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MANUAL DA UFCD: Expressão dramática, corporal, vocal e verbal

CÓDIGO DA UFCD: 3279

CARGA HORÁRIA: 50 horas

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Conteúdo
Introdução ..................................................................................................................................................................... 3
Objetivos ....................................................................................................................................................................... 4
Conteúdos ..................................................................................................................................................................... 5
1. Expressão dramática e desenvolvimento pessoal .................................................................................................... 7
1.1. Desenvolvimento interpessoal ....................................................................................................................... 10
1.2. Desenvolvimento da atividade ............................................................................................................................ 19
2. Expressão dramática e desenvolvimento integral da criança................................................................................. 26
2.1. Expressão dramática e desenvolvimento cognitivo............................................................................................. 29
3. Expressão dramática - função simbólica ............................................................................................................. 35
4. Expressão corporal .............................................................................................................................................. 43
5. Expressão vocal e verbal ......................................................................................................................................... 49
Bibliografia .................................................................................................................................................................... 54

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Introdução
As artes são elementos fundamentais para o desenvolvimento da expressão pessoal, social e cultural
do ser humano. São formas de saber que articulam imaginação, razão e emoção. Elas atravessam as vidas das
pessoas, trazendo novas perspetivas, formas e densidades ao ambiente e à sociedade em que se vive.
A vivência artística permite a participação em desafios coletivos e pessoais que contribuem para a
construção da identidade pessoal e social, exprimem e encorpam a identidade nacional, permitem o
entendimento das tradições de outras culturas e são uma área de eleição no âmbito da aprendizagem ao longo
da vida.
As expressões, dramática, corporal, vocal e verbal são umas das áreas privilegiadas na educação
artística. Estas constituem-se como quatro vertentes expressivas indispensáveis à formação integral do ser
humano, que têm como finalidade a contribuição para o desenvolvimento integral dos formandos, preparando-
os para o exercício competente e consciente da sua profissão.
O grande objetivo da elaboração deste Manual é tornar esses conhecimentos acessíveis, isto é,
contribuir seguramente para a divulgação de medidas que, uma vez postas em prática, permita um percurso
evolutivo por parte do formando, partindo do desenvolvimento das suas próprias competências expressivas,
em direção ao domínio de métodos e técnicas indispensáveis à sua ação como profissional.
Este manual destina-se à comunidade em geral, a todos que pretendem: desenvolver estratégias que
conduzam a uma abordagem criativa e lúdica das práticas artísticas e que estimulem a autonomia e interesse
pela descoberta; desenvolver estratégias de integração das várias expressões; desenvolver um repertório de
atividades e técnicas que possa servir de base para futuros progressos e despertar a consciência para o valor
estético no trabalho a desenvolver com crianças.
Este manual deve ser utilizado sempre como apoio a toda a formação que é dada nas sessões teórico-
práticas, servindo assim de complemento à formação.

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Objetivos
• Planificar e desenvolver técnicas de animação com recurso à expressão dramática,
corporal, vocal e verbal.

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Conteúdos
• Expressão dramática e desenvolvimento pessoal

o Desenvolvimento interpessoal

▪ Autoconhecimento e revelação

▪ Falar / escutar

▪ Quebra-gelo / aquecimento

▪ Confiança e reciprocidade

▪ Guiar e ser guiado

▪ Aceitação do risco e do desafio

o Desenvolvimento da atividade

▪ Pensamento convergente

▪ Quebrar regras

▪ Pensamento fora das estruturas

▪ Desenvolvimento da sensibilidade

▪ Estado de recetividade

▪ Adaptação e reação à mudança

▪ Originalidade

▪ Organização coerente

• Expressão dramática e desenvolvimento integral da criança

o Expressão dramática e desenvolvimento cognitivo

▪ Desenvolvimento cognitivo

▪ Estádio sensório-motor

▪ Estádio pré-operatório

▪ Estádio das operações concretas

▪ Estádio das operações formais

• Expressão dramática - função simbólica

o Imitação diferida

o Jogo simbólico

o Desenho

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o Imagem mental

o Linguagem

• Expressão corporal

o Centros de expressividade corporal

o Corpo como um todo e uma segmentação

o Coordenação visual e áudio-motora

o Respiração – desenvolvimento e exploração

o Relaxamento – técnica e desenvolvimento

o Possibilidades expressivas sem e com deslocação no espaço

o Pantomima e mímica corporal

• Expressão vocal e verbal

o Corpo emissor sonoro

o Silêncio e som

o Respiração e emissão sonora

o Volume e projeção da voz

o Articulação e dicção

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1. Expressão dramática e desenvolvimento pessoal

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Segundo a definição clássica, expressão significa “espremer, reproduzir, expor” por outras palavras,
exteriorizar do interior para o exterior. No caso da Expressão Dramática, trata-se de expressar sentimentos e
ideias, num contexto de jogo, através do uso da linguagem dramática.
Dentro das Artes, existe uma área com particular impacto na educação das crianças: a expressão
dramática. Através desta arte performativa, as crianças têm a oportunidade de interagir com a sua própria
consciência, corpo e emoções, ganhando uma melhor perspetiva dos comportamentos humanos.
A expressão dramática enquanto atividade para a criança, é uma forma de brincar, que decorre de
situações da vida real, onde, nomeadamente, transparece o mundo das suas vivências e a sua cultura. É um
dos recursos mais valiosos, completos e complexos da educação. É através da expressão dramática que a
criança cria um mundo todo seu, num contexto de imaginação, criatividade e fantasia, identificando-se com a
personagem ou situação a que brinca.
As atividades de expressão dramática proporcionam a oportunidade de a criança brincar a sério,
apelando às suas vivências decorrentes da sua vida real. Assim, a brincar ao faz-de-conta, a criança projeta o
seu mundo sociocultural, constrói, nomeadamente, conhecimento, signos, conceitos sobre o seu próprio corpo,
espaço, tempo, objetos e relações com o outro, bem como:
➢ incentiva-se a criação e a observação;
➢ possibilitam-se variados meios de expressão;
➢ liberta-se sentimentos;
➢ desenvolve-se hábitos;
➢ atitudes e habilidades;
➢ desenvolve-se a expressividade a partir da capacidade de imaginação;
➢ aprende-se a improvisar, a usar a representação corporal, brincando;

Através destas, incentiva-se a utilizar e a coordenar a atividade motora, bem como:

Na expressão dramática, a criança (re)descobre a incontornabilidade do jogo dramático nas relações


interpessoais e de grupo, progredindo para formas de expressão para-teatrais como os fantoches, as sombras
e as máscaras e para o domínio dos códigos e convenções teatrais.
As atividades dramáticas permitem que as crianças desenvolvam progressivamente as possibilidades
expressivas do corpo, unindo a intencionalidade do gesto e/ou a palavra, à expressão, de um sentimento, ideia
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ou emoção. Nestas atividades, as crianças desenvolvem ações ligadas a uma história ou a uma personagem
que as colocam perante problemas a resolver: problemas de observação, de equilíbrio, de controlo emocional,
de afirmação individual, de integração no grupo, de desenvolvimento de uma ideia e de progressão na ação.
A criação de histórias é uma aprendizagem como outra qualquer e a criança necessita de tempo para
dominar, ao seu ritmo, esta nova técnica”.
Critérios base para a criação de guiões de orientação para a criação de histórias, nomeadamente:
1 A história deve ser clara, lógica e a ficção respeitada até ao fim. (…)
2 A história tem de ter princípio, meio e fim. (…)
3 As personagens devem ser claramente definidas desde o princípio até ao fim. (…); questionar as
crianças sobre o comportamento, a atitude e o carácter da sua personagem. (…)
4 As personagens devem ser ativas, desde o princípio até ao fim. (…)
5 É importante que exista um conflito ou um obstáculo desde o princípio da história para resolver. 6
Cada cena deve ter a sua carga emotiva (…)
7 (…) convidar as crianças a improvisarem verbalmente para fazerem nascer respostas espontâneas
(…).
Pretende-se, fundamentalmente, que as crianças experimentem, através de diferentes meios, expressar
a sua sensibilidade e desenvolver o seu imaginário.
O objetivo central da expressão dramática consiste no desenvolvimento natural da criança, a partir de
situações da experiência individual e coletiva, trabalhadas a partir de jogos e improvisações.
Estas atividades devem ser progressivamente complementados por propostas que contribuam para o
desenvolvimento da capacidade de relação e comunicação com os outros.
No desenrolar das propostas ou projetos desenvolvidos em pequenos grupos, deve haver espaço para
a improvisação.
As crianças gostam de apresentar as suas criações aos companheiros e aos pais. Estes momentos de
partilha são, também, um enriquecimento da experiência pessoal e do grupo, desde que mantenham o carácter
de jogo lúdico e não se transformem em representações estereotipadas.
Em interação, as crianças irão desenvolvendo pequenas improvisações explorando, globalmente, as
suas possibilidades expressivas e utilizando-as para comunicar. A utilização simultânea da dimensão verbal e
gestual ganha, aqui, o seu pleno significado.

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1.1. Desenvolvimento interpessoal

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O objetivo central da expressão dramática consiste no desenvolvimento natural da criança, a partir
de situações da experiência individual e coletiva, trabalhadas a partir de jogos e improvisações.
A expressão dramática funciona, muitas vezes, como o gatilho que vem desbloquear o
desenvolvimento de algumas destas características nas crianças. Enquanto memorizam as suas falas e
aprendem a expressar-se fisicamente, as crianças adquirem competências que dificilmente conseguiriam
desenvolver noutro contexto. Esta é um dos recursos mais valiosos e completos de educação. É uma área
artística que abrange quase todos os aspetos importantes do desenvolvimento da criança. É uma prática que
põe em ação o desenvolvimento do indivíduo aferido na sua totalidade, favorecendo, através de atividades
lúdicas, o desenvolvimento de uma aprendizagem global (cognitiva, afetiva, sensorial, motora e estética).
A Expressão Dramática, é uma(a) forma de expressão humana, potencia a comunicação, a
desinibição, a autoconfiança, a capacidade de resolver problemas interpessoais, a autonomia, a cooperação, a
assertividade. Quando o assunto é educação infantil existem muitas ferramentas e métodos que devem ser
empregues para auxiliar no desenvolvimento social das crianças. E um dos métodos mais conhecidos e
aplicados são as dinâmicas em grupo.
Como o próprio nome já diz, esse método é constituído com base nas relações sociais em grupo,
onde duas ou mais pessoas se conectam e interagem estimulando seus papéis sociais, suas relações entre si, as
decisões em grupo e outras características que despertam o crescimento pessoal e social. As dinâmicas em
grupo trazem benefícios em todas as fases da vida, mas durante a infância elas têm um papel primordial,
afinal é neste período que os pequenos desenvolvem a personalidade, autoconhecimento e encorajamento para
que possam aprender a se comunicar.
O mais importante ao elaborar uma dinâmica em grupo é fazer com que as crianças não percam o
foco e a organização durante o processo – para que assim elas possam compreender melhor a interação que
estão tendo. Entre os benefícios das dinâmicas em grupo estão: aprender a dividir tarefas; incentivar a
comunicação; aceitação de outras opiniões; sentimento de pertencer a um grupo; desenvolvimento social.
Na parte da infância, essas dinâmicas em grupo são apresentadas como brincadeiras, jogos,
desafios propostos principalmente pelas escolas. Essas atividades podem ser estimuladas desde o início da
infância, mas os melhores resultados começam a ser mais evidentes com crianças acima de quatro anos de
idade.
Enquanto capacidades que permite à criança manifestar comportamentos verbais e não verbais
apropriados em situações sociais que facilitam o desenvolvimento de relações interpessoais satisfatórias e a
obtenção dos objetivos sociais. Tendo em consideração os aspetos afetivo/sociais, cognitivo/linguísticos e
psicomotores de desenvolvimento, perspetiva-se como um instrumento de atualização e potenciação das
aptidões sociais. Tendo em conta, igualmente, comportamentos verbais e não verbais, encerra os componentes
fundamentais das competências sociais. É uma prática que põe em ação a totalidade da pessoa, favorecendo,
através de atividades lúdicas, o desenvolvimento e uma aprendizagem global (cognitiva, afetiva, sensorial,
motora, estética). Neste sentido, ela partilha das intenções da finalidade geral da educação que é o
desenvolvimento global da personalidade.
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A linguagem dramática permite à criança exprimir uma sensibilidade pessoal, treinar os seus meios
de expressão e envolver-se numa dinâmica de grupo com regras internas que facilitarão uma descoberta ativa
em termos de relacionamento interpessoal.
A nível de relacionamento interpessoal é também muito bom porque eles aprendem um pouco a
relacionar-se com os outros sobretudo que têm de contracenar juntos, a ajudarem-se uns aos outros, se um se
esquece de alguma coisa o outro dá uma ajudinha, que devem respeitar o ritmo do outro porque eles
apercebem-se que para que as coisas funcionem todo o grupo deve estar unido e isso ajuda-os também no seu
dia a dia.
Podemos considerar que na sua prática, a Expressão Dramática poderá atuar no desenvolvimento
social da criança através do senso social, da autonomia e do senso moral. Se atendermos ao facto de esta
promover atividades em grupo, podemos afirmar que vai, consequentemente, promover a comunicação e a
interação entre os vários elementos desse mesmo grupo, bem como favorece o desenvolvimento da capacidade
de gestão de relações interpessoais complexas, relações essas alimentadas por antagonismos e reconciliações
que vão preparar a criança para a futura vida socias.
Tipos de jogos dramáticos
•Jogos livres: Têm por objetivo funcionar como abordagem imediata para a motivação e predisposição para
a integração e para o trabalho de grupo;
•Jogos dirigidos: Como meio de superar as carências individuais, atrás referidas (e que relembramos algumas:
inibição, timidez, receio…), e do grupo;
•Jogos de improvisação: Mediante o estímulo à improvisação, os alunos são conduzidos a explorar a
imaginação, procurando uma resposta espontânea perante o inesperado e a desenvolver a “habilidade” para
obter soluções. No final de cada sessão, tenta-se promover pequenos momentos de reflexão do grupo a respeito
dos “caminhos” seguidos, dos problemas surgidos e das oportunidades de melhoria.
•Jogos do faz-de-conta: São atividades que devem ser propostas diariamente. Para que isso aconteça, o espaço
da sala deve estar organizado por áreas que contemplam zonas para a criança brincar, imitando e reinventando
os papéis sociais que observa no seu quotidiano. Exemplos das brincadeiras de faz-de-conta: “família”,
“médico”, “bombeiros”, etc.
•Jogos de desenvolvimento da imaginação: As crianças, de olhos fechados, (ou abertos), imaginam
situações, lugares (exemplo: reproduzir o passeio ou a visita efetuada. Como foram, o que viram, etc.)
•Jogos de desenvolvimento de habilidades físicas e vocais: para estimular as crianças a representarem os
movimentos e gestos dos personagens da história, ou de pessoas, animais ou coisas que observam e
vocalizarem os seus sons, ruídos ou vozes.
•Jogos de desenvolvimento da expressão corporal: Como por exemplo o jogo da estátua, jogo da máscara
muda, jogo de reflexos, etc.
•Jogos de mímica: Podem ser realizados com ou sem música. Por exemplo, a criança faz a mímica de ações,
como coser, martelar, pintar, etc. e as outras adivinham.

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•Dramatização de histórias: É uma atividade que só deve ser realizada quando as crianças já dominarem os
jogos dramáticos mais simples e se realmente se mostrarem interessadas em representar determinada história.
• Representação com fantoches: É uma das modalidades do teatro infantil que proporciona o prazer de dar
vida e voz a animais e bonecos. Através de um fantoche pode ser superada uma timidez que dificultava a
comunicação. Podem ser expressos sentimentos antes difíceis de exprimir, porque o fantoche passa a ser o
foco da atenção, em vez da criança que o manipula.
O processo criativo que envolve a manipulação de fantoches estimula o desenvolvimento da linguagem e do
pensamento e faz com que a criança aprenda a tomar decisões, a expressar-se, para além de:
· canalizar a imaginação infantil;
· descarregar tensões emocionais;
· resolver conflitos de ordem afetivo - emocional;
· ampliar as experiências;
· ampliar o vocabulário;
· desenvolver a atenção, a observação, a imaginação, a perceção da relação entre causa e efeito, a perceção do
BEM e do MAL, de outros valores e o interesse por histórias e teatro. Quando os adultos manipulam os
fantoches, têm nas mãos um recurso mágico de fácil comunicação com a criança.
Tipos de fantoches:
. fantoche de saco de papel,
. fantoche de pano, meia ou massa;
. fantoche de diferentes tipos de bonecos (boneco de dedo, boneco de vara, bonecos de copos, objetos e
elementos da natureza).
Autoconhecimento e revelação: Existem muitas e diferentes técnicas de grupo. Para as referir e classificar
é comum ter em conta que objetivos concretos se procuram com a sua utilização. Por exemplo, Técnicas
de grupo de apresentação a utilizar com grupos que não se conhecem ou Técnicas de grupo de
conhecimento, destinadas a que os participantes consigam um conhecimento mais profundo e, portanto,
podem-se realizar com grupos que se conhecem ou que não.

Outros tipos de técnicas de grupo são as Técnicas de grupo para a formação de subgrupos, aqueles
pequenos jogos ou atividades que permitem fazer subgrupos, as Técnicas de animação e motivação, cujo
objetivo essencial é criar um bom ambiente de grupo e as Técnicas de desinibição, aqueles jogos
estruturados para conseguir libertar energia acumulada em forma de tensões at ravés de risos,
movimentos. A maturidade e a experiência do grupo e as idades ou, o desenvolvimento físico e
psicológico dos participantes. Tendo em conta que as técnicas variam em complexidade, para evitar
resistências por parte dos participantes é necessário utilizar aqueles acordes à idade e familiares para o
grupo, isto é, relacionadas com os seus hábitos e costumes. Nos momentos iniciais do grupo, com
participantes inexperientes em atividades grupais, é recomendável escolher técni cas simples.

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O tamanho do grupo. A forma de interagir depende principalmente do tamanho do grupo. Assim,
nos grupos mais pequenos dá-se uma maior interação, existe mais confiança e é mais fácil que todos os
membros participem, geralmente características opostas aos grupos mais numerosos em que é normal
que existam subdivisões em subgrupos. Há que ter em conta que é relativamente mais fácil de adaptar a
um grupo grande as técnicas para grupos pequenos do que ao contrário.

As características de espaço, tempo e materiais disponíveis, uma vez que cada técnica requer
determinadas condições. Há que ter em conta as possibilidades reais em relação ao local e tempo,
recursos, mobiliário, etc.

O autoconhecimento é a capacidade de identificar os próprios sentimentos, emoções e


ações. Desenvolver esta habilidade é importante não só para que a criança possa se conectar consigo
mesma, mas também porque esta permite que ela compreenda que suas ações têm consequências
positivas ou negativas, tanto para ela quanto para os outros. É uma habilidade que cada indivíduo deve
desenvolver, e consiste em possuir conhecimento pessoal. Ou seja, ser consciente de seus sentimentos,
estado de humor, limitações, pontos fortes e atitudes.

Em outras palavras, é refletir sobre o que cada ação acarreta, para ter uma melhor ideia de si
mesmo. Por isso, o autoconhecimento é uma excelente ferramenta para as crianças. Como o objetivo
principal é o de que o autoconhecimento nas crianças seja uma prática que possa ser aplicada pelo resto
da vida, é importante que sua aprendizagem fique gravada na mente e que seja significativa.

Concluindo, a aprendizagem que leva ao autoconhecimento nas crianças é uma experiência muito
significativa. É sua responsabilidade saber o que significa, o que implica e quais são as ferramentas que
se podem utilizar.

Como já referido, o objetivo central da expressão dramática consiste no desenvolvimento natural da


criança, a partir de situações da experiência individual e coletiva, trabalhadas a partir de jogos e improvisações.
Estas atividades devem ser progressivamente complementados por propostas que contribuam para o
desenvolvimento da capacidade de relação e comunicação com os outros.
No desenrolar das propostas ou projetos desenvolvidos em pequenos grupos, deve haver espaço para
a improvisação.
As crianças gostam de apresentar as suas criações aos companheiros e aos pais. Estes momentos de
partilha são, também, um enriquecimento da experiência pessoal e do grupo, desde que mantenham o carácter
de jogo lúdico e não se transformem em representações estereotipadas.
Em interação, as crianças irão desenvolvendo pequenas improvisações explorando, globalmente, as
suas possibilidades expressivas e utilizando-as para comunicar. A utilização simultânea da dimensão verbal e
gestual ganha, aqui, o seu pleno significado.
Sugestões de atividades:

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•Improvisar palavras, sons, atitudes, gestos e movimentos ligados a uma ação precisa: em
interação com o outro e em pequeno grupo;

•Improvisar palavras, sons, atitudes, gestos e movimentos, constituindo sequências de a ções —


situações recriadas ou imaginadas, a partir de: objetos um local uma ação personagens um tema;

•Improvisar situações usando diferentes tipos de máscaras;

•Utilizar diversos tipos de sombras (chinesas,);

•Inventar, construir e utilizar adereços e cenários;

•Elaborar, previamente, em grupo, os vários momentos do desenvolvimento de uma situação.

Em expressão dramática, a concretização das atividades é designada por “jogo dramático” – na


sua conceção os elementos voz, espaço, corpo, tempo, texto e situação dramática, constituem a linguagem
dramática. A utilização destes elementos permite a quem joga, comunicar com os outros através de
papéis, expressando as suas criações do mundo interior, pela ação corporal e pela produção de uma
ficção.

O trabalho efetuado no jogo dramático proporciona momentos de criação, cujos principais


objetivos são a reflexão sobre as emoções e a interpretação do mundo. Para se jogar não são necessários
adereços ou cenários especiais, já que um objeto do quotidiano pode assumir diversas funções. Sendo
uma atividade coletiva, o ritmo de cada um deve ser respeitado, assim como a disponibilidade para jogar,
uma vez que uma das características do jogo é a recetividade e a fruição, no desempenho da atividade.

Falar / escutar: A criatividade e a Expressão Dramática são conceitos que parecem relacionados com a
Educação. É do consenso geral que as atividades de Expressão Dramática promovem e desenvolvem a
criatividade do individuo, através de métodos e técnicas que potencializam o pensamento criativo.

Todas as atividades expressivas e criativas que ocorrem na Expressão Dramática desenvolvem a fala
e o poder de escuta. Logo, o brincar é uma atividade fulcral no desenvolvimento da criança. É através do
brincar que se desenvolve a parte cognitiva do ser e desenvolve-se de forma equilibrada a personalidade da
criança. Assim sendo, estas tem um papel fulcral no desenvolvimento dos fatores afetivos, cognitivos, sociais
e motores da personalidade.

A utilização simultânea da dimensão verbal e gestual ganha aqui o seu pleno significado. Em interação,
as crianças irão desenvolvendo pequenas improvisações explorando, globalmente, as suas possibilidades
expressivas e utilizando-as para comunicar.

A expressão dramática é um dos meios mais valiosos e completos de educação. A amplitude da sua
ação, abrangendo quase todos os aspetos importantes do desenvolvimento da criança e a grande diversificação
de formas que pode tomar, podendo ser regulada conforme os objetivos, as idades e os meios de que se dispõe,
tornam-na por excelência a principal forma de atividade educativa. (...). O objetivo principal desta forma de
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educação é a expressão, ou seja, o estimular da criança para que expresse livremente todos os seus sentimentos,
desejos e tensões interiores.

As atividades de expressão dramática, permitem às crianças exteriorizar, pelo movimento e pela voz,
os seus sentimentos profundos e as suas observações pessoais. O improviso dramático na criança é natural e
espontâneo, surgindo sem qualquer tipo de preparação prévia. A representação é expressa naturalmente, ditada
apenas pelo que a criança sente vontade, naquele momento, em expressar. A criação deve ser continua
escolhendo a criança o tema sobre o qual improvisa, a situação, as personagens e a ação. Através das atividades
de expressão dramática, a criança tem liberdade de expressar todos os devaneios da sua imaginação, da forma
que o desejar, não apenas representando, mas encarando os e vivendo verdadeiramente

Neste contexto, os ambientes educacionais são os locais onde as crianças começam a ter um maior
contato com os seus iguais, outras crianças. Estas possuem variadas maneiras de jogar, brincar, falar, e dentre
outras coisas principalmente de se movimentar. Por meio destas diferentes linguagens é que as crianças se
expressam no seu meio social.

Quebra-gelo / aquecimento: Dinâmica de grupo é uma ferramenta de estudo de grupos e também um


termo geral para processos de grupo, inclusive crianças. Um grupo exibe “gelo” se houver pouca ou nenhuma
conversa, relutância em fazer contato físico e mau contato visual. Além disso, os membros do grupo ficam
sozinhos, demonstrando pouca ou nenhuma iniciativa e ausência de confiança.

Para se qualificar como quebra-gelo, uma atividade, exercício ou experiência deve ter os seguintes
critérios:

• Um quebra-gelo deve ser divertido;

• Um quebra-gelo não deve ser ameaçador;

• Um quebra-gelo deve ser altamente interativo;

• Um quebra-gelo deve ser simples e fácil de entender;

• Um quebra-gelo deve ser orientado para o sucesso.

Ficar confortável com um novo grupo de pessoas pode ser uma situação assustadora e desconfortável,
com muitos rostos desconhecidos, muitos nomes estranhos e ao mesmo tempo é um exercício de facilitação
destinado a ajudar os membros de um grupo a iniciar o processo de formar uma equipe. Assim como em
qualquer dinâmica, o quebra-gelo deve ser relaxante e não ameaçador. Em um ambiente não deve exigir que
as pessoas revelem informações pessoais ou toquem umas nas outras, pois isso pode ser estressante ou
culturalmente inadequado. A dinâmica quebra-gelo não deve envergonhar os participantes ou fazê-los sentir-
se compelidos a participar e tão pouco devem mostrar desrespeito a nenhuma hierarquia social e profissional
do grupo.

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Confiança e reciprocidade: O êxito das técnicas de grupo para crianças depende, em certo modo, da
capacidade que se tenha para as adaptar ao momento mais adequado, aos objetivos que se perseguem, à
maturidade e experiência do grupo e, definitivamente, a cada ocasião concreta, uma vez que não existe
nenhuma técnica que se possa aplicar sempre e em qualquer circunstância, seja qual for o tipo de grupo ou o
fim que se deseja alcançar.

Cada um, existindo um clima de liberdade, de confiança, de alegria e de respeito mútuo, poderá revelar
as suas capacidades de criação e expressar todos os seus problemas através da improvisação. Interessa cultivar
o humorismo e a boa disposição, saindo da imaginação do real para a de cenas cómicas e alegres: pensando-
as primeiro, antes de atuar; atuando de improviso, sem prévio pensamento da ação. A improvisação sem
pensamento prévio será uma sequência natural da criança e que surgirá espontaneamente após certas
experiências e maturação.

No primeiro momento em que a criança não se sente capaz de interagir com o outro ou em grupo
aconselha-se que o professor crie motivações para tal através de jogos de faz-de-conta. Ou seja, dar a
oportunidade à criança de experimentar diferentes personagens e diferentes situações para quando se deparar
com uma situação de improviso esteja apto(a) para responder positivamente. No trabalho da improvisação
com o outro ou em grupo, interessará motivar o(a) aluno(a) com a interação e com concentração.

Guiar e ser guiado: As técnicas de grupo são atividades organizadas que requerem a participação de um
número determinado de pessoas. Utilizam-se para facilitar a participação, para animar ou integrar os
participantes, para tornar mais simples os conteúdos que se queiram tratar, ou para que os participantes se
organizem e levem a cabo objetivos como grupo.

Em qualquer caso, as técnicas de grupo quando se trabalha com crianças, são instrumentos essenciais
a ter em consideração para aumentar entre elas o sentimento de pertença a um grupo social, acrescentando
uma componente de diversão. Ainda que as técnicas de grupo possam ter uma grande diversidade de fins
implícitos, quando se aplicam a crianças, o objetivo principal é o objetivo lúdico.

Dinâmica do Guia: Quem assume o papel de guia deverá descrever um percurso a ser percorrido de
forma que o participante que faz de cego consiga “visualizar”. Cada participante experimenta cada papel
aproximadamente durante 2 minutos. No final do jogo, os participantes são convidados a conversar sobre a
preferência sobre determinado papel e a exprimir as dificuldades e os medos que sentiram. O animador deverá
estar atento às dificuldades de cada um dos participantes, nomeadamente a responsabilidade por parte do papel
de guia e a confiança por parte do papel de cego, assim como o tipo de percurso escolhido.

Aceitação do risco e do desafio, para muitas pessoas, as atividades lúdicas são vistas apenas como
“brincadeiras”. Embora seja verdade, essa não é a definição primordial dessa estratégia. Afinal, nem todo o
tipo de brincadeira tem cunho educacional. Em linhas gerais, podem ser consideradas atividades lúdicas
aquelas que têm por objetivo promover desafios, interação entre os participantes de forma prazerosa durante

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sua realização. Contudo, a prática escolhida precisa ter um objetivo claro para que eles possam ser
direcionados corretamente e obter o aprendizado desejado.

Neste contexto, as dinâmicas em grupo trazem benefícios em todas as fases da vida, mas durante a
infância elas têm um papel primordial, afinal é neste período que os pequenos desenvolvem a personalidade,
autoconhecimento e encorajamento para que possam aprender a se comunicar. Entre os benefícios das
dinâmicas em grupo estão: aprender a dividir tarefas; incentivar a comunicação; aceitação de outras opiniões;
sentimento de pertencer a um grupo; desenvolvimento social. O mais importante ao elaborar uma dinâmica
em grupo é fazer com que as crianças não percam o foco e a organização durante o processo – para que assim
elas possam compreender melhor a interação que estão tendo.

É papel de quem está a organizar a dinâmica em grupo, perceber se está ocorrendo tudo como deveria
não tem nenhuma criança demonstrando estar excluída ou descontente com a atividade ou se estão surgindo
conflitos ou falta de entendimento entre elas.

As Brincadeiras e Dinâmicas Infantis de grupo para educação infantil, muito mais do que apenas uma
brincadeira para passar o tempo e divertir, possuem um grande valor como instrumento educacional e pode
ser uma ferramenta de trabalho para o processo de ensino e aprendizagem.

As dinâmicas de grupo envolvem as crianças, proporcionando a experiência de trabalho coletivo, união


e formação de um grupo.

Para as crianças e também adultos, as dinâmicas devem atender às estratégias educativas pretendidas
e não utilizadas indiscriminadamente ou somente como um passatempo.

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1.2. Desenvolvimento da atividade

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O pensamento convergente é especialmente útil em situações em que é possível encontrar uma
única resposta correta, que pode ser alcançada por meio de um processo de tomada de decisão ou sim-
plesmente pela aplicação da lógica. Por suas características, suas respostas são definitivas e não apre-
sentam ambiguidade.

Já o pensamento divergente tem o objetivo de estimular não apenas o pensamento lógico e estru-
tural, mas também a capacidade criativa de cada um. O pensamento divergente nas crianças consiste
em um processo que estimula a elaboração de ideias criativas. Para isso, propõe a exploração e a expe-
rimentação de vários contextos e problemas para criar diferentes soluções. O método defende que o
pensamento, quando devidamente estimulado, ocorre naturalmente, de maneira espontânea. Assim como
acontece quando uma ideia vem à mente e cria conexões com outros conhecimentos e experiências pré-
vias.

Quando se fala de pensamento divergente, se faz uma clara contraposição ao tradicional pensa-
mento linear. Enquanto o último prioriza o encadeamento lógico e sequencial, o primeiro defende a flui-
dez e a espontaneidade da criatividade. Antigamente, acreditava-se que uma criança inteligente era ape-
nas aquela que tirava boas notas na escola. Ou que se adaptava rigorosamente aos padrões de comporta-
mento e raciocínio lógico. No entanto, especialistas em pensamento divergente em crianças conseguiram
observar que a inteligência se manifesta de diferentes maneiras. Cada pessoa expressa e desenvolve seu
potencial de uma forma única. O problema é que nem sempre as estruturas familiares e institucionais
tradicionais dão espaço a outras formas de inteligência. Isso faz com que as crianças não sejam devida-
mente estimuladas e inibam a sensibilidade por não se sentirem pertencentes.

Diferentemente do pensamento divergente, convergente é a capacidade de encon trar respostas

únicas, racionais e estabelecidas para um problema. Ele não se concentra em possibilidades ou criativi-

dade, mas em alcançar a solução mais adequada de maneira rápida, lógica e precisa, usando todas as

informações possíveis para isso. O pensamento divergente nas crianças consiste em um processo que

estimula a elaboração de ideias criativas. Para isso, propõe a exploração e a experimentação de vários
contextos e problemas para criar diferentes soluções.

Por outro lado, o pensamento convergente também está intimamente relacionado ao conhecimento

existente, pois a maneira de aplicá-lo está relacionada ao uso de dados de maneira padronizada. Assim,

ferramentas de pensamento crítico como probabilidades, informações lógicas e estatísticas são usadas
neste processo. O pensamento convergente, diferentemente de outros processos com os quais geralmente

está relacionado, baseia-se em encontrar a melhor resposta ou solução possível em uma determinada

20
situação. Para fazer isso, tente seguir um processo racional pelo qual você examina as diferentes alter-

nativas existentes e escolhe a mais útil a qualquer momento.

O pensamento convergente é uma das habilidades mais incentivadas no sistema educacional atual.

Devido à maneira como as informações são apresentadas às crianças e aos jovens e à maneira como elas

são examinadas, os alunos precisam aprender a tomar decisões concretas usando o pensamento e a lógica

críticos. A maioria dos aspetos de nossas vidas é muito complexa, com muitas variáveis que influenciam

seu desenvolvimento e um grande número de opções possíveis ao agir. Portanto, é essencial ter algum

tipo de ferramenta que nos ajude a escolher o que queremos fazer o tempo todo.

O desenvolvimento de boas habilidades de pensamento convergente pode nos ajudar precisamente

nisso. As pessoas que usam essa capacidade são capazes de agir com mais confiança e determinação,

pois examinaram o que farão e perceberam que é a melhor alternativa.

Quebrar regras, muitas vezes a criança não quer jogar porque não entende as regras e não sabe que
aquele momento será divertido. Assim, para ela uma atividade “com regras” pode soar como uma ordem
incômoda! É sempre legal mostrar para elas que os jogos, mesmo que tenham regras, são feitos para nos
divertir.

A dica é “quebrar” os jogos em diversas atividades e partes menores. Veja se tem todos os pré-
requisitos que precisa para sentar e jogar. Acostume a criança com cada uma das partes, desde o início da
atividade. Caso seja necessário, faça apenas uma fase do jogo durante uma semana inteira. Quando ele tiver
gostando, passe para a segunda fase e assim por diante.

É forma de expressão do real e do imaginário, ganha assim estatuto privilegiado na formação da criança
no que respeita ao desenvolvimento de parâmetros psico-motores e sócio afetivos. Não se sujeita a balizas
comportamentais demasiado rígidas, o que flexibiliza e facilita o mundo da fantasia sem esperar em troca
compensações, nem recear insucessos provocados por reforços positivos ou negativos e evitando aspetos
competitivos ou de mero treino de outro tipo de jogos.

Por exemplo a atividade de jogo dramático descrito não resulta de regras, não resulta da vontade de
produzir uma obra nem de nenhuma expressão estética determinada. Antes resulta da vontade da criança em
exprimir os seus sentimentos, emoções e interesses face a uma realidade que deseja viver e reviver através da
ação, bem como o desejo de compreensão de todo esse mundo.

Mas a criança, neste processo de jogo dramático, deseja comunicar com o outro o que sente. Para sua
afirmação e para exteriorização do Eu, tem necessidade que outro jogue também. A capacidade de a criança
pensar, em termos das operações mentais, lhe possibilita considerar regras sociais, e essa habilidade, por sua
vez, permite-lhe cooperar umas com as outras em muitos contextos, sem a presença de algum adulto que faça
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cumprir regras. O modo de pensar das crianças sobre as questões morais depende do domínio da moralidade
envolvido e do contexto em que as questões ocorrem.

Ainda que o envolvimento com jogos baseados em regras surgem da manifestação de operações
concretas no meio social, correspondendo a um decréscimo no egocentrismo, no surgimento da conservação
da amizade e no surgimento de outras habilidades cognitivas. Pode-se dizer que, quanto maior for o
desenvolvimento cognitivo das crianças mais estruturado pode ser o jogo e este, por sua vez, contribui
desenvolvendo também o pensamento. Piaget coloca que o envolvimento em jogos de regras também advém
de modelos da sociedade passados de uma geração à outra; jogos cuja estrutura de regras determinam o
comportamento da pessoa em circunstâncias sociais específicas.

Pensamento fora das estruturas: A construção das estruturas de inteligência da criança ocorre a partir
de um funcionamento interno que é desencadeado a partir da interação da mesma com o mundo que a cerca.
Esse funcionamento se dá por meio da assimilação ou incorporação de um elemento exterior (objeto,
acontecimento, etc.) em um esquema sensório-motor ou estrutura do sujeito e da acomodação, ou modificação,
de um esquema (ou estrutura) em função das particularidades ou resistência que o objeto oferece ao ser
assimilado.

Para que as crianças aprendam de uma forma mais significativa, desenvolvam as estratégias descritas
nas estruturas, sejam mais flexíveis e fundamentadas em suas decisões, então é necessário mostrar a elas como
fazer isso. As habilidades de raciocínio ou questionamento podem ser ensinadas por meio de modelagem, e
se essas habilidades forem praticamente suficientemente, elas se tornam parte de um “kit de ferramentas para
o pensamento” que ajuda as crianças a entender o mundo. Cada vez que você planejar uma unidade de trabalho
ou aula, considere cada uma das três áreas ilustradas a seguir e se assegure de levar em conta todas as áreas
que promoverão o pensamento.

O desenvolvimento das habilidades de pensamento se baseia em ser capaz de tornar o pensamento


visível. Para fazer isso, claramente será necessário ajudar as crianças a desenvolver uma linguagem que possa
ser usada para descrever o pensamento delas. Você pode desenvolver a linguagem por meio de modelagem,
de intervenção e orientação do debate e do incentivo à colaboração e à reflexão. Assim, você desenvolverá a
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metacognição de todos os alunos. Dê tempo e crie oportunidades para que as crianças façam isso. Construa
um tempo para o debate e a reflexão ao longo do dia, para que as crianças estejam frequentemente pensando
sobre seu pensamento.

Desenvolvimento da sensibilidade: a arte é importante na vida da criança, pois colabora para a


aquisição de novos saberes, para a compreensão do mundo ao seu redor e ainda para o desenvolvimento de
competências criativas, tais como, estéticas, físicas, técnicas e relacionais.

O jogo dramático surge assim como uma atividade própria e importantíssima na infância, pois
compreende dois pressupostos: a motivação e a possibilidade de um desenvolvimento global,
adquiridos/conquistados através das experiências vividas.

A expressão dramática é encarada como sendo um jogo visual e/ ou auditivo, visto ser por meio deste
que a criança, no decorrer da improvisação, participa utilizando o corpo e palavras, com a sua timidez,
sensibilidade, sonhos, medos, entre outros. A perceção estética induz à apreensão do conhecimento pela via da
sensibilidade, determina a apetência pela fruição das artes e do próprio saber, criando as condições propícias
à expressão das emoções, dos sentimentos e das ideias

A expressão dramática é assim de maior importância para a dinâmica de grupo, auxiliando o educador
no conhecimento das diferentes demostrações da personalidade da criança e permitindo assim, a esta, uma
melhor aquisição de conhecimentos e adaptação ao meio, proporcionando um meio de expressão da sua
fantasia, emotividade e sensibilidade.

Assim, considera-se os objetivos da educação artística o estímulo e desenvolvimento às diferentes


formas de comunicação e expressão artística, à imaginação criativa funcionando de forma integrada, tendo em
vista um desenvolvimento sensorial, motor e afetivo equilibrado, a promoção do conhecimento das diversas
linguagens artísticas, a educação da sensibilidade estética e capacidade crítica, o estímulo às práticas
individuais e em grupo, o estímulo à criatividade.

Estado de recetividade: O brincar é um comportamento naturalmente associado às crianças, é mesmo


esperado da parte destas que o façam. “Normalmente, a aceitação da brincadeira como parte da infância é
consequência de uma visão social de que brincar é uma atividade inata, inerente à natureza da criança. estado
de recetividade é aquele momento onde nenhum impulso interno em direção a alcançar acontece, e a permissão
de sentir a felicidade do preenchimento é vivenciado com totalidade.

Uma das componentes importantes na brincadeira relaciona-se com a criação de relações reais,
enquanto desenvolvem a imaginação, para tal estas criam as suas próprias regras da maneira que lhes for mais
conveniente. O desejo e estado de recetividade é um processo criativo interior, no qual vemos a realidade sob
uma luz nova e mais clara. Essa luz clara é a graça da verdade e do amor que nos torna livres e seguros. A
recetividade é um princípio feminino que permite às forças ativadoras percorrerem o seu caminho de direito
em direção à plenitude. Assim sendo, a brincadeira revela-se privilegiada para a aprendizagem, permitindo às

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crianças atingir níveis mais complexos devido às aprendizagens entre pares e situações imaginárias, bem como
na negociação de regras.

Adaptação e reação à mudança: As atividades dramáticas ensinam efetivamente a sair do


convencional, a pôr em desordem as ideias recebidas, as representações mentais habituais. Os processos de
mudança que permitem à criança uma libertação da realidade, do que é mais usual, do que é considerado
correto, do que é previsível. Para que se consiga sair de uma mente fechada ou coordenada por aquilo que nos
rodeia existem duas características bastante importantes, sendo elas: a criatividade e a imaginação. Os
processos dramáticos, através da criatividade e da imaginação, enriquecem a adaptação da criança, tornam as
brincadeiras mais alegres, o que sugere que exista um maior dinamismo e aumento do comportamento social
da criança. “As crianças já dispõem, na sua alma, de imaginação e memória (…) e extraem daí um maravilhoso
uso nos seus pequenos jogos e em todos os seus divertimentos: é por força delas que repetem aquilo que
ouviram dizer, que fazem de novo aquilo que viram fazer, que se entregam a todos os ofícios, já porque se
ocupam efetivamente em mil pequenas obras, já porque imitam os diversos artesões pelo movimento e pelo
gesto.

A construção do pensamento, quer num adulto quer numa criança, necessita de ser trabalhada e
explorada. Para tal, nada melhor do que incentivar a expressão dramática de modo que se utilize um
pensamento que permite ir mais além, que possibilita solucionar problemas de formas diferentes e arranjar
soluções que abram o caminho à evolução.

Originalidade: A expressão dramática estimula a criatividade face às ótimas oportunidades que


desenvolve, não só no que se refere à imaginação e imitação, mas também ao espírito estético, fantasia e tudo
o demais que permite o desenvolvimento da criança aos mais variados níveis, sendo este o valor fundamental
da expressão dramática. Revelando-se, deste modo, a criatividade um objetivo principal, pois capacita a
criança o desenvolvimento das suas capacidades expressivas.

A criança tem necessidades lúdicas. Não pode viver sem brincar. Brincar é a atividade mais seria e
mais importante da vida da criança desenvolvendo-se através do jogo a inteligência. Na interação com outras
crianças, em atividades de jogo simbólico, os diferentes parceiros tomam consciência das suas reações, do seu
poder sobre a realidade, criando situações de comunicação verbal e não verbal.

A criatividade e imaginação nos processos dramáticos, surge naturalmente nas crianças, basta que estas
tenham tempo para brincar que surge por si só vestígios de criatividade e imaginação. A imaginação da
criança, estimulada a inventar palavras, aplicará os seus instrumentos a todos os aspetos da experiência que
desafiarem a sua intervenção criativa e original.

Organização coerente: Com um pensamento definido é necessário proceder à prática, como tal, é o
educador que deve fazer o acompanhamento das crianças e das suas necessidades: dar a conhecer o mundo,
colocar ao seu dispor materiais, criar situações problemáticas para que encontrem soluções, proporcionar
atividades ligadas à expressão dramática e que possibilitem a utilização da criatividade e expressão dramática.
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Cabe ao educador organizar de forma coerente o ambiente educativo de forma a proporcionar o
desenvolvimento das crianças. É crucial motivá-las e encorajá-las a organizar e a preparar as suas próprias
aprendizagens, tornando-se mais autónomas e, por conseguinte, mais responsáveis. Quando se trabalha com
crianças tão pequenas, deve-se ter a preocupação de organizar e estruturar áreas com elas para que depois se
sintam confortáveis e entendam realmente onde se encontram. Quando o educador permanece a observar uma
criança a brincar, consegue descobrir que existem diversos fatores que estão a ser explorados, nomeadamente
fatores físicos, cognitivos e emocionais. Estes fatores constroem poderosos instrumentos de aprendizagem nas
crianças. Compete ao educador promover segurança, tranquilidade e estabelecer um bom relacionamento com
todas as crianças, pais e comunidade escolar a fim de proporcionar condições de bem-estar emocional e de
incentivo que encorajem a criança a agir, a explorar e a descobrir por si.

Remetendo-nos para o jogo de expressão dramática, este deverá ser encarado com intencionalidade
educativa, pois é um excelente meio de o educador conhecer e avaliar o desenvolvimento de cada criança. Por
estas razões, “o professor deve ser, ao mesmo tempo, elemento interno e externo do jogo, deve ser ao mesmo
tempo inspirador, animador e crítico.

Em momentos de expressão dramática, o educador deverá desenvolver, promover, aproveitar e


proporcionar momentos ricos de jogo. Poderá participar, caso as crianças o permitam, dando sugestões que
ampliem as propostas das crianças, criando novas situações de comunicação, novos “papéis” e a sua
caracterização. Logo, os jogos de expressão dramática não têm de ser unicamente explorados pelas crianças,
onde o educador desempenha a função de mero orientador e facultado de ideias e recursos/materiais. Este
pode colaborar no desencadear do jogo assumindo uma personagem, interagindo com todas as crianças.

A ação desencadeada pelo educador no jogo de expressão dramática pode possibilitar a criação de
dramatizações mais complexas que implicam um encadeamento de ações, em que as crianças desempenham
diferentes papéis, como por exemplo, a dramatização de histórias conhecidas ou inventadas que constituem
ocasiões de desenvolvimento da imaginação e da sua linguagem verbal e não-verbal.

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2. Expressão dramática e desenvolvimento integral da criança

"O Homem não é completo senão quando joga" (Schiller)

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Numa época em que as crianças crescem a interagir umas com as outras através de aparelhos digitais
é de suma importância uma atividade como a Expressão Dramática, na medida em que permite às crianças
trabalhar a expressão das emoções, sentimentos, ideias e pensamentos. É também uma ferramenta
extraordinária para a prática individual e coletiva da comunicação interpessoal. Além disso potência o
conhecimento do corpo e da voz, desenvolve a memória, a capacidade de observação e a imaginação. Tudo
isto significa estabelecer uma relação com o mundo e com os seres humanos. Por isto a Expressão Dramática
adquire um valor educativo importante já que permite desenvolver globalmente um conjunto de atitudes,
procedimentos e conceitos interdisciplinares que ajudam a criança a tomar consciência da realidade que o
envolve.
Piaget advogou uma prática pedagógica e educacional construtivista e libertadora, na qual a criança
constrói o conhecimento a partir da sua relação e na experiência realizada com o meio, através da observação,
manipulação e interação com os objetos, pessoas e com o mundo que edifica, à medida que elabora as suas
hipóteses e constrói o seu conhecimento sobre tudo o que a rodeia. Quando a criança sustenta as suas hipóteses,
cria algo no seu mundo interior, que vai modificar em maior ou menor grau a estrutura já existente.
Na experiência artística a criança conhece e constrói-se enquanto um ser integral, face a um mundo
repleto de significados e valores, com o qual se relaciona por meio de todos os seus sentidos, sentimentos e
razão.
Piaget defende que o ensino deve centrar-se na atividade da criança, em que esta deve agir e envolver-
se ativamente nas várias experiências com que se defronta, para que a partir de um processo de construção
possa realizar aprendizagens significativas e estimular o seu envolvimento nos processos de descoberta, com
base na sua espontaneidade e motivação, provenientes de um desejo interior.
É essencial a realização de um trabalho pedagógico e educacional com atividades lúdicas, onde estão
presentes as áreas artísticas como a Expressão Dramática, para que possa contribuir de forma expressiva para
o desenvolvimento das habilidades mentais dos alunos, sobretudo subsidiar, através da relação corpo e
movimento, uma melhor qualidade de vida, bem como a fixação de aspetos importantes das áreas afetivo-
emocional e cognitiva em sala de aula.
A utilização das práticas artísticas promove o desenvolvimento dos processos psíquicos, dos
movimentos, contemplando o domínio do corpo e da linguagem, bem como a aprendizagem de conteúdos,
não só de áreas específicas, mas também das que satisfazem as situações vividas no quotidiano.
Quanto ao animador, cabe-lhe a organização dos espaços de modo a permitir a realização de atividades
que exijam mobilidade e expansão de movimentos. O mesmo deve ter em atenção o nível etário e as
capacidades dos seus alunos para selecionar e deixar à disposição materiais adequados e motivadores, de
forma a favorecer elementos que contribuam para a criatividade das crianças. Deve estar atento às alterações
que surgirão em função do grau de desenvolvimento da criança, tendo em conta o conhecimento das
características psicofísicas das crianças na idade em que se encontram, com vista a refletir sobre quais as
atividades que as mesmas podem desenvolver. Deve alimentar o imaginário das crianças, com vista a que as
atividades sejam mais enriquecedoras, enquanto se tornam mais complexas.
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As pesquisas de Piaget, no domínio da psicologia da criança, sugeriram um desenvolvimento
progressivo do conhecimento, através dos diferentes estádios, que denominou: sensório-motor, pré-operatório,
operações concretas e operações formais.
Os fundamentos da teoria de Piaget assentam na ideia de que:
• Cada estádio constitui uma sequência estável e definida no processo de crescimento;
•Quando uma criança atravessa uma destas etapas numa área do conhecimento, está, necessariamente,
no mesmo estádio nas outras áreas;
•A criança só alcança uma fase quando domina as operações lógicas da fase anterior, de modo que o
pensamento se desenvolva progressivamente rumo à complexidade e equilíbrio.
É através da Expressão Dramática que a criança começa a formar o seu carácter aprendendo, através
dos jogos do faz de conta, vivências que serão importantes para o seu desenvolvimento pessoal. Aprende a
gerir os seus medos, as suas emoções, a conhecer melhor o outro, podendo libertar-se da sua timidez, do
egocentrismo ou da agressividade em relação aos outros.

28
2.1. Expressão dramática e desenvolvimento cognitivo

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Desenvolvimento cognitivo, a expressão dramática, bem como o jogo dramático, como sendo uma
área que contribuiu fortemente para o desenvolvimento global da criança em idade pré-escolar, e centra-se no
processo de desenvolvimento cognitivo da criança.

A cognição refere-se a um conjunto de habilidades cerebrais/ mentais necessárias para a obtenção


de conhecimento sobre o mundo. Tais habilidades envolvem pensamento, raciocínio, abstração, linguagem,
memória, atenção, criatividade, capacidade de resolução de problemas, entre outras funções.

Objetivos:

Aumentar o vocabulário

Ser capaz de associar o objeto ao nome

Ter compreensão do mundo que a rodeia

Ter conhecimento verbal do seu corpo, objetos, alimentos, vestuário, brinquedos, animais, ações e noção de
espaço

Ter maior capacidade de atenção e de memória

Estratégias a utilizar:

Chamar cada criança e adulto pelo seu nome

Articular corretamente as palavras

Falar durante as brincadeiras

Estimular os gestos simples: palmas, adeus, etc.

Ser expressivo a falar

Cantar canções, histórias e lengalengas

Imitar sons

Repetir várias vezes perguntas simples

Incentivar a criança a brincar com jogos e fantoches

Um processo pelo qual os indivíduos adquirem conhecimento sobre o mundo ao longo da vida.

No jogo, a criança apropria-se daquilo que percebe da realidade, esta no jogo simbólico tende a
reproduzir as relações predominantes no seu meio ambiente e assimilar essa realidade. Esse jogo de faz-de-
conta possibilita à criança a realização de sonhos e fantasias, revela conflitos, medos e angústias, aliviando
tensões e frustrações.

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O jogo dramático existe, como uma forma de jogo simbólico, sempre que a criança empresta o seu
corpo e a sua voz a personagens do seu universo social ou do domínio fictício e que só com os outros representa
situações protagonizadas por essas personagens, estabelecendo então autênticos rituais representativos da
realidade ao de ficção. A partir de uma situação imaginária, por meio da atividade lúdica, a criança desenvolve
a iniciativa, expressa os seus desejos e interioriza as regras sociais. As regras têm valor porque são parte
integrante da sociedade e, naturalmente, a criança não se interroga sobre a sua origem.

Dá-se grande importância às regras nos jogos infantis, bem como à situação imaginária. Demonstra, à
semelhança de Piaget, que toda a situação imaginária envolve regras, mesmo que de uma forma oculta, e que
todo o jogo com regras contém igualmente, de uma forma oculta, uma situação imaginária. Da mesma forma
que uma situação imaginária tem de conter regras de comportamento, todo o jogo com regras contém uma
situação imaginária

O jogo dramático é uma prática que põe em ação o desenvolvimento da criança aferido na sua
totalidade, favorecendo, através de atividades lúdicas, o desenvolvimento de uma aprendizagem global
(cognitiva, afetiva, sensorial, motora e estética). Através dela incentiva-se a criação e a observação,
possibilitam-se variados meios de expressão, liberta-se sentimentos, desenvolve-se hábitos, atitudes e
habilidades; desenvolve-se a expressividade a partir da capacidade de imaginação, aprende-se a improvisar, a
usar a representação corporal, brincando, e através dela, incentiva-se a utilizar e a coordenar a atividade
motora.

A criança, neste processo de jogo dramático, deseja comunicar com o outro o que sente. Para a sua
afirmação e para exteriorização do Eu, tem necessidade que o outro jogue também. Sendo uma atividade de
carater espontâneo e coletiva, o ritmo de cada um deve ser respeitado, assim como a disponibilidade para
jogar, uma vez que uma das características do jogo é a recetividade e a fruição, no desempenho da atividade.

Não é apenas o carácter espontâneo do jogo que o torna uma atividade de vanguarda no
desenvolvimento da criança, mas sim o duplo jogo que existe entre exercitar no plano imaginativo capacidades
de planear, de imaginar situações, de representar papéis e situações quotidianas, e o carácter social das
situações lúdicas os seus conteúdos e a regra inerente à situação.

Compete ao educador enquanto promotor de experiências de aprendizagem planificar toda a ação


educativa, de forma a favorecer o desenvolvimento integral da criança nas diferentes áreas de conteúdo.

Estádio sensório-motor, esta etapa é caracterizada pela forma como a criança descobre o mundo através dos
sentidos e dos movimentos. As grandes conquistas deste período focam-se no desenvolvimento das
capacidades motoras e da permanência do objeto. A criança adquire a compreensão de que o mundo existe
independentemente de si e das suas ações: um objeto ou uma pessoa continuam a existir mesmo não estando
no seu campo de visão.

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Piaget, à semelhança de outros autores, defende que o desenvolvimento ocorre por estádios. Apesar de
considerarmos que estes estádios não são estanques e das inúmeras críticas (por exemplo, que o
desenvolvimento humano não termina aos 11 anos e deveria haver um estádio pós-formal que compreende a
idade adulta e a terceira idade), pode ser interessante saber a caracterização de cada um e essencialmente quais
os sinais de alerta que os pais devem estar atentos. Estádio em que a inteligência se adapta ao meio
essencialmente através de esquemas sensórios-motores (atividade preceptiva e atos motores). É o estádio da
inteligência prática. No início, as respostas do bebé são essencialmente reflexas, automáticas. A criança repete
ações não apreendidas em virtude do resultado satisfatório que as acompanha. Já não se trata de um ato
puramente reflexo. Progressivamente o comportamento vai-se tornando menos repetitivo e surge o
comportamento experimental: adaptação do comportamento a situações específicas de forma intencional e
mediante do método "ensaio e erro". Há, portanto, uma inteligência anterior ao pensamento e à linguagem, a
inteligência prática, baseada nas consequências das ações.

A grande aquisição do estádio sensório-motor é o conceito de objeto permanente ou de permanência


do objeto, sinal da emergência da capacidade de representação simbólica. A inteligência prática dá lugar à
inteligência representativa (interiorização simbólica das ações, isto é, capacidade de resolver mentalmente
problemas e de usar a linguagem), iniciando-se o estádio pré-operatório.

Estádio pré-operatório, (2 aos 7 anos) Nesta etapa, a criança já não está limitada unicamente ao seu meio
sensorial. Ocorre um grande desenvolvimento da sua linguagem e do pensamento simbólico, no qual a criança
começa a ter a capacidade de pensar sobre aquilo que não está presente, construindo imagens mentais de
objetos e acontecimentos. É uma etapa marcadamente egocêntrica, na qual a criança dirige toda a atenção para
si. É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de substituir um objeto ou acontecimento por uma
representação. Esta substituição é possível graças à função simbólica. A criança já não depende unicamente
de suas sensações, dos seus movimentos, distinguindo uma imagem, palavra ou símbolo daquilo que ele
significa (o objeto ausente). Este estádio é também muito conhecido como o estágio da Inteligência
Simbólica. Divide-se em duas etapas:

1. O pensamento pré conceptual - imagens mentais sem conceitos. Nesta fase (dos 2 aos 4 anos) o
pensamento é dominado pela imaginação e pela fantasia.

2. O pensamento intuitivo - centrado na perceção e não na imaginação, logo é menos egocêntrico, mas
pouco flexível, preso aos acontecimentos particulares, às impressões sensíveis (dos 4 aos 7 anos)

Contudo, a atividade Sensório-motor não está esquecida ou abandonada, mas refinada e mais sofisticada,
pois verifica-se que ocorre uma crescente melhoria na sua aprendizagem, permitindo que a mesma explore
melhor o ambiente, fazendo uso de mais e mais sofisticados movimentos e perceções intuitivas.

A criança é egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar, abstratamente, no lugar do


outro, não aceita a ideia do acaso e tudo deve ter uma explicação, já pode agir por simulação, "como se",
possui perceção global sem discriminar detalhes e deixa-se levar pela aparência sem relacionar fatos. Podemos
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dizer que a criança e egocentrista da sua maneira ou seja, implica a ausência da necessidade, por parte da
criança, de explicar aquilo que diz, por ter certeza de estar a ser compreendida.

Os desejos, as motivações e todas as características conscientes, morais e afetivas são atribuídas às coisas
(animismo). A criança pensa, por exemplo, que o cão ladra porque está com saudades da mãe. Por outro lado,
para as crianças até os sete ou cinco anos de idade, os processos psicológicos internos têm realidade física, ou
seja, os pensamentos estão na boca ou os sonhos estão no quarto. Dessa confusão entre o real e o irreal surge
a explicação artificial, segundo a qual, se as coisas existem é porque alguém as criou.

Do ponto de vista do juízo moral observa-se que, a princípio, a moral é totalmente heterónoma, passando
a autônoma na medida em que a criança começa a sair do seu egocentrismo e compreender a necessidade da
justiça equânime e da responsabilidade individual e coletiva, independentes da autoridade ou da sanção
imposta.

Estádio das operações concretas: (7 aos 12 anos) – Nesta etapa, o pensamento torna-se menos egocêntrico
e é substituído pelo pensamento operatório. A criança começa a ter capacidade de ver o mundo através da
perspetiva do outro e o seu pensamento torna-se mais racional e lógico. Contudo, a criança só consegue pensar
corretamente sobre eventos concretos, ou seja, que ocorram no presente imediato e que possam ser observados.
Para Piaget é neste estádio que se reorganiza verdadeiramente o pensamento. É a partir do estádio anterior que
as crianças começam a ver o mundo com mais realismo, deixam de confundir o real com a fantasia.

Para compreendermos qual o aspeto fundamental do período que estamos a analisar, voltamos a referir a
experiência dos copos de água. Se no estádio anterior a criança não conseguia perceber que a quantidade era
a mesma independentemente do formato do copo, neste estádio elas já percebem que a quantidade (volume)
do líquido é a mesma, pois já compreendem a noção de volume, bem como peso, espaço, tempo, classificação
e operações numéricas.

- Espaço - organiza-se pela organização diferenciada dos vários espaços. A criança vai conhecendo os vários
espaços nos quais interage, organizando-os. Também aqui está presente a reversibilidade do real, onde o
conceito de espaço está relacionado com o conceito de operação. O espaço isolado por si só não existe.

- Tempo - não há reversibilidade do real, o tempo existe apenas no nosso pensamento, os acontecimentos
sucedem-se num determinado espaço, e o tempo vai agrupando-os.

- Peso - para que a criança domine este conceito é fundamental que compare diversos objetivos para os poder
diferenciar.

- Classificação - primeiro a criança tem que agrupar os objetos pela sua classe e tamanho, depois os classificar
e consequentemente adquirir conceitos.

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- Operações numéricas - primeiro a criança aprende o conceito de número e seriação, por volta dos sete anos,
depois a classificação da realidade, mas essa classificação vai variando conforme a aprendizagem que ela vai
fazendo ao longo do tempo.

Apesar de neste estádio a criança já conseguir efetuar operações corretamente, precisa ainda de estar em
contacto com a realidade, por isso o seu pensamento é descritivo e intuitivo /parte do particular para o geral).
Ao longo deste período já não tem dificuldade em distinguir o mundo real da fantasia. A criança já interiorizou
algumas regras sociais e morais e, por isso, as cumpre deliberadamente para se proteger. É nesta fase que a
criança começa a dar grande valor ao grupo de pares, por exemplo, começa a gostar de sair com os amigos,
adquirindo valores tais como a amizade, companheirismo, partilha, etc., começando a aparecer os líderes.

Estádio das operações formais: (a partir dos 12 anos) – A partir dos 12 anos, ocorre o desenvolvimento
completo do pensamento lógico, formal e abstrato. Surge a capacidade de pensar sobre situações hipotéticas
e de elaborar conceitos éticos como a liberdade e a justiça. É, nesta fase, que as estruturas cognitivas da criança
atingem o seu nível de desenvolvimento mais elevado.

A transição para o estádio das operações formais é bastante evidente dadas as notáveis diferenças que surgem
nas características do pensamento. É no estádio operatório formal que a criança realiza raciocínios abstratos,
não recorrendo ao contacto com a realidade. Deixa o domínio do concreto para passar às representações
abstratas e é nesta fase que desenvolve a sua própria identidade, podendo haver, neste período problemas
existenciais e dúvidas entre o certo e o errado. A criança manifesta outros interesses e ideais que defende
segundo os seus próprios valores e naquilo que acredita.

O adolescente pensa e formula hipóteses e estas capacidades vão lhe permitir definir conceitos e
valores como por exemplo estudar determinada disciplina. A adolescência é caracterizada por aspetos de
egocentrismo cognitivo, pois o adolescente possui a capacidade de resolver os problemas que por vezes
surgem á sua volta.

34
3. Expressão dramática - função simbólica

O Homem é considerado um ser social. Todo o conhecimento de que o Homem carece para sua
sobrevivência e desenvolvimento são adquiridos por interação e comunicação com outros Homens na
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sociedade. A Sociedade e a cultura encontram-se em cada indivíduo e por consequência, o indivíduo está
integrado na organização social. O indivíduo estabelece os limites no contato com os outros, numa contínua
interação intra e intergrupal. A esta interação, dá-se o nome de Socialização.

Piaget (1997) estabelece fases para o desenvolvimento e diz que todo mundo tem condições iguais para
aprender. Diz que a criança assimila no jogo o que percebe da realidade e que o jogo não é determinante nas
modificações das estruturas. Fala do jogo simbólico. Para este autor, o símbolo não é nada mais do que um
meio de agregar o real aos desejos e interesses da criança.

Desta forma, podemos dizer que a expressão dramática ajuda a criança no seu processo de
desenvolvimento, ampliando a sua expressividade, criatividade, tomada de consciência de valores e o seu
relacionamento social. A expressão dramática também é relevante na organização de um grupo porque a
criança brinca, joga, está em comunicação com outras crianças e adultos, tem liberdade de expressão, criação
e fantasia.

A Expressão Dramática como atividade corporal pode ser considerada como veículo na integração de
pessoas, pode ser até mesmo, considerada uma forma de autodescoberta e de melhoria da autoestima. Pode
ser também, considerada como uma terapia que permite ultrapassar os problemas de relacionamento,
depressão ou ansiedade, que a criança possa ter. Esta atividade permite à criança, explorar os seus sentimentos,
entrar em relação com o meio, desenvolver as relações interpessoais. Portanto, é na relação com os outros que
a criança manifesta diferentes reações, sejam elas, de insegurança, alegria ou angústia.

Há, pois, expressão dramática sempre que alguém se exprime pelo gesto e /ou palavra, para os outros.
Além da vivência social imaginária, a expressão dramática assim, como o jogo dramático, oferece uma
oportunidade de socialização”

A área de expressão e comunicação engloba as aprendizagens relacionadas com o desenvolvimento


psicomotor e simbólico que determinam a compreensão e o progressivo domínio de diferentes formas de
linguagem. Tendo em conta que enveredámos pela expressão dramática, mais especificamente, pelo jogo
dramático, como estratégia para o desenvolvimento de experiências e aprendizagens significativas das
crianças, optamos em primeiro lugar por clarificar alguns conceitos, visto que vulgarmente se utilizam
diversos temas tais como expressão dramática, jogo dramático, jogo simbólico, dramatização e teatro como
se se tratasse da mesma atividade. Deste modo julgámos importante clarificar os conceitos por nós abordados
do desenrolar desta dissertação: expressão dramática/jogo dramático.

Imitação diferida, é a imitação de objetos e eventos que já ocorreram. Na imitação diferida o processo
cognitivo de acomodação prevalece sobre o de assimilação, portanto sem a representação a imitação não seria
possível. Os esquemas já devem estar formados e a criança está incumbida de ajustá-los para efetuar a
imitação.

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Através de imitações, de mímicas, de jogos dramáticos e de outras dramatizações, a criança poderá
obter modelos válidos e efetuar vivências das mais diversas formas de relacionamento social. Na sua prática,
a expressão dramática poderá atuar no desenvolvimento social da criança através do senso social, da
autonomia e do senso moral. Esta, é uma área que pode ser trabalhada de diferentes formas, através de jogos
dramáticos tais como: jogos de imitação, jogos de mímica, dramatizações de histórias conhecidas ou
inventadas, representações com fantoches, entre outras.

A imitação diferida é outro marco da aquisição simbólica. Esta possibilidade se efetiva quando a
criança consegue transformar um objeto em outro, ou mesmo quando um gesto ou palavras sustentam um fato
ausente. Na consolidação da formação do símbolo, o brincar simbólico desliga-se do contexto imediato e
origina situações que não dependem da presença de objetos a ela relacionados. A imitação envolve a
capacidade de uma criança de copiar as ações de adultos e colegas. Com isso, elas aprendem a realizar ações
com objetos, a fazer gestos e movimentos corporais como bater palmas ou acenar e também a se comunicar.

A capacidade de simbolizar surge então através de gestos, palavras ou objetos não presentes que a
criança. À medida em que a capacidade representativa insere-se na vida da criança, provoca mudanças em seu
comportamento. A brincadeira simbólica tem, portanto, participação relevante para o desenvolvimento da
linguagem.

A imitação diferida é a repetição de um comportamento atrasado em um momento posterior do que


quando realmente ocorreu. Este fenômeno foi descrito pela primeira vez pelo psicólogo Jean Piaget que
observou que essa capacidade surgiu em crianças com idades entre 18 e 24 meses. Bebês e crianças muito
jovens são incapazes de manter memórias de comportamentos e recuperá-las mais tarde. Crianças,
eventualmente, desenvolvem a capacidade de representar mentalmente o comportamento em sua mente e
repeti-lo. Um exemplo de imitação diferida seria uma criança imitando seus pais ao cozinhar o jantar,
jogando com panelas e fingindo cozinhar. Outro exemplo seria uma criança que observa uma outra criança na
pré-escola fazendo birra e repete o comportamento com seus pais mais tarde

A aprendizagem por imitação é a primeira maneira que as crianças têm de conhecer e reproduzir
comportamentos humanos. A aprendizagem por imitação é o primeiro e mais antigo modelo
de aprendizagem de todas as espécies. Tanto os animais quanto os humanos aprendem os aspetos mais básicos
dessa maneira.

O jogo simbólico: Nas atividades de expressão dramática a criança descobre-se a si mesma e descobre
formas de se relacionar com os outros; o que implica aprender a lidar com situações sociais. O jogo simbólico
é, assim, uma atividade muito importante. O "fazer-de-conta" permite vivenciar experiências. Segundo Piaget
(1978), devido à função simbólica, a criança, a partir do segundo ano de vida, passa a contar com a
possibilidade de representar por meio de símbolos e o faz através de condutas que vão surgindo mais ou menos
ao mesmo tempo, como a imitação diferida, imagem mental, jogo simbólico, linguagem e desenho, como dito
anteriormente.
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A função simbólica consiste na capacidade que a criança adquire de diferenciar significantes e
significados. Por meio de suas manifestações, a criança torna-se capaz de representar um significado (objeto,
acontecimento) através de um significante diferenciado e apropriado para essa representação (Piaget, 1975).
Dessa forma, a criança de dois a sete anos, aproximadamente, passa a contar com a possibilidade de representar
as ações, as situações e os fatos da vida dela, ao manifestá-las por meio da construção da imagem mental,
imitação diferida, jogo simbólico, linguagem e desenho (condutas de representação).
A criança imita e reinventa tudo o que observa no mundo real, para posteriormente o representar.
Ao jogar simbolicamente ou imaginar e imitar, a criança cria um mundo em que não existem sanções, coações,
normas e regras, provenientes do mundo dos adultos, o que possibilita a ela transformar a realidade com o
objetivo de atender as suas necessidades e desejos. Evidencia-se, assim, a importância da função simbólica
como um meio que permite à criança expressar seus desejos, conflitos, etc. e adaptar-se gradativamente ao
meio em que vive.
Ao inserir-se no jogo simbólico, a criança representa situações de sua vida por meio das
brincadeiras. Brincar serve como um meio de comunicação para a criança, um simbolismo pode substituir as
palavras, uma vez que a criança experiência na vida muita coisa que ainda é incapaz de expressar verbalmente
e, desse modo, utiliza a brincadeira para formular e assimilar o que experimenta.
A criança no jogo simbólico desenvolve as suas capacidades de raciocínio e consegue representar
simbolicamente as suas ações e aperfeiçoar, também, as suas aptidões motoras. A criança quando imita o pai
ou a mãe está a representar o modelo que observou.
O faz-de-conta é uma atividade lúdica em que a criança terá de invocar imagens e símbolos que
previamente observou, usando a sua imaginação para representar. Por vezes, a criança transpõe para a fantasia
coisas do real, como emoções boas ou más. É assim, através das representações que a criança compreende e
reorganiza as suas ações. Quando a criança desenvolve o seu jogo simbólico com comportamentos e papéis,
esta projeta atividades de adultos, evidencia determinadas atitudes, valores, hábitos e situações da vida real,
assimilando-as de forma pessoal.
O desenho: O ato de desenhar tem grande importância no desenvolvimento infantil, pois é uma forma
de as crianças se expressarem e de soltarem a imaginação. O desenho é a primeira escrita da criança. A criança
desenha para experimentar, comunicar e poder registar a sua fala: Para melhor conhecer a criança é preciso
aprender a vê-la. Observá-la enquanto brinca: O brilho dos olhos, a mudança de expressão do rosto, a
movimentação do corpo. Estar atento à maneira como desenha o seu espaço, aprender a ler a maneira como
escreve a sua história.

O desenho é um processo criativo articulado principalmente por meio da sensibilidade. Toda criança
nasce com determinado potencial de sensibilidade que é a sua porta de entrada das sensações que as liga
imediatamente ao que acontece em seu redor e gradativamente faz com que essas sensações se tornem em
imaginação criadora e produtiva, ou seja, capacidade de inventar e de criar figuras e formas. O principal fator
que influencia a criatividade e o desenvolvimento da criança é o meio social. Pode-se citar como exemplo os
valores cultivados pela família, a personalidade dos que a integram e as características do meio.
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Além de ser uma atividade divertida, desenhar é uma forma de se comunicar, sendo muito importante
para o desenvolvimento das crianças, já que quando desenha ela cria pontes entre o mundo imaginário e o
real. Pelo desenho, as crianças expressam sentimentos, vontades e ideias que muitas vezes elas não conseguem
expressar pela linguagem oral ou escrita, principalmente se ainda são muito pequenas.

O ato de desenhar é comum a todas as crianças. Geralmente essa prática vem por imitação dos adultos,
quando elas observam os pais ou irmãos escrevendo ou desenhando. No início, a relação das crianças com o
desenho acontece pelo simples prazer de executar o movimento e de produzir traços em uma superfície, ocupar
espaços vazios.

As crianças iniciam seus desenhos entre os 18 e 24 meses e essas primeiras manifestações produzidas
por elas são conhecidas como garatujas. São traços, inicialmente, desordenados e que os adultos não
conseguem entender, embora para elas tenham um significado. Com o tempo as garatujas vão evoluindo,
sendo possível compreender suas intenções.

As garatujas provocam uma surpresa nas crianças, que se encantam com o movimento do lápis que
está em suas mãos e que vai deixando um sinal na folha branca. O ideal é oferecer papéis e lápis para elas ou
então ela se valerá de outras superfícies como móveis, paredes e até o próprio corpo para satisfazer esta
vontade.

Emocional: Através dos desenhos, as crianças podem extravasar suas emoções como a alegria, tristeza,
medo, angústia, inseguranças e até mesmo sentimentos que elas ainda não entendem ou não sabem expressar.
À medida que cresce, ela cria outros mecanismos para expor suas emoções, porém, quando muito pequenas,
o desenho é uma ferramenta de reações emocionais, já que ainda não podem se expressar pela oralidade ou
pela escrita.

Cognitivo: As crianças, ao criar imagens do mundo real e projetá-las em um desenho, expressam seu
conhecimento sobre o mundo que a cerca e, nesse sentido, é possível observar através de suas produções o
seu desenvolvimento cognitivo. As estruturas cognitivas são resultado da interação com seu meio e varia de
criança para criança.

Psicomotor: Desenhar favorece as habilidades motoras, pois à medida que vai criando os traços a
criança tem controle sobre seus movimentos e desenvolve também noção espacial. Aos poucos a criança
consegue manipular lápis ou pincéis de forma firme e precisa, além de desenvolver linhas e traços mais
definidos.

Social: Em seus desenhos a criança retrata sua experimentação no mundo, suas relações pessoais, seu
contexto sociocultural. Ao desenhar, ela estreita seu conhecimento de que é um sujeito social, com direitos e
deveres e começa a entender os acontecimentos da sua vida e o que acontece à sua volta.

É muito importante que os pais estimulem seus filhos e que eles tenham espaço e materiais para o
desenho, já que esta é uma importante ferramenta para o desenvolvimento também da
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criatividade, curiosidade e imaginação. A representação de objetos através do desenho. A acomodação
prevalece no ato de desenhar. As crianças desenham o que elas imaginam e não o que elas veem.

O desenho traz para as crianças grandes benefícios, ele não só é de fundamental importância para sua
capacidade criativa como ajuda no seu desenvolvimento cognitivo e emocional, interfere positivamente na sua
aprendizagem, no seu processo social, colaborando ainda para que a criança tenha uma boa saúde mental.
Através do desenho a criança mostra o momento vivido, nele ela expressa suas emoções, sensações e
perceções. Pelo desenho a criança revela coisas que se passam no seu íntimo e que ainda não é capaz de revelar
pela fala. O desenho aparece na vida de uma criança muito antes de ingressar na escola, pois mesmo antes de
começar a vida escolar é possível que já tenha tido contato com desenhos de irmãos e parentes, ao entrar na
escola esses desenhos sofrem modificações.

Toda a criança desenha. Tendo um instrumento que deixe uma marca: a varinha na areia, a pedra na
terra, o caco de tijolo no cimento, o carvão nos muros e calçadas, o lápis, o pincel com tinta no papel, a criança
brincando vai deixando sua marca, criando jogos, contando histórias. Desenhando cria em torno de si um
espaço de jogo, silencioso e concentrado ou ruidoso seguido de comentários e canções, mas sempre um espaço
de criação. A criança desenha para brincar.

A imagem mental: A representação gráfica, a imagem mental e a construção de conceitos estão


diretamente ligados, pois a imagem é uma forma de representação interiorizada de objetos e acontecimentos
que podem ser reproduzidos e reconstruídos. A imagem mental permite lembrar da representação de um objeto
ou acontecimento que não está presente no momento e, portanto, amplia o pensamento para além do espaço e
do tempo presentes. Ela é uma forma de linguagem interna que se expressa por meio de um símbolo do objeto,
mas que está sendo permanentemente reconstruído.

Segundo Piaget (1975), devido à função simbólica, a criança, a partir do segundo ano de vida, passa a
contar com a possibilidade de representar por meio de símbolos e o faz através de condutas que vão surgindo,
mais ou menos ao mesmo tempo, como a imitação diferida, imagem mental, jogo simbólico, linguagem e
desenho. Assim, nesse período, encontra-se uma inteligência constituída por um pensamento que passa a ser
representado por meio da linguagem (signos coletivos) e símbolos individuais (imitação diferida, imagem
mental e jogo simbólico).

A Expressão Dramática é um recurso inestimável que a criança mobiliza para o conhecimento do


mundo que a envolve, uma vez que ela aprende para e pela ação. É pela ação e pela experiência que a criança
faz as suas aprendizagens concetuais e cognitivas. É com diversas personagens, nas atividades dramáticas
básicas que a criança expressa, livre e espontaneamente, a realização mental de uma fantasia do seu mundo
interior, numa conexão lúdica que a conduz a ser, aqui e agora, com os outros. A abordagem de situações reais
de jogo dramático possibilita à criança experimentar, manipular, agir e, por isso, passar do pensamento ao ato
e do ato ao pensamento, de forma a inspirar-se nas suas vivências. As situações vividas no jogo dramático

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privilegiam a ação e o real, e possibilitam à criança obter o sentido da realidade, aumentar o conhecimento
objetivo e subjetivo, imaginar e praticar a espontaneidade.

Entre os 7 e os 12 anos emerge da exercitação das atividades que compõem a função simbólica (a
linguagem, o jogo simbólico, o desenho, a imitação diferida e as “raízes” da imagem mental) de forma
interligada e a sua própria evolução permitem preparar a criança para esta nova fase do seu desenvolvimento
lógico. Este estádio combina com o início da escolarização, trazendo consigo importantes mudanças de ordem
mental, afetiva e social. A criança torna-se mais sociável, jogando em grupo, cooperando com os outros e
começando a distinguir o seu próprio ponto de vista do dos outros. Começa a revelar um comportamento de
introspeção, uma vez que a sua reflexão a obriga a debater-se consigo mesma. Demonstra capacidade para
resolver problemas concretos de maneira lógica, conseguindo construir esquemas de compreensão da
reversibilidade e da lei de conservação e desenvolve a capacidade para classificar e realizar seriações.

Linguagem: É por meio da linguagem que o homem comunica, embora esta caraterística não lhe seja
exclusiva. A comunicação verbal é uma das formas de comunicação (também utiliza a escrita, o gesto e o
desenho, entre outras) utilizada pelo homem nas relações que estabelece com os outros. É por meio da
linguagem que o homem transmite, recebe e transforma mensagens. Embora a aquisição da língua oral se
processe de forma natural e espontânea, o mesmo não acontece com a linguagem escrita.

O desenvolvimento da linguagem processa-se em duas fases: o período pré-linguístico; e o período


linguístico. Por sua vez, o período linguístico subdivide-se em outras duas fases: desenvolvimento precoce,
que ocorre entre o primeiro e o sexto ano de vida; e o desenvolvimento tardio que corresponde à aprendizagem
da linguagem escrita. A linguagem é uma forma de comportamento que os seres humanos utilizam entre si,
para comunicarem as necessidades, ideias e emoções. A linguagem não serve só para comunicar, é também o
suporte do pensamento.

A linguagem adquire-se no contacto com o outro e desenvolve-se ao longo da vida. Mas essa
linguagem pode e dever ser estimulada. Desse modo, o jardim de infância tem um papel decisivo nessa
estimulação. O jogo é algo sério para a criança e por meio dele muitas aprendizagens são realizadas. A
linguagem é fundamental para a comunicação e pode ser desenvolvida por meio do vocabulário, da
compreensão e do conto de histórias.

Compete ao educador de infância criar condições favoráveis ao contacto com a linguagem escrita e
com práticas de leitura diversificadas, permitindo, deste modo, que a criança adquira o gosto pela leitura. Mas
para que a criança se sinta motivada e implicada no ato de ler é fundamental que desenvolva o seu projeto
pessoal de leitor, ou seja, que dê sentido à aprendizagem da leitura e da escrita. Cada criança deve identificar
porque quer aprender a ler e a escrever.

Neste contexto, o jogo tem uma intencionalidade educativa, além de entreter. Ao jogar, a criança
desenvolve a criatividade, aprende a aceitar e a respeitar as diferenças dos outros, a trabalhar e a partilhar em
grupo, exercita as suas habilidades, estimula a curiosidade, favorece a linguagem, permite a autoconfiança e
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a criação de um mundo utópico. Em suma, é uma excelente ferramenta pedagógica. Porém o jogo não é
exclusivo da criança, em virtude de o adulto também jogar. Através do jogo o educador de infância pode
estimular a aprendizagem e o desenvolvimento da criança. O jogo pode tornar mais significativas as
aprendizagens, desde que deem prazer à criança e sejam utilizados convenientemente. No passado o jogo só
era utilizado como brincadeira na escola e no seu exterior, como prazer.

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4. Expressão corporal

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Centros de expressividade corporal: As Atividades Rítmicas e Expressivas permitem-nos vivenciar uma
linguagem motora diversificada e ajuda-nos a desenvolver novas perceções da nossa imagem corporal; São
atividades que usam a música, ritmo, cadência musical e explora as diferentes expressões corporais, tais como:
criatividade, ritmo, expressão corporal, sociabilização, flexibilidade, reação interpessoal, noções corporais,
espontaneidade, responsabilidade, cidadania, expressão e comunicação, entre outros aspetos.

As atividades rítmicas e expressivas contribuem para o desenvolvimento harmonioso do aluno na medida


em que estimulam a sua imaginação, atenção, coordenação de movimentos, educação estática, enquanto lhe
permitem conhecer melhor o seu corpo, usando-o como meio de comunicação. O movimento humano
apresenta três características singulares:

1. Plasticidade.
2. Expressão.
3. Ritmo.
Plasticidade: A possibilidade de realizar uma grande diversidade de movimentos, tais como posturas,
equilíbrios, saltos, voltas, passos, deslocamentos, etc., utilizando as técnicas corporais básicas – correr, saltar,
puxar e empurrar, rolar, trepar, parar e arrancar, mudar de direção, traduz o caráter plástico do movimento.
Podemos dizer que, tal como existe um vocabulário que permite escrever, há também um vocabulário corporal
que possibilita a realização, em sequência, de movimentos variados.

Expressão: À possibilidade de realizar grande número de movimentos, junta-se a capacidade expressiva do


corpo, isto é, podemos mostrar, através do movimento, os nosso sentimentos e ideias. Por isso se diz que o
corpo fala

Ritmo: Os movimentos corporais podem ser realizados, seguindo o ritmo marcado pela voz, pelo batimento
das mãos ou pés, por instrumentos de percussão ou pela música. Com efeito, o som constitui-se como um
estímulo significativo a que o corpo responde com naturalidade.

Nas atividades expressivas, o movimento da totalidade do corpo ou apenas de algumas partes, está
relacionado com diversas componentes espaciais, entre as quais se destacam:

➢ O espaço próprio ou pessoal é aquele que rodeia o próprio corpo e cujos limites são definidos pela
máxima amplitude alcançada pelas várias partes do corpo, nomeadamente membros superiores e
inferiores.
➢ O espaço geral refere-se a todo o espaço disponível que se encontra para além do espaço próprio e é
partilhado por todos os outros elementos do grupo. Ao movimentar-se no espaço geral, cada aluno
transporta consigo o seu espaço próprio.
➢ Direções: as dimensões espaciais (altura, comprimento e largura), em que o movimento decorre
permitem que a criança se movimente em três direções, cada uma delas com dois sentidos:

Para cima e para baixo.

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Para a frente e para trás.

Para a direita e para a esquerda.

Um salto para a frente, para trás ou para o lado é um exemplo de combinação simultânea de uma ou
mais direções.
➢ Trajetórias: são os percursos que o corpo realiza no espaço, quer em contacto com o solo, quer fora
dele (trajetória aérea). Todas as trajetórias são compostas por linhas retas ou curvas ou resultam da
combinação destas. Por exemplo, uma trajetória em ziguezague é uma combinação de linhas retas com
mudança de direção. Quer em apoio ou em trajetória aérea, podem ser realizados movimentos de
rotação em torno de um eixo, para ambos os lados, envolvendo um quarto de volta, meia-volta, três
quartos de volta ou volta completa.

O movimento pode decorrer em trajetórias no solo, através da locomoção, e em trajetórias aéreas quando
o corpo se move no espaço sem apoio.

Corpo como um todo e uma segmentação: No mundo da criança, as experiências de movimento, definem
seu caráter e sua personalidade. Estão presentes em cada gesto. em cada operação de sua corporeidade, como
um manifesto que transita ininterruptamente entre o ato e o pensamento. A criança que brinca sente-se bela
tanto quanto sente brincando, pois, suas escolhas são independentes dos outros, suas intenções são voltadas
por uma necessidade de fazer alguma coisa. seus gestos são indefinidos.

Nesse campo de tensões as experiências não possuem pré conceções e sim conceções absolutamente
intencionais, ou seja, cada experiência já consta de um conceito justo e não um pré-conceito estabelecido por
alguma autoridade ou força alheia. Não há mistério algum nessa reflexão sobre o universo infantil da
brincadeira e da beleza. É preciso considerar que o interesse imediato de todo ser humano com o mundo se
instala, antes de tudo, pela experiência subjetiva de estar sempre representado no mundo vivido.

Não há mistério algum nessa reflexão sobre o universo infantil da brincadeira e da beleza. É preciso
considerar que o interesse imediato de todo ser humano com o mundo se instala, antes de tudo, pela experiência
subjetiva de estar sempre representado no mundo vivido. Essa representação invisível, tanto ao nível da
fantasia quanto ao nível das operações concretas, mostra um corpo como extensão do mundo.

No verdadeiro sentido da representação, todo ser é artista e todo ato faz sentido. Eis uma noção de
subjetividade corporal, quando se manifesta nos códigos do gesto humano, o jogo humano da palavra com as
coisas. Talvez seja a partir desse princípio que a observação nos indica a crer que toda criança brinca porque
já conhece e sabe dizer para si mesma sua brincadeira, assim ela joga porque conhece a imagem do jogo.

Quando nasce, para a criança tudo é novo e com os jogos pode começar a conhecer o seu ambiente e
os objetos que a rodeiam. Ao fazer jogos de movimento com os objetos que encontra e como seu próprio
corpo, começa a apreender as suas primeiras sensações percetivas, a controlar os seus movimentos e a
desenvolver a atenção e concentração.
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A partir dos 3 anos, começa a fase da fantasia e imaginação em que tentam imitar tudo o que veem,
típico desta fase chamada “jogo simbólico”. É aqui que desenvolvem a sua capacidade cognitiva, ou seja, a
capacidade de criar representações de coisas na sua mente que não existem presencialmente.

Neste contexto, trabalhar a expressão corporal constitui mais um passo no conhecimento do próprio
corpo e no desenvolvimento da coordenação de movimentos. O fato da criança aprender a comunicar e a
expressar-se através da linguagem corporal dá uma nova dimensão às suas capacidades corporais, permitindo
aprofundar a descoberta do funcionamento do corpo ao mesmo tempo que possibilitam à criança a
dramatização de situações como forma de transmitir o que pensa, sente ou quer.

Coordenação visual e áudio-motora: a linguagem corporal é sem dúvida um dos meios de


comunicação que pode e deve ser envolvido no processo de ensino-aprendizagem das crianças. Por isso, é
fundamental que se mostre diversos meios para elas se expressarem na classe que não apenas pela linguagem
da fala. Não é segredo que as crianças pequenas amam se movimentar. Elas vivem e demonstram seus estados
afetivos com o corpo inteiro: se estão alegres, naturalmente pulam, correm e brincam ruidosamente. Se estão
tímidas ou tristes, encolhem-se; sua expressão corporal é reveladora do que sentem.

Não é à toa que a linguagem corporal exerce um papel essencial no processo ensino-aprendizado. Toda
criança busca experiências em seu próprio corpo ao formar conceitos e organizar o esquema corporal. Ela
organiza aos poucos o seu mundo a partir do seu próprio corpo. A abordagem da psicomotricidade, por
exemplo, permitirá a compreensão da forma como a criança toma consciência do seu corpo e das suas
possibilidades de se expressar por meio desse corpo, localizando-se no tempo e no espaço.

Uma vez dirigida corretamente, essas atividades irão proporcionar a aprendizagem das crianças em
várias atividades esportivas. Estas atividades ajudam na conservação da saúde física, mental e no equilíbrio
sócio afetivo. O movimento é uma forma de linguagem que comunica estados, sensações e ideias. Em resumo:
o corpo fala. Para estimular o movimento de seu próprio corpo, levando em consideração a ideia, a cultura
corporal e os interesses da criança, é preciso organizar situações e atividades que estimulem suas funções
motoras, percetivas, afetivas e sócio motoras. Desta maneira, as crianças exploram o ambiente, passam por
experiências concretas e indispensáveis ao seu desenvolvimento intelectual. Além disso, se tornam capazes
de tomar consciência de si mesmas e do mundo que as cerca.

Respiração – desenvolvimento e exploração: Os exercícios de relaxamento cumprem a função de


ajudar a acalmar a mente nos momentos em que a criança se sente triste, nervosa, chateada ou com raiva.
Quando ela tem os recursos suficientes para estar em calma por si só, é capaz de encontrar soluções adequadas
aos problemas.

Exercícios de relaxamento para crianças: Deixo a recomendação de três técnicas de relaxamento e


respiração dirigidas às crianças. Para que possa realizá-la corretamente, busque fazer cada um deles junto a
ele. Tente ser constante para que se torne uma prática e não um simples exercício. É através da repetição diária
que a criança integra o exercício como uma ferramenta de uso para seu próprio bem-estar.
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Relaxamento – técnica e desenvolvimento: As técnicas de relaxação foram desenvolvidas com o
objetivo de induzir a resposta de relaxamento, ou seja, a ativação do sistema nervoso parassimpático. Durante
a resposta de relaxação existem diversas alterações como a redução da pressão arterial, da frequência cardíaca,
da frequência respiratória, do tónus muscular e do metabolismo, promovendo uma sensação de bem-estar.

As técnicas de relaxação têm vindo a ser amplamente aplicadas em diversas áreas do desenvolvimento
(e.g., competências sócias emocionais, competências cognitivas), diferentes faixas etárias (e.g. infância, fase
adulta), bem como em diferentes contextos (e.g. escolas, hospitais, locais de trabalho).

Existem diversas técnicas de relaxação que podem ser utilizadas num programa de intervenção, sendo
neste tópico analisadas as técnicas de base como a Relaxação Muscular Progressiva e o Treino Autógeno,
assim como o Mindfulness, os Exercícios de Respiração, a Imaginação Guiada, a Relaxação Ativo-Passiva de
Henri Wintrebert, a Concentração e Relaxação para crianças de Jacques Choque, Relaxação terapêutica para
crianças de Jean Bérgès. Estas são técnicas que encontramos na revisão da literatura desenvolvida.

Possibilidades expressivas sem e com deslocação no espaço: No caso das crianças de zero a três
anos, essas atividades giram em torno de:

• Explorar diferentes posturas corporais, como: Sentar-se em diferentes inclinações. Deitar-se em


diferentes posições. Ficar ereto apoiado na planta dos pés com e sem ajuda etc.

• Ampliar progressivamente a destreza para deslocar-se no espaço por meio da possibilidade constante
de realizar diversas atividades. Arrastar-se, engatinhar, rolar, andar, correr, saltar etc.

• Aperfeiçoar os gestos relacionados com a preensão, o encaixe, o traçado no desenho, o lançamento


etc. Isto pode ser feito por meio da experimentação e utilização de suas habilidades manuais em
diversas situações cotidianas.

Já entre as crianças de quatro a seis anos, recomenda-se situações que envolvam:

• Participação em brincadeiras e jogos que envolvam correr, subir, descer, escorregar, pendurar-se,
movimentar-se, dançar. O objetivo é ampliar gradualmente o conhecimento e controle sobre o corpo e
o movimento.

• Utilizar recursos de deslocamento e das habilidades de força, velocidade, resistência e flexibilidade


nos jogos e brincadeiras dos quais participa.

• Valorizar suas conquistas corporais.

• Manipular materiais, objetos e brinquedos diversos para aperfeiçoamento de suas habilidades manuais.

A seguir, você confere sugestões de atividades que permitem que as crianças possam conhecer e
valorizar as possibilidades expressivas do próprio corpo na Educação Infantil.

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• Circuito com pneus: esse desafio impõe obstáculos, exige força e concentração das crianças para
vencer os circuitos.

• Túnel de tule: Os bebês gostam e precisam de desafios, e no túnel de tecido transparente eles
conseguem ver quem está na sala e sentem-se mais confiantes.

• Túnel ou passa-passa de papelão: arranje algumas caixas de papelão e forme um túnel ou passa-passa,
esta é uma alternativa a materiais caros e rendem movimentos inesperados dos pequenos.

• Espelho, espelho meu: muita gente reclama por não ter um espelho grande na sala para trabalhar
construção da identidade. Mas quem disse que só espelho grande funciona? Com criatividade, os
espelhos menores também ajudam na descoberta do próprio corpo.

• Exploração de texturas: móbiles de materiais diferentes estimulam a curiosidade dos pequenos.


Experimente trabalhar com barracas de lençol, cabanas de TNT ou improvisar um mosquiteiro na sala
com vários objetos colados nele como figuras de vários materiais e brinquedinhos.

• Vencendo obstáculos: objetos de formas variadas servem para os pequenos testarem o equilíbrio e
interagir com os amiguinhos da turma. Experimente usar pneus coloridos, minhocas de colchões,
garrafas pet pintadas ou com enchimento de papéis coloridos.

• Cantinho da Leitura: prateleiras na altura das crianças, de preferência com cantos


arredondados, facilitam o acesso aos livros.

Pantomima e mímica corporal: A pantomima envolve a transmissão de uma história apenas com
movimentos corporais. A mímica exagera movimentos e expressões faciais. O objetivo é retratar
características de personalidade e emoções para criar cenários verossímeis.

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5. Expressão vocal e verbal

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Corpo emissor sonoro: Antes de nascer, a criança já tem contacto com a música, dado que o ouvido
é um dos primeiros órgãos a ser desenvolvido. Habituado a ouvir os batimentos do coração da mãe, ainda
dentro do ventre materno, enquanto feto, a criança adaptar-se-á facilmente à exposição de variedades sonoras
do meio envolvente. É nesse sentido que se deve aproveitar essa sensibilidade da criança aos estímulos sonoros
desde cedo para orientá-la na vivência da música de uma forma expressiva e integrada.

Jogos dramáticos são jogos que permitem às crianças exteriorizar, pelo movimento e pela voz, os seus
sentimentos profundos e as suas observações pessoais. Eles têm por objetivo aumentar e guiar os seus desejos
e as suas possibilidades de expressão.

A mãe e a família, a educadora e o jardim de infância, o professor e a escola, o canto e o coral infantil
e o maestro, são os elementos que atuam sobre o desenvolvimento moral, intelectual, social, físico e artístico,
musical e vocal consciente ou inconsciente da criança mediante um trabalho educativo. Quase todas as
crianças de todas as raças emitem os primeiros gritos mais ou menos à altura da nota lá. Pelos seus próprios
meios, a criança encontra, desde as primeiras semanas de vida, certas formas de expressão vocal. Assim como
por exemplo: grita de cólera, de fome, de sede, de aborrecimento.

A Expressão Dramática é sem dúvida uma prática que põe todo o corpo em funcionamento. Através
da expressão dramática, corporal, vocal e verbal pode-se trabalhar uma grande diversidade de conteúdos, de
forma diferente, lúdica e muito enriquecedora. A expressão dramática, corporal, vocal e verbal favorece o
desenvolvimento cognitivo, afetivo, sensorial, motor e estético. É, portanto, um recurso fundamental para a
aprendizagem e utilização da criatividade.

Tendo como premissa que o corpo é o instrumento principal da comunicação, importa conhecê-lo,
dominá-lo e expressá-lo. Neste sentido concorre a área de Expressão Dramática, que pelo seu carácter flexível
e abrangente e, pela catadupa de atividades de cariz lúdico-didático que encerra, facilita e/ou promove a
socialização, a integração, a perceção sensorial, a intuição, a atividade motora, a criação, a recriação, a
comunicação e a expressão.

Silêncio e som: Desde a sua chegada ao mundo, a criança descobre o corpo e as suas possibilidades
de ação e de exploração e, progressivamente, adquire uma expressão corporal estruturada. Através de jogos
de imaginação, todos do agrado das crianças, deverão ser vivenciadas diferentes formas e atitudes corporais
assim como as maneiras pessoais de desenvolver um movimento (…). Para adquirir progressivamente o
domínio do espaço, a criança precisa de utilizar, adaptar e recriar (…). A utilização e a transformação
imaginária de um objeto são estímulos à capacidade de recriar ou inventar personagens e de desenvolver
situações.

Respiração e emissão sonora: A expressão plástica é essencialmente uma atitude pedagógica


diferente, não centrada na produção de obras de arte, mas na criança, no desenvolvimento das suas capacidades
e na satisfação das suas necessidades. As artes plásticas ao serviço da criança e não esta ao serviço das artes

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plásticas. A perceção auditiva refere-se essencialmente à apreensão de sons numa dimensão qualitativa que
ultrapassa a simples perceção sensorial.

A descoberta de ruídos e sons do meio envolvente é uma das atividades que melhor proporciona o desenvol-
vimento das capacidades de perceção auditiva:

Algumas descobertas:

Em casa:
- Sala de jantar: pratos, copos, garfos, terrinas, copos, garrafas, etc.;
- Cozinha: panelas, tachos, conchas, fogão, eletrodomésticos, etc.;
- Quarto: porta, janela, gavetas, cadeiras, guarda-fato, etc.;
- Pessoas em casa: passos, falas, etc.;
Na escola:
- Sala de aula: mesas, cadeiras, armários, chão, janelas, etc.;
- Corredor: passos, corridas, ressonâncias, portas, etc.;
- Pátio: vento nas árvores, passarinhos, baloiços, cancelas, etc.;

Na rua:
- Transportes: automóveis, autocarros, metro, elétricos, etc.;
- Pessoas: passos, conversas, etc.;

Outros:
- Mercado, gare de comboios, porto, jardim;
- Futebol, feira, festa, marchas populares, manifestações;
- Fábricas, construção civil.

Volume e projeção da voz: Em que interessa sobretudo a articulação dos sons, os aspetos neuropsicológicos
da fala, jogando-se expressivamente por isso com os diferentes sons que podem ser criados com a voz humana.

Exemplo de alguns jogos expressivo-criativos para a descoberta e exploração das possibilidades sonoras da
emissão vocal:

- Risos (ou tosse, ou espirros): invenção de diferentes formas (fortes, fracos, cavernosos, estridentes, sincopa-
dos, etc.).

- Trava-línguas: "o rato roeu a rolha da garrafa", "o otorrinolaringologista da escola politécnica", "um tigre,
dois tigres, três tigres", etc.

- Imitação de animais: um lobo uivando, um gato miando, cão a ladrar, leão a rugir, cigarras, grilos, etc.

- Sobrenatural: fantasmas, apelos mágicos, casas assombradas, feitiços, espíritos, deuses, bruxas, fadas, gno-
mos, cavernas, etc.

- Espaço: naves espaciais, comunicações rádio, sala de controle, satélites, estação espacial, guerra das estrelas,
etc.
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- Guerras: tiros de armas, tanques de guerra, aviões, bombardeamentos, antiaéreas, etc.

- Ruídos da floresta: imitação simultânea de diferentes ruídos de uma floresta, cada criança produzindo o seu
ruído: cigarras, vento, moscas, canto de aves, abelhas, etc.

- Sonorização de uma história (declamação de uma poesia, de uma canção): acompanhamento da história
produzindo vocalmente os respetivos ruídos de fundo (vento, relógio, badaladas de um sino, porta que range,
etc.).

Para além dos sons, interessa a forma de com eles produzir a melhor expressão. Interessa a entoação,
a ênfase, o sentido emocional (não “o que se diz” mas “o como se diz”). A voz é reveladora de todos os
estados emotivos (paixões, medos, iras, etc.) e sentimentais (amor, ternura, fobias, ódios, etc.), incluindo todos
os meandros do inconsciente e todas as facetas da personalidade. Não existem duas vozes iguais, tal como não
existem duas impressões digitais iguais nem duas personalidades iguais. A melodia (ritmos cujos sons têm
alturas diferentes) liga-se de modo muito particular à expressão dos sentimentos, pelo que os instrumentos
que melhor se ligam a este tipo de expressão são os que possuem características melódicas: xilofones, meta-
lofones, jogos de sinos, carrilhões, melódicas, flautas e instrumentos de cordas. A voz humana é, porém, o
melhor dos instrumentos melódicos.

Articulação e dicção: a criança gosta e necessita de movimento, de ação, de dinâmica e de fazer


experimentações, no quotidiano da sua vida imediata. Se não há algo em que pode experimentar, explorar,
apalpar, verificar, observar, ela procura todos os subterfúgios e aplica todos os seus esforços para se escapar.

Desde que nasce, a criança faz todas as suas aprendizagens e aquisições através da experimentação:
mete a chucha, os dedos e os brinquedos na boca, para experimentar os diferentes tatos e sabores; faz palrações
e gorjeios, para experimentar as suas capacidades sonoro-vocais; experimenta mexer, manusear, apalpar,
agitar, bater, torcer, etc., para explorar a natureza dos diferentes objetos; experimenta gatinhar, andar, dialogar,
etc. As grandes aquisições da sua vida não lhe são ensinadas, são adquiridas por si, através das suas
experimentações. Tudo o que a criança pode procurar e realizar por si própria, se lhe é fornecido pelos pais
ou professores, em vez de favorecê-la, está a prejudicá-la. O que obtém pelo seu esforço, através da própria
experiência, traz sempre um grande sentimento de realização e uma grande satisfação moral e afetiva. A
atenção, a concentração, a vontade, a persistência e a autodisciplina advêm se o esforço estiver aplicado a
atividades de experimentação prática e ativa, do interesse da criança.

O jogo espontâneo da criança, em que ela conta algo (acontecimento, história, etc.) utilizando os gestos
e a palavra. As crianças combinam entre si as linhas gerais do desenrolar da história, escolhem os papéis,
dedicando por vezes bastante tempo e atenção aos preparativos de roupas, acessórios e cenários, para um
desenrolar da ação, em alguns casos, extremamente breve. Há inteira liberdade quanto à fala, aos diálogos,
aos gestos e à movimentação.

A fala é uma forma de comunicação sonora. Uma pessoa tem uma ideia e para a transmitir a outra usa
sons, portanto comunica através da música. A fala faz parte, por isso, do mundo da música e não do mundo
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da escrita (representação gráfica, desenhada, dos sons da fala) nem do mundo da gramática (que também é
sobre o como se escreve e não sobre como se fala).

O instrumento da fala é o melhor e de maior qualidade de todos os instrumentos musicais: O complexo


fonológico constituído pelo ouvido, pulmões, cordas vocais, boca, língua e lábios (é errado chamar-
lhe “aparelho fonador”, pois que tal não existe, a boca pertence ao aparelho digestivo e os pulmões e cordas
vocais ao aparelho respiratório).

Educacionalmente, interessa-nos sobretudo o uso expressivo da fala, dada a importância da expressão


no equilíbrio da personalidade, podendo-se, no entanto, efetuar uma Expressão Verbal eminentemente lúdica,
criando situações práticas, representativas e didáticas.

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Bibliografia

Gauthier, H. (2000). Fazer teatro desde os cinco anos . Coimbra: Livraria minerva

Hohmann, M., & Weikart, D. P. (2009). Educar a Criança. Lisboa: Fundação Caloust Gulbenkian

Koudela, I. (2009). Jogos teatrais. São Paulo : Editora Perspetiva. Leenhardt, P. (1973).

Reis, R. (2003). Educação Pela Arte. Lisboa: Universidade Aberta.

Rodrigues, D. (2002). A Infância da Arte, a Arte da Infância. Lisboa: Edições Asa.

Sousa, A. (1972). A Educação pelo Movimento Expressivo. Lisboa: Básica Editora

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