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A linguagem e a fala são fundamentais para a espécie humana, sendo uma capacidade intrínseca
Essas capacidades cognitivas únicas são essenciais para nossa evolução, adaptação e progresso
como espécie.
efetiva. Entretanto, para algumas pessoas, a fluência pode se tornar um grande desafio devido
De acordo com a versão mais atual da OMS, a gagueira é caracterizada por uma frequência
com gagueira, como a repetição de sons, sílabas ou letras, pausas ou prorrogações durante a
fala.
Em média, 5% das crianças entre dois e quatro anos de idade apresentam gagueira, denominada
recuperam a fluência, tornando esses episódios não duradouros. Estudos apontam que isso
Blomgren (2013), esse transtorno de fala é quatro vezes mais comum em homens adultos do
A gagueira é um distúrbio da fluência da fala complexo e multifatorial, e sua causa exata ainda
genético associado a maior probabilidade de seu desenvolvimento, embora não seja a única
causa (Kraft, 2010). Sobre fatores neurológicos, tem sido associada a diferenças estruturais
envolvidas na produção de fala e controle motor (Namasivayam et al., 2020). Quanto a fatores
motores, a gagueira pode ser influenciada por dificuldades no controle motor da fala. Que inclui
ritmo da fala, como também a dificuldade de iniciar ou manter o fluxo da fala de maneira
esperada (Chang et al., 2011). É importante ressaltar que a gagueira é uma condição altamente
variável, e a combinação e interação desses fatores em cada indivíduo podem ser diferentes. O
pesquisas adicionais são necessárias para uma compreensão completa e precisa dessa condição.
O estudo da gagueira envolveu diferentes teorias e abordagens a partir do século XIX. O modelo
de sistemas pré-motor a ser utilizado de forma dupla foi apresentado por Alm (2004). Em outro
estudo realizado em 2013, Alm mostrou que os gagos possuem um limiar de ativação motora
do hemisfério direito maior que as pessoas fluentes. A consequência disso geraria erros na
produção motora da fala, o que posteriormente se tornou uma importante teoria para ajudar a
que possuam gagueira (Sandak e Fiez, 2020). Essas áreas estão envolvidas na manutenção
temporal do movimento, o que explicaria a melhora da fluência temporária em canto e nos casos
de leitura com metrônomo. São necessários mais estudos para estabelecer melhor a relação
entre essas áreas e disfluências. De fato, a relação cérebro-fluência proposta acima tem sido
explorada recentemente (Yada, 2022, Karsan, 2022). De forma especial, foi objeto de análise
de forma inédita no Brasil, mas em pequena escala (Medeiros, 2021). Nesse estudo, foi
encontrado melhora da fluência em pessoas que gagueiam, uma semana após a intervenção,
depois de estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC). Dessa forma, esse projeto
se propõe a usar a metodologia de estimulação bi- hemisférica em uma maior amostra e testar
2. Justificativa
desenvolvidas para o seu tratamento ainda existe uma necessidade latente de tratamentos cada
vez mais eficazes. Nesse contexto, a investigação de novas estratégias terapêuticas é de extrema
resultados.
Para esse estudo, será usada a estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) é uma
técnica não invasiva, segura, que envolve a aplicação de corrente elétrica de baixa intensidade
sobre o couro cabeludo através de eletrodos, a aplicação modula a atividade cerebral na área
onde foi aplicada, no caso, em regiões associadas à fluência de fala. A técnica tem sido
pacientes afásicos, cuja o distúrbio da linguagem foi causado por danos cerebrais, como AVC
(Marangolo, et. al) e fluência de fala, incluindo a gagueira, com estudos preliminares que
(Chesters, et. al). No entanto, a aplicação para a gagueira ainda é incipiente e carece de
terapêuticas disponíveis para pacientes com gagueira. A investigação da ETCC com abordagem
terapêuticas.
3. Objetivo geral
3.1.1 Avaliar o impacto terapêutico da ETCC bi-hemisférica na redução dos sintomas e melhora
3.2.2 Avaliar e comparar os resultados do protocolo experimental com o grupo controle, que
3.2.3 Caracterizar o nível de gagueira dos participantes antes e depois dos experimentos.
3.2.4 Avaliar diferentes fatores de fluência de acordo com critérios do Índice de Severidade da
Gagueira – 3 (Stuttering Severity Index, SSI – 3), como número de sílabas, tempo de disfuência
3.2.5 Analisar outros aspectos associados a gagueira, como ansiedade e percepção da própria
fluência.
4. Materiais e métodos
4.1 Participantes
pesquisadores, e terão a liberdade de cessar sua participação a qualquer momento, sem nenhum
A amostra da pesquisa será constituída por 30 indivíduos diagnosticados com gagueira, sendo
o diagnóstico realizado por uma equipe de fonoaudiologia. Serão excluídos indivíduos com
quaisquer outros transtornos de fala, compreensão ou comunicação que não seja gagueira, bem
convulsão).
4.4 Procedimento
Após a formação dos grupos, os participantes serão convocados a comparecer ao Departamento
cinco dias consecutivos com sessões de aproximadamente uma hora. Durante essas sessões, os
minutos.
compostos de borracha condutora e embebidos em solução salina, de acordo com o sistema 10-
gravadas para permitir uma análise mais detalhada dos efeitos do procedimento.
de Ciências Fisiológicas, ao longo de nove encontros. Serão realizadas duas avaliações prévias
intervenção com ETCC para cada participante será realizada diariamente durante cinco dias
participantes serão alocados aleatoriamente nos dois grupos experimentais, de forma duplo-
cego, em que nem a fonoterapeuta nem o participante saberão em qual grupo foram alocados.
4.5 Avaliações
Para mensurar a severidade da gagueira antes e após o experimento, será utilizado o Stuttering
transtorno será avaliada por meio de uma versão traduzida para o português do Overall
Assessment of the Speaker’s Experience of Stuttering (OASES; Yaruss and Quesal, 2006), e os
níveis de ansiedade dos participantes serão avaliados utilizando o Inventário Beck de Ansiedade
(BAI; Beck et al., 1988). Esses três testes serão aplicados durante entrevista prévia às
atividades, bem como nas semanas de acompanhamento. Além disso, ao início, durante e ao
participantes.
Figura 1: Esquema ilustrando a sequência dos encontros, o momento em que ocorreram e os dados coletados ao
5. Viabilidade
5.1 Viabilidade ética: O projeto deve ser conduzido de acordo com princípios éticos,
Universidade de Brasília.
5.2 Viabilidade técnica: O projeto necessita do equipamento de Estimulação Transcraniana por
comportamento. Outros objetos como câmera de gravação, sala para aplicação do experimento,
5. Cronograma
6. Referencias
ALM, P. A. Stuttering and the basal ganglia circuits: a critical review of possible relations.
Journal of Communication Disorders, v. 37, n. 4, p. 325–369, jul. 2004.
BLOMGREN, M. Behavioral treatments for children and adults who stutter: a review.
Psychology Research and Behavior Management, v. 6, p. 9–19, jun. 2013.
CHANG, S.-E. et al. Evidence of Left Inferior Frontal–Premotor Structural and Functional
Connectivity Deficits in Adults Who Stutter. Cerebral Cortex, v. 21, n. 11, p. 2507–2518, 6
abr. 2011.
DEWITT, I.; RAUSCHECKER, J. P. Wernicke’s area revisited: Parallel streams and word
processing. Brain and Language, v. 127, n. 2, p. 181–191, nov. 2013.
SANDAK, R.; FIEZ, J. A. Stuttering: a view from neuroimaging. The Lancet, v. 356, n. 9228,
p. 445–446, ago. 2000.
ZHU, Z. et al. The role of the left prefrontal cortex in sentence-level semantic integration.
NeuroImage, v. 76, p. 325–331, ago. 2013.