico, buscando
a exatidão – predominará, nessa descrição, a linguagem denotativa. Pertencem a
este tipo, a descrição técnica e a científica, nas quais a clareza e a precisão buscam
uma comunicação eficaz, objetiva e convincente, que não dê margem a
interpretações variadas.
Essa mesma região pode ser descrita, num folheto de agência turística, por
exemplo, com o objetivo de convencer possíveis turistas a visitar as cidades da Serra
Gaúcha. Ao mesmo tempo em que informa (localização, distâncias, locais a serem
visitados, hospedagem...), o folheto visa o envolvimento do leitor, provocando nele o
desejo de visitar a região. Por isso, o vocabulário, agora, será menos técnico, mais
subjetivo – denotação e conotação aparecerão alternadamente.

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Já a descrição dita literária, apresentaria a Serra Gaúcha por meio de um


cuidadoso trabalho de linguagem, em que comparações e metáforas seriam
utilizadas muito mais para sugerir do que para representar com exatidão o objeto
descrito – nela predominaria, portanto, a linguagem conotativa.
Isso sim é inovação: um sutiã em spray, milagrosamente invisível! Vaporizado
sobre os seios e espalhado com uma boa massagem circular (oba!) O Haut Tenue,
da Yves Saint Laurent, funciona à base de uma nova proteína de soja obtida pela
biotecnologia, que reforça as fibras elásticas da pele. Segundo o fabricante, o
produto não só faz o busto desafiar a lei da gravidade, como dá a ele uma textura
acetinada

Para encerrar, leia o texto abaixo, em linguagem verbal e não verbal: é uma
descrição de processo, já que mostra, passo a passo, as etapas do processo de
clonagem da ovelha Dolly.

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Aula 12_A dissertação e os recursos argumentativos

Palavras-chave: o dissertar; a linguagem; as características.

Os textos dissertativos são aqueles que analisam, interpretam, explicam e


avaliam os dados da realidade. Por isso, sua referência ao mundo faz-se por
conceitos amplos, modelos genéricos – as referências a casos concretos e
particulares ocorrem apenas para ilustrar afirmações gerais ou para argumentar a
favor delas ou contra elas. Disserta-se, portanto, para expor a análise de algum fato
ou questão, e essa atividade analítica exige do produtor do texto a capacidade de
considerar diversos aspectos envolvidos no tema em pauta, de ponderá-los, de
relacioná-los a outras informações para, ao fim do processo, alcançar-se uma
conclusão lógica.
Para que tudo isso aconteça, é necessário que o texto trate, do começo ao
fim, do mesmo assunto, ou seja, daquilo a que ele se refere de modo mais geral. No
entanto, qualquer assunto pode ser enfocado sob vários ângulos. À delimitação do
assunto dá-se o nome de tema. A manutenção do assunto e do tema, desde o início
até o fim de um texto, vai garantir sua unidade. Conforme já vimos quando
trabalhamos a noção de texto.
Eu gosto muito de explicar a diferença entre assunto e tema usando a figura
de uma pizza; o assunto seria o disco de massa, e os temas seriam as coberturas.
Veja a “pizza” que preparei para você!

Fonte: Autoria própria

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O disco de massa é a adolescência (em amarelo), as coberturas de cada fatia


são possíveis temas: o adolescente e as drogas, o adolescente e as novas
tecnologias, a saúde dos adolescentes, o adolescente e a família, o adolescente e
suas tribos, sexo na adolescência, o adolescente e a leitura, gravidez na
adolescência (cada tema escrito de uma cor).
Outro aspecto importante do texto dissertativo é a posição que o autor assume
diante do tema que pretende desenvolver, ou seja, o objetivo que ele quer alcançar,
o ponto de vista que pretende defender.
Imagine que você vá redigir uma dissertação tendo como tema “o adolescente
e a leitura”. Depois de pensar nele, e antes de começar a redigir, você precisará
estabelecer um objetivo, pois é ele que norteará a seleção das ideias e dos dados
que aparecerão no texto, o modo como você vai apresentá-los, a importância que
dará a cada um deles. O objetivo é a ação do escritor sobre o tema; portanto, ele
deve ser expresso por meio de um verbo. Por exemplo: o objetivo de meu texto sobre
“a gravidez na adolescência” é analisar os últimos dados relativos ao problema
e criticar a falta de orientação, por parte das escolas e da família, aos adolescentes.
Diferentemente do texto narrativo e do descritivo, o texto dissertativo
apresenta análises e interpretações genéricas, válidas para muitos casos concretos
e particulares, operando, principalmente, com termos abstratos.
Se você não se lembrar desses conceitos, reveja a aula sobre textos
figurativos e textos temáticos.
Já que a dissertação pretende expor verdades gerais válidas para muitos fatos
particulares, o tempo por excelência da dissertação é o presente no seu valor
atemporal, embora os outros também possam aparecer (como o pretérito perfeito,
em citações de fatos históricos, ou o imperfeito do subjuntivo e o futuro do pretérito
no levantamento de hipóteses).
Enquanto no texto narrativo a ordenação é temporal, a dissertação tem uma
ordenação que obedece às relações lógicas: analogia, pertinência, causalidade,
coexistência, correspondência, implicação etc. Por suas características, o texto
dissertativo requer uma linguagem mais sóbria, denotativa, sem rodeios; daí o
predomínio da terceira pessoa nesse tipo de texto. Além disso, a dissertação trabalha
muito com o período composto (normalmente por subordinação), com o

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encadeamento de ideias; nesse tipo de construção, o correto emprego dos


conectivos é fundamental para se obter um texto claro, coeso, elegante.
Sempre que perguntamos: “– Por que...?”, estamos esperando uma resposta
que apresente causas, motivos, explicações claras e completas. Esse é o motivo
pelo qual não aceitamos que alguém nos responda “– Porque sim!” nem “– Porque
não!”. Em síntese, queremos argumentos que justifiquem e/ou comprovem alguma
afirmação. Quando isso não ocorre, a dúvida permanece, e continuamos sem uma
resposta que dissipe suas dúvidas ou com novas perguntas a serem formuladas. Da
mesma forma, todas as vezes que emitimos nosso ponto de vista, podemos e
devemos deixar claros os motivos que o apoiam, as razões pelas quais pensamos
ou agimos de determinado modo.
Assim, quando estamos diante de um texto (oral ou escrito) que contém a
opinião de alguém, esperamos encontrar nele os argumentos que a fundamentem.
Ainda que não concordemos com o ponto de vista do emissor, esses argumentos
devem conter algo mais que o “porque sim”, isto é, devem evidenciar o raciocínio do
argumentador, os motivos que o levam a ter esta ou aquela opinião, este ou aquele
ponto de vista.
Procedimentos argumentativos – ou tipos de argumentação – são, portanto,
todos os recursos linguísticos mais comumente acionados pelo produtor de um texto
com o objetivo de convencer o leitor de que as ideias aí veiculadas são legítimas,
plausíveis. É o que acontece na dissertação expositiva. Nela, o autor desenvolve
um tema analisando suas várias facetas sem necessariamente tomar partido,
posicionar-se diante dele. Esse tipo de texto busca a comunicação do conhecimento
por meio de raciocínios lógicos.
Diferentemente da expositiva, a dissertação argumentativa não busca
somente sustentar a legitimidade de uma ideia – o que se pretende, nela, é
convencer o receptor de que o ponto de vista emitido é também o melhor e, se for o
caso, apresentar refutações a uma possível contra-argumentação.
Leia o que diz o professor Wander Emediato sobre esse tema:

Há uma confusão no meio escolar sobre o que seja um


texto argumentativo e um texto dissertativo. A definição de texto dissertativo
é a mais instável na literatura. De modo geral, considera-se o texto
dissertativo como um tipo de discurso explicativo, cujo objetivo é explorar
um certo assunto sem, porém, incluir um posicionamento ou uma opinião.
O objetivo do texto dissertativo seria, pois, explicar. A definição só nos

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permite, na verdade, distinguir a dissertação da argumentação. A
argumentação, contrariamente (sic) à dissertação, visa persuadir ou
convencer um auditório da validade de uma tese ou proposição. Inclui a
explicação, mas o objetivo da argumentação é construir uma comunicação
persuasiva.

É fundamental, portanto, que o(s) nosso(s) objetivo(s) esteja(m) bem claros


para nós mesmos. O que queremos nesse texto?
Dependendo de nossa resposta, nosso texto será expositivo ou
argumentativo: se o mais importante for o próprio tema, nosso texto será uma
dissertação expositiva; mas, se o mais importante for o nosso ponto de vista, a nossa
opinião sobre o tema, nossa dissertação será argumentativa.
O quadro abaixo procura sintetizar as características que diferenciam os dois
tipos mais comuns de dissertação.

Recursos argumentativos
Dizem que opinião não se discute. Até certo ponto, isso é verdade, já que é
direito de todos ter e externar um ponto de vista. No entanto, os argumentos que
sustentam uma opinião podem ser discutidos, questionados. Por isso, ao
elaborarmos uma dissertação argumentativa, na qual procuramos demonstrar a
validade de um ponto de vista ou defender uma tese sobre determinado tema, é
necessário que a argumentação esteja bem estruturada, tanto na escolha pertinente

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dos fatores que justificam a opinião dada quanto no raciocínio e na linguagem que
os apresentam. É importante que os argumentos escolhidos harmonizem-se com a
totalidade do texto, garantindo sua coerência e evitando possíveis refutações de um
leitor crítico.
O conhecimento de alguns dos principais procedimentos argumentativos pode
ser, portanto, muito útil no momento em que produzimos um texto dissertativo, em
especial o dissertativo argumentativo.
Em vários campos do conhecimento, existem “verdades” que não são
questionadas. Por exemplo, você questionaria a seguinte proposição: A=B; B=C;
portanto A=C? Creio que não. Mas não é só nas ciências exatas que existe esse tipo
de afirmação. Há certas proposições com as quais todos concordam, como: Toda
criança precisa estar bem alimentada para conseguir um bom desempenho
escolar. Ou ainda: A educação é fundamental para o desenvolvimento de um
país. Quando lançamos mão de afirmações desse tipo com o objetivo de justificar
nossa opinião, estamos usando um argumento de valor universal, isto é,
argumentos baseados no consenso. Portanto, além de relevantes e adequados, não
admitem emoções, preconceitos, crenças (marcas de subjetividade) nem lugares-
comuns.
O argumento de prova concreta, por sua vez, é aquele que se sustenta em
fatos de conhecimento geral, dados, estatísticas, leis. Todas essas informações,
quando utilizadas em um texto argumentativo, devem ser exatas, com respaldo na
realidade. Além disso, é preciso interpretá-las com atenção para ficar clara a sua
pertinência e para não se tirar delas inferências ou generalizações descabidas.
Às vezes, quando defendemos uma ideia, procuramos conhecer o que
especialistas no tema já disseram. Então, fazemos citações diretas ou indiretas
desses autores. Nesse caso, estamos usando um argumento de autoridade –
aquele cuja base de sustentação está no pensamento alheio. A citação de autores
renomados, de autoridades em determinado assunto, é positiva na medida em que
revela um produtor de texto não só bem informado, mas também capaz de relacionar
seu próprio pensamento com o de outra pessoa, encontrando neles ponto de contato.
No entanto, é preciso que a citação seja realmente adequada e bem aproveitada no
contexto do trabalho – ela não substitui a argumentação pessoal do produtor do
texto.

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A maioria dos autores que estudaram (e escreveram sobre) a argumentação


arrolam ainda outros argumentos, entre eles o da competência linguística e o
do raciocínio lógico.
Em princípio, tanto o raciocínio lógico quanto a competência linguística devem
estar presentes em qualquer tipo de texto (seja ele argumentativo ou não). Ambos
passam a ser recursos argumentativos quando existe, evidentemente, essa
intenção.

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Aula 13_A exposição e a argumentação

Palavras-chave: a exposição; a argumentação; as características.

O texto dissertativo (seja ele expositivo ou argumentativo) deve ser claro,


objetivo e, acima de tudo, coerente, deixando entrever o pensamento, o raciocínio,
o pensamento lógico de seu emissor. Para que isso aconteça, é necessária, além da
seleção das ideias a serem analisadas e discutidas, a elaboração de um plano para
apresentá-las.
Para que se possa planejar um texto dissertativo, deve-se ter clara a sua
estrutura que, como qualquer outra, constitui-se na relação que se estabelece entre
os diversos elementos que compõem um todo organizado que sustenta o objeto (no
caso, o texto) em seu conjunto. Tradicionalmente, a estrutura do texto dissertativo é
formada por três partes – a introdução, o desenvolvimento e a conclusão –, que
precisam estar fortemente articuladas entre si.

Além disso, essas três partes devem organizar-se de modo equilibrado: a


introdução e a conclusão, em geral, representam cada uma 1/5 do texto, enquanto o
desenvolvimento, 3/5 do texto.
Uma boa introdução deve apresentar a ideia central, o problema a ser
examinado, o objetivo do autor, dando uma noção ao leitor do que será desenvolvido
em seguida. Dessa forma, ela serve como uma motivação inicial, uma orientação
para quem lê, e como um controle para quem escreve, impedindo-o de fugir do tema
e de seus objetivos.
O desenvolvimento, por sua vez, deve trazer a análise do tema, a sua
discussão, a argumentação que sustenta o ponto de vista do autor acerca do tema
e do problema levantado. A função dessa parte é fazer a relação entre a introdução
e a conclusão, orientando o raciocínio do leitor, levando-o naturalmente até a
conclusão.

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O autor deve ter sempre em mente aonde quer chegar para que seja possível
selecionar as ideias, argumentos, exemplos, dados mais importantes que o levem
de forma lógica e clara à conclusão desejada. Por isso, é necessário não se desviar
do tema, atendo-se à discussão inicial, nem deixar ideias soltas, impedindo que se
perceba o porquê de elas terem sido mencionadas.
Pode-se dizer que a conclusão é a parte mais importante do texto, pois é o
ponto de chegada dele – tudo converge para esse momento em que a discussão se
fecha. Sintética, a conclusão rejeita a repetição de argumentos e o uso de fórmulas
feitas, de clichês, de frases vazias.

Fonte: autoria própria


As falhas de estruturação de um texto podem ser evitadas se, antes de
começar a redigir, o autor fizer um plano das ideias a serem debatidas e da
sequência em que serão apresentadas.
O planejamento do texto dissertativo
Antes de se iniciar o planejamento do texto a ser redigido, é necessário decidir
qual método será utilizado na apresentação e no desenvolvimento das ideias e dos
argumentos: a análise e a síntese são os dois métodos básicos de investigação
científica que podem ser usados em momentos diferentes, dependendo do objetivo
do texto e das intenções do autor. Em geral, análise e síntese complementam-se
para demonstrar a validade e a pertinência das ideias expostas.
A análise consiste na decomposição de um todo (geral) em suas partes
(particular), isto é, o ponto de partida é o estudo do todo, do conjunto para, ao final,
chegar-se à compreensão das partes: o que vale para todos os elementos de um
conjunto vale também para um elemento que pertença a esse conjunto. O raciocínio
ligado à análise chama-se dedução ou método dedutivo. Observe o esquema:

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Fonte: autoria própria


A síntese, ao contrário, vai da parte (particular) para o todo (geral), das
causas para as consequências, para os efeitos, isto é, o ponto de partida é o estudo
de cada uma das partes para, ao final, chegar-se à compreensão do todo: os pontos
em comum entre cada uma das partes levam a uma conclusão a respeito do todo. O
raciocínio ligado à síntese chama-se indução ou método indutivo. Observe o
esquema:

Fonte: autoria própria


Já o método indutivo fundamenta conceitualmente o texto que apresenta uma
estrutura linear: os argumentos vão se somando de modo progressivo, cada ideia
se relaciona com a anterior e abre caminho para a próxima, com a qual também se
relaciona, em direção à conclusão. O leitor segue passo a passo o pensamento do
autor para, ao final, chegar à ideia principal do texto, ao seu ápice.
Decidido o modo como as ideias serão apresentadas, passa-se à elaboração
de um esquema para que seja possível visualizar a organização das ideias a serem
trabalhadas. Ao se escrever um roteiro, já se pode começar a perceber se a
sequência é lógica e suficiente para sustentar o texto. Dá-se por encerrada esta
etapa do trabalho quando o autor consegue perceber com clareza o que é
introdução, desenvolvimento e conclusão. Se o plano estiver bem feito, é possível
calcular, inclusive, quantos parágrafos haverá, quantas linhas serão utilizadas para
o desenvolvimento de cada ideia.

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1. O texto abaixo é a introdução do livro A Adolescência, do psicanalista


Contardo Calligaris
Leia-o com atenção e, em seguida, identifique o método utilizado (indutivo ou
dedutivo?) em sua apresentação. Justifique sua resposta.
Um adolescente um pouco sem rumo, estranhando seu próprio comportamento,
paradoxalmente desafiador e arrependido, para você na rua e fala: “Estou só passando por
uma fase agora. Todo o mundo passa por fases, não é?” Alguém talvez reconheça sua voz.
É Holden, o herói do romance O Apanhador em Campo de Centeio, de J.D.Salinger.
Aproveitando-se da situação, atrás e ao lado dele se aglomeram pais e mães de
adolescentes. Eles também perguntam: “Então é assim? Vai passar? É só uma fase?”
Resposta de bolso, caso Holden e os pais o parem na rua: “Não. Não é apenas uma fase.
Por isso, nada garante que passe”.
Nossos adolescentes amam, estudam, brigam, trabalham. Batalham com seus
corpos, que se esticam e se transformam. Lidam com as dificuldades de crescer no quadro
complicado da família moderna. Como se diz hoje, eles se procuram e eventualmente se
acham. Mas, além disso, eles precisam lutar com a adolescência, que é uma criatura um
pouco monstruosa, sustentada pela imaginação de todos, adolescentes e pais. Um mito,
inventado no começo do século 20, que vingou sobretudo depois da Segunda Guerra
Mundial.
A adolescência é o prisma pelo qual os adultos olham os adolescentes e pelo qual
os próprios adolescentes se contemplam. Ela é uma das formações culturais mais poderosas
de nossa época. Objeto de inveja e de medo, ela dá forma aos sonhos de liberdade ou de
evasão dos adultos e, ao mesmo tempo, a seus pesadelos de violência e desordem. Objeto
de admiração e ojeriza, ela é um poderoso argumento de marketing e, ao mesmo tempo,
uma fonte de desconfiança e repressão preventiva.
A Holden e aos pais pode-se responder, assim, que os jovens de hoje chegaram à
adolescência numa época que alimenta uma espécie de culto desse tempo da vida. E
caberia, então, tentar explicar como isso nos afeta a todos.
Calligaris, Contardo. A Adolescência. SP: Publifolha, 2000, p.8 e 9.

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Aula 14_Coesão referencial

Palavras-chave: conceito; elementos; a referência.

Você pode imaginar um texto como este?


Parecia um milagre, mas o professor inglês Thomas Richard, 48 anos, havia
conseguido finalmente descobrir a resolução da equação misteriosa. Fazia 20 anos que o
professor inglês Thomas Richard e o assistente do professor inglês Thomas Richard,
chamado Patrick, de 41 anos, estavam em busca da resolução da equação misteriosa, no
Instituto de Matemática da Universidade de Brancoft, contando somente com o auxílio de
uma bolsa de estudo de uma agência financiadora de pesquisa (a agência financiadora de
pesquisa que dava uma bolsa ao professor inglês Thomas Richard e ao seu assistente
Patrick chamava-se Agência Internacional de Amparo à Pesquisa). Quando o professor
inglês Thomas Richard vislumbrou a resolução da equação misteriosa, o professor inglês
Thomas Richard reuniu os recursos financeiros que restavam ao professor inglês Thomas
Richard e fugiu do campus, da cidade, do mundo, deixando o assistente do professor
Thomas Richard chamado Patrick a ver navios e a ficar imaginando o que o professor inglês
Thomas Richard faria com a resolução vislumbrada pelo professor inglês Thomas Richard e
com o dinheiro recebido da Agência internacional de Amparo à Pesquisa.
Realmente, é difícil imaginá-lo. Sabemos que ninguém fala nem escreve
assim: todos nós, em geral, conseguimos perceber e utilizar os mecanismos da
língua responsáveis pela construção de um texto claro, objetivo, sem repetições
desnecessárias. Esse conhecimento permite que nossas frases sejam construídas
de modo a fazer o texto avançar, sem deixar de ir recuperando o que já havia sido
dito anteriormente. Conseguimos, portanto, “costurar” palavra com palavra, frase
com frase e assim por diante.
Se vocês já viram uma pessoa costurando a mão ou uma máquina de costura
funcionando, devem ter percebido que elas fazem um movimento para frente e para
trás e, com isso, vão juntando todas as partes do trabalho, isto é, do tecido. Assim
também é um texto: caminha-se para frente, fazendo-o progredir, retomando, ao
mesmo tempo, palavras e ideias que já haviam aparecido anteriormente. Não é à toa
que “texto” e “tecido” são palavras da mesma família etimológica, assim como
“coesão” e “costura”.

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Podemos, então, entender por coesão textual o conjunto dos recursos


linguísticos que estabelecem as ligações entre as partes de um texto (nas frases,
entre as orações de um período ou entre os parágrafos), garantindo-lhe a coerência.
Observe:
A Unimes Virtual recebeu, no dia 22 de setembro, o professor Marcos Silva.
Nas dependências da entidade, com a presença de funcionários, professores e
coordenadores de seus cursos a distância, o professor da UERJ e das Faculdades
Estácio de Sá concedeu entrevista e proferiu palestra sobre A interatividade na sala
de aula.
Ontem, o professor Carlos Alberto esteve em Curitiba. Lá, o coordenador de
projetos participou de um seminário sobre aprendizagem significativa.
Ontem, o professor Carlos Alberto esteve em Curitiba. Na capital
paranaense, ele participou de um seminário sobre aprendizagem significativa.
O Ministério da Educação pretende anunciar as alterações da grade curricular
do Ensino Médio, mas não deverá fazer isso esta semana.
Paulo e Renata estavam com o som ligado no último volume; por isso não
perceberam que a vizinha os chamava havia algum tempo.
A coesão referencial é a que possibilita a recuperação de termos de um
texto, evitando repetições; ela pode ser obtida por meio de:
1- Anafóricos: elementos linguísticos que recuperam (ou que se referem a) algo
que foi dito anteriormente:
Exemplos
a) pronomes
A escola comprou novos equipamentos. Com eles poderemos começar a dar aulas
mais interativas.
O aluno permaneceu cabisbaixo durante toda a aula. Isso foi o suficiente para que
eu entendesse tudo.
b) advérbios e locuções adverbiais
Perto da escola havia uma praça. Lá as professoras de educação infantil faziam
passeios com os alunos.
c) numerais
Ana e Laís chegaram do Canadá. Ambas trouxeram várias novidades para nosso
plano de ensino.

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d) elipse (omissão do antecedente)


As orientadoras pedagógicas estão participando, desde ontem, de um congresso no
Rio de Janeiro. Só voltarão no final da semana.
e) coesão lexical (ou reiteração)
• sinônimos:
A porta abriu-se e apareceu uma menina. A garotinha estava muito assustada.
• hiperônimos (palavras de sentido amplo, que englobam outros termos de sentido
mais específico)
A diretora da escola está fazendo o levantamento de preços para a aquisição de
um Datashow. O equipamento deverá ser comprado ainda este ano.
Sobretudo em textos escritos, deve-se evitar a retomada por meio de termos
extremamente gerais, como coisa, gente, e mais ainda, os próprios da oralidade,
como treco, negócio, bagulho.
• hipônimos (palavras de sentido restrito):
Finalmente o equipamento chegou. Na próxima semana, já poderemos usar
o Datashow em nossas aulas de Matemática.
Esse tipo de anafórico às vezes se torna inadequado. Observe o exemplo:
Logo depois de o funcionário ter batido o ponto, o inspetor de alunos foi para casa.
• expressões nominais definidas:
Os alunos gostaram muito de Comunicação, educação e novas tecnologias.
A disciplina foi oferecida no primeiro semestre do curso.
• nomes genéricos e/ou substantivos abstratos:
O conferencista prontificou-se a responder a todas as perguntas. Sua atitude foi
elogiada pelos componentes da mesa.
Todos os alunos do curso de Matemática compareceram à palestra de Marcelo
Gleiser. A coordenação do curso aplaudiu essa presença.
• metonímias (a parte pelo todo):
Os representantes dos Estados Unidos deverão reunir-se amanhã com a comitiva
russa. Os observadores acreditam, entretanto, que não será ainda desta vez
que Moscou cederá às pressões de Washington.
• termos caracterizadores ou qualificadores:

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Ontem, o professor Carlos Alberto esteve No Rio de Janeiro. Na


cidade maravilhosa, ele participou de um seminário sobre aprendizagem
significativa.
2- Catafóricos: elementos linguísticos que anunciam algo que será dito:
a) pronomes:
Ele está pronto. Finalmente, a professora de Leitura e produção textual entregou
o livro-texto prometido para setembro.
Só espero por isto: que vocês se saiam bem nas provas.
b) dois-pontos:
Os professores consideram Kelly Maria uma boa aluna: é sempre a primeira a
chegar, participa da aula, faz todos os seus deveres e sai-se bem nas atividades de
avaliação.
c) expressões que introduzem explicação ou retificação:
Os alunos, ou melhor, a maioria dos alunos, já começaram a estudar para as
avaliações finais.
O pronome demonstrativo é muito utilizado no estabelecimento das relações
entre palavras e frases de um texto. No entanto, muitas pessoas têm dúvida no
momento de usá-lo. Por isso, é sempre bom relembrar o seu emprego. O quadro
abaixo procura sintetizá-lo.
Atenção ao emprego dos pronomes demonstrativos

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Aula 15_Coesão sequencial

Palavras-chave: articulação; relações; a sequência.

Considere os enunciados abaixo;

Meu avô chegou a São Paulo em 1920.


Veio trabalhar com Francisco, seu irmão.
Eles logo se separaram.
Seu irmão quis mudar-se para o Pará.
Meu avô preferiu permanecer aqui.

A simples enumeração (justaposição ou coordenação) não permite que se


evidenciem as relações entre o que é dito em cada um dos enunciados. Para que
isso aconteça, devemos organizá-los em um só período, usando elementos de
ligação. Uma das possibilidades seria:
Em 1920, meu avô chegou a São Paulo para trabalhar com seu irmão; no
entanto, eles logo se separaram porque Francisco quis mudar-se para o Pará e meu
avô preferiu permanecer aqui.
Agora, sim, as relações entre as ideias ficaram evidentes:
- a preposição para mostrou a finalidade da vinda de meu avô para o Brasil;
- o conector no entanto estabeleceu uma relação de oposição, ou ressalva,
entre a informação que vem em seguida e a anterior;
- o que vem depois de porque é a causa, o motivo da separação dos dois;
- o elemento de ligação e adiciona uma nova causa à primeira.
Percebemos, então, que coesão sequencial é a que possibilita a ordenação
das ideias num encadeamento lógico entre as partes de um texto, fazendo-o
progredir.

Esse tipo de coesão é conseguido por meio de:


1- conectores ou elementos de ligação (preposições e locuções prepositivas,
conjunções e locuções conjuntivas), que estabelecem uma relação semântica entre
os diversos segmentos das frases, entre os diversos períodos e entre os parágrafos.

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O aluno precisou faltar tanto às aulas que não conseguiu acompanhá-


las, quando retornou.

Alguns elementos de ligação


a- oposição, contraste, ressalva: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no
entanto, embora, contra, apesar de, não obstante, ao contrário.
b- causa e consequência: porque, visto que, em virtude de, uma vez
que, devido a, já que, por motivo de, em razão de, graças à, em decorrência
de, por causa de.
c- finalidade: a fim de, a fim de que, com o intuito de, para, para que, com o
objetivo de.
d- proporção: à medida que, à proporção que, ao passo que, tanto
quanto, tanto mais.
e- condição: se, caso, contanto que, a não ser que, a menos que.
f- conclusão: portanto, então, assim, logo, por isso, por conseguinte, pois, de
modo que, em vista disso.
g- adição: e, nem, ou, tanto .. quanto (ou como), não só ... mas também.

2- operadores do discurso ou partículas de transição, que facilitam o registro


do fluxo das ideias ou dos fatos expostos, mostrando de maneira clara a continuação
do pensamento.

Cláudio é, sem dúvida, o candidato mais bem preparado.


Além disso, revela aguda sensibilidade às artes.
Algumas partículas de transição

a- prioridade e relevância: em primeiro lugar, antes de mais nada, acima de


tudo, sobretudo.
b- tempo: a princípio, ocasionalmente, não raro, simultaneamente, nesse
ínterim, por fim, em pouco tempo, em muito tempo, logo que, assim que, antes
que, depois que, quando, sempre que..
c- semelhança: analogamente, similarmente, sob o mesmo ponto de vista,
semelhantemente.

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d- continuação: ademais, outrossim, além disso.


e- dúvida: quiçá, se é que, provavelmente, talvez.
f- certeza, ênfase: decerto, indubitavelmente, inquestionavelmente, com toda
certeza, sem dúvida, com efeito, de fato.
g- surpresa, imprevisto: inopinadamente, de súbito, inesperadamente,
surpreendentemente.
h- ilustração, esclarecimento: isto é, quer dizer, a saber, por exemplo,
vale dizer.
i- propósito, intenção: com o fim de, com o propósito de, propositadamente,
intencionalmente.
j- resumo, recapitulação: em suma, em síntese, em conclusão, em resumo.
Por tudo que vimos aqui, espero ter deixado clara a importância da construção
correta de frases e períodos.
Um caso particular e muito comum de estrutura frasal é o paralelismo, o que
você verá na próxima aula.

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Aula 16_Coerência textual

Palavras-chave: coerência interna; coerência interna; unidade.

A coerência textual vem sendo objeto de trabalho de muitos linguistas que a


têm estudado sob vários ângulos, escudados nas mais diversas teorias. Pela vasta
bibliografia que existe hoje sobre o assunto, percebe-se quão importante é a
coerência para qualquer escrito que se queira texto.
De modo geral, pode-se dizer que a coerência é o ponto de partida
da interpretabilidade e da compreensão de qualquer texto: é ela que garante o
“sentido” que um autor quer passar para um leitor, o qual, por sua vez, terá
condições de atribuir um sentido ao que leu. Essa interpretabilidade depende de
vários fatores como, por exemplo, a organização dos elementos linguísticos de um
texto (conhecimento linguístico), a situação em que um texto foi produzido e/ou
recebido (conhecimento do mundo), os pontos comuns entre o emissor e o receptor
(conhecimento partilhado).
Observe o esquema abaixo, que tenta sintetizar o que foi exposto:

Portanto, um texto é coerente quando é possível interpretá-lo, entendê-lo,


tanto em suas partes, quanto no seu todo.
Você lembra que, quando estudamos o texto e sua unidade, analisamos um
trecho ao qual não conseguimos atribuir nenhum sentido, pois não havia nenhuma
relação lógica entre as ideias nele presentes? Como nos ensinam os professores
Platão e Fiorin, a “base da coerência é a continuidade de sentido, ou seja, a ausência
de discrepâncias” – e o que mais havia no texto eram discrepâncias. Reproduzo o

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trecho para que você se recorde dele – se quiser, volte à Aula 3 e releia a análise
que fizemos.Op.Cit., p.16
A crise na agricultura brasileira será discutida pelos ministros porque hoje
está muito calor em Brasília. Juscelino, que não viu nem viveu crise econômica
alguma, morreu a fim de enviar um telegrama a suas filhas que, por sinal, moravam
em Paris, onde se estuda muito. Porém, o mundo ficou chocado, já que o bailarino
tropeçou e o avião caiu assim mesmo. Em suma, toda crise é salutar.
Não negociamos o Sócrates, pois ele é insubstituível, inegociável,
imprestável. Você já ouviu essa frase? Segundo o “folclore futebolístico”, quem
a disse, certa vez, foi Vicente Mateus, ex-presidente do Corinthians. Ela também não
pode ser considerada coerente, pois o engano quanto ao significado de “imprestável”
torna o termo contraditório com o que vinha sendo enunciado. Não serve, portanto,
como argumento.

Coerência externa
Entende-se por coerência externa a compatibilidade ou não contradição entre
os dados, fatos e conceitos apresentados em um texto e aqueles tidos como
verdadeiros dentro do quadro de referências em que esse texto se inscreve.
Os exemplos mais comuns de falhas de coerência externa aparecem em
argumentos com dados numéricos:
Oitenta por cento da população do Brasil é composta de jovens.
Cerca de 40% dos brasileiros são analfabetos.
Outro caso frequente é o das generalizações e estereótipos (clichês):
Os políticos são todos corruptos.
As pessoas roubam porque têm fome.
Os alunos da escola pública não entram na Universidade.
Percebe-se, pelos exemplos acima, que o autor de um texto deve estar, em
primeiro lugar, bem informado sobre o tema que está tratando e, também, apto a
refletir profundamente sobre ele, a fim de criticá-lo, relacionando seus diferentes
aspectos, estabelecendo hipóteses, analisando causas e consequências. Enfim,
deve deixar patentes seu grau de informatividade, sua capacidade reflexiva e crítica
e sua habilidade de organização e coerência textuais.

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Muitas vezes, entretanto, o emissor de um texto pode “forçar” uma incoerência


com objetivos dos mais variados. A propaganda, por exemplo, lança mão,
frequentemente, da incoerência externa (às vezes, no texto escrito; outras, nas
ilustrações; e ainda, na relação texto-ilustração).
Coerência textual: a coerência interna
Por coerência interna entende-se a compatibilidade de ideias entre as partes
que compõem o texto. Isso pressupõe:
1- Continuidade
Este aspecto da coerência interna diz respeito não só à estrutura formal do
texto, mas também, e principalmente, ao projeto a que o autor se propôs ao escrevê-
lo. Isto é, o tema, em seus vários aspectos (ou subtemas) é desenvolvido de modo
claro, sem retrocessos, desvios ou intercalações inesperadas; existe, portanto, uma
lógica argumentativa que conduz o leitor para uma conclusão do conjunto. As ideias
trabalhadas são todas amarradas, encaminhadas para um desfecho.
2- Progressão
Intimamente ligada à continuidade, a progressão é responsável pela soma de
ideias novas que vão sendo comentadas e/ou analisadas, numa gradação que
valoriza o esquema argumentativo do texto: os argumentos mais fortes, consistentes,
devem ser os últimos a serem trabalhados, de modo a prepararem uma conclusão
objetiva e harmoniosa com o conjunto do texto.
3- Não contradição
De todos os aspectos ligados à coerência interna do texto, este é, sem
dúvida, o mais óbvio, já que o mínimo que se espera de um autor é que ele tenha
clareza com relação às suas posições diante de um determinado tema e dos
argumentos que poderá usar ao defendê-las. Portanto, a não contradição é
responsável pela lógica do raciocínio subjacente ao esquema argumentativo
utilizado. Isso é válido para o texto como um todo e também para suas partes. É
preciso, pois, muita atenção, já que uma palavra mal escolhida (vide o exemplo da
argumentação para não se vender o jogador Sócrates), um conectivo mal utilizado,
uma falha de pontuação pode comprometer a coerência do trecho (e, às vezes, de
todo o texto).

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A ambiguidade e as falhas na construção das frases (a falta de paralelismos,


por exemplo) e dos pensamentos (do pensamento circular, por exemplo) são alguns
aspectos da contradição.
Um dos casos mais conhecidos entre nós, hoje em dia, é o de Gilberto
Dimenstein, que foi flagrado, duas vezes, pela Comissão de Vestibular da Unicamp,
cometendo enganos na construção do círculo vicioso. E os publicitários que fizeram
a campanha dos Biscoitos Tostines (“Vende mais porque é fresquinho ou é
fresquinho porque vende mais?”) montaram corretamente o pensamento circular.
4- Articulação de argumentos
Intimamente ligada à coesão textual, a articulação dos argumentos é
responsável pela clareza e objetividade do esquema argumentativo construído pelo
autor. Portanto, ela se fundamenta na compatibilidade entre os diferentes termos
utilizados na construção linguística do texto. Cooperam para essa articulação os
elementos de ligação (anafóricos, catafóricos e conectivos), os articuladores lógicos
(expressões como: por exemplo, dessa forma, além disso), os recursos temporais
(conjunções e expressões adverbiais de tempo, correlação dos tempos verbais), o
nível de fala.
Em suma, na construção de qualquer texto, nada deve ser deixado de lado,
todos os aspectos devem ser considerados, para que pensamento e linguagem
encontrem sua melhor expressão: “O homem não pode pensar seu pensamento sem
pensar sua palavra” (BONALD).

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REFERÊNCIAS

ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. 12. ed. SP: Ática, 2004.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é como se faz. S. P.: Edições
Loyola, 1999.
CAVALCANTE, Mônica M. Os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2012.
CUNHA, Antonio Geraldo da. Dicionário Etimológico. Nova Fronteira da Língua
Portuguesa. 2. ed., 8ª impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
D’ONOFRIO, Salvatore. Metodologia do trabalho intelectual. 2. ed. S.P: Atlas,
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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
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