Uso e satisfação de usuários primários de um sistema de Telecardiologia

Kátia Adriana Alves Leite de Barros1,2

Wagner Ferreira de Barros2
Maria Alice Gomes Leite1

Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, 2Centro Federal de Educação Tecnológica de

1

Minas Gerais – CEFET MG,

Resumo - O presente trabalho avaliou a implantação do projeto MinasTelecárdio no Pólo do Hospital

Universitário Clemente de Farias de Montes Claros, considerando as dimensões de uso e satisfação
dos seus usuários primários, que são todos os técnicos de enfermagem que trabalham na Unidade
Básica de Saúde, operando o sistema Wincárdio e o Sametime ® e acessando o Portal Telessaúde
para a realização dos exames de ECGS.
O método utilizado para coleta da opinião dos usuários foi o Método de Explicitação do Discurso
Subjacente (MEDS), proposto por Nicolaci-da-Costa. Na análise das falas foram encontrados
problemas de usabilidade do sistema, problemas técnicos e problemas de introdução tecnológica.
Entretanto, com relação à satisfação dos usuários, esses se manifestaram satisfeitos com a
implantação do sistema.

Palavras-chave: Avaliação de Telessaúde, Telecardiologia, Informática em Saúde

Abstract - This study evaluated the implementation of the project MinasTelecárdio on Campus of the
University Hospital of Clement Farias de Montes Claros, considering the dimensions of use and
satisfaction of its primary users, who are all practical nurses working in primary health care unit,
operating Wincárdio Sametime ® system and accessing the Portal and Telehealth for the
examinations of ECGs.
The method used to collect the opinions of users was the Method of Explanation of Underlying
Discourse (MEDS) proposed by Nicolaci-da-Costa. In the analysis of the speeches were found
usability problems of the system, technical problems and problems of introducing technology.
However, with respect to user satisfaction, this has met with the deployment of the system..

Keywords: Evaluation of Telehealth, Telecardiology, Health Informatics

Introdução realizados por especialistas em cardiologia,

A Telemedicina tem um importante papel
social. Um de seus maiores propósitos é
atender situações onde barreiras físicas
dificultam e, às vezes, até impedem o contato
entre pacientes e profissionais de saúde. Por
esse motivo, uma das aplicações potenciais da
Telemedicina está em áreas de difícil acesso,
seja como aplicações de educação continuada
para profissionais de saúde ou para soluções
de problemas assistenciais.
Em Minas Gerais, o projeto MinasTelecárdio
oferece serviços de telemedicina aplicados ao
domínio da cardiologia para 88 muncípios do
estado. As atividades oferecidas por esse
projeto se dão por meio de rodízios de plantões
que são os responsáveis pela análise dos
eletrocardiogramas enviados pelos municípios
e pelas discussões on-line de casos clínicos.
Esses especialistas estão distribuídos entre
quatro instituições universitárias de Minas e o
Hospital das Clínicas da UFMG.
Visando contribuir na reformulação de novas
ações para melhoria da implantação e
expansão do projeto, foi proposta uma
avaliação do sistema implantado. O modelo de
avaliação utilizado é inspirado na proposta de
DeLone e McLean[1]. Esse modelo se baseia
na teoria de comunicação, na teoria da
influência das informações, e em uma síntese
dos resultados de estudos sobre importantes
sistemas de avaliação.

1
Organizer Local Organization Secretariat

www.sbis.org.br/cbis2010
O modelo consiste de 6 dimensões: qualidade
do sistema; qualidade da informação; uso;
satisfação do usuário; impacto individual; e
impacto organizacional. Mesmo que
aparentemente distintas essas dimensões
podem ser relacionadas em um sentido
temporal e causal, como pode ser visto na
Figura1. Uma característica importante do
modelo é que ele pode ser reconfigurado e
adaptado para situações específicas, como foi
observado e utilizado por outros autores [2].
Dessa forma, o presente trabalho, utilizou o
referido modelo analisando as dimensões da
satisfação do usuário1 e do uso do sistema.
Tendo em vista os objetivos do trabalho que
foram especificamente: identificar as
dificuldades encontradas pelos usuários
primários do sistema de telecardiologia ao usar
o sistema em sua cidade; e, discorrer sobre as
facilidades que o sistema proporciona aos seus
usuários.
Para tal utilizou-se de entrevistas individuais
por meio do Método de Explicitação do
Discurso Subjacente (MEDS)[3], que será
descrito na próxima seção seguindo de seus
resultados e discussões.
Métodos
A técnica utilizada para coleta da opinião dos
usuários foi a entrevista individual, baseada no
Método exploratório utilizado para pesquisa em
psicologia clínica e recentemente aplicado à
área de IHC2. O MEDS auxilia na identificação
de características dos usuários que são
importantes para o desenvolvimento e
avaliação de sistemas e que, muitas vezes, são
de difícil explicitação verbal. Sua vantagem em
relação aos outros métodos é que essas
características são muitas vezes despercebidas
por outros métodos [3].
A aplicação da entrevista se deu em 4 fases:
1. Seleção de amostra
Segundo o método utilizado, o pesquisador
deve optar por um dos vários perfis de usuário
que compõem o grupo.
1
“O usuário é que tem condições de refletir sobre esses
processos e através da auto-avaliação produzir
conhecimento sobre a incorporação das tecnologias e sua
eficácia qualitativa”[4].
2
IHC – Interação Humano-Computador
Organizer Local Organization
www.sbis.org.br/cbis2010
O segmento de usuários escolhidos para a
amostra foi um grupo composto de técnicos de
enfermagem, formando um grupo homogêneo
a partir dos seguintes critérios [5][6]: maior
número de encaminhamento de exames
médicos para serem laudados; e, já possuírem
o sistema desde o início de sua implantação.
Os municípios escolhidos foram os integrantes
do pólo do Hospital Universitário Clemente de
Farias (HUCF), da Universidade Estadual de
Montes Claros: Botumirim, Claro dos Poções,
Francisco Dumont, Glaucilândia, Itacambira,
Joaquim Felício, Nova Porteirinha e Olhos
D’Água.
Entretanto, de acordo o MEDS, o tamanho da
amostra é determinado pelo ponto de
saturação3 da informação. Assim, a amostra foi
composta quando o entrevistador verificou esse
ponto de saturação. Sendo a amostra final
compreendida pelos municípios de Botumirim,
Claro dos Poções, Glaucilândia e Nova
Porteirinha.
2 - Preparação para a coleta de dados
- Elaboração do roteiro
O roteiro foi composto por itens abertos que
foram abordados em todas as entrevistas. Esse
procedimento foi sistemático e rigoroso, porque
dele dependia a qualidade da análise realizada.
- Elaboração do termo de consentimento
- Realização de entrevista piloto
Através desta entrevista piloto, foi possível
realizar correções ao roteiro elaborado,
garantindo assim, a possibilidade de se atingir
os objetivos propostos.
3 - Coleta de dados
-Convite para participação
O recrutamento dos participantes foi realizado
através de convite via telefone.
- Realização das entrevistas
Em duas entrevistas, as datas e horários foram
agendados conforme a disponibilidade do
entrevistado. A entrevistadora compareceu a
Unidade Básica de Saúde (UBS) na cidade do
usuário e realizou as entrevistas face-a-face.
As outras duas entrevistas foram realizadas
através do sistema comunicador mensager
3 Por saturação da informação entende-se o fenômeno que
ocorre quando, após um certo número de entrevistas, o
entrevistador começa a ouvir, de novos entrevistados,
relatos muito semelhantes àqueles que já ouviu, havendo
uma rarefação de informações novas. [4]
2
Secretariat
(MSN), devido a dificuldades encontradas para
a sua realização, relacionadas a custos e
disponibilidade de tempo por parte dos
entrevistados.
- Preparação para a análise de dados
Os discursos coletados nas entrevistas foram
transcritos na íntegra, considerando as
ocorrências de perturbação, pausa e risos que
poderiam ser possíveis indicadores de conflitos
e insatisfação ou mesmo de satisfação.
Após a transcrição, os depoimentos foram
transformados em texto, seguindo os objetivos
da pesquisa.
4 - Análise dos dados
Foi realizada em duas etapas:
- Análise inter-sujeitos
Todas as respostas de todos os sujeitos foram
reunidas a cada um dos itens do roteiro.
Essas respostas foram analisadas sistemática
e rigorosamente, o que foi possível devido a
todos os sujeitos terem respondido todas as
perguntas previstas no roteiro.
- Análise intra-sujeitos
As respostas de cada um dos sujeitos foram
coletadas como um único conjunto dentro do
qual foram analisados possíveis conflitos de
opiniões, inconsistências entre respostas e
sentimentos contraditórios etc.
Estas análises foram agrupadas em categorias
de acordo com os aspectos que foram julgados
importantes na análise das respostas dadas
por um dos participantes e que levou o
pesquisador de volta à análise inter-
participantes, conforme mostra a Figura 1.
Figura 1 - Processo do MEDS
Interpretação dos resultados
- Características internas geradas pela
experiência de determinado grupo
A interpretação foi feita a partir de tópicos que
emergem das falas dos entrevistados, do modo
como cada vê a realidade.
Organizer Local Organization
www.sbis.org.br/cbis2010
- Identificação daquilo que é importante
individualmente
As respostas foram comparadas
individualmente de modo a identificar alguma
inconsistência da parte do entrevistado.
Através dessa identificação, foi possível ter
acesso aos conflitos e transformações de
cunho interno para investigação dos objetivos
propostos.
Resultados e discussões
De forma geral, as entrevistas revelaram que
os usuários estão satisfeitos com a implantação
do Projeto, mas ainda existem alguns
problemas relacionados a introdução de
tecnologia, usabilidade e problemas técnicos.
Para melhor explicar estes resultados, eles
foram agrupados em categorias, juntamente
com algumas falas de usuários e respectivos
comentários.
Eficácia4 do Sistema:
Os usuários primários admitem que o sistema
contribuiu significativamente para o
atendimento à saúde primária dos pacientes do
SUS. Segundo seus depoimentos, foi possível
perceber que os laudos e a discussão de casos
clínicos com médico especialista do plantão
são considerados um fator de redução no
número de encaminhamento dos pacientes
para o Município de referência em cardiologia.
“(...) este sistema ajudou demais (...) porque antes
era assim, tinha algum problema agente corria e
mandava pra Montes Claros, ai depois você via que
chegava lá, fazia os exames e não dava nada.
Porque o pólo que atendia agente daqui é Montes
Claros, então assim quando era muito grave agente
mandava o paciente pra lá, e tinha paciente que
não era necessário, então assim com o eletro aqui,
tem casos que podem ser resolvidos aqui”. (U01)
“(...) dentro dos 600 exames que eu fiz, só três que
precisou ser encaminhado com urgência “.(U01)
“(...) dá pra você fazer um eletro e se diagnosticar
algum problema da pra você (silêncio), agilizar,
antes era uma coisa, mais você dependia de
Montes Claros, até para medicar o paciente”. (U02)
“(...) os benefícios que traz é a rapidez e suporte
com médico especialista. O programa só tem
pontos positivos”. (U03)
“(..) Então, aqui nos já conseguimos salvar
algumas vidas”. (U02)
“(...) os laudos são confiáveis.” (U04)
Satisfação dos Usuários
4
Atingir o resultado esperado
3
Secretariat
Para os usuários a satisfação quanto ao
programa está relacionada a eficácia do
sistema e as contribuições advindas de sua
implantação.
“Eu acho que contribui muito mesmo esse
programa”. (U01)
“Então assim, o programa é muito bom, muito claro,
estou satisfeita”. (U02)
“Acho que diante dos benefícios que trazer(sic),
como rapidez e suporte com especialista,
satisfeito”. (U03)
“Melhoras serão bem vindas, mas sou satisfeito”.
(U04)
Segundo os técnicos entrevistados, os usuários
terciários5 demonstraram muita satisfação
quanto aos benefícios advindos da implantação
do sistema.
“Eles amaram. Nó! Você precisa ver (expressão de
encantamento). Agente tá aqui fazendo o exame,
eles falam: gente vocês tem esse programa aqui no
município? Montes Claros, porque este programa
veio pras cidades com menos de 10.000
habitantes, no caso Montes Claros, acho que agora
que vai ir pra la, este programa lá, ai eles falam
gente ces tão de parabéns nem em Montes Claros
tem esse eletro”. (U01)”
“(...) muito satisfeita! (U01)”
Aprendizagem do sistema
Apesar de os usuários falarem que o programa
é fácil, observou-se que o sistema não é de
fácil aprendizagem. Para operá-lo, os usuários
necessitam de treinamento.
“Eu fiz o treinamento e vim, achei que tava tudo
belezinha e cheguei aqui e fiquei nervosa
(gesticulando) e resolvi não mais mexer porque eu
não vou conseguir. Ai eu pedi o suporte, peguei
essa CPU, entrei em contato com suporte e ele
disse não, você vem pra cá [para Montes
Claros].(...) Mas teve, nossa teve momento de
desespero. Eu disse gente do céu, aí”. (U01)
“(...) demorou um prazo de um mês mais ou
menos, eu fui aprendendo aos poucos, porque
existem partes para seguir, além do wincardio, tem
o site do telemedicina, que é pra enviar e tem um
monte de, varias seqüências e também o site do
telessaúde, que é o recebimento de eletro. Eles
vão sempre inovando algumas coisas e você vai se
adaptando e aprendendo a lidar.” (U02)
“Eu demorei dez dias para aprender o sistema, no
máximo”. (U04)
“todos os dias tem uma coisa nova aparecendo,
assim não totalmente experiente, mas cada dia
agente(sic) ta tentado cada dia melhorar”. (U03)
“No inicio eu tive, bastante, [dificuldade] na hora de
enviar estes exames, eu entrava em contato com
suporte e ele explicava, faz assim, assim.” (U04)
Uso e Interação
5 “Você pede imediatamente o suporte técnico e
Pessoas que de alguma forma são atingidos pela
tecnologia implantada e, nesse trabalho, são representados
pelos pacientes do SUS.
Organizer
www.sbis.org.br/cbis2010
Perceberam-se também algumas dificuldades
no uso do sistema, principalmente no início da
implantação.
“No inicio eu tive, bastante,[dificuldade] na hora de
enviar estes exames, eu entrava em contato com
suporte e ele explicava, faz assim, assim”. (U04)
“Hoje assim, na parte de importar de receber
exames eu não tenho. Mas sempre ta tendo uma
coisa nova, né, ai eu to entrando em contato com
ele”. (U01)
Alguns justificaram a sua dificuldade inicial por
não possuírem prática na área da informática.
“Tinha um pouco [dificuldade] porque eu não tinha
uma certa prática em informática, não tinha um
curso, eu aprendi no treinamento” (...) (U02)
Na interação, os usuários acreditam que é
suficiente aprender a fazer o ECG.
“(...) nós fazemos tudo independente, porque eu
aprendi a lidar com o computador e aprendi a fazer
o eletrocardiograma, aprendi o sistema, entendeu?”
(U01)
Entretanto, eles devem também ter o domínio
de como receber e enviar os traçados e como
lidar com os pacientes para que os objetivos do
Projeto sejam alcançados.
Recuperação de Erros e o Suporte Técnico
Os usuários entrevistados informaram que os
erros cometidos são poucos. Pelos
depoimentos, percebe-se que para lidar com os
erros, os usuários recorrem ao suporte técnico.
“No inicio eu tive, bastante,[dificuldade] na hora de
enviar estes exames, eu entrava em contato com
suporte e ele explicava, faz assim, assim.” (U04)
“quando se tem alguma dificuldade é, tem-se o
plantão né de suporte técnico no pólo ou mesmo
em Belo Horizonte na UFMG. Agente(sic) pede
suporte técnico”. (U02)
“(...)é pedir suporte que ele ta sempre disponível.”
(U02)
Através das falas detectou-se pouca ocorrência
de erros. Entretanto, identificou-se também
que, quando esses ocorrem, só se consegue
recuperá-los se forem detectados
precocemente pelo usuário primário, pelo
suporte técnico ou pelo plantão.
Caso contrário, os dados são perdidos e é
necessário realizar o exame novamente, o que
pode gerar constrangimentos para o usuário
primário e o terciário. Caso o erro ocorra no
envio do traçado, se o arquivo não for
corrompido, é possível realizar novo envio para
o plantão.
“Ai ele fala: recebi ou não recebi, ou então ele fala
que na hora que eu vou enviar eu falo que eu estou
enviando e às vezes ele manda a mensagem
falando que não recebeu e ele pedi que eu
enviasse novamente”. (U02)
raramente acontece alguma coisa né, na hora em
4
Local Organization Secretariat
 que você ta realizando, mas dependendo tem que
fazer novo eletro”. (U02)
“realizo o ECG, salvo no programa e se não tiver
internet na hora eu posso aguardar um tempo e
depois enviar. (..) quanto a realização do traçado
aqui, não tem erro, é tudo muito fácil.” (U02)
“O, por exemplo se eu, que já aconteceu...tem uma
parte que é pra você enviar, ai você clica e aparece
o plantão e aparece o nome de todas as cidades
que também tá on-line. Ai teve uma vez que eu
cliquei e enviei pra outra cidade o exame, ai eu tive
que voltar atrás e enviar pro plantão, o erro dá pra
consertar”. (U01)
Os erros são muito poucos, quando tem, eu
contacto o suporte técnico disponível no site. (U04)
Problemas Técnicos
Através dos depoimentos, foi possível
identificar problemas de caráter técnico que
afetam diretamente o uso e a qualidade do
sistema. Alguns destes problemas estão
ligados à conexão da internet, como mostram
as falas abaixo.
“A internet, no inicio essa internet tava devagar,
mas depois, agora eles mudaram a internet eu
achei que melhorou. Quando agente (sic) nó usava
o prédio da prefeitura, era mais lento, o sinal era
horrível, hoje é bem mais rápido.” (U01)
“(...) O único problema que às vezes agente (sic) já
encontrou é de ser um paciente de urgência,
poderia ter um infarto ou correr o risco de um
ataque cardíaco severo e às vezes naquele
momento não tem internet e agente (sic) tem que
aguardar um pouco ou às vezes enviar esse
paciente sem dar o laudo.(...)”. (U02)
“(...) pelo fato da internet não ser muito boa,
entendeu? Não é 24 horas que agente (sic) tem o
acesso a internet com o sinal bom (...)”. (U02)
“(...) quando agente (sic) envia [o traçado]
geralmente eles recebem, ai só quando na hora
que agente (sic) vai enviar às vezes cai o sinal da
internet, ai agente (sic) já sabe que se caiu não
enviou, agente (sic) torna tenta abrir de novo, torna
enviar”. (U02)
Um problema técnico do sistema foi detectado
quando, apesar de o usuário relatar que não é
possível o Pólo receber o mesmo exame mais
de uma vez, observou-se um plantonista
recebendo o traçado novamente. Ou seja, não
existe um mecanismo no sistema, que verifica
o envio duplicado de exames. Isso é feito
manualmente pelos usuários.
“(...) Ai ele fala: recebi ou não recebi, ou então ele
fala que na hora que eu vou enviar eu falo que eu
estou enviando e as vezes ele manda a mensagem
falando que não recebeu e ele pedi que eu
enviasse novamente e se eu não pergunta e enviar
o exame ele já tiver recebido lá, ele rejeita, porque
não pode, não é aceito duplicidade, entendeu?
Então se ele já tiver aceito já aquele exame ele não
recebe mais.(...) (U02)
“Ah não, aceitaram! No mínimo o plantonista de
hoje não é o mesmo de ontem. Perai eu vou
avisar... Mas eu não posso falar que tava testando
e ele não reparou. E eu envie duas vezes e ele não
Organizer Local Organization
www.sbis.org.br/cbis2010
reparou. Mas quando ele fosse laudar, ele ia
perceber. Geralmente eles percebem”. (U01)
Nas falas citadas, percebe-se nitidamente a
falta de atenção do plantonista e do operador
ao enviar e receber o mesmo exame. Este tipo
de erro é grave e pode gerar exames falsos e
comprometer toda a qualidade do sistema e até
a saúde do paciente. E assim prejudicar uma
das grandes contribuições citadas pelos
usuários que é de evitar o encaminhamento do
paciente para o centro especialista.
Outro problema citado se refere a qualidade do
áudio e vídeo, onde um antecede o outro,
dificultando ao usuário assistir a
videoconferência.
“(...) às vezes o áudio não acompanha não, tem
vez que sim, tem vez que não” (U01)
“Tem, tem atraso, corta muito, corta a fala né, são
vários cortes, às vezes a gente (sic) acaba
dificultando alguém assistir. “(U02)
Problemas na Introdução da Tecnologia
Um problema de introdução tecnológica que
pode ser observado no Projeto Minas
Telecárdio é a falta de dedicação exclusiva dos
seus usuários primários. Por serem técnicos
em enfermagem, eles realizam mais de uma
função na Unidade Básica de Saúde.
“eu fiquei na parte de fazer o exame, mas também
eu tenho as outras funções, acaba que fica meio
assim com falta de tempo.Tem dias que dá pra
gente chegar e entrar, só que tem dias que fica
muito corrido”. (U01)
Também pode ser citado o desconhecimento
dos pacientes do SUS sobre o que vem a ser o
MinasTelecárdio, o que dificulta e atrasa a
realização do exame.
“na verdade, isto precisa ser muito trabalhado
ainda, porque o paciente, ele não tem
conhecimento né, direto do telecardio, então
agente (sic) tem que trabalhar na cabeça do
paciente, porque pra eu falar com ele, ele não sabe
o que é uma teleconsulta.então o que acontece: o
médico da teleconsulta, o que seria o caso de
encaminhado, ele vai ter que trabalhar ele: eu vou
fazer a sua consulta aqui na secretaria via internet”
(U02)
“Dificuldade (...) dos clientes que tem certo receio
por incluir a tecnologia em suas vidas”.(U02)
Através dos depoimentos foi possível perceber que
os treinamentos foram realizados apenas na
implantação do Projeto. Não existe uma
continuidade, sendo que qualquer alteração no
sistema é explicada via on line pelo suporte.
“Eu fiz um treinamento, teve em Belo Horizonte e
teve em Montes Claros. Mas assim, o treinamento
que agente (sic) faz em Montes Claros era de um
dia e sempre que tinha alguma dificuldade agente
(sic) tinha que ir e fazer o treinamento e em Belo
Horizonte, dois dias. E em Montes Claros teve duas
vezes que agente (sic) foi lá”. (U01)
“aprendi no 1º treinamento, na implantação”. (U03)
5
Secretariat

Conclusão
O presente trabalho propiciou a avaliação da
implantação do projeto Minas Telecárdio em
algumas cidades do Norte de Minas Gerais que
fazem parte do Pólo do Hospital Universitário
Clemente de Faria (HUCF) de Montes Claros,
quanto à dimensão de uso dos sistemas
computacionais Sametime, Wincárdio e o
Portal do Centro de Telessaúde e a satisfação
dos usuários primários.
As cidades dos entrevistados contam com o
Projeto desde o ano de 2005, quando
ocorreram as primeiras implantações. Apesar
disso, os usuários, em sua maioria, encontram
dificuldade para usar o sistema, o que requer
uma revisão da interface, principalmente das
rotinas do Sametime que compreende o envio
e recebimento do exame, no sentido de inserir
caixa de textos explicativas para cada espaço
de entrada de dados.
Os sistemas computacionais utilizados no
projeto, assim como citado na literatura
revisada, também apresentam alguns pontos
relacionados a falta de usabilidade. Como por
exemplo, a dificuldade dos usuários em lidar
com os erros durante a interação, apesar de o
projeto possuir um suporte técnico que os
ajudam a esclarecer dúvidas e a recuperar
erros.
Os problemas relacionados à introdução
tecnológica afetam diretamente a participação
dos usuários às outras atividades do Projeto
Minas Telecárdio, impossibilitando o alcance de
todos os seus objetivos. Isso pôde ser
observado especialmente na falta de dedicação
exclusiva dos usuários que, apesar de terem
uma carga horária extensa (40 horas
semanais) desempenham funções diversas das
previstas pelo Minas Telecárdio. Este fato
dificulta a participação das atividades de
teleconferências e conseqüentemente da
educação continuada. Sugere-se que os
profissionais sejam exclusivos do Projeto, como
forma de garantir o aprendizado e a interação.
Pode ser citado ainda, o receio dos pacientes
na ocasião da realização dos exames, o que
demanda tempo e preparo dos usuários. Para
correção deste problema, sugere-se que a
população seja conscientizada sobre os
benefícios do Projeto, através de palestras de
apresentação do projeto.
Organizer Local Organization
www.sbis.org.br/cbis2010
Apesar de esses problemas interferirem
diretamente no grau de aplicabilidade do
sistema, os usuários consideram o projeto
extremamente útil. Isso pode ser detectado na
medida em que os problemas cardiológicos são
identificados e tratados sem a necessidade de
encaminhamentos dos pacientes para a cidade
de referência. O que ajuda a melhorar a saúde
na atenção primária de suas cidades e a “(...)
salvar algumas vidas” (U02)
Os resultados alcançados com esta pesquisa
permitem concluir que, conforme a dimensão
do uso, o projeto de telecardiologia necessita
de aperfeiçoamento. E conforme a dimensão
da satisfação dos usuários primários, o projeto
é eficaz e contribui com o diagnóstico e
tratamento de pacientes das cidades que não
contam com médicos especialistas.
Através do MEDS pode-se ouvir
detalhadamente, em contextos naturais, aquilo
que os entrevistados têm a dizer sobre o
Projeto. Em seus depoimentos, eles relataram
suas experiências, os sentimentos e suas
dificuldades no uso do sistema e ainda
comentaram sobre a satisfação quanto a
implantação do projeto, de forma espontânea e
sincera. Apesar de, em todas as entrevistas,
os usuários relatarem a eficácia do projeto,
conseguiu-se extrair os problemas que foram
citados e que passariam despercebidos por
outros métodos.
Essa avaliação proporcionou verificar os
problemas enfrentados pelos usuários, o que
contribui para reformulação de novas ações e
acerto de rumos Projeto Minas Telecárdio em
relação à implantação do sistema nas demais
cidades de Minas Gerais.
.
Referências
1. DeLone, W.H. and E.R. McLean, ER.
Information Systems Success: The Quest for
the Dependent Variable. Information Systems
Research, Vol.3, No.1, March: pp.60- 89. 1992.
2. HU, PJ. Evaluating Telemedicine Systems
Success: A Revised Model. IEEE Computer
Society Press, 2003.
3. Nicolacci (2007). NICOLACI-DA Costa, A. O
campo da pesquisa qualitativa e o método de
explicitação do discurso subjacente (MEDS).
Psicologia: Reflexão e Crítica, 2007. Disponível
em <http:www.scielo.br/pcr> acessado em
17/01/2009.
6
Secretariat
4. MAXWELL, J. A. (2005). Qualitative
research design: An interactive approach (2nd
ed.). Thousand Oaks, UK: Sage.
5. TURATO, E. R. Tratado da metodologia da
pesquisa clínicoqualitativa. Petrópolis, RJ:
Vozes, 200.

7
Organizer Local Organization Secretariat

www.sbis.org.br/cbis2010
Template

4
Organizer Local Organization Secretariat

www.sbis.org.br/cbis2010