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MANTENEDORES:

ESPECIALISTAS

“Terapias gênicas e
radiofármacos devem em
breve substituir as cirurgias”,
diz urologista Victor Srougi

O urologista Victor Srougi

PÂMELA CARBONARI | 29 NOV 2021

H
á mais de uma década que novembro é o mês
de conscientização sobre saúde masculina no
Brasil. A campanha Novembro Azul foi criada na
Austrália em 2003 e ganhou o mundo sobretudo
para prevenir o câncer de próstata. 
Por aqui, esse câncer é o segundo mais frequente,
atrás apenas do câncer de pele não-melanoma.

 De


acordo com estatísticas do Instituto Nacional de
Câncer, a doença fez 15,9 mil vítimas fatais em 2019.

O diagnóstico precoce é a única garantia de


melhores resultados no tratamento. O problema é
que na solução mora também uma armadilha. 

Esse tipo de câncer é silencioso


nos estágios iniciais, e uma
parcela considerável da
população masculina ainda
negligencia o cuidado com a
própria saúde. 

Segundo informações da Pesquisa Nacional de


Saúde realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) com o Ministério da Saúde e
a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), 82% das
mulheres foram ao médico em 2019 – entre os
homens, apesar de ter havido um aumento em
comparação a anos anteriores, a proporção ficou em
69% (em 2013, era de 63%). 

Sete em cada dez homens que procuram assistência


médica o fazem por pressão da esposa ou dos filhos.

Seja por orgulho, medo de um diagnóstico


desfavorável ou de uma possível cirurgia, a ida ao
consultório acaba protelada. 

A vantagem é que a urologia é


uma área que se beneficiou de
técnicas robóticas e
minimamente invasivas para
otimizar diversas etapas de
seus procedimentos e reduzir

os riscos de complicações aos

pacientes. 

No Brasil, um dos nomes responsáveis por esse


avanço é o do médico Victor Srougi, principalmente
com seu trabalho com biópsias transperineais.

Ele é doutor pela Faculdade de Medicina da USP


(Universidade de São Paulo), fez pós-graduação em
cirurgia minimamente invasiva na Universidade de
Heidelberg, na Alemanha, em Uro-Oncologia no
Hospital Sírio Libanês e em cirurgia robótica no
Instituto Montsouris, da Universidade Paris
Descartes, na França. 

Atualmente, é médico do setor de Laparoscopia e de


Tumores de Adrenal da Urologia do Hospital das
Clínicas e instrutor de laparoscopia urológica, da
Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo. 

Além disso, Victor é filho do cirurgião e professor da


Faculdade de Medicina da USP Miguel Srougi, um
membro honorário da Academia Nacional de
Medicina, reconhecido internacionalmente pelo
pioneirismo na urologia e pela intensa publicação
científica – ele tem mais de 820 artigos publicados.

Miguel é o idealizador do
Instituto da Próstata do
Hospital Moriah – hospital,
aliás, onde Victor atua hoje
como chefe de equipe de
Ensino e Pesquisa.

Entre os milhares de pacientes atendidos nos


últimos 50 anos por Miguel figuram nomes como
Michel Temer, Joseph Safra e Abilio Diniz.
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Em entrevista a Future Health, Victor Srougi falou


sobre novas técnicas, sua paixão pela área e a
influência do pai.

O câncer de próstata é o segundo câncer mais


letal entre os brasileiros. A partir da sua
experiência, como é possível reverter esses
números no país? Não há uma maneira eficaz para
prevenir o câncer de próstata. Por isso, para reduzir
a letalidade, é necessário fazer o diagnóstico
precoce. Quando descobrimos o câncer no início,
curamos definitivamente mais de 90% dos
pacientes. 

Qual é afinal a frequência ideal para consultar


um urologista?Idealmente os homens devem ir
anualmente ao urologista para fazer o toque da
próstata e colher o PSA [exame sanguíneo].

Diversas pesquisas comprovam que as mulheres


vão mais ao médico que os homens. Você vê essa
resistência masculina no seu consultório? Essa
tendência está mudando com o tempo. As novas
gerações aceitam melhor o exame do toque. Essa
mudança se deve principalmente às campanhas de
conscientização como o Novembro Azul e à
exposição constante na mídia sobre doenças
urológicas. As brincadeiras, piadas sobre o tema até
ajudam a desconstruir esse tabu e tornam o
processo mais descontraído.

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Como funciona a biópsia perineal da próstata? E


quais são as vantagens em relação à biópsia
convencional?Ambos utilizam um ultrassom
através do reto, como se fosse um toque, para
orientar a entrada das agulhas na próstata. A
diferença é que na biópsia convencional ou
transretal, as agulhas que colhem os fragmentos da
próstata entram pela mesma via que o ultrassom e
atravessam a parede do intestino para chegar no
alvo. Já na biópsia transperineal, as agulhas entram
pela faixa de pele entre o ânus e o escroto [períneo].
Como o intestino é colonizado por inúmeras
bactérias, na biópsia transretal há a possibilidade
de contaminação da próstata. O risco de infecção na
próstata após esse procedimento é de cerca de 5%. 

Na biópsia transperineal, o
risco de infecção é menor do
que 0,5%, já que a pele não
contém tantas bactérias e
pode ser facilmente
esterilizada. 

Além disso, na biópsia transperineal não há risco de


sangramento retal, que ocorre em cerca de 10% dos
pacientes após o procedimento pelo método
convencional. Esses dados culminaram com uma
recomendação recente da Sociedade Europeia de
Urologia de que todas as biópsias de próstata devem
ser preferencialmente realizadas pela via  

transperineal. Essa tendência deve ser difundida no


resto mundo nos próximos anos.

Esse procedimento não é novo. Por que ele


voltou a ser recomendado?Por ser mais seguro
para o paciente, principalmente quando se trata de
infecções. Isso também implica numa redução de
gastos das seguradoras e convênios, que não
precisam tratar as complicações. Pelo mesmo
motivo, é menos traumático para o paciente.

Você poderia explicar como funciona a sua


técnica de cirurgia minimamente invasiva?
Existem diversas técnicas de cirurgia minimamente
invasiva, desde cirurgias pela uretra para tratar
problemas na próstata, cirurgia laparoscópica e
robótica para acessar órgãos abdominais e corrigir
suas patologias e procedimentos com agulhas,
introduzidas pela pele até o rim, para destruir
tumores através de congelamento ou
superaquecimento. 

Pescaria: uma das paixões de Victor Srougi

Na sua opinião, quais inovações tecnológicas


recentes mudaram a maneira de tratar pacientes
na sua área?Todas as técnicas minimamente
invasivas, após terem a eficácia comprovada,
diminuem o risco de complicações, aceleram

a 

recuperação e, portanto, diminuem o trauma


emocional do paciente num momento frágil, em que
ele tem que passar por algum tratamento. Houve
uma tremenda mudança com as cirurgias para
tratar o crescimento benigno da próstata, tumores
urogenitais e outras doenças benignas.

Ainda sobre mudanças na urologia, se você


pudesse apostar em alguma tecnologia
promissora que pode trazer grandes ganhos para
a sua especialidade no futuro, em quais você
apostaria?Antigamente repetia-se o jargão:
“Grandes cirurgiões, grandes incisões”. Hoje as
cirurgias reduziram-se a pequenos furos na pele
[laparoscopia ou robótica]. Mais ainda: fazemos
tratamentos com agulhas ou máquinas que emitem
ondas de ultrassom à distância e são capazes de
destruir um tumor na próstata. Vamos chegar a um
ponto em que as medicações serão as protagonistas,
e não mais os cirurgiões. Terapias gênicas, fármacos
ligados a moléculas radioativas capazes de destruir
tumores e vírus reprogramados para destruir alvos
específicos ocuparão o lugar das cirurgias.

O seu pai, o professor Miguel Srougi, é um dos


maiores urologistas do país. Como a carreira
dele influenciou a sua decisão de se dedicar à
mesma área? Meu pai influenciou minhas escolhas
por duas razões: primeiro, fui exposto à urologia
desde criança, o que contribuiu para despertar
minha curiosidade e interesse sobre a área.
Segundo, porque ele é meu modelo e, obviamente,
me espelho em sua trajetória. Existem pontos
negativos de ter o pai como uma figura proeminente
na mesma área, mas certamente são irrelevantes
diante de todas as vantagens que tive no convívio
intenso entre pai e filho, tendo o privilégio de
aprender com o exemplo, não só sobre teoria
urológica mas também sobre humanismo, que é a
sua principal marca.
Vocês costumam trabalhar juntos? Poderia
compartilhar alguma lição que você aprendeu

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com ele e que leva para o seu dia a dia como


médico?Trabalhamos intensamente juntos. A
empatia que exerce em cada consulta, com a equipe
de saúde, com os funcionários do hospital, desde os
diretores até o porteiro, com todos que cruzam o
seu caminho, é a principal lição. Ele espalha a
felicidade no seu entorno e com isso, cercado de
pessoas felizes, também vive mais feliz. Os pacientes
tratados por ele, num momento difícil de sua
existência, por qualquer que seja o problema de
saúde, são contagiados por esse astral e também
têm o seu sofrimento aliviado.

O que motiva você a ser urologista hoje?Hoje já


não pontuo mais os motivos. É irracional. Como
uma paixão.

Fora do consultório e dos centros cirúrgicos, o


que inspira você? Minha família é o alicerce da
minha vida. Fico feliz ao sair de casa cedo para
trabalhar, mas fico feliz também de poder voltar e
encontrar o sorriso doce da minha esposa e das
minhas filhas. Minha válvula de escape no dia a dia
é a natação, e meus sonhos são sobre minhas
próximas pescarias, que me levam a aventuras em
lugares ermos e me lembram que sou só um ser
humano insignificante diante da
natureza imponente.

Que notícia você gostaria de ler sobre sua


especialidade no jornal amanhã? Manchete:
“Novo aclamado presidente do Brasil é médico
urologista!” [risos]. Brincadeira. Gostaria que se
falasse sobre mais sobre:1. Quando as cirurgias
minimamente invasivas devem ser deixadas de
lado.2. O uso indiscriminado da reposição de
testosterona.3. A angústia dos casais inférteis.

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