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1. O que é leitura?
2. O aluno brasileiro não gosta de ler, ou melhor, não
gosta de ler o que a escola manda?
3. O que é texto? Por que precisamos desse
conhecimento ao elaborar um plano?
4. Você concorda que professor-leitor-crítico é
raridade?
5. Como a didática do texto deve pensar a
realidade do aluno?
6. Como se desenvolve a aprendizagem de produção e leitura de textos?
O texto, verbal ou não, é uma unidade de sentido, ou seja, é percebido por quem o produz (e
deve ser percebido por quem o recebe) como algo que é UM. Essa é a primeira e a essencial
condição: todo texto deve nos remeter a uma sensação de unidade plural, ou seja, composta por
diferentes elementos (palavras, frases, parágrafos, opiniões, informações, cores, formas, sons,
gestos etc).
Esse todo formado pela pluralidade é maior que a soma de suas partes. Elas se combinam e
se articulam de tal modo a construir algo a mais para além de si mesmas. Assim como um
grupo unido é mais do que apenas um conjunto de indivíduos. No cotidiano, o professor
nota bem isso ao lidar com turmas novas ou aquelas que já se constituíram há muito tempo.
Um texto que particularmente nos interessa, como educadores, é o texto da aula. Uma aula
é um texto? Sim, pois ela é uma unidade de sentido composta por diferentes palavras e ações,
mas que, de modo muito frequente, constroem nos professores e nos alunos a sensação de
unidade, de que ocorreu uma aula só (mesmo quando dupla) e não duas ou mais coisas. Aliás,
quando o estudante tem a sensação de fragmentação, de pedaços que não se colam, ele tem
dificuldade de interagir nessa aula e, portanto, de construir o conhecimento.
Assim, como professor, minha primeira preocupação ao pensar em ‘trabalhar o texto em sala de
aula’ é pensar na construção do texto “aula”, texto que composto por diferentes textos e ações
humanas, mobiliza tempos (passado e futuro) e pessoas (o outro). O texto deve ser visto como
um produto que supõe o processo de produção e, ao mesmo tempo, como processo que leva
em conta o produto resultante.
Todo texto que aparece em aula e toda aula que se constitui como texto surge da
interação entre indivíduos e destes com um determinado tema (o tópico do discurso), vinculado
com os pressupostos e subentendidos (que facilitam a compreensão, como criam mal-
entendidos) e as avaliações psicossociais (do eu e do outro) em constante conflito.
a) conhecimento do tema
b) capacidade de avaliar a unidade de sentido: a avaliação unifica os atos – e, portanto, o texto
produzido. O indivíduo, situado em um contexto histórico e social, avalia suas atividades
(incluindo o texto produzido) no âmbito da generalidade e em uma situação concreta, específica,
de decisão e ação. A avaliação do texto está presente em quem produz o texto e em quem o
recebe. Portanto, no espaço da aula, é uma atividade constante de professores e alunos.
Naturalmente, não estamos aqui falando da avaliação notificada, mas do processo constante de
avaliar um texto que participa na sua produção.
c) construção do conhecimento específico.
d) construção do conhecimento da generalidade.
e) construção de situações concretas que possibilitem a avaliação.
f) readequação das avaliações feitas.
g) articular as diferentes partes tendo em vista três elementos: quem produz o texto, quem o irá
receber e a coletividade (configurada, por vezes, por meio de representantes).
h) velar e desvelar a presença do outro na ação e no texto produzido.
i) domínio da engenharia de produção desse texto.
Como professor, pensar em minha aula como um texto que será construído em espaços
físicos e sociais e durante um tempo determinado exige que eu conheça o tema que irei
desenvolver, mas exige muito mais. Esse ‘muito mais’ ao qual nos referimos acima é que deve
estar na origem do planejamento anual.
O que é leitura?
Leitura, em Aurélio é: 1. ato ou efeito de ler; 2. Arte ou hábito de ler; 3.aquilo que se lê; 4.
O que se lê, considerado em conjunto. 5. Arte de “decifrar e fixar um texto de um autor, segundo
determinado critério”. (AURÉLIO,1988, p.390)
Assim, um indivíduo pode ser considerado leitor quando passa a compreender o que lê.
Ler é antes de tudo compreender, por isso não basta decodificar sinais e signos, é necessário
transformar e ser transformado.
De acordo com Freire (1989), a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a
leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. A leitura é associada à forma de ver o
mundo. É possível dizer que a leitura é um meio de conhecer.
Souza (1997) afirma que leitura é, basicamente, o ato de perceber e atribuir significados
através de uma conjunção de fatores pessoais com o momento e o lugar, com as circunstâncias.
Ler é interpretar uma percepção sob as influências de um determinado contexto. Esse processo
leva o indivíduo a uma compreensão particular da realidade.
Por isso se torna indispensável que desde os anos iniciais escolares, textos, frases,
palavras, sílabas e letras, tudo isso tenha um sentido para a criança, pois é a partir deste
processo que ela poderá criar o hábito pela leitura de forma estimulante e fascinadora
O período de iniciação escolar é fundamental na percepção que a criança irá ter ao longo
de sua trajetória escolar pelos livros. O trabalho com a leitura precisa ser visto, principalmente
com alunos dos anos iniciais, os quais estão construindo o gosto pelo ato de ler, como algo de
extrema importância.
Incentivar o gosto e a paixão dos alunos para que possam tirar proveito pessoal da leitura
precisa ser objetivo de toda a escola. É muito importante que a escola contribua para a
preparação de alunos capazes de participar como sujeitos do processo de desenvolvimento da
aprendizagem:
(...) entendemos que o ensino de leitura deve ir além do ato monótono que é aplicado em
muitas escolas, de forma mecânica e muitas vezes descontextualizado, mas um processo
que deve contribuir para a formação de pessoas críticas e conscientes, capazes de
interpretar a realidade, bem como participar ativamente da sociedade. (OLIVEIRA E
QUEIROZ, 2009, p.2)
Fazer da leitura algo constante no ambiente escolar, levando o aluno a ter contato com
variadas obras auxilia o desempenho destes em relação a diversas atividades futuras. O ato de
ler precisa levar a criança à compreensão do assunto lido e não simplesmente repetição de
informações, para que assim, criticamente, possa se dar a construção do conhecimento e a
produção de qualquer outro texto.
Para isso, de acordo com Freire (1989), linguagem e realidade precisam ser relacionados
dinamicamente e a experiência de vida dos alunos ser valorizada. Não basta identificar as
palavras, mas fazê-las ter sentido, compreendendo, interpretando, relacionando o que se lê com
a própria vida, ações, sentimentos. As crianças leem quando os textos apresentam significados
para elas.
― Muito bem! ― exclama o galo. Não imagina como tal notícia me alegra! Que beleza vai ficar o
mundo, limpo de guerras, crueldades e traições! Vou já descer para abraçar a amiga raposa,
mas... Como lá vêm vindo três cachorros, acho bom esperá-los, para que também eles tomem
parte na confraternização.
Ao ouvir falar em cachorro, Dona Raposa não quis saber de histórias, e tratou de pôr-se ao
fresco, dizendo:
― Infelizmente, amigo Co-ri-có-có, tenho pressa e não posso esperar pelos amigos cães. Fica
para outra vez a festa, sim? Até logo.
E rapou-se.
Contra esperteza, esperteza e meia.
(LOBATO, Monteiro, Fábulas, 19. ed. São Paulo. Brasiliense, s. d. p. 47)
______________________________________________
1º nível de leitura
• Um galo espertalhão, consciente de que a raposa é inimiga, coloca-se sob proteção, fora do
alcance das suas garras;
•a raposa tenta convencer o galo de que não há mais guerras entre os animais e que se
instaurou a paz;
•o galo acredita na fala da raposa, mostra-se alegre e convida-a a esperar três cães para que
também eles participem da confraternização;
• a raposa, sem negar o que dissera ao galo, alega ter pressa e vai embora.
2º nível de leitura
• No nível do fingimento, isto é, da aparência, ambos percebem ter entrado em acordo, mas, no
nível da realidade, isto é, da essência, os dois continuam em desacordo.
•Afirmação da pacificação
Ex: A imagem é um signo e, por isso, representa algo e precisa ser lida e decodificada, uma vez
que ajuda construir sentidos para aquilo que se observa. Porém, é importante ressaltar que
reconhecer um elemento de uma imagem não significa que e a estamos compreendendo e
decodificando, pois o ser humano trabalha com formas simbólicas.
A semiótica foi criada por Charles Sanders Peirce, que formulou uma teoria geral para os
signos, definindo-os como “algo que representa alguma coisa para alguém em algum lugar”.
A imagem da capa traz o chocolate mordido. Considero esse elemento como o desejo de
incentivar o leitor a negar padrões de beleza estabelecidos e as dietas
populares, as quais, muitas vezes, constituem em mitos, e procurarem
apoio profissional e apropriado para emagrecer e conquistar a figura
almejada. A parte do texto que diz “Você realmente quer emagrecer?
Então pergunte-nos como” traz implícita a idéia de que não condena
os padrões estabelecidos pela sociedade, já que promove a
credibilidade da revista como forma de ajuda confiável para o leitor ou
leitora que almeja conquistar o peso desejado. Porém, a partir da
leitura do texto, pode-se concluir que o que a revista pretende não é,
como pensei a priori, substituir o papel de um “médico”, mas sim
alertar os leitores dos perigos das dietas malucas e combatê-las,
“detonando” os mitos que elas carregam consigo. As frases “Só vale
fazer sacrifício se a questão for de saúde” e “dietas malucas são uma armadilha”, comprovam
tais afirmações.
Ler implica a existência do leitor (intérprete), de um código para a leitura (signo) e de uma
obra (objeto). Necessariamente esse objeto de leitura terá um autor cujo ideário é produto
de uma cultura e de um contexto de acontecimentos, vivências e relações.
A leitura, por sua vez, é um processo de compreensão de expressões formais e
simbólicas que se efetiva através de qualquer linguagem verbal ou não verbal.
Ver uma produção artística seja ela um texto, uma imagem, uma escultura, um edifício, etc, e
opinar formando um pensamento sobre a obra é posicionar-se criticamente perante as ideias
que o autor ‘possivelmente’ exprimiu. Quem o faz observa, descodifica, aprendendo a fruir e a
conhecer não só essa obra como o seu contexto e razões de ser.
Na medida em que o conhecimento e saberes se constroem circunscritos a um ambiente
de interação e trocas mútuas, este conhecimento não pode ser estabelecido como único e
verdadeiro, pois cada indivíduo ‘vê’ de um modo particular e atribuem significados diferentes ao
mesmo objeto de análise.
Por meio da leitura e análise da obra e do seu contexto ampliamos as nossas percepções
formando representações mais complexas que, por sua vez, estimularão a nossa expressão
criativa.
A prática de leitura de imagens na escola capacita os estudantes para uma outra leitura
mais atenta e crítica do mundo, aumentando a sua bagagem cultural e exponenciando as suas
capacidades criativas.
Paulo Freire, preocupado com a alfabetização do povo brasileiro, registra que “aprender a
ler, a escrever (…) é antes de qualquer coisa, aprender a ler o mundo, compreender o seu
contexto, não em uma manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que
vincula linguagem e realidade”. Para Joly, a imagem pode ser considerada como uma
mensagem visual que expõe os seus signos linguísticos à descodificação. Tendo uma autoria e
um destinatário e podendo o autor representar os dois papéis. Para além de distinguir o
destinatário e a função de uma mensagem visual (instrução, prazer, conhecimento, referência de
expressão…), Joly aponta dois métodos de abordagem à análise crítica da obra: situar os
diferentes tipos de imagens no esquema da comunicação e comparar as utilizações da
mensagem visual com as das principais produções humanas. Neste estudo comparado
podemos, segundo a autora, estabelecer uma relação entre o homem e o mundo.
Leffa (1999) parte do princípio de que, para haver interação, é necessário que haja pelo
menos dois elementos e que esses elementos se relacionem de alguma maneira:
No processo da leitura, por exemplo, esses elementos podem ser o leitor e o texto,
o leitor e o autor, as fontes de conhecimentos envolvidas na leitura, existentes na
mente do leitor, como conhecimento de mundo e conhecimento linguístico, ou
ainda, o leitor e os outros leitores. No momento em que cada um desses elementos
se relaciona com o outro, no processo de interação, ele se modifica em função
desse outro. Em resumo, podemos dizer que, quando lemos um livro, provocamos
uma mudança em nós mesmos, e que essa mudança, por sua vez, provoca uma
mudança no mundo (LEFFA, 1999, p. 14-15).
Portador textual é o local onde se materializa o gênero. Pode ser físico ou virtual, com estrutura
específica que serve de base ou ambiente de fixação do gênero como texto.
A formação do leitor.
Ler bons livros para às crianças, desde a mais tenra idade, é uma oportunidade de lazer,
um convite à imaginação. Quem conta a história exerce um papel importante. Deve criar um
clima de envolvimento entre o ouvinte e o texto. Com isso, contar uma história se torna uma arte.
O narrador deve estar familiarizado com o texto, sabendo criar as pausas, usar os tons de voz.
O ideal seria se texto trouxesse ensinamentos e não maus exemplos às crianças. Quando lemos
para uma criança já estamos inserindo no mundo letrado por isso podemos dizer que atividade
de conta história pode auxiliar no processo de alfabetização.
É incrível pensar como, de fato, as práticas de leitura voltadas ao ”ter de ler”, ao ”leia!”,
como tarefa e obrigação, sem que ao menos os alunos entendam por que e para que fazem
isso, acabam afastando-os da leitura e, mais ainda, da possibilidade de entendê-la como
diversão, entretenimento e prazer.
Precisamos dar aos nossos alunos oportunidades de viver e experimentar a leitura para
além da relação com cobranças e tarefas, em projetos que tenham como objetivo central
apreciar textos. Afinal, precisamos da paixão por livros/materiais escritos e da preocupação com
ações voltadas ao ler por prazer, para conseguirmos avançar em termos da realidade de alunos
que não têm o hábito da leitura. Mas, como fazer?
• Vamos incorporar à rotina diária de nossas salas de aula, independente do ano escolar
em que trabalharmos, as “rodas de leitura”, momentos em que nós, professores, podemos ler
(uma prática muito comum na Educação Infantil e cada vez mais rara no Ensino Fundamental),
mostrando comportamentos leitores, ritmos, velocidades de fala, entonações e vozes que dão ao
texto um colorido especial, chamando a atenção dos alunos para os efeitos desses “modos de
ler” que emocionam, fazem rir, chorar e viajar até o cenário em que a história se passa, como
mais uma personagem que observa e aprecia tudo em volta! Sem perguntas, sem solicitações;
apenas para deleite, diversão, como forma de despertar o interesse pelos mundos que se abrem
quando lemos…
• Vamos observar, com olhos bem atentos, as reações de nossos alunos, a fim de convidá-
los a assumir a frente em outra viagem, com um livro (ou qualquer outro portador de texto) que
possa ser pego, aberto e descoberto no tempo do aluno, no lugar que ele escolher.
• Vamos incentivar as “rodas de conversa”, apenas abrindo espaço para que cada um
conte, o que e se quiser, o que saltou aos olhos, o que mais interessou, a fim de promover que
outros colegas possam “pegar carona na viagem…”
Quanto mais oportunidades o aluno tiver de ouvir, ver e sentir leituras alheias, maior será
o seu repertório e a sua sensibilidade para compreender o que lê e ouve.
Essas leituras sejam elas um poema, um conto de fadas com príncipes, princesas e
castelos, uma notícia de jornal, uma reportagem, uma trova popular etc., são experiências
fundamentais para a formação do leitor que gosta de ler e também sente necessidade da leitura.
Mesmo quando este leitor é uma criança, que não domina a letra, a palavra escrita, é
importante que esteja inserido em um ambiente cujo gosto pela leitura é apreciado, partilhado e
usufruído em comum, para que desta forma também desenvolva o quanto puder as habilidades
da leitura.
Ao relembrar Paulo Freire, que nos chamou atenção para a “leitura do mundo”, que
antecede a leitura da palavra, podemos afirmar que é por meio da linguagem que o indivíduo
reconhece os significados da cultura em que vive, estabelece relações entre as informações e
constrói sentido para si e para o mundo.
O papel do educador, nesse sentido, surge como interventor dos avanços inerentes ao
processo de construção de conhecimento. Pois, no caso da leitura, não basta oferecer livros em
quantidade. Professores e alunos precisam estar juntos no processo que envolvem
redescobertas e inúmeras possibilidades e precisam perceber e sentir de verdade que a leitura é
um elemento essencial para a vida.
Nós adultos, muitas vezes, não nos damos conta de que o ato de ler é muito complexo, já
que o fazemos automaticamente. Por isso, cabe aos adultos e, principalmente, aos professores
e a instituição de ensino, perceberem tal complexidade e entender de fato como a criança
encara este ato e o mundo da leitura. Para Cagliari (1994), “as crianças precisam de um tempo
de decifração, que varia de acordo com cada uma.” (p.159). Por isso, algumas escolas cometem
um erro quando exigem que as crianças aprendam a ler de imediato e de uma forma habilidosa,
ou quando exige que esta aprenda a ler em um prazo relativamente curto e principalmente
quando a criança é obrigada a fazer uma avaliação.
Devido a todas essas exigências e cobranças, a criança que ainda não possui maturidade
para tal, acaba por desenvolver diversos tipos de reações e principalmente traumas,
atrapalhando ainda mais o seu processo de alfabetização. Ainda a esse respeito também
encontramos em Villardi (1997) a seguinte afirmação: O desenvolvimento das aptidões
especificas de leitura, enquanto fator capaz de determinar alterações substanciais no
desempenho do aluno deve ser tomado como meta a ser alcançada, sejam quais forem às
condições de trabalho com que o professor se veja obrigado a conviver. (Villardi, 1997:108).
As escolas exigem que as crianças leiam livros e que estudem diversos tipos de textos e
conteúdos obrigatórios nesse contexto, apenas para serem avaliadas, desestimulando o gosto
das crianças pela leitura. Abramovich (1994) nos lembra que:
(...) leitura é paixão, é entrega, tem que ser feita com tesão, com ímpeto, com garra. De
quem lê de quem indica. Com trocas saboreadas e não com perguntas fechadas sem
espaço para opinião própria, pensada, sentida, vivida. Senão, é só obrigação. E aí como
tudo o mais na vida, não vale a pena. (Abramovich apud Prado e Condini, 1999: 64). .
Assim, a obrigatoriedade da leitura na escola e, por vezes, a escolha imprópria para a idade
e maturidade da criança, agem como um instrumento que influencia o aluno a rejeitar o hábito da
leitura. Fazendo com que a criança perca o desejo, o gosto e a satisfação pela leitura
precocemente.
Texto e textualidade
O Conceito de Texto
Segundo Cavalcante (2011), entende-se por texto toda e qualquer unidade de linguagem
dotada de sentidos, que realiza uma função comunicativa destinada a certo grupo de pessoas,
levando-se em consideração as especificações de uso, a época e os aspectos culturais dos
envolvidos no processo de enunciação
Vivemos em sociedade e, por isso mesmo, por sermos seres sociais, estamos sempre
nos comunicando com as outras pessoas e, nesse processo de interação, utilizamos a língua
para transmitir os nossos pensamentos e ideias, para dar informações, expressar sentimentos,
etc. Por meio da linguagem oral ou escrita, estamos sempre utilizando textos, de forma que
diferentes sujeitos realizam seus discursos, de acordo com a sua ideologia e intencionalidade.
Assim, nossa prática comunicativa realiza-se através de textos.
Os Fatores de Textualidade
1. A Coerência Textual
É o fator relacionado aos sentidos do texto. É importante para o seu entendimento, para a
sua compreensão. Quando um texto é produzido, o seu autor tem em mente o(s) possível(is)
destinatário(s) e, é claro, deseja ser compreendido por ele(s). “Todo texto tem, portanto, a sua
coerência”. (CAVALCANTE, 2011, p.28).
A coerência não é um ente concreto, que pode ser visualizado, sublinhado ou apontado
no texto. É algo subjetivo que o leitor capta com base em um conjunto de elementos a partir do
cotexto e levando-se em consideração o contexto, a situação comunicativa, os seus
conhecimentos sociocognitivos e interacionais, além do material linguístico. Vale lembrar que se
entende por contexto a superfície de um texto.
Existem alguns textos que apresentam algumas inadequações em relação à coerência.
Para detectá-las, o professor de Língua Portuguesa, ou qualquer outro professor em uma de
suas muitas atribuições que é a correção textual, deve estar atento às chamadas metarregras,
que são ferramentas que auxiliam na análise e avaliação das falhas na coerência de um texto.
a) A continuidade
b) A progressão
Essa metarregra consiste no acréscimo de informações novas aos elementos que foram
retomados no texto, fazendo com que o seu sentido progrida, evolua.
c) Não contradição
Relaciona-se ao sentido do texto, de forma que aquilo que está sendo mencionado nele não
pode se contradizer.
d) A articulação
É o modo como aquilo que está sendo dito no texto se relaciona entre si, havendo, às vezes,
a necessidade da utilização de conectivos adequados.
A Coesão Textual
A Intencionalidade
A Aceitabilidade
Para a Linguística Textual, a aceitabilidade não se limita apenas ao plano das formas, pois
se estende, de maneira mais ampla, ao plano do sentido. Isso significa dizer que um texto,
mesmo apresentando falhas gramaticais, pode ser aceitável desde que tenha sentido.
A Informatividade
Todo texto comunica algo. É importante ressaltar que o leitor/ouvinte não deve confundir
informação com conteúdo e sentido, pois apresentam conceitos distintos. Se alguém perguntar a
um leitor pelo conteúdo do texto que ele acabou de ler, por exemplo, não significa a mesma
coisa que perguntar pelas informações nele contidas.
A Intertextualidade
O professor deve, então, investir na idéia de que todo texto é o resultado de outros textos. Isso
significa dizer que não são "puros", pois a palavra é dialógica.
A leitura é um processo complexo e bastante abrangente que faz rigorosas exigências ao nosso
cérebro, à nossa memória e às nossas emoções sem deixar de envolver a experiência de vida
dos leitores. Assim, com muita eficácia, a leitura ajuda a escrever melhor. É com ela que vamos
enriquecendo a nossa memória, o nosso senso crítico e absorvemos realizações sobre os mais
diferentes assuntos acerca dos quais se podem escrever. Nossa forma de ler e nossa
experiência com os mais diversos textos de vários autores influenciarão de muitas maneiras
nossos procedimentos de escrita. Temos sempre que situar a leitura em um determinado
universo de discurso, pois é justamente isso que importa para a significação, além de sempre
considerar o contexto da produção, pois apenas assim, conseguiremos resgatar com maior
fidelidade a intenção do autor.
O leitor passa a ser, durante o processo de leitura, tão decisivo para o caráter do discurso
quanto quem o produz porque nem tudo que o enunciado deixa ou faz entender se acha
explícito nele, pois parte do seu sentido já está no conhecimento do leitor. Um texto traz em si
marcas de outros textos, implícita ou explicitamente e essa ligação entre textos pode ser de uma
simples citação ou até de uma paródia completa.
Em todas as formas de leitura, muito do nosso conhecimento prévio é exigido para que haja uma
compreensão mais exata, pois é preciso compreender simultaneamente o vocabulário e a
construção das frases, ativarem as informações antigas e novas sobre o assunto, perceber os
implícitos, as ironias, as relações estabelecidas com o nosso mundo real. E esse é o jogo que
torna a leitura produtiva; em textos mais complexos a intensidade do esforço para compreender
a intertextualidade pode variar e sempre vai depender de conhecimentos prévios comuns ao
autor e leitor. Podemos então constatar que a leitura não é um procedimento simples, ao
contrário, é uma atividade extremamente complexa e não podemos considerar apenas o que
está escrito, pois, para compreender as intenções e posições do autor devemos ir muito além do
texto.
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
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