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Prefeitura Municipal de Josenópolis

Secretaria Municipal de Educação

Josenópolis – MG
1º Semestre/ 2023
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Prefeitura Municipal de Josenópolis
Secretaria Municipal de Educação

RESPONSABILIDADE TÉCNICA:

Thaís Pereira Andrade Queiroz


Secretária de Educação

Silmara Rodrigues Viana


Diretora

Marly Pereira Coelho


Vice Diretora

Maria Aparecida Marques Torres


Maria Ângela Magalhães
Supervisoras Educação Infantil

Maria Arlete Santos Soares


Maria Elenice Celestino Pestana
Supervisoras Ensino Fundamental

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“Diante do tempo, envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Porém, para a
memória, ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis”.
O Que a Memória Ama, Fica Eterno
Adélia Prado

1- APRESENTAÇÃO

A cada novo ano escolar faz-se necessário um repensar a literatura e sua


importância para a vida do ser humano, considerando-a como um direito de todos,
devendo ser ofertada desde a mais tenra idade, a partir das mais diferentes áreas do
conhecimento, conforme Antonio Candido (2004), que concebe o respeito aos direitos
humanos como condição básica para uma sociedade justa, sendo inalienável a fruição da
arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis. É a humanização das
pessoas, ou seja, o processo que confirma no homem aqueles traços que consideramos
essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com
o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida,
o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, além do cultivo
do humor. Para Candido (2004), a “literatura desenvolve em nós a quota de humanidade
na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade,
o semelhante” (CANDIDO, 2004, p. 249).
Nesse sentido, desde o início da vida, o sujeito constitui-se, enquanto leitor,
interagindo com o outro e com o mundo em que vive. Aos poucos, a leitura da palavra
começa a fazer parte de suas experiências de leitura. As práticas de leitura do mundo e de
leitura da palavra vão se entrelaçando num processo contínuo de comunicação social. As
letras, as palavras, os textos são percebidos, experimentados, compreendidos nas relações
com outros sujeitos – em relações concretas, com familiares, amigos, professores; e em
relações intertextuais com os autores dos textos. A leitura do mundo é um ato de
compreensão do que se vê ou se sente. Segundo Paulo Freire (2006, p. 11):

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior


leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele.
Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do

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texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das
relações entre o texto e o contexto (FREIRE, 2006, p. 11).

A história da leitura, assim, coloca para o centro do debate o leitor e aponta uma
distância entre a durabilidade da escrita, seu aspecto conservador, estável e a efemeridade
da leitura, que só ganha significado com o leitor, ou seja, o texto só existe se houver um
leitor para lê-lo. O ato de ler engloba vários sentidos, desde o estrito ao amplo, segundo
Robert Darnton (1992) e pode estar relacionado ao ato de colher, de buscar sentidos no
interior do texto – que é uma “árvore” de significados e o leitor deve colhê-los. Outra
definição aproxima o sentido de “ler” ao de “roubar”. O leitor tem a possibilidade de
“retirar do texto sentidos ocultos, criando até mesmo significados impensados pelo autor;
este apenas escreve e aquele atribui vida ao texto” (DARNTON, 1992).
Nesse mesmo entendimento, Regina Zilberman (2001, p. 20) ressalta que “nenhum
leitor absorve um texto de modo passivo”. Ao contrário, o texto passa a existir diante da
invasão do leitor, que lhe confere vida, ao completá-lo com a força de sua imaginação e
o poder de sua experiência. Em função disso, como cada leitor possui imaginação
e experiências diversas, os sentidos do escrito sempre se alteram. A leitura não se reduz
ao que é lido. O que um leitor já leu, ouviu ou viveu é diferente das vivências dos outros
leitores e todas essas experiências constituem o leitor, orientam sua leitura, o que pode
ser conduzido e ampliado pelo professor mediador de leitura.
Nesse entendimento, há que se considerar a importância da biblioteca e/ou espaços
destinados à leitura, dos livros oferecidos aos alunos, bem como do mediador de leitura
para a formação do leitor literário, cabendo aqui alguns questionamentos sobre as escolas
municipais de Josenópolis: Como garantir a literatura de qualidade como direito de todos,
desde a Educação infantil até o Ensino Fundamental? Qual a importância do professor
mediador da leitura literária? Como formar um aluno leitor?

Professor Mediador, Aluno Leitor

O professor é o intermediário entre o livro e o aluno, seu leitor final. Os livros que ele lê ou
leu são os que terminam invariavelmente nas mãos dos alunos (Cosson, 2007, p. 32).

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O repertório de leitura que os discentes possuem, em grande parte, vem de indicações


de leituras dos professores, sendo que boa parte das leituras que os alunos fazem, ao longo
da formação escolar, está relacionada às recomendações feitas pelos professores. São
importantes as indicações de leituras dos docentes e a mediação desse processo,
proporcionando momentos de leituras em sala de aula, com acompanhamento, com o
propósito de orientar os discentes na escolha do material a ser lido e de auxiliá-los nesse
processo de efetivação da leitura e da descoberta do mundo por meio das palavras. A
escola tem um papel fundamental na formação leitora dos discentes. Para cumprir esse
papel, a importância da mediação do professor é imprescindível, devendo ser um
profissional que encante, desperte os alunos por meio da motivação e do exemplo, lendo
para turma. Desse modo, o professor deve proporcionar a curiosidade e despertar para
outras formas de ler o texto, pois, ao buscar a interrogação sobre os vínculos ideológicos
de manifestação artística e o desvelamento dos processos de comunicação do jovem leitor,
colabora com a emancipação desse mesmo indivíduo. Para tanto, faz-se necessário que o
mediador proponha reflexões acerca de analogias entre obras diversas, ao mesmo tempo
em que, a partir da detecção dessas analogias e de pressupostos, apresente outras leituras
que possam estabelecer dialogia e retomada de conceitos prévios. Desse modo, é capaz
de propiciar um alargamento dos horizontes cognitivos dos leitores, por meio da expansão
da dimensão de entendimento destes e de seu imaginário.
Com a finalidade de aumentar o repertório linguístico e ampliar as expectativas dos
alunos, o mediador pode apresentar textos de pequena extensão, como contos, fábulas,
crônicas, visando à discussão da proposta em um espaço curto de tempo (durante a aula)
e leve os educandos à curiosidade de buscar outras leituras, com um trabalho bem
direcionado pelo professor. O grande desafio da escola nos termos de Teresa Colomer
(2007, p. 104), é admitir aqui que os livros já estão nas classes, e que, portanto, trata-se
de convencer as crianças a lê-los. Para tanto, é preciso apresentar uma diversidade de
livros e de gêneros diferentes, por meio de um trabalho direcionado, despertando o aluno
para uma leitura significativa. Nesse viés, Rildo Cosson (2007) postula que não basta
entregar o livro aos discentes e acreditar que sozinhos conseguirão atribuir sentidos à
leitura. É preciso acompanhá-los. Uma forma de auxílio é a leitura compartilhada. No
momento de leitura, o aluno poderá observar a leitura do professor, do colega de classe e
construir sua identidade leitora. Após a efetivação da leitura, interagir por meio de
discussões sobre o assunto do texto, além de estabelecer o respeito ao ritmo de leitura do

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colega, aprenderá a ouvir. Quando se trata de discussões sobre o texto, é importante que
o aluno desenvolva a empatia para respeitar as divergências de opiniões e consolidar o
pensamento quanto àquilo que lhe está sendo apresentado, compreendendo que pessoas
são diferentes em seus pensamentos e ideologias.
Assim, pretende-se, ao propor o tema “Leitura vai, Escrita vem: Memórias!”,
oportunizar dinâmicas de leitura literária onde se possa ler na escola, em casa, e ainda,
contar com a participação das famílias nas pesquisas e reflexões sobre a valorização da
história da cidade, de cada um e de todos, através de conversas com moradores mais
idosos, estudo de textos e do ambiente, promovendo também a escrita ao longo do
trabalho, com publicação de livros, o que eleva a escrita e a leitura ao pódio da memória
de todos, conferindo-lhes a importância que lhes é devida.

2 – JUSTIFICATIVA

“Uma noite me dei conta de que possuía uma história,


contínua, desde o meu nascimento indesligável de mim.”
Adélia Prado - Limites
A consciência de que cada um tem uma história e a importância dela para a
construção da memória coletiva é um passo significativo para que o indivíduo perceba a
importância da leitura e escrita dessa mesma história na sua vida. Não só a leitura dos
signos escritos, a decodificação, mas também a leitura de mundo, dos fatos, do meio em
que vive. Conforme Freire (1989) “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”;
assim, a memória individual e coletiva de cada um tem importância vital no processo de
construção do leitor e reavivar, trabalhar e valorizar tais memórias torna-se essencial para
que ler e escrever sejam processos concomitantes e significativos.
Daí, a importância de incentivar a leitura na vida da criança, desde cedo. Nessa
perspectiva, o manuseio de livros desde a primeira infância contribui de maneira eficaz
para o gosto e prazer da leitura por toda a vida; portanto, é muito importante que a criança
descubra que ler não é só uma atividade útil, mas divertida e gostosa. Sendo assim, a
leitura não será um ato mecânico, mas sim a interação entre autor e leitor, levando-o
naturalmente a querer registrar, escrever suas impressões e emoções. Como constata
Ângela Kleiman (2002, p. 13): “É mediante a interação de diversos níveis de

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conhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo,


que o leitor consegue construir o sentido do texto (KLEIMAN, 2002, p. 13). E porque o
leitor utiliza justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura
é considerada um processo interativo.
Para o trabalho com o presente tema, diversos gêneros textuais podem ser
utilizados, como contos, poemas1, uma vez que, na infância, o gênero com o qual a criança
primeiro tem contato é o poético, pois desde as cantigas de ninar, as canções folclóricas,
ela já é embalada pela poesia. Assim, essa forte relação entre infância e poesia pode ser
um bom caminho para que a leitura seja prazerosa, desde cedo.
Nessa perspectiva, a poesia possibilita o trabalho lúdico na medida em que
apresenta o jogo com as palavras e sons. Conforme Fabiane Verardi Burlamaque: “A
poesia pode ser um meio lúdico para se brincar com a língua, para trabalhar com o
imaginário da criança e para desenvolver-lhe a criatividade principalmente, o prazer
estético” (BURLAMAQUE, 2006, p. 89). Com base nessas possibilidades, questiona-se
se e a criança “brinca com de bola papagaio e pião2”, por que não com palavras?
Ora, sendo a poesia um texto que utiliza uma linguagem conotativa, como as
várias figuras de linguagem que permitem brincar com as palavras, manuseá-las, fazendo
arte, torna-se sentimento e emoção. Assim, a narrativa de memória na forma poética, por
ser um gênero rico e dinâmico que relata fatos, torna-se essencial para o estudo do tema,
documentando experiências humanas vivenciadas de forma leve. Além disso, pode ser
considerado um gênero que propicia às pessoas expressar a construção de sua identidade,
registrando emoções, descobertas e sucessos que marcaram a trajetória de vida, de uma
época, de um lugar. Nesse sentido, podemos afirmar que é na memória que se descobrem
as lembranças. À luz dessas experiências é possível pensar o passado, o presente e o
futuro; é pela memória, então, que se constitui a consciência, o conhecimento e a verdade.
Dessa forma, o registro de memória oferece um espaço de diálogo que permite repensar
a história individual, possibilitando a ressignificação da história coletiva por uma
perspectiva social.
Nessa perspectiva, o estudo de memórias através da literatura constitui-se num
recurso relevante para os alunos reconstruírem, junto com sua família e escola, a sua
história, pois o estudo e o registro das experiências permitirão compreender o modo de

1
Vise sugestões nos anexos.
2
Trecho do poema de José Paulo Paes

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ser do indivíduo e do seu contexto. Assim, a dinâmica “leitura vai, escrita vem” para
apropriação da história de cada um, apesar de, em muitos momentos do estudo,
apresentar-se como uma atividade individual, deverá ser concebida como fenômeno
coletivo e social, o qual exercerá significativa influência no que será lembrado e no modo
como será lembrado, ou seja, nas memórias de cada um e de todos.

3 – OBJETIVOS

3.1 – OBJETIVO GERAL: Desenvolver ações que promovam a valorização e


reconstituição das memórias individuais e coletivas dos alunos, juntamente com suas
famílias, a partir de atividades de leitura literária e escrita prazerosas e significativas,
dentro e fora da escola.

3.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS


• Promover momentos prazerosos de leitura e escrita na escola, destacando a
importância do resgate das “memórias” para a construção de um ser humano
pleno;

• Despertar nos alunos a consciência de que devem colaborar para que as vivências
de cada um sejam valorizadas e respeitadas como parte da história de um e de
todos;

• Envolver pais e todos os membros da escola em ações que promovam uma cultura
de valorização e resgate das memórias individuais e coletivas;

• Estimular o diálogo, formando cidadãos conscientes de seus direitos e deveres em


relação à memória individual e coletiva;

• Promover a escrita, concomitante com a leitura, evidenciando a importância dos


dois processos, que devem ser caminhar juntos.

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“Eu não dei por esta mudança,


Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?”
Retrato – Cecília Meireles

4 – PÚBLICO ALVO

Alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental Anos Iniciais das escolas de


Josenópolis - MG.

5 – DURAÇÃO
Primeiro semestre de 2023, podendo estender-se para o segundo semestre, se for
necessário mais tempo na produção dos livros propostos.

6 – O FOCO DO TRABALHO E ESTRATÉGIAS DE FUNCIONAMENTO

O trabalho baseia-se no incentivo à leitura em diversos suportes e espaços,


contribuindo para que o tema proposto seja explorado de forma atrativa e prazerosa,
promovendo a leitura e reflexão de livros e textos sobre o tema “memórias”.
Será realizado com foco em três segmentos específicos, para atender a toda a
demanda que a utilização eficaz da leitura implica, envolvendo alunos, professores e a
comunidade como um todo.
Alunos: Realização da leitura na escola através da dinâmica “leitura vai, escrita vem” e
posteriormente, em outros espaços e suportes, percebendo a importância do ato de ler para,
consequentemente, escrever bem, além de sua função social no mundo em que vivem,
colaborando para as reflexões do tema memórias.
Professores: Valorização e utilização dos seus saberes e práticas, visando à participação
de todos através da contação de histórias, leitura e mobilização da escola para a
participação no trabalho, além de momentos de formação, oficinas e trocas de experiência.

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Comunidade: Envolvimento de pais e demais segmentos da sociedade no trabalho,


através da valorização e reflexão sobre a importância das memórias para a preservação da
história e formação integral do ser humano. A participação nas produções e apresentações
dos alunos e também a parceria na execução do trabalho, com momentos de contação de
histórias na escola e outros espaços, além de outras atividades afins também serão
fundamentais.

7 – ATIVIDADES E AÇÕES

1 - Cantinho de leitura na escola: Baú, cantinho de leitura ou caixa da leitura em todas


as salas e/ou escola, com livros e textos sobre o tema em estudo para utilização nas aulas.
2 - Leitura em outros espaços da escola, como biblioteca, pátio e fora dela, como
praças, parques, bibliotecas e auditórios.
3 - Realização do DIA L - DIA DA LEITURA (Escolher um ou dois dias no ano para
serem os dias especiais dedicados à leitura de literatura: 18 de abril e 29 de outubro
previstos no calendário) além do mutirão da leitura: todos os professores verificando a
leitura dos alunos;
4 – Passeios a espaços significativos da cidade que remetam ao tema “memórias”.
5 - Reunião de pais: Trabalhar a importância da leitura em família e incentivar a
participação na “hora da história”.
6 - Encaminhar textos numerados para que os pais leiam em casa, com os filhos:
“Memórias de família”.

8 – ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS
ETAPAS:
1 - Organização do cantinho de memórias/leitura na escola e/ou sala de aula, com
livros e textos selecionados sobre o tema “memórias”.
Obs.: Selecionar um dos cantinhos para cada segmento de ensino ou vários,
dependendo do planejamento específico da escola.
2 - Iniciar o trabalho com as memórias apresentando o livro e/ou poema selecionados
aos alunos através de recursos diversos: slides, fantoches, ou outra técnica
escolhida.

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3 - Realização das atividades de memória – oficinas numeradas (em anexo).


4 - Realizar conversas e/ou entrevistas com as famílias para socializar as memórias.
5 - Visita a espaços que fazem parte da memória coletiva da turma, como rua, igrejas,
praça, espaço rural, etc.
6 - Promover oficina de escrita na sala, de acordo com estudo feito sobre o gênero
textual (cordel, poema e contos). Incentivar os alunos a escreverem
individualmente, com colaboração das famílias ou coletivamente, na sala de aula.
7 - Escolher os mais significativos para compor o livro de contos a ser publicado
coletivamente: “Nossas memórias” – Histórias da Cidade de Josenópolis
(Orientações - Escritor Mirim em anexo).

9 – ABORDAGENS:
As abordagens a seguir são sugestões para serem trabalhadas ao longo do projeto.

9.1 – CANTINHO: MEMÓRIAS DE FAMÍLIA


“Eu era menina em crescimento.
Gulosa,
abria os olhos para aquele bolo
que me parecia tão bom
e tão gostoso.”
Cora Coralina- Antiguidades

Objetivo: Promover espaço para relembrar objetos, cenas, cheiros, palavras que remetem
à família, oportunizando experiências singulares e coletivas.

DINÂMICA: Fazer um cantinho de leitura com objetos3, utensílios, cenas que remetem
à vida em família de ontem (fogão a lenha, bule, copo e prato de esmalte, máquina de
costura costurando uma colcha de retalhos, poema bordado na colcha, panos de prato).
Deixar que todos passeiem pela cena, tocando, lendo, vivenciando, com uma música de
fundo.
Atividades: Árvore genealógica, túnel do tempo, degustação de sabores antigos, músicas
com letras sobre o tema, contação de história; leitura de poemas.

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Os objetos podem ser pedidos aos próprios pais.

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Músicas: Não custa nada - Paula Santisteban e Eduardo Bologna


Utopia- Padre Zezinho
Família – Fábio Jr
Poema: Antiguidades – Cora Coralina
Livros: Manu e o segredo da caixinha – Marismar Borém - Educação Infantil e Ensino
Fundamental - Anos Iniciais;
Texto: O segredo da boneca de retalhos – Éllen Santa Rosa

“Oh! que saudades que tenho


Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!”

Casimiro de Abreu- Meus Oito Anos

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9.2 – CANTINHO: MEMÓRIAS DE BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS


“Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio e pião”.
José Paulo Paes

Objetivo: Refletir sobre os brinquedos e brincadeiras de antigamente e os de hoje,


revivendo e construindo-os, percebendo suas características de lugar para lugar e
reconhecendo a importância da sua preservação como elementos da cultura e valorização
da memória.
Dinâmica: Cantinho de leitura com brinquedos antigos, livros com brincadeiras e
brinquedos de ontem e de hoje, além de poemas; realização de oficina com brincadeiras
antigas, utilizando brinquedos confeccionados.
Poema: Convite - José Paulo Paes
Livros: Minha cidade, meu futuro, de Éllen Santa Rosa
A caixa de Théo - de Marismar Borém
Textos: A rua da minha infância e Caixa de Memórias – Éllen Santa Rosa
Músicas: Canções de brincar – Palavra Cantada

9.3 – CANTINHO: MEMÓRIAS DA NATUREZA


Levaram a sombra dos limoeiros
Por onde rodavam arcos de música
E formigas ruivas.
Infância- Cecília Meireles

Objetivo: Promover espaço para a compreensão do significado legítimo de valorização


da natureza, percebendo os cheiros e sabores que estão em extinção e precisam ser
resgatados e valorizados.
Dinâmica: Cantinho de leitura com elementos da natureza, como frutos, folhas, ervas
cheirosas, plantas naturais; gaiola com pássaros feitos artesanalmente e colocados fora

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dela; música ambiente de sons de cachoeira e pássaros. Pedir que fechem os olhos e
reflitam: que som é esse? Já ouviu antes? Onde foi? Que hora do dia? Fazia sol ou chuva?
Você gostaria de voltar lá de novo?
Poemas: Leilão de jardim – Cecília Meireles
Infância - Cecília Meireles
Texto: Saudade da chuva! e Memórias de um pé de pequi (Éllen Santa Rosa)
Livros: Isto sim! Aquilo não! – Éllen Santa Rosa
Lanterna de Pirilampos- Isabel Cristina
Músicas: Mundo Bita - Gostosuras Naturais
Pomar – Palavra Cantada

9.4 – CANTINHO: MEMÓRIAS DO CORAÇÃO

“Eu te amo porque te amo. Eu te amo porque te amo.


Não precisas ser amante, Amor é estado de graça
e nem sempre sabes sê-lo. e com amor não se paga”.
Carlos Drummond de Andrade

Objetivo: Proporcionar reflexões sobre o caminho que leva à felicidade desde a infância,
a simplicidade, os afetos, o enfrentamento dos medos, os relacionamentos entre pais e
filhos, entre amigos, permitindo reflexões sobre o uso exagerado dos recursos
tecnológicos, promovendo a aceitação das diferenças e valorização do outro como ser
único.
Dinâmica: Organizar um cantinho com objetos que lembram os relacionamentos de
antigamente: caderno de pensamentos, papel de cartas, máquina de escrever antiga, livros
de poemas, disco de vinil na vitrola. Passear por ele ao som de uma canção antiga.
Conversar… como se dão os relacionamentos hoje? E antigamente?
Obs.: Convidar alguém para fazer uma serenata. Escrever recados do coração para algum
amigo presente. Fazer correio do coração com mensagens dos alunos e pais.

Livros: Gabriela, larga a tela! (Marismar Borém)


Onde mora a felicidade? (Marismar Borém)
Tico aprende a dormir sozinho – Éllen Santa Rosa

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Textos: Conectados pelo coração e As mãos fortes do meu pai, de Éllen Santa Rosa
Músicas: Amigos pela fé - Anjos de Resgate
Eu quero apenas – Roberto Carlos Amigo – Roberto Carlos
Amo-te muito - João Chaves A Lista - Oswaldo Montenegro

9.5 – CANTINHO: MEMÓRIAS DA CIDADE

Objetivo: Proporcionar reflexões sobre a cidade de antes e de hoje, percebendo a


importância de cada um, como um retalho, a compor a grande colcha da coletividade.
Cantiga: Se esta rua fosse minha...
Contar a história do livro Minha cidade, meu futuro.
Conversar: Como está a cidade de Miguel no presente? E no futuro, como ela poderá
estar? E no passado, quem arrisca dizer como era essa cidade?
Dinâmica: Fio do tempo (em anexo)
Contar ou cantar o cordel do livro Fio do Tempo.
Música: Se essa cidade fosse minha...
Obs.: Em outro momento, convidar alguém para contar a história da cidade. Montar
perguntas anteriormente, junto com os alunos, de acordo com sua curiosidade.
Proposta: Escrevam uma carta para um amigo/ familiar/autoridade contando como era a
cidade antes. Os alunos menores podem desenhar e ainda, fazer o texto coletivamente,
junto com a professora (esse texto poderá ser utilizado para compor o livro de memórias).
Completar a linha de tempo com outras fotos. Fazer uma colcha de retalhos com os
alunos.
Livros: Fio do tempo, de Éllen Santa Rosa e Marismar Borém
Minha cidade, meu futuro, de Éllen Santa Rosa

Música: Feliz Cidade de Salviano Pessoa


Texto: A rua da minha infância

10 – RECURSOS MATERIAIS:

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Máquina de costura antiga, retalhos, fio ou corda, livros e textos das histórias utilizadas, CDs
de músicas ou violão e tocador, recortes de jornais e revistas, entre outros.

11 – CULMINÂNCIA

Memória de Alimentos: Realização de evento literário na escola como café poético, chá
literário ou outro com biscoitos e outras guloseimas antigas, com exposição dos textos dos
alunos e apresentações dos mesmos a partir de teatros e performances.

Publicação de livro “Nossas memórias: Histórias da cidade de Josenópolis”: com poemas/


contos dos educadores e alunos e sessão de autógrafos com a participação de toda a
comunidade escolar.

12 – AVALIAÇÃO - PRODUTOS PRETENDIDOS COM O PROJETO


É natural do ser humano avaliar a tudo e a todos; pretende-se com este trabalho, avaliar
o aluno considerando seu interesse pela prática de leitura e escrita, seu engajamento nas
atividades, sua participação, suas contribuições positivas, suas colocações e questionamentos
durante as atividades. Também serão avaliadas sua postura nas diferentes situações, sua
capacidade de trabalho em pequenos e grandes grupos, além da sua contribuição em preservar
e valorizar as memórias da sociedade em que vive.

13- CRONOGRAMA DE AÇÕES

Data/Período Ação
Apresentação do Projeto “leitura vai, escrita vem: memórias” para
02/02
diretores e supervisores
Apresentação do Projeto para os pais.
Fevereiro Momento inicial do projeto nas escolas – Contação de história
(instigar a curiosidade dos alunos sobre o tema)
Março e Abril Realização das oficinas de memórias
Até Maio Escrita dos alunos - selecionar
Envio dos textos à editora;
Junho Culminância do projeto nas escolas, com chá ou café poético
(Memória de Alimentos)

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Julho Publicação do livro com sessão de autógrafos

REFERÊNCIAS

AURÉLIO, O minidicionário da língua portuguesa. 4ª Edição revista e ampliada. 7ª impressão


- Rio de Janeiro, 2002.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9.394, de 20 de dezembro de


1996.

BURLAMAQUE, Fabiane Verardi. Os primeiros passos na constituição de leitores autônomos:


a formação do professor. In: TURCHI, M. Z.; SILVA, V. M. T. (Org.). Leitor formado, leitor
em formação: leitura literária em questão.1 ed. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2006. p. 79 - 91.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez 2000.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam . São Paulo:
Autores Associados: Cortez, 1989.

KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura. São paulo: Editora Pontes, 2004.

______. Oficina de leitura: teoria e prática. 8ª - ed. Campinas: Ponto/Editora da Unicamp,


1999.

______. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 8ª - ed. Campinas: Pontes, 2002.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? 2ª ed; São Paulo: Brasiliense, 1983.

MORIN, E. Amor, poesia, sabedoria. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

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TAVARES, D. S. S. Da leitura da poesia à poesia da leitura: a contribuição da poesia para o


Ensino Médio. 300f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, 2007.

PONDÉ, G. M. F. Poesia para crianças: a mágica da infância. In: ZILBERMAN, R. (Org.)


Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. 11. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1993.

TEDESCO, J. C. (org.). Usos de memórias. Passo Fundo: UPF, 2002.

ANEXOS

SUGESTÕES DE CANTINHOS DE LEITURA

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MÚSICAS

Música: Feliz Cidade (Salviano Pessoa)

Existe um lugar aonde todos querem ir,


Mais pra chegar lá e necessário acreditar,
Pois o caminho é a sua vontade.

Feliz cidade é uma cidade, de lá do nosso interior,


Aonde a risada é uma canção e o idioma é o amor.
Feliz cidade é uma cidade tão procurada hoje em dia,
Em que já é a capital, do seu estado a alegria.
Em feliz cidade um aperto de mão é um sorriso,
Cada sorriso é um abraço, e cada abraço, um novo amigo.

Vamos morar em feliz cidade,


Vamos amar fazendo o bem de coração,
Pra ser feliz basta sorrir,
Dizendo a Deus, muito obrigado por existir.

Quem mora em feliz cidade também é chamado de feliz,


Pra ser feliz não tem idade, nem sexo ou raça, basta sorrir,
As casas que lá existem, não tem tijolos e sim verdade,
a grama é verde e a igualdade é o estatuto desta cidade,
Não é com dinheiro que se chega à felicidade,
só basta acreditar porque o caminho é sua vontade.

Vamos morar em feliz cidade,


Vamos amar fazendo o bem de coração,
Pra ser feliz basta sorrir,
Dizendo a Deus, muito obrigado por existir.

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FAMÍLIA – FÁBIO JR

Família é coisa mais maluca que eu conheço


Família tem cheiro, tem cor, tem endereço
Família pode ser a minha, pode ser a sua
Família se constrói em casa, e também na rua

Família é uma pessoa que vem com defeito


Família pode ser do seu ou do meu jeito
Família é um instrumento difícil de tocar
Família parece casa, mas é um lar

Família eu sou, família amor


Família eu quero, tô sendo sincero [2x]

Família é fonte de amor inesgotável


Família é um monte de dor inexplicável
Família faz coisas que ninguém explica
Família não vai embora, família fica

Família as vezes briga quase todo dia


Família se você não escolhe, devia
Família é tempestade num copo d’agua
Família mágoa, mas perdoa toda mágoa

Família eu sou, família amor

NÃO CUSTA NADA - Paula Santisteban e Eduardo Bologna

Eu descobri que as coisas boas da vida são de graça, não custam nada
Eu descobri que o mundo inteiro pode ser o meu jardim, a minha casa

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O teu abraço não custa nada


Um beijo seu não custa nada
A boa ideia não custa nada
Missão cumprida não custa nada
E quando tudo parecer que está perdido dê uma boa gargalhada
Eu descobri que as coisas boas da vida são de graça, não custam nada
Eu descobri que o mundo inteiro pode ser o meu quintal, a minha casa
O pôr do sol não custa nada
A brincadeira não custa nada
Um gol de placa não custa nada
Vento no rosto não custa nada
E quando tudo parecer que está perdido dê uma boa gargalhada
A flor do campo não custa nada
Onda do mar não custa nada
A poesia não custa nada
A nossa história não custa nada
Fruta no pé não custa nada
Água da fonte não custa nada
Banho de sol não custa nada
Um bom amigo não custa nada
E quando tudo parecer que está perdido dê uma boa gargalhada
Eu descobri que as coisas boas da vida são de graça, não custam nada
Não custam nada

PROMETE
Ana Vilela

Promete que não vai crescer distante


Promete que vai ser pra sempre assim
Promete esse sorriso radiante
Todas as vezes que você pensar em mim

Promete cuidar bem dos seus cachinhos

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E sempre me abraçar quando eu chegar


Promete sorrir sempre com os olhinhos
E cantar cantigas na sala de estar

Que eu prometo ser pra sempre o seu


Porto seguro
Eu prometo dar-te eternamente o meu amor

Promete aproveitar cada segundo


Desse tempo que já passa tão veloz
Me lembro quando você chegou nesse mundo
Sorrindo aos poucos quando ouvia a minha voz
E hoje corre pela sala
Brinca de existir
Giz de cera, pega-pega
Eu só sei sorrir
Ao imaginar você
Crescer
Para um pouco com a bagunça
Deixa eu te olhar
Que o tempo voa e olha só
Você sabe falar
E diz tudo que eu preciso escutar
Laialaiá

Promete ser pra sempre o meu menino


Me deixar cantar pra te fazer dormir
Que eu prometo que vou te cuidar pra sempre
Eu te amo infinito
Meu guri

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EU
Palavra Cantada

Perguntei pra minha mãe: "Mãe, onde é que ocê nasceu?"


Ela então me respondeu que nasceu em Curitiba
Mas que sua mãe que é minha avó
Era filha de um gaúcho que gostava de churrasco
E andava de bombacha e trabalhava no rancho
E um dia bem cedinho foi caçar atrás do morro
Quando ouviu alguém gritando: "Socorro, socorro!"
Era uma voz de mulher
Então o meu bisavô, um gaúcho destemido
Foi correndo, galopando, imaginando o inimigo
E chegando no ranchinho, já entrou de supetão
Derrubando tudo em volta, com o seu facão na mão
Para o alívio da donzela, que apontava estupefata,
Para o saco de batata, onde havia uma barata
E ele então se apaixonou
E marcaram casamento com churrasco e chimarrão
E tiveram seus três filhos, minha avó e seus irmãos
E eu fico imaginando, fico mesmo intrigado
Se não fosse uma barata ninguém teria gritado
Meu bisavô nada ouviria e seguiria na caçada
Eu não teria bisavô, bisavó, avô, avó, pai, mãe, não teria nada
Nem sequer existiria
Perguntei para o meu pai: "Pai, onde é que ocê nasceu?"
Ele então me respondeu que nasceu lá em Recife
Mas seu pai que é o meu avô
Era filho de um baiano que viajava no sertão
E vendia coisas como roupa, panela e sabão
E que um dia foi caçado pelo bando do Lampião
Que achava que ele era da polícia um espião
E se fez a confusão

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E amarraram ele num pau pra matar depois do almoço


E ele então desesperado gritava: "Socorro!"
E uma moça apareceu bem no último instante
E gritou pra aquele bando: "Esse rapaz é comerciante!"
E com muita habilidade ela desfez a confusão
E ele então deu-lhe um presente, um vestido de algodão
E ela então se apaixonou
Se aquela moça esperta não tivesse ali passado
Ou se não se apaixonasse por aquele condenado
Eu não teria bisavô, nem bisavó, nem avô, nem avó, nem pai pra casar com a minha
mãe
Então eu não contaria essa história familiar
Pois eu nem existiria pra poder cantar
Nem pra tocar violão

UTOPIA
Padre Zezinho

Das muitas coisas do meu tempo de criança


Guardo vivo na lembrança o aconchego de meu lar
No fim da tarde quando tudo se aquietava
A família se ajeitava lá no alpendre a conversar
Meus pais não tinham nem escola, nem dinheiro
Todo dia, o ano inteiro trabalhavam sem parar
Faltava tudo mas a gente nem ligava
O importante não faltava seu sorriso, seu olhar

Eu tantas vezes vi meu pai chegar cansado


Mas aquilo era sagrado um por um ele afagava
E perguntava quem fizera estripulia
E mamãe nos defendia tudo aos poucos se ajeitava
O sol se punha a viola alguém trazia
Todo mundo então pedia pro papai cantar com a gente

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Desafinado meio rouco e voz cansada ele cantava mil toadas


Seu olhar ao sol poente

Passou o tempo hoje eu vejo a maravilha


De se ter uma família quando tantos não a tem
Agora falam do desquite e do divórcio
O amor virou consórcio compromisso de ninguém
E há tantos filhos que bem mais do que um palácio
Gostariam de um abraço e do carinho entre seus pais
Se os pais amassem o divórcio não viria
Chamam a isso de utopia eu a isso chamo paz

POMAR
Palavra Cantada

Banana, bananeira
Goiaba, goiabeira
Laranja, laranjeira
Maçã, macieira
Mamão, mamoeiro
Abacate, abacateiro
Limão, limoeiro
Tomate, tomateiro
Caju, cajueiro
Umbu, umbuzeiro
Manga, mangueira
Pera, pereira
Amora, amoreira
Pitanga, pitangueira
Figo, figueira
Mexerica, mexeriqueira
Açaí, açaizeiro

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Sapoti, sapotizeiro
Mangaba, mangabeira
Uva, parreira
Coco, coqueiro
Ingá, ingazeiro
Jambo, jambeiro
Jabuticaba, jabuticabeira

GOSTOSURAS NATURAIS
Mundo Bita

De uma semente nasce a primavera


Brota um broto pela terra
Certamente no futuro alimentará alguém
As plantas crescem procurando pela luz
O calor do Sol que lhes conduz
Pouco a pouco vão formando juntas um belo pomar
Colher verduras maduras no pé
Provar as frutas mais doces que houver
Encher a mesa com o que a natureza der
Na nossa horta tudo é transformação
É do trigo que se faz o pão
As raízes são delícias enterradas pelo chão
Levar legumes para o sopa no jantar
Arroz com feijão pra almoçar
Generosa nossa terra tem tanto pra ofertar
Colher verduras maduras no pé
Provar as frutas mais doces que houver
Encher a mesa com o que a natureza der

POEMAS E CONTOS

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MEUS OITO ANOS (Casimiro de Em vez das mágoas de agora,


Abreu)
Eu tinha nessas delícias
Oh! Que saudades que tenho De minha mãe as carícias
Da aurora da minha vida, E beijos de minha irmã!
Da minha infância querida
Livre filho das montanhas,
Que os anos não trazem mais!
Eu ia bem satisfeito,
Que amor, que sonhos, que flores,
De camisa aberto ao peito,
Naquelas tardes fagueiras
- Pés descalços, braços nus -
À sombra das bananeiras,
Correndo pelas campinas
Debaixo dos laranjais!
À roda das cachoeiras,
Como são belos os dias Atrás das asas ligeiras
Do despontar da existência! Das borboletas azuis!
- Respira a alma inocência
Naqueles tempos ditosos
Como perfumes a flor;
Ia colher as pitangas,
O mar é - lago sereno,
Trepava a tirar as mangas,
O céu - um manto azulado,
Brincava à beira do mar;
O mundo - um sonho dourado,
Rezava às Ave-Marias,
A vida - um hino d'amor!
Achava o céu sempre lindo,
Que auroras, que sol, que vida, Adormecia sorrindo
Que noites de melodia E despertava a cantar!
Naquela doce alegria,
Oh! Que saudades que tenho
Naquele ingênuo folgar!
Da aurora da minha vida,
O céu bordado d’estrelas,
Da minha infância querida
A terra de aromas cheia,
Que os anos não trazem mais!
As ondas beijando a areia
Que amor, que sonhos, que flores,
E a lua beijando o mar!
Naquelas tardes fagueiras
Oh! dias da minha infância! À sombra das bananeiras,
Oh! meu céu de primavera! Debaixo dos laranjais!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.

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ABREU, Casimiro. Meus oito anos. 1ª


edição. São Paulo: Global. 2003.

Antiguidades (Cora Coralina) com cuidado, num armário, alto,


fechado, impossível.
Quando eu era menina bem pequena, Era aquilo, uma coisa de respeito.
em nossa casa,
certos dias da semana se fazia um bolo, Não pra ser comido
assado na panela assim, sem mais nem menos.
com um testo de borralho em cima. Destinava-se às visitas da noite,
certas ou imprevistas.
Era um bolo econômico,
como tudo, antigamente. Detestadas da meninada.
Pesado, grosso, pastoso. Criança, no meu tempo de criança,
(Por sinal que muito ruim.) não valia mesmo nada.
A gente grande da casa usava e abusava
Eu era menina em crescimento. de pretensos direitos de educação.
Gulosa,
abria os olhos para aquele bolo Por dá-cá-aquela-palha, ralhos e
que me parecia tão bom e tão gostoso. beliscão.
Palmatória e chineladas não faltavam.
Era só olhos e boca e desejo daquele Quando não, sentada no canto de
bolo inteiro. castigo
Minha irmã mais velha governava. fazendo trancinhas, amarrando
Regrava. abrolhos.
Me dava uma fatia, tão fina, tão
delgada… “Tomando propósito”.
E fatias iguais às outras manas. Expressão muito corrente e pedagógica.
E que ninguém pedisse mais! Aquela gente antiga, passadiça, era
assim:
E o bolo inteiro, quase intangível, severa, ralhadeira.
se guardava bem guardado,
Não poupava as crianças.

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Mas, as visitas… cheio de grandes bolos ao meu alcance.


– Valha-me Deus! … De manhã cedo quando acordava,
As visitas… Como eram queridas, estremunhada, com a boca amarga,
recebidas, estimadas, conceituadas, – ai de mim – via com tristeza,
agradadas! sobre a mesa: xícaras sujas de café,
Eu fazia força de ficar acordada O prato vazio, onde esteve o bolo, e um
esperando a descida certa do bolo cheiro enjoado de rapé.
encerrado no armário alto.
DENÓFRIO, Darcy França (org.).
E quando este aparecia, Melhores Poemas de Cora Coralina.
vencida pelo sono já dormia. São Paulo: Global, 2004, p. 137-138.
E sonhava com o imenso armário

Infância (Cecília Meireles)


Levaram as grades da varanda
por onde a casa se avistava.
As grades de prata.

Levaram a sombra dos limoeiros


por onde rodavam arcos de música
e formigas ruivas.

Levaram a casa de telhado verde


com suas grutas de conchas
e vidraças de flores foscas.

Levaram a dama e o seu velho piano


que tocava, tocava, tocava
a pálida sonata.

Levaram as pálpebras dos antigos sonhos,


deixaram somente a memória

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e as lágrimas de agora.
(MEIRELES, Cecília. Infância. In MEIRELES, Cecília. Flor de poemas. 3ª ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1972, p. 157):

Orfandade (Adélia Prado)

Meu Deus,

me dá cinco anos.

Me dá um pé de fedegoso com formiga preta,

me dá um Natal e sua véspera, o ressonar das pessoas no quartinho.

Me dá a negrinha Fia pra eu brincar,

me dá uma noite pra eu dormir com minha mãe.

Me dá minha mãe, alegria sã e medo remediável,

me dá a mão, me cura de ser grande,

ó meu Deus, meu pai,

meu pai. (PRADO, Adélia. Bagagem. Editora Siciliano, São Paulo: 1997, p. 14)

LIMITES – ADÉLIA PRADO

Uma noite me dei conta de que possuía uma história,


contínua, desde o meu nascimento indesligável de mim.
E de que era monótona com sua fieira de lábios, narizes,
modos de voz e gesto repetindo-se.
Até os dons, um certo comum apelo ao religioso
e que tudo pesava. E desejei ser outro.

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Minha mãe não tinha letras.


Meu pai frequentou um ginásio por três dias
de proveitoso retiro espiritual.
Tive um mundo grandíssimo a explorar:
‘Demagogia, o que é mesmo que essa palavra é?’
Abismos de maravilha oferecidos em sermões triunfantes:
‘Tota pulchra est Maria!’
Só quadros religiosos nas paredes.
Só um lugar aonde ir
— e já existiam Nova Iorque, Roma!
Tanta coisa eu julguei inventar,
minha vida e paixão,
minha própria morte,
esta tristeza endócrina resolvida a jaculatórias pungentes,
observações sobre o tempo. Aprendi a suspirar.
A poesia é tão triste! O que é bonito enche os olhos de
lágrimas.

Tenho tanta saudade dos meus mortos!


Estou tão feliz! À beira do ridículo
arde meu peito em brasas de paixão.
Vinte anos de menos, só seria mais jovem.
Nunca, mais amorável.
Já desejei ser outro.
Não desejo mais não.

SE ESSA CIDADE FOSSE MINHA...


ÉLLEN SANTA ROSA

SE ESSA CIDADE FOSSE MINHA,


EU NÃO MANDAVA, PEDIA...

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E PEDIA COM UM SORRISO...

QUE AS PESSOAS CUIDASSEM MAIS DELA


COLOCASSEM FLORES NAS JANELAS
TRANSFORMASSEM MUROS EM AQUARELA
PRAÇAS COM CANTEIROS DE FLORES AMARELAS
SUAS RUAS ARBORIZADAS EM LIMPAS PASSARELAS
PARA O DESFILE DE GENTE AMOROSA E BELA

SE ESSA CIDADE FOSSE MINHA,


EU NÃO MANDAVA, PEDIA...

E PEDIA COM MÚSICA

MÚSICAS DE NINAR, DAQUELAS QUE TOCAM O CORAÇÃO


QUE OS PAIS DESLIGASSEM O CELULAR, A TELEVISÃO
QUE DESSEM AOS FILHOS MAIS ATENÇÃO
E NUM VOLUME BAIXO, SEM QUALQUER POLUIÇÃO
TIVESSEM CONVERSAS SINCERAS, USANDO O “SIM” E O “NÃO”
E QUE AO FINAL DA MELODIA, COMPARTILHASSEM TODA A EMOÇÃO.

SE ESSA CIDADE FOSSE MINHA,


EU NÃO MANDAVA, PEDIA...

E PEDIA COM DANÇA

DANÇA DO JACARÉ, DA CAROCHINHA, DA CADEIRA,


QUE AS PROMESSAS DOS GOVERNANTES FOSSEM VERDADEIRAS
QUE O RESPEITO À COISA PÚBLICA FOSSE COISA CORRIQUEIRA
QUE AS PESSOAS PRODUZISSEM MENOS LIXO E O JOGASSEM SEMPRE NA
LIXEIRA
DESPERDIÇAR ÁGUA? NEM DE BRINCADEIRA!
QUE O CUIDADO COM O AMBIENTE FOSSE DE TODOS, A BANDEIRA!

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SE ESSA CIDADE FOSSE MINHA,


EU NÃO MANDAVA, PEDIA...

E PEDIA COM HISTÓRIAS...

QUE O MUNDO REAL FOSSE IGUAL AO DO CONTO DE FADAS


FINAL FELIZ PARA QUEM É JUSTO E AGE DE FORMA ESTRUTURADA
QUE AS IDAS AOS PARQUES, ASSIM COMO AOS BOSQUES, FOSSEM
ENCANTADAS
QUE ESSES FOSSEM LOCAIS DE ENCONTROS, PIQUENIQUES, CAMINHADAS
BATE-PAPO COM AMIGOS, FAMÍLIA, GOSTOSAS GARGALHADAS
À SOMBRA DAS ÁRVORES EM LONGAS TARDES ENSOLARADAS

SE ESSA CIDADE FOSSE MINHA,


EU NÃO MANDAVA, PEDIA...

E PEDIA NA RODINHA

QUE OS COMBINADOS FOSSEM FEITOS COM TODO MORADOR:


SER GENTIL, EDUCADO... MANTER TUDO LIMPO, PEDIR COM LICENÇA,
POR FAVOR,
DIZER OBRIGADO, DESCULPE, PARTILHAR AS COISAS, EMPRESTAR COM
AMOR
NÃO BRIGAR! GUERRA, SÓ DE TRAVESSEIRO E COM BOM HUMOR!
NÃO FALAR DE BOCA CHEIA, ESPERAR A VEZ... ISSO TEM MUITO VALOR!
E BRINCAR UM POUQUINHO, DESENHAR E PINTAR… TUDO ISSO PODE SER
ENCANTADOR!

SE ESSA CIDADE FOSSE MINHA,


EU NÃO MANDAVA, PEDIA...

E PEDIA DE MÃOS DADAS

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QUE AS OPINIÕES FOSSSEM COLOCADAS COM DIÁLOGO E PACIÊNCIA


QUE NÃO HOUVESSE DESRESPEITO NEM QUALQUER TIPO DE VIOLÊNCIA
QUE O NOVO E O DESCONHECIDO TIVESSEM O DIREITO DE EXPOR SUAS
DIFERENÇAS
QUE PEDIR DESCULPAS, ABRAÇAR, DAR A MÃO, NÃO SERIAM MERAS
COINCIDÊNCIAS
QUE O AMOR, A PAZ, A ALEGRIA E A ESPERANÇA FOSSEM A ESSÊNCIA
DE TODOS QUE SOUBESSEM SER AGRADECIDOS E AGIR COM
CONSCIÊNCIA.

SE ESSA CIDADE FOSSE MINHA,


EU NÃO MANDAVA, PEDIA…

SE ESSA RUA FOSSE MINHA (CANTIGA POPULAR)

Se essa rua, se essa rua fosse minha


Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes
Para o meu, para o meu amor passar

Nessa rua, nessa rua tem um bosque


Que se chama, que se chama solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração

Se eu roubei, se eu roubei teu coração


É porque, é porque te quero bem
Se eu roubei, se eu roubei teu coração
É porque tu roubaste o meu também

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1- “O QUE A MEMÓRIA AMA, FICA ETERNO” (Adélia Prado)

Quando eu era pequena, não entendia o choro solto da minha mãe ao assistir a um filme,
ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas
coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha
meninice, era incapaz de compreender. O tempo passou e hoje me emociono diante das
mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.

2- É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como
vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. Crianças
têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Para elas, um filme é só um
filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de
eternidade.

3- Diante do tempo envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Porém, para
a memória ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos são crianças,
nossos amigos estão perto, nossos pais ainda vivem.

4- Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos
conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados
daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que
permaneceu além do tempo.

5- A capacidade de se emocionar vem daí: quando nossos compartimentos são


escancarados de alguma maneira. Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música
qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você – foi o fundo musical de
um amor, ou a trilha sonora de uma fossa – e mesmo que tenham se passado anos, sua
memória afetiva não obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte

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de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, àquela época...

6- Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É comum ver


amigos da juventude se reencontrando depois de anos – já adultos ou até idosos – e
voltando a se comportar como adolescentes bobos e imaturos. Encontros de turma são
especiais por isso, resgatam as pessoas que fomos, garotos cheios de alegria,
engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e debilóides, como éramos há 20 ou 30 anos.
Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras,
apelidos... mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.

7- A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem eles percebem
que crescemos. Seremos sempre "as crianças", não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos.
Prá eles a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das estórias contadas ao cair
da noite... ainda são muito recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.

8- Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo
deixou de fazer parte de nossas vidas. Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples
assim. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na dor. Mas aquilo
que amamos tem vocação para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar
de vez em quando. Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser
facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme, uma
música antiga, um lugar especial.

9- Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-
amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve, daqui seremos eternamente
lembrados por aqueles que um dia nos amaram.

Obs.: Autor desconhecido, título baseado em frase de Adélia Prado. Disponível em


http://www.ngcanela.com/o-que-a-memoria-ama-fica-eterno/?print=pdf Acesso em
31/01/2023.

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A RUA DA MINHA INFÂNCIA

Éllen Santa Rosa

Na rua da minha infância dificilmente passava carro, moto. Só cavalo em dia de


feira. Era de terra batida e ficava sempre cheia de meninos e meninas brincando noite e
dia. De dia o sol da manhã convidava, aquecendo o corpo e a alma. Logo, logo, já
estávamos todos lá: primos, irmãos, vizinhos. E as brincadeiras com bolinhas de
gude e pilhas velhas, que tinham a mesma função das bolinhas, no jogo, corriam
soltas. E nada de brincadeira de menino ou de menina. Todos brincavam do que
queriam!

Quando chovia de madrugada, era melhor ainda; com o chão molhado as


bolinhas e pilhas não rolavam; aí só mesmo a perícia dos bons jogadores para
acertar o alvo. Chão molhado também era um convite para brincar de maê. O
desenho do jogo no chão ficava perfeito e os caquinhos de telha ou pedrinhas
achatadas acertavam em cheio a casa escolhida!

– Maê, casa! Maê, casa!!

Se o sol ficasse mais forte, a sombra das árvores servia de abrigo para
brincarmos de casinha. Fazíamos guisados, com ingredientes colhidos na
natureza: folhas coloridas e de tamanhos diversos viravam pratos, panelas; frutos e
pauzinhos viravam bichos e a gente ficava rico, muito rico, com fazendas enormes e
currais cheios.

De noite, se a lua ficasse clara ou o céu estivesse na mais completa


escuridão, pontilhado de estrelas, não tinha problema nenhum: sem luz elétrica, as
fogueiras logo se acendiam na frente das casas, à beira das calçadas. As casas não
tinham muros, a porta da rua era bem na frente. Os adultos se sentavam para
conversar e as crianças aproveitavam para brincar.

As brincadeiras de roda sempre vinham primeiro, como que para esquentar,


mas também para avisar, com a alta cantoria, àqueles que ainda não tinham
chegado. E de mãos dadas, as rodas se formavam e aconteciam sempre na mesma
sequência, como se tocassem em um disco de vinil na vitrola: eu sou pobre, pobre,

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de marré; chora, chora piranha; duas laranjas: verde e amarela; casinha de bamboê;
fui no mato caçar cipó; fui no Itororó. Já com a rua cheia, dava para formar os times e o
cenário ficava perfeito para as brincadeiras de “correr”. Nessa hora, era regra: todos
tiravam os chinelos. Bom mesmo era correr descalço: porta-bandeira, queimada com bola
de meia, pega pega, boca de forno, esconde-esconde em cima das árvores...

E ninguém via o tempo passar e nem tampouco se preocupava com hora. Um


bocejo dali e outro daqui avisava que já era hora de chegar perto da fogueira, e nas
calçadas, as brincadeiras iam se suavizando: corrupio, morto e vivo; Joãozinho era
um bom aviador, caiu no poço, canivetinho da pintainha, ordem, anelzinho e, pouco a
pouco, íamos nos aconchegando, sentando bem juntinhos e até disputávamos o colo de
nossos pais, pedindo que contassem histórias!

E os causos começavam… de medo, na maioria das vezes! Não sei se porque o


escuro da noite fazia tudo ficar mais assustador, a gente se arrepiava! Mas era aquele
medo gostoso de quem queria mais e sempre pedia para que eles contassem de novo. E
assim, muitos causos se repetiam até que a gente escutava… – Tá na hora de lavar os
pés para dormir! – E a gente ia, aliviada por não precisar tomar banho de novo, porque
seria banho de bacia! A água era difícil de chegar na torneira e não subia na caixa.

E assim, a gente entrava para dormir, pálpebras pesadas, mas coração leve; cada
um na sua casa, mas antes, sempre arriscávamos uma olhadela para a nossa rua, que
permanecia lá, imóvel, com a terra batida brilhando, refletindo ora a luz da lua ora a
claridade do fogo da fogueira, como que avisando: “Espero vocês amanhã para
brincarmos de tudo novamente!”

Caixa de memórias

Éllen Santa Rosa

A minha avó é muito sábia e minha mãe diz que ela tem uma memória de elefante!
Lembra-se de tudo com detalhes! Se a gente se sentar com ela, embaixo da pitombeira
com tempo para ouvir, a prosa corre solta durante toda a tarde e entra pela noite adentro.

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E quando alguém pergunta onde guarda tantas lembranças, ela sempre responde, sorrindo
e batucando um dedo na têmpora:

– Tá tudo na caixa de memórias…

Quando faz uma das suas gostosas comidas e alguém elogia, perguntando a
receita, ela ensina todos os ingredientes, pacientemente, passo a passo. Se alguém quer
saber quem lhe ensinou, ela diz que, ora foi sua mãe, a minha avó, ora foi sua avó, a
minha bisavó. É até difícil de anotar, porque a receita é bem complicada. Aí de novo vem
a pergunta: “ Como a senhora consegue guardar tudo isso?”

– É fácil! Guardo tudo na caixa de memórias! – Responde vovó sorridente.

Nas noites frias, quando a gente vai visitá-la, o cheiro de ervas invade a casa toda.
Sempre tem um bule de chá pronto, quentinho, no canto do fogão a lenha. Vovó diz que
serve pra tosse, coriza. Também para esquentar o frio ou apenas para relaxar e dormir.
E ninguém consegue descobrir a erva que ela usou, porque ela sempre mistura várias e
ainda tem um segredinho: uma pitada de um ingrediente especial: noz moscada, erva
doce, canela e muitos outros.

– Vó, a senhora sabe de muita coisa, hein? Onde aprendeu tudo isso? – pergunto,
entre um gole e outro do delicioso chá.

– Ah, meu neto, a vida me ensinou. Trago tudo guardado na minha caixa de
memórias! – Responde a vó, com um sorriso largo.

qQuando todos os netos se ajuntam, nos fins de semana, ela sempre gosta de contar
histórias! Uma vai puxando a outra. Começa com os contos de esperteza, com o coelho
sempre levando a melhor. A gente dá boas risadas! Depois, vai contando aquela que cada
um vai pedindo. E outra. E mais outra. Tantas histórias que, se formos contar, não cabem
nos dedos das mãos e dos pés!

– Ufa, Vó!! Como a senhora consegue se lembrar de tantas histórias? – Pergunto


admirado!

– Ah, tenho um segredinho: É só abrir a minha caixa de memórias!! – Cochicha a


vovó no meu ouvido, inclinando a cabeça.

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Nas férias, costumamos ficar muitos dias na casa da vovó. Aí é uma festa: ela
brinca com a gente todos os dias e ainda ensina brincadeiras novas! Anelzinho,
canivetinho da pintainha, ordem... E as cantigas de roda? Sempre têm aquelas que a
gente nem conhecia ainda!

– Puxa vida, Vovó! A senhora sempre tem algo novo para ensinar pra gente! Uma
verdadeira professora! Deve ter um monte de livros para estudar tudo isso, hein? –
pergunto, impressionado com tanta sabedoria.

– Ah meu netinho! Os livros são muito importantes sim. Não vê quantos deles
tenho na estante? Mas agora, com a visão um pouco turva, quase nem os uso mais,
consulto sempre a minha caixa de memórias! – Explica a avó, com uma gostosa risada.

Os vizinhos sempre vêm se aconselhar com ela. Tem sempre uma palavra sensata
e cheia de sabedoria para dar. Se os bichos adoecem, ela sabe como curar. Se as galinhas
param de botar, ela diz que podiam estar com alimentação ruim ou estressadas; tinha que
soltá-las, deixar que tomassem sol. Se um bicho adoece na roça, ela sabe qual remédio
caseiro usar. Olha para o céu e pela posição da lua, já sabe quando vai chover, se já é
tempo de plantar ou de colher. Se a barra da calça se solta ou a roupa se rasga nos
garranchos secos, rapidamente ela se senta à máquina e costura, consertando tudo.

Um dia, meu pai disse que as laranjeiras do quintal do meu tio estavam doentes,
cheias de pragas. Perguntou pra vovó se ela sabia o que era bom pra acabar com aquilo.
Vovó ensinou várias coisas para meu pai: misturar detergente com óleo, bater folha de
fumo no pilão, usar vinagre. Ele pegou o celular e anotou tudo. Olhei aquilo e falei:

– Vó, o papai tem que anotar tudo. A senhora não precisa?

– Não, querido, já tá tudo aqui na caixa de memórias! – Respondeu ela.

– Essa caixa de memórias deve ser muito grande, hein??? Pra caber tudo isso! –
Eu observava, com os olhos arregalados!

E a vovó logo me abraçava, carinhosamente, dava uma piscadela seguida de uma


gostosa gargalhada!

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Um dia, na festa de um dos seus últimos aniversários, deu de presente para cada
um dos seus netos uma caixa enfeitada com retalhos que ela mesma fez. Disse que estava
cheia e era a sua caixa de memórias! E acrescentou, com um sorriso muito iluminado.

– Levem essa caixa pela vida afora, abram sempre que quiserem se lembrar de
alguma coisa que ensinei e guardem nela tudo de bom que aprenderem. Depois, deem de
presente para os seus filhos, netos, enfim, para todos que quiserem aprender algo de bom.
Assim, as coisas boas nunca se perderão no mundo!!

O tempo passou e até hoje tenho a minha caixa… cheinha! Ficou tão cheia que
fiz como a minha avó: tive que encher muitas outras delas e espalhar por aí…

Quer uma de presente pra você? Ou você quer me dar uma das suas caixas de
memória, também?

Saudade da Chuva
Éllen Santa Rosa

Francisco abre a janela e olha para o céu: Mais um dia ensolarado. Nenhuma
nuvem e muito calor lá no sítio onde mora. As plantas murcharam. A terra está toda
rachada e ressequida pelo sol forte. Os riachos e as últimas barraginhas com água já
secaram. Os bichos quase não têm mais água pra beber. Pensou alto:
“Que Saudade da chuva! Do cheiro de terra molhada, do som dos pingos batendo
na minha janela, no telhado; dos banhos de chuva, de pular nas poças de lama; de jogar
bola no campinho de terra e ficar todo enlameado.”
“Mas quando vai chover? Já passamos por todas as estações do ano e nada... quase
nenhuma gota caiu por aqui.”
“Já sei! Vou perguntar para o vovô; ele é muito sabido e vai me responder!”
Encontra o avô escolhendo feijão para o almoço, sentado na mesa da cozinha.
__Vovô, o senhor sabe quando vai chover? Estou com saudade da
chuva...___choramingou.
__Ah, meu neto... quando as dores do meu calcanhar aumentam, a chuva está
perto! ___ responde, com uma piscadela.
___E ... ele tá doendo? __ indaga o menino, observando o calcanhar do avô.
___Não, tá sãozinho o danado! – o avô até deu uma mexidinha no pé para ver
se o calcanhar doía, mas nada...
Enquanto caminhava para o curral, onde estava sendo tirado o leite das vacas, ele
pensou:
“Seu Tião, que cuida dos animais do sítio, deve saber!”
E aumentou o passo, correndo pra conversar com ele, que já foi logo explicando:
__Olha menino, para saber se vai chover, é só observar o comportamento dos
bichos: quando as vacas deitam no pasto, ou quando os pássaros voam baixo estão

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anunciando que vai chover; quando há invasão de mosquitos nas casas e as formigas
correm desembestadas ou ainda quando grilos e cigarras cantam todos ao mesmo tempo,
pode esperar... ah, sapo e rãs cantando estridente, sem parar, ou cães e gatos dormindo de
barriga pra cima, com as patas espichadas, é sinal de chuva também! Até o canto de
saracura indica se vai chover...
Francisco ficou atento pra ver se ouvia algum canto de bicho. Nenhum. Olhou as
vacas em pé no curral e no pasto e cutucou-as com uma vara, pra ver se mudavam de
posição. Nada! Até tentou fazer a cadela Campeira ficar deitada de barriga pra cima __ e
carinhosamente! __ mas ela não quis nem saber!
__Minha vó! – Pensou – Ela vai me responder!
Encontrou a avó na sala, costurando na velha máquina.
___Vó, há tempos não chove... será que tem um jeito de trazermos a chuva de
volta? ___perguntou com um biquinho.
___Ah, meu neto, antigamente a gente reunia os vizinhos e fazia umas rezas
durante nove dias... todo mundo enchia um litro d’água, e ia cantando, subindo a ladeira
do riacho até o cruzeiro. Despejava toda a água aos pés da cruz e pedia a graça da chuva.
Mas hoje em dia, o povo tá muito preguiçoso... ___respondeu a avó, acariciando o cabelo
encaracolado do menino, que saiu correndo e olhou pra ladeira. O sol parecia ferver as
pedras e a terra poeirenta brilhava, como se estivesse derretendo ao sol. “Era muito
íngreme mesmo,” observou desanimado.
Viu o pai arrumando a carroça para ir até a cidade, na sombra de uma árvore, e
perguntou:
___Pai, tô com saudade da chuva... será que ela cai hoje?
___Pelos sinais do céu, parece que não... semana passada o círculo ao redor da lua
estava muito perto... e você sabe: círculo na lua ou no sol perto, chuva longe. E a névoa
que te mostrei ontem, lá embaixo, perto das mangueiras? “Névoa na baixa, sol que
racha!” ___lembrou o pai, observando o desânimo do filho e consolando-o:
___Francisco, eu também tô com saudade da chuva, mas não perca a esperança.,
tenha fé... já, já, ela vem. Fique atento aos sinais: quando a lua estiver emborcada,
“derramando”, é sinal de que a chuva tá perto; quando as nuvens estão baixas e têm o
formato de torre ou ainda quando se parecem com escamas de peixe, é chuva chegando.
Ou então preste atenção no vento: se vier frio, soprando do norte, é chuva, e vai ser forte!
O menino despediu-se do pai, olhou pro céu limpo, sem nuvens, e pensou: “muito
longe pra tentar qualquer coisa! Hum... já sei! Vou perguntar pra minha mãe.”
Encontrou a mãe na cozinha, junto com Dona Quitéria.
___Mãe, mãe... já perguntei pra todo mundo se alguém sabe que dia vamos ter
chuva, se ela tá por perto, se podemos trazê-la de volta... todo mundo me deu uma
explicação, mas nada de chuva! E eu tô com uma saudade da chuva...
Sua mãe chamou-o para perto do fogão onde fervia uma chaleira d’água e
mostrou-lhe o vapor que saía do bico:
___Vamos pensar um pouco e descobrir mais sobre a chuva! Veja só essa
fumacinha subindo. É o vapor da água que está sendo aquecida pelo fogo. É mais ou
menos assim que se formam as nuvens. A água que tem nos rios, mares, plantas e até no
nosso corpo e dos animais se evapora e sobe, em forma de gotículas, formando as nuvens
de chuva.
Francisco ficou pensativo e lembrou-se então da aula que aprendeu sobre o ciclo
da água, na escola... da surpresa que teve ao descobrir que o raio é quando as gotas dentro
das nuvens se atritam e produzem energia, emitindo luz, que é o relâmpago, e barulho,

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que é o trovão. Também que o relâmpago é visto aqui embaixo primeiro porque a luz é
mais rápida que o som... e exclamou, entendendo tudo!
___Então, não teremos chuva por essas bandas tão cedo! Porque aqui não
tem mais água para evaporar... secou tudo!! Poucos animais, porque foram embora,
procurando água... Poucas plantas verdes, porque secaram quase todas... Pouca gente,
porque muitos se mudaram, fugindo da seca!

Olhou para a mãe e teve uma ideia:


__E se nós convocássemos todos os vizinhos para fazer com que a água volte pra
essas bandas?
__E como faremos isso, meu filho?__ indagou a mãe, emocionada com a
percepção do filho e trocando olhares com D. Quitéria, que parou os afazeres para ouvir
a conversa.
__Mãe, poderemos fazer uma campanha para recuperar as nascentes dos córregos,
plantando mais árvores ao redor delas e das barraginhas! Quanto mais água tivermos para
evaporar, mais chance de chuva teremos! – Respondeu o menino, eufórico.
A mãe ficou animada com as ideias do filho e concordou: no mesmo dia,
começaram a fazer mudas com as sementes de árvores que tinham guardadas;
conversaram com os vizinhos para que todos ajudassem e conseguiram mudas e mais
mudas de árvores nativas da região. Pronto, poderiam começar o plantio na beira das
nascentes!
Alguns dias depois, com muita animação, crianças da redondeza junto com os
adultos começaram a tarefa de reflorestar a beira das nascentes dos córregos e
barraginhas. Nem bem plantaram as primeiras mudas e Francisco ouviu um canto
diferente. Era o canto da saracura. Um vento frio soprou no seu rosto... Todos que estavam
ali arrepiaram-se com o cheiro de terra molhada que chegava. E quando os primeiros
pingos caíram todos pularam e dançaram. Parecia a dança da chuva...
“Que saudade da chuva!” Francisco olhou para cima e viu um arco-íris. Era como
se o céu estivesse agradecendo pelo trabalho que estavam fazendo. “É, nos próximos anos
teriam menos saudade da chuva, com certeza!”

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É TUDO FOLCLORE!
Éllen Santa Rosa

Passar férias na casa dos meus avós é viver muitas aventuras! A casinha branca
ao pé da serra, cercada de pés de manga até parece pequena, mas fica enorme quando
juntam todos os netos, porque sempre cabe todo mundo!
Meu avô é uma figura e sempre observa, quando vê mais um carro chegando:
___Podem vir, a casa é igual coração de mãe, sempre cabe mais um!
Ele gosta muito de ensinar o que aprendeu com os anos de experiência, mas vovó
fica de olho, e quando percebe que ele exagerou na conversa, diz que é tudo folclore!
Outro dia, Vovô colocou uma ferradura atrás da porta, dizendo que era para
afugentar mal olhado. E espalhou pimenta por toda a casa. Vovó observou aquilo, catou
as pimentas e disse pra nós, balançando a cabeça: “Não levem a sério; é tudo folclore!”
Na hora de dormir, é uma farra: colchões espalhados por todos os cantos e a guerra
de travesseiros corre solta até que a gente escuta vovô dizendo que vai apagar a luz, pois
depois da meia noite, é perigoso, o lobisomem pode aparecer no galinheiro e, no escuro,
os cachorros veem melhor. Além do mais, era noite de sexta-feira treze e a coruja já tinha
piado três vezes.
A vovó observa, com uma risada:
__Não se preocupem com a conversa do seu avô; é tudo folclore!
Mas não sei se pelo medo de ouvir pios de coruja, cachorros latindo de madrugada
ou pelo cansaço das aventuras vividas durante o dia, a gente pede a bênção para eles e
dorme rapidinho.
Quando amanhece chovendo, a gente se amontoa na cozinha, à beira do fogão à
lenha para ouvir as histórias do vovô, enquanto o cheirinho do bolo de fubá assado na
panela com uma lata de brasa em cima enche o ambiente. A gente se arrepia a cada
narrativa feita, porque, segundo ele, os causos foram vivenciados pelo pai e pelo avô
dele, que já viram mula sem cabeça e saci pererê. Sentado num banco de madeira, vovô
atiça o fogo enquanto nos fala das viagens feitas à noite pelo seu pai: “Ele já deu carona
para o saci na garupa do seu cavalo e teve que passar dentro do rio para se livrar dele; já
teve que dar a volta na estrada e passar dentro do mato, porque o danado do saci se
dependurou no galho da árvore que atravessava no meio do caminho e não deixou que ele
passasse; já encontrou com um saci num barranco quando ajudava um amigo a desistir de
um casamento e fugir.”
E vovô vai contando devagarinho, quase fechando os olhos. Não sei se cochilando
ou pra ver melhor os olhos arregalados de cada um de nós.
__É tudo folclore! Pare de contar anedotas, meu velho! __Observa a vovó
terminando de coar o café no bule.
Numa noite de céu escuro, sem lua, estávamos todos à beira da fogueira. Vovô
tinha acabado de dizer para o meu primo parar de mexer com fogo, senão iria fazer xixi
na cama. Todos nós caímos na gargalhada! Foi quando o vovô mostrou uma luz na serra,
descendo e subindo; disse que poderia ser a mulher de branco, com uma lamparina na
mão. A gente gritava de medo e se amontoava em cima dele.
___Pare de assustar os meninos! Isso tudo é folclore! ___ observou vovó, assando
umas batatas nas brasas.
Mas a gente pedia para vovô contar de novo. E de novo. Até os olhos pesarem de
sono e todos irem pra cama.

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E assim, as férias escorriam pelos dedos. Passavam muito rápido. Quando ia


chegando o dia de ir embora, a gente tinha necessidade de perguntar várias vezes ao vovô
se tudo aquilo que ele contava era verdade. Ele dava um sorriso misterioso e sempre a
mesma resposta: “ “Meu pai e meu avô que me contaram. Eu mesmo, nunca vi. Mas e
você, o que acha?”

CONECTADOS PELO CORAÇÃO


Éllen Santa Rosa

Lucas está muito feliz! Ganhou seu primeiro celular. Agora poderia jogar,
pesquisar, fazer suas atividades da escola… enfim, ficar conectado com todo mundo!
Foi dormir tarde naquele dia, criando grupos com amigos, familiares… nossa!
Que coisa boa aquela tecnologia! Poderia conversar com sua prima que morava do outro
lado do país! E a hora que quisesse! Jogar com seu primo Matheus ao vivo! E conversar
com sua tia Nana numa chamada de vídeo, mostrando seu cachorrinho novo!
E as selfs? Fazia caras e bocas em todos os lugares da casa, tirava foto e postava
nas redes sociais. Quantas curtidas!! Seu tio disse que ele tinha talento… dava para criar
um canal e ficar famoso! Gravar vídeos ensinando alguma coisa: não precisaria ser grande
coisa não, truques de como ficar sempre conectado com todo mundo!!
E ele fez. Um canal muito acessado e com muitos inscritos!
O tempo foi passando e Lucas foi ficando cansado, sempre sonolento e mal
humorado....
Se os amigos da rua chamassem para brincar de bicicleta, aos domingos, ele nunca
podia; tinha que fazer os vídeos, para postar no outro dia. Se a mãe chamasse para
comerem juntos, à mesa, como de costume; ele reclamava: iria atrapalhar seu jogo, que
já estava na última fase. E pedia pro irmão mais novo levar o prato no quarto, para comer
enquanto jogava.
Depois da aula sempre passavam na casa dos avós para tomar o café da tarde. Era
o momento da família se encontrar. E como não levava o celular para a escola, porque foi
combinado com seus pais, ele ficava ansioso para voltar logo pra casa, ainda tinha que
conferir as curtidas do seu canal, responder todos os comentários…
E na hora de dormir? Sempre tinha mais alguma coisa pra fazer no mundo virtual.
E quando a mãe desligava a internet na casa, ficava chateado e demorava a pegar no sono,
pensando em tudo que ainda teria que fazer no dia seguinte.
E o menino se desconectava com sua família, seus amigos… e cada vez mais
ficava sozinho, isolado… conectado com o mundo de todos. Mas desconectado com o
seu próprio mundo.
Um dia seu pai chegou mais cedo do trabalho e propôs um passeio para a família:
iriam fazer um piquenique num parque da cidade e ninguém poderia levar o celular.
___Como??? Eu não posso ficar desconectado de todo mundo!! Preciso levar o
celular… além do mais, como vou poder registrar o momento, ao vivo, e publicar no meu
canal? – Lucas respondeu, ansioso.
O pai, que já tinha notado o seu filho muito conectado com o mundo virtual, mas
pouco conectado com o mundo real, olhou-o seriamente e chamou-o para conversar.
___Lucas, estou notando que o uso do celular e das suas ferramentas está te
deixando diferente: nervoso, distante, sem tempo para a família e para brincar com seus
amigos aqui da rua.

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___Mas papai, é que eu preciso estar conectado com o mundo!! Se eu parar para
outras coisas, não dou conta de responder a todos! – disse aflito o menino.
___Meu filho, vamos fazer uma coisa: hoje iremos passear sem celular. Tudo o
que vivermos hoje ficará gravado apenas na memória. E ao final do dia, passaremos na
casa de seus avós e compartilharemos tudo com eles, pessoalmente! – Disse o pai, depois
de lhe explicar que a tecnologia do celular, com a internet e todas as suas possibilidades
é muito importante. Porém, que temos que saber usá-la, para que não nos deixe
desconectados com as coisas mais importantes da vida.
Lucas não gostou muito da ideia não, mas depois de ouvir a voz firme do pai, que
ele já conhecia bem, não adiantava tentar negociar.
Quando chegaram ao parque, ele teve uma surpresa: o pai havia convidado a
família do seu amigo Renato, companheiro de bola na rua de sua casa. E então foi uma
diversão só: jogaram bola, peteca, apostaram corrida e até andaram nos pedalinhos, barcos
da lagoa do parque.
Na hora do lanche, que alegria: salada de frutas com creme de pitanga, o seu
preferido!
___Nossa, mamãe, a senhora caprichou, hein? Que delícia de salada! Há quanto
tempo não comemos? ___observou Lucas, lambendo os beiços.
A mãe olhou surpresa para o filho e disse:
___Ué, ontem mesmo fiz para o café da manhã. Você não se lembra?
O menino deu um sorriso amarelo e olhou para o pai, que observava a cena, com
certeza se lembrando que Lucas havia tomado o café conectado com seus grupos, no
celular. Nem tinha sentido o sabor das delícias que a mãe preparara.
Naquele momento, seus olhares se cruzaram e Lucas percebeu o que seu pai quis
dizer, mais cedo: aquele momento que passaram ali foi maravilhoso: brincaram, sorriram,
conversaram, se olharam, comeram juntos… enfim, foi de completa conexão. Seu
coração bateu forte e há muito tempo ele não sentia tantas emoções. Foi então que Lucas
entendeu tudo: São conexões diferentes. E nada substitui a conexão do coração.
E o passeio na casa dos avós, naquele dia, foi emocionante, com muitos
compartilhamentos e curtidas!

As mãos fortes do meu pai


Éllen Santa Rosa

___ Venha, Davi, pode pular! Eu seguro você.


Ouvi meu pai chamando, com os braços abertos. Eu estava com medo porque o
tronco da árvore na qual subi era bem alto. E se eu caísse? E se meu pai não aguentasse
o meu peso? Afinal, já estou bem grandinho e pesado!
Mas então, eu olhei para as mãos abertas do meu pai: grandes e fortes, muito
fortes. E me lembrei que aquelas mãos sempre estiveram me protegendo, ao longo da
vida...
Quando eu era bem pequenino, e nem sabia caminhar, ele me ensinou a dar os
primeiros passos, segurando forte a minha mão. Vi as fotos do álbum da família e mamãe
disse que ele não se cansava. Me acompanhava por todos os cantos da casa, conduzindo-
me pela mão, até que eu consegui andar sozinho.
Um dia, quando estávamos brincando no sofá da sala, eu e minha irmã pulamos
ao mesmo tempo no colo dele; eu escorreguei e por pouco não caí e bati a cabeça no chão,

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porque ele me segurou com uma das mãos. Com apenas uma das mãos ele me aparou no
ar!
Quando estava aprendendo a andar de bicicleta, na rua da minha casa, eu seguia
com a maior segurança, porque sabia que ele segurava o selim, atrás de mim. E no dia
que eu consegui pedalar e equilibrar sozinho, fiquei tão empolgado, que soltei as mãos
do guidão e caí. Chorei muito, mas suas mãos afagaram minha cabeça, me seguraram
pelos ombros, ajudaram a me erguer do chão, cuidaram dos meus arranhões e de novo,
me ampararam para eu que eu voltasse a pedalar.
Para colher as laranjas do quintal da nossa casa, todos precisavam de escada.
Eram muito altas! Mas eu sempre chamava papai pra ir comigo. Ele, com toda a sua
altura, só esticava os braços e, com as mãos, colhia as maiores, mais amarelinhas e mais
doces pra mim.
Ah, e nas tarefas da escola? Ele segurava a minha mão com o lápis, ensinando-me
a fazer o traçado correto das letras, ajudando-me a dar meus primeiros passos no mundo
da escrita. E ao me contar história com o livro, apontava com o dedo as figuras, letras,
palavras, frases para que eu aprendesse a ler.
Nossa! Lembrei-me também que estas mãos fortes já me inspiraram medo. Foi
quando eu não quis emprestar meu brinquedo para Clara, minha irmã. Ele ficou bravo, e
suas mãos gesticularam muito. Mas, com o dedo em riste, sério, conversou pacientemente
e me ensinou a dividir, partilhar. Quando dei o brinquedo para minha irmã, seu rosto se
iluminou; ele me pegou pelos braços, suspendeu-me do chão, rodopiou comigo até que
minhas gargalhadas chamaram a atenção de mamãe, que veio participar da brincadeira.
___ Davi, acorde! ___ Disse o meu pai, de novo, chamando-me a atenção e
balançando as mãos! __Pule rapaz, confie em mim!!
E pensei: “Sim, vou pular, não preciso ter medo. As mãos fortes do meu pai
sempre me protegeram.”
E com um grito de alegria e expectativa, pulei!
E as brincadeiras com as mãos? Adoleta, dois ou um...
Nas orações, me ensinou a unir as mãos...
Quando eu ficava com medo, à noite e ia até seu quarto... ele me segurava pela
mão, me conduzia à cama e me ensinava a unir as mãos, para rezar.

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PROJETO ESCRITOR MIRIM CORA CORALINA

https://www.coraeditora.com/escritormirim
PARA A ESCOLA

Desenvolvimento:
• A escola juntamente com os seus alunos selecionará um tema para o projeto
literário.
• As crianças produzem seus textos, juntamente com a equipe pedagógica.
• A professora deverá distribuir os parágrafos para que os alunos possam ilustrar.
• A história deverá ser ilustrada em papel de desenho.
• Escrever uma dedicatória, se houver, e a biografia do autor.

Sugestão:
• Colocar o ano escolar, as brincadeiras preferidas, gostos e inspirações.
• Selecionar uma foto do autor mirim.
• A Cora Editora recolherá os dados para a produção dos livros.
• A quantidade mínima de livros por aluno será de 30 unidades.

Investimento:
• Valor para a produção dos livros: R$ 35,00 unidade.
• A escola poderá organizar o lançamento oficial do livro onde as famílias serão
convidadas e os livros comercializados.
• O investimento financeiro aplicado para a produção dos livros será resgatado com
a venda destes no dia do lançamento.
• O investimento imaterial será eterno, pois sonho conquistado é guardado por toda
a vida.

Projeto Escritor mirim Cora Coralina


PARA A CRIANÇA

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Desenvolvimento:
• A criança produz seu texto.
• O responsável deverá nos enviar o texto para que possamos distribuir os
parágrafos. Devolvemos texto para a família e a criança poderá ilustrar sua
história.
• A história deverá ser ilustrada em papel de desenho e com lápis de cor.
• Escrever uma dedicatória, se houver, e a biografia do autor.

Sugestão para a biografia:


• Colocar a série escolar, as brincadeiras preferidas, gostos e inspirações.
• Selecionar uma foto do autor mirim.
• A Cora Editora recolherá os dados para a produção dos livros.
• A quantidade mínima de livros por criança é de 30 unidades.

Investimento
• Valor para a produção dos livros: R$ 35,00 unidade.
• A família poderá organizar o lançamento oficial do livro onde as famílias serão
convidadas e os livros comercializados.
• O investimento financeiro aplicado para a produção dos livros será resgatado com
a venda destes no dia do lançamento.
• O investimento imaterial será eterno, pois sonho conquistado é guardado por toda
a vida.

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