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EDITORAS
Maria de Nazareth Malcher
Universidade de Brasília
Adelma Pimentel
Universidade Federal do Pará
2ª edição / 2021
• I Congresso Brasileiro de
Fenomenologia e cuidados da ansiedade
2
COMISSÃO
ORGANIZADORA E APOIOS
COORDENAÇÃO GERAL
COMISSÃO CIENTÍFICA
APOIO
IMHCN (Rede Internacional de Colaboração em Saúde Mental)
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Dados Internacionais de
Catalogação-na-Publicação (CIP)
ISSN
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
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6
FENOMENOLOGIA: TEORIA E CLINICA (VOL II)
ACESSO NO SYMPLA
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25/02/2021 26/02/2021
Palestra:
Palestra Abertura:
Fenomenologia e Realidade Virtual Loucura e sofrimento psíquico (Follia e
sofferenza psichica)
• Prof. Dr. Tommy Akira Goto
• Prof. Dr. Mario Cardano
Universita Torino – UNITO
Palestra:
As relações do Cotidiano relacional Palestra:
e virtualidade em tempos de pandemia Adolescentes, mídias móveis e prática da
exposição de si: notas para reflexões
• Rui de Souza Josgrilberg (Universidade
• José Carlos Ribeiro (UFBA)
Metodista de São Paulo)
Atividade Cultural:
Exposição Som das Tintas – Grupo FOCO
8
A logística deste encontro exigiu além da dedicação, coragem e
resistência para apresentar questões de um tema importante que detém
no cotidiano da vida de seres humanos, independente de faixa etária, de
profissionais e de pesquisadores. O debate é a reflexão são indispensáveis
para ampliarmos os Cuidados em saúde e interações virtuais: Abordagens
interdisciplinares, sob enfoque da fenomenologia humanista e do uso
das tecnologias de informação e comunicação, temáticas consideradas
da contemporaneidade no cuidado em saúde mental. Seguimos com um
pequeno resumo dos palestrantes nos dois dias de evento.
PALESTRANTES
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Prof. Dr. Tommy Akira Goto
Professor Adjunto III da Pós-Graduação em Filosofia e da
Graduação e Pós-Graduação em Psicologia da Universidade
Federal de Uberlândia (UFU), Doutor em Psicologia como
Profissão e Ciência pela PUC-Campinas (2007).
LATTES
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Prof. Dr. Rafael Garcia Barreiro
Doutor e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em
Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos.
Professor Adjunto I da Universidade de Brasília (UnB).
LATTES
LATTES
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Antonio Sergio da Costa Nunes
Pós-doutorado em Filosofia Ecológica pela UNESP de
Marilia-SP. Doutor em Filosofia pela Universidade de São
Paulo. Professor Associado I da Universidade Federal do
Pará. Editor responsável da Complexistas – revista de
Filosofia Temática.
LATTES
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Agradecemos a todos os envolvidos, que direta e indiretamente,
colaboraram para a construção e sucesso deste evento: palestrantes,
mediadores de mesa, pessoas do suporte e logística, e aos profissionais
da CENAT. Mas gostaríamos de ressaltar a participação dos discentes da
graduação e pós-graduação de todo o Brasil, por meio da divulgação dos
trabalhos de pesquisa, na qual possibilitou espaço rico de trocas e saberes, de
grande valor cientifico ao nosso evento. E que teremos o prazer de divulgá-los
no formato de resumo expandido.
- Comissão Organizadora
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FRONTEIRAS BORRADAS NAS RELAÇÕES
E ESFERAS PRIVADA, PÚBLICA E VIRTUAL.
Adelma Pimentel
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em ambos, ou seja: no que, atualmente se configura como esfera privada, que não
mais indica, unicamente, uma estrutura ligada a família nuclear, com destaque a
intimidade, a privacidade, ao isolamento, aos segredos, a hierarquia de gênero,
ao interior da casa. Está borrado o que se definia no século XX como esfera
pública, ou seja, o arcabouço intermediário que fazia a mediação entre o estado
e a sociedade, e que deveria ser o lócus do debate e da cidadania. No século
XXI, a economia dos países/estados é centrada na informação; em serviços
financeiros; desenvolvimento de aplicativos digitais; uso da inteligência artificial
e da ciência em prol da construção de perfis identitários de consumo, já que
o uso da internet elabora um desdobramento da esfera pública, por meio das
interconexões em rede. Assim, supostamente todos e todas podem aumentar sua
participação em questões locais e mundiais; em ações colaborativas; e assumir
um papel mais ativo, mais criativo, porém não autorreflexivo. Neste bojo, a esfera
pública virtual designa a relação entre governo e sociedade civil, por meio da
web, denotando as possibilidades de os cidadãos participarem da administração
pública. Destaco que este modelo idealizado de esfera pública se mantém como
fronteira, linha divisória entre estado e sociedade com exclusões dos pobres,
das mulheres, dos transexuais, homossexuais, índios e pretos. Sintetizando, a
esfera pública virtual é uma categoria não linear de comunicação interpessoal da
atualidade; sua característica é misturar referencias da esfera privada e da esfera
pública, modificando o conceito de intimidade e privacidade, e a participação do
estado na elaboração de políticas públicas; portanto possui fronteiras borradas,
ocasionando sofrimento psíquico a alguns usuários a quem é dirigida a crítica
destrutiva e a intolerância às diferenças. Finalizo, apontando que um modo ético
de expandir as fronteiras borradas no uso da internet requerem: conciliar a
elaboração de agendas sociais e de agendas restritas; criação da esfera pública
virtual ética; reescrever o papel do estado e das instituições sociais. A internet
favorece a manifestação do cidadão, porém, há que ser elaborada e consolidada
a mediação entre o sistema político, os setores privados do mundo da vida em
termos de funções, e da liberdade de expressão do eu e do outro.
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RESUMOS EXPANDIDOS USO DE APLICATIVOS
NO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL
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INTRODUÇÃO
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MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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APLICATIVOS FUNÇÃO DO APP
Mapa interativo e de contribuição colaborativa, os usuários são capazes de
Thought Spot - Plataforma para
geolocalizar pontos de saúde mental e bem-estar no território.
Web e dispositivos móveis
App de saúde mental voltado Mensurar níveis de estresse, ansiedade e depressão de cuidadores que
para gerenciamento do stress participaram do estudo.
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Foram selecionados para o estudo três artigos teóricos que investigam
os aplicativos que possuem potencial terapêutico para Android e iOS, dez
artigos que discutem sobre a aplicabilidade e eficiência de Apps distintos
e os quatro estudos restantes não abordam a utilização de aplicativos de
forma específica. O App Daylo e o App Strength Within Me (SWiM) possuem
funções similares, oferecendo ferramentas para o registrar e acompanhar as
atividades diárias e o humor do usuário, além de disponibilizar funções de criar
metas e planos de segurança para o futuro (BRUEN et al., 2020 e QUINTO e
SILVA, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
20
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, RAQUEL F. SIMÕES DE et al. Development of weCope, a mobile app for illness self-
management in schizophrenia. Arch Clin. Psychiatry (São Paulo) São Paulo, v. 46, n. 1, p. 1-4, Feb.
BRUEN AJ, WALL A, HAINES-DELMONT A, PERKINS E Exploring Suicidal Ideation Using an Innovative
Mobile App-Strength Within Me: The Usability and Acceptability of Setting up a Trial Involving Mobile
Technology and Mental Health Service Users JMIR Ment Health 2020;7(9):e18407
Reduces Anxiety and Stress: Cross-sectional Study of App User Self-Ratings JMIR mHealth and uHealth.
DRISSI, N., OUHBI, S., JANATI IDRISSI, M. A., & GHOGHO, M. (2020). An analysis on self-management
and treatment-related functionality and characteristics of highly rated anxiety apps. International Journal
GUO, Y., HONG, Y., QIAO, J. et al. Run4Love, a mHealth (WeChat-based) intervention to improve mental
health of people living with HIV: a randomized controlled trial protocol. BMC Public Health 18, 793
(2018).
NIENDAM, T. A., TULLY, L. M., IOSIF, A. M., KUMAR, D., NYE, K. E., DENTON, J. C., ZAKSKORN, L.
N., FEDECHKO, T. L., & PIERCE, K. M. (2018). Enhancing early psychosis treatment using smartphone
technology: A longitudinal feasibility and validity study. Journal of psychiatric research, 96, 239–246.
QUINTO, Wanderson Alexandre da Silva; SILVA, Maria de Nazareth Rodrigues Malcher de Oliveira. O
uso de diários virtuais como estratégia de recovery para o encontro tu e eu. Rev. NUFEN, Belém, v. 11,
VAN AMERINGEN M, TURNA J, KHALESI Z, PULLIA K, PATTERSON B. There is an app for that! The
current state of mobile applications (apps) for DSM-5 obsessive-compulsive disorder, posttraumatic
stress disorder, anxiety and mood disorders. Depress Anxiety. 2017 Jun;34(6):526-539.
VASCONCELOS FILHO, José Péricles Magalhães; DE MEDEIROS MACHADO, Elenise Tenório; SILVA,
Arnislane Nogueira. Análise dos aplicativos para smartphones com potencial terapêutico em psicoterapias
21
O SOM DAS TINTAS E SUAS VERTENTES
RESUMO: Este trabalho teve como objetivo apresentar a Crispin Lee, uma artista
paraense, ouvidora de vozes e usuária de um Centro de Atenção Psicossocial em
Belém do Pará. A mesma formou-se em 2013 em Artes pela Universidade Federal
do Pará- UFPA, mas desde sua infância tem um contato direto com a arte, suas
principais inspirações são: Van Gogh, Caravaggio, Picasso, Vik Muniz. Dessa forma,
ela utiliza a arte como meio de comunicar-se com o mundo exterior, de modo a
expor as suas vivências do cotidiano e suas significâncias, além de expor o trabalho
realizado pelo projeto “O som das tintas e suas vertentes”, um grupo formado por
alunas de Terapia Ocupacional da UnB e extensionistas do projeto de extensão
FOCO, a coordenadora do mesmo, uma aluna de Psicologia da UFPA e pela própria
Crispin Lee. O projeto “O som das tintas e suas vertentes” é um projeto formado
especificamente para a divulgação da arte de Crispin Lee e sua reabilitação baseada
nas abordagens Recovery e fenomenológica, com a maioria de suas atividades
sendo realizadas pela plataforma Whatsapp, onde Crispin Lee expõe seu cotidiano
e rotina, onde ela expressa também suas dores, angústias e expectativas, exibe
suas expressões artísticas, o significado de que cada obra teve para si e os motivos
que a levaram a criar aquela obra. São usadas também as plataformas Facebook,
Instagram e Canva, para elaboração e exposição de catálogos e edições de fotos de
suas obras. Crispin Lee se mostra muito dedicada à sua expressão artística e aberta
às atividades realizadas com o grupo do projeto, que por seu lado tem dado bons
resultados na divulgação do trabalho artístico de Crispin Lee e se mostra um espaço
seguro onde Crispin Lee pode se expressar e compartilhar sua vida-arte.
Palavras-chave: Arte. Fenomenologia. Expressão.
22
INTRODUÇÃO
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Crispin estava pensando em cometer suicídio quando a voz do pintor
apareceu e começou a ajudá-la. Por ser muito exigente, O Pintor lhe mostrava
onde estavam os erros de luz e sombra, quais cores utilizar, onde melhorar,
quais técnicas usar para obter o resultado desejado, era um perfeccionista.
Alguns dos retratos pintados demoraram meses para ficarem prontos.
Todas as suas obras têm fortes significados, desde os quadros que são
abstratos, cujo os quais ela relata apenas seguir sua forte intuição, sem se
preocupar com os resultados, até os bem definidos, onde ela faz críticas à
sociedade, como por exemplo, em sua obra denominada “Maria da Penha”, ela
tece críticas ao machismo e desenha uma mulher acorrentando um homem,
como forma de subverter a lógica natural da violência contra mulher.
Nesse sentido, Crispin Lee continua pintando, buscando sempre aprender
novas técnicas, uma delas tem sido a aquarela botânica. Seus desenhos
representam paisagens, animais, pessoas que vê no jornal, conhecidos, tudo
que sente vontade de expressar e criar. É uma artista com inúmeras facetas,
produz diversas obras em diferentes estilos, todavia, sua arte ainda é pouco
conhecida e foi a partir dessa necessidade que se deu início ao projeto “O
som das tintas e suas vertentes”, responsável por implementar e colocar em
prática medidas de divulgação de Crispin Lee e sua arte.
METODOLOGIA
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Esse projeto é baseado na abordagem Recovery, um processo de
reabilitação, focado na recuperação da esperança na vida, no retorno da atuação
na sociedade e da autonomia sobre a própria vida e a volta da realização das
ocupações, apesar dos transtornos psicológicos (Duarte, 2007) e abordagem
Fenomenológica, considerando a subjetividade do ser, o significado que se dá
individualmente a cada experiência e o valorizando como ser humano (Silva
et al, 2006).
São realizadas reuniões e entrevistas com a artista pelo aplicativo
whatsapp, onde ela compartilha a sua história, sua arte e suas demandas.
Através da plataforma digital Canva são realizadas as edições das imagens e
há a confecção de catálogos para a venda dos quadros, a divulgação de suas
obras é feita através de duas mídias sociais: Facebook e Instagram.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SILVA, Jovânia Marques de Oliveira e; LOPES, Regina Lúcia Mendonça; DINIZ, Normélia Maria Freire.
DUARTE, Teresa. Recovery da doença mental: uma visão para os sistemas e serviços de saúde mental.
Análise Psicológica, [S.L.], v. 25, n. 1, p. 127-133, 8 dez. 2012. ISPA - Instituto Universitario. http://
dx.doi.org/10.14417/ap.434.
MORO, Larissa Moraes; GUAZINA, Félix Miguel Nascimento. Arte e experiência: relações da arte no
contexto da saúde mental. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, Florianópolis, v. 8, n. 18, p. 25-42,
abr. 2016.
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O PROCESSO DE ESTIGMATIZAÇÃO DE PESSOAS COM TRANSTORNOS
MENTAIS: ESTIGMA SOCIAL, ESTIGMA INTERNALIZADO E IDENTIDADE
Ana Caroline Fonseca Lopes Mariana Zagui Egoshi Hernani Pereira dos Santos
Graduanda em Psicologia Graduanda em Psicologia Doutor em Psicologia
Pontifícia Universidade Católica do Pontifícia Universidade Católica do Professor Assistente
Paraná, Londrina /PR. Paraná, Londrina /PR. UCPR/Londrina.
ana.carolfonseca@hotmail.com. marianazaguiegoshi@gmail.com hernani.santos@pucpr.br
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são comprovadas as consequências negativas do autoestigma em pessoas com
transtorno mental, constatando a necessidade de os profissionais da saúde mental
direcionarem sua atenção para este fenômeno. Validar esta interferência na
experienciação de uma pessoa com transtorno mental possibilitará, futuramente,
sua participação direta na apreensão do diagnóstico assim como na discussão de
alternativas de tratamento e intervenções.
INTRODUÇÃO
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indivíduo que sofre, chamado também de autoestigma. López et al (2008)
associa esse fenômeno principalmente a pessoas com transtornos mentais
graves, quando elas “manifestam atitudes similares da população geral,
assumindo os estereótipos de periculosidade, incapacidade de ‘condução’
e incurabilidade”, com os efeitos adicionados da própria doença” (p.19).
O efeito do recebimento do diagnóstico deve ser considerado (SILVA;
BRANDALISE, 2008), visto pois, ao ser rodeado de referências sociais
negativas, o paciente internaliza esses significados na própria identidade,
acarretando um autoconceito definido por outros, e não por si mesmo
(CONTRERAS PULIDO; MARTIN-PENA; AGUADED, 2015).
Diante do exposto acima, o objetivo da pesquisa foi identificar como
a literatura científica dos últimos 10 anos aborda as questões de estigma e
de autoestigma de pessoas com transtornos mentais. Ela justifica-se pela
necessidade de compreender os impactos do processo de estigmatização
sobre a saúde mental e autonomia dos sujeitos desde o processo da
formação da queixa abrindo possibilidades para perceber e criar novas
formas de lidar com o usuário de serviços de saúde mental.
METODOLOGIA
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Para isso, organizou-se nove combinações entre cinco palavras-chaves
selecionadas: estigma, autoestigma, diagnóstico, transtorno mental, paciente.
Os filtros utilizados na primeira coleta de dados foram: artigos em português,
produzidos nos últimos 10 anos – 2010 a 2020; e, nas plataformas BVS Salud
e SciELO foi possível selecionar o filtro dos mais recentes ao mais antigos,
enquanto que no PePSIC os artigos foram coletados conforme apareciam
sequencialmente na plataforma. Não foram inclusas na seleção monografias,
teses e dissertações.
A partir dos resultados, foi montado uma planilha com nome e link
dos cinquenta (50) primeiros artigos encontrados em cada combinação de
palavras-chaves, selecionados, posteriormente, os 10 mais relevantes. Por
fim, realizou-se uma leitura analítica dos principais artigos selecionados para
discussão dos resultados e produção do relatório final.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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doença mental, II. O uso dos serviços de saúde mental, e III. Identidade e
autoestigma. Percebeu-se o consenso na definição de estigma social e estigma
internalizado. As pesquisas empíricas demonstraram diversas nuances do
processo de estigmatização, que se apresenta, primeiramente, na percepção
do indivíduo acerca de sua saúde mental. O surgimento dos sintomas, a busca
pelo serviço de saúde mental, o ato de comunicar isso para a família e amigos
é marcado pelo medo que circunda os estereótipos acerca dos transtornos
mentais. Quando a pessoa chega, enfim, no serviço de saúde mental passa
por diversas intervenções até que se descubra o diagnóstico que rotulará com
uma identidade estigmatizada. Compreender-se como alguém com transtorno
mental é um caminho marcado por sofrimento devido ao estigma social que,
aos poucos, é introjetado em sua subjetividade, desenvolvendo problemas
de autoestima e autonomia. Estudos sobre o estigma social se mostram
em superior quantidade quando comparados com estudos sobre o estigma
internalizado.
Através dos poucos resultados encontrados, são comprovadas as
consequências negativas do autoestigma em pessoas com transtorno mental,
constatando a necessidade de os profissionais da saúde mental direcionarem
sua atenção para este fenômeno. Validar esta interferência na experienciação
de uma pessoa com transtorno mental possibilitará, futuramente, sua
participação direta na apreensão do diagnóstico assim como na discussão de
alternativas de tratamento e intervenções.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
GOFFMAN, I. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio
científico: uma pesquisa bibliográfica. Rev. katálysis, Florianópolis, v. 10, n. spe, p. 37-45, 2007.
LÓPEZ, M.; LAVIANA, M. FERNÁNDEZ, L.; LÓPEZ, A.; RODRÍGUEZ, A. M.; APARICIO, A. La
lucha contra el estigma y la discriminación en salud mental: una estrategia compleja basada en la
información disponible, Rev. Asoc. Esp. Neuropsiq., v. 28, n. 101, p. 43-83, 2008.
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CONHECIMENTOS ESCOLARES: APORTE-CHAVE PARA O MANEJO DE
TECNOLOGIAS, A (AUTO)EDUCAÇÃO E O (AUTO)CUIDADO EM SAÚDE
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INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
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importância do processo educativo para a sua formação e desenvolvimento.
Para a potencialização das chances de êxito de determinadas iniciativas
de (auto)educação e de (auto)cuidado em saúde, considera-se pertinente
a perspectiva do “letramento” (SOARES, 2010). O letramento extrapola os
limites do domínio da técnica da leitura, da escrita e/ou do cálculo, pois implica
capacidade de apropriação e de aplicação dessa técnica nas demandas sociais
reais cotidianos. Isso se aplica não só à leitura, à escrita ou ao cálculo, mas
também a outros componentes do currículo escolar.
O domínio – da perspectiva do letramento – da leitura, da escrita e do
cálculo, bem como de outros conhecimentos escolares, faz-se necessário
para diversas atividades humanas. Mencionam-se, dentre outras finalidades,
a (auto)educação e o (auto)cuidado em saúde, inclusive para procedimentos
mais elementares, como, por exemplo, a leitura das prescrições médicas, de
comunicados ou instruções das equipes de saúde; aliás, é importante não só
para a comunicação na modalidade escrita, mas também na oral. É importante
também para a correta administração de medicamentos, em conformidade
com as prescrições médicas, inclusive no que se refere a fracionamento e a
horários; para o manuseio ou a interpretação de dados de aparelhos, como,
por exemplo, de aferição de pressão arterial, de glicemia, de temperatura
corporal. Outros procedimentos cotidianos também demandam o uso da
leitura, da escrita ou do cálculo, como, por exemplo, para acompanhamentos,
agendamentos ou comparecimento a eventos relacionados aos tratamentos
de saúde, tais como, consultas, exames, entre outros. Esses são alguns
exemplos de situações em que os conhecimentos escolares são necessários
ou desejáveis (SILVA, 2016).
Fazendo menção ao público idoso, um segmento populacional que
cresce no Brasil, Massi et al (2010, p. 59) apontam que “[...] as condições de
leitura e de escrita, vivenciadas pelos sujeitos, assumem papel decisivo em
seus processos de envelhecimento, sobretudo ao ser considerado o fato de a
sociedade atual pautar-se em atividades que envolvem diferentes níveis de
letramento.”
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Além do domínio da leitura, da escrita e do cálculo, aventa-se que o
domínio de outros conhecimentos escolares é importante para a (auto)
educação e o (auto)cuidado, pois pode contribuir para uma melhor compreensão
de processos ou fenômenos biológicos, químicos, físicos ou sociais, o que, por
sua vez, pode resultar em maiores chances de compreensão das instruções
e de comunicação com as equipes de saúde e, por conseguinte, da execução
dos procedimentos ou da adesão a tratamentos curativos ou preventivos,
inclusive iniciativas de educação em saúde (SILVA, 2016). Conforme Massi et
al (2010, p. 62), o
Letramento é o exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita,
ou seja, é o estado que assume aquele que sabe ler e escrever para cumprir
objetivos diversos: informar e informar-se, interagir com o outro, fazer uma
declaração, entender uma receita médica, contar uma história, ampliar
conhecimentos, divertir, fazer valer os seus direitos, reconhecer os seus
deveres, entre outros.
Nesse sentido, desenvolver ações teórico-práticas de (auto)educação,
visando promover o (auto)cuidado em saúde, configura-se como uma medida
estratégica, sendo, em determinados casos, os conhecimentos escolares um
possível fator de potencialização do êxito dessas iniciativas (SILVA, 2016).
Gatti, Barreto e André (2011, p. 139) destacam a “[...] importância da educação
para todos os aspectos da vida social: saúde, trabalho, exercício da cidadania,
cuidados financeiros, planejamento de vida, enfim, sustentabilidade de uma
existência digna em uma nação respeitável.”
Partindo de apontamentos de Gatti, Barreto e André (2011) e de
Saviani (2008), reitera-se a relevância da apropriação dos conhecimentos
escolares pelas populações, tanto para fins mais imediatos e pragmáticos do
cotidiano, quanto para fins mais mediatos, especialmente para o processo de
humanização.
39
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018.
BRASIL. Política Nacional de Promoção da Saúde. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
GATTI, B. A.; BARRETTO, E. S. S.; ANDRÉ, M. E. D. A. Políticas docentes no Brasil: um estado da arte.
MELO, M. C. et al. A educação em saúde como agente promotor de qualidade de vida para o idoso.
Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, supl. 1, p. 1579-1586, 2009. Disponível em: <http://www.
mar. 2016.
SILVA, C. R. Saúde, trabalho e educação em documentos oficiais do governo federal brasileiro sobre a
questão da pessoa idosa. 2016. 23 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação Lato Sensu) –
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
40
ATELIÊ DE DESENHO DE LIVRE-EXPRESSÃO COM O
USO DE TIC’S: POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES
Andrés Eduardo Aguirre Antúnez
Erika Rodrigues Colombo Professor Associado (livre docente) do Departamento
Doutoranda do Departamento de Psicologia de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da
Clínica IP/USP Universidade de São Paulo (IPUSP) e do Instituto de
Psicóloga colaboradora do Escritório de Saúde Mental da Psiquiatria da FMUSP.
Pró-Reitoria de Graduação da USP Coordenador do Escritório de Saúde Mental da Pró-
Reitoria de Graduação da USP.
41
O Ateliê possibilita vivenciar o afeto na relação com o outro, como potencial de nossas
próprias possibilidades – ao invés de o vivenciarmos apenas como experiência de
violência, angústia e desespero – mobilizando a relação dialética afetiva, pela qual se
pode passar do sofrimento insuportável à fruição originária. A pesquisa é financiada
pela FAPESP (Processo nº 2019/02999-1) e se insere em projetos integrados FAPESP
(Processo nº 2018/19.520-8) e CNPq (Processo nº 302417/2018-4).
INTRODUÇÃO
42
Michel Henry (2018), visando uma compreensão peculiar acerca do sofrimento
de jovens estudantes universitários no contexto do suicídio. As ideias de Henry
estão em consonância com a busca pelo reestabelecimento de experiências
mais originárias do humano, que possam auxiliar na superação de mal-estares
contemporâneos (ANTÚNEZ; SAFRA, 2018), tais como o suicídio.
METODOLOGIA
43
Tal instrumento se mostrou fundamental para a boa adaptação da
técnica do Ateliê ao ambiente virtual, pois o momento de conversa sobre as
produções é parte essencial de nosso trabalho. Segundo Ternoy (1997), a
sessão seria incompleta sem o tempo de discussão e verbalização. Pois esse é
o momento em que cada participante pode encontrar uma oportunidade de se
reconectar com a expressão de suas dificuldades, preocupações e ansiedades
que, em outros lugares, se sentiria incapaz de abordar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
44
Há um fundo comum entre paciente e terapeuta que é o sentimento
do poder da transitividade na vida do sofrer em fruir – sentimento esse
que é o de estar na própria vida toda possibilidade de transformação. A
relação terapêutica abre a possibilidade para que, em comunidade, se
possa encontrar mobilização para os afetos doloridos (MARTINS, 2017).
O sofrimento, a partir da fenomenologia da vida, traz em si a
possibilidade de sua modalização em júbilo, em fruição. Todo ser humano
frui em si sua própria Vida, nela sofre e procura auxílio (HENRY, 2018).
Assim, é na relação, na dialética afetiva que se pode modalizar o desespero
em fruição originária.
A partir da noção de sofrer e fruir originários, a modalização do
sofrimento, que ocorre a cada encontro do Ateliê, se estabelece como um
fazer clínico alinhado ao registro ontológico da vida em sua autoafecção.
O Ateliê possibilita vivenciar o afeto do outro como potencial de nossas
próprias possibilidades – ao invés de o vivenciarmos como experiência de
angústia e desespero – mobilizando a relação dialética afetiva, pela qual se
pode passar do sofrimento à fruição originária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
45
REFERÊNCIAS
ANTÚNEZ, A. E. A.; SAFRA, G. A psicologia clínica e a fenomenologia da vida de Michel Henry. In:
fenômeno-estrutural: Evolução do conceito, seu lugar e suas implicações nas práticas clínicas
CRUZ, A. (2018, 08 fev.). Reitor e vice-reitor apresentam novos projetos para a Universidade. Jornal
HENRY, M. Arte e fenomenologia da vida. (Colombo, E. R., Trad., & Antúnez, A. E. A., Rev.). In:
Antúnez, A. E. A. (Org.). Cadernos I Círculo fenomenológico da vida e da clínica. São Paulo: Biblioteca
MARTINS, F. Estátuas de Anjos: para uma fenomenologia da vida e da clínica. Lisboa: Edições Colibri,
2017.
TERNOY, M. Rorschach, rêve éveillé dirigéet expression grapho-picturale dans l’étude phénoméno-
structurale des hallucinations. 1997. 1005 f. Tese (Doutorado), Université de Lille III, Lille. 1997.
VIEIRA, B. (2018, 1° ago.). USP tem 4 suicídios em 2 meses e cria escritório de saúde mental para
2021.
46
CLÍNICA AMPLIADA E COMPARTILHADA ENTRE A SAÚDE MENTAL & A SAÚDE
COLETIVA: DESAFIOS DAS INTERAÇÕES VIRTUAIS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E O
CONTROLE SOCIAL NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE/SUS
47
usuários dos serviços. Outro desafio importante é mediar as questões bioéticas e do
biodireito que atravessam os ambientes virtuais e o Conselho Federal de Psicologia.
Ampliar o acesso à rede supracitada via interações virtuais contribui tanto para o
fortalecimento da participação popular e do controle social no/do SUS quanto na
educação para a promoção da saúde em contextos comunitários. Considerações
finais: Em defesa da vida, a concomitância da produção de cuidados com defesa de
direitos que atravessa as práticas de nossa rede está na “ordem do dia”.
Palavras-chave: Promoção da Saúde. Saúde Mental/RAPS-SUS. Saúde Coletiva/
RENAST-SUS.
INTRODUÇÃO
Partimos de nossa avaliação formativa sustentada em pesquisa-
intervenção (Merhy-Silva, 2012) através da qual trazemos “Contribuições
para a construção de uma Clínica Ampliada e do Apoio Matricial na expansão
da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador no Sistema
Único de Saúde/RENAST-SUS (2001-2011)” e que corresponde ao doutorado
desenvolvido no projeto Transversões – “Saúde Mental, Desinstitucionalização
e Abordagens Psicossociais”– na Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ.
O objetivo desta comunicação é compartilhar experiências
transdisciplinares a respeito do cuidado em saúde mental, apontando alguns
desafios das interações virtuais para o fortalecimento da promoção da saúde
e do controle social no SUS.
48
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
49
processo(s) saúde-doença mental (Merhy-Silva, 2012; 2020e). Aliás, esta
foi uma contribuição central de nossa tese-intervenção (2001-2011) e
que além de desenvolver integração ensino-serviços de forma inédita –
aliando teorias, técnicas e práticas afins às políticas públicas e sociais
no cotidiano do ensino-serviço(s) –, foi o fio da meada para a construção
e expansão de nossa rede (citada adiante/item 3) e o meio através do
qual fomentamos concomitantemente clínica ampliada, apoio matricial e
institucional entre redes, serviços e sistemas em outras regiões do país,
produzindo integralidade (Pinheiro et al., 2014; Merhy-Silva, 2020a) na
atenção-cuidado e cogestão de políticas públicas e sociais.
3) A construção-desenvolvimento de nossa “Rede de Suporte Mútuo
aos Trabalhadore(a)s-Usuários e Trabalhadore(a)s da Rede Nacional de
Atenção Integral à Saúde do Trabalhador/RENAST-SUS,da Rede de Atenção
Psicossocial/RAPS-SUS e do Sistema Único de Assistência Social/SUAS”
(Merhy-Silva, 2012; 2018 e 2020).
E se dentre os desafios da expansão da referida rede está a falta de
financiamento (Merhy-Silva; Vasconcelos & Campos, 2019/2020; Merhy-
Silva, 2020a), diante da pandemia de COVID-19, transformar tal rede
(também) em versão virtual é vital para a continuidade da produção do
cuidado à saúde mental de trabalhadore(a)s e usuários dos serviços.
Outro desafio importante é mediar as questões bioéticas (Mori, 1994;
UNESCO, 2005; Schramm; Rego; Braz & Palácios, 2005; Rego, 2007;
Lins; Vasconcellos & Palácios, 2015; Potter, 2016; Palácios, 2019; Rego &
Palácios, 2019) e do biodireito (Musse, 2008) que atravessam os ambientes
virtuais e o Conselho Federal de Psicologia.
Portanto, ampliar o acesso à rede supracitada via interações virtuais
contribui tanto para o fortalecimento da participação popular e do controle
social (Ceccim & Feuerwerker, 2004) no/do SUS (Merhy-Silva, 2020c)
quanto na educação para a promoção da saúde (Czeresnia, 1999/2003;
Buss, 2003; Ayres, 2004; Pelegrini-Filho; Buss & Esperidião, 2014) em
contextos comunitários (Merhy-Silva, 2020d).
50
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em “defesa da vida” (Campos, 2006), a concomitância da produção de
cuidados com defesa de direitos que atravessa as práticas de nossa rede está
na “ordem do dia”.
REFERÊNCIAS
MERHY-SILVA, F.N. Contribuições para a construção de uma Clínica Ampliada e do Apoio Matricial na
expansão da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador no Sistema Único de Saúde/
MERHY-SILVA, Fabiana Nunes. Contribuições para a construção de uma Clínica Ampliada e do Apoio
Matricial na expansão da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador no Sistema Único
de Saúde (RENAST-SUS) (2001-2011). Cadernos Saúde Coletiva (UFRJ), Rio de Janeiro, v. 21, p. 346-
347, 2013.
ações entre Direitos Humanos e Políticas Públicas. In MERHY-SILVA, Fabiana Nunes (Org.) Direitos
Humanos, Políticas Públicas & Empoderamento. 1. ed. São João del Rei,MG: Editora da Universidade
de Atenção à Saúde/da Assistência em Saúde. In ASENSI, Felipe Dutra; ALMEIDA, Marcelo Pereira de;
REIS, Vanessa Velasco; AIETA, Vania Siciliano (Orgs.) Políticas Públicas e suas especificidades. v. 1. 1.
ed. Rio de Janeiro: FGB / Pembroke Collins, 2020a. Cap. 27, p. 433-453. Disponível em: https://www.
caedjus.com/livros/
51
MERHY-SILVA, Fabiana N. Desafios do Apoio Matricial e Institucional entre Redes & Políticas
Públicas. In GOMES, Daniel Machado; SALLES, Denise Mercedes Lopes; RABELLO, Elaine Teixeira;
CAVALCANTI, Márcia Teixeira (Orgs.) Teoria e empiria das Políticas Públicas. v. 1. 1. ed. Rio de Janeiro:
Isabelle Dias Carneiro; RIBEIRO, Mayra Thais Andrade; JUNQUEIRA, Michelle Asato (Orgs.).
Dimensões dos Direitos Humanos e Fundamentais. v. 2. 1. ed. Rio de Janeiro: Pembroke Collins,
de conhecimentos para a promoção da saúde [?]. In: CARVALHO, Cândida; SANTOS, Isabelle Dias
Carneiro; RIBEIRO, Mayra Thais Andrade; JUNQUEIRA, Michelle Asato (Orgs.) Dimensões dos Direitos
Humanos e Fundamentais. v. 3. 1. ed. Rio de Janeiro: Pembroke Collins, 2020d. Cap. 16, p. 265-292.
Multidisciplinaridade. v. 2. 1. ed. Rio de Janeiro: Pembroke Collins, 2020e. Cap. 17, p. 294-316.
1. ed. Rio de Janeiro: Pembroke Collins, 2020f. Cap. 18, p. 317-340. Disponível em: https://www.
caedjus.com/livros/
Sousa. Apoio Matricial e Institucional entre redes e políticas públicas: desafios ao SUS e ao SUAS. In
OLIVEIRA, Thaislayne Nunes de (Org.) Política Social e Gestão de Serviços Sociais 2. 1. ed. Ponta
52
AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM/AVA:
CONSTRUÇÃO COMPARTILHADA DE CONHECIMENTOS PARA A FORMAÇÃO
INTERPROFISSIONAL E A PROMOÇÃO DA SAÚDE
53
INTRODUÇÃO
54
“exercíciofício” (Merhy-Silva, 2012 e 2018) da EIP, esta pesquisa-intervenção
(Merhy-Silva, 2020a) se justifica.
Os objetivos desta comunicação são:
1) Compartilhar-relatar experiências inter(trans)disciplinares
(Vasconcelos, 2002; Luz, 2009; Merhy-Silva, 2012 e 2020) no AVA-GPA-
IFBA-VCA;
2) analisar as interações virtuais sob o ponto de vista de professoras-
pesquisadoras-colaboradoras do GPA.
¹ O GPA constitui-se como uma Linha de Pesquisa do Núcleo de Pesquisa em Manejo do Solo e Produção
Vegetal/NUPEMAS-IFB-VCA, o qual é liderado pela Dra. Joseane Oliveira da Silva e pelo Dr. Felizardo
Adenilson Rocha. O GPA-IFB-VCA visa “capacitar os discentes a partir de estratégias de produção
acadêmica, técnicas de redação científica e suporte técnico/ científico em projetos de ensino, pesquisa
e extensão” (CNPQ, 2020).
METODOLOGIA
55
RESULTADOS E DISCUSSÃO
²Competências colaborativas “são aquelas que melhoram as relações entre as diferentes categorias
profissionais na dinâmica do trabalho em saúde”(Barr,1998). Sobre o que seria essa colaboração, outros
autores assim a definem: colaboração é quando dois ou mais profissionais atuam de forma interativa,
a partir das necessidades de saúde dos usuários, e compartilham objetivos [no e para a melhoria do
processo de trabalho em saúde] que de fato atendam as necessidades dos usuários (WHO, 2009;
Reeves et al.,2010; Merhy-Silva, 2020a).
56
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa; CASTRO, Cristiane Pereira de; FERNANDES, Juliana Azevedo;
ANÉAS, Tatiana de Vasconcellos (Orgs.). Investigação sobre Cogestão, Apoio Institucional e Apoio
LOURAU, René. Objeto e Método da Análise Institucional. In El análisis institucional. Madri: Campo
Aberto, 1977. In ALTOÉ, Sônia. (org.). René Lourau: Analista Institucional em Tempo Integral. São
MERHY-SILVA, F.N. Contribuições para a construção de uma Clínica Ampliada e do Apoio Matricial na
expansão da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador no Sistema Único de Saúde/
1. ed. Rio de Janeiro: Pembroke Collins, 2020a. Cap. 18, p. 317-340. Disponível em: https://www.
caedjus.com/livros/
57
REFERÊNCIAS
MERHY-SILVA, Fabiana N. Educação Popular e(m) Saúde & Empoderamento em Saúde Mental
Gomes; FRANCESCHINI, Bruna; ARAÚJO, Danielle Ferreira Medeiro da Silva de; GIMENES, Flávia;
BALESTERO, Gabriela Soares (Orgs.) Educação e Direitos Humanos. v. 1. 1. ed. Rio de Janeiro: FGB/
de conhecimentos para a promoção da saúde [?]. In CARVALHO, Cândida; SANTOS, Isabelle Dias
Carneiro; RIBEIRO, Mayra Thais Andrade; JUNQUEIRA, Michelle Asato (Orgs.) Dimensões dos Direitos
Humanos e Fundamentais. v. 3. 1. ed. Rio de Janeiro: Pembroke Collins, 2020c. Cap. 16, p. 265-292.
visões e perspectivas. v. 3. 1. ed. Rio de Janeiro: Pembroke Collins, 2021. Cap. 33, p. 536-568.
58
FOCANDO NO QUE É SAÚDE MENTAL
Maria de Nazareth R. Malcher de O. Silva
Ana Caroline Fonseca Lopes
Doutora em psicologia clínica e cultura
Graduanda do Curso de Terapia José Alves
(Universidade de Brasília/UnB),
Ocupacional Usuário do serviço de saúde mental
Professora Adjunta FCE/UnB.
FCE/UnB
malchersilva@unb.br
59
INTRODUÇÃO
60
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
61
no sistema como se compreende e aborda a “saúde mental” serve como
um identificar pessoal e gerador de bem-estar pelo próprio engajamento
na busca. A importância do CAPS também se mostrou forte no conteúdo
de fala dos usuários, demonstrando seu impacto positivo na saúde mental.
Como resultado, obteve-se um vídeo de um minuto e um segundo
apresentando o que usuários da rede de serviços de saúde mental do
Distrito Federal fazem pela saúde mental, demonstrando a compreensão
pessoal e as possibilidades que encontraram mediante a organização atual
do sistema. O protagonismo da luta, o “dar a voz” aos usuários dos serviços
de saúde mental é de extrema importância para melhor adequação do
sistema às necessidades populacionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
62
REFERÊNCIAS
ESPIRITO SANTO, W.; ARAUJO, I. S.; AMARANTE, P.. Comunicação e saúde mental: análise discursiva
php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702016000200453&lang=pt>.
php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232007000200016&lng=en&nrm=iso>.
PRANDONI, R. F. S.; PADILHA, M. I. C. S.. Loucura e complexidade na clínica do cotidiano. Esc Anna
RAMOS DA SILVA, S. R.; CARVALHO, D. A. M.; LIMA, M. L. P.; CUNHA DA SILVA, L.; FILHO, J. M. S.
view/48835>.
SILVA, A. R. O. et al. Enredando lutas cotidianas: dispositivos de saúde pela cidade. Fractal, Rev.
php?script=sci_arttext&pid=S1984-02922009000300006&lang=pt>.
63
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E OS RISCOS
DE PERDA DO CONTROLE HUMANO
Ronaldo dos Santos Lopes (Kadu)
Especialista em comunicação. Membro do Grupo de Pesquisa Tecnociência e Pós Modernidade
Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Professor de oratória tradicional e jurídica, practitioner em PNL
locutor publicitário, radialista, ator, escritor e músico.
contato@kadusantos.com.br
Hölderlin, quando diz: “onde mora o perigo é lá que também cresce o que salva”.
64
a técnica primitiva, e empreende uma investigação sobre a essência da técnica,
mostrando o perigo que põe em voga o total encobrimento do ser.
Aqui começa a investigação acerca do tema proposto, e nesse aspecto
consideramos o pensamento do Martin Heidegger (2001, p.12) quando diz: “A
concepção corrente da técnica, de ser ela um meio e uma atividade humana, pode se
chamar, portanto, a determinação instrumental e antropológica da técnica.” Nesse
aspecto Heidegger parece fazer o que a maioria dos pensadores da tradição filosófica
fizeram: determinar a técnica a partir da sua função enquanto técnica, manuseio.
A técnica é um modo de manuseio do homem de trazer à existência o que
antes estava no horizonte das representações mentais, forma (eidos). A forma de
cada coisa para vir a ser. Portanto, é por meio das habilidades técnicas que as
coisas surgem no horizonte da vida. É por isso que diz Heidegger (2001, p.12) “(…)
a concepção instrumental da técnica guia todo o esforço para colocar o homem num
relacionamento direto com a técnica.”
No entanto, ao se tratar da pós-modernidade temos por assim dizer o que o
próprio autor denominou de perigo! “Pretende-se dominar a técnica. Este querer
dominar torna-se tanto mais urgente quanto mais a técnica ameaça escapar ao
controle do homem.” (Heidegger, 2001, p.12)
Se o homem é o criador, dono das representações mentais, e a partir da sua
manualidade dispõe no mundo sensível a sua criação, por que ter medo de perder o
controle?
No início do segundo semestre de 2017 veio à tona uma notícia que chocou
boa parte dos pesquisadores em Inteligência Artificial. A notícia trazida pelo Digital
Jornal no dia 21/0717 revelava que os pesquisadores da FAIR (Inteligência Artificial
do Facebook) uma equipe composta por cientistas e professores da Universidade
Geórgia Tech, estava trabalhando no projeto para criar dois robôs com capacidade
para interagir com os humanos de forma inteligível. A intenção era que os boots Alice
e Bob, desenvolvessem habilidades para negociar um com o outro e posteriormente
com os humanos.
No entanto, os pesquisadores perceberam que os robôs começaram a usar
uma linguagem que apesar de ser realizada em inglês, tinha uma lógica diferente
dos algoritmos pré-programados na inteligência artificial. As construções de frases,
65
apesar de terem sido feitas em inglês, tinham uma lógica completamente diferente e
ininteligível. E mesmo se utilizando de uma modelo de organização de uma linguagem
diferente, Alice e Bob conseguiram otimizar as negociações entre si.
Segundo a reportagem do G1 publicada no dia 02/08/17 o professor Dhruv
Batra da Georgia Tech (um dos pesquisadores da FAIR) explicou em seu facebook
que a autonomia da inteligência artificial para criar a sua própria linguagem não é
algo novo. Segundo o G1 Batra diz: “Enquanto a ideia de agentes de inteligência
artificial terem sua própria língua pode soar alarmante ou inesperada para pessoas
de fora do campo, isso é bem estabelecido como um subcampo dentro da inteligência
artificial, com publicações sobre isso feitas ao longo de décadas.”
O que de fato poderia se des-encobrir nesse espaço entre o controle do humano
e a autonomia das inteligências? Será que muito mais do que perder o controle sobre
a sua criação, o criador já não perdeu o controle de si?
Em ensaio intitulado A era da Técnica, Galimberti (2013, p.5) traz à baila a
tragédia de Ésquilo, famosa tragédia Grega intitulada Prometeu Acorrentado. Na
tragédia prometeu comete um erro que para os deuses foi considerado gravíssimo.
Prometeu (pro-metis que significa aquele que pré-ver, faz pré-visão) entregou
aos homens o conhecimento do fogo, de modo que a partir daí o homem poderia
desenvolver aptidões por meio de outras habilidades entregue por Prometeu como:
pré-cognição, ou seja as habilidade de prever perigo, necessidades e para tal
desenvolver os aparatos técnicos para sobreviver.
Provavelmente o fogo represente a linguagem para as inteligências artificiais.
Na experiência realizada pelos pesquisadores da FAIR (Inteligência Artificial do
Facebook) os robôs a partir de uma rede neural pré-programada desenvolveram um
tipo de jogo de linguagem próprio. Aqui se respondem as duas primeiras perguntas,
quais sejam: O que de fato poderia se des-encobrir nesse espaço entre o controle
do humano e a autonomia das inteligências? Será que muito mais do que perder o
controle sobre a sua criação, o criador já não perdeu o controle de si?
Por esse motivo urge uma aproximação do homem comum com todos os
eventos ligados a pós-modernidade que necessariamente tocam no aspecto do
desenvolvimento tecnológico. Essa é a visão de Gilbert Hottois (2000, p. 6) quando
afirma que:
66
Il faut que le développement technoscientifique soit réapproprié par la société tout
entière et que les choix qui l’orientent soient faits par tous les intéressés également
informés. Les choix doivent être faits à la lumière de la raison pratique qui s’exprime
au fil de la discussion argumentée, universelle et libre. Il s’agit d’un idéal irréalisable
hic et nunc, mais qui doit inspirer déjà et toujours nos discours et nos prises de
position. Il n’y a donc aucune nécessité, fatalité ou automaticité du développement
technoscientifique, seulement des décisions collectives, plus ou moins conscientes,
rationnelles et sans contraintes. La philosophie sociale et politique inspirée par
Apel-Habermas postule que ces décisions peuvent et doivent devenir de plus en
plus rationnelles, c’est-à-dire universelles et respectueuses des intérêts de tous les
humains.
Apesar de uma certa ingenuidade o pensamento de Hottois tem como a melhor
das intenções colocar o homem no centro desse novo mundo. Não apenas como
plateia passiva, mais também como articulador e apontador dos perigos imanentes
que emergem com o avanço das superinteligências. A ingenuidade do pensamento
de Hottois está naquilo que fora antes anunciado por Adorno e Horkheimer (apud
Marçal, 2019, p 106): “A lógica formal foi a grande escola da uniformização. Ela
ofereceu aos iluministas o esquema da calculabilidade do mundo. Essa era a ideia do
iluminismo, um pensamento que, se utilizando de instrumentos racionais, pudesse
com a melhor das intenções, proporcionar uma vida melhor para a humanidade.
A pergunta que deve ser feita é qual o custo dessa vida melhor. A resposta mais
pertinente é dada pelo professor J.C. Marçal quando diz que:
A lógica se insere nesse jogo porque ela mesma é racional. A lógica enquanto
produção no modo da técnica. Mas essa mesma lógica que mecaniza o sistema
se transforma em mito. Entretanto aqui o mito objetifica a natureza e aliena o ser
humano sobre o que ele acredita que tem poder uma vez que esse domínio obriga-o
a se conformar com o real na medida em que este é construído por esse mesmo
sistema.
Nada pode ser mais parecido com o pensamento de Hottois, na medida em
que a Ge-stell se dá também como apelo a participação de cada pessoa para que
se aproprie das informações e inovações na pós-modernidade. Essa informação já
chega como entretenimento. Aqui se revela toda uma indústria que se apropriando
67
de uma linguagem escatológica nos apresenta as inovações que darão início a uma
nova era de possibilidade de uma vida melhor para a humanidade.
Existe uma razão instrumentalizadora para tal. “O jogo desse sistema cria as
regras para o parque humano que articula os modos de viver em estruturas pré-
estabelecidas pelas mesmas regras do jogo.” (Marçal, 2019, pg. 106).
Dentro da armação o sujeito acredita ter ciência, acredita estar informado,
acredita estar fazendo parte de uma verdadeira revolução e ainda acredita ser parte
de um projeto de um bem maior. Nessa condição, sua atenção se volta para a razão,
para a lógica de todas as coisas, a saber: a tecnociência e o seus avanços, menos
para o perigo. Essa entrega à revelia dos possíveis riscos pode ser enxergada como
um desejo de autoafirmação. A vontade de poder. Forças que lutam entre si a fim de
se sobrepor umas as outras pensando numa perspectiva nietzscheana.
Vale o olhar romantizado da vontade de poder de Nietzsche, compartilhado
por Luc Ferry, que diz que a vontade de poder “É a vontade que quer intensidade,
que quer evitar a qualquer custo os dilaceramentos internos[...]” (FERRY, 2006, p.
221) nesse aspecto a vontade deve ser realizada a “qualquer custo” independente
de qual custo seja. Mesmo que o preço seja a vida humana. Será que a vontade de
potência já nos revela o perigo que habita a essência do homem?
A necessidade de ter atributos que são exclusivos das divindades marca a atual
época que vivemos. Evitar a velhice, superar a morte, dizimar a dor e o sofrimento, e
controlar absolutamente tudo. O que fez o homem desde o descobrimento da técnica
primitiva foi aprimorá-la. Segundo Yuval Noah Harari “No futuro, pode tratar-se mais
de aprimorar o corpo e a mente humanos ou de nos fundirmos diretamente com
nossas ferramentas.” (HARARI, 2015, p. 51).
A técnica será cada vez mais aperfeiçoada, e eclodirá numa existência que
provavelmente ainda não chegue a nossa imaginação. Decerto o caminho que estamos
trilhando precisa de reflexão. Os laboratórios precisam ser visitados. Para Yuval
Noah Harari (2015, p.55) assim que a tecnologia adentrar nos ínfimos meandros da
reengenharia da mente humana será o fim do Homo Sapiens.
68
Martin Heidegger (2008 p. 128) dá sinais de que o perigo da técnica já não é
mais a sua principal questão, quando se trata de discutir quem é o senhor da técnica
ou se a técnica tornou o homem escravo. Para o autor da floresta negra essa questão
se tornou superficial “[...] porque ninguém se lembra de perguntar acerca de que tipo
de homem é unicamente capaz de produzir a “dominação” da tecnologia”.
É possível que o temor que atravessa a essência do homem em relação à
técnica não se apresente em sua totalidade, uma vez que o próprio criador está
imerso nas suas ocupações (Besorgen). Na era da inovação, existe uma maratona
que é absurdamente financiada por grandes empresas que desejam, ano após ano,
chegarem ao pódio no quesito “empresa inovadora”. É também possível que o fogo
enquanto figura de linguagem, da linguagem aprendida autonomamente pelas
superinteligências, se dê como desvelamento da ambição do homem que ao esquecer
do seu ser, ou poeticamente da sua humanidade, se entregue a Ge-stell.
No limite, o que lhe vem como apelo de sentido em sua armação é sobretudo o
apelo a considerar o avanço tecnológico como uma necessidade de se reinventar na
velocidade que lhe evite o risco de cair na obsolescência. Assim, na pós-modernidade,
o homem negligencia o perigo e se entrega a criar sem prever.
A previsibilidade em relação aos avanços das pesquisas em inteligência artificial
é imperativa. Não se pretende com isso coibir as pesquisas em níveis avançados. O
que se busca é a previsão, também em níveis avançados, de modo que aquele que
está na Ge-stell, num dado momento se veja como parte de uma engrenagem que
em sua essência encobre o perigo.
O poeta grego Píndaro mostra claramente que é no perigo que o homem
atemorizado se reconcilia com a sua essência, de modo a alegrar-se pensando
sobre o possível mal maior que pode evitar ao prever o perigo, antes presente pelo
fato de negligenciar o apelo da sua essência. “Mas o temor dispõe o homem para o
desabrochar da essência e a alegria o dispõe para o pensar prévio [...]” (Heidegger,
2008, p.111)
Nesse aspecto o temor deve ser desvelado no ser do homem pós-moderno,
que “nos predispõe a pensar, antecipadamente, o que dispõe à essência do homem
em relação aos entes como um todo” (Heidegger, 2008, p.112).
Por fim Martin Heidegger (2008 pg. 182) acena para a salvação da essência do
69
homem ao dizer “A essência do homem, não apenas do ser humano individual em
seu destino, só será salva se o homem, e na medida em que o homem escutar, como
ente que é, a saga do encobrimento. Pois somente assim é que poderá seguir aquilo
que o descobrimento do desencoberto o próprio desencobrimento em si exige e
requer de sua essência.”
Diante do caminho que trilhamos até aqui podemos formular algumas questões,
quais sejam: será que o perigo mora na essência da técnica? Já entendemos que
não! Poderá o perigo residir na autonomia das superinteligências? Parece-nos que
sim, no entanto, essa resposta carece de mais investigações. Será que o perigo fez
morada na essência do homem? Aqui nos avizinhamos de uma possível resposta.
A resposta mais indicada seria na sempre e constante falta de previsibilidade
do homem diante da nuvem que lhe encobre os olhos diante do seu próprio ser.
REFERÊNCIAS
GALIMBERTI, Umberto. O ser Humano na Era da Técnica. Unissinos. Cadernos IHUideias. Ano 13,
HARARI, Noah, Yuval. Homo Deus: Uma breve história do amanhã. Companhia das letras: São Paulo,
2015.
J.C. MARÇAL. Pós Modernidade e Tecnociência. In Filosofia do Virtual: reflexões filosóficas acerca da
2017/570186-facebook-desativa-inteligencia-artificial-que-criou-linguagem-propria# (Pesquisa
70
AS OFICINAS TERAPÊUTICAS NOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL:
CONTEXTOS SOBRE A INSERÇÃO NO MUNDO DA VIDA DOS USUÁRIOS
71
INTRODUÇÃO
72
social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis
e fortalecimento dos laços familiares e comunitários” (p.13). Neste sentido,
destaca-se neste lugar as oficinas terapêuticas como meio de desenvolver
estes aspectos. (BRASIL, 2004).
As oficinas utilizam diferentes formas de atividades, ou seja, “de um
fazer algo” (GALLETTI, 2004, p. 36) que, primeiramente, gere a produção
de sentidos e também proporcionem diversas experimentações sociais
que singularizem as existências e façam surgir processos criativos que se
expressem na reinvenção do ser e estar-no-mundo e do cotidiano.
Este cotidiano, ou seja, o que fazemos, onde agimos, é nomeado por
Dartigues (1992) como mundo da vida, associando como a experiência da
percepção sensível e do mundo no qual se vive e dos objetos que ele contém,
que fundamenta em conceitos e juízos.
O termo mundo da vida, original em alemão Lebenswelt, foi apresentado
por Husserl na busca de discernir a condição do homem como processo histórico
e suas intersubjetividades nas coisas mesmas (GUIMARÃES, 2012). Ou seja,
o mundo da vida de cada homem considera, para a ampla compreensão deste,
sua história e inter-relações com pessoas e coisas a sua volta.
Este estudo teórico faz parte de uma das etapas do projeto de pesquisa
de mestrado da primeira autora, e supervisionado pela segunda autora,
intitulado “As oficinas terapêuticas e sua expressão no mundo da vida de
pessoas em sofrimento psíquico” realizado no Programa de Pós-Graduação
em Psicologia na Universidade Federal do Pará.
As oficinas terapêuticas no modelo psicossocial vigente de assistência à
saúde mental ocupam um lugar de destaque por oportunizarem o olhar integral
e inclusivo que o paradigma pressupõe. No estudo de Cedraz e Dimenstein
(2005) este dispositivo em questão a ausência dele nos estabelecimentos
chega a ser considerada pelo usuário do serviço ausência da própria assistência
em si.
73
No cenário das oficinas terapêuticas nos CAPS e sua importância para
a política de saúde mental encontra-se o objeto deste estudo que é conhecer
a literatura sobre oficinas terapêuticas e caracterizar sobre sua representação
no cotidiano das pessoas, refletindo sobre contexto no mundo da vida das
pessoas que participam desta estratégia.
METODOLOGIA
74
RESULTADOS E DISCUSSÃO
75
CONSIDERAÇÕES FINAIS
76
REFERÊNCIAS
Estratégicas. Saúde Mental no SUS: os centros de atenção psicossocial (2004). Disponível em: <http://
BRASIL. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 200. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, 9 de
abr.de 2001
p.330-327, set.2005.
DARTIGUES, André. O que é fenomenologia? . 2ed. São Paulo: Moraes Ltda, 1992.
GALLETTI, Maria Cecília. Oficina em saúde mental: instrumento terapêutico ou intercessor clínico?
LIMA, Elizabeth Araújo. Oficinas, laboratórios, ateliês, grupos de atividades: dispositivos para uma
clínica atravessada pela criação. In: COSTA, Clarice Moura e FIGUEIREDO, Ana Cristina. Oficinas
terapêuticas em saúde mental - sujeito, produção e cidadania. Coleções IPUB. Rio de Janeiro, Contra
PINTO, Vanessa Andrade Martins. Oficinas terapêuticas na saúde mental: um olhar na perspectiva dos
usuários do CAPS. Rio de Janeiro: UFRJ/EEAN, 2011. Disponível em: < http://objdig.ufrj.br/51/dissert/
77
A CLÍNICA AMPLIADA CONTRIBUINDO COM INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS
NO AMBIENTE LABORAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA
RESUMO: A vida contemporânea trouxe um estado de crise para saúde mental mundial, o processo de
sofrimento na saúde mental. Em 1978, com a conferência realizada em Alma-Atá, a saúde foi reconhecida
como um direito, e a promoção dela, associada à autonomia e emancipação dos sujeitos. A necessidade
de promover a saúde mental, se vincula ao direito da autonomia dos indivíduos na construção da saúde,
que está ligada a qualidade de vida, ao estilo de vida saudáveis que adotamos, e ao contexto que estamos
inseridos. Esse relato de experiência traz uma intervenção psicológica realizada em um ambiente laboral,
focado na clínica ampliada, a qual tem como eixo, a promoção, prevenção, recuperação e reabilitação em
eram quatro, do sexo feminino, trabalhavam na biblioteca de uma faculdade na cidade de João Pessoa, e
estavam passando por um processo de desmotivação, que influenciava diretamente no cotidiano do trabalho
delas. Diante dessa descrição, elaboramos uma intervenção que as orientassem, a perceberem a importância
subjetiva de cada uma no ambiente de trabalho, e que reconhecessem que a motivação é um impulso interno
que leva a ação, envolvendo assim uma força autônoma do indivíduo, recuperando, fortalecendo e promovendo
a saúde mental. Utilizamos técnicas de dinâmicas de grupos, baseadas nos estudos de Kurt Lewin, e estudos
sobre a saúde mental no trabalho, de Paul Sivadon. Após a intervenção tivemos relatos das participantes
em relação a vivência, sobre a importância de entenderem o valor de serem as protagonistas das suas vidas
e de como suas escolhas refletem na saúde mental. Esperamos que este relato de experiência transmita as
pessoas, a relevância de se ter momentos interventivos psicológicos, como um serviço da clínica ampliada,
com sujeitos em sofrimento mental em espaços laborais, e que através destes momentos, mesmo de curta
duração, podemos obter bons resultados, aliviando o sofrimento dessas pessoas, reabilitando-os de forma
eficiente a manutenção de sua saúde mental. Assim teremos mais atenção e promoção a saúde, de forma que
possam se expandir essas intervenções, ampliando e aprofundando estudos e pesquisas, para cada vez mais
78
INTRODUÇÃO
79
A proposta de intervenção, teve como aporte teórico , estudos sobre
saúde mental de Paul Sivadon, de técnicas de dinâmicas de grupo de Kurt
Lewin, como também nos apoiamos na abordagem psicoterapêutica da
Logoterapia, a qual para Frankl, seu criador, o trabalho “pode representar
o campo em que ‘o caráter de algo único’ se relaciona com a comunidade,
recebendo assim, o seu sentido e o seu valor” (Frankl, 2003). A intervenção
associou estes conhecimentos, para compreender e elaborar um plano de
trabalho para o grupo de colaboradores de uma instituição de ensino superior,
da cidade de João Pessoa. O grupo de colabores trabalhavam na biblioteca da
instituição, e com os reflexos da pandemia, eles se encontravam em sofrimento
psicológico.
A intervenção ocorreu no ambiente laboral, e ela focava no tipo de
sofrimento psicológico que perturbava os colaboradores daquele ambiente,
assim a necessidade era de uma intervenção psicológica breve e pontual, se
moldando a forma de um serviço da clínica ampliada.
METODOLOGIA
80
• Primeiro Momento
Os estagiários se apresentaram e entregaram figuras de flores e velas,
explicando a técnica de respiração, de cheirar a flor e apagar a vela, repetindo
assim cinco vezes e questionando com o grupo para que servia o exercício de
respiração, e dialogando sobre os benefícios desta técnica.
• Segundo Momento
As participantes receberam as instruções da técnica da dinâmica de
grupo “Reflection”. Elas receberam um papel para escreverem na frente duas
coisas que as motivam no trabalho e no verso duas coisas que as desmotivam.
Após escreverem, elas entregaram aos estagiários, que contaram uma história
sobre um personagem fictício, encaixando as palavras que as participantes
colocaram nos papéis. A história se torna reflexiva, pois ela é o espelho do que
desmotiva e sobre o que pode motivar o grupo no ambiente laboral. No final
da história foi o momento de dialogar sobre o conteúdo da história, refletindo
nas situações que foram os sentimentos das participantes.
• Terceiro Momento
Dividir as participantes em três grupos, entregar folhas e lápis
colorido, para se expressarem (através de palavras, frases, desenhos, etc)
as possibilidades para a motivação delas dentro do ambiente laboral. Ao
concluírem, apresentaram para o grupão, o que fizeram em duplas (expressão
o que é motivação para cada dupla), e falar um pouco sobre o significado
daquela expressão e das novas possibilidades que surgiram na mente delas
sobre o assunto.
• Quarto momento
Os estagiários mostraram algumas imagens de superação, logo após
passaram uma caixa com pensamentos de Viktor Frankl, o criador da
Logoterapia. Um estagiário apresentou para o grupo, um pouco da história de
81
Viktor Frankl, tendo destaque para a parte que usa estratégias para promover
e manter a saúde mental, durante o tempo que passou como prisioneiro nos
campos de concentração. Cada participante tirou um pensamento de Viktor
Frankl e leram para o grupo. Após a leitura foram feitas algumas pontuações
e reflexões.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
82
do seu ser-responsável, enquanto fundamento vital da existência humana.
A teoria Frankiliana também destaca a liberdade e a responsabilidade do
homem, mesmo diante das condicionantes da vida. Frankl (2015) afirma
que o homem não é livre das circunstâncias e de suas contingências, não é
de modo algum livre de algo, senão que é livre para algo.
A intervenção mesmo sendo de forma breve, mas diante das novas
posturas de cada participante e dos relatos no final do encontro, podemos
perceber que houve uma reflexão com novas possibilidades para promoção
e manutenção da saúde mental.
Os participantes tiveram a oportunidade de aliviar as tensões do
ambiente laboral, de forma breve, mas que se mostrou eficiente, também
ficando nítido as mudanças de comportamento após os dez minutos de
aplicação da intervenção. Foram usadas técnicas de dinâmicas grupais,
baseadas no estudo de Kurt Lewin, para ele a essência de um grupo não é a
semelhança ou a diferença entre seus membros, mas a sua interdependência.
Pode-se caracterizar um grupo como um “todo dinâmico”; isto significa
que uma mudança no estado de qualquer subparte modifica o estado de
todas as outras subpartes(Lewin, 1985, p. 100).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
83
A clínica ampliada é mais uma maneira de levar a população laboral
serviços para a qualidade de vida e para o melhor bem-estar, proporcionando
mais atenção e promoção a saúde. Desta forma, esperamos que este trabalho
sirva de inspiração para a conquista de mais espaços para a clínica ampliada,
podendo assim atender mais pessoas e que possam se expandir essas
intervenções, ampliando e aprofundando estudos e pesquisas, para cada vez
mais serem usadas em ambientes diversificados.
Esperamos que este relato de experiência transmita as pessoas, a
relevância de se ter momentos interventivos psicológicos, no serviço da
clínica ampliada, com sujeitos em sofrimento mental e em espaços laborais, e
que através destes momentos, mesmo de curta duração, podemos obter bons
resultados, ampliando os serviços e aliviando o sofrimento psíquico, atingindo
de forma mais profunda e reflexiva a consciência dos sujeitos.
REFERÊNCIAS
FRANKL, E. V. O Sofrimento de uma vida sem sentido – Caminhos para encontrar a razão de viver. 1ª
84
(RE)INVENÇÃO DA CLÍNICA: A POTÊNCIA DO OLHAR AMPLIADO NO
CONTEXTO DE UMA UNIDADE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
85
INTRODUÇÃO
86
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
87
SUS, o programa de residência multiprofissional vem com a proposta
de potencializar a gestão do cuidado em Saúde Mental, possibilitando
estabelecer um diálogo construtivo entre os profissionais de saúde e
assistência de forma a permitir o compartilhamento do cuidado, e a
corresponsabilização entre os diversos atores envolvidos no processo de
produção de saúde, trabalhando de forma interdisciplinar e transversal,
podendo incluir outros níveis de atenção.
Segundo Merhy (2002), a operacionalização da clínica ampliada
desvela a dimensão do trabalho vivo e criativo em saúde, que não exclui
os sujeitos, mas supera, com suas linhas de fuga do convencional, a lógica
programática e a protocolização das ações em saúde, reorganizando os
processos de trabalho e consequentemente, de cuidado, favorecendo
os encontros sistemáticos, a gestão de conflitos e diferenças, além da
aprendizagem coletiva da equipe de profissionais e residentes atuantes
na Unidade de Atenção Psicossocial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
88
REFERÊNCIAS
AMARANTE, Paulo. Saúde Mental, Territórios e Fronteiras. In:________. Saúde Mental e Atenção
Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas, São Paulo, 2004, 201 f.
GRABOIS, Victor. Gestão do cuidado. In.:_______. Qualificação de Gestores do SUS. Rio de Janeiro:
EAD/Ensp, 2009.
MERHY, E. E. Cuidado com o cuidado em saúde: saber explorar seus paradoxos para um agir
manicomial. In.:_______. Reforma Psiquiátrica no cotidiano II. São Paulo: Hucitec, 2007. p. 25-37.
89
MATRIZES DIGITAIS DA EXISTÊNCIA: ENSAIOS PARA UMA
PSICOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Victor Henrique Visocki
Psicologo clinico.
vk.visocki@gmail.com
RESUMO: Recorre-se à Internet para decidir o hoje, significar o ontem e projetar o amanhã: o
individuais, deixando de lado um lócus de estudo tão promissor quanto: as relações presenciais
para uma revisão e integração de literaturas que versam sobre relações humanas e instrumentos
tecnológicos, a fim de caracterizar filosoficamente a relação humana situada no mundo mediada por
adesão popular (e ora abrasiva) à Internet: a concomitância entre um possível declínio de vínculos e
cuidados para com relações humanas e uma crescente influência de interesses mercadológicos no
de que considerar a realidade vivida em ambientes digitais como insuficiente pode decorrer de uma
mundo. A Internet configura parte constituinte da vida e mundo, sendo que nela há experiências
vividas que, por sua vez, não se desvinculam de modos de ser-no-mundo. Em uma última reflexão,
postulou-se que a angular transformação que a Internet proporcionou à humanidade foi permitir
Internet como um promissor campo para a visualização de características cruciais sobre processos
de criar e realidades, enaltecido como uma experiência mediada por ambientes digitais, porém
sempre presente através da linguagem e outros processos psicológicos — sendo efetivamente uma
questão existencial.
90
INTRODUÇÃO
91
advindas do contato humano com a Internet. Apesar da ocorrência de
diversas abordagens por sobre a temática, há um persistente relato de que a
avaliação do impacto de tecnologias carece de contribuições (HAN, 2018a).
Em síntese, foram identificados três grupos de lacunas mais relatadas: a
necessidade de integração e coesão entre os conhecimentos existentes (HAN,
2018b); a necessidade de humanização do conhecimento a partir de uma
ética que reintegre indivíduos, mundo e tecnologia (HOLANDA, 2014) e, por
fim; a necessidade de contribuições teóricas da psicologia quanto ao tema
(NICOLACI-DA-COSTA, 2005). Diante dessas necessidades, o objetivo da
presente produção foi caracterizar filosoficamente a relação humana situada
no mundo mediada por tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) e
seus impactos aos processos de subjetivação e às construções sociais no
século XXI.
METODOLOGIA
92
RESULTADOS E DISCUSSÃO
93
sobre possibilidades de existência e construções socioculturais. Isso trouxe
consequências individuais e coletivas, tais como um senso generalizado de
insegurança existencial (MAY, 2012 [1953]). Essa insegurança, por sua vez,
pode ter provocado uma necessidade de convicção autorreferente diante
da diversidade de visões de mundo visíveis a partir das TIC’s, sendo esse
processo frequentemente observado em estudos sobre o período histórico
da Pós-verdade (KEYES, 2018 [2004]).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
94
aos modos de ser-no-mundo, percebeu-se uma aptidão humana à capacidade
de criar realidades, constituindo uma verdadeira questão existencial (YALOM,
1984). Mas então a ficção marcaria nossa espécie, como um devaneio diante
de um mundo? Arrisquei discordar e questiono: Não é louvável como uma
forma de vida construiu instrumentos tecnológicos para mediar suas ações
em um mundo; criou noções sobre esse mundo e si próprios a partir de
linguagens e, com isso; passou a colaborar em uma escala bilionésima? Tal
fato é uma manifestação visceral como o ato de criar e construir realidades
são exercícios indissociáveis ao existir.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, D. C.; MAIA, A. F. Big Data, exploração oblíqua e propaganda dirigida: Novas facetas da
indústria cultural. Psicologia USP, v. 29, n.2, p. 189-199, ago. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/0103-
656420170156
BLASCOVICH, Jim; BAILENSON, Jeremy. Infinite Reality: The hidden blueprint of our virtual lives. Nova
CASTELLS, Manuel. A Internet e a sociedade em rede. In MORAES, Denis de, (Org). Por uma outra
comunicação - mídia, mundialização cultural e poder. São Paulo: Recado Editora, 2003, p. 205-225.
HAN, Byung Chul. No enxame: Perspectivas do digital. Tradução de C. Machado. Petrópolis, Editora
Vozes, 2018a.
HARARI, Yuval Noah. (2018). Sapiens: Uma breve história da humanidade. Tradução de J.
95
REFERÊNCIAS
Editora, 2014.
LASCH, Christopher. A cultura do narcisismo: A vida americana numa era de esperanças em declínio.
NICOLACI-DA-COSTA, Ana Maria. Sociabilidade virtual: separando o joio do trigo. Psicologia &
OLHAR DIGITAL. O Brasil é a segunda nação mais ‘viciada’ em Internet do mundo. Disponível
em https://olhardigital.com.br/noticia/o-brasil-e-a-segunda-nacao-mais-viciada-em-internet-do-
TAYLOR, Charles. A Ética da Autenticidade. Tradução de T. Carvalho. São Paulo: É Realizações, 2011.
TONO, Cineiva Campoli Paulino. Tecnologia e dignidade humana: Mecanismos de proteção das
96
O PRECONCEITO E A ESTIGMATIZAÇÃO NA SUBJETIVAÇÃO DO
FUTURO EM JOVENS SOROPOSITIVOS AO HIV
Vinicius Contin Carabolante Manoel Antônio dos Santos Lícia Barcelos de Souza
RESUMO: O expressivo aumento dos casos de infecção pelo HIV em homens jovens
adultos em uma cidade do interior de São Paulo, associado à vulnerabilidade do momento
de desenvolvimento psicoemocional, em que esses jovens tendem a se projetar no futuro,
foram questões que motivaram a realização da pesquisa com o objetivo de compreender a
subjetivação da vida com HIV, após o diagnóstico, e as implicações nas perspectivas futuras.
Entrevistas individuais, semi-estruturadas, com 8 homens entre 23 e 29 anos, realizadas
em um Centro de Testagem e Aconselhamento foram analisadas segundo a Epistemologia
Qualitativa de González Rey, a partir dos princípios da comunicação e do modelo construtivo-
interpretativo. A análise das entrevistas permitiu hipotetizar que, mesmo com os avanços da
ciência e do tratamento, o medo diante do diagnóstico de HIV remete os jovens adultos ao
sofrimento semelhante ao dos pacientes fadados à morte do início da epidemia. Heranças
de um momento histórico, as experiências permeadas pelo enfrentamento do preconceito
e da estigmatização pareceram reorganizar os processos de subjetivação das relações
interpessoais, tanto na formação como na manutenção dos vínculos sociais e afetivos,
desencadeando inquietações e conflitos com relação à abertura do diagnóstico, vivência da
sexualidade, à busca de apoio para o autocuidado e subjetivações do vir a ser. A condição
de carga viral indetectável também pareceu exercer uma função importante na subjetivação
da vida com HIV no campo das relações interpessoais, desencadeando movimentos que
oscilam entre a abertura ao diálogo e o silenciamento frente ao outro. Os jovens continuam
perspectivando seus futuros apesar das barreiras impostas pelo preconceito e o medo de
se relacionar com o outro, fazendo necessárias ações que objetivem a conscientização da
realidade atual da infecção pela sociedade e que combatam o preconceito e a estigmatização.
Pesquisa financiada pelo Projeto Unificado de Bolsas da USP
Palavras chaves: HIV. Futuro. Preconceito.
97
INTRODUÇÃO
98
e planejamentos futuros, em que qualidade está relacionada com um melhor
bem-estar individual, uma vida mais saudável.
Nesse caminho entre o “ser” e o “querer ser”, esses jovens podem
enfrentar múltiplas adversidades, ainda mais pelo atravessamento do
preconceito e estigmatização associados às PVHA (Meyer & Felix, 2014).
Alguns estudos, como os de Ayres et al (2011), Breton et al. (2018), e Oliveira,
Negra & Nogueira-Martins (2012) apontam para dificuldades na projeção
futura, principalmente no âmbito das relações sociais. O medo de transmitir o
vírus, de sofrer preconceito e a solução via isolamento social emergem.
Em meio à complexidade social e cultural que recai sobre a questão
do HIV, percebemos a importância de se olhar para os processos de
subjetivação dos jovens nesse momento de vislumbrar o futuro. Assim, a
Teoria da Subjetividade de Gonzalez Rey (2003) discorre sobre a subjetividade
compreendendo-a como um emaranhado de “sentidos subjetivos”, unidades
simbólico-emocionais que compõem os seres humanos, que possibilitam a
atribuição de sentidos.
Dessa forma, ele conceitua uma subjetividade que contém em si mesma
as vivências nas dimensões social e singular, em relação dialética. A Teoria
da Subjetividade embasa a Epistemologia Qualitativa, proposta metodológica
que busca a compreensão e inteligibilidade das subjetividades, valorizando
a singularidade, a comunicação e a participação do pesquisador, através da
construção e interpretação.
Nesse sentido, essa pesquisa foi delineada visando compreender
as configurações subjetivas de jovens frente à perspectivação do futuro,
considerando as vivências atravessadas pelo adoecimento e pelos estigmas e
preconceitos associados às PVHA.
99
OBJETIVOS
METODOLOGIA
100
pesquisador atribuir inteligibilidade aos dados da pesquisa, interpretando-os
e construindo as análises das subjetividades, engajando-se ativamente. Já o
terceiro, aborda a importância do diálogo entre pesquisador e participantes,
possibilitando a emergência de sentidos subjetivos que podem responder ao
objetivo da pesquisa (Rey, 2005). Sobre isso, Rey discorre:
A comunicação é o espaço privilegiado em que o sujeito se inspira em
suas diferentes formas de expressão simbólica, todas as quais serão vias
para estudar sua subjetividade e a forma como o universo de suas condições
sociais objetivas aparece constituído nesse nível (Rey, 2005 - p.14)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
101
interpessoais, tanto na formação como na manutenção dos vínculos
sociais e afetivos, desencadeando inquietações e conflitos com relação à
abertura do diagnóstico, vivência da sexualidade, à busca de apoio para o
autocuidado e subjetivações do vir a ser, assim como em algumas pesquisas
como as de Meyer & Felix (2014) e de Oliveira, Negra & Nogueira-Martins
(2012). Nesse sentido, Lucas aponta:
No começo e quando eu fiquei sabendo que eu tinha eu tive tanto
preconceito e falta de aceitação que eu fiquei com medo de me relacionar
com outras pessoas por dois pensamentos; primeiro pelo fato de que eu
não queria para ninguém o que já era meu e pelo fato também de achar que
as pessoas veem como uma forma muito preconceituosa e infelizmente a
sociedade ainda é muito preconceituosa, então assim... As pessoas de hoje
em dia tem uma mente muito retrógrada, porque elas acham que o HIV é
como se fosse uma gripe e o portador da um espirro e ele já contaminou
todo mundo que tá no ambiente... E não é assim (Lucas, 29 anos)
A fala de Lucas demonstra os dilemas relacionais que emergem em meio
ao medo da vivência com a infecção. A condição de carga viral indetectável
também pareceu exercer uma função importante na subjetivação da vida
com HIV no campo das relações interpessoais, desencadeando movimentos
que oscilam entre a abertura ao diálogo e o silenciamento frente ao outro.
Essa expectativa também aparece na entrevista de Fernando:
Recentemente eu descobri que quando você se torna indetectável
a possibilidade de você transmitir o HIV é de 0,01, então assim, é muito
difícil e isso me tranquiliza (Fernando, 24 anos).
A subjetivação das experiências vividas parece sobrepor-se no tempo,
por isso, passado, presente e futuro confundem-se. Para Rey (2003), a
temporalidade e a noção de história de cada indivíduo não são dadas pelo
amontoado de fatos que ocorrem nas vidas das pessoas, mas sim pela
rede de sentidos subjetivos que compõem a teia viva das subjetividades
de cada um.
102
Percebemos que, diante da perspectiva futura, os jovens continuam
planejando suas vidas, perspectivando-as continuamente, sendo que a
orientação futura está associada à possibilidade de conservar um conjunto
de expectativas, aspirações e planos, mesmo com as dificuldades da vida.
Assim, o contexto psicossocial e as possibilidades de vida influem nesse
contexto. O preconceito e a estigmatização, provenientes dos processos
históricos do HIV, também circunscrevem e limitam as vivências desses
jovens (Blum & Cheng, 2014; Cezar & Draganov, 2014).
Mateus demonstra o atravessamento do preconceito nas vivências
da subjetividade futura:
Afetar planos depende bastante dos planos que a pessoa tem, em
relação aos que eu tenho não afeta, em relação a algumas coisas ã... Do
que já é conhecido, do que já, ah... Do que já é circulado nos meios, que
tem quem tem ou pelo menos não tem uma coisa pejorativa talvez, esse é
algum dos receios das pessoas que tenham HIV (Mateus, 29 anos)
Paulo também conta sobre algumas dificuldades na vida futura,
marcadas pela preocupação com os cuidados em saúde e abertura do
diagnóstico, condições que passam a permear seus planos:
Eu tenho uma madrinha que mora na Filadélfia nos Estados unidos
e ela vive me chamando pra ir pra lá e depois que fiquei sabendo disso eu
pensei nossa se eu for eu não sei como funciona lá, eu vou ter que ficar
contando umas coisas, então eu não descarto a possibilidade de ir visitar
lá, mas de morar lá eu já não tenho mais coragem, muito com relação a
isso… (Paulo, 26 anos)
A vida futura mantém-se em constante construção, mesmo com a
necessidade de readequação de planejamentos, que podem envolver os
desafios diante do tratamento, ou até os entraves que atravessam as
relações sociais, cujas subjetividades são limitadas pelo preconceito e
estigmatização.
103
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Care Needs of Young People Living With HIV/AIDS. American Journal of Public
104
REFERÊNCIAS
L.; SIRIRUNGSI, W. Reproductive health, social life and plans for the future of adolescents growing-up
uma Visão Bioética. Ensaios Cienc: Cienc Biol. Agrar. Saúde. 18, 3, 151-156, 2014.
JOHNSON; S. R., BLUM, R. W.; CHENG, T. L. Future orientation: a construct with implications for
adolescent health and wellbeing. International journal of adolescent medicine and health, 26(4), 459–
468, 2014.
MEYER, D., FÉLIX, J. Entre o ser e o querer ser… jovens soropositivos(as), projetos de vida e educação.
portadores de HIV por transmissão vertical: estudo exploratório com usuários de um ambulatório de
REY, Fernando Luiz Gonzalez. Sujeito e Subjetividade, uma aproximação histórico-cultural. São Paulo:
J332/noticia-imprimir/42103, 2019.
105