Você está na página 1de 4

Por Renato Grimaldi e

AMPLIANDO CONHECIMENTO EM ÓLEOS & GORDURAS Gilberto Omar Tomm

DESVENDANDO FALÃCIAS
SOBRE A CANOLA
INTRODUÇÃO

o óleo de canola é um dos assuntos mais


abordados na mídia fantasiosa, sempre com
informações sem fundamentos científicos
tais como: "a colza é um 'tipo' de mostarda
que foi ou é a mesma plant~ utilizada para a
prod ução do agente mostarda, gás letal usado
de forma terrível nas Guerras Mu ndiais. Além
disso, citam que as pequenas quantidades de
ácido erúcico, que ai nda persistem na planta
alterada (transgênica), contin uam sendo
tóxicas para o consumo humano, e que esta

•• ação tóxica é cumulativa no organismo. Com


base em todas estas informações
nos vários canais de comunicação,
que circulam
o objetivo
deste artigo é de esclarecer de maneira clara e
científica o assunto Canola, um dos principais
óleos vegetais produzidos no Brasil e em vários
países no mundo.

COMPOSiÇÃO - CANOLA

As cu Itivares de canola pertencem as três


espécies, Brassica napus, B. rapa, e B.ju ncea
da família Brassicacea (Cruciferae) a qual
é composta por cerca de 3 mil espécies de
plantas, principalmente do hemisfério Norte.

Revista Óleos & Gorduras


Estas espécies vêm sendo cu Itivadas desde transgênica é efetivada num gene da planta
a pré-história e empregadas no consumo e em sua proteína. Como todas as proteínas
humano, e outros usos, de suas raizes, caules, são removidas do óleo de canola durante o
folhas, flores e grãos. processamento, o óleo de canola proveniente
Tradicionalmente, as sementes derivadas de plantas transgênicas não é diferente do
da Brassica napus eram inapropriadas óleo produzido por plantas de cultivares
ao consumo humano ou animal, devido convencionais, não transgênicas, sendo
a presença de duas substâncias naturais seguro e saudável como o de cultivares não
tóxicas, ácido erúcico presente no óleo e transgênicas. Portanto, o óleo produzido
glucosinolatos presente na fração proteica. por plantas OGM' s é livre de proteínas
Por definição, para ser CANOLA (planta e transgênicas e com a mesma composição
seus grãos), a oleaginosa precisa se enquadrar isenta de transgenia que o óleo convencional.
em padrões regulados internacionalmente: Desde os anos 1980 a Embrapa Trigo realiza
"Sementes do gênero Brassica (Brassica pesquisas agronômicas com canola e, desde
napus, Brassica rapa ou Brassica juncea) do 2008, sua missão inclui a coordenação nacional
qual o óleo deve conter menos de 2% de ácido das pesquisas para a produção de canola e vem
erúcico no perfil de ácidos graxos e a torta realizando esforços visando o estabelecimento
desengordura e seca deve conter menos de de uma rede de colaboração com instituições
30 micromoles de um ou qualquer mistura de ensino, de pesquisa, de fomento a produção

••
de glucosinolatos (3-butenyl glucosinolato, de grãos e outras empresas para tornar a
z-pentenyl glucosinolato, z-hydroxy-j butenyl canola uma alternativa economicamente
glucosinolato, e z-hydroxy- z-pentenyl sustentável na agricultura brasileira.
glucosinolato) por grama". Também são Detalhado acervo de resultados, indicações
conhecidas como variedades "Double Low", de cultivo e outras informações sobre canola
por conta dos valores reduzidos de ácido estão disponíveis em:
erúcico e de glucosinolatos. Apesar do máximo
de 2% de ácido erúcico permitido para • http://www.cnpt.embrapa.br/cu Itu ras/canola/
variedades de canela, atualmente os valores • http.z/www.cnpt.ernbrapa.br/slac/i ndex_
encontrados deste ácido graxo no óleo de espanhol.htm (Simpósio Latino Americano de
canola são inferiores a 0,2%. Canola - SLAC2014)
As espécies de canola possuem relação • htppsv/www.facebook.corn/profíle Canolabr
genética próxi ma com outras Brassicas, como Canola
o repolho, couve-flor e mostarda (provável -, http.z/www.cnpt.embrapa.br/bi bl ío/
foco da ligação relacionando a canola ao gás do/p_do149.htm (Aspectos econômicos e
mostarda, que é um produto sintético que conjunturais da canola no mundo e no Brasil)
nada tem a ver com canola). A semel hança
genética, viabiliza o melhoramento genético COMPOSIÇAo - CANOLA X COLZA
da canola para incorporar na canola genes de
resistência a pragas e outras características Segundo o Codex Standard For Named
agronômicas e de qualidade dos produtos vegetable Oils (Codex Stan 210-1999), óleo
disponíveis nas outras espécies. de canola pode ser denominado também de
Mesmo o óleo de canola produzido de "low erucic acid rapeseed - LEAR)é obtido de
plantas geneticamente modificadas não sementes de variedades de Brassica napus L.,
contém nenhum ingrediente geneticamente Brassica rapa L. e Brassicajuncea L. A figura
modificado porque a modificação na canola a seguir mostra os valores mínimo e máximo

Revista Oleos & Gorduras


AMPLIANDO CONHECIMENTO EM ÓLEOS & GORDURAS

CANOLA
• HEAR· Min • HEAR· Mal<. .LEAR· Mín • LEAR· Mox.
70
I
LIMPEZA
70

60
60 60 r lAMI~A-ÇA--O-
I
COZIMENTO
50
PRÉ-PR+SAGEM
40
30
._---1.1__ I
30 ÓLEO TORTA
23
I
20
I EXTR~SÃO I

..
10 6 7
3 3,1 3 4,3 IEXTRAÇÃO - SOlVE NTE
C:6.J 2
o .I .I J~ 0,6
I I
(16:0 (16:1 (18:0 (18:1 (18:2, (18:3 (20:0 czou (22:0 (22:1
ÓlEO I I FARELO

Figura 1- Principais ácidos graxas presentes nos óleos de cano/a (LEAR) e Figura 2 - Etapas do pré-processamento da
co/za (HEAR). cano/a.

dos principais ácidos graxos presentes nas - Limpeza - remoção de impurezas presentes
variedades LEARe HEAR(High erucic acid nas sementes, tais como pedaços de galhos,

••
rapeseed), conhecida em português como colza . folhas, sujidades em geral, pedra e até mesmos
O óleo de canola possui menos de lO% de elementos metálicos. Pode ser realizada
ácidos graxos saturados, sendo um dos óleos através de etapas como aspiração, separação
mais recomendados para o uso doméstico, com peneira para remoção de partículas de
além do que sua utilização auxilia na redução diversos tamanhos.
da i ngestão de ácidos graxos da série Omega·6,
presentes de forma excessiva na nossa dieta e - Laminação - forma de preparo do material
precursores de vários compostos responsáveis para a etapa de cozimento e que serve para
de origem inflamatória. facilitar também o rendimento da extração na
etapa de pré-prensagem. Apesar do tamanho
ETAPAS DE PRÉ·PROCESSAMENTO DA CANOlA reduzido da semente de canola, é uma etapa
muito utilizado por empresa processadoras de
A qualidade da semente de canola deve ser canola.
avaliada através da extração do óleo em escala
de laboratório e a determinação do teor de - Cozimento - etapa anterior ao processo de
ácidos graxos livres (AGL).o que pode qualificar pré-prensagem, importante para a inativação
a qualidade da semente a ser processada. Além da enzima mirosinase que pode provocar
disso, pode-se também determinar o índice de a hidrólise do glucosinolato e liberando
peróxido (IP).que pode ser um indício de sement~s compostos de enxofre para o óleo. Além disso,
velhas e estocadas sob condições indesejáveis. a etapa de cozimento provoca a ruptura da
Na figura a seguir podemos visualizar de maneira parede celular facilitando a liberação do óleo
resu rnida, as etapas do pré-processamento da na extração no expeller.
canela, visando a obtenção dos óleos brutos.
A parti r da semente de canela, as etapas Após as etapas de preparo, temos a
para a obtenção dos óleos brutos de canola são extração parcial do óleo através de uma
as seguintes: prensa contínua, onde obtemos o óleo bruto

Revista Óleos & Gorduras


AMPLIANDO CONHECIMENTO EM ÓLEOS & GORDURAS

e a torta} que deverá ser preparada para a o refino físico também poderia ser uma
posterior extração com solvente, devido a alta boa opção para o óleo de canela, mas a
quantidade de finos presentes. Normalmente maior dificuldade passa pelas alterações
é utilizado o processo de extrusão para o nas unidades fabris} uma vez que já existem
preparo da torta antes da extração final com tecnologias dispon íveis para a remoção quase
solvente. Apesar de apresentarem qualidades completa dos fosfolipídios. maior barreira para
diferentes} os dois óleos brutos são misturados a utilização do refino físico.
e seguem para o refino. Por conta do alto teor do ácido linolênico,
se comparado aos outros óleos vegetais} a
ETAPAS DO REFINO DO ÓLEO DE CANOLA efetividade no processo de desodorização
é fundamental para a obtenção de um óleo
A mistura dos óleos provenientes das refinado de alta qualidade e que consiga
etapas de pré-prensagem e da extração por atingir os valores desejados de ácidos graxos
solvente deverá ser processado através do trans, atualmente na faixa de 1% no caso dos
refino químico} cujas etapas são descritas a óleos desodorizados.
seguir. Se consideramos a degomagem como
uma etapa do pré-processamento, o refino CONCLUSOES

••
começa pela degomagem ácida} conforme
figura a seguir. - Canola é umas das oleaginosas de maior
produtividade no mercado e a segurança do
.---------------, seu consumo é aprovada pelo FOA (Food and
Drug Administration).
Óleo bruto - Todos os produtos obtidos a partir da
semente de canola possuem a certificação
GRAS(Generally recognized as safe), o que

Adição de HSP04 Centrifugação qualifica sua utilização como alimento.


NeutraUzação - NaOH L Sabão - Devido seu alto teor de óleo} a extração
do óleo é realizada através do processo
1 Filtração combinado} o qual utiliza a pré-prensagem
Clarificação Clorofila~sabãoe mais a extração com solvente.
Fosfolipídios. metais - Clarificação é uma das etapas de maior
r exigência no processo de refino do óleo de
Oesodorização canela, devido seu alto teor de clorofila}

1 compostos com alto poder pró-oxidante,


deve ser removido com a utilização de terras
que

Óleo Refinado clarificantes ativadas e com alta performance.

Figura 3 - Etapas do refino do óleo de canola Autores


Dt. Renato Grimaldi - Laboratório de Óleos e
A maior dificuldade no refino do óleo de Gorduras I oTAI FEAI UNICAMP
canola é a etapa de clarificação} devido seu e-mail.·grimaldi@fea.unicamp.br
alto teor de clorofila. Não possui altos teores Or. Gilberto Omar Tomm - Engenheiro
de fosfolipídios e de ácidos graxos livres} o que Agrônomo} Pesquisador da Embrapa trigo}
torna o processo relativamente simples se os Passo Fundo} RS.
teores de clorofila forem controlados .. e-mail.gilbertotomm@embrapabr

Revista Óleos & Gorduras

Você também pode gostar