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INFORMATIVOS – FEDERAÇÃO 2014-2016

REPARTIÇÃO COMPETÊNCIA

ADI e venda de produtos de conveniência em farmácias e drogarias


Na linha de precedentes já firmados no sentido da não usurpação da competência legislativa da União, o
Plenário julgou improcedentes pedidos formulados em ações diretas de inconstitucionalidade, apreciadas
em conjunto, ajuizadas contra as Leis 4.353/2009, 14.588/2009, 63/2009, 12.623/2007 e 5.465/2005,
respectivamente, do Distrito Federal e dos Estados do Ceará, do Amazonas, de São Paulo e do Piauí. As
normas impugnadas dispõem sobre o comércio de artigos de conveniência em farmácias e drogarias.
ADI 4423/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 24.9.2014. (ADI-4423)

Carteira de identidade: tipo sanguíneo e fator Rh - 1

O Plenário, por maioria, julgou improcedentes pedidos formulados em ações diretas de


inconstitucionalidade ajuizadas contra a Lei 12.282/2006, do Estado de São Paulo, e a Lei 14.851/2009,
do Estado de Santa Catarina, que dispõem sobre a inclusão dos dados sanguíneos na carteira de identidade
emitida pelo órgão de identificação do Estado-membro. O Tribunal observou que o devido
equacionamento da distribuição constitucional de competências legislativas entre a União, os Estados-
membros, o Distrito Federal e os Municípios levaria sempre em conta o princípio federativo. Sublinhou
que a exigência de conformação legislativa uniforme da matéria no território nacional emergiria da
própria finalidade social da manutenção de registros. Constatou que a natureza jurídica da cédula de
identidade seria de registro público e sua disciplina legislativa competiria privativamente à União (CF,
art. 22, XXV). Salientou que, ao fixar a competência privativa da União no tocante à natureza, à forma, à
validade e aos efeitos dos registros públicos em geral e da carteira de identidade em particular, a
Constituição imporia aos Estados-membros, ao Distrito Federal e aos Municípios a observância do quanto
disciplinado pela União sobre a matéria.
A Corte frisou que o art. 1º da Lei 7.116/1983 asseguraria a validade e a fé pública em todo o território
nacional às carteiras de identidade emitidas pelos órgãos de identificação dos Estados-membros, do
Distrito Federal e dos Territórios. O art. 3º desse diploma legislativo relacionaria os elementos que a
carteira de identidade deveria conter obrigatoriamente e o art. 4º facultaria a inclusão de outros dados no
documento, desde que solicitada pelo interessado (“Art 4º - Desde que o interessado o solicite a Carteira
de Identidade conterá, além dos elementos referidos no art. 3º desta Lei, os números de inscrição do
titular no Programa de Integração Social - PIS ou no Programa de Formação do Patrimônio do Servidor
Público - PASEP e no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda. § 1º - O Poder Executivo
Federal poderá aprovar a inclusão de outros dados opcionais na Carteira de Identidade. § 2º - A inclusão
na Carteira de Identidade dos dados referidos neste artigo poderá ser parcial e dependerá exclusivamente
da apresentação dos respectivos documentos comprobatórios”). Registrou que o rol das informações cujo
registro nos documentos pessoais de identificação seria facultado ao cidadão teria sido ampliado pela Lei
9.049/1995 (“Art. 1º Qualquer cidadão poderá requerer à autoridade pública expedidora o registro, no
respectivo documento pessoal de identificação, do número e, se for o caso, da data de validade dos
seguintes documentos: 1. Carteira Nacional de Habilitação; 2. Título de Eleitor; 3. Cartão de Identidade
do Contribuinte do Imposto de Renda; 4. Identidade Funcional ou Carteira Profissional; 5. Certificado
Militar. Art. 2º Poderão, também, ser incluídas na Cédula de Identidade, a pedido do titular, informações
sucintas sobre o tipo sanguíneo, a disposição de doar órgãos em caso de morte e condições particulares de
saúde cuja divulgação possa contribuir para preservar a saúde ou salvar a vida do titular”).
O Plenário consignou que o Poder Legislativo da União, no exercício da competência prevista no art. 22,
XXV, da CF, introduzira no ordenamento jurídico pátrio, mediante o art. 2º da Lei 9.049/1995,
autorização para que as autoridades públicas expedidoras — os órgãos estaduais responsáveis pela
emissão das carteiras de identidade — registrassem, quando solicitado pelos interessados, informações
relativas ao tipo sanguíneo e ao fator Rh nos documentos pessoais de identificação. Ressaltou, por
oportuno, que a Lei 9.454/1997, ao instituir o número único de Registro de Identidade Civil - RIC de
modo a centralizar o cadastro de registros de identificação pessoal no Sistema Nacional de Registro de
Identificação Civil, e ainda em fase inicial de implementação, em nada alterara o panorama legislativo
federal pertinente. Enfatizou que, ao determinar que o órgão estadual responsável pela emissão da carteira
de identidade incluísse no documento, quando solicitado pelo interessado, o registro do seu tipo
sanguíneo e fator Rh, as leis impugnadas guardariam absoluta conformidade material com a disciplina da
União relativamente ao documento pessoal de identificação, particularmente o disposto no art. 2º da Lei

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9.049/1995. Explicitou que, ainda que vedado aos entes federados legislar sobre registros públicos
propriamente, se inseriria no âmbito de sua competência legislativa a disciplina da organização e da
atuação dos órgãos integrantes das estruturas administrativas dos Estados-membros e do Distrito Federal,
aos quais competiria a expedição dos documentos pessoais de identificação. Afirmou que os diplomas em
debate observariam fielmente a conformação legislativa do documento pessoal de identificação — cédula
de identidade — como delineada pela União no exercício da competência privativa prevista no art. 22,
XXV, da CF.
O Tribunal avaliou que as leis estaduais limitar-se-iam a orientar a atuação administrativa do órgão
estadual responsável pela emissão da carteira de identidade, no tocante ao cumprimento do disposto no
art. 2º da Lei 9.049/1995, de modo que não haveria usurpação de competência privativa da União para
legislar sobre registros públicos. Realçou que as normas veiculariam comando e instruções endereçados
unicamente ao órgão estadual responsável pela emissão do documento, no sentido de observar o
regramento federal. Asseverou que a vigência da norma federal que autorizaria as autoridades públicas
expedidoras a registrar, quando solicitadas pelos interessados, informações relativas ao tipo sanguíneo e
ao fator Rh nos documentos pessoais de identificação delimitaria a eficácia do diploma estadual
impugnado. Reputou, por fim, que os diplomas estaduais em comento não disporiam sobre direitos ou
deveres dos particulares — limitado o seu escopo a disciplinar a organização e a atuação do órgão da
Administração estadual responsável pela emissão da carteira de identidade — tampouco se poderia falar
em afronta à competência privativa da União para legislar sobre direito civil (CF, art. 22, I). Os Ministros
Roberto Barroso, Marco Aurélio, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski (Presidente eleito)
acrescentaram que as normas estaduais inserir-se-iam no âmbito de proteção à saúde, o que justificaria a
competência estadual. Vencido o Ministro Luiz Fux, que julgava procedentes os pedidos para declarar a
inconstitucionalidade das lei estaduais. Pontuava que a competência seria exclusiva da União, por se
tratar de matéria a envolver direitos da personalidade e de registros públicos, que deveriam ser uniformes
em todo o Brasil. Precedente citado: ADI 2.254/ES (DJU de 26.9.2003).
ADI 4007/SP, rel. Min. Rosa Weber, 13.8.2014. (ADI-4007)
ADI 4343/SC, rel. Min. Rosa Weber, 13.8.2014. (ADI-4343)

Agrotóxico: lei estadual e competência privativa da União


Por reputar usurpada a competência privativa da União para legislar sobre comércio exterior
(CF, art. 22, VIII),... O Colegiado consignou que competiria à União a definição dos requisitos
para o ingresso de produtos estrangeiros no País, visto se tratar de típica questão de comércio
exterior (CF, art. 22, VIII). Recordou que, de acordo com a exposição de motivos da
mencionada lei, a proibição em questão teria objetivo claro de evitar que a população gaúcha
consumisse produtos contaminados por agrotóxicos que, pela legislação federal, seriam de uso
proibido no País, por serem nocivos à saúde, mas que teriam uso regular na Argentina e no
Uruguai. Entretanto, em que pese a relevância das preocupações do Poder Legislativo gaúcho, a
lei não esconderia o propósito de criar requisitos especiais ao ingresso naquele Estado-membro
de produtos agrícolas provindos do exterior. Ao fazê-lo, a lei, por consequência lógica,
restringiria a entrada desses produtos não apenas no Rio Grande do Sul, mas em todo o País.
Frisou que não seria possível compreender a matéria como pertencente ao âmbito legislativo
concorrente dos Estados-membros, sob o argumento de tratar-se de legislação concernente à
proteção da saúde dos consumidores (CF, art. 24, V e XII, §§ 1º e 2º). Ainda que se tratasse de
questão, sob certo ponto de vista, de competência concorrente (consumo e proteção à saúde),
predominariam, na hipótese, os limites da competência privativa da União para legislar sobre
comércio exterior e interestadual. No caso, a norma impugnada, ao criar um certificado estadual
para os produtos agrícolas, de modo a permitir que as próprias autoridades estaduais
fiscalizassem a existência de resíduos de agrotóxicos, teria invadido competência que seria
própria das autoridades federais.
ADI 3813/RS, rel. Min. Dias Toffoli, 12.2.2015. (ADI-3813)

Energia elétrica e competência para legislar


As competências para legislar sobre energia elétrica e para definir os termos da exploração do
serviço de seu fornecimento, inclusive sob regime de concessão, cabem privativamente à União
(CF, artigos 21, XII, b; 22, IV e 175)... ADI 4925/SP, rel. Min. Teori Zavascki, 12.2.2015.
(ADI-4925)

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ADI N. 3.327-ES
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEIS CAPIXABAS NS. 5.717/1998 E
6.931/2001. AUTORIZAÇÃO DE UTILIZAÇÃO, PELA POLÍCIA MILITAR OU PELA POLÍCIA
CIVIL DO ESTADO, DE VEÍCULOS APREENDIDOS E NÃO IDENTIFICADOS QUANTO À
PROCEDÊNCIA E À PROPRIEDADE, EXCLUSIVAMENTE NO TRABALHO DE REPRESSÃO
PENAL. QUESTÃO AFETA À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL: COMPETÊNCIA NÃO
ATRIBUÍDA PRIVATIVAMENTE À UNIÃO. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.

Crimes de responsabilidade e competência legislativa (Enunciado 46 da Súmula


Vinculante)

“A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de


processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União”.

Competência legislativa e fixação de vencimentos (Enunciado 39 da Súmula Vinculante)


“Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil e
militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal”. Assim, tornou vinculante o
conteúdo do Verbete 647 da Súmula do STF, acrescido da expressão “e do corpo de bombeiros
militar”. Vencido o Ministro Marco Aurélio no que tange ao acréscimo da referida expressão,
em razão da ausência de reiterados pronunciamentos sobre a matéria (CF, art. 103-A).
União Federal x Estado Estrangeiro - Imunidade de Execução. ACO 1.769/PE. RELATOR:
Ministro Celso de Mello

Competência concorrente para legislar sobre educação

Lei editada por Estado-membro, que disponha sobre número máximo de alunos em sala de aula
na educação infantil, fundamental e média, não usurpa a competência da União para legislar
sobre normas gerais de educação (CF, art. 24, IX, e § 3º)... A Corte destacou a necessidade de
rever sua postura “prima facie” em casos de litígios constitucionais em matéria de competência
legislativa, de forma a prestigiar as iniciativas regionais e locais, a menos que ofendam norma
expressa e inequívoca da Constituição. Pontuou que essa diretriz se ajustaria à noção de
federalismo como sistema que visaria a promover o pluralismo nas formas de organização
política. Asseverou que, em matéria de educação, a competência da União e dos Estados-
membros seria concorrente. Aduziu que, com relação às normas gerais, os Estados-membros e o
Distrito Federal possuiriam competência suplementar (CF, art. 24, § 2º) e a eles caberia suprir
lacunas. Frisou a necessidade de não se ampliar a compreensão das denominadas normas gerais,
sob pena de se afastar a autoridade normativa dos entes regionais e locais para tratar do tema.
Enfatizou que o limite máximo de alunos em sala de aula seria questão específica relativa à
educação e ao ensino e, sem dúvida, matéria de interesse de todos os entes da federação, por
envolver circunstâncias peculiares de cada região. Ademais, a sistemática normativa estadual
também seria compatível com a disciplina federal sobre o assunto, hoje fixada pela Lei
9.394/1996, que estabelece “as diretrizes e bases da educação nacional”. Em seu art. 25, a lei
federal deixaria nítido espaço para atuação estadual e distrital na determinação da proporção
professor e aluno dos sistemas de ensino. Possibilitaria, assim, que o sistema estadual detalhasse
de que maneira a proporção entre alunos e professores se verificaria no âmbito local. Sob o
prisma formal, portanto, a Lei 9.394/1996 habilitaria a edição de comandos estaduais como os
previstos nas alíneas a, b, e c do inciso VII do art. 82 da LC 170/1998 do Estado de Santa
Catarina. Sob o ângulo material, a lei catarinense ainda apresentaria evidente diretriz de
prudência ao criar uma proporção aluno-professor que se elevaria à medida que aumentasse a
idade dos alunos.
ADI 4060/SC, rel. Min. Luiz Fux, 25.2.2015. (ADI-4060)

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Autonomia federativa: crimes de responsabilidade e crimes comuns praticados por
governador - 1

O Plenário iniciou julgamento conjunto de três ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas,


respectivamente, em face de expressões contidas no art. 44, VII e VIII, e no art. 81, ambos da
Constituição do Estado do Acre; no art. 26, XI e XVI, e no art. 68, ambos da Constituição do
Estado de Mato Grosso; bem assim no art. 63, XIII, e no art. 104, ambos da Constituição do
Estado do Piauí. Todos os trechos legais impugnados tratam da competência privativa da
Assembleia Legislativa local para processar e julgar o governador nos crimes de
responsabilidade e cuidam do processo e julgamento do Chefe do Executivo estadual, em crimes
comuns, mediante admissão da acusação pelo voto de 2/3 da representação popular local. O
Ministro Celso de Mello (relator) julgou parcialmente procedentes os pedidos nos três casos. De
início, assinalou a legitimidade da Advocacia-Geral da União para emitir pronunciamento
favorável à parcial procedência da ação, uma vez se tratar de conteúdo normativo já declarado
incompatível com a Constituição pelo STF. No mérito, acentuou que a Corte, em reiterados
pronunciamentos, afirmara competir privativamente à União a atribuição de legislar em tema de
crimes de responsabilidade, seja para tipificá-los, seja para definir-lhes o rito aplicável. Assim,
de acordo com a orientação majoritária, não caberia ao Estado-Membro dispor sobre o tema, sob
pena de ofensa ao art. 22, I, da CF, na linha do que contido no Enunciado 46 da Súmula
Vinculante (“A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas
normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União”).
Entretanto, expôs entendimento pessoal no sentido de que o crime de responsabilidade, de
natureza jurídica político-constitucional, teria caráter extrapenal, razão pela qual o Estado-
Membro poderia legislar a respeito. Constatou, enfim, que, no caso, as expressões normativas
alusivas a processo e julgamento de governador nos crimes de responsabilidade, constantes dos
dispositivos impugnados, seriam inconstitucionais.
O relator, no que se refere às expressões relacionadas à possibilidade de controle prévio, por
parte das Assembleias Legislativas locais, para processo e julgamento do governador em crimes
comuns, afirmou que o princípio republicano consagra a ideia de que todos os agentes públicos,
inclusive governadores, seriam responsáveis perante a lei. Além disso, a organização federativa
do País e a autonomia institucional dos Estados-Membros desempenhariam papel importante na
definição dos requisitos condicionadores da persecução penal eventualmente instaurada contra
os Chefes do Executivo local. A respeito, a jurisprudência dominante do STF qualificara a
necessidade de prévio consentimento da Assembleia Legislativa local como requisito de
procedibilidade para a válida instauração da persecução penal contra o governador. Essa
orientação tem por fundamento a preservação da intangibilidade da autonomia estadual. Em
suma, reputou inconstitucionais os trechos normativos impugnados que atribuem ao Estado-
Membro competência para tipificar crimes de responsabilidade e para definir-lhes o respectivo
processo e julgamento, reconhecendo, de outro lado, a plena validade constitucional das
expressões legais segundo as quais o governador, tratando-se de infração penal comum, só
poderá sofrer a instauração de processo penal uma vez admitida a acusação pela representação
popular legislativa local. Em seguida, pediu vista dos autos o Ministro Roberto Barroso.
ADI 4764/AC, rel. Min. Celso de Mello, 5.8.2015. (ADI-4764)
ADI 4797/MT, rel. Min. Celso de Mello, 5.8.2015. (ADI-4797)
ADI 4798/PI, rel. Min. Celso de Mello, 5.8.2015. (ADI-4798)

Alteração de limites de municípios e plebiscito - 2


O Plenário retomou o julgamento de ação direta ajuizada em face das Leis 3.196/1999 e
2.497/1995, ambas do Estado do Rio de Janeiro. As referidas normas estabelecem os novos
limites territoriais dos Municípios de Cantagalo e Macuco — v. Informativo 495. De início, não
conheceu da ação quanto à Lei 2.497/1995. Observou que esse diploma teria sido elaborado
antes do parâmetro constitucional estabelecido pela EC 15/1996, tido por violado. No que se
refere ao primeiro diploma legal, julgou o pedido procedente. Entendeu ter havido violação ao §
4º do art. 18 da CF, em face da ausência de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações

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dos municípios envolvidos (CF, art. 18, § 4º: “A criação, a incorporação, a fusão e o
desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por
Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações
dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal,
apresentados e publicados na forma da lei.”). Em seguida, o Plenário, por maioria, deliberou
modular os efeitos da declaração de inconstitucionalidade da Lei 3.196/1999, vencido o
Ministro Marco Aurélio. Na sequência, após a proposta do Ministro Dias Toffoli, quanto ao
alcance dessa modulação, no sentido de que a decisão tivesse eficácia no exercício fiscal
subsequente ao término desse julgamento, no que foi acompanhado pelos Ministros Roberto
Barroso, Teori Zavascki, Rosa Weber, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski
(Presidente), pediu vista o Ministro Luiz Fux.
ADI 2921/RJ, rel. Min. Ayres Britto, 5.3.2015. (ADI-2921)

Legislação sobre meio ambiente e competência municipal - 1


O município é competente para legislar sobre o meio ambiente, com a União e o Estado-
membro, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico com a
disciplina estabelecida pelos demais entes federados (CF, art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II). Esse o
entendimento do Plenário, que, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário para
declarar a inconstitucionalidade da Lei 1.952/1995 do Município de Paulínia/SP. A referida
norma, impugnada em sede de representação de inconstitucionalidade estadual, proíbe, sob
qualquer forma, o emprego de fogo para fins de limpeza e preparo do solo no referido
município, inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-de-açúcar e de outras
culturas. Discutia-se a competência de município para legislar sobre meio ambiente e editar lei
com conteúdo diverso do que disposto em legislação estadual. A Corte, inicialmente, superou
questões preliminares suscitadas, relativas à alegada impossibilidade de conhecimento do
recurso. No mérito, o Plenário destacou que a questão em análise, diante de seu caráter eclético
e multidisciplinar, envolveria questões sociais, econômicas e políticas — possibilidade de crise
social, geração de desemprego, contaminação do meio ambiente em razão do emprego de
máquinas, impossibilidade de mecanização em determinados terrenos e existência de proposta
federal de redução gradativa do uso da queima —, em conformidade com informações colhidas
em audiência pública realizada sobre o tema. Ao se julgar a constitucionalidade do diploma
legal municipal em questão, em um prisma socioeconômico, seria necessário, portanto, sopesar
se o impacto positivo da proibição imediata da queima da cana na produtividade seria
constitucionalmente mais relevante do que o pacto social em que o Estado brasileiro se
comprometera a conferir ao seu povo o pleno emprego para o completo gozo da sua dignidade.
Portanto, no caso, o STF, por estar diante de um conjunto fático composto pelo certo e
previsível desemprego em massa, juntamente com a mera possibilidade de aumento de
produtividade, deveria se investir no papel de guardião da Constituição, em defesa do interesse
da minoria qualitativamente representada pela classe de trabalhadores canavieiros, que
mereceriam proteção diante do chamado progresso tecnológico e a respectiva mecanização,
ambos trazidos pela pretensão de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo.
Com o dever de garantir a concretude dos direitos fundamentais, evidenciar-se-ia o caráter
legitimador desse fundamento protecionista da classe trabalhadora, o que levaria ao viés
representativo das camadas menos favorecidas, cujos interesses estariam em jogo. Portanto,
mesmo que fosse mais benéfico, para não dizer inevitável, optar pela mecanização da colheita
da cana, por conta da saúde do trabalhador e da população a viver nas proximidades da área de
cultura, não se poderia deixar de lado o meio pelo qual se considerasse mais razoável para a
obtenção desse objetivo: a proibição imediata da queima da cana ou a sua eliminação gradual.
Por óbvio, afigurar-se-ia muito mais harmônico com a disciplina constitucional a eliminação
planejada e gradual da queima da cana. Por outro lado, em relação à questão ambiental,
constatar-se-ia que, se de uma parte a queima causaria prejuízos, de outra, a utilização de
máquinas também geraria impacto negativo ao meio ambiente, como a emissão de gás metano
decorrente da decomposição da cana, o que contribuiria para o efeito estufa, além do surgimento
de ervas daninhas e o consequente uso de pesticidas e fungicidas.
O Plenário asseverou que, na espécie, não seria permitida uma interpretação na qual não se

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reconhecesse o interesse municipal em fazer com que sua população gozasse de um meio
ambiente equilibrado. Mas, neste caso, tratar-se-ia de uma questão de identificação da
preponderância desses interesses notadamente comuns. A partir desse impasse recorrer-se-ia ao
texto constitucional para extrair a “mens legis” da distribuição de competência legislativa.
Nesse sentido, o art. 24 da CF estabeleceria uma competência concorrente entre União e
Estados-membros, a determinar a edição de norma de caráter genérico pela União e de caráter
específico pelos Estados-membros. Sendo assim, o constituinte originário teria definido que o
sistema formado pela combinação da legislação estadual com a edição de um diploma legal
federal traduziria a disciplina de todos os interesses socialmente relevantes para os temas
discriminados no citado dispositivo. Destarte, interessaria analisar a questão do ponto de vista
sistêmico, visto que no âmbito das normas gerais federais, a orientação do legislador seguiria no
mesmo sentido da disciplina estabelecida em nível estadual (Lei estadual paulista 11.241/2002).
As normas federais paradigmáticas a tratar do assunto, expressamente, apontariam para a
necessidade de se traçar um planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do
fogo como método despalhador e facilitador para o corte da cana (Lei 12.651/2012, art. 40, e
Decreto 2.661/1998). Portanto, seria forçoso admitir que todo o sistema do meio ambiente, no
tocante à situação dos autos, proporia determinada solução estrita, qual seja, planejar a
diminuição gradual da queima da cana, enquanto que o diploma normativo atacado disciplinaria
de maneira completamente diversa, na contramão da intenção que se extrairia do plano nacional.
Seria, pois, cristalino que o tratamento dispensado pela legislação municipal iria de encontro ao
sistema estruturado de maneira harmônica entre as esferas federal e estadual. Outrossim, não se
poderia enquadrar a matéria como de interesse local, específico de um único município. O
interesse seria abrangente, a atrair, portanto, para a disciplina do tema, a competência do
Estado-membro, a apanhar outros municípios. Contudo, não haveria dúvida de que os
municípios disporiam de competência para tratar da questão do meio ambiente. Esse seria um
tema materialmente partilhado, seja no plano legislativo, seja no plano administrativo, entre as
diversas entidades de direito público. Por fim, a solução trazida pela norma impugnada
encontraria óbice na análise de sua proporcionalidade, porquanto já seria prevista pelo
ordenamento solução menos gravosa, que equilibraria de maneira mais correta a relação custo-
benefício. Desta feita, seria intransponível a conclusão pela sua inconstitucionalidade material.
Vencida a Ministra Rosa Weber, que negava provimento ao recurso, considerado o que disposto
no art. 23, VI, da CF (“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios: VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de
suas formas”).
RE 586224/SP, rel. Min. Luiz Fux, 5.3.2015. (RE-586224)

Telecomunicações: competência legislativa - 4

Em conclusão, o Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação direta para
declarar a inconstitucionalidade da Lei 11.908/2001 do Estado de Santa Catarina. A norma fixa
as condições de cobrança dos valores da assinatura básica residencial dos serviços de telefonia
fixa — v. Informativos 378 e 610. O Colegiado reputou caracterizada ofensa aos artigos 21, XI;
e 22, IV, da CF, tendo em vista que a competência para legislar sobre telecomunicações seria
privativa da União. Vencido o Ministro Ayres Britto, que julgava o pedido improcedente.
ADI 2615/SC, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 11.3.2015.
(ADI-2615)

Norma estadual e princípio da simetria


Por reputar inexistir ofensa ao princípio da simetria, o Plenário julgou improcedente pedido
formulado em ação direta de inconstitucionalidade proposta contra a expressão “e ao Vice-
Governador”, constante do art. 65 da Constituição do Estado do Mato Grosso (“Aplicam-se ao
Governador e ao Vice-Governador, no que couber, as proibições e impedimentos estabelecidos
para os Deputados Estaduais”). A Corte assentou que a determinação de observância aos
princípios constitucionais não significaria caber ao constituinte estadual apenas copiar as
normas federais. A inexistência da vedação no plano federal não obstaculizaria o constituinte de

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o fazer com relação ao vice-governador. Asseverou que o estabelecimento de restrições a certas
atividades ao vice-governador, visando a preservar a sua incolumidade política, seria matéria
que o Estado-Membro poderia desenvolver no exercício da sua autonomia constitucional.
Precedentes citados: ADI 4.298 MC/TO (DJe de 27.11.2009) e ADI 331/PB (DJe de 2.5.2014).
ADI 253/MT, rel. Min. Gilmar Mendes, 28.5.2015. (ADI-253)

ADI N. 4.423-DF, ADI 4.955-CE, ADI N.4.956-AM


RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 4.353, de 1º de julho de 2009, do Distrito Federal,
que admite o comércio de artigos de conveniência em farmácias e drogarias. Preliminar. Ausência de
ofensa reflexa à Constituição. Mérito. Ausência de usurpação da competência da União e de afronta ao
direito à saúde. Improcedência da ação. 1. A possível invasão da competência legislativa da União
envolve, diretamente, a confrontação da lei atacada com a Carta Republicana (art. 24, incisos V e XII, da
Constituição Federal), não havendo que se falar nessas hipóteses em ofensa reflexa à Constituição.2. A
edição da Lei Distrital nº 4.353/2009 não implicou usurpação da competência privativa da União para
legislar sobre proteção e defesa da saúde, ou sobre produção e consumo (art. 24, inciso XII, §§ 1º e 2º,
CF/88). Primeiramente, porque os dispositivos do diploma em referência evidentemente não se
enquadram na noção de normas gerais, as quais se caracterizam por definirem diretrizes e princípios
amplos sobre dado tema. Ademais, nota-se que a Lei Distrital nº 4.353/2009 não contraria ou transgride
nenhuma norma geral federal relativamente ao tema de que trata. 3. A norma questionada também não
viola o direito à saúde (art. 6 º, caput, e 196, CF/88). Consoante consignou o Ministro Marco Aurélio,
Relator da ADI nº 4.954, obstar a venda de produtos de conveniência em farmácias e drogarias seria, em
última análise, impor restrição ao livre exercício da atividade comercial, a qual violaria o princípio da
proporcionalidade, por não ser adequada, necessária ou proporcional ao fim almejado, qual seja, a
proteção e a defesa da saúde.4. Ação direta julgada improcedente.

Terras indígenas e conflito de competência


Em conclusão de julgamento, a Segunda Turma desproveu agravo regimental interposto de
decisão que negara seguimento a recursos extraordinários nos quais discutida a ocupação de
terras indígenas. Os agravantes alegavam que, havendo disputa de direitos indígenas, inclusive
sobre terras ocupadas, bem como a presença da Funai no feito, deslocar-se-ia a competência
para a Justiça Federal (CF, art. 109, I). Sustentavam, ainda, não incidir o Enunciado 279 da
Súmula desta Corte para o estabelecimento de competência em razão da pessoa — v.
Informativo 634. A Turma asseverou que a decisão agravada não mereceria reparos, pois a
competência para julgamento da ação fora estabelecida com base no contexto fático-probatório.
Destacou que o pretendido interesse do MPF para atuar em defesa da população indígena não
poderia ser considerado, uma vez não se admitir reexame dos fundamentos fáticos — apreciados
exaustivamente na origem —, a partir dos quais afastada a característica indígena das terras
objeto da controvérsia inicial. Por fim, salientou que o ingresso da Funai nos autos ocorrera em
adiantada fase recursal, muito tempo após a estabilização da relação jurídico-processual, o que
impediria a incidência do art. 109, I, da CF, pois a competência fora determinada no momento
da propositura da ação (CPC, art. 87).
RE 431602 Quarto-AgR/PB, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Cármen
Lúcia, 30.6.2015. (RE-431602)

ESTADOS, DF, MUNICÍPIOS

Venda de produtos de conveniência e prestação de serviços em farmácias e drogarias


Na linha de precedentes firmados no sentido da não usurpação da competência legislativa da União, o
Plenário deu provimento a agravo regimental e julgou improcedente pedido formulado em ação direta
ajuizada em face da Lei 7.668/2004 do Estado da Paraíba. A referida norma autoriza “as farmácias e as
drogarias a comercializar mercadorias de caráter não farmacêutico, bem como a prestar serviços de menos
complexidade, considerados úteis à população”. O Colegiado asseverou que a lei não teria regulamentado
a comercialização privativa de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos por farmácias e
drogarias, tema regulado, em bases gerais, pela Lei 5.991/1973. A ausência de usurpação de competência
reforçaria a atuação legítima da iniciativa legislativa estadual no campo suplementar.

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ADI 4952 AgR/PB, rel. Min. Luiz Fux, 29.10.2014. (ADI-4952)

Lei orgânica da polícia civil e modelo federal

Em conclusão de julgamento, o Plenário, por maioria, reformando medida cautelar (noticiada no


Informativo 225), julgou improcedente pedido formulado em ação direta ajuizada em face do
inciso X do parágrafo único do art. 118 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, que
confere “status” de lei complementar à Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado-Membro — v.
Informativos 376 e 526. O Colegiado entendeu que, na espécie, se trataria de matéria para a qual
a Constituição prevê a competência legislativa concorrente (CF, art. 24, XVI), salientando ser
demasia recusar à Constituição estadual a faculdade para eleger determinados temas como
exigentes de uma aprovação legislativa mais qualificada. Vencidos os Ministros Joaquim
Barbosa (relator), Eros Grau, Gilmar Mendes, Ellen Gracie e Carlos Velloso, que julgavam
procedente o pleito.
ADI 2314/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
17.6.2015. (ADI-2314)

Administração Pública e princípio da intranscendência

O princípio da intranscendência subjetiva das sanções, consagrado pelo STF, inibe a aplicação
de severas sanções às administrações por ato de gestão anterior à assunção dos deveres públicos.
Com base nessa orientação e, com ressalva de fundamentação do Ministro Marco Aurélio, a
Primeira Turma, em julgamento conjunto, negou provimento a agravos regimentais em ações
cautelares ajuizadas com a finalidade de se determinar a suspensão da condição de inadimplente
de Estado-Membro, bem como das limitações dela decorrentes, com relação a convênios com a
União. Na espécie, em face de decisões que julgaram procedentes os pedidos a favor dos entes
federativos, a fim de suspender as inscrições dos requerentes de todo e qualquer sistema de
restrição ao crédito utilizado pela União, foram interpostos os presentes recursos. A Turma
consignou que, em casos como os presentes, em que os fatos teriam decorrido de administrações
anteriores e os novos gestores estivessem tomando providências para sanar as irregularidades
verificadas, aplicar-se-ia o princípio da intranscendência subjetiva. O propósito seria neutralizar
a ocorrência de risco que pudesse comprometer, de modo grave ou irreversível, a continuidade
da execução de políticas públicas ou a prestação de serviços essenciais à coletividade. Nesse
sentido, a tomada de contas especial seria medida de rigor com o ensejo de alcançar-se o
reconhecimento definitivo de irregularidades, permitindo-se, só então, a inscrição dos entes nos
cadastros de restrição aos créditos organizados e mantidos pela União. O Ministro Marco
Aurélio asseverou que, por se tratar de governança, preponderaria o princípio contido no art. 37
da CF, ou seja, o da impessoalidade. Precedentes citados: ACO 1.848 AgR/MA (DJe de
21.11.2014) e ACO 1.612 AgR/MS (DJe de 12.12.2014).
AC 2614/PE, rel. Min. Luiz Fux, 23.6.2015. (AC-2614)
AC 781/PI, rel. Min. Luiz Fux, 23.6.2015. (AC-2614)
AC 2946/PI, rel. Min. Luiz Fux, 23.6.2015. (AC-2614)

ADI N. 232-RJ
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. ART. 77, XXIII. IMPEDIMENTO
À SUBSTITUIÇÃO DE TRABALHADORES DE EMPRESAS PRIVADAS POR SERVIDORES,
RESSALVADA A LEGISLAÇÃO FEDERAL. LEGITIMIDADE FORMAL. AUSÊNCIA DE
COMPROMETIMENTO DAS COMPETÊNCIAS DO GOVERNADOR DO ESTADO. MERA
EXPLICITAÇÃO DE PRÁTICA DESABONADA PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
1. A experiência jurisprudencial dessa Suprema Corte consolidou ao longo do tempo o entendimento de
que as regras básicas do processo legislativo presentes na Constituição Federal incorporam noções
elementares do modelo de separação (e interação) dos poderes públicos constituídos, o que as torna de
observância mandatória no âmbito das ordens jurídicas locais, por imposição do art. 25 da CF.
2. Desde que (a) respeitadas as linhas básicas que regem a relação entre poderes na Federação - no que se

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incluem as regras de reserva de iniciativa - e desde que (b) o parlamento local não suprima do
Governador de Estado a possibilidade de exercício de uma opção política legítima dentre aquelas contidas
na sua faixa de competências típicas, pode a Constituição Estadual dispor de modo singular a respeito do
funcionamento da respectiva Administração Pública.
3. O inciso XXIII do art. 77 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro não retira do Governador do
Estado uma alternativa viável de aproveitamento dos servidores locais, mas apenas proíbe que a
substituição dos grevistas venha a ser implementada para servir a pretextos outros, que não a
emergencialidade.
4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.

Licença prévia para julgamento de governador em crime de responsabilidade e crime comum


Por violar a competência privativa da União, o Estado-membro não pode dispor sobre crime de
responsabilidade. No entanto, durante a fase inicial de tramitação de processo por crime de
responsabilidade instaurado contra governador, a Constituição estadual deve obedecer à
sistemática disposta na legislação federal. Assim, é constitucional norma prevista em
Constituição estadual que preveja a necessidade de autorização prévia da Assembleia
Legislativa para que sejam iniciadas ações por crimes comuns e de responsabilidade
eventualmente dirigidas contra o governador de Estado.... A Corte rememorou que a
Constituição Estadual deveria seguir rigorosamente os termos da legislação federal sobre crimes
de responsabilidade, por imposição das normas dos artigos 22, I, e 85, da CF, que reservariam a
competência para dispor sobre matéria penal e processual penal à União. Ademais, não seria
possível interpretar literalmente os dispositivos atacados de modo a concluir que o julgamento
de mérito das imputações por crimes de responsabilidade dirigidas contra o governador de
Estado teria sido atribuído ao discernimento da Assembleia Legislativa local, e não do Tribunal
Especial previsto no art. 78, § 3º, da Lei 1.079/1950. Esse tipo de exegese ofenderia os artigos
22, I, e 85, da CF.
Por outro lado, o Colegiado reconheceu a constitucionalidade das normas das Constituições
estaduais que exigiriam a aprovação de dois terços dos membros da Assembleia Legislativa
como requisito indispensável — a denominada licença prévia — para se admitir a acusação nas
ações por crimes comuns e de responsabilidade, eventualmente dirigidas contra o governador do
Estado. Consignou que o condicionamento da abertura de processo acusatório ao beneplácito da
Assembleia Legislativa, antes de constituir uma regalia antirrepublicana deferida em favor da
pessoa do governador, serviria à preservação da normalidade institucional das funções do
Executivo e à salvaguarda da autonomia política do Estado-membro, que haveria de sancionar,
pelo voto de seus representantes, medida de drásticas consequências para a vida pública local.
Salientou que a exigência de licença para o processamento de governador não traria prejuízo
para o exercício da jurisdição, porque, enquanto não autorizado o prosseguimento da ação
punitiva, ficaria suspenso o transcurso do prazo prescricional contra a autoridade investigada
cujo marco interruptivo contaria da data do despacho que solicitasse a anuência do Poder
Legislativo para a instauração do processo, e não da data da efetiva manifestação. O controle
político exercido pelas Assembleias Legislativas sobre a admissibilidade das acusações
endereçadas contra governadores não conferiria aos parlamentos locais a autoridade para decidir
sobre atos constritivos acessórios à investigação penal, entre eles as prisões cautelares. Todavia,
a supressão da exigência de autorização das respectivas Casas parlamentares para a
formalização de processos contra deputados e senadores (CF, art. 51, I), materializada pela EC
35/2001, não alterara o regime de responsabilização dos governadores de Estado. Isso
encontraria justificativa no fato de que — diferentemente do que ocorreria com o afastamento
de um governador de Estado, que tem valor crucial para a continuidade de programas de
governo locais — a suspensão funcional de um parlamentar seria uma ocorrência absolutamente
menos expressiva para o pleno funcionamento do Poder Legislativo...
ADI 4791/PR, rel. Min. Teori Zavascki, 12.2.2015. (ADI-4791)
ADI 4800/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 12.2.2015. (ADI-4800)
ADI 4792/ES, rel. Min. Cármen Lúcia, 12.2.2015. (ADI-4792)

ADI e criação de município

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O Plenário confirmou medida cautelar (noticiada no Informativo 712) e julgou procedente pedido
formulado em ação direta para assentar a inconstitucionalidade da Lei 2.264/2010, do Estado de
Rondônia. A norma questionada cria o Município de Extrema de Rondônia a partir de desmembramento
de área territorial do Município de Porto Velho; fixa seus limites territoriais; e informa os distritos a
integrarem a nova municipalidade. O Tribunal registrou a existência de inúmeros precedentes da Corte
quanto à impossibilidade de criação de municípios em desconformidade com a Constituição (art. 18, §
4º).
ADI 4992/RO, rel. Min. Gilmar Mendes, 11.9.2014 (ADI-4992)

ADI N. 2.755-ES
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA CONSTITUCIONAL
N. 30/2001. ALTERAÇÃO DO INC. III DO ART. 63 DA CONSTITUIÇÃO CAPIXABA.
EMENDA QUE REDUZIRIA A COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO GOVERNADOR PARA
PROPOSITURA DE LEI. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA E PESSOAL DA
ADMINISTRAÇÃO DO PODER EXECUTIVO. ALEGADA CONTRARIEDADE AOS ARTS. 2°,
61, § 1º, INC. II, AL. B, E 84, INC. VI, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO
CONFIGURADA.
1. O art. 84, inc. VI, da Constituição da República, nos termos transcritos pelo Autor, não pode ser
adotado como parâmetro de controle de constitucionalidade por ter sido revogado antes do ajuizamento
da ação. Ação não conhecida nessa parte. Precedentes.
2. A pacífica jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que a reserva de lei de
iniciativa do Chefe do Executivo, prevista no art. 61, § 1º, inc. II, alínea b, da Constituição, somente se
aplica aos Territórios federais. Precedentes.
3. A Emenda Constitucional capixaba n. 30/2001 não importou em descumprimento do princípio da
separação entre os poderes porque a competência do Governador do Estado foi mantida no ordenamento
jurídico, tanto por normas contidas na Constituição da República quanto por normas da Constituição
Estadual.
4. Ação direta de inconstitucionalidade conhecida em parte e, na parte conhecida, julgada improcedente.

HC N. 103.803-RR
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO.
PROCURADOR-GERAL DE ESTADO DE RORAIMA. CARGO EQUIPARADO A SECRETÁRIO
DE ESTADO POR FORÇA DE LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL. VEDAÇÃO DO ART. 125, § 1º,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INAPLICABILIDADE DE SIMETRIA COM O CARGO DE
ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO. SITUAÇÕES JURÍDICAS DISTINTAS.
1. Segundo a jurisprudência do STF, “compete à Constituição do Estado definir as atribuições do Tribunal
de Justiça, não podendo este desempenho ser transferido – menos ainda por competência aberta – ao
legislador infraconstitucional (art. 125, § 1º, da CRFB/88)” (ADI 3140, Relator(a): Min. CÁRMEN
LÚCIA, Pleno, DJ 29.06.2007).
2. É inconstitucional, por isso, a norma da Constituição do Estado de Roraima que atribui foro por
prerrogativa de função a agentes públicos equiparados a Secretários de Estado (alínea “a”, inciso “X”, do
art. 77), equiparação a ser promovida pelo legislador infraconstitucional.
3. Conforme dispõe o parágrafo único do art. 4º da Lei Complementar 71/2003, do Estado de Roraima,
“O Procurador-Geral do Estado terá (…) as mesmas prerrogativas, subsídio e obrigações de Secretário de
Estado”. Não sendo Secretário de Estado, mas apenas equiparado a ele, não tem o Procurador-Geral foro
por prerrogativa no Tribunal de Justiça. Não o favorece o decidido pelo STF em relação ao cargo de
Advogado-Geral da União (PET 1.199 AgR/SP, Relator: Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Pleno, DJ 25-
06-1999). Ao reconhecer, nesse julgamento, a prerrogativa de foro, o STF o fez na expressa consideração
de que, por força do § 1º do art. 13 da Lei 9.649/1998, o Advogado-Geral da União tornou-se Ministro de
Estado (deixando, portanto, de ser meramente equiparado). Reafirmou-se, todavia, na mesma
oportunidade, o entendimento (aplicável, mutatis mutandis, a Secretários de Estado), de que “para efeito
de definição da competência penal originária do Supremo Tribunal Federal, não se consideram Ministros
de Estado os titulares de cargos de natureza especial da estrutura orgânica da Presidência da República,
malgrado lhes confira a lei prerrogativas, garantias, vantagens e direitos equivalentes aos dos titulares dos
Ministérios”. No mesmo sentido: Inq 2044 QO, Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, DJ 08-
04-2005; Rcl 2.417/SC, Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, DJ 25-2-2005; Rcl 2.356/SC, Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, DJ 14-2-2005; Pet 2084 MC, Min. SEPÚLVEDA

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PERTENCE, DJ 16/08/2000; ADI 3289; Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, DJ de 24-02-2006.
4. Ordem denegada. Agravo regimental prejudicado.

AG. REG. NA AC N. 2.946-PI


RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CAUTELAR. CONSTITUCIONAL.
ADMINISTRATIVO. FINANCEIRO. INSCRIÇÃO DE ESTADO-MEMBRO EM
CADASTRO DE INADIMPLENTES. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. ATOS
DECORRENTES DE GESTÕES ANTERIORES. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INTRANSCENDÊNCIA SUBJETIVA DAS SANÇÕES. PRECEDENTES. INEXISTÊNCIA
DE OFENSA AO PRINCÍPIO COLEGIADO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
1. O princípio da intranscendência subjetiva das sanções, consagrado pela Corte Suprema, inibe
a aplicação de severas sanções às administrações por ato de gestão anterior à assunção dos
deveres Públicos. Precedentes: ACO 1.848-AgR, rel. Min. Celso Mello, Tribunal Pleno, DJe de
6/11/2014; ACO 1.612-AgR, rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJe de 12/02/2015.
2. É que, em casos como o presente, o propósito é de neutralizar a ocorrência de risco que possa
comprometer, de modo grave e/ou irreversível, a continuidade da execução de políticas públicas
ou a prestação de serviços essenciais à coletividade.
3. A tomada de contas especial é medida de rigor com o ensejo de alcançar-se o reconhecimento
definitivo de irregularidades, permitindo-se, só então, a inscrição do ente nos cadastros de
restrição ao crédito organizados e mantidos pela União. Precedentes: ACO 1.848-AgR, rel. Min.
Celso Mello, Tribunal Pleno, DJe de 6/11/2014; AC 2.032, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal
Pleno, DJe de 20/03/2009.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.

Constituição estadual e separação de poderes - 1

O Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta e declarou a
constitucionalidade do art. 77, XXIII, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro (“XXIII -
ressalvada a legislação federal aplicável, ao servidor público estadual é proibido substituir,
sobre qualquer pretexto, trabalhadores de empresas privadas em greve”). O Colegiado
asseverou, quanto à regularidade formal da norma, que o STF consolidara entendimento de que
as regras básicas do processo legislativo presentes na CF/1988 incorporariam noções
elementares do modelo de separação dos poderes, o que as torna de observância inafastável no
âmbito local (CF, art. 25). As regras de iniciativa reservada, por demarcarem as competências
privativas assinaladas a cada uma das instâncias políticas do País, estariam entre as disposições
mais representativas da Federação, razão pela qual a jurisprudência da Corte assevera que à
força normativa dessas regras corresponderia não apenas um encargo positivo a ser cumprido
pelas assembleias legislativas, mas também uma eficácia negativa, que as impede de abordar
temas de iniciativa de outras autoridades públicas. Em casos nos quais o STF rechaçara a
existência de regras, em Constituição local, que deveriam constar de legislação ordinária, ficara
consignado que esses conteúdos deveriam contar com a avaliação do Chefe do Executivo local,
investido da conveniência e oportunidade de propor o debate a respeito de temas que estariam
tipicamente submetidos à sua alçada política, como remuneração de cargos, regime jurídico de
servidores, organização da administração local, entre outros. Permitir o tratamento dessa
temática diretamente na Constituição estadual equivaleria, portanto, a esvaziar as competências
do Chefe do Executivo.
O Plenário afirmou que, contudo, isso não significaria que as assembleias constituintes estaduais
seriam submetidas a uma completa interdição na disciplina das regras gerais de funcionamento
da Administração local, devendo se ater à estrita reprodução do texto federal. Somente as
normas de cunho substantivo deveriam ser necessariamente adotadas pelo Constituinte local.
Assim, desde que: a) as linhas básicas que regem a relação entre os poderes federados (no que
se incluem as regras de reserva de iniciativa) fossem respeitadas; e b) o parlamento local não

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suprimisse do governador a possibilidade de exercício de uma opção política legítima dentre
aquelas contidas na sua faixa de competências típicas, a Constituição estadual poderia dispor de
modo singular a respeito do funcionamento da Administração, sobretudo quando essa disciplina
peculiar traduzisse a concretização de princípios também contemplados no texto federal. No
caso, ressalvada a legislação federal aplicável, o texto impugnado proíbe que servidor público
estadual seja designado para substituir, sob qualquer pretexto, trabalhadores de empresas
privadas em greve. Embora o preceito esteja relacionado ao funcionamento da Administração
local, ele não se sobrepusera ao campo de discricionariedade política que a Constituição Federal
reserva, com exclusividade, à iniciativa do governador. Tampouco a regra dera à Administração
local configuração definitiva em desacordo com o texto federal. A norma em exame não teria
deficiência formal. Seu conteúdo, basicamente expletivo, veda a substituição de trabalhadores
grevistas por servidores públicos, a coibir a institucionalização do desvio de função como
prática a frustrar o direito de greve dos trabalhadores da iniciativa privada. A Constituição local
apenas textualizara um comportamento administrativo já condenável pela ordem constitucional
federal. Este texto contém hipóteses de excepcionalidade, em que envolvidas necessidades
inadiáveis da comunidade (CF, art. 9º, § 1º) que poderiam justificar o deslocamento de
servidores para o exercício temporário de funções alheias aos correspondentes cargos. Presentes
situações emergenciais, a Constituição Federal relativiza até mesmo a exigência de concurso
público (CF, art. 37, IX). A norma adversada contempla uma ressalva de emergencialidade,
tanto que remete à legislação federal a respeito de greve. O preceito não retira do governador
uma alternativa viável de aproveitamento dos servidores a ele submetidos para o benefício da
Administração. O que se proíbe é que a substituição dos grevistas viesse a ser implementada
para servir a pretextos outros que não o da própria emergencialidade. Vencidos os Ministros
Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski (Presidente), que julgavam procedente o pedido.
Entendiam que o constituinte local antecipara-se ao disciplinar a matéria, de iniciativa do
governador. O Ministro Marco Aurélio acrescia que a lei também padeceria de vício material,
pois estaria indevidamente acrescida no texto constitucional local.
ADI 232/RJ, rel. Min. Teori Zavascki, 5.8.2015. (ADI-232)

Emenda parlamentar e pertinência temática

O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a


inconstitucionalidade do art. 2º da LC 376/2007 do Estado de Santa Catarina. Na espécie, em
projeto de iniciativa do governador do referido Estado-Membro (CF, art. 61, § 1º, II, a), a
assembleia legislativa aprovara emenda aditiva sem pertinência com a proposição inicial do
chefe do Poder Executivo. Assim, a referida emenda aditiva — formalizada no curso da
tramitação de projeto de lei complementar que visava a criação de funções comissionadas no
âmbito da Secretaria de Estado de Educação, Ciência e Tecnologia — impusera ao governador o
reenquadramento de servidores do Instituto de Previdência estadual. A Corte afirmou que a
ausência de pertinência temática de emenda da Casa Legislativa a projeto de lei de iniciativa
exclusiva do Executivo levaria a concluir-se pela sua inconstitucionalidade formal. Ademais,
aplicar-se-ia ao caso o teor do Enunciado 685 da Súmula do STF, no sentido de ser
inconstitucional toda modalidade de provimento que propiciasse ao servidor investir-se, sem
prévia aprovação em concurso público, em cargo que não integrasse a carreira na qual
anteriormente investido.
ADI 3926/SC, rel. Min. Marco Aurélio, 5.8.2015. (ADI-3926)

ADI: extinção de cargo de escrivão judiciário e competência dos Estados-Membros

O Plenário julgou improcedente pedido formulado em ação direta e declarou a


constitucionalidade do art. 2º, §§ 1º, 2º, 3º, 4º e 5º, da Lei 7.971, do Estado do Espírito Santo,
que extingue o cargo de escrivão judiciário e cria, em seu lugar, função de confiança para o
exercício de atividades de direção, chefia e assessoramento, por servidor público ocupante de
cargo efetivo. O Tribunal asseverou que os tribunais de justiça estaduais possuiriam
competência para propor ao Poder Legislativo respectivo a criação e a extinção de cargos, nos

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termos do art. 96, II, b, da CF. Consignou que a extinção do cargo de escrivão judiciário não
configuraria incursão indevida na esfera de competência da União para legislar sobre Direito
Processual (CF, art. 22, I), mormente por se tratar de vínculo administrativo-funcional, inserido
na autoadministração dos Estados-Membros (CF, art. 18). Ademais, a vacância do cargo público
não se confundiria com a sua extinção; enquanto a primeira significaria a saída do servidor do
cargo público ocupado, a última seria a eliminação de um núcleo de atribuições e
responsabilidades na estrutura organizacional da Administração Pública. Além disso, a
exigência de critérios e garantias especiais para a perda do cargo pelo servidor público estável,
que desenvolvesse atividades exclusivas de Estado (CF, art. 247), somente se aplicaria à
vacância de cargo público e apenas nas estritas hipóteses do art. 41, § 1º, III, e do art. 169, § 7º,
da CF, não constituindo, portanto, qualquer óbice à extinção de cargo público por lei. No caso, a
lei estadual atacada extinguira o cargo de escrivão judiciário em sede estadual e criara, em seu
lugar, função de confiança para o exercício de atividades de direção, chefia e assessoramento,
por servidor público ocupante de cargo efetivo, em total consonância com o ordenamento
constitucional, o que não configuraria transposição ou qualquer outra forma de provimento
vedada pelo Enunciado 685 da Súmula do STF.
ADI 3711/ES, rel. Min. Luiz Fux, 5.8.2015. (ADI-3711)

Guarda municipal e fiscalização de trânsito

É constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício de poder de polícia de trânsito,


inclusive para imposição de sanções administrativas legalmente previstas. Com base nesse
orientação, o Plenário, por maioria e em conclusão de julgamento, desproveu recurso
extraordinário em que se discutia a possibilidade de lei local designar a guarda municipal para
atuar na fiscalização, no controle e na orientação do trânsito e do tráfego, em face dos limites
funcionais dispostos no art. 144, § 8º, da CF (“§ 8º - Os Municípios poderão constituir guardas
municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei”)
— v. Informativo 785. A Corte destacou que o poder de polícia não se confundiria com a
segurança pública. O exercício daquele não seria prerrogativa exclusiva das entidades policiais,
a quem a Constituição outorgara, com exclusividade, no art. 144, apenas as funções de
promoção da segurança pública. Ademais, a fiscalização do trânsito com aplicação das sanções
administrativas legalmente previstas, embora pudesse se dar ostensivamente, constituiria mero
exercício de poder de polícia. Não haveria, portanto, óbice ao seu exercício por entidades não
policiais. O CTB, observando os parâmetros constitucionais, estabelecera a competência comum
dos entes da Federação para o exercício da fiscalização de trânsito. Dentro de sua esfera de
atuação, delimitada pelo CTB, os Municípios poderiam determinar que o poder de polícia que
lhes compete fosse exercido pela guarda municipal. O art. 144, § 8º, da CF, não impediria que a
guarda municipal exercesse funções adicionais à de proteção de bens, serviços e instalações do
Município. Até mesmo instituições policiais poderiam cumular funções típicas de segurança
pública com o exercício do poder de polícia. Vencidos os Ministros Marco Aurélio (relator),
Teori Zavascki, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski (Presidente) e Cármen Lúcia, que davam
parcial provimento ao recurso. Entendiam ser constitucional a lei local que conferisse à guarda
municipal a atribuição de fiscalizar e controlar o trânsito, inclusive com a possibilidade de
imposição de multas, porém, desde que observada a finalidade constitucional da instituição de
proteger bens, serviços e equipamentos públicos (CF, art. 144, § 8º) e os limites da competência
municipal em matéria de trânsito, estabelecidos pela legislação federal (CF, art. 22, XI).
RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
6.8.2015. (RE-658570)

ADMINISTRAÇÃO

Inq N. 3.074-SC
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: IMPUTAÇÃO DE CRIME DE INEXIGÊNCIA INDEVIDA DE LICITAÇÃO. SERVIÇOS

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ADVOCATÍCIOS. REJEIÇÃO DA DENÚNCIA POR FALTA DE JUSTA CAUSA.
A contratação direta de escritório de advocacia, sem licitação, deve observar os seguintes parâmetros: a)
existência de procedimento administrativo formal; b) notória especialização profissional; c) natureza
singular do serviço; d) demonstração da inadequação da prestação do serviço pelos integrantes do Poder
Público; e) cobrança de preço compatível com o praticado pelo mercado.
Incontroversa a especialidade do escritório de advocacia, deve ser considerado singular o serviço de
retomada de concessão de saneamento básico do Município de Joinville, diante das circunstâncias do caso
concreto. Atendimento dos demais pressupostos para a contratação direta.
Denúncia rejeitada por falta de justa causa.

Art. 170 da Lei 8.112/1990: registro de infração prescrita e presunção de inocência


O art. 170 da Lei 8.112/1990 (“Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade julgadora determinará
o registro do fato nos assentamentos individuais do servidor”) é inconstitucional. Essa a conclusão do
Plenário ao conceder mandado de segurança para cassar decisão do Presidente da República que, embora
reconhecendo a prescrição da pretensão punitiva de infração disciplinar praticada pelo impetrante,
determinara a anotação dos fatos apurados em assentamento funcional. O Tribunal asseverou que, em
virtude do reconhecimento da extinção da punibilidade pela prescrição, obstar-se-ia a imposição de
punição administrativo-disciplinar, tendo em conta que a pretensão punitiva da Administração estaria
comprometida de modo direto e imediato. Assim, afirmou que a anotação dessa ocorrência em ficha
funcional violaria o princípio da presunção de inocência. Em consequência, a Corte, por maioria, declarou
a inconstitucionalidade incidental do art. 170 da Lei 8.112/1990. O Ministro Dias Toffoli (relator) aduziu
que o mencionado dispositivo remontaria prática surgida, em especial, na Formulação 36 do extinto
Departamento de Administração do Serviço Público - DASP (“Se a prescrição for posterior à instauração
do inquérito, deve-se registrar nos assentamentos do funcionário a prática da infração apenada”). O
Ministro Luiz Fux salientou que o registro, em si, seria uma punição, que acarretaria efeitos deletérios na
carreira do servidor, em ofensa também ao princípio da razoabilidade. O Ministro Marco Aurélio realçou,
de igual forma, que o aludido artigo discreparia da Constituição sob o ângulo da razoabilidade. Por sua
vez, o Ministro Ricardo Lewandowski acrescentou que o preceito em questão atentaria contra a imagem
funcional do servidor. Vencido o Ministro Teori Zavascki, que não reputava o art. 170 da Lei 8.112/1990
inconstitucional. Consignava que a incompatibilidade dependeria da interpretação conferida ao
dispositivo. Aduzia não conflitar com a Constituição o entendimento de que se trataria de documentação
de um fato, ou seja, de que o servidor respondera a um processo e que a ele não fora aplicada pena em
razão da prescrição.
MS 23262/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 23.4.2014. (MS-23262)

ADI e estabilidade de servidor público


O Plenário confirmou medida cautelar (noticiada no Informativo 137) e julgou procedente pedido
formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 6º do ADCT da Constituição do
Estado do Amazonas, que confere estabilidade aos empregados de empresas públicas, sociedades de
economia mista e demais entidades de direito privado sob o controle de estados-membros e municípios. O
Tribunal reputou não ser possível à Constituição estadual estender as hipóteses contempladas pelo art. 19
do ADCT da Constituição Federal, que concedera estabilidade no serviço público apenas aos servidores
da administração direta, autárquica e de fundações públicas.
ADI 1808/AM, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.9.2014. (ADI-1808)

EMB. DECL. NO AG. REG. NO AI N. 651.512-RS


RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS - ECT. DEMISSÃO
IMOTIVADA DE SUA EMPREGADA. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO DA
DISPENSA. EMBARGOS ACOLHIDOS COM EFEITOS INFRINGENTES.
I - O Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o mérito do RE 589.998/PI, de minha relatoria,
com repercussão geral reconhecida, firmou o entendimento no sentido de que a dispensa de empregados
de empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos deve ser motivada,
em obediência aos princípios da impessoalidade e isonomia que regem a admissão por concurso público,
afastando-se, entretanto, o direito à estabilidade prevista no art. 41 da Constituição Federal.
II - Embargos de declaração acolhidos para, atribuindo-lhes excepcionais efeitos infringentes, cassar o
acórdão embargado, dar provimento ao agravo regimental, para dar provimento ao agravo de instrumento,
para dar provimento ao recurso extraordinário, em conformidade ao que foi decidido no julgamento do

14
RE 589.998-RG/PI.

Atividade policial e exercício da advocacia: incompatibilidade


A vedação do exercício da atividade de advocacia por aqueles que desempenham, direta ou indiretamente,
atividade policial, não afronta o princípio da isonomia. Com base nessa orientação, o Plenário julgou
improcedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade proposta contra o art. 28, V, da
Lei 8.906/1994 - Estatuto da Advocacia. O ato impugnado dispõe ser o exercício da advocacia, mesmo
em causa própria, incompatível com as atividades dos ocupantes de cargos ou funções vinculados direta
ou indiretamente a atividade policial de qualquer natureza. O Tribunal aduziu que referida vedação não
pretenderia fazer distinção qualificativa entre a atividade da polícia e a da advocacia, porquanto cada qual
prestaria relevantes serviços no âmbito social. Destacou que o aludido óbice não constituiria inovação
trazida pela Lei 8.906/1994, porque constaria expressamente no anterior Estatuto da OAB - Lei
4.215/1963. Em acréscimo, o Ministro Dias Toffoli, relator, consignou que o legislador pretendera
estabelecer cláusula de incompatibilidade de exercício simultâneo das referidas atividades, por ser
prejudicial às relevantes funções exercidas por cada uma dessas categorias.
ADI 3541/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 12.2.2014. (ADI-3541)

Responsabilidade civil do Estado por ato lícito: intervenção econômica e contrato - 6


A União, na qualidade de contratante, possui responsabilidade civil por prejuízos suportados por
companhia aérea em decorrência de planos econômicos existentes no período objeto da ação. Essa a
conclusão do Plenário ao finalizar o julgamento de três recursos extraordinários nos quais se discutia
eventual direito a indenização de companhia aérea em virtude da suposta diminuição do seu patrimônio
decorrente da política de congelamento tarifário vigente, no País, de outubro de 1985 a janeiro de 1992. A
empresa, ora recorrida, requerera também o restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro do
contrato de serviço de transporte aéreo, com o ressarcimento dos prejuízos suportados, acrescidos de
danos emergentes, lucros cessantes, correção monetária e juros, em face de cláusula contratual — v.
Informativo 705. O Tribunal, por maioria, negou provimento aos recursos extraordinários do Ministério
Público Federal, na parte em que conhecido, e da União. Não conheceu, ainda, do outro recurso
extraordinário da União, referente à participação do parquet desde o início da demanda.
RE 571969/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 12.3.2014. (RE-571969)

ADI N. 2.225-SC
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 11.288/99 do Estado de Santa Catarina.
Estabelecimento de condições e critérios a serem observados para o exercício de cargos de direção da
administração indireta do Estado. Necessidade de prévia aprovação da Assembleia Legislativa.
Inconstitucionalidade apenas em relação às empresas públicas e às sociedades de economia mista. Artigo
173, § 1º, CF/88. Fornecimento de informações protegidas por sigilo fiscal como condição para a
aprovação prévia pelo Poder Legislativo. Mecanismo de fiscalização permanente após a exoneração dos
ocupantes dos referidos cargos. Violação do princípio da separação dos Poderes.
1. A Corte já pacificou o entendimento de que não padece de nenhum vício constitucional a previsão de
participação do Poder Legislativo na nomeação de dirigentes de autarquias ou fundações públicas. Trata-
se de aplicação aos estados-membros do parâmetro de simetria constante do art. 52, III, f, da Constituição
Federal, que submete ao crivo do Senado Federal a aprovação prévia dos indicados para ocupar
determinados cargos definidos por lei. Nesses termos, são válidas as normas locais que subordinam a
nomeação dos dirigentes de autarquias ou fundações públicas à prévia aprovação de Assembleia
Legislativa, não havendo, nesse caso, nenhuma interferência indevida do Poder Legislativo em função
típica do Poder Executivo, nem violação do princípio da separação dos Poderes.
2. Situação diversa, entretanto, ocorre em relação à intervenção parlamentar no processo de provimento
das cargas de direção das empresas públicas e das sociedades de economia mista da administração
indireta dos estados, por serem pessoas jurídicas de direito privado, que, nos termos do art. 173, § 1º, da
Constituição Federal, estão sujeitas ao regime jurídico próprio das empresas privadas, o que obsta a
exigência de manifestação prévia do Poder Legislativo estadual. Precedentes.
3. O art. 2º, IV, e o art. 3º da Lei nº 11.288/99 extrapolam o sistema de freios e contrapesos autorizado
pela Constituição Federal, pois, além de determinarem o fornecimento de informações protegidas por
sigilo fiscal como condição para a aprovação prévia pelo Poder Legislativo dos titulares de determinados
cargos, criam mecanismo de fiscalização permanente pela Assembleia Legislativa para após a exoneração
dos ocupantes dos referidos cargos. Esses dispositivos instituíram modalidade de controle direto pela
Assembleia Legislativa - sem o auxílio do Tribunal de Contas do Estado - que não encontra fundamento

15
de validade em nenhuma norma constitucional, resultando em violação ao princípio da separação dos
Poderes (art. 2º, CF/88).
4. No âmbito do Poder Legislativo, apenas as comissões parlamentares de inquérito, nos termos do art.
58, § 3º, da Lei Maior, pode determinar a apresentação de declaração de bens ou informações sob sigilo
fiscal, o que, evidentemente, fica ainda condicionado pela existência de um quadro fático concreto e
específico e pela apresentação de pedido com fundamentação individualizada que justifique a invasão da
privacidade do investigado.
5. Ação direta julgada parcialmente procedente.

ADI N. 3.609-AC
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. EC nº 38/2005 do Estado do Acre. Efetivação de
servidores públicos providos sem concurso público até 31 de dezembro de 1994. Violação do art. 37, II,
CF. Precedentes.
1. Por força do art. 37, inciso II, da CF, a investidura em cargo ou emprego públicos depende da prévia
aprovação em concurso público, sendo inextensível a exceção prevista no art. 19 do ADCT. Precedentes:
ADI nº 498, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 9/8/96; ADI nº 208, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de
19/12/02; ADI nº 100, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 1/10/04; ADI nº 88, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de
8/9/2000; ADI nº 1.350/RO, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 1/12/06; ADI nº 289, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, DJ de 16/3/07, entre outros.
2. Modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade, nos termos do art. 27 da Lei nº
9.868/99, para se darem efeitos prospectivos à decisão, de modo que somente produza seus efeitos a partir
de doze meses, contados da data da publicação da ata do julgamento, tempo hábil para a realização de
concurso público, a nomeação e a posse de novos servidores, evitando-se, assim, prejuízo à prestação de
serviços públicos essenciais à população.
3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

ADI: servidores públicos e vinculação remuneratória


O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do
art. 47, “caput”, da Constituição do Estado da Bahia (“Lei disporá sobre a isonomia entre as carreiras de
policiais civis e militares, fixando os vencimentos de forma escalonada entre os níveis e classes, para os
civis, e correspondentes postos e graduações, para os militares”). A Corte, ao reiterar o que decidido na
ADI 3.295/AM (DJe de 5.8.2011) e na ADI 3.930/RO (DJe de 23.10.2009), afirmou que o
estabelecimento de política remuneratória de servidores do Poder Executivo, à luz da separação de
Poderes, seria de competência exclusiva do chefe daquele Poder (CF, art. 61, § 1º, II, a). Além disso, a
norma constitucional estadual em exame, ao estabelecer, a toda evidência, hipótese de vinculação
remuneratória entre policiais militares e policiais civis do Estado da Bahia, ofenderia o disposto no art.
37, XIII, da CF (“XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para
o efeito de remuneração de pessoal do serviço público”). Ademais, o argumento de que se trataria de uma
disposição meramente programática ou autorizativa para o legislador infraconstitucional, se revelaria
frágil, uma vez que não se poderia conceder ao legislador autorização para editar atos normativos em
desconformidade com o que estatui a Constituição Federal. O Ministro Roberto Barroso acompanhou o
entendimento do Colegiado apenas quanto à inconstitucionalidade material da norma, no tocante à
violação ao art. 37, XIII, da CF.
ADI 3777/BA, rel. Min. Luiz Fux, 19.11.2014. (ADI-3777)

ARE N. 652.777-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. PUBLICAÇÃO, EM SÍTIO ELETRÔNICO MANTIDO
PELO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, DO NOME DE SEUS SERVIDORES E DO VALOR
DOS CORRESPONDENTES VENCIMENTOS. LEGITIMIDADE.
1. É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública,
dos nomes dos seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens
pecuniárias. 2. Recurso extraordinário conhecido e provido.

CONCURSO

16
AG. REG. NO RE N. 733.596-MA
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO.
CONCURSO PÚBLICO. DIREITO SUBJETIVO À NOMEAÇÃO. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA.
EXISTÊNCIA DE CANDIDATOS DEVIDAMENTE APROVADOS E HABILITADOS EM
CERTAME VIGENTE. PRECEDENTES.
1. A contratação precária para o exercício de atribuições de cargo efetivo durante o prazo de validade do
concurso público respectivo traduz preterição dos candidatos aprovados e confere a esses últimos direito
subjetivo à nomeação. Precedentes: ARE 692.368-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe
4/10/2012 e AI 788.628-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe 8/10/2012.
2. In casu, o acórdão recorrido assentou: “ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. CONCURSO
PÚBLICO. PROFESSOR. CANDIDATO APROVADO FORA DO NÚMERO DE VAGAS PREVISTO
NO EDITAL. EXPECTATIVA DE DIREITO À NOMEAÇÃO. POSTERIOR CONTRATAÇÃO
TEMPORÁRIA. EXISTÊNCIA DE VAGAS NO PRAZO DE VALIDADE DO CONCURSO PARA O
MESMO CARGO COMPROVADA. DIREITO LÍQUIDO E CERTO À NOMEAÇÃO”.
3. Agravo regimental DESPROVIDO.

ARE 733.957-AgR/CE. RELATOR: Ministro Celso de Mello.

EMENTA: CONCURSO PÚBLICO. AGENTE PENITENCIÁRIO. INVESTIGAÇÃO SOCIAL. VIDA


PREGRESSA DO CANDIDATO. EXISTÊNCIA DE REGISTROS CRIMINAIS. PROCEDIMENTOS
PENAIS DE QUE NÃO RESULTOU CONDENAÇÃO CRIMINAL TRANSITADA EM JULGADO.
EXCLUSÃO DO CANDIDATO. IMPOSSIBILIDADE. TRANSGRESSÃO AO POSTULADO
CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (CF, ART. 5º, LVII). RECURSO
EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO.
- A exclusão de candidato regularmente inscrito em concurso público, motivada, unicamente, pelo fato de
existirem registros de infrações penais de que não resultou condenação criminal transitada em julgado
vulnera, de modo frontal, o postulado constitucional do estado de inocência, inscrito no art. 5º, inciso
LVII, da Lei Fundamental da República. Precedentes.

Serviços sociais autônomos e exigência de concurso público - 1


Os serviços sociais autônomos, por possuírem natureza jurídica de direito privado e não integrarem a
Administração Pública, mesmo que desempenhem atividade de interesse público em cooperação com o
ente estatal, não estão sujeitos à observância da regra de concurso público (CF, art. 37, II) para
contratação de seu pessoal. Essa a conclusão do Plenário, que negou provimento a recurso extraordinário
no qual se discutia a necessidade de realização de concurso público para a contratação de empregados por
pessoa jurídica integrante do chamado “Sistema S”. De início, a Corte afastou preliminar de ilegitimidade
do Ministério Público do Trabalho para interpor o presente recurso extraordinário. Destacou que, nos
termos dos artigos 83, VI, e 107, “caput”, ambos da LC 75/1993, incumbiria àquele órgão oficiar perante
o TST, o que abrangeria a atribuição de interpor recurso perante o STF. Esclareceu que os precedentes
citados pelo recorrido (SEST - Serviço Social do Transporte) não se aplicariam à espécie, porque neles o
Ministério Público do Trabalho teria atuado de forma originária perante o STF, o que seria vedado. No
mérito, o Tribunal lembrou que a configuração jurídica dessas entidades relacionadas aos serviços sociais
teriam sido expressamente recepcionadas pelo art. 240 da CF e pelo art. 62 do ADCT. Recordou ainda
que os serviços sociais do Sistema “S” (SEST - Serviço Social do Transporte; SESCOOP - Serviço
Nacional de Aprendizagem no Cooperativismo; SESC - Serviço Social do Comércio; SENAC - Serviço
Nacional de Aprendizagem; SESI - Serviço Social da Indústria; SENAI - Serviço de Aprendizado
Industrial; e SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), vinculados às entidades patronais de
grau superior e patrocinados, basicamente, por recursos recolhidos do próprio setor produtivo
beneficiado, teriam inegável autonomia administrativa. Asseverou que essa autonomia teria limites no
controle finalístico exercido pelo TCU quanto à aplicação dos recursos recebidos, sujeição que decorreria
do art. 183 do Decreto-lei 200/1967 e do art. 70 da Constituição. Ademais, mencionou que, no caso
concreto, a entidade estaria sujeita às auditorias a cargo do Ministério dos Transportes e à aprovação de
seus orçamentos pelo Poder Executivo. Assinalou que a não obrigatoriedade de submissão das entidades
do denominado Sistema “S” aos ditames constitucionais do art. 37, notadamente ao seu inciso II, não as
eximiria de manter um padrão de objetividade e eficiência na contratação e nos gastos com seu pessoal.
Enfatizou que essa exigência traduziria um requisito de legitimidade da aplicação dos recursos
arrecadados na manutenção de sua finalidade social, porquanto entidades de cooperação a desenvolver
atividades de interesse coletivo.

17
A Corte enunciou as características básicas desses entes autônomos: a) dedicam-se a atividades privadas
de interesse coletivo cuja execução não é atribuída de maneira privativa ao Estado; b) atuam em regime
de mera colaboração com o Poder Público; c) possuem patrimônio e receita próprios, constituídos,
majoritariamente, pelo produto das contribuições compulsórias que a própria lei de criação institui em seu
favor; e d) possuem a prerrogativa de autogerir seus recursos, inclusive no que se refere à elaboração de
seus orçamentos, ao estabelecimento de prioridades e à definição de seus quadros de cargos e salários,
segundo orientação política própria. Alertou para a necessidade de não se confundir essas entidades e
tampouco equipará-las a outras criadas após a CF/1988, como a Associação dos Pioneiros Sociais - APS;
a Agência de Promoção de Exportações do Brasil - APEX; e também a Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial - ABDI, cuja configuração jurídica teria peculiaridades próprias: a) criadas
por autorização de lei e implementadas pelo Poder Executivo, não por entidades sindicais; b) não
destinadas a prover prestações sociais ou de formação profissional a determinadas categorias de
trabalhadores, mas a atuar na prestação de assistência médica qualificada e na promoção de políticas
públicas de desenvolvimento setoriais; c) financiadas, majoritariamente, por dotações consignadas no
orçamento da União; d) obrigadas a gerir seus recursos de acordo com os critérios, metas e objetivos
estabelecidos em contrato de gestão cujos termos seriam definidos pelo próprio Poder Executivo; e e)
supervisionadas pelo Poder Executivo, quanto à gestão de seus recursos. Feitas essas considerações, o
Colegiado pontuou que, embora o recorrido tenha sido criado após a CF/1988, a natureza das atividades
por ele desenvolvidas, a forma de financiamento e o regime de controle a que estaria sujeito o
enquadrariam no conceito original de serviço social autônomo, vinculado e financiado por determinado
segmento produtivo. Concluiu, assim que, em razão de sua natureza jurídica de direito privado e não
integrante da Administração Pública, direta ou indireta, a ele não se aplicaria o inciso II do art. 37 da
Constituição. Registrou que a ausência de imposição normativa de observância obrigatória dos princípios
gerais da Administração Pública na contratação de pessoal, não se aplicaria a certos serviços sociais
(como APS, APEX e ABDI) e outras espécies de entidades colaboradoras com o Poder Público, cuja
disciplina geral imporia a adoção desses princípios. Precedentes citados: ADI 1.864/PR (DJe de
2.5.2008); ARE 683.979/DF (DJe de 23.8.2012); RE 366.168/SC (DJU de 14.5.2004) e AI 349.477
AgR/PR (DJU de 28.2.2003).
RE 789874/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 17.9.2014. (RE-789874)

AG. REG. NO ARE N. 656.360-BA


RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Concurso público.
Limitação do número de habilitados na fase anterior para participação na subsequente. Possibilidade.
Abertura de novo concurso. Prazo de validade. Legislação infraconstitucional. Reexame de fatos e provas.
Impossibilidade. Precedentes.
1. Não viola a Constituição Federal a limitação, pelo edital do concurso, do número de candidatos que
participarão das fases subsequentes do certame, ainda que importe na eliminação de participantes que,
não obstante tenham atingido as notas mínimas necessárias à habilitação, tenham se classificado além do
número de vagas previsto no instrumento convocatório.
2. A Corte de origem concluiu, com base em normas infraconstitucionais e nos fatos e nas provas dos
autos, que o prazo do concurso do qual participaram os ora agravantes já havia expirado quando da
abertura da nova seleção.
3. Inadmissível, em recurso extraordinário, a análise da legislação infraconstitucional e o reexame do
conjunto fático-probatório da causa. Incidência das Súmulas nºs 636 e 279/STF.
4. Agravo regimental não provido.

AG. REG. NO ARE N. 758.465-BA


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.
CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATOS APROVADOS FORA DO NÚMERO DE VAGAS
PREVISTO NO EDITAL. INEXISTÊNCIA DE NOVAS VAGAS. PRETERIÇÃO NÃO
CARACTERIZADA. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 279 E 454/STF.
Para dissentir da conclusão do acórdão recorrido, seria necessário nova apreciação dos fatos e do material
probatório constante dos autos, bem como exame de cláusulas editalícias. Incidência das Súmulas 279 e
454/STF.
Agravo regimental a que se nega provimento.

Concurso público e cláusula de barreira - 1

18
É constitucional a regra denominada “cláusula de barreira”, inserida em edital de concurso público, que
limita o número de candidatos participantes de cada fase da disputa, com o intuito de selecionar apenas os
concorrentes mais bem classificados para prosseguir no certame. Essa a conclusão do Plenário, que
proveu recurso extraordinário no qual se discutia a legitimidade da aludida cláusula à luz do princípio da
isonomia. ...O Tribunal destacou que as cláusulas de barreira, de modo geral, elegeriam critérios
diferenciadores de candidatos em perfeita consonância com a Constituição, à luz do art. 37, caput e II.
Apontou que essas regras não constituiriam apenas medida operacional fundada em questões financeiras,
mas também levariam em conta a limitação de recursos humanos presente na maioria dos concursos.
Elucidou que o estabelecimento do número de candidatos aptos a participar de determinada etapa de
concurso público também passaria pelo critério de conveniência e oportunidade da Administração, e não
infringiria o princípio da isonomia quando o critério de convocação fosse vinculado ao desempenho do
concorrente em etapas anteriores. Acresceu que decisões judiciais ampliadoras do rol de participantes em
determinada etapa de certame, no afã de atender à isonomia, desrespeitariam o postulado, porque
ensejariam a possível preterição de candidatos mais bem classificados...
RE 635739/AL, rel. Min. Gilmar Mendes, 19.2.2014. (RE-635739)

AG. REG. NO RE N. 607.590-PR


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONCURSO PÚBLICO.
APROVADOS FORA DO NÚMERO DE VAGAS PREVISTAS NO EDITAL. PRETERIÇÃO NÃO
CONFIGURADA. AUSÊNCIA DE DIREITO SUBJETIVO À NOMEAÇÃO. PRORROGAÇÃO DE
CONCURSO PÚBLICO. ATO DISCRICIONÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO. PRECEDENTES.
O Supremo Tribunal Federal, após reconhecer a existência de repercussão geral da matéria no RE
598.099-RG, julgado sob a relatoria do Ministro Gilmar Mendes, entendeu que, em regra, apenas o
candidato aprovado entre as vagas previstas no edital de concurso público tem direito líquido e certo à
nomeação.
A jurisprudência desta Corte é pacífica ao afirmar se tratar de decisão discricionária da Administração a
questão relativa à prorrogação ou não de concurso público. Precedentes.
Agravo regimental a que se nega provimento.

ADI N. 4.876-DF
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Artigo 7º da Lei Complementar nº 100/2007 do Estado
de Minas Gerais. Norma que tornou titulares de cargos efetivos servidores que ingressaram na
administração pública sem concurso público, englobando servidores admitidos antes e depois da
Constituição de 1988. Ofensa ao art. 37, inciso II, da Constituição Federal, e ao art. 19 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias. Modulação dos efeitos. Procedência parcial.
1. Desde a Constituição de 1988, por força do seu art. 37, inciso II, a investidura em cargo ou emprego
público depende da prévia aprovação em concurso público. As exceções a essa regra estão taxativamente
previstas na Constituição. Tratando-se, no entanto, de cargo efetivo, a aprovação em concurso público se
impõe.
2. O art. 19 do Atos das Disposições Constitucionais Transitórias tornou estáveis os servidores que
estavam em exercício há pelo menos cinco anos na data da promulgação da Constituição de 1988. A
estabilidade conferida por essa norma não implica a chamada efetividade, que depende de concurso
público, nem com ela se confunde. Tal dispositivo é de observância obrigatória pelos estados.
Precedentes: ADI nº 289/CE, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, DJ de 16/3/07; RE
nº 199.293/SP, Relator o Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJ de 6/8/04; ADI nº 243/RN-MC,
Relator o Ministro Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ de 24/8/01; RE nº 167635/PA, Relator o Ministro
Maurício Corrêa, Segunda Turma, DJ de 7/2/97.
3. Com exceção do inciso III (que faz referência a servidores submetidos a concurso público), os demais
incisos do art. 7º da Lei Complementar nº 100, de 2007, do Estado de Minas Gerais tornaram titulares de
cargo efetivo servidores que ingressaram na Administração Pública com evidente burla ao princípio do
concurso público (art. 37, II, CF/88).
4. Modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade, nos termos do art. 27 da Lei nº
9.868/99, para, i) em relação aos cargos para os quais não haja concurso público em andamento ou com
prazo de validade em curso, dar efeitos prospectivos à decisão, de modo a somente produzir efeitos a
partir de doze meses, contados da data da publicação da ata de julgamento, tempo hábil para a realização
de concurso público, a nomeação e a posse de novos servidores, evitando-se, assim, prejuízo à prestação

19
de serviços públicos essenciais à população; ii) quanto aos cargos para os quais exista concurso em
andamento ou dentro do prazo de validade, a decisão deve surtir efeitos imediatamente. Ficam, ainda,
ressalvados dos efeitos da decisão (a) aqueles que já estejam aposentados e aqueles servidores que, até a
data de publicação da ata deste julgamento, tenham preenchido os requisitos para a aposentadoria,
exclusivamente para efeitos de aposentadoria, o que não implica efetivação nos cargos ou convalidação
da lei inconstitucional para esses servidores, uma vez que a sua permanência no cargo deve,
necessariamente, observar os prazos de modulação acima; (b) os que foram nomeados em virtude de
aprovação em concurso público, imprescindivelmente, no cargo para o qual foram aprovados; e (c) a
estabilidade adquirida pelos servidores que cumpriram os requisitos previstos no art. 19 do ADCT da
Constituição Federal.
5. Ação direta julgada parcialmente procedente.

Posse em concurso público por medida judicial precária e “fato consumado”

A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não implica a
manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia aprovação em concurso
público (CF, art. 37, II), valor constitucional que prepondera sobre o interesse individual do candidato,
que não pode invocar, na hipótese, o princípio da proteção da confiança legítima, pois conhece a
precariedade da medida judicial. Com base nessa orientação, o Plenário, por maioria, deu provimento a
recurso extraordinário para reformar acordão que, com base na “teoria do fato consumado”, concluíra
pela permanência da recorrida no cargo público por ela ocupado desde 2002. Discutia-se a possibilidade
de manutenção de candidato investido em cargo público em decorrência de decisão judicial de natureza
provisória. Na espécie, a recorrida tomara posse no cargo de agente da polícia civil em virtude de medida
liminar deferida em ação cautelar, embora ela tivesse sido reprovada na segunda etapa do certame (teste
físico) e não tivesse se submetido à terceira fase (exame psicotécnico).
O Tribunal destacou, de início, a existência de conflito entre duas ordens de valores que, ante a
incompatibilidade, deveriam ser sopesadas. De um lado, o interesse individual da candidata em
permanecer no cargo público que, por força de liminar, exerceria há mais de 12 anos. De outro lado, o
interesse público no cumprimento do art. 37, II, da CF e de seus consectários. Em seguida, mencionou
que a jurisprudência predominante da Corte seria no sentido da prevalência à estrita observância das
normas constitucionais. Asseverou que, na questão em debate, não seria cabível o argumento da boa-fé ou
do princípio, a ela associado, da proteção da confiança legítima do administrado. No ponto, aduziu que
essa alegação seria viável quando, por ato de iniciativa da própria Administração, decorrente de
equivocada interpretação da lei ou dos fatos, o servidor seria alçado a determinada condição jurídica ou
seria incorporada determinada vantagem ao seu patrimônio funcional, de modo que essas peculiares
circunstâncias provocassem em seu íntimo justificável convicção de que se trataria de um “status” ou de
uma vantagem legítima. Assim, superveniente constatação da ilegitimidade desses proveitos configuraria
comprometimento da boa-fé ou da confiança legítima provocada pelo primitivo ato da Administração, o
que poderia autorizar, ainda que em nome do “fato consumado”, a manutenção do “status quo”, ou, pelo
menos, a dispensa de restituição de valores. O Colegiado frisou, no entanto, a excepcionalidade dessa
hipótese.
A Corte salientou, ainda, que a situação dos autos seria distinta, porquanto a nomeação e posse no cargo
teriam ocorrido por provocação da recorrida e contra a vontade da Administração, a qual apresentara
resistência no plano processual. Explicitou, também, que o acórdão recorrido não afirmara a
plausibilidade do direito de a recorrida permanecer no cargo, mas somente se limitara a aplicar a “teoria
do fato consumado”, tendo em conta que a liminar vigoraria, à época, há mais de sete anos. O Colegiado
observou que, na espécie, não faria sentido invocar-se o princípio da proteção da confiança legítima nos
atos administrativos, haja vista que a beneficiária não desconheceria, porque decorrente de lei expressa, a
natureza provisória do provimento, cuja revogação poderia se dar a qualquer momento e acarretar
automático efeito retroativo. Acrescentou que a concessão das medidas antecipatórias correria por conta e
responsabilidade do requerente. Assim, afastado o princípio da proteção da confiança legítima, o Plenário
registrou que apenas o interesse individual na manutenção do cargo sobejaria como fundamento para
sustentar a conclusão do acórdão impugnado. Considerou, todavia, que a pretensão da recorrida não
poderia justificar o desatendimento do superior interesse público no cumprimento das normas
constitucionais. Frisou, ademais, que esse interesse individual se oporia, inclusive, ao interesse de mesma
natureza de candidato que, aprovado no concurso, fora alijado do cargo, ocupado sem observância das
regras constitucionais. Por fim, o Tribunal assegurou à recorrida os vencimentos e as vantagens
percebidos até a data do julgamento.
Vencidos os Ministros Roberto Barroso e Luiz Fux negavam provimento ao recurso extraordinário. O

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Ministro Roberto Barroso entendia que, no caso, a ponderação não se daria entre interesse privado do
indivíduo e interesse público da Administração, mas, entre o princípio da confiança legítima e o
mandamento do concurso público. Esclarecia que, como em toda ponderação, nem sempre seria possível
estabelecer, “prima facie”, qual dos dois princípios deveria prevalecer. Aduzia que essa ponderação
deveria ser feita à luz dos elementos do caso concreto. Registrava que a proteção da confiança legítima
seria valor constitucional decorrente do princípio da segurança jurídica e, por isso, se mostraria impróprio
o argumento no sentido de ser inexistente tese constitucional em favor da recorrida. Destacava que a ideia
de segurança jurídica teria vertente objetiva a impedir a retroatividade das normas. Nesse ponto,
sublinhava que haveria proteção ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e à coisa julgada, a amparar
as expectativas legítimas das pessoas, a preservar, inclusive, efeitos de atos eventualmente inválidos.
Reiterava que as situações de investiduras de servidor público envolveriam muitas nuanças, do que
decorreria a necessidade de se conhecer o caso “sub judice” para se proceder à interpretação
constitucionalmente adequada. Propunha a observância de parâmetros para a aferição de eventual
confiança legítima: a) o tempo decorrido entre as decisões contraditórias, adotando-se, por analogia, o
prazo de cinco anos previsto no art. 54 da Lei 9.784/1999; b) a boa-fé do candidato; c) o grau de
estabilidade da decisão judicial, de maneira que uma decisão de 2º grau geraria maior expectativa de
direito; d) o órgão prolator da decisão, pois quanto mais elevado o órgão judicial, maior a expectativa de
direito originada; e e) a plausibilidade da tese jurídica que justificara a investidura e a ausência de conduta
processual procrastinatória.
O Ministro Luiz Fux, por sua vez, enfatizava que a recorrida teria prestado concurso público e sido
aprovada com nota exemplar no curso de aperfeiçoamento, apesar de não ter se submetido ao exame
psicotécnico. Registrava que a função desse teste seria aferir condições biopsicológicas no exercício de
uma função, e a recorrida a exercera, de forma exemplar por vários anos, o que superaria completamente
a ausência do referido exame. Reputava que a recorrida tivera seu direito reafirmado em sentença de
mérito e confirmado em acórdão que perdurara por mais de 12 anos. Frisava que a tendência mundial
seria fazer com que o jurisdicionado se contentasse com uma só decisão judicial e o advento de uma
segunda decisão, por órgão colegiado, apuraria a sua juridicidade. Comparava, no ponto, com o que
contido na denominada “Lei da Ficha Limpa”, que prevê a decisão colegiada para fins de tornar alguém
inelegível. Aduzia que, na espécie, estaria em jogo direito fundamental encartado no art. 5º da CF e, como
direito fundamental, prevaleceria sobre outros interesses correlatos à causa.
RE 608482/RN, rel. Min. Teori Zavascki, 7.8.2014. (RE-608482)

EMB. DECL. NO AG. REG. NO RE N. 607.590-PR


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: EMBARGOS DECLARATÓRIOS EM AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. PRETENSÃO DE CARÁTER INFRINGENTE. EMBARGOS ACOLHIDOS.
A criação de novos cargos, ainda que no prazo de validade do concurso público, não gera direito líquido e
certo de nomeação para aqueles aprovados fora do número de vagas do edital, por se tratar de ato
discricionário e, portanto, submetido ao juízo de conveniência e oportunidade da Administração.
Hipótese em que a edição de resolução pelo Tribunal Superior Eleitoral, que determinava que as vagas
criadas posteriormente fossem preenchidas com o concurso então vigente, retirou do Tribunal Regional
Eleitoral a discricionariedade de optar por fazer um novo concurso ou aproveitar os que já estavam
concursados. Diante de tal peculiaridade, reconhece-se aos recorrentes o direito subjetivo à nomeação,
devendo ser respeitada a ordem de classificação do concurso público.
Embargos de declaração acolhidos, com excepcional atribuição de efeitos modificativos, a fim de
conhecer e dar provimento ao recurso extraordinário.

Pessoa Portadora de Deficiência - Concurso Público - Reserva Percentual. RMS 32.732-TA/DF.


RELATOR: Ministro Celso de Mello

EMENTA: Concurso público. Pessoa portadora de deficiência. Reserva percentual de cargos e empregos
públicos (CF, art. 37, VIII). Ocorrência, na espécie, dos requisitos necessários ao reconhecimento do
direito vindicado pela recorrente. Atendimento, no caso, da exigência de compatibilidade entre o estado
de deficiência e o conteúdo ocupacional ou funcional do cargo público disputado, independentemente de
a deficiência produzir dificuldade para o exercício da atividade funcional. Pessoa portadora de
necessidades especiais cuja situação de deficiência não a incapacita nem a desqualifica, de modo
absoluto, para o exercício das atividades funcionais. Inadmissibilidade da exigência adicional de a
situação de deficiência também produzir “dificuldades para o desempenho das funções do cargo”.
Reconhecimento, em favor de pessoa comprovadamente portadora de necessidades especiais, do direito

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de investidura em cargos públicos, desde que – obtida prévia aprovação em concurso público de provas
ou de provas e títulos dentro da reserva percentual a que alude o art. 37, VIII, da Constituição – a
deficiência não se revele absolutamente incompatível com as atribuições funcionais inerentes ao cargo ou
ao emprego público. Incidência, na espécie, das cláusulas de proteção fundadas na Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Incorporação desse ato de direito internacional
público, com eficácia e hierarquia de norma constitucional (CF, art. 5º, § 3º), ao ordenamento doméstico
brasileiro (Decreto nº 6.949/2009). Primazia da norma mais favorável: critério que deve reger a
interpretação judicial, em ordem a tornar mais efetiva a proteção das pessoas e dos grupos vulneráveis.
Precedentes. Vetores que informam o processo hermenêutico concernente à interpretação/aplicação da
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas portadoras de deficiência (Artigo 3). Mecanismos
compensatórios que concretizam, no plano da atividade estatal, a implementação de ações afirmativas.
Necessidade de recompor, pelo respeito à diversidade humana e à igualdade de oportunidades, sempre
vedada qualquer ideia de discriminação, o próprio sentido de igualdade inerente às instituições
republicanas. Parecer favorável da Procuradoria-Geral da República. Recurso ordinário provido.

ADI N. 3.649-RJ
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: 1) A contratação temporária prevista no inciso IX do art. 37 da Constituição da República não
pode servir à burla da regra constitucional que obriga a realização de concurso público para o provimento
de cargo efetivo e de emprego público.
2) O concurso público, posto revelar critério democrático para a escolha dos melhores a desempenharem
atribuições para o Estado, na visão anglo-saxônica do merit system, já integrava a Constituição Imperial
de 1824 e deve ser persistentemente prestigiado.
3) Deveras, há circunstâncias que compelem a Administração Pública a adotar medidas de caráter
emergencial para atender a necessidades urgentes e temporárias e que desobrigam, por permissivo
constitucional, o administrador público de realizar um concurso público para a contratação temporária.
4) A contratação temporária, consoante entendimento desta Corte, unicamente poderá ter lugar quando: 1)
existir previsão legal dos casos; 2) a contratação for feita por tempo determinado; 3) tiver como função
atender a necessidade temporária, e 4) quando a necessidade temporária for de excepcional interesse
público.
5) In casu, o Plenário desta Corte entreviu a inconstitucionalidade de toda a Lei nº 4.599 do Estado do Rio
de Janeiro que disciplina a contratação temporária, dado o seu caráter genérico diante da ausência de uma
delimitação precisa das hipóteses de necessidade de contratação temporária. Restou ressalvada a posição
vencida do relator, no sentido de que apenas o art. 3º da norma objurgada conteria preceito
inconstitucional, posto dúbio e dotado de trecho capaz de originar uma compreensão imprecisa, inválida e
demasiado genérica, no sentido de que a própria norma por si só estaria criando os cargos necessários à
realização da atividade, o que é juridicamente inviável, uma vez que referida providência dependeria de
lei específica a ser aprovada diante de uma superveniente necessidade, nos termos do que previsto no art.
61, §1º, II, alínea “a”, da Constituição da República.
6) É inconstitucional a lei que, de forma vaga, admite a contratação temporária para as atividades de
educação pública, saúde pública, sistema penitenciário e assistência à infância e à adolescência, sem que
haja demonstração da necessidade temporária subjacente.
7) A realização de contratação temporária pela Administração Pública nem sempre é ofensiva à salutar
exigência constitucional do concurso público, máxime porque ela poderá ocorrer em hipóteses em que
não há qualquer vacância de cargo efetivo e com o escopo, verbi gratia, de atendimento de necessidades
temporárias até que o ocupante do cargo efetivo a ele retorne. Contudo, a contratação destinada a suprir
uma necessidade temporária que exsurge da vacância do cargo efetivo há de durar apenas o tempo
necessário para a realização do próximo concurso público, ressoando como razoável o prazo de 12 meses.
8) A hermenêutica consequencialista indicia que a eventual declaração de inconstitucionalidade da lei
fluminense com efeitos ex tunc faria exsurgir um vácuo jurídico no ordenamento estadual, inviabilizando,
ainda que temporariamente, a manutenção de qualquer tipo de contratação temporária, o que carrearia um
periculum in mora inverso daquele que leis como essa, preventivas, destinadas às tragédias abruptas da
natureza e às epidemias procuram minimizar, violando o princípio da proporcionalidade – razoabilidade.
9) Ex positis, e ressalvada a posição do relator, julgou-se procedente a ação declarando-se a
inconstitucionalidade da Lei Estadual do Rio de Janeiro nº 4.599, de 27 de setembro de 2005.
10) Reconhecida a necessidade de modulação temporal dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade
para preservar os contratos celebrados até a data desta sessão (28/05/2014), improrrogáveis após 12
(doze) meses a partir do termo a quo acima.

RE N. 632.853-CE

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RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Recurso extraordinário com repercussão geral. 2. Concurso público. Correção de prova. Não
compete ao Poder Judiciário, no controle de legalidade, substituir banca examinadora para
avaliar respostas dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas. Precedentes. 3.
Excepcionalmente, é permitido ao Judiciário juízo de compatibilidade do conteúdo das questões
do concurso com o previsto no edital do certame. Precedentes. 4. Recurso extraordinário
provido.

Policiais temporários e princípio do concurso público


Em conclusão de julgamento, o Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta
para declarar a inconstitucionalidade da Lei 17.822/2012 do Estado de Goiás, que institui o
Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual - SIMVE na Polícia Militar e no Corpo de
Bombeiros Militar do Estado-Membro. Quanto à inconstitucionalidade material da norma, o
Colegiado assinalou que, anteriormente à edição da lei em comento, o governo estadual lançara
concurso público de provas e títulos para provimento de cargos de policial militar, com a
subsequente seleção de candidatos. A lei adversada, por sua vez — em vigor durante o prazo de
validade do concurso —, a pretexto de ter fundamento de validade na Lei 4.735/1964 (Lei do
Serviço Militar), instituíra uma classe de policiais temporários, cujos integrantes, após serem
aprovados em seleção e em curso de formação, passariam a ocupar cargo de natureza policial
militar. Esses temporários seriam remunerados por subsídio, sujeitos à legislação militar e às
normas específicas da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar estaduais. Intentara-se,
assim, a realização de um corte de gastos relacionados com a segurança pública. Ao possibilitar
que voluntários tivessem função de policiamento preventivo e repressivo, além de terem o
direito de usar os uniformes, insígnias e emblemas utilizados pela corporação, com a designação
“SV”, recebendo subsídio, a lei objetivara criar policiais temporários, disfarçados sob a
classificação de voluntários, para a execução de atividades militares, em detrimento da
exigência constitucional de concurso público. O Colegiado sublinhou, ademais, que as Forças
Armadas seriam instituições nacionais, regulares e permanentes (CF, art. 142), não admitida a
existência de forças temporárias. Seus membros seriam chamados de “militares”, termo também
empregado constitucionalmente para designar policiais militares e bombeiros militares (CF, art.
42). Entretanto, não se poderia confundir os membros das Forças Armadas com os militares
estaduais. A Constituição vedaria que os Estados-Membros possuíssem Exército, Marinha e
Aeronáutica. Todavia, admitiria que eles constituíssem polícias militarizadas para segurança
interna e manutenção da ordem no território (CF, art. 144, § 5º). Assim, os militares estaduais
seriam destinados à função de segurança pública, integrariam a estrutura do Poder Executivo
estadual e não seguiriam o mesmo regime constitucional alusivo às Forças Armadas. Essa
diferença também diria respeito à forma de ingresso na carreira. Enquanto a admissão nas
Forças Armadas dar-se-ia tanto pela via compulsória do recrutamento oficial quanto pela via
voluntária de ingresso nos cursos de formação, os servidores militares estaduais seriam
submetidos, sempre voluntariamente, a concurso público. Com o advento da EC 18/1998,
houvera a distinção entre servidores públicos civis e militares e, em relação a estes,
distinguiram-se os dos Estados e do Distrito Federal e os das Forças Armadas. Daí o art. 42 da
CF determinar a aplicação, aos militares estaduais, do art. 142, §§ 2º e 3º, e remeter à lei
estadual a disciplina das matérias do art. 142, § 3º, X, da CF. Portanto, o constituinte não optara
por excluir a obrigatoriedade do concurso público para ingresso na Polícia Militar e no Corpo de
Bombeiros Militar. O seu objetivo original, ao estabelecer o postulado do concurso público,
seria traduzido na necessidade essencial de o Estado conferir efetividade ao princípio
constitucional da igualdade. Seria vedada, desse modo, a prática inaceitável de concessão de
privilégios arbitrários.
O Colegiado assinalou que o concurso público seria uma forma de a Administração assegurar os
princípios maiores da isonomia e da impessoalidade na concorrência dos candidatos aos cargos
públicos. Todos os Poderes estariam jungidos à observância do preceito, inclusive o Executivo
estadual ao contratar policiais militares. Além disso, o constituinte previra expressamente
exceções quanto à obrigatoriedade de concurso público. Assim, estabelecera genericamente a
possibilidade de nomeação para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e

23
exoneração (CF, art. 37, II) e previra a contratação por tempo determinado para atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público (CF, art. 37, IX). Haveria outras
exceções, como, por exemplo os cargos eletivos. Em todas as hipóteses, a base constitucional
seria taxativa, e entre elas não estariam os policiais militares. Ademais, sequer a lei impugnada
configuraria o permissivo do art. 37, IX, da CF. Não estariam presentes os requisitos e limites
para esse tipo de contratação. A necessidade temporária de excepcional interesse público não
dependeria de mera escolha discriminatória da Administração. Ela exigiria o atendimento de um
fim próximo e a demonstração da impossibilidade de consecução desse fim com os recursos
humanos de que disporia a Administração. Na situação dos autos, a lei em debate permitira a
contratação de 2.400 policiais temporários, embora houvesse cerca de 1.400 concursados
aprovados em cadastro reserva aguardando convocação. Além disso, no caso dos contratados
em caráter temporário, tratara-se de contratação para atividade previsível, permanente e
ordinária. Assim, seria inconstitucional a lei que, a pretexto de satisfazer o art. 37, IX, da CF,
não estabelecesse prazo determinado ou não especificasse a contingência fática que
evidenciasse a situação emergencial.
O Tribunal reputou que, no tocante à inconstitucionalidade formal, o diploma em questão
violaria o art. 24 da CF, ao usurpar a competência da União para legislar sobre o tema. Aos
Estado-Membros a Constituição permitiria o estabelecimento de regras ou disposições que
permitissem a aplicação das diretrizes gerais e principiológicas impostas pela União. Nas
hipóteses constitucionalmente previstas de competência legislativa concorrente entre União e
Estados-membros, situação em que caberia à União estabelecer normas gerais e a estes normas
suplementares, a única situação permissiva de exame de constitucionalidade em sede de
fiscalização normativa abstrata seria aquela a configurar inconstitucionalidade direta, imediata e
frontal. É o que ocorreria na espécie. A norma federal a cuidar do tema — Lei 10.029/2000 —
fora editada para trazer os parâmetros de organização de serviço voluntário nas Polícias
Militares e Corpos de Bombeiros Militares. Assim, a lei estadual deveria ser expungida no que
divergisse ou inovasse em relação à lei federal. Esta, além de restringir o exercício do serviço
militar voluntário a atividades administrativas e auxiliares, proibiria porte de arma de fogo e
exercício de poder de polícia pelos voluntários, estabeleceria auxílio mensal de caráter
indenizatório não superior a dois salários mínimos e impossibilitaria a caracterização de vínculo
empregatício e de natureza previdenciária pela prestação dos serviços voluntários. O contraste
com a norma estadual seria, portanto, radical e insanável. Por fim, o Colegiado não modulou os
efeitos da declaração de inconstitucionalidade, uma vez não atingido o número de votos
necessário para tanto.
ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, 8.4.2015. (ADI-5163)

Concurso público e limite de idade

O limite de idade, quando regularmente fixado em lei e no edital de determinado concurso


público, há de ser comprovado no momento da inscrição no certame. Com base nessa orientação
e, em face da peculiaridade do caso, a Primeira Turma negou provimento a agravo regimental
em recurso extraordinário com agravo. Na espécie, candidato preenchia o requisito etário
previsto no edital quando da inscrição para o certame. Ocorre que houvera atrasos no
andamento do concurso, fazendo com que o candidato não mais preenchesse esse requisito. A
Turma destacou a jurisprudência da Corte no sentido de que a regra quanto ao limite de idade,
por ocasião da inscrição, se justificaria ante a impossibilidade de se antever a data em que seria
realizada a fase final do concurso, caso fosse fixada como parâmetro para aferição do requisito
etário. Os Ministros Marco Aurélio e Rosa Weber entenderam que a idade limite seria aquela da
data da posse no cargo, porém, em razão do destaque dado pelo tribunal local quanto à demora e
à desídia da Administração Pública para prosseguir no certame, acompanharam o relator.
ARE 840.592/CE, Min. Roberto Barroso, 23.6.2015. (ARE-840.592)

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AG. REG. NO ARE N. 859.441-PI
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Concurso
público. Teste de aptidão física. Direito à segunda chamada. Inexistência, salvo previsão
editalícia em sentido contrário. Validade das provas de segunda chamada realizadas até 15/5/13
assegurada (RE nº 630.733/DF). Precedentes.
1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no exame do RE nº 630.733/DF, Relator o Ministro
Gilmar Mendes, concluiu pela inexistência de direito de realização de segunda chamada de teste
físico para os candidatos impossibilitados de realizá-lo ao tempo da convocação, salvo expressa
previsão nesse sentido no instrumento convocatório do concurso público.
2. Na mesma ocasião, a Corte decidiu, por razões de segurança jurídica, pela manutenção da
validade das provas realizadas em decorrência de determinações judiciais realizadas até o dia
15/5/13, data da sessão de julgamento do citado acórdão.
3. Agravo regimental não provido.

Lei municipal e violação à livre concorrência (Enunciado 49 da Súmula Vinculante)


“Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de
estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área”.

Princípio do concurso público e provimento derivado

O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a


inconstitucionalidade da Lei amazonense 2.917/2004; bem assim das expressões “e de
Comissário de Polícia”, do inciso V, art. 5º; do parágrafo único do art. 10; da expressão e
“Comissário de Polícia”, constante do Anexo III; e da parte do Anexo IV que determina a
transposição dos servidores do antigo cargo de Comissário de Polícia para o novo cargo de
Comissário de Polícia de Classe Única (PC.COM-U), contidos na Lei amazonense 2.875/2004.
No caso, os dois diplomas impugnados, ao promoverem a reestruturação do quadro de pessoas
da polícia civil estadual, teriam engendrado uma espécie de ascensão funcional de servidores
investidos no cargo de comissário de polícia, içando-os à carreira de delegado de polícia sem
concurso público. Primeiramente, o Tribunal analisou as características do cargo de comissário
de polícia, segundo a legislação estadual. Demonstrou que o cargo, inicialmente, requeria
formação de nível médio, até sua extinção. Após seu ressurgimento, a investidura passara a ter
os mesmos requisitos de qualificação exigidos para o cargo de delegado de polícia. Porém, o
cargo distinguia-se do de delegado pelo fato de ter natureza isolada e por ter remuneração
menor. Além disso, as atribuições do comissário não seriam definidas em lei. Com o advento da
ora questionada Lei estadual 2.875/2004, fora instituído um novo formato para o cargo de
comissário, em que a remuneração fora equiparada à dos delegados de polícia de 5ª classe.
Além disso, fora instituído um grupo ocupacional denominado de “autoridade policial”,
composto por titulares dos cargos de delegado de polícia civil e de comissário de polícia civil,
dos quais constituiriam competência privativa a presidência de inquérito policial, a lavratura de
autos de prisão em flagrante e de termos circunstanciados de ocorrência. Posteriormente, a
adversada Lei estadual 2.917/2004 determinara a transformação de 124 cargos de comissário de
polícia existentes em cargos de delegado de polícia de 5ª classe. Em suma, o cargo de
comissário, criado com natureza de cargo isolado, fora transformado no cargo inicial da carreira
de delegado de polícia.
O Colegiado reputou que o art. 37, II, da CF preconizaria o concurso público como requisito
inafastável de acesso aos cargos públicos, e que esse entendimento seria exaustivamente
reiterado pela jurisprudência do STF. Haveria situações excepcionais em que a Corte admitiria a
transfiguração de cargos públicos e o consequente aproveitamento dos seus antigos titulares na
nova classificação funcional. De acordo com esses precedentes, a passagem de servidores de
uma carreira em extinção para outra recém-criada poderia ser feita como forma de
racionalização administrativa, desde que houvesse substancial correspondência entre as

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características dos dois cargos, sobretudo a respeito das atribuições incluídas nas esferas de
competência de cada qual. Além disso, esses casos revelariam um processo de sincretismo
funcional, cujo ponto final seria uma previsível fusão. Na hipótese em debate, porém, a
reinserção do cargo de comissário no quadro funcional do Estado-Membro se dera de modo
heterodoxo. O cargo teria competências indefinidas, com requisitos idênticos aos de delegado de
polícia. Não haveria, além disso, clara distinção de ordem hierárquica entre os dois cargos.
Embora a realidade de fato revelasse desvio de aproveitamento funcional dos comissários,
haveria diferença de grau de responsabilidade entre cada um dos postos. Ademais, não haveria
perspectiva de promoção quanto ao cargo de comissário, ao contrário do cargo de delegado. As
distinções, portanto, não seriam meramente formais. Não haveria, de igual modo, um gradual
processo de sincretismo entre os cargos. Portanto, houvera burla ao postulado do concurso
público, mediante o favorecimento de agentes públicos alçados por via legislativa a cargo de
maior responsabilidade do que aquele para o qual aprovados em concurso. Assim, tanto a
transformação do cargo de comissário no de delegado quanto a equiparação das atribuições dos
dois cargos — a quebrar a hierarquia antes existente e violar o art. 144, § 4º, da CF —,
promovidas pelas leis em debate, seriam inconstitucionais.
ADI 3415/AM, rel. Min. Teori Zavascki, 24.9.2015. (ADI-3415)

Concurso público: procurador da república e atividade jurídica

A referência a “três anos de atividade jurídica”, contida no art. 129 da CF, não se limita à
atividade privativa de bacharel em direito. Esse o entendimento da Primeira Turma, que
concedeu a ordem em mandado de segurança impetrado por candidato ao cargo de procurador
da república que pleiteava o reconhecimento da atividade exercida enquanto técnico judiciário e
assistente I e IV na Justiça federal, ambas, segundo alegado, com a atuação em atividades
finalísticas do Poder Judiciário, compatíveis com o cargo almejado.
MS 27601/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 22.9.2015. (MS-27601)

Concurso público: direito subjetivo à nomeação e surgimento de vagas


O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo,
durante o prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à
nomeação dos candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as
hipóteses de preterição arbitrária e imotivada por parte da administração, caracterizada
por comportamento tácito ou expresso do Poder Público capaz de revelar a inequívoca
necessidade de nomeação do aprovado durante o período de validade do certame, a ser
demonstrada de forma cabal pelo candidato. Assim, o direito subjetivo à nomeação do
candidato aprovado em concurso público exsurge nas seguintes hipóteses: a) quando a
aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital; b) quando houver
preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação; e c) quando
surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do certame
anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte
da administração nos termos acima. Essa a tese que, por maioria, o Plenário fixou para
efeito de repercussão geral. Na espécie, discutia-se a existência de direito subjetivo à
nomeação de candidatos aprovados fora do número de vagas previstas no edital de
concurso público, no caso de surgimento de novas vagas durante o prazo de validade do
certame. Em 14.10.2014, a Corte julgou o mérito do recurso, mas deliberara pela
posterior fixação da tese de repercussão geral — v. Informativo 803. O Ministro Luiz
Fux (relator) destacou que o enunciado fora resultado de consenso entre os Ministros do
Tribunal, cujo texto fora submetido anteriormente à análise. Vencido o Ministro Marco
Aurélio, que se manifestava contra o enunciado, porque conflitava com as premissas
lançadas pela corrente vitoriosa no julgamento do recurso extraordinário. Aduzia que a
preterição se caracterizava quando, na vigência do concurso, convocava-se novo

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certame, a revelar a necessidade de se arregimentar mão de obra.
RE 837311/PI, rel. Min. Luiz Fux, 9.12.2015. (RE-837311)

Concurso público: direito subjetivo à nomeação e surgimento de vagas - 1

O Plenário, por maioria, negou provimento a recurso extraordinário em que se discutia a


existência de direito subjetivo à nomeação de candidatos aprovados fora do número de
vagas previstas no edital de concurso público, no caso de surgimento de novas vagas
durante o prazo de validade do certame. A Corte afirmou que, a partir de 1988, com a
promulgação da Constituição da República, o concurso público de provas e títulos teria
se consolidado como um primoroso instrumento democrático para a seleção republicana
e impessoal para cargos e empregos públicos. Assim, teria sido estabelecido,
constitucionalmente, o melhor mecanismo para a Administração assegurar, dentre
outros, os princípios da isonomia e da impessoalidade na concorrência entre aqueles que
almejassem servir ao Estado. Sua ideia decorreria da necessidade de se garantir que
assumisse determinado cargo aquele indivíduo que, competindo em iguais condições
com todos os candidatos (CF, art. 5º, “caput”), estivesse, em tese, melhor preparado.
Vedar-se-ia, desse modo, a prática inaceitável de o Poder Público conceder privilégios a
alguns ou de dispensar tratamento discriminatório e arbitrário a outros. Outrossim, a
Administração, ao iniciar um processo seletivo, manifestaria uma evidente intenção e
necessidade de preencher determinados cargos públicos, submetendo-se às
determinações dos editais que publicasse, o que tornaria relevante o prévio
planejamento na sua confecção, a fim de que houvesse uma perfeita adequação entre o
quantitativo de pessoal necessário e o número de vagas a serem providas nos termos do
instrumento convocatório. Por outro lado, o chamado “cadastro de excedentes” revelar-
se-ia medida apropriada para possibilitar o aproveitamento célere e eficiente daqueles já
aprovados, sem a necessidade de abertura de novo concurso, na medida em que o
administrador público não poderia estimar, durante a validade do concurso, de forma
precisa, quantos cargos ficariam vagos, e quantos seriam necessários para determinada
repartição. Na linha da jurisprudência do STF, em relação aos candidatos aprovados
dentro do número de vagas previstas em edital, a Administração poderia, dentro do
prazo de validade do processo seletivo, escolher o momento em que se realizaria a
nomeação, mas não poderia dispor sobre a própria nomeação. Essa última passaria a
constituir um direito do concursando aprovado e, dessa forma, um dever imposto ao
Poder Público. Apesar disso, não se poderia dizer o mesmo daqueles aprovados fora do
número de vagas previstas em edital, ou seja, dentro do cadastro de reserva. Esses
candidatos possuiriam mera expectativa de direito à nomeação, situação que, apenas
excepcionalmente, se convolaria em direito subjetivo.
O plenário destacou que incumbiria à Administração, no âmbito de seu espaço de
discricionariedade, avaliar, de forma racional e eficiente, a conveniência e oportunidade
de novas convocações durante a validade do certame. Assim, o surgimento de novas
vagas durante o prazo de validade de concurso não geraria, automaticamente, um direito
à nomeação dos candidatos aprovados fora das vagas do edital, nem mesmo que novo
concurso fosse aberto durante a validade do primeiro. O provimento dos cargos
dependeria de análise discricionária da Administração Pública, moldada pelo crivo de
conveniência e oportunidade. A despeito da vacância dos cargos e da publicação do
novo edital durante a validade do concurso, poderiam surgir circunstâncias e legítimas
razões de interesse público que justificassem a inocorrência da nomeação no curto
prazo, de modo a obstaculizar eventual pretensão de reconhecimento do direito
subjetivo à nomeação dos aprovados em colocação além do número de vagas. A referida
discricionariedade, porém, seria aquela consentânea com o Direito Administrativo
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contemporâneo, ou seja, não seria livre e irrestrita, mas vinculada a certas premissas. Ou
seja, deveria basear-se no dever de boa-fé da Administração Pública, além de pautar-se
por um incondicional respeito aos direitos fundamentais e aos princípios da eficiência,
da impessoalidade, da moralidade e da proteção da confiança, todos inerentes ao Estado
de Direito. Em suma, se seria verdade que a nomeação dos candidatos aprovados em
concurso público, além do número de vagas do edital, estaria sujeita à
discricionariedade da Administração Pública, não menos verdadeiro seria que essa
discricionariedade deveria ser exercida legitimamente. Desse modo, nenhum candidato,
estivesse ele dentro ou fora do número de vagas do edital, poderia ficar refém de
condutas que, deliberadamente, deixassem escoar, desnecessariamente e, por vezes, de
modo reprovável, o prazo de validade do concurso para que fossem nomeados, apenas,
os aprovados em novo concurso. Se a Administração decidisse preencher imediatamente
determinadas vagas por meio do necessário concurso, e existissem candidatos
aprovados em cadastro de reserva de concurso válido, o princípio da boa-fé vincularia a
discricionariedade da Administração e lhe imporia o necessário preenchimento das
vagas pelos aprovados no certame ainda em validade. Desse modo, quem fosse
aprovado em concurso além das vagas previstas no edital não ostentaria um direito
subjetivo de ser nomeado, mesmo que aberto novo edital durante a validade do certame
(CF, art. 37, IV). Possuiria, ao revés, mera expectativa de direito que seria convolada
em direito adquirido à nomeação, apenas, na excepcional circunstância de ficar
demonstrado, de forma inequívoca, a necessidade de novas nomeações durante a
validade do concurso. Uma coisa seria a vacância do cargo, outra a vacância
acompanhada do manifesto comportamento da Administração destinado a prover os
cargos durante a validade do concurso, e isso, contudo, não ficaria caracterizado pela
mera publicação de novo edital de concurso.
O Plenário ressaltou que a aprovação em concurso público só originaria direito
subjetivo à nomeação: a) quando ela ocorresse dentro do número de vagas previstas no
edital; b) quando houvesse preterição na nomeação por inobservância da ordem de
classificação no concurso; e c) quando surgissem novas vagas durante a validade do
concurso e, excepcionalmente, a Administração Pública, mesmo após reconhecer, de
forma inequívoca e demonstrada casuisticamente, a necessidade do provimento das
vagas durante a validade do concurso, deixasse o referido prazo escoar para nomear
candidatos de concurso superveniente, o que teria ocorrido na espécie. O Ministro
Edson Fachin, ao também negar provimento ao recurso, considerou, no entanto, que a
necessidade de observância da eficiência administrativa e do adequado manejo dos
recursos públicos, ensejaria o dever de a administração convocar todos os candidatos
aprovados em concursos públicos, até o preenchimento de todas as vagas, ressalvados
motivos financeiros e razões de eficiência administrativa. A Ministra Rosa Weber
apontou a necessidade de se observar o princípio da discricionariedade vinculada ao
Direito, na medida em que, no caso em comento, quando aberto novo edital de
concurso, já seriam conhecidos os classificados no certame anterior. Vencidos os
Ministros Roberto Barroso, Teori Zavascki e Gilmar Mendes, que davam provimento ao
recurso por entenderem inexistente o direito subjetivo à nomeação dos candidatos
aprovados em concurso público fora do número de vagas previstas em edital, salvo em
caso de preterição. Em seguida, o julgamento foi suspenso para posterior fixação de tese
de repercussão geral.
RE 837311/PI, rel. Min. Luiz Fux, 14.10.2015. (RE-837311)

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