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Berserker

João Bôsco

Em tempos longínquos, algures na Europa Nórdica, humildes camponeses já


podiam ouvir os trotes há milhas de distância, vil presságio de suas trágicas sinas.
Os minotauros, com seus corpos meio-homem e meio-boi, carregavam em suas
pesadas e peludas mãos machados e martelos, instrumentos de morte e
devastação.

Os aldeãos apressavam-se em pegar o máximo de suprimentos possíveis.


Mulheres e crianças já haviam partido para escapar do massacre, e os homens
ficaram para conter as hordas demoníacas, na esperança de que estariam dando as
suas vidas para proteger a de suas famílias.

Paralelo a isso, em outro plano existencial treinava um jovem guerreiro sem


nome. Ele fora treinado por anciões para tornar-se uma arma viva, aterradora e
impiedosa, protetora de sua nação. Seu treinamento se completara, após décadas
de esforço e dedicação intensa. Décadas desde que fora escolhido a dedo, ainda
criança, pelos grandes mestres e levado a este mundo estranho. Não houve
cerimônia ou desejos de boa-sorte. Não havia tempo nem necessidade para isso.

De volta à aldeia, os minotauros já começaram o pandemônio. Um deles


segurava um aldeão pelo pescoço, estrangulando-o no meio da praça. Usaria a
cabeça do infeliz como troféu. Aquele era o líder do exército brutal. Neste exato
momento, surgia o herói. Relatos dizem que ninguém o vira chegando, era como se
sempre estivera ali. Mas posso garanti-lo, fiel leitor, que todos viram e jamais se
esqueceram do que aconteceu em seguinte. Ele correu em direção ao líder, correu
com a velocidade de que lobos famintos dão cabo de uma presa indefesa, soltando
um efervescente grito de guerra, como se todos os leões do mundo rugissem ao
mesmo tempo. De repente, o coração dos aldeões se encontravam em caloroso
conforto, cientes de que a ajuda chegou. Aquele não era só um guerreiro, era um
berserker.

O minotauro era igualmente valente, e em mesmo tamanho, tolo. Largou


então o camponês desafortunado, quase sem vida. O vilão havia encontrado um
troféu melhor para vangloriar-se: A cabeça do grande combatente misterioso.
Pancadas de martelo, contudo, não lhe amassavam o crânio, nem tampouco a
lâmina do machado lhe dividia a cabeça do resto do corpo. “Mas isto não é
humano!”, foi a última coisa que o minotauro pensou em seu idioma rudimentar. Um
único homem foi necessário para devastar todo o exército de brutos, que
imploravam, pela primeira e única vez na vida, por clemência. Perca de tempo. Os
camponeses queriam agradecê-lo e recompensá-lo, mas o herói não lhes deu
ouvidos. Continuou caminhando para o horizonte, onde, em algum lugar, alguém
precisava ser salvo.

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