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Pró-Reitoria Acadêmica

Escola de Saúde e Medicina


Curso de Psicologia
Trabalho de Conclusão de Curso

O mito do amor e a permanência das mulheres em


relacionamento abusivo: análise do filme 50 tons de cinza

Autora: Giovanna Asevedo Nolasco


Orientadora: Profa Dra. Raquel Ramos Ávila

Brasília - DF
2018
GIOVANNA ASEVEDO NOLASCO

O MITO DO AMOR E A PERMANÊNCIA DAS MULHERES EM


RELACIONAMENTO ABUSIVO: ANÁLISE DO FILME 50 TONS DE CINZA

Monografia apresentada ao curso de


graduação em Psicologia da
Universidade Católica de Brasília, como
requisito parcial para a obtenção do
Título de Bacharel em Psicologia
Orientadora: Dra. Raquel Ramos Ávila

Brasília
2018
Monografia de autoria de Giovanna Asevedo Nolasco, intitulada “O mito do amor e a
permanência das mulheres em relacionamento abusivo: análise do filme 50 tons de cinza”,
apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Psicologia da
Universidade Católica de Brasília em 3 de dezembro de 2018, defendida e aprovada pela
banca examinadora abaixo assinada:

Profa. Dra. Raquel Ramos Ávila


Orientadora
Psicologia – UCB

Profa. Ma. Ana Cristina de Alencar Bezerra Oliveira


Avaliadora
Psicologia - UCB

Brasília
2018
RESUMO

Referência: NOLASCO, Giovanna. O mito do amor e a permanência das mulheres em


relacionamento abusivo: análise do filme 50 tons de cinza. 2018. 33 folhas. Trabalho de
Conclusão de Curso (Psicologia) – Universidade Católica de Brasília, 2018.

O presente trabalho tem como objetivo analisar a narrativa do amor no filme “50 tons de
cinza” (2015), adotando como objeto de estudo a relação entre o relacionamento abusivo e o
mito do amor romântico. Este trabalho é de caráter qualitativo e investigativo. Foram
escolhidas 40 cenas do filme e, para cada uma delas, transcritos os diálogos entre dois
personagens principais: Anastásia e Cristian. Tais cenas foram analisadas de modo a se
identificar exemplos de amor romântico, relacionamento abusivo e da relação entre ambos. O
discurso do amor romântico se apresenta no filme como uma forma de dedicação total ao
outro, em que Anastásia se dedica a Cristian, abrindo mão de suas vontades e sacrificando
seus próprios desejo e já o aspecto abusivo do relacionamento é apresentado de forma sutil,
por meio do poder e controle que Cristian tem sobre Anastásia, por exemplo, como em cenas
em que ele controla com quais pessoas ela se relaciona. A relação abusiva que existe entre o
casal se torna um ciclo vicioso em que ela se entrega a ele, acreditando que o amor é capaz de
fazê-lo mudar, tornando-se assim submissa a ele e Cristian, que cada vez mais passa a ser o
dominador da relação e detentor de controle, fazendo com que Anastásia seja totalmente
refém. O filme selecionado é uma representação cultural que mostra como o discurso do amor
está difundido na sociedade ocidental e pode ser permeado por uma narrativa de submissão e
renúncias. O estudo acerca da temática do amor e do relacionamento abusivo, bem como da
relação entre eles, auxilia no entendimento de ideais de amor e discursos amorosos
compartilhados culturalmente e no impacto que eles têm no desenvolvimento de um
relacionamento, seja ele abusivo ou socialmente considerado saudável.

Palavras-chave: Relacionamento conjugal. Violência contra a mulher. Análise de filme.


Amor romântico.
ABSTRACT

The present work aims to analyze the narrative of love in the film "50 shades of gray" (2015),
adopting as object of study the relation between abusive relationship and the myth of romantic
love. This work is qualitative and investigative. Were selected forty scenes of the film, for
each of them, was transcribed the dialogues between two main characters: Anastasia and
Cristian. Was analyzed the scenes in order to identify examples of romantic love, abusive
relationship and the relation between them. The discourse of romantic love appears in the film
as a form of total dedication to the other, in which Anastasia dedicates herself to Cristian,
giving up her wills and sacrificing her own desire. The abusive aspect of the relationship is
subtly present, by the power and control that Cristian has over Anastasia, for example, as in
scenes in which he controls what kind of people she relates. The abusive relationship that
exists between the couple becomes a vicious cycle in which she surrenders to him, believing
that love is capable of making him change, thereby becoming submissive to him and
Christian, who increasingly becomes the dominator of the relationship and keeper of control,
making Anastasia totally dependent of him. The selected film is a cultural representation that
shows how the discourse of love is widespread in Western society and submission and
renunciations can permeate this narrative. The study of love and abusive relationship as well
as the relation between them helps to understand the ideals of love, culturally shared love
speeches and the impact they have on the development of a relationship, whether it is abusive
or socially considered healthy.

Keywords: Love relationship. Violence against women. Film analysis. Romantic Love.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente eu queria agradecer a Deus por ter sido meu refúgio nos momentos
difíceis e por ter me dado forças para superar minhas dificuldades, não só acadêmicas, mas ao
longo de toda a minha vida.

Agradeço a profa. Ma. Ana Cristina de Alencar Bezerra Oliveira que teve um papel
fundamental durante o curso, que me auxiliou na construção do pensamento crítico, da visão
que tenho de mundo e que teve grande influência na escolha da minha área de pesquisa.

Agradeço a minha orientadora profa. Dra. Raquel Ramos Ávila, que esteve comigo
durante todo o processo de elaboração desse trabalho. Agradeço pelas palavras de confiança,
pelo carinho, incentivo e pelo suporte no pouco tempo que lhe coube.

Agradeço a todos os professores que tiveram participação na minha formação


acadêmica, que me ofereceram momentos que vão além de conhecimentos.

Agradeço a minha família. Agradeço em princípio a minha mãe que sempre esteve ao
meu lado, me apoiando e me dando forças para continuar, que não me deixou desistir e que
sempre enfatizou o quanto eu sou capaz. Agradeço ao meu pai que sempre se orgulhou de
mim e da minha dedicação e que me ajudou de diversas maneiras a finalizar essa etapa da
minha vida e agradeço também a minha irmã que, apesar de nova, tem uma inteligência
excepcional e sempre escutou o que eu tinha para falar, estando sempre ao meu lado.

Agradeço a minha prima, Thais Asevedo, uma mulher incrível com quem tive as
melhores conversas e que sempre admirou meu trabalho, me incentivou e me ajudou nos
momentos que eu mais precisava. Agradeço também ao meu parceiro pra vida, que a cada dia
se orgulha da mulher que eu venho me tornando, por me mostrar o real do amor, por me
apoiar em cada decisão tomada, por sempre acreditar em mim e me mostrar o quanto sou
capaz.

E por fim, agradeço as minhas amigas Ana Tereza, Nathália e Thamara, Vanessa e
Alice que estiveram comigo desde o início do curso, me proporcionando momentos de
alegria, aprendizado e histórias inesquecíveis.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................... 2
2.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE O AMOR .......................................................................... 2
2.1.1. Pelos clássicos........................................................................................................... 2
2.1.2. Pelo cristianismo ...................................................................................................... 3
2.1.3. Amor Romântico ..................................................................................................... 3
2.1.4. O amor na cultura ocidental .................................................................................. 4
2.2. RELACIONAMENTO ABUSIVO ................................................................................ 5
2.2.1. Violência contra a mulher ...................................................................................... 5
2.2.2. Violência Doméstica e Familiar ............................................................................. 6
2.2.3. Lei Maria da Penha ................................................................................................. 7
2.2.4. Formas de violência ................................................................................................. 7
2.3 IDEAL DE AMOR E O RELACIONAMENTO ABUSIVO ........................................... 8
3. METODOLOGIA............................................................................................................... 10
3.1. OBJETO DE ANÁLISE ................................................................................................ 10
3.2. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ............................................................................. 11
4. RESULTADOS ................................................................................................................... 12
5. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 13
5.1. AMOR ROMÂNTICO .................................................................................................. 13
5.2. RELACIONAMENTO ABUSIVO ............................................................................... 14
5.3. AMOR ROMÂNTICO E RELACIONAMENTO ABUSIVO ...................................... 16
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 17
7. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 19
8. ANEXO I ............................................................................................................................. 21
1

1. INTRODUÇÃO
De acordo com a OMS (2017), 30% das mulheres, em todo o mundo, que estiveram
em alguma relação amorosa relatam ter sofrido algum tipo de violência física e/ou sexual por
parte de seu companheiro. A realização de pesquisas sobre a relação entre o relacionamento
abusivo e o mito do amor romântico se torna importante devido a um cenário de violência
doméstica que atravessa a realidade brasileira cotidianamente. E não raro encontram-se nessas
ocorrências a justificativa amorosa, como apontam Santos et. al (2014):
Ainda que muitos estudos já tenham apontado a relevância da violência doméstica, a
revisão da literatura demonstra algo que a mídia não enfatiza, o amor como algo
inseparável da cultura de cada época, podendo mudar de significado ao passo que a
cultura se transforme (p.107).

Alencar (2017) – ao traduzir o capítulo 1 do livro de “Shakespeare and the Nature of


Love” – aponta que a cultura influencia o amor, assim como faz com outros comportamentos.
Ela transforma, redireciona ou até mesmo inibe o que é considerado inadequado, para assim
levá-lo a sentir/agir de acordo com o que é desejável socialmente. Então afirma que:
É possível que uma abordagem cada vez mais individualista pela cultura ocidental
tenha hipercognizado muitos estados emocionais pessoais prazerosos à custa dos
ideais coletivos, e isso é especialmente provável quando se trata de amor. Estamos,
em média, mais propensos a enfatizar a importância de sermos "verdadeiros em
nossos sentimentos" e basear nossa escolha de parceiros no amor do que as pessoas
em outras culturas. (p. 121).

Ou seja, na cultura ocidental, é comum que a busca pelo parceiro “ideal” e por um
relacionamento perfeito seja baseado completamente no amor. E assim como é retratado por
May (2012), indivíduos criam expectativas relacionadas ao amor, e essas expectativas são
experimentadas com prazer, frustração, sucesso ou fracasso nas relações, ou seja, o ideal de
amor resulta em expectativas acerca de um relacionamento baseado em crenças e ideias que
parecem rondar o amor romântico. A hipótese do presente trabalho investigativo é de que esse
ideal de amor pode levar a um relacionamento não saudável e abusivo e a desconstrução dessa
idealização pode ajudar casais a estabelecer novas formas de relacionamentos amorosos.
A proposta deste trabalho é investigar a narrativa do amor no filme 50 tons de cinza,
relacionando-a a estudos científicos sobre o amor e relacionamento abusivo. Além disso,
pretende-se discutir associações entre amor romântico e relacionamento abusivo, a partir dos
comportamentos dos personagens, em especial Anastásia e Cristian.
2

2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE O AMOR
2.1.1. Pelos clássicos
O amor vem sendo discutido desde o período antes de Cristo, em diversos contextos e
por diversos filósofos e pensadores. De acordo com May (2012), podemos encontrar a retórica
do amor em Platão, Aristóteles, Agostinho e Tomás de Aquino e estes como fundadores do
amor ocidental. May (2012) retrata que o amor, antes de Platão, era visto como uma grande
força que, junto com a discórdia, governava o universo. Enquanto outros pensavam nele como
“uma força demoníaca que dominava tanto os deuses quanto os homens” (MAY, 2012, p.59).
“O Banquete de Platão foi o primeiro tratado filosófico sobre o amor” (PRETTO
MAHEIRE; TONELI, 2009, p. 396), e nesse tratado o amor deixa de ser algo apenas humano
e passa a ser considerado sagrado, pois o mesmo concebia o amor pelo corpo como sendo um
caminho para o paraíso, ou seja, para Platão o amor nos torna inteiros, nos faz sair do
superficial para algo valioso e é este processo que faz de nós melhor como pessoa.
No Banquete, Aristófanes narra o mito de que, há muitos anos atrás, o ser humano era
autossuficiente e possuía três sexos: homem, mulher e hermafrodita. Quando esses humanos
decidiram desafiar os deuses, estes pensaram se iria matá-los ou reprimi-los, porém, saberiam
que ao matá-los não teriam ninguém para os adorar, decidiram então cortar os seres humanos
pela metade e, de acordo com Aristófanes, nós, seres humanos, passamos toda a vida infelizes
em busca da metade perfeita, para assim, voltar a sermos completos. Ou seja, para Aristófanes
toda a busca pelo o amor vinha da busca pela sua metade, não importa quais qualidades ela
tenha ou quais seriam as consequências dessa busca.
Porém, outra questão é colocada por May (2012, p.12): “qual é o objetivo supremo do
amor? O Banquete sugere que há um: possuir beleza e bondade. ” Para Sócrates, vivemos em
uma busca pelo amor, porém, nessa busca estamos sempre atrás do que é belo e bondoso.
“Não podemos, ele sugere, amar genuinamente a nossa outra metade, ou alguma coisa em nós
mesmos ou o todo que nós dois formamos juntos a menos que a consideremos boa e bela”
(MAY, 2012, p. 68).
O banquete passa a ser um tratado “onde os caracteres do amor sexual são sublimados
e generalizados, transcendendo a existência humana e adquirindo um caráter sagrado,
extramundano e inato. Associado a categorias como o bem, a beleza e a sabedoria”
(PRETTO; MAHEIRE; TONELI, 2009, p. 396).
3

2.1.2. Pelo cristianismo


Pretto, Maheire e Toneli (2009) reforçam que, no cristianismo, o amor ganha força
como caráter sagrado e passa a ser considerado como um fim em si mesmo. Em culturas
formadas pela tradição cristã, May (2012) afirma que o amor genuíno tender a ser modelado
segundo certa imagem do amor divino, quer sejamos ou não cristão. Por exemplo, na Bíblia
evidencia-se o amor com o ato de entrega de Jesus como sacrifício. Desta forma, para
alcançarmos o amor de Deus é necessário se curvar-se a certas regras e “essa submissão é
uma autodoação obediente que se põe inteiramente à disposição do amado. Só assim uma
relação transformadora com Deus é possível” (MAY, 2012, p. 131). Então o amor no
cristianismo é incondicional, tudo suporta e releva, é sacrifício e dedicação e “a paixão, por
sua vez, deve ser superada e bem dirigida, constrangida através de normas e costumes. ”
(PETTRO; MAHEIRE; TONELI, 2009, p. 369).
Assim, o sacrifício e a submissão dão contorno às representações do amor nos países
cristianizados, que também foram influenciadas pelo Romantismo.
2.1.3. Amor Romântico
De acordo com Souza (2009, p.34), “foi com o amor cortês que o mito do amor
romântico começou a estruturar-se como um ideal, apresentando até mesmo um código que
deveria ser seguido pelos enamorados”. Para as autoras Silva e Timm (2017), esse amor
cortês era caracterizado como a sublimação do amor, ou seja, havia uma renúncia do objeto
amoroso, desde que existisse a promessa de que um dia você teria esse amor,
independentemente do tempo. Outra característica do amor cortês é a sublimação do próprio
objeto amoroso, o que significa que aquele sujeito-alvo da paixão e desejo, de sentimentos
profundos e intensos, é colocado em um pedestal sagrado, dizem as autoras. A decadência do
amor cortês então deu abertura para o amor romântico.
“A concepção de amor romântico teve a sua maior predominância a partir do final do
séc. XVIII” (MORAES, 2005, p.30). Pettro, Maheire e Toneli (2009) enfatizam que o amor
romântico surgiu para quebrar as normas e padrões impostos pelo cristianismo, pois envolve
sofrimentos, desejos não satisfeitos e renúncia carnal, para se alcançar felicidade. Esse amor
romântico teve seu surgimento na cultura ocidental e
Está ligado diretamente à ideia de “amor perfeito”, uma crença medieval de que o
amor verdadeiro entre um homem e uma mulher deve ser uma adoração extática.
Esse ideal amoroso leva à frustração quando o indivíduo percebe que a fantasia é
diferente da realidade do dia-a-dia. (SOUZA, 2007, p.16)

Isto é, o amor romântico é caraterizado como uma necessidade eterna de êxtase e


satisfação, onde o indivíduo deposita toda sua felicidade nesse amor, porém, é essa
4

necessidade de grande satisfação que leva a pessoa a ter também uma grande frustração já que
“o verdadeiro amor caracteriza-se por cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento”
(HERNANDEZ; OLIVEIRA, 2003, p.58-59). Para Pretto, Maheire e Toneli (2009) a crença
do amor romântico é de que, apesar de ser predominado por sofrimento, ele é recompensador
por ser sempre bom e justo.
Priori (2005) enfatiza que o amor não é um ideal, pois acompanha dependência,
rejeição, servidão e sacrifício - ou seja, para a autora há uma grande diferença entre o amor
que é falado e o amor que é vivido pelas pessoas, ou seja, existe um grande contraste entre o
discurso sobre o amor e a realidade vivida pelos que amam. A autora considera inviável
desejar um amor permanente, com percalços e desentendimentos, enquanto se banaliza a
sexualidade e se desencanta corações.
Esse amor, então, pode deixar de ser o algo bom e passar a ser um sofrimento porque,
assim como traz Johnson (2009, p.20), existe uma “exigência inconsciente de que o nosso
amante ou cônjuge nos alimente continuamente com esta sensação de êxtase e de emoção
intensa” que o amor romântico “deveria” nos proporcionar. Johnson (2009) enfatiza que o
amor romântico não é apenas amar, mas sim, “estar apaixonado” e esse “estar apaixonado”
vem acompanhado de crenças associadas à noção de paixão, com o caminho do verdadeiro
sentido da vida. Uma perspectiva que valoriza a completude por via da paixão.
2.1.4. O amor na cultura ocidental
Na sociedade ocidental, esse sentimento (o amor romântico) é muito valorizado e o
discurso que o circunda traz sempre a ideia de que “sem amor estamos amputados de nossa
melhor parte. ” (PIRES, 2009, p.84). Isso demonstra que, nessa cultura, o amor passa a ser um
objetivo de vida, um objeto de consumo.
O amor ao longo da história no ocidente e cronologicamente até a modernidade, é
construído como um ideal sublime, ansiado e esperado pelos sujeitos, dentro de uma
cultura que diz que a chegada do par amoroso e o início da construção da tão
sonhada vida íntima são realizações alcançáveis por todos, por ser considerada como
mais uma fase natural da vida, assim como nascer e crescer. (SILVA; TIMM, 2017,
p.27).

Ou seja, nesta cultura são estabelecidas formas de amar que criam ideais de amor que
precisam ser seguidos para se alcançar a felicidade. Silva e Timm (2017) chamam essas
“formas de amar” estabelecidas pela sociedade, de amor-norma, o qual se baseia na
idealização do (a) cônjuge e na expectativa de que seja exclusivo(a). Ambos podem contribuir
para ciúmes, preocupações com possível separação e perda. A construção do ideal romântico,
para as autoras, vem de características como: o amor para se alcançar a felicidade,
5

investimento na intimidade para a autorrealização e vida íntima como forma de realização


pessoal. Todo esse ideal passa a ser um mito e “na sociedade atual, mesmo ocorrendo um
domínio da ciência, é o mito que vai influenciar a vida amorosa do indivíduo. ” (SOUZA,
2007, p. 25).
2.2. RELACIONAMENTO ABUSIVO
2.2.1. Violência contra a mulher
A violência contra a mulher é um fenômeno social que transcende fronteiras, culturas,
raças, etnias, classes, religiões e indica que suas raízes se encontram na dominação masculina
e/ou no patriarcado, ou seja, na dominação sistêmica e histórica das mulheres pelos homens.
(CRUZ, 2016, p.2). Frisando que o patriarcado, de acordo com Delphy (2009, p.173),
“designa uma formação social em que os homens detêm o poder, ou ainda, mais
simplesmente, o poder é dos homens. Ele é, assim, quase sinônimo de “dominação
masculina” ou de opressão das mulheres”.
Cruz (2016, p.3) informa que as manifestações de violências sofrida pelas mulheres no
mundo “demonstram a relação entre a subordinação das mulheres e o domínio dos homens, na
violência praticada em inúmeros contextos históricos e regionais. ”
Como reforçam Santiago e Coelho (2007), a mulher durante o percurso histórico tinha
um papel de destaque em culturas matriarcais, porém, com o surgimento do patriarcado a
mulher teve que se posicionar no “lugar de resignada e devota ao marido (...) tornando-se
apenas o espelho do marido, que vê a sua imagem refletida na esposa e se submete aos
caprichos de um homem, numa relação do tipo “senhor e escravo” (SANTIAGO; COELHO,
2007, p.14). No decorrer da história, conforme salientam Carneiro e Fraga (2012, p.370), “a
mulher carregou o estigma de sujeito com potencialidades reduzidas frente à figura
masculina”. “Uma ordem social de tradição patriarcal por muito tempo “consentiu” num certo
padrão de violência contra mulheres, designando ao homem o papel “ativo” na relação social
e sexual entre os sexos” (DANTAS-BERGER; GIFFIN, 2005, p. 418). A mulher passa então
a depender do homem, por ela ser considerada frágil e necessitada de cuidados e por ele ser
considerado a fortaleza na qual ela se apoia e agradece por ser escolhida para receber esses
cuidados. Tais aspectos ainda permanecem cristalizados até os dias atuais e “refletem
diretamente no cenário da violência contra a mulher, baseado em relações patriarcais e
desproporcionalidade na convivência cotidiana e sexualidade” (CUNHA, 2014, p. 150).

A violência contra a mulher, de acordo com Cruz (2016), é uma forma de manter a
subordinação das mulheres aos homens. Ainda de acordo com a autora, a violência doméstica
6

e familiar é considerada uma das formas de violência de gênero e é onde tem a maior
incidência de casos.
2.2.2. Violência Doméstica e Familiar
A violência doméstica e familiar contra as mulheres é um caso de saúde pública no
Brasil, tratando-se de uma violação dos direitos humanos que, além de causar problemas
físicos e psicológicos, “diminui a qualidade de vida da mulher, sua capacidade produtiva, seu
trabalho, sua educação e autoestima” (SOUZA; ROS, 2006, p. 510). Segundo dados do
Datafolha1 divulgados no ano de 2017, 43% das mulheres em situação de violência sofrem
agressões diariamente; para 35%, a agressão é semanal e em média, a cada 11 minutos uma
mulher é estuprada em nosso país.
A violência doméstica e familiar está alicerçada em construções sociais, estereótipos
arraigados e ideias naturalizadas; “está ligada a condições interpessoais associadas às
desigualdades de gênero” (SOUZA; ROS, 2006, p. 510) que se apoiam em papéis de gênero
previamente definidos e estruturados pelo sistema patriarcal. Cunha (2014, p.151) caracteriza
a violência doméstica como “fenômeno essencial à desigualdade de gênero” ela não só é
produto social, como é fundante desta sociedade patriarcal, que se sustenta em relações de
dominação e submissão. ”

A partir da construção social da violência doméstica que está associada à desigualdade


de gênero, se torna necessário fazer uma análise histórica do conceito que “é uma categoria
criada para demonstrar que a grande maioria das diferenças entre os sexos são construídas
social e culturalmente a partir de papéis sociais diferenciados que, na ordem patriarcal, criam
polos de dominação e submissão. ” (CUNHA, 2014 p. 150) e que diferentemente do sexo
biológico, engloba questões culturais que foram construídas historicamente. O termo “gênero”
parece ter feito sua aparição inicial entre as feministas americanas, que queriam enfatizar o
caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no sexo (SCOTT, 1995, p. 72). De
acordo com a autora, essa palavra surgiu como uma rejeição ao determinismo biológico que é
encontrado na palavra “sexo”, e a noção de gênero

Como diferença sexual central para a crítica do protesto, a releitura das


representações culturais narrativas, o questionamento das teorias da subjetividade e
a textualidade, para a escrita, a leitura e para o caráter do espectador (LAURENTIS,
1989, p.7).

1
<Http://www.jb.com.br/pais/noticias/2017/11/08/pesquisa-mostra-que-violencia-domestica-contramulheres-
cresceu-no-ultimo-ano/> Acesso em 11 de abril de 2018.
7

A definição de gênero deixa de ser apenas um substituto para mulher e, como é


argumentado por Scott (1995, p.75) a utilização do termo passa a “enfatizar o fato de que o
mundo das mulheres faz parte do mundo dos homens, que ele é criado nesse e por esse mundo
masculino”.

2.2.3. Lei Maria da Penha


A Lei 11.340, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha, foi sancionada no
dia 7 de agosto de 2006, estabelecendo providências legais para a proteção da mulher vítima
de violência doméstica e familiar, considerando-se uma história de legitimação da violência
de gênero no Brasil. Configura-se como violência doméstica e familiar contra a mulher,
conforme previsto no Art. 5 da Lei Maria da Penha, qualquer ação ou omissão baseada no
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial nos âmbitos familiar, da unidade doméstica e em qualquer relação íntima de afeto.
Os tipos de violência são elencados no Art. 7: violência física, psicológica, sexual,
patrimonial e moral.
2.2.4. Formas de violência
Na Lei Maria da Penha, são consideradas formas de violência de acordo com o art. 7°:
“I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou
saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e
decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,
vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação,
ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo,
a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção,
subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos
8

pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer


suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,
difamação ou injúria.2”
É importante ressaltar que, de acordo com pesquisas do DataSenado (2015), agressões
físicas ainda são majoritárias entre as violências praticadas contra as mulheres,
correspondendo a 66%. E a pesquisa também registrou crescimento de 10 pontos percentuais
no índice de violências psicológicas, 48% este ano, contra 38% em 2013. Houve, no entanto,
redução na violência moral, de 39%, em 2013, para 31%. (COMPROMISSO E ATITUDE,
2016). Isso demonstra que não é apenas a violência física que é a predominante, mas a
psicológica também está muito presente na violência doméstica, e tipicamente antecede a
física, como alerta Hirigoyen (2006). Para a autora, nenhum homem vai espancar a mulher
sem motivo aparente, ele primeiro a aterroriza, e ela ressalta que a violência psicológica é a
que pode trazer mais desgastes para a mulher. A violência psicológica constitui um processo
que visa implantar ou manter um domínio sobre a parceira ou o parceiro, de modo que podem
se concretizar na forma de controle, isolamento, assédio, aviltamento, humilhações, ato de
intimidação, indiferenças a demandas afetivas e ameaças. Ressaltando que “as mulheres não
passam obrigatoriamente por todas as formas de violências descritas, mas é preciso que saiba
que todas elas estão interligadas” (HIRIGOYEN, 2006, p.43).
2.3 IDEAL DE AMOR E O RELACIONAMENTO ABUSIVO
De acordo com a Central de Atendimento à Mulher nos primeiros meses de 2015,
85,85% dos dados registrados correspondiam à situação de violência doméstica e familiar. Do
total de relatos, 51,06% referem-se a agressões físicas e 31,10%, à violência psicológica. Em
67,63% dos casos, as agressões foram cometidas por homens com quem as vítimas mantêm
ou mantiveram uma relação afetiva (COMPROMISSO E ATITUDE, 2016). Essa estatística,
de acordo com Silva e Timm (2017), pode ser explicada a partir de papeis socialmente
naturalizados que são empregados para homens e mulheres. Estas são identificadas com
fragilidade e dependência do par romântico, por exemplo. É na intimidade que ocorre o maior
índice de violência contra mulheres. Quando se coloca toda felicidade em um relacionamento,
o outro fica responsável pela sua satisfação e é mais provável que a pessoa se torne
dependente, refém.

2
BRASIL, Lei nº 11.340/06.
9

Com relação ao “ser mulher”, Minayo, Assis e Njaine (2011) ressaltam que
principalmente a mulher entende o amor como o destino, como se fosse obrigatório amar
alguém, seja esse “amar” algo feliz ou infeliz.
Bosch et.al (2007) retrata que um dos fatores que contribui para a permanência da mulher
em um relacionamento abusivo pode ser o modelo de amor presente em nossa cultura e os
mitos associados a ele. Os autores ainda ressaltam, que no caso da mulher, a crença no amor
romântico é mais intensa porque a necessidade de se relacionar e casar ronda toda a sua vida e
desde de criança, em nossa cultura, as mulheres são ensinadas a ter as qualidades necessárias
para ser esposa e mãe, qualidades como: saber seduzir, manter a atenção, saber agradar e
satisfazer um homem. Ainda para Bosch et.al (2013), o amor romântico, perpetuado na
cultura ocidental, significa para as mulheres uma renúncia de nós mesmas, um esquecimento
de quem somos e uma entrega que favorece a dependência e submissão ao homem. Pérez e
Fiol (2013) afirmam que no modelo tradicional, os papeis das mulheres em uma relação é de
subordinação e cuidado, e do homem de dominação e independência.
Junqueira e Melo (2010) em uma pesquisa de campo com jovens entre 15 e 18,
percebeu que em seus discursos, apesar deles falarem de amor e violência como termos
antagônicos, a maioria deles retratam que em nome do amor, tudo é válido como perdoar e
superar qualquer sofrimento. “E são as crenças relativas ao amor, ao ciúme e à relação
romântica que também podem contribuir para que a mulher negligencie as agressões
infligidas pelo companheiro” (BAPTISTA, 2012, p. 9). Hirigoyen (2006) afirma que nesse
tipo de relação a dominação e o ciúme são aceitos pela mulher como prova de amor e ela
acredita que se as coisas não estão bem, o poder do amor pode fazer o homem mudar. O amor
romântico (AR) e o relacionamento abusivo (RA), são esferas separadas, mas que podem ter
relação entre si (ver figura 1), por esses fatores, Junqueira e Melo (2010) falam sobre a
necessidade de estudar os aspectos que compõe o mito do amor romântico porque ele pode ser
o passo que vai levar a uma relação abusiva ou violenta.

Figura 1 – A relação entre AR (amor romântico) e RA (relacionamento abusivo).


10

3. METODOLOGIA
A metodologia de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) deve ser adequada ao
objetivo proposto, como traz Gil (1999, p.26) “pode ser definir o método como um caminho
para se chegar a determinado fim” considerando o método científico “como o conjunto de
procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento”. No presente
trabalho foi utilizada a metodologia uma pesquisa qualitativa fundamentada em revisão
bibliográfica, na qual investigou o mito do amor romântico e sua relação com os
relacionamentos abusivos. Com base na revisão, foi feita a análise da obra fílmica “50 tons de
cinza”, o primeiro filme que faz parte da trilogia “50 tons”.
De acordo com Neto (2012, p.103), “a interpretação dos fenômenos e a atribuição dos
significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa”. “A pesquisa qualitativa
compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e
decodificar os componentes de um sistema complexo de significados e tem por objetivo
traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social” (NETO, 2012, p.139).
O presente trabalho conta com uma pesquisa bibliográfica que “é desenvolvida a partir
de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL,
1999, p.65) com o objetivo de encontrar materiais que tivessem assuntos relacionados ao
amor romântico, relacionamento abusivo, violência doméstica e gênero.
3.1. OBJETO DE ANÁLISE
Como objeto de análise foi utilizado o filme “50 tons de cinza” - da trilogia “50 tons”,
uma adaptação dos livros escritos pela autora E.L. JAMES. O filme conta a história de
Anastásia Steele, uma jovem, estudante de literatura inglesa, romântica e simples, que vai
entrevistar um empresário chamado Christian Grey, no lugar de sua amiga Katherine. Ele, um
homem bem-sucedido, atraente, frio, arrogante e profundamente dominador, decide ter uma
relação com Anastásia, porém a “relação” que ele deseja ter com ela é diferente do que ela
esperava. Anastasia chocada e ao mesmo tempo seduzida por Cristian, hesita mas embarca
nesta relação com ele. Ele entrega a ela uma lista de exigências, um termo de
confidencialidade e um contrato que ela tem que seguir para poder permanecer na relação.
Apesar das diferenças existentes entre eles e dos desejos peculiares de Grey, Anastásia decide
dar uma chance porque acredita que é capaz de construir uma história de amor com o mesmo.
Durante todo o enredo, Christian tem atitudes controladoras, ele estipula regras de
relacionamento, invade a vida privada de Anastásia, tomando decisões em seu lugar e
definindo com quem ela deve ou não sair.
Fernandes e Siqueira (2006) dizem que:
11

O cinema pode ser entendido como um produto cultural gerador de significados e


entendimentos sobre o que é ou não aceitável em relação aos comportamentos e
papéis que o indivíduo assume na sociedade (...), podemos afirmar que essa
“pedagogia” tem regulado de forma importante questões referentes à classe social,
etnia, gênero e sexualidade (p. 102).

Ou seja, a escolha de fazer a análise de um filme se deu devido a influência cultural do


filme, sobre o entendimento do indivíduo. Já que “na época moderna, há a expansão e a
popularização da mídia, que se torna um importante canal de disseminação e de reforço de
formas de se portar e de se relacionar amorosamente” (MINAYO; ASSIS; NJAINE, 2011,
p.56). Além da influência cultural uma das escolhas do filme foi devido a interpretação que as
pessoas têm do mesmo, ao ver sites na internet ou revistas online com o título “porque
amamos Cristian Grey” ou “Porque amamos o filme 50 tons de cinza” é perceptível que essas
pessoas veem a história entre Anastásia e Cristian como romântica que conta uma história de
amor, porém, o filme retrata, também, uma outra forma de relacionamento. O próprio filme é
considero como sendo do gênero “romance”, o que representa valores de uma sociedade e, ao
mesmo tempo, pode influenciar a manutenção de tais valores acerca de formas de se
relacionar amorosamente. E assim como é escrito por Fernandes e Siqueira (2006, págs. 101-
102) a “mídia assumiu um caráter fundamental na sociedade contemporânea como sistema de
significação, mediando as relações entre o sujeito e a sociedade e exercendo, através de seus
discursos, determinados controles sobre certas questões sociais”, a mídia, então, passa a ter
um papel significativo na constituição da nossa subjetividade, já que é nas histórias do
cinema, o lugar onde buscamos inspiração.
3.2. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
Para a análise, foi utilizada a análise de conteúdo que “é um conjunto de técnicas de
análise das comunicações” (BARDIN, 1998, p.37). Ainda de acordo com Bardin (1998, p.36)
“a análise de conteúdo é um método muito empírico, dependendo do tipo de “fala” a que se
dedica e do tipo de interpretação que se pretende como objetivo”.
A partir do objeto de análise, foram escolhidas 40 cenas que representassem o tema em
questão. Foram transcritas tanto as cenas como um todo, quanto as falas de cada personagem,
a partir dessas cenas foi possível definir três categorias, a partir da categorização que “é uma
operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto de diferenciação e, em
seguida, por reagrupamento segundo gênero (analogia), com os critérios previamente
definidos” (BARDIN, 1998, p.147), ou seja, cenas que tiveram uma temática em comum a
partir do tema maior, foram agrupadas em uma categoria. A partir dessa classificação, foram
definidas as seguintes categorias: amor romântico, relacionamento abusivo e uma categoria
12

com a relação entre o amor romântico e o relacionamento abusivo. Devido ao grande número
de cenas transcritas e por grande parte delas terem sentidos semelhantes, foram escolhidas 10
cenas para representar essas categorias. Após a categorização, as categorias formadas foram
analisadas tendo como base o referencial teórico presente no projeto.
4. RESULTADOS
Para melhor contextualização das interações entre os personagens principais, foram
elaborados dois quadros de variáveis com informações que podem subsidiar uma análise mais
detalhada do filme. As variáveis são da história de vida (Quadro 1) tanto do Cristian Grey
como da Anastásia, e de fatores econômicos e sociais que parecem relevantes considerando-se
a interação do casal (Quadro 2).

Quadro 1 – Variáveis de história de vida dos personagens principais do filme “50 tons de cinza”

Cristian Grey Anastásia Steele


Cristian é adotado Pai morreu quando ela era bebê
Sua mãe biológica era viciada em Mãe está no quarto casamento
drogas
A mãe biológica apagava os cigarros no Considera o padrasto (do segundo casamento)
corpo de Cristian como um pai.
Tórax de Cristian tem até hoje as Acompanhava a mãe aonde ela ia com o marido
marcas do cigarro
Mãe de Cristian morreu de overdose Aos quinze anos foi viver com o padrasto porque
a mãe foi morar com o terceiro marido no Texas.

Quadro 2 – Variáveis econômicos e sociais do filme “50 tons de cinza”


Cristian Grey Anastásia Steele
Jovem bem-sucedido Jovem humilde
Branco dos olhos claros Estudante universitária
Dono de uma empresa multinacional Mora em um loft pequeno
Pais adotivos são ricos Não tem computador
Ele é milionário Carro simples
Elegante Pais com renda normal
“Bem-vestido” Virgem
Poder Não se preocupa com a aparência
Insegura

Foram transcritas 40 cenas do filme e, para fins de análise neste trabalho, selecionadas
dez cenas consideradas representativas dos padrões de interação entre o casal de personagens
principais. Isto é, cada uma delas ilustra interações que caracterizam o amor romântico, um
relacionamento abusivo e/ou a relação entre ambos (BOSH, 2007; PIRES, 2008; NEVES, 2017;
MAY, 2018; PRETTO, MAHEIRE, TONELI, 2009; HIRIGOYEN, 2006; SILVA, TIMM, 2017;
13

CUNHA, 2014; BAPTISTA, 2012; SOUZA, ROS, 2006; MINAYO, ASSIS, NJAINE, 2011). Estas
10 cenas foram descritas no Anexo 1 e são apresentadas de forma resumida no Quadro 3, no
qual também são categorizadas de acordo com os dois temas centrais deste trabalho.

Quadro 3 - Cenas do filme "50 tons de cinza “e a relação com a literatura sobre amor romântico (AR) e
relacionamento abusivo (RA).

CENAS AR RA
1. Cristian relata a Anastásia que eles não dormirão juntos.
Sacrifício + Poder
Mesmo desapontada, ela aceita.
2. Anastásia fala que é romântica, porém, Cristian diz não ser
nada romântico e que Anastásia irá aprender a aceitar suas Submissão + Poder
preferências peculiares.
3. Cristian fala para a Anastásia que gosta de ter controle sobre Controle
-
tudo a sua volta.
4. Cristian se define no contrato estabelecido com Anastásia como
Submissão + Poder e Dominação
dominador e ela como submissa.
5. Cristian aperta o rosto de Anastásia e grita “Você é minha!
Satisfação + Controle e Ciúme
Minha! ”, e Anastásia o beija intensamente.
6. Anastásia relata para sua mãe que vivencia mais momentos Satisfação e
-
bons do que ruins com Cristian. Felicidade
7. Cristian fica muito irritado quando descobre que Anastásia está
Posse e Ciúme
bêbada em um bar e vai buscá-la.
8. Cristian fala para Anastásia que ela sendo submissa e
Controle e
agradando-o, receberá como troca uma recompensa e essa Submissão
Dominação
recompensa é ele mesmo.
9. Quando Cristian vê que Anastásia está pensando em assinar o
contrato, ele diz que vai recompensá-la com uma gentileza: a Recompensa -
levando para jantar.
10. Cristian diz que só quer fazer Anastásia feliz e quando ela fala
que ele é romântico por isso, ele discorda e afirma não ser uma Evitar emoções -
pessoa romântica.

5. DISCUSSÃO
5.1. AMOR ROMÂNTICO
Ao falar do amor romântico no filme, identifica-se Anastásia como uma jovem
simples que se apaixona por um homem poderoso e misterioso, com desejos peculiares que
não condizem com o que ela deseja, e esse fato é percebido em uma cena em que ela pede
para eles dormirem juntos e ele relata que não dorme com ninguém e ela, apesar do semblante
de decepção, aceita. Ou seja, Anastásia não cobra nada em troca de Cristian, e aceita, apesar
de desapontada, realizar a vontade dele.
E isso é falado por Bosch et.al (2007) quando eles dizem que o papel da mulher no
amor romântico é de ter a total dedicação para a vida privada e para o cuidado com o parceiro
14

e esse fato é reafirmado por Pires (2009) que diz que em nossa cultura, os papeis de gênero
tem grande influência nos ideais de amor, que faz com que existam diferentes manifestações
de intimidade por parte do homem e da mulher. E para Neves (2017) as mulheres são
ensinadas a ser mais românticas dentro de um relacionamento e a ter uma postura mais
passiva, sendo “tachada como exemplos de proteção, carinho e ternura e frequentemente é
associada a imagens femininas uma ideia leve, suave, meiga, comportada, como o tipo ideal
de feminilidade” (PIRES, 2009, p. 93). E no filme o papel de amar incondicionalmente, de se
dedicar ao outro e de submissão é entregue a Anastásia que abre mão de vontades e desejos
para agradar a Cristian.
E o fato de sacrificar os próprios desejos a favor do amor, é uma característica do
amor cristão. May (2018) ao falar sobre a história do amor, retrata que o amor vem desde o
cristianismo e de acordo com algumas interpretações deste, para alcançarmos o amor de Deus
é necessário curvar-se a certas regras e “essa submissão é uma autodoação obediente que se
põe inteiramente à disposição do amado. Só assim uma relação transformadora com Deus é
possível” (MAY, 2012, p. 131). Assim, o sacrifício e a submissão dão contorno às
representações do amor nos países cristianizados.
Anastásia em diversos momentos não está satisfeita com a relação mantida com
Cristian. Uma das cenas em que eles passam uma noite juntos na casa dela, porém ele não
dorme com ela e vai para casa, ela fica decepcionada, porém, ela não desiste e continua
tentando manter uma relação com ele apesar do sofrimento. Pretto, Maheire e Toneli (2009)
trazem a questão da crença que a pessoa tem no amor romântico de que, apesar de ser
predominado por sofrimento, ele é recompensador porque em algum momento esse amor vai
ser bom para ela, fazendo com que ela invista na relação.
5.2. RELACIONAMENTO ABUSIVO
A representação do relacionamento abusivo que é encontrada no filme não é explícita,
acontece de forma sutil. Ela é demonstrada através do poder e controle que Cristian tem sobre
Anastácia, como em cenas em que ele controla com quem ela sai ou a forma como ela deve
agir, e quando ele não consegue controlá-la, ele fica nervoso e angustiado. E assim como
Hirigoyen (2006) retrata em seu livro, a violência conjugal começa com microviolências
como a possessão, o controle, o isolamento, a perseguição. No caso de Cristian, como
Anastásia não tinha condições financeiras de comprar por conta própria produtos como
aparelho celular moderno, carro próprio e computador pessoal, dentre outros, ele deu tudo
isso a ela, o que aparentemente pode ser interpretado apenas como um agrado. Porém, parece
ter uma função de controle na medida em que o uso de tais itens permite a ele saber rápida e
15

facilmente onde ela está. Ou seja, da perspectiva dela, tais itens são considerados meros
presentes, mas da perspectiva dele são recursos para continuar exercendo controle sobre ela,
ainda que de forma sutil. Outras formas de controle são percebidas nas atitudes de Cristian,
como o fato dele não gostar do contato dela com outros homens, fazendo ela se afastar de
certas amizades, quando ele controla onde ela vai e com quem ela vai ou até mesmo as vezes
que ele aparece nos lugares em que ela está de “surpresa”. Ou seja, apesar do Cristian não ser
violento fisicamente com Anastásia, durante toda a relação deles, ele tem atitudes
controladoras e ele mesmo fala para ela, na primeira vez que eles se encontram, que ele gosta
de controlar tudo a sua volta.
Toda a relação de Cristian e Anastásia é permeada pelo poder e dominação que
Cristian tem sobre ela. O contrato que Cristian entrega para Anastásia a descreve como
“submissa”, e ele como “dominador”, ou seja, ela terá que fazer todas as vontades dele e se
entregar para que ele a domine. E a violência doméstica parte dessas desigualdades de gênero
em que “as diferenças entre os sexos são construídas social e culturalmente a partir de papéis
sociais diferenciados que, na ordem patriarcal, criam polos de dominação e submissão. ”
(CUNHA, 2014 p. 150).
Apesar deste contrato ter um caráter sexual, ele também envolve a esfera pública e
privada da vida de Anastásia, bem como a condição de ser submissa faz com que ela se
dedique exclusivamente a Cristian. No entanto, não é possível identificar reciprocidade nesta
relação, o que se torna relevante na caracterização de um relacionamento abusivo. O
sacrifício, o doar-se dentro de um relacionamento pode ser inevitável, mas o que diferencia
um relacionamento abusivo de outros é que este sacrifício é exigido e feito pela mulher, e não
por ambos os cônjuges.
A partir da história de vida dos personagens é possível identificar algumas variáveis da
história de vida de Cristian que possam ter contribuído com sua agir de forma abusiva para
com Anastásia. De acordo com a OMS (2017), existem fatores de risco que podem influenciar
o homem a ter comportamentos violentos e abusivos e algum desses fatores são: históricos de
exposição a maus tratos infantis, experiências de violência familiar, discórdia e insatisfação
no relacionamento, dificuldade de comunicação entre o casal, conduta dominadora masculina
sobre sua companheira e a existência de normas sociais que privilegiam os homens e atribuem
um status superior a eles e um status inferior às mulheres. Assim como mostra no filme Grey
teve uma infância conturbada, ele é adotado e sua mãe biológica era viciada em drogas e o
namorado de sua mãe apagava os cigarros no corpo de Cristian, a partir desses dados, pode-se
perceber que Cristian sofreu maus tratos infantis. Além disso, Cristian teve uma trajetória de
16

vida baseada em relacionamentos conflituosos, ambivalentes e pouco afetuosos; nunca se


relacionou amorosamente; e o contato que tinha com os pais e irmãos adotivos era distante.
Outras razões que influenciam no comportamento abusivo de Cristian, tem relação
com fatores sociohistóricos e culturais, de acordo com Minayo (2011), os relacionamentos são
atravessados por questões culturais e de gênero em que homens e mulheres são educados para
agir de maneiras diferentes com relação a sentimentos e sexualidade. Ao final do filme, por
exemplo, percebemos que Cristian tem sentimentos reais com relação a Anastásia, porém ele
tem dificuldade em demonstrar e esse fator pode ser percebido na cena quando ela pede para
ele dizer o que está sentindo e ele diz que não pode ser do jeito que ela quer que ele seja.
Tendo relação com o fato de que meninos também são românticos, mas eles encontram muito
pouco espaço para expressão de sentimentos e de sua sensibilidade. (MINAYO, p.208, 2011).
Para o homem é difícil ser amoroso com a mulher, uma vez que os meninos são educados
para serem duros diante da emoção. (SOUZA, 2007, p.23)
E essa referência cultural de que o homem tem o papel de ser forte e dominador, vem
do patriarcado em que sua base “é o controle, que se manifesta tanto no governo como
também nas bases de produção. Caracteriza-se por ter uma dominação masculina, tanto em
relação às mulheres, quanto em relação aos outros homens que não tem poder ou riqueza. ”
(SOUZA, 2007, p.21).
5.3. AMOR ROMÂNTICO E RELACIONAMENTO ABUSIVO
A relação entre o amor romântico e o relacionamento abusivo vêm da entrega total de
Anastásia ao Cristian - assim como a cultura ocidental espera da mulher - com a necessidade
que ele tem de deter todo poder que de acordo com Souza (2009) é o que é exigido dele para
que ele se destaque entre os demais. Esse poder exercido por Cristian vem através do controle,
ciúmes e dominação que de acordo com a cultura dos discursos amorosos ocidentais, essa
forma de agir é considerada uma forma de amar. Sendo assim, Anastásia releva qualquer
atitude controladora de Cristian, em prol do amor e do relacionamento.
Quando Cristian fica com raiva por Anastásia viajar sem comunicá-lo, ele pega o rosto
dela com muita força e repete várias vezes: você é minha! Minha! E essa possessividade que
Cristian tem para com Anastasia não é visto por ela como algo ruim considerando que ela o
beija intensamente depois desse momento. Hirigoyen (2006) explica que nesse tipo de relação
a dominação e o ciúme são aceitos pela mulher como prova de amor. E além de aceitar, ela
também releva. Em uma das cenas a mãe de Anastásia liga para ela e Anastásia atende
chorando e ao falar sobre o relacionamento, a mãe dela pergunta se Cristian a faz feliz e ela
responde “na maior parte do tempo”. Ou seja, apesar dele causar constante sofrimento a ela,
17

ela foca apenas nos momentos em que eles foram felizes. Junqueira e Melo (2010) falam que
para as mulheres, em nome do amor, tudo é valido como perdoar e superar qualquer
sofrimento.
Anastasia, durante todo o filme, acredita na expectativa de mudança de Cristian, em
uma das cenas ele fala que não tem coração e ela responde falando que o coração dele é maior
do que parece. Durante o filme ele fala frases como “eu não sou romântico”, “não sou de ter
namorada”, “gosto de controlar tudo”, mas mesmo assim ela acredita ser capaz de mudá-lo. E
isso corrobora com o que Pretto, Maheire e Toneli (2009) dizem, que a crença do amor
romântico é de que, apesar de ser predominado por sofrimento, ele é recompensador e como
estamos sempre em busca da recompensa, aceitamos o sofrimento. Hirigoyen (2006)
complementa que a mulher acredita que se as coisas não estão bem, o poder do amor pode
fazer o homem mudar.
A relação abusiva que existe entre eles se torna um ciclo vicioso em que ela se entrega
a ele, se torna submissa e Cristian, cada vez mais passa a ser o dominador da relação e
detentor do poder, fazendo com que Anastásia seja totalmente refém dele e essa
retroalimentação que mantém a relação abusiva entre os dois.
É importante frisar que esse filme faz parte de uma trilogia e que o relacionamento dos
personagens é modificado a cada filme, assim como possivelmente pode ser na vida cotidiana,
fora da ficção. Nos filmes seguintes é percebida uma mudança de Cristian, porém, esta apenas
acontece quando Anastásia quebra o padrão de se submeter e aceitar tudo que Cristian impõe,
como culturalmente é valorizado que uma mulher faça. Nesse sentindo, o filme pode
contribuir para se enfraquecer ou mesmo desconstruir o mito de que a mulher deve ser
submissa, passiva e acolhedora e que tem que ser entregue apenas a ela o papel de amar
incondicionalmente.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O filme selecionado é uma representação cultural que mostra como o discurso do amor
está difundido na sociedade ocidental e pode ser permeado por uma narrativa de submissão e
renúncias. O próprio gênero do filme é considerado romance e isso mostra como o amor é
percebido nesta sociedade, já que o relacionamento que existe entre Anastácia e Cristian não
poderia ser considerado saudável, equilibrado.
Se considerado apenas o primeiro filme da trilogia, é possível perceber que Anastásia
só consegue romper com essa forma de relacionamento a partir do momento que Cristian
ultrapassa o limite que ela considera aceitável. Isto é, neste caso, ele usa da violência física
intensa. Em cada relacionamento, possivelmente há um limite para que a mulher interrompa
18

padrões de interação com seu cônjuge, porém, há limites mais flexíveis que podem resultar
em riscos maiores à sua integridade física e psicológica. No caso do filme, o rompimento da
Anastásia foi um passo inicial para a mudança do comportamento de Cristian, porém, nem
sempre funciona desta forma. A violência doméstica é um fenômeno complexo e, por vezes, o
contracontrole exercido pela mulher no sentido de interromper tal violência pode ser um
gatilho para que o cônjuge exerça violência ainda mais intensa e até mesmo fatal. Sendo
assim, se mulher está em um relacionamento abusivo ou se conhece outras mulheres nesta
situação, é primordial que se busque uma rede de apoio social e profissional ampliada para as
vítimas e também agressores. Profissionais da Delegacia da Mulher, do Centro Especializado
de Atendimento à mulher (CEAM), das defensorias públicas, como o Núcleo de Defesa a
Mulher, podem amparar a mulher vítima de violência doméstica, bem como psicólogos
atuantes em hospitais, centros de saúde, conselhos tutelares, clínicas-escolas de universidades
e clínicas particulares.
O estudo acerca da temática do amor e do relacionamento abusivo, bem como da
relação entre eles, auxilia no entendimento de ideais de amor e discursos amorosos e no
impacto que eles têm no desenvolvimento de um relacionamento, seja ele abusivo ou
considerado socialmente saudável. Ao construir novas formas de amar e de se relacionar
saudáveis e sem violência, permite-se que mulheres e homens se libertem da posição que a
sociedade os coloca para assim, terem autonomia para gerir a própria vida e
consequentemente selecionar a forma de viver e sentir que lhe dê alegria.
A Psicologia pode contribuir para reflexões críticas e para mudanças de
comportamento, em especial, mudanças nos padrões de interação entre cônjuges, priorizando
o respeito mútuo, a comunicação positiva, a valorização da individualidade, o fortalecimento
de habilidades sociais.
19

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21

ANEXO I
Transcrição das dez cenas escolhidas do filme 50 tons de cinza

Cena 1
Depois de passarem a noite juntos Anastásia e Cristian estão deitados na cama e ela diz:
- Isso foi muito bom!
Ele, com um semblante sério, responde:
- O que que você tá fazendo comigo?
Ela para, coloca a mão no rosto dele para acariciá-lo e ele tira a mão dela do rosto dele.... Ela
vai tocar na parte do tórax dele e ele segura a mão dela com força e ela diz:
- Aqui também não pode? porque? faz parte das regras?
- Falando em regras…. (Nesse momento ele relembra do contrato que entregou para
ela assinar)
- Eu ainda não me decidi.
Ele se afasta dela, levanta da cama e começa a se vestir. Ela pergunta:
- Você não vai ficar?
E ele responde:
- Eu já te disse, não durmo com ninguém.
- A gente pode negociar.
Ele ri, dá um beijo na testa dela e vai embora. Ela fica sentada na cama, decepcionada.

Cena 2
Ela olha para ele e fala:
- Porque me mandou o livro?
- Porque eu achei que devia desculpas.

E ela questiona:
- Pelo o que?
- Por deixar você acreditar que.... Ele corta a frase, senta na cama de frente pra ela e
diz:
- Presta atenção, eu não romântico. Meus gostos são singulares, você não entenderia.
Ela para um pouco, olha para o lado e diz:
- Então me ensina.

Cena 3
No começo do filme, Anastásia Steele vai entrevistar Christian Grey no lugar de sua amiga
Katherine, que está doente. Ela aparece na frente de um grande edifício, bem elegante e se
encanta. Ela entra no prédio e pega o elevador para o andar em que se encontra Cristian Grey,
a secretária a recebe, oferece para guardar seu casaco e a guia até a sala de Cristian. Ao entrar
na sala, ela abre a porta e tropeça e entra na sala caindo no chão, Cristian vai até ela e diz:
- Senhorita Kavanagh, se machucou? (Sobrenome de Katherine)?
22

Ela encara ele um pouco e ele a ajuda a se levantar. Ele se apresentar como Cristian Grey e
ela diz que é Anastásia Steele e explica o motivo de Katherine não ter ido fazer a
entrevista. Ele pergunta se ela também faz jornalismo e Anastásia relata que na verdade faz
literatura inglesa, mas que divide o apartamento com Katherine. Ele diz que só tem 10
minutos para fazer a entrevista e oferece a cadeira para ela se sentar. Anastásia olha como é a
sala e percebe que na mesa de Cristian tudo é milimetricamente organizado, os lápis do
mesmo jeito e da mesma distância um do outro.
Anastásia senta na cadeira longe de Cristian e ela começa devagar, estando um pouco tímida e
gaguejando durante as perguntas. No começo da entrevista, Anastásia pergunta:
- O senhor é muito jovem para ter construído um império desse porte, a que atribui…
Grey a interrompe no meio da fala e diz:
- A que atribuo meu sucesso?
- É….
- Isso é sério?
- É…
- Negócio tem a ver com pessoas e eu sou muito bom com pessoas. Sei o que as
motiva, o que as incentiva, o que as inspira.
Cristian se move um pouco para mais perto de Anastásia e ela fala:
- Ah, talvez só tenha tido sorte.
Apoiado a mesa, Cristian ri, balança a cabeça e diz:
- Eu percebi que quanto mais eu trabalho, mais sorte eu pareço ter. A chave para o
meu sucesso sempre foi identificar pessoas talentosas e agregar seus esforços.
- Então é controlador?
Ele caminha de volta para atrás da mesa, a encara bem nos olhos, sorri com o canto da boca e
responde:
- Eu acho que eu exerço controle em tudo o que eu faço.

Cena 4
Anastásia começa a fazer a leitura do contrato em que está escrito: “os termos do contrato a
seguir são partes de um contrato vinculante entre o dominador e a submissa. O propósito
fundamental do presente contrato é permitir a submissa explorar de maneira segura a sua
sensualidade e seus limites. O dominador e a submissa concordam que tudo o que ocorra no
presente contrato será consensual, confidencial e sujeito aos limites acordados aos
procedimentos de segurança. A submissa concordará com qualquer atividade sexual que o
dominador julgar adequada e prazerosa, salvo aquelas atividades que estão resumidas em
limites rígidos. A submissa não se excederá na bebida, não fumará, não fará uso de drogas
recreativas ou correrá riscos desnecessários. A submissão não se envolverá em quaisquer
relações sexuais com outras pessoas senão o dominador. A submissa concordará em tomar os
contraceptivos orais de um médico da escolha do dominador. A submissa consumirá
regularmente, para manter sua saúde e bem estar, os alimentos previamente listados no
apêndice quatro. A submissa obedecerá qualquer instrução dada pelo dominador, ela fará isso
ansiosamente e sem hesitação. A submissão não pode tocar no dominador sem a permissão
explícita dele para que o toque. A submissa sempre se conduzirá de maneira respeitosa para
23

com o dominador e só se dirigirá a ele como senhor, senhor Grey ou outra forma de
tratamento que o dominador indicar. O dominador pode açoitar, espancar, chicotear ou punir
fisicamente a submissa por questões de disciplina ou pro seu prazer pessoal.”

Cena 5
Enquanto a família conversa, Cristian olha para Anastásia com o rosto bem sério, engole seco
e diz: isso é novidade pra mim, quando ia me contar? Anastásia fica surpresa e sem reação e
não diz nada. Cristian avisa a família que vai apresentar a casa para Anastásia e durante o
percurso começa a puxar ela e ela fala: Cristian, não dá pra correr com esses sapatos e ele
então pega ela e coloca em seus ombros e vai carregando ela e enquanto isso, ele fala: quando
você ia me dizer que ia pra Geórgia? E ela responde: o que? você não tem o direito de ficar
com raiva. E ele fala: eu estou com raiva e com a mão coçando e nesse momento dá um tapa
na bunda dela. Ele a coloca no chão, segura firme o rosto dela e fala intensamente e com
firmeza: você é minha! toda minha! entendeu? e a beija com muita força e vontade. De
repente ela se afasta de perto dele, fica de costas para ele e fala: Cristian você me deixa muito
confusa. Cristian: Ana…. Anastásia: O que você quer? O que você quer?! Cristian: eu quero
você. Anastásia com o olho cheio de água e com a voz meio engasgada responde: eu tô
tentando Cristian. Ele então chega perto dela, olha em seus olhos, passa a mão em seu rosto e
fala: eu sei que está. E ela diz: porque a gente não pode dormir na mesma cama? porque você
não me deixa tocar você? porque que tem que ser assim? Ele sai de perto dela, vira de costas,
suspira de uma forma irritada e fala: se você tivesse assinado o contrato não teria mais que
pensar nessas… Anastásia, já irritada também, interrompe a fala dele e diz: porque se importa
tanto com esse contrato Cristian? Você não gosta de mim como eu sou? Ele balança a cabeça
em negação e fala: é claro que eu gosto. Anastásia: Então porque você quer me modificar?
Cristian: Não quero. É só… E ela interrompe ele e fala: eu preciso de mais, eu quero mais. Ele
diz: corações e flores? Não são coisas que eu conheça. Por favor…. É você que está me
modificando.
Anastásia toca ele nos peitos e fala: deixa eu tocar em você. Com o olho cheio de água ainda,
ela tira as mão dos peitos dele e coloca em volta do pescoço e repete: deixa e logo depois o
beija. Ele a beija de volta, mas depois tira as mãos dela do seu corpo e fica segurando as mãos
dela e ela pergunta: são queimaduras? E ele fala: eu tive um começo difícil na vida, é tudo que
precisa saber. E ela responde: tá bem.

Cena 6
A mãe de Ana liga e comenta que tentou ligar pra ela duas vezes na semana e ela não atendia
e Anastásia responde que estava distraída com outras coisas. A mãe dela pede desculpas por
não ter ido a formatura e pergunta: “e o seu namorado? O Ray já me contou tudo, ele parece
um partidão, hein? Claro que eu preferia ficar sabendo dele por você né?” Anastásia fica
calada, suspira e seus olhos enchem de água, e ela começa a chorar silenciosamente. Sua mãe
pergunta o que houve e ela segura o choro e fala: nada, eu tô bem. E mãe pergunta: filha, ele
não te faz feliz? E Anastásia responde: ele faz sim, na maior parte do tempo faz. é
complicado. A mãe de Anastásia fala: filha, se você precisar de um tempo, pode ficar aqui,
nem que seja um ou dois dias. Nesse momento, Anastásia não consegue segurar mais e chora.

Cena 7
24

Durante uma festa Anastásia fica bêbada e decide ir ao banheiro. Na fila para poder entrar ela
pega o celular para apagar o número do Cristian, porém decide ligar pra ele. Quando ele
atende, ela fala:
- É… Eu vou mandar de volta os livros caros, que eu já tenho outros exemplares, mas
obrigada pelo gesto de carinho.
Grey responde:
- Não tem de quê. Onde você está?
- Ah…. Eu tô numa fila porque eu preciso muito fazer xixi.
- Num tom mais sério Grey fala:
- Anastásia você andou bebendo?
Ela ri e diz:
- Bebi. Bebi, senhor riquinho, acertou “no cheio”. Ela ri novamente e diz: “Em
cheio”.
Grey mais irritado fala:
- Presta atenção! Eu quero que vá pra casa agora.
- Ai que mandão. E fica imitando a maneira com que ele fala e age com ela, com
frases como “Ana, vamos tomar café. Não Ana, não posso. Não Ana, vem cá. Não Ana, vá
embora, vá embora.”.
Grey se altera e fala mais alto ao telefone:
- CHEGA! Me fala onde você está.
- Eu tô bem longe de Seattle, bem longe de você.
- Em que bar? Qual é o nome?
- Eu não sei, tenho que desligar.
- Me fala em que bar!
E ela desliga o telefone, depois e ri e comenta com uma mulher ao lado:
- Mandei ver, né?
Ele liga novamente pra ela e ela atende dizendo:
- Desculpa, mas eu… Ele não deixa ela terminar a frase e fala:
- Não sai daí que eu estou indo te buscar
E ele desliga o telefone.

Cena 8
Ela entra no “quarto de jogos” onde é cheio de objetos sexuais e fica surpresa, assustada sem
conseguir dizer nada e ele diz:
- Diga alguma coisa, por favor.
- As mulheres fazem isso com você ou é você....
- Eu com elas! Com as mulheres, com as que querem que eu faça.
Anastásia continua caminhando pelo quarto, observando e tocando nos objetos e diz:
- Você é sádico.
- Eu sou dominador
- O que quer dizer?
- Quer dizer que quero que você se entregue a mim espontaneamente.
- Porque eu faria isso?
- Pra me agradar.
- Pra agradar você? Como?
- Eu tenho regras. Se você segui-las eu te recompenso. Se não, eu te castigo.
- Você me castiga usando essas coisas em mim?
Ele sorri e diz:
- Isso
25

E ela responde:
- O que eu ganho com isso?
- Eu!

Cena 9
Cristian marca uma reunião com Anastásia para discutir sobre o contrato que ele
entregou para ele e enquanto ela fala sobre as condições dela e diz:
- Estou impressionado com a sua dedicação. Com esse espírito eu vou propor uma
gentileza. Que tal uma vez por semana, em uma noite de sua escolha, nós saímos como um
casal normal. Jantar, filme, patinar no gelo, o que você quiser.
E ela, animada responde:
- Eu aceito, você é muito gentil.

Cena 10
Cristian leva Anastásia para voar em um pequeno avião. Depois de pousar e sair do avião, ela
toda animada comenta:
- Isso é incrível Cristian!
E ele responde:
- Eu só quero fazer você feliz.
E ela, abraçando ele, fala:
- E você ainda diz que não é romântico.
- E não sou.
Ela sorri e faz uma expressão como se fingisse que acreditasse no que ele diz e ele fala, com
um tom de desaprovação:
- Ana…
- O que?
Ele com o semblante sério a encara e ela ri e repete com mais intensidade:
- O que?! Porque você está resistindo?
Ele continua sério, ela diminui o sorriso até parar de sorrir e pergunta:
- Do que que você tem medo?
Ele continua sem dizer nada. E o telefone de dele toca, interrompendo a conversa

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