Você está na página 1de 6

Ensino Híbrido: uma

introdução ao tema

Parte 2 – Modelos e Métodos


do Ensino Híbrido

Profa. Joyce E. Mateus Celestino


Ensino Híbrido: uma introdução ao tema1

Parte 2. Modelos e métodos do ensino híbrido.

Como vimos, modelos de Rotação se caracterizam pelo revezamento dos estudantes entre
diferentes atividades/conteúdos, mesclando características da sala de aula tradicional com
características do ensino online, através de roteiros e/ou orientações pelo professor. Nesta parte,
veremos os modelos Flex, A La Carte e Virtual Enriquecido. Estes, por sua vez, implicam numa
disrupção 2 em relação à sala de aula tradicional e, portanto, em mudanças profundas com
implementação a longo prazo.
O modelo Flex se caracteriza por um programa no qual o ensino online é a base do aprendizado
dos alunos, ainda que às vezes o modelo proponha aos alunos atividades off-line. Neste modelo, os
alunos seguem uma rotina individualmente personalizada e que transita entre as modalidades de
aprendizado, e o professor responsável fica disponível em sala de aula (CHRISTENSEN; HORN; STAKER,
2013).
Programas com modelo Flex possuem uma plataforma online que abriga a maioria dos cursos.
Neles os professores fornecem suporte, de forma flexível e adaptável, conforme necessidades de
aprendizado específicas, por meio de sessões de tutoria pessoalmente e de sessões em pequenos
grupos (STAKER, 2011). Os estudantes em programas Flex, conforme Christensen, Horn e Staker, (2013,
p. 32) “não necessitam de grupos definidos por idade visto que todos se movimentam por cursos e
módulos” cada qual em “seus próprios ritmos e planejamentos”. Muitos programas combinados de
recuperação de créditos e/ou de alunos repetentes se beneficiam desse modelo.
Um exemplo de modelo Flex é o AdvancePath Academics, o qual consiste em um provedor de
serviços com fins lucrativos que faz parcerias com distritos nos Estados Unidos da América para educar e
graduar população de segundo grau (repetentes) e de alto-risco (STAKER, 2011). Segundo a referida
autora cada AdvancePath Academy apresenta quatro zonas:

[...] (1) uma área de recepção dos pais e visitantes; (2) um laboratório de informática de
tecnologia com uma proporção de 1 computador por aluno; (3) uma zona de leitura e escrita off-
line; e (4) uma área para instrução em pequenos grupos com professores. A intenção é que esse

1 Doutoranda em Ciências da Engenharia Ambiental pela EESC USP, MSc. em Engenharia de Produção pela UFRN. Licenciada
em Ciências Biológicas (UFRN) e Tecnóloga em Gestão Ambiental (IFRN). Com experiência no ensino superior e projetos de
pesquisa em desenvolvimento tecnológico e industrial pelo CNPq. Foi pesquisadora visitante na Universidade de Strathclyde,
Escócia.
2
Em linhas gerais, “a opção disruptiva é empregar o ensino online em novos modelos que se afastem da sala de aula
tradicional” (Christensen, Horn e Staker, 2013, p. 26).
ambiente de sentimento profissional promova um clima de respeito e estímulo ao estudo entre
os alunos, bem como uma cultura de ensino e aprendizagem em equipe (STAKER, 2011, p. 20,
tradução nossa).

O modelo A La Carte é aquele no qual os alunos participam de um ou mais cursos inteiramente


online, com um professor responsável online e, ao mesmo tempo, continuam a ter experiências
educacionais em salas de aula tradicionais. Os alunos podem participar dos cursos online tanto nas
unidades físicas ou fora delas. “A maioria dos programas A La Carte surgiram para atender a estudantes
que de outro modo não teriam acesso a cursos como os cursos avançados e a aulas de línguas
estrangeiras” (CHRISTENSEN; HORN; STAKER, 2013, p. 32).
Neste modelo, os alunos dispensam a participação em sala de aula tradicional para fazer cursos
online, os quais são somados a seus cursos formais. Um professor online é o professor responsável
pelos cursos deste modelo — embora as escolas certamente possam fazer disso uma parte intencional
de sua estratégia — e em alguns casos oferecem a seus alunos uma variedade de apoios presenciais,
como mentores em cybercafés (locais para fazer lanches que contam com internet e computadores)
(CHRISTENSEN; HORN; STAKER, 2013).

O modelo A La Carte é o caso mais claro de disrupção pura. Olhando apenas para o curso e não
para o resto da experiência dos estudantes, ele frequentemente não possui componente híbrido,
mas é visto como parte da experiência educacional integral do estudante, ele representa um caso
de ensino híbrido. Ele não deixa dúvidas sobre o fato de que a sala de aula tradicional está
ausente do modelo, pois para os cursos completamente online, os alunos não utilizam uma sala
de aula física, ainda que, em alguns modelos, os estudantes possam fazer suas atividades em
cyber cafés ou laboratórios de aprendizado (CHRISTENSEN; HORN; STAKER, 2013, p. 34).

Um exemplo de modelo A La Carte, segundo Staker (2011), é a Escola Virtual de Michigan (MVS
sigla em inglês) que consiste em uma divisão da Universidade Virtual de Michigan para fornecer acesso a
um conteúdo ampliado do curso por meio do ensino online destinado aos alunos do ensino
fundamental e médio no estado. “Como outras escolas virtuais que oferecem cursos online A La Carte, o
MVS pode ser a espinha dorsal de vários modelos de aprendizagem combinada” (STAKER, 2011, p. 121,
tradução nossa).

A maioria dos alunos do MVS, o experimenta por meio do modelo de auto-mesclagem, ou seja,
fazem cursos de MVS em um local remoto enquanto frequentam uma escola tradicional para
seus outros cursos. A maioria possui um mentor distrital que se reúne pelo menos uma vez
pessoalmente, ajuda a monitorar o progresso, tem acesso ao sistema de gerenciamento de
aprendizado e pode se comunicar diretamente com o professor online (STAKER, 2011, p. 121,
tradução nossa).

O modelo Virtual Enriquecido, conforme Christensen; Horn; Staker, (2013, p. 27) é uma
“experiência de escola integral na qual, dentro de cada curso (por exemplo, matemática), os alunos
dividem seu tempo entre uma unidade escolar física e o aprendizado remoto com acesso a conteúdos e
lições online”. Os estudantes que participam de programas Virtuais Enriquecidos raramente
comparecem a uma sala de aula física todos os dias da semana.

Essa desconexão proposital entre estudantes e cadeiras pretende proporcionar implicações


significativas para a melhoria da utilização das instalações e estruturas. Por causa de seu
potencial para economia de recursos financeiros, o modelo poderia ser um meio de criar mais
maneiras de baixo custo para que os não-consumidores possam acessar, ao menos em parte, a
experiência educacional em espaços físicos — assim como para que uma escola use suas
instalações de modo mais eficiente e possa atender a muito mais estudantes (CHRISTENSEN;
HORN; STAKER, 2013, p. 33).

Diferente dos modelos rotacionais, por exemplo, nos quais há um esforço para incrementar a
sala de aula tradicional, o modelo Virtual Enriquecido, segundo Christensen; Horn e Staker, (2013)
começa com um esforço para melhorar os serviços das tecnologias que sustentam o ensino online.
Segundo estes mesmos autores a história dos programas Virtuais Enriquecidos evidencia que “a maioria
deles iniciou quando as escolas completamente virtuais precisaram adicionar um componente físico
para melhorar os serviços oferecidos para estudantes online que estudavam de casa e demandavam
apoio presencial” (CHRISTENSEN; HORN; STAKER, 2013, p. 33).

Algumas considerações.
Com a leitura e reflexão sobre os modelos/métodos de ensino híbrido, torna-se possível inferir
que, assim como Bacich e Moran (2015) já haviam discutido, a integração entre sala de aula física e o
ensino online é fundamental para quebrar barreiras e fronteiras à universalização da educação. Desse
modo, há maior abertura da escola para o mundo e vice-versa, e isto favorece processos de
comunicação mais eficazes, nos quais a comunicação pode ser mais fluida por meio de uma linguagem
que se beneficia do uso de imagens, vídeos, fluxo de ideias, entre outros.
Ao longo do curso foi possível conhecer as características básicas que compõem o ensino híbrido,
assim como diferentes modelos/métodos deste ensino e suas especificidades. Tais informações
favoreceram a percepção sobre os benefícios do EH ao ser considerado como metodologia de ensino, a
qual permite integrar a sala de aula física e a sala de aula virtual com a mediação do professor e de
tecnologias digitais de informação e comunicação, proporcionando, dentre outras, a possibilidade de
individualizar o processo ensino-aprendizagem. Assim, se pode estimular a construção de conhecimento
considerando as particularidades dos educandos e fornecendo caminhos e novas possibilidades aos
professores, através da aplicação de atividades interativas e do uso de ferramentas online.

Referências.
BACICH, L.; MORAN, J. Aprender e ensinar com foco na educação híbrida. Revista Pátio, n. 25, jun., p.
45-47, 2015. Disponível em: <http://www2.eca.usp.br/moran/wp-
content/uploads/2015/07/hibrida.pdf>. Acesso em: 28 set. 2018.
CHRISTENSEN, C.; HORN, M.; STAKER, H. Ensino híbrido: uma inovação disruptiva? Uma introdução à
teoria dos híbridos. 2013. Disponível em: <https://www.pucpr.br/wp-content/uploads/2017/10/ensino-
hibrido_uma-inovacao-disruptiva.pdf>. Acesso em: 28 set. 2018.
STAKER, H. The Rise of K-12 blended learning: profiles of emerging models. 2011. Disponível em:
<https://issuu.com/acsathens/docs/the-rise-of-k-12-blended-learning/32> Acesso em: 28 set. 2018.

O texto Ensino Híbrido: uma introdução ao tema – Parte 2 - Modelos e Métodos do Ensino Híbrido de Joyce Elanne
Mateus Celestino está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
Para saber mais sobre os tipos de licença, visite http://creativecommons.org.br/as-licencas/
http://inovaeh.sead.ufscar.br/

Você também pode gostar