A base nacional comum curricular (BNCC) é um documento normativo que
tem por objetivo, ditar o conteúdo trabalhado nas escolas, de maneira que, a sua existência estabelece o conjunto de competências e habilidades que os alunos da educação básica devem contemplar ao longo de sua trajetória escolar. De acordo com a constituição federal da república federativa do Brasil de 1988, no capítulo três, denominado “Da educação, da cultura e do desporto”, a educação é um direito de todos e dever do Estado, ou seja, o Estado deve se encarregar de fornecer ensino à população de maneira igualitária e gratuita. É na constituição de 88 que a BNCC surge no artigo 210: “Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.” Considerando o papel fundamental do Estado na educação pública, o artigo que o presente trabalho busca analisar “O público e o privado na educação: Projetos em disputa?” de Vera Maria Vidal Peroni e Maria Raquel Caetano explora e analisa a participação das instituições privadas no ensino público, trazendo reflexões sobre as intenções do setor privado ao elaborar documentos normativos e a relação com o Estado. Desenvolvimento
Em princípio, a constituição de 1988 afirma que busca instituir um Estado
democrático, então a BNCC seria formulada de maneira democrática, no entanto, há uma mercadificação da educação pública que atinge também o documento normativo e faz com que a busca por um ensino democrático não aconteça de maneira prática, pois leva em consideração os ideais do setor privado, reafirmando o fortalecimento do Estado neoliberal no país.
É importante, ainda, ressaltar que a relação entre o público e o privado não
inicia neste período particular do capitalismo; historicamente, foram muito tênues as linhas divisórias entre o público e o privado. Assim, a democratização da educação pública ainda é um longo caminho e questionamos as implicações da mercantilização do público nesse processo.(Peroni, 2013).
A participação do setor privado na elaboração de tal documento parte da
ideia capitalista de que o Estado está em crise e não é eficiente para garantir a qualidade da educação pública, dessa maneira o mercado neoliberal deve ser o salvador ao planejar diretamente o que será ensinado e como será ensinado. Consequentemente, a privatização da educação pública pode ocorrer também através da ocupação dos cargos de direção nas escolas, aplicando tais ideais internamente. Analisando o aspecto neoliberal, vale ressaltar dois pontos importantes no que se refere ao impulsionamento da reforma da educação básica, primeiramente a mudança do papel do Estado, no tocante a formulação e avaliação das políticas públicas, concomitante às transformações que ocorreram do mundo do trabalho, ainda sobre esses apontamentos, acrescento a relação da BNCC com as parcerias entre instituições públicas e privadas no processo de formulação do documento. A despeito dos aportes mencionados, salientamos que muitas são as discussões acerca da BNCC, visto que é uma questão polêmica. De um lado, por exemplo, cito, em caráter meramente expositivo, suas observações favoráveis em detrimento do documento: “ela servirá como um norte, um guia para suas aulas. Ela irá, ainda, reorganizar todo o sistema educacional, materiais didáticos, formação de professores, avaliações que terão a Base como referência” (PALÁCIOS, 2015). Como discutido anteriormente, para além dos assuntos já mencionados, volta na questão da BNCC estar vinculada às mudanças no mercado de trabalho, de modo que, convença a comunidade de que é necessária a mudança, pois o homem precisa adequar-se às novas demandas.
Conclusão
Partindo do pressuposto que os documentos normativos devem se atualizar
e seguindo os ideais neoliberais, a intenção da base atual pode ser considerada tentativa de reduzir a formação do aluno enquanto cidadão crítico e, passe a formar “técnicos”, a fim de qualificar mão de obra para o mercado, ponto de interesse para os organismos internacionais, uma vez que suas articulações influenciam, além do campo da educação, no desenvolvimento de todas as outras áreas da sociedade. Todos esses apontamentos fazem sentido, quando levamos em consideração alguns fatos ocorridos no Brasil da década de 1980, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, nesse período há uma redemocratização do estado brasileiro, e o estado passa a atuar de maneira mínima, e isso ocorre com a privatização de órgãos públicos. O Estado sendo “mínimo”, suas articulações vão ao encontro dos interesses capitalistas. Com todas essas transformações emergentes, a BNCC, sendo um documento de caráter normativo, passa a ser vista como um projeto conjunto de Estado, Governo e sociedade, porém a participação democrática em sua elaboração não é existente, uma vez que professores, pesquisadores da educação e formadores, que são as principais figuras no que diz respeito a educação, não possuem participação ativa na construção da base curricular nacional. Referências: PERONI, Vera Maria Vidal; CAETANO, Maria Raquel. O público e o privado na educação Projetos em disputa? Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 9, n. 17, p. 337-352, jul./dez. 2015. Disponível em: https://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/article/view/584 Acesso em: 14 out. 2023