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AUDITORIA DE OBRAS
TCU

AUDITORIA DE OBRAS
MATERIAL DE APOIO PARA A AULA Nº 3

JÚLIO CÉSAR DE FREITAS GUIMARÃES


ENGENHEIRO CIVIL

BRASÍLIA, MARÇO DE 2005


Sumário

I- APRESENTAÇÃO ........................................................................................1
II - PRÉ-REQUISITOS ......................................................................................1
II.1 CONCRETO .............................................................................................1
II.1.1 Cimento Portland ..........................................................................1
II.1.2 Agregados....................................................................................2
II.1.3 Aditivos .......................................................................................3
II.1.4 Dosagem do concreto ....................................................................4
II.1.5 Preparo, Transporte, Aplicação e Cura ..............................................5
II.1.6 Propriedades e características do concreto ........................................6
II.1.7 Tipos de concreto ..........................................................................7
II.1.8 Esforços solicitantes.......................................................................8
II.1.9 Principais defeitos e reparos em estruturas de concreto .................... 10
II.2 AÇO PARA CONCRETO ............................................................................... 13
II.3 NOÇÕES DE SOLOS .................................................................................. 14
II.3.1 Classificações dos solos ................................................................ 14
II.3.2 Principais índices físicos................................................................ 17
II.3.3 Permeabilidade ........................................................................... 19
II.4 HIDROLOGIA ......................................................................................... 19
II.4.1 O ciclo hidrológico ....................................................................... 19
II.4.2 A água na natureza ..................................................................... 21
II.4.3 Precipitação................................................................................ 21
II.4.4 Vazão ........................................................................................ 22
II.4.5 Bacia hidrográfica........................................................................ 23
II.5 HIDROMETRIA ....................................................................................... 24
II.5.1 Medição de nível d’água ............................................................... 24
II.5.2 Medição de vazão ........................................................................ 24
II.5.3 Medição de descarga sólida........................................................... 24
II.5.4 Medição de chuva........................................................................ 25
II.5.5 Medição de dados climatológicos.................................................... 25
II.6 ESTUDOS HIDROLÓGICOS ........................................................................... 25
II.7 PRINCIPAIS MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS ......................... 27
III - REFERÊNCIAS (3ª AULA): .......................................................................... 29

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JÚLIO CÉSAR DE FREITAS GUIMARÃIES AUDITORIA DE OBRAS

I- Apresentação

A presente apostila se constitui em bibliografia básica – módulo de Obras Hídricas – do curso


preparatório para o concurso relativo ao cargo de Analista de Controle Externo-ACE, Área
Controle Externo, do Tribunal de Contas da União, a ser realizado em maio de 2005.

Pretende-se que o material aqui contido forneça aos concursandos informações suficientes
ao bom desenvolvimento da prova, dentro da área específica. A apostila foi elaborada de
forma a possibilitar, mesmo àqueles que não têm formação na área de engenharia,
entendimento necessário sobre os temas abordados. Seu conteúdo está estruturado em seis
capítulos: Pré-Requisitos (conceitos básicos de concreto, solos e Hidrologia), Estruturas
Hidráulicas, Aproveitamento Hidrelétrico, Irrigação e Drenagem, Obras Portuárias e Obras de
Saneamento. O primeiro capítulo, apesar de não fazer parte explicitamente do programa,
torna-se necessário para possibilitar um melhor aproveitamento dos demais assuntos.
Outros conceitos básicos, seja da área tecnológica (Topografia, Mecânica dos
Solos/Investigações Geotécnicas), seja da área de auditoria/orçamentação, serão
desenvolvidos no escopo dos demais módulos – Auditoria, Obras Rodoviárias e Edificações.

Considerando que o concurso foi aberto a profissionais de qualquer formação superior, o


conteúdo da apostila atende ao programa do concurso, procurando enfatizar os aspectos
conceituais dos diversos tópicos e suas aplicações práticas em obras de engenharia. Não se
pretende, de maneira alguma, que tenha a amplitude e a profundidade das diversas
disciplinas correlatas, ministradas em um curso de graduação na área de engenharia civil.

II - Pré-requisitos

II.1 Concreto

É um material processado momentos antes de sua aplicação, utilizado, basicamente, na


formação da estrutura das construções. Sua composição se dá pela mistura, até tornar a
massa a mais homogênea possível, em proporções pré-determinadas, dos seguintes
elementos:

ƒ cimento (aglomerante);
ƒ areia (agregado miúdo);
ƒ brita (agregado graúdo);
ƒ água;
ƒ aditivos (eventual).

II.1.1 Cimento Portland

Produto obtido pela pulverização de clinker, tendo a função de aglomerar os diversos


componentes do concreto e fornecer a este propriedades importantes. O clinker é resultante
da calcinação de uma mistura de materiais que é conduzida até a temperatura de fusão
incipiente – próxima a 1500ºC. Após resfriado, o clinker tem natureza granulosa.

Os principais constituintes do Cimento Portland, são a Cal (CaO), a Sílica (SiO2), a Alumina
(Al2O3) e o Óxido de ferro (Fe2O3).

No Brasil, os principais tipos desse aglomerante e respectiva normatização são:

ƒ Cimento Portland Comum CP-I-XX, podendo ter ou não adições – NBR-5732/91;

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ƒ Cimento Portland Composto CP-II-XX, podendo ser dos tipos E, Z e F – NBR-


11578/91;
ƒ Cimento Portland Alto Forno CP-III-XX – NBR-5735/91;
ƒ Cimento Portland Pozolânico CP-IV-XX – NBR-5736/91;
ƒ Cimento Portland de Alta Resistência Inicial CP-V-ARI – NBR-5733/91.
Nas abreviações acima, CP significa Cimento Portland, I a V significam o tipo de cimento em
relação à sua composição (e, consequentemente, características), XX significa a classe de
resistência à compressão da argamassa normal (em MPa), podendo ser 25, 32 (mais
comum) ou 40MPa, e E, Z e F, significam cimento composto com escória de alto forno, com
pozolana e com filler, respectivamente.

O quadro, a seguir, resume os tipos de cimento Portland fabricados regularmente no Brasil e


sua composição.

Componentes (% de massa)
Classe de Clínquer +
Sigla Escória de Material Material
Resistência Sulfato de
Alto-Forno Pozolânico Carbônico
Cálcio
CP-I 25-32-40 100 -- -- --
CP-I-S 25-32-40 99-95 1-5 1-5 1-5
CP-II-E 25-32-40 94-56 6-34 -- 0-10
CP-II-Z 25-32-40 94-76 -- 6-14 0-10
CP-II-F 25-32-40 94-90 -- -- 0-10
CP-III 25-32-40 62-25 35-70 -- 0-5
CP-IV 25-32 85-45 -- 15-50 0-5
CP-V-ARI -- 100-95 -- -- 0-5
Fonte: Referência [2]

A escolha do tipo de cimento está condicionada às características que o concreto deve ter
em função de sua aplicação. Assim, por exemplo:

ƒ se a estrutura for de dimensões rotineiras e não for submetida a utilização sob


condições severas de agentes externos – água, por exemplo – deve-se empregar o
tipo CP-I;
ƒ quando há necessidade de que o concreto atinja, rapidamente, sua resistência
característica – para entrar em carga em prazo curto, por exemplo – deve-se
empregar o CP-V-ARI;
ƒ se há necessidade de que o calor de hidratação seja inferior ao do cimento comum,
mesmo que a reação se processe mais lentamente e, ainda, é exigida uma
resistência química mais significativa – em barragens de concreto massa, por
exemplo – utiliza-se o CP-IV

II.1.2 Agregados

Materiais granulosos e inertes, heterogêneos, que se constituem em cerca de 70% da


composição do concreto. São empregados em argamassas (cimento + agregado miúdo +
água) e concretos (cimento + agregado miúdo + agregado graúdo + água). Exercem papel
importante no concreto, tanto econômico quanto em propriedades físico-químicas – redução
de retração, aumento da resistência à compressão e ao desgaste, etc.

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Os agregados podem ser classificados quanto à origem (modo de obtenção) em naturais


(areias de rio e de jazidas, seixos rolados, pedregulhos, etc.) e artificiais (areia artificial,
pedra britada). Em relação ao peso específico classificam-se em leves (argila expandida,
vermiculita, etc.), com γ < 1,0tf/m³, normais (areias quartzozas, seixos, britas de gnaisse e
granito, etc.), com 1,0tf/m³ < γ < 2,0tf/m³, e pesados (barita, magnetita, limonita), com γ
> 2,0tf/m³.

Quanto às dimensões, segundo classificação da ABNT, agregado miúdo – areia – é aquele


com diâmetro equivalente compreendido entre 0,05 e 4,8mm, e agregado graúdo – brita,
seixo rolado – é o que tem diâmetro superior ao último valor. A areia subdivide-se, dentro
da faixa indicada, em fina, média e grossa. Já a pedra britada, por razões comerciais,
classifica-se em:

ƒ Brita zero – 4,8 a 9,5mm;


ƒ Brita 1 – 9,5 a 19,0mm;
ƒ Brita 2 – 19,0 a 38,0mm;
ƒ Brita 3 – 38,0 a 76,0mm;
ƒ Pedra de mão – > 76,0mm.
É importante conhecer a natureza dos agregados, já que se tratam de materiais
heterogêneos – de origens diversas e, conseqüentemente, com características físico-
químicas diferentes. Alguns, mantendo muitas das propriedades da rocha matriz, em razão
de conservarem a mesma composição mineralógica, podem reagir, a longo prazo, com os
álcalis de alguns cimentos, sendo extremamente prejudiciais ao concreto.

Por seu turno, as jazidas de materiais naturais de construção, agregados inclusos, em


termos de origem geológica, podem-se classificar em:

ƒ residuais – quando encontradas próximas à rocha matriz, podendo ser de boa


granulometria, porém, com grande quantidade de impurezas;
ƒ eólicas – em geral, de materiais muito finos, com má granulometria, porém, com
elevada pureza;
ƒ aluviais – formadas pela ação transportadora das águas, podendo ser marítimas ou
fluviais, sendo as primeiras de má formação granulométrica e as últimas, onde
costumam-se encontrar os melhores agregados naturais.
Para medir a qualidade dos agregados, podem ser usados vários índices, entre os quais se
destacam:

ƒ resistência aos esforços mecânicos (compressão e abrasão);


ƒ quantidade de substâncias nocivas (torrões de argila, matérias carbonosas, material
pulverulento);
ƒ impurezas orgânicas;
ƒ resistência aos sulfatos de sódio e magnésio;
ƒ reatividade potencial;
ƒ forma dos grãos.

II.1.3 Aditivos

São produtos aplicados em condições especiais com a finalidade de conferir ao concreto –


em geral, à massa fresca – propriedades que venham a facilitar/otimizar sua aplicação e
desempenho. Sua utilização deve ser bem avaliada para evitar o aparecimento de efeitos
colaterais indesejados no concreto endurecido.

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Podem ser plastificantes (aumentam a plasticidade e permitem redução do fator água-


cimento), retardadores de pega, aceleradores de pega ou outros.

II.1.4 Dosagem do concreto

À determinação da quantidade relativa dos diversos componentes do concreto dá-se o nome


de dosagem. O objetivo principal da dosagem é a obtenção da mistura mais econômica que
atenda às solicitações a que a estrutura será submetida. Assim, como o cimento é, de longe,
o componente mais caro (por unidade de peso) do concreto, a dosagem visa a obtenção da
relação que utilize a menor quantidade desse componente e que seja capaz de produzir um
concreto com as características desejadas.

Na prática, a dosagem é representada por um “traço” que é expresso da seguinte forma:

1:A:B (lê-se 1 para “A” para “B”),

onde “A” representa a quantidade de agregado miúdo por unidade da quantidade de


cimento e “B” a quantidade de agregado graúdo por unidade da quantidade de cimento. O
traço deve representar uma relação em peso (traço gravimétrico) entre os diversos
componentes, sendo adotada a unidade para o cimento. Em serviços de menor
responsabilidade, o traço pode ser expresso em volume de agregados por quilo de cimento
(traço volumétrico).

Caso a fração agregado graúdo contenha duas classes de brita (britas 1 e 2, por exemplo), o
traço pode ser expresso por 1:A:B:C, onde “B” é a quantidade de brita 1 e “C” a quantidade
de brita 2, ambas por quilo de cimento.

Complementa a dosagem a quantidade de água que é adicionada à mistura, dentro da


relação pré-definida. Essa quantidade é expressa em litros de água por quilo de cimento
(l/kg) e é sempre inferior à unidade – em geral varia entre 0,40 e 0,55. A essa relação dá-se
a denominação “fator água-cimento”. Quanto maior a quantidade de água, maior é a
“trabalhabilidade” do concreto – mistura e aplicação; porém, todas as demais características
– resistência aos esforços solicitantes, impermeabilidade, durabilidade, aderência, etc. –
diminuem. Dessa forma, o fator água-cimento assume importância fundamental na
qualidade final do concreto. Busca-se, então, a menor quantidade de água que permita a
completa reação química do aglomerante e, ainda, torne possível e adequada a
trabalhabilidade da massa.

Um fluxograma para determinação da dosagem final (traço) do concreto deve levar em


conta diversos parâmetros, tais como:

ƒ risco de ataque químico do concreto => tipo de cimento;


ƒ controle de qualidade da obra e a tensão característica de ruptura (fck) => tensão
de dosagem (fcj);
ƒ tipo de cimento, tensão de dosagem, idade p/ resistência requerida => fator água-
cimento;
ƒ seção da peça e espaçamento entre as barras => diâmetro máximo do agregado
gráudo;
ƒ processo de adensamento, seção da peça e espaçamento entre as barras =>
trabalhabilidade;
ƒ diâmetro máximo e forma do agregado, trabalhabilidade, fator água-cimento =>
proporção agregado/cimento, granulometria dos agregados e proporção dos
agregados.

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De todas as características às quais o concreto deve atender, a resistência à compressão é a


mais empregada para definir a qualidade do concreto endurecido, apesar de, mais
recentemente, se pensar que um concreto de excelente qualidade é aquele de grande
compacidade (pouca porosidade). Isto porque, quanto menor o volume de vazios, mais
resistente a ataques externos – químicos, físicos – é o concreto e, consequentemente, mais
durável.

Para se avaliar a resistência a que uma estrutura é capaz de resistir, utiliza-se de métodos
estatísticos. Assim, são coletados (moldados) corpos de prova de concreto quando de sua
fabricação e, admitindo-se que a distribuição dos valores da resistência à compressão em
torno de sua média possa ser bem representada por uma curva de Gauss (distribuição
normal), pode-se definir a tensão de dosagem (fcj), uma vez que se disponha das seguintes
informações:

ƒ resistência característica de ruptura (fck);


ƒ tipo de controle de fabricação do concreto => maior ou menor dispersão em torno
da média (medida pelo desvio-padrão das amostras);
ƒ percentual admissível de resultados abaixo do fck (tomado como 5%).
A norma define critérios para determinação do tipo de controle de execução do concreto.

Obtido o traço, em que as quantidades de todos os demais componentes estão referidas a


1kg de cimento, deve-se adequá-lo à capacidade do misturador (betoneira). Nesse caso,
trabalha-se com o peso específico aparente dos componentes.

Vale lembrar que, em caso de utilização de aditivos, esses devem ser aplicados, em
quantidade pré-estabelecida, no início ou durante o processo de mistura dos componentes.

II.1.5 Preparo, Transporte, Aplicação e Cura

O preparo consiste na mistura da massa. O objetivo principal é torná-la a mais homogênea


possível. A mistura se faz em betoneiras, que são máquinas apropriadas para o serviço, ou
em centrais e usinas de concreto. Existem alguns requisitos a serem seguidos como tempo
de mistura, ordem de colocação dos materiais na betoneira (em geral, brita, água, cimento,
areia), velocidade de rotação da betoneira, entre outros.

O transporte pode ser feito de várias formas, desde manual – através de carrinhos de mão
ou de jericas – até bombeado desde a central, passando por caminhões betoneiras e
esteiras.

A aplicação engloba o lançamento e o adensamento. No lançamento, cuidados especiais


devem ser tomados, como observar altura máxima de lançamento – em peças de concreto
armado, abrir janelas – estabelecer planos de concretagem para estruturas de grande porte
(barragens, por exemplo), obedecer técnicas ou utilizar equipamentos especiais em
concretagens submersas (tremonhas, lama bentonítica, etc.), atentar para juntas de
dilatação e retração (aplicação de juntas tipo Fungenband ou Jeene), entre outros. Também
utiliza-se de bombas para aplicação quando se tem que vencer um grande desnível vertical
(em edifícios, por exemplo) ou o acesso ao local de lançamento é impraticável para
caminhões betoneira.

O adensamento é fundamental para a retirada de vazios que podem-se formar no interior do


concreto (brocas). Para se ter noção da importância dessa operação, uma peça com 20% de
vazios pode ter sua resistência reduzida em 50%. O meio mais comum de realizar o
adensamento é através de vibradores de imersão.

Para que o concreto atinja o desempenho esperado, torna-se imperiosa a realização de sua
cura segundo metodologia estabelecida em conjunto projetista-executor. A “cura” do

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concreto abrange um conjunto de medidas que têm por objetivo principal evitar a
evaporação da água utilizada na mistura do concreto. Particularmente para peças expostas
ao sol e ao vento, a cura criteriosa e prolongada (até 7 dias, e, em casos especiais, mais)
pode aumentar a resistência final em 20%, ou mais, além de evitar o surgimento de trincas
por retração, inaceitáveis em peças que devem ser submetidas a esforços por líquidos –
reservatórios, por exemplo. A cura pode ser feita por irrigação/aspersão direta e contínua
das superfícies expostas, recobrimento com areia ou sacos de tecidos que são mantidos
úmidos, recobrimento com lonas plásticas, aplicação de filmes impermeabilizantes (cura
química), entre outros.

II.1.6 Propriedades e características do concreto

Separam-se as propriedades do concreto fresco daquelas do concreto endurecido.

Para o concreto fresco, a característica mais importante e a ser destacada é sua


trabalhabilidade. Diz-se que uma argamassa ou concreto é trabalhável quando está
adequada à obra a que se destina, ou seja, tamanho de peça, espaçamento mínimo entre
armaduras, tipos de transporte, lançamento, adensamento e acabamento. Essa noção é um
tanto quanto subjetiva, sendo que envolve conceitos intrínsecos ao concreto e outros
relacionados à obra em questão. Então, um concreto pode ter trabalhabilidade adequada
para uma obra e inadequada para outra.

O componente físico mais importante da trabalhabilidade é a consistência. Esta pode ser


definida como “a relativa mobilidade ou facilidade do concreto escoar”. É afetada por uma
série de fatores, tais como, a granulometria e a forma dos grãos do agregado, a utilização
de aditivos, o tempo entre preparo e lançamento e a temperatura ambiente. Na prática
existem 2 entre 3 fatores (o terceiro é sempre dependente) que influem decisivamente na
consistência do concreto: o teor água/mistura seca (mistura seca = cimento + agregados),
o fator água-cimento e a relação agregado-cimento. Assim, se a relação agregado-cimento
for reduzida (traço enriquecido) e o fator água-cimento mantido constante, o teor
água/mistura seca aumentará e, consequentemente, o concreto se tornará mais plástico.

Existem vários ensaios normatizados para avaliação da consistência, sendo o ensaio de


abatimento (slump test) o mais usado. Antes de ser aplicado o concreto, toma-se uma
pequena porção da massa e molda-se um corpo de prova em uma forma metálica de
formato tronco-cônico com 20cm de diâmetro de base, 10cm de diâmetro no topo e 30cm
de altura. A moldagem é feita em 3 camadas iguais, aplicando-se 25 golpes em cada com
uma barra normatizada, para fins de adensamento. Ao final, retira-se o molde e mede-se o
valor do abatimento (slump) da massa em cm.

Importante comentar sobre o fenômeno indesejável da exsudação, que consiste na


separação espontânea da água de mistura, que aflora pelo efeito conjunto da diferença
entre as densidades da mistura seca (cimento + agregados) e da água e do grau de
permeabilidade que prevalece na massa. A coesão do concreto fresco, responsável por
evitar esse tipo de segregação é função do tipo de cimento. Também, um excesso de
vibração pode conduzir à segregação dos componentes – inclusive à exsudação.

Com relação ao concreto endurecido, isto é, a partir da pega, existem várias propriedades e
características que passam a ser destacadas:

ƒ resistência à compressão e à tração – conforme visto, a resistência à compressão é


dado utilizado para a dosagem do concreto; varia de valores rotineiros de 10 a
20MPa até valores extremamente elevados que atingem 50MPa ou mais (os
chamados concretos de alto desempenho-CAD); o concreto resiste mal à tração,
para a gama de solicitações à que é submetido – daí utilizar-se o aço para esse
papel; como ordem de grandeza, a resistência à tração é de 10 a 20% do valor da
resistência à compressão;

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ƒ densidade – adota-se como 2,3 a 2,4 para o concreto simples e 2,5 para o concreto
armado;
ƒ resistência à abrasão – cresce com a utilização de agregados mais duros e de maior
diâmetro, com o aumento da resistência à compressão e com o grau de polimento
da superfície endurecida;
ƒ condutibilidade elétrica – a resistividade do concreto varia entre 104 e 107ohms/cm²;
o concreto é mau condutor de eletricidade, mas não chega a ser um isolante;
ƒ dilatação térmica – em geral, da ordem de 10 a 20x10-6/°C;
ƒ resistência ao fogo – até temperaturas da ordem de 100°C as resistências à
compressão e à tração não se alteram; para estruturas expostas a temperaturas
superiores, começa a existir um decréscimo desses valores, chegando a 95% para a
tração e 50% para a compressão, para uma temperatura de 800°C;
ƒ adesão – varia com o grau de aspereza (mais áspera, maior adesão) e com a
limpeza da superfície (isenta de pó); é comum o uso de produtos (resinas do tipo
epóxi e outros) para garantir uma maior adesão;
ƒ durabilidade – a resistência mecânica do concreto pode reduzir com o tempo se este
for atacado por uma série de agentes sejam mecânicos (choques, vibração, abrasão,
fadiga), físicos (temperatura), químicos (águas agressivas e agentes reativos) e até
biológicos (bactérias);
ƒ permeabilidade – apesar de baixa, ela existe, já que o concreto é um material
obrigatoriamente poroso (pela sua constituição e forma de fabricação); pode ser
reduzida com a adoção de uma série de cuidados, desde a dosagem (inclusive com
a incorporação de aditivos) até a execução.
Para identificação das propriedades e características do concreto, existe uma série de
ensaios, cabendo mencionar os realizados para verificação da resistência à compressão. Para
concretos novos, moldam-se corpos de prova por ocasião da concretagem para ensaiá-los
(rompê-los) com diversas idades – 3, 7, 28 dias – de acordo com metodologia definida em
norma. A norma também define a interpretação dos resultados e os critérios de aceitação ou
não da estrutura. Já para estruturas antigas, existem ensaios destrutivos (retirada de corpos
de prova) e não-destrutivos (esclerômetros e ultra-som).

II.1.7 Tipos de concreto

Em termos genéricos o concreto pode ser classificado em:

Simples – também denominado concreto massa ou magro, é aquele que não é dotado de
armadura ou esta existe em pequena taxa, sem ser considerada na estabilidade da estrutura
(toda a solicitação externa é resistida pelo concreto);

Armado – é aquele dotado de armadura de aço; como o concreto resiste bem à compressão,
mas mal à tração, o aço é incorporado à massa para vencer esse último tipo de solicitação;
isto é possível porque os módulos de elasticidade (E) dos dois materiais são da mesma
ordem de grandeza;

Protendido – é dotado de cordoalhas de aço em seu interior (além da armação tradicional)


que são submetidas a esforços de tração por macacos mecânicos, logo após o concreto ter
atingido sua resistência mínima; este artifício permite aos elementos estruturais resistirem a
esforços de maior magnitude – vencendo vãos maiores, por exemplo.

Um tipo especial de concreto massa, particularmente utilizado em barragens, é o concreto


compactado a rolo-CCR, que permite elevadas produção e produtividade, com consequente
redução de seu custo unitário.

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Quanto à forma de fabricação, o concreto pode ser:

ƒ pré-moldado – quando a peça de concreto é fabricada fora do local de sua


utilização, em pátios de pré-moldados, no caso de grandes obras, ou fábrica de pré-
moldados, no caso de peças que são utilizadas rotineiramente em várias obras
(tubos, postes, guias, placas de calçamento, etc.); em ambos os casos, costumam-
se utilizar fôrmas metálicas, que permitem reutilização em número indefinido; outra
vantagem é a possibilidade de um melhor controle de qualidade da fabricação; a
principal desvantagem é a necessidade de transporte das peças até o local de
utilização, ressaltadas também as limitações particulares com a capacidade dos
equipamentos de içamento e transporte das peças;
ƒ moldado “in loco” – quando a estrutura é fundida no local; neste caso, há uma
maior necessidade de escoramento, que permanece em utilização por mais tempo
(até que o concreto atinja resistência mínima).
O concreto pode, ainda, ser classificado de acordo com sua resistência característica à
compressão, podendo variar desde valores da ordem de 10MPa – utilizados para
enchimento/regularização, sem compromisso estrutural – até valores de 40 a 50MPa – que
já são denominados concretos de alto desempenho-CAD.

II.1.8 Esforços solicitantes

Os esforços externos simples que solicitam uma estrutura de concreto são os seguintes:

ƒ compressão;
ƒ tração;
ƒ flexão;
ƒ torção;
ƒ cisalhamento ou esforço cortante.
Sua atuação é melhor entendida pela figura da página a seguir.

Na prática, as peças são submetidas a uma combinação de esforços, incluindo o peso


próprio, aos quais precisa resistir. Mesmo esforços simples conduzem a tensões internas de
diferentes naturezas – compressão, tração, cisalhamento – que têm que ser combatidas,
seja pela seção de concreto, seja pela ação conjunta concreto-aço, seja somente pelo aço.
Por exemplo, uma solicitação de flexão simples induz a tensões de tração e compressão em
uma mesma seção do elemento estrutural.

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Esforços simples

Tensão é a relação entre a força aplicada e a pertinente área de atuação, ou seja,

σ = P/S,

sendo σ a tensão atuante (em kPa ou MPa ou kgf/cm²), P a força atuante (em kN ou MN ou
kgf) e S a área em que a força é aplicada, ou área resistente (em m² ou cm²). Obs.: 1MPa
= 10kgf/cm² = 10atm = 103mca.

O dimensionamento estrutural consiste em, dado o esforço solicitante, definir o valor da


área que mantenha a tensão dentro dos limites adequados ao material – concreto, aço,

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madeira, etc. Tais limites de tensão variam de acordo com o material e, no caso do
concreto, variam de acordo com a especificação do calculista.

Conforme citado, os esforços atuantes conduzem a estrutura a uma certa deformação. O


dimensionamento e a execução corretos fazem com que as deformações se estabeleçam
dentro de limites tecnicamente aceitáveis. O concreto e o aço, quando submetidos a
pequenos esforços, deformam-se (encolhem ou alongam-se, conforme a solicitação) de tal
forma que, se a solicitação deixar de atuar, retornam à sua configuração inicial – isto é,
deformação inicial, que pode ser nula. Se a força (ou tensão) aumenta um pouco, a
deformação aumenta na mesma proporção, mantendo uma linearidade. Em termos de
fórmula:

σ=E.ε

onde ε é o deslocamento relativo (deslocamento total dividido pela dimensão da peça na


direção do deslocamento), E é o módulo de elasticidade do material e σ já foi definido.

Esse comportamento – relação entre aumento de força (ou tensão) e de deformação


mantida constante e, em caso de descarregamento, retorno da estrutura à condição de
deformação original – permanece até um determinado limite, denominado limite de
elasticidade do material. A partir dele, o aumento de tensão (ou esforço) causará uma
deformação que não mais obedecerá a relação linear e, em caso de descarregamento,
deixará uma deformação residual na estrutura. Diz-se, pois, que o elemento estrutural
entrou em regime plástico (em alguns casos, “em escoamento”, já que, a partir desse ponto,
pequenos incrementos de esforço causarão relativamente grandes incrementos de
deslocamento). Assim os esforços solicitantes não podem levar a estrutura a tensões
superiores aos limites aos quais é capaz de resistir. Para o concreto, essa tensão limite de
compressão é definida por ocasião do dimensionamento estrutural e denominada fck –
tensão característica de compressão.

II.1.9 Principais defeitos e reparos em estruturas de


concreto

As estruturas de concreto, assim como outras estruturas construídas de qualquer tipo de


material, mesmo que bem calculadas, executadas e mantidas, sofrem desgaste natural, com
o tempo, o que faz com que diminua sua capacidade de resistir às solicitações para as quais
foram construídas. Entretanto, deficiências de projeto, execução e manutenção podem
acelerar esse processo, havendo casos em que mesmo antes de sua utilização, ou, ainda,
mesmo antes de sua conclusão, a estrutura já apresenta capacidade de carga muito aquém
do esperado.

As principais causas de deterioração precoce de uma estrutura de concreto podem ser


classificadas em três grandes grupos, conforme indicado a seguir:

ƒ causas relacionadas à fase de projeto:


- adoção de modelo estrutural inadequado
- detalhamento insuficiente ou equivocado
- avaliação errada de cargas atuantes
- incorreção na consideração de juntas de dilatação
- avaliação incorreta da ação do ambiente (agressividade)
ƒ causas relacionadas à fase de construção
- deficiências ligadas ao serviço de concretagem
- fôrmas e escoramentos executados de maneira inadequada

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- deficiências da armadura (interpretação errônea de projetos, mau posicionamento


de armaduras, cobrimento insuficiente, dobramento de barras errado, emendas e
ancoragens deficientes, etc.
- utilização incorreta de materiais de construção (fck inferior ao especificado, aço
diferente do especificado, utilização de agregados reativos, utilização inadequada
de aditivos, etc.)
- inexistência de controle de qualidade
ƒ causas relacionadas à fase de utilização
- ausência de manutenção
- alterações estruturais
- sobrecargas exageradas
- choques de cargas móveis – veículos, embarcações, etc.
- incêndio
- ocorrência de fenômenos meteorológicos ou abalos sísmicos excepcionais
- ação de agentes externos agressivos (ar, água, solo)
A deterioração do concreto – natural ou intensificada pelas causas acima identificadas – se
evidencia pelos seguintes processos físicos:

ƒ fissuração – inerente ao material, sendo, entretanto o principal indicador de


patologia na estrutura;
ƒ desagregação – desplacamento do concreto, pode ocorrer em conjunto com a
fissuração;
ƒ carbonatação do concreto – reação do CO2 com constituintes do concreto (CaO)
formando CaCO3 e reduzindo o pH do meio; problemática quando atinge a zona de
armaduras;
ƒ perda de aderência – pode ser em juntas de construção e entre o concreto e o aço;
ƒ desgaste superficial do concreto.
As figuras da página seguinte, retiradas da Referência [2], ilustram os principais tipos de
fissuras que ocorrem em vigas. A primeira, seguindo a ordem de cima para baixo, mostra
fissuras devidas à insuficiência de seção de aço junto ao apoio para combater o momento
fletor negativo. As fissuras da segunda figura se devem à insuficiência de seção de aço no
meio do vão para combater o momento fletor positivo. A terceira representa fissuração por
esmagamento do concreto por deficiência de cálculo ou executiva – fck incompatível com
solicitações ou insuficiência de seção de armadura de compressão. A última figura ilustra o
tipo de fissuração que ocorre por insuficiência de seção de aço para combater ao esforço
cortante.

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Principais tipos de fissuras em vigas

Principais Tipos de Fissuras em Lajes

Nas figuras da página anterior, tiradas da Referência [2], as fissuras são


devidas:

ƒ ao alto à esquerda (face inferior da laje) – ao esmagamento do concreto por


reduzida espessura da laje, insuficiente para resistir aos momentos negativos;

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ƒ ao alto à direita (face superior da laje) – insuficiência de armadura para combater


ao momento negativo junto ao apoio;
ƒ ao centro à esquerda (face superior da laje) – ao esmagamento do concreto em
razão de reduzida espessura da laje, insuficiente para reduzir aos momentos
positivos;
ƒ ao centro à direita (face inferior da laje) – à insuficiência da seção de aço para
resistir ao momento positivo;
ƒ abaixo à esquerda (face superior da laje) e à direita (face inferior) – à insuficiência
de armadura para resistir aos momentos volventes.
A intervenção na estrutura para fazê-la recuperar sua capacidade de trabalho original pode
se dar através de recuperação ou de reforço estrutural. O reforço estrutural também se
aplica em estruturas sãs, nas quais se quer elevar a capacidade de carga inicialmente
definida.

Os serviços de recuperação e reforço são divididos em duas partes: ações preparatórias e


execução dos serviços de recuperação/reforço propriamente ditos. As ações prévias ou
preparatórias podem ser intervenções na superfície afetada – polimento, apicoamento,
lavagens (com jatos de água e soluções), limpezas (escovação, jato de ar comprimido e/ou
areia), corte – ou mesmo a demolição parcial ou total de elementos estruturais. Por seu
turno, os serviços de recuperação e reforço estrutural consistem em:

ƒ injeção e selagem de fissuras – com grout, resinas epoxídicas, acrílicas ou


poliuretânicas;
ƒ grampeamento (costura) de fissuras – com utilização de armadura ancorada na
região sã;
ƒ reparos com argamassa – de cimento e areia, com polímeros ou epoxídicas – ou
com grout;
ƒ reparos com concreto – projetado, injetado;
ƒ reforço com utilização de armaduras;
ƒ reforço com chapas ou perfis metálicos (colados ou chumbados);
ƒ reforço com fibra de carbono (fita ou manta);
ƒ protensão exterior à construção.

II.2 Aço para concreto

O aço é um produto siderúrgico, obtido a partir do ferro fundido ou do ferro doce, por
diversos processos, com baixo teor de carbono – entre 0,2% e 1,7%. Tem densidade da
ordem de 7,65 (peso específico = 7,65tf/m³), boa resistência ao impacto, alta resistência ao
desgaste. Suas resistências à tração e à compressão são da mesma ordem de grandeza.

A maior preocupação quanto à durabilidade de estruturas de aço é sua proteção contra a


corrosão. Nesse aspecto, a combinação aço-concreto (concreto armado) conduz a benefícios
para ambos. Conforme visto, o concreto resiste bem à compressão, mas mal à tração. Por
outro lado, um concreto bem calculado e executado, com boa compacidade e que tenha
recoberto o aço com dimensões mínimas definidas em norma, dará a este último excelente
proteção contra corrosão.

Em termos comerciais, o aço para concreto é classificado de acordo com sua resistência à
tração. Assim, tem-se, genericamente, a denominação CA-XX, onde CA significa aço para
concreto e XX a resistência à tração (tensão de escoamento mínima) em kgf/mm². XX pode
assumir os valores de 25, 32, 50 e 60. O aço para concreto é vendido em barras de 12,0m

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de comprimento em diversos diâmetros (bitolas): 4,2 , 5,0 , 6,0 , 8,0 , 10,0 , 12,5 , 16,0 ,
20,0 , 25,0 , 32,0 e 40,0mm.

II.3 Noções de solos

São materiais que resultam da desintegração mecânica ou da decomposição química das


rochas matrizes. A desintegração mecânica se processa através de agentes como água,
temperatura, vegetação e vento e tende a formar as partículas de maiores dimensões –
pedregulhos e areias. Na decomposição química, há modificação mineralógica ou química
das rochas de origem O principal agente é a água e as mais importantes reações são
oxidação, hidratação, carbonatação e efeitos químicos de vegetais.

O estudo dos solos é de suma importância pelo fato de se constituírem em material natural
de construção – de menor custo de obtenção relativamente aos materiais industrializados –
e, também, de consistirem da base para fundação da maioria das obras de engenharia.

II.3.1 Classificações dos solos

As partículas que formam os solos podem ser agrupadas, de acordo com suas dimensões e
segundo escala granulométrica brasileira, estabelecida pela ABNT, em:

ƒ pedregulho – 4,8mm < d < 76mm;


ƒ areia – 0,05mm < d < 4,8mm;
ƒ silte – 0,005mm < d < 0,05mm;
ƒ argila – d < 0,005mm.
Os solos podem ser classificados em função da porcentagem de suas partículas de acordo
com a Classificação Trilinear. A figura da página seguinte, adotada pelo U.S. Federal
Highway Administration, ilustra esse tipo de classificação. Da figura depreende-se, por
exemplo, que solos só podem ser considerados como “areias” se tiverem um percentual da
fração “silte + argila” inferior a 20%.

Classificação Trilinear dos Solos

A granulometria de um solo, isto é, as dimensões das partículas do solo e as proporções em


que elas se encontram na massa de solo é representada, graficamente, pela curva
granulométrica. Esta é traçada em papel semi-log, sendo o eixo das abscissas, os logaritmos

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das dimensões das partículas, e o eixo das ordenadas, as porcentagens, em peso, de


material que tem dimensão média menor que a considerada. A figura, a seguir, apresenta
três tipos de curvas granulométricas.

Curvas Granulométricas

Obtida uma amostra do solo, para se determinar sua curva granulométrica, utiliza-se de
duas metodologias complementares, em função do diâmetro dos grãos. Primeiro, passa-se a
amostra por uma série de peneiras cujas aberturas das malhas seguem dimensões
normatizadas. Em cada peneira, ficam retidas as respectivas frações de material mais grosso
– pedregulho e areia. A parcela do solo constituída de finos, que passou por todas as
peneiras e foi colhida no fundo cego do conjunto, é ensaiada por sedimentação, através do
método de sedimentação contínua em meio líquido. Essa segunda parte do ensaio consiste
em, após dispersar parte da fração que passou em todas as peneiras (finos com
d<0,074mm) em uma mistura água-defloculante, agitando-a em um dispersor, verte-se a
solução em uma proveta graduada, completando com água até 1,0 litro, agitando
novamente, pondo em repouso a mistura e introduzindo na proveta um densímetro. Em
seguida, inicia-se uma série de leituras de afundamento do densímetro a intervalos
crescentes (30s, 1min, 2min, 4min, ...) contados do instante em que se pôs a proveta em
repouso. Com base nas leituras e considerando a lei de Stokes, que relaciona o diâmetro
equivalente da partícula com sua velocidade de sedimentação em um meio líquido de
viscosidade e peso específico conhecidos, pode-se montar a parte inferior da curva
garnulométrica.

Uma forma mais completa de identificar os solos é pela utilização de um sistema de


classificação. O mais utilizado é o Sistema Unificado de Classificação (em inglês, U.S.C.),
idealizado pelo engenheiro austríaco Arthur Casagrande, um dos “pais” da Mecânica

dos Solos. Esse sistema, apresentado na tabela seguinte, utiliza-se de letras que
representam as iniciais em inglês para:

ƒ G – gravel (pedregulho);
ƒ S – sand (areia);
ƒ C – clay (argila);

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ƒ W – well graded (bem graduado);


ƒ P – poorly graded (mal graduado);
ƒ M – mo, palavra sueca que refere-se ao silte;
ƒ O – organic (orgânico);
ƒ L – low (baixa, relativa à plasticidade do solo);
ƒ H – high (alta, relativa à plasticidade do solo).

Classificação Geral Tipos Principais Abreviatura


Solos Grossos Solos pedregulhosos GW, GP, GM, GC
(menos 50% passando #200) Solos arenosos SW, SP, SM, SC
Solos Finos Solos siltosos ML, CL, OL (LL < 50)
(mais 50% passando #200) ou argilosos MH, CH, OH (LL > 50)
Solos Altamente Orgânicos Turfas Pt
Fonte: Referência [3]

Assim, por exemplo, SW, trata-se de um solo arenoso bem graduado, GM, um solo
pedregulhoso com razoável parcela de silte e, CL, um solo argiloso com baixa plasticidade. O
conceito de solo bem ou mal graduado pode melhor ser entendido pela figura a seguir.

A maioria dos minerais – substância inorgânica e natural, com composição química e


estrutura definidas – encontrados nos solos são os mesmos das rochas matrizes. Estas, por
sua vez, em relação ao modo de formação, podem ser classificadas em 3 grupos:

ƒ magmáticas ou ígneas – tiveram origem no magma existente no interior da Terra;


subdividem-se em intrusivas, formadas a grande profundidade, com alto teor de
silício, tendo como exemplo o granito e o diorito, e as extrusivas ou vulcânicas,
formadas pelo resfriamento de lavas, com menor teor de silício, sendo exemplos o
basalto e o riolito;
ƒ sedimentares – formadas ora pela deposição de detritos oriundos de rochas pré-
existentes, ora pela acumulação de substâncias orgânicas, ou, ainda, pela
precipitação química de sais dissolvidas nas águas de rios, lagos e mares; são, em
geral, estratificadas em camadas, cada uma podendo possuir características
diferentes; como exemplos temos o calcário e o arenito;

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ƒ metamórficas – provêm da transformação das rochas magmáticas e sedimentares,


tendo sofrido modificações em sua estrutura devido à variação de condicionantes
físicas (temperatura e pressão) e químicas; são exemplos os gnaisses (oriundos do
granito), os mármores (oriundos dos calcários) e os quartzitos (oriundos dos
arenitos).
Cabe, ainda, comentar a denominação dos solos quanto à sua posição em relação à rocha
de origem. Solos residuais são aqueles que permanecem no local (acima) da rocha matriz,
percebendo-se uma gradual transição do solo até a rocha. Solos sedimentares, são os que
sofrem a ação de agentes transportadores, podendo ser aluvionares, quando transportados
pela água, eólicos, transportados pelo vento, coluvionares, transportados pela ação da
gravidade e glaciares, transportados pelas geleiras.

Merecem destaque os solos lateríticos, os expansivos e os porosos. Estes últimos, em


algumas situações especiais, podem receber a denominação de solos colapsíveis, pois, em
determinadas condições de umidade, sua estrutura se quebra, dando origem a elevados
recalques das obras que se assentam sobre eles. Tal característica pode ser observada, por
exemplo, em algumas regiões de Brasília.

Um caso à parte são os solos de formação orgânica, formados a partir de vegetais – plantas
e raízes – e animais – basicamente, conchas.

II.3.2 Principais índices físicos

O solo é um material constituído por partículas sólidas, com vazios entre elas, que poderão
estar preenchidos total ou parcialmente por água. Assim, sendo (ver figura):

Vt = volume total da amostra de solo;


Vs = volume da fração sólida;
Vv = volume de vazios = Va (volume de água) + Var (volume de ar);
Pt = peso total da amostra de solo;
Ps = peso da fração sólida;
Pa = peso de água,

pode-se estabelecer alguns conceitos.

O peso específico das partículas (γg), isto é, o peso específico real de material sólido, é dado
por:

γg = Ps / Vs

Sendo γa o peso específico da água, assumido como 1,0tf/m³ ou 0,1kN/m³, a densidade


(real) do solo (δ) de um solo é dada pela relação:

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δ = γg / γa

A umidade (h) de um solo é, por definição:

h (%) = (Pa / Ps) *100

O peso específico aparente de um solo (γ), com h ≠ 0, é dado por:

γ = Pt / Vt

O peso específico aparente de um solo seco (γs), isto é, com h = 0, é dado por:

γs = Ps / Vt

O índice de vazios (ε) de um solo é, por definição:

ε = Vv / Vs

A porosidade (n) de um solo é, por definição:

n (%) = (Vv / Vt) * 100

O grau de saturação (S) de um solo é, dado por:

S (%) = (Va / Vv) * 100

O peso específico de um solo saturado (γsat), isto é, com S = 100%, é dado por:

γsat = ((δ + ε)/(1 + ε)) * γa

O peso específico de um solo submerso (γsub) difere do peso específico do solo saturado
(γsat) porque, no primeiro caso, as partículas sólidas sofrem o empuxo da água. Então:

γsub = ((δ – 1)/(1 + ε)) * γa

Ou, ainda:

γsub = γsat – γa

A diferença entre solos saturados e submersos pode ser melhor entendida pela figura a
seguir.

Diferença entre γsub e γsat

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II.3.3 Permeabilidade

Gradiente hidráulico entre dois pontos é a razão entre a diferença de cota piezométrica
(carga hidráulica) entre esses dois pontos e a distância entre eles, ou:

i = ∆h/d

onde,
i = gradiente hidráulico (m/m);
∆h = diferença entre as cargas hidráulicas dos 2 pontos (m);
d = distância entre os 2 pontos (m).
Percolação é a passagem de água (ou outro líquido) através de um meio poroso. O solo é
um meio poroso e a água percola através dele. A velocidade com que a água percola através
de um meio poroso (o solo, por exemplo) é dada pela seguinte equação, conhecida como
Lei de Darcy:

v=k*i

onde,
v = velocidade de percolação (cm/s)
k = coeficiente de permeabilidade (cm/s)
i = gradiente hidráulico (adimensional).
O coeficiente de permeabilidade é função do tipo de material sendo crescente com sua
porosidade – volume de vazios relativo. A tabela abaixo apresenta a faixa mais comum de
variação dos coeficientes de permeabilidade de alguns tipos de solo.

Tipo de Solo k (cm/s)


Pedregulhosos 1 x 10-2 a 10
Arenosos 1 x 10-4 a 1 x 10-1
Siltosos 1 x 10-6 a 1 x 10-3
Argilosos 1 x 10-8 a 1 x 10-5

II.4 Hidrologia

“Hidrologia é a ciência que estuda a água na natureza. Faz parte da Geografia Física e
abrange, em especial, propriedades, fenômenos e distribuição da água na atmosfera, na
superfície e no subsolo da Terra”. (N. L. de Sousa Pinto)

II.4.1 O ciclo hidrológico

A água existe na natureza, nos três estados físicos, em quantidade certa e definida. No
entanto, devido aos movimentos de rotação e translação da Terra, à atração gravitacional da
Terra e de outros astros, em particular, da Lua, e, principalmente, ao aquecimento
proporcionado pelo Sol, toda a água existente em nosso planeta encontra-se em constante
mudança de seu estado físico e de sua posição, porém dentro de um ciclo fechado,
denominado ciclo hidrológico.

A figura, a seguir, tirada da Referência [5], ilustra, esquematicamente, o ciclo hidrológico.

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II.4.2 A água na natureza

A água existente na Terra se distribui de acordo com o quadro a seguir.

Localização Volume (106 km3) %


Oceanos 1.350,93 97,47
Geleiras 24,40 1,76
Água Subterrânea 10,53 0,76
Rios e Lagos 0,10 0,007
Umidade do Solo e da
Atmosfera e Outros 0,04 0,003
Total 1.386,00 100,00
Fonte: ANA

Segundo a WMO – Organização Meteorológica Mundial, o Brasil, e boa parte dos países da
América do Sul, classificam-se como países com disponibilidade de água doce “muito alta”,
relativamente à população. A produção hídrica de nosso país corresponde a quase 20% da
mundial, sendo que cerca de 13,7% da água doce superficial do planeta encontra-se no
Brasil.

Apenas 9 países dividem cerca de 60% das fontes renováveis de água doce do mundo,
ocupando o Brasil a primeira posição, com Rússia em segundo (2/3 das fontes brasileiras) e
Estados Unidos em terceiro.

II.4.3 Precipitação

Precipitação é um fenômeno que ocorre quando o vapor d’água existente na atmosfera se


condensa, formando gotículas de pequenas dimensões, que por sua vez vão-se aglutinando
até que atinjam uma dimensão tal que seu peso faça com que caiam sobre a superfície
terrestre. O tipo de precipitação mais comum é denominado de chuva. Outros tipos, neve e
granizo, por exemplo, ocorrem quando a temperatura do ar é muito baixa, proporcionando a
solidificação das gotas. Quando as gotículas aumentam de tamanho, mas não o suficiente
para serem atraídas para a superfície, ficando em suspensão no ar, formam as nuvens, que,
ao nível do solo (em serras, por exemplo), são denominadas de neblina.

Podem-se dividir as chuvas em 3 tipos: frontais, orográficas e convectivas. Frontais são as


chuvas causadas pelo encontro de uma massa de ar quente (área de baixa pressão) com
uma massa de ar fria (área de alta pressão). A massa mais energética “empurra” a menos
energética e a frente leva o nome da primeira. Orográfica é a chuva que ocorre quando uma
massa de ar quente e úmido encontra um obstáculo (uma serra) e ascende, esfriando e
causando a condensação do vapor d’água. As chuvas convectivas estão associadas a nuvens
de grande desenvolvimento vertical, de 2 a 10 km de altura, denominadas “cumulus-
nimbus”. No interior dessas nuvens, ocorrem correntes ascendentes de ar quente e úmido
que, à medida que sobe, vai-se resfriando, com a consequente condensação do vapor
d’água. Esse tipo de nuvem tende a ocorrer, em nosso país, no período de verão, causando
chuvas de grande intensidade – as chamadas “chuvas de verão”.

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Tipos de Chuva

II.4.4 Vazão

Ao volume de água que passa numa determinada seção de um curso d’água, na unidade de
tempo, dá-se o nome de vazão ou descarga líquida. A vazão de um rio, numa dada seção, é
variável ao longo tempo, sendo função, dentre outros fatores, da quantidade de chuva que
cai em sua área de influência – denominada bacia hidrográfica – ver item 2.1.4.

Uma fórmula simples, porém muito importante, sendo empregada direta ou indiretamente
em quase todos os dimensionamentos hidráulicos, é a denominada equação da
continuidade:

Q=v*A

onde:
Q = vazão (m³/s);
v = velocidade média do fluxo (m/s);
A = área da seção transversal (m²);
ou seja, a vazão é diretamente proporcional à velocidade do escoamento e à área da seção.

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Seção Transversal de um curso d’água ou canal


Fazendo-se um corte transversal em um curso d’água, obtém-se uma área denominada de
seção transversal – ver figura. Esse conceito é importante pelo fato de que todos os estudos
de um curso d’água são referenciados a uma dada seção transversal.

II.4.5 Bacia hidrográfica

Chama-se bacia hidrográfica de uma dada seção de um curso d’água à área em que,
qualquer gota de chuva que incida sobre ela acabe passando na seção considerada,
desprezados os fenômenos da evaporação, interseção, transpiração, infiltração, etc. Em
outras palavras, bacia hidrográfica de uma dada seção é toda a área que drena para aquela
seção.

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II.5 Hidrometria

Hidrometria é um ramo da hidrologia que cuida da medição sistemática dos fenômenos


relacionados com a água na natureza. Assim, são medidos a chuva em determinado ponto, a
vazão e o nível d’água de um rio numa dada seção, a evaporação de um local, a umidade
relativa do ar em um determinado posto. Além desses parâmetros, costumam também ser
registrados outros dados climatológicos, utilizados em estudos hidrológicos, como a direção
e a velocidade do vento, o número de horas de insolação por dia, etc.

Para desenvolvimento de qualquer estudo hidrológico, é sempre necessário um histórico de


registros de dados fluviométricos e/ou meteorológicos – no mínimo, de 5 a 10 anos de
registros contínuos. Quanto mais extensa for a série de dados, mais precisos serão os
resultados obtidos dos estudos.

A medição de dados fluviométricos se dá em postos hidrométricos localizados em cursos


d’água. Neles são feitas medições de nível d’água, vazão, transporte sólido e qualidade da
água. Os dados meteorológicos são medidos em estações climatológicas, dotadas de uma
série de equipamentos e instrumentos que permitem a medição de diversos parâmetros.

II.5.1 Medição de nível d’água

A medição de nível d’água de um rio, de um lago ou mesmo do mar é útil para a


determinação direta ou indireta de determinados parâmetros. Por exemplo, pode-se saber a
quantidade de água em curso num rio pela simples medição de seu nível – desde que,
previamente, tenha sido determinada a relação “cota x descarga”.

A medição de nível d’água é feita pela simples leitura em réguas (escalas graduadas)
instaladas em margens, estruturas, etc, devidamente referenciadas a marcos topográficos
(RN’s). Quando as réguas precisam ser instaladas em locais onde não existam pessoas que
possam lê-las freqüentemente (em geral, duas vezes ao dia), utilizam-se aparelhos
registradores de nível em seu lugar. Esses registradores são dotados de bateria que lhe dão
autonomia de 2, 3 ou mais meses.

II.5.2 Medição de vazão

Para realizar a medição do volume de água que passa na unidade de tempo (vazão) numa
dada seção transversal de um curso d’água, realiza-se a medição de dois parâmetros
simultaneamente – velocidade e área da seção transversal – e obtém-se a vazão pelo
produto dos dois.

A velocidade é medida com a utilização de um equipamento denominado molinete, enquanto


que a área da seção transversal pode ser medida através de lastros amarrados em cabos
graduados ou de ecobatímetros. Existe toda uma metodologia, consubstanciada na
Referência [1], para efetuar as medições desejadas.

Modernamente utiliza-se um equipamento denominado ADCP que, por ondas sonoras,


efetua a medição de vazão de forma mais rápida, apresentando resultados com precisão
aceitável.

II.5.3 Medição de descarga sólida

Os cursos d’água carregam, no bojo da massa líquida, sedimentos que são originários de
toda a bacia hidrográfica, desde a cabeceira, até a seção em consideração. A quantidade de
sedimentos produzidos em uma bacia é função de uma série de fatores, entre os quais,
cobertura vegetal, formação pedológica e geológica, nível de antropomorfismo, regime de
chuvas, área e declividade média da bacia.

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Sedimentos mais finos, como grãos de argila e silte, são carreados em suspensão na massa
líquida. Areias, principalmente mais grossas e pedregulhos, são arrastados pelo fundo dos
rios.

Para fazer a medição desses dois tipos de sedimentos – em suspensão e de fundo ou arrasto
– utiliza-se de tipos diferentes de equipamentos. Um colhe amostras de água ao longo de
várias verticais da seção transversal que são analisadas em laboratório quanto à sua
composição granulométrica. Outro aparelho é responsável por colher amostras de material
do fundo do rio, que também segue para análise granulométrica em laboratório. As seções
de coleta de amostras de suspensão e fundo são as mesmas de medição de descarga
líquida. Com base nas informações coletadas, é possível estimar o transporte sólido do rio –
em toneladas por ano.

II.5.4 Medição de chuva

A chuva é medida pelo volume precipitado em dado local num dado período – um dia, por
exemplo. A medição é efetuada em aparelhos denominados pluviômetros que nada mais são
do que recipientes nos quais a abertura superior, por onde a chuva entra, é padronizada.
Diariamente, num horário pré-estabelecido, em geral às 7 horas, faz-se a medição do
volume precipitado. Como o volume foi coletado através de uma área padronizada,
converte-se o valor medido em altura de chuva, em mm. Assim, a quantidade de chuva num
dado período é expressa em unidade linear – o mm.

Também aqui, nos casos onde não haja ninguém que possa realizar as leituras diárias,
emprega-se um registrador de chuva em lugar do pluviômetro.

II.5.5 Medição de dados climatológicos

Parâmetros como temperatura e umidade relativa do ar, evaporação, direção e velocidade


do vento, insolação, entre outros são medidos em estações climatológicas. Tais estações
constituem-se de uma área cercada, convenientemente localizada, gramada e dotada de
instrumentos adequados para medição dos parâmetros desejados. Alguns dos aparelhos
ficam instalados em um abrigo – denominado meteorológico. A seguir, são listados os
principais instrumentos de medição de dados climatológicos – acompanhados do parâmetro
medido:

ƒ Termômetro de máxima e mínima do ar – temperatura;


ƒ Higrógrafo – umidade relativa do ar;
ƒ Tanque evaporimétrico – evaporação;
ƒ Anemógrafo – direção e velocidade do vento;
ƒ Heliógrafo – nº de horas de insolação.

II.6 Estudos hidrológicos

Para dimensionamento das diversas estruturas hidráulicas, sejam obras definitivas ou


provisórias, o principal parâmetro utilizado é a vazão. Este parâmetro é obtido a partir dos
estudos hidrológicos. Importante esclarecer que estes estudos, sempre básicos para
qualquer empreendimento hidráulico, prestam-se ao fornecimento de outras informações
importantes, como transporte sólido e assoreamento de reservatórios, permanência de
níveis e vazões, geração de série de vazões mensais e diárias, precipitação, evaporação e
insolação médias mensais.

Os estudos hidrológicos são levados a termo com base em dados e informações primários
(levantados em campo) e secundários (levantados em escritório a partir de diversas fontes),
aplicando-se métodos estatísticos, determinísticos ou mistos. A aplicação do tipo de

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abordagem e, ainda, de uma determinada metodologia dentro da abordagem selecionada,


dependerá de diversos fatores, entre os quais:

ƒ existência (ou não) de dados hidrológicos dentro da bacia hidrográfica;


ƒ tipo, qualidade (confiabilidade) e quantidade (série histórica) dos dados;
ƒ área da bacia de contribuição;
ƒ tipo de estrutura;
ƒ porte do empreendimento;
ƒ tipos de danos advindos de funcionamento ineficiente da estrutura – colapso,
ruptura, etc.
É intuitivo que o nível de estudo hidrológico – e, conseqüentemente, o tipo de metodologia a
ser adotada – deverá diferir entre os projetos de um bueiro de uma estrada vicinal e de um
vertedouro de um grande aproveitamento hidrelétrico.

Para pequenas bacias – teoricamente, até 5km², mas, na prática, até 20 ou 30km² – é
muito comum o emprego do método racional. Esse método, de simples aplicação, está
baseado na utilização da chamada fórmula racional, a seguir transcrita, que pressupõe
condições simplificadoras.

Q = (C * i * A)/3,6

Nesta fórmula, Q é a vazão de projeto (m³/s), C é o coeficiente de deflúvio superficial,


determinado em função do tipo de cobertura vegetal/ocupação da bacia, i é a intensidade
da chuva de projeto (mm/h) e A é a área de drenagem da bacia (km²). Importante que a
intensidade de chuva está associada a uma duração – que no método racional é o tempo de
concentração da bacia – e a um tempo de recorrência. Como essa grandeza é obtida através
de estudos estatísticos, o método é misto.

Os métodos que conferem tratamento estatístico à massa de dados de vazão podem ser
empregados tanto para determinação vazões de cheia quanto de estiagem. Para serem
adotados, necessitam de histórico de informações na bacia. Caso tal série de dados não
exista – ou seja de pequena amplitude temporal – mas existam dados no entorno, em bacias
com características semelhantes – vegetação, formação geológica, regime de chuva, área de
drenagem, etc. – pode-se lançar mão de um estudo de regionalização de vazões, para
transpor os resultados para a seção de interesse. Os estudos estatísticos associam
determinado valor de vazão a um específico tempo de recorrência – ou tempo de retorno. O
tempo de recorrência (T) é o inverso da probabilidade de ocorrência de um evento de igual
ou maior magnitude. Exemplificando, adotando-se um tempo de recorrência de 1000 anos,
determina-se uma vazão de valor Q1000. Em qualquer ano da vida útil da estrutura, a
probabilidade de ocorrer uma vazão com essa magnitude, ou superior (risco), é de 1/1000
ou seja 0,001 ou ainda 0,1%. Para mais de um ano, ou, ao longo de toda a vida útil da
estrutura, o risco (r), definido como a probabilidade da vazão de projeto, associada a um
determinado tempo de recorrência (T), ser igualada ou ultrapassada, é definido pela
fórmula:

r = 1 – (1 – (1/T))n

sendo n, o número de anos de exposição da obra.


Para dimensionamento de um órgão extravasor de um grande empreendimento –
aproveitamento hidrelétrico – são adotados métodos estatísticos para estimar a vazão
associada a um elevado tempo de recorrência ou seja, a uma baixíssima probabilidade de
ser igualada ou ultrapassada – em geral, 1/10.000 = 0,0001 = 0,01%, em 1 ano.

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Abordagens determinísticas para empreendimentos de grande porte levam em consideração


métodos hidrometeorológicos, nos quais a participação de um meteorologista experiente é
fundamental. Esse profissional, a partir de estudos de gênese de tormentas na região –
onde a bacia hidrográfica está inserida – maximizando todos os parâmetros envolvidos até
seu limite superior fisicamente possível, determina a chuva denominada precipitação
máxima provável-PMP. A partir dessa chuva – que na verdade é uma seqüência temporal de
tormentas – engenheiros hidrólogos, com utilização de um modelo matemático – do tipo
chuva-deflúvio – devidamente calibrado para a bacia, determina a cheia máxima provável-
CMP. Essa cheia se constitui num hidrograma (gráfico vazão x tempo) de projeto para o
empreendimento em estudo. O pico (vazão mais alta) da CMP é denominado vazão máxima
provável-VMP. Este valor serve de referência para verificação das condições de segurança de
grandes empreendimentos, como aproveitamentos hidrelétricos.

Interferências no leito de grandes rios ou no mar são sempre respaldadas por longos e
profundos estudos. Dada a sua magnitude, a realização de tais obras requer um
planejamento detalhado, sob pena de ocorrerem grandes e graves acidentes. Tal
planejamento é levado a termo por uma equipe experiente e multi-disciplinar.

III - Principais máquinas, equipamentos e instalações


industriais

Os serviços, sejam de construção civil, sejam de montagem eletromecânica, em que pese o


elevado número de trabalhadores envolvidos, quase sempre exigem a participação de
máquinas e equipamentos de grande capacidade e produtividade. A seguir, é apresentada
uma relação sucinta das principais máquinas e suas funções. Pode-se perceber que muitas
delas são também utilizadas na construção de estradas e de grandes prédios.

ƒ Escavadeiras – são máquinas utilizadas exclusivamente para a escavação de solo ou


rocha já fragmentada. As de maior porte são montadas sobre esteiras. A ponta de
seus braço pode ser adaptada para utilização de caçamba (mais comum) – no estilo
retro ou frontal (caçamba shovel) – martelete/perfuratriz, pegador de tubo. Tipos
especiais de escavadeiras são a clamshell (com mandíbulas articuladas) e drag-line,
empregadas para escavação/desobstrução/limpeza/dragagem de rios e canais.
Proporcionam grande produtividade ao serviço.
ƒ Tratores de esteira – montados com uma lâmina frontal, são empregados para
limpar e raspar o terreno, juntar ou espalhar solo e material fragmentado, abrir vias
de serviço em locais desprovidos de árvores de médio/grande portes e outros
serviços.
ƒ Pás-carregadeiras – também chamadas de carregadeiras frontais, têm a função
precípua de carregar caminhões, vagões, ou mesmo empilhar ou espalhar material –
terra, rocha britada ou em blocos. Para realizar esse serviço, são equipadas com
caçambas e podem ser montadas sobre pneus (mais comum) ou esteiras.
ƒ Retroescavadeiras – são máquinas extremamente versáteis pois combinam as
habilidades das escavadeiras com as das pás-carregadeiras, apesar de terem porte e
produtividade inferiores aos daquelas máquinas. Muito utilizadas em obras de
saneamento para abertura de valas/cavas estreitas – entre 0,40 e 080m.
ƒ Motoniveladoras – são máquinas de pneus dotadas de lâminas em seu dorso inferior
para nivelar, aplainar e espalhar material em superfícies em solo, visando dar ao
terreno a geometria prevista em projeto.
ƒ Motoscrapers – tratam-se de máquinas autopropelidas cuja principal finalidade é
transportar solo em grandes volumes para distâncias relativamente curtas, em geral,
inferiores a 1km. A carga pode ser feita pela própria máquina, por raspagem do solo
com pá posicionada na parte inferior, e a descarga se dá por abertura inferior da
caçamba. Ambas as operações ocorrem com a máquina em movimento.

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ƒ Rolos compactadores – como o nome diz, utilizados para compactação do terreno ou


aterro (solo ou enrocamento) ou, ainda, de CCR. Os rolos podem ser lisos ou
dotados de saliências (pés de carneiro, por exemplo) que proporcionam uma melhor
compactação do material. Podem ser, ainda, vibratórios ou estáticos, rebocados ou
autopropelidos, de pneus ou de aço.
ƒ Guindastes – são máquinas que têm a função de içar (transporte vertical) grandes
cargas e possibilitar sua movimentação na horizontal, dentro de distâncias muito
reduzidas. Geralmente são sobre rodas (pneus), mas não podem rodar
transportando grandes cargas.
ƒ Gruas – são guindastes de grande capacidade, e grande alcance (por possuírem
uma lança de grande comprimento) utilizadas em obras de grande porte com
desenvolvimento vertical. Apesar de seu alto custo, facilitam sobremaneira os
transportes vertical e horizontal de peças e materiais. Podem ser fixas ou trabalhar
sobre trilhos.
ƒ Dragas – são máquinas que podem ser autopropelidas ou posicionadas sobre
flutuadores (barcaças) e que têm a finalidade de revolver e succionar o leito de rios
e mares. São utilizadas para abertura, aprofundamento ou alargamento de canais de
acesso a portos ou de leito de rios, ou ainda, para a obtenção de areia para
determinada obra.
ƒ Caminhões basculantes – muito utilizados em qualquer tipo de obra, principalmente
para transporte de material natural de construção ou entulho/bota-fora. Nas
grandes obras são empregados os off-road ou “fora-de-estrada”, por sua elevada
capacidade de carga e produtividade.
ƒ Caminhões-betoneira – utilizados especificamente para misturar e transportar o
concreto entre a central e o ponto de aplicação. Sua capacidade varia de 5,0 a
10,0m³ de concreto.
ƒ Central de ar comprimido e Compressores de ar – as primeiras são fixas e de maior
porte, montadas em obras concentradas; os segundos são, em geral, movidos a
diesel e montados sobre pneus para serem rebocados a qualquer lugar. Inúmeras
são as aplicações desses tipos de máquinas, tais como, demolições, desmonte de
rocha, jateamento de areia, projeção de concreto, manutenção de pressão elevada
em escavações e fundações (para evitar entrada d’água), simples fornecimento de
ar a frentes de serviço em túneis e escavações, entre outros.
ƒ Grupos geradores – compostos de motor e gerador, são utilizados para fornecer
energia elétrica ao canteiro de obras localizadas em regiões desprovidas de redes de
distribuição. Geralmente movidos a diesel ou óleo combustível.
ƒ Central de concreto – conjunto de máquinas e equipamentos que servem para
armazenagem e, principalmente, dosagem do concreto de acordo com traços pré-
estabelecidos. É composta por silos, reservatório de água, esteiras transportadoras,
balanças e cabines de comando e controle. Em geral não efetuam a mistura do
concreto, que se dá nos caminhões-betoneira. Entretanto, algumas centrais são,
além de dosadoras, misturadoras – as que fabricam CCR.
ƒ Central de britagem – encarregada de efetuar a fragmentação da rocha extraída –
de escavação obrigatória ou de pedreira – e separá-la em faixas granulométricas.
ƒ Central de carpintaria – local onde as fôrmas e os escoramentos de madeira são
fabricados e pré-montados.
ƒ Central de armação – local onde os ferros de construção são cortados, dobrados e
pré-montados.
ƒ Laboratórios de solo e concreto – para as grandes obras, ante a necessidade de se
obter respostas rápidas para adequação das condições de trabalho, costumam-se
instalar laboratórios no canteiro de obras.

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IV - Referências (3ª aula):

1. Materiais de Construção – Falcão Bauer, L.A.


2. Patologia, Recuperação e Reforço de Estruturas de Concreto – Moreira de Souza, V. C. e
Ripper, T.
3. Mecânica dos Solos – Caputo, H. P.
4. Normas e Recomendações Hidrológicas do DNAEE.
5. Hidrologia Básica – Souza Pinto, N.L. e outros
6. Curso de Barragens de Terra – Hernani de Carvalho, L.
7. Manual de Produção – Caterpillar

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