INÊS249

Mente Afiada - Ano 1, Nº 6 - Setembro, 2023

ESTROGÊNIO OS MÚLTIPLOS

E CONFUSÃO FATORES QUE

PODEM LEVAR

MENTAL! AO SUICÍDIO

Conheça a
névoa cerebral
da menopausa R$ 9,90

A VOZ NA
SUA CABEÇA
Pensamento intrusivo TÉDIO!
é comum, mas pode Sim, ele é importante
se tornar perigoso para nosso cérebro

TDI A CONDIÇÃO QUE FRAGMENTA A MENTE

EM DIVERSAS PERSONALIDADES
 editorial
UMA MENTE, DIVERSAS
PERSONALIDADES
Já pensou ter dezenas de personalidades
fragmentadas dentro da sua cabeça? E mais,
cada uma delas tem sua própria memória,
gostos e comportamentos. Assustador, né?
Mas é isso que acontece com pessoas que de-
senvolvem o Transtorno Dissociativo de Iden-
tidade (TDI), condição psicológica complexa
que faz com que o indivíduo apresente duas
ou mais identidades distintas. Nesta edição da
Mente Afiada, conversamos com um especia-
lista e tentamos desvendar o mistério por trás
dessa doença que paralisa a vida de quem so-
fre com ela. Leia nossa matéria especial de capa
para entender como o TDI afeta o cérebro, de
onde ele pode surgir e como cuidar desse trans-
torno que, se não for tratado, pode desencade-
ar problemas ainda maiores e até irreversíveis.
Também nas próximas páginas você
vai entender o que acontece no nosso cé-
rebro quando experienciamos eventos com
muitas emoções, mas acabamos, simples-
mente, esquecendo tudo depois… A amné-
sia pós-show do seu artista preferido é real
e vamos te explicar o que leva a ela. A edi-
ção ainda trata das taxas de suicídio pelo
mundo e o que pode estar ligado à esses
episódios, principalmente entre os mais
jovens, e traz uma discussão importante
sobre porquê deveríamos valorizar os mo-
mentos de tédio. Preparados para aprender
mais sobre o cérebro?
Boa leitura!
Ana Kubata

PRODUÇÃO GRÁFICA DA CAPA Eugenio Tonon ILUSTRAÇÃO DannyOliva/Shutterstock Images

AMNÉSIA PÓS-SHOW O TÉDIO É O VALOR DO ‘NÃO’ PENSAMENTOS

Por que esquecemos IMPORTANTE Entenda o que nos INTRUSIVOS
tudo após um evento Momentos de ócio são leva a dizer sim, A diferença entre um
emocionante? essenciais para a saúde mesmo quando não devaneio involuntário
e melhores resultados queremos e impulsividade

COMPREENDA O TDI NÉVOA CEREBRAL DESVENDANDO O

O que é o Transtorno
Dissociativo de
Identidade e como
essa condição afeta
o cérebro
Fenômeno causa SUICÍDIO
esquecimento em Motivado por múltiplos
mulheres que entram fatores, índice cresceu
na menopausa entre os mais jovens
 Mapa da mente
Texto Hérica Rodrigues

DELICIOSOS E
MANIPULADORES
Já sabemos que os ultraprocessados
são nocivos à saúde e, agora, pesquisas
recentes afirmam que eles enganam nosso
cérebro, tornando-se uma armadilha cruel
para nosso corpo.
Um experimento conduzido por cientistas
da Universidade de Oxford, no Reino Unido,
mostrou que aquelas opções práticas
e cheias de sabor foram criadas para
corromper nosso apetite, fazendo com
que a gente coma cada vez mais. Isso
obter a proteína suficiente que nosso
porque, como são pobres em proteína,
corpo precisa. Com isso, consumimos
quando nos alimentamos deles, temos a
calorias em excesso e desregulamos o
tendência de exagerar no consumo para
nosso metabolismo.
Além de nos fazer comer demais, o
alto consumo de ultraprocessados pode
acelerar o declínio de funções cognitivas,
Ilustrações: inspiring.team/Shutterstock Images
como a memória, o raciocínio e a fala,
além de aumentar o risco de demência,
segundo explica um outro estudo, feito
por pesquisadores da Universidade
de São Paulo (USP), em conjunto com
cientistas da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), Universidade
Federal da Bahia (UFBA) e de Harvard,
nos Estados Unidos. Ou seja, o melhor
mesmo é desembalar menos!
 INÊS249

A MORTE DOS NEURÔNIOS NO ALZHEIMER

Cientistas do Reino Unido quí-mica interna, formando

e da Bélgica divulgaram placas. A partir de então,
recentemente uma pesquisa os neurônios começam a
que pode explicar como as células cerebrais morrem produzir uma molécula chamada
Ilustração: Achiichiii/Shutterstock Images

em pacientes que sofrem com a doença de Alzheimer.
Publicado na revista científica Science, o estudo
explica o processo chamado de necroptose, e afirma
que ele é causado pelo acúmulo das proteínas
amiloide e tau, que estão entre os neurônios e
causam uma inflamação cerebral. Em consequência,
estas células, que transmitem os impulsos do
sistema nervoso no cérebro, sofrem uma mudança
MEG-3, que pode ser a principal
causadora da necroptose, a morte
de células.
Essa deve ser uma das maiores
descobertas da ciência até o
momento em relação à doença.
Uma vitória no caminho para o
tratamento do Alzheimer.

O CALOR DO CORPO ACABOU marinhos, que eram os alimentos

COM OS MEGALODONTES do megalodonte. Sem ter o que
Um estudo publicado na revista Proceedings of comer, foi à extinção.
the National Academy of Sciences reforça teorias
anteriores que já afirmavam que o megalodonte, o
tubarão mais temido que já existiu, pode ter sido
extinto por conta da temperatura corporal. Segundo
os pesquisadores, o sangue desses animais era
cerca de 7ºC mais quente do que a temperatura
do mar, chegando a uma média de 27ºC. Com uma
temperatura mais alta, o gasto energético para se
Ilustração: SINGINK/Shutterstock Images

manter é bem maior, ou seja, ele precisa comer

mais. E a época da extinção dos megalodontes
coincide com o resfriamento da Terra. “Possivelmente
houve uma mudança no ecossistema marinho
devido ao resfriamento climático”, destacou o
autor do estudo, Kenshu Shimada, paleobiólogo da
Universidade DePaul, em Chicago. Com isso, o nível
do mar caiu, alterando os habitats de mamíferos
 E O CALOR DA TERRA PODE
ACABAR COM OS HUMANOS
Muito já se falou sobre o aquecimento
global, mas parece que essa fase passou
e, segundo a Organização das Nações
Ilustrações: Vosuray e WinWin artlab/Shutterstock Images
Unidas (ONU), estamos no período de
ebulição global, também conhecido como
fervura global. O termo foi utilizado pela
primeira vez pelo secretário-geral da ONU,
António Guterres, em uma coletiva no fim
de julho, e corresponde a um aumento
acelerado das temperaturas da Terra e
da intensificação dos eventos extremos,
que englobam ondas de calor acentuadas,
como as vividas nesse final de inverno,
até chuvas mais fortes.
E o calor não causa só mal-estar, mas
também pode matar! As altas temperaturas
estão entre os grandes problemas de saúde
pública e podem impactar gravemente
o cérebro, coração, intestinos, fígado,
rins, pulmões e pâncreas. Um estudo do
grupo de Camilo Mora, da Universidade
do Havaí, listou 27 formas que fazem
com que o calorão seja fatal, entre
eles, isquemia (redução ou interrupção
da irrigação sanguínea), citotoxicidade
(envenenamento das células), inflamação,
coagulação intravascular disseminada
(formação de trombos que podem destruir
órgãos) e rabdomiólise (síndrome causada
pela destruição das fibras musculares).
“Eu amei o show…
MAS ESQUECI
TUDO!”

Você sabia que as emoções vividas durante um

evento podem levar ao esquecimento?

Texto: Gabrielle Aguiar

A
pesar da época de inverno, estava
“ uma tarde quente no fim de julho
em São Paulo, e eu esperava na
fila para assistir ao show da mi-
nha banda favorita, 5 Seconds of Summer.
Essa foi a terceira vez que a banda austra-
liana veio ao Brasil, e pela primeira vez eu
consegui ir, depois de 12 anos sendo fã. Ou
seja, as emoções estavam à flor da pele.
Durante todo o momento que a banda es-
tava no palco, eu chorei, gritei, cantei, pulei
muito e suei ainda mais. E no dia seguinte,
enquanto o impacto do show me atingia e o
cansaço batia, eu percebi que não lembrava
de muitos momentos desse episódio tão
especial. Mas, por que isso?”
AMNÉSIA PÓS-SHOW É REAL!
Infelizmente, não foi apenas com essa
jornalista que vos escreve que aconteceu
essa experiência. O tema veio à tona
depois que diversos fãs estadunidenses
da artista Taylor Swift relataram que não
se lembravam muito bem da experiência
mágica de um show do seu ídolo.
De acordo com a médica psiquia-
tra Jessica Martani, é possível, sim, que
aconteça em determinados eventos, muito
intensos ou traumáticos, um “apagão”.
“Isso é chamado de lacunas de memória
ou memórias distorcidas, nas quais as
memórias não condizem com os fatos. Em
casos de shows, ver seu artista preferido
pode ocasionar um êxtase muito grande,
como podemos ver em alguns casos, não
é incomum fãs que desmaiam nos shows.
Essa forte emoção, associada a diversos
estímulos como luzes, multidões, música,
temperatura e cansaço, podem ser o cená-
rio perfeito para ocorrer o que chamamos
de dissociação, que está correlacionada
com lacunas de memória”, explica.
COMO ISSO ACONTECE?
Devido aos múltiplos estímulos
sensoriais, aliados a um estado de
êxtase emocional, o cérebro é lite-
ralmente bombardeado, como se
houvesse uma explosão de neu-
rotransmissores e hormônios ex-
citatórios. “A amígdala cerebral
capta diversos estímulos externos
e os direciona para várias regiões
do cérebro, como por exemplo o
hipocampo, que é uma região cru-
cial para a formação de memó-
rias episódicas, durante eventos
emocionais, como um show em-
polgante. Justamente com a so-
brecarga de estímulos do ambien-
te, a amígdala fica com excessiva
ativação, e com isso ocorre uma
falha no processamento das in-
formações, ocasionando lacunas
na memória e falhas em relação
ao que o cérebro processou e ao
que realmente aconteceu. É como
se as emoções supervalorizassem
alguns aspectos e ignorassem ou-
tros”, explica a psiquiatra.
MAS CALMA QUE É NORMAL
Jessica garante que é muito comum acon-
tecer e, como explicamos, tudo depende
do nível de emoção que você está sentin-
do, e dos estímulos sensoriais aos quais
não estamos acostumados. Por isso, o
nosso corpo tem a tendência de selecio-
nar algumas informações, o que é normal
de acontecer, se for situações pontuais.
Porém, se isso surge com frequência, é
necessário procurar um profissional para
avaliar as possíveis causas.
MINHA EMOÇÃO É UM TRAUMA?
Espera aí, não é bem assim! A psiquiatra
explica que a adrenalina é um hormônio
muito relacionado a nossa “luta e fuga”,
e ela é expelida quando temos que nos
defender ou quando estamos em situa-
ções de estresse. Contudo, o estresse
nem sempre é uma coisa ruim, garante a
psiquiatra, “na verdade, o estresse tem a
ver com a liberação química de hormônios.
Muitas vezes, ao estar no show dos nossos
sonhos e com os sentimentos aflorados, o
corpo pode interpretar os estímulos como
um estresse, porém, a palavra trauma, em
sua definição, significa uma reação emocio-
nal a situações avassaladoras e adversas.
Então, no caso de um show, se a pessoa
interpretou o evento como algo prazeroso,
descartamos a definição de trauma”.
TEM COMO EVITAR!
Dependendo do estado emocional
da pessoa que está assistindo ao
show, é saudável sentir a euforia
Ilustrações: Vectomart, Kit8.net e Illusart0/Shutterstock Images
e alegria que são provocadas, mas
para evitar que essas emoções
não causem dissociação e uma
possível amnésia pós-show, o ide-
al é se alimentar bem e se hidratar
durante todo o evento - a fim de
deixar o corpo mais fortalecido ao
cansaço. “Estar cansado é um fa-
tor que contribui para a sobrecar-
ga no cérebro e para as lacunas na
memória, além disso, tomar cui-
dado com o uso de álcool e outras
drogas também é essencial”, fina-
liza a médica psiquiatra.
 INÊS249

ESTÁ NA
HORA DE
VALORIZAR
O TÉDIO
Psicóloga afirma que momentos de ócio são
extremamente importantes para a saúde, além
de garantir melhores resultados no trabalho
Texto: Ana Kubata

Ilustração: ansveta/Shutterstock Images

 T rabalhar, estudar, cuidar da casa…e
no outro dia repetir tudo. Essa
costuma ser a rotina da maioria
das pessoas, mas onde sobra espaço para
o tédio nessa história? É claro que
precisamos cumprir obrigações, e tem
coisas que realmente só dependem da
gente, mas você sabia que tirar um tempo
para o ócio é extremamente importante
para a qualidade de vida?
O tédio normalmente é associado a algo
ruim, como se estivéssemos “perdendo
tempo” ao tirar um momento para,
simplesmente, descansar. A psicóloga
Gislaine Erbs desmente essa crença. “O
Ilustração: ivector/Shutterstock Images
tédio é uma boa forma de aprender sobre
paciência, valorizar pequenos momentos
da vida e dar importância para as outras
atividades do dia a dia. Isso melhora a
qualidade de vida e diminui os riscos de
doenças que são cada vez mais comuns
nesses tempos, como a depressão, a
ansiedade e o estresse.”
POR QUE EVITAMOS O TÉDIO?
Segundo a especialista, esse sentimento de
aversão ao tédio acontece porque as pessoas
estão muito preocupadas em se mostrar
produtivas, especialmente com o avanço
da internet. “A sociedade contemporânea
cobra muito por resultados. As pessoas
sentem a obrigação de estarem conectadas
o tempo todo, sofrem a pressão de estar
on-line e responder prontamente qualquer
comentário ou questionamento, além de
ter que estarem atualizadas dos últimos
acontecimentos em tempo real”, pontua.
Para ela, isso cria um ciclo infinito de
ocupação. “Pensando nos resultados,
pessoas muito responsáveis ou competitivas,
e/ou focadas, sempre têm o pensamento
de que possuem mais atividades para
fazer, do que tempo para executar.”
Outra necessidade apontada por Gislaine
é a de atingir a estabilidade financeira em
um curto período de tempo, para “aproveitar
a vida” e atingir certos padrões sociais mais
cedo que as gerações anteriores. “Assim
ficam ocupadas, trabalhando muitas horas,
pois não querem perder tempo. A mente
fica com essa atenção conectada, mas
sem qualidade de trabalho.”
“As pessoas não sabem mais
relaxar, curtir a própria companhia,
ou têm o sentimento de que
precisam estar produzindo algo a
todo o tempo, em função da própria
cobrança social. Porque o “ter que
todo mundo tem” é associado à
felicidade”, aponta Gislaine.
 A consequência disso? As pessoas
não conseguem ficar em silêncio com
a própria companhia. “Estar sem
fazer nada, para elas, pode gerar
ansiedade, com sintomas realmente
muito ruins e desconfortáveis. Um
retroalimentando o outro e assim
sucessivamente automatizando
essas emoções em sua mente.”
“É no tempo ocioso que se
pararmos para pensar, buscar soluções,
olhar para coisas que normalmente na
rotina não olhamos. Com o tempo, o
pensamento flui, fica curioso, é assim
que artistas e compositores têm seus
insights. Em atividades de rotina,
no automático, a mente não cria, só
executa”, esclarece Gislaine.

É O TÉDIO QUE NOS

FAZ MELHORAR
Depois de entender o porquê do
excesso de produtividade ser um
inimigo do nosso bem-estar, a
psicóloga explica o que o tédio
pode proporcionar de positivo para
o nosso dia a dia. “A neurocientista
Alicia Walf relata que o tédio
melhora as relações sociais. Os
estudos comprovam que o tédio
auxilia nas respostas criativas
e protege nossos neurônios
de doenças, além de auxiliar
o funcionamento do sistema
imunológico”, menciona.
Segundo a especialista, é
Ilustração: BilahDesign/Shutterstock Images

preciso respeitar os limites para

evitar problemas maiores no futuro.
“Temos que pensar no nosso corpo
como uma máquina que aquece e, se
não for desligada ou resfriada, para
de funcionar, podendo superaquecer
e sofrer ruínas. Danos que podem
ser caros, demorados, reversíveis
ou até irreversíveis.”
 “QUERIA NEGAR,
MAS ACEITEI”
A baixa autoestima e a necessidade de agradar podem nos
levar a dizer sim, mesmo quando não queremos

Ilustração: Vasilyeva Elada/Shutterstock Images

Texto: Ana Kubata

Q uem nunca se viu preso em uma
situação em que queria dizer não,
mas acabou falando sim? Aposto
que muitos de nós já passamos por isso.
Afinal, é comum que, ao longo da vida,
deixemos de lado compromissos e vontades
pessoais para ceder favores a outras pessoas.
Isso pode estar relacionado a vários fatores,
mas o fato é que esse comportamento
é autodestrutivo e pode acarretar em
sentimentos de frustração e infelicidade.
Mas por quê não conseguimos resistir a
esse hábito? Para a psicóloga e autora do
livro Sim ou Não - A difícil arte de colocar-
se em primeiro lugar na sua vida (Litarare
Books), Gislaine Erbs, a motivação pode vir
de diversos lugares. “Essa dificuldade pode
estar relacionada a baixa autoestima, o medo
da rejeição, traumas, crenças limitantes,
educação durante a infância, dependência
ou vício emocional, falta de habilidade social,
entre outras coisas.”
 Gislaine destaca ainda que todas as
AS EXPERIÊNCIAS MOLDAM
experiências negativas, mesmo que na
AS CONDUTAS
vida adulta, nos remetem a sentimentos
Segundo a profissional, a conduta pode
e emoções que, no futuro, irão reforçar
estar fortemente ligada aos nossos registros
a visão de certos comportamentos como
feitos ao longo da vida, já que o nosso
inadequados ou improdutivos. “Alguém que
histórico de experiências gera emoções
foi traído por um namorado, um amigo ou
que nem sempre condizem com o momento
um familiar, poderá se tornar uma pessoa
atual, direcionando de forma afetiva as
endurecida, dominada por pensamentos do
nossas escolhas. Portanto, se as vivências
tipo: ‘nunca mais confiarei em ninguém’,
modelam nossos comportamentos, quanto
e começará a agir no automático.”
mais elas são negativas, mais elas reforçam
A escritora aponta a falta de autoco-
os maus hábitos. “Quando uma criança

Ilustração: Vasilyeva Elada/Shutterstock Images

nhecimento como um dos fatores mais
é muito repreendida ao manifestar sua
determinantes para essa dificuldade em
opinião, dizendo ‘não’, e recebe um castigo,
recusar algum pedido quando este não é
ou perde um amiguinha(o), por exemplo,
plausível, ou tão urgente assim. Para ela,
seu subconsciente registra uma emoção
é preciso, em primeiro lugar, conhecer-se
negativa. A memória desse registro pode
para então saber discernir o que de fato
surgir em novas situações e fazer com que a
é importante para si. “É incrível como as
criança desenvolva receio das consequências
pessoas não sabem responder sobre o que
e, por medo, não consegue negar outros
gostam, o que as fazem felizes, quais são
pedidos”, exemplifica.
suas preferências e que sentimentos tem.”

“Como podemos fazer escolhas,

se não sabemos onde queremos
chegar? Que resultados
queremos ter? Quem são
as pessoas importantes?
E assim por diante.”
 ESTAMOS SEMPRE QUERENDO
AGRADAR, MAS QUEM SE
BENEFICIA DISSO?
Gislaine relembra que outra situação
que dificulta a dizer ‘não’ é a baixa
autoestima, junto de uma necessidade
de se sentir aceito, amado e valorizado.
“A dependência emocional do outro gera
a crença de que, para que me amem,
preciso atender todas as necessidades
do outro. Pensam que, se essa pessoa
não se sentir satisfeito comigo, acabarei
sozinho”, aponta a psicóloga.
Para a profissional, o motivo da maioria
das pessoas quererem agradar, não
precisa necessariamente representar
um problema. “Ter vontade de agradar
“Se dê respeito, as pessoas valorizam
pessoas determinadas e seguras.
Comunique-se, e tenha respostas
efetivas para dizer o motivo pelo
qual não irá aceitar a solicitação”,
orienta Gislaine.
aos outros não é ruim, pois isso também
significa que você tem sentimento pelas
pessoas, que se importa com elas. Pessoas
que nunca sentem a necessidade de
agradar alguém podem, até mesmo, ter
alguma patologia”, pontua.
Porém, ela alerta que isso não precisa
ser o norte para tomar todas as decisões,
Ilustração: Vasilyeva Elada/Shutterstock Images
afinal, não é isso que irá determinar nosso
valor dentro das relações. “O desejo
de agradar pode estar relacionado ao
sentimento de querer se sentir útil, de
insegurança ou medo de ser abandonado
ou não ser aceito. Mas isso não quer
dizer que você precisa agradar a todos
o tempo todo, ou de que as pessoas não
irão gostar de você por isso.”
AVALIE, REPENSE E ESCOLHA
RELAÇÕES SAUDÁVEIS
De forma geral, a sensação de culpa e os
medos internalizados acabam nos fazendo
aceitar situações que não deveríamos. Vale
ainda refletir que se há insistência de quem
está pedindo, é preciso avaliar se é algo
realmente importante, se é por capricho
ou por pura inconveniência. “Depois de
descartar essas questões, verifique se é
possível aceitar sem ter prejuízos, afinal, é
sempre bom ajudar alguém que precisa. É
bom lembrar que amanhã, pode ser você
a estar na posição do outro.”
Além disso, a psicóloga indica que uma
boa análise é capaz de ajudar bastante a
trabalhar esse comportamento. “Comece
identificando com quem e em que lugares
têm mais dificuldade de dizer ‘não’. Verifique
se existem crenças limitantes na resposta.
Tenha sempre em mente quem são as
pessoas importantes para sua vida, quais
são seus objetivos e metas, quais são
as ações que precisa fazer para atingir
seus objetivos e manter as relações que
realmente valem seu esforço”, aconselha.
Por último, mas não menos importante,
é necessário avaliar os relacionamentos em
Ilustração: Vasilyeva Elada/Shutterstock Images
que está inserido para identificar possíveis
comportamentos prejudiciais que possam
despertar hábitos ruins. “Relacionamentos
saudáveis sabem respeitar os limites
de cada um, e sabem entender o ‘sim’
e o ‘não’. Existe diálogo, comunicação e
compreensão. Se não existir tais elementos,
é porque não é saudável, logo você não
deve se preocupar em desapontar, porque
é melhor estar longe mesmo”, finaliza.
 A sua mente
TE PERTURBA?

Isso pode ser resultado dos pensamentos intrusivos.

Agora, se você age sem pensar, aí é sinônimo de impulsividade!

Texto: Gabrielle Aguiar

A
nova onda no TikTok é falar
sobre pensamento intrusivo.
O assunto ficou muito popular,
primeiramente, nos Estados
Unidos, e foi passando para o Brasil.
Só que com o aumento no número de
pessoas falando sobre isso, a curiosi-
dade de quem não sabe nada sobre o
assunto também cresceu. Mas calma!
Não precisa clicar em qualquer site
para buscar informações, a Mente
Afiada te explica.
O QUE É PENSAMENTO INTRUSIVO?
São pensamentos indesejados e involun-
tários que surgem na mente, muitas ve-
zes causando desconforto, ansiedade ou
perturbação. Eles podem ser repetitivos,
irracionais ou fora de contexto, e podem
variar de leves a intensos. Geralmente,
não representam os desejos ou crenças
verdadeiras da pessoa, mas podem ser
persistentes e difíceis de controlar”, ex-
plica o psicoterapeuta Thiago Guimarães.
Agora que você já sabe o que é,
vamos a exemplos de pensamentos in-
trusivos. A psicóloga e membro da So-
ciedade Brasileira de Psicologia (SBP),
Larissa Fonseca, separou alguns.
E se eu me jogar na frente desse ônibus?
E se eu jogar essa pessoa na frente
desse carro?
E se eu gritar nessa reunião?
Será que deixei o fogão ligado?
E se Deus não me amar?
Será que isso não é sintoma de uma
doença terminal?
Será que me limpei direito no banho?
MAS ISSO É COMUM?
Guimarães aponta que, por
mais que seja estranho, pen-
samentos intrusivos são bas-
tante comuns. “A maioria das
pessoas vivencia esses tipos
de pensamentos ocasional-
mente, sem que eles causem
grande perturbação. No en-
tanto, quando os pensamen-
tos intrusivos se tornam fre-
quentes, intensos e causam
angústia significativa, ou in-
terferem na vida diária, pode
ser aconselhável buscar apoio
de um profissional de saúde
mental, como um psicotera-
peuta ou psiquiatra. Eles po-
dem ajudar a entender e lidar
com esses pensamentos de
maneira saudável.”

AS CAUSAS SÃO DIVERSAS
Por mais que os pensamentos intrusi-
vos apareçam por várias causas, algu-
mas teorias sugerem que eles podem
ser resultado de padrões normais do
funcionamento do cérebro, nos quais
pensamentos aleatórios e diversos são
constantemente gerados. “No entanto,
esses pensamentos podem se destacar
quando são percebidos como inconsisten-
tes com os valores, crenças ou desejos
da pessoa”, diz o psicoterapeuta.
Além disso, Larissa aponta que fa-
tores como estresse, ansiedade, depres-
são, transtornos mentais, transtorno
de estresse pós-traumático e eventos
traumáticos podem contribuir para a ocor-
rência de pensamentos intrusivos. “Por
exemplo, pessoas com transtorno obses-
sivo-compulsivo (TOC) frequentemente
experimentam pensamentos intrusivos
perturbadores que desencadeiam com-
ou reflexão adequada”, diz Thiago.
Por outro lado, o pensamento intru-
sivo, como já falamos, são indesejados e
involuntários e surgem na mente, muitas
vezes podendo ser repetitivos, irracionais
e fora do contexto. “Porém, embora se-
jam diferentes, em algumas situações,
pensamentos intrusivos podem influenciar
impulsos, especialmente em pessoas que
sofrem de transtornos como o transtorno
obsessivo-compulsivo (TOC). Por exemplo,
uma pessoa com pensamentos intrusivos
obsessivos sobre contaminação pode sen-
tir um impulso de lavar as mãos repetida-
mente como forma de aliviar a ansiedade
associada aos pensamentos”, finaliza
o psicoterapeuta.

Ilustrações: Danny Oliva, GoodStudio e Irina Danyliuk/Shutterstock Images

pulsões, como uma tentativa de aliviar
a ansiedade associada a esses pensa-
mentos”, completa Guimarães.

IMPULSIVIDADE X
PENSAMENTO INTRUSIVO
Os pensamentos intrusivos e a impul-
sividade são conceitos distintos, mas
estão relacionados em certos contextos.
“Ambos podem ser sintomas da saúde
mental em desequilíbrio”, conta a psicó-
loga. Vamos às diferenças!
“A impulsividade refere-se ao agir ou
tomar decisões sem considerar as con-
sequências. Pessoas impulsivas podem
agir precipitadamente, sem planejamento
 TDI: Quando a mente
se fragmenta em
DIVERSAS
PERSONALIDADES

Entenda o Transtorno Dissociativo de Identidade

e quais fatores podem motivar a condição
Texto: Ana Kubata

I
magine ter dentro de você mais
de 30 personalidades diferentes,
cada uma com suas próprias
características, memórias e com-
portamentos únicos, capazes de interagir
entre si. Essa é a realidade de pessoas
que sofrem de Transtorno Dissociativo de
Identidade (TDI), uma condição psicológica
complexa que desafia nossa compreensão
da mente humana.
 No Brasil, existem poucos estudos
sobre o transtorno e sua prevalência
SUA ORIGEM
O TDI, então, está intrinsecamente li-
no país é pouco conhecida. Já nos Es-
gado a experiências traumáticas, como
tados Unidos, estima-se que cerca de
abuso físico, sexual ou emocional, es-
1,5% da população conviva com esse
pecialmente durante a infância. “O TDI
distúrbio. Uma característica importante
tem muitas variações entre cada caso,
do TDI é que as pessoas que o têm,
em alguns as personalidades são total-
geralmente, não conseguem reconhecer
mente independentes, em outros elas
sua própria condição, devido à amnésia
interagem em uma espécie de universo
dissociativa, o que significa que elas
próprio”, reforça Agrela. Embora fatores
sofrem “apagões” de memória quando
genéticos e predisposições familiares
outra identidade assume o controle.
possam contribuir, o trauma é conside-
rado o fator primordial.

O QUE É TDI? “Perdas impactantes ou eventos de

O Transtorno Dissociativo de Iden- alto estresse, especialmente duran-
tidade, frequentemente chama- te a infância, são grandes desenca-
do de TDI, é uma condição em que deadores para o transtorno, fazen-
uma pessoa apresenta duas ou mais do com que o cérebro acione uma
identidades distintas, também co- ferramenta de defesa que cria as
nhecidas como “personalidades” ou personalidades como uma barreira
“alter egos”. A transição entre uma de impacto para
e outra, é desencadeada por uma o trauma.”
amnésia significativa que aconte-
ce enquanto outras personalidades
estão no controle. “O TDI surge, em
geral, após uma experiência trau-
mática que faz com que o cérebro se
‘fragmente’ em várias personalida-
des como uma forma de se proteger
melhor da situação. Ele pode se ma-
nifestar como duas ou dezenas de
personalidades com características,
gostos, pensamentos e memórias
diferentes que podem interagir en-
tre si de uma forma altamente com-
plexa”, explica Fabiano de Abreu
Agrela, pós-PhD em neurociências e
membro da Society for Neuroscien-
ce nos EUA e da Sigma X.
CASOS REAIS
Recentemente, o Fantástico exibiu uma
reportagem especial que mostrou casos
de pessoas que têm e convivem com o
TDI. Uma delas é Giovanna Blasi, de 21
anos, que afirma contar com 18 identi-
dades, cada qual com sua personalida-
de, trejeitos, gostos, modo de falar, etc.
Apesar de preferir não expor detalhes,
Giovanna conta que viveu eventos traumá-
ticos durante a infância. Esse teria sido
o ponto de partida para o aparecimento
de sua primeira identidade, ‘’Momô’’,
uma criança de 5 anos. Além dessa e da
própria Giovanna, surgiram outras: Aline,
Aurora, Dandara, Aiana, Tatá, Herbert,
Isabella, Laura, Lina, Lua, Luara, Luiza,
Maria Helena, Melanie, Jim e Ariel.
A jovem descobriu o TDI em 2022.
Ela contou à reportagem que foi afasta-
da da faculdade e do trabalho por es-
tar disfuncional, e que entrava em uma
crise dissociativa que a fazia trocar de
personalidade pelo menos 14 vezes por
dia. A mãe então procurou atendimento
psiquiátrico e psicológico, e o diagnóstico
veio poucos meses depois de iniciarem
a investigação.
Outro caso exibido no programa da
TV Globo foi o de Patrícia Fagundes da
Silva, de 28 anos. A manicure relata ter
28 identidades e, inclusive, disse que
prefere ser chamada de Sistema Repúbli-
ca - que reúne todos os perfis. É comum
que esses pacientes se autodenominem
“sistemas” e se comuniquem através
de um alter, que atua como o porta-voz
para fornecer informações. Cada alter
é encarregado de assumir o controle
(a “frente”), possui sua própria história
e personalidade, que são distintas da-
quelas do “anfitrião” principal. Além das
diferenças de nomes, eles podem variar
em termos de idade, gênero, orientação
sexual, etnia, preferências pessoais e
crenças religiosas.
TEM TRATAMENTO!
O Transtorno Dissociativo de Identida-
de pode frequentemente coexistir com
quadros de depressão e ansiedade.
Devido à combinação desses fatores,
os pacientes podem enfrentar situações
graves, incluindo tentativas de suicídio.
Por isso, o acompanhamento de um
profissional é extremamente necessário
para garantir o bem-estar de quem sofre
com essa condição.
A boa notícia é que o TDI é tratável.
O tratamento envolve principalmente te-
rapia cognitivo-comportamental, que visa
identificar e desafiar os padrões de pen-
samento disfuncionais. Essa abordagem
tem como objetivo unificar as diferentes
personalidades, promovendo a coopera-
ção e a harmonia interna”, explica Agrela.
É importante ressaltar que cada caso
de TDI é único, e os profissionais de saúde
adotam abordagens totalmente individu-
alizadas para atender às necessidades
específicas de cada paciente. O processo
é longo e desafiador, mas com resultados
de longo prazo que podem melhorar sig-
nificativamente a qualidade de vida dos
pacientes. “É preciso entender que esse
é um transtorno, uma doença, e como
tal é fundamental que o tratamento e os
conselhos do profissional responsável pelo
caso sejam ouvidos e seguidos, cada caso
é um caso”, orienta o neurocientista.
APOIO DA FAMÍLIA E
AMIGOS É ESSENCIAL
A convivência com alguém que
tem TDI pode ser desafiadora,
especialmente devido às mudan-
ças frequentes entre as persona-
lidades. Compreensão, paciência
e apoio emocional são essenciais
para ajudar o paciente a enfrentar
essa condição complexa. “O apoio
da família e amigos durante o pro-
cesso é essencial para o facilitar o
tratamento e melhorar seus re-
sultados”, afirma o especialista.
O Transtorno Dissociativo de
Ilustrações: Sensvector, delcarmat, Bibadash e DannyOliva/Shutterstock Images
Identidade desafia nossa com-
preensão da mente humana, mas
também nos lembra da resiliên-
cia e da importância do apoio e
compreensão em momentos di-
fíceis. Com tratamento adequado
e apoio emocional, aqueles que
sofrem com o TDI podem encon-
trar a esperança e a cura em sua
jornada de recuperação. “O TDI
pode ser controlado, seja através
da harmonia entre as personali-
dades ou da unificação delas para
reduzir o seu número, a depen-
der de cada caso, a abordagem é
totalmente individualizada e com
resultados de longo prazo”, finali-
za o especialista.
 NÉVOA
CEREBRAL DA
MENOPAUSA
Esquecimento, lapsos de memória e perda
das palavras podem estar ligados à diminuição
do estrogênio no hipocampo do cérebro

Texto: Renan Pereira

M uitas mulheres reclamam de

esquecimento quando entram
na menopausa – que inclui
desde situações cotidianas como não se
lembrar o que foi fazer em um determinado
local, esquecer certas palavras e até
mesmo perda de memória. O que elas
não sabem é que esses sintomas são
Ilustração: Albina Golubitsky/Shutterstock Images

comuns, e chamados na literatura médica

de “névoa cerebral da menopausa”, ou
brain fog, na língua inglesa.

COMO OCORRE O PROCESSO?

De acordo Carol Miksza, médica gine-
cologista, obstetra e membro do corpo
clínico da Maternidade Nossa Senhora
de Fátima, no Paraná, esses sintomas
começam no climatério, que é o período
 em que a mulher passa a ter as primeiras
alterações hormonais relacionadas ao
Ilustração: MIKHAIL GRACHIKOV/Shutterstock Images
fim do ciclo reprodutivo. “O cérebro das
mulheres possui muitos receptores para
o estrogênio – hormônio sexual feminino
produzido pelos ovários. E esses receptores
estão concentrados, principalmente, na
área do hipocampo, que é responsável
pela função cognitiva da mulher. Quando
ela tem essa oscilação hormonal, esses
receptores são afetados, por isso que
a mulher pode ter estas alterações das
funções cognitivas.”
NIVEL DO HORMÔNIO ESTROGÊNIO
ANOS ANOS ANOS ANOS
MENOPAUSA
BRAIN FOG E A PANDEMIA
O termo brain fog ganhou popularidade
durante a pandemia da Covid-19, já que
o vírus também pode causar sintomas
de confusão mental. Mas nesse caso,
SINTOMAS
Flávia do Vale, professora de obstetrícia
da Universidade Federal Fluminense (UFF),
diz que os sintomas podem ser:
• Problemas de memória: esquecimento
ocasional, dificuldade em lembrar nomes
ou informações;
• Dificuldade de concentração: acham
mais difícil se concentrar em tarefas por
longos períodos;
• Confusão mental: podem se sentir men-
talmente mais confusas e desorientadas
em certos momentos;
Deficiência de
estrogênio
Nivel de estrogênio
ANOS ANOS ANOS ANOS
diferente da menopausa, essa névoa
cerebral é causada pela inflamação em
uma região de receptores do cérebro, que
consequentemente levam aos sintomas
de confusão mental.
• Lentidão cognitiva: sentem que o
pensamento é mais lento ou que pro-
cessar informações é mais demorado.
A docente chama a atenção para o
fato de que nem todas as mulheres terão
esses sintomas da névoa cerebral. “Além
disso, aquelas que possuem, podem
variar em gravidade. É importante lembrar
que esses sintomas geralmente são
temporários e podem ser gerenciados
com algumas estratégias como: exercícios
mentais, manter uma vida saudável,
gerenciamento do estresse e, em
alguns casos, tratamento hormonal, se
recomendado por um médico. Se você
está passando pela menopausa e enfrenta
problemas cognitivos significativos, é
aconselhável discutir essas preocupações
com um profissional de saúde para receber
orientação adequada”, completa Flávia.
NÉVOA CEREBRAL É O PRIMEIRO
PASSO PARA UMA DEMÊNCIA?
Essa é uma dúvida comum entre as
mulheres que começam a ter os sintomas
cognitivos da menopausa. Sobre isso,
Flávia do Vale diz que “a demência é uma
condição neurológica progressiva que afeta
a função cognitiva de forma mais grave e
permanente. A demência inclui condições
como a doença de Alzheimer e a demência
vascular, e os sintomas pioram ao longo
do tempo”, explica a professora.
No entanto, a menopausa está associada
a um risco ligeiramente aumentado de
desenvolver doenças neurodegenerativas,
como a doença de Alzheimer, em
comparação com homens da mesma faixa
etária. “Além disso, transtornos de humor,
como a depressão, são mais comuns
durante a menopausa e podem estar
associados a problemas cognitivos. A boa
notícia é que o tratamento adequado dos
sintomas da menopausa e o gerenciamento
de condições de saúde mental podem
ajudar a reduzir o risco de problemas
cognitivos a longo prazo. É importante
conversar com um profissional de saúde
Ilustração: Liana Nagieva/Shutterstock Images
para avaliar sua situação individual e
receber orientação correta”, afirma.
GERENCIADO A MENTE!
Por mais que a névoa cerebral seja
uma experiência comum para algumas
mulheres durante a transição para a
menopausa, existem algumas estratégias
que podem ajudar a prevenir ou minimizar
esses sintomas cognitivos. Flávia listou
algumas opções:
• Manter um estilo de vida saudável:
adote uma dieta equilibrada rica em
nutrientes, incluindo alimentos que
promovam a saúde cerebral, como
peixes ricos em ácidos graxos ômega-3,
frutas e vegetais. “Também mantenha
um peso saudável e pratique exercícios
regularmente para promover a circulação
sanguínea e a saúde cardiovascular.
Durma bem e estabeleça uma rotina de
sono adequada”, aconselha;
• Gerenciar o estresse: aprenda técnicas
de gerenciamento de estresse, como
meditação, ioga ou exercícios de respiração
profunda. Priorize o autocuidado e reserve
tempo para relaxar;
• Exercite o cérebro: mantenha o cérebro
ativo com jogos mentais, quebra-cabeças,
leitura e aprendizado contínuo. Mantenha
uma vida social ativa para estimular a
mente e manter conexões sociais;
• Considerar a Terapia de Reposição
Hormonal (TRH): em casos graves de
sintomas da menopausa, a TRH pode ser
uma opção sob orientação médica, já que
visa equilibrar os níveis hormonais e, assim,
pode ajudar com sintomas cognitivos;
• Consultar um profissional de saúde: se os
sintomas da névoa cerebral da menopausa
forem significativos e persistentes, é
importante consultar um profissional de
saúde. Eles podem avaliar sua situação
individual e discutir opções de tratamento,
incluindo medicamentos, se necessário;
• Acompanhamento médico regular:
mantenha consultas médicas regulares
para monitorar sua saúde geral e discutir
quaisquer preocupações com um médico.
OS HOMENS TAMBÉM PODEM
TER A NÉVOA CEREBRAL?
Carol Miksza diz que as mudanças
hormonais nos homens, decorrente da
andropausa, também podem levar às
mudanças cognitivas. Enquanto nas
mulheres os ovários deixam de produzir
hormônios, os homens têm uma diminuição Ilustração: Nadiia Lapshynska/Shutterstock Images
na produção da testosterona. “Eles
podem, sim, sentir sintomas, inclusive,
de humor, uma sensação de cansaço,
diminuição da massa muscular, alteração
da libido. Essas alterações hormonais,
tanto nos homens quanto nas mulheres,
podem mexer com a função cognitiva. Nas
mulheres, a princípio, a gente consegue
visualizar de uma maneira mais intensa.”
 SUICÍDIO
SEM MISTÉRIO
Relacionado à saúde mental, o acontecimento
também pode estar ligado ao uso de entorpecentes
e é comum entre jovens

Ilustração: Alphavector/Shutterstock Images

Texto: Renan Pereira

D iferentemente do que se relacionado aos transtornos mentais, pois

costuma dizer, ninguém se
mata apenas por brigar
com os pais, namorado(a) ou algo
do tipo. O suicídio é um acontecimento
multifatorial, ou seja, ele é causado
por diversos elementos que, juntos,
fazem com que a pessoa atente
contra a própria vida. Além disso,
a grande maioria dos casos está
de acordo com dados fornecidos pelo Ministério
da Saúde, 96,8% deles estão ligados a
doenças como depressão e transtorno bipolar
(os mais comuns).
Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), os casos de suicídio ao redor do mundo
tiveram uma queda de 36% entre os anos de
2000 e 2019. Já no continente americano,
houve um aumento de 17% nas taxas.
CÉREBRO DEPRIMIDO: UM
MOTOR SEM GASOLINA
De acordo com a psicóloga Cecília
Rocha, a depressão é o transtorno
mental mais ligado aos casos de
suicídio. O neurocientista José
Fernandes Villas explica que o
motivo é porque o cérebro de uma
pessoa deprimida possui disfunções
químicas. “Existe uma disfunção
de neurotransmissores, que são
partículas que fazem a comunicação
entre os neurônios no cérebro. Sendo
assim, há alterações de serotonina,
dopamina e noradrenalina.”
O médico compara o cérebro
de uma pessoa com depressão
com um motor sem combustível.
“O cérebro deprimido é o cérebro
que não tem neurotransmissores
para realizar a comunicação de um
neurônio com o outro. Se não há
comunicação, é como se estivesse
desligado. Imagina um motor que
você quer ligar, porém não tem
gasolina no tanque.”
Sobre isto, a psicóloga Cecília
Rocha alerta para a necessidade
de medicação e não somente de
psicoterapia. “Nesses casos, é
muito importante um tratamento
multidisciplinar, pois a pessoa que
está deprimida e que tentou cometer
o suicídio vai precisar de remédios
para conseguir tratar a doença.”
CASOS ENTRE JOVENS
Cecília, que trabalha com a temática entre
adolescentes e também crianças, diz que
é cada vez mais comum os casos entre os
mais jovens e relata que até mesmo a escola
pode ser um lugar onde os transtornos podem
ser desencadeados.
“Entre os jovens e adolescentes, a saúde
mental costuma aparecer como uma questão
muito importante. Então, quando vamos olhar
casos de crianças e adolescentes, vemos,
por exemplo, que na escola o bullying é um
fator de risco.” Segundo a OMS, as mortes
por suicídio são a segunda maior causa de
mortalidade entre jovens de 15 a 29 anos.
Outro fator importante destacado por
Cecília é o uso de entorpecentes. “O uso
de substâncias e a dependência química
é algo que está muito ligado ao suicídio
nos jovens. Muitas substâncias mexem
com o cérebro.”
ESTADOS MAIS DEPRIMIDOS
DO BRASIL
Um levantamento do DataSUS mostrou
quais são os estados que tiveram o maior
índice de suicídio entre os anos de 2011
e 2020:
• São Paulo (20.667)
• Minas Gerais (12.645)
• Rio Grande do Sul (11.342)
• Santa Catarina (6.338)
• Paraná (6.218)
ESPIRITUALIDADE Sobre esperança, Cécilia diz também
E DEPRESSÃO que existem estudos que demonstram
Cecília destaca que, apesar de que a espiritualidade – não no sentido de
haver discursos sobre o “direito” de religiosidade ou de simplesmente ter uma
cada um a respeito da própria vida, religião – é positiva e contribui para o tratamento
indivíduos que cometem o suicídio de pacientes com depressão.

Ilustração: melitas/Shutterstock Images

estão doentes, sem esperança e são O mesmo é compartilhado por José Fernandes
incapazes de tomar decisões lúcidas. Villas. “A espiritualidade faz parte do tratamento
“Existe um sofrimento muito grande, para todas as doenças neuropsiquiátricas. Ela
uma desesperança. A pessoa quer funciona no cérebro como uma terapia ‘positivista’
acabar com este sofrimento e acha que estimula a esperança e a vida. Existem vários
que não vai conseguir. Então, é um estudos que corroboram a melhora potencial
ato de desespero para finalizar a nos pacientes com depressão associado à fé,
dor, para acabar com aquilo que em relação aos pacientes ateus ou que não se
ela está sentindo.” embasam na fé”, afirma.

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Redação Ana Kubata (anabeatriz.kubata@astral.com.br), Gabrielle Aguiar (gabrielle.aguiar@astral.com.br) e Renan Pereira (renan.pereira@astral.com.br) ASTRAL LTDA. TODOS OS
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Ano 1, Nº 6 - 2023 PROIBIDA A REPRODUÇÃO.
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