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Os três níveis de Fichamento

1º NÍVEL: Fichamento expresso

Introdução: um texto teórico/argumentativo é construído por meio do cumprimento


paulatino de várias tarefas lógico-conceituais, que constituem a sua estrutura expositiva.
Em uma leitura rápida do texto, deve-se almejar ao menos reconhecer os grandes blocos
ou partes da exposição, delimitadas por meio dessas tarefas.

Construção da ficha
1ª etapa: Leitura do texto
1.1 numeram-se todos os parágrafos do texto
1.2 lê-se o texto buscando reunir ou separar os parágrafos em blocos temáticos.
Recursos gráficos aplicados diretamente ao texto são úteis: sublinhas, traços para
divisão, símbolos, notas

2ª etapa: Escrita da ficha


2.1 atribui-se um título para cada parte encontrada durante a leitura, tentando exprimir a
principal tarefa lógico-conceitual ali cumprida
2.2 pode-se acrescentar um conciso resumo da exposição correspondente a cada título,
capturando assim, minimamente, o desenvolvimento temático em cada parte do texto

Exemplo de ficha:
Texto: XXX

1ª parte: ... [Titulo dado pelo aluno] (§§ 1 -5) [a quais parágrafos do texto a
divisão corresponde]
Neste trecho, o autor... [se possível, acrescenta-se pequeno resumo do trecho]

2ª parte: ... [Titulo dado pelo aluno] (§§ 6 -8)


...

Importância do fichamento:
 O leitor deixa de atuar como mero receptáculo passivo do conteúdo e passa a
agir como um intérprete, que busca explicitar, com suas palavras, a estrutura
expositiva do texto.
 Escrever as fichas favorece a memorização do conteúdo lido, que deve ser
revisto e formulado de modo atento pelo leitor.
 As fichas também contribuem para uma ampla sistematização dos conteúdos
lidos, permitindo recuperar ao menos os pontos principais da exposição sem
precisar retornar aos textos. Trata-se de um recurso muito útil para organizar os
ganhos teóricos obtidos em uma disciplina acadêmica, por exemplo.

2º NÍVEL: Fichamento detalhado

Introdução: ao ler um texto, normalmente o leitor se deixa envolver pela narrativa sem
atentar para a estrutura lógico-conceitual ali operante, por meio da qual o autor obtém
os resultados almejados. O fichamento é um recurso metodológico que permite tornar
aparente a estrutura (formada por uma progressão de tarefas expositivas) que articula a
narrativa.

1ª. Etapa: Leitura crítica do texto

1.1 Primeira leitura: esclarecimento das dúvidas vocabulares, sintáticas e de referência.


1.2 Segunda leitura: numeração dos parágrafos
identificação das tarefas realizadas em cada um deles

2ª. Etapa: Escrevendo as fichas

2.1 Sugerir divisões das partes (e subpartes) do texto conforme as tarefas reconhecidas
na leitura. Atribuir títulos às partes discernidas.

2.2 Reconstruir sinteticamente as partes com ênfase na exibição das tarefas cumpridas
(exs.: o autor “constata...”, “defende...”, “exemplifica...”, “objeta...”, “complementa...”,
“retoma...”, “define...”, “distingue...”, etc.). Resumir o conteúdo no interior de um
esquema que revela os passos lógicos que compõem o movimento expositivo global.
Assim, o conteúdo não é simplesmente repetido, mas remetido às etapas lógico-
conceituais constituintes da exposição.
2.3 Espera-se uma reconstrução linear do desenvolvimento narrativo do texto segundo o
cumprimento das tarefas expositivas de cada uma das suas partes.

Exemplo de ficha de leitura:

Texto lido: XX

1a. parte: ... [título proposto pelo aluno] (§§ 1 - 6) [divisão proposta]

[Destacam-se as subdivisões]
a) No início do texto, autor apresenta sua posição (§§ 1-2): ... [aqui entra o resumo]

b) Em seguida o autor define os conceitos centrais de sua posição (§ 3-4): ...

b1) O conceito X quer dizer...

b2) O conceito Y quer dizer...

c) Por fim, o autor diferencia sua posição de dois outros autores (§§ 5-6): ...
c1) O primeiro autor considerado é Z...

c2) ...

2.a parte [título] (§§ ...)

...

Importância do fichamento

Há vários pontos positivos na prática dos fichamentos. Destaco os seguintes:

 A leitura não se reduz a uma assimilação passiva de conteúdos, mas exige


engajamento crítico com o texto. O leitor deve tomar diversas decisões
interpretativas, construindo uma hipótese global acerca do sentido da narrativa
lida.
 Diante das fichas de leitura, torna-se mais fácil discutir problemas de
entendimento, os quais podem ser localizados em partes específicas da
exposição.
 A ênfase em explicitar a estrutura em ação no texto ajuda a afastar preconceitos
e opiniões precipitadas, incentivando o leitor a reconstruir a exposição do autor
em sua versão mais forte, independentemente de concordar ou não com ela.
Reconstituir fielmente a posição do autor é condição básica para discuti-la.

3º NÍVEL: Fichamento expandido

Apresentação

Em um fichamento expandido, acrescenta-se à exibição da estrutura expositiva


do texto analisado uma reconstrução narrativa em torno de três articuladores lógicos:
problema / tese / argumentação. Essa reconstrução guia-se por três perguntas básicas,
em que esses articuladores orientam o leitor a formular uma interpretação abrangente do
sentido do texto:
 Qual o problema enfrentado pelo texto?
 Qual a tese proposta pelo autor?
 Qual a argumentação oferecida pelo autor para sustentar sua tese?
Supõe-se que, de modo bem geral, todo texto acadêmico:
i. parte do reconhecimento de algum estado de coisas (factual, conceitual,
valorativo, deliberativo, etc.) passível de questionamento crítico;
ii. toma uma posição acerca desse estado de coisas;
iii. justifica racionalmente essa posição por algum tipo de argumentação.

Por meio do fichamento expandido, o leitor busca reconstituir esse movimento


expositivo mais geral do texto analisado.

Especificações
 As questões básicas do fichamento expandido podem ser aplicadas em
diversos níveis de um texto lido, tais como os capítulos, as seções e,
enfim, o livro todo. No caso dessa construção progressiva, os
fichamentos expandidos de cada capítulo devem servir de base para a
construção dos fichamentos das seções, os quais por sua vez permitem
que se formule um fichamento expandido global acerca de um livro.
 Quanto mais amplo o alcance do fichamento pretendido, mais complexa
será a ficha resultante. Assim, por exemplo, para capturar qual o
problema central de um livro inteiro, será preciso considerar vários sub-
problemas relativos às principais partes da obra. Da mesma maneira, para
capturar a tese de um livro, será preciso escrever um pequeno texto em
que se explicitam os vários aspectos da posição formulada, o que
normalmente exige a explicitação de sub-teses propostas no correr da
exposição.
 Quanto à argumentação, ela pode ser reconstruída em sentido lato, isto é,
como enumeração das principais tarefas expositivas pelas quais o autor
faz avançar o texto, ou em sentido estrito, como reconstrução e avaliação
dos argumentos (enquanto estruturas lógicas específicas) apresentados no
correr da exposição. Para reconstruir os argumentos do texto nesse
sentido estrito, é preciso um conhecimento básico de lógica.

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