Ética e Responsabilidade Profissional

ÉTICAe e
RESPONSABILIDADE
PROFISSIONAL Caxito
RESPONSABILIDADE
PROFISSIONAL Caxito
Fabiano
ÉTICA
Fabiano
ÉTICA e RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL Fabiano Caxito
ÉTICA e RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL Fabiano Caxito
Ética e
responsabilidade
profissional
Fabiano Caxito
IESDE BRASIL
2022
© 2022 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: GaudiLab/Shutterstock
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
C377
Caxito, Fabiano
Ética e responsabilidade profissional / Fabiano Caxito. - 1. ed. - Curiti-
ba [PR] : IESDE, 2022.
106 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-158-7
1. Ética profissional. 2. Responsabilidade profissional. I. Título.

CDD: 174
22-78459
CDU: 174
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A.

Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Fabiano Caxito Mestre em Administração Estratégica pela Universidade
Nove de Julho (Uninove). Na área da Administração, é
MBA em Recursos Humanos pela Fundação Instituto
de Administração (FIA); MBA em Economia e Finanças
e MBA em Gestão de Equipes e Liderança, ambos pela
Fadyc. É pós-graduado em Business Intelligence, Big
Data e Analytics, pela Universidade Anhanguera, em
Coaching pela UniBF e em Gestão de Petróleo e Gás
pela Fadyc. Na área da educação, é pós-graduado
em Língua Portuguesa: redação e oratória, pela
Universidade São Francisco; em Educação Financeira;
em Educação Corporativa e em Tecnologias e Educação
a Distância pela Faculdade UniBF. Na área de ciências
sociais, é pós-graduado, também, em Filosofia, pela
Universidade Estácio de Sá; em Antropologia e em
Sociologia Política e Urbana pela UniBF e em Ciências
Políticas pela Fadyc. É graduado em Administração
Financeira pela Universidade Cidade de São Paulo
(Unicid). Tem licenciatura em Filosofia pela Faculdade
Mozarteum de São Paulo; e licenciatura em Pedagogia
pela Faculdade IBRA de Brasília. É graduado em
Gerontologia - Bem Estar e Educação pelo Centro
Universitário Estácio de Ribeirão Preto. Atuou nas
áreas comerciais, de logística e de recrutamento e
seleção, bem como no treinamento e desenvolvimento
em diversas empresas de distribuição de produtos de
consumo. Foi coordenador de cursos de pós-graduação
lato sensu. Atualmente, é consultor empresarial,
professor universitário e influenciador digital.
Vídeos
em
QR code!
Agora é possível acessar os vídeos do livro por
meio de QR codes (códigos de barras) presentes
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando

a câmera fotográfica de seu smartphone ou tablet
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado

um leitor de QR code, que pode ser adquirido
gratuitamente em lojas de aplicativos.
SUMÁRIO
1 Filosofia, ética e moral 9
1.1 Ética: conceitos e história 10
1.2 Sociedade, ética e moral 14
1.3 Relação entre ética e cultura 18
1.4 Ética e moral na atuação profissional 22
1.5 Filosofia contemporânea aplicada ao mercado de trabalho 26
2 Ética e moral na sociedade contemporânea 33

2.1 Ética, moral e valores pessoais 34
2.2 Papel do indivíduo na sociedade 38
2.3 Ética e moral em um mundo em transformação 42
2.4 Impactos da revolução digital sobre a ética e a moral 44
2.5 Alteridade e empatia 49
3 Ética no ambiente profissional 54

3.1 Ética e moral no trabalho 55
3.2 Códigos de Ética profissional e empresarial 59
3.3 Responsabilidade profissional na prática 65
3.4 Desafios éticos e morais nas empresas 69
3.5 Assédio moral, sexual e intelectual 72
4 Ética na construção da carreira 81

4.1 Ética e a responsabilidade profissional na carreira 82
4.2 Postura ética do profissional 86
4.3 Ética e a ação profissional 89
4.4 Desafios éticos para o profissional 96
4.5 Carreira e marca pessoal 98
Resolução das atividades 104

Vídeo
APRESENTAÇÃO
Ética e moral são termos que ouvimos e usamos em
nosso cotidiano, tanto no contexto pessoal e social quanto
no profissional. Porém, nem sempre esses conceitos são
bem compreendidos e por muitas vezes são usados de modo
inadequado.
No primeiro capítulo da obra, discutiremos e evolução
histórica desses conceitos, começando com as discussões dos
filósofos gregos clássicos e passando pelo uso dos conceitos
no decorrer do desenvolvimento da sociedade humana. A
relação da ética e da moral com as diversas áreas da vida,
como nas relações pessoais, no convívio em sociedade e nas
relações políticas e econômicas também é abordada nesse
capítulo, que se encerra com a discussão sobre a importância
dos valores, da postura ética e da ação moral no mundo
contemporâneo.
É com base na análise da ética e da moral no mundo
contemporâneo que desenvolvemos o segundo capítulo
da obra. Em um mundo que passa por transformações
tecnológicas, econômicas, políticas, legais e comportamentais,
a ética e a moral têm um papel central na manutenção da vida
em sociedade. No capítulo também abordaremos o papel do
indivíduo no tecido social, pois é com base nos valores, posturas
e decisões éticas que a sociedade evolui. Apresentaremos
também os impactos do desenvolvimento tecnológico sobre
as relações sociais e a importância da alteridade e empatia em
um mundo marcado pelas diferenças.
No terceiro capítulo discutiremos como a postura ética
e ação moral são a base sobre as quais se constroem os
valores e a cultura das empresas e das organizações. A
sociedade cobra cada vez mais das empresas uma postura
ética, pois as ações e atividades empresariais trazem impactos econômicos,
sociais e ambientais, que podem ter consequências definitivas no futuro da
humanidade. Abordaremos ainda nesse capítulo os conceitos de códigos de
ética profissionais e empresariais e seu papel na orientação dos colaboradores
da empresa nas ações tomadas em seu cotidiano, além dos temas assédio
moral, sexual ou intelectual no ambiente de trabalho.
O trabalho ocupa um papel central na vida dos indivíduos no mundo
contemporâneo. Grande parte do tempo diário é dedicado às atividades
profissionais, e o desenvolvimento de uma carreira profissional se realiza
durante uma grande parte da vida das pessoas. Assim, a construção da
carreira precisa estar relacionada aos valores do indivíduo. No quarto capítulo
discutiremos a relação da sociedade com o trabalho durante a evolução da
história humana. O capítulo também mostra como o indivíduo deve relacionar
os seus valores pessoais com os princípios éticos, morais e a cultura da
empresa em que trabalha ou da profissão que desempenha. Modelos de
tomada de decisão moral, bem como os desafios que se colocam frente
aos profissionais no decorrer de suas atividades são também abordados
no capítulo, que se encerra com uma discussão sobre a relação entre uma
postura ética e uma ação moral com a construção de uma marca profissional
que distingue o indivíduo no mercado.
Ao fim da obra, esperamos que o leitor saiba identificar os conceitos de
ética e moral, possa entender a importância da postura ética e moral em seu
cotidiano pessoal e profissional, compreenda a relação entre os conceitos e
a cultura das organizações e possa colocar em prática o que foi aprendido,
construindo uma carreira baseada em seus próprios valores.
1
Filosofia, ética e moral
Conhecer a evolução dos conceitos de ética e moral é fundamental
para entendermos a forma como a sociedade contemporânea se organi-
za e lida com seus dilemas e transformações sociais. Nesse sentido, neste
capítulo, vamos apresentar a evolução desses conceitos, percorrendo os
diversos períodos históricos da civilização.
Na primeira parte do capítulo, vamos abordar as visões e os conceitos
desenvolvidos durante a Antiguidade Clássica, berço da filosofia e das dis-
cussões sobre o papel da ética e da moral na sociedade.
Na segunda parte, evidenciaremos a relação entre cultura, socieda-
de, ética e moral, acompanhando o desenvolvimento desses conceitos
durante a Idade Média e, principalmente, durante as grandes transforma-
ções políticas, econômicas, sociais e filosóficas que modificaram a forma
de organização da sociedade durante a Idade Moderna.
A relação entre ética e cultura no mundo contemporâneo é o tema
da terceira parte do capítulo, no qual mostraremos como o desenvolvi-
mento tecnológico, econômico e comportamental observado nas últimas
décadas do século XX e nas primeiras décadas do século XXI trouxeram
intensas mudanças nos padrões morais da sociedade.
A importância dos valores éticos e códigos morais na atuação das
empresas e das organizações e o impacto das atividades empresariais
na sociedade serão abordados na quarta parte do capítulo. Por fim, na
última parte, discutiremos a centralidade da ética e da moral na constru-
ção de uma carreira profissional de sucesso no contexto da sociedade
contemporânea.
Filosofia, ética e moral 9

Objetivo de aprendizagem
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• conhecer os conceitos de ética e moral e refletir sobre o desenvol-
vimento histórico desses conceitos filosóficos;
• compreender a relação entre a ética, a moral e o desenvolvimento

da civilização e das sociedades humanas;
• refletir sobre as influências dos valores éticos e morais na constru-

ção dos conceitos de cultura e de multiculturalismo;
• entender a relação da ética e da moral com a atuação profissional

do indivíduo;
• compreender a importância do estudo da filosofia no mundo con-

temporâneo e sua relação com o mercado de trabalho.
1.1 Ética: conceitos e história

Vídeo
Os seres humanos são naturalmente bons e gentis ou

egoístas e gananciosos?
É com base nessa pergunta que se estabelecem os fundamentos da

discussão sobre a ética e a moral. O termo ética tem duas diferentes
origens etimológicas, como explica Figueiredo (2008, p. 2): “esse vo-
cábulo deriva do grego ethos. Nessa língua, possui duas grafias: ηθοζ
(êthos) e εθοζ (éthos). Essa dupla grafia não é gratuita, pois reúne uma
diversidade de significados que, ao longo do tempo, distanciaram-se do
seu sentido original”.
A palavra êthos, segundo Marques (2009), surgiu com base na ideia

do lugar habitado pelo indivíduo, inicialmente com o sentido de “mo-
rada” e “abrigo”, mas depois evoluiu para o sentido do “eu interior”.
Por extensão, o êthos representa os valores, os comportamentos, as
ações que caracterizam um indivíduo específico e fazem com que ele
seja único. Nesse sentido, para Figueiredo (2008), a ética é individual e
diz respeito aos valores internos de determinada pessoa.
Já a segunda origem da palavra ética é o termo éthos, que, segun-

do Pedro (2014), pode ser entendido como o comportamento adotado
10 Ética e responsabilidade profissional

pelo indivíduo quando se relaciona e convive com outras pessoas em
um grupo social. Nesse sentido, a ética não é individual, mas sim social
e está ligada aos costumes, tradições e normas de determinada socie-
dade. Nessa concepção, a ética é a base da convivência e associa-se a
outro conceito fundamental da filosofia, a moral.
A proximidade desse sentido de ética, surgido a partir do termo

éthos, com o sentido da palavra moral, muitas vezes gera confusão ou
uso equivocado dos dois termos. Weil (2011) explica que a origem eti-
mológica de moral é o termo em latim Mores, o qual descreve os cos-
tumes estabelecidos em uma sociedade, as normas que possibilitam a
vida em sociedade e as leis criadas para garantir a convivência social.
Para entendermos a relação entre ética, moral e cultura observada

no mundo contemporâneo, é importante conhecermos primeiro o de-
senvolvimento histórico desses conceitos, desde a filosofia clássica até
os dias atuais.
Marilena Chaui (2018) explica que, com Sócrates, a filosofia passou

a ter um papel fundamental no desenvolvimento do conhecimento hu-
mano. Não que, no período pré-socrático, a filosofia não existisse. Con-
tudo, segundo a autora, Sócrates foi quem lançou as bases da filosofia
como a conhecemos hoje. Apresentamos os conceitos centrais da ética
socrática na Figura 1.
Figura 1
Elementos da ética socrática
Alma
A alma é a consciência e a
personalidade intelectual e moral,
sobretudo razão e conhecimento. O
corpo é instrumento da alma.
Vício
Virtude
O vício é ignorância, por isso:
A virtude da alma (ou seja, aquilo
Liberdade ninguém peca voluntariamente
que a torna perfeita) é ciência e
libertação da parte (pecado = erro);
conhecimento;
racional (= verdadeiro as diversas virtudes são
manifesta-se como:
homem) em relação à recondutíveis à unidade (=
passional. Corresponde à ciência do bem e do mal) e,
liberdade interior. também, ao vício (ignorância do
bem e do mal).
Autodomínio
domínio da razão
Não violência
sobre as paixões.
a razão se impõe pela
convicção e não pela
Fonte: Reale; Antiseri, 2007, p. 108. força.

Vídeo Como podemos compreender pela Figura 1, a virtude está ligada ao
O mito do anel de Giges, conhecimento de si próprio, o que traz a liberdade e a razão. Já o vício
apresentado por Platão
em seu livro A República, é surge pela ignorância, o não saber ou não se conhecer. A pessoa ética,
o tema do vídeo A Repúbli- segundo Sócrates, preocupa-se com a sociedade e age para proporcio-
ca: Livro II e o Mito do Anel
de Giges (Diálogos Platôni- nar a felicidade do grupo.
cos), do Canal Filosofando,
que discute a postura
Conforme Platão (2019), na filosofia socrática, a felicidade está na
ética e as escolhas morais alma humana, morada da verdade. Para Sócrates, a ética é fundamen-
de um camponês que
encontra um anel que dá
tada na virtude, que pode ser entendida como a força e o caráter do
a ele o poder da invisibili- indivíduo, que controla seus desejos e resiste ao prazer imediato para
dade. Por não poder ser
identificado, Giges evita
agir não só em benefício próprio, mas também em prol da sociedade.
o julgamento do grupo
social e as responsabili-
Na letra de uma conhecida música brasileira, Quatro Vezes Você
dades e consequências (2002), interpretada pela banda Capital Inicial, os compositores pergun-
de suas decisões. Assim,
suas decisões refletem
tam “o que você faz quando ninguém te vê fazendo?” e “o que você que-
sua ética. ria fazer se ninguém pudesse te ver?”, reflexão essa que representa um
Disponível em: https://www. questionamento central da discussão de Platão (2019) sobre a ética e a
youtube.com/watch?v=
moral, apresentado pelo filósofo por meio de uma história, o mito do
6WRfnFZS1to. Acesso em: 10 jun.
2022. anel de Giges. Nesse mito, o personagem precisa tomar uma decisão
moral entre seguir os códigos morais do grupo social ou se aproveitar
da capacidade de se tornar invisível para obter proveito próprio.
No entanto, nem todos estão preparados para olhar para dentro de

si e, por isso, buscam a felicidade em experiências externas e procuram
o prazer instantâneo, postura essa defendida por Aristipo de Cirene,
um dos discípulos de Sócrates. Como explica Chaui (2018), o hedonis-
mo – conceito desenvolvido por Aristipo de Cirene – pode ser concei-
tuado como uma filosofia centrada na busca pelo prazer dos sentidos,
como forma de atingir a felicidade.
Esse conceito é fundamental para entendermos a sociedade con-

temporânea, que é baseada no consumo excessivo de bens, na busca
pela felicidade a cada momento, na gratificação instantânea e na osten-
tação de experiências e do consumo como sinais de sucesso e status,
características das atuais redes sociais.
Se Aristipo refuta Sócrates ao propor uma ética centrada no prazer

individual, Platão, outro de seus discípulos, não só defende a visão do
mestre, como também a aprofunda. Para Platão, a ética não pode ser
vista como um conjunto de normas ou leis que prescrevem como deve
ser a postura do indivíduo. Conforme nos mostra Voegelin (2009), Pla-

tão defende a ideia de que a ética tem como base as experiências indivi- Livro
duais que possibilitam o autoconhecimento e a busca pelo bem comum. Sócrates, Platão e
Aristóteles são os pen-
Aluno de Platão, Aristóteles acreditava que a ética surgia da expe- sadores fundamentais
sobre os quais se apoia
riência prática, das ações tomadas no cotidiano pela pessoa que bus- grande parte da discussão
cava se desenvolver continuamente, tanto com relação a si mesmo filosófica da humanidade
há mais de dois milênios.
quanto aos outros membros da sociedade (CHAUI, 2018). Os conceitos de ética
e moral são o tema
Com Aristóteles, o conceito de ética passou a ter um sentido mais central de uma das mais
próximo de como a entendemos no mundo contemporâneo. Em seu importantes obras de
Aristóteles, Ética a Nicô-
texto Ética a Nicômano (ARISTÓTELES, 2020) – provavelmente escrito maco. No texto, o filósofo
entre os anos de 335 a.C. e 323 a.C. – o filósofo relaciona o êthos ao organiza e aprofunda
tais conceitos e lança as
modo de ser ou, em outras palavras, ao caráter do indivíduo, que reúne bases para a discussão
suas qualidades características positivas e negativas, desenvolvidas por a respeito da ética, uma
das áreas de destaque da
meio de suas experiências de vida. filosofia. Suas ideias foram
discutidas e abordadas
À medida que o Império Romano se expandiu, por meio da conquista
por filósofos de diversas
de novos territórios e da dominação de outros povos, a cultura e a filoso- eras e continuam relevan-
tes no mundo atual.
fia clássicas passaram a conviver com outras culturas e códigos morais.
ARISTÓTELES. São Paulo: Edipro,
Diversas correntes filosóficas surgiram na época, tendo como foco a dis-
2020.
cussão sobre a ética e a moral, como mostramos no Quadro 1.
Quadro 1
Correntes filosóficas
Corrente Principal
Ideia central Ideias
filosófica filósofo
O ser humano deve buscar o prazer da vida.
Alguns prazeres trazem dores e sofrimentos.
Epicuro (324- Prazeres duradouros vinculados a uma conduta virtuosa.

Epicurismo PRAZER
271 a.C.) O supremo prazer é intelectual.
Dominar os prazeres exagerados da paixão.
O prazer é o princípio e o fim de uma vida feliz.
Busca da austeridade física e moral.
Resistência diante dos sofrimentos e dos males.
Serenidade diante dos acontecimentos.
Zenão de Cício
Estoicismo DEVER
(334-262 a.C.) A “lei universal do cosmos” rege toda a vida.
A realidade é racional.
O dever e a compreensão da ordem cósmica são o cami-
nho para a felicidade.
Continua

Nenhum conhecimento é seguro.
Contentar-se com as aparências das coisas.
SUSPENSÃO DO Pirro de Élis Viver a partir daquilo que é captado pelos sentidos.
Ceticismo JUÍZO (365-275 a.C.) Viver feliz e em paz.
É impossível deter todo o conhecimento.
Qualquer argumento pode ser contestado.
O nome cinismo vem de kynos, “cão”.
Propõe que se deve viver como os cães.
Diógenes (412- Sem propriedade ou conforto.

Cinismo MINIMALISMO
323 a.C.) Procurar conhecer a si mesmo.
Desprezar os bens materiais.
Questionar os valores e as tradições sociais.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Cotrim; Rodrigues, 2013.

Apesar da importância dos filósofos clássicos no desenvolvimento
do pensamento ético e moral, os códigos morais praticados por grande
parte das culturas em todo o mundo ainda hoje são intimamente rela-
cionados às crenças religiosas.
1.2 Sociedade, ética e moral

Vídeo
O Império Romano cresceu e se espalhou por grande parte da
Europa, norte da África e parte da Ásia, durante a Antiguidade Clássica
(período da história que termina em 476 d.C., com a queda do Império
Romano do Ocidente). Por isso, a filosofia, o estudo da ética e da moral
passaram a ser fortemente influenciados pelo cristianismo, principal-
mente durante a Idade Média (476-1453 d.C.).
Durante a Idade Média, período no qual a Igreja Católica tinha gran-

de poder político e social, as discussões sobre ética e moral foram apro-
fundadas por filósofos cristãos. Como destaca Caxito (2021a, p. 20):
nesse momento histórico, a ética refletia os dogmas cristãos, em
especial entre os séculos XI e XVI. Alguns dos principais filósofos
que abordaram as questões éticas e morais nesse período repre-
sentam o catolicismo. Dentre eles, destacam-se Santo Agostinho,
Santo Anselmo e São Tomás de Aquino.
Santo Agostinho retomou a discussão desenvolvida pelos filósofos

clássicos, como Sócrates, Platão e Aristóteles. Porém, como cristão,
Agostinho subordinou a ética e a moral à fé em Deus. Para esse filósofo,

cristão, segundo Rodrigues et al. (2019), a ética não tem como origem o Filme
indivíduo e seu autoconhecimento, mas sim sua crença em um ser su- Contado pelo ponto de
vista do próprio filósofo,
perior e perfeito. Nesse sentido, a virtude é alcançada por aqueles que no final de sua vida, o
acreditam e seguem a vontade de Deus. Portanto, a postura ética é um filme Santo Agostinho: o
declínio do Império Roma-
resultado da prática moral, alcançada pela obediência às leis divinas. no mostra as principais
ideias dele, ao resgatar
As ideias sobre ética e moral de Santo Agostinho representaram sua juventude e o mo-
uma profunda ruptura com relação à visão da filosofia clássica. Dife- mento que se converteu
ao cristianismo. Duas de
rentemente do que defendia Platão, para quem a ética não deveria ser suas principais obras, Ci-
prescritiva, como um manual ou uma lista de normas a serem segui- dade de Deus e Confissões,
são abordadas durante
das, a ética cristã proposta por Santo Agostinho orientava detalhada- a história, que mostra a
mente cada atividade ou postura que deveria ser adotada pelos fiéis. centralidade dos estudos
sobre a ética e a moral na
A moral da Igreja valorizava o sofrimento e o martírio como símbolos obra de Agostinho.
de virtude e fé durante a vida terrena, para que o indivíduo pudesse Direção: Christian Duguay. Itália:
alcançar a vida eterna. Warner Home Video, 2010.
Outro importante filósofo cristão da Idade Média foi São Tomás de

Aquino, que defendeu um caminho intermediário entre os conceitos da
ética propostos pelos filósofos clássicos e por Santo Agostinho. Como
explicam Rodrigues et al., (2019) para São Tomás, o ser humano, por
ter sido criado por Deus, traz em si a essência da bondade e da postura
ética e moral.
Com o fim da Idade Média e início da Idade Moderna, a visão da filo-

sofia sobre a ética e a moral se afastou do dogmatismo cristão e passou
a ser influenciada pela ideia da centralidade do ser humano. Nesse
momento histórico, principalmente a partir do século XVI, o mundo
passava por profundas transformações políticas e sociais. Política, arte,
ciência e filosofia voltaram a refletir as bases da Antiguidade Clássica,
movimento denominado Renascimento.
Ética e moral voltaram então a ser conceituadas com base nas ideias
de Sócrates, com destaque para a importância da postura do indivíduo
na construção de uma sociedade em que todos pudessem realizar seu
potencial, por meio do estudo e da busca pelo conhecimento científico.
Já o Estado teria o papel de incentivar o desenvolvimento pessoal por
meio da educação e da garantia dos direitos individuais.
Dois eventos históricos, um político e outro econômico são

fundamentais para entendermos essa mudança no pensamento filosó-
fico e o resgate da filosofia clássica. A Revolução Industrial, que deslo-
cou o poder econômico para as classes sociais em ascensão, como os

burgueses e os capitalistas; e a Revolução Francesa, responsável pela
queda do modelo da monarquia absolutista, que enfraqueceu o poder
da Igreja sobre a política; e levou ao declínio das monarquias em diver-
sos outros territórios e ao surgimento dos Estados Nacionais.
Diversos filósofos foram responsáveis pelo repensar da filosofia

no momento do Renascimento. Com relação à ética e moral, René
Descartes desempenhou importante papel ao desenvolver uma filo-
sofia antropocêntrica, ou seja, ao colocar o ser humano no centro do
pensar filosófico.
É possível termos certeza de alguma coisa e conhecermos a verdade sem

depender da fé ou de uma revelação dada por um ser superior?
Esse é o questionamento central do pensamento cartesiano. Para

Marrafon (2020), a afirmação Cogito Ergo Sum (penso, logo existo) é dia-
metralmente oposta à certeza da ética cristã. Enquanto esta tem como
base a aceitação de uma verdade absoluta ditada por Deus, aquela tem
como base o questionamento e aa decisão individual sobre as atitudes
e ações a serem tomadas. Na ética cartesiana, é o ser humano que de-
cide como deseja viver e assume a responsabilidade sobre suas ações.
Outro importante filósofo dessa época é Hobbes (2014), que reto-

mou a pergunta central da filosofia – “os seres humanos são natural-
mente bons e gentis ou egoístas e gananciosos?” – e concluiu que o ser
humano é naturalmente mal e egoísta. Para viver em sociedade, preci-
sa aceitar certas condições que são estabelecidas pelo grupo como for-
ma de garantir que os direitos de cada um sejam respeitados. Hobbes
deu o nome de contrato social a essas condições que possibilitam a vida
em sociedade.
A teoria desenvolvida por Hobbes é fundamental para entender as

mudanças políticas ocorridas naquele momento da história, marcadas
pela transição dos governos monárquicos para o modelo republicano.
Segundo Caxito (2020), enquanto Hobbes defendia a manutenção do
Estado absolutista como única forma de governo, outro filósofo da
época, Locke, defendeu que o poder do governante deve ser limitado
pela lei e por outras estruturas políticas.

Filme
Por que a maioria obedece àqueles que mandam, mesmo que estes estejam O conceito de contrato
social é exemplificado de
em menor número? forma divertida e didática
na animação Zootopia. Em
uma sociedade formada
Conforme Pondé (2019), essa questão é a base do conceito do con- por animais, predadores
e presas convivem em
trato social, uma espécie de código moral fundamentado em preceitos harmonia, com base em
éticos que têm o papel de definir os limites do poder do governante e um contrato social que
impede os predadores
orientar as ações dos indivíduos, garantindo seus direitos e liberdade. de atacar as presas. O
Porém, o bem comum de todos os que fazem parte da sociedade está papel das escolhas éticas
individuais e das normas
acima das vontades individuais, inclusive daqueles que exercem o poder. morais, que são a base
do contrato, bem como o
No estudo filosófico da ética e da moral, Immanuel Kant é o pen- papel do governo como
sador mais importante desse período. Para o filósofo, a ética tem um garantidor da ordem e
dos direitos individuais
papel fundamental no estabelecimento das normas que regem as rela- são abordados no filme.
ções sociais. Ao analisar as ideias de Kant sobre ética e moral, Pereira Direção: Byron Howard e Rich
(2018, p. 2) conclui que: Moore. EUA: Walt Disney Animation
Studios, 2016.
o seu grande propósito foi estabelecer um princípio supremo
que se constituísse como fundamento para a moralidade. Tendo
em vista isso, ele parte da interpretação de que a razão humana
é capaz de determinar a vontade e a ação ética sem ser refém
ou prisioneira da experiência ou outras inclinações. [...] a razão,
a vontade e a liberdade assumirão um papel preponderante na
ética kantiana, constituindo-se como uma unidade conceitual in-
dissociável e inseparável.
Para Kant, enquanto a ética racional é ligada ao indivíduo, a moral é

definida pelos hábitos, pelas normas e leis do grupo social. A liberdade
individual é limitada pela responsabilidade da pessoa em relação aos
demais membros da sociedade.
A ruptura final da influência da religião sobre os conceitos de ética

e moral na filosofia foi dada por Nietzsche (1998), que definiu a ética
como uma das bases da sociedade humana. De acordo com esse fi-
lósofo, para ser ético o ser humano precisa transcender sua própria
natureza falha e se transformar em um Übermensch, ou seja, em um
ser humano que superou suas limitações por meio do conhecimento,
do pensamento racional e da decisão autônoma de agir de modo éti-
co. Com base nessa evolução histórica, constroem-se discussões sobre
ética e moral no mundo contemporâneo, conforme veremos a seguir.

1.3 Relação entre ética e cultura
Vídeo
As discussões sobre a ética e a moral na contemporaneidade são
cada vez mais relevantes, em um mundo no qual diferentes culturas
e códigos morais, que se desenvolveram separadamente em regiões
distantes do mundo, encontram-se, convivem entre si e relacionam-se
no ambiente virtual.
Vejamos um exemplo:
Em algumas culturas, a mulher deve usar roupas que cubram totalmente

seu corpo. Em outras, a exposição do corpo é valorizada.
Essa é uma questão que nos mostra como a moral está relacionada
à cultura e aos valores de determinado grupo social. Não é possível,
para alguém que não faz parte dessa cultura, julgar se a postura moral
está certa ou errada, pois foi criada com base em vivências e experiên-
cias daquele grupo específico.
Caxito (2021a) afirma que o contato entre diferentes povos, culturas

e códigos morais, facilitado pelas tecnologias da informação e da comu-
nicação, possibilita às pessoas conhecerem diferentes pontos de vista e
culturas. Para Jenkins (2015), as culturas ao se relacionarem moldam-se e
evoluem, e esse contato pode ser assimilado de diferentes formas.
Para alguns, aumenta a percepção da alteridade e gera empatia

com quem é diferente. Para outros, leva a uma sensação de estranha-
mento, que, por sua vez, pode levar ao medo de quem pensa de forma
diversa e aumentar o sentimento de pertencimento a uma cultura ou
povo. Ainda conforme Jenkins, a cibercultura é uma cultura global e
1 miscigenada que surge do ambiente virtual, mas que causa mudanças
“Preconceito de classe e impactos no mundo real.
que atinge a maioria dos/
as imigrantes, especial-
O encontro entre culturas gera choques, desentendimentos e julga-
1
mente os/as que saem mentos que podem levar ao crescimento de uma postura xenófoba , ao
dos países mais pobres
ou buscam refúgio, de-
aumento do preconceito e ao enfrentamento. Como destacam Robinson
vido a guerras, conflitos, e Garrat (2017), os indivíduos são influenciados pelo meio social no qual
pobreza e outras mazelas
provocadas pela geopolíti-
vivem. Mesmo que considerem que os valores em que acreditam são re-
ca do capitalismo.” (CFESS, presentativos de sua identidade, as opiniões, crenças, atitudes e ações indi-
2016, p. 7).
viduais são condicionadas e influenciadas pela cultura e pelo grupo social.

Spinelli (2009) nos explica que o comportamento de cada indivíduo Vídeo
em seu cotidiano é a realização prática da relação entre a ética indivi- Nuseir Yassin é um jovem
muçulmano que viaja pelo
dual e a moral coletiva. Assim, cada vez que nos deparamos com um mundo para conhecer
dilema, tomamos uma decisão com base tanto na nossa ética quanto no novas culturas e posta
diariamente vídeos em
julgamento da sociedade e nas consequências externas de nossos atos. suas redes sociais, sob o
O mundo contemporâneo, no entanto, é marcado por uma deturpação nome Nas Daily, nos quais
mostra diferenças cultu-
do entendimento de como devem ser realizados os julgamentos morais. rais e curiosidades sobre
os locais que visita. No
De acordo com Lewandowski (2017), a moral é um importante fator vídeo How travel changes
para a garantia da vida em sociedade, pois aqueles que não seguem os you, Nuseir mostra como
conhecer novas culturas
códigos morais do grupo sofrem as consequências de seus atos. Em mudou sua visão sobre o
casos extremos, são inclusive excluídos do grupo social, como acontece mundo e como ao conhe-
cer a Índia entendeu que
com os indivíduos que são julgados e apartados da sociedade ao serem sua ética era reflexo da
presos no sistema carcerário. criação muçulmana que
recebeu.
Já a moralidade, ainda segundo Lewandowski (2017), é uma deturpa-
Disponível em: https://
ção da moral e ocorre quando a crítica ou o julgamento sobre as ações do www.youtube.com/
watch?v=ttypbUak3DA. Acesso em:
indivíduo não são apoiadas nos códigos morais da sociedade como um
13 jun. 2022.
todo, mas nas ideias e crenças de uma pessoa ou de um grupo específico.
A chamada “cultura do cancelamento”, fenômeno que se torna cada

vez mais presente no ambiente virtual, é um exemplo do moralismo.
Silva (2021, p. 95) explica que:
a cultura do cancelamento consiste em expor um fato, geral-
mente por meio de alguma rede social e, em seguida, a depen-
der de uma reação negativa das massas, o indivíduo passa a
ser rechaçado por esse público. Tendo em vista o significado de
cancelar como tornar sem efeito, anular, eliminar; suspender, Saiba mais
suprimir, podemos concluir que os efeitos dessa reação podem
O moralismo é a atitude
ser pesados. de julgar e avaliar as de-
cisões de outras pessoas
O moralismo pode ser identificado, na cultura do cancelamento, com base na própria ética
pela crença dos canceladores de que sua moral e seus valores são me- ou moral. Esse tipo de
atitude é recorrente nas
lhores ou superiores aos daqueles que buscam cancelar culturalmente. interações que ocorrem
nas redes sociais, nas
quais as pessoas que
publicam opiniões, pontos
de vista ou comportamen-
Se todos mentissem, se todos matassem, se todos torturassem, como a hu- tos são julgadas, criticadas
manidade viveria? e avaliadas por pessoas
que querem impor aos
outros seus próprios valo-
res, crenças e a moral de
Com essa pergunta hipotética, Comte-Sponville (2002) nos mostra seu grupo ou cultura.
como as questões éticas e morais são fundamentais para a estrutura

social. Essa relação entre ética e sociedade é muito evidente na filo-
Documentário sofia clássica. Para Caxito (2020), tanto Platão quanto Aristóteles pro-
A cultura do cancelamen- puseram, em suas obras, modelos de sociedades ideais baseadas na
to é o tema do documen-
tário Vou te cancelei, que justiça e na moralidade. O mundo contemporâneo, no entanto, não é
aborda casos reais de harmônico, e a sociedade não se apresenta de forma hierarquizada e
indivíduos que passaram
pelo processo de serem organizada como imaginaram esses filósofos.
criticados, perseguidos e
cancelados virtualmente
De acordo com Cremonese (2018), a sociedade atual é marcada pela
nas redes sociais. O vídeo transformação constante e pela imprevisibilidade e, nesse contexto, as
mostra que as conse-
quências desse tipo de
regras e os códigos morais estão em constante modificação.
linchamento moral não se
restringem ao ambiente
Em diversas áreas da sociedade, é possível identificar profundas
virtual: os indivíduos mudanças com relação aos padrões morais, desde questões relacio-
sofrem problemas na
vida real, como ameaças,
nadas a costumes – como a aceitação do hábito de fumar em locais
perda de emprego ou de públicos e a proibição de propagandas direcionadas a crianças, passan-
fontes de renda e afasta-
mento do convívio social,
do por mudanças relacionadas aos direitos individuais, como o casa-
além de problemas psico- mento homoafetivo, a legislação que possibilita o uso, em documentos
lógicos e até físicos. O títu-
lo brinca com a rapidez e
oficiais, do nome social por pessoas transgêneras – até questões que
a celeridade com que os atingem toda a estrutura da sociedade, como as políticas afirmativas
julgamentos morais são
feitos nesse verdadeiro
que buscam reparar séculos de discriminação racial.
“tribunal virtual” – antes
No entanto, como destaca Cremonese (2018), da mesma forma
mesmo de terminar a
frase, a condenação já como a ética e a moral relacionam-se com o tempo e modificam-se
está decidida.
com o seu passar, também são ligadas a grupos sociais, culturas e po-
Direção: Guilherme Melles; Gabriela
Brigagão. Brasil: Canal GNT, 2021. vos. Assim, cada sociedade apresenta diferentes padrões de evolução
e transformação de valores éticos e códigos morais.
Como destacam Rachels e Rachels (2013), a velocidade com que

um grupo aceita a mudança moral e incorpora novos comportamen-
tos pode gerar conflitos com outros grupos sociais que não aceitam
a transformação. Nesse sentido, cresce o relativismo moral, conceito
definido por Robinson e Garrat (2017), como o reconhecimento de que
existem diversas formas de se enxergar o mundo e que as práticas éti-
cas e morais devem ser entendidas a partir de um contexto específico.
Outra característica marcante do mundo contemporâneo é o indi-

vidualismo exacerbado. Como aponta Cremonese (2019), a sociedade
atual não é apenas antropocêntrica, mas também egocêntrica. A ética
hedônica – que prega a busca pelo prazer imediato como forma de
busca de felicidade – é uma das bases da sociedade de consumo, que,
segundo Caxito (2020, p. 28),
prega que a posse e o uso acelerado de bens e a ostentação de

símbolos de status é a forma de se encontrar a felicidade, in- Documentário
tensifica ainda mais essa característica hedônica [...] a socieda- O documentário O
de atual é marcada pela postura de que nada está errado ou é dilema das redes, da
Netflix, tornou-se um
proibido, desde que traga prazer ou reconhecimento social. [...] grande sucesso e tema
a ética e a moral deixam de ser baseadas na razão e passam a de discussões no meio
ter um cunho emocional, sendo que a mídia e as redes sociais acadêmico e nas pró-
prias redes sociais, ao
assumem o papel de serem as definidoras dos padrões morais a
abordar a forma como os
serem seguidos. programas e algoritmos
utilizados tanto pelos sites
Morin (2005) acredita que o egocentrismo da sociedade contempo- de compartilhamento
rânea é uma inversão dos conceitos de ética e moral, já que os desejos de conteúdo quanto
pelas redes sociais criam
do indivíduo são considerados mais importantes do que os benefícios grupos de pessoas
do grupo social. Essa característica da sociedade atual pode ser enxer- que pensam de forma
semelhante e bolhas de
gada no crescimento da radicalização de opiniões e na disseminação opinião que radicalizam
de grupos políticos extremistas, que defendem que suas crenças e seus ainda mais seus discursos
e crenças.
valores são melhores e mais importantes que os expressados por ou-
Direção: Jeff Orlowski. EUA: Netflix,
tros grupos sociais. 2020.
Segundo Ferreira e Rios (2017), a forma como as redes sociais vir-

tuais se organizam amplifica a radicalização das opiniões e o choque
entre grupos que pensam de forma antagônica. Para os autores, os
programas e sistemas dessas redes utilizam algoritmos, ou seja, pro-
cessos e fórmulas matemáticas, para identificar pessoas que compar-
tilham formas semelhantes de pensar, expressam as mesmas ideias e
valores e têm interesses semelhantes, e oferecer, para esses grupos,
conteúdos que reforcem suas crenças e incentivem a formação de rela-
cionamentos e contatos entre esses indivíduos.
Desse modo, as redes sociais e os sites de compartilhamento de

conteúdos criam uma “câmara de eco”, que reforça os laços entre essas
pessoas, enquanto excluem conteúdos que contradizem as ideias e os
valores desse determinado grupo. Assim, as pessoas passam a ter me-
nos contato com visões de mundo diferentes ou opiniões contraditórias.
Terra e Souza (2020) explicam que os grupos formados no ambiente

virtual são envolvidos em bolhas de opinião, que fazem com que as
posturas e comportamentos dos indivíduos se tornem cada vez mais
radicais e extremistas. Essas bolhas são responsáveis pela geração e
disseminação de notícias falsas e de opiniões extremas – compartilha-
das massivamente nos aplicativos de comunicação, gerando impactos
sociais em diversas áreas, como saúde, política, ciência e costumes.

Livro Como exemplos, podemos citar o estudo de Galhardi et al. (2020),
Um dos mais importantes que demonstra os impactos negativos das bolhas de opinião e das
sociólogos e filósofos do
mundo contemporâneo, fake news sobre as ações de saúde adotadas durante a Pandemia de
Zygmunt Bauman, tradu- Covid-19, causada pelo coronavírus; já Schargel (2020) e Carvalho e
ziu como nenhum outro
autor os impactos das Sirqueira (2019) mostram o papel das redes sociais sobre movimentos
mudanças tecnológicas, políticos nos Estados Unidos e no Brasil. Habowski, Conte e Milbradt
econômicas e compor-
tamentais ocorridas nas (2020) abordam o crescimento das críticas à ciência, como o movimento
últimas décadas do século do terraplanismo e os grupos antivacina. Caxito (2021a) discorre sobre
XX e na primeira década
do século XXI sobre a os embates entre os grupos virtuais que discutem as pautas de inclu-
forma de organização da são social e direitos de grupos identitários.
sociedade. O conceito
modernidade liquida é Esse contexto vai ao encontro do pensamento de Zygmunt Bauman
discutido pelo autor em
uma série de obras. Em
(2001), o qual aponta que, no mundo contemporâneo, as estruturas so-
seu livro mais conheci- ciais, que antes serviam de referência moral para os indivíduos, passam
do, Modernidade líquida,
Bauman aborda questões
hoje por um profundo processo de dissolução e reinvenção.
como individualidade,
trabalho e relações sociais
O conceito da modernidade líquida, proposto pelo filósofo, busca
na contemporaneidade. explicar que instituições como classes sociais, nação e Estado, cultura
É uma obra fundamental
para entender a socieda-
local e a própria identidade de cada povo são modificadas pela força
de atual. do mercado global e da cibercultura, que se desenvolve sem respeitar
BAUMAN, Z. Rio de Janeiro: Zahar, limites e espaços geográficos ou sociais. Segundo Bauman (2001, p.12),
2001.
na modernidade líquida, “são os elos que entrelaçam as escolhas in-
dividuais em projetos e ações coletivas – os padrões de comunicação
e coordenação entre as políticas de vida conduzidas individualmente,
de um lado, e as ações políticas de coletividades humanas, de outro”.
Ainda conforme Bauman (2001), o individualismo da sociedade lí-

quida contemporânea causa uma cegueira ética e uma insensibilidade
moral, pois o indivíduo, ao deixar de reagir às dores e angústias de seu
semelhante, ao se recusar a se colocar no lugar do outro ou ao consi-
derar que suas demandas e seus desejos são mais importantes que o
bem comum do grupo social, deixa de agir de forma ética.
1.4 Ética e moral na atuação profissional

Vídeo
O sentido contemporâneo dos termos ética e moral, como vimos,
está relacionado à ideia de normas, regras e leis de determinado gru-
po social, que precisam ser seguidas pelos indivíduos que dele fazem

parte e que querem ser aceitos e reconhecidos pelo grupo. Dupré Documentário
(2015, p. 80) identifica três níveis que compõem o conceito da ética: Produzido pelo Canal
Futura, o programa
a metaética investiga a fonte ou base da moralidade, incluindo Ética pergunta a pessoas
questões como saber se sua natureza é essencialmente objetiva comuns o que é ética
e moral. Analisando os
ou subjetiva. A ética normativa foca os padrões éticos (ou nor-
exemplos dados pelos in-
mas éticas) nos quais a conduta moral se baseia; o utilitarismo, divíduos, o filósofo Renato
por exemplo, é um sistema normativo baseado no padrão de Janine Ribeiro discute os
conceitos que embasam
“utilidade”. Por fim, no nível mais baixo, a ética aplicada aplica
os dilemas éticos do mun-
a teoria filosófica a assuntos práticos, como aborto, eutanásia, do contemporâneo.
guerra e o modo de tratar os animais.
Direção: Carolina Sá. Brasil: Canal
Futura, 2014.
A metaética está relacionada às origens dos conceitos básicos de
ética e moral que discutimos anteriormente. Já com relação à ética nor-
mativa, o autor aponta diversas linhas de pensamento que se desen-
volveram no decorrer da história, como mostramos no Quadro 2.
Quadro 2
Linhas de pensamento sobre ética
Linha Ideias centrais Exemplo

As ações são certas ou erradas sob Roubar é sempre errado, mesmo que seja para ali-
Ética absoluta
quaisquer circunstâncias. mentar uma pessoa que passa fome.
Um hospital só tem um leito de UTI disponível, mas

Ética consequen- Ações são certas ou erradas à medida vários pacientes precisam de atendimento. A decisão
cialista que os objetivos são alcançados. médica levará em conta as chances de recuperação
de cada paciente.
Ações são intrinsecamente certas ou
A frase “a ocasião faz o ladrão” ajuda a entender a éti-
erradas, sem considerar suas conse-
ca deontológica. Se a pessoa só não rouba por medo
Ética deontológica quências. A decisão ética relaciona-se
de ser presa, não está sendo ética. Ser ético é fazer a
com as intenções e as noções de deve-
escolha de não roubar.
res e direitos.
O altruísmo é uma ação que o indivíduo toma em be-
Os conceitos éticos são “fatos da natu-
Ética naturalista nefício de outro ou da sociedade, mesmo que ele seja
reza” descobertos pela ciência.
prejudicado.
Moralidade não é uma questão de co- A afirmação “é bom dizer a verdade” expressa um
Ética não cogniti-
nhecimento. Um julgamento moral ex- julgamento moral feito por um indivíduo, mas não é
vista
pressa as atitudes da pessoa que o faz. necessariamente uma verdade absoluta.
Os valores morais existem e não de-

pendem do ser humano. Afirmações A ética objetivista é muito usada no contexto da polí-
Ética objetivista éticas não são subjetivas e refletem a tica. A defesa da liberdade individual é uma das bases
maneira como as coisas se situam no desse conceito.
mundo.
O valor não está na realidade externa, Cada cultura enfrenta os mesmos dilemas éticos e
Ética subjetivista mas nas crenças da pessoa sobre a morais de formas diferentes. O que é aceito em uma
realidade ou em suas reações a ela. cultura pode ser crime em outra.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Dupré, 2015.

Por fim, no sentido da ética aplicada, dois diferentes contextos de
uso da ética no cotidiano da sociedade e dos indivíduos podem ser
identificados. Segundo Caxito (2021b, p. 8),
em uma visão mais ampla, há uma ética geral ligada às relações
que se estabelecem entre os indivíduos que compõem a huma-
nidade, independentemente de sua cultura ou origem. Em um
sentido mais estreito, está ligada à regulação das relações que
ocorrem em um grupo específico, por exemplo, um grupo for-
mado por indivíduos que exercem uma determinada profissão.
Um exemplo da ética aplicada são os códigos de ética profissional,

documentos desenvolvidos por organizações ou instituições represen-
tativas de determinadas atividades ou profissões, como a Ética Médica,
as quais determinam comportamentos, normas, tradições e costumes
esperados dos profissionais.
Deve ser permitido a um médico fazer propagandas de medicamentos ou de

tratamentos médicos como forma de divulgar seus serviços?
Esse é um exemplo prático de uma questão ética relacionada à

atuação profissional. Nesse caso específico, o Código de Ética Médi-
ca (CEM) do Conselho Federal de Medicina (CFM, 2010) evidencia qual
deve ser a postura dos profissionais que atuam na área. Em seu capítu-
lo “XIII - Publicidade Médica”, o Código elucida que:
é vedado ao médico:
Art. 111. Permitir que sua participação na divulgação de assun-
tos médicos, em qualquer meio de comunicação de massa, deixe
de ter caráter exclusivamente de esclarecimento e educação da
sociedade.
Art. 112. Divulgar informação sobre assunto médico de forma
sensacionalista, promocional ou de conteúdo inverídico.
[...]
Art. 116. Participar de anúncios de empresas comerciais qual-
quer que seja sua natureza, valendo-se de sua profissão.
[...]
Os códigos de ética profissional têm por objetivo estabelecer pa-

drões e critérios éticos e morais a serem seguidos pelos profissionais,
independentemente da empresa ou organização para qual trabalham.
Já os códigos de ética empresarial estabelecem os pilares éticos e os
valores expressos por determinada empresa ou organização.

As empresas, organizações e instituições públicas e privadas parti- Documentário
cipam de forma ativa na sociedade. O termo pessoa jurídica é usado na A moda é um mercado
que fatura bilhões de
legislação brasileira, segundo Rodrigues Jr. (2018), para se referir a en- dólares a cada ano, em
tes como empresas individuais, sociedades empresariais, sociedades que empresas varejis-
tas são proprietárias
de economia mista e empresas públicas, que participam do processo de milhares de lojas
de geração de valor econômico na sociedade. Também são classifica- espalhadas pelo mundo.
Porém, enquanto as lojas
das como pessoas jurídicas partidos políticos, organizações religiosas oferecem uma experiên-
e até mesmo os diversos níveis de organização do Estado brasileiro, cia de luxo e glamour para
os consumidores ávidos
como municípios, estados e a União. por novidades, muitas
marcas que expressam,
O respeito aos códigos morais e a tomada de decisão com base em em suas publicidades,
padrões éticos por parte das pessoas jurídicas trazem mais impactos uma imagem de preocu-
pação ambiental e social
para a sociedade do que as ações individuais. Enquanto as consequên- utilizam trabalho escravo
cias das ações de uma pessoa estão, na maioria das vezes, restritas à e oferecem péssimas
condições de trabalho em
sua própria vida ou ao grupo social imediato do qual faz parte, as ações indústrias instaladas em
de uma pessoa jurídica podem impactar milhões de pessoas em diver- países subdesenvolvidos.
O documentário The true
sos locais e grupos sociais. cost apresenta os impac-
tos éticos, morais, sociais
e ambientais da indústria
É correto uma empresa produzir seus produtos em países que não respeitam da moda atual.
os direitos trabalhistas, como forma de diminuir seus custos de produção? Direção: Andrew Morgan. França:
Untold Creative/Life Is My Movie
Entertainment, 2015.
Esse é um exemplo simples e bastante comum de como as decisões
de uma empresa, se tomadas apenas do ponto de vista dos resultados
econômicos, podem embutir problema éticos e morais. Executivos e
demais funcionários de empresas privadas são cobrados diariamente
pelos resultados financeiros da organização, sob o risco de perderem
remuneração, premiações e até mesmo o próprio emprego, caso não
atinjam as metas definidas.
Esse tipo de cobrança leva a tomadas de decisões nas quais os as-

pectos legais, éticos e morais nem sempre são considerados, ou têm
um peso menor no processo decisório.
Com a crescente conscientização da sociedade com relação aos im-

pactos causados pelas ações e atividades das empresas sobre o meio
ambiente, e com a popularização dos canais de comunicação e de di-
vulgação de denúncias proporcionadas pelo ambiente virtual e pelas
redes sociais, as empresas cada vez mais buscam desenvolver suas ati-
vidades tendo a preocupação ética e moral como foco. Como destaca
Caxito (2021b, p. 28) :

questões como impactos ambientais e sociais causados pelas
atividades das organizações, abuso do poder econômico, condi-
ções de trabalho e relações das empresas com o poder público
são alvo da análise constante da sociedade, o que tem levado as
empresas a repensar tanto suas próprias atividades quanto as
desenvolvidas por empresas parcerias com as quais se relaciona.
Para Macedo e Caetano (2017), a cultura organizacional é formada

pelos valores éticos dos indivíduos e pelos códigos morais internos da
empresa, que se relacionam com os padrões éticos do mercado no qual
as empresas atuam e da sociedade na qual estão inseridas. A cultura de
uma organização também é influenciada pelos códigos de ética das di-
versas profissões que compõem o seu quadro de colaboradores e pelas
mudanças comportamentais, legais, tecnológicas e morais da sociedade.
A empresa precisa adotar uma postura ética transparente e comu-

nicar a seus colaboradores o que se espera deles e que tipo de atitude
ou ação é aceita para gerar comprometimento e engajamento dos pro-
fissionais. Por outro lado, como afirma Andrade (2009), as posturas que
não se enquadram nos padrões éticos e morais definidos pela empresa
devem ser rechaçadas.
Além do comprometimento de seus colaboradores, a empresa, ao

adotar uma postura ética, moral, ambiental e socialmente responsável,
aumenta a confiança do mercado quanto às suas atividades e melhora
a credibilidade e a percepção de sua marca por parte dos consumido-
res. Assim, os benefícios de desenvolver suas atividades de acordo com
os padrões éticos e morais incluem o aumento da competitividade e a
valorização de suas marcas, produtos e serviços.
1.5 Filosofia contemporânea aplicada

Vídeo ao mercado de trabalho
A sociedade contemporânea apresenta, como uma de suas princi-
pais características, a constante transformação de suas estruturas, re-
lacionamentos e comportamentos. A sociedade líquida apontada por
Bauman (2008) tem como um de seus palcos o mercado de consumo,
no qual o status social dos indivíduos é medido e classificado com base
no poder de compra e ostentação de suas conquistas, representadas
pelo consumo exacerbado de marcas e produtos.

Contudo, a liquidez dos valores sociais atinge diversas outras áreas
da vida dos indivíduos, especialmente a profissional. Se, por um lado,
para ser um membro reconhecido da sociedade, o indivíduo precisa
consumir de forma ostensiva, por outro lado as oportunidades de de-
senvolver uma carreira profissional são constantemente modificadas
pelo desenvolvimento tecnológico.
O desenvolvimento de tecnologias disruptivas transforma totalmente a

forma como os produtos e serviços são produzidos, comercializados e dis-
tribuídos. O conceito de disrupção digital busca explicar como novas tecno-
logias, processos e modelos de negócios podem tanto destruir segmentos
econômicos existentes como dar origem a novos setores econômicos.
Segundo Christensen et al. (2016), nesse ambiente em constan-

te transformação, pequenas empresas, empreendedores e negócios
ainda em processo de desenvolvimento podem criar tecnologias ou
desenvolver modelos de negócios totalmente inovadores, que recon-
figuram não apenas a forma de consumo, como também as relações
de trabalho.
Em um futuro no qual grande parte do trabalho humano será substituído por

máquinas, equipamentos e inteligências artificiais, qual será o papel do indi-
víduo na sociedade?
Lopes (2020, p. 3) aponta que as revoluções e transformações do
ambiente econômico e das formas de organização do trabalho duran-
te o desenvolvimento da história econômica global sempre causaram
grandes impactos sobre os trabalhadores, que precisam constantemen-
te se reinventar e desenvolver novas competências e conhecimentos
para continuarem ativos profissionalmente. Porém, na visão do autor,
o desafio que se coloca ao trabalhador contemporâneo é ainda mais
radical:
em uma sociedade cuja reprodução ampara-se no excesso e no
desperdício, os indivíduos são treinados desde crianças a cum-
prir uma única tarefa ao longo de suas vidas: consumir. Não há
uma outra saída deste cenário: aqueles que não se tornarem
mercadorias suficientemente atrativas e passíveis de serem con-
sumidas serão descartados e se tornarão vagabundos – mem-
bros de uma subclasse sem serventia ao capital.

Livro Retomando o pensamento de Bauman (2001), já no início do século
O mercado de traba- XXI, o filósofo nos alertava para os impactos da sociedade líquida sobre
lho vem passando, nas
últimas décadas, por o trabalho. Para ele, no contexto contemporâneo, as empresas buscam
profundas transforma- afastar ou substituir a mão de obra humana pela tecnologia, que é mais
ções, causadas tanto
pelo desenvolvimento barata, mais fácil de controlar e não cria demandas ou exigências.
tecnológico, que já substi-
tuiu as profissões braçais
Assim, o trabalho, no mundo contemporâneo, deixa de ser sólido e es-
por máquinas e robôs tável. O trabalho remoto, home office, e a transferência de atividades para
e promete substituir
profissões relacionadas a
outras empresas que podem estar em qualquer lugar do mundo são al-
processos e serviços por guns exemplos da volatilidade e da insegurança do mercado de trabalho.
inteligências artificiais;
quanto por mudanças Esse fenômeno ficou bastante evidente durante a Pandemia de
econômicas, como a glo-
balização e a terceirização
Covid-19, a partir do ano de 2020. Com a decretação da quarentena
dos processos produtivos, e o isolamento social, ocorreu rápido crescimento da quantidade de
que migraram para países
nos quais os direitos
profissionais atuando no modelo de trabalho remoto/a distância. No
trabalhistas são mínimos Brasil, segundo Noronha e Carrer (2021), com a promulgação, pelo go-
ou inexistentes.
verno federal, de uma Medida Provisória que regulamentou, de forma
Tendo isso em vista, o
livro Tecnologia e relação emergencial, a adoção da modalidade de teletrabalho, muitas empre-
de trabalho aborda os sas passaram a adotá-lo como o único formato de trabalho. Mesmo
aspectos de mercado, as
legislações que regram com o posterior relaxamento das condições da quarentena, muitas ati-
as relações trabalhistas e vidades continuaram sendo desenvolvidas a distância, e os impactos
como os profissionais pre-
cisarão se reinventar para dessas mudanças sobre o futuro das relações trabalhistas ainda não
continuarem relevantes podem ser devidamente medidos e entendidos.
no futuro.
SILVA, G. R. Curitiba: Juruá, 2019. Esse processo só acelerou um fenômeno que já vinha sendo obser-
vado, que Lopes e Carvalho (2019, p. 26) chamam de descorpificação do
trabalho. Segundo os autores:
o grande problema da descorpificação do trabalho é a inseguran-
ça que afeta o trabalhador na era digital. Bauman assegura que
não há mais garantias de segurança laboral, como havia na mo-
dernidade sólida. E isso se dá justamente por não mais pertencer-
mos a uma sociedade estável.
Nesse contexto, no qual o desemprego estrutural se torna cada vez

mais presente, a estabilidade profissional deixa de existir. Mesmo para
os profissionais que reúnem competências e experiências, as mudan-
ças tecnológicas podem tornar seus saberes obsoletos. Por isso mesmo,
todos nós precisamos estar em constante reinvenção e aprendizagem!

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos neste capítulo, ética e moral são conceitos fundamentais
para podermos entender as relações que se estabelecem na sociedade
e que possibilitam o convívio social. O desenvolvimento desses conceitos
ao longo da história humana reflete os diversos períodos e formas de
organização do poder e dos grupos sociais. No mundo contemporâneo,
que passa por constantes transformações, os conceitos de ética e moral
precisam evoluir para acompanhar essas mudanças, servindo como refe-
rências para que a própria sociedade possa continuar evoluindo.
ATIVIDADES
Atividade 1
Correlacione a ética hedonista com o contexto da sociedade
contemporânea.
Atividade 2
Explique a diferença entre a ética proposta por Descartes e a
filosofia cristã.
Atividade 3
Moral e moralidade são dois conceitos distintos. Explique a dife-
rença entre eles.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Z. A. F. A Gestão da Ética Organizacional: possibilidades de atuação dos
profissionais de comunicação organizacional e relações públicas. In: INTERCOM, 32º
CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO. Anais [...] Curitiba, 2009.
Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/r4-3773-1.
pdf. Acesso em: 30 maio 2022.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 4. ed. São Paulo: Edipro, 2020.
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2001.
BAUMAN, Z. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de
Janeiro: J. Zahar, 2008.
CARVALHO, M. R. M. L.; SIRQUEIRA, M. C. Da internet para as ruas: o ativismo virtual como
movimento modificador da participação popular no cenário brasileiro. Revista Jurídica,
v. 19, n. 2, p. 162-181, 2019. Disponível em: http://periodicos.unievangelica.edu.br/index.
php/revistajuridica/article/view/4157 . Acesso em: 4 maio 2022.
CAXITO, F. Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública. Curitiba: Iesde, 2020.
CAXITO, F. Direitos humanos e relações sociais. Curitiba: Iesde, 2021a.
CAXITO, F. Ética e responsabilidade social. Curitiba: Iesde, 2021b.
CHAUI, M. Introdução à história da filosofia. v. 1: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo:
Companhia das Letras, 2018.
CHRISTENSEN, C. et al. Know your Customers: “Jobs to be Done”. Harvard Business Review,
Boston, p. 1-10, Sept. 2016. Disponível em: http://www.relativimpact.com/downloads/
Christensen-etal-Jobs.pdf. Acesso em: 4 maio 2022.
CFM – Conselho Federal de Medicina. Código de Ética Médica: Resolução CFM nº 1.931, de
17 de setembro de 2009. Brasília, DF: CFM, 2010. Disponível em: https://transparencia.cfm.
org.br/index.php/legislacao/cem-atual#cap13. Acesso em: 4 maio 2022.
CFESS. Caderno 3: racismo. Brasília, DF: Gestão Tecendo na Luta a Manhã Desejada, 2016.
(Série Assistente Social no Combate ao Preconceito). Disponível em: http://cfess.org.br/
arquivos/CFESS-Caderno03-Racismo-Site.pdf. Acesso em: 27 maio 2022.
COMTE-SPONVILLE, A. Apresentações da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
COTRIM, G.; RODRIGUES, J. Fundamentos da filosofia. 17. ed. São Paulo: Saraiva Didáticos,
2013.
CREMONESE, D. Ética e moral na contemporaneidade. Campos Neutrais – Revista Latino-
Americana de Relações Internacionais, v. 1, n. 1, p. 8-28, jan./abr. 2019. Disponível em:
https://periodicos.furg.br/cn/article/view/8618. Acesso em: 4 maio 2022.
CUNHA, B. A Gênese da ética de Kant: o desenvolvimento moral pré-crítico em sua relação
com a teodiceia. São Paulo: LiberArs Press, 2007.
DUPRÉ, B. 50 ideias de filosofia. São Paulo: Planeta, 2015. (Coleção 50 Ideias).
FERREIRA, A. V.; RIOS, J. R. A. C. Filtro bolha, câmara de eco e a formação de opiniões
extremas. In: 40º CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO. Anais [...]
Curitiba, 2017. Disponível em: http://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/44732/1/2017_eve_
avferreira.pdf. Acesso em: 27 maio 2022.
FIGUEIREDO, A. M. Ética: origens e distinção da moral. Saúde, Ética & Justiça, v. 13, n. 1, p.
1-9, 2008. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/sej/article/view/44359. Acesso em:
4 maio 2022.
GALHARDI, C. P. et al. Fato ou fake? Uma análise da desinformação frente à pandemia da
Covid-19 no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, p. 4201-4210, out. 2020. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/csc/a/XnfpYRR45Z4nXskC3PTnp8z/?lang=pt. Acesso em: 4 maio
2022.
HABOWSKI, A. C.; CONTE, E.; MILBRADT, C. A pós-verdade é verdadeira ou falsa? ETD-
Educação Temática Digital, Campinas, v. 22, n. 2, p. 492-497, 2020. Disponível em: https://
periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/download/8657420/22395. Acesso
em: 4 maio 2022.
HOBBES, T. Leviatã ou Matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Trad. de Rosina
Angina. São Paulo: Martin Claret, 2014.
JENKINS, H. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2015.
LEWANDOWSKI, R. Existe uma clara linha divisória entre a moral e o moralismo.
Consultor Jurídico, 24 out. 2017. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-out-24/

lewandowski-clara-linha-divisoria-entre-moral-moralismo. Acesso em: 4 maio 2022.
LOPES, J. P. P. T. Sentidos do “dar certo” na sociedade líquida: anseios e perspectivas
juvenis. Revista Ensino de Sociologia em Debate, n. 10, v. 1, jan./dez. 2020. Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/pages/edicao-nordm.10-vol.-1-jan-dez-2020.php.
Acesso em: 4 maio 2022.
LOPES, P. D.; CARVALHO, A. C. L. Desafios do trabalho na modernidade líquida. Revista
do Observatório de Direitos Humanos do Curso de Direito IESB, v. 7, n. 7, jul./dez. 2019.
Disponível em: https://old.iesb.br/Cms_Data/Contents/Revistadedireito/Media/
ObservatorioDireitosHumanos/Edi-o-v7-n7-jul_dez-2019-Revista-Direitos-Humanos.
pdf#page=23. Acesso em: 4 maio 2022.
MACEDO, S. M. F.; CAETANO, A. P. V. A ética como competência profissional na formação:
o pedagogo em foco. Educação Real, Porto Alegre, v. 42, n. 2, abr./jun. 2017. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/edreal/a/yRHb8sKV5SYj56q7V3ZtKVm/abstract/?lang=pt. Acesso
em: 4 maio 2022.
MARQUES, J. F. Éthos e ética em Heidegger. Educação e Filosofia, v. 4, n. 7, p. 59-66,
mar. 2009. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/
view/1866. Acesso em: 4 maio 2022.
MARRAFON, M. A. A construção do sujeito de direito moderno: Descartes e a tríplice
mediação da subjetividade. Constituição, Economia e Desenvolvimento: Revista Eletrônica da
Academia Brasileira de Direito Constitucional, v. 10, n. 19, p. 653-673, nov. 2020. Disponível
em: https://abdconstojs.com.br/index.php/revista/article/view/194. Acesso em: 4 maio
2022.
MORIN, E. O método 6: ética. Porto Alegre: Sulina, 2005.
NIETZSCHE, F. A. Genealogia da moral: uma polêmica. Trad. de Paulo César de Souza. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
NORONHA, J. S.; CARRER, D. O impacto da pandemia do novo coronavírus na jornada
de trabalho dos profissionais de publicidade e propaganda. RECIMA21-Revista Científica
Multidisciplinar, ISSN 2675-6218, v. 2, n. 1, p. 40-56, 2021. Disponível em: https://recima21.
com.br/index.php/recima21/article/view/57. Acesso em 08 fev. 2022.
PEDRO, A. P. Ética, moral, axiologia e valores: confusões e ambiguidades em torno de um
conceito comum. Kriterion, Belo Horizonte, v. 55, n. 130, p. 483-498, dez. 2014. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-512X2014000200002&l
ng=en&nrm=iso. Acesso em: 4 maio 2022.
PEREIRA, J. A. Uma discussão sobre a dignidade da pessoa humana a partir da ética de
Kant. Griot: Revista de Filosofia, v. 17, n. 1, p. 1-11, 2018. Disponível em: https://www.redalyc.
org/jatsRepo/5766/576664502001/576664502001.pdf. Acesso em: 4 maio 2022.
PLATÃO. A República. Trad. de Edson Bini. 3. ed. São Paulo: Edipro, 2019.
PONDÉ, L. F. Como aprendi a pensar. São Paulo: Planeta, 2019.
QUATRO vezes você. Compositores: Arnaldo Jose Lima Santos; Fernando de Ouro Preto.
Intérprete: Capital Inicial. Rio de janeiro: Warner Chappell Music, 2002. Disponível em:
https://www.letras.mus.br/capital-inicial/74176/. Acesso em: 5 maio 2022.
RACHELS, J.; RACHELS, S. Os elementos da filosofia moral. Porto Alegre: AMGH, 2013.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia: filosofia pagã antiga. 3. ed. São Paulo: Paulus,
2007.
ROBINSON, D.; GARRAT, C. Entendendo ética. São Paulo: Leya, 2017.
RODRIGUES. T. A. et al. Uma visão sobre a ética moral na perspectiva de Agostinho
de Hipona e Tomás de Aquino. Civicae, v. 1, n. 1, p. 8-16, 2019. Disponível em: https://
www.researchgate.net/publication/334530166_Uma_visao_sobre_a_etica_moral_na_
perspectiva_de_ Agostinho_de_Hipona_e_Tomas_de_Aquino. Acesso em: 4 maio 2022.
RODRIGUES JR., O. L. Pessoa, personalidade, conceito filosófico e conceito jurídico de
pessoa: espécies de pessoas no direito em geral. Revista de Direito do Consumidor, v. 27,
n. 118, p. 281-291, 2018. Disponível em: https://revistadedireitodoconsumidor.emnuvens.

com.br/rdc/article/view/1233. Acesso em: 4 maio 2022.
SCHARGEL, S. Combatendo na rua, na política e na internet. Revista Ambivalências, v. 8, n.
16, p. 169-176, 2020. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/Ambivalencias/article/
view/15204. Acesso em: 4 maio 2022.
SILVA, A. F. Cultura do cancelamento: cancelar para mudar? Eis a questão. Revista Argentina
de Investigación Narrativa, v. 1, n. 1, p. 93-107, 2021. Disponível em: http://fh.mdp.edu.ar/
revistas/index.php/rain/article/view/4862/5138. Acesso em: 4 maio 2022.
SPINELLI, M. Sobre as diferenças entre éthos com epsílon e êthos com eta. Trans/Form/
Ação, Marília, v. 32, n. 2, p. 9-44, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/trans/
v32n2/v32n2a01.pdf. Acesso em: 4 maio 2022.
TERRA, C. F.; SOUSA, G. S. Opinião pública em tempos de mídias sociais: Midiatização,
comunicação desintermediada e memes. Opinião pública, comunicação e organizações:
Convergências e perspectivas contemporâneas, v. 1, p. 164-177, 2020. Disponível em: http://portal.
abrapcorp2.org.br/livros-abrapcorp/Livro_Opiniao-Publica.pdf. Acesso em 27 maio 2022.
WEIL, E. Filosofia moral. São Paulo: É Realizações, 2011.
VOEGELIN, E. Ordem e história: Platão e Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2009. v. 3.

2
Ética e moral na sociedade
contemporânea
O mundo contemporâneo passa por profundas transformações
tecnológicas, econômicas, políticas, legais e comportamentais que
têm modificado a forma como a sociedade se organiza e como se
estabelecem as relações nos grupos sociais. Nesse contexto, os
conceitos de ética e moral se tornam cada vez mais fundamentais,
pois são instrumentos essenciais na construção do tecido social.
Neste segundo capítulo, buscamos, na primeira parte, conceituar os
valores pessoais e estabelecer a relação entre esses e as posturas éticas
dos indivíduos e os códigos morais da sociedade. Nossos valores pessoais
são construídos com base em fatores internos, mas são influenciados
pelo ambiente social no qual estamos inseridos.
Considerando a construção do indivíduo, na segunda parte do capítulo,
discutiremos o papel do sujeito na construção da sociedade e analisar
como a relação entre esta e os indivíduos evoluiu ao longo da história. Na
sociedade contemporânea, o papel de cada um de nós é essencial, pois é
com base nos valores e nas decisões éticas dos indivíduos que a sociedade
evolui. Assim, a terceira parte do capítulo discutirá o papel do indivíduo na
definição e na consolidação dos valores éticos e ações morais que regram
as relações que se estabelecem nos grupos sociais.
Um dos principais motores das transformações sociais que observamos
atualmente é o desenvolvimento tecnológico, principalmente das tecnologias
da informação e da comunicação. Tendo isso em vista, na quarta parte deste
capítulo, abordaremos os impactos da revolução digital nos códigos morais da
sociedade. Por fim, na última parte, abordaremos os conceitos de alteridade
e empatia, fundamentais na sociedade atual, em que a individualidade,
os valores e a ética de cada pessoa são o ponto central sobre o qual se
constroem as relações sociais.
Ética e moral na sociedade contemporânea 33

Objetivos de aprendizagem
• refletir sobre os princípios éticos e morais nos quais se baseiam os
valores dos grupos sociais, da sociedade e dos indivíduos;
• compreender o papel do indivíduo na construção e na manutenção

dos valores éticos do grupo social ao qual pertence;
• refletir sobre os principais dilemas e as questões éticas e morais

na sociedade contemporânea;
• identificar os impactos da revolução digital das redes sociais e do

ambiente virtual sobre a ética e moral;
• refletir sobre os conceitos de alteridade e empatia, compreenden-

do a sua importância na sociedade multicultural contemporânea.
2.1 Ética, moral e valores pessoais

Vídeo Ao tomar uma decisão ética, de forma livre e consciente, precisamos
levar em consideração, segundo Vázquez (2018), as consequências
de nossos atos, tanto em relação a nós mesmos quanto aos outros
indivíduos da sociedade. As decisões tomadas diante de um dilema
ético ou moral têm como base nossos valores pessoais.
Para Araujo, Bilsky e Moreira (2012), um valor é uma concepção, uma

Vídeo
ideia ou um princípio próprio de uma determinada pessoa, o qual tem o
O vídeo Como os grandes
líderes inspiram a ação, papel de servir de guia ou orientação para as decisões que são tomadas
publicado pelo canal de por ela diante de qualquer questão que surja em sua vida. Os valores
Carol Mussi, é uma aula
prática sobre a importância moldam os comportamentos, as ações e os sentimentos de cada pessoa.
dos valores na vida. Nesse
vídeo, Simon Sinek apresen- Apesar de serem específicos de cada indivíduo e estarem ligados
ta, em palestra realizada no as suas crenças, os valores refletem as características, a cultura e os
evento TEDxPuget Sound, o
conceito do Círculo Doura- padrões morais do grupo social no qual ele está inserido. Os valores
do que é fundamental para pessoais, segundo Andrade e Leite (2017), podem ser usados para
a definição de estratégias e
ações a serem desenvolvi- entender e prever os comportamentos e as decisões que o indivíduo
das seja pelo indivíduo ou toma, pois, em geral, são estáveis durante a sua vida.
pela empresa.

www.youtube.com/
O que é realmente importante para você? Ou seja, quais são os seus valores,
watch?v=ayaO26BmkPk. Acesso aqueles que você só confessa para si mesmo, independentemente de serem
em: 6 maio 2022. ou não socialmente aceitos?

Para Schwartz et al. (2012), os valores pessoais se organizam em Filme
um conjunto e se inter-relacionam, criando um sistema cognitivo de Apesar de, em um pri-
meiro momento, parecer
valores de cada indivíduo. Como destaca Tamayo (2007), esse sistema ser uma comédia leve e
de valores é usado pela pessoa nas suas decisões e nas ações que adota despretensiosa, o filme
Click levanta algumas
para atingir seus objetivos pessoais, porém, os valores individuais são questões centrais sobre
formados por meio das interações sociais do indivíduo desde a sua como os valores pessoais
são influenciados pelos
infância, refletindo a sua cultura. padrões de sucesso,
status e reconhecimento
Um dos principais autores sobre a temática dos valores pessoais é social. O personagem
Shalom Schwartz. Em um estudo realizado em 1992, ele pesquisou a central, Michael Newman
(cujo sobrenome pode ser
cultura e os valores individuais em mais de 20 países, com o objetivo de traduzido como novo ho-
identificar as características universais dos valores humanos, ou seja, mem), representa o típico
profissional que considera
os valores que estão presentes em diferentes culturas e sociedades a carreira como a parte
(SCHWARTZ, 1992). mais importante de sua
vida e deixa de acompa-
O modelo teórico proposto nesse trabalho, revisto pelo autor em nhar o crescimento de
seus filhos e de se dedicar
2012, categoriza os valores com base nos elementos motivacionais à família. Quando percebe
e estabelece a relação entre as diversas categorias, como mostram que abandonou seus ver-
dadeiros valores em troca
Andrade, Leite e Ibrahim (2020) na Figura 1. do reconhecimento, ele
tenta recuperar o tempo
Figura 1 perdido.
Categorias dos valores pessoais
Direção: Frank Coraci. EUA: Sony
Pictures Entertainment, 2006.
nto Autoexpansão
scime
Cre
Abe
rtu
cia ra
ên smo Autod àm
ed rsali ireç u
sc ive ão
Un
ia
da
n
ento
za
tra
nc
o
nç
iss
De
Co ature
to
râ
a
om
p
Pensam
Au
o
Be end
le
çã
ão
pr
To
ne ula
N
v ên
Aç
m
Cuid olên cia stim

l
E
Foco Socia
ado cia
o
nism
Hedo
Humildade
Realização
soal
al Dom
sso
rpe dade ínio
oção
o Pes
Inte i
Re
r m
nfo
cu
rom
der
Co
rs
Foc
as
Pessoal
os
Fa
gr
Po
Social
top
Re
ição
ce
Au
Co
Trad
ns
rv
aç
e
ão Segurança
Aut de
opro ieda
teção – Evitação da Ans
Fonte: Andrade; Leite; Ibrahim, 2020, p. 109.

No modelo proposto por Schwartz et al. (2012), os dezenove tipos
de valores são relacionados a quatro tipos de fatores motivacionais:
autotranscedência, abertura à mudança, autopromoção e conservação.
A Figura 1 mostra que os valores enquadrados em cada tipo
motivacional podem estar mais ligados a fatores individuais e internos
ao sujeito, enquanto outros valores estão ligados às relações sociais
que o indivíduo estabelece com o grupo social do qual faz parte.
Assim, são organizados em dimensões relacionadas ao foco, sendo
a abertura à mudança e a autopromoção ligadas ao foco interno do
indivíduo. Já a autotranscedência e a conservação são relacionadas ao
foco externo, ou seja, dizem respeito à relação da pessoa com a sociedade.
O Quadro 1 apresenta a organização dos valores de acordo com a
motivação e o foco, com exemplos de cada tipo de valor.
Quadro 1
Classificação dos focos e motivações dos valores pessoais
Foco Motivação Valores Exemplos

Reflexão Liberdade de ideias e habilidades.
Abertura à Autodireção
Ação Liberdade para definir as próprias ações.
mudança
Estimulação Busca pela excitação, pela novidade e mudança.
Hedonismo Desejo pelo prazer e gratificação sensual.
Realização Busca o sucesso seguindo as normas sociais.
Pessoal Autopromoção Dominância Busca o controle sobre as pessoas.
Poder Busca poder pela riqueza e recursos materiais e so-
Recursos
ciais.
Face Busca manter a imagem pública. Evita humilhação.
Busca manter a segurança e estabilidade na vida
Pessoal
Segurança pessoal.
Conservação Social Preocupa-se com a segurança do grupo social.

Tradição Ligado a valores familiares, religiosos e culturais.
Regras Segue regras, leis e obrigações formais.
Conformidade
Interpessoal Busca não prejudicar outras pessoas.
Entende seu papel na sociedade e se mantém humil-
Humildade
de.
Social
Confiabilidade Posiciona-se como alguém de confiança do grupo.
Benevolência
Autotransce- Inquietação Preocupa-se com o bem-estar das demais pessoas.
dência Luta pela igualdade, justiça e proteção do grupo e das
Preocupação
pessoas.
Universalismo
Natureza Preocupa-se com o meio ambiente natural.
Tolerância Tem empatia e aceita as diferenças entre as pessoas.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Schwartz et al., 2012.

Os dois focos – pessoal e social – estão compreendidos em duas
dimensões gerais: a busca pela autoproteção, ou seja, os valores
pessoais relacionados à manutenção da situação atual e das conquistas
do indivíduo; e a busca pelo crescimento e autoexpansão, que agrupa
os valores ligados ao desejo do indivíduo de se desenvolver, aprender
e evoluir enquanto ser humano.
O modelo de classificação proposto por Schwartz et al. (2012) é com

base no conceito de que os valores pessoais formam a base ética e
moral que o sujeito usa para atingir três ações fundamentais ao ser
humano: suprir as suas necessidades biológicas de maneira a garantir
sua sobrevivência; integrar-se ao seu grupo social; e contribuir para o
bem-estar e a felicidade da sociedade.
Filme
No mesmo sentido, para Porto e Tamayo (2005), os valores
Na vida profissional,
norteiam as decisões e, consequentemente, as realizações da pessoa. muitas vezes os valores
Por possibilitarem predizer os comportamentos de cada indivíduo, pessoais e padrões éticos
dos indivíduos se chocam
conhecer os valores do grupo social permite-nos compreender os com a cultura organiza-
códigos morais que regem as interações ocorridas na sociedade. cional e os códigos morais
das empresas nas quais
A classificação dos valores pessoais nos focos pessoal e social atuam. No filme Advogado
do Diabo, o protagonista,
mostra a relação direta dos valores aos conceitos de ética (individual e
Kevin Lomax, ao ser con-
interna) e de moral (coletiva, social e externa). Nesse sentido, a teoria tratado por um grande
escritório de advocacia,
dos valores tem na filosofia, uma de suas bases conceituais, mais
é colocado diante desse
especificamente nas discussões sobre ética e moral. dilema. O poderoso dono
do escritório passa a
O conhecimento sobre os valores pessoais e a maneira como exercer uma estranha
influência sobre o com-
eles influenciam os processos de decisão é usado em diversas áreas.
portamento e a postura
Nas ciências sociais, buscamos entender as interações ocorridas na ética de Lomax. Ao des-
cobrir que o experiente
sociedade por meio dos valores compartilhados. Na psicologia, os
advogado é, na verdade, a
valores pessoais são usados para entendermos como as emoções se personificação do próprio
diabo, Lomax precisa
relacionam às decisões e às consequências dos atos dos indivíduos.
decidir entre manter seus
Já na administração, os valores pessoais são fundamentais para valores ou se adaptar a
uma cultura organizacio-
a construção da cultura organizacional e para o desenvolvimento de nal em que ética e moral
ações de motivação e engajamento dos colaboradores, assim como no não são levadas em conta.
marketing, pois as escolhas de consumo são baseadas nos valores de Direção: Taylor Hackford. EUA:
Warner Bross, 1997.
cada indivíduo.

2.2 Papel do indivíduo na sociedade
Vídeo
Desde o início das discussões filosóficas sobre a ética e a moral, na
Antiguidade Clássica, buscamos entender o papel do indivíduo, seus
valores, suas crenças e sua ética individual na construção da sociedade.
No decorrer da história da filosofia, o tema da ação individual no

grupo social sempre foi central. Na filosofia clássica, Sócrates propôs
uma sociedade ideal, apresentada por Platão em A República (PLATÃO,
2019), em que cada tipo de pessoa tem um papel claramente definido.
Já na visão da ética cristã, o papel do indivíduo estava restrito a seguir
os desígnios divinos (SANTO AGOSTINHO, 2013).
Na Idade Moderna, com o surgimento do Renascimento, o ser humano

passa a ter um papel central na construção da sociedade, por meio do
contrato social que possibilita a vida em grupo (HOBBES, 2014). Já Friedrich
Nietzche rompe com essa visão e prega que o desenvolvimento do indivíduo
é mais importante do que a construção de uma sociedade (NIETZCHE, 2018).
Na filosofia contemporânea, Hannah Arendt (2016) afirma que o

Vídeo indivíduo, ao participar da discussão política, é inserido como um igual
Em uma de suas mais no grupo social e contribui para a construção da sociedade. Por sua vez,
importantes obras, A
República, Platão descreve
Jean Paul Sartre (2014) destaca a importância da liberdade da tomada
a cidade perfeita ideali- de decisão do indivíduo que vive em sociedade. Por fim, Zygmunt
zada por Sócrates, à qual
dá o nome de Kallipolis
Bauman (2001) mostrou que, na modernidade líquida, o indivíduo
(“cidade bela”, em grego). tem o duplo desafio de, por um lado, transformar constantemente a
Essa cidade é composta
por três grupos sociais,
sociedade e, por outro, adaptar-se às mudanças.
cada um com atividades
e responsabilidades
Figura 2
definidas na construção A evolução da visão filosófica sobre o papel do indivíduo na sociedade
da sociedade. No vídeo A
República de Platão, publi-
s
on
ns
cado pelo canal Casa do
m
om
o
ikimedia Comm
Saber, o filósofo Maurício

Wikimedia C
dia Commons
Marsola apresenta os
pontos principais do livro
de Platão, fundamental
on/
para entender o papel do

a/W
me
ati
indivíduo na construção
iki
oz
nd
en
d u /W
da sociedade. The Fo nia
Alonso de M Ahmanson Jewge
Disponível em: https:// SÓCRATES S. AGOSTINHO HOBBES
www.youtube.com/ Sociedade utópica. Origem divina da Contrato Social.
watch?v=8YBne9Ln_38. Acesso
em: 6 maio 2022. sociedade.
(Continua)

Commons
mmons
ommons
ommons
ia Co
ia C
ia C
dia
ed
me
ed
ed
im
im
im
ik ik ik
iki
/W W
/W /W h/
RTG GPO Elya Chya
NIETZSCHE SARTRE ARENDT BAUMAN

O indivíduo é mais Liberdade do indivíduo A sociedade é forma- O indivíduo na cons-
importante que a no grupo social. da por indivíduos em trução constante da
sociedade. igualdade. sociedade.
Fonte: Elaborada pelo autor.
Conhecer as visões da filosofia no decorrer da história é fundamental

para entendermos a visão contemporânea sobre o papel do indivíduo
na sociedade. Casagrande (2021) destaca o conceito da gênese do
indivíduo, desenvolvido por G. H. Mead, na obra: Mente, self e sociedade
(MEAD, 2021), publicada originalmente em 1967, em que Mead aponta
que a origem da individualidade do sujeito é a sociedade. Desse modo,
as pessoas desenvolvem sua própria identidade por meio da relação
que estabelecem, desde sua infância, com o entorno social, formado
primeiro pela família e, depois, pelo grupo social, ou seja, a socialização
é a base da construção da individualidade.
Essa construção da individualidade, chamada por Mead de self,

ou seja, o eu interior, é influenciada pela interação da pessoa com os
outros indivíduos e pelas reações desses quanto às ações tomadas por
ela. Dessa forma, a individualidade de uma pessoa não é isolada, mas
interdependente, que influencia e é influenciada pelo grupo social.
Como explica Casagrande (2021, p. 48),

o desenvolvimento individual e o progresso social ocorrem pelo
combate dos impulsos e dos interesses individuais frente aos
interesses sociais. É neste embate, de construção e reconstrução
de hipóteses com vistas à resolução de problemas, de justificativas
e de novas perspectivas entre indivíduo e sociedade, que se
fundamenta a possibilidade de ambos evoluírem.
Mead (2021) destaca três pontos fundamentais do desenvolvimento

do indivíduo. O primeiro é a percepção de que o indivíduo nasce e se
desenvolve no seio da sociedade e, portanto, é fruto dela. O segundo é a
importância da comunicação entre os indivíduos para que a sociedade

Livro possa evoluir. Por fim, o terceiro ponto é o fato de que o indivíduo
Um dos livros mais precisa entender o caráter social da vida humana.
importantes do século
XX, A revolução dos bichos, A relação entre os indivíduos e a sociedade é dicotômica, pois os
de George Orwell, usa o
realismo fantástico para
limites e valores de cada indivíduo se chocam com os limites e valores
traçar uma alegoria sobre de outras pessoas e do próprio grupo.
a forma de organização
da sociedade e as estru-
turas de poder e controle
social. Tendo como
Se a liberdade é um direito de todos, como pode a sua liberdade para fazer
inspiração o modelo so- uma coisa entrar em acordo com a minha liberdade para fazer outra coisa?
cialista instaurado com a
Revolução Russa, no ano
de 1917, o texto discute
o modelo econômico do Essa questão, tão atual no contexto das discussões que se
capitalismo, a repressão estabelecem nas redes sociais sobre temas como política, saúde,
política e a exploração do
trabalho. Apesar de ter educação e liberdades individuais, é um exemplo dessa dicotomia.
sido escrito por Orwell no
fim da década de 1940,
Fazendo uma relação com os conceitos desenvolvidos pelos filósofos
a obra é extremamente contratualistas da Idade Moderna, como Hobbes, Locke e Hume, a visão
atual e pode servir de
base para discutirmos
de Mead representa um contraponto. Em contraposição aos conceitos
os impactos do controle que apontam que a sociedade se desenvolve por meio dos indivíduos,
das mídias e o fenôme-
no das fake news e da
e esses aceitam participar de um contrato social de maneira implícita,
pós-verdade. possibilitando a vida em grupo (CAXITO, 2020), Mead (2021) defende
ORWELL, G. São Paulo: Companhia que a vida em sociedade é a origem da individualidade, já que antecede
das Letras, 2007.
o nascimento do indivíduo, e ela influencia sua formação.
Casagrande (2021) destaca que, ao observarmos a forma de

organização social de grupos de animais, é possível constatarmos que
o surgimento das estruturas sociais antecede a individualidade. O autor
destaca que podemos identificar estruturas sociais organizadas, com
hierarquias bem definidas e papéis estabelecidos em insetos, como as
formigas e as abelhas. No entanto, essas características também são
identificadas em mamíferos, como leões, macacos, elefantes e lobos,
que estabelecem grupos em que cada indivíduo ocupa uma posição
definida na hierarquia social.
Por outro lado, apesar de a organização social ser identificada

nos grupos animais, não podemos dizer que as ações realizadas por
um indivíduo específico são expressões de sua individualidade, pois
falta aos animais um dos pontos fundamentais do desenvolvimento
humano destacados por Mead (2021): a comunicação entre os diversos
indivíduos, fundamental para que ocorram as decisões éticas e morais
estabelecidas nas relações do grupo social.

A importância do indivíduo na construção da sociedade é um dos Filme
pontos centrais do conceito de modernidade líquida de Bauman (2001). O controle social sobre
as decisões morais e até
O autor explica que, do ponto de vista sociológico, a chamada Era
mesmo sobre os princí-
Moderna pode ser dividida em dois momentos. pios éticos dos indivíduos
pode ser observado em
A modernidade sólida surgiu com as transformações sociais diversos momentos da
ocorridas na transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, incluindo história, especialmente
em regimes ditatoriais. O
o desenvolvimento do pensamento científico, a centralidade do ser filme A onda, com base
humano na filosofia, o renascimento nas artes, o desenvolvimento da em uma história real do
final dos anos 1960, nos
economia capitalista na Revolução Industrial e, na política, o surgimento Estados Unidos, mostra a
das nações modernas. Com isso, a ciência busca entender, conhecer experiência desenvolvida
por um professor de
e controlar todos os aspectos da natureza. Já os Estados se tornam Ensino Médio que, para
a referência para a definição dos conceitos de povo e cultura e das explicar o conceito de
autocracia aos alunos,
normas morais e regras legais. realiza um experimento
social – ao qual dá o
Na modernidade sólida, as instituições sociais passam a ser estáveis nome de A onda. Os
e são colocadas acima do indivíduo. Para Bauman (2001), nesse alunos passam a seguir os
preceitos propostos pelo
período, o indivíduo foi controlado e dominado pelas ideologias, que professor e a experiência
se tornaram cada vez mais estanques e passaram a se antagonizar a tal fascista sai de controle,
ultrapassando o ambiente
ponto que deram origem às duas grandes guerras mundiais. escolar.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a socieda- Direção: Dennis Gansel. Alemanha:
Constantin Film 2008.
de começa a passar por profundas transformações econômicas,
tecnológicas, comportamentais e sociais, influenciadas pelo rá-
pido desenvolvimento tecnológico observado na segunda meta-
de do século XX, dando origem ao que Bauman (2001) chamou de
modernidade líquida. Nesse novo contexto, o indivíduo tem um
papel fundamental e a individualidade é não só aceita, como incen-
tivada. Como destaca Mocellim (2007, p. 109),
a modernidade líquida, sem a necessidade de homogeneidade
nacional, torna o indivíduo a lei universal, isto é, agora todos
devem ser indivíduos. Todos devem ser distintos através de
seus próprios recursos. O consumo aqui tem um importante
papel, ele se torna, na modernidade líquida, a principal forma
de construção da individualidade. Como o consumo, que é
passageiro – e se esvai com o fim do desejo – o indivíduo se torna
algo móvel, passageiro.
No mundo contemporâneo, a individualidade está no centro da

sociedade. O indivíduo é pressionado a sempre buscar se destacar
e é medido, comparado, avaliado e julgado pela sua capacidade de
consumir, além de ser instigado a ocupar cada segundo de seu tempo

na busca pelo desenvolvimento pessoal e pelo seu desempenho nas
mais variadas áreas da vida.
2.3 Ética e moral em um mundo

Vídeo em transformação
A evolução dos conceitos de ética e moral precisa ser entendida
dentro de um contexto maior, que envolve a cultura de um determinado
tempo e de um lugar nos quais uma sociedade está estabelecida.
Como mostra Mead (2021), a ética, apesar de ser interna e individual,
é influenciada pela cultura na qual o indivíduo está inserido. Já a moral
é diretamente relacionada à cultura e às mudanças comportamentais
que ocorrem em uma sociedade.
Como destacam Rachels e Rachels (2013), as culturas lidam com

as questões morais de maneira diferente, e o ritmo de absorção
das mudanças comportamentais nos códigos morais e legais de
uma sociedade também variam.
Segundo Cremonese (2019), a moral que observamos no mundo

contemporâneo é centrada nos desejos e na busca pela realização do
ego e da felicidade individual. Nesse sentido, a moral contemporânea
se opõe à moral teológica, tendo essa como base os ensinamentos
religiosos, adotada durante a Idade Média, e que pode ser vista como
uma evolução da moral iluminista, que surgiu na transição da Idade
Documentário
Média para Idade Moderna, que se vale da visão de que a moral é
Por meio de entrevistas
considerada uma moral natural e que ela faz parte da natureza humana.
com alguns dos mais
destacados pensadores e
Cremonese (2019, p. 22) define a fase atual como pós-moralista e
intelectuais contemporâ-
neos brasileiros, tais como explica que a moral contemporânea
o advogado Ronaldo
Lemos, os filósofos Clóvis
exalta mais os desejos, o ego, a felicidade e o bem-estar individual
de Barros Filho e Mário do que o ideal de abnegação. De certa forma, ficou abandonada
Sérgio Cortella, o soció- a moral do dever sacrifical, pois hoje o que importa é o sucesso
logo Massimo di Felice e
pessoal, são os direitos dos indivíduos, e não os seus deveres. O
o cientista político Sérgio
Praça, o documentário que impera hoje é o relativismo moral, sendo que cada um pode
Ética e política no mundo fazer o que bem entender: “Nada está errado”. O que importa é
em rede discute sobre a
o bem-estar pessoal, numa realidade em que os “deveres” foram
ética e a moral no mundo
contemporâneo. relativizados, vivendo-se uma moral mais de cunho emocional.
Direção: Flora Lahuerta. Brasil: Como destacam Alba et al. (2019), o que marca a moral contemporânea
Instituto CPFL, 2015.
é uma exacerbação da individualidade, ou seja, um hiperindividualismo,

que quando somado ao egocentrismo observado na sociedade, ele Vídeo
desagrega as comunidades tradicionais, pois ele diminui a capacidade do Na entrevista Diálogos
com Zygmunt Bauman,
indivíduo de assumir uma postura altruísta e de adotar ações solidárias. publicada pelo canal
Fronteiras do Pensamen-
Como aponta Maffesoli (2014), atualmente, a internet e as redes to, Bauman discute as
sociais também criam um ambiente para o surgimento de grupos mudanças observadas na
sociedade, na individuali-
que se reúnem em torno de interesses comuns, como religião, dade e nas estruturas de
esporte, gostos musicais, ideias, ideologias ou visões de mundo, poder. O filósofo destaca
o intenso processo de
fenômeno que o autor chama de neotribalismo. individualização e a
centralidade do ego na
A moral no mundo contemporâneo difere dos modelos morais sociedade contemporâ-
desenvolvidos ao longo da história. Em contraposição à moral clássica, nea. Apresenta também
suas visões sobre a
proposta pelos filósofos gregos, que tinha como base a ideia de um democracia, sobre as
mundo organizado em que cada coisa e indivíduo tinha seu lugar, a relações sociais e como
elas são impactadas pelo
moral contemporânea parte da constatação de que o mundo e a ambiente tecnológico e
sociedade são complexos, caóticos e estão em constante modificação. pela pós-modernidade,
Disponível em: https://www.

Diferentemente da moral proposta na Idade Média, baseada na
youtube.com/watch?v=POZcBNo-
filosofia cristã, em que os códigos morais eram ditados por Deus, a D4A. Acesso em: 6 maio 2022.
moral contemporânea é centrada nos indivíduos, cada um deles
dotados de uma visão própria de como devem agir para atingirem
os seus objetivos e a sua felicidade. Além disso, em comparação à
moral apresentada na Idade Moderna, centrada na convivência social
dos indivíduos, responsáveis por construir as condições para que a
sociedade pudesse se desenvolver, a moral contemporânea apresenta
características tanto egocêntrica e quanto hiperindividualista, em que
o indivíduo está acima do grupo social. ck
f/Shuttersto
Gorodenkof

Documentário
Apesar de usar um tom
Para ganhar seguidores e curtidas nas redes sociais, influenciadores tomam
leve e divertido na con-
dução dos experimentos
atitudes questionáveis do ponto de vista ético e moral, como destruir
sociais, a série 100 huma- propriedades de outras pessoas, ofender e assediar pessoas. Quais seriam
nos, composta por seis os limites na busca pela fama e status social?
episódios, levanta profun-
das questões morais. Cem
pessoas de diferentes O reconhecimento e validação social oferecidos pelos indicadores de
origens sociais e étnicas,
engajamento das redes sociais representa o culto ao ego da sociedade
de gêneros e idades
diferentes, precisam contemporânea e reforça as atitudes individualistas. Byung-Chul Han
tomar decisões que mos-
(2015, p. 44) diz que o indivíduo é inundado por uma onda de positividade
tram como alguns valores
estão profundamente tóxica, em que a felicidade deve ser não só alcançada, mas compartilhada
enraizados na cultura e na
e ostentada, criando um ambiente que o filósofo chama de sociedade do
sociedade. Apesar de não
ter o rigor científico de um cansaço.
experimento acadêmico,
essa série é um bom A sociedade do desempenho e a sociedade ativa geram um
indicador de como alguns cansaço e esgotamento excessivos. Esses estados psíquicos
preconceitos direcionam são característicos de um mundo que se tornou pobre em
as ações individuais.
negatividade e que é dominado por um excesso de positividade.
Direção: David Wechter, Neil De
Groot e Tom Kramer. EUA: Netflix, Portanto, não podemos afirmar que a moral contemporânea está
2020.
consolidada. Na modernidade líquida, a sociedade passa por constantes
mudanças e transformações. O que é verdade hoje pode ser mudado,
invertido, transformado e reconstruído amanhã.
2.4 Impactos da revolução digital

Vídeo sobre a ética e a moral
O desenvolvimento e a inovação tecnológica sempre foram fatores
fundamentais na história da civilização humana. É comum entendermos
o conceito de inovação tecnológica como sendo relacionado apenas
ao desenvolvimento de tecnologias da informação e comunicação,
como os computadores, a internet, as redes sociais e os celulares. No
entanto, esse conceito envolve qualquer tipo de invenção ou uso de
uma nova forma de se realizar atividades com menos recursos ou com
maior eficiência e produtividade.
Como destacam Fernandes, Ferreira e Raposo (2013), a inovação

tecnológica pode ser conceituada como colocar em prática as melhorias
em qualquer tipo de atividade, que possam dar origem a novos serviços,
novos produtos, novos processos ou novas tarefas que tragam algum

tipo de benefício para um indivíduo ou grupo social. Nesse ponto de
vista, todas as grandes invenções da humanidade foram com base em
inovações tecnológicas que transformaram a sociedade.
O desenvolvimento da agricultura, como explica Hobsbawm (2015),

possibilitou que os primeiros grupos sociais humanos se estabelecessem
em determinadas regiões, dando origem às vilas e às cidades, que foram
o berço da civilização na primeira grande fase da história econômica
da humanidade: a era agrícola. Tanto a filosofia clássica da Era Antiga,
que buscou estabelecer as bases dos Estados e da organização social,
quanto a filosofia cristã da Idade Média tiveram como origem esse
período da civilização.
Diferentes resultados foram conquistados com o passar do tempo,

seja com o aperfeiçoamento de embarcações com a capacidade de
cruzar oceanos, o que possibilitou a descoberta de rotas marítimas que
interligaram diversas culturas e povos, seja com a invenção das máquinas
a vapor, que revolucionaram os processos produtivos e transformaram
a organização política, social e econômica global, o que, segundo Corrêa,
Ribeiro e Pinheiro (2017), acarretou a segunda grande fase da história
econômica: a era do capital. Com isso, o desenvolvimento das filosofias
iluminista e moderna, que incluem pensadores como Descartes, Hobbes,
Locke, Maquiavel, Nietzsche, Marx, Arendt e Sartre (CAXITO, 2021), refletiu
os valores, as crenças, a ética e a moral dessa fase da história.
Já a partir da segunda metade do século XX, o rápido desenvolvimento

das tecnologias da informação e da comunicação transformou pro-
fundamente a economia global, dando origem a outra fase da história
econômica: a era do conhecimento. Nela, segundo Guimarães (2017), a
inovação tecnológica relacionada à gestão de dados, à organização da
informação, às tecnologias de comunicação e aos processos de interna-
cionalização e globalização da economia passaram a ser as principais fon-
tes de criação de valor econômico, de poder político e de influência social.
Para Corrêa, Ribeiro e Pinheiro (2017), hoje a inovação tecnológica

disruptiva, que causa mudanças radicais nas formas tradicionais
de produção, de comercialização e de distribuição de produtos, de
serviços, de ideias e de conhecimentos, impacta profundamente
a organização social e o modo como pessoas, grupos sociais,
instituições privadas e governo se relacionam.

Para refletir Os filósofos pós-modernos e contemporâneos, como Michel Foucault,
Imagine a seguinte Jean Baudrillard, Simone de Beauvoir e Bauman, buscam entender
situação:
os impactos dessas rápidas transformações sobre a maneira como a
Você recebe uma notícia
falsa, em um grupo sociedade encara as questões filosóficas, éticas e morais da atualidade.
de mensagem em um
aplicativo de comunica- Como a informação e o conhecimento passaram a ser os principais
ção, a qual pode causar ativos econômicos, eles também são a base do poder político e social.
problemas sérios se
for divulgada. Você tem Assim, aquele que detém a capacidade de controlar a informação dita as
informações seguras e decisões, as posturas e os comportamentos sociais e influencia os códigos
comprovadas que mos-
tram que a notícia não é morais que regem as relações na sociedade. Por isso, o desenvolvimento
verdadeira, porém sabe tecnológico traz grandes desafios éticos e morais, que precisamos
que, se discutir o assunto,
será criticado e até mes- compreender para que possamos tratá-los de maneira adequada.
mo ofendido por vários
participantes do grupo. O Um desses desafios é a redefinição dos códigos morais que regram
que você faz? as relações sociais entre indivíduos cada vez mais independentes, que
expressam seus valores éticos por meio da defesa de sua individualidade.
Para Cremonese (2019), a sociedade contemporânea é marcada

pelo fim da moralidade disciplinada pelos códigos e normas em
face do surgimento de uma moral em que não há obrigações nem
Documentário
responsabilidades sobre as consequências dos atos morais. Para o
Apesar de ser uma produ-
ção brasileira, o foco do
autor, na sociedade atual, cada pessoa tem uma posição ou opinião
documentário Fake News: sobre assuntos que levantam discussões morais, tais como o aborto, a
baseado em fatos reais é
o impacto das notícias
descriminalização do uso de drogas, o casamento homoafetivo, entre
falsas e das redes sociais outros temas que causam controvérsia.
nas eleições americanas
que elegeram Donald A mídia e, em especial, as redes sociais, passam a ter um papel
Trump como presidente
essencial no desenvolvimento dos códigos morais, que são cada vez
e no Brexit, referendo
realizado no Reino Unido mais individuais. Contudo, como explicam Ferreira e Rios (2017), com o
sobre a permanência da
desenvolvimento das redes sociais e o uso de algoritmos pelos sites e
nação como membro da
União Europeia. Como foi plataformas de conteúdo, foram sendo criadas as bolhas de opinião e
lançado no Brasil antes
câmaras de eco, nessas os indivíduos que pensam de maneira semelhante
das eleições presidenciais
de 2018, não aborda se encontram e têm suas opiniões e crenças reforçadas, o que causa a
o impacto da internet
gradual radicalização dos discursos em diversos espectros sociais.
nas eleições de nosso
país. Porém, mostra os
A radicalização dos discursos e de posições sobre temas políticos,
mecanismos e estratégias
utilizados pelos grupos econômicos, sociais e aqueles relacionados a direitos humanos
políticos para conquistar
extrapolou o ambiente virtual e passou a ser observada também no
eleitores por meio das
redes sociais e aplicativos mundo físico. Os impactos das redes sociais nos processos eleitorais
de mensagens.
de diversos países, como nas eleições dos Estados Unidos e do Brasil, e
Direção: André Fran. Brasil: o referendo a respeito da participação do Reino Unido na Comunidade
GloboNews, 2017.
Econômica Europeia são exemplos desse fenômeno.

Outro grande desafio ético e moral trazido pelo desenvolvimento Filme
tecnológico diz respeito ao uso de dados e informações no O relacionamento entre
seres humanos e inteli-
desenvolvimento de inteligências artificiais, definidas por Damaceno gência artificial é o tema
e Vasconcelos (2018) como equipamentos e sistemas de informação do filme Ela. Ao instalar
em seu computador um
que, com base em programas e algoritmos, possibilitam que sistema que, por meio
os computadores tomem decisões fundamentadas em dados e do relacionamento com
o proprietário, aprende
informações, e aprendam com base nos resultados obtidos. os gostos e compor-
tamentos deste, um
O conceito de inteligência, nos seres humanos, está ligado à escritor solitário passa a
acumulação de dados e informações que possibilitam o processo de desenvolver uma relação
cada vez mais profunda
aprendizagem e a geração de conhecimentos, por meio de estudo ou com a inteligência virtual.
experiências, que são usados para analisar novos dados e informações e Esse relacionamento
evolui e faz com que o
orientar a tomada de decisão. As inteligências artificiais usam o mesmo protagonista (interpretado
processo de aprendizado do cérebro humano para desenvolverem por Joaquin Phoenix) se
apaixone pela máquina,
conhecimentos que são utilizados nas tomadas de decisão. Apesar porém, ao aprender cada
de parecer um conceito futurístico, a inteligência artificial (IA) já está vez mais rapidamente
sobre os comportamen-
presente em nosso cotidiano, como nos sistemas de indicação de tos e a cultura humana,
produtos usados pelos sites de e-commerce, ou de indicação de filmes a inteligência artificial se
torna consciente e decide
e músicas em plataformas de streaming, como Netflix e Spotify. tomar um novo rumo.
Por serem criadas por seres humanos, as inteligências artificiais Direção: Spike Jonze. Estados
Unidos: Annapurna Pictures, 2013.
refletem a forma como as pessoas relacionam entre si, pensam,
aprendem e convivem. Assim, podem apresentar valores, opiniões,
conceitos e preconceitos que estão enraizados na sociedade.
metamorworks/Shutterstock

Dois exemplos de sistemas de IA desenvolvidos por empresas
relacionadas à inteligência da informação demonstram os riscos éticos
e morais desse fenômeno.
O primeiro deles aconteceu no ano de 2015, conforme Valderramas

(2020), em que a empresa Google desenvolveu um sistema de IA que
tinha como objetivo de classificar automaticamente imagens em
categorias, como pessoas, animais e objetos. No entanto, em diversos
casos, o sistema não identificou pessoas negras como seres humanos,
o que levou à total reformulação do programa.
Outro exemplo aconteceu no ano de 2016, com a inteligência

artificial desenvolvida pela Microsoft, que foi projetada para participar
como um usuário comum em redes sociais, nas quais deveria se
Documentário comunicar e se relacionar com outros usuários e aprender por meio
dessas interações. A experiência fracassou em menos de 24 horas, pois
A pesquisadora Joy Buo-
lamwini tem como área de usuários mal-intencionados passaram a ensinar ao programa discursos
estudo o uso de inteligên-
racista, xenófobo, nazista e sexista. Alguns exemplos de mensagens
cias artificiais e atua em
uma das mais prestigiosas que foram publicadas pela inteligência artificial no seu primeiro e único
escolas do mundo, o
dia de existência disseminavam ofensas à feministas, frases sobre a
Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT). Ao superioridade de algumas raças em relação a outras, elogios a Hitler
participar do desenvolvi-
e ao fascismo, sendo essas a razão pela qual a empresa precisou
mento de um programa
de identificação e reco- desativar rapidamente o programa.
nhecimento facial, per-
cebeu que a inteligência Assim como aprendem similarmente ao ser humano, as
não reconhecia seu rosto.
inteligências artificiais também refletem sobre relacionamentos,
Buolamwini identificou
que, ao usar bancos de conhecimentos, experiências e valores da sociedade na qual elas se
dados predominantemen-
desenvolvem. Por conta disso, elas podem reproduzir as crenças,
te formados por imagens
de homens brancos, o os conceitos e os preconceitos identificados nas informações e nos
sistema tinha dificuldades
dados usados como base de seu aprendizado.
de reconhecer rostos
femininos e, especialmen-
Com o rápido desenvolvimento das tecnologias relacionadas à IA,
te, de mulheres negras. O
documentário Coded Bias alguns pesquisadores apontam que o momento no qual as máquinas
discute como a tecnologia
desenvolverão consciência própria está próximo. Kurzweil (2018) chama
reproduz os padrões,
valores e preconceitos esse momento de singularidade e aponta que no atual estágio do
presentes na sociedade.
desenvolvimento tecnológico no qual vivemos, ainda não compreendemos
Direção: Shalini Kantayya. Produção: totalmente os impactos da IA na maneira como a economia, a sociedade e
Netflix. Estados Unidos, 2020.
a própria civilização humana podem vir a se organizar no futuro.

2.5 Alteridade e empatia
Vídeo Como destacam Duschatzky et al. (2001), a sociedade é diversa.
Gênero, origem étnica e racial, nacionalidade, acesso à educação,
classe econômica e social, crenças religiosas e cultura são apenas
alguns dos exemplos de fatores que diferenciam os indivíduos e que
podem causar estranhamentos e, em casos extremos, conflitos sociais.
Documentário Se a identidade é construída com base nas relações sociais (MEAD,
Em um extenso trabalho 2021), a percepção das diferenças surge a partir das interações que se
de pesquisa, que incluiu a
estabelecem no ambiente social.
realização de mais de duas
mil entrevistas conduzidas
Isso significa que o relacionamento com outros indivíduos é o que
por Yann Arthus-Bertrand,
com pessoas de mais de nos possibilita um entendimento mais profundo de nossa própria
60 diferentes países, o
individualidade, pois é com a percepção das diferenças que entendemos
documentário Humano
traça um perfil das dife- as características de nosso próprio eu. Porém, ao percebermos as
renças entre as diversas
diferenças, cada um de nós se vê diante de uma decisão moral:
sociedades que compõem
a civilização contemporâ- ou aceitamos que cada pessoa tem sua própria individualidade e
nea. Pela profundidade
respeitamos seus valores, seus princípios éticos, suas crenças e os
e extensão da pesquisa
realizada, o documentário comportamentos do outro, ou rejeitamos as diferenças e julgamos o
possibilita entender como
outro com base em nossos próprios valores e códigos morais.
a sociedade se organiza no
presente e como o futuro Na estrutura que os grupos sociais foram estabelecidos, a conformação
está sendo construído
com base nos comporta- do indivíduo às regras e às normas legais e morais é incentivada e
mentos e ações tomadas reconhecida, enquanto a diferença, seja ela de valores, de costumes,
por governos, sociedade e
indivíduos. de hábitos, de aparência ou de formas de expressão, é reprimida. Como
Direção: Yann Arthus-Bertrand. destacam Bagatini e Schuck (2019), as relações de poder, aceitação e status
França: Humankind Production, que se estabelecem dentro dos grupos sociais são influenciadas pela adesão
2015.
do indivíduo às normas, aos padrões e aos códigos socialmente aceitos.
Desse modo, aqueles que se adequam são reconhecidos e os diferentes
Para refletir são afastados ou até excluídos pelo grupo. Segundo Caxito (2021, p. 85):
Nos últimos anos, a
Os indivíduos que detêm o poder definem as normas e os padrões
quantidade de refugiados
que buscam abrigo em a serem seguidos. Aqueles cuja identidade não se adequa a esse
outros países, por motivos padrão são marginalizados ou socialmente invisibilizados. Se a
econômicos ou políticos,
identidade de cada indivíduo é única e diversa, a imposição social
tem crescido de forma
acentuada. O Brasil rece- de uma identidade padronizada e normatizada se torna uma
beu refugiados de outros ferramenta de poder e coerção.
países da América Latina
e da África, que usam Felinto (2018) usa a discussão sobre identidade e direitos de grupos
as estruturas de saúde,
de atendimento social e
minoritários como exemplo do impacto das mídias digitais na sociedade.
jurídico do país. Qual sua A internet possibilitou que grupos de defesa de minorias pudessem
posição sobre esse tema?
ter um canal de comunicação tanto para aumentar os conhecimentos

sobre o tema e estabelecer relações entre diversos indivíduos e grupos,
quanto como plataforma na qual suas demandas e ideias pudessem ser
divulgadas. Nesse sentido, durante as décadas de 1990 e 2000, a internet
passou a ser configurada como um ambiente livre no qual os indivíduos
podiam expressar sua identidade, seus valores e suas crenças. Segundo
Felinto (2018, p. 47), o discurso dos grupos identitários, ao se tornar
mais radical, acabou por criar, como resposta, o surgimento de grupos
moralistas contrários, com discursos ainda mais radicalizados.
Nos últimos anos, de fato, o domínio dos debates identitários se
tornou um violento campo de batalha, no qual expressões como
lugar de fala, espaços seguros (safe spaces) e legitimidade vêm ali-
mentando os discursos da direita sobre o suposto autoritarismo e
a incapacidade de diálogo das esquerdas.
A partir da segunda metade da década de 2010, houve um crescimento

do conservadorismo moral com atuação de grupos criados na internet,
que pregam a volta da moral àquilo que chamam de tradicional, disciplinar
e restritiva, como a moral teológica. O crescimento da moral conservadora
nas redes sociais é um reflexo do ativismo identitário observado nas
décadas anteriores. A chamada alt-right (direita alternativa) radicaliza o
discurso moralista e usa as mídias digitais para defender ideias pautadas
em nacionalismo, xenofobia, racismo e sexismo.
Em uma sociedade na qual a busca pela individualidade é um

dos fatores que mais influencia as relações sociais, a necessidade de
entendermos e praticarmos a alteridade e a empatia se torna ainda mais
fundamental. Farinon (2018) define a alteridade como a capacidade
de o indivíduo perceber, entender, aceitar e respeitar a individualidade
de outra pessoa. Abbagnano (2007) acredita que a alteridade surge
por meio da própria definição da identidade. Somente ao se perceber
enquanto um indivíduo único e separado dos demais, a pessoa pode
identificar as diferenças e as semelhanças e, com base nelas, construir
uma relação com outros indivíduos.
Já a empatia é definida por Hildebrando (2017) como a capacidade

de o indivíduo enxergar o mundo com base no ponto de vista das outras
pessoas. Enquanto o conceito da alteridade está relacionado à percepção
e à aceitação das diferenças, o conceito de empatia é ativo: o indivíduo
precisa sair de seu lugar, abandonar os seus próprios valores e silenciar
sua individualidade para tentar se colocar no lugar do outro e, assim,
entender seus valores, suas crenças, suas demandas e suas dores.

Alteridade e empatia são cada vez mais importantes em um mundo
no qual as fronteiras físicas, além da distância que antes separava
diferentes culturas, são aproximadas pelo desenvolvimento tecnológico.
Essa tecnologia cria um ambiente virtual no qual indivíduos, grupos,
sociedades e culturas se misturam em um grande caldeirão e passam a
se relacionar intensamente.
Os conceitos de ética e moral tem um papel fundamental na construção da
história da civilização humana, pois com base nas decisões éticas e dos códigos
morais que a vida em sociedade é possível. Na sociedade contemporânea,
o indivíduo e a sociedade são interdependentes e participam de maneira
conjunta no desenvolvimento social. Ao modificar a sociedade por meio de
sua ação, o indivíduo precisa também se modificar para se adequar à nova
realidade. A construção, a destruição e a reconstrução da sociedade também
é uma reconstrução do indivíduo e do conceito de individualidade.
ATIVIDADES
Atividade 1
Explique o conceito de valores pessoais.
Atividade 2
Sobre a relação entre individualidade e sociedade, explique a dife-
rença entre os conceitos desenvolvidos pelos filósofos contratua-
listas da idade moderna e o conceito da gênese do indivíduo.
Atividade 3
Alteridade e empatia são conceitos relacionados, mas diferentes.
Explique essas diferenças.

REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: M. Fontes, 2007.
ALBA, J. F. D. et al. A ética e a moral: uma análise sobre seus desdobramentos e dentro da
contemporaneidade. Relações Internacionais no Mundo Atual, v. 3, n. 24, p. 255-275, 2019.
Disponível em: http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RIMA/article/view/3920. Acesso
em: 4 maio 2022.
ANDRADE, M. L.; LEITE, R. S. Teoria dos valores pessoais em marketing: um estudo
bibliométrico sobre as publicações nacionais. In: 41º ENANPAD – ENCONTRO NACIONAL
DA ASSOCIAÇÃO DO PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, out. 2017,
São Paulo. Anais [...] São Paulo, SP: Anpad, 2017. Disponível em: http://www.anpad.org.br/
abrir_pdf.php?e=MjM4MTA=. Acesso em: 4 maio 2022.
ANDRADE, M. L.; LEITE, R. S.; IBRAHIM, S. T. C. A. Ética, valores pessoais e a compra de
falsificados. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, v. 19, n. 1, p. 104-133, 2020.
Disponível em: http://www.periodicosibepes.org.br/index.php/recadm/article/view/2799.
ARAUJO, B. F. V. B.; BILSKY, W.; MOREIRA, L. M. C. O. Valores pessoais como
antecedentes da adaptação transcultural de expatriados. RAM – Revista de Administração
Mackenzie, v. 13, p. 69-95, 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ram/a/
chzB8Vmx8sdNggKCT9pbwNK/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 4 maio 2022.
ARENDT, H. A condição humana. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2016.
BAGATINI, F. A.; SCHUCK, R. J. O eu e o outro: as semelhanças e diferenças de uma
identidade. Educere et Educare, v. 15, n. 33, p. 1-18, 2019. Disponível em: http://e-revista.
unioeste.br/index.php/educereeteducare/article/view/19595. Acesso em: 4 maio 2022.
CASAGRANDE, C. A. Da sociedade ao indivíduo e de volta à sociedade: socialização e
individuação em GH Mead. Revista Espaço Pedagógico, v. 28, n. 1, p. 34-54, 2021. Disponível
em: http://seer.upf.br/index.php/rep/article/view/11323. Acesso em: 4 maio 2022.
CAXITO, F. Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública. Curitiba: Iesde, 2020.
CAXITO, F. Direitos Humanos e relações sociais. Curitiba: Iesde, 2021.
CORRÊA, F.; RIBEIRO, J. S. A. N.; PINHEIRO, M. M. K. Aspectos da economia da informação:
arquétipo conceitual econômico e social. Informação & Informação, v. 22, n. 1,
p. 185-214, jan./abr. 2017. Disponível em: https://www.brapci.inf.br/_repositorio/2017/06/
pdf_3631485f87_0000023308.pdf. Acesso em: 4 maio 2022.
CREMONESE, D. Ética e moral na contemporaneidade. Campos Neutrais – Revista Latino-
Americana de Relações Internacionais, v. 1, n. 1, p. 8-28, 2019. Disponível em: https://
periodicos.furg.br/cn/article/view/8618. Acesso em: 4 maio 2022.
DAMACENO, S. S.; VASCONCELOS, R. O. Inteligência artificial: uma breve abordagem sobre
seu conceito real e o conhecimento popular. Cadernos de Graduação – Ciências Exatas e
Tecnológicas – UNIT, v. 5, n. 1, p. 11-11, out. 2018. Disponível em: http://periodicos.set.edu.
br/cadernoexatas/article/view/5729. Acesso em: 4 maio 2022.
DUSCHATZKY, S. et al. Narrando a alteridade na cultura e na educação. In: LARROSA, J.;
SKLIAR, C. (org.). Habitantes de Babel: políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte:
Autêntica, 2001.
FARINON, M. J. Apresentação: alteridade e educação. Cadernos de Pesquisa,
v. 48, n. 167, p. 130-135, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cp/a/
gPzBhk8NrBGh4ZczmV8MtYf/?lang=pt. Acesso em: 4 maio 2022.
FELINTO, E. Mare nostrum, mare alienun: identidade, epistemologia e a imaginação
flusseriana dos fluxos. MATRIZes, v. 12, n. 3, p. 45-58, 2018. Disponível em: https://www.
revistas.usp.br/matrizes/article/view/147202. Acesso em: 4 maio 2022.
FERNANDES, C. I.; FERREIRA, J. M. M.; RAPOSO, M. L. Drivers to firm innovation and their
effects on performance: an international comparison. International Entrepreneurship and

Management Journal, v. 9, n. 4, p. 557-580, 2013. Disponível em: https://link.springer.com/
content/pdf/10.1007/s11365-013-0263-6.pdf. Acesso em: 4 maio 2022.
FERREIRA, A. V.; RIOS, J. R. A. C. Filtro bolha, câmara de eco e a formação de opiniões
extremas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO. Anais [...] Curitiba:
Intercom, set. 2017. Disponível em: http://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/44732/1/2017_
eve_avferreira.pdf. Acesso em: 4 maio 2022.
GUIMARÃES, S. K. Transformações científicas e tecnológicas e implicações econômico
sociais. Revista Sociologias, Porto Alegre, v. 19, n. 46, p. 16-29, set./dez. 2017. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/soc/a/wGBjCYRdSx3wyLzTgvDR9Rd/?lang=pt. Acesso em: 4
maio 2022.
HAN, B-C. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2015.
HILDEBRANDO, M. Direitos humanos: considerar e tolerar. Gazeta Valeparaibana, ano X,
ed. 119, p. 13, out. 2017. Disponível em: http://www.gazetavaleparaibana.com/119.pdf.
HOBBES, T. Leviatã ou Matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. São Paulo: M.
Claret, 2014.
HOBSBAWM, E. A era das revoluções: 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2015.
KURZWEIL, R. A singularidade está próxima: quando os humanos transcendem a biologia.
Trad. de Ana Goldberger. São Paulo: Iluminuras, 2018.
MAFFESOLI, M. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa.
5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014.
MEAD, G. H. Mente, self e sociedade. Petrópolis, Vozes, 2021.
MOCELLIM, A. Simmel e Bauman: modernidade e individualização. Em Tese, v. 4, n. 1, p.
101-118, ago./dez. 2007. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/emtese/
article/view/13474/12357. Acesso em: 4 maio 2022.
PORTO, J. B.; TAMAYO, Álvaro. Valores organizacionais e civismo nas organizações. RAC
– Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 9, n. 1, p. 35-52, jan/mar. 2005.
Disponível em: https://rac.anpad.org.br/index.php/rac/article/view/358. Acesso em: 4
maio 2022.
RACHELS, J.; RACHELS, S. Os elementos da filosofia moral. Porto Alegre: AMGH, 2013.
SANTO AGOSTINHO. A cidade de Deus. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
SARTRE, J. P. Existencialismo é um humanismo. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
SCHWARTZ, S. H. Universals in the content and structure of values: theoretical advances
and empirical tests in 20 countries. Advances in Experimental Social Psychology, v.
25, p. 1-65, 1992. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/
S0065260108602816. Acesso em: 4 maio 2022.
SCHWARTZ, S. H. et al. Refining the Theory of Basic Individual Values. Journal of Personality
and Social Psychology, v. 103, n. 4, p. 663-688, 2012. Disponível em: https://psycnet.apa.org/
record/2012-19404-001. Acesso em: 4 maio 2022.
TAMAYO, A. Hierarquia de valores transculturais e brasileiros. Psicologia – Teoria
e Pesquisa, v. 23, p. 7-15, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ptp/a/
PqLBq5JXtn7PZJfrdZMcfFc/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 4 maio 2022.
VÁZQUEZ, A. S. Ética. 38. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
VALDERRAMAS, E. A ética como um dos desafios da Inteligência Artificial. In: 5º WASHES –
WORKSHOP SOBRE ASPECTOS SOCIAIS, HUMANOS E ECONÔMICOS DE SOFTWARE, nov.
2020. Anais [...] Porto Alegre: SBC, 2020. Disponível em: https://sol.sbc.org.br/index.php/
washes/article/view/11199. Acesso em: 4 maio 2022.

3
Ética no ambiente profissional
As atividades desenvolvidas pelas empresas têm um papel fundamen-
tal na organização da sociedade contemporânea, pois causam impactos
econômicos, sociais e ambientais que podem ter consequências definiti-
vas no futuro da humanidade.
Tendo isso em vista, nesta primeira parte do capítulo discutiremos
como os conceitos de ética e moral são aplicados no ambiente empresa-
rial, tanto nas relações que ocorrem entre as pessoas que fazem parte da
empresa quanto nas interações da empresa com o ambiente externo. Os
princípios éticos da organização precisam estar claros desde o momento
em que são desenvolvidas as diretrizes estratégicas da empresa, as quais
são compostas de sua missão, sua visão e seus valores.
Os códigos de ética são o tema da segunda parte do capítulo, no qual
mostraremos a diferença entre os códigos de ética profissional e os códi-
gos de ética empresarial, discutindo como eles se relacionam no cotidiano
da atuação daqueles que atuam nas organizações.
As responsabilidades dos profissionais e das empresas serão apresen-
tadas por meio de exemplo reais na terceira parte do capítulo. Em cada
caso mostraremos tanto os dilemas quanto as consequências das postu-
ras e decisões tomadas no ambiente empresarial.
As intensas transformações do mundo contemporâneo trazem novos
dilemas éticos e morais que precisam ser enfrentados pelas empresas e
também pelos profissionais que nelas atuam. Nesse sentido, na quarta
parte do capítulo, abordaremos questões como a corrupção e a gestão
das informações pessoais dos clientes e consumidores.
Entre esses dilemas contemporâneos, a questão do assédio – seja mo-
ral, sexual ou intelectual – ocupa um papel central nas empresas. Por isso,
na última parte do capítulo nos aprofundaremos nesse tema.

• compreender a centralidade da ética e da moral da empresa e do
profissional no ambiente empresarial;
• discernir conceitos e exemplos de Códigos de Ética empresarial;
• refletir sobre as responsabilidades profissionais dentro da empre-

sa, por meio de exemplos e casos reais;
• identificar os principais desafios éticos e morais presentes no am-

biente empresarial;
• distinguir os conceitos de assédio moral, sexual e intelectual no

ambiente de trabalho.
3.1 Ética e moral no trabalho

Vídeo
As empresas, sejam elas públicas ou privadas, apresentam um papel
relevante na estrutura econômica, política e social do mundo contem-
porâneo. Para Monteiro, Espírito Santo e Bonacina (2005), da mesma
forma que as pessoas físicas, as empresas (que do ponto de vista legal,
1
são pessoas jurídicas ) também precisam seguir códigos morais e le-
gais e basear suas decisões em valores e princípios éticos.
1 O planejamento estratégico é o instrumento utilizado pelas em-

presas para definir quais atividades realizar, quais produtos e serviços
Pessoa jurídica é um ente
constituído com o objetivo produzir, quais mercados atender, quais processos de produção, co-
de realizar uma atividade
mercialização e distribuição utilizar e quais resultados deseja alcançar,
econômica para gerar
valor econômico ou social, ou seja, seus objetivos em termos de geração de valor econômico e
tal como uma empresa
social. O processo de planejamento estratégico, segundo Fischmann e
privada ou pública, um
partido político ou organi- Almeida (2007), inicia com a definição das diretrizes estratégicas, que
zações sociais e religiosas.
são compostas de três pilares: missão, visão e valores.
Os municípios, os estados
e a União também são
A missão explica o motivo pelo qual os empreendedores tomaram a
pessoas jurídicas.
decisão de constituir uma empresa. Na declaração de missão devemos
Ética no ambiente profissional 55

expor o que a empresa faz, como ela realiza suas atividades e de que
forma pretende atuar no mercado. Conforme explica Caxito (2021a,
p. 35), “empresas que atuam em um mesmo mercado e fazem parte
de uma mesma cadeia de suprimentos podem ter diferentes missões.
Como exemplo, uma indústria de produtos alimentícios tem a missão
de produzir alimentos, enquanto um supermercado tem a missão de
comercializar os produtos da indústria”.
O segundo componente das diretrizes estratégicas é a visão, que

tem o papel de informar como a empresa se vê no futuro, em termos
de tamanho, área de atuação, segmentos atendidos e participação de
mercado desejada. Como esclarece Tavares (2010), a visão é específica
e mensurável e serve de base para a definição dos objetivos, das estra-
tégias, das táticas e das ações operacionais a serem realizadas.
Finalmente, os valores servem de base para o posicionamento ético

da empresa e orientam as tomadas de decisão dos executivos e cola-
boradores durante a execução dos planos de ação e a realização das
atividades cotidianas. Observe a Figura 1, que resume os três pilares
das diretrizes estratégicas empresariais.
Figura 1
Posicionamento estratégico da empresa
Graphyworld/Shutterstock
Missão Visão Valores
• Utilidade dos produtos e • Mostra a posição que a • Princípios éticos e a prática
serviços para os clientes. empresa quer atingir no futuro. moral.
• Objetivos e necessidades dos • Orienta o caminho a ser • Bases sobre as quais
investidores ou fundadores. percorrido. se desenvolve a cultura
• Esclarece o que a organização é • Representa um objetivo a ser empresarial.
ou o que ela faz. alcançado. • Orientam a tomada de decisão
• Explicita como ela realiza suas • É facilmente mensurável. dos gestores.
atividades. • Direcionam a atuação dos
colaboradores.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Entre os pilares do posicionamento estratégico, os valores são Filme
aqueles que estão diretamente relacionados aos conceitos de ética e O mundo passou por uma
grande crise econômi-
moral, fundamentais para garantir que a atuação da empresa esteja de ca a partir do ano de
acordo com os códigos morais exigidos pela sociedade e com a legisla- 2008, a qual teve como
origem decisões antiéticas
ção que regra sua atuação no mercado. tomadas por executivos
de instituições financei-
Em um contexto em que os indivíduos e a sociedade passam a ter ras ligadas ao mercado
cada vez mais consciência a respeito dos impactos econômicos, sociais de crédito imobiliário.
O filme A grande aposta
e ambientais da atuação empresarial, os valores e as posturas éticas mostra a história real de
das empresas se tornam cada vez mais importantes. Segundo Barbosa um executivo de fundos
de investimento que
e Simão Filho (2018, p. 271): percebeu a iminência de
uma grande instabilidade
os valores éticos empresariais devem ser pragmáticos, efetivos
na economia global e
no que tange aos princípios constitucionais, com a inserção da apostou, por meio de
empresa nas questões sociais no âmbito do solidarismo e do investimentos, na possibi-
cooperativismo. E, por conseguinte, desmantela a assertiva de lidade de uma crise, o que
o levou a lucrar bilhões de
que a busca do lucro deve ser o vetor único e finalista da ativi- dólares quando o colapso
dade empresarial, colocando no mesmo nível de grau e de im- do mercado imobiliário se
portância a eticidade, na busca de resultados empresariais, onde tornou realidade.
será o lucro, decerto, o maior deles. Direção: Adam McKay. EUA:

Paramount Pictures, 2015.
Feitoza e Chagas (2020) apontam que a sociedade acompanha de perto
e exige que as empresas conduzam seus negócios de maneira a garantirem
que os impactos sobre o meio ambiente e a sociedade sejam os menores
possíveis. Ao mesmo tempo, espera-se que as empresas garantam condi-
ções de trabalho justas e humanas para seus trabalhadores e que as rela-
ções com outros órgãos, empresas e instituições públicas e privadas sejam
realizadas com lisura e dentro dos limites estabelecidos pela lei.
Porém, enquanto a sociedade está atenta à postura ética e mo- 2

O termo market share, que
ral das empresas, os investidores, os empreendedores e o mercado
pode ser traduzido como
de capitais cobram delas resultados econômicos e financeiros cada participação de mercado, é
usado na Administração
vez maiores, como forma de garantir o retorno do capital investido.
de Empresas e na área de
Lemos et al. (2020) mostram que os resultados de indicadores econô- marketing para se referir
2 à fatia ou à parte de um
micos e de mercado, como faturamento, market share e diminuição
mercado. Normalmente
de custos, são cobrados diariamente de executivos e colaboradores, apresentado como um
valor percentual que
que se sentem pressionados a aumentar sua produtividade e buscar
determinada empresa
novas formas de aumentar as margens de lucro da empresa e, conse- apresenta em relação ao
total do mercado.
quentemente, os ganhos de capital dos investidores.

Livro
Partindo de uma extensa
discussão sobre a Imagine a seguinte situação:
evolução dos conceitos Uma carga de produtos importados de sua empresa foi bloqueada por ques-
filosóficos, Ética profissional
aborda como as ações e
tões legais em um porto, o que pode causar longos atrasos no atendimento
decisões tomadas pelos aos clientes, prejuízos para a empresa e uma alta multa. Porém, há a possibi-
profissionais no cotidiano lidade de desembaraçar a carga caso seja paga uma propina.
de suas atividades preci-
sam ser pensadas com
O que você acredita que a empresa deve fazer?
base nos princípios éticos
e códigos morais. O livro
analisa dilemas éticos e
decisões morais presentes
O tipo de dilema que apresentamos anteriormente, quando enfren-
no ambiente de negócios tado por um executivo pressionado por resultados ou preocupado com
e apresenta virtudes que
devem ser desenvolvidas
os indicadores de desempenho ou a participação de mercado da em-
pelos profissionais. presa, pode levar a decisões éticas equivocadas.
SÁ, A. L. de. São Paulo: Atlas, 2019.
Em mercados em que a concorrência é acirrada, o nível de cobran-
ça é muito elevado, por exemplo, o mercado financeiro, composto de
bancos, empresas de investimento e outras instituições que prestam
serviços financeiros, ou o mercado de bens de consumo, no qual uma
Filme diferença de 1 (um) ponto percentual na participação de mercado pode

representar um faturamento de milhões de reais. Nesse contexto, de
No filme Obrigada por
fumar, para defender acordo com Fidelis, Zille e Rezende (2020), muitos executivos e colabo-
uma das indústrias mais
radores acabam por adotar posturas antiéticas e tomar decisões sem
prejudiciais do planeta, o
porta-voz de uma asso- considerar os códigos morais e a legislação.
ciação de produtores de
cigarros usa informações Os valores estabelecidos no posicionamento estratégico e com-
falsas, deturpa resultados
partilhados pelos membros da empresa têm o papel de delimitar os
de pesquisas, manipula
pessoas e usa toda sua parâmetros que devem ser utilizados pelos profissionais. Por isso, os
capacidade de argumen-
valores não devem ser apenas palavras afixadas em um quadro na pa-
tação para convencer a
população de que o taba- rede da empresa, eles precisam ser colocados em prática no cotidiano
gismo não é um problema
das relações internas e externas estabelecidas pelos colaboradores.
de saúde. Durante muito
tempo, o personagem Porém, como já destacou o filósofo grego Platão em sua obra A Re-
principal não apenas
aceita atuar para além pública, a prática ética tem como um de seus princípios a liberdade de
dos limites da ética e da decisão (PLATÃO, 2019). Portanto, mesmo que uma empresa não te-
moral, como também de-
monstra orgulho de sua nha valores claramente estabelecidos ou que a cultura organizacional
profissão. O filme mostra não valorize a postura ética e moral, o colaborador é responsável pelas
como o discurso ético de
empresas, instituições consequências de seus atos. Nesse sentido, embora as decisões indivi-
públicas e privadas e polí- duais sejam influenciadas pelo meio social, como apontam Macedo e
ticos nem sempre reflete
seus verdadeiros valores. Caetano (2017), a decisão sobre adotar uma postura ou ação que fira
Direção: Jason Reitman. EUA: 20th sua própria ética ou desobedeça aos códigos morais da sociedade é,
Century Fox, 2006. em última análise, do indivíduo.

Srour (2019) concorda com essa visão e destaca que uma empre-
sa pode decidir, de acordo com seus valores e sua cultura, tomar
decisões antiéticas ou imorais para atingir seus objetivos. Mas o pro-
fissional que segue seus próprios princípios éticos e sua postura mo-
ral não compactuará com essa postura e buscará novos caminhos
para sua carreira profissional.
3.2 Códigos de ética profissional

Vídeo e empresarial
Nas últimas décadas, a sociedade tem se tornado cada vez mais
consciente dos impactos causados pelas empresas sobre a economia, a
cultura, as comunidades e o meio ambiente. As mídias sociais divulgam
e repercutem casos de empresas que usam estratégias antiéticas para
atingirem seus objetivos, o que pode ter impactos sobre seus resulta-
dos e sua reputação.
De modo semelhante, posturas antiéticas adotadas por profissio-

nais no exercício de suas atividades, como casos de corrupção, assé-
dio ou uso indevido de recursos, passaram a ser criminalizadas com
a criação de legislações que responsabilizam civil e criminalmente os
indivíduos por suas atitudes, suas decisões e suas ações.
3 Nesse contexto, segundo Stevens e Buechler (2013), organizações

Stakeholder é um termo representativas de determinadas profissões, como conselhos, associa-
utilizado na administração ções, ordens e sindicatos, passaram a estabelecer códigos de ética que
para se referir a todos
indivíduos, grupos, todas possam orientar a atuação de empresas e profissionais no desempe-
organizações e instituições nho de suas atividades.
que se relacionam com
uma empresa e podem ser
afetados de alguma forma
pelas decisões e atividades 3.2.1 Códigos de ética empresarial
desenvolvidas por ela.
Funcionários, investidores Os pilares do posicionamento estratégico da empresa – missão, vi-
e empreendedores são são e valores – são a base sobre a qual construímos a cultura organi-
stakeholders internos, en-
quanto fornecedores, clien- zacional e apresentam, tanto para os colaboradores quanto para os
tes, consumidores, outras stakeholders
3
externos, quais são os objetivos a serem alcançados e
empresas que fazem parte
da mesma cadeia de valor, quais padrões éticos e códigos morais orientam os comportamentos e
comunidades em que a as decisões tomadas pelos seus representantes e colaboradores.
empresa está localizada,
governos e sociedade civil Contudo, as decisões a serem tomadas no cotidiano das operações
organizada são exemplos
de stakeholders externos. realizadas por uma empresa são complexas e envolvem uma série de

Filme variáveis internas e externas, as quais podem dar origem a dilemas éti-
A crise financeira global cos e morais que precisam ser resolvidos pelos seus colaboradores na
de 2008 levou à falência
dezenas de bancos e execução de suas atividades.
instituições financeiras
com décadas de história,
Como destacam Singh et al. (2018), para que a empresa atinja seus
antes consideradas objetivos, executivos e colaboradores são pressionados a entregar re-
sólidas. O filme O dia antes
do fim mostra o momento
sultados e melhorar continuamente seu desempenho. É comum que
em que um grande banco remuneração e premiações, bem como oportunidades de promoção,
entra em processo de
falência e acompanha uma
sejam atreladas aos resultados obtidos.
tensa reunião em que
seus principais executivos
Assim, se os códigos morais não estiverem claramente definidos e
precisam tomar decisões comunicados, alguns colaboradores podem tomar decisões que ferem
que envolvem ética, moral
e desejo de preservar
os valores da empresa, seja de maneira intencional, seja por desconhe-
suas posições profissio- cimento das normas a serem seguidas.
nais e seu patrimônio.
Apesar de ser uma história Os códigos de ética empresarial, segundo García-Sánchez,
fictícia, apresenta como a
Rogríguez-Domínguez e Frías-Aceituno (2015), têm o objetivo de descre-
pressão por resultados, o
ego e a ambição podem ver os valores, os padrões éticos e os códigos morais que os colaborado-
influenciar decisões éticas
res devem seguir durante a execução de suas atividades, bem como seus
e morais de profissionais.
direitos, seus deveres e suas responsabilidades. Além disso, esclarecem
Direção: J.C. Chandor. EUA: Myriad
Pictures/Benardya Pictures, 2011. as formas de controle, punições ou consequências a que estão sujeitos
esses indivíduos caso descumpram normas e regras definidas. A figura a
seguir mostra os principais objetivos desses códigos de ética.
Figura 2
Objetivos dos códigos de ética empresarial
1 Skeleton Icon/Shutterstock - 2 bsd studio/Shutterstock

3 Denys Drozd/Shutterstock - 4 kuroksta/Shutterstock
5 VectorsMarket/Shutterstock
1
2
Nortear os Definir normas e
comportamentos e procedimentos da
condutas. atuação profissional.
3 4
5
Orientar os Transmitir os Estabelecer as regras
relacionamentos entre princípios e valores de confidencialidade
os membros da equipe. da empresa. de informações.
Fonte: Elaborada pelo autor com base em García-Sánchez; Rogríguez-Domínguez; Frías-Aceituno, 2015.

Como observamos na Figura 2, ao deixar claro os valores e princípios Leitura
com base nos quais são estabelecidas as normas e as regras a serem Criado em 1995, o
Instituto Brasileiro de
seguidas, o Código de Ética orienta a atuação, as posturas e os compor- Governança Corporativa
tamentos dos colaboradores no exercício de suas atividades, além de esta- (IBGC) desempenha um
importante papel na
belecer os limites e as expectativas da empresa em relação à forma como divulgação e implantação
os colaboradores se relacionam entre si e com os stakeholders externos. dos conceitos de ética
corporativa e no desen-
volvimento de modelos e
Pense na seguinte situação, que ilustra um tipo de dilema ético que pode sur- padrões a serem seguidos
gir no cotidiano de uma empresa: pelas empresas que
buscam adotar códigos de
Ao analisar alguns documentos relativos aos processos de compra realiza- ética empresarial. O IBGC
dos pela empresa, você identifica que alguns funcionários estão recebendo publicou o Código das
vantagens particulares para privilegiar determinados fornecedores. Você sabe melhores práticas de go-
vernança corporativa, que
que, se denunciar o caso, os funcionários serão demitidos e você conhece elenca uma série de casos
pessoalmente alguns deles. de sucesso de empresas
que adotaram códigos
Qual atitude você tomaria?
de ética e destaca pontos
fundamentais do processo
Os códigos de ética empresarial, portanto, trazem diversos benefí- de implementação deles.
cios para as empresas. No ambiente interno, aumentam a clareza da Disponível em: https://
conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/
comunicação entre a empresa e seus colaboradores, criam motivação
Publicacao.aspx?PubId=21138.
e promovem o engajamento e a lealdade aos valores organizacionais. E, Acesso em: 14 jun. 2022.
no ambiente externo, melhoram as relações com os stakeholders e valori-
zam a imagem da empresa em relação ao mercado e aos consumidores.
Além disso, ao reduzir os riscos de ocorrências de desvios, cor-

rupções ou possíveis problemas legais causados pelas atividades da Livro
empresa, os códigos de ética ajudam a diminuir os custos da empresa, Com base em casos reais,
o que o aumenta sua lucratividade. o livro Programas e códigos
de ética e conduta apre-
senta um passo a passo
3.2.2 Códigos de ética profissional que orienta o processo de

implementação de códigos
de ética empresarial. O
Enquanto os códigos de ética empresarial são desenvolvidos para autor sugere um modelo
uma empresa específica e refletem sua missão, sua visão e seus valo- composto de oito etapas a
serem percorridas, desde
res, os códigos de ética profissional são desenvolvidos por órgãos re- a decisão de implantar o
presentativos de determinada profissão, com o objetivo de estabelecer documento até a posterior
avaliação dos resulta-
padrões de conduta que regulem a atuação dos profissionais da área, dos obtidos. Por usar
seja qual for a empresa ou organização para a qual prestem serviços. exemplos de empresas
brasileiras, serve como
Segundo a Constituição Brasileira (BRASIL, 1988), cabe ao Estado o um manual prático para
as que buscam adotar um
papel de definir as condições mínimas para que um indivíduo possa Código de Ética em sua
exercer determinada profissão. O artigo 22 estabelece que: “compete atuação no país.
privativamente à União legislar sobre: [...] XVI - organização do sistema HUMBERG, M. E. São Paulo: CL-A
Cultural, 2016.
nacional de emprego e condições para o exercício de profissões”.

Já os conselhos profissionais têm o papel de registrar os indivíduos
habilitados a exercerem a profissão, fiscalizar sua atuação profissional
e disciplinar as atividades de seus associados. Esses conselhos repre-
sentam os interesses do conjunto dos profissionais e buscam garantir
a qualidade dos serviços por eles prestados. De acordo com a Nota
Técnica n. 392/2013 (BRASIL, 2013a, p. 2), do Ministério da Educação:
os Conselhos Profissionais têm a atribuição de acompanhar e
supervisionar o exercício da profissão regulamentada a que se
vinculam. Cabe, assim, aos Conselhos Profissionais, com base
na legislação específica que regulamenta o exercício profissional
das diferentes áreas, estabelecer requisitos e mecanismos que
assegurem o exercício eficaz da profissão, de modo a apresentar
a sociedade um profissional com as garantias que correspondam
aos parâmetros da fiscalização do seu exercício, quer em termos
éticos, quer em termos técnicos.
Segundo o Tribunal de Contas da União – TCU (2014), existem no

Brasil dezenas de órgãos representativos de profissões, incluindo os
conselhos federais e os regionais. No Quadro 1 mostramos os conse-
lhos de âmbito federal.
Quadro 1
Conselhos profissionais listados pelo TCU
Conselhos de profissões
Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR)
Conselho Federal de Administração (CFA)
Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB)
Conselho Federal de Biologia (CFBIO)
Conselho Federal de Biomedicina (CFBM)
Conselho Federal de Contabilidade (CFC)
Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci)
Conselho Federal de Economia (Cofecon)
Conselho Federal de Economistas Domésticos (CFED)
Conselho Federal de Educação Física (Confef)
Conselho Federal de Enfermagem (Cofen)
Continua

Conselhos de profissões
Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea)
Conselho Federal de Estatística (Confe)
Conselho Federal de Farmácia (CFF)
Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito)
Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa)
Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV)
Conselho Federal de Medicina (CFM)
Conselho Federal de Museologia (Cofem)
Conselho Federal de Nutricionistas (CFN)
Conselho Federal de Odontologia (CFO)
Conselho Federal de Psicologia do Brasil (CFP)
Conselho Federal de Química (CFQ)
Conselho Federal dos Profissionais de Relações Públicas (Conferp)
Conselho Federal dos Representantes Comerciais (Confere)
Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (Conter)
Fonte: TCU, 2014, p. 134-135.
Além desses conselhos listados pelo TCU, também podemos citar o

Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Conselho
Federal de Serviço Social (CFESS) e a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB).
Para Oliveira e Sampaio (2019), os conselhos profissionais surgiram no

fim do século XIX, com o objetivo de mediar a relação entre os profissio-
nais e a sociedade. Assim, uma de suas principais contribuições para o
estabelecimento dos padrões de qualidade das profissões foi a determi-
nação de competências e valores a serem desenvolvidos e praticados pe-
los profissionais, traduzidos em um Código de Ética para cada profissão.
Arruda (2005) aponta que os códigos de ética são fundamentais para a

definição da postura profissional e orientam as ações, a conduta dos indi-
víduos durante seu trabalho. A autora realizou uma análise profunda dos
códigos de ética de diversos conselhos profissionais, a fim de identificar
quais virtudes, princípios éticos e valores morais são mais citados como
fundamentais na atuação profissional, como observamos na Gráfico 1:

Gráfico 1
Virtudes mais citadas nos códigos de ética profissional
Virtudes mais frequentes

250
202
200
151
149
150
Frequência
89 88
100
83
75
63 61
50 32
0
Integridade
Prudência
Honestidade
Justiça
Cooperação
Responsabilidade
Lealdade
Dedicação
Honradez
Carisma
Fonte: Arruda, 2005, p. 43.
Os valores ou as virtudes identificados pela autora refletem a moral

aceita pela sociedade contemporânea. Como exemplos dos padrões
éticos e morais estabelecidos pelos documentos de cada profissão,
podemos citar:
Piotrek54321/ Wikimedia Commons
Código de Ética Médica: “Artigo X - O tra-

balho do médico não pode ser explorado por
terceiros com objetivos de lucro, finalidade po-
lítica ou religiosa” (CFM, 2019).
Vitor Mazuco/ Wikimedia Commons
Código de Ética do Administrador:

“Art. 2º. São deveres do profissional de Ad-
ministração: [...] III - guardar sigilo sobre o
que saiba em razão do exercício profissio-
nal lícito de seu ofício” (CFA, 2018).

Código de Ética Profissional do Contador:
Paulo.scardine/ Wikimedia Commons

“Item 5. No desempenho de suas funções, é ve-
dado ao contador: concorrer, no exercício da
profissão, para a realização de ato contrário à
legislação ou destinado a fraudá-la, quando da
execução dos serviços para os quais foi expres-
samente contratado” (CFC, 2019).
Código de Ética do Advogado: “Art. 33.
Icon Craft Studio/Shutterstock

O advogado deve abster-se de: [...] II - deba-
ter, em qualquer veículo de divulgação, causa
sob seu patrocínio ou patrocínio de colega”
(OAB, 1995).
Os profissionais que atuam em empresas que estabelecem seus

próprios códigos de ética precisam ter o cuidado de analisar as
orientações e os parâmetros de cada documento (Código de Ética
Profissional e Código de Ética Empresarial), como forma de evitar
que valores ou padrões éticos conflitantes possam levar a decisões
que firam seus próprios valores. Nos casos de decisões que possam
levar a conflitos éticos que não estejam previstos em nenhum dos
dois documentos, a legislação do país é o parâmetro a ser seguido
pelos profissionais.
3.3 Responsabilidade profissional na prática

Vídeo Diversos tipos de dilemas éticos podem surgir no cotidiano das
atividades profissionais, envolvendo tanto aspectos internos à or-
ganização quanto aspectos relacionados a fatores externos, como
o respeito a legislações, o sigilo de informações e os impactos das
decisões da empresa sobre a sociedade.
Para entendermos melhor de que forma esses dilemas surgem e

são enfrentados no dia a dia, vejamos alguns casos conhecidos que
mostram como as empresas, os profissionais, os governos e a socieda-
de lidam com as decisões éticas e morais.

Documentário
As táticas usadas pelos 3.3.1 Caso Enron
executivos da Enron para
fraudar a legislação e criar Pressionados pelas cobranças de acionistas e investidores por re-
resultados financeiros sultados sempre crescentes e incentivados por prêmios financeiros, os
fictícios e o processo de
investigação que levou à executivos da Enron Corporation, que durante a década de 1990 era
falência da empresa são uma das maiores empresas de energia e serviços nos Estados Unidos,
temas do documentário
ENRON: os mais espertos da burlaram a legislação fiscal e fraudaram os registros contábeis da em-
sala, que mostra como os presa durante anos, o que a levou a um grande crescimento de valor de
executivos lucraram mais
de um bilhão de dólares, mercado e a colocou entre as maiores empresas do mundo.
enquanto funcionários,
investidores e sociedade Os executivos receberam milhões de dólares como prêmio, com
precisaram arcar com os base nos resultados demonstrados. Porém, a partir do ano de 2001,
prejuízos causados por ela.
as fraudes financeiras foram desvendadas, mostrando que a situação
Direção: Alex Gibney. EUA: Magnolia
Pictures, 2005. da empresa era bem diferente da apresentada ao mercado. Após a di-
vulgação das fraudes, a Enron entrou em processo de falência e seus
executivos foram processados.
O caso Enron é relevante pois, depois da investigação, mecanismos

4 gerenciais como as regras de compliance
4
e de governança corporati-
Compliance, no contexto 5
va passaram a ter um importante papel na administração das empre-
da gestão empresarial,
pode ser entendido como sas. Segundo Souza et al. (2011), o caso também levou à reformulação
as normas, as regras e da legislação e à promulgação de leis específicas contra fraudes contá-
os sistemas de controle
usados pela empresa beis, por exemplo, a Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, nos Estados Unidos,
para garantir que suas que estabelece princípios a serem seguidos pelas empresas e seus exe-
demonstrações financeiras
e contábeis seguem as cutivos, como transparências nas informações e comunicações, res-
legislações, os padrões e ponsabilização dos profissionais sobre as decisões e integridade moral
as normas, assegurando
a confiabilidade das infor- e ética na atuação da empresa. Essa lei determina penalidades tanto
mações da empresa. para as empresas quanto para os profissionais que colocam em prática
5 atos contrários a seus dispositivos.
Governança corporativa, Esse caso é um exemplo de como decisões antiéticas tomadas pelos
segundo o IBGC, é o siste-
profissionais de uma empresa podem causar sérios problemas, inter-
ma pelo qual as empresas
e demais organizações nos e externos, e mostra a importância da definição de códigos morais
são dirigidas, monitoradas
que direcionem as decisões dos colaboradores.
e incentivadas, envolven-
do os relacionamentos
entre sócios, conselho de
administração, diretoria,
órgãos de fiscalização e
3.3.2 Caso Tylenol
controle e demais partes Os dilemas éticos colocados aos executivos de uma empresa nem
interessadas.
sempre surgem de decisões equivocadas da própria empresa. Indiví-
duos ou organizações mal-intencionadas podem criar situações em
que a decisão moral precisa ser urgente. Exemplo disso é o caso ocorri-

do com o medicamento Tylenol, no ano de 1982, na cidade de Chicago,
Estados Unidos.
Em três dias, sete pessoas morreram após tomar o medicamento,

com sintomas de envenenamento por uma substância química chama-
da cianeto de potássio. As investigações mostraram que os frascos dos
comprimidos foram sabotados, com a adição do veneno com o uso de
uma seringa, e colocados nas prateleiras de lojas em Chicago, onde
foram posteriormente comprados pelas vítimas.
A Johnson & Johnson, empresa fabricante do remédio, atuou de ma-

neira imediata, retirando mais de 30 milhões de frascos do comprimido
das lojas em todo o país, além de oferecer a troca dos medicamentos
já adquiridos pelos consumidores. A empresa divulgou maciçamente o
problema, orientando os consumidores a não comprarem nem utiliza-
rem o produto. Nos meses seguintes, a Johnson & Johnson desenvolveu
um novo modelo de frasco, com tampas de segurança que passaram a
ser usadas como padrão pelas demais indústrias farmacêuticas.
Apesar do prejuízo inicial com a destruição de produtos já fabri-

cados e a queda de vendas, a rápida ação da empresa, que priorizou
a segurança de seus consumidores em detrimento dos resultados
financeiros, foi recebida positivamente pela sociedade. Segundo Ruão
Vídeo
(2020), em menos de um ano a marca retomou suas vendas e partici-
Partindo de um caso
pação de mercado.
hipotético de um fabri-
Esse caso é um exemplo de como as decisões de uma empresa pre- cante de hambúrgueres,
o dilema ético enfrentado
cisam levar em consideração não apenas seus resultados, mas também pela fabricante do Tylenol,
os impactos de seus produtos e serviços na sociedade. Mostra, além Johnson & Johnson, é
apresentado neste vídeo:
disso, como a postura ética das empresas é reconhecida e valorizada ETHICAL DILEMMA: the
pelos consumidores. burger murders. Elaborado
pelo professor de Admi-
nistração, George Siedel,
3.3.3 Caso Theranos e pela professora de

Direito, Christine Ladwig,
o vídeo usa o caso Tylenol
Uma jovem estudante genial de 19 anos desenvolve, ainda durante para explicar diversas es-
tratégias que podem ser
sua graduação, uma forma de realizar complexos exames de sangue
usadas quando é preciso
com apenas uma gota de sangue, diminuindo o desconforto dos clien- tomar uma decisão ética
altamente complexa.
tes, a um custo mais baixo e com mais acurácia e rapidez. Com essa his-
tória inspiradora e a promessa de revolucionar a indústria de exames Disponível em: https://www.
ted.com/talks/george_siedel_
de saúde – um dos maiores mercados globais em termos de fatura- and_christine_ladwig_ethical_
mento – a empresa Theranos, fundada por Elizabeth Holmes, tornou-se dilemma_the_burger_murders
uma das mais promissoras companhias do mundo, com valor de mer-

cado de US$ 9 bilhões em 2014, transformando a jovem Elizabeth em
uma bilionária antes dos 30 anos de idade.
A ideia de uma tecnologia revolucionária apresentada pela mulher

carismática atraiu alguns dos mais experientes investidores do mun-
do, os quais investiram mais de um bilhão de dólares na empresa,
como Henry Kissinger, que foi secretário de Estado norte-americano,
a família Walton, proprietária da maior rede de supermercados do
mundo – o Walmart–, e Rupert Murdoch, um dos maiores empresá-
rios do ramo de mídia do mundo.
Com base em denúncias de funcionários que acusaram a empresa

de ser uma fraude, o experiente jornalista John Carreyrou realizou
uma intensa investigação sobre as práticas da Theranos, que, após
publicadas, levantaram dúvidas sobre a tecnologia. Os órgãos oficiais
de saúde dos Estados Unidos exigiram, então, informações sobre os
processos realizados e sobre os resultados dos exames, que a empre-
sa se negou a fornecer.
A investigação concluiu que a empresa realizava menos de 10%

dos testes que prometia e necessitava de diversos frascos de sangue
para realizar os exames, o que contrariava a promessa de usar apenas
algumas gotas de material. Além disso, a maioria dos exames era reali-
Livro
zada com equipamentos e tecnologias desenvolvidos por outras empre-
O livro Bad blood, escrito
pelo jornalista que sas. A Theranos entrou em processo de falência, e Elizabeth Holmes foi
investigou e denunciou a
processada e considerada culpada pelos crimes de fraude e conspiração.
fraude desenvolvida pela
empresa Theranos – a Esse caso demonstra como uma empresa que não apresentava
qual enganou investido-
res, órgãos de saúde e nenhuma comprovação da capacidade de realizar as atividades que
consumidores –, mostra anunciava, com base em uma tecnologia nunca demostrada efetiva-
como ego, ambição,
individualismo, competi- mente, conseguiu angariar investimentos bilionários, além de trans-
ção e busca por fama e formar a empreendedora responsável em uma espécie de estrela
sucesso, incentivada pela
mídia, fizeram as decisões do ambiente empresarial, tendo inclusive estampado a capa de al-
da empresa se distancia- gumas das mais prestigiosas revistas de negócios do mundo. É um
rem cada vez mais dos
princípios éticos e códigos exemplo claro de como a sociedade, as empresas, os indivíduos e as
morais da sociedade. organizações públicas podem ser facilmente manipulados por um
CARREYROU, J. Rio de Janeiro: Alta indivíduo ou uma empresa que não pauta suas ações pelos códigos
Books, 2019.
morais aceitos e respeitados socialmente.

3.4 Desafios éticos e morais nas empresas
Vídeo O ambiente profissional contemporâneo, assim como a socieda-
de, passa por rápidas e constantes transformações, que modificam as
formas como as empresas realizam suas atividades e alteram o rela-
cionamento entre empresa e seus clientes. Essas modificações trazem
novos desafios e fazem com que profissionais e organizações precisem
repensar seus valores, suas formas de atuação e suas atividades. Nesta
seção, discutiremos alguns desses desafios éticos e morais que as em-
presas precisam enfrentar.
3.4.1 Corrupção
A corrupção não é um problema novo, tampouco é enfrenta-
da apenas por empresas e profissionais brasileiros. Para Miranda
(2018, p. 256), a corrupção pode ser definida como: “o pagamento ile-
gal (financeiro ou não) para a obtenção, aceleração ou para que haja
ausência de um serviço feito por um funcionário público ou privado. A
motivação da corrupção pode ser pessoal ou política tanto para quem
corrompe quanto para quem é corrompido”.
Durante a década de 2010, o combate à corrupção no Brasil passou

a ser discutido com mais intensidade, após uma série de investigações
e ações judiciais desenvolvidas por diversos órgãos, como a Polícia
Federal e a Justiça Federal. Essas investigações identificaram relações de
corrupção em diversas áreas e diversos níveis da administração pública,
envolvendo empresas privadas, órgãos governamentais, indivíduos em
posições de destaque na política e organizações internacionais.
Imagine esta situação:

Você atua na área comercial de uma empresa, e um de seus clientes so-
licita uma proposta de compra que representará um grande faturamento,
consequentemente, você receberá uma alta comissão de vendas. Porém,
para que sua empresa possa ser a escolhida, o cliente pede alguma forma
de recompensa monetária, por exemplo, parte dessa comissão.
O que você faria nesse caso?

Essa situação do box anterior é uma questão ética muito presente
nas empresas. Diversos interesses estão em jogo. A empresa consegui-
rá realizar um bom faturamento, o vendedor receberá uma comissão e
o comprador receberá sua parte do ganho. Porém, além de a empresa
compradora ser prejudicada por pagar um preço mais alto pelo produ-
to, a situação dará origem a uma relação fraudulenta de troca de favo-
res, que poderá se tornar cada vez mais prejudicial para todos.
A Figura 3 nos mostra como ocorrem as relações de corrupção entre

agentes públicos e privados em uma sociedade democrática.
Figura 3
Relações corruptas na democracia
LÍDERES POLÍTICOS
LEGISLADORES
Indicam (2)
Elege (1)
Fazem BUROCRATAS (3)

políticas
públicas Decretam leis
Providenciam (2)
serviços
POPULAÇÃO
Recebem benefícios de acordo com a habilidade
de cada membro de influenciar cada decision maker
[aqueles que tomam as decisões].
Fonte: Miranda, 2018, p. 258.
Essa figura apresenta que o processo de corrupção envolve diversos

indivíduos e organizações que buscam defender seus próprios interes-
ses, sendo que a sociedade arca com os prejuízos. O combate à cor-
rupção trouxe importantes mudanças na legislação brasileira. Petian
(2018) destaca a promulgação da Lei n. 12.846/2013 (BRASIL, 2013b),
que trata da responsabilidade civil e administrativa da pessoa jurídica,
como um importante avanço na luta contra a corrupção.
A sociedade tem se tornado cada vez mais vigilante e busca acom-

panhar as ações tomadas pelas organizações. Assim, muitas empresas
passaram a adotar cláusulas especificamente relacionadas à corrupção

em seus códigos de ética, como forma de coibir posturas ilegais por
parte dos profissionais.
3.4.2 Coleta de dados e sigilo da informação

Com o desenvolvimento das tecnologias da informação e da comu-
nicação e o uso intenso de sistemas que coletam, organizam e anali-
sam dados gerados por meio das ações realizadas no ambiente virtual,
como nas redes sociais, bem como das atividades realizadas no am-
biente físico pelos indivíduos, as empresas, segundo Caxito (2021b),
passaram a ter acesso a uma grande quantidade de dados pessoais
de clientes e potenciais consumidores. Esses dados são transforma-
dos em informações utilizadas no desenvolvimento de estratégias de
marketing empresarial.
Tecnologias como os algoritmos utilizados pelas redes sociais e plata-

formas de compartilhamento de conteúdo, sistema de big data que ana-
lisam milhões de dados coletados das mais diversas fontes, inteligências
artificiais que identificam a correlação entre dados para identificar os
comportamentos dos indivíduos são ferramentas poderosas utilizadas
pelas empresas para influenciar as decisões de consumo das pessoas.
Diversos países passaram a se preocupar com o excesso de infor-

mações pessoais coletadas pelas empresas e a forma como esses da-
dos são utilizados, muitas vezes sem a autorização ou a ciência dos
indivíduos. Assim, desenvolveram legislações que têm por objetivo
controlar e orientar tanto a coleta quanto o uso dessas informações.
No Brasil, por exemplo, temos a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei n.
13.709/2018), a qual define princípios, normas e boas práticas que as
empresas que atuam devem seguir na gestão das informações de seus
clientes e consumidores.
Da mesma forma que conseguem capturar informações sobre seus

clientes, as empresas também podem usar as tecnologias da informação
e da comunicação para obter dados sobre seus colaboradores e parcei-
ros. Logo, é fundamental que as empresas utilizem essas informações de
acordo com os princípios éticos e morais, seguindo a legislação vigente,
como forma de evitar o uso indevido desses dados por membros da pró-
pria organização como instrumento de coerção ou assédio.
As questões relacionadas à corrupção e ao tratamento de dados

coletados pela empresa representam desafios éticos que surgem por

meio da relação da empresa com o ambiente externo. No ambiente
interno, uma das questões éticas mais relevantes do mercado de tra-
balho é o assédio, que discutiremos a seguir.
3.5 Assédio moral, sexual e intelectual

Vídeo
O assédio é definido por Hirigoyen (2010) como qualquer tipo de
ação, conduta ou postura abusiva realizada por uma ou mais pessoas
que detenham algum tipo de influência ou poder sobre o indivíduo as-
sediado que possa resultar em danos físicos, emocionais ou psicológi-
cos a ele.
Como mostra a definição da autora, o assédio tem como uma de

suas origens as relações de poder e subordinação. Assim, pode ocorrer
em outras estruturas, por exemplo, famílias, grupos sociais, organiza-
ções religiosas ou demais formas de organização humana em que se
estabelecem relações hierárquicas.
Apesar de não ser um problema restrito ao ambiente de trabalho,

Guimarães e Rimoli (2006) afirmam que a organização das empresas,
as quais em geral apresentam estruturas hierárquicas com base em
relações de liderança e subordinação, de certa forma facilita atitudes e
posturas de assédio e abuso do poder. Isso porque as determinações
de quem detém o poder, quais são os limites de autoridade e as fun-
ções e responsabilidades de cada membro já estão claramente defini-
das nas descrições de cargos.
Nesse contexto, líderes mal preparados ou que não conhecem os

padrões éticos e os valores da empresa podem interpretar de maneira
equivocada a extensão de seus poderes e utilizar a posição hierárquica
para assediar, ameaçar, pressionar ou caluniar seus subordinados.
Essas posturas podem ter como origem as cobranças por resulta-

dos, mas acabam por embutir preconceitos, como racismo, machismo,
sexismo, homofobia, xenofobia, dando origem às situações de assédio
moral, sexual ou intelectual.

3.5.1 Assédio moral
O assédio moral, segundo Delgado (2018), ocorre quando, utilizan-
do-se de seu cargo e sua posição dentro da hierarquia, uma pessoa pra-
tica atos ou adota comportamentos que podem impactar a autoestima,
a segurança psicológica e o equilíbrio emocional da pessoa assediada.
Os atos e comportamentos do assediador, conforme explicam

Nascimento e Silva (2011), podem envolver a imposição de atividades
indesejadas ou que exponham o assediado a situações vexatórias, de
maneira continuada e constante, com o objetivo de constranger a pes-
soa tanto no ambiente de trabalho quanto em outras situações em que
os colaboradores da empresa participem.
Kaled (2019, p. 336) aponta que algumas empresas utilizam práticas

de assédio moral de modo consciente como ferramenta de seleção, para
identificar colaboradores que estejam alinhados com sua cultura. Segundo
a autora:
a tática empresarial consiste em submeter os trabalhadores a
situações indignas e aviltantes e os que resistem a elas passam a
sofrer uma série de retaliações por parte da empresa, um verda-
deiro terrorismo psicológico. Elas objetivam, então, livrar-se dos
trabalhadores indesejados sem arcar com custos de dispensa.
Soares (2015) aponta que podem ser identificadas diferentes moda-

lidades de assédio moral no trabalho, como expõe a Figura 4:
Figura 4
Tipos de assédio moral
Anton Prohorov/Shutterstock
Assédio moral descendente Assédio moral horizontal

• Relação de subordinação direta ou indireta. • Nível hierárquico semelhante.
• Abuso de poder. • Ambiente competitivo.
• Questões: racismo, machismo, xenofobia. • Destacar-se em relação aos demais.
• Prêmios ou benefícios.
• Ascensão na carreira.
(Continua)

Assédio moral ascendente Assédio moral misto
• Funcionário de nível hierárquico superior. • Agressões tanto de superiores hierárquicos quanto de
• Sofre assédio dos subordinados. colegas no mesmo nível hierárquico.
• Intenção de afastar o chefe.
• Não aceito pelo grupo.
• Estilo de liderança.
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Soares, 2015.
O assédio moral descendente ocorre com mais frequência, pois

o assediador se aproveita de sua posição em um cargo de liderança
e poder na estrutura organizacional para coagir, pressionar, humi-
lhar ou perseguir o assediado. Esse assédio pode ocorrer por incom-
patibilidade entre os colaboradores, por questões de preconceito e,
em muitos casos, pelo fato de o funcionário que ocupa o cargo de
liderança se sentir ameaçado pelas competências ou resultados ob-
tidos pelo assediado.
Os outros tipos de assédio, apesar de serem menos comuns, ocor-

rem por motivos diferentes. No caso do assédio horizontal, a disputa
por resultados ou o desejo de se destacar com o objetivo de pleitear
uma oportunidade de ascensão profissional pode levar pessoas do
mesmo nível hierárquico a estabelecerem relações de assédio.
Já o assédio ascendente, em geral, ocorre quando um colabora-

dor é promovido ou contratado diretamente para ocupar um cargo
de liderança, mas a equipe subordinada não aceita a situação, usan-
do a insubordinação ou até mesmo informações e denúncias falsas
para prejudicar o líder.
Por sua vez, o assédio moral misto ocorre quando o líder, os pares e
os subordinados agem de maneira conjunta para assediar o colaborador.

3.5.2 Assédio sexual
O assédio sexual, no Brasil, é um grave problema que ocorre nos
ambientes profissionais, pois muitas vezes as ações realizadas pelos
assediadores são consideradas normais e relacionadas à cultura bra-
sileira. Pereira, Costa e Pereira Júnior (2018, p. 5) definem o assédio
sexual como: “a violência sofrida no âmbito do trabalho, em que o su-
perior hierárquico se utiliza do seu poder e da sua posição para obter
vantagem ou favorecimento sexual de um subordinado”.
O conceito é visto de maneira mais ampla por Nascimento e Silva

(2011), ao afirmarem que o objetivo desse assédio pode incluir a de-
gradação moral, a humilhação social e a desestabilização emocional
da vítima, por meio de ações, palavras ou comportamentos que criem
constrangimento e a coloquem em situações de contexto sexual, mes-
mo que não ocorra o contato físico.
O assédio sexual é um crime previsto na legislação brasileira. No

Código Penal ele é definido como o ato de: “constranger alguém com o
intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o
agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência ineren-
tes ao exercício de emprego, cargo ou função” (BRASIL, 1940, art. 216-A).
Dentre as atitudes que podem ser consideradas como assédio se-

xual no ambiente profissional, podem ser citadas: insinuações que
envolvam temas sexuais, feitas por meio de frases, palavras, gestos
ou toques físicos; promessas de vantagens, benefícios ou tratamento
especial em troca de atividades românticas ou sexuais; ameaças de
demissão, transferências ou perda de benefícios caso as investidas
sexuais não sejam aceitas; inclusão de temas sexuais, por meio de fa-
las, piadas, exibição de imagens e vídeos em conversas profissionais
ocorridas no ambiente de trabalho ou em situações relacionadas ao
trabalho; tentativa de estabelecer contato físico, mesmo que não seja
de caráter sexual, sem a autorização ou consentimento da pessoa; e
a realização de convites para encontros fora do ambiente de trabalho
com o objetivo de criar uma situação propícia ao assédio.
De acordo com o Comitê Permanente pela Promoção da Igualdade

de Gênero e Raça do Senado Federal (BRASIL, 2017), o indivíduo asse-
diado sofre diversos danos, conforme mostramos na figura a seguir:

Figura 5
Danos causados pelo assédio sexual
Psicológicos Físicos
“Culpa, vergonha, rejeição, “Distúrbios digestivos, hipertensão,
tristeza, inferioridade e baixa palpitações, tremores, dores
autoestima, irritação constante, generalizadas, alterações da
sensação negativa do futuro, libido, agravamento de doenças
vivência depressiva, diminuição preexistentes, alterações no sono
da concentração e da capacidade (dificuldades para dormir, pesadelos
de recordar acontecimentos, e interrupções frequentes do
cogitação de suicídio.” sono, insônia), dores de cabeça,
estresse, doenças do trabalho,
tentativa de suicídio, entre
utterstock
outros.”
/Sh
Sociais Profissionais
eb
“Diminuição da capacidade de b “Redução da capacidade de
Gl
l e
G concentração e da produtividade,
fazer novas amizades, retraimento
nas relações com amigos, parentes e erros no cumprimento das tarefas,
colegas de trabalho, degradação do intolerância ao ambiente de trabalho
relacionamento familiar, entre outros.” e reações imoderadas às ordens
superiores.”
Fonte: Elaborada com base em Brasil, 2017, p. 12.

Documentário
Ainda segundo o estudo do Senado Federal (BRASIL, 2017), as mu-
O documentário Atleta A
expõe o chocante caso de lheres ainda são com mais frequência os alvos do assédio sexual no
assédio sexual e pedofilia ambiente de trabalho, devido à própria estrutura da sociedade patriar-
praticado pelo médico da
Federação de Ginástica cal brasileira e ao fato de que, em grande parte das empresas, os car-
dos Estados Unidos, Larry gos de hierarquia ainda são ocupados, em sua maioria, por homens.
Nassar, com centenas de
atletas, entre elas algumas Porém, esse tipo de assédio também é praticado contra pessoas de
das mais conhecidas gi- qualquer identidade de gênero e orientação sexual.
nastas norte-americanas, e
mostra como o assediador
usa sua posição de poder
e de influência sobre o
3.5.3 Assédio intelectual
assediado e sobre suas fa-
mílias. Após a denúncia de O assédio intelectual apresenta algumas diferenças em relação ao
uma atleta, um grupo de assédio moral, apesar de ser classificado como uma modalidade des-
jornalistas investigativos
identificou outras atletas te. Assim como ocorre no assédio moral ou no assédio sexual, o asse-
que foram abusadas pelo diador utiliza sua posição de influência ou poder para pressionar ou
médico, o que deu origem
a um processo judicial em humilhar o indivíduo assediado. Porém, nesse tipo assédio, o objetivo
que cerca de 500 atletas é sabotar o trabalho, causar erros ou inconsistências na atividade, des-
acusaram o médico.
merecer os resultados obtidos ou não valorizar as conquistas do cola-
Direção: Bonni Cohen; John Shenk.
EUA: Netflix. 2020. borador, como forma de desmotivá-lo ou constrangê-lo.

Envolve também a apropriação de ideias, o não reconhecimento da
importância da colaboração do profissional para os projetos e resultados,
bem como delegar tarefas complexas para as quais o indivíduo não esteja
preparado ou não tenha as competências ou a autoridade para realizar.
O assédio intelectual é, muitas vezes, motivado por inveja, ciúmes

ou pelo receio do assediador de que sua posição hierárquica seja
ameaçada pelos resultados obtidos pelo profissional assediado. Assim,
o assediador busca exibir seu poder, diminuir os resultados ou colo-
car o assediado em situações humilhantes ou vexatórias nas quais sua
competência seja questionada.
Assim como ocorre com outros tipos de assédio, o indivíduo que sofre
assédio intelectual é atingido emocional, psíquica e fisicamente, por se sentir
incapaz, incompetente ou inferior, ou por não ter seu trabalho reconhecido.
Ao interagir com o ambiente externo, as empresas se deparam com
uma série de questões relacionadas ao desenvolvimento tecnológico, ao
ambiente político, à estrutura legal e ao comportamento da sociedade, as
quais exigem a tomada de decisões e de posicionamentos que precisam
levar em consideração os valores, os princípios éticos e os códigos morais
de cada organização.
A sociedade tem se tornado cada vez mais consciente do impacto que
as empresas causam e, ao mesmo tempo, percebe seu próprio poder para
cobrar que elas levem em consideração os aspectos éticos e morais de suas
decisões. Nesse contexto, tanto as ações que afetam o ambiente externo
quanto a forma como cada empresa lida com as questões éticas dentro
das próprias equipes são acompanhadas, julgadas e avaliadas socialmente.
ATIVIDADES
Atividade 1
Explique a relação entre os pilares das diretrizes estratégicas da
empresa e sua postura ética e moral.

Atividade 2
Qual a diferença entre os códigos de ética profissional e os códigos
de ética empresarial?
Atividade 3
Explique por que as estruturas das empresas facilitam a ocorrên-
cia de casos de assédio.
REFERÊNCIAS
ARRUDA, M. C. C. de. A contribuição dos códigos de ética profissional às organizações
brasileiras. Revista Economia & Gestão, v. 5, n. 9, 2005. Disponível em: http://periodicos.
pucminas.br/index.php/economiaegestao/article/view/57. Acesso em: 5 maio 2022.
BARBOSA, K. de S.; SIMÃO FILHO, A. A nova empresarialidade: o robustecimento dos valores
éticos e sociais no exercício empresarial. Revista de Direito Econômico e Socioambiental,
v. 9, n. 1, p. 269-294, jan./abr. 2018. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/
articulo?codigo=6511230. Acesso em: 14 jun. 2022.
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out.
1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm#art212. Acesso em: 5 maio 2022.
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da
União, Poder Executivo, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 5 maio 2022.
BRASIL. Lei n. 12.846, de 1º de agosto de 2013. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 2 ago. 2013b. Disponível em: Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12846.htm. Acesso em: 5 maio 2022.
BRASIL. Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 14 ago. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 14 jun. 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Nota Técnica n. 392, de 24 de junho de 2013. Brasília,
DF: Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior, 2013a. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=13416-
nota-tecnica-392-2013-atuacao-conselhos-profissionais-pdf&category_slug=junho-2013-
pdf&Itemid=30192. Acesso em: 14 jun. 2022.
BRASIL. Senado Federal. Assédio moral e sexual no trabalho. Brasília, DF: 2017. Disponível
em: https://www12.senado.leg.br/institucional/procuradoria/proc-publicacoes/cartilha-
assedio-moral-e-sexual-no-trabalho. Acesso em: 5 maio 2022.
CAXITO, F. Ética e responsabilidade social. Curitiba: Iesde, 2021a.
CAXITO, F. Gestão de Sistemas de Informação. Curitiba: Iesde, 2021b.
CFA – Conselho Federal de Administração. Resolução Normativa CFA n. 537, de 22 de março
de 2018. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 mar. 2018. Disponível em: https://cfa.org.br/

wp-content/uploads/2018/11/resolucao_537_2018_665.pdf. Acesso em: 5 maio 2022.
CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Norma brasileira de contabilidade, NBC PG 01,
de 7 de fevereiro de 2019. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 fev. 2019. Disponível em:
https://www.crcdf.org.br/portal/wp-content/uploads/2021/06/NBCPG01-NOVO-CODIGO-
DE-ETICA-2019.pdf. Acesso em: 14 jun. 2022.
CFM – Conselho Federal de Medicina. Resolução n. 2.217, de 27 de setembro de 2018.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1 nov. 2019. Disponível em: https://portal.cfm.org.br/
images/PDF/cem2019.pdf. Acesso em: 14 jun. 2022.
DELGADO, M. G. Curso de Direito do Trabalho. 17. ed. São Paulo: LTr, 2018.
FEITOZA, K. P.; CHAGAS, D. R. Ética nas organizações de trabalho. Brazilian Journal of
Development, v. 6, n. 6, p. 38313-38322, 2020. Disponível em: https://www.brazilianjournals.
com/index.php/BRJD/article/view/11793. Acesso em: 14 jun. 2022.
FIDELIS, J. F.; ZILLE, L. P.; REZENDE, F. V. Estresse e trabalho: o drama dos gestores de
pessoas nas organizações contemporâneas. ReCaPe: Revista de Carreiras e Pessoas, v. 10,
n. 3, set./dez. 2020. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/ReCaPe/article/view/49552.
Acesso em: 14 jun. 2022.
FISCHMANN, A. A.; ALMEIDA, M. I. R. Planejamento estratégico na prática. São Paulo: Atlas, 2007.
GARCÍA-SÁNCHEZ, I. M.; RODRÍGUEZ-DOMÍNGUEZ, L.; FRÍAS-ACEITUNO, J. V. Board of
directors and ethics codes in different corporate governance systems. Journal of Business
Ethics, v. 131, n. 3, p. 681-698, out. 2015. Disponível em: https://link.springer.com/
article/10.1007/s10551-014-2300-y. Acesso em: 14 jun. 2022.
GUIMARÃES, L. A. M.; RIMOLI, A. O. “Mobbing” (assédio psicológico) no trabalho: uma síndrome
psicossocial multidimensional. Psicologia: teoria e pesquisa, v. 22, n. 2, p. 183-191, maio/ago. 2006.
Disponível em https://www.scielo.br/pdf/ptp/v22n2/a08v22n2.pdf. Acesso em: 14 jun. 2022.
HIRIGOYEN, M.-F. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. Trad. de Maria Helena
Kühner. 12. ed. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2010.
KALED, G. S. P. B. Assédio moral nas relações do trabalho. Percurso, v. 2, n. 29, p. 333-
348, 2019. Disponível em: http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/percurso/article/
view/3501. Acesso em: 14 jun. 2022.
LEMOS, J. E. S. et al. Apoiando decisões e orientando resultados com uso de indicadores na
gestão pública. Research, Society and Development, v. 9, n. 8, 2020. Disponível em: https://
rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/5587/5101. Acesso em: 5 maio 2022.
MACEDO, S. M. F.; CAETANO, A. P. V. A ética como competência profissional na formação:
o pedagogo em foco. Educ. Real, v. 42, n. 02, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/
edreal/a/yRHb8sKV5SYj56q7V3ZtKVm/?lang=pt. Acesso em: 26 jun. 2022.
MIRANDA, L. F. Unificando os conceitos de corrupção: uma abordagem através
da nova metodologia dos conceitos. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília,
n. 25, p. 237-272, jan./abr. 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcpol/a/
VPBTRQmsPqT8KLqJJmcnqpn/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 14 jun. 2022.
MONTEIRO, J. K.; ESPÍRITO SANTO, F. C.; BONACINA, F. Valores, ética e julgamento
moral: um estudo exploratório em empresas familiares. Psicologia: Reflexão e Crítica,
Porto Alegre, v. 18, n. 2, p. 237-246, 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/prc/a/
rVFsGGn5bmrDJMWGVWBkXYm/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 14 jun. 2022.
NASCIMENTO, A. M. O.; SILVA, S. P. S. Assédio moral X clima organizacional: impacto na
produtividade organizacional. In: NASCIMENTO, S. M. Assédio moral. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011.
OAB – Ordem dos Advogados do Brasil. Código de Ética e Disciplina da OAB. Brasília, DF,
13 fev. 1995. Disponível em: https://www.oab.org.br/visualizador/19/codigo-de-etica-e-
disciplina. Acesso em: 14 jun. 2022.
OLIVEIRA, R. de; SAMPAIO, S. S. O Código de Ética e a atuação profissional: uma
reflexão a partir dos espaços sócio-ocupacionais. In: 3º SEMINÁRIO NACIONAL DE
SERVIÇO SOCIAL, TRABALHO E POLÍTICA SOCIAL, 3., 13-14 nov. 2019, Florianópolis.
Anais [...] Florianópolis: UFSC, nov. 2019. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/

bitstream/handle/123456789/203201/Oliveira_Sampaio_O%20c%c3%b3digo%20
de%20%c3%a9tica%20e%20a%20atua%c3%a7%c3%a3o%20profissional.
pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 14 jun. 2022.
PEREIRA, M. L. Q.; COSTA, A. S.; PEREIRA JÚNIOR, A. J. Revisão do conceito de assédio sexual
praticado contra mulheres no Brasil. Revista dos Tribunais, v. 994, n. 2018, p. 449-480, ago. 2018.
Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Marynna-Pereira/publication/327955403_
REVISAO_DO_CONCEITO_DE_ASSEDIO_SEXUAL_PRATICADO_CONTRA_MULHERES_NO_BRASIL/
links/5baf65bd45851574f7ef197e/REVISAO-DO-CONCEITO-DE-ASSEDIO-SEXUAL-PRATICADO-
CONTRA-MULHERES-NO-BRASIL.pdf. Acesso em: 14 jun. 2022.
PETIAN, A. Regras de governança e programas de integridade para o setor público.
Consultor Jurídico, 24 maio 2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-mai-24/
angelica-petian-governanca-integridade-setor-publico. Acesso em: 14 jun. 2022.
RUÃO, T. O caso Tylenol e o valor da comunicação de crise: é tempo de colocar as pessoas
em primeiro lugar! Communitas Think Tank – Ideias, São Paulo, 1 abr. 2020. Disponível
em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/65521/1/2020_Ruao_O-caso-
Tylenol-e-o-valor-da-Comunicacao-de-Crise.pdf. Acesso em: 5 maio 2022.
SINGH, J. B. et al. Operationalizing business ethics in organizations: the views of executives
in Australia, Canada and Sweden. European Business Review, v. 30, n. 4, p. 494-510, jun.
2018. Disponível em: https://www.emerald.com/insight/content/doi/10.1108/EBR-05-
2017-0101/full/html. Acesso em: 14 jun. 2022.
SOARES, L. Q. Interações socioprofissionais e assédio moral no trabalho: ou você interage do
jeito deles ou vai humilhado até não aguentar mais. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo;
Pearson, 2015.
SOUZA, M. M. de. et al. Evidenciação das exigências da Lei Sarbanes-Oxley nas empresas
brasileiras que negociam ADRs nos Estados Unidos. RIC: Revista de Informação Contábil,
Recife, v. 5, n. 3, p. 98-117, jul./set. 2011. Disponível em: http://docplayer.com.br/16112821-
Evidenciacao-das-exigencias-da-lei-sarbanes-oxley-nas-empresas-brasileiras-que-
negociam-adrs-nos-estados-unidos-1.html. Acesso em: 14 jun. 2022.
SROUR, R. H. Decisões éticas nas empresas: como e por que adotar. Rio de Janeiro: Alta
Books Editora, 2019.
STEVENS, B.; BUECHLER, S. An analysis of the Lehman Brothers Code of Ethics and the
role it played in the firm. Journal of Leadership, Accountability and Ethics, v. 10, n. 1, p. 43-57,
2013. Disponível em: http://t.www.na-businesspress.com/JLAE/StevensB_Web10_1_.pdf.
TAVARES, M. C. Gestão estratégica. 3. ed. São Paulo: Atlas. 2010.
TCU – Tribunal de Contas da União. Orientações para os conselhos de fiscalização das
atividades profissionais. Brasília, DF: TCU, 2014. Disponível em https://portal.tcu.gov.br/
lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A8182A253D4239E0153F62AA3F46EA6. Acesso
em: 14 jun. 2022.

4
Ética na construção da carreira
Desde o início da civilização humana, o trabalho tem um papel central
na vida dos indivíduos e na construção da sociedade. Considerando esse
contexto, neste capítulo discutiremos a relação entre o trabalho e os prin-
cípios éticos e códigos morais que regram as relações sociais no ambiente
profissional.
Na primeira seção do texto, apresentaremos a evolução dos concei-
tos filosóficos sobre o papel do trabalho na sociedade. Iniciaremos com
a visão do trabalho como punição imposta pelos deuses aos homens,
característica da filosofia clássica; passaremos pela visão do trabalho
como forma de alcançar a vida eterna, defendida pela filosofia cristã; pelo
entendimento do trabalho como uma forma de participação efetiva do
indivíduo na sociedade, que passou a ser defendido na Idade Moderna; e
chegaremos ao conceito da vida ativa da filosofia contemporânea.
A postura ética e as responsabilidades do indivíduo durante sua
atividade profissional são tema da segunda seção do capítulo, na qual
abordaremos a relação entre ética, moral, legislação e o comportamento
adotado pelos profissionais quando colocados diante de dilemas éticos.
Também discutiremos nessa parte o papel das empresas na formação
ética do profissional.
Em seguida, na terceira seção, trataremos da prática dos princípios
éticos no ambiente de trabalho e nas decisões tomadas pelos profissio-
nais. Apresentaremos modelos e metodologias que auxiliam na tomada
de decisão ética, representando ferramentas úteis para o indivíduo na sua
atuação profissional. Já os desafios éticos presentes no ambiente profis-
sional são o tema da quarta seção do capítulo.
Por fim, na quinta e última seção, nosso tema é a importância do com-
portamento baseado em princípios éticos e morais na construção de uma
marca pessoal que valorize os indivíduos e os ajude na construção de sua
carreira profissional.
Ética na construção da carreira 81

• refletir sobre a importância de adotar uma postura ética e respon-
sável na construção da carreira profissional;
• conhecer os comportamentos e posturas éticas que o indivíduo

deve adotar em sua atuação profissional e refletir sobre as respon-
sabilidades por ele assumidas;
• relacionar os princípios éticos e morais com as decisões tomadas

pelo profissional no ambiente de trabalho e em suas relações pro-
fissionais com clientes, concorrentes, fornecedores e empregados;
• identificar os desafios éticos dos profissionais em seu cotidiano

de trabalho;
• compreender a importância da postura ética na construção da

marca pessoal.
4.1 Ética e a responsabilidade

Vídeo profissional na carreira
Para podermos discutir a importância da ética e da moral no am-
biente de trabalho e na construção de uma carreira profissional, é ne-
cessário, primeiro, entendermos a relação da sociedade com o trabalho.
O papel do trabalho na vida do indivíduo e no grupo social é um

tema abordado desde o início do desenvolvimento da filosofia. Almeida
(2018) afirma que na cultura da Grécia Antiga, berço do pensamento
filosófico, o trabalho era visto de duas formas. O trabalho braçal e as
atividades ligadas à produção de bens e serviços necessários para a
sobrevivência eram realizados pelos escravos. Esse tipo de trabalho era
visto de maneira pejorativa e era pouco valorizado pela sociedade. Já
os cidadãos livres, detentores do poder e de status social, praticavam o
ócio, dedicavam-se ao estudo, às discussões filosóficas e à política, ou
seja, às atividades relacionadas à administração da cidade. Portanto,
esse tipo de trabalho era considerado superior e ligado ao engrandeci-
mento do ser humano.
Nascimento et al. (2018, p. 836) explicam que o trabalho braçal era

visto na época como um castigo dado àqueles que não faziam parte

Livro
da elite social. Essa visão de trabalho como punição e sofrimento era
Um dos mais importantes
demonstrada inclusive na mitologia grega. Nas palavras dos autores:
filósofos do século XX,
Na mitologia grega, em particular no mito de Sísifo, há um exem- Albert Camus, parte do
mito grego de Sísifo para
plo do entendimento pejorativo do trabalho braçal. Sísifo, filho
discutir a relação da socie-
do vento, foi condenado pelos deuses a rolar diariamente uma dade contemporânea com
pedra até o topo de uma montanha. O peso e o cansaço fariam o trabalho. Camus aponta
que, da mesma forma que
a pedra rolar novamente até o chão e, assim, todos os dias esse
Sísifo, as pessoas aceitam
trabalho teria que se repetir. trabalhar continuamente,
fazendo todos os dias a
Na sociedade contemporânea, essa forma de enxergar o trabalho mesma coisa, em uma
como sofrimento ainda pode ser identificada. Um ditado popular bra- rotina desmotivadora e
sem sentido, como se não
sileiro diz “primeiro o trabalho, depois a diversão”, como se o trabalho houvesse outra forma de
fosse algo ruim a ser realizado por obrigação. viver a vida. Como Sísifo,
muitos empurram a pedra
Enquanto o mito de Sísifo representa a visão do trabalho como pu- para cima da montanha
de segunda a sexta-feira e
nição, o mito de Ícaro pode ser entendido como uma alegoria do traba- descem durante o fim de
lho que enobrece. Dédalo, pai de Ícaro, após construir um labirinto feito semana, para recomeçar
seu trabalho infinito na
para prender o monstro Minotauro, é preso pelo rei Teseu no mesmo semana seguinte.
labirinto. Na tentativa de fugir, Dédalo e Ícaro constroem asas com pe- CAMUS, A. O mito de Sísifo. Rio de
nas presas com cera. Apesar das orientações do pai, Ícaro se entusiasma Janeiro: Record, 2019.
com a sensação e, ao voar em direção ao Sol, faz com que a cera derreta
e as penas se desprendam das asas, morrendo ao cair no mar. Vídeo
Segundo Nascimento et al. (2018), esse mito mostra que, por meio Dédalo era um brilhante
artesão e um criativo in-
do trabalho, da criatividade e da inteligência, o indivíduo é capaz de ventor de Atenas que, se-
transpor os limites da condição humana, libertar-se e criar conheci- gundo a mitologia grega,
inventou a carpintaria e as
mentos que o ajudam a desenvolver a sociedade. Porém, deve enten- ferramentas necessárias
der sua natureza humana, suas imperfeições, pois, ao se considerar para a nova arte. Suas
invenções desafiavam
perfeito, pode cometer erros que destruirão o que construiu. os limites entre os seres
humanos e os deuses. Ao
Assim, a concepção do papel do trabalho na vida dos indivíduos evo- criar asas para fugir do
luiu durante toda a história das sociedades humanas. Na Idade Média, labirinto do Minotauro,
onde estava preso com
assim como na filosofia, o trabalho era compreendido com base na éti- seu filho Ícaro, Dédalo
ca e na moral cristãs, como aponta Souza Filho (2015). A sociedade da novamente quebrou os
limites entre a huma-
época era dividida em camadas sociais bem definidas. Os nobres exer- nidade e as divindades
ciam as atividades administrativas, dedicavam-se às guerras, ao lazer e gregas. O vídeo O mito de
Ícaro e Dédalo, publicado
ao ócio, que, nesse contexto social, não eram considerados trabalho. O pelo Canal TED-Ed, conta
clero, representado pelos religiosos, era voltado ao estudo, ao conheci- essa história de maneira
simples e didática.
mento, à filosofia e à ciência. Já os servos realizavam o trabalho pesado
e braçal nos campos e nas oficinas de artesãos, o qual era visto como www.youtube.com/
uma provação e um sofrimento necessários para que esses indivíduos watch?v=3s2QPQnuaGk. Acesso
em: 13 jun. 2022.
pudessem alcançar o paraíso após sua morte.

As transformações políticas, econômicas e sociais pelas quais o
mundo passou durante a transição da Idade Média para a Idade Mo-
derna também mudaram a forma de se encarar o trabalho e seu papel
na sociedade. A Reforma Protestante, pela qual passou a Igreja, teve
um papel fundamental nessa mudança de visão.
Como explicam Cotrim e Fernandes (2010), a ética protestante va-

lorizava o trabalho, que passou a ser visto não como provação, mas
como benção divina. Assim, o sucesso profissional era uma demonstra-
ção de que o indivíduo honrava o que recebeu de Deus.
Esse ponto de vista é defendido no clássico livro A ética protestante

e o espírito do capitalismo, publicado originalmente em 1905 (WEBER,
2020) pelo filósofo e economista alemão Max Weber, considerado um
dos fundadores da Sociologia.
Para Weber, diferentemente da ética cristã, que considerava o tra-

balho como uma punição e via o lucro e o sucesso profissional como
algo negativo, a ética protestante valorizava o trabalho, a poupança, o
Livro ganho monetário e a busca pelo sucesso financeiro e profissional, bem
Obra fundamental para como a vida regrada, orientando o indivíduo a se afastar dos prazeres
entender as bases histó-
ricas e sociológicas que mundanos e do gozo imediato. Segundo o filósofo, a ética protestante
levaram ao surgimento foi a base sobre a qual se construíram os princípios do capitalismo.
do capitalismo, o livro
A ética protestante e o Portanto, com o desenvolvimento cada vez mais acelerado do capi-
espírito do capitalismo, de
Max Weber, transfor- talismo e o surgimento de uma classe social formada pelos trabalhado-
mou-se em um clássico res, que migravam dos campos para as cidades em busca de trabalho
da Administração e das
Ciências Sociais. Ao expor nas indústrias, o papel do trabalho na sociedade volta a ocupar um
as mudanças econômi- papel central nas discussões filosóficas.
cas, políticas, sociais e
religiosas ocorridas na Karl Marx enxergava o trabalho como ponto fundamental da vida
Idade Moderna, o autor
traça as origens do capi- humana e da sociedade, mas criticava o capitalismo por entender que
talismo e da sociedade os operários vendem sua força de trabalho, sua liberdade e sua digni-
contemporânea. Mostra,
também, como culturas dade em troca de salários humilhantes pagos pelos proprietários dos
baseadas na ética cristã meios de produção.
da Idade Média ainda
hoje enxergam o trabalho Em sua obra mais importante, O capital, publicada originalmente em
como algo negativo e pe-
sado, enquanto culturas
1867, Marx (2018) afirma que o modelo capitalista, baseado no aumen-
que têm sua base ética no to constante da produção de bens e na busca do lucro como finalidade
protestantismo valorizam
a dedicação ao trabalho
maior das empresas, apesar de possibilitar o crescimento econômico e
como uma virtude. incentivar o desenvolvimento tecnológico, cria grandes desigualdades
WEBER, M. São Paulo: Martin sociais, pois há o acúmulo de riquezas por quem detém o capital, en-
Claret, 2020.
quanto os operários vivem em condições desumanas.

A obra de Marx indica que o sistema capitalista é tão desequilibrado que
constantemente entra em crise, o que realmente pode ser observado no
mundo contemporâneo, mais de um século depois da publicação do livro.
Na sociedade capitalista, o trabalho passou a ser o ponto central

da vida de grande parte dos indivíduos. Hannah Arendt, eu sua obra
A condição humana, publicada originalmente em 1958 (ARENDT, 2020),
afirma que, na sociedade moderna, o ser humano se transformou em
um animal trabalhador (animal laborans).
Nesse contexto, o indivíduo é medido pela sua capacidade de tra-

balhar e passa de maneira anônima pela vida. A essa forma de viver
a filósofa dá o nome de vita activa (vida ativa), que, segundo Loureiro
(2018), é composta de três elementos: o labor, ligado às necessidades
biológicas e à sobrevivência; o trabalho, relacionado ao desenvolvi-
mento tecnológico da sociedade, que melhora a qualidade de vida; e a
ação, que se expressa nos relacionamentos sociais e na individualidade
do sujeito na sociedade. Loureiro (2018, p. 6) afirma que, para Arendt:
pouco a pouco o animal laborans está vencendo. Isso significa
que os homens estão deixando de viver para apenas sobreviver,
apenas para subsistir, o que é extremamente nocivo ao mundo,
ao ambiente em que está inserido. Tal fato, a vitória do animal
laborans acarreta o descaso, a alienação presente na sociedade
atual. As pessoas não trocam experiências, não há convívio so-
cial, não há lazer, não há a ideia de coletividade.
Enquanto Loureiro (2018) identifica características do animal laborans

na sociedade, no mercado de trabalho e na ética profissional exaltada no
mundo contemporâneo – no qual o trabalho, a produtividade e a cobran-
ça pelo desempenho são cultuadas –, Han (2015) acredita que o profis-
sional atual não abandona sua individualidade em nome do trabalho e
da vida anônima. Ao contrário, acredita que a sociedade contemporânea
é centrada na busca pela individualidade e no culto ao ego.
Han criou o termo sociedade do cansaço para descrever esse am-

biente social no qual os indivíduos estão sempre ativos, estressados,
são cobrados e se cobram para apresentar sempre o melhor desem-
penho profissional. Para o autor (HAN, 2015, p. 29), o mundo contem-
porâneo é:
Uma sociedade do trabalho, na qual o próprio senhor se transfor-
mou num escravo do trabalho. Nessa sociedade coercitiva, cada
um carrega consigo seu campo de trabalho. A especificidade

Livro desse campo de trabalho é que somos ao mesmo tempo prisio-
Para entendermos a neiro e vigia, vítima e agressor.
importância da vida
profissional no mundo Nascimento et al. (2018) pensam de modo semelhante e afirmam
contemporâneo, precisa-
mos entender também a
que o mercado de trabalho hoje busca a produtividade e a eficácia
relação do trabalho com como símbolos máximos da competência, o que, por um lado, torna
a história econômica, po-
lítica, religiosa e filosófica
os profissionais inseguros sobre sua capacidade e ansiosos pela neces-
da sociedade humana. sidade constante de provar seu valor, e, por outro, faz com que sejam
Essa é a proposta do
livro Trabalho na história
individualistas e autossuficientes, pois não acreditam ou confiam nas
do pensamento ocidental, competências de outras pessoas.
que analisa as ideias
e conceitos sobre o Ainda para Nascimento et al. (2015), a estrutura social, econômica e
trabalho propostos pelos
política da sociedade contemporânea está desequilibrada, porque, ao
mais importantes autores
clássicos e modernos. mesmo tempo que valoriza a individualidade, exige dos indivíduos a
MERCURE, D.; SPURK, J. (org.). conformação com relação a padrões comportamentais, éticos e morais
Petrópolis: Vozes, 2005.
socialmente aceitos. Por isso, cada indivíduo precisa alinhar suas con-
dutas, ações, atuação profissional e carreira aos seus princípios éticos
e valores.
O trabalho é uma parte da vida à qual o indivíduo dedica muito tem-

po, exigindo dele esforço, aprendizado, capacidade de relacionamento
e de entendimento dos códigos morais que possibilitam a convivência
em sociedade. Assim, a ética profissional é, de certa forma, a represen-
tação dos princípios éticos que norteiam a vida da pessoa. É impossível
viver uma vida ética e moral se esses valores não estiverem presentes
na atuação profissional.
4.2 Postura ética do profissional

Vídeo
Como o trabalho é parte fundamental da vida do indivíduo na so-
ciedade, seu comportamento durante o tempo em que atua profissio-
nalmente precisa ser pautado pelos princípios éticos e códigos morais
aceitos no ambiente social no qual está inserido, seja dentro da em-
presa, na relação com os demais colaboradores, nas relações com os
stakeholders da organização.
Desse modo, a ética é fundamental para que o indivíduo construa

uma postura profissional adequada e seja respeitado pelas demais
pessoas e pela sociedade. Como afirmam Mário e Siliveli (2019, p. 87),
“todo profissional precisa trabalhar em cima de um objetivo ético e in-
corporar essa qualidade para sua profissão. Quando se exerce uma

atividade com amor, transmite-se benefícios a terceiros, tendo a cons- Filme
ciência de um bem comum”. Apesar de ser uma das
maiores empresas do
A afirmação de Mário e Siliveli (2019) traz uma importante reflexão, mundo contemporâneo,
a rede social Facebook
que deve pautar a postura do indivíduo em todas as áreas da vida, e (cuja empresa proprie-
não só em sua atuação profissional, já que as ações e decisões dele no tária foi posteriormente
renomeada como Meta)
contexto profissional podem ter grande impacto sobre outros indiví- começou de maneira
duos e a sociedade. quase amadora, nos dor-
mitórios de uma grande
É importante relembrarmos aqui o que diferencia os conceitos de universidade americana,
com a colaboração de
ética e moral. Enquanto a moral, segundo Finkler et al. (2010), é exter- um grupo de alunos
na, relacionada ao grupo social e se traduz em códigos que descrevem possuidores de compe-
tências complementares.
normas e regras aceitas por aquele determinado grupo, em um con- Porém, à medida que
texto específico de tempo e espaço, a ética é interna e individual e está crescia rapidamente, seus
fundadores entraram em
relacionada à decisão racional do indivíduo de agir de acordo com seus conflitos causados pela
valores, respeitando os códigos morais. postura pouco ética de
um deles, que acabou
Entender essa diferença é fundamental para discutir a postura ética por se transformar no
principal acionista da
de um indivíduo durante a atuação profissional. Como destacam Mário
empresa. Mais tarde,
e Siliveli (2019), a legislação de um país reflete os códigos morais de os outros sócios, entre
eles o brasileiro Eduardo
uma sociedade e evolui para acompanhar as mudanças morais. Como
Saverin, tiveram seus
exemplo dessa evolução, legislações que proíbem o fumo em locais direitos reconhecidos
pela justiça. O filme A rede
públicos foram promulgadas em vários países após uma mudança na
social conta como ações
forma como a sociedade passou a enxergar o hábito de fumar, consi- e decisões que não foram
pautadas na ética e na
derando-o algo contrário à moral por prejudicar os demais indivíduos
moral quase destruíram o
do grupo social. futuro da empresa.
Portanto, a lei é uma tradução clara e direta da moral. Assim, seja Direção: David Fincher. Produção:
Michael De Luca; Scott Rudin; Dana
na vida pessoal ou na atuação profissional, o indivíduo deve cumprir o Brunetti. EUA: Columbia Pictures,
que é determinado em lei. No entanto, como explicam Mário e Siliveli 2010.
(2019), cumprir a lei não significa necessariamente agir de modo ético.
Para ilustrar, podemos citar um caso ocorrido no ano de 2020. Com

base no artigo 128 do Código Penal brasileiro, que prevê a possibilida-
de de realização de aborto em gravidez decorrente de estupro (BRASIL,
1940), a justiça autorizou a interrupção da gravidez de uma criança de
10 anos abusada sexualmente por um adulto. O caso levantou profun-
das discussões sobre princípios éticos e morais e mobilizou setores da
sociedade contra e a favor do procedimento. Porém, segundo o Código
de Ética Médica, do Conselho Federal de Medicina (2019), em seu Capí-
tulo II, “Direitos dos médicos”, um médico poderia, nesse caso, negar-se
a realizar o procedimento: “É direito do médico: [...] IX - Recusar-se a

realizar atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários
aos ditames de sua consciência” (CFM, 2019).
Como mostra o exemplo, a postura do profissional depende de uma

profunda reflexão ética. Mesmo que a lei permita ou autorize um deter-
minado ato, o profissional toma suas decisões com base nos códigos
morais e em seus princípios éticos.
Imagine a seguinte situação:

Seu superior solicita que você emita uma nota fiscal na qual apenas metade
dos produtos vendidos está corretamente lançada – a outra metade está re-
gistrada com um valor bem inferior ao praticado pela área comercial. Assim,
a empresa pagará menos impostos. Você sabe que muitas empresas agem
dessa forma e que a sonegação de impostos é uma prática comum no mer-
cado. Qual seria sua atitude?
Essa questão apresentada no box anterior não é nem um pouco

simples de ser respondida. Envolve legislações que proíbem a sonega-
ção, códigos morais que, apesar de serem ilegais, são aceitos por de-
terminado grupo social (como os empresários que consideram correto
sonegar impostos, por considerarem que os recursos arrecadados são
desviados por indivíduos corruptos) e a ética pessoal do indivíduo.
Vídeo Em um ambiente de trabalho cada vez mais plural, no qual pessoas

de diferentes crenças, origens culturais e códigos morais precisam con-
Leandro Karnal consegue
traduzir conceitos filosófi- viver harmonicamente em um grupo social, o respeito aos princípios
cos fundamentais da filo-
éticos é fundamental. Como explicam Finkler et al. (2010, p. 452), é pre-
sofia em palavras simples
e exemplos do cotidiano. ciso desenvolver “essa ética que é laica e que exige o respeito aos di-
Nesta entrevista ao
reitos humanos, que valoriza a liberdade, a igualdade, a solidariedade,
programa Revista TST, o
historiador mostra como que rechaça a intolerância e a tolerância passiva e que aponta o diálogo
o desenvolvimento históri-
como meio de se lidar com os conflitos morais”.
co e cultural da sociedade
brasileira influencia as
Como destaca Aristóteles (2020), a ética é uma virtude desenvolvida
decisões éticas tomadas
pelos indivíduos no am- no decorrer da vida do indivíduo, tanto pelo estudo e pela busca por
biente profissional. Karnal
conhecimento quanto – e principalmente – pela prática e pelo hábi-
discute, também, o papel
da etiqueta, do respeito e to. Para o filósofo grego, o indivíduo não nasce com uma ética, mas
da convivência que ocorre
a desenvolve. Nesse sentido, o profissional precisa desenvolver a ca-
no trabalho.
pacidade de pensar suas atividades e ações com base em uma visão
www.youtube.com/ ética. Tanto a educação profissional como as empresas têm o papel de
watch?v=pEXhGE7Fd6s. Acesso em: contribuir para a formação ética dos indivíduos por meio do ensino e
13 jun. 2022.
da experiência prática desenvolvida no cotidiano.

Na vida pessoal, a ética do indivíduo se desenvolve com base na Vídeo
educação recebida na família e na escola. Da mesma forma, a ética Um dos objetivos dos pro-
cessos seletivos desen-
profissional se desenvolve por meio da convivência e das experiências volvidos pelas empresas
compartilhadas com outros indivíduos, empresas e organizações no para contratar novos fun-
cionários é identificar os
cotidiano da atuação profissional. valores, comportamentos
e atitudes do candidato. O
A formação ética do profissional é influenciada também pela socie- filme O que você faria? leva
dade, pelos meios de comunicação e pelos órgãos representativos da esse conceito ao extremo,
mostrando um processo
profissão que ele exerce. Os códigos de ética elaborados pelas confede- de seleção no qual os
rações de cada profissão têm uma grande influência sobre o desenvol- testes se tornam cada vez
mais radicais, o que leva
vimento dessa ética, especialmente dos indivíduos ainda em formação, os candidatos a tomar
como acontece com os estudantes de cursos de formação profissional. decisões que ultrapassam
seus limites éticos e os
Ao ter contato com o Código de Ética da sua profissão, o estudan- códigos morais.
te começa a pensar e estruturar seus princípios éticos profissionais. Direção: Marcelo Pyñeiro.
Espanha; Itália; Argentina: Art
Quando é impactado por notícias, informações ou demais conteúdos
Films, 2005.
gerados pela mídia, ele também constrói novos conhecimentos que se
refletem em suas experiências e moldam seu pensar ético.
Entretanto, como destacam Finkler et al. (2010), nesse processo, o

indivíduo não pode se deixar ser totalmente moldado ou modificado
pelos fatores externos. Ele tem um papel ativo na busca por esses no-
vos conhecimentos e, em especial, no desenvolvimento da sua capaci-
dade de analisar o que recebe e de construir seus princípios éticos com
base nos próprios valores e crenças.
4.3 Ética e a ação profissional

Vídeo
Assim como os conceitos sobre o papel do trabalho na vida do in-
divíduo e na sociedade evoluíram no decorrer da história da civilização
– refletindo valores, crenças e interesses dos grupos que detinham o po-
der econômico, político e social –, no mundo contemporâneo coexistem
diversas visões sobre a relação entre trabalho, sociedade, ética e moral.
Existem indivíduos que enxergam o trabalho como um sofrimento,

um preço a ser pago por aqueles que não nasceram entre as elites eco-
nômicas para que possam encontrar uma recompensa em outra vida.
Outros entendem o trabalho como uma forma de autodesenvolvimento,
ou seja, de desenvolver a melhor versão de si. Já outros veem o trabalho

como uma maneira de construir uma vida melhor, tanto para os sujeitos
que compõem a sociedade atual quanto para as gerações futuras.
Para alguns, a carreira e a profissão estão baseadas na construção

de uma vida ativa e bem-sucedida, enquanto outros sentem que ven-
dem sua força de trabalho, seus conhecimentos e sua dedicação por
essa ser a única forma de sobreviver.
Seja qual for a visão filosófica que se tem a respeito do trabalho, a

própria diversidade de formas de se relacionar com a atividade profis-
sional faz com que as relações que se estabelecem nos ambientes de
trabalho sejam potencialmente conflituosas.
Como aponta Caxito (2020), no ambiente de trabalho, pessoas com

diferentes histórias de vida, em momentos diversos da sua vivência,
com valores diferentes e com visões diversas sobre o papel do trabalho
em suas vidas precisam conviver geralmente oito horas por dia, cinco
dias por semana, 11 meses por ano, durante 40 anos. Muitas vezes, os
objetivos desses indivíduos são conflitantes: para que um atinja suas
metas, outro deixará de alcançar seus objetivos.
Nesse contexto, os códigos morais e a postura ética dos indivíduos

são fatores fundamentais para que a convivência harmônica seja pos-
sível, pois só assim as estratégias empresariais poderão ser colocadas
em prática, tendo como base os valores da organização. Por isso, as de-
cisões éticas e morais de cada indivíduo precisam ser tomadas levando
em consideração o interesse mútuo.
Segundo Gilioli et al. (2020), diversos modelos e metodologias de

tomada de decisão ética já foram propostos por diferentes autores.
Seja nas decisões rotineiras, que fazem parte do cotidiano do trabalho,
seja nas estratégicas, que impactarão os rumos dos negócios no longo
prazo, os modelos de tomada de decisão proporcionam previsibilidade
no processo de gestão e ajudam a direcionar as ações e atividades dos
colaboradores da empresa.
Cardoso et al. (2018), após profundo estudo sobre os diversos mo-

delos de tomada de decisão ética, propuseram uma metodologia que
agrega as ideias de dois diferentes autores: o modelo dos estágios
cognitivos dos indivíduos perante um dilema ético, apresentado
por James Rest em seu livro Moral Development (1986); e o modelo mul-

tidimensional de intensidade moral, proposto por Thomas Jones, em
seu artigo científico de 1991.
O modelo de Rest é composto por quatro etapas consecutivas, que

precisam ser percorridas pelo indivíduo quando ele se depara com um
dilema ético. A primeira etapa é a identificação do dilema: diante de
uma em que precisa tomar uma decisão, o indivíduo percebe que a
ação a ser realizada se choca com seus valores éticos, com o código
moral do ambiente no qual está inserido, ou pode impactar negativa-
mente outras pessoas.
Vejamos um exemplo de uma situação bastante comum nas empre-

sas, na qual indivíduos são colocados diante de um dilema ético:
Um gestor de equipes identifica que a produtividade de um dos funcionários

está abaixo da obtida pelos demais colaboradores e descobre que esse indiví-
duo usa o horário de trabalho para realizar atividades pessoais. Por conhecer
o funcionário fora do ambiente de trabalho, o gestor sabe que ele precisa
do emprego por razões familiares. Porém, mesmo após ter sido orientado, o
indivíduo continua agindo da mesma forma. Os demais membros da equipe
perceberam a situação, e isso tem causado desmotivação e a sensação de
injustiça, pois consideram que se dedicam mais e recebem o mesmo salário.
Pavel Vinnik/Shutterstock
Após a percepção do problema, inicia-se a segunda etapa do mode-

lo de Rest: o julgamento ético, momento no qual o indivíduo vai ana-
lisar as alternativas de solução do problema e pesar as consequências
de cada uma das possíveis ações a serem tomadas. Continuando com
o mesmo exemplo:

Se o gestor decidir demitir o funcionário, a equipe se sentirá mais segura de
que a empresa é justa nas suas decisões, o que aumentará a motivação e
o engajamento, além de sinalizar claramente para os demais colaboradores
que o desempenho de cada um é acompanhado de maneira justa. No entanto,
o funcionário, se demitido, passará por sérios problemas pessoais. Se decidir
não realizar a demissão, o gestor pode desmotivar ainda mais a equipe, o que
diminuirá a produtividade de todos.
Vectorpic/Shutterstock
Vídeo
Dan Ariely é professor de
Psicologia e de Economia
e estuda a forma como as
pessoas tomam decisões
econômicas e de consu-
mo. Na palestra proferida
no evento TED, Ariely con- Como mostra o exemplo, cada linha de ação apresenta consequên-
ta que seu interesse em
cias que precisam ser analisadas pelo gestor. Nesse momento, inicia-se
analisar o modo como in-
divíduos tomam decisões a terceira etapa do modelo: a intenção ética. O indivíduo precisa tomar
surgiu na infância, quando
uma decisão e, por isso, deve se comprometer com seus valores e pa-
teve mais de 70% do seu
corpo queimado em um drões éticos e com os códigos morais do grupo social. Ao se decidir, o in-
incêndio e ficou durante
divíduo assume as responsabilidades e as consequências dos seus atos.
anos em uma cama de
hospital. Em sua fala, o
Por fim, na última etapa do modelo, o indivíduo adota o comporta-
professor mostra como
os códigos morais nem mento ético, ou seja, toma a decisão e a coloca em prática. Para isso,
sempre são baseados nas
precisa ter a coragem de agir e a capacidade de colocar em prática suas
experiências das pessoas,
mas em crenças estabele- decisões.
cidas na sociedade.
Cardoso et al. (2018) apontam que, apesar de ser um dos mais in-
www.youtube.com/ fluentes modelos de tomada de decisão ética no contexto organiza-
watch?v=nUdsTizSxSI. Acesso em: cional, a metodologia de Rest pode ser melhorada em alguns pontos,
13 jun. 2022.
especialmente no momento da análise das informações para a realiza-

ção do julgamento ético. Assim, os autores propõem a utilização do mo-
delo de Rest em conjunto com a metodologia proposta por Jones (1991),
que é composta por seis dimensões, mostradas na figura a seguir:
Figura 1
Modelo multidimensional de intensidade moral de Jones
Magnitude das
Consenso social
1 VectorV/Shutterstock - 2 kornn/Shutterstock - 3 nexusby/Shutterstock -

4 TVhappyLine/Shutterstock - 5 Oleksii Arseniuk/Shutterstock
consequências
Como o ato moral será
Impactos dos pontos
percebido pelo grupo
positivos e negativos
social.
1 da decisão sobre os 2
indivíduos e o grupo.
Probabilidade do Concentração do efeito

efeito Qual é o impacto da
Chance de o ato moral decisão ética e do ato
3 causar as consequências 4 moral sobre cada um dos
que se espera obter. envolvidos.
Tempestividade Proximidade
Tempo entre o ato moral Como as relações sociais
e as consequências dele do decisor com aqueles
sobre os envolvidos. que serão impactados pela
5 4
ação moral interferem no
processo de análise das
alternativas ,e na aplicação
da ação.
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Jones, 1991; Cardoso et al., 2018.
Como mostra a Figura 1, as dimensões propostas por Jones estão

relacionadas aos aspectos éticos e morais que devem ser analisa-
dos durante o julgamento do problema. Mário e Siliveli (2019, p. 95)
explicam: “Em seu modelo, Jones afirma que o processo de tomada de
decisão no campo da ética é incerto e dependente das características
da questão moral. Este estudioso afirma que a intensidade moral in-
fluencia fortemente o comportamento do indivíduo, ao deparar-se com
questões éticas”.
Vamos retomar nosso exemplo anterior:

Se a decisão do gestor for demitir o funcionário, a magnitude das conse-
quências será alta para o demitido, que perderá sua fonte de renda e estabi-
lidade financeira. Por outro lado, a motivação da equipe é um fato relevante
que gera consequências de grande magnitude nos resultados da empresa.
O consenso social é dado pelo grupo, que, nesse exemplo, sente que a de-
missão é o ato moral mais adequado.
A tempestividade será imediata: os resultados serão observados assim que
a decisão for tomada.
A probabilidade de efeito do ato moral é grande. Tanto o funcionário de-
mitido quanto a equipe sentirão os reflexos do ato e modificarão seus
comportamentos.
A concentração negativa do ato se restringe ao funcionário demitido. Já a
concentração positiva será sentida por toda a equipe.
Nesse caso, o gestor tem alguma proximidade com o funcionário, que será
impactado negativamente pelo ato moral. Porém, essa dimensão deve ser
analisada de maneira conjunta com as demais dimensões tomadas.
Anastasia Borysuik/Shutterstock
Portanto, Cardoso et al. (2018) afirmam que há uma sinergia entre

o modelo de Jones e o de Rest, visto que este aprofunda o momento
do julgamento ético, etapa fundamental da tomada de decisão, como
mostra a figura a seguir.

Figura 2
Modelo combinado de Rest e Jones
Identificação Julgamento Intenção Comportamento
Concentração do Probabilidade do
Proximidade
efeito efeito
Magnitude das
Consenso social Tempestividade
consequências
Fonte: Cardoso et al., 2018, p. 85.
O modelo de Rest, apresentado na parte superior da figura, é supor-

tado pelas análises éticas e morais propostas no modelo multidimen- Livro
sional de intensidade moral de Jones, que aparecem na parte inferior.
Voltado para o ensino
Mário e Siliveli (2019) concordam com esse entendimento sobre a reda ética no contexto das
organizações, o livro De-
lação entre os dois modelos e afirmam que o conceito da intensidade
cisões éticas nas empresas,
moral, base do modelo de Jones, perpassa todas as etapas do modelo de Robert Henry Srour,
usa exemplos práticos
de Rest.
para abordar modelos e
Como vimos, no cotidiano de uma empresa, diversas decisões pre- metodologias de tomada
de decisão ética. Os casos
cisam ser tomadas em todos os níveis da hierarquia. Algumas des- citados pelo autor ajudam
sas decisões são operacionais e podem ser realizadas de acordo com na compreensão dos
conceitos éticos na prática
processos preestabelecidos, delegadas para funcionários da linha de cotidiana das empresas e
frente ou até mesmo automatizadas. Outras envolvem questões pro- podem ser usados para
desenvolver o pensa-
fundas, relacionadas aos valores da empresa, aos princípios éticos e mento ético e moral dos
aos códigos morais vigentes na sociedade. Assim, os gestores que con- colaboradores.
duzem uma organização precisam estar preparados para tomar suas SROUR, R. H. Rio de Janeiro: Alta
Books, 2016.
decisões levando em consideração os conceitos da ética e da moral.

4.4 Desafios éticos para o profissional
Vídeo
Como aponta Bauman (2001), na modernidade líquida, os valores e
as relações sociais estão em constante mudança, sendo esta causada
pelo desenvolvimento tecnológico, que aproxima diferentes culturas e
povos e faz com que códigos morais diversos convivam tanto no ambien-
te social quanto no profissional. O individualismo e o egocentrismo tam-
bém são características da sociedade contemporânea. Para Cremonese
(2019), o mundo contemporâneo vive uma crise ética e moral.
No Brasil, para Nascimento et al. (2018, p. 844), “a sociedade atual

vive sérios problemas por desvios de moral e ética. O desrespeito ao di-
reito do outro impera neste país, no qual o egoísmo e o individualismo
Livro estão cada vez mais enraizados na coletividade”. Apesar de os autores
No ano de 1971, o destacarem essas características na sociedade brasileira, elas podem
professor Philip Zimbardo
desenvolveu um expe-
ser observadas em grande parte dos países.
rimento com o objetivo
de observar como a
No ambiente profissional, essas características são ainda mais exa-
divisão de indivíduos em cerbadas pela própria forma de organização das empresas. Como ex-
grupos hierarquizados
influencia o comporta-
plica Caxito (2020), os grupos sociais formados pelos colaboradores
mento humano. Vinte e de uma empresa são compostos por pessoas com valores e crenças
quatro estudantes foram
divididos aleatoriamente
diferentes, e essas pessoas estão em momentos diversos do seu ciclo
em dois grupos: guardas de vida e precisam conviver intensamente no cotidiano organizacional.
e prisioneiros. No entanto,
o experimento precisou A cobrança por resultados e o ambiente competitivo, no qual as me-
ser encerrado em poucos
tas de um colaborador podem entrar em choque com as metas de ou-
dias, pois os estudantes
que representavam o tros, a valorização do resultado individual e a formação de grupos que se
papel de guardas pas-
antagonizam durante a execução das atividades são fatores que fazem
saram a agir de maneira
cada vez mais violenta, com que a individualidade, o egocentrismo e a percepção das diferenças
apresentando comporta-
estejam ainda mais presentes nas empresas do que na sociedade.
mentos sádicos e auto-
ritários. Os prisioneiros,
Nesse contexto, os princípios éticos e códigos morais são funda-
por outro lado, sofreram
física e psicologicamente mentais para garantir que as empresas realizem suas atividades de ma-
e apresentaram sintomas
neira econômica, social e ambientalmente responsável. Silveira (2018)
de estresse. No livro O
efeito Lúcifer, Zimbardo aponta duas questões essenciais para compreendermos a importância
conta a experiência, as
da ética no ambiente organizacional. A primeira questão é entender
conclusões a que chegou
e os estudos posteriores como os colaboradores se comportam quando, durante a execução
sobre o tema.
das suas tarefas, são colocados diante de uma situação ética e moral-
ZIMBARDO, P. Rio de janeiro: Record, mente questionável. A segunda questão é mais profunda por lidar com
2012.
a ética individual e a influência do ambiente corporativo e da cultura

organizacional sobre indivíduos, o que leva, em algumas ocasiões, a
tomadas de decisões contrárias aos princípios morais do sujeito e aos
códigos morais da sociedade.
Araujo e Tomei (2012) acreditam que as empresas enfrentam um

duplo desafio. Ao mesmo tempo que precisam se adequar a uma con-
corrência global, disputando com organizações que atuam em países
com diferentes legislações e códigos morais, elas têm que entender
como as mudanças comportamentais e de crenças e padrões morais
afetam a sua própria forma de atuação e o comportamento dos seus
colaboradores.
Além disso, para os mesmos autores, os profissionais precisam

constantemente se adaptar às mudanças e desenvolver novas compe-
tências e conhecimentos. Em um ambiente concorrencial muitas vezes Filme
predatório, os profissionais são pressionados e tentados a tomar de- O filme Circle discute os
cisões que podem ferir seus princípios éticos, o que pode destruir sua limites éticos e morais
que os indivíduos estão
reputação e até mesmo sua carreira. Assim, o desenvolvimento de uma dispostos a ultrapassar
postura ética é fundamental para que o indivíduo seja bem-sucedido para atingir seus próprios
objetivos. A história se
em sua profissão. passa em um só cenário:
50 pessoas que não se
Para Bennett (2012), os diversos dilemas éticos enfrentados pelos conhecem estão em pé
profissionais no cotidiano organizacional podem parecer simples, em em uma sala escura. A
cada dois minutos, uma
forma de fofocas, rusgas e intrigas, que surgem nas relações entre pes- delas morre inexplicavel-
soas da mesma equipe ou de departamentos diferentes, assim como mente. Porém, o grupo
percebe rapidamente
pela pressão por resultados, que leva algumas pessoas a agir de modo que são eles mesmos que
a prejudicar os demais colaboradores como modo de se destacar. Já escolhem quem será o
próximo a ser eliminado.
outras questões são mais complexas, como a identificação de desvios Após essa constatação, os
financeiros, uso indevido de ativos da empresa, suborno, corrupção, preconceitos, as crenças
e os valores de cada um
falsificação de informações e sabotagem. passam a ser usados
como forma de escolher
Definir claramente os limites das relações pessoais que se desen-
as vítimas.
volvem no ambiente organizacional é um grande desafio tanto para os O filme reflete a forma
profissionais quanto para a área de recursos humanos das empresas. como as pessoas julgam
outras sem conhecê-las e
O assédio moral e sexual muitas vezes é disfarçado de brincadeiras, mostra como argumentos
elogios ou formas de interação consideradas aceitáveis, mas que em- preconceituosos e códi-
gos morais ultrapassados
butem o uso da posição hierárquica como forma de pressão para obter podem ser usados para
vantagens pessoais. ferir os demais.
Direção: Aaron Hann; Mario

Os dilemas e desafios éticos e morais relacionados à atividade pro- Miscione. Estados Unidos: Felt
fissional precisam ser enfrentados de maneira conjunta pela empresa e Films; Taggart Productions; Votiv
Films , 2015.
pelos profissionais. Do ponto de vista das organizações, a definição clara

dos valores e de códigos de ética empresarial é um ponto de partida im-
portante. Entretanto, para que o comportamento dos profissionais seja
guiado por esses valores e códigos, as empresas precisam criar uma cul-
tura organizacional que valorize o comportamento ético, além de inves-
tir no desenvolvimento dos colaboradores. Já os profissionais precisam
aprender a avaliar cada uma de suas decisões e comportamentos com
base em seus valores, na ética e na moral para que tenham a condição
de se negar a realizar atos que possam ferir esses princípios.
4.5 Carreira e marca pessoal

Vídeo
O desenvolvimento tecnológico observado nas últimas décadas
trouxe profundas alterações na forma como o trabalho é realizado e
nas relações entre os indivíduos e as empresas. Novas profissões são
criadas para realizar atividades que antes não existiam, enquanto pro-
fissões tradicionais, nas quais muitas pessoas desenvolveram sólidas
carreiras, deixam de existir ou passam a ser ocupadas por um número
cada vez menor de profissionais.
A carreira profissional, antes desenvolvida em uma mesma pro-

fissão e, muitas vezes, em uma única empresa, é agora marcada por
mudanças constantes que obrigam o profissional a se repensar con-
tinuamente, aprender novas competências e investir na construção
de redes de relacionamentos que possam ajudá-lo nos momentos de
transição de emprego ou de profissão.
O mercado de trabalho passou a valorizar profissionais que tenham

experiências em diferentes empresas por entender que, ao conhecer
outras culturas organizacionais, o indivíduo desenvolve uma visão mais
abrangente e compreensiva a respeito das diferenças entre pessoas,
crenças, valores, padrões éticos e códigos morais, o que é uma impor-
tante competência em um mundo em constante transformação.
Nesse novo ambiente profissional, as competências comportamen-

tais, como a capacidade de se relacionar com outras pessoas, a boa
comunicação e uma sólida estrutura ética e moral, são tão importantes
quanto as competências técnicas necessárias para desenvolver as ativi-
dades relacionadas à profissão e ao cargo ocupado.

Outra característica do mercado de trabalho contemporâneo é o alon-
gamento do período dedicado pelo profissional à sua carreira e ao tra-
balho. À medida que a expectativa de vida aumenta, com a melhoria da
qualidade de vida e os avanços tecnológicos na área da saúde, as pessoas
se sentem em condições de continuar trabalhando por mais anos. Essa
tendência é influenciada pelas mudanças nos sistemas de previdência pri-
vada de diversos países, inclusive no Brasil, com o aumento da quantidade
de anos de trabalho necessários para se pleitear a aposentadoria.
Esse maior tempo de vida dedicado ao trabalho e as constantes mu-

danças de emprego, empresa e até de carreira fazem com que o profis-
sional precise construir uma sólida reputação, tanto nas organizações
nas quais atua como no mercado em que está inserido. É fundamental
estabelecer uma marca pessoal, ou seja, uma reputação de seriedade,
profissionalismo e competência, baseada nos resultados obtidos, nas
realizações alcançadas e em uma postura ética e moral sólida.
O conceito de marca tem origem na administração, mais especifica-

mente na área de marketing. A Associação Americana de Marketing, im-
portante organização que desenvolve estudos e estabelece definições
sobre o tema, define marca como: “um nome, termo, design, símbolo ou
qualquer outro aspecto que identifica um produto ou serviço de uma em-
presa como distinto daqueles das outras” (AMA, 2017, tradução nossa).
Já Bueno (2018) relaciona o conceito de marca com a reputação cria-

da por uma empresa ou por um indivíduo que faz com que os consu-
midores e clientes reconheçam um valor superior em seus produtos ou
serviços prestados.
Um exemplo do valor agregado pela construção de uma marca reconheci-

da pelos consumidores é o da indústria de sandálias Havaianas. Segundo
Mourad e Serralvo (2014), a sandália, que há algumas décadas era vendida
por baixo preço em milhares de varejos e comércios, teve sua marca repo-
sicionada, destacando valores como o conforto, a originalidade e a relação
com a cultura brasileira. Após ser vista nos pés de pessoas famosas em todo
o mundo, a marca lançou modelos com novos designs e cores, abriu lojas
exclusivas com uma comunicação visual alinhada à nova personalidade da
marca e passou a vender os produtos a preços consideravelmente mais altos
Pumee Poonnin/Shutterstock
do que no passado.

A marca adiciona valor ao ampliar o propósito do produto ou ser-
viço. No caso das sandálias Havaianas, além do proposito funcional
(proteger os pés), a marca adicionou um propósito ligado à moda e ao
status dos consumidores. O valor agregado pela marca pode estar rela-
cionado a aspectos estéticos, ao reconhecimento social e à percepção
de qualidade e confiabilidade do produto.
É nesse mesmo sentido de proporcionar uma percepção de quali-

dade e confiabilidade que se estabelecem as marcas pessoais. Como
destaca Caxito (2012, p. 66):
uma marca pessoal é um sinal de confiança, que atinge emoções,
e emoções orientam nossas decisões. Mas uma marca pessoal
tanto tem a ver com quem você é com quem você não é. Está
ligada tanto as coisas positivas que você faz e que agregam valor
a seu nome quanto as coisas negativas que diminuem seu valor.
Artigo
https://www.linkedin.com/pulse/qual-marca-voc%C3%AA-deixa-fabiano-caxito/
A importância da construção de uma marca pessoal em um mercado no

Livro qual o profissional passa por várias empresas no decorrer de sua carreira é
Ao analisar como as o tema do artigo disponível a seguir de Fabiano Caxito, intitulado Qual marca
empresas estabelecem você deixa? e publicado na rede social LinkedIn. O texto apresenta os pilares
com seus clientes uma da construção de uma marca pessoal e os pontos importantes que o profis-
relação de confiança, que sional deve levar em consideração ao estabelecê-la.
faz com que as marcas
sejam valorizadas, Simon
Sinek, no livro Encontre seu
porquê, identificou que as Artistas, profissionais liberais (como advogados, médicos, arquite-
organizações estabele-
cem seu posicionamento
tos), assim como pessoas que atuam em profissões ligadas ao domínio
estratégico com base em de técnicas artesanais específicas (como costureiros, marceneiros car-
seus valores, antes mes-
mo de definir sua visão.
pinteiros e pedreiros autônomos), sempre investiram na construção de
O conceito do círculo uma marca pessoal, pois, para que possam encontrar novos clientes e
dourado, que tem no seu
centro o “porquê”, ou seja,
consumidores, precisam satisfazer e superar as expectativas de seus
a razão de ser e os valo- atuais clientes. Quanto mais satisfeitos os clientes estiverem, mais eles
res, pode ser usado tanto
pelas empresas quanto
recomendarão o profissional a outras pessoas.
por pessoas, com a
Como destacam Carneiro, Alves e Silva (2021), um dos pontos funda-
finalidade de estabelecer
uma marca que transmita mentais na construção de uma marca pessoal é a identificação dos valores
confiança e credibilidade.
em que o indivíduo acredita e que serão a base sobre a qual ele desenvol-
SINEK, S. Rio de Janeiro: Sextante,
verá sua carreira profissional. Nesse sentido, a marca pessoal guarda uma
2018.
relação direta com a postura ética e os valores morais do indivíduo.

O profissional pode desenvolver diversas competências e atingir
grandes resultados, mas, se não construir uma reputação de serieda-
de e respeito aos códigos morais, dificilmente será reconhecido pelo
mercado. Ao contrário: ações antiéticas e que atentem contra a moral
e os códigos de ética da profissão ou da empresa serão rapidamente
divulgadas nas redes de relacionamentos formadas pelos profissionais
do setor, dificultando a recolocação desse indivíduo nos momentos de
transição de carreira. Profissionais sérios e com boa reputação no mer-
cado evitam ligar seu nome a indivíduos que não estabelecem a postu-
ra ética como um dos pilares de sua marca pessoal.
A carreira profissional de uma pessoa está relacionada ao seu plano
de vida, ou seja, aos objetivos pessoais que deseja alcançar e qual relação
deseja construir com sua família, comunidade e com a sociedade. Esses
objetivos são baseados em valores pessoais, princípios éticos, crenças,
comportamentos e atitudes. Afinal, a ética é muito mais do que um con-
ceito abstrato: ela se realiza em cada uma das decisões, ações e intera-
ções colocadas em prática pela pessoa durante sua vida.
ATIVIDADES
Atividade 1
Explique a relação entre o mito de Sísifo e a visão do trabalho
como sofrimento.
Atividade 2
Qual é a relação entre a ética protestante e as bases da economia
capitalista?

Atividade 3
Explique por que as relações que se estabelecem nos ambientes
de trabalho são potencialmente conflituosas.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, R. C. P. Ócio e trabalho, dimensões compartilhadas. Revista Científica ICGAP,
v. 1, n. 1, 2018. Disponível em http://revistaicgap.com.br/index.php/icgap/article/view/14.
AMA – American Marketing Association. Definitions of Marketing. AMA, 2017. Disponível em:
https://www.ama.org/the-definition-of-marketing-what-is-marketing/. Acesso em: 13 jun.
2022.
ARAUJO, F. F.; TOMEI, P. A. A ética corporativa e o cenário competitivo: uma análise dos
dilemas éticos nas relações de trabalho contemporâneas a partir do filme “O Corte” (Le
Couperet). Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, Rio de Janeiro, v. 6, n. 3,
2012. Disponível em: https://periodicos.uff.br/pca/article/view/11105. Acesso em: 13 jun.
2022.
ARENDT, H. A condição humana. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2020.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 4. ed. São Paulo: Edipro, 2020.
BENNETT, C. Ética profissional. Trad. de Martha Malvezzi Leal. 2. ed. São Paulo: Cengage
Learnig; Rio de Janeiro: Senac-RJ, 2012.
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 13 jun. 2022.
BUENO, W. C. Crise reputacional e comunicação de marca: a estratégia da Odebrecht para
“lavar” a sua imagem. Revista FAMECOS: Mídia, Cultura e Tecnologia, v. 25, n. 2, p. 1-18, 2018.
Disponível em: https://www.redalyc.org/jatsRepo/4955/495557631003/495557631003.
pdf. Acesso em: 13 jun. 2022.
CARDOSO, I. R. et al. Intensidade moral e tomada de decisão: estudo aplicado a estudantes
do ensino superior em Gestão. Dos Algarves: A Multidisciplinary e-Journal, n. 31, p. 81-97,
2018. Disponível em: https://www.dosalgarves.com/index.php/dosalgarves/article/
view/137/186. Acesso em: 13 jun. 2022.
CARNEIRO, M. F. C.; ALVES, V. P.; SILVA, H. S. Aposentadoria e planejamento para vida pós-
trabalho: um estudo com servidores de um Instituto Federal de Educação. Revista Brasileira
de Geriatria e Gerontologia, v. 24, n. 1, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/
tPcK3wKyhCP3dXtcZQmMHNJ/abstract/?lang=pt&format=html. Acesso em: 13 jun. 2022.
CAXITO, F. Não deixo a vida me levar, a vida levo eu!. São Paulo: Saraiva, 2012.
CAXITO. F. Do desemprego à recolocação. Rio de Janeiro: Alta Books, 2020.
CFM – Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM n. 2.217, de 27 de setembro de
2018, modificada pelas Resoluções CFM n. 2.222/2018 e 2.226/2019. Brasília: CFM, 2019.
Disponível em: https://portal.cfm.org.br/images/PDF/cem2019.pdf. Acesso em: 13 jun.
2022.
COTRIM, G.; FERNANDES, M. Fundamentos de filosofia. São Paulo: Saraiva, 2010.
CREMONESE, D. Ética e moral na contemporaneidade. Campos Neutrais –Revista Latino-

Americana de Relações Internacionais, v. 1, n. 1, p. 8-28, 2019. Disponível em: https://
periodicos.furg.br/cn/article/view/8618/5578. Acesso em: 13 jun. 2022.
FINKLER, M. et al. Formação profissional ética: um compromisso a partir das diretrizes
curriculares? Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 449-462, 2010. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/tes/a/whGR9xSPYQ5YXLpWCvQg7RH/?format=pdf&lang=pt.
GILIOLI, M. C. et al. Ética e moral no processo de tomada de decisão: o caso dos alunos
de Ciências Contábeis. ConTexto – Contabilidade em Texto, Porto Alegre, v. 20, n. 44, 2020.
Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/ConTexto/article/view/71632. Acesso em: 13
jun. 2022.
HAN, B.-C. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2015.
JONES, T. M. Ethical decision making by individuals in organizations: an issue-contigent
model. Academy of Management Review, v. 16, n. 2, p. 366-395, 1991. Disponível em: https://
journals.aom.org/doi/abs/10.5465/amr.1991.4278958. Acesso em: 13 jun. 2022.
LOUREIRO, A. J. C. Trabalho, labor e ação: a Vita Activa no Brasil do século XXI sob a óptica
de Hannah Arendt. Boletim Jurídico, Uberaba, MG, ano 30, n. 1582, dez. 2018. Disponível
em: https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/etica-e-filosofia/4276/trabalho-labor-
acao-vita-activa-brasil-seculo-xxi-sob-optica-hannah-arendt. Acesso em: 13 jun. 2022.
MÁRIO, M. X.; SILIVELI, A. C. Análise sobre a ética e a responsabilidade social do profissional
de contabilidade na tomada de decisão. Revista Órbita Pedagógica, v. 6, n. 2, p. 83-98, 2019.
Disponível em: https://redib.org/Record/oai_articulo1981106-análise-sobre-a-ética-e-a-
responsabilidade-social-do-profissional-de-contabilidade-na-tomada-de-decisão. Acesso
em: 13 jun. 2022.
MARX, C. O Capital. Rio de Janeiro: LTC, 2018.
MOURAD, A. I.; SERRALVO, F. A. Reposicionamento e internacionalização de marcas: o caso
das sandálias Havaianas. Pensamento & Realidade, v. 29, n. 4, p. 3-21, 2014. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/pensamentorealidade/article/view/22515. Acesso em: 13 jun.
2022.
NASCIMENTO, T. G. et al. Ética e trabalho: desafios para a vivência na contemporaneidade. ID
On Line – Revista de Psicologia, v. 12, n. 42, p. 832-844, 2018. Disponível em: https://idonline.
emnuvens.com.br/id/article/view/1581. Acesso em: 13 jun. 2022.
REST, J. R. Moral development: advances in research and theory. New York: Praeger
Publishers, 1986.
SILVEIRA, A. M. Ética empresarial na prática. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018.
SOUZA FILHO, O. V. Visão cristã do trabalho. De Magistro de Filosofia, Anápolis, GO, ano 8, n.
15, 2015. Disponível em: https://www.catolicadeanapolis.edu.br/revmagistro/wp-content/
uploads/2015/04/Vis%c3%a3o-Crist%c3%a3-do-Trabalho.pdf. Acesso em: 13 jun. 2022.
WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2020.

Resolução das atividades
1 Filosofia, ética e moral
1. Correlacione a ética hedonista com o contexto da sociedade
contemporânea.
O hedonismo é uma corrente filosófica centrada na busca pelo
prazer dos sentidos, como forma de atingir a felicidade. Esse
conceito é fundamental para entendermos o contexto da sociedade
contemporânea, apoiada no consumo excessivo de bens, na busca
pela felicidade a cada momento, na gratificação instantânea e na
ostentação de experiências e do consumo como sinais de sucesso e
status, características das redes sociais.
2. Explique a diferença entre a ética proposta por Descartes e a

filosofia cristã.
A ética proposta por Descartes é fundamentada no questionamento
e na decisão individual sobre as atitudes e ações a serem tomadas.
É o ser humano quem decide como deseja viver e assume a
responsabilidade sobre suas ações. Já a filosofia tem como base a
aceitação de uma verdade absoluta ditada por Deus.
3. Moral e moralidade são dois conceitos distintos. Explique a

diferença entre eles.
A moral pode ser entendida como os costumes estabelecidos em
uma sociedade, as normas que possibilitam a vida em sociedade e
as leis criadas para garantir a convivência social. Já a moralidade é
uma deturpação da moral e ocorre quando a crítica ou o julgamento
sobre as ações do indivíduo não são baseados nos códigos morais da
sociedade como um todo, mas nas ideias e crenças de uma pessoa ou
de um grupo específico.
2 Ética e moral na sociedade contemporânea

1. Explique o conceito de valores pessoais.
O valor pessoal é um princípio (ou concepção), ideia ou princípio que
uma determinada pessoa tem sobre si própria e sobre a forma como
deve agir e interagir com as outras pessoas diante de decisões que se
colocam em sua vida. Os valores são específicos de cada indivíduo,

mas refletem as características, a cultura e os padrões morais do
grupo social no qual o indivíduo está inserido.
2. Sobre a relação entre individualidade e sociedade, explique

a diferença entre os conceitos desenvolvidos pelos filósofos
contratualistas da idade moderna e o conceito da gênese do
indivíduo.
Enquanto os filósofos contratualistas defendiam que a sociedade se
desenvolve por meio dos indivíduos que dela fazem parte, a teoria da
gênese do indivíduo tem como base a ideia de que a vida em sociedade
é a origem da individualidade, já que antecede o nascimento do
indivíduo e influencia sua formação.
3. Alteridade e empatia são conceitos relacionados, mas diferentes.

Explique essas diferenças.
A alteridade pode ser definida como a capacidade de a pessoa
perceber, entender, aceitar e respeitar a individualidade de outros
membros do grupo social. Já a empatia diz respeito à capacidade de
o indivíduo enxergar o mundo com base no ponto de vista das outras
pessoas.
3 Ética no ambiente profissional

1. Explique a relação entre os pilares das diretrizes estratégicas da
empresa e sua postura ética e moral.
As diretrizes estratégicas da empresa são formadas pela sua missão,
sua visão e seus valores. Entre os pilares das diretrizes estratégicas,
os valores estão diretamente relacionados aos conceitos de ética e
moral, fundamentais para garantir que a atuação da empresa esteja
de acordo com os códigos morais exigidos pela sociedade e com a
legislação que rege sua atuação no mercado.
2. Qual a diferença entre os códigos de ética profissional e o código

de ética empresarial.
Os códigos de ética empresarial têm o objetivo de descrever os
valores, os padrões éticos e os códigos morais que os colaboradores
de uma empresa devem seguir durante a execução de suas
atividades. Já os códigos de ética profissional são desenvolvidos por
órgãos representativos de determinada profissão, com o objetivo
de estabelecer padrões de conduta que regulem a atuação dos
Resolução das atividades 105

profissionais, seja qual for a empresa ou organização para a qual
prestem serviços.
3. Explique por que as estruturas das empresas facilitam a ocorrência

de casos de assédio.
As estruturas hierárquicas das empresas, fundamentadas em
relações de liderança e subordinação, em que a determinação de
quem detém o poder são claras, criam o ambiente para que líderes
mal preparados ou que não conhecem os padrões éticos e valores
da empresa utilizem a posição hierárquica para assediar, ameaçar,
pressionar ou caluniar seus subordinados.
4 Ética na construção da carreira

1. Explique a relação entre o mito de Sísifo e a visão do trabalho como
sofrimento.
Nas sociedades antigas, o trabalho braçal era visto como um castigo,
sendo realizado pelos escravos e por aqueles que não faziam parte
da elite. O mito de Sísifo, condenado pelos deuses a rolar diariamente
uma pedra até o topo de uma montanha e depois vê-la a rolar
novamente até o chão, representa essa visão do trabalho como uma
punição.
2. Qual é a relação entre a ética protestante e as bases da economia

capitalista?
Para Max Weber, enquanto a ética cristã considerava o trabalho uma
punição e o sucesso profissional algo negativo, a ética protestante
valorizava o trabalho, a poupança, o ganho monetário e a busca pelo
sucesso financeiro e profissional.
3. Explique por que as relações que se estabelecem nos ambientes

de trabalho são potencialmente conflituosas.
Em uma empresa, pessoas com diferentes histórias de vida, em
momentos diversos da sua vivência, com valores diferentes e com
visões diversas sobre o papel do trabalho em suas vidas precisam
conviver intensamente. Muitas vezes, os objetivos desses indivíduos
são conflitantes; nesse contexto, os códigos morais e a postura
ética de cada um são fatores fundamentais para que a convivência
harmônica seja possível.

ÉTICA e RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL
ÉTICA e RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL
Fabiano Caxito
Fabiano Caxito
Código Logístico
Código Logístico
ISBN 978-65-5821-158-7
ISBN 978-65-5821-158-7
I000677 I000677 9 786558 211587 211587

9 786558

Ética e Responsabilidade Profissional

Enviado por

Dados do documento

Direitos autorais

Formatos disponíveis

Compartilhar este documento

Compartilhar ou incorporar documento

Opções de compartilhamento

Você considera este documento útil?

Este conteúdo é inapropriado?

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Ética e Responsabilidade Profissional

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

ÉTICAe e

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

1. Ética profissional. 2. Responsabilidade profissional. I. Título.

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.

Acesse os vídeos automaticamente, direcionando

Em alguns dispositivos é necessário ter instalado

2 Ética e moral na sociedade contemporânea 33

3 Ética no ambiente profissional 54

4 Ética na construção da carreira 81

Resolução das atividades 104

Filosofia, ética e moral 9

• compreender a relação entre a ética, a moral e o desenvolvimento

• refletir sobre as influências dos valores éticos e morais na constru-

• entender a relação da ética e da moral com a atuação profissional

• compreender a importância do estudo da filosofia no mundo con-

1.1 Ética: conceitos e história

Os seres humanos são naturalmente bons e gentis ou

É com base nessa pergunta que se estabelecem os fundamentos da

A palavra êthos, segundo Marques (2009), surgiu com base na ideia

Já a segunda origem da palavra ética é o termo éthos, que, segun-

10 Ética e responsabilidade profissional

A proximidade desse sentido de ética, surgido a partir do termo

Para entendermos a relação entre ética, moral e cultura observada

Marilena Chaui (2018) explica que, com Sócrates, a filosofia passou

Filosofia, ética e moral 11

No entanto, nem todos estão preparados para olhar para dentro de

Esse conceito é fundamental para entendermos a sociedade con-

Se Aristipo refuta Sócrates ao propor uma ética centrada no prazer

12 Ética e responsabilidade profissional

Epicuro (324- Prazeres duradouros vinculados a uma conduta virtuosa.

Filosofia, ética e moral 13

Diógenes (412- Sem propriedade ou conforto.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Cotrim; Rodrigues, 2013.

1.2 Sociedade, ética e moral

Durante a Idade Média, período no qual a Igreja Católica tinha gran-

Santo Agostinho retomou a discussão desenvolvida pelos filósofos

14 Ética e responsabilidade profissional

Outro importante filósofo cristão da Idade Média foi São Tomás de

Com o fim da Idade Média e início da Idade Moderna, a visão da filo-

Dois eventos históricos, um político e outro econômico são

Filosofia, ética e moral 15

Diversos filósofos foram responsáveis pelo repensar da filosofia

É possível termos certeza de alguma coisa e conhecermos a verdade sem

Esse é o questionamento central do pensamento cartesiano. Para

Outro importante filósofo dessa época é Hobbes (2014), que reto-

A teoria desenvolvida por Hobbes é fundamental para entender as

16 Ética e responsabilidade profissional

Para Kant, enquanto a ética racional é ligada ao indivíduo, a moral é

A ruptura final da influência da religião sobre os conceitos de ética

Filosofia, ética e moral 17

Em algumas culturas, a mulher deve usar roupas que cubram totalmente

Caxito (2021a) afirma que o contato entre diferentes povos, culturas

Para alguns, aumenta a percepção da alteridade e gera empatia

18 Ética e responsabilidade profissional

A chamada “cultura do cancelamento”, fenômeno que se torna cada

Filosofia, ética e moral 19

Como destacam Rachels e Rachels (2013), a velocidade com que

Outra característica marcante do mundo contemporâneo é o indi-

20 Ética e responsabilidade profissional

Segundo Ferreira e Rios (2017), a forma como as redes sociais vir-

Desse modo, as redes sociais e os sites de compartilhamento de

Terra e Souza (2020) explicam que os grupos formados no ambiente

Filosofia, ética e moral 21