Você está na página 1de 10

BODAU MOBILE | UROTECH ANO 33 | ED. 2 | ABR.

JUN

BIÓPSIA DE PRÓSTATA
TRANSPERINEAL:
DIFERENÇAS E VANTAGENS
TÉCNICAS E DESAFIOS
DA IMPLEMENTAÇÃO NO
CENÁRIO NACIONAL
A biópsia transretal (TR) é a via mais utilizada
pela fácil execução, baixo custo, factível
sob anestesia local, mas requer antibiótico
profilaxia por um a três dias. As complicações
como retenção, hematúria e hematoquezia são
autolimitadas, não necessitando de intervenção.
No entanto, dados epidemiológicos mostram
aumento das complicações infecciosas1-7.
157
BODAU MOBILE | UROTECH

Estudo britânico avaliou 198.361 TR entre 2000


e 2008 e observou aumento de 70% na taxa de
infecção e de 20% de internação pós-biópsia3.
Em nosso meio observamos prostatite em
6,5% e sépsis de 1% em 758 TR8. O maior risco
de infecção deve-se ao aumento da resistência
das enterobactérias às quinolonas, que varia
de 20-30%9-10. Adicionalmente 36% dos casos
apresentam hematoquezia e 0,6% necessitarão
de procedimento hemostático11.

Nesse cenário surgiu o interesse pela biópsia


transperineal (TP). Com a agulha atravessando
o períneo após antissepsia da pele e profilaxia
com dose única de cefazolina notou-se redu-
ção significativa da taxa de infecção12,13. Ao evi-
tar a perfuração do plexo hemorroidário obser-
va-se também ausência de hematoquezia3,14.
Metanálise de sete coortes e quatro estudos
randomizados que comparou as duas vias em
3.278 casos encontrou chance 74% menor de
ITU e redução de 98% de hematoquezia a favor

158
BODAU MOBILE | UROTECH

da TP15. Além de mais segura, a via TP possibili-


tou maior sensibilidade na detecção de câncer
na zona anterior 86 vs. 73% em outra metaná-
lise de oito estudos16. Porém estudo prospecti-
vo que comparou a detecção de CaP por fusão
pela via TR vs. TP em 379 casos não observou
diferença 59 vs. 54%17. Por ora não há evidên-
cia de superioridade entre as vias em relação
à detecção de câncer, mas os benefícios em
relação à menor taxa de complicações já jus-
tificam a adoção da via TP de acordo com o
Consenso Europeu18.

Na TP o paciente é posicionado em litotomia


com auxílio de perneira. O probe transretal bi-
planar é imprescindível e possibilita a visuali-
zação da próstata nos planos axial e sagital,
importante para direcionamento da agulha na
amostragem (Fig. 1). A antissepsia do períneo
está indicada. Pode ser realizada sob sedação
ou anestesia local19. A técnica inicialmente ado-
tada é realizada com o uso do template, que

159
BODAU MOBILE | UROTECH

FIGURA 1: Biópsia transperineal com probe biplanar


- seta amarela indicando o trajeto da agulha. (A)
imagem sagital (B) imagem axial.

serve como guia para a punção. Esse guia é


sustentado por um equipamento (stepper) que é
fixado à mesa e sustenta o transdutor (Figura 2).
Essa técnica requer a aquisição de USG especí-
fico, probe biplanar, material descartável e treina-
mento, gerando custos e dificultando a adoção. A
realização da biópsia por fusão é possível, porém
necessita de software e detector eletromagné-
tico, o que eleva o custo. Existe outra técnica
que possibilita a realização da biópsia sem a
necessidade do stepper e template, chamada
de técnica mão-livre (free hand). Nesse caso
160
BODAU MOBILE | UROTECH

FIGURA 2: A- biópsia transperineal mão fixa (stepper


e grid) B – biópsia transperineal mão livre

o guia de biópsia está fixado diretamente no


probe biplanar e o urologista realiza a biópsia
livremente, semelhante à técnica utilizada na
TR, porém, pela via perineal. Existe curva de
aprendizado maior, porém tem como vantagem
o menor custo.

Cabe ressaltar que apesar do custo da migra-


ção para a via TP, já há estudos indicando que
em longo prazo, devido à menor taxa de com-
plicação e hospitalização, o valor e custos das
duas técnicas se assemelham13. Em conclusão,
161
BODAU MOBILE | UROTECH

após décadas realizando a biópsia pela via TR


chegou a hora de sairmos da zona de confor-
to e migrarmos para a via TP, pois há alto nível
de evidência e grau forte de recomendação de
que essa via está associada a menor taxa de
complicações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Nam RK, Saskin R, Lee Y et al: Increasing hospital
admission rates for urological complications after
transrectal ultrasound guided prostate biopsy. J
Urol 2010; 183: 963

2. Carignan A, Roussy JF, Lapointe V et al:Increasing


risk of infectious complications after trans- rectal
ultrasound-guided prostate biopsies: time to reas-
sess antimicrobial prophylaxis? Eur Urol 2012; 62:
453.

3. Anastasiadis E, van der Meulen J, Emberton Hospi-


tal admissions after transrectal ultrasound-guided
biopsy of the prostate in men diagnosed with pros-
tate cancer: a database analysis in England. Int J
Urol 2015;22:181–6

162
BODAU MOBILE | UROTECH

4. Zaytoun OM, Vargo EH, Rajan R, Berglund R, Gor-


don S, Jones JS. Emergence of fluorquinolone-re-
sistant Escherichia coli as cause of post prostate
biopsy infection: Implications for prophylaxis and
treatment. Urology 2011; 77 (5):1035-41.

5. Djavan B, Waldert M, Zlotta A, Dobronski P, Sei- tz


C, Remzi M et al. Safety and morbidiyt of first and
repeat transrectal ultrasound guided prostate ne-
edle biopses: results of a prospective European
prostate cancer detection study. J Urol. 2001; 166:
856-60.

6. Zani EL, Clark OA, Rodrigues Netto N Jr. Anti- biotic


prophylaxis for transrectal prostate biopsy. Cocra-
ne Database Syst Rev. 2011 (5): CD006576

7. Lindstedt S, Lindström U, Ljunggren E, Wullt B,


Grabe M. Single-dose antibiotic prohylaxis in core
prostate biopsy: Impact of timing and identification
of risk factors. Eur Urol. 2006; 50 (4): 832-7

8. Pontes-Junior, J et al. A prospective randomized


controlled trial to compare the outcomes of 12 ver-
sus 20 core ultrasound guided transrectal prostate
biopsy. J Urol 2017 Vol. 197,MP 38-01

9. Liss MA, Chang A, Santos R, Nakama-Peeples A,


Peterson EM, Osann K et al. Prevalence and signifi-
cance of fluoroquinolone resistant Escherichia coli
163
BODAU MOBILE | UROTECH

in patients undergoing transrectal ultrasound guided


prostate needle biopsy. J Urol 2011; 185: 1283-1288.

10. Dias Neto, J.A.; Martins, A.C.P.; Silva, L.D.M. et al.


Community acquired urinary tract infection: etiolo-
gy and bacterial susceptibility. Acta Cirúrgica Bra-
sileira, 2003a; 18:33-35.
11. Marco Borghesi , Hashim Ahmed, Robert Nam,
Edward Schaeffer, Riccardo Schiavina Complica-
tions After Systematic, Random, and Image-guided
Prostate Biopsy. Eur Urol 2017;71(3):353.

12. Pepdjonovic L, Tan GH, Huang S, Mann S, Fry-


denberg M, Moon D, et al. Zero hospital admis-
sions for infection after 577 transperineal prostate
biopsies using single-dose cephazolin prophylaxis.
World J Urol. 2017;35:1199–203.

13. Roberts MJ, Macdonald A, Ranasinghe S, Bennett


H, Teloken PE, Harris P, Paterson D, Coughlin G,
Dunglison N, Esler R, Gardiner RA, Elliott T, Gor-
don L, Yaxley J. Transrectal versus transperineal
prostate biopsy under intravenous anaesthesia: a
clinical, microbiological and cost analysis of 2048
cases over 11 years at a tertiary institution. Pros-
tate Cancer Prostatic Dis. 2021 Mar;24(1):169-176.
doi: 10.1038/s41391-020-0263-x. Epub 2020 Aug
5. PMID: 32759972.

164
BODAU MOBILE | UROTECH

14. Loeb S, Vellekoop A, Ahmed HU, Catto J, Emberton


M, Nam R, et al. Systematic review of complications
of prostate biopsy. Eur Urol. 2013;64:876–92.

15. Jianjian Xiang, Huaqing Yan, Jiangfeng Li, Xiao


Wang, Hong Chen, World J Surg Oncol 2019; 17: 31

16. Tu, X., et al. Transperineal Magnetic Resonance


Imaging-Targeted Biopsy May Perform Better Than
Transrectal Route in the Detection of Clinically Sig-
nificant Prostate Cancer: Systematic Review and
Meta-analysis. Clin Genitourin Cancer, 2019. 17:
e860. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31281065/

17. Jared S. Winoker, Ethan Wajswol, Ugo Falagario, Al-


berto Maritini, Erin Moshier, Nicholas Voutsinas,
Cynthia J. Knauer, John P. Sfakianos, Sara C. Lewis,
Bachir A. Taouli, and Ardeshir R. Rastinehad Transpe-
rineal Versus Transrectal Targeted Biopsy With Use of
Electromagnetically-tracked MR/US Fusion Guidan-
ce Platform for the Detection of Clinically Significant
Prostate Cancer. Urology 2020 Dec;146:278-286.

18. www.eau.org/guidelines

19. McGrath S, Christidis D, Clarebrough E, Ingle R,


Perera M, Bolton D, Lawrentschuk N. Transperineal
prostate biopsy - tips for analgesia. BJU Int. 2017
Aug;120(2):164-167. doi: 10.1111/bju.13859. Epub
2017 May 25. PMID: 28371328.
165
BODAU MOBILE | UROTECH

Dr. Davi Constantin,


urologista do Hospital Moriah,
Hospital Militar de São Paulo,
Fellow L’Institut Mutualist
Montsouris

Dr. Jose Pontes Jr.


urologista do Inst. do Câncer
do Estado de São Paulo,
Hospital Oswaldo Cruz,
Hospital Nove de Julho e Genoa
Disciplina de Urologia
Intervencionista do
Departamento de Terapia
Minimamente Invasiva da SBU

RETORNAR MENU IMPRIMIR COMPARTILHAR


INÍCIO PDF VIA WHATSAPP
166

Você também pode gostar