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ARTIGO DE REVISÃO REVISTA PORTUGUESA

DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Estimativa da idade dos equinos através do exame dentário

Estimation of horse age based on dental features

M. Fraústo da Silva1*, T. Gomes1, A. S. Dias1, J. Aquino Marques2, L. Mendes Jorge1, J. Cavaco Faísca1,
G. Alexandre Pires1, R. M. Caldeira1
Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa.
1

Rua Professor Cid dos Santos, 1300-477 Lisboa


2
Faculdade de Medicina Dentária, Universidade de Lisboa. Cidade Universitária 1649-019 Lisboa

Resumo: Embora a estimativa da idade dos equinos através do dentes continua a ser o método mais utilizado para, de
exame dentário tenha actualmente uma aplicabilidade limitada, uma forma expedita e barata, estimar a idade dos equi-
continua a ser a melhor forma de conhecer a idade na ausência
de provas documentais. Depois da descrição de aspectos relati- nos. Naturalmente, com a sofisticação crescente das
vos à estrutura, tipos de dentes, fórmula dentária e evolução den- metodologias de identificação e registo dos animais, a
tária dos equinos, os autores resumem a cronologia dos eventos avaliação da idade através deste método tende a perder
observáveis no exame dentário principalmente da arcada inferior alguma aplicabilidade. No entanto, será sempre uma
dos equinos, ilustrando-a com imagens de arcadas de animais forma de recurso na ausência de provas documentais,
em que se estimou a idade tendo em consideração os aspectos
descritos. ou quando surjam dúvidas relativamente à sua auten-
ticidade.
Summary: At present, age estimation in horses based on dental O exame da dentição não é todavia o único meio de
features has a limited practical value. However, in the absence of estimar a idade. O aspecto geral do animal, a sua esta-
documental evidence, it is still the best way to know the age of tura e conformação, o seu comportamento, a presença
an animal. After describing aspects related with structure, teeth
types, dental formulas and dental evolution, the authors resume de pêlos brancos nalgumas pelagens, entre outros
the chronology of dental features observed mainly in the lower aspectos, dão indicações valiosas que devem ser con-
dental arcade of horses, illustrating it with images of arcades sideradas. A estimativa da idade através da avaliação
of animals which age was estimated according to the description. do desenvolvimento ósseo por exame radiográfico é
também um método bastante preciso. A sua utilização
é contudo bastante limitada pela tecnologia requerida
Introdução e, naturalmente, aplica-se principalmente às primeiras
fases da vida do animal, no caso dos equinos até cerca
O conhecimento da idade dos animais é natural- dos 6-7 anos.
mente importante para adequarmos o seu acompanha-
mento e perspectivarmos a sua utilização futura. Se Estrutura dos dentes
num animal criado para fins exclusivamente produtivos
a idade nos dá uma noção eminentemente económica Cada dente é composto por uma parte visível exte-
do que ainda podemos esperar dele, já num animal de riormente, a coroa, e por uma parte interna, a raiz
companhia e/ou lazer a idade é uma indicação precisa ou raízes. A zona estreita de separação entre a coroa
dos cuidados especiais a ter em cada fase da sua vida, e a raiz ou raízes é denominada colo do dente. No
de modo a podermos usufruir dessa relação durante o interior do dente encontra-se a cavidade pulpar, cuja
maior período de tempo possível. Em termos práticos, forma se assemelha à do dente, e que nas raízes ter-
a idade implica uma variação do valor comercial do mina num orifício designado foramen apical ou apex,
animal, assumindo assim uma importância decisiva na por onde passam os vasos e os nervos. Os principais
determinação do valor da sua transacção. componentes dentários são o esmalte e a dentina
Os dentes são os órgãos que melhor registam a pas- (componentes mineralizados) e a polpa (componente
sagem do tempo, constando o seu exame do reconheci- não mineralizado). O esmalte forma uma camada fina
mento dos tipos de dentes incisivos presentes e do seu sobre a superfície dentária e a dentina encontra-se sob
estado de erupção e desgaste (ou usura). O exame dos o esmalte e constitui a maior parte do dente (Figura
1). A polpa encontra-se na cavidade pulpar (Ten Cate,
1998; Ferraris e Muñoz, 2001; Junqueira e Carneiro,
* Correspondente: fsmarina@fmv.utl.pt
1995)
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molares e molares - cada um com características e fun-


ções específicas. Abreviadamente, os dentes incisivos
cortam, os caninos seguram e rasgam, e os pré-molares
e molares esmagam e trituram os alimentos. Os mamí-
feros domésticos são também difiodontes, ou seja,
possuem duas dentições, a 1ª dentição, decídua, tem-
porária ou de leite e a 2ª dentição, permanente ou defi-
nitiva. Na dentição definitiva os dentes incisivos e pré-
molares temporários são substituídos por outros dentes
com os mesmos nomes; os caninos e os molares exis-
tem apenas na dentição definitiva. Os incisivos tempo-
rários distinguem-se dos definitivos pela sua coloração
Figura 1 - Microscopia electrónica de varredura. Aspectos ultraestrutu-
rais da dentina com os seus canais mais branca, pelo seu menor volume, pelo colo mais
marcado, pela ausência de sulcos na face vestibular ou
As estruturas responsáveis pela fixação dos dentes labial e pela menor profundidade do corneto.
são designadas no seu conjunto como periodonto e A fórmula dentária indica o número de dentes de
incluem o cemento, o ligamento periodontal e o osso cada tipo nas maxilas superior e inferior. Os equinos
alveolar. O cemento cobre a raiz dos dentes. Nos têm as seguintes fórmulas dentárias:
dentes que ainda não sofreram desgaste a extremi- 1ª dentição, dentição decídua, temporária ou de leite
dade livre termina no bordo oclusal, que constitui o
local de oclusão do dente com o dente antagonista da = 24 dentes
outra maxila. Uma vez iniciado o desgaste do dente, é
mais correcto utilizar para aquele local as designações 2ª dentição, dentição permanente, definitiva ou adulta
mesa dentária ou face oclusal. A face do dente voltada
para o vestíbulo (espaço da boca entre os dentes e = 36 a 44 dentes
os processos alveolares dum lado e os lábios e faces
do outro) é designada face vestibular. Por vezes são Nesta espécie, a dentição definitiva pode diferir
aplicados também os termos face labial e face bucal nos machos (40 a 44 dentes) e nas fêmeas (36 a 44
à face vestibular, sendo o primeiro utilizado para os dentes), o que se deve ao facto de nas éguas os caninos
dentes incisivos e caninos, que se opõem aos lábios, geralmente não existirem. Também, tanto nos machos
e o segundo para os pré-molares e molares, que se como nas fêmeas, os caninos podem ser apenas rudi-
opõem às faces. A face lingual é a face interna dos mentares. A variabilidade no número de pré-molares
dentes, que contacta com a língua no maxilar inferior, definitivos deve-se à presença irregular do primeiro
e que no maxilar superior é também designada face pré-molar vestigial, também conhecido como dente do
palatina. As superfícies que contactam com os dentes lobo. Este dente pode ser encontrado nas duas arcadas,
vizinhos são designadas face mesial e face distal ou mas é mais frequente na arcada superior (Figura 2). É
caudal, correspondendo a primeira à superfície de bastante mais pequeno que os outros e as suas raízes
contacto virada para o plano médio e a segunda à são curtas (Caldeira et al., 2002; Getty, 1981; Henning
superfície oposta. Alguns autores aplicam o termo face e Steckel, 1995; Knottenbelt, 1996-97, Orsini, 1992).
mesial à mesa dentária ou face oclusal dos ungulados Conforme a sua localização, os dentes incisivos
(Ten Cate, 1998; Ferraris e Muñoz, 2001; Getty, 1981; designam-se, em cada arcada: pinças, os dois mais pró-
Junqueira e Carneiro, 1995). O espaço que existe entre ximos do plano médio, médios os dois que se seguem
os caninos e os pré-molares presentes numa arcada aos pinças, cantos os dois mais distais, que se seguem
designa-se barra ou diastema, sendo particulamente aos médios. Na Figura 3 localizam-se os diferentes
grande quando os caninos estão ausentes. Nos equinos, tipos de dentes na arcada inferior.
a mesa dentária dos dentes incisivos apresenta uma
cavidade (uma invaginação do esmalte), com mais de
Evolução dentária
1 cm de profundidade num dente virgem, designada
cavidade dentária externa, infundibulo ou corneto. Esta
A estimativa da idade dos equinos através do exame
cavidade está revestida por uma camada de cemento
da dentição é realizada essencialmente através da
que se denomina germe da fava (Caldeira et al., 2002;
observação dos dentes incisivos, tendo em conta: (i)
Getty, 1981).
na arcada inferior, a erupção dos dentes temporários
e permanentes, o seu desenvolvimento até ser atingido
Tipos de dentes e fórmula dentária o nível da arcada e, posteriormente, as alterações da
superfície oclusal ou mesa dentária devidas ao des-
Os mamíferos domésticos têm uma dentição classi- gaste, no que se refere à cavidade dentária externa e ao
ficada como heterodonte, ou seja, apresentam diversos esmalte central, à estrela dentária e à forma da mesa
tipos ou grupos de dentes - incisivos, caninos, pré- dentária, (ii) nos cantos superiores a apreciação da for-

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Figura 2 - Presença de 1º pré-molar (dente do lobo) superior esquerdo

Figura 4 - Forma dos dentes incisivos dos equinos e alterações da forma


da mesa dentária à medida que o desgaste progride. Adaptado de Masty e
Vojt (sem data), reprodução autorizada.

peças dentárias entre si, e (iii) mecanismos de erosão


em que o desgaste resulta da acção química de certas
substâncias. Naturalmente, os dois primeiros mecanis-
mos são os mais importantes nos equinos. A erupção e
o desgaste dos dentes incisivos é feita a partir do plano
médio para os extremos. Em cada dente, o desgaste
inicia-se pela região labial do bordo oclusal (por ser
mais alta que a região lingual), e divide o esmalte que
reveste o dente em duas partes: a externa ou periférica
e a interna ou central. À medida que o desgaste pro-
gride, o corneto diminui em largura e em profundidade
até não ser visível qualquer depressão física, sendo
Figura 3 - Localização dos diferentes tipos de dentes na arcada inferior
(I - incisivos, C - caninos, PM - pré-molares, M - molares, p - pinças, m no entanto ainda evidente o esmalte central. Quando
- médios, c - cantos) a depressão do corneto desaparece diz-se que o dente
está raso (Figura 5) (Caldeira et al., 2002).
mação da cauda de andorinha e do sulco de Galvayne, Entretanto, com o desgaste, a cavidade pulpar fica-
(iii) o perfil do ângulo de oclusão das duas arcadas. ria exposta se não ocorresse a proliferação de den-
Os dentes incisivos do cavalo têm a forma de uma tina secundária, também designada marfim de nova
pirâmide, cujo vértice corresponde à raiz do dente, formação, que aparece com a forma de uma mancha
enquanto a base corresponde à extremidade livre. O amarela mais escura na mesa dentária, em posição
dente é encurvado no sentido antero-posterior e acha- labial relativamente à cavidade dentária externa, e que
tado e inclinado em sentido lábio-lingual na região se denomina mancha radicular ou estrela dentária. Ini-
da base, correspondente à face oclusal. Desta região
para a raiz o achatamento modifica-se gradualmente
para lateral. Assim, da extremidade livre para a raiz,
a secção dos incisivos evolui de uma forma aproxi-
madamente elíptica para oval, redonda, triangular e
finalmente de novo oval (também designada biangular)
quando o achatamento é já nitidamente lateral (Figura
4) (Anónimo, 1988; Caldeira et al., 2002; Knottenbelt,
1996/97).
O desgaste dos dentes é devido a: (i) mecanismos de Figura 5 - Aspecto dos dentes incisivos virgens, no início do desgaste
abrasão, em que o desgaste resulta da acção de subs- e rasos (a - cavidade dentária externa ou corneto, b - região labial do
bordo oclusal onde se inicia o desgaste do dente, c - esmalte periférico,
tâncias abrasivas durante a mastigação, (ii) mecanis- d - esmalte central, 1 - canto definitivo virgem, 2 - canto definitivo que
mos de atrição em que o desgaste resulta da acção das substituirá o canto temporário (3), 3 - canto temporário raso)

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cialmente, a estrela dentária tem a forma de uma linha e uma forma arredondada na mesa dentária dos inci-
transversal, tornando-se posteriormente ligeiramente sivos adultos. No Quadro 4 são referidas as idades
oval e finalmente arredondada. Altera também a sua aproximadas de alteração da forma da mesa dentária
localização, passando a ocupar o centro da mesa den- (Anónimo, 1988; Caldeira et al., 2002; Knottenbelt,
tária. Depois do rasamento, o esmalte central que se 1996/97; Richardson, 1997).
mantém ainda durante algum tempo em posição pos- A oclusão das mesas dentárias dos cantos não é geral-
terior à estrela dentária, acaba finalmente por desapare- mente total, deixando a região posterior das mesas den-
cer, dizendo-se então que o dente está nivelado. Apesar
das alterações visíveis com o desgaste dos dentes
estarem bem definidas, com o avançar da idade o rigor
da estimativa da idade com base na evolução dentária
diminui drasticamente, já que a velocidade de desgaste
dos dentes é influenciada por numerosos factores entre
os quais o genótipo, a alimentação, características indi-
viduais e desvios de comportamento (Caldeira, 2002;
Richardson et al., 1999).
No Quadro 1 indicam-se as idades de erupção dos
incisivos temporários e definitivos, bem como aquelas Figura 6 - Presença da cauda de andorinha no canto superior esquerdo
a que estes dentes atingem o nível da arcada. (Anó-
nimo, 1988; Caldeira et al., 2002; Knottenbelt, 1996/
97; Richardson, 1997).

Quadro 1 - Incisivos temporários e definitivos inferiores, idades


de erupção e em que atingem o nível da arcada
Incisivos Temporários Incisivos Definitivos
Erupção Erupção Atingem o nível
da arcada
Pinças 1ª semana 2,5 anos 3 anos
Médios 4/6 semanas 3,5 anos 4 anos
Cantos 6/9 meses 4,5 anos 5 anos

A substituição dos incisivos designa-se desfecho


(1º, 2º e 3º desfechos, para os pinças, médios e cantos, Figura 7 - Presença do sulco de Galvayne junto ao bordo gengival do
canto superior
respectivamente), dizendo-se quando está completa
e todos os dentes atingiram o nível da arcada que o
animal tem a boca feita (Caldeira et al., 2002)
Embora menos utilizadas, as idades de erupção dos
restantes tipos de dentes poderão também contribuir
para a estimativa da idade de um animal (Quadro 2)
(Anónimo, 1988; Caldeira et al., 2002; Knottenbelt,
1996/97; Richardson, 1997).
No Quadro 3 indicam-se as idades aproximadas
de rasamento, nivelamento, aparecimento da estrela Figura 8 - Alteração do perfil de oclusão das arcadas com o avançar da
dentária e em que esta assume uma posição central idade

Quadro 2 - Idades de erupção dos caninos, pré-molares e molares inferiores


Dentes Temporários Dentes Definitivos
Caninos n.e. > 3,5 anos
1º pré-molar n.e. 6 meses a 3 anos
2º pré-molar Entre o nascimento 2,5 anos
e as
3º pré-molar 2,5 - 3 anos
4 semanas
4º pré-molar 3,5 - 4 anos
1º molar n.e. 1 ano
2º molar n.e. 2 anos
3º molar n.e. 3,5 / 4 anos
n.e. não existem

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Quadro 3 - Incisivos definitivos inferiores - idades de rasamento, nivelamento, aparecimento da estrela dentária e alterações da sua
forma e posição na mesa dentária
Rasamento Aparecimento da Nivelamento Estrela dentária Estrela dentária
estrela dentária central arredondada
Pinças 6/7 anos 7/8 anos 12/15 anos 10/13 anos 10/15 anos
Médios 7/8 anos 8/9 anos 13/15 anos 10/15 anos 11/15 anos
Cantos 8/9 anos 9/10 anos 13/15 anos 10/15 anos 11/15 anos

Quadro 4 - Incisivos definitivos inferiores - idades de alteração da forma da mesa dentária


Mesa dentária redonda Mesa dentária triangular Mesa dentária oval
Pinças 8/12 anos 13/18 anos >18
Médios 9/13 anos 15/19 anos >19
Cantos 11/14 anos 17/20 anos >20

tárias dos cantos superiores sem oposição nos inferiores Aos 1,5 meses de idade
e, logo, sem desgaste. Este facto tem como conse- Os pinças temporários atingiram o nível da arcada
quência o aparecimento de uma proeminência naquela e podem apresentar algum desgaste. Estão também
região, designada cauda de andorinha (Figura 6). A presentes os médios temporários, ainda virgens, e os
cauda de andorinha não aparece geralmente em animais pré-molares temporários.
com menos de 7 anos de idade, mas por si só não é um
indicador fidedigno da idade de um animal (Anónimo,
1988; Knottenbelt, 1996/97; Richardson, 1997).
O sulco de Galvayne (sulco de coloração escura na
face vestibular dos cantos superiores) aparece junto ao
bordo gengival por volta dos 10 anos, prolongando-
se gradualmente até à fase oclusal, que atinge por
volta dos 20 anos de idade (Figura 7). Nos animais
mais velhos inicia-se o seu desaparecimento a partir
do bordo gengival chegando a estar completamente
ausente num animal muito velho (Anónimo, 1988;
Knottenbelt, 1996/97; Richardson, 1997).
Em consequência da forma dos dentes incisivos e do
seu desgaste, a aparência do perfil de oclusão das arca- 2 meses de idade
das altera-se com o avançar da idade, desde quase ver-
tical até mais horizontal (Figura 8) (Anónimo, 1988; Aos 9 meses de idade
Caldeira et al., 2002). Estão presentes todos os incisivos temporários. Os
Resume-se em seguida a cronologia dos eventos pinças e os médios apresentam desgaste, que é mais
observáveis no exame dentário da arcada inferior dos marcado nos primeiros. Os cantos ainda não atingiram
equinos, ilustrada, sempre que possível, com imagens o nível da arcada estando praticamente virgens.
de arcadas de animais em que se tenha estimado a
idade referida. Ao ano de idade
Normalmente a estrela dentária é bem visível nos
pinças e médios temporários. O desgaste dos cantos
Cronologia dos eventos observáveis no
é ainda pouco marcado. Estão presentes os primeiros
exame dentário dos equinos e exemplos molares.

Às 2 semanas de idade
Estão presentes apenas os pinças temporários

1 mês de idade 1,5 anos de idade

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Aos 2 anos de idade


Os pinças temporários estão rasos e os médios e
cantos apresentam um desgaste acentuado; a estrela
dentária é visível em todos os incisivos inferiores.
Estão presentes os primeiros e os segundos molares

Aos 2.5 anos de idade


Dá-se a erupção dos pinças definitivos. Os médios
temporários estão rasos e os cantos curtos e muito
gastos. Estão presentes os segundos pré-molares defi-
nitivos. Estão presentes os primeiros e os segundos
molares.
Próximo dos 4 anos de idade

Aos 4 anos de idade


Os pinças definitivos revelam alguma desgaste mas
os cornetos são ainda profundos. Os médios definitivos
atingem o nível da arcada. Estão presentes todos os
pré-molares e molares.

Aos 4,5 anos de idade


Inicia-se a erupção dos cantos definitivos. Os pinças
e os médios apresentam algum desgaste mas os corne-
tos são ainda profundos.

Aos 5 anos de idade


Estão presentes e atingiram o nível da arcada todos
os incisivos adultos. O animal tem a boca feita. Os
pinças e os médios apresentam algum desgaste; nos
cantos o desgaste é apenas visível na região labial do
Próximo dos 3 anos de idade
bordo oclusal

Aos 3 anos de idade


Os pinças definitivos estão ao nível da arcada. Estão
presentes os primeiros (caso existam), segundos e
terceiros pré-molares definitivos. Estão presentes os
primeiros e os segundos molares.

Aos 3,5 anos de idade


Dá-se a erupção dos médios definitivos. Os pinças
definitivos presentam algum desgaste e os cantos tem-
porários estão rasos. A partir desta idade pode iniciar-
se a erupção dos caninos (caso existam). Estão presen-
tes os primeiros (caso existam), segundos e terceiros
pré-molares definitivos. Estão presentes os primeiros e
os segundos molares.

5 anos de idade

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Aos 6 anos de idade Aos 9 anos de idade


Os pinças poderão começar a apresentar-se rasos Normalmente todos os os incisivos inferiores estão
Nos restantes incisivos o corneto é ainda bastante rasos. O esmalte central dos pinças começa a assumir
evidente, sendo apenas os sinais de desgaste mais mar- uma forma triangular. A estrela dentária é evidente
cados do que aos cinco anos. Os cantos apresentam já nos pinças e nos médios e pode aparecer também nos
desgaste na região lingual. cantos. A mesa dentária dos pinças pode estar redonda
e a dos médios começa a tomar esta forma.

Cerca de 9 anos de idade

6 anos de idade Aos 10 anos de idade


A mesa dentária dos pinças e dos médios pode já
Aos 7 anos de idade estar redonda. O esmalte central dos pinças aproxima-
Normalmente os pinças estão rasos e o esmalte cen- se do bordo lingual. A estrela dentária assume uma
tral aproxima-se do bordo lingual, podendo também os posição mais próxima do centro da mesa dentária,
médios começar a rasar. A estrela dentária pode apa- tendo uma forma cada vez mais arredondada.
recer nos pinças com a forma de uma linha tranversal
em posição labial relativamente ao esmalte central.
Poderá estar presente nos cantos superiores a cauda de
andorinha.

Cerca de 10 anos de idade

Aos 11 anos de idade


Cerca de 7 anos de idade Todos os incisivos podem apresentar uma mesa den-
tária redonda. O esmalte central aproxima-se do bordo
Aos 8 anos de idade lingual em todos os incisivos. A estrela dentária pode
Os pinças e os médios estão rasos, podendo também ocupar já uma posição central em todos os incisivos, e
os cantos começar a rasar. A estrela dentária é evidente pode assumir uma forma arredondada.
nos pinças e pode aparecer também nos médios. A
mesa dentária dos pinças começa a tomar uma forma
arredondada.

Cerca de 11 anos de idade

Aos 12 anos de idade


Todos os incisivos podem apresentar uma mesa
dentária redonda. Os pinças podem estar nivelados e
a estrela dentária resumir-se a uma pequena mancha
Cerca de 8 anos de idade amarela no centro da mesa dentária.

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Aos 22 anos de idade


A mesa dentária pode ter uma forma oval em todos
os incisivos, que parecem estar comprimidos transver-
salmente. Os acidentes da mesa dentária resumem-se
à estrela dentária que aparece como uma pequena
mancha amarela em posição central.

Cerca de 12 anos de idade

Aos 13 anos de idade


A mesa dentária dos pinças pode começar a assu-
mir uma forma triangular. Todos os incisivos podem
estar nivelados e a estrela dentária resumir-se a uma Mais de 20 anos de idade
pequena mancha amarela no centro da mesa dentária.
Agradecimentos

Os autores agradecem à Escola de Equitação da


Sociedade Hípica Portuguesa, à Coudelaria Nacional
e ao Picadeiro d-El Rey pela disponibilização dos ani-
mais cujas fotografias ilustram este trabalho.

Cerca de 13 anos de idade Bibliografia

Aos 15 anos de idade Anónimo, (1988). Official Guide for Determining the Age of the
Horse. (Ed. American Association of Equine Practitioners),
A mesa dentária dos pinças e dos médios pode Lexington.
ter uma forma triangular. Todos os incisivos estão Caldeira, R. M.; Fraústo da Silva, M.; Grave, J.; Rosa, I. G.; Men-
nivelados. Os acidentes da mesa dentária resumem- donça, H., (2002). Apontamentos de Exognosia. Faculdade de
se à estrela dentária que aparece como uma pequena Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa.
mancha amarela em posição central. Getty, R. (1981). Anatomia dos Animais Domésticos de Sisson e
Grossman. 1ª Edição. (Ed. C.E. Rosenbaum, N. G. Ghoshal,
D. Hillmann). Interamericana Ltd., Rio de Janeiro.
Ferraris, G.; Muñoz, C., (2001). Histologia y Embriologia
Bucodental. Ed. Médica Panamericana, Madrid.
Henning,G. E.; Steckel, R. R., (1995). Diseases of the oral cavity
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agement (Ed. C. N. Kobluk, T. R. Ames, R. J. Geor). W.B.
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Guanabara Koogan S.A, Rio de Janeiro.
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14 a 16 anos de idade Masty, J., Vojt, T., sem data. Age related changes of the equine
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Aos 18 anos de idade ATCenter/AT2658/TOC.html
A mesa dentária pode ter uma forma triangular em Orsini, P. G., (1992). Oral cavity. In: Equine Surgery (Ed. J. A.
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Richardson, J., (1997). Ageing Horses - An ilustrated guide. In
resumem-se à estrela dentária que aparece como uma Practice. Oct. pp.486-489.
pequena mancha amarela em posição central. Richardson, J.; Lane, J. G.; Waldron, K. R. (1999). Is dentition
an accurate indication of age of a horse ? The Veterinary
Record 9:31-34.
Ten Cate, A. R. (1998). Oral Histology, Development, Structure and
Function. 5ª Edição. The C. V. Mosby Comp., St. Louis.

18 a 20 anos de idade

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CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Neoplasias em canídeos - Um estudo descritivo de 6 anos


Dog’s neoplasia - A six years descriptive study

Maria dos Anjos Pires*, Fernanda Seixas Travassos e Isabel Pires


Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica; Departamento de Patologia e Clínicas Veterinárias. CECAV - UTAD. 5000-911 Vila Real. Portugal.

Resumo: Os autores apresentam um estudo da distribuição de Introdução


lesões neoplásicas em canídeos, por sexo, idade e aparelhos
afectados, baseado no material recebido durante 6 anos (entre
A Anatomia Patológica desempenha um papel funda-
1996 e 2001) no Laboratório de Histologia e Anatomia Pato-
lógica da UTAD. Num universo de 3922 análises efectuadas mental na pesquisa de características histológicas que,
em canídeos, 1790 (45,6%) foram referentes a lesões do foro associadas às informações provenientes de um exame
neoplásico, das quais 36,3% (n=649) eram lesões neoplásicas clínico sistemático, poderão fornecer dados essenciais
da glândula mamária, 29,9 % (n=535) eram neoplasias mesen- para o estadiamento das neoplasias, o estabelecimento
quimatosas da pele e tecidos moles, 17,4% (n=312) neoplasias
do prognóstico e da terapêutica. Estas características,
epiteliais e melanocíticas da pele, 8,7% (n=155) neoplasias do
aparelho genital e urinário, 3,9% (n=70) lesões neoplásicas do quer histológicas (a morfologia, o grau nuclear, o
sistema hematopoiético, 1,7% (n=31) neoplasias do osso e arti- padrão e taxa de crescimento tumoral, a invasão de teci-
culações e 2,1% (n=38) corresponderam a outras neoplasias. As dos, o grau histológico e a metastização), quer imuno-
neoplasias observadas predominaram em fêmeas (61%). Os ani- citoquímicas (como os índices de proliferação celular,
mais de raça indeterminada foram aqueles que, dentro da nossa
receptores hormonais, densidade de microvasculariza-
amostra, registaram mais tumores (25,86%). Nos animais com
idade igual ou inferior a 2 anos predominaram os histiocitomas; ção, etc.) e os estudos de ploidia de ADN, permitem
nos de idade compreendida entre os 3 e os 8 anos predominaram prever o comportamento biológico das neoplasias,
os tumores da glândula mamária (32,8%) assim como nos ani- constituindo importantes factores de prognóstico, e uma
mais com idade igual ou superior a 9 anos (41,7%). O grupo de fonte de informação para o clínico que pretenda instituir
animais com 11 anos foi aquele que apresentou maior número de
uma terapêutica ao animal.
tumores (que registámos desde a idade inferior a um ano, até aos
17 anos). Em Portugal existem dados estatísticos de tumores
em animais domésticos em artigos publicados no Repo-
Summary: The authors present a study of dog’s neoplasic sitório de Trabalhos do LNIV e nos Anais da Faculdade
lesions distribution by means of sex, age and affected systems. de Medicina Veterinária, relativos ao período compre-
The material was received in the laboratory of Histology and
endido entre 1947 (trabalho do Prof. Nunes Petisca
Surgical Pathology of the University of Trás-os-Montes e Alto
Douro. Out of a total of 3922 cases received, 1790 (45.6%) were cit. por Silva, 1989) até 1988 (Durão e Santos, 1975;
neoplasic lesions. From these, 36.3% (n=649) were mammary Santos, 1976; Monteiro e Clemente, 1978; Baptista
gland tumors, 29.9 % (n=535) mesenchymal skin and soft tis- e Silva, 1985; Gomes, 1987; Nunes, 1988/89; Silva,
sues tumors, 17.4% (n=312) epithelial and melanocytic tumors 1989), relativos aos tumores recebidos pelo LNIV de
of the skin, 8.7% (n=155) tumors of the urogenital system,
Lisboa, Porto e Algarve e pela Secção de Anatomia
3.9% (n=70) hematopoietic tumors, 1.7% (n=31) bone and joint
tumors, and finally, 2.1% (n=38) were classified as other neo- Patológica da Escola Superior de Medicina Veteriná-
plasias. The neoplasia was most predominant in females (61%). ria de Lisboa. Não temos conhecimento de trabalhos
Besides that, the tumors were more recurrent in mongrel dogs semelhantes que abranjam o intervalo compreendido
(25.86%). The histiocitomas were the leading lesion in young entre 1987 até hoje. Assim, neste trabalho realizámos o
animals (ages until 2 years). Between 3 and 8 years old, the
estudo da casuística das neoplasias em canídeos recebi-
mammary gland tumor was the most frequent (32.8%); this same
situation was prevalent in the oldest animals (age higher than das no Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica
9 years) with a percentage of 41.7%. Finally, is worth to point (LHAP) da UTAD durante 6 anos (com maior domínio
out that the animal’s collection with 11 years old was the group no Norte de Portugal), com o objectivo de enriquecer os
that presented the highest number of tumors (these animals were conhecimentos nesta área, e sensibilizar a comunidade
closely fallowed and registered between the ages under one until
para um problema que se julga recente, mas que apenas
17 years).
tem sido pouco estudado.

Materiais e métodos
* Correspondente: apires@utad.pt,
telefone 259350637, fax 259350480 As informações presentes neste trabalho referem-se

111
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a 3922 análises de canídeos recebidas no Laboratório


de Histologia e Anatomia Patológica da UTAD no perí-
odo compreendido entre 1 de Janeiro de 1996 e 31 de
Dezembro de 2001. As amostras recebidas provieram
de Portugal Continental e Ilhas, com predominância
para o Hospital Universitário da UTAD e para a zona
Norte do país. As amostras eram acompanhadas por
uma ficha que incluía a identificação do animal, dados
e suspeita clínica, ainda que raras vezes estes parâme-
tros fossem devidamente preenchidos.
Este material biológico foi recebido sob a forma de
cadáveres, biópsias e exéreses cirúrgicas. O material
Gráfico 1 – Distribuição dos animais em função do sexo
foi fixado em formol a 10%, processado num micro-
processador automático de tecidos modelo Hyper-
center XP® Histoplast® da Shandon® e incluído
em parafina. Foram efectuados cortes em parafina a
2-3µm que foram corados com Hematoxilina-Eosina
(H-E). Sempre que necessário recorreu-se a técnicas de
histoquímica (P.A.S., Reticulina, Azul da Prússia, Azul
Alcião, Van Gieson, etc.), ou de imunohistoquímica
(marcação com anticorpos específicos por exemplo
anti-citoqueratinas, anti-vimentina, anti-desmina, anti-
α actina do musculo liso, anti-proteína S-100, entre
outros), para melhor caracterizar as neoplasias em
estudo.
As neoplasias foram avaliadas com base na classi-
ficação Histológica da OMS em vigor (classificação Gráfico 2 – Distribuição dos animais por raça
Histológica dos Tumores Animais publicado pela
Armed Forces Institute of Pathology – AFIP e pela A distribuição etária dos animais está representada
WHO – Slayter et al., 1994; Hendrick et al., 1998; no Gráfico 3.
Goldschmidt et al., 1998; Kennedy et al., 1998; Koes- A maioria da população da amostra tinha até 10
tner et al., 1999; Dungworth et al., 1999; Misdorp et anos. Observou-se um decréscimo no número de ani-
al., 1999; Valli et al., 2002). mais com idades superior a 11 anos e não se observou
A população foi dividida em três escalões etários: qualquer animal com idade superior a 17 anos. No
os animais jovens (os que apresentavam idades iguais gráfico 3, a idade referida como igual ou inferior a
ou inferiores aos 2 anos de idade); os animais adultos 1 abrange os animais com idades entre os zero e 12
- aqueles que, com idades compreendidas entre os 3 meses.
e os 8 anos, se encontravam na plenitude da idade;
e animais geriátricos os que tinham idade igual ou
superior a 9 anos. Estas idades adaptadas de trabalhos
desenvolvidos por outros autores (Mialot e Lagadic,
1990), tinham já sido definidas em trabalhos prévios
não publicados.

Resultados

Amostra

O nosso estudo teve como amostra 3922 canídeos,


constituída por 1749 machos e 1980 fêmeas. Não foi
especificado o sexo em 193 casos (Gráfico 1) excluídos Gráfico 3 – Distribuição dos animais por idade
dos dados totais.
No que respeita à raça, os animais de raça indetermi-
nada predominaram nesta amostra (n=1024) sobre as Frequência tumoral relativa
outras raças; seguiram-se-lhe os animais de raça Boxer
(n=355), raça Caniche e raça Cocker (n=345 e n=243). 1 - Distribuição por aparelhos e sistemas
No Gráfico 2 podemos observar a distribuição por raça As lesões neoplásicas corresponderam a 45,6%
da amostra. (n=1790) das análises que foram avaliadas. No grá-

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incidiram quase exclusivamente sobre fêmeas, tendo


sido diagnosticadas apenas em 3 machos, e nestes
sempre com comportamento maligno.

1.2 – Neoplasias mesenquimatosas da pele e dos


tecidos moles
As neoplasias mesenquimatosas representaram
29,9% (n=535) das neoplasias diagnosticadas em caní-
deos no LHAP, as segundas mais frequentes logo após
as da glândula mamária. Dentro deste grupo, os his-
tiocitomas foram os tumores mais comuns, com uma
frequência de 29,4% (n=157), seguidos das neoplasias
Gráfico 4 – Distribuição das neoplasias por sistemas do tecido conjuntivo (27,3%, n=146) onde englobámos
os tumores com origem fibroblástica e adiposa e, dos
fico 4, podemos observar a distribuição das neoplasias mastocitomas presentes em 24,1% (n=129) dos casos
por sistemas, de acordo com a actual classificação da observados. Com menor frequência foram diagnostica-
OMS. dos tumores vasculares que constituíram 7,5% (n=40)
Na nossa amostra predominaram as neoplasias da das lesões observadas, os hemangiopericitomas repre-
glândula mamária (36,3%, n= 649), seguidas pelas sentados em 5,1% (n=27) e as neoplasias musculares
neoplasias mesenquimatosas da pele e tecidos moles 3,9% (n=21). As neoplasias dos nervos periféricos
(29,9%, n=535) e das epiteliais e melanocíticas da pele surgiram em 2,6% (n=14) dos casos apresentados, e
(17,4%, n=312). O aparelho genital foi sede de 8,1% foram constituídos maioritariamente por schwanomas
(n=145) das lesões observadas e o sistema hematopoi- (12 schwanomas e 2 paragangliomas).
ético 3,9% (n=70). Com menor expressão observámos
Tabela 2 – Tumores mesenquimatosos da pele e dos tecidos
neoplasias ósseas e das articulações (em 1,7% dos
moles
casos, n=31), do sistema nervoso (0,8%, n=15), do
aparelho digestivo (0,7%, n=13), do aparelho urinário
Neoplasia Nº (%)
(0,6%, n=10), de glândulas endócrinas (0,4%, n=8) e
do aparelho respiratório (0,1%, n=2). Histiocitoma 157 (29,4%)

Tabela 1 – Distribuição tumoral


Neoplasias conjuntivas 146 (27,3%)
Neoplasia Nº (%)
Mastocitoma 129 (24,1%)
Neoplasia da glândula mamária 649 (36,3%)

Neoplasias mesenquimatosas da pele Neoplasias vasculares 40 (7,5%)


535 (29,9%)
e dos tecidos moles
Hemangiopericitoma 27 (5,1%)
Neoplasias epiteliais e melanocíticas da pele 312 (17,4%)

Neoplasias do trato genital 145 (8,1%) Neoplasias musculares 21 (3,9%)

Neoplasia sistema hematopoiético 70 (3,9%) Neoplasia do nervo periférico 14 (2,6%)


Neoplasias do osso e articulações 31 (1,7%)
Neoplasias do mesotélio 1 (0,1%)
Neoplasias do sistema nervoso 15 (0,8%)
Total 535 (100%)
Neoplasias do aparelho digestivo 13 (0,7%)

Neoplasias do aparelho urinário 10 (0,6%) 1.3 – Lesões epiteliais e melanocíticas da pele


Este constituiu o terceiro grupo de tumores mais
Neoplasias das glândulas endócrinas 8 (0,4%) frequentes nos canídeos (n=312) abrangidos no estudo.
Neoplasias do aparelho respiratório 2 (0,1%) Dentro desta categoria, os tumores das glândulas hepa-
tóides foram os mais frequentes (29,8%, n=93), segui-
Total 1790 dos pelos carcinomas de células escamosas (CCE) com
17,3% (n=54), as lesões do folículo piloso (13,8%,
1.1 – Glândula mamária n=43), os papilomas (12,8%, n=40), os tumores melâ-
As neoplasias da glândula mamária foram as mais nicos (10,9%, n=34), as neoplasias das glândulas sebá-
observadas nos canídeos e, em 72,6% (n=471) apre- ceas (7,1%, n=22), e por fim com menor casuística, as
sentaram características malignas. Apenas em 27,4% neoplasias das outras glândulas da pele (n=12) (Tabela
(n=178) dos casos foram diagnosticadas neoplasias 3). As neoplasias do folículo piloso englobaram todas
com comportamento benigno. As neoplasias mamárias as lesões não inflamatórias. Embora a classificação na

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qual nos baseámos englobe os quistos como parte inte- ram 3,9% da totalidade das neoplasias diagnosticadas
grante da classificação de neoplasias, estes não foram nestes animais (n=70). Observámos principalmente
considerados para a apreciação deste nosso estudo. linfomas nas suas diferentes variedades (64 casos), 3
plasmocitomas e três leucemias.
Tabela 3 – Tumores epiteliais e melanocíticos da pele

Neoplasia Nº (%) 1.6 – Osso e Articulações


Este grupo de neoplasias constituiu 3,7% (n=31) do
Neoplasia da glândula hepatóide 93 (29,8%) total destas lesões identificadas no LHAP para esta
Carcinoma de célula escamosa 54 (17,3%) espécie animal. Predominaram os tumores ósseos
(n=21) sobre os de origem na cartilagem ou nas arti-
Neoplasia do folículo piloso 43 (13,8%)
culações.
Papiloma 40 (12,8%)

Melânica 34 (10,9%) 1.7 – Aparelho Digestivo e Glândulas Anexas


Representam um pequeno grupo de neoplasias
Neoplasia da glândula sebácea 22 (7,1%) (0,7%, n=13), com predomínio para as lesões do intes-
Neoplasia da glândula de Meibomio 14 (4,5%) tino (61,5%, n=8). O fígado esteve representado em
30,8% dos casos de neoplasias deste sistema (n=4) e
Neoplasia da glândula apócrina 10 (3,2%)
o estômago em 1 caso (7,7%). As neoplasias melâni-
Neoplasia da glândula ceruminosa 2 (0,6%) cas com sede na cavidade oral foram englobados nos
tumores melânicos.
Total 312 (100%)

1.8 – Sistema Nervoso


1.4 – Neoplasias dos aparelhos genital e urinário
Neste grupo de neoplasias não estão incluídos os
Este grupo de neoplasias correspondeu a 8,7%
tumores dos nervos periféricos, que estão classificados
(n=155) da totalidade dos tumores em canídeos, em
juntamente com os tumores mesenquimatosos da pele
que o aparelho urinário apenas esteve representado em
e tecidos moles. Representou 0,8% (n=15) das neo-
0,6% dos casos.
plasias estudadas, com origem em vários tecidos do
Dadas as características do aparelho genital, fez-se
Sistema Nervoso Central.
um estudo diferenciado para machos e para fêmeas.
No macho, foram dominantes os tumores do testí-
1.9 – Glândulas Endócrinas
culo (68,4%). As neoplasias do pénis e prepúcio foram
Neste grupo incluímos neoplasias da glândula tiróide
exclusivamente tumores venéreos transmissíveis (TVT)
(n=3), adrenal (n=2) e pâncreas exócrino (n=3). Repre-
com 20,3% de frequência. Os tumores da próstata
sentaram 0,4% (n=8) das neoplasias que afectaram os
representaram 11,4% das lesões analisadas.
canídeos estudados.
Nas fêmeas, a vagina revelou-se como estrutura ana-
tómica mais afectada, manifestando neoplasias na sua
1.10 – Aparelho Respiratório
maior parte benignas (essencialmente fibroleiomio-
Foi o sistema menos afectado, apresentando 2 neo-
mas) representando 60% das lesões. Ainda na vagina
plasias do pulmão; representou apenas 0,1% dos tumo-
os TVT foram diagnosticados em 24,7% dos casos. O
res estudados.
ovário apresentou neoplasias em 13,8% das observa-
ções e o útero em 1,5% dos casos (Tabela 4).
2 – Distribuição das neoplasias em função da idade
Tabela 4 – Tumores dos aparelhos genital e urinário A omissão dos dados em 33,6% dos casos levou a
que este parâmetro apenas pudesse vir a ser apreciado
Sexo Neoplasia Nº (%)
em 66,4% dos casos que diagnosticámos.
Neoplasias do testículo 54 (68,4%) Alguns tumores predominaram nos animais jovens
Neoplasias do pénis e prepúcio 16 (20.3%) (com idade igual ou inferior a 2 anos), como foi o caso
Macho
Neoplasias da próstata 9 (11,4%) dos histiocitomas (56,6% das neoplasias observadas
Total 79 (100%)
em animais desta idade). Observaram-se ainda neste
grupo predomínio de papilomas (9,4%), mastocitomas
TVT 16 (24,7%)
Neoplasias da vagina (5,7%), linfomas e TVT (ambos com 6,3%). Todos os
Outros 39 (60%) outros tumores que surgiram neste grupo etário tive-
Fêmea Neoplasias do útero 1 (1,5%) ram representatividade inferior a 3,1% (Tabela 5). Não
observámos qualquer neoplasia de origem embrionária.
Neoplasias do ovário 9 (13,8%)
Entre os 3 e os 8 anos predominaram os tumores da
Total 65 (100%) glândula mamária (32,8% dos tumores nesta idade),
seguidos pelos mastocitomas (12,4%), pelos tumores
1.5 – Sistema Hematopoiético conjuntivos (8,1%), linfomas e neoplasias do folículo
As neoplasias do sistema hematopoiético constituí- piloso ambos com 6%, os CCE (4,1%), os histiocito-

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Tabela 5 – Distribuição etária das neoplasias deste grupo). Seguiram-se as neoplasias das glândulas
≥9 hepatóides (7,9%), neoplasias do tecido conjuntivo
Neoplasia ≤ 2 anos 3 a 8 anos anos Total (6,6), do testículo (6,4%), do folículo piloso (4%) CCE
Neoplasias da (3,7%) e neoplasias das glândulas sebáceas com 3,1%.
glândula mamária 1 153 228 382 Todos os outros tumores tiveram uma representativi-
Histiocitomas 90 18 4 112 dade inferior a 3% (Tabela 5).
Mastocitomas 9 58 30 97
3 – Influência do sexo
Papilomas 15 12 1 28 Por falta de informação sobre este parâmetro, não
Neoplasias das podemos processar informação em 1,9% dos casos.
glândulas hepatóides 1 11 43 55 As neoplasias observadas predominaram nas fêmeas
Tumor venéreo (61%), provavelmente devido à elevada frequência
transmissível 10 13 3 26 das lesões da glândula mamária. Além das lesões neste
Hemangiopericitoma 0 6 16 22 órgão, não nos foi possível observar predisposição
Neoplasias do sexual relativamente à ocorrência de outras neoplasias.
testículo 3 7 35 45
Neoplasia do ovário 1 2 3 6 4 – Distribuição das neoplasias por raça
Não tivemos informação acerca deste parâmetro em
Neoplasias do tecido
conjuntivo 5 38 36 79 12,16% dos casos. Nos restantes, a raça indeterminada
foi aquela que predominou na amostra, sendo também
Neoplasias vasculares 2 15 13 30
aquela que apresentou maior casuística de neoplasias
Linfomas 10 28 14 52 (25,86%) (Gráfico 5).
Carcinoma de células Relativamente à distribuição das neoplasias por
escamosas 3 19 20 42 raças puras, os animais de raça Caniche foram aqueles
Neoplasias melânicas 1 10 14 25 em que o maior número de tumores foi diagnosticado
Neoplasias das (13,47%), seguida dos de raça Boxer (10,56%), Cocker
glândulas apócrinas 3 4 2 9 (8,5%), Pastor Alemão (4,39%), Dobermann (2,34%)
Neoplasias da e Perdigueiro Português (2%). Todas as outras raças
próstata 0 2 7 9 estiveram representadas em menos de 2% dos tumores
Neoplasias do
estudados no nosso Laboratório.
folículo piloso 3 28 22 53
Neoplasias do
músculo 1 9 11 21
Neoplasias do nervo
periférico 0 2 7 9
Neoplasias das
glândulas sebáceas 0 5 17 22
Neoplasias da
glândula de
Meibomio 0 7 4 11
Neoplasias do útero 0 0 3 3
Neoplasias da vulva
e vagina 0 3 7 10
Neoplasias do Gráfico 5 – Distribuição das neoplasias por raça
sistema nervoso 0 6 0 6
Neoplasias do osso e Discussão
articulações 1 11 7 19
Total 159 480 550 1189 Os estudos de prevalência tumoral no nosso país,
referem-se a períodos pouco recentes (Durão e Santos,
Nota: o total das neoplasias apresentadas nesta tabela não é sobreponível 1975; Santos, 1976; Monteiro e Clemente, 1978; Bap-
aos os valores apresentados nas tabelas anteriores, porque só estão regis-
tados os casos em que a idade foi referida. tista e Silva, 1985; Gomes, 1987; Nunes, 1988/89;
Silva, 1989), pelo que as autoras se propuseram a ela-
mas (3,9%) e os tumores vasculares (3,2%). Todos os borar um estudo retrospectivo das neoplasias em caní-
outros tumores tiveram uma representatividade inferior deos recebidas durante 6 anos no Laboratório de His-
a 3 % (Tabela 5). tologia e Anatomia Patológica da UTAD. Neste estudo
Os animais geriátricos (com idade igual ou superior foi realizada a distribuição dos tumores por raça, sexo,
a 9 anos), continuaram a apresentar predominância de idade e sistemas.
neoplasias da glândula mamária (41,7% das neoplasias Pela situação geográfica do nosso laboratório, a

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maior parte das análises que recebemos para exame preconizado. Os TVT são tumores de características
histopatológico são provenientes do Norte de Portugal, enzoóticas em diversas zonas do mundo, principal-
ao contrário das referidas nos trabalhos por nós con- mente tropicais, subtropicais e nos países mediter-
sultados e acima referidos. Pela quantidade e variedade rânicos. A quimioterapia e a radioterapia são muito
de tumores que nestes 6 anos foram enviados ao nosso eficientes na sua resolução, e estas lesões podem
laboratório, consideramos ser este trabalho importante mesmo regredir espontaneamente (Brealey, 1995). Por
para a actualização da realidade das neoplasias em isso esta neoplasia raramente é enviada para estudos
canídeos no nosso país. de anatomia patológica, podendo por isso a baixa fre-
A raça Caniche foi a raça pura que apresentou maior quência por nós observada não se reflectir na realidade
número de neoplasias diagnosticadas (13,47%; n=236), clínica.
na nossa amostra, predominada pelos animais de raça O estudo das neoplasias por aparelhos e sistemas
indeterminada. baseou-se na actual classificação histológica da OMS
A única lesão neoplásica para a qual observámos (Slayter et al.,1994; Hendrick et al., 1998; Golds-
predisposição sexual foi a da glândula mamária, para chmidt et al., 1998; Kennedy et al., 1998; Koestner
as fêmeas, facto já referido por Mialot e Lagadic, em et al., 1999; Dungworth et al., 1999; Misdorp et al.,
1990. 1999; Valli et al., 2002). A nossa amostra apresentou
Nos animais domésticos, a prevalência de neoplasias um predomínio das neoplasias da glândula mamária
aumenta com a idade, existindo, contudo um ligeiro seguidas pelas lesões da pele (quer tumores epiteliais e
decréscimo em idades extremas. Com poucas excep- melanocíticos quer tumores mesenquimatosos da pele
ções, esta relação entre a idade e as neoplasias aplica- e tecidos moles), dados semelhantes aos registados por
se à maioria dos tipos neoplásicos e respectivos locais Mialot e Lagadic no seu trabalho de 1990.
de ocorrência (Dorn e Priester, 1987; Misdorp, 1990). De todas as neoplasias observadas no cão, os his-
No estudo da distribuição das lesões neoplásicas por tiocitomas (com 8,8%) foram as neoplasias mais fre-
idade observámos um pico de neoplasias aos 11 anos quentes, logo após as da glândula mamária, tendo sido
de idade. Estes dados são semelhantes aos observados observados sobretudo em animais com idade inferior a
por Mialot e Lagadic (1990), que registaram o pico dois anos; foram as lesões mais frequentes no grupo
de incidência das neoplasias aos 10 anos. Por ter sido das neoplasias mesenquimatosas da pele e tecidos
omitido este parâmetro em 33,6% das análises por nós moles, assim como de todas as neoplasias cutâneas
observadas, a distribuição por idade poderá não corres- (18,5%). Estes valores foram superiores aos observa-
ponder inteiramente à realidade. dos por Gorman e Dobson (1995), que referem ser os
Nos animais jovens (com idade igual ou inferior a 2 histiocitomas 10% de todos os tumores cutâneos do
anos), observámos uma predominância do diagnóstico cão.
de histiocitomas e de papilomas, o que está de acordo Os tumores com origem no tecido conjuntivo foram
com o referido por Estrada (1993). os terceiros mais frequentes no nosso estudo (8,2%),
No grupo dos animais abrangidos pelo estudo, a seguidos pelos mastocitomas, que representam 7,2%
frequência dos tumores da glândula mamária, das de todas as neoplasias observadas e 15,2% das neo-
glândulas hepatóides, do testículo, do ovário, do tecido plasias da pele. Estes dados são mais elevados que
conjuntivo, dos tumores melânicos e dos carcinomas os registados por Walder (citado por Walder e Gross,
de células escamosas aumentou com a idade, predomi- 1992), mas estão de acordo com os valores referidos
nando no grupo de animais geriátricos. por Lemarié et al.(1995). Estas divergências poderão
Após os tumores da glândula mamária, os mastoci- ser reflexo da população de referência em cada um dos
tomas foram as neoplasias com maior frequência nos estudos, da situação geográfica ou de factores induto-
animais adultos, com uma idade média de 8 anos, res da neoplasia em causa.
como o observado por Lemarié et al. (1995), por As lesões das glândulas hepatóides foram o 5º tipo
Pulley e Stannard (1990) e por Gorman e Dobson de neoplasia mais frequente (5,2%), mas dentro do seu
(1995). grupo histológico (as neoplasias epiteliais e melano-
Os hemangiopericitomas, os tumores do útero e da cíticas da pele), foram o tipo tumoral predominante.
próstata só foram observados em animais adultos. Neste grupo de neoplasias, o CCE é a segunda neopla-
Nielsen e Kennedy (1990) referem que os TVT são sia mais frequente, e a 7ª (3%) de todas as observadas
neoplasias mais comuns nos animais sexualmente no cão. Estas observações em relação a estes dois tipos
activos e Rogers (1997) observou uma maior incidên- neoplásicos estão de acordo com o referido por Godsh-
cia desta lesão entre os 4 e 5 anos. No nosso estudo, midt et al. (1999). Os estudos de Gorman e Dobson
este tipo tumoral foi mais frequente em animais com (1995) referem os CCE como o tumor maligno mais
idade igual ou inferior a 2 anos e no grupo de animais comum da pele dos cães, representando entre 4 e 8 %
adultos (entre 3 e 8 anos com 3,1%), podendo esta dis- de todos os tumores cutâneos destes animais, dados
tribuição não estar apenas de acordo com a actividade mais elevados que os apresentados por nós.
sexual dos animais, mas também ser o reflexo de uma Neste estudo, os linfomas foram o 6º tipo de neo-
detecção precoce e do tipo de tratamento actualmente plasia mais observada (3,9%), e o mais frequente do

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sistema hematopoiético, o que também foi referido por Julgamos, por tudo isto, ser este trabalho um ponto
Moulton e Harvey (1990). de partida para outros estudos, e esperamos contribuir
Os papilomas representaram 4,7% de todas as neo- para o conhecimento das lesões neoplásicas dos caní-
plasias cutâneas (embora represente 12,8% das neo- deos domésticos que ocorrem na nossa região e no
plasias epiteliais e melanocíticas da pele), dados dis- nosso país.
cordantes dos observados por Walder e Gross (1992)
e por Pulley e Stannard (1990), que se referem a esta
Agradecimentos
patologia como sendo uma neoplasia pouco frequente,
representando apenas 1 a 2,5 % das neoplasias cutâ-
Não queremos deixar de agradecer a todas as nossas
neas. A maioria dos papilomas observados eram lesões
colegas que desempenham ou desempenharam funções
compatíveis com etiologia vírica. Este dado, em con-
de Anatomopatologistas no Laboratório de Histologia
junto com a elevada frequência desta lesão em relação
e Anatomia Patológica da UTAD, e que com o diag-
aos autores por nós consultados, alerta-nos para o facto
nóstico colaboraram para o conhecimento e casuística
de podermos estar perante uma situação de transmissão
que nos permitiram elaborar este trabalho. Assim,
e propagação do vírus em causa, no nosso país.
agradecemos à Profª Doutora Anabela Alves, Drª Paula
As neoplasias dos aparelhos genital e urinário cor-
Robrigues, Profª Doutora Helena Vala, Drª Justina Oli-
responderam a 9% do total dos tumores observados
veira, Drª Maria de Lurdes Pinto, Drª Adelina Gama,
nos canídeos, havendo natural diferença nos orgãos
Drª Maria do Carmo Topa e Drª Patrícia Pereira. Agra-
afectados em função do sexo. Nos machos o predo-
decemos ainda, e de forma muito especial, ao pessoal
mínio das lesões ocorreu no testículo e nas fêmeas na
técnico e auxiliar nas pessoas da D. Lígia Lourenço
genitália externa, afectada principalmente por TVT,
Bento, D. Ana Plácido e D. Glória Milagres.
tal como foi referido por Phillips (1999), os restantes
Ao Dr. Pedro R. Ferreira de Carvalho e ao Prof.
orgãos deste sistema registaram poucas lesões. O rim
Doutor Carlos Lopes endereçamos o nosso especial
foi o orgão menos afectado.
agradecimento pela disponibilidade sempre demons-
Como já foi mencionado previamente, a glândula
trada no esclarecimento de dúvidas e auxílio prestado
mamária foi o orgão que registou maior número de
no diagnóstico de situações mais raras, ou casos mais
neoplasias (36,3%), o que está de acordo com o refe-
duvidosos. À Profª Doutora Rita Payan, ao Prof Doutor
rido na bibliografia por nós consultada (Jones et al.,
Jorge Colaço e à Prof. Doutora Raquel Chaves, pelos
1997; Misdorp et al., 1999). Observámos uma clara
valiosos comentários.
predominância destas lesões em fêmeas relativamente
aos machos, sendo os tumores mamários no macho de
grande agressividade. Bibliografia
As neoplasias do osso e articulações apenas repre-
sentaram 1,7% da nossa amostra. O sistema nervoso Baptista, R e Silva, M.C. (1985). Blastomas dos Animais. Dados
Estatísticos. Rep. Trab. L.N.I.V., XVII, 95-110.
esteve representado em 0,8% das neoplasias obser- Brealey, M.J. (1995). The Urogenital System. In Manual of Small
vadas, o sistema digestivo em 0,7%, as glândulas Animal Oncology. British Small Animal Veterinary Associa-
endócrinas em 0,4% e o sistema respiratório em 0,1%. tion. Worthing, West Sussex. 297-314.
Todos estes valores são muito inferiores aos referen- Dorn, C.R. e Priester, W.A. (1987). Epidemiology. In Veterinary
ciados por White (1995), McGlennon (1995) e Nelson Cancer Medicine. Gordon H. Theilen, Bruce R. Madewell,
e Feldman (1995). Lea & Febiger (Philadelphia). 27-35
Dungworth, D.L., Hauser, B., Hahn, F.F., Wilson, D.W., Haen-
Em comparação com estudos efectuados por outros ichen, T. e Harkema, J.R. (1999). Histological Classification
autores, podemos concluir que a distribuição de lesões of Tumors of the Respiratory System of Domestic Animals.
neoplásicas espontâneas nos canídeos domésticos nem Ed. Armed Forces Institute of Pathology. American Registry
sempre é igual àquelas observadas noutros países, o of Pathology. (Washigton, D.C.). Vol.VI
que torna importante o seu estudo e comparação. Durão, J.C. e Santos, Z. (1975). Blastomas dos Animais Domésti-
cos. Dados Estatísticos. Rep. Trab. L.N.I.V., VII, 117-127.
A frequência das neoplasias aumenta com a idade
Estrada, M. (1993). Tumeurs du Jeune Chien Congres CNVSPA,
sendo mais frequente nas fêmeas que nos machos, em 81-85
consequência da elevada frequência das neoplasias da Goldshmidt, M.H., Dunstan, R.W., Stannard, A.A., von Tschar-
glândula mamária. O pico etário com maior frequência ner, C., Walder, E.J. e Yager, J.A. (1998). Histological
de neoplasias para os canídeos registou-se aos 11 anos. Classification of Epithelial and Melanocitic Tumors of the
Observámos neoplasias características dos animais Skin of Domestic Animals. Ed. Armed Forces Institute of
Pathology. American Registry of Pathology. (Washigton,
jovens (como os histiocitomas e os papilomas), e D.C.). Vol.III.
outras cuja frequência aumenta com a idade dos ani- Gomes, M.J.S. (1987). Blastomas dos Animais Domésticos no
mais. Algarve. Dados Estatísticos. Rep. Trab. L.N.I.V., XIX,
Não encontrámos qualquer predisposição racial 91-102.
relevante e a distribuição das neoplasias relativa a este Gorman, N.T., Dobson, J.M. (1995) The Skin and Associated Tis-
parâmetro é sobreponível com a distribuição da popu- sues. In Manual of Small Animal Oncology. British Small
Animal Veterinary Association. Worthing, West Sussex.
lação de referência. 187-200.

117
Pires, M.A. et al. RPCV (2003) 98 (547) 111-118

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118
RPCV (2003) 98 (547) 119-124 REVISTA PORTUGUESA
DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Development of a Fluorescent In Situ Hybridization protocol for the rapid


detection and enumeration of Listeria monocytogenes in milk

Desenvolvimento de um protocolo de “Fluorescent In Situ Hybridization”


para a detecção rápida e contagem de Listeria monocytogenes em leite
Manuela Oliveira, Gonçalo Andrade, Manuela Guerra e Fernando Bernardo*

Laboratório de Inspecção Sanitária - CIISA, Faculdade de Medicina Veterinária, Rua Prof. Cid dos Santos,
Polo Universitário do Alto da Ajuda, Lisboa, Portugal

Summary: A rapid method for the specific detection and enu- Introduction
meration of Listeria monocytogenes in milk was developed. This
method is based on Fluorescent In Situ Hybridization (FISH),
using a fluorescent 19-mer oligonucleotide probe, homologous Listeria monocytogenes is a foodborne pathogen
to 16S rRNA of L. monocytogenes, and adapted from a dot-blot able of causing either outbreaks or sporadic episodes
hybridization technique (Wang et al., 1991). The protocol was of listeriosis. The organism has been incriminated in
established through the hybridization of 68 reference strains, foodborne diseases promoted by a wide variety of
and tested against 114 Listeria cultures isolated from food and food products, in many countries, since the 1980s
environmental samples, including L. monocytogenes, L. innocua,
L. ivanovii, L. grayi, L. seeligeri and L. welshimeri. The probe (Sutherland and Porritt, 1997). In 1997, the worldwide
hybridized specifically to all L. monocytogenes serovars, and no incidence was two to five cases/million population
cross hybridization was observed with any of the other strains (Rocourt and Cossart, 1997), and although infection
tested. The protocol was then applied to the direct detection of can be treated successfully with antibiotics, between
L. monocytogenes in natural and artificially contaminated milk 20 and 40% of the cases are fatal (McLauchlin, 1996).
samples, and the relation between the traditional plating method
and FISH cell counting was evaluated. Results show that FISH Recently in the United States, listeriosis was estimated
is a promising technique for the rapid detection and enumeration as the second largest identified cause of death from a
of L. monocytogenes in food and environmental samples, allo- foodborne disease (Mead et al., 1999), which justifies
wing positive identification in approximately seven hours, with the continued analysis of the causative organism, L.
a consumable cost of 0.45 to 3.0 euro, depending on the number monocytogenes.
of simultaneously processed samples.
The development of methods for the rapid detection
Resumo: Foi desenvolvido um método rápido para a detecção of L. monocytogenes in food is therefore critical for
específica e contagem de Listeria monocytogenes em leite. Este ensuring food safety. Traditional plating methods are
método baseia-se na técnica Fluorescent In Situ Hybridization well established, but complex and time consuming.
(FISH), e recorre a uma sonda fluorescente de 19 oligonucleó- They depend upon the obtention of pure cultures and
tidos, homóloga ao 16S rRNA de L. monocytogenes, e adaptada
de uma técnica de hibridação dot-blot (Wang et al., 1991). O include long steps of pre-enrichment, enrichment,
protocolo foi estabelecido através da hibridação de 68 estirpes selection and identification. For L. monocytogenes,
de referência, e testado em 114 isolados de Listeria obtidos positive results are only obtained after 5 days. Scien-
a partir de amostras de alimentos e ambientais, incluindo L. tific advances over the past years resulted in the deve-
monocytogenes, L. innocua, L. ivanovii, L. grayi, L. seeligeri e lopment of faster, more sensitive and more specific
L. welshimeri. A sonda hibridou especificamente com todas as
serovariedades de L. monocytogenes, não se tendo observado methods for the detection of pathogenic microorga-
hibridações cruzadas com as outras estirpes. O protocolo foi nisms. These methods, which include immunomag-
aplicado à detecção directa de L. monocytogenes em amostras de netic techniques, biochemical kits (Olsen et al., 1995)
leite naturais e contaminadas artificialmente, e a relação entre o and molecular techniques, such as PCR (Jaton et al.,
método de plaqueamento tradicional e a contagem de células por 1992; Lantz et al., 1994; Wang et al., 1997; Ingianni
FISH foi avaliada. Os resultados demonstram que esta técnica é
promissora para a detecção rápida e contagem de L. monocyto- et al., 2001) and FISH, eliminate the need for pure
genes em amostras de alimentos e ambientais, permitindo a sua cultures and give results in 3-8 hours.
identificação positiva em aproximadamente sete horas, com um The FISH technique, already applied to clinical
custo entre 0,45 e 3,0 euro, dependendo do número de amostras investigation of faeces (Sghir et al., 2000), urine
processadas simultaneamente. and blood, and to the microbiological analysis of
water (Kenzaka et al., 1998), soils, activated sludges
* Corresponding author: e-mail: bernardo@fmv.utl.pt; telephone (Wagner et al., 1994) and biofilms (Poulsen et al.,
213652846, fax 213652882. 1993), is based on the hibridization of specific geno-

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Oliveira, M. et al. RPCV (2003) 98 (547) 119-124

mic sequences of a microorganism, with a fluorescent FISH technique


labelled-probe. It usually involves four steps: sample
fixation and permeabilization; hibridization of the Ten-well teflon-coated slides (Heinz Herenz, Ham-
target sequence and the fluorescent probe; stringency burg, Germany) were covered with a 2 % 3-trimetho-
washes; and detection of the hibridized cells (Amann xysilylpropylamine solution (Merck Sharp & Dohme,
et al., 2001). Lisbon, Portugal) in acetone; 10 µl of fixed bacteria
The purpose of this study was to develop a FISH were placed on the wells, air-dried and dehydrated
protocol for the specific detection of L. monocytogenes in 70 and 96 % ethanol, for two minutes each. After
in approximately seven hours; to evaluate its applica- drying, 10µl of hybridization buffer (0.7 M NaCl,
bility for the direct detection and enumeration of this 0.1 M Tris-HCl pH 8.0, 0.1 % SDS, 10 mM EDTA)
pathogen in food samples; and to evaluate the relation containing 5 ng/µl of probe were added. The slides
between the traditional plating method and FISH cell were incubated in a moisture chamber (45 ºC, 4 h),
counting. and washed in hybridization buffer (45 ºC, 15 mins).
Afterwards, they were rinsed in distilled H2O and
mounted in Vectashield Mounting Medium (Vector
Materials and Methods Laboratories, Inc., Burlingame, U.S.A.) containing
0.5 µg/µl of 4’-6-diamidino-2-phenylindole (DAPI)
Bacterial strains and culture methods (Sigma-Aldrich Química, S.A., Sintra, Portugal). All
assays were performed in duplicate. The hybridized
In this study 68 reference strains of different bac- bacteria were visualized by fluorescence microscopy
teria species were used, including 24 Listeria strains, at x1000 magnification (Objective HCX PLAN APD)
17 of which correspond to different serotypes of on a Leica DMR microscope equipped with a 100 W
L. monocytogenes (Table 1). Ninety-two other L. mercury lamp and an I3 filter (Leica Microsistemas
monocytogenes isolates, previously identified and sero- Lda, Lisboa, Portugal). Non-hybridized bacteria were
typed (Guerra et al., 2001), were also used. Seventy- located using DAPI staining and identified by obser-
two of the isolates were recovered from food and 20 vation through an A filter (Leica Microsistemas Lda,
from environmental samples. Isolates belong to four Lisboa, Portugal). Images were captured with a Leica
serovars: 1/2a (11 isolates), 1/2b (23 isolates), 3b (2 DC200 camera.
isolates), 4b (56 isolates). Other Listeria species were
also included: L. innocua (5 isolates), L. ivanovii (3 Direct detection in milk samples and bacteria quan-
isolates), L. grayi (4 isolates), L. seeligeri (4 isolates) tification
and L. welshimeri (6 isolates) (Table 2). All cultures
were grown in Tryptone Soya Agar (TSA) (CM0131, Tenfold dilutions from natural and artificially con-
Oxoid, Hampshire, England). taminated sheep milk inoculated with 0.5 McFarland
suspensions (1.5 x 108 bacteria/ml) (bioMérieux, Marcy
Fixation of bacteria L’Etoile, France) of L. monocytogenes 4b CECT935,
were performed. One ml of each was simultaneously
Overnight cultures grown in TSA (CM0131, Oxoid, plated through incorporation on Palcam Agar (CM877,
Hampshire, England) were resuspended in 1000µl of Oxoid, Hampshire, England) and directly fixed for
distilled water (H2O) and centrifuged (14000 rpm, FISH as described. The plates were incubated at 37ºC
10 mins). Pellets were resuspended in 100µl of a 4% for 24 h, and the colonies counted. FISH was perfor-
paraformaldehyde solution (Merck Sharp & Dohme, med as described. Cells with positive hibridization
Lisbon, Portugal). This mixtures were incubated for 20 signal were counted on 20 microscope fields, and the
mins, centrifuged (14000 rpm, 10 mins), and washed number of cells/ml was estimated using the formula: nº
in 1000 µl of PBS. Bacteria were pelleted by centri- cells / ml = (nº cells counted / nº fields counted x well
fugation (14000 rpm, 10 mins), and resuspended in area / field area) / volume used x dilution. Assays were
distilled H2O. repeated 5 times, in duplicate.

Oligonucleotide probes

Three oligonucleotide probes were used: a Liste- Results


ria oligonucleotide probe RL-2 (Wang et al., 1991);
the universal bacteria probe Eub338 (Christensen et The FISH protocol revealed to be specific for L.
al., 1999); and a nonsense probe complementary to monocytogenes detection, since all L. monocytogenes
Eub338, Non338 (Christensen et al., 1999). Eub338 isolates showed a positive hybridization signal, and no
and Non338 were used as positive and negative con- cross-hybridization was observed (Tables 1 and 2) .
trols of the hybridization protocol, respectively. The Fifteen of the reference L. monocytogenes strains
probes were synthesized and labelled with fluorescein yielded a strong hybridization signal with the RL-2
at the 5’ end (MWG-Biotech, Ebersberg, Germany). probe. The hybridization signals of L. monocytogenes

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Oliveira, M. et al. RPCV (2003) 98 (547) 119-124

Table 1 – Reference strains tested by FISH with the specific protocol for L. monocytogenes
Species Serotype Strain Code Positive hybridisation
RL-2 Eub338 Non338
Citrobacter freundii CECT401T 0 1 0
Edwardsiella tarda CECT849T 0 1 0
Enterobacter aerogenes CECT684T 0 1 0
Enterobacter cloacae CECT194T 0 1 0
Enterococcus hirae DSMZ20160T 0 1 0
Enterococcus faecium DSMZ20477T 0 1 0
Enterococcus faecalis DSMZ20478T 0 1 0
Enterococcus gallinarum DSMZ20628T 0 1 0
Enterococcus durans DSMZ20633T 0 1 0
Enterococcus avium DSMZ20679T 0 1 0
Enterococcus casseliflavus DSMZ20689T 0 1 0
Enterococcus pseudoavium DSMZ5632T 0 1 0
Escherichia coli O127a CECT352 0 1 0
O1 CECT515NT 0 1 0
O25 CECT685 0 1 0
O111 CECT727 0 1 0
HfrK12 CECT4624 0 1 0
O157:H7 CECT4782; CDC3834 0 2 0
Klebsiella pneumoniae CECT143T 0 1 0
Klebsiella aerogenes NCTC418 0 1 0
Listeria grayi CECT931T 0 1 0
Listeria innocua CECT910T; NCTC11288 0 2 0
Listeria ivanovii CECT913T; NCTN11846 0 2 0
Listeria monocytogenes 1a CECT932; CECT4031T 2 2 0
1/2a CIP104794 1 1 0
1/2b CECT936 1 1 0
1/2c CECT 911 1 1 0
3b CECT937 1 1 0
4a CECT934 1 1 0
4b CECT935; CECT4032 2 2 0
4c CECT939; CIP78.39 2 2 0
6 CECT941 1 1 0
Others NCTC11994; L7946; L7947; L2036C; ScottA 5 5 0
Listeria seeligeri CECT917T 0 1 0
Listeria welshimeri CECT919T 0 1 0
Morganella morganii CECT173T 0 1 0
Pantoea agglomerans CECT850T 0 1 0
Proteus mirabilis CECT4168T 0 1 0
Proteus vulgaris NCTC4175 0 1 0
Pseudomonas aeruginosa ATCC27853 0 1 0
Salmonella anatum K84 0 1 0
derby K1205 0 1 0
dublin K65 0 1 0
enteritidis CECT4300; K64 0 2 0
heidelberg CIS154 0 1 0
infantis K158 0 1 0
newport K50 0 1 0
typhimurium CECT443; NCTC74 0 2 0
Serratia marcesens NCTC1377 0 1 0
Shigella dysenteriae CECT584T; NCTC4837 0 2 0
Staphylococcus aureus ATCC25923 0 1 0
Staphylococcus Epidermidis NCTC4276 0 1 0
Streptococcus faecalis NCTC5213 0 1 0
Streptococcus faecium NCTC1377 0 1 0
Yersinia enterocolitica CECT4315T 0 1 0

ATCC – American Type Culture Collection; CDC – Central Disease Control; CECT – Colección Española de Cultivo Tipo; CIS – WHO Collaborating Centre for Reference and Research
on Salmonella, Collection de l’Institut Pasteur; DSMZ – Deutsch Sammlung für Mikroorganismen; K – Statens Seruminstitut; NCTC – National Collection Type Cultures.

121
Oliveira, M. et al. RPCV (2003) 98 (547) 119-124

Table 2 – Bacterial strains isolated from food and environmental samples and tested with the specific FISH protocol for L. monocyto-
genes
Origin Species Serotype Total Positive Hybridisation
RL-2 Eub338 Non338
Environment Seagull L.monocytogenes 1/2a 1 1 1 0
Faeces 1/2b 4 4 4 0
4b 13 13 13 0
L. welshimeri 2 0 2 0
Silages L.monocytogenes 4b 2 2 2 0
L. innocua 2 0 2 0
Food Milk L.monocytogenes 1/2a 1 1 1 0
1/2b 8 8 8 0
L. innocua 1 0 1 0
L. ivanovii 3 0 3 0
L. seeligeri 1 0 1 0
Turkey L.monocytogenes 1/2a 1 1 1 0
1/2b 1 1 1 0
L. grayi 2 0 2 0
L. welshimeri 4 0 4 0
Fish L.monocytogenes 1/2a 1 1 1 0
1/2b 1 1 1 0
4b 35 35 35 0
Meat L.monocytogenes 1/2b 7 7 7 0
4b 6 6 6 0
L. grayi 2 0 2 0
L. innocua 2 0 2 0
L. seeligeri 3 0 3 0
Chicken L.monocytogenes 1/2a 7 7 7 0
1/2b 2 2 2 0
3b 2 2 2 0

Table 3 – Determination of the bacteria concentration through none hybridized with Non338 (Table 2).
the conventional methods and the FISH technique (bacteria/ml) The applicability of the FISH protocol for the direct
Milk Samples Quantification L. monocytogenes 4b detection and enumeration of L. monocytogenes
method in food samples was also tested. The protocol was
Natural Plating 0 applied to milk samples, and it allowed the detection
FISH 0 and enumeration of bacteria in the contaminated sam-
Inoculated Plating 9.0 x 10 (± 4.1 x 106)a
7 ples. The bacteria quantification obtained by the FISH
technique and the conventional bacteriological method
FISH 2.0 x 109 (± 5.0 x 108)b
were studied, by comparing results obtained by colony
The results correspond to the average values from 5 assays,
a,b counting and by the number of hybridized cells in 20
performed in duplicate (± standard deviation). microscope fields. It was found that the FISH techni-
que could count 100 x more bacteria than the plating
CECT941 and L. monocytogenes L2036C were posi-
method (Table 3).
tive, but weak. No cross hybridization was observed to
any of the other non-L. monocytogenes strains tested.
All 68 reference strains were able to hybridize with Discussion
Eub338, and none hybridized with Non338 (Table 1).
The applicability of the FISH technique to detect A specific FISH protocol for the rapid detection
bacterial strains isolated from food and environmental and enumeration of L. monocytogenes was developed,
samples was tested against 114 Listeria cultures, inclu- using a fluorescent 19-mer oligonucleotide probe,
ding 92 L. monocytogenes samples, corresponding homologous to 16S rRNA of L. monocytogenes (Wang
to different serotypes. All L. monocytogenes cultures et al., 1991). Although this probe was originally used
showed positive hybridization signal with RL-2 (Fig. in a dot-blot hybridization technique, its characteris-
1A), and no cross hybridization was observed with any tics were ideal for application in FISH: it is specific
of the other Listeria strains tested (Fig. 1B and 1C). for L. monocytogenes (Wang et al., 1991); its target
All strains were able to hybridize with Eub338, and is the 16S rRNA subunit, a conserved gene, present in

122
Oliveira, M. et al. RPCV (2003) 98 (547) 119-124

A B C

Figure 1. Applicability of the FISH protocol.


(A) After hybridization with RL-2, L.monocytogenes 3b isolated from chicken (F10) showed a positive hybridization signal. Clum-
ping effect can be observed ( ).
(B) L.welshimeri (R48-b1) isolated from turkey showed a negative hybridization signal.
(C) The L.welshimeri (R48-b1) cells were located using DAPI staining.

a high number of copies in the cell (> 104 copies per This protocol was tested against 68 reference strains,
cell), which represent enough targets so that the cell including 24 Listeria strains, 17 of which correspond
becomes visible through FISH (Amann et al., 1995); to different serotypes of L. monocytogenes. Only L.
its size, 19 oligonucleotides, allows the penetration monocytogenes strains were able to hybridize with RL-
through the cell wall, reducing the time and the tem- 2, and no cross hybridization was observed with any
perature required for hybridization; and its melting of the other strains tested. Fifteen L. monocytogenes
temperature, determined by the G+C content, is 48 ºC, strains yielded a strong hybridization signal with RL-
in accordance with the recommended range of 60 ºC ≥ 2, and the hybridization signal of L. monocytogenes
Tm ≥ 46 ºC (Fuchs et al., 1998; Fuchs et al., 2000). CECT941 (serovar 6) and L. monocytogenes L2036
The protocol was established through the hybridi- was positive, but weak. Differences between the inten-
zation with reference strains. The first step was the sity in the hybridization signal might be related with
fixation of the bacterial cells, which should be done differences in the ribosome content of the cell (Amann
in the exponential growth phase, in order to guarantee et al., 1995).
the maximum number of ribosomes (Rice et al., 1997). The protocol was applied to 114 Listeria indigenous
This step is crucial, since it allows the immobilization isolates, obtained from food and environmental samples,
of the cells, facilitates the penetration of the probe, including 92 strains of L. monocytogenes, corresponding
protects the ribosomes from degradation by endoge- to four serovars. All L. monocytogenes cultures showed
nous RNase activity, and maintains the morphological positive hybridization signals and no cross hybridization
structure of the cells (Amann et al., 1995). There are was observed to any of the other Listeria species tested.
several protocols for the fixation of the cells. We used After its optimisation, the FISH protocol was applied
a paraformaldehyde solution, with an additional step of to the direct detection in milk samples. To evaluate
permeabilisation of the membrane through dehydration weather or not this technique could be implemented
in 70 and 96 % ethanol. This additional step is someti- in food safety analysis, it was necessary to estimate
mes necessary, in order to allow the penetration of the the relation between CFU and the FISH cell counting.
probe (Meier et al., 1999). With that purpose, tenfold dilutions from natural and
The next step was the hybridization of the probe artificially contaminated sheep milk were simultane-
and the target sequence. The probe was diluted in a ously analysed by the conventional method and the
hybridization solution, to a concentration of 5 ng/µl FISH technique. In all assays, the sensitivity of the
(Wallner et al., 1993). This concentration should be FISH technique was 100 x superior to the plating
determined in order to allow the maximum velocity method, as already reported (Auty et al., 2001; Oli-
of hybridization and the minimum of non-specific veira and Bernardo, 2002). This can be explained by
staining (Wallner et al., 1993). The composition of the the detection of non-viable cells that still have mRNA
hybridization solution and the hybridization tempera- molecules, by the observation of individual cells,
ture determined the stringency conditions necessary even when organised in aggregates, and by variations
for the discrimination between strains with two misma- in the sample distribution along the total area of the
tches, which include the related species L. innocua and slide well, which may affect the determination of the
L. ivanovii (Wang et al., 1991), allowing the specific number of hybridized cells/ml.
detection of L. monocytogenes. The buffer used in the These results suggest that the FISH technique can
following washing step should provide the same strin- be used for the rapid and specific detection of L.
gency conditions as the hybridization buffer. This step monocytogenes in food samples, although the appli-
is crucial for the elimination of non-bonded probe and cation of this methodology to pathogen quantification
non-specific hybrids. needs to be optimised. This technique allows positive

123
Oliveira, M. et al. RPCV (2003) 98 (547) 119-124

results in approximately 7 hours, with a consumable Listeria monocytogenes in soft cheese through use of an aque-
cost of 0.45 to 3.0 euro, depending on the number of ous two-phase system as a sample preparation method. Appl.
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We thank Sergi Ferrer (Universitat Valência), Ana illness and death in the United States. Emerging Infectious
Tenreiro and Rogério Tenreiro (Faculdade de Ciências Diseases. 5, 607-625.
de Lisboa) for technical and scientific support. Meier, H., Amann, R., Ludwig, W. and Schleifer, K. H. (1999). Spe-
The work was supported by the following projects: cific oligonucleotide probes for in situ detection of a major
CIISA43, POCTI/CVT/43252/2001, POCTI/ESP/ group of gram-positive bacteria with low DNA G+C content.
System. Appl. Microbiol. 22, 186-196.
39233/2001. M. Oliveira has a PhD grant from Funda-
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124
RPCV (2003) 98 (547) 125-134 REVISTA PORTUGUESA
DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Morfometria e Ultra-Estrutura da Mucosa Intestinal de Frangos de Corte


alimentados com Dietas contendo diferentes Probióticos
Intestinal Mucosa Structure and Ultrastructure in Broilers fed with Diets
supplemented with different Probiotics
Elizabete Regina Leone Pelicano*, Pedro Alves de Souzaa, Hirasilva Borba Alves de Souzaa,
Alexandre Obab, Eduardo Antônio Norkusc, Luís Marcelo Kodawarac, Tânia Mara Azevedo de Limad
FCAV/UNESP - Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n. Departamento de Tecnologia, cep: 14884-900, Jaboticabal, SP, Brazil.

Resumo: O estudo foi conduzido com o objectivo de avaliar a significant interaction (P<0.01) in the intestinal segments for
o uso de diferentes probióticos sobre a morfometria e a ultra- crypt depth. The non administration of probiotic in drinking
estrutura da mucosa intestinal de frangos. Foram utilizadas no water has provided significantly higher villus densities in all
total 28 aves (4 aves por tratamento), distribuídas em um deli- segments of the small intestine. Thus, no beneficial effects were
neamento ao acaso em esquema factorial 3 x 2 + 1 (3 fontes seen in intestinal morphology when the probiotics were used.
de probióticos na ração, 2 níveis de concentração de probiótico
na água de bebida e 1 testemunha - controle negativo). Aos 42
dias, observou-se que as aves pertencentes ao grupo controle
apresentaram significativamente (P<0,01) uma menor altura e Introdução
perímetro de vilo no duodeno em relação as aves que receberam
os probióticos, não sendo observada esta diferença no jejuno e
no íleo. Um aumento significativo foi obtido na altura de vilo A sobrevivência e o bom desempenho das aves
(duodeno) e no perímetro (duodeno e jejuno) com o uso do pro- dependem da obtenção adequada de energia e com-
biótico na água de bebida. Observou-se a menor profundidade de postos químicos pelo organismo. Para que isso ocorra
cripta (P<0,01) com o uso do probiótico na ração contendo Sac- é necessário que o tracto digestivo apresente caracte-
charomyces cerevisiae. Houve interacção significativa (P<0,01) rísticas estruturais funcionais desde a ingestão dos ali-
na profundidade de cripta em todos os segmentos intestinais
analisados. A não administração do probiótico na água de bebida mentos até à sua absorção (Romer e Parsons, 1981).
proporcionou significativamente maiores densidades de vilo, em O sistema digestivo das aves, à semelhança do que
todos os segmentos do intestino delgado. Como conclusão, não ocorre com o sistema termorregulador e o imunoló-
foram encontrados benefícios na morfologia intestinal das aves gico, sofre um processo de maturação no período pós-
com o uso dos probióticos. eclosão, sendo que há uma maior necessidade em se
Summary: This study was conducted to evaluate the effect of estudar os seus processos de desenvolvimento.
different probiotics on the intestinal mucosa structure and ultras- Sabe-se que o desenvolvimento da mucosa intestinal
tructure of broilers chickens. 28 Cobb male chicks were distri- é decorrente de dois eventos citológicos primários
buted in a completely randomised design in a 3 x 2 + 1 factorial associados: renovação celular (proliferação e diferen-
arrangement (3 probiotic sources in the diet, 2 probiotic concen- ciação), resultante das divisões mitóticas sofridas por
trations in drinking water and 1 negative control). To the 42 days
of age, it was observed that the birds pertaining to the control células totepotentes localizadas na cripta e ao longo
group had presented significantly (P<0.01) a lesser height and dos vilos (Uni et al., 1998; Uni et al., 2000) e a perda
villus perimeter in the duodenum in relation to the birds that de células por descamação, que ocorre naturalmente
received probiotic, not being observed this difference in the jeju- no ápice dos vilos. O equilíbrio entre esses dois pro-
num and in the ileum. A significant increase was obtained in the cessos é determinado por uma taxa de renovação cons-
villus height (duodenum) and in the perimeter (duodenum and
jejunum) with the use of probiotic in drinking water. Crypts with tante e, portanto, a capacidade digestiva e de absorção
smaller depths (P<0.01) were seen with the use of a probiotic intestinal.
in the diet that contained Saccharomyces cerevisiae. There was Segundo Yamauchi e Ishiki (1991), a densidade de
vilos é diferente nas várias porções intestinais (duo-
* Correspondente: e-mail erlpelicano@yahoo.com.br. deno, jejuno e íleo), onde o número de vilos é redu-
Zootecnista, Mestre, Pós-graduanda em Produção Animal, zido aos 10 dias de idade, independente da raça. O
FCAV/UNESP. fato não implica em menor capacidade absortiva, e sim
a
Professores do Departamento de Tecnologia, FCAV/UNESP
b
Zootecnista, Mestre, Pós-graduando em Produção Animal, em maior desenvolvimento do vilo. Assim, o número
FCAV/UNESP de vilos/área é reduzido em função da idade, sendo
c
Zootecnistas observado uma redução maior no frango de corte em
d
Técnica do Laboratório de TPOA, FCAV/UNESP relação à poedeira. De acordo com Macari (1999) o

125
Pelicano, E.R.L. et al. RPCV (2003) 98 (547) 125-134

número de vilosidades e seu tamanho, bem como o de Material e métodos


microvilos, em cada segmento do intestino delgado,
conferem a eles características próprias, sendo que na Local
presença de nutrientes a capacidade absortiva do seg-
mento será directamente proporcional ao número de Este trabalho foi desenvolvido na Faculdade de
vilosidades ali presentes, tamanho dos vilos e área de Ciências Agrárias e Veterinárias - FCAV/UNESP,
superfície disponível para a absorção. Jaboticabal, São Paulo, Brasil. A fase de campo e o
Normalmente, o epitélio intestinal age como uma abate dos animais foram desenvolvidos nas dependên-
barreira natural contra bactérias patogénicas e substân- cias do Sector de Avicultura e as análises laboratoriais
cias tóxicas presentes na luz intestinal. Distúrbios na nos Laboratórios de Microscopia Ótica e Microsco-
microflora normal ou nas células epiteliais intestinais, pia Electrónica de Varredura, ambos pertencentes ao
causados por algum tipo de estresse, patógenos, subs- Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da
tâncias químicas e radiação, podem alterar a permea- referida Faculdade.
bilidade desta barreira natural, facilitando a invasão de
patógenos e outras substâncias nocivas, modificando o Animais e Maneio
metabolismo, a capacidade de digestão e absorção de
nutrientes e causando ainda inflamações crónicas na O experimento foi conduzido inicialmente com 1050
mucosa intestinal (Hofstad, 1972; Podolsky, 1993; Oli- pintainhos de corte (7 tratamentos com 5 repetições
veira, 1998). Consequentemente ocorre diminuição das de 30 aves), machos, de um dia de idade, da linhagem
vilosidades, aumento do turnover celular e diminuição comercial Cobb, sendo que, para a efectuação das aná-
da actividade digestiva e absortiva (Visek, 1978). lises de morfometria e ultra-estrutura da mucosa intes-
Como os processos de absorção de nutrientes são tinal, foram necessárias apenas 28 aves (4 animais por
totalmente dependentes dos mecanismos que ocorrem tratamento), com peso vivo médio de 2,3 kg, aos 42
na mucosa intestinal, a manipulação de microrganis- dias de idade. Os animais foram alojados em galpão,
mos probióticos (suplementos microbianos vivos for- ou pavilhão, convencional de alvenaria e distribuídos
mados por bactérias ou fungos específicos) dentro do em boxes com as dimensões de 2,75 m x 1,40 m.
tracto gastrointestinal têm sido usada com o objectivo O maneio adoptado durante a condução do experi-
de melhorias no desempenho e, consequentemente na mento foi o usualmente empregado na criação comer-
eficiência energética do intestino (Dobrogosz et al., cial de frangos de corte. Antes das aves serem alojadas
1991; Bradley et al., 1994; Spring, 1996 e Savage et colocou-se sobre o piso de alvenaria do galpão cama
al., 1997). de maravalha de ± 5 cm de espessura e, posteriormente
A acção dos probióticos pode ser explicada através comedouros tubulares infantis e bebedouros de alu-
de alguns mecanismos como a produção de substân- mínio de pressão. A fonte de aquecimento fornecida
cias antimicrobianas e ácidos orgânicos, protecção aos para as aves nos primeiros dias de criação foi feita
vilos e superfícies absortivas contra toxinas produzidas através da utilização de lâmpadas de infravermelho.
por microrganismos patógenos, bem como estímulo ao Da segunda até a sétima semanas de idade, os equipa-
sistema imune (Vicent, 1959; Dobrogosz et al., 1991; mentos infantis foram substituídos pelos definitivos; ou
Walker e Duff, 1998). De acordo com alguns autores, seja, comedouros tubulares com capacidade para 20 kg
a utilização dos probióticos propiciaria a colonização e bebedouros automáticos pendulares.
do tracto digestivo, mantendo ou incrementando a flora As vacinações efectuadas foram: no 5o dia contra
natural dele, prevenindo a colonização de microrganis- a doença de Gumboro e no 15o dia contra Gumboro
mos patogénicos e mantendo a óptima utilização dos (reforço) e doença de Newcastle, ambas aplicadas
alimentos (Fuller, 1989; Vanbelle et al., 1990; Houdijk directamente nos olhos dos animais.
et al., 1999). A temperatura ambiental e a humidade relativa do
Relatos de Cook e Bird (1973) indicam que aves ar foram registradas diariamente, procedendo-se ao
criadas em ambientes livres de patógenos apresentam maneio adequado de cortinas e ventiladores para a
uma redução na altura de vilos, bem como na profun- garantia do conforto térmico dos animais. A água e a
didade de cripta, sugerindo que o crescimento normal ração foram fornecidas ad libitum.
do epitélio intestinal dependa também do equilíbrio
da microbiota ali residente. Assim, a integridade da Maneio alimentar
mucosa do tracto gastrointestinal conferiria ao frango
de corte condições adequadas para a digestão e absor- O abastecimento dos comedouros com ração foi feito
ção dos nutrientes. através do uso de conchas específicas para cada trata-
Desta forma, o objectivo deste trabalho foi avaliar a mento, tomando-se assim o devido cuidado para que os
influência de diferentes probióticos (na água de bebida microrganismos de um tratamento não contaminassem
e na ração) sobre as características morfométricas e o outro, sendo este mesmo procedimento adoptado
ultra-estruturais do tracto intestinal das aves (altura e com o material de limpeza necessário para a lavagem
perímetro de vilo, profundidade de cripta e densidade dos bebedouros.
de vilos/área). As aves receberam durante todo o período de criação
126
Pelicano, E.R.L. et al. RPCV (2003) 98 (547) 125-134

ração (a base de milho e soja) e água ad libitum, sendo tura de Bacillus subtilis (1,6 x 109 UFC/g do produto) e
que este período foi divido em três fases: fase inicial Bacillus licheniformis (1,6 x 109 UFC/g do produto);
(1 a 21 dias), onde as aves receberam uma dieta inicial 5 - probiótico adicionado na ração contendo uma mis-
contendo 2944 kcal/kg de ração de energia metabolizá- tura de Bacillus subtilis (1,6 x 109 UFC/g do produto)
vel e 23% de proteína bruta, 1,285% de lisina, 0,537% e Bacillus licheniformis (1,6 x 109 UFC/g do produto)
de metionina, 1,001% de Ca e 0,481% de P total. A e probiótico adicionado na água de bebida contendo
dieta de crescimento (22 a 35 dias) continha 3100 Lactobacillus reuteri (6,6 x 109 UFC/g do produto) e
kcal/kg de ração de energia metabolizável e 20% de Lactobacillus johnsonii (3,3 x 109 UFC/g do produto);
proteína bruta, 1,074% de lisina, 0,388% de metionina, 6 - probiótico adicionado na ração contendo Saccha-
0,913% de Ca e 0,377% de P total, enquanto que a romyces cerevisiae (8 x 109 UFC/g do produto); 7 -
dieta final ou de acabamento (36 a 42 dias de idade) probiótico adicionado na ração contendo Saccharomy-
continha 3200 kcal/kg de ração de energia metabolizá- ces cerevisiae (8 x 109 UFC/g do produto) e probiótico
vel e 18% de proteína bruta, 0,935% de lisina, 0,333% adicionado na água de bebida contendo Lactobacillus
de metionina, 0,803% de Ca e 0,327% de P total. Os reuteri (6,6 x 109 UFC/g do produto) e Lactobacillus
outros níveis nutricionais foram aqueles recomendados johnsonii (3,3 x 109 UFC/g do produto).
pelo NRC (1994). Em nenhuma das fases de criação
foi adicionado agente anticoccidiano ou qualquer outro Dosagens dos probióticos na ração e na água
produto que pudesse ter acção antibiótica. de bebida

Delineamento experimental e tratamentos As dosagens dos probióticos citados nos tratamentos


acima foram efectuadas conforme a recomendação dos
O delineamento experimental utilizado foi o intei- respectivos fabricantes: probiótico contendo Bacillus
ramente casualizado em esquema factorial 3 x 2 + 1, subtilis adicionado na ração na dosagem de 300 g do
sendo constituído por 3 diferentes fontes de probió- produto/ton. de ração, para todo o período de criação
ticos na ração (Bacillus subtilis; Bacillus subtilis e (1 a 42 dias de idade); probiótico contendo uma mis-
Bacillus licheniformis e; Saccharomyces cerevisiae) 2 tura de Bacillus subtilis e Bacillus licheniformis adi-
níveis de concentração de probiótico na água de bebida cionado na ração nas dosagens de 1000 g do produto/
(sem e com probiótico na água de bebida) e 1 testemu- ton. de ração na fase inicial (1 a 21 dias) e 400 g do
nha (controle), com 7 tratamentos, 4 aves/tratamento, produto/ton. de ração até a idade de abate (22 a 42 dias
totalizando 28 animais experimentais para as análises de idade); probiótico contendo Saccharomyces cerevi-
de morfometria e ultra-estrutura da mucosa intestinal. siae adicionado na ração nas dosagens de 2000 g do
As análises de variância foram realizadas segundo produto/ton. de ração na fase inicial (1 a 21 dias), 1000
procedimentos do SAS (1998) e os contrastes entre g do produto/ton. de ração na fase de crescimento (22 a
médias dos tratamentos pelo teste de Tukey num nível 35 dias) e 800 g do produto/ton. de ração na fase final
de significância de 5 % (H0:P<0,05). O esquema de (36 a 42 dias de idade); probiótico contendo uma mis-
análise de variância do experimento está apresentado tura de Lactobacillus reuteri e Lactobacillus johnsonii
na Tabela 1. adicionado na água de bebida na dosagem de 25 g para
cada 5000 pintos apenas no primeiro dia de vida. Após
Tabela 1 - Esquema de análise de variância do experimento a chegada dos pintainhos, foi fornecido o probiótico
Causas de Variação G.L. na primeira água de bebida, sendo somente efectuada
Controle vs Probióticos 1
a troca desta água por outra sem o produto após obser-
vada sua completa ingestão pelos animais.
Probiótico na Ração (R) 2
Probiótico na Água de Bebida (A) 1 Procedimentos para análises laboratoriais
RXA 2
(Tratamentos) 6 Aos 42 dias de idade, após jejum de 12 horas, foi
realizado o abate de 28 aves para a colecta dos seg-
Resíduo 21
mentos do intestino delgado.
Total 27
Morfometria Intestinal - Microscopia de Luz
Os tratamentos utilizados foram: 1 - controle (sem
adição de antibiótico e probiótico); 2 - probiótico Nas avaliações de microscopia de luz, amostras de 2
adicionado na ração contendo Bacillus subtilis (1010 cm de duodeno, jejuno e íleo foram colectadas, abertas
UFC/g do produto); 3 - probiótico adicionado na ração longitudinalmente, lavadas em solução tampão fosfato
contendo Bacillus subtilis (1010 UFC/g do produto) (0,1 M, pH 7,4) e, fixadas em solução de Bouin por 36
e probiótico adicionado na água de bebida contendo horas. Em seguida foram lavadas em álcool 70% para
Lactobacillus reuteri (6,6 x 109 UFC/g do produto) e a retirada do fixador e posteriormente foram desidra-
Lactobacillus johnsonii (3,3 x 109 UFC/g do produto); tadas em série crescente de álcoois, diafanizadas em
4 - probiótico adicionado na ração contendo uma mis- xilol e incluídas em parafina. Após a microtomia semi-
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seriada, a uma espessura de 7 µm, 7 cortes histológicos Os diferentes probióticos administrados na ração não
foram colocados em cada lâmina, sendo corados pelas afectaram (P>0,05) a altura de vilos nos diferentes seg-
técnicas do PAS (Ácido Periódico de Shift), e obser- mentos intestinais.
vados a microscopia de luz. O estudo morfométrico Também observou-se aumento significativo na altura
da altura das vilosidades, do perímetro e da profun- de vilo do duodeno, com o uso do probiótico na água
didade das criptas intestinais (em µm) foi realizado de bebida, não sendo observado esse aumento para o
através do sistema analisador de imagens da Kontron jejuno e o íleo.
Elektronik (Vídeo Plan), acoplado a um microscópio A Tabela 3 apresenta os valores médios de perímetro
binocular. Em um total de 84 lâminas (7 tratamentos x de vilo, dos segmentos do intestino delgado de fran-
4 animais x 3 segmentos intestinais), foram efectuadas gos de corte submetidos a dietas contendo diferentes
90 leituras/lâmina (30 leituras para altura de vilo, perí- probióticos, aos 42 dias de idade. Para este parâme-
metro de vilo e profundidade de cripta), perfazendo tro, também foi observado que as aves pertencentes
no total 7560 leituras de microscopia de luz (1080 ao grupo controle apresentaram significativamente
leituras/tratamento). (P<0,01) um menor perímetro de vilo duodenal, em
A altura de vilo foi medida a partir da região basal relação as aves que receberam os probióticos, não per-
do vilo, coincidente com a porção superior das criptas, sistindo esta observação para o jejuno e o íleo.
até ao seu ápice, sendo o mesmo efectuado nas deter- Da mesma maneira, os diferentes probióticos admi-
minações do perímetro, sendo que para esta última nistrados na ração não afectaram (P>0,05) o perímetro
medição contornou-se as reentrâncias presentes no de vilos nos diferentes segmentos intestinais.
vilo. As criptas foram medidas da sua base até a região Também foi observado que a administração do probi-
de transição cripta:vilosidade. ótico na água de bebida proporcionou maiores médias
(P<0,05) de perímetro de vilo no duodeno e jejuno, não
Ultra-Estrutura da Mucosa Intestinal - Microscopia sendo este facto observado para o íleo.
Electrónica de Varredura A Tabela 4 apresenta os valores médios de profun-
didade de cripta, dos segmentos do intestino delgado,
Para a microscopia electrónica de varredura, amos- de frangos de corte submetidos a dietas contendo
tras intestinais de duodeno, jejuno e íleo, com apro- diferentes probióticos, aos 42 dias de idade. Não houve
ximadamente 2 cm de comprimento foram extraídas diferença (P>0,05) na profundidade de cripta entre as
de cada ave. Após isto, fragmentos de 0,5 cm foram aves pertencentes ao grupo controle e as que receberam
fixados por 24 horas à 4oC em glutaraldeído 2,5% em os probióticos. Foi observado para todos os segmentos
tampão fosfato (0,1 M, pH 7,4) e pós-fixados em tetró- intestinais interacção significativa (P<0,01) entre os
xido de ósmio 1 % por 2 horas. A seguir, os fragmentos factores estudados, demonstrando que o efeito do pro-
foram desidratados em série de concentração crescente biótico na ração foi dependente do nível de concentra-
de etanol (70 a 100%). Seguindo a desidratação as ção do probiótico na água de bebida, na determinação
amostras foram submetidas a obtenção do ponto crí- da profundidade de cripta.
tico de secagem, utilizando CO2 (aparelho BAL-TEC), Observa-se ainda que os diferentes probióticos admi-
montadas em suporte, metalizadas com ouro paládio nistrados na ração afectaram (P<0,01) a profundidade
em aparelho DENTON VACUM DESK II, e observa- de cripta nos diferentes segmentos intestinais. O probi-
das em microscópio electrónico de varredura (JEOL- ótico contendo Saccharomyces cerevisiae proporcionou
JSM 5410). Para a mensuração do número de vilos, as menores profundidades no duodeno, jejuno e íleo em
as amostras foram eletronmicrografadas em 5 campos relação aos outros dois probióticos contendo Bacillus
distintos, totalizando 420 fotos (28 aves/3 segmentos/5 subtilis e a mistura de Bacillus subtilis e Bacillus liche-
campos). Foi verificada a escala da foto, mensurado o niformis, que não diferiram entre si (P>0,05).
campo de observação apresentado, através da largura Não houveram diferenças nas médias para a profun-
de comprimento, obtendo-se assim a área da foto. didade de cripta (P>0,05) com o uso de probióticos na
Feito isto, foram realizadas as contagens dos vilos de água de bebida em relação a sua não utilização.
cada campo e feita a relação número de vilos/µm2. A Tabela 5 apresenta os valores do desdobramento da
interacção (probiótico na ração x probiótico na água de
Resultados bebida) para a profundidade de cripta, dos segmentos
do intestino delgado de frangos de corte, aos 42 dias de
A Tabela 2 apresenta os valores médios de altura de idade.
vilo, dos segmentos do intestino delgado de frangos de Através do desdobramento da interacção observa-se
corte submetidos a dietas contendo diferentes probióti- que: para o probiótico administrado na ração contendo
cos, aos 42 dias de idade. Observa-se que as aves per- Bacillus subtilis, maiores profundidades de cripta
tencentes ao grupo controle apresentaram significativa- (P<0,01) são obtidas no duodeno e jejuno com a sua
mente (P<0,01) uma menor altura de vilo no duodeno associação com o probiótico na água de bebida con-
em relação as aves que receberam os probióticos, não tendo Lactobacillus reuteri e Lactobacillus johnsonii;
sendo observada esta diferença no jejuno e no íleo. para o probiótico administrado na ração, contendo a

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Figura 1 - Eletronmicrografias de varredura das vilosidade intestinais do duodeno (D), jejuno (J) e íleo (I), de frangos de corte, aos 42 dias de idade,
alimentados com probiótico na ração durante toda a fase experimental, a base de Bacillus subtilis (1010 UFC/g do produto)

mistura de Bacillus subtilis e Bacillus licheniformis, área em relação àquelas que receberam os probióticos.
maiores profundidades de cripta (P<0,01) são obtidas Os diferentes probióticos administrados na ração não
no duodeno, jejuno e íleo sem o uso do probiótico na afectaram (P>0,05) a densidade de vilos/área nos dife-
água de bebida e; para o probiótico da ração contendo rentes segmentos intestinais.
Saccharomyces cerevisiae, maiores profundidades de A não administração do probiótico na água de bebida
cripta (P<0,01) são obtidas no jejuno com a sua asso- proporcionou significativamente maiores densidades
ciação com o probiótico na água de bebida contendo de vilo, em todos os segmentos do intestino delgado
Lactobacillus reuteri e Lactobacillus johnsonii. (Figuras 1, 2 e 3).
A Tabela 6 apresenta os valores da densidade de
vilos (número de vilo/1.145.306 µm2), dos segmentos
do intestino delgado de frangos de corte submetidos a Discussão
dietas contendo diferentes probióticos, aos 42 dias de
idade. Observa-se que as aves pertencentes ao grupo Através dos resultados observou-se que as aves
controle não diferiram (P>0,05) na densidade de vilos/ pertencentes ao grupo controle apresentaram signi-

Tabela 2 - Valores médios de altura de vilo no intestino delgado de frangos de corte alimentados com probióticos na ração e na água
de bebida aos 42 dias de idade
Altura de Vilo (µm)
Parâmetro Avaliado
Duodeno Jejuno Íleo
Controle vs Probióticos
Controle 794,21 b 928,20 a 616,95 a
Probióticos 1109,86 a
943,40 a
691,17 a
Teste F 16,22 ** 0,06 ns 2,36 ns
Teste F para Interacção R x A 0,82 ns 2,46 ns 1,90 ns
Probiótico na Ração (R)
Bacillus subtilis (1)
1128,55 a
954,79 a 732,37 a
Bacillus subtilis + Bacillus licheniformis (2)
1139,40 a 957,54 a 692,61 a
Saccharomyces cerevisiae (3)
1061,62 a
917,86 a
648,54 a
Teste F 0,67 ns 0,30 ns 1,76 ns
Diferença Mínima Significativa (5%) 182,95 143,62 112,86
Probiótico na Água de Bebida (A)
Sem Probiótico na Água de Bebida 1028,25 b
898,71 a 726,58 a
Com Probiótico na Água de Bebida
Lactobacillus reuteri + Lactobacillus johnsonii (4) 1191,46 a 988,08 a 655,76 a
Teste F 7,59 * 3,69 ns 3,75 ns
Diferença Mínima Significativa (5%) 123,23 96,73 76,02
Coeficiente de Variação (%) 13,63 12,10 13,16
a,b
Dentro de um mesmo factor, índices distintos na mesma coluna indicam diferença significativa (P<0,05) entre médias pelo teste de Tukey
(1)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Bacillus subtilis (1010 UFC/g do produto)
(2)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Bacillus subtilis (1,6 x 109 UFC/g do produto) e Bacillus licheniformis (1,6
x 109 UFC/g)
(3)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Saccharomyces cerevisiae (8 x 109 UFC/g do produto)
(4)
Probiótico fornecido na água de bebida, apenas no 1o dia de vida, a base de Lactobacillus reuteri (6,6 x 109 UFC/g) e Lactobacillus johnsonii (3,3
x 109 UFC/g)

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Figura 2 - Eletronmicrografias de varredura das vilosidade intestinais do duodeno (D), jejuno (J) e íleo (I), de frangos de corte, aos 42 dias de idade,
alimentados com probiótico na ração durante toda a fase experimental, a base de Bacillus subtilis (1010 UFC/g do produto) e Bacillus licheniformis (1,6
x 109 UFC/g)

ficativamente (P<0,01) menor altura e perímetro de ção celular (proliferação e diferenciação), resultante
vilo no duodeno, em relação àquelas que receberam das divisões mitóticas sofridas por células totepotentes
os probióticos. Esses resultados discordam dos obti- (stem cels) localizadas na cripta e ao longo dos vilos
dos por Loddi (1998), Sato (2001) e Chiquieri et al. (Uni et al., 1998; Applegate et al., 1999; Uni et al.,
(2003), que não observaram diferença na morfometria 2000) e perda de células (extrusão) que ocorre nor-
dos vilos entre os animais do grupo controle e os que malmente no ápice dos vilos, determinam um turno-
receberam probióticos. Pedroso (1999) ao administrar ver celular (síntese-migração-extrusão) constante, ou
probiótico na ração de galinhas poedeiras contendo seja, a manutenção do tamanho dos vilos e, portanto,
Bacillus subtilis observou que a maior altura de vilo a manutenção da capacidade digestiva e de absorção
foi proveniente do tratamento cuja administração do intestinal. Entretanto, quando o intestino responde a
probiótico foi contínua, e que a menor altura foi decor- algum agente (microrganismos, por exemplo), com um
rente de sua não administração. desequilíbrio no turnover a favor de um dos processos
Sabe-se que o equilíbrio entre 2 processos: renova- citados acima, ocorre uma modificação na altura, bem

Tabela 3 - Valores médios de perímetro de vilo no intestino delgado de frangos de corte alimentados com probióticos na ração e na
água de bebida aos 42 dias de idade
Perímetro de Vilo (µm)
Parâmetro Avaliado
Duodeno Jejuno Íleo
Controle vs Probióticos
Controle 2851,50 b 3259,41 a 2312,45 a
Probióticos 3852,22 a
3320,25 a
2558,71 a
Teste F 18,48 ** 0,14 ns 2,81 ns
Teste F para Interacção R x A 1,77 ns 2,73 ns 1,75 ns
Probiótico na Ração (R)
Bacillus subtilis (1)
4025,48 a
3462,91 a 2722,13 a
Bacillus subtilis + Bacillus licheniformis (2) 3967,98 a 3406,94 a 2525,24 a
Saccharomyces cerevisiae (3)
3563,20 a
3090,90 a
2428,75 a
Teste F 2,73 ns 3,64 * 2,42 ns
Diferença Mínima Significativa (5%) 543,87 374,84 342,90
Probiótico na Água de Bebida (A)
Sem Probiótico na Água de Bebida 3646,94 b
3184,43 b 2658,59 a
Com Probiótico na Água de Bebida
Lactobacillus reuteri + Lactobacillus johnsonii (4)
4057,49 a 3456,07 a 2458,83 a
Teste F 5,43 * 5,01 * 3,24 ns
Diferença Mínima Significativa (5%) 366,32 252,47 230,96
Coeficiente de Variação (%) 11,63 8,98 10,78
a,b
Dentro de um mesmo factor, índices distintos na mesma coluna indicam diferença significativa (P<0,05) entre médias pelo teste de Tukey
(1)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Bacillus subtilis (1010 UFC/g do produto)
(2)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Bacillus subtilis (1,6 x 109 UFC/g do produto) e Bacillus licheniformis (1,6
x 109 UFC/g)
(3)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Saccharomyces cerevisiae (8 x 109 UFC/g do produto)
(4)
Probiótico fornecido na água de bebida, apenas no 1o dia de vida, a base de Lactobacillus reuteri (6,6 x 109 UFC/g) e Lactobacillus johnsonii (3,3 x
109 UFC/g)

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Figura 3 - Eletronmicrografias de varredura das vilosidade intestinais do duodeno (D), jejuno (J) e íleo (I), de frangos de corte, aos 42 dias de idade,
alimentados com probiótico na ração durante toda a fase experimental, a base de Saccharomyces cerevisiae (8 x 109 UFC/g do produto)

como no perímetro dos vilos. Assim, se ocorrer um de adesão na mucosa intestinal, diminuindo a incidên-
aumento na taxa de mitose com ausência, diminuição cia de diarreias e melhorando a absorção dos nutrien-
ou manutenção da taxa de extrusão, deverá haver um tes disponíveis, sendo que esse mecanismo interfere
aumento no número de células e consequentemente um directamente no restabelecimento da mucosa intestinal,
aumento na altura e no perímetro dos vilos e até pre- aumentando a altura das vilosidades.
gueamento da parede dos mesmos. Se o estímulo levar O uso do probiótico na água de bebida contendo uma
a um aumento na taxa de extrusão, havendo manuten- mistura de Lactobacillus sp., proporcionou uma maior
ção ou diminuição na taxa de proliferação, o intestino altura de vilo no duodeno, bem como um maior perí-
deverá responder com uma redução na altura dos vilos metro de vilo no duodeno e no jejuno (P<0,05), sendo
e, consequentemente diminuição em sua capacidade esses resultados semelhantes aos obtidos por Dobro-
de digestão e absorção (Pluske et al., 1997). Segundo gosz et al. (1991), ao adicionarem Lactobacillus reu-
Ribeiro (1996), as células viáveis (probióticos) com- teri na ração de frangos de corte aos 42 dias de idade.
petem com os microrganismos patogénicos pelos sítios Com relação a profundidade de cripta, não foram
Tabela 4 - Valores médios de profundidade de cripta no intestino delgado de frangos de corte alimentados com probióticos na ração
e na água de bebida aos 42 dias de idade
Profundidade de Cripta (µm)
Parâmetro Avaliado
Duodeno Jejuno Íleo
Controle vs Probióticos
Controle 122,51 a
97,25 a 88,38 a
Probióticos 139,10 a
103,26 a
97,40 a
Teste F 2,27 ns 1,17 ns 1,45 ns
Teste F para Interacção R x A (5)
49,04 ** 40,20 ** 8,63 **
Probiótico na Ração (R)
Bacillus subtilis (1) 165,64 a 112,79 a 114,95 a
Bacillus subtilis + Bacillus licheniformis (2)
152,80 a 114,03 a 100,71 a
Saccharomyces cerevisiae (3)
98,85 b
82,96 b
76,53 b
Teste F 24,22 ** 23,47 ** 15,65 **
Diferença Mínima Significativa (5%) 25,68 12,95 17,50
Probiótico na Água de Bebida (A)
Sem Probiótico na Água de Bebida 140,27 a
102,67 a 98,61 a
Com Probiótico na Água de Bebida 137,92 a 103,86 a 96,18 a
Lactobacillus reuteri + Lactobacillus johnsonii (4)
Teste F 0,08 ns 0,08 ns 0,18 ns
Diferença Mínima Significativa (5%) 17,30 8,72 11,79
Coeficiente de Variação (%) 14,90 10,03 14,45
a,b
Dentro de um mesmo factor, índices distintos na mesma coluna indicam diferença significativa (P<0,05) entre médias pelo teste de Tukey
(1)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Bacillus subtilis (1010 UFC/g do produto)
(2)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Bacillus subtilis (1,6 x 109 UFC/g do produto) e Bacillus licheniformis (1,6
x 109 UFC/g)
(3)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Saccharomyces cerevisiae (8 x 109 UFC/g do produto)
(4)
Probiótico fornecido na água de bebida, apenas no 1o dia de vida, a base de Lactobacillus reuteri (6,6 x 109 UFC/g) e Lactobacillus johnsonii (3,3
x 109 UFC/g)
(5)
Desdobramento da Interacção apresentado na Tabela 5

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Tabela 5 - Valores médios do desdobramento da interacção (Probiótico na Ração x Probiótico na Água de Bebida) para profundidade
de cripta no intestino delgado de frangos de corte aos 42 dias de idade
Parâmetro Avaliado Profundidade de Cripta (µm)
Probiótico na Ração (R)
Bacillus subtilis (R1) B. subtilis + Saccharomyces cerevi-
Probiótico na Água de Bebida (A) B. licheniformis (R2) siae (R3)
Duodeno
Sem Probiótico na Água de Bebida(A0) 124,97 Bb* 209,97 Aa 85,87 Ac

Com Probiótico na Água de Bebida 206,31 Aa 95,63 Bb 111,82 Ab


L. Reuteri + L. johnsonii (A1)
Jejuno
Sem Probiótico na Água de Bebida(A0) 94,46 Bb 139,46 Aa 74,09 Bc

Com Probiótico na Água de Bebida 131,13 Aa 88,61 Bb 91,83 Ab


L. Reuteri + L. johnsonii (A1)
Íleo
Sem Probiótico na Água de Bebida(A0) 106,22 Aa 118,47 Aa 71,15 Ab

Com Probiótico na Água de Bebida 123,67 Aa 82,95 Bb 81,91 Ab


L. Reuteri + L. johnsonii (A1)

* Médias com letras distintas diferem entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05); maiúsculas na vertical e minúsculas na horizontal
( )

(R1)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Bacillus subtilis (1010 UFC/g do produto)
(R2)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Bacillus subtilis (1,6 x 109 UFC/g do produto) e Bacillus licheniformis (1,6
x 109 UFC/g)
(R3)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Saccharomyces cerevisiae (8 x 109 UFC/g do produto)
(A1)
Probiótico fornecido na água de bebida, apenas no 1o dia de vida, a base de Lactobacillus reuteri (6,6 x 109 UFC/g) e Lactobacillus johnsonii (3,3
x 109 UFC/g)

observadas diferenças neste parâmetro entre o grupo que não houve diferença na altura dos vilos com o uso
controle e os tratamentos que receberam os probióti- de diferentes probióticos na ração, no duodeno, jejuno
cos, sendo esses resultados semelhantes aos obtidos e íleo.
por Loddi (1998), entretanto contrários aos de Bradley A densidade de vilos por segmento intestinal foi
et al. (1994). decrescente na seguinte ordem: íleo, jejuno e duodeno,
Houve interacção significativa entre os factores sendo que esses resultados corroboram aos descritos
estudados (probiótico na ração x probiótico na água na literatura por Yamauchi e Ishiki (1991). De acordo
de bebida), onde a associação de Bacillus subtilis e com Macari (1995), a densidade e tamanho de vilos,
Saccharomyces cerevisiae à culturas de Lactobacillus bem como de microvilos, em cada segmento do
reuteri e Lactobacillus johnsonii foram decisivos para intestino delgado, confere características próprias aos
ocasionar maiores profundidades de cripta. Esses mesmos, sendo que na presença de nutrientes a capa-
resultados corroboram em partes aos obtidos por cidade absortiva é proporcional a densidade e tamanho
Dobrogosz et al. (1991) e Schwarz et al. (2002), que dos vilos ou seja, à área de superfície disponível para
também relataram maiores profundidades de cripta em absorção.
aves suplementadas com culturas de Lactobacillus sp. Independente da utilização de probióticos, a forma
Menores profundidades de cripta (P<0,01) foram dos vilos observada neste experimento reflectiu a
obtidas no duodeno, jejuno e íleo, das aves que rece- encontrada na literatura. Para o duodeno, as vilosida-
beram probiótico na ração a base da levedura Sac- des apresentaram-se mais esparsas, em menor número
charomyces cerevisiae, sendo que esses resultados e em formato de folhas, sendo o mesmo também rela-
concordam com os obtidos por Bradley et al. (1994). tado por Yamauchi e Ishiki (1991) e Sato (2001). O
Entretanto, Schwarz et al. (2002), observou que maio- jejuno apresentou um arranjo de vilosidades em forma
res profundidades de cripta foram obtidas com o uso de ziguezague, sugerindo às vezes um formato de
de Saccharomyces cerevisiae em relação ao uso de cul- onda, sendo esses resultados semelhantes aos obtidos
turas de Bacillus subtilis. De acordo com Pluske et al. por Loddi (1998) e Loddi (2003). Segundo Yamauchi e
(1997), maior valor de profundidade de cripta indica Ishiki (1991) esta forma de organização entre os vilos
maior actividade proliferativa celular, para garantir pode possibilitar uma estrutura mais eficiente de absor-
adequada taxa de renovação epitelial, compensando as ção de nutrientes do que quando os vilos se apresentam
perdas nas alturas das vilosidades, facto este contradi- em uma organização paralela ou aleatória. Isto ocorre-
tório ao que se observou neste experimento, uma vez ria porque o caminho percorrido pelo bolo alimentar

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Tabela 6 - Valores médios da densidade de vilos (número de vilo/1.145.306 µm2) por segmento de intestino delgado de frangos de
corte alimentados com probióticos na ração e na água de bebida aos 42 dias de idade
Densidade de Vilos
Parâmetro Avaliado Duodeno Jejuno Íleo
Controle vs Probióticos
Controle 17 a 20 a 24 a
Probióticos 13 a 22 a 29 a
Teste F 2,65 ns 0,36 ns 2,84 ns
Teste F para a Interacção R x A 0,87 ns 0,02 ns 2,20 ns
Probiótico na Ração (R)
Bacillus Subtilis (1) 17 a 28 a 38 a
Bacillus subtilis + Bacillus licheniformis (2)
14 a
27 a
33 a
Saccharomyces cerevisiae (3) 18 a 27 a 36 a
Teste F 1,42 ns 0,05 ns 2,21 ns
Diferença Mínima Significativa (5%) 6,33 7,59 7,09
Probiótico na Água de Bebida (A)
Sem Probiótico na Água de Bebida 20 a 31 a 39 a
Com Probiótico na Água de Bebida
Lactobacillus Reuteri + Lactobacillus johnsonii (4)
14 b 24 b 32 b
Teste F 8,09 ** 7,53 * 9,07 **
Diferença Mínima Significativa (5%) 4,27 5,11 4,78
Coeficiente de Variação (%) 29,18 22,37 16,12
a,b
Dentro de um mesmo factor, índices distintos na mesma coluna indicam diferença significativa (P<0,05) entre médias pelo teste de Tukey
(1)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Bacillus subtilis (1010 UFC/g do produto)
(2)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Bacillus subtilis (1,6 x 109 UFC/g do produto) e Bacillus licheniformis (1,6
x 109 UFC/g)
(3)
Probiótico fornecido na ração durante toda a fase experimental a base de Saccharomyces cerevisiae (8 x 109 UFC/g do produto)
(4)
Probiótico fornecido na água de bebida, apenas no 1o dia de vida, a base de Lactobacillus reuteri (6,6 x 109 UFC/g) e Lactobacillus johnsonii (3,3 x
109 UFC/g)

seria maior no fluxo em ziguezague do que no fluxo morfométricos intestinais apenas do duodeno.
recto, possibilitando assim, um maior contacto entre os
nutrientes e a superfície absortiva do epitélio intestinal.
Agradecimentos
Para o íleo, todos os tratamentos apresentaram uma
grande densidade de vilos, dificultando até sua indi-
À Universidade Estadual Paulista - FCAV/
vidualização, sendo que os mesmos apresentaram um
Jaboticabal, pela oportunidade de desenvolver o expe-
formato de língua.
rimento.
As aves pertencentes ao grupo controle não diferi-
À CAPES pela concessão da bolsa de estudos.
ram na contagem de vilosidades intestinais em relação
À FAPESP pelo recurso financeiro.
àquelas que receberam probióticos, sendo que esses
resultados corroboram com os obtidos por Sato (2001)
e Loddi (2003). Bibliografia
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segundo Macari (1999) o fato de se possuir uma menor villus growth, enterocyte migration and proliferation of the
contagem de vilos por área não implica em menor turkey poult. Comparative Biochemistry Physiology, 124
capacidade absortiva por segmento, mas sim que (B): 381-389.
possa ter ocorrido um maior desenvolvimento do vilo Bradley, G.L., Savage, T.F. e Timm, K.I. (1994). The effects of
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134
RPCV (2003) 98 (547) 135-138 REVISTA PORTUGUESA
DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Vaginal cytology in queens with estrus induced with equine


chorionic gonadotrophin
Citologia vaginal em gatas com estro induzido por gonadotrofina
coriônica eqüina
Marcos Renato Franzosi Mattos*a, Lucilene Simões-Mattosb, Lúcia Daniel Machado da Silvab
Universidade Estadual do Ceará (UECE), Faculdade de Veterinária (FAVET), Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias (PPGCV) Av.
Paranjana, 1700, Campus do Itaperi, Fortaleza, Ceará, Brazil. CEP 60.715-100

Summary: In order to determine the indirect influence of seve- Introduction


ral doses of equine chorionic gonadotrophin (eCG) on vaginal
In feline and mainly canine species, vaginal cyto-
cytology, 42 queens were randomly allotted to four groups for
treatment with 0.9% saline (control) or with 25, 40 or 60 IU/Kg logy examination is a current method for the assess-
of eCG injected IM. Epithelial and blood cells examined in 135 ment of the stage of estrous cycle and of endocrine or
vaginal smears showed the normal cell pattern of feline estrus. reproductive pathologies (Herron, 1977; Roszel, 1977;
Mucus was seen in all smears. However, small intermediate cells Toniollo et al., 1995; Vannucchi et al., 1997; Nasci-
were rarely found and the presence of erythrocytes and neutro-
mento e Lopez, 1999; Erunal-Maral et al., 2000). This
phils was considered negligible. In conclusion, the cell pattern
of the vaginal epithelium of queens with estrus induced with is due to the high responsiveness of the vaginal epi-
different doses of eCG was similar to that of queens with natu- thelium to hormonal fluctuations, especially estrogens,
ral estrus. Thus, we may speculate that the hormonal stimulus causing changes in the cellular profile. Increasing
occurring in the vaginal epithelium of eCG-induced queens is estrogen concentrations determine cell proliferation,
the same as that occurring in natural estrus, or that this epithe-
with thickening of the vaginal epithelium layers and
lium responds similarly to different dose of eCG. On this basis,
vaginal cytology may be not an efficient tool for the assessment consequent cell differentiation (Papanicolaou, 1942;
of the hormonal environment of queens with induced estrus. Roszel, 1977; Concannon e Digregorio, 1986; Johns-
ton et al., 2001).
Resumo: Para determinar a influência indirecta de várias doses Currently, assisted reproductive technologies (ART)
de gonadotrofina coriônica eqüina (eCG) na citologia vaginal,
such as estrus synchronization, ovulation induction
42 gatas foram distribuídas aleatoriamente em quatro grupos
tratados com solução salina 0,9% (controle) ou com 25, 40 ou and/or superovulation have been developed using the
60 UI/Kg de eCG via IM. De 135 esfregaços vaginais, foram domestic cat as model for wild felids (Dresser et al.,
examinadas as células epiteliais e sangüíneas, que apresenta- 1987; Wildt et al., 1992; Swanson et al., 1995. 1998;
ram padrão celular normal para o estro felino. Houve presença Mattos et al., 2001a; Aguiar et al., 2002). However,
de muco em todos os esfregaços. Por outro lado, células do
low reproductive success is obtained in domestic cats
tipo pequena intermediária foram raramente encontradas, e a
presença de eritrócitos e neutrófilos foi considerada irrelevante. submitted to ART (Pope, 2000) mainly with gona-
Podemos concluir que o padrão celular do epitélio vaginal de dotrophin therapy (Verstegen et al., 1993; Graham
gatas com o estro induzido por diferentes doses de eCG foi et al., 2000; Mattos et al., 2001a). It is known that
semelhante ao de gatas em estro natural. Assim, podemos espe- plasma estradiol-17β concentrations are enhanced
cular que o estímulo hormonal sobre o epitélio vaginal em gatas
in queens with gonadotrophin-induced estrus, toge-
que receberam eCG é o mesmo do das gatas em estro natural, ou
que este epitélio responde da mesma maneira frente a diferentes ther with an early increase in plasma progesterone
doses de eCG. Neste sentido, a citologia vaginal pode não ser concentrations causing hormonal disruption. These
uma ferramenta eficiente para a avaliação do ambiente hormonal hormonal alterations are considered to be responsible
de gatas com estro induzido. for the low reproductive success by interfering with
physiological status (Goodrowe et al., 1986; Roth et
al., 1997; Barnes, 2000; Graham et al., 2000). Several
studies using different evaluation methods to deter-
mine how and where this hormonal alteration causes
a low reproductive success have obtained different and
inconclusive results (Herron and Sis, 1974; Goodrowe
* Corresponding author: e-mail mattos@latinmail.com, et al., 1986; Orosz et al., 1992; Verstegen et al., 1993;
telephone. +55-85-299-2760, fax +55-85-299-2740.
Schramm and Bavister, 1995; Roth et al., 1995,1997;
a
FUNCAP fellowship
b
CNPq fellowship Barnes, 2000; Graham et al., 2000; Silva et al., 2001).

135
Mattos, M.R.F. et al. RPCV (2003) 98 (547) 135-138

In rats, the vaginal epithelium is highly sensitive to maintained in natural light (approximately 12 h light /
hormone administration, permitting a reliable endpoint 12 h dark). The queens were randomly allotted to four
assessment of hormonal imbalance (Banik and Herr, groups receiving different doses of eCG (IU/kg/IM) as
1969; Nagaoka et al., 2002). In contrast, the indirect follows: 0 (control group), 25, 40 and 60. The estrous
influence of exogenous gonadotrophins causing the cycles were daily monitored, with evaluation of the
steroidal hormones imbalance after ART procedures peculiar signs of each phase according to previous
on the cellular pattern of the vaginal epithelium of studies (Banks, 1986; Johnston et al., 2001; Silva et
cats is poorly known. Indeed, due to the sensitivity of al., 2001). On the fifth day of interestrus, the queens
the vaginal epithelium to steroid hormones, vaginal received a single injection of eCG. The control group
cytology may be an indirect parameter for the deter- was considered as natural estrus and received only
mination of the hormonal environment of gonadotro- 1 mL of saline solution (0.9%). After hormonal or
phin-induced estrus in cats. Thus, it is very important placebo injection, the queens were exposed daily to
to establish reliable endpoints for the assessment of the toms until male acceptance, although at that time
the individual hormonal milieu of queens with gona- mating was prevented by us. Twenty-four and 48 h
dotrophin-induced estrus queens in order to assess the after the first day of male acceptance by queens, four
consequences of ART procedures. mating episodes were allowed to occur over a period
Thus, as the action of equine chorionic gonadotro- of two hours. It is important to point out that this study
phin (eCG) and FSH are similar concerning the relea- is part of a wide trial which evaluates the effects of
sing of estrogens, the purpose of the present study was gonadotrophins on different reproductive parameters
to access the possibility of the indirect influence on the (data not shown). This explains the mating procedures
vaginal cellular profile of queens by ovarian stimula- cited above. Thus, only vaginal cytology findings will
tion with progressive increasing doses of eCG. be mentioned.

Materials and Methods Vaginal cytology

Animals and treatments Ten to 15 minutes after the last mating, vaginal cells
were obtained by gently passing a sterile cotton-tipped
Forty-seven adult intact undefined breed cats (Felis swab into the vaginal canal followed by a quick 180º
catus) were used in this trial, 42 queens (body weight rotation. The cells were transferred to one or two
2.5 to 4.8 kg), and five toms (3.5 to 5.8 kg). The ani- slides, air dried, and immediately fixed with 100%
mals were housed in individual cages (80 x 60 x 60 ethanol. The smears were stained with hematoxylin
cm) and fed a dry maintenance cat food (Eukanuba and eosin, modified (Mattos et al., 2001b). A total
Chiken and Rice Formula, Kitekat and Gatsy) and of 135 vaginal smears were obtained from the four
water ad libitum throughout the study. In addition, they different treatments on the second and third days of
were kept free in a commun solarium with sufficient permitted mating. Twenty-six slides were prepared for
material for distraction for at least four hours/day. The the control group, 36 for the 25 IU group, 34 for the 40
experiment was accomplished from February to June IU group, and 39 for the 60 IU group.
of 2002, in the Fortaleza city, Northeastern Brazil,
situated at 3º 43’ 47” South and 38º 30’ 37” West. In Evaluation of vaginal cells
this region there are few differences in number of hour
per day along the year and the queens show estrous Smears were examined under a light microscope at
cycle during all year. In this work, the queens were magnifications of X32, X100, X400 and X1000. Two-

Figure 1 - Percentage of epithelial vaginal cells (mean ± SEM) of the Figure 2 - Percentage of epithelial vaginal cells (mean ± SEM) of exfo-
vaginal smears from 42 domestic queen (Felis catus) in natural (control) liates vaginal smears of domestic queen (Felis catus) at first and second
or induced estrus at different doses of eCG. PB - Parabasal; SI - Small days of mating. PB - Parabasal; SI - Small intermediate; LI - Large
intermediate; LI - Large intermediate; NS - Nucleated superficial; AS - intermediate; NS - Nucleated superficial; AS - Anucleated superficial. p
Anucleated superficial. p ≤ 0.01. ≤ 0.01.

136
Mattos, M.R.F. et al. RPCV (2003) 98 (547) 135-138

hundred epithelial cells from each slide were evaluated this respect, examination of the cell profile by vaginal
and classified according to previous studies (Concan- cytology during the estrous cycle may be an inefficient
non e Digregorio, 1986; Shille et al., 1979; Mattos et tool for the evaluation of the hormonal environment in
al., 2001b) as: parabasal (PB), small intermediate (SI), cats with induced estrus.
large intermediate (LI), nucleated superficial (NS) In this trial, the profile of the epithelial cells detected
and anucleated superficial (AS). Blood cells, mainly on vaginal smears for feline estrus was similar to the
erythrocytes and neutrophils, as well as the presence of findings reported by other authors for feline natural
the mucus and cellular debris were also recorded. cycles (Mowrer et al., 1975; Herron, 1977; Mills et
al., 1979; Shille et al., 1979; Toniollo et al., 1995.
Statistical analysis Nascimento and Lopez, 1999; Aragão and Ferreira,
2000; Johnston et al., 2001). According to Johnston
All data were analyzed by SAS. Cell type data were et al. (2001), no cell debris were found. The presence
log transformed and were reported as mean ± SEM. of mucus and spermatozoa in all smears has also been
The effect of the different doses of eCG on the vaginal reported in previous studies (Mowrer et al., 1975;
cell profile was analyzed by General Linear Model Herron, 1977).
(GLM). Data for the control group and treated groups The vaginal epithelial profile was the same for the
were compared by Dunnett’s test. Student’s t test was first and second day of mating (Figure 2), suggesting
performed to compare each treatment as well as the that collection of a vaginal smear with a swab and
mean of all groups on the first and second days of mating do not alter exfoliated cells. In addition, the
mating acceptance. Values were considered statistically interval of one day during estrus also caused no chan-
significant when p<0.01. ges in cell profile. Interestingly, some cat breeders
believe that mating causes vaginal bleeding which
is necessary for conception. However, in the present
Results trial as well as in all the available scientific literature
the erythrocytes were absent (Mowrer et al., 1975;
Figure 1 shows that there was no difference in the
Herron, 1977; Shille et al., 1979; Mills et al., 1979;
percentage of epithelial vaginal cells from the vaginal
Nascimento and Lopez, 1999; Johnston et al., 2001).
smears obtained for each treatment. Similarly, no diffe-
In addition, according to Johnston et al. (2001), exclu-
rences in cell type were detected between the first and
ding anestrus and the pregnancy/pseudopregnancy
second day of mating within each group or when the
phases of the estrous cycle, white blood cells are
mean for all groups were compared (Figure 2). Few
usually absent or rarely found in vaginal smears from
parabasal cells and small and large intermediate cells
queens. In addition, in contrast to canine vaginal
were present, in contrast to nucleated and anucleated
smears, no erythrocytes are observed in queens during
superficial cells. No cell debris were found in any
proestrus/estrus.
smear. In contrast, mucus and spermatozoa were detec-
In conclusion, the cellular pattern of the vaginal epi-
ted in all smears. Concerning blood cells, neutrophils
thelium of queens with eCG- ovarian stimulation at the
were not found in any smear and only one erythrocyte
schedule and dose used in the present study was simi-
was seen on one slide obtained on the second day of
lar to that of natural estrus. Thus, the indirect hormonal
mating from the 40 IU group. Thus, the presence of
stimulus of the vaginal epithelium was the same, even
neutrophils and erythrocyte was considered negligible
with progressive increasing doses of eCG.
in this trial.
The elapsed time, in days, between the application of
the treatment and the mating acceptance was of 18.03 Acknowledgements
± 7.69 for control group; 2.68 ± 1.12 for 25 UI group;
2.89 ± 1.36 for 40 UI; and 2.37 ± 1,65 for 60 UI. The authors wish to thank FUNCAP and CNPq for
fellowships, and EFFEM do Brasil for supplying Kite
Kat food. We also wish to thank Dr. Manuel Odorico
Discussion de Morais, Departamento de Farmacologia, Universi-
dade Federal do Ceará (UFC), and Margarida Maria de
Exogenous gonadotropin administration to cats
Lima Pompeu, Núcleo de Medicina Tropical – UFC,
causes several pathological alterations such as altered
for facilities.
cyclicity, exacerbated estrous behavior, follicular cysts,
feline mammary fibroadenoma, pyometra, and other
alterations (Dresser et al., 1987; Silva et al., 2001). References
On this basis, we speculated that gonadotropin would
have an indirect action on the differentiation of vaginal Aguiar, L., Madeira, V.L.H., Silva Júnior, F., Silva, F.M.O.,
epithelial cells observed by vaginal cytology. However, Monteiro, C.L.B., Silva, L.D.M., Simões-Mattos, L. and
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our findings rejected this hypothesis since each gona- gata doméstica (Felis catus). Rev Bras Rep Anim, Supl 5,
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Mattos, M.R.F. et al. RPCV (2003) 98 (547) 135-138

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138
COMUNICAÇÃO BREVE REVISTA PORTUGUESA
DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Um caso de adenocarcinoma prostático canino de baixa agressividade:


estudo dos AgNORsa
A case of low-grade canine prostate adenocarcinoma: AgNOR studya
J.F. Silva * e J.J. Correia
SEPAT, DEMOC, Faculdade de Medicina Veterinária, Rua Prof. Cid dos Santos (Polo Universitário - Alto da Ajuda), 1300-477 Lisboa, Portugal.

Resumo: Estuda-se um caso de carcinoma prostático (CaP) num A partir de estudos necrópsicos e estatísticos, cal-
cão (Canis familiaris) de raça indeterminada com mais de 6 anos cula-se que uma percentagem significativa de carci-
(idade exacta não determinada). As características anatómicas,
histológicas e relativas à contagem dos organizadores nucleola- nomas prostáticos (CaP) humanos não se manifesta
res corados pela prata (AgNORs) indicam que o CaP é de baixa clinicamente, sendo aquelas neoplasias achados de
agressividade, o que é pouco frequente no cão. A próstata tinha necrópsia (“carcinomas latentes” ou “histológicos”)
um aspecto macroscópico normal, não foram detectadas metás- (Gittes, 1991). Cerca de 65,8 % dos casos são bem
tases macroscópicas nas vísceras toraco-abdominais, o CaP diferenciados, os restantes moderadamente diferencia-
era ao exame histológico moderadamente diferenciado (grau
de Gleason 6) e o número médio de AgNORs por núcleo (NM dos (Brawn et al., 1995). Nos CaP clinicamente detec-
AgNORs) era de 2,16 ± 1,01, significativamente menor do que tados, há uma percentagem significativa com um prog-
a média dos NM AgNORs de oito outros CaP caninos (3,61 ± nóstico relativamente favorável (Lu-Yao e Yao, 1997),
0,67). Notaram-se também lesões de displasia intraductal prostá- ao contrário do CaP canino, que se reveste, na grande
tica (prostatic intraepithelial neoplasia – PIN). A comparação do maioria dos casos, de grande agressividade biológica e
NM AgNORs das áreas de PIN, igual a 2,02 ± 0,85, com os NM
AgNORs obtidos em áreas de atrofia dos tubuloalvéolos (1,22 ± clínica, quer a nível local, quer a nível sistémico, apre-
0,52), de hiperplasia benigna (1,35 ± 0,58) e de CaP, indica que sentando o animal metástases em 70 a 80 % dos casos
a PIN canina, tal como a humana, é muito possivelmente uma na altura do diagnóstico (Hall et al., 1976; Basinger
lesão pré-cancerosa. e Luther, 1993; Cornell et al., 2000). Além disso,
contrariamente ao que se passa na espécie humana, o
Palavras-chave: cão; próstata; carcinoma; organizadores nucle-
olares; AgNOR; displasia intraductal prostática. CaP do cão é, normalmente, sob o ponto de vista his-
tológico, moderadamente ou pouco diferenciado. Os
autores deste estudo não têm conhecimento de casos
Summary: A case of prostatic carcinoma (PCa) in a more than de CaP canino histologicamente bem diferenciado.
six year-old mongrel dog (Canis familiaris) is reported. The Um cão (Canis familiaris) vadio (portanto, com his-
anatomical, histological and argyrophilic nucleolar organizer
regions (AgNOR) – related characteristics suggest that this PCa tória pregressa desconhecida), de raça indeterminada,
may have low biologic agressivity, which is rather infrequent in sexo masculino, mais de 6 anos de idade (de acordo
the dog. As a matter of fact, the gross morphology of the gland com os critérios de exame da dentição de Bourdelle
was apparently normal, no metastases were macroscopically e Bressou (1953) e de Cornevin e Lesbre (1894)), foi
detected in the thoracoabdominal organs, the PCa was moder- eutanasiado e o cadáver submetido a uma necrópsia
ately differentiated (Gleason grade 6) and the AgNOR mean
number per nucleus (NM AgNORs) was 2,16 ± 1,01, which was sumária, cuja finalidade principal era a colheita da
significantly lower than the mean of the NM AgNORs found in próstata. Esta apresentava uma forma aproximada-
other eight canine PCa (3,61 ± 0,67). There were also lesions mente esférica, era simétrica em relação ao plano
of prostatic intraepithelial neoplasia (PIN). Comparing the NM sagital (Figura 1), a sua superfície era lisa e, em corte
AgNORs of PIN (2,02 ± 0,85) with the NM AgNORs of atrophic transversal, a uretra prostática não apresentava qual-
alveoli (1,22 ± 0,52), glandular benign hyperplasia (1,35 ± 0,58)
and PCa, it is inferred that canine PIN, like the human counter- quer deformação. Em apreciação qualitativa, o seu
part, is most possibly a precancerous lesion. volume era normal ou estava ligeiramente diminuído
tendo em conta a idade aproximada e a corpulência
Keywords: canine; prostate; carcinoma; argyrophilic nucleolar do animal. As vísceras toraco-abdominais foram ins-
organizer regions; AgNOR; prostatic intraepithelial neoplasia. peccionadas superficialmente, não tendo o seu exame
mostrado lesões do tipo metastásico.
A próstata foi cortada segundo vários planos trans-
a
Estudo apresentado a 10 de Outubro de 2002 no Congresso de versais e os fragmentos foram fixados em formol a 10
Ciências Veterinárias, realizado no Tagus Park (Oeiras). % neutro tamponado (pH = 7). Alguns foram incluídos
* Correspondente: e-mail jfsilva@fmv.utl.pt, telefone 213 652 em parafina e os cortes histológicos respectivos, com 5
888

139
Silva, J.F. e Correia, J.J. RPCV (2003) 98 (547) 139-143

Figura 3 – Adenocarcinoma prostático. Ácinos de tamanhos diferentes,


revestidos por um epitélio prismático simples ou epitélio estratificado,
que forma papilas sólidas para o lúmen dos ácinos. Objectiva 10x.
Figura 1 – Corte transversal da próstata passando aproximadamente pelo
ponto médio da uretra prostática. Notar a simetria dos lobos (num deles,
à direita, parte da massa prostática foi retirada). A uretra prostática apre-
senta a sua forma normal em “V”, devido à crista uretral.

µm de espessura, foram corados pela técnica da hema-


toxilina de Ehrlich – eritrosina, sendo os resultados do
exame de rotina os seguintes:
A periferia da glândula apresentava, em todo o seu
perímetro, atrofia dos tubuloalvéolos secretores com
concomitante hiperplasia das células basais, que se
apresentavam vacuolizadas (Figura 2). Nesta orla peri-
férica, notavam-se pequenos focos de tubuloalvéolos
normais ou (mais frequentemente) com hiperplasia
benigna do tipo glandular. Interiormente à zona de
atrofia – HBP, notavam-se áreas de CaP moderada-
mente diferenciado (adenocarcinoma alveolar papilí-
fero da classificação da O.M.S. (Hall et al., 1976) e do Figura 4 – Lesão de PIN de alto grau (padrão micropapilar) num ducto
grau 6 da classificação de Gleason (Gleason, 1992)) excretor na metade esquerda da microfotografia. A parte direita desta é
ocupada por ácinos do adenocarcinoma. Objectiva 10x.
– Figura 3 – e zonas adjacentes de PIN de alto grau de
padrão micropapilar (Bostwick et al., 1993) situadas
nos ductos excretores (Figura 4). O epitélio da uretra al. (Ploton et al., 1986; Derenzini e Ploton, 1991);
prostática apresentava morfologia semelhante à do epi- a coloração dos AgNORs pela solução coloidal de
télio ductal, sem invasão da lâmina própria adjacente. AgNO3 durou 25 minutos; a passagem pela solução
de hipossulfito de sódio 3 minutos e não os 10 preco-
nizados por Derenzini e Ploton (1991), já que tempos
maiores levam à descoloração excessiva dos AgNORs
(Silva, 1996). A observação microscópica processou-se
com ocular de x10 e objectiva de x100 com imersão
em óleo. Utilizou-se o processo de contagem de Howat
et al. (1989), aplicado à próstata humana por Ghazi-
zadeh et al. (1991), segundo o qual são considerados
AgNORs todos os pontos argirófilos intranucleares
distintos. Contaram-se os AgNORs de 120 núcleos
interfásicos de células epiteliais prostáticas de áreas
de tubuloalvéolos atróficos, de tubuloalvéolos com
hiperplasia benigna (HBP), de displasia intraductal
prostática (PIN – prostatic intraepithelial neoplasia) e
Figura 2 – Tubuloalvéolos atróficos com concomitante hiperplasia das de CaP, perfazendo um total de 480 núcleos. O número
células basais, que têm um aspecto vacuolizado. Objectiva 40x. médio de AgNORs por núcleo (NM AgNORs) em cada
área referida era igual a Σ AgNORs / 120. Os NM
Para contagem dos organizadores nucleolares AgNORs por núcleo interfásico obtidos foram (média
impregnados pela prata (AgNORs), um corte de 5 µm ± desvio padrão): Atrofia: 1,22 ± 0,52; HBP / normal:
de espessura foi depositado numa lâmina revestida de 1,35 ± 0,58 (Figura 5); PIN: 2,02 ± 0,85; CaP: 2,16 ±
poli-L-lisina e corado segundo a técnica de Ploton et 1,01 (Figura 6).

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a média obtida a partir dos NM AgNORs de outros


oito CaP caninos (Spiegel, 1971). Nestes, seis apre-
sentavam metástases, um não as tinha e, no último, os
dados necrópsicos eram insuficientes. Contudo, estes
dois casos apresentavam prostatomegália e a superfí-
cie externa da glândula era rugosa e irregular. Os NM
AgNORs de cada um destes oito casos foram divulga-
dos noutro estudo (Silva e Peleteiro, 2000) e a média ±
desvio-padrão foi de 3,61 ± 0,67, sendo a amplitude de
2,76 a 4,68. No que respeita à comparação desta média
com o NM AgNORs do CaP a diferença era significa-
tiva (p < 0,0001).
Em vários tecidos, o aumento da área e do NM
AgNORs está associado, entre outras situações, a pato-
logia tumoral maligna (Aubele et al., 1994; Hittmair
Figura 5 – Coloração dos AgNORs em núcleos de células glandula- et al., 1994; Minkus et al., 1997). É este o caso dos
res prostáticas numa zona de hiperplasia benigna. Nota-se um a dois CaP humanos (Gillen et al., 1990; Hansen e Østergård,
AgNORs pequenos na maioria dos núcleos. Objectiva 100x.
1990; Mamaeva et al., 1991; Kobayashi et al., 1992;
Pavlakis et al., 1992; Sakr et al., 1993; Bittinger et
al., 1994) e caninos (Silva e Peleteiro, 2000). Os CaP
humanos com NM AgNORs mais elevados estão asso-
ciados a maior agressividade (Ghazizadeh et al., 1991;
Botticelli et al., 1996; Chiusa et al., 1997). No cão,
não há estudos deste tipo feitos com o CaP, embora a
influência do NM AgNORs no que respeita ao poder
de invasão local ou ao prognóstico tenha sido estabe-
lecida no mastocitoma (Bostock et al., 1989; Simões
et al., 1994), linfoma (Kiupel et al., 1998), carcinoma
mamário (Bostock et al., 1992 - embora haja opiniões
opostas - Bratulić et al., 1996), seminoma (De Vico et
al., 1994) e, talvez, tumor venéreo transmissível (Har-
melin et al., 1995).
O carcinoma deste estudo é moderadamente diferen-
ciado e o NM AgNORs é significativamente inferior
Figura 6 – Coloração dos AgNORs em células neoplásicas. Muitos à média dos oito CaP caninos de referência. Devido
núcleos encerram numerosos AgNORs. O tamanho de muitos destes é ao aspecto macroscópico, estrutura histológica e NM
maior do que o observado na Figura 5. Objectiva 100x. AgNORs, este CaP é, possivelmente, de malignidade
atenuada. Os autores não se inclinam para a possível
Compararam-se por meio de um teste “t” de Student inclusão deste carcinoma no grupo dos carcinomas
(programa Microsoft ® Excel 2000) as médias dos latentes, porque o crescimento intraprostático era do
seguintes pares, utilizando-se o nível de significância tipo infiltrativo (sem, contudo, atingir a cápsula) e
de 0,05: NM AgNORs Atrofia versus NM AgNORs porque as lesões de displasia intraductal se estendiam
HBP; NM AgNORs Atrofia versus NM AgNORs ao urotélio da uretra prostática.
PIN; NM AgNORs Atrofia versus NM AgNORs Não se procedeu a uma pesquisa exaustiva de metás-
CaP; NM AgNORs HBP versus NM AgNORs PIN; tases, pois o exame macroscópico da próstata não fazia
NM AgNORs HBP versus NM AgNORs CaP; NM suspeitar de CaP: a sua forma esférica (Berg, 1958), o
AgNORs PIN versus NM AgNORs CaP. volume, a simetria e aspecto normal da uretra prostá-
Os pares com diferença significativa de NM tica em corte transversal da glândula. Assim, não se
AgNORs (p < 0,05) foram: Atrofia versus PIN (p < pode afirmar com segurança a ausência absoluta de
0,000 1); Atrofia versus CaP (p < 0,0001); HBP versus depósitos metastásicos, até mesmo porque poderia
PIN (p < 0,0001); HBP versus CaP (p < 0,0001). É haver metástases microscópicas (micrometástases).
interessante notar-se que o membro da esquerda de Além disso, o encéfalo não foi examinado.
cada par é uma condição benigna, enquanto que o da Já foram descritos carcinomas do epitélio da uretra
direita é uma alteração maligna (CaP) ou presumivel- prostática com expansão à próstata (O’Shea, 1967;
mente maligna (PIN). Não houve diferença signifi- Nikula et al., 1989; Kennedy, 1995; Kennedy et al.,
cativa de médias nos pares: Atrofia versus HBP (p = 1998). Tem sido sugerido por alguns autores (Kennedy,
0,061); PIN versus CaP (p = 0,242). 1995; Kennedy et al., 1998) que muitos dos CaP cani-
Também se comparou o NM AgNORs do CaP com nos descritos são na realidade carcinomas do urotélio

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da uretra prostática ou da bexiga. Com efeito, notam-se Referências


semelhanças de estrutura histológica entre alguns tipos Aquilina, J.W., McKinney, L.-A., Pacelli, A., Richman, L.K.,
de adenocarcinoma alveolar papilífero prostático (Leav Waters, D.J., Thompson, I., Burghardt, W.F. Jr., e Bostwick,
e Ling, 1968; Hall et al., 1976) e o carcinoma vesical D.G. (1998). High grade prostatic intraepithelial neoplasia
(Pamukcu, 1974). Contudo, outros estudos (Waters e in military working dogs with and without prostate cancer.
Bostwick, 1997; Waters et al., 1997) consideram o ade- The Prostate, 36, 189-193.
nocarcinoma alveolar papilífero canino como genuina- Aubele, M., Auer, G., Gais, P., Jütting, U., Rodenacker, K. e
Voss, A. (1994). Nucleolus organizer regions (AgNORs)
mente prostático. Os epitélios dos alvéolos prostáticos in ductal mammary carcinoma (comparison with classifi-
e da mucosa da bexiga têm a mesma origem embrioló- cations and prognosis). Pathology, Research and Practice,
gica (Moore, 1988), sendo possível que alguns tumores 190, 129-137.
deles derivados possam diferenciar-se numa linha con- Basinger, R.R. e Luther, P.B. (1993). Prostatic disease. In: Disease
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Berg, O.A. (1958). The normal prostate gland of the dog. Acta
ser uretral e expandir-se secundariamente aos ductos Endocrinologica, 27, 129-139.
excretores e massa prostática não parece ser viável, Bittinger, A., von Keitz, A., Rüschoff, J. e Melekos, M.D. (1994).
pois as lesões de PIN eram mais desenvolvidas nos Silver staining nucleolar organizer region in prostate cytol-
ductos e o tumor era histologicamente um adenocar- ogy. Zentralblatt für Pathologie, 140, 103-106.
cinoma típico (Figuras 3 e 4) e não uma neoplasia do Bostock, D.E., Crocker, J., Harris, K. e Smith, P. (1989). Nucleolar
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tipo urotelial. canine spontaneous mast cell tumours. British Journal of
As propriedades imunocitoquímicas da neoplasia Cancer, 59, 915-918.
presentemente estudada também apontam para a sua Bostock, D.E., Moriarty, J. e Crocker, J. (1992). Correlation
exclusão dos tumores uroteliais. Com efeito, o epi- between histologic diagnosis, mean nucleolar organizer
télio displásico da uretra prostática não foi marcado region count and prognosis in canine mammary tumors.
pelo soro monoclonal 34βE12 (Dako), dirigido contra Veterinary Pathology, 29, 381-385.
Bostwick, D.G., Amin, M.B., Dundore, P., Marsh, W. e Schultz,
citoqueratinas de alto peso molecular (Silva, 1996). D.S. (1993). Architectural patterns of high-grade prostatic
No urotélio de catorze próstatas caninas normais ou intraepithelial neoplasia. Human Pathology, 24, 298-310.
hiperplásicas, treze apresentaram marcação das células Bostwick, D.G. e Brawer, M.K. (1987). Prostatic intra-epithelial
do estrato basal e uma não mostrou qualquer marcação neoplasia and early invasion in prostate cancer. Cancer, 59,
(Silva, 1996). No homem, os carcinomas do urotélio 788-794.
Botticelli, A.R., Martinelli, A.M. e Botticelli, L. (1996). Mor-
são, na grande maioria dos casos, marcados por este
phochromatic analysis of cell nuclear markers in human
soro (Lindeman e Weidner, 1996). tumours. European Microscopy and Analysis, 40, 13-14.
Este caso apresentava lesões histológicas inequívocas Bratulić, M., Grabarević, Ž., Artuković, B. e Capak, D. (1996).
de PIN, que foram referidas pela primeira vez no cão Number of nucleoli and nucleolar organizer regions per
por Waters e Bostwick em 1995 (Waters e Bostwick, nucleus and nucleolus – prognostic value in canine mam-
1997; Waters e Bostwick, 1997a; Waters et al., 1997; mary tumors. Veterinary Pathology, 33, 527-532.
Brawn, P.N., Kuhl, D., Speights, V.O., Johnson, C.F. III e Lind,
Aquilina et al., 1998), se bem que com uma frequên- M. (1995). The incidence of unsuspected metastases from
cia muito superior à notada em outros estudos (Silva, clinically benign prostate glands with latent prostate carci-
1996; Silva e Peleteiro, 2000; Rossignol, 2001). A PIN noma. Arcives of Pathology and Laboratory Medicine, 119,
humana foi histologicamente caracterizada há cerca 731-733.
de quinze anos por McNeal e Bostwick (1986) e Bos- Bourdelle, E. e Bressou, C. (1953). Montané, Bourdelle et Bressou:
twick e Brawer (1987). No caso do presente estudo: a) anatomie régionale des animaux domestiques. IV. Carnivores
(chien et chat). Librairie J.-B. Baillière et Fils (Paris).
a proximidade histológica das áreas de PIN e de CaP; Chiusa, L., Galliano, D., Formiconi, A., Di Primio, O. e Pich, A.
b) o NM AgNORs da área de PIN, quando comparado (1997). High and low risk prostate carcinoma determined
com o NM AgNORs das áreas de atrofia acinosa e by histologic grade and proliferative activity. Cancer, 79,
de HBP, por um lado, e o NM AgNORs do CaP, por 1956-1963.
outro; fazem pressupor que, tal como no homem, a Clark, L. e English, P.B. (1966). Carcinoma of the prostate gland
in a dog. Australian Veterinary Journal, 42, 214-218.
PIN é uma lesão pré-cancerosa no cão. Poucos estudos
Cornell, K.K., Bostwick, D.G., Cooley, D.M., Hall, G., Harvey,
estão feitos no que respeita aos AgNORs de lesões H.J., Hendrick, M.J., Pauli, B.U., Render, J.A., Stoica, G.,
prostáticas no cão (Silva, 1996; Silva e Peleteiro, 2000; Sweet, D.C. e Waters, D.J. (2000). Clinical and pathologic
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Cornevin, C. e Lesbre, X. (1894). Traité de l’âge des animaux
Agradecimentos domestiques (d’après les dents et les productions épider-
miques). Librairie J.-B. Baillière et Fils (Paris).
Os autores desejam agradecer à D. Maria do Rosário Derenzini, M. e Ploton, D. (1991). Interphase nucleolar organizer
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Pathology, 32, 149-192.
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está integrado no projecto financiado pelo CIISA com staining of nucleolar organizer regions in prostatic lesions.
o código CIISA 4 - Neoplasias (1993). Histopathology, 19, 369-372.

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143
COMUNICAÇÃO BREVE REVISTA PORTUGUESA
DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

O papel da inspecção sanitária post mortem em matadouro na detecção de


lesões e processos patológicos em aves. Quatro casos de lesões compatíveis
com a doença de Marek em carcaças de aves rejeitadas

The role of post mortem sanitary inspection in slaughterhouse on the detec-


tion of poultry lesions and pathological processes. Four cases of Marek
compatible lesions in condemned poultry
Madalena Vieira-Pinto1, T. Mateus1, F. Seixas 2, M. C. Fontes 1 e C. Martins 1
1
Secção dos Produtos Animais. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Apartado 1013.
5001-911 Vila Real. Portugal. mmvpinto@utad.pt
2
Departamento de Patologia e Clínica Veterinária. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Apartado 1013. 5001-911 Vila Real. Portugal.

Resumo: O presente trabalho baseou-se no acompanhamento A identificação, caracterização e registo de proces-


da Inspecção Sanitária post mortem de 49121 aves abatidas em sos patológicos dos animais abatidos em matadouro,
matadouro, durante o qual se procedeu ao registo das causas de
rejeição total e à necropsia de uma amostra das aves rejeitadas constitui uma fonte de dados importante para a ava-
no exame post mortem, com registo e exame histopatológico das liação da condição sanitária das explorações, uma vez
lesões encontradas. O principal objectivo deste trabalho consistiu que permite identificar a ocorrência de doenças subclí-
no estudo da relação existente entre as causas que conduziram à nicas nos efectivos e quantificar a gravidade de lesões
rejeição total de carcaças de aves, no decurso da sua inspecção que representem manifestações de doenças (Pointon
post mortem na linha de abate, e o quadro lesional identificado
no decurso da sua necropsia após terem sido rejeitadas. A et al., 1992 e Morés et al., 2000). No entanto, alguns
necropsia de três aves, rejeitadas no exame post mortem pela processos patológicos e algumas lesões que se mani-
presença de caquexia (n = 2) e de traumatismos (n = 1), eviden- festam a nível das vísceras e do interior da carcaça de
ciou a presença de lesões compatíveis com a Doença de Marek. aves, podem passar despercebidos durante a inspecção
Este e outros resultados encontrados, enfatizam a importância da post mortem efectuada na linha de abate. Esta situação
necropsia de uma amostra de aves rejeitadas por causas inespe-
cíficas (caquexia, má sangria, ascite) em inspecção post mortem, pode estar relacionada com dois factores principais: i)
uma vez que permite a identificação de quadros lesionais, alguns a elevada cadência de abate dos modernos matadouros
indicativos de entidades patológicas (ex. Colibacilose, Marek), (Watkins et al., 2000); ii) a possibilidade dos proces-
que podem passar despercebidos à inspecção sanitária efectuada sos patológicos serem acompanhados de alterações da
na linha de abate. Este procedimento contribui para uma melho- conformação corporal, nomeadamente de ascite e de
ria do rigor de informação relativa ao perfil sanitário das aves
abatidas, que é canalizada para os técnicos responsáveis pelo caquexia, sendo estes motivos suficientes para rejei-
controlo sanitário dos efectivos avícolas. ção imediata da ave, mesmo antes da sua evisceração,
evitando a visualização das lesões a nível dos órgãos
Summary: The aim of this research was the analysis of the internos.
relationship between causes of total condemnation of poultry Por estes motivos, para um melhor conhecimento
carcasses during post mortem inspection in the slaughter line,
and associated lesions identified in the necropsy examination of das condições patológicas que podem acompanhar
a sample of rejected carcasses. For this purpose, the causes of os animais abatidos, considera-se necessário efectuar
total condemnation during post mortem inspection of a sample não só o registo das causas de rejeição post mortem,
of 49121 poultry were examined, as well as data collected mas também submeter a necropsia uma amostra dos
during necropsy and histopathological examination of lesions animais rejeitados na inspecção post mortem na linha
observed in a sample of the condemned animals. Marek dise-
ase compatible lesions were detected in 3 animals along the de abate, estando este procedimento em concordân-
necropsy, after their post mortem condemnation for cachexia cia com o exposto no Decreto-lei Nº 167/96 (Diário
(n = 2) and for traumatic processes (n = 1). These and others da República – I Série – Nº 208 – 7 de Setembro),
results emphasise the importance of meticulous examination of legislação que regulamenta as condições sanitárias
condemned animals in post mortem inspection for lesions and em matéria de produção e colocação no mercado de
pathological processes identification (examples: Colibacilosis,
Marek), which could pass unperceived during the inspection at carnes frescas de aves de capoeira.
the slaughter line. This procedure contributes to an improvement Este estudo teve como principal objectivo o conheci-
of the information about poultry’s sanitary profile which is used mento da relação entre as causas que conduzem a uma
by the technicians responsible for the avian sanitary control. rejeição total das carcaças de aves durante a inspecção

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post mortem na linha de abate e o quadro lesional iden- rejeitados) rejeitados em exame post mortem na linha
tificado no decurso da necropsia das aves rejeitadas. de abate, encontram-se apresentados na Tabela 2.
Para atingir este objectivo, efectuaram-se 12 visitas, A necropsia dos 8 broilers rejeitados post mortem
durante um mês, a um matadouro de aves da Região pela presença de ascite, os quais foram retirados da
Norte, tendo-se acompanhado a inspecção sanitária linha de abate por eviscerar, evidenciou, em todas as
post mortem de 49121 aves, realizada na linha de abate aves, a presença de lesões viscerais, principalmente
(35700 broilers, 10000 frangos do campo e 3421 gali- a nível do fígado (n = 4) e do coração (n = 1) ou em
nhas poedeiras). Registaram-se as causas de rejeição ambos (n = 2). Este resultado está de acordo com o
total das aves abatidas e efectuaram-se necropsias a exposto por Riddell (1997) o qual refere que, nas aves,
uma amostra (duas a três aves por dia) das aves rejei- dois dos principais factores que conduzem ao apareci-
tadas (18 broilers e 8 frangos do campo) seleccionadas mento de ascite são lesões hepáticas, que dificultam o
aleatoriamente. Durante a necropsia registaram-se retorno venoso, e lesões cardíacas.
as lesões encontradas e recolheram-se amostras para Segundo Stuart (1993) a caquexia é uma das prin-
diagnóstico histopatológico. Este material foi fixado cipais causas de rejeição post mortem de carcaças em
com formalina a 10% e os tecidos assim tratados foram matadouro. Tal facto está de acordo com os resultados
processados pelos métodos standard para a observação obtidos no nosso trabalho, no qual a caquexia repre-
ao microscópio. Os preparados de parafina foram cora- sentou a segunda maior causa de rejeição (22,67%),
dos com Hematoxilina e Eosina (HE). conforme já foi referido anteriormente. Para este autor,
Da inspecção post mortem resultou a rejeição de 247 a caquexia pode estar associada à presença de artropa-
(0,69%) broilers, de 84 (0,84 %) frangos do campo e tias, doença crónica e parasitismo. A necropsia de 13
de 13 (0,38%) galinhas poedeiras. As causas de rejei- aves (9 broilers e 4 frangos de campo) rejeitadas post
ção encontram-se descritas na Tabela 1. mortem por caquexia, revelou a presença de lesões a
Pela análise desta tabela constata-se que as causas nível dos órgãos internos (ex. Hepatite parasitária -1,
que contribuíram para uma maior rejeição post mortem Enterite necrótica bacteriana -1, Colangiohepatite cró-
a nível da linha de abate foram: i) os traumatismos, a nica-1, lesões compatíveis com a doença de Marek -2).
caquexia e a ascite, nos broilers; ii) a má sangria, nos Neste trabalho, atribuímos especial destaque à
frangos do campo; iii) a salpingite, nas galinhas poe- doença de Marek, devido à importância que esta
deiras. assume nos efectivos avícolas, e porque a sua detec-
Apenas esta última situação (salpingite) é iden- ção no matadouro (Figura 1), através da necropsia dos
tificada no decurso da evisceração, contrariamente animais rejeitados, espelha o interesse desta prática
às anteriores que são detectadas antes desta etapa, no melhor conhecimento do perfil sanitário das aves
podendo as carcaças ser rejeitadas e retiradas, por evis- abatidas.
cerar, da linha de abate, não permitindo a inspecção de Segundo Calnek (1997) as aves com Doença de
rotina das vísceras e a identificação de eventuais lesões Marek podem apresentar sinais não específicos tais
existentes. As lesões compatíveis com a doença de como perda de peso, palidez, anorexia e diarreia e, se
Marek, nomeadamente espleno e hepatomegália com estes animais forem sujeitos durante algum período a
infiltrações nodulares tumorais, foram identificadas uma má nutrição, podem evidenciar caquexia.
apenas num animal. Na fase aguda da Doença de Marek, os tumores
As lesões macroscópicas registadas e o resultado linfóides podem ocorrer em vários órgãos. As gónadas
histopatológico das amostras recolhidas no decurso da são dos órgãos mais afectados, mas as lesões linfo-
necropsia de 18 broilers (13,7% dos broilers rejeitados) matosas também podem ser observadas no pulmão,
e de 8 frangos do campo (10,5% dos frangos do campo coração, mesentério, rim, fígado, baço, timo, glândula

Tabela 1 Causas de rejeição total de 344 aves no decurso de inspecção post mortem em matadouro.

Causas de rejeição Broilers Frangos do campo Galinhas poedeiras TOTAL


post mortem n n n n (%)
Traumatismo 103 - - 103 (29,94)
Caquexia 62 15 1 78 (22,67)
Ascite 70 - - 70 (20,35)
Má sangria 8 56 - 64 (18,6)
Dermatite/lesão de pele 4 12 2 18 (5,23)
Salpingite - - 8 8 (2,33)
Peritonite não específica - - 2 2 (0,58)
Lesões compatíveis com Doença de Marek - 1 - 1 (0,29)
TOTAL 247 84 13 344 (100)

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Tabela 2 Causas de rejeição post mortem, lesões macroscópicas e diagnóstico histopatológico das amostras recolhidas no decurso da
necropsia de 18 broilers e de 8 frangos do campo rejeitados em exame post mortem na linha de abate.

Causas de rejeição n Lesões Diagnóstico


macroscópicas histopatológico
Broilers
1 Hemorragia do pericárdio Pericardite granulomatosa
1 Alteração da coloração do fígado e petéquias Hepatite e Perihepatite fibrinosa. Enterite catarral
intestinais
1 Ascite e hepatite fibrinosa Perihepatite fibrinosa

Ascite 1 Divertículo intestinal Enterite catarral e granuloma parasitário


1 Alteração da coloração e textura do fígado e peté- Enterite catarral, hepatite e peritonite
quias intestinais
1 Petéquias intestinais e hepáticas. Alteração da Esteatose e colestase. Enterite catarral
coloração e textura do fígado
1 Alteração da coloração e textura do fígado. Peté- Pericardite subaguda e esteatose hepática
quias cardíacas e hidropericárdio
1 Alteração de coloração do fígado. Pericardite Pericardite fibrinosa. Hepatite e Perihepatite
Ascite e trauma-
necrótica – Lesões compatíveis com Colisepticé-
tismo
mia.
1 Alteração da coloração do fígado Hepatite parasitária
1 Massas de consistência dura no intestino Enterite catarral e granuloma parasitário
1 Má sangria. Dilatação da parte anterior do intes- Enterite necrótica bacteriana e granuloma parasi-
tino tário
1 Hepatomegália e fígado pálido e friável Esteatose hepática
1 Alteração da coloração do fígado. Hepatite e microtrombose sinusoidal
Caquexia 1 Peritonite e alteração da coloração do fígado Hepatite subaguda
1 Espleno e hepatomegália com infiltrações de cor Lesões linfoproliferativas, compatíveis com
esbranquiçada no parênquima hepático e esplé- Doença de Marek
nico
1 Espleno e hepatomegália com infiltrações de cor Lesões linfoproliferativas, compatíveis com
esbranquiçada no parênquima hepático e esplé- Doença de Marek
nico
1 Fígado pálido e com aumento de volume Esteatose e hepatite subaguda
Má sangria 1 Peritonite, alteração da coloração do fígado e Pericolangite, enterite parasitária (coccidiose)
congestão intestinal
Frangos do campo
1 Área pálida no coração. Lesão focal no baço. Miocardite focal. Esplenite granulomatosa. Tra-
Traqueia com muita espuma queite catarral
1 Artrites. Músculo pálido e edematoso. Fígado Degenerescência muscular e hepática
Caquexia
pálido e friável .
1 Massa encapsulada adjacente à cabeça, que ao Dermatite granulomatosa bacteriana.
corte contém material amorfo em estratos e de
diferentes colorações
1 Hepatomegália Colangiohepatite crónica
1 Edema e hemorragia subcutânea. Esplenome- Lesões linfoproliferativas compatíveis com
Traumatismo gália. Hepatomegália e fígado com alteração da Doença de Marek
coloração
1 Artrites. Fígado com alteração da coloração. Hepatite subaguda. Enterite
Má sangria Enterite
1 Alteração da coloração do fígado Colestase e hepatite subaguda
Lesões compatíveis Hepato e esplenomegália com infiltrações de cor Lesões linfoproliferativas compatíveis com
com Doença de 1 esbranquiçada no parênquima hepático e esplé- Doença de Marek
Marek nico

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obtida através da necropsia, permite alertar os respon-


sáveis pela sanidade do efectivo avícola para a existên-
cia de potenciais problemas, permitindo-lhes tomar as
decisões que julgarem convenientes para um melhor
entendimento do problema (ex. necropsia de uma
maior quantidade de aves, análises microbiológicas e
serológicas) e para a resolução do mesmo.
A análise histopatológica revelou-se de grande auxí-
lio na caracterização das lesões observadas (ex. pro-
cesso inflamatório, degenerativo ou neoplásico; lesão
aguda ou crónica; envolvimento bacteriano ou parasi-
tário), permitindo uma melhor orientação do técnico
para o diagnóstico do processo subjacente.
Figura 1 – Lesões compatíveis com Doença de Marek. Hepato Os quatro casos de lesões compatíveis com a Doença
e esplenomegália com descoloração difusa do parênquima e neo- de Marek, detectados neste trabalho, apresentavam a
formações nodulares tumorais. forma visceral da doença evidenciando uma hepato e
esplenomegália com infiltrados de um tecido de cor
adrenal, pâncreas, proventrículo, intestino, íris, mús- esbranquiçada compatível com lesão neoplásica. Os
culo esquelético e pele. Os órgãos afectados encon- tumores a nível visceral são especialmente comuns em
tram-se frequentemente aumentados (Powell e Payne, formas agudas da doença e podem ser encontrados sem
1993; Ritchie, 1995; Bremner e Mac Johnson, 1996 e haver lesão dos nervos e sem sintomatologia, razão
Calnek, 1997). pela qual podem passar despercebidos na produção e
Na presença destas lesões, é necessário estabelecer no exame ante mortem (Dorn, 1973; Powell e Payne,
diagnósticos diferenciais. Esta doença pode ser facil- 1993; Ritchie, 1995 e Calnek, 1997). Segundo Fadly
mente confundida com a leucose linfóide, mas esta e Crittenden (1987) e Calnek (1997) apenas uma
última ocorre entre os 5 e os 9 meses de idade, contra- pequena percentagem de frangos infectados desen-
riamente à primeira que ocorre por volta da 6ª semana volvem a doença clínica, o que pode comprometer o
de vida (Beyer et al., 1980 e Payne, 1993). Por outro diagnóstico da doença em vida. Por estes motivos o
lado, a bolsa de Fabricius, normalmente, apresenta-se seu despiste a nível do matadouro pode revelar-se de
apenas atrofiada, raramente desenvolvendo tumores, grande interesse para o controlo da incidência desta
contrariamente ao que acontece no caso da leucose doença nos efectivos avícolas.
(Beyer et al., 1980, Fadly e Crittenden, 1987 e Calnek,
1997).
Também se deve fazer o diagnóstico diferencial com Bibliografia
a reticuloendoteliose e com a histiocitose multicên-
trica, assim como com outras doenças que apresentem Bremner, A. e Mac Johnson (1996). Poultry meat hygiene and
inspection. Saunders. London. Philadelphia. Toronto. Sydney.
lesões semelhantes ou sinais de parésia, nomeada-
Tokyo.
mente a mieloblastose, a eritroblastose, o carcinoma Beyer, J., Noel, R., Vogel, K., Werner, O. e Plenio, C. (1980).
do ovário, a deficiência em riboflabina, a tuberculose, a Studies on the reliability of hard diagnosis os Marek’s
histomonose, a Doença de Newcasttle e a encefalomie- disease and lymphoid leukosis of chickens on the basis of
lite aviar (Hafner et al., 1996 e Calnek, 1997). pathologic-natomical findings. Arch. Exp. Veterinarmed, 34
Os resultados das rejeições post mortem na linha (6): 826-46.
Calnek, B.W. (1997). Neoplastic diseases. In: Diseases of poul-
de abate, observados neste estudo, indicam-nos que try, 10ª edição. Editores: B. W. Calnek, H.J. Barnes, C.W.
dos 344 animais rejeitados apenas 11 (3,2 %) o foram Beard, L.R. Mcdougald e Y. M. Saif. Mosby-Wolfe. Cap:
após evisceração das carcaças, tendo os restantes 333 17: 367-401..
(96,8 %) sido rejeitados antes desta etapa. Tal facto Dorn, P. (1973). Manual de patologia aviar. Editorial Acribia.
pode impedir a identificação de eventuais lesões vis- Zaragoza.
Fadly, A. M. e Crittenden, L. B. (1987). Avian (poultry). In: Veteri-
cerais associadas, as quais podem traduzir a presença
nary Cancer Medicine, 2ª edição. Editores: G. Theilen e B.
de entidades patológicas, como comprovam os três Madewell. Lea and Fabiger. Part VIII, 443 – 454.
casos de lesões compatíveis com a Doença de Marek Hafner, S., Goodwin, M.A., Smith, E.J., Bounous, D.I., Puette,
(forma visceral) encontrados neste estudo, que foram M., Kelley, L.C., Langheinrich, K.A. e Fadly, A.M. (1996).
identificados apenas no decurso da necropsia das aves Multicentric histiocytosis in young chickens. Gross and light
que tinham sido rejeitadas no exame post mortem, microscopic pathology. Avian Dis, 40 (1): 202-9.
Morés , N., Sobestiansky, J. e Lopes, A. (2000). Avaliação Patológ-
duas por apresentarem caquexia e uma por evidenciar
ica de Suínos no Abate. Embrapa, (Brasilia).
traumatismos. Outras lesões como pericardites, hepa- Payne, L. N. (1993). Avian leukosis / sarcoma. In: Virus infections
tites, peritonites, degenerescência muscular, enterites, of birds. Editores: J. B. Mc Ferran e M. S. Mc Nulty. Elsebier
também foram encontradas em carcaças rejeitadas Science Publishers. Cap. 28, 411-433.
antes da evisceração. A informação acrescida, relativa Pointon, A.M., Mercy, A.R., Backstrom, L. e Dial, G.D. (1992).
aos animais rejeitados no matadouro, que pode ser Disease Surveillance at Slaughter. In: Diseases of Swine, 7ª

148
Vieira-Pinto, M. et al. RPCV (2003) 98 (547) 145-148

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Y.M. Saif. Mosby-Wolfe. Cap. 35, 913-937.

149
CASO CLÍNICO REVISTA PORTUGUESA
DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Cinco casos clínicos de intoxicação por contacto com a larva Thaumetopoea


pityocampa em cães

Report of poison in five dogs after contact with Thaumetopoea pityocampa


P. Oliveira1*, P. S. Arnaldo2, M. Araújo3, M. Ginja1, A. P. Sousa1, O. Almeida1 e A. Colaço1

CECAV- Departamento de Patologia e Clínicas Veterinárias, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 5000-911 Vila Real-Portugal
1

2
Departemento de Protecção de Plantas, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 5000-911 Vila Real-Portugal
3
Laboratório de Farmacologia, Departamento de Imunofisiologia e Farmacologia, ICBAS, Universidade do Porto, Largo Professor Abel Salazar, nº.2,
4099-003 Porto-Portugal

Resumo: Na literatura científica existem alguns trabalhos que a praga mais destrutiva para o pinheiro (Contreras e
documentam os efeitos nocivos de Thaumetopoea pityocampa, Figueroa, 1997).
processionária do pinheiro, nesta espécie vegetal e no Homem.
No entanto, os artigos sobre este tema em Medicina Veterinária Thaumetopoea pityocampa é uma espécie mediterrâ-
são escassos. Neste trabalho descrevemos cinco casos clínicos de nea que se distribui pela Península Ibérica estendendo-
intoxicação por Thaumetopoea pityocampa em pequenos animais se à Turquia e ao Norte de África. As espécies animais
e relacionamo-los com o ciclo de vida do insecto na região de susceptíveis de serem afectadas na fauna selvagem
Trás-os-Montes e Alto Douro. são as raposas, as ginetas e os texugos, e nos animais
Palavras chave: Thaumetopoea pityocampa, cão, intoxicação,
processionária do pinheiro domésticos os cavalos, as ovelhas, as aves, os suínos, o
cão e o gato (Lorgue et al., 1996; Contreras e Figueroa,
Abstract: There are several scientific papers describing the 1997).
harmful effects of Thaumetopoea pityocampa in man and pines. O ciclo de vida da processionária do pinheiro (Figura
However, papers about the effects of pine processionary in dogs 1) inclui duas fases que decorrem em estratos diferen-
are uncommon. The aim of this paper is to analyze the biological
cycle of caterpillar with clinical signs observed in five cases pre- tes do ecossistema florestal. A fase aérea na copa do
sented to the Veterinary Hospital at Universtity of Trás-os-Montes hospedeiro, inclui a postura e o desenvolvimento larvar
and Alto Douro. e a fase subterrânea a pré- pupação, pupação e desen-
Key Words: Thaumetopoea pityocampa, dog, pine processionary volvimento do adulto. A passagem de uma fase à outra
caterpillar, poison verifica-se entre Fevereiro e Maio com a migração
colectiva das lagartas, que abandonam o hospedeiro
em procissão (Figura 2) para se enterrarem no solo a
alguns centímetros de profundidade.
Introdução A fase aérea inicia-se em Junho prolongando-se até
Agosto com a emergência dos adultos e posterior aca-
Os animais domésticos, e em especial o cão, são salamento. As fêmeas, depois de fecundadas procuram
muito curiosos, sendo frequentemente vítimas do seu o local mais adequado para a postura (Arnaldo, 1997).
comportamento. Nas suas incursões farejam e cheiram Em meados de Setembro, e uma vez completo o
espécies animais possuidoras de propriedades tóxicas, desenvolvimento embrionário, nascem as lagartas.
como é o caso de insectos, serpentes, sapos, processio- Decorrido o primeiro estádio de desenvolvimento,
nárias, entre outros (Poisson et al., 1994; Bernal et al., as lagartas sofrem a primeira muda. Nesta fase, as
2000). lagartas apresentam pêlos brancos na região lateral e
A processionária do pinheiro, designada também alaranjados na região dorsal, destacando-se já peque-
como lagarta do pinheiro, é denominada pelo nome nas manchas negras em cada segmento, que corres-
científico de Thaumetopoea pityocampa, pertence à pondem aos receptáculos dos futuros pêlos urticantes.
ordem lepidóptera, à família Thaumatopoidea e ao A duração deste estádio é de cerca de quinze a vinte
género Thaumetopoea. Esta espécie, conhecida desde a dias, após o que as lagartas sofrem a segunda muda
antiguidade, começou a ser estudada com o objectivo de (Arnaldo et al., 1999). A partir do terceiro estádio,
melhor compreender o seu papel devastador na floresta. as lagartas tecem ninhos definitivos onde se agrupam
Considera-se hoje que, após os incêndios florestais, é grande número de indivíduos provenientes de várias
posturas (Demolin, 1965). A estrutura destes ninhos
* Correspondente: mginja@utad.pt permite a acumulação do calor necessário à sobrevi-
Tel. 259350632, Fax. 259350480 vência das colónias durante o Inverno (Figura 3). As
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Figura 1 – Ciclo de vida da processionária.

Figura 2 – Lagartas de Thaumetopoea pytiocampa em procissão. Figura 3 – Ninho de processionárias.

lagartas abandonam os ninhos a partir do crepúsculo um carácter sazonal, dependente do clima da região,
para se alimentarem durante a noite, ficando presas verificando-se uma maior percentagem de casos durante
por um fio sedoso que lhes permite regressaram ao a Primavera e Verão. No cão a parte do corpo mais afec-
ninho (Arnaldo et al., 1999). Nestes dois últimos está- tada é a cabeça, em especial os lábios, a mucosa oral e a
dios do desenvolvimento, o aparelho defensivo das língua. O diagnóstico desta intoxicação pode ser difícil,
lagartas, perante a actuação de predadores naturais, particularmente nos casos em que não estão disponíveis
está completamente formado e é composto por oito informações sobre os antecedentes da exposição.
receptáculos localizados entre o primeiro e o oitavo
segmentos abdominais, cada um dos quais compreende
aproximadamente 120000 pêlos urticantes de coloração Casos clínicos
alaranjada e com propriedades urticantes (Lamy et al.,
1985; Contreras e Figueroa, 1997). Quando a lagarta O presente trabalho descreve cinco casos clínicos
se move os receptáculos abrem-se, libertando milhares observados no Hospital Veterinário da Universidade de
de pêlos que se dispersam no ambiente. Os pêlos retêm Trás-os-Montes e Alto Douro. Estes animais pertenciam
no seu interior uma haloproteína, cujo peso molecular é a vários proprietários residentes em freguesias distintas
de 28000 daltons, designada de taumatopoína, e que é do concelho de Vila Real. Em comum os cinco casos
capaz de desencadear a libertação na pele e mucosas, de clínicos têm o passeio por pinhais e o aparecimento
histamina, acetilcolina ou proteínas (Lamy et al., 1985; súbito e violento dos sinais clínicos. Os proprietários
Pineau e Romanoff; 1995; Veja et al., 1999; Miranda et quando questionados referiam que residiam em locais
al., 2001). próximos de pinhais e que na zona existiam numerosos
As lagartas terminam o desenvolvimento larvar e ini- ninhos de processionárias. No quadro 1 descrevem-se
ciam a procissão em busca de um local para puparem. a anamnese, os sinais clínicos (apenas os parâmetros
A procissão de enterramento é normalmente encabe- alterados), os exames complementares, o tratamento e
çada por uma fêmea (Demolin, 1962; Bertucci; 1983; a evolução, de cada um dos casos. As figuras 4, 5, 6 e 7
Dajoz, 1991). A procissão de pupação pode prolongar- documentam os casos clínicos por nós observados.
se durante vários dias com protecções provisórias noc- O diagnóstico de envenenamento pela processionária
turnas ou perante condições atmosféricas desfavoráveis foi realizado através da interpretação dos dados obtidos
(Pinto et al., 1998). da anamnese detalhada e dos sinais clínicos observados.
A intoxicação por contacto com esta espécie assume O caso clínico número 5 foi alvo de uma análise exaus-

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tiva, porque os sinais clínicos apresentados pelo animal animal. Os restantes recuperaram, tendo no entanto os
eram compatíveis com outras intoxicações, mas perante animais dos casos número 2 e 3 perdido parte da língua,
a anamnese e os conhecimentos apresentados pelo pro- por necrose irregular do seu bordo (Figuras 11 e 12).
prietário admitimos tratar-se de um caso de intoxicação
por contacto ocular com a larva da processionária.
A evolução destas situações depende da precocidade Discussão
com que o tratamento é instaurado. A cadela do caso
clínico número 1 não conseguia ingerir água ou ali- A principal via de contacto dos animais domésticos
mento, foi-lhe aplicada uma sonda nasogástrica (Figura com a processionária é na maioria dos casos cutânea,
9) e alimentada 4 vezes por dia com uma dieta comer- podendo ser também digestiva e ocular (Arditti et al.,
cial diluída em água. Quinze dias após o início do 1988). Os pêlos das processionárias funcionam como
internamento caiu-lhe a língua, parte do lábio superior finas agulhas, através das quais a taumatopoína é injec-
e a totalidade do lábio inferior (Figura 10). O proprie- tada na pele ou mucosas (Lorgue et al., 1996). Não
tário optou pela eutanásia. No caso do Doberman após sendo por isto fundamental um contacto directo entre a
o internamento também lhe foi aplicada uma sonda larva e o animal para este último ser afectado (Contre-
nasogástrica, com regime alimentar idêntico. Devido ras e Figueroa, 1997).
ao prognóstico ser reservado, vinte e quatro horas após Tal como nós observámos, e é referido na biblio-
a sua admissão o proprietário optou por eutanasiar o grafia, os sinais clínicos e lesões desta doença têm um

Quadro 1-Registo dos 5 casos clínicos observados.

Caso clínico 1 2 3 4 5
Sexo Fêmea Macho Fêmea Macho Fêmea
Raça Indeterminada Husky Siberiano Indeterminada Doberman Retrivier do Labarador
Idade 1 ano 2 anos 1 ano 4 meses 2 anos
Anamnese 3 dias de evolução, 12 horas de evolução, 1 dia de evolução, 2 dias de evolução, < 6 horas após o con-
abatimento, incapaci- abatimento e incapaci- abatimento e inca- abatimento e incapaci- tacto
dade de abeberamento. dade de abeberamento. pacidade de abebe- dade de abeberamento.
ramento.
Sinais clínicos Face edemaciada, Intenso prurido facial, Edema da face, Edema da face, Intenso prurido facial,
macroglossia, língua ulceração da língua salivação intensa. macroglossia, edema edema generalizado da
com coloração azul, (Figura 5). Hipertrofia Intenso prurido sublingual, língua com córnea (Figura 8), epí-
glossite, edema sublin- dos gânglios submandi- facial, hipertrofia coloração azul, pros- fora, blefaroespasmo,
gual, úlceras focais bulares. dos gânglios sub- tração (Figuras 6 e 7). fotofobia, prurido
na língua, estomatite mandibulares e Intenso prurido facial, ocular moderado.
e vómitos (Figura 4). vómitos. hipertrofia dos gânglios
Intenso prurido facial, submandibulares.
hipertrofia dos gânglios
submandibulares.
Exames com- Hematologia e bioquí- Hematologia e bioquí- Hematologia e bio- Hematologia e bioquí- Teste da fluoresceína
plementares mica normal mica normal química normal mica normal normal, pressão intrao-
cular 8 mm de Hg.
Tratamento Lavagens cutâneas Lavagens cutâneas Lavagens cutâneas Lavagens cutâneas Colírio oftálmico
com soro fisiológico, com soro fisiológico, com soro fisioló- com soro fisiológico, com fosfato de dexa-
succinato de metilpred- succinato de metilpred- gico, succinato de succinato de metilpred- metasona a 0,1%,
nisolona (1 mg/Kg, nisolona (1 mg/Kg, metilprednisolona nisolona (1 mg/Kg, QID, 1 gota. Sulfato
BID, IM), cefradina BID, IM), cefradina (40 (1 mg/Kg, BID, BID, IM), cefradina de neomicina a 0,5%
(40 mg/Kg, TID, IV), mg/Kg, TID, IV), pro- IM), cefradina (40 (40 mg/Kg, TID, IV), em asscociação com
prometazina (1 mg/Kg, metazina (1 mg/Kg, BID, mg/Kg, TID, IV), prometazina (1 mg/Kg, sulfato de polimixina
BID, SC), espiramicina SC), espiramicina (10 prometazina (1 BID, SC), espiramicina B, 1 gota QID. 1 gota
(10 mg/Kg, BID, SC), mg/Kg, BID, SC). mg/Kg, BID, SC), (10 mg/Kg, BID, SC). de atropina a 1%, BID,
metoclopramida (1 mg/ espiramicina (10 durante 2 dias.
Kg, infusão contínua). mg/Kg, BID, SC),
metoclopramida
(1 mg/Kg, infusão
contínua).
Evolução Queda da língua, parte Perda dos bordos linguais Perda de um dos Eutanasiado Recuperação completa.
do lábio superior, tota- e parte da região apical bordos laterais da
lidade do lábio inferior. da língua. língua.
Eutanasiado.

Legenda: BID- de 12 em 12 horas; TID- de 8 em 8 horas; QID- de 6 em 6 horas; IM- intramuscular; SC- subcutânea; IV- intavenosa.

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Figura 4 - Caso clínico n.º 1, observar o edema Figura 5 - Caso clínico n.º 2, observar as úlce- Figura 6 - Caso clínico n.º 4, observar o
da face, macroglossia e coloração azulada da ras linguais e o edema sublingual. edema da face.
língua.

Figura 7 - Caso clínico n.º 4, observar o edema Figura 8 - Edema da córnea secundário a Figura 9 - Caso clínico n.º1 entubação naso-
da língua e a coloração azul da língua. uveíte, caso clínico número 5. gástrica.

carácter evolutivo. Podem ser classificados em locais e evoluindo rapidamente para uma dermatite, também
sistémicos. Na sintomatologia local a língua é o órgão podem surgir conjuntivite, queratite e uveíte. Se os pul-
mais afectado, aumenta de volume, torna-se azulada mões estão afectados surgem dificuldades respiratórias
e com a evolução surgem áreas de necrose podendo que evoluem para asma (Ducombs, et al., 1981; Pineau
ocorrer, no local de contacto, perda dos tecidos num e Romanoff, 1995).
período de 6 a 10 dias. A glossite e a estomatite desen- O edema, secundário a reacção anafiláctica, e a urti-
cadeiam um quadro clínico de disfagia com ptialismo cária são comuns a várias patologias, é difícil reconhe-
(Arditti et al., 1988; Pineau e Romanoff, 1995). Por cer a etiologia precisa destes sinais clínicos, sendo por
vezes, observam-se sinais oculares, como conjuntivite isto importante estabelecer diagnósticos diferenciais
e queratite ulcerativa, ou sinais cutâneos como o edema (Bernal et al., 2000). Os diagnósticos diferenciais
facial, a urticária e o prurido facial intenso (Bernal et do quadro clínico de intoxicação por contacto com a
al., 2000). Do contacto da processionária com a laringe processionária incluem reacções de hipersensibilidade
ou a mucosa nasal podem ocorrer, tosse, dificuldades provocadas pela ingestão de alimentos, aditivos alimen-
respiratórias e asfixia por edema (Contreras e Figueroa, tares, medicamentos, soros, parasitas gastrintestinais,
1997). O proprietário e o Médico Veterinário podem mordidelas de serpentes, picadelas de insectos e aracní-
apresentar um intenso prurido nas mãos e braços como deos ou inalação de alergenos, afecção dentária, corpos
consequência da manipulação dos animais (Pineau e estranhos, bem como a suspeita de intoxicação química
Romanoff, 1995). (Blanchard, 1994). O edema característico destas pato-
Os sinais clínicos sistémicos são mais raros, porém logias afecta os lábios, o focinho, as pálpebras e as
possíveis, existindo relatos de choques anafiláticos, orelhas, surgindo também pápulas urticantes espalhadas
tremores musculares, coma e mesmo morte do animal pela cabeça pescoço e tronco. Nestas circunstâncias a
(Contreras e Figueroa, 1997). Observámos dois casos língua não é atingida. Nas mordeduras por serpentes
clínicos com vómitos, Grundmann et al. (2000) referem e picadas por insectos heminópteros, as reacções de
a possibilidade de surgirem outros transtornos gastrin- hipersensibilidade localizam-se apenas no local de ino-
testinais nomeadamente a diarreia. culação do veneno (Poisson et al., 1994).
Nas aves pode ocorrer uma enterite grave após a Recomenda-se o tratamento sintomático. A primeira
ingestão de processionárias, enquanto que no cavalo medida terapêutica consiste na lavagem cutânea abun-
podem observar-se erosões alongadas na mucosa oral, dante da zona afectada, por pulverização, com soro
cólicas e agitação que evolui para agressão, seguido de fisiológico ou água de javel a 1%, com o objectivo de
um intenso prurido na região do dorso (Lorgue et al., eliminar os pêlos da processionária que não estejam
1996). encravados na pele e/ou mucosas. A região afectada não
No Homem são as crianças as mais afectadas, em deve ser friccionada, para evitar a ruptura dos pêlos e a
especial os rapazes, pela sua curiosidade em explora- libertação da taumatopoína (Pineau e Romanoff, 1995).
rem ambientes desconhecidos e treparem às árvores. No combate à hipersensibilidade aguda deve aplicar-
As afecções por ingestão são raras (Pineau e Romanoff, se de imediato um tratamento de urgência à base de
1995). O quadro clínico começa por prurido intenso corticosteróides (dexametasona) por via endovenosa
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Figura 10 - Queda do lábio superior e inferior, Figura 11 - Necrose e perda de porção rostral Figura 12 - Perda do bordo lateral da língua,
animal do caso clínico n.º 1. da língua no, Husky siberiano, caso n.º 2. caso clínico n.º 3.

e anti-histamínicos (prometazina) por via subcutânea. cia do contacto com a processionária, dois proprietários
Os antibióticos são úteis na prevenção das infecções optaram pela eutanásia, porque as lesões resultantes do
secundárias (Poisson et al., 1994; Grundmann et al., contacto com este insecto punham em causa a quali-
2000). Para o tratamento das lesões oculares os dife- dade de vida dos animais.
rentes autores seguem o protocolo terapêutico por nós Durante a fase de procissão das larvas deve impedir-
utilizado (Quadro 1). se que os cães tenham livre acesso aos pinhais onde
A sedação ligeira é aconselhada para combater a dor existam ninhos de processionárias. Na fase de larva,
intensa e nos casos com transtornos gastrintestinais, especialmente antes da segunda muda, as processio-
vómitos e diarreia, recomenda-se a administração de nárias são sensíveis a insecticidas. As fumigações com
metoclopramida (Grundman et al., 2000). Poisson et triclorfon a 5% ou piretrinas são eficazes (Bernal et al.,
al. (1994) e Bernal et al. (2000) aconselham a admi- 2000). Nas zonas endémicas para destruir a processio-
nistração de aprotinina, substância activa inibidora das nária recomenda-se a utilização de diflubenzuron como
enzimas proteolíticas, com efeito antifibrinolítico, que antiquinizante (Poisson et al., 1994). Os ninhos podem
actua sobre os mediadores plasmáticos da inflamação destruir-se com injecções de petróleo ou de insectici-
(plasmina e calicreína). Bernal et al. (2000) utilizaram e das, ou por queimadas (Bernal et al., 2000).
obtiveram resultados satisfatórios com a administração Em Portugal não existem registos epidemiológicos
intralingual de heparina, 200 a 500 UI/Kg de oito em sobre o número de animais afectados anualmente pela
oito horas, para controlar a evolução da glossite necró- processionária, mas estudos realizados em França
tica da ponta da língua, desencadeada pelos microen- demonstram que a processionária do pinheiro é a prin-
fartes. No caso das glossites superficiais uma plastia cipal causa de envenenamento dos animais domésticos.
da língua pode ser utilizada com o objectivo de corrigir, Em Trás-os-Montes, a processionária do pinheiro,
pela cirurgia, os defeitos linguais e facilitar a ingestão representa uma ameaça para a saúde humana e animal
de água e alimento (Grundman et al., 2000). entre Fevereiro e Maio. De referir que, para além do
Os animais debilitados, com dificuldade na preensão contacto directo com as lagartas, também o manusea-
dos alimentos ou na ingestão de água, devem ser inter- mento dos ninhos pode ser perigoso, uma vez que estes
nados para realizar fluidoterapia e normalizar a função se encontram recheados de excrementos e de pêlos
renal. Em circunstâncias especiais pode ser necessário que ao serem transportados pelo vento, contaminam o
alimentar o animal através de uma sonda gástrica ou ambiente e em contacto com a pele ou com as mucosas
nasogástrica. A duração do tratamento depende do originam reacções alérgicas.
estado geral do animal, normalmente os animais recu-
peram até aos 10 dias.
O prognóstico é reservado, apesar da maioria dos
Bibliografia
casos apresentar uma evolução favorável (Poisson et al.,
Arditti, J., David, J.M., Jean, P., Jouglard, J., (1988). Accidentes
1994). Contudo, depende do grau de afecção e da pre- provoqués par la chenille processionaire du pin en Provence.
cocidade com que o tratamento inicial é instaurado. De Journal de Toxicologie Clinique et Espérimentale 8(4),
acordo com Bernal et al. (2000), os animais com sinais 247-251.
clínicos de urticária e edema recuperam num período Arnaldo, P. S. (1997). Parasitismo de ovos de Thaumetopoea
de 24 horas, no entanto nos que apresentam estomatite pityocampa Schiff. em Trás-os-Montes. Tese de Mestrado
em Engenharia da Produção Florestal. Universidade de
e glossite a recuperação demora cerca de 3 dias. Nos Trás-os-Montes e Alto Douro, 125 pp.
casos em que o contacto lingual com a processionária Arnaldo, P., Rocha, S., Torres, L. & Pinto, A. (1999). Bioecologia
é intenso está referido por vários autores que pode da processionária do pinheiro, Thaumetopoea pityocampa
ocorrer necrose de uma porção, mais ou menos extensa Schiff. em Trás-os-Montes. Resultados preliminares. V
(Poisson et al., 1994; Lorgue et al., 1996; Bernal et al., Encontro Nacional de Protecção Integrada, Bragança, 27 a
29 de Outubro de 1999, 292.
2000). Dos casos clínicos por nós acompanhados obser-
Bernal, I.J., Cerón, J.J., Tecles, F., Bolio, M. (2000). Envenenami-
vámos que os animais com pior evolução foram aqueles ento por procesionaria del pino : conceptos generales y pautas
cujo tempo compreendido entre a intervenção médica e de actuación. Consulta Difus Veterinaria 8(71), 41-46.
o contacto com a larva da processionária era igual ou Bertucci, B. M. (1983). La processionaria del pino. Informatore
superior a 2 dias. Nenhum dos cães morreu na sequên- Fitopatologico 7(8), 21-30.

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Oliveira, P. et al. RPCV (2003) 98 (547) 151-156

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Ver. Esp. Alergol Inmunol Clín. 14(1), 19-22.

156
SUPLEMENTO REVISTA PORTUGUESA
DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Cartas ao editor que visa desvalorizar o comportamento de certos espé-


cimes humanos e não tanto da incapacidade de reco-
Bem-estar-animal – uma questão veterinária! nhecer a afectividade e inteligência de algumas espé-
cies animais, torna-se, igualmente, por esse motivo,
1. O interesse suscitado pelo tema do texto editado inaceitável.
no Suplemento (nº 122, Abr. Jun. 2003) da Revista Por outro lado, a designação de “animal não-
Portuguesa de Ciências Veterinárias (Vol. XCVIII, nº humano”, mesmo que pretendendo diluir a distinção
546, p. 51-100), na rubrica “Cartas ao editor”, sob o entre humanos e animais (pelas razões antes expos-
título “Direitos dos animais – uma questão jurídica?”, tas), acaba por ter, em muitas circunstâncias, o efeito
aliado ao conjunto de questões afloradas, motivam as oposto, visto tratar-se de uma designação redundante:
presentes considerações; mesmo correndo o risco de se não houvesse realmente diferença entre humanos e
poderem ser consideradas polémicas, subjaz a intenção animais, não haveria razão para a subdivisão sugerida
de contribuir, ainda que de forma singela, para a refle- entre “humanos” e “não-humanos”.
xão que o referido texto sugere. Tal contradição poderia ser evidenciada pelo próprio
Apresentado sob a forma de uma acta ou relatório texto, se uma das interrogações colocadas fosse refra-
do colóquio referido, que teve lugar entre 13 e 14 de seada, utilizando o termo “não-humano”: “…sendo a
Maio, do corrente ano, na Faculdade de Direito da capacidade de sofrer comum a todos os seres huma-
Universidade do Porto, reunião a que infelizmente não nos, não será também que nos aproxima dos outros
assisti, a missiva deixa em aberto algumas interroga- animais [não-humanos]?”.
ções e aborda um conjunto de conceitos (muito embora Assim sendo, porque não manter a distinção na base
não expresse de forma clara a opinião da sua autora), definida: humanos e animais? Parece suficientemente
só por si suficientes para provocar e prolongar a refle- razoável, tecnicamente correcta e “legitimada” pelo
xão sobre o tema. uso.
2. Parece pois, mais do que justificável, clarificar 3. O segundo aspecto, que julgo merecer clarifi-
a priori, alguns aspectos e conceitos subjacentes na cação, relaciona-se com os “direitos dos animais”,
apresentação a começar pela designação de “animais por não ser de todo compreensível, em que ponto da
não-humanos”. Se sob o ponto de vista estritamente “escala de valores” se situa esse “direito”: se sim-
biológico, a inclusão dos humanos (homo sapiens plesmente na adopção e cumprimento de legislação
sapiens) no “reino animal”, não sugere qualquer tipo de protecção dos animais (sendo essencial crer que a
de objecção, não é menos verdade que, quer sob o mesma dimana de um sentimento generalizado e de
ponto de vista moral e civilizacional, quer sob o ponto um consenso alargado da comunidade a que se dirige
de vista do psicológico, emocional e cognitivo, a dis- essa legislação) ou se, no outro extremo da escala,
tinção entre animais e humanos estaria mais do que considerando que aos “animais” deve ser reconhecida,
justificada. Mesmo sob o ponto de vista da filosofia de alguma forma, personalidade jurídica, fruto da sua
do Direito, a qualidade de tudo o que é jurídico, diria incapacidade em “reciprocar” ou por se considerar que
respeito apenas às coisas da conduta humana: apenas em certas circunstâncias existe um “…prolongamento
o Homem, único detentor de espírito, existencial ou de características humanas.”.
transcendental, poderá criar e vivenciar aquela quali- Esta questão desperta, antes de mais, uma crítica à
dade. formulação antropomórfica, várias vezes enunciada ao
Ora a designação de “animais não-humanos”, parece longo da exposição, como argumento que sustentaria
querer confundir ou pelo menos tornar difusa aquela o reconhecimento dos “direitos dos animais” e, con-
distinção, ao aliar as duas designações em oposição; sequentemente o estabelecimento de legislação e san-
tal circunstância é inaceitável, sendo inclusivamente, ções adequadas: os “…estudos de capacidades cogniti-
susceptível de criar dificuldades, justamente junto dos vas…” dos animais; a “…atribuição de alguns direitos
principais destinatários da regulamentação sobre “Pro- aos animais perante circunstâncias que se pudessem
tecção dos animais”, fruto de uma percepção distorcida considerar como um prolongamento de característi-
que possam vir a ter os fundamentos daquela legisla- cas humanas…”; “…a capacidade de sofrer comum
ção, perdendo-se, desse modo, a capacidade de suscitar a todos os seres humanos…”; “…atribuir direitos a
a sua motivação e empenho. todos os animais que se saiba passarem o patamar
A designação de “animal” é aliás frequentemente cognitivo…” ou a “…perspectiva mais próxima do
utilizada, sob o ponto de vista da semântica, como estatuto da pessoa jurídica.”
sinónimo de “não-humano”: grosseiro, irracional, rude, O mimetismo com os Direitos consagrados aos
ignorante. Embora tal alusão resulte de um discurso humanos não parece, de facto, aceitável, exactamente

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por não se focalizar na questão essencial: a protecção merece, quer sob o ponto de vista ético, quer sob o
dos animais deverá resultar exclusivamente da natureza ponto de vista religioso, quer ainda sob o ponto de
dos seus perfis fisiológicos, cuja avaliação científica e vista dos costumes, uma unanimidade de opiniões; não
experiência acumulada ditarão as regras relativamente existe tão-pouco um consenso social generalizado, das
às cinco componentes enunciadas: fome e sede, con- regras a cumprir, pelo que os fundamentos das mesmas
forto, dor, comportamento natural, medo e stress. não poderão em qualquer circunstância ultrapassar os
Por outras palavras se dirá que, qualquer que seja a limites daquelas que forem as referências de natureza
expressão jurídica, ou melhor, legal, dos “direitos dos fisiológica e experiência acumulada.
animais”, nunca a mesma poderá decorrer por compa- É nesta perspectiva que me parece deva ser man-
ração, mesmo que absurda, com outro tipo de legisla- tida pela profissão veterinária uma posição de fiel da
ção, mas exclusivamente estatuindo um conjunto de balança, não assente em costumes, dogmas ou crenças,
regras (garantidas por meio de uma acção coercitiva resultando na clarificação legal de um conjunto de
do Estado), que sejam o reflexo exacto da ciência e circunstâncias de que são exemplo: o confinamento de
da experiência, quanto às exigências fisiológicas dos animais de produção, o transporte de animais, a occi-
animais. são ou abate, o abate religioso, a competição despor-
Quanto a este aspecto, a expressão “direitos dos tiva, o espectáculo envolvendo animais, a caça, etc.
animais” não poderá ser reconhecida como alusiva à 5. Para finalizar e repescando algumas das expres-
natureza intrínseca dos animais, também aqui deverá sões utilizadas em referência aos animais: “estatuto
ser obviado o paralelismo com os “Direitos Humanos”. moral”; “direitos dos animais”; “estatuto jurídico”;
Ao contrário, e como referi, qualquer legislação “protecção jurídica”; “sujeito jurídico” e tendo em
sobre a protecção dos animais, deverá derivar exclusi- conta a interrogação que o título da carta ao editor
vamente das cinco componentes antes referidas, enqua- encerra, parece-me óbvio estarmos perante uma ques-
drando-se em outras áreas do Direito, nos domínios tão veterinária.
da Saúde Animal, da Higiene Pública Veterinária, do
Miguel Ângelo
Melhoramento Animal, etc. parecendo portanto mais Apartado 78
sensato, falar de Direito Veterinário, identificando-se 5374 - 909 MIRANDELA
os animais em quanto coisa jurídica, como um recurso supervet@sapo.pt
da Humanidade.
Constituindo-se assim, como um ramo do Direito,
Notas sobre publicações
resultante da diversidade e evolução da vida social e
portanto mais coerente, eficiente e eficaz quanto à sua
aplicação, o enquadramento das diferentes disposições
legais num Código Veterinário, está aliás plasmado no
edifício legislativo comunitário, que incluí toda a regu-
lamentação em apreço sob a designação de “legislação
veterinária e zootécnica”.
Julgo que a designação “direitos dos animais” deverá
ser obviada, a favor da legislação, de que a protecção
dos animais constituiria um importante pilar, geradora
de obrigações jurídicas aos humanos, particularmente O Diamante
aos donos e detentores dos animais (cuja responsa- Revista editada pela Associação do Pessoal
bilidade deriva da sua personalidade jurídica), mas da Diamang
também às entidades e pessoas (igualmente detento- A história começa em Angola em 1907, quando
res de personalidade jurídica), que de algum modo foi encontrado o primeiro diamante, no então Congo
interferem no cumprimento daquela legislação, a cujo Belga do grande protector dos nativos Rei Leopoldo
conjunto deverá ser atribuída a designação de Direito dos belgas, o qual, como se sabe não se poupou a
Veterinário ou de Código Veterinário se assumir esse esforços para o desenvolvimento da extensa concessão
modelo. que lhe coubera na partilha do continente africano,
4. O problema anterior coloca, justamente, um outro, na Conferência de Berlim, tudo realizado a bem da
estritamente relacionado com a filosofia do Direito: “civilização”, evidentemente. Essa descoberta deve ter
o de saber se os animais poderiam ser detentores de feito nascer a ideia de que onde existia um, existiriam
qualidade jurídica. Não detendo qualquer competência muitos mais. Para dar continuidade às prospecções foi
na área do Direito, parece-me, ainda assim, que aquela então criada uma empresa denominada “Societè Inter-
qualidade apenas poderá ser atribuída às coisas de nationale Forestiére et Miniére du Congo”, abrevia-
conduta humana, sendo que nestas circunstâncias os damente designada por “Forminière”. Ao seu serviço
animais constituiriam o objecto, o recurso, o bem, con- ficaram os dois prospectores americanos chamados
substanciando um determinado Direito. Jhonson e Mac Vey que já operavam na área e que,
Será bom registar que a protecção dos animais, não em 1912, na margem direita do rio Chiumbe, encon-

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traram mais sete pedras, concluindo portanto que as tugália, Cambulo e Verissimo Sarmento, corresponden-
jazidas descobertas no Congo tinham continuidade em tes a 45 483 Km2, qualquer coisa como, aproximada-
território angolano. Isso obrigou à formação de uma mente, metade da superfície de Portugal metropolitano,
outra sociedade associada da belga, com algum capital realçando a obra realizada e o grande Hospital que sob
português, que tinha nos seus objectivos a prospecção sua orientação se construiu no Savacula, para a luta
das jazidas de diamantes presumivelmente existentes anti-tuberculose, assinado julgo, por quem o substituiu
em Angola e que se chamou “Companhia de Pesquisas o Dr. José Henrique Santos David; ao Doutor Antó-
Mineiras de Angola” – a PEMA, em 4 de Setembro de nio Barros Machado, neto de Bernardino Machado, o
1912, depois substituída pela constituição da “Compa- cientista, Doutor Honoris causa pela Universidade do
nhia de Diamantes de Angola” – a “Diamang” em 16 Porto, criador do Laboratório de Investigações Bio-
de Outubro de 1917. lógicas do Dundo e biólogo especialista de renome
Assim principia a história intitulada “Pioneiros” que internacional, em insectos, aranhas, mamíferos, des-
nos conta o nosso colega, amigo e condiscípulo Victor crevendo novos géneros e espécies e seus comporta-
d’Albuquerque Matos, a abrir uma interessantíssima mentos, enriquecendo os conhecimentos sobre a fauna
publicação intitulada “O Diamante” editada pela angolana e obrigando a que as “Publicações Culturais
“Associação do Pessoal da Diamang” a propósito do da Diamang” passassem a ser de consulta obrigatória
XXI encontro de confraternização e convívio dos ex- por especialistas de todo o mundo, sem esquecer os
empregados da Companhia e seus familiares, realizado seus originais trabalhos sobre a biologia da Glossina
em 14 de junho último, em Manique do Intendente. ou tsé-tsé (a mosca transmissora da doença do sono)
Direi, antes de mais, que essa publicação de 82 pági- assinados pelo Doutor Eduardo Luna de Carvalho e
nas, com formato de “revista tipo A4”, tem excelente e pelo seu filho David; ao Dr. David Bernardino, assassi-
cuidada apresentação gráfica, com numerosas reprodu- nado pela UNITA, quando saía do Centro de Saúde que
ções fotográficas, quase todas inéditas, não pode deixar construíra com as suas próprias economias no bairro
de interessar a todos os que se interessem pela História de Cacilhas na sua cidade do Huambo onde nascera,
de Angola. A sua tiragem foi limitada e julgo que não publicando o discurso do Doutor Barros Machado na
esteve, nem está à venda. Pelo menos não a encontrei homenagem prestada à sua memória no Teatro Villa-
nas livrarias de Lisboa e o exemplar que possuo foi-me ret, em Lisboa, focando as suas diversas facetas de
oferecido pelo acima citado amigo e colega. Também médico, de melómano, de escritor, de actor, de poeta
não encontrei qualquer referência a preço, ou director, e jornalista “um elo de ligação entre as culturas dos
presumindo tratar-se de publicação avulso, não perió- povos angolano e português”, “os mandantes dos seus
dica, portanto. Para confirmar essa ideia é indicado executores, destruíram com este crime um dos valores
apenas como seu coordenador o Dr. Bernardo José humanos mais altos do seu próprio país”, “mas o que
Ferreira Reis, que foi o último administrador da Dia- não puderam destruir foi exemplo que o David nos
mang residente no Dundo, o qual também descreve o deixou de toda uma vida de abnegação e de coragem,
último arrear da bandeira portuguesa, feito ao pôr-do- simbolicamente aniquilada no limiar do seu posto de
sol no dia 10 de Novembro de 1975, frente à sede da trabalho de assistência humanitária, que se recusou a
Direcção Geral da Companhia na Praça Henrique de desertar, não obstante os perigos que o ameaçavam”.
Carvalho, com todo o cerimonial e guarda de honra E ainda outra colaboração talvez menos específica,
prestada pelos “cipais” ou “capitas” da policia mineira mas de situações vividas tais como “Quando a vio-
com bombos, fanfarra e bandeiras, como sucedia todos lência chega ao paraíso” (o paraíso era obviamente o
os domingos e feriados. Dundo) pelo Dr. Américo Botelho ou simples postais
A independência de Angola seria declarada no dia de vários autores que já não podemos referenciar, por
seguinte, 11 de Novembro, por cada um dos três movi- falta de espaço.
mentos que pretendiam governar o novo país, incapa- Deixei, propositadamente para o fim a colaboração
zes de se entenderem em conjunto, respectivamente, do meu amigo d’ Albuquerque Matos. A ele pertence o
em Luanda, no Huambo e no Ambriz. valioso trabalho sobre as origens e a formação da Dia-
Essa publicação é, uma evocação a quantos trabalha- mang e dos seus Serviços Veterinários, intitulado “Pio-
ram na Diamang, abordando factos, situações, aconte- neiros”. Nesse trabalho mostra-nos como a Companhia
cimentos gerais vividos, mas também homenageando cresceu rapidamente, avaliando esse desenvolvimento
alguns elementos de uma pequenina comunidade pelo número de engenheiros e profissões ligadas às
perdida no nordeste de Angola que, pelo seu trabalho actividades mineiras, logo seguido pelos agentes agrí-
continuam na lembrança dos vivos e refiro: o médico colas – boeres e ingleses – os quais representam o
Dr. João da Rocha Afonso, que durante 15 anos foi o interesse e o esforço que a Companhia sempre dedicou
Director dos Serviços de Saúde da Diamang, prestando à produção de bens alimentares, numa zona difícil e
“incomensurável contribuição na tentativa de solu- carenciada.
cionar três magnas questões da Lunda: a assistência Por esse tempo a língua falada era quase exclusi-
materno-infantil e o combate às graves endemias da vamente a inglesa, pois a comunidade existente era
lepra e da tuberculose”, na área dos concelhos de Por- dominantemente anglo-saxónica. A parte administra-

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tiva estava entregue aos belgas. frente dos Serviços Veterinários só voltou à Lunda, de
Nesse artigo aborda a visita que o Alto Comissário, onde fora expulso na sua juventude, trinta anos depois,
General Norton de Matos acompanhado pela esposa e em 1950, sendo recebido com a deferência devida ao
a filha em 7 de Janeiro de 1922, viajando de automóvel seu cargo.”
, realiza à Lunda. O General mostrou-se bem impres- O Colega Victor Matos escreve que “O contrato,
sionado com o que observou, mas não deixou de regis- impresso em papel selado com $30 que todos os
tar que não se falasse português, que não houvesse empregados tinham que assinar...era mais que leonino,
uma única bandeira portuguesa hasteada e que não era diamantino!” e foi “melhorando” pela aposição de
existisse um serviço de veterinária e zootecnia, dado o mais cláusulas e novas exigências...” E concluí: “mas
desenvolvimento das manadas de gado bovino. ou se tinha necessidade e espirito de aventura ou se
Assim veio a nascer o primeiro Serviço Veterinário rejeitava!” e acrescenta: “Desses contrato assinei eu
da Diamang para o qual foi contratado o Dr. Abel Lima cinco! Mas de trinta meses, além dos prolongamen-
do Sacramento Pratas. A presença do colega Pratas na tos...”
Lunda foi muito curta, pois na sequência de desenten- O que ele não diz mas eu acrescento, pois ainda me
dimento com o “Acting Manager Engineer Retie, foi- recordo de assistir à sua passagem pela estação do
lhe imposto o fim do contrato, nos termos do art.12, ou Caminho de Ferro de Nova Lisboa, “comandando a
seja: “quando isso conviesse à Companhia, sem aviso operação” “Arca de Noé” o comboio de gado de várias
prévio e sem justificar a sua demissão, mediante o espécies, com destino à Lunda, para reforço e melho-
pagamento de uma indemnização igual a três meses de ramento das explorações pecuárias da Diamang. De
ordenado”. Na mesma data foram dados por findos os facto foi ele o sucessor do Dr. Pratas na Companhia de
contratos a mais três empregados portugueses, que se Diamantes de Angola. Durante 26 anos nunca os diri-
solidarizaram com o Dr. Pratas. gentes da Companhia entenderam necessário disporem
Quando passaram por Luanda, em 2 de Fevereiro de Serviços Veterinários próprios e recorriam ao Dele-
de 1922, os portugueses demitidos apresentaram suas gado de Sanidade de Pecuária de Malange.
queixas ao General Norton de Matos e em consequên- Nunca visitei a Lunda mas sei que o trabalho reali-
cia dos acontecimentos, foi publicado em 20 de Feve- zado pelo colega Matos foi verdadeiramente notável.
reiro do mesmo ano o Decreto nº 241, o qual, logo no Partindo do zero, levantou as estruturas de um Ser-
art. 1º estipulava: “Todas as sociedades, companhias viço que chegou a ocupar cinco médicos veterinários,
ou empresas, nacionais ou estrangeiras...” são obriga- além de reestruturar em novas bases as estratégias
das: “a) O empregado mais graduado, com residência das deslocações de bovinos para abate, que por vezes
na Província será sempre cidadão português; b) O ultrapassavam as duas mil cabeças de animais adquiri-
administrador ou director geral “in loco” será sempre das no Sudoeste de Angola e percorriam “a pé-de-boi
cidadão português; c) Será constituída por cidadãos mais de 2000 quilómetros, como ele gosta de dizer. A
portugueses metade pelo menos, quer do pessoal téc- História de todo esse trabalho e estudo, de um médico
nico, quer do pessoal de carteira e contabilidade; d) veterinário “pioneiro” na Lunda, numa Companhia que
O pessoal médico e de enfermagem, será todo portu- explorava Diamantes, mas que se preocupava também,
guês”... O 20º e último artigo concedia o prazo de um e isso é preciso que se diga, com o bem estar dos seus
ano, a contar da data de publicação do Decreto, para empregados e das populações que habitavam as áreas
que lhe fosse dada execução. concessionadas, é praticamente desconhecida. As situa-
Quanto ao Eng. Rettie, a direcção da Companhia ções vividas nesses tempos são abordadas vagamente
considerou que a sua actuação fora precipitada e reco- (diria mesmo “talvez desportivamente”) em outro
mendou-lhe especial cuidado na recepção e tratamento artigo do mesmo autor que ele intitulou de “Aponta-
dos empregados portugueses. mentos”. Mas isso não chega. Tudo isso é, de facto,
O Dr. Abel Pratas veio depois a ser contratado para uma parte (desconhecida!) da História da Profissão em
os Serviços Veterinários de Angola, em 1924, sendo Angola que seria bom não se perdesse.
colocado como Director interino da Estação Zootéc- Tenho elementos, na minha posse que esse Amigo
nica da Humpata, acumulando com a chefia da Repar- me tem enviado, mas falta-me a vivência dos aconte-
tição Distrital de Veterinária do Distrito da Huíla. cimentos ... o conhecimento do meio, falhas, desinfor-
Depois, em 1939, foi nomeado para dirigir a Reparti- mações e outras insuficiências...
ção de Pecuária da Direcção dos Serviços de Fomento Até porque, tal como escreve um dos elementos
de Angola. Com a remodelação dos Serviços Adminis- da Comissão Organizadora do Encontro: “Hoje não
trativos de Angola ocupou então o lugar de Director da restam mais que vestígios de tudo o que ali fizemos,
Repartição Central dos Serviços de Veterinária e da por exemplo no domínio da cultura e da ciência (e
Industria Animal, no qual permaneceu até aos 62 anos, podíamos falar do Museu, do Laboratório de Biologia,
quando foi promovido a Inspector Provincial e aposen- dos Estudos Antropológicos, dos trabalhos permanen-
tado, por ter atingido o limite de idade. Escreve então tes do combate ao paludismo, à doença do sono, à
o colega d’Albuquerque Matos: “Durante a sua longa tuberculose, etc.). Esta é a nossa grande mágoa.”
permanência em Angola, quer na Humpata, quer à E mais não digo! Meus parabéns ao Coordenador, à

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Comissão Organizadora e a todos quantos colaboraram in Brucellosis, Manipulation of Marsurpial Reproduc-


nesta, que considero, importante publicação, como um tion, Reproductive Disorders in the Postpartum Period
contributo para a necessária e esclarecedora História de of Dairy Cows, Experimental Design. Informações:
Angola, pois na Colonização nem tudo foi condenável, icar2004@cbra.org.br, www.cbra.org.br/icar2004
nem tudo foi exploração desenfreada e sem limites..

A. Martins Mendes
Vida associativa
Alto da Ajuda, Setembro 2003
Sessão solene comemorativa da abertura do ano
académico: A cerimónia terá lugar na Universidade de
Reuniões científicas e cursos Trás os Montes e Alto Douro, no dia 11 de Dezembro
de 2003, 5ª feira, pelas 16 horas. A oração de sapiên-
Curso de Mestrado em Ciência Animal em Meio cia será proferida pelo Professor Doutor Alexandre
Tropical: No âmbito das acções de formação pós- Quintanilha e será subordinada ao tema “Como é que
graduada da Faculdade de Medicina Veterinária da as sociedades lidam com o risco”. Foi convidada para
UTL, decorre actualmente a programação do Curso presidir à cerimónia a Senhora Ministra da Ciência
de Mestrado em Ciência Animal em Meio Tropical, e do Ensino Superior, Professora Doutora Maria da
organizado por aquela Faculdade com a colaboração Graça Carvalho.
do Centro de Veterinária e Zootecnia do Instituto de
Investigação Científica Tropical. Palestras na sede da SPCV: Será anunciado breve-
O Curso que se iniciará em Janeiro de 2004, tem por mente um conjunto de actividades científicas e culturais
objectivo facultar formação técnico-científica aprofun- para o período que vai do presente até ao fim de 2004 e
dada em temas relevantes para a pecuária nas regiões que se iniciarão com uma palestra, no dia 20 de Novem-
tropicais relacionados com: bro p.f. pelas 17h e 30m na sede da SPCV (antiga
- As suas particularidades edafo-climáticas, sanitá- biblioteca da FMV nas instalações da rua Gomes
rias, zootécnicas e sociológicas; Freire) proferida pelo Doutor Michael Parkhouse, do
- Aspectos da transformação e qualidade de alimen- Instituto Gulbenkian de Ciência, subordinada ao tema
tos; “Rational strategies for pathogen control”.
- A utilização de biotecnologias apropriadas em pro-
dução e sanidade animal; Sítio da Sociedade Portuguesa de Ciências Vete-
- O estabelecimento de estratégias de planeamento rinárias na Internet: a SPCV pode ser encontrada
de economia e de produção pecuária baseadas no em www.spcvet.pt e dispõe já de um endereço de
desenvolvimento sustentável daquelas regiões. correio electrónico, spcvet@spcvet.pt, que pretende-
As inscrições estarão abertas até ao dia 30 dia mos usar para manter os sócios informados das nossas
Novembro. Informações detalhadas sobre o referido iniciativas e através do qual nos poderão fazer chegar
Curso podem ser obtidas no “site” da Faculdade de sugestões, comentários e críticas para que possamos
Medicina Veterinária www.fmv.utl.pt (Ensino pós-gra- melhorar e dignificar a nossa sociedade. Pedimos a
duado). todos os sócios que nos enviem para esta morada o seu
endereço de correio electrónico.
15th International Congress of Animal Reproduc-
tion (ICAR 2004): a decorrer em Porto Seguro, Baia, Movimento de sócios: de 1 de Julho a 30 de Setem-
Brasil, de 8 a 12 de Agosto de 2004. O programa inclui bro de 2003 foram admitidos ou readmitidos os sócios
sessões plenárias: Genomics, Cloning and Transgenic que a seguir se indicam. Efectivos: 1457 João António
Strategies; Reproduction and Conservation of Endan- Lannas da Silva, 2213 Maria de S. José Centeno, 2214
gered Wildlife; New Developments in Reproductive Maria Teresa Filipe da Costa, 2215 Manuel Ferreira
Technology; Microenvironment and Reproduction; Joaquim, 2216 Maria Helena Monteiro. Estudantes:
Simpósios: Nutrition and Reproduction; Canine and 2208 Francisco Mendes Machado da Silva, 2209 Rita
Feline Reproduction; Small Ruminants; Immuno- Calado da Silva, 2210 Paula Alexandra Guerra, 2211
Reproduction; Reproduction and Fertility in Males; José Miguel Novo de Matos, 2212 Ana Luisa da Silva
Reproduction in Bos Indicus; Pathology; Endocrine Pinto, 2217 Mafalda Aragonez Bacalhau, 2218 Joana
and Paracrine Control of Reproductive Processes; Gonçalves da Silva, 2219 Sofia Isabel Costa, 2220
The Control of Oestrus, Ovulation and Anoestrus in Pedro David Carvalho, 2221 Ana Sofia Pisco, 2222
Cattle; The Control of Oestrus, Ovulation and Anoes- Rita Soraia Campos, 2223 João Lucena Afonso, 2224
trus in Cattle; Gene Expression; Equine Reproduction; Ary Hugo de Abreu, 2225 Luís Carlos Simão, 2226
Workshops: Buffalo, Animal Welfare, Reproduction of Telmo Ricardo Ferraz Fernandes, 2227 Pedro de
Camelids, Pig Reproduction, Active Immunization and Morais Julião, 2228 Ana Catarina Gascon Migueis,
Reproductive Control, Spermatogonial Transplants and 2229 Carlos Manuel Nery Norte, 2230 João Manuel
Testis Graft in Mammals, Transvaginal Oocyte Retrie- Monteiro da Costa.
val (Ovum Pick-Up) and it’s Applications, New Insight

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