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Aportes teóricos para a compreensão do Campesinato.

As teorias foram escritas com vistas à desvendar a realidade, no entanto, a


realidade pode se apresentar, cotidianamente, muito mais complexa do que uma teoria poderia
abarcar. Porém, é válido considerar que uma teoria não é desenvolvida sem motivo algum,
mas a partir de um contexto vivido, isto é, “[…] quem pensa e sistematiza um apanhado de
reflexões e idéias também está intimamente inserido em um contexto político, econômico,
social e geográfico (FELICIANO, 2006, p. 13). Entretanto, cabe aos pesquisadores das várias
áreas de estudos, escolherem aquela que mais for pertinente e condizente com a sua visão de
mundo e com o recorte empírico que pretende investigar.
Na década de 1990, quando o mundo sofreu intensas transformações na
geopolítica mundial, principalmente através de dois fatores, a queda da URSS e as
transformações sofridas pelo capitalismo, cunharam-se os termos global e globalização, os
quais, “não derivam de uma reflexão intelectual voltada para a produção de teorias no mundo
acadêmico, mas foram criados de forma ideológica para explicar o processo de reordenação
territorial do capitalismo mundial” (OLIVEIRA, 2015, p. 230). Assim, o mesmo autor pontua
que diversos foram os intelectuais acadêmicos, particularmente da década de 1990, que se
preocuparam e construir uma explicação científica para o termo globalização, entre eles
Milton Santos, Armén Mamigonian, Paulo Freire, Octávio Ianni, Georges Benko e Paul
Singer.

Entre outras conquistas do “Grito da Terra Brasil” somam-se desapropriações de


terras que beneficiaram milhares de famílias sem terras e concessão de benefícios
previdenciários travados pelo INSS, além de melhores condições de trabalho para os
assalariados e assalariadas rurais (CONTAG, 20111).

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No contexto da criação do programa, o acesso a esta linha de crédito, ainda era


limitado, devido a falta de interesse dos bancos e das instituições financeiras em financiar

1
CONTAG contabiliza conquistas do Grito da Terra. Disponível em: http://www.contag.org.br/indexdet.php?
modulo=portal&acao=interna&codpag=101&id=7238&mt=1&nw=1. Acesso em: 21/11/2022.
créditos para a população de baixa renda, por outro lado havia a concentração de créditos para
grandes proprietários latifundiários, contribuindo para o crescimento da desigualdade
produtiva no Brasil. Nessa via, era necessário ampliar a oferta de créditos para segmentos da
agricultura camponesa, uma vez que essas famílias não tinham acesso ao crédito rural.
(BITTENCOURT, 2003). Assim, “desde 1995, período que antecede a criação do Pronaf,
observou-se um crescimento amplo dos recursos destinados ao crédito rural, passando de R$
38 bilhões, em 1995, para R$ 165 bilhões, em 2016” (ARAUJO e VIEIRA FILHO, 2018, p.
09).
Mas, se por um ângulo houve aumento de recursos ao referido programa, sob
outro enfoque “persistem inúmeras dificuldades em relação e esse programa. Uma delas
decorre da concentração dos recursos disponibilizados às famílias rurais do ponto de vista das
grandes regiões do país. Nesse caso, sabe-se que a região sul absorve a maior parte do volume
financiado” (DOS ANJOS et al, 2009).
Abramovay e Veiga (1999), constataram que em 1997 os acessos ao PRONAF
nos estados do Sul detinham sozinhos 69% do total e 67% do valor aplicado. Vale considerar
que segundo os mesmos autores, houve, entre 1996 e 1997, um aumento de 16,5% de acessos
ao programa, mas ainda assim, “os dados de 1997 confirmam a situação do ano anterior, em
que o Nordeste tem baixíssima participação entre os tomadores de empréstimos bancários do
PRONAF, apesar do aumento no número de tomadores de crédito e nos valores envolvidos
nessas operações, em relação a 1996” (ABRAMOVAY e VEIGA, 1999, p. 31).
As explicações para esse quadro, segundo Dos Anjos et al, (2009, p. 477), são
múltiplas e uma delas é relativa ao fato de que “a atuação da extensão rural é fundamental
para encaminhar os documentos referentes à obtenção da Declaração de Aptidão ao Pronaf
(DAP), bem como no sentido de prestar assistência técnica às famílias”. Nesse contexto, os
autores ponderam

se nos estados sulistas a extensão rural incorporou esse papel, num amplo conjunto
de atribuições a ela destinadas, o mesmo não ocorreu em muitos estados do nordeste
brasileiro, onde muitas destas instituições foram desativadas a partir da extinção da
Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), ao final da
década de 1990, a qual, como é sabido, se apresentava como responsável por
estabelecer as diretrizes da atuação das Ematers em todas unidades federativas, à
exceção do estado de São Paulo

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Para Dos Anjos et al (2009, p)

Do ponto de vista dos contratos de assentados e beneficiários do crédito fundiário, as


raízes da maior inadimplência repousam nos problemas decorrentes da precariedade
da assistência técnica prestada aos agricultores, assim como em outros aspectos
relativos à infra-estrutura disponível às famílias rurais (transporte, beneficiamento,
eletrificação rural, estradas, etc.), as quais foram identificadas em diversos estudos
realizados no Brasil O aspecto crucial que deve ser levado em conta no
enfrentamento à inadimplência nos contratos do Pronaf, refere-se à
necessidade de conciliar essa política pública com outros mecanismos que
sirvam para aperfeiçoar a infra-estrutura produtiva dos estabelecimentos e
simultaneamente fortalecer os instrumentos no âmbito da comercialização
dos produtos da agricultura familiar. Outro aspecto tem a ver com a redução
dos custos cobrados pelos agentes financeiros nos contratos e pelo
fortalecimento dos serviços de assistência técnica e extensão rural, cuja
atuação torna-se imprescindível para que esse programa cumpra com o
desiderato de converter-se numa política efetiva de desenvolvimento
territorial (DOS ANJOS et al, 2009, p. 484).
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No caso em pauta, houveram muitas evasões, principalmente nos primeiros anos,
certamente pelas razões citadas acima, mas na interpretação de muitos camponeses que
estiveram no momento inicial da luta e que ainda permanecem no assentamento, a
justificativa para os que evadiram é a de que “saíram porque quiseram”, resposta bem
comum quando questionávamos sobre a saída de famílias dos lotes.

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