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Contudo, o texto também traz suas estratégias de produção de sentido que conduzem a
leitura, tais como os recursos de linguagem que são utilizados pelo autor e os recortes que ele faz
no mundo com e pela linguagem. Assim, escrever também é um processo de leitura, pressupõe
igualmente produção de sentidos, objetivos, escolhas, “refeitura”... O autor é o primeiro leitor do
seu próprio texto. Nesse sentido, escrita e leitura são algo indissociável.
E não lemos só o que está escrito. Lemos os movimentos do corpo, lemos a paisagem,
lemos o mundo em que vivemos, quando tentamos conhecê-lo, compreendê-lo, transformá-lo...
Lemos números, ícones, fotos, obras de arte, logomarcas, sinais, cores, gestos, sons, formas...
São tantos os exemplos... a criança que lê as nuvens e suas formas, construindo feições,
personagens, histórias... a foto que “fala mais” do que a legenda... a logomarca que faz o adulto
desejar o objeto... o gesto que cala... a sirene da ambulância ou a música do caminhão de gás que
provocam a nossa aflição... Ler é manter uma ligação através do tato, do olhar, do ouvido...
“Em que se baseia a leitura? No desejo. (...) As pessoas lêem com seus corpos. Ler é
também sair transformado de uma experiência de vida, é esperar alguma coisa. É um sinal de
vida, um apelo (...). Pouco a pouco, o desejo desaparece sob o prazer” [1].
“Ler não é decifrar [ou decodificar], como num jogo de adivinhações, o sentido do texto. É, a
partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os outros
textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e,
dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não
prevista” [2].
“Leitura é um processo de interlocução entre leitor e autor mediado pelo texto. Encontro com o
autor, ausente, que se dá pela sua palavra escrita.” O autor produziu o texto com determinadas
significações, dirigido para interlocutores imaginados com certas características, mas não tem
como controlar o processo de leitura do leitor que, não sendo passivo, busca significações e
produz seu próprio sentido para o texto [3].
1
[?] BELLENGER apud KLEIMAN, Ângela. Oficina de Leitura: Teoria e Prática. Campinas, Pontes, 2004.
2
[?] LAJOLO apud GIRALDI, José Wanderley. (Org.) O Texto na Sala de Aula: Leitura e Produção. São Paulo:
Ática, 1996. p.80
3
[?] Giraldi, Idem, p.80.