Em tempos longínquos, algures na Europa Nórdica, humildes camponeses já
podiam ouvir os trotes há milhas de distância, vil presságio de suas trágicas sinas. Os minotauros, com seus corpos meio-homem e meio-boi, carregavam em suas pesadas e peludas mãos machados e martelos, instrumentos de morte e devastação.
Os aldeãos apressavam-se em pegar o máximo de suprimentos possíveis.
Mulheres e crianças já haviam partido para escapar do massacre, e os homens ficaram para conter as hordas demoníacas, na esperança de que estariam dando as suas vidas para proteger a de suas famílias.
Paralelo a isso, em outro plano existencial treinava um jovem guerreiro sem
nome. Ele fora treinado por anciões para tornar-se uma arma viva, aterradora e impiedosa, protetora de sua nação. Seu treinamento se completara, após décadas de esforço e dedicação intensa. Décadas desde que fora escolhido a dedo, ainda criança, pelos grandes mestres e levado a este mundo estranho. Não houve cerimônia ou desejos de boa-sorte. Não havia tempo nem necessidade para isso.
De volta à aldeia, os minotauros já começaram o pandemônio. Um deles
segurava um aldeão pelo pescoço, estrangulando-o no meio da praça. Usaria a cabeça do infeliz como troféu. Aquele era o líder do exército brutal. Neste exato momento, surgia o herói. Relatos dizem que ninguém o vira chegando, era como se sempre estivera ali. Mas posso garanti-lo, fiel leitor, que todos viram e jamais se esqueceram do que aconteceu em seguinte. Ele correu em direção ao líder, correu com a velocidade de que lobos famintos dão cabo de uma presa indefesa, soltando um efervescente grito de guerra, como se todos os leões do mundo rugissem ao mesmo tempo. De repente, o coração dos aldeões se encontravam em caloroso conforto, cientes de que a ajuda chegou. Aquele não era só um guerreiro, era um berserker.
O minotauro era igualmente valente, e em mesmo tamanho, tolo. Largou
então o camponês desafortunado, quase sem vida. O vilão havia encontrado um troféu melhor para vangloriar-se: A cabeça do grande combatente misterioso. Pancadas de martelo, contudo, não lhe amassavam o crânio, nem tampouco a lâmina do machado lhe dividia a cabeça do resto do corpo. “Mas isto não é humano!”, foi a última coisa que o minotauro pensou em seu idioma rudimentar. Um único homem foi necessário para devastar todo o exército de brutos, que imploravam, pela primeira e única vez na vida, por clemência. Perca de tempo. Os camponeses queriam agradecê-lo e recompensá-lo, mas o herói não lhes deu ouvidos. Continuou caminhando para o horizonte, onde, em algum lugar, alguém precisava ser salvo.