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CONSUMO E PRODUÇÃO RESPONSÁVEIS: O DESAFIO DO MILÊNIO

A responsabilidade ambiental e a produção sustentável tem sido um dos principais desafios dos
produtores no agro. Este mercado tem movimentado e estimulado o desenvolvimento de pesquisas,
tecnologias e inovações e o Brasil é, sem dúvida, um dos pioneiros na criação de estratégias para
mitigação de danos causados ao meio ambiente na atividade agropecuária.
Essas ações em torno da sustentabilidade fazem parte de um movimento chamado “Produção e
Consumo Sustentável”, resultado de um Pacto Global, firmado por diversos países em parceria
com a ONU (Organização das Nações Unidas). Popularmente conhecida como Agenda 2030, este
pacto consiste em 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, que vão desde a erradicação
da pobreza até firmes parcerias globais para criar redes de apoio e desenvolvimento.

Os acordos foram firmados em maio de 2016 e, desde então, as nações têm se preparado para
cumprir todos os objetivos da Agenda 2030. Para o agro, o maior foco está no Objetivo 12:
“Consumo e produção responsáveis”. Mas no que consiste esse objetivo?
• OD12: Consumo e produção responsáveis
Cerca de 30% de todos os alimentos produzidos no mundo se perdem antes mesmo de chegar à
mesa do consumidor. Tais perdas se dão no próprio processo de produção, no transporte e no
armazenamento. Por isso, entre os ODS’s (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), os pactos
para garantir tanto o consumo quanto a produção responsável são indispensáveis. E, nestes, o
agro tem um papel essencial. Em conjunto com os países que participaram do acordo, a ONU
traçou oito objetivos a serem atingidos. São eles:
Estabelecer um plano de desenvolvimento, produção e consumo sustentável com duração de 10
anos, nos quais os países desenvolvidos devem tomar a frente e assumir a responsabilidade de
auxiliar os menos desenvolvidos;
Até 2030 alcançar uma gestão plenamente sustentável dos recursos naturais;
1. Reduzir pela metade o desperdício de alimento per capita mundial até 2030, tanto nos níveis
de varejo, colheita, produção, pós-colheita e consumo;
2. Alcançar, até 2020, o manejo ambientalmente saudável de produtos químicos, diminuindo
sua liberação para o ar, água e solo, minimizando os efeitos negativos para a saúde humana;
3. Reduzir substancialmente a geração de resíduos na agroindústria até 2030, por meio da
prevenção, redução, reciclagem e reuso;
4. Incentivar empresas a adotar práticas sustentáveis, que devem ser incluídas em seus
relatórios de acompanhamento;
5. Promover, junto aos governos de cada país, práticas de compras públicas sustentáveis, de
acordo com a política e com as prioridades de cada nação;
6. Garantir acesso a informação sobre conscientização ambiental, em todo lugar e para todas
as pessoas;
7. Apoiar países no desenvolvimento científico e tecnológico para práticas de mitigação de
danos ambientais;
8. Desenvolver e implementar ferramentas de monitoramento de impacto ambiental para o
turismo sustentável, promovendo a prática para fortalecer culturas, gerar empregos e
fortalecer economias locais;
9. Racionalizar combustíveis fósseis, minimizando possíveis impactos de acordo com a
possibilidade de geração de energia em cada país, visando uma produção que proteja os
mais empobrecidos e as comunidades diretamente afetadas pela produção desses
materiais.
O caminho para concretizar o ODS12 é longo. Mas o agro pode contribuir muito não só para a
produção, mas também para estimular um consumo de produtos mais sustentáveis.
Sustentabilidade na prática: políticas públicas, abertura ao crédito e responsabilidade ambiental
CRA Verde, CPR Verde e CBI são três selos muito populares para os produtores que desejam
adotar uma produção mais sustentável. Mas o que eles são na prática?

O CRA Verde é um dos Certificados Recebíveis do Agronegócio. Em resumo, ele é um título de


crédito que possibilita ao produtor receber recursos financeiros para fazer adaptações em suas
fazendas, visando deixar sua produção cada vez mais comprometida com as questões ambientais.
O CRA Verde pode ser obtido por produtores rurais, cooperativas e até mesmo por terceiros. Suas
operações abrangem financiamentos ou empréstimos para a produção, comercialização,
beneficiamento, industrialização de produtos, insumos agropecuários, máquinas e implementos
agrícolas. Tais valores devem ser revertidos em melhorias ambientais, direcionando o fluxo de
capital para incentivar práticas mais responsáveis. É um título internacional e, por essa razão, pode
garantir ativos em dólar.
CPR é sigla para Cédula de Produto Rural. A CPR Verde foi criada em Outubro de 2021 e dá aos
produtores comprometidos com a questão ambiental um título verde. Ele é voltado para financiar a
conservação da vegetação nativa das propriedades e funciona como um pagamento pelos serviços
ambientais prestados pelos produtores, que combatem o desmatamento de novas áreas em suas
atividades. O intuito desse selo é conservar florestas, APP’s, nascentes e recuperar a vegetação
nativa, diminuindo e mitigando as emissões de gases de efeito estufa.
Já CBI é sigla para Climate Bonds Initiative (ou Iniciativa de Títulos Climáticos, em livre tradução).
Consiste em uma iniciativa que tem como função analisar a emissão de títulos verdes e orientar
investidores que buscam ativos e que estão comprometidos com questões ambientais, sociais e de
governança. Chamados de ESG (Environmental, Social and Governance), esses compromissos
são firmados por produtores e empresas e, posteriormente, analisados pela CBI, que emite ou não
títulos verdes. A CBI movimenta em torno de US$100 trilhões para a emissão de selos para
soluções climáticas e iniciou seus trabalhos no Brasil já em 2014.
CRA Verde, CPR e CBI fazem parte de uma série de títulos e organizações que visam dar suporte
para aqueles que desejam contribuir para uma produção mais sustentável. Mais que isso, são
provas que tanto o setor público quanto o setor privado estão comprometidos para o cumprimento
dos acordos firmados com a ONU. Acredita-se que até 2050 a população mundial deverá chegar a
9,7 bilhões de pessoas, o que demanda um aumento na produção de alimentos usando a menor
área com a maior produtividade possível. E o papel do Brasil é fundamental.

Ainda que, na prática, o produtor encontre algumas dificuldades para se adaptar, é fato que grande
parte dos investidores brasileiros e mundiais já entenderam que risco climático é sinônimo de risco
de investimento. Cabe agora aos produtores se prepararem para esse novo momento da
agropecuária.
• O futuro do agro sustentável
Uma produção agrícola sustentável parece ainda muito distante para os produtores rurais
brasileiros. Mas se engana quem pensa que tecnologia e inovação para o agro com
sustentabilidade é história de filme de ficção científica. Somente até maio de 2021, as captações
para títulos verdes no agro somaram US$1,213 bilhão e a expectativa para 2022 é que esse número
cresça ainda mais: até 2030, espera-se que os selos verdes injetem na agropecuária cerca de
US$700 bilhões de dólares.
Se o Brasil quiser se solidificar como referência na produção sustentável, é preciso
comprometimento. Para isso, os produtores devem estar prontos para a mudança e devem recorrer
cada vez mais à agropecuária de baixo carbono, à preservação ambiental e à visão de um futuro
produtivo, mas cada vez mais verde.

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