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MODELAGEM NUMÉRICA

DE OBRAS GEOTÉCNICAS

UNIDADE IV
TALUDES E ENCOSTAS
Elaboração
Ramon Matos Arouca Júnior

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE IV
TALUDES E ENCOSTAS................................................................................................................5

CAPÍTULO 1
MÉTODOS DE ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES......................................................... 5
CAPÍTULO 2
ESTABILIDADE DE TALUDES E ENCOSTAS............................................................................ 11
CAPÍTULO 3
RUPTURAS PLANARES E RUPTURAS CIRCULARES............................................................... 16
REFERÊNCIAS.........................................................................................................................22
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TALUDES E ENCOSTAS UNIDADE IV

Capítulo 1
MÉTODOS DE ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE
TALUDES

Como estudamos, talude é a denominação que se dá a qualquer superfície inclinada


de um maciço de solo ou rocha. Ele pode ser natural, também denominado encosta,
ou construído pelo homem, por exemplo, os aterros e cortes (Gerscovich, 2016).

E por que devemos estudar e entender esses processos de ruptura? A figura a seguir
exemplifica várias situações práticas em que as análises de estabilidade são necessárias:
Figura 33. Exemplos de aplicações de estudos de estabilidade.

Solo
Rocha

Encostas naturais: avaliar a necessidade de


medidas de estabilização

Cortes ou escavações: definir inclinação do corte/


avaliar a necessidade de medidas de estabilização

Diques de alteamento
Barragem de terra: definir seção da barragem e Barragem de rejeito (alteamento a
configuração economicamente mais viável montante). Definir seção dos diques e
configuração economicamente mais viável

Aterro

Superfície de ruptura
Solo compressível
Aterros sobre solos compreensíveis: definir
geometria da seção economicamente mais Retroanálise da ruptura para reavaliação dos
viável parâmetros de projeto.

Fonte: Gerscovich, 2016.

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UNIDADE IV | Taludes e Encostas

A ruptura em si caracteriza-se pela formação de superfície de cisalhamento contínua


na massa de solo. Portanto, existe uma camada de solo em torno da superfície de
cisalhamento que perde suas características durante o processo de ruptura, formando
a zona cisalhada, conforme mostrado na figura a seguir. Inicialmente, forma-se a
zona cisalhada e, em seguida, desenvolve-se a superfície de cisalhamento.
Figura 34. Zona fraca, zona cisalhada e superfície de cisalhamento.

Superfície de ruptura

Zona cisalhada

Fonte: Gerscovich, 2016.

Conforme as condições geomorfológicas, as superfícies de ruptura podem ser planares,


circulares, em cunha, ou uma combinação de formas (circular e plana), denominadas
superfícies mistas.

Os escorregamentos planares ou translacionais caracterizam-se por


descontinuidades ou planos de fraqueza (figura a seguir). Esse tipo de ruptura é
muito comum em mantos de colúvio de pequena espessura, sobrejacente a um
embasamento rochoso.
Figura 35. Elementos que caracterizam uma massa escorregada.

A) Superfície plana no contato com


material resistente

Material resistente

B) Superfície plana no contato com descontinuidade ou


material de baixa resistência

Descontinuidade ou material de
baixa resistência
C) Escorregamento translacional
em solo residual

Fonte: Gerscovich, 2016.

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Taludes e Encostas | UNIDADE IV

Quando os planos de fraqueza se cruzam ou quando camadas de menor resistência


não são paralelas à superfície do talude, a superfície de ruptura pode apresentar forma
de cunha (figura a seguir), delimitada por um ou mais planos.
Figura 36. Cunha simples e em dois planos.

A) Cunha simples B) Cunha em dois planos

Descontinuidade ou
material de baixa
resistência

Fonte: Gerscovich, 2016.

Em solos relativamente homogêneos, a superfície tende a ser circular (figura a


seguir). Quando a anisotropia com relação à resistência é significativa, a superfície
pode ter aparência mais achatada, na direção horizontal ou vertical.
Figura 37. Elementos que caracterizam uma massa rotacionada.

C) Escorregamento rotacional, vista superior


A) Vista de ruptura circular (GeoRio, 1999) (Salvador/BA, 2005)

B) Esquema de superfície de ruptura na seção central D) Detalhe do escorregamento rotacional


(Salvador/BA, 2005)

Fonte: Gerscovich, 2016.

Os escorregamentos são movimentos de massa rápidos, com superfície de ruptura


bem definida. A deflagração do movimento ocorre quando as tensões cisalhantes
mobilizadas na massa de solo atingem a resistência ao cisalhamento do material.
Tanto em solos como em rochas, a ruptura se dá pela superfície que apresenta a

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UNIDADE IV | Taludes e Encostas

menor resistência. As terminologias para designar os elementos de caracterização de


um escorregamento e das dimensões envolvidas na movimentação de massa estão
indicadas na figura 38 a seguir, de acordo com a norma NBR 11682 (ABNT, 2008):
Figura 38. Elementos que caracterizam o talude.

A) Elementos Crista B) Dimensões


Escarpa Crista do Topo do escorregamento
talude Topografia original
Flanco
Comprimento do escorregamento

Base do
escorregamento
Pé do
talude

Fonte: ABNT, 2008 apud Gerscovich, 2016.

A figura a seguir mostra exemplos de rupturas ocorridas em períodos de chuva


intensa. São apresentados exemplos de movimentos de massa em áreas rurais e
urbanas, com consequências catastróficas tanto do ponto de vista de perdas humanas
quanto financeiras. Os exemplos envolvem rupturas de solo residual e de massa
orgânica, proveniente da acumulação do lixo lançado na encosta (figura 39A).
Figura 39. Elementos que caracterizam uma massa escorregada.

B) Solo residual, área urbana (Blumenau/SC, 2008)

A) Depósito de lixo (Pavão-Pavãozinho/RJ, 1983)

D) Solo residual, área rural (Blumenau/SC, 2008)

C) Solo residual, área urbana (Rio de Janeiro, 1996)

Fonte: Gerscovich, 2016.

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Taludes e Encostas | UNIDADE IV

As erosões também podem ser caracterizadas como processos de evolução natural.


As erosões costeiras, por exemplo, representam processo que se desenvolve a partir
de um conjunto de fenômenos e processos dinâmicos que alteram as condições de
estabilidade e podem causar situações de risco para as populações que ali vivem ou
para eventuais ocupações futuras. Os processos erosivos são subdivididos em dois
movimentos, de acordo com o agente deflagrador: quando a água subterrânea é o
principal agente, o processo é denominado voçoroca; caso contrário, denomina-se
ravina (figura a seguir).
Figura 40. Zona fraca, zona cisalhada e superfície de cisalhamento.

A) Ravinas (sem surgência de água) B) Voçorocas (com surgência de água)

Fonte: Gerscovich, 2016.

Ante o que já foi visto, discutiremos a modelagem numérica que envolve a ruptura
por escorregamento.

Os métodos de análise de estabilidade de taludes apresentados a seguir baseiam-se


na abordagem por equilíbrio limite e foram desenvolvidos para análises em 2D.
Todos os métodos pressupõem estado plano de deformação, e sua validade está
associada à forma da superfície de ruptura. Discutiremos nos próximos capítulos
a modelagem numérica para estabilidade de taludes com superfícies de ruptura
plana e circular.

Como estudamos, uma superfície de solo exposta, formando ângulo com o plano
horizontal, é chamada talude. O talude pode ser natural ou feito pelo homem.
Ele pode falhar de diversos modos. Das e Sobhan (2014) listam classificação
geral das rupturas de talude dividida em cinco categorias principais:

» Queda: é o desprendimento de solo e/ou fragmentos de rocha que caem


de um talude.

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UNIDADE IV | Taludes e Encostas

» Tombamentos: é o movimento de rotação à frente do solo e/ou de


massas rochosas aproximadamente no eixo abaixo do centro de gravidade
da rocha que está sendo deslocada.

» Escorregamentos: é o movimento descendente da massa de solo que ocorre


em superfície de ruptura.

» Expansões laterais (ou espalhamento): é uma forma de escorregamento


que ocorre por translação causado por um movimento súbito de uma fração
de areia ou silte recoberta por argila retentora de água ou sobrecarregada
por aterro.

» Escoamentos: é o movimento descendente da massa de solo de forma similar


à de fluidos viscosos.

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Capítulo 2
ESTABILIDADE DE TALUDES E ENCOSTAS

A função do engenheiro encarregado da análise de estabilidade do talude é determinar


o fator de segurança FS; já estudamos os parâmetros e as fórmulas de FS na Unidade I.

Agora, considerando o problema de estabilidade dos taludes, começaremos com o caso


de um talude infinito, conforme exibido na figura a seguir:
Figura 41. Análise de talude infinito (sem percolação).

Fonte: Das; Sobhan, 2014.

Quando o escorregamento é predominantemente translacional, paralelo à superfície


do talude, desprezam-se os efeitos de extremidades, e a análise pode ser feita pelo
método de talude infinito. A resistência ao cisalhamento do solo pode ser dada pela
equação a seguir:
τ f = c′ + σ ′tgφ ′

Presumindo-se que a poropressão seja zero, avaliaremos o fator de segurança em


relação a uma possível falha de talude ao longo do plano AB localizado a uma
profundidade H a seguir da superfície do solo. A ruptura do talude pode ocorrer
pelo movimento do solo, acima do plano AB, da direita para esquerda.

Consideremos um elemento de talude abcd com comprimento específico perpendicular


ao plano da seção indicada. As forças, F, que agem nas faces ab e cd são iguais,
contrárias e podem ser ignoradas. O peso do elemento de solo é:

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UNIDADE IV | Taludes e Encostas

W = (Volume de elemento de solo)  (Peso específico de solo) = γLH

O peso W pode ser resolvido em dois componentes:

» Força perpendicular ao plano AB = Na = Wcosβ = γLHcosβ

» Força paralela ao plano AB = Ta = Wsenβ = γLHsenβ

Assim, a tensão normal efetiva e a tensão de cisalhamento na base do elemento de


inclinação podem ser dadas, respectivamente, como:
Na γ LHcos β
=σ′ = = γ Hcos 2 β
Área da base  L 
 cos β 
 
Ta γ LHsenβ
τ= = = γ Hcos β senβ
Área da base  L 
 cos β 
 

A reação ao peso W é uma força igual e oposta a R. Os componentes normal e tangencial


de R com relação ao plano AB são:

Nr = Rcosβ = Wcosβ

Tr = Rsenβ = Wsenβ

Para equilíbrio, a tensão resistiva ao cisalhamento desenvolvida na base do elemento


Tr
é igual a = γ Hsenβ cos β .
Área debase

Podemos também escrever:

τ d = cd′ + γ Hcos 2 β tg ∅′d

Assim:
γ Hcos β senβ = cd′ + γ Hcos 2 β tg ∅′d

tg ∅′
O fator de segurança, com relação à resistência, pode ser definido como tg ∅′d =
FS
e cd′ =
c′
. Logo, substituindo os valores nas equações anteriores, obtemos:
FS
c′ tg ∅′
FS = +
γ Hcos 2 β tg β tg β

Agora analisaremos um talude infinito com percolação constante. A figura a seguir


indica um talude infinito. Vamos supor que exista percolação pelo solo e que o lençol
freático coincida com a superfície do solo.

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Taludes e Encostas | UNIDADE IV

Figura 42. Análise de talude infinito (com percolação).

Linha de fluxo

Linha
equipotencial

Percolação

Fonte: Das; Sobhan, 2014.

Para determinar o fator de segurança em relação à ruptura ao longo do plano AB,


considere o elemento de inclinação abcd. As forças que agem sobre as faces verticais
ab e cd são iguais e opostas. O peso total do elemento de inclinação de comprimento
específico é:

W = γsatLH

Em que γsat peso específico do solo saturado.

Os componentes de W nas direções normal e paralela ao plano AB são:

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Sumário

Na = Wcosβ = γsatLHcosβ

Ta = Wsenβ = γsatLHsenβ

A reação ao peso W é igual a R. Assim:

Nr = Rcosβ = Wcosβ = γsatLHcosβ

Tr = Rsenβ = Wsenβ = γsatLHsenβ

A tensão normal total e a tensão ao cisalhamento na base do elemento são,


respectivamente:
Nr
=σ = γ sat Hcos 2 β
 L 
 cos β 
 
Tr
=τ = γ sat Hcos β senβ
 L 
 cos β 
 

A tensão resistente ao cisalhamento desenvolvida na base do elemento também pode


ser dada por:
τ d = cd′ + σ ′tg ∅ d = cd′ + (σ − u ) tg ∅ d

Em que u = poropressão. Consultando a figura 42b, vemos o seguinte:

u = (altura de água no piezômetro colocado em f) (γw ) = hγw

e
= cos β
h ef= ( Hcos β )(=
cos β ) Hcos 2 β

Então:

u = γw Hcos2β

Substituindo os valores de σ e u, obteremos:


cd′ + ( γ sat Hcos 2 β − γ w Hcos 2 β ) tg∅ d′
τd =
τ d = cd′ + γ ′Hcos 2 β tg ∅′d

Igualando, temos:
γ sat Hcos β senβ = cd′ + γ ′Hcos 2 β tg ∅′d

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Taludes e Encostas | UNIDADE IV

ouc ′  γ′ 
=d
cos 2 β  tg β − tg ∅′d 
γ sat H  γ sat 

Em que γ' = γsat - γw = peso específico efetivo do solo.

O fator de segurança com relação à resistência pode ser encontrado pela substituição
de e na equação anterior:
tg ∅′ c′
tg ∅′d = cd′ =
FS FS
c′ γ ′tg ∅′
FS = +
γ sat Hcos β tg β γ sat tg β
2

Para inclinação infinita indicada na figura a seguir (considere que não exista
percolação pelo solo), determine:

» O fator de segurança contra o escorregamento ao longo da interface solo-rocha.

» A altura H, que fornecerá fator de segurança (FS) de 2 contra escorregamentos


ao longo da interface solo-rocha.

» Se existir percolação pelo solo conforme indicado e o lençol freático coincidir


com a superfície do solo, qual será o fator de segurança, Fs, dado que
H = 1,16 m e γsat = 18,55 kN/m3?

Observação: a resolução dessa questão estará aberta à discussão entre os


participantes durante a semana da unidade em questão, não devendo ultrapassar
esse período. Possíveis dúvidas serão esclarecidas na sala de tutoria.

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Capítulo 3
RUPTURAS PLANARES E RUPTURAS CIRCULARES

Quando o valor de Hcrítico se aproxima da altura do talude, este geralmente pode ser
considerado finito.

Para simplificar, ao analisar a estabilidade de um talude finito em solo homogêneo,


precisamos assumir hipóteses sobre a forma geral da superfície potencial de
ruptura. Embora existam evidências consideráveis sugerindo que as rupturas de
taludes ocorrem normalmente em superfícies curvas, Culmann (1875) aproximou a
superfície de ruptura potencial para um plano.

O fator de segurança calculado mediante a aproximação de Culmann fornece resultados


razoavelmente bons apenas para taludes quase verticais.

Depois de intensas investigações sobre rupturas de taludes na década de 1920, uma


comissão geotécnica sueca recomendou que a superfície de ruptura real de deslizamento
seja aproximada por superfície cilíndrica circular.

A partir daí, a maioria das análises de estabilidade de taludes convencionais tem sido
feita presumindo-se que a curva de escorregamento potencial seja um arco de círculo.
Contudo, em muitas circunstâncias (por exemplo, barragens zonadas e fundações sobre
estratos fracos), a análise de estabilidade, usando a ruptura de escorregamento plana,
é mais apropriada e apresenta excelentes resultados.

3.1. Análise de taludes finitos com superfícies de


ruptura planas (Método de Culmann)
A Análise de Culmann parte do princípio de que a ruptura de talude ocorre ao
longo de um plano quando a tensão média de cisalhamento, que tende a causar o
escorregamento, é maior que a resistência ao cisalhamento do solo. Além disso, o plano
mais crítico é aquele que tem relação mínima entre a tensão média de cisalhamento,
que tende a causar a ruptura e a resistência ao cisalhamento do solo.

A figura a seguir mostra um talude de altura H. O talude se ergue e forma ângulo com
a horizontal. AC é um plano de tentativa de ruptura.

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Taludes e Encostas | UNIDADE IV

Figura 43. Análise de talude finito – Método de Culmann.

Linha
equipotencial

Peso específico de solo = y


𝜏𝜏𝑓𝑓 = 𝑐𝑐 ′ + 𝜎𝜎′𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡′

Fonte: Das; Sobhan, 2014.

Se considerarmos um comprimento unitário perpendicular à seção do talude, veremos


que o peso da cunha ABC é igual a:
1 1
=W
2
( )
( H )=
BC (1)( γ )
2
H ( Hcotgθ − cotg β ) γ

1  sen ( β − θ ) 
W = γH2  
2  senβ senθ 

As componentes normais e tangenciais de W, com respeito ao plano de AC, são as


seguintes:
1  sen ( β − θ ) 
N a componente normal
= = Wcos=θ γH2   cosθ
2  senβ senθ 
1  sen ( β − θ ) 
=Ta componentetangencial
= Wsen =θ γH2   senθ
2  senβ senθ 

A tensão normal efetiva média e a tensão de cisalhamento média no plano AC são,


respectivamente:
Na Na
=σ′ =
( )
AC (1) 

H 

 senθ 
Ta Ta
=τ =
( )
AC (1)  H 
 
 senθ 

Logo, a tensão média de resistência ao cisalhamento desenvolvida ao longo do plano


AC também pode ser expressa como:
1  sen ( β − θ ) 
τ=
d cd′ + γ H   cosθ senθ tg ∅′d
2  sen β senθ 

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UNIDADE IV | Taludes e Encostas

Então:
1  sen ( β − θ )  1  sen ( β − θ ) 
γH  cd′ + γ H 
 sen θ =
2
 cosθ senθ tg ∅′d
2  senβ senθ  2  senβ senθ 

Em esforço para determinar um plano de ruptura crítico, devemos utilizar o princípio


de máximo e mínimo (para determinado valor de ∅′d ) para encontrar o ângulo θ em
que a coesão desenvolvida seria máxima. Assim, a primeira derivada de c'd com relação
a θ é ajustada para igual a zero ou:
∂c ' d
=0
∂θ

Por γ, H e β serem constantes na equação anterior, obtemos:


[ sen ( β − θ ) ( senθ − cosθ tg ∅′d ] =
0
∂θ

Levando ao valor crítico de θ ou:


β + ∅'d
θ cr =
2

Substituindo, temos:
γH 1 − cos ( β − ∅ d′ ) 
cd′
= + 
4  senβ cos∅ d′ 

Pode ser feito corte no solo tendo γ = 16,5 kN/m3, c' = 28,75 kN/m2, Ø' = 15º. A face
do corte formará um ângulo de 45° com a horizontal. Qual deve ser a profundidade
do corte para que se tenha fator de segurança (Fs) igual a 3?

Observação: a resolução dessa questão estará aberta à discussão entre os


participantes durante a semana da unidade em questão, não devendo ultrapassar
esse período. Possíveis dúvidas serão esclarecidas na sala de tutoria.

3.2. Análise de taludes finitos com superfícies de


ruptura circulares
Em geral, a ruptura de um talude finito acorre por meio de um dos seguintes modos
(figura a seguir):

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Taludes e Encostas | UNIDADE IV

Figura 44. Modos de ruptura de um talude finito.

Círculo
de pé

Círculo de
ponto
intermediário

Círculo
de face

Fonte: Das; Sobhan, 2014.

» Quando a ruptura ocorre de tal forma que a superfície de escorregamento


intercepta a face do talude ou esteja acima de sua base, é chamada ruptura
de face (figura 44a). O círculo de ruptura é chamado círculo de pé, se passar
pelo pé do talude, e círculo de face, se passar acima do pé do talude. Em
certas circunstâncias, pode ocorrer ruptura superficial de face, como exibida
na figura anterior (b).

» Quando a ruptura ocorre de tal forma que a superfície de escorregamento passa a


alguma distância abaixo do pé do talude, ela é chamada ruptura de base (figura
44c). O círculo de ruptura, nesse caso, é chamado círculo de ponto intermediário.

Diante disso, quais os procedimentos de análise de estabilidade?

» Procedimento de massa: nesse caso, a massa de solo acima da superfície de


escorregamento é tomada como única unidade. Esse procedimento é útil quando
se admite que é homogêneo o solo que forma o talude, embora esse não seja
o caso na maioria dos taludes naturais.

» Método de fatias: nesse procedimento, o solo acima da superfície de


escorregamento é dividido em um número de fatias verticais paralelas.
A estabilidade de cada fatia é calculada separadamente. É uma técnica versátil na

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UNIDADE IV | Taludes e Encostas

qual a não homogeneidade dos solos e a poropressão podem ser consideradas.


Considere também a variação da tensão normal ao longo da superfície de ruptura
potencial.

Diante de sua versatilidade e maior usabilidade, serão abordados somente os


fundamentos da análise de estabilidade de taludes pelo método das fatias.

3.3. Método comum de fatias


A análise de estabilidade que utiliza o método de fatias pode ser explicada com o uso
da figura a seguir, na qual AC é um arco de um círculo que representa a superfície
de tentativa de ruptura:
Figura 45. Análise de estabilidade por métodos comum s de fatias: (a) tentativa de superfície de ruptura; (b) forças atuando
na (n - ésima fatia).

Fonte: Das; Sobhan, 2014.

O solo acima da superfície de ruptura é dividido em várias fatias verticais. A


largura de cada fatia não precisa ser igual. Considerando-se comprimento unitário
perpendicular à seção transversal mostrada, as forças que atuam em fatia típica
(n - ésima fatia) são exemplificadas na figura anterior (b). Wn é o peso da fatia. As
forças Nr e Tr são, respectivamente, os componentes normal e tangencial da reação
R. Pn e P n + 1 são as forças normais que agem na fatia.

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Taludes e Encostas | UNIDADE IV

De forma similar, as forças de cisalhamento que atuam nas faces da fatia são Tn e Tn
+ 1. Tais forças são difíceis de determinar. Para simplificar, presume-se que o valor
da poropressão seja zero. Entretanto podemos fazer uma estimativa aproximada de
que as resultantes de Pn e Tn tenham magnitudes iguais em relação às resultantes de
Pn + 1 e Tn + 1 e as linhas de ação coincidam.

Assim sendo, para condição de equilíbrio, temos:

Nr = Wncosαn

A força resistente ao cisalhamento pode ser expressa como:


τ f (∆Ln ) 1
Tr = τ d ( ∆Ln ) =
= [c′ + σ ′tg∅′] ∆Ln
FS FS

A tensão normal, σ', na equação anterior, é igual a:


N r Wn cos α n
=
∆Ln ∆Ln

Para o equilíbrio da cunha tentativa ABC, o momento da força motriz em relação a


0 é igual ao momento da força de resistência, também em relação a 0, ou:
=n p=n p
1  Wn cos α n 
n n ∑W rsen
= α ∑
FS
 c′ +
∆Ln
tg ∅′  (∆Ln ) ( r )
=n 1= n 1  

ou
=n p=n p

=
=FSn
n 1=
n n
n 1
∑ ( c′∆L + W cos α tg ∅′ ) / ∑Wn senα n

O valor de αn será positivo quando a inclinação do arco estiver no mesmo quadrante da


inclinação do talude. Para encontrar o fator de segurança mínimo (fator de segurança
para o círculo crítico), devem-se fazer várias tentativas mudando o centro do círculo
de ruptura. Geralmente, esse é o chamado método comum das fatias, com o qual
você teve contato na Unidade II.

Com esse tema encerramos a trajetória percorrida por nossa disciplina. Desejo sucesso
a você e que esse tema tenha tido relevância à sua formação profissional.

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REFERÊNCIAS

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23
Referências

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Imagens
Figura 1. Condição tridimensional.

Figura 2. Exemplo de divisão em fatias de uma superfície circular.

Figura 3. Equações de equilíbrio.

Figura 4. Procura da superfície crítica.

Figura 5. Exemplificação dos empuxos de terra em repouso, ativo e passivo. Parede AB sem atrito.

Figura 6. Empuxo da terra pela Teoria de Rankine.

Figura 7. Círculo de Mohr ativo para Teoria de Rankine.

Figura 8. Empuxo Ativo de Coulomb: a) cunha de ruptura; b) polígono de força.

Figura 9. Exemplos de casos em que a linha de ruptura é não circular.

Figura 10. Método sueco ou das lamelas.

Figura 11. Forças na lamela genérica.

Figura 12. Convenção de sinais do ângulo θ.

Figura 13. Lamela de Fellenius.

Figura 14. Método de Fellenius: influência das pressões neutras no coeficiente de segurança.

Figura 15. Distribuição de forças em fatia de solo (n) em uma vertente com deslizamento rotacional.

Figura 16. Lamela de Bishop.

Figura 17. Forças atuantes em uma fatia pelo método de Morgenstern e Price (1965).

Figura 18. Forças atuantes na base da fatia pelo Método de Spencer (1967).

Figura 19. Determinação gráfica do fator de segurança pelo Método de Spencer.

Figura 20. Ciclo hidrológico.

24
Referências

Figura 21. Distribuição da taxa precipitada ao longo do tempo.

Figura 22. Estágios da evolução do teor de umidade com o tempo.

Figura 23. Perfil de infiltração.

Figura 24. Diferentes processos de infiltração.

Figura 25. Dependência da taxa de infiltração com o tempo.

Figura 26. Cargas piezométricas, altimétricas e total para o fluxo de água através do solo.

Figura 27. Cargas piezométricas, altimétricas e total para o fluxo de água através do solo.

Figura 28. Evolução da área variável de afluência durante o processo de escoamento superficial em
precipitação.

Figura 29. Os quatro tipos básicos de vertentes, combinando concavidade e convexidade das linhas
de fluxo e das curvas de nível.

Figura 30. Perfil de poropressão.

Figura 31. Elementos geométricos de uma vertente ilimitada empregados na análise da estabilidade
– A linha tracejada representa o nível freático.

Figura 32. Área de contribuição da bacia de drenagem (a) (em sombreado) e comprimento (b) da
curva de nível, por onde passa o fluxo de água da chuva na vertente. Z representa a profundidade
do perfil de solo, e h2 é a altura da zona saturada. As linhas em traço fino representam as curvas de
nível, e aquelas em tracejado são as linhas de fluxo.

Figura 33. Exemplos de aplicações de estudos de estabilidade.

Figura 34. Zona fraca, zona cisalhada e superfície de cisalhamento.

Figura 35. Elementos que caracterizam uma massa escorregada.

Figura 36. Cunha simples e em dois planos.

Figura 37. Elementos que caracterizam uma massa rotacionada.

Figura 38. Elementos que caracterizam o talude.

Figura 39. Elementos que caracterizam uma massa escorregada.

Figura 40. Zona fraca, zona cisalhada e superfície de cisalhamento.

Figura 41. Análise de talude infinito (sem percolação).

Figura 42. Análise de talude infinito (com percolação).

Figura 43. Análise de talude finito — Método de Culmann.

Figura 44. Modos de ruptura de um talude finito.

Figura 45. Análise de estabilidade por métodos comum s de fatias: (a) tentativa de superfície de
ruptura; (b) forças atuando na (n - ésima fatia).

25
Referências

Tabelas
Tabela 1. Fatores de segurança mínimos para escorregamentos.

Tabela 2. Valores típicos de e .


∆La ∆L p
H H

Quadro 1. Pressão acústica e respostas estruturais e humanas.

Quadro 2. Equações  Incógnitas.

Tabela 3. Valores típicos da condutividade hidráulica dos solos saturados.

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