Você está na página 1de 132

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

O uso dos dicionários pelos aprendentes chineses


de PLE

Lu Qiuhua

Tese orientada pela Prof.ª Doutora Margarita Maria Correia


Ferreira e Prof.ªDoutora Tanara Zingano Kuhn, especialmente
elaborada para a obtenção do grau de Mestre em Português

ngua Segunda / Lí
ngua Estrangeira.

2018
Agradecimentos

Um agradecimento profundo às minhas orientadoras, Professora Doutora

Margarita Maria Correia Ferreira e Professora Doutora Tanara Zingano Kuhn, pela

orientação dedicada, pelas vossas sugestões, pela paciência ao longo deste processo

e pelo encorajamento e palavras carinhosas.

À Professora Doutora Catarina Isabel Sousa Gaspar, pelo seu ensino e cuidado

ao longo do curso. Ao Professor Doutor António Manuel Dos Santos Avelar,

Professora Doutora Teresa Seruya e Professor Doutor Carlos Gouveia, por me

dirigirem à área de Português como LE/L2 e multiculturalismo.

À Xu Shuai, Pu Kejun, Ye Xinlei, Gu Jie, Kong Mengya, Li Yiyi e Yu Chuan,

pela vossa amizade, apoio e companhia em todos os momentos. A todos os amigos

e colegas do Curso de Português como LE/L2 da Faculdade de Letras da

Universidade pela vossa ajuda e companheirismo no percurso de aprendizagem.

Aos meus colegas, amigos e professoras da Universidade de Estudos

Estrangeiros de Tianjin, pela vossa ajuda no presente trabalho, em particular, à Li

Xin, pela sugestão e comentários na elaboração do questionário, e à professora Liu

Quan e Yang Shu, pelo encorajamento e divulgação do questionário do presente

trabalho.

A todos os respondentes do questionário, pela vossa paciência no

preenchimento e contributos para a investigação.

Às minhas amigas mais queridas Xie Wei, Wei Ping, Wu Yi e Gui Jingfan, pela

amizade profunda ao longo dos 12 anos. Sinto-me grata por vos ter conhecido.

Aos meus pais e à minha avó materna, pelo vosso amor, carinho e apoio desde

sempre. Ao meu avô materno falecido, pelo seu cuidado ao longo dos anos. Espero

que seja feliz no outro mundo..


Resumo

O dicionário desempenha um papel essencial ao longo do percurso da aprendizagem

de uma língua segunda / língua estrangeira. Embora um número considerável dos estudos

teóricos e empíricos tenham sido realizados de forma a lançar a base teórica para a

elaboração do dicionário, os dicionários da língua portuguesa, sobretudo aqueles a que os

aprendentes chineses têm acesso, não experimentaram tantos avanços como no caso do

inglês, com poucas escolhas disponíveis para os seus consumidores potenciais. A escassez

dos estudos na área também resultou na falta dos conhecimentos a nível académico em

torno do uso do dicionário pelos aprendentes chineses, contribuindo para a elaboração do

presente trabalho.

O presente trabalho objetiva adquirir informações, por meios da pesquisa

quantitativa, sobre o uso do dicionário da língua portuguesa por parte dos estudantes

chineses, com base no enquadramento teórico abordado na primeira componente do

trabalho. Procedeu-se posteriormente a uma análise dos dicionários mais procurados

conforme os resultados do questionário, de forma a resumir as qualidades que deve

possuir um dicionário ideal para os aprendentes chineses.

Palavras-chave: dicionário; lexicografia; metalexicografia; uso de dicionários;

aprendentes chineses

i
Abstract

The dictionary plays an essential role in the course of learning a second language /

foreign language. Although a considerable number of theoretical and empirical studies

have been carried out so that the theoretical basis can be launched for dictionary

development, the dictionaries in Portuguese, especially those to which the Chinese

learners have access, have not experienced as much progress as English did, remaining

few choices available to their potential consumers. The scarcity of the studies in the area

also resulted in the lack of knowledge in academic aspects about the use of the dictionary

by the Chinese learners, which is one of the main reasons for the elaboration of the current

work.

The present thesis aims to acquire some information, through quantitative research,

on the topic of dictionary use of Portuguese by Chinese students, based on the theoretical

framework addressed in the first component of the work. The most popular dictionaries

were then analyzed according to the results of the questionnaire in order to summarize

the qualities that an ideal dictionary should have for Chinese learners.

Key words: dictionaries; lexicography; metalexicography; dictionary use; Chinese

learners

ii
Índice

Resumo ..................................................................................................................... i

Abstract ................................................................................................................... ii

Introdução ............................................................................................................... 6

Capítulo I - Dicionário e aprendizagem de língua estrangeira .......................... 9

1.1 Definição do dicionário ............................................................................ 9

1.1.1 Dicionário ou enciclopédia?.......................................................... 10

1.1.2 Macroestrutura ...............................................................................11

1.1.2.1. A disposição de entradas .................................................... 12

1.1.2.2. Fontes do dicionário ........................................................... 15

1.1.3 Microestrutura ............................................................................... 17

1.1.3.1. A cabeça do verbete ........................................................... 17

1.1.3.2. Definição ............................................................................ 23

1.1.3.3. Colocações ......................................................................... 27

1.1.3.4. Expressões idiomáticas ...................................................... 30

1.1.3.5. Exemplos............................................................................ 32

1.1.4 Medioestrutura .............................................................................. 34

1.2 Tipos de dicionários de língua ............................................................... 36

1.2.1 Dicionário monolingue geral ........................................................ 36

1.2.2 Dicionário monolingue para aprendizes ....................................... 38

1.2.3 Dicionário bilingue ....................................................................... 41

1.2.4 Dicionário semibilingue ................................................................ 45

1.3 O uso do dicionário é benéfico à aprendizagem? .................................. 46

Capítulo II – Metodologia .................................................................................... 49

2.1 Questionário ........................................................................................... 49

2.1.1 Questionário-piloto ....................................................................... 50


1
2.1.2 Questionário principal e perfil dos respondentes .......................... 53

2.2 Análise dos dicionários .......................................................................... 54

Capítulo III - Apresentação e discussão dos resultados do inquérito .............. 55

3.1 Resumo dos resultados ............................................................................. 75

Capítulo IV – Análise dos dicionários................................................................. 77

4.1 Análise da macroestrutura ...................................................................... 77

4.2 Análise da microestrutura ...................................................................... 80

4.3 Uma proposta de um dicionário ideal para os aprendentes chineses ..... 90

Conclusão .............................................................................................................. 92

Referências bibliográficas .................................................................................... 95

Anexo I – Versão Chinesa do Questionário-piloto ........................................... 100

Anexo II - Versão Portuguesa do Questionário-piloto .................................... 106

Anexo III – Versão chinesa do questionário ......................................................114

Anexo IV – Versão portuguesa do questionário............................................... 120

Anexo V – Sistemas de indexação...................................................................... 126

Anexo VI – Digitalização dos verbetes de “cor” no DPC ................................ 128

2
Índice de Figuras

Figura 1 - Excerto do Longman Language Activator (2002, p. 15) ....................... 40

Figura 2 - Excerto do Longman Dictionary of Contemporary English

(English·Chinese) (5ª Edição) (2014) (pp. 472) ............................................. 42

Figura 3 - Resultado de pesquisa ............................................................................ 79

Figura 4 – Verbete de "entender" no DLP .............................................................. 81

Figura 5 – Verbete de "entender" na Infopédia ....................................................... 81

Figura 6 – Verbete de "entender" no DPLP ............................................................ 82

Figura 7 – Verbete de "entender" no DPC (pp. 413) .............................................. 83

Figura 8 – Verbete de "escola" na Infopédia .......................................................... 84

Figura 9 – Verbete de "escola" no DPLP ................................................................ 85

Figura 10 – Verbete de "escola" no DPC (pp. 432) ................................................ 85

Figura 11 – Verbete de "理 lǐ" no DCCP (pp. 377) ............................................... 88

Lista de Tabelas
Tabela 1 - Marcas diassistemáticas num dicionário contemporâneo para fins gerais

........................................................................................................................ 22

Tabela 2 - Problemas e soluções do questionário ................................................... 51

Tabela 3 – Comparação dos dicionários ................................................................. 77

Lista de Gráficos

Gráfico 1 - Nível de Proficiência ............................................................................ 54

Gráfico 2 - Sexo...................................................................................................... 54

Gráfico 3 – Dicionários consultados com mais frequência .................................... 56

3
Gráfico 4 - Relação entre o nível de proficiência e a escolha pelo dicionário ....... 57

Gráfico 5 – Ordem de frequência de uso ................................................................ 60

Gráfico 6 – Razões de consulta .............................................................................. 61

Gráfico 7 – Grau de satisfação em relação aos dicionários .................................... 62

Gráfico 8 – Frequência de uso dos diferentes formatos de dicionário ................... 64

Gráfico 9 – Contexto de consulta ........................................................................... 65

Gráfico 10 – Vantagens do dicionário em papel ..................................................... 66

Gráfico 11 – Vantagens dos dicionários eletrónicos ............................................... 67

Gráfico 12 – Pontos fracos dos dicionários bilingues ............................................ 69

Gráfico 13 – Pontos fracos dos dicionários monolingues ...................................... 70

Gráfico 14 – Categoria das palavras com informações satisfatórias no dicionário 71

Gráfico 15 – Categorias das palavras carenciadas das informações procuradas .... 71

Gráfico 16 – Elementos procurados no dicionário ................................................. 73

Gráfico 17 – Elementos que procuram mas que não encontram ............................ 74

4
Lista de Abreviaturas

CALD – Cambridge Advanced Learner’s Dictionary

CALD2 – Cambridge Advanced Learner’s Dictionary» em CD-ROM (2ª edição, versão 2.0a)

CCALED – Collins Cobuild Advanced Learner’s English Dictionary

CCALED5 – Collins Cobuild Advanced Learner’s English Dictionary em CD-ROM (5ª

edição)

COBUILD – Collins Birmingham University International Language Database

DCCP – 简明汉葡词典 Dicionário Conciso Chinês-Português

DLP – Dicionário da Língua Portuguesa

DPC – 葡汉词典 Dicionário Português-Chinês

DPLP – Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

L1 – Língua primeira

L2 – Língua segunda

LDOCE – Longman Dictionary of Contemporary English

LDOCE4 – Longman Dictionary of Contemporary English em CD-ROM (4ª edição)

LE – Língua estrangeira

MED – Macmillan English Dictionary for Advanced Learners

MED2 – Macmillan English Dictionary for Advanced Learners em CD-ROM (2ª

edição, versão 2.0.0702)

OALD – Oxford Advanced Learner’s Dictionary

OALD7 – Oxford Advanced Learner’s Dictionary em CD-ROM (7ª edição)

PB – Português brasileiro

PE – Português europeu

PLE – Português língua estrangeira

5
Introdução

O dicionário é um instrumento indispensável na aquisição e aprendizagem de

qualquer língua estrangeira ou segunda (LE/L2). À medida do desenvolvimento dos

dicionários a nível mundial, para além dos trabalhos já realizados anteriormente na área

lexicográfica e metalexicográfica, surgem cada vez mais estudiosos que começaram a

prestar atenção às necessidades dos utilizadores dessa obra e que se dedicaram ao estudo

do uso dos dicionários, com a finalidade de contribuir para a construção de um dicionário

adequado aos seus utilizadores.

Os utilizadores chineses dos dicionários portugueses, todavia, não desfrutaram da

florescência dos estudos. Desde a publicação do primeiro dicionário português-chinês na

China Continental em 1994, o Dicionário Conciso Português-Chinês, até os dias de hoje

foram publicados apenas quatro dicionários gerais entre as duas línguas; entre estes, o

Dicionário Português-Chinês, publicado em 2001, é o mais procurado. Num território

que conta 37 universidades que oferecem cursos de língua portuguesa1 (Público, 2017),

tal realidade certamente não conseguiu satisfazer as enormes necessidades dos

aprendentes chineses.

A par do referido, a escassez das pesquisas na área também fracassou no lançamento

da base académica para a futura elaboração, como é visível na obra do Welker (2010), em

que se apresentaram centenas dos estudos empíricos acerca do uso do dicionário em geral,

entre os quais, contudo, nenhum se debruçou sobre o uso dos utilizadores chineses das

ferramentas da língua portuguesa. Assim sendo, consideramos necessário realizar uma

investigação para tomar conhecimento dos recursos lexicográficos que utilizam, bem

como das suas preferências, hábitos, opiniões e necessidades sobre estes, de forma a

disponibilizar os dados referenciais na área, dando contributo, de certo modo, para a

futura elaboração dos dicionários destinados aos aprendentes chineses.

1 De acordo com a notícia do Público, de 30 de julho de 2017, disponível em


https://www.publico.pt/2017/07/30/sociedade/noticia/em-sete-anos-havera-50-universidades-chinesas-comportugues-
1780800
6
Para atingir esse objetivo, o questionário foi construído em torno das seguintes

quatro perguntas de pesquisa:

1) Que dicionários os aprendentes chineses utilizam?

Antes de tudo, o mais importante é saber a quais dicionários os estudantes estão a

recorrer com alta frequência, selecionando os quatro mais utilizados para a análise

posterior. Foi enumerado o maior número possível dos dicionários que existem no

mercado chinês, dividindo aqueles com diferentes formatos em duas opções (em papel ou

em formato digital - online/eletrónico/CD-Rom), para que os dados possam ser analisados

de maneira mais precisa. Como o presente trabalho se foca apenas no dicionário, os

tradutores online, como o Google Tradutor, não foram incluídos nas opções da pergunta

do questionário.

2) Com que frequência e em que contexto eles utilizam o dicionário?

Na era das tecnologias emergentes, num país, neste caso a China, dominado por

smart phones , como será o hábito de uso dos aprendentes chineses? Tendo em mente esta

dúvida, pretendemos recolher dados sobre a frequência com que os aprendentes usam tal

ferramenta em diferentes formatos – em papel, na aplicação, online (no site) ou em CD-

Rom, tentando tornar claro o hábito de uso dos chineses.

Com base em tal realidade, supõe-se que os dicionários em formatos digitais,

especialmente os das aplicações, são mais utilizados pelos respondentes.

Para além de frequência, os contextos em que o dicionário é mais consultado é

também um tema por explorar.

3) Quais são as suas opiniões em relação aos dicionários que conhecem?

Tendo conhecido os dicionários usados e a frequência e contexto de consulta, espera-

se que os respondentes possam expressar, através das várias perguntas, as suas razões para

a consulta de determinado dicionário e a sua satisfação em relação aos diversos formatos,

bem como do que consideram as suas vantagens e pontos fracos, para poder tomar

conhecimento, de forma detalhada, das opiniões dos aprendentes chineses a respeito do

dicionário.

7
4) O que eles procuram na consulta no dicionário?

A última pergunta foca-se nas necessidades dos aprendentes, visando recolher dados

sobre quais elementos microestruturais num verbete procuram e quais precisam mas não

encontram, bem como a taxa de sucesso de consulta em torno dos diversos tipos das

palavras, no intuito de resumir as informações de que um verbete necessita para satisfazer

as demandas dos aprendentes chineses.

O presente trabalho divide-se em quatro capítulos. A fim de disponibilizar uma base

teórica para a elaboração do questionário, no primeiro capítulo foi abordada de forma

detalhada a definição do termo “dicionário” e as estruturas existentes nessa obra,

designadamente, a macroestrutura, microestrutura e medioestrutura, bem como as

componentes que as constituem. Várias pesquisas foram também citadas para justificar a

utilidade do dicionário.

O capítulo II e o III relacionam-se com o estudo quantitativo do presente trabalho;

enquanto o primeiro se foca na metodologia, em que se referiram os aspetos preparativos

da pesquisa, como o formato e língua utilizados no questionário e a realização do

questionário-piloto. O terceiro capítulo dedicou-se à apresentação e análise dos resultados

do questionário, tentando retratar as características do uso dos dicionários pelos

utilizadores chineses.

O último capítulo destina-se a analisar, de acordo com os resultados da investigação,

os quatro dicionários mais populares e ntre os respondentes, tendo por base também o

enquadramento teórico. Por consequência, baseando-se nos capítulos anteriores, foi

apresentada uma proposta do dicionário ideal, sendo enumeradas as suas qualidades

obrigatórias.

8
Capítulo I - Dicionário e aprendizagem de língua estrangeira

1.1 Definição do dicionário

O que é dicionário? Antes de tudo, será pertinente abordar a definição do termo

“dicionário”, para proceder aos capítulos posteriores de forma mais explícita. No

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, define-se como:


a colecção organizada, geralmente de forma alfabética, de palavras ou
outras unidades lexicais de uma língua ou de qualquer ramo do saber
humano, seguidas da sua significação, da sua tradução ou de outras
informações sobre as unidades lexicais.
Tal definição é relativamente completa do ponto de vista lexicográfico, pelo que leva

em conta a estrutura interna e conteúdo do dicionário, abrangendo os dicionários em dois

sentidos, como Correia (2009: 23) explicitou na sua obra: em sentido genérico, o

dicionário é um género de catálogo da palavras ou expressões ordenadas alfabeticamente;

em sentido estrito, trata-se de dicionário de língua, em que foram descritas as “unidades

lexicais” de “uma determinada língua ou sistema linguístico”.

No presente trabalho, restringir-se-á o dicionário ao sentido estrito. Sendo assim,

merece tomar conhecimentos sobre como os estudiosos definiram o dicionário de língua.

Zgusta (1971: 17), o “padrinho” da lexicografia do século XX, citado por van

Sterkenburg (2003: 4), definiu o “dicionário”, ou “dictionary” em inglês, como o seguinte:


A dictionary is a systematically arranged list of socialised linguistic
forms compiled from the speech-habits of a given speech community
and commented on by the author in such a way that the qualified reader
understands the meaning … of each separate form, and is informed of
the relevant facts concerning the function of that form in its community.
Tal definição foi considerada um pouco elitista por van Sterkenburg (2004), porque,

nessa descrição, o dicionário parece ser apenas acessível a e compreensível por

utilizadores com níveis de educação sucessivos.

Svensén (1993), por seu turno, definiu o dicionário como um livro que, em primeiro

lugar, contém informações sobre o significado das palavras e os próprios usos nas

situações comunicativas específicas. A par do referido, para o autor sueco o dicionário

9
também é uma ferramenta prática de referência, em vez de um livro para ler de página

em página. Tais definições, lamentavelmente, por limites da era, concentraram-se apenas

nos dicionários impressos, não levando em conta os de formato digital.

Segundo van Sterkenburg (2003: 3), quando se fala do “dicionário”, trata-se do

dicionário prototípico, o dicionário monolingue alfabético para fins gerais, que se

carateriza pelo uso de uma e mesma língua tanto para o objeto como para as descrições,

pela sua natureza exaustiva da lista das palavras descritas e pelos conhecimentos

apresentados de carateres linguísticos em vez de enciclopédicos. Com base nos critérios

formais e funcionais, o autor (2003: 8) resumiu uma definição relativamente integral

quanto ao dicionário prototípico, a qual serve também para os dicionários em geral, que

é a seguinte:
The prototypical dictionary has the form of a static (book) or dynamic
product (e-dictionary) with an interstructure that establishes links
between the various components (e-dictionary) and is usually still
alphabetically structured (book). It is a reference work and aims to
record the lexicon of a language, in order to provide the user with an
instrument with which he can quickly find the information he needs to
produce and understand … (the) language. (…) With regard to content
it mainly provides information on spelling, form, meaning, usage of
words and fixed collocations.

1.1.1 Dicionário ou enciclopédia?

Olhando para as definições referidas de van Sterkenburg (2003), constata-se que se

aludiu à enciclopédia. Sendo os “primos mais próximos” o dicionário e a enciclopédia,

nas palavras de Jackson (2002: 21), qual é a diferença entre eles?

Correia (2009: 25) abordou, de forma detalhada, as diferenças, salientando que o

dicionário de língua se dedica à “descrição de unidades lexicais ou palavras”, que fazem

parte de um “sistema linguístico” e que estão ligadas às informações relacionadas com o

seu funcionamento, bem como as relações estabelecidas com as outras unidades nesse

sistema. A enciclopédia, por outro lado, é um “compêndio”, onde constam informações

em torno dos aspetos mais diversificados, disponibilizando, através do “texto

10
informativo”, as explicações dos objetos “extralinguísticos”, provavelmente com

ilustrações.

Jackson (2002), citado por Welker (2004), também fez uma distinção explícita entre

ambas as obras. Segundo ele, o dicionário é um livro de consulta em torno das palavras

de uma língua, enquanto a enciclopédia é uma obra debruçando-se sobre coisas, pessoas,

lugares e ideias, sobre o mundo real em vez da língua.

O exemplo levantado por Rey-Debove (1971: 35), citado por Lara (1989: 283) e

Welker (2004: 45), esclareceu claramente a diferença: o dicionário de língua falou do que

significa o leão, enquanto a enciclopédia apresentou e mostrou o que é um leão.

1.1.2 Macroestrutura

Tendo elucidado o que significa o dicionário a nível académico, vamos concentrar-

nos nas estruturas que constituem um dicionário – a macroestrutura, microestrutura e a

medioestrutura. Quanto ao primeiro termo, Svensén (2009: 368) explicitou que é usado

para denotar a relação e ordem entre os lemas incluídos numa lista de lemas, sendo

descrito também como um elemento da estrutura de acesso externo, que objetiva dirigir

os utentes ao lema que procuram. Welker (2004: 81), citando a definição de Rey-Debove

(1971), definiu a macroestrutura como “o conjunto das entradas” e a “forma como o corpo

do dicionário é organizado”. Correia (2009: 24) expressou o termo de forma mais integral,

pormenorizando que a macroestrutura é “o conjunto de todas as partes que constituem o

dicionário”, que, para além da nomenclatura, o equivalente de “word-list” (Béjoint, 2000:

13), abrange também os componentes que foram considerados pertencentes à

megaestrutura2 por alguns autores (Hartmann & James, 2002: 93; Svensén, 2009: 379),

nomeadamente, “o prefácio, a introdução, o guia de utilização, a lista de abreviaturas e

convenções usadas no corpo da obra, a lista de símbolos fonéticos usados e os diversos

apêndices que a obra pode conter”. No presente trabalho empregar-se-á a definição da

2 Hartmann & James (1998:93), citados por Welker (2004), definiram o termo como “o conjunto formado pela
nomenclatura e os textos externos”.
11
Correia (2009), respeitando-se também as outras definições apresentadas. No presente

capítulo abordar-se-á apenas a nomenclatura, enquanto os outros elementos serão

discutidos na análise final dos dicionários no capítulo IV.

1.1.2.1. A disposição de entradas

Svensén (2009) classificou a “macroestrutura”, neste caso se referiu à nomenclatura,

em dois principais tipos: um baseado no aspeto da expressão, como a grafia dos lemas,

cuja ordenação é feita conforme o princípio alfabético, sendo designada “macroestrutura

alfabética”, que é universalmente prevalente nos dicionários para fins gerais; outro é

denominado como a “macroestrutura sistemática”, ocorrida geralmente nos dicionários

técnicos e especializados, a qual se foca no conteúdo, como os significados dos lemas,

organizados com base nos princípios sistemático ou temático.

Em relação à macroestrutura alfabética, o autor (2009) fez uma classificação mais

específica: a macroestrutura estritamente alfabética e a não estritamente alfabética. A

primeira ainda se divide em dois tipos: a sem agrupamento e a com agrupamentos. Por

um lado, na macroestrutura estritamente alfabética sem agrupamentos, ou a

macroestrutura alfabética linear, tal como a denominação indica, observa-se estritamente

a ordem alfabética (Carvalho, 2001: 90), com os lemas no extremo esquerdo da coluna

(Svensén, 2009: 371). Na macroestrutura estritamente alfabética com agrupamentos, por

outro, existem blocos que agrupam os lemas morfologicamente relacionados, incluindo

um lema principal e um ou vários sublemas, o que favorece a economia de espaço.

Contudo, tomando em conta que a morfologia às vezes entra em conflito com a ordem

alfabética, tal organização também não vai ajudar nas atividades pedagógicas, porque a

sequência das palavras relacionadas será interrompida (Svensén, 2009: 374). Welker

(2004: 83), citando Hausmann & Werner (1991: 2747), também afirmou que, com a

ordenação alfabética, é possível que sejam agrupadas num mesmo bloco as palavras não

ligadas semanticamente.

12
Na macroestrutura não estritamente alfabética com agrupamentos3, um bloco contém

todos os sublemas morfologicamente relevantes ao lema principal, que foram ordenados

alfabeticamente (Welker, 2004: 83). Ao contrário do seu homólogo com agrupamentos

que obedece estritamente à ordem alfabética, no caso dos conflitos a ordem alfabética tem

de ceder à morfológica (Svensén, 2009: 375). As estruturas com blocos normalmente

visam, a nível pedagógico, agrupar os lemas morfologicamente relacionados para

promover a compreensão das palavras e aprendizagem dos vocábulos, sendo adequados

primariamente aos dicionários monolingues para aprendizes.

Apesar de ganhar mais popularidade que o seu homólogo, a ordenação alfabética

possui também pontos fracos. Baldinger (1960: 525), citado pelo Welker (2004: 82),

tomou como exemplos as palavras derivadas, que se separam das suas palavras-bases e

radicais, e também os homófonos, como “senso” e “censo” em português, que não se

encontram próximos mutuamente, o que dificulta a consulta para aqueles que conheçam

apenas a pronúncia. Rey (1977: 20), citado por Welker (2004: 82), opinou que o sucesso

da ordem alfabética foi apenas atribuído à sua “eficácia prática”, pelo que “o absurdo

conceitual e linguístico é reconhecido universalmente”.

Merece salientar o facto de que as macroestruturas referidas acima ocorrem na

maioria dos dicionários das línguas ocidentais; no caso dos dicionários de chinês, que

adota um sistema de grafia distinto, a situação é diferente. Como Creamer (1991: 2604)

apresenta, sendo o chinês uma língua baseada nos símbolos, ou o que nos chamamos

“carateres”, que são compostos por uma série dos traços, os sistemas de arranjo dos

dicionários chineses da versão impressa baseiam-se, em princípio, na forma ou pronúncia

dos carateres. O primeiro era o mais popularizado, tendo principalmente por base os

radicais4 e a configuração dos carateres. De acordo com Zhang & Yong (2007: 54), na

macroestrutura ordenada pelos radicais, agrupam-se os carateres ou carater-entrada de

uma palavra com mesmos radicais, todos ordenados conforme o número total dos traços

3 Termo traduzido por Carvalho (2001: 90), citado por Welker (2004: 83).
4 O radical é um elemento que geralmente indica o significado básico de um carater chinês, encontrando-se no esquerdo,
topo ou parte inferior desse símbolo (Creamer, 1991: 2604).
13
da parte restante. Os carateres com número igual de traços são distinguidos ainda mais de

acordo com a forma do próprio carater. Por exemplo, o carater “吃”, que significa

“comer”, tem como radical a parte esquerda “口”, que designa “boca” e possui três traços.

Ao consultar o carater no dicionário, é preciso encontrar primeiro o “口” na categoria dos

radicais com três traços no índice dos carateres. A seguir, remetemos à seção do radical

“boca”, contamos o total de traços da parte direita “乞”, neste caso três, e localizamos o

“comer” na subsecção dos carateres cuja parte restante é composta por três traços. Tal

arranjo era utilizado universalmente nos dicionários modernos da língua chinesa (Zhang

& Yong, 2007) – cf. Anexo 5.

A macroestrutura ordenada pela configuração dos carateres, por seu turno, constitui

a ordenação baseada no número dos traços. Os carateres com a mesma quantidade de

traços são agrupados conforme os radicais ou regra de escrever traços. Como tal arranjo

geralmente se aplica aos dicionários especializados de determinado domínio (Zhang &

Yong, 2007: 55), não se abordará mais no presente subcapítulo.

As macroestruturas tradicionais referidas dos dicionários chineses, efetivamente,

não são acessíveis para aqueles que não estão familiarizados com a estrutura dos carateres

ou que não se habituaram a fragmentar os radicais. Sendo assim, nos dias de hoje, com a

popularização do pinyin, o Alfabeto Fonético Chinês baseado no sistema romanizado

criado em 1958, a maioria dos dicionários de chinês contemporâneo adota a

macroestrutura alfabética adaptada, em que os carateres se ordenam pelo próprio pinyin,

contando com o sistema de indexação dos radicais enquanto auxílio (Zhang & Yong, 2007:

56; Creamer, 1991: 2608). Como em chinês existem quatro tons, como no exemplo da

vogal final “a”, por ordem: ā, á, ǎ, à, os carateres com mesmo pinyin são dispostos

segundo a ordem dos seus tons.

No que diz respeito à macroestrutura sistemática, nesse tipo de dicionário, os

conceitos que fazem parte de uma determinada área são associados aos diferentes grupos

temáticos, dentro dos quais estes são organizados no sistema conceitual que descreve as

suas correlações (Svensén, 2009: 377). Considerando que os dicionários com tal

14
macroestrutura são geralmente técnicos ou especializados, não se apresentará mais

detalhes sobre os mesmos no presente subcapítulo.

1.1.2.2. Fontes do dicionário

O que torna um dicionário confiável? Segundo Atkins & Rundell (2008: 45), num

dicionário confiável, os resumos sobre os comportamentos das palavras aproximam-se

intimamente à maneira como a língua é realmente utilizada num ato comunicativo

autêntico. No aspeto subjetivo, um dicionário pode ser justificado, de certo modo, pela

introspeção, que descreve o processo de que um falante nativo explicita uma palavra e o

seu significado da sua língua materna consultando os conhecimentos linguísticos e

lexicais armazenados na sua mente e recuperando os factos relevantes (Atkins & Rundell,

2008: 46). Contudo, mesmo os falantes mais educados podem ter incertezas em relação

ao uso de uma determinada palavra, já não para falar dos equívocos possíveis sobre, por

exemplo, o uso e registo de certa palavra. Aliás, o que está apresentado numa obra

lexicográfica necessita de ter provas verificadas provenientes das outras fontes. Sendo

assim, não é aceitável a introspeção como única fonte de um dicionário (Svensén, 2009:

40).

As citações, por sua vez, foram o único método confiável na coleção dos materiais

lexicográficos das fontes primárias. Com a computadorização da lexicografia, todavia, as

mesmas foram gradualmente substituídas pelo método de corpus (ibid.: 41). Sinclair

(2005: 16) resumiu a definição de corpus em geral: “A corpus is a collection of pieces of

language text in electronic form, selected according to external criteria to represent, as

far as possible, a language or language variety as a source of data for linguistic research”.

Com base nela, Atkins & Rundell (2008: 54) propuseram uma definição mais específica

para os corpora lexicográficos, como a coleção dos dados da língua estabelecidos

especialmente para a criação dos dicionários.

Segundo Béjoint (2000: 97), na moderna lexicografa baseada em corpora, todos os

lemas na nomenclatura, bem como os seus significados, foram retirados exclusivamente

15
de um corpus. Um exemplar típico nesta área é o Collins COBUILD English Language

Dictionary, em que todos os exemplos se provêm do corpus COBUILD5, com apenas

pequenas adaptações realizadas (Béjoint, 2000: 71).

O que foi referido, de facto, ocorre principalmente aos dicionários monolingues. No

caso dos dicionários bilingues, a situação é diferente. De acordo com Svensén (2009: 55),

em vez de corpora, muitos dicionários bilingues baseiam-se nos seus homólogos

monolingues e bilingues, sendo suplementados pelas citações das outras fontes, dados de

informantes ou introspeção do lexicógrafo. Tais dicionários foram criticados por não

refletir a língua no seu uso real, sendo desvalorizados sobretudo pela escassez das

descrições sintáticas. A criação do corpus paralelo compensou essa deficiência, que

designa um conjunto de corpora6 em que os textos em língua A correspondem de certa

forma àqueles na língua B (e talvez na língua C e D) (Atkins & Rundell, 2008: 70). Apesar

das enormes dificuldades na compilação de um corpus paralelo, como na procura dos

textos equivalentes nas línguas relevantes, e dos defeitos no uso desse material, como a

pouca eficiência e a não equivalência entre os lemas e exemplos, esse tipo de corpus ainda

serve para mostrar a maneira como os tradutores resolvem os problemas relativos às

palavras de alta frequência, relembrando os utilizadores para que o mesmo não ressurja.

No que diz respeito à seleção dos lemas de um corpus, Biderman (2000: 37) apontou

a frequência como o critério principal da seleção, ou seja, através do levantamento

estatístico em corpora diversificados de grande dimensão. Nas opiniões da autora, as

palavras com frequência inferior a cinco não devem ser registadas. O corpus de um

dicionário que inclui, por exemplo, 50 000 lemas, “deve conter, no mínimo, 10 milhões

de ocorrências de todas as modalidades de discurso e/ou texto para garantir a

representatividade do acervo lexical da língua, bem como de seu uso” (Bideman, 1998:

132).

5 Termo abreviado para Collins Birmingham University International Language Database.


6 Se forem dois corpora, será um corpus paralelo bilingue. Se forem mais, será uma versão multilingue.
16
1.1.3 Microestrutura

Terminando a parte da macroestrutura, mudamos o foco para a sua irmã –

microestrutura. Rey-Debove (1971: 21), citada por Welker (2004: 107), definiu o termo

como o “conjunto das informações ordenadas de cada verbete após a entrada”, o qual se

deve organizar de modo padronizado em todos os verbetes. Além de a definição ser

criticada como uma proposta incompleta por Wiegand (1989), a ideia da padronização

universal também sofreu impugnação, opinando que a padronização pode apenas existir

dentro de cada categoria de lemas.

A definição adotada na obra de Svensén (2009: 344) é mais concreta, e inclui não só

o lema, como também a estrutura interna e todas as indicações que aparecem num verbete.

A microestrutura até pode ser classificada em dois tipos: a microestrutura abstrata e a

concreta. Svensén (ibid.) descreve a primeira como um conjunto das regras gerais para a

confeção estrutural dos verbetes num determinado dicionário, em que podem existir

várias microestruturas abstratas conforme as características dos verbetes. O seu homólogo

concreto, por sua vez, é a realização de uma microestrutura abstrata num determinado

verbete de um dicionário. No presente trabalho, aplicar-se-á a definição de Svensén (2009)

para o termo microestrutura, que designa, na maioria das vezes, a microestrutura abstrata.

Para melhor abordar o termo, foi adotada a estrutura da obra de Welker (2004), que

enumerou seis tipos de informações na microestrutura, nomeadamente, a cabeça do

verbete, definição, colocações, exemplos e expressões idiomáticas.

1.1.3.1. A cabeça do verbete

Segundo Welker (2004: 110), a cabeça do verbete abrange “o lema e as informações

anteriores … às definições (ou equivalentes, nos dicionários bilingues)”, designadamente,

“variantes ortográficas, a pronúncia, a categoria gramatical, informações flexionais e/ou

sintáticas, a etimologia, marcas de uso”.

Variantes ortográficas

17
Possuindo a língua portuguesa diversas variedades, a saber, as variantes antes e

depois do Acordo Ortográfico, bem como as grafias estabilizadas europeia e brasileira,

muitos autores ou editoras na área optaram por incluir tais informações nos seus

dicionários. Apesar do facto de que, teoricamente, as variantes ortográficas estão

incluídas na cabeça do verbete, que, supostamente, aparece no início de um verbete, no

caso dos dicionários da língua portuguesa, a situação é um pouco diferente. No Dicionário

Priberam da Língua Portuguesa (DPLP), um dicionário em formato digital, as

informações relevantes encontram-se no final do verbete, como acontece ao lema

“abstracto”, em que se apresenta no final a “Grafia alterada pelo Acordo Ortográfico de

1990: abstrato” e “Grafia do Brasil: abstrato”. O Dicionário da Língua Portuguesa

(adiante designado por DLP), publicado pela Porto Editora, por seu turno, divide as

variantes ortográficas em diferentes verbetes. Entretanto, onde quer que se encontrem,

tais tipos de informações seriam úteis para os aprendentes da língua portuguesa, o que

será confirmado pela investigação nos capítulos posteriores.

Pronúncia

Embora Rey & Rey-Debove, citados por Welker (2009: 112), tenham afirmado que

“a informação sobre a pronúncia é fundamental”, Svensén (2009: 114) tem uma opinião

distinta, afirmando que a demanda de informações de pronúncia nos dicionários varia

entre as línguas. Welker (2003: 72) também reiterou que a pronúncia apenas é necessária

quando não existem regras explícitas, como acontece na língua inglesa. No caso do inglês,

a pronunciação está em pouca consonância com a sua grafia e é, em geral, imprevisível;

por consequência, a transcrição fonética consta na maioria dos dicionários da língua

inglesa (Svensén, 2009: 114). O português, entretanto, possui “regras que permitem

pronunciar adequadamente a grande maioria dos lexemas” dele (Welker, 2004: 113);

assim sendo, em muitos dicionários da língua portuguesa, em vez das transcrições

fonéticas, existem apenas esclarecimentos para os lemas com certa sílaba que provoca

confusão.

Classe gramatical

18
Apesar de a classe gramatical existir nos verbetes da maioria dos dicionários, Welker

(2004: 115) citou o exemplo do dicionário bilingue publicado pela editora alemã

Langenscheidt, onde tais informações foram omitidas quanto aos lemas “em que não há

dúvidas”, pelo que concordou com a ideia de que a classe se esclareceu pelo equivalente

ou definição. O autor brasileiro sugeriu ainda que a omissão dessa informação seja

realizada nos dicionários no futuro para economizar espaço. Importa salientar, contudo,

que a sugestão não tomou em conta os utentes estrangeiros dos dicionários, especialmente

aqueles a níveis elementares de proficiência e os falantes de uma língua com sistema

distinto, como os aprendentes chineses da língua europeia. A questão de haver ou não

dúvidas em relação aos lemas também deve ser decidida pelos utentes, em vez de pelo

lexicógrafo. No caso dos aprendentes chineses da língua portuguesa, os resultados do

questionário realizado no presente trabalho também demonstram se os aprendentes

realmente precisam da indicação da classe gramatical dos lemas.

Informações flexionais e sintáticas

Como Welker (2004: 115) afirmou na sua obra, para além da classe gramatical,

costumam ser incluídas na cabeça do verbete as informações flexionais, dependendo do

idioma. Os dicionários da língua inglesa costumam indicar as formas irregulares dos

verbos e dos plurais. No caso dos seus homólogos da língua portuguesa, o Dicionário da

Língua Portuguesa da Porto Editora não apresentou nenhumas informações flexionais

nos verbetes, enquanto no Dicionário Priberam se indica a forma feminina irregular dos

substantivos.

No que diz respeito às informações sintáticas, segundo Zöfgen (1994: 147), citado

por Hausmann (1977: 70) e Welker (2004: 137), existe nos dicionários “a dimensão

sintagmática a quatro níveis”: as “informações sobre a construção/sintaxe”; colocações;

“combinações lexicais fixas”, geralmente lematizadas; “exemplificações em forma de

frases ou [partes de frases]”. Sendo essa primeira pertencente à cabeça de verbete, o

presente subcapítulo focar-se-á na mesma, deixando as outras três dimensões para os

subcapítulos posteriores. Welker (ibid.) apontou um fenómeno na área lexicográfica de

19
que os dicionários costumavam e continuam a apresentar as informações relativas à

maneira de formar “sintagmas e frases com o lema” exclusivamente a respeito aos verbos,

os quais, via de regra, se limitam à indicação da subclasse do verbo, se é “transitivo direto,

transitivo indireto, intransitivo ou pronominal”, sem esclarecimentos explícitos acerca de,

por exemplo, as preposições requeridas, que apenas se manifestam nos exemplos

apresentados (se existirem).

Tais afirmações ainda podem ser constatadas no DPLP e na versão impressa do DLP

da Porto Editora. No primeiro não existe nenhum esclarecimento em relação aos factos

sintáticos, enquanto o segundo os apresenta nos exemplos. Felizmente, no formato digital

do dicionário da Porto Editora, foi acrescida no final do verbete a nota sobre regências

que se chama “Como usar o verbo”, em que se indicam, de forma explícita, as preposições

requeridas pelo verbo e os respetivos exemplos.

Etimologia

As informações sobre a etimologia, que contam a origem, a maneira de ser formado

e a evolução de um lema, constam normalmente nos dicionários monolingues, “sobretudo

os mais extensos” (Svensén, 2009: 331; Welker, 2004: 116). Tais tipos de informações,

em geral, compreendem a datação do lema, formas dos étimos, ou melhor, as palavras-

fontes, significado dos étimos e palavras contemporâneas relacionadas com o lema

(Svensén, 2009). No caso dos dicionários da língua portuguesa mais procurados de

Portugal, o DPLP e o DLP, contêm a forma do étimo e/ou o significado do étimo, como

no exemplo do lema “definir”, onde são apresentados no primeiro “latim definio7, -ire” e

“Do latim definīre8, «idem»” no último. Na opinião de Svensén (ibid.: 334), por sua vez,

a presença das informações etimológicas nos dicionários de L2 vão expor os utentes

estrangeiros a enormes riscos de conhecer as ideias erradas sobre o significado atual dos

lemas. Welker (2004), tendo revisado as pesquisas anteriores, também revelou que essas

informações foram as menos procuradas, assim sendo, concordamos com a ideia de que

7 Forma de infinitivo presente.


8 Forma infinitiva.
20
as mesmas não são sempre necessárias na grande maioria dos dicionários.

Marcas de uso

Como Svensén (2009: 315) explica, “marking”, ou o termo mais específico,

“disasystematic marking”, refere-se a que um determinado item léxico se desvia num

certo aspeto dos principais itens descritos num dicionário, com o seu uso sujeito a certa

restrição. Num dicionário, a marcação de um item lexical é realizada por meio dos

“rótulos”, ou mais precisamente, as chamadas marcas de uso em português (Strehler,

1998). Segundo Correia (2009: 59), as mesmas podem-se debruçar sobre a variação

geográfica, temporal e social. Tomando a língua portuguesa como exemplo, a primeira

resulta da marcação nos dicionários dos usos específicos em um país lusófonode língua

portuguesa, como “brasileirismos” e “angolanismos”, bem como dos usos próprios de

uma determinada região de um país. Na variação temporal foi realizada a marcação dos

lemas ou aceções obsoletos, arcaicos ou neológicos, enquanto as marcas de variação

social e de registo dizem respeito às “palavras e aceções próprias de registos considerados

desviantes da norma-padrão”, que são, de preferência, evitados nas comunicações formais.

De acordo com Svensén (2009: 315), o sistema de “labelling”, ou marcação, de um

dicionário é composto por várias “microestruturas”, que se relacionam, respetivamente,

com uma determinada categoria das caraterísticas dos itens léxicos. O autor (ibid.), bem

como Welker (2004), organizou também a classificação de marcas sugerida por

Hausmann (1989), que, com base nos termos correntes na linguística, a saber, diacrónico,

diatópico, diastrático e diafásico, criara vários adjetivos específicos para a área

metalexicográfica, como as seguintes:

21
Critério Tipo de marcas Periferia marcada Exemplos de marcas

Tempo diacrónicas Arcaísmo - neologismo antigo, envelhecido,


neologismo
Local diatópicas Regionalismo, dialeto Brasil: Nordeste,
Angola,
Nacionalidade diaintegrativas Estrangeirismos latim, francês

Médio diamediais Linguagem oral e escrita coloquial

Sociocultural diastráticas Socioleto chulo, familiar, calão,


popular
Formalidade diafásicas Formal - Informal informal, formal

Tipologia de diatextuais Poético, literário, poético, literário,


textos jornalístico jornalístico
Tecnicidade diatécnicas Linguagem técnica Medicina, Biologia,
Militar
Frequência diafrequentes Raro raro, ocasional

Atitude diaevaluativas Conotado pejorativo, eufemismo

Normalidade dianormativas Incorreto non-standard

Tabela 1 - Marcas diassistemáticas num dicionário contemporâneo para fins gerais


Fontes: Hausmann (1989); Welker (2004); Svensén (2009); Dicionário Priberam da
Língua Portuguesa; Dicionário da Língua Portuguesa

Como a tabela apresenta, as marcas diacrónicas destinam-se a assinalar os lemas

obsoletos ou neológicos, enquanto as diatópicas foram aplicadas às aceções utilizadas em

determinada região ou país. As diaintegrativas, evidentemente, dedicam-se aos

estrangeirismos. As diamediais, diastráticas e diafásicas estão relacionadas com os

contextos de uso da linguagem, designadamente oral e escrito, com os socioletos e com

as formal e informal. As diatextuais ou diatécnicas surgem em lemas ou aceções restritas

a um género textual ou a uma linguagem técnica. As marcas diafrequentes, obviamente,

assinalam os lemas raros. As diaevaluativas apresentam a atitude do falante ao utilizar

uma determinada palavra, ao passo que os seus homólogos dianormativos indicam o uso

22
inadequado de uma aceção segundo as normas da língua-padrão (Welker, 2004: 131).

De acordo com Svensén (2009: 317), as marcas objetivam, por um lado, fornecer as

informações sobre um item léxico, por outro, diferenciar, através desse fornecimento, o

item referido dos outros da mesma natureza, de forma a dirigir os utilizadores às

informações que procuram no dicionário. Welker (2004: 134) também destacou a

importância das marcas tanto na produção de textos como na receção, pelo seu contributo

para os aprendentes para “uma compreensão exata do texto”. Tomando em conta os seus

benefícios, o autor também sugeriu a inclusão na introdução de uma explicação mais

detalhada em torno dessas notas, para os utilizadores tirarem melhor partido das mesmas.

1.1.3.2. Definição

De acordo com Imbs (1960: 9), citado por Welker (2004: 117), a “arte suprema, em

lexicografia, é a da definição”. Para o autor francês, a mesma não visa, de qualquer modo,

ser sinónimo de objetividade, com a única intenção de traduzir o que “a palavra sugere à

mente”, acerca de um dado “objeto”, “num dado ambiente histórico” (Imbs, 1960: 10,

apud Welker, 2004: 118).

Welker (2004), tendo resumido os trabalhos anteriores, classificou a mesma na

definição lexicográfica, enciclopédica e, na área de terminografia, a terminológica.

A espécie enciclopédica, como a denominação demonstra, existe nas enciclopédias

ou em verbetes da mesma natureza de alguns dicionários, geralmente dos dicionários

monolingues (ibid; Svensén, 2009). Silva (2003: 38) definiu a mesma como um “resumo

de conhecimentos”, descrevendo que tanto a referida como o seu homólogo terminológico,

são, em princípio, compostos por uma frase, uma perífrase, uma enumeração ou um

sintagma, com base nas “regras sintáticas e gramaticais da língua”. Silva (2003) também

citou as observações de Cabré (1993: 313), em que se constatou frases com longas e

exaustivas descrições a respeito do objeto definido nos artigos enciclopédicos.

No caso da definição terminológica, Couto resumiu (2003: 16) que a mesma tem por

objeto o termo que pertence a uma linguagem especializada de um dado domínio e que

23
tem por função “identificar e classificar o conceito dentro do sistema conceptual do qual

faz parte”. Tal definição existe, em geral, nos glossários e dicionários especializados de

um domínio específico.

A definição lexicográfica, o foco do presente subcapítulo, por sua vez, tem por objeto

“a palavra ou signo linguístico da linguagem geral”, com a finalidade de explicar os

significados para discriminar o sentido de um lema e o seu uso numa língua (ibid.).

Correia (2009: 55) acrescentou que a definição lexicográfica pode ser apresentada por

meio de perífrases, explicitações ou os seus sinónimos. Combinando as classificações de

Welker (2004) e Svensén (2009) a respeito à definição, o presente subcapítulo será

apresentado em torno dos dois tipos principais: a “lógica”, “analítica” ou “aristotélica”, e

a definição por sinónimos.

A primeira, também chamada a definição intensional por Svensén (2009), foi

considerada como o tipo mais prestigioso da definição por Béjoint (2000: 198), a qual se

refere ao conteúdo dos lemas. O processo de tal definição envolve dois termos latinos:

genus proximum (género próximo) e differentia specifica (diferença específica), que

designam, respetivamente, a classe que contém o definiendum 9 como um dos seus

elementos, e as caraterísticas distintivas que diferenciam o definiendum dos outros

elementos na mesma classe. A definição deve abranger tantas caraterísticas distintivas

quantas forem necessárias para delimitar o conceito dos seus homólogos da mesma classe

(Svensén, 2009: 219). Welker (2004: 118) tomou o lema “cadeira” como exemplo para

melhor esclarecer os termos, nesse caso, o seu genus proximum é móvel, enquanto nas

differentiae specificae se apresentam “para sentar-se”, “com encosto”, “para uma pessoa”,

entre outras.

Svensén (2009) salientou ainda o caso dos lemas de um domínio especializado,

como os da biologia, uma vez que as definições nos dicionários, geralmente monolingues,

têm por função descrever a língua em vez de classificar o mundo; para evitar uma

9 Em latim, significa “o que deve ser definido”. Paralelamente existe outro termo, “definiens”, que designa aquilo que
define
24
definição tão exaustiva como na enciclopédia, na mesma estão apresentados apenas o

genus proximum junto com uma ou duas differentiae specificae, como os seguintes

exemplos retirados do Longman Dictionary of Contemporary English (5ª edição):

longhorn (…) noun [countable] a cow with long horns10

canasta (…) noun [uncountable] (…) a card game

Svensén, bem como Béjoint (2000), propuseram ainda um outro tipo de definição, a

chamada definição extensional, que se foca no âmbito dos lemas. Tais definições são

menos comuns nos dicionários da língua para fins gerais e são constituídas normalmente

pela enumeração de todos os conceitos que podem ser incluídos no definiendum, como o

seguinte exemplo levantado por Svensén (2009: 221):

motor vehicle n. car or motorcycle or moped or van or …

Comparando com o mesmo verbete no Longman Dictionary of Contemporary

English: “motor vehicle noun [countable] formal any vehicle which has an engine, such

as a car, bus, or truck”, parece que essa enumeração não é sempre necessária visto que

existe um modo mais simplificado de definição. Béjoint (2000) também salientou que o

tipo extensional ou outros tipos apenas seriam precisos no momento em que a definição

analítica não funcionasse.

Um outro tipo de definição, a “definição por sinónimos”, referida por Svensén

(2009), foca-se no aspeto da expressão dos signos e aplica a forma de uma paráfrase da

designação (ibid.: 214). A sinonímia, segundo o autor, compreende três aspetos: o

significado denotativo, o conotativo e as caraterísticas pragmáticas. O primeiro é

considerado como o significado “real”, ou melhor, de natureza objetiva e cognitiva. Os

significados secundários, designadamente, os subjetivos e emotivos, são conhecidos

como os conotativos. As caraterísticas pragmáticas, por seu turno, estão relacionadas com

o estado de uma palavra como pertencente a uma linguagem geral ou técnica e as suas

ocorrências nos diferentes níveis de estilo. A sinonímia completa vai ser realizada quando

duas palavras se equivalem em todos os três aspetos, a qual, contudo, ocorre usualmente

10 Para simplificar, dos verbetes foram omitidas as transcrições fonéticas e informações etimológicas.
25
apenas na terminologia técnica. Assim sendo, aplica-se, via de regra, os sinónimos em

conjunto com os “near synonyms” (quase sinónimos), que se referem à equivalência a

nível denotativo das duas palavras (ibid.). Tal resolução é mais económica, estando válida

quando as exigências para a precisão semântica não são grandes. No caso dos sinónimos

polissémicos, todavia, estes não podem substituir a definição toda, sendo sujeitos à

desambiguação (ibid., 215). Por tais razões, Imbs (1960: 13), citado por Welker (2004:

118), criticou o modo de definição por sinonímia por ser “o menos científico possível”,

dando com facilidade em pseudodefinições que “estabelecem um círculo vicioso”.

Além dos referidos, em 1987 foi publicado o Collins COBUILD English Language

Dictionary (adiante designado por Dicionário COBUILD), em que se adotou uma

maneira distinta para a disposição das definições. Nessa obra, as definições foram

construídas como uma frase completa, visando apresentar as mesmas por meio da oração

ordinária, no intuito de simplificar e tornar mais compreensíveis as definições para que

os utilizadores possam aplicar os lemas com facilidade (Svensén, 2009: 235). Foram

extraídas partes dos verbetes do Dicionário COBUILD11 e do Longman Dictionary para

melhor demonstrar as diferenças.


defeat 1.verb If you defeat someone, you win a victory over them in a
battle, game, or contest. (…) (COBUILD)
defeat verb [transitive] 1. to win a victory over someone in a war,
competition, game, etc. (…) (Longman Dictionary)

home 1. countable noun Someone's home is the house or flat where they
live. (…) (COBUILD)
home noun 1. PLACE WHERE YOU LIVE [uncountable and countable]
the house, apartment, or place where you live (…) (Longman Dictionary)

Svensén (2009: 236) tomou atitudes positivas em relação ao modo de definir no

Dicionário COBUILD, concluindo que as mesmas servem tanto para a produção como a

receção, considerando a sua inclusão das informações contextualizadas sobre o lema e o

11 Os verbetes do COBUILD foram extraídos da página oficial do dicionário online da Collins.


26
facto de que o lema é definido como no seu uso real. Rundell (1999), em contrapartida,

não considerou a mesma como a melhor solução, defendendo que mais pesquisas sobre

as necessidades dos utilizadores seriam indispensáveis para verificar o valor prático dos

vários estilos de definição. Zöfgen (1994: 139), citado por Welker (2004: 124), criticou o

volume excessivo das definições e a “repetição de palavras desnecessárias”. Apesar das

suas deficiências do ponto de vista lexicográfico, o sucesso do Dicionário COBUILD a

nível internacional evidenciou que tais definições são apreciadas por um número

considerável dos utilizadores do dicionário, sendo benéficas à sua aprendizagem ou uso

da língua.

1.1.3.3. Colocações

O que são colocações? Falando da abordagem orientada por corpora, Jones &

Sinclair (1994: 16), citados por W elker (2004: 140), explicitaram as mesmas como

“coocorrência regular de itens lexicais”. Svensén (2009: 159), resumindo dos trabalhos

de Sinclair (1991: 109-21), considerou as colocações como o fenómeno estatístico que se

baseia nas coocorrências das palavras em texto autêntico. Sinclair (1998: 15) acrescentou

posteriormente que a colocação é a coocorrência de palavras com, no máximo, quatro

palavras intervenientes. Nas definições do autor inglês, as colocações são compostas por

um nó (node), que designa a palavra que está a ser estudada, e um colocado (collocate),

que se trata de qualquer palavra que apareça nas circunstâncias específicas de um nó”

(ibid., 1991: 115). A respeito desse conceito, Svensén (2009: 160) elucidou que as

palavras que formam uma colocação não precisam de ser sempre adjacentes mutuamente.

No caso da colocação inglesa “make a decision”, por exemplo, pode-se dizer como “The

decision to use the atomic bomb was made by President Truman”. Para o autor (ibid.),

cada grupo de palavras que coocorre mais frequentemente do que por acaso é considerado

como uma colocação.

Apesar do referido, Svensén (ibid) apontou também que tal abordagem de definir

colocação é problemática, pelo que a dependência demasiada na frequência resultaria na

27
inclusão das combinações das palavras com alta frequência mas malformadas, como “you

and”. Justificou ainda que, mesmo que as combinações referidas sejam eliminadas por

meio do chamado “filtro gramatical”, sobrariam também as combinações frequentes e

bem-formadas, mas desnecessárias, como o caso de “hotel” enquanto nódulo: “a hotel,

my hotel, left the hotel, went to my hotel” (apud. Hausmann, 2004: 319). Nessa maneira,

segundo Svensén (ibid.), seriam ignoradas, pelas perspetivas do sistema linguístico, um

grande número das combinações de palavras relevantes com baixa frequência da

ocorrência.

Hausmann (1977, 1984, 1989), citado por Welker (2004: 141), propôs uma definição

diferente, resumindo que as colocações são as coocorrências de “palavras com

combinabilidade limitada, de combinações afins, de produtos semi-cristalizados que o

falante não monta de forma criativa, mas encontra na sua memória como um todo e que

o ouvinte percebe como algo conhecido” (Hausmann, 1984: 399), de “combinações

binárias típicas, específicas e caraterísticas”. Nessa conceção, salientou-se que é através

da competência dos falantes nativos que dominam bem a sua língua materna, em vez da

análise de frequência, que se decide se uma combinação é considerada como uma

colocação afinal. Por outras palavras, os colocados são aqueles “parceiros” que surgem

logo à mente dos falantes nativos ao ouvirem ou pensarem numa palavra (Welker, 2004:

141).

Não obstante o mencionado, às vezes, ainda é possível estar confuso com as

combinações livres e as colocações. Svensén (2009: 161) enumerou dois exemplos para

esclarecer a diferença. Por um lado, as combinações livres são como as expressões “buy

a book” e “red car”, cujos componentes podem ser substituídos por inúmeros lemas,

sendo que nenhum elemento se restringe à combinabilidade. Tais combinações ainda se

caraterizam pela previsibilidade dos seus componentes, que são palavras que podem ser

definidas e entendidas independentemente. O conceito das colocações, por outro, pode

ser demonstrado pela expressão “make a decision”, que não é banal do ponto de vista

semântico, pelo que a palavra “decision” está sujeita à combinabilidade quando o falante

28
pretende expressar, com verbos, que se toma uma decisão. Em suma, pelo menos um dos

componentes da colocação tem restrições de combinabilidade e possui a natureza

previsível de certo modo. Ao contrário do que acontece às combinações livres, nas

colocações geralmente existe pelo menos um componente entendível, enquanto a parte

restante seria definida somente através do seu parceiro colocacional.

Acerca da estrutura das colocações, Hausmann (1985), citado por Welker (ibid.: 142),

dividiu a colocação em base e colocado, sendo que “a base é aquela parte que é qualificada

ou detalhada pelo colocado” (Zöfgen: 1994: 164, apud Welker, ibid.). Benson (1985),

citado por Svensén (2009: 164), classificou as colocações em duas categorias: a colocação

lexical e a colocação gramatical. A primeira, como já se abordou anteriormente, é

representada por grupos de palavras que coocorrem com mais frequência, como “make a

decision”, “temperatures fall” e “deep sorrow”. A última, por seu turno, designa aquelas

combinações compostas por uma palavra de conteúdo dominante, nomeadamente, verbos,

substantivos e adjetivos, e uma palavra funcional, geralmente a preposição, como

“interested in” e “capable of”. Embora a última seja considerada mais como instâncias de

valência por Svensén (ibid.), emprega-se a classificação de Benson no presente trabalho

para efeitos de investigação nos capítulos posteriores.

Abordando a questão da inclusão das colocações no dicionário, em vários trabalhos

de Hausmann, citado por Welker (2004: 142), realçou-se que é nos verbetes das bases que

as colocações deviam ser registadas, pelo que aqueles que consultam o dicionário para a

produção de texto, tomando a colocação “chover torrencialmente” como um exemplo,

têm dúvidas em relação a como descrevem a chuva. No caso da receção, contudo, segundo

Hausmann (1985: 121), citado por Welker (ibid.), em princípio é o colocado que provoca

a consulta, como o “torrencialmente” na expressão referida, nesse modo,

preferencialmente deve registar-se a colocação no verbete do colocado. Em resumo, é

aconselhável incluir a colocação nos verbetes de ambas as partes, como Haussman

sugeriu, em particular para os dicionários monolingues, que são benéficos para a receção

e a produção de textos. Nos dicionários impressos, dados os limites de volume e motivos

29
económicos, não seria realizável incluir todas as colocações relevantes em ambos os

verbetes, o que, todavia, pode ser concretizado, de certa forma, nos dicionários eletrónicos,

em que podem registar-se, com base no princípio da frequência, as colocações que

consideram pertinentes para satisfazer as necessidades dos utilizadores.

1.1.3.4. Expressões idiomáticas

As expressões idiomáticas, ou idioms em inglês, segundo Svensén (2009: 188), são

as combinações (relativamente) fixas de palavras, cujos significados não equivalem à

soma simples de todos os seus componentes, ou seja, não é possível inferir o significado

de uma expressão idiomática através das palavras que a formam. Tal caraterística revela

que as expressões possuem um significado metafórico, distinguindo-se, assim, das

colocações e combinações livres (ibid.: 189).

Apesar da sua diferença das outras espécies das expressões, Hundt (1994: 213),

citado por Welker (2004: 167), observou que, em muitos dicionários da língua portuguesa,

não se constatou um critério específico de registo, pelo que as expressões idiomáticas e

os provérbios estão misturados com as combinações fixas, locuções pragmáticas e o

“léxico de línguas de especialidade”. Do ponto de vista lexicográfico, tal disposição não

está nítida nem organizada cientificamente. Ponderando as perspetivas dos aprendentes

de uma língua estrangeira, sobretudo os de proficiência elementar, a mistura talvez não

influencie a consulta pelo que estes possivelmente têm dificuldades em distinguir as

expressões idiomáticas das combinações fixas e locuções pragmáticas. O que torna a

consulta mais eficaz, porventura, é a ordenação alfabética das expressões e combinações,

que prevalece na maioria dos dicionários da língua portuguesa. Schemann (1979), citado

por Welker (ibid.), no seu dicionário de idiomatismos, com base no alfabetismo, agrupou

as expressões idiomáticas da mesma palavra conforme as suas classes gramaticais. Tal

ordenação foi também ajustada e aplicada posteriormente. Contudo, Welker (ibid.: 167)

confessou também que o essencial é que haja uma ordem que atua no dicionário todo de

forma que os utilizadores possam localizar as expressões eficientemente.

30
A fixidez das expressões idiomáticas, aliás, também é relativa, sendo explicado por

vários tipos de variantes nas mesmas. Alvarez (2000: 87), no seu trabalho de

doutoramento, classificou as variantes em três tipos: as morfológicas, que indicam a

mudança da forma através da omissão ou inclusão de elementos gramaticais, como “pedir

a (minha) mão”12; as lexicais, com um lema trocado, sem alterar o sentido e estrutura da

expressão, como “vender/dar gato por lebre13”; e as por extensão, que resultam da adição

ou omissão dos itens lexicais, como em “ter os pés (bem assentes) na terra 14 ”. Um

dicionário perfeito, na opinião de Welker (ibid.: 170), deve assinalar as possibilidades de

transformação para informar os consulentes, mas confessou também que isso é quase

inviável.

Não obstante o referido, Welker, citando o próprio trabalho em alemão (2003: 129),

sumarizou quatro regras em relação à apresentação das expressões idiomáticas: i. utiliza-

se o infinitivo apenas no caso de que o verbo pode ser conjugado sem limites; ii. deve-se

indicar caso o verbo de uma expressão exista somente em determinado tempo; iii. não se

pode registar uma expressão com infinitivo se o sujeito da expressão for um lema

específico15; iv. as expressões que existem somente em certa forma verbal apenas podem

ser registadas nessa forma.

A par do exposto, Welker (2004) apontou ainda o facto de que os utilizadores podem

ter dificuldades em identificar por onde começa uma expressão idiomática. Para as

expressões “de olhos fechados16” e “não dar uma para a caixa17”, por exemplo, é possível

que achem que estão corretas como “olhos fechados” e “dar uma para a caixa”. A solução

que o autor brasileiro e Burger (1998) sugeriram é a indicação do sujeito e/ou os

complementos, nomeadamente, os objetos obrigatórios ou opcionais, como as seguintes

12 As três expressões apresentadas foram retiradas do site do Dicionário infopédia da Língua Portuguesa. De acordo
com a fonte, “pedir a mão de” significa “pedir em casamento”.
13 Significa “enganar, dando ou vendendo o mau como se fosse bom”.
14 Significa “ser realista, ser objetivo”.
15 Deve-se indicar as possibilidades de um verbo ser aplicado em vários tempos.
16 Significa “sem necessidade de reflexão”.
17 Significa “dizer ou fazer tudo ao contrário”.
31
formas: ter (algo ou alguém) na mão, dar (algo) a conhecer (a alguém).

Os padrões das definições do Dicionário COBUILD, por sua vez, como Landau

(2001) apresenta, são, de certo modo, adequados para apresentar as expressões

idiomáticas, os quais mostram, ao mesmo tempo, a valência sintática e variantes das

expressões, como os seguintes exemplos:


stand/turn sth. on it's head
If you stand an idea or argument on its head or turn it on its head, you think about
it or treat it in a completely new and different way.

test the water


If you test the water or test the waters, you try to find out what reaction an action
or idea will get before you do it or tell it to people.

1.1.3.5. Exemplos

O termo exemplo, segundo Jacobsen (1991), em sentido amplo, refere-se às

expressões idiomáticas, colocações e outros tipos de sintagmas, visto que todos estes

servem para exemplificar o uso dos lemas. Welker (2004: 150), citando Hausmann (1977)

e Zöfgen (1994), delimitou os exemplos a “frases ou enunciados”, e defendeu que,

considerado o facto de que possuem as próprias designações, as colocações e expressões

idiomáticas, não vale a pena incluir as mesmas no âmbito do termo exemplo, definindo o

mesmo como “frase ou trecho de frase que serve para exemplificar”. Correia (2009: 61)

fez uma explicitação mais detalhada, definindo os exemplos de uso como frases

construídas pelo lexicógrafo ou excertos dos textos das espécies diversas, que

representam os vários “registos linguísticos” que se constituem o corpus que esse

dicionário tem como base. No presente trabalho, no intuito de proceder à investigação de

forma mais precisa para os respondentes chineses, empregar-se-á a definição da Correia.

Welker (2004: 150), na sua obra, enumerou três tipos de exemplos: o autêntico,

adaptado e construído. O primeiro, segundo o autor brasileiro, é sinónimo às abonações,

que se tratam da frase ou excerto extraído dos textos autênticos, como os das obras dos

“bons autores”, jornalísticos e científicos. Em torno de tal espécie, as opiniões variam-se


32
significativamente. Segundo Svensén (2009: 284), os adeptos defenderam que, se um

dicionário se basear num corpus, não faz sentido inventar exemplos com base nele, pelo

que um corpus de volume considerável permite encontrar os bons exemplos para a

maioria dos lemas, mesmo os menos frequentes. Ao parecer de Martin (1989: 600), citado

por Welker (2004: 151), os exemplos autênticos trazem marcas históricas e ideológicas,

levando a que o conteúdo seria apenas acessível àqueles equipados dos conhecimentos

relevantes. Svensén (2009: 284) também apontou o facto de que os exemplos autênticos

são menos úteis para os aprendentes do nível elementar de uma língua, que podem ter

dificuldades em compreender os materiais autênticos.

Fox (1987: 148), todavia, considera que quaisquer alterações para tornar o exemplo

mais compreensível e regular, mesmo as modificações nos tempos e a substituição de uma

palavra pela outra, podem destruir a sua sensação e autenticidade, dando falsa impressão

aos utilizadores. Para a lexicógrafa, os exemplos autênticos são não só corretos

gramaticalmente, como também apropriados conforme a situação, sendo que são

utilizados na situação real. Em contrapartida, os exemplos inventados, talvez, não

consigam ilustrar o uso mais típico de um lema e parecem, às vezes, estranhos, não

pertencendo a um ato comunicativo. Em resposta ao referido, Laufer (1992) argumentou

que qualquer lexicógrafo que seja falante nativo educado possui competências

linguísticas corretas sobre a própria língua materna e a sua gramática, bem como o uso e

contexto típicos de um lema. O teste que Laufer (ibid.) procedeu em relação ao valor

pedagógico do exemplo autêntico e do construído também evidenciou que os construídos

foram mais benéficos tanto à compreensão como à produção das palavras novas para os

alunos.

Os exemplos adaptados, versões modificadas dos exemplos autênticos, foram

preferidos aos inventados por Welker (2004: 156), pelo que os lexicógrafos podem correr

o risco de errar, como apresentar frases contendo a aceção obsoleta de um lema. Para

evitar tal tipo de erros, o autor brasileiro sugeriu que, ao inventar um exemplo, consultasse

o mesmo num corpus para confirmar se tal frase ou enunciado ocorre na vida real de

33
maneira semelhante, com exceção dos lemas e as aceções mais comuns, uma vez que

estes surgem logo à mente do lexicógrafo, como um membro de uma sociedade linguística.

No que diz respeito à necessidade de inclusão dos exemplos nos verbetes, Welker

(2004: 154) opinou que o uso correto deve ser ilustrado através das colocações

gramaticais e lexicais; assim sendo, atribuiu os exemplos a “um terceiro elemento de

auxílio na produção de texto”, considerando indispensáveis as colocações gramaticais e,

de grande importância, as lexicais. Portanto, os exemplos não são sempre necessários no

caso de coexistência desses dois tipos de colocações. Tais afirmações, todavia,

possivelmente não levam em conta os utilizadores não nativos. Como Correia (2009: 62)

abordou, os exemplos, de facto, são indispensáveis nos dicionários de produção, sendo

explicado pela sua inclusão das informações essenciais para os utilizadores para fins

pedagógicos, a saber, “a estrutura argumental da entrada, regências a que está sujeita,

coocorrentes típico e informação de carácter cultural”. No caso dos verbos, por exemplo,

mesmo que exista colocações que indicam a preposição com que se deve combinar, um

exemplo na frase preposicional serve melhor para apresentar o uso correto e contexto de

emprego desse verbo. Welker (2004: 160) também admitiu que, como as marcas apenas

indicam os registos de forma geral, os exemplos ainda são valorizados pela ilustração dos

contextos em que um lema está empregado. No caso dos aprendentes chineses da língua

portuguesa, o resultado da pesquisa nos capítulos posteriores também demonstrará se os

exemplos são procurados numa consulta.

1.1.4 Medioestrutura

Para além de macroestrutura e microestrutura, num dicionário, ainda existe a

chamada medioestrutura, também denominada como remissões (Welker, 2004: 177),

referências cruzadas18 ou estrutura de referências cruzadas19, que se relacionam com os

indicadores, geralmente palavras ou símbolos, que permitem aos utilizadores do

18 Em inglês “cross-reference”.
19 Em inglês “cross-reference structure”.
34
dicionário localizarem os materiais espalhados por diferentes componentes, ou fora do

dicionário, no intuito de facilitar o acesso às informações relevantes (Hartmann & James,

2002: 32).

Welker (2004: 178), citando Sousa (1995: 301), apontou que a principal função das

referências cruzadas é “evitar repetições”. De acordo com Svensén (2009: 389), nos

dicionários impressos, as remissões têm como função economizar espaço, uma vez que,

nos casos dos itens multi-lexicais, colocações e expressões idiomáticas, não é possível

registar os mesmos nos verbetes de todos os componentes intervenientes, assim sendo, a

solução comum é a registação das expressões ou itens no verbete da palavra de base, ou

daquela mais “pesada” semanticamente, adicionando remissões nos outros.

As referências cruzadas também ajudam no reforço da relação semântica dos

dicionários, normalmente aqueles para fins gerais, com a macroestrutura alfabética,

considerando que com essa estrutura se torna oculta a vinculação semântica entre os lemas.

O reforço geralmente é realizado por meios do acesso aos itens semanticamente relativos,

como os sinónimos, antónimos e hiperónimos (ibid.).

As remissões, em princípio, são apresentadas através de uma seta, ou palavras como

“see” em inglês e formas diversas do verbo - “ver”, “veja”- ou simplesmente “v.” e “cf.”.

(Welker, 2004; Svensén, 2009). Debruçando-se sobre as suas posições, segundo Wiegand

(1996: 25), citado por Welker (ibid.: 178), as remissões dentro de um dicionário podem

aparecer no verbete, no índice, “numa inserção dentro da macroestrutura”, como a

remissão dos lemas iniciados da letra “Y” aos outros iniciais no caso de português, nos

textos externos, como as remissões para exemplificações na introdução ou no resumo de

gramática do dicionário, e em ilustrações, em que se indica números para remeter aos

lemas representados por determinada imagem. Para as referências cruzadas nos verbetes,

ocorre geralmente em situações como a remissão de um lema raro ao seu sinónimo ou

variante ortográfica mais frequente, a de um lema flexionado à sua forma canónica e no

caso de que o lema apenas existe enquanto parte de um item lexical complexo.

Na obra de Svensén (2009: 390-92), as referências cruzadas foram classificadas em

35
duas formas: a explícita e a implícita. A primeira inclui o indicador que declara a presença

da remissão, como uma seta e verbo “ver”, e a especificação do “endereço” da remissão,

geralmente salientado através das formas itálico ou negrito. As remissões aos sinónimos

e à forma canónica de um lema flexionado são consideradas como a espécie implícita.

Welker (2004: 180) até opinou que “toda palavra empregada na definição implica uma

remissão para o lema daquela palavra”, sendo que os utilizadores têm de consultar as

palavras desconhecidas nela.

1.2 Tipos de dicionários de língua

No mundo da lexicografia, as classificações dos dicionários são diversificadas. Nos

aspetos do formato, existe dicionário em papel e dicionário eletrónico, com o último ainda

especificado em dicionário online, dicionário na aplicação e dicionário em CD-ROM. Das

perspetivas do número das línguas que contêm, estão à nossa disposição os dicionários

monolingues, dicionários bilingues e dicionários multilingues. Partindo das próprias

funções, disponibiliza-se também os dicionários para fins gerais, dicionários

especializados, dicionários para aprendizes, ou até dicionários para produção, dicionários

para receção, entre outros. Como o presente trabalho tem como foco o uso dos dicionários

por parte dos aprendentes chineses, a seguir será abordado por detalhes os quatro tipos

mais populares entre os utilizadores da China, a saber, o dicionário monolingue geral, o

dicionário para aprendizes, o dicionário bilingue e o dicionário semi-bilingue.

1.2.1 Dicionário monolingue geral

De acordo com Landau (1984: 8), um dicionário monolingue, como a denominação

implica, é uma obra escrita exclusivamente em uma e mesma língua, sendo destinado

principalmente aos falantes nativos dessa língua, às vezes para aqueles que a aprendem

como uma LE/L2 também.

Um dicionário monolingue geral, por sua vez, segundo Geeraerts (1989: 293), citado

por Van Sterkenburg (2003: 3), contém no primeiro lugar os dados semasiológicos, em

36
vez dos onomasiológicos nem não-semânticos, descreve a língua padrão em vez das

variedades restritas e funciona para fins pedagógicos em vez dos críticos nem académicos.

Nas opiniões de Béjoint (2000: 40), os dicionários monolingues gerais também

possuem a natureza prototípica, pelo que:


It is the one that every household has, that everyone thinks of first when
the word dictionary is mentioned, it is the type that is most often bought,
most often consulted, the one that plays the most important role in the
society that produces it. It sells in huge numbers everywhere, and it is
also the one that metalexicographers describe most, sometimes even
exclusive.
Segundo Sterkenberg (2003: 7), apesar da afirmação sobre os dicionários modernos

de que apenas se descreviam a língua produzida de uma determinada comunidade de fala,

sem intenções prescritivas, não se pode negar que tais dicionários ainda desempenham o

papel de um “código de lei” para todos os assuntos linguísticos, como as questões sobre

se aceitam as variantes regionais, históricas ou sociais. De certa forma, os dicionários

monolingues gerais podem ser considerados como o protetor da pureza da própria língua.

O Webster’s Third New International Dictionary, antecessor do dicionário online

bem conhecido Merriam-Webster Unabridged, um dicionário monolingue geral na

lexicografia inglesa, é considerado por Landau (1984: 18) como o verdadeiro trabalho
“unabridged”, o dicionário mais integral na língua inglesa. Contendo mais de 470 000

entradas, no dicionário americano foram omitidos todos os termos que se tornaram

obsoletos até 1755, menos aqueles encontrados nas obras conhecidas dos autores

importantes, contando com citações abundantes para justificar as definições e numerosas

informações relativas ao uso típico dos lemas.

No caso do português europeu, de acordo com Correia (2009: 117), três dicionários

gerais merecem a nossa atenção. O Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora,

publicado pela primeira vez em 1952 e atualizado ultimamente em 2017, possuindo

também formatos digitais, abrange um vocabulário geral extenso e um número

considerável dos termos técnicos e especializados, com cerca de 260 000 definições,

expressões fixas e provérbios, bem como as informações etimológicas. O Dicionário da

37
Língua Portuguesa Contemporânea, apenas em versão impressa, foi publicado em 2001;

apesar da sua dimensão relativamente modesta das entradas – 70 000 -, dado ser o fruto

do projeto dicionarístico académico, Correia (ibid.: 119) considerou que foi o dicionário

com maior impacto social e que “mais destaque que mereceu na comunicação social”. E

por fim, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, de 2004, que

existe apenas em papel, inclui aproximadamente 130 000 entradas, sendo o maior

dicionário português a apresentar as transcrições fonéticas de todas as entradas, o que,

como se referiu nos subcapítulos anteriores, é muito raro na lexicografia portuguesa (ibid.:

120). Além do referido, cabe mencionar ainda o Dicionário Priberam da Língua

Portuguesa (DPLP), um dicionário de português contemporâneo em formato digital,

tendo com base o Novo Dicionário Lello da Língua Portuguesa, que entrou em

funcionamento ao público desde 2008. Tal como os seus homólogos impressos, o DPLP

regista não só os vocabulários gerais, mas também os termos mais comuns das áreas

científicas e técnicas (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008).

1.2.2 Dicionário monolingue para aprendizes

O dicionário monolingue para aprendizes, em inglês learner’s dictionary, é uma

obra para fins pedagógicos, destinada aos aprendentes de uma língua estrangeira (Svensén,

2009: 29). Segundo Welker (2004: 216), tal tipo de dicionário tem como objetivo auxiliar

o estudante de línguas estrangeiras nas diversas atividades, sobretudo na produção de

textos, em vez de se focar na aprendizagem do vocabulário.

Focando-se nos seus utilizadores, neste caso, os falantes da língua estrangeira, os

dicionários para aprendizes, como o famoso Oxford Advanced Learner’s Dictionary

(OALD), adotam uma linguagem mais simples do que os monolingues tradicionais,

contando, muitas vezes, com um número relativamente reduzido de verbetes e aceções e

mais exemplos (Humblé, 2001: 34). O autor considerou ainda tal tipo dos dicionários

como os dicionários “bilingues” universais, visto que traduzem, no caso do OALD, o

inglês difícil no inglês compreensível, independentemente da L1 dos utilizadores (ibid.).

38
Welker (2004: 219) também reiterou que, com a finalidade de auxiliar nas atividades

produtivas, os autores dos dicionários prestam atenção especial, desde o início, à

apresentação das informações sintáticas para além da regência.

Entre todos os dicionários para aprendizes existentes, os da língua inglesa são os

mais desenvolvidos e avançados, sendo explicado pela existência dos “Grande 5” (adiante

designados G5), designadamente, o Cambridge Advanced Learner’s Dictionary (CALD)

(Procter, 1995 20 ), o Collins Cobuild Advanced Learner’s English Dictionary (adiante

designado por CCALED) (Sinclair, 1994), o «Longman Dictionary of Contemporary

English» (LDOCE) (Summer, 1995), o Oxford Advanced Learner’s Dictionary (OALD)

(Crowther, 1995) e o Macmillan English Dictionary for Advanced Learners (MED)

(Rundell, 2002), que servem como uma ferramenta lexicográfica multifuncional para

ajudar o melhor possível um grupo-alvo em quaisquer atividades comunicativas e de

aprendizagem da LE/L2 (Swanepoel, 2003: 57; Rizo-Rodríguez, 2008). Rizo-Rodríguez

(2008), no seu trabalho, fez uma comparação detalhada em relação aos G521 em formato

de CD-ROM. Em resumo, todos os B5 baseiam-se em corpora de enorme dimensão; entre

estes, no entanto, destacam-se o MED2, CALD2 e OALD7 pelo seu registo dos

regionalismos representativos. Constatou-se também a indicação pormenorizada das

diferenças dos registos dos lemas nos outros quatro dicionários, com exceção do

CCALED5. Ambos os elementos tornam os próprios dicionários mais adequados para os

fins de decodificação. A inclusão das entradas enciclopédicas no LDOCE4 e das culturais

no OALD7 também não só possibilitou aos aprendentes o acesso ao vocabulário essencial

dessa língua, como também enriqueceu os conhecimentos relativos ao contexto cultural

(ibid.: 27). Rizo-Rodríguez também observou que os verbetes dos outros quatros

dicionários contêm um número considerável de informações extra, tais como as de

20 Os dicionários foram citados conforme as datas da publicação das suas primeiras edições.
21 No trabalho de Rizo-Rodríguez (2008), foram postos em análise os “Big 5” (B5), nomeadamente, o CALD em CD-
ROM (2ª edição, versão 2.0a, 2005) (CALD2), o CCALED em CD-ROM (5ª edição, 2006) (CCALED5), o LDOCE
em CD-ROM (4ª edição, 2005) (LDOCE4), o MED em CD-ROM (2ª edição, versão 2.0.0702, 2007) (MED2) e o
OALD em CD-ROM (7ª edição, 2005) (OALD7).
39
multimédia, os exemplos suplementares, colocações e as notas de uso e de cultura. Apesar

das informações humildes constantes no CCALED5, as definições completamente

oracionais da espécie do COBUILD podem servir como um exemplo para as explicações

dos professores durante as aulas (Herbst, 1996).

Não obstante as informações abundantes que as obras acima referidas contêm, tais

tipos de dicionários ainda têm defeitos; por exemplo, um aprendente deve ter consciência

de qual é o item lexical específico que procura. Se um aprendente pretender encontrar

uma palavra com o significado de “irritar alguém”, sem conhecimentos sobre a grafia,

não conseguirá encontrar o lema nos dicionários como os G5, dicionários organizados

alfabeticamente. Para compensar tal defeito, foi compilado o dicionário para produção

Longman Language Activator, com macroestrutura temática, organizada em torno de

cerca de mil conceitos básicos, como “accept”, “walk” e “alone”, no intuito de dirigir os

utilizadores que buscam um termo fundamental a um vasto leque de vocábulos

sofisticados ou especializados (Swanepoel, 2003: 56; Rundell: 1999: 49).

Figura 1 - Excerto do Longman Language Activator (2002, p. 15)

40
No caso da língua portuguesa, um exemplo é o Dicionário de Português Básico, da

Edições ASA, publicado em 1990, que tem como público-alvo aqueles que têm o

português como língua de comunicação. Foi também um dos poucos dicionários

portugueses que apresentaram não só informações sintáticas, como também exemplos,

mesmo que, dados os limites do volume, apenas os lemas mais comuns estejam equipados

com tais informações. A dimensão humilde – por volta de 3 000 entradas –, contudo,

também o impediu de ser um dicionário de aprendizagem para um vasto público.

1.2.3 Dicionário bilingue

Os dicionários bilingues, como o termo indica, são aqueles que contêm duas línguas-

objeto, uma dos quais, na maioria das vezes, é idêntica à língua materna dos utilizadores

(Svensén, 2009: 12).

De acordo com Hausmann (1994: 12), citado por Welker (2004: 200), os dicionários

deste tipo podem dispor das duas direções, sendo denominados dicionários bidirecionais,

que servem aos falantes de ambas as línguas, como o Dicionário Académico de Chinês-

Português / Português-Chinês (2017), da Porto Editora. Um dicionário com apenas uma

direção, ou um dicionário monodirecional, destina-se aos falantes de apenas um idioma,

como o Dicionário Editora de Português-Espanhol (2010), também da Porto Editora.

Partindo das próprias funções, Wiegand (1996: 529), citado por Welker (2004: 200), ainda

classificou os dicionários em dois tipos: um monofuncional, que desempenha apenas uma

função, e um polifuncional, ou multifuncional, equipado com várias funções. Esse

primeiro ainda pode ser especificado com base nas intenções do dicionário. Se for um

dicionário ativo, ou seja, uma obra referencial para produção, seria um dicionário

monofuncional de L1 a L2. No caso de um dicionário passivo, que se destina à receção,

seria monofuncional de L2 a L1 (Kromann et al, 1991: 2719). Os princípios de ativo-

passivo possibilitam nos dicionários as descrições gramaticais específicas para os

utilizadores, bem como as notas de que estes necessitam escritas na sua própria língua

(ibid.: 2720).

41
Varantola (2002), na sua pesquisa, constatou a preferência pelos dicionários

bilingues por parte dos aprendentes. Lew & Adamska-Salaciak (2015: 50) atribuíram tal

preferência à satisfação, por parte das obras bilingues, das necessidades básicas dos

aprendentes – relacionar as informações novas, neste caso da língua que aprendem, com

aquelas de que já tomaram conhecimentos, ou seja, na L1.

Figura 2 - Excerto do Longman Dictionary of Contemporary English (English·Chinese) (5ª Edição)


(2014) (pp. 472)

Tal conclusão também foi comprovada pelo mercado a nível internacional, sendo

que o sucesso do G5 resultou no nascimento dos seus descendentes bilingues, traduzidos

em várias línguas principais do mundo, ocupando sobretudo o mercado dos dicionários

na China. Os dicionários bilingues para aprendizes como o Oxford Advanced Learner’s

English-Chinese Dictionary (1997), o Collins Advanced Learner’s English-Chinese


Dictionary (2006) e o Longman Dictionary of Contemporary English (English·Chinese)

(1997), cujas edições mais recentes sempre foram publicadas pouco depois da atualização

das versões monolingues (Chen, 2011). Os dicionários bilingues para aprendizes foram
42
valorizados significativamente por Lew & Adamska-Salaciak (2015: 54), que opinam que

nenhuma obra de referência pode competir com o dicionário bilingue confecionado

especialmente para os aprendentes de uma L1 específica quando se trata de destacar

contrastes entre essa L1 e a LE/L2, como os comentários nas diferenças gramaticais,

indicação dos falsos amigos ou resumo dos erros comuns resultantes da intervenção da

L1. Nesse tipo da obra, serão viáveis também mais referências à cultura da L1, seja

através da seleção dos lemas, expressões comuns e exemplos de uso baseados nos corpora,

seja por meios das notas culturais particularmente elaborados.

Tendo como foco os aprendentes chineses da língua portuguesa, no presente trabalho

será pertinente uma apresentação dos dicionários bilingues entre chinês e português

existentes no mercado atual. A referida obra bidirecional da Porto Editora é o único

dicionário bilingue, publicado em Portugal, entre os dois idiomas. Quanto à variedade

brasileira, existe o Dicionário Prático Português-Chinês / Chinês-Português, publicado

em 2007 pela Editora Campus, que é considerado como o “primeiro dicionário brasileiro

de português e chinês”, destinando-se, contudo, aos aprendentes da língua chinesa

(Davies & Whitlam, 2007). No mercado da China, as obras lexicográficas sino-

portuguesas também não se desenvolveram tanto como aconteceu ao inglês, japonês e

francês, sendo que o dicionário bilingue mais procurado e integral no mercado é o 葡汉

词典 Dicionário Português-Chinês (adiante designado por DPC), publicado em 2001,


com apenas uma edição, e editado por Chen Yongyi, um lexicógrafo e tradutor

especializado na língua inglesa. O DPC também pode ser considerado um dicionário para

aprendizes, levando em conta o seu número considerável de entradas – cerca de 70.000 –

e a sua apresentação relativamente enriquecida dos exemplos, colocações e expressões

idiomáticas, acrescido o facto de que a obra é destinada aos aprendentes chineses da

língua portuguesa.

Como o governo chinês tem adotado uma política bastante branda em relação à

questão da propriedade intelectual, em 2010, foi publicado, com acesso gratuito, num

fórum online o formato eletrónico do DPC, que foi compilado exclusivamente por um

43
“voluntário”22 num ficheiro em formato mdx que pode ser incorporado nos softwares ou

aplicações específicos da China, como MDict e Bluedict, todos com acesso gratuito. Dado

o grande volume do DPC impresso (com 1 174 páginas) e a preferência prevalente pelos

dicionários eletrónicos dos chineses, o formato digital foi gradualmente divulgado,

correndo de boca em boca, entre os aprendentes. Apesar da sua ilegalidade,

academicamente não se pode negligenciar a enorme popularidade que o formato digital

ganhou; portanto, decide-se incluir o mesmo na investigação e análise do presente

trabalho, extraindo, contudo, citações apenas da versão impressa quando necessário.

Para além do DPC, os outros dicionários na área incluem o 简 明 葡 汉 词 典

Dicionário Conciso Português-Chinês, publicado por The Commercial Press em 1994,

com cerca de 50 000 entradas, sendo o primeiro dicionário sino-português na China

Continental. O 简 明 汉 葡 词 典 Dicionário Conciso Chinês-Português (adiante

designado por DCCP), editado por Wang Suoying e Lu Yanbin em 1997, um casal

dedicado ao ensino da língua portuguesa e chinesa. O DCCP contém por volta de 25 000

entradas, incluindo aproximadamente 500 neologismos que refletiram a realidade na

altura e colocações de uso corrente e exemplos para os lemas mais comuns, tornando-se

ainda hoje a ferramenta principal como auxílio na produção para os aprendentes chineses.

Desde a publicação do DPC, não foi publicado nenhum dicionário bilingue geral ao longo

dos anos23. Em 2016, publicou-se o 精选葡汉汉葡词典 Dicionário Conciso Português-

Chinês Chinês-Português, de The Commercial Press, o qual contém mais de 40 000

entradas no total, destinando-se não só aos aprendentes da língua portuguesa, como

também aos da chinesa.

A par dos referidos, cabe mencionar ainda um dicionário online recém-construído, o

Iao Dicionário Luso-Chinês, um dicionário bidirecional, que toma como referências, pela

primeira vez, a maioria dos dicionários sino-portugueses disponíveis, designadamente, o

DPLP, o DLP, o Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, o DCCP, o DPC,

22 O fórum referido destina-se a publicar gratuitamente as versões eletrónicas compiladas dos dicionários impressos
de várias línguas.
23 Foram publicados apenas três thesauri de dimensão reduzida ao longo dos anos.
44
o Glossário Jurídico Chinês-Português do Governo de Macau, as páginas da Wikipédia,

etc. O Iao registou cerca de 97 000 entradas em chinês e 145 000 em português,

disponibilizou remissões para os outros dicionários online, até para as páginas de

Wikipédia, com a intenção de possibilitar aos aprendentes e tradutores da língua

portuguesa uma ferramenta grátis, prática e constantemente atualizada, de natureza

abrangente (Iao, 2018). Por ser um dicionário relativamente novo e, de certo modo,

inovador, o Iao ainda não é do conhecimento dos aprendentes chineses de português.

Levando em conta a escassez das obras referenciais na lexicografia sino-portuguesa,

temos a certeza de que o Iao ocupará um espaço de mercado considerável no futuro.

1.2.4 Dicionário semibilingue

Os dicionários semibilingues, também denominados dicionários bilingualizados,

segundo Hartmann & James (2002), são obras baseadas nos dicionários monolingues,

cujas entradas foram traduzidas, completa ou parcialmente, em uma outra língua. As

definições descritas na L1, em conjunto com a tradução, transformam o dicionário num

monolingue ou bilingue da língua estrangeira, que facilita e torna as consultas mais

eficazes, ganhando popularidade entre os aprendentes (Marello, 1996: 50; apud Welker,

2004: 203). As referidas versões bilingues dos G5, dicionários para aprendizes com

enorme sucesso, são exemplares do dicionário semibilingue, como mostra a Figura 2.

Apesar do seu sucesso e popularidade, Lew & Adamska-Salaciak (2015: 49)

analisaram os defeitos do dicionário semibilingue. Por um lado, a nomenclatura é fixada

na cultura da L2, sem considerar o facto de que os utilizadores podem necessitar de falar

e escrever sobre os próprios países e culturas, o que foi evidenciado pela falta do índice

de L1. Por outro, os autores concluíram de muitas pesquisas empíricas sobre o uso dos

dicionários bilingualizados que os aprendentes tendem a ignorar as definições todas na

L2 quando os equivalentes na L1 estão disponíveis, o que levou a que os autores

duvidassem do conceito do dicionário referido.

Não obstante os defeitos, Laufer & Kimmel (1997: 362) ainda consideravam o

45
dicionário híbrido ou o semibilingue como uma melhor escolha, pelo que os aprendentes

se sentem inseguros se não puderem relacionar o significado de um lema estrangeiro ao

homólogo na sua L1, por melhor que sejam as explicitações e as ilustrações em L2. As

explicitações monolingues, no entanto, geralmente apenas são compreendidas

parcialmente ou até mal-entendidas por alguns aprendentes. Assim sendo, um dicionário

bilingualizado com traduções de alta qualidade parece o mais apropriado para os

aprendentes.

1.3 O uso do dicionário é benéfico à aprendizagem?

Os estudos sobre o uso do dicionário já se tornaram a divisão mais recente e

promissora na área de pesquisa sobre os dicionários (Hartmann, 1994); entre estes, muitos

já lançaram o foco à utilidade dessas obras. A utilidade do dicionário, ou “dictionary

usefulness” em inglês, segundo Laufer & Kimmel (1997: 362), pode ser definida como o

âmbito em que um dicionário é benéfico no fornecimento das informações necessárias

para os seus utilizadores. Nesi (2000: 55) apontou o facto de que, ao elaborar o

questionário, muitos estudiosos costumam definir a hipótese de que o dicionário é uma

ferramenta benéfica para os aprendentes, a qual, de facto, fica a ser comprovada. Mais

pesquisas serão precisas para verificar se o uso do dicionário trouxe benefícios efetivos,

ou se é apenas resultado dos hábitos que os professores preferem e das atividades

promocionais das editoras.

Em torno da utilidade do dicionário, as pesquisas anteriores produziram resultados

distintos. Bensoussan et al. (1984) constataram, surpreendentemente, das três pesquisas

realizadas entre 1 501 participantes que o uso de um dicionário não exerceu efeitos

significativos sobre os resultados dos testes da compreensão da leitura. Aizawa (1999)

notou que os sujeitos sem auxílio do dicionário ganharam, em média, notas mais elevadas

na compreensão da leitura do que aqueles que usavam dicionário.

Em contrapartida, muitos estudiosos obtiveram resultados contrários nas suas

pesquisas em torno do mesmo tema. Summers (1988) descobriu que os alunos que

46
utilizaram um dicionário tiveram uma pontuação significativamente melhor nos testes de

compreensão de pós-leitura e de vocabulário. Chen (2011), por sua vez, realizou um teste

sobre o vocabulário inglês, destinado à comparação da eficácia entre a suposição

contextual e o uso do dicionário semibilingue, com mais de 210 participantes chineses. O

resultado indicou que o uso do dicionário contribuiu para uma melhor performance na

compreensão do vocabulário, sendo que tal estratégia garantiu o acesso a informações

lexicais mais enriquecidas e precisas, contando que os alunos adquiram competências

adequadas da consulta no dicionário. Entretanto, tendo analisado as respostas dos alunos,

Chen (ibid.) confessou também que o grupo com dicionário não produziu melhores

resultados que o que não teve esse auxílio em todos os casos, sendo o resultado sujeito às

competências de consulta dos sujeitos e à extensão das informações fornecidas no

dicionário bilingualizado.

Lew (2004: 27) ainda apontou que a eficácia dos dicionários pode depender do nível

de proficiência dos utilizadores, uma vez que os aprendentes avançados possivelmente

não beneficiam tanto do recurso ao dicionário, enquanto os do nível elementar

provavelmente não possuem a competência requerida para localizar e extrair as

informações relevantes. Tal afirmação, contudo, precisa de ser verificada por mais

pesquisas em grande escala.

Em relação à utilidade dos dicionários das diferentes espécies, Laufer & Melamed

(1994) elaboraram um teste para verificar a efetividade dos dicionários monolingue,

bilingues e semi-bilingues quanto à produção e compreensão das palavras desconhecidas

entre os 123 alunos universitários e da escola secundária intervenientes. Constatou-se que

os alunos de todos os níveis que utilizaram o dicionário bilingualizado obtiveram

melhores resultados na maioria das vezes na compreensão, e os do nível intermédio e

avançado na produção. Tal resultado não está em plena consonância com a pesquisa de

Lew (2014), que realizou uma pesquisa em grande escala, dedicada à comparação do

efeito dos dicionários em formato monolingue, bilingue e semibilingue na compreensão

da L2, contando com a participação de 711 alunos polacos. A pesquisa demonstrou que,

47
em vez da versão semibilingue, o seu homólogo bilingue foi o mais eficaz para todos os

níveis de proficiência, o que resultou das definições obscuras dos equivalentes na L1 na

versão semibilingue. As entradas monolingues no teste, por seu turno, foram as menos

efetivas enquanto um meio auxiliar da compreensão da L2.

Como Chen (2011: 218) resumiu, não existe uma resposta simples de “sim ou não”

em relação à questão de se o dicionário é benéfico, visto que existem vários fatores que

podem influenciar o resultado da pesquisa, como o nível de proficiência dos aprendentes.

Contudo, das pesquisas citadas pode-se constatar que, de modo geral, os dicionários, em

particular os bilingues e semibilingues, exercem impactos positivos, em certo grau, na

aprendizagem da língua estrangeira, sobretudo na compreensão da leitura e dos

vocabulários.

48
Capítulo II – Metodologia

O presente capítulo apresenta os dois métodos adotados para responder às perguntas

de pesquisa deste trabalho. Por um lado, visamos recolher informações factuais e opiniões

em torno do uso dos dicionários da língua portuguesa por meio da consulta aos seus

utilizadores; por outro, serão analisadas as obras mais procuradas entre estes, tendo como

suporte os dados recolhidos anteriormente.

2.1 Questionário

No âmbito da investigação académica sobre o uso do dicionário, questionário,

entrevista, observação, protocolos e testes são os principais recursos utilizados (Welker,

2010). Entre estes, segundo Lew (2004: 37), o questionário faz, no seu melhor, na

abrangência do contexto e das situações de consulta do dicionário, e também se encontra

uma importante fonte das informações dos dados cuja coleção pelos outros métodos seria

uma opção inaceitável, seja por motivos económicos ou éticos, seja simplesmente por ser

impossível. Welker (2010: 14) também opinou que, “in countries or situations in which

nothing is known about dictionary use questionnaire surveys are still useful”. Sendo assim,

optou-se por recorrer ao questionário para a recolha dos dados sobre o uso do dicionário

da língua portuguesa por parte dos chineses.

De acordo com Yuan (2014), o ensino do PLE na China atualmente realiza-se, em

princípio, nas instituições de ensino superior, os estudantes universitários, naturalmente,

estão expostos a uma variedade relativamente mais diversificada de dicionários,

tornando-se, assim, o público-alvo da presente pesquisa. Considerando o facto de que os

estudantes se espalham por todo o mundo devido ao intercâmbio, a distribuição do

questionário foi procedida em forma digital de maneira a entrar em contacto com o maior

número de respondentes possível e facilitar também a coleta e análise.

Em relação à língua utilizada no questionário, Lew (2004: 40) apontou, como riscos

da utilização de língua estrangeira num questionário, o mal entendimento das perguntas

49
e a imprecisão do significado que se pretendia expressar aos respondentes, chegando à

conclusão de que é a língua materna dos sujeitos que deve ser aplicada no questionário.

Com base no referido, o questionário foi escrito em chinês para atingir a uma melhor

compreensão (ver Anexo I) enquanto no presente trabalho, apresento também o mesmo

traduzido para a língua portuguesa (ver Anexo II).

2.1.1 Questionário-piloto

Antes de lançar o questionário final em grande escala, o questionário-piloto é

indispensável para detetar eventuais lacunas, aproveitando para se aperfeiçoar. Pelas

razões já referidas anteriormente, a pilotagem foi realizada através do link

https://wj.qq.com/s/1928040/2356, um site grátis e de fácil acesso na China.

O questionário contém 16 perguntas, entre as quais as opções da 2ª e a 4ª se baseiam

nas escolhas dos respondentes na pergunta 1. Além disso, se escolher a opção “Não uso

dicionário de português”, dadas as funções limitadas do site, o respondente terá de saltar,

por si próprio, para a pergunta 15. Para facilitar o preenchimento dos respondentes e poder

obter os resultados de modo mais efetivo possível, a maioria das perguntas são de escolhas

múltiplas, não contendo perguntas abertas.

Tomando em conta que as necessidades diversificadas podem resultar em hábitos e

usos distintos pelos aprendentes de níveis diferentes de proficiência, o questionário-piloto

foi enviado, por mensagens do WeChat24, a seis respondentes de níveis A2 a C2, todas de

sexo feminino, tentando verificar se a composição do questionário é apropriada para

respondentes de níveis diversos.

Antes de responderem ao questionário, as respondentes foram informadas de que

podiam comunicar, por escrito, neste caso, por mensagens do WeChat, com a autora sobre

as dificuldades de compreensão e dúvidas relacionadas com as perguntas do mesmo.

Também foi feito o pedido do feedback ou sugestões sobre o mesmo. As respondentes

levaram, em média, cinco minutos a responderem ao questionário, e levantaram três

24 Uma ferramenta das mensagens instantâneas na China.


50
dúvidas, que serão expressas na seção seguinte.

Um facto interessante é que todas as dúvidas foram levantadas pelas respondentes

de níveis mais avançados, variando de B2 a C2, que confessaram que as perguntas eram

inovadoras e representavam os problemas que costumam encontrar no uso dos dicionários

existentes da língua portuguesa, ao passo que as de níveis mais básicos não tinham

nenhuns problemas de incompreensão nem sugestões.

Os resultados da pilotagem mostram que as perguntas do presente questionário

servem, em princípio, para verificar a hipótese da autora, possuindo, contudo, aspetos por

alterar e melhorar. Para facilitar a análise, os problemas serão apresentados na Tabela 2,

acompanhados com as soluções adotadas. As páginas mencionadas se referem ao

questionário em português (Anexo II).

Tabela 2 - Problemas e soluções do questionário

Problemas Soluções

Duas respondentes confessaram que Além das traduções do título (quer com

tiveram um pouco de dificuldade em tradução oficial quer traduzido pela

encontrar os dicionários que usam com autora), acrescentam-se a algumas

mais frequência na pergunta 1 (página 2), opções o nome pelo qual é conhecido o

dado que não estão muito familiarizadas dicionário, a cor da capa ou a aplicação

com os títulos de alguns dicionários em que se instala, com as seguintes

alterações:

⚫ Dicionário Português-Chinês em

papel, editado pelo Chen Yongyi

(“dicionário de grande tijolo vermelho” /

“dicionário vermelho português-

chinês”)25

25 Dado o grande volume do dicionário em causa e a sua capa vermelha, os estudantes chineses costumam
chamá-lo o “dicionário de grande tijolo vermelho” ou o “dicionário vermelho português-chinês”.
51
⚫ Dicionário Português-Chinês na

aplicação (normalmente instalado na

aplicação Mdict, Bluedict, Eudic, etc.)

⚫ Dicionário da Língua Portuguesa da

Porto Editora (com capa cor-de-laranja)

⚫ Dicionário Escolar Ilustrado da

Editora Texto (com capa verde)

⚫ Dicionário Chinês-Português /

Português-Chinês da Porto Editora (com

capa azul)

Uma respondente afirmou que, ao Os últimos dois formatos em questão

responder à pergunta 5 (página 4) ficou foram alterados para os seguintes:

confusa em relação aos formatos de Dicionário online no site;

dicionário, nomeadamente a Dicionário em CD-ROM (pode ser

“Aplicação de dicionário para instalado no computador).

smartphone/tablet”, “Dicionário online”

e “Dicionário em CD-ROM”.

Duas respondentes levantaram dúvidas Elimina-se o termo em questão e as

em relação às perguntas 11 e 12 (nas perguntas 11 e 12 serão alteradas como as

páginas 6 e 7), afirmando que o termo seguintes:

“taxa de sucesso de consulta” pode ser 11. Na sua experiência de uso de

mal entendido. Uma delas escolheu a dicionários monolingues, em quais tipos

opção “verbo” em ambas as perguntas, de palavras é que não consegue encontrar

pois pensava que, ao consultar o no dicionário as informações que

dicionário monolingue, geralmente é procura?

difícil para ela entender o significado 12. Na sua experiência de uso de

exato de certo verbo, mas tal dicionários bilingues, em quais tipos de

incompreensão pode diminuir pela palavras é que consegue encontrar no

52
apresentação dos sinónimos. Sendo dicionário o máximo de informações que

assim, ela escolheu a mesma opção em procura?

ambas as perguntas.

Ao responder à pergunta 9 (página 6), Acréscimo do termo “(por favor

uma respondente escolheu a opção preencha)” para todas as opções abertas,

“Outra ______”, sem preencher a linha. como a seguinte:

Outra (por favor preencha) _____

2.1.2 Questionário principal e perfil dos respondentes

Tal como o questionário-piloto, a sua versão final também foi enviada, com o link

https://wj.qq.com/s/1962645/55c7, através das mensagens do WeChat, para vários grupos

de conversas na aplicação, constituídos por centenas de aprendentes universitários da

língua portuguesa, e, através de email, para os alunos do curso de português em Portugal.

A recolha dos dados decorreu entre 26 de março e 2 de abril de 2018, tendo conseguido

137 resultados no total, do quais 132 são efetivos, sendo que esses cinco respondentes

deixaram algumas perguntas em branco.

Antes de mais, será pertinente tomar conhecimento do perfil dos respondentes.

Como o Gráficos 1 e 2 mostram, a maior parte dos respondentes são do sexo feminino

(81%), a maioria dos quais se autoavaliaram nos níveis intermédios, com 36% dos

aprendentes do nível B2, 25% do C1 e 17% do B1. É uma pena que não tenha conseguido

chegar a mais estudantes dos níveis elementares e do superior. As razões por tal escassez,

do ponto de vista da autora, são porque, por um lado, por falta de conhecimento a respeito

dos dicionários, os aprendentes elementares possivelmente não têm tanta vontade em

responder ao questionário; por outro, quanto aos do nível C2, além de serem, efetivamente,

carenciados os aprendentes da proficiência superior, a modéstia enraizada no caráter dos

chineses também decidiu que poucos se autoavaliavam nesse nível.

53
Nível de Proficiência Sexo

C2 A1 Masculino Feminino
7% 4% A2
11%
C1
25% 19%
B1
17%

B2
36% 81%

A1 A2 B1 B2 C1 C2

Gráfico 1 - Nível de Proficiência Gráfico 2 - Sexo

2.2 Análise dos dicionários

Serão analisados os quatro dicionários mais populares, em diferentes formatos, de

acordo com os resultados do inquérito. As categorias de análise serão os elementos

canónicos do dicionário, designadamente, a macroestrutura, microestrutura e

medioestrutura, que foram detalhadamente descritos no Capítulo I.

Também será apresentada, tendo por base os resultados da análise, uma proposta do

dicionário ideal para os aprendentes chineses, que combinará todas as vantagens dos

dicionários em análise, bem como os aspetos de que os respondentes necessitam num

dicionário.

54
Capítulo III - Apresentação e discussão dos resultados do inquérito

Tendo analisado o perfil dos respondentes, surgem as seguintes perguntas: quais são

os seus dicionários favoritos? Como são os seus hábitos de uso? O que eles pensam dos

diversos tipos de dicionário? Todas essas perguntas serão respondidas no presente

capítulo.

No que toca aos dicionários consultados com mais frequência, segundo o Gráfico 3,

o Dicionário Português-Chinês (DPC), editado por Chen Yongyi, ganhou a maior

popularidade, com a sua aplicação selecionada por 69,7% dos aprendentes e a edição

impressa por 62,9%. O Dicionário Conciso Chinês-Português (DCCP), editado por Wang

Suoying e Lu Yanbin, bem como o Dicionário Priberam (DPLP) ficam no terceiro lugar,

com 22,7% de votos para cada. Logo a seguir são o Dicionário da Língua Portuguesa

(21,2%) da Editora Porto (DLP) e o seu formato digital (20,5%) - a aplicação que partilha

o mesmo título e o site chamado Infopédia. É de salientar que ninguém selecionou o

famoso Dicionário Aurélio, que lançou a sua primeira edição em 1975 no Brasil

(Biderman, 2000), sendo explicado, possivelmente, pela sua natureza brasileira, enquanto

os respondentes são maioritariamente aprendentes da variedade do português europeu.

Para além dos apresentados nas opções, 5,3% dos respondentes referiram-se a outros

dicionários como o Linguee26, Iao Dicionário Bidirecional Português-Chinês, Dicionário

Informal, Dicionário Online de Português27 e o Dicionário Conciso Português-Chinês

Chinês-Português28. Em relação aos três respondentes (2,3%) que não usavam dicionários

de português, dois ficam no nível A1 e um no B2, o que foi resultado, possivelmente, da

escassez dos conhecimentos linguísticos.

26 O Linguee contém o dicionário bidirecional de português-inglês.


27 Os três dicionários referidos são todos ferramentas online, entre os quais os últimos dois se focam na variedade do
português brasileiro.
28 Foi publicado pelo Commercial Press em 2016, com o título em chinês 精选葡汉汉葡词典.
55
1. Indique atétrês dicionários que usa com mais
frequência.
0.0% 20.0% 40.0% 60.0% 80.0% 100.0%

Dicionário Português-Chinês em papel 62.9%

Dicionário Português-Chinês na aplicação 69.7%

Dicionário Conciso Português-Chinês 16.7%

Dicionário Conciso Chinês-Português 22.7%

Visual Dicionary Português·English·汉语 1.5%

Dicionário Lí
ngua Portuguesa 21.2%

Infopédia ou na aplicação 20.5%

Dicionário Chinês-Português / Português-


5.3%
Chinês

Dicionário Escolar Ilustrado 0.0%

Dicionário Priberam (online ou na aplicação) 22.7%

Dicionário de Português licenciado para


3.0%
Oxford University
Dicionário Aurélio da Lí
ngua Portuguesa em
0.0%
papel
Dicionário Aurélio da Lí
ngua Portuguesa em
0.0%
CD-Rom

Não uso dicionário de português. 2.3%

Outro 5.3%

Dicionários selecionados

Gráfico 3 – Dicionários consultados com mais frequência

Se combinar o nível de proficiência na língua para a análise, pode-se observar,

através do Gráfico 4, as preferências pelos diversos dicionários dos diferentes níveis dos

respondentes. Não foram incorporados no Gráfico 4 os dados dos respondentes do nível

A1, visto que a quantidade reduzida (com seis respondentes no total) não é suficiente para

proceder a uma análise justificável. Mas cabe mencionar aqui que, entre esse seis
56
aprendentes, além dos dois que afirmaram que não utilizaram dicionários, dois votos

foram atribuídos ao DPC na edição impressa e à sua aplicação, três. O DCCP e ao DPLP

ganharam respetivamente um voto. No que diz respeito ao Gráfico 4, de forma geral,

independentemente do formato, o DPC é o mais consultado entre todos os níveis de

respondentes (A2: 60%, B1: 67,3%, B2: 62,5%), embora tal preferência seja menos

relevante para os aprendentes dos níveis avançados (com 57,7% para C1 e 36,8% para

C2). O DCCP também está na lista de popularidade entre os estudantes; contudo, ele é

mais preferido pelos respondentes dos níveis elementar e intermédio – de A2 a B2 – do

que pelos mais avançados (C1 e C2). O DLP, junto com os seus formatos digitais, ocupa

também um mercado considerável entre os utilizadores, especialmente para os dos níveis

avançados, sendo explicado pela percentagem de 24,4% para C1 e 31,6% para C2. O

DPLP ganhou mais popularidade nos respondentes do nível superior que outros, com

votos de 26,3% dos aprendentes do C2 e 5,9%, 10,7% e 11,5% para os do A2, B1 e C1.

Do ponto de vista da natureza dos dicionários, os respondentes avançados consultam os

dicionários monolingues com mais frequência que os elementares.

1.1 Relação entre o nível de proficiência e a escolha pelo dicionário


100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
A2 B1 B2 C1 C2

Dicionário Português-Chinês em papel Dicionário Português-Chinês na aplicação


Dicionário Conciso Chinês-Português Dicionário Língua Portuguesa
Infopédia ou na aplicação Dicionário Priberam

Gráfico 4 - Relação entre o nível de proficiência e a escolha pelo dicionário


57
Tal resultado está em consonância com a conclusão de Lew (2004: 20) de que, apesar

da preferência geral entre os aprendentes pelos dicionários bilingues, a mesma é menos

destacada para os de proficiência avançada. Um número razoável de estudos, citados por

Lew (ibid.) (Al-Ajmi, 1992; Atkins & Varantola, 1998; Baxter, 1980; Jakubowski, 2001;

Tomaszczyk, 1979), também notaram a tendência para que os aprendentes avançados

utilizem os dicionários monolingues relativamente com mais frequência que os bilingues.

Por limites técnicos do site29 e para uma análise mais precisa, as perguntas 2 e 3

foram lançadas para encontrar as razões para uso de certo dicionário, as quais serão

também analisadas em conjunto. De acordo com o Gráfico 5, a aplicação do DLP destaca-

se entre todos os seus homólogos, sendo a primeira escolha para 52,3% dos respondentes.

A sua versão em papel, com 20,8% dos votos, ocupa o segundo lugar. Por seu turno,

conforme o Gráfico 630, dado o conteúdo quase idêntico, naturalmente são semelhantes

as razões para a consulta destes dois formatos – a quantidade satisfatória das entradas

(60,2% para a aplicação e 60,9% para a edição impressa), explicações entendíveis e

completas (50,6% e 55,4%), apresentação dos provérbios ou/e expressões idiomáticas

relativas (44,6% e 42,4%), disponibilização de exemplos (31,3% e 35,9%). As

recomendações do professor também exerceram impacto considerável sobre os

respondentes, com 21,7% que as consideram relevantes na escolha da versão em papel e

15,2% para a aplicação. É de sublinhar que 13,3% e 9,8% dos utilizadores, respetivamente

da edição impressa e da aplicação, afirmaram que a sua escolha pelas ferramentas

referidas resultou da falta de outros dicionários disponíveis. Um utilizador do formato em

papel até acrescentou que, apesar dos erros existentes, a ferramenta em causa ainda é o

recurso lexicográfico mais útil a que os aprendentes têm acesso, o que, juntamente com

o resultado, reflete de certo modo a escassez dos dicionários da língua portuguesa na

China. Para além das opções sugeridas, outras razões para o uso da versão de aplicação

por 14,1% dos utilizadores são a facilidade de transportar e a consulta eficaz no telemóvel.

29 O site em que se distribuiu o questionário não disponibiliza a função em que se cita as respostas dos respondentes
na pergunta anterior como as opções na pergunta seguinte.
30 Dado que as respostas convergem para determinados dicionários, no Gráfico 6 foram apenas apresentados os

resultados dos dicionários que foram mais escolhidos como primeira escolha.
58
O DPLP, que ocupar o terceiro lugar – 8,5% – na lista do dicionário favorito dos

respondentes, foi escolhido por razões parcialmente semelhantes às do 1º e 2º

classificados – para além das explicações entendíveis e completas (70%), quantidade

satisfatória de verbetes (53,3%), apresentação de exemplos (40%) e de provérbios e/ou

expressões idiomáticas (36,7%) e as recomendações do professor (26,7%) e a presença

dos sinónimos em abundância (30%) também contribuíram para a preferência dos seus

utilizadores.

O seu homólogo monolingue, o DLP, é relativamente menos consultado, com 6,9%

dos respondentes que o consideram como a ferramenta favorita. 50% dos utilizadores

escolheram tal ferramenta pelas suas explicações entendíveis e completas, 42,9% pela

apresentação de provérbios ou/e expressões idiomáticas, 35,7% pela quantidade

satisfatória de verbetes, 32,1% pelos seus exemplos das palavras e 17,9% pelas

recomendações dos professores. Um resultado distinto das outras ferramentas é que, 25%

dos utilizadores consultam o DLP, porque indica o uso diferente das variedades de

português europeu e brasileiro (PE e PB).

De forma geral, são elementos mais valorizados pelos aprendentes a quantidade de

verbetes, as explicações das palavras, os provérbios ou/e expressões idiomáticas e

exemplos de uso das palavras. A par disso, os utilizadores dos dicionários monolingues

prestam atenção não só aos sinónimos em português das palavras, como também à

diferença de uso das variedades PE e PB. As razões para tais resultados são as seguintes:

por um lado, o DPC foi publicado em 2001, não indicando, portanto, de forma abrangente,

o uso diferenciado das variedades da língua portuguesa; por outro, a investigação de Fan

(2000) sobre o comportamento de consulta nos dicionários, com mais de 1 000 estudantes

universitários de Hong Kong como sujeitos, constatou que os estudantes chineses não

consideravam que os equivalentes em chinês fossem úteis, tendo explicado a indiferença

pelos mesmos por parte dos utilizadores no caso do DPC, que apresentam, na maioria dos

casos, apenas equivalentes em chinês.

59
2. Indique a frequência de uso dos dicionários escolhidos na pergunta 1.
1ºlugar 2ºlugar 3ºlugar

0.0% 20.0% 40.0% 60.0% 80.0% 100.0%

20.8%
Dicionário Português-Chinês em papel 31.5%
11.5%

52.3%
Dicionário Português-Chinês na aplicação 10.0%
8.5%

2.3%
Dicionário Conciso Português-Chinês 5.4%
9.2%

3.8%
Dicionário Conciso Chinês-Português 9.2%
10.0%

0.0%
Visual Dicionary Português·English·汉语 0.0%
1.5%

6.9%
Dicionário Lí
ngua Portuguesa 10.0%
4.6%

3.8%
Infopédia ou na aplicação 10.0%
6.9%

Dicionário Chinês-Português / Português- 3.1%


3.1%
Chinês 0.8%

8.5%
Dicionário Priberam (online ou na aplicação) 11.5%
3.8%

Dicionário de Português licenciado para 0.0%


0.8%
Oxford University 2.3%

0.0%
Linguee 0.8%
0.0%

0.8%
Iao Dicionário 0.0%
0.0%

0.0%
Dicionário Informal 0.8%
0.0%

Dicionário Conciso Português-Chinês Chinês- 0.0%


0.8%
Português 0.0%

0.0%
Dicionário Online de Português 0.8%
0.0%

Gráfico 5 – Ordem de frequência de uso

60
3. Porque éque consulta com mais frequência o dicionário
selecionado na pergunta 2?

Dicionário Português-Chinês em papel Dicionário Português-Chinês na aplicação


Dicionário Lí
ngua Portuguesa Priberam

0.0% 20.0% 40.0% 60.0% 80.0% 100.0%

60.2%
A quantidade das entradas que contém 60.9%
satisfaz as minhas necessidades. 35.7%
53.3%

50.6%
Explicações entendí
veis e completas da 55.4%
palavra. 50.0%
70.0%

31.3%
Apresenta os exemplos para a palavra 35.9%
consultada. 32.1%
40.0%

44.6%
Apresenta os provérbios ou/e expressões 42.4%
idiomáticas relativos àpalavra consultada. 42.9%
36.7%

6.0%
6.5%
Esclarece a pronúncia da palavra consultada. 7.1%
10.0%

2.4%
Indica a escrita da palavra antes e depois do 3.3%
Acordo Ortográfico. 3.6%
10.0%

14.5%
Indica o uso diferente do português europeu 10.9%
e português brasileiro. 25.0%
13.3%

9.6%
12.0%
Apresenta sinónimos em abundância. 14.3%
30.0%

6.0%
5.4%
Sugere bons equivalentes. 7.1%
23.3%

21.7%
Porque éo dicionário que meu professor 15.2%
recomendou. 17.9%
26.7%

13.3%
Porque não tenho outro dicionário/éo único 9.8%
disponí
vel. 7.1%
10.0%

0.0%
Outra: É fácil de transportar e a consulta no 14.1%
telefone émuito eficaz. 0.0%
0.0%

Gráfico 6 – Razões de consulta

61
4. Estásatisfeito com o(s) dicionário(s) que usa?
1-Muito satisfeito 2 3 4-Nada satisfeito

0.00% 20.00% 40.00% 60.00% 80.00% 100.00%

Dicionário Português-Chinês em papel 37.35% 50.60% 10.84% 1.20%

Dicionário Português-Chinês na aplicação 33.70% 54.35% 11.96%

Dicionário Conciso Português-Chinês 13.6% 72.7% 13.6%

Dicionário Conciso Chinês-Português 6.7% 83.3% 6.7% 3.3%

Visual Dicionary Português·English·汉语 100.0%

Dicionário Língua Portuguesa 35.7% 50.0% 14.3%

Infopédia ou na aplicação 29.6% 55.6% 14.8%

Dicionário Chinês-Português / Português-Chinês 75.0% 25.0%

Dicionário Priberam (online ou na aplicação) 36.7% 43.3% 16.7% 3.3%

Dicionário de Português licenciado para Oxford


50.0% 50.0%
University

Linguee 100.0%

Iao Dicionário 100.0%

Dicionário Informal 100.0%

Dicionário Conciso Português-Chinês 100.0%

Dicionário Online de Português 100.0%

Gráfico 7 – Grau de satisfação em relação aos dicionários

Tendo conhecido os dicionários utilizados e as razões para a consulta, passaremos a

escutar as opiniões dos utilizadores em relação aos dicionários. Constata-se do Gráfico 7,

onde se pode ler que os aprendentes, em geral, estão satisfeitos com os dicionários

existentes no mercado chinês, com a maioria dos dicionários atingir acima dos 80% de

grau de satisfação. Apenas 1,2%, 3,3% e 3,3% dos utilizadores expressam a sua

insatisfação respetivamente ao DPC em papel, ao DCCP e ao DPLP. Comparando com os

seus homólogos, o Dicionário de Português licenciado pela Oxford University, instalado


62
no sistema IOS, não ganhou tanto apreço, com a metade dos utilizadores afirmando o seu

desgosto, o que pode ser atribuído à quantidade reduzida dos utilizadores – apenas quatro

respondentes escolheram a ferramenta como a sua favorita. Resultados semelhantes

também ocorrem ao Visual Dictionary Português·English·汉语, Linguee, Iao Dicionário,

Dicionário Informal, Dicionário Conciso Português-Chinês e Dicionário Online de

Português, que ganharam 100% de grau de satisfação, com apenas um(a) utilizador(a)

para cada ferramenta.

Em qual formato os aprendentes chineses costumam consultar o dicionário? O

Gráfico 8 consegue dar uma resposta. As aplicações para smartphone ou tablet ganham,

de forma dominante, mais popularidade, contando com 73,5% dos respondentes que

afirmam que recorrem sempre a esse formato e 19,9% que o utilizam frequentemente.

Apenas 2,2% dos utilizadores nunca experimentaram esse fruto das novas tecnologias.

Logo a seguir vem o dicionário online, com o número dos utilizadores leais a atingir 18,7%

e 37,7% dos respondentes, respetivamente. O dicionário impresso já não é tão popular

como antigamente, com 67,7% dos respondentes a expressarem que consultam raramente

a ferramenta em papel e 12,8% que nunca a utilizaram. Os seus “clientes repetitivos”

apenas ocupam 5,3% (usam sempre) e 14,3% (usam frequentemente). O dicionário em

CD-Rom, fica no último lugar, sendo explicado por 85,8% dos respondentes que nunca

recorreram a esse formato. Somente 0,8% e 1,6% dos respondentes aplicam sempre ou

frequentemente esse formato à sua aprendizagem.

Tal resultado está em concordância com a hipótese apresentada anteriormente, de

que os dicionários em formatos digitais, em particular as aplicações, são mais consultados

pelos respondentes. Sendo a China o maior mercado das aplicações no mundo31, não é

nada de estranhar que as aplicações dominem entre todos os formatos, mesmo que, como

as opções da pergunta 1 mostram, os aprendentes chineses não tenham tantas escolhas

quanto aos dicionários eletrónicos. A respeito do formato em CD-Rom, como poucos

31 Segundo os dados estatísticos de App Annie, citados pelo Business Insider, a economia de aplicações da China supera
a maioria dos outros mercados em relação aos gastos do consumidor, o número de aplicações usadas e o tempo total
gasto em aplicações.
63
dicionários relativos à língua portuguesa estão equipados com CD-Rom na China, é

natural que a maior parte dos aprendentes nunca tenha utilizado esse formato.

5. Com que frequência usa dicionários nestes formatos?


100% 2.2%
4.4% 9.2%
12.8%

19.9%
80%
33.1%

60%
85.8%
67.7%

40%
73.5% 37.7%

20%
14.3%
18.7% 11.8%
5.3% 0.8% 1.6%
0%
Dicionário em papel Aplicação para Dicionário online Dicionário em CD-
smartphone/tablet Rom

Sempre Frequentemente Raramente Nunca

Gráfico 8 – Frequência de uso dos diferentes formatos de dicionário

Para além da preferência dos aprendentes, também será interessante conhecer a que

tarefas se destina a consulta do dicionário. O Gráfico 9 demonstra que a maioria dos

respondentes recorrem ao dicionário na leitura (92,6%) e na produção escrita (80,7%).

11,1% dos respondentes necessitam da ajuda do dicionário na produção oral e apenas 1,5%

vão utilizar a ferramenta na compreensão do oral. Tal resultado está em plena

concordância com o do questionário de Jiang (2007), que observou que, entre os 60

respondentes universitários do curso de inglês da China, mais de metade consultam o

dicionário para trabalhos de leitura e escrita, não tendo, contudo, esse hábito para

atividades orais e auditivas. Lew (2004: 20) também chegou a essa conclusão a partir da

investigação de Jakubowski (2001) sobre o uso de dicionários bilingues e monolingues

64
por aprendentes polacos, resumindo que o exercício das competências orais

definitivamente não é um contexto importante para o uso do dicionário em geral.

6. Em que contexto utiliza o dicionário de português com mais


frequência?
100.0%
92.6%

80.7%
80.0%

60.0%

40.0%

20.0%
11.1%

1.5%
0.0%
Na leitura Na produção oral Na produção escrita Na compreensão do oral

Gráfico 9 – Contexto de consulta

A seguir, serão abordadas de forma detalhada as opiniões em relação aos dicionários

impressos e em formatos digitais, nomeadamente, as respetivas vantagens e pontos fracos

que os aprendentes consideram. Consoante o Gráfico 10, 57,8% dos respondentes

apontam o maior benefício dos dicionários em papel à grande quantidade das informações

que contêm, 45,2% opinam que determinadas informações apenas constam nessa versão

e 40,7% consideram que esta se destaca por não exigir energia elétrica ou ligação à

Internet. A par disso, 25,2% dos respondentes expressaram a sua preferência pela leitura

em papel em vez do ecrã, enquanto 8,1% dos aprendentes, possivelmente adeptos dos

formatos eletrónicos, não encontraram nenhuma vantagem no dicionário físico. 5,2% dos

estudantes também exprimiram outros pareceres sobre o tópico, acrescentando que os

dicionários impressos são mais adequados ao comparar os sinónimos da palavra, que têm

maior precisão e menos erros ou que a consulta em papel é isenta de interrupção. Uma
65
realidade para outros três respondentes é que o dicionário em papel é o único recurso

lexicográfico que a faculdade permite utilizar nas aulas e no teste.

Em suma, um número considerável dos respondentes escolhem os dicionários em

papel pelas informações abundantes e únicas que contêm. A não exigência de bateria e de

ligação à Internet também o torna mais distinguível. Contudo, à medida que mais versões

digitais são produzidas, os dicionários em papel serão abandonados no final?

7. Quais considera ser as vantagens do dicionário em papel?


0.0% 10.0% 20.0% 30.0% 40.0% 50.0% 60.0% 70.0%

Prefiro ler em papel do que no ecrã. 25.2%

Algumas informações procuradas existem


45.2%
apenas na versão de papel.

Os dicionários em papel contêm mais


57.8%
informações.

A consulta émais fácil no dicionário em


7.4%
papel.

Não preciso da energia elétrica, Internet ou


40.7%
dados móveis (3G/4G).

Nenhuma 8.1%

Outra 5.2%

Gráfico 10 – Vantagens do dicionário em papel

Por sua vez, como os aprendentes consideram os homólogos eletrónicos? Tal como

apresentado no Gráfico 8, a percentagem dominante de 91,8% confirma a vantagem dos

formatos digitais. Como se vê no Gráfico 11, para o resto das opções sugeridas, as

percentagens variam em torno de 30%. 37,3% dos respondentes que valorizam o

dicionário eletrónico por lhes permitir ter acesso à pronúncia em áudio, enquanto 36,6%

elogiam o mesmo pela facilidade da consulta de conjugação dos verbos. Ao contrário do


66
dicionário em papel, o eletrónico possibilita a consulta dos verbos conjugados, sendo

apreciados por 34,3% dos respondentes. As entradas e/ou exemplos mais recentes (31,3%)

e a atualização constante (30,6%) também contribuem para o uso universal, acrescida a

função de salvar palavra para a aprendizagem posterior (29,9%). Outros benefícios a que

alguns respondentes se referiram incluem a facilidade de transportar e a melhor precisão

no âmbito das terminologias.

De modo geral, a consulta eficaz é a maior razão para a popularidade dos dicionários

eletrónicos. As suas funções em abundância, seja a pronúncia em áudio e “caderneta do

vocabulário”, seja a facilidade da consulta da conjugação e do verbo conjugado, tornam

o próprio mais competitivo. A atualização constante da ferramenta e dos verbetes também

garante a precisão e serventia das informações consultadas. Tendo em conta tantos

benefícios e a preferência dos aprendentes chineses, no parecer da autora, será mais

favorável, tanto aos lexicógrafos como aos utilizadores, disponibilizar a versão eletrónica

dos dicionários no futuro, o que não só expandirá o mercado do dicionário, como também

facilitará significativamente a aprendizagem da língua portuguesa

8. Quais considera ser as vantagens dos dicionários


eletrónicos, seja online, aplicação ou CD-ROM?
0.0% 20.0% 40.0% 60.0% 80.0% 100.0%

A consulta émais eficaz. 91.8%

Tenho acesso facilitado (por clique) à


37.3%
pronúncia oral em áudio. (Caso o…
Estáconstantemente atualizado. 30.6%

Contém entradas e/ou exemplos mais


31.3%
recentes.
Facilita a consulta de conjugação dos verbos. 36.6%

Mesmo que insira, por exemplo, os verbos


34.3%
conjugados, ainda consigo ter acesso ao…
É possí
vel salvar palavras para estudar depois 29.9%

Nenhuma 2.2%

Outra 3.0%

Gráfico 11 – Vantagens dos dicionários eletrónicos

67
No que diz respeito aos dicionários bilingues e monolingues, como é que os

aprendentes avaliam os mesmos? O Gráfico 12 apresenta os pontos fracos dos bilingues.

58,8% dos respondentes assinalaram definições obsoletas de algumas palavras, 56,3%

apontaram a quantidade mais pequena de verbetes e 51,9% lamentaram a falta de

provérbios e/ou expressões idiomáticas. E ainda, 40,7% dos respondentes notaram a falta

das marcas de uso nos verbetes, sendo que os equivalentes estão descontextualizados e

que neles não existem pistas que ajudem o utilizador a escolher. Outros pontos fracos

incluem a não indicação do uso diferente das duas variedades de português (37%),

exemplos obsoletos das palavras (34,1%) e a falta de informações relativas à pronúncia

(34,1%). Além dos referidos, tal categoria também está depreciada por 29,6% dos

respondentes, dado que não disponibiliza a escrita antes e depois da aplicação do Acordo

Ortográfico. E um respondente acrescentou que muitas palavras ou exemplos

apresentados no dicionário bilingue não são usados por falantes nativos.

Em suma, os resultados, em geral, não demonstram grande disparidade, contando

com percentagens aproximadas. Importa salientar que muitos pontos fracos dos

dicionários bilingues, como as definições e exemplos obsoletos e a questão do Acordo

Ortográfico, estão associadas às suas eras de publicação. Tomando os mais populares

como exemplo, o DPC foi lançado pela primeira vez em 2001, sem novas edições; o

Dicionário Conciso Português-Chinês publicou-se pela primeira vez em 1994 e DCCP

em 1997, com também uma única edição. Entre estes, somente o primeiro indicou a

escrita relativa ao Acordo Ortográfico. Com efeito, de acordo com as informações

constantes no Portal da Língua Portuguesa, embora o Novo Acordo Ortográfico de 1990

tenha sido assinado nos anos 90, este apenas entrou em vigor em Portugal em 2009. Tal

realidade, por um lado, justificou alguns dos seus pontos fracos, por outro, refletiu

novamente a carência dos recursos lexicográficos no mercado chinês.

68
9. Na sua opinião, quais são os pontos fracos dos dicionários
bilingues português-chinês/chinês-português que conhece?
0.0% 20.0% 40.0% 60.0% 80.0% 100.0%

Não contém tantas palavras como os


56.3%
monolingues.

Algumas definições de palavras são obsoletas. 58.5%

Alguns exemplos de palavras são obsoletos. 34.1%

Falta de provérbios e/ou expressões


51.9%
idiomáticas.

Falta de informações sobre a pronúncia. 34.1%

Não disponibilizam a escrita antes e depois do


29.6%
Acordo Ortográfico.

Não indicam o uso diferente do português


37.0%
europeu e português brasileiro.

Os equivalentes não estão contextualizados e


40.7%
não têm pistas que ajudem o utilizador a…

Outra 0.7%

Gráfico 12 – Pontos fracos dos dicionários bilingues

Os dicionários monolingues, por seu turno, apresentam um resultado distinto, como

se vê no Gráfico 13. Ao contrário das percentagens semelhantes que acontecem aos seus

homólogos bilingues, prevalece entre outros pontos fracos a existência de definição

incompreensível para os estrangeiros, contando com o consenso de 78,4% dos

respondentes. Na opção referida, para uma melhor compreensão, foi citada como exemplo

a consulta da palavra “alimentação”. O DLP, bem como os seus formatos digitais, define

o substantivo como “ato ou efeito de alimentar(-se)”, o que, efetivamente, não levou em

consideração a possibilidade de que um utilizador estrangeiro possa nem conhecer o

verbo “alimentar(-se)”. Eis é a razão pela qual a opção foi mais escolhida. A par disso,

alguns respondentes também lamentaram a falta de marcas de uso (32,8%), falta de

provérbios e/ou expressões idiomáticas (29,9%) e falta de exemplos da palavras (27,6%).

69
Ao contrário do seu homólogo bilingue, apenas 14,2% dos respondentes queixaram-se da

quantidade limitada de verbetes, bem como da ausência de informações da pronúncia

(16,4%) e da não indicação do uso diferente das duas variedades de português (19,4%).

Dos resultados pode-se chegar à conclusão de que os dicionários monolingues

apresentam um melhor desempenho que os seus homólogos bilingues em termos de

quantidade dos verbetes, informações sobre a pronúncia e o uso diferente do PE e do PB.

A falta de exemplos, provérbios e expressões idiomáticas e do contexto em que se

emprega a palavra parece ser um problema comum a ambos tipos de dicionários. No que

diz respeito à definição incompreensível de algumas palavras, o formato digital pode

ajudar a resolver o problema. Tomando o site do DPLP como um exemplo, quando se

pesquisa a palavra “alimentação” no site, disponibiliza-se aos utilizadores as definições

do substantivo, cuja primeira definição é “dar alimento a”, e do seu verbo “alimentar”.

Mesmo que não conheça a palavra “alimento”, o site possibilita a consulta, por um clique,

das quaisquer palavras desconhecidas na definição, resolvendo, de certo modo, este

problema.

10. Na sua opinião, quais são os pontos fracos dos dicionários


monolingues que conhece?
0.0% 20.0% 40.0% 60.0% 80.0% 100.0%

Entradas limitadas das palavras. 14.2%

Algumas definições não são compreensí


veis
78.4%
para os estrangeiros.

Falta de exemplos da palavra. 27.6%

Falta de provérbios e/ou expressões


29.9%
idiomáticas.

Falta de informações sobre a pronúncia. 16.4%

Não indica o uso diferente do português


19.4%
europeu e português brasileiro.
Não indicam como se emprega a palavra em
32.8%
contexto.

Outro 0.0%

Gráfico 13 – Pontos fracos dos dicionários monolingues

70
Os resultados das perguntas 11 e 12, os quais se focam nas informações de diferentes

categorias de palavras que constam no dicionário, complementando-se uma com a outra,

podem ser analisados em conjunto. Em resumo, os respondentes têm mais dificuldades

em encontrar informações relativamente aos pronomes (49,6%), preposições (47,3%),

conjunções (40,3%) e advérbios (31%) no dicionário, enquanto conseguem mais

informações que procuram dos substantivos (66,2%), verbos (63,9%) e adjetivos (54,1%).

11. Na sua experiência de uso de dicionários monolingues, em quais tipos


de palavras éque não consegue encontrar no dicionário as informações
que procura?
0.0% 20.0% 40.0% 60.0% 80.0% 100.0%

Substantivo 16.3%

Adjetivo 15.5%

Verbo 14.7%

Advérbio 31.0%

Preposição 47.3%

Pronomes (que, quanto, como, onde, etc.) 49.6%

Conjunção (e, mas, nem, ou, etc.) 40.3%

Gráfico 14 – Categoria das palavras com informações satisfatórias no dicionário

12. Na sua experiência de uso de dicionários bilingues, em quais tipos de


palavras éque consegue encontrar no dicionário o mais possível as
informações que procura?
0.0% 20.0% 40.0% 60.0% 80.0% 100.0%

Substantivo 66.2%

Adjetivo 54.1%

Verbo 63.9%

Advérbio 17.3%

Preposição 18.8%

Pronomes (que, quanto, como, onde, etc.) 18.8%

Conjunção (e, mas, nem, ou, etc.) 13.5%

Gráfico 15 – Categorias das palavras carenciadas das informações procuradas

71
Sendo palavras gramaticais os pronomes, preposições, conjunções e advérbios, que

funcionam de forma distinta do que no sistema gramatical de chinês, é previsível que não

constem no dicionário tantas informações de que os aprendentes precisam, visto que, além

do significado, é indispensável também o domínio na gramática para uma melhor

aprendizagem e aplicação dessas palavras. A importância dos conhecimentos gramaticais

reflete-se, em particular no caso dos advérbios, na medida em que nos atuais dicionários

em papel, possivelmente por limite de espaço, não constam verbetes para advérbios em -

mente, ou seja, quando um aluno se depara com um advérbio desconhecido terminando

em -mente, se não tiver aprendido a regra gramatical relevante, não conseguirá

encontrar o significado nos dicionários em papel. Felizmente, os dicionários em formatos

eletrónicos, como a Infopédia e DPLP32, resolvem este problema, pois contêm também

os verbetes para advérbios, facilitando a aprendizagem da língua portuguesa por

estrangeiros.

Por fim, vamos conhecer quais elementos são procurados e quais os respondentes

procuram mas não encontram quando consultam o dicionário. No âmbito do primeiro

tema (ver Gráfico 16), o significado, sem dúvida, ocupa o primeiro lugar com a escolha

de 79,3% dos respondentes. Seguem-se as colocações (65,9%), os exemplos de uso da

palavra (63,7%), os provérbios e/ou expressões idiomáticas relacionados (56,3%), bem

como as informações sobre o contexto de uso (49,6%), demonstrando as demandas por

parte dos respondentes dos conhecimentos relativos ao uso de um lema. Um número

considerável dos respondentes também presta atenção especial aos elementos gramaticais,

sendo que o género e a classe da palavra foram selecionados respetivamente por 51,9% e

44,4% dos respondentes. A pronúncia (18,5%), por seu turno, é a menos procurada.

32 A aplicação do DPC foi criada com base na sua versão em papel, não contendo também, portanto, verbetes dos
advérbios.
72
13. Quais elementos éque normalmente procura na consulta de
uma palavra no dicionário?
0.0% 20.0% 40.0% 60.0% 80.0% 100.0%

Significado 79.3%

Pronúncia 18.5%

Género da palavra 51.9%

Classe da palavra (substantivo, adjetivo,


44.4%
verbo, etc)
Ortografia (forma plural, forma de Acordo
33.3%
Ortográfico, etc.)

Exemplos de uso da palavra 63.7%

Colocação da palavra 65.9%

Provérbios e/ou expressões idiomáticas


56.3%
relacionados
Uso diferente em português europeu e
29.6%
português brasileiro (se existir)
Informações sobre o contexto de uso
49.6%
(formal/informal)

Gráfico 16 – Elementos procurados no dicionário

Considerando o Gráfico 17 para a análise, que se debruça sobre os elementos que os

aprendentes procuram mas que não encontram no dicionário, pode-se observar que muitas

das informações mais procuradas não constam dos dicionários. Por exemplo, provérbios

e expressões idiomáticas contam com 67,7% dos votos, a colocação da palavra com 53,4%

e os exemplos de uso com 39,1%, o que está em concordância com os resultados do

Gráfico 16 e do Gráfico 6, onde se referiu as razões para o uso de determinado dicionário,

indicando que um número considerável dos estudantes escolhem um dicionário por

apresentar exemplos e provérbios e/ou expressões idiomáticas relativos à palavra. Dos

resultados referidos pode-se chegar à conclusão de que, embora alguns dos dicionários

mais populares33 contenham certos exemplos (no caso do DPLP e do DPC), provérbios

33 No presente trabalho, com base dos resultados das primeiras duas perguntas, os dicionários mais populares referem-se a
73
e/ou expressões idiomáticas e colocação das palavras, as suas quantidades não

satisfizeram as necessidades crescentes dos aprendentes.

14. Quais elementos éque costuma procurar e não encontra nos


dicionários que usa com frequência?
0.0% 20.0% 40.0% 60.0% 80.0% 100.0%

Transcrição fonética. 6.0%

Áudio da pronúncia. 16.5%

Exemplos de uso da palavra. 39.1%

Colocação da palavra. 53.4%

Provérbios e/ou expressões idiomáticas


67.7%
relacionados.

Uso diferente em português europeu e


38.3%
português brasileiro (se existir)

Outro 3.0%

Gráfico 17 – Elementos que procuram mas que não encontram

As informações fonéticas, nomeadamente a transcrição fonética e o áudio da

pronúncia, como na pergunta 13, também não são alvo de atenção dos respondentes. Na

aprendizagem da língua portuguesa, é de conhecimento comum que o domínio das regras

fonéticas facilitou significativamente a pronunciação de uma palavra portuguesa. Tal

caraterística determinou que a pronúncia não é sempre informação necessária na

aprendizagem da língua portuguesa.

Por outro lado, os elementos fonéticos também não desapareceram dos dicionários

existentes. A Infopédia, bem como a sua aplicação, apresentam as transcrições fonéticas

todos os formatos do Dicionário Português-Chinês, Dicionário da Língua Portuguesa e do Dicionário Priberam.


74
completas de cada palavra. No DPLP disponibiliza-se somente as pronúncias especiais de

certas palavras, como os casos de “êxito |êizi|” e “boca |ô|”. O DPC, por sua vez, contém

uma quantidade muito reduzida de informações relativas à pronúncia, como o exemplo

de “poder (ê)”. Quanto aos áudios de pronúncia, não estão disponíveis, infelizmente, nos

dicionários referidos.

Além das opções sugeridas, um respondente mencionou a ausência de conjugação,

provavelmente nos dicionários em papel, porque os utentes têm acesso no DPLP e nos

formatos digitais do DLP. Dois respondentes lamentaram a inexistência de sinónimos e

antónimos nos dicionários que utilizam, que também estão disponíveis no DPLP. Outro

respondente referiu-se à carência das terminologias no(s) dicionário(s) consultado(s).

Sendo dicionários destinados ao público geral ou aos aprendentes da língua, é natural que

não contenham tantas terminologias como os seus homólogos especializados em

determinada área.

3.1 Resumo dos resultados

Resumindo, para os 132 respondentes, maioritariamente do sexo feminino e dos

níveis intermédios, os dicionários mais populares são, por ordem descrescente, o DPC,

DPLP, DLP e DCCP. Os dicionários bilingues são relativamente mais preferidos pelos

aprendentes dos níveis elementares e intermédios, enquanto os monolingues ganham mais

popularidade nos de proficiência avançada. Os respondentes apreciam um dicionário

normalmente pela sua quantidade satisfatória de verbetes, explicações entendíveis e

completas e apresentação de provérbios, expressões idiomáticas e exemplos das palavras,

ao passo que os utilizadores dos dicionários bilingues prestam atenção especial aos

sinónimos, equivalentes e uso diferentes das variedades de português.

Os respondentes estão, em geral, satisfeitos com os dicionários que utilizam. Tal

como suposto pela autora, os formatos eletrónicos, sobretudo as aplicações nos

telemóveis e tablets, são os mais utilizados. A consulta do dicionário, para os aprendentes

chineses, destina-se principalmente aos trabalhos relativos à leitura e produção escrita.

75
Os respondentes escolhem os dicionários em papel por conterem informações completas

e únicas, sem necessidade de energia elétrica ou ligação à Internet. Os dicionários em

formatos eletrónicos, por sua vez, são apreciados pela consulta eficaz, atualização

constante e exemplos recentes e pelas multifunções como o áudio de pronúncia,

conjugação e o “caderno das palavras”. Quanto aos dicionários bilingues existentes, por

limites de espaço e época de publicação, são depreciados pela quantidade reduzida de

verbetes, definições e exemplos obsoletos e equivalentes não contextualizados. Os seus

homólogos monolingues também são criticados pela definição incompreensível para os

estrangeiros, que pode ser resolvida de certo modo pelos dicionários eletrónicos, e pela

falta de exemplos e do contexto em que se aplica a palavra. A par disso, faltam a ambas

as categorias provérbios e/ou expressões idiomáticas.

Para os respondentes, ao consultar as palavras gramaticais, designadamente o

pronome, advérbio, conjunção e preposição, as informações que contêm no dicionário

não conseguem satisfazer as necessidades de aprendizagem, ao passo que, nos verbetes

das categorias substantivo, verbo e adjetivo, se tem acesso às informações procuradas.

Além do significado, os elementos mais procurados dizem respeito ao uso da palavra,

incluindo os seus exemplos de uso, colocações, provérbios e/ou expressões idiomáticas

relacionadas e contexto, que também são os mais ausentes no dicionário.

Em síntese, são monótonos e antigos os dicionários de língua portuguesa existentes

no mercado chinês, que se encontra por desenvolver. Seja monolingues seja bilingues,

não conseguem satisfazer as necessidades dos aprendentes chineses no âmbito de

aplicação de certa palavra. Espera-se que, na futura elaboração de dicionários, os

lexicógrafos possam levar em conta tais demandas e se empenhem em disponibilizar mais

dicionários em formato digital.

76
Capítulo IV – Análise dos dicionários

Baseando-se nos resultados do questionário no capítulo anterior, foram selecionados

para a análise no presente capítulo os quatro dicionários mais utilizados, bem como os

seus formatos disponíveis, a saber, o Dicionário Português-Chinês (DPC), em versão

impressa e eletrónica, o Dicionário da Língua Portuguesa (DLP) em papel, a Infopédia

online e a respetiva aplicação, o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (DPLP),

com a versão online e aplicação disponíveis, e o Dicionário Conciso Chinês-Português

(DCCP).

4.1 Análise da macroestrutura

Antes de tudo, será pertinente tomar conhecimento primeiro, por detalhes, das

informações básicas dos dicionários por analisar. Como a seguinte tabela demonstra, ao

contrário do que aconteceu aos dicionários monolingues, os dois dicionários bilingues

não experimentaram nenhumas atualizações. Simultaneamente, a aplicação do DPLP foi

também ignorada desde 2014; sendo assim, os verbetes na aplicação não serão incluídos

na análise. Com exceção do dicionário chinês-português, os outros três contêm um

número considerável de entradas, sobretudo os monolingues, que contam com mais de

100 000 entradas. No que diz respeito às fontes do dicionário, nenhum deles se baseia em

corpora, enquanto as entradas chinesas no DCCP foram selecionadas de um dicionário

de autoridades de chinês e o DPLP tem por base o Novo Dicionário Lello da Língua

Portuguesa, publicado pela Lello Editores entre 1996 e 1999. Os dicionários restantes,

por sua vez, foram todos frutos da elaboração autónoma dos autores ou editoras.

Tabela 3 – Comparação dos dicionários

Ano de Última edição / Número de


Fonte
publicação atualização entradas

77
DPC 2001 N/A Cerca de 70 000 N/A

Dicionário
DCCP 1997 N/A Por volta de 25 000 Moderno da
Língua Chinesa
2018 (versão
2008 (versão Novo Dicionário
online)
DPLP online) 115 821 34
Lello da Língua
2014
2011 (aplicação) Portuguesa
(aplicação)
Mais de 260 000
DLP 1952 2017 N/A
definições35
Formato
2003 (Infopédia)
digital do 2018 Mais de 120 000 DLP
2011 (aplicação)
DLP

Em relação à macroestrutura, todos os dicionários impressos supramencionados

adotam a ordem alfabética; entre estes, o DCCP, sendo um dicionário com chinês

enquanto língua-fonte, disponibiliza dois sistemas de indexação para a consulta, um por

radicais e outro por pinyin, como o Anexo V ilustra. Paralelamente, o DPLP também

possibilita a pesquisa reversa, que permite “encontrar os verbetes que apresentam no seu

interior as palavra(s) digitada(s)”, designadamente, por meio da pesquisa de uma palavra

ou várias palavras, das “sequências de caracteres delimitadas por asterisco (como chav*

e *iscar)” e das abreviaturas aplicadas nos dicionários (como adv. e fam.). Também é

viável na pesquisa a combinação de qualquer uma das opções referidas, como “s. m. fam.

bac*” (Dicionário Priberam, 2018). A Infopédia, por sua vez, não está equipada com

tantas funções no âmbito da pesquisa reversa, a qual sugere apenas no quadro da pesquisa,

por ordem alfabética, alguns lemas cujos exemplos, colocações ou expressões idiomáticas

contêm a palavra digitada, como mostra a Figura 3. A par do referido, tanto o DPLP como

a Infopédia, acrescida a sua aplicação, permitem a pesquisa das formas flexionadas dos

34 Como referido, no site oficial do DPLP não está disponível essa informação, retirou-se o dado da apresentação do
Observatório da Língua Portuguesa publicada em 2016, através do link https://observalinguaportuguesa.org/lingua-
portuguesa-esta-mais-rica-dicionario-priberam-tem-mais-de-840-novas-palavras-desde-o-inicio-do-ano/
35 No dicionário impresso não foi indicado o número das entradas.
78
lemas, designadamente, o verbo conjugado, a forma feminina, plural e até advérbios com

sufixo de “-mente”, derivados dos adjetivos, que não foram registados nos dicionários

impressos, o que favorece significativamente aos aprendentes estrangeiros que não estão

familiares com as regras de flexão em português.

Figura 3 - Resultado de pesquisa

No que diz respeito ao textos externos dos dicionários, a saber, “o prefácio,

introdução, lista de abreviaturas usadas no dicionário, informações sobre a pronúncia,

resumo da gramática, lista de siglas e/ou abreviaturas, lista de verbos irregulares, lista de

nomes próprios, lista de provérbios, bibliografia, fontes, às vezes, certas curiosidades”

(Welker, 2004: 79), todas as obras em análise contêm o guia de utilização e a lista de

abreviaturas aplicadas, que se encontram no início dos dicionários impressos ou na página

principal dos dicionários online, não existindo, contudo, nas respetivas aplicações. Em

relação aos apêndices, o DCCP incorporou a Lista dos Carateres Simplificados Chineses

e as Unidades de Peso e Medida. Sendo um dicionário chinês-português e considerando

a era da publicação – os anos 90 –, em que o governo chinês ainda estava a promover os

carateres simplificados, a incorporação de tal lista não é de estranhar. As últimas

costumam permanecer nos dicionários destinados aos chineses, visto que a China adotava

sistema de medição próprio antigamente.

O DPC, por sua vez, inclui uma série de apêndices que consideraram úteis para a

79
aprendizagem dos alunos, incluindo a Lista de Conjugação dos Verbos, a Lista das

Traduções Chinesas para os Nomes Próprios Comuns em Português, a Lista das Regiões

e Países Importantes no Mundo, a Lista dos Numerais, a Lista dos Elementos Químicos,

a Lista das Unidades de Medida e a Lista de Classificação Militar de Portugal e Brasil. O

DLP, por seu turno, registou no final a lista das palavras e expressões estrangeiras, bem

como a das abreviaturas, siglas e símbolos. Sendo um dicionário que deu destaque ao

Acordo Ortográfico, também foi incorporado o Guia do Acordo Ortográfico, que descreve,

por detalhes, as mudanças instituídas pelo Tratado.

Acerca do DPLP e da Infopédia, na página principal do primeiro estão apresentados

o resumo da gramática portuguesa e uma série das ligações úteis para o uso de português,

como os auxiliares de tradução, conjugador e corretor ortográfico e sintático, a que,

todavia, não se tem tido acesso ao longo do tempo, provavelmente por erros técnicos. A

Infopédia, de facto, é um site que integra todos os dicionários publicados pela Porto

Editora, com o DLP enquanto o seu dicionário default. Assim sendo, no site tem-se um

acesso fácil a um leque vasto de dicionários, tais como o de toponímia, antroponímia e

termos médicos, bem como os que envolvem outras línguas como inglês, espanhol e

chinês. Lamentavelmente, as informações supramencionadas não existem nas respetivas

aplicações, o que pode ser atribuído ao atraso do desenvolvimento do mercado português

das aplicações. No caso dos chineses, que preferem substancialmente a consulta nos

telemóveis, tal falta não é benéfica para a promoção dos dicionários no mercado,

resultando, supostamente, nas cópias-pirata36, como o que acontece ao DPC impresso.

4.2 Análise da microestrutura

Os resultados do questionário realizado demonstraram que os aprendentes

necessitam de informações relativas ao uso dos lemas de consulta; portanto, em seguida

proceder-se-á à comparação dos verbetes dos quatro dicionários em análise.

36 Como se explicou no Capítulo I, tanto o governo como os chineses, em geral, não prestam atenção à propriedade
intelectual, levando a que muitos dicionários impressos tenham sido ilegalmente compilados nos formatos eletrónicos.
80
Figura 4 – Verbete de "entender" no DLP

Figura 5 – Verbete de "entender" na Infopédia

Toma-se o verbo “entender” como exemplo, entre os três formatos do DLP,

nomeadamente, a edição impressa, a versão online (Infopédia) e a aplicação. O verbete

na Infopédia é o mais integral, já que disponibiliza a remissão às conjugações, apresenta

a transcrição fonética, que não existe na edição impressa nem na aplicação, e incorpora a

componente de “Como usar o verbo” que apresenta as colocações preposicionais mais

comuns desse lema. Não obstante o facto de que a aplicação do DLP 37 acrescentou

também a componente referida, foram omitidos nesse formato os significados e exemplos

dessas expressões. Aliás, uma grande parte das aceções são apresentadas por sinónimos

no DLP/Infopédia, não envolvendo muitas palavras em que os estrangeiros podem ter

37 Como o conteúdo na aplicação é quase idêntico ao do Infopédia, não se apresentou a captura na aplicação no presente
capítulo.
81
dificuldades e permitindo a consulta rápida, por um clique, de qualquer palavra nas

aceções. Tal função, infelizmente, não foi concretizada na sua aplicação.

Figura 6 – Verbete de "entender" no DPLP

Comparando com DLP, o DPLP adota uma linguagem menos acessível, como a

aplicação das palavras como “apossar-se”, “superintender” e “rixa”, que são ainda mais

difíceis do que o próprio lema “entender” (ver Figura 6). Embora o site também possibilite

a remissão rápida aos verbetes de qualquer palavra na definição, demasiadas palavras

desconhecidas frustrariam a aprendizagem da língua portuguesa por parte dos utilizadores

estrangeiros. A falta de exemplos, colocações ou expressões idiomáticas, que podem

ajudar na compreensão do vocábulo, dificultaria ainda mais a aquisição e aplicação do

lema, considerando que “entender” é um verbo que aparece com alta frequência tanto nas

atividades de produção como nos materiais de receção. Neste caso, a Infopédia manifesta

relativamente um melhor desempenho na disposição do verbete para os utilizadores

estrangeiros.

82
Figura 7 – Verbete de "entender" no DPC (pp. 413)

O DPC, por sua vez, detalhou muito mais a definição de “entender”. Para além de

incluir as aceções que o DLP e DPLP incorporaram, abrange também as aceções como a

número 6 “ouvir” na classe de verbo transitivo, a 1ª “prestar atenção, cuidar” e a 3ª

“[Direito] conhecer, admitir” no intransitivo, e a 4ª “ser ajuizado” e a 6ª “compreender-

se sem explicar” na classe pronominal. Das aceções pode-se inferir que o DPC pretende

enumerar o maior número de aceções possível para os seus utilizadores, todos equipados

com colocações e/ou exemplos e as respetivas traduções em chinês, no intuito de alcançar

uma melhor compreensão e aplicação do lema consultado. A par do referido, o DPC

também possui a maior quantidade de expressões idiomáticas entre os dicionários em

análise, destacando também o contexto de uso para algumas expressões como “entender

da poda [coloquial]” e “entender do riscado [Brasil].” Todavia, dada a época de

publicação (em 2001), expressões como “entender de lagares de azeite” e “entender tanto

de um assunto como de lagares de azeite” já não pertencem ao uso corrente nos dias de

hoje. Nesse caso, é possível acontecer que os aprendentes utilizem as expressões que nem

todos os falantes nativos percebem, perdendo, assim, a confiança na aprendizagem.

O verbete em causa no formato eletrónico do DPC é quase idêntico à versão impressa,

faltando apenas a aceção “ouvir”, por lapso do “voluntário” que publicou esse formato.

Lapsos semelhantes também ocorrem no registo errado dos termos como “hemolde” por

“hemoide” e na omissão completa de verbetes, como no caso de “cor” (substantivo

83
feminino), como o anexo VI demonstra. Em outras palavras, apesar da eficácia e

conveniência do formato eletrónico do DPC, os seus utilizadores podem perder algumas

informações importantes, que não foram registadas nesse formato.

Paralelamente, como lidam os dicionários com os substantivos? Ao contrário do que

aconteceu com “entender”, no caso de “escola”, o DPLP apresenta as aceções de forma

mais compreensível, enquanto estas, na Infopédia38 possuem um caráter enciclopédico,

com que os aprendentes podem ter dificuldades e até perder paciência de ler. Contudo,

apesar de ter apresentado as aceções com linguagem acessível, a inexistência de exemplos

pode provocar confusão para os aprendentes chineses, por exemplo, na aceção 3 “Os

professores” pode levar a que os utilizadores do nível elementar façam equivaler os

“professores” à “escola” no uso quotidiano.

Figura 8 – Verbete de "escola" na Infopédia

38 Como os verbetes nas três versões do DLP são idênticos, apresenta-se apenas a captura do verbete no Infopédia.
84
Figura 9 – Verbete de "escola" no DPLP

No aspeto de definir os substantivos concretos, os dicionários bilingues e

semibilingues, obviamente, desempenham melhor o seu papel, pelo que um equivalente

na L1 é bem mais eficaz na explicitação do que a descrição exaustiva sobre o que é o

objeto consultado. Sendo um dicionário para aprendizes, nos verbetes dos substantivos

do DPC indica-se também os plurais e formas femininas irregulares como no caso de

“leão” (pl. leões; f. leoa) e “cidadão” (pl. cidadãos; f. cidadã), relembrando aos

utilizadores as formas irregulares.

Figura 10 – Verbete de "escola" no DPC (pp. 432)

85
Na questão da indicação das grafias das variedades europeia e brasileira, o DPC e

DLP optaram por criar novos verbetes para a brasileira, onde existem remissões para a

forma europeia, enquanto no DPLP e Infopédia têm acesso direto a qualquer forma dos

lemas, com a outra variedade indicada nesse verbete.

Além disso, dos resultados do questionário pode-se comprovar que um número

considerável dos respondentes estão preocupados com as aceções derivadas da sua

palavra-base, que pode ser verbo, adjetivo e substantivo, como no caso de “avaliação”,

“suspensão” e “proporcionar”. Em comparação, enumerou-se as primeiras aceções nos

verbetes dos lemas referidos para verificar se a questão é comum nos dicionários mais

procurados.
avaliação
(DLP e Infopédia)
1. ato de avaliar
2. valor determinado pelos avaliadores
(DPLP)
1. Acto de avaliar.
2.Valor determinado por peritos, apreciação.
(DPC)
1. avaliar 的行为 (ato de avaliar39)
2. 定价, 估量,计价,标价 (equivalentes que significam valor determinado, estimação,
valor indicado )

suspensão
(DLP e Infopédia)
1. ato ou efeito de suspender(-se)
2. estado do que se acha suspenso ⟨o sistema de suspensão de uma ponte⟩
(DPLP)
1. Acto ou efeito de suspender.
2. Estado de algo que está suspenso.
(DPC)
1. suspender 的结果和行为 (efeito e ato de suspender)
2. 暂停,停止 (equivalentes que significam pausa e cessação)

39 Os enunciados entre parênteses são traduções das aceções no DPC.


86
~ de um jornal 报纸停刊; ~ de um pagamento 停止付款; ~ de um cargo 停职

proporcionar

(DLP e Infopédia)
1. fazer com que haja proporção entre duas ou mais coisas
2. tornar proporcional
(DPLP)
1. Fazer com que duas coisas conservem entre si uma determinada proporção. =
HARMONIZAR, ADAPTAR
2. Tornar ou tornar-se proporcional.
(DPC)
1. 使成比例,使匀称;使均衡;使协调 (tornar proporcional, tornar bem proporcional;
tornar equilibrado; tornar harmonizado)
~ uma estátua ao pedestal 使塑像与底座成比例

Baseando-se nos três exemplos, constatou-se que a questão da aceção

incompreensível para os utilizadores estrangeiros está enraizada em todos os três

dicionários. Por exemplo, nos verbetes de “avaliação”, não conseguirão compreender a

primeira aceção sem conhecer a palavra “avaliar”, mesmo no DPC, um dicionário

destinado aos aprendentes chineses. No caso dos lemas “suspensão” e “proporcionar”, os

utilizadores ainda precisam de tomar conhecimento primeiro dos significados dos lemas

“suspender” e “suspenso”, bem como “proporção” e “proporcional” ao consultar o DLP

e DPLP. O DPC, neste caso, desempenhou as vantagens do dicionário semibilingue, tendo

apresentado equivalentes em chinês para uma melhor compreensão, com as colocações

enquanto auxílio. O DPLP, ao definir “proporcionar”, também disponibilizou os

sinónimos do lema para ajudar na compreensão. Como se referiu no capítulo anterior,

apesar de que os dicionários monolingues online possibilitem o acesso rápido aos verbetes

de qualquer palavra que apareça nos verbetes, as aceções incompreensíveis para os

aprendentes chineses, evidentemente, complicaram a consulta. Mesmo o DPC, um

dicionário bilingue, também não consegue evitar recorrer a tal maneira de definir,

dificultando a consulta dos seus utilizadores.

87
Figura 11 – Verbete de "理 lǐ" no DCCP (pp. 377)

O DCCP, sendo um dicionário com o chinês enquanto língua-fonte, apresenta uma

estrutura diferente das obras supramencionadas. As palavras iniciadas com um mesmo

carater simplificado foram agrupadas juntas. Se o carater principal for importante e

ocorrer com alta frequência em chinês, como o verbete de “理” na Figura 11, enumeram-

se também as palavras ou expressões que o contêm, mas que não se iniciam com esse

carater. Todas as entradas são equipadas com o pinyin, equivalentes ou traduções, e

colocações e/ou exemplos curtos, tentando disponibilizar uma obra simplificada e prática

para ajudar na aprendizagem da língua portuguesa dos chineses. Considerando a época

de publicação do DCCP, em 1997, não se indicou as grafias antes e depois do Acordo

Ortográfico, sendo a maioria das palavras apresentadas pertencentes à variedade europeia.

A época também carregou o dicionário de marcas históricas por ter registado alguns

carateres e palavras chineses que já não pertencem ao uso corrente, como o verbete “妣

88
mãe defunta”, “货郎 vendedor ambulante” e “麇集40 reunir-se; agrupar-se”. Todavia,

algumas palavras de uso corrente, como “暂停41” e “纸巾42”, não foram registadas na obra.

Certos equivalentes e/ou traduções também não são precisas, como o exemplo de “反馈”,

que atualmente traduzimos por “feedback”, os equivalentes que apresentou são

“realimentação; alimentação de retorno”, que, de facto, já não são utilizados para se

referir a esse conceito hoje em dia. No verbete “computador”, em chinês “电脑”, além do

equivalente, foi apresentada também a tradução literal “cérebro eletrónico”, pelo que esse

primeiro carater designa “eletrónico” e o último, “cérebro”. As marcas históricas também

se refletem no registo de uma série de termos políticos com caraterísticas chinesas, como

“o ideal nobre do comunismo”, “construção socialista” e “membro da Liga da Juventude

Comunista”, considerando as necessidades dos estudantes universitários que se

envolveriam na leitura, tradução e produção dos textos relativos à política.

Em suma, todos os três dicionários com português enquanto língua-fonte têm os seus

defeitos. No caso dos dois dicionários monolingues, as informações que constam nas

versões online são mais integrais do que nos seus outros formatos. Por lapsos do

“voluntário”-pirata, o formato eletrónico do DPC também não contém tantas informações

como a edição impressa. A respeito dos elementos que fazem parte do verbete, o DPC

abrange mais informações relativas ao uso do lema do que quaisquer formatos dos outros

dois homólogos monolingues e demonstra um melhor desempenho em relação à definição

dos substantivos concretos; contudo, tomando em conta que a obra foi publicada há 17

anos, é inevitável que contenham aceções, colocações e expressões idiomáticas obsoletas,

o que diminuiu a sua competitividade. Aliás, constatou-se que a questão da definição

incompreensível é um problema comum em todos os três dicionários referidos, que não

deve ser negligenciado pelos lexicógrafos sino-lusófonos. Apesar de o DCCP ter

desempenhado o seu papel de dicionário para produção, a obra publicada há 21 anos

também possui deficiências resultantes do ano de publicação e de entradas limitadas,

40 As três palavras referidas eram todas utilizadas nos tempos antigos.


41 Significa “suspensão, pausa” ou “suspender, parar” em chinês.
42 Significa “guardanapo”, normalmente de bolso.
89
necessitando de uma edição revisada e atualizada.

4.3 Uma proposta de um dicionário ideal para os aprendentes chineses

Tendo analisado os dicionários mais procurados entre os chineses e baseando-se nos

resultados do questionário, estão resumidas, no presente subcapítulo, as caraterísticas

com que um dicionário ideal se deve equipar para os falantes da língua chinesa. Importa

salientar que a proposta foi realizada completamente do ponto de vista académico e das

necessidades dos utilizadores, não levando em conta os fatores práticos como a sua

viabilidade no mercado e os investimentos estimados.

Com base nas preferências, frequência e hábitos de uso dos chineses, é aconselhável

publicar um dicionário eletrónico bilingue ou semibilingue, de português para chinês,

preferencialmente como aplicação, o qual pode ter por base, por exemplo, o DLP ou DPLP.

Falando de aspetos técnicos, a aplicação deve ser atualizada constantemente a nível

técnico e lexicográfico e disponibilizar as remissões às conjugações dos verbos. Deve

permitir também a consulta rápida de qualquer palavra portuguesa que apareça na

definição, bem como pesquisa reversa e de formas flexionadas dos lemas. Considerando

que um número considerável dos respondentes se preocupa com questões de energia e

dados de Internet, pode possibilitar a função de “dicionário offline” na aplicação, que já

foi realizada em bastantes aplicações na área. A função de “caderno dos vocabulários”

também pode ser incorporada na aplicação para que os utilizadores possam rever e estudar

os vocábulos que consideram importantes.

Em torno dos aspetos lexicográficos, pode tomar-se como referência os dicionários

para aprendizes, que ganharam enorme popularidade no mercado chinês, como o Oxford

Advanced Learner’s English-Chinese Dictionary, que contém uma quantidade

considerável de entradas (neste caso de 70 000 a 100 000, levando em conta os números

de entradas dos dicionários analisados) e registando nos verbetes, conforme o princípio

de frequência, os exemplos, colocações e expressões idiomáticas mais comuns do uso

corrente nos dias de hoje, bem como as respetivas traduções, de forma a satisfazer as

90
necessidades dos aprendentes chineses. A respeito da questão da definição

incompreensível, como “ato ou efeito de X (verbo)” e “estado de algo que é/está Y

(adjetivo)”, acresce-se à definição a tradução ou equivalente em chinês, com a finalidade

de evitar que tal incómodo aconteça novamente. As marcas de uso também serão

necessárias para informar os utilizadores do contexto de uso. A par disso, será também

bem-vinda a indicação da variedade brasileira (supõe-se que seja um dicionário que tem

como foco a variedade portuguesa) e as grafias diferentes antes e depois do Acordo

Ortográfico; o registo da transcrição fonética e pronúncia em áudio seria opcional. Caso

forneça a pronúncia em áudio, idealmente deve ser gravado por falantes nativos.

Evidentemente, tal proposta é idealista visto que exige investimentos em grande

escala tanto nos lexicógrafos especializados como na tecnologia para a concretizar. O seu

público-alvo relativamente mais pequeno, se comparado com o de inglês e japonês,

também poderá dificultar a elaboração de tal aplicação de dicionário da língua portuguesa

na China. Seja como for, espera-se ainda que tal proposta possa servir de referência para

a construção de um dicionário eletrónico à medida do crescimento do grupo dos

aprendentes da língua portuguesa no futuro.

91
Conclusão

Ao longo do presente trabalho, em torno do uso do dicionário, foram abordadas em

detalhes as estruturas de um dicionário, bem como as componentes que as constituem.

Foram apresentados também os tipos mais comuns de dicionários, tomando como

exemplos aqueles mais conhecidos a nível internacional e as obras existentes relevantes

para a lexicografia portuguesa. Tendo por base o enquadramento teórico, foi realizado um

questionário para os aprendentes chineses da língua portuguesa, no intuito de tomar

conhecimento sobre o uso do dicionário por tal grupo. Procedeu-se, por consequência, às

análises dos quatro dicionários mais procurados entre os respondentes, comparando as

suas vantagens e deficiências, de forma a resumir as caraterísticas que deve possuir um

dicionário ideal destinado aos estudantes chineses de português.

Um dicionário é considerado como uma obra de referência que se destina a registar

o léxico de uma língua, a fim de fornecer aos seus utilizadores uma ferramenta que os

ajude a encontrar com rapidez as informações que procuram para os efeitos de produção

e compreensão dessa língua. A respeito da estrutura de um dicionário, pode-se considerar

que é composto por macroestrutura, microestrutura e medioestrutura.

A macroestrutura relaciona-se com o conjunto de entradas e a disposição desse

conjunto, funcionando geralmente por ordem alfabética na maioria dos dicionários

modernos da língua. A microestrutura, por sua vez, é composta principalmente pela

cabeça de verbete, definição, colocações, exemplos e expressões idiomáticas, enquanto

as últimas três nem sempre marcam presença nos dicionários. A medioestrutura refere-se

à estrutura das remissões, que auxiliam os utilizadores a localizar as informações

espalhadas dentro ou fora do dicionário, com a finalidade de evitar repetições e

economizar espaço.

Quanto aos diferentes tipos de dicionário, foram abordados detalhadamente os

quatros tipos mais comuns, a saber, o dicionário monolingue geral, o dicionário para

aprendizes, o dicionário bilingue e o dicionário semibilingue. O primeiro foi considerado

prototípico pelo que é aquele que surge primeiro à nossa mente ao pensar no termo
92
“dicionário” e que é mais procurado e consultado. O dicionário para aprendentes é uma

obra destinada aos alunos estrangeiros de uma língua, para fins pedagógicos, sendo

descrita com uma linguagem mais acessível e contendo mais exemplos e informações

sintáticas. O dicionário bilingue, bem como o dicionário semibilingue, são alvo de

preferência dos aprendentes de língua estrangeira. Apesar de tal preferência, o dicionário

mais popular e integral de português-chinês ainda é o DPC, publicado em 2001, refletindo

a escassez das obras lexicográficas de referência para o português no mercado chinês.

No que diz respeito à utilidade do dicionário, várias pesquisas verificaram que o uso

de dicionário exerce, em certo grau, impactos positivos à aprendizagem da língua

estrangeira, ao passo que as espécies bilingues e semibilingues são consideradas mais

eficazes em promover a aprendizagem.

Como não fora concretizada qualquer pesquisa acerca do uso por aprendentes

chineses da língua portuguesa, foi realizado um questionário online para estudantes

universitários em torno de quatro perguntas: i) Que dicionários os aprendentes chineses

utilizam? ii) Com que frequência e em que contexto eles utilizam? iii) Quais são as suas

opiniões em relação aos dicionários que conhecem? iv) O que eles procuram da consulta

no dicionário?

Os 132 resultados recolhidos responderam às perguntas referidas, retratando para

nós o perfil acerca do uso do dicionário dos estudantes chineses: preferência prevalente

pelo DPC e pelos formatos eletrónicos; consulta ao envolver-se nas atividades de

produção e compreensão escritas; valorização dos verbetes em grande quantidade,

definições e exemplos mais recentes e marcas de uso, bem como os exemplos e

expressões idiomáticas; dificuldades em encontrar as informações que procuram ao

consultar lemas gramaticais como preposições, conjunções e advérbios; demanda de

informações relativas ao uso como exemplos, colocações e expressões idiomáticas.

Quanto às análises dos dicionários mais populares entre os aprendentes chineses,

chegou-se a conclusão de que, apesar de o DPC conter mais informações de uso do que

todas as versões do DPLP e DLP, também foi depreciado pelas suas informações

93
relativamente obsoletas. O mesmo também aconteceu ao DCCP, que se limitou à época

de publicação, sendo carregado de marcas históricas.

Com base no enquadramento teórico, pesquisa realizada e análises feitas, foi

apresentada uma proposta em relação ao dicionário ideal para os utilizadores chineses,

que se carateriza pela sua natureza eletrónica e bilingue ou semibilingue, por ter entradas

completas e informações relativas ao uso enriquecidas e equipadas com traduções e a

melhoria na definição dos lemas derivados de outras formas. Por ser um dicionário

eletrónico, as funções enriquecidas serão também indispensáveis para satisfazer as

necessidades dos aprendentes.

Sendo um trabalho restrito ao uso do dicionário por chineses, ainda existem aspetos

que necessitam de mais discussão a respeito de, por exemplo, corpora, dicionários da

variedade brasileira, como o Aurélio, o Michaelis e o Houaiss, e os dicionários eletrónicos.

Seja como for, espera-se que o presente trabalho já seja capaz de ilustrar a realidade dos

dicionários da língua portuguesa no mercado chinês e o seu uso, além de apresentar uma

proposta preliminar de uma obra ideal para os utilizadores desse território. Apresenta-se

aqui também a esperança de que as observações primitivas do presente trabalho possam

inspirar pessoas competentes a envolverem-se na construção dos dicionários sino-

portugueses necessários, preenchendo as lacunas que permanecem ao longo do tempo.

94
Referências bibliográficas

I. Dicionários
Casteleiro, J. M. (2001). Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. Lisboa:
Verbo / Academia das Ciências de Lisboa
Chen, Y. Y. (2001). Dicionário Português-Chinês 葡汉词典. 1ª Edição, Pequim: Editora
Comercial
COBUILD Dictionary Online. 2011-2018. Disponível em
https://www.collinsdictionary.com/dictionary/english
Collins Advanced Learner’s English-Chinese Dictionary 柯林斯 Cobuild 高阶英汉双
解学习词典 (2006). Pequim: Foreign Language Teaching and Research Press
Crowther, J. (1995). 牛津高阶英汉双解词典 Oxford Advanced Learner’s Dictionary.
5ª edição. Oxford: Oxford University Press
Davies, V. & Whitlam, J. (2007). Dicionário Prático Português-Chinês / Chinês-
Português. Rio de Janeiro: Editora Campus
Dicionário infopédia da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2003-2018. Disponível
em https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa. Acedido em
30.08.2018
Dicionário Académico de Chinês-Português / Português-Chinês (2017), Porto: Porto
Editora
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013. Disponível em
https://www.priberam.pt/dlpo/. Acedido em 30.08.2018
Grande Dicionário da Língua Portuguesa (2014). Porto: Porto Editora
Hornby. A. S. (1997). Oxford Advanced Learner’s English-Chinese Dictionary (Wang. Y.
Z. & Zhao, C. L, Trans.), 4ª edição. Pequim: The Commercial Press / Oxford
University Press
Iao Dicionário Luso-Chinês. 2014-2018. Disponível em http://www.iao-dicionario.com/,
acedido em 30/08/2018
Longman Dictionary of Contemporary English (2009). 5ª edição. Londres: Pearson
Longman

Longman Dictionary of Contemporary English (English·Chinese) 朗文当代高级英语

辞典. (1997). 5ª edição. Pequim: Foreign Language Teaching and Research Press
Longman Language Activator (2002). 2ª edição. Londres: Pearson Longman
Procter, P. (1995). Cambridge International Dictionary of English. Cambridge:
Cambridge University Press
95
Sinclair, J. (1987). Collins COBUILD English Language Dictionary. London:
HarperCollins
Vilela, M. (1990). Dicionário do Português Básico. Porto: ASA
Wang, S. & Lu. Y. (1997). 简明汉葡词典 Dicionário Conciso Chinês-Português.
Xangai: Shanghai Foreign Language Education Press
Zhang, M. F. & Zhang. L. (2016). 精选葡汉汉葡词典 Dicionário Conciso Português-
Chinês Chinês-Português. Pequim: The Commercial Press
Zhou, H., Wang, Z., Zhao, H. & Cui, W. (1994), 简明葡汉词典 Dicionário Conciso
Português-Chinês. Pequim: Editora Comercial

II. Outros trabalhos de referência


Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Retirado de
http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=acordo. Acedido em 05.06.2018
Aizawa, K. (1999). A study of Incidental Vocabulary Learning Through Reading by
Japanese EFL Learner. Tokyo: Tokyo Gakugei University
Alvarez, M. L. O. (2000). Expressões Idiomáticas do Português do Brasil e do Espanhol
de Cuba: Estudo Contrastivo e Implicações para o Ensino de Português como
Língua Estrangeira. Tese de Doutoramento. Universidade Estadual de Campinas
Atkins, B.T. & Rundell, M. (2008). The Oxford Guide to Practical Lexicography. Nova
Iorque: Oxford University Press
Béjoint, H. (2000). Modern Lexicography: An Introduction. Oxford: Oxford University
Press.
Bensoussan, M.; Donald. S.; Weiss, R. (1984). The Effect of Dictionary Usage on EFL
Test Performance Compared with Student and Teacher Attitudes and Expectations.
Reading in a Foreign Language, Vol. 2, No. 2. 262-276
Biderman, M.T.C. (1998). As ciências do lexicografia. As ciências do léxico : lexicologia,
lexicografia, terminologia, 11-20
Biderman, M.T.C. (2000). Aurélio: sinônimo de dicionário? ALFA: Revista de
Linguística, 44, 27-55
Business Insider. http://www.businessinsider.com/consumers-in-china-are-spending-the-
most-time-in-apps-2018-2. Acedido em 01.06.2018
Carvalho, O. L. S. (2001). Lexicografa bilíngüe português-alemão: teoria e aplicação à
categoria das preposições. Brasília: Tesaurus
Chen, Y. Z. (2011). Dictionary Use and Vocabulary Learning in the Context of Reading.
International Journal of Lexicography, Vol 25, No.2. 216-247
Couto, S. L. (2003). A definição terminológica: problemas teóricos e práticos
96
encontrados na construção de um glossário no domínio da Corrosão. Dissertação
de Mestrado. Universidade do Porto
Correia, M. (2009). Os Dicionários Portugueses. Lisboa: Editorial Caminho
Creamer, T. B. I. (1991). Chinese Lexicography. Dictionaries: An International
Encyclopedia of Lexicography. Vol. 3, 2595-2610
Fan, M. Y. (2000). The dictionary look-up behavior of hong kong students: a large-scale
survey. Education Journal, 28. Disponível em
http://hkier.fed.cuhk.edu.hk/journal/wp-content/uploads/2009/09/ej_v28n1_123-
138.pdf. Acedido em 30.05.2018
Fox, G. (1987). The case for example. Looking up: An Account of the COBUILD Project
in Lexical Computing and the Development of the Collins COBUILD English
Language Dictionary. 137-149
Gove, P. B. (1981). Webster’s Third New International Dictionary. Springfield: Merriam-
Webster Publisher
Hartmann, R. R. K., & James, G. (2002). Dictionary of lexicography. Nova Iorque:
Routledge.
Hausmann, F. J. (1989). Die Markierung im allgemeinen einsprachigen Wörterbuch: eine
Übersicht. Dictionaries: An International Encyclopedia of Lexicography. Vol. 1,
649-657
Herbst, T. (1996). On the way to the perfect learner’s dictionary: a first comparison of
OALD5, LDOCE3, COBUILD2 and CIDE. International Journal of Lexicography,
Vol. 9, No. 4. 321-357.
Humblé, P. (2001). Dictionaries and Language Learners. Frankfurt: Haag und Herchen.
Jackson, H. (2002). Lexicography – an Introduction. Londres / Nova Iorque: Routledge
Jacobsen, J. R.; Manley, J.; Pedersen, V. H. (1991). Examples in the Bilingual Dictionary.
Dictionaries: An International Encyclopedia of Lexicography, Vol. 3, 2782-2789
Jiang, Y. (2007). An Inspiration of a Questionnaire on English Majors' Dictionary
Use. Guangdong: Journal of Guangdong Polytechnic Normal University, 4.
Disponível em http://en.cnki.com.cn/Article_en/CJFDTotal-
GDMZ200704025.htm. Acedido em 30.05.2018
Kromann. H.; Riiber, T.; Rosbach, P. (1991). Principles of Bilingual Lexicography.
Dictionaries: An International Encyclopedia of Lexicography, Vol. 3, 2711-2728
Kuhn, T.Z. (2015). Estudantes universitários e o uso de dicionários de português:
pilotagem de questionário. Trabalho de seminário de doutoramento. Lisboa:
Universidade de Lisboa (ms).
Lara, L. F. (1989). Dictionnaire de langue, encyclopédie et dictionnaire encyclopédique:
le sens de leur distinction. Dictionaries: An International Encyclopedia of
97
Lexicography. Vol. 1, 280-287
Landau, S. I. (1984). Dictionaries: The Art and Craft of Lexicography. 1ª Edição. Nova
Iorque: Cambrige University Press
Landau, S. I. (2001). Dictionaries: The Art and Craft of Lexicography. 2ª Edição. Nova
Iorque: Cambrige University Press
Laufer, B. (1992). Corpus-Based versus Lexicographer Examples in Comprehension and
Production of New Words. EURALEX '92 – Proceedings
Laufer, B. & Kimmel, M. (1997). Bilingualised Dictionaries: How learners really use
them. System, Vol 25, No. 3. 361-369
Laufer, B. & Melamed, L. (1994). Monolingual, Bilingual and ‘Bilingualised’
Dictionaries: Which are More Effective, for What and for Whom? Euralex 1994
proceedings. 565-576
Lew, R. (2004). Which dictionary for whom? Receptive use of bilingual, monolingual and
semi-bilingual dictionaries by Polish learners of English. Poland: Motivex.
Lew, R., & Adamska-Sałaciak, A. (2014). A case for bilingual learners’ dictionaries. ELT
journal, 69(1), 47-57.
Público, https://www.publico.pt/2017/07/30/sociedade/noticia/em-sete-anos-havera-50-
universidades-chinesas-comportugues-1780800. Acedido em 01.09.2018
Rizo-Rodríguez, A. (2008). Review of Five English Learners’ Dictionaries on CD-ROM.
Language Learning & Technology, Vol. 12, No. 1. 23-42
Rundell, M. (1999). Dictionary use in production. International Journal of Lexicography,
Vol. 12, No. 1. 35-53
Sinclair, J. (1991). Corpus, Concordance, Collocation. Oxford: Oxford University Press
Sinclair, J. (1998). The Lexical Item. Constrastive Lexical Semantics. Amsterdam: John
Benjamins, 1-24
Sinclair, J. (2005). Corpus and Text - Basic Principles. Developing Linguistic Corpora: a
Guide to Good Practice. Oxford: Oxbow Books, 1-16.
Silva, R. M. F. F. (2003). Terminologização e Lexicalização: Proporcionalidade e
Divergências. Brasília. Dissertação de Mestrado, UnB.
Statista. https://www.statista.com/statistics/467160/forecast-of-smartphone-users-in-
china/. Acedido em 01.06.2018
Strehler, R. (1998). Marcas de uso nos dicionários. As ciências do léxico : lexicologia,
lexicografia, terminologia, 169-178.
Summers, D. (1988). The Role of Dictionaries in Language Learning. Vocabulary and
Language Teaching. 111-125
Svensén, B. (1993). Practical Lexicography: Principles and Methods of Dictionary-
98
Making. Oxford: Oxford University Press
Svensén, B. (2009). A handbook of lexicography: The theory and practice of dictionary-
making. Cambridge: Cambridge University Press
Swanepoel, P. (2003). Dictionary typologies: A Pragmatic Approach. A practical guide to
lexicography, Vol. 6. 44-69
Tomaszczyk, J. (1979). Dictionaries: users and uses. Glottodidactica, 12: 103-119
van Sterkenburg, P. (2003). A practical guide to lexicography, Vol. 6.
Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing
Varantola, K. (2002). Use and usability of dictionaries: common sense and context
sensibility? Lexicography and Natural Language Processing. Grenoble:
EURALEX
Welker, H. A. (2003). Zweisprachige Lexikographie: Vorschläge für deutsch-
portugiesische Verbwörterbücher. Munique: Utz.
Welker, H. A. (2004). Dicionários – uma pequena introdução à lexicografia. 2ª edição.
Brasília: Thesaurus
Welker, H. A. (2010). Dictionary use: A general survey of empirical studies. Brazil:
Author's Edition.
Yuan, S. (2014). Ensino da língua portuguesa na China: uma análise de alguns planos
curriculares. Lisboa: Universidade de Lisboa. Disponível em
http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/18335/1/ulfl174677_tm.pdf. Acedido em
05.06.2018
Zhang. Y. H. & Yong, H. M. (2007). Dangdai Cidianxue 当代词典学 (A Lexicografia
Moderna). Pequim: The Commercial Press

99
Anexo I – Versão Chinesa do Questionário-piloto

100
101
102
103
104
105
Anexo II43 - Versão Portuguesa do Questionário-piloto

43 No questionário, a palavra chinesa em azul, “多选题”, que fica no final das perguntas de escolha múltipla,
significa “Escolha Múltipla”. Sendo uma plataforma exclusiva para utilizadores chineses, o site apenas possui a
versão chinesa.
106
* As opções da pergunta 2 baseiam-se na escolha na pergunta 1. Será apresentado

abaixo um exemplo para a visualização da pergunta 244.

* Caso tenha escolhido as primeiras três opções na pergunta 1, a pergunta 2 ficará

como a seguinte45:

44 A frase chinesa no final da pergunta 2, “此题选项来源于1题中的选项,请先填写第1题”, significa “As opções da


presente pergunta originam-se das escolhas da pergunta 1; por favor preencha a pergunta 1 primeiro”.
45 A frase chinesa em cima do quadro de ordem, “拖动或点击右侧的选项到左边的次序位置进行排序”, significa
“Arraste ou clique as opções à direita do quadro para a esquerda, para as ordenar”.
107
* Tal como na pergunta 2, as opções da 4 também se baseiam na escolha na pergunta

1. Será apresentado abaixo um exemplo para a visualização da pergunta 4.

108
* Caso tenha escolhido as primeiras três opções na pergunta 1, a pergunta 4 ficará

do seguinte modo:

109
110
111
112
113
Anexo III – Versão chinesa do questionário

114
115
116
117
118
119
Anexo IV – Versão portuguesa do questionário

120
121
122
123
124
125
Anexo V – Sistemas de indexação

Sistema de indexação por radicais

126
Sistema de indexação por yinpin

127
Anexo VI – Digitalização dos verbetes de “cor” no DPC

128

Você também pode gostar